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Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia Manual de Orientação Ginecologia Endócrina 2010

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Manual de OrientaçãoGinecologia Endócrina

2010

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FEBRASGO - Manual de Orientação em Ginecologia Endócrina

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Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia

2010

Manual de Orientação

Ginecologia Endócrina

Comissões Nacionais EspecializadasGinecologia e Obstetrícia

Ginecologia Endócrina

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FEBRASGO - Manual de Orientação em Ginecologia Endócrina

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Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia

DIRETORIATRIÊNIO 2009 - 2011

Presidente

Nilson Roberto de Melo

Secretario ExecutivoFrancisco Eduardo ProtaSecretaria Executiva AdjuntaVera Lúcia Mota da FonsecaTesoureiroRicardo José Oliveira e SilvaTesoureira AdjuntaMariângela Badalotti

Vice-Presidente Região NortePedro Celeste Noleto e SilvaVice-Presidente Região NordesteFrancisco Edson de Lucena FeitosaVice-Presidente Região Centro-OesteHitomi Miura NakagavaVice-Presidente Região SudesteClaudia Navarro Carvalho Duarte LemosVice-Presidente Região SulAlmir Antônio Urbanetz

Ginecologia Endócrina

Manual de Orientação

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Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia

2010

Manual de OrientaçãoGinecologia Endócrina

Comissões Nacionais EspecializadasGinecologia e Obstetrícia

Ginecologia Endócrina

Presidente: Sebastião Freitas de Medeiros (MT)Vice Presidente: Marcos Felipe Silva de Sá (SP)Secretária: Giovanna da Gama Fortunato (MT)

MEMBROS

Ana Glória Pontes (SP)Cristina Laguna Benetti Pinto (SP)

Helena Corleta (RS)Fernando Ramos dos Reis (MG)José Arnaldo Ferreira Souza (SP)

José de Souza Costa (BA)José Gomes Batista (PB)

José Maria Soares Junior (SP)Manoel de Almeida Moreira (PA)

Mário Gaspare Giordano (RJ)Mauri José Piazza (PR)

Roberto Rinaldo O Santos (PE)

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4

FEBRASGO - Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.

Presidência

Rua Dr. Diogo de Faria, 1087 - cj. 1103/1105Vila Clementino - São Paulo / SP - CEP: 04037-003Tel: (11) 5573.4919 Fax: (11) 5082.1473e-mal: [email protected]

Secretaria Executiva

Avenida das Américas, 8445 - sala 711Barra da Tijuca - Rio de Janeiro / RJ - CEP: 22793-081Tel: (21) 2487.6336 Fax: (21) 2429.5133e-mail: [email protected]

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Todo conteúdo deste Manual de Orientações pode ser encontrado no site: www.febrasgo.org.br

Todos os direitos reservados à Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia

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APRESENTAÇÃO

Este manual tem como proposta disponibilizar aos associados da Febrasgo e

Associações estaduais um texto leve, objetivo e atualizado sobre os principais temas da

endocrinologia feminina. Não é completo. Não tem a forma, ou objeto, de fornecer

diretrizes. No entanto, sintetiza os conhecimentos atuais acerca da fisiopatologia,

instrumentos diagnósticos e propostas terapêuticas para os temas abordados. Níveis de

evidencia científicos e graus de recomendação, por tipo de estudo, segundo o centro de

Oxford para Medicina Baseada em Evidências, são apresentados sempre que possível.

Page 7: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

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ÍNDICE DOS CAPÍTULOS

1. Fisiologia do ciclo menstrual. 1. Eixo hipotálamo-hipófise ovariano

2. Fisiologia do ciclo menstrual. 2. Foliculogênese, ovulação e função lútea.

3. Insuficiência lútea

4. Hiperprolactinemia

5. Hirsutismo e hiperandrogenismo

6. Síndrome dos ovários policísticos

7. Amenorréias

8. Sangramento uterino disfuncional

9. Falência ovariana prematura

10. Hiperplasia adrenal início tardio

11. Obesidade e reprodução

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CAPITULO 1

Fisiologia do ciclo menstrual.

1. Eixo hipotálamo-hipófise-ovariano

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INTRODUÇÃO

O eixo hipotálamo-hipófise-ovariano (HHO), funcionalmente, envolve neurônios

do hipotálamo médio basal, gonadotropos hipofisários e células teca-granulosas da

unidade folicular ovariana. As gonadotrofinas sofrem variações qualitativas e quantitativas

específicas em resposta às ações exercidas pelo hipotálamo, própria hipófise, esteróides

ovarianos e moduladores locais parácrinos e intrácrinos. Numa visão unicista, as

modificações endócrinas deste eixo podem resultar diretamente em alterações clínicas:

insuficiência folicular, insuficiência lútea, anovulação, alterações menstruais, infertilidade

e hiperandrogenismo.

HIPOTÁLAMO

O hipotálamo é parte do diencéfalo, assoalho e parte das paredes laterais do

terceiro ventrículo. Limita-se anteriormente pelo quiasma óptico e lâmina terminalis, atrás

pelos corpos mamilares, internamente pelo terceiro ventrículo, em cima pelo sulco

hipotalâmico e externamente pelo subtálamo (Figura 1). Estruturalmente, é organizado nas

regiões anteriores, tuberal e posterior, sendo cada uma delas compostas das áreas medial e

lateral (Tabela 1). A área hipotalâmica lateral assegura a comunicação com o restante do

cérebro. As áreas medial e anterior comunicam hipotálamo e hipófise, via diferentes

núcleos neuronais.

Células neurais peptidérgicas hipotalâmicas sintetizam e secretam peptídeos neuro-

hormonais. Cerca de 800-3000 neurônios, capazes de sintetizar o hormônio liberador de

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gonadotrofinas (GnRH), estão distribuídos na área hipofisiotrópica, pré-ótica medial,

núcleo intersticial da estria terminal do hipotálamo anterior, núcleo arqueado e núcleos

adjacentes periventriculares do hipotálamo médio basal. Estes neurônios constituem o

pulso gerador de GnRH e são conectados entre si ou a outros neurônios dentro e fora do

hipotálamo. Receptores para os aminoácidos aspartato e ácidos gama aminobutírico A e B

(GABA), kisspeptina e esteróides sexuais são expressos neste conjunto neuronal. Todos

estes elementos exercem funções autócrinas e parácrinas na secreção de GnRH. A

secreção pulsátil, intrínseca do GnRH, está ainda associada à existência de atividade

elétrica episódica espontânea no hipotálamo1,2

. Após sua síntese, o GnRH é transportado,

via axônio, até a porção terminal da eminência média e, daí, é secretado na rede venosa

capilar do sistema porta que banha a hipófise anterior.

O sistema neural adrenérgico do tronco cerebral projeta-se diretamente aos

neurônios GnRH e GABA, sendo que a noradrenalina tanto estimula o sistema GnRH

quando atua diretamente, como inibe-o quando atua via neurônios GABA. Os neurônios

com receptores para a kisspeptina, localizados no núcleo arqueado, têm função atenuada

pelos estrogênios (retroalimentação negativa) e aqueles localizados nos núcleos

periventriculares anteroventral, têm função amplificada pelos estrogênios

(retroalimentação positiva)3,4

(Figura 2). A dopamina, neurotransmissor dopaminérgico,

inibe a síntese e/ou liberação do GnRH na eminência média e circulação porta hipofisária

Noradrenalina, kisspeptina, acetilcolina e GABA, atuam como neurotransmissores

excitatórios na modulação da liberação de GnRH. Dopamina, serotonina, endorfinas e

melatonina inibem a liberação deste peptídeo5. O sistema opiodérgico, cujos neurônios

estão localizados nos núcleos supraótico e paraventricular inibe o sistema GnRH. As ações

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dos esteróides sexuais nos neurônios-GnRH são intermediadas principalmente pelos

neurônios GABA e kisspeptina3, mas a identificação recente de receptores esteróides nos

próprios neurônios-GnRH sugere possível ação direta.

No hipotálamo, a ação estrogênica depende da dose e tempo de ação. Em qualquer

concentração, inibe a liberação do GnRH, porém quando seus níveis ultrapassam a 200

pg/ml e serem mantidos neste patamar por um período mínimo de 50 horas6 podem

exercer retroalimentação positiva. A progesterona, em qualquer concentração, atua

inibindo a secreção de GnRH, por alterar a sua pulsatilidade. Os andrógenos exercem ação

negativa nos neuronais secretores de GnRH, sendo relevante a redução de testosterona em

5α-didrotestosterone7.

HIPÓFISE

A hipófise ou glândula pituitária está localizada na fossa hipofisária do osso

esfenóide, a sela túrcica. Comunica-se com o hipotálamo através da haste hipofisária.

Estruturalmente, é formada pela hipófise anterior ou adenohipófise, de estrutura glandular

e posterior ou neuro-hipófise, com aspecto de tecido nervoso8. Topograficamente, a

hipófise relaciona-se por cima com o quiasma óptico e por baixo com o seio

intercavernoso e parte do teto do seio esfenoidal. Lateralmente, faz contato com os seios

cavernosos e os as estruturas neles contidas. A neurohipófise contém fibras nervosas

amielínicas e axônios de neurônios hipotalâmicos secretores que conduzem e promovem

ali a secreção de ocitocina e vasopressina. A adenohipófise libera seus produtos na

corrente sanguínea através do sistema porta-hipofisário, sendo responsável pela produção

das gonadotrofinas (FSH, LH), prolactina (PRL), hormônio estimulante da tireóide (TSH),

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hormônio de crescimento (GH) e hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), em resposta a

moduladores hipotalâmicos específicos.

Os gonadotropos, localizados basicamente nas regiões laterais da glândula, sofrem

modulação do GnRH via circulação porta-hipofisária. Nesta célula, a molécula de GnRH

liga-se a receptores específicos na membrana, induzindo a expressão de mRNA para a

síntese das subunidades alfaglicoproteínas, ßLH e ßFSH (Figura 3). Estes receptores para

o GnRH são regulados por muitos agentes como o próprio GnRH, esteróides sexuais,

inibina, ativina e peptídeos da família dos fatores transformadores do crescimento9. A

interação GnRH-receptor no gonadotropo altera o número dos receptores disponíveis e a

própria sensibilidade do gonadotropo ao GnRH. Enquanto a exposição contínua ao GnRH

dessensibiliza o gonadotropo, a exposição pulsátil previne a dessensibilização e aumenta a

sensibilidade. Pulsos mais frequentes de GnRH favorecem a secreção de LH e pulsos mais

esparsos favorecem a secreção de FSH. Flutuações cíclicas na amplitude e frequência dos

pulsos de GnRH, combinadas com mudanças locais na capacidade secretora do

gonadotropo e níveis variáveis de esteróides sexuais, respondem pelo perfil de secreção

das gonadotrofinas.

Na hipófise, os esteróides gonadais modulam a resposta do gonadotropo ao GnRH.

O estradiol estimula a síntese e o armazenamento das gonadotrofinas, mas impede a

liberação destas glicoproteínas na circulação sistêmica, promovendo, então, o acúmulo

destas moléculas no interior das células10

. Atualmente, considera-se que o pico do LH na

metade do ciclo menstrual possa constituir também uma resposta à ação direta do estradiol

(retroalimentação positiva) sobre a hipófise anterior11

. Embora o mecanismo dessa ação

não seja totalmente conhecido, parece haver aumento na concentração dos receptores para

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o GnRH12

. A progesterona imprime resposta bifásica, sendo capaz tanto de inibir como

estimular a liberação de LH. Caso o gonadotropo tenha sido previamente exposto ao

estradiol, e quando ainda em pequenas quantidades, favorece a síntese de FSH e LH. Em

níveis maiores que 0,8-1,0 ng/ml inibe a atividade do gonadotropo, e, em conjunto com a

inibição os pulsos de GnRH em nível hipotalâmico, diminui a frequência dos pulsos de

LH e FSH. A ação inibitória dos progestogênicos, marcante na secreção de LH, é mínima

na síntese de FSH3. Os androgênios na hipófise, de modo geral, inibem a síntese de

gonadotrofinas. Em resumo, como a secreção de FSH e LH pelo gonadotropo obedece aos

pulsos de GnRH modulados pelos esteróides sexuais, a concentração das gonadotrofinas

sofre variação segundo a fase do ciclo menstrual. Além da influência dos esteróides

sexuais a secreção de FSH, mas não a de LH, sofre modulação dos peptídeos ovarianos

ativina, inibina e folistatina14

.

OVÁRIOS / OOGÊNESE

Os folículos ovarianos são formados a partir da interação entre as células

germinativas que alcançam a crista gonadal e as células somáticas da crista. Pouco antes

da 20ª semana de gestação encerra-se a formação de novos folículos, tendo início

consumo gradual da população previamente formada. A velocidade de consumo folicular,

modulada por mecanismos endócrinos, parácrinos e intrácrinos, não é a mesma nos

diferentes períodos da vida. A mulher nasce com um número determinado de folículos nos

dois ovários, diminuindo gradualmente este número por atresia e/ou recrutamento para

ovulação. Dos cerca de 6-7 milhões de folículos existentes em cada ovário na 20ª semana

de vida intrauterina, o feto feminino nasce com 1 a 2 milhões; este período de vida

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intrauterino é marcado por uma perda rápida, na ordem de 50.000 folículos diariamente

entre a 20ª semana e o nascimento. Do nascimento à puberdade, a velocidade de consumo

folicular é atenuada a 300-500 folículos/dia, permitindo que a mulher inicie sua vida

reprodutiva com uma população de 300.000-500.000 folículos. Nos anos reprodutivos, a

mulher consome cerca de 1.000 folículos a cada ciclo ou 30 folículos diariamente15

. De

modo que numa mulher de 50 anos, com ciclos menstruais ainda regulares, cada ovário

contém entre 2.500-4.000 folículos residuais já insensíveis às gonadotrofinas16

. A função

ovariana basal é contínua e os ovários têm sua própria atividade e regulação local. Nos

anos reprodutivos, a resposta ovariana aos pulsos de LH e FSH ocorre de maneira variável

em ciclos de aproximadamente 28 dias. Essa ciclicidade sobrepõe-se à atividade basal

gonadotrofina-independente. Logo, hipotálamo e hipófise, via modificações nos níveis de

LH e FSH, controlam e modulam apenas a etapa final do crescimento folicular. À medida

que diminui a reserva folicular, os níveis basais de FSH se elevam. Os níveis basais de

LH, relevantes na fase folicular tardia, permanecem mais estáveis e elevam-se tardiamente

na vida reprodutiva, já no período pré-menopausa16

. Após sua secreção o alvo para FSH é

exclusivamente a célula da granulosa; já o LH, além das células da granulosa, têm

múltiplos sítios-alvo, incluindo células da teça, estroma ovariano, células da granulosa do

folículo periovulatório e vários tipos de células luteínicas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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TABELA 1. Núcleos hipotalâmicos

Região anterior

Área medial: 1. núcleo préótico medial

2. núcleo supraótico

3. núcleo paraventricular

4. núcleo hipotalâmico anterior

5. núcleo supra quiasmático

Área lateral: 6. núcleo préótico lateral

7. núcleo lateral

8. núcleo supraótico (parte)

Região tuberal Área medial: 1. núcleo hipotalâmico dorsomedial (DM)

2. núcleo ventromedial (VM)

3. núcleo arqueado

Área lateral: 4. núcleo lateral

5. núcleo tuberal lateral

Região posterior Área medial: 1. núcleo mamilar (parte dos corpos

mamilares, MB).

2. núcleo posterior (PN)

Área lateral: 3. núcleo lateral

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FIGURA 1

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FIGURA 2

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FIGURA 3

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LEGENDA DA FIGURA 1

Figura 1. Estrutura do hipotálamo. Limites anatômicos.

LEGENDA DA FIGURA 2

Figura 2. Regulação do sistema neuronal hipotalâmico para secreção de GnRH.

DA(dopamina), NE (noradrenalina), KP (kisspeptina), NPV (núcleo periventricular

anteroventral), NA (núcleo arqueado), E (estradiol),+( estimulo), –(inibição).

LEGENDA DA FIGURA 3

Figura 3. Regulação da secreção de LH e FSH pelo gonadotropo. GnRH (hormônio

liberador de gonadotrofinas), (+) estímulo, (–) inibição. (↓) baixa concentração. Veja

detalhes no texto.

Page 23: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

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CAPÍTULO 2

Fisiologia do ciclo menstrual.

2. Foliculogênese, anovulação, função lútea.

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INTRODUÇÃO

A produção hormonal ovariana é dependente de duas estruturas distintas, atuando

em diferentes fases do ciclo: o folículo, que sintetiza estrogênios a partir de precursores

androgênicos (testosterona e androstenediona), na fase pré-ovulatória, e o corpo lúteo,

que se forma no ponto da eclosão ovular, que fabrica estrogênios e progesterona a partir

do colesterol. Portanto, para o correto funcionamento da glândula é indispensável a

adequada maturação do folículo que resulte em ovulação e consequente formação do

corpo lúteo. Os hormônios ovarianos lançados na circulação agem em diferentes níveis

do organismo feminino, do cérebro à pele, mas têm a sua principal atuação no trato

genital e nas mamas: os estrogênios propiciam o desenvolvimento das estruturas uterinas,

da vagina, da vulva e dos ductos mamários, enquanto a progesterona exerce uma ação

trófica nos alvéolos mamários e estimulam as alterações secretórias do endométrio,

indispensáveis à implantação do ovo, além de inibir a contratilidade uterina, ação

necessária à manutenção da integridade gestacional. Quando a gravidez não acontece, os

níveis de estrogênios e de progesterona caem, devido à atresia do corpo lúteo,

ocasionando a perda menstrual.

A regulação do ciclo ovariano depende da complexa interação entre os diferentes

níveis de estímulo e controle da produção das gonadotrofinas e dos esteróides ¹ ². O

hormônio folículo-estimulante (FSH), como descreve o seu nome, propicia a maturação

folicular e a produção de estradiol e receptores de LH no folículo. O hormônio

luteinizante (LH) desencadeia a ovulação e estimula a síntese de precursores

Page 25: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

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androgênicos pelas células tecais e de progesterona e estradiol pelo corpo lúteo. A

prolactina, (PRL), é produzida pela hipófise em quantidade controlada pela dopamina

sintetizada no cérebro e, em níveis fisiológicos, estimula a mama e a lactação, a síntese

de esteróides pelo corpo lúteo e de testosterona pelo testículo. Quando aumentada, atua

negativamente no retrocontrole de alça curta, na maturação do folículo e na fabricação de

hormônios no corpo lúteo.

FISIOLOGIA OVARIANA

No ovário, as funções endócrina e reprodutiva estão intimamente ligadas, pois a

produção hormonal é dependente da maturação folicular, da qual decorre a ovulação, ao

tempo em que a implantação do ovo depende da correta atuação do estradiol e da

progesterona sobre o endométrio.

Foliculogênese. As gonadotrofinas hipofisárias, produzidas de forma cíclica,

induzem, a cada ciclo, o crescimento de um grupo de folículos, responsáveis pela

fabricação de estrogênios na primeira fase do ciclo, um dos quais, denominado folículo

dominante ou de Graaf, romper-se-á no meio do ciclo. Além dos hormônios, fatores

parácrinos e autócrinos que ainda estão sendo identificados contribuem para a regulação

deste processo ³. Além dos hormônios esteróides, compostos peptídicos são fabricados

pelos folículos ovarianos, a partir de diferentes estruturas celulares.

Precursores androgênicos secretados pelas células da teca:

Testosterona e androstenediona

Hormônios estrogênicos fabricados nas células da granulosa e no corpo lúteo:

Estradiol, estrona e progesterona.

Page 26: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

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Hormônios polipeptídicos:

Relaxina, inibina e ativina.

Os estrogênios ovarianos - estradiol e estrona - são produzidos pelo mecanismo

conhecido como “das duas células”:

1. LH estimula a produção de androgênios na teca a partir do colesterol.

2. Precursores androgênicos penetram na granulosa por difusão passiva. Uma

parte é lançada na corrente sanguínea e constitui a fração de androgênios

circulantes de origem ovariana.

3. FSH induz a aromatização dos androgênios em estrogênios.

4. Estrogênios entram na circulação. Uma parcela é secretada diretamente no

líquido folicular (figura 1).

Figura 1 – Produção hormonal do folículo.

Ovulação. A complexidade da ovulação impossibilita que sejam aqui registrados

todos os ventos que acontecem durante o seu curso. Descreveremos a seguir, de forma

sucinta, os mais importantes passos desse processo:

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Na fase pré-menstrual, em decorrência do aumento da frequência de pulsos do

GnRH, taxas crescentes de FSH iniciam o recrutamento dos folículos

primordiais, cada um contendo um oócito parado na fase diplótena da primeira

prófase meiótica, que se desenvolverão no próximo ciclo, um dos quais alcançará

o estágio ovulatório, chamado de folículo dominante.

Concentrações séricas de inibina B são máximas nesta fase. Há também um

rápido aumento na frequência pulsátil da liberação de GnRH, que sobe de um

pulso a cada quatro horas na fase lútea tardia para um pulso a cada 90 minutos na

fase folicular precoce.

Os folículos em crescimento, muitos dos quais atingem o estágio antral, aceleram

a síntese de estrogênios que auxiliam o FSH na fabricação de seus próprios

receptores.

