francisco cândido xavier - andré luiz - libertação (06)

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    ColeoA Vida no Mundo Espiritual

    01 - Nosso Lar02 - Os Mensageiros

    03 - Missionrios da Luz04 - Obreiros da Vida Eterna05 - No Mundo Maior06 - Libertao07 - Entre a Terra e o Cu08 - Nos Domnios da Mediunidade09 - Ao e Reao10 - Evoluo em Dois Mundos

    11 - Mecanismos da Mediunidade12 - Sexo e Destino13 - E a Vida Continua...

    http://livroespirita.4shared.com/

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    ndiceAnte as portas livres ..................................................................... 41 Ouvindo elucidaes .............................................................. 102 A palestra do Instrutor............................................................ 233 Entendimento ......................................................................... 354 Numa cidade estranha ............................................................ 49

    5 Operaes seletivas ................................................................ 626 Observaes e novidades........................................................ 767 Quadro doloroso..................................................................... 878 Inesperada intercesso............................................................ 989 Perseguidores invisveis ....................................................... 11010 Em aprendizado.................................................................. 12111 Valiosa experincia ............................................................ 134

    12 Misso de amor .................................................................. 14713 Convocao familiar .......................................................... 16214 Singular episdio................................................................ 17615 Finalmente, o socorro ......................................................... 18916 Encantamento pernicioso.................................................... 20117 Assistncia fraternal ........................................................... 21218 Palavras de benfeitora ........................................................ 22419 Precioso entendimento ....................................................... 23520 Reencontro ......................................................................... 247

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    Ante as portas livresAnte as portas livres de acesso ao trabalho cristo e ao conhe-

    cimento salutar que Andr Luiz vai desvelando, recordamos pra-zerosamente a antiga lenda egpcia do peixinho vermelho.

    No centro de formoso jardim, havia grande lago, adornadode ladrilhos azul-turquesa.

    Alimentado por diminuto canal de pedra, escoava suas -guas, do outro lado, atravs de grade muito estreita.

    Nesse reduto acolhedor, vivia toda uma comunidade de pei-xes, a se refestelarem, ndios e satisfeitos, em complicadas locas,frescas e sombrias. Elegeram um dos concidados de barbatanaspara os encargos de rei e ali viviam, plenamente despreocupados,entre a gula e a preguia.

    Junto deles, porm, havia um peixinho vermelho, menospre-zado de todos.

    No conseguia pescar a mais leve larva, nem refugiar-se nosnichos barrentos.

    Os outros, vorazes e gordalhudos, arrebatavam para si todasas formas larvrias e ocupavam, displicentes, todos os lugaresconsagrados ao descanso.

    O peixinho vermelho que nadasse e sofresse. Por isso mesmoera visto em correria constante, perseguido pela cancula ouatormentado de fome.

    No encontrando pouso no vastssimo domiclio, o pobrezi-nho no dispunha de tempo para muito lazer e comeou a estudarcom bastante interesse.

    Fez o inventrio de todos os ladrilhos que enfeitavam as bor-

    das do poo, arrolou todos os buracos nele existentes e sabia,

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    com preciso, onde se reuniria maior massa de lama por ocasio

    de aguaceiros.Depois de muito tempo, custa de longas perquiries, en-

    controu a grade do escoadouro.

    frente da imprevista oportunidade de aventura benfica, re-fletiu consigo:

    No ser melhor pesquisar a vida e conhecer outros ru-mos?

    Optou pela mudana.

    Apesar de macrrimo pela absteno completa de qualquerconforto, perdeu vrias escamas, com grande sofrimento, a fim deatravessar a passagem estreitssima.

    Pronunciando votos renovadores, avanou, otimista, pelo re-go dgua, encantado com as novas paisagens, ricas de flores e

    sol que o defrontavam, e seguiu, embriagado de esperana ...Em breve, alcanou grande rio e fez inmeros conhecimen-tos.

    Encontrou peixes de muitas famlias diferentes, que com elesimpatizaram, instruindo-o quanto aos percalos da marcha edescortinando-lhe mais fcil roteiro.

    Embevecido, contemplou nas margens homens e animais,

    embarcaes e pontes, palcios e veculos, cabanas e arvoredo.Habituado com o pouco, vivia com extrema simplicidade, ja-

    mais perdendo a leveza e a agilidade naturais.

    Conseguiu, desse modo, atingir o oceano, brio de novidadee sedento de estudo.

    De incio, porm, fascinado pela paixo de observar, apro-ximou-se de uma baleia para quem toda a gua do lago em que

    vivera no seria mais que diminuta rao; impressionado com o

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    espetculo, abeirou-se dela mais que devia e foi tragado com os

    elementos que lhe constituam a primeira refeio diria.Em apuros, o peixinho aflito orou ao Deus dos Peixes, ro-

    gando proteo no bojo do monstro e, no obstante as trevas emque pedia salvamento, sua prece foi ouvida, porque o valentecetceo comeou a soluar e vomitou, restituindo-o s correntesmarinhas.

    O pequeno viajante, agradecido e feliz, procurou companhias

    simpticas e aprendeu a evitar os perigos e tentaes.Plenamente transformado em suas concepes do mundo,

    passou a reparar as infinitas riquezas da vida. Encontrou plantasluminosas, animais estranhos, estrelas mveis e flores diferentesno seio das guas. Sobretudo, descobriu a existncia de muitospeixinhos, estudiosos e delgados tanto quanto ele, junto dos quaisse sentia maravilhosamente feliz.

    Vivia, agora, sorridente e calmo, no Palcio de Coral que e-legera, com centenas de amigos, para residncia ditosa, quando,ao se referir ao seu comeo laborioso, veio a saber que somenteno mar as criaturas aquticas dispunham de mais slida garanti-a, de vez que, quando o estio se fizesse mais arrasador, as guasde outra altitude continuariam a correr para o oceano.

    O peixinho pensou, pensou... e sentindo imensa compaixo

    daqueles com quem convivera na infncia, deliberou consagrar-se obra do progresso e salvao deles.

    No seria justo regressar e anunciar-lhes a verdade? No se-ria nobre ampar-los, prestando-lhes a tempo valiosas informa-es? No hesitou.

    Fortalecido pela generosidade de irmos benfeitores que comele viviam no Palcio de Coral, empreendeu comprida viagem de

    volta.

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    Tornou ao rio, do rio dirigiu-se aos regatos e dos regatos se

    encaminhou para os canaizinhos que o conduziram ao primitivolar.

    Esbelto e satisfeito como sempre, pela vida de estudo e servi-o a que se devotava, varou a grade e procurou, ansiosamente, osvelhos companheiros.

    Estimulado pela proeza de amor que efetuava, sups que oseu regresso causasse surpresa e entusiasmo gerais. Certo, a

    coletividade inteira lhe celebraria o feito, mas depressa verificouque ningum se mexia.

    Todos os peixes continuavam pesados e ociosos, repimpadosnos mesmos ninhos lodacentos, protegidos por flores de ltus, deonde saam apenas para disputar larvas, moscas ou minhocasdesprezveis.

    Gritou que voltara a casa, mas no houve quem lhe prestasse

    ateno, porquanto ningum, ali, havia dado pela ausncia dele. Ridiculizado, procurou, ento, o rei de guelras enormes e

    comunicou-lhe a reveladora aventura.

    O soberano, algo entorpecido pela mania de grandeza, reu-niu o povo e permitiu que o mensageiro se explicasse.

    O benfeitor desprezado, valendo-se do ensejo, esclareceu,com nfase, que havia outro mundo lquido, glorioso e sem fim. Aquele poo era uma insignificncia que podia desaparecer, demomento para outro. Alm do escoadouro prximo desdobravam-se outra vida e outra experincia. L fora, corriam regatos orna-dos de flores, rios caudalosos repletos de seres diferentes e, por fim, o mar, onde a vida aparece cada vez mais rica e mais sur-preendente.

    Descreveu o servio de tainhas e salmes, de trutas e esqua-

    los. Deu notcias do peixe-lua, do peixe-coelho e do galo-do-mar.Contou que vira o cu repleto de astros sublimes e que descobrira

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    rvores gigantescas, barcos imensos, cidades praieiras, monstros

    temveis, jardins submersos, estrelas do oceano e ofereceu-separa conduzi-los ao Palcio de Coral, onde viveriam todos, prs- peros e tranqilos. Finalmente os informou de que semelhante felicidade, porm, tinha igualmente seu preo. Deveriam todosemagrecer, convenientemente, abstendo-se de devorar tanta larvae tanto verme nas locas escuras e aprendendo a trabalhar e estu-dar tanto quanto era necessrio venturosa jornada.

    Assim que terminou, gargalhadas estridentes coroaram-lhe apreleo.

    Ningum acreditou nele.

    Alguns oradores tomaram a palavra e afirmaram, solenes,que o peixinho vermelho delirava, que outra vida alm do pooera francamente impossvel, que aquela histria de riachos, rios eoceanos era mera fantasia de crebro demente e alguns chegaram

    a declarar que falavam em nome do Deus dos Peixes, que traziaos olhos voltados para eles unicamente.

    O soberano da comunidade, para melhor ironizar o peixinho,dirigiu-se em companhia dele at grade de escoamento e, ten-tando, de longe, a travessia, exclamou, borbulhante:

    No vs que no cabe aqui nem uma s de minhas barba-tanas? Grande tolo! vai-te daqui! No nos perturbes o bem-

    estar... Nosso lago o centro do Universo... Ningum possui vidaigual nossa!...

    Expulso a golpes de sarcasmo, o peixinho realizou a viagemde retorno e instalou-se, em definitivo, no Palcio de Coral,aguardando o tempo.

    Depois de alguns anos, apareceu pavorosa e devastadora se-ca.

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    As guas desceram de nvel. E o poo onde viviam os peixes

    pachorrentos e vaidosos esvaziou-se, compelindo a comunidadeinteira a perecer, atolada na lama...

    - 0 -

    O esforo de Andr Luis, buscando acender luz nas trevas, semelhante misso do peixinho vermelho.

    Encantado com as descobertas do caminho infinito, realizadas

    depois de muitos conflitos no sofrimento, volve aos recncavos daCrosta Terrestre, anunciando aos antigos companheiros que, almdos cubculos em que se movimentam, resplandece outra vida,mais intensa e mais bela, exigindo, porm, acurado aprimoramen-to individual para a travessia da estreita passagem de acesso sclaridades da sublimao.

    Fala, informa, prepara, esclarece ...

