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0 LUCAS FLESCH CYGAINSKI GEOGRAFIA E JORNAL NA SALA DE AULA: ESTUDO E PROPOSTA CANOAS, 2012.

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LUCAS FLESCH CYGAINSKI

GEOGRAFIA E JORNAL NA SALA DE AULA: ESTUDO E

PROPOSTA

CANOAS, 2012.

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LUCAS FLESCH CYGAINSKI

GEOGRAFIA E JORNAL NA SALA DE AULA: ESTUDO E

PROPOSTA

Trabalho de conclusão apresentado para a banca examinadora do curso de Geografia do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Geografia.

Orientação: Prof. M.e. Heinrich Hasenack

CANOAS, 2012.

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TERMO DE APROVAÇÃO

Lucas Flesch Cygainski

GEOGRAFIA E JORNAL NA SALA DE AULA: ESTUDO E

PROPOSTA

Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de licenciado do Curso de Geografia do Centro Universitário La Salle – Unilasalle.

Orientação: Prof. M.e. Heinrich Hasenack

CANOAS, 2012

3

AGRADECIMENTOS

Cada linha escrita deste trabalho de conclusão remete ao imenso esforço

despendido em sete semestres, transformado pelos recursos e pelo tempo em onze

ao curso de Geografia aos quais me dediquei intensamente. Felizmente o ser

humano não é um ser sozinho e junto comigo neste trajeto tive ao meu lado pessoas

maravilhosas que também fizeram de tudo para que este momento chegasse.

Agradeço primeiramente à minha família, meu pai Alberto e minha mãe Sônia

que nunca permitiram que o seu sonho fosse interrompido: o de ver seus dois filhos

formados em uma faculdade. Toda a educação deles recebida se tornou meu

caminho e um exemplo que segui por todos esses anos. Os dias de me “buscar na

escola” se mantiveram até a faculdade e a janta sempre pronta na chegada me dava

a recompensa de mais um dia em que as 24 horas não eram suficientes.

Agradeço especialmente Loreno e Vera, meus outros pais, pelos dias que

deixaram de lado seu descanso para levar-nos até nossa casa, minha esposa e eu,

incentivando sempre o sucesso que encontraríamos seguindo o caminho certo da

forma mais justa e autêntica.

Agradeço a todos os mestres que me acompanharam nesta batalha que

coincidia com momentos de cansaço de um dia inteiro de trabalho para depois

chegar à aula e ter a oportunidade de ouvir as mais sábias palavras que diziam

respeito à esta ciência que desenvolvi dentro de mim. Aos professores Arno Lehnen,

Heinrich Hasenack, Otávio Lima, Paulo Fitz, Leandro Lopes, Flávia Farina, Elaine

Regina dos Santos, Sydney Sabedot meu muito obrigado.

Agradeço a todos os amigos que fiz nesta instituição e que me apoiaram, pude

crescer muito em todas as nossas discussões.

Agradeço especialmente à minha, hoje, esposa Aline, a qual pacientemente

entendia as minhas ausências e “foras de órbita” que me ocorreram, mas que

sempre com um olhar que dizia “vai adiante”, me fazia superar os momentos de

fraqueza e me dava mais ânimo para continuar. Esta caminhada, que para ela

continua, será sempre de muito companheirismo, cumplicidade e amor, os

sentimentos que daqui para diante nunca faltarão por esta experiência incrível que

passamos e que não acaba tão cedo, pois este é só o primeiro passo.

Agradeço a Deus por este momento, quem sempre esteve comigo nas horas

de reflexão sobre a vida e o sentido de tudo.

4

Educai as crianças para que não seja

necessário punir os adultos.

(Pitágoras, ano 6 a.C)

5

RESUMO

O presente trabalho descreve a importância dos meios de comunicação no processo

de ensino e aprendizagem da Geografia. O jornal impresso desempenha importante

função como material pedagógico para a Geografia no que diz respeito ao cotidiano

retratado, à informação instantânea, à possibilidade de análise sob variadas óticas

de assuntos diversificados, todos possíveis de análise sob a perspectiva espacial da

Geografia. Desenvolve-se uma pesquisa sobre a percepção que um grupo de alunos

possuem do jornal impresso associando-o com a Geografia. Foram aplicadas

atividades práticas em sala de aula envolvendo notícias do jornal em escalas local,

regional, nacional e internacional, desenvolvendo a percepção Geográfica sob

conceitos de espaço, lugar, paisagem, região, território, cotidiano, natureza e

sociedade, resultando em aulas com mais dinamismo, participação e interesse pelos

alunos na construção do saber sobre o espaço geográfico.

Palavras-chave: Meios de comunicação. Ensino de Geografia. Espaço geográfico e

realidade.

6

ABSTRACT

This paper describes the importance of the media to teach and to learn geography.

The newspaper as one kin do of media fulfills and important role as educational

support to Geography, specially when related to everyday life, an instantaneous

information that offers opportunity to do analysis from different points of views

combined with spatial thinking where the subject is running creates in the mind of the

readers a natural view under the perspective of geography. A survey was developed

with a group of students linking newspaper and geography. The work involved

practical activities in the classroom with local, regional, national and international

news from to stimulate the geographic perception and explore concepts like space,

place, landscape, region, territory, everyday, nature and society. Classes got more

dynamic and students demonstrated more interest to debate geographic topics.

Key Words: Media. Geography teaching. Geographic space and reality.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................8

2 OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO EM SALA DE AULA.............. ..............................9

3 A GEOGRAFIA E O JORNAL NA SALA DE AULA: ESPAÇO E REALIDADE JUNTOS............... ......................................................................................................14

4 ESTUDO DE CASO E PROPOSTA PARA UTILIZAÇÃO DO JORNAL NAS AULAS DE GEOGRAFIA..........................................................................................26

5 A RELAÇÃO DOS DOS ALUNOS DO ENSINO DE JOVENS E ADULTOS COM O JORNAL..................................................................................................................... 28

6 O JORNAL NA SALA DE AULA: PROPOSTAS PARA O ENSINO DA GEOGRAFIA.............................................................................................................. 36

6.1 Trabalhando o local na reportagem “Muitas alternativas para mexer o corpo e a mente”................................................................................................................. 37

6.2 Desenvolvendo o regional através da notícia “Acampamento celebra tradição gaúcha com toneladas de carne”............................................................ 40

6.3 A ideia do nacional pela reportagem “80% da América Latina vive nas cidades: do ponto de vista demográfico, o para o Brasil é auspicioso”............ 42

6.4 O internacional visto a partir da notícia “Imigrantes formam grandes filas para se legalizar nos EUA”...................................................................................... 44

7 CONCLUSÕES....................................................................................................... 47

REFERÊNCIAS..........................................................................................................48

APÊNDICE A – Questionário sobre a relação dos alunos com o jornal.............50

ANEXO A – Reportagem local.................................................................................52

ANEXO B – Notícia regional....................................................................................53

ANEXO C – Reportagem nacional...........................................................................54

ANEXO D – Notícia internacional............................................................................55

8

1 INTRODUÇÃO

O jornal é um meio de comunicação que atinge grande parcela da sociedade

com a característica de refletir sua dinâmica a partir do cotidiano, representando

fatos e acontecimentos passíveis de serem analisados sob variadas óticas, inclusive

a do espaço geográfico.

A Geografia escolar desenvolve e estimula a percepção de espaço pelo aluno,

descrevendo-o, analisando-o, compreendendo-o, variando a escala de análise,

passando do local ao regional, pelo nacional até que se chegue à percepção do

mundo globalizado.

Os meios de comunicação em sala de aula permitem ao professor de

Geografia um direcionamento do aluno a um conhecimento mais próximo de sua

vivência, a percepções de fatos que constroem, desconstroem e reconstroem o

espaço, à compreensão da configuração formada pela relação direta do cidadão

com o mundo, levando-o a compreender os fenômenos que o circundam e analisar

os fatos que permeiam este seu cotidiano.

Objetiva-se a inserção deste meio de comunicação na sala de aula de

Geografia com o interesse de expandir o saber do aluno acerca do mundo, levando-

o em um instante para fora dos limites da escola, associando a disciplina aos fatos

documentados, levando-o à percepção, análise e reflexão das notícias nos níveis

local, regional, nacional e global.

Partindo de referenciais teóricos, pretende-se conhecer a relação que um dado

grupo de alunos possui com o jornal impresso e a associação disso com a

Geografia. Para tal efeito a pesquisa direta com o relatado grupo de alunos se faz

presente utilizando-se de variadas metodologias para associar as teorias e os

conceitos geográficos.

9

2 OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO EM SALA DE AULA

Atualmente a sala de aula não acompanha a diversidade de meios de

comunicação conhecida pelos alunos. Em suas próprias casas é possível encontrar

todas as mídias juntas: o rádio, a televisão, o jornal, a internet, revistas ou outros

meios que podem difundir o conhecimento ou diversificar a comunicação entre as

pessoas. São poucas as escolas que dispõe sequer de algum projetor capaz de

reproduzir a internet, por exemplo, para um grupo de trinta alunos, oferecendo-lhes

um acesso simples a todos deste meio mais instantâneo e global de comunicação.

Vemos com certa frequência as escolas estruturadas da seguinte forma: as

salas de aula compostas de cadeiras e mesas e o quadro negro. Outra sala

compreendendo a sala de vídeo com um aparelho de televisão e reprodutor de DVD.

Algumas escolas ainda possuem uma sala com dez, quinze ou vinte computadores,

muitas vezes sem acesso à internet, alguns danificados pelo tempo ou pelo desuso.

Estas duas últimas salas geralmente se tornam quase que esquecidas pelos

professores e os equipamentos se tornam obsoletos, pois pouco são explorados

como novas propostas para diversificar o ensino.

Um recurso que é bastante utilizado e muito bem cuidado pela maioria de

escolas é a biblioteca, muito valorizada, bem catalogada, recebe materiais algumas

vezes atuais como semanários ou revistas mensais, fruto de assinaturas pela própria

instituição, mas com muitos livros não literários já tomados pela obsolescência em

que discorre suas informações, tornando-se então um objeto para o estudo

temporal, mas não atual.

Outro recurso da comunicação além do livro didático visto nas escolas públicas

e privadas do município de Canoas é o professor que procura levar para dentro da

sala de aula formas diferenciadas do conhecimento, advindas dos meios de

comunicação, de matérias lidas anteriormente, reportagens, meios científicos,

comentários de especialistas e estudos publicados em revistas, na internet, no jornal

e matérias atuais informadas pela televisão no mesmo dia em que a discussão é

levada para dentro da sala de aula.

