israel gogue e o anticristo - abraão de almeida - 163 fls

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  • Abrao de Almeida

    Edio revista e ampliada

    CPAD

  • Jos dos ReisE-Books Digital

  • Todos os direitos reservados. Copyright 1978 para a lngua portuguesa da Casa Publicadora das Assemblias de Deus.

    Copidesque: Judson CantoReviso: Glucia VicterCapa e projeto grfico: Eduardo SouzaEditorao eletrnica: Rodrigo Fernandes

    236 - EscatologiaAlmeida, Abrao de

    ALM i Israel, Gogue e o Anticristo.../Abrao de AlmeidaIIa ed. rev. e ampl. - Rio de Janeiro: Casa Publicadoradas Assemblias de Deus, 1999.P. 168. cm. 14x21.

    ISBN 85-263-0222-1

    1. Escatologia 2. Israel. 3. Anticristo

    CDD236 - Escatologia

    As citaes bblicas foram extradas da verso Almeida Revista e Corrigida, Ediao de 1995, da Sociedade Bblica do Brasil, salvo indicao em contrrio.

    Casa Publicadora das Assemblias de DeusCaixa Postal 33120001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

    11a Edio 2001

  • Prefcios.............................................................................................7

    Captulo 1judeu, um povo sofrido.................................................................... 15

    Captulo 2Renasce Israel..................................................................................... 41

    Captulo 3Deus luta por Israel........................................................................... 61

    Captulo 4Gogue e seus aliados....................................................................... 77

    Captulo 5Motivos da invaso............................................................................91

    Captulo 6O fim da Rssia................................................................................. 111

    Captulo 7O novo imprio romano..................................................................121

    Captulo 8Removendo as dvidas....................................................................133

    Captulo 9O anticristo.......................................................................................141

    Captulo 10Desfecho final.................................................................................. 155

    Notas bibliogrficas.........................................................................163

  • Prefcio 1Tive a satisfao de ler os originais do livro Israel

    Gogue e o anticristo, de autoria do jornalista Abrao de Almeida, que nos apresenta de forma singular o que consideramos um dos grandes, seno o maior mistrio da histria da humanidade: a sobrevivncia do povo judeu. Como e por que pde um povo sobreviver atravs de milnios, sempre ntegro, com a mesma f, com os mesmos costumes e tradies, contra tanto infortnio e adversidade?

    Abrao pesquisou muito, penetrando nos caminhos de fontes histricas inacessveis maioria dos leitores, e fez aflorar fatos surpreendentes escondidos na caudalo- sa torrente dos sculos e milnios da histria desse povo, nico na sua peculiaridade. O escritor soube estear-se na Bblia Sagrada, fonte prima inter-paris, cujas pginas aurifulgentes informam com a fora da verdade incontestvel o surgimento do povo hebreu e sua caminhada atravs dos sculos com as suas vitrias, derrotas, lutas, e seus sofrimentos, mas conservando o sinal que o distingue de todos os outros povos. Tudo isso far com

  • 8 ISRAEL, G O G U E E O ANTICRISTO

    preender o que o judeu, e cada judeu de per si sentir- se- honrado de sua condio de pertencer ao povo de Deus.

    O autor no se preocupa com divagaes ou conceitos filosficos como Phiion, judeu alexandrino, que afirmava que a maior perfeio que se atinge o xtase do profeta, no qual a luz da conscincia individual se manifesta submersa na conscincia divina". Sendo o xtase um elemento novo no desenvolvimento da psique humana, Abrao de Almeida, como crente em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, entende mais que Phiion qual o verdadeiro xtase que envolve aqueles que recebem a promessa do Pai.

    Abrao de Almeida, portanto, no discute dogmas, mas procura mostrar, e o faz com rara facilidade, o papel que a nao judaica desempenha no contexto de todos os acontecimentos que envolvem a Igreja do Senhor jesus Cristo a coluna e firmeza da verdade.

    Israel, Gogue e o anticristo expe como o povo judeu surgiu na esteira do sculo, integrando-os e intei- rando-os como guardador dos orculos divinos, e como esse povo pde vencer todas as vicissitudes suportando sofrimentos, angstias, desterros e extermnios inexorveis. Esclarece ainda pontos escatolgicos obscuros para muitos leitores, mesmo os mais cultos.

    A nao israelita ser envolvida nos ltimos acontecimentos. Gogue e o anticristo desempenharo seus papis, porm sero derrotados, e Israel alcanar o desideratum determinado por seu Deus o glorioso Deus de Abrao, Isaque e Jac; o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Deus de toda a graa; o Deus que o criador do Universo, que a causa intrnseca e eficiente de todas as coisas criadas, visveis e invisveis.

  • PREFCIOS 9

    Como dissemos, Abrao pesquisou e analisou. Histria no se forrageia. Cita-se. Ningum pode ser aoitado pelo fato de se fundamentar exclusivamente em fatos histricos, pois todos os conhecedores de histria, ou historiadores, dependem de informaes das fontes histricas, e justamente neste particular consiste o peso e o valor deste livro.

    Alm da parte estritamente espiritual que a principal esta obra um excelente repositrio histrico, onde Israel apresentado no lugar de destaque que a histria lhe conferiu e onde a figura vrtice de todos os acontecimentos humanos nosso Senhor Jesus Cristo permanece cintilante no brilho que ilumina o corao daqueles que crem no seu nome.

    Israel, Gogue e o anticristo deve ser lido por todas as pessoas de bom gosto e, especialmente, pelo povo de Deus, que encontrar, sem dvida, motivao maior para a sua vida espiritual, conseguindo ao mesmo tempo conhecer tantos fatos sobre a vida desse povo sofrido mas vencedor, que a nao israelita, a qual na verdade amada pelos cristos verdadeiros os evanglicos. So estes os que oram pelo povo israelita e o defendem, sabendo que o cumprimento das profecias relativas posio da Igreja no mundo est intimamente relacionado com o que suceder a Israel, o povo de Deus.

    Poderamos dizer muito mais sobre este livro, porm julgamos desnecessrio, porque a prpria obra fala melhor.

    Joo Pereira de Andrade e Silva [De saudosa memria]

  • 10 ISRAEL, G O G U E E O ANTICRISTO

    Prefcio 2Ao assumir a diretoria executiva da Casa Publicadora

    das Assemblias de Deus, tracei como uma das minhas principais metas a edio de livros, por acreditar no papel preponderante da boa literatura para a formao intelectual e edificao crist da Igreja. Na poca, Israel Gogue e o anticristo estava esgotado, depois de duas edies vendidas.

    Conhecia j o valor desta obra de Abrao de Almeida, e por isso resolvi continuar a imprimi-la. E no nos enganamos, pois dezenas de milhares de exemplares tm sido distribudos em todo o Brasil.

    A causa da extraordinria aceitao deste livro [e de outros do mesmo autor] est no seu estilo claro e na segurana bblica com que analisa os grandes temas do momento. Louvamos a Deus por este autor brasileiro e por esta obra, que est editada tambm em outros pases.

    Enfim, um marco. Um marco nos programas de editorao da CPAD, na histria dos escritores pentecostais de nossa ptria, na abordagem de temas atuais e escatolgicos.

    Com o lanamento de mais esta edio que est melhorada e acrescida de novos fatos e informaes esperamos corresponder aos anseios do grande nmero de leitores brasileiros,ao mesmo tempo em que cumprimentamos o autor pela sua brilhante carreira como escritor evanglico.

    Custdio Rangel Pires

  • PREFCIOS 11

    Prefcio 3Desde o seu lanamento, em 1977, tenho recebido

    grande nmero de manifestaes de leitores, alguns enviando documentos que comprovam minhas afirmaes, outros simplesmente fatando do despertamento que lhes representaram os temas sempre atuais de Israe lG o g u e e o anticristo.

    O interesse por este livro transcendeu as fronteiras do Brasil. Ele foi editado em Portugal e colocado disposio de milhares de leitores na Europa, na frica e na sia, em fina impresso com 252 pginas, e foi traduzido para a lngua espanhola e editado nos EUA. Ao todo, cerca de 240 mil exemplares distribudos em todos os continentes!

    O motivo principal de to calorosa acolhida est no tema Israel, sempre apaixonante para quem estuda as profecias bblicas. A volta dos judeus para a sua antiga terra depois de quase dois mil anos de desterro e de padeci- mentos sem conta; a sua extraordinria sobrevivncia como Estado e seu incrvel desenvolvimento em todos os campos da cincia e da produo a despeito de tantas guerras sofridas e de constantes e crescentes presses e ameaas internacionais so fatos que todo cristo deve considerar luz da infalvel profecia bblica.

    jesus se referia a esse povo quando disse: "Em verdade vos digo que no passar esta gerao sem que todas essas coisas aconteam" [M t 24.34].

    A histria no registra caso semelhante ao do judeu. Ele permanece distinto onde quer que viva. Dezenas de outras naes nesse mesmo perodo tm surgido e mantido suas caractersticas prprias durante algum tempo, mas logo perderam-se inteiramente na grande massa da humanidade. O povo judeu, todavia, con

  • 12 ISRAEL, G O G U E E O ANTICRISTO

    serva hoje, na sia, na Europa, na Amrica ou em qualquer outra parte do mundo a mesma distino que possua h trs mil anos. Resistiu a todos os poderes da perseguio e a todas as influncias que o compeliram ao caldeamento com outras naes, mas permaneceu fiel sua linhagem, como descendente de Abrao.

    Quando Frederico o Grande pediu uma prova da existncia de Deus ao seu capelo, este respondeu prontamente: "O povo judeu, majestade!"

    Nesse povo to peculiar cumprem-se hoje profecias bblicas de mais de trs mil anos, muitas delas referentes ao recente renascimento de Israel, s guerras rabe-israelenses e ao papel que esse novo pas desempenharia entre as naes nesse limiar do sculo XXI. Por isso so de grande atualidade as palavras de Jesus em Lucas 21.29-31:

    Olhai para figueira e para todas as rvores. Quando j comeam a brotar, vs sabeis por vs mesmos, vendo- as, que perto est j o vero. Assim tambm vs, quando virdes acontecer essas coisas, sabei que o Reino de Deus est perto.

    Israel hoje a figueira que est brotando. Plantado na regio mais cobiada do mundo, no cruzamento de trs continentes, e junto s vastssimas reservas petrolferas do Oriente Mdio, o Estado de Israel tem sido o alvo das atenes e dos interesses de todos os povos. At mesmo grandes potncias e poderosas naes, como EUA , China e a Rssia tm girado em torno desse pequeno pas.

    Israel como o relgio divino, a mostrar a todos ns quo adiantados estamos na corrida do tempo, e os

  • PREFCIOS 13

    milagres testemunhados por aquele pas so um sinal de que o nosso Deus h de se manifestar aos olhos das naes quando ocorrerem as grandes invases da Palestina, preditas nas profecias.

    Desde 1977, quando esta obra foi lanada, at os dias atuais, muitos acontecimentos envolvendo a Rssia e seus ex-satlites, a Prsia, o Iraque e Israel vm confirmar nossas previses nas edies anteriores deste livro.

    claro que no tenho nenhuma pretenso de esgotar, nestas pginas, tema to profundo e abrangente como o de Israel nas profecias, nem tenho a inteno de dogmatizar acerca das concluses a que cheguei. meu propsito mostrar, na acessvel linguagem jornalstica que sempre uso, uma anlise de Ezequiel 38 e 39 e trazer ligeiros comentrios sobre o anticristo os sinais visveis que prenunciam a sua manifestao ao mundo e a aplicao e significao do misterioso nmero 666 , dando ao leitor motivos para uma vida mais consagrada ao Senhor, em vista da proximidade de sua gloriosa vinda.

    meu sincero desejo que o Senhor continue abenoando esta obra. Se, depois de lidas estas pginas, o leitor sentir-se induzido pelo Esprito Santo a viver mais abundantemente o evangelho de Cristo, ento recomende este livro aos seus melhores amigos. Se assim acontecer, esta mensagem ter cumprido seu nobre objetivo, e o autor sentir-se- plenamente recompensado.

