igual agosto 2009

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IGUAL POPCULT + WEB2.0 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA agosto 2009 #03 Project1:Layout 1 18-08-2009 19:26 Page 1

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IGUALPOPCULT+WEB2.0

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SUMMER ISSUE__________

Director Vitalício & Editor: Miguel Carvalho Colaboradores

Ana Maria Henriques, Daniel Sylvester, Javier Fabregas,Luís Lago, Nuno Martins e Pedro Rios

Conteúdo: todos os textos, fotografias e ilustrações são daautoria de Miguel Carvalho excepto se creditados

Paginação & Design: Miguel Carvalho Contacto: [email protected]/Edição: Eufaçooquequero PRESS

Tiragem: só para os amigos/onlinePeriodicidade: errática (distribuição gratuita)Assinaturas: [email protected]

Site: http://issuu.com/miguelc

Disclaimer: Esta revista é um trabalho académico. As imagens e fotografias que não são da autoria do DirectorVitalício, Miguel Carvalho, além de estarem devidamente creditadas, estão aqui presentes sem qualquer fim lucrativo e são contempladas pelo uso justo, ou seja, de total boa fé no contexto académico/não-lucrativo inerente à IGUAL.

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EDITORIAL__________

Nas estradas a guiar

É difícil escrever um Editorial para uma edição especial de Verão porque há todauma série de lugares-comuns que são incontornáveis. A começar pelo calor, mastambém os emigrantes, os turistas, o calor, os amores passageiros, os petiscos, ocalor, as notícias sem tema ou os inquéritos a famosos. Seja como for, este númeroda IGUAL está, atrevo-me a dizê-lo, muito bom. Pode ser lido com muito calor, sem ligar ao índice de radiação solar, pode ser levado para França ou Canadá, é bom de mostrar a quem vem de fora ou de partilhar com quem gostamos, fica bem acompanhado por caracóis e cerveja gelada, preenche o espaço deixado pelatelevisão generalista e até tem um inquérito de Verão a um famoso.

Esta edição – não me canso de dizê-lo: especial Verão – tem motivos de orgulho acrescentados. A começar pela capa, um trabalho original de Javier Fabregas, umtipo com talento que descobri no Flickr. O Centrão de Agosto é dele. A IGUAL

está de parabéns também pelo número recorde de colaboradores numa edição: seis.Este mês, o Daniel fala-nos da sua fixação por listas, a Ana foi ver um festival que é também um workshop, o Nuno esteve à conversa com o Fua no Gchat, o Luís faz-nos uma retrospectiva dos 70 anos da Marvel e o crítico Pedro Rios cria, espero eu, um novo “Restelogate” com as suas recomendações musicais para o mês mais longo do ano. Por completismo temático, alguns amigos contam-nosepisódios de férias anteriores e divertem-nos com as suas recordações.

Boa viagem,

Miguel Carvalho

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Nas estradas a guiar

ÍINDICE__________

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C O L A B O R A D O R E S_____________________

Ana Maria HenriquesNasceu numa vila piscatória onde não se passa nada e habita agora no Porto. O pai foi olheiro doBenfica. Não come carne e bebe leite de soja todosos dias. Gosta de vestidos e tem uma predilecçãopor sapatilhas vermelhas. Não gosta de pessoas que se exercitam. Já foi operada a laser.

Luís LagoNasceu numa vila remota do Minho onde passou a infância. Angustiado pelos amigos dispensáveisveio estudar para o Porto. As suas expressõespreferidas são "toma!", "e tu, e tu?", "a tuaprima!" e "és?". Gosta de admitir que não percebenada de música. É famosa a sua imunidade ao frio.

Pedro RiosVive na Vergada, onde se pavoneia ao volante do seucitadino azul. Quando veste de cabedal as pessoastendem a dar-lhe razão. No Twitter, já são mais aspessoas que o seguem do que as seguidas. Já foichefe de quase toda a redacção desta revista e atétocou em bandas. Gosta de listas.

Tem 27 anos e mora em Bogotá, capital colombiana.Descreve o seu trabalho como “os desenhos do

cosmos”. Gosta de Residents, Boredoms, Negativland, do Crash de David Cronenberg e de lerWilliam S. Burroughs. Editou o seu MySpace com o

Thomas Editor. Fez a capa desta revista a convite.

Javier Fabregas

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C O L A B O R A D O R E S_____________________

Nuno MartinsVive em Valadares, terra famosa pelas boas praiase urinóis. É campeão de projectos musicais frustrados, nem todos a solo. Adora de paixão aSega Dreamcast e recém-converteu-se à Wii. Estudouarqueologia, mas agora está na área do audiovisual.Quando for velho quer viver no Alentejo.

Nasceu em Hamburgo e cedo causou polémica ao dizerque era tão conhecido como os Beatles. Tem doisgatos e é frequentemente gozado no círculo de amigos pelas posições humanistas e razoáveis queteima em defender. Se fosse ele a mandar o Presidente do Mundo era Sonic, o ouriço radical.

