jornal folha da rua larga nº 22

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Iniciado na Tijuca, o Movimento dos Compositores Samba na Fonte foi transferido em 2007, encontrando terreno adequado na Pedra do Sal. Todas as quartas-feiras, a partir das 19h, acontece o encontro dos sambistas, sempre com algo novo para mostrar. Estudantes de Cinema se inspiraram no local e produziram um curta-metragem sobre o berço do samba. Ações artísticas nas ruas da cidade enfatizam o charme do Centro O Colégio Pedro II, unidade Centro, comemorou o resultado no Ideb, que colocou a instituição federal como a melhor do Estado e a segunda melhor do Brasil. Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Nº 22 ANO III RIO DE JANEIRO | AGOSTO – SETEMBRO DE 2010 Sambas inéditos encontram espaço na Pedra do Sal páginas 8 e 9 Pincel na mão e um ideal na cabeça: o pintor B. de Paula pinta nas vias públicas ao som de chorinho ou bossa nova. Inspirado pelo Rio Antigo, ele abriu um espaço cultural na região. Reconhecimento ao ensino público de qualidade João Guerreiro, coordenador de ações culturais do Centro Cultural Ação da Cidadania, descreve a experiência de levar livros e cinema para crianças da comunidade da Providência e convida os leitores interessados a doar livros infantis para o projeto. página 6 página 12 Página 15 A arte de apresentar livros para as crianças página 14 Recursos do FGTS aplicados na Zona Portuária Foi assinado um acordo entre a prefeitura do Rio e a Caixa Econômica Federal para que os recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) sejam utilizados para obras de revitalização, como a demolição do Elevado da Perimetral. cidade opinião Lielzo Azambuja página 5 Internacional, com acento espanhol gastronomia cultura Sacha Leite 16 jovens comemoraram seus 15 anos no último dia 14 de agosto. A grande festa, celebrada no Centro Cultural José Bonifácio, na Gamboa, reuniu policiais e a comunidade em um grande evento. O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, compareceu ao local. Felipe O’neill Comunidade da Providência promove festa de debutantes coletiva em parceria com a 7ª UPP página 13 folha da rua larga

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Criado em 2008 pela LIGHT, o jornal é editado pelo Instituto Cultural CIdade Viva (ICCV) e distribui gratuitamente 5.000 exemplares, a cada dois meses, na região da Rua Larga e Centro do Rio. Sua missão é dialogar com quem frequenta o local, autoridades, trabalhadores e moradores a respeito do processo de revitalização já deflagrado na Zona Portuária e Centro do Rio.

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Page 1: Jornal Folha da Rua Larga nº 22

folha da rua larga

Iniciado na Tijuca, o Movimento dos Compositores Samba na Fonte foi transferido em 2007, encontrando terreno adequado na Pedra do Sal. Todas as quartas-feiras, a partir das 19h, acontece o encontro dos sambistas, sempre com algo novo para mostrar. Estudantes de Cinema se inspiraram no local e produziram um curta-metragem sobre o berço do samba.

Ações artísticas nas ruas da cidade enfatizam o charme do CentroO Colégio Pedro II, unidade Centro, comemorou o resultado no Ideb, que colocou a instituição federal como a melhor do Estado e a segunda melhor do Brasil.

Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Nº 22 ANO IIIRIO DE JANEIRO | AGOSTO – SETEMBRO DE 2010

Sambas inéditos encontram espaço na Pedra do Sal

páginas 8 e 9

Pincel na mão e um ideal na cabeça: o pintor B. de Paula pinta nas vias públicas ao som de chorinho ou bossa nova. Inspirado pelo Rio Antigo, ele abriu um espaço cultural na região.

Reconhecimento ao ensino público de qualidade

João Guerreiro, coordenador de ações culturais do Centro Cultural Ação da Cidadania, descreve a experiência de levar livros e cinema para crianças da comunidade da Providência e convida os leitores interessados a doar livros infantis para o projeto.

página 6

página 12 Página 15

A arte de apresentar livros para as crianças

página 14

Recursos do FGTS aplicados na Zona PortuáriaFoi assinado um acordo entre a prefeitura do Rio e a Caixa Econômica Federal para que os recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) sejam utilizados para obras de revitalização, como a demolição do Elevado da Perimetral.

cidade

opinião

Lielzo Azambuja

página 5Internacional, com acento espanhol

gastronomia

cultura

Sacha Leite

16 jovens comemoraram seus 15 anos no último dia 14 de agosto. A grande festa, celebrada no Centro Cultural José Bonifácio, na Gamboa, reuniu policiais e a comunidade em um grande evento. O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, compareceu ao local.

Felipe O’neill

Comunidade da Providência promove festa de debutantes coletiva em parceria com a 7ª UPP

página 13

folha da rua larga

Page 2: Jornal Folha da Rua Larga nº 22

agosto – setembro de 2010

nossa rua

Se essa Rua fosse minha

Elizangela Almeida Vendedora

“O trânsito da região é muito confuso. Por exemplo, o sinal que fecha para uma pista e abre para outra. Você atravessa a rua por prestação. Eu colocaria mais guardas de trânsito para orientar melhor os pedestres e os motoristas.”

Ezequiel Ribeiro Porteiro

“Eu melhoria o sistema de drenagem e lim-paria os bueiros, pois quando chove é um desastre. As ruas ficam todas alagadas e em algumas ruas é impossível de passar, princi-palmente da Rua Carmelita para a Avenida Marechal Floriano.”

“Eu reformaria os prédios e os pintaria nas cores verde e amarelo para deixar pronto para a Copa de 2014. Melhoraria a ilumina-ção para deixar a região bem viva e abriria mais bares sofisticados. A Rua Larga viraria um ponto turístico.”

Natalia Fernandes da Silva Gerente

Fabiola Buzim

Fabiola Buzim

Fabiola Buzim

folha da rua larga

cartas dos leitores

2folha da rua larga

Redação do jornalRua São Bento, 9 - 1º andar - Centro

Rio de Janeiro RJ - CEP 20090-010 - Tel.: (21) 2233-3690

www.folhadarualarga.com.br [email protected]

A Folha da Rua Larga acolhe opiniões de todos os temas. Reserva-se, no entanto, o direito de rejeitar acusações insultu-osas ou desacompanhadas de documentação. Devido às limi-tações de espaço, será feita uma seleção das cartas e, quando forem concisas, serão publicados os trechos mais relevantes. As cartas devem ser enviadas para: Rua São Bento, 9, sala 101, CEP 20090-010, pelo fax (21) 2233-3690 ou através do endereço eletrônico [email protected]

Conselho Editorial - André Figueiredo, Carlos Pousa,

Francis Miszputen, João Carlos Ventura, Mário

Margutti, Mozart Vitor Serra

Direção Executiva - Fernando Portella

Editora e Jornalista Responsável - Sacha Leite

Colaboradores - Ana Carolina Monteiro, Ana

Carolina Portella, Fabiola Buzim, Felipe O’Neill, João

Guerreiro, Karina Martin, Lielzo Azambuja, Marina

Ayres Costa, Nilton Ramalho, Rosalva Almeida e

Teresa Speridião

Projeto gráfico - Henrique Pontual e Adriana

Lins

Diagramação - Suzy Terra

Revisão Tipográfica - Raquel Terra

Produção Gráfica - Paulo Batista dos Santos

Impressão - Mávi Artes Gráficas Ltda.

www.maviartesgraficas.com.br

Contato comercial - Teresa Speridião

Tiragem desta edição: 5.000 exemplares

Anúncios - [email protected]

10 anos de Sururu

Neste mês, o grupo de samba e choro Sururu na Roda completa uma déca-da de existência. Envie um e-mail para [email protected] descre-vendo seu gosto pelo sam-ba. As melhores respostas ganharão convites para o show de aniversário do grupo no Centro Cultural Carioca. Promoção válida para respostas recebidas até dia 27 de setembro.

Fabiano Salek

Choque de Ordem

É repugnante o estado de abandono em que se encon-tra a área da Central do Bra-sil, incluindo o Terminal Américo Fontenelle, pas-sando pela Gamboa e ad-jacências. Sem citar as ruas internas do Centro, como a Uruguaiana, Buenos Aires, etc. O que se encontra de lixo, camelô, mendicância, drogas e prostituição, às vistas de autoridades, como Guarda Municipal, PM e Polícia Civil, é inacreditá-vel. Na Central, por exem-plo, funciona o 5ª BPM. Como pode? Choque de ordem já!

Rodrigo Teixeira Martins

Santo Cristo

Trabalho no Santo Cristo e observei que, desde janei-ro, um poste de iluminação pública fica aceso dia e noi-te, na esquina das ruas Pro-fessor Pereira Reis e Cidade de Lima, ao lado de uma concessionária de veículos. É um absurdo pagarmos taxa

na conta de luz para o poder público desperdiçá-la dessa forma.

Paulo Lisboa Neto

Ordenamento urbano

As avenidas Chile e Al-mirante Barroso precisam urgentemente de uma ação de ordenamento. Nesse corredor existem vários “pontos finais” de ônibus, pontos de ônibus piratas (em frente à cabi-ne de polícia do BNDES), locais de carga e descarga irregulares (na direção do Largo da Carioca), estacionamento em fila dupla com flanelinha manobrando os carros, kombis-depósitos, que fi-cam paradas o dia inteiro, dentre tantas outras irre-gularidades. Em qualquer dia da semana é possível constatar a total ausência do poder público.

Marcos Alberto Motta

Xadrez

Professores montaram um grande tabuleiro de xadrez no Largo da Ca-rioca. Com a inibição dos adultos, os aprendi-zes mirins, que faziam parte de uma família de moradores de rua, foram destaque, para a admira-ção de todos. Esta aí é uma prova de que o nos-so país desperdiça seres humanos, que se tives-sem oportunidade pode-riam ser grandes vence-dores não só no xadrez, mas na vida.

