make peace not love
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Amos Oz opinionTRANSCRIPT
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Make peace not loveUm defesa racional da paz para o conflito entre Israel e Palestina,
partindo do pensamento e discurso de Amos Oz
Diego Medrado de Souza - nº 46312
Mestrado em Cultura e Comunicação
Docente: Teresa Cadete
Lisboa, 13 de janeiro de 2015
1
Índice
Introdução------------------------------------------------------------------------------------
3
Contextualização Histórica---------------------------------------------------------------- 3
Background de Amos Oz----------------------------------------------------------------- 10
Pensamento de Amos Oz----------------------------------------------------------------- 11
Conclusão---------------------------------------------------------------------------------- 14
Bibliografia---------------------------------------------------------------------------------
16
Anexos-------------------------------------------------------------------------------------- 18
Palavras-chave: Conflito, Paz, Israel, Palestina, Amos Oz.
2
Introdução
Este trabalho pretende ser uma defesa racional da paz para o conflito entre Israel e
Palestina, partindo do pensamento e discurso de Amos Oz. Para tal, apresentar-se-á o
background de Amos Oz e um conjunto de fragmentos dos seus discursos,
especialmente em seu livro How to Cure a Fanatic, e também uma contextualização
histórica do conflito.
Contextualização Histórica1
A Palestina pode ser, geograficamente, definida como uma região do Médio
Oriente, entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão, tendo fronteiras com o Sinai do
Egito, a Jordânia, a Síria, o Líbano e a Arábia Saudita. Foi um dos primeiros lugares do
mundo a ter comunidades agrícolas e civilização, foi o berço das religiões abraâmicas e
tem uma história longa e tumultuada, tendo sido dominada por diferentes povos como
os antigos egípcios, os cananeus, os filisteus, os Tjekker, os antigos israelitas, os
assírios, os babilónios, os persas, os gregos, os romanos, os bizantinos, os primeiros
muçulmanos (Umayads, abássidas, Seljuqs, Fatimids), os cruzados, os muçulmanos
posteriores (Ayyubids, Mameluks, otomanos), os britânicos, o Reino Hachemita da
Jordânia (na Cisjordânia) e Egito (em Gaza), e os israelitas e os palestinos.
Importante realçar que do ponto de vista do controlo e domínio desta região, quer
os judeus quer os muçulmanos, ambos representam apenas uma fração de tempo (por
um lado, o domínio judeu, durante os Reinos de Saul, David, Salomão, dos Macabeus e
do atual Estado de Israel e, por outro lado, o domínio muçulmano, a partir do século VII
com o califado de Umar, sucessor de Abu Bakr, sucessor de Maomé). Além disso, é
importante ressaltar que o povo judeu experimentou mais liberdade religiosa sob o
domínio muçulmano do que sob a maioria dos outros domínios, incluindo os assírios, os
babilónios, os gregos, os romanos, os cruzados e os britânicos. A Pérsia de Ciro também
foi tolerante para com os judeus e a moderna Pérsia (Irão) abriga a maior população de
1 - European Union. The Role of the EU in the Israel/Palestine Conflict in Context. QCEA, July 2011. - Palestina: História De Uma Terra. YouTube. FRANCE 3, 25 Oct. 2011. - Riversong, Robert. "An Illustrated History of Palestine." Turning the Tide, 05 Aug. 2014. - Naar, Ismaeel. "Interactive: #GazaUnderAttack." Al Jazeera. n.d.
3
judeus fora de Israel no Médio Oriente, onde existe uma presença judaica há mais de
2700 anos e na altura da criação do Estado de Israel, em 1948, havia cerca de 140 mil
judeus no Irão.
Como foi mencionado, o Estado de Israel foi criado em 1948. Após a Segunda
Guerra Mundial, o mandato britânico na Palestina aproximava-se do fim. A solução
britânica de partilha do país em dois estados independentes - um judeu e outro árabe,
com um Regime Internacional Especial para a cidade de Jerusalém - foi aprovada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas em novembro de 1947, o que despoletou conflitos
entre as comunidades judaica e árabe.
A luta continua até hoje. No dia em que a Grã-Bretanha declarou que o seu
mandato terminaria (14 de Maio 1948), o Yishuv2, liderado por David Ben-Gurion,
publicou uma Declaração de Independência, anunciando a criação do Estado de Israel.
