historia da musica

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1 Pós-Romantismo No panorama musical destacam-se dois grandes eixos: Alemanha/Áustria – Pós-Romantismo Paris Situação Política – supremacia da Alemanha Prussiana na Europa Central: 1866 – derrota da Áustria em guerra com a Prússia e Itália (perda de Veneza) 1870 – unificação da Alemanha, guerra franco prussiana e consequente derrota de Sedan Evolução para conceitos de germanismo – Wagner, Nietzche – alargamento territorial, unidade cultural e rácica Aumento da importância do império germânico em termos mundiais Início da decadência do Império Austro-húngaro – reivindicações sociais e autonomias culturais, linguísticas, nacionais (húngaros, eslovacos, eslovenos, italianos, sérvios, croatas, …) Situação Política – desenvolvimentos e acontecimentos em França do século XIX: 1871- Comuna de Paris [A Comuna de Paris foi considerada a primeira experiência histórica de governo popular. Por 71 dias, entre março e maio de 1871, os communards, governaram a capital francesa de uma forma totalmente distinta dos demais governos existentes à época, sendo a Comuna de Paris considerada como o embrião do que seria um governo operário. A criação da Comuna de Paris ocorreu no contexto da Guerra Franco-Prussiana, que vigorou entre 1870 e 1871, resultando na vitória da Prússia e na unificação dos estados germânicos, dando origem ao Reich (Império) Alemão. Em setembro de 1870, o exército francês sofreu importante derrota para os prussianos. A partir daí existiram uma série de manifestações populares, resultando inicialmente na queda do Imperador Napoleão III e na instauração da chamada III República (1870-1940).] Guerra Franco Prussiana Anti-germanismo preponderante Revoltas sociais Decadência da elite burguesa e grandes contrastes sociais

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Pos-romantismo, Nacionalismo, Portugal, França, Impressionismo, Six

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Page 1: Historia da Musica

1

Pós-Romantismo

No panorama musical destacam-se dois grandes eixos:

Alemanha/Áustria – Pós-Romantismo

Paris

Situação Política – supremacia da Alemanha Prussiana na Europa Central:

• 1866 – derrota da Áustria em guerra com a Prússia e Itália (perda de Veneza)

• 1870 – unificação da Alemanha, guerra franco prussiana e consequente

derrota de Sedan

• Evolução para conceitos de germanismo – Wagner, Nietzche – alargamento

territorial, unidade cultural e rácica

• Aumento da importância do império germânico em termos mundiais

• Início da decadência do Império Austro-húngaro – reivindicações sociais e

autonomias culturais, linguísticas, nacionais (húngaros, eslovacos, eslovenos,

italianos, sérvios, croatas, …)

Situação Política – desenvolvimentos e acontecimentos em França do século XIX:

• 1871- Comuna de Paris [A Comuna de Paris foi considerada a primeira

experiência histórica de governo popular. Por 71 dias, entre março e maio de

1871, os communards, governaram a capital francesa de uma forma

totalmente distinta dos demais governos existentes à época, sendo a Comuna

de Paris considerada como o embrião do que seria um governo operário. A

criação da Comuna de Paris ocorreu no contexto da Guerra Franco-Prussiana,

que vigorou entre 1870 e 1871, resultando na vitória da Prússia e na unificação

dos estados germânicos, dando origem ao Reich (Império) Alemão. Em

setembro de 1870, o exército francês sofreu importante derrota para os

prussianos. A partir daí existiram uma série de manifestações populares,

resultando inicialmente na queda do Imperador Napoleão III e na instauração

da chamada III República (1870-1940).]

• Guerra Franco Prussiana

• Anti-germanismo preponderante

• Revoltas sociais

• Decadência da elite burguesa e grandes contrastes sociais

Page 2: Historia da Musica

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Pós Romantismo ou Ultrarromantismo alemão (c. 1870-1910):

• Após Wagner, destacam-se alguns compositores que são conotados com a sua

herança: Humperdinck, Bruckner, Wolf, Mahler, R. Strauss, Reger.