Daniel Sylvester

Tem 27 anos e mora em Bogotá, capital colombiana.Descreve o seu trabalho como “os desenhos do

cosmos”. Gosta de Residents, Boredoms, Negativland, do Crash de David Cronenberg e de lerWilliam S. Burroughs. Editou o seu MySpace com o

Thomas Editor. Fez a capa desta revista a convite.

Javier Fabregas

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Na primeira pessoaSabes que começou no A

em isolamento nunca achei grande piada ao “Merri-weather Post Pavillion”, mas o “Strawberry Jam” (quena altura adorei) também perde o seu charme se o combinarmos com a obra mais recente. Começa tudo asoar sumptuoso demais, como comer um bolo de choco-late inteiro. Mas a canção sobre o cão ainda rula. Devoser a única pessoa à face da terra que comprou não oprimeiro disco do Andrew WK mas sim o segundo. Econtinua a soar altamente! Há poucas personalidades namúsica Pop que comandam tanta afeição como o nossoAndrew, sempre disposto a rockar em obras-primas demodelo Meat Loaf com uma sinceridade enternecedora.

Há artistas que são bons, mas que são rigorosamente amesma coisa álbum após álbum, e nem faz grande sentido falar em estagnação; existem para o que existem.Não há grandes flutuações de qualidade nos meus discosdos Atmosphere (e já agora: o Ant continua a ser subes-timado), mas sentir-me-ia estranho a incluir mais queuma obra deles na minha lista de melhores da década.

Hypes que soam melhor agora que já passaram: ArcadeFire e Au Revoir Simone. Divorciados do seu contextode “MELHOR BANDA (para pessoal que não ouvenada que não tenha Instrumentos A Sério) DE SEMPRELOL”, os Arcade Fire não deixam de ser a alternativatolerável aos Coldplay, com o mesmo nível de boniticemelancólica mas não querem ser os U2, querem apenasser uma banda pós-apocalíptica na neve canadiana e issonão é nada mau. As Au Revoir Simone soam simples-mente bonito e ligeiramente triste, e cantam sobrecrushes de forma ultra-nerdy e feminina. E isso tambémnão é nada mau. No fim, os discos de que gostei maisaté agora têm poucas capacidades de serem apresentadoscomo documentos definitivos de um estilo ou obras-mestras de um artista icónico da década. São compi-lações hoje já quase esquecidas como “Anti Folk” (omini-movimento que se criou à volta dos Moldy Peachesem 2001) ou “Africa Raps” (na verdade limitada a Senegal e aos países vizinhos) e são álbuns que decisi-vamente não introduzem nada de novo, mas que pegamnuma estética existente e lhe criam tributos sentidos –“Exodus” de Alex Moulton, o melhor disco que os Vangelis nunca fizeram ou “The Wolf” de Andrew WK, a última obra-prima do Hair Metal.

Sempre fui de listas. As paixões mudavam e, se na primárialistava vilões das Tartarugas Ninja e no secundário artistas daStax, na faculdade fazia listas das melhores faixas Hip-Hopcom menções ao “Gremlins”. O que se manteve constante aolongo de todo esse tempo foi uma vontade incessante e incon-trolável de catalogar. E, se durante toda esta década fui consumindo música em volumes, à época, assustadores, grandeparte do impulso seria o de não perder a oportunidade deavaliar um Disco Do Ano ou alcançar mais uma entrada naminha eventual tabela dos Melhores Da Década. E agora quechegamos ao último ano dos 00, tento restringir as minhascompras apenas a discos que tenho grande confiança de vir agostar porque a grande parte do meu está ocupado em revisitartodos os álbuns que comprei desta década.

Em Março, consegui finalmente chegar aos Bs. Segue uma pequena lista de observações sobre o que se passa nos As daminha colecção de discos: O disco auto-titulado da Aaliyahcontinua a ser uma obra difícil – um álbum de qualidade impecável num sub-estilo que não me interessa muito. RobertLashley tinha razão quando notou que a voz de Aaliyah encon-tra-se “mais perto de Edith Piaff do que de Ashanti”; as batidassão uniformemente interessantes e vanguardistas (falamos daera mais criativa de Timbaland, se bem que nem todas as faixas são dele); e o álbum no seu todo tem uma atmosfera pedrada, envolvente, misteriosa. Mas para tudo isso é precisoprestar muita atenção – quando não o faço, continua a soar a música de cabelereiro.

Ouvir dois discos dos Animal Collective um após o outro éuma receita excelente para começar a odiar o grupo. Mesmo

Tan

Nuy

en

por Daniel Sylvester

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ÍBROOHAHA__________

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OS 70 ANOS DA MARVEL

Saudações True-Believers

Este ano celebra-se o 70º aniversário da publicação do primeiro número da revistade banda desenhada Marvel Comics. Esta publicação marca o início daquilo a queviria a ser o Marvel Comics Group que nos anos 1960 revolucionou as histórias em

quadradinhos ao criar super-heróis de certa forma mais humanos que os da principal rival DC. Para celebrar a data, a IGUAL pediu-me para escolher alguns

elementos mais caricatos da chamada Casa das Ideias.

