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1 FARMACOCINÉTICA A relação entre a administração de um fármaco, a evolução temporal de sua distribuição e a magnitude da concentração obtida em diferentes regiões do corpo é denominada farmacocinética (o que o corpo faz com o fármaco). É dividida em quatro processos: absorção, distribuição, biotransformação e excreção (figura 1). Figura 1. Esquema simplificado da farmacocinética. ABSORÇÃO: é definida como a passagem de um fármaco de seu local de administração para o plasma. Deve ser considerada para todas as vias de administração, exceto a intravenosa (IV). Em muitos casos o fármaco tem que passar para o plasma pra poder chegar até seu local de ação (BIOFASE), tendo que ser primeiramente absorvido. A absorção descreve a taxa na qual um fármaco deixa seu local de administração e o grau em que isso ocorre. Um fármaco precisa estar em concentrações adequadas nos seus locais de ação (BIOFASE) para produzir seus efeitos característicos. As concentrações atingidas dependem não só da quantidade administrada, mas também do grau e da taxa de absorção, distribuição, ligação ou localização dos tecidos, biotrasformação e da sua excreção.

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FARMACOCINÉTICA

A relação entre a administração de um fármaco, a evolução temporal de sua distribuição

e a magnitude da concentração obtida em diferentes regiões do corpo é denominada

farmacocinética (o que o corpo faz com o fármaco). É dividida em quatro processos: absorção,

distribuição, biotransformação e excreção (figura 1).

Figura 1. Esquema simplificado da farmacocinética.

ABSORÇÃO: é definida como a passagem de um fármaco de seu local de

administração para o plasma. Deve ser considerada para todas as vias de administração,

exceto a intravenosa (IV). Em muitos casos o fármaco tem que passar para o plasma pra poder

chegar até seu local de ação (BIOFASE), tendo que ser primeiramente absorvido. A absorção

descreve a taxa na qual um fármaco deixa seu local de administração e o grau em que isso

ocorre.

Um fármaco precisa estar em concentrações adequadas nos seus locais de ação

(BIOFASE) para produzir seus efeitos característicos. As concentrações atingidas dependem

não só da quantidade administrada, mas também do grau e da taxa de absorção, distribuição,

ligação ou localização dos tecidos, biotrasformação e da sua excreção.

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Os dois processos fundamentais que determinam a concentração de um fármaco em

dado momento e numa região qualquer do corpo são:

- translocação de moléculas de fármacos

- transformação química de moléculas de fármacos (BIOTRANSFORMAÇÃO)

Translocação das moléculas de drogas: as moléculas de fármacos movem-se pelo corpo

de duas maneiras:

- por transferência através de fluxo de massa (pela corrente sangüínea)

- por transferência difusional (molécula por molécula, por curtas distâncias)

Na transferência por fluxo de masssa, a natureza química do fármaco é desprezível.

O sistema cardiovascular constitui um sistema de distribuição por longas distâncias muito

rápido para todos os solutos, independente da sua natureza química.

Do ponto de vista farmacocinético, o que distingue um fármaco de outro são suas

características difusionais, especialmente sua capacidade de atravessar barreiras não-aquosas

à difusão, constituídas de membranas celulares que separam os diversos compartimentos

aquosos do corpo (plasma, líquido intersticial, líquido intracelular e líquido transcelular). A

difusão aquosa ocorre naturalmente como parte do mecanismo geral de transporte de

fármacos, pois é este processo que distribui moléculas de fármacos de e para as barreiras não-

aquosas. A taxa de difusão de uma substância depende principalmente de seu tamanho

molecular; assim, as grandes moléculas difundem-se mais lentamente que as pequenas. O que

determina onde e por quanto tempo um fármaco vai estar presente no corpo após ter sido

administrado é o movimento entre compartimentos, que envolve geralmente a penetração de

barreiras não-aquosas à difusão.

Fatores físico-químicos na transferência dos fármacos através das membranas:

Uma vez que a absorção, distribuição, biotransformação e excreção de um fármaco são

feitas através das membranas celulares, é essencial observar os mecanismos pelos quais os

fármacos atravessam as membranas e as propriedades físico-químicas das moléculas e das

membranas que influenciam essa transferência. São características importantes de um

fármaco:

- tamanho e o formato da molécula

- solubilidade no local de absorção

- grau de ionização

- lipossolubilidade relativa das formas ionizada e não-ionizada

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As barreiras ente os compartimentos aquosos no corpo são constituídas de membranas

celulares e é óbvio que o fármaco precisa atravessar a membrana plasmática para penetrar em

uma célula. Uma camada única de membrana separa os compartimentos intra e extracelular.

Uma barreira epitelial, como a mucosa do trato gastrointestinal (TGI) ou um túbulo renal,

consiste em uma camada de células firmemente unidas uma às outras, de modo que as

moléculas têm que atravessar duas camadas de membrana para passar de um lado para outro.

