livro earth song inside michael jackson'''s mgnum opus
TRANSCRIPT
EARTH SONG
INSIDE
MICHAEL
JACKSON’S
MAGNUM
OPUS
JOSEPH VOGEL
Tradução de Daniela Ferreira para o blog
The Man in the Music
http://themaninthemusic.blogspot.com.br/
No Começo
Michael Jackson estava sozinho no quarto de hotel dele, andando.
Ele estava no meio da segunda etapa da Turnê Mundial Bad, uma
exaustiva série espetacular de 123 concertos que se estendeu por quase dois
anos. A turnê se tornou a série de concertos de maior bilheteria e com
maior público na história.
Apenas dias antes, Jackson tinha se apresentado em Roma, no
Faminio Stadium para uma estática multidão de mais de 30 mil pessoas. Na
hora de descanso dele, ele visitava a Capela Cistina e a Catedral de São
Pedro, no Vaticano, com Quincy Jones e o legendário compositor Leonard
Bernstein. Mais tarde, eles dirigiram até Florença, onde Jackson ficou de pé
ao lado da magnífica escultura de Michelangelo, Davi, olhando admirado.
Agora, ele estava em Viena, Áustria, a capital da música do mundo
ocidental. Foi aqui onde a brilhantes 25º sinfonia de Mozart e a assombrosa
Réquiem foi composta; onde Beethoven estudou sob Haydn e tocou a
primeira sinfonia dele. E foi aqui, no Viena Marriott, em 1 de junho de
1988, que a obra magna de Michael Jackson, “Earth Song”, nasceu.
A obra de seis minutos e meio, que se materializou pelos próximos
sete anos, era diferente de qualquer coisa que já se tinha ouvido na música
popular antes. Hinos sociais e músicas de protesto têm sido, há muito
tempo, herança do rock. Mas não como essa. “Earth Song” é algo mais
épico, dramático e essencial. Ela é uma lamentação tirada das páginas de Jó
e Jeremias, uma profecia apocalíptica que lembra as obras de Blake, Yeats
e Eliot.
Ela transmite, musicalmente, o que a estética magistral de Picasso,
Guernica, transmite em arte. (1) Dentro das turbulentas cenas de destruição
e sofrimento dela eram vozes – chorando, implorando, gritando para serem
ouvidas. (“E quando a nós?”).
“Earth Song” se tornaria o mais bem sucedido hino sobre o meio
ambiente já gravado, alcançando o topo dos charts em mais de quinze
países e vendendo mais de cinco milhões de cópias. Mas os críticos nunca
souberam muito o que fazer com isso. A incomum fusão de opera, rock,
gospel e blues dela soa como nada no rádio. Ela desafia qualquer
expectativa sobre um hino tradicional. No lugar de nacionalismo, ela
visiona um mundo sem divisão ou hierarquia. No lugar de dogmas
religiosos, ela ansiava por uma mais ampla visão de equilíbrio ecológico e
harmonia. No lugar de uma simplista propaganda por uma causa, ela era
uma genuína expressão artística. No lugar de um refrão jingle que poderia
ser estampado em uma camiseta ou na Billboard, ela oferece um choro
universal, sem palavras.
Notas do autor: Incidentalmente, a pintura de Picasso foi, similarmente,
desdenhada pelos críticos como a visão infantil de um excêntrico. Ela é,
agora, mundialmente considerada um dos mais importantes trabalhos de
arte do século 20.
Privilégio e Dor
Jackson se lembrava do exato momento no qual a melodia surgiu.
Foi na segunda noite dele em Viena. Do lado de fora do hotel dele,
além da Ring Strasse Boulevard e o alastrado Stadtpark, ele poderia ver os
majestosos museus iluminados, catedrais e opera houses. Era um mundo de
cultura e privilégios muito distante do lar da infância dele, em Gary,
Indiana. Jackson estava hospedado em uma elegante suíte conjugada,
revestida por janelas amplas e uma vista de tirar o fôlego. Apesar de toda
essa opulência em volta, ele estava, emocionalmente e mentalmente, em
outro lugar.
Não era mentalmente solidão (embora ele, certamente, sentisse isso).
Era algo mais profundo – um esmagador desespero sobre a condição do
mundo.
Talvez a mais comum característica associada à celebridade seja
narcisismo. Em 1988, Jackson, certamente, tinha razões para ser egoísta.
Ele era a pessoa mais famosa do planeta. Para todos os lugares que ele
viaja, ele criava massiva histeria. No dia do concerto lotado dele no Prater
Stadium, em Viena, um artigo da AP disse: “130 Fãs de Jackson
Desmaiaram no Concerto.” (2) Se os Beatles eram mais populares que
Jesus, como uma vez John Lennon alegou, Jackson bateu toda a Santa
Trindade.
Enquanto Jackson apreciava a atenção, de certa forma, ele também
sentia uma profunda responsabilidade em usar essa celebridade para mais
que fama e fortuna (Em 2000, o Guines Book of Records o citou como o
artista pop mais filantropo da história). (3) “Quando você vê as coisas que
eu tenho visto, e viaja pelo mundo todo, você não seria honesto com você
nem com o mundo se [desviasse o olhar]”, Jackson explicou. (4)
Em quase todas as paradas dele na Bad World Tour, ele visitaria
orfanatos e hospitais. Apenas dias antes, quando em Roma, ele parou no
Hospital Infantil Bambin Gesu, carregando presentes, tirando fotos, e
assinando autógrafos. Antes de partir, ele prometeu uma doação de mais de
100 mil dólares.
Antes e depois dos concertos, ele tinha crianças desprivilegiadas e
doentes trazidas para o estádio. “Todas as noites, as crianças viriam em
macas, tão doentes que elas mal podiam erguer a cabeça dela”, relembra o
treinador de voz, Seth Riggs. “Michael ajoelharia ao lado das macas,
colocando a cabeça ao lado das delas e, assim, ele poderia ter a foto dele
tirada com eles e, depois, dava a eles uma cópia para lembrarem o
momento. Eu não podia suportar isso. Eu estaria no banheiro chorando. As
crianças teriam certas regalias na presença dele. Se isso desse a elas energia
por mais um par de dias, para Michael, tinha valido a pena.” (5)
Notas do autor:
2. “130 Fãs Desmaiam no Concerto de Jackson.” The Telegraph, 4 de
junho de 1988
3. Durante a vida dele, Jackson doou mais de 300 milhões de dólares para
várias caridades. Além de dinheiro, ele doou incontáveis horas do tempo
dele, e tornou amigo de vítimas da AIDS e câncer começou as própria
fundações e iniciativas dele e, é claro, incorporou os temas nas músicas
dele.
4. Shumley Boteach. The Michael Jackson Tapes. Vangurad Press, 2009
5. J. Randy Taraborrelli. Michael Jackson: The Magic and the Madness.
Pan Books, 2004
Eu Os Sinto Dentro de Mim
Enquanto performando ou ajudando crianças, Jackson se sentia forte
e feliz, mas quando ele voltava para o quarto de hotel dele, uma
combinação de ansiedade, tristeza e desespero, às vezes, agarravam-no. (6)
“Quando nos conhecemos, por volta de 1988” recorda o médico e
autor Deepak Chopra, “eu fui atingido pela combinação de carisma e
deslumbramento em torno de Michael. Ele seria cercado por multidões no
aeroporto, apresentaria um show exaustivo por três horas e, então, sentar-
se-ia nos bastidores, depois, como ele fez uma noite em Bucharest,
bebendo uma garrafa de água, observando alguma poesia de Sufi, quando
eu entrei na sala, e querendo meditar”. (7)
Jackson sempre foi sensível ao sofrimento e injustiça. Mas nos anos
recentes, o sentimento de responsabilidade moral dele tinha crescido. O
estereótipo da vaidade dele ignorava a natural curiosidade e a mente
absorvente como uma esponja dele (um colaborador o descreveu como
normalmente “bombeando as pessoas por informação”). Enquanto ele não
era um sabichão político (Jackson, inquestionavelmente, preferia o reino da
arte a políticas), ele, também, não era indiferente ao mundo em volta dele.
Ele lia compulsivamente, assistia a filmes, conversava com especialistas e
estudava assuntos pessoalmente. Ele estava investindo profundamente e
tentando entender e mudar o mundo.
Em 1988, ele, certamente, tinha razão para se preocupar. As notícias
pareciam capítulos de uma antiga escritura: havia ondas de calor e de secas,
massivos incêndios florestais, terremotos, genocídio e fome. Violência
aumentava na Terra Santa, enquanto as florestas eram varridas na
Amazônia e lixo, óleo e esgoto arrebentam nas praias. No lugar de
Personalidades do Ano do Times, a estória da capa final de 1988 foi
dedicada à “Terra em perigo”. (8) De repente, ocorreu a muitos que
estamos destruindo nosso próprio lar.
A maioria das pessoas lia ou assistia às notícias casualmente,
passivamente. Eles se tornaram dormentes àquelas imagens e estórias
horríveis projetadas na tela. Mas tais estórias, frequentemente, levavam
Jackson às lágrimas. Ele as internalizavam e sentia dor física. Quando as
pessoas diziam a ele para, simplesmente, desfrutar a própria boa sorte, ele
ficava com raiva. (9) Ele acreditava fortemente na sentença de John Donne
de que “nenhum homem é uma ilha”. Para Jackson, a ideia se estendia a
toda a vida. Todo o planeta era conectado e intricadamente valioso.
“[Para a pessoa comum]”, ele explicou, “ela vê problemas ‘lá fora’
que têm que ser resolvidos”... mas eu não sinto dessa forma – esses
problemas não estão ‘lá fora’ realmente. Eu os sinto dentro de mim. Uma
criança chora na Etiópia, uma gaivota se debate pateticamente no óleo
derramado... um soldado adolescente treme de terror, quando ele escuta os
aviões sobrevoarem: Isso não está acontecendo dentro de mim, quando eu
vejo e escuto sobre eles?”(10)
Uma vez, durante um ensaio de dança, ele teve que parar, porque
uma imagem que ele tinha visto mais cedo, naquele dia, de um golfinho
preso em uma rede o deixou tão emocionalmente perturbado. “Pelo jeito
que o corpo dele estava emaranhado nas linhas”, ele explicou, “você
poderia ler tanta agonia. Os olhos dele estavam vagos, mas inda havia
aquele sorriso, aquele que os golfinhos nunca perdem... Assim, lá estava
eu, no meio do ensaio, e eu pensei: ‘Eles estão matando uma dança’”. (11)
Quando Jackson performava, ele podia sentir essas emoções
turbulentas surgindo através dele. Com a dança e o canto dele, ele tentava
transfundir o sofrimento – dar a ele expressão, significado e força. Isso era
libertador. Por um breve momento, ele podia levar a audiência dele (e ele
mesmo) para um mundo de harmonia e êxtase. Mas inevitavelmente, ele
era atirado de volta à crueldade do “mundo real”.
Notas do autor:
6. “Quaisquer grandes artistas estão lutando com a loucura e a solidão
deles, os medos deles, ansiedades e inseguranças”, observa Cornell West,
“e eles estão transfigurando isso em formas complicadas de expressão que
afetam nossos corações, mentes e almas e nos lembra de que nós somos,
pois, seres humanos, a fragilidade da nossa condição humana e a
inevitabilidade da morte... [Michael] foi capaz de se expressar de tal forma
que ele nos permitiu ter um senso do que é esta vivo.” “Professor de
Georgetown acessa o legado cultural de Michael Jackson.” The Tavis
Smiley Show. PBS. 30 de junho de 2009.
7. Deepak Chopra. “Um Tributo ao Meu Amigo.” The Huffigton Post. 26
de junho de 2009.
8. “Nenhum indivíduo sequer, nenhum movimento capturou imaginações
ou dominou manchetes mais que o aglomerado de rocha e solo e água e ar
que é nosso lar comum.” “Planeta do Ano: O Que Estamos Fazendo na
Terra. Time. 2 de janeiro de 1989.
9. Ironicamente, no mesmo ano que Michael Jackson escreveu “Earth
Song”, “Don’t Worry, Be Happy” de Bobby McFerrin ganhou o Grammy
de Gravação do Ano.
10. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections.
Doubleday, 1992.
11. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections.
Doubleday, 1992.
Esta é a Música Dela
Muita dessa dor e desespero circulava dentro de Jackson, quando ele
estava no quarto de hotel dele, em Viena, meditando.
Então, de repente, ela veio. “Caiu no meu colo”, ele, mais tarde, se
recordou do momento. (12) A música da Terra. Uma música a partir da
perspectiva dela, a voz dela. Uma lamentação e súplica.
O refrão veio a ele primeiro – um choro sem palavras. Ele apanhou o
gravador dele e apertou gravar. Aaaaaaaaah, Ooooooooh.
As acordes eram simples, mas poderosos: Lá- bermenol menor a Dó-
sustenido tríade; Lá-bermenol menor sétimo para Dó- sustenido tríade,
depois, a modulação sobe, Si- bermenol menor para Mi-bermenol tríade. É
isso. Jackson pensou. Ele, daí, trabalhou na introdução e alguns dos versos.
Ele imaginou o alcance dela na cabeça dele. (13)
“Earth Song”, ele determinou, seria a maior canção que ele já
compôs.
