gymnasio silva jardim

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GYMNASIO SILVA JARDIM O ginásio que os amparenses desconheciam que existiu na nossa cidade. Por Suely Piedade Santos – Baseado nos acervos de Marilena Fernandes S. Silvestre e Luiz Pereira de Oliveira GRUPO FOTOGRAFIAS DE AMPARO - 2013

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GYMNASIO SILVA JARDIM O ginásio que os amparenses desconheciam que existiu na nossa cidade.

Por Suely Piedade Santos – Baseado nos acervos de Marilena Fernandes S. Silvestre e Luiz Pereira de Oliveira GRUPO FOTOGRAFIAS DE AMPARO - 2013

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GRUPO DE FOTOGRAFIAS DE AMPARO

Esta postagem é, em parte, a reedição de outra cuja temática causou muita

surpresa, estranheza e até polêmica entre os participantes do grupo, em razão do

desconhecimento de quase a totalidade dos amparenses sobre o assunto.

Realizada agora por mim com base no precioso acervo da amiga Marilena

Fernandes, não teria sido possível sem as preciosas contribuições do Prof. Luiz Pereira,

cedendo as provas cabais da existência da escola, que necessitávamos e do senhor

Benedito Jorge, que procedeu ao reconhecimento dos fotografados, além, obviamente, de

muitos outros, cujas opiniões e sugestões através de comentários, encaminharam nossa

pesquisa para este desfecho, aliás, sem falsa modéstia, uma conclusão de cunho histórico

para Amparo, por tratar-se do resgate de um importante episódio da vida educacional

deste querido município.

A FOTOGRAFIA

Foto postada originalmente em 12/06/13 por Marilena Fernandes

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Assim que nos deparamos com tal foto no Grupo de Fotografias de Amparo, foi

inevitável iniciarmos uma pesquisa a fim de desvendar o mistério da existência de uma

escola nunca antes citada pelos especialistas nos anais da cidade. Assim, depois de muita

busca, creio que descobrimos algo sobre tal escola. A seguir o primeiro achado.

Transcrição da Pg. 6. Seção 1. Diário Oficial da União (DOU) de 08/02/1931

Alcides Corrêa de Assis, director do Gymnasio Silva Jardim, no Estado de São Paulo,

solicitando a officialização do referido gyinnasio.

- À vista do aviso do Sr. ministro de 6 de janeiro

último, não há o que deferir.

Após essa descoberta, era necessário

compreender os fatos, partindo da dedução que o

pedido de registro do citado ginásio teria sido

inoportuno, frente ao momento de reformas pelo

qual o sistema educacional brasileiro passava.

Vale ressaltar que essa conclusão foi

compartilhada pelo senhor João Baptista Cintra que registrou o seguinte comentário no

grupo: “Suely, a minha primeira impressão, após ver as notícias aqui postadas foi

exatamente a sua conclusão após as pesquisas; não 'estava na hora ' de aprovar um ginásio

para Amparo.”

Embora já convictos do ocorrido, restou a curiosidade sobre o que teria levado

homens de reputação irrepreensível a posar e rotular uma fotografia como se a existência

do Ginásio Silva Jardim tivesse se consumado, situação que somente agora frente ao

precioso material jornalístico fornecido pelo prof., Luiz Pereira pudemos compreender.

O MOMENTO HISTÓRICO

Entendendo que só seria possível compreender aquele momento político

educacional do ano de 1931, através da leitura de informações específicas, constatamos

que o Brasil estava às portas da grande reforma educacional Francisco Campos que viria

a implicar na modernização nacionalizada do ensino secundário.

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"O novo ministério foi constituído por instituições e repartições desmembradas dos

Ministérios da Agricultura e da Justiça e dos Negócios Interiores. Entretanto, somente em

5 de janeiro de 1931, quase dois meses depois de sua criação, foi aprovado o regulamento

(Decreto no 19.560) que organizou a nova Secretaria de Estado definindo suas

atribuições, fixando as normas de sua constituição e funcionamento e a hierarquização

das repartições e instituições que a ela pertenciam.

A leitura do decreto não deixa dúvidas quanto ao que deveria ser a competência em

relação à educação, uma vez que determinava que o MES passasse a ter a seu encargo:

1. A centralização do estudo e despacho de todos os assuntos da administração

federal relacionados com o desenvolvimento intelectual e moral e com a

defesa médico-sanitária da coletividade social brasileira, excetuados aqueles

que, embora tendo de alguma forma esta

Característica visam principalmente a fins ligados a atividades de outro

ministério; 2. A direção geral e fiscalização, sob o ponto de vista

administrativo, de todos os serviços concernentes aos assuntos indicados na

alínea 1; 3.0 preparo de todos os atos que tenham de ser assinados pelo chefe

do Poder Executivo e pelo respectivo ministro de Estado, relativamente à

matéria de sua competência, salvo nos casos em outra coisa for determinada

por disposições regulamentares especiais; 4. A expedição e publicação desses

atos e o recebimento e arquivamento de todos os papéis endereçados ao

ministro ou, por seu intermédio, dirigidos ao chefe do Poder Executivo.

