menos poluição e mais renda

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29 DE NOVEMBRO, 2011 Novas regras nacionais priorizam redução, reutilização e reciclagem, o que gera emprego e movimenta a indústria. Entenda como ocorre a gestão atual e quais serão as mudanças Lei transforma lixo em negócio Especial resíduos Foto: Cleber Tomas

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Trabalho de conclusão do curso Jornalismo/UFSC produzido em 2011 por Daniela Bidone.

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29 DE NOVEMBRO, 2011

Novas regras nacionais priorizam redução, reutilização e reciclagem, o que gera emprego e movimenta a indústria. Entenda como ocorre a gestão atual e quais serão as mudanças

Lei transformalixo em negócio

Espec

ial resíd

uos

Foto: Cleber Tom

as

29 DE NOVEMBRO, 2011

Especial Resíduos

Menos poluição e mais renda

Não falta trabalhoTodo o material da coleta seletiva realizada pela Comcap, em Florianópolis, é doado a triadores, como os da Associação de Recicladores Esperança (Aresp)

29 DE NOVEMBRO, 2011

Menos poluição e mais renda Pela Constituição Federal brasileira, os assuntos

que tratam de interesses locais são incumbên-cias dos municípios. Faz parte da administra-ção municipal, por exemplo, possibilitar que haja coleta regular e destinação correta para

o lixo. Mas em agosto de 2010, o presidente Luis Inácio Lula da Silva compartilhou essa responsabilidade com ou-tros entes ao sancionar a Política Nacional de Resíduos Só-lidos e, em dezembro, seu decreto regulamentador. São as primeiras normas nacionais para regularização da área. A partir de então, todos os usuários do sistema onde há coletas segregadas – de donas-de-casa a comerciantes – preci-saram ter em residências ou estabelecimentos, no mínimo, três lixeiras, para recicláveis secos, úmidos e resíduos sem possibi-lidade de reaproveitamento. Outros tipos, considerados mais agressivos ao meio ambiente e à saúde pública, devem ser de-volvidos, após o uso, no local da compra, e o descarte é encar-go dos fabricantes. Se o consumidor agir de forma incorreta, pode receber advertência e multa entre R$ 50 e R$ 500. Além disso, a proposta é empregar taxas proporcionais para o serviço de manejo, incentivando as famílias a produzirem menos lixo. Depois de 20 anos em tramitação, a lei inédita precisa, agora, ser aplicada. Para entender o que ocorre atualmente, quais serão as mudanças e que medidas são necessárias para implantá-las – caso sejam, de fato, viáveis - é apresentado o exemplo de Florianópolis, cidade de porte médio, com 421 mil habitantes. A Capital de Santa Catarina produz 420 to-neladas diárias de lixo, exceto entre dezembro e março, quando chega ao dobro. O caminho que os resíduos percor-rem, desde as mãos do consumidor até o destino final, vai precisar ser remodelado para adequação às novas regras.

Daniela Bidone

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Lei aprovada em 2010 valoriza reaproveitamento de resíduos e reduz parcela enviada a aterros sanitários. Com as normas, a palavra lixo continua apenas no vocabulário popular e, mesmo assim, é entoada de outra maneira

29 DE NOVEMBRO, 2011

Sempre começa no gerador

A mulher olha para o único lugar vago no ônibus e pede à filha,

que aparenta ter seis anos, sentar no seu colo. Ela obedece, sem parar de desembrulhar o pirulito que tem nas mãos. Quando acaba, sem cogitar outra atitude, move o braço em que segura a embalagem na direção da janela. Instintivamente, a moça que senta ao lado, e não conhece a dupla, segura o punho da criança. “Você não vai fazer isso!” E guarda o pedaço de plástico consigo. Sem parecer se im-portar, a mãe da menina apenas sorri. O gesto da criança em jogar a embalagem no meio do asfalto faz parte da cultura de se livrar do que é considerado descartável. Assim como ela, há quem coloque lixo em terrenos baldios, córregos, valas. Esse hábito sempre acompanhou o ser humano, mas a Revolução Industrial é con-siderada um marco pela engenharia sanitária. A partir de então se estabe-leceu o uso dos recursos naturais na produção de bens para consumo e o espaço entre a aquisição e o descar-te de um produto ficou mais curto. Em Florianópolis, se for con-siderada a quantidade total de resídu-os coletados e a população de 2010, cada habitante gerou um quilo por dia, média acima da registrada em Santa Catarina, que, segundo o Panorama Geral da Associação Brasileira de Em-presas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) foi 754g. Wilson Cancian Lopes, assessor técnico da Comcap, empresa responsável pela limpeza urbana e manejo de resíduos na cidade, explica que a área central é a maior geradora de lixo, já que é for-mada por muitos condomínios. “Há torres com comércio embaixo e mora-dores em cima, ou seja, tem o público rotativo e mais 500 pessoas morando.”

No bairro Trindade, uma mesma rua comporta três grandes condomínios. O Solar Santa Paula, com 96 residências, participa da coleta seletiva da Comcap disponibilizando o vidro em sacolas de supermerca-do abertas, dentro de um carrinho de supermercado. O material não é aceito pelo catador autônomo que leva, duas vezes por semana, os materiais recicláveis – papel, plástico e metal – produzi-dos no local. Ele também recolhe no condomínio ao lado, Verde Mar, que tem 155 apartamentos. Maria Cristina Monteiro, gerente da divisão de coleta seletiva da Companhia, co-nhece o procedimento. “O problema, nesse caso, é que não há certeza de como esse material será triado e para onde vão os rejeitos.” Segundo ela, a coleta do município garante a pro-cedência correta em todas as etapas. O terceiro maior condomínio de Florianópolis, Itambé, com 405 apartamentos, fica no final da rua. O síndico Rodolfo Kaiser se orgulha da organização para vender os resíduos recicláveis, que são segregados já nas lixeiras de cada bloco. Segundo ele, um comprador de fora da cidade leva o vidro. Os outros materiais são adqui-ridos por uma cooperativa. Também há separação do óleo de cozinha, do-ado para reciclagem a cada três meses. A capital de Santa Catarina tem, ainda, a população turística, constituí-da pelos geradores sazonais. Eles resi-dem, principalmente nas praias, entre dezembro e março. O assessor técnico da Comcap afirma que o município não tem controle sobre os turistas,

pelo fato de que a maioria dos imóveis é aluga-

da diretamente com os proprietários. Para Wilson, uma casa que tem libera-ção para cinco pessoas, no verão abri-ga 15. “A cidade não arrecada, mas o custo da logística de coleta triplica.” Durante a temporada é que o shopping Beiramar, no centro da cidade, produz mais lixo. A cai-xa compactadora na área externa do empreendimento, mesmo esva-ziada todos os dias, às vezes não é suficiente. E a empresa Brooks Am-biental precisa aumentar o turno dos funcionários que ficam no térreo do shopping separando os materiais reci-cláveis. Segundo o gerente de ope-rações Fritz Gerhard Göring, o es-tabelecimento paga a taxa do IPTU referente à coleta e destinação do lixo, mas a prefeitura não presta o serviço. Por isso, terceirizam e gas-tam mais R$ 77 para cada tonelada de resíduo comum – diariamente, são 2,5. O valor arrecadado com a venda dos recicláveis é abatido do preço no contrato mensal. Já o lixo hospitalar

produzido em alguns estabelecimentos é co-letado separadamente, por precisar de cui-dados diferenciados. Os resíduos de saúde fazem parte de um grupo que possui composição perigosa à saúde pública e am-biental, no qual tam-bém estão inclusos pi-lhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes,

lâmpadas e produtos eletroeletrônicos. To-dos estes necessitam de tratamentos espe-cíficos. Wilson Can-cian Lopes, assessor da Comcap, indica que. apesar de já haver algumas resoluções do Conama para estes produtos, o consu-midor ainda descarta no lixo comum. Ele espera que, com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, haja uma maior publicida-de de que o consu-midor deve devolver o produto onde foi comprado, já que esta é uma diretriz da lei. Também está

na nova norma que geradores de resí-duos industriais, de serviços de sanea-mento básico, saúde ou transporte, de construção civil e atividades agrossil-vopastoris precisarão elaborar planos de gerenciamento, com diagnóstico dos resíduos sólidos produzidos, de-finição dos procedimentos operacio-nais e dos responsáveis, ações preven-tivas e corretivas no caso de acidentes. Para os geradores domici-liares, a lei federal prevê o incentivo ao consumo sustentável por meio da educação ambiental. O economista

André Luiz Andrade acrescenta que o governo pode incentivar as indústrias a atingirem a ecoeficiência, tornando este um diferencial em compras go-vernamentais e na bolsa de valores. O conceito é citado pela lei e prevê o for-necimento de bens e serviços de quali-dade com impacto ambiental mínimo. Caso não seja feita a separa-ção e o acondicionamento correto para a coleta, os usuários podem ser multados. Em Florianópolis, Wilson garante que a Comcap precisa, antes de advertir ou multar, se adequar para oferecer um bom serviço de coleta seletiva ou pontos de entrega volun-tária. O assessor também esclarece que, até o momento, a empresa não tem poder de polícia, apenas Secre-taria Municipal de Desenvolvimen-to Urbano, Fundação Municipal do Meio Ambiente e Vigilância Sanitária.