O endotélio vascular é mais complicado; os capilares são fenestrados em muitos tecidos,

sendo as lacunas entre as células suficientemente grandes para possibilitar que moléculas

pequenas atravessem por difusão aquosa, mas demasiadamente pequenas para possibilitar a

passagem de moléculas com peso molecular superior a 30 KDa (a maioria das moléculas de

proteínas).

Em alguns órgãos, especialmente SNC e placenta o endotélio é contínuo e a penetração

de moléculas de fármacos envolve a passagem através da membrana celular endotelial, o que

torna esses leitos vasculares bem diferentes daqueles de outros órgãos e têm grandes

conseqüências farmacocinéticas.

Apesar dessas diferenças estruturais, a difusão e o transporte de fármacos através

dessas fronteiras têm características comuns, visto que, em geral, os fármacos passam através

das células e não entre elas. Assim, a membrana celular representa uma barreira comum.

Membrana celular:

A membrana celular consiste em uma camada dupla de lipídeos anfipáticos (moléculas

que apresentam em uma as extremidades afinidade pela água, definida como cabeça

hidrofílica, e na outra extremidade estruturas hidrofóbicas, denominadas cauda apolar), com

suas cadeias de hidrocarbonetos orientadas para dentro, formando uma fase hidrofóbica

contínua, e suas cabeças hidrófilas voltadas para fora. Cada molécula de lipídeo na camada

dupla pode movimentar-se no sentido lateral, conferindo à membrana fluidez, flexibilidade,

grande resistência elétrica e relativa impermeabilidade a moléculas altamente polares. As

proteínas da membrana embutidas na camada dupla servem como receptores que

proporcionam vias de sinalização elétricas ou químicas e alvos seletivos para as ações das

drogas.

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Figura 2. A célula.

Figura 3. Modelos propostos de membrana celular (Gorter e Grendel (1925): biomembranas

com bicamadas lipídicas; Danielli e Davdson (1935): acrescentava a sobre a

bicamada lipídica de algumas membranas proteínas globulares; Robertson (1961):

microscopia eletrônica – conceito de unidade de membrana: bicamada lipídica

encontra-se entre camadas compactas de proteínas; Singer e Nicolson (1972):

modelo do mosaico fluído – proteínas encontram-se inseridas na bicamada

lipídica).

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Em geral, são quatro as maneiras pelas quais moléculas pequenas atravessam

membranas celulares:

- difusão através do lipídio

- difusão através dos poros aquosos (filtração)

- transporte mediado por carreadores (difusão facilitada ou transporte ativo)

- pinocitose

Entre essas, a difusão através do lipídio e o transporte mediado por transportadores são

particularmente importantes.

Difusão através de lipídeos: as substâncias não-polares dissolvem-se livremente em

solventes não-polares, como os lipídeos, penetrando, portanto muito facilmente as membranas

celulares por difusão simples ou passiva (figura 4) seguindo um gradiente de concentração em

virtude de sua solubilidade na camada lipídica. Essa transferência é diretamente proporcional à

grandeza do gradiente de concentração através da membrana e ao coeficiente de partição

lipídeo: água do fármaco. Quanto maior o coeficiente, maior a concentração do fármaco na

membrana e mais rápida sua difusão. A concentração de um fármaco não-eletrolítico livre é

igual em ambos os lados da membrana depois que se atinge um estado de equilíbrio. Há uma

estreita relação entre a solubilidade em lipídios e a permeabilidade de membrana celular a

diferentes substâncias. Por essa razão, a lipossolubilidade é um dos mais importantes fatores

determinantes das características farmacocinéticas de um fármaco, podendo-se prever, com

base no conhecimento da lipossolubilidade de um fármaco, muitas de suas propriedades, como

a razão de absorção pelo TGI, a penetração no cérebro e outros tecidos e a duração de sua

ação. No caso dos compostos iônicos, as concentrações de equilíbrio dependem de diferenças

no pH através da membrana que podem influenciar o estado de ionização da molécula em

cada lado da membrana e do gradiente eletroquímico do íon.

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Figura 4. Difusão através de lipídeos.

Difusão através de poros aquosos (filtração): esse tipo de transporte não é tão

importante, pois esses poros, cuja existência ainda é controversa, têm provavelmente diâmetro

pequeno demais (ao redor de 0,4 nm de diâmetro) para possibilitar a passagem das moléculas

da maioria dos fármacos (que geralmente tem diâmetro superior a 1 nm), embora sejam

considerados a principal via pela qual a água e outras pequenas moléculas polares (ex.: uréia)

atravessam membranas celulares. Muitas membranas biológicas são relativamente permeáveis

à água, seja por difusão ou por fluxo, o qual pode trazer consigo pequenas substâncias

hidrossolúveis. A maioria das membranas celulares só permite a passagem de água, uréia e

outras moléculas hidrossolúveis pequenas através desses mecanismos. Estas substâncias não

costumam atravessar as membranas celulares quando suas massas moleculares são

superiores a 100 ou 200 Da. O fluxo volumoso através dos poros intercelulares é o principal

mecanismo de passagem das drogas por muitas membranas endoteliais capilares, com a

importante exceção do SNC. As lacunas intercelulares são suficientemente grandes para que a

difusão através de muitos capilares seja limitada pelo fluxo sangüíneo e não pela

lipossolubilidade das drogas ou pelos gradientes de pH. As junções de oclusão são

características dos capilares do SNC e de vários epitélios. Como conseqüência, a difusão

intercelular é pequena.

