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MANUAL DE GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS da estratégia à prática Helena de Almeida

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MANUAL DE GESTÃO DE RECURSOS

HUMANOS da estratégia à prática

Helena de Almeida

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EDIÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E VENDAS

SÍLABAS & DESAFIOS - UNIPESSOAL LDA.

NIF: 510212891

www.silabas-e-desafios.pt

[email protected]

Sede:

Rua Dorilia Carmona, nº 4, 4 Dt

8000-316 Faro

Telefone: 289805399

Fax: 289805399

Encomendas: [email protected]

TÍTULO

MANUAL DE GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS — da estratégia à prática

AUTOR

Helena de Almeida

2ª edição (revista e aumentada)

500 Exemplares

Copyright @ Março 2014

Sílabas & Desafios, Unipessoal Lda.

ISBN: 978-989-98122-6-0

Depósito legal:

Pré-edição, edição, composição gráfica e revisão: Sílabas & Desafios Unipessoal, Lda.

Pré-impressão, impressão e acabamentos: Gráfica Comercial, Loulé

Capa: Joana Guita Pinto; http://www.ladybug-ctrlc.com/

Reservados todos os direitos. Reprodução proibida. A utilização de todo, ou partes,

do texto, figuras, quadros, ilustrações e gráficos, deverá ter a autorização expressa

do autor.

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Índice A GESTÃO ESTRATÉGICA DE RECURSOS HUMANOS ..................................................................... 9

Novas tendências .................................................................................................................... 9 Escolas da estratégia ............................................................................................................. 12

As dez escolas da Gestão Estratégica ............................................................................... 12 A Escola do Design ........................................................................................................... 12 Escola do Planeamento .................................................................................................... 13 Escola de Posicionamento ................................................................................................ 13 Escola Empreendedora ..................................................................................................... 14 Escola Cognitiva ................................................................................................................ 14 Escola do Conhecimento .................................................................................................. 15 Escola do Poder ................................................................................................................ 16 Escola Cultural .................................................................................................................. 16 Escola Ambiental .............................................................................................................. 17 Escola da Configuração .................................................................................................... 17

Súmula .................................................................................................................................. 18 ANÁLISE DO AMBIENTE .............................................................................................................. 19

Análise do Ambiente Externo ................................................................................................ 19 Análise do macro ambiente .............................................................................................. 19 Análise do micro ambiente ............................................................................................... 21

Análise do ambiente interno ................................................................................................. 29 Súmula .................................................................................................................................. 34

FORMULAÇÃO ESTRATÉGICA ..................................................................................................... 35 Missão, visão e estratégia ..................................................................................................... 35

Missão .............................................................................................................................. 35 Valores ............................................................................................................................. 36 Visão ................................................................................................................................. 37 Estratégia ......................................................................................................................... 37

A Matriz SWOT de Michael Porter......................................................................................... 37 Estratégia de posicionamento de Michael Porter ................................................................. 42

Variedade de produtos ..................................................................................................... 43 Segmentação das necessidades dos clientes .................................................................... 44 O acesso ao cliente ........................................................................................................... 45

Boston Consulting Group (BCG) ............................................................................................ 48 A matriz McKinsey da GE ....................................................................................................... 55 A Matriz de Ansoff ................................................................................................................. 60 O Ciclo de Vida do Produto (CVP) .......................................................................................... 61 Direção Estratégica ............................................................................................................... 65

Estratégia de Crescimento................................................................................................ 66 Estratégias de Estabilidade ............................................................................................... 68 Estratégias de Redução .................................................................................................... 68

Súmula .................................................................................................................................. 69 EXECUÇÃO ESTRATÉGICA ........................................................................................................... 71

Origem do Balanced Scorecard ............................................................................................. 71 Conceito de Balanced Scorecard ...................................................................................... 72

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Alinhamento do Sistema de Recursos Humanos ................................................................... 80 Diagnóstico do entrosamento interno da área da Stiwell ..................................................... 82 Teste do alinhamento dos produtos de RH dentro do mapa estratégico .............................. 84 Teste de alinhamento do Sistema de RH com os produtos de RH ......................................... 86 Súmula .................................................................................................................................. 87

