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EARTH SONG

INSIDE

MICHAEL

JACKSON’S

MAGNUM

OPUS

JOSEPH VOGEL

Page 3: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

Tradução de Daniela Ferreira para o blog

The Man in the Music

http://themaninthemusic.blogspot.com.br/

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No Começo

Michael Jackson estava sozinho no quarto de hotel dele, andando.

Ele estava no meio da segunda etapa da Turnê Mundial Bad, uma

exaustiva série espetacular de 123 concertos que se estendeu por quase dois

anos. A turnê se tornou a série de concertos de maior bilheteria e com

maior público na história.

Apenas dias antes, Jackson tinha se apresentado em Roma, no

Faminio Stadium para uma estática multidão de mais de 30 mil pessoas. Na

hora de descanso dele, ele visitava a Capela Cistina e a Catedral de São

Pedro, no Vaticano, com Quincy Jones e o legendário compositor Leonard

Bernstein. Mais tarde, eles dirigiram até Florença, onde Jackson ficou de pé

ao lado da magnífica escultura de Michelangelo, Davi, olhando admirado.

Agora, ele estava em Viena, Áustria, a capital da música do mundo

ocidental. Foi aqui onde a brilhantes 25º sinfonia de Mozart e a assombrosa

Réquiem foi composta; onde Beethoven estudou sob Haydn e tocou a

primeira sinfonia dele. E foi aqui, no Viena Marriott, em 1 de junho de

1988, que a obra magna de Michael Jackson, “Earth Song”, nasceu.

A obra de seis minutos e meio, que se materializou pelos próximos

sete anos, era diferente de qualquer coisa que já se tinha ouvido na música

popular antes. Hinos sociais e músicas de protesto têm sido, há muito

tempo, herança do rock. Mas não como essa. “Earth Song” é algo mais

épico, dramático e essencial. Ela é uma lamentação tirada das páginas de Jó

e Jeremias, uma profecia apocalíptica que lembra as obras de Blake, Yeats

e Eliot.

Ela transmite, musicalmente, o que a estética magistral de Picasso,

Guernica, transmite em arte. (1) Dentro das turbulentas cenas de destruição

e sofrimento dela eram vozes – chorando, implorando, gritando para serem

ouvidas. (“E quando a nós?”).

“Earth Song” se tornaria o mais bem sucedido hino sobre o meio

ambiente já gravado, alcançando o topo dos charts em mais de quinze

países e vendendo mais de cinco milhões de cópias. Mas os críticos nunca

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souberam muito o que fazer com isso. A incomum fusão de opera, rock,

gospel e blues dela soa como nada no rádio. Ela desafia qualquer

expectativa sobre um hino tradicional. No lugar de nacionalismo, ela

visiona um mundo sem divisão ou hierarquia. No lugar de dogmas

religiosos, ela ansiava por uma mais ampla visão de equilíbrio ecológico e

harmonia. No lugar de uma simplista propaganda por uma causa, ela era

uma genuína expressão artística. No lugar de um refrão jingle que poderia

ser estampado em uma camiseta ou na Billboard, ela oferece um choro

universal, sem palavras.

Notas do autor: Incidentalmente, a pintura de Picasso foi, similarmente,

desdenhada pelos críticos como a visão infantil de um excêntrico. Ela é,

agora, mundialmente considerada um dos mais importantes trabalhos de

arte do século 20.

Privilégio e Dor

Jackson se lembrava do exato momento no qual a melodia surgiu.

Foi na segunda noite dele em Viena. Do lado de fora do hotel dele,

além da Ring Strasse Boulevard e o alastrado Stadtpark, ele poderia ver os

majestosos museus iluminados, catedrais e opera houses. Era um mundo de

cultura e privilégios muito distante do lar da infância dele, em Gary,

Indiana. Jackson estava hospedado em uma elegante suíte conjugada,

revestida por janelas amplas e uma vista de tirar o fôlego. Apesar de toda

essa opulência em volta, ele estava, emocionalmente e mentalmente, em

outro lugar.

Não era mentalmente solidão (embora ele, certamente, sentisse isso).

Era algo mais profundo – um esmagador desespero sobre a condição do

mundo.

Talvez a mais comum característica associada à celebridade seja

narcisismo. Em 1988, Jackson, certamente, tinha razões para ser egoísta.

Ele era a pessoa mais famosa do planeta. Para todos os lugares que ele

Page 6: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

viaja, ele criava massiva histeria. No dia do concerto lotado dele no Prater

Stadium, em Viena, um artigo da AP disse: “130 Fãs de Jackson

Desmaiaram no Concerto.” (2) Se os Beatles eram mais populares que

Jesus, como uma vez John Lennon alegou, Jackson bateu toda a Santa

Trindade.

Enquanto Jackson apreciava a atenção, de certa forma, ele também

sentia uma profunda responsabilidade em usar essa celebridade para mais

que fama e fortuna (Em 2000, o Guines Book of Records o citou como o

artista pop mais filantropo da história). (3) “Quando você vê as coisas que

eu tenho visto, e viaja pelo mundo todo, você não seria honesto com você

nem com o mundo se [desviasse o olhar]”, Jackson explicou. (4)

Em quase todas as paradas dele na Bad World Tour, ele visitaria

orfanatos e hospitais. Apenas dias antes, quando em Roma, ele parou no

Hospital Infantil Bambin Gesu, carregando presentes, tirando fotos, e

assinando autógrafos. Antes de partir, ele prometeu uma doação de mais de

100 mil dólares.

Antes e depois dos concertos, ele tinha crianças desprivilegiadas e

doentes trazidas para o estádio. “Todas as noites, as crianças viriam em

macas, tão doentes que elas mal podiam erguer a cabeça dela”, relembra o

treinador de voz, Seth Riggs. “Michael ajoelharia ao lado das macas,

colocando a cabeça ao lado das delas e, assim, ele poderia ter a foto dele

tirada com eles e, depois, dava a eles uma cópia para lembrarem o

momento. Eu não podia suportar isso. Eu estaria no banheiro chorando. As

crianças teriam certas regalias na presença dele. Se isso desse a elas energia

por mais um par de dias, para Michael, tinha valido a pena.” (5)

Notas do autor:

2. “130 Fãs Desmaiam no Concerto de Jackson.” The Telegraph, 4 de

junho de 1988

3. Durante a vida dele, Jackson doou mais de 300 milhões de dólares para

várias caridades. Além de dinheiro, ele doou incontáveis horas do tempo

dele, e tornou amigo de vítimas da AIDS e câncer começou as própria

fundações e iniciativas dele e, é claro, incorporou os temas nas músicas

dele.

Page 7: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

4. Shumley Boteach. The Michael Jackson Tapes. Vangurad Press, 2009

5. J. Randy Taraborrelli. Michael Jackson: The Magic and the Madness.

Pan Books, 2004

Eu Os Sinto Dentro de Mim

Enquanto performando ou ajudando crianças, Jackson se sentia forte

e feliz, mas quando ele voltava para o quarto de hotel dele, uma

combinação de ansiedade, tristeza e desespero, às vezes, agarravam-no. (6)

“Quando nos conhecemos, por volta de 1988” recorda o médico e

autor Deepak Chopra, “eu fui atingido pela combinação de carisma e

deslumbramento em torno de Michael. Ele seria cercado por multidões no

aeroporto, apresentaria um show exaustivo por três horas e, então, sentar-

se-ia nos bastidores, depois, como ele fez uma noite em Bucharest,

bebendo uma garrafa de água, observando alguma poesia de Sufi, quando

eu entrei na sala, e querendo meditar”. (7)

Jackson sempre foi sensível ao sofrimento e injustiça. Mas nos anos

recentes, o sentimento de responsabilidade moral dele tinha crescido. O

estereótipo da vaidade dele ignorava a natural curiosidade e a mente

absorvente como uma esponja dele (um colaborador o descreveu como

normalmente “bombeando as pessoas por informação”). Enquanto ele não

era um sabichão político (Jackson, inquestionavelmente, preferia o reino da

arte a políticas), ele, também, não era indiferente ao mundo em volta dele.

Ele lia compulsivamente, assistia a filmes, conversava com especialistas e

estudava assuntos pessoalmente. Ele estava investindo profundamente e

tentando entender e mudar o mundo.

Em 1988, ele, certamente, tinha razão para se preocupar. As notícias

pareciam capítulos de uma antiga escritura: havia ondas de calor e de secas,

massivos incêndios florestais, terremotos, genocídio e fome. Violência

aumentava na Terra Santa, enquanto as florestas eram varridas na

Amazônia e lixo, óleo e esgoto arrebentam nas praias. No lugar de

Personalidades do Ano do Times, a estória da capa final de 1988 foi

Page 8: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

dedicada à “Terra em perigo”. (8) De repente, ocorreu a muitos que

estamos destruindo nosso próprio lar.

A maioria das pessoas lia ou assistia às notícias casualmente,

passivamente. Eles se tornaram dormentes àquelas imagens e estórias

horríveis projetadas na tela. Mas tais estórias, frequentemente, levavam

Jackson às lágrimas. Ele as internalizavam e sentia dor física. Quando as

pessoas diziam a ele para, simplesmente, desfrutar a própria boa sorte, ele

ficava com raiva. (9) Ele acreditava fortemente na sentença de John Donne

de que “nenhum homem é uma ilha”. Para Jackson, a ideia se estendia a

toda a vida. Todo o planeta era conectado e intricadamente valioso.

“[Para a pessoa comum]”, ele explicou, “ela vê problemas ‘lá fora’

que têm que ser resolvidos”... mas eu não sinto dessa forma – esses

problemas não estão ‘lá fora’ realmente. Eu os sinto dentro de mim. Uma

criança chora na Etiópia, uma gaivota se debate pateticamente no óleo

derramado... um soldado adolescente treme de terror, quando ele escuta os

aviões sobrevoarem: Isso não está acontecendo dentro de mim, quando eu

vejo e escuto sobre eles?”(10)

Uma vez, durante um ensaio de dança, ele teve que parar, porque

uma imagem que ele tinha visto mais cedo, naquele dia, de um golfinho

preso em uma rede o deixou tão emocionalmente perturbado. “Pelo jeito

que o corpo dele estava emaranhado nas linhas”, ele explicou, “você

poderia ler tanta agonia. Os olhos dele estavam vagos, mas inda havia

aquele sorriso, aquele que os golfinhos nunca perdem... Assim, lá estava

eu, no meio do ensaio, e eu pensei: ‘Eles estão matando uma dança’”. (11)

Quando Jackson performava, ele podia sentir essas emoções

turbulentas surgindo através dele. Com a dança e o canto dele, ele tentava

transfundir o sofrimento – dar a ele expressão, significado e força. Isso era

libertador. Por um breve momento, ele podia levar a audiência dele (e ele

mesmo) para um mundo de harmonia e êxtase. Mas inevitavelmente, ele

era atirado de volta à crueldade do “mundo real”.

Notas do autor:

6. “Quaisquer grandes artistas estão lutando com a loucura e a solidão

deles, os medos deles, ansiedades e inseguranças”, observa Cornell West,

Page 9: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

“e eles estão transfigurando isso em formas complicadas de expressão que

afetam nossos corações, mentes e almas e nos lembra de que nós somos,

pois, seres humanos, a fragilidade da nossa condição humana e a

inevitabilidade da morte... [Michael] foi capaz de se expressar de tal forma

que ele nos permitiu ter um senso do que é esta vivo.” “Professor de

Georgetown acessa o legado cultural de Michael Jackson.” The Tavis

Smiley Show. PBS. 30 de junho de 2009.

7. Deepak Chopra. “Um Tributo ao Meu Amigo.” The Huffigton Post. 26

de junho de 2009.

8. “Nenhum indivíduo sequer, nenhum movimento capturou imaginações

ou dominou manchetes mais que o aglomerado de rocha e solo e água e ar

que é nosso lar comum.” “Planeta do Ano: O Que Estamos Fazendo na

Terra. Time. 2 de janeiro de 1989.

9. Ironicamente, no mesmo ano que Michael Jackson escreveu “Earth

Song”, “Don’t Worry, Be Happy” de Bobby McFerrin ganhou o Grammy

de Gravação do Ano.

10. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections.

Doubleday, 1992.

11. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections.

Doubleday, 1992.

Esta é a Música Dela

Muita dessa dor e desespero circulava dentro de Jackson, quando ele

estava no quarto de hotel dele, em Viena, meditando.

Então, de repente, ela veio. “Caiu no meu colo”, ele, mais tarde, se

recordou do momento. (12) A música da Terra. Uma música a partir da

perspectiva dela, a voz dela. Uma lamentação e súplica.

O refrão veio a ele primeiro – um choro sem palavras. Ele apanhou o

gravador dele e apertou gravar. Aaaaaaaaah, Ooooooooh.

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As acordes eram simples, mas poderosos: Lá- bermenol menor a Dó-

sustenido tríade; Lá-bermenol menor sétimo para Dó- sustenido tríade,

depois, a modulação sobe, Si- bermenol menor para Mi-bermenol tríade. É

isso. Jackson pensou. Ele, daí, trabalhou na introdução e alguns dos versos.

Ele imaginou o alcance dela na cabeça dele. (13)

“Earth Song”, ele determinou, seria a maior canção que ele já

compôs.