José C. de Carvalho

Page 3: Jornal Folha da Rua Larga nº 22
Page 4: Jornal Folha da Rua Larga nº 22

Cliques Rua Larga boca no trombone

gabriel provocador

[email protected]

Cem alunos das oficinas de caratê organizada pela UPP da Providência viajaram para o 1º Torneio Zona Sul-Sudeste da Confederação Esportiva e Educacional Brasileira de Karatê, que aconteceu em Cubatão, SP, e voltaram com 50 medalhas. A ação foi possível através da parceria entre instâncias do governo e o apoio de entidades como o Instituto Light, a LBV e o Polo Empresarial Nova Rua Larga.

Um olhar fugaz sobre a comunidade da Providência, com a torre da Central do Brasil no topo, ao fundo.

4folha da rua larga

nossa rua

Fabiola Buzim

Fabiola Buzim

Compra-se tempo para brincar

agosto – setembro de 2010

A Copa do Mundo acabou, encalharam as bandeiras brasileiras, ca-misas e vuvuzelas. Os brasileiros ficaram com cara de “Bunga”. Mano Menezes, técnico do Co-rinthians, faz agora a Jabulani girar até 2014. Entram em campo nova-mente os problemas, co-meçam novas esperanças. Vêm aí as eleições! Serra e Dilma empatados, com certeza haverá prorroga-ção e disputa de pênaltis. No Estado, Cabral está forte, como foi em 1500. A Rede Social cresce – um dia decidirá uma elei-ção. Vamos trabalhar!

Vivemos na velocidade dos bites, não há tempo para refletir, falamos por e--mail sem olhar nos olhos. Temos tantas senhas para tantas coisas, menos para o que entra na nossa cabe-ça. Surpreendemo-nos, às vezes, cantando um jingle que ouvimos na TV, que não foi autorizado por nós para entrar. Respondemos a tantas vozes interiores, que não sabemos direito quem está falando dentro de nós: mãe, pai, profes-sor, amigo, ídolo, chefe, todos juntos. Quem diz “sim” ou “não”, “posso” ou “não posso”, “devo” ou “não devo”? Qual de todas essas vozes, frases feitas, disquetes de valo-res é a nossa única voz? O que pensamos de fato?

Somos uma carruagem, os cavalos, a emoção – para onde nos levam? O cocheiro é a mente – o que nos ordena? A carroça é o corpo que malha na es-teira estática. Deveríamos ser o passageiro da nossa carruagem e ordenar ao cocheiro que toque os ca-valos para onde queremos ir e não para onde nos le-vam as pressões diárias. O vazio que se sente na alma é da ausência de nós mes-mos na condução de nos-sas vidas.

O mundo muda tão rá-pido, corremos tanto, que

outro dia encontrei de fren-te com as minhas costas. Estou comprando tempo, horas que não tenho para não fazer absolutamente nada e assim, no momen-to mais distraído, poder me ver, me ouvir, me to-car, brincar e receber res-postas a tantas perguntas que as insônias não res-pondem.

Vemos, mas não enxer-gamos. Acordamos e es-covamos os dentes come-çando sempre pelo mesmo canto da boca; tomamos banho, começando a lavar primeiro uma parte do cor-po e terminando por aque-la outra – a mesma rotina. No chuveiro, pensamos, não tomamos banho. No café, sentamos naquela mesma cadeira sem ver o quadro torto há meses na parede detrás. Saímos de casa sem ver detalhes no-vos do caminho – tudo é como se fosse um cenário estático de uma peça de teatro. E ainda queremos encontrar soluções novas para os antigos problemas. Só percebemos com inten-sidade o que nos choca na primeira página do jornal: um acidente, um crime, um ato de corrupção...

No andar de cima no meu apartamento há uma festa de aniversário. Já cantaram Parabéns para você – cantamos sempre essa música, sem questio-nar. Há um falatório ani-mado, uma alegria geral. Fico pensando nas pesso-as que moram nos prédios, umas em cima das outras, que não se conhecem du-rante uma vida inteira. São mundos que se cruzam nos nossos mundos – linhas paralelas e juntas, perto e infinitamente distantes. Estamos longe de formar um time e eleger um téc-nico como o Bernardinho para nos orientar.

Page 5: Jornal Folha da Rua Larga nº 22

folha da rua larga

nossa rua

fabiola [email protected]

5

Felipe O’Neill

7ª UPP organiza baile de debutantes comunitário16 jovens da comunidade da Providência comemoram a chegada dos 15 anos em festa de gala

agosto – setembro de 2010

O secretário de Segurança José Mariano Beltrame e 15 policiais dançam com as jovens da Providência

A manicure Silvana Fer-reira de Souza, de 32 anos, se surpeendeu quando a filha chegou em casa di-zendo que teria uma festa de debutante. A princípio, pensou que a filha estives-se mentindo: “Quem iria dar uma festa de graça para gente pobre?”. A filha de fato não estava mentindo. Ela havia sido escolhida para o baile de debutante organizado pela 7ª Unida-de de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro da Pro-vidência e pelo Centro de Referência Social (CRAS). Foram selecionadas 16 adolescentes para viver uma noite de sonhos e gala, e para estas moças, a noite de 14 de agosto de 2010 se tornou inesquecível.

O comandante geral da Polícia Militar, Mário Sér-gio Duarte, estava presen-te e afirmou que pretende levar a ideia do baile das debutantes para as outras onze UPPs do Rio. “A polícia vai atuar nessas comunidades como um cimento das segregações. Eventos como os de hoje demonstraram isso e serão reproduzidos”. A próxima data ainda não foi definida, mas, para o baile de 2011, já existe uma grande fila de espera.

A iniciativa partiu do ca-pitão Glauco Schorcht e o objetivo principal foi o de aproximar a comunidade dos trabalhos realizados pela UPP e fortalecer essa relação, com descontração. Ele buscou inspiração em suas próprias experiências quando era cadete e sem-pre era convocado para

participar fardado de festas de debutantes. O primeiro passo foi buscar o apoio do Centro de Referência So-cial (CRAS) e o patrocínio de empresas privadas. Ele convidou os comandantes e secretário de Segurança para compor o grupo dos chamados “príncipes de debutantes”.

Maritza Macieira, coor-denadora do CRAS, ficou responsável pela divulga-ção da festa na comuni-dade e por selecionar as adolescentes. Alguns cri-térios foram criados para a seleção, dentre eles ter um cadastro junto a um programa social do gover-no, estar matriculada em uma escola pública, ter um bom desempenho escolar e ter feito 15 anos recen-temente. Ela explicou que a proposta era tão interes-sante que muitas pessoas não mostraram resistência para apoiar o projeto.

Policiais fardados bailaram com as

jovens aniversariantes

“Eu fiquei boba, não acredito até agora que tudo isso seja para mim”, co-mentou Silvana, enquanto observava a filha, Dayana Souza da Silva, dançan-do no salão ao lado de um policial. Já a adolescente, exultante, comemorava o belo arranjo no cabelo e o vestido de gala. “É um mo-mento que vou levar por toda a minha vida”, reve-lou emocionada.

A dona de casa Lúcia Helena Santana da Con-ceição era só alegria e or-

gulho. Ela se emocionou muito também ao presen-ciar a filha, Lucimar da Conceição Cardoso, que também completava 15 anos, dançando alegremen-te com o comandante da 7º UPP, Glauco Schorcht. Foi uma grande honra para am-bos. A adolescente nasceu com um tipo específico de deficiência física e mental e por isso anda em cadei-ra de rodas e se comunica apenas através de alguns sons e gestos. O fato de ser cadeirante e mesmo assim dançar se tornou um dos mais significativos e como-ventes momentos da noite.

Na entrada do Centro Cultural José Bonifácio, um longo tapete vermelho guiava os convidados até o salão principal, onde esta-va a banda 190 da Polícia Militar. Muitos refletores, mesas, garçons, fotográfos e jornalistas, como numa típica noite de celebrida-des. O ponto alto da noite

foi quando as 16 adoles-centes dançaram Danúbio azul, em uma espécie de rito de passagem, ao longo de 10 minutos, ao lado de 15 oficiais da polícia mili-tar fardados, dentre eles o secretário estadual de Se-gurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame.

Vestidos com ternos brancos, o grupo de po-liciais era composto por onze comandantes de ou-tras UPPs e mais três sub-comandantes. O papel que desempenharam na noite foi muito especial para a maioria deles. O tenente Joacyr foi um dos “prín-cipes” e declarou que foi uma noite histórica e de quebra de paradigma. Se-gundo ele, o momento de descontração serviu para afastar a imagem repres-sora da polícia. “Quem iria imaginar uma festa de debutante envolvendo poli-ciais e adolescentes de uma comunidade?”, questionou.

José Mariano Beltrame: “UPP não é o

único caminho”

Enquanto para as meni-nas era uma estreia, para o secretário de Segurança José Mariano Beltrame, foi apenas mais um baile que entrou em sua lista. “Já fui ‘príncipe’ pelo menos cinco vezes em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, cidade onde nasci. Acho que dou para o gasto”, brincou.

Para ele, o evento tem um valor simbólico, consideran-do que muitas das famílias que estavam ali até pouco tempo atrás não tinham a oportunidade de sonhar. Ele atribuiu toda a realização ao esforço da própria comuni-dade e ressaltou que deveria ser um exemplo para a so-ciedade como um todo. So-bre a ação das UPPs ele afir-mou que não pode ser con-siderada a solução de todos os problemas, mas apenas mais um dos caminhos para

ser seguido. “Temos muito o que fazer e outros projetos precisam ser concretizados. Necessitamos que a socie-dade e a iniciativa privada participem mais”.

Durante um mês as ado-lescentes tiveram aulas de dança com o coreógrafo Jú-lio Nascimento. As jovens sentiram um pouco de ver-gonha no início dos ensaios com os policiais, mas nos úl-timos encontros já estavam mais descontraídas. Para Martiza, foi um grande pas-so: “Este evento mexeu mui-to com a autoestima delas, mas não vai acabar por aqui. Foi incrível ver como as pes-soas se animaram com esta possibilidade. Conseguimos o patrocínio e os moradores se encarregaram de ajudar, da decoração à escolha do buffet”.

