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Estudo revela causa de enchentes Nivaldo afirma ter apoio do PSDB O prefeito Nivaldo de Andrade diz que contará com o apoio do PSDB para tentar a reeleição. Ele afirma que após ter apoiado os tu- canos em 2010, se aproximou de Aécio Neves e Antônio Anastasia. Nivaldo também conta com apoio de oito vereadores na Câmara. Os fatos preocupam os partidos da oposição, que já começam a bus- car nomes fortes. Policlínica Central pode ir para Av. 8 de Dezembro A Policlínica Central pode ter novo endereço em breve. Segundo o Secretário de Saúde, José Marcos de Andrade, a instituição pode ser transferida para o local que abrigaria a Câmara dos Vereadores, na Avenida 8 de Dezembro. Há mais de 30 anos, a Policlínica funciona na garagem do INSS, local pequeno, sem ventila- Edição 04 - Ano 01 -Novembro/ Dezembro - 2011 Ana Gabriela Oliveira Pesquisa realizada pelo curso de Geografia da UFSJ constata que a ocupação desordenada da área urbana é a principal causa das enchetes em São João del-Rei. Desmatamento das matas ciliares, construção em lugares inadequa- dos próximos aos rios e o asfalto da cidade acabam danificando o fluxo correto da água, o que causa os alagamentos e as enchentes. Ana Gabriela Oliveira Ana Gabriela Oliveira Pág. 3 Pág. 8 Pág. 4 ção, com pouca acessibilidade para cadeiran- tes e inadequado ao atendimento. De acordo com a administração da Políclinica, não há verba para a construção de uma nova sede, o que é considerado o ideal. Entretanto, a diretoria do INSS pediu de volta o espaço onde funciona a Policlínica, para realizar uma reforma, o que levou a Prefeitura a aproveitar o espaço que seria a Câmara para acomodar a instituição. Equanto a mudança não é feita, os pacientes são atendidos em meio à reforma do INSS, encon- trando andaimes, areia e materiais de construção no pátio que dá acesso aos consultórios médicos.

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Edição nº 5 do jornal laboratório da Universidade Federal de São João del-Rei

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Estudo revela causa de enchentes Nivaldo afirma ter apoio do PSDB O prefeito Nivaldo de Andrade diz que contará com o apoio do PSDB para tentar a reeleição. Ele afirma que após ter apoiado os tu-canos em 2010, se aproximou de Aécio Neves e Antônio Anastasia. Nivaldo também conta com apoio de oito vereadores na Câmara. Os fatos preocupam os partidos da oposição, que já começam a bus-car nomes fortes.

Policlínica Central pode ir para Av. 8 de DezembroA Policlínica Central pode ter novo endereço em breve. Segundo o Secretário de Saúde, José Marcos de Andrade, a instituição pode ser transferida para o local que abrigaria a Câmara dos Vereadores, na Avenida 8 de Dezembro.Há mais de 30 anos, a Policlínica funciona na garagem do INSS, local pequeno, sem ventila-

Edição 04 - Ano 01 -Novembro/ Dezembro - 2011

Ana

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Pesquisa realizada pelo curso de Geografia da UFSJ constata que a ocupação desordenada da área urbana é a principal causa das enchetes em São João del-Rei. Desmatamento das matas ciliares, construção em lugares inadequa-dos próximos aos rios e o asfalto da cidade acabam danificando o fluxo correto da água, o que causa os alagamentos e as enchentes.

Ana

Gab

riela

Oliv

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abriela Oliveira

Pág. 3 Pág. 8

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ção, com pouca acessibilidade para cadeiran-tes e inadequado ao atendimento. De acordo com a administração da Políclinica, não há verba para a construção de uma nova sede, o que é considerado o ideal. Entretanto, a diretoria do INSS pediu de volta o espaço onde funciona a Policlínica, para realizar uma

reforma, o que levou a Prefeitura a aproveitar o espaço que seria a Câmara para acomodar a instituição.Equanto a mudança não é feita, os pacientes são atendidos em meio à reforma do INSS, encon-trando andaimes, areia e materiais de construção no pátio que dá acesso aos consultórios médicos.

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ErrataA matéria “Exclusividade garante a tradição da ourivesaria artesanal” é de autoria de Ana Luiza Fernandes e Mariele Velloso e não de Luis Gustavo Santos e Violeta Assumpção Cunha, como foi registrado no último jornal.

OPINIÃO | novembro/dezembro de 2011

Em ritmo de fim de ano, procuramos fechar com chave de ouro essa última edição do OraPro-

Nobis de 2011. Não é a toa que escolhemos maté-rias do interesse de todos para preencher as pági-nas do jornal: saúde pública, situação política na cidade e informações sobre enchentes, entre outras. Tentamos preencher nossas poucas páginas com aquilo que seria mais interessante.

Todos nós sabemos das limitações do sistema de saúde pública de São João del-Rei. Felizmente, a cidade está prestes a presenciar a mudança de ende-reço de uma das principais instituições municipais de saúde, a Policlínica Central, que funciona em condições precárias há mais de 30 anos na garagem do INSS. A expectativa é de que seja transferida para a Avenida 8 de Dezembro, onde funcionaria a Câmara dos Vereadores, em uma casa que, apesar de não ser ideal para o funcionamento da Policlí-nica, melhorará as condições de atendimento aos pacientes.

E falando em expectativas, procuramos antecipar as eleições municipais, na tentativa de descobrir quem serão os candidatos a prefeito em 2012. E acabamos esbarrando com algo no mínimo inusi-tado na política são-joanense: Nivaldo afirma que terá o apoio do PSDB para se candidatar no ano que vem. Não que seja uma novidade Nivaldo que-rer ser o prefeito de novo...

Outro tema abordado nessa edição faz parte do cotidiano do são-joanense nesses últimos dias: a chuva. Tentamos encontrar os motivos dos alaga-mentos e enchentes em São João del-Rei, com ex-plicações de especialistas sobre como prevenir os problemas que afetam tanto a cidade nesse fim de ano.

Mas, como esse jornal nunca deixa de lado a cultura local, trazemos um pouco sobre o Centro Cultural Feminino, associação que já existe há 25 anos e é responsável por várias atrações culturais e artísticas na cidade.

E, em uma época em que problemas relacionados a animais estampam páginas de jornais, programas de TV e até a Câmara dos Vereadores de São João del-Rei, escolhemos fechar nossa edição com uma lição de generosidade para com os animais . Entre-vistamos uma senhora membro da Sociedade São Francisco de Assis Protetora dos Animais, Alice de Almeida Coelho Ferreira, que, apesar da idade avançada e da falta de ajuda das autoridades, cria 70 cães em uma casa nas Águas Santas.

