DIOCESE DO FUNCHAL

MISSAS DO PARTO

MARIA, TABERNÁCULO DO ESPÍRITO SANTO

ADVENTO 2016

DIOCESE DO FUNCHAL

MISSAS DO PARTO

MARIA, TABERNÁCULO DO ESPÍRITO SANTO

“O Espírito Santo virá sobre Ti”.

A Igreja templo do Espírito Santo.

Guião temático

ADVENTO

2016

Edição

Diocese do Funchal

SUGESTÕES PARA AS HOMILIAS DAS MISSAS DO PARTO 2016

Tema Geral: Maria, Tabernáculo do Espírito Santo

“O Espírito Santo virá sobre Ti”. A Igreja templo do Espírito Santo.

À semelhança dos anos anteriores, e numa linha de ajuda a todos os sacerdotes na preparação das homilias do novenário das missas do parto, pedimos ao Senhor Cónego Victor dos Reis, Pároco da Sé do Funchal que elaborasse um esquema a partir da temática deste ano Pastoral: “Viver em Igreja alegria de ser cristão”, tendo também presente os 500 anos da Dedicação da nossa Catedral no próximo ano. O nosso muito obrigado.

Este esquema não tem qualquer pretensão de substituir o trabalho de todos os sacerdotes na sua preparação das homilias das missas do parto; antes procura propor um fio condutor, que os sacerdotes poderão através do mesmo, reformularem, acrescentarem e adaptarem às suas realidades pastorais, tendo em conta as diferentes assembleias que vão participar nesses dias nas eucaristias, ajudando todo o povo com Maria, Senhora do Parto, a preparar melhor o nascimento de Jesus.

Foi num contexto de ajuda de necessidade e de comunhão, que há vinte e poucos anos, o Secretariado Diocesano de Pastoral iniciou este trabalho do qual agradecemos a todos aqueles que sempre têm colaborado na elaboração destes esquemas. Por sua vez, os sacerdotes deram-nos o seu estímulo e agradecem a ajuda preciosa deste trabalho.

Como os cânticos das missas do parto, com letras iguais, são cantados de diferentes maneiras, em diferentes paróquias da nossa

Diocese, assim o mesmo fio condutor destas missas do Parto, apresentado nestes esquemas aos nossos sacerdotes, que num grande espírito de abnegação, aliada à alegria do serviço pastoral não se furtam a sacrifícios para que estas novenas sejam um grande momento de festa. Não esquecendo, porém, e fazendo ver a todo o povo cristão aquilo que foi refletido no último Conselho Presbiteral, passo a citar a passagem do comunicado final sobre as missas do Parto: “este novenário de preparação para o Natal é um dos elementos fundamentais da matriz cristã católica da nossa Diocese. Sendo momentos de encontro e celebração cristã, são oportunidades pastorais que importa valorizar, quer no seu contexto de espiritualidade do natal, quer também no dinamismo que se desenrolam após a Eucaristia. O concelho realçou ainda o dever de se manter a identidade destas celebrações, com o cuidado de não de não desvirtuar o seu sentido e essência”.

O Conselho Diocesano de Pastoral deseja a todos os Sacerdotes

e suas comunidades um Santo Natal repleto de Bênçãos do Deus Menino.

TEMÁTICAS DAS MISSAS DO PARTO

1. Sexta, 16 de dezembro

Tema: A Igreja missionária, enviada a todos os povos da

terra

2. Sábado, 17 de dezembro

Tema: A Igreja, serva da Palavra de Deus

3. Domingo, 18 de dezembro.

Tema: A Igreja, sinal da presença salvadora de Deus -

Emanuel

4. Segunda, 19 de dezembro.

Tema: A Igreja, povo de Deus participante, pela fé, na

Páscoa de Jesus

5. Terça, 20 de dezembro.

Tema: «O Espírito Santo virá sobre ti». A Igreja, templo do

Espírito Santo

6. Quarta, 21 de dezembro.

Tema: A Igreja e o anúncio do reino de Deus

7. Quinta, 22 de dezembro.

Tema: A Igreja orante agradece os dons de Deus e

intercede pela humanidade

8. Sexta, 23 de dezembro.

Tema: A Igreja, serva e testemunha do perdão de Deus

9. Sábado, 24 de dezembro.

Tema: Deus visita o seu povo e constrói a sua casa

1-Sexta, 16 de dezembro

TEMA: A Igreja missionária, enviada a todos os povos da terra

Primeira leitura - Isaías 56, 1-3ª.6-8

Salmo – 66 (67), 2-3.5.7-8

Evangelho - João 5, 33-36

Meditando a Palavra.