    Abrao de Almeida

  • E vos espalharei entre as naes e desembainharei a espada atrs de vs; [...] e as vossas cidades sero desertas. O Senhor te far cair diante dos

    teus inimigos (Lv 26.33; Dt 28.25).

    alcula-se que, no incio da era crist, a populao do vasto imprio romano era de cerca de 250 milhes, dos quais quatro milhes e meio de judeus. Desse total de judeus, mais que a metade vivia fora dos limites da Palestina.

    Jerusalm, centro espiritual de todos os judeus da dispora romana, abarrotava-se de peregrinos que ali compareciam anualmente, s centenas de milhares, por ocasio das festi-

  • 16 ISRAEL, G O G U E E O ANTICRISTO

    vidades da Pscoa e do Pentecoste pontos altos do culto judaico. O evangelista Lucas testifica desse fato quando descreve a descida do Esprito Santo no dia de Pentecoste:

    E em Jerusalm estavam habitando judeus, vares religiosos, de todas naes que esto debaixo do cu. Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotmia, e Judia, e Capadcia, e Ponto, e sia, e Frigia, e Panflia, Egito e partes da Lbia, junto a Cirene,e forasteiros romanos (tanto judeus como proslitosj, e cretenses, e rabes [At 2.5,9-11].

    Numa atmosfera carregada de religiosidade e,por que no dizer, inflamada de um nacionalismo ardente e doentio, Jesus foi preso, julgado e crucificado. Particularmente porque suas doutrinas, baseadas no amor ao prximo, cheias de sentimento espiritual e vazias de cunho poltico-nacio- nalista, decepcionavam e enfureciam os judeus. E foi assim, num momento de incontido dio a Cristo e sua mensagem, que eles responderam a Pilatos:"0 seu sangue caia sobre ns e sobre nossos filhos" [M t 27.25].

    Conscientes ou no, os israelitas rejeitavam o Messias to ansiosamente esperado e atraam sobre si e seus filhos as conseqncias terrveis de to trgica escolha, como disse o Senhor a Moiss:

    Eu lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmos, semelhante a ti; porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falar tudo o que eu lhe ordenar. Eu mesmo pedirei contas de todo aquele que no ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome (Dt 18.18,19,EC, Edio Contempornea],

    Mas os ideais judaicos de independncia poltica no morreram com o advento do cristianismo nem com a converso de milhares de israelitas nova f. Os partidos

  • JUDEU, U M POVO SOFRIDO 17

    poltico-religiosos continuavam sua trama secreta e multiplicavam os atentados violentos contra os seus dominadores, tornando impossvel qualquer soluo pacfica a partir de maio de 66 d.C.,quando as autoridades romanas reagiram pelas armas na tentativa de sufocar a rebelio organizada que pretendia assumir o controle de todo o pas.

    A campanha para esmagar a revolta foi organizada pelo prprio imperador Nero, depois que os rebeldes aniquilaram as guarnies romanas do mar Morto e de Antnia. Vrias e sangrentas batalhas travaram-se nas cidades da Galilia, com elevado nmero de baixas em ambos os lados, mas prevalecendo sempre a frrea Roma.

    Dessa poca e de Vespasiano, diz Suetnio:Excludo no somente da intimidade do imperador,

    mas ainda da saudao pblica, retirou-se para uma cida- dezinha isolada, at o instante em que apesar de escondido e temeroso de sua sorte lhe foram oferecer um governo com um exrcito. Era uma antiga e slida crena, difundida por todo o Oriente, predita pelos destinos, de que homens sados da Judia naquela poca se tornariam os senhores do mundo. Este orculo, que ia ser verdadeiro para um general romano, como os acontecimentos o demonstraram mais tarde, tornaram-no os judeus para si prprios e se revoltaram.

    Mais adiante, prossegue o historiador romano do primeiro sculo:

    Como se fosse necessrio, para reprimir esta suble- vao, de um general valente, a quem se pudesse confiar sem perigo tal empresa, Vespasiano teve a preferncia sobre todos os demais, como um chefe competentssimo e experimentado e do qual nada havia a temer, em virtude da obscuridade da sua famlia e do seu nome. Nestas condies, reforou as suas tropas com duas legies, oito

  • 18 ISRAEL, G O G U E E O ANTICRISTO

    esquadres e dez cortes, incluindo o nome de seu filho no rol dos lugar-tenentes.

    Desde que assentou o p na sua provncia, atraiu sobre si a ateno das provncias vizinhas. Restabeleceu prontamente a disciplina e ofereceu um combate, e, em seguida, outro, com tanta energia que, ao sitiar um forte, foi ferido no joelho por uma pedrada e aparou, no seu escudo, numerosas flechadas.1

    Aclamado imperador romano aps o suicdio de Nero (e depois que trs imperadores, um aps outro, perderam o trono e a vida], deixou Vespasiano o ltimo ato da guerra dos judeus ao seu filho Tito. Este, na pscoa do ano 70, ordenou o incio do cerco de Jerusalm, determinando a construo de uma muralha de estacas ao redor da cidade, de sete quilmetros de comprimento, levantada em apenas trs dias, a fim de impedir a fuga dos sitiados e for-los rendio. Cumpriam-se as palavras de Jesus:

    Porque dias viro sobre ti, em que os teus inimigos te cercaro de trincheiras, e te sitiaro e te estreitaro de todas as bandas, e te derribaro, a ti e a teus filhos que dentro de ti estiverem (Lc 19.43,44].

    Convm salientar aqui, entretanto, que a populao israelita da Palestina na poca dessa guerra era bem maior, segundo testemunho de Flvio Josefo, que registrou em detalhes as terrveis conseqncias da rebelio judaica.

    Os sitiantes empregaram a crucificao em larga escala, pendurando no madeiro todos os judeus capturados, at que uma vasta floresta de cruzes se erguesse ao redor de Jerusalm e no houvesse mais rvore alguma nas redondezas. Depois, um boato es- palhou-se entre as legies, segundo o qual os fugitivos famintos engoliam peas de ouro para recuper-

  • JUDEU, UM PO VO SOFRIDO 19

    Ias posteriormente caso conseguissem escapar, e isso originou uma nova modalidade de extermnio: a golpes de espada a soldadesca furiosa abria o ventre de suas vtimas ainda em vida, procura dos supostos valores.

    O terrvel stio de Jerusalm durou cinco meses de sofrimentos indescritveis. Nesse perodo, seiscentos mil cadveres foram lanados para fora dos muros da cidade. A peste e a fome encarregavam-se de dizimar centenas de pessoas diariamente, e muitas se punham a caminho da sepultura antes mesmo de chegada a sua hora. Quando a cidade caiu, contou-se cerca de um milho e cem mil mortos, e apenas por uma das suas portas foram retirados 115 mil cadveres. Dos 97 mil sobreviventes, a maior parte foi levada para Roma, muitos foram presenteados s provncias do imprio para que morressem como gladiadores nas arenas, em espetculos pblicos, e milhares de outros seguiram para trabalhos forados no Egito.

    Com relao cidade e ao grande templo de Herodes, a predio de Jesus no poderia ser mais minuciosa: os alicerces dos edifcios foram removidos, inclusive os do templo, e toda a sua rea ficou nivelada. No ficou ali "pedra sobre pedra" (Lc 19.44].

    Akiba e Bar KobaDe 132 a 135, os judeus tentaram de novo sacudir de

    sobre si o pesado jugo romano. Os fanticos polticos da inflexvel resistncia judaica, sob a liderana do rabino Akiba, organizaram-se em hericas legies e enfrentaram com sucesso foras incomparavelmente mais numerosas. A crise avolumou-se at ao ponto de impedir qualquer acordo entre os rebeldes ocupantes e as autoridades romanas.

  • 20 ISRAEL, G O G U E E O ANTICRISTO

    Ento, de novo a teimosia dos israelitas os leva beira de um extermnio total. O general romano Severius, numa fulminante operao de limpeza, devastou a terra e deixou em situao precria os novos exrcitos organizados pelo famoso guerreiro Bar Koba,a quem Akiba apresentara como o Messias. Cerca de 580 mil homens caram somente nas batalhas, e outros milhares pereceram de inanio na cidade fortificada de Betar, enquanto resistiam valentemente implacvel destruio levada a efeito pelos soldados romanos.

    Em decorrncia de mais essa trgica revolta nacionalista, novamente os mercados de escravos abarrotaram-se de judeus, jerusaim foi reconstruda como uma cidade tipicamente pag. Adriano proibiu a prtica do judasmo, sob pena de morte. Akiba foi capturado e esfolado vivo e, ao morrer, exclamou: "Ouvi, Israel, o Senhor nosso Deus, o Senhor o nico!" Os romanos mudaram o nome da judia para Sria Filistia, de onde se derivou a moderna palavra "Palestina".

    Despatriados, humilhados, diminudos e marginalizados, os remanescentes judeus dedicaram-se ao comrcio e trocaram suas ambies polticas pelas conquistas do esprito, transferindo o centro da sua cultura da Judia para a Babilnia, onde os comentrios e as interpretaes da Bblia formaram mais tarde o famoso Talmude.

    O horror das cruzadasVivendo em paz e dedicadas ao livre comrcio, as

    comunidades israelitas em vrias partes do mundo chegaram a ser prsperas. Porm, no ano 681, na cidade de Toledo,a Igreja Romana comeou a impor-Ihes restries.

  • JUDEU, U M PO VO SOFRIDO 21

    A superstio e o baixo nvel espiritual a que desceu o cristianismo nominal durante a Idade Mdia ocuparam- se de fazer o resto.

    No ano 1096, foi organizada em Clermont, Frana, a primeira guerra da cruz contra os maometanos ocupantes dos lugares santos da Palestina. Os cruzados comandados pelo mercenrio francs Guilherme abateram-se sobre as comunidades judaicas da Rennia, de Treveris, de Espira e de Worms,aIm de outros lugares. As hordas sanguinrias arrastaram homens, mulheres e crianas aos templos catlicos para serem batizados fora, mas a maioria preferiu pagar com a vida sua fidelidade aos milenares princpios do judasmo. Raciocinavam os irmos peregrinos que, antes de exterminar os sarracenos no Oriente, precisavam eliminar no Ocidente os descendentes daqueles que crucificaram o Filho de Deus.

    O historiador Joseph-Franois Michaud conta o seguinte acerca de um grupo desses peregrinos reunidos s margens do Reno e do Mosela, que tinham por chefes o padre Volkmar e o conde Emicon:

    Esses dois chefes admiraram-se de que se ia fazer guerra aos muulmanos, que tinham sob sua lei o tmulo de Jesus Cristo, enquanto se deixava em paz um povo que tinha crucificado o seu Deus.

    Para inflamar as paixes, eles tiveram o cuidado de fazer falar o cu e de apoiar sua opinio em vises milagrosas. O povo, para quem os judeus eram por toda parte objeto de horror e de dio, j se mostrava muito propenso a persegui-los. Emicon e Volkmar deram o sinal e o exemplo. sua voz, uma multido furiosa espa- Ihou-se pelas cidades vizinhas do Reno e do Mosela; massacrou impiedosamente a todos os judeus que encontrou em sua passagem.

