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  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

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  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    3

    ALGUNS ASPECTOS DAUTILIZAO DO HERBICIDAGLIFOSATO NA AGRICULTURA

    Janeiro 2005

  • 4ISBN e expedientes

    ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA

    GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    Autores

    Antonio J. B. Galli Gerente Tcnico de Agroqumicos Monsanto do Brasil Ltda.

    Marcelo C. Montezuma PD Especialista Monsanto do Brasil Ltda.

    Revisores

    Ecosafe Agricultura e Meio Ambiente Ltda. Jaboticabal/SP

    Joo Domingos Rodrigues Prof. Titular da Unesp, campus de Botucatu/SP

    Jos A. Quaggio Pesquisador Cientfico do Centro de Solos e Recursos Agroambientais do

    Instituto Agronmico - IAC

    Pedro J. Christoffoleti Prof. Associado do Dept.o de Produo Vegetal da Esalq/USP

    Projeto Grfico e Editorao Eletrnica

    Activa Design

    www.activadsp.com.br

    Editora

    ACADCOM Grfica e Editora Ltda

    2005

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    5

    Nossos agradecimentos pela reviso cientficaaos Professores Titulares da UNESP

    Robinson Antonio Pitelli (Jaboticabal/SP) eJoo Domingos Rodrigues (Botucatu/SP);

    ao Professor Associado do Dept de Produo Vegetal da ESALQ/USP,Pedro J. Christoffoleti;

    e ao Pesquisador Cientfico do Centro de Solos e RecursosAgroambientais do Instituto Agronmico IAC,

    Jos A. Quaggio;

    Nossos agradecimentos tambm aos funcionrios da Monsantoque contriburam para este material:

    Cristina Rappa, Daniella Braga, Donna Farmer,Jos Eduardo Vieira de Moraes,

    Geraldo Ubirajara Berger, Juliana Aoki,Marcelo Ernandes, Mrcio Joo Scala,

    Miriam Frugis, Ricardo Miranda e Silvia Yokoyama.

  • 6Desde o incio da agricultura e da pecuria, as plantas que

    infestavam espontaneamente as reas de ocupao humana e que no

    proporcionavam alimentos, fibras ou forragem eram consideradas

    indesejveis e foram rotuladas de plantas daninhas. Essas plantas, em

    termos de nomenclatura botnica, so consideradas plantas pioneiras, ou

    seja, plantas evolutivamente desenvolvidas para a ocupao de reas onde,

    por algum motivo, a vegetao original foi profundamente alterada, abrindo

    grandes nichos para o crescimento vegetal. Elas tm a funo de criar

    habitats adequados ao incio de uma sucesso de populaes, culminando

    com o restabelecimento da vegetao original.

    Com o desenvolvimento da sociedade humana, ocorreu no

    s a continuidade como a expanso geogrfica das reas de agricultura e

    pecuria, o que permitiu a evoluo das plantas pioneiras e o aparecimento

    de novas espcies. Assim, as comunidades infestantes foram se tornando

    cada vez mais densas, diversificadas e especializadas na ocupao dos

    agroecossistemas, passando a interferir profundamente nas atividades

    agrcolas. Assim, esse tipo de vegetao passou a ser alvo de controle.

    No incio, a atividade de controle restringia-se monda das

    plantas daninhas que se destacavam em termos de porte. Esse tipo de

    manejo promoveu uma seleo antropognica das plantas de pequeno

    porte ou de hbito mais prostrado. A queima dos restos culturais logo

    aps a colheita representava outra prtica agrcola com grande impacto

    de controle das plantas daninhas e que promovia uma ao de seleo

    para plantas de ciclo mais curto, com rpida produo de propgulos,

    afetava a biodiversidade local com intensa mortalidade de insetos e outros

    animais.

    PREFCIO

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    7

    Mais tarde, com o desenvolvimento dos primeiros

    equipamentos agrcolas, a capina manual passou a predominar nos campos

    agrcolas, favorecendo a seleo de plantas com propagao vegetativa e

    com habilidade de rebrota precoce. Esse tipo de seleo foi incrementado

    com a utilizao da trao animal, que permitiu a intensificao da

    mobilizao do solo como uma das formas de eliminao das plantas

    daninhas. O plantio em linhas foi uma prtica que, se por um lado facilitou

    a utilizao do cultivo manual e animal, por outro aumentou a

    disponibilidade de nichos adequados instalao e ao desenvolvimento

    das plantas daninhas.

    Na primeira metade do sculo 20, a mecanizao agrcola foi

    a grande arma para o controle das plantas daninhas, devido fora e

    diversidade dos equipamentos de preparo do solo, os quais eram eficientes

    nas mais diversas situaes da agricultura mundial. Inicialmente, a inverso

    da leiva promovida pela arao realocava as sementes depositadas na

    superfcie do solo para camadas profundas, onde a maioria morria. A

    dormncia e a capacidade de reconhecimento da posio das sementes

    no perfil do solo passaram a constituir um forte fator de seleo para esse

    tipo de vegetao espontnea. Assim, aps anos de agricultura mecanizada,

    as plantas daninhas desenvolveram inmeros e complexos mecanismos

    de dormncia de suas estruturas reprodutivas, resistncia aos

    decompositores e predadores do solo, grande descontinuidade na

    germinao e capacidade de germinar e emergir de camadas mais profundas

    do solo. Nessa fase do controle de plantas daninhas, o processo erosivo e

    a depleo dos teores de matria orgnica constituram importantes

    impactos ambientais, at hoje no reparados.

    Na segunda metade do sculo 20, houve aumento expressivo

    do controle qumico com o desenvolvimento da indstria de herbicidas.

    Nesse perodo, grande nmero de produtos de diferentes classes qumicas

    e modos de ao foram liberados no mercado. Devido grande diversidade

    dos modos e mecanismos de ao dos herbicidas, no houve uma presso

    de seleo especfica de uma ou outra caracterstica da vegetao. Na

    ltima dcada, com a utilizao de herbicidas que atuam em stios muitos

    especficos do metabolismo vegetal, comearam a aparecer as primeiras

    populaes resistentes, decorrentes da presso de seleo promovida pelos

  • 8herbicidas ou um grupo de produtos com o mesmo modo de ao. A

    confiana que os agricultores depositaram no controle qumico foi a

    principal responsvel pela grande expanso dessa modalidade de manejo

    de plantas daninhas.

    A evoluo da urbanizao, o crescimento da populao

    humana, o avano tecnolgico na produo e conservao de alimentos,

    dos meios de transporte, do controle de plantas daninhas, pragas, fungos

    e organismos indesejveis em residncias foram praticamente exponenciais,

    sendo a conquista mais rpida que a capacidade de entendimento de seus

    efeitos ambientais, sociais e econmicos no longo prazo.

    Com os pesticidas, devido sua natureza declaradamente

    txica, os cuidados foram maiores que para outros produtos, como tintas,

    aditivos de alimentos e outros. No entanto, h ainda muito a ser entendido

    sobre o comportamento desses produtos no ambiente.

    Deste modo, consideramos que esta obra, elaborada para

    esclarecer resultados de pesquisa sobre o comportamento ambiental do

    glifosato, seja extremamente pertinente, pois essa uma molcula de

    importncia fundamental na competitividade de nossa agricultura.

    Considerando que o glifosato vem sendo utilizado no Brasil

    desde 1978 em numerosas condies de agricultura, reas urbanas,

    manuteno de estradas e ferrovias, envolvendo inmeras formulaes

    comerciais, produzidas por empresas com diferentes nveis tecnolgicos,

    no h evidncias cientificamente comprovadas de impactos importantes

    no ambiente.

    Robinson Antonio PitelliProf. Titular FCAV/ UNESP - Jaboticabal

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    9

    Introduo ........................................................................................................ Pgina 11

    Captulo I Forma de atuao nas plantas ......................................................... Pgina 12

    Captulo II A importncia da aplicao correta do glifosato para odesenvolvimento e a produtividade das culturas ........................... Pgina 14

    Captulo III Glifosato no manejo de plantas daninhas em culturas perenes ..... Pgina 19

    Captulo IV Glifosato segurana para as culturas ........................................... Pgina 27

    Captulo V A Clorose Variegada dos Citros (CVC) e o glifosato ...................... Pgina 30

    Captulo VI Comportamento do glifosato no solo e na gua ............................. Pgina 36

    Captulo VII O glifosato e as populaes microbianas do solo .......................... Pgina 44

    Captulo VIII Glifosato e a fixao biolgica de nitrognio na cultura da soja ..... Pgina 50

    Captulo IX Segurana para o homem e para o meio ambiente ........................ Pgina 53

    Captulo X Resistncia de plantas daninhas ..................................................... Pgina 56

    Consideraes Finais ................................................................................................ Pgina 59

    Referncias ........................................................................................................ Pgina 60

    NDICE

  • 10

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    11

    Esta publicao visa fornecer informaes sobre o uso do

    glifosato, um produto com uma histria de 30 anos de sucesso no manejo

    de plantas daninhas. So abordados seu modo de ao e seu

    comportamento no solo, na gua e nas plantas, alm de ser apresentado

    um sumrio sobre segurana ambiental e sade humana.

    Discutimos, ainda, os benefcios proporcionados por sua alta

    eficcia no controle das plantas daninhas, bem como seu impacto sobre a

    flora e sobre os microrganismos do solo.

    Tais temas so tratados de forma prtica e suas respostas so

    sempre fundamentadas nos conhecimentos cientficos atuais. Nossa

    inteno com esta publicao oferecer informaes sobre diversos pontos

    relacionados ao uso deste herbicida, to popular no apenas na agricultura

    brasileira como mundial, pois acreditamos no poder da comunicao para

    esclarecer dvidas e aprimorar o uso dos produtos, beneficiando, dessa

    forma, agricultores, fabricantes, a comunidade cientfica e a sociedade em

    geral.

    INTRODUO

  • 12

    I

    Forma de Atuaonas Plantas

    O glifosato um herbicida ps-emergente, pertencente ao

    grupo qumico das glicinas substitudas, classificado como no-seletivo e

    de ao sistmica. Apresenta largo espectro de ao, o que possibilita um

    excelente controle de plantas daninhas anuais ou perenes, tanto de folhas

    largas como estreitas.

    As aplicaes do produto devem sempre ser dirigidas sobre

    as plantas daninhas seguindo as recomendaes tcnicas e boas prticas

    agrcolas. Se utilizado dessa forma no causar qualquer interferncia no

    metabolismo, desenvolvimento ou produtividade das culturas para as quais

    recomendado.

    Quanto absoro, lembramos que o glifosato absorvido

    basicamente pela regio clorofilada das plantas (folhas e tecidos verdes) e

    translocado, preferencialmente pelo floema, para os tecidos meristemticos.