No dia seguinte, as tropas britânicas se retiraram e exércitos árabes deslocaram-se para a
Palestina a partir da Transjordânia, do Egito, do Líbano e da Síria, marcando o início da
guerra árabe-israelita de 1948-1949.
Uma Comissão de Conciliação das Nações Unidas para a Palestina foi criada em
11 de dezembro de 1948 e em seu primeiro relatório estimou que cerca de 711 mil
palestinos fugiram ou foram expulsos de suas casas durante a guerra. Em 7 de janeiro de
1949, um armistício foi assinado entre Israel e Egito; Líbano, Jordânia e Síria nos meses
seguintes. Com o armistício, o controlo israelita do território passou a abranger três
quartos do Mandato da Palestina. O resto do território ficou sob o domínio da Jordânia
(Cisjordânia) e Egito (Gaza).
A Crise do Suez de 1956-7 foi o confronto que se seguiu entre os beligerantes da
guerra de 1948. Em 26 de julho de 1956, o presidente egípcio, Nasser, nacionalizou o
Canal do Suez. Israel invadiu o Sinai em outubro, mas um cessar-fogo foi declarado
pelo primeiro-ministro britânico, em 6 de novembro, com o apoio da ONU. Assim,
Israel retirou-se do Sinai em março de 1957.
Em 1967, Israel lançou três ataques preventivos consecutivos sobre os exércitos
do Egito, da Jordânia e da Síria no que ficou conhecido como a Guerra dos Seis Dias, de
5 a 10 de junho. Israel ocupou a Cisjordânia, a Faixa de Gaza, as Colinas de Golan e
Península do Sinai (ver anexo 1). Em 11 de junho, um cessar-fogo foi assinado. As
vítimas árabes superaram os 20 mil, enquanto menos de mil israelitas foram mortos. O 2 Yishuv é uma palavra hebraica que significa literalmente “assentamento". É um termo que se refere aos assentamentos judeus existentes na Terra Santa antes da criação do Estado de Israel e que também é usado para caracterizar, coletivamente, os seus residentes.
4
território sob controlo israelita triplicou, mais de 300 mil palestinos fugiram da
Cisjordânia, cerca de 100 mil sírios deixaram Golan e, em contra partida, no mundo
árabe, muitos judeus foram expulsos.
Em 22 de novembro de 1967, o Conselho de Segurança das Nações Unidas
aprovou a Resolução 242 que procurou estabelecer as bases para uma solução pacífica,
obrigando a retirada de Israel dos territórios ocupados e o reconhecimento da soberania
de cada Estado na região. Como afirmou o Secretário de Estado dos EUA William P.
Rogers, em 9 de dezembro de 1969: “We do not support expansionism. We believe
troops must be withdrawn as the Resolution provides. We support Israel's security and
the security of the Arab States as well. We are for a lasting peace that requires security
for both.” Israel rejeitou a resolução, afirmando que não havia um verdadeiro acordo
para a segurança e paz entre as fronteiras, nenhuma solução para o problema dos
refugiados, nem qualquer obrigação imposta aos Estados Árabes que impedisse as suas
hostilidades.
Confrontados com a rendição incondicional ou a guerra, o Egito e a Síria
começaram os preparativos, no verão 1972, para um ataque com o intuito de recuperar
os territórios ocupados por Israel. A guerra de 1973, ou Yom Kippur War ou Ramadan
War 3 foi travada entre 6 e 25 de outubro. A guerra teve grandes implicações. O mundo
árabe, que havia sido humilhado na Guerra dos Seis Dias, se sentiu psicologicamente
vingado pelos primeiros sucessos deste conflito. Israel, apesar de impressionantes
realizações operacionais no campo de batalha, começou a perceber que não seria sempre
capaz de dominar militarmente os estados árabes.
Essas mudanças levaram aos Acordos de Camp David, em 1978, a partir do qual
Israel fez a paz com o Egito. Entretanto, só finalizou a sua retirada do Sinai em 1982 e
manteve os outros territórios e a sua política de criação de assentamentos/colónias4,
tornando-se uma eterna causa de conflito entre Israel e os palestinos. Por seu lado, desde
os Acordos, o Egito saiu da esfera de influência soviética e "virou-se" para os EUA.
