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1 Experiência estética, comunicação e política: aproximações e rupturas Márcia Larangeira Jácome 1 “É possível elaborar as sensações em um panorama que não cessa de modificar-se?” (Claudine Haroche) O ano de 2011 pode ser considerado um marco do início do século XXI, distinguindo-se como um período em que o aprofundamento das relações entre o virtual e o real e a diluição de fronteiras entre essas esferas revelam novas potencialidades e tensões num mundo que vive transformações profundas. Nesse entrelugar, se estabelecem dinâmicas e interações entre comunicação, cultura e política que afetam as maneiras pelas quais percebemos e construímos conhecimento sobre a realidade e com ela interagimos. Ao mesmo tempo, a convergência de mídias, associada à popularização de recursos de comunicação digital e à conectividade, expande as possibilidades de configuração e compartilhamento de experiências sensíveis entre diferentes, provocando novas subjetividades e (desejos de) novos modos de viver junto. Estes nos parecem ser alguns condicionantes das manifestações públicas massivas, contestadoras de modelos políticos de diferentes matizes que, ocorrendo progressivamente, e em escala mundial a partir de 2011, ganharam novos contornos em ruas, praças e na internet, instituindo comunidades inéditas e esboçando novos contornos à esfera pública. Tais manifestações guardam semelhanças e/ou vínculos com episódios históricos ocorridos anteriormente, atualizam uma série de questões e agendas políticas. Por outra 1 Jornalista, mestranda em Comunicação no PPGCOM/UFPE e participa do Grupo de Pesquisas Narrativas Contemporâneas, sob orientação do Prof. Eduardo Duarte. Integrou o SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia, com atuação nas áreas de comunicação, gestão e educação popular.

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    Experincia esttica, comunicao e poltica:

    aproximaes e rupturas

    Mrcia Larangeira Jcome1

    possvel elaborar as sensaes em um panorama que no cessa de modificar-se?

    (Claudine Haroche)

    O ano de 2011 pode ser considerado um marco do incio do sculo XXI,

    distinguindo-se como um perodo em que o aprofundamento das relaes entre o virtual

    e o real e a diluio de fronteiras entre essas esferas revelam novas potencialidades e

    tenses num mundo que vive transformaes profundas. Nesse entrelugar, se

    estabelecem dinmicas e interaes entre comunicao, cultura e poltica que afetam as

    maneiras pelas quais percebemos e construmos conhecimento sobre a realidade e com

    ela interagimos. Ao mesmo tempo, a convergncia de mdias, associada popularizao

    de recursos de comunicao digital e conectividade, expande as possibilidades de

    configurao e compartilhamento de experincias sensveis entre diferentes, provocando

    novas subjetividades e (desejos de) novos modos de viver junto.

    Estes nos parecem ser alguns condicionantes das manifestaes pblicas

    massivas, contestadoras de modelos polticos de diferentes matizes que, ocorrendo

    progressivamente, e em escala mundial a partir de 2011, ganharam novos contornos em

    ruas, praas e na internet, instituindo comunidades inditas e esboando novos

    contornos esfera pblica.

    Tais manifestaes guardam semelhanas e/ou vnculos com episdios histricos

    ocorridos anteriormente, atualizam uma srie de questes e agendas polticas. Por outra

    1 Jornalista, mestranda em Comunicao no PPGCOM/UFPE e participa do Grupo de Pesquisas

    Narrativas Contemporneas, sob orientao do Prof. Eduardo Duarte. Integrou o SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia, com atuao nas reas de comunicao, gesto e educao popular.

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    parte, instituem prticas que rompem com modos tradicionais de ao poltica, gerando

    crticas por parte da intelectualidade de esquerda, que percebia a a sua fragilidade: a

    ausncia de um programa e o desinteresse por construir uma institucionalidade que lhes

    permitisse criar um consenso em torno da construo de propostas polticas concretas e

    viveis ao enfrentamento dos modelos de Estado criticados fossem estes ditaduras em

    pases do hemisfrio Sul ou o neoliberalismo na Europa, por exemplo.

    Em avaliao realizada recentemente, e com a qual concordamos, a sociloga

    Maria da Glria Gohn afirma que

    os novssimos movimentos do tipo Occupy e Indignados! esto operando

    uma renovao das lutas sociais da mesma magnitude que os ento novos

    movimentos sociais centrados em demandas de identidade operaram nas

    dcadas de 1960, 1970 na Europa e Estados Unidos e parte de 1980 e 1990 na Amrica Latina (GOHN, 2012, p.24).

    Em sntese, possvel identificar como caractersticas das atuais movimentaes

    sociais o fato de serem iniciativas populares, massivas e annimas, organizadas e

    difundidas principalmente mas no s - por meio de redes sociais virtuais, tendo

    ganhado fora e visibilidade nas ruas, margem de instituies polticas tradicionais,

    das quais querem se desvincular, tais como partidos polticos, sindicatos e outros tipos

    de associaes.