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Transporte na membrana mediado por um carreador (ou proteína carreadora):

Embora a difusão passiva através da camada dupla predomine na absorção e

distribuição de muitas drogas, mecanismos mais ativos e seletivos podem ter participações

importantes. Muitas membranas celulares possuem mecanismos de transporte especializados

que regulam a entrada e saída de moléculas fisiologicamente importantes, como carboidratos,

aminoácidos, neurotransmissores e íons metálicos. Em geral, esses sistemas de transporte

envolvem uma molécula transportadora que se liga à molécula ou íons a serem transportados e

os passam para o outro lado da membrana. Esses sistemas podem operar de modo passivo,

sem gasto de energia; neste caso eles só facilitam o processo de equilíbrio transmembrana da

substância transportada na direção de seu gradiente eletroquímico; o mecanismo chama-se

difusão facilitada. Podem ser altamente seletivos para fármacos com estruturas de

configuração específica e são necessários para o transporte de compostos endógenos cuja

velocidade de movimentação através das membranas biológicas por difusão simples seria

muito lenta.

Ocorre transporte ativo de alguns fármacos através das membranas neuronais, do

plexo coróide, das células tubulares renais e dos hepatócitos. As características do transporte

ativo são: seletividade, inibição competitiva por congêneres, necessidade de energia,

saturabilidade e movimento contra gradiente eletroquímico, podem ser importantes no

mecanismo de ação dos fármacos que estão sujeitos a transporte ativo ou que interferem no

transporte ativo de metabólitos ou neurotransmissores naturais.

Figura 5. Transporte mediado por carreadores ou proteínas carreadoras.

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A pinocitose envolve a invaginação de uma parte da membrana celular e o

encerramento, no interior da célula, de uma pequena vesícula contendo componentes

extracelulares (líquidos). O conteúdo da vesícula pode então ser liberado na célula ou expulso

pelo outro lado desta. Este mecanismo parece ser importante no transporte de algumas

macromoléculas (ex.: insulina, que atravessa a barreira hematoencefálica por este processo)

mas não há nenhuma evidência de que contribua de modo apreciável para o movimento de

moléculas pequenas. A importância da pinocitose é provavelmente desprezível na

farmacocinética.

Figura 6. Pinocitose.

Eletrólitos fracos e influência do pH:

Muitas moléculas são ácidos ou bases fracas, podendo existir tanto na forma ionizada

como não- ionizada, variando a razão entre as duas formas com o pH. De maneira geral, as

moléculas não-ionizadas são lipossolúveis e podem difundir-se através da membrana celular.

Por outro lado, as moléculas ionizadas geralmente não conseguem penetrar na membrana

lipídica por causa de sua baixa lipossolubilidade. Portanto, a distribuição transmembrana de um

eletrólito fraco geralmente é determinada por seu pKa e pelo gradiente de pH através da

membrana.

Para ácidos fracos:

A razão entre o fármaco não-ionizado e o ionizado em cada pH é calculada pela

equação de Handerson-Hasselbach.

pKa = pH + log [AH]

[A-]

HA A- + H+ Em pH ácido, onde a concentração de H+ é elevada, o equilíbrio

se desloca para esquerda, ou seja, predomina a forma molecular HA. Então, no suco gástrico,

a absorção de um fármaco ácido fraco é alta.

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HA A- + H+ Em pH básico, como plasma 7,4, onde a concentração de H+ é

baixa, o equilíbrio se desloca para direita, predominando a forma ionica do fármaco, portanto a

absorção fica prejudicada.

Para bases fracas:

A constante de dissociação pKa é dada pela equação de Handerson-Hasselbach:

pKa = pH + log [BH+]

[B]

BH+ B + H+ Em pH ácido, onde a concentração de H+ é elevada, o equilíbrio

se desloca para esquerda, ou seja, predomina a forma iônica BH+. Então, no suco gástrico, a

absorção de um fármaco base fraca é pequena.

BH+ B + H+ Em pH básico, como plasma 7,4, onde a concentração de H+ é

baixa, o equilíbrio se desloca para direita, predominando a forma molecular do fármaco,

portanto a absorção é alta.

