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Universidade Católica de Pernambu Recife - Pernambuco 23 a 27 de agosto de 2010

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Page 1: II Simpósio de Ciências Biológicas Universidade Católica de Pernambuco Recife - Pernambuco 23 a 27 de agosto de 2010

Universidade Católica de PernambucoRecife - Pernambuco

23 a 27 de agosto de 2010

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7 - ANÁLISE QUALI-QUANTITATIVA E ORIGEM DO LIXO ENCONTRADO NA PRAIA

DE TAMANDARÉ – PE

Silvia Elicia Fragoso Magalhães

RESUMO

O crescente aumento da quantidade de lixo nos ambientes costeiros vem causando

grande preocupação por parte da sociedade civil e dos órgãos interessados no tema, pois

a economia brasileira relacionada ao turismo se sustenta através da exploração destes

ambientes. O presente estudo teve como objetivos avaliar quali-quantitativamente o lixo

marinho na praia de Tamandaré – PE, durante o período chuvoso e seco, como forma de

diagnosticar a fonte de contaminação. A coleta dos itens foi realizada em uma área de 100

m² de linha do deixa. As coletas aconteceram no final de semana (sexta, sábado e

domingo) com a menor amplitude de maré e a contagem do número de usuários ocorreu

em um sábado de cada período. Os resultados mostraram que a maioria dos itens era

composta por plásticos e resíduos orgânicos. A quantidade de usuários e de lixo foram

maiores na estação seca do que na chuvosa, havendo diferença significativa entre os

períodos, mas qualitativamente semelhantes. Os itens do lixo relacionados com usuários

foram maioria. Os resultados deste estudo demonstram o quanto é necessário a

implantação de projetos de educação ambiental e melhoria dos sistemas de limpeza e

infra-estrutura na praia de Tamandaré.

 Palavras-chave: ambientes costeiros; contaminação; resíduos sólidos.

1. INTRODUÇÃO

Quando se trata do ambiente marinho, nota-se que são diversas as fontes da poluição,

entre elas a recepção de águas fluviais contaminadas, o despejo do esgoto in natura no

mar, o lixo doméstico e industrial, os rejeitos radioativos, a chuva ácida e a maré negra

causada pelo derrame de petróleo e seus derivados (PORTO, 2000).

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Em relatório elaborado pelo Grupo de Peritos sobre Aspectos Científicos da Proteção do

Meio Marinho (GESAMP) apud Porto (2000), mostrou que 70% da contaminação marinha

advém de fontes poluentes terrestres. Silva (2006), afirmou que a principal fonte de

resíduos sólidos em ambientes praiais são os usuários e o aporte marinho, principalmente

o lixo vindo dos rios próximos.

Numa pesquisa realizada por Ballance et al. (2000) na África do Sul, foi constatado que

mesmo os usuários que admitem terem jogado os resíduos na praia em local inapropriado,

afirmam que a limpeza do lugar é um fator importante para a escolha da praia em que vão

freqüentar.

O município de Tamandaré possui menos de 20.000 habitantes, porém durante a alta

estação (novembro a fevereiro) ocorre um significativo aumento no número de pessoas

presentes no município, chegando a aproximadamente 60 mil (ARAÚJO, 2003). Este fato

provoca um aumento da poluição por resíduos sólidos nas praias do município (ARAÚJO,

2003), causando um processo de degradação crescente, visto que esse município não

tem infra-estrutura para atender a demanda que se instala com a chegada do verão.

A existência de quatro unidades de conservação (APA Federal Costa dos Corais e APA

Estadual de Guadalupe, entre outras), mostra a importância de um maior conhecimento

sobre os impactos que atingem essa praia.

Por isso, este trabalho teve como objetivo estabelecer a principal fonte do lixo presente na

praia de Tamandaré, através da análise quali-quantitativa entre as estações, contribuindo

assim como uma importante ferramenta de gestão ambiental.

2. MATERIAL E MÉTODOS 

2.1 Área de estudo

Tamandaré localiza-se no litoral sul do estado de Pernambuco – Brasil (8º 47’20” S e

35º06’45” W ), a 110 Km da cidade de Recife. Vários rios contribuem na dinâmica costeira

da região estudada, os principais são: o rio Formoso que se localiza ao norte, e os rios

Ilhetas, Mamucabas e Una que ficam ao sul.

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É na Zona da Mata que o Una banha centros urbanos de maior expressão demográfica e

econômica, Palmares e Barreiros, onde tem mais de 50% do seu percurso e se torna

perene até sua desembocadura em Barreiros (ARAÚJO, 2003; MACÊDO, 2006).

Este Rio é um dos maiores responsáveis pelo aporte de sedimento terrígenos da região de

Tamandaré e também um importante veículo da poluição por resíduos sólidos, pelo fato de

suas águas cortarem extensas áreas de monocultura de cana-de-açúcar, áreas urbanas

sem saneamento básico, matadouros, curtumes, usinas e destilarias (ARAÚJO, 2003).

A água doce que penetra na baía proveniente do continente dirige-se para o norte, como

que obedecesse à força de Coriolis, para o hemisfério sul. Contudo é mais provável que

essas águas sejam influenciadas pela rip current que na região dirige-se para o norte

(Moura, 1991).

2.1 Coleta de dados

A amostragem foi feita em duas estações, chuvosa (dias 21, 22 e 23 de agosto/2009) e

seca (dias 02, 03 e 04 de outubro/2009). As datas foram escolhidas levando-se em

consideração a tábua de marés (DNH, 2009), sendo escolhidos os dias que apresentaram

marés de sigizia, para que uma maior quantidade de lixo fosse depositada na linha do

deixa. A amostragem foi realizada considerando uma área de 100 metros de extensão por

1 metro de largura (área de 100 m²) correspondente à linha do deixa.

A determinação do número de usuários foi feita através de contagem, aos sábados de

meio dia, durante o período das coletas em ambas as estações. O sábado foi escolhido

por apresentar o maior número de usuários no local, segundo o depoimento dos

comerciantes da área. A contagem considerou apenas os usuários presentes em uma

área de praia com extensão de aproximadamente 400 metros, a qual incluiu tanto a área

destinada à coleta do lixo, como a área mais ao sul onde se localizam quiosques. Foram

considerados tanto os usuários que estavam na areia como os que estavam no mar.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

3.1 Análise quali-quantitativa

Somando-se as duas estações foi encontrado um total de 1725 itens, considerando-se o

lixo recolhido na linha do deixa. Destes, prevaleceram os itens de plástico, com 774

exemplares ou 44,86% seguidos pelos orgânicos, com 484 itens (28,05%). Os outros tipos

de lixo, juntos, apresentaram menor representatividade (27,07%). Na linha do deixa do

período chuvoso, foi encontrada uma média dos três dias de 197,33 itens, e no período

seco média de 377,66.

Com relação à maior representatividade dos plásticos, o resultado seguiu a tendência já

observada em outros trabalhos (ARAÚJO, 2003; ARAUJO; COSTA, 2006; DIAS FILHO,

2008; IVAR DO SUL, 2008; SANTOS, et al., 2004).