    H preocupao com a quebra de paradigmas expressa por meio da tentativa de

    recriar os sentidos da vida em comum, apoiando-se no que Jacques Rancire (2011,

    p.11) reconhece como atos estticos, ou seja, aquilo que produz novas subjetividades

    capazes de reinventar o fazer poltico como dimenso inerente vida cotidiana e gerar

    transformao social. Dentre esses atos estticos, nos chama a ateno a construo dos

    acampamentos em praas pblicas a exemplo da Praa Tahrir (Egito), Praa del Sol

    (Madrid) e Zuccotti Park (Nova York) -, numa reinveno da polis.

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    As revoltas tambm impactaram o Brasil. Desde o ano passado, tem ocorrido

    novas iniciativas inspiradas nessas manifestaes ou que, de alguma forma, delas se

    aproximam seja pela semelhana de temas, pelo uso de smbolos, seja construo de

    estratgias de comunicao e mobilizao que articulam a formao de comunidades de

    redes sociais na internet com a reocupao de ruas e praas -, porm mantendo

    caractersticas ainda muito diferenciadas, em especial no que diz ao grau de radicalidade

    das aes levadas a termo.

    Algumas iniciativas de cunho local, de crticas gesto pblica das cidades ou

    estados, como o #ForaMicarla, em Natal, #OcupeEstelita, em Recife e

    #Quemderaserumpeixe, em Fortaleza; outras de abrangncia nacional, contra a

    corrupo na poltica, como o # FichaLimpa, ou de luta por moradia e territrio rurais e

    urbanos, a exemplo de #SomostodosGuarani-Kaiow, #SomostodosPinheirinho, e

    outras vinculadas a iniciativas internacionalizadas, a exemplo da #MarchadasVadias,

    pelo direito das mulheres ao corpo - territrio primeiro da existncia.

    Apesar dos vnculos com as mobilizaes internacionais, que podem ser

    observados nos modos de ao, o envolvimento suscitado junto populao tem sido

    bastante diferenciado: no se logrou alcanar as mesmas propores o que pode

    variar, inclusive, entre as diferentes iniciativas nacionais, conforme a questo em pauta.

    Uma das explicaes pode estar vinculada ao momento de euforia do crescimento que

    se vive no Brasil, reforada pelo que Gohn (2011) identifica como grande fragilidade

    nos movimentos sociais da Amrica Latina: a dbil autonomia que caracteriza esses

    movimentos dado o seu vnculo histrico com partidos polticos na regio. Citando os

    estudos de Mirza (2006) e Touraine (1989), a autora vai alm ao afirmar que esta

    cultura poltica, baseada nessa dependncia do Estado o que, em grande medida,

    limita a capacidade de ao coletiva autnoma.

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    Nossa hiptese converge com essa afirmao, pois levamos em considerao que

    o fato de o pas contar com um governo oriundo da esquerda, cujas polticas de cunho

    desenvolvimentista e sociais tem elevado o nvel de renda e de consumo de boa parte da

    populao, tende a no favorecer o mesmo tipo de movimento de resistncia que se

    observa na Europa hoje, por exemplo, ou diluir a fora e o alcance de algumas

    iniciativas. A realizao de eleies gerais em 2012 municipais fez com que algumas

    dessas iniciativas, por exemplo, fossem suspensas temporariamente ou ficassem

    subordinadas aos debates ocorridos no contexto da disputa eleitoral.

    Uma coisa, entretanto, comum entre todos esses movimentos: a convergncia

    de mdias digitais, a conectividade e a formao de comunidades na internet a partir de

    diferentes formas de associativismo se integraram, definitivamente, ao desenho de

    estratgias e aos modos de articulao e desenvolvimento dessas aes. Neste sentido,

    tal acontecimento emblemtico de como a comunicao por meio de redes sociais

    digitais tem servido de elo entre diferentes, dando suporte instituio de comunidades

    inditas, nas quais possvel observar indcios de mudanas pautadas no princpio de

    uma partilha igualitria de experincias sensveis; uma esttica sobre a qual se funda a

    poltica, como prope Jacques Rancire, em seu livro A partilha do sensvel: esttica e

    poltica.

    Esse panorama nos indica que uma multido annima supera, de forma criativa,

    as barreiras da mdia comercial, criando formas prprias de enunciao coletiva que a

    tornem visvel e instalem o dissenso a partir do qual lhes seja possvel inscrever seu

    lugar numa ordem simblica da comunidade dos seres falantes, numa comunidade que

    ainda no tem efetividade na civitas [...] (RANCIRE, 1996, p. 38).

    a partir desse quadro, portanto, que esboaremos uma anlise inicial de

    possveis relaes entre comunicao, esttica e poltica, com a finalidade de dar a

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    perceber traos possveis da experincia esttica em experincias pblicas, tomando

    como referncia a comunicao produzida e difundida por meio das comunidades de

    redes sociais na internet e circunscrita s mobilizaes em torno do Indignados!,

    tambm conhecido por 15-M. Este processo de movimentao social, de carter cultural

    e poltico espanhol teve incio com a convocao da populao, por um grupo informal,

    formado por pessoas individualmente e por participantes de grupos de ao cidad,

    reunidos na plataforma cidad Democracia Real Ya! (CABAL, 2011. p.9-10), para uma

    manifestao contra a situao poltica, econmica e social do pas, que atravessa um

    grave perodo de recesso provocada por medidas de austeridade econmica, associadas

    a cortes nas polticas sociais, tentativas de cerceamento liberdade de expresso.