Regra geral: base é bem absorvida em meio básico

ácido é bem absorvido em meio ácido

Em qualquer caso, a forma ionizada BH+ (no caso de bases) e A- (no casa de ácidos)

tem lipossolubilidade muito baixa e é praticamente incapaz de passar por uma membrana,

exceto nos raros casos onde exista um mecanismo de transporte específico. Para a maioria

dos fármacos, a forma não-carregada é suficientemente lipossolúvel para possibilitar a

passagem rápida pela membrana, embora haja exceções (antibióticos aminoglicosídeos) em

que mesmo a molécula não-carregada é suficientemente lipossolúvel para atravessar

membranas.

A formação de gradientes de concentração de eletrólitos fracos através de membranas

com um gradiente de pH é um processo puramente físico e não requer um sistema de

transporte ativo. Tudo que se precisa é uma membrana preferencialmente permeável a uma

forma do eletrólito fraco e um gradiente de pH através da membrana. A formação do gradiente

de pH é um processo ativo.

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Fatores que modificam a absorção:

Além dos fatores físico-químicos que afetam o transporte através de membranas muitas

variáveis influenciam a absorção das drogas.

- Sem levar em conta o local, a absorção depende da solubilidade do fármaco. Em

solução aquosa, os fármacos são absorvidos mais rapidamente do que aqueles

administrados em solução oleosa, suspensão ou forma sólida, porque se misturam

mais prontamente à fase aquosa no local da absorção. A velocidade de dissolução

pode ser o fator limitador da absorção dos fármacos administrados na forma sólida.

- As condições no local de absorção alteram a solubilidade em especial no TGI. A

aspirina, relativamente insolúvel no meio gástrico ácido, é um exemplo comum de

fármaco desse tipo.

- A concentração influencia sua velocidade de absorção. Os fármacos administrados

em soluções altamente concentradas são absorvidos mais rapidamente que aqueles

em soluções de baixa concentração. - A circulação no local de administração também afeta a absorção do fármaco. O

aumento do fluxo sangüíneo, determinado por massagem ou aplicação local de

calor, potencializa a velocidade de absorção do fármaco; a redução do fluxo

sangüíneo, provocada por vasoconstrição, choque ou outros fatores patológicos

pode retardar a absorção.

- A área da superfície absortiva à qual o fármaco é exposto é um dos determinantes

importantes da velocidade de absorção. Os fármacos são absorvidos com maior

rapidez em superfícies com grandes áreas como o epitélio alveolar pulmonar, a

mucosa intestinal ou em alguns casos, depois da aplicação extensa na pele. A

superfície absortiva é determinada em grande parte pela via de administração. Cada

um desses fatores, separadamente ou em conjunto com os outros, podem ter efeitos

acentuados na eficácia clínica e na toxicidade de um fármaco.

Biodisponibilidade:

Quantidade de uma droga que atinge seu local de ação (BIOFASE) ou um líquido

biológico a partir do qual o fármaco tem acesso a seu local de ação. Por exemplo: um fármaco

absorvido pelo estômago e intestino precisa passar primeiro pelo fígado antes de atingir a

circulação sistêmica. Se o fármaco for metabolizado no fígado ou excretado na bile, parte dele

será inativada ou desviada antes que seja distribuída aos seus locais de ação. A

biodisponibilidade diminui consideravelmente se a capacidade metabólica ou excretora do

fígado para o agente em questão for grande (o chamado efeito de primeira passagem). Essa

redução depende do local anatômico a partir do qual ocorre absorção: outros fatores

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anatômicos, fisiológicos e patológicos podem influenciar na biodisponibilidade e a escolha da

via de administração do fármaco deve basear-se no conhecimento dessas condições. Além do

mais, fatores que modificam a absorção de um fármaco podem alterar sua biodisponibilidade. A

aplicação dos conhecimentos de biodisponibilidade em estudos comparativos de duas ou mais

formulações diferentes, com os mesmos princípios ativos, nas mesmas concentrações,

administrados pelas mesmas vias, em uma mesma espécia é denominado de bioequivalênia.

DISTRIBUIÇÃO: saída do fármaco da corrente sangüínea para o tecido-alvo. Depois de

absorvido ou injetado na corrente sangüínea, o fármaco pode distribuir-se para os líquidos

intersticial e celular. Alguns órgãos como coração, rins, fígado, cérebro e outros bem

perfundidos recebem grande parte da droga nos primeiros minutos depois de sua absorção. A

oferta de droga ao músculo, à maioria das vísceras, à pele e à gordura é mais lenta, e esses

tecidos podem exigir vários minutos a várias horas para que seja atingido o estado de equilíbrio

estável.

Compartimentos de líquidos corporais:

O corpo é constituído de 50 a 70% de água. A água corporal distribui-se por quatro

compartimentos principais: o líquido extracelular compreende plasma sangüíneo (4,5% do peso

corporal); líquido intersticial (16%, espaços) e linfa (1-2%); líquido intracelular (30-40%) é a

soma do conteúdo líquido de todas as células do corpo e o líquido transcelular (2,5%) inclui o

líquido cefalorraquidiano, intra-ocular, peritoneal, pleural e sinovial e as secreções digestivas.