Estradiol elevado, atuando em conjugação com inibina A, deprime as

concentrações de FSH e de LH, assim como a amplitude dos pulsos de LH. O LH

ativa a síntese de androgênios na teca e inicia a luteinização e a produção de

progesterona na camada granulosa.

Ao mesmo tempo o gerador hipotalâmico acelera os pulsos de GnRH para uma

frequência média de um por hora, provavelmente devido à retroalimentação

negativa da progesterona remanescente do ciclo anterior.

Page 28: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

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Na pré-ovulação, os níveis de estradiol e inibina A aumentam diariamente,

causando a diminuição das concentrações de FSH e LH pelo mecanismo de retro-

controle negativo. À medida que o folículo dominante é selecionado, aumenta a

fabricação de receptores de LH no folículo e a secreção ovariana de fatores de

crescimento intrauterinos, tais como o fator de crescimento semelhante á insulina

- IGF-1. O folículo dominante cresce cerca de 2 mm por dia, até alcançar o

tamanho de 22 a 26 mm, enquanto os demais param de crescer e sofrem atresia.

Os níveis de androgênios locais e periféricos, provenientes dos folículos em

crescimento, aumentam.

Nesta fase, a frequência dos pulsos de LH continua em torno de um por hora, mas

a amplitude aumenta acentuadamente. A concentração de estradiol se eleva

continuamente ate atingir um pico no dia anterior à ovulação, quando detona a

“onda” de LH, que aumenta cerca de 10 vezes. Outros fatores ovarianos parecem

contribuir para o pico de LH. Elevação pré-ovulatória de progesterona facilita a

ação de retro-controle positivo dos estrogênios e induz FSH máximo no meio do

ciclo.

O surto de LH induz o término da divisão de redução do oócito contido no

folículo dominante e condiciona a fabricação de ativador do plasminogênio e de

outras citocinas envolvidas na ovulação. Prossegue a luteinização da granulosa e

a produção de progesterona e de prostaglandinas.

Progesterona aumenta a atividade das enzimas proteolíticas responsáveis pela

digestão e ruptura da parede folicular,

Page 29: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

28

Elevação de FSH libera o oócito das fixações foliculares e assegura a produção

de receptores de LH necessários para assegurar uma fase lútea adequada.

A ruptura do folículo acontece 36 horas após os surtos de LH. A ovulação é

seguida da queda nas taxas de estradiol, pela perda do grande promotor da sua

produção, o folículo dominante 4 (figura 2) .

A determinação da data e da real ocorrência da ovulação depende do manejo de

exames precisos, que podem ser empregados isoladamente, mas apresentam maior

efetividade quando usados em conjuntos de dois ou mais procedimentos, como os abaixo

citados:

Escore do muco cervical: filância e cristalização

Curva de temperatura basal

Estradiol plasmático seriado

Ultrassonografia transvaginal seriada

Progesterona plasmática na segunda fase do ciclo

Histologia do endométrio na segunda fase do ciclo

Laparoscopia pós-ovulatória

Page 30: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

29

Figura 2 – Regulação normal do ovário.

Corpo lúteo. Imediatamente após a ovulação as células da granulosa aumentam de

tamanho e são transformadas em células lúteas, que produzem estradiol e progesterona.

Esses esteróides controlam a sua própria produção por um sistema regulatório

intraovariano e pela interação com o hipotálamo e a hipófise, através da retro-ação de

alça longa. A prolactina, em condições normais, não exerce efeitos positivos no folículo e

no corpo lúteo.

Estradiol e progesterona voltam a crescer com o aumento da secreção do corpo

lúteo, situação que se mantém até a regressão da glândula, caso a fecundação não

ocorra. Inibina A também é produzida pelo corpo lúteo e sua concentração sérica

máxima é encontrada na fase lútea média.

Progesterona atinge taxas máximas cerca de oito dias após a ovulação e, além das

ações sistêmicas, age no próprio ovário impedindo o crescimento de novos

folículos. Progesterona sinaliza o gerador hipotalâmico a diminuir a frequência

Page 31: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

30

dos pulsos de LH, que se espaçam progressivamente até o ritmo de um pulso a

cada quatro horas na fase lútea tardia.

Queda gradativa da secreção de LH resulta na diminuição da produção de

estradiol e progesterona pelo corpo lúteo na ausência de gestação. A involução do

corpo lúteo completa-se em torno de 14 dias depois da ovulação, quando a

menstruação ocorre.

A baixa de estradiol e progesterona libera o eixo do retrocontrole negativo e a

liberação de FSH estimula a síntese de estradiol antes mesmo do início da

menstruação.

CICLO ENDOMETRIAL

Em condições normais, em um ciclo ovulatório, o endométrio é estimulado em

sequência pelo estradiol e pela progesterona secretados no ovário. (figura 3)

Figura 3 – Diferenciação do endométrio sob a influência dos hormônios ovarianos.

Page 32: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

31

Na fase folicular do ciclo, que começa com o início da menstruação e termina no

dia do pico de LH, sob a influência do estradiol e dos fatores de crescimento (vásculo-

endotelial, epidérmico, IGFs), o endométrio se regenera de forma bastante rápida,

recobrindo inicialmente os cotos dos vasos abertos durante o sangramento menstrual e

atingindo a espessura máxima em torno da ovulação. É a fase proliferativa, caracterizada

por divisão celular intensa, pelo crescimento e aumento de calibre dos vasos e das

glândulas, que se tornam bastante tortuosas, e pela presença de pequenas quantidades de

secreção na luz das glândulas. Nela ocorre uma extensa formação de receptores de

progesterona, indispensável para a atuação desse hormônio na fase seguinte.

Após a ovulação, na fase lútea do ciclo, que se estende do dia do pico de LH até o

início da próxima menstruação, a progesterona condiciona o aumento do comprimento e

da tortuosidade das glândulas e dos vasos espiralados, que se acompanham do incremento

na secreção glandular, constituindo a fase secretora. A mucosa não mais aumenta, devido

à cessação das mitoses, pelo contrário, começa a sofrer compactação, que atinge o acme

no pré-menstruo.

Além dos esteróides ovarianos, o crescimento e funcionamento do endométrio são

regulados por diversos fatores, endógenos e exógenos, o que explica a diferença de

comportamentos da mucosa em situações semelhantes, a razão por que algumas mulheres

em uso de estrogênios desenvolvem hiperplasia endometrial, enquanto outras não o

fazem. Entre eles, destacamos as enzimas endometriais, os fatores reguladores da

proliferação, as prostaglandinas e a relaxina.

Page 33: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

32

Avaliação endometrial. A camada basal, formada por células estromais

recobertas por células epiteliais, é delgada, abriga glândulas curtas e é irrigada pelas

artérias retas. É a partir dela que o endométrio se reconstitui a cada ciclo. A camada

funcional, constituída de células epiteliais colunares, ciliadas e ricas em glicogênio,

glândulas tortuosas e vasos espiralados, tem sua estrutura celular, glandular e vascular

modificada em diferentes fases do ciclo menstrual com tamanha precisão que possibilita

ao histologista “datar” o endométrio, ou seja, determinar o dia do ciclo em que a mulher

se encontra5. As variações endometriais podem ser também observadas com a ultra-

sonografia. Partindo de um aspecto indistinto durante a menstruação, ele aparece ao

ultrassom, tão logo cessa o fluxo, como uma linha. Uma semana depois se apresenta já

mais espesso, com aumento do número de glândulas e formação de um padrão de “faixa

tripla”. A contínua elevação do estradiol provoca o gradual aumento da espessura do

endométrio, das glândulas e da proliferação vascular, que pode ser observada pela

Dopplervelocimetria, atingindo o máximo imediatamente antes do pico de LH. Uma vez

ocorrida a ovulação, a produção crescente de progesterona provoca profundas mudanças

na mucosa endometrial, caracterizada por cessação das mitoses e reorganização das

glândulas: a imagem de “faixa tripla” desaparece e o endométrio torna-se uniformemente

claro. Na fase luteal tardia, o decréscimo da síntese de estradiol e de progesterona resulta

na compactação da mucosa, na diminuição acentuada da vascularização e início da

desagregação endometrial, que prossegue até o início do fluxo menstrual 6.

Page 34: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

33

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Filicori, M, Santoro, N, Merriam, GR, Crowley, WF Jr. Characterization of the

physiological pattern of episodic gonadotropin secretion throughout the human

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endometrium during normal cycles. Ultrasound Med Biol 1985; 12:271-9.

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34

CAPÍTULO 3

Insuficiência Lútea

Page 36: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

35

CONCEITO / IMPORTÂNCIA / PREVALÊNCIA

A fase lútea é o período compreendido entre a ovulação e o início da gravidez ou

do fluxo menstrual. O corpo lúteo (CL) segrega diversos hormônios e,

fundamentalmente, a progesterona (P) e os estrogênios (E). Após a implantação, o

blastocisto segrega gonadotrofina coriônica humana (hCG) e a função desta

gonadotrofina é manter o corpo lúteo com a produção dos esteróides. Depreende-se a

importância de uma função normal do corpo lúteo para a manutenção da gravidez.

Experimentos clássicos1 mostraram que a remoção do corpo lúteo nos primórdios da

gravidez era acompanhada invariavelmente por abortamentos. Fundamental, pois, a

importância da P e dos estrogênios segregados pelo CL. A progesterona atua no

endométrio acoplando-se a receptores específicos induzidos pelo 17 β estradiol. Na fase

lútea do ciclo menstrual o CL é a única fonte produtora de progesterona e esta atividade

perdura até que o trofoblasto inicie a atividade de secreção.

A secreção cíclica de E de P induz modificações morfológicas e fisiológicas no

endométrio facultando produção de inúmeras substâncias endometriais. Este preparo

endometrial propicia o que foi denominado “janela de implantação” (cinco a 10 dias após

o pico de secreção de LH) propiciando endométrio adequado para a implantação e início

da gravidez. Estas modificações não ocorrem se a produção de P é inadequada. A

insuficiência lútea (IL) é caracterizada por ovulações imperfeitas e, consequentemente,

corpo lúteo de má qualidade com preparo inadequado do endométrio seja para a nidação

seja para o desenvolvimento do embrião. A incidência de IL em ciclos naturais com

ovulações e em mulheres sem infertilidade é estimada em 8%2. Contudo em ciclos

Page 37: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

36

induzidos para fertilização “in vitro” (FIV) a IL está presente em praticamente todas as

pacientes 3.

ETIOPATOGENIA

Diversas condições patológicas podem estar associadas à IL. Excluídas as causas

de anovulação crônica (invariavelmente associadas com amenorréias ou oligomenorréias)

enunciamos algumas condições determinantes de IL.

Causas centrais.

Hiperprolactinemias disfuncionais

Estados crônicos de depressão, estresse, com síntese inadequada de

gonadotrofinas.

Exercícios físicos vigorosos

Causas ovarianas.

Fase folicular encurtada

Ciclos ovulatórios induzidos para a FIV.

Acorde com Tavaniotou et al., 2001(4)

, na FIV os níveis de LH estão muito

reduzidos após injeção de hCG e permanecem baixos em toda a fase lútea. Também em

ciclos induzidos, com crescimento multifolicular, “endométrios avançados” apareceram

em aproximadamente 50% dos casos, consequentes à depleção das células da granulosa5.

Nos ciclos em que se realiza a FIV a IL está relacionada com níveis

suprafisiológicos de esteróides advindos do maior número de folículos e corpos lúteos

Page 38: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

37

aparecendo prematuramente e deprimindo os níveis de LH. Estudos mostraram a

necessidade de serem mantidos os níveis de LH para o bom preparo endometrial. Estes

níveis deprimidos de LH, como consequência, causam luteólise prematura6. Estes níveis

baixos de LH foram verificados após uso de GnRH, agonista ou antagonista para

induções de ovulação em ciclos de FIV.

Depreende-se a importância da suplementação de P para o bom preparo

endometrial. A progesterona, também, promove vasodilatação e a “quiescência” da

musculatura uterina induzida pelo óxido nítrico sintetizado pela decídua. A contratilidade

uterina inadequada poderá favorecer gravidezes ectópicas, abortamentos, sangramentos

retrográdos com dismenorréia e endometriose3.

CAUSAS ENDOMETRIAIS

Os níveis circulatórios fisiológicos de P são importantes para produção de

endométrios favoráveis à implantação. Alguns autores7, 8

mostraram correlação

significativa entre níveis baixos de P e endométrios defasados com maior número de

abortamentos. Contudo, nem sempre níveis circulatórios adequados se correlacionam

com endométrios favoráveis. Por quê? Em situações peculiares o desenvolvimento

endometrial inadequado poderá ser secundário a defeitos nos receptores de P. Sabedores

de que os receptores de P são induzidos pelo 17 β estradiol na fase folicular, uma

primeira fase defectiva não propiciará surgimento fisiológico de receptores de P.

Depreende-se a importância de ciclos menstruais homogêneos, seja na fase folicular, seja

na fase lútea 9.

Page 39: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

38

CAUSAS ENDÓCRINAS

Qualquer alteração endócrina poderá originar ciclos com IL. Na prática clínica as

alterações tireoidianas e das suprarrenais são as mais incidentes.

CAUSAS IMUNOLÓGICAS

Em algumas situações o não reconhecimento materno dos antígenos fetais de

origem paterna (cerca de 50%), conduzirá a abortamentos repetidos.

É complexa a análise das ações do intrincado sistema imunológico materno

aceitando ou rejeitando o embrião. São produzidas citocinas e outros elementos

endometriais no curso da gestação. Estudos mostram que a citocina dominante Th2

favorece a evolução normal da gestação ao passo que a citocina Th1 conduz a

abortamento 9.

A progesterona exerce ações relevantes mediando às ações do sistema

imunológico materno. Niveis defectivos de P não criam “ambiente adequado” às ações

favoráveis do sistema imunológico materno. Foi identificado um fator bloqueador

induzido pela progesterona (PIBF) que exerce ação de controle do sistema imunológico

materno 10

. Níveis baixos de PIBF não exercem ação protetora tornando-se inevitáveis as

interrupções prematuras da prenhez.

DOENÇAS GERAIS

Qualquer comprometimento orgânico poderá originar ciclos ovulatórios

defectivos. Pela frequência citamos a obesidade, o diabetes e as doenças debilitantes.

Page 40: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

39

USO DE DROGAS

Não nos referimos às drogas ilícitas que certamente determinam disfunções

ovulatórias. O uso crônico de qualquer substância poderá exercer retrocontrole

inadequado no eixo hipotálamo-hipófise gônada originando seja anovulações seja a IL.

Pela frequência citamos o uso crônico de anti-inflamatórios, de antidepressivos e

ansiolíticos, de drogas hipotensoras, entre outras.

EXTREMOS DA VIDA REPRODUTIVA

Na puberdade e na pré-menopausa há, invariavelmente, ovulações imperfeitas. Na

puberdade, pela imaturidade de eixo hipotálamo-hipófise-gônada e na pré-menopausa

pela depleção folicular. A idade materna é fator etiopatogênico, seja de anovulação, seja

de IL, independente da história reprodutiva pregressa 9.

ESTERILIDADE SEM CAUSA APARENTE

Nem sempre fica evidente o fator determinante da anovulação ou da IL. Excluídas

todas as numerosas e possiveis causas, remanescerão alguns casos rotulados de

esterilidade sem causa aparente (ESCA).

DIAGNÓSTICO

As disfunções ovulatórias, de modo habitual, estão associadas com ciclos

menstruais irregulares. Excluídas as causas clássicas de anovulação crônica, os ciclos

com IL se associam comumente com polimenorréia, hipermenorréia e perdas sanguíneas

esporádicas (“spotting”) no pré-mustruo, além, obviamente, de infertilidade. Como, pois,

Page 41: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

40

de modo prático e objetivo, detectarmos os ciclos com IL? Foram descritos diversos

métodos de rastreio de ciclos ovulatórios. Estes mesmos métodos, corretamente

interpretados, poderão ser usados para identificação de ciclos com IL.

CURVA TÉRMICA BASAL

O método foi descrito de há muito e, embora criticado pela baixa sensibilidade

servirá, em mulheres motivadas, para detecção de ciclos normo-ovulatórios,

anovulatórios ou com IL. Classicamente a ascenção térmica (0,2 ou mais décimos de

temperatura) no meio do ciclo, e a manutenção destes níveis até próximos à menstruação

subsequente poderá servir de rastreio diagnóstico. Deduzimos que, se a temperatura não

se modificar, ou se elevar tardiamente, poderá estar presente a IL.

DOSAGENS HORMONAIS

Hoje elas são imprescindíveis para rastreio de endocrinopatias, de ciclos

ovulatórios, para controlar a indução da ovulação nos ciclos de FIV ou para rastrear

eventual suspeita da síndrome de hiperestímulo ovariano, e, logicamente, para

diagnóstico da IL. De modo prático, em mulheres sem indícios de endocrinopatias

evidentes, a dosagem de FSH, LH e PRL (acreditamos até que a dosagem da insulina

basal e da glicemia de jejum) sejam úteis na fase folicular inicial. Nesta fase os níveis

circulatórios de FSH deverão ser levemente superiores aos de LH e a prolactina (PRL)

não deverá exceder os 20 ng/ml. A insulina não deverá exceder os 15mU/ml e a relação

glicose / insulina deverá ser inferior 4,5. Na fase lútea média é de fundamental

importância a dosagem da P e, novamente, da prolactina plasmática.

Page 42: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

41

Os autores divergem quanto aos níveis adequados de P. Analisando a literatura

vemos que a maioria acredita que níveis inferiores a 10 ng/ml, na fase lútea média, não

são compatíveis com bom corpo lúteo e bom preparo endometrial. Em estudo de meta-

análise conduzido por Posaci et al., 2000(11)

, ficou patente que a maioria dos autores

preceituam que níveis adequados de P, na fase lútea média, deverão ser iguais ou

superiores a 10 ng/ml. Também, nesta fase, os níveis de PRL não deverão exceder os 20

ng/ml.

Para alguns autores a dosagem do hormônio anti-mulleriano servirá de parâmetro

para acompanhamento de boa resposta ovulatória em ciclos induzidos. Níveis baixos, na

fase lútea média, não são indicativos de boa resposta ovulatória. O método, além de

oneroso, não é de emprego habitual. Outros métodos são menos usuais na prática clínica.

Entre outros, a dosagem da P na saliva, na fase lútea média, poderá, eventualmente, ser

indicada.

BIÓPSIA DO ENDOMÉTRIO

O estudo do endométrio poderá, também, ser empregado para pesquisa de ciclos

ovulatórios adequados. Após o famoso e clássico estudo de Noyes et al., 1950(12)

, datando

o endométrio em relação ao esperado dia da ovulação, muitos autores empregaram o

método para rastrear a ovulação. A defasagem endometrial de dois ou mais dias em

relação ao ciclo padrão indicaria endométrios inadequados.

Estudos recentes, porém, verificaram não ser fiel o “espelho endometrial” para

diagnóstico de ciclos normo-ovulatórios ou com IL. Soma-se a isto o desconforto para

Page 43: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

42

coleta de fragmento endometrial na fase lútea média. Contudo, endométrios francamente

incompatíveis com a fase lútea certamente indicarão endométrios defectivos.

ULTRASSONOGRAFIA SERIADA (USG) E DOPPLER

Hoje é método indispensável para os ciclos de reprodução assistida (RA).

Logicamente se à USG não forem detectados folículos com diâmetro adequado, na fase

peri-ovulatória, se aparecerem múltiplos pequenos folículos não haverá indício de ciclos

ovulatórios adequados. Servirá o método para rastreio diagnóstico da temida entidade

clínica: a síndrome de hiperestímulo ovariano.

TRATAMENTO

Presentes distúrbios endócrinos possivelmente associados ou determinantes de IL

a correção destes distúrbios será o passo inicial. Presente obesidade (ou magreza

excessiva), hábitos de vida que possam influenciar negativamente o ciclo ovulatório

(exercícios físicos excessivos, fumo, alcoolismo), estes deverão ser corrigidos.

Diagnosticada a IL diversos fármacos poderão ser recomendados para que surja adequado

ciclo ovulatório. Se a ovulação está presente, mas defectiva, nada mais lógico do que usar

a substância, fundamental, sintetizada pelo corpo lúteo na segunda metade do ciclo

menstrual, a progesterona.

Será sempre necessária a suplementação de P presente a IL?

Em ciclos induzidos a suplementação de P está indicada. Erdem et al., 2009(13)

,

em estudo bem conduzido, randomizado, placebo controlado (nível A) mostraram que em

ciclos ovulatórios induzidos a suplementação de P mostrou resultados significativamente

Page 44: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

43

superiores de gravidez. Penzias, 2002(14)

, em revisão da literatura mostrou que a

suplementação de P está sempre indicada em ciclos de RA. Após quatro semanas, quando

os níveis de P eram iguais ou superiores a 60 ng/ml a suplementação foi interrompida

sem efeitos adversos (nível B). Szekeres-Bartho & Balash, 2008(9)

, em estudo de meta-

análise não conseguiram evidenciar a superioridade no emprego da P em pacientes com

abortamentos de repetição (nível A). Pritts, 2002(15)

, em revisão sistemática, mostrou ser

necessária a suplementação de P ou de hCG para suporte da fase lútea em mulheres com

tratamentos de RA. (nível A). Revisão sistemática da Cochrane, 2004, 16

– nivel A

mostrou resultados superiores de gravidez quando a P foi administrada (via vaginal ou

IM) em ciclos de RA empregando o GnRH agonista.