  • 22 ISRAEL, G O G U E E O ANTICRISTO

    No seu desespero, um grande nmero dessas vtimas preferiu suicidar-se, antes de receber a morte das mos dos inimigos. Muitos encerraram-se em suas casas e morreram no meio de chamas que eles mesmos haviam ateado; alguns amarravam grandes pedras s vestes e precipitavam-se com seus haveres no Reno e no Mosela. As mes sufocavam seus filhos ao seio, dizendo que preferiam mand-los ao seio de Abrao a v- los entregues ao furor dos cristos. As mulheres, os velhos, solicitavam a piedade para ajud-los a morrer.Todos esses infelizes imploravam a morte, como os outros homens pediam a vida.2

    Peste negra e InquisioEntre os anos de 1350, irrompeu devastadora a morte

    negra, uma peste virulenta que matou um tero de toda a populao da Europa. Mais uma vez a superstio, o complexo anti-semita e a ignorncia encarregaram-se de lanar toda a culpa da desgraa sobre os judeus.

    Apesar de o papa Clemente V I inocentar os judeus, afirmando que eles morriam da peste tanto quanto os cristos, o fanatismo falou mais alto que a razo e a runa veio como uma tempestade: em mais de 350 cidades europias os infelizes israelitas foram mortos pauladas, afogados, queimados vivos, enforcados e estrangulados.

    Infamante, sob todos os pontos de vista, foi o martrio dos judeus na Espanha e em Portugal, durante a vigncia da Inquisio. S em Toledo, em poucas semanas, foram queimados vivos 2.400 homens, acusados de infidelidade ao catolicismo. Os que se diziam arrependidos da sua falsa converso alcanavam a "misericrdia"de serem estrangulados antes de atirados s chamas "purificadoras".

  • JUDEU , UM POVO SOFRIDO 23

    Implantado em Portugal em 1536, esse nefasto tribunal agiu contra os judeus com tamanha crueldade que provocou um protesto do papa Paulo II, alm de fazer com que o Concilio de Trento se ocupasse da sanha brbara dos inquisidores lusos.

    Mas o dio aos judeus no comeou com a Inquisio nem era uma caracterstica exclusiva dos inquisidores, pois, emanado dos poderes eclesisticos, ele transbordava nas massas fanatizadas, resultando sempre em sangrentos morticnios. Eis um exemplo:

    Vinte anos antes da instalao da Inquisio em Portugal, D. Manuel, fugindo de terrvel peste, dirigiu-se no incio de 1516 a Beja, em visita a sua me, D. Beatriz. Em Lisboa, onde a peste chegava a matar 230 pessoas por dia, levantavam-se preces pblicas, organizavam-se procisses e penitncias, implorando em gritos a clemncia divina. Foi ento que a 15 de abril desse mesmo ano ocorreu o conhecido episdio na igreja de S. Domingos, que deu origem feroz matana dos cristos-novos. Onde os cristos-velhos queriam ver um milagre um raio de luz filtrado pelos vitrais incidira sobre um crucifixo, aureolando-o de luminosidade...

    Um cristo-novo que estava entre os presentes deixou escapar imprudentes frases de incredulidade. A multido, indignada, logo saltou sobre o blasfemo, arrastando-o pelo adro, assassinando-o e queimando-lhe o cadver. Foi o rastilho! Iniciou-se a caa aos recm-convertidos. "Heresia! Heresia!" clamava-se. E o povo arrastado pela exaltao percorria as ruas, praticando cenas horrveis. O motim tornava-se em revoluo popular.

    As marinhagens de muitos navios estrangeiros, fundeados no rio, vieram associar-se plebe amotinada. Seguiu-se um longo drama da anarquia.

  • 24 ISRAEL, G O G U E E O ANTICRISTO

    Os cristos-novos que perambulavam desprevenidos pelas ruas foram mortos ou mal feridos, arrastados, s vezes semivivos, para as fogueiras que rapidamente se tinham armado, tanto no Rossio como nas ribeiras do Tejo. Alagaram-se de sangue as ruas. Queimaram-se casas. Os cadveres amontoavam-se em pilhas. As aterrorizadas vtimas nem mesmo escapavam nos templos aonde se acolhiam na derradeira esperana de se salvarem. Houve saques, violaes de mulheres...3

    O anti-semitismo, todavia, no desapareceu com as cruzadas nem com a Inquisio, mas continuou atuante em muitas partes do mundo. Nos pases do Leste Europeu, os apstolos da "ltima f verdadeira" fizeram inveja aos inquisidores espanhis e portugueses.

    As mais cruis carnificinas, os despedaamentos e mutilaes, o rasgar dos membros, a queima de pessoas vivas, tudo enfim foi feito em nome da religio; as hordas fanatizadas parece que conheciam uma s frmula: o batismo, ou a morte...

    Existem relatos e crnicas dessa poca para a leitura dos quais so precisos bons nervos. natural que a maioria dos judeus recusasse o batismo, com poucas excees. Como o afirma um de seus historiadores, os judeus no queriam tornar-se cristos, mas permanecer fiis ao seu Deus e a sua nobilssima tradio histrica, ainda que uma tal fidelidade trouxesse consigo o extermnio de seus filhos, a violao e a morte de suas mulheres. Em grandes massas e aos milhares, enfrentaram a morte do martrio.Tudo isso sucedeu no curto espao entre abril e novembro de 1648. O nmero de judeus assassinados superou duzentos mil.4

    Referindo-se a esse sombrio acontecimento, o sbio judeu de Volnia, Natan ben Moshe Hannover, que se salvou fugindo para Amsterd, publicou em 1653, em Veneza, um relato, em hebraico, informando ao mundo

  • JUDEU, UM PO VO SOFRIDO 25

    como morriam os judeus na Polnia, mo dos cossacos e ucranianos:

    Arrancavam-lhes a pele, e a carne jogavam aos ces; cortavam-lhes as mos e o ps, e deixavam morte os corpos assim mutilados; rasgavam as crianas pelas pernas; assavam os bebs e obrigavam as mes a engolir a carne dos seus rebentos; abriam ventres de mulheres grvidas e com o feto que arrancavam batiam no rosto das vtimas; a muitas punham gatos vivos nos ventres abertos, costuravam o corpo com o gato dentro, cortando das mulheres os braos, para que no pudessem arrancar o animal, nem dar cabo de sua existncia.5

    Guetos e pogronsA atual luta desesperada dos judeus pela conser

    vao do seu territrio no pode ser compreendida sem o pano de fundo da Histria. Os sucessos nas guerras com os rabes, a invaso do Lbano em perseguio aos inimigos palestinos e o isolamento cada vez maior de seu pas no contexto das naes tm suas razes nos muitos sofrimentos da Dispora, na quai os guetos tornaram-se o principal smbolo da odiosa e humilhante segregao racial e religiosa de que foram vtimas. Mas os guetos no se tornaram apenas o smbolo da perversidade humana, pois muitos deles se transformaram literalmente em verdadeiras sepulturas de numerosssimas comunidades,como o de Varsvia, por exemplo.

    Uma das profecias acerca da restaurao nacional dos judeus, diz: Assim diz o Senhor Jeov: Eis que eu abrirei as vossas sepulturas, e vos farei sair das vossas sepulturas, povo meu, e vos trarei terra de Israel. E

  • 26 ISRAEL, GOGUE E O ANT1CRISTO

    sabereis que eu sou o Senhor, quando eu abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair das vossas sepulturas, povo meu" [Ez 37.12,13].

    Nenhuma outra figura dos modernos guetos, de onde muitos judeus tm sado para a sua ptria, poderia ser mais adequada do que uma sepultura. Em sentido estrito,"gueto" define um bairro judeu, uma rea delimitada por lei para ser habitada somente por judeus. O nome deriva da fundio, ou Guetto, em Veneza, onde os judeus dali foram segregados em 1517. A idia, entretanto, de segregao dos judeus, implcita na primeira legislao da Igreja Romana, monta aos Conclios de Latro de 1179 e 1215, que proibiram judeus e cristos de viverem juntos.

    Na Espanha, os judeus viviam, desde o sculo XIII, em juderias providas de muros e portes de proteo. No sculo XV, os frades na Itlia comearam a pressionar no sentido de uma segregao efetiva dos judeus. Em 1555,o papa Paulo IV ordenou que os judeus nos Estados papais deviam viver em quarteires separados, o que foi imediatamente levado a efeito em Roma e tornou-se regra por toda a Itlia, no decorrer da gerao seguinte.

    O nome "gueto" era agora universalmente aplicado. A instituio tornou-se comum tambm na Alemanha, em Praga e em algumas cidades polonesas. Era uma cidade dentro de uma cidade, desfrutando de certo grau de autonomia e de vigorosa vida espiritual e intelectual. Era, porm, insalubre, superpovoada [visto que sua rea no podia expandir-se] e sujeita freqentemente a incndios. Alm do mais, o sistema de gueto era, com freqncia, acompanhado pelo batismo forado, o uso da insgnia de judeu, sermes de converso, restries profissionais etc.

    Na Itlia, o gueto, abolido no perodo da Revoluo Francesa, foi reintroduzido localmente no sculo X IX e

  • JUDEU, U M PO VO SOFRIDO 27

    teve fim quando Roma uniu-se ao Reino da Itlia em 1870. Em outros pases, a situao foi semelhante. Uma das caractersticas dos novos ncleos na Europa Ocidental, a partir do sculo XV I, foi no serem submetidos ao sistema de guetos.

    A lei muulmana original no estipulava reas de residncia no muulmanas. A degradao veio no sculo XV III, quando os judeus foram obrigados a afas- tar-se das vizinhanas das mesquitas e ficaram restritos aos limites de suas casas; com o declnio econmico, os quarteires judeus viraram favelas. No leste muulmano [por exemplo, a Prsia], o fanatismo xiita, fazendo-se sentir de dentro para fora, imps a formao de quarteires judeus separados, fechados noite e no sabath. Foram estendidos, tambm, ao Imen e ao Marrocos. Muitos guetos marroquinos ainda hoje so habitados.

    Os guetos estabelecidos pelos nazistas na Europa Oriental [1939-1942] no foram formados em carter permanente, como bairros de judeus; eram parte do plano de extermnio dos judeus e visaram concentrar, isolar e enfraquecer espiritualmente os seus ocupantes, antes da aniquilao.

    Entre 1939 e 1942, os judeus da Polnia, da Alemanha, da Checoslovquia e de outras regies foram transferidos principalmente para as reas deVarsvia e de Lublin. Guetos foram institudos a e em outros lugares,como Lodz,Minsk, Vilma, Cracvia, Bialystok, Lvov, Riga, Sosnowiec. A populao do gueto deVarsvia chegou a 445 mil habitantes; no gueto de Lodz, havia duzentos mil.

    Tais guetos, j superpovoados de incio, foram contidos com firmeza em seus limites originais. Eram todos,em ltima anlise, fechados, e a sada [exceto com permisso] era punida com a morte. O controle estava em mos da Gestapo e das SS, que nomeavam conselhos de judeus

  • para levar a cabo as suas ordens, atravs de uma fora policial judia. Os conselhos organizavam escolas e promoviam o bem-estar, mantinham cortes de justia e eram obrigados a fornecer mo-de-obra para os alemes.

    medida que os planos nazistas se evidenciavam, tanto os conselhos quanto a polcia judaica passaram progressivamente para as mos dos colaboracionistas, que formavam um grupo privilegiado. O gueto possua centros industriais, que trabalhavam para a Alemanha a salrios nominais.