Sem mais demoras, desejamos uma ótima leitura!

Nos primórdios da terra são-joanense, o Barroco imprimiu nos moradores as marcas de seu an-

tagonismo peculiar. Marcas que ficaram não apenas na arquitetura e decoração dos templos, nas tradi-ções e ritos religiosos, mas, sobretudo, na alma de seu povo. Por isso, em São João del-Rei, há sempre uma referência, uma aproximação, entre elementos tão paradoxais quanto a vida e a morte, o sagrado e o profano, o bem e o mal, Deus e o diabo. E quanto aos últimos, ninguém incorpora melhor estas figuras metafísicas (na visão de aliados e opositores), que o prefeito Nivaldo Andrade.

Nivaldo é, acima de tudo, um fenômeno. Um fenô-meno eleitoral que surgiu na década de 90 e que mu-dou a história de São João del-Rei. Seu grande feito foi abalar a “normalidade” dos pleitos eleitorais e os fundamentos da estrutura política na cidade. Ele quebrou a hegemonia das famílias e elites locais, se tornando o primeiro chefe do Executivo oriundo das classes populares. E, além disso, segue dominando o cenário político são-jonanense há mais de uma dé-cada, tendo sido vitorioso em todos os pleitos que disputou, outro fato inédito.

De origem humilde, semi-alfabetizado e sem tra-dição familiar, Nivaldo apareceu no cenário político são-joanense como um discípulo ou apadrinhado do ex-governador Newton Cardoso. No currículo, uma carreira de sucesso como comerciante (dizem que “vendia” dinheiro) e uma bem comentada adminis-tração na vizinha cidade de Tiradentes, numa época em que um diretor de uma poderosa emissora resol-veu fazer da decadente cidade um grande fenômeno turístico-cultural internacional.

Além do mais, para os são-joanenses mais pobres, os discursos da tradição já não mais faziam efeito, pois precisavam de soluções práticas para seus pro-blemas básicos. Nivaldo sempre caminhou nesta di-reção, buscando o apoio popular com um discurso afinado com a gramática dos mais pobres. Assim, ele passou a colher os frutos destes investimentos, consolidando, a partir de então, uma vitoriosa car-reira política com passagens pelo executivo de Ti-radentes, São João del-Rei (por um e três mandatos respectivamente) e pela Assembléia Legislativa Es-tadual (um mandato).

Para simpatizantes e aliados, Nivaldo é quase

Deus e o diabo na terra de São JoãoNathanael Andrade

Jornal laboratório do curso de Comunicação Social - Jor-nalismo da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

Campus Tancredo Neves (CTAN) - Av. Visconde do Rio Preto, s/nº, CEP 36301360, Colônia do Bengo - São João del-Rei

ReitorHelvécio Reis

Coordenador do curso de Comunicação SocialJairo Faria Mendes

OrientaçãoJoão Barreto, Kátia Lombardi, Luciene Tófoli, Luiz Ade-mir Oliveira, Paulo Henrique Caetano e Vanessa Maia

EditorCarol Argamim Gouvêa

SubeditorÍris Marinelli

Arte e DiagramaçãoCarol Argamim Gouvêa e Íris Marinelli

FotografiaAna Gabriela Oliveira, André Neves, Carol Argamim

Gouvêa, Carol Slaibi, Marcelo Alves, Violeta Cunha

RedaçãoAna Gabriela Oliveira, André N. P. Azevedo, Carol Slai-bi, João Eurico Heyden Jr, Marcelo Alves, Mariana fer-nandes, Nathanael Andrade, Thamiris Franco, Walquíria Domingues

Tiragem1000 exemplares

GráficaGlobal Print

[email protected]

Editorial Artigo

Deus. Imagem construída ao longo de sua carreira por uma combinação de fatores favoráveis, que vão desde o cenário de estabilidade econômica (Plano Real) e de consolidação dos princípios democráticos estabelecidos pela Constituição de 1988, passam pelo discurso populista, afinado com os interesses da maioria da população, e terminam com muitas ações, tanto no campo social como na infra-estru-tura.

O asfalto se tornou a marca de ação de seus go-vernos. Mas também vieram pedrinhas portuguesas, reforma(s) de passeios e praças, PSF´s, restaurantes populares, funerárias populares, ambulâncias, via-gens gratuitas para BH, isenção de taxas e impostos, doações... “O maior canteiro de obras do Brasil” é também a “casa da madre Tereza de Calcutá”, tama-nhas as bondades aqui executadas. Não é à toa que o prefeito são-joanense é o “pai dos pobres”.

Este apoio popular (mais de 50% dos votos váli-dos em 2009) dá ao prefeito, que enfrenta mais de 50 processos na Justiça, a confiança de dizer que, no próximo pleito eleitoral, pode escolher qual cida-de da região quer governar: São João del-Rei, Santa Cruz de Minas e Tiradentes.

No entanto, para a oposição, as aparências enga-nam e a arte de enganar é uma das manhas do diabo. Nivaldo representa o contra-senso, o caminho do atraso e da falta de eficiência e transparência públi-ca. “Fico triste ao ver minha cidade ser governada por um sujeito como este” – é o discurso uníssono dos que fazem oposição ao prefeito.

As críticas envolvem as obras e a forma como são conduzidas, o assistencialismo gratuito e com fins visivelmente eleitorais, a política de favorecimen-tos (que incha as repartições públicas com cargos em comissão), o relacionamento com a Imprensa e a Câmara dos Vereadores, a ausência permanente da autoridade máxima do governo municipal – que governa São João del-Rei, ou de sua casa em Santa Cruz, ou de seu sítio em Tiradentes, dentre outras.

Nada, no entanto, abala o olhar perdido do prefeito Nivaldo. Desta forma, sem praticamente nenhuma oposição, ele segue tranquilamente a governar a ci-dade que diz carregar no coração. À distância, assim como Deus e como o diabo, ele cuida de seu reba-nho de ovelhas e lobos.

Vio

leta

Cun

ha

No fim, apenas o que interessa

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novembro/dezembro de 2011 | CIÊNCIAS

Ocupação desordenada é principal causa de enchentesJoão Eurico Heyden Jr. e Marcelo Alves

Ana Gabriela Oliveira

São João del-Rei há muito tempo sofre com o problema das enchentes. Por falta de informa-

ção ou por omissão do poder público, a área ur-bana cresceu descontroladamente. Isso danificou o funcionamento do Rio das Mortes e do Córrego do Lenheiro, consequentemente, causando os ala-gamentos nas casas situadas às margens. É isso que a pesquisa intitulada Impactos Ambientais Urbanos Provocados pela Ocupação da Planície Fluvial e do Entorno do Rio das Mortes e seus Afluentes comprova.