Em síntese, quando presentes níveis baixos de P na fase lútea média há vantagem

no suporte da fase lútea. Quando os níveis de P forem ≥ 10 ng/ml a literatura não é

acorde sobre a conveniência da suplementação. Contudo, diversos autores seguem a

máxima filósofica, sempre muito úteis: “indubio pro reo”. Em casos de ESCA, com

níveis baixos de P, os efeitos favoráveis da administração do fármaco sempre foram

superiores.

AÇAO FISIOLÓGICA DA PROGESTERONA

A progesterona é o hormônioo da gravidez. Ela prepara, adequadamente, o

endométrio para a nidação exercendo ainda outros efeitos favoráveis de relaxamento da

musculatura uterina e ações favoráveis sobre o sistema imunológico. O trabalho clássico

de Csapo, 1974(1)

, mostrou que a retirada do corpo lúteo nos primórdios da gravidez era

seguida, invariavelmente, pela perda da gestação.

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44

TIPOS DE PROGESTERONA

Os progestogênios podem ser divididos em dois grandes grupos: progesterona

natural e derivados sintéticos. Devido ao metabolismo hepático e intestinal a

progesterona natural é rapidamente inativada quando utilizada par via oral. As duas

progesteronas naturais mais utilizadas são a própria progesterona e a diidroprogesterona.

Entre os derivados sintéticos, elaborados para melhorar a biodisponibilidade, há a 17

hidroxiprogesterona.

VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DA PROGESTERONA

A progesterona poderá ser administrada pela via oral, vaginal ou parenteral (IM).

Como visto a via oral não é a preferencial. Acorde com alguns autores (Posaci et al.,

2000)(11)

300 mg de progesterona micronizada oral (Utrogestan® ou Evocanil®) teria

meia vida de cerca seis horas. Os mesmos 300 mg pela via vaginal, além da maior

eficácia, teria meia vida de oito horas. Muito utilizado hoje o gel de progesterona via

vaginal. Estudos realizados mostraram que 90 mg do gel (Crinone) teria meia vida de 24

hs. A P em comprimidos pela via vaginal, em doses de 200 a 600 mg/dia, têm os mesmos

efeitos do gel a 8% (90 mg/dia). A administração parenteral de P oleosa (50 mg/dia)

mostrou níveis suprafisiológicos de P circulante. Pela via vaginal os níveis séricos foram

inferiores, porém a concentração endometrial foi 30 vezes superior17

.

Revisão sistemática da Cochrane 16

mostrou resultados similares de gravidez

com a administração de P seja pela via parenteral, seja via vaginal.

Page 46: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

45

Quando iniciar a administração de progesterona?

Em ciclos naturais logo após identificada a ovulação à ultrassonografia (USG).

Em ciclos de RA diversos estudos mostraram resultados similares de gravidez quando a

administração de P teve início no dia da injeção de hCG, no dia da captação do óvulo ou

no dia da transferência embrionária 3. Considerando, porém, o efeito uterolítico da P há

indicação de se iniciar a administração do fármaco precocemente. Para Fatemi et al.,

2007(3)

, em ciclos de RA seria no dia da trasferência embrionária.

Por quanto tempo deverá ser mantida a progesterona?

Também neste tópico não há consenso. Alguns autores recomendam o uso até que

sejam detectados os batimentos cardiofetais. Para outros autores o uso deveria estender-se

por todo o primeiro trimestre. Para Fatemi et al., 2007(3)

, a administração prolongada

poderia favorecer retenção de abortos retidos.

Deve-se associar estrogênios?

Alguns estudos mostraram resultados superiores de gravidez quando foram

associados E à P na fase lútea. Ghanem et al., 2009(18)

, realizaram estudo prospectivo

para comprovação da vantagem de se associar E à P na fase lútea (nível B). Em ciclos

com uso prévio de agonistas de GnRH e ICSI houve resultado significativamente superior

de gravidez em confronto com o uso isolado de P ou de P associada com hCG. Contudo,

Gelbaya et al., 2008(19)

(metanálise – nível A) não mostraram superioridade na associação

de E à P em ovulações induzidas para ICSI, pós-uso de GnRH agonista ou antagonista.

Concluem, porém, que os estudos não definem ainda o tema. Também Kolibianakis et al.,

Page 47: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

46

2008(20)

, em estudo de metanálise (nível A) concluíram não haver vantagem na adição de

estrogênios à progesterona para suplementação da fase lútea em ciclos de RA.

OUTRAS ASSOCIAÇÕES COM PROGESTERONA

Em diversos estudos, alguns autores em conjunto com a administração de

associaram outros fármacos, na tentativa de elevar os índices de sucesso em RA. Urman

P et al., 2009(21)

, associaram heparina de baixo peso molecular à P, com início no dia

seguinte à captação ovular. Houve discreta elevação, não significativa, dos índices de

nascidos vivos no grupo de estudo. O uso de aspirina (100 mg/dia) com a finalidade de

tanto melhorar a circulação uterina quanto de inibir a contratilidade do miométrio

também não mostrou ganho. Não há, contudo, uniformidade de pensamento 3 .

Em grupo seleto de pacientes com doenças auto-imunes, com abortamentos de

repetição, há indícios de resultados superiores com esta associação.

EFEITOS ADVERSOS DA PROGESTERONA / PROGESTOGÊNIO

Alguns relatos isolados associaram o uso da hidroxiprogesterona com fendas

palatinas, transposição dos grandes vasos e estenoses pulmonares. Posaci et al., 2000(11)

analisaram os estudos e concluíram pela inexistência de efeitos teratogênicos com o uso

de progestogênios comumente empregados no curso da gestação. A P micronizada

natural, via oral, é, provavelmente, a mais segura. Faltam estudos para melhor elucidação

do tema.

Page 48: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

47

GONADOTROFINAS

Corpo lúteo de boa qualidade é fundamental para o desenvolvimento da gestação

22. Advoga-se o uso de hCG para suplementação da fase lútea

11, 3 verificaram resultados

superiores de gravidez em confronto com o uso da P via vaginal. Contudo, muitos autores

não verificaram superioridade de resultados quando usada a hCG para suplementação da

fase lútea além de efeitos adversos como a síndrome de hiperestimulação ovariano.

OUTRAS DROGAS

Presentes as disfunções ovulatórias seguidas de corpo lúteo de má qualidade

algumas outras drogas poderão ser recomendadas. Nas hiperprolactinemias disfuncionais

o uso de bromocriptina ou cabergolina no curso de ciclo menstrual poderá melhorar a

ovulação com obtenção de corpo lúteo saudável. Alguns autores sugerem que

antagonistas opióides (naloxona) elevam a secreção de LH com melhora tanto da

ovulação quanto do corpo lúteo na 2ª fase. Contudo, observações posteriores não

mostraram superioridade e eficácia desta substância 3.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Page 53: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

52

CAPÍTULO 4

Hiperprolactinemia

Page 54: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

53

Hiperprolactinemia

CONCEITO

Prolactina (PRL) é um hormônio sintetizado e secretado por lactotrófos, células da

hipófise anterior ou adeno-hipófise, com a principal função de estimular a lactação.

Fisiologicamente, os níveis de prolactina aumentam com a concepção, permanecendo

altos durante a gestação, sem que ocorra lactação devido aos altos níveis plasmáticos de

estrógeno e progesterona que se opõem à sua ação na glândula mamária. Após o parto,

com a queda nos níveis de estrógeno e progesterona, a lactação se inicia. Durante a

amamentação, importante fator estimulador da secreção de prolactina é a sucção do

mamilo.

Assim, a hiperprolactinemia não fisiológica tem como sintoma mais claro a

galactorréia, podendo também causar irregularidades do ciclo menstrual, através da

interferência na secreção pulsátil de GnRH comprometendo o funcionamento do eixo

hipotálamo-hipófise-ovariano. Clinicamente se expressa por ciclos menstruais

encurtados, anovulação com espaniomenorréia e até amenorréia. Nos casos mais severos

pode haver hipogonadismo hipogonadotrófico. Vários outros locais do organismo

manifestam receptores para a prolactina, como fígado, suprarrenais, linfócitos, mas as

funções da PRL nestes locais ainda são mal elucidadas.

Page 55: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

54

Diferente de outros hormônios hipofisários, a prolactina tem sua secreção

regulada predominantemente por mecanismo inibitório, sendo a dopamina o principal

agente inibidor. Esta amina é sintetizada no hipotálamo, atingindo a hipófise através da

circulação porta-hipofisária, presente na haste ou infundíbulo. Outros fatores inibitórios

da PRL são acetilcolina, GABA, GAP, histamina, todos com menor grau de atuação.

Fatores estimulatórios como estrógeno, hormônio tireotrófico (TRH), serotonina,

polipeptídeo vasoativo intestinal e opiáceos endógenos têm menor papel na secreção de

prolactina.

ETIOLOGIA

De forma didática, as causas de secreção excessiva de prolactina podem envolver

mecanismos que interferem com a inibição da prolactina, e mecanismos que estimulam

ou aumentam sua secreção e mecanismos que reduzem a eliminação da prolactina (Figura

1). Dentre as causas que estimulam fisiológicamente a secrecao da PRL temos a gestação

e a lactação, além de atividade física. Em condições normais como no hipotireoidismo

(com aumento do TRH) e na insuficiência adrenal, também há estímulo na secreção de

prolactina. Existe ainda uma associação entre síndrome dos ovários policísticos e

Page 56: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

55

hiperprolactinemia. Na insuficiência renal e na insuficiência hepática, por interferência

com a eliminação, verifica-se elevação dos níveis séricos de PRL.

A síndrome da sela vazia e tumores hipofisários produtores de prolactina,

diagnosticados por exame de imagem e classificados como microadenoma quando menor

do que 1cm e macroadenoma quando maior ou igual a 1cm, cursam com

hiperprolactinemia. Outra causa de elevação da secreção de prolactina é a hipofisite,

porém por dificuldade de diagnóstico acaba sendo incluída entre as hiperprolactinemias

idiopáticas.

Dentre as causas que interferem com o mecanismo inibitório da prolactina, temos

tumores não produtores de prolactina que comprimem o infundíbulo, dificultando ou

impedindo que a dopamina atinja a hipófise, as causas neurogênicas como cicatriz

torácica, estímulo mamário e, cada vez com maior frequência, a ação de medicações

(Tabelas 1 e Quadro 1).

Quando nenhuma causa é diagnosticada, a hiperprolactinemia é dita idiopática.

Page 57: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

56

Hipotireoidismo

Insuficiência adrenalMedicação

Neurogênica:

cicatriz tórax, estímulo

mamário, amamentação

Causa fisiológica:

gestação

↓eliminação PRL:

Insuf. Renal

Insuf. Hepática↑Produção PRL:

SOP

Tumores (adenomas)

Hipofisite

S. Sela vazia

Outras causas:

mecanismo

não claro

Compressão do

infundíbulo:

tumores

HiperPRL

Causas

INCIDÊNCIA DE HIPERPROLACTINEMIA

A hiperprolactinemia está presente em 15 a 20% das mulheres com amenorréia,

aproximadamente em um terço das mulheres com galactorréia e infertilidade e em até

75% daquelas com galactorréia e amenorréia. O tumor produtor de prolactina,

prolactinoma, é considerado o tumor hipofisário mais frequente, representando

aproximadamente 40% de todos os tumores hipofisários. Embora reportados na literatura

em pacientes com idade entre 2 e 80 anos, os prolactinomas são muito mais frequentes

durante o menacme. Macroprolactinomas são menos frequentes que microprolactinomas.

QUADRO CLÍNICO

A hiperprolactinemia não fisiológica causa galactorréia, irregularidade do ciclo

menstrual, que se manifesta com polimenorréia, espaniomenorréia ou amenorréia, e

Quadro 1. Principais modificações associadas ao aumento dos níveis da PRL

Page 58: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

57

consequentemente esterilidade. Nos quadros de amenorréia com hipoestrogensimo

prolongado, as mulheres podem apresentar queixas e sinais decorrentes do

hipoestrogenismo, como dispareunia e secura vaginal devido a atrofia genital. Pode

manifestar-se ainda com sintomatologia neurológica: cefaléia e alteração visual. Das

alterações visuais a mais característica é a perda de campo visual lateral. Queixa sexual,

com redução da libido, importante no diagnóstico de hiperprolactinemia masculina, tem,

na mulher interpretação dificil, mas não deve ser esquecida.

DIAGNÓSTICO

A partir das queixas clínicas, deve-se investigar a presença de hiperprolactinemia,

bem como de todas as suas possíveis causas.

Para diagnóstico, os exames necessários são: dosagem de prolactina, TSH, FSH

(em especial na presença de amenorréia), ressonância magnética ou tomografia

computadorizada e exame de campo visual. A dosagem de prolactina deve ser realizada

pela manhã, em jejum, preferencialmente após repouso de 30 minutos. A dosagem de

TSH auxilia no diagnóstico de hiperprolactinemia em decorrência do hipotireoidismo.

Havendo prolactina elevada, discute-se a realização de ressonância magnética ou, na

impossibilidade desta, da tomografia computadorizada. O exame de campo visual deve

ser solicitado na presença de grandes tumores.

Na história clínica deve-se investigar o uso de drogas que possam causar

hiperprolactinemia. Segue algoritmo útil na investigação.

Page 59: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

58

Dosar TSH

Investigar uso de drogas queprolactina

Irregularidade Menstrual

Galactorréia ,Infertilidade,

Queixa neurológica, alteração campo visual

Dosar Prolactina

Prolactina normal

Investigar outras causas

TSH normal TSH Drogas que PRL(+)

RNM ou TC

RNM/TC normal = hiperprolactinemia idiopática

Tumor adenohipófise ˂1cm = microadenoma

Tumor adenohipófise ≥1cm = macroadenoma *#

Investigação e tratamentode hipotireoidismo

Discutir caso a caso: troca/retirada da medicação

Avaliar necessidade de RNM ou TC

Iniciar tratamento

Prolactina

* lembrar da possibilidade de tumores não produtores de prolactina

TRATAMENTO

O tratamento das hiperprolactinemias baseia-se principalmente na utilização de

agonistas dopaminérgicos. Os lactotrófos hipofisários apresentam receptores D2. Os

agonistas dopaminérgicos como a bromocriptina e a cabergolina agem diretamente sobre

estes receptores, inibindo a secreção de prolactina e reduzem o volume dos prolactinomas

por redução do volume celular em consequência a menor secreção de prolactina e por

redução da atividade mitogênica dos lactotrófos.

A bromocriptina tem meia vida curta, o que exige administração em duas vezes ao

dia. Está disponível em comprimidos de 2,5mg. Deve-se iniciar o tratamento com doses

baixas, aumentando lentamente a dose diária até controle da prolactina. As doses

terapêuticas são geralmente de até 7,5mg/d, raramente sendo utilizada maior dosagem.

*

Page 60: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

59

Há também disponível a apresentação de bromocriptina SRO de 2,5 e 5mg, que pode ser

utilizada em tomada única diária.

A cabergolina tem potente e prolongada atividade na redução da prolactina,

trazendo comodidade posológica, com administração uma a duas vezes por semana. Está

disponível em comprimidos de 0,5mg e constitui atualmente droga de eleição nos estados

hiperprolactinêmicos em mulheres não desejosas de gestação.

Embora não se tenha demonstrado efeitos deletérios da bromocriptina ou da

cabergolina na gestação ou no desenvolvimento fetal, a experiência mais longa com a

bromocriptina torna seu uso mais recomendável em mulheres desejosas de gestação.

Os efeitos colaterais mais relatados são náusea e vômito, vertigem, hipotensão

postural, dor abdominal, constipação, depressão, rubor. Vários outros efeitos colaterais

são referidos, em menor frequência.

Assim, o tratamento deve ser iniciado com dose baixa da medicação, aumentando

gradativamente de acordo com as dosagens de prolactina. O tempo para repetição da

dosagem após ajuste de dose é variável. Embora a resposta seja rápida, deve-se repeti-lá

em cerca de 4 a 6 semanas. Outro ponto que não apresenta consenso na literatura é o

tempo de manutenção da medicação. Recente revisão sistemática da literatura e meta-

análise para a cabergolina encontrou que a probabilidade de sucesso no tratamento, com

manutenção de normoprolactinemia é maior quando o tratamento tiver duração de 2 ou

mais anos, embora apenas 21% das pacientes mantenham níveis de prolactina

persistentemente normais. Para macroadenomas, a conduta de retirada ou manutenção do

tratamento deve ser individualizada.

Page 61: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

60

Outras medicações como lisuride, pergolide, quinagolide, embora citadas na

literatura, são raramente utilizadas.

A indicação de tratamento cirúrgico ou radioterápico nos prolactinomas é cada

vez menos frequente e está indicada para os casos de insucesso com a terapêutica clínica,

seja por intolerância aos medicamentos ou resistência. Considera-se resistência quando o

tratamento clínico adequadamente realizado falha em normalizar os níveis de prolactina

ou em reduzir em pelo menos 50% o volume do tumor. Há intolerância quando os efeitos

colaterais impedem sua utilização. Outras indicações cirúrgicas relacionam-se a sintomas

visuais compressivos sem melhora com tratamento clínico, apoplexia, macroadenoma

cístico com sintomas neurológicos. O tratamento radioterápico está reservado para os

prolactinomas que não respondem aos agonistas dopaminérgicos, não são operáveis ou

em raríssimos casos de prolactinoma maligno. Segue algoritmo para o tratamento.

Iniciar Tratamento

Repetir dosagem de PRL a cada 4 - 6 semanas e rever dose:

PRL normal= manter dose

PRL= dose , repetindo passos a cada 4 -6 sem até PRL normal

Hiperprolactinemiaidiopática

Microadenoma Macroadenoma

•Controle PRL cada 4-6 meses

•Manter tratamento 2 anos

•Retirada gradativa da medicação

•Controle PRL cada 4-6 meses•RNM ou TC em 1 ano ou se dados clínicos indicarem•Manter tratamento 2 anos•Retirada gradativa da medicação

•Controle PRL cada 4-6 meses•RNM ou TC em 1 ano ou se dados clínicos indicarem•Tratamento- individualizar

ARMADILHAS DIAGNÓSTICAS

Page 62: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

61

Duas situações configuram sinais de alerta durante o diagnóstico e tratamento das

hiperprolactinemias: Pacientes com muitos sintomas e baixos níveis séricos de prolactina

e pacientes com pouco ou nenhum sintoma e altos níveis de prolactina.

Na primeira situação, avaliar a possibilidade de estar frente a um tumor não

produtor de prolactina em que a compressão da haste hipofisária dificulta a ação da

dopamina ou ainda a possibilidade de um macroprolactinoma com níveis muito elevados

de prolactina que, por dificuldade da técnica laboratorial, não é dosado (efeito gancho).

Nestas duas circunstâncias, a ressonância magnética é imprescindível.

Na paciente com pouco ou nenhum sintoma, pode-se estar frente a presença de

macroprolactina que, embora detectada pela técnica laboratorial, não é capaz de trazer

alterações clínicas e não requer tratamento.

ANTICONCEPÇÃO NA HIPERPROLACTINEMIA

Não há contra indicação ao uso de contraceptivo hormonal, não sendo

demonstrada alteração substancial nos níveis de prolactina nem alargamento dos tumores.

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Tabela 1. Hiperprolactinemia Secundária a Drogas-mecanismos de ação e tipo de drogas

Hiperprolactinemia Secundária a Drogas- mecanismo de

ação e tipo de drogas

Antagonistas dopaminérgicos

Antipisicóticos/neurolépiticos : Fenotiazinas (clorpromazina), butirofenonas(haloperidol), antipsicóticos atípicos

Antidepressivos : triciclicos e tetracíclicos, inibidores da MAO, inibidores da recaptação de serotonina, outros

Benzamidas : metoclopramida, sulpiride, veralipride

H2 bloqueadores (?), inibidores de proteases (?)

Depleção de dopaminaAção cardio-vascular : Alfa-metildopa, Reserpina, Verapamil

Outros mecanismosEstrogênios, Opiáceos, Cocaína

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63

Quadro 1. Principais modificações associadas ao aumento dos neveis da PRL

Antipisicóticos ↑ PRL Antidepressivos ↑ PRL

Fenotiazinas +++ Amitriptilina +

Butirofenonas +++ Desipramina +

Risperidona +++ Clomipramina tricíclicos +++

Molindona ++ Nortriptilina _

Imipramina Raramente (R)

Clozapine 0 Aripripazole 0

Quetiapine + Olanzapine +

Ziprasidone 0 Pargiline, Clorgiline Inibidores da MAO +++

Tranilcipromine Ef mínimo (±)

Fluoxetina (R)

Paroxetina Inibidores recap.serotonina

±

Citalopran ±

Fluvoxamine ±

Nefazodone, trazodone outros

0

Bupropiona, Venlaflaxina

0

Adaptação de M.E. Molitch, 2005.