Notas do autor:
12. Como era de costume durante a Bad World Tour, Jackson foi
“contrabandeado” para dentro do hotel dele, em Viena, pela porta dos
fundos, junto com Bill Bray, o chefe de segurança dele de muito tempo e a
comitiva de acompanhamento. O quarto de hotel dele se tornou uma
espécie de cela de prisão – se bem que uma muito luxuosa. Tão grande era
o desejo dele por privacidade, que até mesmo as faxineiras no Marriot
Hotel se lembram dele “desaparecendo dentro de outro quarto”, quando
elas vinham limpar. O único momento em que ele era visto publicamente,
era quando ele acenava para os fãs da janela e jogava bilhetes e autógrafos.
13. A citação completa de Jackson sobre como “Earth Song” veio até ele:
“Eu me lembro de estar escrevendo ‘Earth Song’, quando eu estava na
Áustria, em um hotel e eu estava sentindo tanta dor e estava sofrendo tanto
pelo estado do planeta Terra. Para mim isso é Canção da Terra, porque eu
acho que a natureza está tentando tanto compensar pela má administração
da Terra pelo homem. E com o desequilíbrio ecológico prosseguindo e com
tantos problemas no meio ambiente, eu penso que a Terra sente dor e ela
tem feridas e é sobre alguns dos prazeres do planeta também, mas esta é a
minha chance de, basicamente, fazer as pessoas ouvirem a voz do planeta.
E isso é ‘Earth Song’. E foi isso que inspirou a música. E ela, apenas, de
repente, caiu no meu colo, quando eu estava em turnê na Austrália.”
Agora é o Momento da Eternidade
Aproximadamente, quase um ano depois, quando Jackson retornou
da turnê, “Earth Song” (que era, então, referida apenas como “Earth”) foi
uma das primeiras músicas que ele trouxe para trabalhar.
Era verão de 1989, ele tinha recentemente adquirido o Rancho
Neverland no Vale Santa Ynez e sentia um renovado senso de propósito e
visão para o trabalho dele. “Michael estava inspirado por fazer uma turnê e
ver o mundo", disse o engenheiro de gravação Matt Forger. “Ele voltou
com certas impressões. O comentário social dele chutou um ou dois
degraus para cima. A maioria das primeiras músicas nas quais trabalhamos
– “Black or White”, “They Don’t Care About Us”, “Heal the World” e
“Earth Song” – eram mais socialmente conscientes. A consciência dele
sobre o planeta estava muito mais à frente.” (14)
A espiritual visão mundial de Jackson tinha, também, transformado.
Criado como uma Testemunha de Jeová, ele foi ensinado a acreditar em um
Deus que era rígido e exigente (incluindo o mandamento de nunca celebrar
feriados e aniversários). O principal propósito da vida era preparar a si
mesmo, e aos outros, para o Armagedon, o que, as Testemunhas
acreditavam, era iminente e inútil tentar adiar ou evitar. O objetivo, aliás,
era se tornar um honesto membro da elite (os 144.000) que sobreviveria e
reinaria sobre a terra e ela seria livrada da fraqueza. (Se alguém não fizesse
a classe superior, eles poderiam ser parte de uma segunda classe de
Testemunhas que seriam permitidas viverem no paraíso).
Durante muito tempo na vida dele, Jackson tentou acreditar nessa
doutrina. Ele se debruçava sobre a Bíblia e sentia-se ansioso sobre a eterna
salvação dele. Ele frequentemente fazia perguntas aos anciãos da igreja
sobre as doutrinas que ele considerava confusa e injusta. Mas em 1987, ele
tinha aprendido e experimentado o bastante para decidir abdicar,
oficialmente, da fé. Em um poema Jackson escreveu: “Mas eu escolhi
quebrar e ser livre/Cortar aqueles nós, assim eu pude ver/ Aqueles laços
que me aprisionavam em memórias de dor/ Aqueles julgamentos,
interpretações que confundem meu cérebro.” (15)
No lugar disso, ele desenvolveu muito mais inclusivo e libertador
entendimento de si mesmo, o mundo e o divino (informado, em parte, pela
exposição dele às ideias Orientais e Transcendentalistas). “É estranho que
Deus não tenha pensado em expressar-se, Ele/Ela, em todas as religiões do
mundo, enquanto as pessoas continuam se agarrando à noção de que a
forma delas é a única forma correta”, ele escreveu no livro dele, de 1992,
Dancing the Dream. Em outra obra, no lugar da anterior concepção dele
sobre a pós-vida, ele escreve: “O Céu é aqui/ Agora mesmo é o momento
da eternidade/ Não se engane/ Reclame sua alegria.” (16)
Esse novo entendimento teve um impacto profundo na criatividade
dele, incluindo “Earth Song”. Se Deus não era um pai exigente, mas uma
presença e energia inspiradora como música e natureza – se a destruição
global e o Armagedon eram inevitáveis, como ele foi ensinado, mas algo
para tentar previamente curar – isso tinha cruciais implicações para o
propósito da arte dele. Além de arrecadar dinheiro para a caridade, ele
percebeu, ele poderia usar o trabalho criativo dele para protestar contra
injustiça, desafiar prevalecentes aparatos do poder, para mudar a
consciência das pessoas – e, assim, mudar o mundo desde as raízes.
Jackson ainda valorizava partes da educação religiosa dele – na
verdade, muito de “Earth Song” está enraizado no fervoroso Jeremias da
Bíblia – mas agora estava livre de um credo em particular e fundido com
objetivos mais humanísticos. Ele não estava contente em simplesmente
esperar por que Deus concertasse o mundo ou o aplacasse com promessas
de paraíso. “Isso começa conosco”, Jackson insistiu. “Somos nós! Ou
nunca será feito.”
Notas do autor:
14. Matt Forger. Entrevista Pessoal do Autor. 5 de maio de 2011.
15. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections.
Doubleday, 1992.
16. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections.
Doubleday, 1992.
Deixe a Música Criar a Si Mesma
Quando retornou ao Estúdio Westlake em junho de 1989, ele estava
explodindo com ideias criativas. Em uma tábua na mesa mixagem, ele
colocou uma citação de John Lennon: “Quando a verdadeira música vem a
mim” lia-se, “a música das esferas, a música que ultrapassa entendimento –
que não tem nada a ver comigo, porque eu sou apenas o canal. A única
alegria para mim é por ela ser dada a mim e transcrevê-la como um
médium... São por esses momentos que eu vivo.” As palavras ressoavam
profundamente para Jackson: era exatamente assim que ele se sentia sobre
criatividade.
“Deixe a música criar a si mesma”, ele sempre relembrava a sim
mesmo. Para Jackson, Lennon era uma alma parente: um talento
similarmente excêntrico, com ambição, idealismo e desafio para reimaginar
o mundo.
Ainda, Jackson sabia que levava tempo e esforço para realizar o que
ele via e ouvia na mente dele. Algumas músicas poderiam ser completadas
dentro de semanas, enquanto outras levariam anos. Com “Earth Song”, ele
teve o esqueleto básico trabalhado, mas ele ainda não estava totalmente
certo sobre como executá-la. A música tinha que ser grande, dramática, e
visceral e os contribuidores precisavam ser bem certos. Quem quer que
estivesse colaborando precisava realmente entender o escopo e a visão.
Um Épico em Embrião
No fim de julho de 1989, Jackson chamou Bill Bottrell, um jovem e
esperançoso produtor/engenheiro com quem Jackson tinha trabalhado no
estúdio de Hayvenhurst, durantes as sessões das Turnês Victory e Bad.
Enquanto nenhuma das colaborações dele fez parte do álbum Bad, o par
desenvolveu uma forte química criativa que resultaria em algumas das
melhores faixas do álbum Dangerous (incluindo “Balck or White” e “Give
In To Me”) e várias outras joias lançadas mais tarde (incluindo “Street
Walker” e “Monkey Business”).
Bad foi o último álbum de Jackson com Quincy Jones. A decisão de
não renovar com Quincy Jones causou alguns sentimentos desgastados,
mas Jackson sentiu que o movimento era necessário para o crescimento
artístico dele. O álbum Dangerous foi a primeira chance de ele agir como
produtor executivo e ele ficou animado por estar, finalmente, no completo
controle criativo.
Bottrell era uma escolha natural para “Earth Song”. Ele fez muito
rock e blues, mas poderia se adaptar a quase todos os estilos. Ele também
podia tocar múltiplos instrumentos, produzir e executar engenharia. O mais
importante para Jackson era a forma como eles trabalhavam juntos.
“Michael estava sempre preparado para escutar e confiar em mim, mas ele
também meio que guiava o tempo todo”, recorda Bottrell, “Ele sabia por
que eu estava lá e, entre todas as músicas que ele estava gravando, o que
ele precisava de mim... Ele tinha precisos instintos musicais. Ele tinha uma
gravação completa na cabeça dele e ele tentava fazer as pessoas
apresentarem isso para ele. Algumas vezes, as pessoas o surpreendiam e
ampliavam o que ele ouvia, mas realmente o trabalho dele é extrair de
músicos, engenheiros e produtores o que ele escuta quando ele acorda pela
manhã”.
Como Forger, e outros, Bottrell sentiu uma intensificação na paixão
de Jackson por questões sociais e ambientais. Essa era uma paixão que eles
compartilhavam. Eles assistiam inúmeros documentários juntos e sempre
discutiam assuntos como direitos dos animais, desflorestamento, injustiça
social, imperialismo e pobreza. Um dia, Jackson trouxe, em uma VHS de
1985, um filme dirigido por John Boorman, A Floresta de Esmeraldas, o
que reconta a estória de uma tribo brasileira (o “Povo Invisível”) e da
floresta tropical sitiada por corporação de colonizadores. Isso é um tema já
gasto, agora, mas quando foi lançado, foi revolucionário para o movimento
ecológico, atraindo massiva atenção para a destruição da Amazônia.
Jackson disse a Bottrell para assistir ao filme e internalizá-lo para se
“preparar” para trabalhar em “Earth Song”. 18
Quando eles chegaram aos estúdios, Jackson deixou Bottrell escutar
o que ele tinha: uma introdução (o que Bottrell, rapidamente, executou em
um piano), alguns versos, o refrão, e algumas letras ásperas. Bottrell ficou
imediatamente tomado pelas duas linhas melódicas, ele pôde ouvir que a
música tinha grande potencial.
Brad Buxer, um tecladista treinado classicamente, que tinha
trabalhado com Stevie Wonder e foi trazido a bordo por Bottrell, naquele
verão, ficou igualmente impressionado. “O refrão é lindo”, ele disse. “Eu
adoro coisas assim – tríades a menor 7 acordes. Um dos aspectos mais
mágicos da música é quando você mixa as coisas. Muito de básico de no
rock and roll são tríades, e jazz são acordes complexos.
“Nenhum músico de jazz diria que ‘Earth Song’ é complicada, mas
isso não é sobre ser complexa. Se feito direito é lindo. É como poesia.
Sutileza é tudo. Michael tem um belo senso de arte.” 19
Notas do autor:
17. Karen Lawrence. John Lennon. In His Own Words. Andrews McMeel,
2005.
18. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 14 de maio de 2011.
19. Brad Buxer. Entrevista Pessoal do Autor. 16 de maio de 2011.
Trilogia da Terra
Gradualmente, nos meses subsequentes, as várias partes da música
começaram a ser lapidadas. “isso se tornou uma grande obsessão para nós
dois”, recorda Bottrell. (20)
As primeiras preocupações de Jackson era obter as dimensões e
atmosfera correta. Ele queria que tivesse a paixão e intensidade da música
gospel, mas a paisagem sonora de algo como Pink Floyd ou Brian Eno,
algo emprestado do rock progressivo, ambiente, e musica mundial, mas
ainda clássica e acessível. Ele não queria que a música fosse muito
complexa ou abstrata, desde que a música seria criada para mover massas
de pessoas. A chave, portanto, era fazer “parecer simples”, mas formá-la
com camadas de detalhes, textura, nuance e riqueza. (21)
Esse processo começou com a ajuda de Bill Bottrell e o compositor
Jorge del Barrio e continuou, anos depois, com David Foster, Bill Ross e
Bruce Swedien.
Jackson, originalmente, concebeu “Earth Song” como uma trilogia
(similar a “Will You Be There”), composta de uma peça de orquestra
moderna, a música principal, e, depois, um poema recitado (mais tarde
lançado com “Planet Earth”). No total, a música teria mias de 13 minutos.
O poema, que contém ecos de Wordsworth, Keats e Whitman, entre outros,
era, essencialmente, uma cósmica canção de amor ao planeta. “Nas minhas
veias, eu tenho sentido o mistério”, Jackson disse.
De corredores do tempo, livros de história
Canções da vida das eras, latejantes no meu sangue
Tem dançado o ritmo da maré e cheia
Suas nuvens nebulosas, sua tempestade elétrica
Eram turbulentas tempestades em minha própria forma
Eu tenho lambido o sal, o amargo, o doce
De todos os conflitos, da paixão, da dor
Sua turbulenta cor, sua fragrância, seu sabor
Tem excitado meus sentidos além de toda urgência
Na sua beleza eu tenho conhecido o como
De infinita alegria, este momento de agora. (22)
A linguagem sensual de Jackson evoca um tipo diferente de
relacionamento com o mundo natural: algo de intimidade, maravilha e
respeito. Isso rejeita a tradicional noção ocidental de que os humanos “são
donos” da natureza e podem fazer como ela o que lhes agradam.