• Paralelamente, assistimos:

• Despertar das correntes nacionalistas e importantes escolas de

composição

• Desenvolvimento da acústica e dos instrumentos

• Desenvolvimento da análise, História da Música, Educação Musical e

Ciências Musicais

• Formalismo de Hanslick em oposição a Liszt, Wagner, …

Características do Pós Romantismo:

• Liberdade criadora (o conteúdo é mais importante que a forma)

• Exploração das ideias de sofrimento, pessimismo, negativismo, solidão

• Fuga da realidade para o mundo dos sonhos, da fantasia e da imaginação

• Idealização do amor e da mulher

Compositores:

• E. Humperdinck (1854-1921):

• Ópera Hansel und Graetel

• A convite de Wagner colabora na preparação de Parsifal em Bayreuth

• Hugo Wolf (1860-1903) - lieder

• G. Mahler (1860-1911)

• 9 sinfonias + esboço da 10º; lieder

• Constrói as fundações do modernismo na música

• Um dos maiores directores de orquestra de todos os tempos (Kassel, Praga,

Leipzig, Budapeste, Hamburgo, Viena, Nova Iorque)

• Características das composições de Mahler:

• Influência de Beethoven, Bruckner e Wagner

• Dissolução da estrutura da sinfonia clássica e romântica

Page 3: Historia da Musica

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• Rutura com as formas (7ª sinfonia: 5 andamentos; 3ª sinfonia:

6 andamentos)

• Contribui para a desagregação do sistema tonal

• Recorre a instrumentos pouco usados na orquestra (7ª

sinfonia: guitarra e bandolim)

• Explora as potencialidades tímbricas de uma grande

orquestra: Sinfonia dos Mil

• Pluralismo de linguagens estilísticas sobrepostas

• Dualismo entre sofisticação e simplicidade

• Sinfonia nº 2 – Sinfonia da Ressurreição

• Sinfonia nº 7

• Sinfonia nº 8 – Sinfonia dos Mil

• Richard Strauss (1864-1949)

• Compositor e maestro

• Aluno de von Bulow

• Mestre de Karajan

• Torna-se adepto da nova escola alemã, de influencia wagneriana

• Paleta timbrica instrumental muito rica

• Entre 1905-1915 – período das óperas mais importantes, Salomé e Elektra

• Vocabulário musical harmonicamente complexo e considerado

dissonante (influenciou o expressionismo e a dissolução da tonalidade)

• Sonoridades instrumentais para caraterizar pessoas e ações

• Antecipa técnicas do século XX (politonalidade)

• Últimas óperas – O Cavaleiro da rosa e Ariadne:

• Tendências neoclássicas

• 8 poemas sinfónicos

• 15 lieder orquestrais

• Max Reger (1873-1916)

• Fez a transição entre a tonalidade e a atonalidade

Page 4: Historia da Musica

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• Diretor musical da Universidade de Leipzig

• Professor de composição do conservatório de Leipzig

• Digressões pela europa como organista

• Compôs exclusivamente segundo formas intituladas absolutas

• Caraterísticas de composição de Reger:

• Técnicas contrapontísticas com texturas densas

• Cromatismos, modulações rápidas, peças longas

• Formas barrocas como a fuga, tema e variações numa

linguagem pós-romântica

• Exploração do coral alemão e canção popular

• Obras: Requiem; 280 lieder; poemas sinfónicos; peças para

piano e órgão; concerto para violino obras corais; …

• Feruccio Busoni (1866-1924)

• Estudou composição em Leipzig

• Transcreveu para piano as obras para órgão de Bach

• Pedagogo notável

• Professor do conservatório de Helsínquia, Moscovo, Viena e da Academia de

Belas-Artes de Berlim

• Modernista e inconformado

• Explora as estruturas clássicas e barrocas

• Linguagem de vanguarda com a exploração do cromatismo e dissonância

• Esboço de uma nova estética da Música, 1907 – música electrónica, música

microtonal, mas afirma que a música se deve basear no passado para

pretender trazer algo de novo

• Obras tardias – tonalidade indeterminada

• 5 óperas – Dr. Fausto, 1916

• Alexander Scriabin (1872-1915)

• Influências de Liszt, Wagner, Mussorgsky e da corrente impressionista

• Linguagem harmónica complexa e quase atonal

Page 5: Historia da Musica

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• Acordes construídos sobre intervalos pouco usuais, como as quartas com

alterações cromáticas

• Obras: Prometeu: poema de fogo (poema sinfónico)

• Outros compositores: Max Bruch; Glazounov, …

Nacionalismo Musical

Movimento musical que começou durante o século XIX e que foi marcado pela ênfase dada a

elementos nacionais da música, como canções tradicionais, danças tradicionais, ritmos

tradicionais ou assuntos para óperas e poemas sinfónicos que refletiam a vida e história

nacionais.

Oposição ao internacionalismo e cosmopolitismo do século XVIII.