Notas do autor:

12. Como era de costume durante a Bad World Tour, Jackson foi

“contrabandeado” para dentro do hotel dele, em Viena, pela porta dos

fundos, junto com Bill Bray, o chefe de segurança dele de muito tempo e a

comitiva de acompanhamento. O quarto de hotel dele se tornou uma

espécie de cela de prisão – se bem que uma muito luxuosa. Tão grande era

o desejo dele por privacidade, que até mesmo as faxineiras no Marriot

Hotel se lembram dele “desaparecendo dentro de outro quarto”, quando

elas vinham limpar. O único momento em que ele era visto publicamente,

era quando ele acenava para os fãs da janela e jogava bilhetes e autógrafos.

13. A citação completa de Jackson sobre como “Earth Song” veio até ele:

“Eu me lembro de estar escrevendo ‘Earth Song’, quando eu estava na

Áustria, em um hotel e eu estava sentindo tanta dor e estava sofrendo tanto

pelo estado do planeta Terra. Para mim isso é Canção da Terra, porque eu

acho que a natureza está tentando tanto compensar pela má administração

da Terra pelo homem. E com o desequilíbrio ecológico prosseguindo e com

tantos problemas no meio ambiente, eu penso que a Terra sente dor e ela

tem feridas e é sobre alguns dos prazeres do planeta também, mas esta é a

minha chance de, basicamente, fazer as pessoas ouvirem a voz do planeta.

E isso é ‘Earth Song’. E foi isso que inspirou a música. E ela, apenas, de

repente, caiu no meu colo, quando eu estava em turnê na Austrália.”

Agora é o Momento da Eternidade

Page 11: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

Aproximadamente, quase um ano depois, quando Jackson retornou

da turnê, “Earth Song” (que era, então, referida apenas como “Earth”) foi

uma das primeiras músicas que ele trouxe para trabalhar.

Era verão de 1989, ele tinha recentemente adquirido o Rancho

Neverland no Vale Santa Ynez e sentia um renovado senso de propósito e

visão para o trabalho dele. “Michael estava inspirado por fazer uma turnê e

ver o mundo", disse o engenheiro de gravação Matt Forger. “Ele voltou

com certas impressões. O comentário social dele chutou um ou dois

degraus para cima. A maioria das primeiras músicas nas quais trabalhamos

– “Black or White”, “They Don’t Care About Us”, “Heal the World” e

“Earth Song” – eram mais socialmente conscientes. A consciência dele

sobre o planeta estava muito mais à frente.” (14)

A espiritual visão mundial de Jackson tinha, também, transformado.

Criado como uma Testemunha de Jeová, ele foi ensinado a acreditar em um

Deus que era rígido e exigente (incluindo o mandamento de nunca celebrar

feriados e aniversários). O principal propósito da vida era preparar a si

mesmo, e aos outros, para o Armagedon, o que, as Testemunhas

acreditavam, era iminente e inútil tentar adiar ou evitar. O objetivo, aliás,

era se tornar um honesto membro da elite (os 144.000) que sobreviveria e

reinaria sobre a terra e ela seria livrada da fraqueza. (Se alguém não fizesse

a classe superior, eles poderiam ser parte de uma segunda classe de

Testemunhas que seriam permitidas viverem no paraíso).

Durante muito tempo na vida dele, Jackson tentou acreditar nessa

doutrina. Ele se debruçava sobre a Bíblia e sentia-se ansioso sobre a eterna

salvação dele. Ele frequentemente fazia perguntas aos anciãos da igreja

sobre as doutrinas que ele considerava confusa e injusta. Mas em 1987, ele

tinha aprendido e experimentado o bastante para decidir abdicar,

oficialmente, da fé. Em um poema Jackson escreveu: “Mas eu escolhi

quebrar e ser livre/Cortar aqueles nós, assim eu pude ver/ Aqueles laços

que me aprisionavam em memórias de dor/ Aqueles julgamentos,

interpretações que confundem meu cérebro.” (15)

No lugar disso, ele desenvolveu muito mais inclusivo e libertador

entendimento de si mesmo, o mundo e o divino (informado, em parte, pela

exposição dele às ideias Orientais e Transcendentalistas). “É estranho que

Deus não tenha pensado em expressar-se, Ele/Ela, em todas as religiões do

Page 12: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

mundo, enquanto as pessoas continuam se agarrando à noção de que a

forma delas é a única forma correta”, ele escreveu no livro dele, de 1992,

Dancing the Dream. Em outra obra, no lugar da anterior concepção dele

sobre a pós-vida, ele escreve: “O Céu é aqui/ Agora mesmo é o momento

da eternidade/ Não se engane/ Reclame sua alegria.” (16)

Esse novo entendimento teve um impacto profundo na criatividade

dele, incluindo “Earth Song”. Se Deus não era um pai exigente, mas uma

presença e energia inspiradora como música e natureza – se a destruição

global e o Armagedon eram inevitáveis, como ele foi ensinado, mas algo

para tentar previamente curar – isso tinha cruciais implicações para o

propósito da arte dele. Além de arrecadar dinheiro para a caridade, ele

percebeu, ele poderia usar o trabalho criativo dele para protestar contra

injustiça, desafiar prevalecentes aparatos do poder, para mudar a

consciência das pessoas – e, assim, mudar o mundo desde as raízes.

Jackson ainda valorizava partes da educação religiosa dele – na

verdade, muito de “Earth Song” está enraizado no fervoroso Jeremias da

Bíblia – mas agora estava livre de um credo em particular e fundido com

objetivos mais humanísticos. Ele não estava contente em simplesmente

esperar por que Deus concertasse o mundo ou o aplacasse com promessas

de paraíso. “Isso começa conosco”, Jackson insistiu. “Somos nós! Ou

nunca será feito.”

Notas do autor:

14. Matt Forger. Entrevista Pessoal do Autor. 5 de maio de 2011.

15. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections.

Doubleday, 1992.

16. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections.

Doubleday, 1992.

Page 13: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

Deixe a Música Criar a Si Mesma

Quando retornou ao Estúdio Westlake em junho de 1989, ele estava

explodindo com ideias criativas. Em uma tábua na mesa mixagem, ele

colocou uma citação de John Lennon: “Quando a verdadeira música vem a

mim” lia-se, “a música das esferas, a música que ultrapassa entendimento –

que não tem nada a ver comigo, porque eu sou apenas o canal. A única

alegria para mim é por ela ser dada a mim e transcrevê-la como um

médium... São por esses momentos que eu vivo.” As palavras ressoavam

profundamente para Jackson: era exatamente assim que ele se sentia sobre

criatividade.

“Deixe a música criar a si mesma”, ele sempre relembrava a sim

mesmo. Para Jackson, Lennon era uma alma parente: um talento

similarmente excêntrico, com ambição, idealismo e desafio para reimaginar

o mundo.

Ainda, Jackson sabia que levava tempo e esforço para realizar o que

ele via e ouvia na mente dele. Algumas músicas poderiam ser completadas

dentro de semanas, enquanto outras levariam anos. Com “Earth Song”, ele

teve o esqueleto básico trabalhado, mas ele ainda não estava totalmente

certo sobre como executá-la. A música tinha que ser grande, dramática, e

visceral e os contribuidores precisavam ser bem certos. Quem quer que

estivesse colaborando precisava realmente entender o escopo e a visão.

Um Épico em Embrião

No fim de julho de 1989, Jackson chamou Bill Bottrell, um jovem e

esperançoso produtor/engenheiro com quem Jackson tinha trabalhado no

estúdio de Hayvenhurst, durantes as sessões das Turnês Victory e Bad.

Enquanto nenhuma das colaborações dele fez parte do álbum Bad, o par

desenvolveu uma forte química criativa que resultaria em algumas das

melhores faixas do álbum Dangerous (incluindo “Balck or White” e “Give

Page 14: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

In To Me”) e várias outras joias lançadas mais tarde (incluindo “Street

Walker” e “Monkey Business”).

Bad foi o último álbum de Jackson com Quincy Jones. A decisão de

não renovar com Quincy Jones causou alguns sentimentos desgastados,

mas Jackson sentiu que o movimento era necessário para o crescimento

artístico dele. O álbum Dangerous foi a primeira chance de ele agir como

produtor executivo e ele ficou animado por estar, finalmente, no completo

controle criativo.

Bottrell era uma escolha natural para “Earth Song”. Ele fez muito

rock e blues, mas poderia se adaptar a quase todos os estilos. Ele também

podia tocar múltiplos instrumentos, produzir e executar engenharia. O mais

importante para Jackson era a forma como eles trabalhavam juntos.

“Michael estava sempre preparado para escutar e confiar em mim, mas ele

também meio que guiava o tempo todo”, recorda Bottrell, “Ele sabia por

que eu estava lá e, entre todas as músicas que ele estava gravando, o que

ele precisava de mim... Ele tinha precisos instintos musicais. Ele tinha uma

gravação completa na cabeça dele e ele tentava fazer as pessoas

apresentarem isso para ele. Algumas vezes, as pessoas o surpreendiam e

ampliavam o que ele ouvia, mas realmente o trabalho dele é extrair de

músicos, engenheiros e produtores o que ele escuta quando ele acorda pela

manhã”.

Como Forger, e outros, Bottrell sentiu uma intensificação na paixão

de Jackson por questões sociais e ambientais. Essa era uma paixão que eles

compartilhavam. Eles assistiam inúmeros documentários juntos e sempre

discutiam assuntos como direitos dos animais, desflorestamento, injustiça

social, imperialismo e pobreza. Um dia, Jackson trouxe, em uma VHS de

1985, um filme dirigido por John Boorman, A Floresta de Esmeraldas, o

que reconta a estória de uma tribo brasileira (o “Povo Invisível”) e da

floresta tropical sitiada por corporação de colonizadores. Isso é um tema já

gasto, agora, mas quando foi lançado, foi revolucionário para o movimento

ecológico, atraindo massiva atenção para a destruição da Amazônia.

Jackson disse a Bottrell para assistir ao filme e internalizá-lo para se

“preparar” para trabalhar em “Earth Song”. 18

Quando eles chegaram aos estúdios, Jackson deixou Bottrell escutar

o que ele tinha: uma introdução (o que Bottrell, rapidamente, executou em

Page 15: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

um piano), alguns versos, o refrão, e algumas letras ásperas. Bottrell ficou

imediatamente tomado pelas duas linhas melódicas, ele pôde ouvir que a

música tinha grande potencial.

Brad Buxer, um tecladista treinado classicamente, que tinha

trabalhado com Stevie Wonder e foi trazido a bordo por Bottrell, naquele

verão, ficou igualmente impressionado. “O refrão é lindo”, ele disse. “Eu

adoro coisas assim – tríades a menor 7 acordes. Um dos aspectos mais

mágicos da música é quando você mixa as coisas. Muito de básico de no

rock and roll são tríades, e jazz são acordes complexos.

“Nenhum músico de jazz diria que ‘Earth Song’ é complicada, mas

isso não é sobre ser complexa. Se feito direito é lindo. É como poesia.

Sutileza é tudo. Michael tem um belo senso de arte.” 19

Notas do autor:

17. Karen Lawrence. John Lennon. In His Own Words. Andrews McMeel,

2005.

18. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 14 de maio de 2011.

19. Brad Buxer. Entrevista Pessoal do Autor. 16 de maio de 2011.

Trilogia da Terra

Gradualmente, nos meses subsequentes, as várias partes da música

começaram a ser lapidadas. “isso se tornou uma grande obsessão para nós

dois”, recorda Bottrell. (20)

As primeiras preocupações de Jackson era obter as dimensões e

atmosfera correta. Ele queria que tivesse a paixão e intensidade da música

gospel, mas a paisagem sonora de algo como Pink Floyd ou Brian Eno,

algo emprestado do rock progressivo, ambiente, e musica mundial, mas

ainda clássica e acessível. Ele não queria que a música fosse muito

Page 16: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

complexa ou abstrata, desde que a música seria criada para mover massas

de pessoas. A chave, portanto, era fazer “parecer simples”, mas formá-la

com camadas de detalhes, textura, nuance e riqueza. (21)

Esse processo começou com a ajuda de Bill Bottrell e o compositor

Jorge del Barrio e continuou, anos depois, com David Foster, Bill Ross e

Bruce Swedien.

Jackson, originalmente, concebeu “Earth Song” como uma trilogia

(similar a “Will You Be There”), composta de uma peça de orquestra

moderna, a música principal, e, depois, um poema recitado (mais tarde

lançado com “Planet Earth”). No total, a música teria mias de 13 minutos.

O poema, que contém ecos de Wordsworth, Keats e Whitman, entre outros,

era, essencialmente, uma cósmica canção de amor ao planeta. “Nas minhas

veias, eu tenho sentido o mistério”, Jackson disse.

De corredores do tempo, livros de história

Canções da vida das eras, latejantes no meu sangue

Tem dançado o ritmo da maré e cheia

Suas nuvens nebulosas, sua tempestade elétrica

Eram turbulentas tempestades em minha própria forma

Eu tenho lambido o sal, o amargo, o doce

De todos os conflitos, da paixão, da dor

Sua turbulenta cor, sua fragrância, seu sabor

Tem excitado meus sentidos além de toda urgência

Na sua beleza eu tenho conhecido o como

De infinita alegria, este momento de agora. (22)

A linguagem sensual de Jackson evoca um tipo diferente de

relacionamento com o mundo natural: algo de intimidade, maravilha e

respeito. Isso rejeita a tradicional noção ocidental de que os humanos “são

donos” da natureza e podem fazer como ela o que lhes agradam.