    H, contudo, muitos peixes humanos que sorriem e passam,entre a mordacidade e a indiferena, procurando locas passageirasou pleiteando larvas temporrias.

    Esperam um paraso gratuito com milagrosos deslumbramen-tos depois da morte do corpo.

    Mas, sem Andr Luiz e sem ns, humildes servidores de boavontade, para todos os caminheiros da vida humana pronunciou o

    Pastor Divino as indelveis palavras: A cada um ser dado deacordo com as suas obras.

    EMMANUEL

    Pedro Leopoldo, 22 de fevereiro de 1949.

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    1Ouvindo elucidaes

    No vasto salo do educandrio que nos reunia, o MinistroFlcus, fixando em ns o olhar saturado de doce magnetismo,convidava-nos a preciosas meditaes.

    Congregamo-nos, ali, somente algumas dezenas de compa-

    nheiros, de modo a registrar-lhe as instrues edificantes. E, semdvida, a preleo revestia-se de profundo interesse.

    Podamos perguntar vontade, dentro do assunto, e guardartodas as informaes compatveis com o novo trabalho que noscumpria desempenhar.

    At ento, ouvira comentrios alusivos a colnias purgatori-ais, perfeitamente organizadas para o trabalho expiatrio a que se

    destinam, arrebanhando milhares de criaturas arraigadas no mal;entretanto, agora, o Instrutor Gbio, que se mantinha silencioso,em nossa companhia, concedera-nos permisso de acompanh-loa enorme centro dessa espcie.

    Interessados na palavra fluente e primorosa do orador, segu-amos o curso das elucidaes com justificvel expectao dealuno que no deseja perder um til do ensinamento, observando

    que a serenidade e a ateno transpareciam no rosto de todos osaprendizes, considerando-se que todos, no recinto, ramos candi-datos ao servio de socorro aos irmos ignorantes, atormentadosnas sombras...

    Senhoreando-nos o esprito, o Ministro prosseguia, satisfeito:

    Os superiores que se disponham a trabalhar em benefciodos inferiores, em ao persistente e substancial, no lhes podem

    utilizar as armas, sob pena de se precipitarem no baixo nvel

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    deles. A severidade pertencer ao que instrui, mas o amor o

    companheiro daquele que serve.Sabemos que a educao, na maioria das vezes, parte da pe-

    riferia para o centro; contudo, a renovao, traduzindo aperfeio-amento real, movimenta-se em sentido inverso. Ambos os impul-sos, todavia, so alimentados e controlados pelos poderes quasedesconhecidos da mente.

    O esprito humano lida com a fora mental, tanto quanto

    maneja a eletricidade, com a diferena, porm, de que se j apren-de a gastar a segunda, no transformismo incessante da Terra, malconhece a existncia da primeira, que nos preside a todos os atosda vida.

    A rigor, portanto, no temos crculos infernais, de acordocom os figurinos da antiga teologia, onde se mostram indefinida-mente gnios satnicos de todas as pocas e, sim, esferas obscuras

    em que se agregam conscincias embotadas na ignorncia, crista-lizadas no cio reprovvel ou confundidas no eclipse temporrioda razo. Desesperadas e insubmissas, criam zonas de tormentosreparadores. Semelhantes criaturas, no entanto, no se regeneram fora de palavras.

    Necessitam de amparo eficiente que lhes modifique o tomvibratrio, elevando-lhes o modo de sentir e pensar.

    Eminentes pensadores do mundo traam diretrizes salva-o das almas; mas somos de parecer que possumos suficientenmero de roteiros nesse sentido, em todos os setores do conhe-cimento terrestre. Reclamamos, na atualidade, quem ajude opensamento do homem na direo do Alto. Empreender o tenta-me, incentivando-se to somente os valores culturais, seria consa-grar a tecnocracia, que procura a simples mecanizao da vida,destruindo-lhe as sementes gloriosas de improvisao, de infinito

    e de eternidade.

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    Grandes polticos e venerveis condutores nunca se ausenta-

    ram do mundo.Passam pela multido, sacudindo-a ou arregimentando-a.

    foroso reconhecer, porm, que a organizao humana, por si s,no atende s exigncias do ser imperecvel.

    Pricles, o estadista que legou seu nome a um sculo, realizaedificante trabalho educativo, junto dos gregos; entretanto, nolhes atenua a belicosidade e os pruridos de hegemonia, sucumbin-

    do ao assdio de aflitivo desgosto.Alexandre, o conquistador, organiza vastssimo imprio, es-

    tabelecendo uma civilizao respeitvel; no entanto, no impedeque os seus generais prossigam em conflitos sanguinolentos,difundindo o saque e a morte.

    Augusto, o Divino, unifica o Imprio Romano em slidos a-licerces, concretizando avanado programa poltico em benefcio

    de todos os povos, mas no consegue banir de Roma o desvariopela dominao a qualquer preo.

    Constantino, o Grande, advogado dos cristos indefesos, o-ferece novo padro de vida ao Planeta; contudo, no modifica asdisposies detestveis de quantos guerreavam em nome de Deus.

    Napoleo, o ditador, impe novos mtodos de progresso ma-terial, em toda a Terra; mas no se furta, ele prprio, s garras da

    tirania, pela simples ganncia da posse.Pasteur, o cientista, defende a sade do corpo humano, devo-

    tando-se, abnegado, ao combate silencioso contra a selva microbi-ana; todavia, no pode evitar que seus contemporneos se destru-am reciprocamente em disputas incompreensveis e cruis.

    Permanecemos diante de um mundo civilizado na superfcie,que reclama no s a presena daqueles que ensinam o bem, mas

    principalmente daqueles que o praticam.

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    Sobre os mananciais da cultura, nos vales da Terra, im-

    prescindvel que desam as torrentes da compaixo do Cu, atra-vs dos montes do amor e da renncia.

    Cristo no brilha apenas pelo ensino sublimado. Resplande-ce na demonstrao. Em companhia dEle, indispensvel man-tenhamos a coragem de amparar e salvar, descendo aos recessosdo abismo.

    No longe de nossa paz relativa, em crculos escuros de de-

    sencanto e desesperao, misturam-se milhes de seres, concla-mando comiserao... Porque no acender piedosa luz, dentro danoite em que se mergulham, desorientados? Porque no semearesperana entre coraes que abdicaram da f em si mesmos?

    frente, pois, de imensas coletividades em dolorosa petiode reajustamento, faz-se inadivel o auxlio restaurador.

    Somos entidades ainda infinitamente humildes e imperfeitas

    para nos candidatarmos, de pronto, condio dos anjos.Comparada grandeza, inabordvel para ns, de milhes de

    sis que obedecem a leis soberanas e divinas, em pleno Universo,a nossa Terra, com todas as esferas de substncia ultrafsica que acircundam, pode ser considerada qual laranja minscula, perante oHimalaia, e ns outros, confrontados com a excelsitude dos Esp-ritos Superiores, que dominam na sabedoria e na santidade, no

    passamos, por enquanto, de bactrias, controladas pelo impulso dafome e pelo magnetismo do amor. Entretanto, guindados a singe-las culminncias da inteligncia, somos micrbios que sonhamcom o crescimento prprio para a eternidade.

    Enquanto o homem, nosso irmo, desintegra assombrado asformaes atmicas, ns outros, distanciados do corpo denso,estudamos essa mesma energia atravs de aspectos que a cinciaterrestre, por agora, mal conseguiria imaginar. Caminheiros,porm, que somos do progresso infinito, principiamos apenas, ele

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    e ns, a sondar a fora mental, que nos condiciona as manifesta-

    es nos mais variados planos da natureza.Encarcerados ainda na lei de retorno, temos efetuado multis-

    seculares recapitulaes, por milnios consecutivos.

    Expressando-nos coletivamente, sabemos hoje que o espritohumano lida com a razo h, precisamente, quarenta mil anos...Todavia, com o mesmo furioso mpeto com que o homem deNeandertal aniquilava o companheiro, a golpes de slex, o homem

    da atualidade, classificada de gloriosa era das grandes potncias,extermina o prprio irmo a tiros de fuzil.

    Os investigadores do raciocnio, ligeiramente tisnados deprincpios religiosos, identificam to somente, nessa anomaliasinistra, a renitncia da imperfeio e da fragilidade da carne,como se a carne fosse permanente individuao diablica, esque-cidos de que a matria mais densa no seno o conjunto das

    vidas inferiores incontveis, em processo de aprimoramento,crescimento e libertao.

    Nos campos da Crosta Planetria, queda-se a inteligncia,qual se fora anestesiada por perigosos narcticos da iluso; noentanto, auxili-la-emos a sentir e reconhecer que o esprito per-manece vibrando em todos os ngulos da existncia.

    Cada espcie de seres, do cristal at o homem, e do homem

    at o anjo, abrange inumerveis famlias de criaturas, operandoem determinada freqncia do Universo. E o amor divino alcana-nos a todos, maneira do Sol que abraa os sbios e os vermes.

    Todavia, quem avana demora-se em ligao com quem selocaliza na esfera prxima.

    O domnio vegetal vale-se do imprio mineral para susten-tar-se e evoluir. Os animais aproveitam os vegetais na obra de

    aprimoramento. Os homens se socorrem de uns e outros paracrescerem mentalmente e prosseguir adiante...

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    Atritam os reinos da vida, conhecidos na Terra, entre si.

    Torturam-se e entredevoram-se, atravs de rudes experin-cias, a fim de que os valores espirituais se desenvolvam e resplan-deam, refletindo a divina luz...

    Nesse ponto, o esclarecido Ministro fez longa pausa, fitou-nos, bondoso, e continuou:

    Mas... alm do principado humano, para l das fronteirassensoriais que guardam ciosamente a alma encarnada, amparando-a com limitada viso e benfico esquecimento, comea vastoimprio espiritual, vizinho dos homens. A se agitam milhes deEspritos imperfeitos que partilham, com as criaturas terrenas, ascondies de habitabilidade da Crosta do Mundo. Seres humanos,situados noutra faixa vibratria, apoiam-se na mente encarnada,atravs de falanges incontveis, to semiconscientes na responsa-bilidade e to incompletas na virtude, quanto os prprios homens.

    A matria, congregando milhes de vidas embrionrias, tambm a condensao da energia, atendendo aos imperativos doeu que lhe preside destinao.