    A manifestao em 15 de maio de 2011 (o 15-M) tomou propores imprevistas

    ao agregar milhares de pessoas que, em nome prprio e espontaneamente, se somaram

    convocatria e decidiram manter um acampamento na Puerta del Sol, em Madrid, para

    influenciar as eleies gerais que viriam a acontecer na semana seguinte. A direita

    conservadora venceu as eleies e a #AcampadaSol se estendeu por 78 dias2, aps os

    quais foi dissolvida, abrindo espao para a realizao de assemblias em bairros de

    diferentes cidades, tornando-se conhecido internacionalmente como movimento dos

    Indignados!

    O que poderia vir a se tornar mais um fato destinado a cair no esquecimento

    quando se esgotasse como notcia na mdia, tornou-se um acontecimento social e

    poltico, provocando uma reao em cadeia, tornando-se intensa movimentao popular

    de propores multitudinrias. Hoje, alm de estar presente em mais de 60 cidades da

    Espanha, possvel afirmar que o Indignados! favoreceu o surgimento de iniciativas

    similares e a ele vinculadas, no necessariamente circunscritas ao territrio espanhol,

    2 Apesar de haver sido consensuado o levantamento do acampamento, a ser feito no dia 12 de junho, para

    formao das assemblias e bairros e cidades, os ltimos campistas que se recusaram a sair do local por

    no concordarem com o consenso s foram expulsos pela polcia em 03 de agosto de 2011.

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    tanto quanto tem estabelecido vnculos e articulaes com outros movimentos

    semelhantes surgidos em diferentes continentes, com o intuito de fortalecer uma

    proposta de revoluo global.3

    Acampadas: traos da experincia sensvel

    Ser possvel observar a seguir um mapa conceitual da #AcampadaSol

    (Ilustrao 1). Constitudo a partir de conceitos-chave (identificados em caixas) e dos

    modos como estes se relacionam, representados por meio de frases de ligao entre os

    conceitos, ele pode ser dividido em dos hemisfrios. Na parte superior, uma linha do

    tempo, d a perceber as razes histricas e os vnculos do movimento dos Indignados!

    com outros movimentos sociais que o antecederam, mas tambm as relaes em redes

    estabelecidas com outros movimentos similares e/ou que surgiram a partir dele.

    Encontram-se ali desde movimentos sociais de trabalhadores organizados em torno da

    luta de classe, passando pelos novos movimentos sociais, vinculados s lutas de carter

    libertrio e/ou emancipatrio caractersticas das dcadas de 60 e 70, at movimentos

    antiglobalizao, como o movimento Zapatistas. Tambm chama a ateno o carter

    internacionalista de alguns movimentos.

    No centro do mapa, uma linha divisria demarca a realizao da AcampadaSol,

    onde se envidencia a praa pblica como o local da ao poltica e seu objetivo:

    escrever a democracia real. Como parte dessa trama, no centro do acampamento, as

    pessoas e seus afetos pessoais, estabelecendo relaes afetivas, pondo em andamento

    entusiasmo coletivo, para tornar vvida a construo da democracia real.

    3 Ttalvez, o mais emblemtico tenha sido a ocupao de Wall Street, a partir de 17 de setembro de 2011, pelo local estratgico e sua repercusso dentro do prprio pas, o que contribuiu para chamar a ateno da imprensa internacional. Porm, outras mobilizaes

    no pararam de ocorrer desde ento, como a Marcha de Indignados a Bruxelas, iniciada em setembro de 2011 e concluda este ano;

    a criao dos Indignados de France, a mobilizao conhecida como Toma La Plaza/Take the Square e o Toma Las Montaas y Las

    Playas; as articulaes com outros pases como Tunsia, Grcia, Itlia; Israel, Islndia, Portugal, Chile.

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    Na parte inferior do quadro, ento, possvel encontrar os modos de organizao

    dos Indignados!; as estratgias, a articulao de ideais e construo de vnculos entre

    diferentes agendas e pautas, assim como os inimigos. A presena do sensvel se

    expressa por meio da revelao de sentimentos - entre os quais o desconforto com a

    vida pessoal e a infelicidade, passando pelo desejo de estar e viver juntos -, mas tambm

    pelos modos como se caracteriza o papel exercido pela inteligncia coletiva, capaz de

    articular diferenas e evitar a fragmentao diante da heterogeneidade. Esse quadro

    completado pela referncia atmosfera amistosa que, ao lado do trabalho de

    conservao e limpeza do local e da papel dos comits de cuidadores, responsveis

    que so pela construo do viver-junto garantem as condies para que a polis se torne

    habitvel. O modo de conceituao do acampamento no mapa revela a preocupao em

    se dar visibilidade experincia sensvel como parte do mtodo de reinveno da polis.,

    mas no permite analisar quais os tipos de desentendimentos internos, ficando sugerido

    apenas os modos encontrados para lidar com eles (escuta e respeito, no utilizao de

    palavras violentas, engajamento em torno de problemas comuns a todos), evidenciando-

    se os esforos para se construir um tipo de partilha igualitria desse comum. Entretanto,

    justamente no lidar sobre o comum entre diferentes que emergem as contradies e

    tenses que nos permitiriam extrair anlises mais profundas sobre o papel da

    comunicao no enfrentamento dessas diferenas. Eis a, portanto, uma lacuna.