Dentre os itens plásticos, os saquinhos de picolé e pipoca, pedaços de isopor, bitucas de

cigarro, canudos e copos foram os mais frequentes. Dos cinco tipos citados, quatro estão

relacionados com os usuários da praia. Resultados semelhantes foram encontrados em

Dias Filho (2008) e Silva et al. (2009), onde os itens típicos de usuários de praia foram

encontrados com mais frequência. O isopor é provavelmente oriundo das jangadas, pois

em Tamandaré há grande atividade de pesca com este transporte.

Com relação aos itens orgânicos, as cascas de amendoim e outros restos de comida

tiveram grande participação, mas houve também a participação dos cocos e animais

mortos neste total, sendo estes animais, peixes que provavelmente foram pescados mais

que não tem valor comercial e acabaram sendo deixados na areia. Os cocos apesar de

não terem sido a maioria dos itens encontrados, possivelmente por serem mais facilmente

coletados pelos agentes de limpeza da praia, são bastante abandonados pelos usuários

na areia da praia, chegando a grandes quantidades nos períodos de alta estação,

segundo comentários de alguns usuários “curiosos” presentes na praia.

Este grande percentual de orgânicos encontrados significa que há uma “recarga”

constante deste tipo de resíduo, pois ele é de fácil degradação, desaparecendo do

ambiente num

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curto espaço de tempo, fora o fato que os instrumentos de limpeza de praias não são

apropriados para coleta de itens pequenos encontrados na areia, que acabam

acumulando e servindo como um atrativo de vetores de doenças, como ratos, baratas,

pombos, entre outros.

As tampas de alumínio (cerveja, refrigerante, etc.) e outros tipos de metais foram os mais

coletados entre os metais, já os fragmentos de papel, guardanapos e embalagens Tetra

Pack foram os mais representativos dentro da categoria “papel”, e por fim, os pedaços de

madeira, colheres de sorvetes e palitos de picolés apresentaram maior representatividade

entre os itens de madeira.

Alguns itens amostrados, como potes de margarina, cotonetes, garrafas de água sanitária

e outros itens “de casa”, indica a ocorrência de outras fontes contaminando a praia, pois

este tipo de lixo não tem origem nos usuários. Provavelmente esses itens chegam até a

praia principalmente através do rio Una, localizado ao sul de Tamandaré, visto que as

águas doces que penetram na praia se dirigem para o norte (MOURA, 1991). Portanto, a

origem ribeirinha também é uma fonte responsável pelo acúmulo de lixo nesta praia.

Um total de 255 fragmentos plásticos foi coletado durante o estudo, correspondendo a um

percentual em torno de 32,94% dos itens plásticos recolhidos. Eles provavelmente

ocorrem com maior frequência enterrados na areia, já que a tendência dos plásticos com o

tempo é a fragmentação em pedaços cada vez menores. Esses fragmentos pequenos se

constituem um perigo para a biota aquática, pois podem ser ingeridos erroneamente pelos

animais, levando-os a obstrução do aparelho digestivo, podendo causar em alguns casos

até a morte destes animais.

Para os fragmentos onde foi possível fazer uma identificação da origem, constatou-se que

a maioria era de embalagens de itens alimentícios (embalagens de picolé, saquinhos de

amendoim), mais uma vez corroborando que a maior parte dos resíduos é provavelmente

de origem dos usuários da praia.

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Nas duas estações ocorreu a presença de esférulas plásticas ou pellets, que são

partículas pequenas (normalmente possuem em torno de 1 a 5 mm), geralmente

arredondadas que servem como matéria-prima para a produção de itens plásticos, e

possuem coloração clara (geralmente branca ou transparente). As principais fontes de

origem dos pellets são provavelmente itens perdidos nas atividades de produção,

transporte e uso, para o ambiente estuarino/marinho ou para os sistemas de drenagem

urbana e, na sequência, para os rios, os quais acabam desaguando no mar, mas também

podem ser originados de processos para lavagem de porões e tanques de navios, sendo

depois descartadas em mar aberto.

Foram coletadas apenas oito esférulas (quatro em cada estação), mas isto não significa

não haja mais destes itens na praia, pois seu diminuto tamanho os deixa quase

imperceptíveis na areia, dificultando sua coleta.

 

3.2 Comparação entre estações

Houve um aumento na quantidade total de itens do lixo que foi coletado da estação

chuvosa para a seca, sendo os itens plásticos maioria entre os resíduos, como também no

número de usuários de uma estação à outra: estação chuvosa, 180 e estação seca, 320.

Aumento este de 1,75 vezes. Os resultados demonstram que provavelmente, a

contribuição dos usuários, tem uma influência maior na totalidade dos itens presentes na

praia, do que a contribuição de outras fontes.

Foi observado que a quantidade de lixo plástico vinda provavelmente de origem ribeirinha

foi maior no período chuvoso que no seco, pois se sabe que com as chuvas há um maior

aporte de água dos rios para o mar e o lixo descartado indevidamente acaba sendo

carregado para os ambientes costeiros.

Já os itens plásticos possivelmente oriundos de usuários, tiveram maior representação na

estação seca do que na chuvosa, assim como a quantidade de lixo também foi maior.

Dentre os plásticos, foram coletados alguns itens em que não foi possível fazer a distinção

entre lixo de usuário ou trazidos pelo rio.

 

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3.3 Análise estatística

Para saber se houve diferença significativa entre a quantidade de itens coletados e no

número de usuários presentes nas estações seca e chuvosa foi realizado o teste Qui-

quadrado. Sua aplicação foi feita com a média do número de itens coletados durante as

duas estações e com a quantidade de usuários. Onde a estação chuvosa teve como

média 197,33 itens e 180 usuários, e a seca média de 377,66, e 320 usuários.

Para o número de itens foi encontrado o seguinte valor: (χ (1;0,05) = 89,322) p<0,0001,

este resultado nos mostra que houve diferença significativa entre a quantidade de itens

presentes nas duas estações. Também houve diferença significativa entre o número de

usuários em cada estação, pois foi encontrado um valor de Qui-quadrado de (χ (1;0,05) =

38,108) p<0,0001.

A significância da relação entre o número de usuários e a quantidade de lixo, não pôde ser

feita, pois a quantidade de amostras foi insuficiente para este tipo de análise, porém

através de covariância foi visto que:

Isto significa que a cada dois usuários presentes no local de estudo, um descarta o lixo

indevidamente. Usando estes dados para uma simulação do número de pessoas que

jogou lixo na areia da praia, temos um número de 92 usuários para o período chuvoso e

161 para o período seco.

 

CONCLUSÃO

A análise qualitativa do lixo marinho na praia de Tamandaré mostrou que ele é composto

principalmente por itens plásticos e orgânicos, e que sua principal fonte está relacionada

com os usuários da praia.

A análise estatística efetuada mostrou que a quantidade de lixo, assim como o número de

usuários variou significativamente da estação chuvosa à seca.

O lixo de origem ribeirinha contribuiu com uma pequena participação no montante que foi

coletado, apresentando uma participação maior na estação chuvosa, que se deve

provavelmente a um maior aporte de água doce na baía de Tamandaré.