A Primeira Intifada foi uma revolta palestina contra a ocupação israelita, que
decorreu de 1987 até a Conferência de Madrid, em 1991. A revolta explodiu quando um
camião da IDF (Forças de Defesa de Israel - Tzahal) atingiu um carro civil, matando
quatro palestinos. Em resposta houve greves gerais, boicotes, barricadas, ataques com 3 A guerra iniciou-se em Yom Kippur, o Dia da Expiação no judaísmo e também durante o mês sagrado muçulmano do Ramadão.4 Além disso, Israel anexou de facto a parte oriental de Jerusalém, inscrevendo, em 30 de julho de 1980, na sua Lei, "Jerusalém - Capital de Israel".
5
pedras e coquetéis molotov, desobediência civil, recusa de trabalhar em assentamentos
israelitas e de pagar impostos e de dirigir carros com licenças israelitas.
O segundo dos Acordos de Camp David lidou com a questão da criação de um
regime de autonomia na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Isto levou aos acordos de Oslo
entre 1993 e 1995, e o Tratado de Paz Israel-Jordânia, de 1994. No entanto, Israel nunca
deixou de expandir a sua presença na Cisjordânia e em Gaza com a criação de
assentamentos (ver anexo 2 e 3), apesar das várias resoluções do Conselho de Segurança
da ONU que condenavam a postura de Israel5.
Depois de alguns anos de on-and-off negociações, os palestinos começaram uma
revolta contra Israel. Esta ficou conhecida como a Segunda Intifada, Al-Aqsa Intifada.
Começou em setembro de 2000, quando Ariel Sharon fez uma visita ao Monte do
Templo, tendo sido interpretado pelos palestinos como um ato de provocação. Ambas as
partes tiveram muitas vítimas, cerca de três mil palestinos e mil israelitas, bem como 64
estrangeiros. Considera-se a cimeira Sharm el-Sheikh em 8 de fevereiro de 2005, o fim
da Segunda Intifada, quando o presidente Mahmoud Abbas e o primeiro-ministro Ariel
Sharon concordaram em parar os atos de violência e reafirmar o compromisso com o
“Roteiro Para a Paz”. Os eventos foram destaque na mídia mundial devido aos atentados
suicidas palestinos em Israel, que mataram muitos civis, e devido às invasões de áreas
civis levadas a cabo pelas forças de segurança israelitas6.
Após a eclosão da Segunda Intifada, um "Quarteto" foi criado em 2002. Consiste
em quatro grandes atores internacionais que devem ter um papel relevante para a
solução do conflito: os Estados Unidos, a União Europeia, as Nações Unidas e a Rússia.
O Quarteto produziu um "Roteiro" no início de 2003, com o objetivo de ser um guia
para uma solução permanente, de dois Estados, negociando o fim da ocupação que
começara em 1967.
5 A Resolução 446 da ONU afirma que “the Geneva Convention relative to the Protection of Civilian Persons in Time of War of 12 August 1949, is applicable to the Arab territories occupied by Israel since 1967, including Jerusalem and (…) determines that the policy and practices of Israel in establishing settlements in the Palestinian and other Arab territories occupied since 1967 have no legal validity and constitute a serious obstruction to achieving a comprehensive, just and lasting peace in the Middle East”.
6 Em 2002, Israel começou a construir uma barreira de segurança para impedir ataques a partir da Cisjordânia. Em 9 de julho de 2004, o Tribunal Internacional de Justiça emitiu um parecer consultivo intitulado "Consequências Legais da Construção de um Muro no Território Palestino". O Tribunal decidiu, por catorze votos a favor e um contra, que a construção do muro e o seu regime associado são contrários ao direito internacional.
6
Em agosto de 2005, Israel evacuou e destruiu os seus assentamentos em Gaza, e
quatro assentamentos no norte da Cisjordânia, como parte da “Lei de Implementação do
Plano de Retirada”, de Ariel Sharon.
No início, a retirada foi vista como uma vitória da resistência palestina, mas pode
ser interpretada como uma estratégia que visava manter o controlo, evitando que
ataques aéreos israelitas (como a Operation Cast Lead) atingissem judeus. Além disso,
Israel continua a ver a questão dos refugiados como um problema a ser resolvido fora
das suas fronteiras e que não está relacionado com os assentamentos7.