    O glifosato atua como um potente inibidor da atividade da 5-

    enolpiruvilshiquimato-3-fosfato sintase (EPSPS), que catalisadora de uma

    das reaes de sntese dos aminocidos aromticos fenilalanina, tirosina

    e triptofano, influencia tambm outros processos, como a inibio da sntese

    de clorofila, estimula a produo de etileno, reduz a sntese de protenas e

    eleva a concentrao do IAA (Cole, 1985; Rodrigues, 1994).

    Assim, toda vez que for aplicado de forma inadequada e entrar

    em contato com a cultura, o produto tambm expressar sua atividade

    herbicida e causar danos, guardadas as propores de dose e

    suscetibilidade da cultura.

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    13

    Os trabalhos desenvolvidos com o glifosato e que do

    sustentao s diferentes recomendaes de uso elaboradas pela Monsanto,

    bem como os trabalhos oficiais desenvolvidos para gerar os dados exigidos

    para o registro das marcas comerciais de acordo com a legislao vigente,

    so conduzidos em conformidade com as recomendaes tcnicas e boas

    prticas agrcolas, como se recomenda nas aplicaes comerciais.

    Os resultados obtidos nesses trabalhos, incluindo os dados

    de produo, corroboram a segurana do uso e a alta eficcia agronmica

    do produto, que, aliadas s prticas culturais adequadas e ao controle de

    plantas daninhas, promovem excelente desenvolvimento e rendimento das

    culturas.

    Isso mostra que, se for utilizado de forma adequada e dentro

    das recomendaes de bula, o glifosato bastante seguro para as culturas

    e as ajudar a expressar todo o seu potencial produtivo, dentro dos recursos

    disponveis.

  • 14

    IIA Importncia da Correta

    Aplicao do Glifosato para oDesenvolvimento e a

    Produtividade das Culturas

    A ampla utilizao do glifosato em vrias culturas, incluindo

    as perenes, desde a sua instalao (pr-plantio) at a fase produtiva, tem-

    se mostrado vantajosa em relao a vrios mtodos de controle de plantas

    daninhas, inclusive a capina manual. Aspectos relacionados toxicologia,

    ecotoxicologia, facilidade de manuseio, eficcia de controle, ganhos de

    produtividade etc. tornaram o produto lder mundial no controle de plantas

    daninhas.

    O glifosato, por ser um herbicida no-seletivo e altamente

    eficiente, se utilizado de forma inadequada poder ocasionar fitotoxicidade

    ou mesmo levar morte as plantas de interesse econmico. Por outro

    lado, o uso do produto como maturador para cana-de-acar, aplicado

    em baixas doses conforme recomendao de bula, promove ganhos

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    15

    significativos de sacarose, sem qualquer efeito negativo sobre a cultura.

    Em ensaio conduzido para se avaliar a movimentao do

    glifosato em frutferas, Putnam em 1976 aplicou o produto em plantas jovens

    de ma, pra, cereja e pssego. O autor observou que, quando o produto

    foi aplicado na regio basal do tronco, houve injria somente em mudas

    de pssego recentemente transplantadas, chegando a causar a morte dos

    vasos, sem contudo danificar outras partes das mudas. Quando a aplicao

    foi realizada em ramos baixos de plantas de ma, foram observadas injrias

    localizadas, que no foram visveis em outras partes da planta. Quando o

    glifosato com carbono marcado foi aplicado na parte basal do tronco de

    ma de 4 anos de idade e de pra de 5 anos, no produziu radioatividade

    detectvel em folhas, gemas ou frutas no perodo de colheita. Aplicaes

    em folhas produziram radioatividade somente em tecidos tratados e

    adjacentes e no em outras partes da planta. O glifosato com carbono

    marcado moveu-se prontamente das folhas tratadas dos ramos mais baixos

    para outras folhas, gemas e frutos em desenvolvimento no mesmo ramo,

    mas no foi detectvel em outras reas da planta. Esses resultados mostram

    que, em frutferas em produo, as partes basais, mais passveis de contato

    com o produto durante as aplicaes, tm seu metabolismo mais restrito

    aos ramos.

    A dinmica do glifosato de compreenso muito simples, ou

    seja, o produto atua muito bem como herbicida onde aplicado e, desde

    que seguidas as recomendaes da bula e respeitadas as boas prticas

    agrcolas para a pulverizao, no apresentar efeito onde no foi aplicado,

    pois a molcula no se move no solo, por apresentar rpida e alta taxa de

    adsoro (Prata et al., 2000). Como j comentado anteriormente, a molcula

    no se move no solo. Assim, na eventual ocorrncia de morte de ponteiros

    de rvores adultas, a causa pode estar relacionada a outros aspectos como,

    por exemplo, a deficincia nutricional, o ataque de pragas e doenas ou,

    ainda, as condies estressantes biticas e abiticas do meio.

    A segurana para as culturas, quanto ao uso do produto, pode

    ser atestada pelas reas e culturas onde o glifosato utilizado. Um

  • 16

    importante exemplo so as reas de plantio direto, que tiveram um

    crescimento bastante expressivo no mundo, sendo que atualmente s no

    Brasil j atingem aproximadamente 20 milhes de hectares. Esse

    crescimento da rea de plantio direto fundamentado em pesquisas

    cientficas desenvolvidas por instituies pblicas e privadas,

    demonstrando, nas condies brasileiras, o seu sucesso nos aspectos de

    preservao, sustentabilidade e aumento de produtividade, sendo que a

    maioria dessas reas recebem mais de trs aplicaes de glifosato por

    ano, algumas delas h mais de 20 anos. inegvel que a adoo do plantio

    direto reduziu de forma expressiva as perdas de solo pelos processos

    erosivos laminar e elico.

    Outros trabalhos que refletem a segurana do uso do glifosato

    foram os desenvolvidos pela Embrapa (Carvalho et al., 1999) na cultura de

    citros no Nordeste, onde o produto foi avaliado por 9 anos consecutivos,

    em trs diferentes localidades, considerando aplicaes de glifosato na

    linha e entrelinha, associado ao plantio direto de leguminosas nas

    entrelinhas. Tal sistema possibilitou um incremento de produo de at

    62,3% em relao ao manejo praticado pelos produtores onde no se

    utilizava o glifosato. Nessa mesma linha, Carvalho et al. (2003) conduziram

    por um perodo de 2 a 6 anos mais quatro trabalhos, em diferentes

    localidades do Estado de So Paulo. Nesses ensaios, aplicaram glifosato

    na dose de 1.080 g e.a./ha nas linhas de plantio, associado a diferentes

    sistemas de manejo nas entrelinhas, envolvendo inclusive o plantio direto

    de gramneas ou leguminosas e roada. Os resultados mostraram que os

    tratamentos onde se aplicou glifosato nas entrelinhas, com ou sem o plantio

    direto de leguminosa (feijo de porco), proporcionaram aumento mdio

    de produo que superou de 4 a 10% os tratamentos em que, nas

    entrelinhas, a rea foi mantida apenas roada, ou se introduziu o plantio

    de uma gramnea (milheto), no perodo crtico de mato-competio da

    cultura. Nesses trabalhos, um dos principais fatores observados foi o

    aumento do sistema radicular e da atividade microbiolgica do solo nas

    reas onde se utilizou o glifosato na dose de 1.440 g e.a./ha (linha e

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    17

    entrelinha), associado ou no ao manejo de coberturas em sistema de

    plantio direto na entrelinha, em relao aos outros sistemas de manejo.

    Esses mesmos autores (Carvalho et al., 2002b), em trabalho

    publicado no XXIII Congresso Brasileiro de Cincia das Plantas Daninhas

    (CBCPD), realizado em Gramado (RS) em 2002, compararam o sistema

    radicular de um manejo tradicional (capina na linha e grade na

    entrelinha) com um sistema de plantio direto de coberturas na entrelinha

    e glifosato na linha. Os resultados mostraram que no sistema normalmente

    utilizado pelo produtor a maior parte das razes (76,9%) encontrava-se na

    camada superficial do solo (0-20 cm), enquanto no manejo de coberturas

    vegetais houve melhor distribuio do sistema radicular, observando-se

    um acrscimo de 102% na rea radicular da planta ctrica nas ruas e de

    46% nas linhas de plantio, passando de uma profundidade efetiva mdia

    de 40 cm no sistema tradicional para 80 cm no sistema avaliado.

    Estudos realizados em diversas culturas (caf, soja, milho,

    aveia, pinus e eucalipto), apresentados parcialmente nos trabalhos de Alves

    et al. (2000), Queiroz et al. (2002) e Costa et al. (2004), permitiram

    desenvolver uma metodologia simples, fundamentada na deteco e

    quantificao espectrofotomtrica do cido chiqumico, para determinar

    se as plantas apresentam intoxicao por glifosato. Os estudos indicaram

    que a metodologia funcional, permitindo detectar a acumulao do cido

    chiqumico mesmo quando as quantidades de glifosato absorvidas so

    inferiores s necessrias para promover redues de crescimento.

    Avaliaes complementares do efeito de subdoses do glifosato indicaram,

    em ambientes protegidos, estmulos de crescimento na maioria das

    espcies testadas quando receberam doses de glifosato entre 1,8 e 36 g

    e.a./ha (Figura 1). Em condies de campo, os resultados tm sido errticos

    possivelmente, segundo os autores, em funo da limitao do orvalho e

    chuva para a absoro do glifosato em doses to baixas. Esse herbicida

    necessita de um intenso gradiente de concentraes para que a fase inicial

    de penetrao da cutcula ocorra rapidamente. Isso mostra claramente

    que o produto, quando em subdoses, tende a agir como estimulante de

  • 18

    crescimento, no causando efeito deletrio s plantas.

    Figura 1: Plantas de eucalipto submetidas dose de 7,2 g e.a./ha deglifosato, em casa de vegetao. FCA, Unesp, Botucatu, Queiroz et al. (2002).

    Em praticamente todos os trabalhos experimentais envolvendo

    o uso do glifosato comparativamente capina manual ou ao controle

    mecnico o produto mostrou-se muito mais efetivo no controle, mais

    econmico e vantajoso e sempre se destacando entre os tratamentos mais

    produtivos.

    Desde que o glifosato seja aplicado de forma adequada,

    utilizando a tecnologia de aplicao e doses recomendadas, no existe

    absolutamente nenhum efeito sobre plantas no-alvos. Eventuais derivas

    do produto devem ser evitadas pelo aplicador, que deve fazer uso de

    equipamentos corretos e realizar as aplicaes em condies climticas

    favorveis. A utilizao do produto conforme recomendao de bula no

    representa risco potencial de reduo no crescimento, desenvolvimento e

    produtividade das culturas para as quais o produto registrado.

    Glifosato Controle

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    19

    III

    Glifosato no Manejo de PlantasDaninhas em Culturas Perenes

    As plantas daninhas surgiram com a agricultura por meio de

    um processo evolutivo, acumulando caractersticas que permitem sua

    coexistncia nas culturas ou ocupando nichos ecolgicos no explorados

    pela planta cultivada. Tal processo evolutivo permitiu que as plantas

    daninhas adquirissem caractersticas biolgicas de grande agressividade,

    principalmente relacionadas com alta capacidade competitiva por gua,

    luz e nutrientes, alm de possveis efeitos alelopticos de algumas espcies.