PLANEAMENTO ESTRATÉGICO DE RECURSOS HUMANOS .......................................................... 89 Importância do planeamento de recursos humanos ............................................................. 89 Planeamento de recursos humanos a curto e médio prazo e estratégias de empregabilidade .............................................................................................................................................. 91

Adaptação a curto prazo .................................................................................................. 91 Adaptação a médio prazo ................................................................................................107

Súmula .................................................................................................................................112 AS PRÁTICAS DE RECURSOS HUMANOS ....................................................................................117

Novas tendências da GRH ....................................................................................................117 ANÁLISE DA FUNÇÃO ................................................................................................................121

A prática da análise da função..............................................................................................122 Técnicas de análise de funções ............................................................................................123 Descrição da função .............................................................................................................123 Perfil psicoprofissional da função .........................................................................................124

Competências profissionais .............................................................................................125 Características pessoais ...................................................................................................125 Motivações ......................................................................................................................125

Súmula .................................................................................................................................126 O RECRUTAMENTO ...................................................................................................................127

Novas tendências do recrutamento ................................................................................127 Pessoas e organizações não nascem juntas..........................................................................127 Tipos de recrutamento .........................................................................................................128

Recrutamento interno .....................................................................................................131 Recrutamento externo ....................................................................................................134 Recrutamento misto........................................................................................................141

Avaliação dos resultados do recrutamento ..........................................................................142 E-recruitment .......................................................................................................................144 Súmula .................................................................................................................................146

O PROCESSO DE SELEÇÃO .........................................................................................................147 Tendências da seleção de pessoas .......................................................................................147 Os testes de seleção mais correntes ....................................................................................148

Origem ............................................................................................................................148 Classificação ....................................................................................................................149

A conceção da inteligência como fator geral ........................................................................150 A conceção pluralista de Thurstone .....................................................................................152

Compreensão verbal (v) ..................................................................................................153 Fator Numérico (N) .........................................................................................................158 Fator Espacial (S) .............................................................................................................159 Fator Memória (M) ..........................................................................................................159 Fator Velocidade Percetiva (P) ........................................................................................160 Fator Raciocínio ( R) ........................................................................................................161

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Questionários de personalidade ..........................................................................................162 Testes projetivos de personalidade ......................................................................................166 Outras Avaliações Psicológicas .............................................................................................169

Assessment Centre (AC) ...................................................................................................170 A Entrevista ..........................................................................................................................174 Interpretação quantitativa dos resultados das provas psicológicas (ou psicotécnicos)........183 Proposta final do candidato escolhido .................................................................................188 Como tratar os candidatos com parecer desfavorável .........................................................189 Súmula .................................................................................................................................189

ACOLHIMENTO, INTEGRAÇÃO E SOCIALIZAÇÃO ........................................................................191 Novas tendências da socialização.........................................................................................191 O processo de socialização organizacional ...........................................................................192 As fases do processo de socialização ....................................................................................198 Programa de acolhimento ....................................................................................................200 O Manual de acolhimento ....................................................................................................204 O Tutor ou Orientador de estágio ........................................................................................206 Avaliação do acolhimento ....................................................................................................206 Empowerment ......................................................................................................................207 Súmula .................................................................................................................................208

DESCRIÇÃO, ANÁLISE E QUALIFICAÇÃO DE FUNÇÕES ...............................................................209 Descrição e análise de funções .............................................................................................209

Novas tendências da análise, descrição e qualificação de funções .................................209 Descrição de funções ......................................................................................................210

Técnicas de análise da função ..............................................................................................212 Redação da descrição da função ..........................................................................................213 Qualificação de funções .......................................................................................................216

O Método do escalonamento ..........................................................................................216 O método das categorias pré-determinadas ...................................................................216 O Método de comparação de fatores .............................................................................217 Método de avaliação por pontos (point rating) ..............................................................221 Delineamento da reta salarial .........................................................................................225

