interface da educaÇÃo especial na educaÇÃo escolar … · interface da educaÇÃo especial na...
TRANSCRIPT
INTERFACE DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA: ALGUMAS REFLEXÕES A PARTIR DO CENSO ESCOLAR
SÁ, Michele Aparecida de¹ ¹Doutoranda em Educação Especial - UFSCar
CIA, Fabiana² ²Professora Adjunta do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação
em Educação Especial - UFSCar Resumo: A interface da educação especial com a educação escolar indígena está em construção na política educacional brasileira. Portanto, este estudo pretendeu apresentar algumas reflexões sobre a interface da educação especial na educação escolar indígena por meio de análise dos dados do Censo Escolar referentes às matrículas nas escolas indígenas de alunos com deficiência. Os dados foram coletados por meio dos Microdados do Censo Escolar da Educação Básica, disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) referentes aos anos de 2007, 2008, 2009 e 2010, as categorias analisadas neste banco de dados foram: (a) o número de matrículas de alunos indígenas com deficiência nas escolas indígenas; (b) os tipos de deficiências encontradas na população indígena; (c) as modalidades de ensino em que os alunos indígenas com deficiência estão matriculados e (d) verificar se os alunos indígenas com deficiência recebem atendimento educacional especializado. Este estudo constatou que houve um crescimento significativo do número de alunos indígenas com deficiência matriculados nas escolas indígenas do Brasil. No que se refere ao atendimento educacional especializado, destaca-se que no ano de 2010 existiam alunos com deficiência nas escolas indígenas sem qualquer tipo de atendimento. Neste contexto, torna-se imprescindível discutir a formação inicial e continuada de professores indígenas para atuarem em escolas indígenas com essa nova realidade que se apresenta. Os professores indígenas como membros ativos das comunidades são conhecedores das necessidades reais de seu povo e por meio de práticas pedagógicas reflexivas esses profissionais podem contribuir para transformação da realidade de sua comunidade para além da escola. Palavras-chave: Educação Especial; Educação Escolar Indígena; Censo Escolar Introdução
Este estudo pretende apresentar algumas reflexões sobre a interface entre duas
áreas da educação: a educação especial e a educação escolar indígena. Para tanto, foram
analisados os dados do Censo Escolar referentes às matrículas de alunos com
deficiência nas escolas indígenas.
Se trabalhar separadamente essas duas áreas já traz grandes desafios, estudar a
interface da educação especial na educação escolar indígena se revela ainda mais
desafiador em virtude do silenciamento histórico que apresenta nessas duas áreas.
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.002201
2
Com suas especificidades e complexidades, a educação especial e educação
escolar indígena são consideradas um direito social. Nas últimas décadas diversas
legislações e documentos vêm norteando estas duas áreas da educação, porém ainda
existe um descaso histórico de ações na área de políticas públicas.
Neste contexto, torna-se fundamental apresentar os conceitos de educação
especial e educação escolar indígena e como essa interface se configura na legislação
atual.
A educação especial é definida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional n.º 9.394/96 (LDB/1996) como modalidade de educação transversal que
perpassa todos os níveis de ensino, sendo oferecida preferencialmente na rede regular de
ensino para os alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas
habilidades.
Na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva (BRASIL, 2008) a educação especial se constitui como uma modalidade de
ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o Atendimento
Educacional Especializado (AEE), identifica as necessidades educacionais especiais,
disponibiliza os serviços e recursos próprios desse atendimento e orienta os alunos e
seus professores quanto a sua utilização nas salas comuns do ensino regular.
A educação escolar indígena foi garantida na Constituição Federal (C.F/1988),
a qual assegurou uma educação diferenciada e a utilização de suas línguas maternas no
contexto das escolas indígenas (Art. 210). Cohn (2005, p. 486) ressalta que a partir da
C.F/1988 os índios, como todo cidadão brasileiro, passam a ter direito à educação
escolar, enquanto, por outro lado, o Estado passa a ter obrigação de provê-lo,
respeitando a cultura, língua e processos próprios de ensino e aprendizado de cada
comunidade.