Os nacionalismos musicais irão surgir e afirmar-se depois de 1850 contra a posição dominante

da Alemanha, Itália e França.

Nacionalismo Musical – Rússia

Importante movimento de renovação das artes – Literatura: Tolstoi, Dostoievsky, Tchekov.

Até ao século XIX a música esteve nas mãos de Italianos, franceses e alemães. No entanto,

encontramos no século XIX tentativas de produzir música nacional:

• Mikhail Glinka (1804-1857)

• 1º compositor russo a conquistar sucesso internacional

• “Pai da escola russa”

• Uma vida pelo Czar (ópera) – inclusão de melodias populares,

totalmente cantadas

• Alexander Dargomizhsky (1813-1869)

• Trabalho na declamação melódica – modelo na música

popular

• O convidado de pedra, 1872

Fundação da Sociedade Musical Russa (Anton Rubinstein – formação germânica e que mais

tarde fundará o conservatório de Sampetersburgo-1861).

Page 6: Historia da Musica

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Grupo dos cinco:

• Balakirev

• Cui

• Borodine

• Mussorgsky

• Korsakov

Nenhum destes músicos, com exceção de Balakirev, recebeu formação musical sistemática.

Todos eram músicos amadores que exerciam outras profissões. Eram admiradores da música

ocidental mas rejeitavam a orientação germânica do Conservatório. O facto de serem músicos

autodidatas estimulou-os na procura de materiais que estariam ao seu alcance, como o

folclore.

Mily Balakirev (1837-1910):

• Fundador do grupo dos 5

• Teve sempre um papel de destaque no grupo corrigindo diversas vezes as

composições dos outros

• 1862 – participa no estabelecimento da Nova Escola de Música

(posteriormente rival do conservatório)

• Recorre constantemente a melodias populares

• No entanto a sua música ainda está muito próxima das tradições francesa e

alemã

• Poema Sinfónico: Rússia - 1887

Cesar Cui (1835-1919):

• Apenas em determinados momentos revela elementos etnicos da música

folclorica russa nas suas composições

• É influenciado sobretudo pela música francesa

• Ópera: O Prisioneiro do Caucasus - 1858

Alexander Borodine (1833-1887):

• Carater cosmopolita das obras, capazes de competir com as ocidentais

• No entanto já tem um pender nitidamente nacionalista:

• Inflexões modais

Page 7: Historia da Musica

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• Desenvolvimento de um andamento inteiro a partir de uma única ideia

temática

• Relações tonais invulgares

• Estilo lírico e descritivo

• Poema Sinfónico: Nas estepes da Ásia Central – 1882

• Ópera: O Príncipe Igor

Modest Mussorgsky (1939-1881):

• Um dos principais elementos do grupo

• Grande instabilidade financeira e emocional

• Muitas obras ficaram incompletas

• Muitas delas foram revistas e terminadas por Korsakov

• Expressa-se contra a música pura e a favor das novas revoluções artísticas

• Estilo:

• Harmonias abruptas e ásperas

• Ritmo irregular, tessitura estreita e carater repetitivo das melodias

russas tendencialmente folcloricas

• Aproximação ao realismo literário

• Desprezo da beleza formal

• A sua obra alimenta-se do folclore russo

• Instrumentação não convencional

• Poema Sinfónico: Uma noite no monte calvo – 1867; Quadros de uma

exposição – 1874

• Ópera: Boris Gudonov – 1869-73

Nicolai Rimsky-Korsakov (1844-1908):

• O único que sentiu necessidade de aprofundar a sua formação musical

• Tornou-se diretor e professor de composição no Conservatório de S.

Petersburgo (prof. De Glazounov e Stravinsky) e maestro

• Cita melodias folclóricas nas suas obras, mas também faz arranjos de canções

populares

Page 8: Historia da Musica

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• Escreve, em 1908 um tratado de orquestração

• Orquestração com vivacidade e otimismo

• É um importante elo de ligação entre o nacionalismo de finais do século e os

compositores do princípio do século XX

• Óperas: Sadko – 1897; Galo de Ouro – 1909; Suite Sinfónica: Scheherazade –

1888; Abertura Pascoa Russa - 1888

Nacionalismo Musical – Checoslováquia

Smetana (1824-1884)

Obra caraterizada como nacionalista, não tanto pela linguagem musical, influenciada pelos

compositores clássicos, como Mozart e Schubert, mas sobretudo pelas temáticas. Muitas vezes

recorre a temas patrióticos com os quais as pessoas se identificavam. Destaca-se a ópera A

noiva vendida, mas também se encontram referencias patrióticas em outras obras, como por

exemplo, nos poemas sinfónicos A Minha Pátria.