Súmula .................................................................................................................................232 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO ..................................................................................................233

Métodos tradicionais de avaliação .......................................................................................233 Métodos Modernos da Avaliação de desempenho ..............................................................236

Feedback de 360º ............................................................................................................236 Avaliação participativa por objetivos (APPO) ..................................................................237 Sistema integrado de avaliação do desempenho para a administração pública (SIADAP) - Lei Nº 10/2004, de 22 Março ..........................................................................................237 Consequências do processo de avaliação ........................................................................244

Súmula .................................................................................................................................245 INCENTIVOS E BENEFÍCIOS SOCIAIS ...........................................................................................247

Introdução ............................................................................................................................247 Programas de incentivos ......................................................................................................247

Recompensas e sanções ..................................................................................................249 Benefícios sociais .................................................................................................................254

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Novas tendências dos benefícios sociais .........................................................................254 Classes de benefícios sociais ...........................................................................................255

Súmula .................................................................................................................................258 O TREINO E DESENVOLVIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES ............................................................259

Novas tendências do treino ..................................................................................................259 Mudanças e qualificação nas Empresas ...............................................................................259 Conceito de treino nas organizações ....................................................................................260

O treino enquanto processo ............................................................................................262 Quanto gastam as empresas de treino ............................................................................263 Diagnóstico das necessidades de treino ..........................................................................263

Desenho do programa de treino ..........................................................................................265 Condução do programa de treino ...................................................................................265

Avaliação do treino ..............................................................................................................268 Consequências do treino .................................................................................................270

Desenvolvimento nas organizações .....................................................................................271 Súmula .................................................................................................................................273

COACHING .................................................................................................................................275 O Coaching como Recurso Estratégico nas Organizações ....................................................275 Breve história do Coaching...................................................................................................276 Fases do Coaching ................................................................................................................279

Entendimento da necessidade da empresa/cliente ........................................................279 Comprometimento ..........................................................................................................279 Avaliação (Assessment e Feedback) ................................................................................280 Metas e Objetivos ...........................................................................................................280 Plano de ação/obstáculos ...............................................................................................280 Implementação do plano de ação ...................................................................................281 Monitorização do programa ............................................................................................281 Feedback de encerramento.............................................................................................281

Os diferentes tipos de Coaching ...........................................................................................285 Coaching Executivo .........................................................................................................285 Coaching de Negócios .....................................................................................................285 Coaching de Equipa .........................................................................................................285 Coaching de Vida .............................................................................................................285 Coaching de Carreira .......................................................................................................286 Coaching para Desporto ..................................................................................................286

Retorno do Investimento do Coaching .................................................................................286 Súmula .................................................................................................................................287

O POTENCIAL MOTIVADOR DO TRABALHO ...............................................................................289 Súmula .................................................................................................................................302

ANEXO A....................................................................................................................................305 ANEXO B ....................................................................................................................................307 ANEXO C ....................................................................................................................................317 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................321

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PARTE I

Gestão Estratégica de Recursos Humanos

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A GESTÃO ESTRATÉGICA DE RECURSOS

HUMANOS

Novas tendências

No contexto em que mudanças ocorrem a todo o momento, a organização

necessita de estar alinhada em torno de definições estratégicas claras,

sustentadas por uma gestão com um amplo envolvimento e participação. É

preciso estabelecer um compromisso com a força de trabalho, baseado no

respeito mútuo, numa comunicação aberta que se estende ao envolvimento

com todos os stakeholders. De acordo com Zaccarelli (2002), estratégia é

como pensar nas decisões sobre ações interativas, onde os oponentes têm

reações imprevisíveis e não há envolvimento puro da lógica. É um guia para

decisão e ação quando existe uma situação de conflito repleta de vontades,

que envolve agentes inteligentes e criativos e no qual a previsibilidade é

nula. Se o conflito for evitável, transforma-se em negociação. Se houver

previsibilidade, a lógica é suficiente para resolver o problema. Por esta

mesma razão, Henderson (1989) afirma que nem sempre o que se espera da

estratégia é o que de facto acontece. A imprevisibilidade impede que se

possa antecipar o resultado final de uma ação, tornando as decisões

dependentes de julgamentos subjetivos.