«Respeitai o direito, praticai a justiça, porque a minha salvação está perto e a minha justiça não tardará a manifestar-se». A Palavra que o profeta Isaías transmite ao seu povo como Palavra de Deus tem uma extensão universal. A lei de Deus, consequência da justiça de Deus, isto é, da sua vontade de salvar o homem, ensina a ser justo. Deus dá a cada um o que é necessário para que ele seja humano na relação consigo mesmo, com os outros e com o mundo criado. Este caminho aberto, de que a lei é um sinal ainda provisório, não é reservado apenas a um povo mas a todos os povos. Sendo assim, também os estrangeiros podem aderir ao Senhor, servi-lo e amá-lo. Também eles são conduzidos ao monte santo para aí adorar a Deus, guardando o sábado, oferecendo os sacrifícios ao Senhor. Depois do Exílio na Babilónia, o templo de Jerusalém volta a ser a casa de oração não só para um povo mas também para todos os povos. Deus reúne os que estão dispersos em Israel e todos aqueles que o procuram de coração sincero. Porque a casa de Deus é a casa da oração, também é a casa da unidade, aberta a todos.

A Igreja tem como missão levar o Evangelho a todos os povos, abrindo-se generosamente a todos e convidando-os a seguir Jesus Cristo. O que Deus faz em Israel, realiza-o plenamente em Jesus

Cristo. Assim a Igreja aparece como o povo reunido no novo templo que é o corpo de Jesus. Quando Deus nos reúne faz-nos sair de nós mesmos, para ir ao encontro dos outros. Esta hospitalidade há-de fazer parte do testemunho da Igreja e de cada um de nós na Igreja.

João Batista, no Evangelho, é chamado a «testemunha da verdade» porque abre o caminho para a vinda do Filho de Deus. Deste modo, o testemunho de João tem o seu fundamento no testemunho do Filho que, por sua vez, é testemunha do Pai. Jesus revela a vontade do Pai de que nenhum homem se perca mas que se converta e viva. Como João Batista e, mais ainda, como Jesus, nós somos também testemunhas. A Igreja é a comunidade dos que vivem o testemunho de Jesus. Não basta escutar a Palavra, é preciso vivê-la. O testemunho une a palavra e a vida.

-A missão da Igreja centra-se no anúncio do testemunho de Jesus.

-Dirige-se a todos, em todas as circunstâncias da vida. Mantém a disposição acolhedora de Jesus sem deixar, ao mesmo tempo, de ser testemunha da verdade, isto é, das exigências do Evangelho.

-Da missão da Igreja faz parte o trabalho para a unidade, para a justiça e para a paz. Deus reúne o seu povo, mas dá-nos também a responsabilidade de trabalhar pela unidade e pela justiça no mundo.

- «A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos». É o que acontece nas nossas Igrejas, nas nossas liturgias?

2-Sábado, 17 de dezembro

Tema: A Igreja, serva da Palavra de Deus

Primeira leitura - Génesis 49, 2.8-10

Salmo – 71 (72), 2-4.7-8.17

Evangelho - Mateus 1, 1-17

Meditando a Palavra

Na sua velhice e pressentindo a proximidade da morte, o patriarca Jacob convoca os filhos para lhes legar como herança a sua própria palavra que é na realidade uma profecia sobre o futuro de cada um deles. Quando o horizonte do fim da vida se aproxima e a fidelidade a Deus permanece, aumenta também a lucidez sobre o presente e clarificam-se os traços anunciadores do futuro. A herança que Jacob deixa aos filhos e, no caso da leitura de hoje, a Judá, não é um conjunto de bens materiais mas uma missão. Aqui a confiança é fundamental e o dever do pai é o de inspirar confiança aos filhos. Jacob observa que Judá viverá unido aos seus irmãos que o hão-de louvar, será forte diante dos seus inimigos e reinará com segurança até que venha aquele a quem pertence o ceptro e a quem os povos louvarão. O pai anuncia ao filho uma descendência duradoura e construtiva da qual germinará a esperança dum verdadeiro rei de todos os povos. A tribo de Judá é aquela aonde nascerá Jesus, descendente de Judá. Aliás, S. Mateus nota, na sua genealogia, que Jacob gerou Judá e seus irmãos. Isso basta para compreender que as palavras de Judá aos filhos apontam finalmente para Jesus. A autoridade de Jacob enraíza-se na escuta da Palavra de Deus e na promessa feita a Abraão. Esta é a herança

que tem a transmitir aos seus filhos. Escuta e transmissão da Palavra, tal é também a missão da Igreja em todos os tempos e a de cada um de nós ao longo das gerações. É à volta da Palavra que Jacob reúne os filhos e é também a Palavra de Deus que convoca e reúne a Igreja. Esta convocação é ao mesmo tempo uma missão. Quando recebemos e assimilamos a Palavra pela qual Deus, na sua autoridade, nos interpela, também somos responsáveis pela sua transmissão. A Igreja constrói-se pela escuta e pela transmissão da Palavra de Deus e é essa escuta e transmissão que nos tornam vigilantes face aos desafios de cada tempo.