Em 25 de janeiro de 2006, realizaram-se eleições para o Conselho Legislativo da
Palestina, na qual o Hamas reivindicou uma vitória decisiva. Houve uma tentativa de
criação de um governo de unidade entre o Hamas e o Fatah, entretanto, Abbas, do
Fatah, não deixou o poder na Cisjordânia - o que levou ao posterior conflito entre
Hamas e Fatah. Este resultado levou Israel, os Estados Unidos e o Quarteto, a exigirem
que o Hamas reconhecesse a soberania de Israel. O Hamas recusou, e houve mais um
corte às ajudas humanitárias destinadas à Autoridade Palestina.
Depois de um prolongado conflito entre Hamas e Fatah, em junho de 2007 o
presidente Abbas8 demitiu oficialmente o debilitante governo de unidade e o Hamas
assumiu o controlo da Faixa de Gaza, enquanto Abbas permaneceu na Cisjordânia.
Após esta decisão, o Governo de Israel impôs um bloqueio por terra, ar e mar em Gaza,
apoiado pelas autoridades egípcias do lado Rafah. Como resultado, as operações
normais da Missão de Assistência Fronteiriça da UE foram fechadas. Durante o período
subsequente, houve uma troca de ataques de foguetes do Hamas e ataques aéreos da
IDF.
Em 27 de dezembro de 2008, as forças israelitas lançaram uma campanha de
bombardeio sobre Gaza, intitulada Cast Lead. Esta campanha deixou 1400 palestinos
mortos e grandes áreas de Gaza destruída.
Em maio de 2010, uma frota de barcos que transportava ajuda humanitária e
materiais de construção tentou navegar para Gaza para romper o bloqueio. O encontro
foi organizado pelo movimento "Free Gaza" e a ONG turca IHH (Fundação para os
7 Em julho de 2012, cerca de 350 mil colonos judeus viviam nos 121 assentamentos reconhecidos oficialmente na Cisjordânia; 300 mil israelitas viviam em assentamentos em Jerusalém Oriental e mais de 20 mil nas Colinas de Golan.
8 O mandato de Abbas (do partido Fatah) como presidente expirou em 15 janeiro de 2009, desde então Duwaik (do “partido” Hamas) foi reconhecido como presidente pelo governo Haniyeh da Faixa de Gaza, enquanto Abbas é reconhecido como presidente pelo governo Fayyad, na Cisjordânia.
7
Direitos Humanos e Liberdades e Ajuda Humanitária). Em 31 de maio, a marinha
israelita realizou um ataque à esta frota, levando à morte de nove participantes e o
ferimento de dezenas de outros, incluindo sete comandos israelitas. Um clamor
internacional generalizado levou o governo israelita a anunciar uma flexibilização
limitada do bloqueio.
Na Assembleia-Geral das Nações Unidas, uma resolução intitulada "resolução
pacífica da questão da Palestina" foi aprovada todos os anos desde 1993. Esta resolução
exige a retirada israelita dos territórios ocupados em 1967. O padrão de votação sobre
esta resolução mudou pouco ao longo do tempo. Em 2010, o resultado foi de 165 votos
a favor e 7 contra (EUA, Israel, Ilhas Marshall, Micronésia, Palau, Nauru e Austrália),
com 4 abstenções (Camarões, Canadá, Costa do Marfim e Tonga). Em 2012, 163 a
favor e 6 contra (EUA, Israel, Ilhas Marshall, Micronésia, Palau e Canada), com 5
abstenções (Austrália, Camarões, Honduras, Papua Nova Guiné e Tonga).
Em 29 de novembro de 2012, com 138 votos a favor e 9 contra (41 abstenções), a
resolução 67/19 da Assembleia Geral da ONU foi aprovada, atualizando o status da
Palestina para "Estado observador não-membro"9 (o mesmo status da Santa Sé). A partir
de fevereiro de 2013, 131 dos 193 Estados membros reconheceram o Estado da
Palestina (incluindo Portugal).
Um acordo de reconciliação foi assinado no Cairo, em 2011, e foi ratificado pelo
Hamas e pelo Fatah em Doha, em 2012. Entretanto a implementação foi adiada devido a
novas tensões entre os dois partidos, além dos efeitos da Primavera Árabe e da crise na
Síria.