No shopping Beiramar, há lixeiras para segregação prévia e dois funcionários responsáveis pela triagem

Grande produtor

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Especial resíduos

29 DE NOVEMBRO, 2011

A mulher olha para o único lugar vago no ônibus e pede à filha,

que aparenta ter seis anos, sentar no seu colo. Ela obedece, sem parar de desembrulhar o pirulito que tem nas mãos. Quando acaba, sem cogitar outra atitude, move o braço em que segura a embalagem na direção da janela. Instintivamente, a moça que senta ao lado, e não conhece a dupla, segura o punho da criança. “Você não vai fazer isso!” E guarda o pedaço de plástico consigo. Sem parecer se im-portar, a mãe da menina apenas sorri. O gesto da criança em jogar a embalagem no meio do asfalto faz parte da cultura de se livrar do que é considerado descartável. Assim como ela, há quem coloque lixo em terrenos baldios, córregos, valas. Esse hábito sempre acompanhou o ser humano, mas a Revolução Industrial é con-siderada um marco pela engenharia sanitária. A partir de então se estabe-leceu o uso dos recursos naturais na produção de bens para consumo e o espaço entre a aquisição e o descar-te de um produto ficou mais curto. Em Florianópolis, se for con-siderada a quantidade total de resídu-os coletados e a população de 2010, cada habitante gerou um quilo por dia, média acima da registrada em Santa Catarina, que, segundo o Panorama Geral da Associação Brasileira de Em-presas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) foi 754g. Wilson Cancian Lopes, assessor técnico da Comcap, empresa responsável pela limpeza urbana e manejo de resíduos na cidade, explica que a área central é a maior geradora de lixo, já que é for-mada por muitos condomínios. “Há torres com comércio embaixo e mora-dores em cima, ou seja, tem o público rotativo e mais 500 pessoas morando.”

No bairro Trindade, uma mesma rua comporta três grandes condomínios. O Solar Santa Paula, com 96 residências, participa da coleta seletiva da Comcap disponibilizando o vidro em sacolas de supermerca-do abertas, dentro de um carrinho de supermercado. O material não é aceito pelo catador autônomo que leva, duas vezes por semana, os materiais recicláveis – papel, plástico e metal – produzi-dos no local. Ele também recolhe no condomínio ao lado, Verde Mar, que tem 155 apartamentos. Maria Cristina Monteiro, gerente da divisão de coleta seletiva da Companhia, co-nhece o procedimento. “O problema, nesse caso, é que não há certeza de como esse material será triado e para onde vão os rejeitos.” Segundo ela, a coleta do município garante a pro-cedência correta em todas as etapas. O terceiro maior condomínio de Florianópolis, Itambé, com 405 apartamentos, fica no final da rua. O síndico Rodolfo Kaiser se orgulha da organização para vender os resíduos recicláveis, que são segregados já nas lixeiras de cada bloco. Segundo ele, um comprador de fora da cidade leva o vidro. Os outros materiais são adqui-ridos por uma cooperativa. Também há separação do óleo de cozinha, do-ado para reciclagem a cada três meses. A capital de Santa Catarina tem, ainda, a população turística, constituí-da pelos geradores sazonais. Eles resi-dem, principalmente nas praias, entre dezembro e março. O assessor técnico da Comcap afirma que o município não tem controle sobre os turistas,

pelo fato de que a maioria dos imóveis é aluga-

da diretamente com os proprietários. Para Wilson, uma casa que tem libera-ção para cinco pessoas, no verão abri-ga 15. “A cidade não arrecada, mas o custo da logística de coleta triplica.” Durante a temporada é que o shopping Beiramar, no centro da cidade, produz mais lixo. A cai-xa compactadora na área externa do empreendimento, mesmo esva-ziada todos os dias, às vezes não é suficiente. E a empresa Brooks Am-biental precisa aumentar o turno dos funcionários que ficam no térreo do shopping separando os materiais reci-cláveis. Segundo o gerente de ope-rações Fritz Gerhard Göring, o es-tabelecimento paga a taxa do IPTU referente à coleta e destinação do lixo, mas a prefeitura não presta o serviço. Por isso, terceirizam e gas-tam mais R$ 77 para cada tonelada de resíduo comum – diariamente, são 2,5. O valor arrecadado com a venda dos recicláveis é abatido do preço no contrato mensal. Já o lixo hospitalar

produzido em alguns estabelecimentos é co-letado separadamente, por precisar de cui-dados diferenciados. Os resíduos de saúde fazem parte de um grupo que possui composição perigosa à saúde pública e am-biental, no qual tam-bém estão inclusos pi-lhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes,

lâmpadas e produtos eletroeletrônicos. To-dos estes necessitam de tratamentos espe-cíficos. Wilson Can-cian Lopes, assessor da Comcap, indica que. apesar de já haver algumas resoluções do Conama para estes produtos, o consu-midor ainda descarta no lixo comum. Ele espera que, com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, haja uma maior publicida-de de que o consu-midor deve devolver o produto onde foi comprado, já que esta é uma diretriz da lei. Também está

na nova norma que geradores de resí-duos industriais, de serviços de sanea-mento básico, saúde ou transporte, de construção civil e atividades agrossil-vopastoris precisarão elaborar planos de gerenciamento, com diagnóstico dos resíduos sólidos produzidos, de-finição dos procedimentos operacio-nais e dos responsáveis, ações preven-tivas e corretivas no caso de acidentes. Para os geradores domici-liares, a lei federal prevê o incentivo ao consumo sustentável por meio da educação ambiental. O economista

André Luiz Andrade acrescenta que o governo pode incentivar as indústrias a atingirem a ecoeficiência, tornando este um diferencial em compras go-vernamentais e na bolsa de valores. O conceito é citado pela lei e prevê o for-necimento de bens e serviços de quali-dade com impacto ambiental mínimo. Caso não seja feita a separa-ção e o acondicionamento correto para a coleta, os usuários podem ser multados. Em Florianópolis, Wilson garante que a Comcap precisa, antes de advertir ou multar, se adequar para oferecer um bom serviço de coleta seletiva ou pontos de entrega volun-tária. O assessor também esclarece que, até o momento, a empresa não tem poder de polícia, apenas Secre-taria Municipal de Desenvolvimen-to Urbano, Fundação Municipal do Meio Ambiente e Vigilância Sanitária.

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Condomínio Itambé vende materiais recicláveis para cooperativa

A ecoeficiência prevê o fornecimento, pelas indústrias, de bens e

serviços de qualidade com impacto ambiental mínimo. A ideia é que o consu-

mo seja sustentável

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A coleta passa, mas o lixo não some

No final do século XIX, os servi-ços de limpeza urbana no Rio

de Janeiro foram entregues à iniciati-va privada e a Companhia Industrial passou a desempenhar os serviços de coleta, transporte e destino fi-nal do lixo comandada pelos irmãos Garys. Por isso, os trabalhadores da empresa passaram a ser chama-dos pelo nome dos patrões, e, a par-tir de então, surgiu a expressão gari. Até hoje, os profissionais que trabalham com coleta de lixo são conhecidos como garis. São eles que percorrem os roteiros jogan-do os sacos atrás do caminhão. Para realizar a função, precisam de bom condicionamento físico. A Comcap exige, nos concursos pú-blicos, aprovação em provas teóri-cas e práticas, além de determinar um limite para a massa corpórea, que é a relação entre peso e altura. Silvio Moacir do Amaral, conhecido como “Seu Silvinho”, está na Comcap desde 1987 e de-nomina sua função como “correr atrás do caminhão”. Ele é um dos 210 garis da coleta convencional da Companhia, que tem mais 42 na se-letiva. No total, são ainda 103 mo-toristas. O trajeto dos roteiros que eles percorrem é definido a partir de características das vias públicas, além do tipo de morador padrão do local. O tempo de coleta deve ser menor que seis horas, carga horária dos empregados, com uma mar-gem para possíveis problemas. Em um ano se estudam as reestrutura-ções, conforme demanda da popu-lação e do lixo gerado. Durante a temporada de verão é necessário que roteiros alternados passem a ser diários. Mesmo assim, o gas-to com horas extras é alto, devido

aos freqüentes congestionamentos. O caminhão utilizado na coleta convencional é chamado de compacta-dor por ter um mecanismo que “amas-sa” os resíduos e, com isso, possibilita carregar maior quantidade em volume menor. São 39, entre grande, médio e pequeno porte. A coleta seletiva é re-alizada com sete caminhões baú e um compactador, utilizado apenas para papelão no Centro da cidade. Maria Cristina Monteiro acredita que esse

sistema, apesar de ser o mais utilizado no Brasil, já está obsoleto. A Comcap tem projetos para colocação de con-têineres em praças e supermercados com o objetivo de coletar apenas o vidro. Assim, será possível executar a seletiva com compactadores e por tipo de material, ou seja, em um dia papel e papelão e no outro plástico e metais. A coleta de resíduos reciclá-veis cresceu 312% em 2010, se com-parado ao ano anterior, e a gerente da

