merleau-ponty - signos

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COLEQAoTOPICOSAPoetica doDevaneioGASTONBACHELARDAPoetica doEspac;oGASTONBACHELARDAAguaeasSonhas- Ensaiosabreaimaginac;aociamateriaGASTONBACHELARDaAreosSonhas- Ensaiosabreaimaginac;aodomovimentoGASTONBACHELARDThalassa- EnsaiosabreateoriaciagenitalidadeSANDORFERENCZIMateriaeMemoria- Ensaio sabrearelac;aodocorpocom0 espiritoHENRI BERGSONATerra e os Devaneiosdo Repouso- Ensaiosabre asimagensciaintimidadeGASTONBACHELARDATerra eosDevaneiosciaVontade- Ensaio sabreadas GASTONBACHELARDSignosMAURICEMERLEAU-PONTYPR6xIMO LANQAMENTO:ImagensesimbolosMIRCEAELIADEI

Maurice Merleau-PontySignosMartinsFontes..L. ". ,; sBiblhJ;'eca SetarialdeBiblioJteconOO1ia e

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ciso de fato dizer coisa, sera precise dizer imaginaxio ou ideia, quan-do cada coisa esta mais longe do que si mesma, quando cada fatopode ser dimensao, quando as ideias tern suas regioes? Toda a des-de nossa paisagem e de nossas linhas de universo, a do nos-so mon610go interior, estaria por refazer.As cores, os sons, as coi-sas, comoas estrelas de Van Gogh, sao focos,deser..,Consideremos os outros em seu aparecimento na carne do mun-do. Naoexistiriampara mim, dizem, seeunao osreconhecesse,se nao decifrasse neles algum sinal da presem;a asi mesmo de quedetenho0unico modelo. Mas se0 meu pensamento e apenas0 re-verso de meu tempo, de meu ser passivo e sensfvel, e todo0 estofodo mundo que surge quando tento apreender-me, e aos outros quesao captados nele.Antes de serem e para serem submetidos as mi-nhas de possibilidade, e reconstrufdos a minha imagem,epreciso que estejam hi como relevos, desvios, variantes de umaunicaVisaodaqual tambemparticipo. Poiselesnaosao com que eupovoaria0 meu deserto, filhos de meu espfrito, possf-veispara sempreinatuais, esimmeusgemeos ouacarnedami-nha carne. Decerto nao vivo a vida deles, estao definitivamente au-sentes de mim e eu deles. Masessa distanciatorna-se uma estra-nhaproximidadeassimquesereencontra0 serdosensfvel, poiso sensfvel e precisamenteaquilo que, semsair deseu lugar, podeassediar mais de urn corpo. Esta mesa que0 meu olhar toea, nin-guemavera: seriaprecisosereu. Enoentantoseiqueelapesano mesmo momento exatamente da mesma formasobre qualquerolhar. Pois os outros olhares, eu os vejo, e tambem no mesmo campoem que estao as coisas que eles desenham umada mesa,queligamaspartesdamesaumasasoutrasparaumanovaco- Ao longe renova-se e propagase, por intermedio daque-la que nomesmo instanteintervir, adeurn olharnumvisfvel. Minha visaoencobreoutra, oumelhor, elas namjuntas e atingem por prindpio0 mesmo Visfvel. Urn dos meusvisfveis se faz vidente. Assisto a metamorfose. Doravante ele deixade ser uma das coisas, esta em circuito com elas ou interpoe-setre elas. Quando0 olho, meu olhar ja nao se detem, ja nao termi..,nanele, comosedetemetermina nascoisas; por ele, comopor "",revezamento, meu olhar continua em as coisas - as mes-mascoisasqueeuera0 unieoaver, quesereisempre0 tinieoaver, mas que tambem ele, doravante, eo tinico a ver a sua manei-ra. Sei agora que ele tambbn e0 tinico a ser si mesmo. Tudo repou-sa na riqueza insupera.vel, na milagrosa do sensfvel.Ela faz com que as mesmas coisas tenham a de ser coisas pa-ra mais deurn, e que algumas delas - os corpos humanos e animais - nao tenham somente faces ocultas, que seu "outro lado"44. HUSSERL.16SIGNOS PREFAclO 17..seja urnDutrosentir avaliadoa partirdemeusens{vel. Tudasecleveao fatD de que esta mesa, esta que neste instante meu alhar esqua-drinha e cuja textura interroga, naD pertence a nenhumdeconsciencia e insere-se igualmente no circuito dos outros carpas -aofatadequeosnossosolharesDaOsaoatasdeconsciencia, deque cada qual reivindicaria uma indeclinavel prioridade, e sirotura denossa carne imediatamente preenchida pela carneUnIver-sal domuncio- aofatodeque, dessemodo, oscarpasvivossefechamsabre 0 mundo, tornam-secarpasqueveem, carpasquetocam, e afortion sensiveis asi mesmos, uma vez ,queDaD sepode-riatoearneroversemsercapazdesetoear edesever. TodD0enigma esta nosensivel, nessatele-visaoquenomais privado denossa vidanos torna simultaneos com os outros ecom0 mundo.Que acontecenl quando urn deles voltar-se para mim, susten-tarmeuolharefirmar 0 seuemmeucorpoeemmeurosto?Anao ser que recorramos ao ardil da palavra e interponhamos entrenosurncampo comum depensamentos, aexperiencia eintolera,-vel. Nada mais ha para olhar senae urn olhar, aquele que ve e aqueleque evisto sao exatamente substituiveis, os dois olhares imobilizamse urnno outro, nada pode distrai-Ios e distingui-Ios urn do outro,ja queascoisas estao abolidasecada qual terndeavir-seapenascomseu duplo. Para areflexao, ha ainda ai apenasdois"pontosde vista" incomensuraveis, dois eupenso que podem ambosjulgar-se vencedores da prova, pois, afinal decontas, sepenso que0 ou-tro me pensa, isso eainda apenas urn de meus pensamentos.A vi-saofaz0 queareflexao jamaiscompreendera: que0 combateasvezes acabe sem vencedor, eo pensamento, dai em diante, sem ti-tular. Olho-o. Eleveque 0 olho. Vejoqueele 0 ve. Elevequeestou vendo que ele0 ve... A analise nao tern fim, ese fosse ame-dida de todas as coisas, os olhares se insinuariam indefinidamenteurn no outro, sempre haveria urn unico cogito aomesrno tempo. Ora, ain-da que os reflexos dos reflexos vao, em principio, ao infinito, avi-saofazcomqueasnegrasaberturasdosdoisolharesuma a outra, e que tenharnos, nao mais duas consciencias com suateleologiapropria, masdoisolharesurndentrodooutro, sosnomundo. Eladelineiaaquiloque0 desejorealizaquandoexpulsadois "pensamentos" para essa linha de fogo entre eles, essa super-ficie ardente, onde buscam umaque seja identicamenteamesmaparaambos, como0 mundosensivel pertenceatodos.Apalavra, como diziamos, romperiaessaNaoasuprimiria, a adiaria, a transferiria para mais tarde. Pois ela tomaseu impulso na onda da muda em que esta envolta.Arrancaaudespedac;asignificac;oesnotodoindivisodonomina-vel, como nossos gestos naquele dosensivel. Quebramos a lingua-gemquandoatransformamosnummeioounumcodigopara0pensamento, enos privamos de compreender a queprofundidadeas palavras chegam em nos, de compreender que haja uma vonta-de, uma gana