“herbert marcuse: utopia e dialética da libertação” .no pensamento de herbert marcuse, que
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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO PUC-SP
JOY NUNES DA SILVA BARROS
Herbert Marcuse: Utopia e Dialtica da Libertao
MESTRADO EM FILOSOFIA
SO PAULO 2009
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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO PUC-SP
JOY NUNES DA SILVA BARROS
Herbert Marcuse: utopia e dialtica da libertao
MESTRADO EM FILOSOFIA Dissertao apresentada Banca Examinadora da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, como exigncia parcial para obteno do ttulo de Mestre em Filosofia, sob a orientao do Prof. Doutor Antonio Jos Romera Valverde.
SO PAULO 2009
Banca Examinadora
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Daniele, grande companheira. Flvia Schilling, querida professora.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Antonio Jos Romera Valverde, pela sua orientao.
Aos professores participantes da Banca Examinadora: Prof. Dr. Celso Fernando
Favaretto e Prof. Dr. Jeanne Marie Gagnebin de Bons, por seus valiosos comentrios e
pela questo filosfica que norteou a finalizao deste trabalho.
professora Flvia Ins Schilling, por me inspirar desde a graduao: sua
seriedade e entusiasmo contagiam-me, sempre.
CAPES (Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior) e
Secretaria de Educao do Estado de So Paulo, pela bolsa de estudos oferecida durante
a pesquisa.
E, principalmente, Daniele P. Kowalewski, pelo amor, pacincia e dedicao.
Sua leitura e comentrios, unidos s nossas conversas, pulsam neste trabalho que, sem
voc, no seria possvel.
Outrora viajei pases imaginrios, fceis de habitar,
ilhas sem problemas, no obstante exaustivas e convocando ao suicdio.
Meus amigos foram s ilhas. Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e trouxeram a notcia
de que o mundo, o grande mundo est crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Ento, meu corao tambm pode crescer. Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo, meu corao cresce dez metros e explode.
- vida futura! Ns te criaremos.
(Carlos Drummond de Andrade, Mundo Grande)
RESUMO
BARROS, Joy Nunes da Silva. Herbert Marcuse: Utopia e Dialtica da Libertao.
A presente dissertao tem como objetivo principal analisar o conceito de
utopia na obra de Herbert Marcuse, tomando como hiptese norteadora a assero de
que a f ostentada pela Modernidade no progresso trazido pelo esclarecimento parece ter
se esmorecido e com isso os grandes projetos de emancipao social passam a no
encontrar mais lugar no direcionamento das lutas polticas no tempo hodierno. Essa
hiptese ser analisada luz do pensamento marcusiano, entendendo-a como uma
consequncia daquilo que o autor denominou sociedade unidimensional, uma
configurao social, produto do desenvolvimento da Modernidade, que se tornou capaz
de absorver todas as formas de pensamento que lhe so contrrias e impor-se como nica
realidade possvel. Neste sentido, a questo que direciona o desenvolvimento desta
dissertao a de buscar esclarecer o estatuto filosfico que o conceito de utopia ocupa
no pensamento de Herbert Marcuse, que mantm estreito vnculo com a dialtica
hegeliana, assim como a correlao entre o pensamento utpico e a ao poltica a partir
da obra do filsofo frankfurtiano.
Palavras-chave: Herbert Marcuse, utopia, dialtica, emancipao, sociedade
unidimensional.
ABSTRACT
BARROS, Joy Nunes da Silva. Herbert Marcuse: Utopia and Dialectics of Liberation.
The present dissertation mainly aims at analyzing the concept of utopia in the
work of Herbert Marcuse, taking as a guiding hypothesis the assertion that the faith
Modernity has in the progress brought by clarification seems to have faded and
therewith the great projects of social emancipation will no longer find a place in
directing political struggles in modern times. This hypothesis will be analyzed in the
light of Marcusean thinking, perceiving it as a consequence of what the author
denominated one dimensional society, a social configuration, product of the
development of Modernity, which has been able to absorb all forms of thinking that are
contrary to it and impose itself as the only reality possible. Thus, the issue that directs
the development of this masters thesis is the endeavor to clarify the philosophical status
that the concept of utopia occupies in Herbet Marcuse's thinking, which has close ties
with Hegelian Dialectics, as well as the correlation between utopic thinking and political
action from the perspective of the Frankfurt philosopher.