Page 65: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

64

Capítulo 5

Hirsutismo e hiperandrogenismo

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65

INTRODUÇÃO

Hiperandrogenismo ou excesso de androgênios compreende um grupo

heterogêneo de alterações que exibem um fenótipo comum. Hirsutismo é a manifestação

mais frequente do hiperandrogenismo. Outros sinais clínicos de excesso de androgênio

incluem acne, alopecia androgênica, seborréia e, menos frequentemente, sinais de

virilização tais como hipertrofia do clitóris, alteração da tonalidade da voz, atrofia do

parênquima mamário e aumento de massa muscular. Pode vir associado a distúrbios

menstruais, infertilidade e alterações metabólicas1. A presença do hirsutismo pode levar

a consequências psicossociais significativas que influenciam negativamente na

qualidade de vida2.

DEFINIÇÃO

Hirsutismo é definido como crescimento excessivo de pêlos terminais na mulher,

os quais têm distribuição típica de padrão masculino. Pode se manifestar isolado ou

associado aos outros sinais de hiperandrogenismo2.

EPIDEMIOLOGIA

O hirsutismo é uma queixa frequente que afeta cerca de 5% – 10% das mulheres

em idade reprodutiva3.

Page 67: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

66

FISIOPATOLOGIA

O hirsutismo resulta do aumento da produção de androgênio pelos ovários e/ou

adrenais, aumento da sensibilidade da unidade pilosebácea aos androgênios circulantes

ou alterações relacionadas ao transporte (produção hepática da globulina transportadora

dos hormônios sexuais, SHBG)) e metabolismo dos androgênios (conversão periférica da

testosterona em diidrotestosterona pela 5αredutase) e subsequente ligação destas

moléculas com os receptores androgênicos4.

O crescimento dos pêlos sexuais é inteiramente dependente da presença de

androgênios. Os androgênios parecem induzir o pêlo velar em pêlos terminais os quais

são mais grossos e mais escuros. O ciclo de crescimento dos pêlos são consideravelmente

assincrônicos e a fase de crescimento (anágena) varia em diferentes áreas do corpo, cerca

de três a seis meses na face, e quatro meses na região supralabial e dois a seis anos no

couro cabeludo.

Entre as causas de hiperandrogenismo inclui-se a síndrome dos ovários

policísticos (a mais frequente), hiperplasia adrenal congênita de início tardio ou forma

não clássica, síndrome de Cushing, síndrome de hiperandrogenismo com resistência

insulínica e acantose nígricans (HAIR AN), tumores ovarianos ou adrenais secretores de

androgênios, hiperprolactenemia, hirsutismo idiopático e o secundário ao uso de drogas

androgênicas1.

DIAGNÓSTICO

A história clínica, o exame físico e a investigação laboratorial são fundamentais

para a avaliação correta do hirsutismo. A história deve incluir o início e a progressão do

Page 68: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

67

aumento de pêlos, o padrão do ciclo menstrual, o início do aumento do peso, o uso de

drogas androgênicas tais como esteróides androgênicos anabólicos, ácido valproico,

ciclosporina, metirapona e danazol entre outras5.

Os sinais e sintomas do excesso de androgênios em geral se desenvolvem

vagarosamente com início peri-puberal nos casos de síndrome dos ovários policísticos ou

de hiperplasia adrenal de início tardio. Uma progressão rápida do hirsutismo associado a

sinais de virilização como hipertrofia de clitóris, aumento de massa muscular e

engrossamento da voz pode ser observado em tumores secretores de androgênios de

origem ovariana ou adrenal. A avaliação e a severidade do hirsutismo deve ser feita

utilizando-se o escore de Ferriman-Gallwey modificado (figura 1)6. Um escore igual ou

maior a oito pode ser usado para definir a presença de hirsutismo. É importante salientar

que a resposta da unidade pilosebácea varia consideravelmente. O escore do hirsutismo

não se relaciona com os valores de androgênios circulantes2. Por outro lado, pacientes

sem hirsutismo podem apresentar hiperandrogenemia.

Em pacientes com hirsutismo leve a moderado (escore entre 8 e 15) mantendo

ciclos menstruais regulares não associados a outros sinais de hiperandrogenismo, ou seja,

com hirsutismo isolado, o diagnóstico provável é de hirsutismo idiopático, sendo possível

iniciar o tratamento sem exames laboratoriais5 como sugerido pela Endocrine Society

Clinical Practice Guideline (2008)4.

As dosagens de testoterona total e SHBG para cálculo do índice androgênico livre

(IAL) devem ser realizadas em pacientes com hirsutismo moderado a severo (>15) ou

hirsutismo de qualquer grau quando associado a distúrbio menstrual, infertilidade,

obesidade central, hipertrofia do clitóris, ou acantose nigricans ou nos casos de

Page 69: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

68

hirsutismo de início súbito ou progressão rápida4. O SHBG é geralmente reduzida em

pacientes obesas com síndrome metabólica ou história familiar de diabetes7. O IAL =

testosterona total (nmol/L) x 100 / SHBG nmol/L maior do que oito indica

hiperandrogenemia8. Para transformar a testosterona total de ng/dL para nmol/L

multiplica-se o valor encontrado por 0,0347. A dosagem de testoterona total é

recomendada como avaliação de primeira linha na investigação do hiperandrogenismo7 e

deve ser medida, se possível, na fase folicular do ciclo menstrual antes do tratamento,

sem uso de medicações que interfiram na concentração de testosterona como

anticoncepcionais orais, metformina, progestagênios e cetoconazol por pelo menos 30

dias. O método recomendado para dosagem de testosterona é o de radioimunoensaio

seguido da extração ou extração + cromatografia dependendo da experiência com

espectometria de massa7. Concentrações de testoterona total circulante persistente

superiores a 200 ng/dL poderia se suspeitar de tumores produtores de androgênios e

exames de imagem são necessários para localizar a origem do tumor (ultrassonografia

para tumores ovarianos e tomografia computadorizada para tumores adrenais).

Entretanto, 10% a 20% dos tumores produtores de androgênios de origem adrenal e

ovariana têm níveis de testosterona abaixo desse valor. Se os valores de testoterona total

são uma e meia a duas vezes maiores que o limite superior da normalidade ou há queixa

de virilização rápida; a dosagem de sulfato de deidroepiandrosterona poderia ser

realizada para identificar se a origem da hiperandrogenemia é adrenal ou ovariana.

Valores de (DHEA S) maiores que 700 mg/dL indicam tumor adrenal secretor de

androgênios7. A dosagem de 17 hidroxiprogesterona basal ou após estímulo com ACTH

curto pela manhã deve ser realizada para rastrear a hiperplasia adrenal congênita de início

Page 70: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

69

tardio por deficiência da 21 hidroxilase. Acne persistente, estatura menor que o normal e

hipertrofia de clitóris são sinais comuns em pacientes com hirsutismo de origem adrenal.

Valores de 17 hidroxiprogesterona basal superiores a 5 ng/mL ou a 12 ng/mL (para

outros o ponto de corte é de 17 ng/mL)9, após 60 minutos do teste de estímulo com

corticotrofina em solução aquosa de 0,25 mg EV, são diagnósticos de hiperplasia adrenal

congênita de início tardio. Se há suspeita clínica para síndrome de Cushing pode-se

realizar o teste de supressão com 1 mg via oral de dexametasona às 23 horas e a dosagem

de cortisol às 08 horas da manhã seguinte. Se o valor de cortisol for menor do que 1,8

g/dL está afastada a hipótese de síndrome de Cushing10

. Na suspeita da disfunção de

tireóide e hiperprolactinemia, dosa-se TSH e prolactina, respectivamente.

A ultrassonografia transvaginal para avaliação dos ovários é recomendada para

pacientes com distúrbios menstruais e hiperandrogenismo químico ou bioquímico, para

se verificar a morfologia de ovários policísticos ( a 12 folículos com 2 a 9 mm de

diâmetro e/ou volume ovariano em pelo menos um dos ovários maior que 10 cm3 , na

ausência de folículo ou corpo lúteo maior que 10 mm). O exame ultrassonográfico

também é útil para detectar tumores ovarianos.

Page 71: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

70

Figura 1 - Escore semiquantitativo de Ferriman e Gallwey modificado

6.

TRATAMENTO

O tratamento do hirsutismo pode ser dividido em farmacológico e não

farmacológico. Os objetivos da terapia farmacológica visa diminuir a produção de

androgênios do ovário ou adrenal ou inibir o efeito dos androgênios a nível do receptor.

A terapia farmacológica atua na produção e ação dos androgênios e a não farmacológica

envolve métodos diretos de redução e remoção dos pêlos os quais incluem eletrólise e

fotoepilação (com laser ou luz intensa pulsada).

Os anticoncepcionais orais (ACO) são considerados a primeira linha para o

tratamento de hirsutismo moderado e acne em mulheres em idade reprodutiva11

; têm a

vantagem de ser contraceptivo e regularizar o ciclo menstrual2. O mecanismo pelo qual o

anticoncepcional melhora o hirsutismo inclui supressão da secreção do hormônio

luteinizante, resultando na inibição dos androgênios ovarianos e estímulo da síntese

hepática do SHBG com consequente diminuição na concentração dos androgênios livres

circulantes os quais são biologicamente ativos. Lembrar que os anticoncepcionais orais

são contraindicados em mulheres com história de tromboembolismo venoso,

hipertrigliceridemia, tabagistas acima de 35 anos, doenças malignas, doenças hepáticas.

Os ACO recomendados são a combinação de etinil estradiol associado com 2 mg de

acetato de ciproterona ou 3 mg de drospirenona. Outros ACO com progestogênios menos

androgênicos como os norgestimato e desogestrel também podem ser usados; os ACO

orais contendo levonorgestrel são mais androgênicos2. Não existe superioridade de um

Page 72: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

71

anticoncepcional sobre outro. Quando a opção for o uso de ACO, deve levar em

consideração os efeitos metabólicos e risco cardiovascular.

O acetato de ciproterona na dose de 50mg/dia por 20 dias associado ao estrogênio

por 28 dias ou ACO é o tratamento de primeira linha no hirsutismo moderado a severo11

.

Entre os antiandrogênicos, o acetato de ciproterona é um progestogênio com atividade

antiandrogênica que interfere com a ligação da dihidrotestosterona no receptor do

androgênio e inibe a secreção de gonadotrofina, reduzindo a produção androgênica

ovariana e adrenal.

A espironolactona associada ao contraceptivo pode ser proposta como a segunda

linha de tratamento do hirsutismo, sendo útil no caso de efeitos colaterais ou

contraindicação para o acetato de ciproterona11

. Esta droga não parece ser efetiva para o

tratamento da acne vulgaris12

A espironolactona é um antagonista da aldosterona e atua

inibindo os receptores androgênicos, a enzima 5αredutase e suprimindo a biosíntese de

androgênios adrenais. A dose recomendada é de 100 mg/dia associada a um ACO. Deve

se iniciar com dose progressiva, pois pode ocorrer efeitos colaterais como alteração do

ciclo menstrual, letargia, fadiga, mal estar gástrico e tonturas. É contraindicado em

pacientes com insuficiência renal e hipercalemia. A espironolactona pode causar

feminilização de fetos masculinos, fato que justifica a associação do ACO.

A flutamida é um atiandrogênio não esteróide puro que atua bloqueando

receptores androgênicos. É utilizado na dose de 125 a 250 mg/dia. É hepatotóxico e

ocasionalmente fatal; somente deve ser usado como terceira linha terapêutica em casos de

hirsutismo severo associado a métodos contraceptivos11

.

Page 73: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

72

A finasterida é um potente inibidor da 5αredutase e bloqueia a conversão da

testosterona em dihidrotestosterona. É utilizada na dose 2,5 mg/dia. Pode levar a

feminilização de fetos masculinos, portanto deve se associar o uso de ACO. Assim como

a flutamida recomenda-se não engravidar por três meses após o término do uso.

Os glicocorticóides estão indicados em casos de hirsutismo devido a hiperplasia

adrenal congênita de início tardio por deficiência da 21 hidroxilase, que tenham uma

resposta subótima ou intolerância ao ACO e/ou antiandrogênico ou que desejem indução

da ovulação4. Os glicocorticóides são utilizados em baixas doses de 0,25 a 0,5 mg de

dexametasona à noite. Reduzem a secreção de andrógeno adrenal sem inibir

significativamente a secreção de cortisol.

O tratamento tópico com creme a 13,9% de hidroclorido de eflornitina tem sido

usado para a redução do hirsutismo facial com resultados satisfatórios observados entre

seis e oito semanas. Efeitos colaterais como ardência, vermelhidão, irritação e pele seca

podem ser observados.

Métodos de remoção prolongada dos pêlos como laser (diodo e alexandrita) são

eficazes em pêlos com alta concentração de melanina4.

PROGNÓSTICO

As pacientes com hirsutismo devem ser informadas que a resposta ao tratamento

sistêmico é lenta e requer pelo menos seis meses para observar melhora e nove meses

para o uma resposta máxima, devido ao ciclo de crescimento dos pêlos ser longo4.

PERSPECTIVAS

Page 74: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

73

Evidências da eficácia dos antiandrogênios para o tratamento do hirsutismo são

fracas (grau de recomendação C). Novos estudos randomizados placebo controlados para

avaliar a eficácia, benefícios a longo prazo, impacto metabólico e cardiovascular dos

tratamentos para o hiperandrogenismo são necessários.

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Page 77: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

76

CAPÍTULO 6

Síndrome dos Ovários Policísticos

Page 78: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

77

INTRODUÇÃO

A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é distúrbio no eixo neuro-endócrino-

reprodutor, associado a alteração morfológica ovariana e produção androgênica elevada.

Sua prevalência varia entre 6 a 8% da população feminina durante o período reprodutivo1,

2, 3. Deve-se salientar que a característica mais marcante nesta afecção é o

hiperandrogenismo associado ao estado de anovulação crônica 1, 2, 3

.

ETIOPATOGENIA

A etiopatogenia da síndrome ainda é muito debatida. Contudo, enquanto alguns

investigadores acreditam que seja uma resposta inadequada do ovário aos hormônios

secretados pela hipófise para estimular a ovulação, outros sugerem que a produção

hipofisária inadequada de gonodatrofinas seria o ponto crítico desta afecção 4, 5

. De fato,

são encontrados níveis altos de LH e baixos de FSH em algumas mulheres, havendo

relato de que muitas pacientes com SOP têm a relação LH/FSH superior a dois ou mais 4,

5. Mais recentemente, muitos autores apontam para um distúrbio do metabolismo de

carboidratos envolvido nesta síndrome, principalmente resistência à insulina. Este fato

está apoiado na alta prevalência de hiperinsulinemia nas mulheres com SOP, atingindo

cifras de aproximadamente 70% 4, 7

.

Para explicar a relação SOP e resistência à insulina, a teoria corrente é a de que a

hiperinsulinemia pode desencadear o hiperandrogenismo. Os dados a favor desta hipótese

baseiam-se na presença de receptores de insulina nos ovários e na ação da insulina sobre

Page 79: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

78

estes, com aumento da produção de androgênios. Auxiliando esta hipótese, estudo em

mulheres magras com hiperandrogenismo e SOP, apontou melhora da função ovariana

após tratamento com medicamentos sensibilizadores do receptor de insulina8. Por outro

lado, há evidências da participação androgênica na queda da sensibilidade do receptor de

insulina. A retirada de neoplasia ovariana produtora de androgênio em paciente com

extrema resistência à insulina pode melhorar as manifestações hiperandrogênicas, bem

como a resistência insulínica9,10

. Contudo, há ainda controvérsias a respeito desta ação

devido à complexidade desta síndrome com repercussões na esteroidogênese, na

foliculogênese e no metabolismo ovariano. A sintomatologia, e outras afecções

associadas nas mulheres com SOP, podem sofrer variações desde a adolescência até a

menopausa. Ressalta-se ainda que fatores comportamentais e psíquicos podem influenciar

o quadro clínico da SOP10

.

Alguns investigadores apontam que esta afecção não seria determinada apenas

após a primeira menstruação, mas seria um processo evolutivo com origem no período

neonatal 10-13

. Neste aspecto, estudos retrospectivos sugerem a existência de fatores de

risco pré-natal, como desnutrição e retardo de crescimento intrauterino, bem como

prematuridade 10-13

, os quais poderiam influenciar na produção anormal de insulina após

o nascimento 14-16

. Além disso, dieta inadequada e sedentarismo durante a infância e a

puberdade poderiam piorar a resistência insulínica. Em relação ao baixo peso ao

nascimento, as evidências sugerem que estas crianças teriam hiperfunção da suprarenal,

com incremento da produção de deidroepiandrosterona e androstenediona durante a

infância e a adolescência. Este fato poderia também contribuir para o desequilíbrio

endócrino e metabólico da SOP17

. Por outro lado, a gestação prolongada estaria

Page 80: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

79

relacionada ao controle do LH anômalo durante a adolescência. Estas seriam as pacientes

magras cuja relação com a resistência insulínica não seria tão evidente 11-13

. Há

evidências de que na pubarca precoce por aumento de peso estaria relacionado com maior

resistência insulínica e, após a menarca, estas mulheres teriam maior frequência de ciclos

espaniomenorrêicos ou amenorréia. Além disto, estas meninas estariam mais sujeitas ao

aparecimento de hiperandrogenismo e de ovários micropolicísticos ao ultrassom 18,22

.

RISCOS DA SOP

Os transtornos metabólicos da SOP representam grande preocupação,

principalmente quando o tratamento não foi feito durante a adolescente e a vida

reprodutiva. Assim, a paciente com SOP tem risco aumentado para doença cardiovascular

23. Na transição menopausal e na pós-menopausa, há tendência para aumento do risco de

obesidade e mudança da distribuição gordurosa corporal, com tendência a prevalecer o

acúmulo de gordura na região abdominal. As alterações da composição e da distribuição

gordurosa corpórea na mulher climatérica estão relacionadas com a diminuição do

estrogênio circulante e, também, com o aumento da relação androgênio/ estrogênio 24

.

Portanto, nas mulheres que apresentam obesidade acentuada, além de todas as

recomendações anteriormente mencionadas, pode-se empregar a terapia farmacológica

para reduzir o peso. O combate à resistência insulínica é outro fato importante neste

período24

.

Salienta-se que mulheres com SOP e resistência periférica à insulina podem ter

peso normal. A resistência insulínica caracteriza-se pela diminuição da sensibilidade dos

tecidos à ação da insulina, gerando importantes implicações metabólicas. Nas mulheres

Page 81: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

80

com SOP, provocaria deterioração da função das células beta do pâncreas, levando à

intolerância à glicose. Contudo, nem sempre é fácil identificar a paciente com resistência

insulínica25

. A exata natureza dos mecanismos implicados nas alterações lipoprotêicas da

síndrome de resistência insulínica não está totalmente esclarecida, porém a

hiperinsulinemia tem papel central neste processo, visto que está implicada na modulação

de enzimas-chaves do metabolismo lipídico26

.

As condições que cursam com hiperinsulinemia, em geral, estão associadas à

chamada tríade lipídicas: aumento moderado de triglicerídeos, redução do HDL-

colesterol e presença de níveis aumentados de LDL. No adipócito, a resistência insulínica

causa aumento na liberação de ácidos graxos livres, enquanto no fígado determina menor

supressão na síntese de VLDL. O resultado desse processo é a liberação de um excesso

de partículas de VLDL grandes, ricas em triglicerídeos, que, por sua vez, geram uma

cascata de eventos de troca que culminam com a redução nos níveis de HDL. Outras

alterações, como a redução da ação da lipoproteíno-lipase e aumento da ação da lipase

hepática, são também necessárias para a completa expressão fenotípica da tríade lipídica,

contribuindo tanto para a transformação de LDL em partículas de menor diâmetro e

maior densidade como para a manutenção de um estado de lipemia pós-prandial, com a

circulação de lipoproteínas remanescentes ricas em colesterol 27

.

O conceito de síndrome metabólica engloba, pois, um estado de anormalidades

clínicas e laboratoriais, associado a maior risco de desenvolvimento de doenças

cardiovasculares. O perfil lipídico clássico dessa síndrome se caracteriza por elevação

dos triglicerídeos e elevação dos níveis de LDL, bem como redução do HDL-colesterol.

Essas condições somam-se aos demais componentes para determinar elevação do risco

Page 82: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

81

cardiovascular e morte prematura nas mulheres com síndrome de ovários policísticos,

obesidade, resistência insulínica e síndrome metabólica28

. Por estas razões, o adequado

acompanhamento e aconselhamento das pacientes com SOP é fundamental para evitar as

complicações e os eventuais riscos relacionados a essa síndrome.