Para Jackson, natureza era muito mais que um belo cenário. Ele a

amava tanto quanto amava uma pessoa. Era uma fonte de profunda alegria,

inspiração e rejuvenescimento. (23) “O mundo inteiro abunda em mágica”,

ele escreve em uma obra no livro dele, de 1992, Dancing the Dream. “[A

Natureza] tem exposto a verdadeira ilusão ou inabilidade de ser incrível

pelas maravilhas dela. Toda vez que o sol nasce, a Natureza está repetindo

Page 17: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

um comando: ‘Veja! ’ A mágica dela é infinitamente exuberante e tudo que

temos que fazer é apreciá-la.” (24)

Jackson trabalhou com Jorge del Barrio na introdução orquestral. Um

talentoso compositor e condutor, Del Barrio, (que mais tarde trabalharia

com Jackson em diversas outras músicas, incluindo “Who Is It” e

“Morphine”), descreveu que trabalhar com Michael como “uma das mais

memoráveis experiências da minha vida. Ele estava apaixonado pela

música dele. Ele passava a maior parte do nosso tempo sozinho, criando.

Nós éramos muito amigos e forças criativas trabalhando juntas”. (25)

Jackson considerava del Barrio um “gênio” e perfeito para o que ele queria

realizar com “Earth Song”.

Em contraste com a seção da Nona Sinfonia de Bethoveen, que

Jackson usou para conduzir “Will You Be There”, o prelúdio para “Earth

Song” era mais ambiente e primordial. Ela contém sons naturais, tambores

indígenas, profundos blocos de sintetizador e cordas exuberantes. “Eu

trabalhei com Michael em criar um som sinistro”, recorda del Barrio, “o

começo de Earth, como poderia ter soado, quando ela foi criada, e a vida

começa e quando ela se desenvolveu para a Mãe Terra e acabou se

transformando em “Earth Song”, que fala sobre a morte do planeta nas

mãos do Homem. Michael sentia que essa música era para ser uma que,

definitivamente, ajudaria a salvar o mundo.” (26)

De acordo com o engenheiro de gravação, Matt Forgger, a música

era “muito moderna, muito inovadora. Ele queria mudar as regras da

música pop, esticar e experimentar. Era um som completamente diferente

para Michael. Todo o conceito era muito ambicioso”. (27)

Em última análise, no entanto, Jackson não pôde, completamente,

fazer as engrenagens funcionarem juntas da forma que ele esperava e

decidiu manter apenas a porção principal. Ainda, muitas das mesmas ideias

e sons foram complementadas no arranjo orquestral de del Barrio,

incluindo as dramáticas cordas. Jackson também trouxe membros da banda

Toto, Steve Porcaro e David Paich, para ajudar com a programação de

sintetizador. A atmosfera da faixa, ele sabia, era crucial. Os ouvintes

tinham que sentir a música pela música. Para, efetivamente, transportá-los.

Page 18: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

Também tinha que ter a arco dramático e tensão da estória. O desafio era

alcançar isso em seis minutos e meio.

Notas do autor:

20. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 14 de maio de 2011.

21. “Com Michael”, explica Matt Forger, “a base pode ser ilusoriamente

simples, mas muito está acontecendo. Muitos detalhes e trabalho. Ele

entendia contraste. Ele era muito particular sobre textura. Ele queria que

[“Earth Song”]soasse fresca e nova e tivesse este tipo de peso e ímpeto.”

Entrevista Pessoal do Autor em 15 de maio de 2011.

22. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections.

Doubleday, 1992.

23. Jackson estava lendo Emerson, extensivamente, naquela época. “Nos

bosques está a juventude perpétua”, Emerson escreveu no ensaio dele de

1835, “Nature”, “Um festival perene... De pé sobre o chão nu, – minha

cabeça banhada pelo ar jovial, e enaltecida dentro de espaços infinitos, todo

o egoísmo mesquinho desaparece. Eu me torno um globo ocular

transparente; eu não sou nada; eu vejo tudo; as correntes dos Ser Universal

circulam em mim, eu sou parte ou partícula de Deus.” Quando Jackson se

deparou com a passagem, ele estava exilado. Esta foi uma das razões pelas

quais ele comprou o Rancho Neverland, longe do congestionamento e

distrações da cidade. Dancing the Dream é repleto de tais reflexões

Emersonianas sobre ser transformado em natureza.

24. Michael Jackson. Dancing the Dream: Poems and Reflections.

Doubleday, 1992.

25. Jorge del Barrio. Entrevista Pessoal do Autor. Traduzida por Ramon del

Barrio. 25 de junho de 2011. “Michael considerava meu pai extraordinário

e eles também passavam muito tempo rindo e fazendo piadas.”, diz Ramon

del Barrio, depois de falar com o pai dele. “Papai e Michael trabalharam

juntos por muitos anos e eu tenho certeza de que há muitas músicas que

não foram lançadas, também.”

26. Jorge del Barrio. Entrevista Pessoal do Autor. Traduzida por Ramon del

Barrio. 15 de junho de 2011.

Page 19: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

27. Matt Forger. Entrevista Pessoal do Autor. 15 de maio de 2011.

Faça Isto Grande

Jackson estava procurando por algo particularmente único e

poderoso para o baixo. Ele escutou um som que ele realmente gostou no

trabalho de Guy Pratt, um guitarrista renomado que estava tocando baixo,

incidentalmente, com Pink Floyd naquela época. Pratt tinha, também,

recentemente tocado no hit de Madona, “Like a Prayer” (da qual Bottrell

foi engenheiro).

Através de Bottrell, Jackson estendeu o convite para trabalhar na

faixa e Pratt aceitou. Depois de saber sobre a visão de Jackson para a

música e escutar uma demo, ele criou uma massiva, experimental, linha de

baixo de oitavo pedal no Westlake Studios. (28) O profundo som, de vibrar

a alma, ouvido na gravação foi alcançado usando um oitavo divisor, assim,

esse é o baixo que estava tocando em dois oitavos de uma vez. “Isso foi o

que deu à musica a grandiosidade dela”, explica Bill Bottrell. (29)

Jackson adorou isso. Na verdade, o efeito foi impressionante para o

mais exigente dos profissionais. “‘Earth Song’ tinha uma linha de baixo

mais profunda que qualquer faixa que eu tinha ouvido”, disse Brad Buxer.

“Ela é extraordinária. Normalmente, você pode mixar uma música para

duas faixas em meia polegada analógica e ter um pouco mais de ímpeto no

baixo, mas quando você mixa para digital, você não pode, porque isso irá

desfigurar. Essa faixa tinha, de alegam forma, segurado mais dos elementos

do baixo, ela é mais saturada – portanto, isso dá a sensação de um final

mais baixo que um CD pode, verdadeiramente, segurar. Billy e Bruce

[Swedien] eram mestres nisso. Há uma mágica em lapidar nessas

frequências baixas, tirando certos elementos, assim, você pode ter outros

Page 20: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

elementos. Psicologicamente, isso fez o baixo soar tão rico e alto quanto

possível. (30)

Logo depois da sessão de trabalho de Pratt, o baterista britânico,

Steve Ferrone (quem tocou com Petty e os Heartbreakers) entrou para

executar as partes da bateria. Jackson e Bottrell comunicaram o quão épico

ela deveria ser, especialmente depois do segundo verso. 31 “Isto é este

rítmico muito heroico de rock”, diz Bottrell. “E a bateria explode. Michael

continuou dizendo: ‘Faça isto grande, faça isto grande.’” (32)

Uma vez que a maior parte da música estava no lugar, o legendário

Coro Andraé Crouch (que anteriormente cantou em “Man In The Mirror” e

participou de outras duas faixas de Dangerous) veio para cantar a parte

deles no final épico da música. Toda a sessão foi filmada (com multiplicas

câmeras) e revelou uma extraordinária cena de colaborativa energia:

Jackson e Bottrell colocaram sons nos lugares e discutiam os arranjos;

ensaios e ajustes finais foram feitos para a criação e equipamento. O coro

se reuniu em um círculo e apresentou o magistral canto deles.

“Nós demos a eles uma fita para ensaiar por poucos dias, antes do

ensaio com o vocal guia de Michael”, recorda Bottrell, “e eles vieram com

o mais maravilhoso arranjo”. (33) O grande som esférico foi capturado

usando dois microfones Neumann M-49 e um vintage EMT 250, para

reverberar. O resultado foi um clímax poderoso, dramático, com a natural

energia de uma performance ao vivo.

Notas do autor:

28. Em entrevistas e apresentações de comédia, Guy Pratt, contas muitas

diferentes estórias sobre as experiências dele, dizendo que Jackson estava

escondido atrás de uma mesa de mixagem, dando instruções através de um

guarda-costas Samoano. Eu fui informado, no entanto, que tais estórias são,

notoriamente, inexatas.

29. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 14 de maio de 2011.

30. Brad Buxer. Entrevista Pessoal do Autor. 17 de maio de 2011.

Page 21: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

31. Durante as sessões de HIStory, Bruce Swedien adicionou um TC

Eletronic M5000, altamente modificado, “Woody Hall” reverbera na

bateria para acentuar ainda mais o poder deles. No Estúdio Com Michael

Jackson. Hal Leonard, 2009.

32. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor.14 de maio de 2011.

33. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 27 de maio de 2011.

Descobrindo Tudo O Que Você Quiser

Jackson e Bottrell continuaram a remendar a faixa por mais de um

ano – os primeiros vários meses no Westlake e, depois, no Record One, em

Sherman Oakes, Califórnia. Enquanto as sessões de Dangerous

progrediam, no entanto, muito da atenção de Jackson mudou para as faixas

rítmicas, principalmente, quando o new jack swing produtor, Teddy Riley,

foi trazido a bordo no início de 1991. Contudo, Bottrell sentia-se confiante

de que “Earth Song” não apenas faria parte do álbum Dangerous, mas

serviria com a obra central dele.

Quando o álbum estava sendo finalizado, no fim de 1991, Bottrell

submeteu uma fita base (uma simples multifaixas que incorpora a

mixagem). A música estava, agora, intitulada “What About Us” e Bottrell a

considerava “finalizada”, exceto por alguns vocais overdubs finais. “Ela era

uma das nossas faixas prioritárias desde o começo”, ele disse. “Eu estava

muito orgulhoso dela.” (34)

Mas para surpresa dele (e de muitos outros), Jackson a cortou da

trilha sonora final de Dangerous. Bottrell ficou profundamente

desapontado. “Eu não estava presente quando eles levaram o pessoal da

Sony para ouvir todas as coisas no playblack, portando eu descobri depois.”

Jackson ficou desapontado também. A música significava muito para

ele. Mas o último compromisso dele era com a música – ela tinha que estar

absolutamente certa, antes que ele pudesse lança-la e ele não sentia que

estava totalmente lá.

Page 22: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

Todos que trabalhavam com Jackson entendiam que ele era um

meticuloso perfeccionista: todo detalhe, desde a produção à mixagem e à

masterização, tinha que ser, exatamente, o que ele queria, antes que fosse

“gravada em cimento”. Isso poderia ser frustrante às vezes. Alguns

colaboradores trabalhavam com ele por meses e nenhum dos materiais

resultante acabaria no álbum. Algumas vezes, ele, admitidamente, pensava

exageradamente e trabalhava exageradamente uma faixa, quando ele

deveria, simplesmente, fixar com a primeira versão.

Mas, frequentemente, o perfeccionismo valia a pena, pois algumas

novas revelações ocorreriam a ele que tornariam a música mais forte.

“Michael, realmente, tem sempre sentido melhor enriquecer algo por um

longo período de tempo, para descobrir tudo que ele podia descobrir sobre

isso”, reconhece Bottrell. “Havia um processo que aprendi bem, pelo qual

todos os lançamentos de MJ passavam: um processo de habitação,

repensar, substituir midi por live players, etc. Era um processo.” (35) Em

muitos casos, o ouvinte médio, provavelmente, nem perceberia a diferença,

mas Jackson sentia intrínseca obrigação em fazer a arte dele “tão perfeita

quanto humanamente possível”.

Com “Earth Song”, além da letra inacabada, a principal preocupação

dele era conseguir uma energia mais ímpeto, energia e poder na segunda

metade. Enquanto os choros em falsete (o qual Bottrell descreveu como

“muito parecido com Marvin Gaye”) na chamada-e-reposta eram

comoventes, ele não tinha certeza se isso capturava a revolta e urgência que

ele esperava transmitir.

Havia, também, alguma nuances menores que ele queria ajustar com

a instrumentação e a mixagem. “Earth Song”, portanto, ficaria no cofre por

outros quatro anos, enquanto Jackson promovia e estava em turnê por

Dangerous.

Notas do autor:

Page 23: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

33. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 27 de maio de 2011.

34. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 14 de maio de 2011. “Eu

continuo muito orgulhoso dela”, disse Bottrell, “não há nada com esta

música em termos de dimensão e estrutura... ela tem o mais amplo alcance,

a mais incomum combinação de elementos... Ela transmite emoções tão

profundamente sentidas e poderosas.”

35. Richard Buskin. “Michael Jackson’s ‘Black or White’. Sound on

Sound.” Agosto de 2004. Also Gearslutz Forum.” Poste aqui se você

também trabalhou no álbum Dangerous de Michael Jackson. 27 de junho

de 2009.

Fazendo HIStory

Quando a gravações de HIStory começaram em 1994 no Hit Factory,

em Nova Iorque, Jackson ficou animado em finalmente voltar a trabalhar

na obra. Ele se sentia confiante de que ela iria encontrar um lar no novo

álbum. A única questão era como torná-la melhor e quem assistir-lhe a

finalizar a versão dele.