Key words: Herbet Marcuse, utopia, dialectics, emancipation, one-dimensional society.
SUMRIO
INTRODUO ..............................................................................................................09
I. Utopia e Histria.......................................................................................... 25
II. Dialtica e Pensamento Negativo............................................................... 33 II.1 A Negatividade da Filosofia...........................................................................33 II.2 Emancipao e Dialtica................................................................................ 41 III. O Materialismo Dialtico............................................................................ 47
IV. Reavaliao da Dialtica: a Negao da Negao..................................... 54
V. Prazer e Realidade: a Civilizao contra a Liberdade............................. 59
VI. A Ausncia do Horizonte de Negao na Sociedade Unidimensional..... 71
VII. Utopia e Teoria Crtica............................................................................... 82
VIII. Teologia e Histria Universal..................................................................... 94
IX. Reconciliao e Natureza.......................................................................... 103
X. Aristteles e o Movimento Circular......................................................... 114
XI. Libertao e Tempo................................................................................... 124
XII. O Fundamento Biolgico da Libertao.................................................. 135
XIII. A Dimenso Esttica e as Aporias da Libertao................................... 148
Concluso..................................................................................................................... 172
Bibliografia ...................................................................................................................175
9
Introduo
Em julho de 1967, em uma srie de debates ocorridos durante encontro
organizado pelo Comit Estudantil da Universidade Livre de Berlim Ocidental1, Herbert
Marcuse discute qual funo o pensamento utpico pode ainda desempenhar na
sociedade industrial avanada. Na palestra com a qual d incio ao evento, denominada
O fim da utopia, expe a ambivalncia contida no tema: o termo o fim, expresso no
ttulo de sua palestra, tem um sentido ambguo, pode ser entendido tanto como a atual
falncia dos projetos de transformao substancial da sociedade, que j no ocupam
espao frente realidade, quanto a constatao de que no presente os objetivos ltimos
buscados por tais projetos deixaram de ser utpicos, constituindo possibilidades reais:
Iniciando por uma verdade bvia, direi que hoje qualquer forma nova de vida sobre a terra, qualquer transformao do ambiente tcnico e natural, uma possibilidade real, que tem seu lugar prprio no mundo histrico. Podemos fazer do mundo um inferno, como vocs sabem, caminhamos para isso. Mas podemos fazer tambm o oposto. Este fim da utopia, ou seja, a recusa das ideias e das teorias que ainda se servem de utopias para indicar determinadas possibilidades histrico-sociais, podemos hoje conceb-lo, em termos bastante precisos, tambm como fim da Histria; isto , no sentido de que as novas possibilidades de uma sociedade humana e de seu ambiente no podem mais ser imaginadas como prolongamento das velhas, nem tampouco serem pensadas no mesmo continuum histrico (MARCUSE, 1969, p. 14-15).
A pretenso de Marcuse nesse debate desvincular o sentido do termo utopia
do de irrealizvel: o adjetivo utpico estabelecido como ndice de desqualificao.
Por certa perspectiva, dizer que certo projeto de transformao social constitui uma
utopia a prvia postulao de sua absoluta interdio, ou seja, que frente ordem
reinante, ele uma soluo incongruente com os problemas reais do mundo. Por essa
perspectiva, o termo utopia remete a devaneio, fantasia, iluso, ou seja, ideia
da impossibilidade de traduzir em fatos concretos o que por certo projeto postulado,
eliminando-se, de uma vez por todas, sua validade como proposta efetiva. Porm, objeta
Marcuse, o que deve ser posto primeiramente em questo a especificao do termo
irrealizvel, pois este tambm comporta duas acepes, sendo necessria uma
1 Publicados sob o ttulo Das En