 

N° usuários = 52,15 + 0,53 N° de itens

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A presença de esférulas plásticas ou pellets nas duas estações indica mais uma fonte de

contaminação em ambientes costeiros, advindas de águas oceânicas.

Apesar da quantidade de lixo ter variado entre as duas estações, o tipo de lixo encontrado

foi semelhante, indicando que as fontes são semelhantes em ambas as estações

mudando apenas a contribuição e a intensidade de cada uma delas.  5. REFERÊNCIAS

ARAÚJO, M. C. B. Resíduos sólidos em praias do litoral sul de Pernambuco: origens e conseqüências. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Pernambuco. 2003.

ARAÚJO, M. C. B & COSTA, M. F., 2006. The significance of solid wastes with land-based sources for a tourist beach: Pernambuco, Brazil. Pan-American Journal of Aquatic Sciences. 1 (1): 28-34, 2006.

BALLANCE, A.;RYAN, P. G.; TURPIE, J. K. How much is clean beach worth? The impact of litter on beach users in the Cape Peninsula, South Africa. South Africa Journal of Sience, 96, May 2000.

DIAS FILHO, M.J.O. Contaminação da praia de Boa Viagem por resíduos sólidos: Relação com o uso da praia e percepção dos frequentadores (usuários e comerciantes) sobre o problema. Monografia (graduação) - Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). 2008.

DHN. Diretoria de Hidrografia e Navegação. Disponível em: https://www.mar.mil.br/dhn/dhn/index.html. Acessado em: 29 nov. 2009.

IVAR DO SUL, J.A. Implicação de fatores ambientais na deposição de plásticos no ambiente praial de um ecossistema estuarino. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 2008.

MACÊDO, E.C. de. Estudo do aporte de material particulado em suspensão no recife “Ilha da Barra” em Tamandaré/PE com enfoque para gestão recifal. Monografia de conclusão do curso de especialização em Gestão de Ambientes Costeiros Tropicais (VIII GACT), p. 5,7-9, 31. 2006.

MOURA, R. T. de, Biomassa, produção primária e alguns fatores ambientais na baía de Tamandaré, Rio Formoso, Pernambuco, Brasil. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 1991.

PORTO, G.E.L. Responsabilidade pela poluição marinha. R. CEJ, Brasília, n. 12, p. 51-57, set./dez. 2000.

SANTOS, I. R. et al. Geração de resíduos sólidos pelos usuários da praia do Cassino, RS, Brasil. Gerenciamento Costeiro Integrado, 3 (1:12-14,2004).

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SILVA, J. S. da. Diagnóstico dos resíduos sólidos na praia da Boa Viagem – Recife – PE. Dissertação (Mestrado) - programa de Pós-Graduação em Oceanografia, CTG, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 2006.

SILVA, J. S. da.; ARAÚJO, M. C. B.; COSTA, M. F. Plastic litter on an urban beach - a case study in Brazil. Waste Management & Research, 27: 93–97, 2009.

8 - AVALIAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO MANGUEZAL DO FORTE ORANGE,

ILHA DE ITAMARACÁ – PE

Thaís de Santana Oliveira¹; Marcus Vinícius Alves dos Santos²

¹Bacharel em Geografia UFPE, estudante de Pós-Graduação em Educação Ambiental FAFIRE; ² Bacharel em Ciências Biológicas UPE, estudante de Pós-Graduação em Perícia e Auditoria Ambiental FAFIRE.  

RESUMO

A crescente urbanização desordenada vem causando uma série de impactos ao ambiente.

A ocupação antrópica nas cidades litorâneas tem desequilibrado o ecossistema

manguezal situado nos estuários dos rios, sendo o descarte de resíduos sólidos nesse

ambiente um dos graves problemas. Assim, essa pesquisa teve como objetivo analisar a

porcentagem da cobertura dos resíduos sólidos presentes no manguezal do Forte Orange

na Ilha de Itamaracá. Para isso, foi utilizado um quadrado de PVC de 0,5 m² em cinco

estações de coleta de dados. Constatou-se que existe um grande número de plástico

presente no mangue, sendo mais notável nos bosques de Rhizophora mangle.

 Palavras-chave: mangue; Rhizophora mangle; plástico.

 

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1. INTRODUÇÃO

O crescimento da população urbana implica, inevitavelmente, na ocupação de terras e na

necessidade de criar condições de sobrevivência. Dentre os ambientes naturais mais

ameaçados e devastados pela ocupação antrópica estão os estuários dos rios. Em

muitos desses estuários existem extensas áreas cobertas por manguezais, um

ecossistema reconhecidamente de grande importância ecológica e sócio-econômica, que

serve como fonte de sustento para a vida das populações ribeirinhas/litorâneas

(SCHAEFFER-NOVELLI, 1995, p. 43).

O surgimento de diversas habitações ribeirinhas é um dos principais reflexos da

expansão urbana desigual. As áreas de mangue tornaram-se o local dos “excluídos

sociais" que tiram do mangue o próprio sustento, o que pode ser confirmado por Josué

de Castro (1948, p. 23):

 

Ocupações irregulares geram disposição também irregular de resíduos sólidos, fator que

se agrava quando se trata de área com potencial turístico. Como exemplo temos a Ilha

de Itamaracá, porém esta, mesmo se enquadrando nesses dois parâmetros foi a área de

mangue que mais cresceu no Nordeste brasileiro em 23 anos, aumentando em 26,25

Km² de 1978 a 2001 (MAIA, 2005, p.47).

Apesar de sua grande importância e de haver normas jurídicas protecionais dos

manguezais, estes ambientes continuam sendo alvo constante de ações antrópicas

impactantes; pouco se tem feito visando sua preservação, equilíbrio e manejo adequado.

Assim, este trabalho tem como objetivo analisar a porcentagem de cobertura dos

resíduos

o mangue abriga e alimenta uma fauna especial, formada principalmente por

crustáceos, ostras, mariscos e caranguejos, numa impressionante abundância

de seres (...) Desempenha também essa fauna especializada um importante

papel no equilíbrio ecológico da região ocupada pelo homem, ao possibilitar

recursos de subsistência para uma grande parte das populações anfíbias que

povoam aqueles mangues.

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sólidos presentes no manguezal do Forte Orange, em Itamaracá (Figura 1), provendo

informações passíveis de comparação futura.

Figura 1. Localização da área de estudo.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado em três visitas: 29 de novembro de 2009, 05 de fevereiro e 16 de

abril de 2010. Sendo a primeira para escolha da área, e as posteriores para a aplicação

da metodologia. Visando atingir o objetivo proposto, para amostrar os resíduos sólidos,

optou-se pelas amostragens aleatórias, tendo-se como elemento amostral um quadrado

de PVC de 0,5 m² dividido por fio de nylon em cem quadrados menores (Figura 02).

Foram escolhidas cinco estações de coleta de dados (tamanho 10/10m) e em cada uma

delas foi posicionado um transecto, na posição intermediária, que constituiu uma trena

de

Font

e: G

oogl

e M

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(Edi

ção:

Tha

ís O

livei

ra).

