hoje macau 12 abr 2013 #2829

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AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ SEXTA-FEIRA 12 DE ABRIL DE 2013 ANO XII Nº 2829 PUB PUB E-MAIL ACUSA IPOR Direcção não aceita quaisquer acusações de roubo PÁGINA 6 SALÁRIO MÍNIMO Deputados dizem que não existe sobrecarga na AL PÁGINA 5 FÓRUM MACAU Zona de comércio livre é a prioridade em agenda PÁGINA 2 VENHAM MAIS CINCO (SÉCULOS) Ter para ler Luiz Pedruco exultou a comunidade macaense a apoiar a sua candidatura e, a par disso, começou a recolher assinaturas. Ouvido pelo Hoje Macau, o candidato disse querer conquistar diversas personalidades importantes da esfera da comunidade, como o presidente da APOMAC, mas Francisco Manhão tem outros planos: “Estou comprometido com a candidatura de Melinda Chan e já apoio o seu marido [David Chow] desde 1996.” PÁGINA 3 MOP$10 PERÍODOS DE CHUVA MIN 15 MAX 19 HUM 70-95% EURO 10.2 BAHT 0.2 YUAN 1.2 PUB MANGAL DA TAIPA ETAR DE COLOANE PODE ESTAR A POLUIR PÁGINA 12 Luiz Pedruco pediu apoio ao presidente da APOMAC mas o pedido cai em saco roto Manhão apoia Melinda Chan h PUB • inês de castro a rainha morta • o amor e a inveja segundo antónio vieira ELEIÇÕES 2013

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Edição do jornal Hoje Macau N.º 2829 de 12 de Abril de 2013

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Page 1: Hoje Macau 12 ABR 2013  #2829

AgênciA comerciAl Pico • 28721006 D irector carlos morais josé • sexta-feira 12 de abril de 2013 • Ano Xii • nº 2829

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e-mail acusa iPOR

Direcção não aceita quaisquer acusações de roubo

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saláRiO mínimO

Deputados dizem que não existe sobrecarga na AL

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FóRum macau

Zona de comércio livre é a prioridade em agenda

Página 2

Venham mais cinco (séculos)

Ter para ler

Luiz Pedruco exultou a comunidade macaense a apoiar a sua candidatura e, a par disso, começou a recolher assinaturas. Ouvido pelo Hoje Macau, o candidato disse querer conquistar diversas personalidades importantes da esfera da comunidade, como o presidente da APOMAC, mas Francisco Manhão tem outros planos: “Estou comprometido com a candidatura de Melinda Chan e já apoio o seu marido [David Chow] desde 1996.” Página 3

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PeRíOdOs de chuva min 15 max 19 hum 70-95% • euRO 10.2 baht 0.2 yuan 1.2

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luiz pedruco pediu apoio ao presidenteda apomac mas o pedido cai em saco roto

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eleições 2013

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sexta-feira 12.4.2013política2 www.hojemacau.com.mo

Rita Marques [email protected]

O Fórum para a Co-operação Econó-mica e Comercial entre a China e os

Países de Língua Portuguesa [Fórum de Macau] pode vir a ser bem mais do que uma porta aberta para trocas comerciais e investimentos multilaterais. De futuro, o organismo po-derá funcionar como zona de comércio livre entre os seus membros. A boa nova é avan-çada pela secretária-geral ad-junta do Fórum de Macau, Rita Santos. “Foi falado num dos planos de acção na facilidade de alfândegas em termos de negociação mas agora nas ne-gociações do próximo plano de acção poderão pensar nessa hipótese. Estamos na fase de auscultação de opiniões sobre o próximo documento que é a planificação”, disse

VitóRiO Cardoso é tema tabu em Macau. Da parte da repre-

sentação do Governo português nada a dizer, da parte do Fórum Macau não há ainda novos dados. Por essa razão, o actual assessor de imprensa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, apontado por fonte do Governo à agência Lusa como a nova cara em representação de Portugal no Fórum Macau, não é ainda certo para os responsáveis do organismo.

Questionada sobre se o Fó-rum Macau já teria recebido algum comunicado com o nome de Vitório Cardoso, Rita Santos, secretária-geral adjunta do Fórum Macau, diz que não. “É por isso que achei estranho [a notícia]”, reage, à margem da “Exposição Retrospectiva de Fotografias por ocasião da comemoração do 10º Aniversário do estabelecimento do Fórum de Macau”. “O secretário--geral [Chang Hexi] também ficou de boca aberta.”

Chang Hexi disse ontem, à margem de uma reunião ordinária do Secretariado Permanente do Fórum Macau, que apenas tinha recebido a indicação da embai-

JOSÉ Pereira Coutinho está im-parável. Desta feita, o deputado

propõe a Lau Cheok Va, presidente da Assembleia Legislativa (AL) uma nova legislação sobre os serviços prestados pelos centros telefónicos. Em resposta às “muitas queixas da população relativamente ao mau funcionamento” deste serviço, o deputado pretende “reforçar a posição do consumidor perante o recurso crescente aos ‘call cen-ters’” através do Regime jurídico aplicável à prestação de serviços de promoção, informação e apoio aos consumidores e utentes, através de centros telefónicos. Por outro lado, explica em nota justificativa, o pre-sente projecto de lei visa aplicar-se aos profissionais que, “no âmbito de uma actividade económica que vise a obtenção de benefícios, coloquem à disposição do consumidor um centro telefónico de relacionamento”.

Em 12 artigos, fica estabelecida a proibição de fazer o consumidor esperar em linha mais de 60 se-gundos. Fica definido um horário de chamadas (das 9 às 22h) para “respeitar o horário de descanso

das pessoas”. É garantido ao consumidor o cancelamento do serviço e a gravação de chama-das deve manter-se por um prazo mínimo de 90 dias.

De outro modo, esclarece um conjunto de práticas proibidas (no artigo 5.º). Nomeadamente, o reencaminhamento da chamada para outros números que impli-quem um custo adicional para o consumidor, a emissão de qualquer publicidade durante o período de espera no atendimento e o registo em base de dados do número de telefone utilizado pelo consumidor ou utente (salvo excepções).

O projecto de lei avança ainda com multas até 50 mil patacas, no caso de infracções administrativas. E, dependendo se é pessoa singular ou colectiva, entre as 50 e 500 mil patacas. A fiscalização e instrução dos processos de infracções admi-nistrativas fica a cargo da Direcção dos Serviços de Regulação das telecomunicações (DSRt). O projecto, caso aprovado, deverá entrar em vigor 180 dias depois da sua publicação. - R.M.R.

Fórum Macau Acordos alfandegários no centro dos futuros trabalhos

Zona de comércio livre é nota na agenda

Fórum Macau e AICEP não confirmam Vitório Cardoso

Governo portuguêsconvidado a esclarecimentos

‘Call centers’ Projecto de lei para garantir “mínimo padrão de qualidade”

Coutinho dá cara às queixas de utentes

aos jornalistas portugueses, à margem da exposição que marca os momentos mais emblemáticos dos 10 anos do Fórum Macau, na praça do tap Seac.

Embora enfatize o papel do Governo no papel de plataforma para concreti-zar e aumentar as relações económicas, comerciais e culturais entre a China e os sete países de língua portuguesa (que no ano passado cresceu 9,6% para mais de um bilião de pata-cas), não estão excluídos futuros acordos alfande-gários. Um objectivo que, aliás, deverá ser coberto pelo estudo encomendado à Universidade de Macau (UMAC) - “Actualidade e o Futuro do Desenvolvimento Económico e Comercial da China e dos Países de Lín-gua Portuguesa: o Papel de Macau como Plataforma.”

“É por isso que o Gover-no da RAEM encomendou à UMAC para fazer um estudo de análise (...) e eles vão, portanto, fazer esse trabalho e estudos nos mer-cados de língua portuguesa bem como nos mercados da

China”, avançou. O relató-rio final, diz ainda, deverá ser entregue ainda antes da 4.ª Conferência do Fórum Ministerial do Fórum (que é apontada para Novem-bro, apesar de ainda não ter datas nem convidados

avançados, como o presi-dente da China, Xi Jinping, ou o primeiro-ministro, Li Keqiang).

Ontem, à margem de uma reunião ordinária do Secreta-riado Permanente do orga-nismo também Chang Hexi,

secretário-geral do Fórum Macau, frisou que tal estudo servirá para explorar mais as potencialidades de coo-peração embora não tivesse avançado mais detalhes.

Para José Luís Sales Marques, presidente do ins-tituto de Estudos Europeus, tal estratégia poderá ser uma boa aposta do Fórum Macau. “Existem esses compromis-sos regionais que são, eu diria, talvez os prioritários em cada um desses serviços mas depois não é de excluir, como hoje em dia se vê, que se assinem acordos de livre comércio, por exemplo, en-tre a União Europeia (UE) e a Coreia do Sul, como está a acontecer. Entre a UE e a Índia, que até nos últimos dias foi contestada. Portanto, nada disso é passível de ser excluído. Pode ser que ve-nha a acontecer”, disse em declarações à tDM.

xada d Portugal de que o país vai apontar um novo delegado o mais rápido possível. No entanto, não deu conta de que já houvesse um nome apontado. Por outra lado, disse ainda desconhecer as razões desta decisão.

Por essa razão, até informa-ções em contrário, será a Agência para o investimento e Comércio Externo de Portugal [AiCEP] a representante de Portugal em

iniciativas do Fórum Macau. A delegada da AiCEP, Maria João Bonifácio, presente ontem na inauguração da exposição, tam-bém se escusou a comentários ao e remeteu quaisquer esclarecimento para o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Até ao momento, o MNE não fez qualquer anúncio oficial e Vitório Cardoso não fez quaisquer comentários à agência Lusa. – R.M.R.

Vitório cardoso

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Andreia Sofia [email protected]

Foi no passado dia 9 de Mar- ço que o macaense Luiz Pe-druco começou o processo de recolha de assinaturas

para se candidatar a um lugar de deputado pela via directa, tendo já anunciado que José Estorninho será o mandatário da sua lista.

Ao Hoje Macau, o auditor de contas afirma querer conquistar várias personalidades da comuni-dade macaense, nomeadamente o já anunciado candidato pela via indirecta, Francisco Manhão. “Pela via indirecta não tem qualquer inter-ferência, a não ser que alguém veja o contrário. Eu não vejo qualquer confrontação”, disse ao Hoje Macau.

Contudo, Manhão assume que o seu apoio irá para outra figura po-lítica. “Estou comprometido com a candidatura de Melinda Chan e já apoio o seu marido (David Chow) desde 1996. Não vou quebrar a minha promessa e não vou voltar com a minha palavra atrás, mas desejo-lhe muita sorte, e espero que atinja os seus desejos.”

Para além do nome do presidente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APoMAC), Luiz Pedruco referiu outros nomes de quem espera apoio político, como o provedor da Santa Casa da Misericórdia (SCM), António José de Freitas, Jorge Fão, Miguel de Senna Fernandes ou Jorge Neto Valente. o arquitecto Carlos Marreiros ou mesmo o deputado Leonel Alves também foram citados. “Espero contar com o apoio deles, mas eles é que têm de decidir, até agora não tive contactos com ele a esta nível. Mas tenho esperanças.”

ASSociAção “em breve”Apesar de ainda não ter definido o seu programa político nem ter a

Joana [email protected]

o Conselho do Planeamen-to Urbanístico (CPU) não

terá de ser sempre ouvido no que toca ao planeamento ur-bano de Macau. Apesar de ter sido criado para emitir parece-res sobre o assunto, o Governo não vai ser obrigado a ouvir o CPU em todos os casos.

Quando o instituto Cul-tural (iC) emitir pareceres, quando a planta a ser avaliada se destina a obras de edifícios mais baixos - “pequenos e médios”- e quando se trata de uma renovação da planta, desde que esta não altere o normal conteúdo, o CPU não vai ser chamado a intervir. Chan Chak Mo, presidente da 2.ª Comissão

Permanente da Assembleia Legislativa (AL) encarregue de analisar na especialidade a Lei de Planeamento Urba-nístico, explica a decisão do Executivo. “É uma questão de eficiência, já que no ano passado foram precisos ava-liar mais de 300 pedidos. Não é sempre necessário ouvir o CPU.”

Também a Direcção dos

Serviços de Protecção Am-biental (DSPA) é excluída de emitir pareceres, porque o “Governo entende não ser obrigatório”, indica Chan Chak Mo.

regulAmento vS leiCom a entrada em vigor da Lei, os deputados temem que possa haver sobrepo-sições em alguns casos

relacionados com as plantas de alinhamento. isto, porque o Regulamento Geral de Construção Urbana - que também inclui plantas de alinhamento - vai continuar em vigor, mesmo com a existência da nova lei.

Chan Chak Mo fala em “diferentes plantas para a mesma obra” assim que o plano de pormenor previsto

no novo diploma entre em vigor, mas o presidente assegura que o Governo já pensou o assunto. “Para o mesmo terreno não vão haver dois tipos de plantas de alinhamento. isto é um mecanismo transitório e só se enquanto não houver planos de pormenor é que há plantas de alinhamento”, explica.

Planeamento urbanístico conselho do Património e DSPA não têm de ser sempre ouvidos

Excepções de vez em quando

Pedruco já começou a recolher assinaturas para a sua candidatura a deputado directo, e disse ao Hoje Macau que espera apoios de várias personalidades macaenses, incluindo Francisco Manhão. Contudo, o já anunciado candidato pela via indirecta diz que vai apoiar Melinda Chan

Eleições 2013 Luiz Pedruco espera apoio do presidente da APoMAC, mas será difícil

manhão “comprometido” com melinda

sua lista definida, Pedruco confia no sucesso do seu projecto políti-co, lembrando que foi o fundador da Associação dos Macaenses (ADM).

Mas Manhão lança o aviso. “Ele tem que trabalhar muito e convencer o seu eleitorado com o seu programa eleitoral. Não basta

recolher assinaturas, na hora da verdade é o mais importante.”

Para já, Pedruco diz que “está para breve” a criação da “Associação Macau Século XXi”, que “vai dar continuidade ao projecto além das eleições, e será composta por pessoas de várias nacionalidades. Queremos participar no desenvolvimento de

Macau. Estamos na fase inicial e não posso falar muito nos objectivos”, disse o responsável, garantindo que todo o processo pode ser uma reali-dade em meados de Junho.

Quanto à escolha de José Estorninho para seu mandatário aconteceu porque

“tem acompanhado o processo

todo desde o inicio, e em 1996, quando eu fundei a ADM, já fa-zia parte da estrutura. Em 2009 esteve quando eu tentei criar uma lista. É a pessoa mais indicada. Analiso como sendo uma figura muito importante para qualquer candidato e parece importante para que a candidatura tenha sucesso”.

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Rita Marques [email protected]

Foram cinco os emprés-timos feitos à Viva macau

airlines, companhia aérea fa-lida em 2010, concedidos entre 2008 e 2010, feitos pelo Fundo de Desenvolvimento Indus-trial e Comercial (FDIC), sob tutela da Direcção dos Serviços de Economia (DSE).

o deputado da assembleia Legislativa (aL) José Pereira Coutinho não se conforma. Explica que os empréstimos não foram pagos pela operado-ra e mais, quando foram feitas novas prestações, não tinham sido liquidadas as anteriores, ainda que os prazos para tal já tivessem vencidos. Em Feve-reiro, o deputado interpelou Sou Tim Peng, que não deu as respostas pretendidas. Por essa razão, Pereira Coutinho

a administração de macau fechou o primeiro trimestre com um saldo

orçamental positivo de 28.153,8 mi-lhões de patacas, mais 19,7% do que no período homólogo do ano passado, revelam dados oficiais.

