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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Novo Hamburgo – RS 17 a 19 de maio de 2010 1 Filmes Seriados: Cinema e Prática Social Em Novo Hamburgo Entre Os Anos 1927-1937. 1 Sheisa Amaral da CUNHA Universidade Feevale, Novo Hamburgo, RS 2 RESUMO Este artigo tem como objetivo identificar a relação entre o cinema e a construção das identidades a partir do jornal impresso “O 5 de Abril”, primeiro semanário da cidade de Novo Hamburgo. Delimitamos a primeira década de funcionamento do jornal, entre 1927 até 1937 e focamos a pesquisa nas matérias e informações veiculadas a respeito dos filmes que eram divididos em capítulos para serem exibidos em salas de cinema da cidade e como isso permitia uma prática social entre os habitantes. Como metodologia foram fotografadas 493 edições do jornal onde foram encontrados 442 números que veiculavam material sobre cinema. O artigo possui como teóricos principais Chartier, (1991) para as definições de identidade social e Tuner, (1997) para as questões de prática social relacionadas ao cinema. PALAVRAS-CHAVE: cinema; filmes seriados; prática social. INTRODUÇÃO Este artigo faz parte de um projeto maior intitulado “O processo de construção de identidades: um estudo sobre a influência do cinema em Novo Hamburgo”, que visa estudar o processo de construção de identidades sob a influência do cinema na cidade de Novo Hamburgo, analisados através do Jornal “O 5 de Abril”, o primeiro jornal impresso do município. A partir dessa proposta foram desenvolvidos estudos sobre a construção de identidades em relação ao cinema. Neste artigo o foco será a verificação das informações publicadas no jornal “O 5 de Abril” sobre filmes em capítulos. A idéia de que os cidadãos de Novo Hamburgo da década de trinta, iam até o cinema para assistir a alguns capítulos de uma história e retornavam na semana seguinte para acompanhar seu final trouxe uma sensação de estranheza e encanto. 1 Trabalho apresentado ao Intercom Junior, na Divisão Temática de Audiovisual, do XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul. 2 Estudante de Design Gráfico – habilitação mídias eletrônicas e bolsista de Iniciação Científica da FAPERGS, do projeto “O processo de construção de identidades: um estudo sobre a influência do cinema em Novo Hamburgo”, da Universidade Feevale, orientado pela Profª. Dra. Paula Regina Puhl, ligado ao grupo de pesquisa Comunicação e Cultura.

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IntercomSociedadeBrasileiradeEstudosInterdisciplinaresdaComunicao XICongressodeCinciasdaComunicaonaRegioSulNovoHamburgoRS17a19demaiode2010 1 Filmes Seriados: Cinema e Prtica Social Em Novo Hamburgo Entre Os Anos 1927-1937.1 Sheisa Amaral da CUNHA Universidade Feevale, Novo Hamburgo, RS2 RESUMO Este artigo tem como objetivo identificar a relao entre o cinema e a construo das identidades a partir do jornal impresso O 5 de Abril, primeiro semanrio da cidade de NovoHamburgo.Delimitamosaprimeiradcadadefuncionamentodojornal,entre 1927 at 1937 e focamos a pesquisa nas matrias e informaes veiculadas a respeito dos filmes que eram divididos em captulos para serem exibidos em salas de cinema da cidade e como isso permitia uma prtica social entre os habitantes. Como metodologia foramfotografadas493ediesdojornalondeforamencontrados442nmerosque veiculavam material sobre cinema.O artigo possui como tericos principais Chartier, (1991)paraasdefiniesdeidentidadesocialeTuner,(1997)paraasquestesde prtica social relacionadas ao cinema. PALAVRAS-CHAVE: cinema; filmes seriados; prtica social. INTRODUO Este artigo faz parte de um projeto maior intitulado O processo de construo de identidades: um estudo sobre a influncia do cinema em Novo Hamburgo, que visa