gramsci, a. escritos políticos, vol. iv

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Page 1: Gramsci, a. escritos políticos, vol. iv

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Page 2: Gramsci, a. escritos políticos, vol. iv

coleccdo universidade livreVolumes publicados

I —Estilistica da Lingua Portuguesapor Rodrigues LapaEsgotado

2—MarxlEngelspor Jean Bruhat

3-0 Modo de Produgrio Asiatic°C E. R. M.

4 —Camponeses, Sans-Cullotes e lacobinospor Albert Soboul

5— CondicOes Actuais do Humanism°por Hector Agosti

6—Escritos Politicos—Vol. Ipor Antonio Gramsci

7—Sobre as Sociedades Pre-Capitalistas—Vol. Iper Maurice Coddler

8 —Sobre as Sociedades Pre-Capitalistas —Vol. IIAntologia de Marx/Engels

9 —Estrutura e Dialictica da Personalidadepor Alberto L. Merani

10-0 Capitalismo Monopolista de Estado—Vol. Ipor Paul Boccara

11-0 Capitalismo Monopolista de Estado—Vol. IIpor Paul Boccara

12-0 Capitalism° Monopolista de Estado —Vol. IIIper Paul Boccara

13-0 Capitalismo Monopolista de Estado—Vol. IVpor Paul Boccara

14—Escritos Politicos—Vol. IIpor Antonio Gramsci

15—Economia Politica do Capitalismo—Vol. Ipor Humberto Perez Gonzalez

16—Economia Politica do Capital ismo—Vol. IIpor Humberto Perez Gonzalez

17 —Sobre o Capital de Marxpor Friedrich Engels

18 —Escritos Politicos — Vol. IIIpor Antonio Gramsci

19 — Escritos Politicos — Vol. IVpor Antonio Gramsci

Page 3: Gramsci, a. escritos políticos, vol. iv

Traducdo de

Manuel Sinuies

Capa de

Acacio Santos

C Institute Gramsci eEmpresa de Publicidade Seara Nova, SARLRua Bernardo Lima, 42-r/c.—Lisboa

Antonio Gramsci

escritospoliticos

Volume IV

SEARA NOVA1978

Page 4: Gramsci, a. escritos políticos, vol. iv

NOTA PRÈVIA

Na tradugao que se apresenta agora tivemos o cuidadode respeitar tanto quanto possivel, a prosa nada fdcil deGramsci conhecida a sua tese de obrigar o leitor a urnesforgo de leitura), os seus periodos dilacerados pela necessi-dade de exposigiio do rigor ideolOgico, o seu aestiloD, o queequivale a dizer que procurdmos respeitar o homem e o pen-sador.

Se se considerar, edam disso, que ester textos correspondema juventude do autor (o primeiro dos quais, corn efeito, escritoGramsci (a conhecida a sua use de obrigar o leitor a ummomento de pesquisa Mc) s6 ideolOgica coma linguistica, tere-mos um quadro de condicionalismos que a prosa de Gramsci!Lilo deixard de reflectir, tornando-se mais afluidan a medidaque o seu autor avanga para a maturidade. (N. do T.)

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C

cCR

INDICE

1925

A fungal° do reformismo em Italia 11A escola de Partido 17Necessidade de uma preparagio ideolOgica de massas 21A intervened° no Parlamento sobre a maconaria 29.La Rivoluzione liberales e a frente Unica operiria 45A vontade das massas 49A situicao interna do nosso Partido e as tarefas do prOximo

congress° 55A organizacao por ctlulas e o II Congresso Mundial 71A organizagdo base do Partido 75Oportunismo e frente Unica 83

1926

0 significado e os resultados do III Congresso do Partido Comu-nista de Italia 87

0 camarada G. M. Serrati e as geragOes do socialismo italiano 111Lim exame da situa gdo i taliana 117A URSS a caminho do comunismo 127Em que direcedo se desenvolve a Ulla° Sovietica? 133Os camponeses e a ditadura do proletariado 139Russia, Italia e outros pafses 145Ainda acerca das capacidades organicas da classe operaria 149NOs e a concentraedo republicana 155Carta ao Comite Central do Partido Comunista Soviatico 159Carta a Togliatti 167Alguns temas da questdo meridional 171

A pendiceA situaerio italiana e as tarefas do PC7 201

Page 6: Gramsci, a. escritos políticos, vol. iv

if

A FUNCAO DO REFORMISMO EM ITALIA (•)

Durante muito tempo, em Italia, foi possivel ao refor-mismo ocultar-se sob a bandeira do socialism° por uraa faltade clareza das suas concepciies no raovimento operario. E re-cente, de facto, a formagdo de um Partido reformista, masnao a recente o reformism° em Italia. Se Filippo Turati, chefedesta corrente, Ode sex tornado durante muito tempo comesocialista, isso aconteceu por calm da lentidão corn quedesenvolveram os particles em Italia. Estudiosos e obsca-vado-res ingleses adatiravarn-se, de facto, ja desde antes da guerra,que a burguesia italiana considerasse Turati coma socialista.Mas o erro nao foi cometido apenas pela classe burguesa: omesmo erro foi considerado, ate ha poucos anos, galas classestrabalhadoras. 0 que e o socialismo de Turati e do seu par-tido, 6 hoje claro a todos; e um liberalismo democratic° que,como nos outros raises capitalistas, tem a funck• de uesquerdaburguesan. Antes de conseguir esclarecer assim a furicati doreformism° can Italia, muitas ligOes foram necessarias a classeoperkia, incluindo a do fascismo, a mais terrivel e a maisprOxima historicamente. E so coxn os acontecimeaatos do Os--guerra e coin a experiencia do proletariado internacional cluea classe operdria atinge, tambern em Italia, a claboracdo detuna sa doutrina politica marxista, de mode a distinguir as&as funceies de socialism° e reformismo.

Antes da guerra, o partido politico da classe operaria eratint s6: o Particle Socialista. Por •uitos anos, neste Partido,

(*) Näo assinado, L'Unite, 5-2-1925. A atribuieao a Gramsci tat)6 certa.

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se Sham verificado debates sabre o socialism° revoluciona-rio e sobre as reformers, sobre a colaboracAo e sobre a intran-si,gencia. Mas destes debates nunca se tinha chegado elabo-racAo de tuna tactica e de um programa sociansta de modo adesmscrarar a tendAncia reformista, apresentando-a come 6realmente, isto 6, uma tenclencia burguesa infiltrada no movi-mento operdrio. Intransigente e refonnista [deviant] ( 1) estarno mesmo partido, o que implicava necessariamente uma pla-taforma de accdo comum. Esta plataforma encontramo-la es-pecialmente na base eleitoral clue o Partido Socialista tinhaem Apesar de todos as apologias a luta de classes eafirmacties verbais de revolucionarismo, o Partido SocialistaItalian era substancialmente um partido dermocmta, a some-lhanga de todos os outros partidos quo se tinham desenvol-vide nos Ratites da II Internacional. Este caracter do PartidoSocialista resultou, em primeiro lugar, na tactica perante aguerra. A formula de sneutralidades, qua para a burguesiaitaliana aparecia come derrotista e subversiva a luz da criticasocialista, foi julgada e comdenada come uma formula aqui-voca e oportunista. E de facto era-o tante que ate os sociais--patriotas Turati e Treves podiam aceitar a mesma formulae aparecer aos Mhos das massas come pachnstas, ainda que talano fosse de considerar aninimamente.

A guerra cessou e iniciou-se o period° das consequancias.A crise revoluciontria do apes guerra surpreende o PartidoSocialista näo preparado para enfrentar todos os problemasda revolugdo proletaria. Faltam ideias darns sobre a funcnodo Particle, sobre as tarefas da clause operdria na conquistado poder e na criagalo do Estado proletario. 0 periodos dopas-guerra assinala de facto o period° de preparacão maisintensa da classe operaria revolucionaria. A experiencia doproletariado russo fai estudada, assimilada, tornada prepriado proletariado italiano. Atraves de uma longa strie de agita-cries e de movimentos, a classe operaria forja a sua conscien-da A ffibrica torma-se o centre de formacnotesta nova consciência. Os problemas do control° operario,da producao socialista, do Estado oper eario, da funcno do Par-tido pnolethrio, das relaches entre o Particle e a a-evolucao sae

e) o texto original repete aqui a linha, corn evidente erro tipo-seffico: .apresentando-a como 6 realmentex, tomando incompreensfvelo stand° da frase que provavelmente se deve ler coma propomos.

ra,

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aqueles de que se ocupa ;testa period° a Masse °pet-aria. Des-padaca-se a tradigdo democratica do Partido Socialista; qua-bra-se a velha e traditional plataforma eleitoral; forma-se umanova educacAo. proletaria; determinam-se novas orientactiesno interior da classe operaria. De todo este intern trabalhoda classe operaria surge am 1921 o Partido Comunista, secciASitaliana da Internacional Comunista. Mas o reformism° ado°bandana ainda a sua mAscam; continua ainda a ocultar-sesob o name de socialism°, o qual, a partir deste memento, seteam equivalents de oportunismo, isto 6, de anti-socialismo.Qua1 é a tactica seguida ate aqui pates reformistas?

Perante o profuardo despertar no mein dos trabalhadomsitalianos, determinaclo pela Rtissia revoluciondria, os refor-mistas Igo seguiram a tactica de uma oposiclo nitida e abertaque os teria atirado para um isolamento complete. Pelo con-trade, preferiram agir corn a hipocrisia conhecida em todosos sociais-traidores, para masearar os seus pianos contra-revo-lucionarios. E aceitaram comparecer na Rtissia, como D'Ara-gona e outros, representando o proletariado revoluciandrioitaliano; e mostraram aceitar o conceito de ditadura proleta-ria, embora deformando-o come na mech..° de Reggio Emilia;e nem sequer repudiaram o conceito de violencia, come o prO-prio Turati se esforcce em provar nos seus discuses de Bo-lonha e de Livorno C . Este comportamento dos reformistasfoi depois assiin definido per D'Aragona: "Os reformistasficaram no Partido Socialista para sabotarem a revolucrao.)

Precisamente para sabotar a revolucäo, isto 6, para salvara burguesia do avanco da classe operaria, os reformistas remconduzido, de traicao em traicao, os trabaihadores italianosparer a derrota, criando assim as condicOes faveraveis ao de-senvolvimento_ e ao sucesso do fascism°. Antes da perm, osreformistas exerceram no Particle Socialista a tuned° de con-tra-revolutionaries, fazendo aceitar as macsas que seguiameste Particle, ainda que em minoria, a sua ideologia social--pacifista. Permanecendo no Partido Socialista no pOs-guerrae conservando nas suns Maas as maiores organizacOes opera-rias, os reformisms puderam, atravts de desvios de toter aespecie, continuar a sue °lam contra-revolucionaria, crama sistermatica sabotagem de todos os movimentos que podiarn

(I) 0 XVI e o XVII Congress° do PSI, de 1910 e de 1921.

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desembocar na luta de proletariaclo para a conquista do poder.Exemplo ripico: a ocupagio das fabricas.

A furled° e a natureza oontra-revolucionirias dos refor-mistas revelaram-se, port, claramente neste Ultimo period°depois da formacio de uma s6lida vanguarda tevolucionariaan Italia e dos desenvolvimentos politicos determinados polofascism°. Caftan todas as mascaras. Os reformistas tiveramque aparecer na sua verdadeira luz, apesar de ousaicm aindaapoiar-se, assaz brandamente, nos principles da luta de clas-ses. A sua funglio de servos do capitalismo e dos agentes bur-guests no movimeato operario resultou, corn grande evidencia,dos filtimos factos e especialmente das providências tomadaspales chefes confederais corn a recente expulsão de tees orga-nizaciies comunistas Qual o exact° significado desta ati-tude dos chefes confederais? SO pode set explicada pondo-aem relacAo corn as negociagbes em curso entre populares,agiolittianosb e reformistas. Afastados da vanguarda revolu-ciondria da classe operaria, os socialistas Tao podiam deixarde acabar nos braces da burguesia. Este proces.so, que se vent-ficou ha tempos nos outros paises capitalistas, vai-se cum-wind° tambem em Italia. Os reformistas, depois de teremsabotado o movimertto revolucionario, rido oonquistaram bas-tames titulos de glOria aos olhos da classe burguesa para themerecerem a confianca. Devem mostrar agora que nao s6estäo dispostos a sabotar o movimento operatic) revoluciona-rio mas tambem a oombate-lo; into e, devem assegurar a bur-guesia de que a sua tactica e o seu programa de govern° näosae diversos da tactica e do programa dos trabalhistas inglesese dos sociais-democratas alemäes. Como os trabalhistas ingle-ses, os reformistas italianos seriam, no memento prOprio, bonsmonar. quicos e bons administradores dos banqueiros italianos,corno os sociais-democratas alemäes (republicans cam grandepesar, confessou-o o presidente Ebert) saberiam, em case denecessidade, fazer funcionar as metralhadoras contra os comu-nistas, seguindo nada marls nada memos o exemplo de Ham-

(') Trata-se de Nicola, Juraga e Ghidetti, subscritores de umaITIOCIO de aspera condenacno do trabalho confederal e promotoresde urn comitê secreto de d.forra proletina. CY. os documentospublicados num °plasm/10 do PCd'I: sindicale: i comunisticontra la manovra scissionista dei riformisti confederall, Mill°, 1925.

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burgo (4). A expulsAo dos primeiros comunistas da Confedt-raglo so dove entender-se, portant°, como uma acpio demons-trativa destinada a assegurar ras fraccOes burguesas nester diasde negociacdes entre populates, itgiolittianosi e reformistas.A atitude dos chefes confederais completa a atitude dos popu-lates, de resto inspirada por Taal. E precise criar um novobloc° anticomunista, depois da experiEncia fascista. E os re-formistas tom querifdo criar urn novo titulo de matte parafazer pane do bloco. A funedo do Farad° Socialista Unitario6 assim historicamente decidida: é a mesma do partido deNoske (*). A quern cabe a honra de representar em Italia opapel do social-traidor alemão?

(4 ) Gramsci refere-se a insurreicito comunista de Setembro de1923, reprimida duramente polo Govern° de Stresemann.

(•) V. nota da pag. 31.

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A ESCOLA DE PARTTDO(*)

Enquanto se inicia o primeiro curse de uma escola lie Par-tido, tián podemos deixar de pensar nas numerosas tentativasclue se fizera.m neste campo, no intern do movirnento ope-rario italiano, e na singular sorte que elan tiveram. Deixemosde parte as tentativas levadas a efeito numa direcgdo que naoé a nossa, na direcgão das aUniversidades p proletarias semcor partiddria, academias oratOrias privadas de qualquer in-tern° principio de coesão unitkia nos sous melhores elemen-tos, frequentemente wiculo da influancia, sobre a classe ope-rOria, de esforgo e ideologias antiproletdrias. Tiveram o destinoque Ihes convinha, de sucessào e cruzamento sem deixar ne-nhum trago profundo. Mas nem sequer a propOsito das tenta-tivas feitas no nosso campo, e sob a nossa direcgão, se podedizer muito de diverso. Tiveram, acima de tudo, sempre carOc-ter esporaidico e, alem disso, nunca conduziram a resultadossatisfatOrios. Recordemos, per exemplo, os anos 1919-20. A es-cola entdo iniciada em Tarim, entre um grande fervor de entu-siasmo e em condiglies assaz favoraveis, nem sequer durou otempo necessdrio para desenvolver o programa tragado no inf-cio. Nao obstante isto, teve uma repercussâo bastante favo-ravel no nosso movimento, porem não aquele que esperavamos promotores e Os alunos. Das outran tentativas, per aquiloclue conhecemos, nenhuma teve o sucesso e a repercussOlo da-quela. Nunca se sai.0 do grape limitado, do pequeno ctrculo,do esforgo de poucos isolados. Ndo se conseguiu combater e

(*) Näo assinado, L'Ordine Nuovo, 1-4-1925, rubrica tEditoriales.

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superar a aridez e a infecundidade dos restritos movimentosacuituraisn burgueses.

Motivo fundamental (testes insucessos foi a ausancia deuma ligagdo entre as aescolasa projectadas ou iniciadas e ummovirnento de caracles objectivo. 0 rune° caso em que existeesta ligagdo é o da escola de Ordine Nuovo de que falamosno infcio. Neste caso, porem, o movimento de catheter objec-tivo —o movimento de fabrica e de partido, em Turim— 6de tal amplitude que excede e quase anula completamente atentativa de criar uma escola na qual at afinem as capacida-des tecnicas dos militantes. Uma escola adequada a impartAn-cia daquele, rnovimenito requereria, ado a actividade de poucos,isms o esforgo sistematico e ordenado de todo um partido.

Cobsiderada dente modo a pouca sorte que tocou ate agoraas tentativas para criar escolas path os militantes do proleta-riado, em Macao corn a sua causa fundamental, ela apart=ndo tanto como um mat mas como shoal de inatacabilidadedo movimento operar� per parte do que seria, para ele,efectivamente um malt Mal seria at o movimento operariotornasse campo de saque ou instrumento de experiencia paraa suficiencia de mai formados pedagogos, se ale perdesse o seucatheter de apaixonada militia para assumir os de estudoobjective) e de aculturan desinteressada) Nem um aestudoobjectivoa nem uma ((coitus/a desinteressadaa podem ter lugarnas nossas fileiras, nada que at assemeihe ao que 6 conside-rado come) objective) normal de ensino, segundo a concepcdohumanista, burguesa, da escola.

Somos uma organizacdo de luta e nas nossas fileiras estu-da-se para aumentar, para afinar as capacidades de luta decada urn e de toda a organizagdo para compreender melhorquais sato as posigdes do inimigo e as nossas, para melhorpoder adequar, a partir delas, a nossa aced° de cada dia. Es-tudo e cultura nao sdo, path n6s, outra coisa send° conscidn-cia teerica dos nossos fins imediatos e supremos e do modocoma poderemos conseguir traduzi-los na pratica.

Ate que ponto esta consciéncia existe hoje no nosso Par-tido, se difundiu nas suas fileiras, penetrou nos camaradas quetorn funcdes de direccdo e nos simples militantes que devemper quotidianamente em contacto corn as massas as palavrasdo Partido, tomar eficazes as suas orders. realizar as sunsdirectivas? Ainda nao, segundo cremos, na medida necessiriaPara nos tomar aptos a cumprir em cheio o nosso trabalho de

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guia do proletariado. Ainda ndo na medida adequada ao nossodesenvolviniento numeric°, aos nossos recursos organizativos,As possibilidades politicas que a situacdo nos oferece. A escolade Partido deve propor-se preencher o vazio que existe entreo que deveria set- e o que 6. Esta estreitamente ligada camum movimento de forgas que nos demos o direito de conside-rar como as melhores que a classe operiria italiana desenvol-veu no Sou interior. a vanguarda do proletariado, a qualforma e instrui os seus quadros que junta uma arma — a sunoonscidncia teinica e a doutrina crevolucionéria— aquelas cornas quais se prepana para onfrentar os seus inimigos ou as suasbatalhas. Sem esta anna o Partido tido existe e sem Partidonenhuma vitOria 6 possivel.

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NECESSIDADE DE UMA PREPARACX0IDEOLOGICA DE MASSAS (5)

Ha quase cinco anon que o movimento operdrio revolucio-nario italiano caiu numa situagdo de ilegalidade ou de semi-legalidade. A -liberdade de Imprensa, o direito de reunido,de associaclio e propaganda, foram praticamente suprimidos.A formacdo dos quadros dirigentes do proletariado nao pode,portant°, verificar-se pelas vial e corn os metodos que cramtnadicionais em Italia ate 1921. Os elementos operdrios maisactivos sdo perseguidos, sao controlados em cada movimento,em cada leitura; as bibliotecas operarias foram incendiadas oudispersas; as grandes organizaeOes e as grandes accOes demassa ja ndo existem ou ndo podem actuar-se. Os militantesndo participam, ou participam s6 em medida limitadissima,nas discussees e no contraste das ideias; a vida isolada ou areuniao casual de pequenos grupos reservados, o habito quese pode formar de uma vida politica que noutros tempos pare-cia excepted°, suscitam sentimentos, estados de ânimo, pontosde vista que sdo frequentemente errados e algumas vein atem6rbidos.

Os novos tnembros que o Partido conquista nuns tai si-tuagdo, evideatemente homens sinceros e de vigorosa fe revo-luciondria, ndo podem chegar educados aos nossos metodospela ampla actividade, pelas largas discussOes, pelo cc•ntroloreciproco que sac) pr6prios dos periodos de democracia e delegalidade. Prospecta-se assim um perigo muito grave: a massa

(s) Escrito em Maio de 1925, publicado em Lo Stato operaiode Margo-Abril de 1931.

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do Partido, habituando-se, na ilegalidade, a pensar apenas nosexpedientes necessaries pam fugir as surpresas do inimigo,habituando-se a ver possiveis e imediatamente organizaveis seac vies de pequenos grupos, vendo como os dominadores apa-renternente venceram e conservam o poder corn o trabalho deminorias armadas e enquadradas militarmente, afasta-se insen-sivelmente da concepgao marxista da actividade revoluciona-ria do proletariado e, quando parece radicalizar-se, pelo factode se ouvirem frequentemente enunciar propOsitos extremistase frases sanguinolentas, torna-se, na realidade, inoapaz de yen-= o inimigo. A histOria da classe operaria, especialmente na6poca que atravessamos, mostra como este perigo nao 6 ima-gindrio. A recupea-agao dos parades revolutionaries, depois deurn periodo de ilegalidade, 6 frequentemente caracterizada porum intravavel impulse a aceao pela acedo, pela ausencia dequalquer consideragao (Las relagOes reais das forgas sociais,do estado de animo das grandes massas operarias e campone-sas, this condigeies do armament°, etc. Sucedeu assim mantasvezes que o Partido Revolucionario se fez massacrar pelareaceao ainda nao desagregada e cujes reservas nao tinhamsido justamente consideradas, entre a indiferenga e a passivi-dade das grandes massas, as quaffs, depois de um perfodo reac-cionario, se tornam muito prudentes e caem facilmente no pa-nico cada vez que se perspectiva um regresso a situagao deque entao safram.

dificil, em linha geral, que tais erros se nao verifiquem;6 por isso imperioso que o Partido se preocupe e desenvolvauma determinada actividade que tenda especialmente a melho-nar a sua organizaeao, a elevar o nivel intelectual dos naern-bros que se encontram nas suas fileiras no period° do tenorbranco e que se destinam ao Miele° central, e mais resistenteas proves e sacrificios do Partido, quo guiard a revolugao eadministrara o Estado proletario.

0 problema aparece, assim, mais amplo e mais complexo.A recurperagao do movimento revolucionario e especialmentea sua vitOria langam no Partido uma grande massa de novoselementos. Estes nao podem ser recusados, especialmente sesao de origem prolotaria, porque a sua adesào 6 precisamenteum dos sinais mais sintomatioos da revolugao que se estaverificando; mas pOe-se o problema de impedir que o nacleocentral do Partido seja submerse e desagregado pela nova eimpetuosa onda Midas recordam o que aconteceu em

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depois da guerra, no Particle Socialista. 0 nada° central, cons-tituido por camaradas fitis a causa durante o cataclisma, res-tringiu-se till se reduzir ao atimero de cerca de 16 000. NoCongress° de Livorno estavem represontados 220 000 secios,isto e, existiam no Partido 200 000 aderentes do pes-guerra,sem preparagdo politica, ern jejum, ou quase, em relacao aqualquer nogao da doutrina marxista, presa facil dos peque-nos burgueses declamadores e fanfandes que constituiram,nos anos 1919-20, o fenOmeno do maximalismo. Nao 6 semsignificado que o actual theft do Partido Socialista e directordo Avant!! seja precisamente Pietro Nonni, entrado no Par-tido Socialista depois de Livorno mas que resume e sintetizaem si todas as fraquezas ideolOgicas e os caracteres distintivosdo maidmalismo do pOs-guerra. Soria verdadeiramente urncrime que no Partido Comtmista se verifieasse, em relagao aoperiodo fascista, o que se verificou no Particle Socialista emrelagao ao period° da guerra: mas into seria inevitavel se onosso Partido nao tivesse uma directriz tambem neste camp°,se nao providenciasse corn tempo para reforgar ideolOgica epoliticamente os sous actuais quadros e os sous actuais mem-bros pan os tornar capazes de canter e enquadrar massasainda mais amplas sem que a organizagao sofra muitos so-bressaitos e sem que a figura do Particle seja mudada.

Pusemos o problema nos seus termos praticos mais ime-diatos. Mas ele tom uma base que 6 superior a 'Midas as con-tiniencias imediatas.

Sabemos que a luta do proletariado contra o capitalism°se desenvolve em très frentes: a ecanOmica, a politica e aideolOgica. A luta econOmica tern trés fases: de resistanciacontra o capitalismo, into 6, a fase sindical elementar; de ofen-siva contra o capitalism° pelo controlo operdrio da produgao;de luta pan a eliminacao do capitalism° atraves da sociali-zacao. Tambem a luta politica tern très fases principais- lutapan travar o poder da burguesia no Estado prarlamentar, isto6, para manter ou criar uma situaeao democratica de equili-brio entre as classes que permit-a ao proletariado a organiza-gao e desenvolvimento; luta pan a conquista do poder e pana criagao do Estado operario, isto 6, uma accao politica com-plexa, atraves da qual o proletariado mobilize a sua voltatodas as forcas sociais anticapitalistas (am primeiro lugar, aclasse camponesa) e as conduza a vitoria; fase da ditadura doproletariado organizado como classe dominante pam climatal

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Page 13: Gramsci, a. escritos políticos, vol. iv

todos os obstAculos recnicos a socials que so interponlaamrealizacão do comunismo.,

A luta economics neo se pode desligar da luta politica enem tuna nem ourra se podem desligar da luta ideolOgica.

Na sua primeira face sindical; a luta econ6mica 6 espon-tinea, isto 6, na cre inelutavelmente da prOpria situacdo omque se encontra o proletariado no regime burgues, mas tido6 per si prOpria revolucionaria, isto 6, nlio conduz necessaria-mente ao derrube do capitalism° como sustentaram o conti-nuam a sustentar corn manor sucesso os sindicalistas. Isto 6too ovidente que os reformistas e ate os fascistas admit= aluta sindical elementar, ou melbor, sustentam que o proleta-riado, como classe, nä° dove desenvolver outra luta que nãoseja a sindical. Os reformistas s6 se difeleaciam dos fascistasporque sustentam que, polo manes os proletArios como indi-viduos e cidadãos (sea nao fizer o proletariado come classe),devem lutar tambena pela ademocracia em geral,, isto 6, pelademocracia burguesa, !par outras palavras, que Intern se, panmanter ou criar as conclicaes politicas da Pura luta de resis-tencia

Para que a luta sindical se tome urn factor' nevolucionarioocorre que o proletariado a acompanhe corn a luta politica,isto 6, que o proletariado tenba consciencia de ser o protago-nista de ,uma luta geral que investe todas as questees maisvitals da organizacho' social, isto 6, tenha consciencia de lutarpelts socialismo. 0 element() gespontaneidades, nen 6 suficientepara a luta revolucionaria: nunca conduz a classe operdriapara alem dos Unites da democracia burguesa existente. E ne-cessario o elemento consciencia, o element° cideolOgicoD, isto6, a compreensdo das condicees em que se luta, das relagOessocials em que viva o oporArio, das tendências fumlamentaisque operam no sistema destas relacees, do processo de desen-volvimento que influencia a sociedade pela existencia no souintern de antagonismos irredutiveis, etc.

As tres frentes da luta proletaria reduzem-se a urns s6para o Partido da classe operaria, que 6 tal, precisamente,porque resume e representa todas as exigendas da luta geral.Não se pode decerto pedir a cada operArio quo tenha umacompleta cansciencia de toda a complexa fimcao que a suaclasse esta determinada a realizar no process° de desenvolvi-

mutts da humanidade: mas isso dove ser exigido aos mem-bros do Partido. Mao nos podemos proper, antes da conquista

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do Estado, modiScar completameute a oansciencia de toda aclasse operaria; seat utOpico porque a consciencia de classe,coma tal, s6 se modifica quando se tiver modiflcado o modode viler da prOpria classy, into 6, quando o proletariadotornar classe dominante, sl yer a sua disposiclo o aparelho deproducOo e comercializaclo e o poder estatal. Mas o Partidopode e dew, no sou conjunto, mpresentar esta cormeienciasuperior; de outro mad) ndo se apresentari A cabeca mas acauda das massas, nAo as guiaza, mas sera arrastado per alas.Pea: isso o Partido deve assimilar o marxismo e dew assimi-la-lo na sua forma actual, coma leninismo.

A actividade tearica, into 6, a luta na frexte ideolOgica,foi sempre transcurada no movimento operario0 marxismo, em Italia (corn excepcdo de Antonio Labriola),foi mais estudado pelos inmlectuais burgueses pars o desna-turarem e dirigirem no sentido da politica burguesa, do quepelos revolucionArios. Vimos, per isso, conviverem ao mesmotempo e pacilioamente no Partido Socialista Italian es ten-dencias mais dispares, vimos coma opiniOes officials do Par-tido as concespcOos mais contradit6rias. Nunca as direcceiesdo Partido imaginaram que para lutar contra a ideologia bur-guesa, into 6, para libertar as massas da influencia do capita-lismo, ocorria primeiro difundir no pr6prio Partido a doutrinamarxista a ocorria defende-la de todas as contrafaccees. Estatradicao nen foi interrompida, polo mans de modo sisternA-tico e corn uma actividade notavel e cuutinuada.

Diz-se, todavia, que o marxismo teve grande difuslo emItalia e, num certo sentido, isso 6 verdade. Mas 6 verdadetambent que uma tal difusao nao serviu o proletariado, nãoserviu pars criar novos meios de luta, ndo foi urn fenOmesaorevolucionirio. 0 marxismo, isto 6, algumas afirmagefes extrai-das dos escritos de Marx, serviu a burguesia italiana para=star que por necessidade do sou desenvolvimento era ne-cessirio menosprezar a democracia, era necessario pisar asleis, era necessario rir da liberdade e da justica: into 6, foicharnado marxismo, pelos filesofas da burguesia italiana, aconstatacdo de que Marx estabeleceu sistemas que a burgue-sia adopta, sear necessidade de recorrec a justificacties... mar-xistas, na sua luta contra os trabalhadores. E os reformistas,pars corrigir esta interpretacio fraudulenta, tornaram-se demo-cratas, transformaram-se em turiferarios de todos os santosconsagrados polo capitalismo. Os te6ricos da burguesia ita-

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liana tiveram a habilidade de criar o conceit° da anagdo pro-letariaa, into 6, de sustentar que toda a Italia era aproletdriaae que a conceptho de Marx devia aplicar-se a luta da Italiacontra os outros Estados capitalistas, ado a luta do proleta-riado Rattan° contra o capitalism° italiano; os amarxistasodo Partido Socialista deixaram passar em claro estas aberra-�es que foram aceites por um, Enrico Ferri, que passava poxum garde .bthrico do socialism°. Esta foi a difusdo do mar-xismo em serviu de salsa a todos os indigestos molhosque os mais imprudent aventureiros da caneta quiseram p'O'rA venda. Foram marxistas, deste 111(Xkl, Eurico Ferri, Gu-glieLrno Ferrero, Achille Loria, Paolo Grano, Benito Mus-solini...

Pam lutar contra a confusdo que se foi deste modo criando,6 necessésio que o Partido intensifique e tome sistematica asua actividade no eampo ideolOgico, que estabelega come umBever do militante o conhecimento da doutrina do marxismo--leninismo, pelo menos nos seas termos mais gerais.

0 nosso Partido nab 6 um partido democratic°, pelo me-nos no sentido vulgar que comummente se da a esta palavra.E urn Partido centralizado, nacional e internacionalmente. Nocampo internacional, o nosso Partido 6 lama simples secthode um partido maim, de urn partido mundial. Que repercusstiespode tea e ja teve este tipo de organizae -do que 6, todavia,uma ferrea necessidade da revolugdo? A prapria Italia nos dduma resposta a esta pergunta. Por reaccdo contra o habitualcostume do Partido Socialista, em que se discutia muito e seresolvia pouco, cuja unidade, pelo choque continuo das frac-thes, das tendencias e frequentemente dos atritos pessoais, sefragmentava mama infinidade de pedacas desconexos, no nossoPartido acabou-se por nao discutir coisa nenhuma. A centra-lizagdo (a unidade de perspectiva e de concepgdo) tinha-setransformado mama estagnagdo intelectual. Pam isto cotttri-buiu a necessidade da luta incessante contra o fascismo, quepnecisamente na fundatho do nosso Partido tinha jd passadoa sua lase activa e ofensiva, mas tambem a conceptho erradado Partido, tal como 6 exposta nas aTeses sobre a tacticapapresentadas no Congress° de Roma ( l). A cenaralizacdo e a

P) Trata-se do II Congresso Nacional do PCd'I, que se realizouem Roma, em Margo de 1922. As eases sobre a tactics., apresen-tadas por Amadeo Bordiga e Umberto Terracini, foram aprovadaspela maioria dos congressistas, incluindo Gramsci.

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unidade tram concebidas de modo muito mecaa' ico: o cornitócentral, ou melhor, o comith executivo era todo o Partido,em lugar de represents-lo e dirigi-lo. Se esta ooncepgdo fossepermanenteamente aplicada, o Partido perderia o seu catheterdistintivo politico e tornar-se-ia, no rnelhor dos cases, numexercito (e um exereito de tipo burgues): into 6, perderia asua forea de atractho, afastar-se-ia das massas. Para quePartido viva e esteja em contacto corn as massas ocorre quecada membro do Partido seja urn element° politico activo,seja urn dirigente. Precisamente porque o Partido 6 fortementecentralizado, requere-se um vasto trabalho de propag7nala ede agitagdo nas suas filas, 6 necessdrio que o Partido, de modoorganizado, eduque os seas membros e Ihes °lave o nivel ideo-.16gico. Centralizagdo quer dizer especialmente que, em qual-quer situag.lio, mesmo no estado de skit) reforeado, mesmoquando os comitgs dirigentes nao puderem funcionar pot urndeterminado period° ou foram postos em candied° de faltade ligatho corn toda a periferia, todos os membros do Par-tido, cada um no seu ambiente, serlio postos em oondithes dese orientarem, de saber extrair da realiciade os elementos parsestabelecer uma dircctriz pars que a classe operaria näo seabata znas sinta que 6 guiada e pode ainda lutar A prepara-tho ideolOgica de anassa 6, portant°, uma necessidade da lutarevoluciondria, 6 uma das condigOas indispensaveis da vitOria.

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A INTERVF_NGAO. NO PARLAMENTOSOBRE A MACONARIA (*)

Presidente:Tem a faculdade de falar o deputado Gramsci.

Gramsci:0 projecto de lei contra as sociedade secretas foi apre-

sentado ao Parlamento coma um projecto de lei contra a ma-gonaria; 6 o primeiro acto real do fascismo para afirmar oque o Partido fascista chama a sua revoluclo. N6s, coma Par-tido Comunista, queremos indagar Igo s6 o porquô da apre-sentacdo do projecto de Id contra as organizacOes em geralmas tambem o significado do facto de o Partido fascista terapresentado esta lei dirigida prevalentomente contra a maco-nari a.

Fomos dos poucos que tom6.mos a s6rio o fascismo, mesmoquando o fascism° parecia ser apenas uma farsa sangrenta,quando a volta do fascismo se repetiam apenas os lugares--comuns sabre a apsicose da guerra., quando todos as parti-dos procurava,m adormecer a populagdo trabalhadora apre-

(") E o tato do discurso pronunciado em 16-5-1925, publicadoem L'Unita, de 28-5.

( 1) 0 projecto de lei afirmava perseguir o objective de edisciplinara actividade das associagOes, entidades e institutos e a inscrigdo, neles,de empregados publicos.. 0 relatOrio ministerial precisava que sequeria ferir a magonaria. No primeiro artigo da lei sancionava-sea obrigagdo, para todas as associagc5es, de comunicar a relagao dosinscritos, no segundo proibiam-se todos os empregados do Estado dese inscreverem em associagóes secretas.

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sentando o fascismo como um fenOmeno superficial, de bre-vissima durac5o.

Em Novembro de 1920, previmos que o fascismo ocupariapoder —coisa então inconcebivel para os prOprios fascis-

tas— se a classe operkia rad° interviesse a tempo, corn asarenas, contra a sua avancada sangrenta.

fascism°, portant°, afirma hoje praticamente querericonquistar o Estado). 0 que significa esta expressdo tornadaja lugar-comum? E que significado tem, neste sentido, a lutacontra a magonaria?

Ulna vez que pensamos que esta Ease da Rcanquista fas-cistas 6 uma das mais importantes atravessadas p&p Estadoitaliano e, polo que nos diz respeito, sabendo que represen-tamos os interesses da grande maioria do povo italiano, dosoperarios e dos camponeses, cremos necessiria uma anailise,ainfla qua apressada, da questão.

que 6 a magonaria? Foram ditas muitas palavras sabresignificado espiritual, sobre as correntes ideolOgioas que ela

representa, etc.; mas Codas :as säo formal de expressão deque vos servis somente para vos enganardes reciprocamente,corn plena consciencia.

A maconaria, dada o modo coma se coaastituiu em Italiaem unidade, dada a fraqueza inicial da burguesia capitalistaitaliana, a maconaria foi o finico partido real e eficiente quea classe burguesa teve por Inuit° tempo. precis° não esque-cer que pouco antes de vinte anas depois da entrada dos pie-monteses em Roma, o Parlament° foi dissolvido e o corpoeleitoral reduzido de cerca de 3 milheies a 800 mil

Esta foi a confissão explicita, par parte da burguesia, deser tuna Mama miliaria da populagdo se, depois de vinte anosde unidade, foi obrigada a recarrer aos anedos mais extremosde ditadura para se manter no poder, para esanagar os seusinimigos de classe que et-am as inimigos do Estado unitario.

Quais cram estes inimigos? Era pa-evalentemente o Vati-can°, cram os jesuitas, e 6 precis .° recordar o deputado Mar-tire (2), para observar como ao lado dos jesuitas que vestem

habit° talar existem os jesuitas laicos, os quais näo t eem urnespecial uniforme que indique a sua ordean religiosa.

(2) Deputado clerical, ex-gaventiniano., agora pre-govern°. Egil-berto Martire falou contra a maconaria.

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Nos primeiros anos, depois da furidagao do rain, os je-suitas declararam expressamente, ao long° de tuna serie de arti-gos publicados par Civiltd Cattolica, qual era o programa poli-tico do Vatican e das classes que ent5o cram representantesdo Vaticano, isto e, das velhas classes sarnifeudads tendert-cialmente borbenicas no Sul ou tendencialmente austriazantesno Lombardo-Veneto, forcas socials numerosissimas que aburguesia capitalista to conseguiu comer, embora no pe-riod° do Ressurgimento representasse um progresso e urnprincipio revolucionario. Os jesuitas da Civiltd Cattolica, isto6, do Vatican°, punham ern relevo, como primeiro ponto dasua politica, a sabotagem do Estado unitario atraves da abs-tensão parlamentar, a travagem do Estado liberal por todasas suns actividades que podiam corromper e destruir a velhaordem; como segundo panto, a criacao de um exerdto dereserva rural para °par ao avanco do proletariado, pals jadesde 1871 os jesuitas previam que no terreno da demooracialiberal nasoeria o movimento proletario, que se desenvolveriainn movimento revoluciondrio.

0 deputado Martire declarou hoje que finalmente se alcau-cou, a causa da magonaria, a unidarle espiritual da nac5oitaliana.

Visto que a maconaria representou, em Italia, a ideologiae a org,anizaclo real da classe burguesa capitalista, quemcontra a maconaria é contra a liberalism°, é contra a tradigdopolitica da burguesia italiana. As classes rurais, que cramrepresentadas no passado polo Vaticano, sao hoje prevalente-mente representadas pelo fascismo; 6 legico, portant°, que ofascismo tenha substituido o Vaticano e os jesuitas na funcäohisterica pela qual as classes mais atrasadas da populacdopoem sob controlo a clay-se que foi progressista no desenvolvi-mento da civilizactio; eis o significado da alcancada unkind&espiritual da naclo italiana que teria lido urn fenOmeno deprogresso ha cinquenta anos; e hoje 6, polo contrario, o majorfenOmeno de regress5b...

Unterrupcliod

A burguesia industrial nao foi capaz de travar o movi-mento operdrio,.nao foi capaz de controlar nem o movimentocperario rem o movimento rural revolucionario. A primeira,instintiva e espontanea palavra de ordem do fascism°, depois

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da ocupagdo das fabricas, foi per isso esta: aOs rurais con-trolarao a burguesia urbana que nao sabe ser forte contra osoperdrios. D

Se nao me engano, então, senhor deputado Mussolini, nä°era esta a sue tese e entre o fascismo rural e o fascismo ur-bane dizia preferir o fascismo urbane

Mussolini, presidente do Conselho de Ministros:

8 precise que o interrompa pan the reoordar urn menartigo de alto elogio do fascismo rural, de 1921-22.

Gramsch

Mas este nao a um fenomeno puramente italiano, emboraem Italia, pela grande fraqueza do capitalismo, tenha tido omaxima desenvolvimento; 6 um fenOmeno europeu e mundial,de extrema impartAncia para compreender a orise geral dop5s-guerra, quer no dominio da actividade pratioa quer nodominio das ideias e da cultura. A eleicdo de Hindenburg, naAlemanha, a vitOria dos oanservadores na Inglaterra corn aliquidacao dos respectivos partidos liberals democratic:as, saeo equivalente do movimento fascista italiano; as velhas forcassociais, originariamente anticapitalistas, ligadas ao capitalismomas nao absorvidas completamente por ale, assumiram a pri-mazia na organizacdo dos Estados, trazendo pan a actividadereacciondria todo o fundo de ferocidade e de impiedosa deci-sae que the foi sempre prOpria; mas nos temos, em abundan-cia, urn fenOmeno de regress -a° histerica que nao deixa e naodeixard de ter repercussOas no desenvolvimento da revolugäoproletaria.

Examinada neste terreno, a actual lei contra as associageessera tuna forga ou esta destinada a sex, pale oontrdrio, com-pletamente inGtil e vä? Corresponderd a uma realidade, poderdser o mein Para uma estabilizagdo do regime capitalista ousera apenas um novo e aperfeicoado instrumento oferecido apanda para prender Fulano e Sicrano?... 0 problema, por-tante, 6 este: a situagaio do capitalismo, em Italia, reforcou-seou enfraqueceu-se depois da guerra corn o fascismo? Quaiseram as fraquezas da burguesia capitalista italiana antes daguerra, fraquezas que levaram a criagäo daquele determinadosistema politico magenico que existia em Italia e que teve oseu maxim° desenvolvimento no agiolittismos? As fraquezas

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mdximas da vida national italiana exam, em prirneiro lugar,a falta de materias-primas, isto é, a impossibilidade, para aburguesia, de criar em Italia tuna inddstria que tivesse umaraiz profunda no pais e que pudesse progressivamente desen-volver-se, absorvendo a mao-de-obra exuberante. Em segundolugar a falta de colOrtias ligadas a mae pdtria, portanto aimpossibilidade, para a burguesia, de criar uma aristocraciaoperdria que permanentemente pudesse estar aliada A pr6priaburguesia. Terceiro, a questdo meridional, isto 6, a questa°dos camponeses ligada estreitarnente ao problema da emigra-cAo que 6 a prova da incapacidade da burguesia italiana poldermanter...

Mussolini: •

Tambem os alemdes emigraram aos anilheies.

Grarnsch

0 significado da emigragao em massa dos trabalhadores6 este: o sistema capitalista, que 6 o sistema predominante,nao 6 capaz de assegurar o corner, a casa e o vestir a popu-lagäo e uma parte nao pequena delta populagäo e obrigadaa emigrar...

Rossoni:

Portanto a nacdo deve expandir-se no intea-esse do prole-tariado.

Gramsci:

Nos temos uma nossa concepcdo do imperialismo e dofenOmeno colonial, segundo a qual ales sae, acima de tudo,uma exportacdo de capital financeiro. Ate agora o (impala-lismop Italian° consistiu apenas nisto: o operatio italiano emi-grad° trabalha pan proveito dos capiratistas dos outros paises,isto e, ate agora a Italia foi apenas um mein de expansao docapital financeiro nä° italiano. Saem-vos da beta as afirma-cees mais pueris de uma pretensa supexioridade demogrdficada Italia em relacdo aos outros pests; dizern sempre, perexample, que a Italia 6 dernograficamente superior a Franca.Estes 6 uma questäo que se as estatisticas podem resolverperemptoriamente e eu as yens ocupo-me de estatisticas; era

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nma estatistica publicada no pOs-guerra, nunca desmentidaque tido pode ser desmentida afirma que a Italia de antes

da guerra, do panto de vista demografico, se encontrava jana mesma situacäo da Franca depois da guerra; isto 6 deter-minado polo facto de a emigracao afastar do territOrio natio-

, nal uma tal quantidade de populagla masculina, produtiva-manta activa, que Lorna catastrOficas as relac5es demograficas.

No territOria national ficam os veihos, as mulheres, ascriancas, os invalidos, into e, a parte da populacto passivaque onera a populaciao trabalhadora em medida superior aqualquer outro pais, miasma a Franca. E esta a fraqueza fun-damental do sistema capitalista italiano, pelo que o capita-lismo italiano esta destinado a desaparecer tanto mais rapida-manta quarto mais o sistema capitalista mondial deixar defuncionar para absorver a emigracdo italiana, para explorar

trabalho Italian que o nosso capitalism° não consegue en-quadrar.

Os partidos burgueses, a raaconaria, coma procuraram re-solver estes problemas?

Conhecemos na histOria italiana dos iiltimos tempos daispianos politicos da burguesia para resolver a questfio do Go-vern° do povo italiano. Tivemos a pratica sgiolittianaD, ocolaboracionismo do socialismo Italian coin o gialittismo),isto 6, a tentativa para estabelecer uma alianca da burguesiaindustrial coin uma certa aristocracia operaria setentrionalpara oprimir, para subjugar a esta formacão burgueso-indus-trial a massa dos camponeses italianos, espacialmente no«Mezzogiorno». 0 programa nä. ° teve sucesso. Constitui-se naItalia setentrional, de facto, uma coligacão burgueso-prole-taria atraves da colaboracdo parlamentar e da politica dostrabalhos ptiblicos nas cooperativas; na Italia meridional cor-rampe-se a classy diragente e darninam-se as massas corn osmaceiros... [Interrupcdo do deputado Grew] Voces, fascistas,foram os maiores artifices da falencia dente piano politico,porque dye:imam na mesma miseria a aristocracia operaria eas camponeses pobres de toda a Italia.

Tivemos o programa que podemos dizer do Corriere dellaSera. jornal que representa uma forga nab indiferente da poli-tica nacianal; 800 000 leitores seo Umbrian urn partido.

[fazes:Manes...

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Mussolini:

Metade! E, alem disso, os leitores dos jornais nä° con-tam: Mama fizeram uma revolucio. Normalmaate, os leitoresdos jornais ado tem razio!

Gramsci:

Corriere della Sera nä° quer fazer a revolucdo.

Farinacci:

nem o Unita!

Gramsci:

Corriere della Sera apoiou sistematicamente todos oshomens politicos do aMezzogiornop, desde Salandra a Or-lando, a Nitti e a Amendola; perante a solucdo agiolittianaD,opressiva aaão so de classes mas ate de todo o territOrio, cameoo (Mezzogiorno» e as ilhas, Lao perigosa coma o actual fas-cism° para. a prOpria unidade material do Estado italiano, oCorriere della Sera apoiou sempre uma alianca entre os indus-trials do Norte a uma certa vaga democracia rural prevalen-temlente meridional no terreno do comOrcio livre. Uinta eoutra solucao tendiam essencialmente para dar ao Estado ita-liano uma mais larga base do que a originaria, tendiam adesenvolver as a conquistan do Ressurgimento

que opOem os fascistas a estas salugOes? Opikm hojea chamada lei contra a maconaria; dizem que guarani, assim,conquistar o Estado. Na realidade, o fascismo luta contra aUnica forc,a organizada eficientemente que a burguesia tinhaem Italia, para suplanti-la na ocupacâo dos lugares que oEstado da aos seus funcionarios. A revolucao fascista 6 ape-nas a substituicäo de um pessoal administrativo por outropessoal.

Mussolini:

De 'ulna classe par outra, coma aconteceu na Rtissia, comaacootece normalmeaue em todas as revolucOes, coma metcdi-camerae nes faremos!

[Aplausos.]

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Gramsci:revolugdo so a que se baseia mama nova classe. 0 fas-

cismo nao se baseia em nenhurria classe que Ina estivesseno poder...

Mussolini:Mas se grande parte dos capitalistas estao contra ads, se

vos cito grandes capitalistas que vatam contra nos, que estãona oposicao: os Matta, os Conti...

Farinacci:subsidiam os jornais subversivos!

Mussolini:A alta banca nao é fascista, sabe-o muito bem! [Comen-

ulnas.]

Granzsci:A realidade, portanto, 6 que a lei contra a maconaria nab

6 prevalentemente contra a maconaria, o fascismo chegardfacilmeate a urn compromisso corn os magOes.

Mussolini:Os fascistas queimaram as lojas dos rnagOes antes de fazer

a IS! Portanto nao ha necessidade de conciliacOes.

Gramsci:

Contra a maconaria, o fascismo aplica, intensificando-a, amesma tactica que aplicou a todos os partidos burgueses naofascistas: num primeiro periodo, criou urn ntircleo fascista nes-tes partidos; num segundo period°, procurou utilizar dos ou-tros partidos as melhores forcas que the interessavam,conseguindo obter o manopOlio como se propunha...

Farinacci:

chamam-nos parvos?

Gramsci:SO nao seriam parvos se conseguissean resolver os proble-

Inas da situacao italiana...

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Mussolini:Resolve-los-smos. Ja resolvetmos bastantes.

Gramsci:

0 fascismo nao conseguiu actuar completamente a absor-gao de todos os partidos na sua organizacao. Corn a maw-naria, empregou a tActica politica do noyautage, depois o sis-team terrorista do incendio clas lojas; e, por fim, anpregahoje a accao legislativa pelo que determinadas personalidadesda alta banca e da alta burocracia acabarao por se acomoda-rem nos dominadores para nao perderem o seu lugar; mas,corn a maconaria, o Govern fascista deverd chegar a um com-promisso. Como se faz quando um inimigo é forte? Primeiroquebram-se-lhe as pernas, depois faz-se o compromisso emcondicOes de evidente superioridade.

Mussolini:

Primeiro rompem-se-lhe as costelas, depois prendem-se,como votes fizerana na Rüssia! Voices fizeram os vossos pri-sioneiros, conservam-nos e servem-vos! [Comenthrios a pane.]

Gramsci:

Fazer prisioneiros significa precisamente estabelecer o com-promisso: por isso nos dizemos que, na realidade, a IS 6 feitaespecialmcnte contra as organizaciiies operdrias. Perguntamosporque 6 que hd meses, sem que o Partido C,omunista tenhasido declarado associagao criminosa, os carabineiros prendemos nossos camaradas cada vez que os encontram reunidos emntimero de, pelo menos,

Mussolini:Fazemos o que votes fa= na Rdssia...

Gramsci:Na Rdssia ha leis que sao observadas • votes tem as vos-

sas leis...

Mussolini:Faz enredos formiddveis. Faz muito bem! [Rises.]

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Granzsci:Na realidade, o aparelho policial do Estado considera ja

o Partido Comunista como uma organizacao secreta.

Mussolini:Nä° é verdade!

Gramsci:Entratanto, prendem sem nenhuma imputagab especifica

quern quer que seja encontrado numa Tenni -do de tres pessoas,s6 porque e comunista, e ataram-no para a cadeia.

Mussolini:Mas depressa sa-o libertados. Quantos esido na prisdo?

Agarramo-los simplesmente para os conhecer!

Grcunsci:E uma forma de perseguicao sistematica, que antecipa e

justificard a aplicaca-ca da nova lei. 0 fascismo adopta os mes-mos sistemas do Governo Giolitti. Fazem coma faziam osmaceiros giolittianos no a Mezzogiorno', que prendiam oseleitores de oposiga-o... para os conhecer.

Unza voz:Verificou-se urn caso apenas. 0 senhor ado conhece o Sul.

Grainsci:Sou meridional!

Mussolini:A propOsito de violencias eleitorais, recordo-lhe urn artigo

de Bordiga que as justifica plenamente!

Greco Paolo:0 senhor deputado Gramsci nao len aquele artigo.

Gramsci:As nossas nä- 0 sal° as viorencias fascistas. [Barulho, inter-

rupgria] N6s estamos seguros de representar a malaria da

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popula4o, de representar os interesses essenciais da malariado povo italiano; a violéncia proletiria 6, par isso, progressivae não pode ser sistematica. A vossa violencia é sistematica esistematicamente arbitraria porque representais uma minoriadestinada a desaparecer. [Interrupcifol Temos que dizerpapulaelio trabalhadora o que 6 o vosso govern, coma secorn:porta o vosso govern, para a organizar contra vas, paraa per em condicOes de vas venter. E muito provävel quetambera nes oaos veremos obrigados a usar os vossos prOpriossisteanas, mas como transicao, provisoriamente. [Barulho, in-terrupctiol Corn delta: a usar as vossos prOprios metodos,coca a diferenca que vas mprecentais a minoria da populagfioenquanto nes representamos a maioria. [Interrupgdo, barulho.]

Farinacci:Mas então porque nao fazem a revolu "cao? 0 senhor de-

putado esta destinado a ter o mesmo fim que Bombacci! C)Expulsa-lo-do do Partido!

Gramsci:

A burguesia italiana, quando estabeleceu a unidade, eratuna minoria da papulagdo, mas coma representava os inte-resses da malaria, ainda que esta nao a seguisse, assim Sidemanter-se no poder. Voces venceram corn as armas Mac TIROtern nenhum programa, nao representam nada de nova e pro-gressivo. Fasinaram apenas a vanguarda revoluciondria comoso as armas, em nitima analise, determinam o sucesso dosprogramas e dos não programas... [Interrupfito, comenthriosl

Presidente:

Não interrompam!

Gramsci:

Esta lei nao vira, de facto, travar o movimonto que asseashores pr6prios prepararam no pats. Visto que a maconaria

(3) Por ocasiao da estipulaello de urn tratado comercial entre aRussia e a falls., em 1923, o deputado comunista Nicola Bombaccifalou na Assembleia de afinidades das duas revolugies. Por estasdeclaragOes e outras atitudes, foi obrigado pelo Executivo do PCI ademitir-se de deputado e afastou-se do Partido.

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passara. em massa para o Partido fascista, onde constituirduma rendOncia, 6 claro que cam esta lei as senhores esperamimpedir o desenvolvimento de grandes organizacOes operariase camponeca s. Este 6 o valor real, o verdadeiro significado dalei. Alguns fasoistas recardam ainda ambulosamente as liceiesdos sous velhos mestres, quando cram revoluciondrios e socia-listas, e cream que uma classe nab pode permanentementepermanecer, tat sem ter um partido e uma organizaedo queresuma a Parse melhor e mais consciente. Ha alguana coisade verdade, nesta turva perversdo reaccionaria, dos ensina-mentos marxistas. E decerto muito dificil que uma classe possaalcancar a schwa.° dos sous problemas e atingir os seus finsinerentes a sua existOncia e a forca real da sociedade sem queuma vanguards se constitua e conduza esta classe ate atingirtais fins Mas ninguern disse quo este enunciado 6 sempreverdadeiro, na sua mecanicidade exterior, para use da reac-glo! Esta 6 tuna lei que serve para a Italia, que devera seraplicada em Italia, onde a burguesia ndo conseguiu, e nuncaconseguird, de modo nenhura, resolver em primeiro lugar aquesta.° dos camponeses italianos, resolver a questa° da Italiameridional. Nä° 6 por acaso que esta lei 6 apresentada con-temporaneamente a alguns projector respeitantes ao sanea-mento do Mezzogiorno.

Uma voz:

Fate da magonaria.

Gramsci:

Quer= que eu fale da maconaria. Mas no titulo da leinem sequer se faz referencia a rnagonaria, fala-se apenas deorgarnizacZes em geral. 0 capitalismo pet& desenvolver-se emItAlla quando o Estado carregou sobre as populagOes campo-nesas, especialmente no SW. Hoje os senhores sentem a urgrn-cia de tais problemas, por isso prometem urn bilibM para aSardenha, prometem traba1hos pnlblicos e centenas de milhäoa todo o Mezzogiorno; mss para lazier trabalho s6rio e con-creto deveriam comecar por restituir a Sardenha os 100-150milhOes de impostos que todos os anos estorcem a populacdosarda! Deveriam restituir ao Mezzogiorno as centenas demillido de impostos que todos os anos estorcem a populacaomeridional.

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Mussolini:

NA° fazem pagar os impostos, na RUssia!...

Uma voz:

Na Russia roubatn, ado pagam os impostos!

Gramsci:

Nao 6 ester a questa- a, egregio colega que deveria conhecer,pelo menos, as relacifies parlamentaxes que, sobre tais guts-Gies, existem nas bibliotecas. Nao se trata do mecanismo nor-mal burgues dos impostos: trata-se do facto de a Estado es-torcer as regiOes meridionais, todos os anos uma quantidadede impostos que nä° restitui de nenhum modo, new com ser-vicos de qualquer genera..

Mussolini:

Ndo 6 verdade.

Gramsci:

...quantias que o Estado estorce as populacees campone-sas meridionais para dar 11111a base ao capitalismo da Italiasetentrional. [Interrupcäo, comenteirios] Neste terreno das con-tradigOes do sistema capitalista italiano, formar-se-A necessa-riamente, nao obstante todas as leis repressivas, no obstanteas dificuldades para constituir grandes organizagOes, a mild°dos operarios e dos camponeses contra o inimigo comum. Witsfascistas, yes Govern fascista, ndo obstante toda a demagogiados vossos discursos, nao superastes esta contradicao que jdera radical, pelo contrario, fizeste-la sentir mais duramenteAs classes e as massas populares. Operastes nesta situacdopelas necessidades desta situacao. Juntastes novas poeiras asja acumuladas pelo desenvolvimrnto da sociedade capitalistae acreclitais suprimir, cam uma lei contra as organizaceies, osefeitos mais mortais da vossa pr6pria actividade. Unterrup-cilo] Esta é a questao mais importante na discussdo desta lei:podeis aconquistar o Estadon, podeis modificar os cedigos,podeis procurar impedir as organizacOes que existam na formacomo tern existido ate agora; alo podeis prevalecer nas con-dicees objectivas em que Pastes °brigades a mover-vos. Nãofareis mais do que obrigar o proletariado a procurar uma

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perspectiva diferente da que foi difundida ate hoje no campoda organizagao de massas. Isto quenemos dizer ao proleta-riado e as massas camponesas italianas, desta tribuna: que asforeas revolucionarias italianas nao se deixarao abater, que ovosso turvo sonho nao conseguith realizar-se. [Interrupcao]A muito dificil aplicar a uma populnedo de 40 milhaes dehabitantes os sistemas de Govern de Zankov ( 4). Na Bulgariaexistem poucos naiades de habitantes e, todavia, nao obstanteas ajudas do estrangeiro, o Govern() nao consegue prevalecer

congaed° do Partido Comunista e das foreas camponesasrevolucionarias, e na Italia ha 40 milhOes de habitantes.

