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    LAZER E EDUCAO FSICA:

    TEXTOS DIDTICOS PARA A FORMAODE PROFISSIONAIS DO LAZER

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    Este livro uma pesquisa cientca nanciada pelo Ministrio do Esporte, cuja edio limitada

    de 1.000 exemplares foi produzida com verba do Governo Federal, por intermdio desse Ministrio.

    Presidente da Repblica

    Dilma Rousseff

    Ministro do Esporte

    Aldo Rebelo

    Secretrio Nacional de Esporte, Educao, Lazer e Incluso Social

    Afonso Barbosa

    Diretora de Gesto de Programas de Esporte, Educao, Lazer e Incluso Social

    Gabrielle Beatriz Beir Loureno

    Coordenador-Geral de Sistema de Acompanhamento

    Mrio Dutra Amaral

    ***

    UNIVERSIDADEMETODISTADEPIRACICABA

    Diretor-Geral do IEP e Reitor da Unimep

    Prof. Dr. Clovis Pinto de Castro

    Vice-reitor da UnimepProf. Dr. Gustavo Jacques Dias Alvim

    Coordenadora de Graduao

    Profa. Dra. Theresa Beatriz Figueiredo Santos

    Coordenadora de Pesquisa e Ps-Graduao

    Profa. Dra. Rosana Macher Teodori

    Coordenador de Extenso e Assuntos Comunitrios

    Prof. Dr. Josu Adam Lazier

    Coordenador-Geral dos Cursos de Ps-Graduao Lato Sensu

    Prof. Carlos Alberto Zem

    A coleo Fazer/Lazer publica pesquisas, estudos e trabalhostcnicos fundamentados em teorias, ligados ao fazer prossional,

    no amplo campo abrangido pelas atividades de lazer, entendidocomo manifestao cultural contempornea, que ocorre no chamado

    tempo livre.

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    CINTHIA LOPES DA SILVATATYANE PERNA SILVA

    LAZER E EDUCAO FSICA:

    TEXTOS DIDTICOS PARA A FORMAODE PROFISSIONAIS DO LAZER

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    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Silva, Cinthia Lopes da Lazer e educao fsica: Textos didticos para a formaode profissionais do lazer/Cinthia Lopes da Silva; Tatyane PernaSilva. Campinas, SP: Papirus, 2012. (Coleo Fazer/Lazer)

    Bibliografia.ISBN 978-85-308-0972-0

    1. Animao cultural 2. Educao fsica 3. Educaoprofissional 4. Esportes 5. Formao profissional 6. LazerI. Silva, Tatyane Perna. II. Ttulo. III. Srie.

    12-14433 CDD-790.1

    ndice para catlogo sistemtico:

    1. Formao profssional em lazer 790.1

    Capa:DPG EditoraFoto de capa: Rennato Testa

    Coordenao: Ana Carolina Freitas e Beatriz MarchesiniCopidesque: Julio Cesar Camillo Dias Filho

    Diagramao:DPG EditoraReviso: Ademar Lopes Jr.,

    Daniele Dbora de Souza e Isabel Petronilha Costa

    Conselho Editorial:

    Christianne Luce Gomes UFMGGisele Maria Schwartz Unesp

    Helosa Helena Baldy dos Reis UnicampLeila Mirtes Santos de Magalhes Pinto PUC-Minas

    Lerson Fernando dos Santos Maia Cefet-RNLiana A. Romera Unimep

    Nelson Carvalho Marcellino (Coordenador) UnimepSilvana Vilodre Goellner UFRGS

    Yara Maria Carvalho USP

    DIREITOS RESERVADOS PARA A LNGUA PORTUGUESA: M.R. Cornacchia Livraria e Editora Ltda. Papirus EditoraR. Dr. Gabriel Penteado, 253 CEP 13041-305 Vila Joo JorgeFone/fax: (19) 3272-4500 Campinas So Paulo BrasilE-mail: [email protected] www.papirus.com.br

    Proibida a reproduo total ou parcialda obra de acordo com a lei 9.610/98.Editora afliada Associao Brasileirados Direitos Reprogrficos (ABDR).

    Exceto no caso de citaes, a grafiadeste livro est atualizada segundo oAcordo Ortogrfco da Lngua Portuguesa

    adotado no Brasil a partir de 2009.

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    SUMRIO

    APRESENTAO ........................................................................................................ 7

    PARTE I

    O LAZER E SUAS RELAES COM A EDUCAO FSICA:ELEMENTOS PARA A FORMAO PROFISSIONAL EM LAZER

    INTRODUO ..................................................................................................... 11

    1. FORMAO PROFISSIONAL EM LAZER .......................................................12

    2. LAZER E EDUCAO FSICA .......................................................................... 20

    3. A ANIMAO CULTURAL/SOCIOCULTURAL:SUBSDIOS TERICOS PARA A ATUAO PROFISSIONAL

    NO CAMPO DO LAZER ...................................................................................... 32

    4. PERCURSO METODOLGICO ......................................................................... 40

    5. O CONHECIMENTO SOBRE LAZER DE ESTUDANTESDE EDUCAO FSICA DE UMA INSTITUIO PRIVADADO ESTADO DE SO PAULO ............................................................................ 43

    CONSIDERAES FINAIS ................................................................................54

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................56

    PARTE IITEXTOS DIDTICOS PARA A FORMAO

    DE PROFISSIONAIS DO LAZER

    1. LAZER E CULTURA ............................................................................................ 612. LAZER E ESCOLA ...............................................................................................65

    3. OS CONTEDOS DO LAZER E A ESPECIFICIDADEDA EDUCAO FSICA .....................................................................................68

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    4. LAZER E EDUCAO FSICA .......................................................................... 72

    5. LAZER E ESPORTE .............................................................................................76

    6. O LAZER E A RELAO ENTRE TEORIA E PRTICA ................................. 80

    7. LAZER E ACADEMIA ......................................................................................... 83

    8. LAZER E TRABALHO ........................................................................................ 86

    9. LAZER E QUALIDADE DE VIDA ..................................................................... 89

    10. LAZER E FASES DA VIDA .................................................................................93

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    APRESENTAO

    Este livro tem como propsito a divulgao de textos didticosreferentes ao tema lazer e educao fsica, tendo como pblico-alvo estudantesde educao fsica e prossionais que atuam ou que atuaro no mbito do lazer.

    Os estudantes de educao fsica esto em fase de preparao para aatuao prossional futura e, no mbito do lazer, esses sujeitos podero encontrarampla possibilidade de interveno com base nos contedos fsico-esportivos,elementos da cultura corporal (jogo, dana, ginstica, luta, esporte etc.).

    Historicamente, na rea da educao fsica, tm sido predominantesos conhecimentos provindos das cincias naturais e uma viso biolgica decorpo humano. O acesso dos estudantes de educao fsica ao conhecimentodas cincias humanas , portanto, imprescindvel para que possam construirfundamentos sobre as manifestaes corporais e para que tenham umaao efetiva no mbito do lazer. Compreende-se que, pelo fato de essesconhecimentos no serem predominantes na educao fsica, a leitura de textosclssicos e contemporneos de sociologia, antropologia, losoa, histria no acessvel a tais sujeitos, sendo necessria uma mediao de conhecimentos.Esse o motivo que justica a nalidade deste projeto de divulgao de textosdidticos produzidos acerca do tema lazer e educao fsica.

    Para a construo dos textos, privilegiamos a produo terica deautores brasileiros e portugueses. Compreende-se que, pelo fato de Brasil ePortugal terem em comum a lngua portuguesa, esta pode ser uma possibilidadede aproximao e de construo do dilogo acadmico entre os dois pases.

    Para a elaborao dos textos didticos, realizamos uma primeiraetapa do trabalho (Parte I O lazer e suas relaes com a educao fsica:Elementos para a formao prossional em lazer), composta de pesquisa

    bibliogrca e de campo, em que foi possvel o contato com estudantesde educao fsica de uma instituio privada de ensino superior de SoPaulo. Com base nos dados coletados e nos resultados da pesquisa, zemos

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    a seleo de dez temas para a escrita dos textos: 1) lazer e cultura, 2) lazere escola, 3) os contedos do lazer e a especicidade da educao fsica, 4)lazer e educao fsica, 5) lazer e esporte, 6) o lazer e a relao entre teoria

    e prtica, 7) lazer e academia, 8) lazer e trabalho, 9) lazer e qualidade devida, 10) lazer e fases da vida.

    A segunda etapa do trabalho (Parte II Textos didticos para a formaode prossionais do lazer) composta pelos textos didticos propriamenteditos. Para a elaborao destes, realizamos um levantamento bibliogrco deautores brasileiros (Nelson C. Marcellino, Gisele M. Schwartz, Giovani deL. Pires, Helder F. Isayama, Christianne L. Gomes, Jos Vicente de Andrade,

    Yara Carvalho, Fabiana F. Freitas, Wagner Wey Moreira, Selene C. Herculano,Mauro Betti, Lenea Gaelzer, Elisngela A.M. Fraga, Cinthia Lopes da Silva,Jos Guilherme Magnani, Carmen Cinira de Macedo), portugueses (ManuelaHasse, Ana L. Pereira, Armanda Pinto da Mota Matos, Beatriz Pereira, Carlos

    Neto, Rosa Maria Lopes Martins) e de uma autora brasileira que desenvolveupesquisa em Portugal (Kenia Luiza Ferreira Rocha).

    O levantamento bibliogrco foi realizado na biblioteca da Unimep,

    no Google Acadmico e em bibliotecas de instituies de ensino portuguesascomo a Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Tcnicade Lisboa, a Universidade do Porto e a Faculdade de Cincias Sociais eHumanas da Universidade Nova de Lisboa.

    Agradecemos a colaborao da professora doutora Manuela Hasse,da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Tcnica de Lisboa(Portugal), na elaborao do projeto referente a esta pesquisa, dando-nosa oportunidade de iniciar o dilogo entre autores do Brasil e de Portugal,estudiosos do lazer e da educao fsica.

    Espera-se que este trabalho possa ser um contributo aos cursos deeducao fsica e de lazer do pas, sendo um auxlio para os professoresformadores de prossionais que vo atuar no campo do lazer, assim como

    para as polticas pblicas de esporte e lazer, sobretudo no processo deformao de prossionais.

    Desejamos a todos uma boa leitura.

    Cinthia Lopes da Silva

    Tatyane Perna Silva

    Piracicaba, primavera de 2012.

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    PARTEI

    O LAZER E SUAS RELAES COM A EDUCAO FSICA:ELEMENTOS PARA A FORMAO PROFISSIONAL EM LAZER

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    INTRODUO

    A primeira parte deste livro compreende um apontamento sobre lazere suas relaes com a educao fsica, abrangendo a questo da formao

    prossional em lazer e suas problemticas, bem como o conhecimento que construdo sobre ele na formao em educao fsica.