A noite terminou em gran-de estilo para todas as famí-lias. Após a valsa, o grupo pôde se divertir mais na boi-te improvisada. Debutar é um rito de passagem quando as adolescentes completam o décimo quinto aniversá-rio e podem participar ati-vamente da sociedade. No entanto, para as 16 jovens e suas famílias, significou muito mais: “Foi um mo-mento relevante em que elas tiveram a oportunidade de sonhar, mesmo que este so-nho seja apenas o dançar de uma valsa”, definiu o fami-liar de uma das debutantes da Providência.

Page 6: Jornal Folha da Rua Larga nº 22

João [email protected]

6folha da rua larga

Como introduzir a leitura na vida das criançasUma outra concepção de segurança pública

sacha [email protected]

opinião

Nilton Ramalho

agosto – setembro de 2010

No sábado, 31 de julho, fizemos mais uma sessão do Cineclube e o Sarau Providencial. Pela primei-ra vez este ano, em vez de subirmos de mototáxi, descemos na Central do Brasil, passamos por den-tro da gare (a Gabriella, que é voluntária do Sarau, nunca tinha ido à Central – é mineira, recém-chega-da ao RJ...), fomos para a Rua Senador Pompeu e, cheios de pompa, pe-gamos a Kombi para o Largo do Morro da Provi-dência. Nivea e Gabriella protestaram – gostam de subir de moto, cabelos ao vento e bumbuns empina-dos – mas, com o choque de ordem, é melhor subir de Kombi. O trajeto mu-dou: a Providência agora tem até “mão” de subida e de descida... O choque de ordem me fez passar do transporte irregular in-dividual para o coletivo...

Mas vamos ao que interessa: chegamos à Providência por volta das 17h30. Apenas uma criança no Largo da Es-cadaria e o Maurício Hora sozinho tentando montar os equipamentos. As mo-ças colocam o plástico

no chão do Largo e espa-lham os livros. Em cinco minutos, começam a sair “levas” de crianças das vielas e, em 10 minutos, já são 21 crianças agarra-das com os livros e com as “tias”. Todo mundo quer ler, escolher a po-esia a ser lida, e o Sarau Providencial fica impro-vável. Improvável por-que “vinícius”, “cecílias” e “quintanas” passam a ser disputados como do-ces de Cosme e Damião. Improvável porque a dis-puta é para ler! E o mais improvável ainda é que a grande maioria dessas crianças não sabem ler. Apesar de todas estarem na escola, são analfabe-tas. Então porque dispu-tar as “silvias orthoff”, as “ruths rochas”? Estamos todos procurando enten-der o porquê e até ago-ra a melhor resposta é a razão do próprio sarau: o despojamento, a “na-turalização” da leitura e do livro, a liberdade de interpretação e a atenção que as “tias” dão para es-sas crianças. Ah, e nessa sociedade de espetáculo, poder ler no “microfone”!

Toda a programação

foi superada pela “poro-roca” das crianças afoi-tas para decorar a sua poesia (a maioria não sabe ler, como já disse): — Por favor, não pise no Drummond, olha, cuida-do com o Bandeira, não bate com o Ziraldo na cabeça do amiguinho... A cena que não vi e o Mau-rício Hora não conseguiu registrar com sua câmera: dois bebês com menos de um ano engatinhando en-tre os livros (mãe, só não deixe eles babarem na Ana Maria Machado, tá?), um deles senta, pega um livro e abre! Imitando o irmão mais velho, inicia-se o hábito da leitura precoce? Parece-nos que sim. Mas como mantê-lo? Mais um enigma.

Das 21 crianças, 15 le-ram poesia. Algumas, vá-rias poesias. Ah, já teve adolescente se chegando devagarzinho... A me-nina “M”, que no sarau anterior estava com suas madeixas até a cintura e cheinha de piolhos, chega com seus cabelos curtos. Ela era a mais bagunceira no primeiro sarau. Des-ta vez, era a mais con-centrada. Sabem o mo-

tivo? Então me digam... Ufa! As “tias” já estão exaustas. Hora da surpre-sa: levamos livros infantis de casa e sorteamos entre os que falaram poesia. Eram apenas seis para 15 crianças. Foi o que deu para fazer. PS: quem pu-der doar livros de poesia infantil para sortearmos no próximo Sarau Pro-videncial, doe. Criamos o fato, mas não temos como levar todos os livros do Pedro e do Miguel. Pronto! Hora do filme. O Circo, do Chaplin, é um sucesso absoluto. Não só entre as crianças, mas também entre os adultos que vão chegando ao ve-rem o Largo com as luzes apagadas e as crianças deitadas no que antes era o plástico de proteção dos livros e lugar de ficar sen-tado lendo sua poesia.

Acabado o filme, aplau-sos. E todos perguntando: “Quem é o cara engraça-do, ele tá vivo? Tem outro filme dele?” Poesia e ci-nema: dessa vez só faltou a pipoca.

Concordo com quem falou que o baile de debu-tantes que uniu policiais e jovens moradoras da Pro-vidência em um baile de gala, na 7ª UPP, seja uma quebra de paradigma. Isso porque a polícia, muitas vezes associada à repressão e ao desconforto, passa a participar da vida dos ci-dadãos de uma forma dife-renciada, com outra carga de significado. É possível que comece a surgir daí uma outra concepção de segurança pública na ci-dade, dentro da qual seja possível pensarmos em um real respeito ao indivíduo e aos direitos humanos, mas um conceito como esse leva tempo para mudar no interior de cada um.

A princípio, uma festa de 15 anos pode parecer futilidade. No entanto, é o momento em que, tradi-cionalmente, as famílias apresentam suas filhas ao público, para que elas pos-sam identificar seus pares e participar ativamente da sociedade. Pode ser um pouco démodé, mas o sim-bolismo da data na vida das aniversariantes é inegável. Trata-se de um rito de pas-sagem “marcado” de uma maneira bonita, descontra-ída e viva. Por isso é inu-sitado que nesse momento os policiais sejam os prín-cipes.

Ações como essa de-vem ser estimuladas e ter o apoio de todos. É preciso revirar a imagem da polí-cia, prejudicada pelos anos de golpe militar e os con-flitos posteriores. Que seja uma instituição mais prote-tora do que repressora, que auxilie na prevenção da violência através de ações sociais como o baile que se apresentou na Providência e que se movimente com a comunidade, a cada pas-so, sem sair do andamento. Então construiremos uma relação urbanamente es-

sencial e benéfica para to-das as partes.

Além da festa de ani-versário, a 7ª UPP tem re-alizado uma série de ações sociais, sob comando do capitão Glauco Schorcht, em parceria com o Centro de Referência de Assistên-cia Social, especialmente através da figura de Ma-ritza Macieira Couto. Um modelo de UPP Social será implementado na Providên-cia pela Secretaria de Ação Social. Com apoio de aca-dêmicos e do Tribunal de Justiça, os policiais serão formados mediadores, “ju-ízes leigos”, e terão treina-mento em abordagem não violenta.

Por falar nisso, agradeço ao coordenador de ações culturais da Ação da Cida-dania, João Guerreiro, por compartilhar com os lei-tores o seu artigo, aqui ao lado, sobre a experiência do Cineclube e Sarau Pro-videncial. O parágrafo final do texto foi cortado, por motivo de espaço, em que ele dizia que fuzis não com-binavam com livros infan-tis. Explicito aqui a concor-dância com essa premissa e o apoio às ações culturais e sociais, públicas, privadas ou do terceiro setor, que ajudem os cidadãos a ter acesso a cultura e viverem em um ambiente digno.

Tudo isso é um ganho de qualidade difícil de dimen-sionar não somente para os frequentadores do Centro do Rio, mas para toda a ci-dade. Trata-se de um piloto, que, funcionando, irá influir em indicadores como o Ín-dice de Desenvolvimento Humano, na Economia e no Turismo. A imagem do Rio de Janeiro será alterada e poderemos ser verdadeiros ao dizer que moramos na Cidade Maravilhosa.

Page 7: Jornal Folha da Rua Larga nº 22

folha da rua larga

empresa

Polo Empresarial Nova Rua Larga promove três dias de eventos

Eletronuclear e EPE assinam acordo de cooperação técnica

7

marina ayres [email protected]

da redação

Divulgação

Integrantes do Polo Empresarial Nova Rua Larga com o então secretário Rodrigo Bethlem

agosto – setembro de 2010

Associação de comerciantes participará do projeto Tô no Polo

Com vistas ao incenti-vo dos polos comerciais do Rio, haverá entre os dias 17 e 26 de setembro o projeto Tô no Polo. A ação, realizada pela pre-feitura do Rio de Janeiro, por meio da Secretaria Especial de Desenvolvi-mento Econômico Soli-dário, em parceria com o Sebrae-RJ, o Sindirio, a Associaçao Comercial do Rio de Janeiro e a Feco-mércio, pretende estimu-lar as associações e gerar uma maior interatividade entre elas.

Segundo o secretário de Desenvolvimento Econô-mico Solidário, Marce-lo Henrique da Costa, o evento irá reunir 17 dos 22 polos comerciais da cidade: “Nossos objeti-vos são divulgar os polos e consolidá-los junto aos cariocas, movimentar a cidade e o seu comér-cio, e atrair a atenção de moradores e turistas”, de acordo com o secretário, durante esses dez dias, cada polo irá organizar o

Em 11 de agosto de 2010, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e a Ele-trobrás Termonuclear S.A. (Eletronuclear) assinaram um acordo de cooperação que guiará o Brasil na ex-pansão do seu parque nucle-ar, levando a energia limpa a mais regiões do país.

Programação Polo Nova Rua Larga no Tô no PoloDia 20/09/2010

• 15h30: lavagem da calçada e da fachada do Colégio Pedro II;

• 16h30: visita guiada às instalações e palestra narrando a história e casos marcantes do colégio, a ser realizada no Salão Nobre;

• 17h: lavagem das fachadas da Igreja de Santa Rita;• 18h: entrega de documento, manifestando o desejo

de reurbanização do conhecido Beco das Sardinhas, com apresentação de conjunto de chorinho.