    Os nazistas levaram os guetos sistematicamente inanio, e qualquer assistncia possvel somente podia ser financiada s expensas dos prprios judeus. A despeito de indigncia e de desmoralizao, os judeus mantinham uma atividade cultural intensa, escolas e auxlio mtuo. Dessa resistncia moral nasceram as revoltas de 1943.0 extermnio metdico dos guetos comeou com a sucessiva remoo de grupos para aniquilamento, em 1941. O gueto de Varsvia foi liquidado em 1943, e os restantes por volta de 1944.6

    Aps a vitria israelense contra os exrcitos invasores na Guerra da Independncia, em 1948, centenas de milhares de judeus foram expulsos em massa dos pases rabes. Eles deixaram suas "sepulturas" [os guetos] sem nada poderem levar consigo, cumprindo literalmente a profecia de Jeremias 31.8: "Eis que os trarei da terra do Norte, e os congregarei das extremidades da terra; e, com eles, os cegos, os aleijados, as mulheres grvidas e as de parto juntamente; em grande congregao, voltaro para aqui".

    O que um pogromNo minha inteno tornar demasiadamente exten

    so este trabalho, mas no posso privar o leitor da descrio de um dos inmeros pogrons de que tem sido vtima

    28 ISRAEL, G O G U E E O ANTICRISTO

  • jUDEU, U M PO VO SOFRIDO 29

    o povo israelita. Este pogrom ocorreu em 1903, na cidade russa de Kishinev.

    Segundo o relato da comisso de pesquisa da Organizao Sionista de Londres, os dirigentes do pogrom utilizaram o incio da noite de domingo para organizar de um modo racional e sistemtico o massacre. Esses dirigentes muniram de armas e uniformes os arruaceiros7os operrios, pessoas da classe mdia e mesmo os seminaristas da Igreja Ortodoxa, e os policiais.

    Entre as armas distribudas aos que haviam de participar do massacre, estavam o machado, peas de ferro e maas [arma de ferro com uma extremidade esfrica provida de pontas aguadas], capazes de quebrar todas as portas e todos os armrios, mesmo blindados.

    Durante a noite, os agentes do pogrom marcaram com giz branco todas as casas e lojas dos judeus, e organizaram um servio permanente de informao e de ligao entre esses agentes por meio de ciclistas recrutados entre os estudantes, os seminaristas e os funcionrios. A organizao no se limitou cidade, pois foram enviados emissrios s aldeias mais prximas a fim de convidarem camponeses para que se juntassem pilhagem e ao massacre dos judeus. Por volta das trs horas da madrugada os preparativos foram considerados suficientes para que o sinal da nova fase do pogrom fosse dado.

    claro que os historiadores do pogrom no tiveram condies de descrever pormenorizadamente o que aconteceu a seguir, em meio a uma orgia de bestialidade abominvel, uma sede brbara de sangue e uma devassido diablica.

    Todo o dia de segunda-feira, desde as trs horas da madrugada at s oito horas da noite, as hordas brbaras entregavam-se a esta orgia em meio s runas que eles acumulavam. Enquanto acossavam, massacravam, violavam, martirizavam os judeus de Kishinev, onde 49 pesso-

  • ISRAEL, G O G U E E O ANTICRISTO

    as foram assassinadas em meio a torturas e violaes das mais abominveis. Representantes de todas as camadas da populao tomaram parte nesta fria selvagem: soldados, policiais, funcionrios, padres, crianas, mulheres, camponeses, operrios e vagabundos.

    Desde o incio da noite, todas as casas judias de Kishinev ressoaram com gritos medonhos de assassinos e gritos dilacerantes das infelizes vtimas. Em toda a parte e ao mesmo tempo, bandos de dez a vinte pessoas, s vezes de oitenta a cem, conduziram-se segundo o mesmo sistema. Como na vspera, as lojas foram atacadas e pilhadas; aquilo que no podia ser levado era embebido com gasolina e incendiado.

    Os bandos penetraram em seguida, urrando, nas casas dos judeus, exigindo dinheiro e jias. Se os judeus no os entregassem, rapidamente eram massacrados. Quando no tinham mais nada para entregar, ou quando os assassinos tinham outros caprichos, simplesmente massacravam os homens. Depois violavam as mulheres sob os olhos dos sobreviventes, maridos e filhos, e s vezes as mulheres eram violadas sucessivamente por vrios bandidos. Arrancavam os braos e as pernas de criancinhas. Algumas crianas foram arrastadas aos andares superiores e jogadas nas ruas.

    O pnico mais terrvel reinava entre os judeus, que procuravam em vo abrigo em um poro, em um ptio, sobre os telhados, e corriam de casa em casa e de rua em rua. Reinou durante a noite inteira um terror indescritvel, por mortes e destruies sistemticas.

    De manh cedo, uma comisso de quarenta judeus se dirigiu ao governador a fim de implorar o seu socorro. O governador respondeu que nada poderia fazer porque no havia ainda recebido instrues de So Petersburgo. Mas, ao mesmo tempo, o governador transmitiu a todas as estaes de telgrafo a interdio estrita de aceitar telegramas de So Petersburgo...

  • JUDEU, U M PO VO SOFRIDO 31

    O massacre prosseguiu o dia todo, sem esmorecer. Os bandos alavam, como bandeiras, lenos e trapos molhados no sangue das vtimas judias. As torturas inventadas pelos assassinos so indescritveis, mas so todas confirmadas por testemunhas oculares, por mdicos cristos e por alguns indivduos cristos que tentaram, mas em vo, opor-se fria de violncias ou salvar algumas vtimas judias.

    As hordas de assassinos ainda acharam tempo para realizar o assalto e a pilhagem de sinagogas com uma clera toda especial. Em uma das sinagogas, diante da Arca Sagrada, na qual se encontravam os rolos santos da Tor, estava um bedel animado de uma coragem exemplar. Com seu talit [xale de oraes] e seus filactrios, aguardou o assalto dos assassinos, pronto para proteger com seu corpo os rolos sagrados. Foi assassinado da maneira mais abominvel. Depois arrancaram os rolos da Tor da Arca Sagrada, retalharam os pergaminhos em pedacinhos que as crianas crists ofereciam em seguida, por alguns kopeques [moedas russas], como "lembranas de Kishinev"; profanaram o que restou dos rolos e submeteram os prdios das sinagogas a uma pilhagem sistemtica.7

    Os historiadores do pogrom afirmaram que a desenfreada loucura brbara dos assassinos provocou entre os judeus numerosos casos de loucura, pois no tinham para onde fugir nem a quem recorrer. O desamparo das vtimas era total. Os bandidos no permitiam que os judeus gravemente feridos fossem levados a um mdico ou ao hospital, e os bondes ou os carros recusavam-se a transportar passageiros judeus.

    Entre as raras excees que se verificaram entre as autoridades de Kishinev ficou registrada a tentativa do prefeito da cidade, Alexandre Schmidt,que tentou fazer

  • 32 ISRAEL, G O G U E E O ANTICRISTO

    com que o governador agisse de algum modo em defesa dos judeus, mas tudo foi em vo. Toda a populao, em suas diferentes camadas sociais, dos mais pobres aos mais ricos, inclusive mulheres, crianas, padres e seminaristas, todos participaram do massacre e tomaram parte nos excessos sob as suas formas mais cruis.

    Os praticantes do pogrom de Kishinev pilharam e demoliram mais de oitocentas casas e lojas, mataram, com requintes de crueldade, 49 judeus e feriram gravemente mais de uma centena, entre os quais muitos outros vieram a morrer em conseqncia de seus ferimentos. Uns trinta foram espancados at a mutilao, e todos os outros judeus foram gravemente feridos em sua condio fsica. Cerca de mil famlias foram tocadas pela morte.

    O HolocaustoConstrudo em 1933, o campo de concentrao de

    Dachau,Alemanha, foi a priso de dezenas de milhares de judeus durante a Segunda Grande Guerra. Em 1966, o governo alemo instalou no local um mostrurio dos horrores ali praticados e tornou obrigatria a visita de colegiais de nvel mdio, para que no esqueam a que ponto chegou o desvario nazista.

    Entre os dois fornos crematrios h uma esttua de bronze representando um prisioneiro de Dachau: um homem esqueltico, faces encaveiradas, roupas esfarrapadas, cabea raspada. Uma legenda, colocada ao p da esttua, um angustiante grito de alerta raa humana. Diz a inscrio:

    memria das vtimas de todos os campos de concentrao; como expiao dos crimes cometidos nesses campos; para advertncia humanidade e instruo a todos os visitantes; pela paz das classes e das raas; para salvar a honra da nossa Nao, e pela comunidade dos povos.

  • JUDEU, U M POVO SOFRIDO 33

    Nesse local sombrio morreram homens e mulheres, depois de suportarem as mais variadas formas de tortura estudadas minuciosamente pelos carrascos. Havia nesse campo o local dos fuzilamentos, a barraca das experincias mdicas [onde novas drogas eram testadas em cobaias humanas!], a barraca das punies especiais com suplcios e agonias, a forca e a cmara de gs.

    Acerca do centro de extermnio dos judeus de Buna Auschwitz, escreveu Lord B. Russel:

    Depois que as vtimas tinham desembarcado nas plataformas eram reunidas num s lugar onde tinham de tirar a roupa e os calados; s mulheres cortavam-se os cabelos, e em seguida todo o grupo, homens, mulheres e crianas eram obrigados a caminhar nus pela estrada ao encontro das cmaras de gs. Chegados a, eram impelidos para dentro das cmaras com os braos levantados para que coubesse o maior nmero de pessoas. As crianas eram amontoadas em cima das cabeas dos outros. Algumas vezes as crianas eram mortas antes...

    Um homem da SS era especialista em matar crianas; tomava-as pelas pernas e lhes rachava a cabea contra a parede. A execuo pelo gs durava 15 minutos, e, quando se supunha que todos estavam mortos, abriam- se as portas; o grupo de trabalho forado, composto de judeus, retirava os cadveres e arrumava a cmara para a prxima fornada.8

    E que falar de Birkenau e Gleiwitz? No primeiro, as enormes filas de condenados caminhavam para dentro do forno crematrio, no sem antes serem aspergidas de gasolina para se consumirem mais depressa. No segundo campo, uma esteira transportadora, guardada por soldados atentos e ces treinados, levava os condenados diretamente fornalha, vivos! Eles eram atirados sobre a veloz esteira por outros judeus do trabalho

  • 3 4 ISRAEL, G O G U E E O ANTICRISTO

    forado, os quais, por sua vez, depois de exaustos, seguiam o mesmo trgico destino de seus irmos!

    No fcil ler esses relatos, nem acreditar na veracidade deles. Como pode algum ser to cruel, to insensvel dor alheia? Mas quero trazer mais um testemunho insuspeito.Trata-se de uma testemunha ocular alem de como foi a execuo em massa feita em Dubno, em 5 de outubro de 1942:

    Meu capataz e eu fomos diretamente s valas. Ouvi tiros de fuzil em rpida sucesso por detrs dos montes de terra. As pessoas que deviam descer dos caminhes homens, mulheres e crianas de todas as idades eram obrigadas a despir-se por ordem de um indivduo das SS, que empunhava um chicote. Tinham que deixar as roupas em lugares determinados para cada pea do vesturio. Vi um monto de sapatos, cerca de oitocentos a mil pares, e grandes pilhas de costumes e roupas de baixo.

    Sem gritar ou chorar, despiam-se todos; reuniam-se em grupos de famlia, beijavam-se uns aos outros, despediam-se e aguardavam um sinal de outro homem das SS, que se achava junto vala e que tambm empunhava um chicote. Durante os 15 minutos que permaneci nas proximidades da vala,no ouvi uma queixa ou pedido de misericrdia...