Para passar de um compartimento extracelular para os compartimentos transcelulares, um

fármaco tem de atravessar uma barreira epitelial, como a hematoencefálica, deve ser capaz de

penetrar em células.

Em cada um desses compartimentos aquosos, moléculas de fármacos existem

geralmente tanto em solução livre como em forma ligada; além disso, fármacos que são ácidos

fracos ou bases fracas existem como uma mistura em equilíbrio das formas carregada e não-

carregada, com a posição de equilíbrio dependente do pH.

O padrão de equilíbrio de distribuição entre os diversos compartimentos depende da:

permeabilidade através de barreiras teciduais; ligação no interior dos compartimentos; partição

do pH; partição lipídeo : água.

Reservatórios de drogas: Os fármacos podem-se acumular nos tecidos em

concentrações maiores do que as esperadas a partir dos equilíbrios estáveis de difusão, como

resultado dos gradientes de pH, da ligação a componentes intracelulares ou da distribuição nos

lipídios. Os compartimentos orgânicos nos quais um fármaco se acumula são reservatórios

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potenciais. A concentração do fármaco no plasma e em seu local de ação é mantida e seus

efeitos farmacológicos prolongados quando a quantidade armazenada está em equilíbrio

estável com aquela no plasma e é liberada à medida que a concentração plasmática cai.

Contudo, quando contém grande capacidade e enche-se rapidamente, o reservatório altera a

distribuição do fármaco de modo que são necessárias quantidades iniciais maiores do fármaco

para proporcionar uma concentração terapeuticamente eficaz no órgão-alvo.

Proteínas plasmáticas:

A ligação de um fármaco às proteínas plasmáticas limita sua concentração nos tecidos e

no seu local de ação, visto que apenas o fármaco livre está em equilíbrio estável através da

membrana. A distribuição pode ser limitada pela ligação do fármaco às proteínas do plasma,

principalmente a albumina no caso dos fármacos ácidos e a glicoproteína α1- ácida no caso

das drogas básicas; a ligação costuma ser reversível. Um fármaco fortemente ligado tem pouco

acesso a locais de ação intracelulares e pode ser metabolizado e eliminado lentamente. Nas

concentrações terapêuticas, a fração do fármaco que fica livre em solução aquosa pode ser de

até 1%, estando o restante associado a proteínas plasmáticas.

A quantidade de um fármaco que se liga às proteínas vai depender de três fatores:

concentração de fármaco livre; sua afinidade pelos locais de ligação; concentração de

proteínas plasmáticas.

Como a ligação com as proteínas plasmáticas não é seletiva, muitos fármacos com

características físico-químicas semelhantes podem competir entre si e com substâncias

endógenas por esses locais de ligação. Por exemplo, sabe-se que o deslocamento da

bilirrubina livre do local de ligação com a albumina pelas sulfonamidas e outros ânios orgânicos

aumenta o risco de encefalopatia da bilirrubina no recém-nascido (Kernicterus). Como as

respostas aos fármacos, quer eficaz quer tóxica, dependem das concentrações livres, as

concentrações livres em equilíbrio estável só mudam se forem alteradas a entrada do fármaco

(taxa de administração) ou a depuração do fármaco não-conjugado. Assim, as concentrações

livres em equilíbrio estável independem do grau de ligação à proteína. Entretanto uma

alteração transitória nas concentrações livres imediatamente após uma dose de um fármaco

competidor poderia preocupar no caso de fármacos com índice terapêutico estreito.

Na albumina plasmática, a existência de um mesmo local de ligação para diferentes

fármacos, pode levar à competição entre eles, de modo que a administração de um fármaco A

poderá reduzir a ligação de um fármaco B às mesmas proteínas, levando um aumento de sua

concentração livre no plasma. Para fazer isso, o fármaco A necessita ocupar uma fração

considerável dos locais de ligação. Muitos fármacos não afetam a ligação de outros por

ocuparem (em concentrações plasmáticas terapêuticas) apenas uma fração pequena dos

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locais disponíveis. Apenas alguns fármacos causam efeitos inesperados por deslocar outros

fármacos, como as sulfonamidas que ocupam cerca de 50% dos locais de ligação (em

concentrações terapêuticas). A competição entre fármacos pela ligação às proteínas, pode

levar a interações clinicamente importantes entre fármacos. Uma ligação mais extensa às

proteínas plasmáticas torna mais lenta a eliminação do fármaco. Fármacos que estão

fortemente ligados a proteínas permanecem principalmente no compartimento plasmático.

Reservatórios celulares: muitos fármacos acumulam-se no músculo e outras células

em concentrações maiores do que nos líquidos extracelulares. Alguns fármacos têm grande

afinidade pelo ácido nucléico (mepacrina) e são fortemente captados pelo núcleo dos

hepatócitos. A cloroquina tem afinidade pela melanina e é captada por tecidos como a retina,

ricos em melanina. O tecido adiposo constitui um grande compartimento não-polar (apolar).

