estudo vida de exodo vol i - mensagens 1

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E E S S T T U U D D O O - - V V I I D D A A D D E E Ê Ê X X O O D D O O V V O O L L U U M ME E I I Witness Lee

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA

DDEE

ÊÊXXOODDOO VVVOOOLLLUUUMMMEEE III

Witness Lee

2 | P á g i n a

EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM UM

UMA PALAVRA INTRODUTÓRIA A revelação divina nas Escrituras é progressiva, desdobrando-se e desenvolvendo-se livro após livro e capítulo após capítulo. Os sessenta e seis livros da Bíblia foram escritos durante um período de aproximadamente mil e seiscentos anos. Durante esse longo tempo, Deus não falou de uma vez por todas, numa época específica. Pelo contrário, falou a Seu povo progressivamente, era após era, por um longo tempo. Em Colossenses 1:25, Paulo disse ter sido feito ministro de acordo com a mordomia de Deus, "para completar a palavra de Deus" (grego). À época de Paulo, a revelação de Deus nas Escrituras não se havia completado. Por isso se fazia necessário Paulo tomar o encargo de falar e escrever, a fim de completar a palavra de Deus. É o escrito de João, porém, no livro de Apocalipse, que marca a conclusão da revelação divina nas Escrituras. Por estar completa a revelação, somos advertidos de não promovermos o acréscimo nem a exclusão de palavra alguma da revelação de Deus (Ap 22:18-19). Agora que se completou a revelação progressiva de Deus nas Escrituras, a ninguém é permitido adicionar-lhe coisa alguma. O que precisamos fazer hoje é ler, estudar e até mesmo pesquisar a Bíblia progressivamente, livro após livro.

I. UMA COMPARAÇÃO Uma vez completado o estudo-vida de Gênesis, chegamos agora ao livro de Êxodo. Historicamente, Êxodo é a continuação de Gênesis; experimentalmente, entretanto, não o é. De acordo com a experiência espiritual, o que se retraía em Êxodo não é uma conti-nuação da experiência de Abraão, Isaque e Jacó, como se registra em Gênesis. Em nosso estudo de Gênesis, enfatizamos que as experiências de Abraão, Isaque e Jacó são três partes da experiência de uma pessoa, de um cristão: a experiência de ser chamado e de viver em comunhão com Deus pela fé (Abraão), a de desfrutar da herança (Isaque) e a de ser transformado (Jacó). Em Gênesis, temos uma figura clara das três seções principais da experiência espiritual de um cristão. Por apresentar tal figura vívida e pormenorizada da experiência espiritual, o Antigo Testamento se me tornou muito precioso, e cheguei a tê-lo em alta conta. A experiência espiritual tem não apenas seções, mas também lados e aspectos dife-rentes. O retrato de nossa experiência em Gênesis só aborda um lado, uma linha. Em Êxodo, verificamos um outro lado, uma outra linha. O registro de experiência apresentado em Gênesis é maravilhoso, mas não é completo. Para sua conclusão, precisamos de um outro aspecto, que se encontra em Êxodo.

A. Uma Figura da Redenção Ao compararmos Êxodo com Gênesis, podemos perceber como Êxodo apresenta um lado, ou linha, da experiência espiritual, que não se encontra em Gênesis. Neste, por exem-plo, não observamos um quadro claro da redenção. Em Abraão, observamos o chama-

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mento de Deus, mas não o relato de sua redenção. Ele foi exemplo de um típico chamado; foi chamado por Deus para fora da Caldéia, para fora da terra de Babel, uma terra de rebelião e idolatria. Quando ainda vivia em Babel, o Deus da glória lhe apareceu e o chamou (At 7:2, 3). Mas não existe uma palavra clara acerca da redenção. O que vemos em toda a experiência de Isaque é uma figura do desfrutar da rica herança, e não uma figura de redenção. Esta também não se faz presente no relato da experiência de Jacó. Embora fosse por fim tornado um Israel, um príncipe de Deus, não existe registro de sua experiência de redenção. Onde então Abraão, Isaque e Jacó foram redimidos? Foram redimidos em Êxodo. Neste livro, notamos um quadro claro e pleno referente à redenção de Deus. Que quadro de redenção poderia ser mais claro do que aquele da Páscoa? Nem mesmo no Novo Testamento encontramos um quadro mais pormenorizado. A Páscoa é um qua-dro maravilhoso de nossa redenção. Nele até existe uma indicação da cruz. Certa vez, li um artigo que descrevia como o cordeiro pascal era morto pelos judeus. De acordo com esse artigo, eles tomavam dois pedaços de madeira e faziam uma cruz. Depois atavam as patas traseiras do cordeiro ao pé da cruz e atavam as dianteiras, estendidas nos braços da cruz. Depois disso, matavam-no, de modo que se escorresse todo o seu sangue. Verificamos, assim, na figura da Páscoa, a cruz. Depois, ao considerarmos o retrato da Páscoa, rece-bemos uma impressão vívida do poder do sangue do Cordeiro de Deus. Êxodo 12:13 diz: "O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes: quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito." Tal quadro maravilhoso está em Êxodo, não em Gênesis.

B. O Cuidado do Senhor Para Com o Seu Povo Redimido Percebe-se um outro contraste entre Gênesis e Êxodo na questão do cuidado do Senhor para com o Seu povo. Após ser chamado, Abraão começou a seguir o Senhor. Não saben-do para onde ir, desfrutou de Sua presença como seu mapa vivo. Simplesmente viajou, de acordo com a presença do Senhor. Embora percorresse a longa distância entre a Caldéia e a terra de Canaã, o livro de Gênesis não nos diz como o Senhor o sustentou ou cuidou dele. Sabemos, é claro, de maneira geral, que o Senhor o supriu de tudo o que precisava; mas, em Gênesis, não temos o mesmo tipo de exemplos específicos, mostrando o cuidado direto do Senhor para com ele, como os de Êxodo, que mostram o cuidado de Deus para com o Seu povo. Em Êxodo, desde o princípio temos um registro claro e pormenorizado de como o Senhor cuidou de Seu povo redimido. Quando lhes faltava comida. Ele os su-pria de maná. Quando não tinham água para beber, dava-lhes a água viva da rocha fendida. Em Êxodo, observamos não apenas a liderança do Senhor, mas também um retrato vívido de como Ele cuidou das necessidades diárias de Seu povo redimido. Nesse aspecto. Êxodo é mais minucioso e sólido do que Gênesis. Nem mesmo no Novo Testamento, encontramos tal figura do suprimento espiritual de vida. Isso deveria im-pressionar-nos quanto ao significado e à importância desse livro.

C. A Orientação do Senhor Algumas comparações adicionais tornarão essa impressão ainda mais forte. Embora o Senhor guiasse Abraão em Sua presença, Sua orientação em Gênesis é ainda vaga e abstrata. Em Êxodo, todavia, ela é muito mais sólida e substancial, porque, em Êxodo, o Senhor guiou o Seu povo por meio da coluna, algo forte e sólido. Como todos sabemos, à

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luz do dia, a presença do Senhor era uma coluna de nuvem e, durante a noite, uma coluna de fogo. Porque a orientação do Senhor tinha uma substância visível, todas as pessoas podiam reconhecê-la.

D. A Revelação e a Edificação do Lugar de Habitação de Deus Em Gênesis 18, Deus visitou Abraão e comeu com ele; permaneceu ali uma parte do dia. Em Gênesis, todavia, não existe uma revelação clara do tabernáculo como lugar de habitação de Deus. Em Êxodo, não há somente a revelação do padrão do lugar de habitação de Deus, mas também se encontra um registro detalhado, de maneira prática, do verdadeiro edifício do lugar de habitação de Deus. Em Gênesis, Deus apareceu repetidas vezes ao Seu povo escolhido, mas não teve um lugar de habitação tangível no meio deles. O livro de Êxodo, entretanto, registra de maneira plena tanto a revelação quanto a edificação do tabernáculo como lugar de habitação de Deus na terra.

E. Experiência Individual e Experiência Coletiva Verifica-se um outro contraste entre Gênesis e Êxodo na diferença entre a experiência individual e a coletiva. A experiência de Gênesis é primordialmente indivi-dual, mas a de Êxodo é coletiva. Abraão, por exemplo, foi chamado como um indiví-duo. Até mesmo o que o Senhor ganhou por transformar Jacó em Israel foi algo individual. Jacó teve doze filhos, mas todos, exceto José, estavam abaixo do padrão. A experiência inteira retratada por Êxodo, pelo contrário, é coletiva. A redenção, a orientação, a revelação e a edificação são todas questões coletivas. Em nossa experiência espiritual, existem dois lados: o individual e o coletivo. Sem dúvida, o lado individual é básico; mas o coletivo é mais rico, mais elevado e maior. A consumação e conclusão definitiva de nossa experiência como cristãos não é indivi-dual, mas coletiva. Em Gênesis, notamos a experiência individual, básica; mas, em Êxodo, verificamos a experiência coletiva, definitiva. Considere como uma ilustração o uso do nome "Israel" nesses dois livros. O livro de Gênesis conclui-se com um Israel individual, mas o livro de Êxodo se conclui com um Israel coletivo. Êxodo 14:30 diz: "Assim, o Senhor livrou Israel naquele dia da mão dos egípcios; e Israel viu os egípcios mortos na praia do mar". Nesse versículo, a palavra "Israel" é usada de maneira coletiva, para referir-se a todos os israelitas. Mas, em Gênesis, o nome "Israel" é usado de maneira pessoal e individual, referindo-se ao Jacó transfor-mado (Gn 35:10,21). Em Gênesis, Israel é uma pessoa individual; mas, em Êxodo, é um povo coletivo. O Israel individual do final de Gênesis pode ser comparado a um pequeno broto de uma semente; mas o Israel coletivo do fim de Êxodo é como uma árvore totalmente crescida, a dar frutos. O Israel coletivo, formado pelos descendentes do Israel individual, é o aumento e a expansão deste. Em Êxodo 40, não observamos um Israel limi-tado a uma pessoa, mas um Israel expandido, para ser uma entidade coletiva, composta pelos descendentes do Israel individual. É vital que o vejamos. Além do mais, a salvação de Êxodo não é uma questão individual, mas envolve todos os filhos de Israel. Na época da saída do Egito, havia aproximadamente dois milhões de israelitas, todos eles salvos simultaneamente; passaram pelo julgamento de Deus ao mesmo tempo. Por um lado, nós, cristãos, fomos salvos pessoal e individualmente; todavia, por outro lado e aos olhos de Deus, fomos salvos conjuntamente. Fomos salvos coletivamente. Essa é

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a concepção de Paulo em Efésios 2:6, onde lemos que fomos ressuscitados juntos e conjuntamente nos assentamos nos lugares celestiais. A palavra "juntamente" desse versículo significa um com o outro. Aos olhos de Deus, todos fomos ressuscitados ao mesmo tempo. Pedro não foi ressuscitado numa época, Estêvão em outra, e Paulo ainda em uma terceira. Não importa quando nascemos; fomos todos ressuscitados coletiva e simultaneamente em Cristo. Embora tenhamos sido redimidos coletivamente, em certo sentido fomos chamados individualmente. Nenhum de nós foi chamado juntamente com o apóstolo Paulo. Com re-ferência ao chamamento de Deus, existe um elemento individual; porém, quanto à Sua redenção, nada existe de individual, mas tudo é coletivo. Enfatizamos que, ao final de Gênesis, encontramos um Israel individual. Mas, no último capítulo de Êxodo, percebemos um vaso coletivo, a habitação de Deus, o lugar de Sua habitação com o homem na terra. Através desse contraste, podemos verificar a diferença entre a linha de Gênesis e a de Êxodo. Em Gênesis, vê-se a linha da experiência espiritual individual, ao passo que, em Êxodo, se verifica a linha da experiência coletiva. Em Gênesis, basicamente duas pessoas — Abraão e sua esposa — saíram da Caldéia; contudo, em Êxodo, mais de dois milhões de pessoas saíram do Egito. Que contraste!

F. A Glória de Deus Embora seja um livro rico, não se nota em Gênesis a glória de Deus manifesta no meio de Seu povo de maneira palpável. Todavia, no capítulo quarenta de Êxodo, a glória de Deus desceu visível e substancialmente, ao se erigir o tabernáculo. Não apenas desceu sobre o tabernáculo, mas também o encheu.

G. A Queda

Percebe-se um outro contraste entre Gênesis e Êxodo na maneira de se apresentar a queda nesses dois livros. A Bíblia nos mostra aspectos diferentes da queda do homem. Em Gênesis, a queda foi rebelião e idolatria, isto é, uma queda em Babel. Antes de sermos salvos, estávamos em Babel, numa terra de rebelião e de idolatria. Mas também estivemos no Egito, lugar da queda descrita em Êxodo. O Egito é uma terra de deleite da carne. Tal prazer leva as pessoas à escravidão, ao cativeiro. Portanto, na Bíblia, o Egito tipifica o mundo como satisfação carnal que nos conduz à escravidão. Antes de sermos salvos, estávamos em Babel, por um lado, e, por outro, no Egito. Isso quer dizer que estávamos em rebelião e idolatria, e também no mundo com o seu deleite, incluindo os esportes e os divertimentos. O prazer carnal do mundo destina-se à satisfação do homem natural. Através desse deleite carnal e mundano, o homem caído é mantido sob cativeiro, tendo Satanás por seu Faraó. As pessoas caídas são como as de Babel e como os filhos de Israel no Egito. Se nos limitássemos à linha de Abraão, Isaque e Jacó, descrita no livro de Gênesis, veríamos tão-somente o aspecto de nossa queda retratada por Babel. Percebe-ríamos rebelião e idolatria, mas não escravidão nem servidão advindas do deleite munda-no. Até mesmo na queda do homem, existem duas linhas. Por um lado, somos Abraão, Isaque e Jacó; por outro, somos os filhos de Israel. Ao percebermos muitos dos contrastes entre Gênesis e Êxodo, não deveríamos mais, de acordo com nossa experiência, considerar este último como continuação do primeiro. Repetindo, Êxodo não é uma continuação da experiência espiritual de Gênesis; ele revela um outro lado, uma outra linha da experiência do cristão. A experiência de Gênesis é um

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pouco vaga e abstrata, mas a de Êxodo é sólida e substancial. Todos os aspectos da expe-riência de Êxodo são sólidos, desde a presença do Senhor como coluna até a glória a encher o tabernáculo.

H. Um Livro de Figuras Tanto Gênesis quanto Êxodo contêm figuras das experiências espirituais descritas no Novo Testamento. As figuras de Gênesis, todavia, não são tão definidas como as de Êxodo. Do início ao fim, Êxodo é um livro figurado. Tanto Faraó quanto a terra do Egito, por exemplo, são figuras. Faraó tipifica Satanás, e o Egito retrata o aspecto rico e produtivo do mundo. (O aspecto pecaminoso do mundo é representado por Sodoma). Banhada pelo Nilo, a terra do Egito produz pepino, alho, alho silvestre e cebola. Durante os anos em que vagaram pelo deserto, os filhos de Israel se queixaram da falta de tais especiarias, de que desfrutavam abundantemente na terra do Egito. Nesta, os israelitas muito desfrutaram de sua produção; mas, no deserto, só tinham o maná para comer. Isso é uma figura. Enquanto lê o livro de Êxodo, tenha em mente que você não apenas está lendo palavras, mas olhando para as figuras. A celebração da Páscoa e a matança dos primogênitos pelo anjo exterminador são figuras. Enquanto todos os primogênitos eram mortos, os filhos de Israel desfrutavam de paz, descanso e segurança, ao comerem o cordeiro pascal em suas casas, sob a cobertura do sangue. Que quadro maravilhoso! A perseguição de Faraó e seus exércitos contra os israelitas também é uma figura de Satanás e suas hostes de anjos rebeldes em perseguição contra os redimidos de Deus, Quando chegamos ao livro de Êxodo, olhamos para um aparelho de televisão celestial. Nesta televisão, observamos figuras de nossa própria redenção e salvação. Faraó e seu exército perseguiram os filhos de Israel até dentro do Mar Vermelho, e lá se afogaram. Os israelitas, todavia, marcharam através do mar triunfalmente. Em nenhum outro lugar da Bíblia podemos encontrar tal figura. Notamos outras figuras no chamamento de Moisés. Quando o chamou, Deus primeira-mente lhe deu uma visão de uma sarça ardente, de uma sarça que ardia sem se consumir (3:2-4). Incapaz de escapar ao chamamento de Deus, Moisés expressou sua preocupação no sentido de que os filhos de Israel não cressem nele, nem lhe ouvissem a voz (4:1). Por isso, Deus lhe disse que lançasse sua vara na terra. Quando o fez, a vara se tornou uma serpente. Mas, ao apanhar a serpente pela cauda, ela se tornou novamente uma vara em sua mão (4:2-4). O Senhor então lhe ordenou que colocasse sua mão no peito. Quando a tirou de seu peito, ela estava "leprosa, branca como neve" (4:6). À ordem de Deus, colocou-a novamente em seu peito e a tirou, e ela se tornou outra vez como a sua carne (4:7). Após mostrar-lhe tais sinais, sinais esses que deveriam ser provas para os filhos de Israel de que o Senhor realmente lhe aparecera, Este lhe disse: "Se nem ainda crerem mediante esses dois sinais, nem te ouvirem a voz, tomarás das águas do rio, e as derramarás na terra seca; e as águas que do rio tomares tornar-se-ão em sangue sobre a terra" (4:9). Esse deveria ser um sinal posterior. Tais sinais são muito significativos. A sarça denota o nosso homem natural. O fato de que o arbusto ardia sem se consumir indica que, quando nos chama, Deus não tem in-tenção de usar o nosso homem natural. A vara representa qualquer outra coisa além de Deus, na qual depositamos nossa confiança. A vara a se tornar uma serpente revela que qualquer outra coisa além de Deus em que nos apoiamos é uma serpente, o diabo. Assim, se você confia em seu esposo ou esposa, ele ou ela é uma "serpente". O mesmo é verdade com relação à sua educação ou

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conta bancária. Quando obedecemos ao Senhor para lançar fora a vara, ela se torna uma serpente. Mas Deus não quer que a joguemos fora. Ao Seu comando, precisamos pegá-la novamente pela "cauda". Precisamos agarrar nossa educação ou conta bancária pela "cauda". A mão de Moisés a ficar leprosa é uma indicação de que em nossa carne nada existe de bom; ela é a incorporação da lepra. Se tocarmos a nós mesmos, ficaremos leprosos. Finalmente, a mudança da água do Nilo em sangue significa que o prazer do mundo é morte. Tais sinais indicam que Deus não utilizará nosso homem natural, que tudo em que confiamos além de Deus é Satanás, que nossa carne é leprosa, e que o prazer do mundo é morte. Essas são algumas das figuras de Êxodo. Existem outras nesse livro, relacionadas ao Mar Vermelho, ao maná, à água fluindo da rocha fendida e ao tabernáculo com seus utensílios.

II. UM ESBOÇO GERAL O esboço geral de Êxodo primeiramente mostra como os filhos de Israel foram escravi-zados no Egito (1:8-14). Depois, revela como foram redimidos e salvos (12:27; 14:30). Após sua redenção e salvação, foram eles guiados pelo Senhor através do deserto (13:17-18, 21-22; 17:1; 19:1-2; 40:36-38). Foram guiados pela coluna de nuvem e pela coluna de fogo. Pos-teriormente, o maná caiu do céu, e a água viva jorrou da rocha fendida. Em suas jornadas, os filhos de Israel, finalmente, foram conduzidos pelo Senhor ao Monte Sião, onde recebe-ram uma revelação do Seu eterno propósito, que é ter Seu lugar de habitação na terra (25:8-9,40). Após receberem tal revelação, eles edificaram o tabernáculo para a habitação de Deus (39:32; 40:2, 34-35). Êxodo não é apenas um livro que conta como os israelitas saíram do Egito; é um livro de redenção, de suprimento, de revelação e de edificação. A saída do Egito foi simples-mente o início. A isso se seguia o suprimento, a revelação e a edificação.

III. O PENSAMENTO CENTRAL O pensamento central de Êxodo é que Cristo é a redenção, a salvação e o suprimento do povo de Deus, além de ser o meio de eles adorarem e servirem a Deus, de modo que, Nele, possam ser edificados juntamente com Deus, para que tanto eles quanto Deus se encontrem, se comuniquem e se habitem mutuamente. Percebemos Cristo ao longo de todo o livro de Êxodo. Como Páscoa, Ele é o meio de nossa redenção. Como grande salvação para o povo de Deus, Ele nos salva da mão de Faraó, de Satanás. Como maná e água viva, Ele é o nosso suprimento de vida. Além disso, o Mar Vermelho tipifica a morte de Cristo, onde somos batizados (1Co 10:2). Romanos 6:3 diz que os que foram batizados em Cristo são batizados em Sua morte. Em Êxodo, Cristo é vários outros itens: a coluna de nuvem e a coluna de fogo, as setenta palmeiras e as doze fontes de Elim, e o tabernáculo com todos os seus utensílios. Através do tabernáculo e seus móveis, o povo redimido de Deus podia servi-Lo e adorá-Lo. Isso indica que Cristo é o meio pelo qual servimos e adoramos a Deus. O Seu povo escolhido deve ser edificado conjuntamente em uma entidade, no tabernáculo, onde Deus e o homem mutuamente se encontram, se comunicam e se habitam. Em Cristo, nós e Deus, Deus e nós somos edificados juntos, encontramo-nos juntos e habitamos juntos. Esse é o pensamento central do livro de Êxodo.

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IV. ASSEÇÕES

Podemos esboçar as seções de Êxodo de uma maneira simples. O livro é organizado em cinco partes: escravizados (1:1-22), redimidos e salvos (de 2:1 a 15:21), guiados (de 15:22 a 18:27), recebendo revelação (de 19:1 a 34:35), e edificando o tabernáculo (de 35:1 a 40:38). Com tal palavra introdutória diante de nós, entraremos nos pormenores deste livro nas mensagens posteriores.

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MENSAGEM DOIS

ISRAEL SOB ESCRAVIDÃO

No que diz respeito à composição, o livro de Êxodo é uma continuação de Gênesis. Isso se prova pela maneira como Êxodo começa: "São estes os nomes dos filhos de Israel, que entraram com Jacó no Egito" (1:1). Gênesis tem um início maravilhoso, mas uma conclusão lamentável. Começa com as palavras: "No princípio criou Deus os céus e a terra"; mas ter-mina com a afirmação: "Morreu José da idade de cento e dez anos; embalsamaram-no, e o puseram num caixão no Egito" (Gn 50:26). Gênesis, assim, termina com um homem morto, posto num caixão no Egito. Isso indica que o povo escolhido de Deus estava numa situação de morte. Êxodo 1 é uma exposição adicional da condição do povo de Deus no Egito. Embora estivessem sob morte, não estavam inativos, pois estavam vivos e ativos na morte. Esse é o pensamento de Paulo em Efésios 2, onde lemos que aqueles que se acham mortos em transgressões e pecados, andam de acordo com a era do mundo, agem de acordo com as concupiscências da carne e realizam os desejos da carne e dos pensamentos. Os que estão espiritualmente mortos ainda têm suas obras; mas são obras mortas, obras de morte. O capítulo primeiro de Êxodo é um registro minucioso das atividades do povo de Deus em sua situação de morte no Egito. Forçados a trabalhar como escravos de Faraó, já esta-vam na morte; e, mesmo assim, estavam sendo diariamente mortos. Pode soar estranho dizer que os mortos estavam sendo mortos; mas isso é verdade na experiência espiritual. Embora as pessoas do mundo já estejam espiritualmente mortas, ainda estão sendo conti-nuamente mortas. A situação no meio do povo do mundo, hoje, assim como no meio do povo de Deus em Êxodo 1, caracteriza-se pela escravidão e pela morte. As pessoas primeiramente são escravizadas pelo mundo e depois mortificadas e mortas por ele. Elas podem pensar que a cultura humana esteja progredindo de maneira positiva; mas, aos olhos de Deus, há mais escravidão e morte na terra hoje do que nunca. Antes de nos achegarmos a Cristo e sermos salvos, também fomos escravizados e mortificados. Além disso, antes de entrarmos para a vida da igreja, na restauração do Senhor, muitos de nós continuávamos escravizados e mortificados, mesmo após sermos salvos. Todos preci-samos estar alerta, para que não mais sejamos escravizados e mortificados novamente. O livro de Gênesis tem um bom começo, mas termina com uma situação deplorável, ao passo que Êxodo começa com uma situação deplorável, mas termina gloriosamente. Enfatizamos que Gênesis começa com a criação de Deus, mas termina com um homem morto posto num caixão no Egito. Êxodo, pelo contrário, começa com o quadro do povo de Deus escravizado e sob morte, mas se conclui com a arca no tabernáculo pleno da glória de Deus. Que grande diferença entre o final de Gênesis e o de Êxodo! Onde você prefere estar — num caixão no Egito ou com a arca no tabernáculo pleno da glória de Deus?

I. COM RELAÇÃO A PRÓPRIA SUBSISTÊNCIA

Nesta mensagem, consideraremos o cativeiro dos filhos de Israel. Os israelitas nasceram em Canaã. Por causa da falta de comida, foram forçados a descer ao Egito, onde, por fim,

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foram escravizados. Com isso, percebemos que as pessoas se tornam escravas primeira-mente pela necessidade de manter a própria subsistência, pela necessidade de fazer a vida. As pessoas do mundo são levadas a muitos divertimentos, porque desejam um melhor meio de vida. De semelhante modo, elas hoje vão atrás de uma educação ou experiência técnica superior, a fim de assegurarem uma boa vida, até mesmo a melhor que puderem. Em todo o mundo, em nações desenvolvidas ou subdesenvolvidas, as pessoas são escravi-zadas pela necessidade de ganharem a vida. Essa também era a situação dos filhos de Israel no Egito.

A. O Egito Tipifica o Mundo De acordo com a Bíblia, o mundo tem pelo menos três aspectos: o de rebelião e idolatria, tipificado por Babel; o de pecado, tipificado por Sodoma; e o de gozo e prazer, tipificado pelo Egito. A rebelião se relaciona à idolatria, à adoração de qualquer outra coisa além de Deus. Por estarem os adoradores de ídolos em rebelião contra Deus, a adoração aos ídolos tipifica rebelião. Na Bíblia, Babel é um símbolo do mundo rebelde e idólatra. Na terra, hoje, há ídolos por toda parte, até mesmo nos países cristãos. Abraão foi chamado para fora da terra de Babel, isto é, para fora do mundo de rebelião e idolatria. O fato de Deus o chamar para fora da terra de Babel simboliza a nós mesmos sendo chamados para fora do mundo rebelde e idólatra. Mas, como já enfatizamos, o chamamento de Abraão representa apenas um aspecto de nossa salvação do mundo.

1. Rico em Suprimento Material e Cheio de Gozo e Prazer Físico O êxodo dos filhos de Israel do Egito representa um outro aspecto. O Egito tipifica o mundo do gozo, o mundo do prazer. Os que se envolvem com esse aspecto do mundo não se acham enredados primeiramente pela rebelião nem pela idolatria; estão totalmente ocupados com o prazer, com o rico suprimento material e com o gozo físico do mundo (Gn 12:10; 42:1; Nm 11:4-5), O Rio Nilo, que irriga o Egito, torna a terra rica em produção. Quando vagavam pelo deserto, os filhos de Israel diziam: "lembramo-nos dos peixes que no Egito comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos" (Nm 11:5). Todos esses itens representam as riquezas materiais do mundo, destinadas ao gozo e ao prazer. Antes de sermos salvos, estávamos não apenas no mundo da rebelião e da idolatria, mas também no mundo das riquezas e do gozo. Abraão foi chamado para fora do mundo rebelde, mas os filhos de Israel tiveram o seu êxodo para fora do mundo do prazer. O Egito era rico não apenas em suprimento de vida, mas também em ouro. Isso se prova pelo fato de eles darem ouro aos israelitas à época do êxodo.

2. Usurparam o Povo Que Deus Criara e Escolhera Para o Seu Propósito

O mundo tipificado pelo Egito usurpa o povo que Deus criou e escolheu para o Seu propósito (5:6-9). Os filhos de Israel foram escravizados por aquele aspecto do mundo que lhes dera subsistência e lhes proporcionara prazer. Quer sejam ricos ou pobres, muitos hoje são escravos do dinheiro. Trabalham arduamente para ganhar uma grande quanti-dade de dinheiro e, depois, em pouco tempo, gastam tudo o que têm na entrega de si próprios aos prazeres do mundo. Assim, muitos hoje não servem a Deus, mas ao dinheiro. Essa era a situação no meio dos antigos israelitas, na terra do Egito. Lá, tinham uma boa

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vida e gozavam das riquezas do mundo. Mas o Egito os impedia de cumprir o propósito para o qual Deus anteriormente os chamara. No Egito, os filhos de Israel se tornaram fortes. Êxodo 1:7 diz: "Mas os filhos de Israel foram fecundos, aumentaram muito e se multiplicaram, e grandemente se fortaleceram; de maneira que a terra se encheu deles." Num certo sentido, ficar forte é ficar rico. Sem dinheiro, uma nação não pode ser forte. Os Estados Unidos, por exemplo, são uma nação forte por causa de sua economia. Os filhos de Israel desfrutaram do aspecto do mundo tipificado pelo Egito. Não se encontravam no primeiro aspecto do mundo, tipificado por Babel, nem no segundo, representado por Sodoma; mas se achavam escravizados no terceiro, tipificado pelo Egito. Por estarem ocupados com as riquezas e prazeres do mundo, ficaram impedidos de cumprir o propósito para o qual Deus os criara e escolhera. No mesmo princípio, todas as pessoas do mundo de hoje foram dominadas por Satanás. Como resultado, não conhecem o propósito de Deus. Como precisamos agradecer ao Senhor por livrar-nos do cativeiro do mundo e por libertar-nos da mão usurpadora de Satanás!

B. Os Filhos de Israel Caíram Sob a Tirania Egípcia Por causa de sua necessidade de manter a própria subsistência, os filhos de Israel caíram sob a tirania egípcia (1:10-11). As pessoas do mundo, hoje, também estão sob tirania. Até a preocupação com divertimentos mundanos é um sinal de que estão sob a tirania de Satanás. Forçadas a seguirem um curso que as mantém sob a tirania de Satanás e que as separa do propósito de Deus, elas não têm liberdade, nem fazem as escolhas corretas.

II. A ESCRAVIZAÇÃO DE ISRAEL POR FARAÓ

A. Faraó Simboliza Satanás

Os filhos de Israel ficaram sob a escravidão de Faraó (1:8-11, 13-14), que tipifica Satanás, o governante do mundo (Jo 12:31; Ef 2:2). Por ser a corporificação de Satanás, Faraó é uma figura de Satanás em Êxodo, um livro de figuras.

B. Faraó Fez o Povo de Deus Trabalhar Para Si

1. Tratou-os Astutamente Faraó forçou o povo de Deus a trabalhar para si (1:10-11, 13-14). No versículo dez, Faraó disse: "Eia, usemos de astúcia para com ele". As pessoas do mundo não percebem como Satanás é astuto, nem percebem com que astúcia ele trata as pessoas, a fim de as usurpar, ocupar e escravizar. O objetivo de seus astutos tratamentos é a escravização da hu-manidade.

2. Forçou-os a Servir Com Rigor O versículo treze diz: "Então os egípcios, com tirania, faziam servir os filhos de Israel". Algumas versões traduzem a palavra hebraica "tirania" como "aspereza". Essa palavra indica que os filhos de Israel não tinham liberdade, direitos nem descanso. Não importa

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quais fossem as circunstâncias: eles tinham que trabalhar como escravos; tinham que fazer o que Faraó lhes ordenava.

3. Tornou Amargas as Suas Vidas com o Duro Trabalho

a. Em Argamassa, em Tijolo e em Todo Tipo de Trabalho O versículo quatorze continua: "E lhes fizeram amargar a vida com dura servidão, em barro e em tijolos, e com todo o trabalho no campo, com todo o serviço em que na tirania os serviam." Faraó tornou amargas as vidas dos israelitas através do duro trabalho. Hoje, aos olhos de Deus, todas as pessoas estão trabalhando no "campo". Você pode trabalhar num hospital, fábrica ou escritório; mas, na verdade, você está trabalhando no "campo", fazendo "tijolos" e cimentando-os com "argamassa".

b. Edificaram Duas Cidades-Celeiros Para Faraó Escravos no Egito, os filhos de Israel "edificaram a Faraó as cidades-celeiros, Pitom e Ramessés" (1:11). Pitom significa "boca de integridade", e Ramessés significa "trovão do padrão". Tais nomes indicam que as cidades-celeiros foram construídas para orgulho e demonstração de vaidade, como as pirâmides. Creio que, sob Faraó, os egípcios cons-truíram essas cidades-celeiros, a fim de se gabarem de sua integridade, honestidade e bondade, e também para propagarem seu padrão cultural. A boca de integridade ainda soa no mundo hoje. Toda raça, toda nação se gaba de sua bondade. Além disso, todo país, desenvolvido ou não, tem orgulho de seu padrão de realizações. Por milhares de anos, o mundo tem-se gabado de sua bondade e tem alardeado seu padrão. Hoje, as pessoas do mundo constroem cidades-celeiros para Satanás por causa de sua integridade e padrão. Contrastando com o povo do mundo, o Senhor Jesus não se gabou de Sua integridade. Em vez disso, palavras de graça saíram de Sua boca (Lc 4:22). Além disso, o Senhor não fez estardalhaço de padrão. Mateus 12:19 diz Dele: "Não contenderá, nem gritará, nem alguém ouvirá nas praças a sua voz".

c. O Mesmo Que em Babel O labor dos filhos de Israel no Egito se igualou à labuta dos rebeldes na terra de Babel, para fora da qual Abraão foi chamado. Os de Babel fizeram tijolos e os cimentaram com argamassa para a construção da cidade e da torre de Babel, a fim de erigirem um nome para si mesmos (Gn 11:3-4). No Egito, Faraó compeliu os filhos de Israel a construírem para ele cidades de tijolos e argamassa.

III. FARAÓ TIROU A VIDA DOS FILHOS DE ISRAEL

A. Matou os do Sexo Masculino e Poupou os do Sexo Feminino Faraó não apenas escravizou os filhos de Israel, mas também procurou matar todos os meninos nascidos de mulheres hebréias (1:15-19). O versículo vinte e dois registra: "Então ordenou Faraó a todo o seu povo, dizendo: A todos os filhos que nascerem aos hebreus lançareis no Nilo, mas a todas as filhas deixareis viver." De acordo com a Bíblia, a vida masculina destina-se ao propósito de Deus, e, principalmente entre as pessoas caídas, a

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vida feminina destina-se ao prazer do homem. O que Faraó fez no Egito é exatamente o que Satanás faz hoje: mata a vida destinada ao propósito de Deus e preserva a que se destina ao prazer do homem. Como aqueles que crêem em Cristo, até nós mesmos podemos ser utilizados por Satanás a fim de matar a vida masculina - para o propósito de Deus - e preservar a feminina - para o prazer do homem. Todos os que crêem têm ambos os tipos de vida. Se não tivermos a graça do Senhor, diariamente seremos um Faraó a ma-tar a vida destinada ao propósito de Deus e a poupar a vida destinada ao prazer do homem. No dia do Senhor, por exemplo, muitos cristãos não têm coração para partici-parem de reuniões cristãs. Pelo contrário, gastam o dia em esportes, divertimentos e recreação. Todavia, no dia do Senhor, os que Nele crêem deverão juntar-se para adorá-Lo, ouvir-Lhe a Palavra e serví-Lo. E mais: no dia do Senhor, muitos matam a vida masculina, mas poupam a feminina. Com respeito à adoração do Senhor, no Seu dia, tais pessoas são mortificadas; mas, com respeito a tomar parte em muitos divertimentos e recreações mundanas, são ativas e muito vivas. Satanás está sempre em busca de oportunidades para matar a vida que tem por alvo o propósito de Deus e preservar a que se destina ao prazer do homem. Você alguma vez refletiu por que é tão mais fácil fazer mexericos do que orar? Orar é exercitar a vida masculina, mas fazer mexericos é exercitar a vida feminina. Talvez hoje mesmo você tenha sido um com Satanás, para matar em si a vida destinada ao propósito de Deus. Quando o Senhor nos incita a orar, mas nós, pelo contrário nos entregamos aos mexericos, estamos sendo utilizados por Satanás para matar a vida masculina e preservar a feminina. Isso indica que estamos fazendo hoje o mesmo que Faraó fez no primeiro capítulo de Êxodo. Você vive pela vida que tem por alvo o propósito de Deus ou pela destinada ao prazer do homem? Talvez, em parte do tempo, você seja um Faraó a entronizar o "ego" e a matar a vida que tem por objetivo o propósito de Deus, além de preservar a destinada ao seu prazer.

