marcia etzberger especializacao 2011

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1 O que os alunos (acham que) sabem sobre Coesão? Márcia Maria Etzberger (Autora) Sergio Menuzzi 1 (Orientador) Resumo: O trabalho faz um estudo de algumas dificuldades de redação mencionadas pelos alunos de 3º ano em uma escola pública, como iniciar, dar sequência, concatenar as ideias e concluir textos dissertativos/argumentativos. Apresenta-se uma breve explanação sobre coesão e sequência textual de acordo com a teoria sobre coesão textual de Ingedore Koch. Além disso, abordam-se alguns tópicos levantados mediante um questionário respondido pelos alunos sobre dificuldades encontradas na produção textual. Para finalizar expõem-se sugestões de trabalho com intuito de ajudar a solucionar problemas considerados relevantes no ponto de vista dos alunos. Palavras-chave: Ensino de Língua Portuguesa; produção textual; coesão. Introdução 1 Professor da 5ª. Edição do Curso de Especialização em Gramática e Ensino da Língua Portuguesa – UFRGS.

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O trabalho faz um estudo de algumas dificuldades de redação mencionadas pelos alunos de 3º ano em uma escola pública, como iniciar, dar sequência, concatenar as ideias e concluir textos dissertativos/argumentativos. Apresenta-se uma breve explanação sobre coesão e sequência textual de acordo com a teoria sobre coesão textual de Ingedore Koch. Além disso, abordam-se alguns tópicos levantados mediante um questionário respondido pelos alunos sobre dificuldades encontradas na produção textual. Para finalizar expõem-se sugestões de trabalho com intuito de ajudar a solucionar problemas considerados relevantes no ponto de vista dos alunos.

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UFRGS INSTITUTO DE LETRAS

1

O que os alunos (acham que)

sabem sobre Coeso?Mrcia Maria Etzberger (Autora) Sergio Menuzzi (Orientador)Resumo: O trabalho faz um estudo de algumas dificuldades de redao mencionadas pelos alunos de 3 ano em uma escola pblica, como iniciar, dar sequncia, concatenar as ideias e concluir textos dissertativos/argumentativos. Apresenta-se uma breve explanao sobre coeso e sequncia textual de acordo com a teoria sobre coeso textual de Ingedore Koch. Alm disso, abordam-se alguns tpicos levantados mediante um questionrio respondido pelos alunos sobre dificuldades encontradas na produo textual. Para finalizar expem-se sugestes de trabalho com intuito de ajudar a solucionar problemas considerados relevantes no ponto de vista dos alunos. Palavras-chave: Ensino de Lngua Portuguesa; produo textual; coeso.Introduo

A escrita de uma redao e elaborao de uma resposta dissertativa, como se sabe, no pode resultar apenas em um agrupamento de ideias organizadas de forma aleatria. necessrio que o resultado tenha ligaes capazes de torn-lo uma unidade textual, preciso ter coeso textual e coerncia. Mas ser que professores tm um conhecimento concreto sobre como elaborar um texto com estas caractersticas? E, alm disso, ser que apresentado aos alunos o processo de como desenvolver uma escrita coesa e coerente?

Um texto coeso requer a devida conexo entre palavras, oraes, perodos e pargrafos, isto , requer que se estabeleam relaes de sentido entre as idias (coerncia). Por isso, se fazem necessrios a concordncia nominal e a verbal, o uso adequado das conjunes, dos conectivos, da pontuao, dos pronomes, e a ordem das palavras na frase precisa estar clara, para no gerar ambiguidade. Sabe-se que h vrios problemas textuais nas redaes de alunos. Muitas vezes, alguns destes textos problemticos vo para uma aula de Lngua Portuguesa ou so apresentados em cursos de professores de Lngua Portuguesa. H professores que analisam os erros, explicam o porqu dos erros apresentam a soluo para cada texto. Mas ser que o aluno que escreveu este texto chega a saber que foram encontrados tantos problemas em seu texto? Certo que no so textos que servem de base para mostrar como escrevem os estudantes ingressantes na faculdade. vlido fazer este estudo? Acredita-se que sim, mas tambm primordial identificar onde est a falha no ensino da Lngua Portuguesa.