    A permanncia das plantas daninhas nos ambientes agrcolas garantida

    pelos seus mecanismos de sobrevivncia e disseminao eficientes,

    destacando-se a alta produo de dissemnulos e a persistncia (dormncia)

    do banco de sementes. As culturas econmicas, por outro lado, foram

    selecionadas pelo homem para expressar maior qualidade e produtividade,

    perdendo a capacidade de competio em relao s plantas daninhas.

    Vrios trabalhos de competio entre espcies (mato-

    competio), desenvolvidos no Brasil com culturas perenes, mostraram

    que a convivncia das plantas daninhas com as culturas comerciais, mesmo

    por perodo curto de 3 a 4 meses durante os meses mais quentes e chuvosos

    do ano, j suficiente para causar perdas significativas de produtividade.

    Isso pode ser observado em trabalhos desenvolvidos com a cultura de

    citros, nos quais Blanco & Oliveira (1978) concluram que a variedade

    Pra, com 6 anos de idade, em rea infestada principalmente por capim

    marmelada (80%), guanxuma (10%) e outras folhas largas, apresentou

    perdas de produtividade de at 41%, e que as maiores perdas ocorreram

  • 20

    quando se deixou de realizar o controle das plantas daninhas nos

    quadrimestres de agosto a novembro e dezembro a maro. Em trabalho

    conduzido em Rio Real, na Bahia, Carvalho et al. (1993) encontraram perda

    de produtividade dos citros de at 76% devido concorrncia das plantas

    daninhas, especialmente Brachiaria decumbens, durante os meses de

    novembro a janeiro. Ainda em citros, Carvalho et al. (2002a), tambm

    avaliando a mato-competio, conduziram trabalhos em Boa Esperana e

    Taiau, no Estado de So Paulo. Nesses trabalhos, os tratamentos que

    apresentaram as menores produtividades foram aqueles onde a convivncia

    ocorreu nos perodos de agosto a janeiro, de novembro a janeiro e de

    novembro a abril, sendo que o perodo mais crtico foi de novembro a

    janeiro, com perdas de produtividade que chegaram a 34,3% em Nova

    Esperana do Sul e 25% em Taiau. Com esses resultados, os autores

    concluram que o perodo crtico de preveno (PCPI) de plantas infestantes

    em citros nos pomares paulistas inicia-se de outubro a novembro (florao

    dos citros) e se estende at fevereiro ou maro, dependendo da distribuio

    das chuvas.

    Trabalhos, tambm conduzidos por Carvalho et al. (2001,

    2003), em quatro regies do Estado de So Paulo, tiveram por objetivo

    estudar o manejo de plantas daninhas com glifosato aplicado na linha da

    cultura de citros, associado ou no ao plantio direto de vrias coberturas

    nas entrelinhas (Figura 2). Essas reas foram conduzidas por um perodo

    de 2 a 5 anos e os resultados mdios obtidos mostraram que as melhores

    produtividades foram obtidas quando se utilizou o plantio de leguminosas

    (feijo de porco, Canavalia ensiformis) como cobertura (41,4 ton/ha),

    seguido pelo tratamento com aplicaes de glifosato, nas doses de 1.080 g

    e.a./ha e 540 g e.a./ha, respectivamente, na linha e entrelinha, com

    produtividade de 41,1 ton/ha.

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    21

    Figura 2. Plantio direto de feijo de porco (Canavalia ensiformis) na entrelinha da cultura de citros.

    Resultados interessantes a respeito do manejo de plantas

    daninhas na cultura dos citros foram obtidos por Tersi (2001), em um

    ensaio de longa durao conduzido na regio de Itpolis, uma das principais

    regies citrcolas do Estado de So Paulo, cujos resultados mdios de

    produo e qualidade dos frutos de sete colheitas foram resumidos no

    Quadro 1. Fica evidente o efeito prejudicial das plantas daninhas sobre a

    produo total e tamanho dos frutos ctricos, o que pode ser observado

    comparando-se a testemunha, onde no foi feito nenhum controle das

    plantas daninhas durante os sete anos, com os demais tratamentos.

    Numa anlise geral, observa-se que nos tratamentos em que

    se utilizou glifosato como parte do sistema obteve-se produtividade 52,4%

    superior testemunha no mato e quando comparou-se o sistema glifosato

    na linha mais roadeira na entrelinha obteve-se 19,4% a mais de

    produtividade em relao ao tratamento apenas com roadeira. Vale

    ressaltar que o melhor tratamento de controle de plantas daninhas foi o

  • 22

    obtido com a aplicao de glifosato na linha de plantio e roadeira na

    entrelinha (T1). Nos demais tratamentos que se destacaram, o controle do

    mato na linha de plantio foi feito com glifosato e o mesmo foi observado

    no tratamento no qual o glifosato foi aplicado em rea total (T6). O autor

    comenta que o uso do glifosato apresentou a melhor relao custo

    benefcio no manejo do mato na cultura dos citros. Observou-se efeito

    pouco acentuado dos tratamentos com manejo de mato sobre as

    caractersticas internas dos frutos, como slidos solveis totais e grau de

    maturao.

    Esse trabalho contempla ainda minucioso estudo dos mtodos

    de manejo de plantas daninhas sobre propriedades fsicas do solo, como

    agregao, porosidade, reteno de gua e densidade. De modo geral,

    apenas o uso da enxada rotativa reduziu a estabilidade dos agregados e,

    portanto, provocou perdas na qualidade do solo. Entre os demais, as

    propriedades fsicas do solo foram bem preservadas, inclusive com a

    aplicao de glifosato em rea total.

    Quadro 1. Resultados mdios de produo e qualidade dos frutos em sete colheitas de Laranja-Pra

    na regio de Itpolis - Estado de So Paulo.

    Manejo do mato Produo Tamanho S. solveis Ratio

    t/ha do fruto, g kg/cx

    T1 Glifosato (L) + roadeira (R) 41,3 171 2,52 15,4

    T2 Roadeira (L) + roadeira (R) 34,6 166 2,61 15,5

    T3 Glifosato (L) + grade (R) 38,9 168 2,48 16,4

    T4 Grade (L) + grade (R) 32,4 166 2,40 15,6

    T5 Rotativa (L) + grade (R) 33,3 161 2,58 15,4

    T6 Glifosato (L) + Glifosato (R) 37,3 167 2,41 15,5

    T7 Testemunha sem controle 25,6 158 2,52 16,5

    DMS Tukey 5% 11,2 12,3 0,29 2,1

    (L) e (R)= controle do mato na linha de plantio e meio da rua respectivamente.Fonte: Tersi (2001).

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    23

    Vrios estudos sobre mato-competio tambm foram

    conduzidos na cultura do caf; dentre eles podemos citar o conduzido

    por Blanco et al. (1982), que observaram que a concorrncia com o mato

    provocou queda na produo entre 55,9 e 77,2% em cafeeiros em formao.

    O resultado positivo do glifosato tambm pode ser visualizado

    em outras culturas perenes. Para observar o efeito de diferentes sistemas

    de manejo das plantas daninhas na cultura de ma e seu impacto, Merwin

    & Stilles (1994), em Ithaca (Nova York, EUA), conduziram um trabalho

    onde avaliaram, por seis anos, diferentes sistemas de manejo de plantas

    daninhas em duas variedades. Os autores chegaram concluso de que o

    tratamento onde se adicionou 30 kg/planta/ano de cobertura vegetal sob

    a copa da cultura, numa faixa de 2,5 m, apresentou as menores

    produtividades finais, pois chegou a provocar 38% de mortalidade de

    plantas em funo da alta incidncia de Phytophthora spp e colepteros

    (Microtus pennsylvanicum), apesar da drenagem da rea e do controle de

    insetos. Os tratamentos nos quais se utilizou o glifosato estiveram entre os

    mais produtivos.

    A opo pelo uso de coberturas nas entrelinhas valendo-se de

    espcies agressivas, como gramneas perenes, deve ser analisada com certa

    cautela, pois, alm do possvel efeito aleloptico que elas podem provocar

    sobre as culturas, so tambm bastante agressivas na competio por gua

    e nutrientes. O capim braquiria, por exemplo, uma espcie de gramnea

    forrageira extica no territrio brasileiro. Sua alta adaptao s condies

    de solos de baixa fertilidade tem-lhe conferido alta agressividade nas reas

    infestadas, o que reduz a diversidade especfica de plantas no ambiente,

    dominando de forma agressiva a populao de plantas espontneas. Dessa

    forma, importante que estratgias de manejo baseadas na cobertura do

    solo com vegetao de capim braquiria sejam cuidadosamente analisadas

    sob o ponto de vista de impacto na flora, na produtividade e na qualidade

    do fruto. Por essas razes, altamente recomendvel no manejo do mato

    em pomar de citros manter faixas com o mato controlado nos dois lados

  • 24

    da planta, cuja largura deve exceder em pelo menos 30% o raio da copa,

    para se evitar competio por gua, nutrientes e ainda possveis efeitos

    alelopticos de algumas espcies.

    Prtica de manejo de mato que vem sendo difundida

    atualmente na citricultura consiste na utilizao de roadeira sem proteo

    lateral, que permite que o mato ceifado seja depositado nas linhas de

    plantio, com o objetivo de proteger o solo com palha na superfcie. Nesse

    caso, deve-se ressaltar que tal prtica pode reduzir a disponibilidade de

    nitrognio no solo para as plantas ctricas, principalmente quando as ervas

    infestantes so espcies do gnero Brachiaria, que possuem relao

    carbono/nitrognio (C/N) muito larga na biomassa. Portanto, nesse caso

    necessria a utilizao de doses de nitrognio complementares em relao

    s adubaes normais nos primeiros anos para compensar o consumo

    extra de nitrognio por microrganismos decompositores da matria orgnica.

    importante lembrar ainda que essa prtica no exclui a necessidade de

    manter o mato controlado com herbicidas nas linhas de plantio e tem

    como grande inconveniente o aumento da concentrao de sementes de

    plantas daninhas sob a copa da cultura. Sem o tratamento adequado, essa

    concentrao levar a uma maior competio e poder exigir, inclusive,

    um controle manual, encarecendo sobremaneira os custos com o manejo

    do mato, alm de dificultar o controle de pragas e doenas. Caso o controle

    dessas plantas daninhas seja realizado com o uso de altas doses de nitrato

    de amnio, aplicado com altos volumes de gua, vale lembrar alguns riscos

    que essa prtica pode trazer. Sabe-se que o excesso de nitrognio pode

    causar um desequilbrio nas plantas, promovendo excesso de crescimento

    vegetativo, levando a um aumento do auto-sombreamento e trazendo como

    conseqncia severa diminuio da produtividade, alm de maior

    atratividade ao ataque de pragas e doenas, especialmente afdeos, a Teoria

    da Trofobiose. Por essa teoria, Francis Chaboussou, em 1969, concluiu

    que os adubos qumicos solveis (principalmente os nitrogenados) e os

    agrotxicos promovem a formao de substncias orgnicas simples na

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    25

    seiva das plantas, atravs do estmulo a um processo chamado protelise,

    tornando-as mais vulnerveis e atrativas s pragas e doenas. Por outro

    lado, a resistncia a elas favorecida por uma nutrio equilibrada, que

    reduz a concentrao de compostos simples na seiva das plantas. O sistema

    enzimtico dos vegetais, ao sofrer uma interrupo por causa de

    desequilbrios nutricionais ou estresse, conduz ao acmulo de alguma

    substncia do metabolismo celular que poder alimentar pragas e doenas

    especializadas na sua digesto. O ponto-chave da sanidade das lavouras

    passa pelo adequado suprimento de nutrientes. Chaboussou lembra que

    as plantas necessitam de um pouco de cada nutriente (mais de 40 minerais

    diferentes) e no muito de alguns.

