linguistic a cognitiva rove

32
LINGUISTICA COGNITIVA MÁRIO E. Martelotta Roza Palomanes Compilação elaborada por Rita do Carmo F. Laipelt

Upload: ritacarmo

Post on 05-Jul-2015

227 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Linguistic A Cognitiva Rove

LINGUISTICA COGNITIVAMÁRIO E. Martelotta

Roza Palomanes

Compilação elaborada porRita do Carmo F. Laipelt

Page 2: Linguistic A Cognitiva Rove

A IMPORTÂNCIA DE CHOMSKY

Chomsky demonstrou a importância dos fenômenos de natureza cognitiva para a compreensão da linguagem. Contudo limitou sua abordagem a questões relacionadas ao desenvolvimento ou à maturação de uma capacidade biológica, postulando uma estrutura racional e universal inerente ao organismo humano.

Page 3: Linguistic A Cognitiva Rove

A IMPORTÂNCIA DE CHOMSKY

Outro aspecto importante da teoria de Chomsky está no princípio da modularidade da mente. Para o qual cada módulo é responsável pela estrutura e desenvolvimento de um tipo de conhecimento. Esse módulos atuam separadamente, de maneira que cada um só tem contato com o resultado final do trabalho dos outros.A esse princípio está relacionada a proposta de que a sintaxe é autônoma e constitui a essência da descrição linguistica.

Page 4: Linguistic A Cognitiva Rove

A QUESTÃO DA MODULARIDADE

A principal crítica dos cognitivistas aos gerativistas não se refere à hipótese do inatismo. Embora acreditem ser difícil distinguir de forma categórica entre o que é inato e o que aprendido.A crítica recai principalmente sobre a proposta de que essas estruturas e habilidades são específicas da linguagem.

Page 5: Linguistic A Cognitiva Rove

Para os cognitivistas a linguagem não constitui um componente autônomo da mente. Sua proposta teórica busca uma visão integradora do fenômeno da linguagem com base na hipótese de que não há necessidade de se distinguir entre conhecimento linguístico de conhecimento não linguístico.

Page 6: Linguistic A Cognitiva Rove

Quais as implicações de não separar o conhecimento linguístico do não linguístico?

As línguas não podem ser explicadas apenas por mecanismos formais auto-suficientes.A proposta cognitivista considera aspectos relacionados a restrições cognitivas que incluem a captação de dados da experiência, sua compreensão e armazenamento na memória, assim como a capacidade de organização, acesso, conexão, utilização e transmissão adequada desses dados. Os quais só se concretizam socialmente. Assim há uma relação sistemática entre linguagem, pensamento e experiência.

Page 7: Linguistic A Cognitiva Rove

INTERAÇÃO SOCIAL

A proposta cognitivista ao incorporar fenômenos de cunho social levou alguns autores da área a criar o termo sociocognitivismo. Esse termo reforça o a importância do contexto nos processos de significação e o aspecto social da cognição humana. Focaliza a linguagem como uma forma de ação.

Page 8: Linguistic A Cognitiva Rove

Processos de significação:

Não há significados prontos, eles são construídos. Os significados não são elementos mentais únicos e estáveis, resultam de processos complexos de integração entre diferentes domínios de conhecimento. Exemplo disso é o processo de categorização da realidade.

Page 9: Linguistic A Cognitiva Rove

CATEGORIZAÇÃO

Para os cognitivistas não é a forma dos objetos que causa a percepção de uma unidade: nosso cérebro e nosso corpo dão a eles esse status do mesmo modo que o sentido de um quadro não está no quadro em si, mas na interpretação que fazemos dele. Assim dividimos o mundo, criando categorias associadas à nossa condição humana para que possamos manipulá-las em nossas vidas.