    A utilizao crescente da palavra lazer pelos vrios setores dasociedade gerou uma maior preocupao com o assunto por parte dapopulao em geral, e, tambm, no mbito poltico e de mercado.

    Podemos perceber que o lazer vendido a todo o momento; apalavra est associada a clubes, revistas, jornais, programas televisivos, lojase at mesmo moradias nas ditas reas de lazer de um prdio ou condomnio.Porm, o lazer, por mais novo que possa parecer, j faz parte do vocabulrio

    tcnico e cientco h muito tempo, a novidade seria, ento, o uso desse termoem nvel de senso comum; e com base nessa informao que propomos odesenvolvimento de um conhecimento sistematizado sobre lazer.

    O lazer, visto somente como um momento de descanso e divertimento,perde sua principal caracterstica de proporcionar desenvolvimento pessoal esocial, possibilitando um contato face a face, que, nos dias de hoje, est sendosubstitudo pelo virtual. Dessa forma, torna-se essencial que os prossionais do

    lazer estejam preparados para atuar em nossa sociedade da maneira como elase encontra hoje e que estejam munidos de conhecimentos para que possam teruma atuao efetiva com a populao, a m de possibilitar variadas vivnciasde lazer, bem como incentivar a prtica de um lazer crtico e criativo.

    Pensando nesse quadro de atuao, este trabalho tem o objetivo deinvestigar o que os acadmicos de educao fsica entendem como lazer esuas relaes com a prtica prossional em sua rea.

    Para alcanar nosso objetivo, o texto foi dividido em tpicos. Assim,primeiramente foi realizada a reviso bibliogrca, contemplando os temas a seremestudados, seguida da metodologia. Em um terceiro momento temos a anlisedas entrevistas realizadas, e, por m, algumas consideraes acerca do trabalho.

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    1FORMAO PROFISSIONAL EM LAZER

    O lazer, sendo um direito do cidado pela Constituio de 1988, requeraes no mbito das polticas pblicas para a disseminao de atividades queenfoquem os vrios contedos culturais. Sendo assim, Marcellino (2007)

    arma que um dos aspectos fundamentais em polticas pblicas nessa readiz respeito formao e ao desenvolvimento de pessoal.

    O autor ainda examina as origens do prossional que atua na rea,com base na diferenciao entre lazer e trabalho, observando as maisvariadas denominaes para esse prossional, tais como: chefes de prazer,consultores de lazer, recreacionistas, monitores, animadores, entreoutros. Essas denominaes acabam insinuando uma viso restrita e limitada

    da abrangncia do lazer.O processo de formao de prossionais fundamental para uma

    mudana de fato na viso do senso comum acerca do lazer. Os envolvidosno processo de estudo e formao nessa rea sofrem alguns preconceitos,inclusive no meio acadmico quando o lazer enfocado. No setor pblico isso observado quando a questo do lazer envolve liberao de recursos (ibidem).

    A abrangncia do lazer um ponto relevante nos escritos deMarcellino. uma questo que merece destaque, pelo fato de seuentendimento, na maioria das vezes, ser supercial, parcial e limitado;constatamos isso tanto em aes dos rgos pblicos, quanto na legislaoe tambm na pesquisa. Alm disso, necessrio que o prossional tenhaconscincia dessa abrangncia do lazer, sendo fundamental que se trabalhecom equipes multiprossionais, buscando a interdisciplinaridade, mostrandoque o trabalho integrado um elemento facilitador da ao (ibidem).

    Assim, necessrio que a atuao do prossional de lazer no estejaalienada dos problemas que permeiam essa rea especca, pelo contrrio,deve considerar em sua prtica os fatores limitantes da participao em

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    momentos de lazer que sejam signicativos, e procurar amenizar essaslimitaes. Com isso, o prossional contribui para a disseminao de umaideia de lazer no excludente, demonstrando que so possveis aes que

    venam as barreiras sociais e culturais que restringem a prtica de um lazercrtico e criativo a uma elite (Marcellino 2003).

    Isayama (2010) afirma que a reflexo sobre a formao deprossionais do lazer deve ser feita com base na viso de que este um campomultidisciplinar, no qual se podem concretizar propostas interdisciplinares,

    por meio da participao de indivduos com diferentes formaes. Ressaltasuas consideraes dizendo que o maior desao na questo da formao

    prossional est centrado no fato de:

    (...) agregar esforos para formar prossionais capazes de construircoletivamente aes terico-prticas sobre o lazer que sejamsignicativas, a m de no mascarar ou atenuar os problemas sociaisdos sujeitos envolvidos. (Ibidem, p.12)

    Estamos vivendo um momento em que o lazer, em sua visofuncionalista/assistencialista, privilegia as propostas que envolvem asatividades fsicas e esportivas em detrimento de outras prticas culturaisque podem ser vividas no mbito do lazer (ibidem).

    Tendo em vista esse quadro em que nos encontramos, a discusso deuma formao prossional no mbito do lazer merece destaque e incentivos

    por parte de todos os envolvidos nesse processo, desde o prossional quej atua e que deve procurar sempre uma formao continuada, passandopelos futuros prossionais, at os seus formadores, que devem estar aptosa auxiliar no processo de formao humana.

    Werneck (1998, p. 2) apresenta um ponto a ser considerado naquesto da formao do prossional da rea, em que para alguns h maioreschances para a vivncia desse contedo e para outros o lazer , de certaforma, limitado e ofuscado por um desejo interminvel por trabalho,devido, principalmente, sua condio social na vida moderna, onde no

    h oportunidades dignas e nem emprego para todos.

    Essas observaes, pontuadas pela autora, s acentuam a necessidadede uma formao de qualidade e a importncia da produo acadmica

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    sobre o tema. Isayama (2010) critica a ideia que se tem de que o prossionalde lazer nasce pronto, que no necessita de uma aprendizagem tcnica,cientca e pedaggica. Essa viso vincula o lazer apenas recreao na qual

    o recreador tem o objetivo nico de aprender atividades para aplicar como pblico, o fazer por fazer, tendo como base os manuais de atividades.

    Frana (2010, p. 107) destaca a importncia do conhecimento/saberdo prossional de lazer:

    O saber orienta a viso de mundo extrada de realidades concretas quedescrevem os cenrios polticos e socioeducativos das experinciasformativas, curriculares, disciplinares, mas, sobretudo, culturais daexperincia vivida pelo prossional, o que signica socializar pensamentosque distinguem e unem descobertas do lazer por meio de prticas livres,crticas, autocriativas, criadoras e culturais; signica propor ideias de cunhorevolucionrio nas quais os sujeitos, atores do seu que fazer, elaboram,sistematizam e recriam prticas nas mais diferentes formas.

    De posse desse conhecimento, o prossional deve se considerarapto a se comportar como um mediador entre a populao e o lazer,

    proporcionando o conhecimento acerca de espaos, atividades e contedosdo lazer, para que assim os sujeitos tenham possibilidade de escolha.

    Frana (ibidem, p. 110) ressalta ainda que o prossional do lazerno apenas um transmissor de conhecimento, mas um prossional quetem o potencial de se apropriar de um saber reexivo, afastando-se dadesvalorizao da sua ao, podendo criar novos saberes.

    Portanto, o processo de formao de prossionais fundamental parauma mudana de fato na viso do senso comum acerca do lazer.

    preciso, ainda, buscar minimizar o entendimento restrito sobre o lazere sobre a formao prossional no campo, que deve ultrapassar a merainformao e o simples desenvolvimento de contedos e tcnicas. Dessaforma, a ao prossional com a diversidade de grupos pode ampliaros intercmbios de experincias culturais, objetivando uma efetiva

    participao dos sujeitos. (Isayama 2010, p. 23)

    Werneck (1998, p. 2) destaca, ainda, um empecilho para a vivnciado lazer pela sociedade:

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    Se o acesso ao trabalho e educao em nosso meio ainda se encontrademasiadamente restrito, o acesso ao lazer desenvolvido numa perspectivacrtica e criativa ca muito mais limitado ainda, principalmente por serconsiderado como algo ainda supruo e dispensvel para muitas pessoasque no tm como obter nem mesmo patamares mnimos de dignidade,na incansvel luta pela prpria sobrevivncia.

    Prossionais atuantes no campo do lazer enfrentam outro problemaapontado por Werneck (ibidem): os cursos e as ocinas de treinamento emlazer. A autora reconhece que esses cursos geralmente abrangem apenas osaspectos tcnico-metodolgicos da rea, o que incentiva o consumo acrtico

    das atividades recreativas. O que agrava ainda mais a situao o fato deque h uma predominncia de professores de educao fsica como docentesdesses cursos de modo que acabam sendo predominantes tpicos que serestringem a jogos e brincadeiras de recreao.

    Marcellino (2007) discute a formao prossional considerando agrade curricular dos cursos de educao fsica, na qual o enfoque dado aolazer reducionista, sendo esse um dos grandes problemas a ser enfrentado.

    Essa concepo contribui para que os sujeitos aceitem passivamente a visode lazer transmitida pela mdia, em que o lazer e as atividades possveisnesse tempo so reduzidos ao contedo fsico-esportivo, principalmente.

    A mdia tambm colabora para que o prossional de lazer seja vistosempre como o prossional da rea de educao fsica, pois esta relacionao lazer apenas com qualidade de vida e bem-estar, esquecendo-se de suasmltiplas possibilidades e da questo abrangente do lazer, que se caracteriza

    como uma rea multidisciplinar.Isayama (2002), tambm analisando os currculos, encontra um decit

    na discusso dos conhecimentos sobre lazer. Esse quadro exige uma novaformulao das propostas curriculares para que possa haver uma discussode qualidade sobre o tema dentro dos cursos de formao de prossionais.

    Werneck (1998), que tambm discute a questo curricular, focando suadiscusso na relao prtica e teoria e considerando a proposta pedaggica

    dos cursos tradicionais de recreao e lazer, aponta existir um predominanteprocesso de reproduo cultural, em que ocorre a prtica pela prtica.

    Uma formao adequada permite que o prossional seja crtico emsua viso de sociedade, podendo transmitir seus conhecimentos aos demais

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    sujeitos a m de que estes sejam capazes de vivenciar e experimentar o lazer,incorporar as prticas deste em seu dia a dia, colaborando, assim, para quea sociedade tome conscincia de sua importncia.