O objetivo deste breve trabalho identificar, na perspectiva do aluno, quais as maiores dificuldades para fazer um texto. A pesquisa foi feita com alunos do 3ano do Ensino Mdio de uma escola pblica de Novo Hamburgo que voluntariamente contriburam com este estudo respondendo seis perguntas sobre produo textual (ver Apndice A). A partir da anlise quantitativa das respostas dos alunos, possvel identificar quais so as principais dificuldades encontradas e, por conseguinte encontrar solues para obter melhores resultados. Neste trabalho discute-se ainda, outros dos problemas levantados por meio deste instrumento. 1..A busca pelo texto coesoAo analisar textos de alunos de 2 e 3 ano do Ensino Mdio, verificam-se vrios problemas nas produes textuais, seja em propostas de redao dirigidas ao vestibular, ao ENEM (Exame Nacional do Ensino Mdio) ou a outras finalidades pedaggicas. Em todos os tipos de produes textuais possvel de alguma forma detectar dificuldades dos alunos na hora da escrita. Por um lado, os problemas identificados e expostos so geralmente os mesmos: falta de coerncia; repetio de palavras; ambiguidade (por exemplo, no uso de pronomes); excesso de gerndios e de adjuntos adverbiais; contradio de ideias, ... Vale ressaltar que esta uma lista pequena dos problemas encontrados h vrios outros.

A proposta deste trabalho tentar constatar o que o aluno conhece/sabe sobre noes de coeso e coerncia. Pretende-se investigar se o aluno conhece ou no os recursos utilizados para progresso textual; alm disso, ele precisa tambm conhecer o significado, o valor semntico, atribudo a cada elemento. Busca-se, de certa forma, ver o problema do lugar de aluno e, assim, perceber as falhas cometidas pelos docentes quando trabalham com produo textual, de modo a identificar possveis lacunas no mtodo de ensino de Lngua Portuguesa.

Sabe-se que, para a elaborao de um texto, h inicialmente a necessidade social, ou seja, preciso saber sobre o que se escreve e para quem se escreve. O contedo do texto fixado de acordo com a situao comunicativa e a inteno do falante. Para Koch, (p.15, 2005), os elementos da lngua que tm por funo precpua estabelecer relaes textuais so recursos de coeso textual. Conforme a autora, um dos instrumentos da coeso so as relaes de referncia, estabelecidas, por exemplo, por pronomes como tudo (catafrico), isto (anafrico), sujeitos elpticos, possessivos como deles(as), seus(as), etc. Alm desse tipo de relao, Koch ressalta outro grupo de mecanismos cuja funo assinalar determinadas relaes de sentido entre enunciados ou partes dos enunciados, relaes como oposio ou contraste (mas, porm), finalidade (para, em funo de) consequncia (foi assim que, em), localizao temporal (at que, em), explicao (porque), adio de argumentos ou idias (e, como tambm). por meio destes dois tipos de mecanismos que se vai tecendo o tecido (tessitura) do texto. A este fenmeno tessitura criada por meio de elos lingusticos entre os enunciados do texto que se denomina coeso textual. A pergunta que se faz : ser que o aluno aprende assim? Ser que ele v um texto como tendo que ter estas relaes unindo os enunciados? dado a ele o sentido/a funo de uma expresso como mesmo que, ainda que, mas tambm, j que? possvel um aprendizado em que se tenta estudar simplesmente a palavra sem dar a devida ateno ao emprego e uso, ou seja, ao significado da expresso? Sabemos da importncia do ensino da terminologia que estudamos substantivos, verbos, advrbios, demais classes gramaticais , mas enquanto o foco no for o estudo do sentido, do significado e da funo que determinada palavra exerce em um texto, bem provvel que no tenhamos xito no ensino da nossa Lngua Portuguesa! Portanto, ensinar pronomes, por exemplo, no pode se limitar a enumerar, para o aluno, as formas dos pronomes; preciso que o aluno entenda que so instrumentos de coeso, estabelecem elos entre oraes; e que, para estes elos serem bem estabelecidos, preciso escolher o pronome certo tanto gramaticalmente quanto textualmente.