Após o colapso das negociações de paz israelo-palestinianas em 2014, Mahmoud
Abbas decidiu forjar um novo acordo com o Hamas. O Hamas concordou em
reconciliar-se com o Fatah, pois estava numa situação crítica: enfraquecimento da sua
aliança com a Síria e com o Irão; perda de poder da Irmandade Muçulmana no Egito,
depois do coup d'ètat; bem como o impacto económico do encerramento de seus túneis
de Rafah, por Abdel Fattah el-Sisi, em 23 de abril de 2014. Sendo assim, esse governo
de unidade palestino foi “empossado” em 2 de junho de 2014.
Entretanto, Israel culpou o Hamas pelo sequestro, em 12 de junho, de três
israelitas na Cisjordânia. Por isso, em 8 de julho, Israel lançou a operação militar
9 O status de Estado observador na ONU possibilita a participação em organizações internacionais, como a Organização Internacional da Aviação Civil e o Tribunal Penal Internacional. Permite ainda a reivindicação de direitos legais sobre águas territoriais e espaço aéreo e o direito de levar ao Tribunal Internacional de Justiça processos contra atos de invasão territorial.
8
Protective Edge, em Gaza. Sete semanas de bombardeios israelitas e contra-ataques de
foguetes palestinos mataram cerca de 2 mil pessoas. O objectivo da operação israelita
era parar o lançamento de foguetes do Hamas. Em 26 de agosto, um cessar-fogo foi
anunciado. A guerra resultou na morte de dois civis israelitas, um trabalhador tailandês
e 64 soldados da IDF. Em Gaza, houve cerca de 10 mil feridos e 1900 mortos, incluindo
mais de 1600 civis (cerca de 400 crianças). O bombardeio da IDF também danificou ou
destruiu mais de 14 mil casas palestinas, 141 escolas, 26 centros médicos e sete abrigos
da ONU, assim como grande parte da infra-estrutura de esgotos, de eletricidade e de
água.
Desde então, a situação em Gaza e na Cisjordânia é insuportável. Segundo Avi
Issacharoff10, neste mês de janeiro de 2015, “dozens of houses throughout the Gaza
Strip were flooded by rainwater. Three babies froze to death. The humanitarian
conditions continue to be bad, perhaps the worst in the past two decades, due to the
withholding of the salaries of PA and Hamas employees. And yet, amid all the tumult,
Hamas (the same organization that condemned the Charlie Hebdo attack in Paris) found
the time to clash with the Palestinian Authority and Fatah”.
Além disso, a decisão de Israel de congelar a transferência de recursos tributários
para a Autoridade Palestina (em resposta ao movimento de Abbas para aderir ao
Tribunal Penal Internacional) está a impedir o pagamento de salários aos seus
trabalhadores na Cisjordânia e em Gaza. Entre o público palestino, a animosidade contra
Israel está aumentando e a motivação de Abbas em cooperar com as forças de segurança
de Israel está enfraquecendo. Portanto, se as condições de vida deploráveis dos
palestinianos persistirem; se o constante atrito entre Hamas e Fatah continuar11; se o
Hamas deixar de ter capacidade de financiamento; e se a comunidade internacional ficar
de braços cruzados; então, teremos perante nossos olhos a terceira intifada.
10 Avi Issacharoff é o especialista em assuntos do Médio Oriente do The Times of Israel. Até 2012, foi repórter e comentarista de assuntos árabes para o jornal Haaretz. Também ensina história moderna da palestina na Universidade de Tel Aviv. Nasceu em Jerusalém, é fluente em árabe, formou-se em estudos do Médio Oriente e foi o correspondente da rádio pública israelita na cobertura do conflito israelo-palestiniano, entre 2003-2006.
11 Como afirma Hazem Balousha, do Al Monitor, “Lost in the midst of the continued political bickering between Hamas and Fatah, which seem to prioritize party interests, are the Palestinian people, and more specifically, the Gazans who cry in vain for assistance from a political elite that is deaf to their pleas.”
9
Background de Amos Oz
Amos Oz nasceu em Jerusalém, em 1939. É um dos mais importantes escritores
israelitas da atualidade12 e também romancista, jornalista e intelectual. Leciona literatura
na Universidade Ben-Gurion em Beersheba e foi o co-fundador do movimento pacifista
Shalom Achshav (Paz Agora).