    Uma senhora idosa,de cabelos brancos como a neve, segurava nos braos uma criana de um ano; cantarolava para ela e fazia-lhe ccegas. A criana ria, satisfeita. Os pais contemplavam aquele quadro com os olhos cheios de lgrimas. O pai segurava a mo de um menino de dez anos e falava-lhe carinhosamente; o menino esforava-se por reprimir as lgrimas. O pai apontou para o cu e afagou-lhe a cabea, parecendo explicar-lhe alguma coisa.

    Nesse momento, o homem das SS que se achava junto vala bradou qualquer coisa para o companheiro.

  • JUDEU, U M POVO SOFRIDO 35

    Este contou cerca de vinte pessoas, ordenando-lhes que fossem para detrs do grande monte de terra... Recor- do-me perfeitamente de uma jovem, esbelta e de cabelos pretos, que, ao passar por mim, apontou para si mesma e disse: "Vinte e trs anos de idade".

    Dirigi-me para o outro lado do monte de terra e deparei com uma imensa vala. Estava socada de gente, jazendo uns sobre os outros de modo que s se lhes viam as cabeas. Escorria sangue de quase todas elas. Algumas das pessoas ainda se moviam; outras erguiam os braos e viravam a cabea como para mostrar que ainda estavam vivas. Duas teras partes da vala j estavam tomadas. Calculei que continha cerca de mil pessoas. Olhei para o homem que atirava. Era um elemento das SS. Achava-se sentado beira da vala, em sua extremidade, e balanava as pernas.Tinha um fuzil- metralhadora sobre os joelhos e fumava um cigarro.

    As pessoas, completamente nuas, desciam alguns degraus e subiam por sobre as cabeas das que j l estavam nos lugares para os quais o homem das SS ordenava. Deitavam-se junto aos mortos ou feridos; alguns acariciavam os que ainda estavam vivos e murmuravam-lhes qualquer coisa. Ouvi, depois, uma srie de tiros. Olhei para a vala; vi corpos contorcerem-se e algumas cabeas j imobilizadas sobre os corpos que se encontravam debaixo. O sangue escorria-lhes do pescoo.

    Aproximava-se o grupo seguinte. Desceram todos para a vala e alinharam-se diante das vtimas que os antecederam. Foram tambm fuzilados.9

    Em todos os campos de concentrao, a matana era to intensa que os nazistas s no conseguiram levar a cabo a sua soluo final do problema judaico porque perderam a guerra!

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    A maquinaria da morteAqui esto alguns dos principais crimes cometidos

    pelos nazistas desde 1933: Os primeiros atos de violncia contra os adver

    srios polticos. Prises arbitrrias e preventivas nos primeiros campos de concentrao ilegais, conhecidos como Wilde Konzentratioslager, o nmero de presos em julho de 1933 somava 26.789.

    O putsch de Rohm. Priso e morte sumria de Erneste Rohm, chefe do estado-maior das tropas de choque do Partido Nacional Socialista, e de vrios oficiais dessa organizao paramilitar, justificadas posteriormente como medida do Executivo em carter de emergncia nacional.

    Campos de concentrao. Prises que, a partir de junho de 1933, passaram a substituir os primeiros campos de concentrao. Dachau, Lublin-Maidanek, Auschwitz, entre muitos, serviram de centros de extermnio e de explorao brutal de trabalho manual. No comeo de 1945, o total de presos, de vrias nacionalidades, superava seiscentos mil.

    A Noite dos Cristais [Kirsallnachtj. Pogrom organizado contra os judeus na noite de 9 de novembro de 1938: vinte mil judeus foram presos, 36 assassinados e 101 sinagogas destrudas.

    Eutansia. Programa institudo para assassinar os "no produtivos". Como exemplo, os doentes mentais. Cmaras de gs para este fim foram instaladas em Grafeneck e Sonnestein, entre outras localidades.

    Grupos operacionais na Polnia e unidades de autoproteo da Etnia Alem. Comandos militares destacados para liquidar dirigentes e intelectuais poloneses e judeus. Clculos conservadores colocam o nmero de

  • JUDEU, U M PO VO SOFRIDO 37

    mortos por essas unidades, poloneses e judeus na grande maioria, entre sessenta e oitenta mil.

    A polcia de segurana e os grupos operacionais do servio de segurana na Campanha Sovitica. Quatro grupos formados por membros da Gestapo, Brigada Criminal e do Servio de Segurana, em 1941, para solucionar o problema judeu e cumprir ordens executivas durante o ataque Unio Sovitica. Um relatrio preliminar coloca o nmero de vtimas em 560 mil, em abril de 1942.

    Crimes nazistas durante a luta contra a resistncia. Perseguio desumana contra o movimento de resistncia, incluindo o assassinato de mulheres e crianas. Um relatrio preliminar nazista registra a destruio de 150 aldeias e 1.987 fazendas na Unio Sovitica, em dezembro de 1942. Entre oitenta e noventa por cento dos mortos eram judeus.

    "A soluo final do problema judeu". Plano apresentado por Reinhard Heidrich em 1942 para exterminar todos os judeus na Europa. S em Auschwitz mais de dois milhes de judeus foram assassinados nas cmaras de gs.

    Crimes cometidos contra os prisioneiros de guerra. Milhares de prisioneiros soviticos e judeus, os outros acusados de atividades comunistas, foram executados pouco depois de capturados, por ordem do Alto Comando Militar.

    Outros crimes. Milhares de civis foram executados durante a guerra pelo exrcito alemo, sem serem enquadrados na lista dos crimes enumerados. Poloneses e soviticos, submetidos a trabalhos forados na Alemanha, foram assassinados por causa de pequenas infraes, e muitos desses operrios estrangeiros foram mortos para impedir que fossem libertados pelos exrcitos aliados.

  • 38 ISRAEL, G O G U E E O ANTICRISTO

    "No sabamos o que fazamos"Boa parte da culpa pelo sofrimento do povo judeu

    pesa sobre os ombros da Igreja Romana, como vimos, e at da Igreja Protestante, em virtude de algumas declaraes impensadas de Martinho Lutero. Talvez por essa razo, ou por medo, o protestantismo alemo pouco fez para impedir o extermnio de judeus, com muitas e honrosas excees, como foi o caso bem conhecido da famlia holandesa Ten Boon,que to alto preo pagou por abrigar os judeus e ajud-los a escapar das garras dos nazistas.

    Mas, alm da Alemanha, que se penitenciou aps a Segunda Grande Guerra pelo que havia feito aos judeus, a Igreja Romana confessou-se tambm culpada diante de incontestveis relatos histricos a pesar-lhe na conscincia e, quem sabe, num momento de profunda reflexo e de convico do cuidado de Deus pela descendncia de Abrao, ao restaurar-lhe a ptria e um nome respeitvel no concerto das naes.

    No dia 7 de setembro de 1966, o Vaticano confirmou a existncia e a autenticidade de uma orao composta por joo XXIII poucos dias antes de sua morte. Nela o papa pede a Deus perdo por todos os sofrimentos que a Igreja Catlica fez que os judeus padecessem.

    A existncia dessa orao, que segundo as intenes do autor deveria ser recitada em todas as igrejas, fora recentemente anunciada no decorrer de uma conferncia em Chicago pelo monsenhor John S. Quinn, um dos peritos do Concilio. Eis o texto da orao de Joo XX III, agora publicada:

    Estamos hoje conscientes de que, no decorrer de muitos sculos, nossos olhos se achavam to cegos que j no ramos capazes de ainda ver a beleza de teu povo eleito nem de reconhecer na face os traos de nossos irmos privilegiados. Compreendemos que o sinal de Caim

  • JUDEU, U M POVO SOFRIDO 39

    esteja inscrito em nossa fronte. No curso dos sculos estava nosso irmo deitado ensangentado e em prantos por causa de nossa falta, porque havamos esquecido teu amor. Perdoa-nos a maldio que injustamente tnhamos atribudo ao teu nome de judeu. Perdoa-nos o te havermos uma segunda vez crucificado neles em sua carne, porque no sabamos o que fazamos.10

    Um rastro de sangueResumindo tudo o que falamos at aqui, damos agora

    uma breve cronologia das perseguies por que passou o povo judeu, desde o primeiro sculo d.C. at nossos dias.

    49: Cludio expulsa os judeus de Roma [A t 18.2]. 115: expulso dos judeus da ilha de Chipre. 640,721,873: os judeus do imprio bizantino so

    forados a se converter ao cristianismo. 1009: os cruzados alemes exterminam diversas

    comunidades judaicas. 1099: a comunidade israelita de Jerusalm vtima

    de matanas por parte dos cruzados. 1146,1391: os judeus espanhis so forados a se

    converter ao cristianismo. 1290: expulsos da Inglaterra. 1306: expulsos da Frana. 1355: populao massacra 12 mil judeus em Toledo,

    Espanha. 1349-60: expulsos da Hungria. 1420: aniquilada a comunidade judaica de Tolosa. 1421: expulsos da ustria. 1492: expulsos da ustria. 1492:180 mil judeus expulsos da Espanha. 1495: expulsos da Litunia.

  • ISRAEL, G O G U E E O ANTICRISTO

    1497: expulso dos judeus da Siclia e Sardenha. 1502: todos os judeus de Rodes so forados a se

    converter ao catolicismo, sob ameaa de expulso ou de escravatura.

    1516: massacre de milhares de judeus em Lisboa, Portugal.

    1541: expulsos do reino de Npoles. 1648,1656: duzentos mil judeus so assassinados

    nas matanas perpetradas por Chmielnicki, na Polnia.

    1727,1747: expulsos da Rssia. 1838: a comunidade judaica de Meshed, Prsia,

    forada a converter-se ao Isl. 1882-90: 750 mil judeus russos so obrigados a

    viver numa rea limitada, dando origem aos guetos. 1939-45: seis milhes de judeus so mortos pelos

    *

    nazistas alemes e seus cmplices. 1941: a comunidade israelita de Bagd atacada

    pelo populacho turbulento: 180 judeus perdem a vida.

    1948 at hoje: perseguio contra as comunidades judaicas nos pases rabes e expulses em massa.

  • E os plantarei na sua terra, e no sero mais arrancados da sua terra que lhes dei, diz o Senhor,

    teu Deus (Am 9.15).

    escrevendo a sangrenta histria dos filhos de Abrao atravs dos sculos, algum disse que ela mais conhecida pelas crnicas de seus massacres. A Bblia trata, de maneira inconfundvel, das angstias desse povo entre as naes: E vos espalharei entre as naes e de- sembainharei a espada atrs de vs; e a vossa terra ser assolada, e as vossas cidades sero desertas. E, quanto aos que de

  • 42 ISRAEL, G O G U E E O ANTICRISTO

    vs ficarem, eu meterei tal pavor no seu corao, nas terras dos seus inimigos, que o sonido duma folha movida os perseguir [...] e no podereis parar diante dos vossos inimigos" [Lv 26.33,36,37].