    Ferreira (2011) efetuou um estudo analisando qualitativa equantitativamente as produes acadmicas relacionadas formao prossional

    para atuao em lazer, realizadas no perodo de 2005 a 2009. A autora teve ointuito de vericar as discusses a respeito da questo da formao prossionalno lazer, das vises de lazer defendidas e de quais so as expectativas quanto atuao do prossional nesse campo, selecionando oito produes paraserem analisadas. Ela destaca que a maior parte das produes se encontra na

    regio Sudeste. Conclui que, de modo geral, (...) as pesquisas apontam paraa necessidade de uma formao prossional adequada, ou seja, especca atuao no lazer, seja em que instituio de ensino, pblica ou particular, o

    prossional esteja engajado. Destaca tambm alguns apontamentos feitos natentativa de reverter o quadro de atuao em lazer, tais como propostas para

    polticas pblicas de formao prossional e propostas metodolgicas para amediao na formao dos prossionais (...) (ibidem, p. 89).

    Ferreira (ibidem) analisa a formao prossional que vem sendoobservada nos ltimos anos, na qual a competncia confundida combom humor, simpatia. bvio que essas so qualidades fundamentais

    para o prossional que atua com lazer, pelo fato de trabalhar diretamentecom o pblico, porm s isso no basta. Faz-se necessria uma formao

    prossional (...) na tentativa de rever a postura e aes do trabalhador darea, de maneira que o lazer possa vir a ser, de fato, uma vivncia ldica

    dos diversos contedos culturais (...) (ibidem, p. 34), possibilitando, almdo divertimento, o desenvolvimento pessoal e social.

    Nesse mesmo sentido, Marcellino (2010, p. 62) arma:

    Desconhecendo a teoria do lazer, o prossional de educao fsica queatua nessa rea, alm de confundir a prtica do lazer com a prtica

    prossional que o lazer requer, no estabelece uma prtica, mas sim umtaresmo. Isso pode ser vericado nas aulas de graduao de muitos

    cursos superiores e nos manuais de recreao e lazer.

    Alm disso, para uma formao prossional de qualidade, devemosconsiderar que o futuro prossional tem uma bagagem de experincias e

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    conhecimentos; nesse caso o senso comum no deve ser descartado, massim ser visto como parte fundamental no processo de formao.

    ****

    A formao prossional em educao fsica para atuao no mbitodo lazer deve ser vista como um espao privilegiado para o encontro eo confronto de conhecimentos entre o senso comum e o conhecimentosistematizado, visando formao de um prossional reexivo e criativo.

    O senso comum o conhecimento inicial que os sujeitos possuem.Geertz (2001) considera esse tipo de conhecimento uma forma de expresso

    cultural, sendo a base para a construo cultural. O senso comum abrangeum territrio gigantesco de coisas que so consideradas como certas einegveis (ibidem, p. 114). Sendo assim:

    Quando dizemos que algum demonstrou ter bom senso, queremosexpressar algo mais que o simples fato de que essa pessoa tem olhose ouvidos; o que estamos armando que ela manteve seus olhos eouvidos bem abertos e utilizou ambos ou pelo menos tentou utiliz-los com critrio, inteligncia, discernimento e reexo prvia (...).

    Quando, por outro lado, dizemos que a algum lhe falta bom senso, noqueremos dizer que este algum retardado, (...) mas sim que o tipode pessoa que consegue complicar ainda mais os problemas cotidianos(...). (Ibidem, p. 115)

    O autor considera o senso comum umprimeiro subrbio de conhecimento,um dos subrbios mais antigos da cultura humana, e arma que o senso comummostra muito claramente o impulso que serve de base para a construo dos

    subrbios: um desejo de tornar o mundo diferente (ibidem, p. 118).

    O senso comum caracterizado por ser um conhecimento empricoe incompleto, passado de uma gerao a outra, sendo a tradio sua forasimblica; nas palavras de Geertz (ibidem, p. 127), o bom senso uma formade explicar os fatos da vida, e o autor completa dizendo que o bom senso tema pretenso de ir alm da iluso para chegar verdade, ou como costumamosdizer, chegar s coisas como elas realmenteso (ibidem, p. 128).

    bem verdade tambm que o conceito, o contedo e o entendimentodo bom senso variam de um lugar para outro. Geertz (ibidem, p. 128) chega concluso de que s possvel caracterizar o bom senso isolando o que

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    poderia ser chamado de seus elementos estilsticos, as marcas da atitude quelhe d seu cunho especco. Porm, levanta a questo de como formular aespecicidade desses elementos estilsticos, pois a diculdade est no fato de

    no haver um vocabulrio j elaborado com o qual possa express-lo. A soluoencontrada pelo autor foi expandir o signicado de termos j conhecidos, oque o leva a atribuir cinco propriedades ao senso comum: naturalidade,praticabilidade, leveza, no metodicidade e acessibilidade, chamando-as de quase qualidades. A naturalidade seria a qualidade mais essencial,apresentando temas tais como o que so, porque essa a natureza das coisas,sendo os fatos e acontecimentos vistos como naturais.

    O lazer em sua naturalidade seria o descanso, o divertimento, o qued prazer, ou seja, o entendimento que as pessoas possuem de suas prpriasexperincias de lazer.

    A segunda propriedade, a praticabilidade, tratada no sentido desagacidade, por exemplo quando dizemos que um indivduo, uma ao,ou um projeto demonstram falta de bom senso, o que queremos realmentedizer que no so prticos (ibidem, p. 132). O autor ainda ressalta que

    no se trata de praticabilidade no sentido de utilidade, mas sim em umsentido mais amplo, o que se pode chamar de sagacidade.

    Quando aconselhamos algum a ser sensato, nossa inteno no tantodizer que ele deve se tornar um utilitrio, mas sim que ele deve ser maisvivo: mais prudente, mais equilibrado, no perder a bola de vista, nocomprar gato por lebre (...). (Ibidem)

    A leveza seria a terceira quase qualidade apontada por Geertz (ibidem,p. 135), que seria, em suas palavras, a vocao que o bom senso tem paraver e apresentar este ou aquele assunto como se fossem exatamente o que

    parecem ser, nem mais nem menos. Podemos entender a leveza, ento, comoa simplicidade dos fatos.

    A no metodicidade caracterizada por uma falta de sistematizaodo conhecimento, na qual ocorre uma mistura de conceitos e saberes

    discrepantes; essa sabedoria vem em forma de epigramas, provrbios, piadas,relatos; e no em doutrinas formais, teorias ou dogmas (ibidem).

    Nesse caso, o entendimento do lazer pelo senso comum aproxima-se daquesto do descanso e do divertimento, caracterizando um conhecimento no

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    sistematizado. Dessa forma, a formao em lazer deve proporcionar um debateentre esse conhecimento do senso comum e o conhecimento sistematizado.

    A ltima propriedade seria a acessibilidade, surgindo como umaconsequncia lgica das outras. Assim, acessibilidade :

    (...) simplesmente a presuno, na verdade a insistncia, de que qualquerpessoa, com suas faculdades razoavelmente intactas, pode captar asconcluses do bom senso, e, se estas forem apresentadas de uma maneirasucientemente verossmil, at mesmo adot-las. (Ibidem, p. 138)

    O autor ainda completa sua fala dizendo que para este saber no existe

    conhecimento esotrico, nem tcnicas especiais ou talentos especcos, a noser aquilo que chamado de experincia, maturidade. Assim, o senso comum uma forma de expresso cultural, sendo ele o conhecimento inicial dos sujeitos.

    Nesse sentido, compreendemos como fundamental, com base nosestudos de Rodrigues Jnior e Lopes da Silva (2008), que o professor, doensino bsico ao superior, realize uma mediao de sentidos com seus alunos,a m de identicar o que seus sujeitos conhecem e confrontar o senso comum

    a partir do conhecimento sistematizado.

    dessa forma que entendemos a formao prossional em lazer,segundo a qual os estudantes chegam ao ensino superior com um conhecimento

    prvio, com uma ideia do que seja o lazer, vinda de suas prprias experincias.Assim, o formador desses futuros/possveis prossionais do lazer deveconsiderar essas experincias pessoais de seus alunos, incorporando-as em suasaulas para que seja possvel uma mediao de conhecimentos, de modo que os

    prossionais tenham acesso ao conhecimento sistematizado acerca do lazer.

    Neste captulo, enfatizamos o conhecimento sobre lazer abordado noscursos de educao fsica. Para isso, procuramos compreender como se d arelao lazer/educao fsica a partir da histria desses dois componentes.

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    Historicamente, na sociedade europeia, as preocupaes relacionadasao exerccio fsico, que vo dar origem educao fsica no sculo XVIII,com John Locke e Jean-Jacques Rousseau, comeam, na verdade, muito

    antes, com o movimento humanista, entre educadores italianos e Montaigne.Apesar disso, nota-se que, tanto na Europa como no Brasil, a viso provindados conhecimentos das cincias naturais tem sido predominante na rea daeducao fsica.

    A implicao disso a compreenso do papel social dos prossionaisdessa rea destinado prescrio de um conjunto de atividades que

    promovam o aprimoramento da parte fsica do ser humano, na busca por

    um corpo produtivo, forte, saudvel. O problema dessa viso atenderao funcionamento do sistema social, aos valores que predominam nassociedades capitalistas como a competio, o individualismo, a concorrncia.Alm disso, uma viso que contribui para a restrio do acesso dosdiferentes sujeitos aos elementos da cultura corporal (jogo, esporte, luta,dana, ginstica), uma vez que somente aqueles que tiverem mais facilidadede realizar as atividades que tero oportunidade de vivenciar e ter acesso

    a tais conhecimentos (Daolio 2003).No Brasil, a histria da educao fsica e a do lazer caminham juntas;

    no por acaso que o prossional de educao fsica foi considerado o maisapto a atuar no campo do lazer. Em uma poca de mudana social, em meioao processo de construo das grandes cidades, o lazer era o discurso deregenerao do homem da vida urbana.

    Em uma das primeiras publicaes sobre o tema lazer, de autoria

    de Lenea Gaelzer, destaca-se a nfase do tempo livre como forma derecuperao das foras fsicas, psquicas e espirituais. Para Gaelzer (1985),era necessrio um processo de educao para o tempo livre, acreditava-seque esse era o meio pelo qual o indivduo se conscientizaria do valor das

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    atividades criadoras que (...) no s estabelecem a sua sade integral comopodem constituir-se em uma promoo cultural no sentido de saber mais(ibidem, p. 30).

    Esse discurso focado na sade e na educao da populao tambmpresente na histria do lazer de outros pases, como Portugal. Em meioao processo de urbanizao da cidade, da mudana de sensibilidades nossujeitos, da vida dividida pelo tempo do trabalho, o lazer era o tempodisponvel em busca por uma vida saudvel. Em Hasse (1999), podemosidenticar uma narrativa de como era a vida em Oeiras, regio prxima dacidade de Lisboa. na natureza, na praia e no mar que os sujeitos, orientados

    pelo discurso mdico, buscavam um estado de equilbrio caracterstico dasade, na crena de que o banho de mar era fonte de regenerao do desgastevivido na cidade.