Alguns passos metodológicos são descritos por Kaercher (2000, p. 140) como

norteadores para as atividades docentes e que fazem parte do processo de

comunicação entre professor e aluno, visando estimular e harmonizar as diferentes

formas de ensino-aprendizagem que se queira trabalhar em sala de aula. Segundo o

10

autor, para se obter sucesso nas atividades com os alunos, estimulando neles a

paixão pelo aprender, é preciso que o professor ouça os alunos, de forma a instigá-

los a falar e a discutir, entendendo seu interesse e sua lógica e assim, planejar uma

aula que seja compatível com sua percepção. Kaercher (2000, p.141) coloca que às

vezes é proposto uma aula em “FM” e os alunos entendem em “AM”. Não se trata de

má vontade de nenhuma das partes, nem do professor em desenvolver determinada

aula que desperte maior interesse pelos alunos, nem destes estarem sempre em

conexão com a proposta do professor. Assim, não há entendimento mútuo, não há

diálogo na construção do conhecimento nem são atingidos os objetivos propostos

com aquela aula. Enfatiza-se então a importância da comunicação entre professor e

aluno como forma de equalizar os conteúdos às necessidades do professor pelo

ensinar e do interesse do aluno para o aprender. Sem o diálogo entre professor e

aluno, destaca o mesmo autor, há apenas a transferência de informações

temporárias e que farão com que a vontade pelo conhecer dos alunos se dissipe de

forma negativa, prejudicando o bom andamento das aulas, o rendimento dos alunos

e também do professor.

Outra forma de estimular os alunos descrita por Kaercher (2000, p. 143) é

provocar dúvidas, sistematizando as discussões e as ideias levantadas para que

estas sejam postas, não como verdades únicas, mas como um princípio pedagógico,

instigando a pesquisa e também a análise e a crítica dos assuntos. Ao aluno será

fascinante a descoberta de resultados e a elaboração de suas próprias hipóteses

partindo de diversos meios em que o conhecimento é descrito, construindo a ideia

de pesquisa, desenvolvimento e conclusões a partir não só do conhecimento de

senso comum, mas relacionando este a bases teóricas e científicas.

O jornal é um importante recurso para os alunos produzirem, relacionarem,

pesquisarem, descobrirem, chegarem a seus próprios resultados, analisarem,

criticarem o conhecimento exposto em suas páginas, relacionando-o com as aulas

de Geografia, pois o jornal é como também a aula, entremeado de cotidianeidade,

de relações sociais e com a natureza e, principalmente, de percepção sobre o

espaço. O jornal ainda representa, conforme Claval (2007, p. 331) uma

democratização dos saberes, pois suas informações podem ocupar todos os

espaços ao mesmo tempo e todas as sociedades, levando o saber para grande

parcela da população.

11

Faria (2001, p. 11) estabelece conceitos que podem ser desenvolvidos a partir

do contato com o jornal em quaisquer disciplinas que se pretende assumi-lo como

novo material pedagógico, atualizado e rico de questões cotidianas, que tomam uma

espacialidade única entre todas as formas de comunicação vistas atualmente. Esta

autora define o jornal como uma fonte primária de informação, capaz de ser

interpretável, levando ao caminho do conhecimento de diferentes ideologias,

respeitando-se o pluralismo da sociedade e como meio de comunicação, possui um

variado leque de informações nas mais diversas áreas. O jornal possui também o

papel de formador do cidadão e que, se bem conduzido, prepara e desenvolve os

alunos à crítica, aumentando também sua cultura, desenvolvendo as capacidades

intelectuais e características de construção do conhecimento a partir do cotidiano

exposto em suas páginas. O jornal dá suporte no padrão de desenvolvimento e

aprimoramento da língua, mediante formas e padrões de escrita que serão seguidas

na fala, na escrita e na estruturação do pensamento analítico do aluno, que a partir

dos textos denominados autênticos, capaz de serem reproduzidos de uma forma de

comunicação em sua forma plena, diferentemente dos textos preparados apenas

para o uso escolar. O jornal pode ser definido também como um documento

histórico, incentivando o aluno a buscar a informação presente na sua raiz,

estruturando os fatos e, conforme Faria (2001, p. 12) “refletindo sobre as

consequências daquilo que ocorre dia após dia, numa projeção da história para o

futuro”.

A questão da interdisciplinaridade vista no jornal nos remete à mesma

possibilidade de desenvolvimento deste dentro da sala de aula, abordando de

diferentes formas as matérias de cada disciplina, com seus métodos, concepções e

objetivos próprios de cada ciência. Observa-se que, exceto na prática de ensino

infantil, o professor não é obrigado a saber tudo de determinado assunto, portanto

não é o professor que deve ser interdisciplinar ao trabalhar com o jornal na sala de

aula, dispondo-se a ensinar tudo. No caso da Geografia, porém, nestas séries

iniciais, virá acompanhada da História, abrangendo a questão dos Estudos Sociais.

Nas demais séries se faz necessário trabalhar de forma a vincular os temas com os

seus colegas professores para que um assunto seja abordado com a objetividade

que convém a cada disciplina. Assim, o professor pode desenvolver o papel de

explorar a Geografia no proposto jornal e com certeza ficarão questões a serem

desenvolvidas pelo seu colega da história, da matemática, da física, da língua

12

portuguesa... Não se pode simplesmente tomar partido do assunto que não se

domina com o embasamento que o colega que desenvolveu o tema ao longo de no

mínimo sete semestres. Mas pode-se estimulá-lo a racionalizar dentro da sala de

aula, com técnicas, metodologias, epistemologia e abordagem de determinados

temas de sua disciplina a partir de outra ótica. A interdisciplinaridade equivale às

múltiplas facetas que um assunto pode ser trabalhado e não ao esgotamento das

possibilidades e supressão de abordagens de apenas uma área do conhecimento.

O jornal possui seu papel também no que diz respeito às representações

sociais de senso comum produzidas na vida cotidiana. Cavalcanti (1998, p. 32)

descreve que estas representações são determinadas tanto pelos meios de

comunicação, neste caso o jornal, como pela organização social dos que

comunicam. Aqui a escola pode ser um local privilegiado para a manifestação dos

fenômenos da comunicação e da elaboração e veiculação de ideias, concepções e

imagens da realidade.

Segundo Cavalcanti (1998, p. 33) “a Geografia trabalha com conceitos que

fazem parte da vida cotidiana das pessoas e em geral elas possuem representações

sobre tais conceitos.” No caso da sala de aula os conceitos são representados pelos

alunos a partir da realidade vista no jornal. A associação entre o jornal e a Geografia

pode trazer contribuições significativas ao processo de ensino.

O uso do jornal na sala de aula é incentivado principalmente pelos professores

das redes pública e privada de ensino que procuram diversificar os materiais

pedagógicos e trazê-los mais próximos aos alunos, direcionando matérias do

cotidiano, desenvolvendo o pensamento de sociedade a partir de cada identidade

que a forma. Na Geografia esta espacialidade que o jornal descreve em todas as

suas categorias está muito próxima da realidade e do cotidiano dos alunos e dos

professores.

Neste sentido são vistos alguns projetos desenvolvidos por grupos jornalísticos,

como o Grupo Editorial Sinos S.A. (2011) que com o apoio de empresas, prefeituras

e comunidade que adquirem exemplares para indicá-los às escolas, bem como de

universidades que desenvolvem oficinas e dão suporte pedagógico para a utilização

deste meio de comunicação em sala de aula. Este projeto intitulado Jornal na Sala

de Aula abrange vinte e um municípios gaúchos dos Vales dos rios Sinos,

Paranhana, Caí, região da encosta do planalto gaúcho e região metropolitana de

Porto Alegre, distribuindo a 291 escolas municipais, estaduais e privadas mais de 27

13

mil exemplares dos três jornais produzidos pelo grupo: Diário de Canoas, Jornal VS

e NH. Este material pedagógico é oferecido semanalmente a aproximadamente mil

professores das escolas atingidas pelo programa.

14

3 A GEOGRAFIA E O JORNAL NA SALA DE AULA: ESPAÇO E REALIDADE

JUNTOS

A escola é uma instituição concebida com a finalidade de socializar o ensino

científico, dando suporte à compreensão dos alunos sobre a dinâmica da sociedade,

integrando-os a ela e suas relações com as ciências. Oportunizando, de modo

secundário a sua construção, mesmo que sistematizada e de forma direta sua

percepção e análise crítica para que, no futuro, possam também formar e

desempenhar o papel científico nas instituições de pesquisa.

O papel do professor, dentre outros, seria o de mediador destas relações entre

a sociedade e a escola, estimulando a construção do conhecimento por parte do

aluno e propondo o desenvolvimento de habilidades que permitam seu crescimento

e formação em conjunto com a sociedade em constante evolução.

A Geografia como disciplina, segundo Cavalcanti (1998, p.18), tem início no

século XIX, quando introduzida nas escolas da Europa com o objetivo de contribuir

para a formação dos cidadãos a partir da difusão ideológica do nacionalismo

patriótico, privilegiando a descrição natural. Ela era, portanto, o que descreve

Guimarães (2007, p. 47) “uma construção histórica permeada por interesses,

tendências e embates presentes em um determinado contexto social, vinculado ao

poder dos Estados-Nação e política e economicamente à formação de jovens e

crianças impregnados pela ideologia nacionalista.”

A Geografia Tradicional, de caráter positivista é desenvolvida com o intuito de

apenas descrever a natureza de modo separado das relações sociais, sem mesmo

interessar-se à associação destas duas, partindo-se de análises separadas de

aspectos físicos, aspectos humanos e de economia, descrevendo estes fenômenos

em diferentes escalas. Para Vidal de La Blache a Geografia não era ciência dos

homens, apenas dos lugares. Segundo Brasil (1998, p. 19) o lugar e a região eram

sempre vistos como dimensões objetivas resultantes das interações entre o homem

e a natureza.

Esta Geografia Tradicional, conforme Guimarães (2007, p. 48), influenciou

profundamente a forma de pensar e fazer Geografia, criando uma tradição didática

predominantemente enciclopédica, do ensino mnemônico, ignorando o caráter

político da Geografia. Trabalhava-se com dados, números e informações

15

descontextualizadas, considerados meras aparências, sem a análise que permitiria

ao aluno compreender os temas de forma significativa.

Nestes estudos da Geografia Tradicional as ações humanas eram marcadas

pela direção do natural e, de acordo com Brasil (1998, p. 20):

Apesar de valorizar o papel do homem como sujeito histórico, propunha-se, na análise da organização do espaço como lugar e território, estudar as relações entre o homem e a natureza muito mais como processos de adaptações, lembrando a ideia de uma física social. Estudavam-se as populações e os homens como coisas objetivas, nas quais a sociedade e o espaço emergiam das ações humanas desprovidas de quaisquer intencionalidades ou ideologias.

Com grande mérito, esta Geografia contribuiu muito para os estudos empíricos

do espaço.

O movimento de renovação da geografia no Brasil atentou à necessidade,

conforme descreve Cavalcanti (1998, p. 20) de que o ensino deveria propiciar ao

aluno a compreensão do espaço geográfico na sua concretude, nas suas

contradições. Esse movimento adquiriu força no final da década de 1970, sendo

levantadas questões do potencial teórico e metodológico da disciplina, apresentando

como tarefa da Geografia, acadêmica e escolar, a partir do que elucida Guimarães

(2007, p. 48) de elaborar uma teoria e construir uma prática que fosse capaz de

analisar criticamente a realidade e contribuir para o processo de transformação da

realidade, procurando repensar a relação sociedade e natureza, as implicações de

poder no espaço e o papel político da Geografia e dos geógrafos, passando a ter

papel engajado nas lutas sociais pelas transformações da realidade. Nessa

perspectiva, Cavalcanti (1998, p. 20) remete à ideia dos estudiosos, alertando para a

necessidade de se considerar o saber e a realidade do aluno como referência para o

estudo do espaço geográfico.