Verifica-se que a educação escolar indígena, almejada por diferentes
comunidades e assegurada constitucionalmente veio apontar um novo modelo de
educação escolar, marcada pelo direito à diferença. Nesta perspectiva, a LBD/1996
garante para estas comunidades a oferta de uma educação escolar bilíngue e
intercultural e o respeito aos processos próprios de aprendizagem de cada comunidade
indígena no processo escolar (Art. 79).
O Referencial Curricular Nacional para as escolas indígenas (RCNEI, 1998) se
concretiza como um documento importante para a educação escolar indígena, uma vez
que traz informações sobre os novos parâmetros, faz orientações curriculares e
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.002202
3
procedimentos pedagógicos em diversas áreas do saber, discute a atuação e a formação
dos professores indígenas. Este documento define quatro características da escola
indígena: comunitária, intercultural, bilíngue/multilíngue, específica e diferenciada.
De acordo com esse referencial ela é comunitária porque é conduzida pela
comunidade indígena de acordo com seus projetos, suas concepções e seus princípios; é
intercultural porque deve reconhecer e manter a diversidade cultural e linguística; é
bilíngue/multilíngue porque as tradições culturais, os conhecimentos acumulados, a
educação das gerações mais novas, as crenças, o pensamento e a práticas religiosas, as
representações simbólicas, a organização política, os projetos de futuro, enfim, a
reprodução sociocultural das sociedades indígenas é, na maioria dos casos, manifestados
através do uso de mais de uma língua; é específica e diferenciada “Porque é concebida e
planejada como reflexo das aspirações particulares de cada povo indígena e com
autonomia em relação a determinados aspectos que regem o funcionamento e orientação
da escola não-indígena” (RCNEI, 1998, p.25).
Com relação à interface da educação especial na educação escolar indígena,
atualmente as políticas públicas de educação, de forma tímida, vêm tentando nortear
essa interface, este é o caso da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva
da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), a qual assegura: A interface da educação especial na educação indígena, do campo e quilombola deve assegurar que os recursos, serviços, e atendimento educacional especializado estejam presentes nos projetos pedagógicos construídos com base nas diferenças socioculturais desses grupos.
Este documento traz avanços referentes ao serviço, recursos e ao atendimento
educacional especializado para a educação escolar indígena. Porém, cabe investigar
como essa interface vem sendo implementada no contexto das escolas indígenas
brasileiras, pois os poucos estudos que se têm na área (SÁ, 2011; SOUZA, 2011)
apontam lacunas existentes entre a legislação e as políticas implementadas,
principalmente no que se refere acesso e permanência de alunos indígenas com
deficiência em escolas indígenas.
Desenvolvimento do estudo
Neste estudo, o destaque é para pesquisa documental com foco no Censo Escolar
da Educação Básica. Cabe destacar que estudos focados no censo escolar são relevantes,
pois segundo Gatti (2004) existem problemas educacionais que para serem
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.002203
4
contextualizados necessitam ser quantificados e muitas informações estão disponíveis
nas bases de dados existentes e precisam ser investigados.
Para este estudo, os dados foram coletados nos Microdados da Educação Básica
do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
Cabe esclarecer que os microdados fazem parte da base de dados dos censos escolares,
os quais se configuram como um levantamento anual de dados estatístico-educacionais
de âmbito nacional, coordenado pelo INEP (INEP, 2009).
Os dados coletados nos Microdados do Censo Escolar da Educação Básica são
referentes aos anos de 2007, 2008, 2009 e 2010. A escolha por esse recorte temporal
justiça-se por dois motivos: 1) pelo fato de até 2006 a unidade básica do censo escolar
era a escola, a partir de 2007, o censo adota o aluno como unidade básica de coleta,
incluindo além dos dados gerais sobre a escola, informações específicas sobre cada
aluno, cada professor regente e cada turma. Observa-se que esta nova forma de coleta
de dados possibilita recolher um número maior de informações de cada aluno. 2) após
2007 surge no contexto educacional brasileiro políticas que visam a inclusão no sistema
regular de ensino alunos com deficiência.
