forrageiras para integração

96
1 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Trigo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Forrageiras para Integração Lavoura-Pecuária-Floresta na Região Sul-Brasileira Editores Renato Serena Fontaneli Henrique Pereira dos Santos Roberto Serena Fontaneli Passo Fundo, RS 2009

Upload: rodrigo-neves

Post on 13-Oct-2015

18 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 1Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuriaEmbrapa Trigo

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    Forrageiras para IntegraoLavoura-Pecuria-Floresta na

    Regio Sul-Brasileira

    EditoresRenato Serena Fontaneli

    Henrique Pereira dos SantosRoberto Serena Fontaneli

    Passo Fundo, RS2009

  • 2 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Exemplares desta publicao podem ser solicitados :Embrapa TrigoRodovia BR 285, km 294Caixa Postal, 451Telefone: 54 3316-5800 - Fax: 54 3316-580199001-970 Passo Fundo, RSHome page: www.cnpt.embrapa.brE-mail: [email protected]

    Comit de PublicaesAnderson Santi, Antnio Faganello, Casiane Salete Tibola, LeandroVargas (Presidente), Leila Maria Costamilan, Lisandra Lunardi, MariaRegina Cunha Martins, Sandra Maria Mansur Scagliusi, Sandro Bonow

    Tratamento Editorial: Ftima Maria De MarchiCapa: Liciane Toazza Duda BonattoFicha Catalogrfica: Maria Regina MartinsFoto: Paulo Kurtz, Henrique Pereira dos Santos e Renato SerenaFontaneli

    1 edio1 impresso (2009): Tiragem: 1.000 exemplares

    Todos os direitos reservados.A reproduo no-autorizada desta publicao, no todo ou em parteconstitui violao dos direitos autorais (Lei n 9.610).

    Fontaneli, Renato SerenaForrageiras para integrao lavoura-pecuria na regio sul-brasi-

    leira. / Renato Serena Fontaneli, Henrique Pereira dos Santos eRoberto Serena Fontaneli - Passo Fundo : Embrapa Trigo, 2009.

    340 p.; 21 cm.ISBN 978-85-7574-023-11. Forrageira-Rio Grande do Sul-Brasil. I. Santos, Henrique Perei-ra dos. II. Fontaneli, Roberto Serena. IV. Ttulo.

    CDD: 633.208165 Embrapa Trigo - 2009

  • 3Autores

    Aislam Celso PazinatoAcadmico de AgronomiaBosista do CNPqE-mail: [email protected]

    Alfredo do Nascimento JuniorEngenheiro Agrnomo, Dr.Melhoramento de Cereais de InvernoPesquisador da Embrapa TrigoRodovia BR 285, km 294 - Caixa Postal, 45199001-970 Passo Fundo, RSE-mail: [email protected]

    Alexandre Costa VarellaEngenheiro Agrnomo, Ph.D.AgrosilviculturaPesquisador da Embrapa Pecuria SulRodovia BR 153, km 595 - Caixa Postal, 24296401-970 Bag, RSE-mail: [email protected]

  • 4 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Amauri Csar PivottoEngenheiro Agrnomo, Mestrando da UPFCotrisana Rua Frei Geraldo, 29199840-000 Sananduva-RSE-mail: [email protected]

    Andr Brugnara SoaresEngenheiro Agrnomo, Dr.Forragicultura e Produo AnimalProfessor UTFPRRodovia do ConhecimentoPato Branco-PRE-mail:

    Anibal de MoraesEngenheiro Agrnomo, Dr.Forragicultura e Produo AnimalProfessor UFPRRua dos Funcionrios, 1540 Bairro Cabral80035-050 Curitiba -PRE-mail: [email protected]

    Cludia De MoriEngenheira Agrnoma, M.S.Doutoranda UFSCSistemas de ProduoPesquisadora da Embrapa TrigoRodovia BR 285, km 294 - Caixa Postal, 45199001-970 Passo Fundo, RSE-mail: [email protected]

  • 5Eduardo CaieroEngenheiro Agrnomo, M.S.Melhoramento de Cereais de InvernoPesquisador da Embrapa TrigoRodovia BR 285, km 294 - Caixa Postal, 45199001-970 Passo Fundo, RSE-mail: [email protected]

    Euclydes MinellaEngenheiro Agrnomo, Ph.D.Melhoramento de Cereais de InvernoPesquisador da Embrapa Trigo, bolsista do CNPqRodovia BR 285, km 294 - Caixa Postal, 45199001-970 Passo Fundo, RSE-mail: [email protected]

    Franciele MarianiEngenheira Agrnoma, M.S.Mestrando da UPFDistrito de So Miguel99530-000 Chapada-RSE-mail: [email protected]

    Gergia MaldanerAcadmica de AgronomiaBolsista do CNPqE-mail: [email protected]

  • 6 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Henrique Pereira dos SantosEngenheiro Agrnomo, Dr.Manejo de Culturas/Sistemas de ProduoPesquisador da Embrapa Trigo, bolsista do CNPqRodovia BR 285, km 294 - Caixa Postal, 45199001-970 Passo Fundo, RSE-mail: [email protected]

    Heverly MoraisEngenheiro Agrnomo e Administrador, Dra.AgrometeorologiaPesquisadora do IAPARRodovia Celso Garcia Cid, Km 375 Trs Marcos56047-902- Londrina-PRE-mail: [email protected]

    Janete Taborda de OliveiraEngenheira Agrnoma, M.S.Produo VegetalSinuelo AgropecuriaRua Julio Golin, 37599600-000 Nonoai-RSE-mail: [email protected]

    Joo Carlos de SaibroEngenheiro Agrnomo, Ph.D.Pastagem e ForragiculturaProfessor Convidado da UFRGS91.501-970 - Porto Alegre - RSE-mail: [email protected]

  • 7Joo Carlos IgnaczakEngenheiro Agrnomo, M.S.EstatsticaPesquisador da Embrapa Trigo, AposentadoRodovia BR 285, km 294 - Caixa Postal, 45199001-970 Passo Fundo, RSE-mail: [email protected]

    Joo Leonardo Fernandes PiresEngenheiro Agrnomo, Dr.Manejo de Culturas/ Sistemas de ProduoPesquisador da Embrapa TrigoRodovia BR 285, km 294 - Caixa Postal, 45199001-970 Passo Fundo, RSE-mail: [email protected]

    Joo Walter DrrEngenheiro Agrnomo, Ph.D.Melhoramento AnimalProfessor da Universidade de Passo FundoRodovia BR 285, km 291 - Caixa Postal, 61199001-970 Passo Fundo, RSE-mail: [email protected]

    Jorge RibaskiEngenheiro Florestal, Dr.AgrosilviculturaPesquisador da Embrapa FlorestaEstrada da Ribeira - Caixa Postal, 31983411-000 Colombo-PRE-mail: [email protected]

  • 8 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Leo de Jesus Del DucaEngenheiro Agrnomo, Dr.Melhoramento de Cereais de InvernoPesquisador da Embrapa Trigo (aposentado)Rodovia BR 285, km 294 - Caixa Postal, 45199001-970 Passo Fundo, RSE-mail: [email protected]

    Letcia R SignoriAcadmica de Agronomia UPFBolsista do CNPqE-mail: [email protected]

    Mauro Csar Celaro TeixeiraEngenheiro Agrnomo, Ph.D.Fisiologia da ProduoPesquisador da Embrapa TrigoRodovia BR 285, km 294 - Caixa Postal, 45199001-970 Passo Fundo, RSE-mail: [email protected]

    Nara BarbieriAcadmica de Agronomia UPFBolsista do CNPqE-mail: [email protected]

    Osmar RodriguesEngenheiro Agrnomo, M.S.Fisiologia VegetalPesquisador da Embrapa TrigoRodovia BR 285, km 294 - Caixa Postal, 45199001-970 Passo Fundo, RSE-mail: [email protected]

  • 9Raquel Santiago BarroDoutoranda Zootecnia (Plantas de Lavoura) - UFRGSRua Carazinho, 399 - Ap. 01Bairro Petrpolis91.501-970 - Porto Alegre - RSE-mail: raquel.barros@ufrgs

    Renato Serena FontaneliEngenheiro Agrnomo, Ph.D.Pesquisador da Embrapa Trigo, Prof. da UPF e bolsista do CNPqManejo de Pastagens/Integrao lavoura-pecuriaRodovia BR 285, km 294 - Caixa Postal, 45199001-970 Passo Fundo, RSE-mail: [email protected]

    Roberto Serena FontaneliEngenheiro Agrnomo, Dr.Nutrio AnimalProfessor da UERGS/FUPFLaboratrio de Nutrio Animal - UPFRodovia BR 285, km 29199001-970 Passo Fundo, RSE-mail: [email protected]

    Vanderley Porfrio da SilvaEngenheiro Agrnomo, M.S.AgrosilviculturaPesquisador da Embrapa FlorestaEstrada da RibeiraCaixa Postal, 31983411-000 Colombo-PRE-mail: [email protected]

  • 10 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

  • 11

    Apresentao

    Gilberto da Rocca CunhaChefe-Geral da Embrapa Trigo

  • 12 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

  • 13

    Prefcio

    A produo animal juntamente com a produo de gros es-to viabilizando sistemas de explorao florestal, que so demdio e longo prazos, constituindo sistemas mais comple-xos como silvipastoris, agropastoris e agrossilvipastoris oude integrao lavoura-pecuria-floresta (ILPF) esto sendopraticados intensivamente no Sul do Brasil. Alm disso, aproduo de carne e leite esto permitindo aumento de ren-da em reas extensas no cultivadas com culturas de grosdurante o inverno. Por outro lado a intensificao da produ-o de leite ou mesmo confinamento animal, juntamento comaves e sunos, aumenta a demanda por gros, que tambmpodem ser obtidos durante o inverno, pelo cultivo de cereaisforrageiros de inverno, inclusive de duplo propsito (pasto egros) sem comprometer a quantidade de alimento dispon-vel para consumo humano, pois utiliza as reas em pousioou com culturas usadas para adubao verde. Os ruminan-tes, graas simbiose com microorganismos do rmen, tma capacidade de utilizar esses alimentos inaproveitveis paraconsumo humano, que com manejo apropriado no compro-metem a produo de gros e, consequentemente, nem apalhada para cobertura vegetal, pressuposto importante parao sucesso da tecnologia sistema plantio direto (SPD).

  • 14 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    O propsito principal deste livro combinar de forma equili-brada bases tcnicas e aspectos prticos ligados ao estabe-lecimento e manejo das principais forrageiras para a regiosul-brasileira, que embora gerados para o norte do Rio Gran-de do Sul, so aplicveis para outras regies semelhantesdo sul do Brasil, como o oeste de Santa Catarina e sudoestedo Paran. A obra no tm preteno de esgotar o tema,mas rene informaes teis para tcnicos, produtores eestudantes de Cincias Agrrias.

    No objetivo dar simplesmente receitas, mas, sim, proverinformaes e integrar conceitos. Um texto baseado somen-te em aspectos prticos dificilmente representa uma amplitu-de de ambientes, devendo-se recordar tambm que a prti-ca no se ensina sem que se aprenda por experincia.

    As forrageiras tm a mais varivel composio do que qual-quer outra fonte de nutrientes, sendo esta afetada por esp-cie, variedade ou cultivar, fertilidade do solo, estdio de cres-cimento e prticas de manejo. Neste livro, d-se especialnfase queles conhecimentos com possibilidades de apli-cao para produo e manejo eficientes das principaisforrageiras usadas regionalmente.

