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GEOGRAFANDO: MÉTODOS E TÉCNICAS DE TRABALHO DE CAMPO PARA O ENSINO BÁSICO EM DIAMANTINA/MG Letícia Pádua Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri [email protected] INTRODUÇÃO Para além do conhecimento científico, a geografia é parte do que nos constitui enquanto ser, ou seja, é parte de nossa essência. Não há sociedade que prescinda de uma geografia (neste texto, falamos de geografia para nos referir à prática cotidiana das pessoas e Geografia à ciência formal), não há homem que não a pratique. À medida que nos deslocamos, que nos relacionamos com o ambiente e com as pessoas, que localizamos objetos, estamos geografando. Assim, a Geografia institucionalizada é, necessariamente, uma ciência de campo, do empírico, uma vez que é reflexo e reflete esta nossa prática cotidiana. Entretanto, a Geografia, tradicionalmente tem se ocupado com a compreensão das macroestruturas que regulam e oprimem nossa sociedade, ou com o inventariamento e descrição de objetos e fenômenos, de modo que o trabalho de campo – especialmente no ensino básico – começou a ser negligenciado pela Geografia. Piaget (1971a) já havia demonstrado em seus estudos acerca da cognição humana a necessidade de conectarmos o cotidiano da criança e do adolescente ao processo de ensino e aprendizagem. Entendemos ser fundamental para o bom desenvolvimento intelectual da criança que as atividade didático-pedagógicas escolares considerem o conhecimento empírico (e, portanto, geográfico) que trazem a partir de suas próprias experiências e vivências. As pessoas significam de modo diferente os objetos que a cercam, de acordo com suas próprias experiências e pela intersubjetividade que constrói em suas relações com as coisas e com os outros. Assim, a dimensão concreta do mundo está repleta de

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GEOGRAFANDO: MÉTODOS E TÉCNICAS DE TRABALHO DE CAMPO PARA O ENSINO BÁSICO EM DIAMANTINA/MG

Letícia Pádua

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri [email protected]

INTRODUÇÃO

Para além do conhecimento científico, a geografia é parte do que nos constitui

enquanto ser, ou seja, é parte de nossa essência. Não há sociedade que prescinda de uma

geografia (neste texto, falamos de geografia para nos referir à prática cotidiana das

pessoas e Geografia à ciência formal), não há homem que não a pratique. À medida que

nos deslocamos, que nos relacionamos com o ambiente e com as pessoas, que

localizamos objetos, estamos geografando. Assim, a Geografia institucionalizada é,

necessariamente, uma ciência de campo, do empírico, uma vez que é reflexo e reflete

esta nossa prática cotidiana.

Entretanto, a Geografia, tradicionalmente tem se ocupado com a compreensão

das macroestruturas que regulam e oprimem nossa sociedade, ou com o inventariamento

e descrição de objetos e fenômenos, de modo que o trabalho de campo – especialmente

no ensino básico – começou a ser negligenciado pela Geografia.

Piaget (1971a) já havia demonstrado em seus estudos acerca da cognição

humana a necessidade de conectarmos o cotidiano da criança e do adolescente ao

processo de ensino e aprendizagem. Entendemos ser fundamental para o bom

desenvolvimento intelectual da criança que as atividade didático-pedagógicas escolares

considerem o conhecimento empírico (e, portanto, geográfico) que trazem a partir de

suas próprias experiências e vivências.

As pessoas significam de modo diferente os objetos que a cercam, de acordo

com suas próprias experiências e pela intersubjetividade que constrói em suas relações

com as coisas e com os outros. Assim, a dimensão concreta do mundo está repleta de

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sentidos e significados que estão no imaginário pessoal e social (imaginário aqui

entendido como devaneio, mas também significação e, sobretudo, representação). A

ciência tem muito o que se beneficiar com a compreensão deste imaginário e, sobretudo,

o processo de ensino aprendizagem se torna muito mais efetivo e efici6encia à medida

que crianças e adolescentes conseguem transpor o conhecimento científico formal para

a sua vida cotidiana. Neste sentido os PCNs dizem que

Assim, falar do imaginário em Geografia é procurar compreender os espaços subjetivos, os mapas mentais que se constroem para orientar as pessoas no mundo. Quando se pensa sobre o mundo rural e urbano, um bairro ou mesmo um país, se constroem com o imaginário esses espaços. O imaginário não deve ser aqui compreendido como o mundo do devaneio, mas o das representações. Mesmo existindo somente na imaginação, elas adquirem uma grande autonomia e participam nas decisões tomadas no cotidiano. Nesse sentido, acreditamos que trabalhar com o imaginário do aluno no estudo do espaço é facilitar a interlocução com ele e compreender o significado que as diferentes paisagens, lugares e coisas tem para ele. Tudo isso significa dizer, valorizar os fatores culturais da vida cotidiana, permitindo compreender ao mesmo tempo a singularidade e a pluralidade dos lugares no mundo (BRASIL, 1998, p.23-24).