S. Mateus apresenta, no início do seu Evangelho, a genealogia de Jesus. A sucessão das gerações mostra-nos como a Palavra de Deus vem do céu mas fecunda a terra. Deus escolhe a humanidade em tudo o que ela é com as suas aspirações e capacidades, mas também limites e pecado. Na genealogia de Jesus há homens e mulheres que viveram a fidelidade à Aliança apesar do seu pecado e aceitaram converter-se. Deus não olha à condição social nem mesmo à raça. Orienta pacientemente os tempos para a novidade que introduz na história. «Jacob gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo». Interrompe-se a continuidade das gerações para dar lugar à novidade do que se realiza em Maria, virgem e mãe, porque dela nasce o Filho de Deus.

-É a autoridade da Palavra de Deus que faz crescer a Igreja. A Igreja não é uma simples associação de bem-fazer. É a Palavra que a reúne, como Jacob, no fim da sua vida, reúne os filhos.

-O que recebemos na fé, somos chamados a transmiti-lo com o nosso testemunho, como o faz Jacob. A fé não é simplesmente uma instrução. É uma vivência que dá sentido à vida e que nos

reúne numa autêntica família. É bom que nos lembremos disso, em especial os pais que têm os filhos na catequese.

-A genealogia de Jesus mostra-nos que Deus está próximo do homem e é esta proximidade que faz parte do nosso testemunho de fé vivida em Igreja. Ao mesmo tempo, a novidade do nascimento de Jesus torna-nos vigilantes porque o Evangelho é como um fermento renovador em relação a todas as ideologias, modas e ideias feitas da vida e mentalidade de cada tempo.

3- Domingo, 18 de dezembro

Tema: A Igreja, sinal da presença salvadora de Deus - Emanuel

Primeira leitura – Isaías 7, 10-14

Salmo – 23 (24), 1-6

Segunda leitura – Carta aos romanos 1, 1-7

Evangelho – Mateus 1, 18-24

Meditando a Palavra.

Num tempo difícil para Israel, devido à invasão próxima de povos estrangeiros, Deus envia o profeta Isaías ao rei Acaz para fazer-lhe uma proposta: «Pede um sinal ao Senhor teu Deus». Este convite dá conta já da atenção de Deus aos acontecimentos da história embora a sua intervenção esteja sujeita, num primeiro momento, ao pedido efetivo de Acaz. Deus não envia um sinal sem que ele seja realmente solicitado, o que Acaz precisamente recusa. Podemos ver nisso uma falta de fé porque o rei pretenderia

resolver por si mesmo a situação difícil em que se encontrava, confiando apenas nos seus meios. Também podemos ver na recusa de Acaz uma forma de respeitar a ação de Deus porque os seus sinais não são à medida do homem. Todo o que pede um sinal deve reconhecer que a resposta de Deus é sempre nova em relação às suas expectativas. Se Deus age através de sinais e nos incita a pedi-los, percebemos, no entanto, que eles implicam a conversão de vida, a retidão do pensamento e da ação para que sejam entendidos como tais. A recusa de Acaz em pedir um sinal vai finalmente abrir o campo para uma iniciativa inesperada de Deus. Eis o sinal: a virgem conceberá e dará à luz um filho e o seu nome será Emanuel. O povo de Deus que espera o sinal pode ser comparado à virgem que concebe mas o filho que vai nascer é obra de Deus. Finalmente, esta Palavra encontra pleno sentido no nascimento de Jesus da virgem, filha de Sião.

É a novidade deste sinal que o anjo anuncia em sonho a José, como nos diz S. Mateus no seu Evangelho. Surpreendido com o que se passava com a sua noiva, ele decide respeitar o mistério que envolvia a sua gravidez, repudiando-a em segredo. S. Mateus chama-o o «homem justo», o homem da esperança, até que o Senhor lhe revele o que acontece a Maria como o grande sinal dado do seu amor pelo seu povo e por todo o homem. Não temas, diz-lhe o anjo. Abre-te à fé. Aceita o sinal que não esperavas mas que o Senhor se dignou enviar-te. Agora realiza-se o sinal do Emanuel, do Deus connosco, sinal que deve ser aceite no silêncio e guardado num coração justo e fiel.