Nos casos em que consegui encontrar, forneço também alguns links onde podemconsultar alguns dos elementos que refiro. Face Front e desfrutem:

DR

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agosto 2009

OS 70 ANOS DA MARVEL

Os clubes de fãs

Ao longo dos anos, a Marvel tentouestabelecer um contacto próximocom os fãs. O primeiro passo foidado em meados dos anos 60, com aintrodução dos Bullpen Bulletins,páginas das revistas de banda de-senhada preenchidas com notíciassobre as actividades de toda o staffda editora. Neste espaço abundamtambém as aliterações e o estilopomposo de Stan Lee. Em 1964surgiu o primeiro clube de fãs, aMerry Marvel Marching Society,presidido por Ben "The Thing"Grimm. A entrada no clube custavaum dólar e dava direito a um discodenominado The Voices of Marvel[1], pins e outros géneros de mer-chandise. Em todos os itens era uti-lizado um humor auto-depreciativo,como se pode ver pelo juramentodos membros: "I pledge allegianceto the mags of the Marvel Groupand to the madmen who put them onthe standss. One bullpen, under-staffed, indecipherable, with libertyand boo-boos for all”. Em 1969,Martin Goodman achou que aMMMS era demasiado custosa paraa editora e por isso permitiu que umempresário independente gerisse umclub de fãs da Marvel, o MarvelMania International, onde a MMMSfoi incorporada. Infelizmente, o suposto empresário provou ser umcharlatão, que vendeu merchandiseinexistente a vários pequenos mar-velitas. O desgraçado fugiu semdeixar rasto. Mais tarde surgiu aFriends of Ol' Marvel, ou FOOM.Este clube publicava uma revistacom o mesmo nome, que foi depoisseguida pela revista Marvel Age,publicada desde os 80s até meadosdos 90s.

Not Brand Echh e What the-?!

A Marvel sempre soube rir de simesma, como comprovam estasduas séries de banda desenhada quese dedicavam a parodiar heróis dacompanhia. O título da “What the--?!” é uma paródia da famosa sérieda Marvel “What if...?” que contavaversões alternativas de históriasfamosas da Marvel. Ambas as revis-tas são conhecidas pelas suas mascotes: Forbush Man e Spider-Ham. As histórias seguiam um estilo semelhante ao utilizado porHarvey Kurtzman nos primeirosnúmeros da Mad, apesar de empre-garem um humor muito menos refi-nado. O mesmo estilo foi empreguenoutra revista de humor da Marvel,a Spoof, que parodiava séries

por Luís Lago

famosas na altura.[2]

Pizzazz

Uma espécie de Super Jovem daMarvel lançada em 1977, a Pizzazzcontinha artigos relacionados comos filmes do momento (em especial,o Star Wars) entrevistas e perfis dasestrelas predilectas dos teenagers(como os Kiss), assim como piadolas, puzzles e outros pas-satempos. Apesar de o seu carácterà primeira vista piroso, a verdade éque a revista até tem um designminimamente sofisticado para otipo de publicação, para além decontar com contribuições de bonscartoonistas da altura, como RickMeyerowitz.[3]

Macy's Thanksgiving Parade

Um dos mais conhecidos exemplosdo foleirice da Marvel é a parada doDia de Acção de Graças patrocinadapelo gigante armazém Macy's. O video está na net.[4] ‘Nuff said!

No-Prize

Há algumas décadas atrás, muitaseditoras de banda desenhava ofere-ciam dinheiro ou BDs grátis aosleitores que apontassem erros ortográficos ou de continuidade. AMarvel achava, no entanto, que osseus leitores não deveriam ser tãoexigentes e instituiu o No-Prize.Assim, qualquer leitor que apon-tasse um erro recebia em casa umacarta da Marvel com a seguintemensagem: “Congratulations, thisenvelope contains a genuine MarvelComics No-Prize which you havejust won!”. Estes não-prémios sãoagora também atribuídos a quemmelhor conseguir explicar porquedeterminados erros de continuidadenão são de facto erros e a pessoasque prestam serviços de mérito àMarvel. A titulo de exemplo destaúltima categoria, um No-Prize foiatribuído em 2006 a um grupo defãs que doou comics a soldadosamericanos no Iraque. Os “mel-hores” erros da editora foram com-pilados numa comic dos anos 80,com o nome de “Mighty Marvel 'sMost Massive Mistakes”.