É ao encontro desta perspectiva que o Brasil (1998) indica, entre outro, como

objetivos para o ensino fundamental, que os alunos possam:

• conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao país; • perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente; • questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação.

A Geografia escolar, então, pode colaborar fortemente na construção de uma

escola melhor conectada com a formação cidadã e a reflexão permanente sobre as

práticas cotidianas do sujeito. Sem dúvidas, uma das mais marcantes práticas

metodológicas do ensino de Geografia é o trabalho de campo, embora este seja ainda

pouco e mal explorado no ensino tradicional.

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Este texto, portanto, deriva de um projeto de extensão da Universidade Federal

dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, cujo objetivo é preparar discentes – e futuros

professores – do curso de geografia para a interação pesquisa-extensão-escola, no

sentido de planejar e criar roteiros de campo em Diamantina e entorno imediato, que

contemplem temas da geografia previstos nos Parâmetros Curriculares Nacionais de

Geografia e do Ensino Médio do Ministério da Educação e os Conteúdos Básicos

Comuns para a Geografia da Secretaria do Estado da Educação de Minas Gerais, e que

sejam adequados não apenas ao conteúdo ministrado para cada ano escolar, como

também para a faixa etária e o desenvolvimento cognitivo dos estudantes.

PROBLEMATIZAÇÃO

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais: História e Geografia

(2000, p.109) “A Geografia estuda as relações entre o processo histórico que regula a

formação das sociedades humanas e o funcionamento da natureza, por meio da leitura

do espaço geográfico e da paisagem”. O geógrafo é então o especialista do ver. É o

geógrafo que irá aprender técnicas de olhar que permitirão retirar da realidade, a

exatidão necessária para as pesquisas científicas. Assim, o campo é fundamental tanto

para a apreensão dos conceitos quanto para a formação da cidadania em alunos de nível

fundamental e médio.

Desde sua formalização enquanto ciência na Universidade de Berlim em 1821, a

Geografia passou por muitos debates e mudanças, especialmente no que tange o

referencial filosófico-metodológico. Nascida em um momento positivista das ciências

iluministas, a Geografia se destacava pelo levantamento e análise de dados empíricos,

influenciada, inclusive, pelo movimento enciclopedista europeu. Como o mundo ainda

carecia de informações e desvelamento, era comum que os trabalhos se preocupassem

com o colecionismo de informações e o mapeamento de novas áreas à medida que o

ecúmeno se expandia.

No Brasil, a Geografia chegou na década de 1920, a partir de convênios com

universidades francesas que haviam desenvolvido a chamada Geografia Regionalista.

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As monografias regionais francesas, frequentemente tinhas dois volumes: um deles era a

caracterização da área, ou seja o levantamento e coleção de dados de natureza mais

diversa possível acerca da área estudada. O segundo volume continha algumas formas

de análise e interpretação. Enquanto instrumento metodológico, o campo era, então, o

fundamento da Geografia científica. Ao mesmo tempo, os estudos geográficos se

caracterizavam pela busca de explicações objetivas e quantitativas da realidade,

imprimiu ao pensamento geográfico o mito da ciência asséptica, não-politizada, com o

argumento da neutralidade do discurso científico.

Entretanto, não raro a prática escolar e os de muitos livros didáticos conserva

ainda esta linha tradicional, procurando ser descritiva e despolitizada, criando uma

contradição entre o discurso do professor e o conteúdo dos livros e dos métodos em sala

de aula.

A partir de meados do século XX, em especial nos Estados Unidos, nos pós

segunda guerra e, com mais intensidade, na guerra fria, começa a surgir um movimento

de contestação intelectual dos moldes propostos para a sociedade e para a ciência em

geral. Assim, a teoria marxista foi adaptada e incorporada nas ciências humanas em

geral, e na geografia em particular, com o intuito de colabora na constituição de uma

sociedade mais justa, equitativa e sem miséria.

Entretanto, por se preocupar sobretudo com as macroestruturas que regulam e

oprimem nossa sociedade, o trabalho de campo – especialmente no ensino básico –

começou a ser negligenciado pela Geografia. Segundo BRASIL (1998, p.22):

Essa Geografia, que se convencionou chamar de crítica, ficou muito marcada por um discurso retórico. Tanto a Geografia Tradicional como a Geografia Marxista militante negligenciaram a dimensão sensível de perceber o mundo: o cientificismo positivista da Geografia Tradicional, por negar ao homem a possibilidade de um conhecimento que passasse pela subjetividade do imaginário; o marxismo ortodoxo e militante do professor, por tachar de idealismo alienante qualquer explicação subjetiva e afetiva da relação da sociedade com a natureza que não priorizasse a luta de classes.