O estudo foi coordenado pelo professor e dou-tor em Geografia e Análise Ambiental da UFSJ, Vicente de Paula Leão, e contou com o auxilio da bolsista Raquel Cassia. Segundo Vicente, a ideia da pesquisa surgiu a partir de seus vinte anos de observações do fenômeno das enchentes na cida-de. Isso, somado ao interesse do professor em ge-ografia física e urbana, resultou em uma pesquisa essencial para a comunidade são-joanense.

Ocupação desorganizadaO pesquisador explica que o tema sempre foi

tratado de maneira equivocada, tanto pelos ha-bitantes da cidade quanto pelo meio acadêmico. “Alguns cidadãos acham que o fenômeno tem a ver com tromba d’água”. O que é incorreto, “vis-to que este é um jargão jornalístico do litoral. Já o meio acadêmico sempre discutiu o assunto de maneira muito superficial. A ideia da pesquisa é demonstrar os impactos ambientais urbanos que causam enchentes”.

Segundo Vicente, as pessoas costumam asso-ciar as enchentes às chuvas fortes, o que não é totalmente verdade. Ele explica que a causa está na urbanização desorganizada, que danifica a cir-culação correta do fluxo de água. “São vários os problemas causados pela ocupação humana: as construções em lugares inadequados reduzem o leito do rio; o asfalto diminui a impermeabiliza-ção do solo; a agricultura imprópria despeja sedi-mentos no rio; a mata ciliar, que ajuda na absor-ção da água é cortada. Então, são vários fatores que quando somados às chuvas fortes causam as enchentes”, explica.

Vicente ilustra o problema da ocupação humana desordenada usando do Google Earth (sistema de captação de imagens aéreas por satélites) como exemplo: “ao olharmos o bairro de Nossa Senho-ra de Fátima e a cidade de Santa Cruz de Minas, percebe-se que estão construídos em boa parte na planície de inundação do Córrego do Lenheiros. Então, um fenômeno que seria normal para um rio, que é quando suas águas sobem, acabou se tornando um problema”. Ele enfatiza que a subida do rio, em condições adequadas, é fundamental para o meio ambiente, para a fertilização do solo por exemplo.

Despreparo O doutor em Geografia afirma que o Brasil é um

país tropical, e que, consequentemente, são co-muns em seu território chuvas torrenciais – mui-ta chuva num curto período de tempo, e que por isso deveríamos estar sempre preparados. Vicente também alerta para o oportunismo de políticos em épocas de enchente: “depois que o estrago está

feito, sempre aparece um político para dizer que o problema é a chuva forte, e que consertará o problema. Olhe por exemplo o Canadá: você não vê as nevadas causando tantos problemas por lá, porque eles estão preparados para este tipo de si-tuação”. As enchentes não podem ser simplesmente arru-madas de uma hora para outra, e que “o correto seria que houvesse ao menos um sistema de alerta à população, um programa de prevenção de doen-ças, enfim, um auxílio maior às vítimas das alaga-ções. E não políticos falando sobre coisas impos-síveis de serem feitas”, orienta.

Cidade e campoA pesquisa demonstra que o problema das en-

chentes em São João del-Rei ocorre por fatores que envolvem tanto a zona rural quanto a urbana. Segundo o professor, quando a agricultura é fei-ta de forma errada, as chuvas passam pelo relevo arado e levam os sedimentos ao rio. O que diminui o volume de água comportável, facilitando a inun-dação. Efeito semelhante ocorre na cidade, quan-do as partes mais altas são desmatadas e deixam

o relevo desprotegido, então quando chove forte, desce uma enorme quantidade de terra dos mor-ros, que também acumulam sedimentos no rio.

Segundo Vicente, as áreas perto de rios são me-nos valorizadas, o que acaba atraindo ainda mais construções: “aqui em São João os terrenos e ca-sas em locais centrais estão muito caros, o que obriga a população mais carente a se alojar onde pode”.

AlternativasVicente explica que não existe uma solução pro-

priamente dita para o dano já causado na ocupa-ção inadequada dos leitos. Segundo ele, não seria viável simplesmente retirar as construções das margens do rio, já que existem histórias pessoais ligadas àquelas casas. “O que deveria existir é um trabalho de preservação da mata ciliar, para di-minuir o assoreamento e o lixo jogado nos rios e nas ruas da cidade, lixo que acaba entupindo buei-ros e aumentando o problema. As escolas também deveriam ter um papel educativo, com o uso de material apropriado, para mostrar à comunidade as causas do problema. Senão fica difícil para as pessoas entenderem, por exemplo, que o asfalto do bairro Senhor dos montes está relacionado às enchentes do Nossa Senhora de Fátima”.

O professor afirma que a Universidade ainda é muito distante da comunidade e do poder pú-blico. Vicente explicou, por exemplo, que a pre-feitura não foi receptiva quanto aos estudos, de-mostrando dificuldade de acesso aos dados, “ou porque a pessoa desconhece ou porque não tem vontade de mostrar mesmo”.

Concluindo, o pesquisador defende que en-quanto a sociedade não mostrar que esta atenta as questões ambientais e que isto ira orientar o foco dela, não será feita muita coisa à respeito. Segundo ele, do jeito que vão as coisas “os po-líticos vão continuar não se preocupando com o meio ambiente”.

Fica difícil para as pes-soas entenderem, por

exemplo, que o asfalto do bairro Senhor dos

Montes está relacionado às enchentes do Nossa

Senhora de Fátima.

Pedestre fica presa em enxurrada ao lado da rodoviária

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CIDADES

Policlínica Central pode sair da garagem do INSS e ir para casa que iria abrigar Câmara dos Vereadores

Há mais de 30 anos na garagem do prédio da Previdência Social, a Policlínica Cen-tral de São João del –Rei pode mudar de

endereço. A diretoria do INSS pediu à prefeitura a devolução do espaço para reforma. Segundo o Secretário Municipal de Saúde, José Marcos de Andrade, a administração tem dificuldades em conseguir um novo local, mas avalia a possibili-dade de deslocar a unidade de saúde para a Ave-nida 8 de dezembro, na casa em que seria o novo endereço da Câmara Municipal. A Câmara vai ocupar o antigo Fórum, na Rua Ministro Gabriel Passos, mas ainda não há previsão da data para a mudança.