Assim, neste banco de dados, coletou-se por meio do programa SPSS versão
17.0 os dados referentes às matrículas de alunos indígenas com deficiência matriculados
em diferentes níveis, etapas e modalidades de ensino em escolas indígenas do Brasil.
Em virtude da grande diversidade de variáveis, para este estudo escolheu-se as
seguintes: matrículas de alunos com deficiência na educação indígena por modalidade
de ensino (Ensino Regular, Educação Especial, EJA - neste estudo as modalidades serão
consideradas conforme são separadas pelos microdados), tipos de deficiências,
atendimento educacional especializado. Destaca-se que foram coletados dados
referentes aos seguintes tipos deficiências: deficiência visual (B.V e cego), deficiência
auditiva (surdez e D.A), surdocegueira, deficiência física, deficiência intelectual,
deficiência múltipla.
Indicadores educacionais da educação especial na educação escolar indígena
Os indicadores educacionais da educação especial na educação escolar indígena
foram coletados e analisados por meio dos microdados do Censo da Educação Básica
disponibilizados pelo INEP.
Para análise dos dados de matrículas dos alunos indígenas com deficiência,
considera-se necessário apresentar os dados gerais de matrículas na educação escolar
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.002204
5
indígena. A Tabela 1 (em anexo) apresenta os dados gerais referentes ao número de
matrículas na educação escolar indígena no Brasil por modalidade de ensino.
Ao analisar os dados da Tabela 1, verifica-se que no Brasil em 2010 o número
de matrículas de alunos na educação escolar indígena representava 0,48% do total de
matrículas da educação básica. Com relação ao número de matrículas na educação
escolar indígena por modalidade de ensino, observa-se que no decorrer do período
estudado houve aumento contínuo do número de matrículas, com exceção apenas no
ano de 2010 na EJA.
A Tabela 2 (em anexo) apresenta os dados de matrículas de alunos indígenas
com deficiência por modalidade de ensino no Brasil.
De acordo com os dados apresentados na Tabela 2, houve no ensino regular um
aumento expressivo do número de matrículas de alunos indígenas com deficiência nessa
modalidade de ensino, o cotejamento dos dados de 2010 com o ano base de 2007 mostra
um aumento de 262,9% desse alunado no ensino regular. Este aumento pode ter
ocorrido devido à criação de políticas públicas inclusivas que recomendam a entrada de
alunos com deficiência nas escolas regulares, este é o caso da Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), a qual
enfatiza que os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades devem ter acesso, participação e aprendam nas escolas regulares.
Outro fato observado é que quando se compara os dados da modalidade
Educação Especial entre os anos de 2007 e 2010, verificou-se uma diminuição de 61,3%
do número de matrículas na Educação Especial. Vale destacar que tal redução pode
tanto indicar migração para as outras modalidades de ensino ou escolas que não
oferecem educação escolar indígena quanto evasão escolar. Os dados coletados neste
estudo não permitem este tipo de análise, assim remetem à necessidade de se realizar
outras investigações.
Com relação à modalidade de ensino EJA, no período estudado observou-se que
houve uma diminuição de 58,1% do número de matrículas de alunos indígenas com
deficiência nessa modalidade. Destaca-se que esse resultado vai à contrapartida aos
achados de Meletti e Bueno (2010). Estudo realizado pelos autores sobre a situação das
matrículas do alunado da Educação Especial no Brasil aponta o crescimento do número
de matrículas de alunos com deficiência na EJA.
Para ilustrar melhor como estão distribuídos os alunos indígenas com deficiência
por modalidade de ensino, na Tabela 3 (em anexo) apresentam-se dados de matrículas
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.002205
6
de alunos por tipo de deficiência e modalidade de ensino.