A partir de meados, e com mais intensidade no último quartel do sec XX, ao

absorver as matrizes fenomenológico-existencialistas, a ciência geográfica re-coloca

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para si a questão do campo. Na realidade, re-coloca para si as questões da própria

ciência, suas funções, seus rumos, seus métodos, propondo uma Geografia das

essências, que nascem através das experiências, vivências e atitudes do ser-no-mundo.

O campo como prática é, consequentemente, re-ponderado em suas práticas e usos.

A grande diferença é que a Geografia Humanista inaugura, na ciência, o que a

prática diária já ensinava: o campo é feito de interação, não há um sujeito que pesquisa,

que observa, e objetos a serem descritos. É na relação que as coisas se dão. “No método

fenomenológico, o campo é a expressão das diferentes leituras do mundo. É o lugar (da

observação e da sistematização) do olhar do outro” (SUERTEGARAY, 2002, p.65.).

O cerne da Geografia está no estudo das manifestações espaciais que se revelam

a partir da relação homem-meio, inseparáveis em suas essências. Tuan (1967) considera

ainda que a tradição geográfica estudou com frequência as marcas que o homem deixa

no ambiente (especialmente impactos negativos), e até as impressões que o ambiente

imputa aos homens, mas quase nunca, a Geografia procurou compreender quais são as

atitudes, os comportamentos que nos impulsionam.

O ambiente em que vivemos, a cultura na qual crescemos transformam valores

em atitudes (TUAN, 1972). Mas há também um componente de intencionalidade que o

autor renega. É aí que moram muitas das experiências, que são parte da intuição

essencial.

Husserl (1988) identifica a intencionalidade como fundamental ao processo cognoscente: toda consciência é consciência de algo. Assim, ela não é uma substância, mas uma atividade constituída por atos. Essa intencionalidade se refere à intuição originariamente doadora que o sujeito cognoscente direciona ao objeto. (MARANDOLA JR, 2008b, p.78)

O geógrafo humanista é em campo. Ele está-no-mundo, desde que acorda até o

próximo sono, ele experencia ativamente – quando se aventura, se arrisca, se coloca à

novidade – e passivamente – quando se submete aos estímulos do mundo que o cerca.

O cientista deve se compreender como um Ser que está-no-mundo. Não como

um observador externo que relata as dinâmicas dos objetos de estudo. Só assim será

possível compreender o papel da experiência:

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Primordialmente considero que na prática do intelectual humanista, ele ou ela precisa ter uma firme compreensão das condições socioeconômicas e intelectuais que promovem o sabor da vida. Com este pano de fundo, o estudioso está em condição de examinar a experiência sistematicamente, começando talvez de sua própria, e então seguindo para as densas vidas de outras pessoas, em outros lugares e em outros tempos (TUAN, 2001, p. 45).

Fica claro que é fundamental estar-no-mundo. Se expor, interagir, esperar,

deixar fluir. Portanto, conhecermos a forma como manifestamos e construímos as

atitudes, valores e sentidos é fundamental para o trabalho de campo e, na última

consequência, a pesquisa em Geografia humanista. O desafio então é dar sentido àquilo

que o próprio professor-pesquisador experiencia. A Geografia nos aproxima do sentido

da existência e é também, um processo de conhecimento do mundo, suas paisagens,

cidades, campo, mas é também a busca pelo autoconhecimento. E, sobretudo, a

combinação destas buscas.

Neste sentido propomos um projeto de extensão que funciona em via de mão

dupla: a universidade contribuindo diretamente com a comunidade na qual se insere e a

comunidade colaborando com a construção do saber científico, alinhados ao Plano

Nacional de Extensão (PNE) e a Política de Extensão da UFVJM que tem, entre seus

princípios o reconhecimento de que “A extensão universitária permite à universidade

ver-se não como instituição proprietária de um saber pronto e acabado, que vai ser

oferecido à sociedade, mas como parte desta e, portanto, sensível a seus problemas, suas

prioridades e demandas, tornando-se uma universidade cidadã”.

A partir do levantamento dos conteúdos de geografia ensinados nos ensinos

fundamental II e médio das escolas das redes públicas estadual e municipal em

Diamantina, pretendemos criar roteiros que permitam a boa prática de campo,

complementando e ampliando os horizontes do ensino de geografia em sala de aula,

criando uma consciência cidadã, valorizando frente à sociedade os espaços públicos e o

ambiente diamantinense e, ainda, possibilitando aos nossos alunos o contato com as

práticas de ensino e vivência dos conteúdos de diversas disciplinas ligadas à educação,

meio ambiente, natureza e sociedade. Assim, promoveremos ações de educação

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ambiental, de consciência patrimonial, de valorização do lugar e da experiência por

meio destes trabalhos de campo.