Mussolini:0 Partido Comunista tern mews inscribes do que o Par-

tido Fascista Italian!

Gramsci:Mas representa a claw- operaria.

Mussolini:Nao a representa!

Farinacci:Atraigoa-a, nao a representa.

Gramsci:0 vosso 6 urn consenso obtido pela farga.

Farinacci:Fala de Miglioli!

Gramsci:Precisamente 0 fen6meno Mignon (5) tem precisamente

uma grande importAncia no sentido do que eu disse =ás:

(4) Alexandre Zanlcov promoveu em Binh° de 1923 urn golpe deEstado na Bulgaria por conta da direita agraria, instaurando urn regimede tenor.

e) Guido Miglioli, deputado popular, dirigente de ligas cbrancas,camponesas, apoiou-se aos comunistas em 1924-25, advogando umafrente (mica das oposigOes operdrias e camponesas contra o fascismo.Por esta sue atitude polftica, foi expulso do Partido Popular noinkio de 1925.

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que as massas camponesas, mesmo catelicas, se perspectivampara a luta revoluciondria. Nem os jornais fascistas teriamprotestado contra Miglioli se o fen6meno Miglioli nao tivesseesta grande impartancia, a de indicar uma nova orientagdodas formas revolucionarias que dependem da vossa pressaosabre as classes trabalhadoras. Concluindo: a magonaria 6 apequena bandeira que serve para fazer passar a mercadoriareaccionaria antiprolearia! Ndo 6 a magonaria o que vos im-porta! A anaeocaria passara a ser uma faceao do fascismo.A lei dove servir para os operirios e para os camponeses, osquail compreenderdo isto muito born da aplicagdo que delase fara. A estas masses queremos dizer que nao conseguireissufocar as manifestaedes organizativas da sua vida de Glasseporque contra vas osta todo o desenvolvimento da sociedadeitaliana. [Interrupcdo.]

Presidente:

Mas nao interroanpam! Deixean-no falar! 0 senhor de-putado Gramsci, por6m, nao falou da lei!

Rossoni:

A lei nab 6 contra as organizagbes!

Gramsci:Senhor deputado Rossoni, atO o senhor 6 lima alinea da

lei contra as organizagOes. Os operarios e os camponeses de-vem saber que nap conseguireis impedir que o movimentorevolucionario se re-farce e se radicalize. [Interrupgclo, baru-lho] Porque s6 ele representa hoje a situagdo do nosso pais...[Interrundo.]

Presidente:Senhor deputado Gramsci, este conceito ja o repetiu tee's

ou quatro vezes. Tenha a bondade! Nao somos jurados aquern 000rre repetir muitas vezes a magma coisa!

Gramsci:E precise repeti-las, polo contrario; 6 precise que o sin-

tam ate a nausea. [Interrupgrio, barulho] 0 movianento revo-lucionario yawed o fascismo. [Comentdrios.]

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(LA RIVOLUZIONE LIBERALEDE A FRENTE UNICA OPERARIA (*)

Antifascismo burgues foi e continua a set, por agora, semdirvida, a posiglo mais avangacla dos escritores de Rivolu-zione liberale. A volta da revista torinesa de Gobetti, sobrecuja orientaCdo politica exerceu uma influencia decisiva omovimento dos conselhos de fabrica e o estudo directo dava.nguarkla do proletariaclo revoluciondrio de Turim, reuniu-seum grupo de intelectuais que na observageo dos factos hist&ricos e dos antagonismos das classes socials se valeram, numcerto aspecto, do inetodo de manse marxista, mas esvazian-do-o do contend° a-evoluciondrio e do espirito proletdrio.Assim se explica como Rivoluzione liberale se encontra fre-quentemente ocupando posicees mais avancadas do que osprOprios partidos socialistas, as guars, perante o fascismo, ten-dem a fazer marcha arras ao movimento operdrio, tirando-lheo catheter autOnamo e a fisionomia classista path bier deleapenas um movimento liberal pequeno-burgues.

Rivoluzione liberale (n.° 21, Maio de 1925) faz urn ba:tango da conduta do Aventino. Visto que ana atitude aven-

(•) bido assinado, L'Unita, 28-5-1925.Trata-se de urn escrito de Piero Gobetti, intitulado precisa-

mente Bilancio. Cf. P.C., Scritti politici, Turim, 1960, pp. 826-28. Gobettireplicou a esta nota do L'Unita, num sucessivo artigo de La Rivolu-zione liberale, de 7 de Junho de 1925 (II Jronte unico, agora emScritti politici, cit., pp. 840-42), observando que nä° tinha qualquerpreconceito contra os condi& operatics a camponeses (cuja formacdo,como instrumento da frente (mica dos trabalbadores, os comunistasadvogavam) mas insistindo que proletariado esti ainda num mo-ment° de depressgos a que, portanto, to importante 6 nAo ter ilusoese saber que se trabalba a longo prazo...3.

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nrilanas ela declara ter as suas erosponsabilidadess a naturalque defenda estas responsabilidades, embora criticando, emparte, a tactica ailusionistas dos partidos aventinianos. Mas oque importa no ((balances de Rivoluzione liberale 6 a cause-quencia que alcanea, embora tomando 00M0 panto de partidapremissas que parecem injustificadas se ado she melhor pre-Gisarins. Tal 6 —par exenaplo— aquela em que Rivoluzioneliberate afirma saber que «Mussolini 6 o raais fortes e aquea maioria dos italianos esta corn des. Isto 6 exacta s6 nosentido que os fascistas dho a estas afirmaciies: ((1st° 6, adoitalianos apenas os fascistas; os fascistas estdo cam Mussolini,portanto Mussolini tern consigo a maioria dos italianos.) Deoutro mode, teremos que pedir a Rivoluzione liberale umadefinigho de «malaria S.* come for, nao 6 este o pontoprincipal do abalancos de Rivoluzione liberale, o qual ternem mira estabelecer a nova conduta da Elite de jovens quecompreendem a situagdo formada a volta do Aventino. Se-gundo a revista libenal torinesa, edesaparecerara para sempreas situaeOes oentristase. 40 Aventino cantou tambets, es-crave R. L,., acom as classes medias. Mas estas, pela sua natu-reza equfvoca, estao sempre corn o vencodor... Aquales par-tidos aventinianos que se enunciavam como representantes dasclasses módies, come futures partidos de govern, as partidosde democracia e, em parte, os populates e os maithrios, per-derdo terreno no futuro preximos. Estabelecido, alem disso,que a nova Assembleia, quando tern lugar, se podera ser tunaAssembleia fiel ao a duce D, Rivoluzione liberate chega a estaconclusho:

IA deve ser coisa assente que a Unica reserva sOlida de qualquernova politica futura é 0 tmovimento operarios. Se a volta do Aven-tino se foi formando uma elite de jovens que compreendem a situacdo,esses tem o dever de acabar corn as inconcludentes polëmicas contraos comunistas, que ameacam tornar-se urn Min] diversivo,ocupar-se de teoria das classes medial, nao excogitar asncias de golpesde mao, limas trabalhar corn lealdade pan a frente Unica operaria,embora este trabalho, pelas actuais condigOes de depressào das massas,nao conduza a frutos irnediatoss.

Ainda que muito confuse, esta referencia a frente "'micaoperearia 6 decerto notavel porque 6 feita per uma revista libe-ral que espelha o ponto de vista de uma Elite de jovens inte-!tennis. Deixando de parte a afirmacho, tambem errdnea, deque nas actuais condicties de depressclo dins massas (precisa-

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manta depois da grave dos metaltirgicos, da manifestacho doprimeiro de Maio, dos resultados da Fiat ( 2), R. L. fala dedepressao das massas!), o trabalho para a frente anica ope-rdria nao condvz a frutos imediatos, 6 notavel que seja com-preendido tambe:m pelos intelectuais antifascistas que a solu-elio da crise deve procurar-se na classe operdria, mediante a((franc mica prolothrias. Mas quando se chega a este panto,a andlise fioaria incompleta se nao se aceitasse a Unica ma-neira da frente tinica operaria, que consiste na criacilo dosacomitds operdrios e Gamponeses11.

De outno modo, a et-Inca de Rivoluzione liberale a condutado Aventine. 6 uma pura manifestagao literdria.

(2) G. refere-se provavelmente ao facto de nas eleignes para as CIos operarios do grande complexo terem mostrado a sua tenaz vontadede resistdricia (na Fiat Lingotto, os comunistas conquistaram a maio-ria dos votos e registaram tambêm urn sucesso importante nas eleiceesda Caixa interna).

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A VONTADE DAS MASSAS (*)

A propOsito das crises de fraceaes que se manifestou nonosso Partido (1), o Avanti! publicou uma seat de artigos quepodem servir de motivo para confirmar alguns principios fun-damentals do comunismo internacional 2 muito provavel queos sofismas ideolOgicos do Avanti! ndo sejam praprios apenasdos escritores do Avantll e dos magros grupos que constituemo Partido Maximalista. 0 nosso Partido 6 formado por ele-mentos que se destacanam do Partido Socialista no Congressode Livorno e, na sua maioria actual, por elementos vindosdepois da campanha de recratamento feita a seguir ao assassi-nio de Giacomo Matteotti; repetir certas verdades, destruircellos preconceitos que se tinham radicado na consciancia hadezenas e dezenas de anos de tradicao social-democrats, podsser, por isso, tarefa necessaria, e urgentemente necessária.

No artigo La volonta delle masse (Avanti! de 13 de Junho)contera-se a quinta essencia do oportunismo maximalista ita-liano e do oportunismo socialtlemocrata em geral.

Existe uma vontade das massas trabalhadcaas, tomadasno seu conjunto, e pode o Partido Comanista colocar-se noterreno de cobedecer a vontade das massas em & prat?). Nab.Existem no conjunto das massas trabalhadoras muitas e dis-

(") Assinado, Antonio Gramsci, L'Unitet, 24-6-1925.(') A crise manifestou-se abertamente com a expressiio de uma

dissidencia de esquerda que se verificou no chamado gComitato d'in-tesas. 0 L'Unita deu noticia do pronunciamento dos dissidentes, depoischefiados por Amadeo Bordiga, em 7 de Junho de 1925, condenandoasperamente ea actividade fraccionariatt do grupo. Acerca destes acon-tecimentos, cf. Stem del PC1. cit., pp. 453 e segs.

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tints vontades: existe uma vontade comunista, tuna vontademaximalista, uma vontade reformista, uma vontade democra-tica liberal. Existe ate uma vontade fascista, mum certo sen-tido e denim de certos finites. Ate que subsistir o regimeburgues, corn o monopOlio da Imprensa na mad do capita-lismo e, portante, corn a possibilidade, pan o Govern e paraos partidos burgueses, de apresentarem as questlie-s politicassegundo os seus interesses, apresentados come interesses ge-rais, ate que for suprimida e limitada a liberdade de associa-Cao e de reunido da classe operaria ou puderem set difundidasimpunemente as mentiras mais impudentes contra o comu-nismo, a inevitdvel que as classes trabalhadoras se apresentemdesagregadas, isto e, que manifestem muitas vontades.

Partido Comunista arepresenta p os interesses de todaa massa trabalbadora, mas aactuan s6 a vontade de ulna de.tenninada parte das massas, da parte Innis avangada, daquelaparte (proletariado) que quer derrubar, corn os meios revolu-cionerio, o regime existente path famehr o comunismo.

que significa a formula do Avanti!: cE precise seguir avontade das massass em geral? Significa procurar justificaro prOprio apommismo, esoondendo-se =is da constatacaode que existem ainda estratos atrasados de populaciio traba-lhadora, sob a influeneia da burguesia, quo (apeman a cola-boracao corn a burguesia. Mas estes estratos existirao seanpreate que o regime burgues for o regime dominant; se o Par-tido aproletario p obedecesse a aesta vontadeD, na realidadeobedeceria a vontade da burguesia, isto 6, seria urn partidoburgues, nao urn partido proletario. 0 Particle proletariopock aseguir at/as p das massas, dove preceder as massas, em-bora tendo objectivamente em coma a existencia destes esta-tes atrasados.

Partido representa nä° s6 as massas trabalhadoras mastambem uma doutrina, a doutrina do socialismo e per issoluta para unificar a vontade das nnssas no sentido do socia-lismo, embora actuando no terreno real do que existe, masque existe movetzdo-se e desenvolvencla-se. 0 nosso Partidoactua a vontade daquela parte mais avancada das massas quelutam polo socialismo e sabe que nao pode tea como aliadoa burguesia nesta luta que 6 precisamente luta contra a bur-guesia. Porque coincide com o desenvolvimento geral da socie-dade burguesa e corn as exigencias vitais de toda a massatrabalbadera, esta avontaden 6 progressiva, difunde-se, con.

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quista calla vez mais novas estratos de trabalhadores, desa-grega os outros particles operarios—operarios pela sua corn-posiga-o social, nao pela sua perspectiva politica.

Naturalmente que o Avanti! nega diariamente a varifica-deste facto, publica diariamente que o Partido Comunista

abandonado pelas massas, recorre nada menos do quo aotestenninho de Hoeglund para dizer que o nosso Partido 6uma coisa insignificance, etc. Mas nao mums naturalmente oAvarua nunca cansegue explicar coma a que, abandonadopelas massas, o nesse Partido e o partido relativamente maisforte da Confederagdo Geral do Trabalho, na p consegue expli-car coma 6 que em Turim, Trieste, Bari, Taranto e numa striade outras cidarles nos somas o partido mais forte, tambem demodo absoluto MID consegue explicar coma 6 que os opera-rios de Turim, que o nosso Partido teria conduzido a ruinae a catestrofe, aproveitem todas as ocasiees parr se afirma-rem fieis as nossas directrizes. Se nos representamos a von-tade das match mais avangadas e se esta vontade, atraves daluta, se difunde e se torn na vontade da maioria dos traba-lhadores, e uma questäo que se se decide e se se pode decidirna pratica; os acontecimentos dente Ultimo period.) demons-traram que ela se decide favoravelmente para o nosso Partido,nao obstante os exorcismos do Avant!! a de toda a imprensado Aventino.

Ha cinco anon que o Partido Maximalista esta fora detodas as organizageies internacionais; este facto nä° se apre-senta e nao podia apresentar-se sem resultados. 0 catheterintemacionalista a essential pan um partido operario; naose pode ignorar sera levar inelutavelmente a uma completadegeneragdo idoalOgica e pthtica nos dirigentes e nas fileirasdo Partido. Para o Avanti!, de facto, a clam que o comitecentral de um partido deve representar s6 a massa do Partidonational, ou melhor, deve aobedecer a vontadeD desta massa.Para nos, tudo isto e monstruosamente falso. 0 CC do nossoPartido nao se represents e guia a massa do Partido italianomas representa tambem o programa e a tactica do Partido,que se foram definindo atraves de cinco congressos da Inter-nacional. De resto, coma e porquô se constituiu o nosso Par-tido? Destacou-se do Partido Socialista precisamente pelaquestfie do recanhecimento da autoridade da Internacional:no Congresso de Livorno nos queriamos a aplicagão dos21 pontos, a luta contra o reformismo, tuna politica agraria

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diversa da tradicional, uma nova perspentiva sindical, novosmktodos organizativos, etc., etc. A massa aderiu a Internacio-nal e, portant°, constituiu urn partido quando aceitou umprognama bean determinado. 0 partido desenvolveu-se porqueera e 6 uma stack) da Internacional. A certo que um tal pro-oesso nao se verificou meoanicamente, segundo um esquemamatemdtico polo squal um é sempre igual a urn; tratou-se deurn process° politico ao qual os homens participaram corntodas as suas paixOes e-sentimentos individuals, coin todas asvirtudes e defeitos que sao praprios dente baixo mundo. Masse 6 certo que vieram muitos elementos para a Internacionale para o Partido (tambOm porque timbal)) aderido ao programaGomm pessoas mais ou menos conhecidas como Bombacci,Misiano, Repossi, Bordiga, Gramsci, Gennari, Marabini, etc.,etc.), ales vieram essencialmente polo programa annum e naopelas diferenciagOes de individuos e de grimes. E eis o deverdo CC, o de iluminar cada vez mais as massas do Partidosabre o significado real do programa camum, sobre o seu va-lor, sabre o seu significado. E eis por que no nosso Partidoa discussao versa e deve versar normalmente sabre questOesconcretas, nao sabre os primeiros principios; sobre a aplica-gao prdtica da perspectiva geral, nao sabre a prapria pars-pectiva.

Segundo os critórios do Avanti!, cada partido deveria re-petir, diariamente, as discusseas fundamentals: somos fascistasou nag)? Samos reformistas, maximalistas, liberals, PoPulares,democratas ou Mao? 0 facto de pOr assim a questa°, per partedo Avanti!, e caracteristico e sintomatico da situacao internedo Partido Maximalista. Uma vez que este Partido nao per-tence a uma organizacao internacional, baseando-se apenas emelementos da vida nacional, e uma vez que a sua direcgao naotern directrizes, os socios do Partido que se encontnam, porclever, ao lado dos diferentes Di Cesare, Amendola, Anile,Giolitti, Salancinst, Orlando acabaram par perder a conscien-cia da sua individualidade politica e sao diariamente obriga-dos a por-se esta pergunta: somos ainda maximalistas ou so-mos fascistas como Di CesarO e Salandra, ou somos popularescomo Anile e De Gasperi, ou somos demoentas coma Amen-dola?

No nosso Partido, nao se verifica nada de tudo isto.A maioria do Partido, tal coma era no memento do assassf-fflo de Giacomo Matteotti, into 6, a ma loria da velha guarda

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tinha-se organizado politicamente no Congresso de Livornoa volta do programa da Internacional para a luta contra todosos partidos burgueses, incluindo os partidos operarios qua fa-zem a palitica da burguesia. A outra massa de s6cios, nume.ricamente superior a velha guarda, entrou no Partido depotsdo assassinio de Giacomo Matteotti, coin base no programagenal da Internacional tal como era aplicado e 6 aplicado pelonosso Comite Central: luta em dues frentes, contra o fascism°e contra as oposicOes aventinianas (duas frentes 6 urn modode dizer porque se trata da mesma frente burguesa), para aaccao autOnoma do proletariado revoluciondrio, pare organi-zar a luta dos pobres contra os rites a volta do proletariadorevoluciondrio que so pode esmagar a reaccao instaurandoum novo Estado, instaurando a sua ditadura.

As discussdes que se verificaram no interior do nossoPartido nao podem dizer respeito as bases fundamentals sabreas goals a organizagao comunista nasceu e se destsvolveu,Pode suceder, todavia, que se forme uma corrente que pre.tenda fazer urn trabalho de revisao, tambem neste camp°.Decerto que pode suceder. Vivemos num mundo onde se veri-ficam os factos mais curiosos e estranhos. Especialmentoquando a situagao se torna objectivamente dificil, verifica-seque alguns individuos, e ate grupos inteiros, perdem a cabcgae creem, e creem ate de boa fe, ter encontrado a soluclioespecifica para o momenta e cream poder resolver a questa()constituindo um tribunal que julgue as culpas de algums indi-viduos, corn o fatidico grito de add no `untore t (*)a! Istoverificou-se ja nos finals de 1920 e nos inicios de 21; a ondarevolucioneria do pas-guerra, depois de ter alcancndo o seuvertice na marcha do exercito vermelho sabre VarsOvia e na°alpaca° das fdbricas em Italia, foi fragmentada pela reaccao.Uma serie de Partidos Socialistas, que tinham entrado de aban.deiras desfraldadan na Internacional Comunista quando a si-tuagao era favoravel, amaimaram a bandeira quando a situa.ca.° se Mrnou obscura. Naturalmente justificaram o sou recuoda frente revoluciondria cam as prepotencias do knut mosco.vita, cam o autoritarisano de Zinoviev, cam a incornpreemsaodos russos sabre os acontec mentos europeus, etc., etc. De

(*) Durante a paste que devastou Mita° no sec. XVII, charna.vam-se corn tal name os que se pensava que difundiam a paste untandoparedes a perms cam substancias e unguentos infectos.—(N. do T.)

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arn•-••nrst

1921 ate hoje, lido se verificou ainda a revalued% emboratot dado passos gigantescos a escala mondial, come de-monstram, per exempla, os actuais acontecimentos da China.Outros elernentas revoluciocirios foram-se desmoralizandopar este frouxo ritmo da ravolugdo a sente-se novamente aveiha mtisica das responsabilidades pessoais de Zinoviev, conesta mudanca: em 1920-21 Zinoviev queria fazer a revalued°a todo o custo sem olhar as isituacties especiais, dos viriospafses: em 1925 Zinoviev ado permite que a Europa faca arevolugdo. A nontade das massas, ndo estava em jogo em1920 a ado o esta em 1925. A vanguarda proletiria esteve cona Intemacional Comunista em 1920 a continua a estar cam aInternacional can 1925, ainda qua em 1925 o Alumni possaregistar coma rebeldes ao .knut moscovitas, alguns dos chafesque em 1921 manejavam este knot contra o Avanti!

Sao oaisas que podem suceder a qua sucedem. 0 qUe adodeve ter coma consequencia que o CC as deixe alargarado lute energicamente, pelo contr./aria, pan, as eliminar.

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A SITUACÂO INTERNA DO NOSSO PARTIDOE AS TAREFAS DO PROXIMO CONGRESSO (•)

Na sua Ultima reunido, o Executive alargado da IC ( i) ndotinha que resolver nenhuma questa° de principio ou de Medeasurgida entre o conjunto do Partido italiano e a Internacio-nal. Um tal facto verificava-se pela primeira vez na sucessdodos reunides da IC. Por isso os camaradas mais autorizadosdo Executivo da IC teriam prefarido qua nem sequer se fa-lasse de uma comissde italiana • dado que ndo existiacrise geral do Partido italiano, nem sequer existia uma cques-tdo italianap. Na realidade ocorre dizer iraecliatamente que onosso Partido, embora tendo ja antes do V Congress°, masespecialmente depois, modificado a sua atitude tactica panse apoiar a linha leninista da IC, ndo sofreu todavia nenhumacrise nas fileiras dos seus secios a perante as massas: pelocontrario. Tendo sabido pOr as suns novas atitudes tacticasem relagdo a situaedo geral do pals que se criou depois das

(') L'UniM, 3-7-1925. Trata-se do texto da exposie go apreeentadaper Gramsci, e aprovada por unanimidade, na sess go do CC do PCIrealizada ern 11-12 de Maio. Publicando-a, L'Unitez precisa que telaexprime o pensamento do prOpiio Comitt Central a propOsito dasituacão interim do Partido e das tarefas do proximo congressc»(o III, que se realizard em Lyon, em Janeiro de 1926).

e) A quinta sessão do comite executivo alargado da InternationalComunista realizou-se em Moscovo, de 21 de Marco a 5 de Abril de1925. All se pOs em primeiro piano o problema da abolchevizacacmdas varias seccOes nationals da International para as tomar deverasoutras tantas expressoes de mm finite Partido Comunista mundial).Neste quadro, teve particular relevo a directriz de organizar o Partidoatravas de alulas nos locals de trabalho, de oficina a de aldeia.

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eleienes de 6 de Abril e especialmente depois do assassiniode Giacomo Matteotti, o Partido conseguiu alargar-se comeorganizactio e estender de mode notabilissimo a sua influen-cia entre as massas opethrias e camponesas. 0 nesse Partido6 um dos poucos, senâo talvez o Unico partido da Internacio-nal, que pole afirmar urn sucesso seenelhante numa situagdotae dificil como a que se foi criando em todos os paises, espe-cialmente europeus, em referencia a relativa estabilizaeão docapitalismo e ao relativo reforco dos governos burgueses e dasocial-democracia, que do sistema burgues se tornou uma partecalla vez mais essential. Ocorre dizer, pelo manes entre parén-teses, que 6 precisamente porque se constituiu uma Cal situaedoe em relagdo as consequencias que ela teve, nao s6 no meiodas grandes massas trabalhadoras mss tambem no interior dosPartidos Comunistas, que se deve enfrentar o'probleraa dabolchevizacSo.

A fuse actual dos partidos da International

As crises atravessadas per todos os partidos da IC, de1921 a hoje, isto 6, desde o inicio do period° caracterizadopor urn afrouxamento do ritmo revolucionArio, mostraramcome a composiedo geral dos partidos nao era muito sOlidaideologicamente. Os prOprios partidos oscilavam corn mudan-eas muitas vezes fortfssimas da direita a extrema-esquerda,corn repercussOes gravissimas em toda a organizagdo e corncrises gerais nas ligacOes entre os partidos e as massas. A faseactual atravessada pelos partidos da Internacional 6 caracte-rizada, pelo contrario, pelo facto de cada urn deles se ter idoformando ratravOs das experiOncias politicas destes animasanos, consolidando-se um nficleo fundamental que determinaulna estabilizacdo leninista da composigdo ideolOgica dos par-tidos e assegura que des deixarilo de ser atravessados percrises e oscilagOes muito profundas e muito largas. Pondoassim o problems geral da bolchevizaedo, quer no dominioda organizaelto quer no da forrnaedo ideolOgica, o Executivealargado afirmou que as nossas faros internacionais atingi-ram o ponto resolutivo da crise. Neste sentido, o Executivealargado e urn ponto de cheeada, e a constatacdo dos enormesprogresses conseguidos na consolidaedo das bases organizati-vas e ideolOgicas dos partidos e um ponto de partida porque

tail progresses devem ser coordenados, sistematizados, 6,devem tornar-se consciOncia difusa e operante de coda a massa.

Por algumas razOes, os partidos revoluciondrios da EuropaOcidental so hoje se encontram nas condigOes em que se en-contravarn os bolchevistas russos já desde a formagdo do seuPartido. Na Russia, nao existiarn, antes da guerra, as glandesorganizacks dos trabalhadores que cameterizaram, pelo con-trail°, todo o !period° europeu da II Internacional, antes daguerra. 0 Partido, na Raissia, nao so como afirmacào teOricageral mas tambem comb necessidade pratica de organizaegoe de luta, resumia em si todos os interesses vitais da classeoperaria; a calla de fabricia e de rua guiava a massa, querna luta pelas reivindicaeOes sindicais quer 111 luta politicapara derrubar o czarismo. Na Europa Ocidental, pelo contra-rio, foi-se cada vez mais constituindo uma divisdo do trabalhoentre organizaedo sindical e organizaclo politica da classeoperdria. No campo sindical, foi-se desenvolvendo, corn ritmocada vez mais acelerado, a tendencia reformista e pacifista;into 6, foi-se cada vez mais intensificanclo a influ'Oncia da bur-guesia sobre o proletariado. Pela mesma razäo, a actividadenos partidos politicos foi-se mudando cada vez mais para ocampo parlamentar, into 6, para formas que nao se distin-guiam em nada das da deenocracia burguesa. No period() daguerra e no do pOs-guerra imediatamente precedente a cons-Unica.° da Internacional Comunista e as crises no camposocialista que levaram a formacdo dos nossos Partidos, a ten-dencia sindical-reformista foi-se consolidando como organiza-cdo dirigente dos sindicatos. Veio assim a deterrninar-se umastuacdo geral que pOe precisamente tambera os Partidos Comu-nistas da Europa Ocidental nas mesmas condieees em que seencontrava o Partido Bolchevista na ROssia, antes da guerra.Observemos o que accmteceu em It&lia. Atraves da accaorepressiva do fascismo, os sindicatos tinham vindo a perder,no nosso pais, toda a eflciéncia quer numarica quer comba-tiva. Aproveitando-se desta situagdo, os reformistas apodera-ram-se completamente do seu mecanismo central, excogitandoCodas as medidas e as disposigilies que pcdem impedir a for-macdo, organizaedo e desenvolvimento de uma minoria, tor-nando-se maioria ate conquistar o centro dirigente. Mas agrande massa quer a unidade, e tern razao, e reflecte este sen-timent° unitario na organizacdo sindical tradicional italiana:a Confecleragao Geral do Trabalho. A massa quer iutar e quer

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organizar-se, mas quer lutar coin a Confederacão Geral doTrabalho e quer organizar-se na Confederagâo Geral do Tra-ballact Os reformistas opidem-se a organizaciio das massas.Recorde-se o discurso de D'Aragona, no recente cengressoconfederal, am que afirmou que a Confederagdo deve ser cons-limit per nAo mais de um nailhão de organizados. Se se con-sidera que a gx-Opria Confederaciao afirma ser o organismounitario de codes os trabalhadores italianos, into 6, não so dosoperarios industrials a agricolas mas tambem dos camponesese qua um Italia existem pelo menos 15 anilhaes de trabalha-dores organizdveis, 6 evidente que a Confederaedo quer, comoprograma, organizar a dOcima-quinta parte, isto 6, 7,50 porcento dos trabalhadores italianos, enquanto nos quereriamosque se organizassem nos sindicatos e nos organizacdes cam-ponesas 100 per canto dos trabalhadores. Mas se a C,onfede-racào, por motives de politica interne confederal, isto 6, paramanter a direccido sindical nas maos dos reformistas, quer quesO 7,50 por canto dos trabalhadores italianos estejam organi-zados, ela quer tambeian — per motivos de politica geral, isto 6,pare que o Partido Reformista possa colaborar eficazmentenum govern democratic° burgues — que a Confederacdo, noseu conjunto, tenha uma influencia sobre as massas desorga-nizadris dos opera/jos industrials e agricolas e, impedindo aorganizadlo dos camponeses, quer que os partidos democrdti-cos corn os quais pretende colaborar mantenham a sua basesocial. Ela manobra entlio especialmente no campo das corn is-sues internas que sao eleitas per toda a mass-1, dos organi-zados e dos desorganizados. Isto 6, ela quereria impedir queos operdrios organizados fora da tendencia reformista apre-sentassem listas de candidates para as oomissees internas,quereria que os COMlltliSt2S, mesmo onde estao em maioriana organizaddo sindical local a entre os organizados das ofi-cinas consideradas singularmente, votassem, per disciplina, aslistas da minoria reformista. Se este programa organizativoreformista fosse per nos aceite, chegar-se-ia, de facto, a absor-gab do nose Partido por parte do Partido Reformista enossa Imica actividade sena a actividade parlamentar.

A tarefa das acdlulaso

Per outro lade, como podemos lutar contra a aplicaddo ea •ealizac5o de um tal programa sem determinar uma cisao

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que nos queremos absolutamente determinar? Pam obteristo, não ha outra saida do que a erganizacdo das celulas eo seu desenvolvimento no mesmo sentido em que se desenvel-veram, na Riissia, antes da guerra. Como fraccdo sindical, eencostando-nos a garganta a pistola da disciplina, os refor-mistas impedem nos a centralizacão das massas revoluciona-rias, quer pare a luta sindical quer para a luta 'politica. Entioo evidente qua as nossas cOlidas devem trabalhar directamentenas fabricas para centralizar as massas a volta do Particle, le-vando-as a reforear as comissoes intact= onde estas existi-rem, a criar comitgs de agitacäo nas fabricas onde não existemecomissees interns e onde estas ndo cumprem as sues taref as,levando-as a querer a centralizacido das instituicOes de fabrica,come organismos de mecca, nao apenas sindicais mas de lutageral contra o capitalismo e o seu regime politico. E carte quea si•uadao em que nos encontramos 6 muito mais dificil doqua aquela em que se encontraram as bolchevistas russos, por-que nos devemos lutar não sO contra a reaccão do Estadofascista mas tambem contra a reaccao dos reformistas nos sin-dicatos. Precisamente •orque 6 mais diffcil a situadio, mai sfortes devem ser as nossas celulas, quer organizativamentequer ideologicamente. De qualquer forma, per aquilo qua in-cidiu no campo organizativo a bolchevizacao 6 uma necessi-dade imprescindivel. Ninguem ousard dizer que as criteriosleninistas de organizaddo do Particle sdo preprios da situaddorussa e que 6 urn facto puramente meanie° a sua aplicacãoa Europa Ocideanal. Opor-se a organizagão do Partido percelulas significa ainda uma ligacAo as velhas concepeees so-ciais-democratas, significa encontrar-se realmente num terrenode direita, into 6, num terreno no qual nä° so quer lutar con-tra a social-democracia.

A frustrada intervened° de Bordiga em Moscovo

Sabre estes argumentos, al° existe hoje qualquer diver-geuacia etttre o oonjunto do nosso Partido e a Internacional e,por isso, ales não podiam ter qualquer innuencia nos traba-lhos da comissio italiana, a qual se ocupou apenas do pro-blema da bolchevizagão do potato de vista ideolOgico e poli-tico, obsarvando especial/ante a situacho' criada no nossoPartido. 0 camarada Bordiga tinha side basistentemente con-

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vidado para participar nos trabalhos do Executivo alargado.Teria sido este o seu precise dever, vista qua ale tinha melteno V Congresso fazer pane do Executive da IC. Era tantomais exigivel para o camarada Bordiga participar nos traba-lhos se considerarmos quo ele, num seu artigo (2) (cuja publi-cacao, todavia, tinha sido per ele prOprio subordineda a apro-vagao do Executivo da Internacional), tinha asnunido emrelacao ao problema Trotsky uma atitude radicalmente contra-ria nao s6 a do Executivo da Internacional mas oontraria tarn-bOm a assumida, na prâtica, pelo prOprio camarada Trotsky.

absurdo e daploravel, sob todos os pontos de vista, que ocamarada Bordiga nao tenha querido participar pessoalmentena discussao do problema Trotsky, nao tenha querido intei-rar-se directamente de tole o material relative, nao tenhaquerido apresentar as suas opiniOes e as suas informacOes aoconfronto de um debate internacional. Nao é certamente coineste comportamento que se pock demonstrar possuir as qua-lidades e os dotes necessaries para projectar uma luta quedeveria praticamente ter como resultado uma mudanga, naos6 de perspectiva mas tambem de rssoas na direccao daInternacional Comunista.

Os cinco pontos de Leninepara urn born Partido bolchevista

A C.omissao qua deveria ter: discutido especialmente corno camarada Bordiga fixou, na sua ausencia, a linha que oPartido deve seguir para resolver a questa° das tendancias edas possiveis fraccOes que delas possam nascer, isto 6, parafazer triunfar no nosso Partido a concepeao bolchevista. Seexaminarmos a situacao geral do nosso Partido a luz das cincoqualidades fundamentais que o camarada Lenine punhe combcondigOes necessarias para a eficiOncia do Particle revolucio-nario do proletariado, no periodo da preparacao revolu-oionaria, isto 6:

1) Cada comunista deve ser marxista (nOs diremos hoje:cans comunista dove ser marxista-leninista);

(2) 0 artigo de Bordiga (La questions Trotsky) foi enviado deNI/poles em 8 de Fevereiro a L'Unita que o publicou em 3 de Julhode 1925. (Cf. Storia del PCI, cit., pp. 442 e 485).

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Cada comunista deve estar na primeira linha das lutesproletaxias•

Cada comunista deve odiar as poses revolucionarias eas Erases superficialmente brilhantes, isto 6, deve ser, nao s6um revolucionario anis tambem urn politico realista;

Cada comunista deve sentir-se sempre subordinado avontade do seu Partido e deve julgar tudo do ponto de vistado sou Partido — isto 6, deve ser sactario no sentido melhorque esta palavra pode ter;

Cada comunista deve ser internacionalista.Se examinarmos a sauna° geral do 11000 Partido a luz

destes cinco pontos, observameanos que, se se pode afirmar quea segunda qualidade forma um dos traces caracteristicos donosso Partido, o rnestne nab se pode afirmar para as outrasquatro.

Falta no nosso Partido urn profundo conhecimento da dou-trina do marxismo e, pertanto, tambem do leninismo. Sabe-mos que isto esta ligado as ta-adicOes do movimento socialistaitaliano, no interior do qual faltou a discussäo teOrica queinteressasse profunclamente as massas a contribuisse para asua formacao ideolOgica. itambem verdade, por6m, que onosso Partido nao contribuiu ate hoje pant destruir este estadode coisas e que, pelo contrario, o camerada Bordiga, confun-dinde a tendencia reformista para substituir por tuna genOricaactividade cultural a accao politica revoluciondria das mas-sas, corn a actividade intema do Partido oriental-12 para elevaro nivel de todos os seus membros ate a completa conseiOnciados fins imediatos e, a longo prazo, do movimento revolucio-ndrio, contribuiu parr o manter.

0 fenameno do eextremismcn)

0 nosso Partido desenvolveu bastante o sentido da disci-plina, isto 6, calla sOcio reconhece a sua subordinagao ao con-junto do Partido, mas o memo nao se pock dizer no querespeita as relacOes coin a IC, isto e, no que respeita a cons-ciencia de pertencer a um particle mundial. Neste sentido,basta dizer que o espirito intornacionalista nao 6 muito pra-ticado e nab certamente no sentido geral da solidariedadeinternacional. Esta era uma situagab existente no Partido So-cialista e que se reflectiu, corn prejuizo nose, no Congresso

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de Livorno. Continuou a subsistir, em parte sob outras for-mas, pela tendOneia suscitada polo camarada Bordiga em con-sidetar especial titulo de nobreza o dizer-se sequaz de tunacliamada aesquarda italianaD. Neste sentido, o camarada Bar-diga recriou uma situacao semelhante a criada polo camaradaSerrati depois do II Congress° ( 2) e quo levou A exclusdo dosmaximalistas da IC. Isto e, cria uma especie de patriotism°de partido quo recusa enquadrar-se nunra organizaeão mon-dial. Mas a fraqueza maxima do nosso Partido 6 a caracteri-zada polo camarada Lenine no ponto terceiro: o amor pelasposes revolucionarias e pelas superficiais erases brilhantes 6 otraeo mais relevante, ado do prOprio Bondiga eras dos ele-mentos qua dizem segui-lo. Naturalmente quo o fendmeno doextremism° bordiguiano não viveu do ar. Tem uma dupla jus-tificagao. Por urn lado, esta ligado a situaedo geral da luta declasses no nosso pais, isto 6, ao facto de a classe operdria sera minoria da populack trabalhadora e de estar prevalente-manta aglomerada numa Unica zona do pais. Noma tat situa-CA°, o Partido da classe operaria pode corromper-se pelasinfiltrageies das classes pequeno-burguosas quo, embora tendointeresses contrarios, como massa, aos interesses do capita-lism° nao querem, porntn, conduzir a luta ate as suas extre-mas oonsequ6noias. Por outro, contribuiu pa pa consolidar aideologia de Bordiga a situack em que veio a encontrar-se oPartido Socialista ate Livorno e que Lenine caracterizou assimno seu livro 0 extremisnzo como doenca infantil do comu-nismo: "Num partido onde existe urn Turati e urn Serrati,que nab luta contra Turati, é natural que exista urn Bordiga.DNao 6, ,pornm, natural que o camarada Bordiga se tenha cris-talizado na sua ideologia mesmo quando Turati ja nä.° estavano Partido, nâo estava o prOprio Serrati e Bordiga em pessoaoonduzia a luta contra um e contra outro. 0 element° da si-tuaedo national era evidentemente preponderante na forma-gao politica do camarada Bordiga e tinha cristalizado nele umestado permanente de pessimism° sobre a possibilidade de oproletariada a o seu Partido poderem ficar imunes As infiltra-gees de ideologias pequeno-burguesas sem a aplicacao de umatkrica politica extremamente sectaxia que tornava impossivela aplicack e a realizacha dos dois prbacipios politicos quecaracterizam o bolchevismo: a aliartea entre operarios e cam-

(') Entende-se o II Congress° da IC (Julho-Agosto de 1920).

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poneses e a hegemonia do proletariado no movimento revo-Lucia:tan° anticapitalista. A linha a adoptar pa pa combaterestas fraquezas do nosso Partido é a da luta pela bolcheviz.a-clo. A campanha a realizar dove ser prevalentemente ide°16-gica. Fla, porhm, dove tornar-se politica no quo respeitaextrema-esquercla, into 6, a tendencia representada polo cama-rada Bordiga, quo do fraccionismo latente passara necessaria-manta ao aberto fraccionismo e procurara, no congress°,mudar a perspectiva politica da International.

A questdo dos tendencias

Exist= no nosso Partido outras tendencias? Qual 6 o soucaramel. e quo perigo podem representar? Se examinarmosdeste ponto de vista a situaek inter= do nosso Pallid°, de-vemos reconhecer nao s6 quo ale ndo atingiu o grau de matu-ridade politica revolucionaria quo resumimos na palavra cbcil-clicarizagdo, mas qua nem sequer atingiu a completa imificacaodais varias panes qua confluiram na sua composiek. Paraisso contribuiu a ausencia de qualquer amplo debate, o queinfelizmente caraoterizou o Partido deste a sua fundack. Seconsiderarmos os demo:nos que no Congresso de Livorno sealinharam pela Internacional Comuaista, podemos constatarque das trés oarrentes que constituiram o PC: 1) os absten-sionistas da fracck Bordiga; 2) os elementos agrupados avolta de Ordine Nuovo e do Avanti! de Turin; 3) os elemen-tos de massa que seguiam o grupo a que charnaremos Gennari--Marabini, isto 6, os sequazes das figural mais caracteristicasdo estrato dirigente do Partido Socialista que vieram connosco—apenas dual, a abstensionista e a de Ordine Nuovo-Avanti!de Turin, tinham desenvolvido urn certo trabalho politicoautonomo, tubes do Congresso de Livorno, tinham debatido,no sou intern°, as problemas essenciais da Internacional Co-munista e tinham portant° adquirido tuna certa capacidadede experiencia politica comunista. Mas estas correntes, se con-seguiram ter a primazia na direcozio do novo Partido Como-nista, aho constituiann a maioria de base. Alem disso, uma

(') Note-se que Gramsci falava em Maio de 1925. Menos de urnmés depois, o .fraccionismo aberto p manifestava-se corn a constituichodo (Comilla° d'intesap.

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sO deltas dual correlates, a abstensionista, desde 1919, ou seja,dois anos antes de Livorno, tinha tido uma organizaean nacio-nal, tinha formado entre os seus aderentes uma cotta cue-riencia organizativa de partido, mas no periodo preparatOriotinha-se exclusivamente ocupado de questOes interims de par-tido, da luta especifica das fraccOes, sem ter, no seu conjunto,atravessado experiincias politicas de massa para altan da ques-tao puramente parlamentar.

A corrente que se constituiu a volta- de Ordine Nuovo eAvanti! piemontis nao tinha suscitado tuna fraccao nacionalnem sequer uma verdadeira e pr6pria fracedo nos limites daregiao piemontesa em que tinha surgido e se desenvolvera.A sua actividade foi prevalentemente de massa; os problemasinternos de partido foram por ela sistematicamente ligados asnecessidades e aspiragOes da luta geral de classe, geral dapopulagao trabalhadoca piemontesa e, especialmente, do pro-letariado de Turim. isto 6, deu-se aos seas componentes umamelhor preparaeao politica e uma maior capacidade de cadaum dos seus membros, mesmo de massa, guiar movimentosre-ais, p6-la em condigOes de inferioridade na organizacithgeral do Partido. Se se exceptuar o Piemonte, a grande malo-ria do nosso Partido foi-se constituindo pelos elementos ali-nhados em Livorno corn a IC porque corn a IC tinha ficadotoda uma sirie de camaradas do velho estrato dirigente doPartido Socialista, como Gennari-Marabini, Bombaoci, Mi-siano, Salvadori, Crraziadeci, etc.: nesta massa, que pelas con-cepeCies nao se diferenciava nada dos maximalistas, se inseri-ram os grupos abstensionistas locais, dando-lhe a forma deorganizaeao do novo PC. Se nao se tivesse em cotta esta realformacao do nosso Partido, nao se compreenderiam nem ascrises que o atravessaram e nem a situacao actual. Pelas ne-cessidades de luta sem treguas que se impuseram no nossoPartido desde a sua origem, a qual coincidiu corn o vibrarmais furioso da re-aced° fascista, razao por que se pale dizerque todas as nossas organizae6es foram baptizadas corn osangue dos flosses melhores camaradas — as exncriincias daInternacional Comunista, isto 6, nao so do Partido russo mastambem dos outros Partidos irrnaos, nao chegaram ate nen es6 brain assimiladas pela massa do Partido, irregular e epi-sodicamente. Na realidade, o nosso Partido encontrou-se iso-lado do conjunto internacional, encontrou-se a desenvolver asua ideologic emaranhada e caOtica sobre a Unica base dig

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nossas imcdiatas experiéncias nacionais; crkm-se, em Italia,uma nova forma de maximalismo. Esta shamed° geral agra-you-se o ano passado corn o ingress° nas nossas fileiras dafracedo aderente a III Internacional. As fraquezas que noscram caracteristicas existiam numa forma ainda mais gravee perigosa nesta fracedo que hi dois anos e meio vivia auto-nomamente no interior do Partido Maximalista, criando assimvinculos internos entre os seus aderentes, quo deviam prolon-gar-se mesmo depois da tusk,. Alim disco, tambem a fracedoinspirada na III Internacional, por dois anos e meio, foi corn-pletarnente absorvida pela luta interna corn a direcedo doPartido Maximalista, luta quo foi prevalentemente de catheterpessoal e seetario e sO episcadicamente tratou as questees fun-damentals, quer politicas quer organizativas.

A bolchevizacao

evidePte, contudo, que a bolehevizacao do Partido, nocampo ideolOgico, nao pock so ter em coma a situacao queresumimos na existencia de uma correate de exticrua-esquerdae no comportamento pessoal do camarada Bordiga. Eta doveinvestir a situacao geral do Partido, isto 6, dove propor-se ele-var o nivel tecnico e politico de todos os nossos camaradas.

certo, por exemplo, que existe tarithim uma questa° Gra-ziadei, isto 6, que nos devemos basear-nos nas racemes publi-cagOes para melhorar a educaeao marxista dos nossos cama-radas, combatendo os desvios chamados cientificos por aquelasdefendidos. Ninguem, porern, pode pensar gut o camaradaGraziadei represents urn perigo politico, isto 6, quo corn basenas suns concepcOes revisionistas do marxismo possa nasceruma ;Pasta corrente e, portanto uma fracedo que ponha emperigo a unidade organizativa do Partido. Por outro lado 6preciso nao esquecer que o revisionism° de Graziadei di umapaio as correlates de direita quo, embora em estado latente,existem no nosso Partido. A entrada da fracedo inspirada naIII Internacional, into 6, de urn elemento politico que .na° per-deu muitos dos seus caracteres e que, como ja se disse, tendea prolongar mecanicamepte, fora da sua existincia de fracedono interior do Partido Maximalista, os vinculos criados noPartido precedente, pode sem chivida dar a esta potencialcorrelate de direita uma certa base organizativa, pondo pro-

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blemas que nao podern set absolutamente transcurados. NAG6 passive', todavia, que nascam fortes divergOncias nesta esjae-oie de apreciaeLes; as questOes para as quais chamamos aarmed°, a que =scam da composigdo originaria do nessoPartido, poem prevalentemente problemas ideolOgicos forte-mane ligados a duas necessidades: 1) a necessidade que aveiha guarda do Partido absorva a massa dos novos inscritos,ohegadas ao Partido depois do facto Matteotti, e que tripli-caram os efectivos do Partido; 2) a necessidade de oriar qua-&es organizativos de Partido que sejam, nao s6 capazes deresolver as problemas quotidianos da vida do Partido, quercomo organizagdo prOpria quer nas suas ligaebes corn ossindicatos a corn as outras organizagOes de massa arras, quesejam tambem capazes de resolver os mais complexes proble-mas ligados a preparaelo da conquista do poder e ao exer-cicie do poder conquistado.

0 perigo de direita

Pode dizer-se que, potencialmente, existe no nosso Partidoum perigo de direita. Esti ligado a situacão geral do pais.As oposicOes constitucionais, arnbora histtoricamente tenhamcessado a sua furled° desde que rejeitaram a nagsa propostade criar o Antiparlamento (5), continuam todavia a subsistirpoliticamente ao lade de um fascismo consolidado. Uma vezque as perdas sofridas pela oposicãe, se reforaara.m o nossoPartido, nao o reforearam, poa-6m, na mesnaa medida ern quese consolidou o fascismo, que tern nas andos todo o aparelhoestatal, 6 evidente que no nesse Partido, perante uma tandemcia de extrema-esquerda que ore ohegado o momento de pas-sar ao ataque frontal do regime que nao pode desagregar-sepelas manobras da oposigão, podera =seer, se nao existe ja.,uma tendencM de direita, cujes elemeatos, desmoralizados poloaperente superpoder do Particle dominante, desesperando queo proletariado possa rapidamente derrubar o regime no seu

(5) A proposta foi avangada palo Grupo Parlamentar Comunistaem Outubro de 1924. Corn ela os comunistas convidavam os partidosda coligactio do Aventino a reunir-se em conjunto numa assemblejaque funcionasse como Parlament° oposto ao Parlamenti) fascista, quelegislasse e criasse urn instrumento apto a recolher a sua volta aoposiciio das massas populares ao fascismo.

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tedo, cemecardo a pensar que talvez seja meihor tactica aque conduz, se nao de facto a urn bloco burguesproletaxiepara a eiliminacio constitutional do fascismo, polo manes auma tactica de passividade real, de Liao intervened° activa donosso Particle, que permita a burkuesia servir-se do proleta-riado coma de uma ma ssa de manobra eleitoral contra o fas-cismo. 0 Partido deve ter em costa todas estas possibidades

probabilidades, para que a sua junta linha revolucionaria adosefra desvios.

0 Particle, se deve considerar o perigo de direita comeuma possibilitdade a combater corn a propaganda ideolegica

cam meies disciplinares ordinaries cada vez que isso semostra necessdrio, deve considerar, polo contrano, o perigode extrama-esquerda come uma realidadr imediata, coma umobstaculo ao desenvolvimento, nao set ideolOgico mas politicodo Partido, come urn perigo que deve set combatido nao s6corn a propaganda mas tambOm corn a accão politica, porqueconduz imediatamente a desagregacAo da unidade, mesmo for-mal, da nossa organizagdo, porque tende a criar um Partidono Partido uma disciplina contra a disciplina do Particle.Quer isto dizer que nos queremos atingir uma ruptura cam

camarada Bordiga a coin os que se dizem seas amigos?Quer dizer que nOs queremos modificar a base fundamentaldo Partido come se era constituida no Congresso de Livorno

se tinha conservado no Congresso de Roma? Dawn° e abso-luramente que nao. Mas a base fundamental do Particle adoera urn facto puramente mednico: tinha-se constituido coin aaceitagão incondicionada dos principles e da disciplina da IC.Nat° fomos nOs que pusemos em discussäo estes principies eesta disciplina; nao seria, portanto, de procurar em nas avontade de rnodificar a base fundamental do Partido. Ocorre,alem disco, dizer que para 90 %, se nao mais, dos seas mern-bros, o Partido ignora as questOes que snrgiram entre a nossaorganizanao e a Internacional Comunista. Se o Partido, noseu conjunto, espocialinente depois do Congresso de Roma (6),tivesse lido posto em condicOes de conhecer a situacão dasnossas nine= intemacionais, prevavelmente vita estaria agorana conks -au em que se encentra. De qualquer forma, deve-MOs afirmar corn ;maim energia, para que se frusta o tristejogo de alguns elementos irresponsaveis que puree encontra-

(5) Entrada-se o II Congresso do PCI (Marco de 1922).

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tern a sua felicidade politica exacerbando as feridas da nossaorganizacao, que nbs consideramos passive' um word° corn

camarada Bordiga e pensamos que tat seia Itambem a °pl-aid° do prOprio camarada Bordiga.

A organizaglia da discusscio

E segundo esta perspectiva geral que nos consideramosqua se dove organizer a discussao pain o nosso congresso. Noperiodo que atravessimos das tiltimas eleicaes parlamentaxes,

Partido conduziu uma aced° politica real que foi partilhadapela grande malaria dos nossos camaradas. Corn base nestaarta°, o Partido triplicou o nfuneno dos seas %kicks, desert-volveu de mode tan notavel a sua influancia no proletariadoque se pock dizer ser o nose Partido o mais forte entre osparticles que tern tuna base na Confederatao Coral do Tra-balho.

Conseguiu-se, nests periodo, pfir concretamente o problemafundamental da nossa revolugdo: o da alianca entre aperaxios

camponeses. Numa palavra, o nesse Partido tornou-se umfactor essential da situaeao italiana. Neste terreno da aced°politica real, criou-se uma certa homoganeidacle entre as noo-ses camaradas. Este element° dove continuar a desenvolver-sena discussao do Congresso e dove sap uma das determinantesessentials da bolchevizaelo. Isto significa que o cengresso naodove ser so coneebido canto urn momenta da nossa politicageral, do processo atraves do qual nos nos ligamos as massas

suscitamos novas foreas para a revoluglo. 0 uncle° princi-pal da actividade do congresso dove ser, per isso, visto nasdiscussiiies que se farao para estabelecer que fase da vida ita-liana e internacional atravessamos, isto é, quais sa p as Ecla-t:5es actuais dos foreas sociais italianas, q eis sao as foreasmotrizes da situagdo, que fase da luta de classes é a actual.Deste exame nascem dais problemas fundamentals: 1) comopodernos desenvolver o nosso Pat-tide de mode que ele setome uma unidade capaz de conduzir o proletariado para aluta, capaz de venter e de veneer permanentemente. Este 6 oproblema da bolchevizaedo; 2) que aced° real e politica

nosso Partido dove continuer a desenvolver para determinaira coligaeao de todas as foreas anticapitalistas guiadas poloproletariado (revolucionOrio), na situatdo concreta para der-

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rubar o regime capitalista, num primeiro momento, e paraconstituir a base do Estado cxperatio revolucionario, num se-gundo momenta. Isto 6, devemos examinar quais Sao os pro-blemas essentials da vida italiana e que soluedes favorece edetermina a alianca revoluciandria do proletariado coin oscamponeses e realiza a hegemonia do proletariado. 0 con-gresso devera, polo menos, preparar o esquema geral do nossoprograma de Govern. Esta 6 uma fase essential da nossa vidade Partido.

Aperfeitoar o instrumento necessdrio para a revalued°proletäria em eis a tarefa major do nesse congresso;cis a tmbalho papa o qua] convidamos todos os camaradas deboa vontade a antopor aos interesses ,unitarios da sua classeas mesquinhas e estereis lutas de fracedes.

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A ORGANIZACAO POR CELULASE 0 II CONGRESSO MUNDIAL (*)

No seu artigo sobre a natureza do Partido Comunista (1),escreve o camarada Bordiga: eNo II Congress°, em queforam estabelecidas por Lenine as bases da Internacional,embora possuindo ja a experiOncia dal celulas na ROssia, nemsequer at fez refer&ocia a tal criteria organizativo, hoje apre-sentado came indispensavel e fundamental, em nenhum daque-les classicos documentos: o estatuto da Internacional; 21 con-diet-vs para nela ser admitido, teses sobre a tarefa do partido,teses sabre as tarefas da Internacional. Trata-se de uma ((des-cobertan feita muito tempo depois e teremos oportunidade dever como se coloca no processo de desenvolvimento da Inter-nacional. D

A afirmac5o do camarada Bordiga nao é exacta. Nu tesessabre as tarefas fundamentais da Internacional Como/vista e,precisamente, no II capitol° (eEm que deve consistir a pre-paraga'a imediata e geral da ditadura do proletariado2), Le-nine tinha escrito: eA ditadura do proletariado e a realiza0omais cconpleta da direccao de todos as trabalhadores e detodos os explorados — que tern sido subjugados, pisados, opri-rnidos, aterrorizados, divididos, enganados pela classe capita-lista — par parte da funca classe que para uma tal missdodirigente tern sido preparada par toda a histaria do capita-lism°. Por isso 6 preciso iniciar, por toda a parte e imediata-

(•) Assinado, Antonio Grarnsci, L'Unita, 29-7-1925.(1) Cf. Amadeo Bordiga, La natura del Partito Comurzista, L'Unitâ,

26-7-1925.

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manta, a preparaedo da ditadura do proletariado, procedendodo seguinte mode: Em todas as organizacOes, federaciles, asso-ciac5es sem excepe5o, em primeiro lugar nas proletirias,depois nas nao proletirias da massa trabalhadora e explorada(politic-as, sindicais, railitares, cooperativas, culturais, desporti-vas, etc.), devem-se criar grupos ou abilas de comunistas,cm primelia lugar abertamente mas tambem clandestinas;estas sao obrigatbrias quando se espere da burguesia a tenta-tiva de dissolve-las, a priado ou o exulio dos sem militantes.Estas celulas, estreitamente ligadas entre si e ligadas a Direc-cão Central, devem trocar as sues experiOncias, fazer o tra-balho de agitacia, propaganda e organizagdo, adaptor-se abso-lutatnente a todos os sectores da vida pliblica, a todos osaspectos e grupos da massa trabalhadora; e corn este milltiplotrabalho devem eduoar-se sistematicaniente a si prOprios, oPartido, as clacces, as masses.)

Nas 21 condieees de admissào, parigrafo 9, diz-se: aTodoo Partido que deseje pertencer a Internacional Comunista devesistemisica e tenazmente desenvolver uma actividade comu-nista nos sindicatos, nos conselhos operirios, nos conselhosde empresa, nas cooperativas de consume e em todas as orga-nizacOes operarias. Nestas organizacOes, 6 necessario organi-zar celulas comunistas que, corn um trabalho •ersistente etenaz, ganhan para a calm do comunismo os sindicatos, etc.

aEstas celulas säo obrigadas, no seu trabalho quotidiano,a desmascarar per toda a parte a traicão dos sociais-patriotase as oscilagOes dos centristas. As celulas comunistas devemestar completamente subordinadas ao Partido.D

Nas Teses sobre as tarefas do Partido Comunista na Reno-lucâo Proletória, parigrafo 18, pode ler-se: aBase de toda aactividade organizadora do Partido Comunista deve ser, porSoda a parte, a criaedo de uma alula comunista; e isto, mesmoque seja pequeno o Milner° dos proletazios e semiproletirios.Em cat Soviete, em cada sindicato, em cada 000perativa deoonsumo, em cada empresa, em cada comelho de inquilinos,onde quer que se encontrem mesmo s6 tres homers que tra-balham para o comunismo, deve imediatamente fundar-se umacaula comunista. S6 o caracter compacto dos comunistas dia vanguarda da classe operiria a possibilidade de conduzirconsigo toda a classe operiria. Todas as celulas do PartidoComunista, que trabalham nas organizagOes sem partido, es-tao absolutamente subordinadas a organizacdo do Partido e

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isto quer o Partido, naquele moment°, trabalhe legalmentequer ilegalmente. As celulas comunistas de MIA a especiedevout estar subordinadas uma a outra corn base no mais rigo-roso regulamento hierizquico, segundo um Sterna o 'maispassive] preciso.D

0 II Congresso peas o problema da organizacdo dos Par-tidos Comunistas por celulas. A apresentacAo nao foi clarapara as partidos europeus. Confundiu-se a org,anizacäo dascelulas, base do Partido, corn a organizacao das fraceOescomunistas nos sindicatos, nas cooperativas etc • na realiciade,as duas formes organizativas nao se distinguem bout entre sinos enunciados referidas, embora a distincla se tap clara-mente na parte que resume as teses sobre as tarefas do Par-tido. No porno IV do resume diz-se assim- cOnde quer queexista nem que seja si tuna &lila de prolatirios ou semi-proletarios, o PC deve ter urns celula organizadora Nopanto V: aEm cada instituigio apartidaria, deve axis& umacaula do Partido Comunista rigorosamente submetida aoPartido., E evidente que nestes dois pontos se pretende fazera distinetio entre a alula, base organizativa do Partido, e afraceSo, organismo de trabalho e de luta do Partido nas asso-ciaeOes de massa.