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107

dez metros de comprimento (Figura 03). Os quadrados foram dispostos ao longo dos dez

metros, através de sorteio, realizando-se 5 repetições em cada estação amostrada.

Figura 2. Quadrado de PVC.

 

Figura 3. Trena usada para medir a estação.

Os resíduos sólidos, separados por tipo de material, foram contados em cada um dos pequenos quadrados

com o auxílio de um propágulo de mangue (Figura 4).

 

Figura 4. Contagem dos resíduos sólidos.

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108

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na contagem dos resíduos sólidos foi encontrado na primeira estação um total de 26

plásticos e uma cerâmica; o local era constituído por um bosque monoespecífico de

Rhizophora mangle. Na segunda estação, bosque misto de Rhizophora mangle e

Laguncularia racemosa, apenas 2 plásticos. Na terceira, 41 plásticos e 1 papel; num

bosque monoespecífico de Rhizophora mangle. Já na quarta estação, contou-se 34

plásticos, onde o local também era dominado por Rhizophora mangle e na quinta e

última, 12 plásticos, num bosque misto de Rhizophora mangle, Laguncularia racemosa e

Avicennia schaueriana.

Do total de resíduos contados 98% foi de material plástico, sendo apenas 2% de outros

tipos de material.

 

4. CONCLUSÃO

O estudo sugere que o Manguezal do Forte Orange em Itamaracá é local de descarte de

resíduo sólido por moradores e/ou turistas, onde o material plástico predomina, como

garrafas e sacos.

Observou-se ainda que nas estações de coleta onde predominava a Rhizophora mangle,

devido à estrutura das suas raízes, havia um maior acúmulo de resíduos do que quando

estavam presentes outras espécies.

Deste modo, a educação ambiental em áreas de manguezal é de relevada importância

para informar e sensibilizar a população sobre o devido valor desse ecossistema,

observando que a degradação que nele ocorre é ocasionada pela própria sociedade.

 

5. REFERÊNCIAS

CABRAL, G. J. da C. M. O Direito Ambiental do Mangue: aspectos jurídicos, científicos e filosóficos aplicados à proteção do ecossistema manguezal. João Pessoa: Sal da Terra, 2003. 200 p.

CASTRO, J de. Fatores de localização da cidade do Recife: um ensaio de geografia urbana. Rio de Janeiro: Imp. Nacional, 1948. 84 p.

CUNHA, S. B. da; GUERRA, A. J. T. Avaliação e perícia ambiental. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. 284 p.

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DIAS, G. F. Fundamentos de educação ambiental. 9.ed. São Paulo: Gaia, 2004. 551p

GOOGLE MAPS. Disponível em <http://maps.google.com.br>. Acesso em: 3 de julho de 2010.

 SCHAEFFER-NOVELLI,Y. Manguezal: Ecossistema entre a terra e o mar.. São Paulo: Caribbean Ecological Research. 1995. 64 p.

MAIA, L. P.; LACERDA, L. D. (orgs.) Estudo das áreas de manguezais do nordeste do Brasil: Avaliação das áreas de manguezais dos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Universidade Federal do Ceará. Instituto de Ciências do Mar. Fortaleza, 2005, 60 p.

VANNUCCI, M. WHAT IS SO SPECIAL ABOUT MANGROVES? Braz. J. Biol. [online].

 

 

 

 

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9 - A IMPLANTAÇÃO DA COLETA SELETIVA NA ESCOLA A PARTIR DE UMA

INTERVENÇÃO DIDÁTICA

Ana Lidia Cavalcanti Calazans1, Maria de Lourdes Ascendino Pereira2

1Secretaria de Educação de Pernambuco, Recife – PE, 2Universidade Católica de Pernambuco, Recife – PE

 

RESUMO

Diante da problemática da geração e destinação dos resíduos sólidos, e pela possibilidade

dos educadores de interferir na postura dos educandos (CACHAPUZ, 2005), foi realizada

uma intervenção pedagógica com objetivo de conscientizar os alunos acerca dos

problemas gerados pelo lixo, estimulando reflexões e/ou mudanças de atitudes acerca

desse problema ambiental. Esse projeto foi realizado na Escola Leal de Barros, localizada

no Engenho do Meio – Recife – PE com 45 alunos do 9º ano do Ensino Fundamental II.

Percebeu-se alteração nos conceitos originais de lixo, reciclar e reutilizar após a

intervenção e a percepção de se incluir como co-responsáveis pela geração de lixo.

Palavras-chave: Educação Ambiental; Lixo.

 

1. INTRODUÇÃO

A geração e a destinação dos resíduos sólidos constituem problemas a serem enfrentados

pela sociedade moderna. A forma indiscriminada de dispor os resíduos vem causando

uma série de problemas ambientais.

Sendo a conservação do ambiente um problema de ordem mundial, a escola um lugar de

reflexão e mudanças conceituais (MORTIMER, 2000) e comportamentais, pode-se então

intervir na postura e atitudes dos nossos educandos (CACHAPUZ, 2005) a partir de uma

intervenção didática.

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Este trabalho, de cunho didático, teve como objetivo conscientizar os alunos acerca dos

problemas gerados pelo lixo, levando-os a reflexões e/ou mudanças de atitudes acerca

desse problema ambiental. Além de desenvolver uma prática pedagógica realizando uma

ação coletiva numa visão de totalidade, onde o homem e mundo estão em movimento,

onde a ação articulada entre homens e realidade, permite ao homem transformar e

transformar-se (NARDI, 1998). Portanto, educar para a cidadania é construir a

possibilidade de ação política, no sentido de construir para formar uma coletividade

responsável pelo mundo que habita (REIGOTA, 2004).

2. MATERIAL E MÉTODOS

Esse projeto foi desenvolvido na Escola da rede pública estadual Professor Leal de

Barros, localizada no bairro do Engenho do Meio – Recife – PE, tendo como público alvo

45 alunos do 9º ano do ensino fundamental II, na faixa etária entre 14 a 16 anos.

Num primeiro momento, os alunos foram estimulados através de conversa informal a

expor suas expectativas sobre estudar o lixo. A partir desse diálogo foi estruturado e

aplicado um questionário, visando levantar as concepções prévias sobre a compreensão

do que é lixo, quais os principais responsáveis pela geração do lixo e conceitos de

reciclagem e reutilização.

Diante das respostas do questionário, foi organizado coletivamente – professores e

alunos, um plano de ação, que visava buscar respostas e ações que transformassem a

maneira dos alunos intervirem com o ambiente onde estudava e do seu entorno.

Inicialmente, foi elaborado coletivamente um e-mail solicitando a visitação da turma a

EMLURB, bem como a instalação de coletores seletivos de lixo. Em sala, foi trabalhado o

conceito, reciclagem e reutilização do lixo, sempre envolvendo debates e atividades em

grupo.

Após a construção dos conceitos, foi realizada uma visita a EMLURB e também um

passeio dentro da escola e no seu entorno, sempre observando quantidade e viabilidade

do destino do lixo observado.