Quando aconteceu, Jackson estava em grande parte satisfeito com a

demo na qual ele tinha trabalhado com Bottrell durante as sessões de

Dangerous. A extensão, arranjo e produção continuavam, quase,

exatamente o mesmo. Porém, houve algumas adições cruciais, mais

significativamente no clímax da música.

Jackson se voltou para o “criador de hits”, David Foster, (que

também tinha trabalhado com Jackson em “Childhood” e “Smile”), para

ajudar a terminar a faixa. Foster, por sua vez, trouxe o talentoso

orquestrador Bill Ross, para dar à faixa um som mais completo, poderoso,

mais notável nas partes instrumentais que surgiam. (36) “A orquestra

adicionou muito drama”, disse o engenheiro assistente Rob Hoffman. “Ela

transformou esta bela música em um épico.”

Page 24: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

Outra importante adição foram os acordes da guitarra meio blues de

Michael Thompson. A posição foi, incialmente, oferecida a Eric Clapton,

mas Clapton recusou, em razão do conflito de agendas. Thompson,

entretanto, que tinha trabalhado com Clapton, assim como David Foster,

acabou sendo perfeito para o trabalho. As emotivas frases dele ecoavam o

doloroso canto de Jackson, lindamente.

Uma nova mixagem para “Earth Song’ foi completada no Hit

Factory, em 1994. 38 a maioria supunha, naquele ponto, que a faixa estava

finalizada. Embora Jackson estivesse contente com muitos das melhorias,

contudo, ele ainda não estava totalmente satisfeito.

Quando a gravação voltou ao Record One, em Los Angeles, na

primavera de 1995, Jackson e o time dele focaram no detalhes finais. Matt

Forger estimou que cerca de 40 fitas multifaixas foram usadas no total.

“Isto cruzou formatos. Isso começou na faixa-24, trocou para digital. O

pormenor e trabalho que foi nisso foi impressionante.”

Jackson voltou-se para o mágico sonoro, Bruce Swedien, para gravar

partes dos vocais líderes. Para gravar a urgência e intensidade que Jackson

queria, Swedien gravou com um microfone tubo Neumann M-49 (em vez

do usual SM7 dele) e o teve conseguindo “tão perto quanto fisicamente

possível ao microfone, desse modo, eliminando quase todas as reflexões

anteriores... Eu não usei nenhum para-brisa. Eu o coloquei tão próximo

quanto ele poderia, possivelmente, conseguir deste incrível microfone

velho.” 40. Os resultados eram sutis, mas palpáveis. O objetivo real da

gravação da música é preservar a energia física da música e a declaração da

música em si”, explicou Swedien. (41)

Jackson guardou o final ad-libs para a última semana de gravação,

pois ele esperava “matar a voz dele” no processo. (42) Ele disse aos

engenheiros assistentes, Eddie Delena e Rob Hoffman: “Eu sinto muito,

mas eu acho que nenhum de nós vai dormir este fim de semana. Há muito a

ser feito e nós temos que ir ao Bernie [Grundman para masterização] na

segunda de manhã.” (43)

Page 25: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

Durantes os próximos poucos dias, Jackson, com um pequeno grupo

de engenheiros comeram, dormiram e respiraram a música. “Ele ficava no

estúdio o tempo todo”, recorda Hoffman, “cantando e mixando. Eu passei

um par de momentos tranquilos com ele naquela época. Nós falamos sobre

John Lennon uma noite, enquanto ele estava se preparando para cantar o

último vocal para a gravação – o enorme ad-libs para o final de ‘Earth

Song’. Eu contei a ele a história sobre John cantando ‘Twist and Shout’,

quando estava doente e, embora a maioria das pessoas pensasse que ele

estava gritando para efeito, na verdade, era a voz dele saindo. Ele adorou

isso e, então, foi cantar com todo coração dele.” (44)

Como era do costume dele, Jackson cantou naquela noite com todas

as luzes apagadas.45 Da sala de controle, Bruce Swedien e a equipe de

engenheiros assistentes não podiam ver nada. Mas o que eles ouviram sair

da escuridão era surpreendente: era como se Jackson estivesse canalizando

dos pulmões da Terra – uma dolorosa, feroz, profética voz, dando

expressão ao sofrimento do mundo.

Aqueles que testemunharam isso podiam sentir o cabelo arrepiando

na nuca deles. Este era o Michael Jackson que a mídia nunca conheceu: um

artista tão comprometido coma arte dele que poderia dissolver

completamente dentro de uma música e traduzir as emoções dela.

“Eu tenho gravado praticamente todo mundo na música”, diz o

legendário engenheiro de som, Bruce Swedien, que também gravou Duke

Ellington, Paul McCartney, Mick Jagger e Barbara Streisand, entre outros,

“e Michael é o número um”. (46)

Notas do autor:

36. Diz o engenheiro assistente Rob Hoffman: “Eu tenho trabalhado com

Bill Ross em minhas próprias produções, especialmente por causa do

incrível arranjo que ele fez nesta música.”

37. Rob Hoffman. Entrevista Pessoal do Autor. 2 de junho de 2011.

38. Enquanto ainda estava no Hit Factory, Jackson queria gravar partes do

vocal guia dele na faixa. O desafio, entretanto, era combinar os vocais

novos dele com os originais. “Nós emprestamos o microfone U-47 de Bill

Page 26: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

[Bottrell] e experimentamos todos os U- 47 de Hit Factory para ver o que

combinava”, recorda Rob Hoffman. “Nós acabamos encontrando um

depois de duas horas de audição.” Mais tarde, eles tiveram que voar na

ressonância do EMT-250 do Hit Factory, em Nova Iorque, quando era

usado muito proeminentemente da mixagem original de Bruce, que ele fez

em Nova Iorque”, recorda Rob Hoffman. “MJ não estava satisfeito com os

EMT do Record One neste caso. E ele estava certo. Todos nós pudemos

ouvir a diferença.” Rob Hoffman. Entrevista Pessoal do Autor. 24 de maior

de 2012.

39. Matt Forger. Entrevista Pessoal do Autor. 15 de maio de 2011. De

acordo com Rob Hoffman,

40. Bruce Swedien. In The Studio With Michael Jackson. Hal Leonard,

2009.

41. Bruce Swedien. In The Studio With Michael Jackson. Hal Leonard,

2009.

42. Rob Hoffman. Entrevista Pessoal do Autor. 24 de maio de 2011.

43. Rob Hoffman. Gearslutz Forum. “Poste aqui se você também trabalhou

no álbum Dangerous de Michael Jackson.” 27 de junho de 2009.

44. Rob Hoffman. Gearslutz Forum. “Poste aqui se você também trabalhou

no álbum Dangerous de Michael Jackson.” 27 de junho de 2009.

45. “Ele sempre insistia que as luzes fossem apagadas”, diz Bruce Swedien.

“O ser humano é, principalmente, um animal visual. Luz é distração.

Michael odiava luz quando está gravando.” Bruce Swedien. Entrevista

Pessoal do Autor. 19 de maio de 2011.

46. Bruce Swedien. Entrevista Pessoal do Autor. 19 de maio de 2011.

UM APOCALÍPESE MUSICAL

Page 27: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

A versão final de “Earth Song” era um tour de force de seis minutos

e meio que apresenta a condição humana (e a condição de toda a vida) em

um panorama dramático. (47)

No começo é som: o pulsante ritmo de grilos e som de pássaros, a

vibrante cacofonia da noite. Isso evoca um cenário, exuberante – uma

floresta tropical ou equatorial – explodindo com música e vida. “Eu

acredito que em sua forma primordial toda a criação é som e não é apenas

barulhos aleatório, é música”, Jackson, uma vez, explicou. (48)

Uma harpa em efeito cascata abre a cena: uma pré-socializado

paraíso edênico no qual todas as coisas vivas existem em harmonia. A

harpa é inspirada, em parte, por compositores como Debussy e

Tchaikovsky (dois dos favoritos de Jackson), ambos fizeram frequente uso

do instrumento para evocar um mundo de sonhos de maravilha e

encantamento. Como um estudante de história, Jackson estava, também,

sem dúvida, consciente da rica importância simbólica da harpa. (49)

O clima efervescente evoca, nos segundo de abertura, entretanto,

rápidas transformações em algo mais agourento. Um som profundo, primal,

devagar invade, “Como um ilegítimo vapor que envolve, imediatamente,

alguns viajantes solitários.” (50) Então, vem o gancho de piano, os acordes

capturando uma mistura de melancolia e solidão. (51)

“E quanto ao nascer do sol, e quanto à chuva”, Jackson canta, “E

quanto a todas as coisas que você disse que nós iriamos ganhar.” A vos

dele está muito cansada, abatida, enquanto ele avalia o que tem sido

perdido em nome do “progresso”.

Nascer do sol e chuva são símbolos de perpétua renovação.

Em contraste, Jackson apresenta perguntas humanas por visões

limitadas, exploração e “ganho”. Nas linhas de abertura, ele está falando

sobre os objetivos da sociedade moderna. “O que nós fizemos como o

mundo?” ele pergunta, “Olhe o que fizemos.”

Page 28: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

Abaixo, um profundo sintetizador teclado persegue como uma

sombra, os acordes dela cordas parecem nascer do solo. A narrativa dele

descreve um mundo desertificado. “Você já parou para notar/ Todo o

sangue que nós derramamos antes”, Jackson canta, a voz dele tremendo,

enquanto se eleva a um falsete, “Você já parou para notar/ Esta terra

chorando, estas margens chorando”.

Talvez, com a maioria dos cantores, tais sentimentos poderiam surgir

como piegas. (52) Mas Jackson tinha uma capacidade única de injetar peso

nas palavras, para fazer as pessoas sentirem-nas muito além da forma como

elas parecem em uma partitura. Como Marvin Gaye uma vez colocou:

“Michael nunca perderá a qualidade que separa o meramente sentimental

do realmente comovente. Está enraizado no blues, e não importa que

gênero Michael esteja cantando, esse garoto tem o blues.” (53) Em “Earth

Song” Jackson está cantando o blues em uma escala cósmica.

Com cada verso, a textura da música cresce. A guitarra reflete os

sentimentos angustiados com emotivas interjeições. A magnifica

orquestração infla e desaparece.

No segundo verso, Jackson faz referências à paz que foi “prometida”

com “seu único filho”, de repente, voltando as perguntas dele da

humanidade a Deus. Quando essas promessas de redenção serão cumpridas,

ele pergunta. Depois, ele se refere, também, a Abraão e à “terra prometida”

que foi prometida aos descendentes dele. Essas são demonstrações como a

de Jó à divindade. “Eu chorei a Ti, e Vós não me ouvistes”, Jó lamentou:

Eu não chorei a ele que eu estava com problemas?

Minha alma não estava afligida com pobreza...

E agora minha alma está derramada sobre mim;

Estes dias de aflição têm se apoderado de mim...

Minha harpa também caiu em pranto

E meu órgão dentro daqueles que choram. (54)

Como um profeta-poeta ancião, Jackson está “sondando os limites da

Todo Poderoso”, enquanto levanta profundas questões em nome dos

feridos e abandonados.

Page 29: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

No coração da lamentação dele está a idade de ouro do dilema de por

que um inocente deve sofrer (“Você já parou para notar que/ Todas as

crianças morrendo na guerra”). A tensão dessas entradas não respondidas

cresce através dos versos, antes de romper no doloroso choro do refrão.

Escute a explosão da bateria e o baixo que faz a terra tremer, depois

do segundo verso: esse é o momento da música transformar de desesperada

para justa indignação. A intenção é sacudir as fundações do poder e mover

o ouvinte da indiferença. O segundo verso ganha mais força e ímpeto,

ganhando energia como uma tempestade.

Antes do clímax, no entanto, vem um último momento de reflexão. A

voz de Jackson está frágil e vulnerável, novamente, não mais o vociferante

representante daqueles que não tem voz. “Earth Song” é uma excelente

ilustração de quão versátil Jackson é vocalicamente: é ima voz que

“conjura o humano em extremos” – extremas alturas e emoções, extrema

vulnerabilidade e poder, desespero e raiva. (55) Na ponte, somente, ele

move da maravilhada consciência da inocência (“Eu costumava sonhar/ Eu

costumava olhar além das estrelas”) para o súbito pânico/ estranheza

(“Agora não sei onde estamos”) para o extremo desespero e revolta

(“embora eu saiba que/ fomos longe de mais!”). Essa ponte representa um

momento limiar, um estado limite entre o que foi, ou poderia ser, e o que é.

(56)

Mas é o épico clímax que se segue que empurra a música a outro

nível. O refrão chora revelado com cada vez mais e mais intensidade. O ar

rodopia com apocalíptica energia “o tumulto de poderosas harmonias”. (57)

A voz de Jackson é como Jeremias (“o profeta choroso”) em lamentação.

“Não são todas as minhas palavras como fogo... e um martelo que quebra

rochas?” (58) É como a revolucionária chamada de Shelley pelo Vento

Oeste: “Leve meus pensamentos mortos pelo universo/ Como folhas secas,

para estimular um novo nascimento... espalha [da] como de uma lareira que

não se extingue/Cinzas e faíscas... O trompete de uma profecia!” (59)

A chamada-e-resposta dele como Coro André Crouch desencadeia,

dentro do ar aberto, um diálogo que tem sido suavizado. Com cada

Page 30: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

empenho que Jackson traz para a nossa atenção, o refrão reforça com o

recorrente canto: E quanto a nós!