Que into e assim resulta das teses escritas por Lenine cm1915 para a face5° esquerda de Zimmerwald, isto e, para omicleo revolucionario que fundard em 1919 a InternacionalComunista. E resulta do discurso pronunciado por Leanne noIII Congresso, no artigo especial dedicado a organizacao ea estrutum dos Partidos Comunistas. Lenine interroga-se: Pas-qua e que s6 o Partido Comunista Russo esti. arganizado porcelulas? Porque nao foram executadas as disposigOes doH Congresso que indicavam o Sterna das caulas oomo o sis-tema prOprio dos Partidos Comtmistas? E Lenine responde aestas perguntas afirmando que a responsabilidade disto per-tense cos camaradas russos e a si pre/psi°, porque nas tesesdo II Congresso usou-se uma linguagem muito russa e poucooeuropeiaD, into é, fez-se referencia as experiancias russas semtornd-las actuais, man as explioar, supondo que eram conheci-das e compreendidas. As teses do III Congresso sobre a estru-tura do Partido Comunista, escritas directamente por Leanneos submetida s ao seu control°, ado portanto nao uma dos-cobertaD, como diz o taut-Ma Bordi,ga, mas a tradugdo em

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linguagem cornpreensivel para os europeus, dos enunciadosbreves e sugeridos que se contem nas teses do II Congresso.

Mas porque é que o camarada Bordiga qua fazer estadistincao na histOria da Internacional entre o II Congresso eas sue-csivos ties congresses? No artigo sobre a «questa°trotskyn, o camarada Bordiga sustenta que a histeria da In-ternacional se divide em duas pastes: ate a morte de Leonine,depths da mrorte de Levine. No artigo sobre a natureza doPartido, pelo contrdrio, a segunda lase ocmeca jd a partirdo III Congresso, isto é, de um periodo em que Lenine estavavivo e no mdzimo da sua eficiencia intelectual e politica. Nodecurso da discussao parece claro este panto que 6 funda-mental pare a discussao do Partido: para o camarada Bordiga,o movimento revoluciondrio italiano eacontra-se novamestenuma fase sernhante a que decorreu entre o II Congressoe Livorno, isto 6, numa fase em que se devern organizar frac.gees porque nos podemos encontrar (ou melho •, encontramo--nos) perante urn problema de cisdo. Como explicar de outromodo as referencias feitas pelo camarada Bordiga, nos pontosrelativos a esquerda e no artigo sabre a natureza do Partido,ao grupo de Ordine Nuovo, referencias malevolas, cheias deaversao e de rancor, nao destinadas a cancelar as diferencasmas, pelo contrdzio, a exasperd-las e a faze-las parecer inso-ltiveis? 0 camarada Bordiga, além do Innis, esqueceu poremurna apequenan coisa: que mesmo apresentando o II Con-gresso come pedra de comparacao para compreender a situa-gee actual do nosso Partido, nao é decerto o grupo de OrdineNuovo que aparece diminuido na franca° que sempre desen-volveu para a preparagdo do movimento comunista italiano.No II Congresso o camarada Lenine declarou fazer sues asteses apresentadas pelo grupo de Ordine Nuovo no ConselhoNacional do Partido Socialista de Abril de 1920 e quis quedas deliberacees do congresso resultasse: 1) que as teses deOrdine Nuovo carrespondiam a todos os paincipios funda-mentals da III Internacional; 2) que no Congresso do PartidoSocialista deviam see examinadas as teses de Ordine Nuovo.Nenhum gextremistas quererd negar que entre o juizo docamarada Levine e o do camarada Bordiga, o juizo do cama-rada Lenine seja considerado por nes mais importante e di-tado par um espfrito marxista urn pouco mais profundo eseguro do que o do camarada Bordiga

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A ORGANIZACAO-BASE DO PARTIDO (*)

No meu precedente artigo sobre as c6lulas, ao qual serefere o camarada Mangano (1), nao quis demonstrar mas ape-nas recorder urna coisa muito simples que devaria estar sem-pre presente na rnemeria de todos os canaradas que queiramparticipar coma seriedade na discussao do congress°, que re.nham a intencdo de favorecer a educated.° do Partido e /adoa de confundir as idenas. Quis recordar que o tipo de orga-nizacrio par celulas end estreitamente ligado a doutrina doleninismo e qua no campo internacional, o camarada Lennieindicou este tipo de organizacao desde a epoca da esquerdaZinnnerWaldiona

Uma das caracteristicas mais destacadas do leninismoa sua formiddvel coerancia e consequencia: o leninismo 6 umsistema unitalrio de pensanaento e de accao prdtica em quetudo se contem e se demonstra reciprocamente; da concepcâogeral do mundo ate aos mais pequenos problemas de organi-zacao. 0 nracleo fundamental do leninismo, na accao pratica,é a ditadura do proletariado e a questa° da preparagdo e daorganizacao da ditadura praletdria estao ligados todos osprincipios de tactica e de organizacao do leninismo. Se tivesselido verdade o que o camarada Bordiga afirmou, into 6, quea organizaceo das caulas, coano base do Partido, foi uma

(•) Assinado Antonio Gramsci, tunita, 15-8-1925.Trata-se do artigo precedente, A organizarao por cdlulas e o

111 Congresso Mundial. Romeo Mangano polemizava corn as tesesque all se continham num artigo (Contro It cellule) que I L'Unita publi-cava a seguir a este de G. (A organizaglio base do Partido), no mesmoniunero.

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adescobertas do III Congresso( 2)—estaria demonstrada tunagravissima incoerencia do laninisano e da Internacional e striaverdadeirametue necessario interrogarmo-nos se no In Con-gresso nao se verificou urn desvio a direita, no sentido dasocial-democracia, isto é, uma mudanga do terreno da accaorevolucionaria para um terreno de simples actividade organi-zativa, estranha a preparacao da ditadura proletaria.

Este 6, de facto, o assunto polemic° dos camaradas extre-mistas: edeanonstrara que a organizatao do Partido, tom basenas celulas, nab é parte essential do leninismo con a afirma-eao de que a organizacao per celulas 6 uma «descobertas pos-terior ao II Congresso—para atiugir a demonstratdo de quea perspectiva da Internacional se mudou a partir do III Con-gresso vista que foram atribuidos acs Partidos Comunistas,a partir do III Congresso, tarefas essencialmente oa-ganizati-vas e nä° de accao. Assim se explicaria, segundo os extre-mistas, canto diversos partidos, quando se apresentou ummomenta propicio para a accao, faliram na sun tarefa hist6-

(reelizar a insurreicao armada e a conquista do poder):tinham side distraidos per tarefas secundarias de organizacaointerns ou de organizacao das grandes massas (questa° dascelulas, Medea da frente Unica e do Govemo operario, lutapela unidade proletaria, etc., etc.).

No meu precedente ertigo, ao qual o cannarada Manganose refere, «demonstrei p coma urn dos elementos sobre o qualdeveria basear-se o assunto polemic° dos extremistas 6 insub-sistente: nao sera difitil demonstrar como id° do mesmomodo inconsistentes os outros.

A questa° das celulas 6 certamente tambern urn problemstecnico de organizacao geral do Partido mas, antes de mais,6 ulna questiio politica. A questa° das celulas é a questa° dadirectio das massas, into 6, da preparatao da ditadura prole-taria, 6 a melhor solucao tecnica organizativa da questao fun-damental da nossa epoca.

Os argumentos prO e contra as celulas trazidos ate agoraa discussao (se 6 mais ,segura a ma ou a fabrica, se aos inte-lectuais como classe 6 mais Med, cam as celulas ou corn a

(2) No artigo La natura del Partito Comunista, Bordiga afirmavaquanta o preprio Gramsci referia no seu escrito precedente. errata-sede uma descoberta feita muito tempo depois...a, etc..

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as.sembleia territorial, desviar o proletariado ou inquinar asua ideologic) sao argumentos secundarios, observacees dedetalhe que influem de modo subordirmdo na aceitacao daforma organizativa por celulas e nao da forma par ass:Am-ble:Ms territoriais.

0 argumento fundamental é o da direceao das masers que,por min prOprio, foi assim exposto perante o nosso ComaeCentral (cf. L'Unita de 3 de Julho)(3), nao Wade os extre-mistas procurado segues rebates uma silaba:

.Par algumas razdes, os partidos revolucionarios da Eu-ropa Ocidental so hoje se encontrarn nas condicOes em quese encontravam as bolchevistas russos ja desde a formagdodo seu Parade. Na Russia, nao existiam, antes da guerra, asgrandes arganizaceies dos trabalhadows que caracterizaram,pelo .contrario, todo o pea-iodo europeu da II Internacionalantes da guerra. 0 Partido, na Rtissia, nao so coma afirma-car) tearica geral mas tambem coma necessidade pratica deorganizacao e de luta, resumia em si odes os interesses vitalsda classe operdria; a celula de fabrica e de rua guiava amassa, quer na luta pelas reivindicaeties sindicais quer naluta politica pan derrubar o czarismo. Na Europa Ocidental,pelo comsat' io, foi-se each vez mais constituindo uma divisaodo trabalho entre organizacao sindical e organizacao politicada classe operaria. No campo sindical, foi-se desenvolvendo,corn &ma calla vez mais arelerado, a tendencia reformists epacifists; isto 8, foi-se cads vez mais intensificando a influen-cia da burguesia sobre o proletariado. Pela mesrna raid°, aactividade nos partidos politicos fai-se mudando cads vezmais pars o campo parlamentaa-, isto 6, pars formas que naose distinguiam em nada das da democracia burguesa. No pe-riods da guerra e no do pOs-guerra imediatamente prate-dente a constituindo da Internacional Comunista e as ciseesno camps socialista que levaram a formacao dos nossos Par-tidos, a tendencia sindical-reformista foi-se consolidando comoorganizacao dirigente dos &indicates. Veio assim a detesrai-nar-se uma sinned° geral que pde precisamente tarnbem osPartidos Comunistas da Europa Ocidental nas mesmas condi-cries em que se encontrava o Partido Bolchevista na Russia,antes da guerra. Observemos o que aconteceu em Italia. Atra-ves da accao repressiva do fascismo, os sindicatos tinham

(3) Cf., neste volume, o texts da comunicacao de G.

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vindo a perder, no nosso pais, toda a eficiencia quer nume-rica quer combative- Aproveitando-se desta situacao, os refor-mistas apoderaram-se completamente do sou mecanisano cen-tral, excogitando todas as medidas e as disposicats que podemimpodir a formacao, organizacao e desenvolvimento de umaminoria, tornando-se maioria ate conquistar o contra diri-genre. Mas a grande massa quer a unidade, e tem razao, ereflecte este sentimento unitario na or•anizaceo sindical tra-ditional italiana: a Confederagao Geral do Trabalho. A massaquer lutar e quer organizar-se mas quer lutar corn a Confe-deracao Gerai do Trabalho e quer or anizar-se na Confede-ragao Geral do Trabalho. Os reformistas opeiern-se a organi-zacao das masses Recorde-se o discurso de D'Aragona, norecant congresso confederal, em que afirrnou que a Confecle-racdo deve ser constituida por nao mais de urn railhae d°organizados. Se se considera que a prepria Confoderacdoafirma ser o organismo unittio de fades os trabalhadoresitalianos, into e, nao so dos operdries industriais e agricolasmas tambSn dos camponesas e que em Italia existem polomenos 15 milhets de trabelhadores organizaveis é evidenteque a Confederacao quer, camo programa organizar a &clam--quinta parte, isto e, 7,50 por cento dos trabalhadores italia-nos, enquanto nos quereriamds que se organizassem nos sin-dicatos e nas orgarinacties camponesas 100 por cento dostrabalhadores. Mas se a Confederagao, por motivos de politicainterna confederal, into 6, para manter a direccão sindical nasmoos dos reformistas, quer que so 7,50 par cento dos traba-lhadores italianos estejam organizados, ela quer tambem— per motivos de politica geral, isto 6, para que o Partido Re-formista possa colaborar eficamente num govern democra-tic° burgues — que a Confederacao, no seu conjunto, tenhauma influencia sobre as masses desorganizadas dos operariosindustrials e agricolas e, empodindo a organizacao dos cam-poneses, quer que os parades dernocraticos corn os quaispretende oolaborar mantenham a sua base social. Ela mano-bra °Melo especialmente no campo das comissees internalsque sae eleitas por toda a massa dos organizados e dos desor-ganizados.

g ist° 6, ela quereria itripedir que os operarios organizadosfora da tendencia reformista apresentassem listas de candida-tes para as comissees internas, quereria que os comunistas,mesrno onde este° em maioria na organizacao sindical local

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a alum Os organizados das oficinas consideradas singular-mente, votassem, par disciplina, as listas da minoria refor-mista. Se este programa organizativo reformista fosse pot- ndsaceite, chegar-se-ia, de facto, d absorcdo do nosso Partido porpane do Partido Reformista e a nossa Unica actividade seriaa actividade parlamentar.

aPor °taro lado, como podemos lutar contra a aplicacaoa realizacao de urn tal pro grama sem detain-Maar uma cistio

que nos nao queremos absolutamente determinar? Para obteristo, nao ha outra saida do que a organizacao das calulas e

seu desenvolvimento no mesmo sentido em que se desen-volveram, na Thisaia, antes da guerra. Como fraccao sindical,

encostando-nos d garganta a pistola da disciplina, os refor-mistas impedem-nos a centralizacto das massas revoluciond-rias, quer para a luta sindical quer pan a luta politica. Ffltâo6 evidente que as nossas calulas devem trabalhar directamentenas fahricas para centralizar as masses a voila do Partido,levando-as a reforcar as comissees internas onde estas axis-tirem, a criar comites de agitagao nas fabricas onde Igo exis-t= comissOes internals e onde nao cumprem as sires tarefas,levande-as a querer a centralizacao das instituicees de fabrica,come organismos de massa nao ap,mas sindicais mas de lutageral contra o capitalismo e o seu regime 'politico. E carteque a situacao em que nos encontramos 6 muito mais dificildo que aquela em que se enoontrararn os bolchevistas russos,porque nos devemos lutar nee se contra a reacciio do Estadofascista mas tambem contra a reacceo dos reformistas nos sin-dicatos. Precisarnente porque 6 mais dificil a situacao, maisfortes devem sea as nossas caulas, quer organizativamentequer ideologicamente. De qualquer forma, per aquilo que in-cidiu no campo organizativo, a bolchevizacao 6 uma necessi-dade imprescindivel. Ninguem °wand dizer que os criteriosleninisfas de organizacao do Partido Sao pr6prios da situagaorussa a que 6 um facto puramente mecanico a sua aplicaCaoA Europa Ocidental. Opor-sea organizacao do Partido porcelulas significa ainda ulna ligacao as velhas concericOes scoiais.-democratas significa encontrar-se realmente num terreno dedireita, isto 6, num terreno no qual nao se quer lutar contraa social-democracia.

Posta assim a questa° come dove ser pasta, es argumentosque subordinadamente podem ser apresentados contra a orga-nizacao pot celuths pardon uma grade parte do seu

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cado. Nenhuma forma organizativa pode ser absolutamenteperfeita: o importante 6 fixar que tipo de organizacão cones-pande melhor as oondigiies e as necessidacles da luta prole-taria e Tido =Aar a procura da forma perfeitissirna.

0 camarada Mangano acha que o facto de ter recordado odiscurso do camarada L,enine no HI Congresso sobre a a go-tente ignoranciaD dos Partidos Comunistas geunopeus p , sobrea estrutura dos seas prOprios Partidos, foi urn... achado (4).0 problema 6 muito mais complex° do que suspeita on podesuspeitar o camarada Mangano, dada a sua firme vontade demanter-se as mesma npotente ignoranciiaD e desprezar compscentristaD e soportunistaa todos os ensinamentos da expe-riencia proletaria dos outros paises e da prOpria

Recordo mu spequenob episOdio de 1920 Em Jumbo de1920, reuniu-se em Genova a Conferencia Nacional da FIOMpara fixar o piano de batalha da agitacdo metaliirgica que,em Setembro sucessivo, levou a ocupagao ass febricas. Nos,miseraveis aordinovistasn, acentristas D, oportunistaa, etc.,etc., que temos lido sempre o miserävel habito de nos ocupar-mos do real desenvolvimento dos acontecimentos operarios,informados que /34 Confederaciio de Genova se tinhe deli-neado o piano de luta da °alpaca° das fabricas, pusemosdirticgao do Partido Socialista, atraves do camarada Terra-cini, a questa° da intervencao do Partido na agitagao meta-hirgica e propusemos a criagao de celulas comp base organiLzativa do prOprio Partido nas fabricas. A proposta foi rejeitadadepois de urn discurso do entao extremista Baratono, o qualachou que a criacao das celulas teria significado a denninciado pacto de alianga, porque o Partido, corn as celulas, teriasuplantado os sindicatos (isto 6, os reformistas) na direcgaodos massas. Batidos perante a direecdo, urn dos sordinovis-tasD, e precisamente o abaixo-assinado, encarregado pela sec-cao socialista torinesa, deslocou-se a Conferencia Nacional dafracgao abstensionista que se realizou em Florenga em Ju-n10 (s), pan propor a formagao de uma fracgao comunista

(') Romeo Mangano, no artigo citado, afirmava: .0 camaradaGramsci procurou demonstrar que a descoberta da celula —base orga-nizativa do Partido—não é recente mas... tem os mesmos anos daIII Internacional... 0 achado, embora se cubra coin a responsabilidadeconfessa do camarada Lenine, nho honra decerto os Partidos Comu-nistas europeus e a prapria Internacional...)

(") Realizou-se, na realidade, •em Maio.

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oom base nos principios gerais organizativos e politicos duInternacional Comm-Lista (celulas, causelho de fabrica). Tam-bean aqui a proposta foi rejeitada porque se considerava que,pan dirigir as massas eram imiteis as (Turas fiannas organ-zativas), enquanto cram suficientes as afirmagfies de absten-sionismo parlamentar. Assim a classe operaria chegou a ocupa-Ca° das fabricas sern direcgdo politica revolucionaria e osreformistas puderam occirn dirigir as massas no sentido darenfmcia a luta.

0 episaidio italiano, coin a experiencia seuropeian depoisdo II Congresso, mostra como era dificil que os velhos Par-tidos Socialistas compreendessem concretarnente o que 6 aditadura do proletariado, camp nao basta defender, em teo-ria, a ditadura e cre• trabalhar pan ela para ser consideradocomp tal e trabalhar em tal sentido.

Segundo o camarada Mangano, o facto de ter tardado aoompreender deveria ter por conseque,ncia nä° a pressa emrecuperar o tempo perdido mas renunciar a compreender ea operar.

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OPORTUNLSMO E FRENTE UNICA (*)

Sentimos frequenternente repetir pelos maximalistas e Tara-bean pelos refonanstas, em relagao as noscas prorpostas defrente Unica: aNds adeririarnos se os comunistas renuncias-sem a querer-nos liquidarD, as frente Unica é tuna manobrapara nos liquidarD, etc. Seraelhantes de.claracties nao passamde manifestagfies de preguica mental e de autolesao politica.

Sobre que se baseiam as propostas de frente Unica apre-sentadas pelo PC? A classe operdria °sad dividida porquesobre uma pane dela operam, em medida mais ou menosvasta, as tendencias pacifistas pequeno-burguesas, democrati-cas, reformistas: o preprio maximalismo nal° é mais do quereformismo prance. A constituicao da vanguarda revolucio-niria no Partido e a garantia de salvaguardar uma pane 1aclasse das ilusc3es sociais-democratas e da corrupgao politica docapital, e e o centro do alinhamento e de unificaclo progres-siva de toda a classe.

Como podera a classe operaria, no seu complexo, e osseus estratos diversamente orientados do panto de vista poli-tico, encontrar numa justa via a sua unidade de luta? Atnavesdas lutas parciais e da frente tinica. 0 Partido Comunista,fraccao da classe operfiria, dirige-se as outras fraccees e pro-p& uma aced° comum visaindo alcancar os objectives, alcancedesejavel pelas maiores massas e possivel no momento dado.

0 Partido Comunista não pretende aimporD o seu pantode vista a classe oparaia; apindpik-no, simplesmente e chama

(*) Nao assinado, L'Unita, 29-10-1925.

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as outras frac,cees operdrias que apoiam a luta de classes parase pronunciarem sobre ele, discutindo-o em comm. Uma vezestabelecido o programa de accdo, o Partido Comunista em-penha a sua disciplina na &cello e, ao mesmo tempo, reivin-dica a sue liberdade de expor a classe operaria em luta osmeios que, em seu parecer, sacs necessdrios para fazer francas necessidades derivantes do preprio desenvolvimento daaccdo. evidente que tal libeaxlade corresponde, ela prepria,a disciplina moral da acc5o, ao reforw de toda a classe, aoalcancar dos objectives e a preparacd'o das novas haw reque-iidas pela situacdo objectiva e pelo interesse do proletariado.

E ridicule que particles que asseguram ter a histeria eon-sigo e serem indestrutfveis, tenham medo de serem liquidadosporque assim aquerem)) os comunistas. Urn mteodo de luta e,por amsequencia, o partido que dele se torn defensor, nãosäo liquidados ou valorizados porque assim querem pessoasou grupos, mas sae respectivamente valorizados ou liquidadospelo crivo da realidade, perante as exigencies impostas pelaaccAo.

Repetimos que a plataforma da franc Unica é spropostaDpelo PC e que o programa elective ndo peck deixar de serdiscutido, definido e aceite em comurn. Per consequéncia oPC, o primeiro a oferecer-se ao °rive da realidade, mostra aluz do sol n5,0 ser nem querer ser tuna seita, Mao se apresen-tar corn palavras mas corn factos no terreno dos interessesdos trabalhadores.

Os que mostram ser uma seita e preferir o preprio esteril(patriotism° de particle') aos interesses da classe, sac) precisa-rnente os que rejeitam as propostas do PC. Num verdadeiropartido de classe so interesse de partidoa nao pod& em casenenhum, eatrar em confine corn os interesses de classe; quando

ser partido de classe.Os sociais-democratas de todas as tintas já não se podem

salvar perante as massas sustentando que as nossas propostasforam por des rejeitadas porque irrealizaveis: as propostas delista Unioa no tempo das eleicoes politicas, da greve geral eda accdo antifascista de classe no tempo do delito Matteotti,as propostas do Antiparlamento e da assembleia republi-

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cana (1), nao se realizaram se por deliberada ma vontade da-queles a quern eruct dirigidas. A experiencia sucessiva demons-trou as massas que elas eram oportunas, justas e realizaveis,e quo so o PC viu cam clareza a situagao e se comportou comeverdadeiro partido da classe operaria.

Os maximalistas tem sabotado e liquidado o entendimentodas g esquerdas sindicaisa para passer ao entendimento dedireita corn os reformistas e por medo do fascismo. Ora aexperiencia clemonstra a todos as operarios que tern honest°sentiment° de classe, que se o entendimento das aesquerdassindicaiso tivesse continuado, ter-se-ia certamente desenvolvidoem extensdo e em prestigio cam o resultado que hoje a Con-fecleraciio ja nä° estaria nas miles dos reformistas on, pelomenos, a situacao confederal soda bem diversa da presente,porquanto a classe operaria teria combatido importantes bata-lhas e a reaccao multo dificilmente teria podido ter via livre.

Mas, seen nenhuma dUvida, a realidade liquida o oportu-nismo de todas as cores. Os maximalistas, sobretudo, estai)numa cendicao bean duce perante as ma ntas: ou liquidar aprepria Marcia classista e a prepria actividade social-demo-crata, anti-soviatica e pro-capitalists e passar das palavras anti--reformistas aos factos, ou seja, a luta efectiva, coerente e orga-nizada em alianga corn a corrente sindical comunista contra adesastrosa e falida direceão reformista nos &indicates, ou en-tao completamente os ultimos ve,stigios de revolucio-narismo e de classismo, passar completamente para a outraparte do fosse e alcancar organicamente a social-democracia.Nes acreditamos que as massas operarias maximalistas Maoseguirao, por muito tempo, a politica dos sous elides.

0 0 PCI propee, em Junho de 1925, aos partidos da esquerdado Aventine (republicano, PSU e PSI) a formagao de coma assem-bleia republicana corn base nos cornices operdrios e camponesst quecriasse urn dualismo de poderes no pais e que servisse como instru-mento de organizagäo das massas em sentido tsovietistax. A propostafoi rejeitada pelas outras formacees politicas.

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O SIGNIFICADO E OS RESULTADOSDO III CONGRESSO

DO PARTIDO COMUNISTA D'ITALIA (*)

Cinco caws de vida do Partido

Dada a dificuldade de publicar imediatamente iima cr6-nica jomalfstica dos trabalhos do III Congresso do nasal) Par-tido, consideramos por agora oportuno oferecer aos oamaradase a massy dos leitores urn exame e uma informagão geral dosresultados do prOprio Congresso.

Apressamo-nos, portant°, a anunciar que proximamentesera publicist no nosso jomal a cranica material do Con-gresso e sera° sucessivamente reunidas num volume as deli-beraCts e as teses no seu texto definitive 0.

Os resultados num6ricos dos votes, no Congresso, foramos seguintes:

—Ausentes e nao consultados: 18,9 %;—Presentes ao Congresso: Votos para o CC 90,8 %; pan

a extrema-esquerda 9,2 %.

(•) L'Unitiz, 24-2-1926. Trata-se da Unica cr6nica sumAria exis-tente acerca do andamento dos trabalhos e dos resultados do III Con-gresso do PCI realizado clandestinamente em Lyon, de 20 a 26 deJaneiro de 1926. Esta crenica foi ditada por Gramsci a RiccardoRavagnan, que a transcreveu para o jomal.

(1) Não results que tivesse sido actuado este prop6sito. Forampublicados, pelo contrArio, alguns optisculos que continham as Tesespoliticos, as actas da discussAo da comissito polftica do Congressoe algumas deliberagOes congressuais.

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O nesse Partido nasceu em Janeiro de 1921, into 6, nomemento mais critic°, quer da crise geral da burguesia ha-liana quer da crise do movimento operario. A cisao, se erahistoricamente necessaria e inevitasel, encontrava porem asgrandes masses impreparadas e relutantes. Em tal situagdo, aorganizagdo material do novo Pat-tide encontrava as condi-ceies mais diffceis. Aconteceu, per isso, que o trabalho pura-mente organizativo, dada a dificuldade gas condicOes em quedevia desenvolver-se, absorveu as energias criadoras do Par-tido de mode quase complete. Os problemas politicos que sepunham, pela decomposigdo, per urn lade, do pessoal dosvelhos grapes dirigentes burgueses, per um processo analog)ao movimento operario, per outro, näo paderam sex aprofun-dados suficientemente. Toda a linha politica do Partido, nosanos imediatamente sucessivos a cisao, foi ern primeiro lugarcondicionado per esta necessidade: man ger unidas as filas doPartido, agredido fisica.mente pela ofensiva fascista, per umlado, e pales miasmas cadavericos da decomposicdo socialista,per outro. Era natural que, em tais condigilies, se desenvolves-sem no interior do nesse Partide sentimentos e estados de&name de caractea- corporative e sectirio. 0 problema geralpolitico, inerente a existencia e ao desenvolvimento do Par-tido, nan era visto no sentido de uma actividade pela qual

Partido devesse tender a conquistar as mais largas massasa organizar as forgas socials necessarias pana derrotar a

burguesia e conquistar o poder, mas era visto come o pro-blema da prOpria existencia do Partido.

A cisao de Livorno

O facto da cisao foi visto no seu valor imediato e meca-nice e nOs cometemos, ernbora noutro sentido, o mesmo erroque tinha side oometido per Strati. 0 camarada Lenine tinhadado a formula lapidar do significado das cisties, emquando tinha dito ao camarada Serrati: aSeparent-se de Turatie depois lapin a alianca corn ele.D Esta formula deveria terside per nes adoptada na cisao, verificada de forma diversada prevista per Lenine. Isto 6, come era indispensavel, e his-toricamente necessario, deviamo-nos separar ndo s6 do refor-mism° mas tambern do maximalismo que, na realidacle, ie-presentava e represents o oportunismo tfpico italiano do

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movimento operario; e, depois disco, embora continuando aluta ideolOgica e organizativa contra ales, procurar fazer urnsalianca contra a reaccão. Para es elementos dirigentes donosso Partido, ton es as accOes da Internacional, destinadas a(Mtn- uma aproximacdo a esta linha, apareoeram come sefossem uma censure implicita da cisao de Livorno, com ma umamanifestaclie de arrependimento. Disse-se que, aceitacule umatal perspectiva da luta politica, acabava per se admitir que onosso Partido era apenas uma nebulosa indefinida, enquantoera justo e necessirio afirmar que o nosso Partido, ao nascer,tinha resalvido definitivaxnente o problems da fonnacdo his-tOrica do Partido do Proletariado Italian. Esta opiniao eraneforcada pelas nä° longinquas experiancias da revolueäosevietica na Hungria, onde a fusdo entre comunistas e sociais--democratas foi certamente um dos elementos que oantribuirampara a derrota.

0 alcance da experiencia hangara

Na realidade, a interpretaelie dada a este problema pelonosso Parlament° era falsa e foi-se cads vez mais tranifes-tando come tal as largas mascas do Partido. Precisamente aexperiencia hOngara deveria ter-nos convencido que a linhaseguida pela Internacional na formacão do Particle) Comunistan5o era a que nOs the atribuimos. E sabido, de facto, que ocamarada Lenine procurou opor-se activamente a fusäo entrecomunistas e sociais-democratas htingares, n5o obstante esterIlltimos se declarassem fautores da ditadura do proletariado.Pode dizer-se, per isso, que o camarada Lenine era em geralcantrario as fusoes? Certa]mente que naci. 0 preblema eravisto pelo camarada Levine e pela Internacional come umprocesso dialectic°, atravels do qual o element° comunista,into 6, a parte mais avancada e consciente do praletaricado, sepee a cabeca de tudo o que de honest° e de active se formou

existe na classe, quer seja na organizagdo de Particle daclasse operdria quer na funcdo de direcc5o das grandes mas-sas. Na Hungria foi urn erro destruir a organizaglio indepen-dente comunista, no memento da tomada do poder, para dis-solver e diluir o grape oonstitufdo na mais vasta e amorfaorganizaedo social-democrats que não podia deixar de retomar

predominio. Tambern para a Hungria, o camarada Lenine

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tinha formulado a linha do nosso veiho Partido como umaalianea corn a social-democracia, näo come uma fusäo. A lath°ter-se-ia chegado mais tarde, quando o processo de predomi-nio do grope comunista se tivesse desenvolvido em larga es-cala no campo da organizagdo sindical e do aparelho estatale, isto, cam a separaedo organica e politica dos opethriosrevolutionaries e dos dirigentes oportunistas.

Pam a Italia, o problema punha-se ainda em Mamas ma issimples do que pare a thingria porque nao so o proletariadortho tinha conquistado o poder mas iniciava, precisamente nomomento da formatho do Particle, urn grande movimento deretirada Per em Italia a questOo da fon:nag-a° do Partido,come tinha side indicado pet° camarada Lenine na sua for-mula expressa a Serrati, significava —no atraso do proleta-riado que se iniciava and° — dar a possibilidade ao nossoParticle de agrupar a sua volta os elementos do proletariadoque teriam podido resistir, e que, sob a directho maximalista,cram arrastados na derrota geral e calam progressivamente napassividade. Isto sigaifica que a tactica sugerida pot Lenine epela International era a Unica capaz de reforest e desenvol-ver os resultados da cithe de Livorno e do fazer veniadeira-manta do nosso Partido, desde anther, na-o so em abstracto ecoma afirmatho histhrica, mas de forma efectiva, o Partidodirigente da classe operaria. Por esta falta interpretacao doproblema, mantivemo-nos em posictles avangadas, sozinhos ecorn a fractho de massas imediatarnente mais prOximas doPartido, mas ndo fizemos quanta era necessario path mantertars nossas posiefies o proletariado no seu conjunto, o qual,todavia, estava ainda animado per urn grande espirito de luta,=no o demonstraram tantos episOdios, algumas vezes her6i-cos, da resisrencia oposta ao avango adversario.

0 Partido nos anos 1921-22

Um outro dos elementos de fraqueza da nossa organiza-cab consistiu no facto de tais problemas, dada a dificuldadeda situaeäo e dado que as forgas do Partido cram absorvidaspela luta imediata pare a defesa fisica prepria, tido se teremtornado objecto de discusthe na base e, portant°, element°do desenvolvimento da capacidade ideolOgica e politica doParticle.

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Aoonsteceu assim o I Congresso do Partido, o realizado cmLivorno no Teatro S. Marco, logo a seguir a cithe, apresea-ton apenas tarefas de catheter arganizativo imediato: forma-tho dos organismos cenirais e enquadraraento geral do Par-tido. 0 II Congresso feria podido, e talvez devido, exa,minare projeotar as referidas questOes, mas a isso se opuseram osseguintes elementos:

I) 0 facto, de no s6 a massa mas tambem alma grandeparte dos eleanentos mail a-esportsiveis e mais chegados a di-rectho do Parade, ignorarem literalmente que existiam diver-geneias profundas a essenciais entre a linha seguida palo nessePartido e a sustentads pela International,

0 facto de o Partido set absorvido pela luta directafisica levava a desvalarizar as quesfeas ideolOgicas e politicasem confronto corn aquelas puramente organizativas. Era, por-tant°, natural que surgisse no Partido um estado de Anima=abrade, a priori, a aprofundar as questOes que pudessentsugerir perigos de conflitos graves no grupo dirigente consti-tuido em Livorno;

0 facto de a oposieido, que se revelou no Congresso deRoma c quo dizia ser a Unica ivy esentante des directrizes daInternational, sea, na situaedo dada, uma expressão do estadode Anima de fraqueza e de passividade que existia can algu-mas zonas do Partido.

A crise sofrida, quer pela classe dominante quer polo pro-letariado no periodo precedente a chegada do fascismo aopoder, pes novamente o nosso Partido perante os problemasque o Congresso de Roma ndo tinha tido a possibilidade deresolver. Em que consistiu esta crise? Os grupos de esquerdada burguesia, fautores, per palavras, de urn govern democra-tic° que se piopunha oanalizar energicaanente o movimentofascista, tinham arbitrado ao PS a decisla de areirar ou naoesta soloed°, path o liquidar politicamente sob a ctcusaelioda responsabilidade de falta de urn near& antifascista. Nestemode de apresentar a questa°, per parte dos democratas, eraimplicita a ,preventive capitulatho perante o movimento fas-cista, fenemeno que se reproduziu depois no period° da criseMatteotti. Todavia, tal interpretatho, se teve num primeirotempo o poder de detenninar uma clarificagdo no PS, ten-do-se, coin base nela, produzido a Sao entre maximalistas e

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refomaistas, agravava porem a sittragâo do proletariado. Defacto a cisào tornava infrutuosa a tAotica proposta pales de-mocratas, visto que o govern de esquerda, par ales sugerido,devia compreender o Partido Socialista Unido, isto 6, signifi-oar a captacAo da maioria da classe operaria organizada naengrenagem do Estado burgues, antecipando a legislacâo fas-cista a tornando politicamente intitil a experiOncia directa fas-cista. Par outro lado, a cisAo, coma apareceu mais claramentea seguir, s6 mecanicamente tinha levado os maximalistas aurn salbo a esquerda, os quais, se afirmavam quitter aderirA IC e, portanto, reconhecer o err° cometido em Livorno,moviam-se porem corn tantas reservas a reticancias menialscapazes de neutralizar o despertar nevoluciondrio que a cisãotinha determinado nas massas, levando-as assim a novas deal-lusaos e a tuna recafda de passividade, de que se aproveitouo fascismo para efectuar a marcha sobre Rama.

A nova situactio do Partido

Esta nova situacAo reflectiu-se no IV Congresso da IC (2),onde se chegou a formacAo do cornitd de fusão, depois deincertezas e resistências que se ligavam a pensuasào radicadana malaria dos delegados do nosso Partido de que a mudangados maximalistas nab representava mais do que tuna oscila-

transitOria e sem futuro. De qualquer mod°, é a partirdeste momenta que se inicia, no interior do nosso Partido,um processo de diferencia�o no grape dirigente de Livorno,processo que prossegue incessantemente a sal do campo dofenOmeno de grupo path se tomar de todo o Particle, quandose advertem a se desenvolvem as elementos da crise do fas-cism°, iniciada corn o Congresso de TUTIM do Partido Popular.

Torna-se sempre mais evidente que ocorre fazer sair oPartido das posicaes mantillas em 1921-22 se se quer que omovirmento comunista se desenvolva paralelamente a crise queperturba a classe dominance. 0 word° pthvio, que tivea-a tunatao larga impoa-tAncia no passado, pelo que 000rria, acima detudo, newer a unidade organizativa do Partido, acabaria parcair pelo facto de, na situagAo de conflito entre o nosso Par-tido e a International, se oonstituir nas raossas files um estado

(2) Novembro-Dezembro de 1922.

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de fraccdo latente que encontrava a sua expressAo em gripesnitidamente de direita, muitas vezes corn catheter liquidacio-nista. Tardar ainda a par em toda a sua amplitude as ques-nes fundamentals de thctica sabre as quais ate agora se hesi-tou abrir a discussao, feria significado determinar tuna crisegeral do Partido, sem saida.

Chegaram assim novas gnaws que se foram cada vez maisdesenvolvendo ate a vigilia do nosso III Congresso, quandofoi possivea acertar que ndo s6 a grande maioria da Wise doPartido (que nunca tinha sido abertamente interpelada) mastambem a grande maioaia do velho grupo dirigente at tinhadestacado nitidamente da concepcdo e da posigão politica deextrema-esquerda path aderirem campletamente a Internacio-nal a ao leninismo.

A anportância do III Congresso

Do que foi dito ate agora, nota-se claramente como cramgrandes a importfincia a as tarefas do nosso III Congresso.Ele devia fechar toda tuna epoca da vida do nosso Partido,panda fim as crises inteenas a determinando um alinhamentoestAvel de forgas tais que permitissem um desenvolvirnentonormal da sua capacidade de direcciio politica dig massas,par parte do Partido e, puitanto, da sua capacidade de accao.

Resolveu o Congresso efectivamente estas twefas? Semdiwida que todos os trabalhos do Congresso demonstraramcoma, nä° obstante as dificuldades da situacdo, o nosso Par-tido conseguiu resolver a sua crise de desenvolvimento, atin-gindo um nivel de homogencidade, de bloco a de estabilizacaonotavel e decerto superior ao de muitas outras seccass daInternacional. A intervene:40 dos delegados de base nas dis-cussOes do Congresso, alguns dos quais vindos das regiassonde e mais dificil a actividade do Partido, demonstrou comoos elementos fundamentals do debate entre a Internacional eo CC, por um lado, e a oposicAo, par antra, foram ndo ape-nas me,canicamente absorvidos pelo Partido mas tendo deter-minado uma conviccao consciente a difusa, contribufram paraelevar de forma imprevista, mesmo pelos preprios camaradasmais optimistas, o tom da vida intelectual da massa dos cama-radas e a sua capacidade de direccAo e de iniciativa politica.

Este e, parecemos, o significado anais relevante do Con-

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superar em anedida notével esta fraqueza e predispor forcasorgarii7ativas 000rdenadas e centralizadas que asseguram aclasse operaria contra as erros e as insufici Encias que se veil"ficavarn no passado. Este 6 outro dos significadas mais impor-tantes do nosso Congresso; a classe operaria 6 capaz de accaoe mostra ser historicamente capaz de cumprir a sua missaodirectora na luta anticapitalista, na medida em que consegueexprimir, do sou interior, todos os elementos ,tOcnicos quesocieffadra modern* se demons tram indispensaveis pan a orga-nizadio concreta das intituicaes em que se realizara o pro-grama proletitio. E, deste ponto de vista, ocorre analisar todaa actividade do movimento fascista de 1921 eat as tiltimasleis fascistas; ela foi sistematioamente dirigida para destruiros quadros que o mavimento proletario e revolucionario tinhacansativamente elaborado an guise cinquenta anos de hist6-ria. Dente modo o fascismo conseguia, na pratica imediata,prrivar a classe operaria da sua autonomia e independenciapolitica e obrigava-a a passividade, isto 6, a uma subordina-cdo inerte ao aparelho estatal, ou entdo nos momentos decrise politica, como no period° Matteotti, conseguia procurarquadros de luta noutras classes menos expostas a repressào.

0 nosso Partido ficou a ser o alnico mecanismo que aclasse operiria tem a sua disposiddo para selection& novasquadros dirigentes de classe, isto 6, para recanquistar a suaindependencia e autonomia politica. 0 Congresso demonstroucoma o nosso Partido conseguiu brilhantemente resolver estatarefa essential.

Dais cram os objectives fundamentais que deviam ser al-cangados pelo Congresso:

Dopois das discuss -es e dos novas alinhamentos de fargaque se tinham verificado, como dissemos precedentemente,ocorria unificar o Partido, quer no tea-reno dos principios eda prätica de arganizacdo quer no terreno mais estritamentepolitico.

0 Congresso era chamado a estabelecer a linha politicado Partido para o prOximo futuro e a elaborar urn programade trabalho pratico em todos as campas de actividade dasmassas.

Os problemas que se punham para akancar concretosobjectives nä° sae naturalmente independentes urn do outro,

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gresso. Resuita que o nosso Partido nao s6 pode diner-se demassa pela influencia que exerce em lams estratos da clesseoperaria e da ulna camponesa mas pot-gut adquiriu, consi-derados individualmente C6 elementos que o comphem, tunacaspacidacte de analise das situadies, de iniciativa politica ede forca dirigente que the faltavam no passado e que sdo abase da sua oapacidade de direcdio colectiva.

Mem disso, todo o desenvalvimento dos trabalhos condu-zidos pda base para organizar ideologicamente e prasticamenteo Congresso nas regiiies e ins provincius onde a repressãopolicial vigia cam maior intensidade todos os movimentos dosnossos camaradas, e o facto de at terem crwe-guido reunir,par seta dias, mais de sessenta camanclas pars o Congressodo Partido e quase outros tantos para. a Congresso Juvenil,são, par si prOprios, uma •rova do desenvolvimento arras refe-tido. E evidente, para todos, clue todo este movimento decaraaradas e de organizagOes nä° e apenas um puro facto or-ganizativo mas constitui, 56 por si, uma altissima manifesta-dap de valor politico.

-

Poucas cifras a propOsito. Realizaram-se na primeara faseda preparacdo oongressual, entre dual a tress mil reunities debase que culminaram em mais de uma cantata de congressosprovincials e interprovindais, onde foram escolhidos, depoisde amplas discussifses, os delegados ao Congresso.

Valor politico e resultados adquiridos

Cada operdrio 6 capaz de apreciar todo o significado des-tus •oucas cifras que é passive' publicar cinco anos depais da6pooa da ocupadio das fabricas e tres anos de Govern fas-asta que intensificou o trabalho geral de controlo de todas asactividades de massa e a-ealizou uma organizagao de policies,que 6 graudemente superior as arganizadOes policiais prece-dentemente existidas.

Visto clue a maior fraqueza da organizacão °per:L.6a tradi-tional se manifestava tnadicionalmente no desequilibrio per-manente e clue se tornava calastrOfico nos momentosnantes da actividade de massa, entre a potencialidade dosquadros organizativos do Partido e o impulso espontAneo dabase, 6 evidente que o nosso Particle conseguiu, nào obstanteas condigeses extremamente desfavordveis do actual pealodo,

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9.1”s•••nn+

mas sao coordenados no quadro da concepcao geral do leni-nismo. A discussao do Congresso, por isso, memo quandose desenvolvia a volta dos aspectos tecnicos de cada questa°pratica, punha a questa° geral da aceitagao ou nab do leni-nismo. 0 Congresso devia, portanto servir pant pOr em evi-dencia em que medida o nesse Partido se tinha tornado umPartido bolchevista.

Os objectivos fundamentais

Partindo de uma apreciacdo histenica e 'politica imediatada funcao da classe operaria no nosso pais, o Congresso deuuma solucão a tot uma sea de problemas que podem agru-par-se assim:

1) Relacees entre o Comite Central do Partido e a massado Partido. a) Neste grope de problemas entra a discussaogenii sabre a natureza do Partido, sobre a n- re sidade de serurn partido de classe, nao apenas abstractamente, isto é, en-quanto o programa aceite poles sous membros exprime asaspiracees do proletariado, mas per assim dizer fisiologica-mente, isto 6, enquanto a grande maioria dos sous componen-tes 6 formada per proletarios e nele se reflectem e resumemapenas as necessidades e a ideologia de uma Unica classe: oproletariado. b) A subordinacao completa de todas as ener-gias do Partido, de tal mod() socialmente unificado, a direc-cao do CC.

A lealdade de todos os elementos do Partido cm relacaoao CC deve tomar-se nao so um facto puramente organiza-tivo e disciplinado mas urn verdadeiro principle de erica revo-luciondria. Ocorre infundir nas massas do Partido uma con-viccao tao radicada desta necessidade, que as iniciativas divi-sionistas e reins as tentativas, em geral, para desagregar aunidade do Partido, encontrem na base uma mega° espon-tanea e imediata que as sufoque ao nascer. A autoridade doCC, entre um congress° e outro, nunca dove ser pasta emdiscussao e o Partido dove tornar-se urn bloco harnogeneo.S6 corn tal condicao o Partido sera capaz de veneer osgos de classe. Como poderia a massa dos sem partido ter con-fianca qua o instrumento de luta revoluciondria, o Partido,consegue conduzir sem indecisOes e sem oscilacOes a luta im-

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placavel part conquistar e manter o poder, se a central doPartido nao tern a capacidade e a energia neeesserias paraeliminar todas as fraquezas que possam ferir a sua unidade?

Os dois pontos precedentes seriam de impossivel realiza-c iao se, no Partido, a homogeneida rie social e a unidade mono-litica da organizacao nao se juntasse a consciancia difusa deuma homogeneidade ideolOgica e politica.

Concretamente, a linha que o Partido dew seguir Tiede rerexpressa nesta fOrmula: o nixie° da organizacao de Partidoconsiste num forte CC, estreitamente ligado coin a base pro-letaria do preprio Partido, no terreno da ideologia e da tacticado marxismo-leninismo.

Sobre esta seine de problems, a enorrne maioria do Con- ,gresso pronunciou-se nitidamente em sentido favoravel as tesesdo CC e rejeitou, nao so sem a minima concessao mas ateinsistindo na necessidade da intransigencia teOrica e da infra-xibilidade pratica, as cancepeOes da oposicao que poderiammanter o Partido num estado de deliquescencia e de amor-fismo politico e social.

2) RelacOes do Partido corn a classe proletdria (isto 6corn a classe de que o Partido 6 directo representante, corn aclasse que tern a tarefa de dirigir a luta antica,pitalista e deorganizar a nova sociedade). Neste grupo de problemas entraa apreciacao da funcao do proletariado na sociedade italiana,isto é, do grau de maturidade de tal sociedade para se trans-format de capitalista em socialista e, portanto, da possibili-dade de o proletariado se toraar classe independente e domi-nate.

0 Congresso discutiu, par isso:

a) A questa() sindical, que para nas 6 essencialmente ques-ta° da organizacao das mais largas massas, como classe emsi, corn base nos interesses econOmicos imediatos e come ter-reno de educacao politica revolucioniria;

h) A questao da frente Unica, isto 6, das relacOes de direc-cab politica entre a parte mais avancaia do proletariado e assuas fraccees menos avancadas.

3) RelacOes da classe proletaria, no seu oanjunto, corn asoutras forgas socials que objectivamente estao no terreno anti-capitalista, embora sejam dirigidas per partidos e grupos poli-ticos ligados a burguesia; portanto, em primeiro lugar, asrelagOes entre o proletariado e os camponeses. TambOm a

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ti

0

propersito de esta outra &One de problemas, a enorme maioriado Congresso rejeitou as concepches erradas da °pooled.° eabnhou-se a favor das soluches dadas polo CC.

Como se apresentaram as forcas do Congresso

Referimo-nos ja ao coanportamento assumido pela pandamaioria do Congresso em relagäo as solucees a der acs pro

-blemas essenciais no periodo actual. oporruno, porem, ana-Hoar mais detalhadamente o comportamento assumido pelaoposicao e referir, ainda qua brevamente, outros comporta-mentos quo se apresentaram no Congresso corm oompor-tasmentos individuals mas quo Qoderiara, no future, coinoidir

, cam determinados mementos transiterios no desenvolvimentoda situanio italiana e quo, por lose, devem ser desde ja donun-ciados e combatidos. Ja nos referimos, nos primeires paragra-fos delta exposiedb, aos modes e as fonnas qua caracterizarama arise de deseaavolvimento do nosso Partido nos anus de 1921a 1924. Recordaremos brevemente came no V Congresso stun-dial (3) a prOpria crise encontrava uma solucdo previshria or-ganizativa cora a constituicdo de urn CC quo, no seu °minute,se colocava completamente no terreno do leninismo e da tic-tica da IC, quo se decompunha em tr ees panes, dos quais,uma, quo tinha a maioria mais um no preprio comitê, repre-sentava os elementos de esquerda que se tinham destacado doveiho grupo de Livorno, depois do IV Congresso; tuna outs,quo representava a oposiedo que se constituiu no Congressocontra as lases de Roma, e a terceira, qua representava aselementos eterzini p ('), entrados no Partido depois da fusdo.Nao obstante as sues intrinsecas fraquezas, polo facto de afuncdo dirigente, no seta interne, ser nitidamente exercida polocharnado grope de centre, into 6, pales elementos de esquerdaquo se destacaram do grupo dirigente de Livorno, o CC con-seguiu, todavia, estruturar e resolver energicamente o pro-blenara da bolchervizacao do Partido e o sea acordo completecorn as directrizes da IC.

(3) Junho-Julho de 1924.(') A fraccdo inspirada na III Internacional, do PSI, que se se-

parou do velho partido e cuja fusSo corn o PCI foi sancionada Do

V Congnao da IC.

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Posicães da extrema-esquerda

Certamente que se verificaram resistencias e o seu epis6-die culminante, qua todos os camaradas recordam, dal a cons-tituiedo do aCramitrato d'intesaD, 1st° 6, a tentativa Para cons-tituir tuna ft-awl.° organizada quo se contrapusesse ao CC nadirecgdo do Partido. A constituigkr do eComitato d'intesanPoi, na realidade, o &internal mais relevante da desagregacdoda extrarna-esquerda, a qual, uma vez que sauna perder pro-gressivamente tearer* nas fileins do Partido, procurou gal-vardoar corn UM acto clamoroso de robeldia as poucas forgasquo ainda The restavaan. Dopois da derrota ideolesica e poli-tica sofrida pela extrema-esquerda jet no pealed° pr6-congres-sual, 6 neavel o facto de o seu nticleo lanais resistente terassumido posiehes cada vez mais sectaries e de hestilidade emrelacio ao Partido, do qual se sender cada dia mais longe eseparado. Estes camaradas tido sea oontinuaram a manter-seno tearer da mais estreinua oposiedo a determinados pontosconcretes eta ideologic e da politica do Partido e da Interna-cional, mas procuraram Stenaaticamente motives de oposiedoa todos os pontos, de modo a apresentarean-se em blow, quasecomo urn partido no Partido. E f doll imaginar quo, partindode uma tal posted°, se tivesse quo &agar, dtmante o desenvol-vimento do Congresso, a comportamentes teerrices e prAticos,nos quais a draanaticidader (quo era um reflexo da situagdogeral em quo o Partido dove mover-se) dificilmente se distin-guia de urn carte histrionismo qua aparecia afrarade a quemrealmente tinha lutado e se tinha sacrificado pela elasseoperdria.

Nesta ordain de acontecimentes dove ser posta, por exam-ple, a questa° previa apresentada pela oposiedo, imediata-manta a seguir a abertum do Congresso, corm a qual se con-testava a sue validade deliberrativa, procurando-se de tat modopreconstituir urn alibi par uma possivel recuperagdo da aoti-vidade divisionista e pars urn possfvel desconhecimento daautoriiinde da no direccdo do Partido. A." massa dos oon-gressistas, que conheciam os sacrificios o esforges organizati-vos para a preparacdo do Congresso, esta quest:do previa our-gin come vea-dadeira e prOpria provocacdo e ndo 6 semsign-if-lead° que os onions aplausos (o regulamento do Con-gresso proibia, por motives compteensiveis, as rnanifestacbesclamorosas de nonsense ou de censuna) foram dirigidos ao

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C.

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orador que estigmatizava o oomportamento assumido pelaoposicao a sustentou a necessidade de =forcer demonstrative-matte o novo comue, a eleger corn mended° especifico deinplacavel rigor, contra qualquer tentative que praticamentepusesse em dfivida a auteridade do Congress° e a eficienciadas suns deliberagOes.

Afloramento de desvios de direita

A mesma ordem de econtecimentos a de modo agravadopela forma afectada e teatral, pertence tamben a atitude assu-mida pela oposieão, antes _do fim do Congress°, quandoestavam pan extrair as conchs -6es politico-organizativas dostrabalhos do prOprio Congress°. Mas os prOprios elementosda oposicao puderam ter a nitida demonstracao daquilo que

o estado de Annie dffundido nas files do Partido; o PartidoMao entende permitir que se continue a jogar ao divisionismo

A indiscipline; o Partido quer realizar o maxim° de direcgdocolectiva a Mao pennitird que ninguem, qualquer que seja oseu valor pessoal, se oontraponha ao Partido

Nas secsoes plenarias do Congress°, a oposie5o de extrema--esquerda foi a Unica oposicAo oficial e declarada. A atitudede oposicAo, sobre a questio sindical, assumido por this mem-bros do CC, pelo seu caracter de improvisagto a de impuIsi-vidade deve considerar-se mais come um fenOmeno individualde histerismo politico do qua como oposigdo em somido sis-temarico. Durante as trabalhos da Comissao Politica, pelocontrario, houve uma manifestacão que, se se pode considerarpor agora corn catheter puramente individual ( 5), deve ser con-siderada, dados as elementos ideolegicos que the formavam abase, como i ma verdadeira e prOpria plataforma de direitaque podcria 1-.or apresentada aa Partido tuna situacdo deter-minada e que pot. isso devia ser, come foi, recusada sem hesi-tagiks, thole especialmente que dela se tinha feito porta-vozurn ,membrt‘ da veiha Central. Estes elementos ideolOgicos sAm.

1) A affimatäo qua o govern° operario e campanés podeconstiimr-sc, corn 'ease no Parlament° burgués;

( .5 ) •Tra ta-se das posicOes sustentadas por Angelo Tasca. Cf. a actada Csirnissilo Politic:. nublicada em Critica marxista, ad, n.° 5-6, Setem-bro-Ficzeribro dc f:A/, pp. 302-27.

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A afirmagão que a social-democracia nao deve ser con-sidenada come a esquerda da burguesia, teas wino a direitado prodetariado;

Que na valorizaedo do Estado burguas oconre distinguira funcdo de pressäo de tuna classe sobne a entire, da funedode producio de detennioadas satisfacOes a certas exigenciesda sociedade.

O primeiro e o segundo de tais elementos sa le contrariesAs decisees do III Congresso; o terceiro este fore de coot:ap-ed° marxista do Estado. Os tees, em conjunto, revelarn umaorientagdo que concebe a segued° da arise da sociedade bur-guesa fora da revolucdo.

A linha politica fixada pelo Partido

Visto que essim se alinharam as forges representadas noCongress°, isto 6, come tuna mails rigida oposigão dos resi-dues do aextremismon contra as posigOes tebricas a prelimsda malaria do Partido, referir-nos-emos s6 rapidamente a al-guns pinups da lnha estabelecida pelo Congress°.

Questdo ideolagica

Sabre tal questa°, o Congress° afirmou a necessidade dese desenvolver no Partido todo urn trabalho de educaeüe quereferee o conhecimento da nassa doutrina marxista nas filei-ras do Partido e de desenvolver a capacidade do mais largoestrato dirigente. Sobre este ponto, a oposicao procurou fazeruma habil diversao: resumiu alguns velhos artigos ou frag-mentos de artigos de camaradas da maioria do Partido, pansustentar qua esse-3 sO relativameme tarde tinham aceite into-gralmente a conceptão do materialism° histOrico, come resultadas obras de Marx e de Engels, e sustentavam, pelo oontrario,a interpretagdo que do materialismo histOrico tit:the sido dadaper Benedetto Croce ( 6). Urea vez que 6 conhecido que tam-bem as teses de Roma foram julgadas como essencialmenteinspinclas lea filosofia crociana, este argumentaCio da oposi-.

(y) Faz-se aqui referenda ao ataque de Bordiga no Congresso,sobre a formacao tdclealista) de Gramsci a de Togliatti.

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Cab surgiu inspirada numa pura demagogia congressual. Dequalquer mode, vista que a questa° nab a de individuos masde massa, a linha estabelecida pole Congress°, pela necessi-dacle de urn trabalho especifioe de educactio pare, elevar onivel da cultura geral marxista do Partido, reduz a polemicada oposicao a um pure excreta° erudite de pesquisa de ele-mentos, •ais ou maws interessantes, sobre o desaavolvi-mento intelectual de cads urn dos csanaradas.