Como resposta ao pedido do INSS, além da avaliação quanto à possibilidade de transferên-cia, o gestor afirma que a prefeitura vai liberar espaço na policlínica para viabilizar a constru-ção de um elevador. “Nós fizemos um diagnós-tico e demos a proposta de desativar um consul-tório e um vestiário para que a Previdência faça uma parte da reforma sem que a policlínica tenha que sair dali”, diz José Marcos. As obras já co-meçaram e o pátio que dá acesso ao corredor de espera e às salas de consulta tem areia, andaimes e outros materiais de construção.

O secretário alega que o município vai preci-sar de recursos do Estado e do Governo Federal para adequações da futura casa, conforme pre-vê a legislação. “Se tudo der certo, se a Câmara

for para o Fórum, se a gente conseguir o prédio da Avenida 8 de dezembro e recursos para sua adequação, nós vamos deslocar a policlínica central para um prédio do poder municipal”, afirma. Segundo José Marcos, a prefeitura soli-citou à Previdência a doação do espaço atual da policlínica ao município, para manter o serviço no local.

Sobre o possível novo endereço, o que divide opiniões é quanto à localização. Como a policlí-nica precisa estar na região central da cidade, o acesso pode ficar difícil. “Em questão de aces-so aqui [endereço atual] é bem mais fácil. Mas em questão de espaço físico, eu acredito que na nova sede deva ser melhor. Eles devem montar uma estrutura de acordo [com as exigências sa-nitárias] no novo prédio, mas o acesso aqui é mais fácil”, afirma a gerente da policlínica, So-raya da Silva. Para o Secretário de Saúde, a casa na Avenida 8 de dezembro tem boa localização. “Não vai atrapalhar a população caso a policlí-nica vá para a 8 de dezembro. Aonde funciona hoje é central mesmo, mas aonde se propõe le-var é central também. Com diferença de poucos metros entre um endereço e outro”, defende.

Pedido de devolução do prédio se arrasta desde 2006

Antes do Sistema Único de Saúde (SUS) ser instituído pela constituição de 1988, a saúde

pública era responsabilidade do Instituto Nacio-nal de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), que atendia apenas os contribuintes da Previdência. Por isso, a policlínica foi instala-da no prédio do INSS. A partir da implantação do SUS, a saúde passou para a responsabilidade do município, mas o atendimento à população continuou sendo feito no mesmo prédio, que é do Governo Federal. De acordo com o gerente executivo da Previdência Social de Barbacena, Carlos José do Carmo, em fevereiro de 2006, a instituição encaminhou um ofício à Prefeitura de São João del- Rei, dando 30 dias para deso-cupação do imóvel, em cumprimento ao art. 10 da Lei 9.702 de 17/11/98, que previa que imó-veis da federação só poderiam servir ao funcio-namento de serviços de instância federal. Ainda segundo Carlos, a Prefeitura pediu dois anos de prazo para a desocupação, com a justificativa de que precisava de tempo para fazer uma licitação e construir uma nova unidade.

De acordo com o Secretário de Saúde, José Marcos de Andrade, na primeira vez em que a direção do INSS pediu a devolução do prédio, a prefeitura entregou os andares que eram ocu-pados pela policlínica e deslocou todos os con-sultórios para a garagem, onde já funcionava o atendimento. No último mês de setembro, a Pre-vidência pediu a devolução integral do prédio.

Na garagem da Previdência Social, os consul-

Ana Gabriela Oliveira Ana Gabriela Oliveira

Em meio às reformas do INSS, pacientes encontram materiais de construção no pátio que dá acesso às salas de consulta da Policlínica

| novembro/dezembro de 2011

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CIDADES novembro/dezembro de 2011 |

Policlínica Central pode sair da garagem do INSS e ir para casa que iria abrigar Câmara dos Vereadorestórios da Policlínica Central de São João del-Rei são divisórias de eucatex e os pacientes esperam o atendimento em corredores cuja ventilação se dá por meio de pequenos basculantes. Além da ventilação inadequada, outro problema que se destaca quanto á estrutura física do prédio é a dificuldade de acesso que têm os cadeirantes, principalmente aos banheiros.

Para Ernane da Silva, que foi fazer uma consul-ta, a falta de ventilação incomoda. “Quando che-go aqui sinto falta de ar, fico sem jeito e tenho que sair. Lá dentro é apertado e pequeno e a gen-te tem que sair para onde ficam estacionados os carros”, diz. Já Maria Simas e sua acompanhante Marta Rezende reclamam da dificuldade de lo-comoção dos cadeirantes. Além da dificuldade de acesso devido à estrutura física do prédio, como o tamanho das portas dos banheiros, elas ressaltam que as cadeiras de locomoção também não estão em boas condições. “As cadeiras [de locomoção] estão muito ruins. Para entrar com a Maria José na Policlínica, a cadeira soltou o pé três vezes”, diz Marta. Sobre outros aspectos da estrutura, ela afirma: “Ser atendido é o que é importante, mas claro que uma boa ventilação é melhor para o paciente. A estrutura ali é um pou-quinho apertada também”, diz.

A gerente da policlínica, Soraya da Silva, re-conhece a falta de estrutura para atender cadei-rantes, mas garante que dificuldades de acesso às dependências da policlínica são casos isola-dos. Ela também concorda que a ventilação não é a ideal, mas afirma que isto não prejudica o atendimento. “O espaço físico realmente deixa a desejar, mas até hoje isto não trouxe nenhum problema”, diz.

A enfermeira responsável da Policlínica, Caro-lina Rodrigues, pensa como a gerente. Ela afirma que a estrutura do prédio e, sobretudo, a ausência de ventilação, não inviabilizam o atendimento, uma vez que o tipo de paciente encaminhado à unidade não favorece a contaminação. “Geral-mente os pacientes que são atendidos aqui não oferecem o risco biológico de contágio pelo ar. A ventilação poderia ser mais adequada, mas não prejudica o atendimento”, diz.

