guimarães arte e cultura | ciajg | jornal 1º ciclo expositivo 2014

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25.01 - 13.04 O CIAJG reúne peças oriundas de diferentes épocas, lugares e contextos em articulação com obras de artistas contemporâneos, propondo uma re(montagem) da história da arte, enquanto sucessão de ecos, e um novo desígnio para o museu, enquanto lugar para o espanto e a reflexão. O ciclo expositivo que agora se inicia marca o lançamento da programação regular do CIAJG para 2014. Nestas quatro exposições convivem artistas de diferentes gerações, que partilham processos e abordagens, nomeadamente ao nível da produção da imagem, já não entendida enquanto original mas realizada por contacto ou por transferência, a partir de uma matriz, de forma indireta ou em negativo. Contacto, no duplo sentido do termo: como abertura ao outro, ao estranho e ao diverso e como impregnação, porosidade, contaminação ou mestiçagem. The CIAJG displays works from different epochs, places and contexts, in conjunction with works by contemporary artists, thus proposing a re(assembly) of the history of art, as a succession of echoes, and setting a new purpose for the museum - as a place of amazement and reflection. The exhibition cycle that is now commencing marks the launch of CIAJG’s regular programming for 2014. These four exhibitions feature artists from different generations, who share processes and approaches, especially in terms of image production, that is no longer understood as an original image, but an image created via a contact or transfer process, from an underlying matrix, either indirectly or from a negative. Contact, in the dual meaning of this term: as openness to the other, to strangeness and diversity; and as impregnation, porosity, contamination or cross-breeding.

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Page 1: Guimarães Arte e Cultura | CIAJG | jornal 1º ciclo expositivo 2014

25.01-13.04

O CIAJG reúne peças oriundas de diferentes épocas, lugares e contextos em articulação com obras de artistas

contemporâneos, propondo uma re(montagem) da história da arte, enquanto sucessão de ecos, e um novo desígnio para o museu, enquanto lugar para o espanto e a reflexão. O ciclo expositivo que agora se inicia marca o lançamento da programação regular do CIAJG para 2014. Nestas quatro exposições convivem artistas de diferentes gerações, que partilham processos e abordagens, nomeadamente ao nível da produção da imagem, já não entendida enquanto original mas realizada por contacto ou por transferência, a partir de uma matriz, de forma indireta ou em negativo. Contacto, no duplo sentido do termo: como abertura ao outro, ao estranho e ao diverso e como impregnação, porosidade, contaminação ou mestiçagem.

The CIAJG displays works from different epochs, places and contexts, in conjunction with works by contemporary artists, thus proposing a re(assembly) of the history of art, as a succession of echoes, and setting a new purpose for the museum - as a place of amazement and reflection. The exhibition cycle that is now commencing marks the launch of CIAJG’s regular programming for 2014. These four exhibitions feature artists from different generations, who share processes and approaches, especially in terms of image production, that is no longer understood as an original image, but an image created via a contact or transfer process, from an underlying matrix, either indirectly or from a negative. Contact, in the dual meaning of this term: as openness to the other, to strangeness and diversity; and as impregnation, porosity, contamination or cross-breeding.

Page 2: Guimarães Arte e Cultura | CIAJG | jornal 1º ciclo expositivo 2014

1st floor rooms #1-8Composition of AirPermanent collection and other works

ground floor rooms #9-11Jarosław Flicinski /Black Star Walls, paintings, drawings and objects

lower ground floor rooms #12-13José de Guimarães /Contacts Sheets From stencil to digital: Image transfer processes

hall of the CIAJG and public spaceOficina ARARA /Black on White

Nuno FariaCuradoria / Curator

Piso 1_Salas #1-8

A Composição do ArColeção permanente e outras obras

Hall CIAJG e Espaço Público

Preto no BrancoOficina ARARA

Piso -1_Salas #12-13

Provas de Contacto / José de GuimarãesDo stencil ao digital: processos de transferência da imagem

Piso 0_Salas #9-11

Estrela Negra / Jarosław FlicinskiParedes, pinturas, desenhos e objetos

Page 3: Guimarães Arte e Cultura | CIAJG | jornal 1º ciclo expositivo 2014

"Não admira que durante milénios o ar, que ninguém vê, fosse imaginado como um ser sobrenatural que penetrava no corpo dos homens e lhes concedia a vida. Um deus, portanto. Assim, foi considerado

o ar como um deus muito temido, umas vezes protetor, quando se deixava aspirar em haustos reconfortantes, outras vezes terrível, quando bramia, soprava, assobiava, fazia estremecer as robustas árvores e as arrancava do solo, tombando-as. Um deus que merecia toda a veneração e respeito."