Assim, o ministério estava pronto para exercer sua tutela sobre todos os

domínios do ensino e da saúde"

Assim é possível concluir que tais mudanças implantadas invalidaram toda e

qualquer tramitação em curso como o caso específico do Gymnasio de Amparo,

justificando seu indeferimento.

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SILVA JARDIM – O PATRONO

Quanto ao seu Patrono, Antônio Silva Jardim há vários registros

atestando tratar-se de um eminente professor, maçom, abolicionista e

republicano, o que por si só parece ter motivado a escolha do seu nome

para a entidade de ensino.

Mesmo contrariando o entendimento de alguns, vimos coerência e pertinência nessa

escolha

AS IDENTIFICAÇÕES

Como restava ainda identificar as pessoas retratadas na fotografia do acervo de seu sogro

o Professor Francisco Leopoldino de Campos Silvestre, coube a Marilena Fernandes

receber em sua residência o Sr. Benedito Jorge, que cordialmente elucidou o mistério.

São palavras dela, “foi emocionante, vê-lo tão bem e lúcido aos 96 anos, subindo as

escadas com toda a elegância. Olhou cuidadosamente a foto e apontou as pessoas que

identificou. Disse que o primeiro sentado é o professor Scalvi (há uma escola com seu

nome em Amparo), ao centro identificou como Alcides Assis, depois Dr.Aristides

Fernandes, ao seu lado disse que tem quase certeza que é da família Barbosa (tio do Paulo

Barbosa), o próximo não identificou, depois Dr. Constâncio Cintra. O segundo em pé,

identificou como Arnaldo Geraldini (disse que era irmão de Orlando Geraldini).

Identificou também Fausto Longo (disse que tinha marmoraria), no meio da coluna. De

óculos ao fundo, identificou como um rapaz da família Tesoni e também Marcílio

Consoli, já identificado, anteriormente. “

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A PROVA CABAL - PUBLICAÇÕES NA IMPRENSA

Como grande novidade e motivo desta reedição, apresentamos uma preciosa

documentação do acervo do Prof. Luiz Pereira, nosso consultor, constando de recortes de

publicações da época, através dos quais é possível concluir pela incontestável existência,

ainda que breve e sem reconhecimento jurídico, do GYMNASIO SILVA JARDIM, senão

vejamos.

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Tais publicações no Jornal O Comércio, de 15 de fevereiro de 1931 a 28 de abril

de 1931, documentam a existência da escola e mais, registram a visitação de autoridades

para sua fiscalização, bem como identificam seu endereço, nominando seus responsáveis,

salientando também a quem se destinava com a oferta de cursos, fazendo menção até à

mobília que estava sendo confeccionada na modelar Escola Profissional da cidade, de

modo a nos permitir ter uma ideia do intenso movimento havido na ocasião para a

tentativa de sua oficialização por parte dos idealistas e patriotas amparenses. Vale

observar e ressaltar que as datas das publicações, todas muito próximas da grande reforma

educacional que veio a ocorrer, são, porém, posteriores a da publicação do indeferimento

no Diário Oficial, atestando assim não só a morosidade do sistema e como a total a falta

de integração entre as diversas esferas, só justificado por serem outros tempos.

A leitura dos recortes das publicações nos dá, portanto, a certeza que tudo foi feito

para a realização de um projeto, que chegou a ser fotografado para a posteridade, embora

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não tenha vingado, permitindo a nós, hoje, bons momentos de compartilhamento de ideias

e novos conhecimentos, ainda que no passado a frustração deva ter sido a tônica na vida

dos envolvidos e da população amparense.

A VISTORIA

Completando, fazemos referência a uma das autoridades que visitaram Amparo

para a inspeção do Gymnasio, o que reforça nossa tese que tudo se encaminhava para um

desfecho diferente do ocorrido, prova cabal de que todos foram atropelados pela

implantação da reforma educacional Francisco Campos.

Sud Mennucci nasceu em Piracicaba em 20 de janeiro de

1892, filho de um casal de italianos de Lucca que chegaram ao

Brasil como imigrantes em 1888. Sud foi professor, geógrafo,

sociólogo, jornalista e escritor. Em 1910 iniciou sua carreira no

magistério, lecionando numa escola em Cravinhos; entre 1913 e

1914 esteve em Belém do Pará ajudando na reorganização das

Escolas de Aprendizes de Marinheiros. Mais tarde (1914-19)

atuou como professor público em Porto Ferreira, onde conheceu sua esposa Maria e se

casou em 1917.

No ano de 1920, comandou o recenseamento escolar em São Paulo, a partir do qual foi

possível localizar os núcleos de analfabetismo do Estado e dividir o território paulista em

quinze delegacias regionais de ensino. Em seguida, assumiu a Diretoria da Delegacia

Regional de Ensino de Campinas e em 1922, a de Piracicaba.