B. Utilizou as Parteiras Para Matar a Vida Masculina

Em Gênesis 3:1-6, verificamos que Satanás utilizou Eva, a vida feminina, para mortificar a vida masculina. Isso significa que Satanás usa a vida destinada ao prazer do homem para matar a que tem por alvo o propósito de Deus. Este, todavia, também utiliza a vida feminina para realizar algo para Si. No princípio do Antigo Testamento, Satanás visitou uma mulher, Eva, e a usou para matar a vida masculina; mas, no início do Novo Testamento, Deus visitou a virgem Maria e a utilizou para introduzir a Sua salvação. A visitaçao de Satanás a Eva causou a queda, rnas a visitação de Deus a Maria introduziu Sua salvação. No mesmo princípio, em Êxodo 1, Faraó procurou utilizar as parteiras para matar a vida masculina; mas Deus as usou para manter viva a vida destinada a Si e a Seu propósito. Pode ser fácil às irmãs serem usadas pelo inimigo, mas também lhes é fácil serem utili-zadas por Deus. Se a igreja vai ser mortificada ou liberta, isso depende das irmãs. Elas precisam ser as Marias de hoje. No Novo Testamento, há mais de uma Maria. À época em que o Senhor Jesus foi concebido e gerado, uma Maria foi usada. Quando foi crucificado e sepultado, ao menos duas Marias se achavam presentes. Depois, na manhã de Sua ressurreição, Ele apareceu a Maria Madalena. Todas essas Marias foram utilizadas pelo Senhor para o cumprimento de Seu propósito. O que é verdadeiro para as irmãs na vida da igreja, também o é para as mulheres de uma nação. Quando forem usadas por Satanás, o país será corrompido. Mas, quando

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forem utilizadas por Deus, o país será preservado. De acordo com a História, quando a condição das coisas relacionadas a Deus é maravilhosa — no jardim do Éden, na época do reaviva-mento, no auge de uma época gloriosa — é que Satanás chega para se apoderar das mulheres e estragar a situação. Raramente ele é capaz de usar um homem assim. É na hora da degradação, todavia, da necessidade desesperada, que Deus vem para utilizar as mulheres, a fim de restaurar a situação e introduzir Sua salvação. Assim foi o caso de Êxodo 1. Satanás vem às mulheres nos melhores tempos, porque sabe que elas são os vasos mais frágeis. Por utilizar também as mulheres, o Senhor envergonha Satanás. Há uma forte indicação na Palavra de que as irmãs estiveram presentes todas as vezes em que houve uma necessidade urgente. Tanto pelo lado positivo como pelo negativo, a História demonstra esse princípio. As irmãs, consequentemente, precisam ser cuidadosas em tempos "maravilhosos", mas também precisam estar prontas para permanecer ao lado do Senhor — como fizeram as parteiras — e serem utilizadas por Ele em tempos de degra-dação e de necessidade urgente, para salvar a situação e cumprir o Seu propósito. A chave para a segunda parte de Êxodo 1 não está na vida masculina, mas na feminina. Faraó, a corporificação de Satanás, procurou usar a vida feminina — as parteiras — para destruir a masculina; mas Deus interveio, para utilizar tais parteiras, a fim de preservar a vida masculina. O princípio é o mesmo, tanto no caso das parteiras como no da virgem Maria. Todas elas foram utilizadas por Deus para introduzir a salvação. Esse princípio também se aplica hoje à vida da igreja. Sempre que as irmãs são usadas por Satanás, há corrupção na igreja. Mas toda vez que elas são utilizadas pelo Senhor, há salvacão. Contamos com o Senhor, para que Ele novamente utilize a vida feminina, a fim de salvar a situação, hoje, na vida da igreja!

IV. A SOBERANIA DE DEUS

A. Levou os Filhos de Israel a se Multiplicarem e a Ficarem Fortes Embora Faraó escravizasse os filhos de Israel e tentasse ao máximo matar a vida mascu-lina, Deus ainda era soberano sobre toda a situação (1:7,12,17-21). Foi por Sua soberania, por exemplo, que os "filhos de Israel foram fecundos, aumentaram muito e se multipli-caram" (1:7). Hoje, a igreja frequentemente se torna forte sem nenhuma razão aparente. Só a soberania de Deus pode ser levada em conta para o fortalecimento. Ao longo dos anos, aprendi que não devemos confiar em nosso trabalho ou labor. Devemos confiar apenas na bênção soberana do Senhor. Quando Ele nos abençoa, até nossos erros cooperam para o bem. (Isso não quer dizer, todavia, que devemos fazer o mal para que o bem possa vir). Mas, se não houver bênção do Senhor, não veremos muitos resultados positivos, não importando toda a nossa bondade e retidão. Nossa confiança jamais deverá estar no que somos ou no que podemos fazer. Ela deve estar inteiramente no Senhor. Deveremos orar: "Senhor, estamos simplesmente fazendo o nosso dever, enquanto Te seguimos. Mas, Senhor, Tu sabes que não confiamos no que somos, nem em nossa capacidade de fazer. Nossa confiança, Senhor, está totalmente naquilo que Tu és. Se Tu soberanamente abençoares a Tua igreja, ela se multiplicará e se tornará forte."

B. Tornou Fortes as Mulheres Hebréias Vê-se também a soberania de Deus ao serem tornadas fortes as mulheres hebréias (1:19). Quando Faraó perguntou às parteiras por que os meninos ainda estavam vivos, elas repli-

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caram: "É que as mulheres hebréias não são como as egípcias; são vigorosas, e antes que lhes chegue a parteira já deram à luz os seus filhos" (1:19). Ao responderem assim a Faraó, as parteiras não estavam mentindo. Era verdade que as mulheres hebréias eram mais fortes do que as egípcias. Isso estava de acordo com a soberania de Deus. As mulheres hebréias eram fortes, porque Deus soberanamente assim as fizera. O mesmo é verdade com a igreja hoje. Seu fortalecimento ou debilitação independem do que fazemos. Tudo depende da soberania do Senhor. Mas isso não quer dizer que devemos ser preguiçosos ou negligentes. Por um lado, não devemos pensar que nossa obra acarretará a bênção de Deus. Por outro lado, não devemos pensar que, dependendo tudo da bênção do Senhor, não precisamos fazer nada. Precisamos trabalhar, cumprir o nosso dever, percebendo que, enquanto assim agimos, a condição da igreja e dos santos é uma questão da soberania de teus.

C. Utilizou a Vida Feminina Para Salvar a Masculina Além disso, o Senhor utilizou soberanamente a vida feminina - as parteiras - para salvar a vida masculina, no mesmo princípio como usou a virgem Maria para gerar o Salvador (Gl 4:4-5). Em sua própria sabedoria, Faraó planejou eliminar a nação de Israel. Deus não lutou contra ele. Pelo contrário, soberanamente utilizou duas parteiras para salvar a vida masculina.

D. Tratou Bem as Parteiras e Constituiu-lhes Família Os versículos vinte e vinte e um dizem: "Deus fez bem às parteiras; e o povo aumentou e se tornou muito forte. E porque as parteiras temeram a Deus, ele lhes constituiu família". Ao tratar bem as parteiras, Deus constituiu-lhes família, a fim de que gerassem vida para o cumprimento de Seu propósito. Isso quer dizer que Ele utilizou a vida que tem por alvo o prazer do homem para produzir a vida destinada ao propósito de Deus. Nesse quadro, percebemos que, se recusarmos ficar do lado de Faraó para estarmos com Deus, Este nos tratará bem, de modo a podermos produzir vida para o cumprimento de Seu propósito. Irmãs, quando vocês ficarem com Deus e não com Satanás, Deus lhes constituirá famílias. Isso significa que Deus estabelecerá unidades que produzam vida para o cumprimento de Seu propósito. Desta mensagem, podemos concluir que não importa o quanto Satanás possa procurar escravizar-nos ou mortíficar-nos; Deus ainda é soberano e pode utilizar-nos, para sermos as parteiras de hoje. Todos podemos ser aqueles que mudam a vida destinada ao prazer do homem em vida que tem por alvo o propósito de Deus. Se formos tais parteiras, Deus nos constituirá famílias repletas de pessoas que produzem vida para o cumprimento de Seu propósito. Na mensagem seguinte, observaremos que Moisés foi preservado através de três mulheres: sua mãe, sua irmã e a filha de Faraó. Louvado seja o Senhor pelas parteiras, pela vida feminina que se volta a Deus para o cumprimento de Seu propósito! Louvado seja Ele, porque, nas trevas de Êxodo 1, brilha uma luz resplandescente.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM TRÊS

A PREPARAÇÃO DO SALVADOR No primeiro capítulo de Êxodo, Faraó manteve escravos os filhos de Israel e também procurou matar a todos os meninos nascidos de mães hebréias. No segundo capítulo, veri- ficamos a preparação de um salvador para os filhos de Israel, Embora esses dois capítulos estejam separados, há um assunto subjacente a ligá-los. Essa questão é que, em tempos de crise, Deus utiliza a vida feminina para o Seu propósito. Em Êxodo 1, por exemplo, utilizou as parteiras — a vida feminina -- a fim de preservar a vida masculina para o cumprimento de Seu propósito. A intenção de Faraó era matar a vida masculina, que representa a vida destinada ao propósito dr Deus, além de preservar a feminina, que representa a que tem por alvo o prazer do homem. Sem dúvida, ele queria preservar a vida feminina para o seu próprio prazer. Tentou usar as parteiras para realizar sua intenção maligna. Mas, pela soberania de Deus, as parteiras recusaram cooperar com seu plano. Embora fosse ele um governante poderoso, um tirano, elas não o temeram, nem deram ouvidos à sua palavra. Em vez de matarem os meninos, elas os preservaram. Deus, assim, utilizou a vida feminina, a fim de resguardar a masculina para o Seu propósito.

1. ATRAVÉS DA VIDA FEMININA Em Êxodo 2, observa-se a necessidade da preparação de um salvador que libertasse o povo de Deus da mão tirana de Faraó. Ao preparar o salvador, Deus primeiramente utilizou não a vida masculina, mas a feminina (ÊX 2:1-10). A mulher utilizada estrategi-camente por Deus para esse propósito foi encontrada na própria casa de Faraó - sua própria filha. Isso nos faz lembrar a palavra de Paulo em Filipenses sobre "os da casa de César" (4:22). Embora este houvesse lançado o apóstolo Paulo na prisão, pelo menos alguns de sua casa se tornaram cristãos. No mesmo princípio, embora Faraó tentasse matar todos os meninos entre os hebreus, Deus soberanamente utilizou-lhe a filha, para preservar o mais importante menino nascido aos filhos de Israel no Egito. Hebreus 11:23 diz que Moisés "foi ocultado por seus pais, durante três meses"; mas Êxodo 2:2 menciona que apenas sua mãe o escondeu por três meses. A razão de Êxodo 2 mencionar apenas a mãe é enfatizar o fato de que, em épocas de crise, a vida feminina é que é útil a Deus. Não fossem as parteiras do capítulo primeiro, Israel poderia ter sido exterminado. De semelhante modo, sem a vida feminina do capítulo segundo, não teria havido condições de Deus preparar um salvador que resgatasse os filhos de Israel. Em Êxodo 1, Ele utilizou a vida feminina para preservar Seu povo; e, em Êxodo 2, usou a vida feminina para preparar um salvador para o Seu povo, povo que Ele preservara para o cumprimento de Seu propósito. Não apenas as irmãs, mas também os irmãos deveriam ser gratos pela função da vida feminina. De fato, num sentido correto, todos os que crêem em Cristo, tanto irmãos quanto irmãs, deveriam ser mulheres aos olhos de Deus, porque a mulher retrata a vida dependente, a vida em total dependência de Deus.

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A. Uma Filha de Levi No capítulo segundo, muitas mulheres foram utilizadas por Deus. A primeira foi a mãe de Moisés, uma filha de Levi (2:1). O nome do pai de Moisés era Anrão, e o de sua mãe era Joquebede (Nm 26:58-59). A ênfase de Números 26 está nos nomes, mas a ênfase de Êxodo 2 está na vida feminina. Por isso, com exceção de Zípora, esposa de Moisés, esse capítulo não menciona os nomes de quaisquer outras mulheres. Após dar à luz a Moisés, sua mãe o ocultou por três meses. Quando já não mais podia ocultá-lo, colocou-o numa arca de papiro e o pôs entre os caniços das margens do Nilo. Mais tarde, entretanto, foi contratada pela filha de Faraó para cuidar dele por determinado tempo. Assim, a primeira mulher mencionada em Êxodo 2 foi a mãe de Moisés, a vida que o gerara e que dele cuidou.

B. A Irmã do Menino A segunda mulher foi a irmã de Moisés, Miriã. O pai, a mãe e a irmã de Moisés devem ter feito uma conferência acerca do que fazer com Moisés, ao não poderem mais ocultá-lo. Creio que o Senhor os guiou a confeccionar uma arca de papiro. A mesma palavra hebraica é usada para esse cesto e para a arca de Noé. Embora essa arca fosse bem menor do que a construída por Noé, a função de ambas foi a mesma: preservar a vida, fazendo com que os que estavam nelas passassem através da água. A família de Moisés devia saber que a filha de Faraó tinha o hábito de banhar-se em determinado lugar do rio, e deve ter sido a esperança deles que Moisés fosse descoberto e criado por ela. Com o pai de Moisés na retaguarda, a mãe e a irmã trabalharam juntas para efetuar o plano. A mãe tomou o cesto preparado, "largou-o no carriçal à beira do rio. Sua irmã ficou de longe, para observar o que lhe haveria de suceder" (2:3-4). Quando a filha de Faraó viu o bebê e dele se compadeceu, a irmã de Moisés recomendou-lhe que pedisse a sua mãe que cuidasse dele (2:7-8). A irmã de Moisés, assim, tomou conta da vida masculina e estabeleceu o contato entre a filha de Faraó e a mãe do menino.

C. A Escrava da Filha de Faraó "Vendo ela (a filha de Faraó) o cesto no carriçal, enviou a sua criada, e o tomou" (2:5). Aqui observamos o papel desempenhado por uma escrava. Tal escrava é a terceira mulher mencionada neste capítulo. Novamente não se lhe dá o nome, a fim de que tenhamos nossos olhos voltados para a intenção de Deus, que é impressionar-nos com a vida feminina. Em Êxodo 2, vemos muitas mulheres reunidas à volta de um cesto onde fora posto um menino de três meses. Cada uma delas teve uma função diferente. A função da escrava foi servir. O seu serviço, particularmente, foi buscar o baú.

D. A Filha de Faraó A filha de Faraó, a quarta mulher deste capítulo, também teve sua função. Ela, primeira-mente, resgatou o menino e depois encarregou a mãe de Moisés de cuidar dele. Mais tarde, a mãe trouxe o menino "à filha de Faraó, da qual passou ele a ser filho. Esta lhe chamou Moisés, e disse. Porque das águas o tirei" 12:10). Sabemos por Atos 7:21 que "a filha de Faraó o recolheu e criou como seu próprio filho." Em Êxodo 2, verificamos um registro histórico; mas, em Atos 7 e Hebreus 11, temos um

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registro espiritual. Por exemplo, Atos 7:20 diz que Moisés era "formoso aos olhos de Deus". Isso significa que, aos olhos de Deus, ele era muito bonito. Seus pais devem ter sido justos. Possuindo revelação e discernimento espirituais, perceberam que Moisés era uma criança muito promissora para o propósito de Deus. Ocultaram-no, portanto, por três meses "porque viram que a criança era formosa" (Hb 11:23). A ênfase de Êxodo 2 não está no significado espiritual da infância de Moisés, mas no importante papel desempenhado pela vida feminina. Embora seus escritos sejam sempre muito descritivos, em Êxodo 2 Moisés nos dá um registro muito simples, a fim de impressionar-nos com a maneira como Deus utiliza a vida feminina em tempos de crise. Em épocas críticas, a única vida que pode ser utilizada por Deus é a feminina, que opta por Ele e Dele depende. Estamos vivendo numa época de crise, numa hora em que a vida feminina se faz urgente-mente necessária. Alguém que deseje ser um varão, tornar-se-á um Faraó. Todos nós, inclusive os irmãos, precisamos ser mulheres. Numa hora de crise como esta, a vida masculina, independente de Deus, não é útil. Somente a vida feminina, que depende de Deus, é prevalecente. Se o enxergarmos, teremos em alta conta a vida feminina, a vida totalmente dependente de Deus. No capítulo segundo, Deus utilizou muitas mulheres para cumprir o Seu propósito de preparar um salvador. Uma delas, a mãe de Moisés, gerou-o e cuidou dele. Outra, sua irmã Miria, vigiou-o enquanto estava na arca e serviu como elemento de ligação entre a filha de Faraó e a mãe de Moisés. A escrava correu atrás da arca e a filha de Faraó o criou como seu próprio filho. Ela, provavelmente, também foi a pessoa através da qual Moisés aprendeu "toda a ciência dos egípcios" (At 7:22). Hoje também precisamos das diversas funções da vida feminina: a de conceber, gerar e alimentar; a de vigiar, recomendar e estabelecer as ligações corretas; a de ajudar e servir; e a de criar, ensinar e treinar. Por meio de quatro tipos de vida feminina, Moisés nasceu, cresceu e foi treinado para o propósito de Deus. Para a efetivação de Sua economia, hoje, o Senhor precisa desses quatro tipos de vida feminina. Precisa de muitas mães, filhas, escravas e princesas reais que efetivem o preparo para a libertação do Seu povo, de modo a poder este cumprir o Seu propósito.

II. PELO APRENDIZADO DA SABEDORIA DOS EGÍPCIOS Atos 7:22 diz: "Moisés foi educado em toda a ciência dos egípcios, e era poderoso em palavras e obras". Debaixo da soberania de Deus, ele aprendeu toda a sabedoria egípcia, enquanto permaneceu no palácio real como filho da filha de Faraó. Através dessa educação egípcia, tornou-se ele muito culto e recebeu a mais elevada aprendizagem do mundo. Tornou-se, assim, poderoso tanto em palavras quanto em atos. Todavia, isso foi apenas o treinamento do lado natural; ele ainda precisava de preparação pelo lado espiritual.

III. PELA REJEIÇÃO POR PARTE DOS IRMÃOS

A. Esforçando-se Por Salvar Seus Irmãos

Atos 7:23 diz: "Quando completou quarenta anos, veio-lhe a ideia de visitar seus irmãos, os filhos de Israel". Na Bíblia, o número quarenta tipifica testes, provas e sofrimen-tos. Os filhos de Israel foram testados por Deus no deserto por quarenta anos; Moisés esteve no monte por quarenta dias, e o Senhor Jesus esteve no deserto por quarenta dias.

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Os primeiros quarenta anos da vida de Moisés foram anos de provações, testes e sofrimentos. Ao fim deles, Moisés estava confiante, julgando-se bem suprido, equipado, qualificado e aperfeiçoado para salvar os filhos de Israel. "Cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus os queria salvar, por intermédio dele" (At 7:25). Quando viu um egípcio oprimindo um companheiro hebreu, Moisés "matou o egípcio, e o escondeu na areia" (ÊX 2:12). Atos 7:22 diz que Moisés era "poderoso em palavras"; mas, em Êxodo 4:10, Moisés disse ao Senhor: "Nunca fui eloquente, ... pois sou pesado de boca e pesado de língua". Como podemos conciliar esses versículos? Moisés era poderoso em palavras ou era lento na fala? Na idade de quarenta anos, ele considerou-se plenamente educado e qualificado. Agiu, assim, de maneira forte e ousada. Mas sua força e ousadia eram totalmente naturais. Deus não usaria sua habilidade, força ou ousadia naturais. Para quebrar-lhe a força natural, Deus providenciou, para que ele trabalhasse como pastor na terra de Midiã. Assim, aquele que crescera na família real egípcia e atingira o mais alto nível de cultura, tornou-se um pastor. Por outros quarenta anos, Moisés guardou o rebanho de seu sogro no deserto. Esta lhe foi a melhor "faculdade". Nessa "escola", ele foi treinado para não confiar em sua ha-bilidade natural. Humanamente falando, ele era eloquente, ousado, poderoso e forte; mas, espiritualmente falando, ele foi disciplinado, até perceber que nada tinha. Quando o chamou, no capítulo terceiro. Deus lhe mostrou o sinal de uma sarça ardente, uma sarça que ardia sem se consumir (3:2-3). Parece que Deus lhe dizia: "Moisés, você é apenas como uma sarça, através da qual desejo manifestar-Me. Embora o queira como Meu canal, não utilizarei sua energia nem sua força. Você é o vaso, e Eu sou o combustí-vel. Tudo o que você fizer, precisa fazer dependendo de Mim." Não pense que Deus utilizará sua força ou energia para o cumprimento de Seu propósito. Para sermos usados por Deus, precisamos ter um coração para Ele e para os Seus interesses; mas nossa força natural precisa ser posta de lado. Ele não tem intenção de utilizar nossa eloquência, conhecimento, talento, habilidade, energia ou poder naturais. Tudo o que for natural em nós não poderá ser utilizado por Ele. Deus gastou os primeiros quarenta anos da vida de Moisés para edificar um homem forte na vida natural, e depois gastou outros quarenta para despir esse homem de toda a sua habilidade natural. Pode parecer a muitos, principalmente aos jovens, que quarenta anos seja muito tempo para Deus tratar com nossa energia e habilidade naturais. Mas, como irmão mais velho, com mais de cinquenta anos de experiência no Senhor, posso testificar que quarenta anos passam muito depressa. Não espere crescer e desenvolver-se como um cogumelo. A maneira de Deus é primeiramente edificar-nos e depois, em certo sentido, cortar-nos. Ele queria que Moisés aprendesse toda a sabedoria e conhecimento dos egípcíos; mas tal sabedoria e conhecimento não deveriam permanecer em estado bruto, sem um processamento. Pelo contrário, eles devem ser sempre processados. Gostando ou não desse processo, precisamos passar por ele, a fim de aprendermos a não depender de nossa força ou habilidade naturais. Após ser marginalizado tudo o que foi edificado em nós de maneira natural, então serão úteis ao Senhor.

B. Rejeitado Pelos Irmãos Neste capítulo, Moisés foi criado pela vida feminina e rejeitado pela masculina (2:11-15). Em tempos de crise, a vida feminina é utilizada por Deus, a fim de criar algo para o Seu propósito. Mas tudo o que Ele cria através da vida feminina é rejeitado pela masculina. Esse princípio pode ser aplicado à história do mover de Deus na terra.

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Que vida você prefere: a criada ou a rejeitada? Se me dirigissem essa pergunta, diria que aprecio ambas e preciso de ambas. Preciso ser criado e também preciso ser rejeitado. Se, na restauração do Senhor, você nunca foi rejeitado, não poderá saber onde está. Somente os que foram rejeitados podem ser utilizados por Deus. Se você não foi rejeitado, ainda está "cru" e sem processamento. Para sermos processados, precisamos ser rejeitados. Fui rejeitado diversas vezes. O meu caráter e disposição precisam e merecem tal rejeição. Vimos que Moisés era naturalmente muito forte e supôs que seus irmãos hebreus o reconheceriam como seu libertador. Por ser forte, era franco. Essa é a característica de todos os fortes. Mas, como Moisés, quanto mais fortes, mais rejeitados seremos. Talvez somente os "geléias" sejam sempre bem-vindos. Tendo um bom coração e uma boa intenção, Moisés interveio na luta entre os dois hebreus. E disse ao que estava na contenda: "Por que espancas a teu próximo?" (2:13). Moisés parecia dizer: "Como irmãos hebreus, vocês deviam amar um ao outro. Por que você luta com seu irmão?" O hebreu que contendia com seu próximo, também hebreu, respondeu: "Quem te pôs por príncipe e juiz sobre nós? pensas matar-me, como mataste o egípcio?" (2:14). Assim foi rejeitado aquele que fora criado através da vida feminina. No mesmo princípio, o Senhor Jesus foi crucificado pela vida masculina, mas apreciado pela feminina. Quando foi crucificado, a presença das irmãs for uma demonstração de seu amor e apreço. Em tempos de crise, é sempre assim. Todos, portanto, precisamos ser mulheres.

C. Renunciando à Posição Real Hebreus 11:24 diz: "Pela fé Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filho de Faraó". Alguns historiadores acreditam que, se permanecesse no palácio egípcio, Moisés seria o herdeiro do trono. Ele, todavia, renunciou à posição real no Egito, o mais alto posto do mundo daquela época.

D. Preferindo Sofrer Aflição Com o Povo de Deus Hebreus 11:25-26 continua: "preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus, a usufruir prazeres transitórios do pecado; porquanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão." Perce-bemos, aqui, que Moisés pagou um preço por ficar com o povo de Deus. Preferiu sofrer aflição com o povo de Deus a ter o gozo temporário do pecado. O gozo do Egito, isto é, o gozo dos prazeres do mundo, é pecaminoso aos olhos de Deus. É o gozo do pecado, de uma vida pecaminosa. É temporário, de curta duração, transitório.

E. Deixando o Egito Pela Fé e Não Temendo a Ira de Faraó Hebreus 11:27 diz de Moisés: "Pela fé ele abandonou o Egito, nem ficou amedrontado pela cólera do rei". Aparentemente, há uma contradição entre Hebreus 11:27, a dizer que Moisés não temia a ira do rei, e Êxodo 2:14, a mencionar que Moisés temeu. Na verdade, não existe contradição. Exteriormente, Moisés estava com medo e procurou escapar. Interiormente, todavia, considerou o preço e voluntariamente escolheu identificar-se com o povo de Deus.

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F. Perseverando, Como Que Vendo Aquele Que é Invisível Hebreus 11:27 também diz que Moisés "permaneceu firme como quem vê aquele que é invisível". Permaneceu firme, perseverando, porque o Deus invisível trabalhava nele. A obra de Deus era tão real, que era como se Moisés visse o Deus invisível.

IV. ATRAVÉS DE SERMOS ACEITOS PELOS PAGÃOS

A. Ajudando as Mulheres Fracas e Sofredoras e Sendo Amado e Recomendado Pela Vida Feminina

Após ser rejeitado pelos irmãos e haver fugido para a terra de Midiã, Moisés ajudou as mulheres fracas e sofredoras, que tinham sido maltratadas pelos pastores (2:16-17). Em troca, foi recebido por elas. Moisés foi rejeitado pelos irmãos, por ser muito ousado; mas foi recebido pelas mulheres, por dar-lhes ajuda em seu sofrimento. As mulheres, sete filhas do sacerdote de Midiã, eram vasos mais frágeis. Quando alguns homens se apossaram do controle do poço, elas não puderam fazer nada. "Moisés, porém, se levantou, e as defendeu, e lhes deu de beber ao rebanho" (2:17). Como resultado, elas o receberam e falaram bem dele a seu pai. A vida feminina, portanto, não apenas é a vida que Deus pode usar a fim de criar algo para o Seu propósito, mas também é a vida que recebe o que Ele criou. Nesse capítulo, o quadro da vida masculina é, em sua maior parte, muito negro; mas o retrato da vida feminina é amável e muito positivo. Basicamente, em tempos de perseguição, os sofredores são confortados principalmente pelas irmãs. Ao ser liberto da prisão, por exemplo, Pedro não foi à casa de um irmão, mas de uma irrnã, onde alguns deles haviam se reunido para orar (At 12:11-12). A experiência do irmão Nee também ilustra esse princípio. As irmãs o apreciavam e o confortavam em época de tribulação. A maioria dos irmãos o colocaram na cruz, ao passo que as irmãs o receberam e o confortaram. Quando fiquei cônscio disso, em Xangai, aprendi a não ser um varão, alguém dissidente, frio ou neutro, mas a me tornar uma mulher, alguém receptivo e consolador.

B. Aceito Pela Vida Masculina Madura

Os varões hebreus que rejeitaram a Moisés eram todos imaturos e inexperientes. Mas, no sacerdote de Midiã, verificamos uma vida masculina madura e experimentada, que re-cebeu o vaso criado por Deus. Neste capítulo, todas as mulheres são positivas; mas os homens são de duas categorias: alguns com a vida que rejeita, e outros com a vida positiva, que acolhe. Os que rejeitaram eram inexperientes, enquanto o que recebeu era experimentado e maduro. Deus, consequentemente, podia utilizar essa vida masculina madura para aperfeiçoar o vaso que Ele criara. Moisés, sem dúvida, foi aperfeiçoado sob a mão de seu sogro. Eu, obviamente, desejo ser uma pessoa madura, que possa receber os outros e depois aperfeiçoá-los. Na vida da igreja, hoje, precisamos tanto da vida feminina quanto da vida masculina madura para a economia do Senhor. Se algo deve ser criado por Deus, precisamos ter muitas mulheres como a mãe e a irmã de Moisés, como as escravas, como a filha de Faraó e como as sete filhas do sacerdote de Midiã. Precisamos também dispor da vida masculina experimentada, a fim de realizar o trabalho final aperfeiçoador. Há uma necessidade especial de vida masculina madura.

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Nestes dias, muitos de nós temos sido encorajados pelas mensagens de Efésios, a dizerem que todos podemos ser aperfeiçoados para sermos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Para nos tornarmos tais dons para o Corpo, precisamos não permanecer como aqueles que não foram processados, imaturos e inexperientes, aqueles que não são capazes de receber os vasos escolhidos por Deus. Precisamos ser criados através da vida feminina e aperfeiçoados através da vida masculina madura.

C. Ganhando Uma Esposa No Mundo Gentio Durante sua jornada pelo mundo gentio, Moisés ganhou uma esposa, Zípora, filha do sacerdote de Midiã. Ela gerou-lhe um filho, "a quem ele chamou Gérson, porque disse: Sou peregrino em terra estranha" (2:22).

O. Permanecendo Em Midiã Por Quarenta Anos Moisés permaneceu em Midiã por quarenta anos (At 7:30). Durante esses anos, Deus trabalhou nele, para aperfeiçoá-lo. Ao ouvirem isso, alguns jovens, poderão ficar desapon-tados, pensando não serem capazes de esperar tanto tempo pelo aperfeiçoamento. Se quisermos estar perfeitos após tão longo período de tempo, precisamos ter o coração correto, a atitude correta e a posição correta. Onde está o seu coração e qual é a sua posição? Nosso coração deve ser para o Senhor, e devemos posicionar-nos junto a Seu povo. Se tivermos tal coração e posição, estaremos dispostos a aceitar o Seu treinamento, não importando sua duração.

V. A NECESSIDADE DE UM SALVADOR

Ao final deste capítulo, observamos que entre os filhos de Israel havia uma urgente necessidade de um salvador: "os filhos de Israel gemiam sob a servidão, e por causa dela clamaram, e o seu clamor subiu a Deus" (2:23). Por essa razão, Deus ouviu-lhes as queixas, e lembrou-se de Sua aliança com Abraão, Isaque e Jacó, no sentido de introduzir os seus descendentes na boa terra. Deus foi obrigado a cumprir Sua promessa. O versículo vinte e cinco conclui o capítulo: "E viu Deus os filhos de Israel, e atentou para a sua condição". Isso indica que Deus lhes conhecia a situação e compreendia seus problemas. Os últimos poucos versículos de Êxodo 2 revelam que tudo o que transpirou neste capítulo se destinou à preparação do salvador, a fim de se retirar o povo de Deus do cativeiro. A situação é a mesma hoje. Se tivermos tanto a vida feminina quanto a vida masculina correta, Deus será capaz de criar algo e aperfeiçoar o que criou, a fim de salvar Seu povo e ganhar tais pessoas para o cumprimento de Seu propósito. Dessa forma, Ele será capaz de mudar esta era.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM QUATRO

A VIDA ÚTIL A DEUS

O livro de Êxodo revela o tipo de pessoa que Deus pode utilizar em Sua economia para o cumprimento de Seu propósito. Sua intenção, como se vê neste livro, é ter um povo que Lhe edifique um lugar de habitação na terra. Assim, ao final de Êxodo, erige-se o tabernáculo, para ser o lugar de habitação de Deus. Além disso, para o cumprimento de Seu propósito, há também a necessidade de um exército que lute pelos Seus interesses na terra. Os filhos de Israel saíram do Egito como um povo coletivo, e imediatamente foram organizados como um exército. Desde a hora de sua redenção até à conquista da boa terra, tiveram que subjugar os inimigos, principalmente os que ocupavam e possuíam integral-mente a terra a eles prometida. Se quisessem desfrutar da boa terra e cumprir o propósito de Deus, edificando-Lhe um templo como Seu testemunho na terra, precisariam combater para livrar a terra da mão usurpadora do inimigo. Ser útil a Deus, portanto, relaciona-se à edificação do Seu lugar de habitação e à luta pelos Seus interesses na terra. A vida útil a Deus nesses assuntos é a vida feminina. De acordo com o conceito natural, todavia, a vida masculina é que deveria ser-Lhe útil. Isso porque os varões são bons guer-reiros, ao passo que as mulheres são consideradas mais fracas. Poucas pessoas que leem Êxodo 1 e 2 enxergam o tema subjacente que liga tais capítulos. O capítulo primeiro mostra que o povo de Deus esteve sob escravidão, e o segundo revela como Deus preparou alguém para salvar Seu povo do cativeiro. O tema básico é que Deus precisa de um determinado tipo de vida tanto para preservar o Seu povo quanto para preparar um salvador, a fim de libertá-lo da escravidão. Tanto a pre-servação do povo quanto a preparação do salvador foram alcançadas somente através da vida feminina. Na Bíblia, o conceito de um "varão" é rico em significado. Refere-se, é claro, a um homem, mas também indica uma vida independente. Além disso, refere-se a Cristo como o único varão do universo. Todos os irmãos casados precisam perceber que são apenas maridos em sombra, e que o verdadeiro marido é Cristo. Por ser Deus o único marido, Isaías 54:5 diz: "o teu Criador é o teu marido". No Antigo Testamento, Deus considerou Seu povo como sua mulher (Os 2: 19). Não importava se um israelita era homem ou mulher: ele ou ela eram uma parte da esposa coletiva de Deus. Na Bíblia, o termo "marido" indica liderança, e também indica uma vida independente. Quando falamos de varão, num sentido positivo, temos em mente um marido como o cabeça, tendo uma vida independente. Por ser Deus o único marido do universo, somente Ele é o cabeça e somente Ele tem uma vida independente. É uma blasfemia afirmar que Ele precisa depender de alguém ou de algo. Também é uma blasfemia dizer que podemos ser independentes Dele. Como mulheres, as irmãs casadas não deveriam usurpar a liderança, nem deveriam viver de maneira independente. Pelo contrário, deveriam viver uma vida de dependência em relação a seus maridos, que nada mais são do que sombras do Senhor, o verdadeiro marido. Embora, em sombra, sejam maridos com relação a suas esposas, os irmãos casados, na verdade, são mulheres com relação ao Senhor. Não deveriam, portanto,

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usurpar a direcão do Senhor, nem ter uma vida independente. Deveriam, também, ser submissos e viver uma vida de dependência.

I. DEUS É O CABEÇA DE CRISTO Deus é o cabeça de Cristo (1Co 11:3). Não é muito correto dizer que Deus é nosso cabeça, porque Cristo é que é o cabeça do homem.

II. CRISTO, SOB A LIDERANÇA DE DEUS, É O CABEÇA DE TODO HOMEM Primeira Coríntios 11:3 diz que o cabeça de todo homem é Cristo. Em si mesmo, Cristo não é o cabeça do homem; Ele é o cabeça de todos os homens sob a liderança de Deus.

III. O HOMEM, SOB A LIDERANÇA DE CRISTO, É CABEÇA DA MULHER Assim como o cabeça de todo homem é Cristo, também é "o homem o cabeça da mulher" (1Co 11:3). O homem, todavia, não deve ser o cabeça da mulher por si mesmo. Deve ser o cabeça somente na medida em que ele mesmo está sob a liderança de Cristo. Por um lado, Cristo está sob a liderança de Deus, e, por outro, Ele é o cabeça de todo homem. De semelhante modo, o homem, por um lado, deve estar sob a liderança de Cristo, e, por outro, deve ser o cabeça da mulher. Não é algo fácil estar ao mesmo tempo sob a liderança e também ser cabeça de outros. Mas, na vida de Cristo, observamos um excelente exemplo de como isso ocorre. Os quatro Evangelhos revelam-No sempre sob a liderança de Deus. Todavia, ao mesmo tempo, Ele era o cabeça de todos os seus discípulos. Cristo jamais foi independente do Pai. Em João 5:30, Ele afirmou: "Eu nada posso fazer de mim mesmo"; e, em João 5:19, Ele disse: "Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz". O Filho estava sempre sob a liderança de Deus Pai. Ele, todavia, também exerceu liderança sobre os outros. Por exemplo, tratava Pedro muito severamente toda vez que este agia como se fosse o cabeça e vivia uma vida independente. O Senhor o corrigia, levando-o a perceber a liderança de Cristo. Assim como Cristo estava sob a liderança de Deus Pai, também Pedro precisava estar sob a liderança de Cristo. Nisto verificamos que Deus é o cabeça de Cristo, e que Cristo, sob a liderança de Deus, é o cabeça de todo homem. De igual modo, o homem, sob a liderança de Cristo, é o cabeça da mulher.