    Mais adiante, continua a Palavra de Deus: "O Senhor te far cair diante dos teus inimigos [...] O fruto da tua terra e todo o teu trabalho o comer um povo que nunca conheceste; e tu sers oprimido e quebrantado todos os dias. E sers por pasmo, por ditado e por fbula entre todos os povos a que o Senhor te levar"[Dt 28.25,33,37].

    impressionante como tais predies tenham sido to rigorosamente cumpridas. Mas assim como, findando a noite, surge a manh de um novo dia, a aurora raiaria tambm para o povo judeu, porque tambm o Senhor prometeu: "E, demais disto tambm, estando eles na terra dos seus inimigos, no os rejeitarei, nem me enfadarei deles, para consumi-los..." [Lv 26.44],

    Herlz, sonhador e visionrioE para muitos, a volta de Israel, como uma nao

    livre e soberana,tem significado, mais do que o comeo de um novo dia, o incio de uma nova vida. "Quem desejaria possuir uma terra to estranha?" pergunta Meyer Levin, que responde:

    Um povo de temperamento extremo, a am-la impetuosamente. E a histria de Israel a histria de um povo e de um lugar, unidos, separados, sempre e sempre.[...] Nenhum drama de amantes separados e reunidos novamente mais romntico que a histria desta gente e sua terra natal. Os amantes passam pela prova de guerra, peste e exlio, sofrem a seduo de exagerada opulncia e prazer e ainda assim permanecem fiis em seu anseio um pelo outro, incessantes, tentando efetuar a reunio que finalmente aconteceu.11

  • RENASCE ISRAEL 43

    Mas no se pode ignorar, na histria moderna de Israel, a figura impoluta deTeodoro HerzI, idealista, sonhador e visionrio, que to bem traou os planos para a redao poltica de seu povo. Nascido em 2 de maio de 1860, em Budapeste, estudou Direito em Viena e dedicou-se ao jornalismo e literatura, exercendo as funes de correspondente, em Paris, da Neue Freie Presse, de Viena, de cuja pgina literria foi redator durante toda a sua vida.

    Estadista nato, embora sem Estado e sem povo organizado, HerzI penetrou fundo no problema judaico e buscou avidamente a sua soluo. Em seu livro O Estado judeu, registra:

    A questo judaica existe. um pedao da idade mdia desgarrado em nosso tempo, e da qual com a melhor vontade do mundo, os povos civilizados no se poderiam desembaraar. [...] A questo judaica existe por toda parte onde os judeus vivem, por menor que seja o seu nmero. E acerca da Palestina: a nossa ptria histrica. Esse nome por si s seria um toque de reunir poderosamente empolgante para o nosso povo.12

    Por ocasio da trasladao dos restos mortais de HerzI, de Viena para Israel, em 1949, a poeta Bracha Kopstein escreveu estas palavras:

    Acorda, ao menos por uma hora, e mostra-nos o teu sbio sorriso, e ns te mostraremos a tua profecia...Esfrega os teus olhos do teu sono letrgico e vers: tits judaicos esto perto de ti, com espadas desembainhadas contra o cu!A teus ps jazem flores frescas, de terra livre arrancadas.Jorra para ti em carne e ossos

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    o teu sublime sonho realizado.Acorda, profeta, ao menos por uma hora e vers: os que compareceram a esta solenidade: a Bandeira Azul e Branca desfraldada!A lngua hebraica viva em nossas bocas!A alegria imperando em nossos coraes!A Vitria e toda nossa f!Nossos tits, novos e destemidos lderes, diplomatas, parlamentares, judeus de todas as camadas, e nossas criancinhas, loiras e moreninhas.Acorda ao menos por uma hora, e vers: no grandioso dia da sua Histria, o teu Povo est presente!

    Os ossos secosConscientemente ou no,Teodoro HerzI teve muito

    a ver com a profecia de Ezequiel 37. Nesse captulo. Deus mostra como Israel, ao final dos tempos, seria novamente recolocado em sua prpria terra. Antes, porm, de nos determos na anlise desse captulo, vejamos o que outros profetas registraram:

    Levantar um estandarte para as naes, ajuntar os desterrados de Israel e os dispersos de Jud recolher desde os quatro confins da terra [Is 11.12, ARA, Almeida Revista e Atualizada].

    Ouvi a palavra do Senhor, naes, e anunciai nas terras longnquas do mar,e dizei: Aquele que espalhou a Israel o congregar e o guardar, como o pastor, ao seu rebanho [|r 31.10, ARA],

    Mudarei a sorte do meu povo de Israel; reedificaro as cidades assoladas, e nelas habitaro, plantaro vinhas e

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    bebero o seu vinho, faro pomares e lhes comero o fruto [Am 9.14, ARA].

    No captulo 37 de Ezequiel, o vale significa o mundo, os ossos indicam o povo de Israel e as sepulturas apontam para as naes atuais. Diz o texto:

    Veio sobre mim a mo do Senhor; ele me levou pelo Esprito do Senhor e me deixou no meio de um vale que estava cheio de ossos, e me fez andar ao redor deles; eram mui numerosos na superfcie do vale e estavam sequssimos. Ento me perguntou: Filho do homem, acaso podero reviver estes ossos? Respondi: Senhor Deus, tu o sabes. Disse-me ele: Profetiza a estes ossos, e dize- Ihes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor. Assim diz o Senhor Deus a estes ossos: Eis que farei entrar o esprito em vs, e vivereis [vv. 1-5, ARA].

    No versculo 11, temos a poca para o cumprimento dessa profecia: "Ento, me disse: Filho do homem, estes ossos so toda a casa de Israel; eis que dizem: Os nossos ossos se secaram, e pereceu a nossa esperana; ns estamos cortados". O tempo desse lamento, e do reconhecimento por parte dos judeus da sua triste e desesperadora condio, teve incio a partir de 1871, quando uma grande onda de pogrons exterminou dezenas de milhares deles em centenas de municpios da Rssia. Os massacres continuaram rotineiros at 1921.

    A ordem dos eventos."Ento, profetizei segundo me fora ordenado; enquanto eu profetizava, houve um rudo..."[v.7,ARA ].As notcias acerca da organizao de um movimento capaz de conduzir os judeus de volta sua antiga ptria, levadas a todas as comunidades israelitas do mundo, soaram como uma claridade de esperana.

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    Prossegue Ezequiel: "... um barulho de ossos que batiam contra ossos e se ajuntavam, cada osso ao seu osso".Aqui temos o movimento [ou rebolio] dos ossos, ou seja, a preparao e a viagem Terra Santa dos primeiros colonos israelitas, que tiveram de enfrentar grandes dificuldades.

    O ajuntamento dos "ossos" vem ocorrendo como segue. Em 1917,ano da Proclamao Balfuor, havia 25 mil judeus na Palestina. Esse nmero aumentou para 83 mil em 1922 e para trezentos mil em 1935, ano em que Hitler se fortalecia na Alemanha e no escondia o seu anti-semitismo.

    Em 1937, a populao israelita da Palestina j era de 430 mil. Dois anos depois a Inglaterra proibiu a entrada dos judeus na Terra Santa, deixando-os, dessa forma, merc dos nazistas. Em 1945, havia quinhentos mil, e trs anos mais tarde, quando Israel proclamou sua independncia, nmero chegava a oitocentos mil. Em 1956, j eram 1,9 milho [quando ocorreu a segunda guerra rabe-israelense]; em 1967,2,8 milhes. Em 1973,3,3; em 1983, mais de quatro milhes, e no final de 1998, cerca de seis milhes.

    "Olhei, e eis que havia tendes sobre eles, e cresceram as carnes, e se estendeu a pele sobre eles; mas no havia neles o esprito" [v. 8, ARA], Os "tendes" [ou nervos] indicam alianas polticas, m ilitares, o renascimento da lngua hebraica e a recuperao econmica, principalmente atravs dos kibutzim. Kibutzvem da mesma raiz do verbo hebraico "congregar", usado por jeremias no versculo 10 do captulo 31 de seu livro.

    As "carnes" indicam as estruturas polticas que deram forma nao em 1948, da mesma maneira como o reboco d forma parede.

    A "pele" indica proteo e acabamento. Em 1948, faltava a Israel um exrcito organizado. Hoje, as foras

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    armadas israelenses esto entre as mais bem treinadas e equipadas do mundo. Basta dizer que na guerra-re- Impago de 1967 havia quarenta soldados rabes para cada soldado israelense, e Israel venceu! evidente que as palavras divinas de Ams 9.15 se cumpriram: "Plant-los-ei na sua terra, e, dessa terra que lhes dei, j no sero arrancados, diz o Senhor, teu Deus" [ARA].

    Embora todos esses ossos estejam unidos, com tendes, carnes e pele, falta-lhes ainda a vida espiritual, prometida no versculo 14: "Porei em vs o meu Esprito, e vivereis, e vos estabelecerei na vossa prpria terra. Ento, sabereis que eu, o Senhor, disse isto e o fiz, diz o Senhor"[ARA].

    Note que a palavra "Esprito" aqui, com inicial maiscula, refere-se ao Esprito Santo, conforme Joel 2.28,29 e Atos 2.17,18. O povo de Israel somente ser cheio do Esprito Santo quando se converter a Jesus no final do "dia da vingana do nosso Deus" [Is 61.2], ou seja, da Grande Tribulao, do "tempo da angstia para Jac" etc., que culminar com a batalha do Armagedom no final do reinado do anticristo. [Veja estas passagens: Jeremias 30.7; Joo 3.36; Apocalipse 3.10; 7.14; 11.18.]

    O profeta Osias indica esse tempo glorioso, quando todo o Israel ser salvo: "Vinde, e tornemos para o Senhor, porque ele despedaou e nos sarar, fez a ferida e a ligar. Depois de dois dias nos dar a vida; ao terceiro dia, nos ressuscitar, e viveremos diante dele" [6.1,2].

    Os dois dias correspondem aos dois perodos mencionados em Isaas 61.2: o "ano aceitvel do Senhor" ou "o dia que fez o Senhor", de Salmos 118.24 e o "dia da vingana do nosso Deus", ou seja, o vindouro perodo de tribulao. Israel s ser levantado ao terceiro dia, no Milnio, e ento viver diante do Senhor.

    Note que, no que diz respeito a Israel, cada "dia" marcado por dois eventos: um no incio e outro no fim. Assim , o prim eiro dia com eou com o

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    despedaamento da nao, no nascimento da Igreja, e terminar com a cura do despedaamento, que est ocorrendo em nossos dias e assinala o tempo do arre- batamento da Igreja.

    O segundo dia, o dia da ira, comea com a ferida de Israel, no incio do perodo de tribulao, e termina com a cura da ferida, no final da tribulao, quando Jesus vir em socorro do remanescente israelita, que se converter. Ento a nao ressuscitar espiritualmente no terceiro dia, o Milnio, e viver diante dEIe, de Cristo.

    A Proclamao BalfuorO retorno dos judeus sua terra comeou precaria

    mente no sculo XIX, em conseqncia dos horrorosos pogrons praticados livremente contra esse povo nos guetos de centenas de cidades europias e principalmente na Rssia. Cada grupo de imigrao era conhecido como aliyah, palavra que significa "subida", extrada da expresso bblica "subindo para Jerusalm".

    Em 2 de novembro de 1917, a Inglaterra inclina-se a favor do sionismo, atravs da declarao do ministro dos Negcios Exteriores do Governo Britnico, Balfuor, submetida ao Gabinete de Ministros daquele pas e por ele aprovada. Esse famoso documento, responsvel por tantas reviravoltas polticas em todo o mundo e principalmente no Oriente Mdio, foi remetido ao Lorde Rotschild. Dizia ele:

    O governo de Sua Majestade encara favoravelmente o estabelecimento de um Lar Nacional para o povo judeu, na Palestina, e empregar todos os seus esforos para facilitar a realizao desse objetivo, estando claramente entendido que no se falar nada que possa acarretar prejuzo aos direitos civis e religiosos das comunidades no judias da

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    Palestina, bem como aos direitos e ao status poltico de que os judeus possam gozar em qualquer outro pas.