Filmes série B

Hoje em dia, qualquer filme daMarvel merece um orçamento com-pletamente astronómico e é, por

[1]

dograt.com/2007/09/23/the-mmms-

records-remastered

[2]

cosseyedcyclops.blogspot.com

[3]

cosseyedcyclops.blogspot.com/search/lab

el/Pizzazz

[4]

x-entertainment.com/thanksgiving/macy-

parade/1987/macystgparade87-marvel-

comicsfloat.wmv

regra, um sucesso garantido. Masnem sempre foi assim. Apesar de arival DC ter lançado sempre os seusprincipais heróis para o grande ecrãcom produções de custos elevados(mesmo no caso do filme camp doBatman dos 1960) a Marvel apostouinicialmente em produções de baixocusto. A primeira adaptação deu-seem 1944 ainda na altura da Timely,com os serials do Captain America,que seguiam um modelo idênticoaos do Batman e do Flash Gordonda mesma altura. A próxima adaptação oficial de um personagemda Marvel chegou apenas em 1986,com o flop Howard the Duck.

Já no final dos 80's e início dos90's, no auge dos filmes do Batman,a Marvel lançou três filmes rascabaseados em algumas das suas maispopulares personagens. Primeiroveio Punisher, que foi interpretadosem caveira ao peito pelo famosoherói de acção (e marido de GraceJones) Dolph Lundgren, que tam-bém encarnou o mítico herói He-Man. Depois veio a adaptaçãodirect-to-video de Captain America,onde o herói possuía um escudo deplástico transparente (não haviaorçamento para importar vibrâniode Wakanda) que servia de vidropara a sua Americamoto. Por últimotemos Fantastic Four, que nuncachegou a ser lançado, nem sequerem vídeo, tendo sido feito apenaspara a Marvel não perder os direitosde produzir um filme com as per-sonagens. Os actores, no entanto,nunca foram informados dessefacto. O filme foi co-produzido peloRei do Série B americano, RogerCorman. Mais uma vez, não me de-longo na descrição da qualidade dosfilmes, pois algumas imagenspodem ser apreciadas pessoalmentepelos leitores no YouTube.

Excelsior,

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ESTOU AFALAR COM OJOAQUIMDURÃES ?Toda a gente o conhece por Fua, mas a cara mais visível da promotora, editora e distribuidora Lovers&Lollypops é mais do que a vista alcança. PeloGchat, numa conversa gravada no dia 22 de Abril, fala-nos da mãe, da SPA,de futebol, do Pirate Bay, da diferença entre stoner e desert e muito mais.

por Nuno Martins

DR

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agosto 2009Nuno: tudo bom? estou a falar comjoaquim durães?Fua: tudo em cima.sim simNuno: prazer. olha, um amigo meutem uma revista online para a qualcolaboro ocasionalmente. como tal,gostaria de te fazer umas perguntas,assim numa mood chill outFua: claro que simNuno: obrigado, mas a ser pela internet faria mais sentido emtempo real, está ok para ti?Fua: simNuno: ok pode ser já?Fua: pode simNuno: primeiro de tudo, gostaria desaber a tua idade, nome e profissãose possívelFua: Joaquim Durães // 26 anos(feitos ontem) // e trabalho naLovers & Lollypops e também parao Plano BNuno: os meus parabéns atrasados!!Fua: muito obrigadoNuno: gostaria de saber quandosurgiu esse interesse por organizarconcertos?Fua: no secundário criei umafanzine (Imolação da Mente) dedi-cada a sonoridades mais extremas ecomo extensão da publicação come-cei a organizar alguns concertos.surgiu daí penso.Nuno: em que escola andaste?Fua: Escola Secundária AlcaidesFaria em BarcelosNuno: há malta do stoner em barce-los, é verdade?Fua: não seria tão limitado nessavisão, há pessoal interessado norock n' roll em geral, seja garage,psicadélico, stoner, desert etc etcNuno: qual é a diferença entrestoner e desert? só por curiosidadee ignorância da minha parteFua: é tudo muito cruzado mas ostoner até pode ser interpretadocomo um parente mais ou menospróximo do grunge pelas suas influências e o desert rock encontraeco em gajos do passado comoHank B. Marvin ou mesmo a cenaKraut. obviamente tudo isto é algoque se mistura facilmenteNuno: obrigadoSent at 5:59 PM on Wednesday

Nuno: como fã de doors gostaria dete perguntar o que achas da musicathe end e da sua conotação freudi-ana com o complexo de édipo. naovale pesquisar na wikiFua: não conheço a música por aíalém e desde o secundário que recu-sei os doors um pouco pela sonori-dade que ouvia na altura e desdeentão nunca mais peguei neles.qando os descobrir (se alguma vezisso acontecer) respondo-te.