IV. O HOMEM, TIPIFICANDO CRISTO, SIMBOLIZA A VIDA INDEPENDENTE

Como um quadro a tipificar o relacionamento entre Deus e o homem, este, no casal, representa Deus, e a mulher representa o homem. Nesse sentido, o homem, tipificando Cristo, simboliza a vida independente. Com respeito à liderança de Deus, Cristo tem uma vida dependente. Mas, com respeito a ser o cabeça de todo homem, Ele tem uma vida independente. Isso quer dizer que Cristo é dependente de Deus, mas independente de nós. Com relação a Deus, Sua vida é dependente; mas, com relação a nós, ela é independente, O homem tipifica Cristo como Aquele que tem uma vida independente. Com respeito a Cristo, os irmãos casados têm uma vida dependente; mas, com respeito às suas esposas, eles têm uma vida independente.

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V. A MULHER, TIPIFICANDO O HOMEM SIMBOLIZA A VIDA DEPENDENTE

Assim como o homem representa Deus, a mulher representa o homem, no relacionamento com Deus. Nesse sentido, a mulher, tipificando o homem, simboliza a vida dependente. No homem existem dois aspectos, tanto de dependência quanto de independência. Mas, na mulher, só há dependência. Foi Deus, não o homem, quem não permitiu à mulher ter uma vida independente.

VI. O HOMEM DEVE SER UMA VERDADEIRA "MULHER", VIVENDO UMA VIDA DEPENDENTE DE DEUS

O homem não deve ser um varão, mas uma "mulher", alguém que vive uma vida na dependência de Deus. Somente essa vida "feminina" é útil a Deus. Em Êxodo, um livro de figuras, essa vida feminina é retratada pelas parteiras do capítulo primeiro e por todas as mulheres do capítulo segundo: a mãe e a irmã de Moisés, a escrava, a filha de Faraó e as fi-lhas do sacerdote de Midiã. Todos os homens deveriam ser tais "mulheres".

VII. A INDEPENDÊNCIA DO HOMEM COM RELAÇÃO

A DEUS SIGNIFICA REBELIÃO. A independência do homem com relação a Deus é rebelião. No momento em que ficamos independentes, torna-mo-nos rebeldes contra Deus. Por ser a vida masculina inde-pen-dente e rebelde, Deus não pode utilizá-la para o cumprimento de Seu propósito.

VIII. A MULHER, AO VIVER UMA VIDA INDEPENDENTE TORNA-SE UM VERDADEIRO "VARÃO".

Se uma mulher vive uma vida independente, torna-se um verdadeiro "homem". Hoje há muitas mulheres que se tornaram "varões". Essa é a razão principal de haver tantas separa-ções e divórcios.

IX. SOMENTE A VERDADEIRA VIDA "FEMININA" É ÚTIL A DEUS Quer sejamos irmãs ou irmãos, todos precisamos ser "mulheres" e viver a única vida que é útil a Deus. Para sermos "mulheres", precisamos depender do Senhor. A árvore da vida, de Gênesis 2, tipifica dependência; e a árvore do conhecimento tipifica indepen-dência. A vida sempre nos torna dependentes, ao passo que o conhecimento sempre nos faz independentes. Antes de você ensinar algo a uma criança, por exemplo, ela depende de você com relação àquele assunto. Mas, tão logo aprenda, ela se torna orgulhosa e indepen-dente. A vida, pelo contrário, faz-nos dependentes de Deus. Este deseja que escolhamos a vida, e não o conhecimento. Isso significa que Ele quer que escolhamos a dependência, e não a independência. Viver uma vida independente significa viver pela árvore do conhecimento, mas viver uma vida dependente significa viver pela árvore da vida. Viver pela árvore da vida é, na verdade, viver pelo próprio Senhor. A videira de João 15 é uma excelente ilustração da vida dependente. João 15:5 diz: "Eu sou a videira, vós os ramos. Quem habita em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" (grego). Todos os ramos

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dependem da videira. Habitar na videira é ser dependente dela. Assim, no que se refere à habitação, não deve haver independência. Não apenas as pessoas do mundo, mas também muitos cristãos vivem uma vida inde-pendente de Deus. Por consequência, a grande maioria dos cristãos tornaram-se inúteis a Deus. Por isso, precisamos aprender que — quer sejamos homens ou mulheres — preci-samos viver uma vida em constante dependência de Deus. Não importa o quanto tenhamos estado com o Senhor; ainda precisamos hoje depender Dele para a vida. Não podemos, por exemplo, tirar diploma de comer, beber e respirar. Seria tolice alguém afirmar que, por haver respirado durante setenta anos, já não tem mais necessidade de o fazer. Com respeito à vida, não existem formaturas. A estratégia de Deus é colocar-nos numa posição em que precisamos depender Dele. Precisamos orar: "Senhor, fora de Ti nada posso fazer. Preciso habitar em Ti e tomar-Te como minha vida. Diariamente, preciso comer da árvore da vida. Senhor, quero viver uma vida "feminina", uma vida que sempre dependa de Ti". Esse é o tipo de vida que Deus pode utilizar para o cumprimento de Seu propósito. Até aos quarenta anos, Moisés viveu uma vida "masculina", independente. Agindo independentemente de Deus, exercitou sua força natural para matar um egípcio. Moisés era realmente um "homem" independente. Durante os quarenta anos em que foi margina-lizado, Deus lhe ensinou que não utilizaria sua vida masculina. Não é algo fácil treinar um homem para que ele viva uma vida feminina. Entretanto, nos segundos quarenta anos de sua vida, Moisés aprendeu a ser uma mulher. Durante o seu terceiro período de quarenta anos, dos oitenta aos cento e vinte anos, ele viveu a vida de uma mulher. Somente numa circunstância, ao golpear a rocha pela segunda vez é que ele foi independente de Deus (Nm 20:7-13). Por agir como homem nessa ocasião, ofendeu ao Senhor, e assim lhe foi negado o privilégio de entrar na boa terra. Os leitores da Bíblia geralmente consideram Moisés como um líder dos filhos de Israel. Ele, todavia, não tinha tal conceito acerca de si mesmo; jamais assumiu uma posição de líder. Quando os filhos de Israel se rebelaram contra ele, considerou tal atitude uma rebelião contra Deus, não contra si mesmo. Ele simplesmente ia ao Senhor e Lhe apresen-tava os problemas. Ao agir assim, honrava o Senhor como o cabeça, como o único varão. Isso indica que ele vivia uma vida feminina, uma vida na dependência de Deus. Vê-se a vida feminina não apenas nos capítulos primeiro e segundo de Êxodo, mas também ao longo de todos os capítulos subsequentes. Já enfatizamos que Moisés foi treinado para viver uma vida feminina. Além disso, todos os guerreiros viviam uma vida feminina, na dependência de Deus. Se não aprender a ser uma mulher, você não se capacitará a lutar pelo reino de Deus. Ele só utiliza guerreiros femininos. Isso quer dizer que, se está vivendo uma vida masculina, independente, você é inútil no que diz respeito à guerra espiritual. Desejo enfatizar a questão de que ser um varão é ser independente de Deus. Um marido, por exemplo, pode tratar sua esposa de maneira independente de Deus; e uma mulher pode lidar com seu marido da mesma forma. Isso quer dizer que tanto o marido quanto a esposa podem ser "varões" no sentido negativo. Mas não devemos ser tais "varões", independentes de Deus, Devemos ser "mulheres", aqueles que dependem de Deus e nada realizam fora Dele. Em tudo o que dizemos ou fazemos, devemos depender Dele. Se essa for a nossa situação, então seremos verdadeiras mulheres, vivendo uma vida dependente. A história da igreja revela que, sempre que existe essa vida "feminina", Deus é capaz de realizar algo para o Seu propósito. Tome Martinho Lutero como exemplo. Ele foi um

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homem que aprendeu a depender de Deus. Nasceu, sem dúvida, com uma vontade forte. Aprendeu, todavia, a depender do Senhor. Não viveu, nem agiu como um "varão" forte, mas como uma "mulher" dependente. O apóstolo Paulo também foi essa "mulher". Seus escritos testemunham tal fato. Como "mulher", ele nada fez de modo independente do Senhor. Sua obra, seu comportamento e suas açoes eram resultantes de uma vida de dependência de Deus.

A. Deus Tratou Israel Como Sua Esposa O povo de Deus, na Bíblia, é comparado a uma mulher. No Antigo Testamento, Deus disse a Seu povo que Ele era o Seu marido e que eles eram a Sua esposa. Até mesmo o rei Davi, um poderoso guerreiro, era parte dessa esposa coletiva. Davi não era o marido dos filhos de Israel, mas Deus era. Sempre que se rebelavam contra Deus, os israelitas assumiam a posição de marido, e era como se eles se divorciassem Dele. Ao se separarem assim de Deus, estavam agindo independentemente Dele. Mas Ele era misericordioso e os chamava de volta a Si, o verdadeiro marido.

B. Cristo Considera Como Virgens os Que Nele Creem No Novo Testamento, consideram-se virgens os que creem em Cristo. Em Mateus 25:1, o Senhor Jesus compara Seus discípulos a virgens. Além disso, em 2 Coríntios 11:2, Paulo diz: "Porque zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo". Como pessoas que crêem, nossa posição e nossa vida devem ser de virgens. Cristo é o único marido, e, aos Seus olhos, somos todos virgens.

C. Cristo Ama Sua Igreja Como Seu Complemento Efésios 5:25 diz: "Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela". Aqui percebemos que Cristo ama a igreja como Seu complemento, Sua esposa. A igreja jamais deve ser independente, jamais deve ser um "varão", mas sempre uma "mulher". É por isso que usamos um artigo feminino quando fa-lamos da igreja. Ela deve sempre viver uma vida na dependência de Cristo.

D. Cristo Desposará a Nova Jerusalém Como Sua Noiva No Milénio Apocalipse 19:7 diz: "Alegremo-nos, exultemos e demos-lhes a glória, porque são chega-das as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou", isso se refere ao casamento de Cristo com a Nova Jerusalém, Sua noiva, no milênio. Quando voltar, Cristo desposará não um "varão", mas uma mulher, uma noiva.

E. Deus Desfrutará da Nova Jerusalém Como Sua Esposa Pela Eternidade

Por toda a eternidade, a Nova Jerusalém será a esposa de Deus (Ap 21:2-3,9). Isso indica que, pela eternidade, no novo céu e na nova terra, estaremos vivendo uma vida depen-dente.

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Todos precisamos viver essa vida dependente, hoje, nas igrejas locais. Nenhum de nós deve portar-se como "varão". O problema no meio dos cristãos e das igrejas é que os irmãos e as irmãs vivem uma vida "masculina", independente. Sempre que houver irmãos ou irmãs numa igreja local a viverem como "varões", surgirão problemas. Como preci-samos aprender a não viver independentemente de Deus! Se aprendermos essa lição, perceberemos que não devemos realizar determinadas coisas, não porque sejam erradas, mas porque, ao fazê-las, tornamo-nos independentes de Deus. Se todos tivermos um saudável temor da independência, não haverá problemas na vida da igreja. Além disso, não haverá problemas nos casais. Todos os problemas na vida da igreja, na vida conjugal e no meio dos irmãos vêm de uma única fonte, e esta é a independência. Precisamos ser como as parteiras de Êxodo; deveremos orar: "Senhor, não quero ser um "homem" forte, cheio de opiniões e sempre insistindo na minha maneira. Senhor, quero ser como as parteiras de Êxodo 1 e como as mulheres de Êxodo 2." Como veremos, ao enfrentar Faraó, Moisés não era um "varão". Em suas audiências com Faraó, ele foi uma "mulher" a depender de Deus. Nada decidiu, nem tampouco fez quaisquer propostas. Tudo o que ele fez foi iniciado por Deus. Honrou a Deus como o único iniciador. Vê-se claramente a obra iniciadora de Deus na edificação do tabernáculo. Moisés não se levantou em certa manhã com a ideia de edificar um tabernáculo para Deus. Pelo contrário, foi chamado por Deus, para subir à montanha, onde Ele lhe revelou o que estava em Seu coração, e então o encarregou de edificar o tabernáculo de acordo com o padrão mostrado no monte (25:40). Deus não lhe deu oportunidade de tomar decisões indepen-dentes. Moisés tinha que depender de Deus em todos os pormenores. Essa é a vida que Ele pode utilizar para o Seu propósito. Nestes dias, temos falado muito sobre o aperfeiçoamento dos santos para a edificação do Corpo de Cristo. Se quisermos ser utilizados para aperfeiçoar os outros, nós mesmos precisamos ter uma vida dependente. A única vida que o Senhor deseja ver aperfeiçoada é a vida dependente. Se vivermos e trabalharmos independentemente Dele, o resultado de nossa obra será que outras vidas serão aperfeiçoadas para serem independentes. Somente uma vida dependente pode gerar outra vida dependente. Somente uma vida que dependa de Deus em todas as coisas pode aperfeiçoar os outros para serem "mulheres". Suponha que determinada pessoa seja muito forte em si mesma, confiante nas próprias habilidades, propostas e decisões. Ela só poderá gerar vidas independentes, pessoas capazes, mas independentes de Deus. O resultado de tal obra não será a Nova Jerusalém — será a Grande Babilônia, uma cidade independente de Deus e rebelde contra Ele. A igreja, todavia, é uma mulher. Como tal, ela não tem a liderança, nem tampouco uma vida independente. Seu cabeça é Cristo, e sua vida é uma vida dependente. Essa deveria ser hoje a situação da igreja. Se quisermos aperfeiçoar os outros de maneira correta e edificarmos a igreja, precisamos dessa vida "feminina". A razão por que a igreja, ao longo dos anos, tem sido destruída, em vez de ser edificada, é que os assim chamados construtores têm sido muito independentes. Eles têm sido varões, e não mulheres. Agradecemos ao Senhor, todavia, porque tem havido um pequeno número disposto a viver uma vida "feminina", em Sua dependência. O ponto decisivo é que não é uma questão do quanto podemos fazer, mas do quanto dependemos do Senhor. Já enfatizamos que, em João 15:5, o Senhor Jesus afirmou que fora Dele nada podemos fazer. Embora estejamos familiarizados com essa palavra, frequen-temente a esquecemos ou a desprezamos em nosso viver diário. O apóstolo Paulo, todavia, era alguém que a praticava. Em l Coríntios 2:3, ele disse: "E foi em fraqueza, temor e

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grande tremor que eu estive entre vós". Ele temia que pudesse fazer algo por si mesmo, independentemente do Senhor. Como precisamos desse temor hoje! Que o Senhor possa ser misericordioso para conosco e proporcionar-nos tal tipo correto de temor. Se o tivermos, temeremos falar ou fazer qualquer coisa por nós mesmos, qualquer coisa independente Dele. Tudo o que fizermos independentemente do Senhor será rebelião. Até mesmo nossa pregação do evangelho ou nossa ajuda aos irmãos podem ser formas de rebelião. Podemos realizar muitas coisas para ajudar as igrejas; mas ainda assim tudo o que fizermos poderá ser rebelião, porque feito independentemente de Deus. Sou grato pela luz que o Senhor nos mostrou referentemente à vida feminina no livro de Êxodo. A única vida útil a Ele é a vida feminina. Todos precisamos aprender que Ele jamais utiliza a vida masculina. As mulheres do capítulo primeiro foram utilizadas para preservar os filhos de Israel, e as do capítulo segundo foram usadas para preparar o vaso que o Senhor levantara. Por fim, até o próprio Moisés foi treinado para ser uma "mulher"; ele se assemelhou a uma das parteiras do capítulo primeiro e às mulheres do capítulo segundo. Porque foi uma "mulher" para o cumprimento do propósito de Deus, pôde ser utilizado por Ele. Mas até Moisés, quando provocado pelos filhos de Israel no deserto, agiu certa vez como varão e, assim fazendo, perdeu a bênção de Deus. Em Sua economia e em Seu mover hoje para a Sua restauração, todos precisamos estar atentos, com temor e tremor, a fim de não agirmos independentemente de Deus. Que todos possamos ver que Ele somente poderá utilizar-nos, se formos "mulheres", dependendo Dele a todo o tempo e para todas as coisas. É decisivo aprendermos com o Senhor que somente a vida "feminina" Lhe é útil. .

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MENSAGEM CINCO

O CHAMAMENTO QUE DEUS FAZ AO PREPARADO

(1) No capítulo primeiro de Êxodo, observamos os filhos de Israel sob escravidão; e, no segundo, analisamos a preparação de um salvador. Nessa mensagem, chegamos a Êxodo 3, onde consideraremos o chamamento que Deus faz ao preparado.

I. O MOTIVO DO CHAMAMENTO DE DEUS O motivo do chamamento de Deus foi o clamor dos filhos de Israel (2:23-25:3:7,9). Êxodo 3:7 diz: "Disse ainda Jeová: certamente vi a aflição do meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-lhe o sofrimento" (hebraico). Deus não apenas lhes ouviu o clamor, mas também os visitou no lugar de sua aflição. Assim, sabia totalmente da situação deles e estava ansioso por resgatá-los.

II. A HORA DO CHAMAMENTO DE DEUS Embora quisesse libertar os filhos de Israel do cativeiro, Deus tinha que esperar até Moisés estar totalmente preparado. Esses capítulos de Êxodo revelam que Deus é muito paciente. Mesmo antes do nascimento de Moisés, os filhos de Israel já sofriam no Egito. Mas Deus ainda esperou ao menos por oitenta anos. É fácil ser paciente quando não se tem força ou habilidade para realizar algo com referência à situação. Em tal caso, você nada poderá fazer, exceto esperar. Mas alguém capaz e qualificado, é-lhe difícil ser paciente. Deus certamente era capaz de libertar os filhos de Israel; Seu poder era suficiente. Ele, todavia, esperou com paciência. Às vezes, ficamos exaustos com a paciência de Deus e perguntamos: "Até quando, Senhor? Já ouviste nossas orações? Senhor, onde estás? Não te importas conosco? Quanto tempo ainda se passará, até que faças algo por nós? Parece que não há Deus neste universo." Nos salmos, tais perguntas são feitas repetidas vezes, porque os salmistas eram as mesmas pessoas que nós. É bom ficarmos esgotados com a paciência de Deus, porque, depois de exaustos, pode-remos descansar. Poderemos ficar tão exaustos, que haveremos de desistir de orar. Sabemos que Deus é verdadeiro e real, e que Ele tem o Seu tempo. Por essa razão, apren-demos a deixar o problema com Ele. Então poderemos descansar. Após se passarem quarenta anos de sua vida, Moisés não podia esperar mais para libertar os filhos de Israel. Recebera a educação mais elevada e se tornara um homem poderoso em palavras e atos (At 7:22). De acordo com sua própria estimativa, ele sem dúvida se julgava qualificado e pronto a agir em benefício de seu povo. Mas Deus o marginalizou por outros quarenta anos, até que ele estivesse completamente preparado, de acordo com o Seu padrão. Verificamos nisto a paciência do nosso Deus. O que compeliu Deus a esperar aqueles oitenta anos? Nenhum de nós estaria disposto a esperar tanto tempo. É claro que Ele desejava uma maneira de aparecer antes, mas não

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havia ninguém entre os filhos de Israel a quem Ele pudesse vir. Por isso, teve que esperar até que Moisés nascesse. Quarenta anos mais tarde, Moisés estava lá, e crescera, mas Deus ainda precisaria esperar mais, pois Moisés era muito natural. Deus teve de esperar, porque faltava alguém preparado. Observamos aqui um princípio. Em todos os tempos, Deus desejou realizar algo. O problema não esteve com Ele; sempre esteve com o Seu povo. A questão sempre tem sido esta: onde existe alguém pronto a receber o chamamento de Deus? Também em nossa era, Deus está ansioso por realizar determinadas coisas. Mas quem está pronto para o Seu cha-mado? Há mais de dezenove séculos, o Senhor Jesus disse que voltaria logo (Ap 22:7). Mas ainda não voltou. Se lhe perguntarmos por que Sua volta se atrasou tanto, Ele poderá responder: "Onde se acham aqueles que estão prontos para a Minha volta? Quando vir pronto um número suficiente, voltarei. Desejo ardentemente voltar, mas é preciso que exista algo para o que Eu deva voltar." Em Êxodo, Deus não poderia ter vindo, sendo Moisés uma criança ou estando ete ainda confiante em sua força e habilidade naturais. Ele teve de esperar até que Moisés tivesse oitenta anos. Aí, então, após Moisés ser preparado, Deus veio para chamá-lo. Os filhos de Israel clamavam por causa da tirania, da perseguição e da opressão; mas Deus ainda teve de esperar, até Moisés estar preparado. No mesmo princípio, o Senhor continua a tardar Sua volta, porque não há número suficiente em Seu povo, que esteja pronto para o Seu retorno. Nos capítulos segundo e terceiro de Êxodo, observamos os filhos de Deus perseguidos clamando a Ele, e o Deus de misericórdia, graça e amor ansioso por resgatá-los. Mas Moisés crescia lentamente, até a maturidade. O clamor dos israelitas era desesperado, e a ânsia de Deus era grande; mas o crescimento de Moisés era lento. A situação é a mesma hoje. Muitos cristãos têm suspirado e ansiado pela volta do Senhor, e Este está desejoso de voltar. Mas onde estão os preparados? Por essa razão, em vez de nos queixar ao Senhor da situação de hoje, deveremos entregar-nos ao crescimento de vida. Quando foi marginalizado pela soberania de Deus, Moisés deve ter ficado muito desapontado e deve ter perdido toda esperança. Ao perder a esperança, contentou-se em ser um pastor a apascentar um rebanho na terra de Midiã. Um homem educado no palácio real era agora forçado a viver como um pastor no deserto. À medida que se passavam os anos, ele ia perdendo tudo — sua confiança, seu futuro, seu interesse, seu objetivo. Por fim, provavelmente, atingiu um estágio em que não mais cogitava ser aquele a quem Deus usaria para resgatar do cativeiro no Egito os filhos de Israel. Moisés deve ter-se dito: "Devo cuidar deste rebanho. Mas nem mesmo este rebanho é meu; pertence ao meu sogro. Não tenho império, nem reino. Nada me restou, exceto trabalhar para sustentar minha família. Minha preocupação imediata é descobrir grama verde e água fresca para o rebanho." Mas, um dia, havendo Moisés passado por um total processo, Deus lhe apareceu e o chamou. Com oitenta anos, aos Seus olhos, Moisés estava totalmente preparado e qualificado; e, no tempo exato, Deus lhe veio. O relato do chamamento efetuado por Deus a Moisés é maior do que o relato de Seu chamamento a qualquer outra pessoa da Bíblia. O relato do chamamento de Abraão é breve, e assim também é o de Isaías. O mesmo é verdade com relação ao chamamento de Pedro e ao de Saulo de Tarso. Mas o registro do de Moisés é mais longo e pormenorizado. Nesse relato, encontramos todos os pontos básicos concernentes ao chamamento de Deus. Assim, se quisermos conhecer o significado total do chamamento de Deus, precisamos prestar bastante atenção ao chamamento que Ele fez a Moisés em Êxodo 3. Moisés foi, na História, o primeiro servo completo, qualificado e aperfeiçoado por Deus.

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Noé foi utilizado por Deus para construir a arca, mas não foi o mesmo tipo de servo que Moisés. Nem mesmo Abraão, o pai da fé, foi aperfeiçoado como servo de Deus do mesmo modo que Moisés. Por ser o primeiro servo de Deus totalmente qualificado na Bíblia, Moi-sés é o modelo-padrão do servo de Deus, e o chamamento que Deus lhe fez é o padrão de Seu chamamento a todos os Seus servos. Em princípio, todos precisamos ser chamados à mesma maneira de Moisés.

III. O LUGAR DO CHAMAMENTO DE DEUS

A. No Extremo do Deserto Êxodo 3:1 diz: "Apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Midiã; e, levando o rebanho até o extremo do deserto, chegou ao monte de Deus, a Horebe" (he-braico). Um dia, Moisés levou o rebanho até ao extremo do deserto. Isso indica que podemos ser chamados somente no extremo de nossa situação, jamais quando estamos na dianteira. Creio que Moisés guiou o rebanho até ao extremo do deserto, porque estava procurando melhor pastagem. Deve ter ficado insatisfeito com os locais familiares, e deve ter desejado um novo lugar. Assim, foi até ao externo. Se quisermos receber o chamamento de Deus, precisamos também estar no local certo. Esse lugar é, primeiramente, o extremo de nossa situação. Se você for um professor, Deus não pode chamá-lo à frente de sua profissão. Você precisa estar no extremo. No mesmo princípio, se você for um negociante, precisará ir ao extremo de seu negócio, para ser cha-mado por Deus, Estar no extremo significa não estarmos contentes com nossa situação atual. Por anos a fio, Moisés guiou o rebanho pelo lado dianteiro do deserto. Mas, um dia, descontente e insatisfeito, decidiu ir até ao extremo, para ver o que havia por lá. Se você estiver insatisfeito com sua ocupação ou com seu casamento, tal insatisfação poderá levá-lo ao extremo. Todo aquele que foi chamado por Deus pode testificar que foi chamado no extremo. No chamamento de Moisés, quem veio a quem? Moisés veio a Deus, ou Deus veio a Moisés? Eu diria que ambos estavam viajando e, por fim, se encontraram num deter-minado ponto. Deus viajou, proveniente dos céus; e Moisés viajou, proveniente de onde vivia. Por essa razão, é difícil dizer quem veio a quem. De acordo com nossa experiência, um dia chegamos a um determinado lugar, e lá encontramos Deus.

B. O Monte de Deus Indo até à extremidade do deserto, Moisés "chegou ao monte de Deus, a Horebe". Muitas vezes, o extremo de nossa situação se torna o monte de Deus. Moisés, contudo, não sabia que o monte de Deus ficava na extremidade do deserto. Ao fazer vagarosamente sua jornada com o rebanho até ao monte de Deus, entretanto, Este já o esperava lá.

C. Solo Santo No versículo cinco, Deus disse a Moisés: "Não te chegues para cá; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa". A "terra santa" desse versículo refere-se à terra não tocada pelo homem. Isso indica que o chamamento de Deus ocorre num lugar onde não há interferência humana. O Seu chamamento sempre chega a alguém que está

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em solo virgem, solo tocado somente por Deus. Isso quer dizer que todo chamado genuíno chega a um lugar onde não há manipulação, nem opinião humana. Se quisermos ser chamados por Deus, isso deverá ocorrer num lugar totalmente reservado a Ele.

D. Do Meio de Uma Sarça Nesse solo santo há uma sarça. O versículo dois diz: "Apareceu-lhe o anjo de Jeová numa chama de fogo do meio duma sarça; Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia" (hebraico). A sarça representa o próprio Moisés. O fato de Deus chamar do meio de uma sarça indica que o lugar de Seu chamamento é dentro de nós. Ele não nos chama dos céus; chama de dentro de nós. Alguns poderão imaginar se esse princípio se aplica ao caso de Saulo de Tarso. Inicialmente, Saulo foi chamado pelo Senhor do céu; mas, depois, esse chamamento se tornou algo de seu interior. O Senhor que o chamara entrou nele, no "arbusto" de Tarso. Nossa experiência testifica o fato de que o lugar do chamamento de Deus é interior. Todo aquele que realmente foi chamado por Deus pode testificá-lo. No princípio, pode realmente parecer que Ele chamava dos céus. Por fim, entretanto, ficou claro que o seu chamamento provinha da "sarça".

E. Numa Chama de Fogo O versículo dois fala também de uma "chama de fogo". Isso se refere à glória da santidade de Deus. Na Bíblia, a santidade de Deus é comparada ao fogo. Sempre que chama alguém, Deus o faz na glória de Sua santidade. Ao chamar assim uma pessoa, Ele a separa para a Sua santidade. Aparentemente, o chamamento de Deus ocorreu na extremidade do deserto; mas, na verdade, ocorreu na montanha de Deus e particularmente no solo santo. Experimental-mente, ocorreu no meio de uma sarça, e, por fim, da chama de fogo. Este foi o local do chamamento de Deus a Moisés: no extremo, no monte, no solo santo, no meio de uma sarça e na chama de fogo. No fogo, Deus chamava Moisés. Na verdade, Deus era a chama de fogo, porque a voz que chamava Moisés saiu do fogo. Consequentemente, era o fogo que falava, que chamava. Todos precisamos estar em tal lugar. Aí, então, o chamamento de Deus chegará até nós. Ser chamado por Deus não é simplesmente uma questão de nos consagrarmos a Ele, irmos à escola bíblica ou ao seminário, e depois sermos ordenados após o diploma. Tal "chamamento" nada significa aos olhos de Deus. O Seu chamamento ocorre no extremo de nossa vida no mundo, na Sua montanha e num lugar onde não há interferência humana. Além disso, somos chamados por Ele na glória de Sua santidade, do interior de uma sarça ardente.

IV. AQUELE QUE CHAMA É de vital importância que o chamado conheça o nome Daquele que o está chamando. Êxodo 3 revela o nome de Deus — o que chama — de maneira completa; mais completa talvez do que em qualquer outra porção da Palavra. Quando Deus o chamou, Moisés disse: "Eis que quando eu vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós outros; e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes direi?" (3:13).

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Observamos aqui a preocupação de Moisés com referência ao nome divino. Queria saber o nome Daquele que o chamava.

A. O Anjo de Jeová Aquele que o chamava era primeiramente o Anjo de Jeová (3:2). Em sua tradução, Darby inicia com maiúscula a palavra "Anjo", para indicar ser esse Anjo alguém exclusivo. Na verdade, Cristo, o Filho de Deus, era o Anjo de Deus, o único Enviado. De acordo com a Bíblia, um anjo é um mensageiro, isto é, alguém enviado. No livro de Apocalipse, os líderes das igrejas são chamados de anjos, mensageiros, enviados. O Anjo do Senhor, portanto, em 3:2, é o Enviado de Deus. Colocados juntos os versículos dois e quatro, verificamos que esse Enviado, o Anjo de Jeová, é, na verdade, o próprio Jeová. O versículo quatro diz: "Vendo Jeová que ele se voltava para ver, Deus, do meio da sarça, o chamou" (hebraico). Isso prova que o Anjo de Jeová é o próprio Jeová, e que Jeová é Deus. O Novo Testamento revela que o Senhor Jesus, o Filho de Deus, veio como o Enviado do Pai. Como o Enviado de Deus, Ele era o próprio Deus. Com o propósito de chamar e enviar Moisés, Deus, o que envia, apareceu-lhe como o Enviado. Somente o que foi enviado pode enviar os enviados. Os apóstolos, por exemplo, enviados do Novo Testamento, foram enviados pelo Senhor Jesus, o Enviado de Deus. Em João 20:21, o Senhor Jesus disse aos discípulos: "Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio". Nós, portanto, discípulos do Senhor, somos enviados pelo Enviado de Deus, que é Cristo, o Anjo de Jeová. De acordo com Êxodo 3, o Chamado é o Enviado. Esse é um ponto crucial no chamamento de Deus. Aquele que sabe usar seus empregados e supervisioná-los corretamente, é aquele que já fez o próprio trabalho deles. No mesmo princípio, sendo Cristo o Enviado de Deus, somente Ele sabe como enviar os outros. Sobre a criação, Gênesis 1 diz que no princípio foi Deus quem criou os céus e a terra. Mas, em Gênesis 2, ao vir Deus para contactar o homem e entabular com ele um relaciona-mento, o nome "Jeová" é usado. Aqui em Êxodo 3, Deus veio para chamar Moisés, não diretamente em nome de Deus nem primeiramente em nome de Jeová, mas em nome do Anjo de Jeová. Esse capítulo não é uma questão de criação nem de efetivar um relacio-namento com o homem; é uma questão de chamar Moisés. Para ser tal pessoa chamada, há a necessidade de alguém com as qualificações de um enviado, qualificações encontradas unicamente em Cristo, o Anjo de Jeová. Por ser o Enviado aquele que chama o enviado, o Anjo de Jeová, o Filho de Deus, veio para enviar Moisés. Por que o título "Anjo de Jeová" não é usado nos dois primeiros capítulos de Êxodo? Até o capítulo terceiro, Moisés não estava preparado e pronto. Por isso, Deus lhe veio como o Anjo de Jeová para o chamar e enviar. Para enviar Moisés, havia a necessidade de Alguém com a experiência de ter sido enviado. De acordo com Zacarias 2, Aquele que envia é o Enviado, e o Enviado é Aquele que envia. Verificamos o mesmo princípio ocorrendo no capítulo terceiro de Êxodo. O Anjo de Jeová é o próprio Jeová. O Enviado de Deus, o Seu Filho, é, na verdade, o próprio Deus. Aquele mesmo que estava no princípio com Deus, e que é o próprio Deus, foi enviado por Deus. O título "Anjo de Jeová" refere-se principalmente a Cristo, o Filho de Deus, enviado para salvar o povo de Deus de sua situação de sofrimento (veja Juízes 6:12, 22; 13:3-5, 16-22). Aqui, em Êxodo 3, o Senhor apareceu para chamar Moisés para libertar os filhos de Israel do cativeiro. Assim Ele veio como o Anjo de Jeová.

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B. Jeová O segundo título revelado neste capítulo é Jeová, que significa "Aquele que era, que é e que será". Esse título é composto basicamente pelo verbo "ser". Fora do Senhor, tudo o mais é nada. Ele é o Único que é, o Único que tem a realidade do ser. O verbo "ser" não deveria ser aplicado absolutamente a ninguém mais ou a nada mais exceto a Ele; Ele é o único ser auto-existente. No universo, todas as coisas nada são. Somente Jeová é "Aquele que era, que é e que será". No passado, Ele era; no presente, Ele é; e, no futuro, Ele será. Hebreus 11 fala que aquele que se aproxima de Deus deve crer que Ele é. De acordo com esse versículo, Deus é, e nós precisamos crer nisso. Deus é, mas nós não. Se quisermos ser chamados por Deus, precisamos saber que o chamador é primeiramente o Enviado de Deus; e, em segundo lugar. Ele é Jeová, Aquele que era, que é e que será. Precisamos saber que o Deus que nos chama é, e que nós não somos. Todos precisamos conhecer a Deus assim. Esse Chamador é o próprio Deus (3:4, 6, 14). A palavra hebraica para Deus é "Eloim", que quer dizer "o Poderoso, que é fiel a Seu juramento". Deus não apenas é poderoso, mas também fiel para cumprir Sua aliança. Se quisermos ser chamados pelo Senhor, preci-samos perceber que Ele é poderoso e fiel: poderoso para fazer-nos tudo, e fiel para guardar Sua palavra.

D. O Deus de Nosso Pai

O versículo seis afirma: "(Deus) disse mais: Eu sou o Deus de teu Pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó". A expressão "Deus de teu pai" adquire a conotação de uma história com Deus. Quando vem para chamá-lo. Deus não lhe deve ser um estranho. Se o for, você então não estará qualificado a ser chamado por Ele. Dizer que Ele é o Deus de nosso pai não significa que Ele é o Deus de nosso pai na carne, pois o nosso pai natural pode não ser um filho de Deus. Ao sermos salvos, ganhamos uma outra genealogia, uma linhagem espiritual. Por essa razão, Paulo disse aos Coríntios que os gerara no evangelho (1Co 4:15). Paulo não era casado, e assim não tinha filhos na carne. Mas teve muitos filhos espirituais. Todo aquele que crê em Cristo tem um pai espiritual. Aos olhos de Deus, o Senhor que o chama é o Deus de seu pai espiritual. O pai de Moisés na carne era um homem justo. Por isso, ao chamar Moisés, Ele fez menção ao Deus de "teu pai". Isso indica uma história com Deus. Quando apareceu a Moisés e o chamou, Deus não era um estranho, porque estivera há gerações com a família de Moisés. O Deus do pai de Moisés era o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. Isso significa que Deus é o Deus de qualquer tipo de pessoa. Podemos ser urna pessoa boa como Abraão, uma pessoa razoavelmente neutra como Isaque, ou um suplantador como Jacó. Não importando tudo o que somos, Deus é o nosso Deus. O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó é o Deus todo-inclusivo. Sempre que Deus lhe vem, Ele é o todo-inclusivo. Deus é o Deus de nosso pai, e também é o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. Esses títulos de Deus também mostram o Deus da aliança. O Deus da aliança destina--se a todos. Não importa o que você é; Ele é o seu Deus e está qualificado a chamá-lo.