    Alm dos problemas citados, para se aplicar essa dose de nitrato

    sero necessrios grandes volumes de gua e maior estrutura de aplicao

    (pessoas, tratores, tanques de pulverizao, oficina etc.), aumentando os

    custos diretos e indiretos e reduzindo a vida til de todo maquinrio

    envolvido nas aplicaes, por causa da corroso provocada por adubos

    nitrogenados.

    Assim, podemos dizer que a proposta do uso de nitrato de

    amnio, como parte de um sistema de manejo de plantas daninhas, pode

    representar certo risco para a cultura e meio ambiente e deveria demandar

    mais estudos. Malavolta et al. (1994) comentam que podem aparecer nos

    pomares sintomas causados pelo excesso de nutrientes e cita como

    exemplo o nitrognio, que pode provocar crescimento geral exuberante,

    folhas verde-escuras e grossas, folhas com maior suculncia nos tecidos,

    maior suscetibilidade a enfermidades, interferncia sobre outros elementos,

    citando possvel deficincia de cobre, e reduzir a resistncia das plantas

    ao frio.

    O risco dessa alternativa deveria ser bem analisado, visto o

    ocorrido no golfo do Mxico e no delta do Mississipi, como mostrado na

    apresentao do Prof. Robert Hoeft, no simpsio da Potafos realizado em

    Piracicaba em 2003. A absurda adubao nitrogenada no Corn Belt

  • 26

    americano gera grande quantidade de nitratos, que so carregados pelas

    guas de drenagem, atingindo crregos, rios e finalmente o rio Mississipi,

    para dali cair no golfo do Mxico, afetando uma rea de dimenses

    continentais. Outro fato que vale a pena enfatizar que o excesso de

    nutrientes presentes em reservatrios de gua tem provocado problemas

    quase que incontrolveis de plantas daninhas aquticas, o que tem causado

    intenso problema de manuteno e perdas da capacidade de gerao de

    energia em muitas hidreltricas.

    Finalmente, a alta competitividade das plantas daninhas e o

    prejuzo potencial que elas podem causar nas culturas exigem que sejam

    bem controladas, e solidamente comprovada na literatura a alta eficcia

    do glifosato, que, por ser um herbicida sistmico, atua em plantas daninhas

    anuais ou perenes, de folhas largas ou estreitas, sendo, portanto, uma das

    melhores opes para o manejo das plantas daninhas.

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    27

    IV

    Glifosato - Seguranapara as Culturas

    Considerando as caractersticas de comportamento do glifosato

    no solo, se a aplicao do produto for feita dentro de padres tcnicos

    recomendados quanto tecnologia de aplicao, dose e alvo a serem

    controlados, praticamente nula a possibilidade de vir a atingir as plantas

    cultivadas, principalmente via solo.

    Quanto ao potencial risco do produto vir a afetar a produo

    de fitoalexinas, importante citar que a produo desses compostos pelas

    plantas est relacionada a diversos fatores, como, por exemplo, estado

    nutricional, fatores estressantes do meio, estgio fenolgico das plantas etc.

    Segundo Rodrigues (2004)1, as fitoalexinas so originadas nas

    plantas por, pelo menos, quatro rotas metablicas conhecidas, sendo que

    a do cido chiqumico a nica que poderia ser afetada pelo glifosato.

    Essa rota metablica, segundo ele, no a principal, pois a enzima chalcona

    sintetase (que catalisa uma das reaes de formao dos flavonides, que

    so compostos fenlicos precursores de alguns tipos de fitoalexinas) utiliza

    carbonos advindos no s do ciclo do cido chiqumico, mas tambm do

    ciclo do cido malnico, alm de outras fontes.

    Adicionalmente, importante ressaltar que existem diferentes

    fitoalexinas, as quais podem variar, inclusive, por espcie de planta, e que

    sua efetividade ainda muito varivel. Rodrigues (2004) cita ainda que,

    alm das fitoalexinas fenlicas j relatadas, existe enorme variedade de

    fitoalexinas formadas na rota dos terpenos, pela via do cido mevalnico,

    que nada tem a ver com a rota do cido chiqumico. Assim, no h como

  • 28

    o glifosato interferir nessa rota to importante para grande parte das

    fitoalexinas sintetizadas. Por outro lado, muitas plantas podem liberar,

    pelas razes e folhas, grande variedade de metablitos secundrios, como

    os cidos fenlicos, principalmente cafico e ferlico, que podem reduzir

    o crescimento de muitas plantas e mesmo inibir a germinao. Esses

    compostos sintetizados por plantas daninhas, quando liberados no solo,

    poderiam afetar o desenvolvimento das plantas citrcolas. Nesse aspecto,

    a ao do glifosato, em doses comerciais, bastante efetiva, pois, como

    inibe a atividade da EPSPS, acaba inibindo a rota do cido chiqumico, a

    via metablica da formao dos cidos fenlicos, no ocorrendo liberao

    desses compostos no solo e no ocorrendo, portanto, o efeito da reduo

    do desenvolvimento das plantas cultivadas (Taiz & Zieger, 2004).

    Liu et al. (1995) observaram que a aplicao de glifosato no

    afetou significativamente o acmulo ou exsudao de fitoalexinas

    (kievitone, phaseollinisoflavan e phaseolin) nas razes do feijoeiro

    (Phaseolus vulgaris L.) inoculadas com Pythium spp, quando cultivadas

    em sistema de hidroponia. J em plantio do feijoeiro em areia esterilizada

    e inoculado com Pythium spp, o glifosato no afetou significativamente o

    acmulo de fitoalexinas at o terceiro dia; entretanto, no quinto dia a

    presena da fitoalexina phaseollin, detectada nas razes inoculadas de

    plantas tratadas com glifosato, foi significativamente maior que nas plantas

    no tratadas e tambm inoculadas, mostrando que o glifosato no afetou

    negativamente a produo de fitoalexinas.

    Outros trabalhos procuraram avaliar a relao da molcula

    do glifosato e sua interferncia com patgenos. Kassaby & Hepworth (1987)

    demonstraram o efeito do glifosato na reduo do crescimento radicular,

    na produo de esporos e no potencial de inculo de Phytophthora

    cinnamomi, responsvel por doena radicular em Pinus radiata. Esses

    resultados foram corroborados por Azevedo (2003); Toftaneli (1997) e Alves

    Jr. (1997), para condies brasileiras, com fungos entomo e fitopatognicos,

    onde observaram que a ao do glifosato chegou a ser fungisttica, porm

    no fungicida.

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    29

    A relao entre o glifosato e a incidncia de patgenos em

    uva e citros tambm foi motivo de estudos no meio cientfico. Altman

    (1995) discutiu essa relao e, com base em sua ampla reviso de literatura,

    no identificou qualquer evidncia de que as aplicaes de glifosato tenham

    modificado as caractersticas de absoro das razes das plantas de uva e

    nem mesmo facilitado o processo de infeco por bactrias do grupo da

    Xylella fastidiosa em uva ou citros.

    Com relao dessecao da vegetao para a prtica do

    plantio direto, tambm no se observou qualquer aumento da incidncia

    de doenas na cultura implantada a seguir sobre a palha em decomposio

    (Embrapa, 2003).

    Portanto, com base nas informaes acima referidas e nos

    resultados de produtividade obtidos nos ensaios de manejo de plantas

    daninhas em vrias culturas, inclusive citros, podemos afirmar que o

    glifosato um produto bastante seguro para as culturas nas quais

    registrado, desde que observadas as condies de recomendao descritas

    em bula, no havendo qualquer relao entre o uso do mesmo e o aumento

    da susceptibilidade a doenas.

    A utilizao desse princpio ativo por mais de trinta anos, em

    vrios pases e em sistemas agrcolas de maior sustentabilidade, como o

    plantio direto, tem confirmado a alta eficincia agronmica do glifosato

    em seus diversos usos.

    1 Comunicao pessoal do Prof. Titular Dr. Joo Domingos Rodrigues, da Unesp de Botucatu.

  • 30

    V

    A Clorose Variegadados Citros (CVC) e o Glifosato

    A Clorose Variegada dos Citros (CVC), ou amarelinho,

    representa hoje uma das principais ameaas citricultura brasileira, pois

    ataca todas as variedades comerciais de laranja doce, base da nossa

    indstria de suco de laranja. Constatada pela primeira vez no Brasil em

    1987, em pomares de Colina (SP), e logo depois no Tringulo Mineiro e

    nas regies norte e noroeste do Estado de So Paulo, ela representa hoje

    uma das maiores preocupaes da citricultura nacional (Rosseti et al.,

    1997).

    A doena mais severa em plantas jovens, pois quando as

    infecta precocemente, inviabiliza a continuidade dos pomares. Em plantas

    adultas, os danos iniciais so menores, mas a doena tambm compromete

    a qualidade dos frutos, tornando-os pequenos e com pouco suco, portanto

    imprestveis para o mercado in natura e, muitas vezes para a indstria.

    Neste caso, nem sempre necessria a erradicao do pomar.

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    31

    Desde a sua constatao, muitas hipteses, como causa

    virtica, desequilbrio nutricional etc., foram levantadas no sentido de se

    identificar e caracterizar a causa do problema. Em 1989, materiais sadios e

    sintomticos foram enviados aos laboratrios do INRA (Institut National

    de la Recherche Agricole) em Bordeaux, na Frana, reconhecido centro de

    excelncia em pesquisa sobre doenas ctricas, coordenado pelo Dr. Jos

    M. Bov. Havia suspeita de que os sintomas da CVC eram semelhantes

    aos do greening, doena causada por bactrias de taxonomia ainda

    indefinida, conhecidas como Liberobacter spp, que atacam o floema de

    plantas, causando colapso desses vasocondutores. Aps exames de

    microscopia eletrnica de alta resoluo, no foi constada a presena de

    bactrias do greening, mas sim de bactrias do grupo da Xyllela fastidiosa

    nos vasos do xilema de plantas com sintoma, a primeira constatao

    internacional da doena (Rosseti et al., 1990). Esse foi o primeiro passo

    para a compreenso da etiologia ou causa da CVC.