área apresenta duas razões. Para ela, a desvalorização dos mate-riais fez muitos catadores autô-nomos saírem do ramo e, ainda, a Comcap incluiu roteiros e os turnos da tarde e noite. Com a infraestrutura atual, a empresa afirma que a coleta convencio-nal atinge 100% da população e, a seletiva, 90%. Mas há o caso do shopping Beiramar que, ape-sar de ser grande gerador, paga a taxa referente à coleta de lixo no IPTU, e não obtém o serviço. Pela Comcap também são realizados os recolhimen-tos de resíduos infectantes nos postos de saúde e de materiais volumosos (sofás, bicicletas, guarda-roupas), mas não há coleta específica de orgânicos.Em 1987, a Prefeitura implantou o projeto Beija-Flor, que tinha como proposta o tratamento descentrali-zado dos resíduos. Wilson acredita que o programa funcionou na hora errada. “Houve problemas porque a população não estava preparada, era uma questão inovadora demais para a época.” O assessor salienta que hoje a proposta seria interessante, mas, pelo adensamento urbano, poucos bairros têm áreas disponíveis para a prática. De acordo com o Plano Na-cional de Resíduos Sólidos, ferramenta de aplicação da nova lei que teve ver-são preliminar divulgada pelo Ministé-rio do Meio Ambiente em setembro, a meta é reduzir em 70% a disposição de resíduos secos e úmidos em aterros sanitários até 2015. Para isso, as admi-nistrações estaduais e municipais vão apresentar, até 2012, um documento em cada âmbito com diagnósticos e planejamentos. Terão que indicar áreas favoráveis para disposição ambiental-

mente adequada de rejeitos, sistema para calcular os custos dos serviços públi-cos de limpeza urba-

na e manejo de resíduos, entre outros. No caso de Florianópolis, já foi ela-borado um termo de referência, que contém as diretrizes para realização do plano. A próxima etapa é o lança-mento da licitação para contratar uma empresa responsável pelo produto. Para 2015, o município já es-tabeleceu como meta deixar de enviar 20% de resíduos ao aterro sanitário, o que significaria um aumento de 378% da coleta seletiva. Serão necessários 203 garis, 33 caminhões, 67 motoris-tas e 10 supervisores. Além dos núme-ros, outra questão também preocupa a gerente da área. “O grande problema do planejamento atual é que se pen-sa apenas no crescimento da coleta, e não no processo total.” Para alcançar o objetivo deve haver mais associações de triadores e demanda da indústria de reciclagem, além de auxílio financeiro. O acesso aos recursos do go-verno federal, segundo Sérgio Antô-nio Gonçalves, chefe de gabinete da

Secretaria de Recursos Hídricos e Am-biente Urbano - Ministério do Meio Ambiente - será prioritário a agrupa-mentos de municípios. As ações preci-sam atingir, pelo menos, 150 mil pes-soas. A informação de Sérgio é que o plano plurianual 2012-2015 prevê pro-gramas exclusivos na área de resíduos e, até o final de 2011, o PAC 2 deve liberar R$ 1,5 bilhão. Wilson Can-cian Lopes estima que, apenas para Florianópolis, seria necessário um in-vestimento de R$ 200 milhões para ser possível atender a lei na íntegra. Até agosto de 2011, a coleta convencional de Florianópolis cus-tou quase 16 milhões de reais e a se-letiva, três milhões. Cada tonelada de material reciclável recolhido é quatro vezes mais cara do que a do lixo co-mum, principalmente por causa da diferença na capacidade dos cami-nhões. Além disso, todos os veículos coletores são pesados no bairro Ita-corubi. Mesmo que, supostamente, a coleta seletiva aconteça em Canasviei-ras e haja um triador para receber o material lá, o caminhão é obrigado a voltar 20 km, até o Centro de Trans-ferência de Resíduos Sólidos (CTReS).

Fotos: Divulgação Comcap

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Coleta convencional Recolhimento de lixo na Barra da Lagoa, um dos principais balneários de Florianópolis

Especial resíduos

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No final do século XIX, os servi-ços de limpeza urbana no Rio

de Janeiro foram entregues à iniciati-va privada e a Companhia Industrial passou a desempenhar os serviços de coleta, transporte e destino fi-nal do lixo comandada pelos irmãos Garys. Por isso, os trabalhadores da empresa passaram a ser chama-dos pelo nome dos patrões, e, a par-tir de então, surgiu a expressão gari. Até hoje, os profissionais que trabalham com coleta de lixo são conhecidos como garis. São eles que percorrem os roteiros jogan-do os sacos atrás do caminhão. Para realizar a função, precisam de bom condicionamento físico. A Comcap exige, nos concursos pú-blicos, aprovação em provas teóri-cas e práticas, além de determinar um limite para a massa corpórea, que é a relação entre peso e altura. Silvio Moacir do Amaral, conhecido como “Seu Silvinho”, está na Comcap desde 1987 e de-nomina sua função como “correr atrás do caminhão”. Ele é um dos 210 garis da coleta convencional da Companhia, que tem mais 42 na se-letiva. No total, são ainda 103 mo-toristas. O trajeto dos roteiros que eles percorrem é definido a partir de características das vias públicas, além do tipo de morador padrão do local. O tempo de coleta deve ser menor que seis horas, carga horária dos empregados, com uma mar-gem para possíveis problemas. Em um ano se estudam as reestrutura-ções, conforme demanda da popu-lação e do lixo gerado. Durante a temporada de verão é necessário que roteiros alternados passem a ser diários. Mesmo assim, o gas-to com horas extras é alto, devido

aos freqüentes congestionamentos. O caminhão utilizado na coleta convencional é chamado de compacta-dor por ter um mecanismo que “amas-sa” os resíduos e, com isso, possibilita carregar maior quantidade em volume menor. São 39, entre grande, médio e pequeno porte. A coleta seletiva é re-alizada com sete caminhões baú e um compactador, utilizado apenas para papelão no Centro da cidade. Maria Cristina Monteiro acredita que esse

sistema, apesar de ser o mais utilizado no Brasil, já está obsoleto. A Comcap tem projetos para colocação de con-têineres em praças e supermercados com o objetivo de coletar apenas o vidro. Assim, será possível executar a seletiva com compactadores e por tipo de material, ou seja, em um dia papel e papelão e no outro plástico e metais. A coleta de resíduos reciclá-veis cresceu 312% em 2010, se com-parado ao ano anterior, e a gerente da

área apresenta duas razões. Para ela, a desvalorização dos mate-riais fez muitos catadores autô-nomos saírem do ramo e, ainda, a Comcap incluiu roteiros e os turnos da tarde e noite. Com a infraestrutura atual, a empresa afirma que a coleta convencio-nal atinge 100% da população e, a seletiva, 90%. Mas há o caso do shopping Beiramar que, ape-sar de ser grande gerador, paga a taxa referente à coleta de lixo no IPTU, e não obtém o serviço. Pela Comcap também são realizados os recolhimen-tos de resíduos infectantes nos postos de saúde e de materiais volumosos (sofás, bicicletas, guarda-roupas), mas não há coleta específica de orgânicos.Em 1987, a Prefeitura implantou o projeto Beija-Flor, que tinha como proposta o tratamento descentrali-zado dos resíduos. Wilson acredita que o programa funcionou na hora errada. “Houve problemas porque a população não estava preparada, era uma questão inovadora demais para a época.” O assessor salienta que hoje a proposta seria interessante, mas, pelo adensamento urbano, poucos bairros têm áreas disponíveis para a prática. De acordo com o Plano Na-cional de Resíduos Sólidos, ferramenta de aplicação da nova lei que teve ver-são preliminar divulgada pelo Ministé-rio do Meio Ambiente em setembro, a meta é reduzir em 70% a disposição de resíduos secos e úmidos em aterros sanitários até 2015. Para isso, as admi-nistrações estaduais e municipais vão apresentar, até 2012, um documento em cada âmbito com diagnósticos e planejamentos. Terão que indicar áreas favoráveis para disposição ambiental-

mente adequada de rejeitos, sistema para calcular os custos dos serviços públi-cos de limpeza urba-

na e manejo de resíduos, entre outros. No caso de Florianópolis, já foi ela-borado um termo de referência, que contém as diretrizes para realização do plano. A próxima etapa é o lança-mento da licitação para contratar uma empresa responsável pelo produto. Para 2015, o município já es-tabeleceu como meta deixar de enviar 20% de resíduos ao aterro sanitário, o que significaria um aumento de 378% da coleta seletiva. Serão necessários 203 garis, 33 caminhões, 67 motoris-tas e 10 supervisores. Além dos núme-ros, outra questão também preocupa a gerente da área. “O grande problema do planejamento atual é que se pen-sa apenas no crescimento da coleta, e não no processo total.” Para alcançar o objetivo deve haver mais associações de triadores e demanda da indústria de reciclagem, além de auxílio financeiro. O acesso aos recursos do go-verno federal, segundo Sérgio Antô-nio Gonçalves, chefe de gabinete da

Secretaria de Recursos Hídricos e Am-biente Urbano - Ministério do Meio Ambiente - será prioritário a agrupa-mentos de municípios. As ações preci-sam atingir, pelo menos, 150 mil pes-soas. A informação de Sérgio é que o plano plurianual 2012-2015 prevê pro-gramas exclusivos na área de resíduos e, até o final de 2011, o PAC 2 deve liberar R$ 1,5 bilhão. Wilson Can-cian Lopes estima que, apenas para Florianópolis, seria necessário um in-vestimento de R$ 200 milhões para ser possível atender a lei na íntegra. Até agosto de 2011, a coleta convencional de Florianópolis cus-tou quase 16 milhões de reais e a se-letiva, três milhões. Cada tonelada de material reciclável recolhido é quatro vezes mais cara do que a do lixo co-mum, principalmente por causa da diferença na capacidade dos cami-nhões. Além disso, todos os veículos coletores são pesados no bairro Ita-corubi. Mesmo que, supostamente, a coleta seletiva aconteça em Canasviei-ras e haja um triador para receber o material lá, o caminhão é obrigado a voltar 20 km, até o Centro de Trans-ferência de Resíduos Sólidos (CTReS).