Halliday & Hansan (apud Ingedore, 2005, p. 18) ressaltam que a coeso se faz a partir da continuidade textual para que o texto seja coeso, preciso que haja continuidade de sentido, continuidade semntica. Esta continuidade se expressar, em geral, pelas relaes de reiterao, associao e conexo.Essas relaes acontecem graas a vrios procedimentos que, por sua vez, se desdobram em diferentes recursos. Para uma melhor compreenso do que se quer indicar por meio do termo recursos, apresenta-se abaixo um quadro ilustrativo extrado de Antunes (2005)A COESAO DO TEXTO

Relaes textuaisProcedimentosRecursos

1 REITERAO1.1 Repetio1.1.1 Parfrase

1.1.2 Paralelismo

1.1.3Repetio propriamente ditaDe unidades do lxico;

De unidades da gramtica.

1.2 Substituio1.2.1Substituio gramaticalRetomada por:

Pronomes;

Advrbios.

1.2.2Substituio lexicalRetomada por:

Sinnimos;

Hipernimos;

Caracterizadores situacionais.

1.2.3 ElipseRetomada:

elipse

2 ASSOCIAO 2.1 Seleo lexicalSeleo de palavras semanticamente prximas por antnimos;

por diferentes modos de relaes de parte/todo

3 CONEXAO3.1 Estabelecimento de relaes sinttico-semnticas entre termos, oraes, perodos pargrafos e blocos supra paragraficos. Uso de diferentes conectorespreposies;

conjunes;

advrbios;

respectivas locues

Quadro 1 Recursos para mecanismo de coeso Fonte - ANTUNES, Irand.(2005, p. 21)Em sntese, o quadro mostra quais palavras e expresses, quando usadas adequadamente, podem levar construo de um texto coeso. Halliday & Hansan (apud Ingedore, p. 18) ressalvam que a coeso compe-se a partir dos seguintes tipos de relao: Referncia (pessoal, demonstrativa, comparativa);

Substituio (nominal, verbal, frasal);

Elipse (nominal, verbal, frasal);

Conjunes (aditiva, adversativa, causal, temporal, continuativa)

Coeso lexical (repetio, sinonmia, hiperonmia, usos de nomes genricos, colocao).

Os elementos de referncia so os itens da lngua que no podem ser interpretados semanticamente por si mesmos, mas remetem a outros itens do discurso necessrios sua interpretao. A compreenso dos elementos constitutivos de um texto depende do entendimento que se tem do sentido das palavras. Porm a reflexo est na percepo da amplitude das questes lingusticas, a saber, que uma Lngua no se restringe a um manual de Gramtica, a regras de certo e errado. Embora o objetivo deste trabalho no seja fazer anlise de significado/sentido de conectores e demais elementos coesivos, preciso enfatizar a importncia de trabalhar a percepo do sentido que as palavras exercem nos enunciados e o modo como atuam na progresso textual. 2 Conhecimento do aluno Conforme dito anteriormente, a pesquisa foi realizada com alunos de 3 ano de Ensino Mdio de uma escola pblica. Os resultados obtidos mostram as dificuldades do aluno frente escrita, confirmando o que se encontra nas redaes de vestibular e do ENEM (Exame Nacional do Ensino Mdio). Embora os alunos saibam de suas dificuldades, no sabem como super-las; por isso, a importncia do trabalho docente ser bem orientado desde o ensino fundamental. invivel resolver todos os problemas de escrita do aluno concluinte de Ensino Mdio trabalhando com estes problemas apenas no fim do Ensino Mdio. Na verdade, o que se espera mas isso , talvez, utopia que no 3 ano se faa apenas um aperfeioamento do conhecimento que o aluno adquiriu ao longo dos anos; mas o que se encontra no momento um tal despreparo dos alunos concluintes que a ideia de aperfeioamento parece descabida. Isso revela que algo est errado no nosso sistema educacional, ou, mais especificamente, no ensino da Lngua Portuguesa. A fim de avanar no diagnstico da situao, procurou-se buscar no prprio aluno uma fonte para identificar como ele v seus prprios problemas em relao produo de textos. Para isso, apresentou-se aos alunos um questionrio com o seguinte enunciado: Este questionrio parte de uma pesquisa em que se busca identificar se h ou no dificuldade por parte dos alunos de 3 srie do Ensino Mdio em escrever textos. Caso tenham dificuldades, busca-se identificar quais so os maiores problemas e, segundo os respondentes da pesquisa, quais as possveis causas desta dificuldade. O total de alunos que responderam pesquisa foi de 56 respondentes.A primeira pergunta foi sobre a importncia da produo textual: Voc considera importante saber escrever textos? Em resposta, 51 alunos disseram que consideram saber escrever importante, 04 so indiferentes e 01 considera no ser importante. Figura 1: Importncia de saber escrever textos

Fonte: Elaborado pela autora.