Dados provisórios publicados ontem no portal dos Serviços de Finanças indicam que a taxa de execução do saldo orçamental já correspondia, no primeiro trimestre do ano, a 68,6% do previsto para 2013.

Entre Janeiro e março, a administra-ção da região administrativa Especial arrecadou receitas totais de 34.520,9 milhões de patacas - mais 16,5 % do que no primeiro trimestre de 2012 -, executadas abaixo de um terço (30 %) face ao previsto para os 12 meses.

as receitas correntes ascenderam a 33.885 milhões de patacas até março, reflectindo uma subida de 14,5 %, com os impostos directos sobre o jogo - no valor de 29.457,3 milhões de patacas - a crescerem na ordem dos 12,5 % e a representarem uma execução de

31,1 % face ao previsto para todo o ano de 2013.

Só os impostos directos sobre o jogo - no valor de 35 por cento da receita bruta do sector - representavam 98,3% do total arrecadado em impostos directos, 86,9% das receitas correntes e 85,3% das receitas totais da administração de macau, segundo contas da agência Lusa.

Já no capítulo da despesa, a ad-ministração de macau gastou, nos primeiros três meses, 6.367.1 milhões de patacas, mais 4,4 % relativamente a igual período de 2012 e apenas 8,6 % do previsto para 2013.

as despesas correntes sofreram um aumento de 21,1 %, totalizando 6.343,3 milhões de patacas no fim de Março, com a execução a corresponder a 11,5 %.

o Plano de Investimentos e Despe-sas de Desenvolvimento da adminis-tração (PIDDa), com um orçamento autorizado de 17.911,8 milhões de patacas estava executado apenas em 0,1 % até março, ou seja, foram gastos apenas 21,1 milhões de patacas. - Lusa

Viva Macau Deputado pede novas satisfações a Sou Tim Peng sobre gastos do erário público

Empréstimo sem retorno causa transtorno

Economia Administração fecha 1.º trimestre com saldo orçamental de 28 mil milhões

mais dinheirinho no bornal

insiste. “Quais as razões do FDIC se ter abstido de exe-cutar as livranças avalizadas pela sócia maioritária da Viva macau airlines, a EaH Holdings Limited, à medida que as mesmas atingiam o seu prazo de validade?”, questiona o deputado.

Segundo explica, o Go-verno devia ainda 25 milhões de patacas quando o FDIC atribuiu nova tranche (no valor de 56 milhões de pa-

tacas) à anterior companhia aérea de macau. mais tarde, o Executivo avançou com mais 24 milhões de patacas (ainda havia uma dívida de 60 milhões para saldar) e, por fim, mais 12 milhões foram entregues (o valor em débito ascendia às 120 milhões de patacas). Estes são os valores avançados na interpelação enviada por Pereira Coutinho, que pede explicações sobre o valor total ainda hoje em dívida. “Quem do Governo terá de assumir a responsabilidade no negligente empréstimo de 202 milhões de patacas do erário público?”, volta a questionar.

mais uma vez, o deputado refere-se ao caso como de “conduta leviana na atribuição, aceitação das garantias bancá-rias e recuperação em tempo útil do dinheiro emprestado ali-ás dinheiro do erário público”.

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Cecília Lin [email protected]

Rita Marques [email protected]

Au Kam San entregou ontem uma carta ao Governo na qual incita o Governo a aumentar

o salário mínimo para 30 patacas por hora, invocando o acréscimo no salário mínimo de Hong Kong para o mesmo valor em dólares de Hong Kong (30,9 patacas) a partir de Maio. E, neste sentido, por si não haveria problema de discutir o diploma anda na corrente legis-latura. “Como o nível de consumo em Macau não é mais baixo do que em Hong Kong, sendo até alguns produtos mais caros, considero o salário mínimo proposto pelo Governo entre 23 a 28 patacas para os funcionários da limpeza e seguranças ridículo e irracional. Com este valor, o salário mensal deles é de apenas dois terços do rendimento médio mensal dos residentes de Macau”, explicou o deputado ao Hoje Macau, que entende que o Governo é o prin-

Rita Marques [email protected]

AntHony Lam, repre-sentante da Arco-Íris,

invocou a recém-falecida Margaret thatcher, ex--primeira ministra da Grã Bretanha, para explicar que os homossexuais devem ter os mesmos direitos que as mulheres adquiriram com o movimento feminino no século XIX. Em petição entregue ontem a Lau Cheok Va, presidente da Assembleia Legislativa (AL), membros da associação criada pelo movimento LGBt (Lés-bicas, Gays, Bissexuais e transexuais) reagem às jus-tificações dos deputados para a não aprovação do projecto de legalização da união civil entre homossexuais e pedem uma auscultação pública.

5política

Salário Mínimo Deputados não se importam de ter mais trabalho legislativo

A culpa é da inactividade do Governo

Homossexuais Movimento reage às justificações de deputados que são contra união civil

Que comece a consulta pública

“Antes do Movimento Fe-minista as mulheres nem po-diam sair de casa livremente; quem poderia imaginar que poderiam vir a existir estrelas femininas tão inteligentes nos governos, nas empresas e nas organizações hoje? O Partido Conservador Britâ-

nico capacitou a primeira mulher líder que se tornou depois a Primeira-Ministra na história do Reino unido.”

Foi assim que Anthony Lam respondeu à justifi-cação de Kwan tsui Hang (e também a Sio Chi Wai) sobre a ausência de legis-

lação noutros países para, em plenário, a 28 de Março, votar contra a união civil de casais do mesmo sexo. Ainda à vice-presidente da Associação Geral dos ope-rários de Macau (AGoM), que perguntou na AL se há algum caso de união civil en-tre homossexuais na China, Lam disse para Kwan tsui Hang recordar, por exemplo, a dinastia Han, em que era público que um imperador vivia em união de facto com o seu companheiro.

Melinda Chan e António ng Kuok Cheong deram o mote para “o pedido de auscultação pública encabe-çado por órgãos legislativos e governamentais sobre a união civil entre homossexu-ais”, depois de dizerem que o projecto-lei apresentado por Pereira Coutinho “tinha

falta de apoio”. Em todo o caso, entende Anthony Lam, com palavras do filósofo John Rawls, que a lei deve ser emendada e não retida. Ainda assim, explica, houve a procura de uma posição da sociedade por parte do Grupo de Respeito pelos Di-reitos LGBt que através de uma sondagem mostrou que 88% dos inquiridos acham que o casamento homosse-xual deveria ser legalizado em Macau. Este serviu ainda para invocar que, apesar da polémica e oposição social à emenda da lei eleitoral dos deputados para a AL, que aumentou em quatro as cadeiras em plenário, dois directos e dois indirectos, no entanto, passou.

Sobre as declarações de Paul Chan Wai Chi, que entende que a homossexua-

lidade envolve problemas de reprodução, a Arco-Íris indi-ca que “os casais homossexu-ais envolvem problemas de reprodução porque também têm o direito de dizer não à gravidez”. o projecto-lei, que não consagrava a adop-ção de casais homossexuais, também levantou questões de Lam Heong Sang que explica esse é um meio para a extinção humana. Anthony Lam reage. “não devemos esquecer que o amor é a fun-dação das relações parentais e a felicidade é contagiosa em tais relações (...) A aceitação de um filho homossexual pode ser difícil a curto pra-zo mas quando sabemos de casos de filhos homossexuais que se casam com o sexo oposto então pensamos que duas famílias inteiras estão magoadas.”

cipal causador do atraso na análise célere do diploma, já que tem vindo a protelar o assunto e não toma uma posição mais clara, apenas encomenda estudos.

“Por mim, não me importo ter mais trabalho na última fase de sessão da Assembleia Legislativa. Embora falte pouco tempo, penso que na nova sessão legislativa ainda há tempo para discutir até o fim do ano. Pelo menos, os serviços do Governo poderiam aumentar até 30 patacas por hora [o valor actual é de 23 patacas por hora desde 2007] porque esta mudança não precisa de legislação mas apenas de despacho do Chefe do Executivo.”

o pró-democrata também não se mostra satisfeito com a falta de discussão de um salário mínimo para toda a população, ainda sem agenda para a Concertação Social.

Au Kam San revelou ainda que, depois de ter sido convidado, o director da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, Wong Chi Hong, recusou assistir ao fó-rum da Associação novo Macau, no próximo domingo, alegando

que a sociedade está a discutir o assunto e, por isso, o Governo não deve fazer parte dessa discussão. “A resposta dele não fez sentido nenhum”, clarifica Au Kam San.

GoveRno não teM entusiAsMoPor sua vez, Lam Heong San, explica ao nosso jornal que o Go-verno não mostra entusiasmo em

acelerar esta medida, invocando que o processo legislativo não é assim tão complicado. Em seu en-tender, a legislação em causa não vai dar trabalho à AL. “o aumento de salário dos funcionários públi-cos também passou muito rápido. o problema não é o tempo, se o Governo não tem vontade de fazer a lei, os deputados também não

podem fazer nada. A proposta do Governo não nos foi apresentada.”

Por outro lado, diz ainda, o Executivo pode recorrer às referên-cias de convenções internacionais sobre o rendimento mínimo. “As convenções 26.ª e 131.ª da Orga-nização Internacional do trabalho falam sobre a definição de padrões salariais. A primeira é sobre a fixação de salários mínimos e a segunda sobre a fixação do salário mínimo com especial referência para os países em desenvolvimen-to. Por isso, não é muito difícil criar uma lei própria. A questão é apenas uma: a inacção do Governo. Desde 2010, a sociedade já começou a discutir o salário mínimo mas o Governo limitou-se a encomen-dar um estudo à universidade de Macau, mais nada.”

o desenvolvimento económico não consegue beneficiar os mais po-bres na sociedade, explicou, pelo que não acredita que o patronato tenha encargos acrescidos com o aumento do salário mínimo dos funcionários da limpeza e dos seguranças. “Agora a dificuldade não é o dinheiro mas a coragem do Governo”, exorta.

A sobrecarga da Assembleia Legislativa, que conta com sete diplomas actualmente em análise até ao fim da legislatura não é desculpa que Au Kam San e Lam Heong San aceitem. A proposta de lei sobre o salário mínimo ainda está dentro da agenda de trabalhos que os deputados poderão receber. Em seu entender, dizem, o Governo é que está a ser pouco activo

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Andreia Sofia [email protected]

Um email identificado, e enviado na noite desta quarta-feira para diversos meios de co-

municação social portugueses, incluindo a agência Lusa, contém fortes acusações ao valor de propi-nas pago pelos alunos do Instituto Português do Oriente (IPOR), em relação ao número de horas de aulas ministrados.

Sands Cotai Central CEO em silêncio sobre última fase do complexoEdward Tracy, CEO da Sands China, operadora de jogo dona do Sands Cotai Central, não quis avançar à imprensa quando vai apresentar o pedido ao Executivo para arrancar com a última fase do empreendimento. Contudo, declarou que ainda não fez qualquer pedido para prolongar o prazo de construção do projecto, porque ainda dispõe de um ano para o realizar, negando que o mesmo prazo esteja a terminar este mês. As parcas palavras de Edward Tracy foram proferidas à margem das celebrações do primeiro ano de vida do Sands Cotai Central, celebrado ontem com a presença de Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo. Shu Qi, celebridade chinesa, também esteve presente na inauguração da “Ponte das Estrelas”, exposição que estará patente no Sands Cotai Central. - A.S.S.

IPOR E-mail terá sido posto a circular “por um suposto grupo de alunos”

Direcção rejeita acusações de “roubo”

“O IPOR adoptou mimeti-camente os tiques do governo português. Como se não bastasse cortar nas remunerações dos pro-fessores, agora rouba os alunos. Das 200 horas de aulas que os alunos pagam como propinas, com o apoio da RAEM para cada nível de ensino, apenas 150 são efectivamente ministradas, pois 30 são horas de estudo dos alu-nos em casa, fixadas pelo IPOR (ou pelo Instituto Camões) e as restantes 20 são horas em sala de

estudo que os alunos não têm nem nunca tiveram.”

As críticas prosseguem. “Os alunos estão a pagar propinas para estudar em casa e para estudar em salas de estudo que não têm nem nunca tiveram. Dito de outra forma, são 50 horas roubadas aos alunos e as mesmas horas não pagas aos professores.”

Em comunicado, o IPOR rejeita todas as criticas apontadas. “Não correspondem à verdade as insi-nuações contidas num documento

que, por manifesta má-fé, foi posto a circular por um suposto grupo de alunos e que apenas revela o objec-tivo claro de prejudicar o trabalho do IPOR e as suas relações de co-operação com instituições locais.”

O Hoje Macau tentou contactar o remetente do email, mas não obteve qualquer resposta escrita até ao fecho da edição.

MuDAnçAS SeM AuMentoS De propinASSegundo explicou João Laurenti-no Neves ao Hoje Macau, a situa-ção retratada no email prende-se com a mudança dos currículos de módulos para níveis, onde, apesar de se manter os horários dos mó-dulos, foram acrescentadas duas componentes.

“Tem o IPOR em curso um processo de adaptação da sua oferta formativa às melhores práticas no ensino e certificação de Português Língua Estrangeira, suportada em documentos e em instituições de referência (QECR e CAPLE). Sem qualquer acréscimo de custos nem alteração da carga da componente lectiva, acrescentou a esta duas plataformas adicionais e comple-mentares no processo de ensino-

-aprendizagem: uma de trabalho assíncrono (pesquisa e trabalho pessoal do aluno), outra de ensino individualizado (um “consultório” de apoio individualizado). Estes complementos visam um único objectivo – reforçar os mecanismos de aquisição da Língua Portuguesa (LP) pelos aprendentes e suscitar uma maior exposição e utilização da língua em contextos exteriores à sala de aula, nomeadamente, profissionais. Afinal, o objectivo de quem procura o IPOR.”

Segundo o comunicado, “os alunos adquirem, assim, um curso que passa a contemplar três com-ponentes, certificado no final, com claras vantagens face ao modelo anterior, maior carga horária de conjunto e sem qualquer agrava-mento da propina que vigorava.”

“O IPOR está bem e isso mesmo poderá ser atestado junto dos seus verdadeiros alunos. Reiteramos igualmente o nosso compromisso de colaboração com as instituições da RAEM na promoção da Língua Portuguesa, pautada pela transpa-rência e pela busca das melhores soluções para os objectivos iden-tificados em conjunto”, diz ainda o comunicado.

O Instituto Português do Oriente é acusado de “roubar” os alunos, porque “das 200 horas de aulas que pagam como propinas, apenas 150 são efectivamente ministradas”. É este o conteúdo de um email enviado às redacções. Em comunicado, o IPOR recusa críticas e fala de “manifesta má-fé”

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7sociedadesexta-feira 12.4.2013 www.hojemacau.com.mo

AVISO

Plano de Financiamento para Atracção de Alunos Excelentes para Frequência

de Cursos de Educação no ano lectivo 2013/2014

No ano lectivo 2012/2013, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) criou o Plano de Financiamento para Atracção de Alunos Excelentes para Frequência de Cursos de Educação, destinado a encorajar os alunos excelentes de Macau a frequentarem cursos de licenciatura que incluam a componente de formação pedagógica, para aqui formar docentes de alta qualidade e quadros qualificados para o desenvolvimento da sociedade no futuro.

A candidatura, a este Plano, para o ano lectivo 2013/2014, realiza-se entre os dias 15 de Abril e 3 de Maio de 2013. Os destinatários e as vagas a financiar incluem:

1. Os finalistas, deste ano, do ensino secundário de Macau – a candidatura deve ser recomendada pelas escolas que frequentaram, durante o prazo da mesma. Há 50 vagas.