Antonin Dvorak (1841-1904)

Danças Eslavas; Canção Heroica; Duetos Morávios

Leos Janácek (1854-1928)

Muito influenciado pelos compositores anteriores. Não cita, mas recria o folclore.

Ópera Jenufa; Missa Glagolítica

Nacionalismo Musical – Noruega

Eduard Grieg (1843-1907)

Teve a sua educação na Alemanha mas volta ao seu país e decide-se por uma música baseada

em elementos do folclore, expressos nitidamente nas suas Danças Norueguesas e na obra para

piano Peças Líricas. Na prática utilizou elementos populares como: os bordões, danças e

canções, modalismo.

Nacionalismo Musical – Finlândia

Jean Sibelius (1865-1957)

Apesar de se desenvolver num sentido clássico, a sua obra foi muito marcada pela modalidade,

dividindo-se em dois períodos distintos: até 1910 acentuadamente nacionalista; após 1910

mais internacional. Finlândia (poema sinfónico).

Page 9: Historia da Musica

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Nacionalismo Musical – Inglaterra Desde Purcell que não se assistia a um compositor nacional com projeção internacional. Elgar

foi o primeiro após Purcell a ser reconhecido.

Sir Edward Elgar (1857-1934)

Desencadeou o renascimento da música inglesa no início do século XX. Foi autodidata como

compositor e lutou durante anos para combater a apatia e o preconceito. Composições:

Variações enigma; Marchas Pompa e Circunstância.

Nacionalismo Musical – Espanha O espírito nacionalista estendeu-se a outros países, particularmente a Espanha, onde Albeniz,

Granados e Tarrega absorveram nas suas composições os elementos caraterísticos das danças

e cantos espanhóis. Mas o estilo exuberante do folclore espanhol fascinou também

compositores de outras nacionalidades, como por exemplo, Bizet em Carmen ou Rimsky-

korsakov em Capricho Espanhol.

Compositores: Pedrell (1841-1922); Albeniz, Suite Ibéria; Granados, Goyescas; Tarrega,

Preludios para guitarra; Turina, Sinfonia Sevilhana, Fandanguillo.

Nacionalismo Musical – Portugal A música em Portugal tinha-se desenvolvido em relação de dependência com o estilo italiano.

Apesar da luta de João Domingos Bomtempo que, após uma carreira de interprete em Paris e

Londres, funda em Lisboa a Academia Filarmónica de Concertos, no intuito de fomentar a

música instrumental, a arte musical continua sob clara influência italiana. No entanto, no

último quartel do século XIX surgem compositores emblemáticos associados ao nacionalismo

musical.

Alfredo Keil (1850-1907)

Compositor e pintor português de ascendência alemã, Alfredo Keil nasceu a 3 de julho de

1850, em Lisboa, e morreu a 4 de outubro de 1907, em Hamburgo. Durante a sua infância e

adolescência frequentou os melhores e mais bem conceituados colégios alemães e ingleses,

tornando-se um pintor e músico exímio.

Compôs óperas, de entre as quais se destaca A Serrana, a sua verdadeira obra-prima.

Em 1890 criou A Portuguesa, que a República implantada em 1910 adotou como hino nacional

e que é ainda hoje um dos símbolos nacionais.

Foi também autor de muitas outras composições, bem reveladoras do seu talento e inspiração.

Na pintura, Alfredo Keil foi um artista de características românticas, mostrando predileção por

paisagens melancólicas e recantos solitários. Foi galardoado com vários prémios, de entre os

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quais o mais importante foi a medalha de ouro recebida em 1879 na Exposição Artística do Rio

de Janeiro.

Augusto Machado (1845-1924)

Nasceu em Lisboa em 1845. Estudou em Lisboa e em Paris, onde conviveu com Massenet e

Saint-Saëns. Em Portugal conviveu com Eça de Queiroz e Batalha Reis. Tendo sido pianista, foi

sobretudo como compositor que se notabilizou. Foi diretor do Conservatório entre 1901 e

1910.

Continuou o caminho de Keil e Casimiro na busca de um teatro lírico nacional. Escreveu várias

óperas, teatro musical, canções e obras para piano.