Se a molécula de um fármaco apolar tem um coeficiente de partição lipídeo : água de 10, em

equilíbrio aproximadamente 75% do fármaco estariam dissolvidos no tecido adiposo corporal,

não exercendo nenhuma função farmacológica, mas formando um grande reservatório do

fármaco em comunicação com o compartimento plasmático. O segundo fator que limita o

acúmulo de fármacos no tecido adiposo corporal é seu escasso suprimento sangüíneo (menos

de 2% do débito cardíaco). Os fármacos são levados ao tecido adiposo e a água corporal é

atingida lentamente. Para fins práticos a distribuição ao tecido adiposo corporal após a

administração aguda só é importante para alguns fármacos altamente lipossolúveis

(anestésicos gerais) o mesmo ocorrendo com a administração crônica de fármacos

lipossolúveis (benzodiazepínicos). Fármacos lipossolúveis chegam a todos os compartimentos

e podem acumular-se no tecido adiposo. Osso: As tetraciclinas e os metais pesados

acumulam-se lentamente nos ossos e dentes, por terem grande afinidade pelo cálcio. Podem

ser acumulados no osso por adsorção à superfície osso-cristal e incorporação final no

arcabouço de cristal. O osso pode transformar-se num liberador lento de agentes tóxicos, como

chumbo e o rádio para o sangue; assim, os efeitos destes podem persistir muito depois do

término da exposição. Reservatórios transcelulares: as drogas também atravessam células

epiteliais e podem acumular-se nos líquidos transcelulares. O principal reservatório transcelular

é o TGI.

REDISTRIBUIÇÃO: Em geral o término do efeito do fármaco se dá por biotransformação

e excreção, mas também pode resultar da redistribuição do medicamento de seu local de ação

para outros locais ou tecidos. A redistribuição é um fator importante no término do efeito de um

fármaco, principalmente quando se administra rapidamente por injeção intravenosa ou inalação

um fármaco altamente lipossolúvel que atua no cérebro ou no sistema cardiovascular.

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O fármaco que se acumula em determinado tecido pode atuar como um reservatório que

prolonga sua ação nesse mesmo tecido ou em um local distante atingido pela circulação. Um

exemplo é o uso do tiopental, uma droga altamente lipossolúvel. Como o fluxo sangüíneo para

o cérebro é muito grande, o fármaco atinge sua concentração máxima nesse órgão cerca de

um minuto após injeção intravenosa. A concentração plasmática cai à medida que o tiopental

difunde-se para outro tecidos, como o músculo. A concentração no cérebro acompanha a do

plasma, visto que há pouca ligação deste com componentes cerebrais. Dessa forma, o início e

o término da ação são rápidos. Uma terceira fase de distribuição deste fármaco deve-se à

captação lenta e dependente do fluxo sangüíneo que ocorre no tecido adiposo. A

administração de doses sucessivas determina acúmulo deste fármaco na gordura e outros

tecidos que podem armazenar grandes quantidades do composto. Esses podem tornar-se

reservatórios para manutenção da concentração plasmática e, portanto, da concentração

cerebral, no ou acima do limiar necessário para anestesia. Assim, um fármaco de curta ação

por causa da rápida redistribuição para locais nos quais o agente não tem efeito farmacológico

pode transformar-se em outro de longa ação quando esses locais de armazenamento ficam

“cheios” e o término da ação do fármaco fica dependente da biotransformação e da excreção.

Transferência placentária de fármacos: a transferência através da placenta é muito

importante uma vez que os fármacos podem causar anomalias congênitas. Os fármacos

administrados imediatamente antes do parto também podem ter efeitos adversos nos recém-

nascidos. As drogas atravessam a barreira hematoplacentária por difusão simples. Os

fármacos não-ionizados lipossolúveis entram com facilidade no sangue fetal a partir da

circulação materna. A penetração é menor quando os fármacos possuem alto grau de

dissociação ou pequena lipossolubilidade. A idéia de que a placenta é uma barreira contra

drogas está incorreta, o feto fica, pelo menos até certo ponto, exposto a praticamente todos os

fármacos ingeridos pela mãe.

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BIOTRANSFORMAÇÃO DE DROGAS

Conjunto de alterações químicas que as drogas sofrem no organismo, geralmente

promovidas por enzimas, com a finalidade de facilitar a sua eliminação, podendo modificar:

- as propriedades físico-químicas da droga como: a solubilidade, a polaridade, etc.

- atividade biológica (efeito farmacológico): alterações de intensidade da atividade

biológica (pró-drogas); alterações da natureza da atividade biológica (codeína; morfina);

alterações de toxicidade.

Importância:

• fisiológica: determinar o término da atividade biológica da droga.

