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Análise do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá de Jorge Amado Madalena Fernandes AEQB – 2014/15

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Page 1: Gato malhado

Análise do Gato Malhado e da Andorinha

Sinhá

de Jorge AmadoMadalena Fernandes

AEQB – 2014/15

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O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá (1979)

É uma história de amor que Jorge Amado escreveu para presentear o seu filho, João Jorge, no seu primeiro aniversário, sem intenções iniciais de publicação.

A obra só foi conhecida por João Jorge, quando este já era adulto (1976). Ao encontrá-la entre guardados, e, após lê-la, decidiu datilografá-la e procurar o artista plástico Carybé para ilustrar as folhas.

Somente depois desse trabalho pronto é que Jorge Amado mudou de ideia e decidiu publicá-la, no mesmo ano.

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Autor

título

subtítulo

Page 4: Gato malhado

Subtítulo: “Uma história de amor”

Este subtítulo da obra faz-nos imaginar um romance entre as personagens principais.

Mas o que vamos encontrar é um amor impossível entre um gato e uma ave, inimigos por natureza.

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RESUMO

A história fala de um gato feio, de olhos pardos, o mais odiado no parque, e também a maior vítima de murmurações. Era

acusado de ter morto a mais linda pomba rola do parque e de muitos mais crimes, mas que, na verdade , não tinham sido

cometidos por ele, mas sim pela cobra-cascavel. O gato apenas a expulsava do parque.

Todos os animais do parque fugiram quando o viram, todos excepto um. A Andorinha Sinhá ficava no ramo de uma árvore

a observá-lo. Todos estranhavam como era possível um gato falar com uma andorinha, pois, durante gerações ,os gatos

sempre tinham sido inimigos das andorinhas.

Ao longo do tempo foram-se conhecendo, até que passaram a encontrar-se todos os dias naquela árvore. Os pais da

Andorinha, preocupados com a segurança da filha, questionavam-se sobre o que fazer. Felizmente para os pais, tinha

chegado a estação do Verão e teriam de migrar. O gato e a andorinha encontraram-se no último dia de despedida. Ele

disse-lhe que, se não fosse um gato, pedir-lhe-ia para casar com ele, e, naquele momento, ela toca-lhe com a asa

esquerda e ele ouve o seu coração a bater.

No outro dia, a andorinha vem visitá-lo e conta-lhe que irá casar com o Rouxinol. O Gato, triste, vagabundeia pelo parque.

No dia do casamento da Andorinha, quando ela sai da igreja a caminho do copo de água, retira do seu buquê uma pétala

de rosa, e dá-a ao gato. Este, triste e reconhecendo que a sua relação com a Andorinha não terá futuro, segue o caminho

da casa da cobra-cascavel. A Andorinha, ao ver o rumo do Gato, deita uma lágrima. O gato desaparece para sempre com

a pétala, junto ao seu coração.

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“…O Gato tomou a direção dos estreitos caminhos que conduzem à encruzilhada do fim do mundo. Quando passou em frente à casa da festa, viu os noivos que saíam. A Andorinha também o viu e adivinhou o rumo de seus passos. Qualquer coisa rolou então dos céus sobre a pétala que. o Gato levava na mão. Sobre o vermelho de sangue da pétala de rosa brilhou a luz da lágrima da Andorinha Sinhá. Iluminou o solitário caminho do Gato Malhado, na noite sem estrelas.”Com esta história, a Manhã recebe a tão merecida rosa azul prometida pelo tempo.

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Nesta obra existem muitas características da fábula.

O cenário é um mundo dos animais, o parque, um lugar onde o tempo está dividido em estações do ano. Cada personagem emite a sua voz na narrativa e representa uma voz social. O seu número de personagens é reduzido e há uma pequena complexidade da acção.A fábula impõe uma escolha que a Andorinha terá de fazer no fim: ‘o amor do Rouxinol ou o amor do Gato?’ Contudo, esta escolha já estava predefinida pelas outras personagens.

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Personagens principaisGato Malhado

Olhos pardos, feios e maus,riso malvado, corpanzil forte eágil, de riscas amarelas enegras. Gato de meia-idade,egoísta e orgulhoso, solitário,mal-humorado, ingrato, caladoe bastante convencido. Eramuito mal visto, porque quasenão conversava com ninguém.Sentia falta de afecto e decarinho.