estudar o processo de construo de identidades sob a influncia do cinema na cidade de NovoHamburgo,analisadosatravsdoJ ornalO5deAbril,oprimeirojornal impresso do municpio. A partir dessa proposta foram desenvolvidos estudos sobre a construo de identidades em relao ao cinema. Neste artigo o foco ser a verificao das informaes publicadas no jornal O 5 de Abril sobre filmes em captulos. A idia dequeoscidadosdeNovoHamburgodadcadadetrinta,iamatocinemapara assistiraalgunscaptulosdeumahistriaeretornavamnasemanaseguintepara acompanhar seu final trouxe uma sensao de estranheza e encanto. 1 Trabalho apresentado ao Intercom J unior, na Diviso Temtica de Audiovisual, do XI Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sul. 2 Estudante de Design Grfico habilitao mdias eletrnicas e bolsista de Iniciao Cientfica da FAPERGS, do projeto O processo de construo de identidades: um estudo sobre a influncia do cinema em Novo Hamburgo, da Universidade Feevale, orientado pela Prof. Dra. Paula Regina Puhl, ligado ao grupo de pesquisa Comunicao e Cultura.IntercomSociedadeBrasileiradeEstudosInterdisciplinaresdaComunicao XICongressodeCinciasdaComunicaonaRegioSulNovoHamburgoRS17a19demaiode2010 2De acordo com Silva, Puhl e Strher, (2008) o final do sculo XIX pode ser indicado como marco inicial da histria do cinema no Brasil, mais especificamente, o anode1898,doisanosapsaprojeonaFranafeitapelosirmosLumire.As primeiras exibies no pas aconteceram na Rua do Ouvidor, no Rio de J aneiro, Gomes (1996),indicaAfonsoSegretocomoresponsvelpeloepisdio,sendoqueesteteria feito algumas imagens da Baa de Guanabaracom a cmera defilmar, comprada em suas viagens paraParis.As mais antigas referncias sobre cinema em Novo Hamburgo reportam-se ao anode1913,quandoAdoAdolfoSchmittalugouosalodesuacasanobairro Hamburgo Velho para a projeo de filmes. Anos depois, Sara Lanzer, proprietria de uma casa de comrcio e freqentadora assdua do cinema, como capital obtido por um prmio de loteria, mandou construir uma sala de projees. Esta sala recebeu o nome de CinemaCentral,efuncionavanaAvenidaMaurcioCardoso.Nadcadade40,o Cinema Central foi comprado por Lothrio Blankenheim, e recebeu o nome de Cine Ada.No centro da cidade, na dcada de 1930, o Cinema Guarani foi construdo na Avenida Pedro Adams Filho uma das principais vias da cidade , pela empresa J aeger & Venturini Ltda. Os Blankenheim tiveram grande destaque na trajetria histrica dos cinemas de Novo Hamburgo. Felipe fora um dos scios fundadores do Cine Guarani, e, ao construir o Carlos Gomes, passou a administrao para seu filho Lothrio que era violinista e, ao lado da esposa, pianista, tocava antes e durante as sesses de cinema, no perodo em que esteaindaeramudo.SegundoSilva,PuhleStrher,(2008)algunsmembrosda comunidade hamburguense prestaram depoimentos contando que no incio a insero do cinema na cidade foi vista como algo muito estranho j que havia poucas pessoas que justificassem tal investimento. Dessa forma os moradores escolhiam uma roupa e iam ao cinema, pois aquilo era um evento social. As pessoas de diferentes partes da cidade se conheciam no cinema. Dessa forma a problemtica escolhida para o artigo verificar a relao entre as prticas cinematogrficas e o nmero de filmes em captulos e matrias relacionadas, entre1927e1937,queforamveiculadasnojornalO5deabril.Apartirdo levantamentodasmatriasiremosanalisardequeformaestesfilmes interferiram/colaboraram para a construo das identidades. O objeto de estudo conta com o catlogo de 493 edies que contempla o ano de 1927 at 1937. IntercomSociedadeBrasileiradeEstudosInterdisciplinaresdaComunicao XICongressodeCinciasdaComunicaonaRegioSulNovoHamburgoRS17a19demaiode2010 3 51442CommatriassobrecinemaSemmatriassobrecinema Figura 1 Grfico de Matrias sobre Cinema Aps uma separao preliminar encontramos 442 edies que mencionavam informaes ligadas ao cinema, de alguma forma, seja com psteres, cartazes, grade de programao,colunaseatmesmonoticiaslocaissobreasaladecinemaou personalidades importantes. Dessas 442 edies que mencionavam cinema de alguma forma citaram o cinema encontramos 138 nmeros que mencionava filmes seriados. 