Toda esta mise em scène global, advinda de severas e súbitas

transformações no ambiente externo e interno das organizações, tem

causado profundo impacto no ambiente empresarial, constituindo um

conjunto de elementos de pressão que as impele para uma busca de

alternativas e novas oportunidades de negócio. Exige um extremo exercício

de criatividade, inovação, rapidez na tomada de decisão e na maximização

dos serviços e competências da empresa (Moreno 2002).

As estratégias são responsáveis por gerar lucros, crescimento e são ainda

garantia da sobrevivência organizacional. Para a estratégia funcionar é pois

necessário o alinhamento de toda a organização para o alcance dos objeti-

vos. Ninguém melhor do que a unidade de Recursos Humanos (RH), por se

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responsabilizar pelo alinhamento de toda a organização aos objetivos atra-

vés de uma arquitetura apropriada, para exercer este papel. No entanto, o

órgão de RH ainda tem muito que evoluir, uma vez que se encontra apenas

num número bastante reduzido de organizações em que desenvolve um

papel estratégico. Infelizmente, para a grande maioria das empresas, as

atividades e tarefas de RH ainda continuam limitadas ao recrutamento,

treino e remuneração de pessoas, mostrando ainda resistência às novas

tendências da gestão moderna, ficando assim, muito longe de atender às

necessidades dos novos sistemas de gestão por competências e à formação

e desenvolvimento de equipas. Acaba por deixar de lado a utilização de

instrumentos capazes de medir o desempenho do setor de RH e da sua real

contribuição para os resultados e metas da empresa. Diante deste contexto,

mudanças culturais e novas práticas se fazem necessárias e, por isso, duas

dimensões se impõem progressivamente:

1. A visão da função Pessoal como é vista atualmente, indicando a

necessidade de se levar em consideração os grupos humanos que

formam a empresa e que são frequentemente ignorados pelos seus

responsáveis. A atenção dada ao fator humano tornou-se essencial, uma

vez que se compreende que a eficácia organizacional depende

principalmente dos indivíduos e não somente da qualidade do serviço e

da organização do trabalho. Neste sentido, “torna-se cada vez mais

imperativo os cuidados com o indivíduo, pois ele é a base de todas as

renovações e práticas que se queira implantar” (Thevenet, 1994, p.62).

2. Participação na elaboração (ou formulação) e implementação da

estratégia empresarial a par das outras grandes funções: técnica,

financeira e económica. O reconhecimento da importância do social na

batalha pela competitividade, constitui uma oportunidade histórica para

a função pessoal se afirmar, cada vez mais, como uma das grandes

funções estratégicas da empresa, ao lado de outras funções maiores

como finanças ou marketing (Besseyre dos Horts,1988).

Defender a ideia de que a função pessoal tem um papel essencial a interpre-

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tar na estratégia da empresa, não é suficiente para considerá-la como uma

função estratégica. É necessário que ela adote nas suas práticas, um proce-

dimento estratégico que inclua desde o diagnóstico, até ao controlo, asse-

gurando a coerência global do sistema de Gestão de Recursos Humanos.

Isso implica que a função deva ser capaz de planear e implementar ações,

coerentes entre si, e claro, de controlar os seus resultados. Essas ações

correspondem às missões de aquisição, de estimulação e de desenvolvi-

mento de competências. Os recursos humanos devem, portanto, fazer parte

da estratégia da organização como um todo, buscando inovação, levando

em conta a dinâmica da modernidade, a aceleração das descobertas científi-

cas e tecnológicas e a veloz obsolescência do conhecimento e da informa-

ção. Por outro lado, as organizações buscam a sobrevivência e a

perpetuação, que são aspetos diretamente ligados ao potencial e ao de-

sempenho humano na condução de estratégias e operações, no estabeleci-

mento de relações oportunas e legítimas, na regeneração de competências

e capacidades, na mobilização de recursos e na aprendizagem contínua.