E. Eu Sou o Que Sou Chegamos agora ao mais maravilhoso título de Deus: "EU SOU O QUE SOU" (3:14-15). No versículo quatorze, o Senhor instruiu Moisés: "Assim dirás aos filhos de Israel: EU

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SOU me enviou a vós outros". O nome do Senhor é EU SOU. Em outras palavras, o Seu nome é simplesmente o verbo "ser". Não estamos qualificados a dizer o que somos. Não somos nada; somente Ele é. Por isso Ele se chama "EU SOU O QUE SOU". A versão chinesa fala Dele como "Aquele que auto-existe e existe para sempre". "Eu Sou" indica Aquele que auto-existe, Aquele cujo ser independe de qualquer outra coisa além de Si mesmo. Esse Alguém é também Aquele que existe para sempre, isto é, que existe eternamente, não tendo princípio nem fim. Em João 8:58, o Senhor Jesus disse: "Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, eu sou". Como o grande "Eu Sou", o Senhor é o Deus eterno, que sempre existe. Vimos que, em 3:14, o Senhor ordenou a Moisés que dissesse aos filhos de Israel que o "Eu Sou" o enviara. As palavras "Eu Sou" não constituem uma sentença completa, mas funcionam aqui como um nome, aliás, um nome único. Esse nome, como vimos, é, na verdade, o verbo "ser". Somente Deus está qualificado a ter esse verbo aplicado a Seu ser, pois somente Ele é auto-existente. Você e eu precisamos perceber que não somos auto-existentes. Como o "Eu Sou", Deus é tudo o que precisamos. As palavras "Eu Sou", podemos adicionar tudo o que precisamos. Você está cansado? O "Eu Sou" é o seu descanso. Você está faminto? Ele é sua comida. Você está morrendo? Ele é vida. No Novo Testamento, o Senhor se serve de muitas coisas para descrever-se: "Eu sou a videira verdadeira" (Jo 15:1), "Eu sou o pão da vida" (Jo 6:35), "Eu sou a luz" (Jo8:12). Como o "Eu Sou", Deus é tudo — céu, terra, ar, água, árvores, pássaros, animais. Isso não é panteísmo (crença religiosa que identifica Deus com o universo natural). Não digo que tudo seja Deus, mas declaro que Ele é a realidade de todas as coisas positivas. Isso implica que Deus deve ser você, até mesmo a realidade de seu próprio ser. Podemos dizer-lhe: "Senhor, Tu és eu". Se o Senhor não é nós, nós então nada somos, nem temos realidade. Esse grande "Eu Sou", o todo-inclusivo, é Aquele que veio para chamar-nos. Não é heresia dizer que o nosso Deus é o todo-inclusivo. Essa é uma verdade repleta de luz. Somente os cegos, que estão em trevas, se opõem a tal verdade. Posso testificar que, por mais de cinquenta anos de minha vida cristã, o "Eu Sou" me tem sustentado. Em razão de Seu suprimento com aquilo que Ele é, nunca voltei atrás. Além disso, tenho sido capacitado a continuar no ministério por mais de quarenta anos. Conheço Aquele que me chamou. Fui chamado pelo "Eu Sou". Aquele que me chamou sustenta-me todo o tempo. Nenhuma língua humana pode expressar adequadamente o que Ele é.

F. Jeová, o Deus dos Hebreus Finalmente, o chamador é "Jeová, o Deus dos hebreus" (3:18, hebraico). A palavra "hebreu" significa "o que cruza o rio". Os que cruzam o rio são pessoas apartadas, pessoas separadas do mundo. Se quisermos ser chamados por Deus, precisamos ver que, como Chamador, Deus é o Deus dos que cruzam o rio, do povo separado. Como tal Deus, Ele não é o Deus dos que se acham em Babel, nem é o Deus dos que se encontram no Egito, pois estes não estão separados. Se não estamos apartados do mundo, Deus não poderá ser o nosso Deus. Ele não é o Deus dos egípcios, mas dos hebreus, do povo que cruzou o rio para o cumpri-mento do Seu propósito.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM SEIS

O CHAMAMENTO QUE DEUS FAZ AO PREPARADO

(2) Na mensagem anterior, abordamos quatro aspectos do chamamento que Deus faz ao pre-parado: o motivo, a hora e o lugar do chamamento, mais o Chamador. Nesta, consideraremos o objetivo do chamamento de Deus e a pessoa daquele que foi chamado.

V. O OBJETIVO DO CHAMAMENTO DE DEUS

A. Libertar os Filhos de Israel da Tirania dos Egípcios Tanto pelo lado positivo quanto pelo negativo, o propósito de Deus ao chamar Moisés era muito elevado. Negativamente, chamou-o para livrar os filhos de Israel da tirania dos egípcios. Em 3:8, o Senhor disse: "desci a fim de livrá-lo da mão dos egípcios". À época do chamamento de Moisés, o Egito era o país líder da terra, e Faraó tinha poder absoluto. E ali se achava um homem, agora com oitenta anos de idade, alguém que gastara os últimos quarenta anos de sua vida apascentando um rebanho no deserto. Como poderia essa pessoa livrar os israelitas do poder tirânico de Faraó? A Moisés, isso deve ter parecido impossível. Esse, todavia, era o propósito do chamamento de Deus pelo lado negativo.

B. Tirar os Filhos de Israel do Egito, da Terra do Cativeiro, e Introduzi-los em Canaã, Terra que Manava Leite e Mel

O propósito do chamamento de Deus não era apenas tirar os filhos de Israel do Egito, da terra da servidão, mas introduzi-los em Canaã, terra que manava leite e mel (3:8, 10, 17). Humanamente falando, o lado positivo do chamamento de Deus era ainda uma impossibilidade maior do que o lado negativo. Isso somente poderia ser um sonho. Mas era exatamente para executá-lo que Deus chamava a Moisés, apesar de, quarenta anos atrás, este haver virado as costas à mais alta cultura de seus dias e ter ido, a seguir, apascentar um rebanho no deserto. O Egito tipifica o reino das trevas, e Faraó tipifica Satanás, o diabo. Como poderia o povo de Deus ser liberto da mão desse poder maligno e resgatado do reino das trevas? Hoje isso se faz pela pregação do evangelho. Não pense que pregar o evangelho para conduzir pessoas à salvação seja tarefa fácil. Tirar alguém da mão de Satanás e do reino das trevas é obra poderosa. Por esse motivo, a revelação divina do Novo Testamento atribui um valor muito elevado a essa pregação. Paulo diz que o evangelho é o poder de Deus (Rm 1:16). O objetivo do chamamento de Deus é uma questão de profundo significado. Em tipologia, introduzir os filhos de Israel na boa terra significa introduzir as pessoas em Cristo, a pessoa todo-inclusiva, simbolizada pela terra de Canaã. Cristo hoje é uma boa terra, que mana leite e mel. Em Sua sabedoria, Deus utiliza a expressão "que mana leite e mel" para descrever as

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riquezas da boa terra. Tanto o leite quanto o mel são produtos de uma combinação das vidas vegetal e animal. O leite provém do gado, que se alimenta de pasto. A vida animal produz leite a partir do suprimento da vida vegetal. O leite, consequentemente, é um produto da mistura de dois tipos de vida. O princípio é o mesmo com o mel. Este tem muito a ver com a vida das plantas. Deriva, principalmente, das flores e das árvores. É óbvio que parte da vida animal também se acha envolvida — aquele insetozinho, a abelha. Assim, para a produção do mel, dois tipos de vida contribuem. Esses dois tipos se misturam, e o mel é produzido. Leite e mel simbolizam as riquezas de Cristo, riquezas essas que advêm dos dois aspectos de Sua vida. Embora seja uma só pessoa, Ele tem a vida remissora — simbolizada pela vida animal — e a regeneradora — simbolizada pela vegetal. Por um lado, Cristo é o Cordeiro de Deus, que nos redime; por outro, é um pão de cevada, que nos supre. Ambos os tipos de vida eram parte da refeição pascal, pois na Páscoa havia o cordeiro e o pão asmo com ervas amargas. Essas vidas se harmonizavam para o desfrutar do povo redi-mido de Deus. O objetivo do chamamento de Deus, todavia, não é propiciar a Seu povo um pouco de gozo da vida animal e da vida vegetal no Egito, mas introduzi-lo numa terra espaçosa, que mana leite e mel. Você tem certeza de que, hoje, na vida da igreja, desfruta de Cristo como a boa terra? Posso testificar que diariamente desfruto Dele como uma terra espaçosa, que mana leite e mel. Quem estava qualificado a tirar o povo de Deus da terra do Egito e conduzi-lo a essa terra maravilhosa? Antes de Moisés ser soberanamente preparado por Deus, ninguém havia que pudesse fazê-lo. Mesmo antes de atingir a idade de quarenta anos, ele deve ter percebido que o seu povo — os filhos de Israel — estava no cativeiro e sofria perseguição. Ao percebê-lo, deve ter posto como meta para si aprender todo o necessário, a fim de equipar-se para resgatá-lo. Entretanto, bem provavelmente não viu com clareza que o objetivo não era apenas libertar o povo de Deus do Egito, mas introduzi-lo na boa terra. Após serem retirados do Egito, os filhos de Israel precisavam de um alvo, de um destino. Embora ainda não totalmente claro acerca do objetivo, mesmo assim Moisés esperava realizar algo em benefício de seu povo. "Recusou ser chamado filho da filha de Faraó, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus, a usufruir prazeres transitórios do pecado" (Hb 11:24-25). Aos quarenta anos, considerou-se maduro, qualificado e equipado para livrá-los. Em realidade, ele não era capaz de fazer nada. Em si mesmo, não tinha o poder de resgatar o povo. Tão logo a situação se tornou ameaçadora, elefugiu.

VI. O CHAMADO

A. Sendo Tratado e Preparado por Quarenta Anos Deus gastou outros quarenta anos, até que esse homem capaz, apesar de frustrado, tivesse um fim. Não é algo fácil dar um fim a alguém. Passaram-se quarenta anos de disciplina, até que Moisés se percebesse desqualificado a libertar o povo do Egito e introduzi-lo na boa terra. Durante os seus primeiros anos de deserto, ele deve ter-se queixado de seu próximo, um hebreu, que recusara reconhecê-lo como libertador de Israel. Deve ter-se dito: "Como ele foi cego! Não percebeu que eu os haveria de libertar. Por sua causa, fui obrigado a fugir. Ninguém entre os filhos de Israel pode fazer o que eu poderia realizar. Mas agora

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tudo está arruinado". Creio que, à medida que se passavam os anos, mudava gradativa-mente a atitude de Moisés; por fim, ele já não mais culpava os outros por sua situação. É fácil educar alguém, porém é muito difícil dar-lhe um fim. Após aqueles anos de deserto, entretanto, Moisés foi totalmente aniquilado. Quando Deus lhe apareceu na sarça ardente, ele se considerou bom apenas para morrer. Exatamente naquela hora, entretanto, ao se julgar exterminado, é que Deus veio para chamá-lo. Deus o tratou e preparou por um período de quarenta anos (At 7:30). Sabemos que ele foi tratado justamente pelo fato de ele precisar viver no deserto após ser criado no palácio real. Suponha que alguém criado nos Estados Unidos subitamente fosse forçado a viver num país muito subdesenvolvido. Dia após dia, tal pessoa teria o sentimento de estar sen-do tratada. Moisés, sem dúvida, teve esse sentimento no deserto, enquanto trabalhava como pastor, cuidando de um rebanho que não pertencia a ele, mas a seu sogro. Através desse tratamento, ele foi gradualmente preparado.

B. Perdendo a Confiança em Si Mesmo Após aqueles anos de deserto, Moisés perdeu toda a confiança em si (3:11; cf 2:11-13). Quando Deus o chamou, ele respondeu: "Ah! Senhor! eu nunca fui eloquente, nem outrora, nem depois que falaste a teu servo; pois sou pesado de boca e pesado de língua" (4:10). Por que, então, Estêvão, em Atos 7:22, afirma que Moisés era "poderoso em palavras e obras"? Aos quarenta anos, ele era poderoso em palavras e atos. Isso quer dizer que ele era eloquente. Mas, após outros quarenta anos, perdeu a confiança em si mesmo, con-siderou-se alguém lento para falar. Os relatos de Êxodo 4 e de Atos 7 são ambos verda-deiros. O relato de Atos 7 se aplica ao Moisés de quarenta anos, ao passo que o registro de Êxodo 4 diz respeito ao de oitenta, após ser ele tratado e após ser extirpada sua habilidade natural. Poucos cristãos conhecem realmente a maneira de Deus tratar as pessoas. Encontrei um bom número deles muito confiantes no fato de haverem recebido um encargo de Deus, a fim de realizarem para Ele determinada obra. Todavia, sem exceção, tão logo começaram a executar algo, Deus interveio para tratá-los. Sempre que tivermos muita certeza de que fomos chamados e de que recebemos o encargo, deveremos esperar pelo tratamento de Deus. Poderemos esperar que os outros fiquem conosco, e eles, no entanto, vem para opor-se a nós. Desapontados com essa rejeição, poderemos decidir deixar totalmente o encargo. Mas não poderemos abandonar encargo algum que realmente venha de Deus. Se você pode abandonar um encargo, isso indica que ele não era primordialmente de Deus. Sempre que recebemos um encargo do Senhor, não podemos deixá-lo de lado, não impor-tando o quanto os outros possam opor-se a nós. Embora possamos ficar extremamente desapontados, o encargo permanece conosco. Mais cedo ou mais tarde, ele se erguerá novamente em nosso interior. Sem dúvida, ao ter Moisés quarenta anos, veio-lhe um encargo do Senhor. Estou con-vencido de que seus pais — principalmente a mãe — o consagraram a Deus. Sem dúvida, ele de boa vontade aceitara o Seu encargo. Todavia, por estar muito confiante na própria habilidade e poder para levar a cabo esse encargo, Deus providenciou, para que ele fosse rejeitado. Ele deve ter ficado profundamente frustrado. Ano após ano, Deus trabalhou nele, não para eliminar o encargo, mas para eliminar-lhe a habilidade natural e levá-lo a não confiar em si próprio. O nosso problema é este: se recebemos um encargo do Senhor, inclinamo-nos a utilizar nossa força natural para levá-lo a efeito. Mas, se nossa força natural é tratada, então

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tendemos a deixar de lado o encargo. Não separamos o encargo de Deus de nossa força natural. Gostamos de casar essas duas coisas, mas Deus quer divorciá-las, mantendo o encargo e marginalizando nossa força natural. Por essa razão, Ele gastou quarenta anos para tratar com a força natural de Moisés. Em princípio, Ele fará o mesmo conosco. Quando Deus o chamou, Moisés se disse lento no falar. Parece que ele dizia: "Senhor, agora que trataste com minha habilidade, já não aceito o Teu encargo. Quero renunciar. Não sou a pessoa adequada para ser enviada a Faraó, a fim de livrar os filhos de Israel de sua mão. Sou lento no falar. Como poderia conversar com Faraó?" Ao dizer dessa maneira ao Senhor, Moisés aparentemente foi sincero. Deus, todavia, zangou-se com ele (4:14). Isso indica que, pelo lado de Moisés, havia algum problema. Deus queria "contratá-lo", mas Moisés recusou aceitar o serviço. Ao negociar assim Moisés com o Senhor, sabia Deus o que estava em seu coração. Interiormente, Moisés deveria estar dizendo: "Senhor, há quarenta anos tentei ao máximo salvar os filhos de Israel, mas não me permitiste ter sucesso. Fui rejeitado e precisei fugir para o deserto, onde sofro há quarenta anos. Esqueci tudo o que aprendi no palácio real. Tornei-me nada. Agora dizes que queres que eu vá a Faraó. Quando estava qualificado, Tu me despediste. Mas, agora, que estou desqualificado e incapaz, Tu me queres contratar?" Secretamente, Moisés deve ter culpado o Senhor. Essa deve ter sido a razão pela qual Deus ficou descontente com ele. Tanto em Deus quanto em Moisés havia algo que não era expresso. Em Seu interior, o Senhor devia estar dizendo: "Moisés, não quero que você faça nada. Você não vê lá a sarça? Ela arde, mas não se consome. Quero que você simplesmente Me manifeste. Moisés, não rejeite o encargo. Receba-o, mas não utilize sua habilidade e força para realizá-lo. Porque você se considera apto para a morte, posso agora utilizá-lo. Moisés, não Me rejeite. Não tenho intenção de usá-lo segundo o seu conceito natural. Quero usá-lo à Minha maneira, como uma sarça que arde sem se consumir." Não é fácil realizar algo para Deus sem utilizar nossa própria força ou habilidade. Com o passar dos anos, tenho aprendido essa mesma lição, principalmente através dos sofrimentos e das falhas. Frequentemente, as pessoas têm a seguinte atitude: se lhes pedirem que realizem algo, elas serão capazes de o fazer à sua maneira, sem a interferência nem o conselho dos outros. Até mesmo os presbíteros da igreja podem ter essa atitude. O nosso sentimento pode ser: "Se você quer que eu o faça, então, por favor, fique longe e deixe-me executá-lo." Todavia, quando nos chama para realizar algo, Deus quer que o façamos, mas não por nós mesmos. Quando nos chama. Ele parece dizer: "Sim, quero que você o faça, mas quero que o realize através de Mim, não por si mesmo." O nosso problema, frequentemente, é que, se não pudermos executar determinada coisa por nós mesmos, então recusaremos inteiramente fazê-la. Essa atitude tem sido um grande empecilho para a obra da restauração do Senhor. Muitos irmãos sabem que precisamos da vida da igreja; mas, por estarem frustrados, insistem em não vir às reuniões. São como o Moisés frustrado do deserto, que fora tratado por Deus até perder a confiança em si mesmo. Ele, todavia, ainda estava disposto a receber o encargo do Senhor. Recebera-o de Deus antes dos quarenta anos. Todavia tinha que aprender a cooperar com Deus sem utilizar a própria habilidade e força naturais. O chamamento de Deus não poderia vir, até que ele perdesse toda a sua confiança em si mesmo. Em princípio, Deus trata conosco da mesma maneira. Quando já não confiamos mais em nós, Ele vem para chamar-nos.

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C. Percebendo a Própria Incapacidade Moisés também teve que perceber a própria incapacidade (4:10-13). Percebeu integral-mente que, em si mesmo, não era a pessoa adequada para responder ao chamamento de Deus. Talvez, durante os quarenta anos de deserto, ele até mesmo tenha experimentado fracassos ao apascentar o rebanho. Deus soberanamente deve ter criado determinadas circunstâncias, as quais ele não foi capaz de vencer. Tudo isso foi arranjado para ajudá-lo a perceber a própria incapacidade.

D. Considerando-se Bom Para Morrer Na hora em que Deus o chamou, Moisés não se considerou bom para nada, exceto para morrer. Lembre-se: quando Deus lhe apareceu no capítulo terceiro, Moisés tinha oitenta anos. O Salmo 90, escrito pelo próprio Moisés, diz: "Os dias da nossa vida sobem a setenta anos, ou, em havendo vigor, a oitenta: neste caso o melhor deles é canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e nós voamos" (v. 10 ). Isso indica que, aos oitenta anos, Moisés considerou-se pronto para morrer. Quando Deus o chamou, ele deve ter dito dentro de seu coração: "Senhor, por que não me usaste aos quarenta anos? Àquela época, sim, eu era capaz, ativo e jovem. Mas, agora, estou pronto para morrer. Tenho oitenta anos, e a hora de minha morte se aproxima. E, no entanto, agora, Senhor, Tu me vens e pedes que realize algo. Parece-me que estás vindo na hora errada. Senhor, já não sou mais capaz nem útil. Sou apenas um velho, pronto para morrer." Esse era o sentimento de Moisés acerca de si mesmo, quando Deus veio para chamá-lo, a fim de libertar os filhos de Israel do Egito. Em 1950, dei uma mensagem nesse teor aos jovens de Manila. No dia seguinte, eles começaram a fingir-se idosos e prontos para morrer. Embora muitos deles ainda fossem adolescentes, agiam como se tivessem oitenta anos. Esse comportamento, entretanto, durou apenas uns poucos dias. Se somos idosos, somos idosos; e, se somos jovens, somos jovens. Não há como fingir ou representar. Só podemos ser o que somos. Se você é como Moisés matando o egípcio, então isso é o que você é. E se você é como Moisés aos oitenta anos, isso é o que você é. Um dia, todos atingiremos o ponto em que nos consideraremos bons apenas para morrer. Todos os chamados pelo Senhor devem passar por um período de tempo em que percam a sua confiança, percebam a própria incapacidade e se considerem bons apenas para morrer. Por fim, teremos a nosso respeito a mesma percepção que Moisés teve de si aos oitenta anos.

E. Encarregado de Ser Um Enviado, Não Um Enviante Exatamente na hora em que Moisés se considerou pronto para morrer, Deus veio para incumbi-lo de ser um enviado (3:10,15). Deus era o Enviante, o Iniciador, e Moisés devia ser o enviado, para realizar os desejos Daquele que o enviara. Para enfatizar esse ponto, a palavra "enviar" é utilizada repetidas vezes nos capítulos terceiro e quarto. No chama-mento feito a Moisés, Deus parecia dizer: "Moisés, Eu, o Senhor, o estou enviando. Você não é o enviante nem o iniciador, mas deve ser o enviado, a fim de efetuar a Minha von-tade." Em mensagem posterior, observaremos que, ao defrontar com Faraó, Moisés nada fez por si mesmo. Pelo contrário, agiu como enviado do Senhor, fazendo tudo o que Deus o encarregara de fazer. Ser enviado significa nada fazermos por nós mesmos. Pelo contrário, simplesmente

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efetuamos os desejos Daquele que nos enviou. Ser um enviado é algo abençoado e que nos introduz totalmente no descanso. Para o sermos, precisamos passar por muito treino e disciplina. Diversas vezes, enviei pessoas, a fim de realizarem para mim algumas tarefas específicas. Embora se dissessem claras acerca do que eu queria que realizassem, elas, por fim, executaram as coisas à sua maneira. Isso indica que requer treino o ser um enviado.

F. Uma Sarça Que Ardia Sem Se Consumir Antes de falar a Moisés, Deus lhe apresentou o sinal de uma sarça ardente. "Apareceu-lhe... numa chama de fogo do meio duma sarça" (v. 29), um arbusto que queimava sem se consumir. Vendo-a arder, Moisés disse; "Irei para lá, e verei essa grande maravilha, porque a sarça não se queima" (v. 39). A sarça representava o próprio Moisés. Isso indica que todos os chamados por Deus devem perceber-se uma sarça com fogo a queimar dentro de si, sendo esse fogo o próprio Deus. Embora deseje arder dentro de nós e sobre nós, Ele não nos consumirá, isto é, não nos utilizará por combustível. De acordo com Gênesis 3, as sarças tipificam a maldição advinda em razão do pecado. Isso indica que, como chamado de Deus, Moisés era um pecador sob Sua maldição. Era uma sarça, não um cedro do Líbano. O fogo arder no interior da sarça tipifica a manifestação da santidade de Deus. Gênesis 3:24 — a primeira menção do fogo na Bíblia — fala de uma espada flamejante "que se re-volvia, para guardar o caminho da árvore da vida". Esse fogo apareceu depois que o homem caiu, ao comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Essa chama excluía o homem da árvore da vida, impedindo-o até mesmo de tocá-la. Em Êxodo 3 se menciona o fogo novamente. Ele, aqui, não exclui o homem de nada; pelo contrário, indica que a glória da santidade deveria arder no interior de Moisés e sobre ele, apesar de ser ele uma sarça, um pecador sob a maldição de Deus. Como é possível a santidade de Deus arder em nosso interior? Isso é possível somente através da redenção de Deus? que preenche os requisitos de Sua santidade. Por isso, Sua santidade hoje não nos exclui mais da árvore da vida; ela arde em nosso interior, embora tenhamos sido uma vez pecadores sob a maldição de Deus. O fogo santo agora é um com o pecador amaldiçoado, e até mesmo arde sobre ele. O fato de a sarça arder sem se consumir indica que a glória da santidade de Deus deve arder dentro de nós, mas sem nos exaurir. Se um servo de Deus se exaure, isso pode significar que ele está utilizando sua própria energia para realizar algo para Deus. Este não quer utilizar nossa vida natural por combustível. Ele arderá somente tendo a Si mesmo por combustível. Devemos ser apenas uma sarça com fogo divino a arder no interior. Creio que Moisés jamais esqueceu a visão daquela sarça ardente. A lembrança daquela visão deve ter trabalhado em seu interior constantemente, reavivando-lhe a necessidade de não utilizar sua força ou habilidade naturais. Através do sinal da sarça ardente, Deus gravou nele a ideia de que ele era um vaso, um canal através do qual Deus haveria de Se manifestar. Não é fácil aprender que somos apenas um arbusto para a manifestação de Deus. Ao longo dos anos, tenho aprendido uma lição: trabalhar para Deus sem utilizar a vida natural por combustível, permitindo-Lhe arder em meu interior. Em Marcos 12:26, o Senhor Jesus referiu-se ao arbusto de Êxodo 3:2. Em sua tradução, Darby adiciona as palavras "seção de" antes de "arbusto"; a Versão Padrão Americana acrescenta "lugar referente a". O registro da sarça ardente deve ser um memorial e um testemunho contínuo para os chamados de Deus, testemunhando o fato de que nada podemos ser, além de sarças. Já observamos que, nos dias de hoje, todos os irmãos podem ser apóstolos, profetas,

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evangelistas, pastores e mestres. Todavia, se quisermos funcionar como tais dons para o Corpo de Cristo, precisamos primeiramente ser sarças ardentes, que, como Moisés, não têm confiança em si mesmos, nem ardem para Deus de acordo com sua própria energia natural. Desde o dia em que Deus o chamou, Moisés já não mais teve confiança em si mesmo. Ao se rebelarem outros contra ele, não contendia, mas ia a Deus e se ajoelhava diante Dele. Ao agir assim, mostrava-se uma sarça ardente. Quando se prostrava diante de Deus, Este lhe aparecia imediatamente como fogo flamejante, manifestando-Se de dentro dele como sarça. Que este registro da sarça possa sensibilizar-nos, de modo que jamais o esqueçamos. Em nós mesmos, nada somos; somos meras sarças. Mas Deus ainda nos tem em alta conta e deseja manifestar-Se como chama de fogo em nosso interior. Devemos valorizar alta-mente o Seu arder, jamais pondo nossa confiança naquilo que somos de acordo com o homem natural. O nosso homem natural com sua energia, força e habilidade precisa ser eliminado e esquecido. Nossa habilidade e força nada significam. O que uma sarça pode fazer? Nada. Embora possa considerar-se capaz, você, por fim, haverá de perceber-se simplesmente uma inútil sarça. Todos precisamos ter essa visão de nós mesmos. Graças a Deus, porque Ele nos visita, fica conosco e arde sobre nós. Embora a chama divina, arda em nosso interior e sobre nós, nós mesmos não somos consumidos. Após Deus chamar a Moisés e o enviar a Faraó, não foi este, mas o próprio Deus quem tudo realizou e foi glorificado. Moisés não tinha arma; somente uma vara. Com ela, foi a Faraó pela palavra do Senhor, e Deus tudo realizou. Por esse motivo, a glória jamais foi manifestada por Moisés, mas sempre por Deus. No interior de Moisés e sobre ele, a glória de Deus se manifestava. Todos deveremos ser pessoas chamadas como Moisés. Mais cedo ou mais tarde, todos contemplaremos a mesma visão tida por ele no capítulo terceiro de Êxodo: a visão de uma sarça que arde sem se consumir. Essa visão precisa ser gravada em nosso ser. Depois, então, sempre que tocarmos a obra de Deus ou o serviço da igreja, lembrar-nos-emos de que nada mais somos do que uma sarça. Está chegando o dia em que todos nós o perceberemos.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM SETE

A SARÇA COLETIVA Já observamos que a sarça de Êxodo 3 é um símbolo de Moisés como aquele que foi chamado por Deus. Aos Seus olhos, Moisés era uma sarça. Ninguém considera uma sarça como algo importante. Embora rejeitado pelo homem, Moisés foi aceito por Deus, e o fogo de Sua glória ardeu em seu interior e sobre ele. Por essa razão, Moisés era uma sarça a queimar com a glória de Deus. A sarça ardente de Êxodo 3, todavia, refere-se não apenas a Moisés como indivíduo, mas também aos filhos de Israel como entidade coletiva. O povo de Deus — os filhos de Is-rael — incluia fracos e fortes. Moisés era apenas um no meio do povo coletivo de Deus. Para o Senhor, a sarça a queimar, do capítulo terceiro, não era apenas um indivíduo, mas um povo coletivo. O meu encargo nesta mensagem é considerar o aspecto coletivo da sarça. Como indivíduos, todos somos os Moisés de hoje. Mas também somos parte da igreja, a sarça coletiva. O objetivo de Deus ao tratar com Seu povo, os filhos de Israel, era obter um lugar apropriado de habitação. Deuteronômio 33:16 fala de Deus como Aquele que habitava na sarça. Essa palavra, escrita por Moisés, indica que Deus tinha aquela sarça ardente como Sua casa, Seu lugar de habitação. Quem alguma vez pensou que a habitação de Deus na terra pudesse ser uma sarça? Moisés deve ter percebido que a sarça ardente, vista por ele quando Deus o chamou, era um símbolo de si próprio. À época de Deuteronômio 33, ele se considerou uma sarça; mas, para Deus, ele era o "homem de Deus" (Dt 33:1). Sob o prisma individual, ele era uma sarça; sob o aspecto coletivo, os filhos de Israel eram uma sarça. O Deus da bênção, todavia, habitava nessa sarça. Se Ele não habitar em nós, estaremos acabados. Sem Ele, nada mais somos do que sarças comuns. Embora venhamos a ser cavalheiros e damas, ou bem treinados profissionais, ainda assim seremos sarças, porque nossa natureza caída se vinculará aos espinhos e à maldição. Ao referir-se a Deus como Aquele que habitava na sarça, o coração de Moisés deve ter ficado pleno de agradecimento a Deus. Durante os últimos quarenta anos de sua vida, ele veio a conhecer-se apenas como uma sarça. Mas também veio a saber que Deus estava com ele. Todos precisamos ter essa percepção. Sempre que tivermos um espírito correto diante do Senhor, saberemos que somos uma sarça. Reconheceremos como sarças até mesmo as nossas virtudes naturais, como humildade, bondade e paciência. Às vezes, poderemos até sentir-nos prostrados diante do Senhor, confessando-Lhe o quanto somos miseráveis. Enquanto abençoava os filhos de Israel, Moisés deve ter tido esse sentimento a seu próprio respeito. Uma bem conhecida música de evangelização diz: "Sou apenas um pecador salvo pela graça". O sentimento que Moisés teve foi muito profundo, até mesmo mais terno e doce do que esse, pois ele percebeu-se uma sarça ardendo pela glória de Deus. Hoje, como aqueles que crêem em Cristo, não somos simplesmente salvos pela graça; somos uma sarça arden-do com o fogo da glória de Deus. Moisés o percebeu tanto sobre si mesmo quanto sobre os filhos de Israel, na condição de povo coletivo de Deus. Em seu profundo interior, ele viu a si mesmo pessoalmente e aos israelitas coletivamente como uma sarça.

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I. A SARÇA E A CHAMA DE FOGO DE GÊNESIS 3 Precisamos perceber que há uma ligação entre Gênesis 3 e Êxodo 3. Em ambos os capí-tulos, verificamos a sarça e o fogo. A sarça de Gênesis 3 indica que o homem está sob mal-dição (v. 17-18), e a chama de fogo mostra-o apartado de Deus, da árvore da vida (v. 22-24). De acordo com Gênesis 3, os cardos (sarças) advêm da maldição oriunda do pecado. As sarças, assim, são um símbolo do homem caído sob maldição. Logo após ser proferida a maldição, uma espada flamejante foi posta ao oriente do jardim "para guardar o caminho da árvore da vida" (v. 24). O pecado, como consequência, introduziu a maldição, e esta acarretou a chama de fogo. A função do fogo de Gênesis 3 é excluir os pecadores da árvore da vida, isto é, de Deus como fonte de vida. Se a Bíblia se encerrasse com Gênesis 3:24, nossa situação seria perpetuamente sem esperança. De acordo com os capítulos um e dois de Gênesis, fomos criados especificamente para receber Deus como vida. O homem por Ele criado foi posto diante da árvore da vida. E depois, no capítulo três, o pecado chegou, o homem caiu sob maldição, e o "fogo da santidade de Deus excluiu os pecadores amaldiçoados de qualquer contato direto com Deus como árvore da vida.

II. A SARÇA E A CHAMA DE FOGO DE ÊXODO 3 A situação do homem de Êxodo 3 é muito diferente da de Gênesis 3. Em Êxodo 3, a sarça amaldiçoada torna-se o vaso de Deus, e a chama de fogo torna-se uma com a sarça. Através da redenção, tipificada pelo cordeiro morto e oferecido a Deus pelo homem caído (Gn 4:4), retira-se a maldição, e o fogo se torna um com a sarça. Vê-se a realidade desta figura em Gálatas 3:13-14. O versículo treze diz: "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar". Isso quer dizer que, através da morte de Cristo na cruz, retirou-se a maldição. O versículo quatorze continua: "para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos pela fé o Espírito prometido". De acordo com esses versículos, portanto, a maldição foi afastada, e o Espírito, o fogo, nos foi dado, Atos 2:3-4 indica que o Espírito derramado é tipificado pelas línguas de fogo. Esse derramamento do Espírito como fogo fora predito pelo Senhor Jesus em Lucas 12:49: "Eu vim para lançar fogo sobre a terra e bem quisera que já estivesse a arder". No dia de Pentecoste, o Espírito prometido, dado através da redenção de Cristo, que afastou a maldição, veio sobre os discípulos em forma de fogo. Esse fogo já não mais nos separa de Deus; pelo contrário, é a chama de Sua visitação. Consideradas à luz do quadro de Êxodo 3, notamos que a sarça e a chama são uma. Em Gênesis 3, o homem caído estava sob a maldição, tipificada pela sarça. Lá, a chama de fogo o separava de Deus como árvore da vida. Em Êxodo 3, todavia, a sarça — que pode ser considerada um tipo de vaso — e o fogo são um. Em Gênesis 3, o fogo aparta o homem, que está sob maldição, da árvore da vida; separa-o de Deus como fonte de vida. Mas, em Êxodo 3, a chama de fogo visita a sarça e nela habita. Isso indica que, através da redenção de Cristo, o próprio Deus, o Santo, cuja santidade afasta os pecadores de Sua presença, pode vir para visitar-nos, para ficar conosco e até mesmo para habitar em nós. Aleluia, Cristo afastou a maldição e lançou à terra o fogo do Espírito Santo! Agora que a maldição se foi, já não mais estamos separados de Deus como vida. Louvado seja o Senhor, porque a chama causadora da separação de Gênesis 3 se tornou, em Êxodo 3, a chama que visita e

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habita interiormente! A sarça amaldiçoada de outrora se torna hoje o lugar da habitação de Deus. Aqueles que são cristãos há muitos anos podem às vezes ser tentados a se considerarem muito bons ou santos. Se você tem seguido o Senhor e experimentado algum sucesso em sua vida cristã, pode considerar-se secretamente um "santo" proeminente, alguém mais espiritual do que os outros cristãos. Deveríamos perceber, todavia, que ainda somos um arbusto cheio de espinhos. Não se pense muito maravilhoso, nem tenha em tão elevada consideração aqueles que você admira. Todos somos ainda uma sarça. Estou bem cônscio do fato de que sou uma sarça. Se formos iguais a Moisés, o homem de Deus, teremos uma consciência dupla: por um lado, saberemos que somos sarças; por outro, estaremos conscientes da glória de Deus ha-bitando dentro de nós como chama ardente. Moisés se tornou um homem de Deus, mas ainda se considerava uma sarça. No mesmo princípio, a glória de Deus habitou no meio dos filhos de Israel e os tornou em Seu glorioso lugar de habitação; mas, ainda assim, eles eram uma sarça, até mesmo uma sarça coletiva.

III. MOISÉS COMO SARÇA INDIVIDUAL Como sarça individual, Moisés foi redimido, santificado e transformado. Alguns poderão perguntar que base temos para dizer que ele foi transformado. Embora as palavras "transformado" ou "transformação" não se encontrem em seus escritos, os seus livros, não obstante, revelam o fato de que ele foi transformado. Já enfatizamos que, de acordo com Deuteronômio 33:1, ele era um homem de Deus. Isso implica transformação. Fora do processo de transformação, como poderia ele, um homem tão forte e ativo em sua vida natural, tornar-se um homem de Deus? Somente através da transformação poderia tornar-se tal pessoa. Um exemplo de sua transformação foi sua experiência com o Senhor no cume do monte. Após permanecer lá com o Senhor por quarenta dias, sua face brilhava, porque a chama do fogo santo de Deus havia inflamado seu interior. Moisés era como o aço lançado às chamas e lá mantido até brilhar com o fogo que arde em sua própria essência. Quando estava no cume do monte, a glória de Deus ardia dentro de seu ser. Ao descer da monta-nha, sua face brilhava. Assim "olhando Arão e todos os filhos de Israel para Moisés, eis que resplandecia a pele do seu rosto" (34:30). Não era isso um sinal de transformação? Era uma segura indicação de que Moisés estava sendo transformado. De acordo com o seu treinamento no palácio, ele poderia ter-se tornado um perito em toda a ciência egípcia. Mas, por ter sido redimido, chamado, santificado e transformado, ele, ao contrário, tornou-se, por fim, um homem de Deus. Certos elementos ou temas essenciais podem ser traçados ao longo das Escrituras. Sem uma compreensão adequada dessas questões, ser-nos-á impossível conhecer a Bíblia apro-priadamente. Esses elementos decisivos incluem a redenção, a santificação e a transfor-mação. Moisés foi redimido, santificado e transformado; nós, hoje, fomos redimidos e estamos sendo santificados e transformados. Moisés se tornou um homem de Deus, e nós também estamos tornando-nos homens de Deus. De acordo com a revelação do Novo Testamento, como aqueles que crêem em Cristo, estamos até mesmo nos tornando homens-Deus, aqueles que são um com o Deus Triúno e se acham amalgamados com Ele. Está chegando o dia em que todos seremos homens de Deus em realidade. Na restauração do Senhor, não nos preocupamos com um número elevado; preocu-pamo-nos com a genuína experiência de transformação. Estou feliz, porque estamos

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debaixo do arder divino, do queimar que nos transforma e faz a nossa maneira de ser diferente das pessoas do mundo. Por arder o elemento de Deus em nossa natureza, estamos nos tornando homens de Deus. Isso é o que significa ser uma sarça ardente num sentido individual. De acordo com nossa natureza, ainda somos uma sarça; mas, segundo o arder de Deus dentro de nós, somos pessoas transformadas. Por um lado, somos uma sarça; por outro, somos homens de Deus.