    Finalmente, os autores agradecem aos profissionais e estu-dantes de Cincias Agrrias e aos produtores demandantespor informaes relativas ILPF, que os estimularam a siste-matizar conhecimentos disponveis para melhoria da agricul-tura regional e equipe da Embrapa Trigo.

    Os autores

  • 15

    Sumrio

    INTRODUO ................................................................ 21

    Captulo 1

    QUALIDADE DA FORRAGEMRoberto Serena Fontaneli e Renato Serena Fontaneli ..... 25

    Captulo 2

    MORFOLOGIA DE GRAMNEASRenato Serena Fontaneli, Henrique Pereira dos Santos eRoberto Serena Fontaneli ................................................ 33

    Captulo 3

    GRAMNEAS ANUAIS DE INVERNOHenrique Pereira dos Santos, Renato Serena Fontanelie Roberto Serena Fontaneli e Janete Taborda deOliveira ........................................................................... 41 Aveia preta ................................................................... 41 Aveia branca ................................................................. 50 Azevm ........................................................................ 53 Centeio ........................................................................ 59

  • 16 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Cevada ......................................................................... 62 Trigo ............................................................................. 65 Triticale ......................................................................... 72

    Captulo 4

    CEREAIS DE INVERNO DE DUPLO PROPSITOESTABELECIMENTO E MANEJO DE CEREIAS DEDUPLO PROPSITORenato Serena Fontaneli, Henrique Pereira dos Santos,Osmar Rodrigues e Joo Leonardo Fernandes Pires ..... 79

    Captulo 5

    POTENCIAL DE RENDIMENTO DE CEREAIS DEINVERNO DE DUPLO PROPSITORenato Serena Fontaneli, Henrique Pereira dos Santos,Roberto Serena Fontaneli, Leo de Jesus Del Duca,Osmar Rodrigues, Mauro Cesar Celaro Teixeira, Alfredodo Nascimento Junior, Euclydes Minella, EduardoCaiero, Cludia De Mori, Janete Taborda de Oliveira eFranciele Mariani .............................................................. 97

    Captulo 6

    VALOR NUTRITIVO DE CEREAIS DE INVERNO DEDUPLO PROPSITORoberto Serena Fontaneli, Joo Walter Drr, RenatoSerena Fontaneli, Henrique Pereira dos Santos, NaraBarbieri, Aislam Celso Pazinato e Gergia Maldaner .... 121

  • 17

    Captulo 7

    SILAGEM DE CEREAIS DE INVERNORoberto Serena Fontaneli e Renato Serena Fontaneli .........

    Captulo 8

    ANLISE ECONMICA DE CEREAIS DE INVERNO DEDUPLO PROPSITOCludia De Mori, Joo Carlos Ignaczak, Joo LeonardoFernandes Pires, Henrique Pereira dos Santos eRenato Serena Fontaneli ............................................. 151

    Captulo 9

    GRAMNEAS PERENES DE INVERNORenato Serena Fontaneli, Roberto Serena Fontaneli eHenrique Pereira dos Santos ......................................... 173 Festuca ....................................................................... 173 Capim dos pomares ou dctilo ................................... 180 Cevadilha-serrana ....................................................... 182

    Captulo 10

    GRAMNEAS ANUAIS DE VERORenato Serena Fontaneli, Roberto Serena Fontaneli eHenrique Pereira dos Santos ......................................... 185 Milheto ou capim italiano ............................................ 185 Sorgos forrageiros, capim sudo ou aveia de vero .. 190 Teosinto ou dente de burro ......................................... 193

  • 18 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Captulo 11

    GRAMNEAS PERENES DE VERORenato Serena Fontaneli, Roberto Serena Fontaneli,Franciele Mariani, Amauri Csar Pivotto e Letcia RSignori ............................................................................ 199 Gramas Bermuda, Estrela Africana e seus hbridos . 199 Hemartria ................................................................... 209 Quicuio ....................................................................... 213 Capim elefante ........................................................... 217 Braquiria brizanta ou braquiaro .............................. 221 Colonio ..................................................................... 226 Pensacola .................................................................. 231 Grama comprida ........................................................ 235 Capim pojuca ............................................................. 237

    Captulo 12

    MORFOLOGIA DE LEGUMINOSASRenato Serena Fontaneli, Henrique Pereira dos Santose Augusto Carlos Baier .................................................. 239

    Captulo 13

    LEGUMINOSAS ANUAIS DE INVERNOHenrique Pereira dos Santos, Renato Serena Fontaneli,Gilberto Omar Tomm e Roberto Serena Fontaneli ........ 247 Ervilha-forrageira ......................................................... 247 Ervilhaca ..................................................................... 250 Serradela ..................................................................... 254 Trevo vesiculoso ......................................................... 256 Trevo subterrneo ....................................................... 260

  • 19

    Captulo 14

    LEGUMINOSAS PERENES DE INVERNORenato Serena Fontaneli, Roberto Serena Fontaneli eHenrique Pereira dos Santos ......................................... 263 Cornicho ................................................................... 263 Trevo branco .............................................................. 267 Trevo vermelho ........................................................... 272

    Captulo 15

    LEGUMINOSA PERENE DE VERORenato Serena Fontaneli e Roberto Serena Fontaneli ... 277 Alfafa ........................................................................... 277

    Captulo 16

    ESTABELECIMENTO DE PLANTAS FORRAGEIRASEM SISTEMAS DE INTEGRAO FLORESTA-PECURIA NO SUL DO BRASILAlexandre Costa Varella, Vanderlei Porfrio Silva, JorgeRibaski, Andr Brugnara Soares, Anibal Moraes, HeverlyMorais, Anibal Morais, Joo Carlos de Saibro e RaquelSantiago Barro ............................................................... 283

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................ 304

    ANEXO .......................................................................... 329

  • 20 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

  • 21

    Introduo

    As culturas de vero, principalmente soja, milho, arroz, feijoe sorgo, ocupam anualmente, na regio Sul do Brasil, cercade 13,5 milhes de hectares, sem considerar a rea do milhosafrinha no Paran. As culturas de inverno, para produode gros, tm ocupado, nas ltimas safras, cerca de dois emeio milhes de hectares. Isso indica a necessidade de al-ternativas econmicas para este perodo, em que parte subs-tancial da terra cultivada permanece exposta eroso.

    Existem vrias espcies que podem ser usadas como cultu-ras de cobertura de solo e de produo de forragem paraalimentar animais. Entretanto, o grande entrave para aceita-o de algumas culturas pelos agricultores o preo da se-mente ou a dificuldade para obt-la, pois representa grandeparte do custo de estabelecimento. Outra dificuldade adicio-nal refere-se ao fato de certas espcies apresentarem ciclomuito longo, como o trevo vesiculoso e mesmo as ervilhacas.Existem tambm algumas espcies com sementes peque-nas, de difcil estabelecimento e que podem apresentar pro-blema de sementes duras, como o caso do trevo vesiculoso.

    Por outro lado, de importncia estratgica o uso de cereaisde inverno de duplo propsito nos sistemas de produo di-versificados. Elas podem cobrir o solo antecipadamente, pro-duzir forragem de timo valor nutritivo para ruminantes du-

  • 22 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    rante a estao fria, e ainda produzir gros.

    A produtividade continuada das pastagens depende de mui-tos fatores, especialmente da fertilidade do solo. A prtica decorreo da acidez de solo e de adubao, habitual para ocultivo de gros, pouco difundida no estabelecimento depastagens, podendo o retorno econmico ser maior, quandousada com orientaes tcnicas. Durante os meses mais fri-os do ano, de forma geral, a deficincia de nitrognio vis-vel na cor amarelada das pastagens de gramneas, por todoo Sul do Brasil. Alm disso, as leguminosas freqentementeapresentam deficincias de fsforo e de potssio e, portanto,mostram pouca persistncia. O manejo da adubao em pas-tagens, para favorecer as gramneas, deve priorizar a adu-bao nitrogenada e, para favorecer as leguminosas, deve-se dar preferncia adubao fosfatada.

    As atividades com bovinos de corte ou leite so oportunida-des de diversificao, de lucratividade e de aumento desustentabilidade da atividade agrcola regional, baseada pri-mariamente na produo de gros.

    Forrageiras de estao fria so a espinha dorsal de uma agri-cultura sustentvel e representam a base alimentar de rumi-nantes nas regies de clima temperado em todo mundo.Poucas espcies tm sido usadas desde que o homemnmade comeou a domesticar ruminantes e eqinos (NEL-SON & MOSER, 1994).Alm disso, a pecuria de corte do RS, com rebanho de 14milhes de bovinos, realizada predominantemente, de ma-neira extensiva, em 10,5 milhes de hectares de campo na-tural (CENSO..., 1998). Esse campo apresenta razovel va-

  • 23

    lor forrageiro na estao quente, mas durante o inverno asforrageiras de ciclo estival no crescem e, envelhecidas ecrestadas por geadas, no suprem as necessidades paramanter o peso dos animais. Nessas condies, os animaisganham peso durante a primavera e o vero, mas durante aestao fria perdem de 10% a mais de 50% do ganho depeso (FONTANELI & FREIRE JNIOR, 1991; NELSON &MOSER, 1994).Parte de reas antes consideradas ociosas j se encontracoberta com forrageiras como azevm anual, aveia preta,(RODRIGUES et al., 1998), centeio, trigo forrageiro(FONTANELI et al., 2009), nabo-forrageiro, ervilhaca e tre-vos (TOMM, 1990) que esto propiciando a engorda de novi-lhos e a intensificao da produo leiteira. O aproveitamen-to mais racional e extensivo das espcies forrageiras de es-tao fria pode contribuir notavelmente para aumentar alucratividade da agropecuria no Sul do Brasil, garantindoainda a sustentabilidade agroecolgica da atividade primrianessa importante regio produtora. Forrageiras de estaofria apresentam produo de forragem de elevada qualida-de, com ciclo complementar s espcies estivais que predo-minam nos campos naturais do Sul do Brasil. Nesse contex-to, o aperfeioamento de sistemas de produo de gros ede pastagens prioritrio.

    Pesquisas esto avaliando sistemas de produo de groscom soja, milho, trigo e aveia branca, conjugados comforrageiras anuais de inverno - aveia preta, azevm, ervilhacase trevos (FONTANELI et al., 1997), com pastagens anuaisde vero, milheto e sorgo (SANTOS & TONET, 1997), compastagens perenes de estao quente - pensacola + cornicho

  • 24 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    + trevo vermelho, com pastagens perenes de estao fria -festuca + cornicho + trevo branco e com alfafa (FONTANELIet al., 1998).Como atividade complementar integrao lavoura-pecu-ria, registra-se o aperfeioamento da tcnica de melhoria decampo natural com introduo de espcies de inverno (aveia+ azevm + leguminosas), enfocando a correo de acidezde solo e a adubao (BEN et al., 1997). Alm disso, desta-ca-se o desenvolvimento de cereais de inverno para duplopropsito, visando, em semeadura antecipada, oferta deforragem para bovinos (pastejo ou silagem pr-secada) e aposterior colheita de gros (DEL DUCA, 1993; MORAL et al.,1995; REDMON et al., 1995).O objetivo deste livro facilitar o reconhecimento, escolha enoes prticas de estabelecimento e manejo de gramnease leguminosas forrageiras, sobre os cereais de inverno deduplo propsito, que podem ser cultivados em integrao la-voura (rotao de culturas), pecuria (pastagens) e floresta(sombra, energia, celulose e madeira).