304138EdiesqueapresentamfilmesseriadosEdiesquenoapresentamfilmes seriados Figura 2 Grfico de Filmes Seriados Aonosdepararmoscomessenmeronotamosquerelevanteestudaressa prtica de apresentar filmes em captulos. Com o universo da pesquisa mais delimitado escolhemosanalisarestas138ediesembuscadosgnerosmaisapreciadosea freqncia com que apareciam e ento verificar se tais filmes contribuam de alguma forma no processo de construo da identidade da populao de Novo Hamburgo. Vamos percorrer brevemente a histria do cinema, desde seu incio at os anos 1930. A passagem do cinema mudo para o cinema falado e a introduo da cor nos filmes, so fatos que Novo Hamburgo experimentou nestes dez anos pesquisados. IntercomSociedadeBrasileiradeEstudosInterdisciplinaresdaComunicao XICongressodeCinciasdaComunicaonaRegioSulNovoHamburgoRS17a19demaiode2010 4 1.A CONSOLIDAO DO FILME LONGA METRAGEM De acordo com Turner (1997), o ato de sair para assistir um filme um evento, masqueenvolveumalongapreparao,desdeaescolhadottuloquegeralmente motivada por elementos j existem na vivncia do espectador, a apreciao do tipo de histria,reconhecimentodosatores,mesmoumalembranapessoalquevenhaa corroborar com esta escolha. correto mencionar que boa parte desses elementos que fazem parte do espectador para a escolha de um filme so elementos intrnsecos que vem no inconsciente do sujeito, at porque o cinema demorou bastante para ter a forma e a importncia que tem hoje. O cinema demorou um pouco para fazer parte da vida da populao como um grandeeventodeprticasocial.Aintroduodasonorizaofoiumagrande responsvel por isso. The Jazz Singer, O Cantor do J azz, causou furor sendo o primeiro filme inteiramente sonoro, consolidando assim o filme em longa-metragem. Mas, de acordo com J .Pereira (S.D) o cinema nunca foi mudo e o correto seria registrar o inicio do cinema falado e no o fim do cinema mudo. Ele defende que desde as origens do cinema evidenciou-se a necessidade da msica. E desde o aparecimento da imagem em movimento, a msica o acompanhou desde as suas origens. Os filmes eram Figura 3 - O Cantor do JazzIntercomSociedadeBrasileiradeEstudosInterdisciplinaresdaComunicao XICongressodeCinciasdaComunicaonaRegioSulNovoHamburgoRS17a19demaiode2010 5acompanhadosporumaorquestraoualgumoutrotipodeentretenimentomusicalao vivo.Turner(1997)colocaqueestetipodeentretenimentoextraencarecia consideravelmenteoscustosdoingressoequeapassagemdocinemamudoparao cinema sonoro foi um grande desenvolvimento tecnolgico que veio para satisfazer a necessidade do pblico que ansiava por mais realismo. Houvemuitasespeculaessobreasreaisrazesdainserodosomna indstria cinematogrfica. Sklar (1975), conta que alguns afirmam que os grandes em Hollywood estavam com srios problemas financeiros e na dcada de 1920 o pblico eracadavezmenor.EqueoutrosargumentamqueaWarnerBross,primeira companhia a utilizar o som ptico sofria o risco de falncia e via no cinema falado sua ltima esperana. Mas, de acordo com Douglas Gomery (1976), a introduo do som foi apenas uma antecipao comercial do futuro. O correto que em algum momento se notou uma necessidade de atrair mais pblico as salas de cinema e a insero do som surgiu como uma soluo que mudaria o rumo da indstria cinematogrfica e o modo da sociedade perceber os filmes para sempre, Turner, (1997). O cinema sonoro trouxe uma cara nova para o cinema, as narrativas sofreram mudanas, tornando os filmes muito mais realistas. O