O grande sinal de Deus para a salvação do homem é Jesus Cristo. Ele é o Emanuel. A Igreja tem por missão ser sinal do Emanuel. Ela é o sinal – sacramento – da união dos homens com Deus e entre si. É o sinal de que todo o homem é feito para Deus e

de que a sua vocação divina é ao mesmo tempo aspiração à unidade e à paz. Ela é, como S. Paulo, a serva de Jesus Cristo, enviada a todos os povos. Para ser sinal, cada um de nós precisa de converter-se cada dia e seguir Jesus Cristo na sua Páscoa, vencer a indiferença e saber reconhecer os sinais de Deus em cada dia.

-Deus fala sempre através de sinais, o primeiro dos quais é a sua Palavra. Como sinal de Deus na humanidade, a Igreja está ao serviço do anúncio da Palavra que é Jesus Cristo. Como cada um de nós, ela precisa de converter-se cada dia ao Evangelho para ser o sinal que Deus quer para o mundo. Ela é ao mesmo tempo mensageira da esperança e portadora de um olhar vigilante e crítico sobre o mundo de hoje.

-Para ser cristãos e viver em Igreja não podemos prescindir dos sinais de Cristo que são os sacramentos. O individualismo entre os cristãos prejudica a vida de fé que tem sempre um carácter comunitário. A nossa relação com Cristo põe-nos em comunicação. Faz de nós uma única família. Os sacramentos da Igreja representam a visibilidade do dom de Deus para a nossa vida e reúnem-nos num só povo. Esta unidade salva-nos da solidão, da indiferença e da dispersão.

4-Segunda, 19 de dezembro

Tema: A Igreja, povo de Deus participante, pela fé, na Páscoa de

Jesus

Primeira leitura – Juízes 13, 2-7.24-25a

Salmo 70 (71), 3-4a.5-6ab.16-17

Evangelho Lc 1, 5-254

Meditando a Palavra

As passagens que hoje ouvimos no livro dos Juízes e no Evangelho mostram-nos, como diz o provérbio, que Deus sabe escrever direito por linhas tortas. Ele sabe fazer renascer a fé e a esperança nas situações impossíveis. O que parece ser um caminho sem saída, um problema sem solução à vista, dum momento a outro, pela ação do Senhor, transforma-se numa fonte de esperança para o povo de Israel e é sinal de que Deus torna possível as muitas impossibilidades dos homens diante dos problemas e preocupações da sua vida. O livro dos Juízes fala-nos do tempo de transição no qual o povo de Israel, entrando na terra da promessa, deve instalar-se no meio de povos estrangeiros, enfrentando-os e procurando alianças para habitar em paz a sua terra. Neste momento, Israel precisava de chefes corajosos, íntegros, fiéis à lei da Aliança. É Deus que os suscita duma maneira inesperada, tornando fecundos casais estéreis que podiam à partida ser postos de parte e considerados indignos da posteridade de Israel. No entanto, o Senhor não olha à condição das pessoas mas espera a fidelidade e a sinceridade da sua fé. Envia o seu anjo à mulher de Manoé, anunciando-lhe que terminou a sua esterilidade e que proximamente terá um filho. Este filho ser-lhe-á consagrado e, no

futuro, tornar-se-á um chefe de Israel. A mulher partilha ao marido o anúncio do anjo do Senhor e ambos podem preparar-se para nascimento deste filho a quem dão o nome de Sansão. Deus tinha preparado este casal estéril para receber aquele que será um dos grandes Juízes do povo de Israel.

No Evangelho, é também dum casal estéril que Deus faz renascer a esperança no povo de Israel. Desta vez, trata-se dum casal da tribo sacerdotal e é durante o seu serviço no templo de Jerusalém que Zacarias é interpelado pelo anjo, anunciando-lhe um filho na sua velhice. «Ele será grande aos olhos do Senhor». Viverá «cheio do Espírito Santo», «reconduzirá muitos dos filhos de Israel ao Senhor», fará «voltar o coração dos pais a seus filhos». Zacarias, no entanto, não foi capaz de vencer, pela sua resposta, o «não temas» do anjo. As suas reticências fecharam-no, por um tempo, à obediência da fé mas Deus quis preparar-lhe o caminho, impondo-lhe o silêncio até ao nascimento do Filho. O temor condena, na verdade, ao silêncio. A palavra proferida abre à esperança, ao dom da vida.

- A Igreja é o povo de Deus capaz de reconhecer que ele age nas contradições e impasses da sua vida e da história do mundo, sabendo escrever direito por linhas tortas. Não há situações impossíveis quando se acredita que o Espírito Santo age na vida da Igreja. A fé torna-nos capazes de fazer das inquietações e problemas de cada tempo, a matéria da nossa comunhão com a Páscoa de Jesus. Não é verdade que andamos facilmente à busca de sucessos quantificáveis, desanimando com facilidade quando as coisas não nos correm de feição? Fazer nossa a Páscoa de Jesus é aceitar surpreender-se pela acção de Jesus Cristo e do seu Espírito na vida da Igreja, sem deixar-se vencer pela amargura que leva

tanto ao silêncio de Zacarias como a uma atitude crítica demolidora.