Page 18: II Simpósio de Ciências Biológicas Universidade Católica de Pernambuco Recife - Pernambuco 23 a 27 de agosto de 2010

112

A partir das observações sobre o lixo, os alunos produziram vídeos com documentários e

entrevistas sobre o lixo localizado no bairro do Engenho do Meio. Esses vídeos foram

apresentados a outras turmas da escola e aos pais.

Como ação mais concreta, organizou-se uma gincana ecológica com as turmas do 5º e 9º

ano com o propósito de arrecadar materiais para serem reciclados e estimular aos alunos

a depositar esses materiais nos coletores já instalados na escola pela EMLURB.

Após o término das ações foi aplicado um novo questionário com objetivos iguais ao pré-

teste.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir dos resultados do pré e pós-teste realizados com 46 estudantes do Ensino

Fundamental II da Escola Leal de Barros, foi possível organizar categorias, conforme

descritas nas Figuras 1, 2 e 3 abaixo.

Na Figura 1, percebe-se uma alteração nos conceitos originais de lixo após a intervenção

didática, ressaltando a exclusão quase que totalmente do lixo como materiais inutilizáveis

e a manutenção da relação lixo/doenças. O interessante é a presença de uma nova

categoria após a intervenção que é a preocupação com a estética ambiental.

 

 

 

Figura 1. Comparativo das concepções de 45 alunos do Ensino Fundamental II da Escola Leal de Barros, no pré-teste e no pós-teste, sobre o conceito de lixo.

Page 19: II Simpósio de Ciências Biológicas Universidade Católica de Pernambuco Recife - Pernambuco 23 a 27 de agosto de 2010

113

Numa visão inicial, os alunos acreditavam que a responsabilidade era apenas dos

governantes, porém incluiu-se quase que totalmente como co-responsáveis, como se

percebe no pós-teste (Figura 2).

 

 

 

Os conceitos reutilizar e reciclar para muitos eram sinônimos, porém após a intervenção surgiu uma nova categoria que era o transformar o material em um novo produto e um grande crescimento do reaproveitar materiais (Figura 3).

Figura 2. Levantamento das concepções de 45 alunos do Ensino Fundamental II da Escola Leal de Barros acerca da responsabilidade sobre a geração do lixo.

Figura 3. Comparativo das concepções de 45 alunos do Ensino Fundamental II da Escola Leal de Barros, no pré-teste e no pós-teste, sobre o conceito de reciclar.

Page 20: II Simpósio de Ciências Biológicas Universidade Católica de Pernambuco Recife - Pernambuco 23 a 27 de agosto de 2010

114

4. CONCLUSÃO

Os alunos do Ensino Fundamental II da Escola Leal de Barros apresentaram uma

significativa evolução conceitual sobre o que é lixo, reciclar e reutilizar, percebendo que

poderiam ter evoluído ainda mais se as lacunas químicas conceituais tivessem sido

devidamente trabalhadas. Esse estudo aponta sobre a importância de trabalhar o lixo

em outras séries como tema gerador de um trabalho interdisciplinar.

Percebe-se que os alunos conseguiram se colocar como co-responsáveis na produção

do lixo incluindo-se, portanto, como seres participantes do processo de transformação e

como agentes reflexivos e atuantes.

Quanto à mudança de ações pode-se perceber que na turma onde se aplicou a

intervenção o ambiente ficou bem mais limpo e que após a instalação dos depósitos de

coleta seletiva essa foi a turma que mais material depositou nos coletores. Porém, é

percebível que as ações de coleta seletiva vão reduzindo-se no decorrer do tempo,

sendo necessários novos projetos para estimular a constância dessas ações.

 5. REFERÊNCIAS

CACHAPUZ, A.; GIL-PEREZ, D.; CARVALHO, A. M. P. DE; PRAIA, J.; VILCES,A. A necessária renovação do ensino das ciências. São Paulo: Cortez, 2005.

MORTIMER, Eduardo. Linguagem e formação de conceitos no ensino de Ciências. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2000.

NARDI, Roberto. Questões atuais no ensino de ciências. São Paulo: Escrituras Editora, 1998.

REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental. São Paulo: Editora Brasiliense, 2004.

Page 21: II Simpósio de Ciências Biológicas Universidade Católica de Pernambuco Recife - Pernambuco 23 a 27 de agosto de 2010

115

10 - RESÍDUOS INDUSTRIAIS COMO FONTES PRODUTORAS DE LIPASE POR FUNGOS FILAMENTOSOS

Priscilla Andrade de Moura1, 2, 5; Mayara Nunes Vitor Anjos1, 2, 5; Rita de Cássia Freire Soares da Silva3,5; Jaceline Maria de Negreiros Lima5; Marcela Vieira Leite5;

Aline Alves Barbosa da Silveira4, 5; Kaoru Okada1, 5 .

1Centro de Ciências Biológicas e Saúde; 2Bolsista PIBIC CNPq; 3Departamento de Engenharia Química; 4Rede Nordestina de Biotecnologia - RENORBIO; 5Núcleo de Pesquisas em Ciências Ambientais (NPCIAMB) – Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP. [email protected]

RESUMO

Com a crescente produção de resíduos industriais, se faz necessário desenvolver

processos que os reutilizem. Por isso, eles vêm sendo bastante utilizados na produção de

substâncias químicas de valor comercial, principalmente as de fonte microbiana. Enzimas

têm sido bastante produzidas através destes processos, sendo substâncias de grande

potencial industrial, destacando-se as lipases. Este trabalho objetivou avaliar a produção

de lipase por fungos pertencentes aos gêneros Penicillium e Aspergillus, a partir de

resíduos industriais. Assim, as soluções espóricas das amostras foram inoculadas nos

resíduos industriais milhocina e soro de leite, suplementados com Tween20, submetidos à

fermentação submersa. Utilizou-se um planejamento fatorial 23 para se avaliar a influência

das condições de cultivo impostas durante o experimento. A produção de lipase foi

quantificada por métodos espectrofotométricos, sendo as leituras feitas a 410 nm. Foi

aplicado o programa Statistica 7.0 para análises estatísticas. Os melhores resultados de

produção lipolítica foram obtidos a partir de soro de leite + Tween20 2%, na condição 28

°C para ambas as culturas. As amostras de Penicillium e Aspergillus apresentam-se com

potencial para a produção de lipase, porém é necessário o estudo de melhores condições

para se utilizar milhocina e soro de leite como meios de produção lipolítica.

Palavras-chave: milhocina; soro de leite; enzimas.

Page 22: II Simpósio de Ciências Biológicas Universidade Católica de Pernambuco Recife - Pernambuco 23 a 27 de agosto de 2010

116

1. INTRODUÇÃO

A produção de resíduos agroindustriais tem aumentado anualmente, e com ela cresce a

preocupação em relação à utilização mais eficiente dos mesmos. Por isso, vários

processos que usam estes resíduos como substratos estão sendo desenvolvidos para a

produção de substâncias químicas e produtos de maior valor comercial. Muitas indústrias

têm investido no uso de microrganismos como agentes redutores destes materiais, sendo

as enzimas substâncias de grande aplicação nestes processos (ROVEDA, 2007).