E quanto a ontem? (E quanto a nós!)

E quanto aos mares? (E quanto a nós!)

Os céus estão desabando (E quanto a nós!)

Nem mesmo consigo respirar (E quanto a nós!)

O “nós” e a amplificada voz dos “Outros”: todos que têm sido

silenciados, marginalizados, oprimidos ou desconsideradas (incluindo o

meio ambiente e os animais). Jackson está testemunhado por eles, enquanto

indica o status quo. Isso é uma massiva demonstração de direitos civis

definidos para música.

O poder da troca entre Jackson e o coro é simplesmente

impressionante. “E quanto à Terra Santa?”, ele grita, enquanto o coro corre

atrás como uma torrente (“E quanto a ela?”) “Despedaçada por crenças (E

quanto a nós!) / E quanto ao homem comum? (E quanto a nós!) / Não

podemos libertá-lo? (E quanto a nós!) / E quanto às crianças morrendo? (E

quanto a nós!) Você não consegue ouvi-las chorando?”.

Então, vem um ligeiro desvio pelo repetidos refrãos, enquanto

Jackson implora: “Onde nós erramos? Alguém me diga por quê?”

A voz dele demonstra desespero e perplexidade. Como nós

chegamos aqui? Como nos tornamos isso? Alguém me diga por quê! (60)

Finalmente, quando Jackson chega ao fim da ladainha dele – exausto,

mas destemido – ele dispara: “Nós nos importamos?”, antes de deixar para

trás exclamações de angústia sem palavras. Linguagem simplesmente não

pode fazer justiça à dor e ao sofrimento que ele está tentando expressar e

trazer para a atenção do mundo. Ao fundo, os refrãos lamentosos

continuam a prantear, enquanto Jackson sobre ao topo.

O termo “apocalipse” é tipicamente entendido como a destruição que

irá acontecer no “fim dos dias”. Mas na Grécia original, isso significa uma

Page 31: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

“Erguida do véu”, uma revelação ou profecia que ajuda a humanidade o

que está escondido à vista.

“Earth Song”, de acordo com a definição dela, é um apocalipse

musical. Ela leva os ouvintes de um imaginado paraíso de harmonia e

vitalidade para o nosso presente estado de degradação e divisão. A última

pergunta da música (“Nós nos importamos?”) é sobre apatia. Por que nós

aceitamos, passivamente? Por que não podemos ver e parar a

autodestruição? Por que não podemos imaginar e trabalhar por algo

melhor?

Notas do autor:

47. “Significava muito para [ele]”, diz Matt Forger. “Tudo isso veio junto,

de uma forma incrível. Tudo foi realizado tão completamente quanto

possível. Isso não era apenas um testemunho das habilidades de Jackson

como compositor e cantor, mas como um montador e diretor de um eclético

time de músicos, produtores e engenheiros. “O que Billy trouxe era

incrível, o que David trouxe era incrível, o que Bruce trouxer era incrível”,

diz Brad Buxer. “Mas era Michael guiando toda a coisa – o perfeccionismo

dele, os acordes e letras dele, a execução dele.”

48. Robert E. Johnson. “Michael Jackson in Africa.” Ebony/Jet. Maio de

1992.

49. Na bíblia, a harpa é sempre conectada a Davi, Rei de Israel, escritor dos

Salmos e, provavelmente, um dos mais célebres músicos da história das

três maiores religiões (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo). Na literatura,

a harpa Eólica – em homenagem ao antigo Deus grego do vento, Hélio –

simbolizava criatividade, poder e natureza. Quando o vento sopra, a música

vem. Os poetas românticos, frequentemente usavam a harpa dos ventos

como metáfora de um meio misterioso, através do qual a natureza se

comunicava com o artista. A harpa também representa espontaneidade,

impetuosidade e liberdade. A expressiva criatividade dela não é calculada

ou premeditada. Não está tentando ser espirituoso, irônico ou importante.

Simplesmente vem e é. Mas também simboliza efemeridade. A música

pode partir tão rapidamente e inesperadamente quanto chega.

50. William Wordsworth. The Prelude, Book VI. 1805.

Page 32: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

51. Algo similar ao que Wordsworth uma vez descreveu como a “então,

triste música na humanidade”. William Wordsworth. “Linhas compostas

um pouco acima de Tintern Abbey em revisitando os bancos de Wye,

durante um passeio em 13 de julho de 1798.” 1798.

52. Interpretações da música por outros artistas tendem a falhar

miseravelmente, não simplesmente em razão da dificuldade alcance do

vocal, mas a profundidade e emoção.

53. Michael Jackson: Edição Comemorativa. Rolling Stone. Junho de 2009.

54. Jó 30. Bíblia Sagrada, Versão de King James.

55. O crítico musical Mark Greif usou essa descrição para a voz de Tom

Yorke, do Radiohead. “Radiohead or the philosophy of pop.” n+1. Questão

3. Janeiro de 2006.

56. Como Jackson colocou em “Wanna Be Startin’ Somethin’”: “Você fica

preso no meio/ E a dor é tremenda.”

57. Percy B. Shelley. “Ode to West Wind.” 1820.

58. Jeremias. 23:29. Bíblia Sagrada, Versão de King James.

59. Percy B. Shelley. “Ode to West Wind.” 1820.

60. Como podemos aceitar um mundo de tal impressionante situação de

desigualdade e injustiça? Como temos sido condicionados a nos importar

mais sobre comprar outro carro ou TV, quando 30.000 crianças morrem

todos os dias devido à pobreza? Para reverenciar e se identificar com

corporações, mas não se importar com trabalhadores que elas exploram em

fábricas exploradoras, as florestas que elas arrasam por acres, os oceanos

que elas cobrem de óleo e plástico, ou os gases de efeito estufa que eles

emitem no ar? Alguém me diga por quê!

Levante da Massa Dormente

É difícil encontrar paralelos para “Earth Song” na música popular.

(61) Talvez o mais próximo precedente temático seja “A Hard Rain’s a-

Gonna Come”, um similarmente visionário protesto no meio de ameaças

que se aproximam, incluindo medo de guerra nuclear. Marvin Gaye

Page 33: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

(“Mercy Mercy Me), Joni Mitchell (“Big Yellow Taxi”) e Neil Young

(“Natural Beauty”), entre outros, canta músicas excepcionais sobre

problemas ambientais, mas eles foram muito mais modestos e

convencionais na apresentação.

Como “Imagine” de John Lennon, “Earth Song” pede aos ouvintes

para tentar cuidar do mundo que temos, em vez de, simplesmente, ser

aplacada pelo pensamento de uma pós vida. Mas enquanto “Imagine” faz

uma tranquila e elegante declaração, “Earth Song” é épico, intensa,

visceral. Isso, na verdade, é uma razão para que “Imagine” seja mais

palatável para ouvintes medianos. As ideias radicais dela podem ser

suavizadas pelo som etéreo dela. “Earth Song”, em contraste, procura

destruir a indiferença, pois ela exige responsabilidade. Radio não pode

fazer justiça a ela. É uma música criada para explodir dos alto-falantes se

não puder ser vista ao vivo.

Estilisticamente, ela combina a dramática estrutura de uma opera

com o passional fervor do gospel. Mas também contém elementos do rock

e blues. “Ele era um emblema internacional do impulso espiritual blues

afro-americano que remonta à escravidão”, observa Dr. Cornell West.

“Michael Jackson era parte desta tremenda onda no oceano da expressão

humana”. (62)

A chamada-e-resposta usada em “Earth Song” é enraizada nas

tradições musicais de quase todas as culturas, desde os coros em tragédias

gregas, a cantos de trabalho, a espirituais afro-americanos. Historicamente,

isso sempre tem sido usado como uma forma de resistência à opressão:

representa a voz “das pessoas” e os problemas delas; isso era uma forma de

executar solidariedade. Nietzsche argumenta que isso estava no seio da

União Primordial que seres humanos encontram libertação e redenção. 63

O sofrimento de alguém é transformado em algo comunal, energia criativa.

Jackson usa chamada-e-resposta, portanto, tanto para demonstrar nossa

situação calamitosa quando para mostrar como nós podemos aproveitar

sofrimento por finais produtivos.

Além da clara inspiração bíblica dela (Jó, Jeremias, Abraão, Jesus,

etc.), “Earth Song” também remete às religiões orientais, incluindo

Page 34: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

budismo, hinduísmo, sofismo e taoísmo. (64) Em adição, há paralelos com

paganismo e tradições de indígenas africanos e nativos americanos. Como

uma antiga profecia indígena-americana, com a qual Jackson poderia estar

familiarizado, com avios:

Quando todas as árvores tiverem sido cortadas,

Quando todos os animais tiverem sido caçados,

Quando toda a água tiver sido poluída,

Quando todo o ar for inseguro para respirar,

Somente, então, você perceberá que não pode comer dinheiro,

“Earth Song” é fundamentada em uma rica tradição de poesia

profética: Desde William Blake (“Ó Terra Ó Terra volte!... Levante da

massa dormentes”) (65) a William Worsworth (“Eu tenho uma sensação de

dor quando eu contemplo/ As árvores silentes e eu vejo o intruso céu”)66;

de W.B. Yeats (A maré de sangue esmaecido está solta, e em todo lugar/ A

cerimônia da inocência é afogada”) (67) T.S. Eliot (“O que é que soa alto

no ar/ Murmúrio de maternal lamentação”) (68) a Langston Hughes

(“Liberdade é uma forte sementes/Plantadas em uma grande necessidade”).

De uma mais ampla opinião artística, “Earth Song” é, talvez, melhor

entendida como uma tragédia. Como tragédias gregas e shakespearianas,

ela dramatiza as lutas humanas contra o destino. Mas Jackson reapresenta

essa luta, não da perspectiva de figuras da realeza ou heróis, mas do próprio

planeta – da vida como um coletivo (destacando as vozes dos feridos,

vulneráveis e invisíveis). (69) Em “Earth Song”, portanto, Jackson não

representa a si mesmo, meramente. Ele está agindo como o veículo para

uma tragédia moderna: as lutas da Terra e dos habitantes dela por

sobrevivência contra todas as crescentes adversidades.

Nota do autor:

61. Eu perguntei a Bill Bottrell se ele poderia pensar em alguma música

precedente de “Earth Song”. A reposta dele: “Tematicamente, talvez, ‘

What’s goin’ on’. Musicalmente, ela é, provavelmente, mais comparável a

‘Man in the Mirror’. Mas também mais rock nela. ‘Man in the Mirror” era

Page 35: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

mais R&B em fusão com gospel. Também, eu acho que ‘Earth Song’, por

que foi Michael quem a escreveu, era mais pessoal, mais internalizada.

Você pode sentir isso na apresentação dele.”

62. Cornell West. “Gerogetown Professor Assess Michael Jackson’s

Cultural Legacy.” The Tavis Smiley Show. PBS. 30 de junho de 2009.

63. Veja O Pássaro da Tragédia de Nietzsche.

64. Muito mais poderia ser dito sobre essa conexão. Jackson foi muito

influenciado pelas ideias orientais, começando no fim dos anos oitenta.

“Deixe-me, oh Terra, entre o que é teu centro e o que é teu ponto central”,

leia a Athara Veda, “e vitalizando forças que emanam do teu corpo.

Purifica-nos de todos os lados. Terra é minha mãe; filho dela eu sou; e Céu

é meu pai: ele pode nos preencher com plenitude.” 12.1

65. William Blake. “Introduction”. Songs of Experience. 1794.

66. William Wordsworth. “Michael”. Lyrical Blladas. 1798.

67. W.B Yeats. “The Second Coming.” 1920.

68. T.S. Elliot. “The Waste-Land.” 1992.

69. Langhston Hughes. “Democracy”. 1949.

70. “No coração dele, ele carrega outras vidas”, disse Smokey Robson,

“Era mais que ter alma; era lama que ia profundamente dentro do solo de

toda a história de uma pessoa.” Michael Jackson: Commemorative Edition.

Rolling Stone. Julho de 2009.

Acima de Topo

“Earth Song” foi lançada como single em novembro de 1995. Por

todo o mundo, extraordinariamente, ela tocou em estações pop, próxima a

músicas das Spice Girls, Hootie and the Blowfish e Take That. Ela alcançou

o primeiro lugar nos charts em quinze países. No Reino Unido, ela se

tornou o single de Jackson mais vendido de todos os tempos, vendendo

mais que um milhão de cópias.

Interessantemente, entretanto, ela nem mesmo foi lançada como

single nos Estados Unidos. Essa abstinência é ainda mais notória

Page 36: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

considerando-se que o single anterior de Jackson, “You Are Not Alone”,

foi um hit número 1 nos Estados Unidos. Mas por razões não explicadas,

ela não foi oferecida ao radio nem lojas de discos nos Estados Unidos. O

produtor Bill Bottrell sente que a decisão não foi por acidente. “[A música]

era contra corporação, contra violação da natureza”, ele diz. “Portanto, era

propensa à censura.” (70) Na verdade, mesmo que a música não fosse

oficialmente bloqueada, o fato de que ela não era vista como viável para

ouvintes dos Estados Unidos diz muito.

Entrementes, a resposta dos críticos foi, na maior parte, cínica e

desdenhosa. Críticas a descrevem como “exagerada”, “patética”,

“sentimental”. A Rolling Stone descreveu-a como uma “peça de

mostruário, algo com o que arrasar em Monte Carlo”. 71 Muitos zombaram

a preocupação da música com “baleias, árvores e elefantes”.