Andorinha SinháMuito jovem e bela, risonha, alegre,aventureira, curiosa. “Livre de todasas preocupações, inocente”, gentil econversadora, mantinha boasrelações com todos. Era “terna eobediente, amava os pais (…) bemcomportada, amável e bondosa.” AAndorinha, quando conheceu oGato, viu-o como um desafio: ouvirafalar muito mal dele, fora atéproibida de chegar perto dele, mas“o fruto proibido é o maisapetecido”. O narrador acha-a“louquinha” por ela se dar com oinimigo.

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As personagens

• Cobra Cascavel

Figurante. É um animal que, por si só, tem uma carga simbólica poderosa e importante. É o animal mais temível de todos. Morava fora do parque e foi afugentada pelo Gato.

• Rouxinol

Personagem secundária. É belo, gentil, raça volátil. É o professor de canto da Andorinha e pretendente. É com ele que a Andorinha vai casar. Ele desperta ciúmes no Gato, porque é uma ave.

• Velha Coruja

Figurante. Sabia a vida de todos no parque e é com ela que o Gato falava mais.

• Reverendo Papagaio

Personagem secundária. Tinha passado algum tempo num seminário e dava aulas de religião. Por debaixo da capa religiosa, é um hipócrita, cobarde e devasso, que fazia propostas indecentes ao público feminino. É o único que falava "a língua dos homens.

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• Galo Don Juan de Rhode Island

Personagem secundária. O Galo, polígamo, “maometano”, devasso e orgulhoso . Foi o juiz do casamento da Andorinha e do Rouxinol.

• Pata Pepita e o Pato Pernóstico

São figurantes. Ajudam a compor o ambiente no que diz respeito à vida social do parque. Uma das frases importante para ilustrar a condenação do amor do Gato e da Andorinha vista pelas personagens é dita pela Pata: “pata com pato, [...] andorinha com ave, gata com gato”.

• Pombo-Correio

Personagem secundária. Fazia longas viagens, levando a correspondências do parque. Tinha boa índole, mas era visto como um tolo porque a Pomba-Correio o traia com o Papagaio.

• Vaca Mocha

Personagem secundária. É vista como uma figura com muito prestígio, respeitada por todos, pois era descendente de um touro argentino. É tranquila, circunspecta, um pouco solene e irónica. No entanto, possuía um temperamento vingativo e um humor variável. Sua língua é uma mistura de português com espanhol para dar um certo prestígio, mas a sua língua é o português.

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• A Manhã é vista como uma figurante. É uma funcionária preguiçosa , fanática por uma boa história, distraída, sonhadora. Ela apaga as estrelas e acende o Sol.

• O Tempo, também figurante, é o Mestre de tudo e de todos.

• Sapo Cururu

Personagem secundária. Companheiro do Vento. O Sapo é quem conta a história da obra ao narrador. Ele é visto como um ilustre, um intelectual, um académico, que vai denunciar para o leitor que o Gato plagiou sonetos.

• Vento

Quem originou a história do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá foi o Vento. É um figurante na história. É um velho atrevido, ousado, aventureiro, alegre, dançarino de fama. Ele soube desta história de amor através das suas aventuras e resolve contar à Manhã para cortejá-la.

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A SIMBOLOGIA DAS ESTAÇÕES

O enredo dessa narrativa desenvolve-se longo das 4 estações do ano.

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“ (…)Era, no entanto, um belo espetáculo, a vida em torno agitada ou mansa.

Botões nasciam perfumados e desabrochavam em flores radiosas, pássaros voavam entre trinados alegres, pombos arrulhavam amor, ninhadas de pintos recém-nascidos

seguiam o cacarejar de orgulhosa galinha, o grande Pato Negro fazia a corte à linda Pata Branca, banhando-a na água clara do lago. Folgazões, os cachorros divertiam-se saltando sobre a grama.(…)

— Tu me achas feio? De verdade?

— Feiíssimo— reafirmou lá de longe a Andorinha.

— Não acredito. Só uma criatura cega poderia me achar feio.

— Até logo, seu feio(…)

Foi assim, com esse diálogo um pouco idiota, que começou toda a história do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá. Em verdade a história, pelo menos no que se refere à Andorinha, começara antes.(…)”

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A primaveraAo longo das estações do ano, partindo da primavera,nasce e desenvolve-se um amor puro e sem barreiras para os amantes, mas sofrido pelos preconceitos, não somente por serem espécies diferentes, como também pela má fama do Gato Malhado - quase todos do Parque diziam ser responsável por inúmeros crimes não solucionados.