    As preocupaes com os momentos de lazer e sua importnciacresceram aps a Revoluo Industrial, momento em que a sociedade passaa ser chamada de sociedade industrial e os pensadores do sculo XIXcomeam a dar mais nfase a essa questo em suas produes. A Europa

    vem se preocupando com a questo do lazer muito antes do Brasil; aqui oincio se deu a partir da urbanizao das cidades (Marcellino 2002).

    No Brasil, as primeiras iniciativas de sistematizao do conhecimentosobre lazer no surgem das necessidades comunitrias ou associativas, masde uma instituio (Servio Social do Comrcio Sesc) que tinha comonalidade contribuir com o bem-estar e a paz social (Marcellino et al.2007).Sem desmerecer o fato de o Sesc se propor a sistematizar o conhecimento

    relacionado ao lazer, fundamental compreender que essa inuncia decarter assistencialista e funcionalista e, segundo Marcellino et al.(ibidem),tem contribudo para uma compreenso restrita ideia de atividade e s

    possibilidades prticas proporcionadas por ela. O problema que se coloca que o lazer passa a ser compreendido como mera ocupao, incentivando ossujeitos ao consumo passivo dos bens culturais, cando para segundo planoo papel pedaggico da animao, de interveno na cultura.

    Nesse mesmo sentido, Brunhs (1997) observa que o lazer, naperspectiva funcionalista, considerado o tempo de recuperao da fora detrabalho, um tempo de compensao ou um espao para se trabalhar com osdesvios das normas sociais, atendendo s necessidades do sistema vigente.

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    Marcellino (2007) defende que o lazer deve ser considerado emsua especicidade concreta, e no apenas em sua especicidade abstrata,com esta ltima atendendo s concepes funcionalistas, sem levar em

    conta o lazer em um contexto amplo. J para considerarmos o lazer em suaespecicidade concreta, devemos:

    (...) levar em conta o seu entendimento amplo em termos de contedo,as atitudes que o envolve, os valores que propicia, a considerao dosseus aspectos educativos, as suas possibilidades como instrumentode mobilizao e participao cultural, e as barreiras socioculturaisvericadas para efetivo exerccio, tanto intraclasses como interclasses

    sociais. (Marcellino 2007, p. 13)

    Dessa forma, entendemos o lazer na concepo de Marcellino (1990,p. 31), que o dene:

    (...) como a cultura compreendida no seu sentido mais amplo vivenciada (praticada ou fruda) no tempo disponvel. O importante,como trao denidor, o carter desinteressado desta vivncia. Nose busca, pelo menos fundamentalmente, outra recompensa alm dasatisfao provocada pela situao.

    Devemos reconhecer as possibilidades que o lazer oferece para umdesenvolvimento social e pessoal, possibilitando contatos, e no somentelevar em conta o divertimento e o descanso proporcionados nesses momentos.Assim, defendendo uma participao mais efetiva nesse campo, devem-seoferecer informaes especcas para que ocorra o exerccio crtico e criativo

    do lazer (Marcellino 2011). preciso estimular a populao a participar de atividades de lazer.

    Para isso necessrio um mnimo de orientao que permita a opo porqual seja a atividade. Assim, vlido fazer a distino das reas abrangidas

    pelo contedo do lazer (Marcellino 2007). Com base nos autores Camargoe Dumazedier, Marcellino (2007) aponta seis reas fundamentais do lazer:os interesses artsticos, os intelectuais, os fsicos, os manuais, os sociais e

    os tursticos.Os interesses artsticos abrangem as manifestaes artsticas, em que

    o imaginrio possui contedo esttico e congura a beleza do encantamento.Nos interesses intelectuais, busca-se o contato com o real, dando nfase

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    ao conhecimento vivido e experimentado. Como exemplo pode-se citar aparticipao em cursos e leitura. Os interesses fsico-esportivos abrangemas prticas esportivas, os passeios, a pesca, a ginstica e todas as atividades

    em que prevalece o movimento. Os interesses manuais so delimitadospela habilidade de manipulao, neles esto includas atividades comoartesanato, jardinagem, cuidado com animais, entre outras. J os interessessociais possuem uma inclinao para o relacionamento, o contato face aface, por exemplo, os bailes, bares, que servem de pontos de encontro.Finalmente, os interesses tursticos so caracterizados pela busca da quebrada rotina temporal ou espacial e o contato com novas situaes, culturas;

    como exemplo temos os passeios e as viagens (Marcellino 2007, pp. 14-15).Schwartz (2003) defende a insero de um stimo contedo cultural

    do lazer, o virtual. A autora aponta algumas caractersticas desse contedo,como a questo das variadas opes oferecidas, o encurtamento da relaotempo-espao, a possibilidade de acesso s informaes, de sua livre escolhae seleo, com objetivos pessoais. Complementa seu pensamento dizendo que:

    As caractersticas da comunicao em rede so especialmente baseadasna relao quantidade de informao-tempo-espao (...). Isto afetasensivelmente as concepes sobre os outros contedos culturais,levando-se em conta que em nenhum deles, esta dimensionalidadee esse carter descentralizador e, ao mesmo tempo, aglutinador, soencontrados, justificando, novamente, a necessidade de um olharespecco a este interesse cultural do lazer. (Schwartz 2003, p. 28)

    Em outros estudos da autora ca evidenciada a ampliao do papel

    educativo do lazer para alm da escola formal, com possibilidade dedesenvolvimento pessoal e social, alm do favorecimento de um espaode disseminao dos contedos educacionais do lazer. Finalizando seu

    pensamento, a autora arma que o contedo virtual no deve ser vistocomo uma roupagem para os outros contedos, mas sim (...) como umelemento do tempo presente, com linguagem prpria, (...) onde a pessoa

    pode usufruir de novas dinmicas de acesso cultural (...) (ibidem, p. 29).

    No entanto, consideramos tambm a possibilidade de se pensar o virtualcomo um espao em que possvel os sujeitos terem acesso a todos oscontedos do lazer mencionados acima. Fraga e Lopes da Silva (2010, p. 18)discutem esta questo do virtual como espao ou como contedo de lazer e

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    entendem que as inuncias do mundo virtual no dia a dia das pessoas so(...) transformaes que visam dar para a sociedade maior liberdade deexpresso e vivncia nos variados contedos do lazer, onde se tem com a

    internetum espao que vem crescendo constantemente no que diz respeitoas [sic] atividades de lazer.

    Tendo isso em vista, seria ideal que os sujeitos praticassem atividadesque abrangessem os vrios grupos de interesse, porm o que se verica arestrio desses a um s campo, muitas vezes pela falta de conhecimento eoportunidade de prtica.

    Entendemos que tanto a prtica quanto o consumo podem serconsiderados ativos ou passivos, podendo ser classicados em trs nveisde participao: elementar, em que predomina o conformismo; mdio,

    predominando a criticidade; e o superior, em que predomina a criatividade.Sendo assim, entendemos passividade de acordo com Marcellino (2002),que, apoiado em Dumazedier, nos esclarece que a atividade em si no

    passiva nem ativa, essa determinao depende dos nveis de participaodos indivduos nessas atividades ou dos bens culturais.

    Sobre a questo de passividade, Bruhns (1997) arma que o lazer,como expresso da cultura, pode-se constituir num elemento de conformismoou de resistncia ordem social. Assim, no se pode generalizar e armarque a participao dos indivduos em atividades de lazer sempre passiva.

    Um problema que enfrentamos o fato de o lazer ter sido transformadoem produto a ser consumido, deixando de ser encarado como um direitoda sociedade, garantido por lei. A mdia, em especial, contribui para que

    isso acontea, veiculando, muitas vezes, contedos vazios, que no agregamvalores sociedade, cando assim no nvel elementar. Porm, no se podenegar a importncia dos meios de comunicao de massa na difuso dasatividades de lazer; o que deve ser questionado o baixo nvel dessas

    programaes (Marcellino 2002).

    (...) importante reconhecer que o valor cultural de uma atividade estligado, fundamentalmente, ao nvel alcanado, seja na sua prtica, sejano consumo. (...) Entretanto importante salientar que a simples prticano signica participao, assim como nem todo consumo correspondenecessariamente passividade. (Ibidem, p. 22)

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    Sendo assim, devemos buscar uma qualidade em nosso tempodisponvel, tentando sempre nos aproximar dos nveis mdio e superior.

    Alm disso, devemos considerar algumas barreiras apontadaspor Marcellino (2006), como, por exemplo, o fator econmico, que determinante na distribuio do tempo livre disponvel, bem como asoportunidades de acesso escola e ao lazer. As barreiras provenientes dasituao econmica so as chamadas barreiras interclasses sociais. Existemtambm as barreias intraclasses sociais que tambm restringem a prtica dasatividades de lazer, entre elas podemos citar o sexo, a faixa etria, o gnero.Pode-se tambm citar a violncia crescente nos centros urbanos como um

    fator favorvel limitao das escolhas das atividades de lazer, assim comoa qualidade e a frequncia.

    necessrio vericar como os cidados tm acesso ao lazer e quepossibilidades tm nele, j que o alcance desse direito favorecido nascamadas mais privilegiadas da populao, impedindo que as camadaseconmicas de baixa renda tenham as mesmas oportunidades (Bruhns1997). A autora verica uma diferena na questo de possibilidades de lazer,

    por exemplo, quanto ao nvel de instruo, em que ocorre uma diferenade oportunidade entre as diferentes classes sociais; quanto faixa etria,encontra limitaes tanto para as crianas como para os idosos; referindo-se s frias, explica que nem sempre as crianas sabem o signicado desta

    palavra, pois quando elas esto nesse perodo, muitas vezes os pais no estoem frias ou no as tm. Analisa tambm o caso do gnero, as mulheressofreram ao longo do tempo uma defasagem relativa ao sexo masculino

    no que diz respeito ao acesso educao (ibidem, p. 36).Marcellino (2003, p. 50) destaca ainda que:

    Colocadas dentro de uma hierarquia de necessidades as atividades delazer passam a ser encaradas como bens de luxo, cando restritas scamadas economicamente superiores (...). Isso no signica que o lazerda classe abastada seja efetivamente rico, no sentido de contribuir paraa humanizao do homem (...).

    E, levando em conta as consideraes de H. Lefebvre, o autor assume que,em se tratando do lazer, as classes mais altas tm mais privilgios em questo detempo disponvel, disposio e condies para o uso desse tempo. Elas

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    (...) tm acesso amplo e fcil educao, o que torna seus componentesmenos vulnerveis o que no quer dizer imunes ao conformismo,dando-lhes maiores possibilidades, a bem da verdade nem sempreaproveitadas, de prticas crticas e criativas. (Marcellino 2003, p. 50)

    Sendo assim, no se pode generalizar e armar que, pelo fato deum sujeito, ou grupo, pertencer a uma classe mais privilegiada, seu lazerser sempre de qualidade e realizado nos nveis crtico e criativo. Essaquesto depende tanto de oportunidades e possibilidades de lazer quantodo prossional que orienta esses sujeitos.