To represent the air, i.e. to represent that which we can’t see, has perhaps been one of artists’ greatest aspirations, since time immemorial. Air is both matter and medium. It is matter (life) without structure, it blows but has no body. It is also a medium: it transports things, engenders ideas, enables us to breathe. The temptation posed by the air is the desire to fly, to flee from weight, to overcome gravity. To rise above the horizon and see things with greater amplitude and clarity.

In fact, the air is what connects us together – in the most comprehensive meaning of the word, “connection” – it connects us to bodies, to things, to objects in general. We use the word “aura” to describe the tiny, impalpable and inscrutable layer of air, that encompasses an object, whether an artwork or any other item. This is an inexplicable quality that some things transport and which turns them into objects of desire, into things that are loved and contemplated.

At the CIAJG, objects traverse time and cross borders in order to establish encounters whose meaning is more or less clear, more or less visible.

Why should we do make, collect and store objects? Amongst the many plausible and possible answers to this question, in addition to the mystery that engenders the artistic gesture or the simple creative act, we could say that we make, collect and store things, in order to preserve and project memory, i.e., to guarantee their longevity. Equally mysterious is to understand the intimate, profound meaning of showing, giving and seeing. Would it be too risky to assert that we show things in order to establish a place, to constitute ourselves

Representar o ar, ou seja, representar aquilo que não se vê, é, talvez desde tempos

de que já não nos lembramos, uma das aspirações da prática artística. O ar é maté-

ria e meio. É matéria (vital) sem estrutura, sopro sem corpo. É um meio: transporta

coisas, engendra ideias, faz-se respirar. A tentação do ar é também uma aspiração ao

voo, uma fuga ao peso, a superação da gravidade. Subir acima do horizonte para ver

mais e melhor.

Se pensarmos bem, o ar é aquilo que nos liga – na mais integral aceção da pa-

lavra ligação – aos corpos, às coisas, aos objetos em geral. À ínfima camada de ar,

impalpável e imperscrutável, que envolve um objeto, de arte ou não, chamamos au-

ra. Trata-se de uma qualidade inexplicável que algumas coisas transportam e que as

transforma em objetos de desejo, em coisas amadas e contempladas. No CIAJG os

objetos atravessam o tempo e cruzam fronteiras para estabelecerem encontros cujo

sentido é mais ou menos evidente, mais ou menos visível.

Porquê fazer, recolher e guardar objetos? Entre as muitas respostas plausíveis

e possíveis, para além do mistério que engendra o gesto artístico ou o simples ato

criador, poderíamos dizer que fazemos, recolhemos e guardamos para preservar

e projetar a memória, ou seja, para sobreviver ao desaparecimento. Tanto ou mais

misterioso é saber qual o íntimo, o profundo significado de mostrar, de dar a ver.

Não seria demasiado arriscado afirmar que mostramos para fundar um lugar, para

nos constituirmos enquanto comunidade que partilha aspirações e temores, medos

e desejos que estão para lá da nossa própria compreensão. Exumamos, escavamos,

fazemos, construímos mais para compreender do que para explicar, mais para per-

guntar do que para afirmar.

No CIAJG juntamos objetos e imagens de tempos e lugares muito distantes, por

vezes sem aparente ligação, como se viessem até nós trazidos pelo vento, como se

fossem sementes voadoras. Queremos refundar o museu como lugar do espanto e da

reflexão, como corrente de ar e como espelho, como horizonte a perder de vista. Para

isso, cruzamos diferentes linguagens e metodologias, desde a arqueologia à etno-

logia, passando pela história da arte; procuramos fazer conviver dimensões tantas

vezes inconciliáveis como o popular, o ancestral, o artesanal, o vernacular, o conhe-

cimento transmitido pela oralidade ou pela gestualidade; propomos lançar um olhar

do lugar e do tempo em que nos encontramos sobre as mais diversas manifestações

e sobrevivências materiais e imateriais da nossa cultura. Devolver ao visitante o es-

paço entre os objetos, as pausas para inspirar, mostrar o ar.