Tactica do Partido

0 Congress° aprovou e defendeu energicamente, contra osataques da oposicao, a tectica seguida polo Partido no Ultimoperiod° da •histOria italiana, caracterizado •pela crise Matteotti.Ocorre diner que a oposicao nab procurou contrapor a and-Use que da situagao italiana foi terra pela Central, nas testspara o Congresso, uma outra analise que Levan- a estabeleceruma linha tactica diversa, ou correcceies parciais que justifi-cassem uma posictio de principio. Polo contranic, foi caracte-ristica da falsa pesicao da extrema-esquerda o facto de nuncaas suas observacees e as suas criticas se tencra baseado numexaane, nem profundo e nem sequer superficial, das relageesde force e dos condicOes gerais existentes na sociiedade ita-liana Resultou assim claramente que o inetock> preprio daextreme,-esquenda, e que a extrema-esquerda diz ser dialectic°,nao e o meted° da dialectica materialista ,prOprio de Manmas o velho meted° da dialectica conceptual, prOpric da filo-sofia pre-marxista e ate pre-hegeliana.

A analise objectiva das forcas em luta e da dittoed.° queestas asswnean contraditoriamente em relacao ao desenvolvi-mente dos forcas materials da sociedade, a oposicao substitufecam a afirmacao de possuir urn especial e mist:ries° daron,segundo o quail o Partido deveria ser dirigido. Estranha abet-raCao que autorizava o Congress° a fulgar extremamente pen-goso e deleterio para o Partido um tal meted°, que so levariaa uma poltdca de improvisac5es e de aventuras.

Alen' disso, que a oposicao nunca possuiu um meted°prOprio capaz de desenvolver as forces do Partido e as ener-gias revoluciondrias do proletariado que possa spar contrapostoao meted° marxista e leninista, prova-o a actividade desen-volvida pet° Partido nos anos 1921-22, quando era politica-

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metate dirigido per alguns dos actual& irreduriveis epositores.A este propesito, foram polo Congresso analisados dois me-mentos da skunk) italiana, isto 6, a atitude assumida pdadireccito do Partido em Fevereiro de 1921, quando foi desen-cadeada a ofensiva frontal do fascism° na Toscana e na Puglia

a atitude da mesma &recede em relacao ao movimento dos.:Soldados do POVO) Pela analise destes dois mementosresultou que o meted° afirmado pela oposicao conduz a pas-sividade e a inaccao a consist°, em Ultima arrange, simples-mente em extrair dos aoontecimentos, ja desenrolados sera aintervencao do Parade no seu conjunto, eosinamentos apenasde caracter pedagOgiico e de propaganda.

A questa° sindical

No campo sindical, a dificil tarefa do Partido consiste emencontrar um acordo juste entre estas daas linhas de activi-dade pratica:

1) Defender os &indicates de classe procurando manter omaxima de comae e de organizacii° sindical entre as massasque tradicionalmente participaram na prOpria organizagab sin-dical. Esta e uma tarefa de exceptional import:arida porque

Partido Revolucionario dove sempre, anesmo nas piores si-ruacties objectives, tender a conservar todas as acumulactiesde experiância e de capacidade tactica e politica que se foramformando atneves do desenvolvimento da histOria passada namassa preletaria. Para o nesse Partido, a Confederacao Geraldo Tra,balho constitui, em Italia, a organizacao que histeri-camerae exprime de mode •nis organic° estas actunuctiesde experiencias e de capacidades e representa, portant°, oterreno entre o qual dove ser conduzida esta defesa.

2) Tendo em conta o fact° que a actual dispersao daspandits masses trabalhadoras e devida essencialanente a mod-vos que nao the intemos a class° operaria, polo que existempossibilidades organizativas imediatas de r eader nao estrita-mente sindical, o Particle dove propor-se favorecer e promoveractivamente estas possibilidades. Esta tarefa s6 pole ser atm-

0 a. o escrito de Gramsci sobre 0 movimento, pp. 321-324,vol. IL presente edisdo.

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' prida se o trabalho organizativo de massa for transportado doterreno corporativo pars o terreno industrial de fabrica e se asligagOes da organizagdo de massa passarem a ser electivas e

\representativas, pars alána da adeslo individual, por aneio domita° do sindicato.

E claro, alem disso, que esta tactica do Partido correspondean desenvolvimento normal da organimcdo de massa prole-taria, como se tinha verificado durante e depois da guerra.isto 6, no periodo em que o proletariado comegou a pOr o pro-blema de uma luta a fundo contra a burguesia pan a con-quista do poder. A traditional forma organizativa do sindi-cato profissional, neste period°, tinha side integrada por todourn sistema de representagOes electivas de fabrics, into 6, galascornissOes intemas. E sabido tambem que, especialmente du-rante a guerra, quando as centrals sindicais aderiram aoscornites de mobilizagdo industrial e determinaram, portanto,uma situag-ao de apaz industrial", em alguns aspectos andlogaa presente, as masses operdrias de todos os paises (Italia,Franca, RUssia, Inglaterra e tambem os Estados-Unidos) reen-contraram as vias da resistOncia e da luta sob a guia das re-presentagOes electivas operarias de fabrics.

A tactica sindical do Partido consists essencialmente nodesenvolvimento de toda a experiencia organizativa das gran-des massas, insistindo sobre as ,possibilidades de mais ime-diata realizagdo, consideradas as dificuldades objectivas quesdlo criarlas ao movimento sindical pelo regime burgués, porurn lado, e pelo reformismo confederal, por outro.

Esta Naha foi aprovada integralmente pela grande maioriado Congresso. A sua volta, todavia, sucederam as discussilesmais apaixonadas e a oposigdo foi representada, parr alám daextrema-esquerda, tambem per dois membros da central, talcomb ja. referlinos. Um orador sustentou que o sindicato estahistoricamente superado, porque a (mica acgdo de massas doPartido deve sex a que se desenvolve nas fabricas. Esta test,ligada as mais absurdas posiceses do infantilismo esquerdista,foi nitida e energicamente rejeitada pelo Congresso.

Para urn outro orador (B), pelo contrail°, a Unica activi-dade do Partido, nests campo, dove sex a actividade organi-

( s ) Trata-se ainda de Angelo Tasca. Cf. Storia del PCI, cit.,pp. 505-506.

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zativta sindical tradicional: esta tese esta intinramente ligadaa uma concepgdo de direita, isto 6, a vontade de ndo chocar,muito gravemente, com a burguesia sindical reformista quese °pie activamente a bolas as organizagOes de massa.

A oposigdo da extrema-esquerda era guiada por duas di-rectrizes fundamentals: a primeina, de oaracter essencialmentecongressual, tendia a demonstrar que a taotica das organiza-gOes de fabric-a sustentada pelo CC e pela maioria do Con-gresso, esta ligada a cancepgdo de Online Nuovo, sernandrioqua, segundo a extrema-esquerda, era proudhoniana e ndomarxista; a outra esta ligada a questa.° de princfpio em quea extrema-esquerda se contrapilie nitidamente ao leninismo: oleninismo defende que o Partido guia a classe atmves dasorganizagOes de massa e defende, portanto, come uma dastarefas essenciais do Partido o desenvolvimento da organiza-ca.° de muss • pars a extrema-esquerda, pelo contririo, esteproblema tido exists e atribuem ao Partido fungeies tais quepossam lever, par um lade, as piores catastrofes e, per outro,aos mais perigosos aventureirismos.

0 Congresso rejeitou todas estas deformagdes da tacticasindical comunista, embom considerando nea-ssatio insistircorn particular energia sabre a necessidiade de uma maior emais activa participecdo dos comunistas que trabelham naarganizagdo sindical tradicional.

A questdo agrdria

Polo que respeita a sua acgdo entre os camponeses, o Par-tido procurou sair da esfera da simples propaganda Weak,-gica, tendente a difundir s6 abstractamente os tames gemsda solugdo leninista do prOprio problema, pain entrar noterreno pratico da organizagdo e da acgdo politica real. E evi-dente que late em mais Udell de abbe: em Italia do que nosoutros pauses, porque no nosso pats o processo de diferencia-cdo das grandes massas da populagdo 6, em certas aspectos,mais avangado do que noutros pates, em consequéncia dasituagdo politica actual. ?dem disso, uma tal questa°, dadoque o proletariado industrial 6, entre nos, so uma minoria etapopulacdo trabalhadore, pee-se aqui com maior intensidade.O problema de saber quail &do as forms motrizes da revolu-

'gão e o da tuned° directiva do proletariado apresentam-se.

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em Italia, de tal forma gut solieitam uma particular atencriodo nosso Partido e a procura do solucties coneretas path asproblemas gerais que se asuman na expressab: questdoagraria.

A grande maioria do Partido aprovon a orientaerio quePartido deu a ester problemas e afinnou a necessidade de

urea intrnsificacAo do trabalho segundo a linha geral ja par-cialmente aplicacta.

Em que consiste, praticamente, esta actividadr? 0 Partidodeve procurar criar, em cads distrito, unities regionais daAssociacio de Defesa dos Camponeses: arras entre esbes qua-dros oronizativos mais largos, ocorre distinguis quatro gruposfundamentals dos raassas camponesas, para cads um dos quais

neoessario encontrar atitudes e soluglies politic= beim pre-(-ism e completes.

Urn destes grupos e constiturdo pelas masses dos campo-nests eslavos da Istria e do Friuli, cuja organizacao esta inti-mamente ligada a questa° national. Urn segundo 6 constituidopolo particular movimento campones que se resume no titulo«Particle dos Camponeses« e que tem a sua base especial-mente no Piemonte; path este grupo de catheter confessional

de catheter mais intimamente econOmico, 6 valida a aplica-cab dos termos gerais da tictica agraria do leninisano, dadatambem a facto que tel grupo aisle na provincia em queexiste um dos centros proletarios mais eficientes em Italia.Os dois outros grupos sao, sem dtivida, os mais cansidethveis

Os que solicit= a maior atengao do Partido, isto 6:

A massa dos camponeses catOlicos, agrupados na Ita-lia central e setentrional, os quais sao organizados, mais oumenos directamente, pelt Aced° CatOlica e polo aparellio ode-siastico em geral, isto 6, polo Vatican;

A massa dos camponeses da Italia meridiem' e dasilhas.

No que respeita nos camponeses catalicos, o Congress°decidiu que o Partido deve continuer e dove desenvolver alinha quo consiste em favorecer as forrnacees de esquerdaquo se verificam neste camp) e que estdo intimamente liga-das a crise geral agraria, iniciada, jd antes da guerra, no Cen-tro e no Norte de Italia. 0 Congress° afirmou que a atitudeassumida polo Partido, em Macao cos camponeses catOlicos,

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ainda quo contenha em si &guns dos elementos essenciaispara a solucao do Fable/ma politico-religioso italiano, nabdove de mad() nenhum cocduzir a favorecor as tentativas, quepossum nasees, de movimentos ideolegicos de natureza estri-tamente religiosa. A tarefa do Partido consiste erd explicar osconfines que nascean no terreno da religiao cones deny/antesdos conflitos de classe e em procurer pOr sempre em amityrelevo o catheter de classe destes confines e nab, contraria-mente, em favoreoer solugOes religiosas dos confines de classe,=de quo tais solugOes se apresentem coma de esquerda, par-qua poem em discussao a autoridade da organizaCao oficialre-ligiosa.

A questäo dos camponeses mesidionais foi axon-Unfit-la poloCongress° cam particular atencao. 0 Congress° reconheceuexacta a afirmacao armada nas teses da Central, segundo aquad a funcao da massa campcmesa meridional no desenvol-vimento da Ma anticapitalista italiana dove set examinadacan si e dove levar a canclusao que as camponoses meridionaissao depois do proletaa-iado industrial e agricola da Italia doNone, o element° social mais revolucionasio da sociedadeitaliana.

Qual 6 a base material e politica (testa funcao das massescamponesas do Sul? As relagOes que se intorptiern entre ocapitalism° italiano e os camponeses me,ridiortais Mb consis-t= apenas nas normals e histOricas relagOes entre cidade etempo, coma foram eriadas polo desenvolvimento do capita-lism° em todos os parses do minder, no quadro da &ode/dantnational, estas relac5es sao agravadas e radicalizadas polofacto de econOmica e politicamente toda a zona meridional edes ilhas funcionar coma um imenso camp° perante a Italiado Norte; que funciona coma uma imensa cidade. Uma situa-cao tal determina na Italia meridional a forrnagao e o desen-volvime-nto de determinados aspectos de uma questao national,ainda quo imediatamente nao assumarn uma forma ex/Arenade tal questa°, no sou conjunto, rnas s6 uma vivacfssima lutacorn caracter regionalista e profundas correntes pan a des-centralizacao e as autonomies

0 que toms earaetcristioa a situacao dos camponeses meri-dionais 6 o facto de nao worn, no sou conjunto, diferente-manta do quo aeontece corn os tres grupos precedentementedescritos, nenhuma experiencia organizativa autOnoma. Aqua-les estao enquadrados nos esquearbas tradicionais da sociedade

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burguesa poles quais os agrasios, paste inregrante do bloodagrario-capitalista, controlam as massas camponesas e as diri-gem segundo os sous objectivos.

Em consequdincia da guerra e des agitagdes operarias dopOs-guerra que tinham profundamente enfraquecido o apa-

-relho estatal e quase destruido o prestigio social das classessuperiores nomentlas, as masses camponesas do Mezzogiornodespertaram pare a vida prOpria e procuraram fatigosamenteo sou enquadramento. Assim se verificaram movimentos dosex-combatentes e varies partidos chamados de a renovaganDquo procuram explorar este despertar da massa camponesa,algumas yews secundando-o, come no period° da ocupacaodas terras, mais frequeatemente procurando desvid-lo e, por-tant°, consolidd-lo amnia posicao de luta pare a chamada de-mocracia, come aconteceu ultimamente com a constituicaoda clUnido National,.

Os tiltimos acontecimentos da vida italiana, que determi-naram Irma passagem em massa da pequena burguesia meri-dional pan o fascismo, tornarem mais aguda a riensidadede dar aos camponeses meridianais uma direccao prOpria painos subtrair definitivamente a inflancia burguesa agraria.0 dnico organizador passive] da massa camponesa meridional6 o operario industrial representado polo nosso Particle. Maspara que este trabalho de organizaeao seja possivel e eficazocorre que o nosso Partido se aproxime intimamente do cam-ponOs meridional, que o nosso Partido destrua no operarioindustrial o preconceito nele inculcado pela propaganda bur-guesa de que o Mezzogiorno é uma bola de chumbo quese op& aos grandiosos desenvolvimentos da economia nacio-nal e destrua no campones meridional o preconceito aindamais perigoso, polo qual ve no Norte de Italia um dnico bloc°de inimigos de classe.

Para obter estes resultados ocorre que o nosso Partidodesenvolva urn intenso trabalho de propaganda tambem nointerior da sua organizagao para dar a todos as camaradasurea consciencia exacta dos termos da questa°, a qual, se naofor resolvida de mode clarividente e revolucionariamente pern6s, dare a burguesia derrotada na sua zona a possibilidadede concentrar-se no Sul, pan fazer desta parte de Italia apraca de armas da contra-revolugao.

Sobre toda esta rerie de problemas, a °pe rsica° de extrema--esquerda s6 conseguiu dizer anedotas e lugares-comuns. A sus

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posicao essential foi a de negar a priori que estes problemasexist= em si, sem qualquer analise ou demonstragao sequel.potential. Pods dizer-se ate que, precisamente em relacao aquesta.° agraria, aparecou a verdadeira essencia da conceperaoda extrema-esquerda, a qual consiste ntzma especie de corpo-rativismo que espera anecanicamente s6 do desenvolvimentodes coludieOes objectives gemis a realizacào dos fins revolu-cionarios Tal concepgao, cacao ja dissemos, foi nitidamenterejeitada pela onorme malaria do Congresso.

Outros problemas tratados

No qua respeita a questa° da organizacao concreta doPartido, no pe-riodo actual, o Congresso ratificou, sem dis-cussào, as deliberacees da recente Conferencia de organize:can, jd public-a/ins em L'Unitti.

0 Congresso, dado o modo da sua reunido e os objectivosque at propunha, os quais respeitavam especialmente a orga-nizaea° intern do Partido e o sanearnento da arise, nao pOdetracer amplarmente alginnns questäes que sao todavia assen-ciais pan urn partido proletdrio revoluciondrio. Deste mode,s6 nas teses foi examinada a situacio internacional em rela-cab corn a halm politica da IC. Na discussao do Congresso,tal argumento foi apenas aflorado e dos problemas intema-cionais tratou-se so a parte respeitante as formas e as rola-cOes de organizacao do Comintern, visto que era este urnelemento da arise intern do Partido. 0 Congresso, porem,seguiu uma larguissima e exaustiva exposicao sobre os tra-balhos do recente Cnngresso do Partido russo e sobre o signi-ficado das diseuss6es qua eli se verificaram.

Deste modo, o Congresso nao se ocupou do problema daorganizaelo no campo feminino, nem da organizacao da im-prensa, argumentos essenciais para o nosso movimento e quedeveriam ter merecido urn tratamento especial. Tarnbem aquestdo da relaceao do programa do Partido, que tinha sideincluida na ordem de trabalhos, nä° foi tratada polo Con-gresso. Pensamos que seja necessirio remediar estes faltascam Canferencias de Partido, propositadamente convocadascorn tal objective.

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Conclustio

Nero obstante esters parciais deficiencias, pode afirmar-se,concluindo, que a amass de !Mahal° desenvolvido pelo Con-gresso foi verdadeiramente imponente. 0 Congresso elaboroutetra setae de resolucOes e um !programa de Mabalho conoretoeapazes de porem a classe proletäria em coadicees de desen-volverean as suas energias e a sua capacidade de dfrecca-opolitica na actual situacio.

Uma condicao 6 especialmente necessaria pima que asresolugees do Congresso nao se sejarn aplicadas mas deemtodos os frutos que pod= 'Jar: ocorre que o Partido se man-denha intimarnente undo, que nenhum germe de desagrega-Cio, de pessimism° e de paosividade sofa deixado desenvolverno seu intern. Todos os caraaradas do Partido sdo chamadosa realizar uma tal condicao. Ningueni pode per em drIvidaque into sera feito corn a maior desilusao de todos os inimi-gos da classe operaria.

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0 CAMARADA G. M. SERRATIE AS GERAC6ES DO SOCIALISM° ITALIANO ($)

A personalidade politica do camarada Giacinto MenottiSerrati tinha assumido significado e importincia nacionais nostiltimos dez anon; e 6 precisamente no quada-o desires dez anos,caracterizados pela Guerra Mundial e pelo fascismo, que occarreexamina.-la pars a apreciar justamente.

Sao conhecidas as fraquezas fundamentals do movimentorevolucionario Italian° traditional. A major fraqueza, a quepelo menos foi determinante nos anomentos decisivos, pare-ce-nos que pode ser identificada no facto de sempre ter fal-tad° em Italia urn grupo forte e homogOneo de dirigeatesrevoluciondrios, quo tivesse um estreito contacto co® o nricleoproletario fundamental do Partido Socialism. Name tai situa-gao, era impossfvel qualquer acumulacao de experiencias poll-ticas revoluciondrias, era impossivel qualquer direccao colec-tiva, era impossivel qualquer &duo:do rapida que permitisseextrair todas as consequencias das conjunturas favoraveis ainiciativa revolucionaria. E evidence tamban que, nurna tadsituagao, em que a organizacio efectiva estava em relacaoinversa corn o volume do Parndo, o gabinete do chafe indi-vidual era enorme e a responsabilidade que pesava sobre apessoa que suressivamente se encontrava a frente do Partidoera esmagadora. Esta situaeao explica corn sucedeu que atendencia revolucionaria do movimento socialista italiano, di-ferentemente do que aconteceu em relagdo a tendencia refor-

(•) Assinado Antonio Gramsci, L'Unita, 14-5-1926, por ocasilo damorte de Giacinto Menotti Serrati.

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mista, tenha visto suceder-se, na sua diming:5o, uma verdadeiracinematografia de homens, enquanto os reformistas estavamfortemente agrupedos a volta de Filippo Turati.

N ino so: Inas esta situaCio explica tambem o facto iris-tissimo que todos (ou quase) os dirigentes da ft-aced° revolu-cioniria, depths de um instante de grande °splendor, tenhamdegenenado, tenham renegade as suns precedentes posigOes outenham ate passado para a outra parte da barricada. estacommune uma das rathes da persistencia de uma certa sortedo reformism° entre as massas trabalhadoras italianas: par-que, neste, a tradigdo da tendencia esta intimamente ligada

mesma pessoa, ao mesmo grupo de passoas, conseguiu idea-tifiCar-se permanentemente numa organizagào homogênea,cocnposta sempre pelas mesmas individualidades.

Para usar urn tenno politico aproximativo, pode dizer-seque no movimento socialista revolucionério Italian° existiusempre uma situagie de bonapartismo em que era possivel ahomers mais ou menos convictos conquistar o lugar da maisalts dittoed°, corn golpes de mao imprevistos, atravas de efe-mares e pessoais sures.sos obtidos mum congress° on no de-curso de uma agitagão opardria. Nä° existia outra forma deselecgdo, precisamente porque ndo existiam grupos estaveisintimamente ligados corn o proletariado urban°, into é, corna &aced° mais revolucionaria da massa trabalhadora.

Giacinto Menotti Serrati despedacou esta itradicao, no sen-tido que, corn ele, chegava ao supremo cargo do Partido tunhomem cujos dotes principals foram sem thivida a forga decaracter e a abnegagdo; ndo pode despedacd-la completamenteporque nä° conseguiu (e nom sequer se prop& conseguir) for-jar uma nova estrutura que o tomasse mais capaz de accaode iniciativa. A finalidade que propunha verrati no decorrerdo seu trabeiho de director do Avanti!, into e, de guia politicae ideolegica das classes trabalhadoras italianas, foi a de atra-vessar o period° da guerra, mantendo o Partido unido noterreno da negacao da guerra.

Estes dais elementos, unidade do Partido e negagdo daguerra, para estannu juntas, requeriarn uma limitacao da acti-vidade revolucion Aria do preprio Partido. 0 programa doPartido so podia ser o da intransigAncia formal, da não cola-boracao; nil° podia caminhar pan a formula de Lenine:ctransformaedo da guerra imperialista em guerra civil» semimediatamente p5r o problema da eisAo, o problema da

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gab de um novo partido para. lutar, antes de mais, contra oscamaradas de ontem, contra os amigos e irmAos de ontem.Ora o trago essential da personalidade de Serrati, comehomem de partido, era dado, polo contrthio, polo sentiment°de unidade, pelo asforgo incessante para conservar esta uni-dade que representava dezenas e dezenas de 'mos de saeriff-cies e de luta, que significava parseguicaes suportadas emgrugo, anos de prisdo cumpridos em grape.

Pode dizer-se, dente ponto de vista, que o canathada Serratifoi o mais alto e nobre represenxante das velhas gerageies dosocialism° revolucionArio Italian° tradicional; que exprimiuquanto de mais generoso e de Tunis desinteressado estas gen-clies podiam exprimir.

Se isto não el tido em conta, nal° se pode compreender todoo drama que foi vivid° no pas-guerra por esta geragdo etoda a imponlincia e o altissimo valor histerico que teve aadesao do camarada Serrati ao Partido Comunista

Foi no retied° da guerra que as ma s eqs populaces Italia-nas conheceram e =warn Serrati. Lie resgatava, corn a sunvontade rectilinea, a funealo do dirigente revolucionirio quetinha lido degradada por homers como Enrico Ferri, ArturoLabriola, Benito Mussolini, expressäes maximos daquele bo-napartismo de partido a que nos referimos. A popularidade deSerrati não se formou nas Moths arenas dos grandlosescios dos tempos normais, quando era Mcil, corn os brilhantesdiscursos ou cam a baixa demagogia, agitar o siangue das mul-[ideas e fazer-se coreograficamente levar em triunfo, quandoas grandes faints se constitufam em quinza dias para passa-rem a Manias nos quinze dias sucessivos. Ela formou-se len-tamente, a medida q ue aos mais profundos estratos da vidapopular, na trincheira do Carso ou na aldeia siciliana (ndoobstante o Avantil estivesse reduzido a pouquissimos exam-plares), chegava a noticia de que um jornal dirigido per urnhomem que se chamava Serrati nä° se dobrava nem as blan-dicias neva as ameagas da classe dominante e que ele teirnosae ntrepidamente respandia aNdo p , em name dos trabalhado-res, a quern quer que quisesse, de urn modo ou de outro,conquistar para a guerra a consciancia das grandes multidOes.

certo que Serrati foi então arnado como jamrais outrodirigente de partido foi amado no nosso pais.

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No pOs-guerra, todas as fraquezas inerentes a velha estru-tura do movimento socialista Malian° revelaram-se violenta-mente.

Perante os probelmas qua entao se apreserttavam, o pro-grama de conservar a unix-lode do Partido ate a revolugão, talcome tinha sido conservada atraves do incendio da GuerraMundial, tornava-se uma ilusao funesta_

0 camarada Serrati acreditou que isso fosse possivel ouesforgou-se per acreditar, per se pm-s pat-Ur disco, porque estavaligado per milh5es e tnilhOes de fios ao passado, a tradigio,porque the parecia impossfvel que nao pudesse obter-se nomemento de desenvolvimento das forcas revolucienarias o quetinha side obtido durante a guerra, quando tudo parecia des-fazer-se no movimento operario de todo o mundo e nao so-memo em

N6s, talvez, gerac -Oes jovens, nao demos toda a importan-cia devida ao drama que entao se viveu. Por isso nao acredi-amos, provavelmente para alem do justificavel, na agressaoao que nos parecia intitil sentimentalismo e esteril amor pelasvelhas fOrmulas e pelos velhos slmbolos. Mas. na verdade,precisamente porque muito jovem, precisamente porque :naotinha lutado pan formar o que todavia era uma estruturaorganizativa do Partido e uma tradicdo, precisamente porquenao se tinha podido apaixonar pelo trabalhO dos primeirospioneiros, precisamente per tudo isto, a nossa geracdo podiaperceber mais distintamente a insuficiancia da velha genagaopara resolver as terefas necessarias corn a aproximacao datempestade reaccionaria_ Nós, jovens geracees, representava-mos, 112 realidade, a nova situagao na qua] tambem a classeinimiga, cam o fim de conservar o poder e esmagar a prole-tariado, teria destruido as velhas formes do Estado, criadaspela jovem burguesia do Ressurgimento: exam, e sac), temposde fens e de Pogo, em que se arrisca a ter razao so o queaventa as hipOteses mais pessimistas.

A grandeza do camarada Serrati e a prova, alem do maisnao necessaria, de quanta a sua paixao unitaria era profun-damente sincera e dolorosa, e dada pelo facto de ter determi-nado, para reentrar nos files da Internacional Comunista, umanova cisao, sendo expulso do Partido que parecia ser a suacriatura. A reolidade a que, corn a vinda de Serrati para onosso Partido. se fechava urn inteiro periodo da hist6ria domovimento opezirio can Italia. As velhas geracOes do soda-

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revalucionario Italian, depois de terem hesitado, longae dolorosamente, decidiam-se. Para dos em clam que as ye-Ihas organizactes tradicionais se tinham transformado emmera forma sem conteudo, que a tradiclio nao residia ondeuma etiqueta parecia indicd-la mas vivia apenas na organiza-cdo do Partido Comunista. Esto foi o significado da vinda docamarada Serrati para o nosso Partido. Ela revelaw e san-cionava um processo molecular que se tinha desenvolvidoobsouramente na massa dos ta-abalhadores italianos depois dacisào de Livorno, nos anus negros de 1921 e 1922, e poloqual tudo o que de sincere, honesto e intrepid° existia noproletariado revoducionario se tinha inooTporado no nossoPartido, mudando nadicalmente as posigOes dos panties quedizem defender a classe opesaria.

0 camarada Serrati morreu 313S Txrimeiras filas do PartidoComunista de Italia, nos primeiras filas da Internacional Co-munista. Pascoe-nos que ate na sua morte, Tao tragica, existeum simbolo e urn testemunho.

Ela revelou, de forma dramatica, come a atroz e invisfvelluta que as militantes revolucienarios devem conduzir quad-dianamente pan manta= Integral, nao obstante tudo, asposicOes da class. operaria contra a classe dominante, cam-preende o sacrificio da prOpria vida.

Ao saes/no tempo que leva as massas a honrar e saudaro camarada cal.& pela causa comum, ela dew lever as massasa apertar-se coda vez mais a volta do Partido que do cafdoconservara a memeria e continual-a o trabalho.

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UM EXAME DA SITUACAO ITALIANA (*)

0 exame que estamos para fazer propo-se: a) verificar alinha geral estabelecida pelo III Cangresso do nosso Partido;b) aceitar as mudangas que se verifioaram na situacao do paispara determinar os pontos sabre os quois a acgdo irnediata doPartido deve ser intensificada, se o nosso exame nos levar aconcluir que a perspectiva geral nao mudou nadicalmente.Analisareanos as tits elementos fundamentois da situagao:

1) 0 elemento positivo revolucionario, into é, a posicaoactualmente ocupada pelo nosso Partido e os progresses rea-lizados pela tactica da frame finica.

0 exame deste element° da situaca.o deve servir-nos paraverificar que grau de autonomia e de independancia politicafoi alcancado polo proletariado italiano e em que medida aclasse revaluciandria, guiada polo nosso Partido, conquistoua confianca de outms classes da populacao trabalhadara: oscamponeses e a pequena burguesia urbana;

(*) Trata-se do relat6rio para o Comite Directivo do PCI, apre-sentado por Gramsci em 11 de Agosto de 1926 e cujo texto foi publi-cado, corn este titulo por Stara Operaio, de Margo de 1928, advertindoque era extraido ado resumo estenografado) da reuniäo 0 mamatexto, corn level variantes e uma diversa disposigao de algumas partes,foi republicado por Franco Ferri rm Rinascita, de 14 de Abril de 1967,corn base num escrito dactilografado contendo as notas escritas pore submetidas por ele a uma discussão preliminar, antes de desenvolvero relat6rio. Nestas notas aparece tambern uma Ultima parte dedicadaa situagäo internacional; G. ocupava-se particularmente da situanoposta pela Breve geral inglesa.

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0 elemento politico represented° polo capitalism) quoorgazina o bloco governativo burgués-agrario-fascista.

0 exame dente element° reknit-se-a a sinned° economicsgeral do pq fs as novas relaedes que se vdo formanckt entre ocapitalism° dirigente o es elementos de missal do bloco gover-nativo amstituidos essencialmente per determinados estratosdas classes medics urbane% 'clacks quo no passado se rellec-tiam no campo parlamentar e que hoje —dad) o monopOliogascista— se reflectem no interior do Partido dominants, me-dians° lutes interims;

0 elm:lento politico represented° pela tendencia emconstituir um bloc() democratic° de esquenda tondo o sou eixono Partido Republican, visto que a acoadigdo tepuhlicananconstitui o terreno ideolOgico e prittioo da nova coligacio.

0 trace man cantoteristico do III Congress) do nosso Par-tido consiste no facto de nä° se ter limitado a per generica-matte o problems da necessidade de tealizar a direcedo do PCno interior da classe openria e da classe operaria no interiorda populaedo trabalhadora italiana Mas procures indicar pra-ticamente os elementos politicos atrav6s dos quail este direc-ebb teria podido realizax-se: into 6, procurou individuar ospartidos e as associageies atraves dos quais se explica a in-fluencia burguesa ou pequeno-bergnesa sobre as classes tra-balhadoras e quo sdo possiveis de uma reviravolta de valoresclassistas. E este — quanto a nes — e uma das maiores con-quistas que o nosso movimento ja realizou no terreno do me-todo de trabalho terreno sabre o qual se verifies a capacidadede dinned() da vanguarda revolucioneria.

Positivamente, pode afirmar-se que o nosso Partido can•seguiu conquistar uma Male posiedo de iniciativa palitica nomein das classes trabalhanccas. Neste Ultimo lapso de tempo,todos os °Tidos jornalistas dos partidos que oontrolam asmasses populates italianqs apareceram cheios de polemicascontra a accdo do noes) Partido. Todos estes partidos estãoa deffesa contra a nossa acelie e, na realidade, ales sae indi-rectarnente guiados por nes, visto que polo mans sessentaper canto da sua actividade,6 dedioada a rechaear as nossasofensivas ou 6 determinada no sentido de du as sues massesuma satisfaedo que as subtraia a nossa innuendo.

2 evidente que, nas condigdes de opressao e de control)representadas pela polftica fascista, os resultados da nossatectica nelo se podem medic estatisticamente a escala das gran-

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des masses Todavia 6 inegavel quo quando determinados ele-mentos de partidos democrates e sociais-demotratas se madam,ainda que molocularmente, pare o terreno dodos pretoonizadopoles oomunistas, esta mudenca nä° pode sea casual e designificado puramente individual. A questa° pode ser crepre-sentada pratioamente assim: em cada partido, EMS especial-mente nos partidos democratas e sociais-democratas nos quaiso aparelho organizativo 6 muito flexivel, existem ties estratos.0 estrato superior, muito estreito, que usualmeate 6 consti-tuido pot parlam,entares e per intelectuais clime sempre inti-mamente ligados a cla CSC dominante. 0 cstnato inferior, cons-tituido pot operdrios e aunponeses, par pequeno-burguesesurbanos, come massa de partido e sumo massa de populaCdoinfluenciada polo partido. Urn castrate interraredie que, ne neuralsitueedo, tern uma importen' ciat ainda superior a importAnciaque tinha no period) normal, visto que, quake sanpre, rpm-senta o Unice estrato activo e politicameate vivaz destes par-tidos. este estrato intermedio que manten a ligacdo entreo superior grupo dirigente e as masses do partido e da popu-lated° influencinda ,polo particle. setae a estrutura casteestrato medic, que as grupos dirigentes contain pant uma fu-ture reconquista dos diversos partial/Ds e pan vma recionstru-cdo destes sabre uma larga base. On é precisamenteuma tredve' parte destes estratos anedios dos diversos parti-cles corn oanictez popular que se exerce a influencia do movi-memo pare a frente Unica. 8 neste estate media que se veri-flea um f Niemen° molecular de desagregaedo das velhasideologias e dos velhos programas politicos e se veem os Mi-das de uma nova formacdo politica no terreno da frente Unica_Velhos opentios reforniistas ou maximalistas, que exert=tuna large influencia em certas fabricas on em cantos bairrosurbanos, elementos campaneses que nas altleies ou nos burgosde provincia representam as personalidades mais avancadas domundo rural, aos quais os ca.mponeses da aldeia ou do bargerecarrern sistematicamente pan pedir conselhos e directrizespalticas; pequenos intelectuais de cidade que, comp expoentesdo movimento catelico de esquerda, irradiam na provinciauma influencia que ndo se pode e ndo se dove medic pelasua modestiat mas deve set medida polo facto de apateceremna provincia come uma tendeneia daquele partido que os cam-poneses habitualmente seguiam. Eis os elementos sobre osquais o nosso Particle exerce 11171a artraccdo serape crescente,

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cujos expoentes politicos Sao urn indica seguro de movimen-cos de base quase sempre ainda mais radical do que parecepelas mudancas pcssoais.

Uma atengdo particular dove ser dada a Napa desenvol-vida pela nossa juventude na actividade para a frente nnica.Ocorre por isso ter presente que a aced° da juventude doveser consentida tuna elasticidade que ndo 6 oonsentida ao Par-tido. E evidente quo o Partido ndo pode chegar a fusOes cornoutros grupos politicos ou aceitagaies de novas membros, cornbase na frente Unica que tende a ariar a unidade de aced° da-classe operaria e a alianea entre operarios e camponeses endo pode ser a base de formacao do Partido. Para os jovens,polo contrario, a questa° 6 diversa. Pala sua prOpria natureza,os jovens representam o estadio elementar do foamed° doPartido. Para entrar na ujuventudeD, nao se pode pedir quesejam ja comunistas no sentido completo da palavra mas too-s6que tenham tuna vontade de luta e de se tornarem comu-nistas. Pot isso este panto deve servir coma referencia geralpara melhor fixar a tactica prOpria dos jovens. Urn element°quo se dove ter em muita conta, porque tern urn valor hist6-rico ndo indiferente, 6 este: se tem importancia o facto de ummaximalista, urn reformista, um republican, urn popular, umsardista, urn democrata meridional aderirem ao programa dafrente tinica proletdria e da alianga entre as camponeses eoperdrias, muito major importancia tem o facto que a talprograma adira urn membro da Aceao Cat(Mica, coma tal.De facto os partidos de oposigdo, embora de forma Made-quada e viscosa, tandem a criar e manter uma separacdo entreas massas populares e o fascismo. A Aced° CatOlica, polocant:aria, representa hoje uma parte integrante do fascismo,atraves da ideologia religiosa tendo a dar ao fascismo o con-senso de largas massas populares e esta destinada, em certosentido, na intenedo de uma tendencia fortissima do Partidofascista (Federzoni, Rocco, etc.), a substituir o prOptio Par-tido fascista na funcao de partido de massa e de organismode controlo politico da populaeao. Cada nosso suoesso, emboralimitado, no cameo da Aced° Catelica, significa portanto quenes coaseguimos impedir o desenvolvimento da politica fas-cista num campo que parecia fechado a qualquer iniciativaproletaria.

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Concluindo este panto, podemos afirmar qua a linha poli-tica do III Congresso foi verificada como junta e o balaneoda nossa accdo para a frente rinica 6 largamenate active.

A arise econOmica geral 8 o demean° fundamental da arisepolitica. Ocorre examinar os elementos desta arise porque,entre eles, alguns sao inerentes a situagto geral italiana e fun-cionardo negativamente tarnbem no period° de ditadun pro-letaria. Estes elementos principais jx)dem fixar-se assim: dostr .& elementos quo tradicionalmente constituem o activo dabalanca italiana, dois, as remessas dos emigrantes e a indfis-tria do turismo, desabaram. 0 terceiro element°, a exporta-ado, sofre uma arise. Se aos dois lactates negatives — retries-sas dos emigrantes e indlistria do turismo— e ao terceirofactor parcialmente negative —exportagao— se junta a ne-cessid.de de fortes importae6es de cereals ,pela falância dacolheita, 6 evidente que as perspectivas para os prOximos me-sas se apresentam catastrOficas. E necessdrio ter em contaestes quatro elementos para compreender a impotenciagovern° e da classe dirigente. Decerto qua se o governd nadaou quase nada pode fazes para amnen tar as rernessas dos emi-grantes (ter presente a iniciativa prospeetade polo senhor Giu-seppe Zuccoli, suposto sucessor de Volpi no Ministerio dasFinaneas) e pan fazer prosperar a Mdilistria do turismo, polocontrario algumra coisa se pode fazer pan aurnentar a expor-taeao. Neste sentido, e passivel uma grande politica que, senil() con segue fazer desapareeer a ferida, polo menos tende acicatriza1a. Ha quern pause na possibilidade de uma costapolitica de trabalho baseada no inflacionismo. Nao 6 de ex-cluir, naturalmente, esta possibilidade em sentido absoluto,mas: 1) mesmo que se verificassem os seus resultados, nocameo econOmico seriam relativamente minimos; 2) as seusresultados seriatn, polo contrario, catastrdficos no campo poli-tico. Ocorre, de facto, ter ptresentes estes elementos:

1) A exportacdo representa, na balanca italiana, apenasuma parte da actividade, no maxima dais tarp's; 2) para equi-librar a balanga, ocorreria ndo s6 conduzir a actual base pro-dutiva ao sett maxima rendimento mas ocorreria alargar aprOpria base produtiva, comprando no estrangeiro novas ma-quinas, o que pioraria ainda a balanca; 3) as materias-primaspara a inchlstria italiana sae importadas do estrangeiro e devem

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it

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set pagan coin moeda nao desvalorizada. Urn aumento daproducao, em larga escala, levaria a necessidade de ter tunamottle massa de capital circulante para a compm das mate-rias-primas; 4) ocorre tea- presente que o fascismo, came tea,/1/010 geml, conduziu ao mfnimo, em Italia, c salaries e asvencimentos da classe trabalhadona. A inflacao a compreensi-vel num pats con altos salaries, como sucedeneo do fascismo,pars abaixar o nivel das classes trabalhadoras e voltar a dar,portant°, elasticidade a burguesia italiana. Ndo é compreen-sivel em Italia, ande o nivel de vida da classe operaria estije a atingir a fame.

Como pale, pois, resolver a case a claw . dominante?A politica econOrnica do Govern fascista foi, ate aqui, carae-terizada pela falta de uma linha decidida e preeisa. 0 Governfascista segue a politica do dia-a-dia. Todavia as suas ailtimasprovider:46as para a «batalha economic= sal e, essencialmentedirigidas contra as masses trabalhadoras. Do sistema de corn-pressio das classes arabalhadaras, culminado con a legislacliosindical, passou-se ao aumento das hams de trabatho, o quedetect-mina o desemprego e, a seguir, a reduclio dos salariespolo acrescimo da nao-de-ohra no mercado de trabalho. Ossal arias sofrem no reducao, que e provocada indixectamentepela fixacao do custo de vida ja nao sabre o sou custo realmas sabre os ntimeros-indices fornecidos 'pales despachos go-vernativos. Tudo isto nao pode deixar de provocar a majorradicalizacao das masses e a sua mudanca para formal deluta calla vez mais decididas.

Entre os elementos da arise econemica ha a nova organi-zacio das sociedades par accbes, cam as votos ,privilegiadosque 6 um dos elementos de ruptura entre pequena burguesiae capitalismo, e o facto do desnivel verificado neste Ultimotempo entre a massado capital das sociedades anenimas, quose vai concentrando em poacas man, e a massa da coupancanacional. Este desnlvel mastra coma as fontes da pati-panca vac secando porque os rendimentos Warns ja nao slipsuficientes para as necessidades.

Como 6 quo tudo isto se reflecte no blow da classe do-minante?

Se observarmes de panto o PNF, verremos que este 6 dila-cerado por lutas intestinas que, embon as superiates hierar-quias se esforcem por elimine-las, se manifest= de formacalla vez mais aguda. Veremos tarabem quo, na Orbita fascists,

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se manifestam duas tendencias principais quo em si prepriasagrapaan e exprime,m intenssses de (-Inns,- que estao em con-traste tins cam as outros e que min= a solidez do conjunto-fascista.

De urn lad° a tenclencia Federzoni, Rocco, Volpi, que quertittar as conclusats de todo este period°, depois da marchasabre Roma. Quer liquidar o Partido fascista como organismopolitico e incorporar no apanelho estatal a situacão de forge.burguesa crieda polo fascismo nas suas lutas contra todos ascharm partidos. Esta rtendencia trabalha de acendo corn aCorea e cam o estado-major. Quer incorporar nas forges cen-trals do Estado, par urn lado a Accra° Catelica, isto 6, o Vati-can, panda fim, de facto e possivelmente tambem de &reit°,ao dissklio entre a east Savoia e o Vatican e, par outra, oselementos mais modenados do ex-Aventino. E certo que en-quanto o fascismo, na sua faecal) natio/la:lista, dada o passadoe as anadicaes do velho nacionalismo itadiamo, traba1ha no son-tido da MO° C,atelica, por outro lade a rasa Savoia procuramais tuna vez explonar as suas tradicaes pan atrair as esferasgoventativas os homens do grupo de Di asarh e do grupoAmondola.

A outra tendencia 6 oficialmente personificada par Fan-nacci. Repanenta abjectivamente dir/s contradi cam do fas-cisme: 1) a cantradicao entre agrarios e oapitalistas nas diver-gencies de interesse especialmente alfandegario. È eerie queo actual fascismo representa tipicamente o nitido predominiodo capital financeiro do Estado-capital qua quer submeter asi todas as forges produtivas do pais; 2) a segunda contradi-gao 6 muito roars importante e é a que se veritica entre apequena burguesia e o capitalismo. A pequena burguesia fas-(sista ye no partido o instrumento da sua defesa, o seu Parla-mento, a sue. democracies. Atraves do partido, quer fazer pres-sCies sabre o Govern° pan impedir que seja esmagada pelocapitalismo.

Urn element quo ocorre ter presente 6 a facto de servi-lismo complete em que a Italia foi pasta polo Governo fascistaem Macao a America. Na liquidaCio do debit° do gucrra,quer ern relagrao a America ou a Inglaterra, o Govern fascistanao se preocupou em obter garantias sabre a comereialidadedas elatigacees ire:lianas A balsa e as finances italianas estaoexpostas em todos as mementos a chantagem politica dos Go-vermas americano e angles que padem, em qualquer memento,

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lancar no marred° mundial quantidades de valores italianos.0 debit° Morgan, alem disso, foi contratado em condicOesainda piares. Em 100 inilhOes de &dares do emprOstimo, oGovemo italiano tern a sua dispositeo apenas 33 milhees. Dosoutros 67 milhees o Govern italiano so pode dispor corn oalto oansenso pessoal de Morgan, o que significa que o vea--dadeiro chafe do Govemo italiano 6 Morgan. Estes elementospodem servir pars dar a pequena burguesia, na defesa dosseus interesses atraves do Partido fascista como tal, urna en-tocteäo nacionalista contra o velho nationalism° e contra aactual direct:10 do partido que sacrifioou a soberania nationale a independância politica do pais aos interesses de um gruporestrito de plutocratas. A este respeito, urea tarefa no nossoPartido dove ser a de insistir, de modo particular, sobre apalavra de ordem dos Estados Unidos sovieticos de Europa,como meio de iniciativa politica entre as fileiras fascistas.

Pock dizea--se, em geral, que a tendencia Farinacci no Par-tido Fascista tem falta de unidade, de organizateo, de princi-pios gerais. E mais urn estado de Anima difuso do que ureatendencia em sentido prOprio. Ma sera muito dificil ao Go-vern° desagregar os seus ntieleos constitutivos. 0 que importa,do nosso panto de vista, é que esta crise, porque representaa separaceo da pequena burguesia da tollgate° barguesa--agrario-fascista, neo pode deixar de ser um elemento de fra-queza militar do fascismo.

E evidente que sucede no camp° da dernocracia urn certoagrupamento corn catheter mais radical do quo no passado.Refer:pa-se a ideologia republicana, entendendo isto no mesmosentido da &trite Unica, isto 6, nos estratos medic's dos parti-dos democraticos e, neste caso, tambOm em boa parte dosestratos superiores.

Velhas chafes ex-aventinianos recusaram o convite painretornar os contactos corn a casa real. Diz-se que o prOprioAmondola, no Ultimo periodo da sua vida, se tornara corn-pletarnente republicano e facia, neste sentido, propaganda pes-soal. Os populaces ter-se-iam tornado, tambem ales, tendon-cialmente republicanos, etc. E certo que se faz um gardetrabalho para determinar no terreno republicano, um agru-pamento neodemocretico que deveria tomar o poder no mo-ment° da catastrofe fascista, instaurar um regime de ditaduracontra a direita reactioneria e contra a esquerda comunista.

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•Para este despartar demooratico-republicano contribuiram ostiltimos acontecimentos europeus, wino a aventura Pilsudskie),na Polonia, e os sobressaltos pre-aganicos do Cartello fran-ces (2). 0 nosso Patido dove par o problems geral das pers-pectives da politica national. Os elementos podem sex assimestabelecidos:

Se é verdade que politicamente o fascismo pode ter winosucessor a ditadura do proletariado, visto que nenhum par-tido e tollgate° intermedia 6 oapaz de dart- satisfatão, aindaque seja minima; as exigentias coonOmicas das classes tra-balhadoras que irromperiam violentamente na coma politicano memento da ruptura das relatfies existentes — nee 6 poremcerto, e nem sequer provavel, que a passagem do fascism°a ditadura do proletariado seja imediata. E preciso ter emconta o facto de as forcas armadas existentes, dada a suacomposiceo, nab serem conquistaveis imediatamente e quealas sereo o element° deter-min:ante da situaceo. Podem fa-zer-se hip6beses, as qnais se atribuem gradualmente maicrrcaracter de probabilidade. E possivel que do Govemo actualse passe a urn Governo de coligaceo, ao qual homens comoGiolitti, Orlando, Di Cesarb e De Gasperi deem urea maiorelasticidade imediata. Os 'llamas acontecimentos parlamenta-res franctses demonstram de que elastioidadp 6 capaz a polf-tica burguesa path afastar a crise revolucioneria, mudar osadversArios, desgastd-los, desagrega-los. TJma crise econOraicaimprevista e fulminea, não irnprovevel numa situate° coin°a italiana poderia levar ao pada a coligaCeo dernocretico--republicana, dado que ela se apresentaria aos oficiais doexereito e a tuna parte da prOpria Militia e aos funcionariosdo Estado em geral (elemento de que 6 preciso ter em conta,em situatees como a italiana) como caper de travar a revo-lute°. Estas hipeteses tam pare nos urn valor geral de pers-pective. Servern-nos pars fixar estes pontos:

1) A partir de hoje, devemos restringir, ao minima, ainfluencia e a organizateo dos partidos que podem constituira tollgate° de esquerda pars tornar cada vez mais provavel

e) 0 general polaco que actuou o golpe de Estado militar de16 de Maio de 1926.

e) 0 Cartello das esquerdas, radicals e socialistas, que venceu aseleigOes de 1924 mas cuja experiencia governativa seria breve.

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uma quads revoluciandria do fascism°, decide que os edemen-tos energicos e activos da populaglio estejam no nosso terrenono momenta da arise; 2) de qualquer modo, devemos procurartonar o mais breve passive' o aintermezzop deimocrAtico,tendo a partir de hoje disposto a nosso favor o maior rainier°de condigOes favoraveis.

destes elementos que devemos extrair a indicacao parsa nossa actividade pratica imedlata. Intensificar a actividadegeral da frente Unica e a organizaelo de novas comites deagitaeao pars os centralizar polo anenos A escala regional eprovincial. Nos comites, as nossas traceries devem procurar,acima de Ludo, obter o mktinto de representagiies das diver-sas correntes politicas de esquerda, evitando sistematicamentequalquer sectarismo de partido As questOes devem sex pro-gramadas objectivamente pelas nossas traceries, como expres-&do dos interesses da classe operdria e dos camponeses.

Preparar ideologicamente as anossas contra os perigos denovas guerras imperialistas.

Tactic-a em irelaCio ao Partido Maximalista tendente aimpedir, em linha subordinada, a sua entrada no Orbita daooncentraeäo republicans e, em Fain de maxima, a subtrair--the a influencia sobre as massas trabalhadoras.

Nec-ssidade em relaclo ao Partido sardo de aceAo, cornvista ao seu prOximo Congresso pars a Italia meridional ePara as ilhas.

Crieed° de grupos de trabalho regionals no recto da Italia

A URSS A CAMTh}IO DO COMUNISMO (*)

Os . jornais burgueses dedicaratn, na semana passada, fre-quentes artigos a situaglio russa. Das afirmagOes feitas emStampa, Tribuna, Mondo, expos as conclusOes no prOprioMondo o deputado Baldesi, afinnando estar ja .provado queo comunismo faliu na Rtissia e que se caminha a glandespasses !pars o restabelecimento do capitalismo. 0 deputadoBaldesi, antes de mais, como born social-democrata, lamentamuito que os bolchevistas tenham feito tuna revoluCao socia-lista em Outubro de 1917, vista que, quanto a ele, teria sidemelhor, depois de derrubado o czarism°, um regime demo-cratic° e burgués, um daqueles regimes que deliciam os pro-leterios this outran unties; e lamenta-o tanto que, apesar deparecer favoravel a reforma agraria, esquece que s6 a revolu-cao proladria deu a terra aos camponeses. Isto 6, esquece queos varios governos que se sucederam on RUssia, de Fevereiroa Outubro de 1917, exam governos imperialistas e burgueses,os quais nunca teriam actuado aquela reforma agrAria de queos demooratas e as reformistas sAo tao entusiastas em teoria.

S6 a alianca dos operãrios e dos camponeses, se a revalu-e:do bolchovista realizou aquela enonne reviravolta dos basesda economia russa Nenhum regime democratic°, nem sequerdepois da guesra, actuou qualquer coisa de semelhante; noOcidente europeu, nem sequer at pride pen fzur nisso. As incer-tas tentativas da Romenia e da Mania estio a falir misera-mente. No exame (las actuais condieOes econ6micas russasBaldesi, como todos o seus amigos, nAo tan, antes de mais.

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(•) Nao assinado, L'Unita, 7-9-1926.

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em coma, as condiedes de antes da guerra. Num livro deHaney Fischer sobre Os debitos interaliados, publicado em1924 polo trust dos banqueiros de Nova Torque, encontre-mas uma estatistica respeitante a populacao, os impostos e

rendimento nacional dos diversos palsies, antes da guerra.0 rendimento par habitante era de 351 dOlares pare os Este-dos Unidos, de 226 dOlares para a Inglaterra, de 182 dOlarespare a Franca e s6 de 43 dOlares para a RUssia. Thar rendi-memo nacional, a Russia estava abaixo ate da Grecia, daTurquia, da Bulgaria, da Servia. Seguirem-se depois a guerra,a revolucao e, depois, a guerra civil.

Nao a revalued° quo se desenrolou ern poucos dias emMoscovo e em Leninegrado, como em todo o pais, rues a in-tervened° das glandes potencies europeias, daqueles regimesliberals e democratas quo silo cams ao Mondo e ao deputadoBaldesi, a favor dos exeroitos brancos, e que desvastou aRussia, reduziu-a a um intense) trrritOrio coberto de ruinasfumegantes. Por culpa dos exereitos brancos —isto 6, burgue-ses, liborods, democratas — da Falange e da Inglaterra, os cam-poneses deixaram de cultivar a terra, o caminho de ferro foidestrufdo as febricas abandonadas, as cidades sacpeadas; ese, apesar de tudo, o regime sovietico venceu, into significa,par si prOprio, que Baba o consenso da imonsa maioria dopovo russo. Nenhum outro regime, em nenhum outro pais daEuropa, feria podido veneer a prove atraves da cpinl passou

regime sovietico. Basta reflectir na situaedo em que se ini-ciou a revolucao pan compreender que se as trabalhadoresrussos... nao se encontraram no pais da fortuna, e ridleulo esandeu imputar par isso o comunismo. Devem, polo contrario,ser considerados quase miraculosos os resultados obtidos ateagora: isto e, o aumento da producao industrial e agricola aonivel de antes da guerra e a methane das condieBes dos tra-balhadores. A crise a que se aludiu e a actual, na Rfissia, 6sobretudo determinada polo facto de os camponeses, je naooprimidos pelos rendes de case e pelos impostos, e peadosdo seu trabalho, carnerem uma quantidade de cereals superiora de antes da guerra e poderom, no conjunto, adquirir maioresprodutos industrials pan o seu consumo.

Antes da guerra, os agririos russos exportavam umaenorme quantidede de cereais, mantendo na fame permanenceos milhOes de camponeses produtores. Hoje, estes elevaram

praprio nivel de vide, tante que as indilstrias nacionais,

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que alcancaram a producao de antes da guerra, ji nao silocapazes de satisfazer os sous pedidos. Mas o arpmaento fun-damental dos Dosses contraditores e a Nep e o seu desertvol-vimento. Nao tem, porem, em conta quo se na recenstrucaoeconOanica russa se desenvolveu o capital privado, importan-cia ainda major assuaniu o capital colectivo. Toda a grandeindtistria colectivizada todas as oficinas, into C. as sidertirgi-cas, as metaltirgicas, as texteis, etc., sae propriedades do Es-tado e par ale gestidas; ocupam 95 par canto dos operarios,mas isto ado tam impartincia pan os adversarios. Estes cons-tatam quo existem nas eldelas cusses milhares de lojas, deIe.-brines e de alveitares, quo surgem também as °Bellies (estasMao pod= ter mais de 15 opererios se silo fornecidas demotor mecilnico e 50 se nao tom motor), e afirmam final-mente quo o capitalismo triunfa nil iaadtistria russa. Fingemignorer que o comercio externa 6 monopolized° polo Estado&raves dos bancos, que silo todos &Taos colectivos. Queremignorer quo todo o esforco do Estado 6 dirigido pan o desen-volvimento dos elementos socialistas da producao e que oselementos oapitalistas, de que se reconheceu a utilidade e aimplassibilidadc de suprimi-los madicalmonte e de tuna so vez,silo rigorosamente controlados.

Resta a agriculture. Ja dissemos que 6,5 a revalued° russateve a forget de dar a terra aos camponeses. Em nenhumregime burgués, ainda que Baldesi faces. dale ministro, asmasses rurais terdo a possibilidade de ter a term. Poremfatal, segundo a burguesia, e o social-reformista Baldesi é domesmo pareeer, que se formem a media e a grande proprie-dade, que exista urn processo de centralizagdo da riqueza, demodo que a conclusdo do processo seria irremediavelmenteo... Depois do que, daqui a urn par de seculos sefare uma outra revolucao camponesa; e assim sucessivamonte.

Nos negarnos que este processo seja fatal quendo a ale seoponham a forge do Estado e a forge da economia industriale financeira colectivizada. Um outro processo ester econte-condo na RUssia e 6 o desenvolvimonto das pequenas pro-priedades e a stn associagao. E atraves da cooperagao pana iproducla, pan a comercializacao dos produtos, pan o cre-dit°, as compras, a boa producao, etc., que os camponesesrussos evitarao a mcorstituicao do capitalismo agrario e cons-fituirao, polo contras:1o, uma ecoruarnia em que as faunas asso-ciadas terao sempre major imporancia.

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Ja foi observed° per Bukharine que as relagóes entre cam-poneses e oPerArios, Pm regime soviOtico, podem compamr-seaos industrials e agrarios nos primerdios do seculo XFX.A luta burguesa entre os dais sectores, apesar de peatence-rem ambos a claxse burguesa, foi longs porque os agrariosnio aceitavam a crescente supremacia do capital industrial efmanceiro. A luta cessou quando os dais sectores se aproxi-=ram pare a industrializacho da agriculture, de mode queas divergencies se tornaram muito menus graves. Tambam na made a inchistria e a finance colective dominam je

Coda a vide econamica, a soldagem entre opereries e tempo-neses pare a economia industrial e a economia rural tore Lugarcorn a industrializacAo da terra.

Nunes =Mum comunista prometeu aos trabalhadores rea-lize: o mine de Bengodi (*) em 24 hods; nunca nenhumcomunista pensciu realizar o regime comunista em seis mesas.A passaged do regime esclamgista ao feudal, do regime feu-dal ao capitalism, caster= a humanalwle esforcos enormesdurante lenges periodos. Nos regimes capitalistas reels fib-resc,entes, ainda hoje existem residuos da economia feuds'.NAo ha refit° pare pretender que o comunismo at realizepelo contrario, per urn golpe de batuta magica.

A diference prof-made entre a Rtissie e os outros wisescujos regimes sac, tao apreciados pelos varies Baldesi da de-mocracia e do reformism° 6 este: na RUssia, toda a force etodo o esforeo do Estado seer dirigidos pare a realintedo docomunismo, enquanto nos outros pulses toda a forge e todoo esforgo do Estado sAo dirigidos pare sustentar o capitalism°,pare impe,dir o comunismo; e into °arab= nos paises code osreformistas estlie no poder: na Bagica, par exemplo, end°Vanderwelde 6 escravo da burocracia e... servo de deanacra-cia, fazendo pagar as despesas da crise econemica a pequenaburguesia e aos trabalhadores, come urn qualquer Poincar6e pier.