novo realismo se percebe no apenasesteticamente,ashistriaspassaramasermaiscomplexaseostemasmais elaborados. Turner (1997), fiz que o fato das orquestras no serem mais necessrias e conseqentementeos ingressos mais baratos atraiam mais platia e assim a arte passou por um efeito mais democrtico. No final da dcada de 1920 a Alemanha e a Rssia eramgrandesconcorrentesdaindstriacinematogrficahollywoodiana.Aqualidade dos filmes e a capacidade de comercializ-los tornavam estes pases rivais perigosos, mas Hollywood ultrapassou seus rivais sendo o primeiro grupo a inserir som em seus filmes. A vantagem do som foi amplamente explorada, tanto que a partir desse novo adventosurgiuumnovognerocinematogrfico,omusical.Osmusicaisnortes americanos se tornaram muito famosos tanto por explorar amplamente a novidade do som, quanto por colocar nas telas seus artistas famosos da indstria fonogrfica. 2.A FUNO DOS GNEROS Os gneros dos filmes servem para muitos propsitos, alm de facilitar a catalogao de ttulos. Eles explicitam gostos e estilos, muitas vezes de forma IntercomSociedadeBrasileiradeEstudosInterdisciplinaresdaComunicao XICongressodeCinciasdaComunicaonaRegioSulNovoHamburgoRS17a19demaiode2010 6estereotipada servem de antecipao da histria, poupam dilogos de apresentaes desnecessrias que por muitas vezes deixam o filme falso e cansativo, Turner, (1997).O termo gnero foi extrado de estudos literrios e empregado para descrever as convenes da narrativa que envolve a trama, personagens e at mesmo locais e cenrios. Os filmes wester/faroeste, por exemplo, so reconhecidos e identificados antes mesmo de terminarem os crditos iniciais. Basta o clima rido, personagens rsticos e uma bola de feno rolando para que o expectador reconhea que est assistindo um wester/faroeste, dessa forma ele j sabe o que esperar e as apresentaes formais so desnecessrios. Os gneros devem cumprir duas funes conflitantes. Confirmar as expectativas existentes do gnero e altera-los suavemente. Essa variao da expectativa oferece ao pblico o prazer do reconhecimento do familiar e a emoo da novidade. Segundo Turner, (1997), os gneros so essencialmente dinmicos. A disputa entre cineastas que desejavam deixar sua marca pessoal em seus filmes, os produtores que desejavam vender seus filmes ao pblico, que por sua vez queria consumir os filmes cujo gnero estivesse em alta trouxe muitos benefcios para o cinema e o dinamismo dos gneros foi o principal deles. Como os gneros mudam e redefinem a si prprios de acordo com o estado atual da sociedade definiu o cinema como mercadoria. Desde que o cinema passou a ser visto essencialmente como mercadoria existe uma tendncia de marginalizao cultural e a maior parte dos filmes no vista como uma forma de arte e muitas vezes alguns ttulos recebem o desdenhoso ttulo de enlatados, filmes prontos, sem grande elaborao em que o expectador s deve engolir a histria sem questionamentos maiores. Mas, mesmo osgrandesfilmescomerciaisapresentamelementosimportantesdeprticasocial. Turner,(1997)colocaqueRolandBarthesapresentapesquisassobrecultura,ondea designa como processo que constri o modo de vida da sociedade: seus sistemas para produzir significado, especialmente queles sistemas e meios de representao que do as imagens sua significao cultural e exatamente a que o cinema se enquadra como um agente importante na vida da sociedade. 