Já para a Diretora de Clínica Especializada da Secretaria de Saúde do Município, Glaydes Barroso, a policlínica não tem condições de fun-cionar no prédio atual. “Eu acho que ali não é o ideal para funcionamento. Cozinha, banheiro, nada tem condição de funcionar lá. Estou torcen-do para que a policlínica saia dali”, comenta. De acordo com ela, a estrutura física das unidades de saúde exigida pela Secretaria de Saúde do Estado é bem diferente da estrutura da policlínica. “Lá não tem condição de funcionar a sala de sutura. Ela não é ideal para o funcionamento, de acordo com a vigilância sanitária”, diz. E completa: “A gente tem vontade de colocar lá um aparelho de audiômetro [equipamento para avaliar audição], mas não tem condição de colocar. A gente quer implantar a Saúde do Trabalhador [política na-cional que visa redução de doenças e acidentes relacionados ao trabalho] na policlínica. Como que a gente vai colocar naquele lugar super baru-lhento?”, indaga.

O Secretário de Saúde do Município, José Mar-cos de Andrade, concorda que a policlínica não

tem uma estrutura adequada. Ele afirma que a unidade não está dentro das normas da vigilân-cia, mas ressalta que, desde gestões anteriores, foram feitas adaptações com a prioridade de me-lhorar a estrutura do local, como a instalação de ventiladores para melhorar a circulação de ar, pintura e reformas nos banheiros.

Para a Diretora de Clínica Especializada, o ide-al é a construção de uma nova policlínica. Mas ela afirma que não há verba para isso. “Nós não temos recurso estadual e federal para investir

numa clínica especializada, porque as verbas federais e do estado são direcionadas à atenção básica. E, por falta de recurso municipal, a gen-te não constrói uma policlínica nova”, afirma Glaydes.

Vigilância SanitáriaSegundo a responsável pela Vigilância Sanitá-

ria da Secretaria de Saúde do Município, Patrí-cia Torga, o órgão não pode avaliar a policlínica

com base na legislação (RDC50) que regulamen-ta a estrutura física de unidades de saúde. Patrícia explica que a lei se aplica a estabelecimentos que tenham sido construídos ou reformados a partir de 2002, ano da legislação. Como a policlínica funciona naquele espaço desde antes da implan-tação da lei, não há como exigir que a estrutura do prédio siga os requisitos legais.

De acordo com Patrícia, nos casos em que a Vigilância não pode pedir a adequação da estru-tura física, o órgão atua como fiscalizador dos procedimentos dos profissionais de saúde, para minimizar riscos aos pacientes. “A metragem para consultórios, a questão da ventilação, tudo isto está previsto na RDC50. Mas se a gente não consegue enquadrar o estabelecimento na lei, en-tão a gente minimiza a questão do problema da estrutura física instituindo bons procedimentos”, diz. Para ela, há casos em que a estrutura física pode ser um detalhe na avaliação do desempenho de uma unidade de saúde. A responsável pela Vi-gilância argumenta que a excelência dos proce-dimentos adotados pelos profissionais pode ser decisiva para um atendimento de qualidade. “Na avaliação do risco, nem sempre a estrutura é tudo o que a gente avalia. A gente avalia a unidade de saúde de uma maneira geral”, explica.

Embora a inspeção da Policlínica Central seja dever da Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde do Município, a última inspeção foi fei-ta pelo Estado em setembro de 2009, a pedido do Ministério Público. Segundo Patrícia Torga, o pedido da promotoria objetivou garantir a isen-ção da fiscalização, já que a Vigilância do muni-cípio responde diretamente à Secretaria de Saúde de São João del-Rei, que é a responsável pela manutenção da policlínica. A reportagem do Ora-ProNobis não teve acesso ao resultado da última inspeção da Vigilância. O Ministério Público não autorizou a divulgação do relatório, com o argu-mento de que tais informações fazem parte de um inquérito em aberto sobre a saúde, e que a di-vulgação pode prejudicar o andamento do caso.

Nós não temos recurso estadual e federal para investir numa clínica especializada, porque as verbas federais e do estado são direcionadas à atenção básica. E, por

falta de recurso municipal,a gente não constrói uma

policlínica nova.

Casa na Avenida 8 de Dezembro que pode abrigar a Policlínica

Ana G

abriela Oiliveira

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POLÍTICA | novembro/dezembro de 2011

Nivaldo aposta em tucanos para continuar no poder

O prefeito Nivaldo José de Andrade (PMDB), que exerce o seu terceiro mandato na cidade, está pron-

to para disputar a reeleição em 2012. O peemedebista afirma que hoje conta com o apoio do PSDB e tem uma relação próxima com o senador Aécio Neves e o gover-nador Antônio Anastasia. Em 2010, mesmo sendo do partido do candidato Hélio Costa, decidiu apoiar os tu-canos. Esta aliança, segundo Nivaldo, torna muito mais fácil a sua recondução à chefia do Executivo, já que ga-rante, também, ter grande aprovação junto ao eleitorado são-joanense.

Nas eleições anteriores, o PSDB e o PT eram os prin-cipais oposicionistas de Nivaldo. No entanto, o cenário atual é bem diferente. “Em todos os meus outros man-datos não tive o apoio do ex-governador Aécio Neves,

mas sempre ganhei. Agora, minha relação com Aécio e Anastasia é boa, é de parceiro. Tenho chance real de ga-nhar novamente com 70% de aprovação, porque somos as duas forças maiores aqui”, afirma Nivaldo.

Apoio na CâmaraOutro ponto favorável ao peemedebista, segundo Ma-

gui Fátima Silva Nascimento, presidenta do PMDB de São João del-Rei, é a base de apoio majoritária na Câ-mara. “Atualmente Nivaldo tem o apoio de oito vere-adores entre os dez eleitos. Vera do Polivalente (PT) e Jânia Costa (PTB) fazem oposição e, o Gilberto Lixeiro (ex-PT) hoje é aliado ao partido do prefeito (PMDB)”, diz Magui.

Lixeiro justifica sua mudança dizendo que “quando as-

sumiu a administração PT e PSDB só tinha roubalheira na prefeitura. Com o Nivaldo é diferente, ele dá estrutu-ra para os vereadores trabalharem e olha para os pobres. Hoje Nivaldo é imbatível, ninguém ganha dele. O PT queria que eu fosse oposição ao Nivaldo, mas o prefeito tem a caneta na mão e ele não faria nada na minha comu-nidade. Se ele não fizer nada na minha comunidade (Te-juco), como ficam as pessoas que votaram em mim?!”, afirma.

O ex-vereador do PT, José Luiz de Oliveira, que é co-ordenador do curso de Filosofia da UFSJ, criticou a po-lítica assistencialista do atual prefeito e a adesão de Gil-berto Lixeiro ao partido de Nivaldo. “Ele é um populista a nível municipal, populista que se utiliza de meios para se manter no poder, um deles é o de garantir um atendi-mento assistencialista para as pessoas. Outro ponto que critico é o fato de se passar para o povo a ideia de que nem é preciso ir à Prefeitura, porque o povo gosta é wdis-so, uma vez que a massa não tem ligação com as institui-ções, portanto isso não teria valor”, comenta o professor.