2. Outros graduados do ensino secundário de anos anteriores – entregar os documentos para a candidatura, durante o prazo da mesma, na DSEJ (Av. D. João IV, n.os 7-9, 1.° andar, Macau). Há 10 vagas.

Os alunos seleccionados, de acordo com o locais de frequência dos cursos, vão receber um financiamento de montante fixo e devem comprometer-se a trabalharem como professores, nas escolas oficiais ou particulares de Macau, após a conclusão do curso, sendo o período de serviço igual àquele que os beneficiários receberam o financiamento e mais três anos.

O estatuto e o boletim de candidatura podem ser obtidos na DSEJ, ou descarregados através do website: http://www.dsej.gov.mo. Para mais informações, queira ligar, por favor, para o telefone 83972512, ou contactar através do e-mail: [email protected].

Aos 10 de Abril de 2013

O Director, SubstitutoLou Pak Sang(Subdirector)

Simulacro de tempestade tropical “Ngai Tak” foi positivoO Centro de Operações de Protecção Civil realizou ontem um simulacro de tempestade tropical. Foi testado o “Ngai Tak”, um tufão com sinal 8. Durante o exercício, o centro recebeu 27 relatório de acidentes, seis pedidos de ajuda e 24 mensagens. Este ano, o exercício simulou o deslocamento de terrenos no túnel da Guia, pressionando dois veículos no seu interior. Os serviços de emergência enviaram os feridos para o hospital. O simulacro foi organizado pelo Corpo de Bombeiros, coordenado pelos funcionários de Hospital São Januário e Hospital Kiang Wu. O chefe do núcleo operacional do Gabinete Coordenador de Segurança Ho Su Hon descreveu que o exercício “correu bem”, muito porque antes do exercício o gabinete realizou uma reunião da estrutura de Protecção Civil, que serviu para apresentar formas de prevenção durante as tempestades tropicais. Cerca de 1.200 funcionários de 27 departamentos participaram neste exercício. - C.L.

Chefe dos bombeiros pediu desculpa no caso de elevador do Four SeasonsUm dia depois da vitória no processo de “repressão” em tribunal, o comandante do Corpo de Bombeiros Ma Io Weng explicou porque os bombeiros responderam com bastante atraso à paragem do elevador do Four Seasons. “Primeiro peço desculpa. Considera que a nossa reacção não foi suficiente. Já tivemos uma reunião interna e o relatório será entregue mais tarde aos Serviços de Turismo e às Obras. - C.L.

Joana [email protected]

A Direcção de Servi-ços de Solos, Obras Públicas e Transpor-tes (DSSOPT) ainda

está a fazer a análise do caso do Edifício Sin Fong Garden, que teve de ser evacuado por estar a ruir.

Depois de um primeiro adia-mento da entrega do relatório sobre o incidente, Jaime Carion, director da DSSOPT, disse ontem que será necessário mais tempo para analisar o problema. “Tivemos muitas dificuldades dentro da análise e, depois de termos pedido ajuda técnica à Universidade de Hong Kong, os técnicos fizeram estudos e precisamos agora de analisar esses estudos”, referiu Carion à margem de uma reunião na Assembleia Legislativa.

O director da DSSOPT não descarta mesmo que o caso possa ser levado a tribunal. Isto porque

Sin Fong Garden DSSOPT afirma que caso pode ir para tribunal

De quem é a culpa?ainda não se sabe a quem poderá ser imputada responsabilidade do caso e, de acordo com Jaime Carion, não há consenso entre os proprietários do edifício. De certeza, para já, é que essa não cabe às obras públicas. “Nós apenas estamos a analisar, não vamos avançar com qualquer negociação com o promotor [da obra]. Estamos a analisar a parte técnica da situação e tem de se saber a quem imputar respon-sabilidades e isso não é fácil.”

Carion diz compreender que está a ser necessário muito tempo para concluir o relatório, mas assegura que isso se deve à necessidade de entender aspectos técnicos com a ajuda dos técnicos de Hong Kong. “É preciso ter cuidado.”

Para já continuam os es-tudos comparativos entre os relatórios feitos pelas obras publicas de Macau e pelos técnicos de Hong Kong. “Ainda não sabemos como vai avançar o processo, mas reiteramos que

pode ir para tribunal. Acredito que precisemos de menos de dois meses para ter o relatório concluído.”

Recorde-se que mais de 200 pessoas tiveram de ser retiradas do edifício da Rua do Patane,

em Outubro do ano passado. As previsões era de que os morado-res apenas pudessem voltar às suas casas dentro de dois anos, devido ao risco do prédio ruir por ter sido construído com betão de má qualidade.

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sexta-feira 12.4.2013nacional8 www.hojemacau.com.mo

Maria João BelchiorEm Pequim

Uma história de filme, o caso Bo Xilai, ainda sem fim anunciado, vai decerto ficar na história

como um dos mais fortes abanões à estrutura do poder chinês. Jamil Anderlini, editor-chefe do Finan-cial Times em Pequim, não tem dúvidas ao dizer que o caso do crime e da corrupção a envolver o antigo líder e a sua família, tornou--se um caso de política num país onde o acesso a fontes políticas está muito perto do impossível.

Publicado recentemente, o livro electrónico “The Bo Xilai scandal: power, death and politics in China” é uma viagem aos meandros dos círculos de poder desde o nível provincial até ao Politburo, onde se especulava há um ano e pouco que Bo Xilai sobre a entrada do líder no mais elevado grupo da elite dos mais importante do país.

Fruto de várias investigações para reportagens no jornal, a his-tória agora contada em formato de livro retrata as principais figuras no caso que levou ao assassinato do britânico Neil Heywood. Mas para além da entrada num ciclo viciado de poder, a obra do jornalista Jamil Anderlini, mostra também como tudo se desenrolou desde que o primeiro alerta foi dado através de um micro-blogue.

O pOder das redes sOciais“Não fosse o weibo e é possível que Bo Xilai ainda estivesse no poder” disse Jamil Anderlini na apresentação do livro electrónico em Pequim.

A entrada de Wang Lijun, an-tigo comissário-chefe da polícia em Chongqing, no Consulado dos Estados Unidos em Chengdu, capital da província de Sichuan, nos primeiros dias de Fevereiro de 2012, começou a ser falada nas redes sociais como o Weibo, um serviço de micro-blogues como o Twitter, antes de ser notícia.

Bo Xilai Um caso político sem fim anunciado

poder, morte e crime

OS dois capitães dos ‘ferries’ envolvidos numa colisão no ano passado, que causou

a morte de 39 pessoas e é considerado o pior desastre marítimo das últimas décadas na região, foram ontem acusados de homicídio culposo, noticia a AFP.

Os dois indivíduos, de 54 e 56 anos, foram indiciados por 39 acusações de homicídio culposo e forma ontem presentes a tribunal, informou a polícia em comunicado citado pela AFP.

Os comandantes foram detidos, juntamente com cinco tripulantes no dia 1 de Outubro, por alegada violação das leis de segurança marítima, na sequência da colisão das duas embarcações, tendo as autoridades avançado

a hipótese de erro humano como causa do acidente.

O acidente aconteceu às 20:23 de 1 de Outubro de 2012 ao largo da ilha de Lamma, a sudoeste da ilha de Hong Kong, quando uma embarcação de recreio com 124 pessoas a bordo afundou depois de chocar com um ‘ferry’ que transportava uma centena de pessoas.

Os passageiros da embarcação afundada estavam a ser transportados para o porto de Vitoria para verem o fogo-de-artifício pro-gramado devido às comemorações locais dos 63 anos da implantação da República Popular da China, da qual Hong Kong é uma Região Administrativa Especial.

Relatos de sobreviventes indicam que a

embarcação se afundou rapidamente até ficar a 90 graus com parte da proa fora do nível da água, enquanto o ‘ferry’ sofreu apenas danos ligeiros e atracou no porto mais próximo sem problemas.

O Governo de Hong Kong criou uma co-missão independente para investigar as causas do desastre, que ocorreu perto da ilha de Lama, um local bastante popular entre os expatriados.

A comissão deverá submeter os resultados da investigação no final deste mês.

O acidente marítimo foi o mais grave da história de Hong Kong desde 1971, quando 88 pessoas morreram num acidente com um ‘ferry’, quando a região era fustigada por uma tempestade tropical. - Lusa

Hong Kong capitães dos ‘ferries’ envolvidos em colisão foram acusados

Homicídio culposo

A informação oficial que saiu claramente por alguma fuga de informação, chegou ao mundo, ainda antes de Washington ter tido tempo de decidir o que fazer com o conhecido polícia que pedia asilo como testemunha de um assassi-nato de um estrangeiro e levado a cabo por ordem da mulher de Bo Xilai, Gu Kailai.

Um caso sinistro, para dizer algo. Difícil de reconstituir todas as ligações inicialmente, os Estados Unidos acabaram por não conceder asilo mas ajudaram Wang Lijun a sair do Consulado sem ser levado pelos homens de Bo Xilai que já o espera-vam à porta. O comissário-chefe da polícia foi entregue ao poder central e levado para parte incerta.

A novela que começou nesse

momento, apesar do assassinato ter acontecido em Novembro do ano anterior, teve vários episó-dios em que, de novo, as fugas de informação tinham como canal de transmissão da mensagem, as redes sociais chinesas. Tornou-se impossível para o Governo central ignorar o que estava a acontecer e as notícias passaram a oficiais, depois de terem saído na Internet.

HOMeM de carisMaA vida de Bo Xilai dá mesmo um livro. Filho de um dos mais im-portantes membros do partido, Bo Yibo, cresceu como parte da elite do poder até que com a revolução cultural, a família Bo perdeu todo o poder. Depois de anos de prisão e campo de trabalho, Bo Xilai

conseguiu com um primeiro casa-mento voltar ao núcleo dos mais favorecidos na estrutura. Mas, a história de amor na juventude, ia acabar com um divórcio depois de Bo Xilai ter conhecido Gu Kailai enquanto estudava na universidade de Pequim. Troca de favores, com-promissos assumidos, o divórcio veio com condições que iriam marcar a sua carreira.

Foi o antigo líder Jiang Zemin que mais ajudou na ascensão do homem conhecido por ser o que mais à vontade se sentia entre os jornalistas estrangeiros, tendo ele mesmo um curso de jornalismo.

O populismo fez dele uma das figuras mais admiradas na lideran-ça central pelo público anónimo que não tem poder de voto. Mas

se uns o admiravam, a crescente importância também se tornou incómoda para outros. O modelo de Chongqing, um novo método de governação com influências de uma nova esquerda que recuperava ideais maoístas, aumentou o seu carisma e chegar ao poder em Pequim era o objectivo último. “A única forma de sobreviver nas estruturas do poder é ser humilde e dar pouco nas vistas” explicou Jamil Anderlini. Acrescentado “Bo Xilai fez exactamente o contrário”.

Agora em parte incerta, Bo Xi-lai espera julgamento. “Hoje pode estar em qualquer lado” disse Jamil Anderlini. De facto, o paradeiro do antigo político é uma incógnita. E na verdade, a novela vai continuar. Informações várias dizem que Bo se tem recusado a colaborar com as autoridades, havendo também fugas não confirmadas que dizem que terá tentado suicidar-se, sendo internado depois disso.

A não colaboração pode au-mentar a pena a que vai ser sujeito. Só que por outro lado, constitui um risco muito grande para o poder, uma vez que o que Bo Xilai sabe, pode acabar por levar à condenação de mais pessoas. Jamil Anderlini que há mais de um ano segue aten-tamente a história, adiantou que há várias pessoas a ser investigadas paralelamente. O líder Xi Jinping avisou que na sua liderança, a cor-rupção não vai permitir desculpa com a expressão que ficou famosa de capturar moscas ou tigres, numa mensagem com destino para o poder local e central.

Num modelo de reportagem, o novo livro tem um final em aberto porque é verdade que a história não acabou. Mas como escreveu o jornalista do Finacial Times, citando uma fonte em Chongqing “Bo era um marxista-leninista contra qual-quer modelo de democracia liberal ocidental, mas, ironicamente, se os chineses pudessem votar, provavel-mente teria sido eleito presidente.”

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sexta-feira 12.4.2013 www.hojemacau.com.mo 9região

A Coreia do Norte assinala hoje o primeiro aniver-sário de Kim Jong-un como líder do Partido

dos Trabalhadores, enquanto Seul acredita que Pyongyang tenta confundir a comunidade interna-cional com a instalação de mísseis prontos para serem lançados. “A eleição de Kim Jong-un, nosso companheiro, como primeiro--secretário foi um grande evento político” e “um ponto de mudança nos esforços para consolidar o partido e construir uma nação po-derosa” indica o editorial do diário Rodong Sinmun, publicado pelo partido único da Coreia do Norte.

Também a televisão do regi-me, a KCNTV, mostrou hoje um documentário de Kim Jong-un em diversos eventos no último ano, um dos quais surgiu a ‘vigiar’ com bi-nóculos possíveis objectivos mili-tares nas ilhas fronteiras na vizinha Coreia do Sul. “A história nunca viu um dirigente socialista como ele”, afirma o diário que destaca Kim como “o homem número um em convicção e vontade”, além de glorificar o êxito da colocação em órbita de um satélite norte-coreano em Dezembro e o recente teste nuclear de Fevereiro.

A Coreia do Norte renovou ontem a ameaça de encerrar, a título permanente, o comple-

xo industrial de Kaesong, justificando o acto com as políticas de “confrontação” da nova Presidente da Coreia do Sul, Park Geun-Hye.

Pyongyang anunciou, no início desta se-mana, a retirada dos seus 53.000 trabalhadores que trabalham para as mais de 120 empresas sul-coreanas e a suspensão das operações no parque industrial de Kaesong, único projecto conjunto com Seul, que tem sido usado como ‘peão’ num jogo cada vez mais perigoso entre Pyongyang, Seul e Washington.

A Presidente sul-coreana, Park Geun-Hye, empossada no final de Fevereiro, considerou a acção “muito decepcionante”, advertindo a Coreia do Norte que tal acção terá um grave impacto na confiança de futuros investidores. “Escusado será dizer que a zona industrial de Kaesong vai deixar de existir se o regime de Park Geun-Hye continuar a prosseguir com a confrontação”, disse um porta-voz do gabinete central de orientação para o desenvolvimento da zona especial do Norte, citado pela agência AFP.

O mesmo responsável salientou que “o actual detentor do poder no Sul nunca será

Pyongyang alerta:“O planeta inteiroserá contaminado”O primeiro estrangeiro a quem foi concedida autorização para representar a Coreia do Norte a nível de diplomacia revelou esta quarta-feira que Seul vai desaparecer do mapa e que o planeta inteiro será contaminado pelo poder bélico norte-coreano. “Podemos derrubar qualquer alvo, pusemos em órbita três satélites e capacidade tecnológica não falta”, disse o representante diplomático do regime comunista da Coreia do Norte, Alejandro Cao de Benós numa entrevista ao jornal italiano Oggi, citada pela agência EFE. O diplomata, que é delegado especial do comité governamental da Coreia do Norte para relações culturais com os países estrangeiros, revelou ataques a bases norte-americanas e assegurou que a Coreia do Norte vai destruir a capital sul-coreana Seul: “Quando o sinal for dado abateremos todos os aviões B2 e B52 e arrasaremos as bases americanas de Guam, do Havai e do Missouri. As consequências serão terríveis: o planeta inteiro será contaminado e Seul afundará no mar. A bomba é a nossa segurança e se for necessário não hesitaremos em usá-la.”