de falar, uma necessidade de se falar tao logo pensa-mos, queas palavras tenham0 poder de suscitar pensamentos-de implantar dimensoes de pensamento doravante inalienaveis -,que coloquem nos labios respostas de que nao nos sabiamos capa-zes, quenos ensinem, diz Sartre, 0 nosso proprio pensamento. Alinguagem nao seria, segundo a expressao de Freud,urn "reinves-timento"total, denossa vida, 0 nosso elemento, como aagua e0elemento dos peixes, se dublasse exteriormente urn pensamento queem sua solidao dita regras para qualquer outro pensamento possi-vel. Urn pensamento e uma expressao paralelos deveriam ser com-pletos cada qual em sua ordem, naose poderia conceberde urn no outro, intercepc;ao de urn pelo outro. Ora, a propria ideiadeurn enunciadocompleto einconsistente: naoeporqueeleeemsi completoque 0 compreendemos, eporque jacompreendemosque0 dizemos completo ou suficiente. Ademais nao existepensa-mento queseja completamentepensamento enaosoliciteapala-vras0 meio de estar presenteasi mesmo. Pensarnentoepalavracontam urn com0 outro. Substituem-se continuamente urn ao ou-tro. Revezam-se, estimulam-se reciprocamente. Todo pensamen-to vern das palavras e volta para elas, toda palavra nasceu nos pen-samentos eacaba neles. Ha entre os homens e em cada urndeles"umaincriveldepalavrascujanervurasaoos"pensa-mentos". (Dirao: mas afinal, se a palavra e algo diferente de ruidoou som, e porque0 pensamento the deposita uma carga de sentido- e em primeiro lugar0 sentido lexical ougramatical -,defor-ma que nuncahouve contatosenao dopensarnento com0 pensa-mento.) Claro, sons sao falantes apenas para urn pensamento, masisso nao quer dizer que a palavra seja derivada ou secundana. Claro,o proprio sistema da linguagemtern a sua estrutura pensavel. Po-rem, quando falamos, nao a pensamos como a pensa urn lingiiista,nem sequer pensamos nela,pensamos no que dizemos. Nao e apenas,i18 SIGNOSPREFAclO19..porgue nao possamos pensar em duas caisas ao mesmo tempo: di-damos que, para ter diantc de nos urn significado, seja na emissao,seja na recepl,;ao, i preciso que cessemos de cooecher0 c6digo e ateamensagem, quenostornemospurosoperadoresdapalavra. Apalavra operante faz pensar, e0 pensamentovivo encontra magi-camente as suas palavras. Nao ha 0 pensamento e a linguagem; ca-da uma das duasordens, aoser examinada, sedesdobraeenviaumaaDutra. Ha a palavra sensata, a que chamamospensamento- eapalavra malograda, aquechamamoslingua-gem. Eo quandoDaDcompreendemosquedizemos: saopalavras,e, peIacontrario, osnossospropriosdiscursossaoparanospuropensamento5. Haurnpensamentoinarticulado(0"aha-Erlebnis"dos psic610gos) e ha0 pensamento realizado- que de repenteseencontra asua revelia rodeado de palavras. As expressi-vas ocorrem entrepalavra pensante epensamentofalante, e nao,como se diz levianamente, entre pensamento e linguagem. Nao epor eles serem paralelos que falamos, epor falarmos que sao para-lelos. Afraqueza de todo"paralelismo" eoutorgar-se correspon-dencias entre as ordens enos encobrir asque deinicioproduziram-naspor invasao. as "pensamentos" querevestemapalavra eatransformamnumsistemacompreenslvel, oscamposou dimens6es dopensamento que os grandes autores e nossopr6-prio trabalho instalaram emn6s, sao conjuntos abertos designifi-disponiveis que nao reativamos, sao esteiras do pensar quenaoretrac;amos, quecontinuamos. Temosessecabedalcomote-mos pemas, utilizamo-Io sem pensar, como "achamos"sempensar as nossas pernas, os nossos e Valery acertou em cha-mar "animal de palavras"aessa potencia falanteondeaexpres-sao se premedita. Eimpossivel compreende-Ia como uniao de duasordens positivas. Mas se0 signa naopassa de urn certo desvio en-treossignos, a urndesvioidenticoentre assignifica-c;6es, apensamento e a palavra se recobreril como dais relevos. Co-mo puras sao indiscemiveis. Trata-se, na expressaa, rearganizarascoisas-ditas, dedar-Ihesurnnovoindicedecurvatura, deverga-lasa urnceTtorelevodosentido. Havia0quesecompreende e se diz de si mesmo - especialmente aquilo que, mais5. JeanPAULHAN.misteriosamente, do fundo da linguagem, interpela de anternao to-dasascoisas comonorninaveis -, ha 0 que esta por dizer, e queainda eapenas urna inquietude precisa no mundo das coisas-ditas.Trata-se deproceder deurnmodo queos doisse recubram ousecruzem. Nuncaeudariaurnpassosearninhavisaodoobjetivoao longe nao encOntrasse emmeu corpo urna arte natural detransfonna-Ia em visao proxima. Meu pensamento n3.0 poderia darurnpassose0 horizontedesentidoqueeleabrenaose tornassepelapalavra, aquiloquenoteatrosechamaurnpraticduel. 'Alinguagernpodevariareampliar tantoquantoquisermosa intercorporal: tern a mesma forma, 0 mesrno estiloque ela. Mais uma vez, cumpre que0que era secreto torne-se pu-blico e quase visivel. Aqui como ali aspassam em pa-c?tes inteiros, mal emal sustentadas por algunsgestosperernpt6-nos. Aqui como aliviso conjuntamenteascoisas eos outros. Fa-lando aos outros (ou arnirn mesmo), nao falode rneus pensamen-tos, falo-os, e falo0que esta entre eles, meus pensamentos ocultos,meus subpensamentos. Responderao:isso nao e0 que voce esta di-zendo, e0 que 0 interlocutor induz... Escutemos Marivaux:"Naoestava pensando emvos chamarde coquete. - Sao coisas quese ditas :mtes quesonhemosdize-Ias." Ditas por quem?Dltas a quem? Nao por urn espirito aurn espirito, mas por urn serque terncorpo linguagem aurn ser quetern corpo e linguagem,cada urn dos dots puxando 0 outro por fios invislveis Como aquelesque sustentam as marionetes, fazendo0outro falar, fazendo-o pen-sar, fazendo-o tornar-se aquilo,que e, e que 'nunca teriasido sozi-nho. Assimascoisas encontram-se ditaseenco.ntram-se pensadas comoque por Palavra e por urn Pensar que nao possufmos, que nospossuem. Dlz-se que ha urn muro entre nos e os outros mas eurnmuro que fazemos juntos: cada qual coloca a sua pedravao dei-xadopelooutro. Mesmoostrabalhos darazaopressup5em essasconversasinfinitas. Todosaquelesqueamamos, detestamos, co-nhecemos ou somente entrevimos falampor nossa voz. Assim co-mo 0nao efeito depontos em si simultaneos, assim comonossa naopoderomperassuasaderenciasaurn,de 0 Mundocomunicativonao eurnfeixedeconscien-ciasparalelas. asseconfundemepassamurnpelooutroformandoumaunica esteirade publica". '20 SIGNOS