    Entretanto, a confirmao final de que a CVC era realmente

    uma doena e no resultado de outra causa abitica, como desequilbrio

    ou deficincia nutricional, toxicidade por produtos qumicos etc., veio

    com os trabalhos de Chang (1993), em colaborao com o Instituto

    Biolgico, e de Beretta et al. (1993), que simultaneamente, em dois diferentes

    centros de pesquisa, reportaram que reisolaram a bactria e aps seu

    isolamento e crescimento em meio de cultura puro, inocularam-na em

    plantas sadias que vieram a expressar os sintomas. Fecharam-se, assim,

    os postulados de Koch, considerados pelos fitopatologistas como a prova

    final necessria para definir a etiologia ou causa de uma doena de plantas.

    Dessa forma, ficou demonstrado que os problemas nutricionais que

    aparecem na sintomatologia da CVC, conforme descritos por Quaggio

    (1988), Vitti (1989) e Malavolta (1990), eram apenas a conseqncia e no

    a causa da doena. A partir de ento ficou provado que todas as outras

    possveis causas aventadas para a ocorrncia da doena eram na verdade

    conseqncias dela (Bologna, 2003).

  • 32

    Os prejuzos que a CVC traz fisiologia das plantas ctricas,

    como sintomas de murcha nos ramos e galhos secos, frutos pequenos e

    desordens nutricionais diversas, so decorrentes da reduo do fluxo de

    gua nos vasos do xilema, provocando a presena de grande nmero de

    bactrias dentro desses vasos, que, juntamente como uma matriz gelatinosa

    usada por elas para se prender s paredes do xilema, reduzem a seo

    disponvel ao fluxo de gua, conforme pode ser vista em fotografia de

    microscopia eletrnica na Figura 3.

    O trabalho de Machado et al. (1994) avaliou os efeitos da CVC

    nos processos fisiolgicos vitais s plantas ctricas, como fotossntese,

    respirao, trocas gasosas e relaes hdricas ao longo de todo perodo do

    dia. Eles mostraram que a reduo da gua disponvel para as plantas,

    causada pela obstruo dos vasos do xilema, semelhante quela

    observada em plantas ctricas afetadas pelo declnio, nas quais tambm

    h a obstruo dos vasos do xilema por filamentos de protenas de origem

    ainda desconhecidas e que levam morte das plantas enxertadas em porta-

    enxertos sensveis. Esse o caso do limo-cravo, conforme mostram os

    resultados do Quadro 2, que indicam que no incio da manh, quando a

    disponibilidade hdrica mxima, as plantas afetadas por CVC j apresentam

    menor potencial de gua em seu interior, o que demonstra a dificuldade

    de conduo da gua do solo para a parte area das plantas.

    Figura 3. Fotografias de microscpio eletrnico mostrando a obstruo dos vasos do xilema em funo dapresena de bactrias Xyllela fastidiosa.

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    33

    Quadro 2. Potencial da gua em plantas ctricas sadias e

    afetadas por Clorose Variegada e Declnio dos citros em diferentes perodos

    do dia.

    Horas Plantas sadias Plantas doentes

    CVC Mpa

    9:00 -0,84 -1,45

    14:00 -1,17 -2,49

    Declnio

    9:00 -1,3 -1,9

    14:00 -1,7 -2,6

    1 Mpa = 145 lb/inch2.Fonte: Machado et al. (1994).

    Segundo Feichtenberger et al. (1997), existem algumas

    sugestes para manejo de pomares com incidncia de CVC. So elas: uso

    de mudas livres de Xylella fastidiosa em plantios novos e replantes, controle

    de plantas daninhas no pomar, realizao de inspees freqentes nos

    pomares para identificar focos iniciais da doena, poda de ramos afetados

    (50 cm abaixo da ltima folha inferior com sintomas), manuteno do

    pomar em boas condies nutricionais e fitossanitrias e uso de quebra-

    vento.

    Alm disso, fundamental o controle de insetos vetores da

    doena, que so as cigarrinhas sugadoras de seiva do xilema, das famlias

    Cicadellidae e Cercopidae (Gravena et al., 1997).

    Medina (2002) cita que plantas bem nutridas e sem limitaes

    nutricionais que impeam as atividades metablicas podem sobreviver

    melhor CVC por atingir melhores taxas de fotossntese e rpido

    crescimento, o que dilui a populao bacteriana nos tecidos e reduz seus

    efeitos deletrios, j que as bactrias crescem lentamente. O contrrio

    observado em plantas subnutridas, as quais apresentam os sintomas da

    doena agravados.

  • 34

    Na literatura encontram-se ainda trabalhos que demonstram

    que elementos minerais como Ca (clcio), Mn (mangans), Cu (cobre), Bo

    (boro), Mo (molibdnio) e S (enxofre) podem ter influncia nos processos

    de resistncia das plantas aos ataques de pragas e doenas. Como exemplo

    podemos citar Malavolta (1987), que relata que o clcio estimula o

    desenvolvimento das razes, aumenta a resistncia a pragas e doenas e

    aumenta o pegamento da florada. Outro trabalho que tambm mostra essa

    relao foi o desenvolvido por Silveira & Higashi (2003), que analisaram

    os principais efeitos dos nutrientes na ocorrncia de doenas fngicas,

    com nfase para eucalipto. Os autores citam que o excesso e/ou a falta de

    alguns nutrientes alteram as estruturas anatmicas e as propriedades

    bioqumicas, tornando as plantas mais suscetveis a doenas; citam tambm

    que observaram evidncias dessa tendncia com relao a elementos como

    silcio, boro, mangans, nitrognio, fsforo, clcio e zinco.

    importante ressaltar que a atual condio nutricional e

    sanitria dos pomares de citros em So Paulo um reflexo da situao

    econmica pela qual passou o setor nos ltimos anos. Os baixos

    investimentos em tratos fitossanitrios e, principalmente, em adubao,

    assim como o uso abusivo de grades para controle das plantas daninhas,

    tm levado em ltima anlise ao desequilbrio qumico, fsico e biolgico

    dos solos. A carncia de nutrientes, agravada pela reduo dos teores de

    matria orgnica e por problemas de compactao do solo, tornou as

    plantas muito mais sensveis a pragas e doenas, mesmo em pomares que

    eram razoavelmente bem manejados antes da crise. Alm disso, nos ltimos

    anos tem-se observado uma profunda alterao no regime de chuvas, o

    que, aliada a altas temperaturas, tambm favorece a maior expresso de

    doenas como a CVC.

    O glifosato, utilizado para o controle de plantas daninhas em

    vrias pesquisas que procuraram avaliar diferentes sistemas de manejo

    em citros, sempre se mostrou um dos tratamentos de maior produtividade

    praticamente em todos os ensaios conduzidos por vrios anos (ver captulo

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    35

    III). Esses dados mostram que essa molcula bastante segura para a

    cultura de citros, no tendo qualquer relao com doenas como a CVC,

    sendo seu uso recomendado pelas principais instituies especializadas

    no manejo de plantas daninhas. Como j citado no captulo IV, Altman

    (1995) discutiu essa relao e no identificou qualquer evidncia de que

    as aplicaes de glifosato tenham modificado as caractersticas de absoro

    das razes das plantas de uva ou mesmo facilitado o processo de infeco

    por bactrias do grupo da Xylella fastidiosa em uva ou citros.

  • 36

    VI

    Comportamento doGlifosato no Solo e na gua

    A principal rota de degradao do glifosato so os

    microrganismos de solo e gua (por processos aerbicos e anaerbicos),

    que o decompem em compostos naturais. Uma caracterstica importante

    do glifosato a sua capacidade de ser adsorvido pelas partculas de solo e

    permanecer inativo at sua completa degradao. O glifosato rapidamente

    degradado por microrganismos do solo, sendo que sua meia-vida mdia

    (tempo mdio necessrio para que metade da quantidade aplicada do

    produto seja degradada) de 32 dias. Esse resultado foi obtido em 47

    estudos conduzidos em campos agrcolas e reas de reflorestamento em

    diferentes localidades geogrficas (Giesy et al, 2000).

    As plantas so seletivas quanto ao processo de absoro e

    liberao de substncias ao meio. Dentro desse contexto, a molcula de

    glifosato, por ser um derivado de glicina (um aminocido essencial presente

    nas plantas), no percebida pelas plantas como um potencial agressor e,

    portanto, normalmente muito pouco exsudada pelas razes, o que foi

    demonstrado por vrios trabalhos, como por exemplo o desenvolvido por

    Coupland & Peabody (1981), que avaliaram a quantidade de glifosato

    exsudado pelas razes aps aplicao sobre plntulas de gramnea.

    Mantendo-as em laboratrio com as razes em gua deionizada, esses

    autores observaram que apenas 0,36% da dose aplicada sobre as mesmas

    foi exsudado pelas razes. No caso da soluo do solo, essa pequena

    concentrao liberada seria adsorvida pelos colides e ons metlicos

    presentes na soluo e decomposta por microrganismos, ou seja, a

    concentrao na soluo do solo seria praticamente nula.

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    37

    Outro trabalho nessa linha foi conduzido por Rodrigues (1979),

    que verificou, em casa de vegetao, a possibilidade de ocorrncia de

    exsudao do glifosato pelas razes de trigo, utilizado como cobertura em

    diferentes populaes (5 a 30 plantas por vaso), e a possvel implicao

    no desenvolvimento das culturas de soja e milho em plantio direto,

    simulada em vasos. O autor observou pequena interferncia no

    desenvolvimento das plantas de milho e soja somente quando se empregou

    a dose de 5,04 kg/ha de equivalente cido e apenas para a maior densidade

    de plantas de trigo por vaso (30). Nas densidades menores (5 plantas por

    vaso), essa mesma dose chegou inclusive a favorecer o desenvolvimento

    das culturas de soja e milho.

    Quando o glifosato aplicado, parte do produto diretamente

    absorvida, ficando nas plantas daninhas, e parte depositada no solo. A

    parte do produto que retirada nos tecidos vegetais contribui para reduzir

    sua disponibilidade no ambiente, e este produto somente ir atingir o solo

    quando a matria seca dessas plantas daninhas for decomposta pelos

    organismos heterotrficos do solo e na maior parte das vezes no mais

    como glifosato.