3.OS FILMES EM CAPTULOS EM NOVO HAMBURGO Aps a anlise de 493 edies do jornal o 5 de Abril foi possvel encontrar 232 filmes em captulos. Geralmente, estes filmes eram apresentados da mesma forma que IntercomSociedadeBrasileiradeEstudosInterdisciplinaresdaComunicao XICongressodeCinciasdaComunicaonaRegioSulNovoHamburgoRS17a19demaiode2010 7os demais, contendo informao sobre com o nome do filme, atores e distribuidora. Para os filmes seriados e era acrescentada uma indicao do nmero de partes que o filme seriadividido.Nosprimeirosanosexistiaumadistribuiobastanteequilibradade filmes hollywoodianos distribudos por empresas como MGM, FOX e UNIVERSAL e alemes distribudos pela UFA. Estes estudos acabaram por validar as convices de Sklar (1975), que defende que o cinema falado foi o responsvel por colocar os Estados Unidos como lder absoluto na distribuio de filmes. Exatamente como Skylar anteviu osEstadosunidospassaramaganhardestaqueextamenteporincluirfalasemseus filmes, canes em seus musicais e ao mesmo tempo em que surgem anncios como mais um filme falado ou filme sonoro em 6 partes os filmes da UFA passam a ficar cada vez mais escassos. Os gneros mais assistidos durante estes dez anos analisados foram respectivamente: drama, comdia, wester/faroeste, ao aventura e outros gneros como musicais, mistrio e fico cientfica que por aparecerem menos de duas vezes cadanoforamtomadosemconsideraoe aindaexistiramfilmesqueficaramsem identificao de gnero, pois no foi possvel encontrar tal designao. 6%8%8%24%19%6%29%AoDramaComdiaWesternAventuraOutrosSemIdentificao Figura 4 - Grfico de Gneros Cinematogrficos Drama:Entreototalde232filmesseriadosexibidonassalasdeCinema Guarani e Carlos Gomes a maioria absoluta, com 29% de exibies o gnero drama. Foram 47 vezes exibidos filmes com essa temtica, isso no significa 66 filmes, pois existiramalgumasreprisesecomosetratadefilmesemcaptulosummesmottulo dividido em 12 partes seria anunciado por semanas. Dentreos66filmesexibidosoptou-seporescolherapenasumerelatarum pouco sobre seu enredo e curiosidades para constatar se este realmente foi, de alguma forma,influenciadornoprocessodeconstruodeidentidadedaCidadedeNovo IntercomSociedadeBrasileiradeEstudosInterdisciplinaresdaComunicao XICongressodeCinciasdaComunicaonaRegioSulNovoHamburgoRS17a19demaiode2010 8Hamburgo. O filme escolhido foi Sem Novidades no Front este ttulo foi anunciado na edio o J ornal O 5 de Abril de vinte e quatro de maro de 1932.Com o ttulo original All Quiet on the Western Front, este drama de 1930 demorou dois anos para chegar at a cidade de Novo Hamburgo. Com 147 minutos este filme foi dividido em 15 partes o que dava uma mdia de dez minutos para cada parte do filme.A trama conta a histria um grupo de estudantes alemes, iludidos quanto s maravilhas da guerra por um professor ultranacionalista e resolvem se alistar no incio da 1 Guerra Mundial. Este um filme de idioma Ingls, feitos nos Estados Unidos, adaptado de um romancedeautoralemoErichMariaRemarque.Ahistriadofilmecontada inteiramente atravs das experincias dos jovens recrutas alemes e destaca a tragdia daguerraatravsdosolhosdaspessoas.Comotestemunhadamortemeninose mutilao em todo lugar, qualquer preconceito sobre o "inimigo" e os "direitos e os erros" do conflito desaparecem, deixando-os irritados e confusos. O filme no sobre o herosmo,massobreotrabalhopenoso,afutilidadeeoabismoentreoconceitode guerra e o da realidade. Comdia:Em segundo lugar com 23% dos filmes exibidos entre os anos de 1927 at 1937 ficou a comdia. Totalizando 56 exibies. Figura 5 - Poster "All Quiet On The Western Front"IntercomSociedadeBrasileiradeEstudosInterdisciplinaresdaComunicao XICongressodeCinciasdaComunicaonaRegioSulNovoHamburgoRS17a19demaiode2010 9 Dentreestesfilmesoptou-seporSejamosCamaradas,estacomdiado Gordo e o Magro foi anunciado no jornal O 5 de Abril de vinte e trs de novembro de 1934. Com o ttulo original ComeClean, esta comdia de 1931 demorou trs anos para chegar at a cidade de Novo Hamburgo. Com 20 minutos este filme foi dividido em 4 partes o que dava uma mdia de cinco minutos para cada parte do filme. Western/Faroeste:Com19filmes,emterceirolugarcom8%dosfilmes exibidosentreosanosde1927at1937sesalientouognerowestern/faroeste.Os