    Bruhns (1997) tambm contempla essa discusso, dizendo queencontramos teorias concebendo o lazer como no prioritrio para ascamadas mais pobres da populao, nas quais o argumento principal ano existncia das necessidades bsicas supridas. Nessa viso, o lazer no considerado uma necessidade humana, e sim como um privilgio das classesmais abastadas, atendendo viso funcionalista de lazer.

    Gomes (2008, p. 73), considerando a fase em que a nossa sociedadese encontra, na qual as pessoas dispem de mais tempo livre, o qual podeser destinado ao lazer, depara-se com uma encruzilhada, pois enquanto paraalguns esse novo estilo de vida signica maiores chances para a ocorrnciado lazer, para outros ele , de certa forma, limitado e ofuscado por um desejointerminvel por trabalho (...). O pensamento da autora nos remete a questo

    j abordada de um lazer no prioritrio, segundo a qual as pessoas, devido asua condio social, trabalham mesmo em seu tempo disponvel, buscandocondies de vida mais dignas.

    Essa condio do lazer ca ainda mais evidenciada quando pensamos nelecomo mercadoria, que ocupa hoje uma rea que vem atraindo investimentos,consolidando-o como um produto ao qual nem todos podem ter acesso.

    O lazer como direito tem uma trajetria de mudanas signicativas.Foi nos anos 1930 e 1940 que, pela primeira vez, se falou em um tempo deno trabalho. Nas dcadas de 1960 e 1970 abre-se espao para a organizaode sistemas pblicos na rea de bens e servios sociais bsicos, como, por

    exemplo, a criao de campanhas para a realizao deRuas de Recreio, maistarde chamadas deRuas de Lazer. Porm, essa estrutura no reconhece que oser social possui necessidades e oportunidades diferentes, j que as polticas

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    de lazer eram aes institucionalizadas, promovendo eventos espordicosonde os usurios apresentavam atitudes conformistas. A partir dos anos 1980,o lazer conquista um maior espao, ganhando fora nas polticas econmicas

    e transformando-se em um tempo/espao para consumo (Pinto 2008). na Constituio de 1988 que o lazer passa a ser entendido como um

    direito social, e passa a se relacionar a outras polticas sociais.

    Com isso, vrias leis implicam o lazer no conjunto de seus dispositivos,passando a desaar a construo de estratgias e instrumentos de gestoque permitam efetivamente promover amplo atendimento proporcionado

    por tais polticas. (Pinto 2008, p. 89)

    Porm, Marcellino (2008a) ressalta que at mesmo na Constituiode 1988 ocorre uma vinculao do termo lazer a um nico contedo oesporte , o que enfatiza a restrio do lazer em relao aos seus contedos,dicultando a construo de polticas pblicas e sua efetiva realizao.

    Assim, quando a questo do lazer abordada, relacionada formulao de polticas de atuao, deve-se considerar a abrangncia do

    lazer. vericada uma associao com experincias individuais vivenciadas,que muitas vezes reduz o conceito a vises parciais e restritas das atividades(ibidem).

    nesse sentido que devemos entender a relao entre educao fsicae lazer, segundo a qual o prossional deve atuar como mediador na questode conhecimento e escolha das atividades, orientando como se utilizamdeterminados espaos e equipamentos de lazer.

    Essa relao (educao fsica/lazer) pode ser vista quando Marcellino(2009, p. 81) arma que as atividades fsico-esportivas, no campo dolazer, vm se firmando em setores significativos da nossa sociedadecontempornea. O autor no defende que essas atividades ocorram demaneira exclusiva no lazer, nem que o lazer se restrinja s atividades fsico-esportivas, porm diz que considerando o estilo de vida gerado pelo nossosistema de produo, esse campo no pode deixar de ser levado em conta

    nos estudos sobre a Educao Fsica (ibidem).Desse modo, o mesmo autor apresenta algumas relaes entre o lazer

    e a educao fsica escolar:

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    Se formos pensar no ramo pedaggico da Educao Fsica (...) veremosas ligaes com o duplo aspecto educativo do lazer: educao para o lazere pelo lazer 1. enquanto objeto (...), na perspectiva de chamar a ateno

    para a importncia do lazer na nossa sociedade (...) e dando iniciao aocontedo cultural especco (fsico-esportivo), mostrando a relao comos demais; 2. enquanto veculo (...), trabalhando os contedos vivenciados

    pelo lazer, (...) buscando a superao do conformismo, pela crtica ecriatividade; e 3. enquanto contedo e forma, no desenvolvimento dasaulas, buscando incorporar, o mximo possvel, o componente ldicoda cultura. (Ibidem, p. 82)

    Destaca, ainda, que essas relaes tambm podem ocorrer com

    o esporte-participao, ou de lazer, e com o esporte de alto rendimento,podendo ser este ltimo visto em dupla perspectiva: como contedo e forma(no desenvolvimento de treinamentos, buscando incorporar o componenteldico da cultura) e como espetculo, o qual, para o espectador, passa a serlazer, mesmo que continue sendo trabalho para o atleta. Alm disso,

    (...) o jogo e o repertrio do que se convencionou chamar de recreao,uma das possibilidades de atividades que ocorrem no lazer, so contedos

    histricos da Educao Fsica, o que, aliado a uma vinculao tambmhistrica do prossional da rea com o mercado de trabalho do Lazer,

    provocou uma identicao forte entre os dois campos de atuao.(Ibidem, p. 85)

    O autor ainda lembra que pouco tem sido feito no mbito da educaofsica escolar na questo de ateno formao do conhecimento e doespectador crtico e criativo. Tambm alerta para a forma com que o lazer

    vem sendo tratado pela produo acadmica, armando que a compreensodo lazer precisa ser redimensionada, ampliando-se de acordo com osignicado de lazer para as atividades fsico-esportivas na nossa sociedadehistoricamente situada (ibidem, p. 84).

    Devemos compreender, ento, que a educao fsica como disciplinainserida no contexto escolar pode ser vista e utilizada como um meio deeducao para o lazer, pelo qual o professor pode se utilizar de brincadeiras

    dirigidas como uma forma de oportunidade para que seus alunos obtenhamo conhecimento das diversas possibilidades que o lazer engloba. Utilizamoso termo brincadeira dirigida pelo fato de que, por mais ldica e prazerosaque uma atividade desenvolvida pelo professor no contexto escolar possa ser

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    para um aluno, esta caracterizada como obrigao, justamente pelo fatode ser desenvolvida no momento de aula e no ter somente a inteno do

    brincar. Assim, podemos diferenciar a brincadeira que acontece no tempo

    livre das crianas, sem nenhum compromisso a no ser o de brincar pelobrincar, da brincadeira dirigida, que conduzida por um professor, monitor,tornando-se institucionalizada.

    Desse modo, o jogo realizado durante uma aula de educao fsica nocontexto escolar pode ser encarado pelos participantes como uma atividadeldica, mas no como lazer, reforando a ideia de que o ldico, de acordocom Marcellino (2011), um componente da cultura historicamente situada,

    podendo se manifestar nas mais variadas esferas da vida, e no somenteno lazer, mesmo este sendo visto como um espao privilegiado para amanifestao do ldico.

    Entendemos, ento, que a formao prossional em educao fsicadeve enfatizar, em se tratando dos conhecimentos sobre lazer, a questo deseu duplo aspecto educativo, quando entendido como um veculo de educaoe tambm como objeto de educao. No lazer como veculo de educao

    devem-se considerar suas potencialidades para o desenvolvimento pessoale social dos indivduos. O lazer como objeto de educao implica umanecessidade de difuso do seu signicado, esclarecendo sua importncia eincentivando a participao dos sujeitos (Marcellino 2008b).

    Marcellino (ibidem, p. 26) arma:

    A educao para o lazer pode ser entendida tambm como um instrumento

    de defesa contra a homogeneizao e internacionalizao dos contedosveiculados pelos meios de comunicao de massa, atenuando seus efeitos,com o desenvolvimento do esprito crtico.

    Com esses conhecimentos, que consideramos bsicos, o prossionalde educao fsica ser capaz de relacionar o lazer com as demais reas deatuao do setor, como a escolar, a de academias, de animao em hotis efestas, entre outras.

    Bruhns (1997) procura relacionar o lazer com um tipo de educao,chegando concluso de que ele se aproxima de uma forma de educaono formal, porm no signicando a ausncia das outras formas (formal einformal). Dessa maneira, nota-se uma vinculao entre educao e cultura,

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    apontando-se a necessidade, no processo educativo, em considerar aespecicidade cultural dos envolvidos (ibidem, p. 43).

    Para que isso acontea, fundamental que os estudantes de educaofsica tenham acesso ao conhecimento das cincias humanas. As disciplinasrelacionadas s cincias humanas so fundamentais por explicitarem adiscusso sobre cultura na rea da educao fsica. Por muito tempo, talrea foi vista e entendida do ponto de vista exclusivamente biolgico. Emconsequncia disso, a construo de intervenes pedaggicas atingiamapenas a dimenso fsica do ser humano, sendo desconsiderado o contextosociocultural que est inserido (Daolio 2003).

    Dentre os conceitos bsicos para os estudantes de educao fsica,a cultura categoria central para a rea, sendo o principal contraponto viso biolgica de corpo humano. Para Geertz (1989), ns somos animaisincompletos e inacabados que nos acabamos e completamos atravs dacultura, no da cultura geral, mas de formas particulares dela. Para o autor:

    Quando vista como um conjunto de mecanismos simblicos para o

    controle do comportamento, fontes de informao extra-somtica, acultura fornece o vnculo entre o que os homens so intrinsecamentecapazes de se tornar e o que eles realmente se tornam, um por um.Tornar-se humano tornar-se individual, e ns nos tornamos individuaissob a direo dos padres culturais, sistemas de signicados criadoshistoricamente em termos dos quais damos forma, ordem, objetivo edireo s nossas vidas. (Ibidem, p. 64)

    A compreenso da cultura como categoria central para a atuao

    na rea da educao fsica e no campo do lazer ser fundamental para queos estudantes do setor intervenham futuramente a m de considerar ossignicados que os sujeitos atribuem s manifestaes corporais. Nessaempreitada, podero atuar em diferentes contextos culturais, baseados noselementos da cultura corporal (esporte, dana, ginstica, luta, jogo), noentanto, reconstruindo essas prticas a depender do contexto em que ossujeitos esto inseridos e dos signicados atribudos a tais elementos.