Morros Caminhão não consegue subir em áreas altas da cidade, como o Morro do Mocotó

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Cada resíduo na direção certa

Caso haja interesse em diferenciar um funcionário do CTReS de um

visitante, basta olhar para os pés. Os que usam sapatos pretos, de couro, que parecem pesar dois quilos cada, traba-lham no local todos os dias. É o caso de Edmar Oliveira Arruda, engenhei-ro sanitarista da Comcap, que gerencia a sede no bairro Itacorubi. Usa boina, colete por cima de um moletom, cal-ças jeans e os sapatos iguais a de todos os outros, sem importar a hierarquia. O local, atualmente, é uma área limpa de manejo de resíduos, para onde vão todos os caminhões coletores de Florianópolis, além de alguns particulares que são cadastra-dos e podem levar, voluntariamente, pequena quantidade de lixo. Qualquer tipo de veículo que chega ao CTReS para descarregar passa pela balança. Há duas, uma mecânica, mais antiga, e outra eletrônica, que mesmo sendo mais recente, já não pode ser con-siderada moderna, segundo Edmar. Além do trabalho operacional, o local também é usado para projetos de educação ambiental, recebendo cerca de cinco mil visitantes todos os

anos. Já no início da trilha ecológica é necessário subir uma escada, o que evidencia qual foi o passado daquela área. Até 1989, o lixo da cidade era jogado a céu aberto no local, o que leva a crer que, embaixo dos degraus, há toneladas de resíduos em decom-posição. Por esse motivo, a escada pode tomar formas diferentes com o passar dos anos. Segundo o engenhei-ro, a população pressionou para que o lixão fosse desativado e, ali, passou a funcionar a primeira estação de tras-bordo. O lixo começou a ser transfe-rido dos caminhões da Comcap para os da empresa Formacco Decorama, que, na época, fazia o transporte até um aterro sanitário em Paulo Lopes. No alto da escada estão as imponentes leiras, exalando um leve cheiro de campo, como de uma fa-zenda. Nelas são colocados os restos de comida que a Associação Orgânica coleta nos restaurantes da cidade, além de resíduos do Direto do Campo, dos serviços de capina e roçagem que a Comcap realiza, cocos verdes, restos de galho, entre outros. Até julho de 2011, a média mensal de resíduos or-

gânicos que entrou no CTReS foi 168 toneladas. O adubo resultante é distri-buído para diversos locais, principal-mente hortas escolares e comunitárias. Edmar explica que o projeto com orgânicos acontece em nível ex-perimental, mas a ideia é estendê-lo. Do peso total de resíduos domésticos, 60% têm potencial para serem recicla-dos, entre secos e úmidos, e podem virar insumo para a própria população da cidade. “Aterros sanitários ainda serão considerados minas de ouro, de tanto material com valor econômico que recebem”, afirma o engenheiro. Outra iniciativa na área dos resíduos

orgânicos é a distribuição de minho-cários, projeto da ONG Nosso Lixo, que torna possível a compostagem caseira, até mesmo em apartamentos. Durante a trilha do CTReS há raízes plantadas em algumas partes do solo. O líquido concentrado prove-niente da decomposição do lixo pode causar desequilíbrio no mangue da re-gião, e as raízes o purificam. Também são instaladas caixas de areia e gordura e outros tipos de filtros. E ainda há, no local, lugares para estocagem de resíduos hospitalares e tóxicos, como lâmpadas, pneus e óleo de cozinha. A estação de transbordo rece-

be quatro caminhões da Comcap por vez. Os motoristas entram de ré e estacionam no início de uma rampa, que desemboca em car-retas que suportam 32 toneladas. Elas pertencem à empresa Proac-tiva, responsável por transportar até o aterro sanitário de Biguaçu toda a produção da coleta con-vencional. São oito carretas que atendem apenas Florianópolis e ficam dia e noite no percurso do Centro de Transferência ao aterro, passando pela movimen-tada avenida Beira-mar Norte. A lona presa na caçamba esconde completamente o carregamento. O momento mais impressio-nante da visita ao CTReS é a queda livre de sacolas quando os cami-nhões compactadores da Comcap empurram o lixo para fora. Assim que o processo termina, entra em cena o braço de uma carregadei-ra, que espalha os resíduos. Mes-mo com paredes em três lados, o ruído durante o transbordo é alto,

o que causa reclamações de morado-res da região, principalmente durante a noite. A estrutura, assim como todo o Centro de Transferência de Resídu-os Sólidos, foi inaugurada em 2000. Edmar esclarece que, durante as obras do CTReS, não foi feita recuperação da área, já que um diagnóstico não de-tectou nível de poluição significativo. Com as mudanças para ade-quação à Política Nacional de Resídu-

os Sólidos, o assessor Wilson Cancian Lopes salienta a importância da realiza-ção de consórcios, já que é praticamen-te impossível ter áreas para a cidade, isoladamente, realizar todos os trata-mentos de resíduos, como reciclagem de secos e úmidos e destinação correta dos rejeitos. E antes de ações da Com-cap, empresa especializada em logísti-ca de coleta, devem ser priorizaradas a não geração, redução e reutilização dos resíduos, o que é prerrogativa da lei. Para incentivar a redução de lixo no gerador, o Plano Nacio-nal de Resíduos Sólidos indica que a taxa pela prestação de serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos deve ser desvinculada do IPTU. Se-gundo o documento, a tarifa dificul-ta que o gestor municipal desenvol-va políticas e técnicas de tratamento viáveis financeiramente. Também deixa de demonstrar a responsabili-dade em produzir menos lixo, já que o valor não muda de acordo com o volume produzido por cada família. No Brasil, 61,4% dos muni-

cípios ainda não fazem qualquer tipo de cobrança pela gestão de resíduos sólidos. A taxa vinculada ao imposto é utilizada em 35,7%, inclusive Flo-rianópolis. A receita da Prefeitura em 2010 - R$ 39 milhões - foi quase três vezes menor que o valor gasto, principalmente por causa da coleta seletiva, que é cara, mas tem impor-tância social, já que todo o material é doado a associações de triadores.

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Restos de poda Máquina tritura resíduos para utilização na compostagem

Especial resíduos

Foto: Daniela Bidone

29 DE NOVEMBRO, 2011

Caso haja interesse em diferenciar um funcionário do CTReS de um

visitante, basta olhar para os pés. Os que usam sapatos pretos, de couro, que parecem pesar dois quilos cada, traba-lham no local todos os dias. É o caso de Edmar Oliveira Arruda, engenhei-ro sanitarista da Comcap, que gerencia a sede no bairro Itacorubi. Usa boina, colete por cima de um moletom, cal-ças jeans e os sapatos iguais a de todos os outros, sem importar a hierarquia. O local, atualmente, é uma área limpa de manejo de resíduos, para onde vão todos os caminhões coletores de Florianópolis, além de alguns particulares que são cadastra-dos e podem levar, voluntariamente, pequena quantidade de lixo. Qualquer tipo de veículo que chega ao CTReS para descarregar passa pela balança. Há duas, uma mecânica, mais antiga, e outra eletrônica, que mesmo sendo mais recente, já não pode ser con-siderada moderna, segundo Edmar. Além do trabalho operacional, o local também é usado para projetos de educação ambiental, recebendo cerca de cinco mil visitantes todos os

anos. Já no início da trilha ecológica é necessário subir uma escada, o que evidencia qual foi o passado daquela área. Até 1989, o lixo da cidade era jogado a céu aberto no local, o que leva a crer que, embaixo dos degraus, há toneladas de resíduos em decom-posição. Por esse motivo, a escada pode tomar formas diferentes com o passar dos anos. Segundo o engenhei-ro, a população pressionou para que o lixão fosse desativado e, ali, passou a funcionar a primeira estação de tras-bordo. O lixo começou a ser transfe-rido dos caminhões da Comcap para os da empresa Formacco Decorama, que, na época, fazia o transporte até um aterro sanitário em Paulo Lopes. No alto da escada estão as imponentes leiras, exalando um leve cheiro de campo, como de uma fa-zenda. Nelas são colocados os restos de comida que a Associação Orgânica coleta nos restaurantes da cidade, além de resíduos do Direto do Campo, dos serviços de capina e roçagem que a Comcap realiza, cocos verdes, restos de galho, entre outros. Até julho de 2011, a média mensal de resíduos or-

gânicos que entrou no CTReS foi 168 toneladas. O adubo resultante é distri-buído para diversos locais, principal-mente hortas escolares e comunitárias. Edmar explica que o projeto com orgânicos acontece em nível ex-perimental, mas a ideia é estendê-lo. Do peso total de resíduos domésticos, 60% têm potencial para serem recicla-dos, entre secos e úmidos, e podem virar insumo para a própria população da cidade. “Aterros sanitários ainda serão considerados minas de ouro, de tanto material com valor econômico que recebem”, afirma o engenheiro. Outra iniciativa na área dos resíduos

orgânicos é a distribuição de minho-cários, projeto da ONG Nosso Lixo, que torna possível a compostagem caseira, até mesmo em apartamentos. Durante a trilha do CTReS há raízes plantadas em algumas partes do solo. O líquido concentrado prove-niente da decomposição do lixo pode causar desequilíbrio no mangue da re-gião, e as raízes o purificam. Também são instaladas caixas de areia e gordura e outros tipos de filtros. E ainda há, no local, lugares para estocagem de resíduos hospitalares e tóxicos, como lâmpadas, pneus e óleo de cozinha. A estação de transbordo rece-