filmes de cowboys se tornaram um clssico do cinema americano e pertencem a ele os primeiros filme a introduzirem os Estados Unidos como hegemonia do cinema mundial. Ofilmeescolhidocomorepresentantedos25anunciadosnoJ ornalfoiBomcomo Ouro, este western foi anunciado na jornal O 5 de Abril de vinte e nove de junho de 1928. Figura 6 - Cena do Filme "Come Clean"Figura 7 - Poster do Filme "Good as Gold" Figura 8 Grade de Programao do jornal O 5 de Abril IntercomSociedadeBrasileiradeEstudosInterdisciplinaresdaComunicao XICongressodeCinciasdaComunicaonaRegioSulNovoHamburgoRS17a19demaiode2010 10Com o ttulo original Good as Gold, este clssico do western (no falado) de 1927 demorou um ano chegar at a cidade de Novo Hamburgo e foi dividido em duas partes,nofoipossvelencontrarreferenciasdeduraodofilmeouseelejera dividido originalmente. Aventura:Tambm com 19 filmes, empatado em quarto lugar com 8% dos filmes exibidos entre os anos de 1927 at 1937 houve o gnero aventura. Estesfilmeserammuitoparecidoscomosclssicosdeao,ondeum protagonistadesafiadoporumantagonistaedevederrot-loutilizandoseusdotes fsicos, mas na aventura tambm existe a presena de um personagem feminino, o que acrescenta certo romance na trama. Como representante da categoria foi destacado o filme Tarzan,TheFearless, Tarzan, o destemido, este filme foi feito para ser uma srie e originalmente foi dividido em 12 episdios de vinte minutos cada. A histria sobre um rapaz criado por macacos que luta contra malfeitores que invadem as selvas. Ao:Com 15 filmes, em quarto lugar com 6% dos filmes exibidos entre os anos de 1927 at 1937 se firmou o gnero ao. Estes filmes envolvem um protagonista quedesafiadoporumantagonistaedevederrot-loutilizandoseusdotesfsicos. Como representante da categoria foi destacado o filme O rei das nuvens, este filme j Figura 9 - Poster do Filme "Tarzan, The Fearless"IntercomSociedadeBrasileiradeEstudosInterdisciplinaresdaComunicao XICongressodeCinciasdaComunicaonaRegioSulNovoHamburgoRS17a19demaiode2010 11foifeitoparaserumasrieeoriginalmentefoidivididoem12episdiosdevinte minutos cada, embora no jornal O 5 de Abril de treze de dezembro de 1936, fossem anunciados que o filme seria dividido em apenas 4 partes. Com o ttulo original Tommy Tailspin, este clssico de ao (falado) de 1934 demorou dois anos chegar at a cidade hamburguense e foi inspirado nas aventuras em quadrinhos sobre um jovem piloto.Durante este perodo foram exibidos alguns filmes de fico cientfica, mistrio e outros gneros menos conhecidos, mas optou-se por no mencionar gneros que no foram apresentados mais de duas vezes. Existiram ainda quarenta e quatro, ou seis por cento, dentre os 232 filmes seriados exibidos que no puderam ser classificados quanto ao seu gnero. 4.CONCEITOS DE IDENTIDADE Para analisar a construo das identidades dos novo-hamburguenses a partir da insero do cinema e na sua divulgao no jornal O 5 de abril importante observar como grupos ou comunidades mantm referenciais, que os diferenciam ou aproximam, que os fazem parecer nicos, marcas de um territrio no demarcado, como o Vale do Sinos, que tem como referente o setor coureiro-caladista. Para compreender as foras que atuam na formao de uma identidade, o que ela significa e a evoluo histrica da Figura 11 - Cena do Filme "Tommy Tailspin" Figura 10 Quadro do Histria em Quadrinhos "Tommy Tailspin"IntercomSociedadeBrasileiradeEstudosInterdisciplinaresdaComunicao XICongressodeCinciasdaComunicaonaRegioSulNovoHamburgoRS17a19demaiode2010 12conceituao do termo, buscam-se os esclarecimentos e problematizaes do conceito de identidade em relao ao outro, ou seja, a relao de alteridade. O imaginrio social na construo de representaes que atuam na formao de identidadesumprocessoanalisadoporChartier(1991),queentendehavera