Chuck Hagel: “Coreia do Norte aproxima-sede linha perigosa” As ameaças de guerra da Coreia do Norte levaram o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Chuck Hagel, a afirmar esta quarta-feira que Pyongyang está a aproximar-se de um discurso perigoso. “A Coreia do Norte está, com a sua retórica bélica, a aproximar-se de uma linha perigosa”, disse Hagel numa conferência de imprensa no Pentágono, citado pela CNN. Sobre eventuais receios que a população norte-americana possa ter sobre ataques, Hagel salientou os EUA têm a capacidade de defender os seus cidadãos e os seus aliados de qualquer acção que a Coreia do Norte possa vir a tomar.

Japão mantém estadode alerta máximoO ministro japonês da Defesa, Itsunori Onodera, afirmou ontem que o Japão mantém o estado de alerta máximo e intensificou o seu sistema de informações, numa altura em que Coreia do Norte dá sinais de pretender lançar mísseis. Fontes do sector da Defesa citadas pela agência Kyodo indicam que imagens recentes obtidas por satélite mostram que a plataforma de lançamento de mísseis da Coreia do Norte está em posição vertical o que pode indicar estar terminados os preparativos para o lançamento ou que se tratam apenas de uma manobra para gerar confusão. Onodera confirmou que o Japão “recolhe toda a informação” depois de ter anunciado quarta-feira que o país está preparado para interceptar o lançamento múltiplo de mísseis por parte do regime de Kim Jong-un.

Crise nas Coreias Norte celebra primeiro aniversáriode Kim Jong-un como líder do partido dos Trabalhadores

Comandante supremo

Crise nas Coreias Pyongyang renova ameaça de encerrar Kaesong

A culpa é da Coreia do Sul, dizem

A edição online do diário mostrava também uma grande imagem do jovem líder norte--coreano saudando as massas na engalanada praça Kim Il-sung no centro da capital norte-coreana.

Enquanto isso, Seul e Wa-shington vigiam de perto um possível ensaio de mísseis da Coreia do Norte, que os serviços de informações acreditam poder realizar-se a qualquer momento.

Nesta situação, o regime de Kim Jong-un poderia estar ins-talar intencionalmente os seus mísseis na costa este para difi-cultar os trabalhos dos serviços de informação dos aliados que tentam perceber por antecipação quando se dará o lançamento e instalam radares e sistemas de intercepção para casos extre-mos. “A Coreia do Norte está a movimentar repetidamente os seus mísseis dentro e fora de um hangar o que requer uma estreita vigilância”, indicou uma fonte anónima do Governo de Seul à agência sul-coreana Yonhap.

A agência cita outra fonte governamental que defende que estas atitudes de Pyongyang ape-nas visam cansar as autoridades da Coreia do Sul e dos Estados Unidos nos seus esforços para determinar o dia e a hora do lan-çamento do míssil.

Seul e Washington acreditam que o próximo ensaio da Coreia do Norte poderá incluir o lança-mento múltiplo de vários mísseis, entre eles o Musudan, de alcance intermédio e nunca testado pelo regime. - Lusa

capaz de sacudir a responsabilidade por ter Kaesong, que sobreviveu até ao traidor Lee Myung-Bak, totalmente fechado”.

Durante a campanha presidencial, Park Geun-Hye afirmou que pretendia adoptar uma postura mais flexível no relacionamento com o Norte do que a do seu antecessor, o qual manteve uma política de ?linha dura” relativamente a Pyongyang.

O porta-voz disse ainda que a postura beli-cista da Coreia do Sul é a responsável pela deci-são de suspender a actividade das 123 empresas que operam actualmente no parque industrial

de Kaesong, situado do lado norte-coreano, a cerca de dez quilómetros da fronteira.

As declarações do ministro da Defesa sul--coreano, Kim Kwan-Jin, sobre a existência de um plano “militar” de contingência para garantir a segurança dos seus trabalhadores no complexo terão provocado a ira no Norte, com Pyongyang a ‘irritar-se’ também com a imprensa e analistas da Coreia do Sul, por considerarem que o Norte não se atreveria a fechar o complexo.

O parque de Kaesong, inaugurado em 2004, figura como o único projecto de co-operação económica entre o Norte e o Sul, servindo como fonte crucial de divisas para o Estado empobrecido da Coreia do Norte e reduzindo a dependência de Pyongyang em relação à China.

Kaesong foi escolhido para combinar a tecnologia e experiência da Coreia do Sul com a gestão a baixo custo da Coreia do Norte e é uma zona teoricamente desmilitarizada, mas fortemente armada e vigiada.

O complexo tem um volume de negócios equivalente a cerca de 15 mil milhões de pa-tacas, e tem funcionado sempre, apesar das repetidas crises entre os dois países.

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sexta-feira 12.4.201310 entrevista www.hojemacau.com.mo

Helder [email protected]

Inaugura esta tarde na Casa garden a mostra, sem título, de 13 trabalhos de pintura sobre tela e papel de arroz, disponí-

veis para aquisição do público. É o regresso, durante 30 dias, de um ex-residente que volta a mostrar-se, sempre diferenciado, a esta Macau onde já expôs. nuno Santiago, pintor e escultor, viveu quase oito anos aqui, entre 1987 e 94. Posteriormente foi aparecendo com regularidade em Macau, região que para o artista, perdeu o charme. E em Portugal os governos ignoram o artista plástico. Com uma conhecida excepção...

A exposição chama-se...não se chama.

Ah não? Então é mais uma expo-sição sua sem título. Alguma razão especial?realmente nunca dei título a nenhu-ma exposição de trabalhos meus.

Isso é intencional?Direi que sim. Entendo que o título é quase uma forma de poesia, ora eu entendo que prefiro tentar fazer poesia graficamente.

A entrevista sai no dia da inaugu-ração, vai dizer-nos do que se trata, materiais que utilizou...não gosto muito de falar de mim, vai ter de me ajudar... (risos) Olhe, é uma exposição de pintura. Posso dar uma ideia de como as coisas são feitas. Hoje em dia há uma liberdade total neste domínio.

Técnica mista...não uso essa expressão. Por exem-plo, trabalho com o papel chinês que adquiro em Macau, o papel de arroz como nós chamamos. apresento, no caso desta exposição, pintura sobre tela, mas com utilização do papel de arroz que é um papel sem ácidos, óptimo para algumas utilizações na pintura.

No conjunto desta mostra a par-tir de hoje na Casa Garden, há um tema comum entre as obras expostas ou são vários?um único tema no conjunto da exposição. a este propósito posso dizer que toda a obra que tenho feito, como que obedece a um único tema. a génese do meu trabalho é interessante. andei em Belas artes fazendo exactamente o que me apetecia, não fiz as cadeiras de que não gostava. Mas fazia gravura, de que gosto muito, mas achava uma chatice a História de arte, por exemplo. Claro, puseram-me fora! Já reparei que entre uma boa parte dos artistas que fazem trabalho assinalável, acabam expulsos. Por outro lado e sem ofensa, muitas pessoas que terminam Belas artes acabam por não seguir a carreira artística como autores, ficam muito formatados. Era assim no tempo em

nuno Santiago, artista plástico

“Em Portugal o artista plástico é ignorado por quem governa”

que lá andei, 1980 a 1982, agora as coisas é natural que sejam muito mais livres e não com a carga do antigamente, como ainda sucedia nos tempos em que lá andei.

Falava na existência de um único tema a percorrer, neste caso, esta exposição, mas também colado à generalidade da sua obra.Sim, um tema que nasceu na gra-vura, que eu gosto muito, por onde eu comecei, mas acabei por fazer

pouco. Trinta e alguns anos depois continuo com essa referência. não quer dizer que ande sempre a fazer a mesma coisa. Os trabalhos são diferentes, embora as minha formas sejam muitas vezes mais ou menos geométricas, temas livres com falsa simetria, ou razoavelmente simétri-cas. E tenho usado bastante o papel chinês, o papel de arroz, embora ultimamente tenha procurado não usar tanto. Quem sabe um dia mude completamente e faça outro tipo de

trabalhos completamente diferente. Como já disse, é-me difícil falar sobre o meu trabalho.

Disse que adquiria em Macau o pa-pel de arroz. Em Portugal é difícil?Praticamente impossível, por isso abasteço-me aqui em grandes quanti-dades, e agora no regresso, aproveito e levo mais uma montanha de papel. Embora actualmente esteja a usar um pouco menos, dado à evolução de várias técnicas.

Conhece bem a galeria da casa Garden.Muito bem, já lá expus várias vezes e gosto.

Os 13 trabalhos que agora mostra são inéditos e foram concebidos onde?São todos eles inéditos e foram feitos no meu atelier na zona de Tavira, em Santo Estêvão. um local bem dife-rente de Macau: calmo, tranquilo, muitas árvores, muito verde, quase

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11sexta-feira 12.4.2013 entrevistawww.hojemacau.com.mo

nem um automóvel se ouve, é uma maravilha.

Um lisboeta no Algarve...Sim, um lisboeta que há muito cir-cula pelo mundo. Já vivi em Macau, antes disso, quando tinha 18 anos, no Brasil também. Quando saí de Macau, em 1994, fui logo para Sin-tra. Andava à procura de um lugar calmo, que acabei por encontrar. Só que deixou de ser calmo, por isso decidi fazer uma casa no Algarve onde vivo desde o ano 2000 e não estou nada arrependido.

Não se pode dizer que ali o movi-mento cultural seja movimentado.Realmente não é. Existiu uma galeria muito boa com quem eu trabalhava, Centro Cultural de São Lourenço, com muito bons artistas, mas que por problemas familiares, foi dimi-nuindo a dinâmica até que parou. Lamentei profundamente, pois uma das razões da minha ida para o Algarve, tinha sido a minha relação

com essa galeria. Depois trabalhei com a galeria São Mamede.

Comente a importância das gale-rias de arte.Acho que o papel das galerias de arte, quando funcionam bem, é muito importante como fundamen-tais intermediárias entre o artista e o público.

O facto é que o Nuno Santiago nunca veio até Macau trazido por qualquer galeria...Também é verdade, vim sempre por

convite directo de algumas entidades ou instituições.

Como autor, há algum projecto que gostaria de realizar, alguma obra que tem empenho em fazer e ainda não foi possível?Sem dúvida que existe, uma escultu-ra. Como não há apoios, eu tenho de viver do que faço, e a escultura em termos do valor de venda-trabalho é muito difícil ser sustentável. No campo da pintura, o meu trabalho vende-se. Na escultura em ferro é muito mais difícil.

Fale-nos da experiência no Brasil.Era muito novo, tinha 18 anos, foi a minha primeira entrada na forma-ção em Belas Artes. Na época, vi os brasileiros muito mais livres, mais descontraídos em relação ao que Por-tugal ainda era nos finais dos anos 70, ainda demasiado agarrado a esquemas mentais tradicionais, passadistas, nada evolutivos. O Brasil, apesar de estar ainda em ditadura, mostrava-se muito mais divertido, muito mais aberto às ideias, às culturas.

Por ter vivido esse choque cultu-ral, ter encontrado no Brasil uma diferente forma de comunicar e de estar na vida, essa experiência deixou marcas?Então não deixou? Marcou-me para sempre. Já lá voltei, mas hoje em dia o Brasil não me interessa muito, em-bora culturalmente seja riquíssimo, com artistas plásticos notáveis, uma música fantástica.

No presente, em Portugal, é acentu-ado o grau de dificuldade para um

artista plástico viver da sua arte? É extremamente difícil, há uma re-tracção brutal, principalmente desde 2010, mas a chamada crise já vem de 2008. As galerias de arte estão a vender pouco. Não me pergunte como muitos artistas sobrevivem, porque eu também não percebo.

O seu caso?Eu vou sobrevivendo, mas não se pense que é fácil. O meu mercado no Algarve, era e ainda é, geralmen-te de estrangeiros, expatriados ali residentes, muitos alemães, através da galeria que já mencionei, a São Lourenço. Durante 15 anos sempre trabalhei com eles. Existe uma que-bra acentuada. O mercado português é obviamente ainda mais difícil, mesmo as pessoas que podem, já não sentem como prioritário a aquisição de peças de arte. No entanto, a de-terminado nível, consigo continuar a vender, mesmo perante esta brutal recessão.

Noutros campos artísticos, por exemplo o cinema, o teatro, ou-vimos com frequência críticas ou desabafos sobre lacunas na política oficial para a cultura. No caso das artes plásticas, como observa?Observo que o cinema e o teatro vivem de subsídios estatais. Os artistas plásticos não vivem de subsídios, a não ser uma ou duas excepções, notoriamente uma, que

eu não vou mencionar até porque são óbvias e muito conhecidas, pelo menos uma. Quero dizer com isto que em Portugal o artista plástico é completamente ignorado por quem governa. A Cultura, com este Go-verno, nem sequer tem ministério., o que demonstra a importância que o Governo, mas não é apenas este, dá à Cultura. Uma ocasião, o músico Pedro Abrunhosa disse uma coisa muito interessante: que o principal ministério devia ser o da Cultura, e todos os outros o seguiriam. Concordo plenamente. Não com a ideia de que os artistas devem ser todos pessoas ricas, nada disso. O desejável em qualquer sociedade que pretende ser moderna e feliz é que a sociedade seja bem informada, culta, logo a partir da juventude. E não como acontece, neste caso em Portugal, cujo poder de decisão está na mão de meros tecnocratas.

E Macau agora?A Macau de hoje já não me cativa tanto, perdeu muito charme. Bastante daquilo que vi e tanto fotografei em Macau até quase metade dos anos 1990, já não existe, já não se vê.

A fotografia também o entusiasma como arte?Muito. Cheguei a dar alguma forma-ção sobre fotografia. Prefiro a fotogra-fia a preto e branco e um dia destes sou capaz de regressar à fotografia.

Uma ocasião, o músico Pedro Abrunhosa disse uma coisa muito interessante: que o principal ministério devia ser o da Cultura, e todos os outros o seguiriam. Concordo plenamente

Os artistas plásticos não vivem de subsídios, a não ser uma ou duas excepções, notoriamente uma, que eu não vou mencionar até porque são óbvias e muito conhecidas, pelo menos uma

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sexta-feira 12.4.2013vida12 www.hojemacau.com.mo

Cecília [email protected]

Nos últimos dias, a imprensa chi-nesa reportou problemas de

poluição na água do Man-gal da Taipa, alegadamente causada pelos resíduos líquidos tratados na estação de tratamento de águas de Coloane.

A Direcção dos serviços de Protecção Ambiental (DsPA) lançou, esta quarta--feira, um comunicado onde assumiu que ocorreu um problema com algumas pe-

Mangal da Taipa ETAR de Coloane suspeita de estar a poluir as águas

Esgoto desafia a limpeza do ecossistema

Pandas Tailândia vai enviar cria para Chengdu

Lin Ping regressa a casa

Mangal, o “rim” de MacauSe Coloane é o “pulmão” de Macau, o Mangal da Taipa pode ser considerado o “rim”. Trata-se de uma formação de águas, que surgiu apenas nos anos 60 no século passado, mas que é responsável por uma filtragem das águas daquela região. Em 2001, o Governo decretou aquela zona com selo de protecção ecológica que alberga 55 hectares na zona de transição da Taipa para o Cotai. É a mais longa zona húmida de todo o território e serve de habitat a centenas de aves e outros animais.

As autoridades tailandesas anuncia-ram que vão enviar para a China

em Maio o urso panda Lin Ping, após o animal celebrar o quarto aniversário e depois de não conseguirem prolongar a estada do animal no zoológico de Chiang Mai.