Os dados indicam que no ano de 2007 existiam no ensino regular 280 matrículas
de alunos indígenas que possuíam alguma das deficiências selecionadas. A maior
incidência neste ano foi a de alunos com deficiência intelectual, com 31,1% dos casos,
seguida por alunos com baixa visão, 23,6%, alunos com deficiência física, 17,5%. Nos
anos subsequentes teve-se um aumento gradativo do número de matrículas de alunos
indígenas com deficiência no ensino regular. No ano de 2010, verificou-se que das 736
matrículas a maior incidência foi novamente da deficiência intelectual com 35,3 % dos
casos, seguida por deficiência física, 19,3%, e baixa visão, 13,6%. Ressalta-se que em
todos os anos do período analisado, a maior incidência de matrículas é de alunos com
deficiência intelectual.
No caso dos alunos indígenas com deficiência intelectual, chama à atenção a
incidência e o aumento das matrículas ao longo do período analisado. Quando cotejados
os dados deste estudo com os achados de Meletti e Bueno (2010), verifica-se que ambos
os estudos apontam um crescimento significativo do número de matrículas de alunos
com deficiência intelectual no ensino regular. Sabe-se que existe uma dificuldade em
identificar e diagnosticar alunos com tal deficiência, que muitas vezes acarreta nos
alunos com dificuldades de aprendizagem ou mesmo problemas de comportamento
serem identificados com deficiência intelectual (VELTRONE, 2011).
Com relação aos sistemas segregados de ensino, neste estudo representado pela
modalidade de educação especial, a qual é entendida pelo censo escolar como escolas
especiais ou classes especiais, verificou-se que no ano de 2007 existiam 137 matrículas
de alunos indígenas com deficiência. Destaca-se que a maior incidência neste ano foi da
deficiência intelectual, com 27,0% dos casos, seguida pela surdez, 24,1 % e deficiência
auditiva com 18,9 % dos casos. No ano de 2010, existiam 53 matrículas nessa
modalidade de ensino e mais uma vez a incidência foi maior na deficiência intelectual
com 39,7% dos casos, seguida pela deficiência física, 33,9% e deficiência auditiva
9,4%.
Cabe salientar que as matrículas na educação especial sofreram oscilação no
decorrer do período estudado, houve um aumento expressivo no ano de 2008 com 213
matrículas, no ano seguinte (2009) essas matrículas tiveram um decréscimo
significativo, caíram para 16 e aumentaram novamente no ano de 2010 para 53
matrículas. Essa oscilação durante o período analisado pode ter ocorrido em virtude da
elaboração e implementação de políticas públicas que recomendam a entrada de alunos
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.002206
7
com deficiência no sistema regular de ensino.
No caso da modalidade de ensino EJA, os dados indicam que no ano de 2007
existiam 172 matrículas de alunos indígenas com deficiência. Destaca-se que a maior
incidência neste ano foi de alunos com baixa visão, a qual correspondeu a 64,5% das
matrículas, seguida pela deficiência física, 11,0% e deficiência múltipla 11,0%. Nos
anos seguintes teve-se um decréscimo do número de matrículas nos anos de 2008 (73
matrículas) e 2009 (42 matrículas) e aumento em 2010 (72 matrículas). Enfatiza-se que
a deficiência que teve maior incidência no período analisado foi à baixa visão, no ano
base de 2007 existiam 111 casos, em 2010 esses dados diminuíram para 37, porém essa
deficiência continuou a ter a maior incidência.
Observou-se neste estudo que os dados anteriores revelaram a existência de
alunos indígenas com deficiência matriculados nas diferentes modalidades de ensino.
No entanto, na Tabela 4 (em anexo) serão apresentados dados referentes ao atendimento
educacional especializado, ou seja, será demonstrado se os alunos com deficiência que
estavam matriculados nas escolas indígenas do Brasil recebiam algum tipo de
atendimento educacional especializado.
Ao analisar os dados da Tabela 4, é verificado que nem todos os alunos com
deficiência recebiam atendimento educacional especializado. No ensino regular, pode-se
perceber que houve um aumento significativo do número de matrículas de alunos com
deficiência no período estudado, porém se compararmos o ano de 2010 com o ano base
de 2007 verifica-se um decréscimo significativo do número de alunos que recebiam
atendimento educacional especializado, ou seja, em 2007, 68 alunos recebiam
atendimento, no entanto, em 2010 nenhum aluno recebeu.