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    Ilustrao 1 Conceptual map Acampadasol, Blog una Lnea sobre el mar, s/d

    Apesar disso, vale salientar que o mtodo de construo do mapa reflete algumas

    daquelas que so caractersticas do movimento: a iniciativa coletiva, a horizontalidade e

    o fluxo constante de energia, posta em movimento por meio de aes concomitantes

    que, uma vez articuladas, se interpenetram e redefinem-se como um work in progress.

    Alm disso, sendo fruto de colaboraes annimas, feitas na rua e transportadas para a

    internet por meio de tecnologia virtual, o mapa permite traar as linhas de conexo entre

    diferentes processos a partir de percepes bem heterogneas e no hierarquizadas.

  • 9

    Ilustrao 2 Linha do Tempo da Acampada Sol processo de construo. Montagem feita a partir de fotos de Eva e Rafa, publicadas no Blog Una lnea sobre el mar, 2011

    Apesar da permanncia, da expanso do movimento dos Indignados! e da

    complexificao de sua organizao e dos processos levados a termo, ele ainda pode ser

    percebido como comunidade que ainda no tem efetividade na civitas, para usarmos a

    definio de Rancire, seja pela ausncia de institucionalidade ou pelo fato de que est

    criando formas alternativas de ativismo, que incluem o lidar com a crise em paralelo ao

    poder constitudo. Porm, essa ausncia de institucionalidade um dado a ser

    considerado por ser este um diferencial dos atuais movimentos de revolta popular, que

    buscam distanciar-se de movimentos sociais tradicionais como os sindicatos, assim

    como de partidos polticos. Por esse motivo, de nosso interesse, justamente, tecer aqui

    anlises iniciais sobre a experincia, sem esgotar as possibilidades de abordagem da

    questo. O que nos interessa, portanto, pensar a experincia sensvel como potncia

    em fluxo, sem nos preocuparmos que estes alcancem sua efetividade de resultados no

    campo da poltica institucional.

    Experincia esttica e poltica

    Com a finalidade de compreender as possveis relaes entre esttica e poltica a

    partir da comunicao no mbito de uma movimentao social como o Indignados!,

  • 10

    preciso localizar o modo como compreendemos experincia, dado que no seu interior

    que se efetuam tais relaes. Usaremos para este fim as postulaes de John Dewey , no

    livro Arte como Experincia.

    A experincia um fluxo permanente e vital, presente no cotidiano, como

    resultado de interaes entre os seres vivos e o ambiente. Elementos de cada um e as

    relaes produzidas nessa interao so passveis de operar transformaes ao longo da

    experincia, definindo seus rumos. Nesse sentido, o compartilhar do mundo com outras

    pessoas nos permite compreender que a experincia pode ser, ao mesmo tempo,

    individual e coletiva.

    Em grande medida, boa parte de nossa experincia prosaica, e de to

    entranhada ao nosso cotidiano, torna-se corriqueira. Apenas algumas se destacam,

    constituindo o que John Dewey classifica como uma experincia. Essa experincia

    pode ser considerada singular quando seu percurso chega a uma consecuo uma

    consumao e no uma cessao. Essa experincia um todo e carrega em si seu carter

    individualizador e sua autossuficincia. (DEWEY, 2010, p.110). Essas so as

    experincias que nos afetam, que criam um diferencial em nossas vidas.

    A experincia um material carregado de suspense e avana para sua

    consumao por uma srie interligada de incidentes variveis. As emoes

    primrias [...] qualificam a experincia como uma unidade. Mas [ao longo da

    experincia] desenvolvem-se emoes secundrias, como variaes do afeto

    primrio subjacente. [...] Fatores como esses, de qualidade intrinsecamente

    esttica, so as foras que levam os componentes variados [...] a um desfecho

    decisivo. (DEWEY, 2010, p.121)

    Na experincia singular encerra-se uma unidade, assegurada pela qualidade

    daquilo que foi vivido. Dewey nos chama a ateno para o fato de que mesmo sendo

    possvel, em momento posterior experincia, distinguir suas diferentes propriedades

    (intelectuais, emotivas ou prticas), o pensar sobre a unidade que nela se d, nos exige

    reconhecer que tais aspectos do forma e contedo ao todo da experincia, no cabendo

  • 11

    ser distinguidos. Assim, a experincia pode ser considerada no a soma desses traos

    diferenciados, mas como elementos que se fundem, ora se distanciam ou se sobrepem,

    formando novas composies que constituiro a unidade, mas tambm a qualidade

    dessa experincia.