    Por outro lado, o glifosato um composto orgnico dipolar e,

    por isso, apresenta rpida e alta taxa de adsoro aos xidos e hidrxidos

    de ferro e alumnio e matria orgnica do solo, como evidenciado em

    diversos estudos, inclusive em solos brasileiros (Prata et al., 2000). Tal

    fato praticamente elimina o risco de absoro radicular da molcula pelas

    culturas no mesmo ecossistema nas doses normalmente recomendadas

    em bula. Devido aos quatro mecanismos de ligao apresentados, que

    podem inclusive atuar concomitantemente, sendo que o principal deles

    para solo sob clima tropical a formao de ligao covalente dativa com

    os xidos metlicos do solo (semelhante adsoro especfica dos fosfatos

    inorgnicos), a soro do glifosato torna-se um processo irreversvel (Prata

    et al., 2000). Sendo assim, na dinmica das substncias dos solos, a soro

    do glifosato e de seu principal metablito, o cido aminometilfosfnico

  • 38

    (AMPA), coloca-os na categoria de resduo-ligado (Prata, 2002; Prata et al.,

    2003). O resduo-ligado a frao do defensivo que no retorna soluo

    do solo e dessa forma torna-se totalmente indisponvel para absoro pelas

    plantas.

    Em condies de campo, a inativao do glifosato ainda

    mais rpida, pois ali surgem fatores que no so controlados, como: i)

    maior atividade microbiana, o que acarreta acelerao da degradao do

    glifosato; ii) maiores concentraes de ctions metlicos, principalmente

    o Ca+2 proveniente da calagem e tambm das fertilizaes, os quais formam

    complexos com o glifosato; iii) maior instabilidade da umidade do solo

    nas camadas superficiais, que normalmente concentra as molculas na

    superfcie externa dos colides e, assim, acelera o processo de adsoro

    na matriz coloidal do solo; e vi) maior variao da temperatura do solo

    (Prata, 2002).

    Estudos em solos brasileiros mostraram que, em argissolo

    vermelho-amarelo de textura mdia, a meia-vida do glifosato foi de apenas

    8 a 9 dias e no houve influncia do histrico de uso do produto. O mesmo

    se observou em latossolo argiloso, no qual a meia vida do produto foi de

    12 dias no solo sem aplicao prvia de glifosato de 22 dias no mesmo

    solo, aps 11 anos de aplicao do produto. Ainda que a meia-vida tenha

    mostrado pequena variao no solo com o histrico de aplicao do

    produto, a persistncia do glifosato nas condies de solos tropicais em

    geral muito curta (Arajo et al., 2003).

    A degradao do glifosato no solo muito rpida e realizada

    por grande variedade de microrganismos que usam o produto como fonte

    de energia e fsforo, por meio de duas rotas catablicas (Figura 4),

    produzindo o cido aminometil fosfnico (AMPA) como o principal

    metablito, e sarcosina como metablito intermedirio na rota alternativa

    (Dick & Quinn, 1995).

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    39

    cido Aminometil fosfnico

    COOH-CH2-NH-CH2-P-OH

    O

    OH

    C-P liase

    COOH-CH2-NH-CH3

    Sarcosina

    NH2-CH2-P-OH

    O

    OH

    Glifosato

    cido Aminometil fosfnico

    COOH-CH2-NH-CH2-P-OH

    O

    OHCOOH-CH2-NH-CH2-P-OH

    O

    OH

    C-P liase

    COOH-CH2-NH-CH3

    Sarcosina

    NH2-CH2-P-OH

    O

    OHNH2-CH2-P-OH

    O

    OH

    Glifosato

    Figura 4. Degradao do glifosato por bactrias do solo, com produo dos metablitos cido aminometilfosfnico (AMPA) e

    sarcosina (Dick & Quinn, 1995).

    Vrios trabalhos de pesquisa procuraram analisar a mobilidade

    da molcula de glifosato no solo. Tucker (1977), visando estudar a absoro

    do glifosato pelas razes de mudas de citros, aplicou o produto em trs

    diferentes momentos, dentro de um perodo de 18 meses, nas doses de

    3,3; 6,6 e 13,5 kg/ha de equivalente cido de glifosato, em vasos com

    capacidade de 19 litros. O autor cita que no observou qualquer sintoma

    de fitotoxicidade, caracterizado pelo desenvolvimento de folhas anormais,

    ou reduo no desenvolvimento das mudas.

    Em outro trabalho, conduzido por Souza (1998), procurou-se

    avaliar a lixiviao de glifosato em colunas deformadas de solo, com alturas

    de 1, 5, 10, 15 e 30 cm e com dimetro aproximado 10 cm, em dois tipos

    de solo (franco arenoso e argiloso). Aps umedecimento das colunas

    capacidade de campo, uma soluo de glifosato equivalente a 1,44 kg/ha

    de equivalente cido de glifosato foi aplicada sobre a superfcie do solo, e

    posteriormente simulou-se uma chuva de 40 mm, por um perodo de 4

    horas, imediatamente aps a aplicao. Para avaliao da presena de

    glifosato no lixiviado, diferentes concentraes desse material (0,0; 6,25;

    12,5; 25; 50 e 100%) foram colocadas em vasos com capacidade de 2 litros,

    nos quais foram transplantadas plntulas de tomateiro com 5 dias de idade.

  • 40

    O autor no observou qualquer prejuzo ao desenvolvimento das plntulas,

    avaliado atravs do comprimento de raiz e produo de biomassa. Como

    concluso, o autor cita que o glifosato aplicado nas colunas sofreu forte

    reteno na matriz coloidal do solo, responsvel pela inativao do produto.

    Estudos mostram que a soro do glifosato no solo ocorre em

    duas fases, sendo a primeira delas praticamente instantnea, contribuindo

    com a reteno de mais de 90% do total aplicado, e a segunda um pouco

    mais lenta. Todavia, a fase lenta foi quantificada por Prata et al. (2004) em

    aproximadamente 10 minutos, tanto no solo sob plantio direto como sob

    plantio convencional.

    Os mecanismos de adsoro do glifosato so bem conhecidos

    e correlacionados com a capacidade dos solos em adsorver ons fosfatos e

    tambm com as concentraes de determinados ctions como Zn+2, Mn+2,

    Cu+2, Fe+2, Fe+3, Al+3 e Ca+2. Prata et al. (2000) mostraram que a adsoro do

    glifosato foi extremamente elevada em solos com diferentes atributos

    mineralgicos e teores contrastantes de matria orgnica, classificados

    como nitossolo vermelho eutrofrrico (NVef), latossolo amarelo crico

    (Law) e gleissolo (G). Esse estudo mostrou ainda alta taxa de reteno do

    glifosato, mesmo aps a eliminao da matria orgnica num solo com

    baixa capacidade de adsoro de fosfato. Esse fato mais uma evidncia

    de que a molcula apresenta vrios mecanismos de ligao aos solos

    tropicais, podendo tanto ligar-se frao oxdica do solo como ser adsorvida

    eletrostaticamente aos minerais de argila e matria orgnica, ou mesmo

    pela formao de pontes de hidrognio com a prpria matria orgnica do

    solo (Prata & Lavorenti, 2002). (Figura 5).

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    41

    Figura 5. Esquema dos mecanismos (interao eletrosttica, foras de Van der Waals, pontes de hidrognio e ligao covalentedativa dupla) envolvidos na soro do glifosato em solo (Prata & Lavorenti, 2002).

    Alm dos fatos mencionados, importante lembrar que a

    superfcie do solo apresenta variao brusca de umidade, ou seja, os

    primeiros milmetros do perfil do solo, que compem a faixa de recebimento

    do glifosato aps a aplicao, variam do encharcado ao seco num

    intervalo muito rpido de tempo, o que acelera a adsoro do glifosato.

    Portanto, em funo da forte adsoro do glifosato na matriz

    coloidal do solo, bem como sua rpida degradao por microrganismos,

    pouco provvel que a molcula de glifosato quando aplicada sobre as

    plantas daninhas possa atingir, em doses elevadas, as razes de culturas

    perenes ou anuais do mesmo ecossistema e causar dano a pomares de

    citros ou lavouras de caf ou outras culturas para as quais o produto

    recomendado.

    Outro aspecto relacionado ao comportamento do glifosato no

    solo refere-se adoo de prticas conservacionistas como o plantio direto.

    O sistema de plantio direto das culturas beneficiado pelo comportamento

    do glifosato no solo, pois realizado aps aplicao do produto para

    Interao eletrosttica Foras de van der Waals

    Covalente dativadupla

    Ponte de hidrognio

    OHFe

    P

    O

    Opka

    Opka

    H

    H

    Cpk

    b

    NH2+

    H

    H

    C C

    O

    Opka

    - - -- - -

    ++++++

    ++++++

    ++++++

  • 42

    controle das plantas daninhas ou coberturas vegetais. A eficcia e a

    segurana do plantio direto (Mello, 2002; Embrapa, 2003) associadas ao

    uso do glifosato possibilitaram um aumento na adoo desse sistema no

    Brasil nos ltimos 25 anos, j atingindo aproximadamente 20 milhes de

    hectares. O plantio direto um sistema conservacionista por excelncia,

    preservando e melhorando a qualidade de nossos solos, sendo considerado

    por muitas instituies como um grande passo para a sustentabilidade da

    agricultura. Alm disso, esse sistema de plantio hoje adotado em vrias

    culturas perenes importantes, como a cana-de-acar e o eucalipto.

    Alm disso, o glifosato altamente eficiente no controle das

    plantas daninhas, proporcionando excelentes condies de

    desenvolvimento para que as culturas atinjam seu potencial mximo de

    produtividade, quando comparado a outros sistemas de manejo das plantas

    daninhas. Em resumo, o glifosato utilizado de acordo com as

    recomendaes de bula e prticas agrcolas corretas seguro s culturas

    em geral, sem risco de absoro do produto pelo sistema radicular e

    aparecimento de sintomas de fitotoxicidade.

    Quando se fala em meia-vida de um produto, preciso

    ressaltar que muitos desses valores so referentes a estudos de laboratrio.

    Quando passamos a considerar as condies de campo, certamente surgem

    fatores que contribuem de forma muito significativa para a reduo desses

    valores. Por exemplo, quando realizamos uma aplicao, temos que

    considerar que apenas uma parte da dose aplicada atinge diretamente o

    solo, visto que grande parte do produto interceptada e absorvida pelas

    plantas daninhas. O produto que vai para dentro das plantas daninhas

    ser liberado ao solo de forma gradativa, dependendo da sua

    decomposio, e muitas vezes j na forma de seu metablito AMPA. Esse

    processo poder ser bastante lento, pois depende da relao C/N, que no

    caso de algumas plantas bastante alta.

    Com relao sua solubilidade em gua, o glifosato um

    herbicida altamente solvel, apresentando valor de 11.600 ppm a 25oC

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    43

    (Kollman & Segawa, 1995). Experimentos procurando avaliar a estabilidade

    da molcula indicaram que o glifosato mostrou-se estvel em gua com

    pH 3, 5, 6 e 9, a uma temperatura de 35oC. Mostrou-se tambm estvel

    fotodegradao em pH 5, 7 e 9, em soluo tampo sob luz natural, e a

    meia-vida por hidrlise foi maior que 35 dias (Kollman & Segawa, 1995).