"It’s unsurprising that during millennia, the air - which no one can see - was imagined as a supernatural being who in soothing vacuums, but at other times terrible, when he bellowed, blowed, whistled, and shook robust trees and uprooted and toppled them. A god who deserved our every reverence and respect."

Rómulo de Carvalho, A Composição do Ar

A Composição do Ar

PISO 1 SALAS #1-8

Rómulo de Carvalho, A Composição do Ar

Coleção permanente e outras obras

Arte tribal africana, Arte pré-Colombiana e Arte Chinesa Antiga da coleção de José de Guimarães. Objetos do património arqueológico, popular e religioso. Obras de artistas contemporâneos.

Composition of AirPermanent Collection and other Works

African Tribal Art, Pre- -Columbian Art and Ancient Chinese Art of the José de Guimarães Collection. Objects of the folk, religious and archaeological heritage of the region of Guimaraes. Works of contemporary artists.

Obras de / Works by

f.marquespenteadoFrancisco Queimadela e Mariana CalóJosé de GuimarãesOtelo FabiãoRui ChafesVasco CélioRosalind Nashashibi e Lucy Skaer

1st floor rooms #1-8

as a community that shares aspirations and anxieties, fears and desires that lie beyond our understanding. We exhume, dig, make and build things more because we want to understand them, rather than to explain them, more in order to ask questions than to assert things. At the CIAJG, we combine objects and images from very distant times and places, sometimes without any apparent connection, as if they came to us brought

by the wind, as if they were flying seeds. We want to refound the museum as a place of wonder and reflection, as an air stream and mirror, as an infinite horizon. For this reason, we intermingle different languages and methodologies, from archaeology to ethnology, passing through the history of art. We try to blend dimensions that are often irreconcilable, such as the popular, ancestral, artisanal, vernacular, and knowledge that is transmitted orally or by gestures. We propose to cast a gaze from the time and place in which we find ourselves, regarding the wide array of tangible and intangible manifestations and vestiges of our culture. To return to visitors the space between objects, the pauses in which they can breathe. To show the air.

Francisco Queimadela e Mariana CalóUnidade de Coincidência | Unity of Coincidence, 2011 – 2013 Filme | Film 16 mm, cor | colorColeção dos artistas | Collection of the artists

Page 4: Guimarães Arte e Cultura | CIAJG | jornal 1º ciclo expositivo 2014

Jarosław Fliciński concebeu uma intervenção que é a crónica de uma transformação

pessoal. De facto, esta exposição dá corpo à vivência dos últimos quatro anos da vida

do artista, altura em que se mudou para a pequena aldeia do Esteval, entre Loulé e

Faro, no Algarve, naquele que se constituiu como um período de radical transforma-

ção de práticas e de hábitos no interior do seu trabalho.

Assim, entre diferentes suportes e meios, passamos da enorme à ínfima escala

e navegamos entre dois níveis:

– o projeto, aqui materializado pelo conjunto desenhos, em que o artista en-

saia variações sobre formas geométricas muito simples, numa prática de repetição

e diferença, e um diversificado conjunto de objetos recolhidos em casas ou no espa-

ço exterior, sobretudo na praia, numa espécie de prática arqueológica, de atenção e

abertura a sinais que chegam de longe e que se anunciam

como potencialmente transfiguradores;

– a construção, através da utilização da parede co-

mo mecanismo de diálogo com a arquitetura do espaço,

que aqui se cinde em duas tipologias distintas: por um

lado, a transposição de um desenho geométrico orgâni-

co, uma espécie de anamorfose que age sobre a perceção

do espectador sobre o espaço que habita, contraindo e

expandindo a geometria euclidiana da arquitetura; por

outro lado, a construção de duas pinturas murais que se

destacam da parede, redefinindo o espaço, onde se joga

toda uma prática meditativa que encena um diálogo com

a história da pintura geométrica, uma espécie de exercí-

cio espiritual que é engendrado como uma performance,

para a qual o artista teve que construir as suas próprias

ferramentas. Nestas pinturas, há uma densidade atmos-

férica que advém da sobreposição da tinta em várias ca-

madas de diferentes cores que projeta o espectador para

um estado quase hipnótico, no qual convivem diferentes dimensões percetivas.