A segunda pergunta buscou identificar se os alunos percebiam ter dificuldades em elaborar textos: Voc tem facilidade em redigir textos e respostas dissertativas? 38 alunos responderam que depende do assunto, 10 responderam no ter dificuldades e 08 responderam ter dificuldades.

Figura 2: Facilidade em redigir textos e respostas dissertativas

Fonte: Elaborada pela autora

A terceira pergunta dirigia-se a tentar identificar se o aluno tm idia dos problemas especficos que apresenta: Caso tenha dificuldades em redigir, em qual tpico tem mais dificuldade? 33 alunos responderam ter dificuldades em fazer a progresso textual, 14 ter dificuldades em iniciar, e 09 alunos ter dificuldades em fazer a concluso.

Figura 3: Facilidade em redigir textos e respostas dissertativas

Fonte: Elaborado pela autora

Ao se perguntar se conheciam palavras usadas para iniciar textos, fazer a progresso e a concluso, 30 alunos responderam no conhecer, 22 disseram ter conhecimento, e 04 disseram j ter ouvido falar delas.

Figura 4: Conhecimento de palavras para iniciar, fazer progresso e concluso de textos.

Fonte: Elaborada pela autora

Na quinta pergunta, questionou-se sobre a importncia de se compreender o sentido que as palavras possuem: 42 alunos consideram importante compreender o sentido das palavras, 08 acreditam no ser isso importante, e 06 consideram ser indiferente compreender ou no o sentido de uma palavra em determinados contextos.

Figura 5: Importncia de analisar o sentido/significado dessas palavras

Fonte: Elaborada pela autora.

Para finalizar o questionrio, a ltima pergunta pedia que os alunos enumerassem de 1 a 3 o que consideram mais importante para desenvolver a habilidade de escrita desde o Ensino Fundamental: Em sua opinio, o que considera importante para desenvolver a habilidade de escrita desde o Ensino Fundamental: (marque 1 para MAIS IMPORTANTE; 2 IMPORTANTE; 3 MENOS IMPORTANTE), dadas as seguintes alternativas: ( ) Estudar regras gramaticais para no errar na hora da escrita.

( ) Praticar a leitura e entender o significado das palavras para escrever textos com sentido.

( ) Fazer exerccios de gramtica conforme apresentado no livro didtico (livros dos alunos)Em resposta, 49 alunos consideram mais importante entender o significado de palavras, e 07 alunos responderam que estudar regras gramaticais ajuda a desenvolver a habilidade da escrita. Nenhum marcou a alternativa de fazer exerccios de gramtica conforme livro didtico.

Figura 6: Mais importante para desenvolver a habilidade da escritaFonte: Elaborada pela autora

Em linhas gerais, a partir das respostas dos alunos, observou-se que existe dificuldade em escrever textos, assim como existe conscincia do quanto importante para a pessoa (para os alunos) ter a competncia de escrever. H dvidas de como iniciar, dar sequncia e como finalizar um texto. Quanto ao conhecimento por parte dos alunos sobre conectores, elementos coesivos e articuladores textuais, a resposta da maioria foi que conhecem ouviram falar de estes elementos; porm, nem sempre compreendem o sentido que estas palavras possuem.

Tambm prevalece a preocupao com os exerccios metdicos e regras gramaticais isoladas, que, como se sabe, geralmente no geram resultados satisfatrios. Problemas similares se apresentam para o uso de manuais de gramtica, que costumam trazer explicaes e exerccios isolados, ou seja, no fazem nenhuma interao, simplesmente tratam de apresentar uma srie de exerccios isolados. Muitas vezes estes manuais so usados por muito tempo pelas escolas e professores, o que dificulta ainda mais o trabalho do professor em sala de aula. preciso estudar a gramtica sim, desde que tenha algum sentido que no seja a mera repetio de estruturas ou a mera classificao dos termos.