Sào estas verdsdes elementares que certamente sae =daispare os burgueses. Se pudiesseanos, pelo contrario, amcditerainda na boa-f6 dos sociais-dernocrates, nooses e estrangeiros,nä° nos stria compreensivel a alegria que experiment= aodescreverem a pretense falencia do comunismo na Rtissia.

(*) Nome de urn pats imaginal-I°, de alegria e de abundanda.—(N. do T.)

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isto 6, a falancia da Unica revalue:Co em que se puseramprove as teorias mar:dotes e as capacidades pelt-tines. Masquern 6 rnais socialista do que ales? Fits sabean bem que senovas crises determiner= uma nova sociedade prole aria, naolhes este reservada a honra e a fadiga de realizarem o idealdos trabalhadores. Pam subsistirem, ja ado tern entre possi-bilidede send° a de garantir as burguesias a pn5pria capa,ci-dade de defesa do dominio, se at sentisse necessidade dostens favores.

perfeitamente natural, por isso, que no Monde, istoharm' daqueles deanooratas que tern a respooasabilidade dadenote de exist p6s-matteottiana, que preferiram a derrotaao perigo de =a CSCailifia revoluciondria proletiria, a faltn-cia do comunismo seja proclamada pelo deputed@ Baldesi;daquele Baldesi que, no dia da marcha sobre Rome, cumpriao seu clever de deputado socialista e de dirigente da Confe-detach° Geral do Trabalho contando a todos os continuos deMontecitorio que se Mussolini tivesse verdadeimmente dese-jado, ale estava disposto ao pessoal sacrificio de aceater tunapasta ministerial e que, portanto, 6 bean digno representantedo partido que cumpre todos os esforcos pare se libertar dacadeia do martfrio matteottiano, que The foi imposta pelo des-tino escarnecedor.

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EM QUE DIRECCAO SE DESENVOLVEA UNIAO SOVIET1CA (*)

0 ouro estrangeiro, egregios senhores do Mondo (1), é umargument° usado e abusado per todos os gayeties e per todosos nacionalistas contra os movimentos liberals e democraticossem per isso renunciarem, eles praprios, a usufructs de qual-quer ajuda quando lhes podia ser iitil e seam oonseguiremsequer infamar ou decepar os acusados. E um aa-gumento, parisso, que fica mal na boca dos democratas, No Monde, perexempla, sabem muito beam qual e quanta influancia externaos Alpes agiu na intervened° mas em nenhum casoads julgaremos culpa que os partidos democraticos e as maga-narias dos varies paises se apoiem e se ajudem. Parece-nos,portM, estranho, digamos assim, que se reprove semelhantefacto aos coinunistas

L'Unith nao escreveu que na Rtissia existe unta tendenciapart o camunismo: ['Unit?: escreveu que as elementos socia-listas ems politica e economia sao preponderantes em redaedoaos elementos capitalistas, que o desenvolvimento dos primei-nos 6 constantemente major e que, portanto, nao se pode Attarde regress° ao oapitilismo no Estado sovietioo, devendo-se

(•) Näo assinado, L'Unita, 10-9-1926.(1) 0 Monde). num artigo de 9 de Setembro (Comunisti senza

cornunismo) tinha definido L'Unita 6rgao da dependbncia italianaao Governo russo.. 0 artigo do Mondo sustentava nab s6 que o coma-nismo nao existia na Russia mas (clue a politica econOmica seguidapela Rfissia tendia cada vez mais a afasti-los.

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falar de urn processo para a realizaclo ccmpleta de uma socie-daiir comunista; os nossos argumentos foram estes.

A grande inchistria (sidenirgioa, metalargioa, textil, mi- -neira, petrolifera, electrica, etc.) esti completameate colecti-vizada visto que domina completamente o mercado inte,mo.NA° tem impact-EAoda o facto de existirem numerosfssimaspequenas empresas ou oficinas de artesks para prover= asperposs necessidades locals, visto que estas dependem dagrande inchistria foluecedera de matórias-primas e semitra-balhades, de aparelhos e de maquinas.

0 capital financeiro é colectivo. Os bancos sap OrgAoscolectivos e control= tomb= o capital privado, o qual 6muito menor do que o colectivo. Toda a vida financeira e,pocrtanto, tambem a econdmica e &rigida ou contnalads perestes organismos da colectividade.

0 comercio externo 6 monopOlio do Estado, o quo signi-flea tambe= um outro controlo dos Ortdos colectivos sobre aeconomia privada rural.

0 comercio grossista interne 6, in major paste, funcAode organs colectivos (cooperatives, etc.). Pertenee a economiaprivada goose todo o comercio a rentlho in provincia, masele depende, para as creditos come par as mercadorias, dostriaos colectivos que extra= o amend° per grosso.

A estes argumentos, a estes factos, o Mondo nao respon-deu uma palavra. Disse simplesmente que o inonopOlio docomercio externo era urn facto cotnum durante a guerra,quando os estados controlavam todo o canard°, a produclo

o consume. A afirmagab nä.° 6 exacta e sobretudo nao ternnada que ver corn a nossa questa°.

0 cavalo de batalha para dodos os nossos advenarios 6,porem, a questAo agraria. Repetimos que os governs revo-lucionarios que se sucederam a partir de Fevereiro de 1917nao actuaram a refoa-ma agraria simplesmente porque... efec-tivamente judo a fizeram; ou anelhor, nem sequer a tentaram,ou melhar, declararam-se-lhe contraries e opuseram-se cama forga aos primeiros movimentos dos camponeses, reprimin-do-lhes severamente o inicio. Os bolclbevistas veneer= pre-cisamente porque souberam ditar a palavra de order corres-pondence a Ultima e inexoravel aspia-acAo dos messas russarpaz e tend. A burguesia russa nao podia permitir a revolucloagrearia, visto que a expropriacão dos latiftmdiarios sem M-demnizagdo terra nao so despedacado os vinculos feudais que

restavam alas feria fericlo de merle a capitalism° industrialfbaanceiro. De facto, porque a term aos camponeses e nao asoficinas aos operatics? SO a revoluglo operaria, a revoluciobolchevista, podia dar a terra aos camponeses. 0 Mondo em-penha-se inutilmente em distinguir entre Oriente e Ooidente,em defender ate aqueles miseraveis truques que foram as refer-mas agrdrias da PolOnia e da Romania. E a burguesia liberal

demo:Mika demonstrou verdadeiramente de quo caisa 6oapaz. Distaibuiu acts camponeses um pedalo de team, garan-tindo naturalmente lautas indemnizadies aos proprietarios.Agora esta tranquilamente retomando as terras porque oscamponeses Ludo podem ?agar os impostos e as quotas de in-demnizacão de que são oprimidos. Naqueles pats' es, negressa-severdadeiramente ao latifandio ate alas regieies onde, depois daguerra, tinha sido dividido. Mas na Russia a situaglo 6 di-versa- o Estado proclamou a terra proptiedade coleotiva edela concedeu o use aos produtmes, obedecendo a irresistivelvontade dos camponeses. Diz-se que se trata apenas de fOr-mulas; a afirmaclio dos grandes principles nunea e, polo con-traria, privada de efeito ainda que a sua realizacAo nunca sejacompleta. Poderiamos perguntar aos liberals e aos democra-las do Mondo em que pals os principlos liberals e demo-daticos se realizaram completamente. Mas Me se pode negara sea manifestacao nestes Bois altianos set-ulos.

inevitdvel que in massa dos camponeses se meeifestemdtrengas, surjam camponeses abastados e camponeses me-dies; mas a prOprio facto de que os primeiros serao sempreuma pequena minaria pie os seus interesses em oontraste cornos da massa dos camponeses pobres e dos assalariados. A suainfluencia politica nao podera, por isso, ser perigosa visto quea alianca entre os camponeses pobres e operarios sera refor-cada pelas prdprias coisas. Par outro lado, o Estado actua eactuate no sentido de impedir a fonnacão de grandes empre-sas privades, into 6, a nova sujeicao dos massas trabalhadoras.A estas 6 demonstrado diariamente pelos factos qua a via dasalvacio esti na sua uniblo, nä° nas lutes intestines. Toda alegislacao e Midas os negdcios do Estado burgues sao dirigi-dos para assegurar o desenvolvimento do capital privado isto6, a exploaacao e a opressio das classes pobres. Oxnpleta-mente °pasta 6 a politica do Estado sovietico.

Nem este facto o Mondo tem em conta. Este recorda-se,polo contrail°, das leis marxistas da ooncentraclo do capital

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mas esquece-se que Marx se referia a regimes capitalistas, aEstados capitalistas. Decerto Marx ado pensava que a ooncen-traedo do capital privado dovia sax uma lei fatal na Commade Paris, per exempla, se tivesse sobrevivido.

Poderiamos recordar fades as outros elementos que noregime russo trabalham ou contribuirdo para a realizacdo dooomunismo: o novo espirito MOSSialie0 que anima as massas,o enorme desenvolvimeato da cultura, a luta contra o analfa-betismo que fez mais progresses em poucos anos revolucio-narios do que em centenas de anos czaristas, a participaedodas massas na vida miblica, a persistente propaganda soda-lista que atinge as estratos mais atrasados da populaedo, osentimento argulltaso de se temm libertado de uma escravidaodesonrosa e de caminharem para um futuro melhor.

Em conclusdo, quail sera) as bases da sociedade sovie-tica? As matOrias e os instrumentos de producdo acs produ-tores, as minas, as fabrieas, os transportes, os banoos pea-ten-cem a colectividatle, da qual cam efeito sdo gestidos porqueado 6 possivel a sua divisdo entre as pessoas. A terra é culti-vada pelos camponeses em regime de economia familiar par-que ainda ado se verificou a transformaedo industrial a'Unicaque pude mudar a mentalidade e a psicologia individualistado rural: mas em todos as sectores sdo abolidos o dominio ea exploracdo capitalista. Os camponeses russos sera° tdo par-vos que deixem reviver a grande propriedade? No Mondo acre-ditam nisso Nos negamo-lo, referindo-nos a influencia cadavez maior das economias colectivas, industrial e financeira, epensando que into induzird e facilitard a pacsagem das peque-nas empresas privadas as grandes empresas colectivas. A in-dustrializacdo da produedo agricola a inevitavel, rims no pr6-prio interesse dos classes camponesas dove efectuar-se nasformas colectivas em vez de ter arna direccbo capitalista.

Enfim, muito notdvel 6 ainda o impulso corn que, de todasas pastes do nuncio, se olha para Moscovo. 0 que podemdizer hoje as democracias aos povos oprimidos, as classessubmetidas? Os povos colonials ado provaram ja, a sua casts.,a hipocrisia alas fOrmulas democraticas, liberdade, antedecisdodos povos? As classes submetidas ado aprenderam ja que emregime burguies ado pole haver para ales liberdade e bern--estar? Elas olham para Moscovo, para a revoluedo que deua liberdade as classes trabalhadoras, que deu os instrumentosde produeão aos produtores, que estabeleoeu as bases de urns

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sociedade em que a explamedo capitalista sera suprimida. Con-tra a revalued° russa as burguesias liberals e dernocr-dticassdo as primeiras a usar a forea. Os governs de Franca e deInglaterra de que o Mondo 6 entusiasta, am name dos imor-tais principles, liberdade, etc., armaram e subvencionaramtodos as contrainveluciondrios. Todos os aventureiros quese prestaram para reduzir a sua pdtria a rufna foram &errata-dos. Reaarreu-se elude a politica do aarame farpadon A bar-reira foi destruida. Estamos agora numa fase de luta relati-vamente mais fad 1. Estamos ins campanhas de imprensa adopara persuadir os paves dos erros bolchevistas — estes argu-mentos jd ndo servem— mas para os persuadir da falênciacornunista E esta a palavra de ordain a que obedecem todos:fascistas a sociais-democratas, conservadares e liberais. Tatn-bOm esta sera inutil. Tai coma no Micro do selculto XIX todasas esperancas dos povos se viraram para a Revolugdo fran-cesa e em vac enfureciam a reacedo e a Santa Alianga, tam-bem hoje se olha, da Asia coma da Europa, para a Revolugdorussa.

Pode acontecer que estes campanhas de imprensa sejamapenas a preparagdo para novas ataques armadas. Hd na ver-dada urn duelo de merit entre a Riissia e a socie' dada capita-lista: mas nes nao duvidamos da viteria que —senhores doMondo — realizard para os povos a democracia e a liberdadeq ue em vdo se procuram nos vossos amadfssimos regimes deFranca e de Inglatem.

Post Scriptum. 0 deputado Gino Baldesi onde 6 que semeteu? Porque deixou a polemica aos democratas? Reconhece,portanto, que entre estes burgueses e os sociais-reforraistasado ha nenhuma diferenca?

A Tribuna melindrou-se porque ado respandemos aos sousartigos. Ndo era necessdrio. Fascistas e reformistas adoptamos mesmos argurnentos contra a revoluedo sovietica. QuantoA delegaedo italiana na Russia ( 2), se a Tribuna tern a certezaque all yard s6 a rufna, etc., persuada os amigos do govemoa tido tentar imperil-la coal es habituais meios policiais e adar as passaportes; quer dizer que os delegadas voltaxdo parase inscreverem nas Corporaciikes!

(2) Uma delegagno operdria que, naquele tempo, os comunistasitalianos estavam organizando.

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OS CAMPONESESE A DTTADURA DO PROLETARIADO (•)

(NOTAS PARA 0 (TMONDOD)

Tames portanto urn novo artigo do Mondo iniitulado,segundo os sistemaas cares ao velho barzinismo e a° novocalzinismo •Procura-se o comunismos. Naturalmente ocomunismo é pelo Mondo procurado na RUssia, operiaria ecamponesa. Se quisessemos imitar o sistema dialectic° canao Mondo, poderiamos escrever Coda uma skit de artigos «Proem-a-se a democracia, e demonstrar que a demo-

cracia nunca existiu. E, de facto, se a democracia sigaificasse,come nao pale deirar de significar, govern° des masesi pepu-lares exprimindo-se atraves do Parlament° eleito por sufriagiouniversal, em que pals existiu o govern correspondente a taisprerrogativas? Na prOpria Inglaterra, NIS e bevy do regimeparlamentar e da democracia no govern, ao lado do Parla-mento existe a Camara dos Lordes e existe a monarquia. Ospoderes da democracia sao, na realidade, nulos. Nao 'existe.Antes da guerra, isto e, quando as sociais-democratas e todos

(*) Nä° assinado, L'Unith, 17-9-1926. 0 artigo apareceu coin otitulo Os componeses... etc. Gramsci tinha aconseibado, pelo contrftrio,o .mais modesto. de Nora; para o tMondoi, coma precisou numa(errata. onde restabeiecia tamb6m a exacta licäo de muitos passos doescrito (telefonado de Roma para Milo) em L'Unita, de 19 deSetembro.

P) G. pretende referir-se ao Corriere della Sea, o jornal daslebres reporiages de viage.m de Luigi Barzini, que publicava naqueletempo uma strie de correspondencias da Russia de Raffaele Calzini,julgadas polo pr6prio Gramsci, puros mecum-ices polftico-mundanos.

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os amigos do povoa Mao podiam ainda acuvir o bolchevismode tar provocado a burguesia e de to-la induzida, pobre dela!.a sail- da legalidade e a recorrear a meios ditatorials, foi pos-sfvel a Lord Carson (2) armar e mobilizer urn exercito contraa lei parlarnentar sobre a liberdade irlandesa.

E em Franca existe par acaso a democracia? Ao lack) doParlamento existe em Franca o Senado eleito nao por sufragiouniversal mas par eleigdo de dois graus de eleitores que, potsue vez, so parcialmente Sao expressao do sufragio universal,e exists a instituicao do presidents da reptiblica. A diversa du-nacao dos podtres das tres diversas instituicaes fundamentalsda RepUblica francesa devia servir, segundo as declaraceiesoficiosas, path temperar as passiveis excessos do Parlamentoeleito par sufragio universal; na reelidade, é a arganizaedaatravês da qual a classe dominante se prepara para organizara guerra civil nas melhores condiceies de 4tagao e propa-ganda.

Na Alemanha ndo existe, ao lado do Parlamento, qualquerinstituicao de catheter aristoca-atioo ou oligarquico; todaviapudemos recentemente vet que formidavel travdo excite sobrea chamada vontMr national o facto de o presidente da re-pablica ter tuna base eleitoral diversa, no tempo, da que formaa assembleia national. Os votos obtidos pelo referendum parsa expropriaedo, sem indemnizaedo, dos ex-principados foramsuperiores aos obtidos pelo marechal Hindenburg para a suenomeaedo coma presidents da reptiblica. Tcdavia Hinden-burg nä° se demitiu: was depois de ter feito, no periods doreferendum, a ameaca chantagista de uma grave crise politica,depois do referendum continuou a fazer pressOes para que avontade das massas populates fosse considerada nula.

Decerto que nas ndo nos propomos convencer os escritoresdo Mondo. Conliecamo-los, tal coma conhecemos os diversospatrons, dos irmdas Perrone e Max Bondi ao sonde Mate-razzo, no comendador Pecoraino e a Banca Comercial, aoservigo dos quais ales escrevem os artigos mais contraditOrios,mas sempre corn a interned° de enganar as massas trabalhado-ras. E s6 per estas massas clue nos escrevemos e perguntamos:at justo pedir ao novo regime operario surgido na RUssia em

C) Lord Edward Henry Carson, homem politico ingles que orga-nizou em 1914 uma insurreicao armada no Ulster contra o Parla-mento, tomando-se depois ministro da guerra.

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1917, durante a Guerra Mundial, depois do maior desastrecrane-mica-social que a Eist6a-ia conheceu, 100 par cento deapEcagdo do programa maxima do partido que na Rüssia estano poder, quando se representa e se apoia um regime que emseculos de existOncia Mao conseguiu realizar nenhunia das sunspromessas programatioas e Mliu vergonhosamente, capitulandodiante das caseate mail reactional-16as para se confundir lane-diatamente corn elas?a

0 nosso jornal deve publican toda uma sane de documaa-tos que respoodetho exaustivamente as questifies pastas pelosescritores do Mondo, questOes que sao essentials pate o movi-mento operdrio internacional, ainda que o Mondo as ponhano mods mais barrow e desinteligente que se possa imaginar.Uwe questa° que esta implicita em toda uma siarie de artigos

na prom do Mondo dew set imediatamente enfrentada:que 6 que o Mondo pretende, quando procura demonstrar

que na RUssia nem sequer existe urn elements de vida socia-Esta, calando sisteanatioamente o catheter operdrio das insti-tuigdes russas do Estado at6 as cooperatives, a banra, a direc-gdo das fabricas? 0 Mondo Attitude apenas manter nas largasmassas populares a ilusao que e possivel, sem uma revalued°

sem a conquista integral do poder do Estado par parte daclasse opethria e dos camponeses, pelo memos obter o quehoje existe na Rtissia. Todos os argumentos do Mondo, desdeos que respeitam o juizo histOrico a dar ao fascismo italiano,ate a esta, na verdade bem misera, critica de principio da es-trutura ecanOmica e social russa, tandem a esta Unica finali-darlP Para nos, coanunistas, o regime fascista e a expressaodo periods mais avaneado do desenvolvimento da sociedadecapitalista; serve precisamente para demonstrar camp todas asconquistas e todas as instituiefik que as classes trabalhadorasconseguem realizar no periods de desenvolvimento relativa-mente pacific° do regime capitalista sao destinadas a negaeaose, num momenta determinado, a classe operaria Mao se a,jx)-dera do poder do Estado coin meios revalucionArios. Com-preende-se (mak) que as escritores do Mondo tenham interesseem sustentar que o fascism() é urn regime pre-dernocrAtico,ligado a uma fase incipiente e ainda atrasada do capitalismo.

Campreende-se entao coma os escritores do Mondo, apre-sentando ao pUblico do seu jomal, pUblico infelizmente cons-tituido em boa parte par operarios e camponeses, urn modelsde sociedade russa em que os elementos burgueses e pequeno-

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t

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-burgueses estariam permeando as estrutucas do Estado ope-ratio para serem infalivelmeate os triunfadores e restaurmerno velho regime, quell= representar de forma modemizacla ovelho esquema utOpico da demoonacia e do reformism°, se-gundo o qual os elementos socialistas Donato os sindicatos, ascooperatives, os canselhos oomunais socialistas, etc., etc., queexistem em mime capitalista, poderiam pennear a estruturadestes regimes ate modificd-los completamente, levando aotriunfo incruento do socialismo.

Mas o fascismo destruiu implacavelmente estes esquelnas,destruindo todos as eleanentos, socialistas porque ligadosclasse operaria, quo no period° de desenvolvimento da classecapitalista se tinham ftieritelo. Existem hoje na RUssia elemen-tos socialistas que lad preponderances e elementos de coon/ p-role pequeno-burguesa que teorioarmente podem desenvolver-setal coma tearicamente podiam desenvolver-se os elementos so-cialistas que existiam em Italia antes do fascism°. Mas, na

o proletariado nap conquistou o poder de Estado: avela orgenizacio capitalista, num dada momenta, pas termoas concessOes feitas as cooperatives, aos sindicatos, aos con-selhos comunais socialistas, into 6, a Hasse operaria. Na Russia,a classe operdria no poder, a classe °per/aria que antrola edirige as parses essenciais da economita national, as alavancasde remand° de toda a estrutura econOmica da socimade russa,fez e faz concessOes mao a velha sociedade dos capitalistase dos latifundiarios, quo foi derrubada corn as armas na mao eprivada de qualquer propriedade e de qualquer direito politico,mas faz concessOes as masses camponesas das quais teorica-mente poderia newer o novo capitalismo.

Ha porem uma pequena questa° que os senhores do Mondoparecem querer transcurar, e é este: que o capitalism°, sur-gindo e desenvolvendo-se, cria proletdrios em ndtnero enor-memente superior ao represented° pelos preprios capitalistas.Portant° a questa° quo pan os escritones do Mondo parecetranscurdvel, isto 6, a de saber que class,- tern cc poder estatalnas moos, toma-se questa° essential. A classe operaria, quena Russia tern o Estado nas Mips, tern hoje interesse, se qui-ser constituir urn mercado intern capaz de absorver a produ-ca..° industrial, em promover e favorecer o desenvolvimentode agriculture. Como a agriculture na Russia estd ainda atra-sada e a conduedo agricola ado pode deixar de set individual,o desenvolvimento econernico das classes agricolas russas lett

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necessariamente a um cerbO enriquecimenre de urn estrato su-perior dos campos. Todos os aperdrios compreendem que, sese faz uma politica para abrer que tern camponeses passemde mil lima de nendimento no ano a urn rendimento de duasmil liras, tornando-se capazes de comp= a inthistria sociali-7e4a ;anis objectos do que podiam comprar corn as mil lirasprianitivas, flea' se pode impedir que destes cem camponesesalguns nao s6 passem das mil as dues mil liras was possampot- determinadas conjunturas extremamente favordveis, atin-gir cinco ou seis mil liras: enquanto, no outro pelo, cinco ouseis camponeses nao s6 nao rximseguem passer de mil a duesmil liras de rendimento coma, pot conjuntures extreanamentedesfavordveis (morte de gado, tempos/Ms, etc.) veers reduzidoa zero o sou rendimento de mil liras.

0 que 6 essential pan a politica da classe operdria naRiissia 6 que a Massa central dos camponeses, atraves das dis-posigOes legislativas, realize as resultados que o Estado ape-ratio se propae, isto é, se tome a base pare a formaeao deuma poupanga national que sirva pare alimentar o aparelhogenii de producdo na mao da Hasse operdria, permitindo aeste apaa-elho nä° so mantes-se rims desenvolver-se. Existem4 on 5 par cmto, todavia, clue se desenvolvem pare alem dosMantes previstos pela legislagao do Estado aperdrio; num patscanto a Russia, onde as masses camponesas representam umapopulacao de cem milhOes de habitantes, estes 4 ou 5 parcento assumem tambem socialmeme uma force, que podeparecer imponente, de 4 ou 5 milhOes de habitantes. Mas sea classe operdria, que na Rtissia soma hoje como populace:apelo menos 20 milhOes de habitantes, se mantem ligadagrande massa dos camponeses que same dezenas e dezenaide milhäo, a cifra representada pelos inimigos do socialism°reduz-se as sues justas proparc6es, no quadro de conjunto, eestd assegurado o triunfo relativamente pacifico das forcessocialistas contra as forces capitalistas. Dizemos relativarne,ntepacific° porque existem, de facto, na Russia, as prisdes namao dos operdrios, as tribunals na mac, dos operarios, a poll-cia na mao dos operdrios, o exdrcito na mao dos operdrios...isto 6, na Rtissia, existe a ditadura do proletariado, elementosocialista que nds temos a sears-razao de julgar urn pouco mailimpartante do que 6 julgado poles amigos dos irmaos Perrone,de Max Bondi, do conde Materazzo e do comendador Pe-coraino.

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RUSSIA, ITALIA E OUTROS PAfSES (*)

Conta-se que na lilts die M iss inks existe um curioso des-pique entre as crioulas e as raesticas. As crioulas tern os paspequenissimos e pars this &So fabricados sapatinhos muitograciosos e gentis. As mesticas t6m os pas muito grossos enodosos e nao poderiam taigas os sapatinhos das crioulas.Aquelas, portant°, passeiam e entrain no cafe trazendo ele-gaMemente os sapatinhos na mao.

0 escritor de Moncton assemelha-se estranhamente asmestigas da Elm de Martinica. 0 materialismo histarico, 0socialismo, o reformismo, nao sao sapatos pars os seus p6s.Porque e que os prende entlo aos 10bu1os (las pronunciadasorelhas democraticas? Os sapatos de que ale se adorns Sao,alem disco, grosseiros e muito rotes. 0 argumento principalque o escritor do Mondo repete, conhectmo-lo jai se na Rtis-sia nao existe o coraunismo integral mas existe um Governc,omunista quo gradualmtnte splits a politica econOmica quedove transfosmar o regime capitalists em socialists, posqueque tat politica econômica gradual sao poderia ser aplitadapor um govern de coligacao burgueersocialista? Porque 6 quedove ser oonsiderada fail a obra reformists dos comunistasque possuem o podes na Russia e nao poderia considessr-sedo mesmo modo ntil o trabalho quo teat podido desenvolver

(•) Näo assinado, L'Unith, 26-9-1926.e) G. replica ao artigo do Mondo intitulado Giuste proporzioni,

de 24 de Setembro, onde se confirmava que na Rfassia se estava afir-mando urn regime capitalista burgues. Urn precedente artigo de Mondosobre o mesmo terra tinha aparecido em 21 de Setembro (Vaniloquicornunisti).

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a facgao de direita do sociallsrno italiano se tivesse assurnido,quando podia, o poder ou nele tivesse participado?

Se o materialismo histhrico nao fosse para o escritor doMondo urn par de sapatos para Mazer nas indos e nao nospe:s, ele poderia por si s6 responder a este argument°. NaRdssia, antes da revolucao prolettia, havia Inn govemo so-cialism. Este deixou prepaxar o golpe de Estado de Komilov

tern sido derrubado sem o armament° partial dos opertiosa intervengio dos bolchevistas na luta. Tinha convocado

pan Setembro de 1917 a Assembleia Constituinte que deveriadistribuir a terra aos camponeses mss, sob a pressab dos pro-pi-lett-los, adiava ate an infinite a convocacao a fo7la cetra-Mar os camponeses no Campo. Nap conseguia dominar oscapitalistas que fechavam sistematicatmetnte es fábricas pandeterminar o deseimprego e obrigar os operarios a adisciplina)corn a ((ma.° descarnada pela forne). Por isso o Govern° so-cialista foi afastado pela inssurreigab dos elementos mais acti-ves da populaCio, pelos operarios industrials e pelts campo-noses -soldados.

Na Alemanha existiu em 1919 um Governo puramentesocialista; o Particle Socialista tinha tanta forca no pais quefoi nomeado Presidente da Reptiblica um socialista, Ebert. Ossocialists fizeram tao ben o seu clever que nem segue(/' umadas conquistas operarias da revoluelio de Novembro foi man-tida. A Comissao parr a socializagio, tendo a cabega o vene-rando Kautsky, foi saneada pelos burgueses. Hindenburg tor-nou-se Presidente da Repilblica.

A experiencia inglesa 6 ainda mais instrutiva. Ja em 1914,comp foi recordado (2), o Parlament° juges foi poste em che-que per urn simples «particular): Lord Carson amen noUlster 100 000 soldados para se opor a aplicagdo da lei sobrea liberdade irlandesa. 0 ex&rcito regular, con.stituto por pro-fissionais moirciarios, recusou-se a marchar contra Carson •que a)sim venceu a partida Todavia o prOprio Parlament°,durance a guerra, escolhou como ministro Lord Carson, cul-pado de golpe de Estado e de alta traieão. A chegada aopoder de MacDonald e dos trabalhistas 6 mais recente e asua piedosa fait-Let perante a ofensiva dos conservadores esta

(2) Cf. Os camponeses e a ditadura do proletariado, not 2, p. 139,do presente volume.

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na mernOria de todos. Como esta as memetria de sodas orecente oartaz das esquerdas an Franca, que estäo ligadas aPoincare, contra o quad tinha piugiamado a sua campanhaeleitoral e a sua plataforma politica.

E em Italia? Porque 6 que os socialistas de direita naotomaram o poder? Porque nä° fizeram alma coligaglio cam achamada decocracia? E porque 6 que a mesarta domocracianao permaneceu no poder con Giolitti, Botomi e Facta? Paraa Italia foi encontrada a fOrmula apsicoses. Em 1919-1920diz-se que havia a apsicosep maximalista, em 1921-1922 fa-lou-se de cpsicose) fascista. Recentemente, porem, apareceu osenhor Franco Clerici, escrevendo que em 1924 havia a ((psi-cose) democratica do Aventino, o que nao agradou aos escrito-res do Mondo. Deste modo, toda a Italia, nos seas fres factoresfundamentals —proletariado, capitalismo, pequena e mediaburguesia— se tornau um manicOmio: toda a politica italiana6 apsicosec NOs nao acreditamos nas interpretagOes con basena apsicose). Na Italia havia urn equilfbrio instavel entre asforgas socials em luta. 0 proletariado era muito forte em1919-1920 para continual- a submeter-se a opressão capitalista.Mas as seas forcas organizadas cram incertas, titubeantes,debeis interiermente, porque o Partido Socialista nao era maisdo que tuna amalgama de, pelo manes, tres particles; thouna Italia de 1919-1920 um particle revolucionario ben organi-zado e decidido para a luta. Delta posigalo de equilibrio ins-tavel nasceu a forga do fascismo italiano que se arganizou etomou o poder corn mOtodos e sistemas que, se tinham umasun peculiaridade italiana e estavam ligados a toda a tray:Ledoitaliana e a imediata slimed() do nosso pats, tinham todavia,

tem, uma certa semelhanca corn metodos e -sistemas dosed-tos per Karl Marx no Dezoito Brumdrio de Luis Bonaparte,isto 6, coma tactica geral da burguesia em perigo, em todosos pulses.

Porque 6 que os socialistas de direita nao tomaram 0poder? Esperavam porventura o nosso consenso? Decert° quenao podiaan to-lo e nunca o tern°, porque estamos persuadi-dos que des that 66 a capacidade de capitular perante a teat-gdo, porque sempre, e em todos os prises, eles capitularamperante a re-accdo. Pan iniciar a transformagao da economiacapitalista em socialism, estamos persuadidos que 6 condicitopreliminar a posse do govern, a ruptura campleta das actualarelacees politicas, o esmagamento fisico da caeca° a da classe

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AINDA ACERCA DAS CAPACIDADES ORGANICASDA CLASSE OPERARIA(*)

dominante. 0 process° de transforrnacaio sera mais ou menosrapid°, conforme o desenvolvimento das forces econOmicas;pale set iniciado, porem, em todos os paises da Europa e daAmerica e numa serie de paises dos outros continentes; maspock ser iniciado depois da conquista do poder em regimede ditadura do proletariado.

Para o Mondo, uma cooperativa, um sindicato ou urn mo-nopOlio industrial são sempre iguais em qualquer parte. Paranos uma cooperativa em regime fascista é muito diferente deuma cooperativa de 1919-1920 e esta era muito diferente de tunacooperativa russa actual. Seguindo a perspectiva do Mondo,urn govern é sempre urn govern, isto 6, o govern° fascista6 igual ao govern de qualquer outro pais e tempo. Provavel-mente o escritor do Mondo prepara as intencOes pan ernpe-drar uma nova estrada sob a direcedo, ja nä° de Dante Ferra-ris (3) ou do comendador Pecoraino, mas de um novo mecenasiluminado da dernocracia.

Nota. Para user a linguagem dos pasquins de provinciade todos os partidos, nos riao escreveremos que o escritor doMondo loge, escapa, desaparece ladrando, latindo, ganindo,ou amitindo outros rumores corporals. Escreveremos apenasqua o escritor do Mondo, desgostoso corn a nossa trivialidadeinaudita e inqualificavel, esta para se fechar numa digna re-serva segundo o costume democratic°. Portanto, n5o continua-remos a puzar-lhe as pronunciadas orelhas.

Passaram eels tans desde Setembro de 1920. Neste period°,muitas coisas mudaram no interior das masw s operarias queem Seternbro de 1920 ocuparam as fabricas des inchlstriasrnetahlrgicas. Uma parte notavel dos operdrios mais activose combativos, que naqueles anos de lutas herOicas representa-vam a vanguaa-da da classe trabalhadora, esti° fora daassinalados corn uma tripla cruz nas listas negras, depois demeses e meses de desemprego, depois de ten= tentado, dequalquer modo (mudando de emprego, isolando-se em peque-nas oficinas, etc., etc.), permanecer na patria para ccmtinuaro trabalho revolucionario, para reconstruir quotidianamenteos laces que quotidianamente a reaceâo destruk, depois desacrificios e sofrimentos inauditos, foram obrigados a emigrar.Seis anos sao longos; ja entrou nas fabricas uma nova gera-cal° de operArios que em 1920 cram ainda adolesoentes oucriancas e, na melhor das hipOteses, mrticipavant na vidapUblica brincando na ma as guerras entre o exercito ver-melho e o exercito polaco e recusando-se a ser polaco, mesmopor jogo. A ocupagAd das fabricas nao foi todavia esquecidapelas massas e nal ° s6 pelas massas operanas mas tambempelas massas camponesas. Aquela foi a prova geml da classerevolucionaria italiana, a qua], como classe, demonstrou estarmadura, set- eagaz de iniciativa, possuir uma inestimavel ri-queza de energias criativas e organizativas; se o movimento

(3) Conhecido expoente piemoneds da Confindustria, senador. (•) Não assinado, L'Unita, 1-10-1926.

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faliu, a responsabilidade nao pode ser atribuida a classe ape-ride, COMO tal, mas ao Partido Socialista que nao cumpriuos seus deveres, que eau thews/ a inept°, que estava na caudada classe opera:la e nao a cabega.

A ocupacao das fabricas est er ainda preseinte nas convert--sacees a nes discussees que se verificaan na base entre os ele-mentos de vanguarda a as elementos mais atrasados a passivosou entre aqueles a os inimigos de classe. Recentemente, numamomido de camponeses a artifices de aldeia da ItAlia

simpatizantes do nosso Particle, depths de uma breveexposicao sobre a situacao actual, foram pales presentes pos-tas dual cadets de questees:

0 que sucede na Russia? Como estao organizados naRtissia as municipios? Como se cansegue per de acordo osoperatics a os camponeses, dado quo as primeiros queremcomprar os viveres por • bairn preco a os segundos queremvendee -los convenienternente? Os °Heaths do Etch° Venne-lho e es funciondries do Estado dos Sovietes sac cormo os ofi-ciais e os funciondrios do nesse pais? Sao de outra classe ousac ope-raries a eamponeses?

Expliquem-nos porque 6 que nas operar' ios (falava umartifice, serralheire) abandonamos as fabricas que tinhamosocupado em Setembro de 1920. Os grandes seashores dizem-nossempre: aTinham ocupado as fabricas ou nao? Porque 6 queas abandonaram? Certamente porque sem o "capital" nao sepode fazer nada. Expulsaram os capitalistas e assim veio afaltar o "capital" e foram pan a falencia.D Expliquem-nos,portanto, a questao porque a tsim saberemos responder; n6ssabemos que as grandes seashores nao tern razao mas naosabemos dizer as nnatas razOes a prase sempre teams quefechar a boca.

A irradiacao revelucionkia da ocupack:r das fabrics foienorme, tante em Italia come no estrangeiro. Porque? Porqueas massas trahalhadoras viram nela a prova da revolucaorussa num pais ocidental, num pais industrialmente mais pro-gredide do que a Riissia, corn uma classe operdria melharorganizada tecnicamente mais instrufda industrialmente maishomogenea a coesa do que o proletariado russo em Outubrode 1917. Sowos capazes de gestir a producao por nossa corm,Segundo os nossos interesses, segundo um piano nosso? — in-terrogavam-se os operarios. Somos capazes de reorganizar aproducao de modo a conduzir •o& a sociedade pars tuna

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nova linha qua lave a abolicao das classes e a igualdn ele eco-nthnica? A prom foi positiva nos &Bites em que test lugare se desenvolveu, nos limites em que a experiencia pOde rea-lizar-se, no ambito dos problemas postos a resolvidos.

A experionaia foi fitnitada, em gem], as relaci3es internsde fabrica. Os contactos entre fabrica a fabrica foram minimosdo ponto de vista industrial; verificaram-se apenas pare asquestfits de defesa miliaar e, mesmo neste sentido, foram pre-fearentemente empirices a elamentares.

Os aspectos positives da ocupaclo das fabricas podem serresumidos •revemente nests pontos:

Capacidade de autogoverno da mum operar' Naactividade normal de massa, a classe °pea-Ana wparece geral-mente come elemento passivo de manobra. Nas agitac&s, nasgraves, eta, pede-se a massa as segunates qualidades: solida-riedade, disciplina da organizacao, confianga nos dirigentes,espirito de resistencia e de sacrificio. Mas a erase 6 estatica;6 come urn imenso corpo cam •tuna pequenissima cabeca.

A ocupacao das fabricas requereu uma multiplicidadeinaudita de elementos activos, dirigentes. Cada fabrica teveque construir urn govern que era investido sircaultaneamentede autoridade politica a de autoridade industrial. SO uma partedos tecnicos a dos empregados permaneceram no seu lugar;a maioria desertou das oficinas. Os operarios tiveram queescolher entre si tecnices a empregados, chafes de secclio, che-fes de equipa, contabilistas, etc., etc. Esta tarefa foi executadabrilhantemente. Os velhos dirigentes, tornados as suas funCeies,oat) tiveram que superar nenhuma dificuldade administrativa;as normais fiancees de uma empresa tram mantidas no dia-a--dia. nao obstante o pessoal tecnico a administrative fosseextremamente atduzido a constituido por crudes a ignomntes,over/arias.

Capacidade da massa operratia cm ananter t superar oofvel de producao do regime capitalists. Sucedeu isto: naoobstante o operariado fosse rechazido, porque tuna percenta-gem, embora minima, desertou do trabalho, porque Irma certapercentagem trabalhava pare produzir objectos nao precise-locate de use cartrente, einda que muito &els pan o . proleta-riado —nab obstante a desarga-o da maioria dos téznicos edos empregados qua tiveram que sec substitufdos pot opera-

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rios — nao obstante tudo isto, a fproducao manteve o nivelprimitivo e frequentemente o superou. Na Fiat, produziram-semais automOveis do pie antes da ocupagao; e as mAquinescopeririasn, expostas quotidianamente ao p5blieo da Fiat pro-letiria, nao foram uma das tiltimas rathes das inegaveis sim-patias de que gozava a ocupagao entre as grandes massas dacidade de Tarim, incluindo os intelectuais e ate os comercian-tes (as quais aceitavam como moeda optima as senhas ope-arias).

3. Capacidade ilianitada de iniciativa e de criacao das mas-sas trabalhadoras. Para esgotar este ponto ocorreria um inteirovolume. A iniciativa desenvolveu-se em todos os sentidos. Nocampo industrial, pela necessidade de resolver questOes tOcni-cas, de organizacão e de producao industrial. No campotar, para dirigir coma instrumento de defesa as possibilidadesminimas. No oarnpo artistic:), pela capacidade demonstradade encontrar a maneira de entreter as massas, aos domingos,,corn representagOes teatrais e de outro genera, onde tudo erainventado pelos operarios: da encenagao a producao. E pre-ciso ter visto velhos operarios, que pareciam libertos de &ice-Mos e decenias de opressao e de exploracao, renovarem-seate fisicamente no periodo da ocupagao, desenvolverem aoti-vidades fantasticas, sugerindo, ajudando, sempre actives noitee dia; 6 preciso ter visto estes e outros espectdculos para saberquanto sao ilimitadns as forgas latentes das massas e comoestas se revelam e se desenvolvem impetuosamente, mat seradica a conviccao de serem Arbitros e condutores dos prO-prios destinos.

Como classe, os operarios italianos que ocuparam as fabri-cas demonstraram-se A altura das suas tarefas e das suas fun-

Todos as problemas que as necessidades do movimentothe puseram para resolver foram brilhantemente resolvidos.Nao puderam resolver o problerna dos fornecimentos e dascomunicagOes porque nao foram ocupados os caminhos deLiao e a frota. Nao puderam resolver os problemas financei-IDS porque !da foram ocupados as institutos de credit° e asempresas comerciais. Nao puderam resolver os grandes pro-

- blemas nacionais e internationals porque nao conquistaram opoder de Estado. Estes problemas deveriam ter sido enfrenta-dos pelo Partido Socialists e pelos &indicates, que, pelo oon-trArio, capitularam vergenhosamente, pretextando a imaturi-dade das massas • na realidade, os dirigentes °ram imaturos e

inoapazes, nao a classe. POT isso se verificou a ruptura deLivorno e se criou um novo partido, o Partido Comunista.

Primeira nota— A Tribunes achy que o nesse metodo deler 6 sub jectivo. Sabre as questOes de meted°, o escritor daTribuna di a ink) ao escritor do Mondo, o qual encontroumaneira, nab obstante a vizinhanga intelectual de AdrianoTilgher, de chamar a discussao Einstein e a relatividucle, Com

mOtodo aobjectivoD da Tribuna, os homens estariam aindarigiclamente ligados a nocao de que a terra é firme e o solgiro a sua volta. Cremes que o escritor da Tribuna confunde

asubjectivismon corn a comum gintelizOncian.Segunda nota — Na discessao sabre a capacid dw organica

da classe operdria, interveio um escritor de Regime Fascistapara demonstrar simplesmente que nao conhece sequer a no-menclatura politica da Russia dos Sovietes. Dizem-nos que oescritor de Regime Fascista é urn certo padre Pantaleo, quemandou a batina as urtigas. notAvel o mitnero e a quali-dade dos padres apOstatas ou frades desfradados que nutxema campanha antioperdria e antibolchevista no nosso pats, sob

estandarte da religiao e do catolicismo, cies que sao polomenos ex-comungados: Romolo Murri, coluna politica do Restodel Carlino, don Preziosi da Vita ltaliana e do Mezzogiorno,Aurelio Palmieri, ex-jesuita que serve de salsa em todos osacepipes anti-soviOtices e este padre Pantaleo do RegimeFascista.

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NOS E A CONCENTRACAO REPUBLICANA (4)

No artigo que ontem abundantemente publicamos, a VoceRepubblicana (r) queria convener-nos a substituir poles seusesquemas fre.silizados a nossa (manse da sittiacäo italiana eas nossas penspectivas. 0 esquema da Voce 6 este: a aconcen-tracdo republicans) devia sea' vista poles comunistas como urnelement° favor-Ai/el ao sou jogo (sic) porque 6 potencialmentecapaz de romper o equilibrio actual e dar urn ritmo Caere epleno de possibilidades a luta politica Em soma, nos devia-mos pensar assim: antes da revolugäo de Outubro houve arevolueSo de Fevereiro; antes de Leanne existiu Kerensky.Ora vamos! Comunistas conscientes, ponhamo-nos a pmcuraro Kerensky Italian°. Quern sera? Quern rado sera? Encon-trade: sera Arturo Labriola, o teorizador da aoancentraclorepublicanas.

Pois bean: todo este mode de pensar da Voce parece-nosenormemente pueril. Nos comunistas nä° temos nenhum «jogo»a taxer; nos comunistas não queseanos ajogara corn a histO-ria; queremos trabaihar muito seriamente e näo temos nenhumesquema prefixed° parr aplicar, nem sequer o esquema russo.Temps princfpios, uma doutrina, fins concretes a realimr.

(•) Mao assinado, L'UniM, 13-10-1926.(1) A Voce Repubblicana, de 11 de Outubro, polemizava corn uma

resolucto da Direccao do Partido Comunista na qual se contrapunhaA perspectiva da cconcentracto republicanas, RA/I/panda todas as forcasradicais antifascistas, em particular as republicans e socialistas, apalavra de ordem da eAssembleia republicana corn base nos comitésopertrios e csunponesess. 0 jornal do PRI acusava os comunistas deabstraccao e de demagogia.

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E se em relagdo corn os nossos principios, corn a nossa dou-trina e cam os fins a alcangar que estabelecemos a nossa Untiepolitica real. 0 nosso (Machiavelli, sae as obras de Marx eLenin; e nao a redaccao da Voce Repubblicana e o deputadoArturo Labriola que, alem do mars, ventilam mestre NicolaMachiavelli s6 no stand° dos conhecidos versos:

fltreis do tdmulo de Machiavellojaz o esqueleto de Stenterello.

Para nes, a base das nossas relagOes corn a concentragãorapublicana 6 suficientetnente clam. Na sociedade italiana,que atingiu o maxima de desenvolvimento capitalista qua his-toricamente podia atingir, dadas as condighes de lugar e detempo, s6 tuna classe 6 revolucionaria em senso complete epen:crane:Me: o proletariado industrial. Mas pelo desenvolvi-mento particular, pelas particulates concliceies nacionais dodeseaavalvimento do capitalism°, a sociedade italiana corner-you muitas velharias do passado, uma serie de instituigOes ede relagOes •politicas que pesam sobre a situagdo e obscure-cam o perfil fundamental. Tambein noutros poises, nos quaffsas forgas capitalistas estao muito mais desenvolvidas queem Italia, permanecem insatuigOes e relagOes politicas anti-quadas. Em Inglaterra existe a monarquia, nao obstante 85 porcento da populagão seja industrial; em Inglaterra, a Igreja 6uma instituicOo potentissima ainda que formalmente nao sejacentralizada coma o Vaticano. Em Inglaterra, a Camara Altaexerce uma fungdo de primeira order especialmente quandoo Partido Conservador nao tern a malaria na Camara dosDeputados. Diremos nos, per isso, que a Inglaterra 6 um paisatrasado, pre-capitalista, semifeudal? E ainda: em Inglaterranao existe urn partido republicano, nä° obstante exists amonarquia, o que significa que o partido republican naoexiste e se desenvolve necessariamente porque existe a monar-quia, porque existe uma dame e nataveis grapes socials queencomium no terreno republicano o terreno mais adapto patea defesa da prepria posigao e dos preprios interesses de clacrou de grupos.

Reconhecemos, todavia, qua na situagao italiana o pesoespecifico das atras recordadas avelhariasa a major do quenoutros parses; par isso existe precisamente na situagao geralmundial uma particular situagao italiana, isto 6, uma situagao

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ern que existem determined:as caracteres peculiares; etc ogovern° fascists e nao o govern de Baldwin ou o de Poin-care, pan, nos exprimirmos come o senhor de La Palisse.A questa.° entao 6 esta: que apreciagiio devemos fazer aopeso especifico das avelhariasa peculiares em Italia? Elas exis-tem, devean set superaclas. Nisto osta.mos de acordo. Mas re-prosentam etas o annelid° pan o trabalho histOrico de todauma Opocayde toda uma geragao e de mais de uma gotaeräo' ;sio alas a major alinea da palavra de ordetu que a histOrianos manila implacavelmente esgotar? Ou nä° s5o, polo C013.-

trario, apenas detalhes, aspeotos secundaries do nosso duntrabalho histarico? Este 6 o problema que se poe. Para Os,o cccatendo do trabalho histOrico que se impOe as acttraisteragOes 6 a realizagOe do socialismo. Na via laboriosa e difi-ell pars esta realizaglio encontramos cadaveres a enterrar,volharias pan deitar fora; devemos faze-lo e fa-lo-emos par-qua a •ecessario; mas ha urn cadaver que devemos especial-mente enterrar: o do capitalismo; uma estrada devemos abrir:a que conduz an socialismo; este 6 o nosso especifioo dever,nao outro; ao percarrer esta estrada cumpriremos as tarefassecundarias e de detalhe.

A concentnagdo republican exprime, na situagao italiana,ekes caractea-es secundirios e de detalhe: nos reconhecemos aexistancia e o peso relativo das questeres que por ela sac> pos-tas; par So 11.0S ocupamos da concentragao, discutimes cornos seus expoentes, procuramos e procuraremos ainda cornmuita probabilidade estabelecer relagOes de elianga. Mas setomamos em consideragOo os lades historical:manta positivosdesta corrente politica, nib podemos e nao devemos esoandea---nos e esconder an proletariado os seus lades negatives. Duesclasses estao frente a frente: proletariado a burguesia; da lutafundamental destas duas classes 6 determinada a actual situa-gao. Mas nenhuma destas duas classes esta isolada: oath tunadelas tem aliados reais e potencrais; a burguesia tem a pri-mazia porque 6 ajudada pelos sous aliados, porque dispOe deurn sistema de forgas pot ela controlacias e dirigidas; o pra-letariado Iota ainda pars arrancar estes aliados a burguesiapaten fazer doles as suas faros auxiliares. A conoentracOo re-publicana 6 a expressao politica desta oscilagao das forgasmedias, deste latente desequilfbrio das forgas que decidiraoa sorte do duelo histOrico entre as duas classes fundamentals.Se estas forgas se mudarean corn massas, se se vetificar o

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desmoronamento social dos estratos intermix:has no sentido daconcentracão republicana, a burguesia como cclassen mudar--se-a irnediatamente para o anesmo terreno, toniar-se-a repu-blicans. em 24 horns porque nai'o querera hear isolada, porquecompreendera que s6 cam tun tal •ovimento podera conser-var as suss posicties essenciais. A Voce 6 de uma ingenuidadecomovente quando faz referenda a atitude dos grupos de es-querda da burguesia antifascista (populares e democracias le-galitarias); hoje, Alemanha, o presidetue da reptiblica cha-ma-se Hindenburg e o chafe do govern chama-se dr. Marx,do Centro Catalico: 6 muito provavel que ainda em Outubrode 1918 nem um nem outro ponsasse poder vir a ser o chefedo Estado e o chefe do govern de uma reptiblioa germanica.

Perique (e aqui bate o panto), quando •poderia suceder odesmoronamento social dos estratos medios? Poderia suceders6 uo caso de uma ameacadora retomada das energias revo-lucionarias do proletariado, sto se o capitalismo se mostrasseinepto para continuer a satisfazer as necessidades essenciaisda vida national Mas nos cremos qua pnacisamente naquelemomenta 6 necesskio que a proletariado esteja unido poli-tica e ideologicamente, coma classe, pan que seja capaz deresolver os sous problemas essenciais, coordenando-os, bementandido, corn a solucOo das outras questOes nationals liga-das a classes e grupos sociais que lutardo a seu lado.

Aqui estd: nes •raballaarnas pan que o proletariado sejaa classe dirigente da renovada sociedade italiena. A cancan-tracdo republicana trabalha para subordinar o proletariado aoutras forms sociais, que na pratica s6 podern ser o capita-lism°, vista que s6 uma destas duas classes pode govemar opais. Neste terreno, nenhum tnaquiavelismo de willia ou novamann conseguira perturbar a clareza das relac6es que o fas-cism° brutalmente pee. Uma Unica concentracdo republicanatern hoje em Italia uma perspeotiva de sucesso qpermanente)

historicamente saida: a que tenha o proletariado coma anfundamental. 0 IlOSSO Partido viu o iproblema em toda a suaenansdo desde Jtmho de 1925 e ndo 6 por acaso que os actuaiseconcentradonistass tem scans maroado passo.

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CARTA AO COMITE. CENTRALDO PARTIDO COMUNISTA SOVIETICO (•)

Caros camaradas,Os comunistas italianos e todos as trabalhadores conscien-

tes do nosso pais seguiram seanpre corn a maxima atengdo asvossas discusseies. Na napalm de cada congresso e de callaconfesencia do PCR. estävaanos seguros que, nào obstante aaspereza das polemicas, a unidade do Partido russo nao corriaperigo; ou anelhor, estavamos seguros que, tendo alcancadourn maior homogeneidade ideolOgica e organizativa suave's

(•) Esta carta foi escrita por G. (e assinada A secretaria politicado PCI) Etas instalagOes da representagao sovietica em Roma e expe-dida para Moscovo, precisamente para Palmiro Togliatti (que repre-sentava a partido italiano no Executivo da Internacional Comunista).NIto tern data, mas certamente foi escrita na primeira metade deOutubro de 1926. (1 documento, reservadissimo, foi escrito no momentomais aceso da discussäo entre a maioria do PCUS (guiada por Stalinee Bukarine) e as oposigbes (dirigidas por Zinoviev, Kamenev a Trotsky)sobre os grandes teams do isocialismo num so pais}, da politica emre1apao aos camponeses, da situacfio politica internacional. A cartafoi publicada pela primeira vez por Angelo Tasca na revista Problemidella rivoluzione italiana em Abril de 1938. Reeditada por GiansiroFerrata em 2000 pagine di Gramsci (MBA°, 1964) corn uma cartaexplicativa de Togliatti de 26 de Fevereiro de 1964. Cf. tambem osAnnali Feltrinelli 1966, sob a direcgfio de Giuseppe Berti (pp. 299-319).que publicam tambem a resposta de Togliatti de Moscovo, de 18de Outubro de 1926. Nesta, T. criticava a perspectiva de G. porque,quanto a de, nfio se exprimia nela corn bastante nitidez o que T.considerava como a questäo essencial, to acordo corn a linha politicado partido boichevista e a condenacão das posicEes erradas do grupode oposiglo y . G. replica corn uma carta que aqui publicamos, p. 167e seguintes.

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de tail discussOes, o Partido estaria melhor prepared° e ape-trechado pan superar as miiltiplas dificuldades que se ligamao exercicio do poder de um Estado oparario. Neje, na ves-pers da vossa XV Conferelncia, ja nao temos a seguranga dopassado; sentimo-nos irresistiwlmente angustiados; parece-nos.que a actual atitude do bloco de oposicOes e a gravidade despolemicas do PC da URSS exigem a intervencao dos pa:tidosirmaos. E a partir desta 00E1ViCCAO precisa que vos dirigimosesta carta. Pode acontecer que o isolamento em quo o nossoPartido e obrigado a viver nos tenha induzido a exagerar asperigos que se referem a situacdo intema do Partido Comu-nista da URSS; de qualquer modo, nao sao decorto exagera-dos os nossos juizos sabre as repercussOes intemacionais destasituacao e Wes, cam° intamacionalistas, queremos cumprir cam

nosso clever.A situagao interim do nosso Partido irmao da URSS pare-

ce-nos diversa e muito mais grave do que nas precedentes dis-cuss-6es porque hoje vemos verificar-se e aprofundar-se umaelse. ° no grupo central leninista que foi sempre o ankle° &O-pine do Partido e da Internacional. Ulna cisao deste genera,independentemente dos resultados numericos das votacOes noCongress°, pock ter as mais graves repercussOes, nao sd se aminoria de oposiedo nao aceita com a maxima lealdade osprinciples fundamentals da disciplina revolucionaria do Par-tido mas tambern se eh, na conduce.° da sua luta, ultrapassacertos litanies que sao superiores a todas as democracias for-mais.

Um dos preciosos ensinamentos de Lennie foi o de quenes devemos estudar muito os juizos dos nossos inimigos de

Pois barn, caros camaradas, é certo quo as jornais eos hornets de Estado mais fortes da burguesia internacionalapontaan pars este caracter organic° do conflito existents nouncle° fundamental do Partido Comunista da URSS, apon-tam pare a cisdo do nosso Partido irmaa e estao convencidosque ela conduzird a desagregacdo e a lenta agonia da ditaduraproletaria, que ela determinara a catastrofe da Revalue-5o quoas invesEtes e as insurreicaes dos guardas bnancos no conse-guinam determinar. A mesma fria circunspeccao cam que hojea imprensa burguesa procura analisar os acontecimentos russos.

facto de ela procurer evitar, ate onde the a consentido, adernagogia violenta que ]he era prOpria no passed°, sao sin-tomes que day= fazer reflectir os camaradas russos e tome.-

-lots mail conscientes da sua responsabilidade. Alicia por outrarazio a barguesia internacional espera a possivel ciao au urnagravamento da crise intema do Partido Comunista da URSS.0 Estado operdrio existe na Russia jr ha nova anos. E catoque s6 tuna pequena min/aria, nao s6 des classes trabalhaclo-ras mas dos preprios paises comunistas dos mattes paises, 6capaz de recon.stkuir, no seu conjunct°, todo o deseavolvimenroda Revalued° e encontrar tambean nos detalhes de que secompae a vida quotidiana do Estado dos Sovietes a continui-dade do fio vermelho qua conduz ate a perspectiva geral da t -construed° do socialism°. E into nao apenas nos poises ondea liberdade de reunido jd nao exists e a liberdade de Imprensao compleramente suprimida ou submetida a linktaeOes Mau-ditas, coma em Italia (onde os tribunals sequestraram ebiram a impress:ea dos livros de Trotsky, lamina, Staline, Zi-noviev e ultirnamente tambem do Manifesto dos comunistas)mas tambOm nos paises onde ainda os nossos Partidos toma liberdade de fornecer aos seus membros e as massas emgeral tuna documentecao suficiente. Nestes paises, as grandesmasses nao podem compreander as dicta sloes que se suoedemno Partido Comunista da URSS, especialmente se sac) tao vio-lamas corno a actual e investem, nä.° urn aspecto de detalhemas todo o conjunto da linha politica do Partido. Nao s6 asmacsas trabalhadoras em geral mas, as prOprias maxims dos[tosses Partidos v'eem e querem ver na Reptiblica dos Sovietese no Partido que este. no Govern nma Unica unidade de corn-bate que trahalha na perspectiva geral do socialism°. S6 quandoas massas ocidentais europeias virem a Russia e o Partidorusso deste porno de vista, estas aceitarao sem esforgo e comeurn facto historicarnente necessario que o Partido Comunistada URSS seja o Partido dirigente da Intemacional, s6 por issoa Republica dos Sovietes e o Partido Comunista da URSSSea hoje urn fmrn.idavel dement° de organietacao e propulsaorevolutionaries.