    Do hidrognio s mais complexas unidades atmicas, opoder do esprito eterno a alavanca diretora de prtons, nutrons eeltrons, na estrada infinita da vida. Demora-se a intelignciacorporificada no crculo humano em transitria regio, adaptada

    s suas exigncias de progresso e aperfeioamento, dentro da qualo protoplasma lhe faculta instrumentos de trabalho, crescimento eexpanso. Entretanto, nesse mesmo espao, alonga-se a matrianoutros estados e, nesses outros estados, a mente desencarnada,em viagem para o conhecimento e para a virtude, radica-se naesfera fsica, buscando domin-la e absorv-la, estabelecendogigantesca luta de pensamento que ao homem comum no dadocalcular.

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    Frustrados em suas aspiraes de vaidoso domnio no domi-

    clio celestial, homens e mulheres de todos os climas e de todas ascivilizaes, depois da morte, esbarram nessa regio em que seprolongam as atividades terrenas e elegem o instinto de soberaniasobre a Terra por nica felicidade digna do impulso de conquistar.Rebelados filhos da Providncia, tentam desacreditar a grandezadivina, estimulando o poder autocrtico da inteligncia insubmis-sa e orgulhosa e buscam preservar os crculos terrestres para adilatao indefinida do dio e da revolta, da vaidade e da crimina-lidade, como se o Planeta, em sua expresso inferior, lhes fosseparaso nico, ainda no integralmente submetido a seus capri-chos, em vista da permanente discrdia reinante entre eles mes-mos. que, confinados ao bero escabroso da ignorncia em queo medo e a maldade, com inquietudes e perseguies recprocas,lhes consomem as foras e lhes inutilizam o tempo, no se aper-cebem da situao dolorosa em que se acham.

    Fora do amor verdadeiro, toda unio temporria e a guerraser sempre o estado natural daqueles que perseveram na posiode indisciplina.

    Um reino espiritual, dividido e atormentado, cerca a experi-ncia humana, em todas as direes, intentando dilatar o domniopermanente da tirania e da fora.

    Sabemos que o Sol opera por meio de radiaes, nutrindo,

    maternalmente, a vida a milhes de quilmetros. Sem nos referir-mos s condies da matria em que nos movimentamos, lem-bremo-nos de que, em nosso sistema, as existncias mais rudi-mentares, desde os cumes iluminados aos recncavos das trevas,esto sujeitas sua influenciao.

    Como acontece aos corpos gigantescos do Cosmos, tambmns outros, espiritualmente, caminhamos para o znite evolutivo,

    experimentando as radiaes uns dos outros. Nesse processo

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    multiforme de intercmbio, atrao, imantao e repulso, aper-

    feioam-se mundos e almas, na comunidade universal.Dentro de semelhante realidade, toda a nossa atividade ter-

    restre se desdobra num campo de influncias que nem mesmo ns,os aprendizes humanos em crculos mais altos, poderamos, porenquanto, determinar.

    Incapacitados de prosseguir alm do tmulo, a caminho doCu que no souberam conquistar, os filhos do desespero organi-

    zam-se em vastas colnias de dio e misria moral, disputando,entre si, a dominao da Terra. Conservam, igualmente, quantoocorre a ns mesmos, largos e valiosos patrimnios intelectuais e,anjos decados da Cincia, buscam, acima de tudo, a perversodos processos divinos que orientam a evoluo planetria.

    Mentes cristalizadas na rebeldia tentam solapar, em vo, aSabedoria Eterna, criando quistos de vida inferior, na organizao

    terrestre, entrincheiradas nas paixes escuras que lhes vergastamas conscincias. Conhecem inumerveis recursos de perturbar eferir, obscurecer e aniquilar. Escravizam o servio benfico dareencarnao em grandes setores expiatrios e dispem de agentesda discrdia contra todas as manifestaes dos sublimes propsi-tos que o Senhor nos traou s aes.

    Os homens terrenos que, semi-libertos do corpo, lhes conse-guiram identificar, de algum modo, a existncia, recuaram, tmi-dos e espavoridos, espalhando entre os contemporneos as noesde um inferno punitivo e infindvel, encravado em tenebrosasregies alm da morte.

    A mente infantil da Terra, embalada pela ternura paternal daprovidncia, atravs da teologia comum, nunca pde apreender,mais intensivamente, a realidade espiritual que nos governa osdestinos.

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    Raros compreendem na morte simples modificao de en-

    voltrio, e escasso nmero de pessoas, ainda mesmo em se tratan-do dos religiosos mais avanados, guardaram a prudncia deviver, no vaso fsico, de conformidade com os princpios superio-res que esposaram. Somos defrontados, agora, pela necessidade daproclamao de verdades velhas para os velhos ouvidos e novaspara os ouvidos novos da inteligncia juvenil situada no mundo.

    O homem, herdeiro presuntivo da Coroa Celeste, o condu-

    tor do prprio homem, dentro de enormes extenses do caminhoevolutivo. Entre aquele que j se acerca do anjo e o selvagem queainda se limita com o irracional, existem milhares de posies,ocupadas pelo raciocnio e pelo sentimento dos mais variadosmatizes. E, se h uma corrente, brilhante e maravilhosa, de criatu-ras encarnadas e desencarnadas que se dirigem para o monte dasublimao, desferindo glorioso cntico de trabalho, imortalidade,beleza e esperana, exaltando a vida, outra corrente existe, escura

    e infeliz, nas mesmas condies, interessada em descer aos recn-cavos das trevas, lanando perturbao, desnimo, desordem esombra, consagrando a morte, Espritos incompletos que somosainda, aderimos aos movimentos que lhes dizem respeito e co-lhemos os benefcios da ascenso e da vitria ou os prejuzos dadescida e da derrota, controlados pelas inteligncias mais vigoro-sas que a nossa e que seguem conosco, lado a lado, na zona pro-

    gressiva ou deprimente, em que nos colocamos.O inferno, por isto mesmo, um problema de direo espiri-tual.

    Sat a inteligncia perversa.

    O mal o desperdcio do tempo ou o emprego da energia emsentido contrrio aos propsitos do Senhor.

    O sofrimento reparao ou ensinamento renovador.

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    As almas decadas, contudo, quaisquer que sejam, no cons-

    tituem uma raa espiritual sentenciada irremediavelmente aosatanismo, integrando, to somente, a coletividade das criaturashumanas desencarnadas, em posio de absoluta insensatez. Mis-turam-se multido terrestre, exercem atuao singular sobreinmeros lares e administraes e o interesse fundamental dasmais poderosas inteligncias, dentre elas, a conservao domundo ofuscado e distrado, fora da ignorncia defendida e doegosmo recalcado, adiando-se o Reino de Deus, entre os homens,indefinidamente...

    De milnios a milnios, a regio em que respiram padece ex-tremas alteraes, qual acontece ao campo provisoriamente ocu-pado pelos povos conhecidos. A matria que lhes estrutura aresidncia sofre tremendas modificaes e precioso trabalhoseletivo se opera na transformao natural, dentro dos moldes doInfinito Bem. Entretanto, embora de fileiras compactas incessan-

    temente substitudas, persistem por sculos sucessivos, acompa-nhando o curso das civilizaes e seguindo-lhes os esplendores eexperincias, aflies e derrotas.

    Fazendo-se nova pausa do Ministro, que me pareceu oportunae intencional, um companheiro interferiu, indagando:

    Grande benfeitor, reconhecemos a veracidade de vossas a-firmativas; todavia, porque no suprime o Senhor Compassivo e

    Sbio to pavoroso quadro?O esclarecido mentor fixou um gesto de condescendncia e

    respondeu:

    No ser o mesmo que interrogar pela tardana de nossaprpria adeso ao Reino Divino?

    Sente-se o meu amigo suficientemente iluminado para negaro lado sombrio da prpria individualidade? Libertou-se de todasas tentaes que fluem dos escaninhos misteriosos da luta interna?

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    No admite que o orbe possua os seus crculos de luz e trevas,

    qual acontece a ns mesmos nos recessos do corao? E assimcomo duelamos em formidveis conflitos por dentro, a vida plane-tria compelida igualmente a combater nos recnditos ngulosde si mesma. Quanto interveno do Senhor, recordemo-nos deque os estudos desta hora no se prendem aos aspectos da com-paixo e, sim, aos problemas da justia.

    Ns outros e a humanidade militante na carne no represen-

    tamos seno diminuta parcela da famlia universal, confinados faixa vibratria que nos peculiar.

    Somos simplesmente alguns bilhes de seres perante a Eter-nidade. E estejamos convencidos de que se o diamante lapidadopelo diamante, o mau s pode ser corrigido pelo mau. Funciona ajustia, atravs da injustia aparente, at que o amor nasa e redi-ma os que se condenaram a longas e dolorosas sentenas diante daBoa Lei.

    Homens perversos, calculistas, delituosos e inconseqentesso vigiados por gnios da mesma natureza, que se afinam com astendncias de que so portadores.

    Realmente, nunca faltou proteo do Cu contra os tormen-tos que as almas endurecidas e ingratas semearam na Terra e osnumes guardies no se despreocupam dos tutelados; no entanto,seria ilgico e absurdo designar um anjo para custodiar crimino-sos.

    Os homens encarnados, de maneira geral, permanecem cer-cados pelas escuras e degradantes irradiaes de entidades imper-feitas e indecisas, quanto eles prprios, criaturas que lhes soinvisveis ao olhar, mas que lhes partilham a residncia.

    Em razo disso, o Planeta, por enquanto, ainda no passa devasto crivo de aprimoramento, ao qual somente os indivduos

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    excepcionalmente aperfeioados pelo prprio esforo conseguem

    escapar, na direo das esferas sublimes.Considerando semelhante situao, o Mestre Divino excla-

    mou perante o juiz, em Jerusalm: Por agora, o meu Reino no daqui e, pela mesma razo, Paulo de Tarso, depois de lutas an-gustiosas, escreve aos Efsios que no temos de lutar contra acarne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potes-tades, contra os prncipes das trevas e contra as hostes espirituais

    da maldade, nas prprias regies celestes.Alm, pois, do reino humano, o imprio imenso das inteli-

    gncias desencarnadas participa de contnuo no julgamento daHumanidade.

    E entendendo a nossa condio de trabalhadores incomple-tos, detentores de velhas dificuldades e terrveis inibies, naordem do aprimoramento iluminativo, cabe-nos preparar recursos

    de auxlio, reconhecendo que a obra redentora trabalho educati-vo por excelncia.

    O sacrifcio do Mestre representou o fermento divino, leve-dando toda a massa. por isto que Jesus, acima de tudo, oDoador da Sublimao para a vida imperecvel. Absteve-se demanejar as paixes da turba, visto reconhecer que a verdadeiraobra salvacionista permanece radicada ao corao, e distanciou-sedos decretos polticos, no obstante reverenci-los com inequvo-co respeito autoridade constituda, por no ignorar que o serviodo Reino Celeste no depende de compromissos exteriores, masdo individualismo afeioado boa vontade e ao esprito de renn-cia em benefcio dos semelhantes.