Dia 22/09/2010• 16h: lavagem e limpeza da Pedra do Sal;• 17h30: colocação de placa – Moção de

Reconhecimento – assinada pelo prefeito ou subprefeito, concedendo a homenagem aos sambistas precursores do samba carioca;

• 18h: apresentação do tradicional samba que ocorre todas as quartas-feiras no local – Movimento de Compositores Samba na Fonte.

Dia 24/09/2010• 14h: limpeza do Espaço Rio Branco (Praça em

frente ao Palácio do Itamaraty);• 15h30: lavagem da fachada e calçadas em frente

ao Palácio do Itamaraty e, simultaneamente, visita guiada às suas dependências;

• Entrega ao Embaixador de documento, endereçado ao Ministro de Relações Exteriores, reconhecendo a importância do Itamaraty e a necessidade de sua manutenção como símbolo cultural da cidade do Rio de Janeiro;

• 17h15: solenidade de encerramento do Tô no Polo, com a apresentação da Banda do Exército no Espaço Rio Branco.

projeto Tô no Polo. Ha-verá lavagem simbóli-ca de monumentos e a menção honrosa a pontos importantes da região, por exemplo, a Pedra do Sal. A ideia é apresentar a área como um local ca-paz de abrigar eventos culturais e turísticos.

O Polo Empresarial Nova Rua Larga irá pro-por a criação de promo-

seu próprio evento. Ainda de acordo com

Marcelo Henrique, outra meta da série de eventos está em explorar a voca-ção de cada uma das loca-lidades dos polos.

Para os dias 20, 22 e 26 de setembro, o Polo Empresarial Nova Rua Larga prepara uma pro-gramação especial para a região, como parte do

O acordo entre as empre-sas permitirá a realização de estudos que envolvem a se-leção dos sítios destinados à instalação das quatro usinas nucleares previstas no Plano Nacional de Energia 2030 (PNE-2030), promovendo o aumento da capacidade de geração de energia elétrica

do país. Serão analisados nove estados das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, que podem ser ampliados para atingir outras Unidades da Federação.

Estudos já realizados pela EPE, responsável pelo pla-nejamento da geração de energia nacional em longo

prazo, indicaram a geração nucleoelétrica como parte da estratégia nacional que irá expandir a oferta de energia elétrica. O acor-do de cooperação técnica baseou-se na experiência da Eletrobrás Eletronucle-ar em relação a construção e operação da única central

nuclear do país. Os resultados desse

acordo englobam as duas empresas, atendendo ao desenvolvimento do pla-nejamento energético feito pela EPE e ao planejamento das atividades da Eletrobrás Eletronuclear. A parceria contribuirá para manter o

ções e descontos em lojas e restaurantes da região, além da prática de pro-moções casadas, para fortalecer o espírito cola-borativo entre os associa-dos. Confira, no quadro ao lado, a programação completa.

intercâmbio de dados e as informações pertinentes entre as empresas, fomen-tando o contínuo desenvol-vimento de suas responsa-bilidades institucionais.

Page 8: Jornal Folha da Rua Larga nº 22

cultura

Fonte salgada, mas muito fértilCompositores da Pedra do Sal contam como chegaram ao berço do samba

8folha da rua larga

Divulgação

Integrantes do Movimento dos Compositores – Samba na Fonte, sobre a Pedra do Sal

agosto – setembro de 2010

Local onde os escravos descarregavam sal até o final do século XIX, a Pedra do Sal é considerada o berço do sam-ba carioca. Lá se reuniram bambas como João da Baia-na, Pixinguinha e Donga, o primeiro a registrar um samba na cidade, a composição Pelo telefone. Em sintonia com es-sas raízes musicais, a região abriga atualmente, nas noites de quarta-feira, o movimento Samba na Fonte, em que in-tegrantes do Movimento dos Compositores compartilham seus sambas inéditos. “A proposta é dar espaço para o compositor mostrar o seu tra-balho, divulgá-lo e não deixar os sambas na gaveta”, revela Orlando Professor, um dos membros da associação.

O público varia entre mora-dores, curiosos e estrangeiros. Os bares vizinhos à Pedra do Sal colocam mesas e cadeiras na rua, formando um ambien-te descontraído e agradável. Dali a pouco começam a apa-recer os compositores, que entram conversando, brincan-do, e por vezes cantarolando canções prestes a ser criadas.

Historiador e diretor-fun-dador do bloco carnavalesco Cordão do Prata Preta, Orlan-do Professor frequenta a roda há dois anos. Ele conta que o Samba na Fonte surgiu em agosto de 2007, no Sindicato dos Fumagistas, na Tijuca, e foi transferido para a Pedra do Sal em dezembro do mesmo ano. Segundo ele, o motivo da transferência esteve, além do desejo de se unir à tradição musical da Pedra do Sal, faci-litar o acesso de todos, já que os mais de 30 participantes moram em pontos variados da cidade.

Alberto Machado se sente “capturado” pelo Samba na Fonte: “Sou funcionário da mãe d’água (Cedae, ao lado da Pedra do Sal) e era repre-sentante sindical. Estava aqui fazendo um ato público, rei-vindicando meus direitos em cima de um carro de som, quando comecei a ver o pes-

soal chegar com violão, per-cussão, e tal. Eu ia para Cam-po Grande, mas falei pro mo-torista: pode ir embora... Vim fazer política e caí no samba”, lembra Alberto Machado, co-nhecido na roda como BM.

Segundo Orlando Profes-sor, que fez um estudo do grupo, apresentado na UFPA, os temas predominantes no Samba na Fonte são “cotidia-no” e “amor”. O líder do mo-vimento, Haroldo César, por exemplo, fugiu da estatística compondo o samba Alfabeto, sobre a reforma ortográfica: “Ditongo, tritongo, hiato... Que auê, que fuzuê! / alfa-beto muito fácil, mas difícil de entender / a revolução da gramática até hoje dá chabú / movimento iniciado pelo a-e--i-o-u”.

Djalminha, conhecido na

roda como “filólogo”, pelas belas letras que faz, dis-se que seu samba Barraco no classificado estourara nas paradas de sucesso em 1964: “Meu samba foi parar na Academia Brasileira de Letras. O Austregésilo de Athayde ficou louco. Per-guntou: ‘Como faz isso?’”, se orgulha Djalminha, que nasceu no Morro da Provi-dência e já foi gravado por Marina, Zeca Pagodinho, Almir Guineto e Joel Teixei-ra. “Na ABL, tem chá dos acadêmicos. Aqui tem caldi-nho de feijão, porque o povo aqui é mais desnutrido”, completa Bulhões, médico do Hospital dos Servidores e frequentador da roda.

Apesar do clima improvi-sado do samba ser uma mar-ca registrada, o Movimento

dos Compositores se apre-senta com regras bastante disciplinadas. Além de não costumarem tocar sambas que ainda não foram regis-trados, a execução de sam-bas é por ordem de chegada: “Se Caetano e Gil chegarem aqui, não vão tocar, porque o nome não vai estar na lista”, brinca Bulhões.

Quando questionados so-bre o ritmo de produção de sambas inéditos, os com-positores são unânimes na resposta: “Sempre tem coi-sa nova”. De acordo com Professor, o samba quando cantado pela primeira vez na roda pode causar estra-nhamento: “Conforme você vai cantando, o samba vai ficando mais arrumadinho e, com a frequencia, vai crian-do forma até ficar bom”.

Um movimento masculino

Segundo os organizadores, não há restrição de gênero, no entanto não há mulhe-res integrando o Samba na Fonte: “Não tem mulher por enquanto, mas o movimento não está fechado”, esclarece o compositor Beto Machado, “ou as mulheres não estão compondo ou não estão vin-do aqui mostrar o trabalho”, provoca.

Os autores apontam casos inusitados e grandes talen-tos: “Temos um compositor fabuloso: o Luiz Fernando, do Império Serrano. Quando chegou uma notícia de que um amigo nosso tinha faleci-do, ele fez um samba aqui, na hora”, comemoram. “Aqui já teve de tudo, já apareceu até

um japonês cantando samba na língua dele e tocando ca-vaquinho”, relata Bulhões.

Já o compositor Jotap, que mescla outros estilos com o samba, vê o espaço como uma sala de aula: “Isso aqui é uma grande escola. Venho para me alimentar musical-mente e formar novas parce-rias”, revela.

Na quarta-feira em que a reportagem da Folha da Rua Larga compareceu ao Sam-ba na Fonte, o tempo estava chuvoso. Por isso, foi pos-sível ver a comunidade em mutirão armando um gran-de toldo azul: “Em tempo instável, colocamos a lona”, explicou Orlando Professor. Faça chuva ou faça sol, o Movimento dos Composito-res – Samba na Fonte dá o seu recado.

Page 9: Jornal Folha da Rua Larga nº 22

A Pedra do Sal pela ótica de jovens documentaristasEstudantes de Cinema escolheram o local como tema de curta-metragem

9folha da rua larga

cultura

Divulgação

Divulgação

Em cena do filme, crianças dizem que a Pedra do Sal é um lugar de lazer

A diretora Juliana Chagas em um dos acessos ao Morro da Conceição

sacha [email protected]

agosto – setembro de 2010

O documentário Pedra do Sal, de 12 minutos, di-rigido por Juliana Chagas e Renata Schiavini, foi elaborado durante uma pós-graduação em Cinema Documentário, da Fun-dação Getúlio Vargas. De acordo com as estudantes, a escolha do tema se deu pela riqueza de significa-do associada à Pedra do Sal. As jovens apresenta-ram casos contados pelos próprios moradores, com muito sal e muito samba.

Como foi definido o tema do filme? Quais os critérios utilizados?