Entretanto, criou-se uma contradição nas aplicações da Geografia Crítica frente

à Geografia Tradicional com o discurso do professor. O conteúdo dos livros didáticos

e os métodos em sala de aula, muitas vezes mantendo a linha tradicional, julgada

como descritiva e despolitizada para explicar o mundo, era necessário transformá-lo.

Cabe aqui destacar que estas duas Geografias negligenciaram a dimensão

sensível de perceber o mundo, conforme Brasil (1998, p. 22) o cientificismo

positivista da Geografia Tradicional, por negar ao homem a possibilidade de

construção do conhecimento geográfico a partir da subjetividade e o marxismo

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ortodoxo e militante do professor na Geografia Crítica, considera a explicação da

sociedade com a natureza sem direcionar à luta de classes como idealismo

alienante.

A contribuição destas duas correntes do pensamento geográfico é inegável e

se faz presente até nos dias de hoje suas abordagens e teorias, complementando-se

para a construção da Geografia atual.

Para tanto Moraes (apud CAVALCANTI, 1998 p. 21) demonstra a importância

de se “traduzir pedagogicamente” as propostas e os discursos desenvolvidos e

elaborados pela Geografia para aproximar a teoria da prática no ensino desta

ciência, estimulando o que pode ser definido como avanços da Geografia.

Descreve Cavalcanti (1998, p. 9) a relação entre uma ciência e a matéria de

ensino ser bastante complexa, pois ambas formam uma unidade, mas isso não as

torna idênticas:

A ciência geográfica constitui-se de teorias, conceitos e métodos referentes à problemática de seu objeto de investigação. A matéria de ensino Geografia corresponde ao conjunto de saberes dessa ciência, e de outras que não têm lugar no ensino fundamental e médio como Astronomia, Economia, Geologia, convertidos em conteúdos escolares a partir de uma seleção e de uma organização daqueles conhecimentos e procedimentos tidos como necessários à educação geral.

Ainda para esta autora a ciência geográfica não tem responsabilidade de

ocupar-se com aspectos da formação do cidadão a partir dos desafios postos pela

realidade social, nem com as condições psicológicas e socioculturais dos alunos. Ela

busca a criação de um tipo de conhecimento novo, o geográfico escolar, a partir da

ciência transformada pedagogicamente e com metodologias que tornam a Geografia

ensinável e aprendível.

Embora possamos plenamente trabalhar os aspectos científicos na escola,

uma vez que a própria ciência geográfica é a base para o ensino escolar e é

composta por objeto e categorias estruturadas e por uma epistemologia que a

caracteriza em suas diversas reconstruções, é necessário que o professor atente às

bases pedagógicas, didáticas, psicocognitivas, considerando a formação

sociocultural, a identidade e a realidade do aluno para que a ciência seja trabalhada

e assimilada como tal e vista como importante também nas bases escolares.

Esta é uma grande e também complexa oportunidade de se trabalhar a

Geografia de uma forma diferenciada que não a Geografia frequentemente vista na

17

escola, distante da realidade dos alunos baseado apenas nos livros didáticos e de

discussões somente acerca dos assuntos por ele propostos.

O jornal está impregnado de fatos geográficos nos quais se tem a relação

nítida da sociedade com o meio através de diferentes níveis de trabalho. Pode-se

caracterizar um espaço condicionando, portanto, os próprios fatos documentados,

impactando e influenciando outros, mantendo sempre em movimento a rede de

relações prontas para serem estudadas, assimiladas e absorvidas de forma

estimulada inicialmente para então tornar-se um hábito perceber o espaço

naturalmente a partir das páginas do jornal.

Quanto à experiência e realidade, Guimarães (2007, p. 54) demonstra que é

importante conhecer também o seu entorno, e para percebê-lo é preciso dispor de

instrumentos para interpretá-lo. Uma visão a partir do jornal nos dá subsídios para

decodificar a realidade que nos cerca e a Geografia possibilita a tradução desta

dinâmica do espaço.

Pontual (1999, p. 20) dispõe sobre a necessidade de educar para a

sensibilidade, que pode estar presente em uma leitura de mundo associável a cada

realidade. A Geografia é a disciplina que pode transcender os métodos tradicionais

de ensino escolar e sensibilizar os alunos à sua própria realidade, adicionando aos

fatos abordados a compreensão de sua própria realidade. Desta forma, segundo a

autora, a formação do leitor é essencial no processo educacional, porque ler amplia

o significado da nossa existência e nos contextualiza no mundo. Tanto a leitura do

mundo, compreendida no sentido perceptivo e analítico do espaço do ser humano,

quanto a leitura textual propriamente dita de materiais como jornais, livros, revistas,

advém de vivências e experiências de quem o escreve e impacta também de

diferentes formas em seu receptor, que as lê, analisa e interpreta de acordo com a

sua realidade, gerando pontos de vista distintos.

Com clareza e adicionando a importância da compreensão da realidade que a

Geografia proporciona ao educando como um ator ativamente participante da

sociedade, Pontual (1999, p. 20) descreve que quando lemos não apenas

aprendemos e recebemos as ideias do outro, mas principalmente produzimos novas

ideias. Somos mais que receptores, somos produtores, interpretamos e inserimos

nossa experiência à realidade exposta e assimilada. Muitas vezes lemos textos,

reportagens, artigos que muito tem a ver com a nossa realidade ou alguma vivência

marcante. Certamente estas vivências impressas no papel serão assimiladas e, para

18

tanto, tal leitura terá maior espaço em nosso senso crítico e de interesse que outras

de menor relevância, talvez meras informações descartadas pelo próprio cérebro em

curto tempo. O jornal, então, se faz uma ferramenta essencial para as aulas de

Geografia, ao associar a realidade dos alunos aos fatos que documenta. Uma vez

esta documentação da realidade fazendo parte da dinâmica da sociedade, faz parte

também da vida dos alunos, pois eles estão inseridos e possuem seu lugar no

espaço e são a própria sociedade. Interagindo eles produzem ou modificam este

espaço.

Sobre os veículos de comunicação e a força como de imediato atinge a

população, Guimarães (2007, p. 58) demonstra que a percepção geográfica, neste

sentido, está disponível para o cidadão comum de forma instantânea e global, vista

como um espaço-mundo. Entretanto, sabe-se que nenhum veículo de comunicação

é neutro, pois é produzido por pessoas, que possuem uma experiência diversificada

e identidades únicas. Estes fatos, interpretados por quem os documenta e os

presencia, portanto, advém de vários pontos de vista que transpassam pela matéria.

Assim, podem representar interesses das instituições que representa ou se associa

e, justamente pelo caráter direcional e interpretativo da informação abordada pelos

meios de comunicação, a educação, que também interpreta a partir da hierarquia ou

instituições a que serve, não pode manter-se estável a estas dinâmicas. Neste

aspecto, o ensino da Geografia muito pode contribuir contra esta inércia e

deslocamento da escola do mundo “exterior”, ligados apenas por textos e didáticas

dissociadas da realidade do aluno, sem debater-se com sua experiência e forma de

viver o espaço e transformá-lo, diria-se que a implosão dos métodos e estruturas

que deslocam e vendam o aluno do mundo é um dever quase que primaz da

Geografia associado ao estudo e compreensão das classificações desta ciência que

se fazem necessárias para que se possa interpretar o espaço e suas categorias,

difundidas por Cavalcanti (1998, p. 88), de Lugar, Paisagem, Região, Território,

Natureza, Sociedade e Cotidiano.

Pontual (1999, p. 28) alerta estarmos diante de uma mídia detentora de um

absurdo poder de influência sobre o processo pedagógico e é mais que necessária a

implementação de uma educação participativa, criativa, construtiva, profundamente

sensibilizadora, que tenha capacidade de se apropriar dos signos da cultura de

massa e possibilitar uma reflexão do que eles representam.

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Percebe-se atualmente que a Geografia é bastante difundida nos meios de

comunicação, porém é vista de forma reduzida a descrição e não da percepção do

espaço:

Aparentemente, esta geografia da mídia, que recorre a meios variados para agradar, comover ou surpreender, apresenta-se de modo muito diferente da geografia dos professores, do didatismo frequentemente cansativo. De fato, porém, elas são muito semelhantes do que parecem: certas associações de ideias, certos tipos de raciocínios estabelecidos duravelmente na idade escolar, reaparecem na abordagem do cineasta ou do jornalista, e esses clichês são reforçados pela ação dos media. Nunca se venderam tanto hoje enciclopédias geográficas, embora elas difiram pouco dos manuais escolares modernos... (LACOSTE apud GUIMARÃES, 2007, p. 60)

Esta ideia de que a Geografia serve para vender revistas, livros, jornais, filmes,

automóveis, refrigerantes, cigarros é direcionado pela mídia, que propõe a produção

do que define Guimarães (2007, p. 61) de um espaço-mercadoria.

Propõe-se com a Geografia uma análise mais socializada dos meios de

comunicação, tirando proveito da relação entre esses meios e o saber geográfico,

desenvolvendo a crítica e a construção de conhecimentos a partir do espaço

geográfico. É possível perceber as mídias também sob o ponto de vista da

população e dos espaços atingidos e transformados pela dinâmica da realidade

posteriormente factuada e de todo o processo de abordagem desses fatos, sua

documentação, sua espacialidade levando à análise pelo aluno, completando um

contínuo ciclo de identidade e associação dos fatos à realidade.

Antunes (2001, p. 11) descreve que, anos atrás, o professor levava para a sala

de aula as informações características de sua disciplina, aprendidas em sua

formação e aos alunos cabia assimilá-las de maneira significativa, aonde se conduz

à construção do conhecimento pelo professor percebendo as vivências do aluno, ou

mecânica, pela mera memorização das informações. Segundo o autor, hoje

encontramos as informações por toda a parte – nos livros didáticos, na televisão, em

revistas, jornais, internet, capaz de se atualizar instantaneamente, há a

espacialização destas informações com maior rapidez que a própria escola é capaz

de fazê-lo. Porém, conforme descreve o mesmo autor, este excepcional volume e

necessidade de atualização tornam necessária sua transformação em

conhecimentos, habilidades, práticas cívicas e, enfim, sabedoria.

Vivenciamos então a quebra do paradigma da detenção da informação através

do novo modo informacional para Milton Santos (2006, p. 238) a produção, a

utilização e o funcionamento do espaço possuem como base a ciência e a

20

tecnologia, juntamente com a informação, resultando em um meio técnico-científico-

informacional, tomado de forma global e instantaneamente. Utilizando-se dos

recursos informacionais a sala de aula deixa de ser um espaço de ensino bancário,

criticado por Paulo Freire, onde o conhecimento é simplesmente depositado no

aluno e quando somente da avaliação, este despeja a mesma informação sem

assimilação do conhecimento proposto, para se tornar um espaço de construção,

percepção e interdisciplinaridade, desenvolvendo inteligências múltiplas na relação

entre professores e alunos.

A disciplina de Geografia muito pode fazer pelo desenvolvimento do

conhecimento em sala de aula, transformando o espaço informacional, visto como

“infinito”, porém um tanto inútil se não trabalhado e interpretado em suas diversas

escalas. Transformar os meios de comunicação em aliados da disciplina de

Geografia na sala de aula requer a interpretação e análise destes meios na

sociedade, suas transformações, o poderio de atingimento da população, nestes

casos uma grande massa da população, e até onde esses meios chegam – atendem

a escala local? E a global?