A última peça da exposição, uma projeção vídeo que documenta um efeito lu-

mínico e ótico, reverbera e ecoa com uma simplicidade desarmante a pintura mural

que o artista realizou num núcleo da coleção permanente, uma estrela branca, dese-

nhando, no percurso expositivo, uma espécie de círculo ou de espiral que representa

uma ideia de recomeço ou de regresso que, afinal, ilustra na perfeição o seu recente

percurso biográfico.

Paredes, Pinturas,Desenhos e Objetos

Jarosław Flicinski Black StarWalls, Paintings, Drawings and Objects

Estrela Negra é a primeira exposição individual de Jarosław Fliciński (1965, Gdansk, Polónia) em Portugal. Trata-se de uma intervenção de grande escala, exemplar do trabalho que o artista tem vindo a desenvolver em relevantes instituições do contexto internacional da arte contemporânea: um projeto de expansão do campo operativo da linguagem pictórica no qual se cruzam uma aguda sensibilidade à arquitetura e uma proficiente prática de pintura sobre parede que vai para além do quadro e se alarga à escala do espaço arquitetónico.

Jarosław FlicinskiEstrela Negra

Black Star is the first solo exhibition, in Portugal, of the work by Jarosław Flicinski (1965, Gdansk, Poland) It is a large-scale intervention, that showcases the artist’s recent work for leading international contemporary art institutions: a project that aims to expand the operating field of the pictorial language, combining acute sensitivity to architecture with proficient wall painting, that extends beyond the picture frame and ventures into architectural space.

PISO 0 SALAS #9 -1 1

Jarosław Fliciński has designed an intervention that chronicles his own personal transformation. Indeed, this exhibition embodies his life experience over the last four years, after he moved to the small village of Esteval, between Loulé and Faro, in the Algarve, thus engendering a period of radical transformation in the inner habits and practices of his work.

Hence, spanning different formats and media, we pass from the gigantic to the miniscule, navigating between two levels:

– Design, materialised by the set of drawings, in which the artist explores variations on very simple geometric forms, in a practice of repetition and difference, and a diverse set of objects collected in houses or outdoors, especially on the beach - in a kind of archaeological practice, of attention and openness to signals that come from afar and which announce themselves as being potentially transfigurational;

– Construction, through use of the wall as a mechanism for dialogue with the architecture of the space, which in this case is divided into two distinct typologies. On the one hand, transposition of an organic geometric drawing, a kind of anamorphism which acts on the spectator’s perception of the space around him, contracting and expanding the Euclidean geometry of architecture. On the other hand, the

construction of two mural paintings that stand out from the wall, redefining the space, and which explore an entire meditative practice, that stages a dialogue with the history of geometric painting, a kind of spiritual exercise engendered as a performance, for which the artist had to build his own tools. In these paintings, there is an atmospheric density, which results from the superposition of several layers of different coloured paints, that transport the spectator into an almost hypnotic state, in which different perceptual dimensions coexist.   

The last part of the exhibition is a video projection that documents a luminous and optical effect, which echoes and reverberates, with disarming simplicity, the mural painting that the artist produced in a nucleus of the permanent collection: a white star, that draws, in the exhibition route, a kind of circle or spiral that represents an idea of a new beginning or return which, ultimately, perfect illustrates his recent career.  

ground floor rooms #9-11

Jarosław FlicińskiAntecipation [Antecipação], 2014Desenhos em papel A4 | Drawing on paper A4Coleção do artista | Collection of the artist

Page 5: Guimarães Arte e Cultura | CIAJG | jornal 1º ciclo expositivo 2014

Seja em torno de métodos tradicionais da gravura, seja de práticas menos convencio-

nais, como o stencil, José de Guimarães desenvolveu desde o princípio dos anos 60

até aos dias de hoje uma incansável pesquisa que concilia experimentação material,

rigor formal e um vocabulário de formas que permanentemente convoca a mestiça-

gem como conceito central da sua obra.

O título da exposição - "Provas de Contacto" - é programático e operativo. Aqui,

prova(s) é uma palavra para ser lida em duplo sentido: de tiragem, de repetição mas

também no sentido da prova jurídica, de evidência. Por seu turno, contacto, deve ser

entendido também em duplo sentido: imagens que se formam por contacto físico,

pelo toque; mas ao mesmo tempo, o contacto que significa a busca do outro.