Tais avaliações, entretanto, fala mais sobre a cultura indiferente e

desdenhosa que as produziram, que sobre a música. Os anos 90, depois de

tudo, foi uma década caracterizada pela indiferença, apatia e ironia. Um

estudo da Standford University, de 1998, mostra que indiferença e cinismo

estavam crescendo em todas as faixas etárias. (72) Em países ocidentais, a

Geração X, na maior parte, cresceu em um mundo de isolamento

suburbano. As angústias dessa geração, porém, eram dirigidas à falsidade,

ao materialismo e ao ambiente dela. Mas o solipsismo dela também a

impedia de reconhecer a real raiz dos problemas desses excessos. Não foi

até o fim os anos 90 que questões como globalização, mudanças climáticas

e exploração corporativa começaram a receber maior atenção.

O fervor e ambição de “Earth Song” ao abordar tais problemas eram,

de muitas formas, anacronismo. O público em geral, principalmente em um

país privilegiado com os Estado Unidos, no meio de uma explosão

econômica, prefere olhar para o próprio reflexo disso que para o exterior.

O desdém por “Earth Song” também fala para generalizada

mentalidade de massa no jornalismo musical. (73) Nesse caso, o instintivo

consenso era de que a dimensão e alcance da música, automaticamente,

equiparava-a à “enfática” e “bombástica”. Similarmente, porque ela é sobre

“salvar o planeta”, ela era “sentimental” e “quixotesca”. Mas tais

Page 37: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

caracterizações dizem mais sobre as expectativas sobre a música pop

contemporânea que a qualidade da canção.

Ninguém, por fim, esperaria uma opera a aderir aos padrões de uma

canção folclórica ou um o poema épico para ler como uma estória curta de

Hemingway. “Earth Song” era grande e dramática, porque ela foi

idealizada para ser grande e dramática.

Parte da reação negativa à música teve a ver com as expectativas que

os críticos (e o público) tinha sobre o próprio Jackson. Desde a metade dos

anos 80, a mídia tinha desenvolvido uma simples, mas lucrativo, retrato de

Jackson, que poderia ser cortado e colado a cada nova estória: Ele era um

excêntrico, ingênuo, inacessível megalomaníaco. Avaliações da música

dele eram, quase exclusivamente, interpretadas através destas lentes, desde

1985 em diante, independentemente do mérito da música ou álbum.

Outra expectativa, particularmente dos críticos, era que Jackson

deveria manter as abençoadas “dance music” de Off the Wall e Thriller, em

vez de algum material “irado”, “desafiador”, “politico” que veio em

seguida. Os críticos sempre preferiram ver Jackson como um entertainer

em vez de um artista (um estereótipo com uma longa história racial, da qual

Jackson era bem consciente). Enquanto a música dele se tornava mais

experimental e desafiadora, jornalistas tentavam, em vão, coloca-lo de

volta “no lugar dele”. Eles não queriam ouvir músicas sobre racismo,

distorção pela mídia e o meio ambiente, eles disseram. Eles queriam leves e

alegres “pop”.

Notas do autor:

71. James Hunter. “Michael Jackson’s HIStory.” Rolling Stone. Agosto de

1995.

72. Generation X not so special : Malaise, Cynicism on the Rise.” News

Release. Agosto de 1998.

73. Anthony De Curtis observa: “Muito da escrita rock é esnobe,

adolescente e desdenhoso... Críticos de rock têm, rotineiramente, almejado

superar os assuntos deles e eles têm conseguido, pelo menos, nos próprios

Page 38: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

trabalhos e nas próprias mentes, se em nenhum outro lugar.” Anthony

DeCurtis. Foreword. Reading Rock and Roll. Ed. Kevin H. Dettmar.

Columbia University Press, 1999.

O Corpo como Tela

As performances de Jackson para “Earth Song” foram, igualmente,

assunto de escárnio e controvérsia. Muitos críticos as interpretaram como a

perfeita ilustração do complexo de messias de Jackson. Outros ficavam

incomodados pelo efeito visceral que as performances tinham sobre as

multidões (as pessoas da plateia eram, frequentemente, mostradas

alcançando Jackson e soluçando).

Nos breves três anos (1996-1999) que a música foi apresentada, ela

serviu como dramático clímax para os shows de Jackson. Eles eram

espetáculos extraordinários. Independentemente da opinião sobre o homem,

assistir-lhe cantando, vibrando, uivando, pendurando, precariamente, sobre

a multidão e despejando a alma dele no palco, pelo menos, deixava claro

por que ele era um dos mais poderosos artistas da era moderna. Isso era

uma potente combinação de entretenimento e arte, profecia e ativismo,

música e visuais, realizados de uma forma que eles nunca tinham visto

antes.

“Jackson é sempre dramaticamente iluminado, enquanto envolvido

em uma convolação de roupagem Baroque e altitude crescente contra o céu

noturno em um aparato ‘plataforma’”, observa a aclamada artista visual

Constance Pierce. “Pairando sobre a audiência massiva dele, a iluminada

roupagem da capa de seda esvoaçando, a presença hipnotizante de Jackson

captura milhares abaixo dele em uma estética participativa, uma ‘arte

performance’ ritual... Velas são acesas e uma torrente de braços é erguida

em uníssono. Um gesto de paixão incorporado na performance de ‘Earth

Song’ de Jackson, tanto irônico, quanto transcendente, queima-se dentro da

consciência coletiva do século 20.” (74)

Page 39: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

Em, talvez, a mais básica performance dele – no concerto no Royal

Center de Brunei, em julho de 1996 –, brilhando com o suor de um show de

três horas, Jackson apresenta uma coda improvisada (“Diga-me e quanto a

isto!”) que pertence a uma dos melhores momentos dele no palco. Não há

adereços, nenhuma pirotecnia, apenas ele, o microfone e a música.

A carga “messiânica” ganhou mais circulação depois de uma

apresentação no BRIT Awards de 1996, na qual Jarvis Cocker interpretou a

performance muito literalmente. Alguém alegaria que Michelangelo ou

Rembrandt são “messiânicos” por pintar a crucificação? Jackson estava,

sem dúvidas, usando icônicos símbolos e gestos messiânicos nas

performances dele. O que é, raramente, levado em consideração, no

entanto, é como, como um dançarino/artista de palco, o corpo dele atua

como tela. Verdadeiramente,

“incorporar” a música significa permitir a si mesmo a liberdade de

se tornar qualquer coisa que a música e a letra ditar. (75)

Jackson, portanto, dessa forma, usa gestos e símbolos messiânicos,

não porque ele pensa que ele é o messias, mas em razão do que este

arquétipo pode comunicar e expressar artisticamente. Com esta obra em

particular, era o melhor jeito que ele poderia pensar para transmitir a

agonia, o sofrimento e redenção da música.

O criticismos em relação ao curta-metragem de Jackson para “Earth

Song”, dirigido pelo talentoso e ótimo fotografo de arte Nick Brandt,

similarmente, perderam o ponto. (76) Apenas a mais simplista (ou,

propositalmente, hipócrita) interpretação iria lê-lo como Jackson fingindo

que ele tinha o poder de, magicamente, resolver todos os problemas do

mundo. Na verdade, no vídeo, ele é retratado como todos os outros, envolto

pela repercussão da ganância e violência humana. “As caretas dele estão

duras de remorso, medo, raiva e determinação”, nota o crítico

cinematográfico Armond White. “Ele está fazendo algo quase miraculoso –

dramatizando arrogância para o propósito de iluminar e melhorar avida

para outros... A postura dele, segurando-se em galhos de árvores enquanto

é esbofeteado pelo vento do destino, não é sacrifício, não é uma

Page 40: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

crucificação, é um posicionamento. Michael está apostando na crença de

onde e como nós vivemos.” (77)

O filme foi gravado em quatro diferentes lugares em todo o mundo: a

floresta equatorial Amazônica, um campo na Tanzânia, uma zona de guerra

da Croácia e uma floresta completamente queimada em Nova Iorque.

Depois de mostrar imagens de desflorestamento, poluição, morte e

crueldade, Jackson (além do pequeno grupo de pessoas de outras partes do

mundo), cai de joelhos, enterrando os punhos no solo em desesperada

súplica. É esse simbólico gesto que inicia o imaginado reverso. Apenas por

se importar com a dor da Terra (e dos Outros), por entender como estamos

conectados, e por nossa coletiva vontade de mudar, nós podemos esperar

curar o mundo.

O filme, destarte, é sobre contrastes: o mundo como ele é o mundo

como ele poderia ser. Embora Jackson esteja no centro do filme, ele não é

retratado como um “messias”, mas em vez disso, como “a voz dos que

choram na vastidão”.

74. “Lacrymae Rerum: Reflexões de um Artista Visual Informado e

Inspirado por Gestos de Transcendência na Arte Passional de Michael

Joseph Jackson.” Paixões dos Céus em Expressões de Grande Arte.

Sociedade Internacional de Fenomenologia. Grande Arte e Estética, 16ºm

Conferência Anual. Universidade de Harvard. 18 de maio de 2011.

75. “Quando Jackson incorporou uma particular postura arquetípica”, nota

Constance Pierce, “o corpo físico dele se transformou em uma espécie de

símbolo, elegante caligrafia, no que, o Divino pode canalizar gestos de

explosiva emoção ou íntima compaixão. O artista se tornou xamantico,

assumindo nossas massivas ‘sombras’ cumulativas e varrendo tudo isso

para a luz”. “Lacrymae Rerum: Reflexões de Um Artista Visual Informado

e Inspirado por Gestos de Transcendência na Arte Passional de Michael

Joseph Jackson.” Paixões dos Céus em Expressões de Grande Arte.

Sociedade Internacional de Fenomenologia. Grande Arte e Estética, 16ºm

Conferência Anual. Universidade de Harvard. 18 de maio de 2011.

76. “O momento mais interessante para mim”, recorda o diretor Nick

Brandt, “foi com ‘Earth Song’, quando eu tive um monte de Nova

Page 41: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

Iorquinos cansativos, muito cínicos como equipe, para a parte da filmagem

que ele estava. Ele apenas diziam: ‘oh, sim, Michael Jackson, da-da-da-da-

da’, mas depois, quando ele começou a cantar, no fim da música, e ele

estava gritando os vocais... você poderia ver, você olharia em volta e todos

tinham parados nos trilhos deles, e o estavam assistindo, cravado. E ele

apenas me deu uma tomada de cada ângulo, porque ele foi soprado por

estas máquinas de vento e coisas estavam voando nos olhos dele. Eu quero

dizer, isso foi muito difícil, eu quero dizer, disparando poeira e folhas e

todo tipo de coisas no rosto dele. E todo mundo ficou eletrificado. Ele,

completamente, transformou a todos.”

77. Armond White diz que Earth Song está “entre as mais magnificas

combinações de música e imaginário no centenário do cinema.” Keep

Moving: The Michael Jackson Chronicles. Resistance Work. 76-79

Legado

Muito do criticismo desdenhoso quanto a “Earth Song” permanece

amplamente inalterado hoje. De alguma forma, enquanto os incríveis

protestos sociais de Bob Dylan, John Lennon e Marvin Gaye são

legitimamente reconhecidos no Top 5 músicas de todos os tempos, da

Rolling Stone, “Earth Song”, de Michael Jackson, nem mesmo chega ao

Top 500.

Mas desde 1995 (e, especialmente, nos recentes anos), “Earth Song”

tem ganhado admiradores pela presciência e poder dela. Em seguia à morte

de Jackson, ela, de repente, alvoreceu em muitos que, antes de Verdade

Inconveniente de All Gore, antes de Avatar e Wall-E, antes de “ficando

verde”, se tornar um slogan, Michael Jackson estava soando o alarme, não

apenas sobre o meio ambiente, mas muitas outras pressões sociais, e

questões sociais. Nos anos 90, ele era, indubitavelmente, o mais influente

porta voz para o ambientalismo.

Em anos recentes têm sido feito covers de “Earth Song” em

programas populares como American Idol, The Factor X, e no Grammy

Awards, entre outros. Ela também tem sido tocada por sinfonias em todo o

Page 42: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

mundo, desde Londres ao Japão. Globalmente, ela continua sendo uma das

canções mais amadas de Jackson.

De um ponto de vista crítico, enquanto ela continua negligenciada

pela imprensa popular, “Earth Song” está beneficiando de uma explosão de

interesse acadêmico. Trabalhos de Armond White, Constance Pierce e Gerd

Buschmann, entre outros, tem começado a mapear o rico terreno dela. (78)

Tão profundas análises por uma variedade de campos acadêmicos permitirá

que “Earth Song” seja contextualizada e interpretada da maneira que os

críticos falharam em fazer quando ela foi lançada.

Mas talvez, o mais substancial legado dela seja a forma como tem

impactado vidas individuais e melhorado o bem estar do planeta. Como o

próprio Jackson disse, em 2009, ele queria que a música “abrisse a

consciência das pessoas”. (79) Ele não queria que a plateia simplesmente se

sentisse mal; ele queria que eles agissem. E isso é, precisamente, o que

muitos têm feito.