Viana da Mota (1868-1948)

José Vianna da Motta nasceu a 22 de Abril de 1868 na ilha de S. Tomé. Um ano depois, por

motivos de saúde do pai, a família decide regressar a Portugal, instalando-se primeiro em

Colares e mais tarde em Lisboa.

Aos 7 anos Vianna da Motta ingressa no Conservatório Nacional, onde inicia os estudos de

piano com Joaquim de Azevedo Madeira e de harmonia com Freitas Gazul, e aos 12 anos, mais

precisamente a 20 de Março de 1881, apresenta-se pela primeira vez em público no salão da

Trindade, interpretando várias obras a solo e dirigindo a orquestra presente no concerto, na

execução de uma marcha militar de sua autoria, orquestrada pelo seu professor Freitas Gazul.

Em Novembro de 1882 Vianna da Motta parte para a Alemanha com uma bolsa de estudo

concedida pelo Rei D. Fernando II. Em Berlim estuda com Xaver Scharwenka e Karl Schäffer,

em Frankfurt com Hans von Bülow e em Weimar, no verão de 1885, com Liszt.

Na década de 80 do século XIX, Vianna da Motta inicia uma intensa e fulgurante carreira de

concertista, atuando nas mais prestigiadas salas de concerto da Europa e da América. No

capítulo da música de câmara trabalha com vários artistas célebres, entre os quais se contam

nomes como o do violista espanhol Pablo Sarasate, da soprano polaca Marcella Sembrich, ou

do pianista e compositor Ferruccio Busoni (que lhe dedicou as suas transcrições dos prelúdios

sobre corais de Bach).

Durante o período em que permaneceu na Alemanha, cerca de 32 anos, José Vianna da Motta

para além de concertista, foi igualmente um requisitado conferencista, e colaborador regular

de algumas das mais importantes publicações musicais alemãs, bem como da Revista Artística

de S. Paulo e da Arte Musical de Lisboa.

Paralelamente manteve ainda uma grande atividade como professor, lecionando em Berlim no

Conservatório Stern e na Suíça, no Conservatório de Genebra.

Em 1917, ano em que funda a Sociedade de Concertos de Lisboa, Vianna da Motta regressa

em definitivo a Portugal. Um ano depois é nomeado Diretor do Conservatório Nacional e

Maestro Titular da Orquestra Sinfónica de Lisboa.

Page 11: Historia da Musica

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Em 1927, para assinalar o centenário da morte de Beethoveen, Vianna da Motta interpreta, no

Salão do Conservatório Nacional, pela primeira vez em Portugal, a integral das 32 sonatas para

piano do grande mestre alemão.

E dois anos mais tarde, promove a primeira execução integral das sonatas para violino e piano

e para violoncelo e piano, bem como dos trios para violino, violoncelo e piano, de Beethoven.

Colaboram neste grande evento dois dos maiores músicos portugueses de então: o violinista

Paulo Manso e o violoncelista Fernando Costa.

A 19 de Janeiro de 1945, apresenta-se pela última vez com orquestra, no Teatro Nacional de S.

Carlos, interpretando a Dança Macabra de Liszt, e a 19 de Dezembro desse mesmo ano, atua

pela derradeira vez em público, interpretando a sonata op. 10 nº 3 de Beethoven, na

Academia dos Amadores de Música de Lisboa.

José Vianna da Motta, faleceu em Lisboa às primeiras horas da madrugada do dia 1 de Junho

de 1948.

Uma das paixões que sempre o acompanhou durante toda a vida foi sem sombra de dúvida a

composição. Prova disso, são as inúmeras obras para piano solo, ou para canto e piano, bem

como as várias partituras de música de câmara e de música orquestral que escreveu, muitas

delas influenciadas pela música popular portuguesa.

Considerado o iniciador de uma escola de carácter nacional no capítulo da música instrumental

e orquestral, Vianna da Motta inspirado na nossa música, deu a muitas das suas composições

um verdadeiro colorido nacional, exemplo disso são, entre outras, obras como as “Cenas

portuguesas”, as “Rapsódias portuguesas” ou a “Balada” para piano, o Quarteto de cordas em

Sol M, ou a Sinfonia “À Pátria” op.13, a sua obra-prima.

Luís de Freitas Branco (1890-1955)

Luís Maria da Costa de Freitas Branco nasceu em Lisboa a 12 de Outubro de 1890, no seio de

uma família da alta aristocracia portuguesa que desde sempre valorizou a sua formação

intelectual e cultural, tanto no domínio da música como no da literatura e das línguas

estrangeiras; neste aspeto, a influência do seu tio João de Freitas Branco, dramaturgo, é de

importância capital.