Nuno: ok. qual é a loja de discos aque vais com mais regularidade? oua preferidaFua: uma não mas se calhar ajunção de 3: Louie Louie, MatériaPrima e Lost UndergroundNuno: onde é a matéria prima, é noporto? não conheçoFua: sim, na rua miguel bombardaNuno: hmm ok, tenho de lá ir. algoque me esqueci de perguntar anteri-ormente: qual foi o concerto maisdifícil de organizar, aquele em quequer a banda quer o pessoal da casafoi mais pain in the ass?Fua: essa é a pergunta mais compli-cada, já foram tantosNuno: a malta lá de fora é maisprima donna que os portugueses?Fua: nem por sombras. os BlackLips foram complicados mas maispelo final caótico(expulsos do porto rio), mas deresto o pessoal não tem grandesmerdasNuno: acerca do incidente com osblack lips, que foi noticia na alturae bastante falado, o que se passourealmente? alguém andou ao pêro?Fua: não, muita intensidade rock-eira ás vezes dá nisto. isso e o altoconsumo de álcool. nada de muitograveNuno: quem pediu desculpas aquem?Fua: ninguém pediu desculpas, ape-sar de haver uns quantos pedidospendentesSent at 6:22 PM on Wednesday

Nuno: 2009 é o ano do gorila, tensalgo a comentar?Fua: tenho saudades das chiclas gorilaNuno: também eu apesar de seremmuito rijas. e grandesFua: era por isso gostava delas, nãoeram tão imediatas e exigiam maisconcentração e estímulo algo quefalta imenso actualmenteNuno: sim, de facto cada vez menoshá tempo e espaço para pensar enquanto individualidade. tensposição politica, costumas votar?Fua: posição politica tens sempremesmo que digas que não. a abstenção é uma posição política ameu verNuno: sem entrar em detalhes legaisqual é a tua opinião acerca do casopirate bay. já agora gostaria de perguntar se estás familiarizadocom os seus membros e, se sim,qual o teu favoritoFua: não estou familiarizado, anível de downloads sou um meninoNuno: tens dinheiro para comprartodos os CDs que gostas, ou arran-jam-te gravados?Fua: obviamente que não tenho din-

heiro mas sempre que quero umálbum, o meu comparsa Nuno Diasaka Foice Humana orienta me obelo do link. prefiro deixar essaparte para pessoas bem creditadasNuno: uma curiosidade que tenho:quando trazem as bandas cá têm facilidade em arranjar merchandisee CDs à borla? eles oferecem?Fua: umas sim, outras não, há umasérie de condicionantes. se o con-certo correu bem, se curtiram estarcá, se têm bons contratos com a editoraNuno: os earth arranjaram?Fua: não, fui o último promotor achegar, mas ofereceram à amplifica-som e ao becas do passos manuelNuno: porreiro. agora só mais umasquantas perguntas nonsense e depois uma séria para terminar. Fua: estou a conseguir trabalhar ebeber finos ao mesmo tempo. porisso tasse bem. não estou é a tertempo para enrolar um cigarroSent at 6:39 PM on Wednesday

Nuno: religião. és católico, vais àmissa? acreditas mais em Deus, Sa-tanás ou Buda é que é?Fua: acredito na minha mãe. querdizer, mesmo ela está sempre a enganar-meNuno: gostas de futebol, vais àbola?Fua: gosto de futebol sim, mas nãovou à bolaNuno: viste a agressão do pepeontem?Fua: gostava de ter visto, umaagressão a dois adversários é algode registoNuno: vale a pena ver, deu 3biqueiros a um gajo já caído nochão. para terminar: SPA vs mundo,quem vai ganhar?Fua: a SPA é tipo barata, nem umaexplosão nuclearNuno: belo final. obrigado pelotempoSent at 6:44 PM on Wednesday

loversandlollypops.com

myspace.com/loversandlollypops

istonaoeumafestaindie.blogspot.com

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O PEDRO RIOSRECOMENDA :

Ducktails por Ducktails // Not Not Fun / 2009Uma das imagens no primeiro longa duração dos Ducktailsmostra uma palmeira de plástico. Conscientemente ou não,esta é uma perfeita metáfora do que Matt Mondanile, o senhor responsável pelo projecto, nos propõe: canções queemanam sol, praia e outras coisas quentes, sob o prisma deuma "produção" caseira, quase inexistente. Ducktails é, antes de mais, um disco escapista, de alguém que inventa sol,praia e outras coisas quentes a partir da sua casa, alguresnuns subúrbios de Ridgewood, Nova Jérsia.

Guns Don't Kill People ...Lazers Do por Major Lazer // Downtown / 2009

Diplo e Switch, dois dos mais interessantes da música dedança filha do hip-hop, lançam-se num disco em que dancehall, reggae e pop descarado se misturam. Tem

Santigold a debitar “I’ll make you vibrate like a Nokya” (ehá mesmo o som de um telemóvel a vibrar) na frenética

“Hold The Line”, o bebé auto-tune, sucesso do YouTube, emdisputa com um toaster com sotaque jamaicano, reggae

clássico de primeira água (“Can’t Stop Now”), dancehall-abana-o-rabo em cima da linha de baixo de “Six Pack” dos

Black Flag, lembranças das primeiras noites ébrias no bar dapraia (“Keep it goin louder”). Fragmentado e confuso, como

estes tempos, cumpre a função de disco de Verão. Se durar os meses de canícula já valeu a pena.