Ianni (apud CAVALCANTI, 1998, p. 17) defende a ideia de que a globalização

tende a desenraizar as coisas, as gentes e as ideias. Sem prejuízo de suas origens,

marcas de nascimento, determinações primordiais, adquirem algo de deslocado,

genérico, indiferente. Neste contexto advém a informação de Frias Filho (2012, p.

B4) que “nunca as pessoas leram tanto jornal no mundo” e mesmo com a rede

global de internet conectando tudo a todos, espacializando os jornais e seus

conteúdos no mundo, territorializando as notícias, onde é possível ler qualquer jornal

que possua sua plataforma digital na rede mundial de computadores, o número da

audiência dos jornais impressos chega a 2,5 bilhões de pessoas que lêem jornais

impressos ao menos uma vez por semana, isso equivale a aproximadamente 35%

da população mundial. Para Santos (2006, p. 338) o Mundo, para se tornar espaço,

necessita da mediação dos lugares, mesmo que aquele busque impor uma única

racionalidade sobre este. Os lugares por sua vez respondem ao Mundo segundo sua

própria racionalidade. Sob esta perspectiva Mc Luhan (apud PONTUAL, 1999, p.11)

descreve como o jornal transcende a ideia e mescla os sentidos das ordens global e

local:

O jornal é um livro diário que coloca frente aos nossos olhos todos os dias uma porção de todas as culturas do mundo. Nesse ponto chega a modificar

21

radicalmente a tendência da imprensa em acentuar tão somente a cultura nacional.

Santos (2006, p. 269) estabelece que as redes produtivas, de comércio, de

transporte, de informação são cada vez mais globais graças aos progressos técnicos

e às formas atuais de realização da vida econômica, e ainda define que não existe

um espaço global, mas, apenas, espaços da globalização. Enquanto o Mundo é um

conjunto de possibilidades, dos lugares advém as oportunidades. Neste sentido,

Santos descreve a dinâmica do global:

Num dado momento, o ‘Mundo’ escolhe alguns lugares e rejeita outros e, nesse movimento, modifica o conjunto dos lugares, o espaço como um todo. [...] Para se tornar espaço, o Mundo depende das virtualidades do Lugar. (SANTOS, 2006, p. 338, grifo do autor)

Antunes (2001, p. 20) caracteriza o professor como um alfabetizador de

linguagens, auxiliando o aluno a perceber a multiplicidade de formas de

comunicação como maneiras diversas de apresentar ideias: pela música, poemas,

um gráfico, pinturas, mapas, dança etc. A Geografia abrange muitos destes signos

de linguagem para descrever a produção e interpretação do espaço e é

imprescindível que o aluno seja estimulado a compreender e a interpretar estas

formas de expressão do conhecimento e das diferentes culturas do homem em

relação com o seu meio. Para que o aluno possa interpretar as diferentes linguagens

de abordagem da Geografia é necessário que ele seja estimulado a produzi-las,

conforme descreve Almeida (2006, p. 13) ao afirmar que o aluno participante do

processo de construção (reconstrução) do conhecimento através da prática

orientada pelo professor atingirá uma nova organização estrutural de sua atividade

prática e da concepção do espaço.

O jornalismo para Dines (1986, p. 18) “é a técnica de investigar, arrumar,

referenciar, distinguir circunstâncias” e para Claval (2007, p. 109) “a eficiência da

comunicação entre os membros de uma sociedade impõe a manutenção de certa

ordem nas redes de relações que a compõe.” Se a comunicação se faz necessária

para a criação e manutenção de uma sociedade em rede, esta forma se faz

necessária sob a perspectiva de que a informação é próxima do seu mundo e de sua

relação com o espaço, não deixando passar por despercebido esta realidade sem

uma análise e crítica das situações que ocorrem e permeiam estas sociedades.

22

Dines (1986, p. 21) define que o jornal é, ao mesmo tempo, espelho e miragem

de sua audiência, caricatura e ideal de seus leitores. Ora, como poderia um jornal,

que é um veículo de comunicação de massas, estar determinado às dinâmicas da

sociedade e da construção do espaço e ao mesmo tempo impactar o espaço em que

ele ocorre? A resposta é um tanto simples para a Geografia: o jornal é um meio

geográfico de documentar as construções, desconstruções e reconstruções do

espaço pela relação da sociedade com o meio e com ela própria, documentando,

impactando, fazendo-se refletir e analisar sob todas as óticas pensadas e tomadas

pela análise da Geografia (política, economia, mundo, clima, urbano, rural, geologia,

geomorfologia, sociedade...), que se acrescenta à realidade de seu receptor e

mantém os fenômenos espaciais locais, regionais e global interligados, formando

uma rede de comunicação. Na escola podemos confrontar e associar a esta rede

formada, acrescentando ao processo de comunicação que Dines (1986, p. 66) divide

em estágios: o primeiro é a atenção, depois o da percepção, seguindo-se a retenção

e, finalmente, teríamos a resposta. Ao se trabalhar com o jornal na sala de aula,

estas etapas trazidas ao ambiente e às categorias da Geografia são fundamentais

para o resultado positivo no trabalho com este meio de comunicação de massa:

atenção em perceber e apresentar aos alunos o jornal como um documentário

carregado de fatos geográficos, para que eles próprios desenvolvam o senso crítico

e analisem estes fatos, tragam para a sua realidade, portanto, uma forma de

impregnar o senso e a visão voltada à análise crítica pondo como resposta a sua

ideia e posição frente a determinado assunto, havendo meios de defendê-lo e

discuti-lo com as bases que a Geografia lhe subsidia.

Associando a questão do jornal na sala de aula e aqui ao pensamento

geográfico escolar é que Berelson (apud DINES, 1986, p. 49) coloca que certo tipo

de comunicação, tratando de certo tipo de assunto, trazida à atenção de certo tipo

de audiência, submetida a certas condições, produz certo tipo de efeito. Temos

então um fator condicional para o que é documentado e o tipo de pessoas que esta

comunicação atinge. As informações tratadas nas aulas de Geografia devem ter um

propósito e junto a isso um planejamento, uma vez que todas as aulas e ferramentas

que se propõe utilizar devem ter um princípio pensado, levando em conta os

assuntos e temas trabalhados de forma sistemática associado com a bagagem

construída pelo aluno, uma forma de desenvolvimento ou aplicação e um ponto de

chegada ou um resultado para ser considerado válido e eficaz no seu resultado.

23

Quanto ao domínio espacial, Almeida (2006, p. 13) descreve que este envolve pré-

aprendizagens relativas a referenciais e categorias essenciais ao processo de

concepção do espaço, deverá, portanto, ser tratado pelo professor como um ponto

de partida para as propostas no ensino da Geografia. O professor deve-se

preocupar em levar o tipo de assunto ou abordagem de determinado jornal, em que

situação será oportuna tal ideia e se será complementar com o proposto ao

desenvolvimento dos planos de aula elaborados. Cabe ao professor também a

iniciativa de inteirar a turma, dirigindo as produções e projetando os possíveis

resultados e questionamentos. Do contrário, se não houver objetivos e com estes

um planejamento visando como chegar aos resultados, esta nova atividade com o

jornal será entendida como um momento de lazer, como num dia de domingo em

que se lê jornal pelo simples prazer, informação ou pelo fato de estar de folga.

Na sala de aula, o professor de Geografia ao trabalhar com o jornal deve ter

em vista que nem todos os alunos conhecem o tema a ser trabalhado ou já tomaram

conhecimento por algum outro veículo de comunicação. Deve-se tomar por regra o

que descreve Dines (1986, p. 49), que cada leitor deve ser tratado como se

estivesse tomando conhecimento do assunto naquele instante.

Cabe ao professor interpretar e analisar o jornal que levará para a sala de aula,

entendendo que se trata de uma instituição com interesses fundamentados e,

conforme Dines (1986, p. 21) há nesta brecha, o perigo de exercer-se o arbítrio

corporativo sem atentar para os interesses mais amplos da sociedade, dando ao

jornal outro sentido que não o de veículo de oportunidades próprias de análise e

crítica de assuntos com variados pontos de vista, de acordo com o fato e a vivência

do emissor, tanto como do receptor das informações.

Alves (2008, p.20) atenta também para o fato desta mídia interferir na

sociedade ao direcionar o pensamento das pessoas em benefício de alguém ou

alguma ideologia, levando em consequência a transformação da relação de

comunicação entre as pessoas. Alterando a comunicação, alteram-se também as

relações sociais.

Schramm (apud DINES, 1986, p. 46) classifica os veículos de comunicação

como temporais, cujas mensagens são organizadas dentro da noção de tempo,

vencendo a distância como por exemplo o rádio e veículos espaciais, cujas

mensagens resistem ao tempo e fazem parte do espaço, como o jornal.

24

Sob o ponto de vista geográfico, todos os meios de comunicação possuem sua

parcela de influência no espaço, mesmo que indiretamente. O rádio, a televisão e a

telefonia são exemplos que necessitam de uma organização do espaço e

transformações para ser recebido, assim como a forma como são distribuídos seus

equipamentos e aparatos, construções, torres de emissão, a dinâmica dos

profissionais que o fazem, a distribuição dos aparelhos receptores, as classes

sociais atingidas e como o são, com que finalidade e sob quais circunstâncias. O

jornal, por sua vez, além da estrutura e organização espacial que necessita para ser

concebido, produz uma dinâmica de distribuição, atendimento, uso e destinação

mais concretos, que requerem um planejamento e acompanhamento no espaço. O

jornal como objeto geográfico e de interpretação das dinâmicas do espaço

documentado atinge certa parcela de população, diferenciável pelo seu uso, seu

conteúdo e aproveitamento do mesmo, seu valor, formas de distribuição (comprados

em bancas, comércios ou por meios de entrega, as chamadas assinaturas). O

destino, a associação com a sua realidade, sua linguagem, seu enfoque espacial,

sua escala de representação, o possível retorno que oferece a seu leitor, entre

outros fatores pode definir a massa de espectadores atingidos e a direção que será

dada pelo corpo editorial e jornalístico da empresa.

Sobre a importância da leitura para a formação de um cidadão mais crítico

Pontual (1999, p. 34) é enfática:

Ora, se pensarmos no processo de leitura como processo de humanização e, consequentemente, numa sensibilização para abertura de novas perspectivas de apreensão do conhecimento e do mundo, então estamos atribuindo à leitura o seu significado verdadeiro, que é o de produzir reflexão.

A questão do jornal na sala de aula perpassa a ideia do apenas reproduzir o

conhecimento através do livro didático, sem se atentar para a formação crítica e

compreensiva do espaço e suas transformações. Paulo Freire (apud PONTUAL,

1999, p. 36) descreve que o homem deve aprender a falar sua própria palavra e não

apenas repetir a do outro. E sobre o papel que o professor de Geografia

desempenha nesta troca de experiência, Dimenstein (apud PONTUAL, 1999, p. 37)

afirma que o bom educador deve estimular a diversidade, torcendo para que seus

alunos tenham suas próprias ideias e mais do que isso, tenham a coragem de

defendê-las, devidamente fundamentadas, em qualquer situação e, sobretudo,

25

tenham a coragem e a segurança de se admitirem erradas e mudarem de opinião.