Para Jackson, natureza era muito mais que um belo cenário. Ele a
amava tanto quanto amava uma pessoa. Era uma fonte de profunda alegria,
inspiração e rejuvenescimento. (23) “O mundo inteiro abunda em mágica”,
ele escreve em uma obra no livro dele, de 1992, Dancing the Dream. “[A
Natureza] tem exposto a verdadeira ilusão ou inabilidade de ser incrível
pelas maravilhas dela. Toda vez que o sol nasce, a Natureza está repetindo
um comando: ‘Veja! ’ A mágica dela é infinitamente exuberante e tudo que
temos que fazer é apreciá-la.” (24)
Jackson trabalhou com Jorge del Barrio na introdução orquestral. Um
talentoso compositor e condutor, Del Barrio, (que mais tarde trabalharia
com Jackson em diversas outras músicas, incluindo “Who Is It” e
“Morphine”), descreveu que trabalhar com Michael como “uma das mais
memoráveis experiências da minha vida. Ele estava apaixonado pela
música dele. Ele passava a maior parte do nosso tempo sozinho, criando.
Nós éramos muito amigos e forças criativas trabalhando juntas”. (25)
Jackson considerava del Barrio um “gênio” e perfeito para o que ele queria
realizar com “Earth Song”.
Em contraste com a seção da Nona Sinfonia de Bethoveen, que
Jackson usou para conduzir “Will You Be There”, o prelúdio para “Earth
Song” era mais ambiente e primordial. Ela contém sons naturais, tambores
indígenas, profundos blocos de sintetizador e cordas exuberantes. “Eu
trabalhei com Michael em criar um som sinistro”, recorda del Barrio, “o
começo de Earth, como poderia ter soado, quando ela foi criada, e a vida
começa e quando ela se desenvolveu para a Mãe Terra e acabou se
transformando em “Earth Song”, que fala sobre a morte do planeta nas
mãos do Homem. Michael sentia que essa música era para ser uma que,
definitivamente, ajudaria a salvar o mundo.” (26)
De acordo com o engenheiro de gravação, Matt Forgger, a música
era “muito moderna, muito inovadora. Ele queria mudar as regras da
música pop, esticar e experimentar. Era um som completamente diferente
para Michael. Todo o conceito era muito ambicioso”. (27)
Em última análise, no entanto, Jackson não pôde, completamente,
fazer as engrenagens funcionarem juntas da forma que ele esperava e
decidiu manter apenas a porção principal. Ainda, muitas das mesmas ideias
e sons foram complementadas no arranjo orquestral de del Barrio,
incluindo as dramáticas cordas. Jackson também trouxe membros da banda
Toto, Steve Porcaro e David Paich, para ajudar com a programação de
sintetizador. A atmosfera da faixa, ele sabia, era crucial. Os ouvintes
tinham que sentir a música pela música. Para, efetivamente, transportá-los.
Também tinha que ter a arco dramático e tensão da estória. O desafio era
alcançar isso em seis minutos e meio.
Notas do autor:
20. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 14 de maio de 2011.
21. “Com Michael”, explica Matt Forger, “a base pode ser ilusoriamente
simples, mas muito está acontecendo. Muitos detalhes e trabalho. Ele
entendia contraste. Ele era muito particular sobre textura. Ele queria que
[“Earth Song”]soasse fresca e nova e tivesse este tipo de peso e ímpeto.”
Entrevista Pessoal do Autor em 15 de maio de 2011.
22. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections.
Doubleday, 1992.
23. Jackson estava lendo Emerson, extensivamente, naquela época. “Nos
bosques está a juventude perpétua”, Emerson escreveu no ensaio dele de
1835, “Nature”, “Um festival perene... De pé sobre o chão nu, – minha
cabeça banhada pelo ar jovial, e enaltecida dentro de espaços infinitos, todo
o egoísmo mesquinho desaparece. Eu me torno um globo ocular
transparente; eu não sou nada; eu vejo tudo; as correntes dos Ser Universal
circulam em mim, eu sou parte ou partícula de Deus.” Quando Jackson se
deparou com a passagem, ele estava exilado. Esta foi uma das razões pelas
quais ele comprou o Rancho Neverland, longe do congestionamento e
distrações da cidade. Dancing the Dream é repleto de tais reflexões
Emersonianas sobre ser transformado em natureza.
24. Michael Jackson. Dancing the Dream: Poems and Reflections.
Doubleday, 1992.
25. Jorge del Barrio. Entrevista Pessoal do Autor. Traduzida por Ramon del
Barrio. 25 de junho de 2011. “Michael considerava meu pai extraordinário
e eles também passavam muito tempo rindo e fazendo piadas.”, diz Ramon
del Barrio, depois de falar com o pai dele. “Papai e Michael trabalharam
juntos por muitos anos e eu tenho certeza de que há muitas músicas que
não foram lançadas, também.”
26. Jorge del Barrio. Entrevista Pessoal do Autor. Traduzida por Ramon del
Barrio. 15 de junho de 2011.
27. Matt Forger. Entrevista Pessoal do Autor. 15 de maio de 2011.
Faça Isto Grande
Jackson estava procurando por algo particularmente único e
poderoso para o baixo. Ele escutou um som que ele realmente gostou no
trabalho de Guy Pratt, um guitarrista renomado que estava tocando baixo,
incidentalmente, com Pink Floyd naquela época. Pratt tinha, também,
recentemente tocado no hit de Madona, “Like a Prayer” (da qual Bottrell
foi engenheiro).
Através de Bottrell, Jackson estendeu o convite para trabalhar na
faixa e Pratt aceitou. Depois de saber sobre a visão de Jackson para a
música e escutar uma demo, ele criou uma massiva, experimental, linha de
baixo de oitavo pedal no Westlake Studios. (28) O profundo som, de vibrar
a alma, ouvido na gravação foi alcançado usando um oitavo divisor, assim,
esse é o baixo que estava tocando em dois oitavos de uma vez. “Isso foi o
que deu à musica a grandiosidade dela”, explica Bill Bottrell. (29)
Jackson adorou isso. Na verdade, o efeito foi impressionante para o
mais exigente dos profissionais. “‘Earth Song’ tinha uma linha de baixo
mais profunda que qualquer faixa que eu tinha ouvido”, disse Brad Buxer.
“Ela é extraordinária. Normalmente, você pode mixar uma música para
duas faixas em meia polegada analógica e ter um pouco mais de ímpeto no
baixo, mas quando você mixa para digital, você não pode, porque isso irá
desfigurar. Essa faixa tinha, de alegam forma, segurado mais dos elementos
do baixo, ela é mais saturada – portanto, isso dá a sensação de um final
mais baixo que um CD pode, verdadeiramente, segurar. Billy e Bruce
[Swedien] eram mestres nisso. Há uma mágica em lapidar nessas
frequências baixas, tirando certos elementos, assim, você pode ter outros
elementos. Psicologicamente, isso fez o baixo soar tão rico e alto quanto
possível. (30)
Logo depois da sessão de trabalho de Pratt, o baterista britânico,
Steve Ferrone (quem tocou com Petty e os Heartbreakers) entrou para
executar as partes da bateria. Jackson e Bottrell comunicaram o quão épico
ela deveria ser, especialmente depois do segundo verso. 31 “Isto é este
rítmico muito heroico de rock”, diz Bottrell. “E a bateria explode. Michael
continuou dizendo: ‘Faça isto grande, faça isto grande.’” (32)
Uma vez que a maior parte da música estava no lugar, o legendário
Coro Andraé Crouch (que anteriormente cantou em “Man In The Mirror” e
participou de outras duas faixas de Dangerous) veio para cantar a parte
deles no final épico da música. Toda a sessão foi filmada (com multiplicas
câmeras) e revelou uma extraordinária cena de colaborativa energia:
Jackson e Bottrell colocaram sons nos lugares e discutiam os arranjos;
ensaios e ajustes finais foram feitos para a criação e equipamento. O coro
se reuniu em um círculo e apresentou o magistral canto deles.
“Nós demos a eles uma fita para ensaiar por poucos dias, antes do
ensaio com o vocal guia de Michael”, recorda Bottrell, “e eles vieram com
o mais maravilhoso arranjo”. (33) O grande som esférico foi capturado
usando dois microfones Neumann M-49 e um vintage EMT 250, para
reverberar. O resultado foi um clímax poderoso, dramático, com a natural
energia de uma performance ao vivo.
Notas do autor:
28. Em entrevistas e apresentações de comédia, Guy Pratt, contas muitas
diferentes estórias sobre as experiências dele, dizendo que Jackson estava
escondido atrás de uma mesa de mixagem, dando instruções através de um
guarda-costas Samoano. Eu fui informado, no entanto, que tais estórias são,
notoriamente, inexatas.
29. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 14 de maio de 2011.
30. Brad Buxer. Entrevista Pessoal do Autor. 17 de maio de 2011.
31. Durante as sessões de HIStory, Bruce Swedien adicionou um TC
Eletronic M5000, altamente modificado, “Woody Hall” reverbera na
bateria para acentuar ainda mais o poder deles. No Estúdio Com Michael
Jackson. Hal Leonard, 2009.
32. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor.14 de maio de 2011.
33. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 27 de maio de 2011.
Descobrindo Tudo O Que Você Quiser
Jackson e Bottrell continuaram a remendar a faixa por mais de um
ano – os primeiros vários meses no Westlake e, depois, no Record One, em
Sherman Oakes, Califórnia. Enquanto as sessões de Dangerous
progrediam, no entanto, muito da atenção de Jackson mudou para as faixas
rítmicas, principalmente, quando o new jack swing produtor, Teddy Riley,
foi trazido a bordo no início de 1991. Contudo, Bottrell sentia-se confiante
de que “Earth Song” não apenas faria parte do álbum Dangerous, mas
serviria com a obra central dele.
Quando o álbum estava sendo finalizado, no fim de 1991, Bottrell
submeteu uma fita base (uma simples multifaixas que incorpora a
mixagem). A música estava, agora, intitulada “What About Us” e Bottrell a
considerava “finalizada”, exceto por alguns vocais overdubs finais. “Ela era
uma das nossas faixas prioritárias desde o começo”, ele disse. “Eu estava
muito orgulhoso dela.” (34)
Mas para surpresa dele (e de muitos outros), Jackson a cortou da
trilha sonora final de Dangerous. Bottrell ficou profundamente
desapontado. “Eu não estava presente quando eles levaram o pessoal da
Sony para ouvir todas as coisas no playblack, portando eu descobri depois.”
Jackson ficou desapontado também. A música significava muito para
ele. Mas o último compromisso dele era com a música – ela tinha que estar
absolutamente certa, antes que ele pudesse lança-la e ele não sentia que
estava totalmente lá.
Todos que trabalhavam com Jackson entendiam que ele era um
meticuloso perfeccionista: todo detalhe, desde a produção à mixagem e à
masterização, tinha que ser, exatamente, o que ele queria, antes que fosse
“gravada em cimento”. Isso poderia ser frustrante às vezes. Alguns
colaboradores trabalhavam com ele por meses e nenhum dos materiais
resultante acabaria no álbum. Algumas vezes, ele, admitidamente, pensava
exageradamente e trabalhava exageradamente uma faixa, quando ele
deveria, simplesmente, fixar com a primeira versão.
Mas, frequentemente, o perfeccionismo valia a pena, pois algumas
novas revelações ocorreriam a ele que tornariam a música mais forte.
“Michael, realmente, tem sempre sentido melhor enriquecer algo por um
longo período de tempo, para descobrir tudo que ele podia descobrir sobre
isso”, reconhece Bottrell. “Havia um processo que aprendi bem, pelo qual
todos os lançamentos de MJ passavam: um processo de habitação,
repensar, substituir midi por live players, etc. Era um processo.” (35) Em
muitos casos, o ouvinte médio, provavelmente, nem perceberia a diferença,
mas Jackson sentia intrínseca obrigação em fazer a arte dele “tão perfeita
quanto humanamente possível”.
Com “Earth Song”, além da letra inacabada, a principal preocupação
dele era conseguir uma energia mais ímpeto, energia e poder na segunda
metade. Enquanto os choros em falsete (o qual Bottrell descreveu como
“muito parecido com Marvin Gaye”) na chamada-e-reposta eram
comoventes, ele não tinha certeza se isso capturava a revolta e urgência que
ele esperava transmitir.
Havia, também, alguma nuances menores que ele queria ajustar com
a instrumentação e a mixagem. “Earth Song”, portanto, ficaria no cofre por
outros quatro anos, enquanto Jackson promovia e estava em turnê por
Dangerous.
Notas do autor:
33. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 27 de maio de 2011.
34. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 14 de maio de 2011. “Eu
continuo muito orgulhoso dela”, disse Bottrell, “não há nada com esta
música em termos de dimensão e estrutura... ela tem o mais amplo alcance,
a mais incomum combinação de elementos... Ela transmite emoções tão
profundamente sentidas e poderosas.”
35. Richard Buskin. “Michael Jackson’s ‘Black or White’. Sound on
Sound.” Agosto de 2004. Also Gearslutz Forum.” Poste aqui se você
também trabalhou no álbum Dangerous de Michael Jackson. 27 de junho
de 2009.