Atualmente, as enzimas são designadas como um dos principais alvos de pesquisas em

biotecnologia industrial, principalmente graças ao seu potencial na substituição de

processos químicos convencionais, movimentando um mercado anual de

aproximadamente 1,5 bilhões de dólares (SENA et al., 2006).

Dentre as enzimas de grande interesse industrial, destacam-se as lipases, comumente

utilizadas nas indústrias de alimentos como aditivos, na química fina (síntese de ésteres),

detergentes, tratamento de efluentes, de couro, farmacêutica e área médica (PINHEIRO,

2006). A utilização de subprodutos agroindustriais como substratos na produção de

lipases, possibilita a agregação de materiais de baixo custo no mercado, podendo reduzir

o seu preço final, além de contribuir na busca por combinações ideais para se obter altos

rendimentos na produção das mesmas (PINHEIRO, 2006).

Considerando estes aspectos, neste trabalho foi avaliada a produção da enzima lipase,

por fungos isolados do lodo de esgoto da Estação de Tratamento Mangueira, Recife-PE.

Propôs-se avaliar a produção das enzimas amilases e lipases, utilizando-se dos resíduos

industriais como meios de baixo custo.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Microrganismos

A micobiota utilizada foi composta por duas amostras de fungos isoladas do lodo de

esgoto da Estação de Tratamento Mangueira, Recife-PE, pertencentes ao banco de

Culturas do

Page 23: II Simpósio de Ciências Biológicas Universidade Católica de Pernambuco Recife - Pernambuco 23 a 27 de agosto de 2010

117

NPCIAMB – UNICAP, sendo uma pertencente ao gênero Penicillium (FL-1) e uma de

gênero Aspergillus (FL-2). As culturas foram mantidas em tubos de ensaio contendo meio

BDA (batata-dextrose-ágar) e armazenadas a 5° C.

2.2 Produção de Lipase

Para a produção de lipase foram utilizados os resíduos industriais milhocina e soro de

leite, acrescidos com Tween 20 1%, na busca de meios alternativos eficazes na produção

desta enzima. Para os processos fermentativos, amostras de 1 ml de cada solução

espórica foram inoculadas em Enlenmeyers com 100ml de meio de cultura, sendo estes

submetidos à fermentação durante 96 horas, sob agitação orbital a 150 rpm e às

temperaturas 28 °C e 35 °C. Após o cultivo, a biomassa foi descartada e o sobrenadante

utilizado na quantificação enzimática. Como padrão para a análise da produção da

enzima, foi utilizado o meio de cultura de acordo com Hankin e Anagnostakis (1975), em

cultivo durante 96 horas e em agitação orbital 150 rpm.

2.3 Quantificação de Atividade Lipolítica

A produção de lipase foi quantificada de acordo com a metodologia de Vorderwulbecke et

al., (1992), utiliza p-nitrofenilpalmitato como substrato, emulsionando-o com goma arábica

em Triton X-100, pH 7,2. Adicionou-se 0,9 ml da emulsão à 0,1mL sobrenadante, sendo a

solução homogeneizada e lida em espectrofotômetro a 410 nm. Os resultados das leituras

foram aplicados na fórmula: Un= [(Abs amostras/ tempo)/15] x 10, sendo os resultados

expressos em unidades por mililitro (U/ml). Como controle utilizou-se uma

emulsão+tampão tris HCL 0,1 mM.

2.4 Construção de um Planejamento Fatorial e Análise Estatística

Para se estudar a influência de várias condições de cultivo na produção enzimática,

foi

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118

construído um planejamento fatorial 23 em duplicata (Tabela 1), como o primeiro passo em

busca de condições experimentais otimizadas.

Os seguintes fatores e níveis foram utilizados: meio de cultura (milhocina 10%= -1 e soro

de leite= +1), concentração de Tween 20 no meio de cultura (1%= -1 e 2%= +1) e

temperatura (28 ºC= -1 e 35 °C= 1). Foram realizadas análises estatísticas utilizando-se o

Software Statistica 7.0 da Stat Soft®, para ratificar os resultados de produção de lipase a

partir do planejamento fatorial.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Produção e Quantificação de Lipase

Após a incubação, os sobrenadantes foram utilizados para se quantificar a produção da

enzima lipase. Os resultados obtidos a partir do meio padrão de produção da enzima

constam na Tabela 2. Os resultados da quantificação de lipase utilizando-se os meios

alternativos encontram-se na Tabela 3.

Page 25: II Simpósio de Ciências Biológicas Universidade Católica de Pernambuco Recife - Pernambuco 23 a 27 de agosto de 2010

119

De acordo com a Tabela 3, os melhores resultados foram conseguidos no Experimento 6

(soro de leite 2%) para ambas as amostras. A condição 2% de Tween 20 apresentou

importante influência nos resultados de produção de lipase para ambas as amostras.

Os resultados obtidos com a utilização de meios alternativos milhocina 10% e soro de

leite, suplementados com Tween 20 não se apresentaram muito promissores, em relação

aos conseguidos a partir do meio padrão Hankin e Anagnostakis (1975), o que atesta a

necessidade de se buscar outras condições de cultivo para uma melhor produção.

Page 26: II Simpósio de Ciências Biológicas Universidade Católica de Pernambuco Recife - Pernambuco 23 a 27 de agosto de 2010

120

No trabalho realizado por Roveda (2007), foram conseguidos resultados significativos de

produção lipolítica por amostras de gênero Aspergillus e Penicillium, a partir de efluentes

residuais de laticínios (soro de leite), assim como no estudo realizado por Pinheiro (2006),

onde se obteve produção de lipase pelo fungo Penicillium verrucosum a partir de diversos

resíduos industriais, o que indica que estes microrganismos podem ser explorados na

produção de lipase.

3.2 Análise Estatística da Produção Enzimática

Para determinar quais parâmetros realmente apresentam influência estatística significativa

foi utilizado o software Statistica 7.0, construindo-se os gráficos de Pareto e de Superfície

de Resposta, avaliando-se assim as influências exercidas pelos termos temperatura e

meio de cultura na produção de lipase das amostras de gênero Penicillium (Figuras 1 e 2)

e Aspergillus (Figuras 3 e 4).

Figura 1. Diagrama de Pareto da variável lipase produzida por Penicillium sp. (FL -1).

Pareto Chart of Standardiz ed Ef f ec ts ; V ar iable: LIPA SE

2**(3-0) des ign; MS Pure Error=,0000008

DV : LIPA SE

,8320503

1,38675

1,38675

1,38675

1,941451

3,605551

p=,05

EFEITO ESTIMA DO (V A LOR A BSOLUTO)

2by 3

(3)TEMP

1by 2

1by 3

(1)MC

(2)CM

Page 27: II Simpósio de Ciências Biológicas Universidade Católica de Pernambuco Recife - Pernambuco 23 a 27 de agosto de 2010

121

Através do diagrama de Pareto, é possível concluir que apenas o fator concentração do

meio de cultura foi estatisticamente relevante na produção de lipase por FL-1, a partir de

resíduos industriais.

Figura 2. Efeito da variação do meio de cultura e da temperatura na produção de lipase por Penicillium sp. (FL-1).

