etica cristã e teologia do obreiro - ibadep.pdf

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Ministério da Igreja

IBAPEP

IBA D EP In s titu to B íb lico da A ssem bléia de D eus -

E nsino e pesquisa

IBA D EP - In s titu to B íb lico da A ssem bléia de D eus - E n sin o e Pesquisa

Av. B rasil, S /N ° - E le tro s iü - Cx. P ostal 248 85980-000 - G uaíra - PR

Fone/Fax: (44) 3642-2581 / 3642-6961 / 3642-5431 E -m ail: íbadep a ibadep .com

S ite: w w w .ibadep .com

A luno(a):.....................................................................................

DIGITALIZAÇÃO

IBADEP

ESDRAS DIGITAL E PASTOR DIGITAL

Ética Cristã / Teologia do Obreiro

Pesquisado e adaptado pela Equipe Redatorial para Curso exclusivo do IBADEP - Instituto Bíblico das Igrejas Evangélicas Assembléias de Deus do Estado do Paraná.

Com auxílio de adaptação e esboço de vários ensinadores.

5a Edição - Junho/2006

Todos os direitos reservados ao IBADEP

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Diretorias

C IE A D E P

Pr. J o s é P i m e n t e l d e C a r v a l h o - P r e s i d e n t e de H o n r a Pr. I s r ae l S o d r é - P r e s i d e n t ePr. J o s é A n u n c i a ç ã o d o s S a n t o s - I o V i c e - P r e s i d e n t ePr. M o i s é s L a c o u r - 2 o V i c e - P r e s i d e n t ePr. I v a l T h e o d o r o da S i l v a - I o S e c r e t á r i oPr. S a m u e l A z e v e d o d o s S a n t o s - 2 o S e c r e t á r i oPr. S i m ã o B i l e k - I o T e s o u r e i r oPr. M i r i s l a n D o u g l a s S c h e f f e l - 2 ° T e s o u r e i r o

A E A D E P A R - C o n s e lh o D e l i b e r a t i v o

Pr. I s ra e l S o d r é - P r e s i d e n t ePr. Iva l T e o d o r o da S i l v a - R e l a t o rPr. J o s é A n u n c i a ç ã o d o s S a n t o s - M e m b r oPr. M o i s é s L a c o u r - M e m b r oPr. S a m u e l A z e v e d o d o s S a n t o s - M e m b r oPr. S i m ã o B i l e k - M e m b r oPr. M i r i s l a n D o u g l a s S c h e f f e l - M e m b r oPr. J o s é C a r l o s C o r r e i a - M e m b r oPr. J a m e r s o n X a v i e r de S o u z a - M e m b r o

A E A D E P A R — C o n s e lh o de A d m i n i s t r a ç ã o

Pr. J o s é P o l i n i - P r e s i d e n t ePr. R o b s o n J o s é B r i t o - V i c e - P r e s i d e n t ePr. M o y s é s R a m o s - I o S e c r e t á r i oPr. H e r c í l i o T e n ó r i o d e B a r r o s - 2 o S e c r e t á r i oPr. E d i l s o n d o s S a n t o s S i q u e i r a - I o T e s o u r e i r oPr. L u i z C a r l o s F i r m i n o - 2 o T e s o u r e i r o

I B A D E P

Pr. H é r c u l e s C a r v a l h o D e n o b i - C o o r d . A d m i n i s t r a t i v o Pr. J o s é C a r l o s T e o d o r o D e l f i n o - C o o r d . F i n a n c e i r o

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Cremos

1) Em um só Deus, eternamente subsistente em três pessoas: O Pai, Filho e o Espíri to Santo. (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29).

2) Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão (2Tm 3.14-17).

3) Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicár ia e expiatória, em sua ressurreição corporal dentre os mortos e sua ascensão vitor iosa aos céus (Is 7.14; Rm 8.34 e At 1.9).

4) Na pecaminosidade do homem que o desti tuiu da glória de Deus, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode res taurá-lo a Deus (Rm 3.23 e At 3.19).

5) Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espíri to Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus (Jo 3.3-8).

6) No perdão dos pecados, na salvação presente e perfe ita e na eterna just if icação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor (At 10.43; Rm 10.13; 3.24-26 e Hb 7.25; 5.9).

7) No batismo bíblico efetuado por imersão do corpo inteiro uma só vez em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espíri to Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo (Mt 28.19; Rm 6.1-6 e Cl 2 . 12).

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8) Na necessidade e na possib il idade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus no Calvár io , através do poder regenerador, inspirador e sant if icador do Espíri to Santo, que nos capacita a viver como fiéis testemunhas do poder de Cristo (Hb 9.14 e IPe1.15).

9) No bat ismo bíblico no Espíri to Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo, com a evidência inicial de falar em outras l ínguas, conforme a sua vontade (At 1.5; 2.4; 10.44-46; 19.1-7).

10) Na atualidade dos dons espiri tuais distr ibuídos pelo Espíri to Santo à Igre ja para sua edificação, conforme a sua soberana vontade ( IC o 12.1-12).

11) Na Segunda Vinda premilenia l de Cristo, em duas fases dist intas. Pr imeira - invisível ao mundo, para arrebatar a sua Igreja fiel da terra, antes da Grande Tribulação; segunda - vis ível e corporal , com sua Igreja glorificada, para reinar sobre o mundo durante mil anos ( lT s 4.16. 17; ICo 15.51-54; Ap 20.4; Zc 14.5; Jd 14).

12) Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo, para receber recompensa dos seus feitos em favor da causa de Cristo na terra (2Co 5.10).

13) No ju ízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis (Ap 20.1 1-15).

14) E na vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis e de tr isteza e tormento para os infiéis (Mt 25.46).

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M etodologia de Estudo

Para obter um bom aproveitamento, o aluno deve estar consciente do porquê da sua dedicação de tempo e esforço no afã de galgar um degrau a mais em sua formação.

Lembre-se que você é o autor de sua história e que é necessár io atualizar-se. Desenvolva sua capacidade de raciocínio e de solução de problemas, bem como se integre na problemática atual, para que possa vir a ser um elemento útil a si mesmo e à Igreja em que está inserido.

Consciente desta real idade, não apenas acumule conteúdos visando preparar-se para provas ou trabalhos por fazer. Tente seguir o roteiro sugerido abaixo e comprove os resultados:

1. Devocional:

a) Faça uma oração de agradecimento a Deus pela sua salvação e por proporcionar- lhe a opor tunidade de estudar a sua Palavra, para assim ganhar almas para o Reino de Deus;

b) Com a sua humildade e oração, Deus irá i luminar e direc ionar suas faculdades mentais através do Espíri to Santo, desvendando mistérios contidos em sua Palavra;

c) Para melhor aproveitamento do estudo, temos que ser organizados, ler com precisão as lições, medita r com atenção os conteúdos.

2. Local de estudo:Você precisa dispor de um lugar próprio para

estudar em casa. Ele deve ser:

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a) Bem arejado e com boa i luminação (de preferência, que a luz venha da esquerda);

b) Isolado da ci rculação de pessoas;

c) Longe de sons de rádio, televisão e conversas.

3. Disposição:Tudo o que fazemos por opção alcança bons

resultados. Por isso adquira o hábito de estudar voluntariamente, sem imposições. Conscientize-se da importância dos i tens abaixo:

a) Estabelecer um horário de estudo extraclasse, dividindo-se entre as disciplinas do currículo (dispense mais tempo às matérias em que t iver maior dif iculdade);

b) Reservar, diariamente , algum tempo para descanso e lazer. Assim, quando estudar, estará desligado de outras at ividades;

c) Concentrar-se no que está fazendo;

d) Adotar uma correta postura (sentar-se à mesa, tronco ereto), para evitar o cansaço físico;

e) Não passar para outra lição antes de dominar bem o que estiver estudando;

f) Não abusar das capacidades físicas e mentais. Quando perceber que está cansado e o estudo não alcança mais um bom rendimento , faça uma pausa para descansar.

4. Aproveitamento das aulas:Cada disciplina apresenta caracterís t icas

próprias, envolvendo di ferentes comportamentos: raciocínio, analogia, inte rpre tação, aplicação ou simplesmente habil idades motoras. Todas, no

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entanto, exigem sua part ic ipação ativa. Paraalcançar melhor aproveitamento, procure:

a) Colaborar para a manutenção da disciplina na sala-de-aula;

b) Participar at ivamente das aulas, dando colaborações espontâneas e perguntando quando algo não lhe ficar bem claro;

c) Anotar as observações complementares do moni tor em caderno apropriado.

d) Anotar datas de provas ou entrega de trabalhos.

5. Estudo extraclasse:Observando as dicas dos itens 1 e 2, você deve:

a) Fazer diariamente as tarefas propostas;

b) Rever os conteúdos do dia;

c) Preparar as aulas da semana seguinte. Se constatar alguma dúvida, anote-a, e apresenta ao monitor na aula seguinte. Procure não deixar suas dúvidas se acumulem.

d) Mater ia is que poderão ajudá-lo:

■ Mais que uma versão ou tradução da Bíblia Sagrada;

■ Atlas Bíblico;

■ Dicionário Bíblico;

■ Encic lopédia Bíblica;

■ Livros de Histórias Gerais e Bíblicas;

■ Um bom dic ionário de Português;

■ Livros e aposti las que tratem do mesmo assunto.

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e) Se o estudo for em grupo, tenha sempre em mente:

■ A necessidade de dar a sua colaboração pessoal;

■ O direito de todos os integrantes opinarem.

6. Como obter melhor aproveitamento em avaliações:

a) Revise toda a matéria antes da avaliação;

b) Permaneça calmo e seguro (você estudou!);

c) Concentre-se no que está fazendo;

d) Não tenha pressa;

e) Leia atentamente todas as questões;

f) Resolva primeiro as questões mais acessíveis;

g) Havendo tempo, revise tudo antes de entregar a prova.

Bom Desempenho!

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Currículo de Matérias

> Educação GeralÊQ História da Igreja -S

CO Educação Cristã BS Geografia Bíb lica 1/

> Ministér io da IgrejaCO Ética Cristã / Teologia do Obreiro </ CO Homilé tica / Hermenêutica ^GQ Família Cristã ^03 Adminis tração Eclesiás tica /

> TeologiaCO Bibliologia /CO A Trindade • /CO Anjos, Homem, Pecado e Salvação ^ CO Heresiologia v/CO Eclesiologia / Miss io logia S

> Bíblia& C3 Pentateuco

CO Livros Históricos /0 CO Livros Poéticos • CQ Profetas Maiores

EDI Profetas Menores J CO Os Evangelhos / Atos \i C3 Epístolas Paulinas / Gerais v

e. £3 Apocal ipse / Escatologia

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Abreviaturas

a.C. - antes de Cristo.ARA - Almeida Revista e Atual izada ARC - Almeida Revista e Corrida AT - Antigo Testamento BV - Bíblia VivaBLH - Bíblia na Linguagem de Hojec. - Cerca de, aproximadamente , cap. - capítulo; caps. - capítulos, cf. - confere, compare.d.C. - depois de Cristo.e.g. - por exemplo.Fig. - Figurado.fig. - f igurado; f iguradamente , gr. - grego hb. - hebraicoi.e. - isto é.IBB - Imprensa Bíblica Brasileira Km - Símbolo de quilometro lit. - literal, l i teralmente.LXX - Septuaginta (versão grega do AntigoTestamento)m - Símbolo de metro.MSS - manuscr itosNT - Novo TestamentoNVI - Nova Versão Internacionalp. - página.rcf. - referência; refs. - referênciasss. - e os seguintes (isto é, os vers ículos consecutivosde um capítulo até o seu final. Por exemplo: IPe 2.1ss,significa IPe 2.1-25).séc. - século (s).v versículo; vv. - versículos.ver - veja

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índice

Lição 1: A Ética C r i s t ã ......................................................... 15

Lição 2: Uso e Abuso da L ín g u a ......................................... 39

Lição 3: Teologia do Obreiro - Parte 1 ........... 63

Lição 4: Teologia do Obreiro - Parte 2 .......... 87

Lição 5: Teologia do Obreiro - Parte 3 ........113

Referências B ib l io g rá f ic a s .................................................137

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Lição 1A Ética Cristã

A É t i c a é p a rt e da F i l o s o f i a a q u a l e s t u d a o s v a l o r e s m o r a i s e o s p r i n c í p i o s i d e a i s d a c o n d u t a h u m a n a ;

É c i ê n c i a n o r m a t i v a q u e s e r v e d e b a s e à f i l o s o f i a p rá t i c a ;

T a m b é m é o c o n j u n t o de p r i n c í p i o s m o r a i s q u e s e d e v e m o b s e r v a r n o e x e r c í c i o d e u m a p r o f i s s ã o .

Para que tenhamos uma melhor compreensão se faz necessár io definir a pa lavra “mora l” : (da raiz latina “mores”) costumes, conduta, comportamento, modo de agir.

Na vida prá tica, porém, nem sempre é fácil ao homem d isce rn i r1 se determinado ato livre é, ou foi, contrário ou não à sua natureza humana. Por isso, todo liomem adulto é dotado de consciência, que é a expressão imediata, a norma próxima do senso moral. ( 'oncretamente, agir mora lmente bem significa, pois, agir segundo a própria consc iência (Consciência Moral).

lún síntese. Ética Cristã é :

U m s o m a t ó r i o d e p r i n c í p i o s q u e f o r m a m e d ã o s e n t i d o à v ida c r i s t ã n o r m a l . É o q u e c a d a c r e n t e p e n s a e fa z .

I Conhecer d is t intamente ; perceb er laro por qua lquer dosI I nlidos: apreciar; d ist inguir; discr iminar.

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Vós Sois o Sal da Terra”

Nos tempos bíblicos o sal era de maior importância, mais valioso, menos abundante e de difíci l aquisição. Jesus não disse que apenas alguns crentes especiais são “ Sal da Terra” . Ele afirmou: “Vós sois” , re ferindo-se a todos os filhos de Deus.

O Sal é considerado como uma propriedade dist inta e importante, ou seja, a de conservar ou de condimentar. A idéia aqui não indica especialmente uma função definida, como a de conservar ou de condimentar , ou ainda, como dos muitos usos do sal, mas a idéia geral é que o crente santif icado deve possuir a realidade daquilo que professa, da mesma forma que o sal apresenta a propr iedade que esperamos dele. Essa real idade é expressa de muitas e variadas formas.

Aqueles que conhecem a questão dizem-nos que o sal puro não perde seu caráter distinto, mas uma vez misturado com elementos impuros e estranhos pode perder sua propr iedade. O sal pode conservar sua aparência como sal, mas não o seu caráter. Realmente, transforma noutra substância.

O sal insípido para nada mais presta a não ser lançado fora e ser p isado pelos homens. “O propósi to destas palavras , como precisamos considerar, não é para esmagar os que caem, é para avivar o senso de dever e impelir os discípulos a andarem de acordo com a sua chamada” .

Se o Cris t ianismo não funcionar como deve, como é que o mundo poderia receber qualquer coisa da boa graça de Deus?

A religião sem autenticidade dif ici lmente tem uso digno para os discípulos de Jesus ou para o mundo em geral.

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O sal que perde a sua virtude ou sabor, suas qualidades distintas, não tem mais razão para exist ir.

O cloreto de sódio puro (sal) não se deteriora, mas pode ser adulterado, e então perde suas propr iedades e se torna inútil, pois então deixa realmente de ser sal (Mc 9.49-50; Cl 4.6; E f 4.29).

O sal perde seu sabor e torna-se in s íp id o 1 ou insulso2 com:

Pouco ven to . O sal para atingir o sabor ideal necessita de bastante ventania na época de sua formação. Espir i tua lmente o crente sem o vento do Espíri to da Vida e do poder, não subsiste (Gn 2.7; Ez 37.9,10,14; Jo 3.8; 20.22; At 2.2; Et 4.16);Pouca lu z . Muita luz é fundamental para a formação de um bom sal. O efeito químico da luz sobre a água em tra tamento é fundamental na transformação desta em sal. Abundante luz celestial é a grande necessidade para o crente ser um bom sal. Sem isso ele pode ter uma pregação como é o caso do sal insípido. Sem fé é impossível o pecador chegar ao Senhor, pois o mundo está em trevas.Pouco ca lor . Sem calor o sal em sua formação perderá em qual idade e se arruinará. Uma igreja espiri tua lmente fria torna-se inerte, inativa, decadente e incapaz de ser o “ sal da te r ra” . Em lugar de uma tal igreja influir nos padrões de vida e práticas do mundo sem Deus, o mundo é que influirá nela pela corrupção, tal qual faz o fermento na massa.

O sal que se tornar insípido perde três coisasprincipais:

1 Que não tem sabor; que não é sáp ido . F ig . Desa gr adá ve l ; t edioso; m onó to no .

Que não tem sal; in so ss o ; que não tem sabor; ins íp ido .17

^ ■ P e rd e o seu s a b o r . “Se o sal for insípido, com que se há de sa lg a r? ” (Mt 5.13).

^ ■ P e rd e o seu v a l o r . “Para nada mais p r e s ta ” (Mt5.13).

v ■ P e rd e o seu l u g a r . “Para se lançar fo r a ” (Mt5.13).

Na Química, o sal é chamado de cloreto de sódio. Esta subs tânc ia tem propr iedades importantes. Por isso, Jesus a usou para t ipif icar o papel daqueles que são seus discípulos.

1. O sal preserva.Desde tempos imemoria is , o sal tem sido

uti l izado pelos povos como substância conservante, que preserva as caracterís t icas dos alimentos.

O cristão, como o sal espiri tual, tem a capacidade de preservar o ambiente sob sua influência. Este mundo ainda existe porque, apesar de sua degeneração, a Igreja, formada pelos crentes, está preservando o que resta de saúde moral e espiri tual no mundo. Quando a Igreja for t irada da terra, a podridão tomará conta dos povos sem Deus, levando-os à decomposição final, que os levará ao Inferno.

O crente tem o dever de “ salgar” para preservar sua família, seus amigos, crentes ou não e todos os que estejam de uma forma ou de outra sob sua influência. Através das missões, da evangelização local e regional, a Igreja espalha o sal sobre o mundo, para que ele não apodreça de vez.

2. O sal dá sabor.Uma comida sem sal nunca é vista como

saborosa. Normalmente , é indicada para pessoas que estão com problemas de saúde, para quem é contra- indicado o uso do sal.

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A Bíblia registra a importância do sal, como elemento que dá sabor: “ Ou comer-se-á sem sa l o que é insípido? Ou haverá gos to na clara do ovo?” (Jó 6.6). Da mesma forma, o crente em Jesus tem a propr iedade de dar sabor espiri tual ao ambiente em que vive, à vida dos que lhe cercam.

Há pessoas que se sentem felizes em conviver com crentes fiéis, sentindo o efeito benéfico do contato com eles. E isso glorifica o nome do Senhor. E necessár io ter sal na vida, ou seja, um viver cheio de alegria, de poder, entusiasmo, cheio do Kspírito Santo.

Jesus reconhecia o valor do sal, quando afirmou: “Bom é o sal, mas, se o sa l se tornar insulso, com que o adubareis? Tende sal em vós mesmos e paz, uns com os outros” (Mc 9.50). Em seu ensino, Ele disse que, “se o sal f o r insípido, com que se há de salgar? l 'ara nada mais pres ta, senão p a r a se lançar f o r a e ser pisado pelos homens’1'’ (Mt 5.13). Isso quer dizer que, se0 crente deixar de dar seu testemunho, sua vida perde o sentido, torna-se inútil, e passa a ser “p isado” pelos pecadores.

i. Sal na medida.Uma das carac te rí s t icas do sal é sua

humildade” . Ele preserva e dá sabor, sem aparecer. Assim é o crente fiel. Ele é humilde. Não faz questão ilc iiparecer. Quando o sal “ aparece” , pelo excesso, ninguém suporta.

O crente como sal prega mais com a vida do i|iii com palavras. João Bat ista foi um exemplo.1 .iliindo sobre Jesus, disse: “E necessário que elei icsça e que eu d im inua” (Jo 3.30).

O crente, quando tem sal demais, torna-se insuportável. Isso acontece, quando se torna fanático.

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Em lugar de passar para os outros o sabor da vida cristã, acaba afugentando as pessoas, com excesso de santidade. São legalistas, que vêem pecados em tudo.

Por outro lado, há os que não têm mais sal em suas vidas. São os l iberalis tas , que se acomodam com o mundanismo, e dizem que nada é pecado. São extremos. E preciso ter equil íbr io no testemunho.

Paulo disse: “A vossa pa lavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um ” (Cl 4.6). O fruto do Espíri to inclui a temperança (G1 5.22).

O Crente - Luz do Mundo

Em Mateus 5.14, Jesus diz aos seus seguidores de todos os tempos: “ Vós sois a luz do mundo.. ." . A luz bri lha e se opõe às trevas.

O cristão deve saber que o mundo jamais verá a Deus de maneira melhor do que o próprio crente é capaz de apresentar através de suas atitudes. Por isto Jesus acrescentou: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorif iquem o vosso Pai que está nos céus” (Mt5.16).

■ Davi foi chamado de luz de Israel (2Sm 21.17). Os seus descendentes chamados de luzes (lRs- 11.36; SI 132.17; Lc 2.32).

■ Jesus Cristo é a V erdade ira Luz do mundo que i lumina a todo homem (Jo 1.9).

Segundo Paulo, os crentes são luzes secundárias. Aos crentes são reputadas luzes porque part ic ipam da luz que vem da fonte luminosa que é Cristo: “Para que vos torneis ir repreensíveis esinceros, f i lhos de Deus inculpáveis no meio de uma

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geração perver t ida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no m undo ” (Fp 2.15).

A esfera do mundo é trevas; trevas da ignorância, a sua esfera é escuridão, Jesus foi à luz entre os homens (Jo 1.5). Mas os homens amaram mais as trevas que a luz, porque as suas obras eram más.

Os crentes também são luzes que i luminam as trevas segundo os ensinos de Jesus, sem essa i luminação o mundo seria um lugar tenebroso , seus discípulos, pois, devem ser “ como uma cidade edificada sobre um monte” .

Mesmo que as luzes fossem fracas, as cidades edificadas sobre o monte, seriam vistas de grande distância. Ass im também deve ser o crente, bri lhando e dissipando as trevas.

A presença real de Deus na vida do crente fará dele uma luz verdadeira, e Deus será glorificado era sua vida. O crente como luz exerce o seu verdadeiro sacerdócio.

/. “ Vós sois a luz do m u n d o ”.Fazendo uso de m e tá fo ra s1, Jesus afirmou

que os seus discípulos são “a luz do m undo” . Figura extraordinária essa! Diferentemente do sal, que não é visto em ação, a luz só tem valor quando é percebida, quando aparece.

1.1. O testemunho elevado.Comparando seus seguidores como luz do

inundo, Jesus disse que “não se pode esconder uma

1 Tropo que co n s i s te na trans ferência de uma palavra para um ninbito se mâ nt i co que não é o do obje to que e la des ign a , e que se l imdamenta numa re lação de se m e lh a n ç a subent endi da entre o sent ido próprio e o f igurado; t ranslação. [Por metáfora, cham a-s e r a p o s a a uma p e s s o a astuta, ou se d es ig n a a ju v en tu d e p r i m a v e r a <l;i vida.]

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cidade edif icada sobre um monte". De fato, as cidades sobre os montes, quando chega a noite, refle tem as luzes de suas casas e ruas.

Como luz, o crente está edificado sobre Cristo, em posição muita elevada. Ele “nos ressuscitou jun ta m en te com ele, e nos f e z assentar nos lugares celestiais, em Cristo J e su s ” (E f 2.6). O salmista reconhecia essa posição elevada, quando disse: “Leva- me p a ra a rocha que é mais alta do que eu” (SI 61.2).

1.2. Crentes no velador.Jesus disse que não se “acende uma cande ia1

e se coloca debaixo do a lque ire2, mas no velador, e dá luz a todos os que estão na casa ’’’ (Mt 5.15). Velador é um suporte de madeira, sobre o qual se coloca um candeeiro ou uma vela, em lugar elevado, na casa, de forma que a luz que ali est iver, i lumine a todos que estiverem a seu redor.

