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Escola Universitária Vasco da Gama | Licenciatura e mestrado integrado em Arquitectura Atelier VII | Regente: Pedro Machado Costa | Aluno: Daniel dos Santos Lisbon (short) Story

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Caderno de viagem

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Page 1: Lisbon Story

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Lisbon (short) Story

Page 2: Lisbon Story

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Índice

Introdução

Capítulo I – Ready, set, go (Metodologia)

Capítulo II - WARM-UP EXPERIMENTADESIGN LISBOA 2009 (Peter Zumthor – edifícios e projectos 1986-

2007)

Capítulo III – Vagueado por Lisboa

� Fundação Calouste Gulbenkian

� Igreja do Sagrado Coração de Jesus

� Casa do Alentejo

� Igreja de S. Domingos

� Escola Secundária de Benfica

� Hotel Ritz

� Pastelaria Mexicana

Capítulo IV - Lisbon Story at Night

Conclusão

Bibliografia

Page 3: Lisbon Story

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Atelier VII | Regente: Pedro Machado Costa | Aluno: Daniel dos Santos

Introdução

Um Caderno de Viagem é um registo no papel. Nele exprimimos, sensibilidades, impressões,

experiências… um olhar pessoal sobre um roteiro ou lugares. O Caderno de Viagem é um diário que para

além de suportar o nosso registo escrito, ilustra com imagens e até desenhos ou colagens o que vimos e

o que sentimos.

Registar sobre o papel:

Roteiros

Impressões LugaresLugaresLugaresLugares

Sensibilidades EEEExperiêxperiêxperiêxperiênciasnciasnciasncias

Olhar pessoalOlhar pessoalOlhar pessoalOlhar pessoal

Foi-nos proposto elaborar um Caderno de Viagem que revelará as sensações absorvidas na

deambulação pela exposição de Peter Zumthor assim como outros lugares sobre os quais, mais à frente,

faremos uma abordagem crítica. Além da reflexão a cerca da exposição, o objectivo deste tour é dotar-

nos de ferramentas de análise dos espaços, dotar-nos de capacidades que nos permitam, para além de

olhar, ver o que está escondido para lá da massa da arquitectónica. Esses espaços, de contextos

históricos diferentes, iram causar, certamente, diferentes sensações.

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Capítulo I – Ready, Set, Go (Metodologia)

Para fazer um Caderno de Viagem é necessária preparação. Ler e interpretar os fenómenos

urbanos e/ou arquitectónicos num contexto físico específico, para lá do que se vê em obra. Requer um

estudo prévio para concluirmos qual o caminho adequado a seguir para a realização do trabalho. Como

tal, estudei a fundo algumas das obras mais conhecidas de Peter Zumthor: o Museu Kolumba, o abrigo

para as ruínas Romanas de Chur, as Termas de Vals, a Escola de Churwalden, a Capela de Bruder Klaus e

o Pavilhão Suíço da Expo 2000. Para facilitar também a investigação li o livro Atmosferas de Peter

Zumthor. Estas foram pistas úteis para a análise da qualidade arquitectónica de uma obra, olhando para

os pormenores escondidos, descobrindo a emoção que se sente ao percorrer esses lugares.

Uma parte da viagem já estaria devidamente sustentada agora faltava definir um percurso.

Com as ferramentas da informação, pesquisei no Google Earth a localização da Lx Factory, onde estaria

localizada a exposição, assim como todos os outros lugares que nos foram propostos. Sabendo já como

fazer e onde fazer rumei à descoberta das sensações que arquitectura nos dá.

Imagem 1 - Localização dos locais a visitar em Lisboa, fonte: Google Earth

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Capítulo II - WARM-UP EXPERIMENTADESIGN LISBOA 2009

Peter Zumthor é um arquitecto de referência. Todo o seu trabalho evidência

à arquitectura internacional contemporânea corrente. A sua

de ouvir e ver, pela própria pessoa, o seu

dimensão que este arquitecto tem à escala global. Uma maneira de o conhecer mais aprofundadamente

foi mesmo visitar a WARM-UP EXPERIMENTADESIGN LISBOA 2009.

Factory em Lisboa, iria abrir os nossos horizontes, assim como

deste arquitecto.

Na Lx Factory, em Alcântara, foi

montada uma exposição com uma

amostra de edifícios e projectos de 1986

a 2007, sob a forma de maquetas e

desenhos. A escolha do local da

exposição não deve ter sido ao acaso. A

Lx Factory situa-se num armazém

esquecido de Lisboa, onde dá para se

tactear a materialidade dos espaços.

Assim como nos projectos de Zumthor, a exposição está liberta da arrogância dissimul

grandiosidade da arquitectura representacional contemporânea.

Em toda a amostra apresentada na exposição revemos a simplicidade marcante da obra de

Zumthor. A mesma divide-se em 3 momentos: um espaço para maquetas de grande escala, um espaço

de instalações de vídeo (ambas

terceiro piso).

Imagem 3 -

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UP EXPERIMENTADESIGN LISBOA 2009 (Peter Zumthor

projectos 1986-2007)

Peter Zumthor é um arquitecto de referência. Todo o seu trabalho evidência

à arquitectura internacional contemporânea corrente. A sua vinda a Portugal foi uma rara

de ouvir e ver, pela própria pessoa, o seu processo criativo. Pessoalmente, não conhecia de todo a

dimensão que este arquitecto tem à escala global. Uma maneira de o conhecer mais aprofundadamente

UP EXPERIMENTADESIGN LISBOA 2009. A Exposição de Peter Zumthor

em Lisboa, iria abrir os nossos horizontes, assim como dar-nos a conhecer melhor o trabalho

Na Lx Factory, em Alcântara, foi

montada uma exposição com uma

amostra de edifícios e projectos de 1986

maquetas e

A escolha do local da

exposição não deve ter sido ao acaso. A

se num armazém

uecido de Lisboa, onde dá para se

tactear a materialidade dos espaços.