  • 25

    Qualidade de forragem

    Roberto Serena Fontaneli e Renato Serena Fontaneli

    A qualidade da forragem est diretamente relacionada com odesempenho animal, isto , produo diria de leite por ani-mal ou por rea e ganho de peso vivo dirio. Pode ser deter-minada quando: a) a forragem disponvel no limitante; b)o potencial animal no limitante; e c) os animais no rece-bem suplementao de energia ou protena. Uma maneirasimples de representar qualidade de forragem pode ser: qua-lidade de forragem = quantidade ingerida da forragem x va-lor nutritivo.

    O valor nutritivo de uma forragem refere-se s caractersti-cas inerentes da forragem consumida que determinam a con-centrao de energia digestvel e sua eficincia de utiliza-o. O valor nutritivo determinado pela concentrao edigestibilidade de nutrientes e natureza dos produtos finaisda digesto. Existem muitos fatores que afetam o desempe-nho animal, alguns so inerentes forragem (qumicos, fsi-

    1Captulo

  • 26 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    cos e caractersticas estruturais); outros, quantidade deforragem disponvel por animal, ao potencial animal (idade,sexo, raa, estado fisiolgico), a doenas, a parasitas, aoclima (temperatura, precipitao, radiao solar) e suplementao alimentar. Em resumo, qualidade de forra-gem igual a desempenho animal, isto , depende do con-sumo, da digestibilidade, do suprimento de nutrientes e dautilizao.

    A qualidade da forragem produzida pela planta ou, de formamais geral, pela populao de plantas determinada peloestdio de crescimento destas e por suas condies durantea colheita. Em sentido global, a qualidade da forragem oresultado das espcies presentes e da quantidade de forra-gem disponvel, bem como da composio e da textura decada espcie. O potencial biolgico das espcies adaptadasdepende do clima de cada ecossistema. A temperatura, adisponibilidade de gua, a fertilidade do solo e a quantidadede radiao solar so os fatores mais importantes que deter-minam a quantidade e o valor nutritivo da forragem produzi-da. As espcies diferem quanto reao temperatura du-rante as estaes do ano. Forrageiras de estao fria tm opico de produo no inverno e na primavera, enquantoforrageiras de estao quente apresentam maior produtivi-dade durante os meses mais quentes (Fig. 1). As espciesanuais de inverno (aveias, centeio, trigo, triticale, cevada eazevm), de forma geral, so mais precoces e apresentampico de produo na primavera, mas podem ter considerveltaxa de crescimento durante o outono quando semeadasantecipadamente. Espcies perenes de inverno, como afestuca, apresentam pico principal na primavera e outro,menor, no outono, sendo alternativa estratgica para preen-

  • 27

    cher o dficit forrageiro outonal. As espcies perenes de ve-ro (grama-forquilha, pensacola, capim-bermuda, quicuio,capim-de-Rhodes e capim elefante) apresentam maior pro-duo durante o vero. Durante o inverno, temperatura eluminosidade baixa reduzem a produo de forragem, en-quanto, no vero, gua o fator mais limitante produo deforragem (NELSON & MOSER, 1994).

    Fig. 1. Padres de crescimento de espcies forrageiras deestao fria e quente.Fonte: Adaptada de Nelson & Moser, 1994.

    A caracterizao do valor nutritivo de forragens baseada,principalmente, em anlises laboratoriais que foram aperfei-oadas como a proposta por Moore (1994) sumariada naTabela 1.

    O valor nutritivo varia muito entre espcies, em funo doestdio de desenvolvimento e manejo de cortes ou pastejo e

  • 28 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    adubaes. Na Tabela 2 esto sumariados alguns exemplosde valor nutritivo, levando em conta a concentrao de prote-na bruta (PB), fibra insolvel em detergente neutro (FDN),fibra insolvel em detergente cido (FDA), nutrientesdigestveis total (NDT) e valor relativo da forragem (VRF).Na Tabela 3, Mertens (1985) relaciona o valor nutritivo base-ado no teor de FDN e o consumo de forragem seca, combase no peso do animal. Para exemplificar, considerando umbovino de 400 kg consome diariamente de 8,8 a 12,5 kg deMS. A menor quantidade da forragem mais fibrosa (400 kgPV x 2,2% PV = 8,8 kg MS/dia) e, consequentemente, commenor concentrao de nutrientes digestveis que afetadiretamente o desempenho animal.

  • 29

    Tabela 1. Fraes analticas para caracterizao de composio de for-ragens.

    OutrasFraes analticas Constituintes qumicos anlises

    Umidade guaCinza Minerais e areia

    CeluloseFDA Lignina LDA

    FDN N-ligado a fibra1 PBIDA/N-danificado pelo calor1 PBIDN

    HemiceluloseSDN CSDN Frutose, Glucans, FSDN

    Substncias pcticasAcares, Amido,

    Massa Matria cidos orgnicosSeca Orgnica NNP (aminocidos, PDR

    aminas, uria) (PDC)Protena Prot. verdadeira PIRbruta degradvel (PIC)

    Prot. verdadeiraindegradvel

    Extrato cidos graxosetreo esterificados

    Pigmentos e graxas1 N-ligado a fibra e N-danificado pelo calor so encontrados tambm em protenabruta e PDRFDA = fibra detergente cido (insolvel em reagente detergente cido)FDN = fibra detergente neutro (insolvel em reagente detergente neutro)SDN = solveis em detergente neutroLDA = lignina em detergente cidoCSDN = carboidratos solveis em detergente neutroFSDN = fibra solvel em detergente neutroPBIDA = protena bruta insolvel em detergente cido (N encontrado em FDA)PBIDN = protena bruta insolvel em detergente neutro (N encontrado em FDN)NNP = nitrognio no-proticoPDR = protina degradvel ruminalmente (PDC = protena degradvel consumida)PIR = protena indegradvel ruminalmente (PIC = protena indegradvel consumida)Fonte: Adaptada de Moore, 1994.

  • 30 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Tabela 2. Valor nutritivo de algumas forragens selecionadas.

    Espcie PB FDA FDN NDT VRF*

    ------------------------------ (%) --------------------------------AlfafaElongao 22-26 28-32 38-47 64-67 127-164Incio floresc. 18-22 32-36 42-50 61-64 113-142Meio floresc. 14-18 36-40 46-55 58-61 98-123Floresc. pleno 9-13 41-43 56-60 50-57 90-110

    Silagem milhoRico em gros 7-9 23-30 48-58 66-71 105-138Pobre gros 7-9 30-39 58-67 59-66 81-105

    AzevmVegetativo 12-16 27-33 47-53 63-68 111-134Florescimento 8-12 33-39 58-63 59-62 92-111

    Trevo vermelhoIncio floresc. 14-16 28-32 38-42 64-67 142-164Flor. pleno 12-14 32-38 42-50 59-64 110-142

    Bermuda4 semanas 10-12 33-38 63-68 52-58 81-938 semanas 6-8 40-45 70-75 45-50 67-77

    Milheto ou capim italiano e sorgos forrageiros4 semanas 15-18 35-40 55-70 58-64 77-104

    Aveias e cereais de duplo propsitoVegetativo 18-25 23-31 47-55 60-70 110-140Incio floresc. 11-14 33-39 53-59 59-63 90-115* VRF = (%CMS x %DMS)/1,29 VRF = valor relativo da forragemCMS = consumo da massa seca DMS = digestibilidade da matria secaFonte: Adaptada de Ball et al., 2007, Fontaneli et al., 2009.

  • 31

    Tabela 3. Relao entre valor nutritivo da forragem baseado no teorde FDN e consumo de massa seca.

    Valor nutritivo FDN (%) Consumo (% do peso vivo)Excelente 38 3,16

    40 3,0042 2,8644 2,7346 2,6148 2,5050 2,4053 2,31

    Pobre 54 2,22Fonte: Adaptada de Mertens, 1985.

  • 32 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

  • 33

    2Captulo

    Morfologia de gramneas

    Renato Serena Fontaneli, Henrique Pereira dos Santos eRoberto Serena Fontaneli

    A famlia das gramneas (Poaceae ou Gramineae) uma dasprincipais famlias na diviso Angiospermae e da classeMonocotiledoneae. Essa denominao vem do embrio comum s cotildone por ocasio da germinao. Nessa famliaesto as gramas (capins), possuem folhas lineares, floresnuas, e as inflorescncias so espigas, panculas e racemos.O fruto uma cariopse.

    A morfologia da germinao da semente de gramneas re-presentada na Fig. 2. Nesse caso, trata-se de germinaohipgea, ou seja, o hipoctilo, que a poro compreendidaentre o cotildone e a primeira folha, suprimido e, em con-seqncia, a semente permanece no solo (SCHULTZ, 1968).O epictilo perfura a casca da semente, cresce para cima e,alcanada a superfce do solo, desenvolve um colmo comfolhas. O cotildone permanece no pericarpo, servindo dereserva. Esgotadas as substncias de reserva, decompe-se, junto com o restante da semente, sem deixar vestgios.

  • 34 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Fig. 2. Morfologia de germinao e emergncia de gramneas,baseada em trigo.Fonte: Mullen, 1996.

  • 35

    Na sequncia de seu desenvolvimento, as gramneas pos-suem dois sistemas de razes: razes seminais ou embrion-rias e razes permanentes, caulinares ou adventcias. Asrazes seminais ou embrionrias tm origem no embrio eesto cobertas pela coleorriza. A durao dessas razes curta, correspondendo a algumas semanas. A coleorriza fun-ciona como rgo de proteo e de absoro de gua e denutrientes. Sobre ela, tm-se observado, em muitas espci-es, pelos absorventes. As razes permanentes (caulinares ouadventcias) originam-se dos primeiros ns basais, de estolesou, tambm, de outros ns que estejam em contato com osolo. Elas so numerosas e substituem as razes seminais.Alcanam certo comprimento e, geralmente, produzem mui-tas ramificaes. Nas espcies anuais morrem com a planta,e nas espcies perenes ocorrem duas classes distintas, de-nominadas anuais e perenes. As anuais so as razes queregeneram-se totalmente durante a estao de crescimento,e as perenes so aquelas que se formam durante o primeiroano, porm seguem funcionando no ano seguinte.

    O colmo das gramneas, na maioria das espcies, oco e constitudo de ns e entrens (Fig. 3). Cada n tem sua folhacorrespondente. Os entrens so cilndricos e podem serocos, como ocorre em cereais de inverno, ou podem ser chei-os, como ocorre em milho e em cana-de-acar. Dos ns docolmo, na axila das bainhas foliares, surgem brotos ou afilhos,que so de dois tipos: intravaginais e extravaginais.Intravaginais so afilhos que se desenvolvem no interior dabainha e surgem sem romp-la. Nos extravaginais, o afilhorompe a bainha foliar, desenvolvendo-se por fora desta. Aforma de crescimento do colmo determina o hbito de cresci-mento de plantas. As gramneas podem ter hbito:

  • 36 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Fig. 3. Partes de uma gramnea genrica.Fonte: Ball et al., 1996.