PREFAclO21..Ea partir desse modelo que deveriamos pensar0mundo his-t6rico. Para que se perguntar se a hist6ria efeita pelos homens oupelas coisas, ja quecom tadaaevidencia asiniciativashumanasDaO anulam0peso das coisas e a das caisas" opera sempreatraves dos homens? Ejustamente esse malogro da an3.l.ise, quan-do ela quer restringir tudo a urn unico plano, que desvela 0verda-deiro oocio da hist6ria. Nao ha uma analise que seja aderradeiraporque h:i uma carne dahist6ria que, tantonela como emnossocarpa, cantero tudo, engloba tudo - tanto a infra-estrutura quan-ta a ideia que fazemos dela, e sobretudo as perpetuas trocas entreuma e Dutra, nas quais 0peso das caisas torna-sesigna tambem,os pensamentos forc;as, 0 balam;o acontecimento. Pergunta-se: on-de se faz a historia? Quem a faz? Que movimento e esse que tracae deixa atras de si as figuras da esteira? Eda mesma ordem do mo-vimento da Palavra e do Pensamento, e, enflffi, cia do mun-do senslvel entre nos:em toda parte ha sentidos, dimens5es, figu-ras para alem daquilo que cada "consciencia"poderia ter produ-zido, econtudosao homensquefalam, pensam, veem. Estamosnocampo dahistoriacomonocampoda linguagemoudoser.Essas metamorfoses do privado em publico, dos acontecimen-tos em medita.;6es, do pensamento em palavras e das palavras empensamento, esse eco vindo de toda parte que faz com que, falan-docomoutrem, tambemfalemosconoscoefalemosdoser, essaprofusao de palavras atras das palavras, de pensamentos atras dospensamentos - essa substitui.;ao universal e tambem uma especiedeestabilidade. JoubertescreveuaChateaubriandqueelesoti-nha de"sacudirseutalisma". Conquantosejamaisdificil viverdo que escrever livros, e umfatoque, dada anossa aparelhagemcorporal e lingiHstica, tudo0 que fazemos tem finalmente um sen-tidoeurnnome- mesmoquedeinlcionaosaibamosqual. Asideias ja naoSaoumasegunda positividade, urnsegundomundoque exporia as suas riquezas sob um segundo sol. Reencontrandoo mundo ou0ser "vertical", aquele que esta em pe diante de meucorpo em pe, e nele as outros, conhecemos uma dimensao em quetambem as ideias obtem sua verdadeira solidez. Elas sao os eixossecretos ou, como dizia Stendhal, os "pilares" de nossas palavras,o centro denossaesse vazio muito definido emtornodo qual se constroi aabobada da linguagem, e que atualmentesoexiste no peso e no contrapeso das pedras. Alias, as coisas e 0 mundovislvel seraofeitosde modo diferente?Estaosempre atnlsdo quevejo deles, no horizonte, eaquiloaquechamamosvisibilidadeeessa rnesma transcendencia. Caisa alguma, lado algurn da coisa naosemostrasenao ocultando ativamente asoutras, denunciando-asno ato de encobri-Ias. Ver e, por princIpio, ver rnais do que se ve,e ter acesso a urn ser de latencia. ainvislvel e0 relevo e a profun-didade do vislvel, e, assim como ele, 0 vislvel nao comporta positi-vidade pura. Quanto apropriafontedospensamentos, sabernosagora que, para encontra-Ia, precisarnos procurar sob os enuncia-dos,principalrnente sob0famoso enunciado de Descartes. Sua ver-dade logica - "para pensar e preciso ser" -, suadeenunciado traem-no por princIpio, pois se referem a urn objeto depensamentonomomentoemqueeprecisoencontrar urnacessopara aquele que pensa e para a sua coesao nativa, cuja replica saooserdascoisase .0dasideias. ApalavradeDescartese0 gestoque mostra em cada urn de nos esse pensamento pensante por des-cabrir, "abre-te Sesamo"do pensamento fundamental. Funda-mental porquenaoeveiculadopornada. Masnaofundamentalcomo se, com ele, atinglssemos urn fundo onde deverlamos estabe-lecer-nos e pennanecer. Ele e, por princIpio, sem fundo e, se qui-sennos, abismo; isto quer dizer que nunca esta comigo mesmo, queencontramos perto Ou a partir das coisas pensadas, que e abertu-ra, aoutraextremidadeinvisiveldoeixoquenosfixanascoisasenasideias. Seraprecisodizerqueessaextremidade enada?Sefosse"nada", as diferen.;as doproximo e do longi'nquo, 0 relevadoser, seapagariamdiantedela. Dirnensionalidade, abertura janao teriam sentido. 0 absolutamente aberto se aplicaria completa-mente a urn ser semrestn'faa e, par falta de uma outra dimensao deque deva distinguir-se, aquila a que chamamos a "verticalidade"- 0 presente - nada mais quereria dizer. Em vez de falar do sere do nada, seria preferivel falar do vislvel e do invisivel, repetindoque nao sao contradit6rios. Dizemos invislvel como dizemos im6-vel: nao que e alheio ao movimento, mas para 0que se man-tern fixo. E0 ponto au0 grauzero de visibilidade, aabertura deuma dimensao dovislvel. Umzero emtodos os aspectos, urnsersem restri.;ao, nao devem ser considerados.Quando falo do nada,ja existe ser, portanto esse nada nao nadifica realmente e esse sernao e identico a si, sem discussao. Num certo sentido, 0maisalto da fIlosofia talvez seja apenas reencontrar estes trulsmos: 0pen-22 SIGNOSPREFAClO23..sar pensa, a palavra fala, 0 olhar alha - mas entre as duaspala-vrasidenticas ha, cada vez, toda a distancia que transpomos parapensar, parafalar eparaver.Afilosofiaque desvela esse quiasmo dovisfvel e doinvisfvelejustamente0 contra,riodeurnexamesuperficial. Mergulhanosensfvel, notempo, nahist6ria. nadirei,;aodesuasarticulac;oes,DaD as supera por fon;as exclusivamente suas, 5upera-as apenas nosentido delas. Foi lembrada recentemente a frase de Montaigne "to-dDmovimentonosdescobre", inferindo-secomrazaoque 0 ho-mem56 eem movimento6. Assim tambem0mundoDaDseman-tern, 0 SerDaDsemantemsenao emmovimento, somenteassimequetodas as caisas padernser juntas. Afilasafia earememora-c;ao deste ser, com0 qual a ciencia nao se ocupa, porque esta con-cebe as relac;oes entre0 ser e0 conhecimento como as relac;oes en-tre0 geometral e suas projec;6es, e esquece0 ser de envolvimento,esse a que se poderia chamar a topologia do ser. Mas essa filosofia,que busca sob a ciencia, nao e em contrapartida mais "profunda"que as paixoes, que a polltica e que a vida. Nao ha nada mais pro-fundo do que a experiencia que transpoe0 muro do ser. Marivauxtambem escreveu: "Nossa vida nos emenos cara doquenos, doque nossas paixoes. Ao ver as vezes0 que se passa em nosso instin-to a esse respeito, dir-se-ia que para ser nao e necessario viver, queeso por acidentequevivemos, mase naturalmentequesomos."Aqueles que mediante