Trata-se, assim, de uma exposição que não só reúne um conjunto muito alar-

gado de técnicas de produção de imagem por transferência, como coloca ênfase na

dimensão iminentemente processual, em detrimento do lado formal, do trabalho do

artista. Para José de Guimarães as formas não são jamais um fim em si mesmas, mas

antes um conjunto de signos que o artista articula enquanto linguagem - repare-se

Do stencil ao digital:Processos de transferênciada imagem

José de GuimarãesContact SheetsFrom stencil to digital:Image transfer processes

PISO -1 SALAS #12-13

A presente exposição revela um extenso segmento do trabalho de José de Guimarães (Guimarães, 1939) mal conhecido e de grande relevância para o entendimento da obra do artista, que cobre um arco temporal de cinquenta anos: um conjunto muito diversificado de obras que dão corpo a uma incessante produção de imagens realizadas por transferência.

José de GuimarãesProvas de Contacto

lower ground floor rooms #12-13

José de Guimarães“A” Verde-Azul | “A” Green -Blue, 1968Escantilhão de cartão com impressão direta a rolo| Stencil card with direct roller printTiragem 2/5 | Edition 2/566x48 cmCortesia | Courtesy Biblioteca Nacional de Portugal

Page 6: Guimarães Arte e Cultura | CIAJG | jornal 1º ciclo expositivo 2014

nos diversos alfabetos que constituiu, desde o alfabeto africano, apresentado na sala

2 até ao extenso conjunto de figuras estampadas a negro sobre a folha branca, a que

chamou negreiros.

Abordando a prática da gravura e de processos derivados, a exposição, de cariz

antológico, mostra que essa prática continuada em vários momentos do percurso

do artista se revelou estruturante, quer enquanto processo de conhecimento, quer

enquanto campo operativo de experimentação.

Em Provas de Contacto destacam-se os anos de aprendizagem e intensa prática

inicial na GRAVURA - Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, entre 1958

e 1965, de que apresentamos dois singulares e importantes núcleos - o primeiro de-

dicado à representação do rosto de Cristo, a primeira imagem, obtida por contacto,

o ícone verdadeiro, e o segundo, um conjunto de variações em forma de homenagem

em torno da obra de Picasso; os anos em que se encontra em Luanda (1967 a 1973),

marcados por uma intensa prática experimental ligada a um intenso processo de

descoberta e assimilação da cultura dos povos de Angola; o período pré e pós revo-

lucionário de 1973 a 1979, já após o regresso a Portugal, em que produz uma série de

trabalhos de cariz mais político, para além de um conjunto de obras em que se evo-

cam lugares ou universos autorais (Centro Pompidou, Rubens, etc.); e, finalmente,

os anos mais recentes em que regressa à gravura com assinalável fulgor e contenção

de meios e de formas, em torno do tema,

recorrente no seu trabalho, dos Negrei-

ros e Guaranis.

Whether using traditional engraving methods, or less conventional practices, such as stencils, José de Guimarães has developed an incessant research process since the 1950s to the present day, including material testing, formal rigour and a vocabulary of forms that permanently conjures up miscegenation as a central concept within his work.

The exhibition's title - "Provas de Contacto" ("Contact Sheets") - is programmatic and operational. In this case the word “Prova” can be read in two ways: of a print-run, of repetition, but also in the sense of legal proof, of evidence. In turn, contact, also has a double meaning: physical contact, images formed by physical contact, via touch; but also at the same time, contact means a search for the other.

It is, therefore, an exhibition that not only brings together a wide array of image transfer production techniques, it also emphasises the procedural dimension, rather than the formal side, within the artist's work. José de Guimarães doesn’t view forms as an end in their own right but rather as a set of signs that the artist articulates as a language – one should note the various alphabets that he has constituted, from the African alphabet, presented in room 2, to the extensive set of black figures stamped on a white sheet, which he has entitled Negreiros.

Addressing the practice of engraving and derived processes, this anthological exhibition shows that this practice used at various times during the artist's career has played a structural role, either as a process of knowledge, or as an operative field of experimentation.

Contact Sheets highlights years of apprenticeship and intense initial practice in GRAVURA – the Portuguese Engravers Cooperative Society, between 1958 and 1965, displaying two unique and important centres of work. The first is dedicated to representation of the face of Christ, the first image, obtained by a contact process - the true icon. The second is a set of variations, in the form of a tribute around the work of Picasso. This is followed by a section dedicated to the years that the artist spent in Luanda (1967-1973), marked by intense experimental practice linked to an in-depth process of discovery and assimilation of the culture of the peoples of Angola; the pre- and post-revolutionary years, from 1973 to 1979, after he returned to Portugal in which he produced a series of works of a more political nature, in addition to a set of works that evoke authorial universes or places (the Pompidou Centre, Rubens, etc..); and finally, the most recent years in which he has returned to engraving techniques, with remarkable enthusiasm and containment of means and forms, revolving around the theme - a recurrent feature within his entire oeuvre - of Negreiros and Guaranis.