    Cespitoso ereto: quando os entrens basais so muito cur-tos, produzindo afilhos eretos de maneira a formar touceirasdensas. Ex.: capim elefante, setria, panicum. s vezes, osentrens basais no so to aproximados a ponto de forma-rem touceiras. Ex.: milho, sorgo, milheto, trigo, aveia, ceva-da, triticale e azevm.

  • 37

    Cespitoso prostrado: quando os colmos crescem encosta-dos ao solo, sem enraizamento nos ns, s se erguendo aparte que tem a inflorescncia. Ex.: milh e papu.

    Estolonfero: os colmos rasteiros, superficiais, enrazam-senos ns que esto em contato com o solo, originando novasplantas em cada n. Ex.: grama-de-jardim, grama-estrela-africana e grama missioneira.

    Rizomatoso: o colmo subterrneo, aclorofilado, sendo co-berto por afilhos. Dos ns partem razes e novas plantas.Ex.: capim-quicuio, grama-bermuda (estolonfero-rizomatoso).Cespitoso-estolonfero: afilhos eretos e presena deestoles cujo desenvolvimento estimulado por cortes me-cnicos ou pastejos. Ex.: capim de Rhodes (Chloris gayanaKunth).As folhas das gramneas, em geral, possuem bainha, lgula elmina (Fig. 3). A bainha o rgo alongado em forma decartucho, que nasce no n e cobre o entren, podendo sermaior ou menor que este. A lgula a parte branca emembranosa que se localiza na parte superior interna dabainha, no limite com a lmina foliar. Em diversas espciespode faltar (capim-arroz) e em muitas substituda por umafaixa de plos.

    A lmina foliar das gramneas, em geral linear e paralelinrvia, representada pelo pecolo dilatado, que desempenha asfunes de folha.

    Em gneros como Hordeum (cevada), Festuca (festuca) eLolium (azevm), na base da lmina, mais especificamentenos contornos da lgula, existem dois apndices, as aurculas,

  • 38 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    que abraam o caule. Esses apndices, juntamente com aforma da lgula, oferecem caractersticas para distinguir asespcies durante o perodo vegetativo (Fig. 4 e 5). Na Fig. 5ilustra-se, com fotos, detalhes morfolgicos que podem aju-dar a diferenciao das principais gramneas cultivadas noinverno na regio Sul do Brasil.

    Fig. 4. Partes de uma gramnea e tipos de lgula, de aurculae de pr-foliao.Fonte: Mullen, 1996.

    De acordo com Mundstock (1983), a diferenciao dos cere-ais de estao fria pelas caractersticas das folhas pode serfeita pela seguinte chave, salientando que alguns gentipospodem no apresentar as caractersticas morfolgicas des-critas:

  • 39

    1. Plantas com Aurculas

    1.1 Aurculas pequenas ou mdias, com os brotos pilosos ..... trigo

    1.2 Aurculas amplexicaules, largas e longas, glabras ....... cevada

    1.3 Aurculas pequenas, glabras......................................... centeio

    2. Plantas sem aurculas e com lgula bem desenvolvida ...... aveia

  • 40 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Aveia branca Aveia preta

    Azevm anual Cevada

    Centeio BRS Serrano Triticale

    Trigo BRS Tarum Triticale

    Fig. 5: Diferenciao de espcies de forrageiras anuais ecereais de inverno de duplo propsito, no estdio vegetativo,pelas estruturas morfolgicas foliares (lgula e aurcula).Fotos: Paulo Kurtz

  • 41

    3Captulo

    Gramneas Anuais de Inverno

    Henrique Pereira dos Santos, Renato Serena Fontaneli,Roberto Serena Fontaneli e Janete Taborda de Oliveira

    Aveia Preta (Avena strigosa Schreb.)

    Descrio morfolgica

    A aveia preta uma gramnea anual de inverno. A aveia apre-senta dois sistemas radiculares: um seminal e outro de razespermanentes (FLOSS, 1982). O colmo cilndrico, ereto eglabro, composto de uma srie de ns e entre-ns. As folhasinferiores apresentam bainha, lgula obtusa e margemdenticulada (Fig. 5), com lmina de 0,14 a 0,40 m de compri-mento. Os ns so slidos.

    A inflorescncia uma pancula com glumas aristadas ouno (Fig. 6). O gro de aveia uma caripse, semicilndricoe agudo nas extremidades, encoberto pela lema e pela plea.

  • 42 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Caractersticas agronmicas

    uma espcie rstica, pouco exigente em fertilidade de solo,que tem se adaptado bem nos estados do Paran, de SantaCatarina, do Rio Grande do Sul, de So Paulo e do MatoGrosso do Sul (DERPSCH & CALEGARI, 1992). Possui gran-de capacidade de perfilhamento e sementes menores, quan-do comparadas s da aveia branca. Os gros no so usa-dos na alimentao humana.

    A aveia preta caracteriza-se por crescimento vigoroso e tole-rncia acidez nociva do solo, causada pela presena de alu-mnio. a forrageira anual de inverno mais usada para pastejono inverno, no Sul do Brasil. espcie mais precoce do que amaioria dos cereais de inverno, e tambm que azevm. A aveiapreta presta-se para consorciao com espcies como azevm,centeio, trigo, cevada, ervilha-forrageira, ervilhacas, serradela,trevo branco, trevo vermelho, cornicho, trevo vesiculoso e tre-vo subterrneo. Quando se visa o forrageamento at o fim daprimavera e incio do vero, pode-se consorciar a aveia pretacom azevm e leguminosas, como: ervilhaca peluda, ervilhacacomum e trevo vesiculoso.

    A aveia preta pode ser pastejada ou conservada como fenoou silagem ou, ainda, cortada mecanicamente para forneci-mento fresco aos animais. cultura adequada para uso emsistemas de rotao de culturas com trigo, cevada, triticale ecenteio, pois diminui a populao de alguns patgenos queafetam esses cereais, tais como a podrido comum, Bipolarissorokiniana (REIS & BAIER, 1983a, 1983b), e, tambm, omal-do-p, Gaemannomyces graminis var. tritici (SANTOS &

  • 43

    REIS, 1995). Assim, aveia preta e aveia branca podem com-por sistemas de integrao de lavoura-pecuria (ILP) que nofavoream as doenas do sistema radicular para a culturascomo o trigo (SANTOS & REIS, 1994).

    Fig. 6. Inflorescncias de algumas gramneas e leguminosas,e folhas de ervilhaca e trevo vesiculoso.Fotos: Paulo Kurtz

    Aveia branca Aveia preta Trigo Triticale

    Centeio Cevada Azevm Festuca

    Cevadilha Trevo branco Trevo vermelho Cornicho

    Folha ervilhaca Folha trevo Trevo vesiculoso Alfafa

  • 44 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Adaptao e estabelecimento

    A aveia preta desenvolve-se em regies temperadas e nassubtropicais, sendo cultivada tanto ao nvel do mar como emaltitudes de 1.000 a 1.300 m (DERPSCH & CALEGARI, 1992).A temperatura basal mais elevada em comparao a ou-tras espcies de inverno. Por isso apresenta ciclo produtivomais longo no outono e na primavera, podendo, em invernosmuito frios, apresentar uma taxa de crescimento reduzida. Aaveia preta caracteriza-se pela rusticidade; adapta-se bem agrande variedade de solos, preferindo porm os argilosos,mas com boa drenagem.

    menos sensvel acidez do solo do que trigo, vegetandobem em solos com pH de 5 a 7. Responde fertilizao dosolo, com aumento do rendimento de biomassa. A adubaode manuteno e nitrogenada de cobertura deve seguir arecomendao para a cultura (MANUAL..., 2004).A poca de semeadura de maro a julho, dependendo dafinalidade de uso.

    A aveia preta pode ser estabelecida em sistema plantio direto.Quando semeada em linha, recomenda-se o mesmoespaamento usado para trigo (0,17 a 0,20 m). Para produ-o de semente indicada a densidade de 250 a 300 se-mentes aptas/m2 e 350 a 400 sementes aptas/m2 para duplopropsito (pastagem e produo de gros) ou formao depastagem singular. A quantidade de semente a ser usadavaria de 40 a 80 kg/ha, dependendo do poder germinativo edo peso de 1.000 sementes, o qual oscila entre 12 e 18 g. A

  • 45

    profundidade de semeadura recomendada de 3 a 5 cm.Quando semeada a lano, deve-se usar pelo menos 20% amais de semente; quando consorciada, indica-se de 50 a 60kg/ha de semente.

    Manejo

    Com cerca de seis a oito semanas aps a emergncia, asplantas de aveia preta estaro com 25 a 30 cm de altura ecom 700 a 1.500 kg/ha de massa seca acumulada (kg MS/ha),ou seja, 0,6 a 1,0 kg de forragem verde/m2, cortando-se aamostra cerca de 5 a 7 cm acima da superfcie do solo. Aforragem, nessa condio ter teor de umidade elevada (cercade 12 a 18% de MS). Nessa situao, pode-se iniciar opastoreio da aveia preta com bovinos ou ovinos (FONTANELI,1993a) (Fig. 7), de preferncia no sistema rotacionado, comum dia de pastejo e cerca de 30 a 35 dias de descanso, ouseja ciclo de pastejo de 31 a 36 dias. Assim, o segundo pastejodeve ser realizado nas mesmas condies de oferta de for-ragem, geralmente de 30 a 35 dias aps o primeiro pastejo.As plantas devem ser pastejadas at a altura de aproxima-damente 7 cm da superfcie do solo, para que sejam mantidasas reservas na base das plantas e boa rea verde residualpara que o rebrote seja vigoroso.No sistema de pastejo com lotao contnua, adotado pormuitos produtores, necessrio ajustar a intensidade depastejo para que os animais consumam de acordo com ataxa de crescimento da pastagem, deixando resduo eleva-do, de pelo menos 1.500 kg MS/ha. Assim, inicia-se o pastoreio

  • 46 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    com um novilho por hectare e aumenta-se a carga de acordocom o crescimento das plantas, que pode ser intensificada comadubao nitrogenada, sendo aconselhvel manter as plantascom 20 a 40 cm de altura durante toda a estao de crescimen-to. A capacidade de suporte no deve exceder 1.500 kg de pesovivo/ha (kg pv/ha), para permitir uma boa cobertura residual paraa semeadura da cultura de vero.