Pensamos em fazer um documentário sobre um assunto de que a gente gostasse e tivesse intimi-dade. No caso, o samba. Conhecíamos a roda de samba da Pedra do Sal. A princípio, seria um filme sobre essa roda, mas aca-bamos descobrindo que a Pedra era muito mais do que samba. E que sua his-tória deveria ser contata pelos moradores antigos, a partir de suas impres-sões e memórias. Longe de ser um documentário histórico, com a preten-são de explicar todos os acontecimentos do local, o

que seria impossível para qualquer filme, ainda mais para um curta-metragem, optamos por mostrar a relação das pessoas com aquele lugar. E, como con-sequência, a nossa relação também, tanto com a Pe-dra como com os morado-res.

A partir de que época

se tem registros de infor-mações sobre o local?

Não sabemos exata-mente. O que apuramos na época da pesquisa é que a Pedra do Sal foi construída pelos escra-vos, que descarregavam o sal recebido no porto do Rio ali. Para facilitar o transporte do sal para uma casa no alto da Pe-dra, os escravos fizeram aquelas escadas que exis-tem até hoje. O Eduardo, personagem do filme, conta que o carregamen-to de sal era guardado ao lado da casa dele.

Desde a sua “funda-

ção” até hoje, qual tem sido a marca fundamen-tal da Pedra do Sal?

A Pedra já “viu” muitas coisas diferentes. Escra-vos descarregando o sal,

estivadores construindo casas. A tia Ciata morava ali perto e a Pedra já abri-gou os adeptos do can-domblé. Donga compôs o primeiro samba gravado, Pelo telefone, também ali. Muitas crianças passam todos os dias para ir à es-cola, os moradores sobem e descem na idas e vindas do trabalho. Toda segunda e quarta, o samba é feito na sua volta. São muitos os sentidos, as memórias e as marcas dessa Pedra.

O que mais as impres-sionou ao longo das fil-magens?

Descobrir que o mesmo lugar tem significados completamente diferen-tes para as pessoas. Deci-dimos incluir as crianças na última hora, quando uma delas disse que ali era seu “local de lazer”. Era uma outra visão do mesmo lugar. Então co-locamos as meninas para contar o que a Pedra do Sal significava para elas. E acabou dando mais gra-ça e leveza ao filme.

Page 10: Jornal Folha da Rua Larga nº 22

social

Sociedade de Apoio e Recuperação das Artes leva dança e artes cênicas para 12 mil pessoas

Arte sara as mazelas sociais

10folha da rua larga

fabiola [email protected]

Divulgação

A diretora e presidente da SARA, Neuca Menezes, dança com uma de suas turmas de alunos ao fundo

agosto – setembro de 2010

Há três anos, a bailarina profissional Neuca Mene-zes, de 61 anos, tinha em mãos um projeto na área cultural e buscava meios para desenvolvê-lo. Já o empresário Aníbal Balta-zar, proprietário da empresa Principado Louças, se inco-modava com as desigual-dades sociais e procurava um meio de ajudar pessoas carentes. Em setembro de 2007, o encontro entre es-sas duas vontades resultou na criação do Grupo SARA – Sociedade de Apoio e Re-cuperação das Artes, e do projeto que leva o nome do seu patrocinador exclusivo, Aníbal Baltazar. No mês de setembro, o grupo comemo-ra o seu quarto ano de exis-tência, tendo atingido mais de 12 mil alunos e emprega-do mais de 15 funcionários.

Diretora e presidente do grupo, Neuca Menezes ex-plicou que o objetivo prin-cipal do projeto é valorizar e democratizar a cultura. “Oferecemos oportunida-des, proporcionamos um ambiente para a identifica-ção de talentos, estimula-mos a formação de plateias, mas tudo isso unindo arte e educação”. A SARA ofe-rece regularmente e de for-ma gratuita às instituições públicas oficinas de dança oriental, circo, teatro, jazz, frevo e dança de salão, atin-gindo o público de diversas idades, de crianças a idosos.

As oficinas culturais já foram realizadas no Morro da Providência, nas colônias

de férias das escolas muni-cipais, no Casarão dos Gui-marães em Santa Teresa, na Biblioteca Pública Estadual do Méier, na EMEF Anísio Teixeira, na Fundação Si-monton e em algumas UPPs. Nestes casos, a atuação do grupo não se restringiu ao limites da capital fluminen-se, mas alcançou também outras cidades, estendendo suas ações a mais cinco mu-nicípios do Estado: Barra do Piraí, Paraíba do Sul, Nite-rói, Resende e Vassouras.

Para Aníbal Baltazar o projeto foi além de suas expectativas e sonhos. Des-cendente de imigrantes es-panhóis, o comerciante afir-mou ter tido uma infância hostil e com poucos recur-sos. Ele diz que teria sido vitima de discriminação, por sua condição social, e que esta realidade o teria motivado a agir de forma diferente: “Eu sempre me incomodei muito com as desigualdades sociais. Ao patrocinar este projeto eu

faço algo de que gosto e me sinto realizado, pois faço a minha parte”, justificou.

A bailarina Ariany Ma-cedo da Silva, de 17 anos, começou a participar da oficina de dança, se desta-cou e foi convidada a ser tornar instrutora assisten-te. Ela estudara balé numa escola particular e, com o tempo, a família não pôde mais pagar a mensalidade. Foi quando viu a divulga-ção das oficinas da SARA e resolveu participar: “Acho

muito importante a iniciati-va. Vejo as meninas da mi-nha idade e muitas já estão grávidas. Eu tive uma opor-tunidade de construir outra realidade”.

Além das atividades re-gulares o grupo realiza apresentações artísticas pelo Estado. Uma recente parceria com o Trem do Corcovado possibilitou levar seus alunos para co-nhecerem, gratuitamente, os pontos turísticos do Rio. Para Neuca Menezes,

a divulgação periódica dos resultados alcançados mostra seriedade e trans-parência do projeto. Todo esse trabalho e divulgação renderam ao projeto indi-cações ao Prêmio de Cul-tura da Secretaria de Esta-do de Cultura, em 2009, e a Ordem do Mérito Cultu-ral do Ministério da Cultu-ra de 2010.

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folha da rua larga

dicas da regiãoSiga aquele aroma

fabíola [email protected] da redação

A tradicional loja conta porque nove entre dez clientes assobiam a sua canção

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Rua LargaRua Larga

comércio

Fachada da loja Café Capital, na Avenida Marechal Floriano

agosto – setembro de 2010

Segundos de observação na loja Café Capital são su-ficientes para perceber a tra-dição e o café fresco no ar. O tilintar das moedas, os risos e conversas, o barulhinho das xícaras, a movimentação intensa. Esse é o ambiente que cativa os frequentado-res do lugar, que chegam a consumir de 1,6 mil a 2 mil cafezinhos por dia.

Os pedidos variam entre café puro, café com pão de queijo, café com uma fatia de bolo, café pingado. No entanto, em todos há um de-nominador comum, fazendo parecer que o antigo slogan é mesmo real: bom mesmo é Café Capital.

Segundo Luciano Inácio, empresário e atual proprie-tário do Café Capital, a loja, situada há mais de 100 anos no mesmo endereço (Ave-nida Marechal Floriano, nº 27), sempre foi um ponto muito frequentado, e é até hoje. O estabelecimento fun-ciona das 6h às 20h e man-tém um ritmo parecido du-rante o dia. “Nós vendemos o dia inteiro e o movimento é intenso”, relata.

Em 2003, o empresário adquiriu a loja e a fábrica Café Capital, e com a nova administração, muitas mu-danças foram realizadas para manter a clientela ativa. O local passou por uma refor-ma, já que a estrutura antiga estava bem danificada. Na reforma, foram colocados ar-condicionado, balcões e mesas mais modernas, além de uma nova iluminação.

De acordo com o empre-sário, foi um período difícil e ele precisou readequar a empresa à realidade atual do mercado. E um dos princi-pais passos foi o de alterar o quadro administrativo, investir em marketing, mo-dificar as embalagens e co-mercializar outros produtos. “Lançamos tipos especiais de café, como o expresso, com sabor de macadâmia e o tradicional cappuccino.

Montamos uma tabacaria e oferecemos oito tipos de bolos, rocamboles, pudim, trufas e lançamos o pão de queijo com fabricação pró-pria”, explicou.

Na fábrica, as mudanças também foram grandes. A partir da nova administra-ção, a produção de café au-mentou. A oferta é do grão torrado e moído e a distri-buição ocorre em todo o Es-tado do Rio de Janeiro.

Após sete anos de ad-ministração, o empresário avalia que todas as mudan-ças foram necessárias para fortalecer a marca. O próxi-mo passo será o de expan-dir a loja. A cozinha vai ser transferida para a sobreloja e será construído um salão especial, mais confortável e reservado. Neste novo espa-ço, haverá ar-condicionado e uma exposição com fotos antigas. Também serão lan-çados novos produtos, mas Luciano Inácio ainda não quer falar sobre o assunto: “Estamos estudando o me-lhor período para lançá-lo e trabalhando na campanha”, justificou.

O site será igualmente reestruturado e a proposta é atingir também o público jovem, associando o con-

sumo de café à vitalidade, energia e saúde. Para Lu-ciano Inácio, a ideia de que café faz mal para a saúde foi superada e novas pesquisas mostram os benefícios do consumo regular da bebi-da. Segundo o empresário, o site disponibilizará essas informações: “É necessário desmistificar”, afirma.

No site da loja, o jingle disponível

em samba e valsa

A empresa Café Capital foi fundada em 1943. Sua loja funcionava na Avenida Passos e passou para a Ave-nida Marechal Floriano em 1976. Antes disso, no núme-ro 27, funcionava a empresa “Café Camões”, de 1876. Esta foi a primeira marca de café registrada no Brasil.

Segundo Luciano, houve uma fusão entre as empre-sas Café Amazonas, Café Legítimo e a Camões. Eles compraram a Café Capital e transferiram a loja para o endereço atual. A empresa chegou a ter 17 lojas distri-buídas no Rio e em Niterói e uma fábrica que funcionou no Centro do Rio, de 1943 a 1954, e depois mudou para Inhaúma. Entre sua clientela

assídua, havia sempre mui-tas personalidades da época, como escritores, juízes, ad-vogados e jornalistas. Além das lojas, o famoso cafe-zinho foi vendido também em uma Kombi, na Feira da Providência. O empresário contou que, na década de 70, as pessoas faziam fila para comprar o café moído na hora.

