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CINEPOLIS Bob Wolfenson MUSEU DE ARTE MODERNA DA BAHIA AGOSTO/2009

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CINEPOLISBob Wol fenson

MUSEU DE ARTE MODERNA DA BAH IA

AGOSTO/2009

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Diferentemente das outras artes, a fotografia possui sua própria maneira de nos fazer reagir, ela apela às nossas lembranças, aos nossos sonhos e nos confronta ao mesmo tempo com a realidade. Há um conteúdo de vida e morte na fotografia; ao mesmo tempo em que ela capta um instante de vida, aquilo nunca mais existirá, paradoxalmente aquele momento registrado ficou para sempre e nunca mais se repetirá. Esta é talvez a grande magia e mistério que a distingue das demais.

O fotógrafo comunica-se por imagens visuais, assim como os escritores o fazem com as imagens inventadas pelas palavras. Para cada modo de escrever, há um correspondente fotográfico e vice versa. Digo isso porque a fotografia, quando surgiu, em meados do século 19, como o meio mais explícito e claro de representação da realidade, ficou com este papel de substituir a pintura. Esta libertada, sobretudo, do jugo representativo que cumpriu ao longo de sua história, pôde passar a ser abstrata, conceitual ou algo que o valha. O Impressionismo, por exemplo, e todas as correntes subsequentes, só puderam existir a partir deste fato. A fotografia evoluiu e ganhou um segundo papel, além da representação, o documental mera e simples tornou-se um meio poderoso de expressão pessoal, do qual, até artistas de outras mídias se utilizam na construção de suas obras. B.W.

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Com a exposição Cinépolis, Bob Wolfenson recria-se. Identificado e reconhecido por seu trabalho na área da moda e da publicidade, o fotógrafo amplia suas fronteiras estéticas ao incursionar pela exploração visual de um mundo intimista, revelando uma visão contemplativa que busca olhar, compreender e recriar a relação de um homem com seu entorno, indo muito além da fria aparência superficial das coisas.

Este olhar inquisidor nos apresenta um espaço urbano silencioso e solitário, um caleidoscópio de situações e momentos. Personagem numa narrativa particular que transita entre a linguagem fotográfica e o cinema, com contornos realistas que apenas reiteram, por contraste, a delicadeza íntima escondida por trás da forma crua, a cidade devolve este olhar lançado à sua anima, como um espelho ao qual nos resistimos a encarar. História mínima, Cinépolis acentua a tensão entre a realidade visível, traduzida por cenas corriqueiras e cotidianas, e sua paisagem íntima, aqui descortinada de forma gentil mas não menos contundente.

Mas que não deixa de nos confundir, propositalmente: afinal, este trabalho torna-se um continuum visual de outra faceta do trabalho de Wolfenson, o de retratista, que tenta captar a aparente superfície da realidade, ou sua superficial aparência, que sempre escapa, incólume, às vãs tentativas de registrá-la. Apesar disto, ou justamente por isto, vemos a preocupação do fotógrafo em preservar os aspectos mais técnicos da captação das imagens, negando-se a recorrer, como ele mesmo se refere, a truques ou mirabolâncias em seu tratamento.

Para além da sempre onipresente discussão, na fotografia, entre o Belo e o Verdadeiro, entre Arte e Documento, Cinépolis nos proporciona a fruição de uma obra formalmente elaborada e que parte de um sentimento genuíno e real.

Solange FarkasDiretora Museu de Arte Moderna da Bahia

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A história da fotografia mostrou, particularmente nos anos sessenta, que talentosos fotógrafos de moda podiam abrir mão da produção de imagens de grande eficácia técnica e formalmente sedutoras. Foi assim que Richard Avedon e, sobretudo, Diane Arbus serviram-se de vias que questionam a espécie humana.

Na mesma época, no início da sociedade do espetáculo, Blow Up, o filme de Antonioni, mostrava um fotógrafo que tinha muito a ver com David Bailey. Ele fazia uma investigação a partir de uma fotografia de um bucólico parque britânico. Em um filme posterior, Profissão Repórter, o mesmo diretor retomava mais uma vez a figura do fotógrafo como questionamento da identidade.O gosto pela contemplação e a busca de um além das aparências empurram também Bob Wolfenson para fora do estúdio. Para Cinépolis, série inédita, o fotógrafo escolheu uma câmera digital de reportagem propícia à aventura. Ele buscava uma maleabilidade análoga à da Nikon com a qual descobriu, com emoção, o mundo e a fotografia na adolescência.

Cinépolis começa como Alphaville de Godard e Mulholland Drive de Lynch: uma trama policial, uma investigação em uma cidade global, uma identidade a ser encontrada, um mundo de imagens...

A aventura começa à noite, continua na cidade esquadrinhada pelos dispositivos de segurança e de vigilância, prossegue em uma bela fuga em direção à luz, ao mar, à infância. Alice nas Cidades, Paris-Texas nos vêm à mente.

Cinépolis é também um percurso íntimo: os lugares, as pessoas, freqüentemente estão ligados à atividade profissional ou à vida familiar do fotógrafo. O carro, o corte da paisagem pelo pára brisa, o movimento, formam uma máquina de visão familiar que se origina na infância, especificamente na estrada de Santos, o caminho do mar.

A bela fuga é também mental. Trata-se de devolver à fotografia seu poder de desencadeadora do imaginário. “Cada fotografia é o começo de um filme” afirma Win Wenders. As megalópoles agrupam a maioria da população. As imagens, sua multiplicação até a saturação e sua mercantilização, mudam nossa relação com o mundo e com a identidade. Isso não é uma fatalidade nem um acaso. É o resultado de uma estratégia de tomada de controle e, por conseqüência, de poder. Estratégia de venda na sociedade do espetáculo para a qual tudo se tornou produto à venda e o que importa é a imagem, mesmo na política.