    Sendo assim, seria necessrio esperar que a experincia vivida no mbito dos

    Indignados!, chegasse a uma consumao para poder ser pensada, fazendo emergir seu

    significado intelectual. Enquanto est em processo, torna-se difcil fazer qualquer

    apreciao que tente dar conta da unidade dessa experincia, uma vez que: a) trata-se de

    uma experincia coletiva de propores multitudinrias; b) em seu interior abrem-se

    novos espaos de incidncia no cotidiano das cidades e em meios de comunicao

    virtuais, que, por sua vez, mediam essa prpria experincia nas ruas; c) opera-se ali com

    uma dinmica de horizontalidade que favorece a autonomia de decises e, portanto,

    multiplicam as iniciativas em rede; d) encontra-se em plena durao de processo; e)

    desenvolvem-se a partir delas processos autnomos e simultneos de comunicao

    compartilhada.

    Percebemos a motivaes, que longe de se tonarem um limite reflexo sobre a

    experincia, devem ser pensadas e incorporadas construo de um mtodo de pesquisa

    adequado a fazer emergir indcios sobre como se processa a experincia esttica em

    contextos dessa natureza. Por enquanto, nos reservamos a tarefa de apontar elementos

    que possam servir como um balo de ensaio a essa construo. Por outra parte, seguir

    com o raciocnio de Dewey (2010, 112), nos leva a considerar que no caso da

    experincia do Indignados!, o acompanhamento dos acontecimentos pode suscitar

    outros tipos de experincias, mediadas por recursos digitais, as quais delineiam e

    constituem, elas tambm, as percepes e anlises sobre a experincia em questo.

  • 12

    Neste sentido, avaliamos que a apurao de elementos, nas comunidades de

    redes sociais digitais, que subsidiem uma pesquisa sobre o tema, poder apresentar

    apenas alguns indcios que nos permitam traar algumas questes e anlises a partir do

    que ocorre na atualidade. Um caminho a ser tomado focalizar materiais de

    comunicao produzidos e difundidos em redes, entre os quais imagens - fotos, vdeos

    educativos e videoclipes, cartazes e materiais de propaganda e de orientao

    estratgica para a ao, mas tambm daquilo que pode ser considerado como atos

    estticos, ou seja, configuraes da experincia que produzem novas maneiras de sentir

    e subjetividades polticas.

    Dentre os atos estticos, destacam-se os acampamentos em praa pblica -

    reconstruo precria e provisria (como a vida) da polis, onde se torna possvel

    reinventar valores e prticas coletivos e igualitrios. O prximo mapa (Ilustrao 3)

    oferece um panorama da organizao da #AcampadaSol, em Madri. Esta uma dentre

    diferentes verses, que so alteradas de acordo com as mudanas ocorridas medida em

    que novas pessoas e grupos chegavam ao acampamento, provocando sua expanso.

    Ilustrao 3 Mapa de organizao do acampamento realizado na Puerta del Soll, Madri, Blog

    #Acampadasol, maio, 2011

  • 13

    Por meio dele, possvel observar como se operacionaliza a partilha do sensvel

    no terreno ocupado: a distribuio dos locais centrais de trabalho, de lazer,

    representaes de segmentos especficos, como as feministas, comedorias, entre outros.

    Da mesma forma, pela distribuio espacial possvel ver quais os trabalhos

    considerados mais estratgicos (coordenao interna, comunicao, setor jurdico) e

    aqueles que so perifricos (como setor de limpeza, imigrao).

    Atos estticos podem ser considerados tambm os blogs, quando estes contem

    narrativas da experincia. Um exemplo o blog intitulado Spanish Revolution,

    organizado por um ativista dinamarqus. Ali, as pessoas que participam das aes

    escrevem suas experincias, postam fotos e vdeos, imprimindo vises pessoais acerca

    dos episdios, compondo uma espcie de dirio aberto, coletivo e afetivo. So partilhas

    que evocam memrias, impresses, afetos, atmosferas, que se misturam aos fatos

    ocorridos durante manifestaes, as assembleias, passando por acampamentos at as

    longas marchas que durante meses atravessaram a Europa convergindo para a Grcia

    origem da democracia e, ironicamente, pas que parece ter se tornado smbolo de sua

    derrocada.

    Tais iniciativas, a nosso ver, concretizam o rompimento com a lgica

    dicotmica, que coloca o sensvel e a razo lgica em plos opostos. Ruptura tambm

    proposta por Jacques Rancire para reaproximar a esttica da poltica numa direo que

    se confronte com a sua espetacularizao.

    Nesse percurso, Rancire identifica em Baumgarten e Kant os precursores do

    que viria a se tornar mais tarde a concepo de esttica como teoria da arte, expondo

    como o limite de suas abordagens o fato de que nenhum dos autores foi capaz de

    construir uma teoria esttica que superasse a dicotomia entre o sensvel e a razo.