    Fig. 7. Pastagens de aveia preta (A) - Vacaria, RS, (B) - CruzAlta, RS.Fotos: Renato S. Fontaneli

    A semeadura da aveia preta ocorre logo aps a colheita dasoja, geralmente em maro e abril e permite acumular cercade 6,0 t MS/ha na estao de crescimento. Quadros &Maraschin (1987) destacam o potencial da aveia preta comoalternativa para antecipar o perodo de utilizao das pasta-gens de estao fria, pela disponibilidade de massa seca noincio deste perodo, desde que seja semeada em abril.Fontaneli & Santos (1999) estudando sistemas de integrao

    (A) (B)

  • 47

    lavoura-pecuria, com rotaes soja/milho e trigo/pastagemanual, durante seis anos, sob plantio direto, obtiveram de274 a 294 kg/ha com bovinos em pastagem de aveia pretasingular e de 316 a 331 kg/ha em pastagem de aveia pretaconsorciada com ervilhaca, cerca de 5 a 10% superior a pas-tagem de aveia preta solteira (Tabela 4). Em outro estudo,tambm desenvolvido na Embrapa Trigo, em Coxilha, RS,com sistemas mistos, durante trs anos, sob plantio direto,no foram encontradas diferenas significativas, para ganhode peso animal, entre consorciaes de aveia preta + ervilhacaou aveia preta + azevm + ervilhaca (Tabela 5).Baseado em trabalho de sistemas de integrao lavoura-pe-curia (ILP) realizado por equipe multidisciplinar da UFRGS(Departamentos de Forrageiras e Agrometeorologia e de So-los) em que avalia-se a sucesso soja/pastagem de aveiapreta comum com quatro resduos forrageiros (10, 20, 30 e40 cm de altura) da aveia preta em pastejo com lotao con-tnua por bovinos jovens, obtiveram, como mdia de quaseuma dcada, ganhos de peso dirios de cerca de 1,0 kg,capacidade de suporte de 300 a 1500 kg de peso vivo/ha eganhos de peso vivo de 270 a mais de 500 kg/ha (LOPES etal., 2008). No houve efeito no rendimento da soja apesar deestimarem adensamento superficial na maior capacidade desuporte e ganhos de peso vivo no inverno (10 cm de alturade resduo da aveia preta comum), por cerca de 100 dias depastejo de julho a outubro. O adensamento verificado logoaps a sada dos animais na primavera, desaparece duranteo ciclo da soja, alm de promoverem acumulao de carbo-no (SOUZA et al., 2007), ratificando dados de Spera et al.(2006) e Carvalho et al. (2007).

  • 48 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Tabela 4. Efeitos de sistemas de produo de gros envolvendopastagens anuais de inverno no ganho de peso animal, de 1990 a1995, sob sistema plantio direto. Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS.

    Sistema Anode produo 1990 1991 1992 1993 1994 1995 Mdia

    kg/ha Sistema IAveia preta 2631 179 c 412 229 300 266 274 cAveia preta 305 207 b 374 278 345 255 294 bcSistema IIAveia preta-ervilhaca 277 230 a 375 247 342 286 293 cSistema IIIAveia preta-ervilhaca 325 240 a 438 299 357 327 331 aAveia preta-ervilhaca 275 242 a 442 265 355 316 316 ab

    Mdia 289 219 408 264 340 290 302CV (%) 15 5 19 11 8 17 -1 Ganho de peso animal estimado com base no consumo de 10 kg de MS de forra-gem da pastagem de inverno equivalente ao ganho animal de 1 kg de peso vivo(Restle et al., 1998).Sistema I= trigo/soja, aveia preta/soja e aveia preta/soja; Sistema II= trigo/soja eaveia preta + ervilhaca/milho; Sistema III= trigo/soja, aveia preta + ervilhaca/soja eaveia preta + ervilhaca/milho.Mdias seguidas da mesma letra, na coluna, no diferem significativamente peloteste de Duncan (P>0,05).Fonte: Fontaneli & Santos, 1999.

  • 49

    Tabela 5. Efeitos de sistemas de produo de gros envolvendo pas-tagens anuais de inverno no ganho de peso animal, de 1995 a 1997,sob sistema plantio direto. Embrapa Trigo, Coxilha, RS.

    Ano

    Sistema de produo 1995 1996 1997 Mdia kg/ha

    Sistema IAveia preta-ervilhaca 4281 338 262 343nsSistema IIAveia preta-azevm-ervilhaca 383 335 231 316Sistema IIIAveia preta-ervilhaca 390 334 250 325Sistema IVAveia preta-azevm-ervilhaca 446 311 244 334Sistema VAveia preta-ervilhaca 358 347 245 317Sistema VIAveia preta-azevm-ervilhaca 396 307 239 314Mdia 328 245 325CV (%) 15 11 -1 Ganho de peso animal estimado com base no consumo de 10 kg de MS de forra-gem da pastagem de inverno equivalente ao ganho animal de 1 kg de peso vivo(Restle et al., 1998).Sistema I: trigo/soja e aveia preta + ervilhaca/milho; Sistema II: trigo/soja e aveiapreta + azevm + ervilhaca/milho; Sistema III: trigo/soja e aveia preta + ervilhaca/milheto; Sistema IV: trigo/soja e aveia preta + azevm + ervilhaca/milheto; SistemaV: trigo/soja, aveia branca/soja e aveia preta + ervilhaca/milheto; Sistema VI: trigo/soja, aveia branca/soja e aveia preta + azevm + ervilhaca/milheto.ns: No significativoFonte: Santos et al., 2002.

  • 50 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Aveia Branca (Avena sativa L.)

    Descrio morfolgica

    Aveia branca uma gramnea anual de inverno. A morfologiade aveia branca (Fig. 6) semelhante quela descrita anteri-ormente para aveia preta, pois tambm no apresentaaurculas (Fig. 5). Alm disso, a segunda flor da espigueta detodas as cultivares de aveia branca muito raramente aristada. A aveia branca caracteriza-se por ter gro bem maiordo que o da aveia preta, cerca do dobro do peso, sendo degrande valor na alimentao humana e animal.

    Caractersticas agronmicas

    cultivada, principalmente, nos estados do Sul. utilizadapara alimentao de equinos ou para suprir as indstrias decereais matinais (flocos e farinha). A aveia branca pode serutilizada para composio de pastagens anuais de inverno,para conservao na forma de feno e silagem, inclusive degros midos, ou como duplo propsito, quando pastejadade fins de outono at meados do inverno e, ento diferidapara a produo de gros ou ensilagem.

    As cultivares modernas embora liberadas como resistentes ferrugem da folha, necessitam de tratamento com fungicidasa exemplo dos outros cereais de inverno. Tambm, podemsofrer com ataque de pulges. Se esses problemas no fo-

  • 51

    rem tratados adequadamente, a produo de forragem dacultura de aveia branca pode ser parcialmente comprometi-da e a produo de gros pode ser totalmente perdida. No-vas raas de ferrugem da folha surgem com freqncia su-perior verificada nos demais cereais de inverno.

    A incidncia de pulges-da-aveia (Rhopalosiphum padi L.) quetransmitem virose como o complexo do Vrus do NanismoAmarelo da Cevada (VNAC) pode comprometer a produode forragem e de gros, especialmente em anos com estia-gem no incio do ciclo.

    Adaptao e estabelecimento

    Aveia branca menos rstica do que a aveia preta, maisexigente em fertilidade de solo e menos resistente seca,mas mais tolerante ao frio. A poca de semeadura de aveiabranca de maro a maio, para pastagem, e de maio a julho,para produo de gros, depende da regio. Para gros semeada em maio nas regies mais quentes como Missesdo RS e julho nos Campos de Cima da Serra (Muitos Capes,Vacaria, Esmeralda e Bom Jesus). A calagem e a adubaodevem seguir a recomendao para a espcie (MANUAL...,2004).Indica-se seme-la no mesmo espaamento usado para tri-go (0,17 a 0,20 m). Para produo de semente recomenda-se usar de 250 a 300 sementes aptas/m2 e 350 a 400 semen-tes aptas/m2 para duplo propsito (pastejo ou produo degros) ou formao de pastagem solteira. A quantidade de

  • 52 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    semente a ser usada varia de 80 a 100 kg/ha para produo desementes e, de 120 a 140 kg/ha, para duplo propsito ou pasta-gem. O peso de 1.000 sementes varia de 32 a 45 g. Quandoconsorciada, a quantidade de semente pode ser de 60 a 80 kg/ha. A profundidade de semeadura deve variar de 3 a 5 cm.

    Manejo

    O manejo de pastejo da aveia branca semelhante ao preconi-zado para a aveia preta. A aveia preta desenvolve-se rapida-mente no comeo, propiciando excelente produo de MS noprimeiro corte ou pastejo, e produz menos nos pastejossubseqentes. Aveia branca apresenta comportamento inver-so, ou seja, expressiva produo de massa seca no segundopastejo (quando manejada nas mesmas condies da aveiapreta). Aveia branca (Fig. 8) pode produzir at 7,0 t MS/ha. bem aceita por animais e, tambm, mais precoce que azevm.

    A aveia branca tambm pode ser consorciada com espciescomo azevm, ervilhacas, serradela, trevo branco, trevo ver-melho, trevo vesiculoso e trevo subterrneo. Fontaneli & FreireJunior (1991) obtiveram com as consorciaes de aveia bran-ca-azevm-trevo branco (7.123 kg MS/ha), aveia branca-azevm-trevo vermelho (6.644 kg/ha) e aveia branca-azevm-ervilhaca comum (6.581 kg MS/ha), sendo que asconsorciaes com trevos branco e vermelho que acumula-ram biomassa at fevereiro, ltima avaliao, foram superio-res a aveia branca-azevm-trevo vesiculoso (5.804 kg MS/ha),aveia branca-azevm-trevo subterrneo (5.270 kg MS/ha) e

  • 53

    aveia branca-azevm (4.680 kg MS/ha) que produziram at aprimavera-incio do vero.

    Fig. 8. (A) Pastagem de aveia branca, Ibirub, RS e (B) Flo-rescimento de aveia branca.Fotos: Renato S. Fontaneli

    Azevm (Lolium multiflorum Lam.)

    Descrio morfolgica

    Planta anual de inverno, cespitosa, que pode crescer at1,20 m, e alcana em mdia 0,75 m de altura (DERPSCH &CALEGARI, 1992). Segundo Mitidieri (1983), forma touceirasde 0,40 m at 1,00 m. Possui colmos eretos, cilndricos esem plos. A bainha estriada e fechada. A lgula curta eesbranquiada (Fig. 5). A lmina estreita, glabra, de piceagudo e de cor verde-brilhante. A inflorescncia (Fig. 6) dotipo dstica, ereta, com 0,15 a 0,20 m de comprimento, comespiguetas multifloras, tendo os flsculos e lemas aristados

    (A) (B)

  • 54 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    (FONTANELI, 1993b). Protegidos pela palha, encontram-setrs estames e o pistilo.

    Caractersticas agronmicas

    espcie rstica e vigorosa, considerada naturalizada emmuitas regies sul-brasileiras, perfilha em abundncia, pro-dutiva, podendo superar as demais espcies de inverno quan-do bem fertilizada. Apresenta elevado valor nutritivo sendouma das gramneas mais cultivadas no Rio Grande do Sul,juntamente com a aveia preta. utilizada para compor pas-tagens anuais podendo ser consorciada com dezenas deespcies, oportunizando pastejo ou corte mecnico do inver-no primavera. Atualmente vem sendo destinada a elabora-o de silagem pr-secada e feno. O azevm anual apresen-ta desenvolvimento inicial lento, entretanto, at o fim da pri-mavera, supera as demais forrageiras em quantidade de for-ragem. A ressemeadura natural contribui para que a espcieseja a mais difundida no Sul do Brasil. Produz alimento deelevado teor de protena e de fcil digesto, sendo aparente-mente muito palatvel aos ruminantes. Na regio da Campa-nha do Rio Grande do Sul, faz parte da mais tradicionalconsorciao de pastagens cultivadas, ou seja, azevm +trevo branco + cornicho.

    Adaptao e estabelecimento

    Adapta-se a quase todos tipos de solo, preferindo os de tex-

  • 55

    tura mdia. Em solos baixos e ligeiramente midos, desen-volve-se melhor do que em solos altos e secos. Tolera umi-dade, mas no resiste ao encharcamento. As razes so su-perficiais (5 a 15 cm) e, por isso, sensvel seca.A temperatura tima para mximo crescimento situa-se aoredor de 20 C. Paralisa o crescimento com temperatura bai-xa e, por isso, apresenta desenvolvimento lento durante oinverno.