É o tempo de felicidade para as personagens e o crescendo da intimidade no seu relacionamento - é a estação do amor.

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“Este é um capítulo curto porque o Verão passou muito depressa com o seu sol ardente e suas noites plenas de estrelas. É sempre rápido o tempo da felicidade. O Tempo é um ser difícil. Quando queremos que ele se prolongue, seja demorado e lento, ele foge às pressas, nem se sente o correr das horas. Quando queremos que ele voe mais depressa que o pensamento, porque sofremos, porque vivemos um tempo mau, ele escoa moroso, longo é o desfilar das horas. Curto foi o tempo do Verão para o Gato e a Andorinha. Encheram-no com passeios vagabundos, com longas conversas à sombra das árvores, com sorrisos, com palavras murmuradas, com olhares tímidos, porém expressivos, com alguns arrufos também... “

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O verãoO capítulo do verão é curtíssimo; uma única página curta, e tem uma razão clara: o verão dura pouco, assim como a felicidade dos amantes.

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• “…Não obstante, naquele primeiro dia de Outono encontrou a Andorinha. Ela estava séria, não sorria, não exibia a leve alegria de sempre, aquele ar de disponibilidade que era o seu maior encanto. Também o Gato Malhado não conseguia esconder a tristeza, pesavam-lhe no coração as palavras da Coruja. Andaram em silêncio, percorrendo lugares onde haviam ido na Primavera e no Verão. Uma ou outra vez trocavam palavras soltas, mas tinham ambos o ar de quem quer evitar um assunto que se impõe. Chegou a hora da Andorinha partir. O Gato entregou-lhe o soneto. Ela voou, muitas vezes voltou a gentil cabecinha para vê-lo, tinha lágrimas nos olhos. No dia seguinte — ai, foi o dia mais longo do Outono — ela não apareceu…”

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O outonoO capítulo do outono é uma análise feita pelo próprio Gato Malhado sobre os últimos acontecimentos.

Dá-se o início do fim do romance com uma carta escrita pela Andorinha Sinhá e entregue pelo Pombo-Correio, na qual ela jurava nunca mais o ver.

Esta estação simboliza o princípio do fim - o tempo da partida e da separação. Para os protagonistas da história é um tempo triste e cheio de sofrimento.

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“… Apenas direi que era maviosa a orquestra dos pássaros e que o seu melodioso rumor chegava até o Gato Malhado, solitário no parque. Já não havia futuro com que alimentar seu sonho de amor impossível. Noite sem estrelas, ada festa do casamento da Andorinha Sinhá. Apenas uma pétala vermelha sobre o coração, uma gota de sangue. A noite sem estrelas A música doía-lhe no coração. Canção nupcial para os noivos; para o Gato Malhado, canto funerário. Tomou da pétala de rosa, olhou mais uma vez o parque coberto pelo Inverno, saiu andando devagar…”

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O invernoO capítulo da estação do inverno é curto e conta o casamento da Andorinha Sinhá com o Rouxinol.

O Inverno é caracterizado pela separação dos amantes – a tristeza, de certo modo, acompanha-os.

O último capítulo relata o fim do Gato Malhado que tomou a direção dos estreitos caminhos que conduzem à encruzilhada do mundo, a última lágrima derramada pela Andorinha Sinhá e a rosa azul que o Tempo deu para a Manhã.

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ESPAÇO SOCIAL

Em termos de espaço social, diríamos que o Gato é umvagabundo, que vive no parque, livre de impedimentos porquetodos o temiam. Não se preocupa com o que pensam dele e nãotem que ser simpático só por ser – ele não é um hipócrita.

A Andorinha é o seu oposto, mas não é hipócrita. Fala com todose dá-se com todos. É preciso não esquecer que ela é ainda muitojovem e ingénua.

Os dois vivem no seio de uma comunidade, onde há tradições eleis seculares que o tempo não consegue apagar, enquanto asmentalidades não estiverem disponíveis para ultrapassar certospreconceitos.

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ESPAÇO PSICOLÓGICO

Quanto ao nível psicológico, o Gato Malhado sofre uma experiência que lhe abrir as portas para as recordações, a memória de uma paixão idealizada, romântica e sofrida. Esse sofrimento fá-lo crescer no seu interior.

Tudo se resume nas seguintes frases da obra:

“É sempre rápido o tempo da felicidade. O Tempo é um ser difícil. Quando queremos que ele se prolongue, seja demorado e lento, ele foge às pressas, nem se sente o correr das horas. Quando queremos que ele voe mais depressa que o pensamento, porque sofremos, porque vivemos um tempo mau, ele escoa moroso, longo é o desfilar das horas.”