Entre 1925 e 1931, Sud Mennucci fez carreira como redator e crítico literário do jornal O

Estado de S. Paulo. Neste último ano, ele assumiu pela primeira vez a Diretoria-Geral de

Ensino de São Paulo, cargo equivalente hoje à Secretaria de Estado da Educação. Ele

voltou a ocupar o cargo em 1933 e de 1943 a 1945.

Entre suas atividades na administração do sistema paulista e como jornalista e escritor,

Sud destacou-se no comando do Centro do Professorado Paulista, criado em 1930, e que

atualmente é uma das principais associações docentes de São Paulo. Foi seu presidente

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de 1931 a 1948. Foi também diretor da Imprensa Oficial do Estado entre os anos de 1931

e 1948.

Como escritor, seu maior livro foi A Crise Brasileira de Educação, alcançando o prêmio

da Academia Brasileira de Letras em 1933. Escreveu também livros e artigos defendendo

o ensino rural. Teve no total 5 filhos. Morreu em 1948, com 56 anos, na sua casa na Vila

Mariana, em São Paulo.

A HISTÓRIA DA RUA XV

Por fim, uma abordagem sobre o local da instalação da escola:

"A rua XV de novembro é uma das mais antigas de Amparo. É parte de um dos

eixos formadores da cidade, o caminho que, em fins do século XVIII, ligava a região de

Campinas ao sul de Minas Gerais. Durante muito tempo, foi chamada rua do Rosário.

Hoje, é uma rua curta, formada por apenas uma quadra. No início do século XX a

denominação estendia-se a um trecho maior. Depois da revolução constitucionalista de

1932, uma homenagem ao herói amparense Humberto Beretta, “reduziu” o tamanho da

rua. Mas, nesse pequeno trecho, muita gente residiu, teve comércio, perambulou. A

viscondessa de Nova Granada, personalidade do Império, residiu no sobrado dos Paiva.

O republicano Bernardino de Campos morou e advogou ali. Foi um dos fundadores da

Loja Maçônica Trabalho que também estava estabelecida com prédio próprio mesma rua.

Fotografias, objetos pessoais e um retrato seu, elaborado por Almeida Júnior, podem ser

vistos no Museu da cidade. O boticário, republicano e fazendeiro Francisco de Assis

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Santos Prado também viveu e trabalhou ali. Fotografias do seu acervo particular e objetos

que pertenceram a sua botica também podem ser vistos no Museu. Na residência onde

nasceu o dr. Franco da Rocha morou tempos depois o Dr. Alberico do Prado Pastana. No

lugar da pequena casa onde funcionava o Comitê Democrático mantido pelo Partido

Comunista, mais tarde construiu-se um sobrado onde funcionou durante muito tempo a

sapataria dos Terríbile. Na casa do Dr. Bernardino morou posteriormente o Sr.. José

Abdala. No prédio onde funcionou a Delegacia de Polícia funcionou a bicicletaria do

Cozelli. Enfim, a loja de Dona Rosinha, a alfaiataria do Mitidieri, a farmácia do Maia, o

sobrado das Siqueira, são parte da memória da rua XV de novembro.

Em 1929, em plena crise econômica, ao projetar a fachada posterior da Igreja

Matriz, o Dr. Amador Cintra do Prado imprimiu-lhe um caráter de “pano de fundo”.

Talvez uma reverberação da fachada do teatro João Caetano que, já naquele tempo, vivia

de um passado de glórias.

Para quem olha do largo do Rosário, essa fachada parece arrematar o cenário,

parece ser - no fundo do palco - o pano de fundo da rua XV de novembro. Numa manhã

de domingo, quando as gentes dormem e os automóveis estão recolhidos nos

estacionamentos, tem-se a impressão de que das casas poderão sair, a qualquer momento,

personagens dos mais diversos passados. Quanto mais se observa a rua, mais sede se tem

de conhecer essa gente do passado. Quanto mais se conhece seus hábitos, suas casas, os

seus afazeres, mais se conhece também a rua do presente, o Amparo de hoje."

Como acabamos de ler, tendo em vista as grandes mudanças ocorridas e escassa,

documentação fica difícil identificar hoje o imóvel da Rua XV de Novembro, outrora sob

o n. 25 descrito no jornal da época como “magnífico prédio”.

Ainda que essa dúvida permaneça temos a certeza de que o Gymnasio Silva

Jardim existiu um dia, tendo a sua frente grandes homens e certamente uma clientela

ávida de instrução e conhecimento, talvez adiado, em vista do surpreendente

indeferimento de sua oficialização.

Mesmo não sendo uma novela, quem sabe tenhamos novas informações num

próximo capítulo

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FONTES DE PESQUISA

http://www.jusbrasil.com.br/.../dou-secao-1-08-02-1931-pg-6

http://revistaseletronicas.pucrs.br/.../viewFile/5520/4015

http://www.uninove.br/.../COMUNICA%C3%87%C3%83O%2017.pdf

http://www.teoriaepesquisa.ufscar.br/.../viewFile/110/88

http://www.saopauloantiga.com.br/sud-mennucci/

http://www.spvirtual.net/index.php?page=out&id=63816