    O conceito de cultura corporal est relacionado s formas demovimento e sua relao com a compreenso de corpo de um determinadogrupo social. A educao fsica deve assumir a responsabilidade de formarum cidado capaz de se posicionar criticamente diante das novas formas

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    de cultura corporal de movimento, como o esporte-espetculo dos meiosde comunicao, as atividades de academia, as prticas esportivas (Betti eZuliani 2002). Assim:

    A Educao Fsica enquanto componente curricular da Educao bsicadeve (...) introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento,formando o cidado que vai produzi-la, reproduzi-la e transform-la,instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do esporte, das atividadesrtmicas e dana, das ginsticas e prticas de aptido fsica, em benefcioda qualidade da vida. (Ibidem, p. 75)

    Para que ocorra uma atuao efetiva dos prossionais de educaofsica no campo do lazer, acreditamos que seja imprescindvel a compreensode cultura, aqui entendida na viso de Geertz (1989, p. 15), como um conceitode cultura semitico, acreditando, como Max Weber, que o homem umanimal amarrado a teias de signicados que ele mesmo teceu, assumo acultura como sendo essas teias e a sua anlise (...). Para o autor, a cultura uma cincia interpretativa em busca de seu signicado.

    Assim, o prossional de educao fsica, ao ter uma formao slidanas cincias sociais e humanas, poder ter mais condies de uma intervenoefetiva no mbito do lazer no sentido de viabilizar aos sujeitos o acesso aoscontedos clssicos, o enfrentamento das barreiras sociais no sentido desuper-las, a realizao de aes com o intuito de atingirem os nveis crticoe criativo. Enm, ter uma atuao que leve em conta a abrangncia do lazere sua especicidade, seja na escola, nos clubes, seja nas comunidades.

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    3A ANIMAO CULTURAL/SOCIOCULTURAL:

    SUBSDIOS TERICOS PARA A ATUAO

    PROFISSIONAL NO CAMPO DO LAZER

    Neste captulo, temos a inteno de explorar a discusso sobre

    animao cultural/sociocultual, j que consideramos imprescindvelcompreender os conceitos relacionados a esse tema para uma atuao

    prossional efetiva no campo do lazer.

    Quanto nomenclatura, alguns autores utilizam animao culturale outros, animao sociocultural. Dessa forma utilizaremos as duasdenominaes, respeitando a escolha dos autores citados. Melo (2006, p. 28)assume animao cultural como:

    (...) uma tecnologia educacional (uma proposta de intervenopedaggica) pautada na idia radical de mediao (que nuncadeve signicar imposio), que busca permitir compreenses maisaprofundadas acerca dos sentidos e signicados culturais (considerandoas tenses que nesse mbito se estabelecem) que concedem concretude nossa existncia cotidiana, construda com base no princpio de estmulos organizaes comunitrias (que pressupe a idia de indivduos fortes

    para que tenhamos realmente uma construo democrtica), sempre tendo

    em vista provocar questionamentos acerca da ordem social estabelecidae contribuir para a superao dostatus quoe para a construo de umasociedade mais justa.

    Procurando compreender o conceito e a aplicao da animaocultural, vamos em um primeiro momento nos ater ao conceito de cultura que(...) no pode ser encarado de forma homognea e uniforme, como algo dadoa prioriou que possua uma suposta essencialidade, pois suas deniesmodicam-se ao longo do tempo (...) em conformidade com as relaes de

    poder e os interesses envolvidos nos embates e tenses entabulados pelosatores sociais (...) (ibidem, p. 20).

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    Nos sculos XIX e XX a cultura ganhou ainda mais destaque comoconsequncia do crescimento das cidades, onde se observa a valorizao doluxo, das formas de consumo e dos hbitos de lazer (ibidem). Dessa forma,

    o autor no se surpreende que:

    (...) nas primeiras dcadas do sculo XX, fossem comuns as compreensesde que a cultura, j bastante relacionada arte e ao mercado constitudo aseu redor, deveria ser entendida como um elemento de distino social,algo somente acessvel em sua plenitude a uma minoria, ligada s eliteseconmicas, que deveria selecionar e dar alguma cultura a uma maioria,

    para que esta aprendesse a se comportar. (Ibidem, p. 21)

    Chegando segunda metade do sculo XX, influenciada pelopensamento da antropologia, (...) a cultura passa a ser compreendida deforma ampliada como um modo de viver, ou melhor, como um conjunto denormas, hbitos, valores, sensibilidades que concedem sentido e signicado vida em sociedade (ibidem, p. 22). Ocorre tambm uma forte inunciados meios de comunicao na difuso da cultura.

    Podemos observar ainda nos dias atuais um entendimento equivocadodo questionamento o que cultura? nas associaes desta apenas com asartes, os cinemas, as exposies ou com um conhecimento sobre determinadoassunto. Dessa forma, necessrio que a sociedade compreenda que culturano sinnimo de conhecimento, mas, possuindo signicado abrangente,de toda manifestao humana.

    Compreendendo a questo de cultura, concordamos com Melo(ibidem, p. 23) quando diz que (...) nossa atuao se dar em umasociedade na qual um conjunto de imagens invade nosso cotidiano, penetraem nossos lares e nos alcana nas ruas, de forma ora mais ora menosacintosa. imprescindvel que o animador cultural entenda o processode produo/consumo cultural em que se encontra a sociedade, sendo desua responsabilidade promover intervenes pedaggicas considerando omomento histrico em que nos encontramos. Assim, o autor arma que:

    O desao central parece ser criar condies para que todos possam ter acessoaos meios de produo cultural (...). A questo criar mecanismos paragarantir constantes uxos e contrauxos culturais, encarando todos como

    potenciais produtores culturais, no somente consumidores. (Ibidem, p. 32)

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    O mesmo autor arma que a grande contribuio da animao culturalest relacionada ao fato de se implementar uma ideia de revoluo que estrelacionada quebra da monotonia e construo de uma concepo de

    liberdade de escolha.Podemos encontrar mais uma denio de animao cultural em

    Lopes (2007, p. 2), que prefere utilizar o termo animao sociocultural,quando diz que:

    (...) nosso entendimento de Animao Sociocultural coincide com umaconcepo denida pela Unesco (1977) que a toma por um conjuntode prticas sociais que visam estimular a iniciativa e a participaodas populaes no processo do seu prprio desenvolvimento, e nadinmica global da vida scio-poltica em que esto integradas. Umaanimao assim entendida remete-nos para uma noo de participaocomprometida com o processo de transformao da sociedade, comimplicaes de ordem econmica, poltica, cultural e educativa.

    Ou seja, a animao sociocultural procura encaminhar as pessoas aoautodesenvolvimento, autonomia. O autor divide em seis partes a animao

    sociocultural surgida em Portugal em 25 de abril de 1974. De 1974 a 1976denomina como fase revolucionria da animao sociocultural, sendo assumida

    pelo governo como um mtodo ecaz para a interveno na comunidade(ibidem, p. 4). Uma nova fase surge de 1977 at 1980, sendo chamada defase constitucionalista da animao sociocultural, na qual suas aes eramdeterminadas por instituies que assumiram sua centralidade. Em 1981,durando at 1985, tem-se a fase patrimonialista, que foi caracterizada por uma

    interveno focada na preservao e na recuperao do patrimnio cultural.De 1986 a 1990 a fase caracteriza-se como uma etapa marcada pela passagemda animao sociocultural do poder central para o poder local. A quinta fase,que foi de 1991 at 1995, tida como a fase multicultural e intercultural,valorizando-se a ao educadora do multiculturalismo.

    A ltima fase identicmo-la com o perodo que se inicia, em 1996, enos acompanha at hoje, caracterizando-a como a fase da Globalizao

    que conduz a Animao Sociocultural a intervir num quadro que integree eleve o ser humano a participar nos desaos que se lhe deparam,tornando-o protagonista e promotor da sua prpria autonomia. (Ibidem)

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    Entendemos, ento, que a animao cultural vista como um terrenode conitos de valores, um espao para elaborao de novos valores, algo

    prximo de uma educao popular.

    Lopes (ibidem) diz que temos de respeitar as estratgias de intervenoda animao sociocultural, tais como a faixa etria, o espao de interveno ea pluralidade de mbitos ligados a setores de reas temticas como educao,teatro, sade, entre outros. Assim, teramos vrias animaes: animaosocioeducativa, animao teatral, animao rural, animao em hospitais,animao de bibliotecas, entre outras citadas pelo autor. Essas novasanimaes seriam formadas de acordo com a necessidade que surge na

    sociedade ou no grupo.

    Tambm somos conscientes que, em matria de mbitos, no defendemosuma Animao guarda-chuva onde tudo se alberga, nem to poucoentendemos a Animao Sociocultural como uma metodologia ondese encontram respostas para todos os males do mundo. Acreditamos,humildemente, que a Animao Sociocultural, atravs dos diferentesmbitos e com a realizao de programas que respondam a diagnsticos

    previamente elaborados e participados, constitui um mtodo para levaras pessoas a autodesenvolverem-se e, consequentemente, reforarem oslaos grupais e comunitrios. (Ibidem, p. 6)

    Melo (2006, p. 40) sugere a animao cultural como uma proposta dealfabetizao cultural, dizendo que esta (...) um processo de intervenoque se constitui a favor, e no necessariamente contra algo. preciso

    pensar uma iniciativa de alfabetizao cultural em vrias vias. Dessa

    forma, se caracterizaria como uma (...) pedagogia (escolar ou no-escolar)que permita ao indivduo se posicionar mais criticamente e mais ativamenteperante os diferentes arranjos sociais (...) (ibidem, p. 41).

    Pode-se observar que os dois autores, Melo e Lopes, defendem umaanimao que venha a incomodar a realidade em que o sujeito est inserido,fazendo com que ele se posicione com criticidade diante da realidade socialque est vivendo; que se desenvolva e busque relaes mais humanas e

    solidrias.Lopes (2007) analisa, ainda, as relaes da animao sociocultural

    com a educao formal, no formal e informal, e considera que na educaoformal a estratgia da animao sociocultural a de operar como um meio

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    para motivar, complementar, articular saberes e potencializar aprendizagens.Na educao no formal, a animao sociocultural se d com base emprticas que se realizam fora do espao escolar, e na educao informal

    considera a famlia e a comunidade agentes educativos. Assim, o autordefende uma animao que (...) atravs dos postulados das diferentesreas ans da Animao, leve o homem a partilhar saberes, vivncias, ainteragir e estabelecer relaes interpessoais profcuas, lutando contra aincomunicabilidade, o medo e a mordaa (Lopes 2007, p. 8).