Page 10: Linguistic A Cognitiva Rove

Da mesma forma que os objetos, as atividades recebem categorização. Gestos simples do dia-a-dia podem apresentar significações diferentes. A interpretação dos gestos é eminentemente sociocultural e provém de nossa capacidade de compreender as intenções que estão por trás desses gestos. Isso está associado ao princípio da escassez do significante. Nesse princípio o sentido não constitui uma propriedade intrínseca da linguagem, mas o resultado de uma atividade conjunta – que pressupõe cooperação – associada a operações de projeção e transferência entre domínios.

Page 11: Linguistic A Cognitiva Rove

Para os cognitivistas léxico, morfologia e sintaxe formam uma espécie de continuum de unidades simbólicas que se subordinam à estrutura conceitual para fins comunicativos. Logo, consideram incoerente o tratamento da estrutura gramatical como algo dissociado do significado assim como a segmentação da estrutura gramatical em componentes discretos e isolados. Não concordam com a hipótese da autonomia da sintaxe.

Page 12: Linguistic A Cognitiva Rove

INTERAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO SIGNIFICADO

A Linguística Cognitiva coloca os usuários da língua no centro da construção do significado. Nesse sentido, o falante é visto como um produtor de significados em situações comunicativas reais nas quais interage com interlocutores reais. Assim, fenômenos característicos do uso da língua passam a ter maior importância para compreensão da linguagem.

Page 13: Linguistic A Cognitiva Rove

Para os cognitivistas a comunicação é uma atividade compartilhada. A significação é negociada entre os interlocutores em situações contextuais específicas, o que torna possível que os elementos linguísticos se adaptem as diferentes intenções comunicativas, apresentando flutuações de sentido, como por exemplo as que caracterizam as metáforas.

Page 14: Linguistic A Cognitiva Rove

O PENSAMENTO CORPORIFICADO Para os cognitivistas nosso primeiro contato com o mundo se dá através dos nossos sentidos corporais, e a partir daí algumas extensões de sentido são estabelecidas. Por isso nossa estrutura corporal é tão importante, já que a percepção que temos do mundo é limitada por nossas características físicas. A mente não é separada do corpo. Ao contrário, o pensamento é corporificado pois sua estrutura e organização estão diretamente associadas à estrutura do nosso corpo, bem como nossas restrições de percepção e de movimento no espaço. Ex.: A maioria dos órgãos dos sentidos estão localizados na parte frontal da cabeça (boca, nariz, olhos) por isso somos seres feitos para andar para frente.

Page 15: Linguistic A Cognitiva Rove

Pensamos situações da nossa vida que já vivenciamos e que ainda vamos vivenciar, em termos, respectivamente, de lugares pelos quais já passamos e de locais à nossa frente a que ainda pretendemos chegar.

Outro exemplo, são os usos de elementos com valores originalmente espaciais para formar expressões temporais como:Cem anos atrás, o mundo era bem diferente, Portanto, podemos esperar que daqui para frente as coisas continuem mudando.

Page 16: Linguistic A Cognitiva Rove

Os cognitivistas associam esse tipo de fenômeno à hipótese de que a experiência humana mais básica, que se estabelece a partir do corpo, fornece as bases de nossos sistemas conceituais. Exemplos:Andamos para frente devido as características do nosso corpo.Pensamos os pontos da paisagem que vamos deixando para trás na medida em que nos movimentamos, em termos de tempo passado.Os pontos que estão à nossa frente e que ainda vamos atingir servem de referência para a expressão do futuro. Logo compreendemos o tempo, que é uma noção mais abstrata, a partir de uma noção mais básica, que é a noção de espaço. De um modo geral os conceitos abstratos são inerentemente metafóricos.

Page 17: Linguistic A Cognitiva Rove

Essas relações associativas somente são possíveis pela existência prévia de um processo cognitivo chamado mesclagem, o qual estabelece uma conexão entre diferentes domínios conceituais. Esse processo de extensão de sentidos na direção de noções mais abstratas se reflete na construção das frases.

Exemplos:a) O ministro foi para São Paulo.b) O ministro adiou a entrevista para o dia seguinte.c) O ministro elaborou o relatório para mudar a opinião do

presidente.d) O ministro entregou o relatório para o presidente.