“Mas quem pra t ica a verdade vem para a luz, a f i m de que as suas obras sejam manifestas, porque são f e i ta s em D eu s ” (Jo 3.21). Infelizmente, há pessoas nas igrejas, que se colocam debaixo do alqueire do comodismo, da indiferença, da falta de fé e de ação, e apagam-se , por lhes faltar o oxigênio da presença de Deus.

1.3. O testemunho que resplandece.“Assim resplandeça a vossa luz diante dos

homens. . . " (Mt 5.16). O crente em Jesus não tem luz própria. Ele não é estrela, com luz própria. Ele pode

1 P eq ue no aparelho de i l u m ina çã o , que se su spe nde por um pr ego , co m rec ip ie nte de f o l ha -d e- f la n d re s , barro ou outro material , ab as t ec id o c o m ó le o , no qual se em b eb e uma torcida, e de uso em cas as pobres .2 U m a va s i l ha de med ida de a lque ire , que servia para medir cerea i s , f ei ta de barro, co m a cap a c i da d e de 8 l itros e meio .

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ser comparado a um planeta, que é um astro i luminado por uma estrela, em torno do qual ele gravita. Na verdade, nós somos i luminados por Jesus. Ele, sim, é a “estrela da a lva” (2Pe 1.19), a “resplandecente Estrela da manhã” (Ap 22.16). NEle , e em torno dEle, nós vivemos, e recebemos a sua luz. Com nosso testemunho, precisamos e sp a rz i r1 a “ luz do evangelho da glór ia de Cris to” (2Co 4.4).

1.4. “Para que vejam as vossas boas o b r a s ”.O crente, como luz, dá seu testemunho,

através das boas obras de salvo, “Porque somos fe i tura sua, criados em Cristo Jesus p ara as boas obras, as quais Deus p reparou para que andássemos ne la s” (Ef 2 . 10).

Muitos têm ganhado almas para Jesus, na evangelização, porque praticam um testemunho eloqüente2, em todos os lugares. Sabemos de servos e servas de Deus, que, no seu lar, ganharam toda a família, por causa de suas ati tudes cristãs; outros, que no trabalho, ganharam seus colegas, por causa do comportamento cristão. Com isso, eles g lori ficam a Deus, que está nos céus.

Paulo, exortando os crentes acerca do lestemunho, disse que fizessem tudo “para que sejais irrepreensíveis e sinceros, f i l h o s de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo'1'1 (Fp 2.15).

Em Provérbios, lemos: “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai bri lhando mais i' mais até ser dia per fe i to ” (Pv 4.18).

1 líspalhar ou derramar (um l íqu ido) ; irradiar, difundir.I <fí. Exp re ss i vo , s ig n i f i c a t iv o , pe rs ua s i v o , con v i n ce nt e .

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2. No mundo, os crentes são fo ras te i ros e peregr inos .Não devemos pertencer ao mundo (Jo 15.19),

nem se conformar com ele, muito menos amá-lo ( l J o2.15). Deve-se odiar a iniqüidade do mundo, morrer para o mundo (G1 6.14) e ser l iberto do mundo (Cl 1.13; G1 1.4). Aquele que crê em Jesus vence o mundo ( U o 5.4).

S Amar o mundo corrompe nossa comunhão com Deus e leva à destruição espiri tual . E impossível amar o mundo e ao Pai ao mesmo tempo (Mt 6.24; Lc 16.13; Tg 4.4); '

S Significa estar em estreita comunhão com ele e dedicar-se aos seus valores, interesses, caminhos e prazeres.

■S Significa ter prazer e satisfação naquilo que ofende a Deus e que se opõe a Ele.

Obs.: Os termos ‘m u n d o ’ e ‘t e r ra ’ não são sinônimos; Deus não proíbe o amor à terra criada, isto é, à natureza, às montanhas, às f lorestas, etc. (...).

■ O crente não deve ter comunhão espiri tual com a q u e le s que vivem o sistema iníquo do mundo (Mt 9.11; 2Co 6.14);

■ Deve reprovar aber tamente o pecado deles (Jo 7.7; E f 5.11);

■ Deve ser sal e luz do mundo para eles (Mt 5.13,14);

■ Deve amá-los (Jo 3.16);■ Deve procurar ganhá-los para Cristo (Mc 16.15; Jd

1.22,23).

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Questionário

■ Assinale com “X ” as a lternat ivas corretas

1. Ética não é:a ) |_] A parte da Filosofia que estuda os valores morais

e_os princípios ideais da conduta humanab ) U A ciência normativa que serve de base à filosofia

práticac ) l_J O conjunto de princípios morais que se devem

observar no exercício de uma profissãod ) 0 O sentimento que predispõe alguém a desejar o

bem de outrem, ou de a lguma coisa

2. Os fatores que levam o sal a perder seu sabor etornar-se insípido, são:a) |_ | Pouco vento, pouca luz e pouco fogob)|_ | Pouca água, pouca luz e pouco fogoc) |_! Pouco vento, pouca luz e pouco calord ) 0 Pouca água, pouca luz e pouco calor

3. É correto dizer que:a ) |_| O crente, quando tem sal demais, torna-se mais

crente, é um exemplo a ser seguidob ) @ O crente como luz exerce o seu verdadeiro

sa_cerdócioc) l_1 O crente em Jesus tem luz própria. Ele é

estrela, com luz própriad ) l_| Os legalistas não têm mais sal em suas vidas,

se acomodam com o mundanismo

■ Marque “C” para Certo e “E ” para Errado

•I [t] O crente como sal prega mais com palavras doque com a vida

' ■ 0 0 crente, como luz, dá seu testemunho, atravésdas boas obras de salvo

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Jesus e o Antigo Testamento

Jesus ratif icou o AT.Cabe assentar, de início, que todas as vezes

que Jesus menciona as Escri turas refere-se ao AT (cf. Mt 7.12; 22.40; Lc 4.16-21; 24.25-27).

É co n sen so 1 entre alguns eruditos, baseados na tradição judaica, que, apôs o retorno dos judeus do exílio babilónico, Esdras tenha sido o grande responsável pela formação do cânon do Antigo Testamento tal qual o texto empregado por Jesus e conhecido em nossas Bíblias hoje.

Isto significa que ao afirmar o seu compromisso de não “destruir a lei e os p ro fe ta s” (Mt5.17), Cristo ratif icou todo o AT, considerando-o como a revelação conhecida de Deus. O Mestre chegou, inclusive, a citar a divisão comumente empregada pelos estudiosos da época, como aparece em Lucas 24.44: Lei, Salmos e Profetas.

Sob este aspecto, o AT introduziu no mundo o projeto de Deus em Cristo que se realizou no NT, mediante a proc lamação da chegada do Reino de Deus (ver Mc 1.14,15).

Jesus cumpriu o AT.Cristo não só ratif icou, mas cumpriu em si

mesmo o Antigo Testamento (Mc 1.17), englobando aí os minuciosos t ipos descritos no Penta teuco e os va t ic ín ios2 dos profetas que apontavam em sua direção. Ele reconheceu-se o ponto convergente da história da salvação primeiramente anunciada por Deus ao

1 Co nformidade; acordo de idé ias .2 P red i ção , profec ia.

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primeiro casal e pos te r io rmente re ite rada aos patriarcas e ao povo de Israel mediante a Lei e a revelação profética (ver Gn 3.15; 12.1-3; Is 9.6; Mq 5.2).

O ato da encarnação do Filho de Deus, cujo á p ice 1 foi a sua entrega como o Cordeiro que redime o homem (ver Jo 1.14,29), cumpriu a perspectiva da fé dos heróis do AT e inaugurou um novo tempo em que os padrões éticos revelados por Deus na Lei e nos profetas são reafirmados por Cristo (Jo 1.18) como o modelo desta nova era.

Jesus realça os ensinos morais do AT.Enquanto sob a Lei as regras que

expressavam esses ensinos tornaram-se vazias porque os judeus res t r ing iram 2 a sua prát ica à superf ic ialidade do exterior, agora se revestem de um novo e real sentido, porque dependem do coração t ransformado através da obra redentora de Cristo para serem exper imentadas (cf. Rm 7.1-25).

A Ética Absoluta do Reino de Deus

O significado das leis cer imonia is de Israel.Todavia , há que se dist inguir , no Penta teuco,

í i s leis cer imoniais, sociais e cívicas dadas por Deus a Moisés. Elas foram exclusivas para o povo de Israel, sem obr igatoriedade para os cristãos (cf. Cl 2.16-23). Apesar disso, o conteúdo ético, moral, que as norteia e os princípios implícitos são pertinentes ao povo de Deus de qualquer época.

Não se discute, por exemplo, o caráter de pureza implícito em certas normas cer imoniais (cf. Lv

1 1’nnto mais e l eva do ; o mais alto grau.I ornar mais es tre ito , apertado.

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5.3; 7.20,21). Ainda que elas não tenham ju r i sd iç ã o 1 sobre a Igreja, o propósito para o qual apontavam permanece inalterado, pois a pureza de coração é uma das principais qualidades da vida cristã (ver lT m 1.5; 5.22; IPe 1.22,23).

A universa lidade dos pr inc íp ios morais da Lei mosaica.

Todavia , além das normas já citadas, havia outras de caráter explic itamente moral, cuja universal idade está clara nas Escrituras . São válidas para “ todas as pessoas, em todas as épocas e em todos os lugares” .

O Senhor as reitera no Sermão do Monte e declara de maneira con tunden te2 a sua importância como marco dis t intivo do Reino de Deus (Mt 5.18,19). São referenciais permanentes e imutáveis que se aplicam em qualquer cultura e expressam não só o padrão de santidade exigido por Deus, mas também o tipo de reação que se espera do crente diante das diferentes c ircunstâncias da vida (cf. Mt 5.38-42).

Porque a ética do Reino de Deus é absoluta.A ética do Sermão do Monte, portanto, tem

caráter absoluto. Ela não se altera ao sabor das diferentes si tuações, não se ajusta ao que pensa o homem e nem se modif ica para adaptar-se ao esti lo de vida de cada um, mas é a exata expressão do propósito de Deus para o seu povo (ver Mt 5.48; IPe 1.13-16).

1 Poder atribuído a uma autor idade para fazer cumprir determinada cat egor ia de leis .2 In c i s iv o , d e c i s i v o .

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A Busca do Padrão Ético do Reino de Deus

É par te da responsabi lidade cristã. A busca deste padrão ético deve, portanto , consti tui r-se no alvo de cada crente, sendo parte de sua responsabil idade cristã. Como Paulo ensinou aos gálatas, não se trata de obrigação imposta por um sistema legal, mas de algo que resulta de já estarmos crucificados com Cristo e de Ele ter assumido a nossa própria vida para tornar-nos capazes de ardentemente prosseguir em busca desse objetivo (ver G1 2.20; Fp 3.12).

Isto implica afirmar, com absoluta segurança, que se o crente não manifesta esse desejo de aperfeiçoar a sua vida cristã a cada dia, nos moldes ensinados por Cristo no Sermão do Monte, é certo que não tenha exper imentado a verdadeira transformação interior ou a tenha perdido no meio do caminho. Ainda que a força da Lei não produza nenhuma piedade, só aparência, o coração transformado será compel ido a expressar em sua vida esse padrão ético desejado por Deus (cf. SI 42.2; 63.1).

E resultado exclusivo da graça. Por outro lado, cabe ressaltar , com a mesma segurança, que, se nenhum esforço humano pode produzir não só o ardente desejo, mas também a possib il idade de se experimentar, aqui e agora, essa dimensão ética do Reino de Deus, só há uma resposta a ser dada: ela é resultado exclusivo da graça (ver Rm 6.1-15).

O propósito de Cristo é que as exigências espirituais da Lei de Deus se cumpram na vida de seus seguidores (Rm 3.31; 8.4). O re lacionamento entre o

rente e a Lei de Deus envolve os seguintes aspectos:

■ A lei que o crente é obrigado a cumprir consiste nos princípios éticos e morais do AT (Mt 7.12; 22.36-40) bem como nos ensinamentos de Cristo e

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dos apóstolos (Mt 28.20; ICo 7.19; G1 6.2). Essas leis revelam a natureza e a vontade de Deus para todos e continuam hoje em vigor. As leis do AT destinadas diretamente à nação de Israel , tais como as leis sacrificiais, cerimoniais, sociais ou cívicas, j á não são obrigatórias (Hb 10.1-4; Lv 1.2,3; 24.10).

■ O crente não deve considerar a Lei como sistemade mandamentos legais através do qual se pode obter mérito para o perdão e a salvação (G1 2.16,19). Pelo contrário, a Lei deve ser vista como um código moral para aqueles que já estão num re lacionamento salvífico com Deus e que, por meio da sua obediência à Lei, expressam a vida de Cristo dentro de si mesmos (Rm 6.15-22).

■ A fé em Cristo é o ponto de partida para ocumprimento da Lei. Mediante a fé nEle, Deus torna-se nosso Pai (cf. Jo 1.12). Por isso, aobediência que prestamos como crentes nãoprovém somente do nosso re lacionamento com Deus como legis lador soberano, mas também do re lacionamento de filhos para com o Pai (G1 4.6).

Mediante a fé em Cristo, o crente, pela graça de Deus (Rm 5.21) e pelo Espíri to Santo que nele habita (G1 3.5,14), recebe o impulso interior e o poder para cumprir a Lei de Deus (Rm 16.25,26). Os crentes têm sido libertos do poder do pecado, e sendo agora servos de Deus (Rm 18.22), seguem o princípio da fé, pois estão “debaixo da lei de Cris to” ( IC o 9.21).

Jesus ensinava enfaticamente que cumprir a vontade do seu pai celeste é uma condição permanente para a entrada no Reino dos Céus.

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A Conduta Cristã e a Santidade Pessoal

“Antes santi f icai a Cristo, como Senhor, em vosso coração; estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos ped ir razão da esperança que há em voz” ( I P e 3.15).

Santif icação é o supremo ideal de Deus para i> crente. Fomos salvos quando aceitamos Jesus Cristo como salvador. Nesse dia o Espíri to Santo veio habitar cm nós para começar a obra da santi f icação em nossas vidas.

S A salvação é instantânea. Recebemo- la de uma vez e para sempre, no momento em que cremos em Jesus.

S A santi f icação é um processo contínuo. E ação divina do Espíri to Santo no coração do crente, mas exige que o crente a deseje e a busque, o que implica com a cooperação que o Espíri to Santo quer realizar nele.

O crente em Jesus Cristo é uma pessoa diferente, dotada de novo poder, de novos propósitos, dc novos motivos, de novos interesses e de novos desejos implantados em sua alma pelo Espíri to Santo.1 sIo, porém, não significa que ele esteja fora do alcance (Iíis forças que se opõe aos impulsos espiri tuais.

O crente não é só espírito. Enquanto estiver nc^te mundo, lutará contra as tendências da carne, que •a* esforçam para sufocar sua santidade.

O mundo não proporciona um ambiente pmpício ao desenvolv imento espir i tual porque está em »■posição a Deus (Tg 4.4). Mas é no mundo cada vez i i u i s corrompido, que o crente tem que viver e irslemunhar, como sal da terra e luz do mundo, como mu verdadeiro astro.

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J- O crente não p er tence ao mundo.A degradação moral do homem sem Cristo

não leva Deus a re laxar os seus padrões. A santif icação é o apelo em que Deus consinta o homem a subir um pouco mais, qualquer que seja a sua condição espiri tual.

Diante de nós está um alvo posto por Deus: “Até que todos cheguemos a unidade da fé , ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, a medida da estatura completa de Cristo'’’’ (Ef 4.13).

<1- Deus exige que o crente seja santo.“Portanto sant i f icai-vos, e sede santos, po is

eu Sou o Senhor vosso Deus. E guardai os meus estatutos, e cumpri-os: eu Sou o Senhor que vos san t i f ica’’’ (Lv 20.7,8).

O desejo de Deus é que a santif icação seja uma realidade na exper iênc ia do crente, ao dizer “Santif icai-vos e sede San tos” . Deus mostrou que essa exigência é motivada por ser Ele um Deus santo. Temos que agir de modo que sejamos dignos do Deus com quem afirmamos ter comunhão.

Há uma fábula persa que diz ter um caminhante achado um pedaço de argila da qual se desprendia estranha fragrância. Crendo que se tratava de n a r d o 1 disfarçado de argila, o caminhante indagou: “Porque tanta f ragrânc ia?” . A resposta foi: “Porque tenho vivido perto de uma ro sa” .

Nós também, como vasos de barro, quando nos aproximamos daquele que é Santo, sentimos em

1 Planta herbácea, da fam í l ia das va ler ianá ceas (N a r d o s t a c h y s j a t a m a n s i ), originár ia da Á s i a , cujo r i zoma, aromático , foi muito em pre gad o p e l o s an t igos em perfumaria

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nosso ser penet rar a fragrânc ia dos nardos celestiais, e0 nosso rosto bri lha em meio à escuridão em que vive o mundo.

■ A santi f icação é o f r u to do trabalho do homem de Deus. Só a a lcançaremos se a dese jarmos e a buscarmos. Só por seu esforço, porém, o homem nunca poderá alcançá-la. Por isso, Deus diz: “Eu sou o Senhor que vos sant i f ico” .

■ Santidade é um atributo pe ssoa l de Deus. Procurando elevar-se as alturas em que Deus está, o crente vai escalando, pouco a pouco, os degraus desta ascensão sublime. Não se consegue a santi f icação num instante.

■ E obra para toda a vida. Diante de cada crente está a figura máxima, o motivo inspirador, o Varão Perfeito, que é Cristo, o Senhor. Ele é a razão pela qual nossa vida deve transformar-se , dia a dia, na maior semelhança de Sua pessoa.

1 O crente tem sua vida foca l i za d a em Cristo.“Portan to , se j á ressuscitado com Cristo,

buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à direita de Deus. 1’ensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra: Porque j á estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo que é a vossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em g ló r ia ” (Cl 3.1-4).

Nessa passagem, Paulo dá ênfase que o crente no seu batismo, demonst ra que morreu para o mundo, morreu para uma velha vida, e ressusci tou para uma vida nova em Cristo. Ora, se isto é verdade, o homem não pode continuar sendo a mesma pessoa que ora antes. Ele agora deverá ter outros objetivos, um

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novo padrão de vida. O seu antigo interesse pelas coisas vãs e passageiras desta vida deve ter sido mudado por uma paixão pelas verdades eternas. O crente deverá encarar os acontecimentos da terra do ponto de vista eterno, e não do passageiro.

A nova vida com Cristo traz em si o imperativo da pureza e da santidade. Cer tamente o crente cont inuará traba lhando no mundo e usando as coisas do mundo. Porém, a sua ati tude agora será outra. Ao invés de receber, ele dividirá com outros; ao invés de ordenar, ele servirá, e ao invés de vingar-se ele perdoará. Para o incrédulo, estas atitudes são pra ticamente impossíveis. Porém, o crente salvo está inteiramente envolto pela vontade soberana de Deus, sua vida será to ta lmente diferente.

O crente santi f icado está com sua vida escondida em Cristo, em Deus Pai. O que está escondido não se pode ver. O mundo não pode entender a verdadeira excelência do crente, porém, este crente desconhecido será conhecido pela glória de Deus que se manifestará nele.

S Deus exige santidade (Lv 20.1-8);•S Somos templos de Deus ( IC o 6.12-20);■S Pur ificação pessoal ( l J o 3.1-10);S Os santos são di ferenciados (Lv 20.22-27);^ Livres da lei do pecado (Rm 8.1-8);S Apresentam o Fruto do Espíri to (G1 5.16-26);■S Devem despojar-se de tudo (Cl 3.1-17).

4- A santidade é uma necessidade hum ana .E a presença de Deus na alma que produz a

santi f icação. Escrevendo aos crentes de Corintos, Paulo disse: “Não sabeis que vós sois o templo de Deus, e que o Espír ito de Deus habita em vós?” ( ICo3.16). Realmente , santo no sentido absoluto, só existe

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um em todo o universo. Nunca ser iamos santos sem a atuação de Deus em nós.

A santidade de vida é a g lór ia de Deus reflet ida pe lo crente. Quando o homem está cheio da paz de Deus, na tura lmente procura viver em paz com seus semelhantes. Por falta de santidade na vida, ocorre miopia, para não dizermos a cegueira espiri tual.

A santidade é a condição exclusiva para se ver a Deus em sua Palavra , na vida diária, na natureza ou no companheir ismo íntimo e na vida escatológica (Hb 12.14; Mt 5.8).

J- O aspecto prá t ico da santificação.A santi f icação tem f in a l idade ética. Não se

busca santidade apenas para um vida contemplativa. Não foi este, pelo menos, o exemplo de Jesus.

Nada no Evangelho é estático. A santidade também é dinâmica. Por isso, o apóstolo Pedro diz que o crente, per tencendo a grande família dos remidos do Senhor, buscará viver em harmonia com seus irmãos, solidarizando-se com eles nas suas tr istezas e alegrias, manifestando-lhes misericórd ia e tra tando-os com humildade, isso é, o fruto do amor fraternal.

Quem sabe sofrer um mal ou uma injúria revela maior força moral do que aquele que “paga com a mesma m oeda” , como se costuma dizer. Num plano ainda mais elevado se encontra aquele que é capaz de bendizer aquele que injuria ou quem lhe deseja mal. Não estamos dizendo que seja fácil viver assim. Mas Jesus não nos chamou para andarmos nos caminhos fáceis da vida. E nisto que provamos nossa relação com Ele, que é, para nós, o modelo sublime de santidade.

Os que viveram com o Senhor Jesus Cristo são unânimes a dizer que sua vida foi inatacável, e que não foi achado engano na sua boca. Por isso a Escritura

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recomenda: “ Santif icai-vos em vossos corações aCristo como o Senhor” .

Só a santidade realiza milagres de glória. Se crescermos em santidade, a Igreja também crescerá em nível, e daremos a Deus melhores condições de usar- nos na sua santa causa (2Co 6.16 - 7.1).

Santi f icar é separar para dedicar. Santo é aquilo que se separa do profano para ser dedicado ao serviço da Divindade. Assim os vasos de ouro usados nos cultos sacrificiais de Israel eram santos. Porque eram separados de qualquer outro uso para serem dedicados exclusivamente ao serviço de Jeová. O crente é santo porque está separado do mundo ededicado a Deus.

Viver uma vida de sant idade deve ser o objetivo de cada crente. Ele está neste inundo, mas separado de Deus, sujeito à sua vontade em tudo, e esforçando-se para desenvolver-se à semelhança do Mestre. Uma vez que não há como enfatizar em demasia o imperat ivo moral do Evangelho. Este requer obediência e santidade, por quanto nada tem o podei de salvar o homem a não ser o Evangelho.

A sant if icação leva o crente mais perto de Deus e leva o pecador a se in teressar por Ele por causa da l inha divisória existente, na manifestação do poder de Deus na vida do crente. Mediante a transformação moral segundo a imagem de Cristo é que auferimos a transformação metafísica. Isso significa que mediante a vereda moral somos levados à part ic ipação na natureza de Cristo, na qualidade de filhos de Deus em que duplica a imagem do Filho.

“Mas todos nós, com cara descoberta, refletindo como um espelho à glória do Senhor, somos transformados de glór ia em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2Co 3.18).

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Aqueles que estão sendo transformados segundo a imagem de Cristo tem a responsabil idade de demonst rar aos homens deste mundo a eficácia da graça de Deus, que neles opera. Se isso for feito como se deve, então os crentes, sant if icados, serão capazes de levar outros a par tic iparem da graça de Deus, de modo a virem louvar ao Senhor com suas palavras e com sua vida diária:

“E perseverando unânimes todos os dias no Templo, e p ar t indo o pão em casa, comiam ju n to s com alegria e s ingeleza de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à Igre ja aqueles que se haviam de sa lvar” (At 2.46, 47).