Os particles burgueses e sociais-democmtas, pale. mesmaraze- a, explorarn as pOlettliCaS in terllaS e os conflitos existen-tes no Partido Comunista da URSS; querem lutar contra estainfluiencia da Revalueao russe, contra a unidade revoluciand-ria que a volta do Partido Comunista da URSS se esta cons-tituindo em todo o mundo. Cams caanaradas, 6 extremarnentesignificativo que num pais coma a Italia, onde a organizacitoestatal (e de partido) do fascism° consegue sufocar todas as

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notavels manifestagOes de vide autanoma das grandes massesoperarias e camponeses, 6 significativo que as jornais fascis-tas, especialmente os da provincio, saiam cheios de artigos,tecnicarnente tem construidos pare a :propaganda, can umminima de demagogia e de atitudes •njurious, nos quail atprocure demonstrar, corn um esforco evidence de objectivi-dade, que pelas prOprias manifestagOes dos lideres mais eathe-cidos do bloco da oposicao do Partido Comunista da URSS,o Estado dos Sovietes este sopa-entente a transfixtrner-se rumpuro Estado eapitalista a que, portanto, no duelo rnundialentre fascismo e bolohevismo, o fascismo ten. a primazia. Estacampanha, se deanonstm quanta sao (Linda desmedidas as sim-patias elm a Reptiblica dos Soviotes goza no aneio des great-des masses do povo italiano clue, em alguanas regiOes, ha seisanus, so recebe tuna escassa literature legal do Partido, de--ma:1st= lamtkari coma 0 fascismo, que ecoheee mum° berma real situacao interne Rename e aprendeu a tratar corn asmasses, procure utilizer a atitude politica do bloco das opo-sieOes pan despedacar definitivamente a firme aversao dostrabalhadores ao Govern de Mussolini e pars determiner, pelomenos, um estado de 'Alaimo em clue o fascismo aparece, pelometros, coma uma inelutevel necessidade histOrica, nao obs-tante a crueldade e as males que o acompanham.

N6s acreditamos que, no quadro da International, o nossoPartido e o que mais se ressente corn as repercussOes de gravesituacio existente no Partido Comunista de URSS. E nao sopelas razOes ja expostas que, par assim dizer, sao externals,tocam as condign-es gerais do desenvolvimento revolucionariono nosso pals. Sabeis que todos os partidos de Internacionalherdaram da velha social-democracia e das diversas tradiefiesnacionais existentes nos diversos • palsies (anarquismo, sindica-lismo, etc., etc.) usna massa de preconceitos e de motivos ideo-legicos que representam o oentro de todos os desvios de direitae de esquerde. Nestes nitimos anos, mos especialmente depoisdo V Congress° Mundial, os nossos Partidos estavam alcan-cando, atraves de urna dolorosa experiéncia, atraves de crisesdolorosas e extenuantes, uma segura estabilizacao leninista,estavam a tornar-se verdadeiros partidos bolchevistas. Novasquadros proleterios at estavam formando da •base, das ofici-nas clementine intelectuais era= submetidos a uma rigo-rasa selecelio e a uma verificacao (rigida e impiedosa core baseno trabalho ?retie°, no terreno da accaa Esta reelaboracio

organizava-se sob a guia do Partido Comunista da URSS, nosou conjonto unitirio e de todos as grandes dirigentes do Par-tido da URSS. Pois bem: a gravidade da crise actual e aameaca de ciao aberta ou latente que ela contem, trava esteprocesso de desenvolvimento e de reelaboracao dos nossosPartidos, cristaliza os desvios de direita e de esquerda adiaurea vez mais o sucesso da •nidade organics do partido mina-dial dos trabaLhadores. E sabre este element°, de modo espe-cial, gale achamos nosso clever de •ntemacionalistas chamar aartencarn dos camaradas meis responseveis do Partido Comu-nista da URSS. Cantaradas, vas tastes, *testes nave anos dehistOria mondial, o element° organizador e propulsor das for-eas ravoluctonfirias de todos os pafses: a funciio clue desen-volvestes rare tem precedentes em tale a histbria do generahuman gut a iguale em amplitude e profundidade. Mas hojeestais destruindo a vossa °bra, degradais e correis o risco demolar a tuned° dirigente que o Partido Comunista da URSStinha conquistado polo impulso de Lenine; parece-nos que apaixEra violenta das questOes a-ussas vos faz pander de vistaos aspectos internacionais das pa-eyrias questOes cusses, vosfaz esquecer que os vossos deveres de militantes russos sopodean e devem ser cumpridos no quadro dos interesses doproletariado international.

A Secretaria politica do PCT estudou corn a maior diligen-cia e atencao quo ]he tram cansentidas todos os problemasque hoje esta-o em discussào no Partido Comunista da URSS.As questOes que hoje at vos apresentam, padem apresenter-seamanita ao nosso Partido. Tambena no nosso pars- as massesrurais sao a rnaioria da populacao trabalhadora. Alem disso,trades os probleanas inerentes a hegemonia do proletariadoapresentar-se-nos-ao certamente de forma mais conTlexa eaguda do que na prOpria Russia, porque a densidade de popu-lacio rural, em . Italia, 6 enormeanenae maior, porque os nos-sos camponeses tom urea riquissima tradieao organizativa esempre conseguiram Later sciatic muito sensivelmente o seupeso especifico de massa r vide politica national, porqueentre nos o aparelho organizativo eclesiestico tem dais milaims de tradieâo e especielizou-se na propaganda e na orga-nizaeao dos camponeses num mode que nao tern paralelo nosomits paises. Se 6 verdade que a indfastria 6 mais desenvol-vide entre nes e o proletariado tem uma base material notavel,

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6 tambem verdade que esta indUstria ado tern materias-primasno pals e testa, portanto, anais exposta a crise; por isso o pro-letariado s6 poderi desenvolver a sua fumed° dirigente se formuito rioo de espirito de sacrificio e se se tiver libe-rtaelo com-pletamente de todos os residuos de corponativismo reformistaou sindicalista. Deste panto de vista roalista a que nes consi-deramos leninista, a Secrotaria politica do PCI estudou asvossas discussOes. Ate agora, sO exprimimos uma opiniAo dePartido sobre a questa° estritamente disciplinar das fracceies,querendo limitar-nos ao convite que nos dirigiram, depots doXIV Congress°, para nao rransportarmos a discussäo russapara as seeciiies da Internacional. Declaramos agora que con-sideramos fundamentalrnente justa a linha politica da malariado CC do Panido Cornunista da URSS e que, cm tat sentido,certamente se pronunciara a maioria do Partido Italian. se setornar necesskio apresentar toda a questlio. Nao queremos econsideramos inikil fazer agitacao a propaganda convosco

corn os camaradas do bloco das oposigOes. Ndo apresentare-mos, por isso, um registo de todas as questdes particularescorn a nossa apreciacdo ao lado. Repetimos que nos impres-sion o facto de a atitude das oposicaes investir toda a tinhapolitica do CC, toc,ando o prOprio coracao da doutrina leni-nista e da accao politica do nosso Partido da Uniao. E o prin-cipio e a pratica da hegernonia do proletariado que sao postosem discuss5o, Sao as relaceies fundamentais de alianca entreoperdrios e camponeses que sae) perturbados e postos em pe-rigo, isto é, os pilares do Estado operärio e da Revolugao.Camaradas, nunca se viu na histOria que uma classe domi-nante no seu conjunto, estivesse em eondicOes de vida infe-riores a determinados elementos e estratos da classe dominada

sujeita. Esta contra/dick) inaudita reservou-a a histairia aoproletariado; nesta contradic5o residern as rnaiores perigospara a ditadura do proletariado, especialmente nos praises cede

capitalismo nao tinha assumido urn grande desenvolvimentonao tinha conseguido unificar as forgas produtivas. L desta

contradigio (que, per outro lado, se apresenta ja, em algtmsdos seas aspectos, nos paises capitalistas onde o proletariadoaleaneou objectivamente uma funcAo social elevada) que nas-cam o reformism° e o sindicalismo, que nasee o espirito cor-porativo a as estratifimcetes da aristocracia °per/aria. E todavia •

proletariado nä° pode tartar-se classe dominante se n50supers corn o saerificio dos interesses corporativos esta

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tradicao, nao pode matter sue hegeraonia e a sua ditadurase, nu:ow tornado dominance, nao sacrifice eats interessesimediatos aos interesses gerais a permanentes da classe. De-carte que 6 facil fazer deanagogia neste terreno, 6 MI insistirsobre os lades negatives da oontradicao: aEs Ludo o domina-dor, 6 operario teal vestido a mal nutrido au 6 dominador ohamem da nova politica econOmica (*), corn palace, e que tema sua disposicao todos os bens da terra?) Depois de tunagrave revolucionaria que aumenton a coesào e a disciplina damassa mas empobreceu, corn a sua longa durag5o, ainda transoperdrios, os reformistas dizem assirn: (A favor de que ooisalutaram? Arruinaram-se a empobreceram-se.) L Mail fazerdernagogia taste terreno e 6 dificil nao faze-la quando a ques-tao foi posta nos termos do espirito corporativo a nap nos dolaninismo, da doutrina da hegemonia do proletariado que his-toricamente se enoontra numa detertninada posiclo a taonoutra.

E este para nOs o element° essential das vossas discussOes,reside la/este element° a raiz dos erros do bloco das oposicEes

a origem dos perigos latentes contidos na sua actividade.Na ideologia e na pratica do Nom das oposigOes renasce emcheio toda a tradicao da social-deanocracia a do sindioalismoque impediu, ate agora, que o proletariado ocidental se orga-nizasse corn classe dirigente.

S6 uma firme unidade e uma firma disciplina no Partidoque govern o Estado operdrio podem assegurar a hegemociaproletaria em regime de Nep (*), isto é, no pleno desanvolvi-mento da contradicalo a que nos referimos. Mas a unidade ea disciplina, neste caso, nao podem ser mecAnicas a coactas;devem sar leais e de convie,cao a nao as de uma seccao ini-miga presa ou assediada que pensa na evasao ou na surtidade surpresa.

Carissimos camaradas, quisemos dizer-vos isto corn aspi-rin) de irmaos a de amigos, embora se trate de iringos meno-res. Os camaradas Zinoviev, Trotsky e Kamenev contribuframpotentemente para nos educarem para a revolueao, frequente-mente nos corrigiram energica a sevemmente, foram os nossosmestres. A des especialmente nos dirigimos con:to aos maioresresponsaveis da actual situagao, porque queremos estar segu-

(*) No original, nepman.—(N. do 7'.)

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ros que a maioria do CC da URSS nit° quer veneer na lutao esta disposta a evitar es medidas exceavavas. A unidade donosso Particle, irmao da RUssia é nengsaria pare o desenvol-vimento e o triunfo das forces revolucionarias mundiais; pareesta necessidade, todos os coanunistas e internacionalistas de-vein estar dispostos a fazer os maiares sacrificios. Os danosde um erro cometido polo Partido Unido são facilmonte supe-raveis; os claws de alma cistio ou de urea prolongada condi-clo de cisdo latente podem ser irreparaveis e mortals.

Com sauclacOes comunistas[SP do PCI]

CARTA A TOGLIA'I'TI

26 de Outubro de 1926

Carissirno ErcoE,Recebi a tua carta de 18. Respond° a titulo pessoal, tam-

bora tenba a pasuasão de exprimir tambOm a °pinata dosoutros camaradas.

A tua carta parece-me muito abstracta e muito esquema-tica no modo de pensa.r. Nos partimos do paw de vista, quome parece exacto, de quo nos nossos palse-s Tao existem soas particles, entendidos como organizaclo tecnica, mas exis-tem. tam:beim as grandes mass as trabalhadoras, politicamenteestratificadas de modo contraditOrio mas, no seu conjunto,tendendo pars a unidade. Urn dos elementos mais estergicosdeste process° unitario 6 a existencia da URSS ligada a acti-vidade real do PC da URSS e a perstrasaio difundida de quona URSS se carnitilia na via do socialismo. Enquanto os nossosPartidos representarem todo o complex° activo da URSS, temuma determinacka innuencia em todos os estratos politicos dagrande massa, dela represent= a tendencia unitaria, Eno-vern-se num terreno [Stacie° fundamentalmente favoravel,não obstante as superstruturas contraditOrias.

Mas nao podemos acreditar quo este elemento, quo faz doPC da URSS o organizador de massas mais potente quo jaaparecou na histOria, teribta sido ja adquirido de forma estavede decisive: polo contra/ie. Ede 6 sempre instaval. Tambem 6

(*) Nova politica econemica.—(N. do T.)

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precise nen esquecer que a revolucio russa tem ja neve anusde existencia e que a sua actual actividade é um conjunto de ,acceles parciais e de rectos de govemo que so uma conscienciateorica e politica muito desenvolvida pock colher, come con-junto e no sear movanento de conjunto, em direccdo ao socia-lism°. Nee s6 para as grandes massas trabalhadaras mastambem pan uma notavel parte dos inscritos nos partidosocidentais, que se diferenciarn das massas se neste passe, radi-cal mas initial no sentido duma consciencia desenvolvida que6 o ingress() no partido, o movimento de conjunto da revolu-ceo russa é •epresentado concretamente polo facto de o Par-tido russo se mover unitariamente, que em conjunto &perme se movem os homens representatives que as nossas massasconheoem e foram habituadas a conhecer. A questa° da uni-decle, Pao so do Partido russo mas tambem do micleo leni-nista, é portanto uma questa& da maxima importancia nocampo international; é, do ponto de vista da masse, a questa°mais importante neste period° histOrico de intensificado pro-cess° contraditerio no sande da miriade.

possivel e provfivel que a unidade nee possa ser con-servada pen menos na forma que teve no passado. E tainbemcarte que todavia nee ruira o mundo o que ocorre fazer tudopare preparar os carnarades e as massas pare a nova sine-cão. Isto nee impede que seja nosso clever absolute apelarpare a consciencia politica dos camaradas russos e apelar ener-gicamente sobre os perigos e fraquezas que as sues atitudesestao para determinar. Serfamos revoluciondries lastimosos eirresponsaveis se deixassemos •passivamente cumprirem-se osfactos, justificando-lhes a priori a necessidade.

Que o cumprimento de urn tal dever da posse parte posse,de mode subordinado, favorecer tambem a oposido, devepreocupar-nos ate cern ponto; de facto 6 nosso objective con-tribuir pan a manutenclo e criaceo de um plain unitario noqual as diversas tendencies e as diversas personalidades pos-sam reaproximar-se e fundir-se tambem ideologicamente. Maseu nâo creio que na nose carte, a qual evidentemente deveser Lida no sou conjunto e Pao ern fragmentos destacados eavulses, exista o perigo de onfraquecer a posicao da maioriado Comit6 Central. De qualquer mode, prevendo isso e apossibilidade de urna tal aparencia, tinha-te autorizado, numacarte anexa, a modificar a forma: podies muito bem poweras dues •partes e per imediatamente no innio a nesse afirma-

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can de gresponsa.bilidadep da opesicao. Por isso este teu modede pensar me fez uma impressAo penosissima. -

E quero dizer-te que em nes Pao existe qualquer sombrede alarmism° mas "penes ponderada e fria reflexeb. Estamossegures de que ern qualquer dos casos não ruira o mundo:mas stria estulto movermo-nos se se esti pare °air o mundo,parece-me. Por isso nentturt lugar-comum nos demovera dapersuaseo de estarmos na linha justa, na linha leninista polomode de considerar as questees russas. A linha leninista con-siste em lutar para a unidade do partido, e nao se para a uni-dade exterior mas pare aquela urn pouco mais' intiana queconsiste na nee existencia, no partido, de dues linhas politi-cas completamente divergentes em sodas as questees. Ndo sonos masses palses, que respeita A direcgdo ideologic" epolitica ca Internacional mas timbale na Russia, no quo res-peita a hegemonia do proletariado e ao conteedo social doEstado, a unidade do partido é condicdo existential.

Tu estabeleces confuse° entre os aspectos intemacionaisda questa() russa —que see urn reflex° do facto histerico daligageo das massas trabalhadoras corn o primeiro Estado so-cialista — e os problems de organized° internacional no .campo sindical e politico. As ducts ordeals de factos (do coor-denadas estreitamente, mos todavia distintas. As dificuldadesque se encontram e se foram constituindo no campo mais res-trite organizativo, seo dependentes das flutuagees que se veri-ficam no mais largo campo da ideologia difusa de massa, isto6, da limitageo da influencia e do prestigio do Particle russoem algumas zones populaces. Por meted°, nos quisemos ape-ins falar dos aspectos mais gerais: quisemos evitar o exercfcioescolastico que infelizmente aflona em alguns documentos deoutros partidos e tira seriedade a sua •ntenreneao.

Nan 6 verdade, corno dives, que somos muito optimistassobre a bolchevizacdo real dos partidos ocidentais. Polo oon-traria 0 process° de bolchevizageo 6 de tal mode lento edificil que qualquer obstaculo, aincla que pequeno, o travae o atrasa. A discussio russa e a ideologia des oposigees joganeste nave° e atraso um papel tante maior quanto as oposi-gees representam na Russia lodes os velbos precocceites docorporativism° de classe e do sindicalismo que pesam sobrea tradiceo do proletariado ocidental, atrasando-lhe o desen-volvimento ideolOgico e politico. A nossa observecdo era corn-pletamente dirigida contra as oposicOes. 2 verdade que as

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crises dos particles, e tambem do Partido russo, entao ligadasa situaclio objective, mas o que significa isso? Devemos porisso deixar de lutar, devemos cessar de Iles esforgarmos permmodificar favoraveimonte os elementos subjectivos? 0 bolohe-visrno consiste precisamente tamban em man ger a oabeqa noseu lugar e em ester ideolOgica e politioamente firms tam-barn nas situacts dificeis. A tua observagao 6 portanto inerte sem valor, tal wino a contida no panto 5, visto que &isfalamas das grants masses e nao da vanguarda proletdria.Subardinadamente, porem, a difiouldacle existe tambem porisso, a qual nao 6 sem fundamento .mas unida a massa: eexiste de tal mode que o mformismo, cam as suas tend&Iciaspara o corporativism° de classe, isto 6, pare a nao compreen-são do papel dirigente da vanguarda, papal que se dove can-server mesmo a custa de sacrificios, 6 muito mais radicado nootaidente do que na RUssia. Tu esqueces pois facilmente ascondicts tecnicas em que se desenvolve o trabalho em muitospartidos que nao permitem a difusdo das questhes Mori=mais elevadas, pare alit de pequenos circuses de operdrios.Todo o ten raciocinio es& viciado per abut-coracles: hoje,nove anus depois de Outubro de 1917, jd nä° é o facto dotornado do poder, por parte dos bolchevistas, quo pot (Iwo-lucionar as masses ocidentais, porque isso ja foi assert eproduziu os seas efeitos; hoje é active, ideolOgica o politica-mente, a persuasão (se existe) de que o proletariaclo, umavez tornado o poder, pode construir o socialism°. A autori-dude do partido ester ligada a este pessuasäo que nao poleser inculcada nas grants massas corn mOtodos de pedagogiaescolastica, Ines s6 de pedagogia revaluciondria, into 6, s6do facto politico que o Partido russo, no seu conjunto, estãpersuadido e luta tmitariamente.

Desagrada-me sinctramente que a nossa carte nao tenhaside compreendida por ti, em primeiro lugar, e que tu, a par&do meu bilhete pessoal, nao tenhas, de qualquer mode, ten-ted° compreender melhor: a nossa era uma carte requisithriacontra as oposicts, feita nao em termos demag6gicos etas.precisamente per isso, mais eficaz e mais series Peco-to quajuntes as actas, para alem do texto italiano da carte e do meubilhete pessoal, tambem a presente.

Saudacts cordials.

Antonio

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ALGUNS TEMAS DA QUESTAO MERIDIONAL(*)

0 estimulo pare estas rotas foi dado pea publicacio noQuarto Stato de 18 de Setembro de um artigo sobre o pro

-blema, meridional, assinado per Ulenspiegel (s). quo a tedae-ciao da revista fez preceder de um tads-di° um tanto ricliculo.Ulenspiegel dd noticia, no seu artigo, do recente livro deGuido DOC'S° 0 (La Rivoluzione meridionale, Turim, ed. Piero

(*) Manusaito, incompleto no acto da prisAo de G. (8 de Novem-bro de 1926). 0 ensaio foi publicado pela primeira vez na revistato6rica do PCI que se imprimia em Paris, Lo Stato operaio, emJaneiro de 1930. Numa carta a Tatiana Schucht, de 19 de Marco de1927, G. fala deste seu escrito come srapidissimo e superficialfssimose anuncia-she que quer cdesenvolver amplamente a tese que entAo maltinha esbocados. State Operaio apresentou o ensaio corn uma notaonde se diz: escrito nao estA completo e provavelmeate feria sideainda retocado polo autor, aqui e all. Reproduzimo-lo sem qualquercorreccAo, como o mother document° de urn pensamento comunista,incomparavelmente profundo, forte, original, rico dos math amplosdesenvolvimentos,

(I) Quarto State, revista de orientacAo socialista, fundada egida por Casio Rosselli, publicada em Mill° de Marco a Outubro de1926. A proprnito de Quarto Stato, cf. as paginas de S. Medi, Rivistastorica del Socialismo, n.° 11, pp. 819 e segs.

Pseudemimo de Tommaso Fiore, colaborador de Rivoluzioneliberate. Os seas esaitos daquele periodo sobre o Mezzogiorno estiorecolhidos no volume Un popolo di formiche, Bari, 1951.

Guido Dorso, puma perspectiva mericional, represents cornGobetti a tentativa mais avancads, por parte dos liberals, de dar umasoluclo A crise do Estado italiano no pes-guerra. Escreveu La rivo-luzione meridionale, Mussolini alla conquista del potere, Dittatura,classe politica e classe dirigente, L'occarione storica. Para avancliodo pensamento de Done, v. R. Villari, 11 Sud nella StoriaBari, 1961, pp. 519-521.

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F s:

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Gobetti, 1925) e faz referekia ao juizo dada per Dorso acercada perspectiva do nesse Partido sobre a questa° do Mezzo-giorno; no seu exerdico, a redaccao do Quarto Stato, que seproclaim constituida por (* .Iowans que conhecean perfeitamente,na suas linhas gerais (sic) o problema meridionala, prostestacolectivamente polo facto de se poderem reconhecer • mit-ton ao Partido Comunista. E ate aqui nada de mal; os Ovensdo tipo de Quarto Stato, em todos as tempos e lugares, tornfeito suportar ao papal muitas outras opiniEres e protestos semque o papal se rebelasse. Mas em seguida estes cjovense ace-as-cent= textualmente: aNao nos esquecemos que a formulamagica dos comunistas torineses era: dividir o latifilndio entreos proletarios runais. Esta fOrmula esta nos antipodes de umavisao realista e sa do problema meridional.. E aqui ocorreper as coisas no seu Lugar, porque Emagicoe é s6 o descara-mento e o superficial diletantismo dos ajovense escritores doQuarto Stato.

A g fOrmula magicap é completamente inventada. E devemter muito pouca estima pelos seus intelectualissimos leitoresos ajovensa do Quarto Stato se ousam, com tanta e loquazbaz6fia, virar completamente a verdade. Eis, de facto, umfragment° de Ordine Nuovo (n.° de 3 de Janeiro de 1920), noqual se resume o ponto de vista dos comunistas torineses:

a A burguesia setentrional subjugou a Italia meridional eas ilhas e reduziu-es a colentas de exploragao; o proletariadosetentrional, emancipando-se a si prOprio da escravidão capi-talista, emancipara as macaws camponesas meridionais sub-=tides a banca e ao industrialismo parasitario setentrional.A regeneragao econOmica e politica dos camponeses nab sedove procurar numa divisao das terras incultas e mal cultiva-das, mas na solidariedade do proletariado industrial clue temnecessidade, por sua vez, da solidariedade dos camponeses,que tern interesse que o capitalismo nao renasca economica-mente da propriedade das terms e tern interesse que a Italiameridional e as ilhas nao se tomem tuna base militar de con-tra-revalued.° capitalista. Impend° o controlo operario a in-&Istria, o proletariado dirigird a indristria para a producäo demaquinas agricolas para os camponeses, de tecidos e caleadopara os camponeses, de energia electrica para os camponeses;itnpedird que a indlistria e a banca continuem a explorar oscamponeses e os subjuguem como escravos dos seus cofres--fortes. Despedacando a autocracia na fabrica, despedacando

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aparelho opressivo do Estado capitalista, instaurando o Es-tado operdrio que subjugue os capitalistas a lei do trabalho

os operarios despedagardo todas as cadeias que manteimcingido o campones a sua mistria, ao sou desespero; instau-rando a ditadura operaria, tempo na moo as nuitistrias e osbailees, o proletariado dirigird a enorme potancia da organi-zacao estatal para apoiar os camponeses na sua luta contraos proprietarios, contra a natureza, contra a misaria; dart ocredit° aos camponeses, institurra as axiperativas, garantiraa seguranca pessoal e dos bens contra os saqueadores, lardos trabalhos pdblicos de saneemento e irrigagao. Fara tudoisto .porque 6 seu interesse dar increment° a •roducao agri-cola, porque 6 seu interesse ter e ccaservar a solidariedadedas massas camponesas, porque 6 seu interesse dirigir a pro-ducao industrial para trabalho aril de paz e de irmandadeentre cidade e campo, entre o Norte e o Mezzogiorno. a

Isto foi escrito em Janeiro de 1920. Sete anos passaram enes estates sem anos mais vales, mesmo politicamente; al-guns conceitos pode •iam hoje ser melhor expressos, poderiae deveria ser mais bean distinto o period° imediatamentesucessivo conquista do Estado, caracterizado polo simplescontrolo operand da inchistria, do que os periodos suressivos.Mas o que imperta notar aqui 6 que o conceito fundamentaldos comunistas torineses nao foi a afOrmula magicaa da divi-sao do latiffindio rims o da alianca politica entre operdriosdo Norte e camponeses do Sul para derrubar a burguesia dopoder de Estado: e, mais ainda, os comunistas torineses (quotodavia sustentavam, came subordinada a aced() soliddria dasduas clasess, a divisao das terms) punham-se precisamente desobreaviso contra as ilusOes umiraeulasase da divisao meca-nica dos latiftindios. No mesmo artigo de 3 de Janeiro de 1920esta escrito: 40 que obtem um campones pobre invadindouma terra inculta ou mal cultivada? Sem maquinas, sem habi-tacao no local de trabalho, sem credit° para esperar o tempoda colheita, sem instituicOes cooperatives que axnprem a pr6-pria colheita (se 6 que chega a colheita sem primeiro se terenforcado no mais forte arbusto dos bosques ou na manestisica figueira selvagean da terra inculta) e o salvem das garrasdos usurarios, o que pode obter um oaanpoaes pobre com ainvasao?a E todavia nas 6ramos pela formula muito realisme nada candgicae da terra pars os camponeses; mas queriamosque ela fosse enquadrada numa accao revoluciondria geral des

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duns classes aliadas, sob a ditreccio do proletariado industrial.Os escritores do Quarto Stato inventaram complotamente asfOrmula magical atribuida acs comunistas de Tarim, demons-tnando assim a sua pouca seriedade de jornalistas e o see poucoescnipulo de intelectuais de farmacia de aldeia; e tomb&estes sao elementos politicos que pesam e trazem come-quenoias.

No camp° prolotario, os comunistas de 'Purim tiveram UMsinkrito) incontrastavel: o de ter imposto a questao meridio-nal a atencao da vanguarda operdria, expondo-a calm UMdos problemas essenciais da politica nacional do proletariadorevolucionario. Neste sentido, contribuiram praticamente parafazer sair a questao meridional da sua fase indistinta, Selo>tualtsta, chamada a conc retiSla fazendo-a entrar numa fasenova. 0 operario revolucionario de Turim e Milao tomava-seo protagonista da questao meridional e •ao os Giustino For-tunato, os Gaetano Salvemini, os Eugenio Azimonti, os ArturoLabriola, para so °Rar o name dos santos cares acs slovens)do Quarto Stato.

Os comunistas de Turim tinhorn poste coacretamente aquestao da shegomonia do proletariadoi, isto e, da base socialda ditadura proletiria e do Estado operario. 0 proletariadopode tornar-se classe dirigente e dominante na medida em queconsegue criar urn sistema de aliangas de classe que ]he per-mite mobilizar contra o capitalismo e o Estado burgues amaioria da populacao trabalhadora, o que significa, em Italia,nas reais relagOes de classe existentes em Italia, na medidaem que consegue obter o consenso das largas massas cantpo-nesas. Mas a questao camponesa, em Italia, a historicamentedoterminada, nao é a «questa° camponesa e agraria em genicem Italia, a questao camponesa, pela determinada tradicaoitaliana, polo determinado desenvolvimento da histOria ita-liana, assumiu duas formas tipicas e peculiares, a questao _meridional e a questao vaticana. Conquistar a maioria dasmassas camponesas significa portant°, para o proletariado

(4) Por concretismo entende-se aqui o comportamento tendentea enfrentar o problema do Mezzogiorno fragmentando-o nos tausaspectos singulares e parciais e perdendo assim a real substância poll-tica do problema. A expressio mais conseguida e, ern certo sentido,mais vfilida e a da experiencia salveminiana do Unita. Cf. R. Villari,Gaetano Salvemini e la questions meridionale, in Gaetano Salveminl.Bari, 1959.

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liano, tornar prOprias estas dims questdes do panto de vistasocial, compreender as exigenclas de classe que odes represon-tarn, incorporar estas exigências no see programa rovolucio-nada de transicao, par estas exigencias entre as suas itivindi-cacOes de luta.

0 primeiro problema a resolver, para os comunistas deTurim, era o de modificar a perspectiva •olitica e ideolOgicageral do preprio proletariado como element() nacional quevine no ocejunto da vida estatal a sofre inconscientemente ainfluencia da escola, do jornal, da tradicao burguesa. A oonhe-oida a ideologia difusa de forma capilar pelos propagandistasda burguesia nas massas do Norte: o Mezzogiorno 6 a bolade chumbo que impede mais rapidos progressos ao desenvol-vimento -civico da Italia, os rneridionais sao biologicamenteseres inferiores, semibilrbaros on barbaros completos por des-tino natural; se o Mezzogiorno esta atrasado, a culpa nab6 do sistema capitalism ou de qualquer outra causa historicamas da natureza que fez os meridionais poltdies, incapazes,criminosos, barbaros, temperando esta some madrasta com aexploslo puramente individual dos grander genies que saocome as solitArias palmas num arido e esteril deserto. 0 Par-tido Socialista foi, em grande parte, o veiculo desta ideologiaburguesa no proletariado setentrional; o Partido Socialista deu

sou crisma a toda a literatura ameridianalista) da catnarilhade escritores da chamada escola positiva, come os Ferri, osSergi, os Niceforo, os Orano e os sequazes menores quoem artigos, esbocos, novelas, romances, Iivros de impressOes

de memerias repetialn em diversas formas o mesmo tofrao:mais uma vez a ((Glenda) era tread° pars esmragar os miseros

os explorados, mas desta vez cobria-se de cores socialistas,pretendia ser a ciOncia do proletariado.

Os comimistas de Turim reagiram energ;mamente contraesta ideologia, precisamente em Turim onde as cantos e asdescric5es dos veterans da guerra contra o abanditismos noMezzogiorno e nas ilhas Sham maiormente influenciadoa tradicao e o espirito popular. Reagiram energicamente, deforma pratica, conseguindo obter resultados concretos de gran-

(') Sergi, Niceforo, Orano, Lombroso e Ferri &go os expoentesda perspectiva antropolOgica na questão meridional. As suas teorias,de inspiragOo positivista, tiveram muitos seguidores tambem no Par-tido Socialista.

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dissimo alcance histOrico, conseguindo obter, precisamenteTurim, embriees da quo seal a solucao do problema meri-dional.

Por outro lado, jd antes da guerra se tinha verificado emTarim urn episadio que continha, can potancia, toda a accao

a propaganda desenvolvidas no p6s-guerra pelos comunis-tas. Quando, em 1914, per morte de Pilade Gay, ficou vago

IV Sector eleitoral da cidade e foi pasta a questa° do novocandidato, um grupo da seccao socialista, do qual faziam parteos futuros redactores de Ordine Nuovo, ventilou o projectode apresentar coma candidate Gaetano Salvemini. Salveminiera entao o expoente mais avangado em sandal° radical damassa camponesa do Mezzogiorno. Estava fora do PartidoSocialista, ou melhor, conduzia contra o Partido Socialista umacampanha vivacissima e perigosissima, porque as suas afirma-g6es e as suas acusacOes, na anassa trabalhadora meridional,tomavam-se causa de &olio nao s6 contra as Turati, os Trews,os D'Aragona mas tambem contra o proletariado industrialno sou conjunto. (Muitas das balas quo os guardas ragios des-carregaram nos anos 19, 20, 21 e 22 contra os operarios cramfundidas no mesmo chumbo que serviu pan imprimir os arti-gos de Salvemini Todavia este grupo de Turim queria fazera afirmacao do nome de Salvemini, no santido que foi expostoao prOprio Salvemini polo camarada Ottavio Pastore, deslo-cando-se a Florenca para ter o consenso sabre a candidatura.Os operdrios de Turim querem eleger um deputado pelos

camponeses de Puglia. Os operdrios de Turim sabean que, naseleigOes de 1913, os camponeses de Moliana e Bitonto, nasua grande maioria, erarn favoraveis a Salvemini; a pressaoadministrativa do govemo Giolitti e a violencia dos maceiros

da polfcia impediu que os camponeses da Puglia se expri-missem. Os operdrios de Tarim nao pedem compromissos declasse a Salvemini, nem de partido, nem de programa, nemde disciplina ao grupo parlamentar; uma vez eleito, Salveminiinspirar-se-a nos camponeses da Puglia, nao nos operarios deTurim, os goals fad° a campamha eleitoral segundo os seas

(1) Na sua introdueão aos Scritti suits question meridionale (Tu-rim, 1954), Salvemini contesta esta afirmacdo. Mas 6 evidente que G.se refere a relagfio objectiva entre a cobertura ideolOgica da criticssalveminiana ao 'parasitismo vermeil-103 e, mais geralmente, ao cor-porutivismo socialista e as repressOes antioperarias.

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principios e nab se =Miran comprometidos corn a actividadepolitica de Salvemini

Salvemini nao quis aceitar a candidatura, embora ficasseabalado e ate oomovido cam a proposta (naquele tempo naose falava ainda de aperffdiaD oomunista e as costumes cramhonestos e risonhos); ale prop& Mussolini C) como candidate

commometeu-se em vir a Turim apoiar o Partido Socialistana hita eleitoral. De facto, realizou dais comicios grandiososna Camara do Trabalho e na Praga Statuto, entre o entusiasmoda ms ssa que via e aplaudia nob o representante dos cam-poneses meridionais oprimidos e explorados de forma aindamail odiosa e intensa do qua o proletariado setentrional.

A perspectiva potencialmente contida neat episOclio,'queado teve major desenvolvimento s6 per VX:Mtarie de Salvemini,foi retomada e aplicada pelos comunistas no period° do pes--guerra. Desejamos recordar os factos mais salientes e sinto-maticos.

Em 1919 formou-se a associacao da aJovem Sardenhaa,exOrdio e premissa do que seal mais tarde o Partido Sardode Acgao CD. A ammo Sardenhas propunha-se unir todos ossardos da ills e do oontinente nom bloco regional capaz deexercer uma Gtll pressao sabre o Govern para obter que fos-sem mantidas as promessas feitas donate a guerra aos solda-dos; o organizador da ((Jove= Sardenha p no continence era umtal Pietro Nurra, socialism, que muito provavelmente hoje fazparte do grupo de ajovenss que no Quarto State descobresemanalmente um novo horizonte para explorar. A ela ade-riam com o entusiasmo que cria uma nova probabilidade depescar crazes, comendas e medalhas, advogados, professares,funcionarios. A assembleia constituinte, convocada em Turimpara os sardos residentes no Piemonte, resultou impomeute polomimero dos intervenientes. Era em malaria genie pobre, popu-lares sem qualificacao distinguivel, serventes de oficina, peque-nos pensionistas, ex-carabineiros, ex-guardas prisicmais, ox--guardas-fiscais que exerciam pequenos negOcios variadfssimos;

(I) Mussolini era director do Avanti! e verificava-se entäo umacerta convergéncia entre Salvemini e Mussolini na crftica aos socia-lista& reformistas.

Movimento autonomista e de ex-combatente fundado em 1919por Emilio Lussu.

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todos estav-am entusiasmados cony a ideia de se encontmrernentre oanterfanoos, de SCIEISCM discumos sabre a sua terra amad continuavam a ester ligados par intneros fios de paten-tesco, de amizades, de recordagOes, de sofrirrtentos, de espe-rangas: a esperanga de voltar a sua terra, mas a uma terramais prOspera e rica que oferecesse as condigdes de vida,mesmo mcxlesta.

Os comunistas sardos, em nUmero precis° de oito, deslo-caram-se a reunido, apresemtaraan a presidencia ttma mogdo,pedirarn •ars apresentar urn contra,relatOrrio. Depois do dis-curso inflamado e retorico do orador oficial, armada camtodas as gmgas e primores da oratOria regionalists, depois deos intervenientes terem chorado cam a lembranga des darespassaths e do sangue derramado na guerra pales regianentossardos e se terean entusiasmado ate ao &Uri° corn a ideia dobloco compacto de todos as Mhos generosos da Sardenha, eramuito dificil acalocarD o contra-relatOrio; as provisoes maisoptimistas eram, se naa a lindragem, polo anenos urn passeioate a esquadra depois de 'ter= sido salvos des amsequenciaspolo anobre desdem da multiddaD. 0 contra-relatario, se sus-citou enorme estupefacgdo, foi porem ouvido con' atengdo e,uma vez quebrado o encanto, chegou-se rapidarmente, mas con'metodo, a conelusdo revolucionaria. 0 dilema: sois vets, pobresdiabos sardos, a favor de um bloco corn os senhores da So:-denim que vos arruinaram e sae os vigilantes locals da explo-raga. ° capitalista ou sois a favor de um bloco corn os am :a-rias revolucionArios do continente que querem abater lodesas exploragOes e emancipar todos as oprimidos? =este dileanafoi faito penetrar nos cerebros dos presentes. 0 voto per divi-sào foi urn formidaval suoesso: de urn la& urn &rupee° desenhores *toms, de funcionarios de oartola, de profissionadsliberais lividos de raiva e made earn uns quarenta policiescomp acompanhemento de °omens° e, do ourtro, Coda a mul-tid5o dos pobres diabos e das mulheres, cam o vestido desfestas, a volta da pequenissima celula comunista. Ulna horndepois, na COMara do Trabalho, constituia-se o Circulo Edu-cativo Socialista Sande corn 256 inscritos; a constituicAo da

fovean SardenhaD foi adiada sine die e nunca mais (eve lugar.

Foi esta a base politica da aegäo conduzida entre os sol-dados da brigada Sassari brigade de composiglo quest total-men te regional. A brigada Sassari tinha participado na repres-

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'sào do movimento insurreccional de Turin', de Agosto de1917(9); Sham a certain que ela nunca confraternizaria con'os °per/arias pale recordagab do Odio que cads reinassão deixana rnulticLio, mesmo contra os instrumentos materials da pres-são e, nos regimentos, pela dembranga dos soldados °aides sobos golpes dos insurrectos. A brigada foi acolhda per umamultiddo de seashores e senhoras que ofereciam aos soddadosflares, eigarros, frute 0 estado de ammo dos soldados a carac-terizado per esta narrativa de um operarHo curtidar de Sassari,adido as primeiras sandagens de propaganda: aAproximai-mede urn acaraparnento na pram X (nos primairos dies as sol-dados sardos acamparam nes pragas coma numa cidade con--quistada) e falai corn um jovem campones que me tinhaacolhido cardialmente porque sou de Sassari coma ale. a0 quevieram ritzier a Turin'? n aViemos parr disparar contra ossenhores que fawn' greve.D aMas nao sào os senhores quefazean grave, sao os operatics e ado pobres.D aAqui todos säoBenham; todos usam colarinho e gravata; garnham 30 lirasper dia. Os pobres conhego eu e sei coma so vestem; emSassari, salt, ha muitos pobres; takes "os camponeses"pobres e ganharn 1,50 per dia.D aMas tambem eu sou opera-rio e sou pobre., g Tu es pobre porque es sardo.) aMas se eufad grave cam as outros, disparas contra mim?) 0 soldadoreflectiu um pouco, depots pondo-me uma Mao no ombro.cOuve, quando fazes grave corn os outros, fica em casab

Era este o espirito da grande malaria da brigada, que con-tava apenas cam urn pequeno minter° de operarios mineirosda bacia de Iglesias. E todavia, depois de alguns mesas, navespera da grave geral de 20-21 de Julho, a brigade foi efas-tada de Turin', os soldados antigos foram licenciados e a for-maga° dividida em Eras: um tergo foi mandado pare Aosta,urn tergo parr Trieste, urn tergo pan Roma. Obrigaram abrigade a partir de mate, imprevistamente; nenhurna multidioelegance os aplaudia na estagão; os seas caThticos, se atomainda guerreiros, ja n5o tinham o mesmo conteado dos quecram cantados a chegada.

(°) A brigade Sassari, chamada a Tarim por ocasi5o da ocupaglioalas fabricas (1920), tinha sido o instrumento da repressAo dos movi-mentos de Agosto de 1917 do proletariado de 'Purim pelo pAo e contraa guerra. Sobre os movimentos de Turim, cf. pp. 151-152, vol. 1,present. edicao.

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Estes acontecimentos ficaram sem cousequanias? NOG,tiveraan resultados que ainth hoje subsistem a continuant aoperar do mais (undo da massa popular. Tan iluminado porttan anomento arebros que nunca itinham pensado naqueladireccäo a qua -ficaram marcados, modificados radicalmatte:Os flosses arquivos perderam-se; muitos papas foram pornos prOprios destruidos para ado provocarem prisees e per-seguic5es. Mas ads recordamos dezenas e cantatas de cartaschegadas da Sardenha a redaccäo de Turim do Avantil; cartasmuitas vezes colectivas, muitas vezes assinadas • pot todos asex-combatentes da brigada Sassari de uma determinada aldeia.Per vial incontroladas a iaecontn:ilaveis, difundia-se a posicaopolitica por nes defendida; a formacio do partido sardo deaccdo foi por ela fortemente influenciada na base a seria pos-sivel recordar, a este respeito, episodios ricos de contend° esignificado.

A Ultima rerpercussào controlada desta accOo verificou-seem 1922 quando, cam os mesmos propOsitos da brigada Sas-sari, foram enviados a Turim 300 carabineiros da legiao deCagliari. Recebemos na reclaccio de Ordine Nuovo lima deck-ragâo de principios assinada per uma grande parte destes cara-bineiros; ela trazia ecos de toda a nossa perspectiva do pro-blama meridional, em a prova decisiva de como a nossa Rabaera junta.

O proletariado devia assumir eta perspectiva para the dareficiancia isto 6 subententido. Nenhuma accdo demassa é possivel se a prOpria massa nao esta convencida dasfinalidades que quer alcancar a dos metodos a aplicar. 0 pro-letariado, para ser capaz de governor come classe, dove des-pir-se de todos os iesidues corporativos, de todos os pre-oon-cellos ou incrustacees sindicalistas. 0 que significa isto? Quetido sO devem ser superadas as distincOes que existem entreprofissao a profissão, mas que ocorre, para conquistar a con-fianga e o °omens° dos camponeses e de algumas categoriassemiproletasias da cidade, superar alguns preconceitos a ven-eer certos egoismos que possam subistir a subsistam na classeoperaria, como tal, mesmo quando no seu interim tenhamdesaparecido os particularismos de profissào. 0 metaltirgico,o carpinteiro, o operario da construcäo civil, etc., n5o s6 de-vem pensar como proletarios a nao como metaltirgioo, carpin-teiro, operdrio da construclio civil, etc., mas devem dar ainda

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um passe em frente: devem pensar come opeatios raembrosde um classe que trude a dirigir os camponeses a os intact-tuais, de lima classe que s6 pode veneer e construir o socia-Lismo quando ajudada a seguida pela grande maioria destesestratos sociais. Se nao se obtain isto, o proletariado ado secoma classe dirigente, a ester estratos, que em Italia represen-tam a maioria da populacão, pamiatnecendo sob a direccäoburguesa, dZao ao Estado a possibilidaile de resistir e enfra-quecer o impeto prolethrio.

Pois bent o que se verificou no sector da questäo meri-dian] demonstra que o proletariado compreendeu os sous de-veres. Deis factor devem recordar-se: um verificado em Turim,o outro an Reggio Emilia, into 6, na cidadela do reformismo,do corporativismo de classe, do proteccionismo operario levadocomo example ,poles emeridionalistasx na sua propaganda entreos camponeses do Sul.

Depois da ocupacdo das fabricas, a direccáo da Fiat pm-pOs aos opordrios que assumissem a gestdo da empresa emforma de cooperativa. Como é natural, os reformistas cramfavoraveis. Perfilava-se uma crise industrial. 0 espectro dodesemprego angustiava as familias operirias. Se a Fiat se tor-nasse cooperativa, uma certa seguranca de emprego poderiatar side adquirida polo operariado e especialmente poles ope-rarice politicamente mais actives, persuadidos como estavamque seriam destinados ao despedimento.

A stack, socialista, guiada pales comunistas, interveioenergicamente na questlio. Foi dito aos operirios: uma grandeempresa cooperativa, come a Fiat, s6 pode ser assumida polesoperdrios se ester esti() decididos a entrar no sistema das tor-us politicas burguesas que hoje govern a Italia. A propostada direccio da Fiat faz park do piano politico giolittiano.Em que consiste este piano? Ja antes da guerra, a burguesiana'o" podia govern& tranquilamente. A insurreicao dos cam-poneses sicilianos de 1894 e a insurrei "cao de Mild° de 1898 C°)

(10) Movimentos dos sfascioss sicilianos e da Lunigiana de 1894,reprimidos, dummente per Crispi. Contra as condigbes de existenciadas classes populaces, ocorreram em 1898 graves movimentos gm tota Italia, que alcancaram particular agudeza em MilAo onde foramsanguinosamente reprimidos polo general Ban Beccaris. Os effisciosssicilianos cram organizacties de operfirios a camponeses pan defen-derem os seus interesses; fundados em 1891, difundiram-se em todaa Sicilia sob a direccAo de N. Barbato e G. De Felice-Giuffrida.A seu respeito, cf. F. S. Romano, Storia dei fatal siciliani, Bari, 1959.

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foram a experimetuum crucis da burguesia Minna Depois.dodecano sanguinoso de 1890-1900, a burguesia tave que return-ciar a uma diftadura demasiado exciusivista, demasiado vio-lama, demasiado director: insua-giam-se contra eta, dada quenao de forma e,cordenada, simultaneamente as camponesesmeridionais e os operarios setentrionais. No novo sadder, aclasse daminante inaugurou uma nom politica, de alliancesde classe, de blows politicos de dasse, isto 6, de democraciaburguesa. Devia escolher: ou uma democracia rural, into 6,uma alianga wan os camponeses meridionais, Irma politica deliberdade alfandegdria, de sufragio universal, de descentrali-zacdo administrativa, de baixos prows nos produtos

ou urn blow industrial capitalista-opererio, set stha-gio universal, para o proteccionismo alfandegario, pant amanuteaacão da oemralizacio estatal (expressao do dominoburgués sabre os camponeses, especialmente do Mezzogiornoe das ilhas), para uana politica reformista dos salarios e dasliberdades sindicais. Escolheu, oak par acaso, esta seguodasolucOo; Giolitti ipea-sonalizou o damiMo latugues, o PartidoSocialista toroaou-se o instrumento da politica giolittiana. Sese observa bean, no decOnio 1900-1910 venificam-se as crisesmais radicais no movimento sacialista e operairio: a mesasrage espontaneameaate contra a politica dos dirigentes refor-mistas. Nasce o sindicalismo(u) que 6 a expressão instintiva, ,sanelementar, primitiva, mas sä, da reaccao operiria contra o —blow corn a burguesia e par • urn blow corn os camponeses _ -e, em primeiro hive, coin os camponeses meridionais. Pred-samente ctssim: ou melhar, num certo sentido, o sindicalismo6 lima tentativa debit dos camponeses meridionais, represen-tados poles sous intelectuais mais avancados, pan dirigirprolotariado. De que 6 constituido o uncle° dirigente do sin-___dicalismo italiano, quad 6 a essencia ideolOgica do sindica-lismo italiano? 0 Miele° dirigente do sindioalismo 6 consti-r.tuido quase exclusivamonte par meridionais: Labriola, Lear,Longobardi, Orano. A essencia ideolOgica do sindicalismo

(rl) Movimento revisionista que ten, em Franca sobretudo at.Sorel, que 6 o ideologo reconhecido do movimento, e em Italiacorn Aruro Labriola, Enrico Leone e Paolo Orano a sua mais completaexpressäo. Sabre o movimento siudicalista, que depois confluiu eme .Atarp escala no fascismo, depois de ter assumido uma posigliodamente intervencionista, veja-se Eazo Santarelli, La revisions del tarxismo in Italia, Mill°, 1964.

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um novo liberalismo Innis energico, mais agressivo, mais be-Licosa do qua o tradicional. Se at observa bet, dais sdo osmotives fundamentals a voltra dos gnats sucedem as crisessucessivas do sindicalismo e a •assa,gem gradual dos dirigen-tes sindicalistas para o campo burgutls: a emigragito e a co-mercializaclio Ewe, dais motives estreitamente ligados aomeridionalismo 0 facto da emigraclo faz nascer a concepciioda (maga° proletarian de Enrico Corradini ( 22): a guara libicaaparece a todo um estrato de intelectuais coma o inicio daafensiva da egrande proletarian (*) contra o mantle capitalistae •lutocratic°. Urn grupo de sindicalistas adore ao naciona-lismo, ou mother, o Partido Nacionalista 6 constituldo °H&j-weaned-Jae par intelectuais ex-sindicalistas aMcnicelli, Forges--Davanzati, Maraviglia). 0 livro de Labriola, Storia di 10 anni(os dez ones de 1900 a 1910), 6 a expressão mais• tipica ecaracteristica deste neoliberalismo antigiolittiano e meradio-nalista.

Nestes dez anos, o capitalismo reforea-se e desenvolve-see langa uma •arte da sua actividade na agricultura do ValePadana 0 trago mais caraoteristico destes 10 anos silo asgraves de wawa dos °patios agricolas do Vale Padana. Veri-fica-se uma profunda revalued° entre as camponeses seten-trionais; verifica-se tuna -prof unda diferenciagEto de classe (0runner° dos trabalhadores agricolas aumenta 50 par canto,segundo os dados do reoenseamento de 1911) e a eta wires-ponde uma reelaboracão das conentes politicas e das posiceesespirituais. A democracia social e o mussolinismo sào as daispredates mais salientes da epoca: a Romagna 6 o caminhoregional destas duas novas actividades; o trabalhador agrfcolapiece tornar-se o protagonista social da luta politica. A de-mocracia social, nos sous organismos de esquerda (l'Azione,de Cesena), e tambem o mussolinismo, caem rapidamaite aocontrolo dos smeridionalistasn. L'Azione, de Caserta, 6 umaedicão regional de L'Unita de Gaetano Salvemini. 0 Avanti!,dirigido par Mussolini, Tanta mas seguramente foi-se transfer-

(12) Enrico Corradini (1865-1931) foi.o major balmier) daquilo queG. define tsocialismo national), isto 6, a transposicio da luta declasses para o piano das naedes. Em Pena, entre os mais popularesapoiadores desta tend6ncia, recordam-se Giovanni Pascoli (ea grandeproletdria moveu-se.) e Gabrielle D'Annunzio.

(s ) Expressäo usada par Mussolini pan designar a Itilia.—(N.do T.)

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mando num ginesio para os sindicalistas e meridionalistas. OsFancello, os I sn7illo os Panunzio e o Ciccotti dela se tomamassidnos colaboradores: o prOprio Salvemini ado esconde asgals simpatias por Mussolini, que se torn tambem urn boa_jamirn da Voce de Prezzolini (13). Todos record= que, narealidade, quando Mussolini sal do Avantil e do Partido So-cialista, esta circundado por esta coorte de sindicalistas e men-dionalistas.

A repercussao mais notavel deste periodo, no campo revo-luciondrio, é a Semana Vermelha de Junho de 1914: a Ro-magna e as Marche sao o epicentro da Semana Vermelha (u).No campo da politica burguesa, a repercussao mais native-16 o Pacto Gentiloni (15). Visto que o Partido Socialista, porefeito dos movimentos air-dri ps do Vale Padana, tinha regres-sado, depois de 1910, a tactica intransigente, o bloco industrial,apoiado e representado per Giolitti, panda a sua eficitheia;Giolitti muda de tâctica; a alianea entre burgueses e opal-Ariassubstitui a alianga entre burgueses e catOlicos que representamas massas camponeses da Italia setentrional e central. Por estaalianga, o partido conservador de Sonnino 6 completamentedestruido, oanservando uma pequenissima celula so na Italiameridional, a volta de Antonio Salandra. A guerra e o p6s--guerra viram desenvolver-se uma sada de processos molecula-res na classe burguesa da raids alta importanoia. Salandra eNitti foram os primeiros dois chafes de govern meridionais(para nao falar naturalmente dos sicilianos, coma Crispi, que

(13) Revista de critica Merida e de cultura polftica, publicou-seentre 1908 a 1916. Pam um quadro comp1eto da problematica da Voce,veja-se La cultura italiana del 1900 attraverso it riviste, IV, Lacerba,La Voce, sob a direcg8o de Gianni Scalia, Turim, 1961.

(n) Movimento revolucionlrio que explodiu nas Marche a nasRomagne em Junho de 1914 a originado pelo excidio consumado pelapolicia de Ancona, no final de urn comfcio; testemunha o estado detensao social existente no pats e a aversão das massas popularesa guerra. V. E. Santarelli, II movimento anarchico in Italia, Mild°, 1959.

(15) 0 chamado Pacto Gentiloni foi o ponto de chegada das nego-ciagdes entre a Uniäo eleitoral cat6lica italiana, presidida pelo condeVincenzo Gentiloni, e Giolitti. Com base neste acordo, os eleitorescat6licos foram convidados a votar nos candidatos liberals que secomprometessem a respeitar os sete pontos do acordo, isto 6, emCriolitti. Para uma avaliagao do significado deste acordo, cf. G. Can-deloro, II movimento cattolico in Italia, Roma, 1961.

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foi o ma is enOrgico representante da ditadura burguesa doseed° XIX) e procanaram actuar o piano burgues industrial--Agana meridional, Salandra no terreno conservador, Nitti noterreno democratic° (Wes dois chafes de govemo foram aju-dados solidamente pelo Corriere della Sera, isto 0, pela india-tria textil lombarda). Ja durante a guerra, Salandra procuroumudar, a favor do Mezzogiorno, as forcas teaaicas da orga-nizacao estatal, procurou substituir o pessoal giolittiano do

-Estado per urn novo pescsal que encarnasse o novo cursopolitico da burguesia. Recorde-se a campaaha conduzida pelaStampa, especialmente em 1917-18, para tuna estreita colabo-racaa entre giolittianos e sooialistas para impedir a apugliesiz-zazioneD do Estado: a campanh,a foi conduzida na Stampapar Francesco Ciccotti, into 6, era de facto uma expressao doacordo existente entre Giolitti e os reformistas. A questdoera de pouca importância e os giolittianos, aa sua ftnia defen-siva, conseguiram ate ultrapassar os !Unites coasentidos porum partido da grande burguesia, chegaram aquelas manifesta-gOes de antipatriotismo e de derrotismo que estao na memóriade todos. Giolitti esta hoje novameate no poder, novamente agrande burguesia se entrega a ale, dada o pinice que a invadeperante o impetuoso movimento des massas populates. Giolittiquer domesticar os operdrios de Turim. Derrotou-os dims ve-zes: na grave de Abril Gitimo e na ocupagdo das fabricas,das dual vezes corn a ajuda da Confederaello Geral do Tm-balho, isto e, do reformismo corporativo. Considera agora queos pode Mgt/Ana' no sistema burguas estatal. De facto, o queacontecera se os operdrios da Fiat aceitam as propostas dadireccao? As actuais accOes industrials passarao a ser obriga-cats; isto 6, a cooperativa deverd pagan aos portadores deobrigacOes UM dividendo fixo, qualquer que seja o resultadodos negOcios. A empresa Fiat sera explorada por todos osmodos pelas instituicees de crOdito, que permanecem na maodos burgueses, os quaffs tom interesse em reduzir os operdriosa sua modestia. Os operarios deverao necessariamente ligar-seao Estado, o qual °with em auxffio dos operdrios n =ayes dotrabalho dos deputados operarios, atraves da subordinacao dopartido politico operdrio a politica governativa. Eis o plande Giolitti na sua plena arplicacao. O proletariado de Tarimdeixara de existir come classe independente mas s6 come apea-dice do Estado burgués. 0 corporativism° de classe term triun-facto mas p proletariado tera peadido a sus posigiao e a sua

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mina° de dirigente e de guia; aparecera as anassas dos ope-rarios mais pobres coma urn privilegiado, aparecera aos cam-poneses coma an explorador na mesma propornao dos bur-guests, Torque a burguesia, coma sempre tem feito, aprosentaraas massas camponesas as nticleos oparários privilegiados comaa tinica causa dos seus males e da sua

Os operarios da Fiat aceitaram quase por unanimidade onosso ponto de vista e as prupostas da direcrrao foram rejeita-das Mas esta exporiancia odo podia ser suficiente. 0 proleta-riado de Turin, corn liana skit de accOes, tinha deanter alcancado urn altfssimo gnu de anaturidade e capacidadepolitica. Os acnicos e os empregados de oficina, em 1919,puderam anelhorar as condigOes s6 parque cram apoiados pelosoperdrios. Para enfnaquecer a agitacao dos &micas, os Indus-trials propuseram acs operarios que des prOprios nomeassem,par eleigao, os novas anestres e chafes de oficina: os °porkiesrecusaram a proposta, embora tivessem bastantes razes deconflito corn as tecnicos que sempre tinham sido um instru-mento patronal de repressao e perseguiclio. En:taxi os jornaisfizerarn uma furiosa campanha pare isolar os tecnices, sa-lientando as seus altfssimos salaries que chogavan a atingir7000 liras par mils. Os oper'arios especializados ajudaram aagitaclio dos serventes que s6 assim conseguiram impor-se: nointerior das fabricas foram abolidos todos os privilegios e asexploracOes das categorias mais qualificadas corn •rejufzo des 'memos qualificadas. Atmves destas accOes a vanguarda pole-Lana ganhou a sua posicao social de vanguarda; foi esta abase do desenvolvimento do Partido Conomista em Turim.Mas fora de Turin? Pois bean, n6s quisemos de propOsitotransportar a questa.° pua fora de Turim e •preoisamente pareReggio Emilia onde existia a maior concentnagao de refor-mism° e de corporativism° de classe.