    Na primavera, a planta de azevm est sujeita aoacamamento, pois se apresenta praticamente s com folhas.O acamamento pode causar perdas considerveis de forra-gem em potreiros sob pastejo (FONTANELI, 1988).Apresenta resposta adubao nitrogenada e fosfatada,que aumenta consideravelmente a produo de biomassa. Arecomendao de adubao para essa cultura deve seguirorientao da Sociedade Brasileira de Cincia do Solo (MA-NUAL..., 2004). A profundidade de semeadura no deve ul-trapassar 1,0 cm.

    A poca de semeadura de azevm estende-se de maro ajunho. Em semeadura singular, usa-se 15 a 25 kg/ha de se-mentes, e quando consorciado, devem ser usados de 10 a15 kg/ha. O peso de 1.000 sementes das variedades diplides,mais precoces de 2,3 g, aproximadamente. O azevm comumnete consorciado com aveia preta e centeio, constitu-indo uma das combinaes com maior perodo de pastejodurante a estao fria no Sul do Brasil. As leguminosas anu-ais com ervilhaca, serradela e trevo subterrneo. Trevo en-carnado e trevo vesiculoso, tambm, juntamente com umagramnea precoce (cevada, centeio ou aveias) constituem

  • 56 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    opes interessantes. Tambm consorcia-se bem com esp-cies perenes como com trevo branco, trevo vermelho ecornicho. De acordo com Fontaneli & Freire Junior (1991), asconsorciaes que apresentaram melhor distribuio de forra-gem ao longo do perodo estudado foram as de aveia branca +azevm + trevo branco e aveia branca + azevm + trevo ver-melho, em relao s de aveia branca + azevm + trevovesiculoso e aveia branca + azevm + trevo subterrneo. Notrabalho de Quadros & Maraschin (1987), nas pastagens deazevm-trevo branco-cornicho e azevm-trevo vesiculoso, osnovilhos tiveram ganhos dirios de 1,02 kg e 0,88 kg, respecti-vamente, superior ao de 0,7 kg obtido na pastagem de aveiapreta-azevm-trevo vesiculoso. Os ganhos de peso vivo porhectare, com bovinos, para as consorciaes acima, foram de531, 602 e 495 kg/ha, respectivamente.

    Manejo

    Azevm uma gramnea tolerante ao pisoteio e possibilitaperodo de pastejo de at cinco meses. Das espciesforrageiras de inverno, uma das que apresenta maior pro-duo de forragem verde, sendo, entretanto, tardia, pois orendimento mais elevado a partir de setembro (Fig. 9). Temconsidervel capacidade de rebrote e apresentaressemeadura natural. bem aceito por animais e pode pro-duzir de 2,0 a 6,0 t MS/ha.

    Em trabalho conduzido por Souza et al. (1989), azevm produ-ziu mais biomassa seca, em comparao a cereais de inverno(aveia preta, aveia branca, centeio, cevada, trigo e triticale).

  • 57

    Fig. 9. Pastagem de azevm em Castro, PR.Fotos: Renato S. Fontaneli.

    O perodo de uso de azevm varia de 60 a 180 dias. Inicia-sepastejo quando as plantas esto perfilhadas, em torno de 60a 80 dias aps emergncia. Nessa ocasio, as plantas ten-dem a se inclinar, dependendo das condies de umidade,temperatura, luminosidade e fertilidade do solo.

    De forma geral, azevm pode ser pastejado a partir de mea-dos de agosto. Em solos com ampla disponibilidade denitrognio, o incio do pastejo pode ser antecipado. Em pastejocontinuo, muito usado no Sul do Brasil, a carga animal deveser ajustada disponibilidade de alimento. De acordo comSalerno & Tcacenco (1986), azevm deve ser pastejado ata altura mnima de 5 a 7 cm. Conforme esses mesmos auto-res, o intervalo entre pastejos que propicia maior produtivida-de de massa seca de alta qualidade de 4 a 6 semanas.

    Em sistemas de integrao de lavoura-pecuria, deve-se terateno com azevm antecedendo trigo, triticale, cevada oucenteio, pois ele transmite mais (64%) doenas do sistemaradicular (mal-do-p - Gaeumannomyces graminis var. tritici

  • 58 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    e podrido comum - Bipolaris sorokiniana) do que amonocultura de trigo (54%) (Tabela 6). Em trabalho desen-volvido na Embrapa Trigo, com sistemas mistos (lavoura epecuria), durante trs anos, sob plantio direto, emconsorciaes de aveia preta-ervilhaca ou aveia preta-azevm-ervilhaca, no foram encontradas diferenas signifi-cativas entre ganho de peso animal (Tabela 5).

    Tabela 6. Efeitos de diferentes sistemas de rotao de culturas naintensidade de doenas (podrido comum e mal-do-p) do sistemade razes de trigo (BR 14), em 1988 e 1989. Embrapa Trigo, PassoFundo, RS.

    AnoSistema de rotao 1988 1989 Mdia

    % Monocultura de trigo 50,5 b 58,1 a 54,4Rotao de um inverno com trigo edois com azevm 69,9 a 58,0 a 64,0Rotao de um inverno com trigo edois com aveia preta 43,0 bc 40,2 b 41,6Rotao de um inverno com trigo etrs com aveia preta 31,1c 52,5 a 41,8

    Mdia 48,6 52,2 50,4CV (%) 19,8 13,3 -Mdias seguidas da mesma letra, na coluna, no diferem significativamente peloteste de Duncan (P>0,05).Fonte: Santos & Reis, 1995.

  • 59

    Centeio (Secale cereale L.)

    Descrio morfolgica

    uma espcie anual de inverno, cespitosa, de 1,2 a 1,8 me-tro de altura, quase glabra ou seja sem pelos. Possui colmoscilndricos eretos e glabros. As folhas so lineares, de colora-o verde-azulada com lgulas membranosas (Fig. 5) e comaurculas pequenas (DERPSCH & CALEGARI, 1992). A es-piga de centeio densa e tem de 5 a 20 cm de comprimento(Fig. 6). O rquis piloso. O fruto do tipo cariopse rugosocom 4 a 9 mm de comprimento, glabro, com pice truncadoe piloso. O centeio pode ser distinguido dos demais cereaisde inverno, durante o perodo vegetativo, por possuir aurculaspequenas e lgulas glabras (MUNDSTOCK, 1983). A espiguetapossui at 5 flores, mas, geralmente no forma mais de doisgros. A espiga de centeio caracteriza-se por ser comprida elaxa.

    Caractersticas agronmicas

    O centeio desenvolve-se bem em diferentes tipos de solo ede clima (BAIER, 1994). Destaca-se pelo crescimento inicialvigoroso, pela rusticidade, resistncia ao frio, acidez nocivado solo, ao alumnio txico e a doenas, possuindo sistemaradicular profundo e agressivo, capaz de absorver nutrientesindisponveis a outras espcies. o mais eficiente dos

  • 60 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    cereais de inverno no aproveitamento de gua, pois produz amesma quantidade de massa seca com apenas 70% da guaque o trigo requer. A resistncia a doenas uma caracters-tica do centeio, entretanto, a partir de 1982, no Brasil, o ata-que de ferrugem do colmo (Puccinia graminis Pres. f. secalis),no fim do ciclo, tem sido responsvel por perdas consider-veis em muitas lavouras. No controle dessa doena, seguiras indicaes para a cultura do centeio.

    Adaptao e estabelecimento

    O centeio tem adaptao muito ampla, pois cultivado atno crculo rtico em altitudes de 4.300 metros acima do nveldo mar, no Nepal. gramnea rstica que suporta condiesadversas de clima e de solo, crescendo em condies debaixa e elevada fertilidade. Em comparao com demaisforrageiras de estao fria, apresenta maior produo de for-ragem durante os meses mais frios que as demais espciesanuais de inverno.

    Centeio pode perfeitamente ser estabelecido em sistema plan-tio direto. A densidade de semeadura recomendada de 250a 350 sementes aptas/m2 (40 a 60 kg/ha). O peso de 1.000sementes de aproximadamente 18 g. Para formao depastagem, no Brasil, centeio pode ser semeado a partir deabril.

    Centeio indicado para cultivo em solos arenosos, degrada-dos e exauridos, sendo recomendado para recuper-los epara proteger reas em processo de desertificao. pouco

  • 61

    exigente em adubao, mas requer temperatura baixa du-rante o afilhamento e solos bem drenados. A aplicao decalcrio para correo de acidez somente necessria emsolos com pH extremamente baixo. Para adubao de ma-nuteno e nitrogenada de cobertura, seguir a recomenda-o para a cultura (MANUAL..., 2004).

    Manejo

    Centeio indicado para pastejo, para forragem verde e parafenao. Aparentemente o centeio apreciado por ruminan-tes. uma espcie estratgica no forrageamento de outonoe inverno, em razo da precocidade. Centeio deve serpastejado (Fig. 10) quando as plantas tiverem entre 25 a 30cm de altura (semelhante s aveias). Pode produzir at 4,0 t/ha de MS (BAIER et al., 1988).Em estudos desenvolvidos na Alemanha, Brusche (1986) con-cluiu que centeio de inverno permite aproveitamento precoce,mesmo quando semeado tardiamente, sendo indicado parapastejo, para silagem ou para adubao verde, especialmenteem estabelecimentos em que se valoriza o aproveitamento in-tensivo de nitrognio. Centeio pode ser consorciado comazevm, aveias e leguminosas como: ervilhaca, serradela, tre-vo subterrneo, trevo vesiculoso e trevo vermelho.

    Na engorda de novilhos, nos Estados Unidos, centeio-azevm-trevo proporcionaram maior ganho mdio, de 575 kg de pesovivo/ha, considerando-se toda primavera, do que aps festucaou leguminosas (Hoveland et al., 1991).

  • 62 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Fig. 10. (A) Pastagem de centeio BRS Serrano, Coxilha, RS,(B) Parceles demonstrativos para dia de campo em PassoFundo, RS.Fotos: Renato S. Fontaneli.

    Cevada (Hordeum vulgare L.)

    Descrio morfolgica

    Em cevada, o desenvolvimento de razes permanentes simi-lar ao de aveia e de trigo, chegando at 1 m de profundidade(RIAS, 1995). O colmo de cevada constitudo de 5 a 7entrens. O colmo cilndrico, separado por ns, nos quaisnascem as folhas. As bainhas envolvem completamente o col-mo. A lgula e especialmente a aurcula permitem diferenciar acevada de outros cereais porque so glabras, abraam o col-mo e podem estar pigmentadas por antocianinas (Fig. 5). Ascultivares de cevada para forragem produzem mais massa ver-de do que as cultivares cervejeiras, porque suas folhas so mais

    1 corte2 cortes

    3 cortes

    4 cortes

    (A) (B)

  • 63

    largas e compridas. A inflorescncia de cevada uma espiga(Fig. 6), cuja espigueta possui duas ou seis fileiras. O ltimoentren do colmo prolonga-se por um rquis, e as espiguetasesto dispostas alternadamente nos respectivos ns. A espigade cevada cervejeira dstica e no apresenta espigueta termi-nal, o que a diferencia da de trigo.