Os seus pais13 chegaram na Palestina em 1933, vindos de Vilnius, depois de terem
vivido em Odessa. Apesar de muitos dos membros de sua família serem da direita
revisionista e sionista, os seus pais não eram religiosos. Mesmo assim, Oz frequentou a
escola religiosa Tchachmoni.
A partir de 1960, durante o seu estudo de Literatura e Filosofia na Universidade
Hebraica de Jerusalém, os seus primeiros contos foram publicados. Formou-se em 1963
e começou a trabalhar como professor de literatura e filosofia. Ainda participou na
Guerra dos Seis Dias (1967) e na Guerra do Yom-Kippur (1973).
Desde 1967, tem sido um proeminente defensor de uma solução de dois Estados
para o conflito entre Israel e Palestina e, por esta razão, na década de 1970, foi um dos
fundadores do movimento pacifista Shalom Achshav 14.
Em 1991, foi eleito membro da Academia de Letras Hebraicas. Também recebeu
muitas outras distinções: em 1992, recebeu o Prémio de Frankfurt pela Paz e ganhou o
Prémio Israel, o mais prestigioso do país; em 1998, recebeu o Prémio Femina em
França; em 2002, foi indicado para o Prémio Nobel de Literatura; em 2004, recebeu o
Prémio Internacional Catalunya, ao lado do pacifista palestino Sari Nusseibeh; em 2005,
recebeu o prémio Goethe; e em 2007, recebeu o Prémio Príncipe das Astúrias de letras.
12 Oz já escreveu 38 livros (13 romances, quatro coleções de contos e novelas, nove livros de artigos e ensaios, e livros infantis) e ainda cerca de 450 artigos e ensaios.
13 Os pais de Oz eram multilíngues (seu pai lia em 16 idiomas, enquanto sua mãe em 7), mas nenhum falava bem o hebraico. Entre eles falavam em polonês e em russo, embora o hebraico foi a língua que Oz teve que aprender. Seu pai estudou história e literatura na Polónia, mas trabalhou a maior parte de sua vida na Biblioteca Nacional e Universitária Judaica. Sua mãe estudou história e filosofia na Universidade Charles, em Praga e por sofrer de depressão, cometeu suicídio quando Oz tinha apenas 12 de idade. Oz viria a explorar as repercussões deste evento em seu livro de memórias A Tale of Love and Darkness.
14 Segundo o próprio site da organização, os seus principais objetivos são: “to promote peace and democracy through education of the Israeli public and concerned citizens worldwide [and] to inspire the public to take part in developing initiatives that will both support long-term peace promotion and remove existing obstacles to a politically negotiated two-state solution.”
10
Pensamento de Amos Oz
Em seu ensaio, How to Cure a Fanatic, Oz argumenta que o conflito israelo-
palestiniano não é uma guerra de religião ou de culturas, mas sim uma disputa territorial
que será resolvida não pela compreensão e amor entre as partes, mas por um profundo e
doloroso compromisso de paz. Começa por dizer o seguinte:
“The Israeli-Palestinian conflict is not a Wild West movie. It is not a struggle
between good and evil, rather it is a tragedy in the ancient and most precise sense of
the word: a clash between right and right (…) The Palestinians are in Palestine
because Palestine is the homeland, and the only homeland, of the Palestinian people.
(…) The Israeli Jews are in Israel because there is no other country in the world that
the Jews, as a people, as a nation, could ever call home.”
Além disso, tal como os judeus, os palestinos não foram aceites em outras terras:
“The Palestinians have tried, unwillingly, to live in other Arab countries. They were
rejected, sometimes even humiliated and persecuted by the so-called Arab family.
They were made aware in the most painful way of their “Palestinianness”; (…) The
Jews were kicked out of Europe. Just like the Palestinians were first kicked out of
Palestine and then out of the Arab countries, or almost.”