Fazendo HIStory
Quando a gravações de HIStory começaram em 1994 no Hit Factory,
em Nova Iorque, Jackson ficou animado em finalmente voltar a trabalhar
na obra. Ele se sentia confiante de que ela iria encontrar um lar no novo
álbum. A única questão era como torná-la melhor e quem assistir-lhe a
finalizar a versão dele.
Quando aconteceu, Jackson estava em grande parte satisfeito com a
demo na qual ele tinha trabalhado com Bottrell durante as sessões de
Dangerous. A extensão, arranjo e produção continuavam, quase,
exatamente o mesmo. Porém, houve algumas adições cruciais, mais
significativamente no clímax da música.
Jackson se voltou para o “criador de hits”, David Foster, (que
também tinha trabalhado com Jackson em “Childhood” e “Smile”), para
ajudar a terminar a faixa. Foster, por sua vez, trouxe o talentoso
orquestrador Bill Ross, para dar à faixa um som mais completo, poderoso,
mais notável nas partes instrumentais que surgiam. (36) “A orquestra
adicionou muito drama”, disse o engenheiro assistente Rob Hoffman. “Ela
transformou esta bela música em um épico.”
Outra importante adição foram os acordes da guitarra meio blues de
Michael Thompson. A posição foi, incialmente, oferecida a Eric Clapton,
mas Clapton recusou, em razão do conflito de agendas. Thompson,
entretanto, que tinha trabalhado com Clapton, assim como David Foster,
acabou sendo perfeito para o trabalho. As emotivas frases dele ecoavam o
doloroso canto de Jackson, lindamente.
Uma nova mixagem para “Earth Song’ foi completada no Hit
Factory, em 1994. 38 a maioria supunha, naquele ponto, que a faixa estava
finalizada. Embora Jackson estivesse contente com muitos das melhorias,
contudo, ele ainda não estava totalmente satisfeito.
Quando a gravação voltou ao Record One, em Los Angeles, na
primavera de 1995, Jackson e o time dele focaram no detalhes finais. Matt
Forger estimou que cerca de 40 fitas multifaixas foram usadas no total.
“Isto cruzou formatos. Isso começou na faixa-24, trocou para digital. O
pormenor e trabalho que foi nisso foi impressionante.”
Jackson voltou-se para o mágico sonoro, Bruce Swedien, para gravar
partes dos vocais líderes. Para gravar a urgência e intensidade que Jackson
queria, Swedien gravou com um microfone tubo Neumann M-49 (em vez
do usual SM7 dele) e o teve conseguindo “tão perto quanto fisicamente
possível ao microfone, desse modo, eliminando quase todas as reflexões
anteriores... Eu não usei nenhum para-brisa. Eu o coloquei tão próximo
quanto ele poderia, possivelmente, conseguir deste incrível microfone
velho.” 40. Os resultados eram sutis, mas palpáveis. O objetivo real da
gravação da música é preservar a energia física da música e a declaração da
música em si”, explicou Swedien. (41)
Jackson guardou o final ad-libs para a última semana de gravação,
pois ele esperava “matar a voz dele” no processo. (42) Ele disse aos
engenheiros assistentes, Eddie Delena e Rob Hoffman: “Eu sinto muito,
mas eu acho que nenhum de nós vai dormir este fim de semana. Há muito a
ser feito e nós temos que ir ao Bernie [Grundman para masterização] na
segunda de manhã.” (43)
Durantes os próximos poucos dias, Jackson, com um pequeno grupo
de engenheiros comeram, dormiram e respiraram a música. “Ele ficava no
estúdio o tempo todo”, recorda Hoffman, “cantando e mixando. Eu passei
um par de momentos tranquilos com ele naquela época. Nós falamos sobre
John Lennon uma noite, enquanto ele estava se preparando para cantar o
último vocal para a gravação – o enorme ad-libs para o final de ‘Earth
Song’. Eu contei a ele a história sobre John cantando ‘Twist and Shout’,
quando estava doente e, embora a maioria das pessoas pensasse que ele
estava gritando para efeito, na verdade, era a voz dele saindo. Ele adorou
isso e, então, foi cantar com todo coração dele.” (44)
Como era do costume dele, Jackson cantou naquela noite com todas
as luzes apagadas.45 Da sala de controle, Bruce Swedien e a equipe de
engenheiros assistentes não podiam ver nada. Mas o que eles ouviram sair
da escuridão era surpreendente: era como se Jackson estivesse canalizando
dos pulmões da Terra – uma dolorosa, feroz, profética voz, dando
expressão ao sofrimento do mundo.
Aqueles que testemunharam isso podiam sentir o cabelo arrepiando
na nuca deles. Este era o Michael Jackson que a mídia nunca conheceu: um
artista tão comprometido coma arte dele que poderia dissolver
completamente dentro de uma música e traduzir as emoções dela.
“Eu tenho gravado praticamente todo mundo na música”, diz o
legendário engenheiro de som, Bruce Swedien, que também gravou Duke
Ellington, Paul McCartney, Mick Jagger e Barbara Streisand, entre outros,
“e Michael é o número um”. (46)
Notas do autor:
36. Diz o engenheiro assistente Rob Hoffman: “Eu tenho trabalhado com
Bill Ross em minhas próprias produções, especialmente por causa do
incrível arranjo que ele fez nesta música.”
37. Rob Hoffman. Entrevista Pessoal do Autor. 2 de junho de 2011.
38. Enquanto ainda estava no Hit Factory, Jackson queria gravar partes do
vocal guia dele na faixa. O desafio, entretanto, era combinar os vocais
novos dele com os originais. “Nós emprestamos o microfone U-47 de Bill
[Bottrell] e experimentamos todos os U- 47 de Hit Factory para ver o que
combinava”, recorda Rob Hoffman. “Nós acabamos encontrando um
depois de duas horas de audição.” Mais tarde, eles tiveram que voar na
ressonância do EMT-250 do Hit Factory, em Nova Iorque, quando era
usado muito proeminentemente da mixagem original de Bruce, que ele fez
em Nova Iorque”, recorda Rob Hoffman. “MJ não estava satisfeito com os
EMT do Record One neste caso. E ele estava certo. Todos nós pudemos
ouvir a diferença.” Rob Hoffman. Entrevista Pessoal do Autor. 24 de maior
de 2012.
39. Matt Forger. Entrevista Pessoal do Autor. 15 de maio de 2011. De
acordo com Rob Hoffman,
40. Bruce Swedien. In The Studio With Michael Jackson. Hal Leonard,
2009.
41. Bruce Swedien. In The Studio With Michael Jackson. Hal Leonard,
2009.
42. Rob Hoffman. Entrevista Pessoal do Autor. 24 de maio de 2011.
43. Rob Hoffman. Gearslutz Forum. “Poste aqui se você também trabalhou
no álbum Dangerous de Michael Jackson.” 27 de junho de 2009.
44. Rob Hoffman. Gearslutz Forum. “Poste aqui se você também trabalhou
no álbum Dangerous de Michael Jackson.” 27 de junho de 2009.
45. “Ele sempre insistia que as luzes fossem apagadas”, diz Bruce Swedien.
“O ser humano é, principalmente, um animal visual. Luz é distração.
Michael odiava luz quando está gravando.” Bruce Swedien. Entrevista
Pessoal do Autor. 19 de maio de 2011.
46. Bruce Swedien. Entrevista Pessoal do Autor. 19 de maio de 2011.
UM APOCALÍPESE MUSICAL
A versão final de “Earth Song” era um tour de force de seis minutos
e meio que apresenta a condição humana (e a condição de toda a vida) em
um panorama dramático. (47)
No começo é som: o pulsante ritmo de grilos e som de pássaros, a
vibrante cacofonia da noite. Isso evoca um cenário, exuberante – uma
floresta tropical ou equatorial – explodindo com música e vida. “Eu
acredito que em sua forma primordial toda a criação é som e não é apenas
barulhos aleatório, é música”, Jackson, uma vez, explicou. (48)
Uma harpa em efeito cascata abre a cena: uma pré-socializado
paraíso edênico no qual todas as coisas vivas existem em harmonia. A
harpa é inspirada, em parte, por compositores como Debussy e
Tchaikovsky (dois dos favoritos de Jackson), ambos fizeram frequente uso
do instrumento para evocar um mundo de sonhos de maravilha e
encantamento. Como um estudante de história, Jackson estava, também,
sem dúvida, consciente da rica importância simbólica da harpa. (49)
O clima efervescente evoca, nos segundo de abertura, entretanto,
rápidas transformações em algo mais agourento. Um som profundo, primal,
devagar invade, “Como um ilegítimo vapor que envolve, imediatamente,
alguns viajantes solitários.” (50) Então, vem o gancho de piano, os acordes
capturando uma mistura de melancolia e solidão. (51)
“E quanto ao nascer do sol, e quanto à chuva”, Jackson canta, “E
quanto a todas as coisas que você disse que nós iriamos ganhar.” A vos
dele está muito cansada, abatida, enquanto ele avalia o que tem sido
perdido em nome do “progresso”.
Nascer do sol e chuva são símbolos de perpétua renovação.
Em contraste, Jackson apresenta perguntas humanas por visões
limitadas, exploração e “ganho”. Nas linhas de abertura, ele está falando
sobre os objetivos da sociedade moderna. “O que nós fizemos como o
mundo?” ele pergunta, “Olhe o que fizemos.”
Abaixo, um profundo sintetizador teclado persegue como uma
sombra, os acordes dela cordas parecem nascer do solo. A narrativa dele
descreve um mundo desertificado. “Você já parou para notar/ Todo o
sangue que nós derramamos antes”, Jackson canta, a voz dele tremendo,
enquanto se eleva a um falsete, “Você já parou para notar/ Esta terra
chorando, estas margens chorando”.
Talvez, com a maioria dos cantores, tais sentimentos poderiam surgir
como piegas. (52) Mas Jackson tinha uma capacidade única de injetar peso
nas palavras, para fazer as pessoas sentirem-nas muito além da forma como
elas parecem em uma partitura. Como Marvin Gaye uma vez colocou:
“Michael nunca perderá a qualidade que separa o meramente sentimental
do realmente comovente. Está enraizado no blues, e não importa que
gênero Michael esteja cantando, esse garoto tem o blues.” (53) Em “Earth
Song” Jackson está cantando o blues em uma escala cósmica.
Com cada verso, a textura da música cresce. A guitarra reflete os
sentimentos angustiados com emotivas interjeições. A magnifica
orquestração infla e desaparece.
No segundo verso, Jackson faz referências à paz que foi “prometida”
com “seu único filho”, de repente, voltando as perguntas dele da
humanidade a Deus. Quando essas promessas de redenção serão cumpridas,
ele pergunta. Depois, ele se refere, também, a Abraão e à “terra prometida”
que foi prometida aos descendentes dele. Essas são demonstrações como a
de Jó à divindade. “Eu chorei a Ti, e Vós não me ouvistes”, Jó lamentou:
Eu não chorei a ele que eu estava com problemas?
Minha alma não estava afligida com pobreza...
E agora minha alma está derramada sobre mim;
Estes dias de aflição têm se apoderado de mim...
Minha harpa também caiu em pranto
E meu órgão dentro daqueles que choram. (54)
Como um profeta-poeta ancião, Jackson está “sondando os limites da
Todo Poderoso”, enquanto levanta profundas questões em nome dos
feridos e abandonados.
No coração da lamentação dele está a idade de ouro do dilema de por
que um inocente deve sofrer (“Você já parou para notar que/ Todas as
crianças morrendo na guerra”). A tensão dessas entradas não respondidas
cresce através dos versos, antes de romper no doloroso choro do refrão.
Escute a explosão da bateria e o baixo que faz a terra tremer, depois
do segundo verso: esse é o momento da música transformar de desesperada
para justa indignação. A intenção é sacudir as fundações do poder e mover
o ouvinte da indiferença. O segundo verso ganha mais força e ímpeto,
ganhando energia como uma tempestade.
Antes do clímax, no entanto, vem um último momento de reflexão. A
voz de Jackson está frágil e vulnerável, novamente, não mais o vociferante
representante daqueles que não tem voz. “Earth Song” é uma excelente
ilustração de quão versátil Jackson é vocalicamente: é ima voz que
“conjura o humano em extremos” – extremas alturas e emoções, extrema
vulnerabilidade e poder, desespero e raiva. (55) Na ponte, somente, ele
move da maravilhada consciência da inocência (“Eu costumava sonhar/ Eu
costumava olhar além das estrelas”) para o súbito pânico/ estranheza
(“Agora não sei onde estamos”) para o extremo desespero e revolta
(“embora eu saiba que/ fomos longe de mais!”). Essa ponte representa um
momento limiar, um estado limite entre o que foi, ou poderia ser, e o que é.
(56)
Mas é o épico clímax que se segue que empurra a música a outro
nível. O refrão chora revelado com cada vez mais e mais intensidade. O ar
rodopia com apocalíptica energia “o tumulto de poderosas harmonias”. (57)
A voz de Jackson é como Jeremias (“o profeta choroso”) em lamentação.
“Não são todas as minhas palavras como fogo... e um martelo que quebra
rochas?” (58) É como a revolucionária chamada de Shelley pelo Vento
Oeste: “Leve meus pensamentos mortos pelo universo/ Como folhas secas,
para estimular um novo nascimento... espalha [da] como de uma lareira que
não se extingue/Cinzas e faíscas... O trompete de uma profecia!” (59)
A chamada-e-resposta dele como Coro André Crouch desencadeia,
dentro do ar aberto, um diálogo que tem sido suavizado. Com cada
empenho que Jackson traz para a nossa atenção, o refrão reforça com o
recorrente canto: E quanto a nós!