IV. ISRAEL COMO SARÇA COLETIVA Os filhos de Israel eram uma sarça coletiva. Nessa condição, foram eles redimidos (13:14-16), santificados (13:2), transformados e edificados. Talvez você ache difícil crer que eles tenham sido transformados. Quando jovem, eu também o achava. Mas algo aconteceu numa reunião de oração em Xangai, no início da década de 1940, que me ajudou a ver o povo de Deus como Ele o vê. Naquela reunião, uma experimentada irmã cooperadora, atribulada pela baixa condição da igreja, clamou ao Senhor pela situação. Enquanto orava, lamentava e deplorava a pobre condição da igreja. Ao término de sua oração, o irmão Nee rompeu em louvores ao Senhor e Lhe deu graças, porque a igreja nunca é fraca nem rasteira, mas é sempre elevada. Os irmãos se chocaram. Então ele nos ajudou a compre-ender o significado da profecia de Balaão sobre os filhos de Israel. Balaão fora contratado por Balaque para amaldiçoar os filhos de Israel. Mas, em vez de os amaldiçoar, abençoou-os. Falando por Deus, ele disse: "Não viu (Deus) iniquidade em Jacó, nem contemplou desventura em Israel (Nm 23:21). Além do mais, em Números 24:5, ele afirmou: "Que boas são as tuas tendas, ó Jacó! as tuas moradas, ó Israel!" Segundo esses versículos, Deus não via iniquidade nem perversidade em Israel. Pelo contrário, via somente bondade, formo-sura e beleza. O mesmo é verdade hoje com referência à igreja. Não diga que a igreja está rasteira, ou amortecida. Quanto mais você o afirmar mais você se colocará sob maldição. Todavia, se louvar o Senhor pela vida da igreja e dela falar bem, você se porá sob a Sua bênção. Durante todos os anos em que tenho estado na vida da igreja, jamais vi uma pessoa sequer que tenha falado negativamente acerca da igreja e tenha permanecido sob a bênção de Deus. Pelo contrário, todos os que afirmaram que a igreja era pobre, rasteira ou morta caíram sob maldição. Os que a proclamam positiva-mente, declarando-a amável, dizendo-a casa de Deus, recebem a bênção. Isso não é mera doutrina; é um testemunho que pode ser verificado através das experiências de muitos cristãos. Às vezes, ao ficar desapontado com a igreja e não pensar positivamente a seu respeito, o Senhor em meu íntimo me adverte que seja cuidadoso. Imediatamente Lhe peço que me limpe, e começo a declarar que maravilhosa é a igreja. Embora ela possa causar-me problemas, ainda a amo. Quanto mais falo assim positivamente, mais fico sob a bênção de Deus. Que palavra sobre a igreja é correta: a sua ou a do Senhor? Na eternidade, a palavra Dele provará ser correta, porque, em tal época, a igreja será maravilhosa, gloriosa e trans-cendente. Todas as acusações do inimigo referentes a ela são mentiras. Afirmá-la pobre ou morta é proferir uma mentira diabólica. A situação aparente dela é uma mentira. É uma mentira afirmá-la fria, morta ou rasteira. Ela é elevada e muito viva. Sou grato pela forte palavra do irmão Nee relativa à profecia de Balaão. Aquela palavra mudou totalmente o meu conceito com referência à situação presente da igreja. Desde o tempo em que a ouvi, descortinei a igreja a uma luz completamente modificada. Não queira examinar mais profundamente do que o Senhor. De acordo com a palavra

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de Balaão em Números, Ele não viu iniquidade em Jacó. Como então você pode enxergá-la? Você é mais sábio ou mais perspicaz do que Ele? A Bíblia declara que Ele não vislumbrou perversidade em Israel. Mas você afirma que a vê na igreja. O que você escolhe: a visão do Senhor ou a sua? Se permanecermos com a concepção do Senhor referente à igreja, seremos guardados de cair da bênção na maldição. Que todos possamos atentar à maneira como tratamos a igreja! Os filhos de Israel podiam ser uma sarça coletiva, porque foram transformados e edifi-cados. Deus acreditava nisso, e nós precisamos concordar com Ele. O tabernáculo tipificava os filhos de Israel como lugar de habitação de Deus. Não consi-dere o tabernáculo como algo apartado deles. Na verdade, eles próprios eram o lugar da habitação de Deus. O tabernáculo era um mero símbolo. Sempre que falo sobre a igreja de maneira não positiva aos irmãos responsáveis, arre-pendo-me posteriormente. Antes de falar-lhes, eu estava nas regiões celestiais; mas, após fazê-lo, perco minha paz. Se tentar desculpar-me, afirmando que não estava condenando a igreja, mas simplesmente relatando os fatos, ficarei ainda mais atribulado em meu interior. Quanto mais me desculpar, mais ficarei sob condenação. Por essa razão, posso testificar de minha própria experiência que não é algo pequeno entrar em contato com a igreja. Sempre que nos referimos a ela, precisamos fazê-lo de maneira positiva. Aí então receberemos a bênção. O Antigo Testamento revela que diversas vezes Deus veio repreender e reprovar os filhos de Israel. Mas, ao atacarem os gentios ao Seu povo, sofriam eles alguma perda mais cedo ou mais tarde. Aos Seus olhos, os filhos de Israel foram redimidos, santificados, transformados e edificados, e Deus tinha em seu meio o Seu lugar de habitação. Todos precisamos ver essa realidade e crer nela. No mesmo princípio, precisamos crer que a igreja hoje é maravilhosa. Acautele-se contra sua visão natural. Se Deus não vislumbra iniquidade ou perversidade na igreja, como então você pode vislumbrar? Quando é misericordioso, Deus é rico em misericórdia. Embora os israelitas tivessem muitas iniquidades, Ele podia afirmar não ver iniquidade em Israel. O mesmo é verdade hoje com a igreja. Assim como os filhos de Israel, a igreja é uma sarça coletiva. De acordo com nossa natureza humana, temos na igreja muitas fraquezas, erros, falhas e defeitos. Precisamos, contudo, agradecer ao Senhor, porque, como igreja, fomos trans-formados e edificados. Não apenas Deus concorda com isso, mas até mesmo Satanás, o Seu inimigo, precisa reconhecê-lo. Como sarça coletiva, a igreja é transformada; mas, ainda assim, ela é uma sarça, não muda. Como podemos dizer que algo é transformado sem se mudar? Observe a sarça ardente de Êxodo 3. O fogo ardia em seu interior e sobre ela, mas ela não se mudava. Foi, todavia, transformada através do fogo ardente. Alguns poderão perguntar que base temos para declarar que somos a restauração do Senhor. Admitimos que temos muitos espinhos; talvez mais do que outros "arbustos". Em-bora sejamos cheios de espinhos, contudo, não podemos negar que o fogo divino arde dentro de nós. Outros "arbustos" poderão ter menos espinhos, mas não têm o fogo. O sinal da restauração do Senhor, portanto, é esse arder. O que torna a sarça coletiva da restau-ração do Senhor diferente de todas as outras é o arder da chama de fogo. Somente esta sarça está a arder. Após ser erigido o tabernáculo, ficou ele pleno da glória do Senhor (40:34-35). À noite, a nuvem de glória tinha a aparência de fogo (Nm 9:15-16). O fogo a queimar sobre o taber-náculo indicava que o povo de Israel era uma sarça ardente coletiva.

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É fácil que os olhos humanos verifiquem defeitos na igreja. Tais olhos se acham particu-larmente postos sobre os presbíteros, os líderes. Tão logo se torna um presbítero, um irmão se sujeita ao exame de muitos santos, cujos olhos são rápidos em detectar qualquer falta. Deus, todavia, não tem tal tipo de olhos. Lembrem-se da palavra de Balaão: Deus "não viu iniquidade em Jacó, nem contemplou desventura em Israel". Enquanto Balaão profetizava, Deus parecia dizer: "Os filhos de Israel são muito agradáveis aos Meus olhos. São o Meu lugar de habitação". Se alguém argumentasse que os israelitas eram simples-mente uma sarça, Deus replicaria que eles não Lhe eram apenas uma sarça comum, mas um povo transformado e edificado para ser Seu lugar de habitação. É difícil afirmar se, ao falar de Deus como Aquele que habita na sarça, Moisés se referia à verdadeira sarça vista há quarenta anos ou a si mesmo e aos filhos de Israel, respectiva-mente como um indivíduo e como uma sarça coletiva. Creio que essa palavra inclui tudo isso. Por um lado, ainda somos uma sarça; por outro, através da redenção, santificação, transformação e edificação, somos o lugar da habitação de Deus. Aleluia, Deus hoje tem um lugar de habitação na terra! Satanás deve ter-Lhe dito: "O Teu povo é simplesmente uma sarça." Mas Deus deve ter replicado: "Arrede-se, Satanás! Você não sabe que este povo foi redimido, santificado e transformado? Também foram edificados e agora são um. Por essa razão, habito em seu meio. Você afirma que são uma sarça, mas Eu declaro que são o Meu lugar de habitação." A igreja hoje é o lugar da habitação de Deus. Você pode pensar que ela seja feia, mas para Deus ela é maravilhosa. Você pode criticá-la por suas falhas, mas Ele assegura não ver iniquidade em Seu povo. Acerca de Seu povo, Ele diz: "Não encontro falha neles. Estou no seu meio, e eles são o Meu lugar de habitação na terra". Isso é a igreja como sarça coletiva.

V. EM RESSURREIÇÃO O próprio Deus da sarça, Aquele que chamara a Moisés, era o Deus da ressurreição. Isto se prova pela palavra do Senhor aos saduceus, em Marcos 12:18-27. Quando O testavam no tocante à ressurreição, Ele lhes disse: "Quanto à ressurreicão dos mortos, não tendes lido no livro de Moisés, no trecho referente à sarça, como Deus lhe falou: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ora, ele não é Deus de mortos, e, sim, de vivos." O Senhor, aqui, apontou aos saduceus descrentes a parte das Escrituras referente à sarça. O título "Deus de Abraão, Deus de Isaque e Deus de Jacó" implica Deus de ressurreição. Abraão, Isaque e Jacó morreram todos. Se fosse o Deus de Abraão, Isaque e Jacó e não houvesse ressurreição, Deus então seria um Deus de mortos. Mas Ele não é Deus de mortos: é o Deus dos vivos, o Deus da ressurreição. O fato de que o Deus da ressurreição habitava na sarça indica que ser uma sarça coletiva como lugar da habitação de Deus hoje é uma questão totalmente de ressurreição. Aquele que é Santo pode visitar-nos e habitar entre nós, porque Ele está em ressurreição. Ele é o Deus da ressurreição; e nós, o Seu povo, estamos em ressurreição. Estando nós ainda na carne, pode ser-nos difícil crer ou perceber que estamos em ressurreição. Se eu perguntar a você se está na vida natural ou na de ressurreição, é bem provável que você me afirme estar na vida natural. Se diz assim, contudo, você não tem fé. Precisamos ser fortes na fé e declarar que estamos em ressurreição, porque o nosso Deus não é um Deus de mortos, mas o Deus dos vivos. Em mim mesmo, estou na carne e na vida natural; mas, no meu Deus, estou em ressurreição. Desfrutamos hoje Dele como Deus de ressurreição. Em ressurreição, Ele é o grande "Eu Sou". Todos precisamos dizer pela fé

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que estamos em ressurreição. Quanto mais o falarmos pela fé, mais isso se tornará nossa experiência. O que proclamamos é o que experimentamos. Se afirmarmos estar na carne, então esta-remos na carne; mas, se dissermos que estamos em ressurreição, então estaremos em ressurreição. Já que o próprio Deus que habita em nosso interior é o Deus da ressurreição, temos base para declarar que estamos em ressurreição. Aqui, em ressurreição, a sarça pode ser abençoada, a fim de ser o lugar da habitação de Deus. Percebemos que, no máximo, sornos apenas uma sarça. O grande "Eu Sou", todavia, o Deus da ressurreição, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, habita em nosso interior, e nós Dele desfrutamos. Individualmente somos uma sarça, e juntos somos uma sarça cole-tiva, que arde com o Deus da ressurreição. Esse é o quadro atual da vida da igreja.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM OITO

OS TRÊS SINAIS Já observamos que o relato do chamamento de Moisés é o mais completo da Bíblia no tocante ao chamamento de Deus. Quando chegou à extremidade do deserto e lá encontrou Deus, Moisés viu o sinal de uma sarça que ardia sem se consumir. Embora maravilhoso, esse sinal era um tanto objetivo. Nesta mensagem, consideraremos os três sinais do capítulo quatro, sinais esses muito subjetivos. É-nos importante analisar por que nos foram dados três sinais subjetivos. Ao final do capítulo três, o chamamento que Deus fez a Moisés parecia estar completo. Moisés vira o sinal objetivo da sarça ardente, e ouvira Deus falar-lhe. Deus lhe fez uma revelação completa de Si mesmo. Assim, pelo Seu lado, o chamamento feito a Moisés estava com-pleto. Pelo lado de Moisés, entretanto, não o estava. Êxodo 4:1 diz; "Respondeu Moisés: Mas eis que não crerão, nem acudirão à minha voz, pois dirão: O Senhor não te apareceu." Essa palavra indica que, embora vendo um sinal muito maravilhoso e ouvindo a voz de Deus, Moisés não foi inspirado nem movido. Por essa razão, foram-lhe dados os três sinais encontrados no capítulo quatro. Tais sinais deveriam ser a evidência final de que Moisés verdadeiramente fora chamado por Deus. O princípio é o mesmo hoje para os Seus chamados. Alguém que afirmar ser chamado por Deus deverá ter a marca desses três sinais subjetivos. É significativo que o Senhor tenha mostrado a Moisés três sinais, e não dois, nem qualquer outro número. Na Bíblia, o número três é um número significativo. Por ser Deus Triúno, o número três se relaciona à Sua economia, à Sua dispensação. Em Lucas 15, existem três parábolas relacionadas ao Filho, ao Espírito e ao Pai. Mas, em Êxodo 4, vêem-se três sinais, tratando com a serpente, com a lepra e com o sangue. Como sabe todo leitor da Bíblia, a serpente tipifica Satanás. Em Gênesis 3, encontramos Satanás, a serpente sutil. A serpente de Êxodo 4 é a mesma serpente de Gênesis 3, que é chamada de "a antiga serpente" pelo livro de Apocalipse (12:9;20:2). Não é adequado àquele que é chamado por Deus conhecer somente a Ele. Todo chamado também precisa conhecer a serpente. Não apenas deve-remos saber tratar com Deus, contactá-Lo, ter comunhão com Ele e Nele confiar; precisa-remos também ser capazes de tratar com a serpente. A lepra do segundo sinal é uma questão de podridão, de corrupção e impureza da carne pecaminosa. De acordo com o Antigo Testamento, toda pessoa leprosa tinha que de-clarar-se abertamente impura. O pecado tipificado pela lepra não é o pecado externo, mas o pecado subjetivo, o pecado que habita na nossa carne. É desse pecado que provém a podridão, a corrupção e a impureza. O terceiro sinal é o da água que se transforma em sangue. O sangue aqui simboliza a morte que foi introduzida pelo mundo mais o Seu deleite. Por essa razão, o sangue do terceiro sinal se relaciona ao mundo. A serpente, a lepra e o sangue se relacionam respectivamente a Satanás, ao pecado na carne e à morte introduzida pelo mundo. Os chamados por Deus devem ter não apenas o sinal objetivo da sarça ardente, mas também os sinais subjetivos da serpente, da lepra e do sangue. Como chamados, precisamos de algumas experiências subjetivas, algumas evidên-cias subjetivas, que mostrem aos outros que realmente fomos chamados e enviados por

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Deus. Tais evidências são a habilidade para tratar com o diabo, com a carne pecaminosa e com a morte introduzida pelo mundo. Suponha que determinada pessoa lhe venha, afirmando-se enviada por Deus. Se ela não souber tratar com Satanás, com a carne e com o mundo, você não deverá crer nela como enviada. O sinal de uma sarça ardente não é prova adequada de que alguém foi chamado por Deus. Um enviado deverá ser capaz de tratar com a serpente, com a lepra e com o sangue. Já enfatizamos que Êxodo é um livro de figuras. Que figuras maravilhosas existem no capítulo quatro! Verificamos nelas Satanás, a carne pecaminosa e o mundo de morte. Se soubermos tratar com essas coisas, então seremos verdadeiramente os enviados de Deus. É

crucial todos conhecermos o significado dos três sinais subjetivos deste capítulo e termos tais experiências subjetivas.

I. UMA VARA SE TORNA UMA SERPENTE

A. A Vara Tipifica Aquilo em que nos Apoiamos Quando Deus o chamou, Moisés tinha uma vara na qual se apoiava. Talvez, enquanto falava com Deus, Moisés, uma pessoa idosa, estivesse se apoiando naquela vara. Sua vara era o seu apoio. A vara, asssim, tipifica aquilo em que nos apoiamos.

B. A Vara é Atirada ao Chão e se Revela ser a Serpente Moisés ficou temeroso de aceitar o chamamento de Deus; argumentou que os filhos de Israel o rejeitariam e diriam que o Senhor não lhe aparecera. Por isso, Deus lhe disse a respeito da vara: "Lança-a na terra. Ele a lançou na terra, e ela virou cobra. E Moisés fugia dela" (v. 3). Quando a vara foi lançada ao solo, a serpente oculta em seu interior foi exposta. Até mesmo antes de a vara ser lançada, a serpente já estava lá, mas de maneira muito oculta. A Bíblia revela que a serpente sempre tenta ocultar-se no interior, atrás ou debaixo de algo. A vara em que Moisés se apoiava era, na verdade, a serpente, Satanás, Aos seus olhos, ela era simplesmente uma vara em que ele podia apoiar-se; mas, aos olhos de Deus, era a serpente, cujo alvo era usurpar o homem. Tudo em que nos apoiamos é uma vara. O fato de um irmão se apoiar em seu emprego, por exemplo, se lhe torna uma vara. Mas, para Deus, a serpente está oculta em tal em-prego, pois, do esconderijo desse emprego, Satanás, a serpente, busca usurpar o irmão. Podemos apoiar-nos em muitas pessoas ou coisas: em nossa esposa ou marido, nossos pais, nossos filhos, nossa habilidade, nossa educação, nossa propriedade, nossa conta bancária. A Bíblia nos mostra que tudo aquilo em que nos apoiamos se torna a serpente usurpadora. Satanás, hoje, está usurpando toda a humanidade, ao ocultar-se no interior das varas em que se apoiam as pessoas. Todo aquele chamado por Deus precisa perceber que tudo em que nos apoiamos é um esconderijo da serpente. O usurpador inimigo de Deus pode ocultar-se em qualquer pon-to, qualquer coisa ou qualquer pessoa em que confiamos. Com o passar dos anos, tenho aprendido a confiar no Senhor, e a desconfiar de todo tipo de vara. Observe, por favor, que Deus não disse a Moisés que lançasse fora sua vara. Pelo contrário, ordenou-lhe que a atirasse ao chão, a fim de que sua verdadeira natureza fosse exposta. A questão aqui é que, não importando qual seja a nossa vara — nosso marido ou esposa, nossa educação, nosso emprego, nossa habilidade, nossa conta bancária — precisa ela deixar temporariamente a nossa mão. Se ela permanecer em nossa mão de cabeça para

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cima, a serpente não será exposta. Mas, se a lançarmos ao chão, verificaremos então com os nossos próprios olhos que nossa vara é, na realidade, uma serpente. Êxodo 4:3 diz que, ao se tornar a vara uma serpente, "Moisés fugia dela". Aquela vara deve ter-lhe pertencido por muitos anos, e deve ter-lhe sido preciosa. Mas ao ser lançada ao solo, já não lhe era mais tão cara, pois a serpente, oculta todo esse tempo no seu interior, foi exposta.

C. A Serpente Foi Pega Pela Cauda e, Através Disso, Tornou-se em uma Vara de Autoridade

O versículo quatro relata: "Disse o Senhor a Moisés: Estende a mão, e pega-lhe pela cauda (estendeu ele a mão, pegou-lhe pela cauda, e ela se tornou em vara)." O Senhor quer que lancemos nossas varas ao solo, não que as atiremos fora. Não lance fora sua educação ou sua poupança — lance-as ao chão. Após ser exposta a serpente oculta, precisaremos apanhá-la pela "cauda". Essa é a melhor maneira de tratar com a serpente. Se você a segurar pela cabeça, ela poderá picá-lo. Mas, se lhe agarrar a cauda, ela perderá o próprio poder e penderá frouxa de sua mão. A figura de Moisés agarrando a serpente pela cauda mostra que deveríamos tratar com as coisas de maneira inversa à prática das pessoas do mundo. O que estas fazem e têm é para si mesmas. Mas tudo o que fazemos e temos deve ser para o Senhor. Quando elas se casam, por exemplo, sua vida conjugal é para si mesmas. Mas nossa vida conjugal deve ser para o Senhor. No mesmo princípio, quando vão à faculdade, elas o fazem para os seus próprios interesses. Mas os jovens, na restauração do Senhor, devem ir às faculdades e estudar diligentemente, não para si mesmos, mas para o Senhor. Esse princípio pode aplicar-se ao nosso relacionamento com todos e com tudo. Tudo deve ser para o Senhor. Se tivermos determinada coisa ou fizermos algo de maneira comum, isto é, para nós mesmos, nossa vara então terá a cabeça da serpente no alto e sua cauda embaixo. Mas, se a agarrarmos pela cauda, nós a utilizaremos de maneira contrária a este século. Precisamos ter uma vida conjugal correta e uma boa educação; não deveremos, contudo, ter tais coisas de maneira comum, à maneira do mundo, mas à maneira do Senhor. A maneira Dele sempre leva a serpente a tornar-se ineficaz e frouxa. Na década de 1930, visitei uma das mais expressivas universidades da China, celebre por sua ótima escola de medicina. Muitos irmãos no Senhor estudavam medicina lá. Depois de se casarem, entretanto, quase todos esses irmãos foram desviados do Senhor, principalmente por suas esposas. Eles não souberam segurar seu casamento pela "cauda". A Bíblia de modo algum requer que renunciemos ao nosso viver humano. Pelo contrário, precisamos ter um viver correto. Ela, por exemplo, não proíbe que os jovens obtenham uma boa educação. Mas eles precisam aprender a segurar sua educação pela "cauda". Também precisam casar-se. Mas, ao fazê-lo, não deverão segurar a serpente pela cabeça, mas pela cauda. Isso quer dizer que não deverão casar-se segundo a maneira comum, mas de maneira incomum, para Deus. Essa maneira se opõe à prática comum das pessoas do mundo. Todos os irmãos casados precisam amar suas esposas, mas não de maneira comum, isto é, segurando a serpente pela cabeça, porém de maneira incomum, agarrando-a pela cauda. Em todos os aspectos do nosso viver humano, desde o fazer compras até ao cortar o cabelo, precisamos segurar as coisas pela "cauda". Tudo pode ser um esconderijo para a serpente. Até mesmo em todos os pormenores de nosso viver diário prático, move-se furtiva a serpente usurpadora, pronta a picar aquele que a segurar pela cabeça, e não pela cauda. Aquele que se diz enviado pelo Senhor precisa saber que a serpente se oculta em todas as pessoas, em todas as questões e em

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todas as coisas. Além do mais, precisa saber como lançar ao solo esse esconderijo e, depois, como tratar com tal situação pela "cauda". Por fim, a serpente presa pela cauda se tornará uma vara de autoridade (4:4, 17; Lc 10:19). Quando Moisés a tomou pela cauda, a serpente se tornou a vara pela qual ele foi capaz de operar sinais (4:17). Isso indica que, na mão dele, a vara transformada se tornou em vara de autoridade. Se formos aqueles que lidam com todas as situações pela "cauda", teremos poder e autoridade. A vara que tivermos então não será uma vara natural, mas uma vara transformada. Ela, então, estará numa posição invertida, de cabeça para baixo. Tal tipo de vara é que é a nossa autoridade. Muitos cristãos, nos dias de hoje, falam sobre poder. Mas, quanto mais falam, menos poder têm. Eles não têm o poder de tratar com a serpente oculta. Nós, ministros de Cristo, temos autoridade somente quando lidamos com as situações pela "cauda". Se um irmão, por exemplo, souber como segurar pela "cauda" a situação com sua esposa, espontanea-mente terá autoridade. Conheci, porém, muitos bons irmãos, bem dotados e qualificados, mas com um sério ponto fraco: davam muito lugar às suas esposas e lhes permitiam tornar-se a cabeça. Como resultado, tornaram-se fracos e inúteis. Para sermos chamados e enviados por Deus, precisamos aprender a lidar com nossos maridos ou esposas, com nossos filhos e com todas as situações, não de maneira vulgar, comum e natural, mas de maneira totalmente diversa — pela "cauda". Se lidarmos com alguém ou com algo de maneira natural, isso se tornará um esconderijo da serpente. Moisés não utilizou sua vara de maneira comum. Se assim a usasse, a serpente ainda permaneceria oculta nela. Mas, após atirar a vara ao solo, a serpente oculta foi exposta. Isso indica que frequentemente precisamos tirar nossas mãos de uma situação e verificar o que sai dela. Mantendo nossas mãos distantes dessas coisas em que nos apoiamos, sua verdadeira natureza se exporá. Então diremos: "Isso não é bom nem amável — é uma terrível serpente." Exatamente nessa hora, Deus nos ordenará agarrarmos a serpente pela cauda. Se a vara-tornada-em-serpente for nossa esposa, deveremos agarrá-la de novo e amá-la de maneira totalmente nova; deveremos segurar a situação toda pela "cauda". Uma vez que você se case, não poderá desistir da vida conjugal. Os que o fazem se tornam inúteis no que diz respeito ao Senhor. Você precisa permanecer casado, mas não de maneira comum. Tanto o permanecer casado de maneira comum quanto o desistir da vida conjugal são fáceis. Essa é a razão por que há tantas separações neste país. Em vez de tomar algum desses dois caminhos, deveremos agarrar nosso casamento pela "cauda" e lidar com ele para o Senhor. O sinal de uma vara a se tornar serpente é o quadro de uma experiência muito subjetiva. As pessoas ou coisas em que confiamos precisam, por fim, ser lançadas ao chão e depois seguras de volta, novamente, na palavra do Senhor. Quando os jovens irmãos ficarem desapontados com determinada situação particular, poderão querer tratar com ela atirando-a longe. Deveremos encorajá-los fortemente a não agirem assim. Em vez de afastá-la, deverão mante-la, não por si mesmos ou para si mesmos, mas pelo Senhor e para Ele. Não conduza as situações através de sua habilidade natural; manipule-as pela graça. Tratar com elas pela graça é segurá-las pela "cauda". Que todos aprendamos a tratar com as coisas para o Senhor e por Sua graça. Se aprendermos essa lição, tal será um forte sinal, uma forte evidência de que fomos chamados e enviados por Deus. Como Seus enviados, saberemos lidar com todas as situações como esconderijos da serpente, e saberemos tratar com a serpente agarrando-a pela "cauda". É dessa maneira que teremos autoridade.

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II. A MÃO FICOU LEPROSA

A. Ao Ser Levada ao Peito No versículo seis, o Senhor ordenou a Moisés que levasse sua mão ao peito. Este deve ter pensado, ao executar a ordem, que encontraria uma pérola, um diamante ou algum tesouro precioso. Pelo contrário, sua mão ficou leprosa. O peito tipifica algo que está em nosso interior, e a lepra tipifica o pecado (Rm 7:17-18). Isso indica que, além de conhe-cermos a Satanás, precisamos também conhecer a carne. A vara a qual nos apoiamos é uma serpente, mas a carne é a corporificação da lepra. Precisamos saber que em nossa carne somos leprosos. Nela não habita bem algum, apenas lepra. Se a tocarmos, ficaremos leprosos. Do versículo dois ao seis, o Senhor parece dizer: "Moisés, você Me pediu provas de que o enviei. Uma prova é que você sabe como tratar com a serpente. Outra é que você percebe que sua carne nada mais é do que um amontoado de lepra. Moisés, leve sua mão ao peito e veja o que sairá de você." Há um ditado a dizer que, se alguém se considera bom, levará durante a quietude da noite sua mão ao seu coração e ver-se-á como realmente é. Se o fizer, você se descobrirá ma- ligno. Talvez, em companhia de outros, você possa gabar-se de sua própria bondade. Mas, ao considerar o que está em seu coração, em alta noite, numa hora de tranquilidade, perceberá que dentro de si nada existe exceto lepra, exceto pecado. Alguém que se gaba de suas qualidades não é alguém chamado por Deus. Toda pessoa chamada por Ele percebe que dentro de si há lepra. Após ver o sinal de sua mão a se tornar leprosa, Moisés soube que sua carne era a corporificação da lepra. Ele deve ter dito: "Antes de o Senhor me mostrar aquele sinal, eu me considerava muito bom. Mas, quando Ele me ordenou levar a mão ao peito e a retirar novamente, ela se tornou leprosa. Isso me mostrou que em minha carne nada existe, exceto lepra". Todo aquele que é usado hoje pelo Senhor na igreja, precisa ter essa concepção a respeito de sua carne. Conhecer a carne dessa maneira subjetiva é uma evidência de que o Senhor nos chamou e nos enviou. Como pessoas chamadas e enviadas, precisamos ostentar o sinal indicador de que nada de bom habita em nossa carne. Todos somos uma textura de lepra, corporificação do pecado, da podridão, da corrupção e da impureza. Se você não crer nisto com referência à sua carne, sugiro que, no silêncio da noite, quando estiver totalmente só, toque sua consciência e ouça o que ela diz a seu respeito. Ela também revelará que sua carne nada mais é do que lepra. Os enviados por Deus precisam conhecer a carne até esse ponto. Quando foi chamado pelo Senhor, Isaías exclamou: "Ai de mim! Estou perdido! porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos" (Is 6:5). Se é que fomos encontrados pelo Senhor, esse encontro haverá de expor nossa carne. Saberemos então que nela nada existe, exceto lepra. Temos ouvido nestes dias que todos os irmãos podem ser os apóstolos e os profetas de hoje. Mas, se quisermos ser tais dons para o Corpo, precisaremos saber que nossa carne é a corporificação da podridão, da corrupção, da impureza e do pecado. É a própria incorpo-ração do pecado. Nenhum dos nossos atributos externos e nenhuma das nossas habili-dades naturais podem qualificar-nos a sermos um enviado. Para sermos qualificados, pre-cisamos ver que em nossa carne não habita bem algum.

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B. Limpa Por Guardar a Palavra do Senhor No versículo sete, o Senhor disse a Moisés: "Torna a meter a tua mão no peito." Moisés então "a meteu no peito, novamente; e quando a tirou, eis que se havia tornado como o restante de sua carne." Isso indica que sua mão leprosa foi purificada pelo fato de ele guardar a palavra do Senhor. Guardar Sua palavra é obedecer-Lhe. Desobedecer-Lhe é o elemento básico do pecado. Quando Lhe obedecermos e guardarmos Sua palavra, estará conosco Seu poder purificador, e seremos purificados.

III. A ÁGUA SE TORNOU EM SANGUE Para terceiro sinal, o Senhor disse a Moisés: "Tomarás das águas do rio, e as derramarás na terra seca; e as águas que do rio tomares tornar-se-ão em sangue sobre a terra" (v. 9). O rio aqui mencionado é o Nilo, que irrigava a terra do Egito. A água do Nilo tipifica o suprimento e o gozo terreno. De acordo com a Bíblia, o Egito é rico em comida e gozo produzidos pelo Nilo. O que a água do Nilo produz é aparentemente suprimento e gozo. Mas, aos olhos de Deus, nada é senão morte. Todo o suprimento, gozo e recreação do mundo nada são senão morte. Mas, para percebê-lo, precisamos derramar a água do Nilo sobre a terra seca. De acordo com Gênesis 1, a terra seca é a fonte de produção da vida. Quando o gozo do mundo e o suprimento terreno forem derramados sobre aquilo que produz vida, imediatamente a morte, tipificada pelo sangue, será exposta. Se guardar a água do Nilo num poço, num vaso, ou num cântaro, você ainda a considerará como fonte de suprimento e gozo. Mas, se a derramar sobre a terra, a morte imediatamente se exporá. O terceiro sinal, assim, revela que todo suprimento terreno e todo gozo do mundo nada são exceto morte. Todos os esportes e recreações de que hoje gozam as pessoas, são várias formas de morte. O próprio suprimento que o mundo nos proporciona também é morte. A água do mundo não é absolutamente água de verdade; é sangue. As pessoas do mundo não bebem água; bebem sangue, isto é, morte. Tudo o que desfrutam do mundo é morte. Uma pessoa chamada deve saber o que é o mundo. Para as pessoas do mundo, a água do Nilo é maravilhosa; mas, para nós, é sangue. Os chamados por Deus precisam ser capazes de dizer ao Seu povo que não permaneçam no Egito para beber da água do Nilo, mas que saiam de lá para o deserto, a fim de sorverem da água que mana da rocha fendida. Além de conhecer Satanás e a carne, precisamos conhecer o mundo. No Novo Testamento, Satanás, a carne e o mundo são expostos repetidas vezes. Os chamados e enviados por Deus conhecem a serpente, a lepra e o sangue; isto é, conhecem Satanás, a carne e o mundo. De acordo com o Novo Testamento, Satanás é contra Cristo (1Jo 3:8), a carne é contra o Espírito Santo (Gl 5:17), e o mundo é contra o Pai (1Jo 2:15), Satanás, a carne e o mundo, consequentemente, se opõem ao Deus Triúno em Sua dispensação. Por causa de Satanás, da carne e do mundo, Sua economia ainda não se efetuou. Na economia de Deus, como se vê nas três parábolas de João 15, o Filho vem buscar os caídos, e o Espírito os ilumina para conduzi-los de volta ao Pai. Mas o diabo labora contra o Filho, a carne luta contra o Espírito, e o mundo atrapalha as pessoas de se voltarem para o Pai. Alguém que seja enviado pelo Senhor precisa saber pegar a serpente pela cauda, tratar com a lepra e lidar com o mundo, seu suprimento e seu gozo. Se nos faltarem essas três qualificações, então não fomos chamados por Deus e, por conseguinte, não poderemos ser Seus enviados. Em alguém que Deus chamou, Satanás, a carne e o mundo perderam terreno.

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O fato de Êxodo 4 registrar esses três sinais comprova que a Bíblia é divinamente inspi-rada. Nenhum autor humano escreveria tais coisas. No capítulo três de Êxodo, Deus mostrou a Moisés uma sarça que ardia sem se consumir. Depois, no capítulo quatro, mostrou-lhe três sinais subjetivos, a fim de dar-lhe uma visão concernente a Satanás, à carne e ao mundo. Isso indica que um chamado precisa primeiramente ter a visão da sarça ardente. Depois precisa de alguma experiência subjetiva, a fim de conhecer Satanás, a carne e o mundo. Louvado seja o Senhor pelos sinais daquele que é por Ele chamado e enviado! Nós Lhe agradecemos pelo quadro claro desses quatro sinais de Êxodo 4. Nestes dias, muitos irmãos almejam ser úteis na mão do Senhor. Mas, como já enfatizamos nesta mensagem, se quisermos ser-Lhe úteis, precisaremos conhecer a serpente, a lepra e o sangue; isto é, precisaremos saber como tratar Satanás, a carne e o mundo.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM NOVE

O AUXÍLIO MASCULINO E O FEMININO ÀQUELE QUE FOI CHAMADO POR DEUS

O registro do chamamento feito por Deus a Moisés é o mais completo de toda a Bíblia. Nesta mensagem, consideraremos como Arão (4:10-16) e Zípora (4:24-26) se relacionam a esse chamamento. Sem a porção referente a Arão e a Zípora, o chamamento feito por Deus a Moisés não estaria completo. O registro desse chamamento se encontra não apenas em Êxodo 3, mas também em Êxodo 4. Por esse motivo, se quisermos entender o chamamento feito a Moisés como um todo, precisaremos considerar até mesmo as pequenas porções do capítulo quatro como parte dele. Êxodo 4:14 diz que "se ascendeu a ira do Senhor contra Moisés". Mesmo após os sinais do capítulo quatro, Moisés ainda relutava em seguir adiante com o Senhor. Parece-me que ele deveria dizer: "Senhor, uma vez que me chamaste e me deste esses sinais, eu tomo a Tua palavra." Ele, todavia, mesmo assim pediu ao Senhor que enviasse outra pessoa. A essa altura, o Senhor se zangou com ele. Quando jovem, eu podia ver a razão da ira do Senhor sob um ângulo. Mas, sob outro ângulo, pensava ser Ele muito grande, afigurando-se tal situação muito insignificante, para que Sua ira se levantasse contra Moisés.