be quatro caminhões da Comcap por vez. Os motoristas entram de ré e estacionam no início de uma rampa, que desemboca em car-retas que suportam 32 toneladas. Elas pertencem à empresa Proac-tiva, responsável por transportar até o aterro sanitário de Biguaçu toda a produção da coleta con-vencional. São oito carretas que atendem apenas Florianópolis e ficam dia e noite no percurso do Centro de Transferência ao aterro, passando pela movimen-tada avenida Beira-mar Norte. A lona presa na caçamba esconde completamente o carregamento. O momento mais impressio-nante da visita ao CTReS é a queda livre de sacolas quando os cami-nhões compactadores da Comcap empurram o lixo para fora. Assim que o processo termina, entra em cena o braço de uma carregadei-ra, que espalha os resíduos. Mes-mo com paredes em três lados, o ruído durante o transbordo é alto,

o que causa reclamações de morado-res da região, principalmente durante a noite. A estrutura, assim como todo o Centro de Transferência de Resídu-os Sólidos, foi inaugurada em 2000. Edmar esclarece que, durante as obras do CTReS, não foi feita recuperação da área, já que um diagnóstico não de-tectou nível de poluição significativo. Com as mudanças para ade-quação à Política Nacional de Resídu-

os Sólidos, o assessor Wilson Cancian Lopes salienta a importância da realiza-ção de consórcios, já que é praticamen-te impossível ter áreas para a cidade, isoladamente, realizar todos os trata-mentos de resíduos, como reciclagem de secos e úmidos e destinação correta dos rejeitos. E antes de ações da Com-cap, empresa especializada em logísti-ca de coleta, devem ser priorizaradas a não geração, redução e reutilização dos resíduos, o que é prerrogativa da lei. Para incentivar a redução de lixo no gerador, o Plano Nacio-nal de Resíduos Sólidos indica que a taxa pela prestação de serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos deve ser desvinculada do IPTU. Se-gundo o documento, a tarifa dificul-ta que o gestor municipal desenvol-va políticas e técnicas de tratamento viáveis financeiramente. Também deixa de demonstrar a responsabili-dade em produzir menos lixo, já que o valor não muda de acordo com o volume produzido por cada família. No Brasil, 61,4% dos muni-

cípios ainda não fazem qualquer tipo de cobrança pela gestão de resíduos sólidos. A taxa vinculada ao imposto é utilizada em 35,7%, inclusive Flo-rianópolis. A receita da Prefeitura em 2010 - R$ 39 milhões - foi quase três vezes menor que o valor gasto, principalmente por causa da coleta seletiva, que é cara, mas tem impor-tância social, já que todo o material é doado a associações de triadores.

Wilson Cancian Lopes, engenheiro da Comcap, acredita que os consórcios possibilitam que

várias cidades tenham áreas para tratar resíduos secos, úmidos e rejeitos

Foto

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ção

Com

cap

TransferênciaLixo da coleta

convencional é lançado em carretas que fazem transporte até o aterro

sanitário

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29 DE NOVEMBRO, 2011

Especial resíduos

Sem triagem, a indústria não compra

Sentado em um suporte quase rente ao chão, Alexandre Siqueira mos-

tra habilidade no manuseio de fontes de computador. O que interessa para ele é separar alumínio e cobre. O jo-vem de 22 anos, que trabalha na Asso-ciação de Catadores de Materiais Re-cicláveis (ACMR) desde os 14, parece não ter conhecimento de que aquele produto possui diversos componen-tes tóxicos. Ou, talvez, não se importa em correr o risco. Afinal, o cobre é o material mais valioso de todos e ge-ralmente desperta interesse de outros vendedores e não chega às associações. Antes de entrar na ACMR, Alexandre trabalhava como garçom. Mas na separação dos materiais reci-cláveis consegue um salário melhor. A renda passa de mil reais, a mais alta entre 23 associações de Santa Catari-na, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Vonpar em 2010. Semanal-mente, a ACMR recebe 60 toneladas de resíduos, e cada cooperado ganha de acordo com a quantidade que se-para. Todos os dias, depois que os roteiros da coleta seletiva iniciam, um supervisor da Comcap vai até as cooperativas para estimar a capaci-dade de triagem e indicar aos mo-toristas aonde vai cada caminhão. Nelson Jantara, presidente da ACMR, conta que o grupo começou em 1999 com 30 pessoas, a maioria da mesma família, de Chapecó. Tra-balhavam com catação autônoma no Centro e usavam uma área embaixo da ponte de entrada na cidade para triagem. Hoje são 85 cooperados, que ocupam um galpão de 334m² cedido pela Comcap no bairro Itacorubi. Eles são mais vistos no pátio, onde também ficam os contêineres dos compradores para disposição dos materiais. Para or-ganizar o trabalho, os grupos são iden-

tificados por mesas. Há um responsá-vel apenas pelo vidro e alguns homens separam e prensam o plástico, em uma esteira nos fundos do galpão. O mate-rial, pela quantidade, é o mais lucrativo para a associação. Nas sextas–feiras, os triadores despacham grande parte dos resíduos e acertam o preço da compra. Na Associação de Reciclado-res Esperança (Aresp), são 12 asso-ciados, a maioria mulheres. O número caiu pela metade depois que a fiação da esteira e das prensas foi rouba-da, o que dificultou o trabalho por três meses. A cooperativa tem sede no bairro Monte Cristo e sofre com o vandalismo. Um saco de lixo ras-gado deixa à mostra parte do corpo

de um cão morto, largado no pátio. “Não é a primeira vez”, lamenta Ma-ria das Graças Pereira, presidente da Aresp. Criada em 1998, quando esta-va locada no Itacorubi, a associação foi transferida em 2008 para o atual galpão, dentro da comunidade Chico Mendes, da qual faz parte. O prédio pertence à Secretaria de Habitação. As mulheres da Aresp costu-mam ficar na esteira de triagem e os homens recolhem os resíduos separa-dos e fazem fardos nas prensas. A ren-da total é dividida igualmente entre os cooperados e não passa de R$ 500 por mês. Para sustentar os seis que filhos que ainda moram com ela – três já são casados – Maria das Graças conta

com a pensão do ex-marido, além do bolsa-família. Ela afirma que não con-seguiria se manter apenas com o que ganha na associação. Mas a situação pode melhorar com a aprovação da nova lei. Os catadores e triadores de resíduos reutilizáveis e recicláveis te-rão benefícios para exercer a atividade. O processo de extinção dos lixões, por exemplo, terá que incluir a integração econômica e social das pessoas que trabalhavam no local. Se-gundo o Plano Nacional, atualmente existem cerca de 600 mil catadores no Brasil, dos quais apenas 10% partici-pam de alguma organização coletiva. Entre as estratégias do documento es-tão fortalecer as cooperativas já exis-tentes e promover a criação de novas. Para o doutor em Direto Ambiental José Rubens Morato Leite, essa fun-ção do poder público é importante, já que cria emprego e possibilita a educa-ção desses trabalhadores, que vão en-tender a relevância da profissão para

o mundo moderno. A lei prevê que os municípios que implantarem a coleta seletiva com partici-pação de associações formadas por pessoas de baixa renda terão prioridade no acesso a recursos da União. E os triadores serão considerados como parte da responsabi-lidade pelo ciclo de vida dos produtos. Além disso, o Esta-do desenvolverá po-líticas públicas para facilitar e melhorar as condições de tra-balho e disponibili-

zará linhas de financiamento para infraestrutura das associações e aqui-sição de equipamentos. Os catadores também podem ser beneficiados em parcerias com o setor privado, que, em alguns casos, é responsável pelo destino final dos próprios produtos. Para Maria Cristina, gerente da coleta seletiva da Comcap, a lei aumen-ta o paternalismo com profissionais da triagem, que, segundo ela, não devem mais ser tratados como catadores, mas empresários. “Hoje, eles trabalham de dia para comer à noite e aproveitam a

temporada - época de maior produ-ção de resíduos - para vender picolé nas praias”. O economista André Luiz Andrade acrescenta que o fortaleci-mento das cooperativas deve incluir capacitação nos negócios, caso con-trário, podem aparecer atravessado-res e, assim, concentrar a renda. Em Florianópolis, entretanto, o processo de reciclagem não seria possível sem a atuação dos intermediários.