Reggio Emilia tinha sido sempre o alvo dos ameridiona-listasn. Uma frase de Camillo Prampalini: a A Italia divide-seem nortenhos e sujosn; era a expresslio mais caracteristica do6dio violent° que entre os meridionais se espathava contra as°per-arias do Norte. Fan Reggio Emilia apresentau-se umaquesta° semelhante a da Fiat: uma grande oficina devia pas-ser pars as maos dos operarios, wino empresa cooperativa.Os mformistas reggianos estavam entusiasmados nom o aeon- ;-tocimento e apregoavam-no nos seus jornais e nas sues rah

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Miles. Um coma:lista de Turbo (") deslocou-se a Reggio, tomoua palavra no canna° de fabrica, expOs o complex° da questäoentre Norte e Sul e obteve-se o amilagren: as operarios, pargrande anaioaia, rejeitaram a tese reformista e corporativa.Ficou deanonstrado que os reformistas nao representasnan o:spirit° dos operdrios reggianos; dole representavam s6 apassividad.e e outros lades negativos. Tinhorn conseguido ins-taurar an ancmopOlio politico, dada a notavel coneentracao,nas sans filas, de organizadores e pmpagandistas de an aorta -valor profissional, impedindo o desenvolvirriento e a organi-zacht- a de liana corrente revolucirmaria; • ants tinha bastado apresenca de urn revolucionario capaz para os par em cheque

reveler quo os operarios reggianos sao malorosos combatta-tes e nab porcos criados cam a cacao gavernativa.

Em Abril de 1921, 5000 operarios revolucionarios formdespedidos pela Fiat, os conselhos de fabrica foram abolidos,as salaries reads diminuidos. Em Reggio Emilia acontoceupnavavedmente algo de semelhante, into 6, os operarios forambatidos. Mas o sacriffcio que tinham feito foi Natcremes. polo contrario, estamos convencidos que nio foi inii-til. E decewto dificil register toda tuna serie de grandee aoon-tecimentos de masse que proven a eficacia imediata e fulmi-nea destas accOes. Alen do mais, em rank) aos camponeses,ester registos sacs sempre dificeis e quase impossivels • Sao aindaman dificeis em relagab a massa camponesa do Mezzogiorno.

0 Mezzogiorno pole ser definido 7/Mn grande desagre-gaga° social; as camponeses, que constituean a grande maio-ria da sua populacao, Mao torn •enhuma coesao entre si. (Com-p:code-se que ocorre fazer excepcOes: as Puglie, a Sardenhae a Sicilia, mule existem caracteristioas especiais no grandecmadro da estnrtura •eridional.) A sociedade meridional 6 umpanda bloco agrario constituido per tras estratos socials; agrande massa camponesa =oda e desagregada, os intelec-tuais da pequena e media burguesia rural, as grandes proprie-taries das terms e os grandes inteleotuais Os camponesesmeridionais estao em perpetuo fermento mar, comp mosso,sao incapa ins de du uma expressfio centralizada as suas aspi-racOes e as suns necessidades. 0 estrato media dos inteloctuais

(ts) Trata-se de Umberto Terracini.

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recebe da base camponesa os impulsos ipara a suer actividadepolitica e ideolegica. Os grandes proprietarios, no campo poli-tico, e os grandes intelectuais, no campo idoologico, ceattrali-zam e dornina m, em irltirna enalise, todo este complex° demanifestacOes. Como 6 natural, 6 no campo ideolegico que acentralizaedo se verifica arm maior eficacia e precisäo. Gius-tino Fortunato e Benedetto Croce representam pot isso as basesde apoio do sistema meridional e, em certo senado, sao asducts maiores figures da reacedo italiana.

Os intelectuais meridionais &no am estrato social dos maisinteressantes e dos mais importantes na vida nacional italiana.Basta pensar que mais de 3/5 da burocracia estatal 6 consti-tuida por meridionais. Ora pars compreender a particular psi-colog,ia dos intelectuais meridionais, ocorre ter presentes algunsdados de facto:

1. Em todos os paises se media:au radicalinente o estratodos intelectuais corn o desenvolvimento do capitalism°. 0 ve-lho tipo do intelectual era o elemento organizativo de umasociedade prevalentemente de base camponesa e artesanal; painorganizar o Estado, papa organizar o cameral°, a claw, domi-nante criava urn particular tipo de intelectual. A inchistriaintroduziu um novo tipo de intelectual: o organizador tOonico,

especialista da ciencia aplicada. Nas sociedades onde asforgas econemicas se desenvolveram em sentido capitalista ateabsorverem a maior parte da actividade nacional, prevaleceueste segundo tipo de intelectual, corn todos as suas caracte-risticas de ordem e disciplina intelectual. Polo contrario, DOS

paises onde a agricultura exerce um papal ainda notavel ouate preponderante, prevaleceu o velho tipo que canstitui amaxima parte do pessoal estatal e que mesmo localmente, naaldeia Cu na vita rural, exerce a fungal° de intermediario entre

campones e a administracno em geral. Na Italia meridionalpredomina este tipo corn todos as suas caracteristicas: demo-cratic° do lado campones, reaccionfirio do lado dirigido para

grande proprietario e para o Govemo, politiqueiro, corrom-pido, desleal; nä° se compreenderia a figura traditional dospartidos politicos meridionais se an° se tivessem em conta ascamateres deste estrato social.

2. 0 intelectual meridional sai prevalentemente de umaclasse que no Mezzogiorno 6 ainda native: o burgues rural,isto 6, o pequeno e medic, proprietario de terras que no 6 -

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campones, que nap trabalha a terra, que se envergonharia deser egricultor, mas que da pouca terra quo tem, dada de rendaau simplesmente a meias, quer extrair: de que viva conve-nientemente, de que mender a universidade ou ao seminarioos filhos, de que pagar o dote as filhas que devem casar-secorn um oficial ou um funciortario civil do Estado. Destaclasse recebem os intelectuais uma aspen aVersito polo cam-pones trabalhador, considerado como maquina de trabalhoque dove ser espreanida ate ao rIc-S0 e que pode ser facilmentesubstituida dada a superpopulagno trabalhadora: (web= tam-ben o sentiment° attivico e insti gative/ do medo louco polocampones e pelas suas violencies destruidoras e, portanto, urnhabit° de hipocrisia refinada e uma refinadissima arte de en-ganar e damned= as massas camponesas.

3. Visto que ao grupo social dos intelectuais pertenceo clero, ocorre notar a diversidade de caracteristioas entre oclero meridional, no seu conjunto, e o clew setentrional. 0 pa-dre setentrional 6 comurnmente o filho de um artifice ou deum companies; tern sentimentos democraticos, oath mais ligadoa massa dos camponeses; maralmente 6 mais correct° do queo padre meridional, o qual frequentemente convive quase aber-tamente cam tuna mulher e por isso exerce urn trabelho espi-ritual socialmente mais completo, isto 6, é um dirigente detoda a actividade de uma familia. A separagdo entre a Igrejae o Estado e a expropriaeno dos bens eclesiisticas foi, noNorte, mais radical do que no Mezzogiorno, onde as pare-quias e os conventos conservaram ou reconstituiram notaveispropriedades imobiliarias e mobiliarias. No Mezzogiorno opadre apresenta-se ao campones: 1) coma urn administradorde terras corn o qual o campones entra em conflito pela ques-tiio das rendas; 2) coma um usurario que peck elevadissirnastaxas de jure e se serve do element° religioso para receberseguramente a renda ou a usurer; 3) coma urn homers subme-tido as paixOes comuns (mulheres e dinheiro) e que, portant°,espiritualmente nä° •erece oonfianea de disorient) e impar-cialidade. A confissão exerce, por isso, uma escassissima fun-gi-to dirigente e o campones meridional, se frequentemente 6supersticioso em sentido pagno, rano 6 clerical Todo este com-plex° de coisas explica porque 6 que no Mezzogiorno oPa.rtido Popular (exceptuadas algumas zonas da Sicilia) ndotem uma posigfio notavel, ado possu• qualquer rede de insti-tuieees e de organizagees de rtanssn A posicao do campones

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em nelacao ao clero a resumido no dito popular: a 0 padre 6padre in igreja; fora, 6 urn homem cam os outros.,

0 camponês meridional esta ligado ao grande propriet.arioper intormOdio do intelectual. Os movimentos dos campone-ses, Irma vez que nao at resume= em organizagnes de massaautenamas e iradepondentes, ainda que seja formalmente (isto6, capazes de seleccionar quadros camponeses de origem cam-ponesa e de register e acumular as diferenciaciles e os pro-gresses que at realizam no movimento), acabam per siste-mar-se sempre nas articulaciles gerais do aparelho estatal—cancelhos, provincias, Camara dos Deputados — array&de composiciies e decomposigiles dos partidos locals, cujopessoal a constituido par intelectuais mas controlados pelosgrandes proprietaries e pales seus homers de confianca, comeSalandra, Orlando, Di Cesare ("). A guerra pareceu introduzirum element° novo neste tipo de organizacdo, corn o movi-mento dos ex-combatentes, no qual os campaneses-soldades eos intelectuais-oficiais formavam urn bloco mais undo enure -of e, em certa medida, antaganico acs grandes proprietaries.Nilo durou muito tempo e o Ultimo residuo 6 a Maid° Nacio-nal concobida per Amendola, que torn tuna vaga existénciapolo sou anitifascismo; todavia, dada a nenhuma traclicão deorganiracilo explicita dos intelectuais democraticos no Mez-zogiorno, tambem este grupo dove see relevado e tide emconta, porque de tame fio de aqua pode tornar-se em lama-centa e choia torrente noutras condicOes de politica geral.A Unica regiilo onde o movimento dos ex-ccxmbatentes assu-miu urn perfil mais ,precise e conseguiu criar uma estruturasocial mars solida é a Sardenha. E o facto compreende-seprecisamente porque na Sardenha a classe dos grandes pro- --prietirios 6 pequonissima, nao exerce nenhuma funcdo e naotem as antiquissimas tradicties culturais, intelectuais e gover-nativas do Mezzogiorno continental. 0 impulse da base,exercida poles masons dos camponeses e dos pastures nao(=contra um contrapeso sufocante no superior estrato socialdos grandes proprietaries: as intelectuais dirigentes silo in-fluenciaclos em cheio polo impulse e fazem progressos mats

(17) 0 duque Giovanni Colonna di Cesare, expoente da demo-cracia social, expressgo politica da grande propriedade fundiiriaridional.

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notaveis do que a Unido Nacional. A situacao siciliana terncanacteres profundamente diferenciados quer da Sardenhaquer do Mezzogiorno. Os grandes proprietarios silo all muitomais °pesos e decididos do que no Mezzogiorno continen-tal; existe eli, elan disso, uma certa inthistria e um corner-cio muito desenvolrvido (a Sicilia 6 a mars rice regilio de todoo Mezzogiorno e uma das mais ricas de Italia); as classessuperiores sentem muitissimo a sua importancM na vida na-croaral e fazem-na proar A Sicilia e o Piemonte silo as duasregieres que Vern dado major calmer° de dirigentes politicosao Estado italiano, silo as duas mgifies que torn exercida umafuncao proeminente desde 1870. As mamas populares sicilia-nas estio mais avangadas do que no Mezzogiorno mas osou progress° assumiu uma forma tipicamente siciliana; existeurn socialism° sjciliano, de masse, que tem toda uma tradicaoe um desenvolvimento peculiar; in Assembleia de 1922, can-tava corn cerca de 20 deputados em 52 que tinharn side elei-tos in ilha.

Dissemos que o camponils meridional osta ligado ao grandeproprietario per intermedio do intelectual. Este tipo de orga-nizagio 6 o tipo mais difundido em todo o Mezzogiornocontinental e na Sicilia. Realiza um monstruso bloco opticque, no sou conjunto, funciona canto intermediario e vigilantedo capitalism° setentrional e dos grandes banes. 0 seu Unicaobjectivo 6 conserver o statu quo. No sou intern°, nao existenenhuma luz intelectual, near= programa, nenhum impulsopara anelharar e progredir. Se alguma ideia e alga= programaforam afirmados, tiveram a sua origem fora do Mezzo-giorno, nos grupos politicos agar' ios conservadores, especial-mento da Toscana, que no Parlament° tram aliados dos con-servadores do bloco agrario meridional. Sonnino e Franchettiforam dos ponces burgueses inteligentes que puseram o pro-blema meridional come problema national e tracaram urnplane de govern° para a sua solucao. Qual foi o ponto devista de Sonnino e Franchetti? A necessidade de criar, naItalia meridional, um estnato media independente de caractereconamico que funcianasse, come antio se dizia como ropi-niilo priblicar e limitasse os craft arbitrios dos proprietaries,par urn lade, e moderasse a insurreccionisnro dos camponesespobres, per outro. Sonino e Franchetti tinhorn ficado admira-dfrsimos corn a popularidade de que gozavam no Mezzo-

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giorno as ideias do bakunismo da I Intemacional. Este es-panto fez-lhes assumir equivocos frequentemente grotescos.Numa sua publicacao, por exemplo, refere-se o facto de umahospedaria ou restaurante popular da Calabria (citamos dememdria) se chamar adas grevistasp (•), pan demonstrar wino,eram difusas a radicals as ideias intea-nacionalistas. Se 6 WT.dadeiro (como deve ser, dada a probidade intelectual dos au-tores), o facto explica-se muito simplesmente se nos recor-darmos como no Mezzogiorno sao numerosas as coltaias dealbaneses e como a palvara Skipetari sofreu nos dialectos asdeformagOes mais estranhas e curiosas (em alguns documen-tos da repiiblica veneta fala-se de formacte- s militares doaS sciopetap). Ora no Mezzogiorno nab cram muito difusas .as teorias de Bakunine mas a pre:pHs situacao era provavel-mente tal que sugeriu a Bakunme as suas teorias: decerto quoos camponeses pobres meridionais pensavam na adestruicaoimuito antes que o cerebra de Bakunine tivesse excogitado ateoria da span-destruicaon.

0 piano govemativo de Sonnino e Franchetti nunca tevesequer principio de actuagab. E nao podia to-lo. B tat o eixode relageies entre Norte e Mezzogiorno na organizacao daeconomia national e do Estado que o nascimento de umaclasse media de natureza econennica (o que significa o nas-cimento de uma burguesia oapitalista) se tornou quase impos-sivel. Qualquer acumulacao local de capital e qualquer acumu-lagao de poupangas tomou-se impossivel pelo sistema fiscale alfandegario e pelo facto de os capitalistas proprietarios deempresas nao transformarem localmente o rendimento emnovo capital porque nab nasceram all. Quando a eimigraeatassumiu no seculo XX, as forms gigantesces que ass" umiu,e as primeiras remessas comecaram a afluir da America, oseconomistas liberals gritaram triunfalmente: o sonho de Son-nice sera uma realidade. Verifica-se no Mezzogiorno umasilenciosa revolucao que lenta mas seguramente modificani -toda a estrutura cepa:mica a social do pais. Mas a Estadointerveio e a revolucao silenciosa foi sufocada ao nascer. 0 Go-vern° ofereceu obrigaceies do tesouro a juro certo a os °mi-grantes a as sues famflias passaram de agates da revolugaosilenciosa a agentes pan der ao Estado os nteios financeiroepara subsidiar as inchistrias pansitarias do Norte. Francesco

•) No texto italiano, gscioperantis.—(N. do T.)

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Nitti que, no piano democratic° a formalmente fora do blowagrario meridional, podia Dancer um activo realizador doprograma de Sonnies, foi, pelo coati-Arlo, o meihor agente docapitalism° setentrional para limpar os tiltimos recursos dapoupanga meridional. Os biliOes engolidos pearl Banta tramquase todos devidos ao Mezzogiorno: os 400 000 credoresda BIS (U) cram, em grande maioria, depositantes meridionais.

Acirna do blow agrario, funciona no Mezzogiorno urnblow intelectual que praticamente serviu ate agora para im-pedir que as fendas do blow agrdrio se tomassean muito pea-guns a determinassem uma avalanche. Expoentes dente blowintelectual sao Giustino Fortuna/to a Benedetto Croce. os quais,par isso, pod= ser julgados como os maccionarios mais ope-roses da peninsula.

Dissemos que a Italia meridianl é uma grande desagre-gacao social. Para alem dos camponeses, esta fOrmula podereferir-se tambern aos intelectuais. 8 !und yed o facto de, noMezzogiorno, terem existido a existirem, ao lado da gran-dissima propriedade, grandes acumulacries culturais a de inte-ligencia ao nivel individual ou ern restates grupos de grandesintelectuais, enquanto nao existe uma organizacao da culturamedia. Existe no Mezzogiorno a casa editora Laterza a arevista La Critica, existem academies e empresas culturais degrandissima crudicao: nao existem peq enas e medias revis-tas, ado existem casas editoras a volts, das quais se agrupemformaceas medias de intelectuais meridionais. Os meridionaisque procuraram sair do blow agrario a apresentar a questaomeridional de forma radical encontraram hospitalidade eagruparam-sea volta de revistas publicadas fan do Mezzo-giorno. Pale dizer-se ate que todas as initiatives culturais,devidas nos intelectuais medios, que tiveram lugar- no se-culo XX, na Italia central a setentrional, foram caracterizadaspelo meridionalismo, fortemente influenciedas por intelectuaismeridionais: todas as revistas do grupo de intelootuais floren-

('l) Depois da expansao do periodo belico tinha comecado umagrave crise na qual se envolveram os bancos, entao emixtoss, quetinham fortes interesses financeiros na indtistria. A falencia do Ansaldoarrastou a da iiBanca Italiana di &onto* que fechou as portal fazendoperder aos depositantes am de um tergo das somas depositadas; cons-tituiu, como G. sublinha, urn epis6dio de expropriaglio dos pequenosdepositantes.

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tinos, Voce, Unita; as revistas dos democratas-cristios, comoL'Azione, de Cesena; as revistas dos jovens liberals emilianos

milaneses de G. Borelli, camo a Patria de Bolonha ouL'Azione de Mildo: por fim, a Rivoluzione liberate, de Go-betti. Pois bem: Giustino Fortunato e Benedetto Croce foramos supremos moderadores politicos e intelectuais de tones estasiniciativas. Num circulo mais amplo do que aquele muitosufocante do bloco agrario, conseguiram que a apresentaoãodos problemas meridionais ndo excedesse certos limites,se tarnasse revoluciondria. Homens de grande culture e hate-

nascidos no terreno traditional do Mezzogiornomas ligados a culture europeia e ate mundial, tinham todosos dotes para dar uma satisfaCdo as necessidades intelectuaisdos mais honestos representantes da juventude culta do Mez-zogiorno, pare consolar-Ihe as irrequietas veleidades de re•volta contra as condicOes existentes, pare os orientar segundouma linha media de serenidade classica do pensamento e daaced°. Os chamados neoprotestantes ou calvinistas ndo corn-preenderam que em Italia, lido se podendo realizar uma re-forma religiose de massa poles condicifies modernas da civi-lizeodo, at verificou a Unica reforma historicamente possivelcorn a filosofia de Benedetto Croce: mudou-se a perspective

o metodo do pmsamento, construiu-se uma nova concepeãodo mundo que superou o catolicismo e todas as outras reli-glees imitolOgicas. Neste sentido, Benedetto Croce cumpriuuma altissima funcao macionali: separou os intelectuais radi-cals do Mezzogiorno das masses camponesas, fazendo-os par-ticipar na culture national e europeia e, atraves desta cul-ture, fe-los absorver a culture burguesa e, portento, o blocoagrario.

Ordine Nuovo e os comunistas de Turim se, num certosentido, podem ser relacionados corn as formacOes intelectuaisa que nos referimos e at tambem ales sofreram portanto a-influencia intelectual de Giustino Fortunato e de BenedettoCroce, representam porem, ao mesmo tempo, uma completerupture corn equate tradieão e o inicio de urn novo desenvol-vimento que ja deu frutos e que ainda os data. Como jd foi

dito, puseram o proletariado urbane comp protagonistademo da histeria italiana e, portanto, da questa° meridional sr.Tendo servido de intermedidrios entre o proletariado e deter-minados estratos de intelectuais de esquerda, consegultara

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modificar, se näo completamente pelo menos notavelmente, asua orientacào mental. E este o elemento principal da figurade Piero Gobetti, se reflecairmos bean. 0 qual ndo era tun -cornunista e provavelmente nunca a viria a ser, mas tinhacompreendido a posigio social e historica do proletariado eje nab conseguia pensar abstraindo deste elemento. Gobetti,no trabalho comum do jornal, tinha sido por nes posto emccmtacto corn um mundo vivo que antes s6 tinha conhecidoartraves das formulas dos Evros. A sua caracteristica mais rale-vante era a lealdade intelectual e a aunencia complete de qual-quer vaidade e mesquinhez de ordem inferior: por isso ithopodia deixar de se convencer coma toda tuna sent de modusde ver e de censer tradicionais, em relagdo ao proletariado,warn falsos a injustos. Que consequencias tiveram em Gobettiester contactor corn o mundo proletdrio? Foram a origem e

impulso pan tuna concepodo que nä° queremos discutiraprofundar, uma ooncepodo que em grande parte at liga ao

sindicalismo e ao mode de pensar dos sindicalistas intelec-tuais: os paincipios do liberalismo ido nela projectados daordem dos fendenenos individuais so dos fen6menos de masse.As qualidades de excelencia e de prestigio na vide dos indi-vfduos sdo transportarlqs para as classes, concebidas quasecome individualidades colectivas. Este concepodo lava usual-mente os intelectuais que a condividem a pure contempleodoe registo dos meritos e demeritos, a uma posicdo odiosa epateta de dibiaros de contendas e atribuidores de prernios epunicOes. Gobetti fugiu praticamente a este destino. Revelou-seurn organizador da culture de extraordindrio valor e teve nesteUltimo periodo tuna fungfio que ndo dove ser transcurada nemmenosprezada pales operdrios. Cavou uma trincheira paradem da qual ndo se atrasaram aqueles grupos de intelectuaismais honestos e sinceros que em 1919-20-21 southern que oproletariado, come classe dirigente, feria sido superior a bur-guesia. Alguns corn boa-f6 e honestamente, outros corn md-fee desonestarnente, foram repetindo que Gobetti não era maisdo que comunista camuflado, urn agente, se nä° do Par-tido Comunista, pelo menos do grupo comunista de OrdineNuovo. Nem sequer ocorre desmentir tail ditos insulsos. A fi-gura de Gobetti e o movirnento per ale representado foramesponLineas producOes do novo clime histOrico italiano: nistoreside o sea significado e a sua importincia. Foi-nos algumasvezes censurado pelos camaradas de partido por n -do se ter

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coanbatido contra a corrente de idoias de Rivoluzione liberale:esta ausencia de luta, polo contrario, parece a prova de liga-Cab organica, de catheter maquiavelico (come costume di-zer-se) entre nOs e Gobetti. Não podiamos combater contraGobetti porque ele desenvolvia e representava um movimentoquo nao dove ser combatido, •polo manes em linha de princi-pio. Ndo cornpreender isto significa nao compreender a ques-ta.° dos intelectuais e a Nina() quo eles desenvolvern na lutade classes. Gobetti se:via-nos praticarnente de ligacao: I. cornos intelectuais nascidos no terreno da tecuica capitalista quotinham assumido ulna positho de esquerda, favoravel a dita-dura do proletariado, em 1919-20. 2. corn uma serie de inte-leotuais meridionais quo, Craves de ligagaes mais complexas,apresentavam a questho meridional •um terreno diverso dotradicional, introduzindo-lhe o proletariado do None: destesintelectuais, Guido Dorso é a figura mais completa e interes-sante. Porque deverfamos lutar contra o movimento de Rivo-luzione liberale? Talvez porque nao era constithido per comu-nistas puros quo aoeitasscn de A a Z o nosso programa e anossa doutrina? 1st° nao podia ser naquerido porque teria sidepolitica e historicamente tun paradoxo. Os intelectuais desert-volvem-se lentamente, muito mais lentamente do quo qualqueroutro grip° social, pela sua pr6pria natureza e funekt hist6-rico. Representam toda a tracheae cultural de urn povo, que-rem restunir-lhe e sintstizar-]he toda a histaria: seja isto ditoespecialmente acerca do velho tipo de intelectual, do intake-tual nascido no terreno caanpones. Pensar, come possibilidacle,que ele pode, come massa, romper corn todo o passado pathse pair completamente no terreno de uma nova ideologia,absurd°. absurdo para os intelectuais come massa e talvezabsurdo tambern pan muitissimos intelectuais oonsideradosindividualmente, nab obstante todos os honestos esforcos quefazem e querem faun Ora a nas interessam os intelectuaiscomo massa e nao apenas come individuos. 2 decerto impor-tante e para o proletariado que urn ou mais intelectuais,individualmente, adiram ao seu programa e a sua doutrina,

- se oanftmdam no proletariado, dele se totem e se sintamparte integrante. 0 proletariado, como classe, 6 pobre de do-memos organizativos, nao tern e nä° pode format um estratopreprio de intelectuais sena° muito lentamente, corn muita fa-cliga e so depois da conquista do poder estate. Mas e tambemimportance e Cutil que na massa dos intelectuais Se determine

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Irma fractura de catheter or 'gamic°, historicaanente caracteri-zada- que se forme, como formatho de roam, uma tendenciade esquerda, no moderno significado da palavra, isto 6, orien-hada pare o proletariado revolucionario. A alianta entre pro-letatiado e masses camponesas exige esta formano: corn Maki(rano a exige a alianca entre o proletariado e as masses cam-ponesas do Mezzogiorno. 0 proletariado destruira o blocoagrario meridional na medida em que conseguir, através doseu Partido, organizar cada vez mais nothveis znassas de oam-poneses pokes em formacares aut6nomas e independenter, masconseguird, em medida mais ou mores larga, a sua tarefaobrigatOria subordinadamente a sua capacidade de desagregaro bloco intelectual quo 6 a armadura flexivel mas resistaufs-sirma do bl000 agrario. Pam a soluclo desta tart o proleta-riado foi ajudado per Piero Gobetti a nOs pensamos quo osamigos do motto continuartho, mesmo sem a sua guia, a obeaempreendida quo 6 gigantesca e dificil mas, precisamente perisso, digna de todos os s.acrificios (ate da vida, como foi ocaso de Gobetti) daqueles intelectuais (e sac muitos, math doquo se pease) setentrionais e meridionais quo compreenderamserem essencialmente nationals e portadcats do futuro apenasduas farcas socials: o proletariado e os camponeses

es) 0 maztuscrito interrompe -se aqui.

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APENDICE

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A SITUAC.A0 ITALIArAnE AS TAREFAS DO P (*)

A transfannagAo dos partidos oxnunis (nos quads sereane a vanguards da classe operaria) em partidos bolcbevis-tas, pode-se considerar, no momenta presente, coma a tarefundamental da International Comunista. Esta tarefa deve serposts em relagab com o desenvolvimento histerico do movi-mento operatic international e, em particular, corn a luta queat desenvolve no seu inter-no entre o marxismo e as correlatesque oonstitufam urn desvio dos princfpios e da pratioa da lutade classe revolucionaria.

Em Italia, a tarefa de criar um partido bolchevista s6assume todo o relevo que 6 neoessaxio se se tem presentes asperipecias do movimento operario, desde o sou inicio, eas deficiancias fundamentals pre nele se revelaman.

0 nascimento do movimento operario teve lugar deforma diversa em cada pais. Em comum, assistiu-se em todaa parte a espontanea rebelfao do proletariado contra o capi-talismo. Este rebelião assumiu por6m, em cada nagac, tunaforma especifica, a qual era reflexo e consequ8ncia des par-ticulares caracbtristicas naciocais dos elementos que, provindoda pequena burguesia e dos camponeses, tinbam contribuidopara former a grande massa do proletariado industrial.

(•) Teses aprovadas pelo III Congresso do Partido Comunista Ita-liano que se realizou clandestinamente, em Janeiro de 1926, em Lyon.0 documento foi redigido por Gramsci corn a colaboracilo principal deTogliatti e do grupo dirigente presente no Congresso.

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O marxismo constituiu o element° consolidate, ciontlfico,superior ao particularism° das varias tendencies de cathetere arigem national e conduziu contra etas uma luta no oampotearioo e no camp° da organizacao. Todo o process° forma-tive da I Internacional kw come eixo esta luta, a qual seconcluiu can a expulsão do bakaninismo da Intarnacionai.Quando a I Internacional deixou de existir, o marxismo jatinha triunfado no movimento operario. A II Internacionalfonnou-se, de facto, corn os partidos quo aderiam ao mar-xismo e o assumiam como fundament° da sua thotica an todasas questiks essenciais.

Depois da vitoria do marxismo, as tendencias de catheternacional, das quail tin ha tritmfado, procuraram manifestar-seper outro lade, ressurgindo no preprio interior do mandsmocorm formes de revisionism°. Este process° foi favorecidopolo desenvolvimento da fase imperialista do capitalism°. Es-tao estmitamente conexos coin este fenomeno os seguintes teesfactos: a diminuicao, nas filas do movimento operario, dacritica do Estado, parte essential da doutrina marxista, a qualse substituem as utopias deonocraticas; a formagao de umaaristocracia operania; uma nova transfereacia de massas dapequena burguesia e dos camponeses para o proletariado 0,portant°, uma nova dna°, entre o proletariado, de oorrentesideolegicas de catheter nacional, contrastando corn o mar-'cisme. 0 process° de degeneracao da II Internacional assumiuassim a forma de uma luta contra o marxismo que se desen-volvia no interior do preprio marxismo. Aquae culminou naruina provocada pela guerra.

0 Mice Partido quo se salvou da degeneracao foi o Par-tido Bolchevista, o qual con.seguiu raanter-se a frente do movi-mento operario do preprio pais, expulsas do sou intern° astendencias antimarxistas, e elaborou, atraves das experien-alas de his revolucOes, o leninismo, quo é o marxismo daepoca do capitalism° monopolista, das guerras imperialistase da revolucao proletaria. Determinou-se assim historicamentea posicao do Partido Bolchevista, na fundagao e a franc daIII Internacional, e puseram-se os termos do problema da for-macao de partidos bolchevistas em todos os palms: o pro-bleina de chamar a vanguarda do proletariado a doutrina ea pathtioa do marxismo revolucionario, superando o liquiclandocompletamente todas as conentes antimarxistas.

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3. As engem a as peripecias do tnovimento operfirio foramtais, em BAHR, quo nuns se canstitulu, antes da guerra, umacarrente de esquada anarxista quo tivesse um catheter de per-maneacia e de continuidade. 0 catheter onginirio do •movi-mento operatic Italian foi tnuito confuse; nab conflufran=darkens diversas, do idealism° mazzinieno ao generic° uni-tarian° dos cooperadores a dos fautores da mutualidade a aobakunismo, o qual sustentava quo existiam em Italia, mesmoantes de um desenvotvimento do capitalism°, as condiebespan passer imediatamente ao socialism°. A tardia origem ea fraqueza do industrialism° fizettam faltar o elematto clari-licador dado pek existencia de um forte proletariado, a live-ram come consequencia quo tambem a ciao endue anarquita-tas a socialistas se verificau corn um atraso de uns vine anos(1892, Congnesso de Genova).

Quando saki do Congress° de Genova, du gs eram as cor-rentes dominates no Partido Socialista Italian°. De urn ladohavia um grupo de intelectuais quo nao representavam maisdo quo a tendencia para uma reforma demooritith do Estado;o seu marxismo nao ultrapassava o propOsito de suscitar eorganizar as forms do proletariado path as utilizer na instau-raga° da democracia (Turati, Bissolati, etc.). Do outro, urngrupo mais direotamente ligado ao movimento prokthrio, re-presentando uma tendencia crperana, mas despmvido de qual-quer adequada consciencia teerica (Lazzari) Ate 1900, o car-net) nao propes outros fins quo nao fossem de catheterdemocratic°. Conquistada, depois de 1900, a liberdade de or-ganizacao a iniciada tuna fase democratic:a, foi evidente a inca-pacidade de todos os grapes quo o compunham pan the dara fisionomia de um partido marxista do proletariado.

Os elementos intelectuais afastarem-se cada vez mais diclasse opethria e nao resultru a tentativa, divide a outro es-trate de intelectuais e pequenos burgueses, de constituir umaesquerda marxista quo tomou forma no sindicalismo. Comoreaccao a esta tentativa, triunfou -no interior do partido afraccao integralista, a qual foi a express -4a, no sou vazio ver-balism° conoiliador, de uma caracteristica fundamental domovimento °paid° italiano, quo se explica, ela lambent, pelafraqueza do industrialism° e vela deficient° oonsciencia arnicado proletariado. 0 revolucionarismo dos anos precedenta Iguerra manteve intacta esta oaracteristica, nunea oonse.gumdosupenar os confine do generic° papularismo pant *Maw a

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construed° de urn partido da classe operiria e a apnea-do domatoclo da luta de classes.

No interior desta correlate revolueionaria comecou a dife-renciar-se, jd antes da guerra, urn grupo de textrema-esquerda)qua sustentava as teses do marxismo revolucionario, por6msem continuidade e sem conseguir exercer uma influencia realno desenvolvimento do movimento opertrio.

Deste modo se explica o catheter negative e equiv000 quateve a oposicao do Partido Socialista a guerra a explica-secomo o Partido Socialista se encontrava, depois da guerra,diante duma situagao revolucionaria imediata, sem ter resol-vido, nem posto, qualquer dos problemas fundamentals que aorganizacao politica do proletariado deve resolver para actuaras suas tarefas: em primeiro lugar, o problema da tescolhada classes e da forma organizativa a ela adequada; depois oproblema do programa do partido, o da sua ideologia e, final-manta, os problemas de estrategia a de tactica cuja resolucaolava a reunir a volta do proletariado as fords que ]he saonaturalmente aliailas na luta contra o Estado e a guid-lo naconquista do poder.

A acumulacdo sistematica de uma experienck que possacontribuir de modo positivo pan a resolugao destes proble-mas inicia-se, em Italia, apenas depois da guerra. SO corn oCongresso de Livorno se puseram as bases constitutivas dopartido de classe do proletariado, o qual, para se Omar umpartido bolchevista e actuar plenamente a sua fundo, doveliquidar todas as tendencios antimarxistas tradicionalmenteprOprias do movimento °reran°.

Andlise da estrutura social italiana

4. 0 capitalismo 6 o elemento predominante na sociedadeitaliana e a ford que prevalece ao determinar o desenvolvi-mento dela. Deste dado fundamental deriva a cousequenciaque nab existe em Italia possibilidade de uma revoludo quenä° seja a revoluclo socialista. Nos paises capitalistas, a Unicaclasse que pode actuar uma transformagao social, real e pro-funda, 6 a classe opethria. SO a classe opethria 6 capaz detraduzir em ado as transfermacOes de catheter econdmico epolitico que sao neeessarias para que as energias do nosso palstenham liberdade e possibilidade de desenvolvimento compie-

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tas. 0 mode comp ela aotuard es* sua fundo revolucionariaesta em welacao cam o gnu de desenvolvimento do capita-lismo em Italia a corn a estrutura social qua a ele corresponde.

0 industrialismo, que 6 a parte essoacial chicapitalism°,6 elm Italia muito delail. As suas possibilidades de desenvol-vimento sae limitadas, quer pela situado geografica queryelafalta de materias-primas. NA° consegue, portant°, absorver amaioria da populado italiana (4 milhlies de °peados indus-trials contra 3 milhOles a mein de opedzios agricolas e 4 mai-Ih5es de camponeses). Opik -se ao industrialismo uma agri-culture que se apresenta naturalmente como base da economiado pats As variadissimas condicOes do solo e as consequent=diferengas de cultura a sistemas de exploragao provocamporem uma forte diferenciado das classes rurais, core tunapoevalencia dos estratos pobres, mais prOximos das condigdosdo proletariado a mais aptos a receber a sua influencia e aaceitar-lhe a direcdo. Entre as classes industrials a agrariasinterpOe-se uma pequena burguesia urbana bastanre espalbaclae que tem tuna import:1=1a acsav grande. Consta prevalente-manta de artifices, prefissOes liberals a empregados do Estado.

A fraqueza intnn' seca do capitalismo obriga a classeindustrial a adoptar expedientes path garantir o controlo deCoda a economia do pats. Estes expedientes roduzem-se, emsubstancia, a urn sistema de compromissos econ6micos entreuma parte dos industriais a uma parte das classes agricolas,precisamente os grandes proprietarios de terras. Nao tem, por-tant°, lugar a traditional luta econOmica entre industriais eagrarios, nem tern lugar a rotado de grupos dirigentes que eladetermina noutros mists. Por outro lado, os industriais nä°tem necessidade de sustentar, contra os agthrios, uma politicaeoondmica que essegure o continuo afluxo de Me-de-el:eta docampo pan as facie:as, porque este afluxo 6 garantido pelaexubtrancia de papulacao agricola pobre que 6 caracteristicada Italia. 0 acordo industrial-agrario baseia-se numa solida-riedade de interesses entre alguns grupos privilegiados, emprejuizo dos interesses gerais da populacao e da malaria quetrabalha. Isso determina uma acumulado de riqueza na maodos grandes industrials, que 6 consequencia de tuna espoliacaosistematica de inteiras categorias da populagao e de inteirastegiOes do pais Os resultados desta politica econt5mica sao,

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de facto, o deficit do balanco econOmico, a tmvagem do de-senvolvimento coondmico de inteiras regiOes (Mezzogiorno,Ilhas), o impedimenta que surja e at desenvolv-a uma econo-mia naaionnente adaptada a estrutura do pats e aos seus recur-sos, a miseria crescente da populacao trabalhadora, a exisaa-cia de uma continua corrente de emigracäo e o cons:quantaempobbscimenbo deanografico.

Como ndo controla natusalmente toda a economia, aclasse industrial ado coosegue também organizar, por ea 66,a sociedade inteira e o Estado. A construcao de um Estado na-tional sO the foi possivel pela exploa-acao de factores de poli-tica internacional (o chamado Ressurgimento). Pane o reforcodole a pars a sue defesa é necessario o comer omisso corn asclasses sobre as quads a indtistria exerce uma hegemonia limbtada, particularmente os agrarios e a pequena burguesia. Daquideriva uma heterogeneidade e uma fraqueza de toda a estru-tura social a do Estado qua dela 6 expressao.

7a. Urn reflex° da fraqueza da estrutura social reside,de modo tipioo, antes da guerra, no exercito. Um circulotrito de oficiais, dosprovidos do prestfgio de chefes (velhasclasses dirigentes agrarias, novas classes industriais), temabaixo de si uma casta burocratizada de oficiais subalterns(pequena burguesia), a qual 6 incapaz de servir de ligagao amassa dos soldados, indisciplinada e abandonada a si prOpria.Na guerra, o exercito 6 obrigado a reorganizar-se a partir dabase, depois da eliminacão dos grans superiores e drama trans-formacäo de estrutura organizativa que corresponde ao adventode uma nova categosia de oficiais subalternos. Este fenOmenoprecede analoga operagdo que o fascism° executara, numaoscala mais vasta, em relagäo ao Estado.

As relacdes entre indtistria e agricultura, que &do essen-ciais pars a villa econOmica de urn pats a pars a determina-gab das superstruturas politicas, tern em Italia uma baseterritorial. No None estao centralizadas em alguns grandescentros a producao e a populagdo agricola. Como consequ .in-cia disso, todos os contrastes inerentes a estrutura social dopats contem em si urn element° que toca a unidede do Estadoe pee-na em perigo. A solaria° do problema 6•procurada pelosgrupos dirigentes burgueses e agr earios atraves de um compro-

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MiSn90. Nenhum destes grupos possui naturalmonte urn cask-ter unitazio e uma famed° unitaria. 0 compromise. o corn oqual a unidade at salve 6, alem disso, de tal modo que tonnamais grave a situacao. Aquele dfi as populacOes tnabalhado-ras do Mezzogiorno ume. posicao andloga a das popula-cOe,s colonials. A grande in:hist:6a do None, em relacao a -elas, cumpre a funCao das metrOpoles oapitaiistas, os grandesproprietarios de tetras e a prOpria media burguesia meridio-nal pOem-se, polo contrario, na situagao das categorias quenas cohfnias at aliam as metrOpoles pare submeter a massado povo que trabalha. A exploracao econOmica e a opressaopolitica unem-se portant° pant fazes de populacio trabalha-dora do Mezzogiorno uma forca continuamente mobilizada•contra o Estado.

x 9. 0 proletariado tem em Italia tuna ianportancia superiora que tem noutros pais' es ouropeus. mesmo o capitalism° ma isavaneado, comparavel s6 a que tinha na Rftssia antes da revo-lugao. Isto esta, acima de tudo, em Macao corn o facto de ainthistria se basear (pela esoassez de materias-primas) prole-rentemente na mat-de-obra (operariado especializado), por-tant° cam a haterogeneidade e corn os contrastes de interessesque enfraquecem as classes dirigentes. Perante (eta heteroge-neidade, o proletariado apresenta-se como o tinico element°que, pela sue natureza, tem tuna funcao unificadora e coor-

denadora de toda a sociedade. 0 seu programa de classe 6 oMaio° programa tunitariot, isto 6, o Cunt* cuja actuaglo" nAoconduz ao agravamento dos contrastes entre os diversos ele-mentos da economia e da sociedade e nào leva a despedacasa unidade do Estado. Ao lado do proletariado industrial, akindisso, existe uma grande massa de proletirios agricolas, can-tralizada sobretudo no Vale do P6, facilmente influenciadapoles operdrios da indtistria e portant° facilmente mobilizavelna luta contra o capitalism° e o Estado.

Verifica-se em Italia uma oonfirmacao da tese seguttdo aqual as oondicOes mais favoraveis pam a revolucäo proletarianao se observam necessariamente sempre nos raises code ocapitalism° e o industrialism° atingiram o mais alto gran dosou desenvolvimento, podendo, pelo contrario, verilicar-se °tideo tecido do sisterna capitalista oferece menores resistamias,pelos suns fraquezas de estrutura, a um ataque da classe revo-lucionaria e dos sous eliados.

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A politica da burguesia italiana

0 objectivo quo as °lasses didgentes italianas se pro-puseram alcangar, a partir das origens do Estado =nazi% foio de submeterem as grandes masses da papilla* trabalha-dora, impedindo-thes quo se tornassem, organizando-se a voltado- proletariado industrial e agricola, uma forga revoluciona-ria capaz de actuar tuna completa transformagdo social epolitica e dar vida a um Estado proletirio. A fraqueza intrin-seta do capitalism° obrigou-as, •or6m, a estabelecer comobase da ordain econdmica e do Estado burgues uma unidadeobtida atraves de compromissos entre grupos Tido homoga-peas. Numa vasta perspectiva histOrica, este sistema demons-tra-se nip adequado acs objectivos quo pretende. Todas asformas de comprornisso entre os diversos grupos quo dirigema sociedade italiana resolver-se, de facto, num obsticulo parao desenvolvimento de uma ou de outra parte da economiado pais. Assirn se determinam novas contrastes e novas Mae-toes da malaria da populacdo, toma-se neces.sdrio acentuara pressão sabre as massas e produz-se um estimulo oath vezmais decisivo para a sua rnobilizacao, revoltando-se contra oEstado.

0 primeiro period° de vida do Estado italiano (1870--1890) 6 o da sua manor fraqueza. As dims panes de quo secomp& a classe dirigente, os intelectuais burgueses, de urnlado, e os capitalistas, do outro, estdo unidas corn o prop6-sito de manter a unidade mas divididos sobre a forma a darao Estado unitario. Falta-lhes uma homogeneidade positiva.Os problemas quo o Estado prop& sáo linntados; dizean pre-ferentemente respeito a forma e não a substancia do dornfniopolitico da burguesia; subrepOe-se a todos o problema do equi-libria, quo 6 um problema de pura couservacão. A oonscl ien-cia da necessidade de alargar a base das classes quo dirigemo Estado 000rre apenas corn o inicio do ktransformismok.

A major fraqueza do Estado é dada neste period° polofacto de, fora dale, o Vatican° agrupar a sua volta urn blocoreaccionario e antiestatal ormstituido pelos agrarios a pelagrande massa dos camponeses atrasados, controlados -e dirt-gidos pelos ricos proprietarios e pelos padres. 0 programa doVatican° consta de duas panes: quer lutar contra o EstadoburguEs unitario e Eliberal) e, ao mesmo tempo, propee-se

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constituir, corn os camponeses, um exescito de reserva contrao avant° do proletariado socialista, provocado polo desenvol-vianento da andUstria. 0 Estado reage a sabotagem quo aVatican realiza em sou prejuizo a promulga uma logislaCaode contend° a objectivos anticleaicais.

12. No period° cue decant de 1890 a 1900, a burguesiaencara resolutamente a problema de organizar a sua ditadurae reso/ve-o corn uma sane de medidas de caracter politico eeconomico de quo (kg:leaden a sucessiva histOria italiana.

Em primeiro lugar, resolve-se o dissidio entre a burguesiaintelectual e os industrials: o advent° do poder de Crispi 6 osisal. A burguesia assim reforcula resolve a questio das suasrelacOes corn o estrangeim (Triplice alianca) conquistandotuna seguranca quo the •ermite tentativas de oolocacab nocampo da concorrtncia internacional para a oonquista de mar-cados colonials. A ditadura burguesa instaura-se politicaanenteno pats corn urea restricao do direito de voto quo reduz ocorpo eleitoral a pence mais de urn milhao de eleitores em30 anillaties de habitantes. No campo econOmico, a introducäodo protectionism° industrial-agrario conresponde ao propd-sito, par parte do capitalism°, de conquistar o control° detoda a riqueza nacional. Por Mat:radio dole consolidou-seuma fauna entre os industrials e os agrarios. Esta aliancatiro ao Vatican° tuna parte das Mayas quo ale agrupava a suavolta, sobretudo os proprietarios de terras do Mezzogiorno,e fa-las entrar no quadro do Estado burgu6s. 0 prOprio Va-tican°, de resto, advent a necessidade de dar major relevoparte do seu programa reaccionario quo se rekre a moisten&ao movimento operario e toma posicio contra o socialism°coma encielica Return Novarum. As classes dirigentes rea-gem porem ao perigo quo o Vatican° continua a representar.pasta o Estado, organizando-se unitariamente, corn um pro-grama anticlerical na magonaria.

Os primeiros progressos reais do movimento operazioocorrem, de facto, neste period°. A instauragab da ditaduraindustrial-apt-la pOe nos seas termos teals o problema darevoluctio, determinando-lhe os factores histOricos. Surge noNorte urn proletariado industrial e agricola, enquanto no Sula popular* agricola, submetida a um sisterna de exploracãoncolonial n , tern de sea tnantida corn urns oompress7ao politicscat vez mans forte. Os termos da tquestão meridional) sit°

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postos, neste periodo, de mode nftido. E espontaneamente,sem a interveneão de um factor coasciente e sent que o Par-ticle Socialista extraia sequer dente facto uma indicacão panta sue estrategia be particle da olasse operaria, verifica-se nesteperiod°, pela primeira vez, a confluencia be tentativas 111SIIT-

reccionsis do proletariado setentrional corn uma revolta decamponeses meridionais (os afasciosa sicilianos).

13. Vencidas as primeiras teatativas de Salmi C-do do pro-letariado e dos camponeses contra o Estado, a burguesia ita-liana consolidada pode adoptar, pare impedir os progressesdo movimento operatic), as metodos exteriores da dernocraciae os da corrupeão politica em Dela*, a pane mais avanatdada populacio trabalhadora (aristocracia operaria) pant a tor-nar ctim.plice da ditadura neaccionaria que ela continua a exer-cer e impedir que se tome o centre da insurreie5o popularcontra o Estado (giolittismo). Verifica-se, por6m, entre 1900e 1910, uma Ease de concentrup5o industrial e agraria. 0 pro-letariado agricola armee cerca de 50 per canto em prejufzodes categories dos (servos da gleba), meeiros e rendeiros. Porisso se verifica tuna onda de movimentos agrfoolas e umanova orientatão dos camponeses que obriga o prOprio Vati-can a reagir com a ftmdagão da AccAo" GatOlica e corn urnmovimento "social " que chega a atingir, nas suns farmas ex-camas, a aparencia de uma reformat religiosa (modemismo).A esta reaccão do Vaticano pars ago perder o controlo dwsmasses coarespande o acordo dos catOlicos corn as classes diri-gentes pare dar ao Estado uma base mais segura (abolipiedo non expedit, pacto Gentiloni). Tambem no fim dente ter-ceiro period° (1914), as diversos moviraentos parciais do pro-letaa-iado e dos camponeses culminam numa nova e Moons-ciente tentative de unidade des diverses forms de massa anti-estatais, numa insurreic5o contra o Estado reaccionario. Neststentativa 6 ja poste tom suficiente relevo o problema que sur-

em toda a sua vastid5o, no pOs-guerra: isto 6, o pro-blema da necessidade de o proletariado organizar, no sea inte-rior, van pertido be classe que the de a capacidade be se perA. frente da insurreick e de guia-la.

14. 0 maximo de concentracão economica, no cainpo in-dustrial, verifica-se no pOs-guerra. 0 proletariado atinge ofoals alto gran de organinagäo e a ale corresponde o maxim°

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de desagregaello das classe dirigentes e do Estado. Todas ascontra/dip:3es inerentes ao organismo social italiano afiaramcorn a maxima crueza daclo o despertar des mama, mesmoas maths ata-asadas, para a vida politioa, provocado pela guerrae pelas suss consequencias imediatas. E, come sempre, otwang° dos operidos da indüstria e da agriculture 6 acorn-panhado per uma a,gitagao profunda des masers dos canape-neses, quer do Mezzogiorno quer des outras meets. Asgrandes graves e a ocupagio des fabricas desenvolvem-se con-teraporaneamente a ocupagão des tortes. A resistencia das far-pas reactionaries exea-ce-se ainda segundo a direcgio tradi-tional. 0 Vaticano consente qua, ac) lado da Accra° Cacao%se forme um verdadeito e preprio partido, o qual se propOeinserir as massas camponesas no quads° do Estado burgues,aoontentando aparentemente as suss aspimeees de redencioeconemica e de &mac:rutin politica. As classes dirigentes, potsue vez, =tam em grande estilo o piano de corrupeab e dem/gregagdo imam do movimento operatic), laved° apareceracs chafes oportunistas a possibilidade que uma aristoaaciaoperiria colabore tom o Govern numa tentativa de solueioareformistaa do problema do Estado (Govern be esquerda).Mas num pats pobre e desunido come a Italia, a possibilidadede tuna solueäo areformistaD do problema do Estado provocainevitavelmente a desagregaedo da estrutura estatal a social,a qual n5o resists ao cheque dos numerosos grapes em queas prOprias classes dirigentes e as classes intermedias se pul-verizam. Cada grupo tent exigencies prOprias be proteceãoeconOmica e de autonomia politica e, na ausencia de umhamogeneo nticleo de classe que saiba imper, corn a sua dita-dura, tuna disciplina de trabalho e de producito a Dodo o pals.dispersando e eliminando os exploradores capitalistas- agra-rias, o Govern tome-se impossivel e a aise do pada* 6 con-tinual:nate aberta.

A derrota do proletariado revoluciontuio deveu-se, nesteperfodo decisive, as deficiencies polfticas, organizativas, tac-ticas e estrategicas do partido dos trabalhadores. Como con-sequencia deltas deficiencia.s, o proletariado não oonseguepOr-se a frente da insurreicie da graaule malaria dacZio a faze-la desanbocar na criacao de um Estado open trio:ale prOprio, pelo comrade, sofre a influent's be outras classessociais que the paralisam a cce-c5o. A vithria- do fascisnao em

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1922 deve set considerada, portant°, cap come uma viteriasobre a revolugao mas come a consequencia da derrota quecoube as forges revolucionarias pelo seu intrinseco defeito.

0 fascismo e a sua politica

15. 0 fascism°, come movimento de reaccao armada prese prop& o objectivo de desagregar e de desorganizar a classetrabalhadora pars a imobilizar enquadra-se no piano da poli-tica tradicionel des classes dirigentes italianas e na luta docapitalismo contra a classe operdria. E por isso favorecido, nasua origem, na sua organizagao e no set caminbo por todases velbos grapes dirigentes, indistintamente, corn preferencia,por6m, poles agrärios que sentem mais ameagadora a pres-Sao das plebes meals. Socialmente, por6m, o fascism° enoon-trra a sua base na pequena burguesia urbana e numa novaburguesia agraria said:a de tuna transformagao da propriedaderural em algumas regilies (fenOmenos do capitalismo agrariona Emilia, origem de uma categoria de intermediaries rurais,aincentivos da terra», novas divisdes de terrenos). Este facto

a circunstancia de ter encontrado uma unidade ideolOgica eorganizativa nas formaglies militares, onde revive a tradicaoda guerra (oarditiamoD)(*), e que servem de guerrilha contraos trabalhadores, permirem ao fascism° conceber e ectuar umpiano de conquista do Estado, contrapondo-se as velhas clas-ses dirigentes. E absurd° War de revolugao. As novas cate-gorias que at agrupam a volta do fascismo extraem, por6m,da sua origem uma homogeneidade e tuna mentalidade comumde (capitalism° nascenteD. late explica como 6 possivel a lutacontra os hornets politicos do passado e come podem justifi-ca-la corn uma oonstructio ideolOgica em contraste com asteorias tradicionais do Estado e das sues relagaes com as cida-dace. 0 fascismo modifica, na substincia, o programa de con-servacao e de reaccao que sempre dominou a politica italianaapenas na diversa maneira de conceber o process° de unifica-gab das forgas reaccionarias. A tictica dos acordos e doscompromissos, substitui o propOsito de =Emir uma unidadeorganica de todas as forgas da burguesia num alit° Orga-

(*) Ardito: Soldado dos batalhaes de assalto, institutdos durantea Primeira Guerra Mundial. —(N. do T.)

risme politico ocmtrolado per uma Unica central que deveriadirigir simultaneamente o Partido, o Govern e o Estado. EstepropOsito corms/Node a vontade de rests& completamente aqualquer ataque revolucionerio, o que reunite ao fascismorecolher as adesoes da parte decididamente mais reacciontiada burguesia industrial e dos Sties.

16. 0 meted° fascism de defesa da cadent, da propriedadee do Estado, ainda mills do que o Sterna tradioional dos com-prumissos e da politica de esquerda, 6 desagmgador das clas-ses sociais e das suas superstruturas politicas. As reacgetesque provoca devem sec examinadas em relagaocom a sua apli-cacao, quer no campo econOmico quer no campo politico.

No campo politico, antes de mais, a unidade organics daburguesia, no fascism o, nab se [canna imediatameate depotsda conquista do pedal-. Fora do fascismo, persistent centresde oposigao burguesa ao regime. Por um lade, OD 6 absor-vide o grupo que tent f6 na solugao giolittiana do problemado Estado. Este grupo lip-se a uma secgao da burguesia in-dustrial e, com um programa de reformismo atrabalhistas,exerce influencia sobre estzatos de operarios e pequenos bur-gueses. Por outro, o programa de hinder o Estado sobre Irmademocracia rural do Mezzogiorno' e sobre a parte (sal; daindastria setentrional (Corriere della sera, liberalism% Nitti)tende a lamas-se um programa de tuna organizagao politicade oposigao ao fascismo com base's de massa no Mezzogiorno(Uniao Nacional).

0 fascism° 6 °brigade a leer contra estes grupos sobre-ViVellte6 com muita vivacidacle e a later com vincidade aindamanor contra a maconaria, que ale considera justamente comocentre de organizagao de todas as tradicionais forges de apoioao Estado. Esha luta, que 6, queiram on au, o indicio de umafractura no blow das forgas oonservadoras e antiproletaries,pode favorecer, em determinadas circunstancias, o desenvolvi-mento e a afirmagao do proletariado come wrceiro e decisivefactor de tuna &Mind° politica.

No carve econemice, o fascism° age come instrumentode uma digarriuia industrial e agriria pars centralizar, namao do capitalism°, o controlo de todas as riquezas do pats.1st° nap pode deixar de provocar um descontentamento napequena burguesia que, corn o advento do fascismo, julgavachegada a em do sell dominio.

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Toda tuna skit de medidas foi adoptada pelo fascism°para favorecer uma nova concemtracao industrial (abolicaodo impost° sucessOrio, politica financoira e fiscal, agudivagaodo proteccionismo) e a elas correspond= outras medidas aflavor dos agrarios e contra os pequenos e medics cultivado-COS (impostos, impost° sobre o trigo, abatalha do trigo.).A acumulacao detorminada por estas medidas nä° se traduzem acre:scimo de riqueza nacional mas 6 a espoliacao de umaclasse a favor da outra, isto 6, das classes tmbalhadaras emedias a favor da plutocracia. 0 piano de favorecer a pluto-cracia ,aparece, sem pudor, no projecto de legalizar no novo'a:dig° de comOrcio o regime das acceies privilegiadas; umpequeno grupo de finanreiros 6, date modo, posto em condi-cOes de poder dispor, sem controlo, de grandes masses depoupanca provenientes da media e pequena burguesia e estascategorias sao expitiviiadas do direito de disporem da sua ri-queza_ No mesmo piano, mas Qom consequencias politicamais vastas, enquadra-se o projecto de mificagao dos bancosomissones, isto e, na pratica, de supressao dos dots grandesbancos meridionais. Estes dais beams cumprem hoje a fun-cao de absorver as poupancas do Mezzogiorno e as romes-sas dos emigrants (600 milhecs) isto 6, a Naga° qua, nopassado, cumpria ao Estado, corn as emissdes de Mulcts dotesouro, e ao Banco de Dosconto, no intesesse de uma parteda indttria pesada do Norte. Os bancos meridionais foramcontrolados, ate agora, pelas prOprias classes dirigentes doMezzogiorno, que encontraram neste controlo uma basereal do seu dominio politico. A supressao dos bancos Mali-

ctionais, como bancos emissores, fard passar esta funcao paraa grande indastria do Norte, clue =arab, atmves da bancacomercial, o Banco de Italia e, deste modo, awn/tar-se-á aexploracao econemica acoloniala e o empobrecimento doMezzogiorno e, aletn disso, acelerarse-d o lento processode separacao do Estado tarnbam da pequena burguesia me-ridional.

A ,politica econOmica do fascism° complota-se cora as pro-videncias para scalps o curso da moeda, pan sanear o belancodo Estado, para pagar as dividas de guerra e favorecer a inter-vengao do capital anglo-americano ma Italia. Em Was estercampos, o fascism° actua o programa da plutocracia (Nitti) ede "Mgminter industrial-agraria em projuiZo da grande raaio-

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ria da populagao, cujas a:iodic -des de vida pioram progressi-vamente.