Questionário

■ Assinale com “X ” as al ternat ivas corretas

6. Quanto à re lação de Cristo com o AT, é errado dizer:a ) |_I Cristo ratif icou todo o AT, considerando-o

_como a revelação conhecida de Deusb)|_J Ele cumpriu em si mesmo o ATc ) |_| Ele realçou os ensinos morais do ATd ) Q Uma vez ra tif icado o AT por Jesus, é

descartado a “Lei e os Profe tas”

7. A busca do padrão ético do Reino de Deus:a ) Q É uma obr igação imposta por um sistema legalb ) Q É excluída da responsabil idade cristãc)|__] E resultado exclusivo da graçad ) l_] Deve ser afastada do alvo de cada crente

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8. É corre to afirmar que:a)[x| Santificar é separar para dedicar tOP] Santidade é um atributo pessoal de toda a

humanidadec ) D A santi ficação não possui f inalidade éticad ) Q A santidade é incapaz de realizar milagres de

glória

■ Marque “C” para Certo e “E ” para Errado

9. j^j O conteúdo ético, moral, que norteia a Lei mosaica e os princípios implícitos, são pertinentes somente ao povo de Israel

10. 0 Quem sabe sofrer um mal ou uma injúria revela maior força moral do que aquele que “paga com a mesma moeda”

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Lição 2Uso e Abuso da Língua

“Palavras, palavras, somente pa lav ras” . “Ele é apenas um fa lador” . Essas afirmativas i lustram uma comum depreciação da importância da l inguagem. Porém, haverá outras coisas, neste mundo, tão potentes para o bem ou para o mal como as palavras?

A fala é a faculdade que dist ingue o homem dos animais irracionais. É um sinal de personalidade. O subconsciente se manifesta somente através da fala. É impossível conhecer os pensamentos sem as palavras que expressam as idéias. A ação é precedida pelo pensamento. O pensamento antecede a ação. Porém, o pensamento é impuls ionado por sugestões verbais.

Toda a cooperação entre os seres humanos depende, para seu sucesso, da comunicação verbal. A solidariedade cultural de um grupo se alicerça sobre um idioma comum. O caráter é reve lado pela l inguagem empregada pelo indivíduo (Mt 12.33-37).

^ O perigo da maledicência .As palavras eram consideradas de uma

maneira muito literal e concreta no AT. Os hebreus criam que uma vez que as pa lavras deixassem os lábios do homem, não es tavam mais sob sua inf luência ou controle. Não poderia chamá-la de volta, mesmo se quisesse fazê-lo.

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A língua é um pequeno membro, mas grande é o seu poder! Toda a palavra deve ser medida e pesada antes de ser pronunciada. A palavra deve ser “ temoerada com sal” .

Quando Isaque foi enganado ao abençoar Jacó ao invés de Esaú, não podia retomar a palavra da benção e redigi-la a Esaú (Gn 27.30-38). As palavras eram consideradas como tendo uma existência separada da pessoa que falava. Uma vez ditas, eram vias para efetuar seu próprio cumprimento.

Aquele que difama seu irmão, também o mata_moralmente. A língua tem sido um instrumento do mundo maligno e perturbador em que vivemos. Ela pode ^contaminar o corpo inteiro, isto é, macular o corpo inteiro. Leva o indivíduo a se ocupar de muitas coisas duvidosas: encoraja-o a abusar do seu corpo, leva-o a macular sua personal idade toda.

<$► O q ue a l íngua p ode f a z e r ou ser.

■ Os lábios podem ser enganosos (Pv 8.20);■ Cheios de conhecimento (Pv 5.2; 10.32);■ Falsos (Pv 10.18; 12.22; 17.7);■ Verdadeiros (Pv 12.19);■ Pecaminosos (Pv 12.13);■ Justos (Pv 16.13);■ Agradáveis (Pv 16.21);■ Danosos (Pv 24.2);■ A língua pode ser falsa (Pv 6.17; 12.19; 26.28);■ Sedutora (Pv 6.24);■ Perversa (Pv 10.31);■ Sábia (Pv 15.2);■ Boa (Pv 15.4);■ Maligna (Pv 17.4).

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A lista acima contém boas e más qualidades. Isto mostra que há um potencial para o bem e para o mal na fala humana.

Com nossas l ínguas ferimos ou curamos, construímos ou destruímos, abençoamos ou amaldiçoamos. É importante, portanto, que aprendamos usar a l íngua como instrumento de bênçãos (Pv 18.21).

O homem que fala a verdade no tr ibunal é louvado. A pessoa que é jus ta sempre promoverá a just iça por falar a verdade. A pessoa jus ta fala a verdade, não porque está sob juramento , mas por que é da sua natureza fazê-la. Qualquer outra ati tude seria altamente detestável.

O mentiroso, por outro lado, não merece a confiança para dizer a verdade, mesmo quando está sob juramento. Suas mentiras levam ao fracasso da justiça. O falso testemunho é um problema sério.

b Algumas adver tências contra a maledicência.Paulo, em Efésios 4.31 diz que toda malícia

deverá ser t irada, e em Tito 2.1-2, diz que não se deve ihfamar a j i inguém.

Tiago 3.6 apresenta a l íngua como um mundo de iniqüidade, que pode inflamar o curso da vida até precipitar a pessoa no inferno, e a compara com uma fonte que não pode dar água doce e água amargosa. O homem não tem condições de bendizer a Deus e maldizer a seu irmão (Tg 4.11). Pedro, na sua primeira carta, diz que o homem deve se despojar de toda maldade e de toda malícia ( IPe 2.1; 3.10).

Todo crente deve ter uma língua sã, agradável. A l íngua só deve ser usada para o bem. O salmista diz que o verdadeiro cidadão do céu é aquele que não sabe difamar pom a sua l íngua, e que fala a verdade segundo 'o seu coração (SI 15.1-3).

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Enquanto o ímpio estiver perto, a boca deverá estar fechada (SI 39.1). Todo homem deve ser pronto para ouvir e tardio para falar. E tardio para se irar. Porque a ira não opera a jus tiça (Tg 1.19).

Uso e Abuso da Língua

“Não consintas que tua boca fa ç a pecar a tua carne, nem digas diante do anjo que f o i erro; p o r que razão se iraria Deus contra a tua voz, de sorte que destruísse a obra das tuas m ãos?” (Ec 5.6).

De todos os assuntos tratados por Provérbios , nenhum recebe tanta atenção quanto o uso e abuso da l íngua, o uso correto ou incorreto das palavras (Mt 12.36-37).

Uma palavra falada era como um míssil guiado, indo em direção ao seu alvo. Quando Baraque não foi capaz de impedir que os israeli tas entrassem em seu terri tório, ele contratou Balaão para proferi r uma maldição contra eles (Nm 22 e 24). A maldição seria uma arma secreta para derrotar os israeli tas.

Bênção e maldição, e palavras em geral, t inham o poder de vida ou morte. O poder para moldar o curso dos eventos. Por tanto , a maneira como uma pessoa usava a sua l íngua era de grande importância.

1. A f a la como caráter (Pv 12.6,13,14).Não há método de comunicação tão poderoso

como a pa lavra falada. Os grandes polí t icos, f ilósofos, mestres e pregadores sempre souberam o valor da palavra falada.

As palavras são os indícios mais seguros para o caráter de uma pessoa. Pedro foi traído por suas próprias palavras enquanto estava assentado no Pátio do Sumo Sacerdote (Mt 26.69-73). Também, revelamos o que somos pela nossa palavra.

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O silêncio poderá esconder a verdadeira natureza, mas uma vez que abrimos a nossa boca e filiamos, os homens sabem quem somos e como somos.

Provérbios 12.13 apresenta um contraste nitre o homem mau e o homem jus to , o homem mau é limçado e capturado pela transgressão de seus lábios. Suas próprias pa lavras se tornam uma armadilha para sua alma (Pv 18.7). Um homem justo , por outro lado, (-’.uarda seus lábios e escapa desse laço.

A verdade proclamada em Provérbios 12.14, i' que nossas palavras produzem uma colheita. Quando plantamos palavras más, colhemos o mal. Quando plantamos palavras boas, colhemos o bem.

Também podemos dizer que as palavras de nossa boca voltam para nós. Palavras boas voltam para nos abençoar e as más voltam para nos amaldiçoar.

Tempo de ouvir (Pv 12-15,16).Tiago 1.19 diz que todo homem esteja pronto

para ouvir. Existem horas que é melhor ouvir do que lalar. O homem sábio é aquele que está pronto para mivir antes de emitir os seus conselhos. Cada crente■ leve exercer o ministér io do si lêncio até que saiba que ■•nas palavras irão produzir cura e edificação.

Toda palavra deve ser bem pesada, medida e icinperada com sal. Quanto menos uma pessoa fala, menos ela errará.

Um certo teólogo disse que o amor se rxprime de três maneiras:

S Ouvindo aos outros;S Doando aos outros; e,S Perdoando aos outros.

O contraste entre o homem tolo e o homem 'lábio, é demonstrado em Provérbios 12.15. O caminho iln tolo é reto aos seus própr ios olhos. Nunca pensa que

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pode estar errado. Não tolera crí ticas e não aceita conselhos. O homem sábio está livre de tal engano. Recebe conselhos, pois está desejoso de aprender dos outros, não se perturba em dizer: “Eu estava errado” .

Uma pessoa que admite estar errada está dizendo que é sábia hoje mais do que era ontem. Há esperança para o tal, porque sua atitude torna possível para Deus dirigir sua vida.

3. O p o d er das boas pa lavras (Pv 17.17-22).As palavras têm o poder de ferir ou de curar

(Pv 17.18). Quando usadas de forma áspera, agem como uma espada. Podem ser armas letais. Usadas erradamente, podem ferir e matar. Já as palavras boas consti tuem sempre um bom remédio.

Algumas menti ras têm um período de vida bem grande, a ponto de a verdade ser muitas vezes crucificada por homens maus, mas Deus criou este mundo de tal maneira que só a verdade tem permanência suprema. Toda a falsidade será um dia exposta e aparecerá como realmente é.

A Sinceridade na Palavra

“Não saia da vossa boca nenhuma pa lavra torpe, mas só a que f o r boa p a ra p rom over edif icações, para que dê graças aos que a ouvem ” (E f 4.29).

A palavra é o grande meio de comunicação que Deus concedeu aos homens. Afirmando ou negando, a palavra envolve responsabil idade incalculável no convívio humano. Pode ser instrumento de jus t iça ou injustiça; de bem ou de mal; de amor ou de ódio; de louvor ou de maldição.

Usá- la fa lsamente negando ou disfarçando a verdade é que o mandamento condena, a fim de que as

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relações entre os homens tenham crédito. Aliás, a verdade é da própria natureza de Deus, que não pode mentir (Tt 1.2), e por isso Ele mesmo proíbe toda sorte de mentira entre os homens.

=> Não dirás fa l so tes temunho (Êx 20.16; Lv 19.16).Testemunhar a respeito de uma pessoa é

lazer declarações que envolvem o seu nome. O testemunho pode ser pres tado diante da jus tiça , e pode ser também dado no comum das conversas do dia a dia, ou nas transações, nos negócios, em que muitas vezes se depende de informações de terceiros sobre a idoneidade de alguém.

O mandamento proíbe que alguém usando lalsamente da pa lavra faça af irmações não verdadeiras, :i respeito de seu próximo, destruindo com isso, seu nome, sua reputação, e trazendo-lhe, não rara infelicidade.

Falso tes temunho em tribunal pode levar um inocente a condenação. Uma informação leviana sobre o caráter de uma pessoa pode arruinar-lhe a carreira.

Para que se dê esse falso testemunho, nem sempre é necessár io usar expressamente a palavra. Às vezes, basta si lenciar diante de uma inverdade. Outras vezes, um aceno, um gesto, pode produzir uma impressão deprecia tiva em alguém sobre outra pessoa. Deus quer que falemos a verdade honrando e icspeitando o nome alheio.

Mentira p o r br incadeira (Pv 26.18-19).A palavra é um dom sagrado. Não é para ser

usada em p i lh é r ia s1 que envolvam afirmações de i(.-sponsabilidades. Há muitos que gostam de fazer

' Dito engraçado e e sp ir i tuoso; chi ste; piada.45

afirmações falsas sobre outras pessoas para ver os resultados. É uma leviandade imperdoável , que não pode exist ir entre crentes em Cristo Jesus.

No texto indicado essas pessoas maldosas são comparadas a loucas que lançam de si faíscas. Essas pessoas são capazes de incendiar vidas, provocar grandes sofrimentos com sua leviandade a inocentes. Contudo, serão colocados diante do tr ibunal um dia.

=> Procedamos como novas criaturas ( E f 4.15-32).Os crentes em Cristo são novas criaturas e

formam um só corpo, logo, o tra tamento com os não crentes não pode admitir a mentira, porque somos novas criaturas e a mentira é a manifestação do homem carnal e satânico.

Quanto ao convívio com os irmãos, não podem mentir uns aos outros, porque somos membros uns dos outros e o amor que nos une impede de usar a falsidade. Além de dever falar somente a verdade, como servos de Cristo, o texto apresenta outros procedimentos que devem ter os crentes como novas criaturas, no tocante ao uso da palavra, a saber: não usar palavras torpes, de sentido grosseiro ou imoral, evitar a b lasfêmia, a palavra maliciosa, as discussões onde manifesta a ira, gri taria exaltada.

Enfim, o uso da pa lavra do crente deve ser feita cri teriosamente , falando somente o que for bom para promover a edificação dos que a ouvem.

=> O uso responsável da palavra .E não envolve apenas a verdade. Não deve

usar esse dom para aquilo que for fútil, grosseiro, prejudicial . A palavra deve ser temperada com sal, de modo a levar sempre ao outro alguma edificação, toda e qualquer forma de mentira deve ser abominada.

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Qualquer t ipo de mexer icos, intrigas, insinuações maldosas , segundas intenções nas expressões, desculpa para escapar de alguma responsabil idade e dissimulações, não passa de formas de mentiras e nem devem ser nomeados pelos santos.

Há pais que inst ruem seus filhos va lendo de várias mentiras. Quando as crianças percebem algumas delas, os próprios pais caem no descrédito das crianças.

Qualquer palavra que sair de vossa boca deve ser expressão da verdade cristalina, a mentira procede do diabo, ele nunca se firmou na verdade:

“ Vós tendes p o r pa i ao diabo, e quereis sat isfazer os desejos de vosso pai, ele f o i homicida desde o princípio, e não se f i r m o u na verdade, porque não há verdade nele; quando ele pro fere mentira, fa la do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e p a i da mentira” (Jo 8.44).

Aqueles que amam e cometem a mentira ficarão fora do reino de Deus, não poderão entrar nos céus: “Ficarão de f o r a os cães e os fe i t iceiros , e os que se prost i tuem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a ment ira” (Ap 22.15).

Julgados Pela Palavra

“Porque p o r tuas pa lavras serás just i f icado, c p o r tuas pa lavras serás condenado’’'' (Mt 12.37).

A Bíblia diz que o homem fala daquilo que o seu coração está cheio. Que o homem bom do seu bom lesouro tira coisas boas, e o homem mau de seu tesouro lira coisas más. O homem por suas palavras jus ti f ica-se ou condena-se.

Alguém chegou mesmo a pensar que a base do ju ízo será sem palavras. O homem condenado estará vendo e ouvindo a si próprio sem nenhuma condição de desculpar-se.

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♦ Juízo inescapável (Mt 12.33-37).Logo após a blasfêmia dos fariseus, é que

Jesus falou do pecado imperdoável . Jesus colocava o centro do mal no coração humano, e não nas forças dele. Mesmo as palavras de blasfêmia não seriam, afinal, sérias, se fossem apenas sons da boca, ou da garganta para fora.

Mas as palavras são sérias, pois vêm do coração, expressando o que a pessoa é, tanto quanto fala, mediante a analogia do fruto e do tesouro.

Jesus torna claro que é na vida que aspalavras e atos expressam o caráter, o que a pessoa é, que elas são importantes.

Uma árvore pode produzir frutos apenassegundo a sua espécie ou qualidade (Mt 7.16-20). Bom e mal não se refere a estado de saúde, mas a qualidade de frutos, comest íve is ou não. Uma pessoa pode t irar do seu tesouro só o que tem, seja bom ou mau. Jesusfaz uma clara dist inção entre um homem bom e umhomem mau, usando termos morais.

A pessoa é ju lgada até por toda palavra fútil, isto é, palavras o c io sa s1 e sem propósitos.

As palavras duras acerca de uma raça de víboras são dirigidas àqueles que, devido à cegueira espontânea, dizem que a obra de Deus é natureza da fonte de que procedem.

Sem dúvida, as palavras expressam o que a pessoa é, como no caso dos hipócritas (Mt 7.21-23), mas as palavras acompanhadas de atos, na verdade, podem revelar o que uma pessoa é, especialmente palavras costumeiras e não premedi tadas , que refletem padrões, pelos quais a pessoa inconscientemente

1 Que não trabalha; de soc upa do; inat ivo.48

desvenda os seus pensamentos , sentimentos e valores. Jesus não está dizendo que o bem e o mal estão no coração, de onde vem a palavra.

As palavras revelam profundamente o caráter de uma pessoa e também o seu estado de espírito.

♦ O per igo das pa lavras ociosas (Mt 12.36).Há muitas pessoas com grandes

responsabil idades espir i tuais que não tem pesado bem suas palavras, usam gírias e não tem parado para pensar nos perigos das pa lavras ociosas.

Gíria é vocabulá rio demoníaco. Quantas gírias são usadas no dia a dia de muitas pessoas e até nos púlpitos!

Pornografia parece ser um mal incurável para muitos, usam-nos em palavras e até com gestos. Conscientemente ou inconscientemente qualquer palavra ou gesto ocioso, será levado a juízo: “Mas eu vos digo que toda a p a la vra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do ju ízo . Porque p o r tuas pa lavras serás condenado ” (Mt 12.36-37).

Quando a tribo de Efraim quis fazer guerra a Jefté por não terem par tic ipado da grande vitória deste guerreiro, sendo derrotado por ele, tentaram fugir da morte, mas quando ten ta ram atravessar os Vales do Jordão, t inham que passar por um teste: pronunciar uma palavra que eles não conseguiam falar (Jz 12.6). Com isto provaram que eram da tribo de Efraim, sendo assim, ju lgados pela palavra.

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Questionário

■ Assinale com “X ” as al ternat ivas corretas

1. É errado:a l_j O pensamento é impuls ionado por sugestões

verbaisb ) 0 Já se tornou normal conhecer os pensamentos

sem as palavras que expressam as idéiasc ) D Toda a cooperação entre os seres humanos

depende, para seu sucesso, da comunicação verbald)|_J O caráter é reve lado pela l inguagem

empregada pelo indivíduo

2. Tiago 1.19 diz que todo homem estejaa)l I Pronto para estudarb ) |_| Pronto para falarc ) 0 Pronto para ouvird ) |_| Pronto para pregar

3. É incoerente afirmar que:a)l_| As palavras revelam profundamente o caráter

de uma pessoa e também o seu estado de espíri totOl_1 O homem sábio é aquele que está pronto para

ouvir antes de emitir os seus conselhosc)l J Uma pessoa que admite estar errada está

dizendo que é sábia hoje mais do que era ontem d l Q " Para que se dê falso testemunho, sempre é

necessár io usar expressamente a palavra

■ Marque “C” para Certo e “E ” para Errado

4. O A Bíblia diz que o homem fala daquilo que o seu coração está cheio

5. H A pessoa só não será ju lgada pelas palavras fúteis, isto é, palavras ociosas e sem propósitos

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A Palavra do Cristão

“Seja, porém, o vosso fa la r : Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna” (Mt 5.37).

A palavra do cristão não se caracteriza pela ambigüidade e mesmo inverdade, mas pela expressão dos verdadeiros sentimentos do seu coração.

As palavras possuem uma importância tal, cpie os gregos as consideravam como objetos l i teralmente sólidos, e que, ao serem pronunciadas, eram capazes de atingir a alguém. Por isso, os homens costumavam conf irmar suas palavras com juramentos .

Os judeus, por exemplo, t inham o hábito de jurar por qualquer coisa a fim de que suas palavras íossem aceitas como verdadeiras. E sempre ju ravam utilizando uma “te rceira pessoa” : “ Juro pelos céus” , ou “Juro pela te r ra” .

Os juramentos , naquela época, serviam como uin penhor para dete rminados compromissos. Jesus deixou claro que se nós formos pessoas firmes em nossas palavras, não precisaremos ju ra r por terceiros para que a nossa palavra seja tida como verdadeira. Nossa palavra deve ser “ sim, s im ” , “não, não” .

Jesus condenou taxat ivamente a vu lgar ização1 dos ju ramentos para confi rmar uma palavra dada a alguém, pois até o que é sagrado (o nome de Deus, por exemplo), naquele tempo, era usado para conf irmar si tuações normais e, em alguns casos, até comprometedoras.

Além disso, certos ju ramentos podem obrigar os homens a agirem, em determinados momentos , de

1 Tornar vu lgar ou notór io , di fundir .51

forma contrária ao que juraram. Isto porque, nem sempre eles estão dispostos a arcarem com os efeitos de um juramento inconseqüente. Outrossim, os nossos juramentos são relativos diante daquEle que tem todo o poder sobre o Universo. Nossas palavras são finitas e se esgotam em nossas próprias l imitações.

O que levaria o Mestre a tocar nesse assunto? Podemos inferir duas razões:

■ Para que os crentes refl i tam na responsabil idade e l imitação de suas palavras; e

■ Saibam quando deverão, com prudência, dizer, “ s im” ou “não” .

O compromisso com a palavra empenhada é uma área extremamente significat iva para os re lacionamentos . Não poderia ter sido diferente porque a pa lavra é a força p ro p u lso ra 1 da engrenagem humana, tanto para o bem quanto para o mal. Ela é o instrumento que aciona grandes negócios, constrói sólidas amizades, aproxima as nações, mas, ao mesmo tempo, pode ter efeito devas tador2, dependendo . da forma como é empregada. Daí a sua importância no contexto da ética pregada por Cristo.

1. A relatividade dos juramentos .

1.1. Rela tiv idade ante a grandeza divina.Na passagem bíb lica em apreço destaca-se

outra vez a expressão: “ouvistes que f o i dito aos antigos” (Mt 5.33), em alusão à forma estri tamente legalista como os fariseus in terpre tavam a lei mosaica, agora na questão dos ju ramentos . E tanto que o princípio farisaico ao qual Jesus se reporta nesse

1 Que im pe le para diante.2 A qu e l e que destrói , dani f i ca .

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versículo não aparece daquela forma em nenhuma parte do AT (ver Êx 20.7; Lv 19.12; Nm 30.2; Dt 5.11; 23.23), consti tuindo-se, portanto, apenas numa interpretação es tr i tamente juríd ica que os doutores da lei t inham do Pentateuco.

Quando o Mestre quest iona essa abordagem, não está pondo em dúvida o dever de manter-se o compromisso com a palavra empenhada, nem está admitindo o p e r jú r io 1.

O que está sendo argüido pelo Senhor é a vulgarização dos ju ramentos , isto é, a forma desrespeitosa de usar o sagrado (o nome de Deus, por exemplo, em Mt 5.34) para leg i t imar2 si tuações da rotina diária (às vezes comprometedoras), onde a palavra de cada um deveria ter o peso do caráter de quem a profere. É o que a Bíblia identif ica como tomar o nome de Deus em vão (Êx 20.7).

Era comum, entre os judeus, ju ra r pelo altar, pela oferta, pelo templo, pelo ouro do templo e por Jerusalém, a cidade do grande Rei. Quanto mais importante o objeto do juramento , maior significado linha o compromisso.

Até mesmo o céu era invocado por testemunha entre as partes (ver Mt 23.16-22). Mas como pôr o trono do Altíssimo como avalista de nossas palavras, se apenas o Deus eterno tem o controle absoluto e soberano do tempo para determinar o rumo da história?

1.2. Rela tiv idade ante as circunstâncias.Estas superam o poder das nossas palavras e

nos colocam muitas vezes em si tuações que nos impedem de agir da forma como desejávamos.

1 Juramento fa l so.Tornar l e g í t im o para todos os e f e i t o s da le i , legal izar.

53

O próprio Mestre levanta a questão, quando afirma: “Nem ju ra rá s pe la tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco em p r e to ” (Mt 5.36).

Ora, se nos faltam condições de determinar o efeito das circunstânc ias do tempo sobre o nosso organismo, como firmar nossas palavras em nome de alguma coisa sobre a qual não temos controle?

Chega-se, portanto , à seguinte conclusão: nenhum juramento garante que as nossas palavras serão cumpridas, por maior valor que tenha o símbolo sagrado para firmá-lo. Eis a razão pela qual o Senhor nos ensina a evitar esse recurso para garanti r o que estamos falando. Ensino este, que Tiago repete em sua epístola (Tg 5.5).