    Agradecer-vos-ei levar esta declarao ao conhecimento da Federao Sionista.13

    Animados por essa promessa, o movimento imigratrio aumentou consideravelmente, em cumprimento profecia bblica:

    E removerei o cativeiro do meu povo Israel, e reedificaro as cidades assoladas, e nelas habitaro, e plantaro vinhas, e bebero o seu vinho, e faro pomares, e lhes comero o fruto. E os plantarei na sua terra, e no sero mais arrancados da sua terra que lhes dei, diz o Senhor, teu Deus. E vos tomarei dentre as naes, e vos congregarei de todos os pases, e vos trarei para a vossa terra. E diro: Esta terra assolada ficou como jardim do den; e as cidades solitrias, e assoladas, e destrudas esto fortalecidas e habitadas [Am 9.14,15; Ez 36.24,35].

    O castigo e o fubileiiSirvo-me, em parte, dos clculos feitos por Alex

    Wachtel, missionrio nazareno em Jerusalm, o qual examinou o longo exlio dos judeus luz do ano bblico do jubileu. Segundo o mandamento divino, o israelita que tivesse perdido a sua propriedade e tivesse sido feito escravo, receberia novamente a liberdade e a restaurao da sua terra aps 49 anos, no jubileu.

    Desde o ano 70 d.C. at o ano recente de 1948, quando Israel tornou-se de novo um Estado independente, houve um intervalo de 1878 anos. Israel obteve a posse de toda a terra apenas em 1957, e somente em 1981 o pas passou a contar com uma populao judaica suficientemente numerosa para sentir-se seguro contra

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    as naes vizinhas hostis. O perodo de tempo entre 70 e 1981 de 1911 anos7 comeando com a destruio e disperso, e terminando com a volta e a segurana.

    Como somos um povo dirigido pela Bblia, um precedente bblico seria de grande ajuda. Dentro do cativeiro babilnico de setenta anos, h um perodo mais acentuado do exlio, que vai da destruio de Jerusalm por Nabucodonosor,em 587 a.C.,at o regresso do primeiro grupo de judeus, em 538 a.C. Esse perodo de 49 anos, que tambm foi o tempo gasto na restaurao de Jerusalm [Dn 9.25], Dividindo-se 1911 por 49, encontramos o nmero 39.

    interessante notar que o nmero mximo de aoites que um homem culpado podia receber era de quarenta [Dt 25.3J. No tempo de Jesus, entretanto, esse nmero havia sido reduzido para 39 a fim de evitar que as autoridades, por erro de clculo, quebrassem a lei.

    Se levarmos em conta que o exlio para os judeus sempre considerado na Bblia como um castigo, ento para cada ano que o judeu sofria em Babilnia, os judeus haveriam de sofrer, depois da destruio de Jerusalm pelos romanos, um castigo de 39 anos. Esse longo exlio repleto de sofrimentos revela quo profunda era a tristeza de Deus pelo fato de Israel haver rejeitado seu Filho e o levado morte!

    Wachtel conclui:

    No perodo de 1911 anos, vemos o nmero mximo de anos de escravido e de separao da terra multiplicado pelo mximo nmero de golpes que algum poderia receber num castigo. Apropriadamente, os dois ensinos se acham no Antigo Testamento, e por isso falam com autoridade tanto para os cristos como para os judeus.14

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    H outros clculos interessantes relacionados com o moderno Estado de Israel, feitos especialmente por Adam Clarke no incio do sculo X IX e baseados no texto de Daniel 8.8,14, que afirma:"O bode se engrandeceu sobremaneira; estando, porm, na sua maior fora, aquele grande chifre foi quebrado, e subiram no seu lugar quatro tambm notveis, para os quatro ventos do cu. Ele me disse: At duas mil e trezentas tardes e manhs, e o santurio ser purificado" [EC].

    O imprio grego,sendo o primeiro a unir trs continentes, estendeu-se pelo Sul da Europa, pela parte ocidental da sia e pelo Nordeste da frica. Mas estando na sua maior fora, isto , quando Alexandre estava no apogeu do seu poderio, "aquele grande chifre foi quebrado", ou seja, Alexandre o Grande morre repentinamente em 323 a.C., com a idade de 33 anos.

    Entre os versculos 8 e 14 de Daniel est descrita a perseguio dos judeus por Antoco Epifanes no sculo segundo antes de Cristo. Na segunda parte do versculo 17, entretanto, Gabriel diz a Daniel: "Entende, filho do homem, porque esta viso se realizar no fim do tempo" [EC], Clarke entende que essa passagem se refere no somente a Antoco, mas tambm aos acontecimentos "do fim do mundo".

    O primeiro cumprimento da profecia ocorreu 1.150 dias depois que o altar de Deus foi removido por Antoco. Cada par de tarde e manh corresponde, nessa interpretao^ um dia. [Ver nota na Bblia de Estudo Pentecosta.)

    Adam Clarke, entendendo tambm que as 2.300 tardes e manhs poderiam referir-se a 2.300 anos, conforme sugere Ezequiel 4.6, comenta que se datarmos os anos desde o cumprimento da viso do bode [invaso da sia por Alexandre] em 334 a.C., contando 2.300 anos a partir dessa data, chegaramos ao ano 1966 d.C., quando

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    o santurio seria purificado mediante a volta dos judeus parte antiga de Jerusalm e rea do templo.

    Considerando que o ano 1 a.C. o ano de Roma 753, e o ano 1 d.C. o ano de Roma 755, omitimos assim o ano zero, ou 754 de Roma, que deve ser interposto entre 1 a.C. e 1 d.C. Esse ano, acrescentado a 1966, nos daria 1967, ano em que de fato Israel obteve a sua maior vitria nas guerras contra os rabes, passando a ocupar os lugares mais sagrados de Jerusalm.

    Israel proclama a independnciaApesar de todos os sofrimentos por que passou o

    povo israelita entre as naes, muitos judeus discordaram da criao do Estado de Israel, entre eles o famoso fsico Albert Einstein. Em 1938, ele expressou seus temores diante do crescimento do nacionalismo judaico.

    Eu queria muito mais ver um acordo de paz com os rabes na base de uma vida em comum em paz do que a criao de um Estado judeu. Fora consideraes prticas, meu conhecimento da natureza essencial do judasmo resiste idia de um Estado judeu, com fronteiras, exrcito e uma certa quantidade de poder temporal, no importa quo modesto.

    Estou temeroso dos danos internos que o judasmo sofrer, especialmente os provenientes do desenvolvimento de um estreito nacionalismo dentro do Estado judeu. J no somos mais os judeus do perodo macabeu! O retorno a uma nao no sentido poltico da palavra seria equivalente a voltar as costas espiritualizao de nossa comunidade, a qual devemos ao gnio de nossos profetas.15

    Einstein no poderia perceber, como tantos outros judeus tambm no perceberam e ainda no percebem, que o renascimento de Israel como um pas, longe de

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    ser um "voltar as costas espiritualizao", exatamente um avano do povo israelita rumo futura espiritualizao, pois o seu renascimento poltico precede o seu renascimento espiritual.

    Esse aspecto espiritual do povo israelita no poderia estar ausente na Declarao da Independncia, lida nao no dia 14 de maio de 1948, no mesmo dia em que os britnicos deixavam o pas e as naes rabes iniciavam a primeira guerra oficial no declarada ao novo Estado:

    Aqui se forjou sua personalidade espiritual, religiosa e nacional. Aqui tem vivido como povo livre e soberano.Aqui tem legado ao mundo o eterno Livro dos livros.

    Mais adiante, afirma o histrico documento:

    Exortamos os habitantes rabes do Estado de Israel ainda em meio agresso sangrenta que se leva a cabo contra ns desde alguns meses a manter a paz e a participar na construo do Estado, sobre a base dos plenos direitos civis e de uma representao adequada em todas as suas instituies provisrias e permanentes.

    Oferecemos a paz e a amizade a todos os pases vizinhos e a seus povos, e os convidamos a cooperar com o povo judeu independente em seu pas, na base da ajuda mtua. O Estado de Israel est disposto a colaborar no esforo comum para o progresso do Mdio Oriente em sua totalidade.

    Chamamos o povo judeu de toda a dispora a con- gregar-se em torno da populao do Estado, e a ajud-lo em suas tarefas de imigrao e construo, e em sua grande empresa pela materializao de suas aspiraes milenrias de redeno de Israel.

    Com a f no Todo-poderoso, firmamos de nosso prprio punho e letra esta declarao, na sesso do Con

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    selho Provisrio do Estado, sobre o solo da Ptria, na cidade de Tel-Aviv. Este dia, vspera de sbado, 5 de lyar de 5708 [14 de maio de 1948]. Seguem-se 38 assinaturas, encabeadas pela do primeiro presidente, David Ben Gurion.16

    Operao Tapete MgicoUma das mais extraordinrias operaes de imigra

    o dos tempos modernos realizou-se em 1948. Foi denominada Tapete Mgico, e transportou dezenas de milhares de judeus para Israel, todos procedentes do Imen, pequeno pas situado na extremidade sul da Arbia, junto ao mar Vermelho.

    A histria desse povo fascinante. Acredita-se que muitos deles tenham imigrado para o Imen nos dias do rei Salomo, e fontes fidedignas confirmam a continuidade deles naquele pas desde os primeiros sculos do cristianismo.

    Durante todo esse longo tempo, nunca viram um automvel, um trem de ferro, um avio, a luz eltrica ou qualquer invento moderno. Toda a sua cultura consistia em saber de cor o Antigo Testamento. Tambm haviam copiado a Bblia mo, de Gnesis a Malaquias, da mesma maneira como faziam os escribas dos dias de Jesus. Quando cometiam qualquer erro, por menor que fosse, todo o manuscrito era inutilizado, e a tarefa recomeada. A cpia tinha de ser absolutamente perfeita.

    Enquanto viveram no Imen, esses israelitas sofreram todo o tipo de opresso. Por estarem sempre sujeitos s mudanas da poltica local, em algumas pocas a situao desses judeus foi comparada dos escravos. Em 1846, por exemplo, eles foram obrigados a limpar os esgotos da cidade de Sana, enquanto em 1921 um decreto deter

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    minava a converso dos rfos judeus ao islamismo. Como se isto no bastasse, no podiam vestir roupas finas nem usar meias; era-Ihes proibido possuir armas e estudar a Tor fora da sinagoga. Era um verdadeiro milagre que conseguissem ganhar a vida como ourives, teceles, ferreiros, marceneiros e mascates.

    Nessas condies de pobreza geral e de repetidas humilhaes, no de admirar que os movimentos messinicos florescessem, sendo reprimidos duramente pelos governantes da poca; contudo, os pseudomessias continuaram a entusiasmar a populao at o sculo XIX.

    Os primeiros imigrantes do Imen que chegaram a Israel pareciam seres vindos de outro mundo. Em lugar nenhum, durante todo o exlio do povo judeu, as antigas tradies haviam sido preservadas to fielmente como entre eles. Desde que os primeiros ncleos se estabeleceram no Imen, na poca do Segundo Templo, ali viveram virtualmente isolados de qualquer influncia cultural externa. Imprensados entre os conquistadores otomanos e a populao rabe do Imen, foram excludos por leis discriminatrias da sociedade muulmana dominante.

    Porm, embora perseguidos pelo mundo exterior, dentro de suas comunidades mantinham com extraordinria pureza todos os ensinamentos e os hbitos transmitidos de pai para filho,desde os dias em que o Sindrio tinha sua sede em Jerusalm.17

    Ao tomar conhecimento da criao do Estado de Israel, em 1948, os dirigentes iemenitas organizaram um grande xodo da Arbia para a Palestina.