Assim como nos projectos de Zumthor, a exposição está liberta da arrogância dissimul

grandiosidade da arquitectura representacional contemporânea.

Em toda a amostra apresentada na exposição revemos a simplicidade marcante da obra de

se em 3 momentos: um espaço para maquetas de grande escala, um espaço

de vídeo (ambas rés-do-chão) e um espaço para esquiços, plantas e maquetas (

Imagem 2 - Lx Factory

- Layout da exposição, fonte: panfleto da Lx Factory

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(Peter Zumthor – edifícios e

Peter Zumthor é um arquitecto de referência. Todo o seu trabalho evidência é uma alternativa

a Portugal foi uma rara oportunidade

não conhecia de todo a

dimensão que este arquitecto tem à escala global. Uma maneira de o conhecer mais aprofundadamente

Exposição de Peter Zumthor na Lx

conhecer melhor o trabalho

Assim como nos projectos de Zumthor, a exposição está liberta da arrogância dissimulada e da

Em toda a amostra apresentada na exposição revemos a simplicidade marcante da obra de

se em 3 momentos: um espaço para maquetas de grande escala, um espaço

ra esquiços, plantas e maquetas (no

Page 6: Lisbon Story

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No primeiro espaço vemos as maquetas de grande escala de cinco trabalhos: a Topografia do

Terror, a Swiss Sound Box, o Kunsthaus Bregenz, o museu Kolumba e Paisagem Poética. As três últimas

maquetas merecem algum destaque: o Kunsthaus Bregenz, o museu Kolumba e Paisagem Poética.

A maqueta do Kunsthaus Bregenz mostra o detalhe construtivo até ao ínfimo pormenor. Ao

representar um pormenor construtivo, identifica com exactidão o funcionamento do vidro fosco

disposto na fachada. Este refracta a luz horizontalmente que embate no tecto de vidro.

A maqueta do museu Kolumba também me chamou atenção, quer pela sua dimensão, quer

pelo modo como foi elaborada. Esta maqueta foi um estudo do efeito da luz no espaço. A maqueta foi

feita para se entrar por baixo, para podermos ver o efeito da luz no seu interior. Como já conhecia o

projecto, o efeito da luz vivido na maqueta é exactamente o mesmo que no museu. O próprio material

utilizado corresponde ao da obra física. Embora nos sintamos enclausurados dentro dela, podemos ter a

perfeita noção da escala humana. Mais uma vez, é visível o aprumo de Zumthor, a complexidade

arquitectónica está presente no seu todo e é perfeitamente visível o impacto da antiga igreja Kolumba

no espaço do museu.

Imagem 4 - Maqueta representativa do Kunsthaus Bregenz

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A maqueta da Paisagem Poética pareceu-me interessante porque relaciona com o conceito de

conforto e brutalidade. Relacionei-a logo com o Workshop de Jacinto Rodrigues, onde um dos exercícios

foi criar uma peça que tanto transmitisse conforto e brutalidade. Basicamente esta peça aglutina os dois

conceitos, a sua forma invaginada revela conforto – abrigo – e a sobreposição de cubos de madeira em

vermelho extravia brutalidade. Até mesmo os cubos me fizeram lembrar, por momentos, a minha

maqueta de estudo do Cadavre Exquis.

Imagem 5 - Maqueta do Museu Kolumba

Imagem 6 - Maqueta da Paisagem Poética

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Num segundo momento, somos deslumbrados, no final de um escuro corredor, por duas salas

de projecção de vídeo com seis telas, seis projectores, seis câmaras, mostram doze edifícios a cada 40

minutos. As câmaras estáticas, direccionadas para seis pontos de um edifício, registam em simultâneo o

fluxo das vivências, revelando a estrutura numa interactividade vivida nos planos projectores. A

disposição da instalação está a escala com os edifícios, ou seja, respeita o espaçamento e a disposição

da filmagem a uma escala 1:1. Deste modo, senti a presença dos edifícios, quer por meio das

projecções, quer por meio da acústica. Mesmo não estando estes fisicamente presentes, tinha a

sensação de lá estar, como que vivendo a envolvente que se desenrolava neles. Havendo duas salas de

projecção, em cada uma delas, estavam apresentados dois edifícios em simultâneo dando-nos, à vez, a

possibilidade de visionamento das seguintes obras: o abrigo para as ruínas Romanas de Chur, o Atelier

de Zumthor, a Capela Sogn Benedetg, as Habitações para idosos em Chur, a Casa Truog, o Conjunto

Residencial Spittelhof, as Termas de Vals, o Kunsthaus Bregenz, a Casa Luzi, a Casa Zumthor, a Capela

Bruder Klaus e o museu Kolumba.

O terceiro e último momento, corresponde a amostra de esquiços, plantas e maquetas. Os

trabalhos estavam expostos perpendicularmente em relação à longitude da sala em 3 grandes bancadas.

Nesta sala podíamos ver por esta ordem os seguintes projectos: o Atelier Zumthor, o abrigo das ruínas

Romanas de Chur, a Capela Sogn Benedetg, as Habitações para Idosos de Chur, a Casa Truog, o Conjunto

Residencial Spittelhof, as Termas de Vals, a Igreja do Coração de Jesus, o Kunsthaus Bregenz, a Paisagem

Poética, a Swiss Sound Box, a Casa Luzi, o Hotel Tschlin, a Topografia do Terror, a Galeria de Arte Hinter

dem Giesshaus, o Conjunto Habitacional Harjunkulma, a Adega Pingus, a Casa Zumthor, a Capela Bruder

Klaus, o Museu Kolumba, a Pensão Briol, o Hotel das Termas de Vals, a I Ching Gallery, a Casa Annalisa

Zumthor, o Empreendimento Habitacional de Gϋterareal, a Revitalização de De Meelfabriek, o

Restaurante de Verão na Ilha de Ufnau, o Museu da Mina de Zinco em Almannajuvet, e o Memorial da

Queima das Bruxas em Finnmark.