I. A PARCERIA DE ARÃO

A. No Princípio de Dois Como Um Testemunho Creio que, bem no íntimo de Seu coração, o Senhor queria que Arão formasse par com Moisés. Quando enviou Seus discípulos, o Senhor Jesus os enviou dois a dois (Lc 10:1), isto é, no princípio de dois como um testemunho. Ficar sozinho é ser individualista, mas ser enviado com alguém é ser enviado segundo o princípio do Corpo. O fato de Arão fazer par com Moisés, consequentemente, estava de acordo com o princípio divino. Embora isso estivesse de acordo com Seu princípio, Deus não disse simplesmente que Moisés precisava de Arão como par. Mas, se lermos atentamente este trecho, verificaremos que isso já estava em Seu coração. O versículo quatorze diz literalmente: "Então se ascendeu a ira do Senhor contra Moisés, e disse: Não é Arão, o levita, teu irmão? Eu sei que ele fala fluentemente; e eis que ele sai ao teu encontro e, vendo-te, se alegrará em seu coração." O Senhor esperava que Moisés percebesse a própria necessidade de ter alguém a complementá-lo. Embora estivesse pronto a fazê-lo, o Senhor não o enfatizou a Moisés, até que ele próprio se conscientizou de sua necessidade. O Senhor é muito sábio. Ele pode estar disposto a realizar por nós determinadas coisas; mas, frequentemente, nada fará, até percebermos nossa necessidade. Esse princípio tem aplicação entre nós, na vida da igreja. Embora você possa perceber que preciso de algo, é melhor que não me diga. Pelo contrário, você deverá esperar, até que eu perceba a minha própria necessidade. Se estivermos claros acerca do que estava no coração do Senhor, poderemos compre-ender por que Sua ira se levantou contra Moisés. Aparentemente, ela era desagradável; mas, na verdade, era bem doce. Somente os superficiais afirmarão ser desagradável aqui a ira do Senhor. Aqueles que Lhe são íntimos percebê-la-ão agradável. A ira aqui indica uma

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comunhão doce, íntima e humana. Alguns poderão imaginar como é possível que o Senhor tenha tido comunhão humana. Isso foi possível, porque Ele apareceu a Moisés como o Anjo de Jeová, um tipo de Cristo. Por Se constituir em Deus feito carne para Se tornar um homem, Cristo é misterioso. Por essa razão, é muito difícil compreender a aparição do Anjo de Jeová no Antigo Testamento. Em Êxodo 4, o Senhor dirigiu-se a Moisés como se fosse um homem falando a um outro homem. De acordo com o relato, a conversação pareceu mais ser entre amigos do que entre o Deus Todo-poderoso e um ser humano. Essa intimidade entre o Senhor e Moisés pode comparar-se à intimidade entre um homem e uma mulher. Às vezes, um homem se zanga com sua esposa; mas sua expressão de ira é doce e agradável. Não é a ira que ele mostraria a qualquer outra pessoa, por expressar ela um sentimento doce, íntimo. Isso se assemelha muito a esse sentimento existente entre o Senhor e Moisés. Sua ira com relação a Moisés, neste capítulo, é muito diferente de Sua ira contra Sodoma. A ira, aqui, é uma ira agradável, entre duas pessoas íntimas. Após falar-lhe o Senhor nos versículos onze e doze, Moisés replicou: "Ah! Senhor! Envia aquele que hás de enviar, menos a mim" (v. 13). Estas suas palavras não constituíram uma áspera rejeição ao Senhor. Pelo contrário, foi uma expressão íntima de seu sentimento pessoal. A resposta de Moisés, contudo, levou o Senhor a zangar-se com ele. A sua reação forçou o Senhor, em Sua agradável ira para com ele, a abrir-lhe o coração, a fim de designar-lhe Arão como par. Em defesa ao princípio divino, o Senhor não haveria de permitir que Seu servo fosse individualista. Moisés precisava de Arão. Por conseguinte, a presença de Arão não foi acidental. Deus o preparara como complementação de Moisés. Este princípio de complementação aplica-se ainda hoje. Se você foi chamado pelo Senhor, precisa perceber a própria necessidade de alguém que o complemente. Já dis-semos que o Senhor Jesus enviou seus discípulos dois a dois. Quando o apóstolo Paulo surgiu para servir o Senhor, não se portou de maneira individualista. Sempre teve outros a comple-mentá-lo. Isto se prova pelo versículo de abertura de 1 Coríntios: "Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Sóstenes . . ." Quando escreveu sua epístola, nem Timóteo nem Barnabé se achavam presentes. Paulo, portanto, tomou a Sóstenes por parceiro; utilizou um irmão cujo nome raramente conhecemos, a fim de preservar o princípio. Agir de maneira individualista no serviço do Senhor não está de acordo com o princípio divino. Hoje, na economia do Novo Testamento, ser individualista é violar o princípio do Corpo. Não deveremos proceder de maneira individualista; pelo contrário, deveremos mover-nos e agir de acordo com o princípio da coletividade, tendo sempre ao menos um outro membro a nos complementar. Quanto mais membros tivermos a complementar-nos, melhor será. O Corpo não pode ser representado por indivíduos. De acordo com o princípio divino, a representação correta do Corpo sempre se realiza por aqueles membros que fazem parceria com outros. Fazer parceria, entretanto, é difícil. No caso de Moisés e Arão, o irmão mais jovem era o líder, e o mais velho era o coadjuvante. Fazer parceria com alguém é difícil; fazer parceria com um irmão na carne é mais difícil; e fazer parceria de modo que o mais jovem seja o líder é a coisa mais difícil. Meu irmão mais moço era um querido irmão no Senhor; ele O amava muito. Ainda na China continental, estávamos na mesma igreja local. Mas aprendi pela experiência que era difícil tê-lo por parceiro. Por ser Arão na carne o irmão mais velho de Moisés, era muito difícil a este último fazer-lhe parceria. Essa deve ter sido a razão para o Senhor não revelar a Moisés que Arão haveria de ser seu parceiro, até que

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Moisés se mostrasse completamente incapaz de responder ao Seu chamamento. Isso propi-ciou ao Senhor a oportunidade de dizer a Moisés que Arão lhe seria porta-voz. O Senhor lhe preparara Arão, e, não importando a dificuldade, ele não teve escolha, a não ser toma-lo por seu parceiro. Em Números 12, observa-se o registro de um incidente a envolver Arão e Miriã, revelando como foi difícil a Moisés fazer parceria com Arão. O versículo um desse capítu-lo registra: "Falaram Miriã e Arão contra Moisés, por causa da mulher etíope, que tomara; pois tinha tomado a mulher cusita". Isso indica como era difícil para Miriã e Arão, ambos mais velhos do que Moisés, considerá-lo como líder. O seu erro, ao desposar a mulher etíope, ensejou-lhe a oportunidade de deporem contra ele. O seu falar aqui não foi acidental; pelo contrário, foi uma expressão daquilo que já estava em seu interior. Como foi difícil a Moisés tomar a liderança sobre sua irmã e seu irmão! O Senhor, sem dúvida, preparou-lhe uma situação difícil. Em princípio, hoje ocorre o mesmo conosco. O Senhor frequentemente há de preparar-nos um parceiro problemático. Mas esse tal parceiro, na verdade, nos será de grande ajuda. Sem ele, não teremos quaisquer restrições, qualquer proteção ou qualquer guarda-costa. Na maior parte do tempo, Arão e Miriã foram submissos a Moisés. Mas, ao menos por um breve período de tempo, não o foram. Tal falta de submissão de sua parte era uma proteção para Moisés, guardando-o de ficar orgulhoso. Números 12:3 relata que "era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra." Miriã e Arão o ajudaram o tornar-se tão humilde. Todavia, não importando a elevada utilidade de Miriã e Arão para Moisés, Deus não lhes tolerava a maneira de falar contra ele. Os arranjos que Deus faz, ao combinar-nos uns com os outros, situam-se, às vezes, além de nossa compreensão. Não pense que um parceiro será sempre agradável. Poderá, na maior parte do tempo, ser agradável; mas, ao menos em parte do tempo, será desagradável. Mas esse desprezar é nossa proteção.

B. Para Levar a Cabo a Incumbência de Deus Entre os cristãos de hoje, raramente se verifica esse tipo de parceria. Há bem pouca coordenação entre os obreiros cristãos, porque lhes falta a visão do princípio do Corpo. Sinto o encargo de que todos nós, como aqueles que foram chamados por Deus, preci-samos perceber a necessidade dessa parceria. Tenho conhecido alguns irmãos muito bem dotados, que se tornaram inúteis, porque se recusaram a aceitar um parceiro. Um parceiro nos amarra e restringe. Por essa razão, é difícil fazer parceria com os outros. Uma corrida-de-três-pernas ilustra o princípio da parceria. Nela, os corredores têm uma de suas pernas amarrada a uma das pernas de seu parceiro. O serviço do Senhor não é uma corrida disputada por indivíduos; é uma corrida disputada por aqueles que se encon-tram atados a um outro membro do Corpo. Não gostar desse arranjo é não gostar do serviço do Senhor. Se você quiser ter parte em Sua obra, precisa estar disposto a ser parte de uma dupla numa corrida-de-três-pernas. Se recusar ser ligado a um outro, você estará desclassificado da corrida. Por si mesmo, você pode ser capaz de obter muita coisa; mas o que fizer não aproveitará para a edificação do Corpo. Alguns poderão efetuar uma grande obra cristã; mas essa não beneficiará significativamente o Corpo. A obra da restauração do Senhor não é uma obra cristã ordinária: é a obra de edificação do Corpo. Se quisermos ser utilizados pelo Senhor na edificação do Corpo, precisamos nos dispor à disputa de uma corrida-de-três-pernas, isto é, precisamos estar dispostos a ser amarrados um ao outro, a fim de formar uma unidade.

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Existem, a esse respeito, muitas lições a serem aprendidas, principalmente por aqueles que são capazes. É muito difícil a uma pessoa de capacidade ser ligada a uma outra. A situação do cristianismo de hoje o comprova. Todo pregador ou ministro bem dotado é individualista. Essas pessoas podem ter empregados, a quem contratam e demitem; mas não têm nenhum cooperador por parceiro. Uma pessoa contratada é muito diferente de um parceiro. Moisés não contratou Arão, nem Paulo contratou Timóteo. No entanto a maior parte dos bem conhecidos obreiros cristãos de hoje são individualistas. Se precisam de outros que os ajudem, eles os contratam; mas não os aceitam por parceiros. Tudo o que é realizado por esses obreiros cristãos não é de muito proveito para a edificação do Corpo. Na restauração do Senhor, há uma urgente necessidade de verdadeira obra de edificação. Tal obra de edificação, entretanto, somente poderá ser efetuada pelos cooperadores que tenham parceiros. Todos precisamos de parceria; não apenas de uma outra pessoa, mas de muitas outras. É através dessa combinação que a incumbência de Deus é levada a cabo.

C. Arão Tornou-se o Porta-Voz de Moisés, e Moisés Se Lhe Tornou Deus. Muitos pensam que, por terem parceria com outros, perderão suas posições. Por essa razão, não querem que os outros realizem a mesma obra que eles estão fazendo. Mas observe novamente o caso de Moisés e Arão. Arão não levou Moisés a perder sua própria posição. Nada do que ele fizesse poderia substituir Moisés em sua posição de chamado por Deus. Em 4:16, Deus disse a Moisés sobre Arão: "Ele falará por ti ao povo; ele te será por boca, e tu lhe serás por Deus.” Esse versículo indica que não havia necessidade de Moisés preocupar-se com a possibilidade de ser substituído. O mesmo hoje é verdade para com os chamados por Deus. A sua posição de chamado provém do Senhor, e ninguém haverá de apoderar-se dela. De acordo com o registro, Arão deve ter sido mais capaz do que Moisés quanto ao falar; deve ter sido mais eloquente. Não deveria, contudo, tomar isso como oportunidade para orgulhar-se. Só poderia agir até certo ponto, porque Deus não lhe dera mais no que diz respeito a uma posição. Em verdade, o versículo dezesseis diz que Moisés haveria de ser para ele como Deus. Da parceria de Moisés e Arão, todos podemos aprender a importância de saber onde estamos. O lugar que ocupamos numa relação de parceria depende inteira-mente do arranjo do Senhor. Ele chamou a Moisés e lhe preparou Arão por parceiro. Não havia lugar para manipulação humana. Tudo estava de acordo com a economia e com o arranjo divino. Tenho-me envolvido em relações de parceria por quase cinquenta anos. Tenho aprendido que não é fácil suportar esse relacionamento por um longo período. Por isso precisamos receber graça do Senhor. Agora parece ser a época adequada para liberar essa palavra sobre a parceria. Espero que todos, nas igrejas locais, fiquem claros com referência à necessidade de serem corretamente coordenados, de modo a poderem existir em nosso meio parcerias constantes e permanentes.

II. O CORTAR DE ZÍPORA

A. Para Completar a Circuncisão na Família de Moisés Chegamos agora ao registro referente a Moisés e a Zípora (424-26). O versículo vinte e quatro registra: "Estando Moisés no caminho, numa estalagem, encontrou-o o Senhor, e o quis matar." À época do versículo vinte e três, parecia estar completo o chamamento de

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Moisés. Por esse motivo, ele tomou sua esposa e seus dois filhos, e começou a seguir seu caminho da terra de Midiã rumo ao Egito. Mas, na estalagem, o Senhor o encontrou e procurou matá-lo. Moisés deve ter ficado chocado, e Zípora terrificada. Esta pode ter-lhe perguntado por que Deus, que o chamara e enviara, procurava agora matá-lo. Ele deve ter-se perguntado o que havia de errado. Creio que ele imediatamente percebeu o problema: seu filho mais moço ainda não fora circuncidado. Como esposa gentia, Zípora deve ter-se entristecido quando Moisés circuncidou seu primeiro filho, e isso pode tê-la levado a opor-se à circuncisão do segundo. Por causa da fraqueza e da negligência de Moisés, unidas à oposição de Zípora, a exigência do Senhor não fora satisfeita; por esse motivo o Senhor procurava matar Moisés. Não era fácil a Zípora, uma mulher gentia, satisfazer tal requisito. Ela foi compelida a ceder, embora não se agradasse disso.

B. Com Uma Pedra Afiada O versículo vinte e cinco diz: "Então Zípora tomou uma pedra aguda, cortou o prepúcio de seu filho e lançou-o aos pés de Moisés, e lhe disse: Sem dúvida tu és para mim esposo sanguinário." Ao cortar o prepúcio de seu filho, Zípora não utilizou uma faca; usou uma pedra afiada, um sílex, um instrumento cortante pouco usado. Talvez tenha usado esse instrumento, por efetuar-se a circuncisão num estado de emergência. O uso de uma pedra afiada também parece indicar que a circuncisão se realizou numa atmosfera de descon-tentamento. Isso é também indicado pelo fato de Zípora lançar o prepúcio aos pés de Moisés e exclamar: "Sem dúvida tu és para mim esposo sanguinário." Embora a atmosfera não fosse agradável, Deus permitiu que Moisés prosseguisse, após completada a circun-cisão. Se houvesse uma atmosfera agradável, Zípora, sem dúvida, expressaria seu arrepen-dimento e teria comunhão com Moisés. Pediria que ele realizasse a circuncisão, utilizando uma faca apropriada para executar o corte correto. O corte, então, não teria sido tão doloroso. Em nossa experiência, entretanto, apenas o próprio Senhor é quem utiliza uma faca apropriada para fazer a obra de corte. O cortar aqui é representado pela vida femi-nina, porque ele é subjetivo. Mas todos nós, velhos e jovens, irmãos e irmãs, somos aqueles que cortam. Na vida da igreja, ou cortamos ou estamos sendo cortados. Em quase todos os casos, esse cortar se realiza através de instrumentos rudes e rústicos.

C. Fazendo de Moisés Um Esposo Sanguinário Fui, durante muitos anos, atribulado por esta porção da Palavra. Comecei a entendê-la somente após ter uma certa experiência. Através da experiência, percebi que os chamados precisam não apenas da ajuda masculina, a ajuda de Arão, mas também da feminina, de Zípora. A ajuda masculina é a parceria, mas a ajuda feminina é o corte. Todo chamado por Deus precisa tanto do auxílio masculino quanto do feminino, tanto da parceria quanto do cortar. Como todo irmão casado pode perceber, as esposas são bem hábeis no cortar. Há ocasiões em que até as esposas cristãs são "gentias" para com seus maridos. Se o marido não ama ao Senhor nem deseja com Ele prosseguir, a esposa poderá não ser uma "gentia". Mas, tão logo comece ele a amar ao Senhor, a andar no Seu caminho e para Ele viver, ela se revelará uma "gentia", uma "pagã". Isso significa que uma esposa que tenha sido cristã durante anos, poderá de repente comportar-se como alguém que não está apartada para Deus, nem vive para Ele. Muitos dos cristãos de hoje ainda são pagãos em seu viver diário, não amam ao Senhor, não estão apartados para Ele, nem tomam o Seu caminho. São

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cristãos por terem sidos regenerados e por haverem recebido a vida divina; mas não o são em seu viver diário. Quando um determinado irmão se acha no mundo, sem qualquer preocupação para com os interesses do Senhor, sua esposa poderá não causar-lhe qualquer problema no que diz respeito ao Senhor. Mas, tão logo ele começa a viver para o Senhor, ela se comportará como uma Zípora pagã, uma mulher não totalmente apartada para o Senhor. Até certo ponto, sua esposa concordará com ele, assim como Zípora concordou com Moisés. Mas existirá em sua situação algo incircunciso, algo comum, pagão e não apartado nem santifi-cado para o Senhor. Se o Senhor não intervier na situação desse irmão, a natureza gentia da esposa poderá não ser exposta. Mas, tão logo o Senhor intervenha — talvez ao estar o irmão para cumprir a incumbência de Deus — e a atitude da esposa com referência à circuncisão da carne se exporá. Forçada a concordar com o corte do prepúcio, ela poderá efetuá-lo realmente, mas não o fará com um gesto positivo e agradável. Por dever aceitar a separação de seu marido para o Senhor, ela o olhará como um "esposo sanguinário". Ser um "esposo sanguinário" é estar sob morte. Aos olhos de Zípora a circuncisão signi-ficava que seu marido Moisés estava sob sentença de morte. Se nós, irmãos, somos abso-lutos para com o Senhor, também nos tornaremos um "esposo sanguinário" aos olhos de nossas esposas. Examine cuidadosamente o quadro de Moisés e Zípora em Êxodo 4. Estando eles a caminho, para cumprir a incumbência de Deus, Zípora concordava um pouco com o que Moisés fazia. Este, todavia, era mais pelo Senhor do que Zípora. Ele se dispunha a circun-cidar seu filho, mas Zípora não. Embora não haja indicação de que Moisés e Zípora tenham contendido por causa do problema da circuncisão, havia, entretanto, algo entre eles que não era harmônico. Fazia-se necessária uma circuncisão, mas Zípora se opunha a ela. Discordou do corte da carne como sinal de separação para Deus. Mas é contra o princípio divino de Deus utilizar alguém que ainda viva na carne ou na vida natural. A carne e a vida natural devem ser cortadas. Deus só pode utilizar alguém que foi apartado para Si. O problema da circuncisão envolve um princípio crucial na economia de Deus. Sem circuncisão, é impossível participar-se da aliança feita por Ele com Abraão referentemente à herança da boa terra. Além disso, uma pessoa incircuncisa não poderá ter parte no Seu ministério. O significado de Deus vir para matar Moisés é que uma situação incircuncisa o levaria a ser eliminado do ministério de Deus. Mas o significado da circuncisão é ser introduzido no Seu ministério. Portanto, estando Moisés a caminho para levar a cabo a incumbência de Deus, não poderia Este tolerar-lhe a negligência quanto à circuncisão. Assim, veio Ele para tratar com Moisés. Sem dúvida, este fora fraco ao render-se, pelo menos um pouco, à oposição que sua mulher fizera à circuncisão. Por constituir essa fraqueza uma afronta ao Senhor, procurou Ele matar a Moisés, Quando o encontrou, a situação toda foi trazida às claras. Moisés sabia que estava errado, e Zípora percebeu qual era sua responsabilidade. Por estar a responsabilidade principalmente sobre ela, em face de sua oposição à circuncisão, foi ela forçada a agir. Cortou o prepúcio com um instrumento incomum, uma pedra aguçada. Precisamos, porém, enfatizar que ela fez o corte em amor. Amava a Moisés e queria salvar-lhe a vida. Ao promovermos a aplicação espiritual desse incidente, notamos que, com frequência, as esposas cortam seus maridos de maneira incomum. Se as irmãs levarem esse ponto ao Senhor em oração Ele haverá de mostrar-lhes as maneiras pouco usuais com que cortam

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seus maridos. Não são sempre as esposas, entretanto, que realizam esse corte. O apóstolo Paulo jamais foi casado, mas certamente foi cortado pelos outros. A ajuda de Arão, a parceira, foi objetiva, ao passo que o auxílio de Zípora, o cortar, foi subjetivo. Às vezes, o Senhor nos coloca num ambiente onde somos cortados pelos outros, talvez até pelos nossos queridos irmãos no Senhor. Nessa hora, tais irmãos não fazem parceria conosco: eles nos cortam. Poderão não lutar contra nós; mas, mesmo ao concor-darem aparentemente conosco, funcionarão como cortadores. Todos precisamos estar prontos a receber esse corte. Deus nos preparou não apenas um Arão, mas, em Sua soberania, também providenciou uma Zípora. Não há necessidade de fazermos quaisquer escolhas. Deus tem os Arões e as Zíporas prontos a esperar-nos. Principalmente hoje, na vida da igreja, existem tanto aqueles que fazem parceria quanto aqueles que cortam. Lidar com os parceiros é difícil, mas lidar com os cortadores é ainda mais difícil, pois isso nos torna um "esposo sangui-nário". Após a parceria de Arão e o corte de Zípora, o chamamento de Moisés ficou completo. Ele estava pronto a ir para o Egito, a fim de levar a cabo a incumbência de Deus. Graças ao Senhor pelo quadro completo do chamamento que faz aos Seus chamados! Se levarmos esta palavra ao Senhor, Ele nos iluminará. Nós então diremos: "Senhor, como Te agradeço, pois comigo existem alguns Arões e algumas Zíporas. Eu Te louvo, Senhor, pela parceria e pelo corte."

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MENSAGEM DEZ

A VISÃO COMPLETA DO CHAMAMENTO FEITO POR DEUS A MOISÉS

Precisamos observar, nesta mensagem, a visão completa do chamamento que Deus fez a Moisés. De acordo com os capítulos três e quatro de Êxodo, esse chamamento abrange cinco pontos: a sarça ardente, a revelação de quem e do que Deus é, o propósito do Seu chamamento, os três sinais, e finalmente a parceria de Arão e o cortar de Zípora. Conside-raremos o propósito do chamamento na mensagem seguinte. Nesta verificaremos os seus outros quatro aspectos. Primeiramente, Moisés teve a visão de uma sarça ardente, que queimava sem se consumir. Essa visão era exclusiva. Após Moisés contemplar a sarça ardente. Deus Se lhe revelou. A revelação de Seu nome foi, em realidade, a revelação de Si próprio. Nenhuma outra porção da Palavra nos proporciona revelação tão clara e profunda do nome divino quanto o capítulo três de Êxodo. Deus disse a Moisés que o Seu nome era "EU SOU O QUE SOU". Isso indica que o nome de Deus aqui é uma forma do verbo ser. Apocalipse 1:8 diz que o Senhor Deus é "aquele que é, que era e que há de vir". Além disso. Deus disse a Moisés ser Ele o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. Esse título O revela não apenas como o Deus que é, de existência, mas também como o Deus de ressurreição. No capítulo quatro, foram dados três sinais a Moisés: o da vara a se tornar serpente, o da mão a ficar leprosa, e o da água a se transformar em sangue. Ao final desse capítulo, recebeu ele a ajuda masculina e a feminina. A ajuda masculina, proporcionada por Arão, foi a parceria; e a ajuda feminina, proporcionada por Zípora, foi o cortar. Esse cortar o levou a ser um "esposo sanguinário", um homem sob sentença de morte. Só após receber esses dois tipos de auxílio é que o chamamento que Deus lhe fez ficou completo. A partir disso, Moisés se tornou útil ao Senhor e totalmente preparado para levar a cabo a incumbência de Deus. Se tivermos essa visão completa do chamamento de Deus — uma visão que vai desde a sarça ardente até o cortar de Zípora — ficaremos profundamente sensibilizados.

I. A SARÇA ARDENTE Quando foi chamado por Deus, Moisés teve a grande visão de uma sarça ardente. Já enfatizamos que a sarça ardente se refere ao povo redimido de Deus. Éramos, antes, espi-nheiros sob a maldição de Gênesis 3; mas, em Êxodo 3, somos sarça redimida. Deus agora queima em nosso interior e sobre nós. Esta sarça ardente é tanto os filhos de Israel no Antigo Testamento quanto a igreja no Novo Testamento. Na igreja, hoje, ainda existem "espinheiros"; ela ainda não é uma pedra preciosa. Louvamos ao Senhor, todavia, porque estamos sendo submetidos a um processo de transformação. Em Deutoronômio 33:16, Moisés falou de Deus como Aquele que habitava na sarça. Essa palavra foi proferida quando Moisés tinha a idade de cento e vinte anos, quarenta anos após ter tido a visão da sarça ardente. Ele jamais esqueceu aquela visão, mesmo depois de se edificar o tabernáculo e de Deus vir habitar nele. Por que não falou Moisés, em Deuterônomio 33:16, da boa vontade Daquele que habitava no tabernáculo? Creio que

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falar de Deus habitando no tabernáculo não lhe seria tão suave quanto falar de Deus habitando na sarça. Acredito que, mesmo quando estivermos na Nova Jerusalém, have-remos de lembrar que certa vez fomos uma sarça habitada por Deus. Como é maravilhoso o fato de que uma sarça pode hoje ser o lugar da habitação de Deus na terra! Desde Êxodo 3 até Apocalipse 21, podemos traçar a linha concernente ao lugar da habi-tação de Deus. O Seu alvo definitivo é obter um lugar de habitação. Isso quer dizer que o Seu eterno propósito é edificar Sua habitação. Notamos em Gênesis a revelação da casa de Deus em Betel, mas não temos a verdadeira edificação dela. No princípio de Êxodo, Ele habitava na sarça; mas, ao final desse livro, habitava no tabernáculo. O tabernáculo com a arca, assim, tornou-se o ponto central da história dos filhos de Israel. Por fim, o taber-náculo foi expandido até ao templo. O Senhor Jesus veio como o tabernáculo de Deus (Jo 1:14, grego) e como o Seu templo (Jo 2:19). A igreja hoje também é o templo de Deus (1Co 3:16). Ao final, esse templo haverá de resultar na Nova Jerusalém, que será o templo de Deus pela eternidade. No princípio, o lugar da habitação de Deus era uma sarça redimida; mas, gradualmente, ela está sendo santificada, transformada, conformada e até mesmo glorificada. O taber-náculo é uma ilustração da transformação. Nele havia madeira de acácia coberta de ouro e de linho bordado com linha dourada. Tanto a madeira de acácia quanto o linho tipificam a humanidade, e o ouro tipifica a divindade. Essa humanidade coberta e bordada é uma humanidade transformada. Em Êxodo 3, a habitação de Deus era uma sarça; mas, em Êxodo 40, Sua habitação era o tabernáculo formado pela humanidade coberta e entretecida com a divindade. Tanto a sarça quanto o tabernáculo são símbolos. O verdadeiro lugar de habitação de Deus não era a sarça física nem o tabernáculo; era o Seu povo. Após serem disciplinados por Deus, os filhos de Israel se tornaram madeira de acácia coberta com ouro e também linho bordado com linha dourada. A igreja é hoje o cumprimento desse tipo. Ela, atualmente, pode ser uma sarça redimida. Todavia está chegando o dia em que seremos ouro, pérolas e pedra preciosa. Louvado seja o Senhor pela visão maravilhosa do Seu lugar de habitação. Essa visão abrange a habitação de Deus, desde o estágio inicial, a sarça, até ao estágio definitivo, a Nova Jerusalém. Quando foi chamado por Deus, Moisés viu o fogo santo a queimar no interior da sarça. Paulo também, ao ser chamado, teve a mesma visão, pelo menos em princípio. Viu o Deus Triúno que ardia no interior dos Seus redimidos. Através desse queimar divino, o fogo santo era um com a sarça, e a sarça era uma com o fogo, que é o próprio Deus Triúno. Hoje, Deus Pai no Filho, mais o Filho como Espírito desceram sobre nós como fogo. O Senhor Jesus certa vez disse que viera para lançar fogo sobre a terra (Lc 12:49). No dia de Pentecoste, o Espírito apareceu em forma de línguas de fogo. O Senhor hoje ainda está lançando fogo sobre a terra. Esse fogo santo, esse queimar divino nos capturou, e agora somos parte da sarça que arde com o Deus Triúno. O Deus Triúno está queimando no íntimo e sobre a igreja, que Ele escolheu e redimiu. A igreja, por conseguinte, é o Deus Triúno ardendo no interior de uma humanidade redimida. Assim é a economia divina (1Tm 1:4, grego). Essa economia foi revelada a Paulo (Ef 3:3-5,9). Este último é, na verdade, o centro da revelação divina. Moisés a viu em símbolo, mas Paulo a viu em realidade. Como louvamos ao Senhor, porque Sua economia também nos foi desvendada! Com toda ousadia, procla-mamos que temos tido a visão da sarça ardente. Toda igreja local é uma sarça a arder com o Deus Triúno. Perguntaram-me por que sou tão perseverante e intransigente com relação à economia

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de Deus e à Sua complementaçao atual nas igrejas locais. A resposta é que tive a visão celestial. Moisés e Paulo não podiam esquecer-se da visão que tiveram. As epístolas de Paulo revelam que nada — até mesmo a prisão e o martírio — poderia desviá-lo da visão. Ele foi inflexível até ao fim, porque fora capturado pela visão celestial. A morte dos que foram martirizados por causa do Senhor só pode levar a sarça a arder mais do que nunca. Milhares de nós, hoje, temos tido a visão da sarça ardente, e ninguém poderá mudar-nos. Não poderemos sequer mudar a nós mesmos. Se tentarmos desviar-nos, a visão não nos deixará ir. Fomos "arruinados" pela visão que tivemos. Nestes dias, estou totalmente convencido de que nada pode abalar os irmãos na restauração do Senhor. Os abalos só os tornam mais absolutos. Muitos têm testificado que não podem desviar-se da visão da igreja na economia de Deus. Os opositores deveriam perceber que é muito tarde para se levantarem contra a restauração do Senhor, pois muitos tiveram a visão da sarça ardente. Aleluia pela visão do Deus Triúno que arde no interior da igreja! Todos os aspectos do chamamento que Deus fez a Moisés podem ser encontrados nos escritos de Paulo. Em suas epístolas, percebemos a visão da sarça ardente. Em Efésios 1 e 3, verificamos a economia divina, o dispensar do Deus Triúno no interior de Seu povo redimido, de modo a poder ele tornar-se a Sua expressão. Esse dispensar traz à existência a igreja como a sarça ardente de hoje. Como fico feliz por ser parte desta sarça ardente! Por termos essa visão, não deveremos jamais voltar à religião. Pelo contrário, a visão nos leva a prosseguir. Até mesmo muitos dos jovens podem testemunhar que tiveram a visão da sarça ardente, a visão da economia de Deus hoje na igreja. Essa visão se revelou em nosso íntimo. Ainda que quiséssemos voltar ao mundo, não poderíamos eliminar a visão que tem queimado dentro de nosso ser. Você já não teve a visão da igreja? Você já não viu que o Deus Triúno está se dispensando no íntimo de Seus redimidos? Louvado seja o Senhor porque o vimos! Você pode ser fraco, ou até mesmo retroceder, mas essa visão não o deixará. Mesmo quando você não mais quer a visão, ela não o abandona. Você é parte da sarça ardente, e não há como escapar. Aleluia pela visão da sarça ardente! Essa visão é o primeiro aspecto do chamamento de Deus.

II - QUEM É DEUS E O QUE ELE É

a — Eu Sou o Que Sou O segundo aspecto é a questão de quem é Deus e o que Ele é. Ele é o único com existência própria. Tudo o mais vem e vai, mas Deus permanece. Nós nada somos, mas Deus, e apenas Ele, sempre é. Como temos visto, o Seu nome revelado a Moisés em Êxodo 3 é simplesmente o verbo ser. Isso indica que antes de qualquer outra coisa vir a existir, Ele era. Depois que muitas coisas deixarem de existir, Ele ainda há de ser. Deus era, é e será. Como Aquele com existência própria, Deus é a realidade de todas as coisas positivas. O Evangelho de João revela que Ele é tudo o que precisamos: vida, luz, comida, bebida, pas-tagem, caminho. É necessário conhecermos a Deus como Aquele que é. O céu e a terra poderão passar, mas Deus é. Você está desanimado por causa de suas fraquezas? Um dia elas deixarão de existir, mas Deus ainda será. Não creia em nada além de Deus. Não creia em sua fraqueza nem em sua força, porque tanto uma quanto outra hão de passar. Todavia, quando elas se forem, Deus ainda continuará a ser Aquele que é. De acordo com minha experiência, posso testificar que tanto a riqueza quanto a pobreza passam, mas Deus permanece. Quer seja-mos ricos ou pobres, Deus é. Não deveremos sequer depositar nossa confiança na esposa

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ou marido que o Senhor nos tenha dado. Ainda que soframos a perda de nossa esposa ou marido, Deus ainda será. Nessa hora, precisaremos crer Nele como Aquele que existe para sempre. Se O conhecermos como Aquele que é, ficaremos muito encorajados, principal-mente nas horas difíceis. Muitos cristãos O conhecem de maneira superficial, talvez somente como o Deus Todo-poderoso. Mas esse aspecto de Deus não é revelado a Moisés em Êxodo 3. Pelo contrário, a revelação aqui se refere a Deus como Aquele que é. Basta dizer que Ele é. Há horas em que é difícil seguir adiante e dizer que Ele é capaz. De semelhante modo, não há necessidade de dizer que Ele é poderoso. Basta saber que Ele é. Em Si mesmo, Ele é sempre capaz e poderoso; mas a nós Ele poderá não parecer capaz nem poderoso. Considere a experiência de Paulo. No início de seu ministério, ele curou muitas pessoas. Até mesmo os lenços que entravam em contato com ele podiam curar os outros (At 19:11-12). Mas, ao final de seu ministério, ele não experimentou tanto o poder de curar. Quando Timóteo ficou doente, ele o exortou a tomar vinho para o bem do estômago e de suas frequentes enfermidades (1Tm 5:23). Além do mais, ao ser aprisio-nado, não pediu a Deus que pusesse abaixo as muralhas nem que miraculosamente abrisse a porta como fizera a Pedro em Atos 12. Há vezes em que Deus age como o Todo-poderoso. Mas, quando estava para ser martirizado, Paulo conheceu a Deus, não como o Todo-poderoso, mas como Aquele que é. Isso lhe foi uma fonte de conforto e força. Paulo conhecia a Deus e Nele acreditava não como Aquele que era capaz de libertá-lo da prisão, mas como Aquele que existe para sempre, como Aquele que é e que sempre será. Mesmo quando Ele aparentemente nada nos fizer, ainda assim deveremos crer Nele como Aquele que é. Todos os cristãos de hoje conhecem o Deus Todo-poderoso, mas nós podemos conhecê-Lo de uma maneira mais profunda — como Aquele que é.

b — O Deus da Ressurreição Também cremos em Deus como o Deus da ressurreição, isto é, cremos Nele como o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Embora Deus não o libertasse da prisão, Paulo sabia que, após o seu martírio, Ele haveria de vir para ressuscitá-lo. Antes de seu martírio, desfrutava Dele como Aquele que é. Mas, depois, Dele desfrutaria como o Deus da ressurreição. O martírio simplesmente lhe ensejou a oportunidade de experimentar Deus como o Deus da ressurreição. Não deveremos procurar conhecer a Deus somente de acordo com os Seus atos miracu-losos. Na verdade, não deveremos esperar milagres. Em João 2, o Senhor Jesus não Se comprometeu com os que buscavam milagres. Precisamos conhecer a Deus como Aquele que é e como o Deus da ressurreição; precisamos conhecê-Lo como Aquele que tem existência própria, que existe para sempre e que ressuscita. Se, como chamados por Deus, desejamos levar a cabo Sua incumbência em Sua restauração, não deveremos ser aqueles que esperam milagres, mas aqueles que conhecem a Deus como Aquele que é e como o Deus da ressurreição. Ele é o "Eu Sou", e Ele é o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. Além de ter a visão da sarça ardente, precisamos desta revelação de Deus. Não conheça a Deus simplesmente de acordo com o que Ele faz, mas conheça-O de acordo com o que Ele é. Se Ele nos faz ou não algo, isso nada quer dizer. O ambiente poderá mudar de maneira drástica, mas Ele ainda é. Tudo poderá flutuar, mas Ele é, e é para sempre. Nele não existe mudança. Além disso, toda situação de morte Lhe propicia uma oportunidade para ser em nossa experiência o Deus da ressurreição. Minha experiência durante os primeiros dias em Formosa o confirma. Quando para lá fui enviado pela obra, em 1949, Formosa era muito atrasada e pobre. Embora enviado para

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lá, não me proveram de qualquer sustento financeiro. Por estar totalmente ocupado com a obra do Senhor, não procurei um emprego. Todavia, com recursos financeiros muito limitados, mesmo assim tinha a responsabilidade de sustentar uma grande família. Desa-nimado a princípio com a situação, tudo o que eu podia fazer era olhar em volta para os pequenos comodos e me perguntar o que estava fazendo ali. Experimentei uma mudança drástica de ambiente ao mudar do continente, lugar em que a obra florescia e onde havia centenas de igrejas, para uma ilha subdesenvolvida. Embora quase todo o exterior tivesse mudado, entretanto, o meu Deus ainda era. Nos dias que se seguiram, experimentei o que Ele nos era, e vimos Sua bênção espiritual abundante e até mesmo Sua provisão material. Minha experiência foi a mesma, em princípio, quando cheguei a este país. Não recebi auxílio financeiro da igreja em Taipé e bem pouca ajuda da igreja em Los Angeles. Os irmãos deste país pensavam que as igrejas de todos os outros lugares estavam cuidando de minhas necessidades. Nenhuma delas, todavia, me enviava nada. De onde eu recebia o sustento para minha existência? Recebia-o Daquele que é. Naqueles dias, eu vivia do maná celestial. Mas não procurei milagres, porque o Deus em que eu acreditava é Aquele que é. No meio da tempestade dos últimos meses, nada fiz, porque creio que a restauração é a restauração do Senhor. Sendo esta a Sua restauração, homem nenhum poderá causar-lhe dano. A palavra do Senhor em João 2:19 se aplica hoje: "Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei". Eu simplesmente disse: "Senhor, faze algo para confirmar que esta é a Tua restauração. Senhor, não há necessidade de eu fazer nada. Se esta fosse a minha obra, eu então precisaria fazer algo para mante-la. Mas, Senhor, esta é a Tua restauração." Como precisamos agradecer-Lhe e adorá-Lo, por haver Ele feito tanto nos últimos meses. Isso nos encoraja a confiar em Deus como Aquele que é e em Deus como o Deus da ressur-reição.