RendaTrabalhadores da maior associação de Florianópolis conseguem mais de mil reais por mês

De acordo com a versão preliminar do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, são 600 mil

catadores no Brasil. Apenas 10% participam de alguma organização coletiva

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Sentado em um suporte quase rente ao chão, Alexandre Siqueira mos-

tra habilidade no manuseio de fontes de computador. O que interessa para ele é separar alumínio e cobre. O jo-vem de 22 anos, que trabalha na Asso-ciação de Catadores de Materiais Re-cicláveis (ACMR) desde os 14, parece não ter conhecimento de que aquele produto possui diversos componen-tes tóxicos. Ou, talvez, não se importa em correr o risco. Afinal, o cobre é o material mais valioso de todos e ge-ralmente desperta interesse de outros vendedores e não chega às associações. Antes de entrar na ACMR, Alexandre trabalhava como garçom. Mas na separação dos materiais reci-cláveis consegue um salário melhor. A renda passa de mil reais, a mais alta entre 23 associações de Santa Catari-na, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Vonpar em 2010. Semanal-mente, a ACMR recebe 60 toneladas de resíduos, e cada cooperado ganha de acordo com a quantidade que se-para. Todos os dias, depois que os roteiros da coleta seletiva iniciam, um supervisor da Comcap vai até as cooperativas para estimar a capaci-dade de triagem e indicar aos mo-toristas aonde vai cada caminhão. Nelson Jantara, presidente da ACMR, conta que o grupo começou em 1999 com 30 pessoas, a maioria da mesma família, de Chapecó. Tra-balhavam com catação autônoma no Centro e usavam uma área embaixo da ponte de entrada na cidade para triagem. Hoje são 85 cooperados, que ocupam um galpão de 334m² cedido pela Comcap no bairro Itacorubi. Eles são mais vistos no pátio, onde também ficam os contêineres dos compradores para disposição dos materiais. Para or-ganizar o trabalho, os grupos são iden-

tificados por mesas. Há um responsá-vel apenas pelo vidro e alguns homens separam e prensam o plástico, em uma esteira nos fundos do galpão. O mate-rial, pela quantidade, é o mais lucrativo para a associação. Nas sextas–feiras, os triadores despacham grande parte dos resíduos e acertam o preço da compra. Na Associação de Reciclado-res Esperança (Aresp), são 12 asso-ciados, a maioria mulheres. O número caiu pela metade depois que a fiação da esteira e das prensas foi rouba-da, o que dificultou o trabalho por três meses. A cooperativa tem sede no bairro Monte Cristo e sofre com o vandalismo. Um saco de lixo ras-gado deixa à mostra parte do corpo

de um cão morto, largado no pátio. “Não é a primeira vez”, lamenta Ma-ria das Graças Pereira, presidente da Aresp. Criada em 1998, quando esta-va locada no Itacorubi, a associação foi transferida em 2008 para o atual galpão, dentro da comunidade Chico Mendes, da qual faz parte. O prédio pertence à Secretaria de Habitação. As mulheres da Aresp costu-mam ficar na esteira de triagem e os homens recolhem os resíduos separa-dos e fazem fardos nas prensas. A ren-da total é dividida igualmente entre os cooperados e não passa de R$ 500 por mês. Para sustentar os seis que filhos que ainda moram com ela – três já são casados – Maria das Graças conta

com a pensão do ex-marido, além do bolsa-família. Ela afirma que não con-seguiria se manter apenas com o que ganha na associação. Mas a situação pode melhorar com a aprovação da nova lei. Os catadores e triadores de resíduos reutilizáveis e recicláveis te-rão benefícios para exercer a atividade. O processo de extinção dos lixões, por exemplo, terá que incluir a integração econômica e social das pessoas que trabalhavam no local. Se-gundo o Plano Nacional, atualmente existem cerca de 600 mil catadores no Brasil, dos quais apenas 10% partici-pam de alguma organização coletiva. Entre as estratégias do documento es-tão fortalecer as cooperativas já exis-tentes e promover a criação de novas. Para o doutor em Direto Ambiental José Rubens Morato Leite, essa fun-ção do poder público é importante, já que cria emprego e possibilita a educa-ção desses trabalhadores, que vão en-tender a relevância da profissão para

o mundo moderno. A lei prevê que os municípios que implantarem a coleta seletiva com partici-pação de associações formadas por pessoas de baixa renda terão prioridade no acesso a recursos da União. E os triadores serão considerados como parte da responsabi-lidade pelo ciclo de vida dos produtos. Além disso, o Esta-do desenvolverá po-líticas públicas para facilitar e melhorar as condições de tra-balho e disponibili-

zará linhas de financiamento para infraestrutura das associações e aqui-sição de equipamentos. Os catadores também podem ser beneficiados em parcerias com o setor privado, que, em alguns casos, é responsável pelo destino final dos próprios produtos. Para Maria Cristina, gerente da coleta seletiva da Comcap, a lei aumen-ta o paternalismo com profissionais da triagem, que, segundo ela, não devem mais ser tratados como catadores, mas empresários. “Hoje, eles trabalham de dia para comer à noite e aproveitam a

temporada - época de maior produ-ção de resíduos - para vender picolé nas praias”. O economista André Luiz Andrade acrescenta que o fortaleci-mento das cooperativas deve incluir capacitação nos negócios, caso con-trário, podem aparecer atravessado-res e, assim, concentrar a renda. Em Florianópolis, entretanto, o processo de reciclagem não seria possível sem a atuação dos intermediários.

CobreAlexandre desmonta peças

de computadores em busca do material mais valioso

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Especial resíduos

O mercado da reciclagem

A empresa Almeida Serviços Am-bientais compra todos os papéis

triados pelas associações, como tam-bém de outros clientes, e os prepara para serem vendidos às indústrias. O galpão em que funcionam, na área continental da cidade, chama atenção não só pelo tamanho, mas pelas pilhas de fardos até o teto. Logo na estrada está a sede administrativa, de onde o proprietário Márcio Almeida gerencia o negócio. O local recebe 50 toneladas de resíduos por dia. Em um vão, onde são realizados os descarregamentos, há funcionários responsáveis por re-alizar mais uma triagem. Além de re-colher materiais que ainda estão mis-turados, também separam de acordo com o pedido de cada cliente, como apenas papelão, ou combinado com

outros tipos, como revistas, por exem-plo. O papel é levado por uma esteira até a prensa, que tem capacidade para fazer fardos de uma tonelada. Almeida estima o preço da máquina em cerca de 200 mil euros. Prontos, os fardos são recolhidos por um carro adapta-do com elevador, que os empilha até serem levados aos compradores. No caso do papelão, são feitas novas cai-xas, o papel branco segue para indús-tria de higiênicos e as embalagens Te-trapak, como as de leite, são utilizadas para melhorar a qualidade dos papéis. Para começar uma empresa como a de Almeida, que existe há 26 anos, é necessário um investimento de, no mínimo, R$30 mil. Mas o empresá-rio afirma que começar o negócio hoje é inviável, porque não há demanda da

indústria. “Fazer a população separar o lixo é simples, mas não adianta se a economia não anda.” O preço do quilo do papel branco, por exemplo, que em 2009 estava em sete centavos, subiu até chegar a 18, em setembro de 2010. A partir de 2011, no entanto, a tendência foi de queda, e, em setem-bro, atingiu novamente sete centavos. O período coincide com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Só-lidos e seu decreto regulamentador. O trabalho realizado pelos in-termediários não é citado na lei federal. Para o empresário, a Política Nacional tem como foco a reciclagem e a inclu-são social, mas deixa de lado o negó-cio que está incluso no processo, e que já existia antes da norma. Sérgio Antô-nio Gonçalves, do Ministério do Meio

Ambiente, explica que o legislador não teve intenção de citar mediadores. “Foi colocado na lei que há responsabilida-de dos setores, mas as regras de mer-cado acontecem.” Os intermediários, nessas circunstâncias, possibilitam que as indústrias recebam os materiais de forma que possam ser matéria-prima na manufatura de outros produtos. Esse processo de transforma-ção também pode ser realizado com resíduos úmidos, como restos de comi-da e poda, borra de café e chimarrão. Nesse caso acontece a compostagem, ou seja, a decomposição da matéria or-gânica, formando adubo. A utilização do composto em plantações melhora a capacidade produtiva do solo e dimi-nui o uso de fertilizantes, além de au-mentar a vida útil de aterros sanitários. Pela nova lei federal, o responsável pe-los serviços de limpeza urbana e mane-jo de resíduos deve implantar sistema de compostagem e articular com os outros agentes como utilizar o adubo.

No Centro de Transferência de Resíduos Sólidos (CTReS), as leiras, como são chamadas as “camas” onde ocorre a compostagem, são montadas, primeiramente, com uma camada de argila, que capta o líquido provenien-te da decomposição. Ele cai em uma caixa e é reutilizado para irrigar a ma-téria orgânica. Segundo o engenheiro sanitarista Edmar Oliveira Arruda, o líquido chega a ser mais nutritivo que o próprio composto, por ser mais con-

centrado. Depois de dispostos os restos úmi-dos, a cobertura é feita com palha ou serragem. Além dos secos e úmidos, resíduos que contêm componentes tóxicos também po-dem ser reciclados. Para contemplar a questão, a Política Nacional de Resíduos Sólidos tem como uma das diretri-zes a logística reversa, que prevê a devolução do produto pelo con-sumidor, após o uso, ao comerciante, que entregará ao importa-dor ou fabricante para que esse descarte ade-quadamente. O des-cumprimento acarreta multa entre R$ 5 mil e R$ 5 milhões. Estão contemplados pneus, pilhas e baterias, eletro-eletrônicos, lâmpadas e olhos lubrificantes, mas a regra pode ainda alcançar outras mercadorias. Os componentes destes resíduos são utilizados na fabricação de novos pro-dutos ou em outros ciclos produtivos. Os computadores, por exem-plo, rendem porcentagens de plástico, metais ferrosos e não-ferrosos, compo-nentes eletrônicos e outros materiais, como borracha e vidro. O problema, nesse caso, está no valor da logística, já que a reciclagem de peças eletrô-nicas é realizada fora do Brasil. Para o economista André Luiz Andrade, quem defende o livre mercado pode considerar essa norma como uma in-tromissão do Estado na atividade em-presarial. “A empresa pode até receber

os resíduos e destiná-los, mas vai rebater o custo para o consumidor.” Também faz parte da Lei Fe-deral nº 12.305 a responsabilidade de fabricantes, importadores, distribuido-res e comerciantes em investir no de-senvolvimento de produtos que sejam aptos, após o uso, à reutilização ou reciclagem. A política tem como prin-cípio e objetivo incentivar a indústria de reciclagem e possibilita a conces-são de incentivos fiscais, financeiros e creditícios a empresas e entidades dedicadas a reutilizar, tratar ou trans-formar resíduos sólidos produzidos no Brasil. O rejeito, ou seja, resíduo com as possibilidades de tratamento esgotadas, deve ter destinação correta.