    Melo (2006) ressalta tambm que essa pedagogia no se restringe aum nico campo de interveno, podendo ser utilizada na escola, no lazer,

    na famlia, em qualquer espao possvel de educao. E apresentando asituao da animao cultural no Brasil, diz que:

    Nos dias de hoje, a animao (scio)cultural existe e no existe no Brasil.H um grande nmero de experincias que, de alguma forma, dialogam

    ora mais, ora menos intencionalmente com as reexes dos autoresligados temtica, mas o termo ainda pouco utilizado, as refernciastericas so pouco conhecidas (at mesmo porque temos pouco material

    acerca do assunto publicado no Brasil) e o campo acadmico praticamenteinexistente. (Ibidem, p. 73)

    Por esses motivos, e outros, devemos procurar formas de interaointernacional na perspectiva da animao cultural, ponto tambm defendido

    por Melo (ibidem, p. 83):

    (...) faz-se mister recuperar a possibilidade de construir formas de

    solidariedade internacional que no se limitem somente aos patrimniosculturais folclricos ou s manifestaes da cultural erudita, mas queentabulem reexes e aes no que se refere a como lidar de maneiramais adequada com a democratizao dos meios de comunicao e como desenvolvimento de perspectivas de construo de uma nova forma demediao que possa fazer frente a esse modelo hegemnico que tenta seimpor em nossas realidades.

    O autor diz tambm que a animao cultural (...) uma proposta

    de educao que, ao buscar quebrar uma certa unilateralidade no processode comunicao, parte do princpio da deseducao, da desestabilizao(ibidem, p. 44). Nesse cenrio, o animador cultural visto como mediador,atuando na questo de saber (...) aprender lidar criticamente com a fora dos

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    meios de comunicao (...) (ibidem,p. 45), considerados grandes difusorese produtores de cultura.

    Concordamos tambm com as ideias sobre a animao desenvolvidaspor Gillet (2006), que arma que a animao e aqui o autor se refere auma animao social est vinculada noo de participao, pois semum processo participativo aquela no existe. Defende a ideia da busca

    por uma sociedade mais crtica e diz que um grande desao fazer comque os perodos de lazer deixem de ser um tempo de consumo alienante e

    passem a ser novamente tempos de criatividade, de descoberta, momentosde educao libertadora.

    Assim, a funo de um animador seria:

    (...) a de facilitar as condies de um envolvimento na vida da cidade,seja por meio de uma atividade qualquer (esportiva, cultural, ambiental,cvica). Essa elaborao conjunta permite, passo a passo, a cada umconstruir-se como sujeito, pensar e agir de maneira mais autnoma.(Ibidem, p. 34)

    Em se tratando da formao dos animadores, ainda no temos umainstruo prossional especca, acarretando uma desvalorizao da carreira.Sobre isso, Melo (2006) defende a criao de cursos de ps-graduao lato

    sensu, alm de formaes tcnicas, e no v a possibilidade de criao deuma educao de nvel superior ligada animao.

    Melo et al. (2008) propem que os interessados em animaosociocultural usem o espao j conquistado pelo lazer, j que essas reas

    esto fortemente relacionadas. Porm isso no signica que a animaosociocultural deva adotar os modelos tradicionais de organizao dasdisciplinas acadmicas, mas sim continuar procurando uma abordagemmultidisciplinar.

    Lopes (2007, p. 12) defende uma formao que tenha como referncia(...) a especicidade da funo, no um saber pelo saber, mas um saber quese liga a todos os problemas que afectam o ser, a nossa condio de vida em

    grupo, as relaes interpessoais, em suma, um saber que eleve a dimensohumana do Animador. Diz ainda que essa formao deve permitir que oanimador valorize o aprender a viver juntos, visto que a sociedade marcada

    por um tempo de resistncia a vida em grupo.

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    Assumimos a defesa de uma formao para a Animao como umprocesso dirigido, essencialmente, para um pblico diferenciado ede diferentes formaes que podem ir de professores de matemtica,

    portugus, histria ou bibliotecrios, arquivistas, tcnicos de museus...,constituindo a formao, uma metodologia e uma tecnologia ao serviode outras reas, visando conferir atitudes motivacionais no sentido deauxiliarem estes prossionais a encontrarem estratgias que promovam,

    junto do pblico-alvo, a participao, o sucesso educativo. (Ibidem, p. 13)

    A questo da formao prossional do animador sociocultural preocupante quando pensamos que a viso que se tem, no senso comum, emuitas vezes dos prprios prossionais da rea, a de que o animador sejaalgo prximo de um palhao, aquele que deve fazer micagens para agradarao pblico. Essa viso desgura sua verdadeira essncia que, de acordo comAlmeida (2008), est centrada na transformao social, na democratizao doacesso cultura, na promoo de valores de auto-organizao, na formaode agentes conscientes e empenhados na prtica de desenvolvimento degrupos e comunidades.

    Pensando nisso, o autor se pergunta para que servem, ento, as

    palhaadas que so o centro de algumas prticas de animao sociocultural;e chega a trs fatores que podem explicar essa confuso de funo. Em

    primeiro lugar, fala sobre a perspectiva ldica inconsciente, resultado deinformaes veiculadas pelos meios de comunicao (...) que promovemvalores do hedonismo e do consumo imediato (...) (ibidem, p. 2), o quesitua as referncias do animador numa ao sem objetivos fundamentais

    presentes. Em segundo lugar, versa sobre a questo do vocabulrio, a respeito

    do qual ocorre uma confuso, podendo dar a entender que (...) animar fazer palhaadas e no dar alma s actividades, com um plano estruturadona base dos valores que fazem com que a animao seja uma disciplina deinterveno social (...) (ibidem). Em terceiro lugar, chega a uma questoessencial:

    (...) a abordagem displicente que formadores e alunos possuem natematizao de assuntos pertinentes no tempo e espao sociocultural,

    sem avaliao do momento, sem investigao sobre as potencialidades,carncias e limites, sem perspectiva de aco estruturada no prprioconceito de formao: fazer para agir sobre o meio e faz-lo comconscincia. (Ibidem)

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    Por ltimo, aborda a questo da prtica das atividades vazias, (...)que apresentam um m em si mesmo e no uma ponte para a discusso deassuntos, uma actividade situada no tempo, composta racionalmente e com

    objetivos (...) (ibidem).Com esta breve reexo sobre animao (socio)cultural, consideramos

    que esse aporte terico uma contribuio para o processo de formao deprossionais de educao fsica que vo atuar no campo do lazer, podendovir a ser um subsdio para o trabalho com os diferentes grupos sociais.

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    4PERCURSO METODOLGICO

    A pesquisa que se transformou neste livro caracteriza-se como um estudoeminentemente qualitativo. Esse tipo de estudo, segundo Minayo (1994, p. 22)trabalha com o (...) universo de signicados, aspiraes, crenas, valorese atitudes, o que corresponde a um espao mais profundo das relaes, dos

    processos e dos fenmenos que no podem ser reduzidos operacionalizaode variveis. Foram realizadas pesquisa bibliogrca e de campo.

    A pesquisa de campo foi realizada com estudantes do curso de educaofsica da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). A escolha poresse curso deve-se ao fato de essa instituio estar localizada em uma regio

    privilegiada para a atuao de prossionais no mbito do lazer. O rio Piracicaba uma referncia na cidade para o lazer da populao, alm disso, a cidade

    de Brotas, que est distante a aproximadamente 120 km de Piracicaba, uma referncia nacional para a prtica de esportes da natureza. A cidade dePiracicaba est, ainda, prxima a grandes cidades como Campinas e So Paulo,que apresentam grande quantidade de equipamentos de lazer, sendo lugares

    potenciais para a atuao futura do estudante de educao fsica.

    A investigao com o grupo de estudantes de educao fsica foifeita por meio de entrevistas semiestruturadas, procedimento considerado

    por Trivios (1987) um dos principais meios na pesquisa qualitativa emcincias humanas. Essas entrevistas foram baseadas em questionamentos

    bsicos que permitiram ao informante seguir espontaneamente a linha deseu pensamento e de suas experincias.

    O roteiro de entrevista abordou os seguintes pontos:

    histrico sobre as prticas corporais realizadas nos momentos de lazer;

    conceito de lazer; relao entre lazer e educao fsica; expectativas futuras com relao atuao prossional; implicaes para a vida cotidiana.

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    Foram coletados dados de 14 estudantes de educao fsica, divididosem dois grupos, sendo sete do primeiro ano e sete do ltimo ano, sendoestudantes tanto do curso de bacharelado como de licenciatura. O tamanho da

    amostra foi determinado pela saturao dos dados. Optamos por entrevistardois grupos de alunos com caractersticas diferentes, dos quais o grupo dosalunos de primeiro ano ainda no teve nenhum contato com as disciplinassobre lazer. Nesse sentido, seus conhecimentos sobre essa rea so provindosde experincias pessoais, do senso comum. J os alunos do ltimo anocursaram as disciplinas oferecidas sobre lazer, tendo, assim, acesso a umconhecimento sistematizado da rea e podendo responder s entrevistas

    baseando-se em suas experincias e no conhecimento adquirido.Com a coleta de dados concluda, realizou-se a segunda fase da

    pesquisa: pesquisa bibliogrca e anlise dos dados coletados com osestudantes de educao fsica, a m de identicar a compreenso dessessujeitos com relao ao tema lazer e suas expectativas futuras para a atuaonessa rea. A pesquisa bibliogrca consistiu no levantamento de autoresestudiosos do lazer, com a inteno de realizar um aprofundamento do tema,

    propiciando o acesso ao conhecimento sobre a atual situao do problemaestudado e servindo de base para a anlise das entrevistas.

    No que diz respeito ao tratamento das obras que foram refernciapara este trabalho, tivemos como base as diretrizes para leitura, anlise einterpretao de textos, de acordo com Severino (2007):

    Anlise textual, que consistiu em buscar informaes a respeito do autor

    do texto e vericar o vocabulrio, os fatos histricos apresentados pelotexto, com a possibilidade de apresentar uma esquematizao deste, am de propiciar uma viso de conjunto da unidade;

    Anlise temtica, que procurou ouvir o autor e apreender suamensagem, sem intervir no contedo dela, fazendo ao texto umasrie de perguntas, sendo as respostas as fornecedoras do contedoda mensagem;

    Anlise interpretativa, em que se busca uma compreensointerpretativa das ideias apresentadas pelo autor. Nesse tipo deanlise compreende-se tambm a crtica, a formulao de um

    juzo crtico, de tomada de posio;

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    A problematizao, que se trata de um tipo de abordagem comvista ao levantamento dos problemas para a discusso;

    Sntese pessoal, que se trata de uma construo lgica de uma

    redao, a m de dar condies ao estudioso de progredir nodesenvolvimento das ideias do autor.