Na EJA verifica-se também a existência de alunos indígenas com deficiência
que não receberam atendimento educacional especializado. Os dados revelam que
existiu atendimento apenas em de 2007 e 2008, nos anos subsequentes nenhum aluno
com deficiência recebeu atendimento.
Cabe destacar, que o atendimento educacional especializado é um direito
assegurado em diversas legislações e documentos. A CF/1988, garante à oferta do
Atendimento Educacional Especializado as pessoas com deficiência preferencial no
ensino regular (Art. 208). A LDB/1996 também assegura o atendimento educacional às
pessoas com deficiência.
Neste contexto, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) atribui responsabilidade ao poder público quanto a
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.002207
8
efetivação do Atendimento Educacional Especializado. Esta política também assegura
que os recursos, serviços e o Atendimento Educacional Especializado estejam nos
projetos políticos pedagógicos das escolas indígenas, os quais devem ser construídos
com base na diferença socioculturais dessa população.
Atualmente há uma movimentação do governo para a implantação de salas de
recursos multifuncionais para ofertar o atendimento educacional especializado aos
alunos com deficiência, porém neste estudo constatou-se que essas salas não estão
chegando às escolas indígenas.
Reflexões finais
Este estudo analisou como ocorre à interface entre a Educação Especial na
Educação Escolar Indígena no Brasil, por meio de dados de matrículas do censo escolar.
Diante da análise dos dados, cabe estabelecer algumas reflexões.
Com relação às matrículas, nos quatro anos estudados, constatou-se que houve
um crescimento significativo do número de alunos indígenas com deficiência
matriculados nas escolas indígenas do Brasil. E o desafio que se coloca para estas
escolas é educar esses alunos dentro da cultura e atender as especificidades de cada
deficiência.
As legislações abriram a possibilidade para as escolas indígenas valorizarem
suas línguas, saberes e tradições indígenas, deixando de se restringir a um instrumento
de imposição dos valores culturais da sociedade nacional. Neste contexto, destaca-se a
necessidade dos professores serem das próprias comunidades indígenas, pois o papel
desses educadores vai além da formação escolarizada, eles são transmissores de suas
culturas e línguas.
Dessa forma, torna-se imprescindível discutir a formação inicial e continuada de
professores indígenas para atuarem em escolas indígenas com essa nova realidade que
se apresenta. Este tipo de formação deverá ser discutida e construída dentro das
comunidades indígenas, necessitará da participação de alunos com deficiência, pais,
professores e da comunidade geral, tendo em vista o desenvolvimento humano, a
aprendizagem e autonomia moral e intelectual dos escolares com deficiência.
Os professores indígenas como membros ativos das comunidades são
conhecedores das necessidades reais de seu povo e por meio de práticas pedagógicas
reflexivas esses profissionais podem contribuir para transformação da realidade de sua
comunidade para além da escola.
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.002208
9
Referências BRASIL. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília DF: Senado, 1999. ______. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, n. 248, 23 de dez. 1996. ______. Portaria nº 948, de 09 de outubro de 2007. Dispõe sobre Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, DF, 2008. ______. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Microdados do Censo Escolar 2007. Brasília: MEC/INEP, 2007. ______. Ministério da Educação. Instituo Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais. Microdados do Censo Escolar 2008. Brasília: MEC/INEP, 2008. ______. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Microdados do Censo Escolar 2009. Brasília: MEC/INEP, 2009. ______. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Microdados do Censo Escolar 2010. Brasília: MEC/INEP, 2010. ______. Ministério de Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para as escolas indígenas. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998. COHN, C. Educação escolar indígena: para uma discussão de cultura, criança e cidadania ativa. Perspectiva. v. 23, n. 02, p.485-515, jul./dez. 2005. Disponível em: http://www. ced.ufsc.br/nucleos/nup/perspectiva.html. Acesso em: 22 abr. 2011. GATTI, B. A. Estudos quantitativos em educação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, p.11-30, 2004. MELETTI, S. M. F. BUENO, J. G. S. Escolarização de alunos com deficiência: Uma análise dos indicadores sociais no Brasil (1997-2006). In: Encontro Interinstitucional de Pesquisa: Políticas públicas e escolarização de alunos com deficiência. 2010, Londrina. Anais Encontro Interinstitucional de Pesquisa. Londrina, 2010. p. 01-18. SÁ, M. A. O escolar indígena com deficiência visual na Região da Grande Dourados, MS: um estudo sobre a efetivação do direito à educação. 135 f. Dourados, 2011. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal da Grande Dourados, 2011. SOUZA, V. P. S. Crianças indígenas Kaiowá e Guarani: Um estudo sobre as representações sociais da deficiência e o acesso às políticas de saúde e educação em aldeias da região da Grande Dourados. 155f. Dourados, 2011. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal da Grande Dourados, 2011.