Fotos: Daniela Bidone

O adubo proveniente da compostagem melhora a

capacidade produtiva do solo e reduz o uso

de fertilizantes

OrgânicoTransformação de restos de comida pode ser visto em pequena escala pelos visitantes do CTReS

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A empresa Almeida Serviços Am-bientais compra todos os papéis

triados pelas associações, como tam-bém de outros clientes, e os prepara para serem vendidos às indústrias. O galpão em que funcionam, na área continental da cidade, chama atenção não só pelo tamanho, mas pelas pilhas de fardos até o teto. Logo na estrada está a sede administrativa, de onde o proprietário Márcio Almeida gerencia o negócio. O local recebe 50 toneladas de resíduos por dia. Em um vão, onde são realizados os descarregamentos, há funcionários responsáveis por re-alizar mais uma triagem. Além de re-colher materiais que ainda estão mis-turados, também separam de acordo com o pedido de cada cliente, como apenas papelão, ou combinado com

outros tipos, como revistas, por exem-plo. O papel é levado por uma esteira até a prensa, que tem capacidade para fazer fardos de uma tonelada. Almeida estima o preço da máquina em cerca de 200 mil euros. Prontos, os fardos são recolhidos por um carro adapta-do com elevador, que os empilha até serem levados aos compradores. No caso do papelão, são feitas novas cai-xas, o papel branco segue para indús-tria de higiênicos e as embalagens Te-trapak, como as de leite, são utilizadas para melhorar a qualidade dos papéis. Para começar uma empresa como a de Almeida, que existe há 26 anos, é necessário um investimento de, no mínimo, R$30 mil. Mas o empresá-rio afirma que começar o negócio hoje é inviável, porque não há demanda da

indústria. “Fazer a população separar o lixo é simples, mas não adianta se a economia não anda.” O preço do quilo do papel branco, por exemplo, que em 2009 estava em sete centavos, subiu até chegar a 18, em setembro de 2010. A partir de 2011, no entanto, a tendência foi de queda, e, em setem-bro, atingiu novamente sete centavos. O período coincide com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Só-lidos e seu decreto regulamentador. O trabalho realizado pelos in-termediários não é citado na lei federal. Para o empresário, a Política Nacional tem como foco a reciclagem e a inclu-são social, mas deixa de lado o negó-cio que está incluso no processo, e que já existia antes da norma. Sérgio Antô-nio Gonçalves, do Ministério do Meio

Ambiente, explica que o legislador não teve intenção de citar mediadores. “Foi colocado na lei que há responsabilida-de dos setores, mas as regras de mer-cado acontecem.” Os intermediários, nessas circunstâncias, possibilitam que as indústrias recebam os materiais de forma que possam ser matéria-prima na manufatura de outros produtos. Esse processo de transforma-ção também pode ser realizado com resíduos úmidos, como restos de comi-da e poda, borra de café e chimarrão. Nesse caso acontece a compostagem, ou seja, a decomposição da matéria or-gânica, formando adubo. A utilização do composto em plantações melhora a capacidade produtiva do solo e dimi-nui o uso de fertilizantes, além de au-mentar a vida útil de aterros sanitários. Pela nova lei federal, o responsável pe-los serviços de limpeza urbana e mane-jo de resíduos deve implantar sistema de compostagem e articular com os outros agentes como utilizar o adubo.

No Centro de Transferência de Resíduos Sólidos (CTReS), as leiras, como são chamadas as “camas” onde ocorre a compostagem, são montadas, primeiramente, com uma camada de argila, que capta o líquido provenien-te da decomposição. Ele cai em uma caixa e é reutilizado para irrigar a ma-téria orgânica. Segundo o engenheiro sanitarista Edmar Oliveira Arruda, o líquido chega a ser mais nutritivo que o próprio composto, por ser mais con-

centrado. Depois de dispostos os restos úmi-dos, a cobertura é feita com palha ou serragem. Além dos secos e úmidos, resíduos que contêm componentes tóxicos também po-dem ser reciclados. Para contemplar a questão, a Política Nacional de Resíduos Sólidos tem como uma das diretri-zes a logística reversa, que prevê a devolução do produto pelo con-sumidor, após o uso, ao comerciante, que entregará ao importa-dor ou fabricante para que esse descarte ade-quadamente. O des-cumprimento acarreta multa entre R$ 5 mil e R$ 5 milhões. Estão contemplados pneus, pilhas e baterias, eletro-eletrônicos, lâmpadas e olhos lubrificantes, mas a regra pode ainda alcançar outras mercadorias. Os componentes destes resíduos são utilizados na fabricação de novos pro-dutos ou em outros ciclos produtivos. Os computadores, por exem-plo, rendem porcentagens de plástico, metais ferrosos e não-ferrosos, compo-nentes eletrônicos e outros materiais, como borracha e vidro. O problema, nesse caso, está no valor da logística, já que a reciclagem de peças eletrô-nicas é realizada fora do Brasil. Para o economista André Luiz Andrade, quem defende o livre mercado pode considerar essa norma como uma in-tromissão do Estado na atividade em-presarial. “A empresa pode até receber

os resíduos e destiná-los, mas vai rebater o custo para o consumidor.” Também faz parte da Lei Fe-deral nº 12.305 a responsabilidade de fabricantes, importadores, distribuido-res e comerciantes em investir no de-senvolvimento de produtos que sejam aptos, após o uso, à reutilização ou reciclagem. A política tem como prin-cípio e objetivo incentivar a indústria de reciclagem e possibilita a conces-são de incentivos fiscais, financeiros e creditícios a empresas e entidades dedicadas a reutilizar, tratar ou trans-formar resíduos sólidos produzidos no Brasil. O rejeito, ou seja, resíduo com as possibilidades de tratamento esgotadas, deve ter destinação correta.

Resíduos são fardados em prensa que custa 200 mil eurosO adubo proveniente da compostagem melhora a

capacidade produtiva do solo e reduz o uso

de fertilizantes

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29 DE NOVEMBRO, 2011

Especial resíduos

Destino final com impacto mínimo

Mesmo com a nuvem de chuva que insiste em se concentrar

sobre Biguaçu, cidade da região me-tropolitana de Florianópolis, a visita ao aterro sanitário não é prejudicada. De qualquer forma é necessário uma Kombi para locomoção dos visitantes entre os principais pontos do local, que tem 624 mil m². A primeira para-da, na parte mais alta, a 65m de altura, fornece uma vista panorâmica. Apesar de receber resíduos de 22 municípios catarinenses, totalizando 800 toneladas diárias, o que menos se vê no local é lixo. O aterro sanitário que pertence à multinacional Proactiva é, basicamen-te, formado por montanhas de terra. No caso de algumas cidades que não possuem estação de transbor-do, o transporte até o local é realizado pelos próprios veículos coletores. O aterramento do lixo é feito com jazi-da própria, ou seja, utiliza a terra da área licenciada. Por causa de uma leve inclinação do terreno, há captação do chorume, que desce através da gravi-dade até lagoas de tratamento, antes de desembocar no Rio Inferninho. A cada 25m da área também há drenos para colhimento do gás metano, que é queimado e liberado para a atmosfera como gás carbônico, menos poluente. Dessa forma, a empresa ganha com venda de créditos de carbono. A versão preliminar do Plano Nacional de Resí-duos Sólidos prevê que, até 2030, os gases gerados em aterros e lixões de-vem ser completamente recuperados. A construção de um aterro sanitário como o de Biguaçu exige diversas regras de engenharia para que se tenha o máximo controle de impactos ao meio ambiente e à saú-de pública. Ele precisa ser imperme-abilizado, há monitoramento de águas subterrâneas e do rio, e procedimento

para espantar animais, principalmente aves. O mais utilizado pela Proactiva são os fogos de artifício, mas tam-bém há a técnica da falcoaria. Como é predador natural, o pássaro assusta outras espécies. Mas é necessário que o falcão esteja bem alimentado an-tes de ser solto para o voo, evitando que tenha interesse em comer as aves. Se as regras de engenharia fo-rem adotadas, os aterros passam a ser áreas de disposição ambientalmente correta de resíduos. Caso contrário, são denominados lixões ou aterros controlados. No primeiro caso, os re-síduos são depositados a céu aberto,

o que acarreta poluição do solo, ar e águas subterrâneas, além de ser abri-go e fonte de alimento para animais, que podem se contaminar e disse-minar doenças. Os aterros controla-dos são aqueles em que o lixo é ape-nas coberto por terra, sem nenhum tipo de monitoramento ambiental. Em 2001, o Ministério Público de Santa Catarina lançou o programa “Lixo nosso de cada dia”, com o obje-tivo de barrar a disposição inadequada

de resíduos no estado, que, na época, representava 56% dos municípios. Com as medidas de incentivo, o número caiu e, se-gundo o Panorama Geral da As-sociação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), hoje, mais de 70% destinam seus resíduos para aterros sanitários. De acor-do com o economista André Luiz Andrade, é melhor investir na construção de uma área ade-quada do que gastar mais ten-tando sanar impactos, às vezes, até mesmo, irreversíveis. Outra