a paixao e0 desejo chegam ate esseser sa-bern tudo quanto ha para saber. A filosofia nao os compreende me-lhor do que eles se compreenderam, e na experiencia deles que elaconhece0 ser. Ela nao mantem0 mundodeitadoaseuspes, naoe urn "ponto de vista superior" de onde se abarquem todas as pers-pectivas locais, busca0 contato doser bruto, einstpli-se dames-forma juntodaquelesque nunca sesepararam dele. Simples-mente, enquanto a literatura, a arte e0exerdcio da vida, fazendo-se com as proprias coisas, com0 proprio sensfvel, com os pr.6pri';?sseres, podem, exceto emseus limitesextremos, ter e dar ailusaode permanecer no habitual e no constitufdo, afilosofia, que pintasem cores, em preto e branco, como os talhos-doces, nao nos deixa6. JeanSTAROBINSKI, "Montaigne enmouvement", N.R.F., fevereirode 1960.ignorar a estranheza do mundo, que os homens afrontarn tao bernemelhordoqueela, mascomoquenummeio-silencio.Tal e, em todo caso, a filosofia de que se encontrarao aqui al-guns ensaios. Par certo nao e ela que caberia questionar se achas-semque empollticafalamoscomcertodesdem, urntantosabia-mentedemais. A verdade talvez seja, simplesmente, quenece;si-tarfamos devarias vidas para entrar em cada campo de experien-ciacom0 inteiroabandonoqueelereclama.Mas sera esse tom realmente tao falso, tao pouco recomenda-vel? Tudo quantojulgava pensado e bern pensado - a liberda-de e os poderes, 0 cidadao contra os poderes, 0 herofsmo do cida-dao, 0 humanismo liberal- a democracia formale areal, que asuprime e a realiza, 0herofsmo e0humanismo revoluciomlrios _isso esta em rufnas. Somos tornados de escrupulos a essepelto, censuramo-nos por falar disso friamente. Mas, atenc;ao!1s-so a que chamamos desordem e rufna, outros, maisjovens, vivem-nocomonatural e talvez cheguemcomingenuidadeadomina-Iojustamente por ja nao procuraremassuas referencias onde asto-rna-vamos. No tumulto das demolic;oes, rnuitaspaixoessombriasmuitas hipocrisiasOU loucuras, muitos falsos dilemastambem. Quem0 esperariaha- dezanos?Talvezestejamosnumdesses momentos em que a historia passa adiante. Estamos ensur-acontecim'entos franceses ou pelos ruidosos episodiosda dlplomacla. Mas, abaixo do rufdo, faz-se urn silencio uma ex-'pectativa. Porquenaoseriaumaesperanc;a? 'Hesitamos em escrever essas palavras no momento em que Sar-tre,. numa bela rememorac;ao da nossa juventude, encontra pela pri-melra vez0tom do desespero e da revolta7. Porem essa revolta naoe recriminac;ao, acusac;ao do mundo e dos outros, absolviC;ao de si. se compraz consigo mesma, tern total ciencia de seus limites.E como que uma revolta dereflexao. Exatamente: eo remorso de7. PrefacioaAdmArabie, F. Masperoed.SlGNOS PREF.4CIO 25..naG terpela revolta, eurn "eu deveria ter" que naG PO-de ser categ6rico, rnesmo retrospectivamente, pais, hoje como ou-trora, Sartre sabe bern e mostra perfeitamente em Nizan que a re-volta naG pade nem permanecer identica, nem se realizar na revo-luc;ao. Acalenta portanto a ideia lie umajuventude revoltada.e is-so euma quimera,naG 56 porquc ja passou 0 tempo, mas tambemporque a sua precoce lucidez naG faz tao rna figura ao lado dos cr-rosveementes dos outros;duvidamosque Sartre atrocasse, mes-rno na idade das ilus5es, pelas ilus6es cia colera. Ela naG era, comoinsinua, indigencia de natureza, masja a mesma acuidade, a mes-rna impaciencia com compromissos consigo e com atitudes equfvo-cas, 0 mesmo pudor, 0 mesmo desinteresse que0 preservaram deserelepropriosemvergonhae justamentetheinspiramanobrecrftica de si mesmo que acabamos de ler. Esse prefacio a Aden Ara-bie e adoSartre, maduro ao jovem Sartre, que, co-mo todos os jovens, esta pouco se importando com ela, e perseveraao longe, em nosso passado - melhor ainda:que renasce ao virarde umapagina, invade0 seu juiz, fala por sua boca, e comtantafirmezaquetemosdificuldadeemacreditarqueestejataoultra-passado, seja tao condenavel, e acabamos por suspeitar, fato afinalprovavel, que haja apenas urn (inico Sartre. Nao aconse1hamos osjovens leitores aacreditar precipitadamente queSartrefalhounavidaporser falhoderevolta- equeportanto, seativerememdose suficiente, estar-lhes-ao prometidos os quarenta, os cinquen-ta anos sem motivo de censuras. Nesse debate entre Sartre e Sartreatraves do passado, do presente e dos outros, nessa severa confron-paraa daverdade, doSartredevinteanos,daquele dae dos anos mais recentes, e dessas persona-gens com0 Nizan de vinte anos, 0 Nizan comunista e0 de Setem-brode1939, edetodoaquelemundocomosangry youngmendehoje, nao se deveria esquecer que0 roteiro e deSartre, que asuaregradesempre, porquantoeleeasualiberdade, erecusarasimesmoasdesculpasqueprodigalizaaosoutros, que 0 seuunicoerro, se e que e urn errol e estabelecer entre ele e n6s essa discrimi- que de todo modo seria urn abuso de nossa parte contar COmela, quetemos entao deretificar0 enfoque, refazer0 noqual alias a sua maldita lucidez, aclarando os labirintos da revoltae da coloca tudoquantonoseprecisoparaabsolve-Iomalgradoseu. Estetexto nao e urnespelhoque acompanha0 ca-minhodeSartre, eurnatedoSartredehoje. N6s, quelemoselembramos, nao podemos tao facilmente isolar0culpado e seu juiz,encontramos neles urn ar familiar. Nao, 0 Sartre de vinte anos naoera tao indigno daquele que agora0 renega; e seu juiz de hoje selhe assemelha ainda pelo rigor dade uma expe-riencia para se compreender,de si e de todas as coi-sas por si, este texto nao foi feito para ser lido passivamente, comourn auto de ocorrencia ou urn inventario, mas para ser decifrado,meditado, relido. Tern - e0 destino da literatura quando boa -seguramente urn sentido mais rico,talvez urn sentido diferente da-queleque0 autorthedeu.Se fosse0lugar de faze-Io, cumpriria analisar, trinta anos de-pois, essa extraordinaria redescoberta do outro perdido e0que e1atern de fantastico; nao decerto porqueNizan naotenhasido, sobas aparencias da elegancia e dos maiores dons, 0 homem reto, co-rajoso, fie1 aos seus dados que Sartre descreve - mas porque0 Sar-tre de outrora naotern menosrealidade nempesoemnossa lem-