III. OS TRÊS SINAIS

A. A Vara Se Tornou Serpente

Após termos a visão da sarça ardente e chegarmos a saber quem é Deus e o que Ele é, ainda precisamos dos três sinais. O primeiro é o da vara a se tornar serpente. A serpente sutil, que envenenou Adão e Eva em Gênesis 3, é exposta em Êxodo 4. Esse sinal nos ajuda a conhecer o Diabo. Indica que qualquer outra coisa sobre a qual nos apoiamos, além de Deus, é um esconderijo da serpente. Através dos anos, aprendi que sempre que confio em algo, aí a serpente se oculta. Já enfatizamos que a vara utilizada durante muitos anos por Moisés era um esconderijo da serpente usurpadora. Ele, todavia, não o percebeu, até que, na palavra do Senhor, lançou a vara ao solo. Aí então a serpente oculta se expôs.

B. A Mão Se Tornou Leprosa O segundo sinal é o da mão a ficar leprosa. Esse sinal se destina ao conhecimento da carne pecaminosa. Não somos apenas leprosos, mas somos a própria lepra. Isso significa que somos pecado, não somente pecaminosos. Ao morrer na cruz, Cristo não só carregou nossos pecados (1Pe 2:24), mas também foi feito pecado por nós (2Co 5:21). Porque éramos pecado, Ele foi feito pecado por nós. Todo aquele que é chamado precisa ter o conheci-mento subjetivo de que sua carne é uma carne de pecado e que nada de bom habita nela. Nossa carne é constituída de pecado, podridão e corrupção.

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C. A Água Se Tornou em Sangue Além disso, aquele que é chamado precisa perceber que o mundo está saturado de morte. Isso é revelado pelo terceiro sinal, o sinal da água a se tornar em sangue. Para as pessoas do mundo, o prazer advém do suprimento e da recreação mundanos, tipificados pelo Nilo, que regava a terra do Egito. Todavia, aos olhos do chamado por Deus, o mundo não está cheio de água viva, mas pleno do sangue da morte. O que ele tem para oferecer não é água, que sacie nossa sede, mas morte, que nos envenena e mata. Como pessoas chamadas por Deus, precisamos conhecer o Diabo, a carne e o mundo. Paulo tinha esse conhecimento tríplice. Sobre Satanás, ele dizia: "não lhe ignoramos os de-sígnios" (2Co 2:11). Com referência à carne, afirmava: "porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum" (Rm 7:18). E, com respeito ao mundo, declarava: "O mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo" (Gl 6:14). Observamos nova-mente que Paulo experimentou em realidade o que Moisés tivera em símbolo.

IV. A PARCERIA DO IRMÃO E O CORTAR DA ESPOSA

A. A Parceria do Irmão Após tudo isso, Moisés ainda precisava da ajuda masculina e da feminina. A ajuda masculina é a da parceria. Esse tipo de ajuda nos equilibra, restringe e faz humildes. Através da parceria de seu irmão, Moisés aprendeu a permitir que os outos realizassem o que ele era capaz de fazer. Não pense que Arão fosse mais eloquente do que Moisés. Tudo o que o primeiro fez, o segundo era capaz de realizar; mas ele foi restringido de fazer assim. Na vida da igreja, o Senhor frequentemente haverá de levantar uma circuns-tância que nos forçará a permitir que os outros realizem o que podemos fazer. Esse deverá ser um princípio a reger nosso funcionamento na igreja. Se um irmão é capaz de realizar algo, deixe-o fazê-lo, ainda que você possa executá-lo melhor. Isso o tornará humilde. Vi muitos, entretanto, principalmente irmãs, a insistirem em que lhes fosse permitido reali-zarem sozinhos determinada coisa. De acordo com nossa índole natural, não queremos que os outros interfiram naquilo que realizamos. Todos, entretanto, precisamos aprender a permitir que os outros façam o mesmo que somos capazes de executar. Não creio que Arão fosse mais capaz do que Moisés. Deus, todavia, levantou soberana-mente uma situação que lhe permitiu fazer o que Moisés era capaz de realizar. Na vida da igreja, não deveremos nós mesmos executar tudo. Pelo contrário, deveremos permitir que os outros executem o que podemos realizar. Isso não quer dizer, todavia, que deveremos ser preguiçosos. Pelo contrário, quer dizer que, numa relação de parceria, somos restrin-gidos, equilibrados e nos tornamos humildes. Tal restrição é uma defesa e proteção. Nada é proteção maior em nossa vida espiritual do que a parceria dos irmãos. Quanto mais somos coordenados, mais somos protegidos.

B. O Cortar da Esposa Em 4:24-26, verificamos que Zípora foi utilizada por Deus para levar Moisés a ser um ''esposo sanguinário". A parceria é objetiva, mas o cortar é muito subjetivo. O homem, na Bíblia, representa a verdade objetiva, ao passo que a mulher tipifica a experiência subje-tiva. Por isso a parceria de Arão foi exterior e objetiva, mas o cortar de Zípora foi interior e subjetivo.

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Se quisermos ser utilizados pelo Senhor em Sua restauração, precisamos ostentar um sinal de que fomos cortados. Isso não quer dizer que deveremos alardear o corte que expe-rimentamos. Pelo contrário, significa que deveremos silenciosamente suportar esse sinal. Deixemos que os outros digam que fomos cortados. Em Êxodo 4, foi Zípora, não Moisés, quem afirmou ser ele um "esposo sanguinário". Tanto na vida da igreja quanto na vida conjugal, precisamos ser esse "esposo sangui-nário". Se um irmão foi verdadeiramente chamado por Deus, ele precisa ser cortado de maneira subjetiva. Aprendemos muito através do cortar. Às vezes, minha esposa me restringe no comer. Esse cortar me mantém saudável e me impede de afrouxar. O seu cortar auxiliador não me deixa cair em frouxidão carnal quanto ao comer. O corte, assim, impede-me de viver de acordo com a vida natural. Fora da restauração, é difícil a um grupo de cristãos permanecerem juntos por mais de quinze anos, pois ninguém está disposto a ser cortado. Em vez de corte, existe politi-cagem. Somente os que se dispõem a ser cortados podem ser úteis a Deus. Todos os úteis são um "esposo sanguinário". Diariamente, e até mesmo a toda hora, precisamos experi-mentar a circuncisão da vida natural. Não basta simplesmente nos percebermos pecami-nosos. Nossa vida natural precisa também ser circuncidada, seja pelos de nossa família, seja pelos irmãos e irmãs na igreja. Estou disposto a ser cortado. Apresento-me alegre-mente aos que me cortam. Esse cortar é o último aspecto do chamamento de Deus. Só depois de sermos cortados é que poderemos levar a cabo a Sua incumbência. Depois de cortado, Moisés realmente foi útil em Sua mão. Ao compararmos os aspectos do chamamento de Deus vistos em Êxodo 3 e 4 com o registro do Novo Testamento, notamos que tudo aquilo que Moisés experimentou, Paulo também experimentou. Além disso, tudo isso precisa ser hoje nossa experiência. Preci-samos ter a visão da sarça ardente: o Deus Triúno ardendo no interior de Seus redimidos e sobre eles. Esse é o ponto central da revelação divina nas Escrituras. Precisamos, depois, conhecer quem Deus é e o que Ele é. A seguir, precisamos conhecer o Diabo, a carne e o mundo. Posteriormente, ainda, precisamos da parceria e do corte. Se nos dispusermos à experiência subjetiva da circuncisão de nossa vida natural, então viveremos pela vida de ressurreição e nos tornaremos úteis na mão do Senhor para o cumprimento do Seu eterno propósito, estando preparados para executar a Sua incumbência. Que todos os aspectos do Seu chamamento possam ser hoje nossa experiência na restauração do Senhor.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM ONZE

O OBJETIVO DO CHAMAMENTO DE DEUS

Moisés é um tipo das pessoas chamadas hoje por Deus. Não pense, como muitos, que ele seja muito superior a nós. Diversos cristãos o consideram como o mais notável servo de Deus do Antigo Testamento, e Paulo como o maior do Novo Testamento. Comparando-se a Moisés e Paulo, eles se têm como bem inferiores. Essa atitude é errônea. O chamamento que Deus nos faz é o mesmo, em princípio, que o Seu chamamento feito a Moisés e Paulo. O que Moisés experimentou em tipo, Paulo experimentou em realidade. Hoje, tanto o tipo quanto a realidade deveriam ser também nossa experiência. No Estudo-Vida de Efésios, enfatizamos que todos os irmãos podem ser aperfeiçoados para realizarem a obra de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Assim como um professor de matemática aperfeiçoa seus alunos para executarem o que ele pode fazer, assim também os irmãos responsáveis aperfeiçoam os santos para fazerem exata-mente as mesmas coisas que eles. Paulo era um representante dos membros do Corpo de Cristo. Não importa a grandeza dele; ele ainda era apenas um membro do Corpo. Em princípio, o que ele era capaz de fazer, todos os outros membros também deveriam ser. Isso indica que todos os membros deveriam ser chamados como ele foi. Por esse motivo, todos precisamos conhecer o objetivo do chamamento de Deus.

I. LIVRAR O POVO ESCOLHIDO POR DEUS DA MÃO USURPADORA DE FARAÓ E DA TIRANIA DO EGITO

O objetivo do chamamento de Deus é primeiramente livrar Seu povo escolhido da usur-pação e tirania de Faraó e do Egito (3:8, 17). Faraó era um tipo de Satanás, e o Egito era um símbolo do mundo. Assim como Faraó era o governante do Egito, Satanás também é o governante deste mundo (Jo 12:31). Deus ainda busca livrar o Seu povo escolhido da mão usurpadora de Satanás e da tirania do mundo. Como chamados por Deus, precisamos ter a visão clara daquilo que o mundo é. Ele não é uma fonte de gozo; é um lugar de tirania. Nele Satanás prende sob sua mão usurpadora as pessoas escolhidas por Deus, destinadas ao cumprimento do Seu propósito. Todos os aspectos do mundo são uma forma de tirania. Em Êxodo, Faraó prendia os filhos de Israel sob tirania, forçando-os a um duro trabalho. O mesmo princípio se aplica hoje. Enquanto trabalham, as pessoas sofrem sob várias formas de tirania. Até mesmo dirigir um carro para o local de trabalho numa estrada movimentada é um tipo de tirania. De semelhante modo, a competição pela promoção e o medo de perder um emprego são também tipos de tirania. Aquele que não trabalhar para Faraó no mundo, todavia, não receberá o suprimento do Nilo. Para ganhar a vida no mundo, o povo escolhido por Deus precisava servir sob a tira-nia de Faraó. Fazer compras é outra forma de tirania do mundo. Muitas jovens são mantidas sob escravidão, de maneira sutil, pelo correr atrás da última moda. Recentemente, alguns irmãos me dissseram não ter tempo para orar nem ler a Bíblia.

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Chamei-lhes a atenção para o fato de terem muito tempo para telefonar e ler os jornais. Isso indica que mesmo o telefone ou os jornais podem ser meios de tirania. É fácil pregar às pessoas; mas é muito difícil conduzi-las para fora da usurpação e da tirania de Satanás e do mundo. Como observaremos, Moisés não pregou aos filhos de Israel, mas foi capaz de resgatá-los de Faraó. Hoje também precisamos ter autoridade para tirar o povo de Deus da mão usurpadora de Satanás. Um aspecto do objetivo de Deus em Seu chamamento é usar-nos para livrar outros da usurpação e da tirania de Satanás e do mundo.

II. INTRODUZIR O POVO ESCOLHIDO POR DEUS NO DESERTO, EM JORNADA DE TRÊS DIAS

Um outro aspecto do chamamento de Deus é introduzir Seu povo escolhido no deserto, em jornada de três dias (3:18). Em qualquer outro lugar da Bíblia, o termo "deserto" não é positivo. Mas, em 3:18, é utilizado num sentido positivo, porque aqui o deserto se opõe ao mundo. É o lugar de separação do mundo. Tão logo alguém seja salvo, deve ser retirado do mundo para o deserto, onde não há elemento egípcio. Quando entraram no deserto, os filhos de Israel foram libertos do Egito. No mesmo princípio, se quisermos sair do mundo, precisamos entrar no deserto. Poucos cristãos, entretanto, foram conduzidos para esse lugar. Isso significa que alguns foram salvos, mas não libertos do mundo, nem separados dele. Como jovem que estava totalmente no mundo, eu era cheio de ambição com respeito ao meu futuro. Mas, ao ser salvo, fui salvo não apenas do lago de fogo, mas também do mundo. No dia em que fui salvo, todos os elementos do mundo saíram de mim, e fui conduzido ao deserto. Precisamos orar, para que o Senhor nos dê a habilidade para conduzir Seus filhos para fora do mundo e introduzi-los no deserto. De acordo com 3:18, Moisés e os anciãos de Israel haveriam de dizer ao rei do Egito: "O Senhor, Deus dos hebreus, nos encontrou. Agora, pois, deixa-nos ir caminho de três dias para o deserto, a fim de que sacrifiquemos ao Senhor nosso Deus". Três dias, na Bíbiia, significam ressurreição. Uma salvação completa e perfeita deve envolver uma viagem de três dias, isto é, uma viagem em ressurreição. Em nossa pregação do evangelho, deve haver o poder da ressurreição. Em nossa pregação do evangelho, hoje, percebe-se a falta de impacto. As pessoas podem ouvir nossa pregação e até mesmo se arrepender e receber o Senhor; mas ainda permanecerão em seus túmulos no Egito. Precisamos ter o poder da ressurreição em nossa pregação, de modo que os outros se levantem de seus túmulos e sejam introduzidos no deserto, em viagem de três dias. Essa viagem é simbolizada pelo batismo. Todo aquele que crê em Cristo precisa ser batizado, para dar testemunho do fato de que vive no mundo e está entrando em outro reino, de ressurreição. Precisamos orar, para que o nosso ministério da Palavra tenha impacto. Não queremos dar um mero conhecimento às pessoas. Pelo contrário, desejamos que algo de nossa prega-ção toque seus corações e as leva a deixar o mundo e a caminhar para o deserto em ressur-reição.

III. CONDUZIR O POVO ESCOLHIDO POR DEUS À MONTANHA PARA SERVIR A DEUS E A ELE SACRIFICAR

Em 3:12, o Senhor disse a Moisés: "Depois de haveres tirado o povo do Egito, servireis a Deus neste monte". Isso indica que o objetivo do chamamento de Deus é também conduzir

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Seu povo escolhido ao monte, onde possam servi-Lo e sacrificar a Ele (3:18); 19:1-2, 11; 24:16-18). Muitos cristãos nunca entraram no deserto, nem sequer se achegaram ao monte. Foram realmente salvos, porque creram no Senhor Jesus e foram lavados em Seu sangue. Estão, ainda, contudo, no Egito. Outros saíram do Egito para o deserto, mas não chegaram ao monte. A revelação divina referente ao propósito de Deus foi dada a Moisés no monte. A lei foi-lhe dada lá. Também foi no monte que ele recebeu a revelação referente ao modelo do tabernáculo. Embora a maioria dos filhos de Israel, na verdade, não tenham subido ao topo da montanha, eles, entretanto, se acamparam perto dela. Moisés, Arão e mais de setenta pessoas subiram à montanha para se encontrar com Deus (24:1, 9). A montanha de 3:12 diz respeito a uma elevação do deserto. Não só precisamos ser apartados do mundo, mas, neste ambiente de separação, precisamos subir a um lugar elevado. Somente nesse nível elevado é que poderemos receber a revelação do propósito eterno de Deus. Embora determinados pregadores possam ser eloquentes e cultos, sua pregação não tem impacto sobre nós. Após ouvirmos suas mensagens, ainda permanecemos no mesmo reino e atmosfera de antes. A única diferença é que adquirimos alguma nova informação. A pregação de uma pessoa que foi chamada, todavia, é diferente. Depois que a ouvimos pregando a Palavra de Deus, não podemos permanecer os mesmos. O seu falar nos liberta do Egito, nos resgata da mão usurpadora de Satanás e da tirania do mundo. Além disso, introduz-nos no deserto, e até mesmo nos conduz à montanha. Aqui, na montanha, onde o céu é claro (ÊX 24:10), temos a visão da economia de Deus. Aqui viemos a conhecer o que está no Seu coração e enxergamos o que Ele deseja ter hoje na terra. Percebemos que Ele deseja ter um povo que ande conforme os Seus estatutos e Lhe edifique um tabernáculo, para que Ele possa habitar em seu meio.

IV. EDIFICAR UM TABERNÁCULO O objetivo do chamamento de Deus também é edificar um tabernáculo, que seja o Seu lugar de habitação na terra (25:8-9.40). A visão e a edificação do tabernáculo ocupam quase a metade deste livro. Moisés recebeu a visão no monte, e lá o tabernáculo foi edificado. Isso se destinava à viagem posterior dos filhos de Israel rumo ao alvo final, que era entrar na boa terra e edificar lá o templo.

V. CONDUZIR O POVO ESCOLHIDO POR DEUS A CANAÃ, A BOA TERRA, QUE MANA LEITE E MEL

Se pudermos livrar as pessoas da tirania do mundo, introduzi-las no deserto e conduzi-las ao monte, onde tenham a revelação da economia de Deus e, por fim, Lhe edifiquem um tabernáculo, certamente ficaremos satisfeitos. Com o tabernáculo, entretanto, ainda não temos a sólida edificação, que é tipificada pelo templo da terra de Canaã. Depois, se quisermos atingir o objetivo final do chamamento de Deus, precisaremos seguir viagem e entrar na boa terrra. Quando atingiram o Monte Sinai, os filhos de Israel ainda estavam bem longe de Canaã. A distância entre o Egito e o Monte Sinai é aproximadamente um quarto da distância entre o Egito e a terra de Canaã. Do Monte Sinai, consequentemente, o povo escolhido por Deus tinha que seguir viagem até entrar em Canaã, uma boa terra, que manava leite e mel (3:18,17). Já enfatizamos que em Êxodo se fazem presentes muitos tipos das realidades espirituais

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encontradas no Novo Testamento. Alguns dos tipos mais familiares são a Páscoa, a tra-vessia do Mar Vermelho, o maná e a água da rocha fendida. Muitos interpretam o símbolo da travessia do Rio Jordão de maneira errônea. Aplicam-no à morte física e à ida para uma mansão celestial. A travessia do Jordão, entretanto, não se relaciona à morte física. Quando entraram na terra de Canaã, os filhos de Israel a descobriram cheia de inimigos. Se Canaã tipificasse o céu com as mansões celestiais, então isso significaria que o céu, onde Deus habita, está repleto de inimigos. Que ridículo! A história toda dos filhos de Israel é um tipo. Ela inclui a Páscoa, a saída, a jornada pelo deserto, o desfrutar do maná e da água viva, a edificação do tabernáculo, a entrada na boa terra, a derrota dos inimigos e o desfrutar do rico produto da terra. Ao derrotarem seus inimigos, os filhos de Israel ganharam o terreno para o estabelecimento do reino de Deus. Por fim, depois que o reino foi estabelecido e prevaleceu, construiu-se o templo. Deus então teve um sólido lugar de habitação na terra, no centro de Seu reino. A maioria dos cristãos prestam atenção a símbolos como a Páscoa e o maná, mas não atentam a tipos tais como o entrar na boa terra, o desfrutar do seu rico produto, a derrota dos inimigos na terra, o estabelecimento do reino e a edificação do lugar de habitação de Deus. Muitos de nós ouvimos mensagens sobre a Páscoa, o maná e até mesmo o taberná-culo; mas nada ouvimos com referência à boa terra como tipo do Cristo todo-inclusivo. Pelos tipos, verificamos que, para estarmos no monte, a fim de receber a revelação de Deus e edificar o tabernáculo como lugar temporário de Sua habitação, tudo o que precisamos fazer é desfrutar de Cristo como o cordeiro, o pão asmo, o maná e a água viva. Mas, após ser construído o tabernáculo, os filhos de Israel tiveram que prosseguir a jornada. Para isso, precisavam de Cristo, tal como é tipificado pelo maná. Mas, ao entrarem na boa terra, o maná cessou, e eles desfrutaram do produto dela (Js 5:12). Isso indica que o produto da terra era a continuação do maná, que o desfrutar de Cristo atingira um outro estágio. O primeiro estágio era aquele do cordeiro pascal no Egito; o segundo, aquele do maná e da água viva no deserto; e o terceiro, aquele do produto da boa terra. Raramente se vê qualquer comparação entre a terra e o cordeiro. O cordeiro é pequeno, mas a terra é espaçosa e rica. Além disso, que comparação existe entre a terra e o maná? Sem dúvida, é difícil livrar o povo escolhido por Deus da mão usurpadora de Satanás e da tirania do mundo e introduzi-lo na separação do deserto. Sem dúvida, é também difícil conduzi-lo ao monte, a fim de que receba a revelação da economia de Deus. Entretanto é muito mais difícil conduzi-lo à boa terra para desfrutar das riquezas do Cristo todo-inclusivo. Em Deuteronômio 8, observamos um quadro das riquezas da boa terra. Esse quadro retrata vários aspectos dessas riquezas: fontes, mananciais, trigo, cevada, vides, figueiras, oliveiras, mel, ferro e cobre (v. 7-9). O ferro destina-se à guerra, poder, autori-dade, proteção e, finalmente, à edificação do reino e do templo. As riquezas de Cristo, tipi-ficadas pelo produto da terra de Canaã, são abordadas pormenorizadamente no livro O

CRISTO TODO-INCLUSIVO. Recentemente, enquanto orava, o Senhor me repreendeu a respeito de como eu vivo pouco por Cristo. Ele enfatizou que, apesar de as igrejas estarem no caminho certo e os ir-mãos estarem mergulhando na Palavra e na oração, existe uma grande falha quanto ao viver por meio de Cristo. Há anos tenho visto que Ele vive em mim, e tenho dado muitas mensagens sobre o assunto. É fácil afirmar: "Não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" (Gl 2:20) e "Para mim o viver é Cristo" (Fp 1:21). Mas a nossa prática é muito deficiente. Quando o Senhor me repreendeu, arrependi-me e confessei minha falha. Daquela hora em diante, tive a sensação de que a maior necessidade na restauração do Senhor, hoje, é que todos vivamos por Cristo de maneira prática. Quanto você vive por

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meio de Cristo durante o dia? Pode ser que a única hora em que você viva por Ele seja a sua hora de oração. Enquanto ora, você está na boa terra. Mas, tão logo acaba sua hora de oração, você fica fora da terra. Nós nos arrependemos de falhas tais como perder a calma, mas podemos não nos arre-pender de nossa falha ao viver por Cristo. Quantas vezes você se arrependeu diante do Senhor por não viver Cristo? Até mesmo se o nosso procedimento é excelente, ainda preci-samos confessar ao Senhor nossa falta em não viver por Ele. Poucos oram ao Senhor dessa maneira. Temos o conceito do bom comportamento, mas não temos a concepção de tomar Cristo como nossa vida e de viver por meio Dele. Em 1970, muitas mensagens foram liberadas sobre o tomar Cristo como nossa pessoa. Mas agora, quase nove anos mais tarde, quem em nosso meio realmente toma Cristo como sua pessoa? A maioria de nós ainda tem a si mesmo como pessoa. Embora tenhamos ouvido mensagens sobre o assunto, precisamos confessar que, de maneira prática, não vivemos muito Cristo. Podemos cantar: "Há um homem na glória, Sua vida é para mim", ou talvez mudar as palavras para: "Há um homem em meu espírito. Sua vida é para mim". Mas, após cantarmos esse hino, por meio de qual vida vivemos: pela vida de Cristo ou pela nossa vida natural? Nas reuniões, proclamamos que a vida de Cristo é para nós; mas, em nosso viver diário, Sua vida não é para nós. Na prática, atentamos ao bom comporta-mento, não ao viver por meio de Cristo. Em João 16:9, o Senhor Jesus disse que o Espírito convenceria o mundo do pecado, "porque não crêem em mim". Isso indica que não crer no Senhor é o único pecado. Deus nos ordena crermos em Seu Filho. Qualquer pecador que se recuse a fazê-lo viola o mandamento de Deus. Assim não há necessidade de quebrar os dez mandamentos a fim de se perder. Simplesmente a recusa de obediência ao mandamento de Deus no sentido de crer em Cristo levará alguém a perecer. Além desse mandamento acerca de crer, Deus nos ordena — aos que crêem em Cristo — que vivamos por Cristo. Para um pecador, não crer em Cristo é cometer pecado. Para um cristão, não viver por Cristo é também cometer pecado. Em Sua economia, Deus deseja que Cristo seja nossa vida e nosso tudo, de modo a poder Ele ter a vida da igreja. Mas, em vez de nos preocuparmos com Cristo, preocupamo-nos com outras coisas, como, por exemplo, bom comportamento. Isso é desobediência, até mesmo rebelião. Deus quer Cristo, mas nós buscamos o bom comportamento. Por essa razão, a vida da igreja na restauração do Senhor ainda não é tão rica nem prática. Para que ela seja rica e prática, Cristo precisa ser vivido por nós. Ao ouvirem falar da necessidade de viver Cristo, alguns poderão perguntar como viver por meio Dele. Admito que seja muito difícil viver por Cristo. Uma razão para essa difi-culdade é que, em vez de buscar o próprio Cristo, buscamos a santidade, a vitória ou a espiritualidade. Por isso, até a nossa busca espiritual constitui um obstáculo para viver Cristo. Queremos ser santos e vitoriosos sobre o nosso pecado que perturba, ou sobre algum elemento negativo de nosso ambiente. Além disso, desejamos ser espirituais. Entre-tanto, embora desejemos santidade, vitória e espiritualidade, não desejamos viver Cristo. A intenção de Deus é que Cristo seja formado dentro de nós. Mas a nossa intenção é desenvolver a nossa própria santidade ou espiritualidade. Isso é rebelião contra a economia de Deus. Mesmo se formos bem sucedidos, sendo santos ou espirituais, essa santidade ou espiritualidade ainda será rebelião. Ainda um jovem cristão, busquei meios de ser espiritual, vitorioso, santo e cheio do Espírito. Li livros que me diziam como ser assim e coloquei em prática todas as sugestões, tndavia desapontado, porque nenhuma das sugestões funcionou. Percebi, mais tarde, que

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o próprio Cristo é o caminho para ser santo, vitorioso e espiritual. Se tivermos Cristo, teremos a santidade, a vitória e a verdadeira espiritualidade. Se tentarmos por nós mesmos tratar com nosso temperamento, seremos derrotados. Mas, se vivermos Cristo, nosso temperamento não nos será problema. Embora tenhamos ouvido muito sobre viver Cristo, não praticamos em nosso viver diário o que temos ouvido. Pelo contrário, tentamos aperfeiçoar nosso comportamento. Se ficamos empolgados, devemos ficar empolgados para viver por meio de Cristo. O desejo de Deus é que entremos na boa terra. Precisamos estar empolgados, de modo a podermos prosseguir, para entrar na boa terra, para laborar nela, e para desfrutar do seu rico produto. Deus quer apenas Cristo; não quer o nosso zelo, comportamento ou ética. Já dissemos que a terra de Canaã é um tipo de Cristo. Esse tipo, entretanto, ainda não foi cumprido na experiência dos cristãos. Os tipos da Páscoa e do maná já o foram na experiência de milhares deles. Mas, embora muitos desfrutemos de Cristo como o maná, bem poucos desfrutam Dele como sua boa terra. Precisamos perguntar-nos se nós, nas igrejas locais, estamos realmente desfrutando de Cristo como a boa terra. Será que conhecemos os montes e vales de Cristo? Será que experimentamos o trigo, a cevada e os minerais de Cristo? Todos esses Seus aspectos precisam ser cumpridos de maneira prática. Se considerarmos a boa terra e todas as suas riquezas como tipo pleno de Cristo, percebe-remos que precisamos da experiência Dele. A diferença entre a igreja e uma organização social é que a igreja é uma entidade consti-tuída de Cristo. Se O tivermos, então teremos a realidade da igreja. Mas, se não O tivermos, seremos então, na prática, uma organização social. Por nos faltar a experiência de Cristo, aparentemente poderemos estar praticando a vida da igreja; mas, na verdade, estaremos desfrutando de uma vida social natural. Desejo enfatizar novamente que o propósito do chamamento de Deus não é apenas tirar o Seu povo do Egito e conduzi-lo para o deserto e para o monte. Tampouco é apenas ter a edificação do tabernáculo no deserto. O Seu propósito é introduzir o Seu povo em Cristo como a boa terra. Como chamados por Deus, precisamos ver que o objetivo do Seu chama-mento não é somente salvar as pessoas do mundo. Este é somente o aspecto negativo. Em última análise, o objetivo do Seu chamamento é introduzir o Seu povo na boa terra, de modo a poderem eles desfrutar de Cristo em Sua toda-inclusividade. Deus então será capaz de estabelecer o Seu reino (19:6; 2Sm 5:12; 7:12, 16; Rm 14:17). Além disso, ao intro-duzir o Seu povo escolhido na boa terra, Deus será capaz de ter um lugar de habitação edificado na terra (2Sm 7:13; Ef 2:20-22; 4:12). Precisamos ajudar os outros a experimenta-rem de Cristo em todas as Suas insondáveis riquezas, de modo a poder Deus ser capaz de estabelecer Seu reino e ter hoje o Seu lugar de habitação. Exatamente esse ponto é abordado por Paulo em Gálatas, Efésios, Filipenses e Colos-senses. Esses quatro livros revelam Cristo não apenas como o cordeiro, mas também como Aquele que é todo-inclusivo, isto é, como a terra todo-inclusiva. Colossenses 3:11 até diz que "Cristo é tudo e em todos". Essa palavra, sem dúvida, fala da toda-inclusividade de Cristo. Em 1 Coríntios, observamos a Páscoa e a travessia do Mar Vermelho; mas, em Gálatas, Efésios, Filipenses e Colossenses, verificamos a terra todo-inclusiva. Efésios e Colossenses mencionam os principados e as potestades dos lugares celestiais. Nesses livros, é nos lugares celestiais que desfrutamos de Cristo como a boa terra. Também é lá que os principados e as potestades malignas, tipificados pelos povos perversos da terra de Canaã, hão de ser derrotados. Hoje, tais poderes malignos estão no ar. Nós, os chamados, precisamos libertar as pessoas do mundo e introduzi-las nos lugares celestiais, para tratar com os principados e as potestades. Quando os filhos de Israel

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estavam comendo o cordeiro pascal, os egípcios foram tratados. Mas, após entrarem na boa terra, não lutaram os israelitas contra os egípcios, mas contra as nações da terra. Em tipologia, tais nações não são os povos do mundo, mas são os poderes malignos das trevas, os governantes perversos, os principados e as potestades do ar. Esses poderes, que ocupam os lugares celestiais, procuram impedir-nos de desfrutar das riquezas do Cristo todo-inclusivo. Por essa razão, para desfrutarmos de Cristo em Sua toda--inclusividade, precisamos derrotar os principados, os governos, os poderes e as autoridades dos lugares celestiais. Deus nos chamou com um objetivo. Esse objetivo é utilizar-nos para livrar as pessoas da tirania do mundo de hoje, conduzindo-as ao deserto, a um lugar de separação. Também é levá-las ao monte, onde possam ter a revelação da economia de Deus e o modelo do tabernáculo, de modo que este possa ser edificado. Além disso, é introduzi-las na boa terra, rica e todo-inclusiva, para derrotar o inimigo de Deus e desfrutar das riquezas de Cristo. Deus então será capaz de estabelecer o Seu reino, onde terá o Seu lugar de habi-tação na terra. Todos esses pontos são inteiramente desenvolvidos em Gálatas, Efésios, Filipenses e Colossenses, quatro livros que constituem o coração da Bíblia. Tanto Moisés quanto Paulo foram chamados para esse propósito, e nós também o fomos. Precisamos conduzir as pessoas por todo o caminho, desde o mundo até ao Cristo todo-inclusivo, para o reino e a edificação de Deus. Oh, que nossa compreensão da Palavra de Deus possa ser elevada nestes dias! O que Deus deseja não é apenas o tabernáculo com o deleite inicial de Cristo como o cordeiro, maná e água viva, mas o templo com o rico gozo de Cristo como a terra todo-inclusiva. Dia a dia, precisamos exprimentar Cristo de maneira prática, como nossa vida e como nossa pessoa. Ele deverá ser-nos não apenas o maná, mas também todas as riquezas da boa terra. O que precisamos hoje, para o cumpri-mento do propósito de Deus, é a experiência genuína de Cristo como a boa terra de Canaã.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM DOZE

OS TRÊS ESTÁGIOS DO CUMPRIMENTO DO PROPÓSITO DE DEUS Consideraremos, nesta mensagem, os três estágios do cumprimento do propósito de Deus, como Êxodo 3 menciona. No chamamento de Deus, o povo escolhido foi direcio-nado para três estágios diferentes. O versículo dezoito registra que os filhos de Israel deviam fazer "caminho de três dias para o deserto". No versículo doze, o Senhor disse a Moisés: "Eu serei contigo; e este será o sinal de que eu te enviei: depois de haveres tirado o povo do Egito, servireis a Deus neste monte". Finalmente, nos versículos oito e dezessete, o Senhor prometeu a Moisés que tiraria os filhos de Israel do Egito para uma terra que manava leite e mel. Por isso, os três estágios abordados neste capítulo são o deserto, o monte e a terra.