possibilidade é a aquisição de biodiges-tores para destino de resíduos orgâni-cos, como restos de comida, e dejetos. Esta tecnologia possibilita que a massa seja fermentada sem a presen-ça de ar, liberando biogás, que pode gerar energia, e biofertilizante, o adu-bo. A partir da crise enérgica deflagra-da em 1973, os biodigestores foram adotados, principalmente, na China, para garantir a produção energética em possíveis guerras, e Índia, por causa da

falta de combustíveis fósseis. Por isso, os modelos mais conhecidos são pro-venientes desses dois países. De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a recuperação energética pode ser utilizada se houver comprovação das viabilidades técnica e ambiental. A lei proíbe que resíduos se-jam lançados a céu aberto, em praias, no mar ou em quaisquer corpos hídri-cos, como também a queima em insta-lações e equipamentos não licenciados, exceto quando decretada emergência sanitária pelos órgãos públicos. A ca-tação, criação de animais ou fixação

de habitações em áreas de disposição de resíduos também são vetados, as-sim como utilizá-los para alimenta-ção. Até 2014, terão que ser extintos

todos os lixões do País. Os profissio-nais que trabalham na área acreditam não ser possível cumprir o prazo, mas para Sérgio Gonçalves, do Ministério do Meio Ambiente, a realização de consórcios torna a meta exeqüível. Segundo o economista André, é um mal do Brasil tratar de forma igual regiões muito diferentes. “Algumas estão mais preparadas do que outras.” De acordo com o engenheiro sanitarista Joel Dias da Silva, a cons-trução de aterros sanitários deve ser acompanhada de um comprometi-mento do sistema para que ele não

se torne um lixão, ou seja, receba apenas o lixo que foi projetado. A lei federal aponta a implantação da coleta seletiva como instru-mento essencial para atingir esse objeti-vo. Tal evolução na gestão dos resíduos,

com todas as prerrogativas da Políti-ca Nacional de Resíduos Sólidos, re-quer um conjunto de medidas, como participação do gerador, tanto domi-

ciliar como industrial, cooperativas de triadores capacitadas, indústrias de reciclagem, recursos financeiros. Mesmo depois de duas déca-das em tramitação, os envolvidos no sistema parecem perdidos em meio a muito trabalho, pouco tempo e al-guns pontos que ainda estão nebulo-sos, como a implantação da logística reversa. As atenções estão voltadas em como efetivar as normas em todo o País. Para o doutor em Direito Am-biental José Rubens Morato Leite, o Brasil sofre com a falta de vontade po-lítica em diversas áreas, mas é necessá-rio definir prioridades. E os resíduos sólidos são uma delas? “Entendo que sim, porque é uma questão que inclui qualidade de vida e proteção ambien-tal.” Na visão do economista André Luiz Andrade, legislações não faltam, o difícil é torná-las exeqüíveis. Mais uma dúvida para ser respondida em 2014, ano de Copa do Mundo no Bra-sil e prazo das principais diretrizes.

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Fotos: Wesley Klimpel

MonitoramentoO aterro tem captação de chorume e metano, além de métodos para espantar aves

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Mesmo com a nuvem de chuva que insiste em se concentrar

sobre Biguaçu, cidade da região me-tropolitana de Florianópolis, a visita ao aterro sanitário não é prejudicada. De qualquer forma é necessário uma Kombi para locomoção dos visitantes entre os principais pontos do local, que tem 624 mil m². A primeira para-da, na parte mais alta, a 65m de altura, fornece uma vista panorâmica. Apesar de receber resíduos de 22 municípios catarinenses, totalizando 800 toneladas diárias, o que menos se vê no local é lixo. O aterro sanitário que pertence à multinacional Proactiva é, basicamen-te, formado por montanhas de terra. No caso de algumas cidades que não possuem estação de transbor-do, o transporte até o local é realizado pelos próprios veículos coletores. O aterramento do lixo é feito com jazi-da própria, ou seja, utiliza a terra da área licenciada. Por causa de uma leve inclinação do terreno, há captação do chorume, que desce através da gravi-dade até lagoas de tratamento, antes de desembocar no Rio Inferninho. A cada 25m da área também há drenos para colhimento do gás metano, que é queimado e liberado para a atmosfera como gás carbônico, menos poluente. Dessa forma, a empresa ganha com venda de créditos de carbono. A versão preliminar do Plano Nacional de Resí-duos Sólidos prevê que, até 2030, os gases gerados em aterros e lixões de-vem ser completamente recuperados. A construção de um aterro sanitário como o de Biguaçu exige diversas regras de engenharia para que se tenha o máximo controle de impactos ao meio ambiente e à saú-de pública. Ele precisa ser imperme-abilizado, há monitoramento de águas subterrâneas e do rio, e procedimento

para espantar animais, principalmente aves. O mais utilizado pela Proactiva são os fogos de artifício, mas tam-bém há a técnica da falcoaria. Como é predador natural, o pássaro assusta outras espécies. Mas é necessário que o falcão esteja bem alimentado an-tes de ser solto para o voo, evitando que tenha interesse em comer as aves. Se as regras de engenharia fo-rem adotadas, os aterros passam a ser áreas de disposição ambientalmente correta de resíduos. Caso contrário, são denominados lixões ou aterros controlados. No primeiro caso, os re-síduos são depositados a céu aberto,

o que acarreta poluição do solo, ar e águas subterrâneas, além de ser abri-go e fonte de alimento para animais, que podem se contaminar e disse-minar doenças. Os aterros controla-dos são aqueles em que o lixo é ape-nas coberto por terra, sem nenhum tipo de monitoramento ambiental. Em 2001, o Ministério Público de Santa Catarina lançou o programa “Lixo nosso de cada dia”, com o obje-tivo de barrar a disposição inadequada

de resíduos no estado, que, na época, representava 56% dos municípios. Com as medidas de incentivo, o número caiu e, se-gundo o Panorama Geral da As-sociação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), hoje, mais de 70% destinam seus resíduos para aterros sanitários. De acor-do com o economista André Luiz Andrade, é melhor investir na construção de uma área ade-quada do que gastar mais ten-tando sanar impactos, às vezes, até mesmo, irreversíveis. Outra

possibilidade é a aquisição de biodiges-tores para destino de resíduos orgâni-cos, como restos de comida, e dejetos. Esta tecnologia possibilita que a massa seja fermentada sem a presen-ça de ar, liberando biogás, que pode gerar energia, e biofertilizante, o adu-bo. A partir da crise enérgica deflagra-da em 1973, os biodigestores foram adotados, principalmente, na China, para garantir a produção energética em possíveis guerras, e Índia, por causa da

falta de combustíveis fósseis. Por isso, os modelos mais conhecidos são pro-venientes desses dois países. De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a recuperação energética pode ser utilizada se houver comprovação das viabilidades técnica e ambiental. A lei proíbe que resíduos se-jam lançados a céu aberto, em praias, no mar ou em quaisquer corpos hídri-cos, como também a queima em insta-lações e equipamentos não licenciados, exceto quando decretada emergência sanitária pelos órgãos públicos. A ca-tação, criação de animais ou fixação

de habitações em áreas de disposição de resíduos também são vetados, as-sim como utilizá-los para alimenta-ção. Até 2014, terão que ser extintos

todos os lixões do País. Os profissio-nais que trabalham na área acreditam não ser possível cumprir o prazo, mas para Sérgio Gonçalves, do Ministério do Meio Ambiente, a realização de consórcios torna a meta exeqüível. Segundo o economista André, é um mal do Brasil tratar de forma igual regiões muito diferentes. “Algumas estão mais preparadas do que outras.” De acordo com o engenheiro sanitarista Joel Dias da Silva, a cons-trução de aterros sanitários deve ser acompanhada de um comprometi-mento do sistema para que ele não

se torne um lixão, ou seja, receba apenas o lixo que foi projetado. A lei federal aponta a implantação da coleta seletiva como instru-mento essencial para atingir esse objeti-vo. Tal evolução na gestão dos resíduos,

com todas as prerrogativas da Políti-ca Nacional de Resíduos Sólidos, re-quer um conjunto de medidas, como participação do gerador, tanto domi-

ciliar como industrial, cooperativas de triadores capacitadas, indústrias de reciclagem, recursos financeiros. Mesmo depois de duas déca-das em tramitação, os envolvidos no sistema parecem perdidos em meio a muito trabalho, pouco tempo e al-guns pontos que ainda estão nebulo-sos, como a implantação da logística reversa. As atenções estão voltadas em como efetivar as normas em todo o País. Para o doutor em Direito Am-biental José Rubens Morato Leite, o Brasil sofre com a falta de vontade po-lítica em diversas áreas, mas é necessá-rio definir prioridades. E os resíduos sólidos são uma delas? “Entendo que sim, porque é uma questão que inclui qualidade de vida e proteção ambien-tal.” Na visão do economista André Luiz Andrade, legislações não faltam, o difícil é torná-las exeqüíveis. Mais uma dúvida para ser respondida em 2014, ano de Copa do Mundo no Bra-sil e prazo das principais diretrizes.

Até 2014, terão que ser extintos todos os lixões do Brasil. Do total

de resíduos, 18% foram lançados a céu aberto diariamente em 2010

BiguaçuMultinacional Proactiva gerencia o aterro sanitário que recebe 800 toneladas diárias

de lixo, inclusive de Florianópolis

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Foto

: Cle

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