This exhibition reveals an extensive portion of the work of José de Guimarães (Guimarães, 1939) which is little known but extremely relevant in order to understand the artist's work: a very diverse set of works produced over a 50-year time period, that embody an incessant production of images originated via transfer processes.

José de Guimarães“T” Vermelho | Red “T”, 1968Escantilhão de cartão com impressão direta a rolo | Stencil card with direct roller printTiragem 1/5 | Edition 1/548x65 cmCortesia | Courtesy Biblioteca Nacional de Portugal

Série Negreiros | Negreiros Serie, s/data | UndatedMonotipia, tinta de impressão aquosa e vidro moído | Monoprint, aqueous printing ink and ground glass50,5x33 cmColeção do artista | Collection of the artist

Page 7: Guimarães Arte e Cultura | CIAJG | jornal 1º ciclo expositivo 2014

ARARA is a palindrome (a symmetrical word that reads the same in both directions) that represents the workshop in an encrypted manner, as a rotating platform that aims to recover the function of art as a form of collective catharsis – through the power of the encounter and an idea of community. Furthermore, it is a word that unfolds into other words – air, rare – thus multiplying itself into different meanings and shuttling between the idea of reproduction and repetition, and the production of difference or variation on the same theme, that constantly marks the rhythm of Oficina ARARA’s work and discursive construction.

Indeed, through its interventions in the public space and the energy generated from several collaborations between different disciplines and languages, Oficina ARARA has begun to rethink and propose the power of the multiple, as a way of reviving the artistic gesture. ARARA’s work - museum and street, individual and collective, copy and original, new and archaic, organic and geometric - articulates, blurs and, in a certain manner, echoes, as two halves of the same face or two sides of the same coin. Hence, it is no accident that ARARA chose the Rorschach ink blot and the mask as axial elements in the Black on White project conceived for Guimarães.

The intervention initially consists of the production of posters, created in workshops organised with students from the Francisco de Holanda Secondary School, located nearby the Plataforma das Artes. The posters were made using fabrics of different dimensions stamped with mask-shaped Rorschach ink blots, resulting from a collaboration with the Lameirinho Factory in Guimarães - a contemporary example of the continued existence of the textile industry in this region.

Subsequently, affixed in the public space, in the street, these posters and banners activate, so to speak, this process of circulation - we could say contamination - between different categories, that are short-circuited in their functions and representations. The poster, as an encoded medium of mass dissemination, is transformed, through (re)production of a formal archetype, into the projection of the space of idiosyncrasy and subjectivity; the mask, which traditionally represents the elimination of individuality, becomes a projection of a personal and intransmissible portrait.

While, on the one hand, the poster preserves the energy, power and aura of protest and insubordination, the flag “launches an appeal to the sky. It creates a link between the high and the low, the heavenly and the earthly”. It signals the presence of the air (of the wind) and, in a way, is the materialization of this invisible dimension that unites us. Mystery and community.

The wind blows, doesn’t blowThe sea howls, doesn’t howl No-one’s behind me Oh! My God Who’s pushing me so hard? (a popular rhyme)

ARARA é um palíndromo (uma palavra simétrica que se lê da mesma forma nos dois

sentidos) que representa de forma criptada a oficina como uma plataforma rotativa

que pretende recuperar, através da potência do encontro e de uma ideia de comuni-

dade, a função da arte enquanto forma de catarse coletiva. Para além disso, é uma

palavra que se desdobra noutras palavras – ar, arar, rara – multiplicando-se em sen-

tidos e operando um vaivém entre a ideia de reprodução e de repetição e a produção

de diferença ou variação sobre um mesmo tema, que constantemente marca o ritmo

de trabalho e de construção discursiva da Oficina.