E quanto a ontem? (E quanto a nós!)
E quanto aos mares? (E quanto a nós!)
Os céus estão desabando (E quanto a nós!)
Nem mesmo consigo respirar (E quanto a nós!)
O “nós” e a amplificada voz dos “Outros”: todos que têm sido
silenciados, marginalizados, oprimidos ou desconsideradas (incluindo o
meio ambiente e os animais). Jackson está testemunhado por eles, enquanto
indica o status quo. Isso é uma massiva demonstração de direitos civis
definidos para música.
O poder da troca entre Jackson e o coro é simplesmente
impressionante. “E quanto à Terra Santa?”, ele grita, enquanto o coro corre
atrás como uma torrente (“E quanto a ela?”) “Despedaçada por crenças (E
quanto a nós!) / E quanto ao homem comum? (E quanto a nós!) / Não
podemos libertá-lo? (E quanto a nós!) / E quanto às crianças morrendo? (E
quanto a nós!) Você não consegue ouvi-las chorando?”.
Então, vem um ligeiro desvio pelo repetidos refrãos, enquanto
Jackson implora: “Onde nós erramos? Alguém me diga por quê?”
A voz dele demonstra desespero e perplexidade. Como nós
chegamos aqui? Como nos tornamos isso? Alguém me diga por quê! (60)
Finalmente, quando Jackson chega ao fim da ladainha dele – exausto,
mas destemido – ele dispara: “Nós nos importamos?”, antes de deixar para
trás exclamações de angústia sem palavras. Linguagem simplesmente não
pode fazer justiça à dor e ao sofrimento que ele está tentando expressar e
trazer para a atenção do mundo. Ao fundo, os refrãos lamentosos
continuam a prantear, enquanto Jackson sobre ao topo.
O termo “apocalipse” é tipicamente entendido como a destruição que
irá acontecer no “fim dos dias”. Mas na Grécia original, isso significa uma
“Erguida do véu”, uma revelação ou profecia que ajuda a humanidade o
que está escondido à vista.
“Earth Song”, de acordo com a definição dela, é um apocalipse
musical. Ela leva os ouvintes de um imaginado paraíso de harmonia e
vitalidade para o nosso presente estado de degradação e divisão. A última
pergunta da música (“Nós nos importamos?”) é sobre apatia. Por que nós
aceitamos, passivamente? Por que não podemos ver e parar a
autodestruição? Por que não podemos imaginar e trabalhar por algo
melhor?
Notas do autor:
47. “Significava muito para [ele]”, diz Matt Forger. “Tudo isso veio junto,
de uma forma incrível. Tudo foi realizado tão completamente quanto
possível. Isso não era apenas um testemunho das habilidades de Jackson
como compositor e cantor, mas como um montador e diretor de um eclético
time de músicos, produtores e engenheiros. “O que Billy trouxe era
incrível, o que David trouxe era incrível, o que Bruce trouxer era incrível”,
diz Brad Buxer. “Mas era Michael guiando toda a coisa – o perfeccionismo
dele, os acordes e letras dele, a execução dele.”
48. Robert E. Johnson. “Michael Jackson in Africa.” Ebony/Jet. Maio de
1992.
49. Na bíblia, a harpa é sempre conectada a Davi, Rei de Israel, escritor dos
Salmos e, provavelmente, um dos mais célebres músicos da história das
três maiores religiões (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo). Na literatura,
a harpa Eólica – em homenagem ao antigo Deus grego do vento, Hélio –
simbolizava criatividade, poder e natureza. Quando o vento sopra, a música
vem. Os poetas românticos, frequentemente usavam a harpa dos ventos
como metáfora de um meio misterioso, através do qual a natureza se
comunicava com o artista. A harpa também representa espontaneidade,
impetuosidade e liberdade. A expressiva criatividade dela não é calculada
ou premeditada. Não está tentando ser espirituoso, irônico ou importante.
Simplesmente vem e é. Mas também simboliza efemeridade. A música
pode partir tão rapidamente e inesperadamente quanto chega.
50. William Wordsworth. The Prelude, Book VI. 1805.
51. Algo similar ao que Wordsworth uma vez descreveu como a “então,
triste música na humanidade”. William Wordsworth. “Linhas compostas
um pouco acima de Tintern Abbey em revisitando os bancos de Wye,
durante um passeio em 13 de julho de 1798.” 1798.
52. Interpretações da música por outros artistas tendem a falhar
miseravelmente, não simplesmente em razão da dificuldade alcance do
vocal, mas a profundidade e emoção.
53. Michael Jackson: Edição Comemorativa. Rolling Stone. Junho de 2009.
54. Jó 30. Bíblia Sagrada, Versão de King James.
55. O crítico musical Mark Greif usou essa descrição para a voz de Tom
Yorke, do Radiohead. “Radiohead or the philosophy of pop.” n+1. Questão
3. Janeiro de 2006.
56. Como Jackson colocou em “Wanna Be Startin’ Somethin’”: “Você fica
preso no meio/ E a dor é tremenda.”
57. Percy B. Shelley. “Ode to West Wind.” 1820.
58. Jeremias. 23:29. Bíblia Sagrada, Versão de King James.
59. Percy B. Shelley. “Ode to West Wind.” 1820.
60. Como podemos aceitar um mundo de tal impressionante situação de
desigualdade e injustiça? Como temos sido condicionados a nos importar
mais sobre comprar outro carro ou TV, quando 30.000 crianças morrem
todos os dias devido à pobreza? Para reverenciar e se identificar com
corporações, mas não se importar com trabalhadores que elas exploram em
fábricas exploradoras, as florestas que elas arrasam por acres, os oceanos
que elas cobrem de óleo e plástico, ou os gases de efeito estufa que eles
emitem no ar? Alguém me diga por quê!
Levante da Massa Dormente
É difícil encontrar paralelos para “Earth Song” na música popular.
(61) Talvez o mais próximo precedente temático seja “A Hard Rain’s a-
Gonna Come”, um similarmente visionário protesto no meio de ameaças
que se aproximam, incluindo medo de guerra nuclear. Marvin Gaye
(“Mercy Mercy Me), Joni Mitchell (“Big Yellow Taxi”) e Neil Young
(“Natural Beauty”), entre outros, canta músicas excepcionais sobre
problemas ambientais, mas eles foram muito mais modestos e
convencionais na apresentação.
Como “Imagine” de John Lennon, “Earth Song” pede aos ouvintes
para tentar cuidar do mundo que temos, em vez de, simplesmente, ser
aplacada pelo pensamento de uma pós vida. Mas enquanto “Imagine” faz
uma tranquila e elegante declaração, “Earth Song” é épico, intensa,
visceral. Isso, na verdade, é uma razão para que “Imagine” seja mais
palatável para ouvintes medianos. As ideias radicais dela podem ser
suavizadas pelo som etéreo dela. “Earth Song”, em contraste, procura
destruir a indiferença, pois ela exige responsabilidade. Radio não pode
fazer justiça a ela. É uma música criada para explodir dos alto-falantes se
não puder ser vista ao vivo.
Estilisticamente, ela combina a dramática estrutura de uma opera
com o passional fervor do gospel. Mas também contém elementos do rock
e blues. “Ele era um emblema internacional do impulso espiritual blues
afro-americano que remonta à escravidão”, observa Dr. Cornell West.
“Michael Jackson era parte desta tremenda onda no oceano da expressão
humana”. (62)
A chamada-e-resposta usada em “Earth Song” é enraizada nas
tradições musicais de quase todas as culturas, desde os coros em tragédias
gregas, a cantos de trabalho, a espirituais afro-americanos. Historicamente,
isso sempre tem sido usado como uma forma de resistência à opressão:
representa a voz “das pessoas” e os problemas delas; isso era uma forma de
executar solidariedade. Nietzsche argumenta que isso estava no seio da
União Primordial que seres humanos encontram libertação e redenção. 63
O sofrimento de alguém é transformado em algo comunal, energia criativa.
Jackson usa chamada-e-resposta, portanto, tanto para demonstrar nossa
situação calamitosa quando para mostrar como nós podemos aproveitar
sofrimento por finais produtivos.
Além da clara inspiração bíblica dela (Jó, Jeremias, Abraão, Jesus,
etc.), “Earth Song” também remete às religiões orientais, incluindo
budismo, hinduísmo, sofismo e taoísmo. (64) Em adição, há paralelos com
paganismo e tradições de indígenas africanos e nativos americanos. Como
uma antiga profecia indígena-americana, com a qual Jackson poderia estar
familiarizado, com avios:
Quando todas as árvores tiverem sido cortadas,
Quando todos os animais tiverem sido caçados,
Quando toda a água tiver sido poluída,
Quando todo o ar for inseguro para respirar,
Somente, então, você perceberá que não pode comer dinheiro,
“Earth Song” é fundamentada em uma rica tradição de poesia
profética: Desde William Blake (“Ó Terra Ó Terra volte!... Levante da
massa dormentes”) (65) a William Worsworth (“Eu tenho uma sensação de
dor quando eu contemplo/ As árvores silentes e eu vejo o intruso céu”)66;
de W.B. Yeats (A maré de sangue esmaecido está solta, e em todo lugar/ A
cerimônia da inocência é afogada”) (67) T.S. Eliot (“O que é que soa alto
no ar/ Murmúrio de maternal lamentação”) (68) a Langston Hughes
(“Liberdade é uma forte sementes/Plantadas em uma grande necessidade”).
De uma mais ampla opinião artística, “Earth Song” é, talvez, melhor
entendida como uma tragédia. Como tragédias gregas e shakespearianas,
ela dramatiza as lutas humanas contra o destino. Mas Jackson reapresenta
essa luta, não da perspectiva de figuras da realeza ou heróis, mas do próprio
planeta – da vida como um coletivo (destacando as vozes dos feridos,
vulneráveis e invisíveis). (69) Em “Earth Song”, portanto, Jackson não
representa a si mesmo, meramente. Ele está agindo como o veículo para
uma tragédia moderna: as lutas da Terra e dos habitantes dela por
sobrevivência contra todas as crescentes adversidades.
Nota do autor:
61. Eu perguntei a Bill Bottrell se ele poderia pensar em alguma música
precedente de “Earth Song”. A reposta dele: “Tematicamente, talvez, ‘
What’s goin’ on’. Musicalmente, ela é, provavelmente, mais comparável a
‘Man in the Mirror’. Mas também mais rock nela. ‘Man in the Mirror” era
mais R&B em fusão com gospel. Também, eu acho que ‘Earth Song’, por
que foi Michael quem a escreveu, era mais pessoal, mais internalizada.
Você pode sentir isso na apresentação dele.”
62. Cornell West. “Gerogetown Professor Assess Michael Jackson’s
Cultural Legacy.” The Tavis Smiley Show. PBS. 30 de junho de 2009.
63. Veja O Pássaro da Tragédia de Nietzsche.
64. Muito mais poderia ser dito sobre essa conexão. Jackson foi muito
influenciado pelas ideias orientais, começando no fim dos anos oitenta.
“Deixe-me, oh Terra, entre o que é teu centro e o que é teu ponto central”,
leia a Athara Veda, “e vitalizando forças que emanam do teu corpo.
Purifica-nos de todos os lados. Terra é minha mãe; filho dela eu sou; e Céu
é meu pai: ele pode nos preencher com plenitude.” 12.1
65. William Blake. “Introduction”. Songs of Experience. 1794.
66. William Wordsworth. “Michael”. Lyrical Blladas. 1798.
67. W.B Yeats. “The Second Coming.” 1920.
68. T.S. Elliot. “The Waste-Land.” 1992.
69. Langhston Hughes. “Democracy”. 1949.
70. “No coração dele, ele carrega outras vidas”, disse Smokey Robson,
“Era mais que ter alma; era lama que ia profundamente dentro do solo de
toda a história de uma pessoa.” Michael Jackson: Commemorative Edition.
Rolling Stone. Julho de 2009.
Acima de Topo
“Earth Song” foi lançada como single em novembro de 1995. Por
todo o mundo, extraordinariamente, ela tocou em estações pop, próxima a
músicas das Spice Girls, Hootie and the Blowfish e Take That. Ela alcançou
o primeiro lugar nos charts em quinze países. No Reino Unido, ela se
tornou o single de Jackson mais vendido de todos os tempos, vendendo
mais que um milhão de cópias.
Interessantemente, entretanto, ela nem mesmo foi lançada como
single nos Estados Unidos. Essa abstinência é ainda mais notória
considerando-se que o single anterior de Jackson, “You Are Not Alone”,
foi um hit número 1 nos Estados Unidos. Mas por razões não explicadas,
ela não foi oferecida ao radio nem lojas de discos nos Estados Unidos. O
produtor Bill Bottrell sente que a decisão não foi por acidente. “[A música]
era contra corporação, contra violação da natureza”, ele diz. “Portanto, era
propensa à censura.” (70) Na verdade, mesmo que a música não fosse
oficialmente bloqueada, o fato de que ela não era vista como viável para
ouvintes dos Estados Unidos diz muito.
Entrementes, a resposta dos críticos foi, na maior parte, cínica e
desdenhosa. Críticas a descrevem como “exagerada”, “patética”,
“sentimental”. A Rolling Stone descreveu-a como uma “peça de
mostruário, algo com o que arrasar em Monte Carlo”. 71 Muitos zombaram
a preocupação da música com “baleias, árvores e elefantes”.