- Não esqueçamos que Deus vai à busca dos últimos, como o Pastor ao encontro da ovelha perdida. Em Israel, a esterilidade era, de certo modo, sinal de exclusão. Ora, é esta exclusão que Deus transforma em sinal de fecundidade para o crescimento do povo de Deus. Esta preferência pelos últimos que serão no Reino de Deus os primeiros, há-de ser uma opção permanente da Igreja.

5- Terça, 20 de dezembro

Tema: «O Espírito Santo virá sobre ti». A Igreja, templo do Espírito

Santo

Primeira leitura – Isaías 7, 10-14

Salmo 23 (24), 1-6

Evangelho – S. Lucas 1, 26-38

Meditando a Palavra

Na leitura de Isaías, o rei Acaz recusa pedir um sinal a Deus e dá como justificação da sua recusa o facto de não querer pôr Deus à prova. Que significa «pôr Deus à prova»? Nós sabemos que Deus não é como o homem e, no entanto, sabemos atribuir traços do temperamento humano a Deus. Fazemos dele, por vezes, um aliado nas nossas causas sem procurar saber primeiro se são causas justas e dignas d’Ele. Nos sofrimentos da vida, invocamo-lo e queremos que ele atue conforme os nossos pedidos. Queixamo-nos quando a resposta tarda ou não vem no momento que queremos. Às vezes

mesmo, pomos Deus do nosso lado para julgar os outros. Pôr Deus à prova é uma forma de invocar o nome de Deus em vão, é sujeitá-lo aos nossos interesses e conveniências, fazer dele mais um ídolo do que o Emanuel que caminha connosco sem se prender às nossas representações e imagens, sem deixar-se instrumentalizar pelas nossas intenções. Embora Deus tenha deixado no mais fundo de nós mesmos a sua imagem, ele proíbe-nos de fazer d’Ele qualquer imagem que não seja a que Ele mesmo nos apresenta na pessoa de Jesus Cristo, o Deus connosco. Para conhecê-lo, precisamos da sua graça, do seu Espírito que nos abre ao conhecimento da sua Palavra e à conversão da nossa vida. É pela ação do seu amor que nos aproximamos d’Ele. A Igreja é chamada a ser o lugar da proximidade e do respeito do rosto de Deus que dá fundamento à dignidade humana. Na medida em que anuncia Jesus Cristo, é na Igreja que aprendemos a amar a Deus, conhecendo-o e respeitando o seu Nome. Deus, dizia, Santo Agostinho, é mais íntimo do que o meu íntimo e superior ao que há de mais alto no mundo.

Quando o arcanjo Gabriel se dirige a Maria para lhe anunciar que Deus a escolheu para ser mãe do Messias, diz-lhe com brevidade e determinação: «Avé, ó cheia de graça, o Senhor está contigo». A proximidade do Senhor é fonte de alegria. Na língua grega, Avé significa «Alegra-te». Quando a Palavra de Deus é proclamada e acolhida, então germina a alegria. Essa alegria vem do amor de Deus por nós. Maria é cheia de graça, isto é, cheia da caridade que é o próprio Deus, cheia do Espírito Santo. O anjo não a convida a pedir um sinal mas apresenta o sinal do alto para que o acolha. Todo o diálogo que se segue é já um ato de confiança da parte de Maria. Ela será mãe do Filho do Altíssimo em virtude do Espírito Santo que vem habitar nela como num templo. Maria responde ao sinal dado com o sim de toda a sua vida: «Eis a escrava

do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra». Ela aceita o sinal de Deus e deixa-se transformar por ele. É dispondo-se para fazer a sua vontade que ela realizará a sua vocação materna.

-O Espírito Santo age na Igreja como num templo. Ele gera em nós a interioridade necessária para que acolhamos o Emanuel.

- A autêntica alegria vem de dentro e faz-nos entrar em nós mesmos para descobrirmos aí o lugar do nascimento da Palavra de Deus em nós. É a partir daqui que nasce a comunhão com os outros.

-A nossa resposta ao amor de Deus é sempre uma resposta comunitária. O louvor é comum, como a gratidão. É no dom de nós mesmos que nos damos também a Deus. Graças ao Espírito Santo que age na Igreja, cada um de nós aprende a dizer com Maria: Faça-se a tua vontade. A vontade de Deus é que todo o homem tenha vida e a vida verdadeira é comunhão com Ele e uns com os outros.