Milhares de professores, agora, usam “Earth Song” em aulas para

trazer consciência sobre questões ambientais e direitos dos animais. Ela,

também, inspira ativismo. “Depois de ver o segmento de ‘Earth Song’ em

This Is It (o que me levou às lágrimas)”, disse Trisha Franklin, “eu me senti

completamente compelida a fazer alguma coisa para ajudar, como Michael

pediu, assim, eu comecei um projeto para plantar árvores em todo o mundo

em nome de Michael. ‘Um Milhão de Árvores Para Michael’, agora, tem

mais de 13.000 fãs no facebook e nós conseguimos milhares de hits em um

mês de funcionamento do nosso website. Nós plantamos mais de 200.000

árvores no mundo e estamos esperando milhares mais”. (80)

O impacto dela continua a ressoar para a nova geração. Depois de

ver o vídeo musical de Earth Song, um sensível menino de dez anos de

idade (Draven) ficou tão profundamente comovido que ele prometeu contar

a todo mundo que ele sabia sobre a mensagem da música. Ele não sabia

sobre quase todas as questões que a música revela e disse a avó dele que ela

“fez com que percebesse o quão é importante é cuidar do planeta”. (81)

Page 43: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

Tais estórias podem parecer insignificantes, dado o alcance dos

problemas que a humanidade enfrenta. Mas elas são sementes. Elas

representam resistência a um status quo que Jackson reconhecia não apenas

como injusto, mas insustentável.

Notas do autor:

78. Ensaio de Gerd Buschmann’s foi publicado na Alemanha. Der Sturm

Gottes zur Neuschöpfung: Bimblische Symboldidaktik in Michael Jackson

Mega-Video-Hit Earth Song. Katechetische Blätter. Vol 121, nº 3

79. Michael Jackson This Is It DVD. Sony, 2010;

80. Trisha Franklin. Entrevista Pessoal do Autor. 4 de junho de 2011.

81. Mary House. Entrevista Pessoal do Autor. 4 de junho de 2011.

Uma Aventura da Humanidade

Michael Jackson apresentou “Earth Song” para uma audiência ao

vivo, na parte final, em 27de junho de 1999, e Munique, Alemanha.

O show foi o segundo de dois concertos beneficente organizados por

Jackson (o primeiro ocorreu em Seul, Coreia), intitulado “Michael Jackson

& Friends – An Adventure of Humanity”. Todo o lucro – aproximadamente

3,3 milhões de dólares – foi doado para o Nelson Mandela Children’s

Fund, a Crus Vermelha, UNESCO, e refugiado de Kosovo.

O dia do concerto em Munique estava escaldante. Foi dada água aos

fãs para evitar a desidratação. (82) No início da tarde, o show entrou em

curso com performances por Luther Vandross, Ringo Starr e Andrea

Bocceli, entre outros.

Enquanto o sol sumia e o ar esfriava, porém, a antecipação por

Michael Jackson começa a crescer. O Estádio Olímpico de Munique estava,

agora, recheado até à borda, um mar de seres humanos convergiram de

todo o mundo.

Page 44: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

Jackson subiu no palco pouco depois de 11h00min da noite.

Enquanto ele está imóvel, como um Davi, em meio à fumaça e um fluxo de

luz, o excitamento da multidão é palpável. Esse era o momento pelo qual

eles estavam esperando. Jackson executou uma alta octanagem trilha

sonora de músicas, incluindo um medley suave, habilidosamente

coreografado de “Dangerous” e “Smooth Criminal”.

Depois de terminar o set, Jackson correu para o findo do palco para

uma troca de figurino e Gatorade, enquanto o elaborado o pano de fundo

estava sendo construído para o número final dele: “Earth Song”.

Durante o intervalo, “Ode à Alegria” de Beethoven, retumbou,

triunfantemente, pelo ar quente de verão, enquanto luzes surgem através da

multidão. Então, no telão, um globo girando aparece. A aura estática, de

repete, se tornou contemplativa, quanto a abertura taciturna, cósmica, para

“Earth Song” emanava por todo o estádio, seguido pelos chorosos acordes

de piano.

Jackson caminha de volta para o palco para o distante grito dos fãs,

entretanto, pode-se dizer, ele está, agora, dentro da música dele.

Ele está vestindo calças pretas e uma esfarrapada capa preta e

vermelha. O rosto dele está pálido. Ele parecia ferido e sombrio. “E quanto

ao nascer do sol...” O inconfundível tenor causa um frisson pela multidão.

Os gestos dele são expressivos, a tensão gradualmente construída. O

corpo de Jackson se agacha, pulsa e balança. Ele está “canalizando” as

dolorosas emoções da música. O refrão cresce como ondas surgindo.

Enquanto Jackson canta, uma grande ponte de ferro é erguida no

palco em três partes conectadas. Isso era uma adição ao número que só

tinha sido feita uma vez, antes, apenas poucos dias antes, em Seoul. O

conceito foi idealizado como um tipo de “Ponte Sem Retorno”: refugiados

são vistos atravessando o que eles, apenas podiam esperar, seria segurança

e liberdade. Depois que eles passam, o próprio Jackson correr pela ponte.

Explosões pirotécnicas em ambos os lados, simulando o ataque de jatos

Page 45: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

largando bombas em cima. O guitarrista, Slash, do mesmo modo, toca um

tempestuoso solo de guitarra abaixo, reforçando a sensação de caos.

Envolto em uma nuvem de fumaça, Jackson bate o pé e grita,

“Alguém me diga por quê!”

Então, o inesperado acontece. Depois de uma série e explosões, a

parte do meio da ponte, onde Jackson está é, subitamente, desconectada,

sobe e, depois, cai seis pés, aproximadamente.

“Do meu ângulo, eu não pude ver o que aconteceu, portanto, eu

continuei tocando”, recorda o diretor musical Brad Buxer. “Eu pude sentir

que algo estava meio estranho, mas eu continuava ouvindo Michael

cantando. Quando a fumaça clareou, eu vi que a ponte tinha se desfeito”.

(83)

A maquiadora artística de Michael, Karen Faye, disse que o coração

dela “parou de bater”, quando ela percebeu o que tinha acontecido.

“Diferentemente de ensaios, e o último show [na Coreia], [a ponte] não

parou no cume dela”, ela recorda. “Em vez disso, ela veio caindo,

ganhando velocidade, com Michael, firmemente, segurando nas grades –

ainda cantando. Eu comecei a gritar, mas eu não conseguia escutar minha

própria voz sobre a pirotecnia, a música, e a plateia... De nosso ponto de

visão, nós tínhamos perdido Michael de vista... Eu não poderia imaginar

como [ele] sobreviveria a tal queda.” (84)

A ponte aterrissou com um baque no fosso da orquestra, na frente do

palco. 85 Surpreendentemente, enquanto Jackson estava sendo sacudido

pela queda, ele continuou a apresentação. A plateia em frente ficou

aturdida, mas a maior parte da audiência, simplesmente, supôs que isso era

parte do show. Técnicos, rapidamente, pularam para checar Jackson, mas

antes que eles o alcançassem, ele estava engatinhando de volta ao palco.

“Eu vi um braço alcançar o chão do placo”, recorda Karen Faye,

“depois uma longa perna esguia, outro braço, outra perna... Ele estava de

pé, no centro do palco, terminando o final de ‘Earth Song’! Minha boca

caiu aberta em aliviada admiração.”

Page 46: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

O organizador do concerto, Britton Rikki Patrick, mais tarde, tentou

oferecer uma explicação pelo que aconteceu. “Nós penamos que um cabo

possa ter arrebentado ou algo assim. Foi realmente assustador. As pessoas

na audiência estavam gritando e chorando. Os seguranças estavam

correndo para todos os lados. Deve ter sido aterrorizante para Michael. Mas

ele conseguiu pular de volta para o palco. Ele cambaleou para o lado onde

eu tinha paralisado e desmoronado em uma cadeira. Eu pude ver que ele

estava sentido muita dor e sangrando atrás da cabeça dele.” (87)

Depois do show Jackson foi levado ás pressas ao Hospital Rechts

Der Isar, em Munique. Ele tinha um sério ferimento nas costas e contusões.

Mas antes de ser levado para o hospital, ele não apenas insistiu em finalizar

“Earth Song”, mas também o encore, “You Are Not Alone”. A única coisa

que ele escutava na cabeça dele, ele disse mais tarde, era a voz do pai dele

dizendo: “Michael, não desaponte a plateia!” (88)

Depois de subir de volta para o palco, a partir de uma ponte

desmantelada, envolto em nuvens de fumaça, Jackson deixou as últimas

exclamações dele. Whoooo! Whoooo! Whoooo!

Finalmente, com um único holofote brilhando, ele esticou os braços

dele e olhou para a audiência, encharcado de suro e esgotado.

Notas do autor:

82. Michael Jackson Fã Clube. Novos Arquivos. Junho de 1999.

83. Brad Buxer. Entrevista Pessoal do Autor. 12 de junho de 2011. “É

incrível o que Michael Jackson fez esta noite”, diz Buxer. “Qualquer outro

artista teria parado. Ele ficou muito abalado, mas ele se recusou a

interromper a performance.”

84. Karen Faye. “What More Can I Give.” Karen Faye – Uma Vida

Interceptada. 27 de julho de 2010.

85. De acordo com Brad Buxer, a queda poderia ter sido muito pior se não

fosse por um técnico alerta, que ajudou a diminuir a velocidade da ponte

que caía, colocando alguma resistência nos cabos.

Page 47: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

86. Karen Faye. “What More Can I Give.” Karen Faye – Uma Vida

Interceptada. 27 de julho de 2010.

87. “Estrela Cai em Labaredas de Fogo em Um Suporte em Colapso.”

Daily Rocord. 29 de junho de 1999.

88. Karen Faye. “What More Can I Give.” Karen Faye – Uma Vida

Interceptada. 27 de julho de 2010.

Arte Performance

Isso poderia ter sido o fim. Mas durante a History Tour, Jackson

adicionou um desfecho. Exatamente quando a poeira baixa, um tanque vem

roncando para o palco.

No fundo, militante bateria toca prodigiosos acordes. O tanque está

rolando em direção à plateia, mas antes que ele a alcance, Jackson pula na

frente, modelando a icônica imagem de Tinanmen Square. Ele está

performando resistência civil – literalmente colocando a si mesmo a arte

dele contra um imponente símbolo de poder e destruição. Isso, lindamente,

emblema o significado e o propósito de “Earth Song”.

Um soldado, então, emerge na máquina e aponta uma arma para os

refugiados e Jackson. A audiência engasga. Ele aponta a arma diretamente

para a cabeça de Jackson, enquanto Jackson permanece, calmamente,

diante dela. O soldado foi treinado para matar, mas agora, no momento

decisivo, ele hesita.

Indeciso, ele, mesmo assim, mantém o terreno dele, ainda apontando

a arma contra o inimigo desconhecido. Daí, dos refugiados, uma criança

emerge. Em roupas esfarrapadas, ela caminha até o soldado segurando uma

flor. Isso é um símbolo de vida e toda a fragilidade, beleza e transição dela.

Page 48: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

O soldado começa a voltar aos sentidos. Ele larga a arma e tira o

capacete e óculos de proteção. Quando ele olha nos olhos do menino, ele

cai de joelhos e chora. Ele, de repente, percebe o que ele se tornou e o que

ele está fazendo.

O soldado e o menino se abraçam, como fazem Jackson e o soldado.

Isso é uma cena de redenção e cura. No fundo, um sublime piano floresce

cascatas como folhas de chuva de verão. O mundo pode estar cheio de

sofrimento e horror não dito, mas aqui, Jackson demonstra, está a prova de

que ainda existe pacotes de amor, beleza e música. A música dele não pode

mudar tudo, mas ela pode oferecer esperança.

Flanqueado pelo soldado, a criança e um grupo de refugiados, ele se

volta para a plateia em um momento final, estende os braços e inclina a

cabeça em direção ao céu.

Epílogo

Michael Jackson esperava que “Earth Song” fosse uma das mais

importantes obras da série de concertos This Is It, em Londres. Ele tinha

criado um conceito inteiramente atualizado para o número, incluindo um

introdutório filme 3D. Embora ele nunca tenha visto isso concretizado, os

filhos dele introduziram uma reedição tributo no Grammy Awards, em

2010. “Através de todas as músicas dele, a mensagem dele era simples:

Amor”, disse o filho mais velho de Jackson, Prince. “Nosso pai sempre se

preocupou com o planeta e a humanidade... Nós continuaremos a espalhar a

mensagem dele e a ajudar o mundo”.

“Earth Song” foi a última música que Jackson ensaiou antes da morte

dele.

Page 49: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

Agradecimentos

Eu expresso minha profunda apreciação a Bill Bottrell, amigo de confiança

de Michael Jackson, produtor e primeiro colaborador de “Earth Song”. Seu

trabalho com Michael Jackson enquanto as pessoas escutam a música.

Obrigado pela ótima conversa e fascinantes histórias sobre como essa

música surgiu. Eu também quero agradecer a Matt Forger, Bruce Swedien,

Brad Buxer, Jorge del Barrio, Rob Hoffman, e Karen Faye pelo tempo de

vocês, memórias e insights. Este livro não seria possível sem cada um de

vocês. Eu expresso minha sincera gratidão a Constance Pierce pela

inspiração e encorajamento. Obrigado a Armond White por falar a verdade

diante do poder, quando poucos têm coragem. Obrigado a Anna Dorfman

por sua generosidade, olho artístico e lindo designe de capa.

Obrigado ao Espólio de Michael Jackson por seu apoio e assistência. Um

agradecimento especial ao time MJJ Justice Project, Deborah French, Willa

Stillwater, Joie Collins, Tricia Franklin, Mary House and Draven, por sua

valiosa contribuição. E, finalmente, obrigado a minha família por seu

infalível amor e por acreditarem em mim.