necessidade de abandonar velhos paradigmas de uma histria globalizante para buscar entenderassociedadeseosseusfuncionamentosapartirdassuasparticularidades. Segundo Chartier necessrio penetrar nas relaes e tenses da sociedade, numa aoquetemcomopressupostoainexistnciadeprticaouestruturaquenoseja produzida pelas representaes (1991). Para Chartier, a construo das identidades sociais pode se dar de duas formas. De um lado como um resultado do tensionamento das foras que compem a sociedade; de outro como um reflexo da imagem que cada grupo tem de si mesmo e como age neste sentido. Nas palavras do autor: Uma pensa a construo das identidades sociais como resultado sempre de uma relao de fora entre as representaes impostas pelos que detm o poder de classificar e de nomear e a definio, de aceitao ou de resistncia, que cada comunidade produz de si mesma. A outra que considera o recorte social objetivado como a traduo do crdito conferido representao que cada grupo d de si mesmo, logo a sua capacidade defazerreconhecerasuaexistnciaapartirdeumademonstraodeunidade (CHARTIER, 1991, p183). Desta forma, a identidade que cada sociedade tem ou constri de si passa pelo seu entendimento e pela sua prpria aceitao desta identidade, construda por prticas quederivamderepresentaescoletivas.SegundoChartier,asrepresentaestm capacidade de seduzir sem o emprego de fora, so construes que levam construo de uma realidade, pois interfere no imaginrio social.Chartier demonstra que a teia de representaes e seus significados encontra-se em constante construo, e que as representaes recebem influncias de acordo com os interessesdosgruposqueasproduzem,refutandoassimaidiadeneutralidadedos atoressociais.NaspalavrasdeChartier,emboraasrepresentaesdomundosocial aspirem universalidade, so determinadas pelos interesses de grupo que as forjam (CHARTIER, 1991:17). IntercomSociedadeBrasileiradeEstudosInterdisciplinaresdaComunicao XICongressodeCinciasdaComunicaonaRegioSulNovoHamburgoRS17a19demaiode2010 13CONSIDERAES FINAIS Em relao as categorias que elegemos para a essa anlise podemos dizer que os filmes em captulos contriburam para o processo de construo de identidade dos moradores da cidade de Novo Hamburgo. Ocinemaeraumritoprogramado.Hoje,irsalaexibidoratornou-seuma extenso das compras nos shoppings. Antigamente, uma hora antes o cinfilo tomava banho, vestia-se, penteava-se, raspava a barba, calava o sapato e, pronto e arrumado, saia de casa em direo ao cinema. Existia um clima, uma atmosfera, uma comunho. (PUHL; SILVA; STROR. 2008, p.20) LembrandoqueNovoHamburgoeraumacidadecompoucoshabitantes espalhadospelosbairrosdomunicpio,oritoprogramadodeiraocinemaeraum acontecimento cultural que permitia uma integrao entre os moradores da cidade e os filmes em captulos colaboravam com essa prtica. Este fato torna evidente quando se nota o destaque que se dava ao fato de um filme ser seriado. Algumas vezes somente a declarao comdia em cinco partes era anunciada, mas era o suficiente para os moradores saberem que quem assistiu a primeira parte possivelmente assistiria as demais e assim os filmes em captulos acabavam por cumprir um papel de lazer e sociabilidade. Os gneros que eram mais presentes dentre os filmes seriados eram: o drama e a comdia, respectivamente em primeiro e segundo lugar. Estes dados contrariam nossa hiptese que os filmes de ao e histrias de aventura seriam os mais vistos, pois, eram maisleveseatraentesparaestaprticadefilmesemcaptulos.Ashistriasmais complexas eram as preferidas pela sociedade hamburguense, basta citar o drama Nada aconteceu no fronte, vencedor de quatros Oscars e que ainda hoje visto como um granderepresentantedognero.Osfilmesemcaptuloseramtoimportantesparaa prticasocialdosmoradoresdacidadequeatmesmofilmesquenoeram