Seadrum/House of Sun por Boredoms // Warner Japao/Vice / 2004Imaginem uma onda interminável, em constante renovação,sem nunca fechar. Agora colem-lhe o som de uma bateriaentre a anarquia free e a propulsão do krautrock, um pianistaa percorrer o teclado inteiro de um piano, a voz de YoshimiP-We à solta. Assim são os 23 minutos de “Seadrum”. Oreverso da excitação: faz-se de tamburas aos círculos, comdrones de guitarra eléctrica a engolir, de mansinha, a hipnose. O descanso ao sol no fim da tarde. Não exageramosnas metáforas balneares: partes do disco foram gravadasjunto ao mar, outras debaixo de água.

(Recomendações musicais de quem ganha a vida a ouvir a música dos outros)

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CENTRAO__________

JAVIERFABREGAS

flickr.com/photos/hi_sci_fi

myspace.com/3vecesmaldito

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ARTESANATOMUSICALHIGH-TECHNão criam bibelôs para enfeitar a sala lá de casa, mas o resultado “caótico” doprocesso criativo pode assemelhar-se a uma feira de ciência. Importada de NovaIorque, a ideia das festas Handmade Music chegou ao Porto para ficar. É a leide Lavoisier adaptada: na música, “nada se perde, tudo se transforma”.

por Ana Maria Henriques

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agosto 2009Uma flauta transversal “ligada àsmáquinas” – que neste caso é umcomputador – através de fios colori-dos e manejada por uma canadianavestida de verde floral seria umavisão invulgar em qualquer sala deespectáculos da cidade do Porto,mas não na Casa da Música (CdM).A Digitópia - Plataforma para o De-senvolvimento de Comunidades deCriação Musical em Computadoracolheu criadores de música quenão se regem pelas tradicionais partituras, como Cléo Palacio-Quintin, no Porto para participar na SMC 2009 – Sound and MusicComputing Conference. A composi-tora – que viajou de Montreal –viveu na Holanda onde estudou econcebeu a ideia de “aumentar a po-tencialidade da flauta transversalconvencional”, instrumento que to-cava mas cujo resultado não a satisfazia “enquanto compositora eintérprete”. Influenciada pelamúsica “electrónica acústica”, que“sempre ouviu”, Cléo decidiualargar o conceito de um instru-mento acústico de sopro através dacriação de um interface que estab-elece a ligação com o computador,graças à tecnologia midi. Se hoje ahyper-flute se destaca por materi-alizar um conceito original, “hácerca de dez anos”, quando foi ide-alizada, a surpresa por um objectotão inusitado “era enorme”.

Na festa Handmade Music queocupou o espaço da Digitópia (juntoàs bilheteiras da CdM), os aparel-hos electrónicos que os criadores eperformers manuseiam emitem sonsque fogem às notas musicais. Ocomputador de Graham, engenheironorte-americano a viver emBarcelona, transforma-se num doselementos da sua laptop orchestraenquanto os mais curiosos decidemexperimentar o software e hardwareque tomou de assalto a Digitópia.Brinquedos adaptados e toyboardsque nos remetem para o imagináriomusical infantil podem aqui sertransformados em instrumentos que,segundo Rui Penha, curador do es-paço, produzem um “resultadosonoro um bocado caótico”. Apesardo “caos”, a apresentação individ-ual de todos os participantes, comuma pequena introdução para cadaaparelho ou instrumento, foi oponto de partida para que público ecriadores assumissem o mesmo

espaço e interagissem sonoramente.

Mas a noite na Casa da Músicaacabou por ser, sem dúvida, doscanadianos. Joseph Malloch, quetambém integrou a SMC 2009, foi,a par de Cléo e da hyper-flute, ocriador mais original da festa Hand-made Music. Cientista, Joseph ded-ica-se à investigação no laboratóriode Input Devices and Music Interac-tion da McGill University, ondeidealizou a criação apresentada naDigitópia. O que à partida pareciaum simples e desinteressante stick,manuseado como se de um sabre setratasse, revelou-se ser um interfacecom uma sensibilidade extrema aotoque humano. Esta espécie de tuboque “envolve um microfone gi-gante” capta todos os contactos,apertos, abanos e demais movimen-tos que se possam imaginar, “reper-cutindo-os em sons” que reflectema intensidade e a localização dotoque. Já foi utilizado em perform-ances teatrais e de dança, contaJoseph, enquanto explica não ser apessoa mais indicada para demon-strar todas as potencialidades do t-stick. “É defeito de cientista”,brinca: “Estou sempre a reparar emimperfeições e a pensar em formasde as corrigir”. O hardware está,nas palavras do canadiano, “aindaem desenvolvimento”, aberto atodos os interessados em experi-mentar. Enquanto Joseph procuramostrar aos mais curiosos da festacomo produzir “sons sintéticos” not-stick, aproveita para carregar noplay do seu computador e deixartodos de boca aberta com vídeos desituações em que o instrumento foiutilizado, “algumas delas com-posições originais, se bem quemuito do trabalho passa pela impro-visação”, remata.