    Sem nosso esforo pessoal no bem, a obra regenerativa seradiada indefinidamente, compreendendo-se por precioso e indis-pensvel nosso concurso fraterno para que irmos nossos, provi-

    soriamente impermeveis no mal, se convertam aos DesgniosDivinos, aprendendo a utilizar os poderes da luz potencial de que

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    so detentores. Somente o amor sentido, crido e vivido por ns

    provocar a ecloso dos raios de amor em nossos semelhantes.Sem polarizar as energias da alma na direo divina, ajustando-lhes o magnetismo ao Centro do Universo, todo programa deredeno um conjunto de palavras, pecando pela improbabilida-de flagrante.

    O Ministro sorriu para ns, expressivamente, e concluiu:

    Terei sido bastante claro?

    Transbordava de todos os rostos o desejo de ouvi-lo por maistempo; no entanto, Flcus, aureolado de luz, desceu da tribuna eps-se a conversar familiarmente conosco.

    A preleo fora encerrada.

    As consideraes ouvidas despertavam em mim o mximo in-teresse. No entanto, era preciso aguardar nova oportunidade paramais amplos esclarecimentos.

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    2A palestra do Instrutor

    Ao nos retirarmos do educandrio, o Instrutor Gbio, pousan-do sobre Eli, o nosso companheiro, e sobre mim os olhos lci-dos, acentuou:

    Para muitas criaturas, difcil compreender a arregimenta-

    o inteligente dos espritos perversos. Entretanto, lgica enatural. Se ainda nos situamos distantes da santidade, no obstan-te os propsitos superiores que j nos orientam, que dizer dosirmos infelizes que se deixaram prender, sem resistncia, s teiasda ignorncia e da maldade? No conhecem regio mais elevadaque a esfera carnal, a que ainda se ajustam por laos vigorosos.Enleados em foras de baixo padro vibratrio, no apreendem abeleza da vida superior e, enquanto mentalidades frgeis e enfer-mias se dobram humilhadas, os gnios da impiedade lhes traamdiretrizes, enfileirando-as em comunidades extensas e dirigindo-as em bases escuras de dio aviltante e desespero silencioso.Organizam, assim, verdadeiras cidades, em que se refugiam fa-langes compactas de almas que fogem, envergonhadas de si mes-mas, ante quaisquer manifestaes da divina luz. Filhos da revoltae da treva a se aglomeram, buscando preservar-se e escorando-se,

    aos milhares, uns nos outros...Auscultando-nos a surpresa manifesta, o instrutor prosseguiu,

    respondendo-nos s argies ntimas:

    Tais colnias perturbadoras devem ter comeado com asprimeiras inteligncias terrestres entregues insubmisso e indisciplina, ante os ditames da Paternidade Celestial. A almacada em vibraes desarmnicas, pelo abuso da liberdade que lhe

    foi confiada, precisa tecer os fios do reajustamento prprio emilhes de irmos nossos se recusam a semelhante esforo, ocio-

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    sos e impenitentes, alongando o labirinto em que muitas vezes se

    perdem por sculos. inabilitados para a jornada imediata, rumo aoCu, em virtude das paixes devastadoras que os magnetizam,arrebanham-se de conformidade com as tendncias inferiores emque se afinam, ao redor da Crosta Terrestre, de cujas emanaes evidas inferiores ainda se nutrem, qual ocorre aos prprios homensencarnados. O objetivo essencial de tais exrcitos sombrios aconservao do primitivismo mental da criatura humana, a fim deque o Planeta permanea, tanto quanto possvel, sob seu jugotirnico.

    As observaes de Gbio escaldavam-me o crebro.

    Eu tambm havia passado pelos baixos crculos da vida, de-pois do transe corporal; entretanto, no identificara a existnciadessas condensaes organizadas de entidades malignas do campoespiritual, embora ouvisse, em muitas ocasies, impressionantescomentrios em torno delas.

    Efetivamente, no conseguia, por ruim mesmo, exumar todasas recordaes do angustiado perodo que a porta do tmulo meoferecera.

    Vira-me perseguido, atravs de longos pntanos... Errara, a-flitivamente, dias e noites que me pareceram sem fim, atormenta-do e desditoso; todavia, custava-me crer que as atividades malfi-cas gozassem de organismo diretor. Por isto mesmo, de menteagora centralizada nos propsitos do bem, aventurei uma indaga-o.

    Com que fim perguntei essas legies retardadas se man-comunam, alm da morte, se despidas da vestimenta grosseira decarne devem saber, mais que nunca, que se empenham em comba-tes inteis? No se sentem, porventura, transportadas ao plano doesclarecimento puro, quanto posio que lhes diz respeito? No

    se cercam presentemente de mais sublimes revelaes da Nature-za? No lhes quadrariam, mais justos, o trabalho edificante e o

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    estudo nobre, na elevada aspirao de galgar a sabedoria santifi-

    cante, estrada acima? Por que motivo se aglomeram, assim, atra-vs de ajuntamentos desprezveis e diablicos? Fcil de entender-se a jornada evolutiva do homem, depois do sepulcro, mas oestacionamento deliberado, na crueldade e no dio, alm da mor-te, d para confundir a mente de qualquer...

    O orientador sorriu, maneiroso, e considerou:

    Reportamo-nos a Espritos perfeitamente humanos, no

    obstante desencarnados, e tais perguntas, Andr, poderiam serformuladas, mesmo na Crosta da Terra. Por que razo, ns mes-mos, antes de acordar a conscincia para a revelao divina, nosprecipitvamos nas linhas inferiores, todos os dias, contrariandoespetacularmente a Lei? frente dos olhos, contvamos combendito dilvio de claridade solar, jorrando incessante do EspaoInfinito... sabamos que a existncia do corpo correria rpida, queseramos defrontados pela morte comum a todos, que regressar-amos do mundo carnal pela mesma porta misteriosa, atravs daqual penetrramos nele; no entanto, quantas vezes teremos me-noscabado a Sabedoria Excelsa, com atitudes de criminosa indife-rena? Ante as sugestes do Plano Divino que te povoam, agora, opensamento, lembras-te de algum tempo passado em que tivessescogitado sinceramente da prpria sublimao? Se desenterrarmoso pretrito, meu caro, encontraremos lamentveis reminiscn-

    cias... No nos compete parar ou desanimar. maneira do troncofrgil, imperioso crescer, subir, por alcanar o oxignio de cima,e, apesar de algemados ao que fomos, semelhana da rvorehumilde presa aos resduos do complicado envoltrio que lheencerrava a semente, reclamamos ascenso, ar puro e largueza decondies para produzirmos o bem que o Senhor espera de ns.

    A argumentao de Gbio era bela e sugestiva; entretanto, eu

    sentia dificuldades para aceitar a idia de purgatrios e infernosdirigidos.

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    Concordo com as elucidaes exclamei reverente , mas

    quase incrvel tanta ignorncia, alm do corpo que nos conservaem iluso... a sepultura abre-nos a todos um caminho novo. razovel que a mente perturbada sofra amarguras de reajustamen-to at que se restaure; todavia, apropriar-se um esprito desencar-nado de certos setores do caminho, como se fora deles senhorabsoluto para perpetuar sua tirania, observao que me escapa-va...

    Sim tornou o orientador, convincente , para quem refle-tiu sobre o assunto, durante muito tempo, em sentido contrrio realidade, o apontamento surpreende bastante; todavia, no vejoobstculos apreenso do ensinamento. Reconheamos, porexemplo, que o homem comum j atravessou, desde milnios, aestao evolutiva em que se demora o irracional e, em vriasocasies, revela comportamento de nvel inferior ao dele.

    Imprimindo grave entono voz agradvel e fraternal, acres-centou:

    Notemos que ns mesmos, os desencarnados, nos movemosnum campo de matria que se caracteriza por densidade especfi-ca, embora rarefeita, quando confrontada com as antigas formasfsicas, e nossa mente, em qualquer parte, na Crosta ou aqui ondenos achamos, um centro psquico de atrao e repulso. O esp-rito encarnado respira numa zona de vibraes mais lentas, enfai-

    xado num veculo constitudo de trilhes de clulas que so outrastantas vidas microscpicas inferiores. Cada vida, porm, por maisinsignificante, possui expresso magntica especial. A vontade,no obstante condicionada por leis csmicas e morais, inclinar acomunidade dos corpsculos vivos que permanecem a seu serviopor tempo limitado, maneira do eletricista que liga as foras dausina para atividades num charco ou para servios numa torre.

    Sendo cada um de ns uma fora inteligente, detendo faculdadescriadoras e atuando no Universo, estaremos sempre engendrando

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    agentes psicolgicos, atravs da energia mental, exteriorizando o

    pensamento e com ele improvisando causas possveis, cujos efei-tos podem ser prximos ou remotos sobre o ponto de origem.Abstendo-nos de mobilizar a vontade, seremos invariveis jogue-tes das circunstncias predominantes, no ambiente que nos rodeia;contudo, to logo deliberemos manobr-la, indispensvel resol-vamos o problema de direo, porquanto nossos estados pessoaisnos refletiro a escolha ntima. Existem princpios, foras e leisno universo minsculo, tanto quanto no universo macrocsmico.Dirija um homem a sua vontade para a idia de doena e a mols-tia lhe responder ao apelo, com todas as caractersticas dos mol-des estruturados pelo pensamento enfermio, porque a sugestomental positiva determina a sintonia e receptividade da regioorgnica, em conexo com o impulso havido, e as entidades mi-crobianas, que vivem e se reproduzem no campo mental das mi-lhes de pessoas que as entretm, acorrero em massa, absorvidas

    pelas clulas que as atraem, em obedincia s ordens interiores,reiteradamente recebidas, formando no corpo a enfermidadeidealizada. Claro que nesse captulo temos a questo das provasnecessrias, nos casos em que determinada personalidade renasce,atendendo a impositivos das lies expiatrias, mas, mesmo a, oproblema de ligao mental infinitamente importante, porquantoo doente que se compraz na aceitao e no elogio da prpriadecadncia acaba na posio de excelente incubador de bactrias e

    sintomas mrbidos, enquanto que o esprito em reajustamento,quando reage, valoroso, contra o mal, ainda mesmo que benficoe merecido, encontra imensos recursos de concentrar-se no bem,integrando-se na corrente de vida vitoriosa.