Além do risco cardiovascular, as mulheres com SOP também têm risco

aumentado de sangramento disfuncional do endométrio, bem como risco aumentado para

desenvolver hiperplasias e até o carcinoma endometrial29

. A associação entre PCOS e

carcinoma endometrial já foi sugerido em 1949. Desde então, vários estudos mostraram

evidências sobre este aspecto da síndrome dos ovários policísticos. O mecanismo não

está totalmente esclarecido, mas muitos especialistas acreditam que a anovulação crônica

com estimulação estrínica contínua do endométrio, sem aposição da progesterona, seria o

fator maior deste risco. Entretanto, a obesidade, a hiperinsulinemia e a

hiperandrogenemia também participma na gênese da progressão das lesões proliferativas

até o surgimento da neoplasia29

. Há ainda evidências de que os fatores de crescimento

insulinóides também estariam envolvidos no maior risco de carcinoma endometrial30

. O

risco de câncer de mama aumentado na SOP é ainda tema contraverso. Apesar de

pacientes com PCOS apresentarem destes fatores de risco para Ca de mama, evidências

até o momento não puderam confirmar que a presença desta síndrome esteja relacionada

a uma maior incidência de neoplasia mamária. As mulheres com PCOS apresentam

concentrações locais de hormônios esteróides e fatores de crescimento que poderiam

aumentar o risco para o carcinoma ovariano, principalmente, o epitelial. Contudo, ainda

são parcos os estudos que avaliam a associação entre PCOS e câncer de ovário, e seus

resultados são conflitantes31, 32

. Quanto ao risco de câncer ovariano nas pacientes PCOS

Page 83: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

82

submetidas a tratamento com drogas indutoras de ovulação 32

, os dados da literatura são

muito controversos 33, 34,35,36

. Assim, as evidências atuais não permitem afirmar de forma

conclusiva que haja associação entre uso de drogas para indução de ovulação e câncer

ovariano. Não há evidências de menor incidência de sintomas vasomotores ou de

osteoporose em mulheres com SOP, apesar de alguns estudos sugerirem que o

hiperandrogenismo poderia interferir nestes distúrbios 37

.

DIAGNÓSTICO

Em geral, o diagnóstico da síndrome dos ovários policísticos é clínico e

laboratorial. Observa-se amenorréia em aproximadamente 55% dos casos e sangramento

uterino anormal em 28% 1, 2

. Hirsutismo pode estar presente em quase 50% das pacientes.

Frequentemente, tanto o hirsutismo quanto as alterações menstruais têm início na

adolescência. Em muitas mulheres estas alterações podem ser acompanhadas de aumento

de peso 38

, mas esta característica não é determinante para o diagnóstico. A acanthosis

nigricans, espessamento com escurecimento da pele em regiões de dobra, sugere a

presença de hiperinsulinemia 38

. Salienta-se ainda que o exame ultra-sonográfico da pelve

pode auxiliar na detecção de ovários com volume aumentado (>15 mL), uni ou

bilateralmente. Além disso, deve-se durante o exame procurar imagens císticas ovarianas

(número maior do que dez por ovário) com diâmetro menor que 10 mm. Algumas

mulheres podem também ter hiperecogenicidade central que reflete a hiperplasia

estromal39

.

O diagnóstico nem sempre é simples de ser concluído, daí sugere-se o emprego de

critérios de consenso. Ressalta-se o de Rotterdam (2003) que estabelece: a) história

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83

clínica de anovulação crônica (espaniomenorréia e/ou amenorréia); b) sinais clínicos ou

laboratoriais de hiperandrogenismo; c) presença de ovários policísticos por exame de

imagem. Assim, para intitular como SOP, a mulher deveria ter pelo menos dois dos três

critérios. Alguns investigadores acreditam que a anovulação seja importante para o

diagnóstico e que se deveriam excluir também outras afecções que pudessem ter quadro

clínico semelhante 38

.

Dentre os exames complementares, o mais importante é a determinação da

testosterona total para identificar a hiperandrogenemia38

. Pode-se ainda avaliar as

gonadotrofinas. Valores elevados de LH e índices baixos ou no limite inferior da

normalidade de FSH auxiliam na identificação de anovulação e podem ser úteis para o

tratamento da infertilidade. A relação LH/FSH pode ser maior do que dois ou três.

Contudo, aproximadamente 15% dos casos não mostram níveis elevados de LH. A

maioria das mulheres com SOP pode ter resistência à insulina e hiperinsulinemia

compensatória38

. Em mulheres normais, nas curvas de insulina e glicose o nível de

insulina é, em geral, um terço da glicemia. Em mulheres com SOP, em vários pontos da

curva haveria mais insulina do que glicose. Alguns autores sugerem que as dosagens

isoladas de insulina e de glicemia seriam suficientes para o diagnóstico: a relação

glicemia/insulina menor que 4,5 poderia diagnosticar hiperinsulinemia. Outra alternativa

seria os cálculos matemáticos do HOMA-IR ou QUICKI 38,40,41

.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Alguns investigadores sugerem a exclusão de outras afecções para se fechar o

diagnóstico de SOP. Estas alterações determinam produção exagerada de androgênio e,

Page 85: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

84

consequentemente, incremento da síntese extraglandular de estrogênio (conversão

periférica), simulando, pois, a síndrome dos ovários policísticos. Essas podem ter ou não

disfunção gonadotrófica. Destaca-se as manifestações na idade adulta da deficiência das

enzimas da suprarenal (21-hidroxilase ou 3-β-ol-desidrogenase), distúrbios da tireóide,

hiperprolactinemia, hipertecose ovariana, neoplasias do ovário produtoras de estrogênio,

tumores de ovário ou da supra-renal produtores de androgênios, e síndrome de Cushing.

Deve-se ainda salientar que o hirsutismo idiopático também deve ser excluído38.

Este

último caracterizado por ciclos ovulatórios e níveis séricos normais de androgênios 38

.

O diagnóstico da deficiência da enzima 21-hidroxilase é feita com o auxílio da

dosagem da 17-hidroxiprogesterona. Níveis acima de 3ng/mL (para alguns

investigadores, estes valores devem ser superior a 4 ng/mL) requerem avaliação pelo

teste do estímulo com ACTH (ou com a cortrosina). Há estudos genéticos que também

podem identificar as deficiências enzimáticas da suprarenal. Níveis elevados de

prolactina estão presentes em até 35% dos casos de SOP, provavelmente devido à

estimulação dos lactótropos pela exposição crônica aos estrogênios. Contudo, pode ser a

causa da anovulação crônica com hiperandrogenismo38, 42

. As pacientes com

hipotiroidismo também apresentam sangramento menstrual irregular, mas geralmente

acompanhado de outros sintomas que sugerem o diagnóstico. A exclusão de tumores

produtores de androgênios do ovário ou da suprarenal é realizada com dosagens de

testosterona total e sulfato de deidroepiandrosterona (DHEA-S). A dosagem do cortisol

pode auxiliar na Síndrome de Cushing38

.

TRATAMENTO

Page 86: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

85

O tratamento depende das queixas e objetivos da paciente e do surgimento de

comorbidades como resistência insulínica e obesidade. Nas mulheres que desejam a

gravidez, deve-se induzir a ovulação38

. Medidas para o tratamento de infertilidade foram

propostas recentemente43

. Antes de qualquer intervenção, deve-se priorizar o

aconselhamento sobre a importância de modificar o estilo de vida, principalmente a

diminuição do tabagismo e do consumo de álcool e a redução de peso e aumento de

exercícios físicos nas mulheres com sobrepeso ou obesas. Na indução da ovulação

recomenda-se o citrato de clomifeno como primeira linha de tratamento. Em mulheres

não respondedoras ou que não consigam a gestação, a segunda opção seria o tratamento

com gonadotrofinas exógenas ou tratamento cirúrgico do ovário (“drilling”). Caso não

responda, os investigadores que participaram do consenso sugerem que o melhor seria a

fertilização “in vitro”. Além disso, o emprego de medicamentos sensibilizadores do

receptor de insulina deveria ser restrito a mulheres com intolerância à glicose ou

resistência insulínica, não sendo recomendada como agente indutor da ovulação 43

.

Nas mulheres que não desejam a gestação, deve-se prevenir as comorbidades

como disfunção endotelial, dislipidemia e doença cardiovascular 44

. Uma das grandes

preocupações seria o combate à obesidade, presente em quase metade das pacientes com

SOP, que aumenta o risco de desenvolver níveis elevados de pressão arterial, diabete

melito do tipo 2, doença cardíaca, acidente vascular encefálico, colelítiase e cânceres da

mama e do intestino grosso. Em adição, cerca de 60% dos homens e mulheres obesos têm

a síndrome metabólica 24

. Esta, além de alto risco de diabete e doença cardiovascular,

inclui três ou mais das seguintes características: hipertensão, hipertrigliceridemia, baixos

níveis de HDL colesterol, obesidade abdominal e hiperglicemia. Esta seria a

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86

consequência mais nefasta para as mulheres com SOP. Portanto, a prevenção com a

orientação nutricional adequada, a prática de exercícios físicos regulares e o emprego de

agentes sensibilizadores do receptor de insulina é uma forma de evitar os riscos da

disfunção endotelial e doença cardiovascular nesta população24.

Parece que a perda do

peso em 5% seria suficiente para melhorar a função ovariana e a ovulação em algumas

mulheres com SOP45, 46

.

Nas mulheres que não desejam a gestação, deve-se tratar os sinais e sintomas do

hiperandrogenismo, bem como as repercussões da anovulação. O tratamento pode ser

clínico ou, excepcionalmente, cirúrgico38

. Nos casos de resistência insulínica associada,

pode-se empregar agente sensibilizador do receptor de insulina38

. As pacientes candidatas

à utilização da metformina devem apresentar funções hepática e renal normais. Com o

objetivo de evitar os efeitos colaterais gastrointestinais, a droga deve ser administrada às

refeições e deve-se iniciar o tratamento com dose mais baixa (500 mg por dia) e ir

aumentando progressivamente (até 3000 mg por dia). Outra forma para amenizar os

efeitos adversos gastrintestinais seria o emprego na forma de liberação lenta do

medicamento. A utilização isolada da metformina (1500 mg/dia a 2000 mg/dia) promove

a ovulação em 78% a 96% das pacientes 7 . O uso da rosiglitazona (2-8mg/dia) pode ter

efeitos deletérios durante a gestação e, por esta razão, recomenda-se associar um método

contraceptivo. A troglitazona, na dose de 400 mg/dia, melhora as taxas de ovulação e o

hirsutismo, bem como, aumenta as taxas de ovulação em pacientes resistentes ao

clomifeno, mas tem como desvantagem a hepatotoxicidade, exigindo monitorização

constante da função hepática. Por este fato, deve-se dar preferência à utilização da

metformina, destituída de efeitos teratogênicos47

.

Page 88: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

87

Quanto à terapêutica do hirsutismo, utilizam-se anticoncepcionais hormonais

contendo progestagênios de menor efeito androgênico: ciproterona, desogestrel,

gestodeno e drosperinona. Os estrogênios diminuem os níveis androgênicos circulantes

por meio de inibição da secreção de gonadrotrofinas, aumentam os níveis de SHBG e

reduzem a atividade da 5α-redutase. Já os progestagênios inibem a síntese e a secreção de

gonadotrofinas hipofisárias e também diminuem a atividade da 5α-redutase 38

. Pode-se

ainda empregar espironolactona, flutamida e finasterida, por via oral. Em alguns casos

pode-se associar a via tópica. A eflornitina pode ter boa ação no folículo piloso. O uso de

agentes sensibilizadores do receptor de insulina também ajudaria no tratamento do

hirsutismo junto com os medicamentos antiandrogênicos. Contudo, deve-se ter precaução

no emprego de contraceptivos hormonais em mulheres com disfunção endotelial e

obesidade devido ao maior risco de tromboembolismo. Nestes casos pode-se empregar

progestagênios isoladamente48.

Outros fármacos muito empregados na SOP para as manifestações cutâneas do

hiperandrogenismo são: 1) acetato de ciproterona, agente antiandrogênico, com ação

central, antigonadotrófica e periférica. Diminui a síntese de androgênios por bloquear a

liberação de gonadotrofinas hipofisárias. Perifericamente, atua na unidade pilo-sebácea

impedindo a ligação da DHT aos receptores citosólicos ou, na pele, inibindo a enzima

5alfa-redutase; 2) espironolactona, antagonista da aldosterona, também possui ação

antiandrogênica. Inibe a síntese de testosterona nas células produtoras de esteróides tanto

na gônada quanto na suprarenal, além de competir perifericamente com os androgênios

ocupando os mesmos receptores. É utilizada na dose de 50 a 200 mg diários, por período

mínimo de 12 meses; 3) flutamida, composto não esteróide, atua diretamente nos

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88

receptores androgênicos, reduz a síntese de androgênios e aumenta seu metabolismo em

produtos inativos. Recomenda-se a dose de 250 mg ao dia; por via oral, isolada ou

associada aos anticoncepcionais orais. A função hepática deve ser monitorizada durante o

tratamento visto que este fármaco pode promover alterações hepáticas importantes; 4)

finasterida inibe a 5α-redutase, bloqueando seletivamente a produção de

diidrotestosterona. A dose preconizada é de 5 mg ao dia, por via oral. Mas, trabalhos

recentes mostraram que 2,5 mg ao dia também apresentam bons resultados 49

. Adota-se,

ainda, para combater o hirsutismo, medidas de ordem geral, tais como a depilação, a

descoloração com água oxigenada e a eletrocoagulação do folículo piloso.

Em pacientes com menstruações irregulares e que não desejam engravidar,

recomenda-se o uso de progestagênios ou contraceptivos hormonais combinados para

prevenção do carcinoma de endométrio49

.

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97

CAPÍTULO 7

Amenorréias

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98

INTRODUÇÃO

A menstruação é um importante marcador biológico na vida da mulher e

resultante de uma perfeita integração de funções entre o eixo SNC-hipotálamo-hipófise-

ovariano e o útero e quando presente serve para indicar à mulher “que ela não se encontra

grávida”.

Portanto, para que ocorra o sangramento menstrual de forma regular, é necessário

que a mulher apresente boa função do eixo hipotálamo-hipófise-ovário, e a integridade do

trato genital (canalicular).

O sistema reprodutivo é bastante sensível às variações da normalidade, psíquicas

e/ou físicas, que podem ocorrer no funcionamento do organismo humano e os distúrbios

menstruais correspondem a um sintoma que pode estar presente em decorrência de várias

doenças que, direta ou indiretamente, acometem o eixo hipotálamo-hipófise-ovario-útero.

CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO

Amenorréia é a ausência ou cessação anormal da menstruação de forma

temporária ou definitiva durante o período reprodutivo.

Amenorréia primária é a ausência de menstruação espontânea aos 14 anos em

pacientes sem caracteres sexuais secundários ou aos 16 anos em pacientes com

desenvolvimento normal dos caracteres sexuais secundários.

Amenorréia secundária é o intervalo entre menstruações igual ou maior que 90

dias, após apresentar períodos pregressos de fluxos menstruais normais ou anormais.

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99

Esta classificação pode ser útil uma vez que as causas mais frequentes de um ou

outro tipo são bastante distintas.

Lembrar que existem as amenorréias fisiológicas que são decorrentes de situações

naturais como a gravidez e lactação. Também merece menção a chamada

criptomenorréia ou falsa amenorréia, quando as menstruações ocorrem, porém não se

exteriorizam por obstrução canalicular causada por agenesia de porção mulleriana da

vagina ou defeito do seio urogenital, como o hímen imperfurado, por exemplo, ficando o

material menstrual retido à montante do ponto de obstrução.

A amenorréia pode aparecer de maneira abrupta ou ser insidiosa precedida ou

entremeada por períodos de outros distúrbios menstruais menos severos como a

oligomenorréia ou polimenorréia. É considerada uma etapa mais avançada do bloqueio da

função reprodutiva na mulher. A falta da menstruação pode ter significados importantes

do ponto de vista clínico, pois pode ser como na maioria das vezes, um problema

relativamente simples, ou então representar o primeiro sinal de uma doença mais grave.

Por estas razões, o sintoma amenorréia não pode ser negligenciado e as pacientes que o

apresentam merecem atenção médica, pois para o tratamento correto e eficiente da

doença causadora do sintoma, torna-se necessária uma investigação cuidadosa de cada

caso.

Por outro lado, a causa determinante da amenorréia prolongada pode levar a

modificações irreversíveis no útero, interferindo de forma definitiva na função

reprodutiva. Estas considerações ressaltam o valor da investigação diagnóstica e do

tratamento precoces.

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100

As amenorréias são relativamente frequentes nos consultórios e ambulatórios de

ginecologia e correspondem a cerca de 5% dos casos atendidos.

ETIOLOGIA

São variadas as causas de amenorréia e diferentes classificações etiológicas têm

sido sugeridas. Abaixo está apresentada uma classificação simplificada onde não estão

incluídas as pacientes que apresentam ambiguidade genital, que devem ser tratadas à

parte.

• Defeitos anatômicos do trajeto

Agenesia Mulleriana¹

Feminização Testicular (Forma Completa)¹

Outros

• Hipogonadismo primário

Disgenesia gonadal¹

Agenesia gonadal

Deficiências Enzimáticas

Falência Ovariana Prematura (FOP)²

• Causas Hipotalâmicas I

Disfuncional

Estresse², Exercício físico²,

Relativa ao estado nutricional²

Pseudociese

• Causas Hipotalâmicas II

Outros distúrbios

Deficiência Isolada de Gonadotrofinas (DIG)¹

Infecção

Doenças crônicas debilitantes

Tumores

*Não inclui casos de ambigüidade sexual•¹ Frequente causa de amenorréia primária

•² Frequente causa de amenorréia secundária

• Causas HipofisáriasTumores – Prolactinoma²Outros tumoresMutações nos Receptores FSH/RLHDoenças auto-imunes

● Outras doenças de glândulas endócrinas - IAdrenal

HAC Adulto²Sindrome de Cushing

TireóideHipotitroidismoHipertireoidismo

• Outras doenças de glândulas endócrinas - IIOvários

Tumores funcionantes de ováriosLesões de hipófise e sela túrcica

Sela vazia Aneurisma compressivoS. SheehanPan-hipopituitarismoProcessos inflamatóriosMutações de gonadotrofinas

● Causas MultifatoriaisSOP²

Classificação das amenorréias de acordo com a etiologia*

Como se depara da tabela, nas amenorréias primárias predominam as causas

genéticas e de malformações mullerianas e elas correspondem a mais de 2/3 das causas.

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101

Já nas amenorréias secundárias as causas hipotalâmicas disfuncionais e a

Síndrome dos Ovários Policísticos - SOP correspondem às mais frequentes. Esta última

tem grande importância por suas complicações metabólicas de longo prazo e constituir

um grande fator de risco para diabetes e doenças cardiovasculares.

ABORDAGEM DIAGNÓSTICA

Em primeiro lugar, e como princípio básico da abordagem da mulher com

amenorréia, por mais irregular que seja a sua história menstrual pregressa, cabe ao

médico assistente excluir a possibilidade de uma gravidez.

1 – Anamnese

Alguns elementos essenciais na história clínica da paciente precisam

necessariamente ser abordados e constituem parte fundamental da propedêutica clínica.

a) Processo puberal

É importante investigar se a telarca (aparecimento do botão mamário) e a pubarca

(aparecimentos dos pêlos pubianos e axilares) ocorreram no período adequado e tiveram

evolução satisfatória. Em geral, o aparecimento de pêlos pubianos e axilares são sinais

clínicos da atividade androgênica das adrenais (adrenarca) e precedem em cerca de dois

anos o estirão de crescimento. Paralelamente à adrenarca, ocorre a liberação das

gonadotrofinas hipofisárias. De início sua liberação pulsátil é apenas noturna e depois

permanente, com resposta ovariana na produção de estrogênios, levando ao

desenvolvimento do broto mamário. A presença de ambas, telarca e pubarca, mais o

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102

estirão de crescimento, caracterizam o processo puberal. Entre a telarca e a primeira

menstruação (menarca) decorrem entre 2 a 4 anos.

A falta do desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários é indicativa de

ausência de função ovariana, caracterizando o hipogonadismo.

Sinais de hiperandrogenismo em menor ou maior grau (virilização) poderão

sinalizar para a presença de alterações adrenais, pois neste período estas glândulas

respondem por grande parte dos androgênios circulantes.

b) Amenorréia associada à lactação

A amenorréia após um parto é considerada fisiológica e se estende por período

variável, dependendo da lactação ou não. A presença de amenorréia e secreção de leite

(galactorréia) fora deste período deve ser vista como anormal e deve ser investigada

tendo como suspeita inicial uma síndrome hiperprolactinêmica. Nestes casos sempre deve

haver a investigação do uso de drogas que aumentam a liberação de PRL. Causa

importante e frequente de hiperprolactinemia são os adenomas hipofisários secretores de

PRL (prolactinomas), que correspondem a 50% dos adenomas daquela glândula.

c) Amenorréia associada a sintomas climatéricos

A concomitância de amenorréia com ondas de calor, distúrbios do sono, secura

vaginal e outros sintomas neurovegetativos, típicos do período climatérico, sugere

deficiência estrogênica (hipogonadismo) e poderá ser decorrente de falência ovariana

prematura.

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103

d) Prática de exercícios físicos (tipo, duração, frequência)

Cerca de 60% das mulheres que praticam exercícios físicos de forma intensa podem

apresentar amenorréia. De um modo geral, os exercícios que mais levam aos distúrbios

menstruais são aqueles associados ao baixo peso, como corredoras de maratona e

bailarinas e que frequentemente também são mulheres que têm desvios nos hábitos

alimentares, com baixa ingestão calórica.

e) Estado nutricional

Anorexia e variações do peso devem ser consideradas. A anorexia nervosa, por

exemplo, faz parte de um conjunto de situações que estão intimamente associadas ao

estresse emocional e à desnutrição e que são causa importante da chamada amenorréia de

origem central ou psicogênica.

f) Doenças crônicas da tireóide, rins, diabetes.