Devido à sua profundidade e ao seu enraizamento, não podemos comparar este
conflito com qualquer outro, nem procurar soluções com uma visão eurocêntrica:
“This is based on the widespread sentimental European idea that every conflict is
essentially no more than a misunderstanding. A little group therapy, a touch of
family counseling, and everyone will live happily ever after. Well, first, I have bad
news for you: Some conflicts are very real; they are much worse than a mere
misunderstanding. And then I have some sensational news for you: There is no
essential misunderstanding between Palestinian Arab and Israeli Jew. The
Palestinians want the land they call Palestine. They have very strong reasons to want
it. The Israeli Jews want exactly the same land for exactly the same reasons, which
provides for a perfect understanding between the parties, and for a terrible
tragedy.”
11
Por fim, ainda em relação a este livro, podemos verificar a beleza, o humor e a
subtileza da linguagem de Oz ao longo de todo o texto. Cito o seguinte: “(…) I’m all for
it, especially if it is Arabic coffee, which is infinitely better than Israeli coffee. But
drinking coffee cannot do away with the trouble.”
No mesmo sentido, encontramos no seguinte excerto uma observação comum nos
discursos de Oz sobre a maneira de ser dos israelitas:
"Israel isn’t a monolithic state. We have eight million people, which means eight
million prime ministers and eight million saviors and Messiah. It’s almost
impossible to find two Israelis who agree on what needs to be done. That’s no
surprise since it’s even hard to find an Israeli who even agrees with himself. We’re
very pluralistic. We count pacifists and fanatics, extremists and moderates.”15
Oz é visto como um porta-voz eloquente da esquerda sionista16, opondo-se
veemente aos assentamentos israelitas, apoiando as negociações com a Organização
para a Libertação da Palestina e defendendo uma solução de dois Estados, como
verificamos na seguinte frase: “My suggestion is a two-state solution and coexistence
between Israel and the West Bank: two capitals in Jerusalem, a mutually agreed
territorial modification, removal of most of the Jewish settlements from the West
Bank.”17
Segundo Oz, Israel e a comunidade internacional devem ter uma posição firme
contra o programa nuclear iraniano, mas opõe-se a qualquer ataque:
“Iran is run by a fanatical regime that openly seeks to destroy Israel’s statehood, to
literally eliminate it. (…)I personally oppose a preemptive strike because I don’t
see it practicable. The Iranians have the know-how to build nuclear weapons, and
you can’t bomb away knowhow. So this is a problem for the entire international
community, and not just Israel.”15
Ao contrário da atitude cautelosa em relação ao Irão, Oz sempre defendeu que a
comunidade internacional deveria ter uma posição mais efetiva em relação à Síria: “(…)
15 Oz, Amos. "Make Peace Not Love." Interview by Constanze Reuscher. Eastonline, Nov. 2012.
16 O que distingue o sionismo trabalhista de esquerda dos outros não é a política económica, ou a visão sobre o capitalismo ou a perspectiva socialista do mundo, mas, duma forma geral, a sua atitude em relação ao processo de paz no conflito israelo-palestiniano.
17 Gourevitch, Philip. "An Honest Voice in Israel." The New Yorker. 2 Aug. 2014.
12
should it just sit around as the regime of al-Assad spills the blood of citizens each and
every day? When a system starts killing hundreds of people, it’s time for the rest of the
world to take action.”18
Ele não é contra a contínua construção da barreira israelita na Cisjordânia, mas
considera que deveria ser ao longo da Linha Verde, a fronteira pré-1967. Além disso,
defende que Jerusalém deveria ser dividida em numerosas zonas e não apenas em uma
zona judia e outra palestina, mas sim, uma para a ortodoxia oriental, outra para os
hassídicos, uma zona internacional, etc.
Não foi contra a Segunda Guerra do Líbano em 2006, porque para ele não havia
reivindicações territoriais de ambos os lados e porque era uma tentativa israelita de
auto-defesa contra o Hezbollah e não contra os civis libaneses.19
Entretanto, sempre preconiza o uso da não-violência para resolução dos
problemas, como podemos verificar neste trecho:
“For 2000 years, the Jews knew the force of force only in the form of lashes to our
own backs. For several decades now, we have been able to wield force ourselves —
and this power has, again and again, intoxicated us. (…)But ever since the Six-
Day War in 1967, Israel has been fixated on military force. To a man with a big
hammer, says the proverb, every problem looks like a nail.(…) Every attempt to use
force not as a preventive measure, not in self-defense, but instead as a means of
smashing problems and squashing ideas, will lead to more disasters”20
E acredita que para existir paz no Médio Oriente é preciso que o primeiro ministro
de Israel, Netanyahu, procure aliados regionais: “There’s Arab proverb: ‘Never applaud
with one hand.’” 18
Por fim, cito este sublime gesto de Oz que, em março de 2011, enviou uma cópia
de seu livro, A Tale of Love and Darkness, traduzido em árabe, para o preso Marwan