Lin Ping, o primeiro panda nascido na Tailândia, será transportado de avião de Chiang Mai para Chengdu, capital da província de sichuan, no sudeste do país, após o seu aniversário a 27 de Maio, revela o diário Bangkok Post.

Prasertsak Buntrakulpuntawi, di-rector do zoológico de Chiang Mai, explicou que o panda Lin Ping passa agora mais tempo no seu iglo para que se adapte às baixas temperaturas de Chengdu.

Nascida por inseminação artificial,

Lin Ping converteu-se num fenómeno de popularidade na Tailândia onde tem um programa de televisão durante as 24 horas do dia, embora passe a maior parte do tempo a dormir.

o urso panda foi concebido por Chuang Chuang e Lin Hui, os dois pandas cedidos por Pequim à Tailândia em outubro de 2003 e por um período de 10 anos contra o pagamento de 1,9 milhões de patacas e prevê-se que o zoológico tailandês entre em negocia-ções com as autoridades chinesas para prolongar a estada.

No objectivo de incentivar a pro-criação dos pandas, os tratados do zoológico de Chiang Mai chegaram a projectar filmes pornográficos ao casal, mas decidiram mais tarde optar pela inseminação artificial.

No caso das crias dos pandas, a China autoriza que permaneçam no local até aos dois anos, mas acabou por aceitar prolongar o tempo no caso de Lin Ping.

Desde a chegada do casal de pandas a Chiang Mai, o zoológico já arrecadou mais de 52 milhões de patacas com a venda de bilhetes de acesso ao espaço ocupado pelos pandas chineses.

se há umas décadas existiam apenas um milhar de pandas em todo o planeta, o último censo chinês àqueles animais em liberdade contabilizada 1.596, embora possam existir mais alguns exemplares na actualidade dado que a contagem foi feita em 2004.

Aos pandas em liberdade juntam-se outros 328 que estão em cativeiro em todo o planeta. - Lusa

ças mecânicas responsáveis pelo tratamento biológico das águas daquela estação de tratamento. A DsPA ga-rantiu ainda que o processo de limpeza está suspenso e que novas peças chega-rão nos próximos dias. De qualquer forma, descartou que esse problema possa ter causado qualquer impacto significativo ao ambiente circundante.

ouvido pelo Hoje Ma-cau, o ambientalista Joe Chan referiu que, desde a inauguração daquela esta-ção de tratamento de águas residuais em Coloane, há

quatro anos, as instalações não conseguiram atingir padrões de índice aceitá-vel, principalmente no que respeita precisamente aos esgotos.

Dados de 2011, lembra Joe Chan, mostram que as águas residuais tratadas continuam com valores de poluição acima daquilo que é permitido, principalmente no que diz respeito a suspen-sões de óleos e gorduras. “Estou ansioso por ver os dados do ano passado, mas estamos em Abril e ainda não vi nada. será que os resultados são piores e por

isso os querem esconder?”, questiona o ambientalista.

o nosso jornal quis saber então onde param esses dados. A coordenadora da DsAP, Ng Iek Cheng explicou que os dados em

questão já foram entregues à Direcção dos serviços de Estatística e Censos (DsEC). Até ao fecho desta edição a DsEC não disponibilizou qualquer informação.

Como se não bastasse a poluição que, alegadamente, vem da ETAR de Coloane, também as obras no túnel para o novo campus da UMAC na Ilha da Montanha podem estar a causar algu-mas complicações. “Trata--se de uma crise de ‘shut-off’ acima da zona biológica do Mangal que foi devidamente equacionado pelo Instituto de Engenharia Marítima e Ambiente do Mar da China Meridional que contudo garantiu que assim que a obra acabar a qualidade da água será reposta”, referiu Joe Chan.

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sexta-feira 12.4.2013 www.hojemacau.com.mo 13cultura

Tiago [email protected]

O escritor chinês Liao Yiwu, que reside na Alemanha, acaba de publicar o seu livro

de memórias, que será lançado nos Estados Unidos, no próximo mês de Junho. O escritor refere que até 1989 nunca tinha sentido qualquer apelo por movimentos cívicos ou quaisquer importações estrangeiras como eram, na épo-ca, as ideias em torno da demo-cracia, da liberdade, dos direitos humanos ou até mesmo do amor. Então chegou Tiananmen e Liao Yiwu transformou-se. Seguiu--se a escrita com um poema de fúria e frustração, chamado “Massacre”. E o cinema – em conjunto com alguns amigos, Liao realizou um filme chamado “Requiem” – tempo e espaço para apaziguar as almas dos mortos.

Em 1990 Liao Yiwu foi preso por condutas contra-revolucio-nárias. E durante quatro anos, em várias prisões do país, foi espancado, torturado, passou fome e viveu humilhações. De-pois de lhe terem sido negados 16 pedidos de visto para sair do país e de ter recebido novas ameaças por continuar a escrever, em 2011 Liao conseguiu evadir-se através da fronteira com o Vietnam, tendo depois continuado o seu caminho até Berlim, onde hoje reside. Agora, as suas memórias dos tempos de reclusão, em “For a Song and a Hundred Songs: A Poet’s Journey Through a Chinese Prison”, surgiram no Ocidente. Proibido na China, o livro de memórias de Liao Yiwu tem sido aclamado e distinguido na Alemanha; uma edição em língua francesa foi premiada com a aclamação da crítica; e o livro continua a ser traduzido para checo, italiano, polaco, por-tuguês, espanhol e sueco. Uma versão em inglês será publicada em Junho, pela editora New Harvest, e Liao Yiwu estará em Nova Iorque para a apresentação do seu livro que decorrerá, no dia 13 de Junho, na Biblioteca Pública de Nova Iorque.

Liao Yiwu começou a escre-ver as suas memórias em 1990. A escrita acontecia sobre as costas de envelopes ou restos de papel que a sua família conseguia intro-duzir na prisão. Ao receber ordem de libertação, Liao conseguiu sair com os manuscritos na sua posse, apesar de, por duas vezes, lhe terem sido confiscados ma-nuscritos, que o escritor chinês acabou por reconstituir de memó-ria, ambas as vezes. O título do livro agora publicado, refere-se a um incidente ocorrido na prisão, quando Liao Yiwu, desrespeitan-do as regras do estabelecimento, ousou cantar. Nas suas memórias, Liao descreve a hierarquia rígida,

Música Beethoven e os seus Seguidores no Dom Pedro VEsta noite, pelas 20.00, no Teatro Dom Pedro V, terá lugar a segunda série de concertos de música de câmara dedicada a Beethoven, Rossini e Bela Bartók. Com os seus 15 quartetos de cordas, cada um mais complexo e ousado que o anterior, Beethoven decidiu desafiar-se a si mesmo – assim como às futuras gerações de compositores – contribuindo, desse modo, para uma paisagem musical dinâmica e criativa. Bela Bartók terá respondido ao desafio de Beethoven com os seus próprios quartetos de cordas. Esta noite, os membros da Orquestra de Macau explorarão os sinuosos terrenos destas obras-primas de música de câmara. O programa previsto para esta noite contempla: Rossini – Sonata para Quarteto de Sopro n.º 1 em Fá maior; Beethoven – Quarteto de Cordas n.º 3 em Ré maior, Op. 18, n.º 3; e Bela Bartók – Quarteto de Cordas n.º 2. - T.Q.

Arquitectura Angelo Bucci na Universidade de HKEsta tarde, pelas 18h30, o ciclo de conferências Spring 2013 Public Lecture Series, organizado pela Universidade de Hong Kong, prossegue com Angelo Bucci. O arquitecto brasileiro, formado na FAU USP, em 1987, tem, desde então, dividiu a sua vida profissional entre o ensino e a prática da arquitectura. Bucci reside e trabalha em São Paulo, onde em 2003 fundou o colectivo SPBR arquitectos (www.spbr.arq.br). Angelo Bucci é docente na FAU USP e Professor convidado na Argentina, Chile, Equador e Estados Unidos [ASU, 2005; UC Berkeley, 2006; GSD Harvard e MIT, 2008; UT Austin 2010 e Yale, 2013]. Em 2005 concluiu o seu doutoramento, com uma investigação que reflecte o papel experimental que a cidade de São Paulo implica na sua forma de pensar a arquitectura. Alguns dos seus edifícios foram amplamente difundidos em publicações, conferências e exposições. Na sua apresentação, Angelo Bucci abordará alguns dos mais recentes trabalhos realizados pelo seu escritório, com o intuito de partilhar a prática arquitectónica realizada no contexto urbano, social e cultural da cidade de São Paulo no Brasil. A conferência é aberta ao público. - T.Q.

Literatura Liao Yiwu publica memórias

Entre os uivos daqueles que não vivem mais

criada pela população prisional. Segundo o escritor chinês, no topo da pirâmide estava um líder apoiado por seguranças, uma empregada e vários membros de gabinete; no fundo da hierar-quia estavam vários grupos de “escravos”, incluindo “ladrões de água quente”, cuja função era fornecerem água quente e massagens às hierarquias supe-riores; “ladrões de lavandaria,” grupo que se ocupava em exclu-sivo da roupa e da eliminação das pulgas que proliferavam nas camas do estabelecimento prisional onde estava detido Liao Yiwu; sendo que os mais jovens e bonitos integravam o grupo dos denominados “ladrões de entretenimento”, que canta-vam, dançavam e realizavam pequenas teatralizações e actos sexuais com os líderes do estabe-lecimento. Enquanto prisioneiro político, Liao Yiwu teve a sorte de ser integrado na denominada “classe média”, um estatuto que lhe permitiu beneficiar de um conjunto de privilégios – entre

outras coisas, Liao era livre de almoçar e jantar na sua célula, evitando dessa forma o confronto com as classes mais baixas.

Ao longo dos anos, a reclu-são ensinou Liao a desenvolver instintos de sobrevivência. Mas esses instintos foram também estimulados por alguns dos seus companheiros de prisão. Um deles ensinou-lhe uma técnica de relaxamento que passava por manter-se na vertical, apoiado sobre a sua própria cabeça. Um outro, monge budista, ensinou--o a tocar xiao, um instrumento antigo. Outro ainda ensinou Liao a fazer canetas a partir de pedaços de bambu e madeira. Todo este universo, paira, ainda hoje, sobre Liao. Um certo temor manifesta-se a cada pesadelo que chega. É como se nunca tivesse deixado a prisão. É como se aquelas caras o cercassem, sempre, numa viagem sem fim. Liao sonha que é um pássaro sem pernas. Que voa até não poder mais. E ao cair, exangue no chão, todos se aproximam

dele, mais e mais, até chegarem a tocar no pássaro moribundo. Nesse instante Liao acorda, emudecido pelo terror.

Para Liao Yiwu, a entrega do Nobel de literatura de 2012 a Mo Yan foi uma farsa: “Imagine que no seu país foi perpetrado um massacre pelo partido do regime, e que alguém decide distinguir um poeta do estado”. “Alguma vez viu uma coisa assim tão chocante?”, pergunta Liao. O escritor chinês apresenta-se como um contador de histórias do sofrimento humano. “Não tenho nenhum interesse em saber o que a China será um dia”, afir-ma Liao Yiwu. “A sugestão que deixo é que a China se desintegre em dezenas de países pequenos para que deixe de ser a ameaça terrível que é hoje.” Nos próximos meses, Liao Yiwu continuará a apresentar “For a Song and a Hundred Songs: A Poet’s Journey Through a Chinese Prison”. E a vida continuará a ser a mesma de sempre – entre os uivos daqueles que não vivem mais.

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sexta-feira 12.4.2013www.hojemacau.com.mo14 cultura

A direcção da Cooperativa Cinema Novo, respon-

sável pelo festival de cinema Fantasporto, avançou para um despedimento colectivo na tentativa de conseguir “um mínimo de equilíbrio financeiro que permita a con-tinuação da sua actividade”.

Mário Dorminsky, da direcção, confirmou ao jornal Público o pré-aviso datado de 20 de Março, adiantando que as cartas aos seis trabalhadores afec-tados foram enviadas na segunda-feira. “Pode ser um pré-fim do Fantasporto mas fizemos isto para evitar o pior, uma insolvência”, refere, desolado.

Cinema Retrospectiva do realizador João Pedro Rodrigues no Japão alargada a Quioto e Osaka

Plateia entusiasta

Fantasporto Despedimento colectivo para evitar fim

À espera dum milagreda Cultura, já enviámos mais uma carta, e defende-mos que o Fantasporto deve ser considerado um evento de interesse público.

Para a próxima edição até já temos um programa suportado pelos 75 anos do Feiticeiro de Oz e com uma especial ligação à música. Concorremos ao ICA e a concursos da União Europeia. Já contactámos mais de 500 empresas à procura de patrocínios. Já fiz coisas que nunca pensei fazer colocando-me numa posição em que estive quase a mendigar apoios a ami-gos”, para rematar: “Espero algum milagre”.

O futuro do Fantasporto será jogado nos próximos meses. Depende agora (mais do que nunca) de subsídios do Estado, de patrocínios e pode ainda passar pela venda ou hipoteca de bens pertencentes à cooperativa. “Temos o fabuloso prédio do ex-Cinema Jardim, na rua da Constituição, no Porto, à venda por cerca de 4300 patacas mas não o consegui-mos vender”, exemplifica, ao mesmo tempo que assegura o “pagamento de todas as dívidas a credores”.

Para já, a Cinema Novo contraiu um empréstimo para pagar as indemniza-ções às pessoas despedidas.

Para que a próxima edição do Fantasporto se realize é também imprescindível o apoio do Estado que Dorminsky espera que seja assegurado “pelo menos, nos valores atribuídos em 2012”, mantendo as cerca de um milhão de patacas do Instituto do Cinema e do Audiovisual. É preciso mais, reconhece. “Temos feito contactos regulares com a secretaria de Estado

A retrospectiva integral da obra cinematográfica do realizador português João Pedro Rodrigues,

iniciada em Março, no Japão, foi estendida às cidades de Quioto e Osaka até ao final do mês, disse à agência Lusa o organizador do ciclo, Shinsuke Ohdera. “Prepa-rei a retrospectiva de João Pedro Rodrigues durante um ano e meio, quase sozinho, e penso que, antes da minha iniciativa, nenhum dos seus filmes tinha sido visto no Ja-pão”, afirmou o crítico de cinema.

A retrospectiva, realizada em Kawasaki e em Tóquio, entre 23 e 31 de Março, incluiu conferên-cias com João Pedro Rodrigues e também com João Rui Guerra da Mata, co-produtor de alguns dos filmes e co-realizador de “A última vez que vi Macau”.

O ciclo contempla as longas de ficção “Morrer como um ho-mem” (2009), “Fantasma” (2000), “Odete” (2005), as “curtas” “Chi-na China” (2007), “Parabéns!” (1997) e os documentários “Esta é a minha casa” (1997) e “Viagem à Expo” (1998), entre outros.

Depois de Kawasaki e Tóquio, a retrospectiva cinematográfica de João Pedro Rodrigues começou na terça-feira a ser apresentada na cidade de Osaka, no Nakanoshima

Design Museum, onde vai estar até dia 21, e vai ser exibida no Cine Nouveau, entre 19 e 26 deste mês. Em Quioto, os filmes de João Pedro Rodrigues são exibidos no dia 18, na Doshisha University. “No dia 23 de Março, no primeiro dia da retrospectiva no Athenee Français Cultural Centre em Tóquio, o público que queria ver os filmes formou uma longa fila em frente do auditório”, recordou Shinsuke Ohdera, ao notar que o “director da sala disse que não via uma plateia tão entusiasta há talvez 30 anos”.