De acordo com análise gráfica por Superfície de Resposta, uma maior quantidade de meio

de cultura, bem como uma maior concentração do Tween 20 no meio faz aumentar o teor

de lipase produzido pela amostra FL-1. Entretanto, estas variações não podem ser

explicadas separadamente, a partir de um único fator, pois, de acordo com o gráfico, a

interação entre os respectivos fatores é muito elevada.

Fi tte d S u rfa ce ; V a ri a b le : L IP A S E

2 **(3 -0 ) d e sig n ; M S P u re E rro r= ,0 0 0 0 0 0 8

L IP A S E

0 ,0 0 4 0 ,0 0 3 0 ,0 0 2

Page 28: II Simpósio de Ciências Biológicas Universidade Católica de Pernambuco Recife - Pernambuco 23 a 27 de agosto de 2010

122

Figura 3. Diagrama de Pareto da variável lipase produzida por Aspergillus sp.(FL -2)

Figura 4. Efeito da variação do meio de cultura e da temperatura na produção de lipase por Aspergillus sp. (FL-2).

Pareto Chart of Standardiz ed Ef f ec ts ; V ar iable: LIPA SE

2**(3-0) des ign; MS Pure Error=,0000003

LIPA SE

,4472136

-1,34164

-1,34164

1,341641

4,024922

4,91935

p=,05

EFEITO ESTIMA DO (V A LOR A BSOLUTO)

(1)MC

2by 3

1by 2

(2)CT

(3)TEMP

1by 3

Fi tte d S u rfa ce ; V a ri a b le : L IP A S E

2 **(3 -0 ) d e si g n ; M S Re sid u a l= ,0 0 0 0 0 0 3

L IP A S E

0 ,0 0 3 0 ,0 0 2 5

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123

Em relação à produção de lipase pela amostra FL-2, o Diagrama de Pareto atesta

que apenas o termo temperatura, bem como a interação entre meio de cultura e

temperatura, foram estatisticamente relevantes.

Avaliando-se o gráfico de Superfície de Resposta, relacionado ao teor de lipase

produzido por FL-2, foi possível perceber que quanto maior a quantidade de meio

de cultura e também quanto maior a concentração de Tween20 no meio de

cultura, maior será a produção de enzimas lipolíticas.

O programa Statistica apresentou-se como uma ferramenta de grande importância

para explicar a produção de lipase a partir dos termos meio de cultura,

concentração do meio e temperatura. A não obtenção de uma definição para

região ótima de trabalho pode ser justificada pela alta interação entre os fatores,

requerendo futuras abordagens com base nos resultados aqui mostrados.

4. CONCLUSÃO

As amostras de fungos filamentosos isoladas do lodo de esgoto possuem

potencial para a produção de enzimas lipolíticas. A utilização dos resíduos

industriais milhocina e soro de leite na produção de lipase é positiva, porém

merece mais estudos condicionais, tendo em vista que os resultados obtidos a

partir das condições impostas foram pouco promissores.

5. REFERÊNCIAS

HANKIN, L.; ANAGNOSTAKIS, S. L. The use of solid media for detection enzymes production by fungi. Mycologia, v.67, p.597-607, 1975.

PINHEIRO, T. F. L. Produção de lipase por fermentação em estado sólido e fermantação submersa utilizando Penicillium verrucosum como microrganismo. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Alimentos) - Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, 2006, 106 p.

ROVEDA, M. Produção de lipase por microrganismos isolados de efluentes de laticínios através de fermentação submersa. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Universidade de Passo Fundo, 2007, 86 p.

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124

SENA, A. R.; KOBLITZ, M. G. B.; NETO, A. G.; VETANABARO, A. P. T. Seleção de fungos do semi-árido baiano secretores de hidrolases de interesse em alimentos . Sitientibus, v.35, p.91-98, 2006.

VORDERWULBECKE, T.; KIELICH, K.; ERDMANN, II. Comparison of Lipases by Differents Assays. Enzyme Microbial Technology. v.14, p. 631-639, 1992.

11 - AVALIAÇÃO DA PROPAGAÇÃO DE LEVEDURAS EM CONDIÇÃO ANAERÓBICA TÍPICA PARA PRODUÇÃO DE CACHAÇA DE ALAMBIQUE

Juliana Martins de Farias1,2; Adauto Gomes Barbosa Neto1,4; Dafne Luana Ramos Ribeiro1,3; Monique Carla Souza de Lima1,3; Rafael de Barros Souza1;

João Assis Scavuzzi Menezes1; Bereneuza Tavares Ramos Valente Brasileiro1,4

 

1GENETECH Bioprodutividade, Recife-PE; 2Bolsista PIBIC CNPq, 3Departamento de Engenharia Química - CCT e 4Departamento de Biologia - CCBS, Universidade Católica de Pernambuco, Recife-PE.  

RESUMO

A produção de cachaça de alambique, na sua grande maioria, não dispõe de um

biorreator propicio para multiplicação celular e um dos fatores mais limitante é a aeração.

Na ausência de uma aeração os fermentos são propagados em condição de anaerobiose,

estando sujeito a contaminação e fermentação no período em que o mais importante é a

multiplicação celular. O presente trabalho tem como objetivo analisar a disponibilidade de

açúcar e de nutrientes em condições anaeróbicas comparando com a viabilidade e a

concentração celular ao longo de 24 horas. Para isso foram utilizados dois fermentos

liofilizados que denominamos de Fermento A e Fermento B e três diferentes meios, uma

Solução Salina, Melaço (2%BRIX) e Solução de Sacarose (2%BRIX). Foram incubados a

34ºC, ambos em condição de anaerobiose. A concentração celular tanto para os dois tipos

de fermento teve seu maior valor quando inoculadas no melaço e seu menor valor quando

inoculado em solução salina. A viabilidade se manteve constante nos dois fermentos,

mas

Page 31: II Simpósio de Ciências Biológicas Universidade Católica de Pernambuco Recife - Pernambuco 23 a 27 de agosto de 2010

125

o Fermento B que teve sua viabilidade muito baixa no momento inicial e após 24h

conseguiu igualar ao Fermento A. Nesse experimento ficou constatado que os

fermentos se mantêm nas suas primeiras 24 horas a sua viabilidade normal

independente da disponibilidade de açúcar ou nutriente. Todavia, a concentração

celular é limitada quando não há disponível açúcar e nutrientes.

Palavras-chave: Propagação, Fermento, Melaço

1. INTRODUÇÃO

A projeção de exportação de 40 milhões de litros de cachaça para 2010

representa evolução das possibilidades de se conquistar o mercado externo pela

melhoria da sua qualidade. A produção de cachaça de alambique tem merecido

destaque na economia do estado de Minas Gerais, Pernambuco e São Paulo. O

Estado de Pernambuco, concentrando principalmente alambiques artesanais,

possui um grande potencial para a produção desta bebida, o qual vem sendo

considerado um grande produto de exportação e geração de divisas em todo país

(PIRES, 2001).