18 Oz, Amos. "Make Peace Not Love." Interview by Constanze Reuscher. Eastonline, Nov. 2012.
19 Inicialmente, Oz expressou o seu apoio inequívoco a um ato militar de auto-defesa, mas depois mudou a sua posição em face da decisão do governo em avançar com novas operações militares no Líbano. O mesmo aconteceu no início do conflito entre Israel e Hamas, em Gaza, entre 2008 e 2009.
20 Oz, Amos. "Israeli Force, Adrift on the Sea." The New York Times, 01 June 2010.
13
Barghouti, ex-líder do Tanzim (um ramo armado do Fatah). No livro estava a seguinte
dedicatória em hebraico:
“This story is our story, I hope you read it and understand us as we understand you,
hoping to see you outside and in peace, yours, Amos Oz” 21
Conclusão
A beleza da argumentação de Oz está no facto de ele procurar uma solução para o
presente, caminhando com os pés bem firmes na terra, mas sem perder de vista o sonho
da paz. Pelo contrário, os seus adversários tendem a fixar-se no passado, apontando o
dedo sem desenvolver soluções aplicáveis, sem uma visão para frente e para as
próximas gerações.
Como foi dito, o Fatah e o Hamas são dois protagonistas essenciais nesta história.
Infelizmente, estão constantemente em discussões secundárias e não têm um projeto
para a posteridade. Como vimos, o Hamas venceu a eleição de 2006, mas Abbas
impediu o Hamas de exercer o seu poder. Então o Hamas expulsou Abu Mazen de
Gaza. Entretanto, Abbas manteve a Cisjordânia.
Sabemos que o mandato de Mahmoud Abbas e o mandato do Hamas expiraram há
quatro anos. Ainda não houve eleições, pois Abu Mazen sabe que o Hamas irá ganhar
novamente e, assim, o seu partido Fatah deixará de ter poder efetivo, perdendo parte
significativa do seu financiamento. No mesmo sentido, o Hamas não vai abrir mão do
controlo das fronteiras de Gaza, porque perderia a fonte do seu financiamento e se
porventura houvesse paz, o Hamas perderia o poder e a sua própria existência seria
posta em causa.
Não há, portanto, governo de unidade na Palestina e não há um esforço conjunto
para encontrar uma solução pacífica para os problemas. Neste contexto, Israel lava as
suas mãos sujas de sangue, enquanto recebe o dinheiro e o suporte americano. Para
corroborar esta ideia, apresento a seguinte frase de Oz:
“(…) Hamas is not just a terrorist organization. Hamas is an idea, a desperate and
fanatical idea that grew out of the desolation and frustration of many Palestinians.
No idea has ever been defeated by force - not by siege, not by bombardment, not 21"Amos Oz Calls for Barghouti's Release in Book Dedication." The Jerusalem Post, 15 Mar. 2011.
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by being flattened with tank treads and not by marine commandos. To defeat an
idea, you have to offer a better idea, a more attractive and acceptable one.”22
Por fim, podemos concluir que os israelitas e os palestinianos têm razão para se
auto governarem, mas não há nenhuma razão para a guerra. O século XXI deve ser
lembrado como a época da construção de pontes e não de muros. Chegou a altura de
defendermos verdadeiramente a paz, seguindo o exemplo de Amos Oz, porque na
guerra não há vencedores nem vencidos; a guerra é uma derrota da inteligência humana.
22 Oz, Amos. "Israeli Force, Adrift on the Sea." The New York Times, 01 June 2010.
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17
Israel and the Territories Israel Occupied in the Six Day War. Digital image. Wikipedia.
Wikimedia Foundation, 6 Oct. 2011. Web. 20 Dec. 2014. <http://en.wikipedia.org/wiki/Six-
Day_War#mediaviewer/File:Six_Day_War_Territories.svg>.
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Anexo 1
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Anexo 2
20
Anexo 3
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