Freitas Branco aprendeu as bases do solfejo com uma preceptora irlandesa que se encontrava

ao serviço da família. A sua formação musical prosseguiu com mestres como Augusto Machado

(Harmonia), Tomás Borba (Contraponto), Andrès Goñi (Violino), Timóteo da Silveira (Piano) e

Luigi Mancinelli (Instrumentação).

Em 1908-1909, a frutífera relação mestre-aluno que existiu entre ele e o compositor belga

Désiré Pâque constituiu uma das mais marcantes influências musicais na sua formação.

Defensor fervente de uma certa "liberdade composicional" que o levou a ousadas experiências

no domínio da atonalidade, Pâque residia então em Lisboa, e Freitas Branco tê-lo-á conhecido

por intermédio de seu tio João.

Page 12: Historia da Musica

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É com este último que, no início de Fevereiro de 1910, Freitas Branco parte para Berlim. Aí é

apresentado a Humperdinck, de quem receberá lições de composição durante cerca de dois

meses, mas virá a deixá-lo por julgar os seus ensinamentos demasiado conservadores; volta

então a estudar com Désiré Pâque, que reside na capital alemã.

Freitas Branco compõe intensamente e frequenta teatros, concertos, ópera e exposições;

relaciona-se com várias personalidades, incluindo Viana da Mota e Francisco de Andrade, mas

não deixa por isso de se sentir profundamente nostálgico e ansioso pelo regresso a Lisboa, que

terá lugar durante o mês de Junho de 1910, já depois da morte do tio.

Em Maio de 1911, empreende nova viagem de estudos, desta vez a Paris, onde terá conhecido

Debussy e recebido lições de "estética e formas impressionistas" do pianista, compositor e

maestro francês Gabriel Grovlez. Este último escreve na revista "Musica" (Junho, 1913): "Les

Mirages de Luís de Freitas-Branco [sic] séduiront tous les artistes par leur modernisme

exacerbé."

Depois de uma estadia na Madeira, Freitas Branco regressa a Lisboa e começa uma longa

atividade de crítico musical. Já em 1915, assume funções de professor na Escola Académica e

liga-se ao grupo do Integralismo Lusitano, que representam Hipólito Raposo e António

Sardinha, entre outros. Em 1916 é nomeado professor no Conservatório de Lisboa e inicia um

período de intensa atividade docente; dois anos mais tarde integra a comissão de reforma

dessa mesma instituição, e em 1919 assume funções de subdiretor (até 1924), em colaboração

com Viana da Mota.

O seu interesse pela Musicologia é constante. Em 1921, participa no Congresso de História da

Arte em Paris, onde apresenta uma comunicação subordinada ao tema: "Os contrapontistas da

escola de Évora."

Em 1925, Freitas Branco torna-se diretor artístico do Teatro de S. Carlos, cargo que assumirá

até 1927. Em 1929, funda a revista "Arte Musical", que dirigirá durante 20 anos. A partir do

ano seguinte exerce altos cargos no domínio da Cultura e passa a lecionar composição no

Conservatório Nacional, funções de que será progressivamente afastado a partir de 1939, por

razões políticas (só a sua importante colaboração com a Emissora Nacional se manterá até

1951).

Publica numerosas obras literárias e musicais até ao final da sua vida, em 1955, orientando-se

cada vez mais para uma estética neo-clássica. A sua intensa colaboração com a Universidade

Popular dirigida por Bento de Jesus Caraça ilustra bem o seu percurso ideológico, cada vez

mais à esquerda e em oposição clara ao regime vigente.

Luís de Freitas Branco exerce uma influência notável sobre a nova geração de compositores,

nomeadamente Joly Braga Santos e Fernando Lopes-Graça.

Page 13: Historia da Musica

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Música Francesa na transição do século XIX para o século XX

Neste período começam a distinguir-se três caminhos ou linhas de evolução musical

interdependente:

Tradição Francesa Tradição Cosmopolita Impressionismo

Corrente mais próxima da tradição nacional. Assume reação contra os italianismos e germanismos. Carateriza-se por um certo formalismo académico e culto do melodismo, essencialmente clássico Compositores: Camile Saint-Saens (1835-1921) Edouard Lalo (1823-1892) Jules Massenet (1842-1912) Gustave Charpentier (1860-1956)

Claramente influenciados por Wagner com uma linguagem complexa e consciente das inovações alemãs. Recorrem aos géneros instrumentais tradicionais. Compositores: César Franck (1822-1890) Vincent d'Indy (1851-1931) Ernest Chausson (1855-1899) Paul Dukas (1865-1935) Gabriel Fauré (1845-1924)

Impressionismo

Termo usado nas artes visuais para descrever a obra de Monet, Degas, Renoir, ...