Nesta área percebe-se o método de trabalho de Zumthor. Os seus estudos baseiam-se em

desenhos, maquetas e até pelo levantamento de materiais e de formas. Assim como nos seus projectos,

os seus estudos, feitos por meio de maquetas, reflectem a materialização que se procura. O uso dos

Imagem 7 - Capela Bruder Klaus, instalações de vídeo

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próprios materiais de obra, nas maquetas, dá uma riqueza da textura no objecto. Essa riqueza é

inigualável, destrona as maquetas mais comerciais

o cuidado da materialização na maqueta das Termas de Vals. Quer o elemento físico da obra quer o

elemento físico da maqueta estão sempre em consonância. Os esquiços das Termas de Vals

reflectem, de modo imediato, o ambiente que se pretende criar.

Neste piso é importante referenciar o projecto de um restaurante de Verão para a Ilha de

Ufnau. O que achei particular neste

material para cobertura por meio de objectos reais. É esse contacto com os objectos que tornam as

obras de Zumthor tão “palpáveis”, ou seja, sensitivas.

Como já não poderia deixar de ser, só quero referir mais um projecto, a Capela de

É claro que os outros projectos também têm a sua importância e até podem ser muito mais

interessantes mesmo assim, a minha escolha é feita devido ao método de trabalho utilizado pelo

Imagem

Imagem 9 - Levantamento de possíveis materiais e maqueta do Restaurante de Verão

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de obra, nas maquetas, dá uma riqueza da textura no objecto. Essa riqueza é

a as maquetas mais comerciais, que estamos acostumados de ver. É bastante visível

o cuidado da materialização na maqueta das Termas de Vals. Quer o elemento físico da obra quer o

elemento físico da maqueta estão sempre em consonância. Os esquiços das Termas de Vals

de modo imediato, o ambiente que se pretende criar.

Neste piso é importante referenciar o projecto de um restaurante de Verão para a Ilha de

Ufnau. O que achei particular neste projecto foi o facto de se ter feito uma pesquisa da forma e do

material para cobertura por meio de objectos reais. É esse contacto com os objectos que tornam as

obras de Zumthor tão “palpáveis”, ou seja, sensitivas.

Como já não poderia deixar de ser, só quero referir mais um projecto, a Capela de

É claro que os outros projectos também têm a sua importância e até podem ser muito mais

interessantes mesmo assim, a minha escolha é feita devido ao método de trabalho utilizado pelo

Imagem 8 - Maqueta e esquiços das Termas de Vals

Levantamento de possíveis materiais e maqueta do Restaurante de Verão

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de obra, nas maquetas, dá uma riqueza da textura no objecto. Essa riqueza é

que estamos acostumados de ver. É bastante visível

o cuidado da materialização na maqueta das Termas de Vals. Quer o elemento físico da obra quer o

elemento físico da maqueta estão sempre em consonância. Os esquiços das Termas de Vals também

Neste piso é importante referenciar o projecto de um restaurante de Verão para a Ilha de

projecto foi o facto de se ter feito uma pesquisa da forma e do

material para cobertura por meio de objectos reais. É esse contacto com os objectos que tornam as

Como já não poderia deixar de ser, só quero referir mais um projecto, a Capela de Bruder Klaus.

É claro que os outros projectos também têm a sua importância e até podem ser muito mais

interessantes mesmo assim, a minha escolha é feita devido ao método de trabalho utilizado pelo

Levantamento de possíveis materiais e maqueta do Restaurante de Verão

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arquitecto suíço. Todos nós já sabemos como foi o método construtivo de Zumthor aquando da

construção desta Capela, mas poucos viram os estudos em maqueta da mesma. As próprias maquetas

sofreram o incêndio dos barrotes de madeira que dão a forma interior à capela. É notável o sentido

prático deste arquitecto que não tem medo da inovação e nem de sujar as mãos. O estudo,

demonstrado nesta exposição, revela a dificuldade e complexidade que tal projecto implica. Os vários

estudos da disposição dos barrotes mostra que nem sempre os desenhos podem ser suficientes, sendo

mesmo necessário recorrer a maquetas de estudo. E Peter Zumthor assim o fez, levando mesmo as suas

maquetas ao “extremo”, queimando-as. Mas o queimar da madeira não foi apenas para se dar conta

que a cofragem iria desaparecer mas sim para estudar a textura e o brilho que a madeira queimada

poderia deixar nas paredes de betão. Para estudar esse efeito, estudou vários tipos de madeira assim

como várias queimadas com intervalos de tempo diferentes.

Imagem 10 - Maquetas de estudo para a Capela de Bruder Klaus

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Capítulo III - Vagueado por Lisboa

Foi também proposta a deambulação por edifícios e/ou lugares da Cidade de Lisboa. Após

entender o percurso criativo do autor suíço, procurei reflectir sobre o conteúdo e valores dos mesmos.