No final da noite, em jeito de bal-anço, Rui Penha confessou-se “sur-preendido e satisfeito” por terconseguido reunir cerca de noventapessoas na festa Handmade Music,principalmente pelo facto de estater atraído para a Digitópia “genteque, se calhar, de outra forma, iriaolhar para o projecto como algomais direccionado para amadores”.“Acho que tivemos aqui propostasque estão na crista da onda do quese faz no mundo nesta área”, conclui o também compositor.

O AUTOR

Peter Kirn, o autor das festas Hand-

made Music, descreve-as como uma

fusão entre “performance, festa e

feira de ciência” onde as pessoas se

juntam para “descontrair e

descobrir novos sons”. As noites

transformam-se em “reuniões de

criadores de novos instrumentos

e de tecnologia musical”.

A festa Handmade Music que aconte-

ceu na Casa da Música foi, segundo

Rui Penha, a “primeira fora de Nova

Iorque”, em resposta ao desafio

lançado por Peter Kirn para a

internacionalização da iniciativa.

Rui Penha adiantou que, “a partir

de Novembro”, a Casa da Música

vai acolher este tipo de festas “de

dois em dois meses” e que, em

Maio, “o convidado especial será

o próprio autor do blogue

CreateDigitalMusic.com,

Peter Kirn” [na foto].

createdigitalmusic.com

handmademusic.noisepages.com

netnewmusic.ning.com/profile/Cleo

PalacioQuintin

idmil.org/projects/the_t-stick

DR

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#03IGUAL

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MEMóRIASDO VERãO

Colaboradores da IGUAL contam episódios marcantes de Verões passados.

Venham todos ao Circo Carbinaly Por Luís Lago

Quando era pequeno, parte das férias de Verão era sempre passada em Aboim das Choças, uma pequena aldeia na terra de “Deixa que te Leve”. A minha família tem lá uma casa decrépita, onde todos os anos as minhas tias e os seus amigos passam uma temporada. Como esta casa não tem televisão nem computador,a única coisa que me restava fazer era ler pela centésima vez o mesmo Almanaque do Professor Pardal, fazer batota ao peixinho, ir ao Café São Pedro ou passar os dias todos no rio Vez. Certo Verão, algures nosfinais do milénio passado ou no início deste, algo trouxe mais vida à aldeia: o Circo Carbinaly.

O nome parece, obviamente, uma imitação de Cardinali, o grande clã circense português, encabeçado pelomítico Victor Hugo. Eu prefiro vê-lo, ou antes, relembrá-lo, como uma espécie de Wacky Packages, ou seja,uma paródia grotesca do Cardinali. Se bem me lembro, este circo era composto por pouco mais de quatro artistas multifacetados. A rapariga dos bilhetes era também acrobata, o MC era domador e palhaço e por aífora.A memória falha-me quanto aos números apresentados. Lembro-me no entanto, de ser prometido uma espectacular acrobacia em que o MC/domador/palhaço/daredevil iria caminhar sobre vidro. Esse número seriao grand finale da estadia do circo na aldeia, tendo lugar apenas na véspera do espectáculo partir para outras terras. Essa partida, no entanto, era sempre adiada, numa tentativa de convencer os “serranos” a comprarnovo bilhete para assistir ao espectacular número.

Provavelmente resultava, porque o Circo, que tinha anunciado ficar apenas três dias nas Choças, acabou porficar lá uma semana. Mas o que mais me marcou foi o número de palhaços. Sendo este um circo pobre, nãohavia dinheiro para contratar o palhaço rico, tendo os espectadores que se contentar com Jony, o palhaço pobree zangado com a vida. O drama deste palhaço revelava-se na quantidade de palavrões empregues e nas críticasacertadas ao Governo de António Guterres, vigente na altura. Infelizmente não me recordo de nenhuma tiradaem específico, para vos poder deleitar. Foi a primeira vez que saí deprimido do “Melhor Espectáculo doMundo”. Ver aqueles animais mal tratados e todo o material a cair aos pedaços retirou-me a inocência aomostrar a vida tal e qual como ela é nos bastidores do circo. Apesar de tanta miséria, o Carbinaly ainda andapor aí. Antes de escrever este artigo, pesquisei o seu nome e encontrei vários blogues e fóruns a manchar o seu nome. Eu, no entanto, gostaria de rever este espectáculo. Fiquei sempre curioso de como seria o grand finale e gostaria de saber o que Jony pensa deste novo governo socialista. Se alguém souber a agenda deste circo, por favor, informe-me.