Nesse contexto, o Balanced Scorecard (BSC) surge como uma ferramenta

organizacional que pode ser utilizada para apoiar importantes processos de

gestão: estabelecimento de metas individuais e de equipa, remuneração,

alocação de recursos, planeamento e orçamento, feedback e aprendizagem

estratégicas. Esta ferramenta traduz a missão e a estratégia da organização

em objetivos e medidas tangíveis. As medidas representam o equilíbrio

entre indicadores externos, voltados para acionistas e clientes, e medidas

internas dos processos críticos de negócios, inovação, aprendizagem e

crescimento. Uma das principais diferenças entre o BSC e os sistemas

tradicionais de medição de desempenho é que estes últimos visam apenas o

controlo dos processos internos existentes e são mais limitados, pois

dependem exclusivamente de medidas financeiras. Felizmente, algumas

empresas já estão cientes da importância de complementar as medidas

financeiras com medidas de qualidade, produção e produtividade. Estes

sistemas de medição são mais abrangentes e representam um avanço na

gestão das empresas.

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Escolas da estratégia

Segundo Mintzberg, a formação da estratégia de uma empresa é de vital

importância, sendo que a estratégia adotada num determinado momento

deverá ser a que melhor atende à realidade e necessidade da empresa.

Na perspetiva de apresentar as escolas que estão na base do corpo de

conhecimentos da Gestão Estratégica relatadas por Mintzberg no seu livro

intitulado “Safari de Estratégia”, apresenta-se uma síntese de cada uma das

dez escolas de estratégia, a fim de perceber quais as principais contribuições

destas na Gestão das organizações:

As dez escolas da Gestão Estratégica

Mintzberg compilou as diferentes vertentes e pensadores num único livro e

divide as dez escolas de estratégia em três categorias:

Apresenta-se a seguir, a filosofia de cada uma das escolas identificadas em

relação à formação da estratégia, bem como alguns exemplos concretos de

como esta formação pode ser visualizada no quotidiano das organizações.

A Escola do Design

A formação da estratégia é vista como um processo de conceção. Busca uma

•Escola do Design

•Escola do Planeamento

•Escola do Posicionamento

•Escola Empreendedora

•Escola Cognitiva

•Escola do Conhecimento

•Escola do Poder

•Escola Cultural

•Escola Ambienta

•Escola da Configuração

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adequação entre as capacidades internas e as possibilidades externas, a fim

de posicionar a empresa no seu ambiente. A responsabilidade pela perceção

e controlo da conceção estratégica é do executivo principal da organização,

situação esta que é criticada, pois a plena participação de outros atores

enriquece a análise e escolha da melhor estratégia.

Exemplo: Fazer uma análise do ambiente utilizando a ferramenta

Matriz SWOT, a fim de avaliar os pontos fortes e fracos da situação

interna da empresa e as ameaças e oportunidades da situação externa,

para criar/gerar a base da estratégia da empresa.

Escola do Planeamento

A formação da estratégia é vista como um processo formal, sustentado por

técnicas, programas e planos. É feito um estudo formal para “pensar a

estratégia”. A escola do Planeamento deriva da escola de Design, mas é

mais elaborada, com planos mais complexos e controlos específicos.

Exemplo: As atividades de controlo desenvolvidas pelo setor de

Planeamento e Controle de Produção (PCP) de uma empresa. A partir

de uma análise destas atividades é possível verificar os aspetos a

melhorar na empresa, como por exemplo, melhorar a programação da

produção do seu setor químico.

Escola de Posicionamento

A formação da estratégia é vista como um processo analítico. O gestor é

mais um analista, que faz uma análise dos factos passados e dos dados esta-

tísticos, a fim de planear o futuro. Michael Porter foi o impulsionador desta

escola contribuindo com ferramentas como as “cinco forças de Porter”, que

influenciam a concorrência e as “estratégias genéricas de Porter” que

buscam alcançar um desempenho acima da média numa empresa. O papel

desta escola é apoiar o processo de formulação da estratégia e não o de

criar estratégias, pois a análise de dados é um processo estático e ordenado

e não dinâmico, rico e confuso como o da formulação da estratégia.