Ao contrário de Gilberto Lixeiro, José Luiz afirma que o populismo é algo negativo para a comunidade. “O populismo não leva em conta a necessidade de ter uma administração transparente, organizada e de valores éti-cos. A prefeitura não apresenta um plano diretor. Quanto ao Gilberto Lixeiro, eu avalio que ele nunca encarnou o espírito do PT, ele teria que ter uma postura não fisioló-gica, mas antes de tudo exercer seu papel que é legislar. E o que o PT propõe a nível municipal, estadual e federal não condiz com as atitudes do Nivaldo. O Gilberto é um vereador que acredita que o seu papel é fazer obras e não é isso, mas sim fiscalizar e legislar”, explica José Luiz.

Helvécio Reis pode ser o nome da oposição em 2012O cenário da política municipal preocupa a oposição

sanjoanense. A avaliação é do presidente do PSB na ci-dade, Adenor Simões. “Estamos passando por um mo-mento político em São João del-Rei de total omissão da Câmara dos vereadores e dos partidos opositores. Você não vê uma manifestação dos outros partidos que con-correram. Nem o PT, que é um partido tradicionalmente de oposição, está preocupado com esta postura.”, consta-ta Adenor, que teve apoio do PSDB nas últimas eleições para prefeito, na qual Nivaldo acabou eleito.

De acordo com Simões, a relação entre PSDB e PMDB é pura conveniência. “É um toma lá da cá, pura troca de favores. As alianças são feitas conforme o mo-mento político que a cidade e os partidos passam. É puro interesse político. O PSDB hoje agradece o Nivaldo por ter apoiado o Anastasia”, afirma. Ele acredita que essa é uma situação desconfortável para o PSDB. “As ideo-logias dos dois partidos não batem. Acho que o PSBD local está insatisfeito com o apoio ao Nivaldo e pensa em lançar seu próprio candidato. O problema é que não há nomes fortes para enfrentar o Nivaldo”, explica.

Quanto ao futuro político do PSB, Simões conta que o partido está passando por uma reestruturação no Estado, uma vez que elegeu apenas um deputado estadual nas úl-timas eleições. Por isso pretende eleger um representante local. “Para fazer alguma coisa de concreto, é necessário estar no poder para que, a partir daí, possamos aplicar as ideias para educação, cultura, urbanismo.”, diz Adenor, que pode ser, novamente, o candidato do PSB para o car-go de prefeito. Na eleição de 2008, quando disputou a prefeitura, o socialista teve mais de 12 mil votos, ficando em segundo lugar. No entanto, para o próximo pleito, possivelmente não contará com o apoio do PSDB.

Tucanato na esperaA possibilidade de uma aliança entre PMDB e PSDB

para a reeleição de Nivaldo Andrade é reforçada pelo de-putado estadual tucano Rômulo Viegas. “Em São João del-Rei, o PMDB é um partido de expressão e potencial político. Soma-se a isto o fato de que a maioria expressi-va do PMDB são-joanense, liderada pelo atual prefeito, apoiou a candidatura do PSDB a deputado estadual, ao senado e ao governo de Minas e, portanto, temos que de-monstrar também uma sincronia e harmonia no próximo cenário de disputa eleitoral”, diz.

Apesar de apontar a proximidade entre PSDB e PMDB, Rômulo Viegas afirma que os partidos terão tempo para se organizar para a eleição municipal. “Ain-da é cedo para que os respectivos diretórios municipais já tenham uma decisão fechada, pois isto afasta a possibili-dade até mesmo do surgimento de um nome que muitas vezes ainda nem foi cogitado”, avalia.

O vereador Mauro Alexandre Carvalho Duarte – Mau-ro da Presidente, presidente da Câmara e do PSDB , afir-ma que é cedo para falar em alianças. Ele informa que os tucanos ainda não definiram se irão lançar candidato próprio ou se irão apoiar algum nome para as próximas eleições. “Ainda é cedo para afirmar qualquer coisa. O partido ainda não se reuniu para discutir tais questões”, diz. No entanto, Mauro elogiou o trabalho que Nivaldo vem fazendo à frente da prefeitura, ressaltando o apoio do atual prefeito à campanha para governador em 2011.

Aposta em HelvécioEnquanto o PSDB não decide se apoia Nivaldo ou se

lança algum candidato, o PT pode lançar Helvécio Reis, atual reitor UFSJ, como candidato a prefeito. A dúvida

parece estar na escolha de um nome para vice-prefeito. Especula-se que Cristiano Tadeu da Silveira, candidato a prefeito na última eleição, possa ser indicado a vice. No entanto, o nome de Maria Cristina Lopes, mulher do deputado federal Reginaldo Lopes, que foi candidata a vice do próprio Cristiano na última eleição, divide os petistas. O reitor ainda está reticente em assumir a sua candidatura.

Para Rômulo Viegas, no que se refere aos pré-candida-tos apresentados para a próxima eleição, o cenário atual é de especulações e prefere não citar nomes. “Todos têm o direito de pleitear qualquer cargo eletivo, bastando para isso apresentar suas propostas primeiramente aos parti-dos políticos e depois para a população, que evidente-mente é quem vai decidir pela escolha que achar mais adequada naquele momento eleitoral”, diz.

Adenor Simões, no entanto, acredita que o eleitor é muito imediatista, e a forma de administração do prefeito Nivaldo é a que sempre ganha. Ele avalia, por exemplo, que o possível adversário de Nivaldo nas próximas elei-ções, Helvécio Reis, mesmo sendo um candidato forte, terá poucas chances de vitória. “Helvécio não vai conse-guir ganhar do Nivaldo porque ele não tem voto para isso”, diz.

Há quem discorde e aposte numa briga forte. Para José Luiz de Oliveira, Helvécio é um forte opositor do atual prefeito. “Helvécio é um homem que vive a administração e é extremamente dinâmico. Ao mes-mo tempo em que constrói obras, ele é um homem de diálogo: conversa com todas as camadas da po-pulação. Ele é capaz de se candidatar por um partido de esquerda (PT) e trazer os outros para conversar, desde que eles contribuam”, finaliza.