A verdade é que já naquela época, como também nos dias de hoje, o uso ind isc r im inado1 dos ju ramentos tornou-se um recurso sem credibil idade porque passou a ser uma forma de tentar legit imar a mentira. Normalmente , quando alguém precisa “ju ra r” por alguma coisa é porque a “ sua verdade” está desacreditada.

2. O domínio pessoa l no uso da Palavra.

2.1. A p rudênc ia da reflexão.Verifica-se, mais uma vez, agora quanto à

palavra do cristão, que a essência do ensino de Cristo não está na forma ou nos símbolos exteriores de compromisso com a verdade, mas nas ati tudes do coração. Um símbolo (ou ju ramento ) nada representa se o propósito para o qual aponta não estiver revestido de legit imidade.

Portanto, o que Jesus procura realçar é a necessidade do domínio pessoal para que a nossa

1 N ão d i s t ing uid o , não separado.54

palavra tenha o peso correspondente à ser iedade com que l idamos com as si tuações da vida. Aqui entra a prudência da reflexão. E o “estarmos prontos para ouvir” , conforme Tiago 1.19.

Temos a tendência de falar mais do que devíamos e ouvir menos do que precisamos. Isto contribui para a perda da capacidade de refletir , resultando freqüentemente em afirmações precipitadas ou mesmo fraudulentas que não passam na prova da verdade.

2.2. A prudênc ia do auto-exame.Por conseguinte, aquele que reflete antes de

fazer qualquer tipo de pronunciamento jamais deixará de submeter-se ao auto-exame da consc iência para medir os efeitos de tudo quanto possa estar engendrando em seu coração (cf. Gn 6.5; Lc 6.45). Isto porque a palavra é apenas um meio de trazer à tona aquilo que foi previamente art iculado nos e scan in h o s1 do pensamento.

' • 2Mesmo que haja hipocris ia ou astúcia no que está sendo dito, tudo é premeditado para que o ouvinte tenha as melhores impressões e acredite piamente tratar-se da verdade.

2.3. A prudência do domínio verbal.Tal atitude leva a outro comportamento: a

capacidade de dominar a l íngua, cujo efeito o apóstolo Tiago compara à força do pequeno leme de uma nau, capaz de conduzi- la de um lado para outro ao menor movimento dos braços do piloto (Tg 3.1-12).

1 Re c a nt o , e sconder i jo ; p eq u e n o com part imento , gera lmente secreto , em caixa , gaveta , cofre .2 Hab i l idad e em enganar, manha, art imanha, malíc ia .

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Ter domínio verbal não significa calar-se, tornar-se alienado ou deixar de posicionar-se quando as c ircunstâncias o exigem. Significa, isto sim, estar consciente de que há tempo para todas as coisas, entre elas o ato de falar, com as seguintes implicações:

■S Falar na hora certa;•S Falar quando for necessár io;S Falar apenas o indispensável ;S Falar com sinceridade;■S Falar para construir , e,S Medir as conseqüências do que fala (ver Tg 5.5).

3. A pa lavra do cristão.

3.1. Quando é poss íve l d izer sim.Com isto em mente, chegamos ao âmago do

ensino de Cristo sobre a palavra do cristão (Mt 5.37). Aqui está implícita a idéia de firmeza em nossa comunicação pessoal, de maneira que a nossa palavra em si baste, sem qualquer juramento , para firmar os nossos compromissos. Sem nos esquecermos, por outro lado, de ponderar as circunstâncias, as nossas limitações e a soberania de Deus sobre todas as coisas (ver Tg 4.13-15).

Tal discernimento nos dará condições não só de saber a hora de dizer sim, mas a forma de (e quando) fazê-lo, para que sejamos capazes de cumprir com as nossas obrigações.

3.2. Quando é indispensável dizer não.Ter essa firmeza de decisão, por conseguinte,

levar-nos-á a dizer não, com amor, sempre que for indispensável , mesmo que, para alguns, não seja uma ati tude fácil.

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Por faltar ao sacerdote Eli a capacidade de dizer não aos pecados dos filhos, Israel sofreu um de seus mais re tum ban te s1 fracassos e perdeu a glória de Deus (cf. 1 Sm 3.10-14; 4.1-22).

3.3. A procedência maligna da duplicidade.Mas, na verdade, a idéia que Mateus 5.37

deixa transparecer é que em nenhuma circunstânc ia jamais devemos mentir , nem usarmos de duplic idade

'em nossas posições, mas assumir a responsabil idade de nossa palavra no tocante a todas as áreas de nossa vida.

A chamada posição de neutral idade - nem contra, nem a favor - sempre foi condenada pelas Escrituras (“é de procedência m al igna”), pois revela muitas vezes ausência de caráter, falta de compromisso

ic mero oportunismo (cf. Ap 3.16).Temos de assumir nossos erros e acertos e

encará-los de frente com a responsabil idade de quem tem, sobretudo, compromisso com a verdade diante de Deus. Em questões de fé, por exemplo, não há meio- termo: ou estamos do lado da verdade ou contra ela.

Assim, contrariando os fariseus, o Senhor Jesus expôs a correta in terpre tação da lei mosaica quanto aos ju ramentos para demonst rar que a essência da vida cristã não está nas formalidades de alianças que nem sempre refle tem a verdade do coração.

O Dever Correspondido

“Nem todo que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que f a z a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7.21).

Os verdadeiros seguidores são reconhecidos pela obediência e não pelo devotamento.

1 A qu i lo que é re f l et ido com es trondo , que ecoa , ressoa.57

Jesus veio a dar o verdadeiro sentido da lei. Assume assim uma autoridade super ior aos profetas do AT. Estes disseram; “Assim diz o Senhor”, Jesus disse: “Eu vos digo” .

Paulo mostra que aquilo que vigora da lei é a parte ética e não a cer imonial ( I C o 7.18.19; Cl 2.16). Por isso Jesus pode falar em guardar os seus mandamentos (Jo 14.15). E Paulo em cumprir a lei de Cristo (G1 6.2).

♦ A fa l ta de relacionamento (Mt 7.21-23).Pode parecer que este parágrafo oferece uma

escolha simples entre dizer e fazer, mas não é este o caso. Os que aqui foram reje itados foram tanto os que falavam quanto os que faziam. Eles disseram: Senhor! Senhor! e faziam obra religiosa, profetizavam, expulsavam demônios, e rea lizavam milagres e feitos poderosos.

Os atos requeridos são o fazer a vontade de Deus, e não meramente realizar atos e ritos religiosos, por impressionantes que sejam.

Para muitos que dizem: “ Senhor! Senhor!” , e fazem coisas sensacionais como profecia, exorcismo, milagres ou grandes feitos, e que não serve para glori ficar a Deus, o veredicto, no Juízo Final será: “Nunca vos conhec i” (Mt 21.22). Não é que uma vez eles t ivessem sido conhecidos, depois esquecidos, eles nunca haviam entrado em um re lacionamento salvador em Cristo.

Ao “ fazer” que é requerido além de “dizer” , claramente não é igualado com ortodoxia, profecia, exorcismo ou milagre.

A entrada no Reino dos Céus é prometida apenas para os que fazem a vontade do Pai celestial (Mt 6.10).

58

O Evangelho de Mateus te rmina com esta nota: “Ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho ordenado” (Mt 28.20).

^ Os dois fu n dam en tos (Mt 7.24-27).Só o que obedece é prudente e por isso tem

um fundamento sólido ( IC o 3.11). Esse fundamento suporta tormentos, os desapontamentos e a perseguição. Todos os homens estão edificando. Todos estão procurando terreno para edificar. Todos sofrerão a prova da resistência.

Esta é a conclusão do sermão da montanha, Jesus sabia que muitos o tra tariam como Ezequiel foi tratado (Ez 33.31). O acontecimento precisa tornar-se ação; a teoria, prática; e a teologia, vida.

A autoridade é respei tada pe la obediência (Mt 21.28-32).

A entrada tr iunfal de Jesus em Jerusalém e a pur if icação do templo causaram grande indignação aos l íderes religiosos presentes. Eles perguntaram: “ Com que autoridade fa ze s tu estas coisas? E quem te deu tal au tor idade?” (Mt 21.23).

Com três parábolas Jesus mostra o que consti tui respei to à autoridade: Obediência.

Trata de dois f ilhos a primeira parábola da série. Ambos eram imperfeitos. Nenhum deles era a espécie de filho que trazia alegria perfe ita ao pai. Mas a atitude de um foi melhor que a do outro. O primeiro representava os israeli tas que se consideravam jus tos , respondendo sim a ordem do pai para trabalhar. Trata o pai com cortesia, mas não com obediência.

Cortesia que não vai além das palavras é ilusória. Ass im também foram os israeli tas. Eles promete ram obediência , mas falharam.

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I i |)i i.i i ivsposllr do segundo filho: “Não 11111 tu l' ■ 11■ ' iilii iii|iii os piibIicanos e meretrizes,11111 ii u-lmlo 11( indo .1111111<> que é vil, repugnante e alheio ao seminu nlo puro c palriolico.

Mas esses csl;lo mais cônscios do pecado e se ar rependem mais prontamente . O ponto central aqui é que a autoridade é respeitada pela obediência, não com meras palavras.

Há pessoas cuja profissão de fé é melhor que sua prática. Prometem muito, aparentam piedade e fidelidade. Mas esquecem de por isso em prática.

Como podemos saber a vontade de Deus? A Bíblia é a primeira fonte. Muitas vezes ela não nos dá tudo pronto. Dá princípios. Ela é como “uma candeia que alumia em lugar escuro” (2Pe 1.19).

A verdade só pode ser reconhecida pela prática. Palavras não substi tuem a prática. Podemos confessar a Deus com nossos lábios e negá-lo com a prática (Tt 1-16). Recitar um credo não é suficiente, é preciso viver a palavra.

Não adianta usar vocabulário cristão, part ic ipar de suas atividades. A fé é demonstrada pela obediência.

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Questionário

■ Assinale com “X ” as alternat ivas corretas

6. “ Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência m al igna”a ) D Mateus 5.37b)LJ Marcos 4.5c) |_1 Mateus 5.7d) |_| Tiago 5.7

7. É coerente afirmar que:a ) |_| O juramento garante que as nossas palavras

_serão cumpridasb)|_l Os judeus combat iam a prática de juramentosc ) D O uso do sagrado em juramentos , é o que a

Bíblia identifica como tomar o nome de Deus em vão

d ) D Sempre que alguém “ju ra ” por alguma coisa, realmente está falando a verdade

8. Paulo mostra que aquilo que vigora da lei é a parte:a I_I Lógica e não a cer imonialb ) 0 Lógica e não a éticac)[x| Ética e não a cer imoniald)l I Doutr inária e não a ética

■ Marque “C” para Certo e “E ” para Errado

9. O A chamada posição de neutra lidade - nem contra, nem a favor - sempre foi condenada pelas Escrituras

10. O A verdade não pode ser reconhecida pela prática. Palavras subst i tuem a prática

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Lição 3Teologia do Obreiro - Parte 1

A Chamada Universal

Há um sentido em que todos os crentes são chamados para pregar ou proc lamar o Evangelho. Em ICorint ios 12.13 somos lembrados de que, por um Espíri to, todos fomos batizados em um corpo, tendo bebido todos do mesmo Espíri to.

A vida e a na tureza de Jesus Cristo (o cabeça da Igreja) se carac te rizam pelo amor às almas perdidas e por um intenso espíri to de evangelização (Lc 19.10). Se nosso Senhor como a cabeça da Igreja derrama sua vida pelos perdidos e continuamente busca salvá-los, obviamente o corpo que partic ipa da mesma vida e natureza da cabeça visará a salvação dos perdidos . Tudo que ficar aquém disso provará, em igual medida, a falta de relação vital entre o corpo e a cabeça.

A mesma figura é usada em Romanos 12.4, onde se declara que em Cristo, somos um só corpo, e que, estando em Cristo, par t ic ipamos de Sua própria vida e natureza.

A ilustração da v id e i r a 1 e seus ramos é empregada em João 15.1-8. Posto que Ele é a videira e nós os ramos permanecemos n ’Ele e d ’Ele sorvemos a

' Trepade ira l enhosa , da fa mí l ia das v i t áce as (V i t i s v in i fera) , cu l t ivada no mundo inteiro por seus d e l i c i o s o s f rutos , as uvas .

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própria vida que nos sustenta, dotados dessa vida, damos fruto para a videira. Somos meros canais,através dos quais a s e iv a 1 vital da v ideira corre,visando à produção do fruto.

Aquela dist inção entre ministros e leigos, que afirma ser a obra de evangelização reservada aos ministros exclusivamente, é totalmente contrária ao ensino da Palavra e aos desejos de Cristo. Em sua mensagem às Igrejas de Efeso, e de Pérgamo, o Senhor declarou, sem rodeios, que abomina as obras e a doutrina dos n icola itas (Ap 2.5,15).

Conforme se pensa, esse era o nome de umaantiga seita cristã que ens inava que os leigos deviamser dominados , e que os minis tros deviam m onopo l iza r2 o minis tério cristão. Mas o Senhor mesmo declarou abertamente em Mateus 23.8; “ ... todos vós sois i r m ã o s Sem dúvida aqui ensinava que, entre os membros do seu corpo devem preva lecer a fraternidade, a camaradagem e a democracia dirigida pelo Espíri to Santo.

Portanto, a bem def inida vontade de Deus é que a grande paixão evangelís t ica de nosso Mestre divino não se limite ao ministér io oficializado, mas antes, encontre expressão mediante cada membro de seu corpo.

Quando o Senhor enviou seus p r m e i r o s discípulos a pregar o Evangelho por todo o mundo, deu-lhes instruções acerca dos no.vos convertidos. Aos apóstolos foi ordenado claramente que fossem por todas as nações a ensinar (Mt 28.19), ou que fossem por todo o mundo a pregar o Evangelho a toda a criatura (Mc 16.15,16), e também que o

1 Líquido c o m p le x o que c ircula no org an ism o vegeta l .2 P ossu ir ou desfrutar em caráter ex c lu s i v o ; tomar e x c lu s iv a m e n te para si:

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arrependimento e a remissão de pecados deveriam ser pregados em seu nome, entre todas as nações, começando por Jerusalém (Lc 24.47). Ass im sendo, não há dúvida de que os apóstolos foram comissionados a anunciar o Evangelho da Salvação a todas as nações e a cada ser humano.

Mateus 28.20 declara francamente que depois de os recém-convert idos haverem sido ba tizados em água, em nome do Pai, e do Filho e do Espíri to Santo, deveriam ser ensinados a observar tudo quanto Ele lhes havia ensinado. Por tanto , a ordem de evangelizar o mundo, que foi orig inalmente dada aos pr imeiros discípulos, saída dos lábios de Jesus, dever ia ser transmit ida pelos discípulos a cada novo convertido.

Isso quer dizer que nós como seus convertidos r e m o to s 1, somos semelhantemente instruídos a pregar o Evangelho a todas as nações e a cada criatura. De fato, o Senhor nos t inha em vista em Sua grande oração Sumo-sacerdotal , ao dizer:

“Não rogo somente p o r estes, mas também p o r aqueles que vierem a crer em mim, p o r intermédio da sua p a la v ra ” (Jo 17.20).

Todos os crentes recebem o poder da própr ia autoridade do Senhor para operarem as mesmas obras que Ele realizou, e maiores ainda (Jo 14.12). Os sinais que os obreiros cristãos devem possuir parale lamente ao seu ministério, em real idade seguirão “aqueles que crêem” (Mc 16.17).

Note-se que não é dito nessa passagem, “estes sinais seguirão os apóstolos ou pregadores” , mas a promessa é dirigida aos que derem ouvidos - os homens, de todo o mundo, que crerem e forem salvos.

1 Que su ce d e u há mui to t empo; antigo , lon g ín qu o65

A esses convertidos, tantos os primeiros como aos últimos, é que foi dada esta promessa dinâmica: “Estes sinais hão de acompanhar aqueles que c rêem ” .

É especificamente ensinado que o batismo no Espíri to Santo é uma unção divina para a pregação do Evangelho até aos confins da Terra. “ ... recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da Terra” (At 1.8).

Pedro em Atos 2.39 assevera com clareza que o batismo no Espíri to Santo não se destinava apenas aos judeus que o ouviram naquele dia de Pentecostes, mas antes, é “para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor nosso Deus chamar” . Assim pois, todos quantos têm sido chamados por Deus, do pecado para a salvação têm o direito de receber o batismo no Espíri to Santo, que é a dádiva de poder para que test if iquem do Evangelho.

Cento e vinte crentes, incluindo pregadores e leigos, receberam esse batismo no Espíri to no dia de Pentecostes. Milhares de outros crentes, poster iormente conver tidos, permaneceram inaba láve is1 na doutrina e comunhão dos apóstolos.

Aqueles e a todos quantos acolhem esse glorioso batismo no Espíri to Santo é dada essa cristalina instrução de que todos devem ser testemunhas do Evangelho de Cristo. Todos os crentes são dotados para o serviço cristão instruídos a trabalhar para Deus.

Esta afirmação fica devidamente comprovada pelo fato de os discípulos (exceto os apóstolos),

1 Que não pode ser abalado. F irme , f ixo , arraigado, constante.66

trabalharem por toda parte na pregação do Evangelho, quando da dispersão por ocasião da morte de Estevão (At 8.1,4). Nessa opor tunidade não eram os apóstolos que pregavam, e sim, todos os demais conver tidos, ou seja, os membros da Igreja Apostól ica, os quais não cessavam de proclamar o caminho da salvação.

Os dispersos chegaram até Antioquia , pregando a Palavra. A notável igreja missionár ia de * Antioquia foi fundada por pregadores que não eram pastores. “A not íc ia a respeito deles chegou aos ouvidos da Igre ja em Jerusalém; e enviaram Barnabé até Ant ioqu ia ’’'’ (At 11.19-22).

Esse plano de evangelização inaugurado por nosso Senhor e praticado fielmente pela Igreja Primitiva, resultou na proc lamação do Evangelho a toda criatura daquela geração.

“ ... pa lavra da verdade do evangelho, que chegou até vós; como também em todo o mundo está produzindo f ru to e crescendo, tal acontece entre vós, desde o dia em que ouvistes e entendestes a graça de Deus na verdade... se f o r que permanece is na fé, alicerçados e f i rmes , não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouviste, e que f o i pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei m in is tro” (Cl 1.5-23).

Desta maneira, já foi demonst rado que, mesmo sem o auxíl io das invenções no campo da comunicação e das conveniências da vida moderna , a mensagem da salvação pode ser levada ao mundo inteiro de forma a que toda uma geração venha a ouvir o Evangelho mediante o testemunho pessoal dos membros da Igreja. “Mas pergunto: Porventura não ouviram? Sim, p o r certo: Por toda a Terra se f e z ouvir a sua voz, e as suas pa lavras até aos confins do mundo” (Rm 10.18).

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Como é óbvio, nem todos obedeceram ao Evangelho, mas a despeito disso, por toda a terra se fez ouvir a voz dos crentes, e suas palavras até as extremidades da Terra.

Aqui vemos um desaf io e uma condenação aos crentes evangélicos de cada geração que não tem tido a visão, a fé ou a consagração necessária para obedecer ao Senhor e seguir o exemplo de seus antepassados espiri tuais apostólicos. Nisso também nos é dado ver a eficácia e a operosidade da norma de manter cada membro da Igreja ativamente atarefado no testemunho em favor de Cristo, propagando o Evangelho por onde quer que ande.

Se a presente geração de crentes, tanto de pastores quanto de membros das igrejas, est ivesse tão cheio do Espíri to Santo como aquela primeira geração, ainda que o mundo de hoje contasse com deis bilhões de habitantes, o Evangelho seria pregado a toda a massa humana.

Chamada Específica

Sem contradizer a premissa exposta nos parágrafos anteriores, podemos fazer ainda uma outra declaração que, a princípio, poderá parecer contraditória ao que acabamos de afirmar.

Já dissemos antes que, em certo sentido, cada membro da Igreja Cristã é chamado para anunciar o Evangelho. Mas, neste ponto queremos afirmar a existência de uma chamada específica para pregar.

Certas pessoas têm sido escolhidas pelo Senhor para servir de modo definido e marcante, como propagadores da fé. Antes de comprovarmos essa afirmação por algumas passagens bíblicas, vejamos primeiramente se compreendemos a razão e a

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necessidade disso, j á que há ha rmonia e não contradição, no fato de que todos são chamados, mas a lguns especialmente convocados.

Uma grande empresa anuncia que precisa de trabalhadores . Em resposta , cerca de cem homens se apresentam no escri tório em busca de colocação. Todos são aceitos e recebem ordem de se apresentarem ao chefe na manhã seguinte. Ao chegarem, o chefe dist r ibuiu serviços a cada um.

Foram “cham ados” no dia anterior, mas agora a cada um deve ser designada a sua tarefa individual. Quando um grupo de operários é contratado para construir um edifício, por exemplo, a cada um deve ser atribuído um serviço específico, pelo construtor, e o mestre de obras.

Diferentes especia lidades são necessár ias, desde o arquiteto e o desenhis ta até o construtor, os pedreiros , os carpintei ros , os eletricistas, os rebocadores e os serventes.

Grande variedade de atividades é requerida para que uma obra seja terminada. E cada fase da construção deve ser harmonizada e integrada de forma a não haver repet ições desnecessárias , e nada deixado por fazer.

O Senhor Jesus Cristo é verdadei ramente o “Senhor da Seara” (Mt 9.38). Ele é o proprietário que sai pela manhã a fnn de contra ta r trabalhadores para a Sua vinha (Mt 20.1). Ele está incumbido de evangelizar o mundo, e precisa de um grande exército de trabalhadores para realizar a tarefa. E mister uma variedade de minis térios a f im de ser alcançado o alvo.

A Ele cabe a gerência total e o p lanejamento que visam a terminar, de maneira segura e eficaz, essa grande obra. Ele precisa de missionár ios e evangelis tas na l inha de frente. Prec isa daqueles que devotam sua

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vida à oração. Ainda necessita de outros que sejam liberais nas finanças que sustentem os obreiros na frente.

Fazem-lhe falta tanto os que vão aos campos, como os da re taguarda. Não pode prescindir de professores e membros da Escola Bíblica Dominical , de diáconos, de presbíteros, de porteiros e de l íderes de jovens, cada crente tem seu próprio trabalho, que lhe é de terminado pelo Senhor da Seara.

Faz parte do privilégio e dever de cada membro da família de Deus, de cada obreiro da vinha do Senhor, receber a tarefa específica que o Mestre lhe deseja entregar. A alguns, Deus chamará para o ministério de tempo integral , que lhes absorva todas as energias. Contudo, Ele chama a todos os crentes para servirem conforme a capacidade de cada um.

Variedades de Ministérios

“E como pregarão se não fo rem enviados?” (Rm 10.15). “Porque assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma operação, assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros. De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada: se é profecia, seja ela segundo a medida da f é ; se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, f a ça -o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria'1'’ (Rm 12.4-8).

Por isso diz: “ Quando Ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro, e concedeu dons aos homens. .. e Ele mesmo concedeu uns p a ra apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pas tores e mestres” (E f 4.8,11).

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O terceiro capítulo de 1 Timóteo começa com a descrição dos presbíteros ou bispos, e o oitavo versículo introduz os diáconos e as caracter ís t icas do seu ministério. Assim, nesse capítulo, dois níveis ou espécies de minis térios são indicados. E em ICorínt ios 12.11 e 18 ficamos sabendo que o Senhor dispôs os membros no corpo, segundo a Sua vontade.

Uma interessante revelação quanto aos propósitos e ao plano de Deus nos é outorgada nos pr imeiros seis vers ículos do capítulo 31 de Êxodo. Bezalel e Aoliabe foram chamados por nomes e foram dotados do Espíri to de Deus para que recebessem habil idade em toda obra.

O serviço deles consist ia em obra mecânica especializada, em trabalhos em ouro, prata e bronze, e em lapidação de pedras preciosas. Nesse caso encontramos homens especif icamente chamados e até mesmo cheios de Espíri to Santo, a fim de se tornarem artesãos habili tados.

A tarefa secular deles foi determinada por Deus. Isso revela claramente que Deus chama alguns para o trabalho secular, e os habil i ta para o mesmo. Portanto, pode-se esperar que Ele continue chamando muitos, na Igreja, para serem hábeis em serviços seculares.