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.002209
10
VELTRONE, A. A. Inclusão escolar do deficiente intelectual no estado de São Paulo: Quem é este aluno e como é identificado. 2011. São Carlos, 2011. Tese (Doutorado em Educação Especial - Educação do Indivíduo Especial). Universidade Federal de São Carlos, 2011. ANEXOS Tabela 1. Número de matrículas na educação escolar indígena por modalidade de ensino
Modalidade de ensino na educação
escolar indígena
ANO Total Geral de matrículas na Educação básica Brasil
Total geral de matrículas na Educação
escolar indígena
Brasil Ensino Regular
EJA
2007 52 179 530 101.342 95.123 6.219
2008 52 321 667 198.591 185.466 13.125
2009 52 580 452 225.629 203.972 21.657
2010 51 549 889 245.702 225.676 20.026
Fonte: MEC/INEP. Censo Escolar da Educação Básica: microdados, 2007, 2008, 2009 e 2010. Tabela 2. Número de matrículas de alunos indígenas com deficiência por modalidade de ensino
ANO Ensino Regular
Educação Especial
Educação de jovens e adultos – EJA
TOTAL
2007 280 137 172 589 2008 361 213 73 647 2009 453 16 42 511 2010 736 53 72 861
Fonte: MEC/INEP. Censo Escolar da Educação Básica: microdados, 2007, 2008, 2009 e 2010. Tabela 3. Número de matrículas na educação escolar indígena por tipo de deficiência e modalidade de ensino M.D* ANO
Tipos de deficiência
Ensino Regular
Cego Baixa Visão
Surdez Def. Auditiva
Surdocego Def. Física
Def. Intelectual**
Def. Múltipla
TOTAL
2007 1 66 21 39 - 49 87 17 280 2008 8 60 38 49 1 54 133 18 361 2009 11 61 44 61 2 75 172 27 453 2010 12 100 73 99 1 142 260 49 736 Educação Especial
2007 12 12 33 26 - 11 37 6 137 2008 5 14 31 34 2 35 86 6 213 2009 - - 2 2 - - 11 1 16 2010 - 4 1 5 - 18 21 4 53 EJA
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.002210
11
2007 2 111 1 8 - 19 12 19 172 2008 3 35 3 4 1 4 18 5 73 2009 - 16 3 6 - 8 6 3 42 2010 2 37 4 12 - 7 10 0 72
Fonte: MEC/INEP. Censo Escolar da Educação Básica: microdados, 2007, 2008, 2009 e 2010. Obs. *Modalidade de Ensino. O termo deficiência intelectual foi substituído pelo termo deficiência mental. Tabela 4. Número de alunos na educação escolar indígena que recebe atendimento educacional especializado
Modalidade de Ensino
Ano
Matrículas de alunos que
possui deficiência
NÃO recebe atendimento educacional especializado
Recebe atendimento educacional especializado
Ensino regular
2006 280 212 68
2007 361 258 103
2008 453 387 66
2009 736 736 0
EJA
2006 172 96 76
2007 73 37 36
2008 42 42 0
2009 72 72 0
Fonte: MEC/INEP. Censo Escolar da Educação Básica: microdados, 2007, 2008, 2009 e 2010.
XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.002211