Diante das observaes dos alunos embora no tenham causado grandes surpresas, emerge a necessidade de mudar a metodologia de ensino de Lngua Portuguesa. [O que aconteceu com aquela seo sobre o Sentido do Texto? No quiseste transform-la numa seo autnoma?]3 Algumas sugestes A sugesto primordial uma reflexo sobre o mtodo de ensino de Lngua Portuguesa. Sabe-se que se o ensino no mudar, nossos resultados continuaro os mesmos. Diante deste pressuposto, compartilho das ideias apresentadas pela autora Erica Rodrigues (2008, p.15) em sua tese de Mestrado O que escrever bem.

A autora faz uma ressalva acerca do ensino de lngua portuguesa no Brasil nas ltimas dcadas, bem como os temas que estiveram (e esto) em discusso. Segundo Erica (2008 p.14-15), importante lembrar, por exemplo, que a expanso do nmero de vagas no ensino pblico ocorrida durante o governo militar e a insero dos linguistas nas discusses referentes ao ensino de lngua materna foram fatos que contriburam de forma original e crtica ao modo como a escola trata o ensino de linguagem.

De acordo com os estudos de Erica (2008), preciso investigar o que de errado tem ocorrido nas aulas de lngua portuguesa no decorrer dos anos do ensino fundamental e mdio. Como professora de Lngua Portuguesa, percebo que a tendncia de prtica de sala de aula exatamente a mesma da prtica das aulas que eu tive h 20 anos atrs. Porm, como estudante da rea de Letras, tenho conscincia do quanto h de recursos, atualmente, para desenvolver um trabalho que tenha mais sentido para o estudante. Vale salientar que existe, nos alunos, uma certa barreira entre desenvolver um trabalho diferente daquele a que esto acostumados. Para simplificar, quando se pede um trabalho que envolve raciocnio, interpretao, compreenso de sentido, h resistncia do grupo em realizar a atividade; porm, quando apresentada uma atividade metdica de pergunta/resposta, h uma aceitao do grupo. Considero isso um reflexo de uma metodologia que est instaurada; somente com uma mudana de prtica, a iniciar desde o ensino fundamental, seremos capazes de mudar o ensino de lngua portuguesa na escola.

Se quisermos que nosso aluno elabore textos coesivos e coerentes, precisamos trabalhar estes conceitos; no mnimo, precisamos apresentar os elementos responsveis pela articulao do texto. Precisamos fazer isso desde o ensino fundamental, porque, de acordo com os resultados de nosso questionrio, alunos de 3 ano pouco lembram ou sabem dos articuladores e de seu sentido. Enquanto existir a cultura do livro didtico livro didtico que, por sua vez, pouco ou nada menciona sobre coeso e coerncia , no podemos esperar bons resultados dos alunos no que se refere a este tema. Entre as leituras sobre coeso textual de apoio ao professor que hoje encontramos, a nosso ver interessante desenvolver as atividades propostas pelo livro Ler e Compreender: os sentidos do texto, das autoras Ingedore Vilaa Koch e Vanda Maria Elias (2009). O livro apresenta atividades que vo alm da compreenso textual, que levam em conta as experincias e os conhecimentos do leitor. Desde as estratgias de leitura at as atividades (exerccios), todos os recursos do livro buscam apresentar situaes cotidianas que enfatizam o significado das palavras empregadas em determinados contextos.

O objetivo aqui no listar estas atividades ou resenhar este livro, mas ressaltar que existem muitas formas novas de trabalhar a lngua portuguesa, para alm dos livros didticos mais pasteurizados formas de trabalho que podemos, inclusive, encontrar em livros didticos mais inovadores. Desenvolvendo trabalhos com jornais, partindo de anlises melhor orientadas de textos, conseguimos no apenas trabalhar contedos de gramtica como tambm desenvolvemos no aluno conhecimento de mundo e capacidade para utilizar este conhecimento. Acredita-se que este tipo de atividade melhor aceito pelo aluno e gera melhores resultados de aprendizagem, se bem planejados e bem executados.