Coroamento de toda a propaganda ideolOgica, da acgaopolitica e econOmica do fascism° 6 a sua tendência' pans ocimperialisinot. Esta tendencia 6 a expressa,"a da necessidatteseatida pelas classes dirigentes industriais-agrarias itaiianaspara encontrarem fora do campo nacional as dementia panea rosolucao da crise da sociedade italiana. Nela residem osgermeis de =a guerra que sera cambatida, aparentemente,para a expansao italiana mas na qual, na realidaie, a Italiafascism sera um instrumento nas macs de um dos grupos imperialistas quo disputam o dominio do mundo.

17. Como oansequOncia da politica do fascism°, determi-nam-se profundas creaccOes das rna&-aas. 0 feithmeno mais grave6 a separagao, cads vez mans decidida, das populagOes agra-rias do Mezzogiorno a to IIhas, em relagao ao sistema de(arca que regain o Estado. A velha classe dirigente local (Or-lando, Di Cesare), De Nicola, etc.) ja Ma exorce de modosistematico a sua funcao de and de conjugacao cam o Estado.A pequena burguesia tende, portant°, a aproximar-se doe cam-poneses. 0 sistenta de exploracao e de opressao das massasmeridionais 6 levado ao extrema polo fascismo; into facilitya radicalizaga-o tamban das categorias intennedias e pEe aquestäo meridional nos sous verdadeinos termos, coma ques-ta° que sera resolvida apenas Nita insurreicao dos campone-ses abados do proletariado na luta contra os capitalistas econtra os agrarios.

Tambem as camponeses medics e pobres das outras partsda WWI adouirem uma fungal. ° revolucionaria, eindia que demodo mais lento. 0 Vatican — cuja furagao reaccionAria foiassumida pelo fascism° — ja ma° controls as populagOes in-;Ms de modo complete, atrav6s dos padres, da Accao Cat6-ilea e do Partido Popular. Ha tuna parte dos camponeses quafoi despertada para as lutas de defesa dos seas interest:es pelasprOprias organizagOes artoirizades e dirigidas pelas autorida-des eclesiasticas e que agora, sob a prank) econ6mica e poli-tica do fascism°, acentua a prepria orientagao de these ecomeca a sentir que a sua sante Ma 6 separivel da da classeop:traria- Indicio delta tendésicia 6 o fenemeno Miglioli. Umsintoma assaz interessainte 6 tambem o facto de as organiza-gees brancas (as quail, sendo uma parte da Acr,5o Cat6lim

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sic controlaths directamente pelo Vatican) ter= de entrarnos writhes intersindicais corn as ligas vermelhas, expressaodaquele periodo preload° que os oatOlicos indicavam, ate1870, mono iminente na sociedade italiana.

Quanta ao proletariado, a actividade desagregadom dasSUSS forms cecontra urn Unite na resistencia passiva da grandemos/sat a quad continua fundamentalmente classista e ameacap5r-se em movimento mal se afrouxa a pressão Eska do fas-cism° e se *amain mais fortes os estimulos do interesse declasse. A tentativa de levar ao seu interior a cis -do corn ossindicatos fescistas, pole considerar-se falida. Os sindicatosfascistas, mudando o seu programa, tornam-se agora instru-mentos direotos de compressao reaccionaria ao service doEstado.

18. As perigosas inudangas e aos novas rectutamentos deforgas prevocados pela sus politica, o fascismo maga fazendoagravar sobre toda a sociedade o peso de uma forca militare um Stoma de cempressao que mentern a populacao agar-rada ao facto mecanico da producao, sem possibilidade deter uma vida prepaia, de minifestar uma vontade prepria ede organizar-se para a defesa dos sous interesses.

A chemada legislacao fascista sO tem como objective con-solidar e tornar permanente este Sterna. A nova lei eleitoralpolitica, as nuxlificacees da order° administrativa corn a intro-ducal° do administrador nos conselhos rurais, etc., queriamassinalar o fim da participacao das massas na vida politica eadministrativa do pals. 0 controlo das associac5es impedequalquer forma permanente (legal, de organizacao des mas-

ses. A nova politica sindioal.tire a Confederacâo do Trabalhoe aos sinclicatos de classe a possibilidade de conduit aoordaspara os excluir do contacto corn as massas qua se tinhamorganizado a sus volta. A imprensa prolearla foi suprimida.0 particle de chase do proletariado, reduzido a vida plena-manta ilegal. As violencias fisicas e es peneguic5es de Feliciasao adoptadas sistematicamente, sobretudo nas zones (Innis,para incutir o terror e manter uma situaglio de estado de shim

0 resultado desta oemplexa actividade de reaccao e decompressao 6 o desequilibrio entre a relacäo real das forcessocials e a relacao das forges organizadas, pelt) qua, a umaparonte regresso a normalidgde e a estabilidade, conresponde

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US= agudizacao de contrastes pontos a romper em cada ins-tante par novas vies.

18a. A raise que se seguiu so delito Matteotti fomeoeuurn exempk) da possibilidade de a aparente estabilidade doregime fascista set• perturbada pelts bases, dada a explosaoimprevista de contrastes =Eleatic% e politicos agudizadossem totem side advertidos. Ao mcsmo tempo, ela fomeceu aprom da incepecidade de a pequena burguesia guiar cornexit°, no actual periodo lister**, a luta contra a reaccaoinduearial-agaria.

Faros motrizes e perspectivas da revalued°

19. As forms anotrizes da reyolucao Italians, come resultada nossa anAlise, sao, per ordem da sua impartancia, as se-guintes:

A classe operaria e o prolotariado agricola;Os camponeses do Mezzogiorno e das Elms e os cam-

poneses das outros partes de ItAllia

0 desenvolvirnento e a rapidez do process° revoluciota-rio nao sao previsiveis fora de uma valorizactio de eleanentossubjectivos: into e, a medida qua a dame opereria conseguir

conquistar uma figura politica prOpria, uma consciencia declasse decidida e uma independencia de todas as outros clas-ses, a medida que conseguir organizer as suas forces, ou seja,exeroer de facto uma awl) de guia dos outros faotores e, emprimeiro lugar, conoretizar politicamente a sus aliens% cornOS camponeses.

Pode afarmar-se can linha geral e tom base, de pest°, naexperiencia italiana, que do periodo da preparaCeb revolu-ciondria se entrara num periodo revolucionftrio cimediatoiquando o proletariado industrial e agricola do Norte cense-guir reconquistar, polo desenvolvimento da situaclio objeotivae atraves de urns sena de lutas particular% e imediatas, umalto grau de organizacao e de combatividade.

Quanta aos camponeses, os do Mezzogiorno e das Ilhasdevem sea pastas na primeira minim entre as forces cam quedove oontar a insurreicao contra a ditadura industrial-agraria,

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embora nao se deva atribuir-lhes, fora de uma alianga corn oproletariado, uma importan- cia resolutiva. A alianca entre ales

os operirios 6 o resultado de um processo histOrio° naturalprofunt, favorecido pot todas as peripecias do Estado

italicize. Para os camponeses dais outras panes da polio oprocesso de orientagao para a aliaaga com o proletariado 6mais lento e devera ser favorecido pot uma atenta accdo poli-tica do particle do proletaxiado. Os sumo-cos ja obtidos emItalia, neste sector, indicam, de resto, que o problems de rom-per a alianca dos camponeses corn as foreas reaccionarias deveser poste, em grande parte, tarnban em outros paises daEuropa ocidental, come mode de destruir a influencia(La orgmiragdo cats:Mica sobre as MaSSing (lira

20. Os obstaculos ao desenvolvimento da revolucao, paraalem dos justificados pela pressao fascista, estio em relagdocorn a variedade dos grupos can que a burguesia se divide.Cada um destes grimes esfarca-se per exercer uma influencianuma secede da populacao trabalhadora para irapedir que seestenda a influencia do proletariado, ou no pre:Trio proleta-riado pasta the fazer perder a sua figura e autonomia de classerevoluciondria. Constitui-se, deste mode, tuna cadeia de for-ces reaccionarias que, partindo do fascismo, coinpreende osgrupos antilascistas que nto rem glandes bases de massa (libe-rals), os que tem uma base nos camponeses e na pequenaburguesia (democratas, oombarentes, populares, republicans)e, em parte, tambern nos operarios (Partido Ref ormista), e osque tondo uma base proleteria tandem a mutter as mr,ssasoperarias anima candied° de passividade, fazendo-Ihes seguira politica de outras classes (Parade Maximalista). Tarabem ogrupo que dingo a Confederacao do Trabalho dove ser consi-derado na mesma proporcao, isle 6, come velculo de umainfluencia desagregadora de outnas classes em relacao acs tra-balhadores. Cada urn dos grapes que indicames tem ligada asi uma parte da populacdo trabalhadora italiana. A modifica-edo deste estado de ooisas 6 apenas concebivel come comae-quancia de min sisteanatica e ininterrupta aced° politica davanguarda proletaria organizada no Partido Comimista.

Urea particular atencao dove sex dada acs grupos e par-tidos que tom uma base de massa ou qua procurarn forma-la,come partidos democraticos on come partidos regionais, na

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populacdo agricola do Mezzogiorno e das Ilhas (Uniao Na-cional, Partido de Accao Sardo, Molisano, Irpino, etc.). Estespartidos nits'a exercem uma influencia direota no proletariado,mas sao urn obstaculo para a realizano da alianca entre ope-ratios e camponeses. Orientando as classes agrioolas do Mez-zogiorno para uma democracia rural e para solucifes demo-craticas regionals, fragrnentaan a unidade do pa-ocesso delibertacao da populacdo trabalhadora italiana, impedem queas camponeses tenham éxito na sua luta contra a exploragdoecocemica e politica da burguesia e dos agrarios e preparama sua transformaedo em guardas bounces da reaccdo. 0 su-cesso politico da classe operaria esta lamb6m, neste sector,em vaned° corn a aced° politica do partido do proletariado.

A possibilidade de derrube do regime fasoista pot umaaccdo de grupos antifascistas que se afirmam democAticos seexistiria se estes grupos conseguissem, neutralizando a aced°do proletariado, controlar urn movimento de magess ate podertravar-lhe o desenvalvimento. A funclo da oposicao burguesacleanooratica 6, polo contrario, a de colaborar corn o fascismopara impedir a reorganizacao da classe operiria e a realiza-cdo do seu programa de claw. Neste seatido esta em autourn compromisso entre fascismo e oposicao burguesa e inspi-rard a politica de todas as fonnagOes de 'centre, que surjamdos escambros do Aventine. A oposicao s6 podera lomat aser protagonists da accdo de defesa do regime caspitalistaquando a prOpria compressao fascists deixar de conseguirimpedir o desencadeamento dos oonflitos de classe, e o perigode uma insurreicao de proletdrios e da sua ligar; do corn tunaguerra de catnponeses surgira grave e iminente. A possibili-dada de recurso da burguesia e do prOprio fascismo ao sis-tema da reaccdo encoberta pela apar6ncia de urn cGovernode esquerda, deve, pois, agar continuamente presence nasnossas pet: spectivas (divisdo de fimeees entre fascismo e de-mocracia, Teses do V Congresso Mundial).

Desta analise dos factores da revoluedo e das Sansperspectivas deduzem-se as tarefas do Partido Comimista.A ela se devem ligar os criterios da sin actividade organiza-tiva e os da sua aced° politica. Dela derivam as Miss direc-dins e fundamentals do sou programa.

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Tarefas fundamentals do Partido Comunista

23. Depois de ter resistido vitoriosamente a onda reaccio-naria quo queria submergi-lo (1923). depois de ter contribuidocan a sua ace*, pan assinalar o primairo ponto de paragemno processo de dispersao das forces tiabalhadoras (eleigaesde 1924), depois de ter aproveitado a aim Matteotti pantreorganizer tuna vanguarda proletaria que se op& com nod-vel sucesso a tentative de instaurar um predominio pequeno--burgue's na vida politica (Aventine) e ter estabelecido asbases de ulna real politica camponesa do proletariado italiano,o partido encontra-se hoje na ease da preparacao politica derevolugão.

A sua tarefa fundamental pode ser indicada por estes trespontos:

Organizar e nnificar o proletariado industrial e agricolapars a revolugio;

Organizar e tnotalizar a volt& do proletariado Codas asforcas necessaries part a virdria revolucionaria e pars a fun-dacio do Estado aperario:

3) Par ao proletariado e aos seas glades o pmblema dainsurreigao contra o Estado burgui= e da luta pare a ditaduraproletaria e guid-los politica e materialmente pare a solugaodisso atravOs de uma sarie de lutas parcisis.

A construct-0 do Partido Comunistacomo partido abolchevista)

24. A organizacao da vangueada proletaria no PartidoCommista 6 a parte essential da nossa actividade organiza-tiva. Os opeearios italianos aprenderam com a sua experiên-oia (1919-20) quo onde falta a guia de um Partido Corrumista,construido come partido da classe operaria e come partido'da revolusgio, nab 6 possfvel um exit) vitorioso da lute pantabater o regime capitalista. A construcao de um Partido Co.,munista qua seja de facto o partido da clesse operaria 0.partido da revoluc,,ão —isto 6, quo seja um particle abolclie-

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vista, -- eta em conexao directa com es &aslant= pontosfundamentals-

A ideologia do parade:A forma da organizacao e a sua unidade;

, 3) A capacidade de funzionar em contacto com as masses:4) A capacidade estrategica e Licata.Cada um destes pantos esta ligado ratimamente cora os

comas e nao poderia logicamente ester separado. Cada umdoles, de facto, indica e compreende uma aerie de problemascujas soluciks interferem e se sobrepeem. 0 seu exame sepa-rado s6 sera Util quando se aver presentt qua nenbum podeser resolvido sem quo todos sejam oadenados e conduzidosigualmente pars tuna &ducat°.

A ideologia do Partido

25. Ao Partido Comunista 6 necessaria unidade ideolOgicacompleta part poder cumprir, em todos os momentos, a suafungi° de guia da classe operaria. A unidade ideolOgica 6element° da forga do partido e da sua capacidade politica,6 indispensavel pars o fazer tomar um parade bolchevista.Base da unidade ideolOgica 6 a doutrina do marxismo e doleninismo, este Ultimo entendido como a doutrina raancistaadequada aos problemas do periodo do imperialism° e do inf.-

da revolucdo proletaria (Teses sobre a bolchevizacto doExecutivo alargado de Abril de 1925, aci° IV e

0 Partido Comunista de Italia forme a sua ideologia naluta contra a social-democracia (reformistas) e contra o oen-tralismo politico representado polo Partido Maximalista. Naoencontra, parem, na histOria do movimento operario italianotuna vigorosa e continua corrente de pensamento marxista aquo se apoiar. Atom disso, Latta fins suns fileiras um profundoe difuso conhecimento das teorias do marxismo e do lent-nisnyo. Sao, portanto, possiveis os desvios.

A elevacao do nivel ideolOgico do partido dove obter-secom uma sistemätica actividade intern que se proponha con-duzir todos os membros a um completo conhecimento dos finsimediatos do niovimento revolucionario, uma car= capaci-dade de anfilise mg:nista das situacdes e uma correlativa ca-pacidade de orientacao politica (escola de partido). E de

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recusar tuna concepcao que defenda que os facSares de cons-ciOncia e de ma turidade revolucionarias (qua constituent aidealogia) se podem realizar no partido sem que se resilientnum vasto inimero de individuos que a compfiem

26. Mao obstante as origens de um luta contra Overarm-cites de direita e centristas do movimento operfirio, o perigode desvios a direita continua present° no Pantido Comunistade Italia.

No campo teOrico, 6 repmsentado pales tentativas de revi-sao do marxismo, feitas pelo camas-oda Graziadei e motiva-das por uma explicacao acientificaa de alguns conceitos fun-damentals da doutrina die Marx. As rtentativas de Gnaziadeinao patient certameate levar a criacao de uma correnteportant°, de uma fraccao que ponlaa em perigo a unidadeideolOgica e a estrutura do partido. Nelas a parem implicitourn apoio a correntes e desvios politicos de direita. De qual-quer modo, indicam que o partido tem necessidade de eke.tuar um prof undo estudo do marxismo e conquistar umaoansciéncia teOrica mais alta e mais segura.

perigo da criacao de Irma teadencia de direita estaligado a situacao gertal do pais. A prepria compressao axes-cida pelo fascism° ten& a alimeatar a opiniao de que, estandoo proletariado na irnpossibilidade de abater rapidamente oregime, 6 melhor tactica a que conduz, se nä° a um blocoburgues-preletario pan a eliminacao constitucional do fas-cism°, a uma passividade da wanguarda revolucionaria, a urnsnao intervencao activa do Partido Comunista na luta politicaimediata, parr permitir que a burguesia se sirva do proleta-riado coma massa de manobm eleitoral contra o fascism°.Este programa apresenta-se corn a fOrmula de que o PartidoComunista deve ser as esquerda de uma oposicao de codasas foreas que oonspiram Nan abater o regime fascists. Isto 6a expressact de um prof undo pessirnismo acerca das capaci-dades revolucionfrias da classe trabalhadona.

preprio pessimism° e os prOprios desvios levant a inter-pretax de modes errado a flatulent' e a funcao histaxica dosparticles sociais-democratas no memento actual, a esquecerque a social-dememacia (embom tenba a sua base social, emgrande parte, no proletariado, em mita* t• a sua ideologia 0a funcao politica que exerce) dove ser considerada nao coma

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a direita do movimento operario, mas come tuna esquerda daburguesia e comic tal dove ser desmasearada perante as masses:

0 perigo de direita dove sec combatido con a propagandaidealegica, contrapondo ao pmgnama de direita o programarevolucionario da classe operearia e do sett partido, e conmaim clasciplinares usuais sempre que seja neoessario.

27. Ligado As 'catguts do parade e a situacao genal dopais existe igualmente o perigo de desvio a esquerda da ideo-login marxista e leninista. E represerttado pela •tendfaacia extre-mism, encabegada pelo camanda Bordiga. Data tendeaciaformou-se na particular situacao de desagregacao e inoaipeci-dade progr-anaa'tica, organizativa, estaategica e tactica em quase encontrou o Partido Socialista Italian, desde o fin daguerna ate ao Congresso de Livorno: a sua origem e a suafortuna, sendo a classe operaria uma minoria na populagotrabalhadora italiana, esitao alem disso em relacao corn ofacto de sex continuo o perigo de a set partido se con-om-per per infiltragOes de earns classes e, em particular, pelapequena burguesia. A esta candied° da class° oporaria e A-situagao do Partido Socialista Italian, a tendancia de extrema--esquerda reagiu corn uma particular ideologia, isto 6, corn umaconcepeao da natureza do partido, da sua f-uncab e da suatactica que contrasta eon a do marxismo e do leninismo:

Pela extrema-esquerda o partido 6 definido, trans-curando ou menosprezando o set contend° social, come um«Orgaon da classe opal-Aria que se constitui per sintese deelementos heterogeneos. 0 particle deve ser definido, polo COG-traria, pondo em relevo acima de tudo o facto de ser umaaparteD da classe operaria. 0 arm na definicao do partidodetermina que se apresentem, de modo errado, os problemasorganizativos e os problemas de tactica; •

Para a extrema-esquerda a funcact do partido nä° 6 ade guiar em todos os momentos a classe, esforcando-se porestar em contacto corn ela atraves da mudanga da situacaoobjectiva, mas a de elaborar quadros preparados pan guiara massa quando o desenvolvimento das situaciieis a conduzirao partido, fazendo-as aceitar as posicaes programAticas e deprinciple par ale fixadas;

c) Em relacao a tactica, a extrema-esquerda defende quenao deve ser determinada relativameate as situagetes objecti-

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vas e a posicao das mascas de mode que adim sempre a rca-lidade e forneca um continuo contacto cum os estratos mallsvastos da poptdagao trabalhadora, mas dove sat determinatecoin base am preocupacOes formals. E propria do extremism°a concepcao de que os desvios dos principles de politicacomunista nao se evitam tom a construcãe de particles (boa-chevistan que sejam capazes de cumprir, sem &s ync, asaccOes politicas requeridas path mobilizacao das massespale vitOria revolucioniuia, mas se podem sec evitadospando a tactica limites rigidos e formals de catheter exteano(no campo organizativo: cadesão individual), into 6. recusadas Efuseess que podem sex sempre, contrariamente e ancondicees detettminadas, um meio eficaz de extensAo da in-fluOncia do pat-tido: no ca.mpo politico: alteracao dos termosdo problema da conquista da maioria, haute Unica sindical

não politica, nenhuma diversidade no mode de lutar contraa demecratia conforme o gran de adesAo das massas a for-magOes democraticas contra-revolucionirias e de iminOncia egravidade de urn perigo reaccianario, recusa da palavra deordem do Govern operario e campon6s). Ao exame das situa-tees dos movimentos de massa recorre-se, portanto, s6 para

controlo da linha deduzida coin base em preocupacOes for-mals e sectarias: pot isso acaba sempre per faltar, na deter-minacao da politica do partido, o elemento particular: despe-data-se a unidade e amplitude de visa° que sae preprias donosso meted° de andlise politica (dialectica): a actividadedo partido e as suas palavres de ordem pen= eficacia e valor,pennanecen,do coma actividade e palavras de simples pro-Paganda.

E inevitavel, como consequencia destas posigOes, a passi-vidade politica do partido. 0 (absteracionisme) dela foi umaspecto, no passado. Lsto partake aproximar o extremism° deesquerda ao maximalismo e aos desvios de direita. A, alemdisso, come as tendencias de direita, expressao de um cepti-cisme sabre a possibilidade de a massa operlaria organizar,partindo de si prep-la, um partido de clesse que seja oapazde guier a grande massa, esforcando-se por sempresada a si. -

A luta ideolOgica contra o extremism° de esquerda dewset conduzida oontrapondo-lhe a concept:4o marxista e leni-nista do particle do proletariado coma partido de massas ts

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mostzando a necessidade que este adapte a sin tactica as si-tuagees pars as poder modificar, pass nAo perder o contactoaim as mamas es pass conquistar sempre novas zooms doinfluencia.

0 extremism° de esquerda foi a ideologia oficial do par-tido italiano no primeiro periodo da sua existeacia_ E defen-dido por catmamdas que foam fundadores do partido a deramum panda contribute a sua construcio depais de Livorno.Existem pois motives pars expliear come esta oanceperao soradiccru par muito tempo us malaria dos camaradas, sem queper ester fosse avaliada caiticamente, de modo compieto, marpreferentemente coma consequencia de um estado de Animadifuso. E evideate, por isso, quo o perigo de extrama-esquerdadeve set considorado come uma realidarie imediaita, corn urnobstaculo, nAo se pan a uttificacao e elevacio ideolOgicamas pars o desenvolvimento politico do partido e pars a ell-cakia da sus acciict. Dave ser oambatido come Sal, nig is6 coina propaganda mas corn uma accao politica e. eveotualmentc,corn medidas organizativas.

28. Element° da ideologia do partido 6 o gnu de espiritointemeoionalista que penetrou nas suas Mae. E muito forte,entre nes, come espirito de solidariedade internacional, masnab como consciOncia de pertencer a um partido mondial.Contribui pan esta fraqueza a rendência pars apresentar aconcepcao de extroma-esquerda coma uma concepcao natio-nal (coriginalidades e valor a histerico, das posicOes da (es-querda italiene() quo se op& a concepcao taarxista e lath-nista da International Comunista e procura substitui-la. Daquideriva uma ewe-tie de (patriotism° de partidei que evita oenquadramento numa organizagat mundial, segundo os prin-ciples que /do preprios desta organizagão (recusa de cargos,luta de fraccao internacional, etc.). Esta fraqueza de espiritointernationalists oferece o terreno pats uma repercussio, nopartido, da campanha conduzida polo burguesia contra a Inter-nacional Comunista, qualifioando-e come ergo do Estadorusso. Algumas das teses de extrema-esquerda, a este prop6-site, ligam-se as teses habituais dos particles contra-revolutio-ndrios. Aquelas devem ser oatnbatidas corn extrema vigor,corn uma propaganda que demonstre como historicamenterespeita ao partido russo tuna funcão predominante e direc-tiva na construcle de tuna Internacional Comunista e qual 6

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a posigdo do Estado operftrio russo —primeira e Unica realconquista da classe apethria na luta pelo poder— em rethcloao movimento opera& intenaacionctl (Teses sobre a sawyer°internacional).

A base da organizaciio do Partido

29. Todos os problemas de organizatho sào problemaspoliticos. A sue solugao dove Molar passive' ao partido aactuacdo da sua tare/a fundamental, fazendo conquistar aoproletariado uma completa independencia politica, dando-lheuma fisionomia, uma personalidade, uma consciencia revolu-cionaria precisa, impedindo qualquer infiltragAb e a infla6n-cia desagregadora de classes e elementos, as quais, embaratendo interesses contrarios ao capitalismo, nao querem con-duzir a lute contra ele ate as suas tiltimas consequências.

E, em primeiro lugar, urn problema politico: o da baseda organizacdo. A organizacdo do partido dove ser construidacorn base na producdo e, portanto, nos locals de trabalho(cOlulas). Este principio 6 essential para a criagdo de um par-tido abolchevista p . Depende do facto de o partido clever serapetrechado para atingir o movimento de massas da classeoperaria, a qual 6 naturalmente unificada polo desenvolvi-matte do capitalismo segundo o processo da producao.

Colocando a base organizativa no local da producao, opartido cumpre urn acto de eseolha da classe sobre a qual sebaseia. Ele proclama sex urn partido de classe e o partido deuma Unica classe, a classe operaria.

Todas as objeccOes ao principio que coloca a organizacdodo partido corn base na producdo partem de amccpcOes liga-das a classes estranhas ao proletariado, embora sejarn apre-sentadas por camaradas e grupos que se dizem de (extrema--esquerdat. Tais concepcOes baseiam-se numa consideraclopessimista das capacidades revoluciankias do operario e dooperario comunism, e sac expressao do espirito antiproletd-rio do pequeno-burguk intelectual que ere ser o sal da terra

ye no operario o instrumento material da perturbatho socialnä° o protagonista consciente e inteligente da revolucão.Reproducem-se no partido italiano, a propkito das calu-

las, a disc-ussAo e o contraste que conduzirtam na Russia it'cisäo entre bolchevistas e mencheviques a prop6sito do mesmoproblema da esoolha da classe, do catheter de dame do par-

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tido e do anode de adesAo ao partido de dementia 's mg° prole-MSG. Este facto tern, de resto, em relacao a situagdo italiana,pine impartanda notintl. E a prepria estrutura social e sacas concligOes e as tradigOes da luta politica que tamam, emItalia, muito math seri° do que nos restantes poises o perigode edificar o partido cam base numa isinteset de elementosheterogdmos, into 6, abrindo rides o °a/Dinh° pars a influkt-cia paralisante de outras classes. Trata-se de urn perigo quese tornara, ale:m do math, sample mats grave pela prOpriapolitica do fascismo, o qual empurrara pare o tertian° itiVe-tucionfrio estratos completos da pequena burguesia.

E certo que a Partido Comunista ado pode ser unicamenteurn partido de °porkies. A classe operaria e o sea partido1110 podem deixar de contar corn as intelectuais nun podem'ignorer o problema de reunir a sua volta e guiar todos osdeanentas que, por um motive ou per outro, sac impelidospars a revodta contra o capitalismo. Assim tambem o PartidoGamunista não pode fechar as pones aos camponeses: polocarman°, dove oantar corn as oamponeses e servir-se dolespats e.streitar o law politico entre o proletariado e as damesrurais. Mas ha que recusar energicamente, como contra-revo-lucioniria, qualquer concepeão que-faca do partido uma ((sin-teset de elementos heterogencos em lugar de defender, semconcesseies de qualquer especie, que ele 6 tuna parte do pro-letariado, que o proletariado dove dar-lhe a marca da organi-zacdo que the 6 prOpria e que ao proletariado dove ser garan-tida, no prOprio partido, uma funcao directiva.

30. NAo tem consistencia as objeccOes praticas a organi-zacäo com base na producAo (ce:lulas), segundo as quais estaestrutum organizativa não pennitiria superar a concorrenciaentre diversas categorias de °pert-los e deixaria o Partido amesa do fundonalismo.

A ipratica do movimento de fabrics (1919-20) mostrou quos6 uma arganizacdo aderente ao lugar e ao sistema da pro-ducdo permite estabelecor urn ormtacto entre os estratos supe-horns e os estrates inferiores da massa trabalhaxiora (quail-ficados, nAo qualificados e serventes) e criar vinculos de soh-dariedade que fazem cair as bases de qualquer fend/itemde caristocrata operaria..

A organizacio per cklulas leva a formacio, no Partido, deum estrato assaz vasto de &mentos dirigentes (secrettios

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de calula, membros dos emitter de eau's, etc.) que sae parteda massa e nela permanecem, embora exercendo fundes di-rectivas, diferenciando-se dos secretaries das secdos territo-rials que cram necessariamente elamentos afastados da masstrabalhadora. 0 partido dew dedicar uma atendo particulara educado destes camaradas que formam o tecido de ligac.-aodais organizacees e tho o instrumento de comunicado cornas massas. Qualquer que seja o •onto de vista que a consi-dare, a transformado da estrutura cam base na produciio 6tarefa fundamental do partido, no moment° presente, e mai°para a soludo dos seas mais impartantes problemas. Nolase dove insistir e intensificar todo o trabalho ideolagico e pra-nce que the 6 relative.

Unidade da organizactio do Partido. Divisionismo

31. A organizado de um partido bolchevisia dove ser, emtodos os momentos da vida do partido, uma organizado can-tralizada, dirigida polo Comit6 Central, nab se per palavrasmss •pelos factos. Uma disciplina prolataria de ferro dove mi-ner nas suas filar. Isto nao quer direr que o partido deva serregido do alto, cam sistcmas autocraticos. Tanto o CamilaCentral oomo os Orgäos •nferiores de direcdo sae formadoscorn base numa elated° e corn base numa escolha de elementoscapazes, completada =eves da prova do trabalho e da expe-riencia do movimento. ate segundo elemento 6 garantia deque os trite:dos para a formacao dos grupos dirigentes localse do grupo dirigente central nab ski mectbaicos, exteriores aparlamentaresp mas correspondent a um processo real de for-

mado de uma vanguarda proletaria homogenea e em comu-nicagao corn a massa.

0 principio da eleido dos erg-dos dirigentes —democraciaintema — nä° 6 absolute mas relative as condicOes da lutapolitica. Mesmo quando ale sofre limitacOes, os ergâos cen-trals e porifericos devour amine considerar o seu poder naosobreposto mas proveniente da vontade do partido e ester-car-se par acentuar o seu carat:ter proletario, multiplicandoes suas ligagóes corn a massa dos camaradas e corn a classeoperaria. Esta Ultima necessidade 6 particularmente sentidaern Italia, onde a reacdo obrigou e obriga ainda a uma fortelimited* da democracia internat.

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A democracia interact 6 tamb6m relativa ea great do cepa-cidade politica possuida peke Orgabs periferions e pales cama-mdas que tmbalham na periferia. A acdo qua o contra excitepant aumentar esta oapacidade toxin passive' uma anemic)dos sisternas trdemocridicos) e tuna reducao cads vez maiordo sistema da gcooptadeD e des intervendes da copula parsregular as questOes organizativas lanais.

A centralizactio e a unidade do Partido exigent quenao existam no seu intemo grupos organizados que assumamcaracter divisionista. Um partido bolchevista difereacia-se pro-fundarnonte pox esta caracterfstica dos partidos sociais :demo-auras, os quais compreendean tuna grande variedade de grupose nos quais a luta de facdes 6 a forma normal de alaboragabdas directivas politioas a de seleccao dos grupos dirigentes.Os partidos e a Internacional Comunista apareceram a seguira tuna luta de facgcles desenvolvida to intemo de II Interna-cional. Constituindo-se comp partidos e como organizagfiomundial do proletariado, elegeram coma norma da sua vidaintema e do sou desenvolvimento, nab a luta de facceies masa colaborado organica de Codas as tendencies, staves daparticipado nos &saes dirigentes.

A existencia e a luta de faccOes sac de facto inconcebfvoiscorn a essencia do partido do proletariado, ao qual quebrama unidade, abrindo o caminho a influancia de outras classes.Isto nao quer dizer que no Partido nao possam surgir tendert-alas e que as tendaacias nao procurer and° organizer-se emfacde-s, mas quer dizer que contra esta Ultima eventualidadese dove lunar energicamente para •eduzir os contra.stes de ten-dencias, as elaborades de pensamento e a seleccao dos diri-gentes a forma que 6 prepria dos partidos oommistas, intoa urn processo de desenvolvimento real e =nano (dialactico)e nä° a uma controversia e a lutas de carfuner n parlamentari.

A experithcia do movimento operatic), falido a soguira impot6ncia do PSI, pela luta das faccOes e polo facto decads faced° fazer, independentomente do Partido, a sua poli-tica, paralisando a clad) das outras faccOes e a do Partido,oferece urn born terreno pars oriar e manta: a unidade e acentralizacäo quo devem ser pre:cries de um particle bolche-vista

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Entre os diversos grupos de quo o Particle Comunista deItalia teve origem subsist= algumas diferencas que devemdesaparecer coin urn aprofundamento de oomum ideologiamarxista e leninista. SO entre os seguidores da ideologia anti-marxista de extrema-esquerda se mantiveram par muito tempouma homogeneidecle c puma solideriedarle de canoter divisio-nista. Do divisionismo encoberto fez-se a tentative de passerit luta aberta de faccdo cam a censtituick do chamado (Co-mitato d'inteses. A profundidacle cord que o Partido reagiu aeste insane tentative de cindir as sues 'areas 6 a certeza se-gum de que cain no vazio, neste sector, qualquer tentativepan nos fezer voltar aos habitats de social-danocracia.

0 perige de divisionismo existe em cella medida ta.mbanpale rusk corn as aderentes a DI Internacional do PartidoSocialista. Estes ndo tam uma ideologia comum mas subsis-tem entre si relacas de oar/actor essencialmente corporative,criadas nos dois anos de vide comp fee* do PSI: estas vela-eiies rem afrouxado e ndo sera dificil eliminates totalmente.

A luta contra o divisionismo dove ser, antes de mais, propa-ganda de justos iprincipios organizativos, mas ado tare sucessoate que o particle italiano nao puder novamente consideraz adiscussào dos problemas actual 's, sous e da Internacional, comefacto normal, e orientar as suas tenancies em Tele* a estesAroblemas.

0 funcionamento da organiracim do Partido

34. Um partido bolcbevista dove ser organized° de modea poder funcionar, em todas as condicaes, em contact° cornas massas. Este principio assume a major importencia, entrenes, dada a compress:a° exercida polo fascismo cam o fim deimpedir que as relacOes de ferns reais se traduzain em rela-coes de forces organizadas. S6 oom a maxima concentracdoe intensidade da actividade do particle se pode conseguir neu-tralizer, polo maws em pane, este factor negative e cater quenä° impeca profundamente o processo da revoluedo. Devemser, por isso tornados em considerack:

a) 0 mimes dos •imsoritos e a sua capecidade politica;dove ser fiat que permita uma continua extensk da nesseinfluancia. E de combater a tendencia pan conserver artifi-

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cialmente fechados os quadros: isso conduz a passividade,anal& Cada inscrito, por6m, dove ser um element° politioa-mente active, topaz de difundir a influOncia do partido e tra-duzir quotidianemente hen acto as suas directrizes, guiandourns pane da nesse trabalhadora;

A utilize* de todos os camaradas num trabalhoprince;

A coordenack naithaia des diversas espkies de activi-dade por mein de comites nos quais se articula todo o partidocome Orgio de nabelbe entre as masses;

0 funcionamento colegial dos &Sacs centrais do par-tido, oonsidendo come candied° pare a constituick de urngrupo dirigente (bolchevitas homegateo e compacto;

A capacidade de 06 rainaradas trabalharem entre asmasses, ester= continuemente presentes entre elan, estaranna primeira file em todas as lutes, saborem, em todos os me-mentos, assumir e tomer a posicao quo 6 preppie da vanguardado proletariado. Insiste-se neste panto porque a necessidadedo trabalho subterrineo e a errada ideologia da (extrema-es-querdan produziram uma limitagdo da capacidade de trabalhoentre as massas e corn as massas•

A capacidade de os organismos perifOricos e os came-radas (individualmente) enfrentarem situaeOes imprevistas etomarem posicecs exactas, mesmo antes que chegizem dispo-sicks dos organismos superiores. 8 de combater a forma depassividade, residue tent= das falms coke/Kan organza-rives do extremism° que consiste em saber apenas cesperaras ardens da dipula». 0 partido dove ter, na base, uma sua(initiatives, into e, os Orgdos de base devem reagir imediata-mane a oath Suck imprevista e improvise;

A capacidade de executer urn trabalho asubterraneo,(ilegal) e defender o particle da reacedo de qualquer especiesom pester o contacto am as masses, fazendo servir, comadefesa, o prOprio contacto com os =is vastos estratos daGlasse trabalhadora. Na situacdo actual, uma Mesa do par-tido e do sou eparelho, que se obtenha limitando-se a justi-fleet uma actividade de simples (organza* interne), doveconsiderar-se come um abandon() da causa da nvoluedo.

Outs urn destes pontos dove considerar-se corn atengdoporque indica simultaneamente um defeito do partido e urnprogresso que se the dove fazes cumprir. Eles tam grandeimpel-dada porque 6 de prover quo os golpes de neck entre-

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pailtYSME11111{"annars

quecerito ainda o aparelho de ligacao entre o canto e a peri-feria, por muito grandes que sejam as esforges para o mamaintact.

Estratigia e tdctica do Partido

35. A capaoidade estrategica e tactica do partido 6 a cape-cidade de organizar a nnificar a voila da vanguarda proletaria

da classe operaria todas as forcas necessirias para a viteriamvolucionaria e guia-las de facto para a revolucio, aprevei-band° as situaciies objectivas a as mudancas de form clue elasprovocam, quer na populacao trabaihadora quer nos inimigosda classe operaria. Corn a estrategia e corn a sua tactics, opartido gdirige a classe operarias nos grandes movimentoshistericos e nas suas lutas quotidianas. Uma direr-0o estaligada a outra e 6 condicionada pela outra.

36. 0 principle de que o partido dirige a classe operarianao deve sea interpretado de modo medinice. E precise 11a0aoreditar que o partido possa dirig,ir a classe operdria par umaimposicao autoritazia extema; isto nao 6 verdale, nem para

periodo que precede, nem pam o period° que se segueconquista do poder. 0 erro de uma interpretacie mecanicadeste principio dove son combatido no partido italiano comotuna passivel consequéncia dos desvios ideolOgicos de extrema--esquerda; ems desvios conduzem, de facto, a uma sobreva-lorizatao formal do partido respoitante a funcao de guia daclasse. N6s afirmamos que a oapacidade de dirigir a classenao esta em relacao corn o facto de o partido se gproclamars

sou Orgao revolucionario, mas corn o facto de gefectiva-mental. conseguir ligar-se, come uma pane da classe operaria,a todas as secelies da prepria classe e imprimir as massas urnmovimento na dime* desejada e favorecida pelas condigOesobjectivas. S6 coma consequencia da sua accao entre as mas-sas o partido poderd obter que estas o reconhetam coma oseus partido (conquista da malaria) e se, quendo esta condi-

c5o se realizar ele pole presurnir poder arrastar consigo aclasse operdria. As exigancias desta accao, entre as masses.s5o superiores a qualquer gpatriotismos de partido.

37. 0 partido dirige a classe penetrando em Midas as orga-nizagOes em que at refine a massa trabalhadora, cumprindo

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nelas e ataxy& del as tuna sistematica mobilizacao de einergias.segundo o programa da luta de classes e uma accao de con-quista da maioria pam as directrizes comunistas.

As or&anizataes em que trabalha o partido e qua tandem,per sua natureza, a incorporar boda a massa overeat nuncapodem substituir o Partido Comunista, que 6 a organizacaopolitica dos revolutionaries. into 6. da vanguarda do proleta-riado. Assim se exclui tuna relaclo de subordinagão a dogigualdades entre as organizacOes de rawest e o partido (pantoMedical de Estugarda, pacto de alianga entre o Partido Socia-Lista e a Confederagat Gael do Trabalho). A relaCito entresindicatos e partido 6 uma especial Macao de direccäo quese realiza mediante a actividade que os comunistas pntticamno interior dos sindicatos. Os comunistas organizam-se comaniece-0 nos sindicatos e em todas as formagOes de masse eparticipam, entre os primeiros, na vida degas formaciies a naluta que estas conduzem, defendendo o programa e as pada-vras de ordem do sou partido.

Cada tencrencia para at afastar da vida das organizagOes,quaisquer que sejam, cmde 6 rresivel contactar corn as massas'trabaihadoras, dove combater-se come perigoso desvio,cio de pessimism° e forge de passividade.

38. Orgaos especffioos de agrupamonto das massas traba-lhadoras, nos panes capitalistas, sao os sindicatos. A accaonos sindicatos dove considerar-se come essential pam alcangarOs fins do partido. 0 partido que renuncia a luta para excitera sua influincia nos sindicatos e para conquistar a sua direc-Ca°, renuncia de facto a conquista da massa operdria e a lutarevolucionaria para o poder.

A aced° nos sindicatos assume, em Italia, uma importin-cia particular porque permite trabalhar corn intensidade maior

tom melhores resultados na reorganizag5o do proletariadoindustrial e agricola que dove voltar a dar-the uma posicaode predominio em mina° as outran classes sociais. A coin-pressao fascista e especialmente a nova politica sindical dofascismo criam, porem, uma condicao completernente par-ticular. A Confederacao do Tmbalho e os sindicatos die classevOem fugir-Ihes a possibilidade de desenvolver, nos formastradicionais, uma actividade de organizatao e de defesa eco-n6mica. Tandem a reduzir-se a simples &gam de propaganda.Ao mesmo tempo, porta impulsionada pela sittin g° objet-

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tiva, a classe opethria consegue reordaaar as suas forcas se-gundo novas formal de organizatho. 0 panda dove, portant°,omseguir cumprir tuna accao de defesa do sindioato de dassee de reivindicagOes da sua libea-dade e, simultatneamente, dovesecundar e estimular a tendencia pare a criaca" o de organis-mos representativos de massas quo adixam ao sistema da pro-ducic" Paralisada a actividade do sindicato de eltsae a defesado interesse imediato dos trabalhadores tende a cumprir-seatravis dum desmembramento da resistancia a da luta poroficinas, por categories, per seccOes de trabalho, etc. 0 Par-tido Comunista dove saber seguir codas estas tuns a exercera sua verdadeira e pthpria direccio, impedindo qua atlas seperca o catheter unithrio a revolucionario dos contrastes declasse, explcrando-as, polo coutrario, Para favorecer a mobi-lizatho de todo o proletariado e a sua organizacio nuanafrente de combate (Teses sindicais).

39. 0 partido dirige e 'Baffin a classe opor'aria, partici-pando em todas as lutas de catheter partial, formulando eagitando urn programa de reivindioaciies de imediato interessepapa a classe trabalhadora. As accdes parciais e hmitadas sioper ale consideradas come mementos necessarios pan alcan-car a mobilizatio progressive e a unificacio de todas as for-pas da classe trabalhadora.

0 partido combate a conceptho segundo a qual se dove-ria abster de apoiar on de tomar pane em accOes parciaisporque os problemas quo interessam a classe trabalhadora si•se resolvem corn o derrube do regime capitalista a can tunaaccäo geral de todas as forcas anticapitalistas. Esth conscienteda impossibilidade de anelhorar, de modo seri° e duravel, ascondicees dos trabalhadores no period° do imperialismo eantes quo o regime comunista seja abatido. A agitagio de umprograma de reivindioatOes imediatas e o aped° as lutas par-dais 6, parent, o anion modo pan poder alcancar as grandesmassas e mobilizes-las contra o capital. Por outro lado, callaagitacio ou vitOria de categories operdrias, no cameo das rei-vindicacOes imediatas, tam mais aguda a crise do capita-lismo, acelenando-lhe tambem subjectivamente a queda, vistaquo muda o instavel equilibrio sobre o qual hoje baseia osou poder.

0 Partido Comunista liga todas as reivindicacees imedia-tas a um objectivo revolucionario, serve-se das lutas parciais

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pan ensinar As massas a necessidade da acerb° geral, da in-surxeitho contra o domino reaccionario do capital e procureobter quo todas as lutas de catheter limitado sojam prepara-das e dirigidas de mode a cauluzinem a mobilizatho a unifi-cache das fan= proletarias o nio a sua disponi°. Defend°estas concepches no interior des arganizacies de massa, aquern cabe a Mecca° dos movimentos parciais, ou em rola-tho aos partidos politicos quo delas tomam a iniciativa, oualtar fa-las valor tocrvando a initiative de proper as acctlesparciais, quer no interior das organizacees de massa quer deoutros partidos (actin de frente thaica). De qualqtler mode,serve-se da experiencia do movimento a do exit° das stets pro-postas pan fazer =seer a sua influbncia, demonstrando cornos fades quo o sou programa de accio 6 o imieo qua corres-ponds aos interesses das massas e A sin/agile objeotiva panconduzir a tuna situagdo mais avangada uma seetho atrasadada dasse trabalhadora.

A inioiativa dirigida polo Partido Comunista path umaaccio parcial pole ter lugar quando ale controlar, stra y& doorganisms de anssoa uma pane notivel da classe trabalha-dora ou quando esteja seguro quo uma sua palawa de calm6 seguida igualmonte pot uma parte notivel da dasse traba-Madera. 0 parade s6 tomcat porim, esta iniciativa quandoela conduzir, em relacio a situatho objeotiva a uma mudalica,a set favor, das relaches de forga a representar urn passo emfrente na unifioatho a mobilizagio da Hassle no terreno revo-lucionario.

Exclui-se quo uma actg.° violenta de individuos on de gra-pes possa servir pan Char da passividade asmaffas opethriasenquanto o partido a alas nao estiver profundamonte ligado.A actividade dos grupos armados, particular/mate, mesmocome reactho contra a violência Mica dos fascistas, so temvalor quando se liga a tuna reaccio das massas ou conseguesuseita-la a prepard-la, conquistando no camp° da mobiliza-tho de fans materiais o mesmo valor quo torn as graves eas agitacties eccoOmioas particulates pars a mobilizatho geraldas energies dos trabalhadores em defesa dos sous interessesde ()Lassa.

3%. um ono pensar quo as reivindicag5es imediatas eas an:6es parciais apenas podern ter oaricter econdmico. Timevez quo, corn o agravar-se da crise do capitalism° as classes

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da tactica da frente Unica e 6, na Italia, nas cirounstânciasactuais, tarefa fundamental do Partido.

Os comunistas devem considerar a unidade da classe tm-balhadora cones um resultado conomto, real, qua se doveobter, pars impedir ao capitalism° a actuacao do seu pianode desagregacdo, de modo permaneate, do proletariado, tar-nando impossivel a luta revolucionaria. Dever saber traba-lhar de Codas as maneiras pars atingir este objectivo e &memsobretudo ser capazes de se aproximarean dos operatios deoutros particles e sem partido, superando hostilidades e incom-preensäes inoportunas e arresentando-se, de qualquer mode,oomo os fautores da unidade da Hasse na luta pela sue deferse pela sue libertacaa.

A n ante Unica) de luta antifascista e anticapitalista, quaos comunistas se esforcam por crier, deve ser uma frame naizaorganizada, into 6, dove fundar-se oom base em organismos emtomo aos quads toda a massa calamine uma forma e se agrupe.Estes sfo as organisanos representatives quo as preprias massestem hoje tendfacia pare constituir, a partir dos oficinas e pormaga° des agitagOes, depois quo as possibilidades de Natio-namento normal dos sindicatos comecaram a ser limitadas. Oscomunistas &nem ter presente esta temdtancia dos massessab6-la estintular, desenvolvendo os'elearentos positives quaela contem e combatendo os desvios particulares a quo podsdar lugar. A questa° dove sea- considerada sem feiticismos paruma daterminada forma de organizagdo, tendo presente que onosso objectivo fundamental 6 obter uma mobilizaCito e umaunidade organica de forms arida vez mail vestas. Para atingireste objective ocarre saber adaptar-se a todos os terrenos ofe-recidos pela realidade, explorer todos os motivos de agitarAo,insistir numa ou noutra forma de organizacie, segued° asnecessidades e segundo as possibilidades de desenvolvimentode coda uma delas (Teses sindicais: capftulos relativos a8comissOes intecnas, nos comites de agitagio, as conferenciasde fabrica).

41. A palavra do ordem dos omit °pantries e campo-nests dove ser oonsiderada coma formula qua resume bode aaccao do Partido vista qua se propfe crier uma fronts Unicae organizada da classe trabalhadora. Os comitis operdrios ecamponeses sao &Taos de unidade da classe trabalhadoaamobilirade, quer pars uma luta de catheter imediato quer

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dirigentes capitalistas e agrarias, para manterem o seu poder,sae obrigadas a limitar e suprimir as liberdades de orgeniza-00 e politicos do proletariado, a reivindicagão destas libor-dades oferece um Optima terreno pare agitagOes e lutas par-dais quo pedant chegar a mobilizacao de vaster estratos dapopulacâo trabalhadora. A legislacào corn a qual os fascistassuprimem, em Italia, ate as mans elementaree liberdades daclasse ape/aria, dove pas fomecer ao Partido Comunista mo-tives papa a agitacâo e mobilizaclo dos masses. Sera tarefado Partido Comunista ligar cads uma des palavras de ordemquo langar'a neste oampo cam as diamtrizes gerais da sueaccao: em particular, coin a demonstraccio pratica da impos-sibilidade de o regime instaurado polo fascism° vir a sofrerradicais limitagOes e transformaclies em sentido (liberals egdemooriticos sem quo se desencadeie contra o fascism° urnsluta de masses qua deverã inexoravelmente desembocar naguerre civil. Esta conviccao dove difundir-se nes masses amedida quo conseguirmos transformar os movimentos • revolu-cionirios democraticos) em movimentas revolucionarias ope-rfarios e socialistas, ligando as reivindicac5es parciais de cork-ter politico corn as de cardoter econemico.

Isto devera ser obtido particularmente em relaclo a agita-(a) contra a monarquia. A monarquia 6 um dos apoios doregime fascism; é a forma estatal do fascismo italiano. A mo-bilizagdo antimonarquica des masses da populacão italiana6 urn dos objectivos que o Partido Comunista dove propor.Servira eficazmente pare desmascarar alguns dos grupos ditosentifascistas ja coligados 710 Aventine. Dave, por6m, ser sem-pre conduzida em conjunto corn a agitacio e corn a luta con-tra os outros pilares fundamentais do regime fascista, a pluto-cracia industrial e os agrarios. Na agitacdo antimonirquica,o problema da forma do Estado sera, al6m disso, apresentadopolo Partido Comunista ern conexao continua com o problemdo comet do de classe que os comunistas pretendem dar aoEstado. No passado recente (Junho de 1925), a conexao des-tee problemas foi obtida polo Partido estabelecendo wino baseda sue accao politica as palavras de ordem: aAssembleia re-publicana cam bast- nos condi& operarios e camponeses; con-trolo operazio da indastria: a terra aos camponeses.)

40. A tarefa de unificar as forms do proletariado e daclasse trabalhadora, num terreno de luta, 6 a pare apositivas

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pate accaes politicos de mais largo desenvolvimano. A pals-vra de ordem da criacao de comiris operirios e camponeses6, portant°, fume palama de °edam de actuagao lmediata pantodos os casos em qua o Partido consegue mobilizer, cornsua actividade, nna secctio da classe tmbalhadora bastantealargada (mais do que tuna so Maim, mais do qua uma s6categoria numa localidade) mas 6 igualmente an y solualo,politica e wna palavm de agitacao adequada a ado um pe-riod° da vida e da accts.° do 'Partido. Ela terra evideateconcreta a necessidade de os trabalhadores organizarem assues forces, contraspondo-as de facto as de todos os grupos deorigem e natureza burguesa, corn o fie de poder tower-seelement° date/mai/mate e preponderante da situacao politics.

42. A tactics da frente Unica, oomo awl° politica (mano-bra) destinada a desmascarar pertidos e grapes ditos proleta-nos e revolutionaries que tem tuna base de massa, esta estmi-tamente ligada ao probleana da direccao das massas, por partedo Partido Comtmista, e ao problems da conquista da male-ria. Tal come foi definida pelos congresses mmaliaia ela 6aplicavel em todos as cats= em que, per adesao das massasaos grams qua combaternes, a luta frontal contra ester naoseja suficiente pant nos dar os resultados rapidos a profundos.

sucesso delta tactica esta ligado a medida am que ela 6precedida ou aoompanhada per um efectivo trabalho de uni-ficacao e de mobilizacao de massas, obtida polo particle cornurea accio a partir da base.

A tactics da frente finis, em Italia, delve coutinuar a seradoptada polo Particle, na medida em qua ale estA ainda longede ter conquistado tuna influencia decisiva sabre a malariada olasse °parka e (la populacao nabalhadora As particula-res oandicdes kali/arms assegumm a vitalidade de fonnagOespoliticos intermédias, baseadas no equivoco e favoceeldas polepassividade de urn paste das masses (maximalistas, =cabal-canes, naiades). Uma forrnacao dente genre sera o gnmode canto qua provavelmente surgirti da mina do Aven-tino. S6 6 passfvel lutar plenamente contra o pais° represen-:tado pot estas formageies coma tiotica da franc tnica. Mass6 6 possfvel montar corn sucessos relativarneste so trabalhoqua sari feitovontemparaneamente pant subtmir as masa)

passividada ;

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42a. 0 ptoblema do Particle Mardmalista dove set ccmg-decade cam o criterio do problems de todas as outras forma-

goes intermedias que o Particle Comunieta combats comp°bet/mule pain a preparacao revolucionfrria do proleariacto

an relacilo as goals adopta, canbarme as circunstancias, atActica da frente Unica. 2 certo que em algumas zones o pro-blana da conquista da malaria esti pans nes ligado especifi-camente 00 problem de destruir a influencia do PSI a do soujornal. Os dirigentes do Partido Socialista, (par canto lade,estao-se cads vez mais a classificar entre as forges contra-acvolucionarthas e de conservacao da ordain capitalista (cam-panha para a intervencao do capital americana; solidariedadecorn os diligent= sindicais reformistas). Nada permit* awl*completamente a possibilidade da sua aproximaCao ensmistas e de tuna sucessiva fusao com ales. 0 Partido Comtmistadove ter presente esta possibilidade e proper-se obter, a partirde agora e quando ela se reaiizar, que as masses agora con-troladas pales maximalistas, mas quo conservam um espfritoclassista, se afastem decididamane doles a se liguem atreita-manta as massas que a vanguarda comunista tem I ara volts.Os bons resultados dodos pela fusao corn a &carte da HI In-ternacional, decidida polo V Congress°, ensinaram ao partidoitaliano came can condicaes doterminadas se °balm, corn umaaccba politica avisada, resultados que nao se poderiam obtercorn a normal actividade de propaganda e organizaclo.

43. Enquanto agita o sou programa de reivindicagees ime-diatas de classe e ccmoentra a sua actividade yam obter amobilizacao e unificagao das forcas °pea-Arias e trabalhado-ras, o Particle pock apresentar, cam o objectivo de faoilitar

desenvolvimento da sua (toga°, solucties intermadias de pro-blames politicos gerais e agitar estas solucbes entre as MUMSque ainda ad/mem a particles a formacaes contra-navolucio-arias Eon apresentacao a agitactio de solugaes intamedias—afastadas tanto das palavras de ordain do Partido como doprograma die inertia e passividade dos grapes quo se desejacombater— pertnite necolher no partici° forces mail vastas,par em oontradicao as palavras dos quo dirigem as partidoscontraaevolucionarios de massa corn as sues intencbes reais,empurrar as massas pant solace= revolucionfuies e estendara nossa influencia (example: aantipariamentos). Nbo se podemprover todas estas solugdes intermadias porque devem, em

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qualquor dos cases, aderir a realidade. nevem, port,m, apt-sentar-se de tal modo qua possam constituir uma pone dopang:tom pan as palavras de ordem do Partido o dove pare-cor sempte evidente as masses quo Irma ram eventual maliza-cao se resolveria 111/Mit aceleraglo do processo revolucioruirioo no infcio de lutes mais profundas.

A apresentacfm e agitego dates soluciles intermedias 6a forma especffica de luta quo dove ser usada contra os par-tidos ditos demoortiticos, os quais, in mall/Jade, silo urn dosmais fortes apoios da adorn capitalists vacilattte e. come tail,

,se &crown no poder corn as grupos reaocionarios, quandototes partidos ditos democratises estito ligados a atratos im-portautes a deoisivos da populaglo trabalhadota (como emItalia, nos primeiros mores da also Matteotti) o quando 6aminente e grave um per* reaccionfirio (tactics adoptadapeke bolchevistas em relactio a K. durante o golly deKomilov). 0 Partido Comunista obt6m, nestes cases, as me-lhores resultados agitando as soluciks quo deveriam ser prift-pries dos partidos ditos damoariticos se ester soubessem con-duzir pars a democracia uma luta coosequente, corn todas osmobs quo a situacao requer. Estes partidos, postos assim aprova pales factos, desmascaram-se menus as :mesas e per-dan a stns influfncia sobre alas.

44. Todas as agitaciles particulates qua o Partido conduze as actividades que desenvolve em todas as direccees parsmobilizar a unificar as forces da classe trabalhadont devemoonvergir e ser resumidas numa fermata politica quo seja defadl compreensSo pare as massas e taaha pars des o maximavalor de agita'ala Esta Thrmula 6 a do `Govern operant, ecamponesa. Da Indies, mesmo as masses mais atmsadas, anecessidade da conquista do poder pars a solucio dos proble-mas vitals quo thee interessara o fornece o meio pant as con-duzir no terreno qua 6 prt5prio da vanguards proletaria maisovolufda (luta Dela ditadura do proletariado). Neste sentido,ela 6 uses fOrmula de agitacito mar nAo corresponde a umaEase real de desenvolvimento histerico diferente das solucilesintermedias refaidas no ntlmero precedente. A sus realiza-al°, de facto, so pods ser ooncebida polo Partido como infciode uma luta revolucionftria direota, isto 6. da guars civil con-duzida polo proletariado, em silence corn as canmoneses, panta oonquista do poder. 0 partido poderia ser lovado a graves

desvios da sus tarefa de guia da revolucio se interpretasse oGovern openirio e campones como correspondente a urnsfuse real de desonvolvimento da luta polo podar, isto 6, seconsiderasse quo esta palavra de adorn indica a possibilidadede o problems do Estado vir a ser resolvido no interesse dachat,- operiaria usando unm forma quo do seja a da ditadurado proletariado.

Lyon, Janeiro do 1926."

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