Eu therepetia, dize1e, quesomos livres, e0 finosorrisodelado, que era asua unicaresposta, era mais reve1ador do queto-dososmeUsdiscursos. Eunaoqueriasentir 0 pesofiskodemi-nhas correntes, nem conhecer as causas exteriores que me escon-diam0 meuser verdadeiro e me prendiamaoponto de honra daliberdade. Nada via que a pudesse atingir oujulgava-meloucamente imortal, nao encontrava na morte nem na angtistia al-go que se pudesse pensar. Nao sentia em mim nada que estivesseemperigodeseperder, estavasalvo, eraurne1eito. Defato, euera sujeito pensante ou escrevente, vivia fora de mimI eo Espfrito"onde eu habitava, era apenas aminha abstrata deestu-dantecriadoemescolasmilitares. Ignorandoasnecessidades, asamarras em mimIignorava-as nos outros, ou seja, ignorava0 tra-balho da vida de1es. Quando via sofrimento ou angUstia, atribufa-osacomplacencia ou mesmo a A0panico, 0hor-ror das amizades e dos amores, 0 prop6sito dcliberado de desagra-dar, numa palavra, 0 negativo, nao eram coisas que se pudesse vi-ver realmente: eram atitudes afetadas. Acreditei que Nizan decidi-raser perfeitocomunista. Porestarforadequalquerluta, espe-cialmente da poHtica (e, quando ncla entrei, foi para levar-Ihe mi-nha civilidade, meu humor construtivo e conciliat6rio), nada com-26 SIGNOSPREFAclO 27..preendidoesfor{:o queNizandevia fazerpara emergir dainfan-cia, nero de sua solidao, nem de sua busca da salvar;ao. Seus adiossalamdesua vida, cramDuropuro, as meusvinham da caber;a,crammoedafalsa...Num (mica ponto damos razao aSartre. Erealmente espan-toso queDaD tenha vista em Nizan0 que saltava aos olhos: sob asobriedade, sob aironia e0 dominic de si, ameditar;ao da mortee a fragilidade. Isto quer dizer que ha duas maneiras de ser joveme que uma naD compreende facilmente a outra: alguns sao fascina-dos pela infancia que tiveram, ela os possui, os mantem encanta-dosnumaordemdepossfveisprivilegiados. Outrossaolanr;adospor ela para a vida adulta, julgam-se sem passado e por issa pertade todas os possfveis.Sartre era da segunda especie. Portanto naoera facil serseuamigo. Adistanciaquepunha entresi mesmoeseus dados tambem daquilo que os outros tern para vi-ver. Nao mais do queasi mesmo, nao lhes permitia "pegar"-ser diante dele0 seu mal-estar ou a sua angUstia, como0 eram se-cretamente, vergonhosamente, em seu foro intimo. Tinha de apren-der, neleenosoutros, quenaohaninguemsemraizes, equeadecisao deliberada de nao as ter e uma outra maneira de confessa-las.Os outros porem, aqueles que continuavam a infancia ou que-riam conserva-Iae portanto procuravam receitas desalva.;:ao, deveremos dizer que tinham razao contra ele? Estes, porsua vez, tinham de aprender que nao se supera0 que se conserva,que nada lhes poderia devolver a totalidade de que sentiam sauda-de, e que, aose obstinarem, logonao teriam outra escolha senaoser simplorios ou mentirosos. Sartre nao os acompanhou nessa bus-ca. Mas poderia e1a ser publica? De compromisso em compromis-so, nao necessitaria ela do daro-escuro? E eles sabiam bern disso.Dai asrelac;6esintimasedistantesentreSartreeeles, 0 humor.Sartre censura-se hoje por elas:teriam e1es suportado outras? Di-gamos, quando muito, que0pudor, a ironia sao contagioso!r;SaF-tre nao compreendeu Nizan porque transcrevia os sofrimentos desteem dandismo. Foram precisos seus livros, a seqiiencia de sua vida,e, emSartre, vinte anos de experiencia, para queNizan Fosse afi-nal compreendido vinte anos depois da morte. Mas Nizan queriaque0 compreendessem?Seusofrimento, de queSartre falahoje,naoe0 generodeconfiss6esquesepreferefazeraoleitorenaoa alguem?Nizan algum dia teria tolerado, entre Sartre e cle, essetom de confidencia? Sartre sabe-o melhor do que nos. Vamos apre-sentar, pOI'em, alguns pequenos fatos.Urn dia, quando estavamos no curso preparatorio para a Esco-Ia Normal, vimos entrar em nossa dasse, com a aura dos eleitos, urnveterano que vinha fazer- sei hi que visita. Estava admiravelmentevestido de azul-escuro, usava a roseta tricolor de Valois. Disseram-me que era Nizan. Nada em seus trajes, em seujeito, anunciava asIabutas do curso preparatorio, nem da Escola Normal; e quando0nosso professor, que ao contrario sempre se ressentia deIas, sugeriu,sorrindo, que Nizan voltasse a tomar urn lugar entre n6s, "por quenao?", disse ele com voz glacial; e sentou-se num lugar vago pertode mim, para mergulhar impassivel em meu Sofodes, como se esteFosse realmente 0 seu unico objetivo naquela manha. Quando regres-sou de Aden, encontrei em minha correspondencia 0 cartao de Paul-YvesNizan convidando0 calouro Merleau-Ponty, cujo primo co-nhecera em Aden, ano quarto que dividia com Sartre. 0reencontro foi protocolar. 0lugar de Sartre era vazio e nu. Emcom-pensac;ao, Nizan havia pendurado na parede dois floretes cruzadosembaixo de uma mascara de esgrima, sendo contra esse fundo queme apareceu aque1e que, como soube depois, beirara 0 suiddio naArabia. Muito mais tarde, reencontrei-o na parte aberta do onibusS, casado, militante, e, naquele dia, carregando uma pesada pastae usando excepcionalmente urn chapeu. Meneionou espontaneamen-te Heidegger, disse algumas frases de estima, em quejulguei sentiro desejo de manifestar que nao se despedira da filosofia; mas isso taofriamente que nao tena ousado fazer-Ihe abertamente a pergunta.Gosto de me lembrar desses fatos infimos:nada provam, mas saoa vida. Fazem sentir que, se Sartre nao acompanhou com muita aten-.;:ao 0trabalho que se realizava em Nizan, Nizan, por sua vez, afor-c;a de humor, de reserva e de cortesia, era em grande parte responsa-vel pe10jogo. Estavadito que Sartre 0 compreenderia trinta anos maistarde, porque se tratava de Sartre, mas tambem porque se tratavade Nizan. E sobretudo porque eramjovens, isto e, peremptorios etimidos. E talvez enfim por uma derradeira e mais profunda razao.o Nizan que Sartre se censura de haver desconhecido existiriarealmente em 1928 - antes da familia, dos livros, da vida detante, da ruptura com0 partido, e sobretudo da morte aos trinta e28 SIGNOSPREFAcIO29cinco anos? Porque ele se rematou, encerrou, imobilizou naquelestnnta e cinco curtos anos, que resvalaram em bloea para vinte anosatnis de n6s, e queremos agora que tuda quanta elc devia ser esti-vesse presente em seue em cada urn de seus instantes. Fe-bril como0 que asua vida tambem esalida como0 queesta realizado; elc ejovem para sempre. E porque. pelo contrario,foi-nosdado tempo para nosenganarmos