• farmacológica: determinar a intensidade e a natureza do efeito farmacológico,

além do aparecimento ou não de toxicidade.

Local da biotransformação e sistemas enzimáticos:

Em geral, a conversão metabólica das drogas tem natureza enzimática. Os sistemas

enzimáticos participantes da biotransformação dos fármacos localizam-se no fígado, embora

possam estar distribuídos em diversas porções celulares de outros tecidos como: rins, TGI,

pele e os pulmões.

• Principais frações celulares onde estão contidos os sistemas enzimáticos:

o Fração mitocôndrica: Ex.: MAO [monoamina oxidase - degradação

oxidativa das aminas biológicas como: NA, 5-HT (5-hidroxitriptamina) e

tiramina];

o Fração solúvel: Ex.: esterases (degradam ésteres como a procaína e Ach);

amidases (hidrolisam a procainamida); desidrogenases (oxidação de álcoois

e aldeídos); transferases (transferem radicais nas reações conjugativas);

o Fração Microssômica: Ex.: citocromo P450 (oxidação de barbitúricos e

anfetaminas, etc.).

Pró-drogas: são precursores inativos metabolizados em metabólitos ativos.

PRINCIPAIS TIPOS DE REAÇÕES DE BIOTRANSFORMAÇÃO

• Reações de fase I e Reações de fase II

o Principais características:

� Algumas vezes, apenas uma delas já é suficiente para preparar o fármaco

para ser eliminado;

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� Costumam ocorrer em seqüência, mas isso não é uma regra;

� Podem ocorrer simultaneamente.

REAÇÕES DE FASE I:

- Também são chamadas de reações não sintéticas ou de funcionalização;

- Modificam as drogas por introdução ou exposição de radicais em suas estruturas;

- As mais importantes são: oxidação, redução e hidrólise.

Sistema de monooxigenase do citocromo P450:

A família de enzimas do citocromo P450 é o principal catalisador das reações

oxidantes de biotransformação de drogas. A superfamília de enzimas catalisa uma grande

variedade de reações oxidantes e redutoras e exerce atividade contra um grupo de substratos

quimicamente diferentes. As famílias 1, 2 e 3 de citocromo P450 (CYP1, CYP2 e CYP3)

codificam as enzimas que participam na maioria das biotransformações de drogas.

A) Oxidação:

- São as reações de biotransformação mais freqüentes;

- Na maioria das vezes, envolvem enzimas microssomais (especialmente citocromo

P450). Exemplos:

A1) Hidroxilação do núcleo aromático

A2) Desaminação

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B) Redução

- São bem mais raras que as reações de oxidação;

- Também podem envolver enzimas microssômicas. Exemplos:

C) Hidrólise

- Não envolvem enzimas microssomais hepáticas;

- Ocorrem no plasma e na fração solúvel de muitos tecidos;

- São responsáveis pela degradação de muitas drogas que possuem ligação éster ou

amida em sua estrurura. Exemplos:

C1) Hidrólise da procaína

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C2) Hidrólise do ácido acetil salicílico

REAÇÕES DE FASE II:

- Também são chamadas de reações sintéticas ou reações de conjugação;

- Modificam as drogas ou seus metabólitos por conjugarem seus grupos funcionais

(OH, COOH, NH2, etc.) com grupamentos de substâncias endógenas (metila, ác. acético, ác.

sulfúrico, ác glicurônico, etc.);

- Geralmente ocorrem em 2 fases: síntese do doador do radical (sintetases) e

transferência do radical (transferases);

- Muitas vezes acontecem no fígado e quase sempre geram metabólitos inativos e

menos lipossolúveis que seus precursores;

- As mais importantes são: conjugação com o ácido glicurônico e com o grupo metil.

D) Conjugação

D1) Glicuronidação

- Ocorre geralmente com fármacos ou metabólitos que apresentam grupamento fenol,

álcool ou carboxil.

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D2) com grupo metil

- O doador do grupo metil é sintetizado no fígado e corresponde à S-adenosil

metionina.

- As enzimas que transferem o grupo metil são chamadas de N, O ou S-

metiltransferases, conforme a posição da molécula da droga ou metabólito para o qual ele é

transferido.

- Ocorre, por exemplo, com as catecolaminas (NA; Adr), além de outras aminas como a

5-HT).

D3) outras

- Com a glicina e glutamina: ocorre com ácidos carboxílicos aromáticos, como o ácido

salicílico.

- Com o sulfato: ocorre com o cloranfenicol, aminas aromáticas, fenóis, esteróides

fenólicos ou alcoólicos, etc.