Um bate-papo com Joe Vogel sobre Earth Song

Joie: Willa e eu estamos muito felizes em ser acompanhadas por Joe Vogel

esta semana. Como todos sabem, o livro muito aguardado dele, Man in the

Music, será lançado em 01 de novembro, e agora ele está prestes a lançar

uma versão impressa do eBook dele, Earth Song. Obrigado por se juntar a

nós Joe!

Ok, aqui está o que eu gostaria de saber. Por que você escolheu destacar

"Earth Song" e escrever uma peça separada sobre ele? Você tem uma

afinidade especial com essa música mesmo ou você simplesmente ficou

intrigado pelo processo – ou obsessão – de Michael com a música,

enquanto você estava pesquisando para Man in the Music?

Page 50: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

Joe: Eu sempre amei "Earth Song". O poder e a majestade e a paixão dessa

música sempre me tocaram profundamente. Quando eu estava trabalhando

em Man in the Music, no entanto, eu estava ouvindo toda a obra de MJ de

tão perto que muitas canções provocaram novas impressões.

"Earth Song" foi um delas. Quanto mais eu aprendia sobre ela e quanto

mais eu a ouvia, mais me convencia de que esta era a música mais

importante de Michael. Ela englobava muitíssimo.

A chamada e a resposta com o coro, para mim, é um dos momentos mais

intensos da história da música. No entanto, houve um reconhecimento tão

pouco reconhecimento por essa música entre os críticos.

Muito pouco foi escrito sobre ela que não seja condescendente e

desdenhoso. Então, eu queria de alguma forma escrever sobre ela de uma

forma que iria comunicar o poder dela – e eu estava animado com a

perspectiva de realmente ser capaz de aplicar zoom em uma música e fazer

todas as entrevistas e pesquisas com esse tipo de foco e profundidade.

Willa: Eu adorei isso! O nível de detalhes que você fornece é maravilhoso

e eu adoro a forma como o livro fornece insights tanto em "Earth Song"

quanto no processo criativo de Michael Jackson também.

Você começa seu livro discutindo como nosso mundo está em perigo, e

com as descrições de ele experimentando um perigo quase como dor física,

indescritível – e, então, você mostra a ele começando o canal e dando

forma e expressando os profundos sentimentos dentro da música. Você

pode nos dizer mais sobre este processo, e alguns momentos-chave de

como "Earth Song" veio a ser o que nós experimentamos hoje?

Joe: Claro. Eu acho que, em primeiro lugar, o processo de "Earth Song"

fornece uma incrível janelade como Michael operava como um artista. Isso

é o que tornou isso muito divertido de escrever. Você começa a fazer

ligações, juntar peças.

Por exemplo, eu conversei com Matt Forger sobre este conceito original de

"Earth Song" como uma trilogia (com uma peça orquestral, a música, e um

poema falado); depois de saber disso, voltei a Bill Bottrell para descobrir

quem era o compositor com quem Michael estava colaborando e como isso

parecia; Bill levou-me a Jorge del Barrio, que, eu soube posteriormente,

trabalhou com Michael em músicas como "Who Is It" e "Morphine"

também.

Através de del Barrio aprendi algumas ideias maravilhosas sobre o conceito

/ sentimento que Michael estava buscando e como isso transformou. Então

você fala com pessoas diferentes e todos os tipos de novas conexões

emergem: novos detalhes, novos ângulos. E você aprende o quanto

cuidadosamente e reflixivamente Michael construia o trabalho dele.

Page 51: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

Em entrevistas, Michael tendia a ser muito vago sobre o processo criativo

dele, mas o que Earth Song revela é como ele era obcecado por cada

detalhe do trabalho dele, desde o início de todo o caminho, até a mixagem

final. Ele cercou-se de grande talento, mas foi a visão criativa e o

perfeccionismo dele que guiaram os projetos dele.

Willa: Você acabou de destacar algo que realmente me surpreendeu ao ler

seu livro. Você mostra que ele era muito experiente e estava muito

envolvido nos mecanismos atuais de criação de “Earth Song” – que ele

estava envolvido em todas as fases do processo. Mas em entrevistas que ele

deu, ele tendeu a ser vago sobre isso, como você diz, e meio que se

distanciou um pouco desse aspecto, focando mais na inspiração e sendo

receptivo àmúsica em si. Ele disse em uma série de entrevistas que a

música apenas vinha a ele e “caia no colo dele”.

Você escreve em seu livro que muitas vezes ele disse a si mesmo para

"Deixe a música criar a si mesma", e você relaciona isso a uma citação de

John Lennon que ele manteve em exposição como um lembrete para si

mesmo, enquanto trabalhava em “Earth Song”:

"Quando a verdadeira música vem a mim", dizia, "a música das esferas, a

música que o entendimento surpasseth – isso não tem nada a ver comigo,

porque eu sou apenas o canal.”

“A única alegria para mim é que isso seja dado a mim, e para transcrevê-

lo como um meio... Eu vivo por esses momentos.”

Quando eu li esta seção de seu livro, pensei imediatamente nos

Românticos. Se olharmos para rascunhos dos poemas dele, eles os

revisavam e eram de fato muito bem informados e envolvidos na arte de

criar poesia. Eram wordsmiths qualificados.

Mas, como Michael Jackson, que estavam relutantes em falar sobre isso.

Eles preferiram falar sobre a criação da poesia como um ato de inspiração,

em vez de artesanato, e tendiam a dizer que eram apenas escribas–

descrever as palavras que algum impulso criativo maior do que se expressa

através deles – em vez de criadores, o que é uma ideia Michael Jackson

frequentemente expressa.

Na verdade, ele meio que se esforçou para explicar isso, durante o

depoimento dele para o caso de plágio de 1994 para "Dangerous", dizendo

que ele escreveu todas as músicas dele, mas de uma forma que ele não fez

– que elas apenas vinham a ele.

Eu sei que você já estudou os românticos, então você sabe muito mais

sobre isso do que eu. Eu queria saber se você poderia falar um pouco sobre

esse ideal romântico do artista como meramente um canal receptivo para a

criatividade fluir através dee, em vez de um criador, e como isso se reflete,

dois séculos mais tarde, em John Lennon e Michael Jackson.

Page 52: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

Joe: Uma metáfora comum na poesia romântica é a harpa eólica: Quando o

vento sopra, a música vem. Você não força isso. Você espera por isso.

Willa: Isso é lindo.

Joe: Michael acreditava piamente nesse princípio. Dito isso, Michael foi,

sem dúvida, um artesão. Ele raramente liberava trabalho na sua forma

bruta. Outra metáfora que ele gostava de usar para ilustrar o processo

criativo dele é a filosofia de Michelangelo que dentro de cada pedaço de

mármore ou de pedra está uma "forma adormecida." O trabalho dele como

artista, então, era desbastar, sculpir, polir, até que ele "libertasse" o que

estava latente.

Portanto, isso requer uma grande quantidade de trabalho. Você pode ter

uma visão de como deve ser, mas você tem que estar em sintonia em todo o

processo e você tem que trabalhar duro para realizá-lo.

Willa: Que imagem maravilhosa! Eu amo essa ideia da "forma

adormecida", e realmente esclarece como a criatividade exige tanto

inspiração quanto artesanato. A ideia da música se revela a você e cria a si

mesma, como Michael Jackson gostava de dizer, no entanto, requer a

habilidade e dedicação de um artesão para libertá-la.

Joie: Joe, em seu livro você fala sobre o absurdo do fato de que "Earth

Song" nunca foi lançada como single nos EUA, embora o single anerior de

Michael nos EUA, "You Are Not Alone" tenha estreado como número um.

E ainda, em outras partes do mundo, "Earth Song" não só foi lançada como

single, como foi a número um em 15 países.

Concordo com você quando você diz que a decisão basicamente dizia que

os "poderes constituídos" não sentiram a terra do excesso toleraria uma

música com tal olhar crítico para a condição humana.

Mas acredito que a decisão foi um erro enorme. Eu acho que, se tivesse

sido lançado aqui, teria feito muito bem. Apesar dos comentários

depreciativos que recebeu, é uma música difícil de ignorar e eu acho que

teria sido significativamente tocada no rádio se tivesse sido oferecida para

as estações.

Joe: Você poderia estar certa. É difícil saber. Por um lado, a popularidade

de Michael tinha diminuído nos EUA por causa das alegações de 1993.

Mas os dois primeiros singles atingiram o Top 5. É estranha a rapidez com

que a Sony parecia resgatar o álbum depois disso, em termos de singles.

Teria sido bom, pelo menos, ver a canção receber uma chance com o

público americano.

Page 53: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

Joie: Eu amo o jeito que você comparou "Earth Song" a “Imagine”, de

John Lennon, dizendo que ambas pediam ao ouvinte para cuidar do mundo

que temos, em vez de sonhar com uma vida após a morte. Mas você pode

falar um pouco sobre sua afirmação de que "Imagine" é mais aceitável ao

ouvinte comum de música que “Earth Song”?

Joe: Bem, "Imagine" é uma canção absolutamente linda que também

aconteceu de ser bastante subversiva. Porque é tão agradável de ouvir, e

evoca tanta nostalgia, no entanto, muitas pessoas realmente não entendem o

que ele está realmente dizendo. Ele chama para a revolução, mas é

amistosamente tocada em consultórios odontológicos e lojas de

departamento.

Então, algum do impacto dela pode ser anulado dessa forma. Quando ela é

tocada na Times Square na véspera do Ano Novo, elae serve como uma

espécie de hino de sentir-se bem. Não há nada de errado com isso. Na

verdade, eu acho que "Man in the Mirror" é muito semelhante em termos

de tom e efeito psicológico.

Mas "Earth Song" é diferente. Ele tem uma urgência e intensidade

diferentes nela. Imagine "Earth Song" berrando dos alto-falantes a todo

vapor no Ano Novo. Melhor ainda, imagine Michael aoresentando-a. O

público provavelmente ficaria atordoado. A canção não foi projetada para

fazer as pessoas se sentirem bem; ela foi projetada para alfinetar a

consciência das pessoas, para acordar as pessoas.

Joie: Que só me faz pensar ainda mais como ela poderia ter sido recebida

se tivesse sido dada a promoção adequada e tocada nas rádios nos EUA.

Willa: E se não fizesse bem aqui, isso iria dizer algo muito importante,

uma vez que fez bem em muitos outros países.

Joe: Grande arte profética é, muitas vezes, negligenciada ou

incompreendida no tempo dela. Há tantos exemplos disso, de Blake a Van

Gogh, de Tchaikovsky a Picasso. Michael era um estudante de história e

arte, e ele entendeu isso. Ele estava confiante de que o trabalho que ele

criou se sustentaria ao longo do tempo. "Earth Song" é uma canção que era,

e continua a ser, imensamente popular em todo o mundo. Mas, finalmente,

era uma música que ia na contramão – portanto para a resistência, desde

executivos, críticos e outros porteiros, faz sentido.

Joie: Bem, obrigado por se juntar a nós e falar sobre "Earth Song".

Joe: Obrigado por me receber. Tem sido um prazer e estou muito satisfeito

com a ideia de Dançando com o Elefante como um espaço para discussões

pensativas sobre Michael Jackson.

Page 54: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus

Joie: Obrigada. Willa e eu temos tido um grande momento com ele! Estou

curiosa, agora que a data de lançamento para Man in the Music está

próximo e Earth Song também está a caminho de ser publicado em forma

de livro, o que vem por aí para Joe Vogel? Você tem planos para sessões de

autógrafos chegando ou outras aparições?

Joe: Eu estou trabalhando com meu agente e publicitário em todos os

planos promocionais para Man in the Music e eu devo ter um sentido mais

claro nas próximas semanas. Estarei ocupado, mas eu estou animado

porque as finalmente irão ler aquilo em que eu passei todos esses anos

trabalhando.

Joie: Bem, eu praticamente devorava a cópia de leitura avançada que você

deu a MJFC, assim, eu sei que os fãs vão adorar. É realmente um livro

maravilhoso!

Nota da tradutora:

*wordsmith significa busca pela alma, existencialismo.

“Eu respeito o segredo e a magia da natureza. É por isso que eu fico tão

bravo quando eu vejo estas coisas que estão acontecendo no mundo – eu

realmente me importo. A cada segundo, eu soube, uma área do tamanho de

um campo de football é destruída na Amazônia. Eu quero dizer, esse tipo

de coisa realmente me chateia. É por isso que eu escrevo este tipo de

música, você sabe, para dar às pessoas algum senso de consciência e de

despertar e esperança. Eu amo o planeta. Eu amo árvores. Eu tenho esta

coisa com árvore – e cores e mudança de folhas. Eu amo isso! E eu respeito

esse tipo de coisa. Eu realmente sinto que a natureza está tentando

arduamente compensar pela má administração do planeta pelo homem. O

planeta está doente, como uma febre. E se não dermos um jeito nisso agora,

é o ponto sem volta. Esta é nossa última chance de resolver este problema

que temos. É como um trem descarrilhado. E a hora chegou. É isto. A

pessoas estão sempre dizendo: ‘Oh, eles vão cuidar disso, o governo fará

isso. ’ Eles? Eles quem? Isso começa conosco. Somos nós! Ou nunca será

feito.”

– Michael Jackson, junho de 2009.

Page 55: Livro Earth Song Inside Michael Jackson'''s Mgnum Opus