edesenganarmosmaisde umavez, nossasidas e vindas confundemasnossosrastras, anossapropria juventuderevela-separanosgasta, insignificante,o que ela foi em sua verclacle inacesslvel. A uma vida termi-nada cedo demais, aplico as medidas da esperan-;a. A minha, quese perpetua, asmedidas severas da marte. Urn homemjovemfezmuito se foi urn talvez. Urn homem maduro que continua presenteda-nos a impressao de que nada fez. Como nas coisas da inffincia,enocompanheiroperdidoqueencontroaplenitude, seJaque aftqueeriaesteJaexauridaemmim, seJaque arealidadese formeapenasnamemtfria8. Outra ilusao retrospectiva de que Bergson nao falou: naomais a da preexistencia, mas a da decadencia. Talvez0 tempo naoseescoenemdofuturonemdopassado. Talvezsejaadistanciaque faz para nos a realidade do Dutro, sobretudo a do outro perdi-do. Mas ela nosreabilitaria, sepudessemosadota-Ia comrelac;aoa nos mesmos. Para equilibrar 0que Sartre escreve hoje de si mes-mo e deNizan com vinte anos, faltara porem aquilo que0 Nizande cinqiienta anospoderia ter ditoda juventude deambos. Paran6s, eramdoishomens queestavamcomec;ando, ecomec;avamopostamente.o que confere melancoliaa narrativa de Sartre e vermos nelaosdoisamigosaprenderemlentamentecoisasquedesde 0 iniciopoderiam ter aprendido urn do outro. Confiscado pela imagem dopai, dominado pelo drama mais velho que ele de urn operario queabandonou sua dasse, percebeque desde entao asua vida era ir-real e falha, tenninando-a no 6dio de si mesmo,Nizan sabia a pri-meira vista0 peso da inffincia, docorpo, do social, e quelac;C?sfi-liais e lac;os de hist6ria sao tecidos juntos,sao uma unica angUstia.Naoteriapostofimafascinac;ao, talvezativesseagravadoesco-lhendo simplesmente0casamento, a familia, reassumindo0 papel8. SWANN, I, 265.dopai. Sequisessevoltar ao cido davida de quea vida dopai 0expulsara, seria precise purificar a fonte, romper com a sociedadeque provocara a solidao de ambos, desfazer0que0 pai fizera, re-comec;ar em sentido inverso0 seu caminho. A. medida que os anosvao passando, multiplicam-se os pressagios, aproxima-se a eviden-cia. Afugapara Aden eaultima tentativadeumasolw;aopelaaventura. Esta naopassariadeuma diversaose- poracaso ouporque procurasse secretamente aquela lic;ao - Nizan nao tivesseencontrado no regime colonial a imagem dara de nossa dependen-cia paraCOm0 exterior. Assim0 sofrimentoterncausasquenossao exteriores, sao identificaveis, ternurnnome, podem ser aboli-das. Assimhaurninimigoquenoseexterior, econtraelenadapoderemos se ficarmos s6s. Assim a vida e guerra, e guerra social.Nizanja sabia0 que Sartre disse muito mais tarde: que no comec;onao e0 jogomasanecessidade, quenao examinamos0 mundo,nem as situac;oes, nem os outros de longe com nosso olhar, comoespetaculos, que estamos confundidos com eles, que os absorvemospor todososporos, quesomosaquiloquefaltadetodD0 resto, equecom0 nossonadacentral ocorreemnosurnprincfpiogeralde alienac;ao. Nizan precedeu-o vitalmente nesse pantragismo, nessamaredeangUstiaqueetambern0 luxodahistoria.Mas, por essa mesma razao e por nao viver no tragico, Sartrecompreendeu muito mais cedo os artificios da salvac;ao e da voltaao positivo. Nao era exatamente otimist'a:nunca identificou0Berncom0 Ser. Tampoucoestavasalvo, eleito. Era vigoroso, alegre,empreendedor, t6dasascoisasdiantedeleeramnovaseinteres-santes. Exatamente, era supralapsdrio, aquem do tragico e daranc;a, eportantobernarmadopara des-atar osnosdandestinos.Aexperienci.a deNizan nos dezanos queprecederamaguerra erealmente uma demonstrac;ao das suas premonic;oes, e quando Sar-tre arelata hoje- quandoaendossa, profundamente, fraternal-mente - nao consegue deixar de reproduzir exatamente 0que desdeentao nos dizia das conversoes. Urn homem dedara-se urn dia cris-tao, comunista. Que quer dizer ao cetto? Nao se muda inteiramentenum instante. Simplesmente, ao reconhecer uma causa exterior deseu destino, 0homem recebe subitamente permissao e mesmo mis-sao - como dizia, creio eu, Maritain - deviver no seio dafe de suavida natural. Nao enecessario nempossivel que cessem seus turbi-30 SIGNOSPREFAclO31..lhoes: a partir dar estao "consagrados"9. Seus tormentas sao agoraas estigmas com que0 marca uma imensa Verdade. amal de quemorria ajuda-o, e ajuda os outros, a viver. Nao the epedicloquerenuncie a seus dons, se os tern.Ao contrario, esses dons sao tados aosoltar-se aanglistia quelheapertavaagarganta. Viver,ser feliz, escrever,era consentir0 sana, era suspeito, e era baixo.Agora, trata-se de retomar do pecado aquila que este se arrogara,au, dizia Lenin, Toubar cla burguesia0que eia roubara. 0 comu-nismo entreve na perspectiva urn homem diferente, uma socieda-de diferente. Mas, por ora, e por tada uma longa fase denominadanegativa, e0 aparelho do Estado que de volta contra 0 Estado bur-gues. Sao os meios do mal que volta contra0 mal. Por conseguin-te, cadacoisasedesdobraconformeaconsideremosemsuaori-gemrnaOUnaperspectiva dofuturoquereclama. 0 marxista eomiseravelqueelefoi - etambemessamiseriarecolocadaemseu lugar na totalidade, e conhecida emsuas causas. Como escri-tor da ele continua a decadencia burguesa; masmesmo nisso presta testemunho, ultrapassa-a em de urn fu-turodiferente. Nizancomunista"via0 mundoevia-senele"lO.Era sujeito e era objeto. Como objeto, perdido com seu tempo;co-mosujeito, salvo com0 futuro. Essa vida em parte dupla econtu-do uma unica vida. 0 homem marxista eurn produto da hist6ria,e tambem participa pelo interior na hist6ria comode umaoutra sociedade edeurn outro homem. Comoseraissopossivel?Seria preciso que, como ser finito, fossereintegrado na produtivi-dadeinfinita. Por issomuitosmarxistasforamtentadospelospi-nozismo,e Nizan foiurn deles. Como ele, Sartre gostou de Spino-za, mas, contra a transcendencia, contra os conciliadores, nao tar-douareconhecer emSpinoza0 equivalente deseusartiffcios, "aplenitude afirmativa.do mundo finito que, ao mesmo tempo, que-bra seus limites e volta ainfinita substancia"l1. Afinal decontas,Spinozafaztudopara mascararavirtudeespedficae0 trab.yhodo negativo, eo marxismo spinozista esimplesmente uma ra fraudulenta de nosgarant,ir ja nesta vida avolta ao positivo. A9. PrefacioaAdenArabie, p. 51.10. Ibid., p. 48.11. Ibid., p. 55.adesaoa uma positividade infinita eurnpseudonimo da angu.stianua, apretensao deter atravessado0 negativoechegado aoutramargem, de ter esgotado,totalizado, interiorizado a morte. "Naotinharnos nem mesmo isso, nem mesmo essa sem in-termediario com nossonada."12 Tal filos6fica, Sartreencontrou-a mais tarde. Mas aos vintee cinco anos que haardile quandoahomem dasalva-;ao naose inclui naconta. Nizan queria nao mais pensar em si mesmo e0 conseguiu,s6 deu ao encadeamento dascausas. Mas era aindaele0negador, ele0insubstituivel quese esmagava nas coisas13.Aver-dadeira negatividade nao pode ser feita de duas positividades reu-nidas: meu ser como produto do capitalismo e a afirma-;ao atravesde mim de urn outro futuro. Pois ha rivalidade entre elas, e emis-ter que uma ou outra triunfe. Ou entao, tornada meio de edifica-tema profissional, arevolta deixa de ser sentida, deixa de servivida. 