Tais avaliações, entretanto, fala mais sobre a cultura indiferente e
desdenhosa que as produziram, que sobre a música. Os anos 90, depois de
tudo, foi uma década caracterizada pela indiferença, apatia e ironia. Um
estudo da Standford University, de 1998, mostra que indiferença e cinismo
estavam crescendo em todas as faixas etárias. (72) Em países ocidentais, a
Geração X, na maior parte, cresceu em um mundo de isolamento
suburbano. As angústias dessa geração, porém, eram dirigidas à falsidade,
ao materialismo e ao ambiente dela. Mas o solipsismo dela também a
impedia de reconhecer a real raiz dos problemas desses excessos. Não foi
até o fim os anos 90 que questões como globalização, mudanças climáticas
e exploração corporativa começaram a receber maior atenção.
O fervor e ambição de “Earth Song” ao abordar tais problemas eram,
de muitas formas, anacronismo. O público em geral, principalmente em um
país privilegiado com os Estado Unidos, no meio de uma explosão
econômica, prefere olhar para o próprio reflexo disso que para o exterior.
O desdém por “Earth Song” também fala para generalizada
mentalidade de massa no jornalismo musical. (73) Nesse caso, o instintivo
consenso era de que a dimensão e alcance da música, automaticamente,
equiparava-a à “enfática” e “bombástica”. Similarmente, porque ela é sobre
“salvar o planeta”, ela era “sentimental” e “quixotesca”. Mas tais
caracterizações dizem mais sobre as expectativas sobre a música pop
contemporânea que a qualidade da canção.
Ninguém, por fim, esperaria uma opera a aderir aos padrões de uma
canção folclórica ou um o poema épico para ler como uma estória curta de
Hemingway. “Earth Song” era grande e dramática, porque ela foi
idealizada para ser grande e dramática.
Parte da reação negativa à música teve a ver com as expectativas que
os críticos (e o público) tinha sobre o próprio Jackson. Desde a metade dos
anos 80, a mídia tinha desenvolvido uma simples, mas lucrativo, retrato de
Jackson, que poderia ser cortado e colado a cada nova estória: Ele era um
excêntrico, ingênuo, inacessível megalomaníaco. Avaliações da música
dele eram, quase exclusivamente, interpretadas através destas lentes, desde
1985 em diante, independentemente do mérito da música ou álbum.
Outra expectativa, particularmente dos críticos, era que Jackson
deveria manter as abençoadas “dance music” de Off the Wall e Thriller, em
vez de algum material “irado”, “desafiador”, “politico” que veio em
seguida. Os críticos sempre preferiram ver Jackson como um entertainer
em vez de um artista (um estereótipo com uma longa história racial, da qual
Jackson era bem consciente). Enquanto a música dele se tornava mais
experimental e desafiadora, jornalistas tentavam, em vão, coloca-lo de
volta “no lugar dele”. Eles não queriam ouvir músicas sobre racismo,
distorção pela mídia e o meio ambiente, eles disseram. Eles queriam leves e
alegres “pop”.
Notas do autor:
71. James Hunter. “Michael Jackson’s HIStory.” Rolling Stone. Agosto de
1995.
72. Generation X not so special : Malaise, Cynicism on the Rise.” News
Release. Agosto de 1998.
73. Anthony De Curtis observa: “Muito da escrita rock é esnobe,
adolescente e desdenhoso... Críticos de rock têm, rotineiramente, almejado
superar os assuntos deles e eles têm conseguido, pelo menos, nos próprios
trabalhos e nas próprias mentes, se em nenhum outro lugar.” Anthony
DeCurtis. Foreword. Reading Rock and Roll. Ed. Kevin H. Dettmar.
Columbia University Press, 1999.
O Corpo como Tela
As performances de Jackson para “Earth Song” foram, igualmente,
assunto de escárnio e controvérsia. Muitos críticos as interpretaram como a
perfeita ilustração do complexo de messias de Jackson. Outros ficavam
incomodados pelo efeito visceral que as performances tinham sobre as
multidões (as pessoas da plateia eram, frequentemente, mostradas
alcançando Jackson e soluçando).
Nos breves três anos (1996-1999) que a música foi apresentada, ela
serviu como dramático clímax para os shows de Jackson. Eles eram
espetáculos extraordinários. Independentemente da opinião sobre o homem,
assistir-lhe cantando, vibrando, uivando, pendurando, precariamente, sobre
a multidão e despejando a alma dele no palco, pelo menos, deixava claro
por que ele era um dos mais poderosos artistas da era moderna. Isso era
uma potente combinação de entretenimento e arte, profecia e ativismo,
música e visuais, realizados de uma forma que eles nunca tinham visto
antes.
“Jackson é sempre dramaticamente iluminado, enquanto envolvido
em uma convolação de roupagem Baroque e altitude crescente contra o céu
noturno em um aparato ‘plataforma’”, observa a aclamada artista visual
Constance Pierce. “Pairando sobre a audiência massiva dele, a iluminada
roupagem da capa de seda esvoaçando, a presença hipnotizante de Jackson
captura milhares abaixo dele em uma estética participativa, uma ‘arte
performance’ ritual... Velas são acesas e uma torrente de braços é erguida
em uníssono. Um gesto de paixão incorporado na performance de ‘Earth
Song’ de Jackson, tanto irônico, quanto transcendente, queima-se dentro da
consciência coletiva do século 20.” (74)
Em, talvez, a mais básica performance dele – no concerto no Royal
Center de Brunei, em julho de 1996 –, brilhando com o suor de um show de
três horas, Jackson apresenta uma coda improvisada (“Diga-me e quanto a
isto!”) que pertence a uma dos melhores momentos dele no palco. Não há
adereços, nenhuma pirotecnia, apenas ele, o microfone e a música.
A carga “messiânica” ganhou mais circulação depois de uma
apresentação no BRIT Awards de 1996, na qual Jarvis Cocker interpretou a
performance muito literalmente. Alguém alegaria que Michelangelo ou
Rembrandt são “messiânicos” por pintar a crucificação? Jackson estava,
sem dúvidas, usando icônicos símbolos e gestos messiânicos nas
performances dele. O que é, raramente, levado em consideração, no
entanto, é como, como um dançarino/artista de palco, o corpo dele atua
como tela. Verdadeiramente,
“incorporar” a música significa permitir a si mesmo a liberdade de
se tornar qualquer coisa que a música e a letra ditar. (75)
Jackson, portanto, dessa forma, usa gestos e símbolos messiânicos,
não porque ele pensa que ele é o messias, mas em razão do que este
arquétipo pode comunicar e expressar artisticamente. Com esta obra em
particular, era o melhor jeito que ele poderia pensar para transmitir a
agonia, o sofrimento e redenção da música.
O criticismos em relação ao curta-metragem de Jackson para “Earth
Song”, dirigido pelo talentoso e ótimo fotografo de arte Nick Brandt,
similarmente, perderam o ponto. (76) Apenas a mais simplista (ou,
propositalmente, hipócrita) interpretação iria lê-lo como Jackson fingindo
que ele tinha o poder de, magicamente, resolver todos os problemas do
mundo. Na verdade, no vídeo, ele é retratado como todos os outros, envolto
pela repercussão da ganância e violência humana. “As caretas dele estão
duras de remorso, medo, raiva e determinação”, nota o crítico
cinematográfico Armond White. “Ele está fazendo algo quase miraculoso –
dramatizando arrogância para o propósito de iluminar e melhorar avida
para outros... A postura dele, segurando-se em galhos de árvores enquanto
é esbofeteado pelo vento do destino, não é sacrifício, não é uma
crucificação, é um posicionamento. Michael está apostando na crença de
onde e como nós vivemos.” (77)
O filme foi gravado em quatro diferentes lugares em todo o mundo: a
floresta equatorial Amazônica, um campo na Tanzânia, uma zona de guerra
da Croácia e uma floresta completamente queimada em Nova Iorque.
Depois de mostrar imagens de desflorestamento, poluição, morte e
crueldade, Jackson (além do pequeno grupo de pessoas de outras partes do
mundo), cai de joelhos, enterrando os punhos no solo em desesperada
súplica. É esse simbólico gesto que inicia o imaginado reverso. Apenas por
se importar com a dor da Terra (e dos Outros), por entender como estamos
conectados, e por nossa coletiva vontade de mudar, nós podemos esperar
curar o mundo.
O filme, destarte, é sobre contrastes: o mundo como ele é o mundo
como ele poderia ser. Embora Jackson esteja no centro do filme, ele não é
retratado como um “messias”, mas em vez disso, como “a voz dos que
choram na vastidão”.
74. “Lacrymae Rerum: Reflexões de um Artista Visual Informado e
Inspirado por Gestos de Transcendência na Arte Passional de Michael
Joseph Jackson.” Paixões dos Céus em Expressões de Grande Arte.
Sociedade Internacional de Fenomenologia. Grande Arte e Estética, 16ºm
Conferência Anual. Universidade de Harvard. 18 de maio de 2011.
75. “Quando Jackson incorporou uma particular postura arquetípica”, nota
Constance Pierce, “o corpo físico dele se transformou em uma espécie de
símbolo, elegante caligrafia, no que, o Divino pode canalizar gestos de
explosiva emoção ou íntima compaixão. O artista se tornou xamantico,
assumindo nossas massivas ‘sombras’ cumulativas e varrendo tudo isso
para a luz”. “Lacrymae Rerum: Reflexões de Um Artista Visual Informado
e Inspirado por Gestos de Transcendência na Arte Passional de Michael
Joseph Jackson.” Paixões dos Céus em Expressões de Grande Arte.
Sociedade Internacional de Fenomenologia. Grande Arte e Estética, 16ºm
Conferência Anual. Universidade de Harvard. 18 de maio de 2011.
76. “O momento mais interessante para mim”, recorda o diretor Nick
Brandt, “foi com ‘Earth Song’, quando eu tive um monte de Nova
Iorquinos cansativos, muito cínicos como equipe, para a parte da filmagem
que ele estava. Ele apenas diziam: ‘oh, sim, Michael Jackson, da-da-da-da-
da’, mas depois, quando ele começou a cantar, no fim da música, e ele
estava gritando os vocais... você poderia ver, você olharia em volta e todos
tinham parados nos trilhos deles, e o estavam assistindo, cravado. E ele
apenas me deu uma tomada de cada ângulo, porque ele foi soprado por
estas máquinas de vento e coisas estavam voando nos olhos dele. Eu quero
dizer, isso foi muito difícil, eu quero dizer, disparando poeira e folhas e
todo tipo de coisas no rosto dele. E todo mundo ficou eletrificado. Ele,
completamente, transformou a todos.”
77. Armond White diz que Earth Song está “entre as mais magnificas
combinações de música e imaginário no centenário do cinema.” Keep
Moving: The Michael Jackson Chronicles. Resistance Work. 76-79
Legado
Muito do criticismo desdenhoso quanto a “Earth Song” permanece
amplamente inalterado hoje. De alguma forma, enquanto os incríveis
protestos sociais de Bob Dylan, John Lennon e Marvin Gaye são
legitimamente reconhecidos no Top 5 músicas de todos os tempos, da
Rolling Stone, “Earth Song”, de Michael Jackson, nem mesmo chega ao
Top 500.
Mas desde 1995 (e, especialmente, nos recentes anos), “Earth Song”
tem ganhado admiradores pela presciência e poder dela. Em seguia à morte
de Jackson, ela, de repente, alvoreceu em muitos que, antes de Verdade
Inconveniente de All Gore, antes de Avatar e Wall-E, antes de “ficando
verde”, se tornar um slogan, Michael Jackson estava soando o alarme, não
apenas sobre o meio ambiente, mas muitas outras pressões sociais, e
questões sociais. Nos anos 90, ele era, indubitavelmente, o mais influente
porta voz para o ambientalismo.
Em anos recentes têm sido feito covers de “Earth Song” em
programas populares como American Idol, The Factor X, e no Grammy
Awards, entre outros. Ela também tem sido tocada por sinfonias em todo o
mundo, desde Londres ao Japão. Globalmente, ela continua sendo uma das
canções mais amadas de Jackson.
De um ponto de vista crítico, enquanto ela continua negligenciada
pela imprensa popular, “Earth Song” está beneficiando de uma explosão de
interesse acadêmico. Trabalhos de Armond White, Constance Pierce e Gerd
Buschmann, entre outros, tem começado a mapear o rico terreno dela. (78)
Tão profundas análises por uma variedade de campos acadêmicos permitirá
que “Earth Song” seja contextualizada e interpretada da maneira que os
críticos falharam em fazer quando ela foi lançada.
Mas talvez, o mais substancial legado dela seja a forma como tem
impactado vidas individuais e melhorado o bem estar do planeta. Como o
próprio Jackson disse, em 2009, ele queria que a música “abrisse a
consciência das pessoas”. (79) Ele não queria que a plateia simplesmente se
sentisse mal; ele queria que eles agissem. E isso é, precisamente, o que
muitos têm feito.