Mariana Fernandes e Thamiris Franco

André Neves e Walquíria Domingues

Nivaldo Andrade afirma que terá apoio do PSDB para tentar reeleição

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“Nós não podíamos passar pela ‘rua da zona’, mas acabamos aqui”, brinca Nelly Lúcia Ri-

beiro Silva (Guigui), uma das fundadoras do Centro Cultural Feminino (CCF), que desde 2007 se locali-za na Rua Marechal Bittencourt, a antiga e boêmia “Rua da Zona” de São João del-Rei. A rua, antiga morada das prostitutas da cidade, hoje abriga diver-sas entidades culturais e é o ponto de encontro do CCF, que já existe há 25 anos.

Desde 1986, desenvolvendo diversas ações que visam “principalmente congregar a comunidade em torno de temas relacionados à cultura e às manifesta-ções artísticas da região”, como explica a atual pre-sidente Magda Valéria Silva, o CCF realiza muitas atividades. São cursos, oficinas, palestras, debates, saraus, exposições, apresentações musicais, eventos alusivos a datas especiais, “além de manter na sede uma exposição permanente de produtos artesanais para venda”, acrescenta Magda Silva.

O Centro Cultural Feminino, apesar de estar na antiga “Rua da Zona”, ainda não tem um lugar só seu. “Nós ficamos muito errantes, porque não temos uma sede própria”, reclama Guigui. O grupo já es-teve em vários pontos da cidade, como no galpão da Estação Ferroviária, em uma casa na Avenida Tira-dentes e até mesmo na residência de um membro da diretoria.

Hoje, o Centro reside na casa de número 42 da rua boêmia, porque esta foi cedida por um comoda-to de 10 anos. 2007 foi inteiramente dedicado para a reforma do local, que aconteceu com a ajuda do governo estadual. A casa, por exemplo, não tinha banheiro. “A casa não tinha banheiro, como todas as outras ruas da zona. Os homens que freqüentavam a zona contaram que não havia banheiro nas casas, e era usado o método da bacia”, conta Magda Valé-ria. O projeto arquitetônico da reforma foi de André Dangelo, que não cobrou pelo serviço, assim como aconteceu com as demais doações.

CULTURA novembro/dezembro de 2011 |

História de raiz política O Centro Cultural Femini-no começou com o fim da ditadura militar. “Aqui em SJDR estávamos montando o comitê Muda Brasil, através da Maria Amélia Dangelo. Ela veio aqui e convocou as mulheres para participar, já que SJDR era a terra de Tancredo e ainda não tinha o comitê”, conta Guigui. Magda Valéria complementa que Ma-ria Amélia, depois da vitória de Tancredo, “resolveu criar uma associação feminina que pudesse partici-par de assuntos importantes da cidade com a mesma força que defendeu Tancredo”, diz.

Dona Guigui se orgulha: “a partir daí estamos nes-sa luta, já fizemos muita coisa, participamos de mui-ta briga pelo patrimônio material e imaterial da ci-dade”, e relembra: “vai levar os pianos de São João? Lá ia a gente sentar na porta do teatro para o piano não sair”. A força feminina são-joanense veio assim, mostrando desde 1986, que a cidade precisa e pode defender seu patrimônio arquitetônico e cultural.

A co-fundadora Guigui relembra com muito hu-mor de um caso que aconteceu no início das ativida-des do CCF. “Recebemos uma verba do governo pra comprar material para os bordados, mas um ladrão entrou no Centro e roubou tudo, deixou a gente pe-ladona”, fala. Depois de um tempo, elas descobri-ram que rapazes vendiam os bordados e o material roubado para comprar drogas. “Como na época aqui era a rua da zona, eles vendiam ou pagavam as mo-ças com os materiais e os bordados. Nós acabamos descobrindo muitos bordados nossos aqui na zona”, conta Guigui.

Os bordados Uma forte atividade do Centro é preservar a arte

dos bordados antigos. Como incentivadoras estão as senhoras mais prendadas da cidade. “A Shirley Za-nola Paiva, por exemplo, trabalhava num orfanato que era um dos maiores núcleos de bordados que tinha em São João antigamente. Ela ensinava bor-dados perfeitos, maravilhosos, como borda ainda

hoje”, conta Guigui. Dentre as bordadeiras também existem homens, como também na própria diretoria do Centro. Um dos bordadeiros é Edmar Luiz Batis-ta, que já decorou altares de mais de 100 igrejas no Brasil.

Hoje, aproximadamente 20 pessoas freqüentam o Centro semanalmente, e a maioria delas são se-nhoras da terceira idade que passam seu tempo bor-dando por prazer. “Para as idosas, é o momento da terapia”, conta Magda Silva. Os bordados, minucio-sos, são uma obra de arte que vem sendo esquecida pelas novas gerações. “Vale ressaltar que o CCF se empenha em resgatar, valorizar e socializar a arte dos bordados manuais com suas variadas e antigas técnicas que, muitas vezes, eram repassadas de mãe para filha e que atualmente, com a massificação e uniformização de produtos industrializados e globa-lizados, encontra-se praticamente em vias de extin-ção”, diz.

A missão continua As integrantes do Centro acre-ditam que, para São João del-Rei, o CCF ainda não está cumprindo realmente seus ideais. “Isso aconte-ce porque infelizmente não temos muito apoio, nós tentamos lutar pela preservação do patrimônio ar-quitetônico e cultural, mas é muito difícil sem esse apoio”, reclama Guigui.

Mas o grupo continua empenhado, com novos pro-jetos. “Iremos começar cursos de artesanato, para aproveitar as vendas do natal”, conta Magda Valéria, que ressalta que as atividades são abertas para toda a comunidade, além de turistas, e que é tudo gratui-to. “Desde aquela época, qualquer pessoa que quiser chegar, a gente recebe e ensina”, diz Guigui. Com essa força de vontade, elas ainda têm esperança: “ter uma sede própria é um sonho perseguido desde o ano de 1986. Estamos lutando para conquistá-lo em 2012. Tomara que consigamos”, diz Magda Silva.

Sede do Centro Cultural Feminino fica na an-tiga Rua Marechal Bittencourt, antiga Rua da Zona

Walquíria Domingues

O bordado é um dos principais trabalhos artesanais realizados no Centro Cultural Feminino

O Centro Cultural Feminino foi parar na “Zona”M

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| novembro/dezembro de 2011 PERFIL

Ao telefone, minutos antes de pegar a lotação, pergunto a minha entrevistada como faria para

chamá-la em casa. Acompanhada de uma risada sab-orosa, ela me responde.

- A minha campainha irá me avisar.Mesmo estranhando essa resposta, parti em di-

reção ao Alto das Águas. Lugar tranquilo, rodeado de verde e um céu espetacular.