A produção de biomassa é um aspecto bastante importante antes da fermentação

alcoólica. Vários fatores estão envolvidos com a qualidade e capacidade de

multiplicação das leveduras. A produção de cachaça de alambique, na sua grande

maioria, não dispõe de um biorreator propicio para multiplicação celular e um dos

fatores mais limitante é a aeração. Segundo Schmidell (2001), um cultivo que seja

altamente eficiente, ocorre com elevadas velocidades de crescimento celular,

significa altas velocidades de consumo da fonte de carbono, a fim de que haja

abundância de elétrons transportados na cadeia respiratória (geração de ATP),

mas significa também, obrigatoriamente, a necessidade da existência de oxigênio

dissolvido, a fim de que estes elétrons sejam drenados ao final desta cadeia. Os

processos tradicionais de propagação de leveduras requerem entre 8 e 15 dias.

Em diversos casos, o prazo chega a ser de 25 a 30 dias.

Page 32: II Simpósio de Ciências Biológicas Universidade Católica de Pernambuco Recife - Pernambuco 23 a 27 de agosto de 2010

126

Dispondo de um propagador adequado, o produtor artesanal pode obter fermento

suficiente para uma dorna em aproximadamente 24 horas, partindo de 500 g ou

menos do fermento original (quer sejam células selecionadas ou naturais do

próprio ambiente). Isso permite manter um controle muito mais eficiente da

fermentação, substituindo-se as células de uma dorna a intervalos programados

ou sempre que houver indícios de contaminação (MALTA, 2006). A presença ou

ausência de oxigênio, quantidade de açúcar, nutrientes, pH e temperatura são

fatores fundamentais para determinar uma rápida ou demorada multiplicação da

biomassa. De ante a isso é objetivo desse trabalho analisar a influencia do açúcar

e de nutrientes na viabilidade e a sua concentração celular, atrás de microscópio

óptico, em diferentes meios de cultura, sendo todos em condições anaeróbicas,

simulando ao máximo as condições de propagação de fermento de um processo

artesanal de cachaça.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado no laboratório da GENETECH, Recife/PE. As

biomassas (Fermento) utilizadas foram de duas marcas comerciais que

denominamos de Fermento A e Fermento B, ambos liofilizados. Como meio de

propagação do fermento foram utilizados Melaço (2%BRIX), Solução pura de

sacarose (2%BRIX) e Solução Salina. Em nenhum dos meios foram adicionados

nutrientes, contudo, o melaço já tem sua carga natural de nutriente. As amostras

foram incubadas a 34ºC em erlenmeyer de 250 ml e foram utilizados 45 ml de

cada meio e 5g de fermento, todas em duplicata. Após a incubação, foram

retiradas alíquotas no intervalo de 0h, 6h e 24h e diluídas em azul de metileno e a

concentração celular foi determinada por contagem em câmara de Neubaüer. Em

seguida, as amostras foram observadas em microscópio óptico e calculadas as

quantidade de células vivas e mortas determinando assim sua viabilidade e a

concentração de célula por ml.  

Page 33: II Simpósio de Ciências Biológicas Universidade Católica de Pernambuco Recife - Pernambuco 23 a 27 de agosto de 2010

127

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As Figuras 1 e 2 ilustram a viabilidade dos fermentos e mostra claramente que o

Fermento A já inicia o processo com uma boa viabilidade e que ao longo do tempo

essa viabilidade se mantém constante sem nenhuma alteração significativa. Já o

Fermento B inicia o tempo 0h com uma baixa viabilidade e cresce

significativamente ao longo do tempo chegando a igualar com o Fermento A no

tempo de 24h. Esses dois gráficos mostram que a necessidade do fermento

liofilizado nas suas primeiras 24h é a hidratação independentemente da sua

quantidade nutricional e de fontes de carbono.

Figura 1. Dados da viabilidade celular do Fermento A nos diferentes meios e tempo.

 

Figura 2. Dados da viabilidade celular do Fermento B nos diferentes meios e tempo.

Page 34: II Simpósio de Ciências Biológicas Universidade Católica de Pernambuco Recife - Pernambuco 23 a 27 de agosto de 2010

128

Nas Figuras 3 e 4 a concentração celular dos fermentos A e B varia de acordo

com seu meio. No Fermento A submetido ao meio de Sacarose e de Melaço é

percebido que há uma evolução da concentração ao longo das horas já no meio

de Solução Salina as células começam a estabilizar e a perder a concentração

após a 6h de propagação. No gráfico 4 o Fermento B se comporta um pouco

diferente do Fermento A devido a sua baixa viabilidade no inicio do experimento,

contudo, na ultima hora do experimento a Solução de Sacarose e Melaço continua

com valores maiores do que a Solução Salina. Isso demonstra que as células

foram hidratadas inicialmente só que para a sua reprodução é necessário açúcar e

nutrientes.

Figura 3. Dados da concentração celular do Fermento A nos diferentes meios e tempo.

 

Figura 4. Dados da concentração celular do Fermento B nos diferentes meios e

tempo.

Page 35: II Simpósio de Ciências Biológicas Universidade Católica de Pernambuco Recife - Pernambuco 23 a 27 de agosto de 2010

129

De acordo com Prescott e Dunn (1959) a concentração de açúcar é mantida baixa

no tanque de propagação com o objetivo de favorecer a utilização do açúcar para

a produção de células ao invés da produção de etanol. A concentração usual de

açúcar no propagador varia entre 0,5 a 1,5% p/v, dependendo do processo. As

Figuras 3 e 4 mostraram bem esse efeito quando a solução salina não conseguiu

concentrar células após 6h. Todavia, o Fermento B após 6h ainda conseguiu

multiplicar suas células, isso pode ser explicado pelo fato das leveduras

consumirem sua reserva de carboidrato (Trealose).

  

4. CONCLUSÃO

A concentração de açúcar e de nutrientes para que a célula consiga propagar e

adquirir biomassa suficiente para o inicio da moagem para a produção de cachaça

de alambique é muito importante nas primeiras 24h. Mesmo em condição de

anaerobiose a levedura consegue desviar seu metabolismo para a multiplicação

dependendo da baixa concentração de açúcar e dos nutrientes disponíveis no

meio.

A viabilidade foi bastante influenciada pela hidratação e mesmo em solução salina

as células obtiveram altas viabilidades mostrando que para ativar um fermento

seco é necessário apenas água, todavia, para a sua propagação é necessário

alimentar com baixas taxas de açúcar e nutrientes.  5. REFERÊNCIASMALTA, H. L. Estudos de parâmetros de propagação de fermento (Saccharomyces cerevisiae) para produção de cachaça de alambique. Dissertação/Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos da Faculdade de Farmácia na Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006. 113 p.

SCHIMIDELL, W. Agitação e aeração em biorreatores. In: SCMIDELL, W. (Coord.); LIMA, U.A.; AQUARONE, E.; BORZANI, W. Biotecnologia Industrial: Engenharia Bioquímica. São Paulo: Edgard Blücher, 2001. v. 2.; p.277-331.

PIRES, A.C.R. Cachaça analise de um empreendimento, Recife: SEBRAE/PE. 2001

PRESCOTT, C.; DUNN, C.G. Industrial Microbiology. 3 ed. New York: McGraw Hill, 1959. 923 p.