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O narradorO narrador não participa da história. Por isso, a sua narração é feita na 3ª pessoa.“A história que a Manhã contou ao Tempo para ganhar a rosa azul foi a do Gato Malhado e a Andorinha Sinhá; [...] Eu a transcrevo aqui por tê-la ouvido do ilustre Sapo Cururu [que contou o caso] para provar a irresponsabilidade do amigo [...].”É um narrador que assume alguma liberdade narrativa, introduzindo alguns apartes na narração (os Parêntesis), para dar informações ou fazer comentários – é um narrador subjetivo.“Devo dizer, para ser exato, que o Gato Malhado não tomava conhecimento do mal que falavam dele. Se o sabia, não se importava, mas é possível que nem soubesse que era tão mal-visto, pois quase não conversava com ninguém, a não ser, em certas ocasiões, com a Velha Coruja.”

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O narrador (cont.)É um narrador omnisciente.

“Assim, quando deitou a gentil cabecinha sobre a pétala de rosa que lhe servia de travesseiro, havia decidido continuar a conversa no outro dia: Quanto ao Gato Malhado, também ele pensou na arisca Andorinha Sinhá, naquela primeira noite da Primavera, ao repousar a cabeça no travesseiro.”

É ainda inovador quando decide alterar a estrutura da narrativa (Capítulo inicial, atrasado e fora do lugar) .

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A MetáforaPode-se dizer que o livro trata, metaforicamente, das diversas relações e situações de cunho sociocultural existentes:

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A moralA moral deste livro é que o mundo só vai avançar e ser melhor quando as pessoas aceitarem as suas diferenças, sejam elas raciais, sociais, educativas…

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“Continuação da estação da Primavera

Em torno era a Primavera, o sonho de um poeta. O Gato Malhado teve vontade de dizer algo semelhante à Andorinha Sinhá. Sentou-se no chão, alisou os bigodes, apenas perguntou:

— Tu não fugiste com os outros?

— Eu? Fugir? Não tenho medo de ti, os outros são todos uns cobardes. Tu não me podes alcançar, não tens asas para voar, és um gatarrão ainda mais tolo do que feio. E olha lá que és feio...

— Feio, eu?

O Gato Malhado riu, riso espantoso de quem se havia desacostumado de rir, e desta vez até as árvores mais corajosas, como o pau-brasil — um gigante —, estremeceram. "Ela o insultou e ele a vai matar", pensou o velho Cão Dinamarquês…

— Tu me achas feio? De verdade?

— Feiíssimo — reafirmou lá de longe a Andorinha.

— Não acredito. Só uma criatura cega poderia me achar feio.

— Feio e convencido! A conversa não continuou porque os pais da Andorinha Sinhá, o amor pela filha superando o medo, chegaram voando e a levaram consigo, ralhando com ela, pregando-lhe um sermão daqueles. Mas a Andorinha, enquanto a retiravam, ainda gritou para o Gato:

— Até logo, seu feio …

Foi assim, com esse diálogo um pouco idiota, que começou toda a história do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá.”

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Atividade

1. Classifica o gato e a andorinha quanto ao relevo.

• São as personagens principais.

2. O gato mostra-se espantado com a atitude da andorinha. Porquê?

• Porque ela lhe disse que não tinha medo dele e que ele era feio.

3. Que atitudes tomaram os seus pais, quando os viram?

• Levaram-na e ralharam com ela.

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4. Explica de que modo as 4 estações do ano estão relacionadas com as 4 fases da história de amor do Gato e da Andorinha?

A primavera simboliza o nascer do amor. – Eles conhecem-se e apaixonam-se.

O verão é o tempo da felicidade. – Eles estão tão felizes e apaixonados que nem veem o tempo passar.

O outono é o tempo da chuva que remete para a tristeza e o sofrimento dos dois amantes.

O inverno é a morte da natureza , logo o fim da relação deles.

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5. Explica por palavras tuas o significado das seguintes expressões:

a) “Em torno era a Primavera, o sonho de um poeta.”

A primavera é considerada a estação mais propícia à escrita e à produção literária, logo a sua chegada constitui “o sonho de um poeta.”

b) “O Gato Malhado riu, riso espantoso de quem se havia desacostumado de rir …”

Foi um riso forçado, sarcástico, como se não estivesse habituado a fazê-lo.