E foi nesse período tam-bém que o famoso jingle foi criado: “Bom mesmo é Café Capital / É bom! / Há mais de meio século famoso / Ca-pital é o café mais gostoso / Bom mesmo é Café Capital / Tomo um, tomo dois, tomo três / Depois de um café Ca-pital / Bom mesmo é Café Capital outra vez / É bom!”. No site da empresa, é possí-vel ouvir o jingle em valsa e samba. Segundo Luciano, de dez clientes que entram na loja, pelo menos nove sabem cantar ou assobiar a música. Na época, o jingle fortaleceu ainda mais a mar-ca, mas até hoje é lembrado com certo saudosismo de “um tempo que foi bom e não volta mais”.

Sacha Leite

As liquidações de in-verno já começaram e na Leleka Calçados há vários produtos em pro-moção. Lá você vai en-contrar bolsas feitas de pano, couro, em várias cores e estampas, por R$ 24,99 e R$ 19,99. Os sa-patos femininos com to-nalidades do verão, laran-ja, verde água e rosa pink, por R$ 26,99, e as botas de couro e camurça de R$ 79,99 por R$ 49,99. A Le-leka Calçados fica na Av. Marechal Floriano, 28, Centro. Tel.: 2233-5058.

Perfumes e cosméticos em geral você encontra na loja Fina Pele. A loja oferece 10% de desconto para os homens em to-dos os produtos da linha Salvatore Ferragamo, fragrâncias nacionais e importadas a partir de R$ 29,90. Além da perfuma-ria, você encontra tam-bém roupas femininas. As peças da coleção de inver-no saem com 30% de des-conto. As blusas custam a partir de R$ 27. Confira! Av. Marechal Floriano, 48, loja B, Centro. Tel.: 2233-7851.

Quer fazer uma ha-ppy hour na empresa, mas não tem tempo de organizar? Ligue para o La Fábrica! O empresário Milton San Román, sócio do restaurante Velho So-nho e presidente do Polo Empresarial Nova Rua Larga, abriu uma franquia da loja. Especializada em sanduíches de pão de miga argentina, a filial já reali-za entregas nas redonde-zas. Os preços variam de R$ 11,50 a R$ 22,50. Os recheios são diversos, em pão branco ou inte-gral. As tortas custam a partir de R$ 27,90, para 12 pessoas, em sabores como brigadeiro, nozes e alemã. Avenida Mare-chal Floriano, 163. Tel.: 2275-4302.

Cansou do visual e quer fazer uma trans-formação? Vá ao Salão de Beleza Isadora Coi-ffeur. Corte de cabelo, hidratação e escova, a partir de R$ 35. Além dis-so, você encontra mani-cure e pedicure por R$ 9 cada. A depilação sai a R$ 7 a axila, R$ 15 a ½ per-na, R$ 24 a perna inteira e a virilha por apenas R$ 12. Vale a pena conferir! O salão fica na Av. Pre-sidente Vargas, 590, sala 210, 2º andar, Centro. Tel.: 2263-2919.

Quer boas ideias para decorar a sua casa a pequenos preços? Na Decorlab você encontra diversos artigos para de-coração: almofadas, tape-tes, cortinas entre outros. A manta para sofá feita em tear manual sai por R$ R$ 124 (peça única). Almofadas indianas bor-dadas a partir de R$ 38. Há também móveis, ca-deiras, baús, cômodas. O armário em madeira de demolição sai a R$ 1.100. Se quiser conferir imagens da loja é só aces-sar o site: www.decorlab.com.br. A loja fica na Rua Mayrink Veiga, 6, Centro. Tel.: 2516-8221.

Quer algo diferente para presentear? Na Flor do Acre Ilumina-ção você encontra lumi-nárias que são réplicas dos antigos postes do Largo da Carioca. Há modelos com uma lâm-pada, por R$ 67, e com duas lâmpadas, por R$ 76. Você encontra tam-bém abajur pequeno a partir de R$ 39,90. Além disso, há diversos artigos para iluminação, lâmpa-das especiais e materiais em geral. Rua do Acre, 65, Centro. Tel.: 2253-1981.

Page 12: Jornal Folha da Rua Larga nº 22

cidade

Pedro II Centro, a melhor escola pública do Rio

Animando a Rua Larga

Ideb aponta CPII Centro como o melhor colégio do Estado e 2º melhor do Brasil

Região terá oito meses de eventos culturais gratuitos

12folha da rua larga

Divulgação

da redaçã[email protected]

agosto – setembro de 2010

Alunos que alcançaram a nota 7,6 no ano passado

Criado pelo governo fe-deral para funcionar como um termômetro do ensino público do país, o Índice de Desenvolvimento da Educa-ção Básica (Ideb) divulgou, em julho, os resultados de sua edição 2009. O Colégio Pedro II do Centro comemo-ra o resultado alcançado: de acordo com o diretor da uni-dade, professor Flávio Nor-te, a instituição já alcançou a meta para 2015. O colégio ficou em primeiro lugar no Estado do Rio de Janeiro e em segundo lugar em todo o Brasil. As provas foram aplicadas em alunos do en-sino fundamental regular, do 6º ao 9º ano (5ª a 8ª série).

São aplicados testes de Matemática e Língua Portu-guesa, sem aviso prévio, isto é, não há uma preparação específica ou dirigida. Uma vez que os alunos não se preparam para os exames, o Ideb é considerado um bom medidor da qualidade do ensino público. Para a pro-

O projeto Animando a Rua Larga, realizado pelo Insti-tuto Cultural Cidade Viva, em parceria com a Folha da Rua Larga, a Light e a Secre-taria de Estado de Cultura, dá continuidade ao proces-so de revitalização da Rua Larga, conforme interesse de empresários, comercian-

fessora de Português Marina Lima Mansur, os bons resul-tados alcançados são uma consequência natural de al-guns fatores: “Nunca tive-mos aprovação automática. Aqui, se o aluno não sabe, é reprovado; somos bem re-

munerados e temos estímulo a pós-graduação”.

A professora lembra que já havia trabalhado em outra instituição pública: “Sou for-mada em Português/Inglês. Fiz concurso para trabalhar no Estado. Não é que me co-

locaram para dar aula de Ar-tes?”, ironiza Marina. Ela re-força os fatores que, em sua opinião, levaram o colégio a ter um resultado satisfatório não só no Ideb como também no Enem: o índice de profes-sores pós-graduados chega a

70% e há 10% de doutores: “Até os professores do Pedri-nho são estimulados a conti-nuar estudando.”

De acordo com o profes-sor de Matemática Flávio Lima, que ministra aulas para as turmas de 8º e 9º

ano que prestaram o exa-me, lembra que esta é a quarta versão da prova, que pretende avaliar o ensino público: “Para nós o Ideb não é funcional como o Enem. A partir dele, o alu-no não passa a ter direito, por exemplo, a estudar em uma universidade”. Entre-tanto, o professor analisa que o que deixou alunos e professores contentes foi saber que cresceram com relação à avaliação ante-rior.

Flávio Lima lembra que, apesar de considerar os professores altamente qua-lificados, o mérito não se restringe à instituição: “O grupo de alunos que pres-tou a prova é muito bom. Esta unidade não tem as séries iniciais. Os alunos entram aqui por concurso e não por sorteio”.

da redaçã[email protected]

tes e moradores locais. Em seus objetivos, se destaca a implantação de programas e eventos que ajudarão na preservação e divulgação do patrimônio histórico e cultu-ral desta região do Centro do Rio de Janeiro.

O projeto fará pesquisa histórica e iconográfica sobre

a região, implantará um Cir-cuito Histórico, com visitas guiadas, e criará um calendá-rio cultural com a realização de eventos no Beco das Sar-dinhas, exposição itinerante, projeção temática e interven-ções urbanas. Esse processo foi iniciado em 2008 e desde então muitas ações já foram

realizadas, o que apontou os principais problemas da região e seu entorno, assim como as possíveis soluções para cada um deles.

Dando continuidade a esse processo, o projeto tem como objetivo principal a criação de um calendário cultural a fim de fomentar a aproxima-

ção do público às questões relevantes do importante cor-redor cultural: sua história, sua cultura, sua antiga impor-tância política, econômica e educacional, e até mesmo sua excepcional arquitetura e conhecida boemia.

O projeto ainda se justifica pela mobilização atual dos

empresários e comerciantes da rua, que perceberam em tempo a importância histó-rica e cultural da região e já manifestaram o interesse em investir na revitalização.

Page 13: Jornal Folha da Rua Larga nº 22

morro da conceição O Centro redescoberto

da redaçã[email protected].

br

teresa speridiã[email protected]

Acordo entre prefeitura e Caixa trará recursos do FGTS para obras no Centro do Rio

folha da rua larga

13cidade

Denise Ricardo

Jorge Arraes, do CDURP, discursa ao microfone e, ao fundo, Moreira Franco, Lupi e Paes aguardam

agosto – setembro de 2010

Bola, raquetes e uma parede de vidroMuita gente desconhece

que há uma bela academia de squash no Centro do Rio. O melhor é que fica pertinho do Morro da Con-ceição, bem ali na Rua Se-nador Pompeu, ocupando os números 78 e 80.

O esporte, conhecido pelo alto índice de queima de calorias, pode ser pra-ticado por dois jogadores ou duplas. Munidos de ra-quetes e uma pequena bola oca, o objetivo dos jogado-res deve ser bater na bola de maneira que o adversá-rio não consiga rebater de forma válida. Eles podem usar para marcar o ponto as quatro paredes da quadra

(frente, fundo, normalmen-te de vidro, e as duas pare-des laterais). Originário da Inglaterra do século XIX, o esporte chegou ao Brasil em 1920, trazido por ingle-ses que vieram procurar ouro em Minas Gerais, e, há 15 anos, foi incluído nos jogos Pan-Americanos.

