fortes contra os fracos, mas fracos contra os fortes

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Fortes contra os fracos, mas fracos contra os fortes. Ouvi esta frase num programa de televisão e impressionou-me tanto que tive que escrever esta artigo. Nesse programa estava-se a falar de penhoras a pessoas com dívidas, coisa que infelizmente tem acontecido no nosso país a muitas gente, nos últimos anos. Mas o problema que se debatia não era bem esse, era que essas coisas não eram feitas de igual modo para todos. E por isso um dos intervenientes terminou a sua intervenção dizendo: "porque no nosso país, estas coisas são feitas por pessoas muito fortes contra os fracos, mas cobardemente fracas contra os fortes". Como o autor da frase, quando, neste artigo digo forte ou fraco, refiro-me ao poder económico e não à moral e ao carácter da pessoa. Por isso eu dei este título ao meu artigo, e comecei-o também com esta frase. Para não ficar muito longa, mas ter o mesmo significado, escrevi apenas "Fortes contra os fracos, mas fracos contra os fortes".

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Fortes contra os fracos, mas fracos contra os fortes. Ouvi esta frase num programa de televisão e impressionou-me tanto que tive que escrever esta artigo. Nesse programa estava-se a falar de penhoras a pessoas com dívidas, coisa que infelizmente tem acontecido no nosso país a muitas gente, nos últimos anos. Mas o problema que se debatia não era bem esse, era que essas coisas não eram feitas de igual modo para todos. E por isso um dos intervenientes terminou a sua intervenção dizendo: "porque no nosso país, estas coisas são feitas por pessoas muito fortes contra os fracos, mas cobardemente fracas contra os fortes".

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Page 1: Fortes contra os fracos, mas fracos contra os fortes

Fortes contra os fracos, mas fracos contra os fortes. Ouvi esta frase num programa de televisão e impressionou-me tanto que tive que escrever esta artigo.

Nesse programa estava-se a falar de penhoras a pessoas com dívidas, coisa que infelizmente tem acontecido no nosso país a muitas gente, nos últimos anos.

Mas o problema que se debatia não era bem esse, era que essas coisas não eram feitas de igual modo para todos. E por isso um dos intervenientes terminou a sua intervenção dizendo: "porque no nosso país, estas coisas são feitas por pessoas muito fortes contra os fracos, mas cobardemente fracas contra os fortes".

Como o autor da frase, quando, neste artigo digo forte ou fraco, refiro-me ao poder económico e não à moral e ao carácter da pessoa.

Por isso eu dei este título ao meu artigo, e comecei-o também com esta frase. Para não ficar muito longa, mas ter o mesmo significado, escrevi apenas "Fortes contra os fracos, mas fracos contra os fortes".

Page 2: Fortes contra os fracos, mas fracos contra os fortes

Isto não se passa só no nosso país, passa-de também em muitos outros, em alguns mais em outros menos, mas é o que se passa cá que nos afecta mais a nós e às pessoas com quem convivemos.

Não é meu objectivo estar aqui a contar histórias de injustiças. Os jornais e as televisões estão cheias delas. Quem quiser conecê-las não vai ter, de certeza, dificuldade em encontrá-las.

Vou só pedir-te para fazeres uma pequena análise comigo. Muito rapidamente, vamos olhar para a nossa sociedade.

Vamos tentar perceber quem são os Fortes contra os fracos, mas fracos contra os fortes.

Sempre houve ricos e pobres. E se pensarmos que há pessoas mais trabalhadoras do que outras, que há pessoas mais empreendedoras do que outras... Sempre vai haver.

Agora vamos olhar para a organização da nossa sociedade. Sem aprofundar, isso poderá ficar para artigos futuros.

Mas, primeiro vê este vídeo. Para que sejas sempre uma pessoa forte por dentro.

Há empresas que pertencem a pessoas. Essas pessoas são os patrões. Nessas empresas há pessoas que vão lá para trabalhar, mas que não possuem nada da empresa. São os empregados. Estamos a falar daqueles, que mesmo possuindo algumas acções (quando a empresa onde trabalham está cotada na bolsa) não têm poder de decisão. O rendimento principal destas pessoas é o seu salário.

Sabemos que nem todas estas pessoas, os empregados, estão realmente empregados. Muitas estão no desemprego, outro dos grandes problemas dos últimos anos, que ainda se sente.

Sabendo que vivemos num modelo de mercado liberal, onde a oferta e a procura determinam os preços dos bens e serviços, é natural que havendo muita procura de emprego e pouca oferta, o preço a pagar por este sobe. E

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qual é o preço a pagar por este bem, do lado dos empregados, do lado dos que querem ir trabalhar? É aceitarem um emprego com um salário mais baixo do que gostariam.

Conheces alguém que tenha sido despedido nos últimos anos e que tenha depois encontrado outro emprego a ganhar às vezes metade do que ganhava?

Então, se o desemprego se mantiver alto, os salários vão manter-se baixos. Muito conveniente para quem paga salários. Muito pouco para quem os recebe.

Claro que isto não é assim tão linear, nem todos os patrões são iguais. Achas que a maioria deles tem sentido de justiça ou querem apenas ganhar o mais possível e então aproveitam-se de todas estas crises para o fazer? Deixa um comentário no fim deste artigo com a tua opinião.

Há até quem diga que estas crises são "inventadas" para "regular" os salários quando as pessoas começam a ter outra qualidade de vida. Há que travá-las, não vão elas começar a sonhar mais alto, ainda se tornam empreendedoras, ainda deixam de trabalhar para mim porque conseguem trabalhos com melhores rendimentos e depois quem vai aceitar trabalhar para mim e aceitar o salário que eu ofereço?

Se houver uma maneira de manter os salários baixos, ou até de os reduzir, enquanto as pessoas andam ocupadas a trabalhar 10 ou 12 horas por dia, ou mais, em dois empregos, para conseguirem sobreviver e dar alguma coisa aos seus filhos, nem sequer têm tempo de pensar nestas coisas. Nada melhor que uma crise para pôr as coisas nos seus lugares.

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A boa notícia é que cada vez há mais pessoas a optarem por outras soluções. Soluções que as podem realmente tirar da crise. E isto incomoda um pouco esses senhores, os organizadores da nossa sociedade, os senhores do destino.

No próximo artigo vamos continuar esta análise, mas vamos olhar para outro aspecto da organização da nossa sociedade. O sistema financeiro e as instituições financeiras. Será que elas foram mesmo as responsáveis pela crise? Será que são elas os senhores que organizam a nossa sociedade?

Quem são afinal esses que são fortes contra os fracos, mas fracos contra os fortes?Vamos descobrir no próximo artigo.

Até lá, fica bem.

Luis Costa