    Tampouco reconheceram que o sensvel , sim, inteligvel, mesmo que guarde em si

  • 14

    certa confuso. A ruptura com a oposio razo versus sensvel, que asseguraria um

    novo estatuto esttica, s viria mais tarde, quando o perodo romntico

    fora de fato a linguagem a penetrar na materialidade dos fatos atravs dos

    quais o mundo material e social se torna visvel a si mesmo, ainda que sob a

    linguagem muda das coisas e da linguagem cifrada das imagens [...] uma

    maneira de dar sentido ao universo emprico das aes obscuras e dos objetos

    banais. (RANCIRE; 2005, pp.54-55).

    s ento que a esttica permitir que se compreenda o conhecimento confuso

    como aquilo que transforma a arte em territrio de um pensamento que, encontrando-se

    fora de si mesmo, idntico ao no pensamento. Neste sentido, a esttica ir admitir a

    existncia de um pensamento daquilo que no se pensa. (Idem, 2009, p.13; grifo do

    autor). Assim sendo, Rancire constri uma concepo inovadora da esttica como

    teoria, conferindo a ela historicidade e distinguindo-a da disciplina que, at ento,

    tratava a arte de modo isolado. Com isso, a esttica passa a designar um modo de

    pensamento que se desenvolve sobre as coisas da arte e que procura dizer em que elas

    consistem enquanto coisas do pensamento (Idem, 2009, pp.11-12).

    Deste modo, Rancire afirma que o carter revolucionrio do regime esttico das

    artes se encontra no fato deste abolir um conjunto ordenado de relaes entre o visvel

    e o dizvel, o saber e a ao, a atividade e a passividade (Idem, 2009, 25). Desse modo,

    oferece as condies para fazer emergir a identidade de contrrios prpria do modo de

    ser das artes, ou seja, quando agir e padecer, saber e no-saber encontram-se no fazer

    artstico.

    Colocar essas ideias em dilogo com a poltica permite a Rancire dois

    movimentos: o primeiro, evidenciar uma partilha do sensvel, a partir da qual se define

    o que vem a ser um comum entre diferentes, o que deste se tornar ou no visvel e o

    que cabe a cada um que compartilha desse comum. O segundo demonstrar como a

    emergncia da contradio torna-se o pressuposto para a instituio do dissenso (ou

  • 15

    desentendimento) em relao lgica da dominao, naturalizadora de uma ordem de

    corpos que define uma partilha desigual e suas partes: quem fala, quem visvel, quem

    participa (e como) das decises que dizem respeito ao que comum a todos.

    No caso dos Indignados!, o desentendimento fica evidenciado em manifestos,

    artigos, reportagens, declaraes pblicas. o caso do texto intitulado Como cocinar

    una revolucin non violenta, publicado no blog Take the Square, onde se explicitam o

    descontentamento com a situao da populao; a crise de representatividade do poder

    poltico; os desejos e afetos implcitos nas tentativas de se reinventar o fazer poltico

    como parte do cotidiano e como estas se expressam por meio da organizao do

    trabalho coletivo e da criao de uma atmosfera amigvel, como j foi dito

    anteriormente. Os Indignados! (2011) afirmam que:

    No nos representan partidos, asociaciones ni sindicatos. Tampoco queremos

    que as sea, porque creemos que las personas podemos decidir por nosotras

    mismas. [...] Queremos idear y construir el mejor de los mundos posibles.

    Juntos podemos y lo haremos. Sin miedo. [...]Estamos cansados de sentirnos

    cifras en los peridicos, datos estadsticos, consumidores potenciales;

    cansados de sentirnos mercanca en manos de polticos y banqueros.

    Tenemos voto, pero no tenemos voz, y nos frustra la falta de voluntad de los

    polticos por desarrollar mecanismos directos de participacin en la toma de

    decisiones. (INDIGNADOS!, 2011)

    Por desentendimento, compreenda-se uma determinada situao de palavra:

    aquela em que um dos interlocutores ao mesmo tempo entende e no entende o que diz

    o outro. (RANCIRE, 1996, p.11) No por desconhecimento daquilo que se diz ou

    pelo fato de cada um estar dizendo algo diferente do outro, mas porque ambos usam os

    mesmos termos para explicitar coisas diferentes. O desentendimento, ademais, no diz

    respeito apenas ao que se fala, mas tambm situao de quem fala. Nesta perspectiva,

    um elemento de tenso permanente que exige, dos que esto no poder, outra postura

    como parte do jogo poltico e de instituio de uma partilha igualitria.

    Esta perspectiva se faz presente nas maneiras como movimentos como o

    Indignados! se autodefinem como uma mobilizao de personas normales y

  • 16

    corrientes. Somos como tu ou ainda como ciudadanos de distintas ideologas que

    comearam um movimento apartidrio, surgido no calor de la internet e de las redes

    sociales a travs de un grupo de discusin completamente informal (CABAL, 2011,

    p.9).

    interessante notar que a retomada das ruas, com permanncia da populao por

    um tempo extenso, tem se imposto como a nica forma de dar visibilidade aos sujeitos e

    assegurar a escuta das vozes dissonantes, que se expressam como atos de resistncia

    fortemente permeados pela presena do sensvel. Quando outros canais institucionais de

    interlocuo com o Estado se esgotam, torna-se necessrio criar um acontecimento de

    grandes propores:

    Tomamos las plazas porque siempre han sido nuestras, pero lo habamos

    olvidado. Nos llaman los indignados, y lo estamos. [...] Tomamos las calles y

    plazas por las mismas razones que las han tomado antes que nosotros otros

    movimientos ciudadanos en Islandia o en los pases de la Primavera rabe, y

    por las mismas razones que otros pases despus de nosotros saldrn a tomar

    sus plazas. (INDIGNADOS!, 2011)

    No momento de elaborao deste artigo, a populao voltava s ruas em Madrid

    e em Portugal para pedir a demisso do Congresso Nacional de cada um dos pases, que

    hoje simbolizam, por meio da aprovao das polticas de austeridade, o interesse do

    capital, no importando as perdas significativas para os cidados comuns, com os cortes

    nas polticas sociais. Vrias manifestaes ocorreram ao longo de 2012, culminando em

    14 de novembro, com uma greve geral tomou as ruas dos pases da zona do euro mais

    atingidos pelas medidas de austeridade.