A modalidade tem cres-cido muito no Brasil e a cada dia é maior o número de adeptos. Por ser jogado em quadra fechada, permi-te sua prática durante todos os meses do ano. Muitas empresas do setor civil es-tão procurando construir quadras de squash nos pré-dios residenciais e comer-ciais, em construção, as in-cluindo nas áreas de lazer. Em 2002, o Brasil ganhou sua primeira quadra toda de vidro (com visão nas quatro paredes da quadra) e, com isso, possibilitou um aumento de público e de transmissões para a TV.

Speed Squash é o nome da casa que funciona há 30 anos num belíssimo casario azul e branco com quatro andares. Quatro quadras

de jogos, uma cantina, dois vestiários, sendo um femi-nino e outro masculino, e espaço para campeonatos. O horário de funcionamen-to é de segunda a sexta-fei-ra, de 7h a 22h, e aos sába-dos, de 9h a 15h. O aluno escolhe seu próprio horário e pode optar pelo aluguel de uma quadra avulsa. O valor da mensalidade depende do número de horas/aula con-tratados.

“O perfil dos atletas”, diz o professor Josemir, que gentilmente recebeu a nossa coluna, “na grande maioria, é de empresários, engenhei-ros, analistas de sistemas e executivos. Eles praticam

o squash com o objetivo de desestressarem. Por se tra-tar de um esporte aeróbico, o squash auxilia no desen-volvimento cardiorrespira-tório e cardiocirculatório, além de desenvolver as habilidades psicomotoras. A Speed Squash costuma promover campeonatos de duas a três vezes por ano”, divulga.

Josemir explicou que as academias fazem contato entre si e combinam onde ocorrerá o campeonato se-guinte. Portanto, as disputas ocorrem em diversos bair-ros da cidade, como Nite-rói, Jacarepaguá ou Centro do Rio.

Como o leitor pode cons-tatar, o Centro é mesmo uma caixa de surpresas até para quem mora ou trabalha nele. O coração da cidade pulsa forte há bastante tem-po, e enxergar essa vitalida-de no bairro só depende dos nossos olhares.

No dia 16 de julho, a pre-feitura do Rio de Janeiro, o Ministério do Trabalho e a Caixa Econômica Federal oficializaram o convênio para a liberação de R$ 3,5 bilhões do Fundo de Ga-rantia do Tempo de Serviço (FGTS), para serem inves-tidos na segunda parte do projeto de revitalização da Zona Portuária da cidade.

O ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, garantiu que o dinheiro in-vestido no projeto da cida-de do Rio está disponível também para outros mu-nicípios, e afirmou que, a cada R$ 1 bilhão investidos do FGTS, são gerados 300 mil empregos.

A respeito do processo de revitalização do Centro do Rio, Carlos Lupi disse: “Estou aqui para pagar uma dívida que este país tem. O porto do Rio de Janeiro vai ser o mais lindo do mundo, porque essa é a cidade mais linda do mundo”. O minis-tro comemorava também a marca de 1,5 milhão de novos empregos formais no Brasil: “Pela primeira vez na história deste país, podemos comemorar o au-mento da mão de obra com carteira assinada. Com um plano como esse, sobre o qual a prefeitura tem a lide-rança, teremos certamente novos empregos para os cidadãos brasileiros”.

De acordo com o mi-nistro do trabalho, presi-dente do conselho curador do FGTS, os recursos a serem utilizados não são públicos: “É um dinheiro privado, do trabalhador brasileiro. É importante que ele esteja aplicado em coisas que tenham retorno garantido”. E esclareceu que o FGTS está presente não somente em operações urbanas como essa, mas também em usinas, portos, logística e outros projetos de infraestrutura.

De acordo com o vice-pre-sidente da Caixa, Welling-ton Moreira Franco, o FGTS financia a habitação por obrigação legal. No

entanto, o financiamento da Cultura é uma escolha: “Trata-se de um círculo virtuoso, que visa a área to-talmente requalificada para os Jogos Olímpicos”.

A primeira etapa de re-vitalização do porto teve início em junho de 2009 e conta com a recuperação da Praça Mauá, além da implantação do Museu do Amanhã, que será no Píer Mauá, e a construção do Museu de Arte do Rio de Janeiro. As obras estão or-çadas em R$ 350 milhões.

O projeto Porto Maravi-lha está dividido em duas etapas. A primeira fase, que já está em andamento des-de junho de 2009 e conta com R$ 350 milhões de re-cursos da prefeitura, inclui intervenções urbanísticas em todo o bairro da Saúde e no Morro da Conceição.

Perimetral será demolida em 2012

O objetivo está em re-qualificar as áreas do ponto de vista urbanístico, atrair empresas para a região e realizar empreendimentos culturais e turísticos, como o Museu de Arte do Rio e o Museu do Amanhã, tam-bém incluídos na primeira fase de obras. Além disso, estão previstos a recupera-

ção da Praça Mauá e de 13 vias da região, o restauro da Igreja de São Francis-co da Prainha, a cons-trução de uma garagem subterrânea sob a Praça Mauá, para 700 veícu-los, e a cria-ção de 530 u n i d a d e s residenciais através do p r o g r a m a Novas Al-ternat ivas. Dentro des-sa verba, t a m b é m está sendo c o n c l u í d o um novo acesso vi-ário para o Porto, di-r e t a m e n t e pelo Caju, desafogan-do o tráfego de caminhões na Avenida Brasil.

O prefeito do Rio de Ja-neiro, Eduardo Paes, afir-mou que o prazo para a utilização dos recursos é de seis anos: “O dinheiro entra imediatamente em caixa para a prefeitura in-vestir totalmente no proje-to do Porto Maravilha. O prazo final é as Olimpía-

das de 2016, para concluir o projeto”.

Durante a segunda fase do projeto, a principal obra será a demolição

parcial do Elevado da Per ime t ra l , i m p o r t a n t e via da ci-dade, que contorna o Centro li-gando Zona Sul a Zona Norte. Para desafogar o trânsito está prevista a c o n s t r u ç ã o de vias al-ternativas e túneis.

De acordo com Paes, a d e m o l i ç ã o da perime-tral deverá ocorrer en-tre 2012 e

2013. “A perimetral só será demolida depois que o mergulhão que será construído para substituir esta avenida estiver con-cluído. Isso deve ocorrer entre 2012 e 2013”.

“É importante que o FGTS,

dinheiro privado, do trabalhador brasileiro,

tenha aplicação e retorno

garantido”

Carlos Lupi

Page 14: Jornal Folha da Rua Larga nº 22

gastronomia

receitas carolAlmoço à luz do Fim de TardeHá 37 anos na região, restaurante espanhol explica a arte de encantar paladares

karina [email protected]

ana carolina [email protected]

14folha da rua larga

Ambiente acolhedor do Fim de Tarde

Polvo à feira: o carro-chefe da casa

Tortilla de camarão

ACP

Carne com cerveja preta

Ana Carolina Monteiro

Ana Carolina Monteiro

Ana Carolina Monteiro

agosto – setembro de 2010

Esta época do ano pra mim tem um ar masculi-no, não sei se é por causa do Dia dos Pais ou por es-tar mais frio, quando tudo fica mais sério. Tenho a sensação de que o inverno é a estação dos homens. Por isso, resolvi fazer uma homenagem a eles, prin-cipalmente aos papais, já que agosto é o mês deles. Homens que sempre serão heróis, com uma legião de fãs de todas as idades! Escolhi então um guisado de carne que cozinha por algumas horas na cerveja, até ficar desmanchando, que é divino! Pode ser usa-do como recheio para uma torta ou servir puro com ar-

Ingredientes

3 cebolas picadas

2 ramos de alecrim

3 dentes de alho

1 colher de sopa de manteiga

2 cenouras picadas

2 talos de aipo picados

100 g de cogumelo paris

600 g de carne (acém, peito, paleta, músculo) em cubos

Sal e pimenta

roz branco e uma taça de vinho tinto.

Os papais podem cur-tir esta receita feita pelas mamães ou pelos filhos. Aliás, descobri que, no Dia das Mães, os res-taurantes ficam repletos, talvez seja o dia do ano mais difícil de conseguir reservas e, para quem es-quece esse detalhe, é co-mum não conseguir lugar ou desistir diante das filas de espera. Já no Dia dos Pais, as pessoas costu-mam ficar em casa e cozi-nhar! Então, aproveitem, mãos à obra, que vocês têm o mês inteiro para co-memorar e experimentar! Bom apetite!

Se existe algum restauran-te na região capaz de reunir discrição, silêncio, requinte e uma excelente comida, certamente o Fim de Tarde é um deles. Em plena Rua Miguel Couto, o lugar passa despercebido pelas centenas de pessoas que transitam por ali diariamente. Mesmo assim, o Fim de Tarde, há 37 anos instalado no mesmo local, fica lotado todos os dias, de segunda a sexta-feira.

A boa fama da cozinha tem como foco a gastrono-mia da Península Ibérica, e, mais especificamente, a gastronomia espanhola: “Nós atendemos uma clien-tela que, além de exigente, é muito variada. Por isso, estamos sempre atentos às novidades, renovando nosso cardápio. Além dos pratos típicos espanhóis, servimos pratos de culinária brasilei-ra e também cortes nobres de carne, que tem agradado muito os clientes. Muitos dos nossos clientes procu-ram os nossos famosos bifes de chorizo”, afirma o geren-te Marcos Alonso.

Para atender a clientela exigente, oito garçons e um maître se revezam no aten-dimento. A maioria dos fun-cionários já tem muito tem-po de casa e conhece bem os clientes. É o caso do maître Wilson da Silva, que conta 20 anos de casa.

“A clientela aqui é muito fiel. Tem gente que vem há vinte anos. Em alguns casos, são os filhos deles que co-meçam depois a frequentar a casa. A diferença é que, anti-gamente, as pessoas tinham mais tempo, vinham com mais calma, pediam entrada, bebiam, conversavam. Hoje em dia, é tudo mais corrido. O atendimento tem que ser rápido, eficiente”, explica Wilson. Se você não for des-sas pessoas com os minutos contados, não deixe de pedir como entrada a famosa em-padinha de camarão (R$ 4)

ou a casquinha de siri (R$ 9).Para os apreciadores de

uma boa carne, uma suges-tão é o tão procurado Cho-rizo ao chemi-churry, carne de chorizo com molho leve-mente apimentado, acompa-nhado de batatas portugue-sas (R$ 38,90). Para os que preferem uma culinária bra-sileira, a dica é o bobó de ca-marão, que vem muito bem servido (R$ 35), ou o tradi-cional picadinho (R$ 27).