Este exercício de investigação e de reflexão teórica desertou a minha massa cinzenta para determinados

pontos de vista, nomeadamente os defendidos por Zumthor. Pela leitura de Atmosferas, em nove

capítulos percebi o processo de auto-observação de Peter Zumthor. Neste processo de observação, quer

de lugares quer de edifícios, tenta-se descrever a atmosfera a partir de certos pontos ou temas. Os

pontos que permitem essa observação são: a magia do real, o corpo da arquitectura, a consonância dos

materiais, o som do espaço, a temperatura do espaço, as coisas que nos rodeiam, entre a serenidade e a

sedução, a tensão entre interior e exterior, os degraus da intimidade, a luz sobre as coisas, a

arquitectura como espaço envolvente, a harmonia e a forma bonita. De acordo com os princípios

defendidos, Zumthor compõem os projectos com uma sensação de presença, bem-estar, harmonia e

beleza próprias, manipulando as proporções e as texturas dos materiais, criando novos efeitos de luz. É

tendo como base esta poética da arquitectura que vou descrever os lugares propostos a serem

visitados.

Fundação Calouste Gulbenkian

A Fundação Calouste Gulbenkian desenhada em 1959, por Alberto Pessoa, Pedro Cid e Ruy

Jervis d'Athoughia fez-me lembrar a Casa da Cascata de Frank Lloyd Wright. À imagem da Casa da

Cascata, todo o complexo da Fundação se ancora no espaço envolvente. A arquitectura e a natureza

complementam-se de tal modo que nem o jardim, nem o edifício seriam tão magníficos se estivessem

separados um do outro. O espaço emana uma mágica tão forte que conforme desviamos um pouco

mais o nosso olhar vemos uma paisagem completamente diferente. Toda a sua envolvente tem um

carácter cenográfico muito forte e até os grandes vãos emolduram a paisagem.

Imagem 11 - vista interior da Fundação Calouste Gulbenkian

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O espaço interior escava-se por debaixo da terra criando ramificações que ancoram o edifício

ao jardim. Apenas dentro do edifício é que temos a noção da sustentabilidade do projecto, uma vez que

nos conseguimos aperceber de que as coberturas dos pisos inferiores à cota do terreno são ajardinadas.

Essas coberturas mostram uma continuidade de diálogo com o espaço envolvente, dessa forma quase

que é impossível avistar os limites da obra arquitectónica, não sabendo, desta perspectiva, onde acaba o

edifício e onde começa o jardim. O seu interior de madeira e com o betão armado à vista, com a

marcação das cofragens em madeira, unificam-se num só, ambos têm a mesma linguagem linear.

Embora o betão seja um material mais bruto e por isso mais frio, o uso da madeira traz um acabamento

que torna o espaço mais confortável, mais quente. O espaço é utilizado com biblioteca, centro de

exposições e de conferências como tal, é um local de grande silêncio, o único som que podemos ouvir é

o nosso ruído a caminhar pelo pavimento de madeira. O som da cidade não é, de todo, perceptível. O

jardim, em volta de toda a zona edificada, serve como tampão dos barulhos ensurdecedores da cidade e

mesmo no interior dele só se ouve a natureza, graças à sua densidade arbórea. Quando estamos na

grande escadaria da Fundação Calouste Gulbenkian podemos admirar uma manifestação artística que

reflecte a quebra entre o interior e o exterior.

Todo o edificado, juntamente com o jardim, torna-se intemporal e são os dois, em conjunto,

que podem reflectir serenidade e sedução. Ambos têm características atractivas diferentes e como tal

complementam-se. Aqui a intimidade no interior do espaço não existe, a arquitectura de espaços

amplos não deixa criar esse tipo de ambiente. Por sua vez, o jardim já cria esses ambientes, uma vez

mais remata o edificado. Aqui a luz não tem um papel importante, sendo uma biblioteca, um centro de

exposições e um centro de conferências, a Fundação utiliza abundantemente a luz artificial. Mesmo

Imagem 12 - Manifestação artística que reflecte a quebra entre o interior e o exterior

Page 13: Lisbon Story

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assim, pelo que pude notar, a luz que atravessa os grandes vãos compartimenta os esp

ambientes mais claros e mais escuros, criando novas atmosferas. Todo o espaço é

mostrando um cuidado espacial.

Embora haja a arquitectura

Fundação um espaço para além de apelativo, um lugar belo.

concertos não tive o prazer de o usufruir dessa maneira, guardo essa oportunidade para uma outra

visita.

Igreja do Sagrado Coração de Jesus

Na Igreja do Sagrado Coração de Jesus

Vasco Lobo, Vítor Figueiredo,

apresentam o mesmo cuidado em relação à altura

direito alto, torna qualquer pessoa

humana nas celebrações. O efeito

despidas de decoração faz lembrar

Embora não se queira associar a iluminação com uma metáfora ao paraíso, as abert

por meio de vitrais apenas em pontos estratégicos, identificando pontos de importância programática,

como por exemplo a entrada e o altar.

lugar confortável que apela à devoção

Imagem 14 - vista exterior da igreja do Sagrado Coração de Jesus

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assim, pelo que pude notar, a luz que atravessa os grandes vãos compartimenta os esp

ambientes mais claros e mais escuros, criando novas atmosferas. Todo o espaço é

cuidado espacial.

Embora haja a arquitectura e jardim, o facto de os 2 terem uma relação simbiótica

para além de apelativo, um lugar belo. Embora seja um lugar de exposições e

concertos não tive o prazer de o usufruir dessa maneira, guardo essa oportunidade para uma outra

Coração de Jesus

Na Igreja do Sagrado Coração de Jesus (1962-1970), de Nuno Teotónio Pereira, Nuno Portas,

senti o mesmo que sinto quando entro numa igreja gótica. Ambas

apresentam o mesmo cuidado em relação à altura. A igreja do Sagrado Coração de Jesus

ssoa ainda mais pequena. A sua imponência só desaparece

O efeito da luz nas paredes robustas de betão e tijolo

faz lembrar a brutalidade da pedra vivida na escala das grandes catedrais góticas.

Embora não se queira associar a iluminação com uma metáfora ao paraíso, as aberturas de luz são feitas

apenas em pontos estratégicos, identificando pontos de importância programática,

a entrada e o altar.