    Tudo isso sugere que a presena massiva nas praas, por outra parte, passa a

    adquirir novos significados pela repercusso que se pode fazer em tempo real por meio

    das redes sociais digitais. Nesse sentido, as produes comunicacionais geradas por

    esses movimentos constroem novas narrativas onde se compartilham percepes sobre a

    experincia de se viver sob as polticas de austeridade da Troika. O modo de comunicar

  • 17

    a revolta poltica est em transformao. No por acaso que uma grande parte dos

    vdeos produzidos so, na verdade, videoclipes, que criam forte impacto com imagens

    de rua, msica vibrante, cadenciada, e pequenos textos, cujo sentido pode ser dado pelo

    todo ou pelas frases de efeito que os compem.

    , portanto, nesse vrtice, nessa tenso instituda pela visibilidade do

    desentendimento, que se d a perceber a poltica, compreendida como inveno de

    uma forma de comunidade que suspende a evidncia das outras instituindo relaes

    inditas entre as significaes e os corpos, e os seus modos de identificao, lugares e

    destinos (RANCIRE, 2011, s/p). nessa tenso tambm que se evidencia o carter

    esttico da poltica, ou seja, aquilo que a torna revolucionria: em nome da igualdade

    entre diferentes, fazer emergir o dano; transgredir a ordem e instituir, por meio de novas

    vozes dissonantes em cena, uma comunidade indita: este no es el mundo en el que

    queremos vivir, y somos nosotros los que tenemos que decidir cmo debe ser. Sabemos

    que podemos cambiar el mundo, y nos lo estamos pasando genial hacindolo.

    (INDIGNADOS!, 2011)

    Toda nova comunidade, afirma Rancire, de algum modo rompe com aquela que

    existia anteriormente. Indita porque torna comum o que no era comum entre seus

    integrantes, declarando como atores do comum aqueles ou aquelas que no eram mais

    do que pessoas privadas, fazendo ver como relevando da discusso poltica assuntos que

    relevavam da esfera domstica, etc. (RANCIRE, 2011, s/p).

    A tenso estabelecida pela introduo do desentendimento em cena contrape-se

    concepo de esfera pblica segundo Habermas, para quem os sujeitos seriam j

    previamente reconhecidos e legitimados. E sendo assim, as diferenas devem ser

    tratadas como da esfera do interesse privado, portanto, so suprimidas para defender a

  • 18

    ideia de que os argumentos devem ser avaliados segundo os seus mritos e no segundo

    a identidade dos argumentadores. (ORTEGA, 2001, apud. JCOME, 2011, 31).

    Neste sentido, a comunidade indita o acontecimento que abre a possibilidade

    para uma mudana radical nas formas de partilha do sensvel entre todos que fazem

    parte deste comum, reforando, assim a heterogeneidade como elemento fundante e da

    qual no abre mo. Essa comunidade, portanto, aquela que toma o conflito como parte

    inseparvel do jogo poltico igualitrio.

    Comunicao e experincia sensvel

    A compreenso de esttica com a qual nos propusemos a trabalhar e suas

    vinculaes com a experincia compreendida como algo inerente ao viver, nos

    permitem perceber a experincia esttica como emergente da experincia. No sendo

    algo externo a ela, a experincia esttica rompe com o dualismo entre razo e afeto,

    evidenciando que a dimenso esttica de uma coisa no se encontra apenas na criao

    artstica, mas tambm no pensamento.

    Dialogando com esta perspectiva, avaliamos como importantes as contribuies

    de Marcondes Filho (2010), em sua abordagem sobre comunicao. Dada a intensidade

    de fluxo de informaes que se faz circular acerca desses episdios e que se tornam

    parte constitutiva de sua existncia, nos parece particularmente importante refletir

    acerca dos fundamentos da comunicao, propostas por Marcondes Filho. Na

    perspectiva do autor, a comunicao se dar, na medida em que nos modifique a

    maneira de ver, de sentir, de pensar o mundo; que propicie uma reconfigurao do

    pensamento, uma possibilidade de encontrarmos um pensamento que, at ento, no

    sabamos existir em ns. E essa descoberta de algo que no se sabia antes o expor-se

  • 19

    violncia, o ato de a comunicao nos fazer pensar nas coisas, nos outros, em ns

    mesmos, na nossa vida. (MARCONDES FILHO, 2010, 22).