Às quartas feiras, é servido também o famoso cozido, outro prato muito procurado (R$ 35).

Já os amantes de frutos do mar encontram aqui o para-íso. Os produtos são todos muito frescos, o que justifi-ca a sazonialidade de alguns pratos, como o Calamares en su tinta, (R$ 38), lulas refogadas em sua tinta, com arroz e salsa, uma excelente pedida. Outras boas suges-

tões são a Paella de frutos do mar (R$ 98, para duas pessoas) e o Polvo à feira, um polvo típico da região da Galícia, na Espanha, que vem cozido ao sal grosso e páprica (R$ 48).

Quem ainda tiver estô-mago, vale a pena finalizar a refeição com a goiaba-da trazida diretamente de uma fazenda de Minas Gerais, que vem acompa-nhada de sorvete de quei-jo (R$ 12), ou o famoso Mineiro com botas, uma mistura gratinada que traz goiabada, queijo minas e banana (R$ 19).

“Quando o Fim de Tarde abriu, tinha happy hour até as 21h, daí o nome do res-taurante. Depois, por causa do aumento da violência e do esvaziamento de pessoas nesta área do Centro depois do expediente, resolvemos abrir apenas para almoço. Mas, se der tudo certo, até o final do ano estaremos de novo com a happy hour, se-guindo a tendência de outros restaurantes da região”, diz o Sr. Alonso.

Rua Miguel Couto, 105, loja B – CentroTel.: (21) 2516-2409Fax: (21) 2233-7226Aceita todos os cartões.

400 ml de cerveja preta

1 colher de sopa de farinha branca

Modo de preparo

Cozinhar a carne com todos os ingredientes até ficar bem macia. Se fizer na panela de pressão, co-locar um pouco d’água. Servir bem quente com arroz branco e ervilhas na manteiga.

Page 15: Jornal Folha da Rua Larga nº 22

folha da rua larga

cultura

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sacha [email protected]

Montmartre é aquiPintor de rua promove intervenções artísticas na região e abre espaço cultural

Sacha Leite

Sacha Leite

agosto – setembro de 2010

B. de Paula ao lado de uma das telas do projeto Choro Pintado

O pintor improvisa ao som de Pixinguinha em um aparelho reformado de 1960

As intervenções artísti-cas de Benedito de Paula passaram, recentemente, a atrair os olhos de quem passa pela Rua Teófilo Otoni, trazendo ares de Montmartre, bairro pari-siense conhecido por seus pintores de rua, para a re-gião. B. de Paula montou um ateliê no sobrado nº 128 com a seguinte pro-posta: ser um espaço de utilidade pública voltado para as artes. Há sete anos, o artista plástico desenvol-ve o projeto Choro Pinta-do.

Na calçada, B. de Paula expõe uma tela sobre um cavalete, liga um aparelho de som ano 1960 total-mente reformado, tocan-do Ernesto Nazareth ou Pixinguinha, e começa a pincelar imagens represen-tativas da cidade. Arcos da Lapa, malandros, mulatas ou o casario do Centro são alguns dos temas abor-dados. As pinceladas são ritmadas pelo som que se renova automaticamente. “O Choro Pintado é um projeto de resgate das raí-zes musicais e urbanas da cidade. O choro começou nos bares do Rio Antigo, onde negros e mestiços au-todidatas improvisavam, até que criaram o samba”, explica.

Além do Choro Pintado, o pintor apresenta também o Arte na Janela, sempre às sextas-feiras, das 12h às 13h. Na última edição, o músico Marcelo Cardoso tocou flauta e saxofone, e Benedito de Paula impro-

visou na pintura. Tudo isso emoldurado pela janela do Espaço B. de Paula, que se torna uma vitrine inte-rativa. Fica difícil para o público passante ignorar as canções interpretadas pelos músicos e as pincela-das de B. de Paula. Quanto à reação das pessoas, ele garante respeitar a liberda-de de expressão: “A rua é o contato mais direto com o público. Sinto a necessida-de de estar perto das pes-soas. As diversas reações me fascinam”.

O pintor costuma se apresentar em bares, res-taurantes, festas e con-gressos. O próximo evento do qual irá participar será o Athina Onassis Horses Show, entre os dias 26 e 29 de agosto, na Sociedade Hípica do Rio de Janeiro. Quando não está ao lado de seu aparelho de som, B. de Paula é acompanhado pelo Trio Carioca, banda lidera-da por Luciano Badá, for-mada por violão, pandeiro e um violão sete cordas.

O performer explica para que criou o Espaço B. de Paula: “Quero divulgar os meus trabalho e o tra-balho de amigos. Quem quiser pode vir aqui e dar cursos, palestras, oficinas, sem pagar nada”. O sobra-do oferece acesso gratuito à internet, além de um pe-queno acervo de livros e discos de vinil das décadas de 1960 e 1970, que pode ser consultado livremente no local.

Nos anos 70, B. de Pau-la começou a fazer inter-

venções urbanas na Rua da Carioca. Na época, o artista contava apenas 15 anos. Autodidata, foi apri-morando suas técnicas até ser convidado a trabalhar na TV Globo, com Hans Donner. Em seguida, fez parte do departamento de criação da TV Manchete e do SBT.

B. de Paula conta que foi abordado uma única vez por um guarda, em Búzios, que o convidou a se retirar da praça, alegando que ele não teria autorização para expor ali: “Foi uma como-ção, todos falaram: ‘deixa o moço pintar!’ E eu dis-se que ele não poderia me retirar a força e deveria se informar direitinho como fazer”. Segundo Benedi-to, após alguns minutos se comunicando no rádio, o guarda disse que ele não precisaria se retirar e pode-ria pintar à vontade.

O pintor diz que preten-de realizar um trabalho social com a população de rua, numerosa nos arredo-res da antiga Rua Larga: “As pessoas não percebem que o cara de rua também é sensível e quer participar da sociedade. Penso em desenvolver um trabalho com eles. Aliás, já estou fazendo. Contratei um ra-paz para fazer serviços ge-rais, que também está en-saiando para tocar comigo: já toca pandeiro e canta”, comemora.

LIGUE. ACESSE.ANUNCIE.

(21) 2233 36900www.folhadarualarga.com.br

folha da rua larga

Page 16: Jornal Folha da Rua Larga nº 22

da redaçã[email protected]

dicas da cidade A Deusa no Terças MusicaisCantora Rosana traz alguns de seus sucessos de novelas para o CCL

16folha da rua larga

lazer

da redaçãoredacao@ folahadarualarga.com.br

Lucian Inácio

A cantora Rosana em apresentação no Terças Musicais

agosto – setembro de 2010

A cantora Rosana abre o Terças Musicais com as per-guntas: “Bom dia ou boa tar-de? Quem almoçou levanta a mão!”. Ninguém ergue os braços. Ela completa: “Nos-sa, então deve estar todo mundo de mau humor”. E o público cai na gargalhada. Essa é Rosana, que se con-sagrou com a música Como uma deusa - O amor e o po-der, de 1987, e já cantou em trilhas de mais de 16 novelas. O Centro Cultural Light es-tava lotado e mais de trinta pessoas ficaram do lado de fora. Os recursos arrecada-dos com a venda de ingressos beneficiou a Sociedade Viva Cazuza.

Na segunda parte do es-petáculo, Rosana acatou o pedido das fãs e ficou de pé como uma crooner, cantando músicas mais agitadas como Loving you, tema da novela

Caras e Bocas e outras can-ções em estilo rock’n roll.

Antes de cantar Mal de mim, que gravou no song-book do Djavan, a cantora dedicou a canção a Almir Chediak, produtor musical organizador dos excelentes

perfis musicais, assassina-do há sete anos. Ela contou: “Participei de três song-books: Caymmi, Tom Jobim e Djavan”.

Em seguida, Rosana pu-xou Direto no olhar, tema da novela Salvador da Pá-

tria, de 1989. Foi quando ela apresentou a banda, toda masculina: “Meninas, que-ria apresentar para vocês Marcos, Thiago e Pedro. Com uma banda dessas está valendo ficar aqui até essa hora sem almoçar, não é?”, brincou.

Rosana puxou então o tema da novela Ti-ti-ti, atu-almente no ar pela Rede Globo, Greatest love of all, e brincou com o público: “Está filmando? Para depois botar tudo no Youtube e mi-nha vozinha ficar que nem de resfriado? Essas camera-zinhas são assim... Mas tudo bem, eu deixo”. E, por fim, disse: “Agora a gente vai ensaiar um corinho. Como uma deusa...”.

Foliões de plantão

As inscrições para os desfiles dos blo-cos de rua do Carna-val de 2011, no Rio de Janeiro, vão até o dia 24 de setembro. Os interessados devem entregar seus pedidos na Diretoria de Operações da Riotur (Praça Pio X, 119/12º andar, Centro), das 10h às 17h.

Sacabral Art Gallery

Abriu um novo lugar no Centro: o Sacabral Bar Art and Galery. A dona, artista plástica e moradora de Santa Te-resa, preparou uma de-coração toda feita em material reutilizável. Todas as terças-feiras, Fábio Nin e Letícia Malvares tocam instru-

mental brasileiro, choro e outras bossas, a partir das 18h.

A rebelião dos sinais

O livro A rebelião dos sinais, de André Luis Mansur, será lançado no dia 14 de setembro, às 19h, na sede da edi-tora Multifoco na Ave-nida Mem de Sá, 126, Centro. O prefácio é assinado pelo jornalista e escritor Arthur Dapie-ve, que diz em seu tex-to: “Mansur tem senso de humor. Mesmo na desgraça mais profunda há espaço para um riso dolorido”.