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agosto 2009

Mar dos AçoresPor Daniel Sylvester

Era um polvo. Majestoso no seu elemento, flutuava pelas rochas cobertas de musgo. Eu encontrava-me deitadosobre uma toalha. O porto da Caloura, pois era aí que eu me encontrava, consistia numa simples barra derochedo virada para o mar; no fim, existiam umas pequenas escadas que levava a outro patamar, no qual haviauma piscina para os catraios e mais algumas escadas que levavam directamente ao mar. O verdadeiro porto,de onde saíam os barcos dos pescadores que muitas vezes não regressavam a casa, ficava mesmo ao lado. O porto da Caloura era o meu ponto de contacto mais fácil com o mar, a uns meros cinco minutos de casa. A própria Caloura era um lugar a puxar para o deserto, composto principalmente por quintas e casa de Verãopara ricaços. Ficava tudo longe da verdadeira aldeia onde fazíamos compras e onde eu tinha as minhas aulasda primária, um lugar pitorescamente conhecido como Água de Pau. Mas não era só por questões práticas queeu preferia o meu porto às numerosas praias que abundavam pela ilha de S. Miguel. Nas praias era difícil encontrar lugar, com cada pedaço de areia ocupado por alguém a trabalhar o seu bronzeado. E a experiênciade nadar a partir de uma praia é radicalmente diferente de nadar a partir de um porto. No meu sítio do costume,era preciso apenas descer alguns degraus para entrar no mar, no mar verdadeiro e inteiro – não existia o custosocaminho de ir nadando por aquele território em que os pés ainda tocam a areia. O salto directo da terra para omar permitia também evitar os factores mais perigosos da natação de praia – aquele esforço de nadar contra acorrente quando já se está quase em terra firme, e as ondas gigantescas. O porto era mais seguro e, na minhacabeça de criança, mais autêntico – toda a gente sabia que quem ia à praia passava o seu tempo quase todo a tostar numa toalha, e que muita gente nem entrava na água. Algures mais tarde, não sei bem quando, descobri também que não gosto de areia.

Mas estava a falar do polvo. Deitado ou sentado na dura rocha do porto, era possível observar de perto umafauna marítima surpreendentemente diversa. Havia estrelas-do-mar, caranguejos, peixes de toda a espécie. E mesmo a própria rocha fornecia lugares para explorar o reino animal: havia pequenas poças de água salgadadentro das quais se encontravam minúsculos crustáceos e conchas marinhas. De notar que não era só eu quetinha uma relação estreita com as criaturas aquáticas. Um dos nossos poucos vizinhos era John, um britânicode meia-idade que trabalhava como instrutor de mergulho num hotel próximo. Ruivo, barbudo e munido doseu cachimbo, John era quase uma paródia de um inglês e, se apenas a sua barba tivesse sido negra e não ruiva,podê-lo-ia ter confundido com o Capitão Haddock. Como a maioria dos expatriados residentes nos Açores,John limitava os seus conhecimentos de português ao mais essencial possível e , certa vez, contou-nos eminglês que tinha adoptado uma moreia. Quem já viu estes seres deitados em gelo num supermercado sabe quenão têm um aspecto propriamente querido e, de facto, entre os rapazes da aldeia a moreia era quase tão temidacomo o lendário cagarro (a ave indígena dos Açores, e a que supostamente um marujo tomou por açor, dandoassim nome ao ilhéu; possui um grito que devia ser aproveitado pelos gabinetes de efeitos sonoros de Holly-wood, e um amigo confidenciou-me numa certa noite que as aves “chupam o sangue dos humanos”) e a infamecomadrinha (um pequeno mamífero, vagamente semelhante a uma doninha, que numa ocorrência trágica chacinou alguns gatinhos bebés que tínhamos no quintal). Não foi, portanto, grande surpresa quando ouvimos,algumas semanas depois, que o peixe tinha traído o seu amigo e mordido o John no braço.O mar era o meu elemento. O mar era uma diversão eterna e enorme. E ao mesmo tempo tinha o seu não seiquê de assustador – conhecia os dias em que toda a plataforma de baixo estava submergida pela água, as mudanças súbitas de humor das marés, os ocasionais casos de morte por afogamento. Mais do que isso, eraum adepto forte da mitologia grega, e talvez terá sido a vida numa ilha que me atraiu tão fortemente para asaga de Ulisses. Por vezes, para me assustar a mim mesmo, imaginava os enormes e hediondos monstros marinhos que deviam residir algures no fundo do oceano, e a ilusão da sua existência dava uma pitada de perigoao divertimento na água.

E era assim que passava o Verão.

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ATÉ ÀPRÓXIMA VEZ

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ATÉ ÀPRÓXIMA VEZ

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“ tens a vida para viver e tantos sonhos para sonhar”

Rita

Luí

s

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