De facto, a Oficina ARARA tem vindo a repensar e a propor, com as suas inter-

venções no espaço público e a energia gerada em torno de diversas colaborações en-

tre várias disciplinas e linguagens, a potência do múltiplo como forma de reativação

do gesto artístico. Na prática dos ARARA, museu e rua, indivíduo e coletivo, cópia e

original, novo e arcaico, orgânico e geométrico, articulam-se, indistinguem-se e, de

certa forma, ecoam-se como duas metades do mesmo rosto ou duas faces da mesma

moeda. Assim, não é por acaso que escolheram a mancha de Rorschach e a máscara

como elementos axiais do projeto Preto no branco que conceberam para Guimarães.

A intervenção consiste, num primeiro momento, na produção de cartazes, rea-

lizados em oficinas de trabalho promovidas com alunos da Escola Secundária Fran-

cisco de Holanda, vizinha da Plataforma das Artes, e de tecidos de diferentes dimen-

sões estampados com manchas de Rorschach em forma de máscara, resultantes de

uma colaboração com a Fábrica Lameirinho de Guimarães, um exemplo contempo-

râneo da persistência da indústria têxtil nesta região.

Posteriormente afixados no espaço público, esses cartazes e bandeiras operam,

por assim dizer, uma circulação - poderíamos dizer contaminação - entre categorias,

curto-circuitadas nas suas funções e representações: o cartaz, enquanto suporte co-

dificado de divulgação massiva, torna-se, através da (re)produção de um arquétipo

formal, a projeção mesma do espaço da idiossincrasia e da subjetividade; a máscara,

que tradicionalmente representa o apagamento da individualidade, torna-se numa

projeção de um retrato pessoal e intransmissível.

Se, por um lado, o cartaz preserva a energia, a potência e a aura do protesto e da

insubmissão, a bandeira "lança um apelo ao céu, cria um elo entre o alto e o baixo, o

celeste e o terrestre", sinaliza a presença do ar (do vento) é, de certa forma, a materia-

lização dessa dimensão invisível que nos une. Mistério e comunidade.

Oficina ARARABlack On White

With the start of our regular programming, we’ve inaugurated a series of interventions in the hall of CIAJG. The first of these is organized by the Oficina ARARA: a project based in Porto, structured around group work, the power of collaboration and the energy of the encounter, celebration and ritual. ARARA is an autonomous and open space of experimentation that is dedicated, essentially but not exclusively, to the production of posters, books and other editions.

Com o início da programação regular inauguramos um conjunto de intervenções no hall do CIAJG. A primeira dessas intervenções é da responsabilidade da Oficina ARARA, um projeto sediado no Porto que se estrutura em torno do trabalho coletivo, da força da colaboração e da energia do encontro; um espaço autónomo e aberto de experimentação em torno, essencialmente mas não exclusivamente, da produção de cartazes, livros e outras edições.

Oficina ARARAPreto no Branco

HALL CIA JG E E SPAÇ O PÚBLIC O

hall of the CIAJG and public space

O vento venta, não ventaO mar que urra, não urraAtrás de mim não vem genteOh! Meu DeusQuem é que tanto me empurra?

(lengalenga popular)

Page 8: Guimarães Arte e Cultura | CIAJG | jornal 1º ciclo expositivo 2014

Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG)Plataforma das Artes e da Criatividade

José de Guimarães International Arts Centre (CIAJG)Platform of Arts and Creativity

Horário de funcionamento

terça a domingo10H00 às 19H00 (última entrada às 18H30)

Tarifário

4 eur / 3 eur menores de 30 anos, estudantes, cartão jovem, maiores de 65 anos, cartão municipal de idoso e reformados, pessoa com deficiência e acompanhante, cartão quadrilátero cultural / Entrada Gratuita crianças até 12 anos / domingos de manhã (10h00 às 14h00)

Opening hours

tuesday to sunday10am to 7pm (last visit 6.30pm)

Tariffs

4 eur / 3 eur under 30 years, students, holders of the cartão jovem, over 65 years, holders of the cartão municipal de idoso, reformados (senior and pensioner’s card), handicapped patrons and the person accompanying them, holders of the cartão quadrilátero cultural / Free Entrance children until 12 years old / sunday morning (10 am to 2.00 pm)

Av. Conde Margaride, 1754810-535 Guimarães, PortugalTelefone/Phone + 351 300 400 444N 41.443249, W 8.297915

Organização Financiamento Parceiro oficial da Oficina Apoio à Produção no projeto "Preto no Branco"

Apoio e Colaboração CIAJGApoios Oficina