Obreiros Meramente Profissionais

Os primeiros discípulos foram tirados de suas ocupações diárias, segundo está escri to em João1.35-51 e Mateus 4.19. O jovem Davi, em 1 Samuel 16.12, foi ungido com óleo para que pos ter io rmente se tornasse rei de Israel.

Mui especif icamente , do mesmo modo, o apóstolo Paulo foi chamado e escolhido para anunciar o nome e a autoridade de Cristo perante os gentios, os

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reis e os fi lhos de Israel (At 9.15). E assim, na própria Escritura, há precedentes de chamados divinos para ministérios de tempo integral.

Não há dúvidas que Deus opera dentro desse padrão até o dia de hoje. Que aqueles que pensam em dedicar suas vidas in te iramente ao serviço cristão, tenham o cuidado de es tarem certif icados de que possuem indicação específica a respeito, da parte do Senhor da Seara.

A chamada falsa (que é o mesmo: correr sem ter sido enviado), é questão séria. “Assim diz o Senhor Deus: Ai dos profe tas loucos, que seguem o seu próprio espíri to sem nada ter v is to / . . .” . “Tiveram visões fa l sa s e adiv inhações mentirosas os que dizem: O Senhor disse; quando o Senhor os não enviou; e esperam o cumprimento da Pa lavra” (Ez 13.3,6).

Aimaás ficou tomado pelo entusiasmo do momento e pelo exemplo de Cusi, o etíope, o mensageiro escolhido. E rogou a Joabe que lhe fosse dada permissão para correr, Joabe retrucou: “Para que agora correras, tu meu f i lho , pois não tens mensagem... conveniente” (2Sm 18.22). Mas mediante a insistência, Joabe consentiu a Aimaás que fosse, e correu tanto que chegou à frente do verdadeiro mensageiro.

Ora, Aimaás era homem bom e cheio de zelo (2Sm 18.27), mas não t inha mensagem real, e o rei Davi, sem dar atenção, o pôs de lado. Quão inútil e embaraçosa foi à corrida! Porém, quando o Senhor se declara contra os profetas sem mensagem e sem visão, a atuação se torna muito mais séria.

Deuteronômio 18.20 declara: “Porém opro fe ta que presum ir de f a la r alguma palavra em meu nome, que eu lhe não mandei fa lar . . . esse pro fe ta será morto".

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Seria muito melhor passar a vida em uma tarefa secular, fazendo aquilo que é inofensivo, ainda que espir i tualmente inútil, do que se intrometer no sagrado terreno espiri tual.

Nadabe e Abiú entraram no antigo Tabernáculo levando fogo estranho; e da parte do Senhor saiu uma chama que os consumiu, e morreram perante o Senhor (Lv 10.1,2). Nem aos menos se permitiu ao pai (Arão), e aos irmãos que os lamentassem, porquanto isso daria a impressão de terem ficado do lado deles e contra Deus, que os julgara .

A observação geral leva-nos a concluir que há pessoas que escolhem o minis tério do Evangelho como profissão, a fim de adquir irem prestígio social e te rem oportunidade de exibir suas aptidões t r ibun íc ia s1 e sociais. A ocasião de dedicar-se à lei tura e ao estudo, uma vida re la tivamente fácil, e a posição social na comunidade, const i tuem grande atração para certos homens. Os tais monopolizam a chave do conhecimento; postam-se à porta do reino dos céus e ali não entram nem permitem que outros entrem (Lc11.52).

São l íderes cegos a guiar cegos, sem o conhecimento da vida eterna e das verdades do reino, e que ousam ocupar a posição de chefes e apascentadores das almas dos homens. Mas, desti tuídos de vida ou do conhecimento espiri tual , são incapazes de transmitir essas riquezas àqueles que os ouvem. Quão grande será a condenação destes, tanto da parte daqueles aos quais i ludiram, como da parte do Senhor, o ju iz de todos.

1 Que tem ares, m od o s , ou v o c a ç ã o ou talento de tribuno.73

Questionário

■ Assinale com “X ” as a lternativas corretas

1. Ens inavam que os leigos deviam ser dominados , e que os ministros deviam monopolizar o ministério cristãoa ) l_I Os zelotesb ) D O s essêniosc ) Q Os nicolaitasd ) l__1 Os saduceus

2. Começa com a descrição dos presbíteros ou bispos, e o oitavo versículo in troduz os diáconos e as caracterís t icas do seu ministér ioa ) [_I O terceiro capítulo de ITimóteob ) l_| O terceiro capítulo de 2Timóteoc ) l_J O terceiro capítulo de ICorínt iosd')! 1 O terceiro capítulo de 2Coríntios

3. É coerente dizer que:a)LJ Bezalel e Aoliabe levaram fogo estranho no

Tabernáculo e o Senhor os consumiub ) D Aimaás era homem bom e cheio de zelo, mas

_não t inha mensagem realc ) l_I Cusi foi chamado e dotado do Espíri to de Deus

para que recebesse habil idade em toda obrad) |_J Nadabe e Abiú foram mensageiros escolhidos

■ Marque “C” para Certo e “E ” para Errado

4 . r a A notável igreja missionár ia de Antioquia foi fundada por pregadores que não eram pastores

5.1_I Através de Bezalel e Aoliabe nos é reveladoclaramente que Deus chama alguns para o trabalho secular, e os habi l i ta para o mesmo

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O “Modo” da Chamada

♦ Um conceito espiri tual.O chamamento para a prédica do Evangelho

é uma concepção espiri tual . “ Ora o homem natural não aceita as coisas do Espír ito de Deus, porque lhe é loucura; e não po d e entendê-las p o r que elas se discernem espir i tualmente” ( IC o 2.14). Essa é uma daquelas “coisas do Espíri to de Deus” que o homem natural não pode compreender, mas que, não obstante, são perfe itamente claras e reais para o homem regenerado.

O Senhor mesmo afirmou, em João 10.27: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz” . Essa voz é inaudível para os ouvidos naturais, mas perfe itamente inteligível para o coração do homem, mas nascido do alto. Elias a ouviu, tendo-a denominado de “ Voz mansa e delicada” ( lR s 19.12). E Isaías escreveu: “ ... os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra , dizendo: Este é o caminho, andai p o r e le” (Is 30.21).

No mais profundo da alma do filho de Deus haverá uma voz meiga e suave que lhe chegará à consciência, e que lhe servirá de chamada para o serviço do Senhor, como se fosse de trombeta.

♦ Iniciativa divina.Via de regra, em todo o chamamento feito

por Deus, Ele próprio toma a iniciativa. “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pe lo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis f ruto , e o vosso fruto permaneça; a f i m de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo conceda” (Jo 15.16).

Talvez não tendo consc iência disso poderemos pensar, inicia lmente, que foi nossa

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apresentação voluntária para o serviço cristão que deu começo à nossa carreira nessa direção; mas o impulso inicial veio de Deus.

É absolutamente necessário compreender isso. E, se a iniciativa é d ’Ele, cabe-lhes também a responsabil idade por todo o empreendimento. Posto que Ele vê o fim desde o princípio , e conhece nossas possibi l idades e falhas, e apesar disso nos chama para o Seu trabalho, podemos concluir que Ele avaliou tudo e sabe que seremos úteis em sua seara.

O modo de o Senhor aproximar-se de alguém, para chamá-lo ao seu serviço, mui provavelmente será bem diferente do seu modo de agir com relação a outro. Exemplos:

■ El iseu estava lavrando no campo quando Elias passou e lançou sobre ele sua capa ( lR s 19.19);

■ Samuel veio ungir a Davi e chamou-o dos pastos de ovelhas para a cer imônia simples de unção;

■ Amós não era profeta, nem filho de profeta; era criador e plantador; mas o Senhor o tomou quando acompanhava o rebanho e lhe disse: “Vai, e profe tiza ao meu povo Is rae l” (Am 7.14,15); e,

■ Paulo recebeu uma visão celestial, mas Timóteo foi escolhido por ele, um pregador mais idoso, para que viajassem juntos na obra do evangelho (At 26.19 e 16.1-3).

Por conseguinte , não tentemos receber nossa chamada seguindo os padrões uti l izados em outros casos. Cada homem é uma criação distinta de Deus e tem o direito de ser chamado pelo Senhor de maneira individual. Que cada um se satisfaça com seu modo de ser chamado, e que o Senhor chame a cada obreiro de modo que lhe aprouver.

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♦ A direção do Espír ito Santo.Após o toque de Deus chamando, haverá um

cuidado divino conduzindo-nos na medida que seguirmos o Sumo-Pastor . Seguimos a Ele porque ouvimos a sua voz (Jo 10.27). O Senhor firma os passos do homem bom (SI 40.2). “ Guia os humildes na jus tiça , e ensina aos mansos o seu cam inho’’’’ (SI 25.9).

Não é declarada a maneira exata como o Espíri to Santo falou em Atos 13.2, mas a Bíblia afirma que o Espíri to Santo disse: “»Separai-me agora a Barnabé e a Saulo p ara a obra a que os tenho chamado’’’. E então, quando já estava em sua jo rnada missionária, o Espíri to Santo impediu que fossem para a esquerda ou para a direita, mas permit iu que seguissem sempre em frente (At 16.6-10).

A orientação do Senhor será sempre tão clara e definida como a sua chamada original .

♦ Aptidões naturais.O chamamento para o ministér io pode ser

analisado da seguinte maneira: antes da chamada, na maioria dos casos, haverá uma certa aptidão natural para o trabalho a que o Senhor nos tem chamado. É sempre conveniente ao obreiro que possua:

S Voz clara, que não seja difícil de ser entendida; ^ s Uma aparência pessoal agradável; e ainda mais,S Que disponha de certo grau de intel igência para 4/

pensar e expressar-se.

♦ Sensib il idade espiri tual.Como primeiro passo, 0 Senhor soprará

sobre nós o seu Espíri to, despertando em nós interesse e inclinação para 0 seu serviço. Logo esse desejo de nossa parte será acompanhado pelo senso de nossa incapacidade pessoal. Isso nos conduzirá a deixarmos a

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questão da nossa chamada inteiramente nas mãos do Senhor e a esperarmos n ’Ele. E logo a resposta divina nos será dada: não que por nós mesmos sejamoscapazes de pensar alguma coisa, como se par t isse de nós; pe lo contrário, a nossa suf ic iência vem de Deus” (2Co 3.5).

Ass im como o apóstolo Paulo começasse a sentir e a dizer: “ ... tudo posso naquele que me f o r ta le ce” (Fp 4.13). A nossa confiança em Deus não somente substi tuirá nossa possível autoconfiança, mas também encherá o grande vazio do nosso senso de inaptidão. A essa altura raiará também em nossos corações a elevada estima pelo trabalho que nos está destinado. Perceberemos que esse é o ministério e a vida mais importante que um ser humano pode ocupar.

Outras coisas são terrenas, mas esse é o serviço celestial . As ocupações seculares são temporárias; essa, porém, é eterna.

♦ Reconhecimento p o r outros.Ao se tornarem claras e definidas a chamada

e a direção de Deus, far-se-ão percept íveis certas expressões embrionárias do dom e do ministério que futuramente se exercerá:

S Os colegas e crentes em geral notarão a chamada de Deus que repousa sobre nós.

S Haverá a confirmação da chamada de numerosas maneiras, bem como a aprovação geral do nosso desejo de servir ao Senhor como ministro (obreiro).

S A consagração que o próprio Senhor inicia lmente nos propic iou será depois confirmada pela consagração da Igreja através de seus líderes.

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Esse é o plano de Deus para o desenvolvimento do ministério. Ele co n descendeu1 em ficar vinculado à Igreja, e os obre iros da vinha recebem assim uma dupla consagração.

Finalmente, a pessoa assim chamada não recuará diante de forte pressão que sente pelo trabalho: "... ai de mim se não p reg a r o evange lho" , disse o apóstolo Paulo. Todas as demais coisas serão como nada. Tal pessoa chamada não senti rá paz, nem prazer em qualquer outra atividade.

Preparação para o Ministério

A preparação para o ministér io pode ser encarada sob duas fases: Experiência e Educação.

Posto que qualif icamos a experiência como de muita importância. Ao considerarmos o cabeda l2 de exper iências que o pregador deve possuir ao preparar- se para o seu trabalho, levamos em conta as horas difíceis na vida que se destacam como pontos crít icos, bem como as experiências diárias de um crente maduro, que o qualif icam para aconselhar a outros que estejam passando por si tuações semelhantes.

♦ O novo nascimento. ^A exper iência fundamental do obreiro ou de

qualquer cristão, mui natura lmente, é o novo nascimento. Jesus ensinou: “Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não po d e ver o reino de D eus” (Jo 3.3).

1 Trans igir e spontan eam ent e ; ceder, anuir à vontade ou a o- rog o de a lguém.2 Conjunto de bens que formam o patr imônio de a lguém; riqueza, acervo.

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O homem natural jamais compreenderá as coisas do Espíri to de Deus, pelo que é absolutamente necessário que ao homem seja concedido a mente de Cristo, o qual confere o entendimento espiritual.

“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe é loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiri tualmente. Porém o homem espir itual j u l g a todas as coisas, mas ele mesmo não é ju lg a d o p o r ninguém. Pois, quem conheceu a mente do Senhor, para que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cris to” ( IC o 2.14-15).

Realmente o Senhor se aborrece com o indivíduo que presume falar a palavra de Deus quando ele mesmo é desobediente. Mas ao ímpio, diz Deus: “deque te serve repetires os meus preceitos e teres nos lábios a minha aliança, uma vez que aborreces a disciplina e rejeitas as minhas p a la vra s ?” (SI 50.16,17).

♦ O batismo no Espíri to Santo.Subseqüente à experiência do novo

nascimento, existe para cada crente o batismo no Espíri to Santo.

No dia de Pentecostes, Pedro disse: “Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espír ito Santo. Pois para vóí outros é a promessa, para vossos f i lhos , e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor nosso Deus chamar” (At 2.38,39).

Eis uma declaração def inida sobre o efeito do novo nascimento - além do arrependimento e do batismo em água, há o recebimento do Espíri to Santo, e note-se que esse dom do Espíri to Santo é para quantos forem chamados pelo Senhor nosso Deus.

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Os apóstolos em Jerusalém, não se contentaram em que os conver tidos de Samariapermanecessem por muito tempo sem o batismo no Espíri to Santo, mas enviaram-lhes Pedro e João, a f im de que lhes transmit is sem essa gloriosa experiência adicional (At 8.14-17). E o apóstolo Paulo indagou os discípulos de Efeso: “Recebes tes , porventura, oEspír ito Santo quando c res tes?” (At 19.2).

A pergunta não teria sentido se fosseimpossível crer sem receber o bat ismo no Espíri to Santo. Aos membros da Igreja de Éfeso, Pauloordenou: “ ... enchei-vos do Espír ito . . .” (E f 5.18). Desse modo é, fora de dúvida que o Senhor espera que cada crente seja batizado no Espíri to Santo, em adição à experiência cristã inicial de regeneração.

Ora, se fica provado que há o batismo no Espíri to Santo subseqüente à conversão e como exper iência prática dos primeiros cristãos, como benção adicional, como poderia alguém, com propr iedade, assumir a posição de líder, mestre e exemplo para os santos (tudo isso próprio de um ministro do Evangelho , natura lmente) , a menos que já tenha recebido o batismo no Espíri to Santo.

Sobre os apóstolos repousava a responsabil idade de pregar o arrependimento e a conseqüente remissão de pecados em nome de Cristo, entre todas as nações. Contudo, foi ordenado a não dar um único passo, na execução dessa divina comissão dada pelo Senhor, enquanto não t ivessem o revest imento espiritual necessár io, a saber, o batismo no Espíri to Santo (Lc 24.47-49).

Essa ins trução foi repetida por nosso Senhor, segundo se lê em Atos 1.4-8. O últ imo versículo dessa passagem chama part icularmente a atenção para o fato de que a vinda do Espíri to Santo em pleno caráter

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batismal é que outorgava aos discípulos o poder necessár io para serem testemunhas de Cristo.

Como se pode negar, portanto, que os crentes e especialmente os obreiros e atuais cristãos, sobre as quais pesa a mesma responsabi l idade, necessi tem do mesmo poder do alto para pregar o mesmo Evangelho aos mesmos corações incrédulos, presos pelo mesmo Satanás? Nossa conclusão, portanto , é que ninguém deveria f icar satisfeito em pregar o Evangelho do Senhor Jesus Cristo sem haver primeiramente recebido o batismo no Espíri to Santo. Isso considera como absolutamente essencial à pregação para o ministério.

♦ O andar com Deus.De maneira alguma devemos ter o batismo

no Espíri to Santo, por muito maravi lhoso e necessário que seja à experiência e ao testemunho pessoal, como sinal de perfeição espiritual.

Quando Pedro e João estavam cercados pela multidão maravilhada, após a cura do paralí t ico à Porta Formosa, Pedro protestou que não foi pelo próprio poder que aquele homem pôde andar (At 3.12). O batismo no Espíri to Santo é o revestimento com o poder do alto, pelo qual podemos anunciar eficazmente o Evangelho de Jesus Cristo.

Todo o crente bat izado no Espíri to Santo deve passar pela t ransformação de caráter e o aprofundamento nas experiências da vida íntima com Cristo. Essas experiências diárias, ao andar no Espíri to e ao aprender as lições da vida Cristã, são igualmente necessár ios como qual ificação para um ministério cristão eficaz.

♦ A escola da experiência.O mestre cristão deve conhecer aquilo que

irá ensinar, é sua prerroga tiva não somente ensinar a82

doutrina e o esboço geral da fé cristã, mas também as experiências reais que os crentes enfrentam diariamente.

O adversár io não é apenas uma idéia teórica; ele é real e in tensamente agressivo. Ele ataca todo crente com toda variedade de armas. Faz parte da tarefa do pastor conduzir seu povo pela mão, a fim de guiá-lo através das experiências quando tomado de perplexidade e confusão.

Enquanto de um lado o inimigo procura derrotar os crentes e pô-los por terra, é tarefa do pastor, de outro lado, levantá-los e f irmá-los na fé. Mas este estará to ta lmente despreparado para tal ministério a menos que j á tenha passado por experiência com os semelhantes.

E preciso que o indivíduo passe pessoa lmente pelo moinho, a f im de que seja feito pão para os outros. O andar na fé, por exemplo, é algo que ninguém pode compreender a não ser que aprenda a fazê-lo pessoalmente. O descobrimento de Cristo como o “o quarto hom em ” que está conosco na fornalha ardente, nos fará uma atitude posi t iva e de grande alegria.

Poderemos então explicar aos outros que estejam passando por sua prova de fogo, que perto deles, também, sempre encontrarão a presença do Filho de Deus.

Essas experiências pessoais, que devem envolver a vida do futuro pastor, também incluem consagrações que o at ingem na própr ia alma. Sem uma consagração total, n inguém está apto a servir a Deus eficazmente. Podemos servir re la tivamente bem, mesmo com o controle de Deus. Mas chegará o momento em que o Senhor chamará a atenção para qualquer coisa que surja entre Ele e nós.

83

Deus tem ciúmes, e a glória e afeição que lhe são devidos. Ele jamais permiti rá que sejam dados a outrem. “Quem ama seu p a i ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de m im " .

O Valor da Educação

Não se pode negar o valor da educação na preparação para o ministério. Tecnicamente , a palavra educar signif ica “extra ir” . Isso significa que existe, de modo latente em cada um, a capacidade para uma vida de serviço, e que tais dotes precisam apenas ser aflorados a fim de que se tornem mais eficientes.

A palavra educação, então, significa, igualmente, aquisição de conhecimento. E em ambos esses sentidos que empregamos o termo.

A educação fo r m a l se adquire em escolas, nas insti tuições de ensino - elementar, secundário ou superior.A educação informal, no entanto, consiste em seguir a escola diária da vida, com o auxílio de uma preparação autodidática.

A aquisição de conhecimento e o desenvolvimento das habil idades já são alvo de todos os jovens ambiciosos desde os seus primeiros anos. Os próprios governos têm chegado à conclusão de que a democracia não pode perdurar se os seus cidadãos forem analfabetos.

Nos Estados Unidos da América, por exemplo, é obrigatório a todos o curso escolar de oito anos. Tal curso não é opcional, e são poucos os que pro testam contra tal lei.

Há vantagens notórias para aqueles que tenham recebido uma boa educação secundária, ao

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preparar-se para o ministério. Não há dúvida de que o ministro deve saber como estudar tanto a Bíblia como livros colaterais. A habi l idade de aprender e reter o que se lê só se desenvolve após longa prática de estudo em sala de aula.

As leis da aprendizagem se aplicam aos l ivros teológicos e a própria Bíblia. O conhecimento da história secular, natura lmente inc luído numa boa educação, também fornecerá um rico campo de i lustrações e confi rmações das verdades eternas da religião cristã.

As expressões eruditas dos mestres freqüentemente servem como meio de comunicação das verdades do Evangelho. O conhecimento das ciências prevê não apenas uma apreciação mais ampla da obra de Deus, mas também ilus trações maravilhosas sobre como Ele age no terreno espiritual .

Alguém que tenha uma educação completa, desenvolv imento in te lectual e a familiaridade com as artes l iterárias em geral, leva uma vantagem marcante como ministro do Evangelho. Não terá de fingir-se culto perante pessoas educadas e nem ocultar astutamente a própria ignorância.

Posto que a cultura as torna cada vez mais comuns, as nossas audiênc ias incluem um número cada vez maior de pessoas cultas, e convém ao ministro do Evangelho estar em condições de minis trar adequadamente.

Nada compromete tanto o conceito que o povo faz do ministro do Evangelho como erros que se cometem na gramática. Claro que a remoção desses erros propic ia r- lhes-á um ministér io capaz de entender todos os tipos de auditório, sem se sentirem inferior izados na presença de pessoas cultas.

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Exemplos de homens preparados :

Moisés Estudado em toda ciência do Egito.Daniel

MesaqueAbedenego

Instruídos em toda sabedoria, doutores em ciência e versados no conhecimento.

Paulo Membro do Sinédrio, altamente educado.

Questionário

■ Assinale com “X ” as a lternativas corretas

6. O chamamento para a prédica do Evangelho é:a ) l_1 Uma concepção naturalb)l 1 Uma concepção humanac) l_| Uma concepção inte lectuald ) Q Uma concepção espiri tual

7. E coerente dizer que, a preparação para o ministério pode ser encarada sob duas fases:a ) D Oração e Jejumb ) 0 Experiência e Educaçãoc)l I Desenvolv imento psíquico e Intelectual idaded ) l_| Renúncia e Preparo Homilético

8. Consiste em seguir a escola diária da vida, com o auxílio de uma preparação autodidát icaa) 0 A Educação Informalb)IH A Educação Secularc) l_| A Educação Estudanti ld) l_I A Educação Formal

■ Marque “C” para Certo e “E ” para Errado

9 . S A experiência fundamental do obreiro ou de qua lquer cristão, mui natura lmente , é o conhecimento teológico

10.|<J E inviável dedicar-se à educação na preparação para o ministério

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Lição 4Teologia do Obreiro - Parte 2

“E dizia a todos: Se alguém quer vir apósmim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz,e s iga -m e” (Lc 9.23).

A renúncia de si mesmo, segundo o ensino bíblico é pré-requisi to indispensável para que alguém seja discípulo de Jesus. Em suma, o que Cristo nos ensina é que, morrer para o “eu” é viver; perder a vida que desejamos é achar a verdadei ra vida. Quandoseguimos e servimos a Cristo, não ao eu, nos tornamos disponíveis a servir aos outros. E assim, real izamos a vontade de Deus.

A renúncia é a base para o verdadeirodiscipulado cristão. O autêntico discípulo de Cristo, que pretende segui-Lo sem restrições, reconhece que para servi-Lo in tegra lmente, deve estar desprendido de tudo que representa embargo à plena comunhão com seu Senhor.

Ninguém pode entrar no caminho que leva a inefável realização em Cristo sem a renúncia. A verdadeira vida e felic idade consis tem no abandono dos nossos próprios caminhos para vivermos em comunhão com Jesus, conforme o ensino de sua Palavra.

O crente que abre mão de tudo por amor a Cristo, de modo que possa entrar na experiência gratif icante do discipulado vigoroso; descobre que

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entrou na vida que é vida de fato. “Mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida a sa lvará” , disse Jesus.