Estas entidades mórbidas estão frequentemente associadas a ciclos anovulatórios e

distúrbios menstruais. O hipotireoidismo primário pode desencadear hiperprolactinemia,

assim como a insuficiência renal e a diabetes tipo II está frequentemente associada à

sindrome dos ovários policísticos.

g) Associação com sintomas neurológicos

A presença de cefaléia, perda de campo visual, convulsões e outros sintomas

neurológicos que acompanham a amenorréia podem ser indicativos de lesões expansivas

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do sistema nervoso central, com comprometimento da função do eixo hipotálamo-

hipófise.

h) Uso de drogas

Inúmeras drogas de uso frequente na prática médica podem interferir na ação dos

neurotransmissores a nível do eixo SNC-hipotálamo. São exemplos os antidepressivos,

anti-hipertensivos, ansiolíticos, metoclopramida, entre outros. Também o uso de

hormônios esteróides poderá interferir com a função menstrual, como é o caso do uso de

progestagênios em altas doses como anticoncepcionais que levam à amenorréia.

i) Procedimentos cirúrgicos ou irradiação sobre a pélvis

Remoção cirúrgica total ou parcial do útero e/ou dos ovários e irradiação pélvica por

lesões neoplásicas podem causar danos irreversíveis a estes órgãos.

EXAME FÍSICO

No que diz respeito ao exame físico, especial atenção deve ser dada aos seguintes

aspectos:

a) Peso, altura e índice de massa corporal (IMC)

Tanto o sobrepeso e a obesidade quanto o baixo peso estão associados aos

distúrbios menstruais. Baixo peso é mais frequente nas pacientes com amenorréia de

origem hipotâmica, enquanto que sobrepeso e obesidade são encontrados em mais de

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105

50% das pacientes com SOP. Perdas ou ganhos abruptos de peso também alteram a

função do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano.

b) Caracteres sexuais secundários e malformações genitais

Caracteres sexuais ausentes ou pouco desenvolvidos são sinais de hipogonadismo

e quando apresentam sinais de virilização (discordantes para o sexo feminino) sugerem

ação de androgênios. Nas amenorréias primárias esta avaliação é fundamental para

diagnóstico dos estados intersexuais.

Queixa de dor cíclica no baixo ventre, de natureza progressiva, cujo aparecimento

ocorreu após o processo puberal (aparecimento dos caracteres sexuais secundários) pode

ser decorrente de obstrução do fluxo menstrual por malformação no trato genital.

c) Sinais de hiperandrogenismo

A presença de acne, hirsutismo, oleosidade aumentada da pele e dos cabelos,

calvície ou sinais de virilização como engrossamento da voz, aumento de massa muscular

e hipertrofia de clitóris representam, em maior ou menor grau, a ação de androgênios em

excesso (hiperandrogenismo). Frequentemente estão associados à obesidade e cerca de 60

a 70 % destas pacientes são portadoras de SOP.

d) Acantose nigricans

Manchas escuras e aveludadas na pele das regiões inguinais, axilas e pescoço,

características da acantose nigricans , acompanhadas de quadro da SOP, são indicativos

altamente específicos para a presença de resistência à insulina.

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106

e) Sinais de atrofia genital

Sinais de atrofia genital, com queixas de dispareunia ou não, são importantes

indicativos da falta de ação dos estrogênios encontradas nas amenorréias primárias ou

secundárias. Nas primárias são causas frequentes as disgenesias gonadais, com ou sem

estigmas de Turner (hipogonadismo hipergonadotrófico) e as deficiências isoladas de

gonadotrofinas, conhecidas como Síndrome de Kallman (hipogonadismo

hipogonadotrófico). Já nas secundárias são comuns as formas graves de anovulação

crônica hipotalâmica como a anorexia nervosa (hipogonadotrófismo) ou as falências

ovarianas prematuras – FOP (hipergonadotróficas).

f) Malformações genitais

Estas são uma das causas mais frequentes da amenorréia primária, especialmente

as agenesias útero-vaginais (Síndrome de Rokitansky-Mayer-Kuster-Hauser).

Presença de massas ou hérnias na região inguinal podem ser indicativas da

feminização testicular (Síndrome de Morris).

Malformações dos genitais externos, especialmente com sinais de virilização,

merecem investigação especializada multidisciplinar. Nestes casos, o diagnóstico deve

ser firmado o mais rapidamente possível para a definição do sexo da criança, pois a partir

dos dois anos de idade o sexo psicológico começa a ser definir, ficando cada vez mais

difícil a tomada de decisão em eventual necessidade de cirurgias plásticas para a correção

da genitália.

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107

g) Malformações somáticas associadas

É de grande importância no diagnóstico das disgenesias gonadais a presença de

estigmas somáticos como a baixa estatura, encurtamento dos 4º/5º metacarpos ou

metatarsos, pescoço alado, implantação baixa dos cabelos, palato em ogiva,

malformações do trato urinário e outras, caracterizando o fenótipo de Turner. Anosmia

associada à amenorréia primária sugere Síndrome de Kallman.

h) Descarga mamilar

Secreção esbranquiçada, com aspecto de leite, fora do período de amamentação,

caracteriza a galactorréia. Cerca de 25% das pacientes com galactorréia tem prolactina

elevada e quando ela está associada à amenorréia, esta porcentagem sobe para 60 a 70%.

A galactorréia pode ser espontânea ou à expressão das mamas.

EXAMES COMPLEMENTARES

Os exames complementares devem ser dirigidos na dependência dos sinais e

sintomas associados à amenorréia. Considerando o exposto anteriormente, as pacientes

com amenorréia primária merecem uma abordagem diferente daquelas com amenorréia

secundária tendo em vista as diferenças nas etiologias de ambas.

Os exames complementares essenciais são:

a) Dosagens Hormonais

Gonadotrofinas:

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108

Dosagem de FSH é muito útil para avaliação da reserva ovariana. Quando acima

de 12-20mUI/ml indica baixa reserva folicular ovariana e valores acima de 40mUI/ml

sugerem falência ovariana. O LH é pouco sensível às variações da reserva ovariana e não

é indicado para tal avaliação.

Prolactina:

As hiperprolactinemias correspondem a uma das principais causas de amenorréia

e a dosagem de PRL plasmática deve fazer parte da rotina da investigação das

amenorréias secundárias. Raramente está associada à amenorréia primária.

TSH e T4 livre:

Especialmente o TSH deve ser medido nas pacientes hiperprolactinêmicas, tendo

em vista o hipotireoidsimo como importante causa de hiperprolactinemia.

Esteróides sexuais:

Estrogênios: As dosagens de estradiol têm pouca utilidade, tendo em vista a

grande variabilidade de seus níveis plasmáticos. O exame físico da genitália (trofismo), a

colpocitologia hormonal (índice de Frost) ou o teste da progesterona (administração de

progestagênios VO por 5 a 10 dias e sua supressão fazem sangrar aquelas pacientes com

bons níveis estrogênicos) podem ser indicativos indiretos dos níveis plasmáticos de

estradiol.

Progesterona: Não se justifica a dosagem de progesterona plasmática em

mulheres amenorréicas. A dosagem de 17OH progesterona está indicada nas pacientes

suspeitas de Hiperplasia Adrenal Congênita - HAC forma não clássica.

Page 110: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

109

Androgênios: Indicada a dosagem de testosterona total e DHEAS nas pacientes

com sinais de hiperandrogenismo. Elevações de testosterona indicam, em geral, fonte

ovariana, porém a obesidade, quando presente, deve ser levada em consideração na

interpretação do resultado já que o tecido gorduroso é importante fonte de testosterona

nas mulheres. Já a DHEAS quando elevada indica origem adrenal dos androgênios. Nas

pacientes com francos sinasi de hiperandrogenismo, sem elevação da T total e DHEAS,

justifica-se a medida de Testoterona livre.

Insulina e glicemia de jejum:

A SOP é uma das maiores causas de oligo-amenorréia. Em geral, mais de 60% das

pacientes com SOP tem resistência à insulina (RI). Nas obesas este índice pode

ultrapassar 90%. A investigação rotineira da RI é recomendada nas SOP obesas. São

indicativos de RI a insulina de jejum maior que 10-12 uU/ml; relação G/I < 4,5 ou I/G >

0,19.Também são utilizados alguns índices que utilizam as dosagens da insulina e

glicemia de jejum como o HOMA e o QUICKI.

Homeostasis model assessment (HOMA)

HOMA = G (mmol/L) x I (uU/mL) (RI > 2,7)

22,5

Ou

HOMA = G (mg/dL) x I (uU/mL) (RI > 47,0)

22,5

Quantitative insulin sensitivity check index (QUICKI)

QUICKI = 1

(logG basal + log I basal) (RI < 0,34)

Page 111: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

110

b) Exames por Imagem

Ultrassom:

Para pesquisa de massas em topografia de ovários e adrenais, de preferência com

a realização de ultrassom Doppler para completar a caracterização da massa.

Terapi a computadorizada e ressonância magnética:

Complementar para identificar massas que não foram bem definidas ao exame de

Ultrassom, principalmente massa adrenais.

OUTROS

A colpocitologia hormonal (Índice de Frost) ainda tem seu lugar na propedêutica

endócrina em ginecologia. Por exemplo, presença de células das camadas profundas

(basais e parabasais) significa epitélio atrófico, independente dos níveis de estradiol

plasmático.

FLUXOGRAMAS

Seguem abaixo, de forma simplificada, os fluxogramas de abordagem das

pacientes com amenorréia primária e secundária.

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111

ACC: Anovulação Crônica de origem Central SOP: Síndrome dos Ovários Policísticos RNM: Ressonância Nuclear Magnética TC: Tomografia Computadorizada

Page 113: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

112

Page 114: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

113

TRATAMENTO

Amenorréia é apenas um sintoma e neste sentido o tratamento deve estar dirigido

para a moléstia de base que lhe dá origem e que serão tratadas nos diferentes capítulos

deste Manual.

Page 115: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

114

CAPITULO 8

Sangramento uterino disfuncional

Page 116: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

115

INTRODUÇÃO

Epidemiologicamente, o sangramento uterino resultante de ciclo menstrual

normal tem como parâmetros ocorrer a intervalos regulares de 26 -34 dias e persistir por

2 a 7 dias, em volume de 20-80ml1, 2,3

. Alterações menstruais podem ocorrer nos

parâmetros intervalo, duração, volume e aspecto físico ou forma do sangramento.

Infelizmente, não há concordância em relação à terminologia utilizada para definir as

diferentes alterações em nenhum destes parâmetros, principalmente em relação à forma

de apresentação do sangramento4, 5,6

. Neste texto, utiliza-se classificação de Seitz-

Medina (tabela 1); procurando harmonizá-la com as tentativas de consenso atual em

língua inglesa. De modo geral, classifica-se o sangramento uterino anormal com base na

etiologia (orgânico ou disfuncional), período de vida da mulher (adolescência, menacme,

pré-menopausa) e função ovariana (ovulatório, não ovulatório). Os aspectos físicos, ou a

forma do sangramento (sangramento, manchas), também são considerados neste manual,

sempre que for relevante. Esta classificação, ainda que não universal, tem nossa

preferência porque permite inferir os mecanismos fisiopatológicos e racionalizar tanto a

investigação quanto a conduta7.

CONCEITOS

Sangramento uterino excessivo pode ocorrer em várias condições clínicas

hormonais, orgânicas ou bioquímicas locais, daí a terminologia sangramento uterino

anormal (SUA) ser generalizada a todo tipo de sangramento7, 8

. O termo sangramento

uterino orgânico (SUO) é restrito aos sangramentos de causas orgânicas genitais e

extragenitais e sangramento uterino disfuncional (SUD) é síndrome caracterizada por

Page 117: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

116

alterações dos mecanismos neuroendócrinos que controlam o ciclo menstrual. Este

conceito de SUD só é atendido após excluir complicações da gravidez, causas

iatrogênicas e doenças orgânicas sistêmicas ou genitais. Os conhecimentos atuais acerca

dos mecanismos locais/endometriais envolvidos no sangramento menstrual normal e a

possibilidade que possam estar alterados e serem causa de sangramento uterino anormal9,

10, ainda que não tenham causa endócrina, são frequentemente incluídas nas publicações

sobre SUD. Assim, as alterações em nível endometrial das prostaglandinas, fibrinolíticos

ou enzimas líticas endometriais estão incluídas no texto.

PREVALÊNCIA

Apenas 40%-45% das pacientes que procuram tratamento por excesso de

sangramento perdem > 80ml e quase metade daquelas que afirmam ter sangramento

aumentado perde < 40ml. Devido à percepção pouco precisa das pacientes esta

observação indica a necessidade de métodos mais precisos para medir o volume do

sangramento menstrual11, 12

. Cerca de 15%-30% das mulheres em idade reprodutiva

apresentam sangramento anormal, tendo maior prevalência em seus extremos. Em geral o

sangramento é disfuncional entre 10%-80% dos casos13

.

FISIOPATOLOGIA

Em resposta orquestrada do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano-uterino a

menstruação normal ocorre a intervalos regulares de 26 a 34 dias, inicia-se abruptamente

e prolonga-se entre 2 a 7 dias, com perda de sangue de aproximadamente 40ml. No SUD

não há alteração nítida do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano, sendo normais os níveis

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117

basais de gonadotrofinas e estrogênios14, 15

. Podem ocorrer alterações nos mecanismos de

retroalimentação com nível insuficiente de estradiol para promover efeito hipotalâmico

positivo16

, mas informações acerca da pulsatilidade do GnRH no SUD não são

disponíveis. Na sua gênese, tem-se ainda incluído alterações dos fatores luteolíticos

locais17, 18

, desequilíbrios nas concentrações locais entre prostaglandinas vasocontritoras

e vasodilatadoras19

, exacerbação do sistema fibronolítico20

e maior densidade de

receptores para estradiol e progesterona no endométrio15

. Quando um ou mais dos

processos fisiológicos responsáveis que controlam, regulam e limitam a menstruação

(Tabela 2) for alterado à extensão em que a função normal possa ser prejudicada,

ocorrerá o sangramento uterino excessivo disfuncional8. Considera-se excessivo qualquer

alteração em qualquer um dos parâmetros intervalo, duração ou volume. As alterações do

parâmetro intervalo marcam a disfunção do eixo neuroendócrino, sendo esta manifestada

por: (1) perturbação do desenvolvimento folicular ou disfunção lútea nos ciclos

ovulatórios, quando comprometimento do eixo for menos severo ou (2) níveis

insuficientes de estradiol e LH para promover ovulação, nos quadros de disfunções com

maior severidade.

CLASSIFICAÇÃO

Com objetivo de facilitar a identificação das possíveis causas e racionalizar a

conduta, pode-se classificar a SUD segundo período de vida/evolução genital (puberdade,

anos reprodutivos, pré-menopausa) e etiologia (hipotalâmica, hipofisária, ovariana).

Classificação dos sangramentos segundo a função ovariana (ovulatória, anovulatória) e

formas de sangramento21

é mostrada na tabela 3. Recomenda-se que o aspecto do

Page 119: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

118

sangramento seja considerado no sistema de classificação4, 5

como neste manual. Esta

classificação ainda que não universal, tem nossa preferência7.

CAUSAS

Como visto anteriormente, o sangramento uterino é disfuncional quando, por

alteração do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano, há (1) desenvolvimento folicular

anormal, (2) ausência do mecanismo de retroalimentação hipotálamo-estradiol positivo,

(3) alteração funcional do corpo lúteo. Estas alterações podem ser consequência de:

Disfunções do córtex cerebral, sistema límbico e hipotálamo

Imaturidade persistente do sistema GnRH

Estresse psíquico, físico e nutricional

Tumores, infecções, irradiação, cirúrgia

Disfunções hipofisárias

Diminuição na secreção de FSH e LH

Secreção de moléculas heterogêneas de FSH, LH

Tumor secretor de FSH

Irradiação, infarto hipofisário

Disfunções ovarianas

Alteração na atividade das enzimas 17α-hidroxilase e 17-20 liase

Disfunções endometriais/locais

Desequilíbrio das prostaglandinas

Exacerbação da fibronólise

Alteração das enzimas proteolíticas

Page 120: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

119

EXPRESSÃO CLÍNICA DO SUD

Em ciclos ovulatórios com desenvolvimento folicular insuficiente, o retardo no

processo de reepitelização dá origem ao prolongamento do sangramento menstrual, tanto

com aumento (hipermenorragia) como sem aumento (hipermenorréia) aumento do

volume22

. Havendo foliculogênese acelerada o intervalo do ciclo pode ser mais curto em

até uma (ciclos entre 20-26 dias, proiomenorréia) ou duas semanas (ciclos a cada 15 dias,

polimenorréia) (D). Na insuficiência folicular a foliculogênese retardada resulta em ciclos

mais longos (35-45 dias, opsomenorréia) clinicamente traduzidos por manchas no pré-

menstruo, prolongando o sangramento (opsohipermenorréia). Na ocorrência de fase lútea

insuficiente, pode-se observar ciclos tanto com intervalos normais, manifestando-se por

manchas antes do fluxo e prolongamento de sua duração (hipermenorréia), como ciclos

com intervalos curtos (proiomenorréia) (B). No comprometimento mais severo do eixo

hipotálamo-hipófise-ovariano ocorre foliculogênese incompleta, duração variável do

intervalo entre sangramentos e produção insuficiente de estrogênios para promover

retroalimentação hipotalâmica positiva e ovulação (A). Não havendo ovulação o

sangramento ocorre por ruptura da superfície endometrial a intervalos irregulares (C). As

manifestações clínicas marcantes são a polimenorréia ou os ciclos longos, com duração

variável e fluxo prolongado. Lembrar que na polimenorréia por anovulação não há

modificações nas características físicas do fluxo e que este fato permite diferenciá-lá dos

ciclos ovulatórios com manchas no meio do ciclo. Ciclos longos (oligomenorréia na

literatura inglesa e opso ou espaniomenorréia na alemã) podem não caracterizar

alterações com excesso de sangramento23

.

Page 121: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

120

DIAGNÓSTICO

Avaliação minuciosa é essencial para excluir possíveis causas orgânicas,

comprovar alteração nos mecanismos de controle da menstruação e firmar o diagnóstico

de sangramento disfuncional (Tabela 4). Destacam-se pontos relevantes na investigação.

Na anamnese

Idade, estilo de vida, estresse excessivo (físico, psíquico, nutricional), perda do

peso excessivo, vômitos.

Sinais de alteração hipotalâmica: sono, sede, apetite, olfato, regulação térmica,

cefaléia, convulsões, mudanças comportamentais.

Sinais de alteração hipofisária: galactorréia, restrição do campo visual.

Sintomas de hipoestrogenismo ou mudanças bruscas nos níveis de estrogênios:

fogachos, sudorese noturna.

Características físicas do sangramento, existência de manchas no pré/pós-

mênstruo e intervalos irregulares entre os sangramentos.

Outros: crescimento de pêlos em excesso, adinamia, edema, pele seca,

intolerância ao frio, obstipação.

No exame físico

Conformação corporal: altura, peso, envergadura, razão cintura-quadril, índice de

massa corporal.

Pulso: rápido (hipertiroidismo) ou lento (hipotireoidismo, estresse físico ou

nutricional).

Page 122: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

121

Pele: coloração amarelada (no hipotiroidismo e anorexia nervosa), sinais de

hiperandrogenismo (acne, hirsutismo), sinais de resistência à insulina (acanthosis

nigricans, acrocórdones).

Mamas: galactorréia.

Genitais: trofismo, pilificação, tamanho clitóris.

Na investigação complementar

Excluir uso de medicamentos anticoagulantes e hormônios que possam causar

sangramento iatrogênico.

Excluir complicações de gravidez com dosagens de βhCG e ultra-sonografia.

Considerar testes para identificar disfunções da tireóide, insuficiência renal,

insuficiência hepática, hiperprolactinemia, diabetes mellitus, doença de von

Willebrand (fator VIII, antígeno von Willebrand, teste de agregação plaqueária).

Comprovar a normalidade dos órgãos pélvicos: ultra-sonografia, histeroscopia,

biópsia do endométrio, laparoscopia.

Investigar a função hipofisário-hipotalâmica: FSH, LH, se necessário teste com

GnRH, ressonância magnética.

Investigar a função hipofisária: FSH, LH, PRL, teste com GnRH.

Examinar a duração e função da fase folicular: incremento do estradiol,

acompanhamento do crescimento e ruptura folicular e modificações endometriais

com ultra-sonografia seriada. Notar que a dinâmica do incremento dos níveis de

estradiol em dosagens seriadas não está, ainda, padronizada.

Examinar a duração da função lútea: identificação ecográfica do dia da ovulação,

vascularização do corpo lúteo, curva da progesterona, biopsia com dateamento do

Page 123: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

122

endométrio e, clinicamente, pelas características do inicio do fluxo menstrual

(presença ou ausência de manchas antes do aumento do fluxo).

TRATAMENTO

Diferenciar o tratamento segundo a(s):

Etiologia

Forma de apresentação clínica

Histologia endometrial

Metas da paciente

Considerando estes aspectos, o tratamento poderá caracterizar ou não uma

urgência médica, ser clínico ou cirúrgico conservador ou radical.