    Registrava as explicaes, profundamente edificado, e, noobstante a longa pausa que se fez espontaneamente, no ouseiinterromper o curso da argumentao a fim de no quebrar a linha

    do pensamento.

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    Prestimoso e digno, Gbio continuou:

    Nossa mente uma entidade colocada entre foras inferio-res e superiores, com objetivos de aperfeioamento. Nosso orga-nismo perispiritual, fruto sublime da evoluo, quanto ocorre aocorpo fsico na esfera da Crosta, pode ser comparado aos plos deum aparelho magneto-eltrico.

    O esprito encarnado sofre a influenciao inferior, atravsdas regies em que se situam o sexo e o estmago, e recebe os

    estmulos superiores, ainda mesmo procedentes de almas nosublimadas, atravs do corao e do crebro. Quando a criaturabusca manejar a prpria vontade, escolhe a companhia que preferee lana-se ao caminho que deseja. Se no escasseiam milhes deinfluxos primitivistas, constrangendo-nos, mesmo aqum dasformas terrestres a entreter emoes e desejos, em baixos crculos,e armando-nos quedas momentneas em abismos do sentimentodestrutivo, pelos quais j peregrinamos h muitos sculos, no nosfaltam milhes de apelos santificantes, convidando-nos ascensopara a gloriosa imortalidade.

    O instrutor, fitando em ns o olhar percuciente e calmo, pon-derou:

    Entenderam, agora, como compreensvel a opo de cer-tos espritos pela casa escura do crime, depois do tmulo, qualocorre a milhes de entidades encarnadas que, em plena harmoniacom a natureza terrestre, estimam viver no domiclio da enfermi-dade? Atitudes mentais enraizadas no se modificam facilmente.O rei que governa milhares, o condutor que se acostumou a traarfrreas diretrizes, o homem que se habituou a dobrar caracteresalheios, quando no dispem de princpios santificantes, no terre-no idealstico, para se alimentarem intimamente na tarefa a que seconsagram, no se transformam em servidores humildes de um

    momento para outro, s porque se desfizeram da carga de clulasmateriais.

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    Quando no se recomendam aos precipcios da loucura, no

    eclipse total da razo por tempo indeterminvel, em vista dosdesvarios na intelectualidade e no poder, so conservados e res-peitados na obra evolutiva do mundo, pelas qualidades apreci-veis e dignas que j conquistaram, embora as paixes violentasque lhes assinalam a vida ntima, e so utilizados ento por gniossuperiores, nos servios de aprimoramento planetrio, em quevigiam e reajustam os mais fracos, sendo vigiados e reajustadospelos mais fortes, convertendo-se, gradual e imperceptivelmente,ao Supremo Bem, aceitando o Plano Divino em cuja execuopassam a colaborar com fidelidade e valor. Em tal posio, auxili-am e so auxiliados, do e recebem, impulsionam o progresso eprogridem a seu turno...

    Imps ligeira pausa s elucidaes e, em seguida, prosseguiunoutro rumo:

    Semelhante realidade obriga-nos a meditar na extenso doservio espiritual em todos os ngulos evolutivos. Educao paraa eternidade no se circunscreve ilustrao superficial de queum homem comum se reveste, sentando-se, por alguns anos, numbanco de universidade obra de pacincia nos sculos. Se rvo-res existem assinaladas por centenas de anos, dentro das finalida-des a que se destinam, que dizer dos milnios reclamados por umaindividualidade, no captulo da prpria sublimao?

    No podemos olvidar, desse modo, o amor que devemos aosignorantes, aos fracos, aos infelizes. Imprescindvel se tornacaminhar nos passos daqueles que igualmente, um dia, nos esten-deram compassivas mos.

    O argumento era demasiado edificante para que interfersse-mos com indagaes novas.

    O orientador percebeu a oportunidade do esclarecimento e

    continuou:

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    Os tomos que integram a hstia dum templo, so, no fun-

    do, iguais queles que formam o po pobre de uma penitenciria.Assim, toda matria em si mesma. Passiva e plstica, anloganas mos das entidades sbias ou ignorantes, amorosas ou brutali-zadas, no estado de condensao conhecido na Crosta Planetria ealm dele. Em razo disso, so compreensveis as transitriasconstrues levantadas em nosso plano por criaturas desviadas dobem. Para quem anestesiou as faculdades no prazer fugitivo, aseparao da carne geralmente constitui acesso a doloroso estgiona incompreenso. E considerando que a maioria das criaturashumanas persegue as sensaes do corpo fsico, qual se as atra-es gensicas e o desvairado apego aos bens provisrios doscrculos mais baixos encerrassem toda a felicidade do mundo, acolheita de personalidades desequilibradas sempre inquietante,conservando quase inalteradas as fileiras escuras dos insensatoscultivadores da satisfao egostica a qualquer preo. Loucos

    perigosos, por voluntrios, dirigidos por inteligncias soberanas,especializadas em dominao, constituem hordas terrveis que, abem dizer, vigiam as sadas das esferas inferiores em todas asdirees.

    E porque permite Deus semelhante irregularidade? inqui-riu Eli, sob visvel consternao No bastaria ligeira ordem doEterno para sanar a desarmonia?

    Gbio, prestativo, no se fez esperado na resposta. Sorrindo,franco, aduziu com interesse:

    No ser o mesmo que perguntar o motivo pelo qual o Se-nhor nos esperou at ontem? Acreditaremos em parasos miracu-losos? No sabemos, porventura, que cada homem se sentar notrono que levantou ou se projetar ao fundo do abismo que prefe-riu? Alm disto, necessrio reconhecer que se o lapidrio apri-

    mora a pedra, usando lima resistente, o Senhor do Universo aper-feioa o carter dos filhos transviados de Sua Casa, usando cora-

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    es endurecidos, temporariamente afastados de Sua Obra. Nem

    sempre o melhor juiz pode ser o homem mais doce. Qualidadesmorais e virtudes excelsas no so meras frmulas verbalistas.So foras vivas. Sem a posse delas, impraticvel a ascenso doesprito humano. Personalidades vulgares apegam-se salvaguar-da de recursos exteriores e neles centralizam os sentimentos maisnobres, prendendo-se a fantasias inteis... Encarcera-se-lhes,ento, a mente na insegurana, na fragilidade, no pavor. O choqueda morte imprime-lhes tremendos conflitos organizao perispi-rtica, veculo destinado s suas prprias manifestaes no crculonovo de matria diferente a que foram arrebatadas, e, aps perde-rem abenoados anos no campo didtico da esfera carnal, enreda-das em conflitos deplorveis, erram aflitas, exnimes e revoltadas,ajustando-se ao primeiro grupo de entidades viciosas que lhesgarantam continuidade de aventura em fictcios prazeres. Formamassociaes enormes e compactas, com base nas emanaes da

    Crosta do Mundo, onde milhes de homens e mulheres lhes sus-tentam as exigncias mais baixas; fazem vida coletiva provisria fora de sugarem as energias da residncia dos irmos encarna-dos, qual se fossem extensa colnia de criminosos, vivendo aexpensas de generoso rebanho bovino. Importa ponderar, contudo,que o homem explora a vaca, menos consciente e incapaz de serjulgada por delito de conivncia, ao passo que, na esfera humana,o quadro apresenta outro aspecto. A criatura racional no se exi-

    mir responsabilidade. Se o perseguidor invisvel aos olhosterrestres erige agrupamentos para culto sistemtico revolta e aoegosmo, o homem encarnado, senhor de valiosos patrimnios deconhecimento santificante, garante-lhe a obra nefasta pela fugaconstante s obrigaes divinas de cooperador de Deus, no planode servio em que se localiza, alimentando ruinosa aliana. Um eoutro, por isto, partilhando os resultados da indiferena destrutiva

    ou da ao condenvel, atritam e se vascolejam reciprocamente,tais quais feras que se entredevoram na floresta da vida. Obsidi-

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    am-se, mutuamente, quando nos atilhos educativos da carne ou na

    ausncia deles. Atravessam sculos, assim, jungidos um ao outro,presos a lamentveis iluses e propsitos sinistros, com extremasperturbaes para si mesmos, j que a herana celestial se faznaturalmente vedada a todos aqueles que menosprezam em siprprios as sementes divinas. H milhes de almas humanas quese no afastaram, ainda, da Crosta Terrestre, h mais de dez milanos. Morrem no corpo denso e renascem nele, qual acontece srvores que brotam sempre, profundamente arraigadas no solo.Recapitulam, individual e coletivamente, lies multimilenrias,sem atinarem com os dons celestiais de que so herdeiras, afasta-das deliberadamente do santurio de si mesmas, no terreno move-dio da egolatria inconseqente, agitando-se, de quando em quan-do, em guerras arrasadoras que atingem os dois planos, no impul-so mal dirigido de libertao, atravs de crises inominveis defria e sofrimento. Destroem, ento, o que construram laborio-

    samente e modificam processos de vida exterior, transferindo-sede civilizao.

    O instrutor, sentindo a profunda ateno com que lhe segua-mos a palavra, acentuou, depois de leve pausa:

    Todavia, no fluir e refluir das eras numerosas, os filhos doPlaneta que se conservam atentos s determinaes divinas, livresda antiga escravido misria moral, tornam ao ambiente escuro

    do cativeiro que j abandonaram, a fim de ampararem os irmosignorantes e desvairados, em sublime trabalho de compaixo.Formam as vanguardas do Cristo. nos mais diversos pontos doGlobo, e, aos milhes, sob o patrocnio dEle, operam no amor ena renncia, avanando, dificilmente embora, humanidade adentro, enfrentando a ofensiva incendiria e exterminadora, comas bnos da Luz Celeste...

    A exposio no podia ser mais clara. Eli, contudo, obser-vou, assombrado:

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    Quem diria, na Terra, nosso velho domiclio, que a vida in-

    finita se estenderia, assim, estranha e ameaadora? Sim concordou o orientador , porm a ortodoxia no

    mundo costuma ser o cadver da revelao. Argumentos teolgi-cos de milnios obstruem os canais da inteligncia humana, quan-to s realidades divinas. Mas a criatura prosseguir na tarefa deauto-descobrimento. A fora mental, na luta comum, permanecerestrita ao crculo acanhado da personalidade egostica, copiando

    o molusco algemado concha, e sabemos que semelhante energia,patrimnio eterno com que nos sublimamos ou viciamos, emiteraios criadores sobre a matria passiva que nos cerca, dependendode ns a direo que venha a tomar. Se milhes de raios lumino-sos formam um astro brilhante, natural que milhes de pequeni-nos desesperos integrem um inferno perfeito. Herdeiros do PoderCriador, geraremos foras afins conosco, onde estivermos. Noser tudo isto perfeitamente inteligvel? por esta razo que o

    Senhor mandou constar no Livro Divino o seu aviso celestial: eis que estou porta e bato. Se algum abre a porta viva daalma, haver realmente o colquio redentor, entre o Mestre e oDiscpulo. O corao tabernculo e a sublimao das potnciasque o integram a nica via de acesso s esferas superiores.