Devemos ainda, considerar que crianças e adolescentes são multiplicadores

sociais. Ou seja, à medida que as boas práticas de campo e suas consequências forem se

sacramentando enquanto cotidiano, elas tendem a multiplicar as práticas em seu

ambiente familiar e círculo ampliado de amizade.

Cabe ressaltar que, para além da grande relevância histórico-cultural que a fez

reconhecida como Patrimônio da Humanidade no ano de 2009, Diamantina está ainda

localizada em uma região de grande variedade e beleza cênica, paisagística, ambiental e

cultural. O domínio do cerrado, sua continentalidade somada à altitude e as rochas

proterozóicas do Espinhaço (também reserva da biosfera pela Unesco em 2005) fazem

do entorno da cidade um sítio único de possibilidades de compreensão de conceitos

científicos e, sobretudo, conscientização dos recursos e dos papéis sociais da

comunidade em interação com a natureza

A BUSCA PELO SENTIDO DE LUGAR

O cerne da Geografia está no estudo das manifestações espaciais que se revelam

a partir da relação homem-meio, inseparáveis em suas essências. Tuan (1967) considera

ainda que a tradição geográfica estudou com frequência as marcas que o homem deixa

no ambiente (especialmente impactos negativos), e até as impressões que o ambiente

imputa aos homens, mas quase nunca, a Geografia procurou compreender quais são as

atitudes, os comportamentos que nos impulsionam.

O ambiente em que vivemos, a cultura na qual crescemos transformam valores

em atitudes (TUAN, 1972). Mas há também um componente de intencionalidade que o

autor renega. É aí que moram muitas das experiências, que são parte da intuição

essencial.

Husserl (1988) identifica a intencionalidade como fundamental ao processo cognoscente: toda consciência é consciência de algo. Assim, ela não é uma substância, mas uma atividade constituída por atos. Essa intencionalidade se

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refere à intuição originariamente doadora que o sujeito cognoscente direciona ao objeto. (MARANDOLA JR, 2008b, p.78)

O geógrafo humanista é em campo. Ele está-no-mundo, desde que acorda até o

próximo sono, ele experencia ativamente – quando se aventura, se arrisca, se coloca à

novidade – e passivamente – quando se submete aos estímulos do mundo que o cerca.

O cientista deve se compreender como um Ser que está-no-mundo. Não como

um observador externo que relata as dinâmicas dos objetos de estudo. Só assim será

possível compreender o papel da experiência:

Primordialmente considero que na prática do intelectual humanista, ele ou ela precisa ter uma firme compreensão das condições socioeconômicas e intelectuais que promovem o sabor da vida. Com este pano de fundo, o estudioso está em condição de examinar a experiência sistematicamente, começando talvez de sua própria, e então seguindo para as densas vidas de outras pessoas, em outros lugares e em outros tempos (TUAN, 2001, p. 45).

Fica claro que é fundamental estar-no-mundo. Se expor, interagir, esperar,

deixar fluir. Portanto, conhecermos a forma como manifestamos e construímos as

atitudes, valores e sentidos é fundamental para o trabalho de campo e, na última

consequência, a pesquisa em Geografia humanista.

Tuan (2001, p.41) comenta que ao inaugurar suas aulas do curso “Environment

and the Quality of life”, sempre dizia aos seus alunos “Fiquem tranquilos porque todos

vocês já cumpriram pelo menos um dos requisitos básicos deste curso, que é o mínimo

de dezoito anos de trabalho de campo”.

O desafio então é dar sentido àquilo que o próprio pesquisador experiência. A

Geografia nos aproxima do sentido da existência e é também, um processo de

conhecimento do mundo, suas paisagens, cidades, campo, mas é também a busca pelo

autoconhecimento. E, sobretudo, a combinação destas buscas.

Neste sentido propomos um trabalho de campo em que o caminhar com

intencionalidade e com a suspensão momentânea, na “semiconsciência” de Relph. “o

procedimento metodológico tem em sua essência a fluidez sujeito-objeto e o

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envolvimento do pesquisador no processo e no resultado da pesquisa” (MARANDOLA

JR, 2008a, p. 105).

BREVE DESPEDIDA

Este trabalho pretendeu discutir, como que pensar em voz alta, as questões que envolvem o trabalho de campo na geografia, assim como suas possíveis relações no ensino básico, procurando re-valorizar esta ferramenta de aprendizagem. O projeto de extensão encontra-se em fase de qualificação da equipe de estudantes para a aplicação de uma geografia humanista, alinhada às necessidades dos estudantes, valorizando seu cotidiano e serão aplicados os trabalhos de campo no segundo semestre deste ano.

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