Deste modo, a percepção de realidade que um jornal propicia ao aluno, ao mesmo

tempo lhe dá subsídios para pensar o espaço. Propõe também a inserção de sua

própria identidade na análise das informações e crítica do que é impresso no jornal.

Cabe às relações efetivas da escola abrir o caminho para que o aluno tenha a

oportunidade de descrever o mundo, com as bases que a escola lhe dá, a partir de

sua própria janela do conhecimento.

Piaget (apud PONTUAL, 1999, p. 39) define que um estudante que adquire

certo conhecimento através da livre investigação e do espaço espontâneo será

capaz de retê-lo. No futuro ele terá adquirido uma metodologia que pode ajudá-lo o

resto da vida.

Tem-se, portanto, duas ferramentas para uma verdadeira leitura da realidade

espacial: a Geografia e o jornal.

26

4 ESTUDO DE CASO E PROPOSTA PARA UTILIZAÇÃO DO JORNAL NAS

AULAS DE GEOGRAFIA

A Geografia como ciência humana e por nela ser transcorrido o cotidiano, que

é demonstrado a partir do espaço, construído pelas relações entre sociedade e

natureza, possui um grande aliado na demonstração das dinâmicas do espaço: o

jornal.

Sabemos que o jornal visto sob a ótica escolar pode englobar todas as

disciplinas, desde que sejam trabalhadas com a finalidade pedagógica adequada

para cada momento da aprendizagem nesta ou naquela disciplina. Partindo-se de

uma proposta, um desenvolvimento que agregue valor e enriqueça as aulas e com

determinada finalidade, um propósito pode-se estimular o aluno a conquistar o

resultado pelo próprio esforço, instigado pelo grupo de colegas e pelo professor a

desenvolver seu raciocínio, suas habilidades, tendo como consequência o

aprimoramento do seu conhecimento.

Propomos com o jornal nas aulas de Geografia, como descreve Kaercher

(2000, p. 137), um ensino não tão formal, com uma Geografia menos classificatória

ou de sínteses, sem tantas memorizações, utilizando o conteúdo como um caminho,

objetivando sua transgressão e com possibilidades de se ir mais adiante através de

questionamentos e descobertas também a partir do próprio aluno, instigado e tendo

como referencial o professor.

Kaercher (2000, p. 137) alerta para a utilização de práticas tradicionais que não

estimulem o aluno a procurar e a investigar a construção dos assuntos, um

conhecimento que simplesmente siga o livro didático, acompanhando cada

momento, onde não se permita que determinado assunto seja tratado fora do

momento designado, como por exemplo, aprender sobre o Rio Grande do Sul

somente na quinta série do Ensino Fundamental e sobre o Brasil apenas na sexta

série. Claro que a tendência classificatória no ensino se estende desde muito

antigamente e que muitas vezes esta forma se faz válida no ensino e para a vida

também, mas seu excesso e sua utilização única transformam a Geografia em uma

disciplina mais válida em decorar os nomes dos rios de determinado continente, sem

saber como foram formados ou que influências possuem para a sociedade e para a

própria natureza, nem como estes os utilizam.

27

Nas interpretações da Geografia pelo jornal nos valeremos de categorias

designadas por Cavalcanti (1998, p. 88) como conceitos requisitos para a análise

dos fenômenos do ponto de vista geográfico, ressaltando que tais conceitos não são

exclusivos da ciência geográfica e que são utilizados também por outras ciências e

pelo senso comum, de diferentes formas e com diversas acepções.

Lugar, Paisagem, Território, Região, Natureza, Sociedade e Cotidiano são

composições das categorias vistas como elementares, estabelecidas por estudiosos

da Geografia, como Moreira (apud CAVALCANTI, 1998, p. 88) que estabelece ser

necessário um resgate crítico de categorias e princípios que têm feito o universo

lógico do raciocínio geográfico.

A partir do estudo destas categorias a Geografia como ciência e como

disciplina se associam naturalmente dentro da sala de aula, enriquecendo e dando

um caráter único e estimulante à própria Geografia.

Utilizam-se neste trabalho metodologias de pesquisa direta objetivando a

percepção e a relação que os alunos possuem do jornal impresso e a possibilidade

deste ser interpretado através da Geografia, permitindo desvendar a relação

cotidiana dos alunos com este meio de comunicação.

Fazem-se presente também aplicações de práticas envolvendo a utilização e a

exploração deste meio de comunicação no ensino e aprendizagem da Geografia, em

alunos de Ensino de Jovens e Adultos (EJA) do município de Canoas, como um

meio pedagógico atual e de percepção da realidade a partir das categorias e do

objeto de estudo da Geografia.

28

5 A RELAÇÃO DOS ALUNOS DO ENSINO DE JOVENS E ADULTOS COM O

JORNAL

O questionário (APÊNDICE A) teve por finalidade compreender a relação que

possuem com o jornal os dezenove alunos do curso de Ensino de Jovens e Adultos

(EJA) de uma escola estadual de ensino fundamental no município de Canoas, RS.

Os alunos foram questionados também sobre a sua percepção na relação do

jornal com a disciplina de Geografia e com o seu cotidiano.

Os dezenove alunos da turma T6, correspondente à oitava série do ensino

fundamental regular, são distintos por gênero em nove masculinos e dez femininos e

possuem idades entre 16 e 65 anos. Agrupando estes dados têm-se quinze alunos

ou 78% do total na faixa etária de 16 a 32 anos, dois alunos ou 11% dos

entrevistados na faixa etária correspondente entre 33 a 49 anos e dois alunos,

correspondendo igualmente a 11% do total entrevistado, na faixa etária entre 50 e

65 anos.

Todos os alunos que participaram do presente questionário residem nos bairros

abrangidos pela referida escola, na modalidade de ensino EJA, que são os bairros

canoenses de São Luiz, São José, Harmonia, Mato Grande, Igara e Estância Velha.

Os meios de comunicação mais acompanhados pelos alunos são a televisão,

com 47% do total de alunos questionados, seguido pela internet, com 26% do total

de alunos. O jornal aparece como o terceiro meio de comunicação mais

acompanhado pelos alunos entrevistados, totalizando 16%, seguido pelo rádio com

11% do total de alunos.

Quando se fala em preferências nos meios de comunicação, referimo-nos aqui

ao tipo de meio em que preferencialmente se busca a informação, para tanto foi

sugerida a escolha de três meios mais acompanhados pelos alunos e que estes

meios fossem elencados sob a forma de primeira, segunda e terceira opções

(FIGURA 1).

29

Figura 1: Meios de comunicação mais acompanhados por preferências

Fonte: Autoria própria, 2012.

Como primeira opção listada pelos alunos está a televisão, elencada por onze

alunos, ou 58% do total de entrevistados. Em segunda posição na escala de

preferência estão o jornal, a internet e novamente a televisão, com cinco alunos ou

26% do total, em cada meio. Como terceira opção de preferência nos meios de

comunicação aparecem novamente o jornal e o rádio, com seis alunos ou 32% em

cada na preferência dos alunos pelos meios de comunicação.

Dirigindo a pesquisa para o contato que os alunos possuem com o jornal foi

perguntado se eles gostam de ler este meio de comunicação. Doze alunos ou 63%

dizem gostar de ler jornal. Os motivos do ‘gostar’ são semelhantes: alguns

respondem que lêem para ficar por dentro das notícias locais, do país e do mundo,

30

outros dizem acompanhar as notícias que são mais completas e ilustradas que as da

televisão, outros resumem em apenas manter-se informados e há ainda os que

respondem gostar de ler jornal para acompanhar os esportes, a vida dos famosos, o

seu signo e os passatempos que são encartados a cada edição.

Em contrapartida sete dos alunos correspondentes, 37% do total da pesquisa,

responderam não gostar de ler jornal. Os motivos mais recorrentes são o pouco

gosto pela leitura, pelo fato de as notícias do jornal aparecerem também na televisão

e por acompanhar os conteúdos em outros meios como a internet e a citada

televisão.

A questão dos assuntos mais acompanhados pelos alunos nos jornais também

foi abordada (FIGURA 2), distribuídos aqui pelas seções mais usuais vistas na

maioria destes em circulação e que são de conhecimento de todos os alunos, dez no

total mais alguma que pudesse ser lembrada pelos alunos deixada como sugestiva:

Classificados, Economia, Esportes, Horóscopo, TV e famosos e Passatempos, estes

três agrupados por se tratarem de assuntos um tanto extra cotidianos e que não

influenciam diretamente a vida dos leitores de um jornal, mas muito buscado e

apreciado por estes, opinião e editoriais, país e mundo, política, policial, saúde e

tempo, aqui entendida pela seção que contém meteorologia.

Figura 2: Seção mais acompanhada no jornal

Fonte: Autoria própria, 2012.

31

Dentre as inúmeras seções de um jornal, apenas três correspondem a um total

de 57% da preferência dos alunos entrevistados: horóscopo, TV e famosos e

passatempos, totalizando 26% dos entrevistados, esportes, com 19% do total e

classificados, em 12% dos alunos entrevistados.

Seguindo a mesma metodologia de verificação das três preferências dos meios

de comunicação pelos alunos, foi levantada a questão referente às seções do jornal

preferidas pelos alunos (FIGURA 3).

Figura 3: Seção mais acompanhada do jornal por preferências

Fonte: Autoria própria, 2012.

Percebe-se com base nos resultados que a preferência das seções está

distribuída em apenas quatro das onze dadas por opção: horóscopo, TV e famosos

e passatempos com oito alunos ou 42% dos entrevistados, junto à seção de

esportes com os mesmos 42%, classificados, representando dois alunos ou 11% da

amostra total e policial, com um aluno, que representa aproximadamente 5% do total

de alunos participantes da pesquisa. Como segunda opção tem-se maior distribuição

sobre mais seções do jornal, aqui se acrescenta mais quatro seções, totalizando

32

oito. Tempo é a segunda opção da maioria, com cinco alunos ou 26% do total,

seguida de horóscopo, TV e famosos e passatempos, com quatro alunos,

correspondendo a 21% dos entrevistados, policial com três alunos ou 16% do total,

esportes e classificados, cada uma com 2 alunos, correspondente a 11% cada e,

juntos também, país e mundo, economia e política, com um aluno cada,

correspondendo a 5% do total de entrevistados em cada seção.

Para a terceira opção mais acompanhada pelos alunos, distribuída em sete

categorias pré-estabelecidas, está a seção de país e mundo, onde seis alunos a

priorizaram, correspondendo a 32% dos alunos questionados, seguida de quatro

alunos ou 21% que acompanham a seção policial, logo após tem-se as seções de

tempo e horóscopo, TV e famosos e passatempos, cada uma com três escolhas,

representando 16% do total para cada seção citada. Esportes, classificados e

economia foram as seções elencadas por um aluno em cada como terceira

preferência na leitura do jornal, totalizando cada uma 5% do total de alunos

questionados.