    O devotado orientador fixou o gesto de quem dava trminooportuno s explicaes, sorriu, benvolo, e interrogou:

    Qual de ns cometeria o absurdo de exigir vo ao balo ca-tivo? A mente humana, enraizada nos interesses mais fortes daTerra, no detm outro smbolo.

    Calamo-nos, atendidos em nossa fome de elucidaes. Colh-ramos ali, na conversao de alguns minutos, precioso material deobservao para longo tempo.

    Prosseguamos, agora, em silncio, extticos ante a beleza

    imponente da noite, maravilhosamente constelada.

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    Vento brando sussurrava cnticos sem palavras na folhagem

    leve e grupos de amigos, que nos defrontavam de instante a ins-tante, mostravam no olhar a mesma doce felicidade que transbor-dava do arvoredo florido.

    E assim, banhados em comoes inesquecveis, buscamos osanturio em que receberamos instrues para servio prximo,inundados de confiana e alegria, na posio de trabalhadoresjubilosos que caminhassem contentes para a luta, como se avan-

    assem, felizes, para uma festa de luz.

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    3Entendimento

    O zimbrio estrelado, aos raios liriais da Lua, espalhava emtorno vibraes de beleza inexprimvel, semeando esperana,alegria e consolo.

    Informado quanto aos objetivos que nos conduziriam Cros-

    ta, com escalas por uma colnia purgatorial de vasta expresso,vali-me da hora amena para aproveitar a convivncia com o ins-trutor, tentando arrancar-lhe observaes que vinham semprerevestidas de preciosos ensinamentos.

    admirvel pensar aventurei respeitosamente que seformam verdadeiras expedies em nossa esfera para atender asimples caso de obsesso...

    Os homens encarnados redargiu o orientador com certavacuidade no olhar, qual se trouxesse a alma presa a imagensfugidias do pretrito no suspeitam a extenso dos cuidados quedespertam em nossos crculos de ao. Somos todos, eles e ns,coraes imantados uns aos outros, na forja de benditas experin-cias. No romance evolutivo e redentor da Humanidade, cadaesprito possui captulo especial. Ternos e rspidos laos de amore dio, simpatia e repulso, acorrentam-nos reciprocamente. Asalmas corporificadas na Crosta guardam-se em passageiro sono,com esquecimento temporrio quanto s atividades pregressas.Banham-se no Estige dos antigos, cujas guas lhes facultam,durante certo tempo, valiosa segurana para retorno a oportunida-des de elevao. Todavia, enquanto se mergulham em olvidobenfico, demoramo-nos por nossa vez, em abenoada viglia. Osperigos que nos ameaam os entes amados de agora ou de pocas

    que o tempo consumiu, desde muito, no nos deixam impassveis.Os homens no se acham sozinhos na estreita senda de provas

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    salutares em que se confinam. A responsabilidade pelo aperfeio-

    amento do mundo compete-nos a todos.Esclarecido, com respeito jovem senhora que nos cabia so-

    correr, aduzi, reverente:

    A enferma, a cuja assistncia fomos admitidos, est por e-xemplo em vosso passado espiritual...

    Sim confirmou Gbio, humilde , alias no fui designadopara servir no caso de Margarida, a doente que nos compele breve expedio do momento, apenas porque houvesse sido minhafilha em eras recuadas. Em cada problema de Socorro, impres-cindvel considerar as vrias partes em jogo. Em virtude do enig-ma de obsesso que nos propomos resolver, somos levados abuscar todas as personalidades que compem o quadro de servio.Perseguidores e perseguidos entrelaam-se, em cada processo deauxlio, em grande expresso numrica. Cada esprito um elo

    importante em extensa regio da corrente humana. Quanto maiscrescemos em conhecimentos e aptides, amor e autoridade,maior o mbito de nossas ligaes na esfera geral.

    Almas existem que se vem sob o interesse de milhes de ou-tras almas. Enquanto os movimentos da vida se estendem, harmo-niosos, sob os ascendentes do bem, as dificuldades no chegam asurgir; contudo, quando a perturbao se estabelece, no fcildesfazer obstculos, porque em tais circunstncias indispensvelprocedamos com absoluta imparcialidade, dando a cada um quan-to lhe caiba. O homem terrestre, mormente nos dias tormentosos,costuma ver somente o seu lado, mas, acima da justia comum,propriamente considerada, outros tribunais mais altos funcio-nam... Em razo disso, todos os casos de desarmonia espiritual naTerra movem aqui extensa rede de servidores que passam a trat-los, sem inclinaes pessoais, em bases do amor que Jesus exem-

    plificou e, nessas ocasies, preparamo-nos a satisfazer todos os

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    imperativos de trabalho salvacionista que a tarefa nos imponha ou

    proporcione, dentro das atividades que lhe so conexas.A essa altura da instrutiva conversao, chegamos a gracioso

    templo.

    Nesse doce recanto consagrado materializao de entidadessublimes, a luz suave da noite calma como que se fazia mais bela.

    As vibraes constantes das preces, a emitidas por vrios s-culos, tinham criado em torno da edificao prodigioso clima deencantamento.

    Melodia celeste derramava-se surdina e as flores delicadasdo trio pareciam corresponder aos sons cristalinos, variando nobrilho e na cor, quase que imperceptivelmente.

    Eu trazia o corao opresso, como se a felicidade das ltimashoras, em que ouvira to confortadoras e to graves reflexesatinentes extenso do mundo e da vida, me aproximasse a insig-nificncia pessoal da grandeza divina e lgrimas tranqilas inun-daram-me o rosto.

    O instrutor tomou-nos a frente e, juntos, penetramos o jardimque circundava o aprazvel santurio.

    Alguns irmos adiantaram-se, acolhedores.

    Um deles, o Instrutor Gama, que se encarregava dos servios

    da casa, abraou-nos e disse com bondade: Chegam no momento preciso. Os doadores de fluidos su-blimados encontram-se a postos e a outra comisso j veio.

    Entramos sem detena.

    Soube, de imediato, que outro grupo, constitudo, alis, porduas irms, ali se achava com o objetivo de receber instrues deservio para esferas mais baixas.

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    Cariciosa claridade azul-brilhante banhava o largo recinto,

    adornado de flores nveas, semelhantes aos lrios que conhecemosna Terra.

    No houve tempo para conversaes prvias.

    Em seguida a saudaes ligeiras e cordiais, foi composto oconjunto de orao.

    Os doadores de energia radiante, mdiuns de materializaoem nosso plano, se alinhavam, no longe, em nmero de vinte.

    Comovedora partitura soou, argentina e leve, em aposentoprximo, predispondo-nos meditao de ordem superior.

    E logo aps a prece, formosa e espontnea, pronunciada peloresponsvel mais altamente categorizado na instituio, eis que atribuna domstica se ilumina. Esbranquiada nuvem de substncialeitosa-brilhante adensa-se em derredor e, pouco a pouco, dessebloco de neve translcida, emerge a figura viva e respeitvel deveneranda mulher. Indizvel serenidade caracteriza-lhe o olharsimptico e o porte de madona antiga, repentinamente trazida nossa frente.

    Cumprimenta-nos com um gesto de bno, como que nosendereando, a todos, os raios da luz esmeraldina que em formade aurola lhe exornam a cabea.

    As duas moas que formavam a comisso de servios, estra-nha nossa, avanaram com lgrimas discretas e rojaram-se,genuflexas.

    Me querida clamou uma delas, com tal inflexo de vozque nos cortava as fibras mais ntimas , ajuda-me a falar-te! Asaudade longamente reprimida um fogo que consome o corao.Auxilia-me! No me deixes perder este doce e divino minuto!

    Apesar dos soluos de emoo que lhe vibravam no peito,

    continuou:

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    Abenoa-nos para a grande jornada!... H muito tempo a-

    guardamos esta hora breve de reencontro contigo... Perdoa-nos,Mezinha, se insistimos tanto na rogativa... Contudo, sem tuaproteo amorosa, como vencer nos turbilhes do abismo?

    Desejando talvez justificar-se, ante os olhos maternos, acres-centava em pranto:

    De conformidade com as tuas amadas recomendaes, almde nossas tarefas habituais na zona de servio em que a tua bon-

    dade nos situou, temos velado pelo paizinho, mergulhado nassombras: todavia, h seis anos buscamo-lo embalde... Escapa-nos influncia renovadora e se compraz na companhia de entidadesque, por onde passam, vampirizam as criaturas. No nos recebe aatuao carinhosa, seno em forma de pensamentos vagos, de quese desvencilha facilmente, e, se multiplicamos providncias sal-vacionistas, procede como louco... Gesticula a esmo, colrico eirritado, grita blasfmias e solicita o concurso de seres viciados, acujas radiaes escuras se entrelaa, impelindo-nos as sugestes ea presena... Prefere o contacto de entidades ignorantes e infeli-zes, detestando-nos a ternura...

    Nesse ponto, crise mais intensa de emotividade impediu-lhecontinuar.

    A nobre senhora que descera da tribuna, erguendo as filhas eacolhendo-as nos braos, exclamou com acento consolador na vozsem lgrimas, no obstante a visvel melancolia:

    Filhas amadas, o Sol combate a treva todos os dias. Bata-lhemos contra o mal, incessantemente, at vitria. No se supo-nham sozinhas no conflito doloroso. Desculpemos o papai, infini-tamente, e colaboremos por restitui-lo terra firme da luz. Se oCristo trabalha por ns, desde o princpio dos sculos, sem quelhe possamos compreender a amplitude dos sacrifcios, que dizer

    das nossas obrigaes de amparo e tolerncia, uns para com osoutros? Cludio se fez para sempre credor da nossa estima e gra-

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    tido, apesar do pavoroso crime oculto que no-lo arrebatou s

    profundezas .. Envenenou um parente para conseguir a riquezamaterial que nos ofereceu educao e conforto na esfera carnal.Por extrema dedicao a ns trs, no hesitou diante da tentaoque o constrangeu a infernal compromisso. Dono de afeio in-quieta, no soube esperar a bno do tempo e lanou mo deinconfessvel processo para localizar-nos em um osis de superio-ridade mentirosa... Para que ele nos sentisse garantidos e felizes,viveu durante quarenta anos consecutivos entre o remorso e osofrimento, psiquicamente sintonizado com espritos maliciosos evingativos das sombras, mas, na realidade, sobre as aflies delenos foi possvel atravessar abenoada existncia de progresso econforto, numa casa ditosa e farta, sem sabermos que em nossosalicerces espirituais vivia um ato escuro de assassnio e violncia!