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Cinépolis passa em revista os fatos que em uma geração mudaram a cidade e a vida, e que, por sua construção e sua forma, suscitam questões amplas e complexas. Este é o caso de uma reflexão artística inquietante e que atingiu a maturidade.

Pierre DevinSão Paulo, março 2009

O fotógrafo americano, Garry Winogrand, figura central de sua geração, morto em 1984 e dono de uma obra monumental, dizia" Fotografo para ver

como o mundo fica fotografado". Adoro esta frase, pois sintetiza muito do que penso sobre as coisas a serem fotografadas, ou seja, qualquer coisa é

fotografável. A meu ver não há temas superiores ou inferiores. B.W.

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A foto retrato é um campo cerrado de força. Quatro imaginários aí se cruzam, aí se afrontam, aí se deformam. Diante da objetiva, sou ao mesmo tempo: aquele que eu me julgo, aquele que eu gostaria que me julgassem, aquele que o fotógrafo me julga e aquele de que ele se serve para exibir sua arte".

Esta citação do filósofo francês Roland Barthes, extraída de seu livro, A Câmara Clara, é a epígrafe perfeita sobre o que penso da atividade de se fazer retratos.

Mas, para falar do que significa fazer um retrato, preciso polemizar com certas premissas tidas como verdades absolutas, e que hoje povoam o imaginário popular. A começar pela de que o retrato é a captação da alma da pessoa retratada, alma entendida aqui, não no sentido místico, creio, mas digamos assim, de uma certa verdade escondida por detrás de uma “persona”, e que só o bom retrato é capaz de desvendar. Atribuem este postulado aos índios, que não se deixavam fotografar com medo de perder a alma, esta sim a mística. Ora, não acredito que alguém tenha este poder e sinceramente não vejo onde esta idéia possa agregar mais relevância a uma fotografia. Como fotógrafo, nunca tive esta pretensão. Assim como não acredito que seja necessário haver um conhecimento ou um estudo sério sobre a pessoa que eu vá fotografar. B.W.

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1 - Bob, sua obra é decididamente eclética e marcada pelo uso do retrato da figura humana. Em 2007, você realizou um projeto que culminou na exposição “A Caminho do Mar”, onde imagens de Cubatão rememoravam sua infância e abordavam a ambigüidade de questões como o urbano x o bucólico, e sentimentos contraditórios como medo x admiração. Em “Cinépolis”, há a presença de pessoas retratadas nas imagens, porém não como foco, como fim, mas como mais um elemento dentro de uma composição que preza, marcadamente, o conjunto, a comunhão – ou não - entre todos os elementos. Fale um pouco do lugar de onde você partiu para a concepção e realização deste projeto.

Na verdade, foi a incorporação de uma Leica digital adquirida há pouco tempo atrás, que me colocou diante desta nova experiência, onde o ponto de partida é muito diferente das minhas fotos de moda e mais ainda da minha exposição "A Caminho do Mar", por serem estes dois, digamos assim, pensados para serem algo, já no momento de sua execução fotográfica. "Cinépolis", nome dado pelo curador, editor e fotógrafo, o francês Pierre Devin, é um apanhado na forma de "Road

ENTREVISTA Bob Wol fenson

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Movie" de situações encontradas por mim e fotografadas sem a pretensão de compor um conjunto único, porém todas unificadas, não por um tema, mas pela subjetividade de um olhar. A partir do convite que me foi feito pelo Pierre e pelos nexos encontrados por ele no material que estava pronto, fotografado, comecei a orientar as novas fotos que completariam o trabalho no sentido de formarem uma unidade que correspondesse a esta narrativa apontada pelos pressupostos dele.

2 – Para a concepção de “Cinépolis” você optou por um equipamento mais leve, uma câmera digital, mas tratou as imagens no La Chambre Noire (grande laboratório de Paris). Qual o papel do tratamento das imagens, da etapa laboratório, para o resultado final deste projeto? Que resultados você perseguia ao escolher este tipo de revelação?

Na verdade foi mais uma comodidade, pois eu estava em Paris e o Pierre trabalha muito com o Guillaume Gineste, que é um dos maiores laboratoristas da França, o tratamento digital em si foi o mais invisível possível, eu quis preservar ao máximo os aspectos mais fotográficos da captação, sem truques ou mirabolâncias de tratamento.

3 – Você trabalha com fotografias a cores e em P&B. O que determina sua escolha por cada uma das técnicas?

Tenho uma longa tradição de fotografia P&B, mas ultimamente me tornei um colorista. A fotografia em preto e branco, isso é uma generalização maledicente minha, tipo "cuspindo no prato que comeu," sempre me pareceu mais aceita como a boa fotografia, aquela de bom tom, que todo mundo aceita como sofisticada, é também contra isso que me rebelei ao tentar trabalhos deliberadamente coloridos, me libertei de um certo bom gostismo atrelado à minha imagem.

4 – Apesar de “Cinépolis” ter sido produzida a cores, você manteve um forte contraste, a iluminação é grave, sombria, aproximando-se da tragicidade do P&B. Além disso, há tal nitidez na definição destas fotografias, que em certos momentos temos a impressão de que as pessoas, ou os objetos, vão começar a se mover...

Minha resposta anterior anula um pouco este aspecto trágico atribuído ao P&B, pelo contrário, as fotografias pretas e brancas, na maioria das vezes, conferem uma plasticidade exagerada a temas trágicos.

5 – O livro deste projeto, que você apresenta nesta exposição, traz uma cronologia que parte da noite para o dia, da cidade para o litoral. Cada imagem condensa uma narrativa. A palavra Cinépolis nos remete tanto ao cinema como à cidade. Fale um pouco deste

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