Shinsuke Ohdera, que também é director do cineclube do Instituto Franco-Japonês de Yokohama, não poupou elogios à obra do realizador português. “Os filmes de João Pedro Rodrigues têm qualidades igualmente modernas e clássicas, ‘abstémicas’ e magní-ficas, simples e pop, decentes e caóticas, realísticas e fantásticas, o que é tão raro e muito atractivo para mim”.

O crítico de cinema espera ainda que esta retrospectiva pos-sa vir a estar na origem de “algo novo no Japão”. “Há 30 anos, assistimos ao nascimento do movimento cineclube no Japão, de onde emergiram nomes de di-rectores como Kiyoshi Kurosawa

ou Shinji Aoyama. Por isso, talvez desta vez, tenhamos começado algo novo”, acrescentou.

Para João Pedro Rodrigues, o contacto com o público nipónico foi “muito gratificante”. “Fiquei muito comovido. Passaram desde o meu filme de escola – ‘O Pastor’ [1988], até ao mais recente ‘A Última Vez Que Vi Macau’ [2012]. Os filmes foram muito discutidos na comunidade cinéfila no Japão, no Twitter e nas redes sociais”, afirmou à Lusa, em Macau, onde o realizador voltou a participar em nova iniciativa, na terça-feira, ainda no âmbito do Festival Lite-rário Rota das Letras.

O realizador português apro-veitou a estada no Japão, no arranque da apresentação da retrospectiva da sua obra, para fazer algumas filmagens, que exibirá no Festival de Veneza, a decorrer de 28 de Agosto a 7 de Setembro. “Este ano, o Festival de Veneza vai celebrar 70 anos, e fui um dos realizadores convidados a fazer um filme de um minuto. E lembrei-me que o Paulo Rocha, que morreu há pouco tempo e foi meu professor, era um grande admirador do cineasta japonês Kenji Mizoguchi. A minha ideia é realizar Paulo Rocha e Mizo-gushi”, adiantou.

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sexta-feira 12.4.2013 www.hojemacau.com.mo 15cultura

O milionário e filantropo norte-americano Le-

onard Lauder decidiu dar ao Metropolitan Museum (Met) de Nova Iorque uma colecção de 78 obras cubis-tas, avaliada em cerca de 7,8 mil milhões de patacas.

Reunida durante 37 anos, entre 1976 e 2013, a colecção “é uma das mais importantes no mundo”, disse o Met na noite de terça-feira, ao anunciar a doação que “vai transfor-mar o museu”.

A colecção integra 33 obras de Pablo Picasso, 17 de Georges Braque, 14 de Juan Gris e 14 de Fernand Léger e um número sem

O sítio eletrónico “Tor-rent Freak” descobriu

alguma “prevaricação” no Vaticano no que se refere ao “download” pirata de séries televisivas e filmes na Internet. Na listagem dos “downloads” feitos naquele pequeno Estado, com cerca de 800 habitantes, não fal-tam filmes pornográficos muito “hardcore”...

A curiosidade sobre os interesses da comunidade cristã no que se refere à cópia proibida de filmes na Internet foi suscitada por um acontecimento ocorrido bem longe do Vaticano. Na Irlanda, um padre residente num convento situado em Limerick “confessou” ao proprietário de um clube de vídeo que, semanalmente,

os religiosos viam ali filmes que estavam em exibição nas salas de cinema.

Ciente de que os filmes referidos ainda não estavam editados em vídeo, o comer-ciante facilmente deduziu que os padres viam filmes copiados da Internet.

A revelação correu “mundo” até chegar ao conhecimento do “Torrent Feak”, que logo teve a ideia de investigar os “downloa-ds” de filmes que são feitos no Vaticano.

As pesquisas revela-ram que alguns residentes naquele Estado gostam muito de algumas séries populares, como “Chicago Fire”, “Lightfields”, “The Neighbours”, “Touch” e “The Americans”.

Contudo, o “Torrent Freak” detectou a falta de interesse dos habitantes no “download” de filmes em exibição nas salas de cinema, ao contrário do que sucedia com os religiosos irlandeses.

A surpresa das surpresas surgiu quando investigaram outros filmes copiados - um deles referenciado como “RS77_Episode 01” - e apuraram tratar-se de filmes pornográficos. Por exem-plo, o referido arquivo é descrito como um filme sobre “duas jovens que são raptadas e se divertem num clube sado-masoquista”.

O “Torrent Freak” reve-lou ter pedido um comentário ao Vaticano sobre o assunto, mas ninguém estava dispo-nível. Nem o Papa...

Arte Filantropo Leonard Lauder doa 78 obras ao Metropolitan de Nova Iorque

Um tesouro do cubismo

Cinema Vaticano pirateia filmes “porno” na Internet

Pecado mora ali

precedentes de obras de arte e trabalhos icónicos do cubismo, precisou o museu. “É uma doação extraordi-nária para o nosso museu e para a nossa cidade”, congratulou-se o director do Met, Thomas Campbell.

“Embora o Met seja único na sua capacidade de apresentar mais de 5.000 anos de história da arte, há muito que nos faltava esta dimensão crítica na história do modernismo. O cubismo estará agora representado (no museu) por algumas das suas maiores obras--primas”, adiantou, citado na agência France Presse.

A colecção, largamente

composta por obras reali-zadas entre 1909 e 1914, durante o período mais inovador do cubismo, será objecto de uma primeira ex-posição no Outono de 2014.

Campbell disse ainda que o Met, que recebe cerca de seis milhões de visitantes anualmente, vai criar um novo centro de investigação dedicado à arte moderna, graças a uma doação de 172 milhões de patacas, financiada em par-ticular por Leonard Lauder.

Empresário e coleccio-nador de arte, de 80 anos, Leonard Lauder é filho de Joseph e Estée Lauder, co-fundadores da multina-cional Estée Lauder Inc, especializada em produtos de beleza.

A revista Forbes ava-liou a sua colecção cubista em 8,6 mil milhões de pata-cas, o que representa 13,5% da sua fortuna pessoal.

A sua doação ao Met de Nova Iorque faz entrar Leonard Lauder “no pan-teão dos filantropos mais generosos de sempre”, con-siderou a revista, segundo a qual o empresário é a 24.ª pessoa no mundo a doar mais de 7,8 mil milhões de patacas em vida.

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sexta-feira 12.4.2013desporto16 www.hojemacau.com.mo

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Governo da Região Administrativa Especial de MacauServiços de Saúde

Aviso

Para a comemoração do Dia Internacional do Enfermeiro, a Comissão Organizadora dos Serviços de Saúde da RAEM, tem a honra de convidar todos os enfermeiros, alunos de enfermagem e enfermeiros reformados do território para o jantar de comemoração que se realizará no dia 10 de Maio, pelas 19:00H, no Restaurante “Plaza”. Contamos com a vossa presença.

Local: Restaurante “Plaza”Data: 10/05/2013 (6a Feira)Hora: 19:00 (a partir das 15 horas a sala estará disponível para convívio).

Programa: Jantar, sorteio, espectáculo de variedades, atribuição

de prémio para os enfermeiros com 20 e 30 anos de serviço em prol do território

Prazo de inscrição: até o dia 30/04/2013 (A validade da inscrição esgota-se com o preenchimento dos lugares disponíveis)Contactos e Inscrição: Centro de SaúdeNTROS DE SAÚD Tel: 28920024 (Hoi Pong), Fax No: 28923196 (Hoi Pong) Cristina Boyol Tel: 66893054

Serviços de SaúdeComissão Organizadora do Dia Internacional do Enfermeiro

Macau, 11 de Abril de 2013

Marco [email protected]

O Sporting Clube de Macau encerrou a primeira volta do Campeonato de Futebol da II Divisão a vencer. Os leões

do território vingaram a derrota sofrida no sábado frente à Casa do Sport Lisboa e Benfica de Macau e conquistaram na última noite a oitava vitória consecutivo no segundo escalão, ao derrotar o Chuac Lun por duas bolas a uma.

A formação orientada por João Maria Pegado dominou grande parte do desafio a seu bel prazer e só na recta

SeM adiantar grandes detalhes sobre as ne-

gociações em curso com a banca, o presidente do Sporting confirmou que a auditoria de gestão vai mesmo avançar, bem como a reestruturação organizativa do clube. “Continuamos em negociações com os parcei-ros bancários do Sporting. A fusão da SPM (sociedade património e marketing) e da SAD (sociedade anónima desportiva) está pensada, falta preparar as negocia-ções. O nosso plano con-templa a redução dos custos operacionais. Prevemos que a SAD e a SPM comecem a dar lucro na próxima época. A reestruturação e o novo modelo organizativo estão pensadas. A entrada de investidores está pensada mas nenhum investidor vai colocar um cêntimo que seja no Sporting sem que a rees-truturação esteja feita”, disse em conferência de Imprensa, onde invocou “os deveres de sigilo” para não adiantar de-talhes sobre as negociações com os parceiros bancários.

Boa Morte: “Matic é um excelente jogador”O internacional português Luís Boa Morte elogiou esta tarde o médio do Benfica Nemanja Matic. Instado a comentar o momento de forma do sérvio em entrevista a A Bola TV, Boa Morte, que tem mantido a forma com o plantel do Estoril, lembrou as diferenças entre o tipo de jogo do médio defensivo e de Javi Garcia: “Matic é um excelente jogador e é diferente de Javi Garcia. Surge mais vezes em zona de finalização e constrói mais jogo, enquanto Javi Garcia se dedicava mais a tarefas defensivas.”

Jovem do Anderlecht associado ao BenficaO Anderlecht prepara-se para perder uma das “pérolas” da formação. David Henen, avançado que completa 17 anos neste mês de Abril, vê poucas possibilidades de evolução no clube belga e pretende sair no final da presente temporada. E pretendentes não faltam. Segunda noticia o jornal Dernier Heure, o Benfica é um dos clubes que tem enviado emissários para observar o jogador que atua nas camadas jovens do Anderlecht. Inter de Milão também tem seguido Henen, que tem contrato válido até Junho de 2015 e está há muito referenciado por Alex Ferguson, treinador do Manchester United.

Juventus gastou cerca de 2150 milhõesde patacas em reforços em três épocasO preço do sucesso. Nas últimas três épocas a Direção da Juventus desembolsou cerca de 2150 milhões de patacas na contratação de jogadores. O investimento foi altíssimo mas a verdade é que tem dado frutos. Após o caso Calciocaos, no final da época 2004/2005, que decretou a descida do clube à Serie B, o clube reergueu-se das cinzas e na temporada passada conquistou o scudetto, título que deverá renovar esta época. Na próxima temporada os donos do emblema de Turim deverão continuar a investir, em busca de um triunfo na Liga dos Campeões, troféu que escapa desde 1996.

Futebol Sporting vence Chuac Lun por 2-1

Leão consolida liderança

Sporting Bruno Carvalho não vê um cêntimo dos investidores

Reestruturação obrigatóriaConfirmou, porém, que

em cima da mesa “não está nenhum perdão da dívida” mas sim “a renegociação dos empréstimos com maior maturidade” e que “a audi-taria de gestão vai mesmo avançar”. “Se a auditoria colide com os interesses da banca? Não vou responder sobre isso. A auditoria será feita, ponto.”

“Temos de perceber que a situação do Sporting é complicada. Numa negocia-ção, estou convencido que nenhuma parte vai terminar satisfeita. Não aceitaremos nada que achemos que colo-que em causa os direitos do clube. Os sócios vão ter de de-cidir em Assembleia Geral”, adiantou, salientando que as negociações com a banca vão continuar e que, com “bom senso”, poderão chegar-se a resultados rapidamente.

ProBLeMaS CoM 17 anoSO presidente do Sporting também não confirmou se existem salário em atraso e foi enigmático em relação a alguns assuntos relaciona-

dos com a realidade finan-ceira do clube. “Salários do mês de Março em atraso? Não posso confirmar. Os investidores nunca foram problemas nesta reestrutu-ração. Sempre fomos claros e tudo o que dissemos. O que não é admissível é que se queira que uma nova direcção resolva num par de meses os problemas que ninguém soube resolver durante 17 anos. Soluções, temos. A nossa grande solu-ção é a nossa capacidade de trabalho. Prometi soluções e temo-las mas sempre disse que não sei fazer milagres”, disse Bruno de Carvalho em conferência de Imprensa.

Sobre se o clube tem capacidade para fazer face às despesas de tesouraria inter-na: “Se se derem ao trabalho de ler as contas auditadas, percebem que está tudo dado como garantia. e, por muito dinheiro que entre no Sporting, se as pessoas não quiserem, não há nenhum. É a situação que vivemos. É preciso bom senso e en-tendermos, de uma vez por

todas, que os sportinguistas votaram numa mudança, acham claramente que esta direcção entrou com atraso de dois anos e a paciência dos sportinguistas é curta. Contas do clube bloquea-das? Tudo está dado como garantia, o que significa que tudo está dado como garantia. Salários milioná-rios no clube? Temos muito trabalho pela frente.”

Bruno de Carvalho ga-rantiu ainda que a demissão nunca foi cenário em cima da mesa. “Nem tudo o que é noticiado é notícia. Mais cedo ou mais tarde os spor-tinguistas vão saber o que tem acontecido durante as negociações com a banca”, avançou, lembrando que a direcção “tem realizado um trabalho faraónico” em prol do clube e que nunca assi-nará um acordo “que colida com interesses do Sporting”: “Dissemos que actuaríamos mais e falaríamos menos. O que nos move é o Sporting. Não estamos aqui para nos servir do clube, mas para servir o clube.”

por abalar ligeiramente o predomínio da formação orientada por João Maria Pegado. O Chuac Lun reduziu a partir da marca de onze metros e procurou forçar a igualdade, ainda que sem su-cesso. Mesmo reduzido a dez unidades, o Sporting ainda conseguiu visar por um par de vezes o último reduto adversário. A perda de João Godinho e de outro atleta para lesão nos minutos finais do desafio acabou por confrontar os leões com dificuldades inesperadas, mas o onze verde e branco conseguiu resistir incólume ao assédio do Chuac Lun.