Milhares de professores, agora, usam “Earth Song” em aulas para
trazer consciência sobre questões ambientais e direitos dos animais. Ela,
também, inspira ativismo. “Depois de ver o segmento de ‘Earth Song’ em
This Is It (o que me levou às lágrimas)”, disse Trisha Franklin, “eu me senti
completamente compelida a fazer alguma coisa para ajudar, como Michael
pediu, assim, eu comecei um projeto para plantar árvores em todo o mundo
em nome de Michael. ‘Um Milhão de Árvores Para Michael’, agora, tem
mais de 13.000 fãs no facebook e nós conseguimos milhares de hits em um
mês de funcionamento do nosso website. Nós plantamos mais de 200.000
árvores no mundo e estamos esperando milhares mais”. (80)
O impacto dela continua a ressoar para a nova geração. Depois de
ver o vídeo musical de Earth Song, um sensível menino de dez anos de
idade (Draven) ficou tão profundamente comovido que ele prometeu contar
a todo mundo que ele sabia sobre a mensagem da música. Ele não sabia
sobre quase todas as questões que a música revela e disse a avó dele que ela
“fez com que percebesse o quão é importante é cuidar do planeta”. (81)
Tais estórias podem parecer insignificantes, dado o alcance dos
problemas que a humanidade enfrenta. Mas elas são sementes. Elas
representam resistência a um status quo que Jackson reconhecia não apenas
como injusto, mas insustentável.
Notas do autor:
78. Ensaio de Gerd Buschmann’s foi publicado na Alemanha. Der Sturm
Gottes zur Neuschöpfung: Bimblische Symboldidaktik in Michael Jackson
Mega-Video-Hit Earth Song. Katechetische Blätter. Vol 121, nº 3
79. Michael Jackson This Is It DVD. Sony, 2010;
80. Trisha Franklin. Entrevista Pessoal do Autor. 4 de junho de 2011.
81. Mary House. Entrevista Pessoal do Autor. 4 de junho de 2011.
Uma Aventura da Humanidade
Michael Jackson apresentou “Earth Song” para uma audiência ao
vivo, na parte final, em 27de junho de 1999, e Munique, Alemanha.
O show foi o segundo de dois concertos beneficente organizados por
Jackson (o primeiro ocorreu em Seul, Coreia), intitulado “Michael Jackson
& Friends – An Adventure of Humanity”. Todo o lucro – aproximadamente
3,3 milhões de dólares – foi doado para o Nelson Mandela Children’s
Fund, a Crus Vermelha, UNESCO, e refugiado de Kosovo.
O dia do concerto em Munique estava escaldante. Foi dada água aos
fãs para evitar a desidratação. (82) No início da tarde, o show entrou em
curso com performances por Luther Vandross, Ringo Starr e Andrea
Bocceli, entre outros.
Enquanto o sol sumia e o ar esfriava, porém, a antecipação por
Michael Jackson começa a crescer. O Estádio Olímpico de Munique estava,
agora, recheado até à borda, um mar de seres humanos convergiram de
todo o mundo.
Jackson subiu no palco pouco depois de 11h00min da noite.
Enquanto ele está imóvel, como um Davi, em meio à fumaça e um fluxo de
luz, o excitamento da multidão é palpável. Esse era o momento pelo qual
eles estavam esperando. Jackson executou uma alta octanagem trilha
sonora de músicas, incluindo um medley suave, habilidosamente
coreografado de “Dangerous” e “Smooth Criminal”.
Depois de terminar o set, Jackson correu para o findo do palco para
uma troca de figurino e Gatorade, enquanto o elaborado o pano de fundo
estava sendo construído para o número final dele: “Earth Song”.
Durante o intervalo, “Ode à Alegria” de Beethoven, retumbou,
triunfantemente, pelo ar quente de verão, enquanto luzes surgem através da
multidão. Então, no telão, um globo girando aparece. A aura estática, de
repete, se tornou contemplativa, quanto a abertura taciturna, cósmica, para
“Earth Song” emanava por todo o estádio, seguido pelos chorosos acordes
de piano.
Jackson caminha de volta para o palco para o distante grito dos fãs,
entretanto, pode-se dizer, ele está, agora, dentro da música dele.
Ele está vestindo calças pretas e uma esfarrapada capa preta e
vermelha. O rosto dele está pálido. Ele parecia ferido e sombrio. “E quanto
ao nascer do sol...” O inconfundível tenor causa um frisson pela multidão.
Os gestos dele são expressivos, a tensão gradualmente construída. O
corpo de Jackson se agacha, pulsa e balança. Ele está “canalizando” as
dolorosas emoções da música. O refrão cresce como ondas surgindo.
Enquanto Jackson canta, uma grande ponte de ferro é erguida no
palco em três partes conectadas. Isso era uma adição ao número que só
tinha sido feita uma vez, antes, apenas poucos dias antes, em Seoul. O
conceito foi idealizado como um tipo de “Ponte Sem Retorno”: refugiados
são vistos atravessando o que eles, apenas podiam esperar, seria segurança
e liberdade. Depois que eles passam, o próprio Jackson correr pela ponte.
Explosões pirotécnicas em ambos os lados, simulando o ataque de jatos
largando bombas em cima. O guitarrista, Slash, do mesmo modo, toca um
tempestuoso solo de guitarra abaixo, reforçando a sensação de caos.
Envolto em uma nuvem de fumaça, Jackson bate o pé e grita,
“Alguém me diga por quê!”
Então, o inesperado acontece. Depois de uma série e explosões, a
parte do meio da ponte, onde Jackson está é, subitamente, desconectada,
sobe e, depois, cai seis pés, aproximadamente.
“Do meu ângulo, eu não pude ver o que aconteceu, portanto, eu
continuei tocando”, recorda o diretor musical Brad Buxer. “Eu pude sentir
que algo estava meio estranho, mas eu continuava ouvindo Michael
cantando. Quando a fumaça clareou, eu vi que a ponte tinha se desfeito”.
(83)
A maquiadora artística de Michael, Karen Faye, disse que o coração
dela “parou de bater”, quando ela percebeu o que tinha acontecido.
“Diferentemente de ensaios, e o último show [na Coreia], [a ponte] não
parou no cume dela”, ela recorda. “Em vez disso, ela veio caindo,
ganhando velocidade, com Michael, firmemente, segurando nas grades –
ainda cantando. Eu comecei a gritar, mas eu não conseguia escutar minha
própria voz sobre a pirotecnia, a música, e a plateia... De nosso ponto de
visão, nós tínhamos perdido Michael de vista... Eu não poderia imaginar
como [ele] sobreviveria a tal queda.” (84)
A ponte aterrissou com um baque no fosso da orquestra, na frente do
palco. 85 Surpreendentemente, enquanto Jackson estava sendo sacudido
pela queda, ele continuou a apresentação. A plateia em frente ficou
aturdida, mas a maior parte da audiência, simplesmente, supôs que isso era
parte do show. Técnicos, rapidamente, pularam para checar Jackson, mas
antes que eles o alcançassem, ele estava engatinhando de volta ao palco.
“Eu vi um braço alcançar o chão do placo”, recorda Karen Faye,
“depois uma longa perna esguia, outro braço, outra perna... Ele estava de
pé, no centro do palco, terminando o final de ‘Earth Song’! Minha boca
caiu aberta em aliviada admiração.”
O organizador do concerto, Britton Rikki Patrick, mais tarde, tentou
oferecer uma explicação pelo que aconteceu. “Nós penamos que um cabo
possa ter arrebentado ou algo assim. Foi realmente assustador. As pessoas
na audiência estavam gritando e chorando. Os seguranças estavam
correndo para todos os lados. Deve ter sido aterrorizante para Michael. Mas
ele conseguiu pular de volta para o palco. Ele cambaleou para o lado onde
eu tinha paralisado e desmoronado em uma cadeira. Eu pude ver que ele
estava sentido muita dor e sangrando atrás da cabeça dele.” (87)
Depois do show Jackson foi levado ás pressas ao Hospital Rechts
Der Isar, em Munique. Ele tinha um sério ferimento nas costas e contusões.
Mas antes de ser levado para o hospital, ele não apenas insistiu em finalizar
“Earth Song”, mas também o encore, “You Are Not Alone”. A única coisa
que ele escutava na cabeça dele, ele disse mais tarde, era a voz do pai dele
dizendo: “Michael, não desaponte a plateia!” (88)
Depois de subir de volta para o palco, a partir de uma ponte
desmantelada, envolto em nuvens de fumaça, Jackson deixou as últimas
exclamações dele. Whoooo! Whoooo! Whoooo!
Finalmente, com um único holofote brilhando, ele esticou os braços
dele e olhou para a audiência, encharcado de suro e esgotado.
Notas do autor:
82. Michael Jackson Fã Clube. Novos Arquivos. Junho de 1999.
83. Brad Buxer. Entrevista Pessoal do Autor. 12 de junho de 2011. “É
incrível o que Michael Jackson fez esta noite”, diz Buxer. “Qualquer outro
artista teria parado. Ele ficou muito abalado, mas ele se recusou a
interromper a performance.”
84. Karen Faye. “What More Can I Give.” Karen Faye – Uma Vida
Interceptada. 27 de julho de 2010.
85. De acordo com Brad Buxer, a queda poderia ter sido muito pior se não
fosse por um técnico alerta, que ajudou a diminuir a velocidade da ponte
que caía, colocando alguma resistência nos cabos.
86. Karen Faye. “What More Can I Give.” Karen Faye – Uma Vida
Interceptada. 27 de julho de 2010.
87. “Estrela Cai em Labaredas de Fogo em Um Suporte em Colapso.”
Daily Rocord. 29 de junho de 1999.
88. Karen Faye. “What More Can I Give.” Karen Faye – Uma Vida
Interceptada. 27 de julho de 2010.
Arte Performance
Isso poderia ter sido o fim. Mas durante a History Tour, Jackson
adicionou um desfecho. Exatamente quando a poeira baixa, um tanque vem
roncando para o palco.
No fundo, militante bateria toca prodigiosos acordes. O tanque está
rolando em direção à plateia, mas antes que ele a alcance, Jackson pula na
frente, modelando a icônica imagem de Tinanmen Square. Ele está
performando resistência civil – literalmente colocando a si mesmo a arte
dele contra um imponente símbolo de poder e destruição. Isso, lindamente,
emblema o significado e o propósito de “Earth Song”.
Um soldado, então, emerge na máquina e aponta uma arma para os
refugiados e Jackson. A audiência engasga. Ele aponta a arma diretamente
para a cabeça de Jackson, enquanto Jackson permanece, calmamente,
diante dela. O soldado foi treinado para matar, mas agora, no momento
decisivo, ele hesita.
Indeciso, ele, mesmo assim, mantém o terreno dele, ainda apontando
a arma contra o inimigo desconhecido. Daí, dos refugiados, uma criança
emerge. Em roupas esfarrapadas, ela caminha até o soldado segurando uma
flor. Isso é um símbolo de vida e toda a fragilidade, beleza e transição dela.
O soldado começa a voltar aos sentidos. Ele larga a arma e tira o
capacete e óculos de proteção. Quando ele olha nos olhos do menino, ele
cai de joelhos e chora. Ele, de repente, percebe o que ele se tornou e o que
ele está fazendo.
O soldado e o menino se abraçam, como fazem Jackson e o soldado.
Isso é uma cena de redenção e cura. No fundo, um sublime piano floresce
cascatas como folhas de chuva de verão. O mundo pode estar cheio de
sofrimento e horror não dito, mas aqui, Jackson demonstra, está a prova de
que ainda existe pacotes de amor, beleza e música. A música dele não pode
mudar tudo, mas ela pode oferecer esperança.
Flanqueado pelo soldado, a criança e um grupo de refugiados, ele se
volta para a plateia em um momento final, estende os braços e inclina a
cabeça em direção ao céu.
Epílogo
Michael Jackson esperava que “Earth Song” fosse uma das mais
importantes obras da série de concertos This Is It, em Londres. Ele tinha
criado um conceito inteiramente atualizado para o número, incluindo um
introdutório filme 3D. Embora ele nunca tenha visto isso concretizado, os
filhos dele introduziram uma reedição tributo no Grammy Awards, em
2010. “Através de todas as músicas dele, a mensagem dele era simples:
Amor”, disse o filho mais velho de Jackson, Prince. “Nosso pai sempre se
preocupou com o planeta e a humanidade... Nós continuaremos a espalhar a
mensagem dele e a ajudar o mundo”.
“Earth Song” foi a última música que Jackson ensaiou antes da morte
dele.
Agradecimentos
Eu expresso minha profunda apreciação a Bill Bottrell, amigo de confiança
de Michael Jackson, produtor e primeiro colaborador de “Earth Song”. Seu
trabalho com Michael Jackson enquanto as pessoas escutam a música.
Obrigado pela ótima conversa e fascinantes histórias sobre como essa
música surgiu. Eu também quero agradecer a Matt Forger, Bruce Swedien,
Brad Buxer, Jorge del Barrio, Rob Hoffman, e Karen Faye pelo tempo de
vocês, memórias e insights. Este livro não seria possível sem cada um de
vocês. Eu expresso minha sincera gratidão a Constance Pierce pela
inspiração e encorajamento. Obrigado a Armond White por falar a verdade
diante do poder, quando poucos têm coragem. Obrigado a Anna Dorfman
por sua generosidade, olho artístico e lindo designe de capa.