Consideraes finais

As respostas dos alunos em relao a noes de coeso e coerncia revelam parte de uma lacuna no ensino da Lngua Portuguesa. Longe de ser uma justificativa para explicar as dificuldades de escrita, preciso compreender que h alguma coisa errada no nosso processo de docncia. Se a metodologia utilizada a mesma se comparada utilizada 20 anos atrs, se as cpias de textos so as mesmas, se no h uma dinamizao em sala de aula, como exigir outros resultados? preciso inovar. Por exemplo, a proposta de trabalho em sala de aula apresentada por Ingedore Koch e Vanda Maria Elias faz com o aluno interaja com o meio social. A leitura de diversos gneros textuais aproxima a realidade social da sala de aula. Cada texto estudado, as palavras so compreendidas em seu significado, sua funo naquele gnero textual explorada, bem como o valor argumentativo que ela estabelece. Ler um enunciado, uma propaganda, um texto, vai muito alm do que entender o que est escrito. compreender as conexes ao longo da tessitura do texto. E, uma vez que possvel trabalhar com a compreenso e o sentido, possvel esperar uma escrita mais criativa e desenvolvida por parte de nossos alunos.

Acredita-se que mudar o mtodo de trabalho no seja uma tarefa fcil: exige muito planejamento e disposio do docente e, quanto ao aluno, quando vem de vrios anos j moldado, apresenta resistncia em mudar sua forma de trabalhar. Por isso, mais importante do que analisar o trabalho final compreender o processo de aprendizado. As dificuldades vo existir sempre, mas quando possvel visualizar formas de tentar amenizar, acredita-se que dever do professor buscar fazer a diferena. Referncias ANTUNES, Irand. Lutar com palavras: coeso e coerncia. So Paulo: Parbola Editorial, 2005. KOCH, Ingedore Grunfeld Villaa; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do texto. So Paulo: Contexto, 2009

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaa. A Coeso Textual. 20. Ed. So Paulo: Contexto, 2005. ________. Desvendando os segredos do texto. So Paulo: Cortez, 2002.________. O texto e a construo de sentidos. So Paulo: Contexto, 1997.RODRIGUES. rica. O que escrever bem?Com a palavra, os alunos do Ensino Mdio. 2008. 82 f. Dissertao (Mestrado em Educao) Programa de Ps-Graduo em Educao, Universidade Federal do Paran, Curitiba, 2008.APNDICE A Questionrio respondido por alunos de 3 srie do Ensino Mdio

Este questionrio parte de uma pesquisa em que se busca identificar se h ou no dificuldade por parte dos alunos de 3 srie do Ensino Mdio em escrever textos. Caso tenham dificuldades, busca-se identificar quais so os maiores problemas e, segundo os respondentes da pesquisa, quais as possveis causas desta dificuldade:

1) Voc considera importante saber escrever textos:

a) ( ) SIM b) ( ) NO c) ( ) INDIFERENTE

2) Voc tem facilidade em redigir textos e respostas dissertativas:

a) ( ) SIM b) ( ) NO c) ( ) Depende do assunto do texto.

3) Caso tenha dificuldades em redigir, em qual tpico tem mais dificuldade:

a) ( ) Fazer o 1 pargrafo. b ( ) dar seqncia/progresso ao texto c) ( ) fazer o pargrafo final.

4) Voc sabia que existem palavras para iniciar textos, fazer a progresso e a concluso?a) ( ) SIM b) ( ) NO c) ( ) J ouvi falar. 5) Se existem palavras que so responsveis por uma progresso textual, seria, ento, importante analisar o sentido/significado que elas tm. Voc considera importante analisar o sentido/significado dessas palavras?

a) ( ) SIM b) ( ) NO c) ( ) No faz diferena.

6) Em sua opinio, o que considera importante para desenvolver a habilidade de escrita desde o Ensino Fundamental: (marque 1 para MAIS IMPORTANTE; 2 IMPORTANTE; 3 MENOS IMPORTANTE)a) ( ) Estudar regras gramaticais para no errar na hora da escrita.

b) ( ) Praticar a leitura e entender o significado das palavras para escrever textos com sentido.

c) ( ) Fazer exerccios de gramtica conforme apresentado no livro didtico (livros dos alunos)

Professor da 5. Edio do Curso de Especializao em Gramtica e Ensino da Lngua Portuguesa UFRGS.