Dentre os inúmeros jornais que circulam em suas mais variadas escalas e

tiragens, espacializando e representando o cotidiano da sociedade que o

acompanha e que é atingida diretamente por este veículo de comunicação de

massa, foram levantados nos mais diversos pontos e formas de distribuição do

município de Canoas os jornais disponíveis ao público, para então se ter como

referência opções em que os alunos pudessem escolher sem indução aquele jornal

que mais acompanha (FIGURA 4). Seis são os jornais mais encontrados para

acesso em mais de quinze pontos de bairros distintos do município de Canoas, com

valores e tiragens que atingem a diversas escalas: Correio do Povo (custo de R$

1,50 com tiragem de 151 mil exemplares), Diário de Canoas (custo de R$ 1,00 com

tiragem de 10 mil exemplares), Diário Gaúcho (custo de R$ 0,75 a R$ 1,00 com

tiragem de 150 a 180 mil exemplares), Jornal do Comércio (custo de R$ 2,50 com

tiragem de 27 mil exemplares), O Sul (custo de R$ 2,00 com tiragem de 65 mil

exemplares), Zero Hora (custo de R$ 1,50 a 4,00 com tiragem de 140 a 240 mil

exemplares). Os valores descritos para cada jornal são atribuídos à sua circulação

dentro do estado do Rio Grande do Sul. Como sabemos que se pode ter acesso a

mais de um jornal diariamente foi proporcionada a opção de os alunos marcarem

quantos jornais possuem acesso, desde que façam o uso de suas informações e sua

33

leitura. Foi dada também neste caso a opção de algum outro jornal não estabelecido

na lista, mas se fosse de acesso do aluno, que ficasse livre para preenchimento.

Figura 4: Jornal mais lido

Fonte: Autoria própria, 2012.

Dos quatro jornais lidos pelos alunos da pesquisa, apenas o Diário de Canoas

possui sua distribuição local, compreendida nos limites do município de Canoas,

estendendo-se apenas até o município vizinho de Nova Santa Rita. O jornal Correio

do Povo é distribuído nos estados do Rio Grande do Sul, parte de Santa Catarina e

Paraná, o jornal Diário Gaúcho possui distribuição na capital, Porto Alegre e região

metropolitana, eventualmente em outras cidades do interior e litoral do estado e o

jornal Zero Hora possui distribuição, além do Rio Grande do Sul, também para

algumas cidades dos estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo.

De um total de 32 alternativas marcadas nos quatro tipos de jornais

acompanhados pelos alunos, 50% das opções dos alunos compreende a leitura do

jornal Diário Gaúcho, 28% o jornal Zero Hora, 19% o jornal Diário de Canoas e 3% o

jornal Correio do Povo.

Para interagir mais entre o jornal e o cotidiano dos alunos, foi definida a

pergunta referente ao pensamento deles em relação à importância percebida do

jornal em seu dia a dia (FIGURA 5).

34

Figura 5: Grau de importância do jornal no dia a dia

Fonte: Autoria própria, 2012.

Verificou-se que a maioria dos alunos referente a esta questão, 58% do total ou

onze alunos, percebem o jornal como um meio de comunicação de pouca

importância para o seu dia a dia, seguido de sete alunos que avaliam ser muito

importante e apenas um aluno avalia ser sem importância o jornal no seu dia a dia.

Em comparação do jornal com a Geografia, todos os dezenove alunos

responderam que este meio de comunicação tem a ver com a disciplina. Alguns dos

principais motivos estão o fato de abordar assuntos sobre o tempo e a meteorologia,

a natureza, economia, os acontecimentos do mundo e do Brasil. Outras respostas

chamaram também a atenção por aprofundar mais a ideia do objeto da Geografia:

alguns alunos colocaram que o jornal tem a ver com a Geografia pelo fato de ocupar

um espaço na sua distribuição, de discorrer sobre homem e a natureza, circular

diariamente e suas notícias equivalerem a muitos lugares.

A questão referente à relação do jornal com os alunos nos trouxe algumas

respostas que demonstram a ideia do cotidiano relacionado às notícias lidas: muitos

responderam que os conteúdos do jornal facilitam o dia a dia, atualizando o seu

entorno, sob o ponto de vista de haver notícias que informam o trânsito, a previsão

do tempo, greves de determinadas classes de trabalhadores e obras, por exemplo.

Outros respondem apenas que é importante para exercitar a leitura. Alguns alunos

enfatizam com pesar o fato de só aparecerem tragédias como roubos, corrupção,

35

mortes nas páginas de ênfase dos jornais que lêem. Outros ainda respondem que é

importante saber os fatos dos últimos dias na cidade, no país e no mundo e o que irá

acontecer durante a semana para ficar atento aos acontecimentos. Os alunos que

responderam as notícias não ter relação consigo não descreveram motivos.

36

6 O JORNAL NA SALA DE AULA: PROPOSTAS PARA O ENSINO DA

GEOGRAFIA

A partir da proposta de desenvolver o uso do jornal nas aulas de Geografia,

desenvolvemos algumas maneiras de tratar e desenvolver os assuntos abordados

sob a ótica da Geografia, representando as escalas local, em nosso caso o

município de Canoas, regional, com o estado do Rio Grande do Sul, nacional e

internacional. Neste âmbito, vemos conforme Kaercher (2000, p. 143): “relacionar

essas escalas espaciais é fundamental para superarmos a compartimentalização do

currículo escolar que fragmenta excessivamente o que deveria estar

interrelacionado.”

Frémont (apud LENCIONI, 2003, p.155) descreve existir uma divisão do

espaço que é exterior às pessoas, elaborado e fracionado de acordo com aspectos

definidos por pessoas que não vivem naquele lugar e uma outra divisão que diz

respeito ao espaço vivido, relacionando-se à percepção que as pessoas têm do

espaço e ao sentimento de pertencer àquela rede de lugares. É a partir da própria

experiência e inserção no espaço vivido que os alunos demonstrarão a construção

da Geografia nos temas do cotidiano expostos nas páginas dos jornais.

As propostas de trabalhar o jornal na sala de aula a partir da Geografia aqui se

aplica à turma de Ensino de Jovens e Adultos, como referido, mas pode ser

desenvolvida em qualquer momento do ano letivo, a qualquer série ou modalidade

de ensino que se esteja lecionando. O jornal se tornará um ótimo caminho para

integrar o cotidiano do aluno ao conteúdo proposto pela disciplina e caberá ao

professor “desembaçar” a visão do aluno quando este lê o jornal, sem qualquer

interesse de interpretá-lo, entendê-lo ou analisá-lo, inserindo-lhe a Geografia e os

fenômenos espaciais, bem como todas as suas categorias nos fatos documentados

deste meio de comunicação, dando fomento à prática e à aplicabilidade de todo o

conhecimento desenvolvido na disciplina.

As reportagens utilizadas para as aulas práticas associando o jornal à

Geografia são “Muitas alternativas para mexer o corpo e a mente”, (p. 20) do jornal

Diário de Canoas de 22 de agosto de 2012 e outras três do jornal Folha de São

Paulo: “Acampamento celebra tradição gaúcha com toneladas de carne” (p. F4) de 5

de setembro de 2012, “80% da América Latina vive nas cidades:do ponto de vista

demográfico, o momento para o Brasil é auspicioso” (p. A15) de 22 de agosto de

37

2012 e “Imigrantes formam grandes filas para se legalizar nos EUA” (p. A16) de 16

de agosto de 2012.

Cada desenvolvimento foi planejado para duas horas aula mais o tempo em

que os alunos assumiriam os trabalhos de produção em casa para servir de

avaliação do conhecimento absorvido nas propostas, mas poderia estender-se por

quantas aulas o professor julgasse necessário, uma vez que os assuntos não são

facilmente esgotáveis, sugerindo a cada vez outra visões e oportunidades de

abordagens a partir da Geografia. Seguiu-se o modelo de Libâneo (1994, p. 232) de

planejamento escolar, contendo a unidade temática trabalhada, os objetivos

específicos, o conteúdo, desenvolvimento metodológico e forma de avaliação,

mantendo então a ideia de que não planejar é planejar o próprio fracasso.

6.1 Trabalhando o local na reportagem “Muitas alternativas para mexer o corpo

e a mente”

A reportagem local (ANEXO A) discorre sobre as praças, parques e centros

sociais que o município de Canoas possui a disposição para as mais variadas

utilizações: seja para um passeio de final de semana, seja para atividades físicas a

partir dos equipamentos de ginástica e de instrutores para a utilização destes que

dispõem algumas praças do município, seja para a prática de esportes como futebol,

skate, voleibol, corrida e outros tantos usos que são possíveis no espaço dos

parques da cidade.

A partir da leitura, análise e da discussão junto aos alunos sobre como estes

espaços são concebidos, as diferenças entre eles, as suas localizações, as

estruturas que os diferenciam, os fluxos que comportam e as construções que os

caracterizam, a importância que estes espaços possuem, que são também parte de

seu cotidiano e da dinâmica espacial que comportam, mantendo uma relação com

as categorias da Geografia, foi desenvolvido uma saída de campo noturna, uma vez

que estes alunos fazem parte do EJA desenvolvido no turno da noite, para uma

praça da região central do município de Canoas.

Houve uma importante contribuição nesta saída a campo da professora que

ministra a disciplina de História na escola, tornando a saída interdisciplinar,

explorando a formação pelo objeto temporal da paisagem do trecho abordando de

38

forma mais dirigida aspectos geográficos e históricos das estações propostas para a

análise e descrição da paisagem no trabalho dirigido de campo.

Com um roteiro estabelecido o trabalho de campo foi promovido, seguindo três

aspectos indicados por Alexandre (1993, p. 97): havendo um interesse

metodológico, ao permitir desenvolver nos alunos um conjunto diferenciado de

capacidades, como a observação direta, a descrição dos fenômenos, a

interpretação, a crítica e a avaliação, considerada aqui como a relação com a teoria;

a motivação na aprendizagem é outro aspecto delimitado pelo autor para que se

obtenha um bom desenvolvimento do trabalho de campo, a partir dela será possível

uma melhor relação entre a turma, aproveitando estas energias absorvidas fora do

ambiente normal da sala de aula, para a concretização das metas definidas; por fim,

observa-se os valores e atitudes que desenvolvem, percebendo-se aí a ligação da

escola com a vida, à realidade natural e humana, desenvolvendo-se a

responsabilidade, cooperação, criatividade, autonomia, entre outros.

No percurso os alunos foram incentivados a refletirem desde a escola até o

local de destino atentando e analisando elementos da paisagem vista pelo caminho.

A questão da cidade, suas dinâmicas espaciais, os problemas urbanos, as

construções, as rugosidades, as formas visíveis formadoras de um padrão espacial,

as funções de cada construção que compunham aquele trajeto, a estrutura e a

relação entre eles, o processo desta configuração visto historicamente, o território,

visto a partir de Castro (2003, p. 87) como relações sociais projetadas no espaço e

as territorialidades que estes espaços da cidade comportam em determinadas horas

do dia. Santos (1997, p. 66) discorre sobre a paisagem não ser criada de uma só

vez, mas por acréscimos ou substituições, se organizando seguindo níveis de

produção, circulação, distribuição e consumo seguindo as exigências do próprio

espaço presente. O que se chama de desordem, conforme o mesmo autor, na

cidade, é apenas a ordem do possível, já que no espaço nada é desordenado. Esta

ordem, portanto, pode ser percebida pelos alunos atribuindo uma visão mais

analítica a partir da Geografia de seu espaço vivido, argumentando sobre o arranjo

espacial ou cada parcela do espaço presente no todo compreendendo então o caos

ordenado das cidades. Os alunos foram estimulados também a perceber a atuação

da administração municipal e do próprio cidadão como a conservação dos locais

públicos, da iluminação, da segurança, do lixo, dos movimentos de carros e

39

pessoas, dos objetos geográficos próximos à escola e ao local destinado ao trabalho

de campo.