Obrigado ao Espólio de Michael Jackson por seu apoio e assistência. Um
agradecimento especial ao time MJJ Justice Project, Deborah French, Willa
Stillwater, Joie Collins, Tricia Franklin, Mary House and Draven, por sua
valiosa contribuição. E, finalmente, obrigado a minha família por seu
infalível amor e por acreditarem em mim.
Um bate-papo com Joe Vogel sobre Earth Song
Joie: Willa e eu estamos muito felizes em ser acompanhadas por Joe Vogel
esta semana. Como todos sabem, o livro muito aguardado dele, Man in the
Music, será lançado em 01 de novembro, e agora ele está prestes a lançar
uma versão impressa do eBook dele, Earth Song. Obrigado por se juntar a
nós Joe!
Ok, aqui está o que eu gostaria de saber. Por que você escolheu destacar
"Earth Song" e escrever uma peça separada sobre ele? Você tem uma
afinidade especial com essa música mesmo ou você simplesmente ficou
intrigado pelo processo – ou obsessão – de Michael com a música,
enquanto você estava pesquisando para Man in the Music?
Joe: Eu sempre amei "Earth Song". O poder e a majestade e a paixão dessa
música sempre me tocaram profundamente. Quando eu estava trabalhando
em Man in the Music, no entanto, eu estava ouvindo toda a obra de MJ de
tão perto que muitas canções provocaram novas impressões.
"Earth Song" foi um delas. Quanto mais eu aprendia sobre ela e quanto
mais eu a ouvia, mais me convencia de que esta era a música mais
importante de Michael. Ela englobava muitíssimo.
A chamada e a resposta com o coro, para mim, é um dos momentos mais
intensos da história da música. No entanto, houve um reconhecimento tão
pouco reconhecimento por essa música entre os críticos.
Muito pouco foi escrito sobre ela que não seja condescendente e
desdenhoso. Então, eu queria de alguma forma escrever sobre ela de uma
forma que iria comunicar o poder dela – e eu estava animado com a
perspectiva de realmente ser capaz de aplicar zoom em uma música e fazer
todas as entrevistas e pesquisas com esse tipo de foco e profundidade.
Willa: Eu adorei isso! O nível de detalhes que você fornece é maravilhoso
e eu adoro a forma como o livro fornece insights tanto em "Earth Song"
quanto no processo criativo de Michael Jackson também.
Você começa seu livro discutindo como nosso mundo está em perigo, e
com as descrições de ele experimentando um perigo quase como dor física,
indescritível – e, então, você mostra a ele começando o canal e dando
forma e expressando os profundos sentimentos dentro da música. Você
pode nos dizer mais sobre este processo, e alguns momentos-chave de
como "Earth Song" veio a ser o que nós experimentamos hoje?
Joe: Claro. Eu acho que, em primeiro lugar, o processo de "Earth Song"
fornece uma incrível janelade como Michael operava como um artista. Isso
é o que tornou isso muito divertido de escrever. Você começa a fazer
ligações, juntar peças.
Por exemplo, eu conversei com Matt Forger sobre este conceito original de
"Earth Song" como uma trilogia (com uma peça orquestral, a música, e um
poema falado); depois de saber disso, voltei a Bill Bottrell para descobrir
quem era o compositor com quem Michael estava colaborando e como isso
parecia; Bill levou-me a Jorge del Barrio, que, eu soube posteriormente,
trabalhou com Michael em músicas como "Who Is It" e "Morphine"
também.
Através de del Barrio aprendi algumas ideias maravilhosas sobre o conceito
/ sentimento que Michael estava buscando e como isso transformou. Então
você fala com pessoas diferentes e todos os tipos de novas conexões
emergem: novos detalhes, novos ângulos. E você aprende o quanto
cuidadosamente e reflixivamente Michael construia o trabalho dele.
Em entrevistas, Michael tendia a ser muito vago sobre o processo criativo
dele, mas o que Earth Song revela é como ele era obcecado por cada
detalhe do trabalho dele, desde o início de todo o caminho, até a mixagem
final. Ele cercou-se de grande talento, mas foi a visão criativa e o
perfeccionismo dele que guiaram os projetos dele.
Willa: Você acabou de destacar algo que realmente me surpreendeu ao ler
seu livro. Você mostra que ele era muito experiente e estava muito
envolvido nos mecanismos atuais de criação de “Earth Song” – que ele
estava envolvido em todas as fases do processo. Mas em entrevistas que ele
deu, ele tendeu a ser vago sobre isso, como você diz, e meio que se
distanciou um pouco desse aspecto, focando mais na inspiração e sendo
receptivo àmúsica em si. Ele disse em uma série de entrevistas que a
música apenas vinha a ele e “caia no colo dele”.
Você escreve em seu livro que muitas vezes ele disse a si mesmo para
"Deixe a música criar a si mesma", e você relaciona isso a uma citação de
John Lennon que ele manteve em exposição como um lembrete para si
mesmo, enquanto trabalhava em “Earth Song”:
"Quando a verdadeira música vem a mim", dizia, "a música das esferas, a
música que o entendimento surpasseth – isso não tem nada a ver comigo,
porque eu sou apenas o canal.”
“A única alegria para mim é que isso seja dado a mim, e para transcrevê-
lo como um meio... Eu vivo por esses momentos.”
Quando eu li esta seção de seu livro, pensei imediatamente nos
Românticos. Se olharmos para rascunhos dos poemas dele, eles os
revisavam e eram de fato muito bem informados e envolvidos na arte de
criar poesia. Eram wordsmiths qualificados.
Mas, como Michael Jackson, que estavam relutantes em falar sobre isso.
Eles preferiram falar sobre a criação da poesia como um ato de inspiração,
em vez de artesanato, e tendiam a dizer que eram apenas escribas–
descrever as palavras que algum impulso criativo maior do que se expressa
através deles – em vez de criadores, o que é uma ideia Michael Jackson
frequentemente expressa.
Na verdade, ele meio que se esforçou para explicar isso, durante o
depoimento dele para o caso de plágio de 1994 para "Dangerous", dizendo
que ele escreveu todas as músicas dele, mas de uma forma que ele não fez
– que elas apenas vinham a ele.
Eu sei que você já estudou os românticos, então você sabe muito mais
sobre isso do que eu. Eu queria saber se você poderia falar um pouco sobre
esse ideal romântico do artista como meramente um canal receptivo para a
criatividade fluir através dee, em vez de um criador, e como isso se reflete,
dois séculos mais tarde, em John Lennon e Michael Jackson.
Joe: Uma metáfora comum na poesia romântica é a harpa eólica: Quando o
vento sopra, a música vem. Você não força isso. Você espera por isso.
Willa: Isso é lindo.
Joe: Michael acreditava piamente nesse princípio. Dito isso, Michael foi,
sem dúvida, um artesão. Ele raramente liberava trabalho na sua forma
bruta. Outra metáfora que ele gostava de usar para ilustrar o processo
criativo dele é a filosofia de Michelangelo que dentro de cada pedaço de
mármore ou de pedra está uma "forma adormecida." O trabalho dele como
artista, então, era desbastar, sculpir, polir, até que ele "libertasse" o que
estava latente.
Portanto, isso requer uma grande quantidade de trabalho. Você pode ter
uma visão de como deve ser, mas você tem que estar em sintonia em todo o
processo e você tem que trabalhar duro para realizá-lo.
Willa: Que imagem maravilhosa! Eu amo essa ideia da "forma
adormecida", e realmente esclarece como a criatividade exige tanto
inspiração quanto artesanato. A ideia da música se revela a você e cria a si
mesma, como Michael Jackson gostava de dizer, no entanto, requer a
habilidade e dedicação de um artesão para libertá-la.
Joie: Joe, em seu livro você fala sobre o absurdo do fato de que "Earth
Song" nunca foi lançada como single nos EUA, embora o single anerior de
Michael nos EUA, "You Are Not Alone" tenha estreado como número um.
E ainda, em outras partes do mundo, "Earth Song" não só foi lançada como
single, como foi a número um em 15 países.
Concordo com você quando você diz que a decisão basicamente dizia que
os "poderes constituídos" não sentiram a terra do excesso toleraria uma
música com tal olhar crítico para a condição humana.
Mas acredito que a decisão foi um erro enorme. Eu acho que, se tivesse
sido lançado aqui, teria feito muito bem. Apesar dos comentários
depreciativos que recebeu, é uma música difícil de ignorar e eu acho que
teria sido significativamente tocada no rádio se tivesse sido oferecida para
as estações.
Joe: Você poderia estar certa. É difícil saber. Por um lado, a popularidade
de Michael tinha diminuído nos EUA por causa das alegações de 1993.
Mas os dois primeiros singles atingiram o Top 5. É estranha a rapidez com
que a Sony parecia resgatar o álbum depois disso, em termos de singles.
Teria sido bom, pelo menos, ver a canção receber uma chance com o
público americano.
Joie: Eu amo o jeito que você comparou "Earth Song" a “Imagine”, de
John Lennon, dizendo que ambas pediam ao ouvinte para cuidar do mundo
que temos, em vez de sonhar com uma vida após a morte. Mas você pode
falar um pouco sobre sua afirmação de que "Imagine" é mais aceitável ao
ouvinte comum de música que “Earth Song”?
Joe: Bem, "Imagine" é uma canção absolutamente linda que também
aconteceu de ser bastante subversiva. Porque é tão agradável de ouvir, e
evoca tanta nostalgia, no entanto, muitas pessoas realmente não entendem o
que ele está realmente dizendo. Ele chama para a revolução, mas é
amistosamente tocada em consultórios odontológicos e lojas de
departamento.
Então, algum do impacto dela pode ser anulado dessa forma. Quando ela é
tocada na Times Square na véspera do Ano Novo, elae serve como uma
espécie de hino de sentir-se bem. Não há nada de errado com isso. Na
verdade, eu acho que "Man in the Mirror" é muito semelhante em termos
de tom e efeito psicológico.
Mas "Earth Song" é diferente. Ele tem uma urgência e intensidade
diferentes nela. Imagine "Earth Song" berrando dos alto-falantes a todo
vapor no Ano Novo. Melhor ainda, imagine Michael aoresentando-a. O
público provavelmente ficaria atordoado. A canção não foi projetada para
fazer as pessoas se sentirem bem; ela foi projetada para alfinetar a
consciência das pessoas, para acordar as pessoas.
Joie: Que só me faz pensar ainda mais como ela poderia ter sido recebida
se tivesse sido dada a promoção adequada e tocada nas rádios nos EUA.
Willa: E se não fizesse bem aqui, isso iria dizer algo muito importante,
uma vez que fez bem em muitos outros países.
Joe: Grande arte profética é, muitas vezes, negligenciada ou
incompreendida no tempo dela. Há tantos exemplos disso, de Blake a Van
Gogh, de Tchaikovsky a Picasso. Michael era um estudante de história e
arte, e ele entendeu isso. Ele estava confiante de que o trabalho que ele
criou se sustentaria ao longo do tempo. "Earth Song" é uma canção que era,
e continua a ser, imensamente popular em todo o mundo. Mas, finalmente,
era uma música que ia na contramão – portanto para a resistência, desde
executivos, críticos e outros porteiros, faz sentido.
Joie: Bem, obrigado por se juntar a nós e falar sobre "Earth Song".
Joe: Obrigado por me receber. Tem sido um prazer e estou muito satisfeito
com a ideia de Dançando com o Elefante como um espaço para discussões
pensativas sobre Michael Jackson.
Joie: Obrigada. Willa e eu temos tido um grande momento com ele! Estou
curiosa, agora que a data de lançamento para Man in the Music está
próximo e Earth Song também está a caminho de ser publicado em forma
de livro, o que vem por aí para Joe Vogel? Você tem planos para sessões de
autógrafos chegando ou outras aparições?
Joe: Eu estou trabalhando com meu agente e publicitário em todos os
planos promocionais para Man in the Music e eu devo ter um sentido mais
claro nas próximas semanas. Estarei ocupado, mas eu estou animado
porque as finalmente irão ler aquilo em que eu passei todos esses anos
trabalhando.
Joie: Bem, eu praticamente devorava a cópia de leitura avançada que você
deu a MJFC, assim, eu sei que os fãs vão adorar. É realmente um livro
maravilhoso!
Nota da tradutora:
*wordsmith significa busca pela alma, existencialismo.
“Eu respeito o segredo e a magia da natureza. É por isso que eu fico tão
bravo quando eu vejo estas coisas que estão acontecendo no mundo – eu
realmente me importo. A cada segundo, eu soube, uma área do tamanho de
um campo de football é destruída na Amazônia. Eu quero dizer, esse tipo
de coisa realmente me chateia. É por isso que eu escrevo este tipo de
música, você sabe, para dar às pessoas algum senso de consciência e de
despertar e esperança. Eu amo o planeta. Eu amo árvores. Eu tenho esta
coisa com árvore – e cores e mudança de folhas. Eu amo isso! E eu respeito
esse tipo de coisa. Eu realmente sinto que a natureza está tentando
arduamente compensar pela má administração do planeta pelo homem. O
planeta está doente, como uma febre. E se não dermos um jeito nisso agora,
é o ponto sem volta. Esta é nossa última chance de resolver este problema
que temos. É como um trem descarrilhado. E a hora chegou. É isto. A
pessoas estão sempre dizendo: ‘Oh, eles vão cuidar disso, o governo fará
isso. ’ Eles? Eles quem? Isso começa conosco. Somos nós! Ou nunca será
feito.”
– Michael Jackson, junho de 2009.