Page 18: Linguistic A Cognitiva Rove

Análise dos exemplos:a) a preposição para designa movimento em direção a um

ponto no espaço.b) A preposição para passa a indicar movimento no tempo.c) A preposição para é usada para unir duas orações, fazendo

da segunda a finalidade do que está expresso na primeira.d) A preposição para se justifica pelo movimento que um

objeto realiza em direção à pessoa que o recebe.

Esses exemplos sugerem que essas relações sintáticas são estruturadas em termos de relações espaciais, ou que aspectos semânticos estão associados à construção sintática, o que coloca em cheque a hipótese gerativista da autonomia da sintaxe.

Page 19: Linguistic A Cognitiva Rove

ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO

Os cognitivistas tomam os sentidos como sendo entidades conceituais, e as palavras e as estruturas da língua como recursos para simbolizar a construção que o falante faz de cenas ou fatos da vida cotidiana. Toda informação é posicionada, no sentido de que, normalmente, não falamos a respeito do que o mundo é, mas da visão que temos dele.

Page 20: Linguistic A Cognitiva Rove

Para os cognitivistas os elementos linguísticos possuem a função de garantir a perspectiva que o falante quer transmitir no ato comunicativo. Nesse sentido, eles propõem noções como: ponto de vista, alinhamento de figura e fundo e conhecimento de base em relação ao qual o conhecimento é compreendido.Ponto de vista: relaciona-se com as diferentes possibilidades de o falante realizar mentalmente a cena. Exemplo:a) O caminho para dentro da floresta é tortuoso.b) O caminho para fora da floresta é tortuoso.

Page 21: Linguistic A Cognitiva Rove

As duas expressões designam a mesma entidade, a diferença está no movimento mental que o conceitualizador faz da cena, como ele vê mentalmente o sentido da trajetória.

Alinhamento de Figura e FundoDiz respeito à maior proeminência que atribuímos a um dos elementos da cena. a) O quadro que está sobre o sofá. b) O sofá que está sob o quadro.

A diferença está em qual das entidades envolvidas é apontada como primeiro ponto de atenção (figura) e qual é representada em segundo plano (fundo).

Page 22: Linguistic A Cognitiva Rove

A linguagem é um instrumento cognitivo que tem a função de organizar e fixar a experiência humana. Os significados só podem ser descritos com base nessas experiências, assim como no conjunto delas provenientes.

Ex.: joelho e perna. Nessa relação a palavra joelho é compreendida como uma parte de um todo. Perna atua como domínio cognitivo de joelho.

Page 23: Linguistic A Cognitiva Rove

DOMÍNIOS CONCEITUAIS

São espaços de referenciação ativados por formas linguísticas ou pragmáticas que ajudam a construir os significados. São de duas naturezas:

a)Domínios estáveis;b) Domínios locais.

Page 24: Linguistic A Cognitiva Rove

a)Domínios estáveis.São o conjunto de informações que o homem aprendeu a partilhar. Eles subdividem-se em três tipos;

Modelos cognitivos idealizados: estruturas através das quais nosso conhecimento se organiza. Fundamentais para a cognição humana pois aliviam a memória, organizando a imensa quantidade de informações adquiridas no dia-a-dia. Ex.: Só entendemos o sentido da palavra domingo por conhecermos o sentido da palavra semana, que é uma convenção humana, tendo fundamento cultural. A semana constitui o domínio semântico em relação ao qual o termo domingo é normalmente compreendido.

Page 25: Linguistic A Cognitiva Rove

Molduras comunicativas: estruturas de conhecimento relacionadas a formas organizadas de interação. Caracterizam-se por atividades que implicam comportamentos estabelecidos em que cada participante possui um papel previamente determinado.

Ex.: em uma aula de linguística em uma universidade teremos a figura do professor e do aluno. Nessa situação espera-se que o professor fale sobre o conteúdo da disciplina que ministra e não sobre os problemas da sua vida pessoal. Ao aluno cabe o papel de ouvir e utilizar a palavra para fazer perguntas sobre o conteúdo da aula, e não para fazer uma piada. Esses comportamentos são estabelecidos culturalmente.