Na hora do balanço, João Maria Pe-gado não nega as dificuldades sentidas na recta final da partida, mas sublinha o resultado e os três pontos alcançados. Para o jovem treinador dos leões ainda é, no entanto, cedo para embarcar em euforia no que diz respeito à eventual ascenção ao convívio dos grandes do futebol de Macau: “A primeira volta só agora acabou e ainda temos outros tantos desafios pela frente. Ainda não conquistámos nada, mas o facto de termos conseguido três pontos frente ao Chuac Lun é obviamente muito importante”, sustenta o jovem técnico leonino.

final da partida experienciou algumas dificuldades por ter perdido dois atle-tas para lesão, numa altura em que já jogava com menos um elemento, após expulsão de Kaká Khalaf. Os líderes incontestados do Campeonato da II Di-visão adiantaram-se no marcador numa iniciativa concluída por João Godinho e não tardaram a reforçar a vantagem por intermédio do defesa Filipe Henrique. Os leões do território voltaram a entrar melhor na segunda parte e controlaram o rumo do desafio sem grandes percalços até ao último quarto de hora da partida, mas a expulsão de Kaka Khalaf - por falta no último reduto do Sporting - acabaria

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17sexta-feira 12.4.2013 www.hojemacau.com.mo futilidades

Sudoku [ ] Cruzadas

[ ] Cinema Cineteatro | PUB

Aqui há gato

[Tele]visão

Pu Yi

ChuvA: TemPo de “GAme over”estes dias de chuva torrencial deixa-me com os pêlos eriçados. Naquelas minhas escapadelas lá fora, vou-me refugiando por baixo deste e daquele guarda-chuva. mas vejo o desatino dos humanos a fazerem manobras para se desviarem dessas autênticas armas de arremesso. É preciso ter alguma flexibilidade para subir, descer, inclinar, ir até à estrada. mas o que irrita, por exemplo, quando vou com um dos meus companheiros de redacção é que são sempre os mesmos a acautelarem o caminho (seu e de quem vem ao seu encontro).É realmente incrível. e depois, nestes dias, é preciso escolher bem as horas de saída. Não há pior do que apanhar as horas de ponta no passeio. É que o tráfego está tão congestionado. depois há aquelas pessoas que andam nestes dias como se tivessem a pisar ovos. É preciso realmente uma pessoa ter uma capacidade de contenção para não socar ninguém. E enfim, mais um desvio, mais uma inclinada no chapéu, e outra subida. É um autêntico desafio. Quase um jogo de computador, em que o primeiro a parar é o primeiro a perder uma vida. e depois não há muitas mais vidas até chegar ao fim do nível. O que vale é que se parte do mesmo caminho, mas o corpo vai ficando mais desgastado. e o sistema nervoso pressionado, vai ganhando força. e ao subir o nível... GAme over.Por isso, é preciso ser esperto. É preciso conhecer bem o mapa de macau. decorá-lo, perceber os seus atalhos para mais rápido chegarmos ao destino. e o trajecto seguido, por norma, não deve meter cruzamentos ou entroncamentos. muito menos se tiverem semáforos. Não é fácil ficar a levar com a chuva no guarda-chuva “que inevitavelmente acaba por se conseguir infiltrar nos sapatos e calças) e com depois há os chapéus dos vizinhos que escorrem as suas pingas para cima de nós. É um desespero. Porque quando abre o sinal para os peões (atenção, os nervos já começam a acumular), é como se tivesse aquela moça com a bandeirola verde a dar o sinal de partida numa corrida acesa de carros Fórmula 1. o primeiro a partir começa geralmente é o que acaba melhor classificado. Pode melhor escolher o seu desvio. Não deixa de ser desafiante. e um jogo destes por semana até tem a sua piada. mas esta semana, já começa a cansar este joguinho. vamos lá acabar com esta brincadeira, oh São Pedro.

TDM13:00 TDM News - Repetição13:30 Telejornal + 360º (Diferido)14:45 RTPi Directo19:00 TDM Talk Show (Repetição)19:30 Vingança20:30 Telejornal21:20 Ler + Ler Melhor21:30 Cenas de um Casamento22:10 Escrito nas Estrelas23:00 TDM News23:30 Resumo Liga Europa23:45 Liga Europa: Newcastle United – Benfica (Repetição)01:15 Telejornal – Repetição01:45 RTPi Directo

INFORMAÇÃO TDM

RTPi 8214:00 Telejornal Madeira14:35 Percursos15:35 AntiCrise16:00 Bom Dia Portugal17:00 Sexta às 9 17:35 Feitos ao Bife18:45 Destino: Portugal19:00 Depois do Adeus20:00 Jornal da Tarde 21:15 O Preço Certo 22:05 Salvador22:30 Ler +, Ler Melhor22:35 Surf Total22:55 Portugal no Coração

30 - FOX Sports13:00 Masters Tournament 2013 Day 117:30 Total Rugby18:00 Football Asia 2013/1418:30 (Delay) Masters Tournament 2013 Day 1 Highlights19:30 (LIVE) FOX SPORTS Central20:00 (LIVE) Asean Basketball League 2013 Westports Malaysia Dragons vs. Indonesia Warriors22:00 FOX SPORTS Central22:30 Masters Tournament 2013 Day 1

31 - STAR Sports13:00 Hot Water 2012/1313:55 (LIVE) FIA F1 World Championship - Practice Session 2 Chinese Grand Prix15:30 FIM Mx3 World Championship 2013 - Highlights Grand Prix of the Netherlands16:00 AFC Champions League 2013 Muangthong United vs. Guangzhou Evergrande18:00 FIA F1 World Championship - Practice Session 1 Chinese Grand Prix19:30 FIA F1 World Championship - Practice Session 2 Chinese Grand Prix21:00 Inside WTCC21:30 (LIVE) Score Tonight 201322:00 Formula Friday22:30 Inside European Rally Championship23:00 FIA F1 World Championship - Practice Session 2 Chinese Grand Prix

40 - FOX Movies13:00 Enough14:55 Home Alone 2: Lost In New York16:55 Transporter: The Series17:40 Don’T Be Afraid Of The Dark19:20 The Woman In Black21:00 The Ugly Truth22:35 Goon00:05 Transporter: The Series

41 - HBO13:00 The Lord Of The Rings16:05 The Joy Luck Club18:20 The Rocketeer20:15 Abduction22:00 Priest23:30 Sucker Punch

42 - Cinemax12:15 Carnivale14:15 Conan The Destroyer16:00 Spartacus19:00 Star Trek First Contact20:45 Epad On Max21:00 Banshee 23:00 Werewolf: The Beast Among Us

SoluçõeS do problema

HORIZONTAIS: 1-GLACIARIO. A. 2-OCASSEM. DR. 3-A. AS. COS. 4-LP. AI. ABONE. 5-BOBINETE. AN. 6-ALA. TIA. VII. 7-RA. PRAIEIRO. 8-DIABO. SC. ES. 9-ANA. SR. OA. O. 10-DA. OCULADO. 11-O. CHAMAREIS.VERTICAIS: 1-G. ALBARDADO. 2-LO. POLAINA. 3-ACA. BA. AA. C. 4-CASAI. PB. OH. 5-IS. INTROSCA. 6-ASA. EIA. RUM. 7-REMATAIS. LA. ECOAR. 9-O. CO. VI. ADE. 10-DONAIRE. OI. ARSENIOSO. S.

REGRAS |Insira algarismos nos quadrados de forma a que cada linha, coluna e caixa de 3X3 contenha os dígitos de 1 a 9 sem repetição

SOLUÇÃO DO PROBLEMADO DIA ANTERIOR

HORIZONTAIS: 1-Relativo ao gelo ou às geleiras. 2-Tornassem oco. Doutor (abrev.). 3-Arsénio (s.q.). Amerício (s.q.). Cintura. 4-Duas consoantes. Soluço. Conceda abono. 5-Filó. Negação (Pref.). 6-Nome que os Muçulmanos dão ao seu Deus. Mulher solteira já de certa idade. 7 (Rom.). 7-Deus-Sol, no antigo Egipto. Habitante de praia ou praias (Bras.). 8-Demo, diabrete. Escândio (s.q.). Pertences. 9-Nome de mulher. Senhor (abrev.). Duas vogais. 10-Oferece. O m. q. ocelado. 11-Convocareis.

VERTICAIS: 1-Provido de albarda. 2-Tecido fino. Peça de vestuário, que se veste por cima do sapato e das calças, para proteger do frio. 3-Cheiro desagradável (Bras.). Bário (s.q.). Autores (abrev.). 4-Juntai. Estado da Paraíba, Brasil (abrev.). Surpresa (Interj.). 5-Vogal (pl.). Pessoa metediça, intrometida (Bras.). 6-Protecção (Fig.). Ena!. Aguardente. 7-Acabais. Entre eles. 8-Prefixo de negação. Nome de letra. Ressoar. 9-Cobalto (s.q.). Sexto. Soma, une. 10-Aspecto fisionómico, garbo. Duas vogais. 11-Designação genérica dos compostos de arsénio em que este elemento entra com a menor valência.

OBLIVION

Sala 1oblivion [b]Um filme de: Joseph KosinskiCom: Tom Cruise, Morgan Freeman, Olga Kurylenko14.30, 16.45, 19.15, 21.30

will you Still love me tomorrow? [b](FALADO EM MANDARIM E LEGENDADO EM CHINêS E INGLêS)Um filme de: Arvin ChenCom: Richie Jen, Mavis Fan, Stone, Kimi Hsia14.30, 16.30, 21.30

Sala 2 the croodS [3d] [a](FALADO EM CANTONêS)Um filme de: Chris Sanders, Kirk De Micco19.30

Sala 3i give it a year [c]Um filme de: Dan MazerCom: Rose Byrne, Rafe Spall, Anna Faris, Simon Baker14.30, 16.30, 19.30, 21.30

Rua de S. domingoS 16-18 • Tel: +853 28566442 | 28515915 • Fax: +853 28378014 • [email protected]

À VENDA NA LIVRARIA PORTuGuESA

A IRMã DE FREuD - LIVRO AuTOGRAFADO • Goce SmilevskiPrémio união europeia de Literatura 2010 em 1938, numa Áustria ocupada pelo regime nazi, Sigmund Freud recebe um visto para fugir para Londres e, assim, escapar à ameaça de terror. da lista de 16 pessoas que pretende levar consigo fazem parte a cunhada, o médico, as criadas e até o seu pequeno cão, mas nenhuma das suas quatro irmãs. É pela voz de uma delas, Adolfine, que conhecemos esta história assombrosa sobre a família Freud. deportada para o campo de concentração de Terezín, «a melhor e mais doce irmã» do psicanalista conhece ottla, a irmã amnésica de Franz Kafka, a quem confidencia as suas memórias. Emerge o retrato de uma menina sensível e doente que vive a infância em simbiose com o irmão Sigmund, o mentor que a guiava na descoberta da vida. o retrato de uma jovem inconformada com o papel que a sociedade lhe impõe, amargurada pelo desprezo da mãe e pela partida do irmão. Por fim, o retrato de uma mulher só, que se sente apenas meia mulher por nunca ter sido mãe. o cenário da história da família é a viena da viragem do século, uma época de incomparável esplendor artístico e intelectual, que serviu também, e ironicamente, de pano de fundo a alguns dos acontecimentos mais traumáticos do século XX.

OS ALFERES • Mário de CarvalhoNuma distante picada de África, um jovem alferes vê-se confrontado com um dilema de vida ou de morte e com o absurdo da própria guerra. No Leste de Angola, urde-se uma trama de sedução, ciúme, traição e morte. Num Timor mítico, ecoam os feitos e os sofrimentos da saga universal dos portugueses. Três histórias onde um fio de humor, não raro amargo, percorre todas as cenas, mesmo as mais violentas ou sombrias. Três narrativas, três sobressaltos, três momentos ímpares da literatura portuguesa.

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sexta-feira 12.4.2013opinião18 www.hojemacau.com.mo

A generosa tradição da liberdade

[Margaret Thatcher] foi uma mulher para além do seu tempo, visionária, inquebrantável, que contribuiu para a criação de uma nova lógica de integração da Europa, que privilegiou a aliança anglo-americana como o esteio essencial da política externa britânica, que não vacilou no combate ao terrorismo no seu país

crepúsculos dos ídolosArnaldo Gonçalves

IÀ medida que nos aproximamos da meia--idade valorizamos aquilo que verdadeira-mente importa: o carinho e amor da família, a amizade dos amigos verdadeiros, a partilha dos bons momentos que alimentam memó-rias futuras. Deixamos para trás o ilusório, o imediato, a satisfação aligeirada trazida pelo último “gadget” tecnológico que ex-cita as pessoas comuns e as deixa carentes, logo a seguir. Retemos os bons discos, os filmes que nos marcaram e que debatemos acaloradamente, os livros que lemos e a que regressámos, porque algo nos fez cor-rer, vezes sem conta, para eles. Uma frase oportuna, uma anotação sagaz, uma ideia.

Pomos de lado, até pela força da distância, os conflitos aparentemente intransponíveis que nos dividem e antagonizam naquilo que se vulgarizou chamar o “espaço público”. Quer dizer muito do combate político ali-mentado por egos possessivos que procuram um instante de fama ou de exposição medi-ática que lhes possa trazer glórias ou pagas futuras. Tudo isso se relativiza à medida que a distância e a passagem dos anos nos faz perceber que isto são truculências, acidentes, não crises ou problemas duradouros que devam merecer a nossa atenção.

Um dos exercícios a que nos habituamos é o da revisitação das memórias, o apelo aos que por um pensamento, uma atitude, uma visão nos marcaram profundamente, a dado momento da nossa vida. Sobretudo nos fizeram parar e pensar nos problemas da comunidade onde estamos inseridos ou do mundo.

Não há muita gente que tenha tido esse sentido impressivo sobre mim e sobre que tenha uma perdurável admiração intelectual. Aqueles que pulularam o meu imaginário de adolescente, na descoberta da política e no acordar para as injustiças da ditadura, foram pouco a pouco perdendo o élan, à medida que o conhecimento da sua dimensão grotesca, brutal, acentuou a contradição entre o que apregoavam e o que eram. Fidel de Castro, Guevara, Lenine e Mao, entre vários, fazem parte dessa categoria de ídolos de pés barro que não resistiram ao teste do desvendar das suas inumanidades.

Talvez Bertrand Russell, que me lembro de ler muito jovem, me tenha iniciado na importância da filosofia como reflexão sobre o ser e o devir, a necessidade da formulação dos “porquês” para indagarmos a verdadeira natureza das coisas, dos factos e da ordem no mundo. Desde logo o seu livro “Porque não sou cristão” que alicerçou em mim uma profunda descrença no dogma cristão, na infalibilidade da Igreja, na santidade dos milagres e dos santos, na virtuosidade dos padres, na obediência castradora à autoridade alardeada sob o mote “Deus-Pátria-Família”.

Depois “Os Caminhos para a Liberdade” onde Russell fala de um mundo em que o espírito criador está vivo, em que a vida possa

ser uma aventura plena de alegria e esperan-ça, baseada mais no impulso de construir do que no desejo de reter o que possuímos ou tomar o que pertence aos outros. Um mun-do em que o afecto se multiplique, o amor esteja isento do instinto de domínio, e que a crueldade e a inveja tenham sido dissipadas pela felicidade e pelo livre desenvolvimento de todos os instintos que edificam a vida e a enchem de venturas.

Esta combinação entre cepticismo por um lado e a crença na capacidade humana de remover montanhas, por outro, marcou a minha formação como adulto e os combates em que estive, tanto em ditadura como já em democracia. Seria difícil ser-se neutro quando tanta a coisa à minha volta bloqueava e exigia esse testemunho pessoal, apesar da

incomodidade. O deslocamento ideológico para o campo conservador tornou-se assim natural e lógico, perdida a atracção das ide-ologias dos amanhãs cantantes e da própria mensagem da esquerda, em geral.

Reencontrei, alguns anos mais tarde, esta mesma preocupação simbiótica em Norberto Bobbio, um autor italiano desa-parecido no fim da década de 1990 e que procurou na sua obra filosófica e ensaística combinar a exigência da liberdade (para a dignidade humana) e a procura da igualdade possível, ambas assentes não numa ilusória padronização das capacidades individuais mas numa justiça palpável, vivenciada na comunidade dos homens. Como antes em Russell, também em Bobbio, a igualdade não pode ser levada a um ponto de cercear

a inovação e o engenho ou de sacrificar a própria liberdade. Nesse ponto ela (a igual-dade) torna-se tirania.

Decorre daqui a minha profunda incre-dulidade sobre a capacidade dos governos definirem metas para a nossa felicidade, de proverem as nossas necessidades como se fossemos crianças sem razão ou vontade pró-pria. Resulta também daqui a convicção que só pelo trabalho, dedicação e perseverança conseguiremos realizar os nossos objectivos individuais e colectivos. Se nos pusermos à espera das migalhas do Estado ficaremos dependentes dos que tomam as suas réde-as, canalizando os recursos públicos para planos e projectos que mais têm a ver com os interesses das corporações e grupos de interesse e pouco com o interesse comum.