No piso inferior em relação à nave da

igreja vive-se um ambiente religioso muito

particular. Nessa zona a luz é escassa, todo o

corredor é interrompido por pequenos e

modestos altares. Estes apres

iluminação artificial, a qual

tonalidade quente, que é propícia

ambiente de paz vivido neste piso inferior

uma escala bastante reduzida, proporciona um

que apela à devoção. Em contraste ao andar de cima, no piso inferior

Imagem 13 - envolvente exterior, jardim

vista exterior da igreja do Sagrado Coração

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assim, pelo que pude notar, a luz que atravessa os grandes vãos compartimenta os espaços em

ambientes mais claros e mais escuros, criando novas atmosferas. Todo o espaço é harmonioso,

erem uma relação simbiótica torna a

Embora seja um lugar de exposições e

concertos não tive o prazer de o usufruir dessa maneira, guardo essa oportunidade para uma outra

1970), de Nuno Teotónio Pereira, Nuno Portas,

uando entro numa igreja gótica. Ambas

A igreja do Sagrado Coração de Jesus, com o seu pé

só desaparece com massa

nas paredes robustas de betão e tijolo completamente

vivida na escala das grandes catedrais góticas.

uras de luz são feitas

apenas em pontos estratégicos, identificando pontos de importância programática,

No piso inferior em relação à nave da

se um ambiente religioso muito

Nessa zona a luz é escassa, todo o

corredor é interrompido por pequenos e

modestos altares. Estes apresentam uma

iluminação artificial, a qual apresenta uma

que é propícia ao culto. O

ambiente de paz vivido neste piso inferior, com

scala bastante reduzida, proporciona um

Em contraste ao andar de cima, no piso inferior, existe

Page 14: Lisbon Story

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intimidade, o exterior nem se sente, desse modo as pessoas não são afectadas pelo barulho da rua.

Todo o ambiente é bastante silencioso. A ligação entre interior e exterior nem sequer existe. Não há

intenção nenhuma na comunicação da igreja para o exterior.

Esta separação é também visível quer seja pela materialização quer pela forma irreverente que

não se identifica com nada da envolvente. A estrutura da igreja pareceu ter uma forma demasiado

rebuscada, pelo que se torna pouco familiar e estranha. Por esse facto, a igreja não apresenta uma

harmonia, não tem uma linguagem propriamente fluida, apenas se impõe. Posso dizer que foi o local

que menos gostei e que a ideia que tinha mudou completamente. Apenas apreciei o efeito dado à luz

quer no altar da nave, quer nos altares do piso inferior.

Imagem 15 - altares do piso inferior

Imagem 16 - interior da igreja do Sagrado Coração de Jesus

Page 15: Lisbon Story

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Casa do Alentejo

A Casa do Alentejo foi um dos espaços que mais me surpreendeu. A sua decoração interior é

mágica, remete-nos para diferentes ambientes, numa panóplia de cores e texturas que correspondem a

diversos materiais. Essa magia deve-se ao facto de em tempos ter sido o 1º casino da capital – O

Magestic Club.

Pode-se dizer que a Casa do Alentejo foi um corpo arquitectónico em constante mudança, já foi

palácio, já foi casino e agora é uma associação. É essa uma das razões pela qual o alçado adjacente à

rua, integrado perfeitamente na envolvente, não se identificar com nada do que podemos deslumbrar

no interior. Após ter subido umas escadas, que quase me enclausuravam com a falta de pé direito,

entrei um átrio com uma decoração que lembra Marrocos. Esse átrio, antigamente seria possivelmente

aberto, está agora fechado por uma estrutura que funciona como clarabóia, iluminando todas as salas a

volta do átrio.

Subi mais um piso e descobri a sala dos espelhos, a sala dos descobrimentos e a sala que

corresponde ao restaurante típico do Alentejo. Nesse trajecto nunca deixei de ver azulejos nas paredes,

embora fossem tratados de maneiras diferentes, mudando consoante a temática da sala. Só mesmo a

sala dos espelhos e que estava liberta da cor dos azulejos. A temperatura do espaço, emanava calor. Era

um espaço tão vivido que era impossível estar num lugar silencioso. Embora fosse um lugar com pés

direitos razoáveis, ou seja, com um ambiente acolhedor, tratava-se de um lugar público pelo que era

Imagem 17 - átrio da Casa do Alentejo

Page 16: Lisbon Story

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difícil atingir algum grau de intimidade. A única intimidade que se pode falar é em relação ao exterior. O

edifício envolve-se tanto em torno de si próprio que nem sequer tem o cuidado de comunicar mais com

o exterior. A sedução é tanta no interior que não há razões para a comunicação, a decoração efusiva

capta-nos desde o inicio e não deixa desviar atenção. Pontualmente, a luz tem um papel decorativo e

funcional, repare-se no átrio e no vitral das escadas.

Nos dois casos, a luz tanto funciona para iluminar como apoio à decoração. Sendo esta

contrastante não transmite nem serenidade nem harmonia, no entanto, o conjunto ou a

individualização dos espaços da Casa do Alentejo não deixam de ter a sua beleza.