    Para o levantamento de trabalhos relacionados ao presente temautilizamos a base de dados Scielo, o Google Acadmico e as bibliotecasda Unimep e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A buscafoi realizada com base nas palavras-chave: formao prossional, lazer,

    educao fsica, cultura.A anlise dos dados teve como finalidade: a) estabelecer uma

    compreenso dos dados obtidos com os estudantes de educao fsica; b)conrmar ou no o pressuposto de que os estudantes de educao fsicanecessitam de fundamentao terica centrada nas cincias humanas parauma atuao efetiva no mbito do lazer; e c) ampliar o conhecimento sobreo assunto pesquisado, articulando-o ao contexto cultural do qual faz parte

    (Minayo 1994). A anlise dos dados nos possibilitou, tambm, a formulaode temas para a elaborao de textos didticos que sero apresentados nasegunda parte deste livro.

    As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas para umamelhor anlise dos dados pesquisados. Para nos referirmos s falas dosentrevistados, utilizamos letras para diferenci-los; sendo os entrevistadosA, B, C, D, E, F e G do primeiro ano do curso de educao

    fsica, e os entrevistados H, I, J, L, M, N e O do ltimo ano.As principais questes abordadas durante a entrevista foram:

    1. Voc j realizou alguma prtica corporal no momento de lazer?

    2. Como voc entende o lazer?

    3. Como voc compreende a relao entre lazer e educao fsica?

    4. O que voc espera da sua atuao prossional, quais expectativas

    prossionais futuras? H alguma prtica que voc pensa em realizar?5. Existe mais alguma coisa que voc gostaria de dizer?

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    5O CONHECIMENTO SOBRE LAZER DE

    ESTUDANTES DE EDUCAO FSICA DE UMA

    INSTITUIO PRIVADA DO ESTADO DE SO PAULO

    Notamos que as respostas dadas questo 1 so muito semelhantes

    entre todos os estudantes, tanto do primeiro quanto do quarto ano. Nessaquesto, todos os entrevistados respondem que sim, que j realizaram alguma

    prtica corporal nos momentos de lazer, sendo esportes, danas e lutas asmais citadas. Outras prticas mencionadas foram jogos de tabuleiro, jogode baralho, caminhada, natao, brincadeiras de rua.

    Sim, esportes como vlei, prossionalmente, futebol de vez em quandoe luta, jiu-jtsu. (Entrevistada M ltimo ano)

    Sim, ginstica, alongamento, terapias, dana contempornea.(Entrevistado N ltimo ano)

    J, futebol, luta, capoeira, muay thai, danar nas horas de lazer, nas boatesa gente dana, no ?! (Entrevistado E primeiro ano)

    Sim, futebol. (Entrevistado F primeiro ano)

    Sim, eu costumo danar e fao bal clssico h 4 anos, eu pratiqueicarat, mas agora no d por causa da faculdade. (Entrevistada G

    primeiro ano)

    (...) sempre brinquei bastante em rua, ento todos os tipos de brincadeirade rua at hoje eu brinco (...) bets, vlei (...). (Entrevistada C primeiroano)

    Sim, normalmente futsal, gosto de nadar, de danar. Jogos de tabuleiro,s vezes, muito raramente, xadrez, muito raramente, jogo de tnis demesa (...). (Entrevistada I ltimo ano)

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    Na questo 2, esperava-se que os estudantes do ltimo ano deeducao fsica elaborassem uma resposta mais estruturada que os estudantesdo primeiro ano, pelo fato de j terem cursado disciplinas referentes ao lazer,

    porm o que se observa so respostas muito semelhantes:

    Lazer, brincar, um momento que a gente tem. Acho que um momentonico que a gente tem pra se divertir. (Entrevistado E primeiro ano)

    (...) lazer o momento de voc espairecer, de voc dar um descanso parasua mente (...). (Entrevistado D primeiro ano)

    So momentos de descontrao (...). (Entrevistada C primeiro ano)

    O lazer um momento de prazer, de diverso, onde posso esqueceros problemas do dia a dia, praticar alguma atividade que eu goste.(Entrevistada M ltimo ano)

    Podemos observar que, em geral, no h muita diferena entre asrespostas dadas pelos alunos ingressantes no curso e pelos que o estoterminando. Vemos que suas respostas so, ainda, muito relacionadas ao

    conhecimento vindo do senso comum, que, como explica Geertz (2001), a primeira base de conhecimento que os sujeitos possuem, pois, quandoindagados sobre o lazer, suas respostas esto relacionadas com suas prpriasexperincias, bem como associadas ao descanso, ao divertimento e descontrao. Espervamos encontrar respostas relacionadas ao senso comum

    por parte dos estudantes do primeiro ano, que ainda no tiveram nenhum tipo decontato com as disciplinas acadmicas que tratam o lazer. Porm, observamos

    que os alunos do ltimo ano do curso de educao fsica, tanto de licenciaturaquanto de bacharelado, deram respostas aproximadas viso de senso comum,sendo frequente uma viso funcionalista do lazer, por meio da qual relacionameste apenas ao contedo fsico-esportivo, destacando somente o descanso e odivertimento como caractersticas do lazer.

    Esta ltima questo recorrente nas obras de Nelson CarvalhoMarcellino, que defende que alm do descanso e do divertimento

    proporcionados pelo lazer, deve-se dar importncia ao desenvolvimentopessoal e social proporcionado por esses momentos. O autor arma que dessaforma (...) no se est negando o descanso e o divertimento, mas simplesmenteenfatizando a dimenso menos considerada do lazer, a de desenvolvimentoque o seu vivenciar pode ensejar (Marcellino 2008b, p. 13).

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    Ainda referente segunda questo, nove entrevistados relacionam olazer a um momento de descanso, livre de obrigaes. Dois alunos, ambosdo primeiro ano do curso, relacionam lazer necessariamente com movimento

    corporal.

    Ah, lazer pra mim , sei l, se sentir bem e exercitar o corpo. (EntrevistadoF primeiro ano)

    Como eu entendo lazer, sei l, movimento corporal. (Entrevistada B primeiro ano)

    Essa relao feita pelos estudantes entre lazer e movimento corporalpode ser explicada pela histria do lazer e da educao fsica. O prossionalde educao fsica foi considerado o mais apto a trabalhar com lazer, sendoas manifestaes corporais a especicidade dessa rea. No entanto, para quetais prossionais tenham uma ao efetiva no mbito do lazer, fundamentalque sejam considerados os diferentes contedos do lazer, e no somente oscontedos fsico-esportivos, caso contrrio os sujeitos teriam acesso a umaviso restrita de lazer.

    Apenas uma entrevistada, do ltimo ano, mencionou a palavracultura em sua resposta, porm sem se aprofundar muito na questo,mesmo assim demonstrou indcios de um conceito mais ampliado de lazer.

    Se voc me perguntasse antes iria te dizer que o lazer era praticar esportes,mas agora tenho um entendimento um pouco maior, entendo o lazeragora como uma fonte, tanto de criao de cultura e recreao, quanto

    de vivncia. (Entrevistada I ltimo ano)

    Outra entrevista que podemos dizer que tambm se mostra como umatentativa mais aproximada do conceito de lazer que utilizamos em nossosestudos foi a da entrevistada O, do ltimo ano do curso.

    Lazer pra mim uma coisa que eu fao fora das minhas obrigaes, emhorrio livre. (Entrevistada O ltimo ano)

    Observamos que a estudante aponta uma questo importante aoavaliar o lazer: o tempo livre. Ou seja, o tempo livre um dos elementos aser considerado quando falamos sobre esse assunto, levando-se em conta o

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    conceito de Marcellino (1990) e os trs aspectos propostos pelo autor paraque se considere o lazer: o tempo, a atitude e o espao.

    Outro entrevistado, tambm do ltimo ano, citou outras atividadesalm das fsico-esportivas, sendo a resposta que consideramos maisaproximada de um conceito, por fazer referncia categoria tempo e pormencionar dois dos contedos do lazer.

    O lazer o tempo livre, onde podemos fazer qualquer coisa, como ir aocinema, teatro, praticar esportes. (Entrevistado N ltimo ano)

    Durante as entrevistas, nota-se uma grande diculdade por parte dosestudantes em responder as questes 2 e 3, que se caracterizam como perguntascentrais para sabermos o entendimento que os graduandos possuem sobre lazer.

    Na questo 3, que diz respeito relao entre lazer e educao fsica,dois entrevistados no souberam responder, sendo um do primeiro e um doltimo ano:

    Acho que t relacionado, porque, sei l porque, ah no sei. (Entrevistado

    F primeiro ano)

    uma coisa bem interessante, esto sempre ligados. (Entrevistada O ltimo ano)

    Nas respostas fornecidas pelos demais participantes, percebemos queapresentam diculdades ao fazerem a explicao sobre essa relao; tambm possvel observar respostas muito superciais sobre o assunto.

    Muito importante, os esportes so culturais e cultura lazer. (EntrevistadoN ltimo ano)

    Esse entrevistado demonstra uma viso diferenciada ao associar oesporte produo cultural, uma vez que o termo cultural comumenteassociado s artes. Porm, sua resposta reduzida, novamente, a um contedodo lazer, o fsico-esportivo, e mais especicamente aos esportes. O queobservamos em outro entrevistado:

    Vejo uma possibilidade das pessoas que esto se formando em educaofsica e vejo como uma possibilidade de trabalho mesmo, uma rea que,

  • 7/24/2019 Lazer Educacao Fisica

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    Lazer e educao fsica 47

    alm de prazerosa, ela est crescendo no meio da sociedade, ento vejouma relao bem forte, a gente pode associar o lazer e a educao fsica

    principalmente atravs do esporte, uma das principais fontes e umagrande abertura para o prossional. (Entrevistada I ltimo ano)

    A entrevistada I d a entender que enxerga a relao da educaofsica com o lazer por meio da possibilidade de ser um mercado de trabalho

    para os prossionais da rea. Dessa forma, associa o lazer ao esporte,parecendo, assim, querer enfatizar a especicidade da educao fsica nolazer. O entrevistado D tambm parece dar indcios sobre a especicidadedessa rea, porm sua nfase na quantidade de possibilidades oferecidas

    para os prossionais do lazer em questo do desenvolvimento de atividades.Ao mesmo tempo em que leva em conta essa especicidade da rea, suaviso parece ser reduzida, no considerando os demais contedos do lazere demonstrando um conhecimento provindo do senso comum.

    Bom, so duas coisas, tem o lazer e tem a educao fsica, o que acontece,voc trabalha com o corporal e o educador fsico ele trabalha o corporal,ento todas as atividades fsicas elas no esto s relacionadas com o

    que ns falamos na questo anterior que o espairecer, a gente trabalhao corporal tambm e a entra a parte da educao fsica, isso da que ofutebol, que os jogos adaptados, que so feitos po