IINão há muitos políticos na história agitada do século XX que tenham transferido para a acção política estas ideias, que gosto de-signar como a generosa “Tradição da Liber-dade”. A tradição que está em Russell mas também em Churchill, Roosevelt, Popper ou Berlin para lembrar alguns dos valores mais serenos da nossa civilização. Lembro aqui, hoje, Margaret Thatcher que faleceu esta semana e cujo contributo como mulher, líder conservadora e primeira-ministra britânica marca algumas das páginas mais ilustres da história do seu país e da Europa. Uma mulher de profundas convicções, de vontade indomável, de assinalável sentido de serviço público, de grande patriotismo. Diversamente de outros, Margaret Thatcher mostrou que o socialismo não é o caminho para a felicidade colectiva. É um pretexto para limitar a livre iniciativa, a imaginação criadora dos cidadãos, o cilindro nivelador das capacidades individuais que leva à di-tadura e à pobreza. Não há liberdade se não houver liberdade económica, disse inúmeras vezes. Como é fraudulento o consenso pelo consenso. Ele é, muitas vezes, lembrou Thatcher, “o processo de abandonar todas as convicções, princípios, valores e políti-cas. Algo em que ninguém acredita e a que ninguém se opõe”. Sobre isso preferiu a determinação das convicções sentidas.

Deixa um legado importante ao pen-samento conservador, A sua oposição ao poder desregrado das centrais sindicais, em Inglaterra, levou a conflitos duros com estas mas projectou um novo ciclo de pro-gresso e desenvolvimento económico como David Cameron disse ontem na Câmara dos Comuns, num belíssimo discurso de homenagem.

Foi uma mulher para além do seu tempo, visionária, inquebrantável, que contribuiu para a criação de uma nova lógica de inte-gração da Europa, que privilegiou a aliança anglo-americana como o esteio essencial da política externa britânica, que não vacilou no combate ao terrorismo no seu país.

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19opiniãosexta-feira 12.4.2013 www.hojemacau.com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Gonçalo Lobo Pinheiro Redacção Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; Joana Freitas; José C. Mendes; Rita Marques Ramos Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Fernando Eloy; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Arnaldo Gonçalves; Boi Luxo; Carlos M. Cordeiro; Correia Marques; David Chan; Gonçalo Alvim; Helder Fernando; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; José Pereira Coutinho, Leocardo; Maria Alberta Meireles; Mica Costa-grande; Paul Chan Wai Chi; Vanessa Amaro Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia António Falcão, Gonçalo Lobo Pinheiro; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

contramãoIsabel [email protected]

omo se já não bastasse a chuva e o frio. Abril chegou águas mil numa estranha Primavera em Portugal que nem sequer antecipa Verão quente de ideias. Chove e faz frio e não há sol que anime quem anda

na rua cabisbaixo, não há sol que convide a uma esplanada e a uma cerveja fria para afogar impostos, ministros, Governo e outras mágoas do género, tipo Presidentes da República do estilo madame Tussauds.

Como se já não bastasse a chuva e o frio e o calor que não quer chegar. o país em desatino sem saber o que vai acontecer amanhã ou até mesmo hoje à tarde. Não há sol que leve até ao mar, que mostre as ondas, a malta presa a uma onda qualquer que aos pés da malta veio morrer, outras ondas a passar e não há mar que abafe as televisões aos gritos, os políticos que já não são políticos nos 320 canais de informação, as análises com receitas para todos os males, menos para a chuva, o ‘isto assim não pode ser’ em loop, como se ‘o isto assim não pode ser’ resolvesse alguma coisa.

Numa semana de rádio ligada em chuvo-sas viagens, ouve-se de tudo, de quase tudo. Uma moção de censura ao estilo ‘o senhor desculpe lá, mas o senhor não serve para primeiro-ministro, queira fazer o obséquio de se demitir, com as minhas mais sentidas desculpas, eu sei que isto é uma grande maçada, olhe que também não me apetece nada disto’.

E logo no dia seguinte a demissão não do primeiro-ministro, mas do outro rapaz que perdeu a força anímica e não quis fazer um balanço do seu consulado, mas saiu com a convicção de que fica para a história, talvez porque nem por um canudo conseguirá ver a força anímica que aos outros também falta, mas que não basta para porem cargos e empregos à disposição.

E logo a seguir, no dia a seguir, o Tribunal Constitucional, que passou a ser coisa tão comum que até já só se chama Constitucional, perdeu o Tribunal atrás, o Constitucional para aqui o Constitucional para aqui, estranho povo este que tem todo um novo léxico para reinventar a língua em tempos de crise, como se a língua custasse menos a dobrar do que a espinha.

Portugal é um país estranho onde se lamenta o Governo e se foge da oposição, mais coisa, menos coisa e é tudo a mesma coisa, é um país de meninos ao volante com o pé no acelerador sem olharem para as passadeiras, e de velhos em lares e nas ruas em dias de chuva que só querem a reforma no final do mês, que já deram para isto e não acreditam em nada

Uma onda qualquerÀ porta de um restaurante cheio, à chuva

e ao frio, à espera de mesa para rever em alta a força anímica, lêem-se as notas em rodapé que passam nos televisores e é quase um comício, novos e velhos acham bem e acham mal, discute-se o Constitucional como quem discute a bola, e quem espreita de fora tem saudades das discussões sobre a bola.

Depois os minis-tros juntam-se e nem o fim-de-semana é santo, os políticos que já não são políti-cos desdobram-se em análises e previsões, as televisões não pa-ram entre reacções e directos, entre direc-tos e reacções, há cen-tenas de receitas para a crise que consistem sobretudo na fórmula ‘nós assim não vamos lá’, o ‘isto assim não pode ser’ em loop, sempre em loop.

E depois vem o primeiro-ministro que não se demitiu explicar que a culpa agora é do Constitucional que não deixa o Governo cortar onde quer, o Constitucional não sabe fazer contas à vida e muito menos à crise, por causa do Constitucional o remédio vai ser ainda pior, os senhores preparem-se e tenham medo, muito medo. o Constitucional é um papão que se respeita com uma mão e a quem se bate com a outra, os juízes são estes seres que lêem as leis como lhes dá mais jeito, as leis são esta coisa chata porque estão sempre lá, não se abre uma excepçãozinha de vez em quando, e os que perderam a força anímica e que nunca foram ministros nem tiveram canudos provisórios dirão o mesmo, mas a vida é feita destas estranhas formas de organizar o mundo, onde as empresas vão à falência e paciência, mas outras empresas chamadas bancos vão à falência e não há cá paciência para ninguém, há o bolso dos contribuintes, os mesmos que falam do Constitucional como quem fala da bola.

Portugal é um estranho país onde se fala de política nos lares de velhos com idade

para serem avós do primeiro-ministro que lhes diz para eles não serem piegas e maus gastadores. Portugal é um país estranho onde se lamenta o Governo e se foge da oposição, mais coisa, menos coisa e é tudo a mesma coisa, é um país de meninos ao volante com o pé no acelerador sem olharem para as pas-

sadeiras, e de velhos em lares e nas ruas em dias de chuva que só querem a reforma no final do mês, que já deram para isto e não acreditam em nada. os novos fogem das aldeias e das vilas e das cidades e há o mundo para desco-brir, mas o mundo também está difícil e a chuva não con-vida a ir ver o mar, a descobrir que a onda que veio morrer aos pés desta gente não é a única onda, que

há mais ondas e que é preciso começar de novo, não dobrar a língua nem a espinha, começar no bairro para acabar no mundo. Com força anímica ou sem ela, Portugal é um país distante.

C

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sexta-feira 12.4.2013www.hojemacau.com.mo

car toonpor Steff

China e Coreia do Norte, dois vizinhos que se afastam

Cada vez mais distantes

Sismo de magnitude 5,8 abalou nortedas FilipinasUm sismo de magnitude 5,8 atingiu ontem as ilhas filipinas de Batan, norte do arquipélago, anunciaram os serviços de sismologia sem lançarem alertas de tsunami. O sismo abalou as ilhas às 04:20 locais (21:20 em Lisboa) e teve o epicentro a uma profundidade de 4,2 quilómetros e a 29 quilómetros a este de Itbayat, indica o observatório norte-americano que controla a actividade sísmica em todo o mundo e que mediu uma magnitude de 6,1. Já as autoridades filipinas acrescentaram terem sido registadas duas réplicas, mas não reportaram danos materiais nem feridos. As Filipinas estão localizadas no Anel de Fogo do Pacífico, onde as placas colidem e provocam frequente actividade sísmica e vulcânica.

Japão 2,92 milhõesde carros à revisãoMais de 2,92 milhões de veículos produzidos pelos maiores construtores japoneses de automóveis vão ser chamados às oficinais das marcas para resolver um problema no ‘airbag’ do passageiro da frente, revelou ontem fonte oficial japonesa. “Quatro produtores submeteram relatórios ao Governo salientando que irão chamar os proprietários de 731.000 carros face a problemas no ‘airbag’”, explicou o Ministério japonês dos transportes. O mesmo Ministério acrescenta que se forem incluídas as exportações, então o número de automóveis a reparar será de 2,92 milhões de veículos. Os quatro fabricantes são a Toyota, Nissan, Honda e Mazda. Um porta-voz da Toyota disse, entretanto, que apenas aquela marca vai chamar 1,73 milhões de proprietários de carros da sua marca para revisão, enquanto que a Honda classifica o problema como mundial e garante ir rever 1,13 milhões de carros.

Korean Air assume 44% do capitalda Czech AirlinesA transportadora aérea Korean Air anunciou ontem ter concluído um acordo de aquisição de 44% das acções da Czech Airlines numa tentativa de expandir as lucrativas rotas de longo curso para a Europa. Com o acordo fechado, a Korean Air torna-se no segundo maior accionista na companhia checa dirigida pelo Estado depois da Czech Aeroholding, que possui 51,7% do capital. A Korean Air é a maior companhia de aviação da Coreia do Sul, opera 155 aviões e voa para 45 países e pagou 26,4 milhões de patacas pelas acções. A empresa sul-coreana foi a única concorrente à aquisição das acções da companhia checa que opera 26 aviões e registou um prejuízo de 122 milhões de patacas em 2011.

Ataque à bombano sul da TailândiaDois soldados morreram e outros sete ficaram feridos no rebentamento de uma bomba contra um camião militar na região muçulmana do sul da Tailândia, revelaram meios de comunicação locais. O atentado teve lugar durante a madrugada de ontem na região de Panaree, na província de Pattani, quando um explosivo escondido junto à estrada foi detonado à passagem do camião militar em que seguiam nove soldados, revelou o jornal The Nation. Os soldados deslocavam-se a uma zona da mesma região para inspeccionarem o local após um primeiro rebentamento de um engenho explosivo. Durante a noite outros 33 ataques à bomba e sabotagens na província de Pattania causaram diversos danos materiais em escolas, postos de correios, carros e barcos. Os atentados com armas ligeiras, homicídios e atentados com explosivos em Pattani, Narathiwat e Yala repetem-se a um ritmo quase diário apesar dos cerca de 40.000 soldados que estão ali deslocados desde 2004 e já cobraram a vida a mais de 5.300 pessoas. Outras 9.000 pessoas ficaram feridas nas três províncias do sul desde que o movimento de libertação islâmico retomou o conflito armado em 2004. Os rebeldes denunciam a discriminação que sofrem por parte da maioria budista tailandesa e exigem a criação de um Estado islâmico que integre as três províncias que configuravam o antigo sultanato de Pattani, anexado pela Tailândia há um século.

Banco da Coreiacorta previsãode crescimentoO banco central da Coreia do Sul cortou ontem duas décimas no prognóstico de crescimento do Produto Interno Bruto do país para este ano fixando-o em 2,6% devido à tendência de desaceleração da economia mundial. A nova estimativa do Banco da Coreia supera, no entanto, os dados do Governo revelados no final de Março, quando baixou sete décimas até 2,3% a previsão de crescimento para 2013 e prometia novas medidas de estímulo, entre elas a criação de um orçamento suplementar. A economia da Coreia do Sul depende em cerca de 50% das exportações, o que a tendência mundial de desaceleração provoca um efeito negativo no crescimento do PIB da quarta económica da Ásia ao afectar a procura de produtos sul-coreanos no exterior. Por outro lado, face ao alívio da pressão inflacionária nos últimos meses o Banco da Coreia reduziu o prognóstico de crescimento dos preços no consumidor para este ano até 2,3% comparativamente a uma previsão anterior que apontava para uma subida de 2,5%.

a eSCala

a última edição do prin-cipal telejornal da Tele-visão Central da China, transmitido em simul-

tâneo pela rádio e as dezenas de estações provinciais, tinha apenas uma notícia internacional e não era sobre a vizinha Coreia do Norte.

Para os editores do “Xinwen lianbo”, noticiário de meia hora emitido após o jantar e cujo alinhamento é previamente gravado, o sismo no Irão foi mais relevante do que a persistente guerra verbal das autoridades norte-coreanas.

A imprensa oficial chinesa continua a criticar as “provoca-ções” de Pyongyang, mas parece desvalorizar as suas ameaças bélicas e ontem, primeiro ani-versário da ascensão ao poder de Kim Jong-un, voltou a advertir que “a comunidade internacio-nal nunca permitirá que a Coreia do Norte adquira o estatuto de potência nuclear”. “O regime norte-coreano seguiu uma via extrema (…) Pyongyang deve compreender claramente que não tem capacidade para do-minar a situação na península coreana”, diz o Global Times, diário de língua inglesa do grupo Diário do Povo, o órgão oficial do Partido Comunista Chinês.

Num editorial intitulado “Teimosia sobre armas nuclea-res não é uma saída para a Coreia do Norte”, o mesmo jornal con-sidera a política de Pyongyang “insustentável” e lembra que o seu polémico programa nuclear também “diz respeito aos inte-resses nacionais da China”. “a

favorável opinião do povo chinês sobre Pyongyang está a desva-necer”, afirmou o Global Times num outro editorial, publicado na quarta-feira.

Os dois países partilham uma fronteira com cerca de 1.400 quilómetros de extensão, lutaram lado a lado na Guerra da Coreia (1950-53) e, oficialmente, são ambos socialistas. Mas depois de três décadas de “Reforma eco-nómica e abertura ao exterior”, a capital chinesa parece viver a anos-luz de Pyongyang.

O aeroporto de Pequim, que acolheu 81,8 milhões de passa-geiros em 2012, já é o segundo mais movimentado do mundo, à frente de londres. em 2009, era o quarto e dez anos antes não figurava sequer entre os trinta primeiros.

Para muitos chineses, o iso-lamento da Coreia do Norte e o culto da personalidade em torno da família Kim evoca o período mais sombrio da Revolução Cultural (1966-76), quando a China era também um país pobre e isolado do resto do mundo.

a Coreia do Norte é governa-da por uma dinastia: Kim Jong--un, que ascendeu ao poder em abril de 2012, sucedeu ao pai, Kim Jong-il (1942-2011), que, por sua vez, herdou a posição do pai, o “eterno presidente” Kim il-Sung, falecido em 1994.

Na China, os cargos políticos deixaram de ser vitalícios e des-de há duas décadas, os titulares dos principais órgãos do estado e do PCC reformam-se ao fim de dois mandatos de cinco anos.

as relações sino-norte--coreanas eram outrora descritas como “unha com carne”.

Pelas marcas dos 70.000 táxis de Pequim (Hyundai) e dos mais populares ‘smartphones’ (Samsung), a Coreia do Sul, que há vinte anos não figurava sequer nos mapas chineses como um estado soberano, parece muito mais próxima.

Num inquérito online sobre se a China deve abandonar a Coreia do Norte, promovido por um jornal de Hong Kong, a percentagem dos adeptos do SIM ia hoje nos 84%. - Lusa