Igreja de S. Domingos

A igreja de S. Domingos foi um dos espaços mais belos que visitei. Destaca-se bastante da volumetria

que envolve o largo de S. Domingos. O corpo arquitectónico tem identidade própria assim como marca

um período histórico que data de 1241. No entanto, devido ao azar do tempo, sofreu contra-tempos,

tendo sido reconstruída pelo menos 2 vezes, mesmo assim mantém a sua identidade. Sofreu com o

grande terramoto de 1755 e também com o incêndio de 1959, neste último, a sua cobertura em

madeira foi queimada. Após a reconstrução, as características típicas de um edifício que sofre um

incêndio ainda estão muito presentes nos nossos dias. A sua cobertura de cor rosa-velho lembra uma

das diferentes tonalidades do pôr-do-sol. A sua cor quente contrasta com o negro queimado das

paredes da igreja. Esse contraste entre parte nova e antiga resulta sem dúvida graças à cor. O negro, o

sujo, o mundo na terra representado pelas paredes queimadas contrasta com o céu, o paraíso, o mundo

divino representado pela cobertura. A luz também tem um papel importante nesse contraste. O facto

de a igreja estar encostada a outras construções, não tem vãos na zona mais perto do chão, apenas a

zona mais perto da cobertura é que se mantém aberta ainda que, só de um dos lados. Deste modo, cria-

se uma faixa de luz muito tímida que reforça o contraste e está em consonância com os materiais,

Imagem 18 - escadaria da entrada (à esquerda) e

escadaria de acesso ao piso superior (à direita)

Page 17: Lisbon Story

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contribui em muito para a diferença de temperaturas do espaço. Esta igreja tem um pé direito muito

mais alto que a igreja do Sagrado Coração de Jesus. Essa altura, para mim, para além de criar um espaço

amplo e monumental dá intimidade a quem a procura. Como se o facto de a altura ser tão exagerada

que qualquer pessoa se sente pequena e isolada. A acção do Homem àquela escala não é perceptível.

O espaço tem uma ausência de som, própria dos locais de culto. Toda esta atmosfera seduz

pelo seu contraste e causa uma certa ambiguidade. É essa ambiguidade que a torna tão atraente e tão

bela para mim. O facto de ser pouco ou nada cuidada em relação às suas paredes queimadas e ruídas,

faz com que se destaque mais o brilho da folha de ouro dos altares e da estatuária. É sem dúvida uma

igreja de contrastes complexos e é isso que a torna tão bonita.

Escola Secundária de Benfica

A Escola Secundária de Benfica, construída em 1978, foi o primeiro sítio que visitei e graças à

prontidão da minha visita ainda pude entrar no recinto e apreciar todas as volumetrias dessa escola

desenhada por Hestnes Ferreira. É um exemplo de construção modular feita a partir de elementos pré-

fabricados de betão. À imagem de todas as escolas públicas existe um orçamento reduzido para a

construção deste exemplar. Por essa razão acho que o espaço interior não é tão interessante como

exterior, excepto as ligações verticais feitas pelas escadas em caracol. A sua implantação cria um

labirinto rico em espaços pontualmente diferentes. Até mesmo o corredor coberto exterior que une

todos os volumes dá uma sensação de continuidade. Embora a escola tenha 5 volumes estes mantém a

mesma linguagem, funcionam como um todo. Os volumes são separados por corredores em escada que

acompanham a subida do terreno. Essa separação não é muito visível, contribuindo para a sensação que

todos os volumes são importantes, que nenhum funciona sozinho. Como já visitei a escola perto das 7

da tarde, não consegui ouvir o som que seria de esperar. No entanto, era fácil de imaginar a partir do

tipo de vivencias que são comuns a qualquer outra escola. Então imagino que o som desta escola seria

Imagem 19 - exterior e interior da igreja de S. Domingos

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muito inconstante, uma vez que há horas de silêncio e horas de barulho, tempo de estudo e tempo de

lazer. O espaço sendo quente o suficiente e com as ligações ao exterior controladas mantém um

sentimento de disciplina, isto é, não propicia a momentos de distracção, nomeadamente nas aulas.

A arquitectura impõem-se em relação à envolvente e cria uma certa tensão entre interior e

exterior. Trata-se de um equipamento destinado à comunidade, por isso não é propenso a espaços

intimistas, no entanto, já no exterior, podemos encontrar muitos recantos. Estes recantos seduzem pela

sua sensação de conforto. Aqui também a luz tem um papel essencialmente funcional, serve apenas

como iluminação. Pelo que já conhecia da escola, gostava de vivenciar o impacto das clarabóias na

iluminação das escadarias, mas foi-me impedido pela falta de autorização. Embora seja um volume que

se impõe na envolvente e tenha um ar um pouco frio causado pela monumentalidade exacerbada, a

Escola Secundária de Benfica, no panorama nacional, é uma das mais bonitas. Tem uma harmonia

linguística que une imperturbavelmente todo o programa funcional. Perto desta escola deslumbra-se a

Escola Superior de Comunicação Social de Carrilho da Graça. Vencedora do prémio Secil em 1994,

destaco uma característica particular após a ter visitado a propósito do VII ESCSITO (festival da escola).

Essa característica é a escadaria exterior que dá para lado nenhum. Para além de me ter perguntado

para que serviria a escadaria perguntei aos alunos da escola que me responderam sem hesitar: é a

escadaria do suicídio. Não sei se foi um acto arquitectónico irónico de Carrilho da Graça, no entanto a

explicação faz sentido. Quem se sentir desgostoso por causa das notas pode sempre acabar com o seu

sofrimento… Mais tarde vim-me a aperceber que afinal era o tecto do bar.

Hotel Ritz

O Hotel Ritz, desenhado por Pardal Monteiro em 1952, apresenta um volume paralelepipédico

imponente. É visível em alçado a modelação dos quartos. É um edifício claramente moderno e

apresenta um programa complexo para a altura em que foi construído. Apresenta alguns relevos

interessantes na fachada que me remeteram imediatamente para os relevos usados nas construções das

unidades habitacionais de Le Corbusier, embora sejam completamente diferentes. Estes relevos

parecem-se mais com os relevos clássicos dos revivalismos arquitectónicos. Mas até a própria

Imagem 20 - (da esquerda para a direita) escadaria exterior que separa os cinco volumes, peça pré-fabricada de betão, corredor coberto posterior aos volumes

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volumetria lembra uma vez mais essas unidades de habitação. A decoração dos espaços públicos

merece referência por demonstrar uma luxúria sóbria. Em relação a este local não me posso alongar

muito mais uma vez que não tive a oportunidade de entrar, pois tratou-se do último local que visitei.