originalmente seriados eram separados em captulos. precisoinformarasdificuldadesemserealizarestapesquisa.Osjornais foramcoletadosnoArquivoMunicipaldeNovoHamburgoeeraprecisodisporde muitotempoparaencontrarefotografarasedies,principalmenteosprimeiros nmeros que j estavam bastante danificados, devido ao desgaste do tempo. IntercomSociedadeBrasileiradeEstudosInterdisciplinaresdaComunicao XICongressodeCinciasdaComunicaonaRegioSulNovoHamburgoRS17a19demaiode2010 14A maior dificuldade, porm, foi separar os filmes por gnero, j que o J ornal O 5 de Abril no possua uma rigidez nas informaes expostas, algumas vezes, s era anunciado o gnero do filme e em quantas partes ele seria dividido. Este tipo de diviso servia aos nossos propsitos de quantificao, mas no nos era possvel verificar se tal filme fora originalmente dividido em forma de seriado ou se isto era uma prtica local. Na maioria dos casos era identificado somente o ttulo do filme em portugus e o nmerodoepisdioqueseriaexibidoeonomedoatorprincipal,semdistinode gnero. Como os registros de filmes dessa poca so bastante raros, no encontramos material que mencionasse estes filmes pelo ttulo em portugus e na maioria das vezes uma simples traduo no bastava, pois os ttulos no apresentavam relao direta com o original.Nestes casos, era realizada uma busca no site IMDB3 e a partir da filmografia do ator eram analisados filmes com em mdia dois anos antes da data de exibio em Novo Hamburgo.Este mtodo no era inteiramente vlido porque muitas vezes no era mencionado o nome de nenhum ator o que dificultou muito o trabalho. O cinema, mais do que meras formas de entretenimento, foram personagens referenciais para estrutura urbana das cidades e para as relaes sociais e culturais de seus habitantes. Se o som foi responsvel pelo importante fato dos moradores de Novo Hamburgo,mesmosendodescendentedealemes,deferiremfilmesgermnicossem falas,emfavordoshollywoodianosfalados,poroutrolado,osfilmesemcaptulos forma responsveis por incentivar a ida dos moradores ao cinema e assim permitir uma grande socializao. O fato de filmes inteiros serem separados em captulos mostra como o pblico aprovava esta socializao semanal. Estes pequenos captulos levavam os moradores s salas de cinema e ao mesmo tempo eram uma pea colaboradora para o processo de formaodaidentidadeculturalparaestesespectadoreshamburguensesque freqentavam as salas de cinema da dcada de trinta. REFERNCIAS BOURDIEU, Pierre. O poder simblico. Lisboa: Bertrand/Difel, 1998. 3 Site: www.imdb.com IntercomSociedadeBrasileiradeEstudosInterdisciplinaresdaComunicao XICongressodeCinciasdaComunicaonaRegioSulNovoHamburgoRS17a19demaiode2010 15TURNER, Graeme. O cinema como prtica social. So Paulo: Summus 1997. AUMONT, J aques e outros. A esttica do filme. So Paulo: Papirus Editora, 2002. BARTHES, Roland. O Obvio e o Obtuso. Rio de J aneiro: Nova Fronteira, 1990. BRESSAN, Renato. Grindhouse: entre o Cult e o B. Minas Gerais: Universidade Federal de J uiz de Fora, Artigo, 2008. KATZ, Ephraim. The International Film Encyclopedia. London: Macmillan, 1979. LUMET, Sidney. Fazendo Filmes. Rio de J aneiro: Artemdia Rocco, 1998. MACIEL, Luiz Carlos. O Poder do Clmax. Rio de J aneiro: Record, 2003. MOURA, Edgar. 50 Anos Luz Cmera e Ao. So Paulo: Senac, 2005. PARAIRE, Philippe. O Cinema de Hollywood. So Paulo: Martins Fontes, 1994. WATTS, Harris. On Camera. So Paulo: Editora Summus, 1990. CHARTIER, Roger. A Histria Cultural entre Prticas e Representaes. Lisboa: Difel, 1990. PEREIRA, J . Cmera, Ao! A fascinante histria do cinema. So Paulo: Edimax, SD. BENET, Vicente J . La Cultura Del Cine:Introduccion a La Historia y La esttica Del Cine. Barcelona: Paidos Iberia, 2004. O mundo como representao. 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