6- Quarta, 21 de dezembro

Tema: A Igreja e o anúncio do reino de Deus

Primeira leitura – Cântico dos cânticos 2, 8-14

Salmo 32 (33), 2-3.11-12.20-21

Evangelho – Lucas 1, 39-45

Meditando a Palavra

O livro do Cântico dos Cânticos, abundantemente comentado na tradição espiritual da Igreja, é um cântico de amor que foi aplicado ao cristão e à Igreja na sua totalidade. Se o amor

de Deus se manifesta em plenitude na Páscoa de Jesus e ele é o esposo do seu povo, a comunidade reunida, a Igreja, é a esposa de Cristo. Como afirma o Concílio Vaticano II, «Cristo ama a Igreja como esposa, fazendo-se modelo do homem que ama sua mulher como o próprio corpo; e a Igreja, por sua vez, é sujeita à sua cabeça». O mesmo amor nupcial existe entre Cristo e cada crente, marcado com o sinal da sua Páscoa desde o Batismo. Por isso, a voz do amado é para nós o eco da Palavra de Cristo, sinal do seu amor. É Ele que nos desperta e nos levanta pela sua Ressurreição. Ele anuncia que, nos momentos difíceis, ao Inverno da vida vai suceder uma nova primavera. Este é um convite a sair de si mesmo, a converter-se, a deixar as mágoas da vida passada para encontrar o perdão de Deus. Deus deseja este encontro connosco porque nos ama e quer dar-nos o seu amor, o único pelo qual nos tornamos verdadeiramente nós mesmos. O amor faz crescer o outro enquanto outro. Tal é o amor de Cristo que nos abre ao dom da vida, à generosidade, ao serviço.

Depois de ter respondido com o dom de si mesma ao chamamento divino, Maria pôs-se a caminho «apressadamente», pelas montanhas de Judá, para comunicar a Palavra que tinha recebido de Deus e que germinou no seu seio. A pressa de Maria é sinal do seu amor, como a esposa do cântico dos cânticos vai ao encontro do seu esposo, para receber dele o anúncio dum tempo novo. A alegria não pode deixar de ser comunicada e nasce do encontro das mães e dos filhos: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?». Maria leva Cristo a sua prima Isabel e esta recebe a mãe e o Senhor com grande veneração e alegria. Ambas são felizes porque acreditaram. O canto do

Magnificat começa a ser partilhado por todas as gerações e é já o sinal da presença do Reino de Deus entre os homens.

O testemunho cristão nasce da nossa resposta ao amor de Deus que nós conhecemos em Jesus Cristo. Só este amor faz de nós missionários do Evangelho. Só este amor faz-nos capazes de sair de nós mesmos para irmos ao encontro dos outros levando-lhes Jesus Cristo, como Maria ao encontro de Isabel.

-A Igreja, diz a constituição Lumen Gentium, «enriquecida com os dons do seu fundador e guardando fielmente os seus preceitos de caridade, de humildade e de abnegação, recebe a missão de anunciar e instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos e constitui o princípio e o germe deste mesmo Reino na terra. Enquanto vai crescendo, suspira pela consumação do reino e espera e deseja juntar-se ao seu rei na glória» (nº 5). O anúncio do Reino requer o entusiamo e a fidelidade de quem ama.

-Se não estamos convencidos, graças à fé, de que existe uma certa harmonia entre o Evangelho de Jesus, entendido na sua plenitude, e a aspiração secreta posta por Deus no fundo do homem de todos os tempos, faltar-nos-á a audácia apostólica que é a única que pode atingir o homem do nosso tempo. O Evangelho assume as autênticas aspirações humanas, convertendo-as a Cristo e levando-as assim à sua plena realização.

7- Quinta, 22 de dezembro

TEMA: A Igreja orante agradece os dons de Deus e intercede pela

humanidade

Primeira leitura – 1 Samuel 1, 24-28

Salmo – Cântico de Ana, 1 Sam 2,1.4-8

Evangelho – Lucas 1, 46-56

Meditando a Palavra

Ana conduz o seu filho Samuel ao Templo para oferecê-lo ao Senhor, em resposta ao voto que lhe fez. Na verdade, ela tinha prometida que se o Senhor pusesse fim à sua esterilidade e lhe desse um filho, essa criança ser-lhe-ia oferecida. Com o filho, Ana leva o necessário para oferecer um sacrifício no Templo de Silo. A este gesto, ela junta a sua palavra de gratidão e de louvor. A sua oração foi ouvida. O filho que lhe foi dado pertence agora ao Senhor. Por isso, a mãe entrega-o ao Templo fazendo de certo modo o dom da sua maternidade. O Senhor, que lhe tinha concedido o filho, destina-o a ser profeta e espera dele uma palavra de resposta a este chamamento. A gratidão pelos dons de Deus engrandece o coração humano. Ela é uma fonte de humanidade e de unidade na família e entre as famílias. Ela revela-nos a generosidade de coração. Ela é um sinal de fidelidade. Em geral, habituamo-nos a ser exigentes em relação aos outros mas esquecemos o que também recebemos deles. A gratidão é uma forma de sair de si, o reconhecimento de que crescemos conjuntamente no dom mútuo. A oração de louvor é um sinal de gratidão e ela constrói a nossa unidade na família e entre famílias, precisamente como família de Deus.