A. Na urgência:

Corrigir hipovolemia e manter hemodinâmica normal.

Parar o sangramento

1. Estrogênios: estrogênios conjugados 25mg EV a cada 4-6 horas (A)24

. Não

é recomendada a associação estrogênio-progestogênio no primeiro

momento.

2. Curetagem: pode ser considerada em mulheres acima de 40 anos, uso

prévio prolongado ou irregular de estrogênios, ou falha do estrogênio na

tentativa de parar o sangramento.

B. Não urgência:

Seguir protocolo diagnóstico para identificar a causa (Tabela 4).

Page 124: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

123

Individualizar, segundo a causa e as metas das pacientes.

Considerar a histologia do endométrio, se disponível.

Definir se clínico ou cirúrgico

1. Clínico:

Ciclos ovulatórios anormais, ou anovulatórios, sem desejo de gravidez.

Estabelecer ciclos artificiais, estendidos ou não, com anticoncepcional

hormonal combinado (oral, vaginal, transdérmico) (A)25

.

Ciclos ovulatórios anormais ou anovulatórios com desejo de gravidez

Assegurar foliculogênese, ovulação e fase lútea normais com indutores da

ovulação (citrato de clomifeno, inibidores da aromatase) e/ou

gonadotrofinas (FSH, LH) (A).

Ciclos ovulatórios com alteração das prostaglandinas.

Inibidores de síntese de prostaglandinas (↓ fluxo 20%-40%) (A)13,26

Ácido mefenâmico: 500 mg-3x ao dia

Piroxican: 20mg-2x ao dia

Ibuprofeno: 600mg-2x ao dia

Inibidores de síntese de prostaglandinas e ↓ fragilidade plaquetária

Etansilato: 500 mg-4 dias, 5 a 15 dias (A).

Ciclos ovulatórios com exacerbação do sistema fibrinolítico

Antifibrinolíticos (↓ fluxo 40%-60%) (A)27

.

Ácido aminocapróico: 250mg-2 cp 4x ao dia (B).

Ácido tranexâmico: 250mg-2 cp 4x ao dia (A).

Ciclos ovulatórios anormais, ou ovulatórios, sem desejo de gravidez.

Page 125: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

124

DIU com progestogênio: (↓ fluxo 65%-97%)28,29

.

Levonorgestrel (LNG): (↓65% A).

Progesterona (P): (↓80% -97% A).

2. Cirúrgico:

Independente do método (histerectomia, ablação, endométrio), considerá-lo

apenas na mulher com prole completa e falha do tratamento clínico. Lembrar que

as falhas no tratamento clínico são comuns na falha do diagnóstico das causas

orgânicas.

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125

Tabela 1. Classificação dos distúrbios menstruais, com sangramento excessivo, segundo alterações nos parâmetros volume,

intervalo e duração do sangramento*

Parâmetro Tipo de sangramento Características clínicas

Volume (20-80ml)

Aumentado (> 80) Menorragia Volume aumentado, coágulos, duração normal

Duração (2-7 dias)

Encurtamento (< 2 dias) Hipomenorréia Volume normal, poucos dias

Prolongamento (> 7 dias) Hipermenorréia Volume normal, prolongado

Intervalo (26-34 dias)

Ciclos 15 dias Polimenorréia Volume normal, duração normal

Ciclos 20-23 dias Proiomenorréia Volume normal, duração normal

Combinações Hipermenorragia Volume e duração aumentados

Polimenorragia Volume aumentado, intervalo curto

Proiomenorragia Volume aumentado, intervalo curto

Polihipermenorragia Volume aumentado, prolongado, intervalo curto

* Não há consenso na literatura inglesa e germânica

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126

Page 128: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

127

Tabela 2. Mecanismos responsáveis pelo início e término do fluxo menstrual.

Início:

Diminuição de estradiol e progesterona

Ruptura dos lisossomas célula endometrial pela queda da P4 no citoplasma e

espaço intercelular

Digestão enzimática desmossomas e membranas celulares

Liberação de fosfolipase A e ciclo-oxigenase 2(COX2)

Utilização dos ácidos araquidônico e eicosanotrienóico das membranas celulares

Síntese de prostaglandinas , vasodilatação e vasoconstrição rítmicas

Contração intermitente das arteríolas espiraladas (em 24h)

Isquemia, ruptura vascular, diapedese, extravasamento de sangue

Ruptura da superfície epitelial do endométrio e descolamento da basal

Término:

Vasoconstrição das arteríolas espiraladas da basal e radiais do miométrio

Foliculogênese normal com produção de estrogênios

Reepitelização do endométrio

Integridade miometrial

Área endometrial normal

Espessura endometrial normal

Grau de vascularização e edema mio-endometrial normais

Equilíbrio entre prostaglandinas vasoconstritoras e vasodilatadoras

Eficácia do sistema de coagulação

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128

Tabela 3. Classificação do sangramento uterino disfuncional, segundo a função ovariana,

tipo de ciclo e características do sangramento.

Função ovariana Alteração ciclo Característica do sangramento

Ovulatória

Fase folicular curta Poli/proiomenorragia Variável, volumoso, coagulos

Insuficiência folicular Opsohipermenorréia Manchas pós-menstrual, prolongado

Insuficiência lútea Hipermenorréia Manchas pré-menstrual

Atividade lútea prolongada Opsohipermenorréia Manchas pós-menstrual

Sangramento do meio Polimenorréia Manchas no meio do ciclo

Anovulatória

Polimenorréia Variável

Polimenorragia Variável, volumoso, coágulos

Polihipermenorréia Prolongado

Polihipermenorragia Prolongado, volumoso,coágulos

Adaptação de Field et al, 1988.

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129

Tabela 4. Objetivos para o diagnóstico de sangramento uterino disfuncional.

Proceder anamnese e exame físico detalhadamente

Rastrear possível uso de medicamentos

Excluir possíveis complicações de gravidez

Identificar eventual doença sistêmica

Comprovar a normalidade estrutural dos órgãos pélvicos

Verificar a função do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano-endometrial.

Page 131: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

130

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135

CAPITULO 9

Falência Ovariana Prematura

Page 137: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

136

CONCEITO

A Falência Ovariana Prematura (FOP), entidade caracterizada por Moraes-

Ruehsen – Jones¹ em 1967 é definida como quadro de senescência ovariana com

manifestações clínicas amplas, amenorréia secundária hipoestrogênica e hipogonadismo

hipergonadotrófico, sendo de instalação prematura e antes dos 40 anos.

INCIDÊNCIA E EPIDEMIOLOGIA

A sua incidência é variável, mas tem sido descrito que em mulheres

genéticamente normais 46, XX seria de 1:1000 mulheres antes dos 30 anos,1:250 em

torno dos 35 anos e 1:100 aos 40 anos de idade. O seu inicio é irregular e as

manifestações clínicas simultâneas também o são, sendo que muitas mulheres apresentam

períodos de manifestações hipoestrogênicas, seguidos de outros períodos de normalidade

menstrual e/ou reprodutiva.

ETIOLOGIA E CALSSIFICAÇÃO

São múltiplas as causas e fatores causais, mas basicamente sucedem pela redução

da população folicular dos ovários. Apesar das tentativas no estabelecimento de possíveis

causas, muito frequentemente não se consegue estabelecer o fenômeno etiológico

desencadeador.

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137

CAUSAS DE FALÊNCIA OVARIANA PREMATURA

Disgenesias Gonadais Síndrome de Turner

Síndrome de Perrault

Disgenesias Gonadais 46, XX ou 46, XY

Doenças Genéticas Falência Ovariana Familiar

Galactosemia

Defeitos enzimáticos tipo P450c17

Premutação FRAXA

Síndrome da Blefarofimose, ptose e epicanto inverso.

Mutações dos genes dos receptores do FSH-LH

Doenças Autoimunes Síndromes autominunes poliendocrinopáticas 1 e 2

Associação com outras Doenças autoimunes

Falência ovariana autoimune isolada

Doenças Infecciosas Ooforite viral pós-parotidite

Iatrogênica Quimioterapia

Radioterapia

Cirurgias pélvicas

Causas ambientais Hidrocarbonetos policíclicos

Idiopática

Page 139: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

138

Disgenesias Gonadais

Dentre as disgenesias gonadais a síndrome de Turner ou monosomia do X, 45 X,

tem manifestações clínicas e laboratoriais bastante evidentes. Suas gônadas disgenéticas

são desprovidas de folículos, exceto em pequeno grupo de pacientes portadoras de

mosaicismo com cariótipo 45, X/46,XX cujas gônadas poderão abrigar poucos folículos.

Habitualmente estas gônadas são estrias conjuntivas fibrosas, sendo as mesmas

remanescentes da crista germinal embrionária. Outras mulheres com cariótipos 46, XX

ou 46, XY poderão ter gônadas disgenéticas e manifestarem-se sem o desenvolvimento

puberal e deste modo portadoras de amenorréia primária hipoestrogenica, mas com níveis

elevados das gonadotrofinas hipofisárias. A segunda entidade, genéticamente 46, XY, é

conhecida como síndrome de Swyer e possui as mesmas manifestações clinicas e

laboratoriais, mas devido as gônadas serem testículos disgenéticos os mesmos deverão

ser extirpados cirurgicamente após o diagnóstico.

Causas Genéticas

A trisomia do cromossomo X, dita também superfêmea com cariótipo 47, XXX,

manifesta-se também pelos sinais de insuficiência ovariana. No cromossomo X a região

mais importante para o funcionamento normal dos ovários é a Xq13-q26 sendo que

translocações nestas áreas induzem um maior grau de apoptose dos oócitos e deste modo

perda da função ovariana ². Dois segmentos desta região contem “lócus” para a função

ovárica e perda destes setores induzem a falência prematura. São FOP1 – que

compreende perda no Xq26-quando a falência ovariana sucede em média entre 24 e 29

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139

anos e o FOP 2 com perda no Xq13.3-Xq22 ,quando as manifestações clínicas serão mais

precoces e entre 16 e 21 anos de idade ³ .

A síndrome do X frágil é causada por repetições de CGC (citosina-guanina) na

região 5 do gene FMR1 no braço longo do cromossomo X (Xq27.3) e estas repetições,

sendo superiores a 200, irão causar uma hipermetilação da região promotora do gene

FMR1 e assim haverá o silenciamento da sua transcrição.Poderá neste evento ocorrer

também uma associação com retardo mental nestas pacientes. A investigação genética da

FOP familial é necessária para caracterizar possível pré-mutação do gene FMR1, pois

esta entidade poderá ser caracterizada em irmãs ou primas da paciente afetada 4.

As alterações dos genes autossômicos poderão estar presentes em casos de FOP. A

síndrome blefarofimose-ptose e epicanto inversa é uma doença autossômica dominante

devido a mutações do gene do fator de transcrição FOXL2 e no braço longo do

cromossomo 3 (3q23) quando coexistem com FOP diversas anomalias faciais e das

pálpebras 5 .

A galactosemia é um erro inato do metabolismo causado pela mutação de 3 genes

GALT : GALT-9p13, GALK-17q24 e GALE-1p36 que induzem alterações enzimáticas

resultando na deficiência da conversão da galactose em glicose, havendo deste modo,

acúmulo de seus metabólitos em vários tecidos.Este acúmulo induz dano folicular que

resulta na FOP 6. Também mutações em genes do receptor do FSH e LH foram

determinadas e por suas ações anormais há bloqueio das suas funções ativadoras ou

mesmo bloqueadoras. Estas mutações dos exons do gene do FSHR induzem substituição

de certos aminoácidos na proteína e deste modo alteram a composição protéica e

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140

interferem no receptor da superfície celular. O gene do FSHR e LHR localiza-se no lócus

21 do braço curto do cromossomo 2(2p21-p16) 7 .

Doenças Autoimunes

Doenças autoimunes simultâneas a FOP sucedem em torno de 10 a 30% destas

mulheres, sendo mais comumente associada ao hipotireoidismo. Também poderão

coexistir miastenia gravis, lúpus eritematoso, artrite reumatóide e doença de Crohn. As

entidades conhecidas como síndromes poliendocrinopaticas autoimunes 1 e 2 são

síndromes autossômico recessivas raras,mas quadros de insuficiência das supra-

renais,hipoparatireiodismo,diabete mellitus tipo 1 poderão se acompanhar de falência

ovariana precoce 8.

Infecções

Doenças Infecciosas, principalmente as doenças viróticas como a cachumba

poderão induzir dano ovariano, tipo ooforite mumpica com processo ovariano destrutivo

9. Cerca de 2 a 8% das pacientes com FOP referem processo inflamatório prévio como

sua possível causa 10

.

Iatrogenia

Entre as causas iatrogênicas o uso de quimioterápicos, agentes alquilantes, os

procedimentos cirúrgicos ovarianos no tratamento das neoplasias benignas e ou malignas

com maior radicalidade e a radioterapia são fatores danosos à estrutura dos ovários e,

assim, desencadeadores da FOP. Os efeitos adversos dos quimioterápicos e da

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141

radioterapia dependerão das doses empregadas, da idade da paciente e do tempo de uso

destes medicamentos. Por sua vez, as pacientes mais jovens e ainda possuidoras de maior

população folicular nos ovários, têm maior possibilidade de recuperação espontânea.

Ambientais

Como causas ambientais o fumo também é um fator causal da senescência

ovariana, pois os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos são agentes indutores da

destruição dos folículos ovarianos ¹¹.

DIAGNÓSTICO DE FOP

O diagnóstico clínico é caracterizado essencialmente pela história clínica pessoal

e familiar. Os mênstruos e o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários ocorrem

geralmente dentro das épocas normais na adolescência, embora alguns autores refiram

que em certas pacientes estes tenham apresentado menarca mais tardia. Na sequência os

ciclos tornaram-se irregulares e depois ocorre a instalação da amenorréia secundária com

manifestações de hipoestrogenismo, tipo fogachos noturno-diurnos acompanhados de

sudorese. As alterações do humor com quadros depressivos e de ansiesidade poderão

suceder-se. Ao exame genital sinais evidentes do hipoestrogenismo com vagina seca,

dispareunia associada e reduções das dimensões uterinas pela atrofia genital. Estas

manifestações em certas situações poderão ser transitórias e mesmo, dependendo do fator

etiológico,existir o restabelecimento temporário dos ciclos menstruais e também

reprodutivo.

Page 143: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

142

O diagnóstico laboratorial é estabelecido principalmente pelas determinações dos

níveis séricos de FSH , LH, Prolactina e TSH. Níveis séricos de FSH superiores a 40

mUI/ml em duas ou três dosagens repetidas selam o diagnóstico 12

. A ultrassonografia

pélvica evidenciará a redução das dimensões do útero, dos ovários e a inexistência de

crescimento de folículos intraováricos. No entanto, 25% a 40% destas pacientes poderão

apresentar a ultrasonografia a presença de folículos intraovaricos ¹³.

O papel da biópsia ovariana procedida por via laparoscópica é bastante discutível quanto

a definição do prognóstico 14

, mas as características macroscópicas dos ovários com sua

redução volumétrica e aspecto de esclero-atrofia poderão auxiliar no diagnóstico e

orientar quanto ao prognóstico reprodutivo,se folículos não forem evidenciados na

análise anátomo-patológica da biópsia ovariana destas pacientes.

A análise citogenética com a determinação de anormalidades cromossômicas pelo

cariótipo é recomendável, principalmente nas eventualidades de amenorréia secundária

hipergonadotrófica em mulheres com idade inferior a 30 anos. O cariótipo pode revelar

deleções de fragmentos cromossômicos e possibilitar o aconselhamento genético,

dependendo da anormalidade com vistas a sua repetição familiar 15

. Outros exames

laboratoriais como avaliação de doenças autoimunes com comprometimento

pluriglandular poderão ser necessários, principalmente com a detecção de anticorpos

antitireoidianos, suprarenálicos e/ou antiovarianos. A sensibilidade e especificidade

destes procedimentos são baixas.

Page 144: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

143

TRATAMENTO E PROGNÓSTICO REPRODUTIVO

A ocorrência e a detecção da FOP exige ação conveniente com o estabelecimento

imediato de esquema de reposição hormonal substitutivo contendo estrogênio e

progestogênios em doses fisiológicas. Torna-se fundamental o entendimento de que esta

substituição hormonal deverá ser mantida até a idade cronológica de 50 a 52 anos, época

da ocorrência da menopausa fisiológica16

. Deste modo, e com este direcionamento evita-

se todos os fenômenos deletérios da falência ovariana precoce. A escolha do regime e dos

agentes terapêuticos (estrogênio e progestogênio) dependerá ou não do desejo da

manutenção dos fluxos menstruais e da existência ou não do útero, mas parece mais

recomendável a substituição hormonal cíclica e o emprego de estrogênios que não sejam

supressores da ovulação. Deste modo, se ocorrer ocasionalmente e de modo infrequente

uma ovulação, esta paciente terá ainda a possibilidade de gestar.

As doses de estrogênio a serem administradas deverão ser superiores àquelas

preconizadas à terapêutica hormonal em fase de climatério. Deste modo o estradiol ou

outro estrogênio usado por qualquer via deverá atingir nível sistêmico adequado para

induzir conveniente proliferação endometrial e na sequência com a adição de um

progestogenio por 10 a 12 dias induzir o fluxo menstrual. A progesterona e/ou

progestogênio terá indicação essencial na existência de útero, evitando-se assim uma

excessiva proliferação endometrial com quadros de hiperplasia-neoplasia nestas

pacientes. A adição de androgênios a estas pacientes é discutível e não existem estudos

suficientes quanto ao seu emprego, embora alguns autores tenham referido que os níveis

plasmáticos de androgênio nas portadoras de FOP fossem menores 17, 18

. Quanto ao grau

de prevenção do ponto de vista cardiovascular e ósseo e ou maior risco a neoplasias das

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144

mamas, ainda não existem análises e estudos convenientes. Potencialmente teriam um

risco maior para o desenvolvimento de processos degenerativos induzidos pelas

alterações hormonais. Em vista disto, além da substituição hormonal outras medidas são

recomendadas: atividade física diária, dieta alimentar adequada e rica em alimentos

contendo cálcio e vitamina D, evitar-se situações que acelerem a perda óssea como

tabagismo e uso excessivo de bebidas alcoólicas 19

.

Quanto ao restabelecimento da fertilidade, esta situação é bastante controversa,

mas ela espontaneamente poderá ocorrer em algumas poucas mulheres. A terapêutica

hormonal substitutiva tem efeito neutro sobre o retorno da fertilidade 20

. Nas pacientes

portadoras de doenças autoimunes o uso de glicocorticóides podem ocasionalmente

induzir o retorno da fertilidade 21, 22

. Com novas técnicas de reprodução assistida, seja a

ovo-doação e a tentativa de coleta de oócitos com criopreservação de fragmentos de

tecido ovariano e seu emprego posterior nestas pacientes, novas perspectivas passaram a

existir. Este deverá ser sempre o intuito, principalmente em pacientes jovens que por

inúmeras indicações necessitem de terapêutica quimioterápica, evitando-se assim a

destruição de todo o tecido ovariano.

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149

CAPITULO 10

Hiperplasia Adrenal Congênita de Início Tardio

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150

INTRODUÇÃO

A Hiperplasia Adrenal congênita (HAC), doença autossômica recessiva

metabólica mais comum, resulta da deficiência parcial da enzima 21-hidroxilase

(CYP21). Pacientes com HAC apresentam quadro clínico variável, dependendo do grau

de insuficiência enzimática (tabela 1); clinicamente, pela gravidade, pode ser dividida em

3 formas: perdedora de sal, virilização simples (produção adequada de aldosterona) e não

clássica ou de inicio tardio. A primeira e a segunda estão associadas a pseudo-

hermafroditismo ao nascimento e a terceira torna-se aparente na puberdade ou na vida

adulta.

Os casos mais graves, com alterações genéticas e deleções importantes, se

apresentam como síndromes perdedoras de sal no período neonatal, por haver bloqueio

acentuado da 21-hidroxilase resultando em níveis reduzidíssimos de aldosterona e

cortisol. O acúmulo de precursores desloca a esteroidogênese no sentido da produção de

androgênios, por isto mulheres com HAC podem apresentar pseudo-hermafroditismo

(genitália externa masculinizada e cariótipo XX). Quando não há reposição imediata de

corticosteróides e mineralocorticóides estes recém-natos morrem logo após o nascimento.

Formas de HAC com mutação mais branda levam apenas à virilização, condição com

produção suficiente de corticosteróides e com níveis de androgênios elevados.

A HAC de início tardio (HAC-IT) é a que se apresenta ao ginecologista, sendo a

causa mais comum de hirsutismo de origem adrenal. Os sinais e sintomas são geralmente

leves, aparecendo mais frequentemente na adolescência ou vida adulta. Na puberdade,

com a ativação do eixo da adrenal e aumento da esteroidogênese, deficiências leves da

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151

21-hidroxilase podem se tornar aparentes. Na HAC-IT existe deficiência parcial de 21-

hidroxilase, e os sintomas refletem o acúmulo 17-OH-progesterona e seus metabólitos

(C19 – androstenediona e testosterona). As manifestações mais comuns são hirsutismo

(60%), oligomenorréia (54%), acne (33%)[1]. A HAC-IT faz parte do diagnóstico

diferencial das pacientes com hirsutismo e com síndrome dos ovários policísticos. O

diagnóstico é realizado pela dosagem de 17-OH-progesterona, e em alguns casos é

necessário o teste de estímulo com Cortrosina. Os casos leves podem não necessitar

tratamento. O hirsutismo tem boa resposta com antiandrogênios associados ou não ao

bloqueio da supra-renal com corticosteróides.