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Exemplo: Fazer análise da atratividade/competitividade de um setor,

descrevendo as 5 forças de Porter referente ao negócio, a fim de

analisar a rivalidade dos concorrentes, as ameaças de novos entrantes,

a ameaça de produtos substitutos, o poder de negociação dos

fornecedores e dos clientes. A partir da análise dos resultados, é

possível pensar numa estratégia competitiva para a empresa entrar ou

se manter no mercado.

Escola Empreendedora

A formação da estratégia é vista como um processo visionário. Este

processo está na mente do líder, o empreendedor que tem uma visão de

futuro da organização e um sentido de direção a longo prazo. Assim, a visão

estratégica é maleável, deliberada (foco no controlo) e emergente (foco no

conhecimento). As estratégias visionárias são pró-ativas, com liderança

personalizada, o que possibilita inovações e diferenciação na organização.

Contudo, por ser dependente de um único indivíduo – o líder – a estratégia

possui um processo obscuro, enterrado na cognição humana.

Exemplo: Pequenas empresas que são geridas pelo próprio dono e

criador do negócio são dependentes das ideias e visões deste para

formular estratégias de concorrência. Por exemplo, um posto de

combustível num bairro, para aumentar as suas vendas ou manter os

seus clientes, o líder/empreendedor passa a comercializar GPL, visto

que é uma tendência do novo combustível que os clientes estão a

aderir e não há nenhum posto na região que ofereça este produto.

Escola Cognitiva

A formação da estratégia é vista como um processo mental. É o estudo de

como os indivíduos processam as informações vindas do ambiente e

formulam uma estratégia na mente, a fim de categorizar o processo em

mapas, modelos, conceitos e esquemas. Assim, o mundo visto pode ser

modelado, emoldurado e construído. Compreender a mente humana e

como as várias áreas de conhecimento interagem na mente do estratega, é

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uma grande contribuição para a psicologia cognitiva. Apesar deste

mapeamento ainda não ser possível, esta escola reconhece o processo

criativo mental do estratega e o quanto esta subjetividade cognitiva é uma

incógnita interessante a ser desvendada.

Exemplo: Perante um ambiente de crise económica, como por

exemplo, a crise mundial vivida em consequência do não pagamento

das hipotecas nos EUA, o estratega de uma empresa utiliza o seu

conhecimento inconsciente e/ou consciente, relacionando-o com a

perceção do ambiente, e formula uma estratégia de sobrevivência

financeira para a empresa.

Escola do Conhecimento

A formação da estratégia é vista como um processo emergente, que

procede do comportamento que estimula o pensamento retrospetivo para

que se possa compreender a ação. A estratégia realiza-se ao longo do

tempo, através dos seus membros, de forma individual ou coletivamente.

Assim, o papel da liderança passa a ser não o de pré-conceber estratégias

deliberadas, mas sim o de gerir o processo de conhecimento estratégico,

pelo qual novas estratégias podem surgir. A contribuição desta escola é

importante, pois nem sempre as empresas possuem um empreendedor

visionário que saiba como construir estratégias que tomem em

consideração os diferentes conhecimentos, individuais e coletivos, para

enfrentar ambientes dinâmicos e imprevisíveis.

Exemplo: O conhecimento tácito de um indivíduo pode visualizar

situações não evidentes e formular ideias e estratégias que só pelo

conhecimento explícito não seria possível. Por exemplo, os operários

que trabalhavam no processo de fabrico de um determinado dentífrico

possuíam uma solução mais simples e barata do que os engenheiros,

uma vez que detinham conhecimento tácito do processo.