O Magnificat brota do encontro entre Maria e a sua prima Isabel. No encontro e graças à palavra de Isabel, Maria reconhece que a sua maternidade é um dom de Deus e faz dom de si mesma louvando o Senhor. A sua gratidão é a alegria de ser chamada por Deus. Uma alegria que ela partilha com o seu povo que é, em primeiro lugar, o destinatário da sua maternidade. A gratidão e o cântico de louvor avivam a memória. Por isso, a humilde serva assume a história do seu povo, como se partilhasse com ele a sua maternidade. A fidelidade de Deus mantém-se de geração em geração. Na sua justiça e sabedoria, Ele dispersa os soberbos, derruba os poderosos e exalta os humildes. Na sua misericórdia, Ele cumpre a promessa feita a Abraão e à sua descendência. No canto do Magnificat a memória ajuda a ler o presente e abre à esperança. O louvor é gratidão e intercessão ao mesmo tempo.

- A oração de Ana e de Maria anunciam a oração da Igreja feita de gratidão pelo dom de Deus – Jesus Cristo – oferenda se si mesma e de toda a humanidade como Corpo de Cristo, intercessão pelas necessidades dos homens e mulheres de cada tempo. A gratidão, a oferenda e a intercessão exprimem o dom da vida no seguimento de Jesus. O que damos a Deus aproxima-nos, faz-nos generosos e gratos com os outros porque pedimos uns pelos outros e uns com os outros.

- Promover o encontro para a oração é importante para as famílias e as comunidades cristãs. É assim que a Igreja se constrói.

- A oração comum beneficia a cada um e a todos: a cada um porque, para ser verdadeira, ela leva ao dom de si; a todos, porque a comunhão nasce da generosidade e da alegria pelo dom da vida, como Maria no Magnificat.

8-Sexta, 23 de dezembro

TEMA: A Igreja, serva e testemunha do perdão de Deus

Primeira leitura – Malaquias 3, 1-4.23-24

Salmo 24 (25), 4-5.8-10.14

Evangelho Lucas 1, 57-66

Meditando a Palavra

O profeta Malaquias designa o dia da vinda do Senhor como o dia da purificação e da reconciliação. O mensageiro que o Senhor vai enviar para abrir o seu caminho anunciará ao mesmo tempo esta purificação e esta reconciliação. Duas imagens são empregadas pelo profeta para simbolizar esta purificação: o fogo do fundidor e a lixívia dos lavandeiros. Ambas significam a ação do próprio Deus no seio da humanidade pecadora. Ele afasta o pecado e transforma o pecador para que encontre vida nova na fidelidade à Aliança e seja justo. Os tempos não caminham finalmente para o declínio da morte mas para a grande transformação de Deus. Por isso, o anúncio do dia do Senhor é sempre sinal de passagem para a vida, sinal de esperança. Deus nunca deixa, através dos seus profetas, e na figura emblemática de Elias, de chamar à reconciliação porque, se o seu dia é «grande e terrível» como afirma Malaquias, isso não se deve a uma ação divina devastadora mas à instauração dos tempos novos da reconciliação e da paz. Este é aliás o anúncio do novo Elias que há-de vir: reconduzir o coração dos pais a seus filhos e o coração dos filhos a seus pais. Tal é a missão de João Batista no limiar dos tempos novos, assim como dos Apóstolos depois da Páscoa. A Igreja, transformada pelo perdão

pascal, é chamada a ser anunciadora do perdão, condição para a paz. A glória de Deus e a paz na terra passam pela reconciliação.

O silêncio de Zacarias, resultante da sua falta de fé no anúncio do Anjo sobre o nascimento do filho, é um caminho de purificação e de conversão. Há silêncios que fecham em si e afastam dos outros, mas não é esta a atitude de Zacarias. O seu silêncio é o da meditação da Palavra de Deus, do confronto interior consigo mesmo, da abertura progressiva à fé na ação de Deus. No momento decisivo, ele soube reconhecer a verdade do anúncio do anjo. O tempo do silêncio foi o da sua conversão. Ele confirma, como sua esposa Isabel, que o nome do filho será João. Rompe assim a tradição de escolher o nome do filho entre os nomes de família, evocando a novidade da missão que lhe fora anunciada para este filho. Ele é o novo Elias a quem o Senhor incumbe de «converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos» Lc 1, 17. Zacarias percorre o itinerário do silêncio e da meditação, oportunidade para a conversão, até à efusão da palavra de louvor a Deus, sinal da capacidade de comunicação que Deus dá a quem se converte.