14h. Estou na Rua João de Barro. Todas as ruas daquele paraíso tem nome de pássaros. Caminho pela estradinha de terra deserta. Logo que passo em frente a uma casa verde de tijolinhos, um som de 70 latidos começa, e a fundo uma voz feminina pedindo silêncio. Pronto, tinha chegado ao local combinado. Minutos depois, aparece ao longe, uma criatura com o sorriso aberto e um olhar doce. Alice de Almeida Coelho Ferreira. Alice, para muitos.

Minha proposta de um perfil a incomodou a princí-pio. Ela faz questão de reafirmar que a vida dela não é grandiosa. Então teria que analisar nas entrelinhas uma vida repleta de causos e acasos.

A primeira coisa que fez ao chegarmos à sala foi mostrar a foto dos quatro filhos na tela do computa-dor. Logo depois a foto dos pais, acima do sofá, em suas bodas de ouro. A tela do computador, a todo o momento passava a frase de Edmund Burke: “Tudo o que é necessário para o triunfo do mal é que os homens de bem nada façam”. Quando eu perguntei o porquê da frase, a resposta veio de imediato.

- Nós temos que ser idealistas. Às vezes, temos uma ideia fora dos paradigmas, fora do conserva-dorismo e as pessoas acham que a gente é louca por fugir do padrão. Nós temos que ter coragem. Plas-mamos aquele pensamento e quando você se dá con-ta, você faz. Assim foi quando comecei a construir aqui todo mundo foi contra. ‘É muito longe’, ‘Não tem nada lá’, ‘Você vai ficar sozinha’. Aí eu pensei, ‘Eu quero isso mesmo, plantar árvore, ter bichos’ e construí.

Há 18 anos morando nas águas e 20 como inte-grante da Sociedade São Francisco de Assis de pro-teção aos animais, Alice cuida de 70 cachorros. To-dos abandonados na rua ou mal tratados em lares. Seu gasto com ração chega a 25 kg por dia, e mesmo assim ela não se cansa.

Durante nosso papo, ela pediu licença para chamar a atenção da Gringa porque latia demais. Coloco-me a calcular quanto do seu sustento e dedicação são voltados para esses cachorros de rua. Meu pen-samento é interrompido quando ela volta cantaro-lando.

Sua paixão por cuidar de cães, pelo visto, é genéti-ca. Seus pais adotavam cachorros abandonados para criarem, mas nunca estimularam essa caridade nos filhos. Uma causa que todos aderiram sem esforço, incluindo netos. O primeiro cachorro criado por Al-ice foi Guito, quando ela tinha apenas cinco anos. Um vira lata, preto e branco. Guito morreu com 18 anos, cego e surdo. Uma perda que transparece em sua feição ao falar de seu companheiro.

A meu pedido, descemos para poder ver de perto o canil. Alice entra pela portinha, toda cercada e avisa que irá soltar os cães em grupos afins. Espero an-siosa do lado de fora da grade, com os nervos à flor da pele por ouvir tantos latidos. A porta abre e ca-

chorros desesperados vêm em direção à grade para poder verificar quem é o intruso do dia. Logo atrás vem Alice, segurando um Yorkshire e conversando com eles. Conhece todos por nomes e reconhece o latido de cada um.

- Todos aqui têm uma história. Esse aqui, por ex-emplo, foi minha neta que trouxe. Ela é fisiotera-peuta e tratava de uma senhora. O cachorrinho era tão maltratado que minha neta se recusou a cuidar da senhora porque não aguentava mais o ver ser maltratado. Ela disse que o neto da senhora pisou na patinha dele até quebrar, se ele fizesse xixi apan-

hava. Por fim, ele tinha medo de sair do quartinho. Minha neta me perguntou se eu aceitaria cuidar. Aceitei e está comigo agora.

Depois de brincar com todos, Alice pegou um pauzinho e dando três toques na parede falou em tom casual: “A hora do recreio acabou, vamos en-trar”. Todos entraram sem olhar para trás ou desviar. O recreio tinha mesmo acabado.

Nascida em 13 de julho, aos 72 anos, Alice diz gostar de tudo e por isso se considera um pouco fora dos padrões. Já declarou para sua família que en-quanto for viva vai criar bichos sim.

E não se restringe a cachorros. Já teve gatos, tu-cano e mico. Todos estavam abandonados na rua e, depois dela, conseguiram proteção. O número 70 espanta, mas nem a própria Alice consegue explicar como chegou a esse total.

- Foi chegando. Só que agora não posso pegar mais porque estou no limite, mas eu me considero feliz. No meu perrengue financeiro eu não fiquei sozinha um minuto. Todos conhecidos me ajudaram e eu sempre tinha a companhia dos meus cachorros. Como que eu não vou ser feliz?

Num tempo em que “merda” era palavrão e usar calça jeans não era para mulheres, Alice sempre foi à frente do seu tempo. Usava biquíni, calça jeans, burlava missa para ir ao cinema, mas nunca se en-volveu com bebidas ou cigarros. Casou grávida de oito meses e nem a costureira que fez seu vestido reparou. Na verdade, quem desconfiou de sua gravi-dez foi o namorado.

- Muitas meninas estavam casando grávidas, mas era tudo escondido. A moça que fez meu vestido de noiva não notou. Só o meu cachorro sabia. Casei dia 1º de maio, e minha filha nasceu dia 23 de junho, foi um escândalo que você nem imagina. Além disso, acho que foi o primeiro casamento à noite.

Se cismasse com alguma coisa, fazia. Nunca seguia ninguém, mas também não era de caçar briga. Prefere que as coisas sejam resolvidas na conversa. Não segue horários ou situações padronizadas. Isso se reflete na criação de seus cães.

- Eu não gosto de horário rígido, gosto que eles fiquem mais à vontade. Não posso acostumá-los com horário, senão eles vão sofrer porque eu pre-ciso sair. Quando eu era menina, na hora do almoço tínhamos que esperar o papai chegar. Depois mamãe rezava e aí sim, íamos comer. Às vezes eu nem ia. Passava meu tempo pendurada no pomar comendo frutas. Esse era meu almoço, e eu quero que eles sejam assim, livres.

- Eu adoro meu nome! Olha meu coelho branco de pelúcia. Eu não sou Alice?

Existe alguma dúvida?

Alice no país dos cãesCarol Slaibi

Carol Argamim Gouvêa

Carol Slaibi

Alice é apaixonada pelos cachorros e conhece todos os 70 pelo nome

Como uma senhora de 72 anos cuida sozinha de 70 cães abandonados