No local proposto para a análise direta da paisagem houve também algumas

considerações e um roteiro a ser seguido com sugestões de observação sugerido

pelo professor, eis algumas: • Como é o movimento das praças que você conhece

nos diferentes momentos do dia? Que tipos de pessoas frequentam nestes

momentos e com qual finalidade? • Como está a conservação destas praças? Há

iluminação? A grama está cortada e a vegetação ocupa qual espaço? E há

segurança? Há bancos conservados? Como é a vegetação destes locais? • Onde

estão localizadas estas praças, os locais são apropriados? E como é a paisagem ao

entorno? • Verifique também as estruturas que estas praças possuem: quadra de

esporte, brinquedos para crianças, aparelhos de ginástica... • Faça uma comparação

com diversas praças que você passa e que fazem parte do espaço que você

vivencia. • Você costuma ocupar o espaço das praças da cidade? Em que

momentos?

A partir deste roteiro, que fica livre para quaisquer outras questões que sejam

pertinentes ao assunto que os alunos julguem importantes acrescentar, foi proposto

como acompanhamento, produção pelo aluno e avaliação a elaboração de um texto

discorrido a partir da realidade e a interação que os alunos possuem com estes

espaços, comparando os locais destinados à mesma finalidade da praça visitada,

descrevendo as semelhanças e diferenças e as dinâmicas verificadas nestas

paisagens sob o ponto de vista geográfico trabalhado previamente em aula.

Como resultado desta proposta obteve-se em grande número, textos dos

alunos percebendo a questão espacial das praças e centros sociais distribuídos pelo

município. Muitos abordaram de forma comparativa os diferentes espaços

destinados à mesma finalidade em diferentes bairros e os usos que se faz em

diferentes partes do dia por diferentes grupos de pessoas, surgindo então a ideia de

territorialidades. Percebeu-se com os textos a construção do conhecimento

geográfico a partir de seu objeto e de suas categorias, propostas por Cavalcanti

(1998, p. 88) como Lugar, Paisagem, Território, Região, Sociedade, Cotidiano e

Natureza, estimulando a mesma percepção pelos alunos. Houve uma análise de

observador associada à própria relação e utilização com o tema proposto, como se o

aluno visse a dinâmica ocorrida ao mesmo tempo em que se faz presente nela. No

percurso entre escola e a praça observada houve também o desenvolvimento da

40

ideia de disputas entre as classes sociais que se utilizam destes espaços, alguns

discorrendo entre os moradores dos prédios residenciais no entorno, utilizando as

praças como um complemento de seu jardim, inexistente no pequeno espaço do

prédio, associando aos mendigos que constantemente dormem nos bancos das

praças, fazendo-os de sua acomodação e moradia. Os espaços delimitados para a

finalidade de cada objeto na praça também foram amplamente abordados, referindo-

se ao fato de cada árvore ou banco estarem locados seguindo uma determinada

ordem, condicionando os usuários a irem para este ou aquele caminho.

Muitas foram as oportunidades criadas sob planejamento e direcionadas com

esta proposta, outras foram criadas pela iniciativa e realidade dos alunos e muitas

outras ainda poderiam ser criadas sob os mais variados enfoques que a Geografia

permite a partir das sempre constantes construções do espaço e sua percepção e

análise dos e pelos seus atores.

6.2 Desenvolvendo o regional através da notícia “Acampamento celebra

tradição gaúcha com toneladas de carne”

A notícia regional (APÊNDICE B) apresenta o acampamento que é construído

anualmente no parque Maurício Sirotsky Sobrinho em Porto Alegre entre os dias 7 e

20 de setembro, como forma de festividade ao ideal da Revolução Farroupilha,

ocorrida em 20 de setembro de 1835 a 1º de março de 1845. A notícia destaca ainda

a estrutura que é criada para comportar 370 grupos tradicionalistas que constroem

galpões, salões para bailes, padarias e restaurantes, movimentando também o setor

da economia em lojas de artigos gauchescos, os próprios restaurantes e mercearias

criados dentro do acampamento. Uma ênfase dada pela reportagem está na

quantidade de carne que é consumida: aproximadamente 30 toneladas nos dias de

acampamento e o número de visitantes que ultrapassa um milhão de pessoas.

A partir da abordagem e da análise da notícia foi promovido um debate entre os

alunos e o professor sobre quem seria o gaúcho atualmente. A partir das respostas

dos alunos, associando o gaúcho apenas ao criador de gado visto nos campos da

região da campanha sul-rio-grandense e às vezes tomado como contato por visitas a

parentes que na região sul do Estado residem, houve também uma percepção de

que o gaúcho estava naquela própria sala, trabalhando em indústrias, no comércio,

nos serviços, estudando, morando em apartamentos, pequenas ou grandes casas

41

que nem um pouco se parecem com estâncias, nem criam gado ou animal algum,

com exceção de cães ou gatos domésticos. Esta contradição foi desperta sem a

iniciativa do professor, que se tornou a partir daí então o mediador entre as

discussões para formar a figura do gaúcho.

O estereótipo do gaúcho sempre difundido em Centros de Tradições Gaúchas

(CTGs) mistura-se com o gaúcho descendente das migrações que o Brasil recebeu

de alemães, italianos, portugueses e açorianos, poloneses, judeus, japoneses e

inúmeras outras nações, mas também associaram-se aos espanhóis advindos das

colonizações dos países vizinhos ao Brasil e também dos negros trazidos para o

trabalho e principalmente aos indígenas de variados povos como os tupi-guaranis,

kaigángs, tapes, minuanos, arachanes, carijós que há muito ocupavam o território do

Rio Grande do Sul.

A partir da figura O Gaúcho, de PercyLau do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (1975, p. 427) os alunos desenvolveram um texto a partir da sua

percepção enquanto gaúchos da própria figura dita como um estereótipo deste modo

de viver da população sul-rio-grandense. Alguns aspectos foram levados em conta

nesta abordagem por parte dos alunos, mantendo o direcionamento do professor ao

questionar: •Como encontramos o gaúcho hoje? É parecido com o da figura de

PercyLau? • O gaúcho da região da campanha (aqui trazido à ideia do senso comum

este regionalismo literário brasileiro) ou do pampa é o mesmo da cidade? • O que

você entende por tradicionalismo? • Em que momentos você se sente como o

gaúcho da figura? • Seria possível viver assim onde você mora? Por quê?

Obteve-se como produção pelos alunos um texto que demonstra a percepção

que cada um possui do gaúcho contemporâneo, com abordagens que se cruzam no

que diz respeito à “fantasia” como colocado por um dos alunos, ao se referir à

indumentária que em momentos de festividades ao ideal farroupilha possui alto

preço ou que no ambiente que vive sempre há uma ou outra pessoa que utiliza das

vestimentas cotidianamente, ao contrário da imensa massa que as utiliza apenas

durante a semana do movimento. Outra associação bastante comum dos alunos foi

do tradicionalismo, uma palavra que derivou inúmeros significados, porém todos

sem transparecer a real clareza de sua compreensão, à força midiática e comercial

da data, estabelecendo trechos de que seria um gaúcho diferente durante

determinados dias de setembro, com o figurino estabelecido, mas que após isso, só

para quem fosse a um CTG para continuar vendo esta figura tão mais comum

42

quando se viaja às cidades do interior do Estado. Outra visão do tradicionalismo,

para os alunos, remete à ideia de sentimento pelo seu espaço, algumas vezes

concebido através do conhecido bairrismo em priorizar e exaltar o que seria do Rio

Grande do Sul e menosprezar e reduzir o que vier de outros estados brasileiros.

Algo remete também a percepção dos alunos de diferenciar o gaúcho de

“verdade” do “outro” gaúcho, em que o primeiro possui todo o aparato para a lida do

campo, juntamente com os hábitos, costumes e vestimentas, de aparência rude e

demasiada seriedade.

O gaúcho de hoje, na visão dos alunos, está mais moderno, vestido

“normalmente como uma pessoa comum”, com um carro ou anda de ônibus ou

ainda bicicleta ao invés do cavalo, mas que também tem seu animal de estimação,

toma chimarrão, possui seus afazeres, tem seu emprego, sua família e isso é o que

os associa ao gaúcho da figura de PercyLau.

6.3 A ideia do nacional pela reportagem “80% da América Latina vive nas

cidades: do ponto de vista demográfico, o momento para o Brasil é

auspicioso”

A reportagem nacional (APÊNDICE C), contendo textos e gráficos, destaca a

América Latina sob o ponto de vista demográfico, correspondendo a uma das

regiões mais urbanizadas do mundo, embora conviva com redução do crescimento

demográfico e seja considerada a mais desigual do mundo, sob o ponto de vista da

distribuição de renda. Esta reportagem possui embasamento no relatório da ONU-

Habitat “Estado das cidades da América Latina e Caribe 2012”.

É descrito na reportagem ainda o momento para o Brasil, que define como

auspicioso, sob o ponto de vista demográfico, indicando que se verifica nesta

dinâmica demográfica um aumento da população em idade de trabalhar, gerando

renda e riqueza ao país.

Percebe-se com esta reportagem infinitas possibilidades de se trabalhar a

Geografia, uma vez que os próprios termos apresentados e suas aplicações na sua

essência já nos remetem à questões geográficas: a regionalização e a percepção de

uma América Latina, cidades e urbanização, população, crescimento populacional e

consequentemente demografia, região, taxa de fecundidade, população

economicamente ativa, metrópoles e megalópoles, a relação campo-cidade e

43

cidade-cidade, reconfigurações urbanas, migração, problemas urbanos, moradias,

favelas, condições sociais, manchas urbanas, verticalizações, desigualdades

econômicas e sociais, renda e PIB per capita.

À ideia de classificação, como produzido nos tópicos anteriores, remetemos a

Kaercher (2000, p. 136) quando levanta questões de a Geografia ser entendida

como uma ciência classificatória, um ensino distante da realidade, valendo-se da

classificação para a explicação do mundo de forma mnemônica. Sem levar em

consideração os critérios que levam a tais classificações ou que percepções e o

vínculo com a realidade os alunos possuem de determinados assuntos, construindo

um conhecimento menos formalista, evitando uma leitura, conforme o autor,

mecanicista e pobre da realidade sem construir ou inovar ou ainda arriscar a fazer

diferente, questionando o instituído ou repetido.

Todas as formas espaciais e termos geográficos da reportagem detalhados

como tópicos foram desenvolvidos e trabalhados seguindo a ideia de construção dos

processos e os critérios que levaram a tais classificações.