    Bronstad & Friestad (1985) tambm indicaram que o glifosato mostrou

    pequena propenso decomposio por hidrlise. Estudos conduzidos

    em Manitoba, Canad (Kirkwood, 1979), mostraram que a perda do

    glifosato na gua ocorreu atravs da adsoro a sedimentos e degradao

    microbiana. Ghassemi et al. (1981) concluram que a taxa de degradao

    em gua geralmente menor porque existem menos microrganismos na

    gua que na maioria dos solos. Estudos conduzidos em um ecossistema

    florestal (Feng et al., 1990; Goldsborough et al., 1993) mostraram que o

    glifosato dissipou-se rapidamente na gua de lagoas com muitos sedimentos

    suspensos, com a meia-vida variando entre 1,5 a 11,2 dias.

    J em ambiente florestal, ensaio conduzido em Oregon, EUA,

    por Newton et al. (1984), analisou a presena do produto aplicado

    diretamente sobre reas a serem amostradas. Os autores observaram que

    os nveis mais altos de resduo encontrados foram os do dia da aplicao,

    em que os valores no solo foram de 0,07 ppm, e na gua do riacho, de 0,27

    ppm. No quarto dia do tratamento esse nvel caiu abaixo do limite de

    deteco do mtodo (0,025 ppm). Os dados de meia-vida do produto

    encontrados no ambiente foram de 9 dias nas folhagens das rvores, 12

    dias em arbustos, 14 dias nas plantas daninhas e 10 dias nas folhas que se

    encontravam sobre o solo em processo de decomposio.

    Resumindo, as propriedades que determinam o

    comportamento do glifosato caracterizam o produto como sendo de

    reduzido impacto ambiental, tendo em vista a amplitude de uso dessa

    molcula. O produto degradado por microrganismos tanto no solo como

    na gua; no solo fortemente retido na forma de resduo-ligado; na gua,

    altamente solvel, sendo a volatilidade e evaporao insignificantes.

  • 44

    VII

    O Glifosato e as PopulaesMicrobianas do Solo

    O solo um sistema bastante complexo, constitudo por

    material mineral, matria orgnica, microrganismos, gua e ar; sendo que

    a variao de um desses componentes pode provocar alteraes nos demais

    (Alexander, 1961). Populaes complexas e diversificadas de

    microrganismos esto presentes no solo e provocam grandes interferncias

    na qualidade dos mesmos, juntamente com os processos bioqumicos que

    neles ocorrem (Tiedje et al., 1999). A presena de microrganismos no solo

    pode ser facilmente influenciada por inmeros fatores, como propriedades

    fsico-qumicas, matria orgnica, umidade, temperatura, pH, sistemas de

    manejo e outros (Alexander, 1961; Buckley e Schmidt, 2001). Portanto,

    variaes em populaes especficas de microrganismos so esperadas

    sempre que se introduz alguma prtica agrcola que altere

    significativamente os fatores citados.

    No ambiente agrcola, o glifosato no causa impacto

    significativo sobre as populaes microbianas em funo da grande

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    45

    diversidade dos microrganismos, da composio fsico-qumica dos solos

    e da dose efetiva para exercer alguma ao sobre eles. Grossbard & Harris

    (1979), observaram que concentraes de glifosato capazes de inibir

    microrganismos em culturas puras esto geralmente muito acima daquelas

    que poderiam estar disponveis nos solos aps as aplicaes de campo.

    Citam ainda que o glifosato altamente adsorvido ao solo, o que colabora

    para sua inativao e indisponibilizao. Segundo Roslycky (1982), o

    glifosato aplicado ao solo no tem efeito adverso nas populaes

    microbianas.

    O estudo desenvolvido por Gomez et al. (1989) mostrou que

    o glifosato no teve efeito prejudicial sobre microrganismos no campo,

    mesmo em doses de at 14,4 kg e.a./ha em solos arenosos. Entretanto,

    quando usado na concentrao de 1%, em condio de laboratrio, o

    produto afetou significativamente algumas estirpes de bactrias. Grossbard

    (1985) tambm observou que em meio de cultura puro muitos

    microrganismos tiveram seu desenvolvimento inibido pelo glifosato, mas

    que esse efeito dificilmente reproduzido no campo, onde h incremento

    no nmero de propgulos de fungos com o aumento da dose do glifosato,

    uma vez que os microrganismos utilizam o prprio produto como substrato.

    Um dos aspectos mais interessantes observados durante a utilizao do

    glifosato que ele no reduz a nitrificao no solo, ao contrrio de outros

    herbicidas. Grossbard (1985) enfatizou que no h risco de a fertilidade

    do solo ser comprometida pelo uso de glifosato.

    Gomez e Sagardoy (1985) estudaram o efeito de doses do

    glifosato de 0 (zero) a 2.880 g e.a./ha sobre o nmero total de bactrias

    aerbicas, microartrpodos e caros presentes nos solos durante 96 dias

    em solo arenoso de uma regio semi-rida na provncia de Buenos Aires,

    Argentina. Alteraes significativas que pudessem prejudicar a microflora

    e a mesofauna no foram observadas em nenhuma das doses testadas.

    Chakravarty e Chatarpaul (1990) avaliaram o efeito do herbicida

    glifosato no crescimento de mudas novas de Pinus resinosa e no

    desenvolvimento de micorrizas em simbiose com fungos Paxillus involutus,

  • 46

    em ensaios desenvolvidos em casa de vegetao. Efeitos adversos do

    produto no foram observados, mesmo na dose de 3,23 kg e.a./ha. Os

    mesmos resultados foram encontrados em avaliao de campo, porm

    nas parcelas no tratadas houve uma mortalidade de 49% do Pinus resinosa,

    o que foi atribudo competio pelas plantas daninhas, pois nas parcelas

    tratadas com glifosato todas as plantas mostraram excelente

    desenvolvimento.

    O aumento da atividade microbiolgica do solo com a

    aplicao do glifosato tem sido observado em vrios trabalhos. Sabe-se

    que muitos microrganismos utilizam a molcula do glifosato como fonte

    de fsforo, quando da ausncia deste no meio (Liu et al., 1991; Pipke et

    al., 1987).

    Arajo (2002) avaliou a biodegradao do glifosato em dois

    tipos de solo (podzlico vermelho-amarelo e latossolo vermelho) durante

    32 dias e observou o aumento da atividade microbiana aps a aplicao

    da dose de 2,16 mg de e.a./kg de solo. Os fungos e actinomicetos

    apresentaram aumento de populao, enquanto as bactrias permaneceram

    em nmero constante durante todo perodo de incubao.

    Estudo em andamento (Pitelli, 2003 UNESP Jaboticabal) vem

    demonstrando que a adio de glifosato no solo incrementa a atividade

    microbiana, o que medido pela evoluo de CO2 do solo. As Figuras 6

    e 7 mostram a resposta de microrganismos que utilizam a molcula de

    glifosato no seu metabolismo e aparentemente so favorecidos pelo

    aumento da dose do produto, podendo-se inferir que ocorre rpida

    dissipao do herbicida.

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    47

    Figura 6. Efeitos da incorporao de diferentes concentraes de glifosato sobre a atividade respiratria de um latossolo vermelho-escuro, textura mdia, em condies de incubao em laboratrio (perodo de 22 de junho a 14 de julho de 2003).

    Pitelli, R. A. - UNESP, Jaboticabal, 2003, ensaio 1 (grfico publicado com autorizao expressa do autor).

    Figura 7. Efeitos da incorporao de diferentes concentraes de glifosato sobre a atividade respiratria de um latossolo vermelho-escuro, textura mdia, em condies de incubao em laboratrio (perodo de 22 de junho a 14 de julho de 2003).

    Pitelli, R. A. - UNESP, Jaboticabal, 2003, ensaio 2 (grfico publicado com autorizao expressa do autor).

    Quinn et al. (1988) e Amrhein et al. (1983) mostraram

    claramente que ocorre uma relao inversa entre a degradao do produto

    e o crescimento da populao de microrganismos durante a degradao

    do glifosato (Figura 8). A populao de microrganismos pode adaptar-se

    aplicao do produto, tornando-se pouco sensvel sua presena, sendo

    capaz de crescer satisfatoriamente, mesmo em concentraes elevadas.

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    0 5 10 15 20 25 30

    Dias aps incorporao

    Evo

    lu

    od

    oC

    O2

    (mg

    /Kg

    de

    so

    lo)

    TESTEMUNHA

    0,10%

    0,20%

    0,50%

    1,00%

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    0 5 10 15 20 25 30

    Dias aps incorporao

    Ev

    olu

    od

    oC

    O2

    (mg

    /Kg

    de

    so

    lo)

    TESTEMUNHA

    0,10%

    0,20%

    0,50%

    1,00%

  • 48

    Figura 8. Crescimento de uma populao microbiana do solo adaptada em meio de cultura enriquecido com 0,5 mmol L-1 deglifosato (Quinn et al., 1988) e crescimento de populao de Aerobacter aerogenes adaptada e no adaptada ao glifosato (Amrheinet al., 1983).

    Os estudos realizados at hoje, inclusive em rea que recebeu

    aplicao de glifosato por dezenove anos, no mostrou qualquer efeito

    adverso significativo sobre a microbiologia do solo (Hart e Brookes, 1996)

    e no se observou impacto sobre a biomassa microbiolgica, bem como

    sobre a mineralizao de carbono e nitrognio, nas doses recomendadas

    (Biederbeck et al., 1997). Trabalhos mais recentes feitos por Haney et al.,

    (2000, 2002) tambm confirmam a degradao do produto sem impacto

    negativo sobre a comunidade microbiana do solo. Da mesma forma, Giesy

    et al. (2000) concluram em seu relatrio de avaliao de risco

    ecotoxicolgico para a molcula de glifosato que, nas doses recomendadas,

    no h qualquer evidncia de que o produto possa causar danos

    microbiologia do solo.

    Giesy et al. (2000) concluram que o glifosato utilizado nas

    doses recomendadas no causa danos sobre a microbiologia do solo.

    Jansen (1999) analisou o impacto do uso de herbicidas em

    plantio direto e concluiu que os herbicidas geralmente representam menor

    risco para os seres humanos e para a fauna silvestre, quando comparados

    com os inseticidas, em razo de agirem basicamente sobre processos

    fisiolgicos existentes apenas em plantas. Alm disso, a presena de

    305 10 20 250 15

    2,5

    2,0

    1,5

    0,0

    0,5

    1,0

    Tempo, horas

    Den

    sid

    ade

    de

    clu

    las,

    A65

    0n

    m

    Adaptada

    (5 mmol L-1)

    No adaptada

    (5 mmol L-1)

    b). . . . . ...

    ..

    ...... . .

    ....

    Tempo, horas

    Gli

    fosa

    to,

    mm

    ol

    L-1

    0,5

    0,4

    0,3

    0,2

    0,1

    00 4010 20 30 50 60

    Den

    sid

    ad

    ed

    eclu

    las,

    A65

    0n

    m5,0

    4,0

    3,0

    2,0

    1,0

    0

    Crescimento

    microbiano

    Concentrao

    de glifosato

    a)

    305 10 20 250 15

    2,5

    2,0

    1,5

    0,0

    0,5

    1,0

    Tempo, horas

    Den

    sid

    ade

    de

    clu

    las,

    A65

    0n

    m

    No adaptada

    (sem glifosato)

    Adaptada

    (5 mmol L-1)

    No adaptada

    (5 mmol L-1)

    b). . . . . ...