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Escola do Poder

A formação da estratégia é vista como um processo de negociação que

utiliza a influência do poder e da política. As estratégias tendem a ser

emergentes e assumem mais a forma de posições e meios de iludir do que

perspetivas. É subdividida em micropoder (formação da estratégia pela

persuasão, negociação ou confronto direto entre os atores que dividem o

poder na empresa) e macropoder (utiliza o seu poder sobre outros e

parceiros de alianças para negociar estratégias coletivas do seu interesse). A

dimensão política pode ter um papel positivo na organização, uma vez que

possibilita mudanças necessárias bloqueadas pelas formas mais

estabelecidas e legítimas de influência. Por outro lado, também pode ser

fonte de muito desperdício e distorção, uma vez que as forças integradoras

de liderança e cultura são desprezadas pela escola.

Exemplo: Vários municípios solicitam recursos governamentais para

financiar obras de saneamento para a população. Todos se enquadram

nos pré-requisitos definidos pelo governo, porém os recursos são

limitados e não será possível atender a todos. Os presidentes de

câmaras que possuem influência política sobre os governantes, por

serem da mesma esfera partidária, poderão eventualmente ter uma

maior facilidade em conseguir os recursos para a sua instituição.

Escola Cultural

A formação da estratégia é vista como um processo coletivo, de interação

social, baseado nas crenças e nas interpretações comuns aos membros de

uma organização, adquiridas através de um processo de aculturação ou

socialização. Assim, a estratégia assume a forma de uma perspetiva incons-

ciente e de interação social. Nesta visão, é difícil criar novas estratégias,

uma vez que dependem da aceitação cultural e consenso das expectativas.

Exemplo: Uma estratégia de fusão de empresas pode acarretar o

confronto de diferentes culturas. As diferenças culturais menos

evidentes podem servir para desfazer a união.

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Escola Ambiental

A formação da estratégia é vista como um processo reativo. A organização é

passiva, reage ao ambiente, isto é, cria estratégias a partir do que o

ambiente apresenta. As organizações não se visam umas às outras

diretamente; em vez disso, é o ambiente que estabelece os critérios de

adequação. Nesta escola, ambiente significa tudo o que não é a organização.

Assim, os processos de estratégias são desenvolvidos pela perceção que se

tem do ambiente.

Exemplo: Um pequeno mercado num determinado bairro trabalha há

anos ao mesmo ritmo e forma. Não se preocupa em melhorar

processos ou em inovar em produtos e serviços. Num determinado

momento, abre um novo empreendimento no bairro, outro mercado

concorrente, com uma maior diversidade de produtos e promoções

atraentes. Ao perceber que o ambiente mudou e que está a perder

clientes, o mercado antigo reage com o lançamento de novas

promoções e procura adequar-se à nova realidade, através da

melhoria do seu empreendimento.

Escola da Configuração

A estratégia é vista como um processo de transformação, através de

mudanças estruturais e inovações. As organizações são percebidas como

configurações, ou seja, agrupamentos coerentes de características e

comportamentos. Para haver uma mudança estratégica, a organização tem

que mudar de configuração, ocorrendo assim, uma transformação da

organização.

Exemplo: A empresa Fuji trabalhava com películas fotográficas e

mudou radicalmente a sua estratégia a fim de se adaptar às novas

tecnologias do mercado fotográfico: passou a comercializar máquinas

digitais ao invés de filmes fotográficos.

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Súmula

Segundo Mintzberg, qualquer processo de formulação estratégica no

mundo real poderá incluir uma ou mais escolas de pensamento estratégico,

dependendo da atual conjuntura em que vive a empresa. Assim, as dez

escolas de estratégia (Design, Planeamento, Posicionamento,

Empreendedora, Cognitiva, Conhecimento, Poder, Cultural, Ambiental e

Configuração) contribuem para o corpo de conhecimentos da Gestão

Estratégica das organizações, uma vez que, se misturam e complementam,

sendo que a estratégia adotada num determinado momento ou situação

deverá ser a que melhor atende à realidade da empresa.