Page 26: Linguistic A Cognitiva Rove

Esquemas imagéticos: para compreender esses esquemas é preciso lembrar que grande parte do nosso conhecimento não é estático. É estruturado por padrões dinâmicos, não-proposicionais e imagéticos dos nossos movimentos no espaço, da nossa manipulação dos objetos e de interações perceptivas.Os esquemas mais frequentes são: Contentor, ou recipiente, origem-percurso-destino, elo, força, equilíbrio, bloqueio, remoção, contra força, compulsão, parte-todo, centro-periferia, em cima- em baixo, à frente – atrás, dentro-fora, perto-longe, contato, ordem linear.

Page 27: Linguistic A Cognitiva Rove

b) Domínios locais.Recebem o nome de espaços mentais, e constituem operadores de processamento cognitivo, têm um caráter dinâmico e sequencial, já que são produzidos na medida em que falamos. Os espaços mentais são ativados por conectores, chamados de construtores de espaços mentais, que no nível gramatical podem assumir estrutura de conectivos, de sintagmas preposicionais ou adverbiais, de orações entre outras possibilidades, criando diferentes tipos de espaço.Ex.: No filme, a atriz loura tem cabelos escuros.

Page 28: Linguistic A Cognitiva Rove

O PRINCÍPIO DE PROJEÇÃO

A construção de sentido implica o estabelecimento de conexões entre domínios cognitivos. Essas conexões se dão através de um processo chamado projeção.

Projeções de domínios conceituais estruturados ou MCIs: projetam parte de um domínio em outro. Ex.: metáforas e analogias.Consiste em tomar a estrutura de um domínio (domínio fonte) para falar ou pensar outro domínio (domínio alvo). Metáfora do tempo como espaço.Metáfora comunicar é enviar.

Page 29: Linguistic A Cognitiva Rove

Projeções de funções pragmáticas: projetam um domínio em outro em consequência de uma relação estabelecida localmente por uma função de caráter pragmático. Esse tipo de projeção é característico das metonímias.Ex.: Joana nunca leu Machado de Assis;Deixei meu Aurélio em casa; Ele bebeu uma garrafa inteirinha.Nesses casos, nosso conhecimento de mundo, juntamente com informações contextuais mais localizadas, fornecem os dados para que o princípio da identificação atue, estabelecendo a relação entre as entidades gatilho e alvo.

Page 30: Linguistic A Cognitiva Rove

Projeções entre espaços mentais: é propiciada pelos construtores de espaços mentais com a consequente construção de um novo significado.Ex.: a vida tem a cor que você pinta.Nessa frase, a vida é projetada como uma tela, fazendo-nos ativar um espaço mental em que temos a pintura e outro em que temos a vida. A projeção entre os elementos dos dois espaços vai levar a construção de um espaço-mescla em que pintura e vida se integram.

Page 31: Linguistic A Cognitiva Rove

MESCLAGEM

Segundo os cognitivistas, as relações associativas são possíveis devido a existência prévia do processo de mesclagem.Mesclagem é definida por Gilles Fauconnier como o espaço que herda estruturas parciais de espaços denominados fonte e que possui uma estrutura emergente própria. O processo de mesclagem, implica a conexão de pelo menos quatro domínios: dois espaços-fonte, um esquema genérico, que define a homologia entre eles, possibilitando a migração parcial da informação para o espaço-mescla resultante.Exemplo: A floresta amazônica é o pulmão do mundo.

Page 32: Linguistic A Cognitiva Rove

No exemplo apresentado, floresta e pulmão ativam dois MCIs – o geográfico e o biológico. Cria-se então um espaço genérico com estrutura mais abstrata que é compartilhada por ambas as fontes e mais dois outros espaços-fonte, um criado a partir do MCI geográfico e outro, do MCI biológico. Importando somente o que é relevante de cada espaço fonte, temos o espaço-mescla resultante da projeção entre os espaços-fontes.