    Caractersticas agronmicas

    Em termos prticos, cevada classificada de acordo com ouso a que se destinam seus gros (cervejeira ou forrageira)e o tipo de espiga (de duas ou seis fileiras), conforme Baldanzi(1988). Esse autor tambm esclarece que a classificao portipo de espigueta no de toda correta, uma vez que de fatono existe cevada de quatro fileiras; h, na realidade, seis:trs gros em cada espigueta, situados em posio opostasobre o rquis. A diferena reside na maneira em que os grosesto dispostos nas espiguetas, mais reunidos ou mais afas-tados, dando aspecto retangular ou hexagonal.

    Em regra, as cultivares de seis fileiras so consideradasforrageiras, isto , produzem abundante massa verde e osgros apresentam, normalmente, maior percentagem de pro-tena, o que as torna apropriadas para alimentao de ani-mais. Tal caracterstica negativa para cevada destinada maltagem para fins cervejeiros, da qual se exige teor de subs-tncias proticas inferior a 12%. No Brasil, predominam culti-vares de cevada de duas fileiras, usadas na indstria de mal-te para fabrico de cerveja.

  • 64 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Adaptao e estabelecimento

    A cevada apresenta desenvolvimento satisfatrio em condi-es de adequada insolao e temperatura amena durante ociclo. Excesso ou dficit hdrico, bem como temperatura mui-to baixa, no so tolerados pela cevada. Com relao umi-dade, cevada menos exigente do que trigo. Existem no suldo Brasil vrias regies inadequadas a semeadura de ceva-da, ou seja, locais de baixa altitude, pois aumentam o teor deprotena do gro, que ruim para industrializao, como asMisses do Rio Grande do Sul.

    O solo para cevada deve ter adequadas propriedades fsicase qumicas. Essa gramnea comporta-se melhor em solos detextura mais pesada, no tolerando excesso de umidade. Naadubao, destaca-se a importncia da dosagem de fsforo.Para a adubao de manuteno, de base e nitrogenada decobertura, deve-se observar a recomendao para a cultura(MANUAL..., 2004).Entre as culturas de inverno, cevada a espcie mais sensvel acidez e ao alumnio txico no solo (REUNIO..., 1987). Nascondies do Rio Grande do Sul, cevada tem apresentadomelhores resultados em pH do solo ao redor de 6,0. Dessamaneira, a correo da acidez de solo prtica indispensvelpara maximizao do potencial produtivo da cultura.

    Cevada forrageira deve ser semeada mais cedo do que ce-vada cervejeira. Nesse caso pode ser estabelecida sob plan-tio direto a partir de fim de maro. Recomenda-se semear,pelo menos, 300 sementes aptas/m2, situando-se a massade semente entre 100 e 150 kg/ha. O peso de 1.000 semen-tes de aproximadamente 40 g.

  • 65

    Manejo

    A cevada destaca-se pelo vigor de crescimento no incio dociclo, perfilhamento e precocidade de forragem. O pastejo decevada pode ser realizado a partir dos 25 a 30 cm de altura(Fig. 11), observando-se altura de resteva de 5 a 10 cm dealtura, similar a aveia preta e aos demais cereais de invernode duplo propsito.

    Fig. 11. Cevada cultivar BRS Marciana.Fotos: Renato S. Fontaneli.

    Trigo (Triticum aestivum L.)

    Descrio morfolgica

    Trigo uma gramnea anual de inverno. O sistema de razesde trigo formado por razes seminais e permanentes(SCHEEREN, 1986). As razes seminais, originadasdiretamente da semente, so particularmente importantes at

  • 66 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    incio do estdio de afilhamento. Tm como funo principalo estabelecimento inicial da plntula, quando a nutrio daplanta fornecida pelo endosperma da semente. Posterior-mente, quando as razes seminais tornam-se funcionais, osnutrientes e a gua provm do solo.

    Paralelamente ao desenvolvimento das razes seminais, desen-volvem-se o coleptilo e o mesoctilo (SCHEEREN, 1986). Uma dois centmetros abaixo da superfcie do solo, forma-se a readenominada coroa, da qual so emitidas as razes permanen-tes e os afilhos. No incio, o crescimento dessas razes lento,completando-se por ocasio do espigamento. Durante aelongao e o espigamento ocorre realocao de nutrientes,com absoro dos afilhos mais fracos.

    As folhas de trigo desenvolvem-se a partir do coleptilo(SCHEEREN, 1986). Na rea da coroa da planta emitida aprimeira folha. As plantas adultas de trigo tm, de 5 a 6 fo-lhas, correspondendo ao nmero de ns. Cada folha apre-senta bainha, lmina, lgula e aurculas (Fig. 5). A disposio alternada, formando ngulos de 180 entre uma e outra, ata ltima (folha bandeira).O colmo de trigo normalmente oco, cilndrico e com 5 a 6entrens (SCHEEREN, 1986). Os entrens tm comprimen-to varivel, aumentando da base ao pice da planta at opednculo, que a poro do colmo que vai do ltimo n base da espiga. A altura do colmo varia conforme gentipo econdies ambientais.

    A inflorescncia de trigo uma espiga composta, dstica(Fig. 6), formada por espiguetas alternadas e opostas norquis (SCHEEREN, 1986). Existe grande variao em rela-

  • 67

    o densidade, forma, ao comprimento e largura daespiga. Cada espigueta constituda por flores (3 a 9) dis-postas alternadamente e presa ao rquis. Normalmente,as flores superiores da espigueta so estreis. O gro detrigo, chamado cariopse, pequeno, seco e indeiscente eforma-se a partir de cada flor.

    Caractersticas agronmicas

    A grande maioria das cultivares de trigo semeadas no mundoso adequadas produo de gros destinados ao fabricode farinha. Desde algum tempo, foram tambm criadas culti-vares com perodo vegetativo mais longo, ciclo tardio-preco-ce, como a BRS Figueira, BRS Umbu, BRS Tarum, BRSGuatambu e BRS 277 que podem ser usadas para duplo pro-psito (Fig. 12, 13 e 14), ou seja, ser pastejada at um deter-minado perodo, normalmente de maio a incio de agosto (porexemplo em Passo Fundo, RS) e ainda produzir gros dorebrote (DEL DUCA, 1993).A semeadura antecipada de trigo pode evitar perdas de soloe de nutrientes e, contribuir para viabilizao do sistema plantiodireto, ao proporcionar cobertura vegetal permanente apsas culturas de vero (DEL DUCA et al., 1997). Alm disso,usando-se cultivares de trigo com ciclo apropriado, pode-sefavorecer a integrao lavoura-pecuria. Essas cultivares socaracterizadas pelo ciclo tardio-precoce, por apresentaremfase vegetativa (semeadura-espigamento) longa e reprodutiva(espigamento-maturao) curta.

  • 68 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Fig. 12. (A) Cultivar de Trigo BRS Tarum - tardio, cespitoso-prostrado, excelente afilhamento, (B) Cultivar deTrigo BRSUmbu - semi-tardio, cespitoso-ereto, bom afilhamento.Fotos: Renato S. Fontaneli.

    Fig. 13. Pastagem de trigo de duplo propsito cultivar BRSUmbu. Uruguaiana, RS.Foto: Renato S. Fontaneli.

    (A) (B)

  • 69

    Fig. 14. Pastagem de trigo de duplo propsito BRS Tarum.Tapejara, RS.Foto: Renato S. Fontaneli.

    Adaptao e estabelecimento

    A temperatura ideal para pleno desenvolvimento de trigo estao redor de 20 C. Severo dano (por frio ou calor) pode sercausado ao trigo durante o estdio reprodutivo, em que a tem-peratura tima para fertilizao vai de 18 a 24 C. A gua um dos fatores mais importantes no crescimento e desen-volvimento de cereais de inverno, at para trigo.

    As recomendaes de calagem e de adubao para trigo deduplo propsito so as mesmas indicadas para trigo convenci-onal (MANUAL..., 2004). Entretando, indica-se fracionar a dosede adubo nitrogenado em mais vezes de acordo com o nmerode cortes ou pastejos. Para reposio de cada 1.000 kg MS/haconsumida pelos animais em pastejo, ou colhida verde para

  • 70 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    fornecimento no coxo aos animais, ou conservado na forma defeno, pr-secado ou silagem, deve-se adicionar 25 a 30 kg N/ha,exceto em solos com mais de 5,0% de matria orgnica.

    Trigo de duplo propsito possui ciclo vegetativo mais longo epode ser semeado mais cedo. A poca sugerida logo apsa colheita de soja. Pode perfeitamente ser estabelecido emsistema plantio direto. A densidade de semeadura recomen-dada de 350 a 400 sementes aptas por metro quadrado. Aquantidade de semente por hectare pode variar de 90 a 140kg. O peso de 1.000 sementes de aproximadamente 35 g. Adistncia entre linhas no deve ser superior a 0,20 m, e aprofundidade de semeadura deve ser entre 2,0 e 5,0 cm.

    Manejo

    Trigo de duplo propsito pode ser pastejado por animais quan-do as plantas estiverem com 25 a 30 cm de altura (Fig. 13 e14). O pastejo deve ser interrompido quando as plantas tive-rem de 5,0 a 10 cm de altura. O segundo pastejo geralmenteocorre cerca de 30 dias aps o primeiro. Na Embrapa Trigoe outras instituies de pesquisa esto conduzindo vrios tra-balhos com trigo de duplo propsito. Del Duca & Fontaneli(1995) compararam, durante dois anos, em Passo Fundo,RS, gentipos de aveia branca, de aveia preta, de centeio, decevada, de trigo precoce, de trigo de duplo propsito e detriticale quanto produo de massa seca e ao rendimentode gros, sem corte e com um e dois cortes (Tabela7). Em outro trabalho, Del Duca et al. (1997) avaliaram, emPasso Fundo, RS, cultivares de trigo e aveia preta de duplopropsito (produo de massa seca e rendimento de gros),

  • 71

    sem corte, com um e com dois cortes, no ano de 1997.Os resultados evidenciaram vantagens comparativas do tri-go, em relao aveia preta, quanto produo de forrageme, especialmente, ao rendimento de gros. A forragem da plan-ta inteira de trigo um alimento de elevado valor nutritivo eelevada digestibilidade para ruminantes. No incio do ciclo,caracteriza-se por elevado teor protico e digestibilidade (Ta-bela 8). O desenvolvimento da planta determina aumento naproduo total de massa seca e de protena, mas provocareduo no teor de protena e na digestibilidade da forragem.

    Tabela 7. Rendimento mdio de massa seca e de gros, no ensaiode cereais de inverno para duplo propsito, no perodo de 1993 a1994. Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS.

    Rendimento deMassa seca gros

    Cereal Um Dois Sem Umcorte cortes corte corte kg/ha

    Aveia branca UPF 14 1.495 1.990 1.158 826Aveia branca UPF 15 1.332 2.790 1.040 1.422Aveia preta comum 1.524 2.348 222 590Centeio BR 1 1.754 2.343 1.829 774Cevada MN 599 ou BR2* 1.714 2.418 1.688 1.196Triticale BR 4 1.448 2.212 2.586 1.018Trigo IPF 41004 1.079 2.326 3.042 2.344Trigo IPF 55204 1.054 2.574 2.588 2.494Trigo PF 86247 1.269 2.440 2.914 2.194Trigo PF 87451 1.318 2.475 2.882 2.629Trigo BR 23 1.327 1.958 2.474 702Trigo Embrapa 16 1.400 2.363 3.220 2.120Mdia 1.393 2.353 2.137 1.526*MN 599, em 1993, e BR 2, em 1994.Fonte: Adaptada de Del Duca & Fontaneli, 1995.