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    O primeiro-ministro de Israel, David Ben-Gurion, pediu auxlio ao governo americano, o qual enviou avies comerciais ao porto de den, de onde, controlados pelos ingleses, levaram os judeus iemenitas sua antiga ptria. O nico meio possvel para chegarem ao porto de den era a p, e assim fizeram. Alguns deles caminharam 1.500 quilmetros atravs de desertos e montanhas. Em certas ocasies, andaram debaixo de temperaturas escaldantes, noutras, sob temperaturas frgidas, muito abaixo de zero.

    O governo de Israel enviou pessoal e equipamento para filmar este grande xodo. [...] Ouviam-se as crianas gritar por gua, umas tropeando, outras caindo, mas podiam-se ouvir tambm os rabis que, em tom vibrante e estranho, diziam: "Dai mais um passo, filhinhos! Ns vamos a caminho da ptria para encontrar o Messias". Dificilmente eles punham um p frente do outro, mas, mesmo tropeando, prosseguiam.18

    Ao chegarem a den e verem aquelas enormes "aves" enviadas pelo governo israelense para transport-los sua antiga terra, os judeus iemenitas se recusaram a entrar nelas. Ento seus rabis leram a profecia de Isaas acerca do futuro retorno dos filhos de Israel, no captulo 60, versculo 8, que diz:"Quem so estes que vm voando como nuvens e como pombas, s suas janelas?"

    Depois de explicarem que Deus os mandaria buscar e levar ptria em asas de guias, os judeus iemenitas subiram resolutamente para os avies, sem qualquer receio. Em 450 vos, a operao Tapete Mgico transportou cerca de setenta mil israelitas, e muitos deles, ao chegar a Israel, beijaram o solo e perguntaram:"Onde est o Messias?"

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    O deserto floresceFoi em circunstncias as mais adversas que vrias co

    munidades judaicas se instalaram na Terra Santa, principalmente a partir do final da Primeira Guerra Mundial, realizando, a duras penas, o sonho deTeodoro HerzI, um dos mais destacados pais da moderna nao de Israel. Atravs de congressos sionistas internacionais, os israelitas discutiram e lanaram as bases de sua futura ptria, muito embora a Inglaterra adotasse uma poltica egosta e imediatista e fechasse os olhos aos seus compromissos assumidos em 1917, abandonando as populaes judaicas da Palestina sua prpria sorte.

    Alm das dificuldades de ordem poltica, os imigrantes judeus, fugindo dos rotineiros massacres na Europa, tiveram de vencer tremendos obstculos na Palestina. Subjugada durante sculos por povos estranhos, a Terra Santa se foi tornando pouco a pouco em um enorme deserto, a ponto de deixar perplexos os viajantes que a visitavam.

    Os turcos fizeram recair sobre cada rvore um imposto, e os bedunos, que odiavam qualquer tipo de tributo, cortaram-nas uma a uma. E medida que a vegetao desaparecia, as chuvas escasseavam e a desolao avanava, chegando mesmo aos lugares antes bem arborizados e onde outrora erguiam-se florescentes cidades. Era o cumprimento da Palavra de Deus, em Levtico 26.33:"... e a vossa terra ser assolada, e as vossas cidades sero desertas".

    Foi exatamente na condio de terra assolada e de cidades desertas que os primeiros judeus encontraram a Palestina.Todavia, trabalhando diuturnamente nas condies mais desfavorveis possveis, os novos colonizadores plantaram dezenas de milhes de rvores e drenaram extensos pntanos atravs de um arrojado programa de

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    recuperao do solo, em que parte do rio Jordo foi desviada, at que o deserto comeasse a florescer.

    O crescimento dos desertos tem preocupado tanto nos ltimos anos que a O N U criou a palavra desertificao especialmente para o fenmeno, e tem organizado conferncias em vrias partes do mundo, especialmente na frica, onde o problema mais grave e requer providncias urgentes.

    No meio de tanta preocupao internacional, Israel prova que nem tudo est perdido na luta contra o fantasma da desertificao. Desde que chegaram os primeiros colonos israelitas aos desertos da Palestina, parece que nada tem sido mais importante para Israel do que transformar desertos em florestas, pomares e jardins. Flores e frutos so abundantes no Neguebe e no restante do pas, a ponto de esses produtos se tornarem importantes itens de exportao e geradores de divisas.

    Mas, por que a imprensa em geral enfatiza tanto as terrveis conseqncias da expanso dos desertos do mundo e d to pouca ateno ao milagre da agricultura no deserto de Israel? A resposta que as boas notcias no vendem tanto quanto as ms, nem a cincia mais interessante do que a poltica, especialmente em se tratando da poltica do Oriente Mdio e da tendncia anti-sionista dos meios de comunicao.

    Segundo o professor Arieh Issar, diretor do Instituto de Pesquisa do Deserto [IPD], uma das tragdias bsicas do deserto, atualmente, que a questo scio- poltica."Ningum sabe melhor disso do que o israelense. Enquanto as rvores de pistacho crescem no Neguebe base de dois copos d'gua por ano, e os kibutzim usam gua cujo limite de salinidade quatro vezes maior do que era considerado o limite h vinte anos, a imprensa prefere concentrar-se nas sutilezas polticas".

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    O IPD, que tem sido um dos campi da Universidade Ben Gurion do Neguebe, est localizado em Nahal Zin, ao lado do kibutz Sde Boker, e ocupa grandes prdios modernos. Mas muito mais importante do que a bela arquitetura so os projetos de pesquisa desenvolvidos no instituto."Os cientistas do deserto no vivem numa torre de marfim, nem o querem", afirma Issar. E acrescenta: "O instituto tem por trs de si uma filosofia definida. No se pode reconstruir o deserto por controle remoto. No se pode viver longe do deserto se existe interesse de se trabalhar com ele. preciso ser parte dele, preciso viver nele".

    Muitos dos pesquisadores do instituto mudaram-se do Norte e do centro do pas para Berseba, e todos eles sabem o que devem fazer: transformar o deserto em terreno adequado agricultura, indstria, habitao e recreao. Afirmam os pesquisadores do IPD que h trs maneiras de enfrentar o deserto. A primeira delas, geralmente adotada pelos Estados Unidos, a tendncia de impor o homem ao deserto. A segunda maneira a dos bedunos, que vivem das sobras do deserto. A terceira maneira a do israelense, que se torna parte do deserto, acentuando o seu equilbrio ecolgico e cuidando em no perturb-lo.

    Outra observao interessante que se pode fazer em relao aos desertos da Palestina que, pelo menos naquela parte do mundo, a desertificao no pode ser atribuda ao clima, pois este no sofreu nenhuma mudana climtica ecologicamente significativa nos ltimos dez mil anos. No havendo outra explicao razovel para o problema, resta a profecia de Moiss em Levtico 26.33: "Espalhar-vos-ei por entre as naes, e desembainharei a espada atrs de vs. A vossa terra ser assolada, e as vossas cidades ficaro desertas" [EC].

  • 6 0 ISRAEL, GOGUE E O ANTICRISTO

    Em virtude da grande necessidade de poupar gua, Israel inventou e adotou um sistema de irrigao base de borrifo ou respingo, o que lhe permite ser o pioneiro no uso da gua salobra. Esta fornecida diretamente raiz da planta, limitando assim o grau de salinidade do solo.

    H, no deserto do Negueve, grandes depsitos naturais de gua salobra, que esto entre cinqenta e cem metros de profundidade e so renovados pelas nuvens. Por isso, muitas fazendas usam essa gua na irrigao, s vezes mediante sofisticado sistema computadorizado,que controla a quantidade de gua com referncia a variveis como temperatura, vento e secura do solo.

    Esse sistema de irrigao base de gua salobra tem permitido ricas safras de tomates, beterrabas, trigo, meles, pepinos e melancias.

    A restaurao dos desertos de Israel clarssimo cumprimento de muitas profecias, como estas: "Ento farei que [...] sejam edificados os lugares desertos. La- vrar-se- a terra deserta, em vez de estar desolada aos olhos de todos os que passam. Dir-se-: Esta terra desolada ficou como o jardim do den"(Ez 36.33-35,ARA], Esta ltima frase proftica tem sido repetida em nossos dias por tantos quantos visitam aquele pas.

    Realmente, as cidades antigas foram reconstrudas e habitadas, e a triste paisagem desrtica foi substituda pelo verde alegre da natureza. Hoje, flores colhidas no Neguebe so congeladas e exportadas para as grandes cidades do mundo, e frutas israelenses alcanam as melhores cotaes no mercado internacional.

  • POR SRANaquele tempo, os egpcios sero como mulheres, e

    tremero, e temero por causa do movimento da mo do Senhor dos Exrcitos, porque ela se h de

    mover contra eles. E a terra de Jud ser um espanto para o Egito (Is 19.16,17).

    mbora a O N U tenha determinado a partilha da Palestina em dois Estados Israel e Jordnia os judeus tiveram de garantir o seu direito de propriedade da terra s suas prprias custas. A guerra comeou no dia da partida dos britnicos, 14 de maio de 1948, e mais uma vez o pequeno "Davi" teve de defrontar- se com o "gigante Goias". Poucos

  • 62 ISRAEL, GOGE E O ANTICRISTO

    acreditavam que o novo Estado durasse duas semanas. Como poderiam setecentos mil judeus, mal armados, proteger cidades desguarnecidas contra mais de trinta milhes de ferozes inimigos equipados com o mais moderno material blico?

    Conta Meyer Levin que os comandantes rabes j escolhiam as casas de Tel-Aviv que pretendiam ocupar. s tropas foram prometidos os despojos da guerra: mulheres e produto do saque.

    Nada disso aconteceu. Logo tornou-se evidente que na realidade os kibutzim (fazendas coletivas] estavam muito bem colocados, pois formavam uma cadeia de fortins na periferia de Israel. Os acampamentos da fronteiras dividiram-se para uma ao final. As crianas foram enviadas ao interior do pas. Os colonos cavaram redutos subterrneos [...]

    Uma histria clssica de defesa a de Negba, no caminho egpcio, no Negueve. O novo kibutz no passava de uma fileira de cabanas volta de uma torre para gua feita de concreto armado, em pleno deserto [...] Foi construda uma completa fortaleza subterrnea, com cozinha, casamatas e um hospital; assessorado por um mdico e quatro enfermeiras. Totalmente cercados pelo inimigo, abastecidos apenas pelos "Piper Cubs", todos os edifcios da superfcie arrasados, os defensores de Negba resistiram durante meses e saram vitoriosos.

    Seis mil bombas caram sobre Negba em um nico dia, antes do ataque, na madrugada de 2 de junho, quando apareceram sete tanques egpcios, seguidos por sete carros blindados e dois mil homens. Um par de"Spitfires" tripulados por rabes roncavam sobre suas cabeas; um deles foi abatido a tiros de fuzil.

    Esperando que os tanques chegassem a uma distncia de 200 jardas, os colonos acionaram sua nica bazuca.

  • DEUS LUTA POR ISRAEL 63

    O primeiro tiro ps um tanque fora de combate. Dois tiros se perderam. Os dois tiros restantes atingiram um tanque cada. Um outro tanque, a cinco jardas dos defensores, atingidos por granadas de mo explodiu. Dois outros bateram em minas. O ltimo fugiu. Chegou ento a infantaria, e a batalha durou cinco horas.

    As perdas foram pesadas, mas Negba agentou firme. Os colonos saam noite arrastando-se para regar suas mudas. Sua resistncia ultrapassou os limites da bravura. Isto foi explicado na frase de guerra "ein brayra" que significa "no h escolha". Os judeus no tinham para onde bater em retirada.19

    Barril de plvoraBatidos vergonhosamente em todas as frentes de

    batalha pelo minsculo mas herico povo israelita, o