Pela pesquisa feita no Arquivo da Câmara Municipal de Lisboa pude aceder a fotografia da época. A

partir dessas imagens vi que o hotel se destacava da rotunda do Marquês de Pombal, embora hoje já se

tenha perdido esse efeito.

A sua atmosfera é a típica de um hotel. O seu interior revela um confortável requinte, típico da

cadeia de hotéis da Four Seasons Hotel. Mesmo tendo sido uma aquisição posterior, a sua decoração

sempre revelou um apuro principesco devido à escolha de materiais direccionados para a decoração. É

esse cuidado que torna tão atractivo (e dispendioso) uma estadia neste hotel. Aqui não existe a relação

com o exterior, o hotel tem tudo, tem uma oferta tão vasta que nem é preciso abandoná-lo. Os degraus

de intimidade estão bem assegurados como em qualquer hotel comum e a importância da luz só se faz

sentir nos candeeiros que apoiam a atmosfera dos ambientes. A característica que melhor mostra a sua

separação entre o interior e o exterior e a privacidade é o ginásio. Situado no topo no hotel, o utilizador

deste pode praticar o seu jogging matinal sem sair de “casa”, aproveitando na mesma o melhor que a

paisagem lisboeta tem para oferecer. O hotel garante o conforto e a privacidade a todos os que

procuram um local para passar a noite (ou porque não? O dia).

Pastelaria Mexicana

A pastelaria Mexicana, desenhada em 1962 por de Jorge Chaves, não promove continuidade da

linguagem de espaço. Talvez por ter sofrido sucessivas remodelações em prol da modernização. Mesmo

assim, a zona mais interessante e que merece ser destacada é a sala mais afastada do local de entrada.

Os painéis em azulejo remetem-me para uma realidade surrealista e a parede oposta, feita por

sobreposição de tijolos de madeira cor de cerejeira lembra-me a maqueta de grande escala da paisagem

poética. A única fonte de luz da sala é a pseudo-gaiola para pássaros, supostamente aberta ao exterior,

sendo a única ligação para além da entrada. Como o interior não é uno, muito menos o corpo

arquitectural. A materialidade não é unívoca, no entanto, este espaço não deixa de ser confortável e

com confecções de grande qualidade, se não o fosse nem sequer tinha clientes. A sala mais recôndita é

Imagem 21 - a imponência do Hotel Ritz na envolvente no século passado, fonte: Arquivo Municipal de Lisboa

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a mais interessante. No entanto, pelo seu posicionamento, nem sequer pode funcionar com um pólo de

atracção. Sinceramente a sedução é feita só pela oferta dos produtos de pastelaria.

Imagem 22 – pormenor dos tijolos desencontrados e do painel em azulejo da parede da sala posterior com a pseudo-gaiola

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Capítulo IV - Lisbon Story at Night

Na minha ida a Lisboa consegui visitar quase todos os lugares da lista: a Lx Factory, a Igreja de S.

Domingos, a Casa do Alentejo, a Fundação Calouste Gulbenkian, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, a

Escola Secundária de Benfica, o Hotel Ritz e a Pastelaria Mexicana. Para além destes espaços houve

outros que captaram a minha atenção enquanto me perdia (e me encontrava) por Lisboa, como o

Instituto Superior Técnico, a Escola Superior de Comunicação Social, o Hotel Avenida Palace, a Estação

do Rossio, o Hard Rock Café de Lisboa, o elevador de Santa Justa, a Igreja São João de Deus, a rua da

Betesga, as ruínas do Convento do Carmo, o Hotel Internacional, o Banco Totta e Açores, o Teatro

Politeama, a Associação Comercial de Lisboa, a Sociedade de Geografia de Lisboa e o Teatro D. Maria II.

Embora tenha sido uma viagem a correr e gostasse de falar também nos outros, não há tempo nem

espaço. Mesmo assim quero-vos falar de dois espaços em particular.

Numa fase mais de descontracção, à noite, passei pelo Bairro Alto. Aí, chamou-me a atenção todo o

ambiente festeiro, à volta da praça Luís de Camões assim como em todas as ruelas do bairro. Quando já

se caminhava para a madrugada passei pelo Cais do Sodré onde encontrei o bar/discoteca Jamaica.

Trata-se de uma minúscula discoteca que espezinhava qualquer tentativa de locomoção. Partilha a rua

Nova do Carvalho com bares de alterne com nomes de cidades costeiras. Essa atmosfera decadente, de

pouca luz, interrompida pelos clarões dos néones, enquadrada com o viaduto que passa por cima da

rua, fez-me lembrar daqueles momentos dos filmes de terror em que sabemos que a personagem não

devia estar ali pois o mal parece eminente. Esse ambiente obscuro tanto me causa repulsa como me

apaixona. Há aqui um certo je ne sais quoi, algo diferente, algo inexplicável que me dá vontade de lá

voltar. Rodeado por edifícios centenários num ambiente sombrio, noto uma ambiguidade, uma

contradição. Este ambiente “pouco recomendável” como é que atrai tanta gente? Será pela

obscuridade, pelo ambiente de submundo? É claro que todas as pessoas cuja entrada é negada em

locais onde predomina a sociedade de elite vêm aqui parar. Este ambiente não repulsa nem exclui

ninguém, está aberto ao mundo e não critica o mesmo, isto é, é um ambiente que nos deixa ser quem

nós somos, onde não se ouvem risinhos nem comentários desagradáveis. É claro que o Bairro faz a

mesma coisa mas não de forma tão contrastante.