As pessoas descrentes ouvem o Evangelho e muitas delas entendem que ele é a verdade de Deus para a salvação. Entretanto, a natureza humana, decaída por causa do pecado, resiste em aceitar Cristo como Salvador, em virtude de ter que abrir mão de seus próprios interesses, dos prazeres e fêm eros1, das amizades, da opinião dos parentes, dos amigos, que são contrários a uma decisão tão séria, que implica mudar completamente a maneira de ser, de viver, de pensar e de agir.

Nesta lição, veremos que Jesus foi bastante inc is ivo2 com relação à renúncia, como fator indispensável para que alguém seja seu discípulo.

1. Conceiíuação.Renúncia quer dizer: “ato ou efeito de

renunciar” e renunciar significa “não querer; rejeitar, recusar; de ixar voluntariamente a posse de algum bem, de alguma co isa” (Aurélio).

Nesta lição, entenderemos a renúncia, no sentido da pregação de Jesus, significando a voluntariedade em abrir mão dos próprios interesses, e da própr ia vida, a fim de segui-Lo fielmente.

É preciso que tenhamos em mente que a renúncia do seguidor de Cristo não é um ato de

n . f .a l i e n a ç ã o ', inconseqüente , gratuito e sem proposito. Pelo contrário, quando alguém abre mão de si próprio para entregar sua vida ao senhorio de Cristo, esse alguém foi conscientizado pelo Espíri to Santo de que o

1 D e p ouc a duração; pass age ir o , transi tório.2 D e c i s i v o , pronto, direto, sem rode ios .3 D es in te r es se ; que es tá a lhe io a tudo.

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faz porque sabe que terá algo infinitamente melhor para a sua vida.

2. Condições p a ra seguir a Jesus.

2.1. Ter vontade.Jesus respei ta a vontade da pessoa, e essa é

uma das mais impressionantes caracterís t icas do seu re lacionamento com o homem. Em sua pregação Ele disse: “Se alguém quer vir após mim...' '’ (Lc 9.23a). Ele não impôs sua vontade sobre os sentimentos dos pecadores.

Nas Escrituras vemos esse traço da sua personalidade. Numa festa, em Jerusalém, dentro do templo, Ele disse: “Se alguém tem sede, que venha a mim e beba” (Jo 7.37). Na carta à igreja de Laodicéia, Jesus escreveu: “Eis que estou à p or ta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, com igo” (Ap 3.20). [Grifo nosso], Jesus não empurra portas, não força a vontade humana. E preciso segui-Lo voluntariamente .

2.2. Renunciar a si mesmo.E o mesmo que negar a si mesmo. Jesus

disse: “negue-se a si m e sm o ...” (Lc 9.23b). E isso não é fácil. A natureza humana, após a queda, tornou-se egoísta, insensível, individualis ta , personalis ta . O “eu” tornou-se uma espécie de “deus” .

Poucas pessoas conseguem romper com a natureza carnal, a fim de renunciar a si própr ias e darem lugar a Deus. Na parábola do semeador (Lc 8.4­15), vemos que uma parte da semente caiu entre os espinhos, e Jesus explicou que são aqueles que recebem a Palavra com alegria, mas depois, “são sufocados com os cuidados, e riquezas, e deleites da vida, e não dão f ru to com p e r fe içã o ” (Lc 8.14).

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A natureza humana, mesmo a do cristão, tende a acomodar-se à velha vida, aos velhos costumes. Mas para ser discípulo de Jesus, é imprescindível renunciar as práticas antigas e más (vide 2Co 5.17).

2.3. Renunciar bens, pai, mãe e amigos (Mc 10.28-30).Um jovem rico entr is teceu-se por Jesus ter-

lhe dito que dever ia vender tudo o que t inha e segui-Lo (Mc 10.17-23).

Pedro, então, disse: “eis que nós tudodeixamos e te segu im os” (Mc 10.28). Jesus deu uma resposta de sublime sabedoria, dizendo que “ninguém há que, tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou f i lhos , ou campos, p o r amor de mim e do evangelho, que não receba cem vezes tanto, j á neste tempo, em casas, e irmãos, e mães, e f i lhos , e campos, com perseguições , e, no século fu turo, a vida e terna” (Mc 10.29,30).

Notemos que, aqui, não há um ensino imposit ivo, no sentido de sempre alguém ter que deixar bens, pais e parentes para seguir a Jesus. Mas Ele disse que não há ninguém que, fazendo isso, tenha prejuízo, mas que será recompensado, tanto nesta vida, quanto no p o r v i r 1 (ver Lc 14.33). Na rea lidade, o que Jesus não aceita é que alguém ame ao pai, à mãe ou a filhos mais do que a Ele.

2.4. Tomar cada dia a cruz .“ ... tome cada dia a sua cruz, e s iga-me” (Lc

9.23c). Só toma a cruz quem já decidiu seguir a Cristo. Tomar a cruz significa renunciar ao seu próprio “eu” (o viver segundo a carne, fazendo a nossa própria vontade), e de bom grado sofrer por amor de Cristo. E

1 Temp o que há de vir; o futuro.90

isso acontece com todo o crente fiel, sincero, humilde e obediente.

Jesus disse: “ ... no mundo tereis a f l ições . . . ’’'’ (Jo 16.33; ver 2Tm 3.12). A cruz inclui afl ições, tr ibulações, perseguições, de modo claro e explícito. Há crentes, infelizmente, que, dominados pelo re la t iv ism o1 e pelo m odern ism o2, entendem que a vida deve ser de tal forma que não tenha qualquer sofrimento. Muitos são adeptos da falsa Teologia da Prosperidade, que prega o paraíso na terra, sem pobreza, sem doença, sem aflições, contrariando a Palavra de Deus.

3. Perdendo para ganhar.

3.1. Quem quer ganhar, perde (Lc 9.24).Jesus colocou diante dos discípulos uma

c ruc ia l3 decisão a ser tomada. Ele afirmou que “qualquer que quiser salvar a sua vida p e rd ê - la -á " .

A vida humana, por melhor que seja, é efêmera, passageira. Muitas pessoas apegam-se a ela de tal forma, que reje itam a Deus, a Cristo e a salvação.

S Há os que perdem a salvação, mesmo tendo ouvido a Palavra, por causa dos cuidados deste mundo, da sedução das riquezas (Mt 13.22);

•S Há os que não admitem de modo algum deixar de lado a vida social, com suas festas, encontros, reuniões de fim-de-semana;

S Há os que não querem perder a condição financeira, pois, se tornando cristãos, terão que

1 Teoria f i lo s ó f i c a que se ba se ia na re lat iv idade do co n h ec i m e n t o .2 Preferênc ia por tudo quanto é moderno; t endênc ia para aceitar in o v a ç õ e s .3 Mui t o importante.

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renunciar negócios e sc u so s1, sonegação de impostos , venda de produtos i lícitos (bebidas, fumo, jogos , loterias, etc.);

S Há os que não querem deixar a fornicação, o adultério, à prosti tuição, o homossexualismo, pois tudo isso é a vida que não querem perder.

E, assim, “ sa lvando” a vida, acabam por perdê-la eternamente , por re je itarem a salvação em Cristo Jesus.

3.2. Quem perder , ganha (Lc 9.24b).Por outro lado, há pessoas que “perdem ” a

sua vida para salvá-la, pe lo fato de renunciarem às coisas terrenas, e darem lugar às coisas de Deus, aceitando Cristo como Salvador, cumprindo o que ensinou o Senhor; “mas qualquer que, p o r amor de mim, perder a sua vida a s a lva rá " .

Na vida espiri tual , os que aceitam Jesus, sabem que estão renunciando a muitas coisas, conscientemente , entendendo que em Cristo têm muito mais a ganhar nesta vida e na eternidade (ver Mc 10.29,30). Paulo, div inamente inspirado, exclamou: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é g a n h o ” (Fp 1.21).

3.3. O perdedor insensato (Lc 9.25).Neste ensino, Jesus fez uma indagação de

profundo significado espiri tual e f ilosófico, após dizer que quem quer ganhar a vida sem Ele, a perderá: “Porque que aproveita ao homem gran jear2 o mundo todo, perdendo-se ou pre jud icando-se a si mesmo?"

Ter bens, ganhar dinheiro, comprar objetos, possuir terras, casas, propr iedades, e outras coisas

1 S us p e i t os , m is t er iosos ; i l í c i tos .2 Conquis tar ou obter co m trabalho ou c o m es forço .

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mais, é o sonho da maioria das pessoas. De fato, há os que querem “granjear o mundo todo” . Daí, porque tantos estão buscando o enriquecimento ilícito, seja uti l izando-se da joga t ina , oficial ou não; seja através de negócios escusos, nas empresas ou nos órgãos públicos, gerando escândalos , que envergonham a nação.

É a avareza, a ganância por dinheiro, que conduz muitos à perdição. Paulo diz que “o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de m ales” ( l T m 6.10), levando muitos a se desviarem da fé e se prejudicarem a si mesmos, como previu Jesus.

Testemunho diferente teve o apóstolo Paulo, quando, escreveu em Fi lipenses 3.7,8: “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda p o r Cristo. E, na verdade, tenho também p o r perda todas as coisas, pe la excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pe lo qual sofri perda de todas estas coisas e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo

A renúncia para seguir a Cristo é passo importante na conversão. Para aceitar Jesus, o pecador é chamado a arrepender-se e crer no Evangelho.

Para ser discípulo, de modo consciente, ele descobre que precisa renunciar o mundo com seus prazeres, também à opinião dos pais e de amigos, e abrir mão de seus conceitos e preconceitos, dando a p r im az ia1 ao senhorio de Cristo em sua vida.

O ensino de Jesus é claro a esse respeito, requerendo do crente buscar o Reino de Deus em pr imeiro lugar (vide Mt 6.33).

“Jamais ped irá o verdadeiro l íder aos seus seguidores o cumprimento de algum dever que ele

1 Prioridade.93

mesmo não esteja disposto a realizar. Da mesma forma, Cristo apontou o própr io exemplo aos discípulos

4. O espír i to sacr if ic ia l de Cristo.“Pois o próprio Filho do homem não veio

para ser servido, mas p a ra servir e dar a sua vida em resgate p o r mui tos”.

Cristo nasceu em lar e lugar humildes; passou os primeiros tr inta anos da sua vida em absoluta obscuridade e, durante mui tos anos, trabalhou como carpinteiro. Embora soubesse ser o Filho de Deus, jamais rec lamou direitos reais. A honra e o serviço do mundo não foram colocados à sua disposição.

Seu serviço à humanidade não viera como fruto de poster ior decisão: era o propósi to pelo qual veio ao mundo. Antes mesmo de sua vinda, já fora de terminado que Cristo derramaria a sua vida em favor da humanidade.

“A declaração de Jesus, conquanto transpirasse humildade, não lhe negava a posição de Filho de Deus. Fosse apenas um carpinteiro, e seria presunção dizer que não viera para ser servido - isto não seria novidade. Porém, na vinda de Cristo a declaração é compreens íve l” .

Note-se que o Antigo Testamento define o Messias como Servo (Is 52.13; 53.12).

5. O ato sacr if ic ia l de Cristo.“ (9 f i lho do homem veio... para dar a sua

vida em resgate p o r mui tos”.Tivesse o Senhor encerrado com as palavras

para ministrar, e seria mais um na longa lista de mestres que mostravam à humanidade como viver e depois a deixava lutando no lamaçal do pecado.

94

Todavia Ele prosseguiu. Suas palavras conf irmam ter vindo Ele não somente para mostrar o caminho da salvação, mas para salvar a humanidade dos seus pecados.

Questionário

■ Assinale com “X ” as alternat ivas corretas

1. E a base para o verdadeiro discipulado cristãoa)|_J O conhecimentob ) l_| A oraçãoc) 0 A renúnciad ) D O je jum

2. Não é uma condição para seguir a Jesus:a) |_| Ter vontadeb ) Q Renuncia r a si mesmoc) |_| Renunciar bens, pai, mãe e amigosd ) 0 Tomar cada dia a cruz de um irmão

3. “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é g a n h o ”. Esse vers ículo é escrito por:a) Í_I Lucasb ) [ 2 Pauloc ) I_J Pedrod ) 0 Tiago

■ Marque “C” para Certo e “E ” para Errado

4. [£] E preciso que tenhamos em mente que a renúncia do seguidor de Cristo não é um ato de alienação, inconseqüente , gratuito e sem propósito

5. 0 Tomar a cruz significa renunciar ao seu próprio “eu” , e de bom grado sofrer por amor de Cristo

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Qualidades Naturais

•* Coragem.Força ou energia moral ante o perigo, ânimo,

bravura, intrepidez, ousadia. Exige-se do líderespiri tual coragem da mais alta ordem, sempre, e freqüentemente , coragem física também.

Coragem é “aquela qualidade de Espíri to que capacita os homens a enfrentar o perigo, ou adificuldade, com firmeza, ou sem medo, sem depressão menta l” .

Paulo era corajoso, tanto físico comomoralmente , mas sua coragem não era do t ipo que não conhece o temor. “E f o i em fraqueza , temor e grande tremor que eu estive entre vós” ( IC o 2.3). “Porque chegando nós a Macedônia, nenhum alívio tivemos, pelo contrário, em tudo fo m o s atribulados; lutas p o r fora , temores p o r den tro” (2Co 7.5). Embora não cortejasse o perigo, Paulo não o evitou, desde que os interesses de seu Mestre est ivessem em jogo.

Martinho Lutero possuía esta importante qualidade em medida descomunal. Tem-se asseverado que ele foi, provavelmente , o homem mais corajoso que já exist iu. Ao part ir para sua his tór ica viagem a Worms, disse: “Podeis esperar de mim tudo, menos o medo, ou a retratação, não fugire i , nem me retra tarei”.

Seus amigos adver tiram-no dos perigos que enfrentaria, e tentaram d is suad i - lo1. Contudo, Lutero não se deixaria dissuadir . “Não ir a W orm s!” Disse ele: “Irei a Worms dissuadir mesmo que haja tantos demônios lá, como telhas nos te lhados” .

Quando Lutero foi chamado perante o imperador, pediram-lhe que se retratasse. Insist iram em que ele deveria dizer numa palavra, se ele se retrataria

1 Tirar de um propós ito ; despersuadir ; desaconse lhar .96

ou não. “A menos que eu seja convencido pelas Escri turas Sagradas, ou p o r razões lúcidas, de outras fontes , não podere i retratar-me'”, declarou: “Não posso condescender com Concílios, nem com o Papa, porque eles erraram freqüen temente . Minha consc iência é pr is ione ira da Palavra de D e u s ”.

Quando, outra vez, lhe foi dada uma oportunidade para retratar-se, ele cruzou os braços. “Fico aqui, não posso f a z e r outra coisa. Deus me ajude”. Algum dia antes de sua morte, relembrando este incidente, Lutero descreveu seus sentimentos: “Eu não tenho medo de coisa alguma; Deus po d e tornar uma pessoa tremendamente a u d a z 1. Não sei se eu poder ia estar tão animado ho je”.

Contudo, nem todos são corajosos, por natureza, como era Lutero, fato que está explíc ito e implícito nas Escrituras. O maior grau de coragem é atribuída à pessoa que tem grande medo, mas recusa-se a capitular. Não importa quanto medo tenham sentido os l íderes de Deus em todas as gerações, recebem a ordem para ter bom ânimo. Não sentissem eles qualquer medo, esta ordem não teria razão de ser.

A responsabil idade pela sua própr ia coragem é colocada no líder, vista que ele é templo do Espíri to de Poder, que torna, possível o desempenho corajoso.

A coragem de um líder é demonstrada quando ele está disposto a enfrentar fatos e condições desagradáveis , e mesmo devas tadores2, e a agir com firmeza, à luz dessas c ircunstânc ias adversas, mesmo que esta represente despres tíg io pessoal. A inércia e a oposição das outras não o detém. Sua coragem não é coisa de momento, mas contínua até que a tarefa seja feita.

1 Que tem audácia; o us ado , co ra jo so , temerário.2 Des tru ir , assolar.

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* Diligência.Cuidado ativo, presteza em fazer alguma

coisa, zelo, esforçar-se.Outra qua lidade essencial para o Minist ro

(l íder) bem sucedido é a dil igência. Somos ensinados em Romanos 12.8, que aquele que preside faça-o com dil igência, e que não devemos ser preguiçosos em nossas atividades.

“Vês a um homem perito na sua obra? Perante reis será pos to ; e não entre a p le b e ” (Pv22.29). N inguém pense que a vida de um obreiro é fácil. É possível que alguns ju lguem tê-la para o lazer. Provavelmente perdem metade das oportunidades que lhes surgem, e serão chamados à responsabil idade em conseqüência .

Há tanta coisa a ser feita no caminho do ministér io espiri tual, que meramente o tempo é suficiente cada dia ou semana para realizar tudo. Por tanto , deve o pastor reabas tecer o coração e a mente, dia a dia, além de atarefar-se na salvação de almas preciosas, na edificação da sua igreja e na propagação do Reino. Isso requer uma aplicação coerente, de manhã até tarde da noite.

O leigo trabalha oito horas por dia, e o trabalho da dona de casa nunca termina. O homem responsável por seu próprio negócio, jamais se satisfaz com oito horas de traba lho e passa cada momento desperto em intensa concentração, a meditar sobre as obrigações de seu empreendimento . Esse há de ser o espíri to e a preocupação de um verdadeiro homem de Deus. Não deve haver nele o menor sinal de preguiça, e cada parcela de suas energias, a cada instante, devem ser inesgotave lmente devotada à sua enorme tarefa.

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* Discip l ina .Sujeição das atividades ins tintivas refletidas,

procedimento correto, obediência à autoridade.Tem sido dito, acertadamente , que o futuro

pertence ao disciplinado. Esta qual idade foi colocada em primeiro lugar, em nossa lista, porque as demais qualidades, por grandiosas que sejam, sem a disciplina jamais realizarão seu potencial máximo. Só a pessoa disciplinada subirá até os mais altos poderes. Ela é capaz de l iderar porque conseguiu conquis tar-se a si mesmo.

As palavras discípulo e disciplina derivam da mesma raiz. Líder é a pessoa que, pr imeiramente , se submeteu de boa vontade, e aprendeu a obedecer, segundo uma discipl ina imposta de fora, e que, em seguida, impôs a si mesmo de dentro, uma disciplina ainda mais rigorosa.

Aqueles que se rebelam contra a autoridade e mofam da autodisciplina raramente se qualif icam para uma liderança de pr imeira ordem. Eles evitam os rigores e sacrifícios exigidos, e re je itam a disciplina divina envolvida na l iderança.

Muitos que abandonam o trabalho missionár io o fazem não porque não tenham sido suficientemente dotados de dom, mas porque grandes áreas de sua vida jamais foram entregues ao controle do Espíri to Santo.

O preguiçoso e o desorganizado jamais estarão à altura da verdadeira l iderança. Muitos que tomam cursos de l iderança falham na esperança de atingi-lo porque nunca aprenderam a obedecer.

Um grande estadis ta fez um discurso que mudou a direção dos assuntos nacionais. “'Posso perguntar- lhe quanto tempo o senhor levou para preparar esse discurso? Pergunta- lhe um admirador”.

99

“Minha vida toda tem sido um preparat ivo p a ra aquilo que eu disse h o je " .

O jovem que tem calibre de líder trabalha enquanto os outros pe rdem tempo, estuda enquanto os outros dormem, ora enquanto os outros brincam. Não há lugar para hábitos desleixados quanto a pensamentos , palavras, ações ou mesmo vestuário. Ele observará uma disciplina mili tar na dieta e no comportamento, de maneira a poder lutar bem.

Ele assumirá sem relutância, a tarefa desagradável que os outros evitam, ou a abnegação oculta de que as pessoas fazem porque não há nela aplausos nem reconhecimento. O líder cheio do Espíri to não recuará diante de si tuações difíceis, nem de pessoas problemáticas , nem mesmo do serviço sujo. Quando necessário ele exercerá disciplina bondosa e corajosamente quanto aos interesses da alma que o Senhor o exigirem.

Durante toda sua vida, George White fie ld foi um madrugador, usualmente levantava-se às quatro horas, era pontual, também, quanto à hora de se recolher à noite, quando o relógio batia dez horas, não importava quem fosse seus visi tantes , ou que tipo de conversa o ocupar ia no momento, ele se levantava de sua cadeira e, avançando para a porta dizia com muito bom humor a seus amigos “ venham senhores, é hora das pessoas boas estarem em casa”.

r Dignidade .Modo de proceder que infunde respeito

honra, grandeza moral.A qualidade da dignidade não pode faltar no

minis tro (líder). Ao dizermos ass im não nos referimos à piedade forçada ou ao semblante solene, sepulcral e ameaçador; antes, temos em vista aquela calma,

100

temperança e reserva digna que convém ao l íder das almas e salve quem pesam tão grandes responsabil idades . Paulo recomendou a Timóteo: “Ninguém despreza a tua m oc idade . . .” ( l T m 4.12).

Aos Santos em Éfeso escreveu que não houvesse entre eles “nem pa lavras torpes, nem chocarrice, mas antes, ações de g ra ça s” (E f 5.4).

O jovem pregador deve evitar manifes tações juvenis , nada fazendo que o possa rebaixar no conceito e respeito do rebanho ou dos concidadãos. Não deve haver familiaridade indevida com aqueles que o cercam.

Em outras palavras, a int imidade que seria própria entre pessoas do mesmo nível social ou membros de uma família, não deve haver entre o líder (Pastor) e os membros da Igreja. Não deveram tratá-lo ir reverentemente pela posição que ocupa, nem deve ele mostrar-se demasiadamente íntimo com os crentes.

f Sabedoria .Conhecimento da verdade, ins trução imensa,

razão, jus to conhecimento natural ou adquirido, das verdades (mormente morais) , saber, doutrina, ciência, to talidade dos conhecimentos adquiridos. “A faculdade de fazer-se uso do conhecimento, uma combinação de d iscern im ento” . Nas Escrituras , o ju lgamento justo concernente à verdade moral e espiri tual .

Sabedoria é mais que conhecimento, o qual é simples acúmulo de fatos. Ela tem uma conotação pessoal, implicando em sag ac id ad e1. É mais do que percepção humana; é discern imento celestial. E conhecimento com penetração no coração das coisas.

Dizia Theodore Roosevelt que “sabedoria é noventa p o r cento uma questão de ser sábio a tempo”.

1 A g u d e z a ou su t i l eza de espíri to ; persp icác ia .101

A maioria das pessoas é “quase sábia depois doevento” .

A sabedoria dá ao líder o equil íbrionecessár io, e o livra da excentric idade e daextravagância. O conhecimento é obtido pelo estudo, mas quando o Espíri to enche um homem, ele concede sabedoria para usar e aplicar esse conhecimento de maneira correta.

“Cheio de sabedor ia” era um dos requisitos até mesmo para l íderes subordinados na IgrejaApostólica (At 6.3).

A oração de Paulo pelos crentes de Colossos deveria estar constantemente nos lábios dos líderes que detêm responsabil idades espiri tuais: “ Que transbordem de p leno conhecimento da sua vontade em toda a sabedoria e entendimento espir i tual” (Cl 1.9).

* Tato.Percepção aguda do que é conveniente dizer

ou fazer em uma situação difícil ou delicada, sem melindrar os sentimentos dos outros, delicadeza, discrição.

E outra qual idade de grande valor para o ministro. Há momentos inconvenientes de fazer o trabalho de Deus, o que pode frustrar os propósitos co l im ados1. Por exemplo, em corrigir uma desordem na igreja, ao impugnar uma declaração feita por alguém publicamente e com a qual não se pode concordar, deve-se usar do máximo cuidado evitando escolher palavras pesadas.

As cr ianças podem ser chamadas à ordem sem haver ressent imento por parte dos pais, os quais podem mesmo chegar a sorrir com a observação. Por

1 Mirado , observado .102

outro lado, se o obreiro for sem je ito na maneira como contornar as si tuações poderá abr ir uma brecha fazendo com que a simpat ia penda para o lado dos que estão errados e não para o seu.

O pastor tem de conseguir prodígio de “tornar suave” a repr imenda. Que ninguém pense que isso é uma hipocrisia, e que a fraqueza áspera é a melhor virtude do obreiro.

Podemos ser dotados de tato sem enganar a n inguém e insist irmos em que isso é uma demonst ração de grande sabedoria.