FATORES MODIFICADORES DA BIOTRANSFORMAÇÃO

• Espécie animal: diferenças entre espécies, de vias metabólicas e de velocidade de

biotransformação;

• Idade: recém-nascidos e idosos;

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• Fatores genéticos: Variações individuais determinadas geneticamente da capacidade

e/ou da velocidade das vias metabólicas. Por exemplo: metabolizadores “rápidos” ou

“excelentes”; metabolizadores “lentos” ou “ruins”; portadores de enzimas atípicas

(pseudocolinesterase); deficientes em determinadas enzimas;

• Interações medicamentosas: indução enzimática e inibição enzimátia;

o Indutores enzimáticos: Aumentam a biotransformação de outros compostos ou

deles mesmos por: estímulo da atividade enzimática e indução da síntese

enzimática.Ex.: fenobarbital, fenilbutazona, rifampicina, fenitoína, griseofulvina,

carbamazepina, etanol (uso crônico), etc.

� Principais conseqüências: aumento da velocidade de biotransformação

hepática; aumento da velocidade de produção de metabólitos; aumento da

depuração hepática da droga; diminuição da 1/2 vida sérica da droga;

diminuição das concentrações séricas da droga livre e total.

� Possíveis aplicações clínicas: hiperbilirrubinemia em neonatos;

intoxicação por inseticidas halogenados; cirrose hepática.

o Inibidores enzimáticos: Diminuem ou inibem a biotransformação de outros

compostos por: diminuição da síntese enzimática; depleção de co-fatores;

competição com a droga pelos seus sítios de ligação à enzima; por ligação à

enzima em sítios diferentes daqueles nos quais a droga se liga (não competitiva).

� Principais enzimas envolvidas: colinesterases, MAO, aldeído-

desidrogenase e citocromo P450.

� Inibidores clinicamente importantes: cimetidina, cloranfenicol, álcool

(exposição aguda), pro-poxifeno e dissulfiram.

� Principais conseqüências: aumento da 1/2 vida da droga no soro;

aumento das concentrações séricas da droga livre e total; diminuição da

velocidade de produção de metabólitos; diminuição da depuração total.

� Possíveis aplicações clínicas: no alcoolismo (dissulfiram); na gota

(alopurinol); como colinomiméticos de ação indireta (neostigmina,

fisostigmina, prostigmina, edrofônio, ecotiopato, etc.); como

antidepressivos (IMAO – inibidor da MAO).

• Fatores ambientais: Exposição a determinados poluentes que causam indução

enzimática (ex.: benzopireno).

• Fatores patológicos: Ex.: patologias que causam diminuição do fluxo sangüíneo

hepático ou da função hepática (hepatite).

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DEPURAÇÃO

É a “taxa de eliminação” do fármaco do organismo. A depuração por vários órgãos de

eliminação é aditiva. A eliminação de um fármaco pode ser o resultado de processos que

ocorrem no rim, no fígado e em outros órgãos. Quando somadas, as depurações são iguais à

depuração sistêmica total (depuração hepáticva e depuração renal).

EXCREÇÃO DE DROGAS

Processo de eliminação de fármacos do organismo. Um medicamento pode ser

excretado após a biotransformação ou mesmo na sua forma inalterada.

Principais vias de excreção:

• Pulmonar: substâncias gasosas ou voláteis;

• Renal: substâncias polares e hidrossolúveis;

• Biliar: substâncias com alto coeficiente de partição lipídeo : água;

• Fecal: substâncias não absorvidas quando administradas pela via oral ou

absorvidas, porém, eliminadas pela bile.

Vias de excreção secundárias:

• leite materno; saliva; lágrima; suor; secreção nasal.

EXCREÇÃO RENAL

• Filtração glomerular: difusão de moléculas com peso molecular inferior a 20 KDa. A

albumina plasmática (PM 68KDa) é quase totalmente retida, porém as drogas

atravessam livremente a barreira (exceção: heparina).

• Secreção e reabsorção tubulares: até 20% do fluxo plasmático renal é filtrado no

glomérulo, de modo que pelo menos 80% do fármaco podem passar para os capilares

peritubulares no túbulo proximal. Mecanismo mais eficaz de eliminação de droga pelos

rins.

• Difusão através do túbulo renal

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Excreção de fármacos expressa como depuração: A depuração renal é definida como

volume de plasma que contém a quantidade da substância que é removida pelo rim por

unidade de tempo.

Fatores que interferem na excreção renal:

• Patologias: Nefrites e pielonefrites;

• pH da urina: Alcalinização; Acidificação; Bicarbonato de sódio (intoxicações por

fenobarbital).

Interações medicamentosas

• com fármacos que aumentam o volume urinário (diuréticos);

• com fármacos que competem pelo mesmo transportador (probenecida);

• com fármacos que alteram o pH urinário (antiácidos, alcalinizantes, acidificantes).

EXCREÇÃO BILIAR

(CICLO ENTERO-HEPÁTICO)

Drogas que possuem grande lipossolubilidade; Peso molecular acima de 200 Da;

Transporte ativo para a bile semelhante ao renal; Aumento do tempo de permanência de

drogas no organismo.

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MEIA VIDA

Tempo necessário para que a concentração, em µg/mL de sangue, de um determinado

agente terapêutico se reduza à metade.