Mais tarde ainda, fui ao Lux, uma discoteca à beira rio plantada, famosa no panorama nacional. Sendo a

minha primeira vez, nunca pensei que este ambiente me fosse aborrecer tanto. Agora vejo com certa

ironia o contraste entre o Jamaica e o Lux. No Lux senti um ambiente pomposo, feito para as aparências.

A decoração tentava ser diferente e magnífica, no entanto não me surpreendeu. À entrada disseram-me

para tirar fotografias apenas às pessoas que conhecia, pelo que não tenho nenhum registo fotográfico

do que vi (ainda bem, não?). Senti um ambiente kitsch, onde o propósito da decoração falha

redondamente, talvez por ter sido feita por alguém que não entende o glamuor da noite, nem sabe o

que é ser-se artístico. A grande desilusão talvez se deva ao meu conhecimento de decorações anteriores

do Lux baseadas em temas fortes que achei fantásticas. É da mesma maneira pessimista que vejo os

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frequentadores do Lux. Embora sejam da elite de Lisboa, copiam tudo o que há de mau (e de bom…).

Apresentam a mesma atitude, a mesma maneira de agir, até parecem iguais, sem identidade própria.

Vestem-se de tal modo parecido que parecem clones pontualmente diferentes, e quando alguém se

tenta destacar, falha redondamente, tal e qual como a decoração

jus ao que se pretende, não serve como música ambiente, nem como música de discoteca,

apanhado um mau dia. Visto ter

encontrei foi o esquema programático da Lux. A meu ver, a discoteca funciona bem por ter os espaços

bem controlados e bem identificados. Ao passear

interligados como separados, o que é bom

que faz deste lugar um todo com marcações visuais pontuais.

Imagem 24 - Rua do Jamaica (de dia)

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Lux. Embora sejam da elite de Lisboa, copiam tudo o que há de mau (e de bom…).

Apresentam a mesma atitude, a mesma maneira de agir, até parecem iguais, sem identidade própria.

do que parecem clones pontualmente diferentes, e quando alguém se

tenta destacar, falha redondamente, tal e qual como a decoração Kitsch. Até a própria mú

jus ao que se pretende, não serve como música ambiente, nem como música de discoteca,

o ter-me desiludido tanto virei-me para a arquitectura, e o que de bom

encontrei foi o esquema programático da Lux. A meu ver, a discoteca funciona bem por ter os espaços

entificados. Ao passear-me pelos espaços notei que estes

erligados como separados, o que é bom. As diferenças vão-se tornado perceptíveis

que faz deste lugar um todo com marcações visuais pontuais.

Imagem 23 - entrada do Lux

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Lux. Embora sejam da elite de Lisboa, copiam tudo o que há de mau (e de bom…).

Apresentam a mesma atitude, a mesma maneira de agir, até parecem iguais, sem identidade própria.

do que parecem clones pontualmente diferentes, e quando alguém se

. Até a própria música não faz

jus ao que se pretende, não serve como música ambiente, nem como música de discoteca, talvez tenha

me para a arquitectura, e o que de bom

encontrei foi o esquema programático da Lux. A meu ver, a discoteca funciona bem por ter os espaços

pelos espaços notei que estes estão tão

tornado perceptíveis gradualmente, o

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Conclusão

Em jeito de despedida, assim concluo a minha viajem por Lisboa. Muita coisa foi vista, talvez

um pouco a correr, e no entanto ainda há mais para ver. Embora o Caderno de Viagens pudesse ter

desenhos ou colagens completares da mensagem que se quer transmitir, baseei-me mais na escrita uma

vez que através desta me é mais fácil exprimir as minhas ideias. Sei que já sei alguma coisa sobre

arquitectura e, no entanto, sei que nada sei, já Sócrates assim o dizia em relação ao Saber. A

investigação prévia baseada nas fontes possíveis foi a preparação que me bastou para identificar os

locais e para estabelecer uma ideia prévia dos mesmos. Não sei se essa ideia prévia foi boa ou má, no

entanto, deu para ir à busca de pormenores mais específicos. Espero que seja de fácil leitura que se

entenda a minha crítica aos locais propostos. Há sempre locais dos quais gostamos ou que com os quais

nos identificamos mais, havendo sempre alguns que se “atravessam no nosso caminho”. Não posso

dizer que a viagem tenha sido um sucesso mas estou longe de dizer que ela foi um fiasco. O facto de não

ser de Lisboa dificultou um pouco satisfizer a lista de locais a visitar.

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Bibliografia

Livros consultados:

• Raúl Hestnes Ferreira – Projectos (1959-2002), colecção Arquitectura – Monografias I,

coordenação editorial de José Manuel das Neves, ASA Editores II;

• Zumthor, P. & Binet, Helen, Peter Zumthor Works - Buildings and Projects 1979-1997, Princeton

Architectural Press, 1998;

• Zumthor, P., Three Concepts: Thermal Bath Vals, Art Museum Bregenz, "Topography of Terror"

Berlin, Chronicle Books, 1998;

• Schneider, Eckhard, (ed.), Peter Zumthor - Kunsthaus Bregenz, Hatje Cantz Pub., 2008,

• Zumthor, P., Thinking Architecture, Birkhauser, 2006 (2ª edição);

• Zumthor, P., Atmospheres: Architecural Environments - Surrounding Objects, Birkhauser, 2006

• Zumthor, P., Atmosferas: Entornos arquitectónicos – As coisas que me rodeiam, Editorial

Gustavo Gil, 2006.

Sítios consultados:

• http://www.gulbenkian.pt/

• http://www.casadoalentejo.pt/flash.html

• http://www.golisbon.com/sight-seeing/sao-domingos.html

• http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/

• http://www.fourseasons.com/lisbon/