Com a leitura, interpretação e análise da reportagem os alunos foram

estimulados a também debater com o intuito de conhecer o que seria considerado

cidade e o que seria o município, verificando que esta é uma ideia não muito

definida inclusive entre adultos, passando-se uma visão errônea até mesmo pelos

meios de comunicação de massa, como jornal e televisão. Em seguida procurou-se

desenvolver a ideia entre o rural e o urbano, uma dicotomia da Geografia, com o

intuito de percebê-los como um sistema indissociável de suprimentos e

mutualidades, bem como seus padrões, a territorialidade formada, a natureza

transformada a partir de técnicas e de trabalhos diferenciados, produzindo estes

espaços, as formas de produção, distribuição e consumo articuladas entre o campo

e a cidade.

Com uma percepção mais voltada ao urbano, Carlos (2007, p. 81) discorre que

a metrópole, aos olhos do observador, contempla mil formas e estas demandam

uma reflexão. O que explica as diferenças observadas: os bairros ricos e os pobres,

as crianças nas ruas e trancafiadas nos playgrounds dos prédios, escolas, rostos,

gestos?

Portanto, a cidade é antes de mais nada trabalho objetivado, materializado, fruto do processo de produção realizado ao longo de uma série de gerações, que aparece por meio da relaçãoentre o “construído” (casas, ruas, avenidas, estradas, edificações, praças) e o “não construído” (o natural) de um lado; e de outro, o movimento tanto no que se refere ao

44

deslocamento de homens e mercadorias quanto aquele referente às marcas que representam momentos históricos diferentes, produzidos na articulação entre o novo e o velho. (CARLOS, 2007, p. 85, grifo do autor)

Para a construção prática do conhecimento desenvolvido em sala de aula foi

proposto que, em duplas e de posse de duas imagens de satélite na escala de

1:1500 da área residencial do município de Canoas e da área rural do município

vizinho de Nova Santa Rita, estabelecessem uma análise geográfica comparativa

entre o campo e a cidade das imagens recebidas, levando em consideração alguns

direcionamentos como as diferenças entre estes dois espaços, as suas finalidades,

as mutualidades vistas, as diferentes paisagens, a circulação de pessoas e

mercadorias que poderia ocorrer, as construções e a disposição de objetos na

figura.

A ideia que os alunos possuíam de urbano e rural ao iniciarmos este trabalho

era separada por um vão que não ligava um ao outro como uma continuidade e

interdependência, nem a percepção destes espaços era nítida sob o ponto de vista

dos usos, ficando apenas a ideia de que “no campo se planta, cria-se animais e se

tem uma vida tranquila” e “na cidade se trabalha, tem tudo por perto e se vive

melhor”. Outro entendimento geográfico construído e assimilado pelos alunos, a

questão do município e da cidade, organizou e estabeleceu o pensamento destes

termos até então remetidos ao mesmo significado.

Com a prática de análise das duas imagens de campo e cidade os alunos

então correlacionaram estes dois espaços, estabelecendo diferenças nos usos de

recursos e semelhanças na estrutura de vida de cada pessoa que vive estas duas

realidades, um tanto conhecida pelos próprios alunos, bem como as dinâmicas que

se fazem presentes no ambiente da cidade e do campo, que por sinal, podem estar

a poucos quilômetros de diferença um do outro, mas que são por completo um a

continuidade do outro.

6.4 O internacional visto a partir da notícia “Imigrantes formam grandes filas

para se legalizar nos EUA”

A notícia internacional (APÊNDICE D) discorre sobre as alterações nas regras

de deportação pelo governo dos Estados Unidos dos imigrantes considerados ilegais

no país, beneficiando um público de 1,7 milhão de pessoas de todas as partes do

45

mundo nesta situação com a possibilidade de permanência temporária no país por

dois anos sem serem deportados, além da autorização para trabalhar segurados

pelas leis estadunidenses.

Com as possibilidades criadas pelo tema migrações as aulas foram divididas

em dois momentos: o primeiro após a compreensão e análise da notícia, delimitando

os temas o que é migração, seu significado como modificação das populações, os

determinantes da identidade nacional ou regional dos povos, compreendidos aqui

como diversidades, por exemplo, o meio natural, a localização, a história, a dinâmica

e a estrutura da população, a qualidade de vida, as questões étnicas, culturais,

linguísticas e sociais, a escolarização, níveis de desenvolvimento, a unidade

nacional, bem como a estrutura política ou religiosa de cada país. Foram

estabelecidos junto aos alunos também temas como o que são e a função das

fronteiras, vistas como delimitação do território em suas diversas escalas, mas com

o mesmo significado tanto para os países quanto para a propriedade individual.

Como base teórica construiu-se a percepção dos diferentes deslocamentos

populacionais: migrantes, emigrantes, imigrantes, nômades, colonos, escravos,

deportados, exilados, refugiados e expatriados, tornando a compreensão destes

termos e a que movimento das populações se relaciona.

Num segundo momento desenvolveu-se uma atividade adaptada de Kaercher

(2000, p. 167) onde os alunos em grupos recebem um planisfério no tamanho A3 de

folha, revistas diversas, cola, tesoura e, com a ajuda de seu livro didático, são

estimulados a escolherem três países que gostariam de conhecer. É descrito em

folha anexa alguns dados sobre este país e por que motivos gostariam de conhecê-

lo.

Seguindo a ideia do mesmo autor de estimular a Geografia da percepção e de

externar aquilo que é absorvido pelas mídias acerca de determinados países, os

alunos criam sobreposto ao planisfério um pôster com recortes de imagens que

remetem aos países escolhidos, deixando estes destacados coloridos envoltos pelas

figuras que a ele lembram. A partir do trabalho finalizado, os alunos apresentam

para o restante da turma os países que gostariam de conhecer, por qual motivo,

alguns de seus indicadores e o porquê das imagens escolhidas para representá-los.

Visto como uma atividade mais lúdica que as demais exploradas neste

trabalho, a criação do pôster agregou valor ao construído teórico sobre as

migrações, atribuindo um valor simbólico à criação e elaboração dos temas que

46

diferenciam as dinâmicas populacionais, estimulando o aluno a refletir a situação de

pessoas que por razões as mais diversas, são levadas a deixar seu país de origem,

deslocando-se para outros sob diferenciadas culturas, políticas, leis, condições de

vida, recursos e outros tantos aspectos díspares.

Como resultante deste proposto trabalho criou-se uma discussão muito válida

entre os alunos primeiro no que diz respeito à delimitação dos países a serem

pesquisados e representados pelas figuras, encontrou-se consensos entre a

delimitação dos países pelos alunos ou países que não tivessem nada a ver entre os

colegas, cabendo destacar que a oportunidade foi de não delimitar a quantidade de

países que pudessem ser explorados pelos alunos, o que gerou uma média de

quase um país por aluno, onde estes correlacionaram as informações e imagens

semelhantes e puderam também discutir sobre os países que não possuem os

mesmos aspectos de cultura, religião e físicos, por exemplo.

Outro resultado interessante foi a localização dos países e a representação

destes no mapa, estimulando os alunos a perceberem a localização geográfica dos

países que gostariam de conhecer ou possuem algum apreço.

No que diz respeito à finalização e exposição aos colegas da turma, os alunos

demonstraram domínio e garantia daquilo que era exposto e representado pelas

figuras, uma vez que anteriormente à pesquisa de imagens foi estimulado uma

pesquisa referente aos principais aspectos dos países explorados, como se se

tratasse de uma função prévia conhecer o país e suas culturas ou modo de viver,

suas leis, religião, políticas, formas de relevo, antes de ir até ele, ultrapassando a

questão da descrição e indo ao encontro da exploração do território prestes a ser de

certa forma descoberto.

47

7 CONCLUSÃO

O uso do jornal nas aulas de Geografia é uma importantíssima ferramenta de

estudo do espaço geográfico a partir do cotidiano do aluno. Com ele se desdobram

conhecimentos e categorias da Geografia que fazem o aluno perceber o seu

entorno, compreender as relações sociais e delas com a natureza no processo de

construção do espaço.

As notícias publicadas no jornal, além de sua atualidade e na comparação com

a vida dos alunos tornou possível estabelecer relações entre conceitos de lugar,

paisagem, território, região, sociedade, natureza e cotidiano, levando a uma melhor

compreensão dos conceitos da Geografia a partir de fatos com os quais os alunos

se identificam. Não é novidade se falar em jornal com os alunos. A novidade está em

transformar este meio de comunicação em um objeto pedagógico que transforma as

metodologias do ensinar e aprender Geografia e permite aos alunos a percepção, a

capacidade de análise e o estímulo à leitura do mundo a partir desta ferramenta.

A utilização de notícias em aulas dirigidas tornou a percepção e a construção

do conhecimento geográfico pelos alunos mais dinâmico e atrativo, pela

possibilidade de inserção da identidade e de vivências deles nos assuntos

desenvolvidos sob as diferentes escalas de estudo.

A Geografia pode ser explorada como uma ciência presente na vida dos

estudantes e que pertence ao seu cotidiano. Ela não se restringe a determinados

assuntos, momentos do ano ou séries.

A formação de cidadãos capazes de compreender a sociedade e sua dinâmica

e que estejam aptos a modificar a realidade confere à Geografia a responsabilidade

do papel da Geografia na escola. Para tal as metodologias de ensino devem estar

sempre em sintonia com o mundo atual, tomando a realidade como ponto de partida

da análise e percepção pelos alunos. A Geografia deve ser tanto dentro como fora

da escola uma disciplina e uma ciência associada a uma possibilidade real de

compreensão do espaço em suas diversas escalas.

48

REFERÊNCIAS

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49

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50

APÊNDICE A – Questionário sobre a relação dos alunos com o jornal 1. Qual a sua idade? ________

2. Mora em Canoas? ( ) Sim ( ) Não Em qual bairro? ______________________

3. Qual o meio de comunicação você mais acompanha?

( ) Jornal

( ) Internet

( ) Rádio

( ) Revista

( ) Televisão

( ) Outro: ________________

4. Das opções anteriores, enumere em ordem de preferência os meios de

comunicação que você acompanha.

1ª ______________________

2ª ______________________

3ª ______________________

5. Você gosta de ler jornal? ( ) Sim ( ) Não

Por quê?

6. Qual seção você mais lê/acompanha em um jornal?

( ) Classificados

( ) Economia

( ) Esportes

( ) Horóscopo / TV e Famosos / Passatempos

( ) Opinião / Editorial

( ) País / Mundo

( ) Política

( ) Policial

51

( ) Saúde

( ) Tempo

( ) Outro: ____________________

7. Das opções anteriores, enumere em ordem de preferência três seções que você

mais lê/acompanha no jornal.

1ª ______________________

2ª ______________________

3ª ______________________

8. Qual/quais o(s) jornal/jornais você costuma ler?

( ) Correio do Povo

( ) Diário de Canoas

( ) Diário Gaúcho

( ) Jornal do Comércio

( ) O Sul

( ) Zero Hora

( ) Outro: _____________________

9. Quantas vezes por semana você lê jornal? ________

10. Defina o grau de importância do jornal no seu dia-a-dia, onde 1 equivale sem

importância, 5 pouca importância e 10 muito importante. _______

11. Você acha que o jornal tem a ver com a Geografia? ( ) Sim ( ) Não

Por quê?

12. Qual a relação das notícias de um jornal com você?

52

ANEXO A – Reportagem local

Fonte: Jornal Diário de Canoas, 2012.

53

ANEXO B – Notícia regional

Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 2012.

54

ANEXO C – Reportagem nacional

Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 2012.

55

ANEXO D – Notícia internacional

Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 2012.