    A essa altura, a entidade materializada chorou, comovedora-mente

    Abraadas as trs, num quadro emocionante e mudo, a me-zinha encontrou recursos a fim de prosseguir:

    Tornaremos, contudo, ao campo de luta regenerador e ben-fazejo... Que vale para ns a paisagem celestial sem a libertaodaqueles que amamos? O corao amoroso, atormentado, abdicardo ingresso numa estrela para persistir ao lado de um ente queri-do, em duelo com as serpentes de um charco... Poderamos gozar,

    porventura, o espetculo augusto das esferas resplandecentes,ouvindo-lhes a harmonia indefinvel, numa situao de destaqueadquirida custa daqueles que gemem e desfalecem nas trevas?Abandonar quem nos serviu de degrau em plena ascenso divina das mais horrendas formas de ingratido, O Senhor no podeabenoar uma ventura colhida ao preo de angstias para aquelesque no-las deram. Estou convencida de que h mais grandeza no

    anjo que desce ao inferno para salvar os filhos de Deus, transvia-dos e sofredores, do que no mensageiro espiritual que se d pressa

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    em comparecer ante o Trono do Eterno para louv-Lo, com es-

    quecimento dos prprios benfeitores...A venervel matrona enxugou o pranto copioso e prosseguiu:

    Olvidemos, pois, minhas filhas, o que hoje somos, para so-correr os que, com o propsito de nos servirem, resvalaram adespenhadeiro sinistro e tormentoso. Saldemos nossas dvidassecretas com abnegao e devotamento. Mais tarde, recebereiAntnio, o sobrinho envenenado, em meus braos maternos,

    reaproximando-o de Cludio, atravs da cordialidade e do respeitovividos em comum. Ensinar-lhe-ei com alegre ternura a pronunci-ar o nome de Deus e a desfazer as pesadas nuvens de revolta quelhe empanam a vida ntima. A fim de inclin-lo compreenso e piedade, com mais eficincia, comprometi-me a acolher tambmno tabernculo materno as seis criaturas desviadas do bem, squais se apegou, desvairado, nas regies inferiores, em face daculpa de quem nos foi desvelado amigo. Meu afeto reinar difi-cilmente num lar repleto de coraes menos afins com o meu,onde Jesus me ensinar a soletrar, venturosa, a doce lio dosacrifcio silencioso... Muitas vezes, lidarei com a discrdia e atentao; todavia, no podemos acreditar em felicidades de im-proviso. Conquistaremos em cooperao abenoada aquela pazque Cludio sonhou para ns e que ele prprio no desfrutou...Para que eu parta, porm, no rumo da reencarnao, necessrio

    que o papai renasa primeiro. Sem esse marco inicial, no possoatacar o nosso processo redentor em nova fase. Ajudemo-nos,assim, reciprocamente. Enquanto procuro transformar Antnio,reajustando-lhe as fibras afetivas, inclinem ambas o esprito pa-terno esperana e meditao reconstrutivas...

    As jovens derramavam pranto comovedor, em que se mistu-ravam angstia e alegria, e a matrona iluminada, revelando-se em

    despedida, acrescentou:

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    No desanimem, O tempo das mais preciosas ddivas do

    Senhor e o tempo nos auxiliar. O porvir reunir-nos- de novo,em abenoado refgio terrestre. Eu e Cludio, ento renovado,receberemos muitos filhinhos e vocs duas estaro entre eles,reconfortando-nos os coraes. Terei sobre o peito algumas pe-dras preciosas por lapidar, no esforo de cada dia e, dentro d'alma,duas flores, em ambas, cujo perfume celeste me sustentar asenergias necessrias Perseverana at ao fim... Compensar-me-o vocs duas de todas as canseiras... Juntas pelo amor imperec-vel trabalharemos sustentadas pela recordao, embora imprecisa,da gloriosa vida espiritual que, um dia, nos acolher, felizes etriunfantes. Lembremo-nos de Jesus e avancemos...

    Silenciou a emissria e as moas, provavelmente avisadas deque o tempo permanecia esgotado, abraaram-na de encontro aocorao, sedentas de carinho. A mezinha beijou-as, enternecida,e, aps saudar-nos cordialmente, tornou tribuna, em cujo topo

    desapareceu ao nosso olhar, numa onda de neblina evanescente.Entreolhamo-nos em lgrimas, como quem tivera permisso

    de repousar a mente em branda melodia.

    As irms retomaram o lugar que ocupavam e msica balsmi-ca se fez ouvir, renovando-nos o ambiente, obedecendo certo, aointuito de modificar-nos o campo vibracional

    Ponderando na incomensurvel bondade do Pai, recordei oslaos afetivos que me ligavam ao pretrito e observei, mais umavez, que todas as medidas do bem so planejadas e pacientementeexecutadas pelos que se angelizam nas Virtudes do Cu, lasti-mando intimamente, as oportunidades perdidas noutro tempo,quando o verdadeiro entendimento da vida me no felicitava oesprito.

    Ainda no voltara a mim mesmo da salutar divagao, quan-

    do outro lenol de alva substncia, coroada de tons dourados, se

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    fez visvel no alto. Em breves instantes, revestida de luz, outra

    mensageira surgia na tribuna.Dos olhos irradiava doce magnetismo santificante. Trajava

    um peplo estruturado em fina gaze azul-radiosa e desceu, ereta edigna, fitando-nos suavemente, procura de algum, com interes-se particular.

    O instrutor ergueu-se, reverente, e caminhou na direo dela,qual discpulo submisso.

    A recm-chegada pronunciou frases de paz, sem afetao, eendereou-lhe a palavra, em tom de infinita ternura:

    Irmo Gbio, agradeo-te o concurso dadivoso. Creio haverchegado, efetivamente, o instante de aceitar-te a ajuda fraterna,em favor da libertao de meu infortunado Gregrio. Espero, hsculos, pela renovao e penitncia dele. Impressionado pelosimensos recursos do poder, no passado distante, cometeu hedion-

    dos crimes da inteligncia. Internado em perigosa organizao detransviados morais, especializou-se, depois da morte, em oprimirignorantes e infelizes. Pelo endurecimento do corao, conquistoua confiana de gnios cruis, desempenhando presentemente adetestvel funo de grande sacerdote em mistrios escuros. Che-fia condenvel falange de centenas de outros espritos desditosos,cristalizados no mal e que lhe obedecem com deplorvel cegueirae quase absoluta fidelidade. Agravou o passivo de suas dvidasclamorosas, trazidas da insnia terrestre, e vem sendo instrumentoinfeliz nas mos de inimigos do bem, poderosos e ingratos... Hcinqenta anos, porm, j consigo aproximar-me dele, mental-mente. Recalcitrante e duro, a princpio, Gregrio agora experi-menta algum tdio, o que constitu uma bno nos coraesinfiis ao Senhor. J lhe surpreendo no esprito rudimentos denecessria transformao. Ainda no chora sob o guante do arre-

    pendimento benfico e parece-me longe do remorso salvador;entretanto, j duvida da vitria do mal e abriga interrogaes na

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    mente envilecida. No to severo no comando dos espritos

    desventurados que lhe seguem as determinaes e o colapso desua resistncia no me parece remoto.

    Nesse instante, notei que a venervel matrona derramava l-grimas discretas, que lhe deslizavam na face como sementes deluz.

    Parou por alguns momentos, controlada pelas reminiscnciasdolorosas, e continuou:

    Irmo Gbio, perdoa-me o pranto que no significa mgoaou esmorecimento... Na pauta do julgamento humano comum,meu filho espiritual ser talvez um monstro... Para mim, contudo, a jia primorosa do corao ansioso e enternecido. Penso nelequal se houvera perdido a prola mais linda num mar de lama etremo de alegria ao considerar que vou reencontr-lo. No pai-xo doentia que vibra em minhas palavras. o amor que o Senhor

    acendeu em ns, desde o princpio. Estamos presos, diante deDeus, pelo magnetismo divino, tanto quanto as estrelas que seimantam umas s outras, no imprio universal. No encontrarei oCu, sem que os sentimentos de Gregrio se voltem igualmentepara a Eterna Sabedoria. Alimentamo-nos na Criao com os raiosde vida imperecvel que emitimos uns para com os outros. Comosurpreender a perfeita ventura se recebo do filho amado to so-mente raios de foras em desvario?

    O nosso orientador contemplou-a, de olhos midos, e rogou:

    Nobre Matilde! estamos prontos. Dita ordens! Por mais quefizssemos por tua alegria, nosso esforo seria pobre e pequenino,diante dos sacrifcios em que te empenhas por ns todos.

    Num sorriso triste, prosseguiu a respeitvel senhora:

    Descerei, dentro em breves anos, para o torvelinho de lutas

    carnais, a fim de esperar Gregrio em existncia de resgate difcile doloroso. Educ-lo-ei sob os princpios superiores que regem a

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    vida. Crescer sob minha inspirao imediata e receber a prova

    perigosa e aflitiva da riqueza material. de nosso plano que eleacolha, no curso do tempo, em labor gradativo, a extensa legiode servidores viciados que hoje o seguem e a ele obedecem, a fimde encaminh-los, tanto os possivelmente encarnados quanto osdesencarnados, atravs do carreiro de santificao pela disciplinabenfica em construtivo suor. Padecer calnias e vilipndios.Ser muita vez humilhado face dos homens. Triunfar nos bensefmeros e nas honrarias mentirosas. Receber, no desdobramentoda tarefa salvadora, tentaes de toda espcie que lhe sero desfe-chadas pela colnia de ignorncia, perversidade e delinqncia aque atualmente se filia e conhecer, depois de experincias in-quietantes, a desero dos falsos amigos, o abandono, a misria, aenfermidade, a velhice e a solido. Apegar-se- profundamente aomeu carinho, na infncia, na mocidade e na madureza; entretanto,na colheita de provaes mais duras, t-lo-ei precedido na viagem

    do tmulo... Nessa poca, porm, que pressinto de to longe, meucorao materno, embora na esfera espiritual, encoraj-lo-, passoa passo, na direo do esperado triunfo... Nas amarguras e desilu-ses que o ajudaro a reestruturar e aperfeioar os poderes damente, minha voz de amor eterno ser por ele registrada com maispreciso... At l, porm, Gbio, compete-me trabalhar muito esem desnimo, com incessante aproveitamento das horas. Movereias cordas da intercesso sublime, mobilizarei meus amigos, roga-

    rei a Jesus fortaleza e serenidade. Iniciaremos a liberao com oteu abnegado concurso na zona abismal.