    Nesse sentido ela se diferencia da sinalizao, j que tudo ao nosso redor

    produz sinais, mas se esses viro ou no a ser convertidos em elementos do processo

    comunicacional contingncia. Para que os sinais se transformem em informao

    preciso que haja interesse, intencionalidade por parte de quem os recebe. Ao mesmo

    tempo a comunicao no se confunde com informao na medida em que esta ltima

    tem apenas o poder de nos confirmar aquilo que no abala nossas certezas, mas por

    outro lado, nos faz sentirmos seguros do que somos e pensamos.

    O carter esttico se faz presente aqui, na medida em que esta abordagem da

    comunicao evidencia ser plausvel o rompimento com a dicotomia entre a razo e o

    sensvel, o que nos apresenta um ponto de convergncia que aproxima a comunicao

    das relaes entre esttica e poltica para refletir sobre seu papel nos processos atuais de

    mobilizao social. Neste sentido, concordamos com Marcondes Filho, quando este

    afirma que este tipo de comunicao se aproxima da arte como forma de apreenso do

    mundo e que

    [...] ocorre igualmente nas formas sociais de maiores de contato com objetos,

    especialmente com objetos culturais das produes televisivas,

    cinematogrficas, teatrais, nos espetculos de dana, nas performances, nas

    instalaes, nas possibilidades de criao de situaes similares, inclusive em

    ambientes de relacionamento virtual. (MARCONDES FILHO, 2010, 23).

    Se a comunicao em contraposio sinalizao e informao aquela

    que faz o sentir e o pensar como partes de um mesmo movimento esttico, ser um dos

    elementos que permitiro a expresso do desentendimento, podendo sustentar o

    tensionamento da decorrente, que prprio do carter esttico da poltica. Esta,

    portanto, me parece ser uma chave de leitura importante para se tecer uma anlise

    crtica da comunicao desses movimentos nas redes sociais digitais de forma a

  • 20

    compreender em que medida estes guardam coerncia com a tenso que se busca

    imprimir por meio dessas manifestaes populares ou se contribuem com sua diluio.

    Consideraes finais

    As movimentaes sociais da atualidade tm buscado recriar os sentidos da vida

    em comum, apoiando-se em atos estticos que produzam novas subjetividades capazes

    de reinventar o fazer poltico como dimenso inerente vida cotidiana. Esses processos

    so mediados e potencializados pela convergncia de mdias digitais, em um ambiente

    de alta conectividade, no qual as redes sociais jogam um papel importante como

    catalizadoras de afetos e aes, tendo se integrado, definitivamente, ao desenho de

    estratgias e aos modos de articulao e desenvolvimento dessas aes polticas.

    Desta forma, uma multido annima atua na resistncia poltica, pautando-se na

    criatividade para gerar formas prprias e inovadoras de enunciao coletiva que lhes

    permita instituir uma partilha igualitria do sensvel, por meio da qual participem de

    uma nova ordem simblica, como uma comunidade indita de seres falantes.

    A comunicao joga um papel importante na determinao dos condicionantes

    da experincia esttica em experincias pblicas coletivas. A singularidade dessa

    experincia pode ser evidenciada por meio da indistino de fronteiras entre o sensvel e

    o racional que a compem e que formando mltiplas composies que constituiro a

    unidade, tambm conferem qualidade a essa experincia.

    Referncias bibliogrficas:

    CABAL, Fernando (Ed.). Indignados! - 15-M. Espanha: Mandala Ediciones, 2011.

    CD-ROM.

    DEWEY, John. Arte como experincia. 1 ed. SP: Martins Fontes, 2010.

    GOHN, M. G. M.. Teorias Sobre os Movimentos Sociais: o debate contemporneo. In:

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  • 21

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    revolucion-no-violenta/ Acessado em 18/09/2011

    JCOME, Mrcia Larangeira. O sonho da casa vai praa. Proposta Revista Trimestral de Debate da Fase, n 123. Rio de Janeiro: Fase, 2011.

    MARCONDES FILHO, Ciro. O princpio da razo durante: O conceito de

    comunicao e a epistemologia metaprica. So Paulo: Paulus, 2010. Coleo Nova

    Teoria da Comunicao III Tomo V.

    MIRZA Christian Adel. Movimientos sociales y partidos polticos en Amrica Latina.

    Buenos Aires: CLACSO, 2006

    RANCIRE, Jacques. A partilha do sensvel: esttica e poltica. 1 ed. So Paulo: EXO

    experimental.org, editora 34, 2005.

    __________________. O desentendimento: poltica e filosofia. So Paulo: Editora 34,

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    __________________.O inconsciente esttico.So Paulo: Editora 34, 2009.

    __________________. A comunidade como dissentimento. In: PEIXE, Bruno e

    NEVES, Jos. A poltica dos muitos. Portugal: Tinta da China, 2011.

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    Fontes eletrnicas:

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    en el 20-N pero sin intencin de formar un partido. Europapress.es, Nacional, Madri, 14

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    movimiento-cumple-lunes-tres-meses-vista-puesta-20-intencion-formar-partido-

    20110814114625.html. Acessado em: 26 ago. 2012.

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    2012.