Quadro clínico da Hiperplasia Adrenal Congênita Clássica (HAC- C) e de início

tardio (HAC-IT)

HAC - C HAC-IT

Virilização pré-natal Presente em mulheres Ausente

Virilização pós-natal Presente em homens e

mulheres

Variável

Síndrome com perda de sal ≈ 75% dos casos Ausente

Deficiência de Cortisol ≈ 100% dos casos Rara

Modificado de [2]

CONCEITO

HAC-IT é designada também como hiperplasia adrenal congênita não clássica,

leve ou adquirida. A forma assintomática é diagnosticada apenas pelos testes

bioquímicos. Na HAC-IT existe deficiência parcial de enzimas envolvidas na conversão

do colesterol até cortisol: 21-hidroxilase (CYP-21 ou p450c21), 11-beta-hidroxilase

(p450c11) ou 3-beta-hidroxiesteroide desidrogenase (fig. 1). A enzima deficiente em

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152

mais de 90% dos casos é a 21-hidroxilase, deficiências de 11β-hidroxilase e da 3β-

hidroxiesteróide desidrogenase são bem mais raras.

Figura 1: Diagrama simplificado da esteroidogênese adrenal. A deficiência da enzima

21-hidroxilase faz com que haja acumulo de 17-OH-progesterona, e seus metabólitos, desviando a

rota para síntese de androgênios.

EPIDEMIOLOGIA

A incidência da HAC-C em programas de screening neonatal em 13 países é

descrita como 1:15.000 nascidos vivos, sendo 75% forma perdedora de sal ³. A HAC-IT

tem prevalência de 1:1000 na população branca, chegando à frequência de 1 a 2,7% em

populações de origem hispânica, judaica ou da Europa oriental [4]

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153

FISIOPATOLOGIA

A fisiopatologia da HAC é relacionada ao grau de deficiência da 21-hidroxilase.

A produção de esteróides da suprarenal pode ser dividida em 3: mineralocorticóides,

glicocorticóides e androgênios (fig.1). O ACTH estimulando a enzima Star promove a

entrada do colesterol da porção externa para a interna das mitocôndrias, sendo esta uma

etapa limitante da esteroidogênese, resultando em pregnenolona, o principal substrato

para a esteroidogênese. O sistema nervoso central controla a secreção de ACTH (sua

variação diurna, os aumentos fisiológicos nas situações de estresse) através da secreção

hipotalâmica do fator liberador de corticotrofina (CRF).

O controle hipotalâmico-hipofisário-adrenal ocorre pelos níveis circulantes de

cortisol que exerce retrocontrole negativo no CRF e na secreção de ACTH. O bloqueio da

síntese de cortisol pela deficiência de 21-hidroxilase na HAC provoca aumento da

ACTH, que estimula a adrenal e gera acúmulo de produtos que deveriam ser

metabolizados pela enzima deficiente (21-hidroxilase), sendo o principal a 17-OH-

progesterona. O excesso de 17-OH-progesterona é desviado pela rota metabólica intacta,

que irá sintetizar androgênios, onde a enzima 17,20 liase converte 17-OH-progesterona

até androstenediona e após testosterona.

A rota da síntese dos mineralocorticóides requer níveis mínimos de atividade da

21-hidroxilase, sendo a HAC com deficiência de mineralocorticóides (síndrome

perdedora de sal) a forma mais grave da doença. A HAC com virilização simples está

associada a pseudo-hermafroditismo e virilização ao nascimento.

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154

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Mulheres com HAC-IT apresentam apenas deficiência leve a moderada da enzima

21-hidroxilase, não têm deficiência de cortisol e podem apresentar sinais de

hiperandrogenismo tardiamente na infância, na puberdade ou precocemente na vida

adulta. As pacientes jovens com HAC-IT podem apresentar pubarca precoce. Em

algumas séries, 5 a 10% de meninas com pubarca precoce têm diagnóstico de HAC-IT.

Após a menarca a manifestação mais comum de apresentação é o hirsutismo (60%),

oligomenorréia ou amenorréia (54%) com ovários policísticos e acne (33%).

A menarca pode ser normal ou retardada e amenorréia secundária é comum. Em

mulheres adultas o sintoma do excesso de androgênios inclui hirsutismo (causa mais

comum de hirsutismo de origem adrenal), queda de cabelo na região temporal e

infertilidade. Virilização acentuada não é comum. A síndrome dos ovários policísticos

(SOP) é uma complicação secundária. Uma das hipóteses etiológicas da SOP é a

“programação” inadequada do eixo hipotálamo-hipófise-ovário pela exposição a excesso

de androgênios das adrenais que alteram a secreção de gonadotrofinas e têm também

efeito direto sobre os ovários, levando à formação dos microcistos.

Devido à superposição dos sintomas hiperandrogênicos é importante considerar

HAC-IT no diagnóstico diferencial da SOP. A HAC-IT é diagnosticada em 2 a 10% das

mulheres com sintomas de hiperandrogenismo. A infertilidade pode ser o primeiro

sintoma da HAC-IT em mulheres até então assintomáticas. Algumas mulheres com

HAC-IT são completamente assintomáticas, detectadas usualmente em estudos de

famílias acometidas por HAC. A proporção de mulheres com HAC-IT sem sintomas não é

conhecida, entretanto, ocasionalmente, os sintomas de hiperandrogenismo aparecem após

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155

os 45 anos¹. A frequência de HAC-IT em mulheres inférteis ou com sinais de

hiperandrogenismo é de 1 a 2% 5. Pacientes com HAC-IT têm densidade mineral óssea

dentro da normalidade, entretanto o tratamento crônico com glicocorticóides aumenta o

risco de osteoporose. As consequências da doença a longo prazo são a resistência à

insulina, obesidade e doenças cardiovasculares 4

.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da deficiência da enzima 21-hidroxilase pode ser confirmado pela

dosagem de 17-OH-progesterona, o hormônio precursor à ação da enzima deficiente.

Uma dosagem alta de 17-OH-progesterona (> 500 ng/dl) é diagnóstica de HAC.

Teste do ACTH (da cortrosina):

Realiza-se preferencialmente na fase folicular do ciclo em mulheres com ciclos

regulares (mulheres anovuladoras em qualquer dia). Uma amostra de sangue para

dosagens plasmáticas basais de 17-OH-P e cortisol é coletada. A seguir, injeta-se por via

endovenosa (ou intramuscular) 250 mcg de ACTH sintético (Cortrosina) e obtém-se uma

nova amostra de sangue após 60 minutos do estímulo para repetir a dosagem de cortisol e

17-OH-P. A produção de 17-OH-progesterona pós-estímulo inferiores a 500 ng/dl,

praticamente afastam o diagnóstico de hiperplasia adrenal de início tardio. Aumentos

superiores a 1000 ng/dl são fortemente sugestivos do diagnóstico (figura 2).

O teste é fundamental para o diagnóstico da forma de início tardio, pois os valores

matinais basais de 17-OH-progesterona podem não ser suficientemente alterados para

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156

estabelecer o diagnóstico. Por exemplo: paciente com suspeita de HAC-IT tem uma

dosagem basal de 17-OH-progesterona de 100 ng/dL, e após estímulo os valores são

maiores que 2000 ng/dL, selando o diagnóstico apenas após estímulo.

HAC- clássica tem teste de estímulo com dosagens de 17-OH-progesterona entre

20.000 to 100.000 ng/dL.

Figura 2: Organograma do diagnóstico da HAC-IT: dosagem de ACTH basal e 60 min.

após 250mcg de cortrosina.

Estudo de Bidet e cols. encontrou prevalência importante de mutação grave em

pacientes com deficiência de 21-hidroxilase de início tardio, levando ao questionamento

de que nas pacientes que desejam gestar a genotipagem seria indicada [6] Entretanto o

risco de uma mulher com HAC-IT ter um filho com HAC grave é estimado em 2,5%, e o

risco de apresentar HAC-IT é de aproximadamente 15% 7.

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157

TRATAMENTO

Nas mulheres adultas com HAC-IT a utilização de antiandrógenos como acetato

de ciproterona parece ser superior ao uso de glicocorticóides para o tratamento de

hirsutismo e da acne[8]. Anticoncepcionais orais, que suprimem os androgênios

ovarianos, também diminuem o ACTH e os androgênios da suprarenal. Devido aos

efeitos colaterais dos corticóides e a necessidade de tratamentos longos, o uso de

anticoncepcionais e/ou antiandrogênios associados é o tratamento inicial padrão.

No tratamento da anovulação (oligo/amenorréia) quando a gestação não é

desejada, o uso de ACO promove a regularização da menstruação. Os corticóides podem

tornar os ciclos regulares, entretanto não fornecem contracepção e têm efeitos adversos

importantes.

Se a fertilidade é desejada, o uso de glicocorticóides pode restaurar a ovulação e

os ciclos regulares. Dexametasona é geralmente indicada como tratamento inicial para

induzir ovulação seguida do citrato de clomifeno. Quando se opta pelo tratamento com

glicocorticóides, a dexametasona, dada antes de dormir, na dose de 0,25 a 0,75 mg, é o

tratamento preferido para adolescentes e adultos após o fechamento das cartilagens de

crescimento. Também a prednisona (5 a 7,5 mg) pode ser utilizada ao deitar. A menor

dose capaz de controlar os sinais e sintomas deve ser usada. Não há necessidade de elevar

a dose de glicocorticóides em momentos de estresse, exceto se estiver usando doses

suprafisiológicas de corticóide.

Como monitoramento do tratamento, em geral, as concentrações de 17-OH-

progesterona, DHEA, androstenediona, e testosterona devem ser medidas regularmente.

O objetivo é a normalização da testosterona, deixar a 17-OH-progesterona minimamente

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158

elevada (entre 200 e 1000 ng/dL) e normalizar os sintomas de acne e hirsutismo. Deve-se

alertar a paciente quanto aos sinais e sintomas de síndrome de Cushing e orientar medidas

para evitar a perda óssea.

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160

CAPITULO 11

Obesidade e Reprodução

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161

INTRODUÇÃO

As tendências de transição nutricional ocorridas no século passado convergem

para uma dieta mais rica em gorduras, açucares alimentos reduzidos em carboidratos

complexos e pobres em fibras. Como consequência desta dieta e hábitos sedentários

adquiridos, a obesidade tornou-se mais prevalente que a desnutrição e doenças

infecciosas1. Na mulher, em condições normais, o teor de gordura é de 22%, podendo-se

admitir a existência de obesidade quando a proporção de tecido adiposo ultrapassa 25%

do peso corporal. Obesidade afeta aproximadamente 40% da população adulta no Brasil,

sendo estimada em 38,6 milhões pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) em consenso com o Ministério da Saúde2. Segundo a localização da gordura

corporal a obesidade pode ser definida como de tipo andróide ou ginecóide. Na obesidade

andróide a gordura deposita-se no tronco e abdomen e na ginecóide distribui-se na região

glúteo-femural (quadril, nádegas, coxas e parte inferior do corpo). O tipo andróide traz

maior risco, pois seus adipócitos têm comportamento bioquímico díspares. Estes

adipócitos, localizados nos depósitos profundos (abdominais), são volumosos, ativos e

respondem à adrenalina com aumento da atividade da lipase, quebra celular e liberação

de ácidos graxos livres na circulação. Com esses ácidos graxos livres a via de sinalização

da insulina fica bloqueada, resultando em resistência insulínica periférica.

ALTERAÇÕES HORMONAIS NA OBESIDADE

O nível e a função de diversos hormônios encontram-se alterados na obesidade.

Não se sabe se as modificações são adaptativas e fisiológicas ou se promovem algum

papel na gênese ou perpetuação desta morbidade. O eixo hipotálamo-hipófise-adrenal é

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162

hiperresponsivo, havendo resposta aumentada do cortisol ao estimulo com ACTH. Há

aumento na frequência e diminuição na amplitude dos pulsos de ACTH, mantendo os

níveis séricos basais dentro do normal3. O clearance metabólico do cortisol está

aumentado e apresenta forte correlação com a quantidade de gordura abdominal4. Embora

não haja hipercortisolismo bioquímico, há distribuição central de gordura, impondo maior

atividade local da enzima β-hidroxiesteróide desidrogenase, catalisadora da cortisona a

cortisol na célula alvo5.

Na consideração do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano, geralmente a obesidade

não esta associada a alterações nos níveis das gonadotrofinas. No entanto, as

concentrações de LH parecem estar inversamente relacionadas ao peso corporal, pelo

efeito da obesidade diminuir a amplitude dos pulsos de LH e resposta do gonadotropo ao

GnRH6

. Não existe alteração na resposta hipofisária à administração de GnRH ou citrato

de clomifeno. Em adição, diferenças na frequência dos pulsos de LH não foram

encontradas nas obesas. Nestes indivíduos a produção androgênica adrenal e ovariana

encontra-se elevada e correlacionada com o índice de massa corporal (IMC).

IMPACTO DA OBESIDADE NA REPRODUÇÃO

A obesidade interfere de maneira múltipla no eixo hipotálamo-hipófise-ovariano,

resultando em alterações puberais, alterações menstruais, anovulação hiperandrogênica,

hiperinsulinismo, diminuição na taxa de fecundidade, menopausa precoce, esterilidade e

abortamento (Tabela 1)7,8

. Sabe-se que crianças desnutridas não iniciam oportunamente

os eventos puberais, sendo que crianças obesas iniciam a puberdade em idade mais

precoce. Parece então haver associação entre evolução gonadal e nível de gordura

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163

corporal9. A obesidade está relacionada à maior produção de estrogênios, sendo este

aumento associado ao peso corporal e proporção de gordura10

e à diminuição de

globulina carreadora dos esteróides sexuais (SHBG) como resultado do hiperisulinismo.

O resultado é a maior exposição tissular ao estrogênio livre. Na obesa há menor 2-

hidroxilação e maior produção de estrona, substrato de estrogênios mais ativos. Estas

modificações resultam na elevação da proporção entre estrogênios ativos e inativos.

Mesmo com estas modificações as dosagens de estradiol circulante mostram níveis

dentro do normal ou pouco elevados11

. Provavelmente o excesso de estrogênio

permanece armazenado no tecido adiposo. Havendo maior disponibilidade de

estrogênios, menor a probabilidade do individuo manifestar obesidade do tipo central.

Adicionando-se a informação de que estrogênios diminuem a formação dos receptores

dos androgênios, pode-se entender porque a obesa está protegida das manifestações

androgênicas.

Ainda que a maioria das pacientes obesas não manifeste hiperandrogenismo, as

pacientes com anovulação crônica hiperandrogênica/síndrome dos ovários policísticos

(ACH/SOP) tendem a ser obesas. Comparando as pacientes obesas e não obesas com

ACH/SOP aprende-se que a obesidade tem papel fisiológico específico, imprimindo

alterações endócrino-metabólicas que predispõem o individuo a maiores riscos:

amplificação da resistência à insulina, dislipidemia, alteração menstrual e anovulação

com menor resposta aos indutores da ovulação6. 12

.

O adipócito, como unidade funcional, representa local de metabolismo e

interconversão entre os androgênios devido ao conteúdo rico em 3β-hidroxiesteróide

desidrogenase, 17-hidroxidesidrogenase e aromatases. Concentrações normais de

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164

androgênios e estrogênios em pacientes obesas refletem complexo mecanismo regulador

entre taxas de produção e clearance. São múltiplos os mecanismos para explicar a

associação entre obesidade, principalmente a abdominal, e alteração nos esteróides e sua

proteína de ligação (SHBG). A diminuição de SHBG acontece principalmente pelo

aumento da insulina circulante, diminuindo sua síntese hepática. A simples diminuição da

SHBG determina o aumento do clearance metabólico de DHEAS, androstenediona,

testosterona, diidrotestosterona (DHT) e seu metabólito androstenediol13

. Em paralelo a

estas modificações, há elevação compensatória na taxa de produção destes androgênios.

No conjunto, estas alterações configuram o hiperandrogenismo dito funcional, relativo do

obeso7.11

. Há ainda maior deposição de androgênios no tecido adiposo, local também

capaz de produção ativa destes androgênios e conversão dos mesmos em estrogênios14

.

ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E ANOVULAÇÃO CRONICA

HIPERANDROGÊNICA / SINDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS

Dentre todas as repercussões da obesidade no sistema reprodutivo, a síndrome dos

ovários policísticos é a mais importante. Cerca de 30%-75% das pacientes com

anovulação crônica hiperandrogênica/síndrome dos ovários policísticos (ACH/SOP) são

sobrepeso ou obesas15

. Tendo início na puberdade, a obesidade nestas pacientes é

principalmente central, resultando em hiperandrogenismo, resistência à insulina,

alterações menstruais, amenorréia, anovulação e dislipidemia. Estas alterações são menos

impactantes nas pacientes não obesas com ACH/SOP. No entanto, nas não obesas o

hiperandrogenismo não é funcional como ocorre na paciente com simples obesidade16

. Os

mecanismos fisiopatológicos são distintos. Na ACH/SOP há hiperatividade nos pulsos de

LH e hiperativação do sistema hipotalâmico, favorecendo o aumento da insulina e fatores

Page 166: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

165

de crescimento insulina símiles17, 18

, diminuição acentuada da SHBG, maior

disponibilidade tissular de androgênios e estrogênios, foliculogênese incompleta, atresia

folicular prematura e anovulação. Na fisiopatologia da ACH/SOP pode participar ainda a

elevação da leptina sintetizada pelos adipócitos, resultando em efeito inibitório deste

peptídeo sobre a esteroidogênese teca-granulosa, foliculogênese incompleta e

anovulação19

. Embora a participação da leptina na fisiopatologia da ACH/SOP seja ainda

contraditória, não se pode excluí-la. A leptina, além de interferir na foliculogênese,

perturba a maturação do oócito20

e regula a atividade do GnRH21

.

A elevação da insulina na ACH/SOP amplifica a produção de androgênios pelos

folículos ovarianos e ainda favorece a secreção androgênica adrenal induzida pelo

ACTH22

. A hiperinsulinemia nas pacientes obesas com ACH/SOP deve-se (1) à elevação

dos ácidos graxos livres, com diminuição da sensibilidade dos receptores da insulina e a

da captação de glicose no músculo esquelético23

e (2) maior produção do TNF-α no

adipócito, estimulando a fosforilação dos resíduos de serina do substrato 1 do receptor de

insulina (IRS-1) e inibindo a tirosinocinase na subuninidade beta do receptor de

insulina24

.

CONDUTA PARA MELHORAR A FUNÇÃO REPRODUTIVA EM

PACIENTES OBESAS

Como primeira medida ou pré-requisitos para posterior tratamento. Deve-se

orientar para: atividade física regular, restrição de carboidratos na dieta e reduzir o peso.

A simples redução calórica, ainda que sem perda de peso, tem-se mostrado capaz de

melhorar a função menstrual25, 26

. A redução do peso tem-se mostrado eficaz nas obesas

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166

com SOP/ACH ou não. Nas pacientes com menstruações normais a redução do peso não

modifica os androgênios circulantes e não eleva a SHBG27

.

Nas pacientes com ACH/SOP as estratégias incluem mudanças de hábitos, dieta

com restrição calórica, perda de peso, redução dos androgênios circulantes, redução da

insulina, e garantia de ciclos ovulatórios28

. A perda de 5%-10% no peso corporal destas

pacientes reduz os níveis de insulina circulantes, melhora a sensibilidade dos receptores

de insulina ao diminuir os androgênios, regulariza os ciclos menstruais e favorece o

resgate de ciclos ovulatórios, melhorando a fertilidade. Em relação aos hormônios

reprodutivos, a perda de peso diminui a testosterona total, a androstenediona e o LH, e

eleva a SHBG29, 30

. Esta melhora pode ser atribuída à redução da hiperinsulinemia31

. Há

estudo mostrando que nas pacientes em que a diminuição da insulina não ocorre, a função

ovulatória não é normalizada32

.

Nas pacientes com ACH/SOP e resistência insulínica, o uso de sensibilizadores do

receptor insulina, como a biguanida metformina, tem mostrado melhorar a sensibilidade

das obesas à insulina, diminuindo seus níveis séricos. A metformina, na dose de 0,5g a

1,7g / dia tem mostrado capaz de diminuir os androgênios tanto de fonte ovariana como

adrenal. Assim ocorre diminuição da testosterona total e livre, androstenediona, DHEAS

e 17-hidroxiprogesterona. Há ainda diminuição nos níveis de LH e aumento de FSH e

SHBG33

.

Page 168: GINECOLOGIA ENDÓCRINA - FEBRASGO 2010

167

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172

Tabela 1. Repercussões da obesidade sobre a reprodução feminina

Menarca precoce

Ciclos menstruais irregulares (polimenorréia, amenorréia)

Anovulação crônica

Androgenização (acne, hirsutismo)

Abortamento

Esterilidade

Diabetes gestacional

Hipertensão gestacional

Adaptação de: The ESHRE Capri Workshop Group, 2007.