    A veneranda mensageira fez ligeiro intervalo e, concentrandoo olhar sobre o nosso instrutor, aduziu com nova inflexo de voz:

    Atenders Margarida que te foi filha amantssima e que aGregrio ainda se encontra imantada por teias escuras do passadoe colaborars com o meu devotamento materno para que na alma

    dele se converta a sublevao em humildade e a frieza em calor.

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    Encontrando-o, veste a capa do servo prestimoso e fala-lhe em

    meu nome. Sob o gelo que lhe cristaliza os sentimentos, descansa,inapagada, a chama do amor que nos une para sempre. Disponho,agora, da permisso de fazer-me sentir e acredito que, face detua amorosa tarefa, mover-se-lhe- o esprito endurecido. Seiquanto te custa a incurso nos domnios da dor, porque s aqueleque sabe amar e suportar consegue triunfo nas conscincias que sedegradaram no mal; entretanto, meu amigo, os dons divinos des-cem sobre ns, dentro de justas condicionais. O Senhor nos enri-quece para que enriqueamos a outrem, d-nos alguma coisa paraensaiarmos a distribuio de benefcios que Lhe pertencem, aju-da-nos a fim de que auxiliemos, por nossa vez, os mais necessita-dos. Mais recolhe quem mais semeia...

    Diante daqueles olhos divinos, agora velados de lgrimas queno chegavam a cair, Gbio valeu-se do intervalo e considerou,reverencioso:

    Abnegada Matilde, sou pequenino em excesso para mere-cer-te as palavras. Onde existe a alegria, o sofrimento no sedetm. Socorreste-me com a tua intercesso, amparando-me ozelo afetivo, perante as necessidades de Margarida. Um coraopaternal sempre venturoso, em se humilhando pelos filhos queama. Sou simplesmente teu devedor e, se Gregrio me flagelassenos crculos em que domina, semelhante aflio se converteria

    igualmente em jbilo, dentro de mim. De qualquer modo, ele merecordar tua bondade e teu devotamento apoiando-me os prop-sitos de descer para servir. As dores que me acarretasse seriamabenoados espinhos nas rosas que me ofereceste. Em teu nome,salvarei minha filha, cuja experincia atual no corpo denso nos sumamente importante s reencarnaes porvindouras... Trabalha-rei reconhecido ao ensejo que me deste, lutarei, encorajado efeliz...

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    Mostrando intenso jbilo e grande esperana na expresso fi-

    sionmica, a senhora agradeceu com palavras generosas e conclu-iu:

    Ao terminares a fase essencial de tua misso, nos dias pr-ximos, sobre o que serei notificada por nossos mensageiros, ireiao teu encontro nos campos de sada1. Ento, quem sabe? provvel se verifique o encontro pessoal que almejo h muitotempo, porquanto Gregrio vir possivelmente em tua companhia,

    at a um ponto em que de alguma sorte a manifestao da luz serpossibilitada ante as trevas.

    A emissria acentuou a expresso brilhante do rosto, exterio-rizando a doce expectativa que lhe povoava a alma, e considerou:

    A hora chegada... O Senhor estar conosco. H tempo deplantar e tempo de colher. Gregrio e eu semearemos de novo.Seremos me e filho, outra vez!

    Detendo-se particularmente sobre nosso instrutor, falou, ext-tica:

    Possam minhas lgrimas de alegria orvalhar-te o espritolaborioso. Seguir-te-ei a ao e aproximar-me-ei no instante opor-tuno. Creio na vitria do amor, logo resplandea o minuto doreencontro. Nesse dia abenoado, Gregrio e os companheirosque mais se afinarem com ele sero trazidos por ns a crculos

    regeneradores e, dessas esferas de reajustamento, conto reorgani-zar elementos ante o futuro promissor, sonhando em companhiadele as realizaes que nos competem alcanar.

    Gbio pronunciou algumas frases de compromisso fraterno.

    Trabalharamos sem descanso.

    Desvelar-nos-amos pela execuo das ordens afetuosas.

    1 A expresso campos de sada define lugares-limites, entre as esferasinferiores e superiores. Nota do autor espiritual.

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    A singular entrevista terminou entre preces de gratido ao E-

    terno Pai.Findo aquele culto vivo de amor imortal, despedimo-nos da

    famlia crist que ali se congregava.

    C fora, a noite se fizera mais bela.

    A Lua reinava num trono de azul macio, constelado de estre-las luzentes.

    Flores inmeras saudavam-nos com perfume inebriante.Ergui para o instrutor olhos repletos de indagaes, mas G-bio, afagando-me os ombros, delicadamente murmurou:

    Repousa a mente e no perguntes por agora. Amanh, se-guiremos na direo da tarefa nova, que nos exigir muita pru-dncia e compreenso fraternal, e convence-te de que o servionos esclarecer com a sua linguagem viva.

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    4Numa cidade estranha

    No dia imediato, pusemo-nos em marcha.

    Respondendo-nos s argies afetuosas, o instrutor infor-mou-nos de que teramos apenas alguns dias de ausncia.

    Alm dos servios referentes ao encargo particular que nosmobilizava, entraramos em algumas atividades secundrias deauxlio. Tcnico em misses dessa natureza, afirmou que nosadmitira, num trabalho que ele poderia desenvolver sozinho, nos pela confiana que em ns depositava, mas tambm pela neces-sidade da formao de novos cooperadores, especializados noministrio de socorro s trevas.

    Aps a travessia de vrias regies, em descida, com escalas

    por diversos postos e instituies socorristas, penetramos vastodomnio de sombras.

    A claridade solar jazia diferenada.

    Fumo cinzento cobria o cu em toda a sua extenso.

    A volitao fcil se fizera impossvel.

    A vegetao exibia aspecto sinistro e angustiado. As rvores

    no se vestiam de folhagem farta e os galhos, quase secos, davama idia de braos erguidos em splicas dolorosas.

    Aves agoureiras, de grande tamanho, de uma espcie que po-der ser situada entre os corvdeos, crocitavam em surdina, seme-lhando-se a pequenos monstros alados espiando presas ocultas.

    O que mais contristava, porm, no era o quadro desolador,mais ou menos semelhante a outros de meu conhecimento, e, sim,

    os apelos cortantes que provinham dos charcos. Gemidos tipica-mente humanos eram pronunciados em todos os tons.

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    Acredito, teramos examinado individualmente os sofredores

    que a se localizavam, se nos entregssemos a detida apreciao;todavia, Gbio, maneira de outros instrutores, no se detinhapara atender a curiosidade improfcua.

    Lembrando a selva escura a que Alighieri se reporta no i-mortal poema, eu trazia o corao premido de interrogativasinquietantes.

    Aquelas rvores estranhas, de frondes ressecadas, mas vivas,

    seriam almas convertidas em silenciosas sentinelas de dor, qual amulher de Lot, transformada simbolicamente em esttua de sal?

    E aquelas grandes corujas diferentes, cujos olhos brilhavamdesagradavelmente nas sombras, seriam homens desencarnadossob tremendo castigo da forma? Quem chorava nos vales extensosde lama? Criaturas que houvessem vivido na Terra que record-vamos, ou duendes desconhecidos para ns?

    De quando em quando, grupos hostis de entidades espirituaisem desequilbrio nos defrontavam, seguindo adiante, indiferentes,incapazes de registrar-nos a presena. Falavam em alta voz, emportugus degradado, mas inteligvel, evidenciando, pelas garga-lhadas, deplorveis condies de ignorncia. Apresentavam-se emtrajes bisonhos e conduziam apetrechos de lutar e ferir.

    Avanamos mais profundamente, mas o ambiente passou a

    sufocar-nos. Repousamos, de algum modo, vencidos de fadigasingular, e Gbio, depois de alguns momentos, nos esclareceu:

    Nossas organizaes perispirticas, maneira de escafandroestruturado em material absorvente, por ato deliberado de nossavontade, no devem reagir contra as baixas vibraes deste plano.Estamos na posio de homens que, por amor, descessem a operarnum imenso lago de lodo; para socorrer eficientemente os que seadaptaram a ele, so compelidos a cobrir-se com as substncias docharco, sofrendo-lhes, com pacincia e coragem, a influenciao

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    deprimente. Atravessamos importantes limites vibratrios e cabe-

    nos entregar a forma exterior ao meio que nos recebe, a fim desermos realmente teis aos que nos propomos auxiliar. Finda anossa transformao transitria, seremos vistos por qualquer doshabitantes desta regio menos feliz. A orao, de agora em diante,deve ser nosso nico fio de comunicao com o Alto, at que eupossa verificar, quando na Crosta, qual o minuto mais adequadode nosso retorno aos dons luminescentes. No estamos em caver-nas infernais, mas atingimos grande imprio de intelignciasperversas e atrasadas, anexo aos crculos da Crosta, onde os ho-mens terrestres lhes sofrem permanente influenciao. Chegoupara ns o momento de pequeno testemunho. Muita capacidade derenncia indispensvel, a fim de alcanarmos nossos fins. Po-demos perder por falta de pacincia ou por escassez de vocaopara o sacrifcio. Para a malta de irmos retardados que nos en-volver, seremos simples desencarnados, ignorantes do prprio

    destino.Passamos a inalar as substncias espessas que pairavam em

    derredor, como se o ar fosse constitudo de fluidos viscosos.

    Eli estirou-se, ofegante, e no obstante experimentar, porminha vez, asfixiante opresso, busquei padronizar atitudes pelaconduta do instrutor, que tolerava a metamorfose, silencioso epalidssimo.

    Reparei, confundido, que a voluntria integrao com os ele-mentos inferiores do plano nos desfigurava enormemente. Pouco apouco, sentimo-nos pesados e tive a idia de que fora, de improvi-so, religado, de novo, ao corpo de carne, porque, embora mesentisse dono da prpria individualidade, me via revestido dematria densa, como se fosse obrigado a envergar inesperadaarmadura.

    Decorridos longos minutos, o orientador apelou, diligente:

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