* Discrição.Prudência, qualidade daquele que sabe

guardar segredo. Ato de discernir . É qualidade que fica muito bem no ministro.

Refer imo-nos à conformidade com as leis da conduta apropriada, mediante o exercíc io da prudência em todos as ocasiões.

O apóstolo Paulo expressa essa necessidade como segue: “Não seja, po is v ituperado o vosso bem ” (Rm 14.16). Um coração to ta lmente simples pode colocar-se em situações delicadas por falta de cuidado e chegar a ser falsamente acusado.

Que uma mente sábia e uma vontade firme controlem o coração simples. Para sermos mais claros, todo o contato com o sexo oposto deve ser cuidadosamente vigiado.

E bom que o crente seja sempre um cavalheiro. Ajudar as damas, em ocasiões próprias, faz parte do cavalheirismo. Mas, levar uma senhora ou moça repe tidamente até à sua casa, a dois a sós, é exatamente a si tuação que não pode deixar de suscitar comentários maliciosos.

103

* Cortes ia .Civilidade, reverência , polidez, urbanidade,

cumprimento, homenagem.O apóstolo Pedro exortou aos convertidos

que fossem corteses ( IP e 3.8). Espera-se de qualquer prof iss iona l que seja um cavalheiro. Quanto mais deve ser cortês o líder de crentes que vivem em contato com profissionais, para que saiba comportar-se dentro de certa linha.

O “por favor” e o “muito obr igado” jamais devem faltar e as ordens sempre dadas que foram de solicitação. Nenhuma intromissão indel icada na conversação de outras pessoas ou na int imidade dos lares alheios deve ser praticada.

O toque gentil e o sorriso, bem como orefinamento culto de um cavalheiro cristão devesempre caracter izar o homem de Deus.

■* Asse io .Limpeza, higiene, correção. Nos trajes

pessoais o pregador deve ser escrupulosamente limpo. Não dizemos que seja exagerado na moda, mas no asseio pessoal e na correção do vestir.

Devemos observar a pureza da mente e da l inguagem, tanto quanto a higiene corporal.

f Pontualidade.E uma virtude. Quando empenhamos a

palavra num encontro, assumimos uma obrigação quetem de ser cumprida.

Atrasar-se num encontro e, pior ainda, faltar ao mesmo, é uma injus tiça e um erro. Aborrece aqueles a que damos a palavra, e reflete mal quanto a nossa honest idade e comportamento.

104

Já se disse que chegar tarde a um encontro marcado equivale a menti r e roubar o tempo da outra pessoa. Neste caso apresentam-se desculpas satisfatórias.

Jamais se deve adquiri r o mau hábito da negl igência no cumprimento dos deveres, nem se deve permiti r que haja tal reputação a nosso respeito.

* Integridade e Sincer idade.Paulo abriu seu coração de maneira como

poucos de nós estamos preparados a fazê-lo, exibiu tanto seus fracassos quantos seus sucessos.

Mesmo antes de sua conversão ele era sincero, um homem íntegro, que servia a Deus com uma consciência pura (2Tm 1.3). Mais tarde escreveu para os Coríntios: “Porque nós não estamos, como tantos outros, m ercade jando1 a Palavra de Deus; com s inceridade e da fo n t e do própr io Deus antes, em Cristo é que fa la m o s na presença de Deus, com s inceridade e da par te do próprio D eu s” (2Co 2.17). Ele não fugiu, nem mesmo da sondagem divina ( IC o 4.4).

No AT, a sinceridade e a integridade eram impostas sobre Israel (Dt 18.13).

Sinceridade é transparência de caráter, uma qualidade, inconsciente que se revela a si mesmo.

Respondendo a uma pergunta , um homem de negócios de projeção disse: “Se eu t ivesse quemencionar a qualidade mais importante de um gerente geral, eu diria que é a integr idade pessoal, alguém que seja sincero ao prometer , f i e l no cumprimento do dever, correto nas f inanças , leal no serviço e honesto na p a la v ra ”.

1 Ser mercador ou n ego c i an te ; comerciar, traficar, fal s i f icar.105

Qualidades Espirituais

Chegamos, agora, ao campo das qualif icações e caracterís t icas espiri tuais. De imediato vemo-nos face a face com o Filho de Deus, que é a incorporação consumada de todos estas virtudes, amor e fé, santidade, humildade, paciênc ia e espírito perdoador.

=> O amor .O amor de Deus signif ica amor divino em

nossos corações, o minis tro deve possuir um coração pleno de amor de Deus.

O primeiro dever de todo pastor, amar ao seu Deus de todo o coração, alma e espíri to. Procedendo assim, a sua consagração se tornará completa. Não haverá aspereza nem ressentimentos em qualquer feição de sua vida e ministério. Pois, se aquele que ama foi quem chamou e o amor da pessoa chamada a ele permanece fiel e verdadeiro , então todas as suas solicitações serão respondidas e tudo correrá bem. Isso é importantíssimo, sendo a solução para todos os problemas pessoais.

O próprio Deus é amor, e, obviamente, necessitamos mais de Deus quando o nosso amor começa a enfraquecer. Do mesmo modo, é mister, a plena medida do amor de Deus para capacitar o ministro a servir eficazmente o povo.

A natureza humana é geralmente marcada pela ingratidão, egoísmo e descortesia. É possível que haja falta de apreciação por parte dos l iderados quanto aos nossos sacrifícios e esforços. No,sso amor natural em breve se esgotaria e assim nós nos vol taríamos exatamente contra aqueles para quem fomos enviados

106

como ministros. Mas o amor mais intenso de Deus, uma vez transbordante em nossos corações, força-nos a amar, até mesmo os que não fazem por merecer amar.

Impelindo-se lhes fazer o bem mesmo que nos desprezem, nos impuls ionará a continuar derramando nossas vidas em favor daqueles que se mostram indignos e que talvez cheguem a ponto de prat icar injustiças contra nós. Eis aí, portanto, uma qualidade que deve dominar os nossos corações, se quisermos ser bem sucedidos no pastorado e no campo missionário.

=> A fé.Bem próximo do amor, e quase tão

importante quanto ele na vida e no serviço cristão, está a fé. Desde o começo até o fim da vida cristã, a fé é a chave capaz de abrir os tesouros de Deus, pela fé somos salvos, pela fé somos guardados, pela fé também nós, assim como Enoque, seremos arrebatados ao encontro do Senhor quando vier.

Todos os empreendim entos que devem ser realizados pelo pregador são de natureza sobrenatural . Quem pode salvar uma alma humana? Quem pode bat izar no Espíri to Santo? Quem pode derrubar por terra o preconceito e alterar os sent imentos de uma pessoa, independente de sua vontade? Somente Deus pode fazer essas coisas.

Mas o pregador igualmente deve fazê-los, e como? Impelindo a Deus que os possibil i te. A fé é o poder que move a mão de Deus, por conseguinte , a fé é absolutamente essencial ao ministro bem sucedido.

=> A santidade.Como pode uma pessoa pregar a santidade e

levar outras pessoas a uma vida santa se ela própria

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não tem uma vida pura? purif icai-vos, os que levais os utensíl ios do S e n h o r ...” (Is 52.11). Sem a santif icação, n inguém jamais verá a Deus (Hb 12.14).

Uma débil demonst ração do poder do Evangelho é o que resulta, quando o pregador não mostra em sua vida o poder santi f icador de Deus. Se o próprio pregador não pra tica o que prega, dá prova de ins incer idade e torna inútil e hipócrita a sua mensagem.

O senso de jus tiça, até no homem mais simples, exige que o pregador seja fiel à sua palavra, puro em seus pronunciamentos, honesto em seus tratos, e que saiba levar uma vida l impa e santa. Natura lmente que isso é possível , pois de outro modo seria falsa a apresentação da verdade divina. O poder de Deus pode fazer de ti aquilo que deves ser, a graça do Senhor nos é suficiente.

=> A humildade .O inimigo tem um meio de macular uma vida

santa. Se não pode estragá-la de outro modo, ele semeia o jo io do orgulho enquanto o crente “dorme” . Acontece suti lmente, sem que o in c au to 1 dê conta disso.

Esse fermento de pervers idade começa a sua ação mortí fera e, em pouco tempo haverá evidências flagrantes de orgulho espiritual. Além disso, manifestar -se-á as formas mais comuns de soberba: da profissão, da posição e do lugar que ocupa.

As almas fracas ficam inchadas “quando elevadas à posição de minis t ro” , passam a revestir-se de tal importância a seus próprios olhos, que não podem sujar as mãos em qualquer trabalho manual nas coisas da igreja. Dese jam parecer o que não são e

1 Não acaute lado; imprudente . Crédulo, ingên uo .108

reje itam qualquer desafio à sua autoridade ou à diminuição de seus poderes.

Quão triste e ru idosa é essa atitude. Desqual ifica o indivíduo como líder espiri tual dos santos.

S “Tomai sobre vós o meu j u lg o e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt11.29).

S “.. . tomando uma toalha, c ingiu-se com ela. Depois deitou a água na bacia e passou a lavar os pé s dos discípulos e a enxugá- los com a toalha com que estava c ingida . . . ’’'’ (Jo 13.4-5).

S “Porque eu vos dei o exemplo, p a ra que, como eu vos f iz , f a ç a i s vós tam bém ” (Jo 13.15).

A humildade é importante e rara.

=> A paciência .As obras importantes , de valor permanente ,

não se real izam em pouco tempo. Nada sobre a face da terra pode comparar -se ao edifício espiri tual que o homem de Deus constrói , no que diz respeito ao seu valor ou qualidade de permanência .

“Eis que o lavrador aguarda com pac iênc ia o prec ioso f ru to da terra, até receber as pr imeiras e as últimas chuvas” (Tg 5.7). A semente da pa lavra requer tempo para germinar, crescer e amadurecer.

O pastor deve postar-se paciente e fiel em fazer a sua parte, esperando o crescimento e o desenvolv imento que embora imperceptíveis , estão latentes. Ass im sendo, a paciência espiri tual que não pode faltar aos minis tros e obreiros da Palavra de Deus, em todos os campos de trabalho ( lT s 5.14).

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=> O espírito perdoador.Enquanto a na tureza humana correr seu curso

natural, haverá ocasião em que o pregador terá de mostrar espíri to perdoador.

Se ele for ofendido pessoalmente e guardar ressent imentos, poderá dar lugar a uma divisão da igreja ou até mesmo a uma ruína geral.

O pastor da igreja não pode esperar que seu povo seja mais semelhante a Cristo do que o l íder desse povo. São necessár ias duas pessoas para que surja uma contenda.

Se, porém, o obreiro tomar a iniciativa de deixar de lado o ressentimento e perdoar a pessoa que errou, dará demonst ração de matur idade, como de fato lhe compete. Se, todavia, não puder mostrar-se à altura da prova de tanta espir i tualidade e der lugar a carnal idade, ao ressentimento e a retaliação, isso lhe será uma derrota, s ignificando o fim de uti l idade no ministério.

Quão glorioso é quando o pastor (obreiro) se mostra capaz de assumir o doce espírito daquele que exclamou: “Pai, perdoa-lhes , porque não sabem o que f a z e m ” , se Estevão e Paulo foram capazes de demonst rar esse espíri to de perdão (At 7.10 e 2Tm 4.16). Então cer tamente é possíve l que os obreiros do Evangelho manifestem a mesm a atitude (Ef 4.32).

110

Questionário

■ Assinale com “X ” as alternat ivas corretas

6. Não é enquadrada como uma qualidade natural do obreiro:a ) |_I A humildadeb)l I A coragemc) |_] A sabedoriad)| I A pontualidade

7. Em relação às qualidades naturais do obreiro, enumere a segunda coluna de acordo .com a primeira:

(A) Cortes ia ( ) Prudênc ia , qua l idade daqu e le que sabeguardar se g re do

(B) D i l i g ê n c ia ( ) L i m p ez a , h ig ie n e , correção

(C) A s s e i o ( ) C iv i l i da d e , rev erênc ia , p o l id ez ,urbanidade , cumpr imen to , h o m e n a g e m

(D) D is c r i ç ão ( ) M o d o de proced er que in funde respe itohonra, grandeza moral

(E) D ig n id a d e ( ) Cuidado a t ivo , p res teza em fazer a lgumaco i sa , ze lo , e s fo rç ar - se

A seqüência correta é:a ) D (E) (B) (C) (D) (A)b ) D (D) (C) (A) (E) (B)c ) D (E) (C) (B) (D) (A)d ) D (D) (B) (A) (C) (E)

8. Não é uma qualidade espiri tual do obreiro:a ) Q O amor b )l IA santidadec ) H A disciplinad)|_! O espíri to perdoador

111

■ Marque “C” para Certo e “E ” para Errado

9. E O ministro que levar uma senhora ou moça repe tidamente até à sua casa, e f icar a dois, a sós, é exatamente uma situação de indiscrição

10. O Sinceridade é transparência de caráter, uma qual idade, inconsciente que se revela a si mesmo

I 12

Lição 5Teologia do Obreiro - Parte 3

O Caráter

Assim como o fruto é de terminado pela espécie da árvore, o ministério inteiro de um homem de Deus será influenciado e será qual if icado pelo t ipo de homem que ele é.

O Senhor Jesus disse: a boca f a la do queestá cheio o coração. . .” (Mt 12.34). O grande Pregador escreveu: “Porque , como imagina em sua alma, assim ele e . . .” (Pv 23.7). Isso requer que o coração seja puro e repleto das coisas que ele deseja que transpareça no ministério. “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as saídas da vida” (Pv 4.23).

Jesus era pleno de graça e da verdade; e assim, logicamente , isso é o que emanava de toda a sua vida (Jo 1.14).

O Caráter Geral da Obra do Homem de Deus

“Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multi forme obra de D e u s ” ( IP e 4.10).

A graça de Deus é realmente mult iforme - vários são os modos como ela se manifesta. Quando a graça de Deus encontra expressão através da vida do obreiro, muitos são as suas maneiras de tornar-se evidente.

113

Quantas facetas há em um brilhante , e qual dessas é a mais impor tante? Ass im como são muitas as facetas do brilhante e todos são impor tantes, revelando o bri lho e a beleza da gema, de igual modo existem muitos aspectos na vida do obreiro, através dos quais se evidencia a graça e a glória magníf ica de nosso Senhor Jesus.

A Igreja é apresentada na Bíblia mediante grande número de designações e f iguras de linguagem. Ela é o corpo de Cristo, a noiva, a família da fé, os ramos, o rebanho, a casa, o exército, o templo, a cidade, o sal da terra, a luz do mundo e o reino.

S Essas são várias capacidades de que a Igreja é consti tuída e mediante os quais serve aos homens e ao Senhor.

S Essas são descrições acertadas sobre as funções da natureza da Igreja.

Do mesmo modo, o ministro do Evangelho é re tratado nas escri turas sob vários aspectos.

Os t í tulos dados aos ministros da Palavra de Deus fornecem-nos um quadro claro da obra e da responsabi l idade que lhes compete.

=> O homem de Deus.Paulo chamou a Timóteo de “homem de

Deus” ( lT m 6.11). O que está envolvido nesse t ítulo? Note-se que não foi Timóteo que usou esse título com relação a Paulo. Se assim fosse, poderíamos entender mais prontamente a questão, já que Paulo merecia realmente essa qualificação.

Não era Paulo o apóstolo dos gentios? Não foi o fundador de muitas igrejas? Não foi ele o autor do maior número de epístolas do NT? Todas essas coisas o tornariam merecedor do t ítulo - “homem de Deus” .

114

Porém foi Timóteo, seu filho na fé, da segunda geração de pregadores do Evangelho , que mereceu a designação. Desse modo, entendemos que não é presunção de nossa parte aceitar esse título, mas que isto é jus tamente à vontade do Senhor, subentende- se que somos minis tros de Deus, cheios dEle e por Ele enviados.

Que solene encargo. Quanto a isso nos devemos ter dignidade e profunda consc iência desse fáto, ao fazermos o nosso trabalho.

Nada há nisto que sirva para tornar-nos a l t ivos1 e orgulhosos, antes devemos estar humildemente impressionados com a tremenda responsabi l idade que nos foi imposta pelo Senhor.

Deus tem certas qualidades que os pecadores sentem ins tin tivamente - sua bondade, amor, misericórdia, jus tiça , e imparcialidade. Sua condescendência2 é humilde. Sua santidade é virtude. Na qualidade de homens de Deus, e merecedores do alto t ítulo que o Senhor nos conferiu.

Outros TítulosO mensageiro —» Ml 2.7

0 pastor —» Ef 4.110 supervisor —> lTm 3.1

0 atalaia —» Ez 3.170 embaixador —> 2Co 5.20Ancião ou pai —> IPe 5.1

Dirigente —> Hb 13.17Profeta —► Ef 4.11; Lc 7.26Mestre —> 1 Co 12.28

Servo —> 2Co 4.5

1 Arrogante , pres unç oso .2 Trans igir e spon tan eam ent e ; ceder , anuir vo luntar iamente . Ter at itude co m p la ce n t e em relação a; mostrar- se c o n d e s c e n d e n t e com.

115

Em Atividades Diversas

Há também algumas ocupações citadas na Pa lavra de Deus, que i lust ram onde e como o ministro do Evangelho é chamado a servir:

Pescador —► Mt 4.19Guia —* Rm 2.19

Construtor —> 1 Co 3.10Semeador — > Mt 13.3

Critério —> Jo 4.35-38Soldado —* 2Tm 2.3

Trabalhador —> ICo 3.9

Existem determinadas qualidades vinculadas a cada uma dessas ocupações, e para os quais desejamos voltar a atenção:

S Pescador e Guia.O pescador deve ser paciente e hábil para ser

bem sucedido. Essas qualidades são necessárias aos pescadores de homens.

O guia deve conhecer o caminho, indo à frente, e deve providenciar a proteção aos l iderados para que, evitando-se os perigos, caminhem com segurança.

Esse e um bom quadro da posição do guia espiri tual que vai à frente da Igreja. Quem serve de amo deve atentar cuidadosamente às necessidades físicas daqueles que foram postos aos seus cuidados, igualmente o que cuida de enfermos tem a responsabil idade de min is trar e atender prontamente, procurando levar o paciente a um bom estado de saúde.

No caso de cr ianças pequenas, a ama tem que ser fiel ao encargo, devolvendo-as à mãe no fim do dia.

116

De igual modo, as criancinhas que o Senhor nos deu para cuidar, não são verdadeiramente nossas, mas no fim teremos de pres tar contas. O trecho de Mateus 18.6 adverte-nos quanto à ira do Senhor contra quem escandaliza um desses pequeninos que confiam nEle.

Quão caute losamente , pois, deve o minis tro zelar pelos interesses espiri tuais daqueles que o Senhor lhe põe no regaço.

S Arquite to e Lavrador.Como construtores da casa espiri tual de

Deus, devemos edificar sobre a rocha, que é Cristo Jesus, vigiando sempre a nossa maneira de edificar ( IC o 3.10). Os que ainda não se conver teram não devem fazer parte desse edifício no qual estamos ocupados.

Aquele dia declarará que sorte de trabalho cada um de nós fez hoje. Por isso mesmo convém que edifiquemos cuidadosamente com todo o cuidado, e de conformidade com o plano de Deus. De outro modo, o grande inspetor condenará nosso traba lho e nada de útil teremos para apresentar.

Um semeia, e outra ceifa (Jo 4.36-38) . E mister tanta paciência como fé, além de habi l idade, devemos plantar e esperar a colheita. Ass im como um empregado está subordinado ao agricultor dono da terra, e lança a semente no devido tempo, do mesmo modo o evangel is ta ou pastor que vem depois, que colhe o fruto que outro plantou, são iguais perante Deus, pois ambos igua lmente trabalharam.

Que cada um ceife f ielmente as espigas douradas, mas que humildemente dê crédito a quem merece.

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S Soldado.A ocupação de soldado quase sempre é

perigosa. Requer coragem, além de habil idade e d ispos ição de submeter o próprio corpo aos rigores extremos e ao perigo das batalhas. O servo de Deus, qual capelão em plena luta, vê-se entre Deus e pessoas mor ibundas como responsável por suas almas.

Isso é rea lmente um solene encargo. O grande adversár io de nossas almas, através de milhares de meios postos a sua disposição, nos ataca sem tréguas, por todos os lados.

Haverá ocasiões em que seremos chamados a enfrentar lutas e dificuldades não somente físicas, mas de toda espécie. Não podemos desanimar no dia da advers idade, mas combater o bom combate da fé, “ e depois de terdes vencido tudo, perm anecer inabalável” (Ef 6.13).

S Trabalhador.Este t ítulo pode ser reputado como o mais

simples da série, mas ser um trabalhador comum é algo respeitável. O trabalho árduo e cansativo dos obreiros representa o m o u re ja r1 dil igente do homem de Deus.

Desde cedo pela manhã até altas horas da noite, os autênticos pastores carregam os cargos do seu povo, derramam a alma na oração, no estudo da palavra e na vis i tação pastoral; apelam às almas, minist ram a palavra, e passam longas noites de vigíl ia com enfermos. Não se aplica aos pregadores a declaração: “eles não traba lham nem f iam!” .

Através das comissões que o Senhor deu aos discípulos, os quais nos foram transmitidos, podemos

1 Trabalhar mui to , sem d e sc a n so ( c o m o um mouro); l idar co nstantemente .

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aprender algo sobre a natureza do trabalho para o qual fomos convocados. Os t ítulos que vieram mais tarde dizem respeito às posições, ou cargos que ocupamos. As comissões, no entanto, são as própr ias ins truções recebidas para lançarmos mãos à obra.

A missão mais relevante , imposta aos crentes de todas as gerações, é pregar, ensinar, p roclamar e explicar o Evangelho.

Suas Tarefas

Disse o Senhor aos discípulos: “Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos” (Mt 10.16).

Na rea lidade somos pastores de ovelhas; todavia, Ele nos previne que seremos cercados, nós e eles, por animais perigosos. As ovelhas são atacadas por lobos. Essa é uma adver tênc ia acerca das dif iculdades que devemos esperar em um mundo tão hostil.

O própr io Senhor Jesus foi enviado “para evangelizar aos pobres; enviou-me para proc lam ar l ibertação aos cativos e restauração da vida aos cegos, p a ra p ô r em liberdade os oprimidos e apregoar o ano acei táve l do Senhor” (Lc 4.18,19). E ainda: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 2 0 .21).

Quão maravilhosa é esta tarefa. Que alta e santa chamada é a nossa. Ele nos estabeleceu como luzes no mundo, e nos chamou para sermos o sal da terra. O Senhor ensinou ainda: “aquele que crê em mim, f a r á também as obras que eu faço, e outras maiores fará , porque eu vou para ju n to do P a i” (Jo 14.12).

Esta promessa está muito além da exper iência da maioria dos obreiros do Evangelho,

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Cristo disse jus tamente o que t inha a intenção de assegurar. Que Deus nos conceda fé, para assumirmos a posição de autoridade e poder que Ele nos deixou como herança nesta áurea promessa.

A grande comissão inicia com uma pequena palavra - “Ide” (Mc 16.15; Mt 28.19). É o oposto de assentai-vos e f ixá-los, mas significa a renúncia das coisas que para trás f icam numa ação definida para entrar em contato com os que se acham nas estradas, nas cidades, no interior, na nação e fora dela.

A ordem de Jesus atinge até aos confins da terra, part indo de Jerusalém. Trata-se de um Evangelho de ação, e todo crente espiri tual deve esforçar-se. E neste espíri to compete-nos testif icar das verdades que temos visto e ouvido.

A melhor tradução de “ensina i” , em Mateus 28.19 é “fazei d isc ípulos” . Não basta meramente anunciarmos o Evangelho, desincumbindo-nos desta responsabil idade, e f icando l impos do sangue de todos os homens. Não nos compete ir apenas passando e proc lamando-o às pessoas.

Mas, somos ins truídos a ter como objetivo específico à conquista de almas preciosas para Cristo. Não teremos cumprido o dever enquanto não orarmos e lutarmos pacientemente, até que os homens vejam o caminho e andem nele.

Quando Barnabé e Paulo chegaram e, entraram na sinagoga dos judeus e “ falaram de tal m odo” que um grande número de pessoas veio a crer no Evangelho (At 14.1). Isso é falar com poder. Não apenas test if icaram do Evangelho, mas o fizeram de tal modo a ganhar novos discípulos. E assim sucedeu por onde passaram, embora enfrentando dificuldade.