  • 72 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Tabela 8. Rendimento de massa seca, digestibilidade in vitro damassa seca, rendimento de protena e teor de protena bruta, emplantas inteiras de trigo, de acordo com os estdios de desenvolvi-mento, na Alemanha.

    Digestibilidade Teor deMassa in vitro de Rendimento protena

    Estdio seca massa seca de protena bruta(t/ha) (%) (t/ha) (%)

    Incio da elongao 2,29 83,6 0,47 17,2Elongao 6,33 73,4 0,84 9,7Espigamento 7,02 69,9 0,87 8,7Florescimento 8,94 69,7 1,00 7,8Formao de gro 9,94 62,5 1,18 7,4Gro leitoso 12,03 64,8 1,26 6,8Gro em massa 11,66 57,8 1,33 6,6

    Fonte: Sdekum et al., 1991.

    Triticale (X Triticosecale Wittmack)Descrio morfolgica

    Triticale uma planta anual de inverno criada pelo homem,originria de Triticum sp. e de Secale sp. (BAIER, 1986).Morfologicamente uma planta intermediria entre as duasespcies, podendo, no entanto, ter muitas variaes, em vir-tude da constituio cromossmica (Fig. 5). A planta, a espi-ga e o gro de triticale assemelham-se mais aos de trigo(Fig. 6). A inflorescncia de triticale , portanto, uma espiga.

  • 73

    A espiga pode apresentar de 20 a 30 espiguetas com 3 a 5gros (BAIER et al., 1994). As cultivares brasileiras soaristadas, de colorao clara, e apresentam pilosidade nasglumas e no rquis. O gro mais longo que o de trigo e temdimetro maior que o de centeio.

    Caractersticas agronmicas

    uma planta rstica, resistente ao acamamento e tolerante acidez nociva do solo. O plantio direto recomendado sem-pre que possvel e quando o solo estiver devidamente ade-quado a essa prtica.

    Adaptao e estabelecimento

    Em vrios pases, triticale ocupa reas marginais para cultivode outros cereais de inverno. Essas reas, em geral, apre-sentam solos cidos, como os do Sul do Brasil e os encon-trados na Polnia, na Rssia, na frica do Sul e no Sul dosEstados Unidos; climas semi-ridos, como os da Austrlia,da Argentina, do Mxico, dos Estados Unidos e da Rssia;ou altiplanos, como os que ocorrem no Peru, na Colmbia,na Frana, no Mxico e na Turquia (KOHLI, 1989).As cultivares de triticale hoje disponveis no Brasil adaptam-se melhor a solos com acidez moderada (pH entre 4,5 a 5,5,e mais de 3,5% de matria orgnica) das regies de altitude

  • 74 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    superior a 400 m (temperatura mdia durante o afilhamentoentre 10,0 C e 12,5 C), do Sul do Brasil (BAIER, 1986). Adeterminao das doses de nutrientes a serem aplicadas deveser feita com base na anlise de solo e no histrico da lavou-ra (MANUAL..., 2004).A densidade de sementes de 400 sementes viveis/m2. Asemeadura deve ser, preferencialmente, feita em linhas comespaamento de 0,20 m e profundidade de 2 a 3 cm. Depen-dendo do peso de 1.000 sementes, isso poderia oscilar emtorno de 80 a 120 kg de semente/ha. O peso de 1.000 se-mentes de aproximadamente 30 g.

    Manejo

    Triticale pode ser usado para duplo propsito, pois apresentapotencial de produzir grande quantidade de forragem e ca-pacidade de rebrotar e produzir elevado rendimento de gros(RAMOS et al., 1996) (Fig. 15). Na Austrlia, em regies semi-ridas, essa espcie cultivado para para pastejo e o gropara forrageamento animal.

    A produtividade de forragem e de gros de triticale foi avaliadapor Royo et al. (1994), em trs locais na Espanha, em duaspocas de semeadura, com cortes em dois estdios de cresci-mento. Quando a forragem foi colhida na fase de elongao, aprodutividade foi duas a trs vezes maior, em comparao colhida no perfilhamento. O rendimento de gros foi reduzidoem aproximadamente 16% quando a forragem foi colhida nes-se estdio, e em 33%, quando colhida no incio da fase deelongao, em comparao com os demais tratamentos sem

  • 75

    colheita de forragem. Triticale pode ser consorciado comleguminosas, visando melhorar a qualidade da forragem, como,por exemplo, com ervilhaca ou ervilha-forrageira.

    Fig. 15. Triticale - (A) Dois cortes, (B) Um corte e (C) Semcorte em Passo Fundo, RS.Fotos: Renato S. Fontaneli.

    Em consorciaes de inverno para pastagens, na Depres-so Central do RS, Roso & Restle (2000) obtiveram excelen-te distribuio estacional de forragem e desempenho de bo-vinos no tratamento triticale-azevm.

    Trabalhos conduzidos em Passo Fundo, RS (FONTANELI etal. 1996b, 2009; BAIER, 1997), e em Guarapuava, PR (Sandini& Novatzki, 1995), indicam que o manejo apropriado de cor-te da forragem ou de pastejo permite obter forragem no in-verno, perodo crtico, sem reduo expressiva no rendimen-to de gros. Assim, nos experimentos em que a colheita deforragem foi efetuada at o fim do perfilhamento, a reduono rendimento de gros foi menor, em comparao aos cor-tes realizados mais tarde. Em alguns casos, o corte at pro-moveu aumento no rendimento de gros.

    (A) (B) (C)

  • 76 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    O potencial para duplo aproveitamento de triticale explicitadona Tabela 9, indicando que foram colhidos em mdia 1.120 kgMS/ha de forragem, com mais de 20% de protena bruta, e norebrote ainda colheram-se 2.407 kg de gros/ha. A colheita deforragem causou reduo de 21% na produo de gros, emrelao s parcelas no cortadas. Gentipos mais precocesproduziram mais forragem e tiveram redues mais elevadasna produo de gros, em relao aos tratamentos no corta-dos. Condies favorveis de temperatura e umidade, como asocorridas em Guarapuava, PR, em 1997, resultaram em eleva-da produtividade de forragem e de gros no rebrote, sem redu-es associadas ao corte. Foram observadas diferenas pe-quenas na produtividade de forragem e nos teores de massaseca e de protena na forragem. As diferenas na produo degros, entre locais e anos, foram muito elevadas. Isso atribu-do pequena influncia adversa do clima sobre os estdiosiniciais das plantas e severa interferncia dessas condiessobre a produo de gros. Na figura 15 destacada a capaci-dade de rebrote do triticale, mesmo aps dois cortes, em anocom primavera mais fria em Passo Fundo, RS.

    Roso & Restle (2000), em Santa Maria, RS, avaliaram pasta-gens de aveia preta-azevm, (AA), triticale-azevm (TA) ecenteio-azevm (CA) que tiveram produtividade de massaseca (MS) semelhante (9,7 t MS/ha), em pastejo realizadoentre fins de maio e meados de novembro. Os ganhos depeso vivo por hectare foram de 803 kg para TA, 754 kg paraCA e 726 kg para AA. A receita lquida para TA foi de R$224,76, sendo, respectivamente 27,5% e 15,6% superior dapastagem de AA e de CA. A pastagem de CA apresentou amaior produtividade de MS logo aps o estabelecimento, en-quanto a pastagem de TA teve a melhor distribuio de forra-gem durante o perodo de pastejo (ROSO et al., 2000).

  • 77

    Tabela 9. Rendimento mdio de forragem verde (kg de massa seca/ha) de triticale, rendimento de gros e rendimento relativo no rebrotedos tratamentos com corte, em relao aos tratamentos em queno foi colhida forragem, em Passo Fundo, em Guarapuava e emSanta Rosa, em 1996 e 1997, mdia de teor de massa seca e con-tedo de protena da forragem.

    Rendimento Teor deGentipo Forragem Gros Rela- Massa Protena

    kg/ha kg/ha tivo seca bruta % % %

    Arapoti 1.254 2.529 83 14,1 9,2Triticale BR 4 1.244 2.425 75 14,9 21,5Embrapa 18 1.121 2.191 77 14,2 20,2Embrapa 53 1.321 2.154 79 12,9 18,9PFT 105 971 2.486 74 14,4 21,6PFT 215 1.079 2.596 78 13,9 20,6PFT 401 1.132 2.778 90 13,6 20,5PFT 403 965 2.616 73 13,8 21,3PFT 408 1.191 2.434 79 13,9 20,9PFT 409 9 24 2.688 89 14,8 22,1PFT 410 933 2.720 89 14,9 22,1Centeio BR 1 1.446 1.578 58 13,1 19,4Trigo Emb16 974 2.235 81 14,8 20,5DMS Gen (0,05) 169 448 - 0,9 1,76Mdia das cultivares por local e por ano:Passo Fundo 1.085 2.443 73 14,0 20,7Passo Fundo 1996 1.079 3.724 90 13,1 21,7Passo Fundo 1997 1.092 1.163 45 15,0 19,7Guarapuava 1.086 3.449 96 14,1 -Guarapuava 1996 1.014 5.063 104 14,0 -Guarapuava 1997 1.159 1.835 79 14,2 -Santa Rosa 1.187 1.327 61 14,1 -

    Continua...

  • 78 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    Tabela 9. Continuao. Rendimento Teor de

    Gentipo Forragem Gros Rela- Massa Protena kg/ha kg/ha tivo seca bruta

    % % %Santa Rosa 1996 1.068 1.697 54 - -Santa Rosa 1997 1.307 957 75 - -DMS Loc*Ano (0,05)133 342 - 0,6 -Mdia Geral 1.120 2.407 79 14,1 20,7CV % 21 25,8 - 7,2 6,0Experimentos semeados sob sistema plantio direto em resteva de soja, em fim deabril e incio de maio. A forragem foi cortada uma vez a 5-7 cm do solo entre o fimdo perfilhamento e o incio da elongao, 40 a 60 dias aps a emergncia.

  • 79

    4Captulo

    Cereais de Inverno de DuploPropsito - Estabelecimento eManejo de Cereais de DuploPropsito

    Renato Serena Fontaneli, Henrique Pereira dos Santos,Osmar Rodrigues e Joo Leonardo Fernades Pires

    A regio Sul do Brasil, mais especificamente o Centro-Sul doParan, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, caracteriza-sepor apresentar similaridades edafoclimticas e de exignci-as ambientais para os cereais de inverno, que resultam naindicao freqente de espcies e cultivares que se adap-tam aos trs estados (DEL DUCA et al., 2000). Apesar daspeculiaridades especficas a cada estado ou regio, existesemelhana nas demandas que abrangem os locais citadosacima. De acordo com Rodrigues et al. (1998), excluindo asterras de arroz irrigado, haveria, no mnimo, quatro milhesde hectares disponveis no inverno com aptido agrcola so-

  • 80 ILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-FlorestaILPF - Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta

    mente no Rio Grande do Sul, o que representa considervelociosidade de terra e de infra-estrutura, com reflexos negati-vos na economia e acarretando perdas de renda.

    Na regio Sul do Brasil em que se cultivam soja e milho, novero, h perodos, de um a trs meses, durante os quais osolo fica exp