Os quadros evitam contrastes agudos mas exprimem uma impressão da cena pintada através

de linhas pouco definidas e de raros pormenores.

Movimento surgido em França no final do século XIX que criou uma nova visão conceptual da

natureza utilizando pinceladas soltas dando ênfase á luz e ao movimento.

Geralmente os quadros eram pintados ao ar livre para que o pintor pudesse capturar melhor

as nuances de luz e da natureza. Retratam os reflexos e efeitos que a luz do sol produz nas

cores da natureza (uma mesma paisagens pintada em várias alturas do dia).

O termo impressionismo foi aplicado á música para descrever composições de, por exemplo,

Debussy.

Aspetos técnicos do impressionismo:

• combinações de novos acordes (9ª, 11ª, 13ª)

• movimento paralelo em grupos de acordes

• acordes de tons inteiros

Page 14: Historia da Musica

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• escalas exoticas

• uso dos modos

• cromatismo extremo

Claude-Achille Debussy [1862-1918]

• O maior representante do Impressionismo Musical

• Uma ex-aluna de Chopin incentiva-o a prosseguir carreira musical

• Torna-se um modelo a seguir

• Ingressa no Conservatório de Paris em 1872

• É incompreendido pelos professores de harmonia e acompanhamento

• Em 1884 recebe o Grande Prémio de Roma em composição com a sua cantata L'enfant

prodigue

• Passa 3 anos a estudar na Villa Medici a expensas do Estado, com o compromisso de

compor anualmente uma partitura e de a enviar para Paris a fim de ser examinada

pelos professores do Conservatório

• Viaja para Bayreuth em 1888 e 1889 para assistir a Parsifal, Mestres Cantores e Tristão

e Isolda

• Após o impacto da música de Wagner, fica impressionado com a música oriental

(Exposição Universal de 1889 em paris)

• Embora se relacionasse pouco com músicos, apreciava a companhia de poetas e

pintores impressionistas que encontrava em reuniões do poeta Mallarmé

• A influência destes é sentida pela primeira vez na obra orquestral Preludio à sesta de

um Fauno (1894), inspirado num poema de Mallarmé

• Este trabalho estabeleceu o estilo da música impressionista e iniciou o periodo mais

produtivo do compositor

• Durante este tempo, cerca de 20 anos, compos três suites para orquestra Nocturnes,

La Mer, Images; a maioria das suas peças para piano; um bailado Jeaux; algumas

canções; música de câmara; e a sua única ópera completa Pelleas et Melisande

• O impacto da apresentação da sua ópera alterou a evolução da sua carreira

• Torna-se numa figura amada pelos vanguardistas que o defendiam como chefe de uma

nova escola e criticado pelos conservadores

Page 15: Historia da Musica

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• Em 1905 publica a suite para piano Bergamasque (Prelude, Menuet, Clair de Lune,

Passepied)

• Morreu durante um bombardeamento alemão em paris em 1918.

O estilo de Debussy:

• Uma das carateristicas mais importantes é o poder imagético da música de debussy -

imagens e cenas ocultas na música, nunca expressas diretamente

• A França idolatrava-o, apelidava-o de "Claude de France", que teria derrotado os

alemães tirando-lhes a hegemonia no reino da música

• Orientações preponderantes da sua música:

• exploração cromática do sistema tonal

• não resolução da sensível

• exploração de acordes paralelos

• uso de escalas do extremo oriente

• utilização de escalas de tons inteiros

• apreço pela música antiga: modos, tocatas, texturas, figurações

• influência de Wagner (na ópera, na ahrmonia, na forma)

• influência da música russa

• estruturas cíclicas

Debussy exerceu profunda influência em Ravel, Satie, e diversos compositores de movimentos

nacionais (Villa-Lobos, Bartok e Stravinsky).

Maurice Ravel [1875-1937]

• Aluno de Fauré e admirador de Debussy

• Adotou parcialmente a técnica impressionista, conjugando-a com outras convicções

estilísticas:

• contornos melódicos límpidos, ritmos bem definidos

• funcionalidade harmónica

• estruturas sólidas do classicismo

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• Contribuiu mais para a extensão e abertura do sistema tonal do que para a sua

destruição

• A influência entre os dois compositores, Debussy e Ravel, foi reciproca

• Orquestrou obras para piano, suas e de outros.