0 homem marxista e salvo pela doutrina e pelo movimen-to, instala-se no oncio - segundo seus antigoscriterios, estaper-dido. Ou entao, e e0que acontece aos melhores, nao esquece, naomente para si mesmo, e de seu sofrimento a cada instante que lherenasceasa,bedoria, e sua incredulidadeque esua fe, masnao0pode dizer,e entao eaos outros que deve mentir. Dai essa impres-sao que nos deixavam tantas conversas COm os comunistas: 0 pen-samentomaisobjetivopossivel, mas0 maisangustiado, e, sobadureza, uma frouxidao, uma humildade secreta. Sartre sempre sou-be, sempredisse, efoi issoque0 impediudeser comunista, quea negat;aO comunista, sendo pt'sitividade invertida, e diferente da-quiloquediz, oudizduascoisas, eventriloqua.Percebendo taobern ossubterfugios do "homem negativo",.poderiamos espantar-nos de que as vezes fale com saudades dafa-"se totalmente critica anterior a1930: assirn como em sua fase "cons-trutiva", aRevolu-;ao ja possuia asuamoedafalsa. Maistarde,com areflexao, ele aaceitou como urnmal menor. Nunca reocu-pall simplesmente as mantidas por Nizan ha trinta anos.Legitima-as na segundapotencia, porrazoesquethepertencem,em nome de uma experiencia que0levou ao engajamento sem mu-12. Ibid., p. H.13. Ibid., p. 55.32 SIGNOSPREFA.cIO33dar 0quesemprepensou dasalvac;ao. MasiSBa, quecomec;a em1939, cabe-nosretrac;ar.Em 1939, Nizan vai descobrir bruscamente que DaD se esalvotao depressa, que a adesao ao comunismoDaD liberta dos dilemasedasdilacerac;oes "- enquantoSartre, que0 sabia, comec;aessaaprendizagemdopositivoedahist6riaque mais tarde deveriaconcluzi-Io a uma especie de comunismo do exterior. Assim se cru-zarnseus caminhos. Nizan volta da politica comunista para are-volta, eSartre, apoHtico, trava conhecimentocom0 social. Con-vern ler essa bela narrativa. Convem le-la por cima do ombro deSartre, amedida quevai brotando da pena, entremeada emsuasreflexoes, eentremeandonelatambemasnossas.Nizan, diz cIe, aclmitira que 0novo homem, a nova sociedadeainda nao existem, que talvez ele mesmo nao os veria, que era pre-ciso devotar-se a esse futuro desconhecido, sem medir0 sacrificio,semregatear, semcontestar atodoinstanteos meios daRevolu-Sobre os processos de Moscou, nada dissera. Vern uma outraprova para ele mais clara. Encarregado da poUtica exterior de urnjornal dopartido, explicou cern vezes que asovietica des-cartaria aurnso tempo0 fascismoe aguerra. Disse-o novamenteemjulho de1939 em Marselha, onde Sartre0encontra por acaso.- Aqui pedimos para abrir urn parentese: Nizan sabia que talveznao evitassemos 0 fascismoeaguerraaomesmotempo, etinhaemsi mesmoaceitadoaguerra, sefosse 0 unicomeiodeconterofascismo. Acontece queposso testemunha-Io. Talvez tres serna-nasdepoisdeseuencontrocomSartre, vi por minhavezNizan.Foi na C6rsega, em Porto, em casa de Casanova, se nao estou en-ganado. Estava alegre, sorridente, como Sartre 0 vira. Mas - seusamigos0 estariam preparando para a virada ou eles mesmos eramtrabalhados de mais alto, nao sei - ele ja nao dizia que no outonoofascismoestaria de joelhos. Disse: teremos guerra contra aAle-manha, mas com ada URSS, e finalmente nos a ganhare-mos.Disse isso com firmeza, serenidade, ainda thea voz, cb-mo se por fim se tivesse libertado de si mesmo... Quinze dias maistarde, efetuava-se 0 pactogermano-russoeNizanabandonava0partido comunista. Nao, explicou ele, por causa do pacto, que ven-cia os amigos ocidentais de Hitler no seu pr6prio jogo. Mas0par-tido frances deveria ter salvo a dignidade, fingido dei-xado aparentemente de ser solidario. Nizan percebia que ser cornu-nista nao e representar urn papel que se escolheu, eficar preso numdrama em que se recebe, sem0 saber, urn outro papel, eurn em-preendimento devida, que continua nafeoutermina na separa-mas que de qualquer modo vai alem dos limites convenciona-dos, daspromessasracionais. Seeassim, ese everdadequenavida comunista como na outra nunca se faz narla para sempre, seanos de trabalho e depodern num instante ser atingidos peloridfculo, entao, pensaele, eunaoposso, e enao.No mesmo momento, quepensa Sartre?Gostaria de acredi-tar queNizan0 enganou. Masnao. Nizandemite-se. Ele equefoi enganado. Sao duas crianc;as no mundo da polftica. Mundo se-vero, emque eimpossivelavaliar osriscos, emqueapaztalvezseja proporcionada apenas aqueles que nao temem aguerra. Naose age mostrando a propria forc;a, a nao ser quando se esta decidi-doausa-laoSe elae mostrada medrosamente, tem-seaguerraetem-se a derrota."Eu descobria... 