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Questionário

■ Assinale com “X ” as a lternativas corretas

1. É errado:a'iM A graça de Deus é realmente uniforme - ela se

manifesta somente de um modob ) l_! Jesus disse: “a boca fala do que está cheio o

_coração” .c) |_ | Paulo chamou a Timóteo de “homem de D eus”d'il_] Mensageiro; pastor; atalaia e ancião; são alguns

dos t í tulos dados aos minis tros da Palavra de Deus

2. Não é uma ocupação ci tada na Palavra de Deus, que i lustra onde e como o minis tro do evangelho é chamado a servira ) l_j Pescadorb ) P Juizc ) | J Soldadod ) l_J Semeador

3. A melhor tradução de “ ensina i” , em Mateus 28.19 é:a)l 1 “Tes tem unhai”b ) D “Insista com os f racos”c)l I “Doutrinai aos ím pios”d ) |_] “Fazei d isc ípulos”

■ Marque “C” para Certo e “E ” para Errado

4. Q a Igreja é apresentada na Bíblia mediante grande número de designações e f iguras de l inguagem, uma delas é a “pom ba”

5. O A missão mais relevante , imposta aos crentes de todas as gerações, é pregar, ensinar, p roclamar e explicar o Evangelho

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A Vida Particular do Obreiro

Não há aspecto da vida do obreiro sobre a qual não deva resp landecer a luz de Deus. Em verdade nada há de oculto para aquele a quem temos de pres tar contas (Hb 4.13). E impossível que um pregador do Evangelho seja verdadeiramente espiri tual em público e carnal na vida particular.

Deve haver uma ati tude espiri tual constante em cada fase de sua vida. Portanto, não é apenas permissível , mas conveniente que examinemos a vida part icula r do ministro, a lém de considerarmos os problemas que digam respeito a seu ministério.

^ Conveniência do matrimônio.“Eu sei, ó Senhor, que não cabe ao homem

determinar o seu caminho, nem ao que caminha a dir igir os seus p a s so s ” (Jr 10.23). “Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endirei tará as tuas veredas” (Pv 3.6).

Essa lei eterna se aplica a cada problema na vida de alguém. Somos absolutamente incapazes de encontrar o “caminho da v ida” por nossa própria sabedoria, ou à luz de nossa própr ia razão. Deus, todavia, não deixou o homem sozinho, proveu para ele orientação pessoal em todos os aspectos da vida, contanto que o indivíduo se valha do instrumento divino que lhe é posto nas mãos. Ora, isso se aplica a cada detalhe e decisão de escolher a esposa ou esposo.

Abraão Lincoln e João Wesley foram exemplos notórios dos tremendos obstáculos que um homem terá que enfrentar se cometer um erro na escolha da esposa.

Quão cuidadosamente, pois, devemos orar para que o Senhor nos guie nessa questão do matrimônio. Aos solteiros é dada a ordem: “não

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procurais casamento” ( IC o 7.27). Por outro lado, declaram as Escrituras: “ O que acha uma esposa acha o bem e alcançou a benevolência do Senhor” (Pv 18.22). A harmonia entre essas duas passagens está em deixarmos a questão do casamento intei ramente nas mãos do Senhor, o qual conhece as nossas necessidades.

Temos necessidade de nít ida orientação divina na escolha da companheira para toda a vida. Quando essa nos é provida por Deus, então teremos realmente a lcançado a benevolência do Senhor.

Não parece necessário dizer aos ministros que as Escrituras proíbem, te rminantemente, a união do crente com o incrédulo (2Co 6.14). Essa é uma lei definit iva que se aplica a todos os crentes, e, uma vez desobedecida, trará um sem-f im de misér ia e lamentações.

^ Vantagens de ser casado.Há vantagens evidentes para quem é casado.

Deus mesmo disse que não é bom ao homem estar só (Gn 2.18). O coração humano não é de natureza solitária. Sente a necessidade de descarregar perante outro ser os problemas da vida e ter consc iência do fato de que há alguém com quem possa compar ti lhá-los. Isso traz grande satisfação ao coração humano.

O próprio Senhor Jesus enviou os discípulos de dois em dois (Lc 10.1); endossando assim o pr incípio da associação no serviço cristão.

O grande pregador do AT assegura: “dois é melhor do que um, porquan to se um deles vier a cair, o outro o amparará” (Ec 4.9-12).

Uma outra vantagem da vida de casado é a do conselho. Nenhum homem é auto-sufic iente no que diz respeito à sabedoria ou o bom juízo. Como é bom

123

contarmos com outrem que nos possa apresentar um ponto de vista di ferente, numa apreciação bem equi librada em diversas si tuações.

O simples fato de termos alguém com quem tratar dos problemas, j á é de grande proveito, pois a comunicação com outro nos capaci ta a ver as coisas de um ponto de vista mais acertado e a chegar a uma melhor conclusão.

O conselho que recebemos da parte do outro cônjuge é, muitas vezes, o que estávamos precisando. E é proveitoso ao crente, espir i tualmente falando, o aceitar conselhos, pois isso diminui sua auto- sufic iência e cultua nele a humildade e a disposição para ser ensinado.

Outra vantagem de ser casado é que a vida natural é completada. O matr imônio permite-nos part ic ipar das alegrias, das tristezas e das muitas di ficuldades da exper iênc ia humana, e nos aperfeiçoa se tomarmos parte ativa nessas experiências.

Recomendações .Há, no entanto, outro aspecto que deve ser

considerado com respeito às vantagens da vida de casado. Somos advert idos pelo apóstolo Paulo, em ICorínt ios 7.33, que “O que se casou cuida das causas do mundo, de como agradar a e sposa”.

E natural e lógico que o marido cuide do necessár io para o lar, devotando aquilo que ganha ao bem estar e benefício da esposa e dos filhos. Do ponto de vista natural esse está entre os maiores deveres de sua vida. Mas para o ministro esta não deve ser a preocupação mais séria.

O Senhor declarou pessoalmente : “Se alguém vem a mim, e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e f i lhos , e irmãos e ainda a sua própr ia vida, não pode ser meu d isc ípu lo” (Lc 14.26).

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O pastor e sua esposa devem ter pouquíssimo apego a tudo que for material que tenham recebido do Senhor. As coisas materiais devem ser conservadas em total subordinação ao grande objetivo espiri tual, conforme a vontade super ior de Deus.

Tanto da parte do pastor como de sua esposa deve haver sujeição mútuo das coisas materiais em grau de verdadeira renúncia de tudo que é terreno.

A pr ior idade é do Senhor. Nossos filhos, semelhantemente , devem ser postos no altar. Devemos estar prontos a dar qualquer tempo de acordo com a vontade de Deus. Mas, afinal de contas, essa é uma vida de alegria suprema, e nosso Pai Celestial providenciará para que, se buscarmos pr imeiramente o Seu Reino e sua jus tiça, todos as demais coisas nos sejam acrescentadas.

“E me puseram p o r guarda de vinhas, a vinha, porém, que me pertence, não a g uarde i” , esse foi o clamor da noiva, no livro Cantares de Salomão 1.6. Mas pode ser, igualmente, a triste confissão de alguns pastores e esposas, em relação aos próprios filhos. Isso não é recomendável, é, aliás, bem triste.

Se um homem é pastor e pai, deve dar ênfase à primeira função sem detrimento da segunda. Todavia, as questões, espiri tuais e o bem-esta r dos outros, por mais respeitáveis que sejam, não devem jamais ser causas de nossa negligência quanto aos próprios filhos.

Se o homem tomou a esposa para si, Deus abençoou essa união com filhos, então há uma responsabil idade defin ida e certa, e da qual não há como se eximir.

O pastor é um pai crente, embora seja pastor, e deve desincumbir -se plenamente de seus deveres, como homem de Deus tem tanta obr igação como qualquer outro membro da igreja, de treinar seus filhos e de prover-lhes o necessár io.

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& Um lar padrão.E da vontade de Deus que o pastor e a esposa

se conduzam no lar como padrão para todos os crentes (Tt 2.7). Nossos l iderados seguirão o exemplo que virem em nós muito mais do que os preceitos que declaramos.

A Igreja certamente observará como nossa família se porta, e fará comentários a respeito. A única coisa que nos resta para alterar esses comentários é prover bom mater ia l para esses comentários.

Nosso Pai Celeste tem um Filho, para quem está sendo preparada uma noiva. Ele conduz a sua casa como modelo para todos os seus filhos, mostrando-se misericordiosos e fiel as suas próprias leis eternas. O pastor, semelhante , em sua própr ia igreja deve conduzir a família como exemplo a todos os crentes.

Que belo modo de pregar o Evangelho e demonst rar sua beleza ao mundo! Se um homem falhar nessa oportunidade e obrigação, só poderá fazê-lo para seu próprio descrédito e pre judicará grandemente a sua eficiência como pastor.

<$■ A esposa do obreiro.Se a esposa é uma cristã de ín d o le 1 duvidosa

atrapalhará grandemente a vida das ovelhas.Alguns dizem que ela é a metade do

ministério. Se isto for verdade e o obreiro não contar com o apoio da família na retaguarda, ele estará incompleto no exercício do seu sacerdócio.

Por outro lado se o obreiro que falha no seu pastoreio do seu próprio lar terá os dias contados em algum ponto do caminho. Quando o apóstolo Paulo afirma a Timóteo e a Tito que os candidatos ao

1 Fei t io , c o n d iç ão , caráter.126

ministér io devem ser casados ( l T m 3.2-12), e quando emprega o termo “convém ” podemos assim entender que “não convém” , que os obreiros sejam solteiro. Ou seja, é melhor que sejam casados. É mais recomendável.

A observação divina de que “não é bom que o homem esteja só” , nos leva a crer que, para exercer uma função minister ia l na obra de Deus, o obreiro deve contar com a ajuda indispensável de uma esposa fiel, dedicada não somente ao lar e à vida conjugal, mas também ao minis tério da Igreja. Ela irá também ajudar a cumpri-lo e, por seu turno, concorrer para que seja ainda mais eficiente.

O obreiro que pode contar com uma esposa intel igente e devotada à obra de Deus, terá melhor ânimo para desempenhar suas funções na Igreja. E também ele procurará facil i tar a atuação da própria esposa nas tarefas a que se dedicar e que lhe forem destinadas.

Uma esposa de obreiro que busca a santidade quer nas palavras, nas atitudes, nas vestes, e no comportamento, será de muita valia para ele e para a Igreja, bem como para si mesmo, pois recairá sobre ele a confiança da Igreja na sua autoridade para falar, ensinar, acompanhar, dirigir reuniões e depar tamentos .

Obreiros que não são auxil iados por sua esposa encontram de fato uma certa dificuldade para exercer seu minis tério ( IC o 7.5).

Sua pregação, seus ensinos, suas demonst rações carecem de segurança e apoio e por mais que sejam pertinentes e alicerçados na Palavra de Deus não mostram na prá tica o reflexo que causavam se oriundos de obreiros que, além da didática e da exegética, t ivessem o reforço e o exemplo de sua própr ia esposa, ela o faz de modo a não causar sombra

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ao esposo, conservando-se na graça de Deus e na sua condição de auxil iadora. E ainda que não obstante um título minister ia l , o seu “min is té rio” estará reconhecido.

O impor tante na esposa do obreiro é reconhecer que a ela tem um real chamado de Deus e está se esforçando para por em prática a missão que lhe foi confiada, e assim esteja a cooperar com ele, a fim de que cresça na graça e alcance a aprovação de Senhor no seu ministério. Tem consc iência de que é parte indispensável no sucesso do seu esposo, porque se ele t iver sucesso, ela também o terá. Afinal, não são os dois “uma só carne?” (Ef 5.31).

Quando ouvimos ou sabemos através de l ivros ou outros periódicos que determinado obreiro foi bem-sucedido na vida minis teria l , ou em algum grande empreendimento, ver ifica-se, porém, que quase nada, se diz a respeito da tão difíci l tarefa da esposa desse obreiro, responsável em grande parte, pelo sucesso do marido. Em geral, essa i lustre mulher fica no anonimato.

Todavia, esse obreiro de sucesso, difici lmente chegaria ao a u g e 1 do seu ministério se não fosse a dedicação de sua abençoada esposa. Ela foi a melhor auxiliar , a mais excelente ajudante, apoiando-o durante as vinte e quatro horas do dia.

^ Governar sua casa.Aquele que não sabe governar a sua própr ia

casa terá cuidado da Igreja de Deus? ( l T m 3.5).Evidentemente , esta palavra é dirigida para

aquele obreiro que não cumpre com seus deveres como bom esposo e pai.

1 O ponto mais e l evado; cu lm in ânc ia . O grau mais alto; o ap ogeu .

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Mas é r e l a p s o 1 no cuidado (Rm 12.11), e não cuida bem da sua família, a Bíblia também tem uma boa observação: “Mas, se alguém não tem cuidado dos seus e pr incipa lmente dos da sua famíl ia , negou a f é e é p io r do que o in fie l” ( l T m 5.8).

Aquele que fracassa nessa área demonstra seu despreparo para o exercíc io do ministério.

Exemplo do Apóstolo Pedro aos Obreiros

Nas palavras finais da sua primeira epístola, Pedro dirige seus ensinos aos minis tros do Evangelho ( IP e 5.1-4), no que concerne às suas ati tudes ao cuidarem do rebanho de Deus.

Aqueles que são l íderes prec isam tomar cuidados a respeito de como devem alimentar, proteger e guiar as ovelhas do Senhor. O presente texto adverte- os claramente nesse sentido. O serviço do pastoreio deve ser feito:

■ Não por necessidade , mas espontaneamente;■ Não por ganância, mas de boa vontade;■ Não como um ditador, mas sendo modelo do

rebanho.Também será mostrado um pouco da árdua e

delicada missão daqueles que o Senhor chama para o seu santo ministério, com a incumbência de Lhe apresentarem “um povo seu, especial, zeloso de boas obras” (Tt 2.14).

^ Os oficiais da Igreja.O obreiro presbí tero ( IPe 5.1). Através do

NT, os termos presbí teros , bispo e ancião sãoempregados alte rnadamente , como em Atos 20.17,28;

1 D i z - s e de, ou aque le que re inc id e em erro. D i z - s e de, ou aque le que é im peni tente , obs t inado , contumaz .

129

14.23; IT im óteo 3.2; Tito 1.7. Dentre esses obreiros, uns t inham ministér io de âmbito local ( igreja local); outros, de âmbito regional, l ideravam um grupo de igrejas de uma de terminada área. Tratava-se de um ministério de l iderança espiri tual (At 14.23; 20.17,28; E f 4.11; IPe 5.1; lT m 3.2; 5.17).

1. A Hum ildade e a Autor idade Apostól ica de Pedro.

1.1. Humildade.“Sou também presb í te ro com eles” ( IP e 5.1).

Pedro não vindica sua superior idade apostólica, eclesiástica, e muito menos papal, como ensina a Igreja Romana. Era de fato uma tes temunha dos sofrimentos de Cristo e podia conservar dist inta sua posição de apóstolo. Entretanto, aqui ele se apresenta com profunda humildade, nivelando-se aos demais colegas de ministério, os quais exortava.

Em sua pr imeira epístola, capítulo 1 e versículo 1, Pedro identi ficou-se como apóstolo cer tamente para dar credibi l idade ao conteúdo de sua doutrina.

1.2. Autor idade atestada.Pedro advertiu aos ministros a que evitassem

andar atrás de autoridade ou posição, pelas quais poderiam cair no laço de ostentar a l t ivez1 ou arrogância para com os membros da Igreja.

Ao contrário disso, pela santidade de suas vidas, dever iam cuidar de suas ovelhas e tornar-se modelos do rebanho, pois Deus não fica indiferente ao modo como sua Igreja é tratada. Estas advertências, seguramente , basearam-se em sua autoridade como testemunha ocular dos sofr imentos e morte de Cristo.

1 Qual idade de al t ivo; arrogânc ia , orgu lho , amor-próprio.130

Pedro também viu a glória divina manifestar- se nEle por ocasião de sua transfiguração no monte santo (2Pe 1.17,18; Mc 9.2-7). O apóstolo mostra que t inha plenas condições de transmiti r àqueles crentes uma mensagem resultante da sua experiência de sofrer por Cristo e de part ic ipar da sua glória.

2. As Incumbências do Ofício Pastoral.

2.1. “Apascenta i o rebanho de D e u s ” (IPe 5.2).Aqui o verbo “apascen ta i” é l i teralmente

pastoreai . A idéia subentendida é a de um pastor cuidando do seu rebanho de ovelhas.

O substantivo correspondente aparece emEfésios 4.11, onde a Palavra fala de homens que Deus deu à Igreja, com responsabil idades específicas - essas responsabil idades pastora is ass inalam minis térios que são mais que simplesmente alimentar.

A expressão “ apascenta r” exprime emresumo o tr íplice minis tério do obreiro:

S Prover o pasto;S Conduzi-lo pelo caminho que leva ao pasto; e,S Proteger o rebanho ao longo do caminho que leva

ao pasto. (Ver Hb 13.17).

2.2. Pastorear com cuidado.A expressão “ apascen ta i” também adverte os

que são chamados para esta obra divina a nãopasto rearem a si mesmos em detrimento ao rebanho de Deus, como fizeram os l íderes de Israel no AT. Os que ass im fazem exploram as ovelhas, como mostraEzequiel 34.2-5.

O pastor cu idadoso deve aprender a estar alerta, guardando seu rebanho, porque as ovelhas do Senhor foram adquiridas por alto preço: “Olhai, pois, p o r vós e p o r todo o rebanho sobre que o Espírito

131

Santo vos consti tuiu b ispos , p a ra apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio san g u e” {At 20.28; IPe 1.18,19).

3. M aus Procedim entos que o Obreiro deve Evitar.

3.1. Não p o r força.Significa que o pastor não deve servir porque

é compel ido a fazê-lo, e sim, porque sente prazer em cumprir os des ígn ios1 de Deus para o ministério, e o faz voluntariamente .

Quando um obreiro, seja qual for a sua categoria, falha em seu ministério, insist indo numa posição contrária a obra e vontade de Deus, ele sofre, se desgasta, se prejudica, torna-se om isso2 e faz todo o rebanho sofrer.

3.2. Nem p o r torpe3 ganância .É repugnante o obreiro que trabalha

motivado exclusivamente pelo lucro material . Isso é mercenarismo, “ganho desones to” , e foi reprovado por Jesus (Jo 10.12).

Pedro não estava proibindo uma compensação digna pelo bom serviço pres tado pelos pastores, mas antes combat ia a tendência de certos homens de só olharem para a vantagem econômica.

Os ministros devem servir por amor a obra do Senhor, e não calculando o lucro que o seu trabalho lhes pode oferecer. Aqueles que se deixam dominar por este desejo ficam sujeitos ao pecado da cobiça, podendo até, por amor ao dinheiro, envergonhar o genuíno Evangelho de Cristo.

1 Intento, in tenção, p lano , projeto , propós ito .2 Que reve l a o m iss ão , falta, lacuna , e s qu ec im en to ; descu idado; n eg l ig en te .3 D e s o n e s t o , impudico; in fame, v i l , abjeto; maculado.

132

Entretanto , a respei to do verdadeiro ministro, disse o Mestre: “digno é o obreiro do seu sa lário” (Lc 10.7; Mt 10.10; ICo 9.7-14; lT m 5.17). A Lei já precei tuava isso (Dt 25.4).

3.3. Como dominadores.A Palavra aqui é incisiva ao fazer alusão às

pessoas com essa postura. O pastor não deve servir como alguém que “dom ina” o rebanho. Mas, como exemplo, estando sempre à frente, l iderando o rebanho, em vez de estar atrás, pressionando-o.

E um absurdo para o obreiro, servo que é, inverter o seu papel no exercício do seu ministér io ( IPe 5.3a). Um dos indícios disso é o autoritarismo. Muitas igrejas têm sido divididas ou destruídas porque seus líderes querem manter o controle e o poder sobre o rebanho do Senhor pela força de suas decisões egoístas e carnais. Jesus reprova estas ati tudes e enfatiza que os que são por Ele chamados são servos (Mc 10.42-45). Ele mesmo deu o seu exemplo nesse sentido (Jo 13.15 cf. Mc 10.45).

A t i t u d e s e C o n d u t a d o P a s t o r

A s p e c t o s (-)Não soberbo (Mt 2 0 . 2 5 , 2 6 )

N ã o iracundo (2Tm 2 .2 4 )

N ã o dado ao v inho ( l T m 3 .3)

Não espancador (2 Tm 2 . 2 4 , 2 5 )

Não c o b iç o s o , de torpe ganânc ia (1 Tm 6 . 5 ,9 , 1 0 )

A s p e c t o s (+)Hospi ta le i ro ( l T m 5 .10)A m i g o do bem (Fp 4 .8 )

Moderado (Tt 1 .6 -8 )

Justo (Tt 1 .6 -8 )

Santo (Tt 1 .6 -8 )

133

O obreiro no exercíc io da sua missão deve ser exemplo vivo para suas ovelhas, a partir do modelo do Supremo Pastor, que é Cristo ( IPe 5.3; 2.21; ICo11.1; Fp 3.17; Hb 13.7). O nível espiri tual da Igreja difici lmente se elevará acima do nível de integridade espiri tual de seu pastor. Palavra e vida devem corresponder uma à outra.

De um modo geral, a expressão “mais idoso” era normalmente traduzida entre os cristãos pela pa lavra grega presbítero. Todavia , entre algumas igrejas puramente gentias, que desconheciam os costumes judaicos , as expressões “mais idoso” e presbítero signif icavam, via de regra, um homem de idade, e não propriamente um líder.

Para que não houvesse confusão, passaram a usar o termo grego episcopos - inspetor, superintendente . No período do NT, os termos bispo e mais idoso eram usados de forma intercambiável com líder, que correspondia a pastor.

Nos séculos seguintes, o pastor da igreja principal da cidade passou a ser inti tulado de bispo, enquanto os pastores ass is tentes e os das igrejas menores, ou fil iadas eram chamados de presbíteros. Com a evolução do processo , marcado pela degeneração, uma hierarquia j á estava a comandar a igreja. Os bispos passaram a chefiar os demais, e o termo presbítero corrompeu-se para sacerdote, que nada t inha a ver com a palavra similar do AT.

Mas, como já dissemos, o termo “mais idoso” , presbítero e bispo eram usados indiferentemente nos dias de Pedro.

Pedro não se refere aos mais idosos como se fora um papa. Ele não está dando ordens, mas exor tando-os na condição de um companheiro ainda mais idoso. Dar ordens não é a tônica de seu ministério.

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Questionário

■ Assinale com “X ” as a lternat ivas corretas

6. É errado:a ) __ Aos solteiros é dada a ordem: “não procurais

casamento” ( IC o 7.27)b ) 0 O coração humano não é de natureza soli táriac ) l_! Deus disse: “ é bom que o homem esteja só”d) |_| Uma outra vantagem da vida de casado é a do

conselho

7. É coerente dizer que:a)|_I Se um homem é pastor e pai, deve dar ênfase à

segunda função sem de trimento da primeirab^l_I Mesmo sendo a esposa do pastor uma cristã de

índole duvidosa, nunca at rapalhará grandemente a vida das ovelhas

c)| I Mesmo não sabendo governar a sua própria casa, o pastor terá, sem sombra de dúvidas, cuidado da Igreja de Deus

d ) |_j Obreiros que não são auxi l iados por sua esposaencontram de fato uma certa dificuldade para exercer seu ministér io

8. E certo afirmar:a ) l_I O serviço do pastoreio deve ser feito: não por

espontaneamente , mas por necessidadeb ) 0 O obreiro no exercíc io da sua missão deve ser

exemplo vivo para suas ovelhasc)l 1 É louvável o obreiro que trabalha motivado

exclusivamente pelo lucro material , assim ele rende mais

d ) l | O pastor deve servir como alguém que“domina” o rebanho, usando do autoritarismo

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■ Marque “C” para Certo e “E ” para Errado

9 - D A expressão “apascen ta r” exprime em resumo o único ministério do pastor: prover pasto para o rebanho

1 0 . □ Os ministros não devem deixar de calcular o lucro que o seu trabalho lhes pode oferecer

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Ética Cristã/Teologia do ObreiroReferências Bibliográficas

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