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ANÁLISE DO AMBIENTE

Análise do Ambiente Externo

O estudo do Ambiente Externo tem como objetivo a identificação de

oportunidades e ameaças externas para a empresa em estudo. De acordo

com Hitt, Ireland e Hoskisson (2002) as oportunidades “são representadas

por uma condição no ambiente geral que pode auxiliar a empresa a alcançar

a competitividade estratégica” enquanto as ameaças “são representadas

por qualquer condição no ambiente geral que possa vir a prejudicar os

esforços para alcançar a competitividade estratégica”. O ambiente externo

pode ainda ser subdividido em macro ambiente e micro ambiente.

Análise do macro ambiente

Nenhuma organização opera em vão, uma vez que está inserida num

ambiente rico e complexo. Segundo Wight (2000) a empresa integra-se

numa rede de forças ambientais complexas, afetadas por tendências e

sistemas político-legais, económicos, tecnológicos e sociais, os quais,

integram o macro ambiente das organizações, também conhecido por

ambiente global. O sucesso de qualquer empresa reside, em grande medida,

na sua capacidade de compatibilizar e de se adequar a este macro ambiente

em constante mudança e transformação, uma vez que terá de se

transformar para criar uma maior e melhor sinergia com este ambiente.

Para uma melhor estruturação dos mecanismos de análise, os gestores

segmentam o macro ambiente em modelos em que agrupam as variáveis

referidas de acordo com as características da sua influência em blocos

diferenciados. Segundo Hitt e colaboradores (2002) o modelo adequado

para esta análise é composto por seis segmentos ambientais: demográfico,

económico, político-legal, sociocultural, tecnológico e global (Quadro 1).

A nível demográfico o tamanho da população, o seu nível educacional e a

taxa de crescimento são alguns dos muitos fatores que podem obrigar a

empresa a ter de mudar. No contexto económico faz-se necessário a análise

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de indicadores económicos, níveis de inflação, taxas de juro,

crescimento/declínio económico, mercados potenciais, entre outros fatores

que podem pressionar a empresa a ter de se adaptar. No contexto político-

legal torna-se necessário analisar se a política vigente encoraja ou inibe a

liberdade de ação da empresa mas também se existe

estabilidade/instabilidade política. Em suma, conhecer o enquadramento

legal da sociedade no aspeto de ponderar as perspetivas, as restrições e

imposições que possam influenciar o desempenho da empresa.

Quadro 1. Fatores de análise do ambiente externo global (macro ambiente).

Fonte: Hitt et al. (2002)

SEGMENTO ELEMENTOS CRÍTICOS

DEMOGRÁFICO Tamanho da população, estrutura etária, distribuição geográfica, componente étnica.

ECONÓMICO

Taxas de inflação, taxas de juro, défices no balanço comercial, taxa de poupança individual, taxa de poupança comercial, Produto Interno Bruto (PIB).

POLÍTICO-LEGAL Leis, filosofia de desregulamentação, leis coletivas de trabalho, de treino, filosofia e políticas educacionais.

SOCIOCULTURAL

A mulher na força de trabalho, diversidade da força de trabalho, atitudes em relação à qualidade da vida profissional, questões ambientais, mudanças nas preferências de trabalho e carreira, ou relacionadas com características dos produtos e serviços.

TECNOLÓGICO

Inovações do produto, aplicações dos conhecimentos, enfoque das despesas em (I&D) do governo e da iniciativa privada, novas tecnologias de comunicações.

GLOBAL Eventos políticos importantes, mercados globalizados críticos, países recém-industrializados, atributos culturais e institucionais diferentes.

A nível sociocultural é decisivo analisar os estilos de vida, valores sociais e

outros condicionantes que, de alguma forma, possam influenciar os

produtos e serviços produzidos e comercializados pela empresa e,

consequentemente a estratégia seguida. O contexto tecnológico traduz o

progresso técnico da sociedade. Mudanças nos processos de produção,

comercialização, expedição, distribuição podem obrigar a atualizações

constantes por parte da empresa. Uma análise do contexto global pode ser

decisivo para a definição de planos de contingência e de comportamentos

ética e socialmente responsáveis por parte da empresa em relação aos seus