    ..

    ...... . .

    ....

    Tempo, horas

    Gli

    fosa

    to,

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    0,5

    0,4

    0,3

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    00 4010 20 30 50 60

    Den

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    3,0

    2,0

    1,0

    0

    Crescimento

    microbiano

    Concentrao

    de glifosato

    . . . . . ...

    ..

    ...... . .

    ....

    Tempo, horas

    Gli

    fosa

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    sid

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    A65

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    1,0

    0

    Crescimento

    microbiano

    Concentrao

    de glifosato

    a)

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    49

    organismos vivos em solo onde o plantio direto realizado muito maior

    do que em solo de plantio convencional. Isso mostra claramente que os

    microrganismos encontram um ambiente mais favorvel nas reas de

    plantio direto, ocorrendo em maior quantidade e diversidade,

    independentemente do tipo de solo. Outra concluso foi que diferentes

    herbicidas e doses aplicadas nas reas de plantio direto tm menor efeito

    negativo sobre os componentes biolgicos do solo que o preparo mecnico

    para o plantio convencional e os herbicidas utilizados nesse sistema.

    Finalmente, os microrganismos so agentes importantes na degradao

    da maioria dos herbicidas. Portanto, segundo Jansen (1999), o risco de

    aparecimento de resduos de herbicidas maior nas reas de plantio

    convencional que em reas de plantio direto, em razo da maior atividade

    biolgica nessas reas.

    O glifosato um dos ingredientes ativos que viabilizaram o

    estabelecimento e o crescimento das reas de plantio direto no mundo e

    considerado um sistema sustentvel e conservacionista por excelncia,

    trazendo benefcios como proteo do solo contra os processos erosivos

    e perda de umidade (Giesy et al, 2000). Dentre outros benefcios podemos

    ainda citar melhoria das caractersticas fsico-qumicas do solo, aumento

    do nvel de matria orgnica, aumento da biodiversidade, aumento da

    capacidade de reteno de gua, melhor aproveitamento dos nutrientes

    do solo pela planta etc.

    Muitos desses benefcios podem ser comprovados, por

    exemplo, pela maior ocorrncia de minhocas e maior atividade microbiana

    nas reas de plantio direto na decomposio da palhada e dos restos de

    culturas sobre o solo.

    Todos esses fatores so muito importantes no desenvolvimento

    das culturas implantadas nessas reas, tornando-as mais resistentes s

    condies de estresse, aumentando seu potencial de produo e trazendo

    benefcios diretos e indiretos para o agricultor, o meio ambiente e a

    sociedade em geral.

  • 50

    VIII

    Glifosato e a Fixao Biolgica deNitrognio na Cultura da Soja

    A fixao biolgica de nitrognio o processo atravs do

    qual o nitrognio atmosfrico (N2, forma no absorvida pelas plantas)

    reduzido a NH3 por bactrias do gnero Rhizobium, dentro de

    estruturas especiais desenvolvidas nas razes, chamadas ndulos.

    Posteriormente, o NH3 transferido para a planta, fazendo parte de

    compostos nitrogenados vitais para o seu desenvolvimento, tais como

    aminocidos, protenas, cidos nuclicos, etc.

    Dentre outros fatores, o processo de fixao do nitrognio

    pode variar com a estirpe do inculo de solo, condies ambientais e

    tambm com o cultivar utilizado. Trabalhos conduzidos em laboratrio

    indicaram que o glifosato pode afetar as bactrias fixadoras do

    nitrognio, porm, apenas quando se aplicam concentraes de

    glifosato muito acima daquelas passveis de ocorrer na soluo do

    solo, em condies reais de campo (Moorman et al., 1992; Santos &

    Flores, 1995).

    Segundo Goring & Laskowski (1982), os herbicidas podem

    reduzir a nodulao de leguminosas no campo, inibindo a ao de

    Rhizobium e Bradyrhizobium, e essa reduo maior quando se

    utilizam altas doses dos produtos em culturas com tolerncia marginal,

    sendo a reduo geralmente devida aos danos causados pelos

    herbicidas. Bethlenfalvay et al. (1979), em estudo semelhante

    concluram que mesmo com o uso de herbicidas mais seletivos,

    aplicados em doses recomendadas, pode ocorrer reduo temporria

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    51

    na fixao do N2 em funo da reduo da fotossntese provocada pelo

    herbicida. Nessa mesma linha, outros autores concluram que as

    redues na nodulao no so necessariamente acompanhadas por

    perdas de rendimento da cultura (Bollich et al., 1984; Kapusta &

    Rouwenhorst, 1973; Parker & Dowler, 1976; Rennie & Dubetz, 1984).

    Kapusta & Rouwenhorst (1973) e Moorman (1989) concluram ainda

    que as aplicaes de herbicidas em doses recomendadas no tm

    reduzido as populaes de Bradyrhizobium no solo abaixo do nvel

    necessrio para uma nodulao adequada.

    Muitas estirpes da famlia Rhizobiaceae foram testadas na

    sua habilidade de degradar o glifosato. Todos os organismos testados

    (7 estirpes de Rhizobium meliloti , Rhizobium leguminosarum,

    Rhizobium galega, Rhizobium trifolii, Agrobacterium rhizogenes e

    Agrobacterium tumefaciens) cresceram utilizando glifosato como nica

    fonte de fsforo, embora esse crescimento no tenha sido to rpido

    como quando se utilizou o fsforo inorgnico. Esses resultados sugerem

    que a habilidade de degradao do glifosato pela famlia Rhizobiaceae

    ampla (Liu et al., 1991).

    Outra questo importante, e que deve ser ressaltada, o

    fato de os referidos trabalhos terem utilizado meios de crescimento

    ricos em nutrientes e culturas de bactrias aclimatadas para as condies

    artificiais de laboratrio. A extrapolao desses dados para as condies

    de campo questionada por muitos pesquisadores (Estok et al., 1989;

    Wan et al., 1998). importante citar ainda que o enriquecimento de

    meios de cultura com nitratos ou outros adubos qumicos tambm

    pode prejudicar o crescimento de colnias de Rhizobium spp. Burity

    et al. (1999), observaram que o nitrato, na concentrao de 5 mM,

    inibiu fortemente a produo de ndulos, chegando a uma reduo de

    49,5%.

  • 52

    Conforme Mallik & Tesfai (1985), o glifosato apresenta

    menor efeito txico na nodulao e fixao de nitrognio que diversos

    herbicidas comumente utilizados, como os ingredientes ativos

    trifluralina e metribuzin.

    importante enfatizar que o processo de nodulao e

    atividade dos ndulos resultantes da interao sojaRhizobium

    bastante dependente das condies ambientais e especialmente das

    prticas culturais empregadas, como a correo de acidez do solo, a

    aplicao de fertilizantes qumicos e o uso de implementos mecnicos

    que causam distrbios no solo. Todos esses fatores podem alterar

    expressivamente o processo. No entanto, o uso do glifosato, em doses

    recomendadas para o manejo de plantas daninhas, no afeta

    significativamente a nodulao ou a atividade dos microrganismos

    fixadores de nitrognio em associao simbitica com a cultura da

    soja.

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    53

    IX

    Segurana para o Homeme para o Meio Ambiente

    A propriedade herbicida dessa molcula foi descoberta pela

    Monsanto em 1970 e a primeira formulao comercial foi lanada nos

    Estados Unidos em 1974, com o nome comercial de Roundup. Hoje ela

    utilizada em mais de 130 pases, sendo aplicada para controle de plantas

    daninhas nas reas agrcolas, industriais, florestais, residenciais e ambientes

    aquticos, de acordo com os registros obtidos em cada pas.

    O glifosato uma das molculas mais eficientes j introduzidas

    no mercado para controle de plantas daninhas e por isso seu uso continua

    em expanso em todas as principais reas agrcolas do mundo.

    O herbicida glifosato foi o principal responsvel pela adoo

    mundial de prticas agrcolas como o plantio direto e tambm possibilitou

    um grande avano na produo mundial de alimentos com a introduo

    de culturas geneticamente modificadas, tolerantes ao glifosato.

    Devido principalmente sua alta eficcia no controle de

    plantas daninhas e s propriedades ambientais favorveis forte fixao

  • 54

    aos solos e rpida degradadao por microrganismos em compostos naturais

    - o glifosato a melhor escolha para o controle de plantas daninhas. Nos

    Estados Unidos e em outros pases, herbicidas base de glifosato esto

    entre os poucos autorizados para uso em jardinagem, assim como ocorre

    na internacionalmente conhecida reserva ecolgica de Galpagos e nas

    runas de Pompia, na Itlia.

    O glifosato uma das molculas herbicidas mais estudadas

    mundialmente em termos de segurana ambiental e sade humana e possui

    uma das maiores bases de dados solicitados a respeito de pesticidas

    (Williams et al., 2000; Giesy et al., 2000). Esses dados tm sido avaliados e

    reavaliados por inmeros e rigorosos testes conduzidos ao longo de vrios

    anos pelas principais agncias regulatrias e organizaes cientficas

    mundiais (United States Environmental Protection Agency US EPA., 1993;

    European Commission - EC, 2002; Health Canad, 1991; World Health

    Organization - WHO, 1994), que concluram que o glifosato no possui

    propriedades carcinognicas, mutagnicas, teratognicas ou que causem

    qualquer problema reprodutivo. Alm disso, dados de laboratrio e de

    campo indicam baixa toxicidade e baixo risco para a vida selvagem na

    exposio direta ao glifosato e suas formulaes (US EPA, 1993).

    No Brasil, a linha Roundup de herbicidas a base de glifosato

    da Monsanto encontra-se devidamente registrada no Ministrio da

    Agricultura, Pecuria e Abastecimento MAPA para fins agrcolas e no

    Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis

    IBAMA do Ministrio do Ministrio do Meio Ambiente para fins no

    agrcolas. Os registros so concedidos com base nas avaliaes

    agronmicas, toxicolgicas e ambientais realizadas pelo MAPA, Agncia

    Nacional de Vigilncia Sanitria ANVISA do Ministrio da Sade e IBAMA,

    respectivamente, em conformidade com a Lei no 7.802, de 11 de julho de

    1989, regulamentada pelo Decreto no 98.816, de 11 de janeiro de 1990, este

    substitudo pelo Decreto no 4.074, de 4 de janeiro de 2002 e Portarias e

    Instrues Normativas pertinentes.

  • ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

    55

    Os rgos governamentais, tanto internacionais como

    nacionais, exigem avaliaes de resduos em produtos agrcolas para a

    obteno dos registros de uso de agrotxicos.

    No Brasil, a legislao de agrotxicos em vigor representa um