• O Bolero (1928) destca-se pela originalidade da estrutura ritmica e pela conceção

melódica que o prórpio Ravel decsreveu como "um estudo em crescendo, com o tema

obstinadamente repetido"

• Orquestrou também Pavana para uma infanta defunta

• Escreveu, numa conceção clássica de concerto, mas com dramaticidade o Concerto

para a mão esquerda (composto para Wittgenstein, que tinha perdido a o braço

direito na primeira guerra mundial)

• Os seus ritmos são herdeiros dos ritmos de dança barrocos franceses

• Ballet Dafne e Chloé

Erik Satie [1866-1925]

• Estudou noConservatório de Paris

• Antes de se tornar compositor, foi pianista de cabaré

• utilização de elemntos de jazz e da canção urbana francesa

• Compôs Trois sarabandes, Trois Gymnopedies, Nocturnes

• Em Le Fils des Etoiles, pela primeira vez, utiliza o uso sistemático de acordes sobre

quartas em movimentos paralelos, a inexistência de armação de clave e a ausência de

indicações de métrica

• Com quase 40 anos voltou a estudar contraponto e orquestração com Vincent d?Indy

e Roussel

• Gostava também de escrever e fazer caricaturas

• Trabalhou com os mais ilustres vanguardistas franceses

• o bailado Parade foi revolucionário (Picasso nos figurinos) incorporando sons de

máquina de escrever, sirenes e tiros

• Foi onde pela primeira vez se utilizou o termo surrealismo

• Foi o criador da música ambiente (a música como mobilia, para preencher o ambiente)

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• Foi precursor do minimalismo - Vexations - 32 comppassios que se repetem 840 vezes

Outros compositores com influências impressionistas: Florent Schmitt; Albert Roussel

Les six

Les six - o grupo dos seis franceses

Satie e Cocteau foram os mentores deste grupo, que reagiu contra a influência do romântismo

e do impressionismo na música

• Durey

• Milhaud

• Honegger

• Auric

• Poulenc

• Tailleferre

Cocteau editou um manifesto que pretendia:

• ideal de simplicidade; as formas musicais estão carregadas de

desenvolvimentos inuteis

• banir o espírito do romantismo para que este fosse substituido pelo

novo classicismo

• Equilibrio entre o sentimento e razão

Neste seguimento, os seis procuravam inspiração na vida quotidiana. Não repudiavam as

máquinas nem a música popular dos cabares, do circo ou das bandas de jazz. A morte de satie

foi decisiva para a separação do grupo. Procuraram, acima de tudo, desmistificar a música

erudita, tirando-lhe o caráter aristocrático.

Darius Milhaud [1892-1974]

• Escreve para piano, música de câmara, suites, sonatas, sinfonias, música para filmes,

bailados, canções, cantatas, óperas

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• Ignorava, de forma consciente, teorias e sistemas

• interessava-se por melodias e ritmos sul-americanos (Saudades do Brasil)

• Revela influencia do blues e do rag-time - La Création du Monde

Arthur Honegger [1892-1955]

• Torna-se conhecido com a oratória Rei David (misto de oratória e ópera)

• Uma das obras mais conhecidas é Pacific 231, inspirada pelo movimento futurista

Francis Poulenc [1899-1963]

• A sua música é essencialmente diatónica e melodiosa, embelezada com as

dissonancias do século XX

• A suas obras mais conhecidas são as canções para voz e piano

• Compôs 3 óperas (Les Dialoges des carmélites - revolução francesa)

• Destaca-se o Concert Champêtre para cravo e pequena orquestra

• Nunca seguiu o atonalismo, afirmando "não tenho princípios e orgulho-me disso. Não

sigo nenhum sistema de composição"

Na primeira metade do século XX afirmam-se tendências com orientações estéticas

diferenciadas:

• Impressionismo - tendencia essencialmente francesa. Principal representante Debussy

• Expressionismo - essencialmente germânica. principais representantes: 2ª escola de

Viena. Insurgem-se contra os valores representados pela sociedade burguesa

• Neoclassicismo - retorno à linguagem, estruturas e formas do passado. Principais

representantes: Stravinsky, Hindemith

• Neofolclorismo - explora as bases do folclore nacional (nacionalismo do século XX).

Principais representantes: Bartok, Kodaly, Falla