0 eITO monumental de toda uma ... ; empurravam-nos para 0 massacre numa feroz pre-guerra, epensavamos caminhar nos gramados da paz. "14 Assim,nele e em Nizan, ae diferente, e diferente a liC;ao. Nizanaceitaraaforc;a, aguerra eamortepor umacausamuitoclara;oacontecimentozombava deseusacrificio; ja naotinha asilose-naoemsi mesmo. Sartre, queacreditaranapaz, descobriaumaadversidade nome, que teria de levar em conta.que nun-ca esquecera. EaorigemdeseupragmatismoempoHtica. Nummundo enfeitic;ado, a questao nao e saber quemternrazao, quemandamaisreto, masquemesta aalturadoGrandeEnganador,queaC;aoserabastantemaleavel, bastante duraparachama-Ioarazao.Cornpreendemos entao as que Sartre faz hoje aoNi-zan de1939, epor queelas naoterncontra ele. Nizan, diz'ele, estava colerico. Mas sera essa c6lera uma decorrencia dohu-mor? Eurnmodo de conhecimento muito conveniente quando setrata dofundamental. Para quemsetornoucomunista eagiunopartido dia apos dia, haurnpeso dascoisas ditas e feitas, porquefoi eletambernqueasdisseefez. Paraconsiderar corretamenteavirada de1939, seriapreciseque Nizanfosseurnhomemsemcarater, estivesse quebrantadoe fosse apenas para zornbar dos14. PrefacioaAdenArabie, p. 57.34 SlGNOSPREFAcIO 35..ceticos que se tornara comunista. Ou entao seria preciso que fosseapenas simpatizante. Mas0partidoDaDesta em causa, diz aindaSartre. NaG epela partido que the vern a morte. "0 massacre foiparido pela Terra enasceu em tadaparte. ,.15 Acredito. Masissoejustificar 0 partido no relativo, como urn fatD da hist6ria da Ter-ra. ParaNizan, queparticipadele, etudoounada...da", continua Sartre. "Se estivesse vivo, estoll certo de que a Re-sistencia0 reconduziria as meiras como a tantos outros. "16 Asfl- com certeza. Mas as fileiras do partido?:E muito diferente.E quase0 aposta:uma fun.;ao de autoridade, uma marca distintiva. Mesmo que arlerisse novamente, DaD esqueceria0episodio. 0comunismo que abandonara era a sabia doutrina querepoe apa-triaeafamilia naRevolw;ao. Reencontrariaurncomunismote-merario que representava0papel da por intermedio daresistencia, depois daquele do derrotismo, enquanto esperava 0dareconstrw;:aoedocompromissodepois daguerra. Mesmoque 0quisesse, poderia seguir esse rumo, ele, que acreditara na verdadedo marxismo? Poderia faze-Io, desde que nao tivesse tornado posi-.;ao todas as vezes. Urna coisa e, do exterior ou posteriormente (0que da nomesmo), justificar com documentos na mao os desviosdo comunismo, outra, organizar 0ardil e ser 0enganador. Recordo-me de haver escrito em outubro de1939, da Lorena, cartas profe-ticas quemaquiavelicamente distribufam os papeis entre a URSSe nos. Mas eu nao havia passado anos pregando asovieti-ca. ComoSartre, eunaotinhapartido: boa posi.;ao para serena-mente fazer ao mais duro dos partidos.. Nao estavamos er-rados, masNizan tinha razao. 0 comunismo do exterior naoterna dar aos comunistas. Ora mais dnico que eles e ora menos,revoltado ondeconsentem, resignadoonderecusam, encontra-senuma incompreensao natural da vida comunista. Nizan "desapren-dia", masissotambemeaprender. Fundamentadanas suasra-zoes deser e deser comunista, sesua revolta de1939 era urnre-cuo, entaochamemosrecuoadeBudapeste.Tendo partido, urn da angUstia, 0 outro da alegria, caminhan-dournparaafelicidade, 0 outropara0 tragico, aproximando-se15. PrefacioaAdenArabie, p. 60.16. Ibid., p. 58.ambos do comunismo, urnpor sua faceclassica, 0 outroporsuaface de sombra, por fim repelidos ambos pelo acontecimento, nun-ca talvez Sartre e Nizan estiveram mais proximos urn do outro doque hoje, na hora em que as suas experiencias se esclarecemmu-tuamentenestaspaginas profundas. Paradizer agora aquecon-clusao tudo isso leva, sena preciso prolongar algumas palavras ful-gurantes que esta arranca de Sartre. 0 que esta intactonelee0 sentidodonovoedaliberdade_: "Naoreencontraremosa liberdade perdida a naoser que ainventemos; e proibido olharpara tras, aindaquesejapara medir asnossasnecessidades'au-tenticas." 17Masdessanegatividadeverdadeira, essaquenaosecontenta em dar outros nomesasmesmascoisas, onde encontrarnopresente os emblemas e as armas? 0 queaRussia da gera.;aode Outubro nao deu ao mundo, deveremos espera-Io do novo mo-vimento, ou dos povos novos? Poderemos deslocar 0 nosso radica-lismo? Porem nao ha transferencia pura e simples em historia. Di-remos aos jovens: "Sejam cubanos, sejam russos ou chineses, co-mo quiserem, sejam afrieanos?Eles nosresponderao que e muitotarde para mudar 0 nascimento. " 180 que talvez seja claro na Chi-na e aqui pela menos implleito e confuso, as duas historias nao in-flueneiam uma a outra. Quem se atreveria a sustentar, mesmo queela urn dia tivesse esse poder, que a China liberlara, digamos, a Hun-gria ou aE onde encontrar, na Fran.;a de1960, 0 sentidodaliberdadeselvagem?Alguns jovens0 mantememsuasvidas,alguns Diogenes emseus livros. Onde esta ele, nemsequer dize-mos na vida publica, mas nas massas? A liberdade, a invenc;ao saominoritarias,oposic;ao. 0 homem esta escondido, bern escon-dido, edestaveznaopodemosnosenganar: istonaoquer dizer',que esteja pr:esente sob uma mascara,pronto para apareeer. A alie-na.;ao nao e simples privac;ao daquilo quenos era propriopor di-reito de natureza, e naobasta, para faze-Iacrescer, roubar0 quefoi roubado, reembolsar0 nosso debito. Emuito maisgrave: sobasmascaras, nao ha rostos, 0 homem historieo nunea foi homem,enoentantonenhumhomemestaso...17. PrefacioaAdenArabie, pp. 44-45.18. Ibid, p. 17.19. Ibid., p. 29.20. Ibid., p. 30.21. Ibid., p. 45:22. Ibid., p. 18.23. Ibid., p. 29.24. Ibid., p. 18.VemosentaDaquetItulo, emquesentidoSartrepadereto-mar e ofcreeer aos jovens revoltados a reivindica!;ao do jovem Ni-zan. "Nizan falava com amargura dos velhos que fazem arnor comnossas mulheres e pretendem nos castrar.,,19 Escreveu: "Enquantoos homens nao forero completos e livres, sonharao anoite; "20 Disse"que0 arnoreraverdadeiro enosimpediamdeamar; queavida podia ser verdadeira, que podia parir uma verdadeira morte,mas nos faziam morrer antes mesma de tcrmos nascido' >21, Assim,encontramsepresentes0 nosso irmao0 arnor, anossa irma avida, e mesma anossa irma a morte corporal, tao prometedora co-mo urn parto. 0 Ser esta ali ao alcance cia mao, basta apenas liberta10 do reino dos velhos e dos ricos. Desejem, sejam insaciaveis, "di-rijamasuaraivacontraaquelesqueaprovocaram, naotentemescapar ao sofrimento, procurem-Ihe as causas e esmaguemnas' '22.Infelizmente, a historia de Nizan que ele conta em seguida mostrabern que nao e tao facHencontrar as verdadeiras causas - eesmaguem-nas e justamente ap31avra de uma guerra em que0 ini-migo e inapreensfvel.0 homem completo, aquele que nao sonha,quepodemorrer bernporquevivebernequepode amaravidaporque encara a morte, e, como0mito dos andr6ginos, 0sfmbolodoquenosfalta.Simplesmente,como essa verdade seria aspera demais, Sartrearetraduzna linguagemdos jovens, na do jovemNizan. "Numasociedade quereserva suas mulheres aos velhos e aosricos... ' '23 Ea linguagem dos fLlhos. Ea frase edipiana que se ouve em todas as Sartre diz muito bern: todo filho, aose tornarpai, mataopai e0 recome