-É nossa missão na Igreja viver a reconciliação e o perdão de Deus, para sermos missionários desse perdão.

-Nunca devemos desistir de esperar, rezar e agir para a reconciliação com todos e em especial no interior da família.

-Estamos conscientes de que o tempo do Advento e Natal é para nós um tempo para a reconciliação nas famílias, sem a qual não há verdadeira festa?

- A conversão a que somos chamados precisa do silêncio da oração para poder abrir-nos a uma comunicação sã e verdadeira entre nós.

9 – Sábado, 24 de dezembro

TEMA: Deus visita o seu povo e constrói a sua casa

Primeira leitura 2 Sam 7, 1-5.8b-12.14a.16

Salmo 88 (89), 2-5.27.29

Evangelho Lucas 1, 67-79

Meditando a Palavra

O rei David anuncia ao profeta Natã a sua vontade de construir um templo para honrar e adorar a Deus que o fez chefe de Israel. Não é justo, diz David, que a arca de Deus se encontre numa tenda, como no tempo do deserto, enquanto o rei já possui uma casa de cedro. Natã não tem nada a opor a este desejo que é sinal de gratidão mas Deus faz-lhe saber que ninguém pode circunscrever a sua presença e a sua ação a um lugar. O lugar da sua presença é o mundo que ele criou e o povo que ele escolheu como sinal de salvação para os outros povos. Não são os homens que constroem uma casa para Deus, mas antes Deus que edifica a sua casa para os homens. Deus não se deixa fixar num lugar nem numa imagem. Ele é o Deus da Páscoa, da passagem, do Êxodo, da peregrinação. O verdadeiro templo de Deus é a sua presença na história pessoal de David e do seu povo: «Tirei-te das pastagens», «Estive contigo», «Dar-te-ei um nome» ilustre, «prepararei um lugar para o meu

povo», «farei que vivas seguro». Todas as dimensões do tempo são transformadas pela Palavra de Deus: o passado leva à gratidão, o presente ao louvor, o futuro à esperança. O Senhor constrói a sua casa. «Se o Senhor não edificar a sua casa, em vão trabalham os que a constroem», diz o salmo 126.

O cântico de Zacarias, após ter recuperado a fala, é uma vasta ação de graças pelas obras de Deus. Ele «visitou e redimiu o seu povo». A visita de Deus é a sua Palavra dirigida ao homem desde a criação. É uma visita salvadora e constante ao longo da história. Deus envia um «salvador poderoso» e cumpre assim a promessa feita a Abraão e à sua descendência. A fidelidade de Deus e a sua misericórdia ao longo das gerações andam sempre unidas. A sua vinda é como «o sol nascente» que ilumina e vence a noite do mundo. A luz que brilha na aurora é a do nascimento de Jesus, luz que atravessa os séculos e continua a trazer a salvação. É assim que Deus constrói a sua casa e partilha connosco o seu amor.

- A Igreja é a construção de Deus. É a conformidade de vida ao Evangelho que faz crescer a Igreja. Isso liberta-nos do pessimismo e de querer construir apenas com as nossas forças e aptidões. Livra-nos também da tristeza que poderiam provocar as desilusões e os fracassos, unindo a nossa vida à cruz de Jesus.

-A luz de Cristo continua a nascer na Igreja vencendo a noite do pecado, da divisão e das pretensões humanas. Ela nasce em nós quando o recebemos na nossa vida, deixando-nos transformar por Ele.

- O facto de Deus construir a sua casa – a Igreja -, em nada diminui o nosso empenho. Pelo contrário, somos chamados a agir com o melhor de nós mesmos, pondo ao serviço de todos os dons que recebemos na Paróquia, no movimento a que pertencemos, na vida diocesana.

VIRGEM DO PARTO Virgem do Parto, Ó Maria,

Senhora da Conceição Dai-nos as festas felizes

A paz e a salvação.

Senhora Virgem do Parto, Que nesse altar estais

Atendei-nos, carinhosa, Os filhos que tanto amais

Louvada sejais, Senhora,

E a Vossa Conceição Vós sois a Mãe protetora

Da portuguesa nação.

Dai-nos festas mui felizes Alegria, amor, unção;

Conservando nossas almas, No teu meigo coração.

Imagem de Nossa Senhora da Assunção Padroeira da Sé do Funchal

“O olhar materno de Maria nos ajude a ganhar um coração corajoso e alegre, para vivermos em Cristo.”

Cf. D. António Carrilho Programa Pastoral,2016-2017