I. AO DESERTO Muitos mestres cristãos já enfatizaram a importância da experiência dos filhos de Israel no deserto, interpretam, todavia, o deserto como lugar de teste e provação. Embora em todo lugar da Bíblia o deserto tenha esse significado, tal não ocorre em 3:18. Aqui, o deserto indica um lugar de separação do mundo. De acordo com 3:18, os filhos de Israel deveriam fazer uma jornada de três dias deserto adentro, de modo a poderem sacrificar ao Senhor seu Deus. Era impossível ao Seu povo sacrificar a Ele no Egito. Para O servirem assim, precisavam estar num lugar de separação. O deserto estava separado do Egito pelo Mar Vermelho. A travessia do Mar Vermelho é um tipo do batismo. Após crermos no Senhor Jesus e tomá-Lo como nossa Páscoa, fomos batizados. Assim, a água do batismo nos separa do mundo e nos introduz no deserto, onde podemos servir a Deus. Muitos salvos, contudo, ainda não foram libertados para o interior do deserto. Isso significa que, embora tenham sido salvos, não foram apartados do mundo. O deserto, lugar de separação do mundo, é o primeiro estágio da libertação do Egito, que Deus propicia ao Seu povo escolhido. Nossa experiência o testifica. Antes de sermos salvos, estávamos muito ocupados com as coisas do mundo. Mas a salvação de Deus nos libertou dessa preocupação e nos introduziu no deserto. Todos os corretamente salvos devem ter esse tipo de experiência. Vê-se isso tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. A única diferença é que o Antigo Testamento apresenta o tipo, a figura, ao passo que o Novo Testamento apresenta a realidade espiritual em palavras. Porque frequentemente nos é difícil aprender as coisas espirituais do Novo Testamento, Deus, em Sua sabedoria, utiliza as figuras do Antigo Testamento, para ajudar-nos a compreendê-las. A história dos filhos de Israel é um retrato da salvação plena de um cristão. A Páscoa, por exemplo, é um tipo de Cristo. Em 1 Coríntios 5:7, Paulo afirma: "Cristo, nosso cordeiro pascal, foi imolado". Além disso, em 1 Coríntios 10:1 e 2, ele indica que a travessia do Mar Vermelho é um tipo do batismo. E mais: o maná e a água da rocha fendida também são tipos de Cristo (1Co 10: 3-4). Não é difícil enxergar o significado desses tipos; dificilmente, entretanto, algum cristão percebe que a boa terra é também um tipo de Cristo. Por isso muitos consideram somente o estágio

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inicial da história dos filhos de Israel como tipo. Como agradecemos ao Senhor por mostrar-nos que toda a história dos israelitas é um retrato de nossa salvação. Os filhos de Israel saíram do Egito e entraram no deserto através do desfrutar da Páscoa (12:11, 31:41) e do batismo no Mar Vermelho (14:21-30). A Páscoa lhes foi um deleite; desfrutaram do cordeiro, do pão asmo e das ervas amargas. O suprimento recebido através desse desfrutar fortaleceu-os para saírem do Egito. Além disso, o batismo no Mar Vermelho os libertou dos egípcios. Isso indica que, por meio de Cristo como Cordeiro pascal e por Sua morte, somos apartados do mundo e introduzidos no deserto, o primeiro estágio do cumprimento do propósito de Deus.

II. AO MONTE O segundo estágio é o monte (3:12; 19:1-2,11; 24:16-18), onde os filhos de Israel receberam a revelação concernente a Deus e ao tabernáculo. Estiveram eles no Egito sob trevas por centenas de anos, num lugar onde não havia luz, nem palavra, nem falar de Deus. Mas agora, sob a luz, deveriam eles viver de acordo com a revelação de Deus e edificar o tabernáculo de acordo com o padrão por Ele revelado. Os filhos de Israel foram conduzidos ao monte pela árvore que tornou doce a água amarga (15:23-25), pelas doze fontes de Elim (15:27), pelo maná do céu (16:14-15, 31-32, 35), pela água viva da rocha fendida (17:6) e pela vitória sobre Amaleque (17:8-16). Quando chegaram a Mara, os israelitas "não puderam beber as águas de Mara, porque eram amargas" (15:23). Porque o povo murmurou contra ele, Moisés clamou ao Senhor, "e o Senhor lhe mostrou uma árvore; lançou-a Moisés nas águas, e as águas se tornaram doces" (15:25). Essa árvore tipifica Cristo e Sua cruz. Os filhos de Israel prosseguiram até Elim, onde havia doze fontes (15:27), e acamparam ao lado das águas. Quando cami-nharam para além de Elim, murmuraram novamente; desta vez, porque não tinham comida. Deus lhes satisfez as necessidades, enviando-lhes o maná, o pão celestial, para sustentá-los. De semelhante modo, ao murmurarem eles por não haver água, Deus fez brotar água viva da rocha fendida (17:1-6). Todos esses itens tipificam os vários aspectos de Cristo como nosso suprimento de vida, como o próprio suprimento que Deus utiliza para conduzir-nos ao monte. Nós, nas igrejas locais, podemos testificar que fomos supridos pela água doce, pelas doze fontes de Elim, pelo maná celestial e pela água viva que mana da rocha fendida. Não era para o povo escolhido por Deus permanecer no monte, no deserto. A Sua intenção era que prosseguissem rumo à boa terra. De semelhante modo, hoje não deve-remos permanecer no deserto nem no monte. Pelo contrário, deveremos considerar ambos como lugares temporários de estada. O nosso destino definitivo é a boa terra. Em sua experiência, poucos cristãos chegaram ao monte. Muitos de nós podemos testificar que, antes de entrarmos para a vida da igreja, não estivemos no monte, no lugar da revelação. A maioria dos irmãos na restauração do Senhor, entretanto, chegou ao monte do deserto. Por um lado, é uma experiência maravilhosa estar no monte; por outro, é motivo de sofrimento permanecermos lá por longo período. Alguns que têm estado em Cristo por muitos anos, não avançaram além do estágio do monte. No décimo quarto dia do primeiro mês, os filhos de Israel celebraram a Páscoa no Egito, e, ao terceiro mês, chegaram ao monte (19:1). Permaneceram lá por aproximada-mente nove meses. No primeiro dia do ano seguinte, o tabernáculo foi edificado e preenchido pela glória (40:17, 34). Isso indica que não é normal permanecer no monte por tempo muito longo. Muitos de nós, na restauração do Senhor, enxergamos a revelação do

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monte e compartilhamos com outros a edificação do tabernáculo. Embora maravilhoso, isto apenas é maravilhoso de maneira temporária. Se considerarmos o quadro dos filhos de Israel no deserto, notaremos que somente dois daqueles que saíram do Egito — Josué e Calebe — entraram na boa terra. Todos os outros, inclusive Moisés, Arão e Miriã, morreram no deserto. Para eles, o deserto não foi só um lugar de separação, mas também um lugar de teste e provação. Antes de os filhos de Israel chegarem ao monte, o deserto era positivo, porque era apenas um lugar de separação. Mas, depois do monte, o deserto se tornou um lugar de teste e provação, por causa da sua incredulidade. Quando estavam no monte, os israelitas receberam a revelação acerca do que Deus é. Não considere a lei simplesmente como alguns mandamentos. Ela era um testemunho, uma definição, uma descrição e a explicação do que Deus é. Por meio dela podemos conhecer o próprio Deus. Este exigia que o Seu povo escolhido vivesse de acordo com essa revelação de Si mesmo. Assim, no monte, Moisés recebeu uma revelação tanto do que Deus é quanto do tipo de vida que o povo de Deus deveria viver. Por ser Ele santo, justo e amável, Seu povo deveria viver uma vida caracterizada pela santidade, justiça e amor. Os capítulos 20—24 de Êxodo revelam que Ele é minucioso em Sua santidade, justiça e outros atributos divinos. O Seu povo deve viver uma vida que corresponda a esses Seus atributos minuciosos. Essa revelação só pode ser tida no topo do monte. É no topo do monte que o povo de Deus também pode ter a revelação do desejo do coração de Deus. Aqui observamos que Deus quer que vivamos de acordo com o que Ele é, pois o desejo de Seu coração é ter um lugar de habitação na terra. O tabernáculo foi erigido como cumprimento temporário desse desejo. Antes de sua construção, uma revelação pormenorizada de seus aspectos foi dada a Moisés nos capítulos 25—31. Os capítulos restantes abordam a experiência dos filhos de Israel no monte e falam da edifi-cação do tabernáculo. No monte, verificamos a vida da igreja tipificada pelo tabernáculo. A vida da igreja que temos hoje não é a vida da igreja de templo; pelo contrário, é a vida da igreja que se move, o tabernáculo. Este não tem assoalho nem alicerces, mas foi erigido na terra. O templo edificado na boa terra, pelo contrário, tinha uma sólida fundação. Nenhum versículo do Novo Testamento diz que a igreja é edificada com madeira. Pelo contrário, tanto Paulo quanto Pedro dizem que ela é edificada com pedras (1Co 3:12; 1Pe 2:5). Isso indica que o tabernáculo, um tipo da igreja, era o lugar temporário da habitação de Deus. O seu lugar permanente de habitação deveria ser o templo edificado na terra de Canaã. Muitos cristãos, entretanto, não atingiram ainda o estágio do tabernáculo, a vida da igreja temporária, e muito menos o estágio da edificação sólida.

III. À BOA TERRA Por ser o tabernáculo simplesmente o lugar temporário da habitação de Deus, não deve-remos ficar satisfeitos com a vida da igreja nesse estágio. Precisamos continuar até ao estágio representado pelo templo da boa terra. No Antigo Testamento, o templo substituiu o tabernáculo. Por fim, os utensílios existentes no tabernáculo foram transferidos para o templo. Assim, o tabernáculo do deserto era o edifício temporário, mas o templo da boa terra era o edifícío definitivo. Por essa razão, os filhos de Israel precisaram prosseguir, do deserto até à boa terra. Se eu estivesse no meio deles, em Êxodo 40, ficaria plenamente satisfeito com a edificação do tabernáculo. O objetivo final de Deus, entretanto, ainda estava distante.

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Ainda restavam para percorrer três quartos do caminho. Por esse motivo, os filhos de Israel tiveram que seguir viagem até ao terceiro estágio e entrar na boa terra.

A. Através da Arca Com o Tabernáculo Analisamos os fatores que conduziram os filhos de Israel ao deserto e os levaram ao monte do deserto. Precisamos agora considerar o meio que os introduziu na boa terra. Esta é a arca com o tabernáculo (Js 3:3, 6, 8, 13-17; 4:10-19). Quando os filhos de Israel entraram na boa terra, a arca entrou no Jordão, e as águas pararam. Antes dessa hora, eles tinham a arca como meio, mas não tinham a fé para utilizá-lo. Porém, ao final de seus anos de jornada pelo deserto, aplicaram a arca dessa maneira. Isso indica que hoje, na vida da igreja, Cristo como arca deve ser o meio pelo qual entramos em Cristo como a boa terra. De qual tipo de Cristo você desfruta? Você desfruta Dele simplesmente como o cordeiro pascal, como o pão asmo, como o maná e como a rocha que jorra água viva; ou você desfruta Dele como a boa terra? Colossenses 2:6 diz: "Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele". Se o nosso Cristo é apenas o cordeiro pascal, o maná e a rocha que jorra água viva, como poderemos andar Nele? Se quisermos andar Nele, precisamos experimentá-Lo como a terra espaçosa. A experiência de Cristo no meio dos cristãos é de-ficiente; poucos O experimentam como a boa terra. Verificamos que os filhos de Israel desfrutaram do cordeiro pascal, do pão asmo, do maná e da rocha com a água viva. Deus, entretanto, não prometeu a Abraão que daria tais coisas aos seus descendentes. Deus prometeu dar-lhes a boa terra. De acordo com Gálatas 3, a bênção da terra prometida a Abraão é o Espírito. A bênção da terra, esse Espírito, é o Deus Triúno, que foi processado através da encarnação, crucificação e ressurreição, para tornar-Se o Espírito todo-inclusivo que dá vida. Esse Espírito é a bênção prometida pela fé aos descendentes de Abraão. Abraão tem dois tipos de descendentes: os descendentes pela carne e os descendentes pela fé. Os descendentes pela carne são a nação de Israel, e os descendentes pela fé são os que crêem em Cristo. Aos descendentes pela carne, a boa terra é um lugar palpável; mas, aos descendentes pela fé, a boa terra é uma realidade espiritual: Cristo como o Espírito todo-inclusivo. Sou grato ao Senhor, porque em todas as igrejas, na Sua restauração, existe a arca com o tabernáculo. A arca e o tabernáculo tipificam Cristo com a vida da igreja móvel e tempo-rária. Cristo como nossa vida da igreja é o meio pelo qual entramos no Cristo todo-inclusivo, tipificado pela terra de Canaã. Gálatas, Efésios, Filipenses e Colossenses mostram-nos Cristo e a igreja na boa terra. Em 1 Coríntios, todavia, temos a igreja no monte. Esse livro fala da Páscoa e do batismo no Mar Vermelho, pelo qual somos libertos do Egito e introduzidos no deserto. Também nos fala de beber da rocha espiritual, um dos meios que nos conduzem ao monte. Isso indica que Cristo e a igreja, como revela 1 Coríntios, estão relacionados ao monte do deserto. Muitos de nós passamos por esse estágio. O meu encargo nesta mensagem é enfatizar que não há necessidade de vagarmos pelo deserto com a arca e o tabernáculo. Anos atrás, alguns de nós fomos apartados do mundo e entramos no deserto. Depois, então, subimos ao monte, onde tivemos a visão de Deus, da vida de Seu povo e do lugar de Sua habitação. Também erigimos o tabernáculo ao pé do monte. Somos, assim, cristãos com a vida da igreja, pelo menos na forma móvel e temporária: o tabernáculo. Precisamos, entretanto, prosseguir, cruzar o Rio Jordão e entrar na terra de Canaã.

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B. Através do Sepultamento no Rio Jordão O povo escolhido por Deus teve que cruzar duas porções de água: o Mar Vermelho, que trata com o mundo, e o Rio Jordão, que trata com o "ego". As forças do mundo, tipificadas por Faraó e seu exército, foram sepultadas no Mar Vermelho. Mas doze pedras, represen-tando o velho "ego" dos filhos de Israel, foram sepultadas no Jordão (Js 4:1-9, 20). O que nos impede de entrar no Cristo todo-inclusivo não é o mundo — é o "ego". Ele precisa ser sepultado no Jordão. O que capacita o "ego" a ser sepultado é a arca. As doze pedras não foram sepultadas no rio antes de a arca entrar. Pelo contrário, a arca primeiramente entrou no rio. Isso indica que Cristo com a vida móvel da igreja é o meio pelo qual entramos no Cristo todo-inclusivo. A vida da igreja que temos hoje não é o templo, mas o tabernáculo: a vida da igreja que ainda é móvel. Mas até mesmo essa vida da igreja é um meio de entrar na boa terra. Posso testificar que Cristo em tal vida móvel da igreja me ajudou grande-mente a entrar no Cristo todo-inclusivo.

C. Através da Circuncisão Após entrarem na boa terra, havendo cruzado o Jordão, os filhos de Israel foram circuncidados, isto é, sua carne foi cortada (Js 5:2-4). Assim, o "ego" foi sepultado no rio, e a carne foi cortada pela circuncisão. A vida da igreja com Cristo nos ajuda tanto a sepultar o "ego" quanto a cortar a carne.

D. Para Desfrutar as Riquezas da Boa Terra Após o sepultamento e a circuncisão, os filhos de Israel começaram a desfrutar das riquezas da boa terra (Dt 8:7-10; Js 5:10-12). Naquela época, o maná cessou e foi substituído pelo produto da terra. Através do rico deleite da terra todo-inclusiva, o povo de Deus foi fortalecido para lutar contra o inimigo de Deus e estabelecer o Seu reino. Nesse reino, o templo foi edificado. O Antigo Testamento revela dois estágios da vida da igreja: o do tabernáculo e o do templo. A nossa vida de igreja hoje pode não estar ainda no estágio do templo, mas permanece no estágio do tabernáculo. A razão disso é que a maioria de nós ainda não anda em Cristo como a boa terra. Podemos testificar que Ele é o nosso cordeiro, o nosso pão asmo, o nosso maná, a nossa rocha com a água viva. Mas precisamos continuar, para experimentar Dele como a nossa terra espaçosa. Deveremos não só comer Dele, mas também andar Nele. As principais dificuldades para se entrar no Cristo todo-inclusivo não são o mundo nem o pecado, mas o "ego" e a carne. O mundo e o pecado são tratados nos dois primeiros estágios. Mas ainda precisamos de um sepultamento para tratar com o "ego" e de uma circuncisão para tratar com a carne. Se formos absolutos em continuar com o Senhor, estaremos, por fim, dispostos a ter o nosso "ego" e a nossa carne tratados. Tais tratamentos, contudo, não chegam facilmente. É principalmente difícil aos jovens sepultarem o "ego" e cortarem a carne. Na reunião, podemos declarar: "Para mim, o viver é Cristo"; mas, depois dela, vivemos no "ego" e na carne. Podemos proclamar: "Não mais eu, mas Cristo vive em mim". Isso, todavia, pode se tornar um mero ensinamento, porque em nosso viver diário estamos cheios do "ego". O "ego" e a carne nos impedem de experimentar a boa terra. Verifique novamente a figura do Antigo Testamento e repare que os filhos de Israel não desfrutaram do produto de Canaã enquanto não foi sepultado o "ego" nem cortada a

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carne. Mas, tão logo tais coisas foram tratadas, eles começaram a desfrutar do rico produto da terra. Foram as riquezas da terra, não o maná do deserto, que os capacitaram a com-bater os inimigos na boa terra.

E. A Luta na Terra Depois de entrarem na boa terra, os filhos de Israel tiveram que derrotar os cananeus, os inimigos que a ocupavam. Tais inimigos tipificam os principados e as potestades do ar, que procuram impedir-nos de desfrutar do Cristo todo-inclusivo. Em nosso interior, somos atribulados pelo "ego" e pela carne; e, acima de nós, no ar, estão os poderes malignos das trevas. Quando sepultamos o "ego" e circuncidamos a carne, os poderes das trevas do ar são expostos. O "ego" e a carne ajudam os poderes malignos. Na verdade, se ainda estivermos no "ego" e na carne, os principados e as potestades nada precisarão fazer para nos impedir, pois já estaremos sendo impedidos pelo "ego" e pela carne. Entretanto, tão logo tratemos com o "ego" e com a carne, as potestades das trevas virão para nos fazer guerra. Aí, então, precisaremos aprender a travar a batalha espiritual. A guerra espiritual se faz na boa terra, com o sustento do rico produto de Cristo. Já enfatizamos que a boa terra nos é hoje o Deus Triúno, processado para tornar-Se o Espírito todo-inclusivo. O Deus Triúno não é apenas o nosso Criador, Redentor, Salvador, Amo e Senhor: Ete também é o Espírito que dá vida, todo-inclusivo. Através da encar-nação, do viver humano, da crucificação e da ressurreição, Cristo, a incorporação do Deus Triúno, foi processado para tornar-Se o Espírito que habita dentro do Seu povo escolhido. Assim, o Deus Triúno chega até nós hoje como o Espírito que dá vida. Esse Espírito maravilhoso agora está em nosso espírito (Rm 8:16). Primeira Coríntios 6:17 afirma que aquele que se uniu ao Senhor é um espírito. Por isso o Novo Testamento nos ordena andarmos no espírito (Gl 5:16,25; Rm 8:4). Esse é o mandamento final. Não andar em Cristo é o maior pecado que um cristão pode cometer contra Deus. Se não anda em Cristo, você é rebelde, ainda que possa ser muito virtuoso. Porque o desejo de Deus é que Cristo viva e seja expresso através de nós, até mesmo nossa virtude natural é uma forma de rebelião contra Deus e Sua economia. Todos temos confessado ao Senhor nossos pecados, fracassos e erros. Mas você alguma vez pediu a Ele que lhe perdoasse por não viver por meio de Cristo? Poucos cristãos oraram desta maneira: "Senhor, perdoa-me por não tomar-Te como minha vida hoje. O meu comportamento foi muito bom, mas não vivi por Ti nem Te tomei como minha pessoa. Senhor, perdoa-me por estar em rebelião contra Ti. Tu quiseste viver através de mim; mas, pelo contrário, eu vivi de acordo com algo além de Ti. Vivi pela minha opinião, não pela Tua revelação. De acordo com essa revelação, deveria andar em Ti. Mas durante todo o dia, Senhor, não andei em Ti, absolutamente." Posso testificar que, principalmente nesses últimos tempos, tenho feito esse tipo de confissão ao Senhor quase que diariamente. É fácil ficar concentrado em muitas coisas além do próprio Cristo. Podemos nos concen-trar na religião, na ética, na moralidade ou na virtude, mas não estaremos concentrados em Cristo. Se o nosso comportamento é pobre, sentimo-nos arrependidos e pesarosos. Mas, se não vivemos por Cristo, podemos não ter percepção disso nem sentir necessidade de confessar. De acordo com João 16, o único pecado de um não-cristão é não crer em Cristo. Mas o pecado primário de alguém que crê é não andar em Cristo. O Novo Testamento não nos ordena andarmos de acordo com determinado ensinamento ou doutrina especial. Mas ordena-nos andar em Cristo, ou no espírito. Em Gálatas 5:25, Paulo diz: "Se vivemos no Espírito, andemos também no espírito". Em Romanos 8:4, ele afirma

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que os requisitos de justiça da lei são cumpridos por aqueles que andam de acordo com o espírito. O espírito, aqui em Romanos 8, é o espírito amalgamado: o Espírito todo-inclu-sivo e o nosso espírito. Não pense que a terra de Canaã esteja muito longe e que você precisa ainda vagar por anos, antes de entrar nela. Pelo contrário, a boa terra está dentro de nós, porque ela é o Deus processado, o Espírito que dá vida todo-inclusivo habitando em nosso espírito. Como Calebe, em Números 13:30, precisamos crer e declarar que, através da vida da igreja, com Cristo, somos suficientemente capazes de possuir essa boa terra. Lembre-se de que a arca com o tabernáculo é o meio pelo qual podemos entrar na boa terra. Louvado seja o Senhor, porque temos desfrutado da Páscoa, da água doce, do maná e da água viva que sai da rocha fendida. Também O louvamos, porque no monte tivemos a visão de Deus e de Sua economia, e edificamos o tabernáculo, a vida temporária da igreja. Assim, todos temos a arca com o tabernáculo: Cristo com a vida móvel da igreja, como o meio pelo qual entramos na terra. Por causa desse meio, podemos ter a ousadia de entrar em nosso espírito, para desfrutar do Espírito todo-inclusivo como a boa terra. Esqueçamo-nos da religião, da filosofia, da ética e até mesmo da busca espiritual, e preocupemo-nos com Cristo e com ter contato direto com Ele em nosso espírito. Precisa-mos aprender a nada fazer nem nada dizer apartados de Cristo. Em João 15:4, o Senhor falou: "Habitai em mim, e eu habitarei em vós" (grego). No versículo seguinte, Ele con-tinuou: "Sem mim, nada podeis fazer". Precisamos ter o nosso viver e o nosso ser em Cristo como a boa terra. Ele é tanto o centro quanto a circunferência, tanto a centralidade quanto a universalidade. Como boa terra, Ele é tudo para nós. O nosso objetivo final deve ser passar pelo deserto e pelo monte, rumo à boa terra. Entremos nela, para possuirmos o Cristo todo-inclusivo e desfrutar de Suas insondáveis riquezas, a fim de que o reino de Deus possa ser estabelecido, e o templo possa ser edificado.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM TREZE

A EXIGÊNCIA DE DEUS E A TEIMOSIA DE FARAÓ

( 1 ) Com esta mensagem, iniciaremos as considerações referentes à questão da exigência de Deus e da teimosia de Faraó. Essas duas atitudes resultaram em muitos conflitos, registra-dos do capítulo cinco ao quatorze de Êxodo. Nesta mensagem, analisaremos o primeiro deles.

I. O PRIMEIRO CONFLITO

A. A Exigência de Jeová — o Deus de Israel, o Deus dos Hebreus — Feita a Faraó

Êxodo 5:1 diz: "Depois foram Moisés e Arão e disseram a Faraó: Assim diz Jeová, Deus de Israel: deixa ir o meu povo, para que me celebre uma festa no deserto" (hebraico). Nesse versículo, observamos um título importante de Deus: Jeová, Deus de Israel. No versículo três, Ele Se intitula "Deus dos hebreus". Por esse motivo, a exigência feita a Faraó foi realizada por Jeová, o Deus de Israel, o Deus dos hebreus. Já enfatizamos que em hebraico o título "Jeová" é uma forma do verbo "ser". Isso indica que Jeová é o único ser auto-existente. Ele é Aquele que era, que é e que há de ser. Somente a Ele o verbo "ser" pode ser aplicado em sentido absoluto. Só Deus é; nós e todas as outras coisas não somos. Em 6:3, Deus afirma: "Apareci a Abraão, a Isaque, e a Jacó, como o Deus todo-suficiente; mas pelo meu nome, JEOVÁ, não lhes fui conhecido" (hebraico). Deus Se revelou pela primeira vez como Jeová em Êxodo 3. Abraão, Isaque e Jacó não receberam essa Sua revelação. Em 5:1, Deus também é chamado de Deus de Israel. Esse título difere de "Deus de Abraão, Deus de Isaque e Deus de Jacó", título que pressupõe Deus como Deus de ressurreição. O título "Deus de Israel" mostra-O Deus de um povo transformado. Jacó era o nome de um homem natural, mas Israel era o nome de um homem transformado. Por nascimento, Jacó não recebeu o nome de Israel. Pelo contrário, foi chamado de Jacó, que significa "segurador de calcanhar", "suplantador". Mas, ao longo do curso de sua vida, ele foi transformado, e Deus, por fim, mudou-lhe o nome para Israel. Esse nome implica vitória e realeza. Por um lado, as pessoas transformadas são vitoriosas, por outro, são reis. Mesmo quando os filhos de Israel estavam em situação terrível no Egito, Deus ainda os conside-rava Israéis, não Jacós. Aos Seus olhos, o Seu povo escolhido já havia sido transformado em pessoas vitoriosas e reis. O mesmo princípio se aplica à maneira como Deus vê hoje a igreja. Aos Seus olhos, ela já é gloriosa. Contudo, se nossos olhos forem postos em nossa condição espiritual, podere-mos considerar-nos como extremamente dignos de pena. Poderemos ver-nos como Jacós, não como Israéis. Todavia, quando Deus nos olha, somos Israéis. Em Seus entendimentos com Satanás, o perseguidor e usurpador, Deus Se lhe afirmou como Deus de um povo transformado, vitorioso e real. Todos precisamos ver e crer que somos um Israel. Você pode não crer nisso hoje, mas

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por certo haverá de crer no futuro, seja na era vindoura, seja na eternidade. Na eternidade, todo o povo escolhido por Deus será um Israel. Não seja alguém míope, limitado por sua situação atual. Deus não o considera alguém ainda sob o cativeiro de Faraó; pelo contrário, Ele o vê como alguém liberto e introduzido no Cristo todo-inclusivo, tipificado pela boa terra. Você ousa crer em si como esse Israel, vencedor e rei? Todos precisamos ser suficiente-mente ousados para crer nisso e proclamá-lo. Não mantenha o seu sentimento acerca de si mesmo, mas creia na palavra de Deus. Se Ele o considera um Israel, você então é um Israel, quer se sinta assim, quer não. É verdade que, no capítulo cinco de Êxodo, os filhos de Israel ainda estavam sob escra-vidão no Egito. Deus, entretanto, sabia que logo seriam libertos desse cativeiro, introdu-zidos no deserto, conduzidos ao monte e, por fim, à terra de Canaã. Na boa terra, eles seriam Israel, e Deus seria o seu Deus. Quando negociou com Faraó, Deus não ficou desapontado com a condição de Seu povo. Não fez Moisés e Arão dizerem a Faraó que Ele era o Deus de Jacó. Pelo contrário, permitiu que Faraó soubesse que Ele era Jeová, o Deus de Israel, Ele parecia dizer: "Faraó, você precisa notar que Eu Sou. Sou Aquele que era, que é e que será. Você não pode mudar-Me. Além disso, aos Meus olhos, Meu povo foi transformado num Israel. Eles também são os hebreus, os que cruzaram o rio. Porque são hebreus, não tente mante-los deste lado do Mar Vermelho. Sou Jeová, e tudo o que digo tem que acontecer. Digo que Meu povo são hebreus; por isso eles são hebreus. Você não pode mante-los no Egito. Precisa permitir que eles partam." Os títulos de Deus mencionados no capítulo cinco são extremamente importantes. Até mesmo nas relações diplomáticas entre as nações do mundo, os títulos têm grande signifi-cado. Se um representante de determinada nação for negociar com o governo dos Estados Unidos, precisa ter um título apropriado. Se for simplesmente um cônsul ou ministro, sua posição não será suficientemente elevada. Ele precisará ter o título de embaixador. Só então poderá envolver-se nas negociações diplomáticas. No mesmo princípio, ao negociar com Faraó, Deus Se apresentou munido do título apropriado: Jeová, o Deus de Israel, o Deus dos hebreus. Deixou Faraó saber que Ele era o grande "Eu Sou". Como "Eu Sou", Ele era tudo, e Faraó não era nada. Além disso, revelou-se a Faraó como o Deus de Israel, o Deus de um povo transformado para ser vencedores e reis. Com tal título maravilhoso, Ele fez Sua exigência a Faraó.

1. Permitir Que Seu Povo Saísse Para Poder Celebrar-Lhe Uma Festa no Deserto

Vê-se em 5:1 a exigência feita por Deus a Faraó. Falando em nome do Senhor, Moisés e Arão disseram a Faraó: "Deixa ir o meu povo, para que me celebre uma festa no deserto". A festa contrasta com a escravidão, com o trabalho pesado. Jeová estava dizendo a Faraó que libertasse Seu povo da escravidão, de modo a poderem celebrar-Lhe uma festa. A palavra "me" desse versículo indica que, quando o povo de Deus está celebrando, Ele está feliz. O seu festejar destina-se a Ele. Parece que Jeová dizia a Faraó: "Não estou contente em ver Meu povo sob escravidão no Egito. Deixe-os sair, para que celebrem e Me façam feliz. Gosto de ver Meu povo festejando e se regozijando. Fico alegre quando eles nada fazem, exceto comer e alegrar-se. Isso Me é uma festa." Esse celebrar ao Senhor é uma adoração dispensacional; ou seja, é adorar a Deus de acordo com o que nos foi dispensado. Enquanto comemos, bebemos, louvamos, cantamos e nos regozijamos em Sua presença, celebramos-Lhe uma festa. Como veremos, essa festa

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Lhe é também um sacrifício. Sacrificar é adorar. A adoração dispensacional é uma adoração em que Deus se dispensa em nosso inteiror para o nosso gozo, de modo a podermos festejar em Sua presença, com Ele e para Ele. Essa é a adoração que Ele deseja. Isso é revelado não apenas no Novo Testamento, mas também se acha implícito no Antigo Testamento. Podemos considerar a celebração aqui como um festival, um feriado ou um dia santo, tempo em que o povo de Deus com Ele descansa e desfruta de Sua provisão. Três vezes ao ano. Deus ordenou períodos especiais de festejos para os israelitas. As três festas princi-pais eram a Páscoa — incluindo a festa dos pães asmos — a festa das semanas (Pentecoste), e a festa dos tabernáculos. Àquela época, não se permitia ao povo realizar qualquer obra; alguém que trabalhasse naqueles dias festivos seria eliminado do meio do povo de Deus (Lv 23:30). Essa celebração agradava ao Senhor, porque Lhe era uma adoração. De acordo com o conceito humano, as pessoas deveriam estar sempre traba-lhando; mas, de acordo com o conceito divino, o Seu povo deveria deixar de lado o seu trabalho por ocasião dos festejos, para descansar de seus negócios e celebrar com Ele uma festa em Sua adoração. Celebrar ao Senhor uma festa é adora-Lo. De acordo com o conceito natural, adorar é ajoelhar-se, dobrar-se, prostrar-se diante de Deus. Mas, de acordo com Ele, nossa verda-deira adoração é desfrutarmos Dele como nossa provisão e depois descansarmos na porção que Dele desfrutamos. Como João 4 revela, a adoração que o Pai busca é o beber da água da vida. Quando mais bebemos de Seu Filho como Espírito, mais adoração Deus Pai recebe. A verdadeira adoração é beber da provisão de Deus, que Ele próprio preparou para o nosso deleite. A festa mencionada em 5:1 deveria realizar-se no deserto. O deserto aqui tem um signi-ficado positivo. Era o primeiro estágio que Deus pretendia que Seu povo atingisse. No dia em que fui salvo, imediatamente fui introduzido por Deus no deserto. O deserto contrasta com o Egito. No Egito, saturado de cultura do mundo, havia as cidades-celeiros. Deus queria resgatar Seu povo das cidades-celeiros e da cultura humana, introduzindo-os num lugar de separação no deserto. Antes de sermos salvos, estávamos em uma das cidades à margem do Nilo. Mas, com a salvação de Deus, fomos tirados delas e introduzidos no deserto, onde não há cultura do homem nem edificação mundana.

2. Deixá-los Ir Caminho de Três Dias ao Deserto No versículo três, Moisés e Arão disseram a Faraó: "Deixa-nos ir, pois, caminho de três dias ao deserto". É significativo que esse versículo mencione três dias, e não dois, quatro nem qualquer outro número. Na Bíblia, o número "três", principalmente três dias, tipifica ressurreição. O Senhor Jesus ressurgiu ao terceiro dia. Após a jornada de três dias, os filhos de Israel atravessaram o Mar Vermelho, onde as forças egípcias foram sepultadas. Depois de passar pelo mar, o povo de Deus estava em ressurreição. Passaram pela morte na noite da Páscoa e foram sepultados no Mar Vermelho. Por esse motivo, após uma jornada de três dias, o povo escolhido e resgatado por Deus estava em ressurreição. Alguns haverão de imaginar como poderiam os filhos de Israel ser sepultados, tanto no Mar Vermelho como no Rio Jordão. Isso não é difícil de entender, se o analisarmos à luz de nossa experiência cristã. No dia em que fomos salvos, fomos salvos para dentro da morte de Cristo. Desde aquela época, ficamos sujeitos à eficácia de Sua morte. Isso significa que, em nossa experiência, somos crucificados e sepultados repetidas vezes. Não posso contar-lhes quantas vezes fui submetido a essa crucificação e sepultamento. Isso quer dizer que

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nossa experiência básica e inicial é a mesma, em natureza, que nossa experiência mais desenvolvida e avançada. Tudo o que experimentaremos na maturidade de nossa vida espiritual será o mesmo, em princípio, que nossa experiência de começo, do mesmo dia de nossa salvação. Quando fomos salvos, fomos introduzidos na morte de Cristo, fomos sepultados e ressuscitados. Não podemos esgotar a experiência dessa morte, sepultamento e ressurreição. Experimentei tudo isso no dia em que fui salvo, embora àquela época não tivesse conhecimento dessa situação. Depois que saí da reunião de evangelização em que fui salvo, tive a sensação de que, enquanto andava pela rua, eu estava no deserto. Estar no deserto é estar do outro lado do Mar Vermelho, em ressurreição. Estar nessa posição é ser um hebreu, alguém que cruza o rio, alguém transformado e ressurreto. Essa é a expe-riência normal de salvação. Todo aquele que foi salvo de maneira normal, foi levado em jornada de três dias ao deserto, e experimentou morte, sepultamento e ressurreição.

3. Para Sacrificar a Jeová, Seu Deus Jeová também exigiu de Faraó que permitisse aos filhos de Israel que sacrificassem a Ele, Jeová, seu Deus (v. 3). "Sacrifício" é uma palavra análoga a "festejar". Para os filhos de Israel, a festa era uma festa; mas, para Deus, era um sacrifício. Sem o sacrifício, nada havia para se festejar. A festa que os filhos de Israel celebravam era o próprio sacrifício que haviam de apresentar a Deus. A Páscoa o ilustra. O cordeiro sacrificado a Deus era alimento para os filhos de Israel. Isso revela que a festa e o sacrifício são dois aspectos de uma só coisa. Tudo o que sacrificamos espontaneamente a Deus se torna nossa festa. Isso também é adoração dispensacional. Esse tipo de adoração não requer que nos prostremos diante do Senhor. Deus não disse: "Deixa meu povo ir ao deserto, de modo que se prostre diante de Mim". Ele não quer que Seu povo aja assim, mas quer que eles sacrifiquem a Ele e Lhe celebrem uma festa. Na exigência feita por Deus a Faraó, verificamos uma salvação completa e perfeita para o Seu povo. Tal salvação inclui o fato de Deus resgatar Seu povo da mão usurpadora de Satanás e introduzi-lo no deserto em ressurreição, de modo a poderem celebrar-Lhe uma festa e a Ele sacrificarem. Que salvação maravilhosa!

B. Faraó Simboliza Tanto o Satanás Usurpador Como o Nosso "Ego" Usurpado e Possuído Por Satanás

Chegamos agora à teimosia de Faraó (5:2, 4-9). Ele simboliza o Satanás usurpador e o nosso "ego" usurpado e possuído por Satanás. Porque o "ego" é Faraó de maneira muito prática, podemos ser um Faraó tanto para nós mesmos como para os outros. Um marido e uma esposa podem ser mutuamente um Faraó, e os pais podem ser um Faraó para com seus filhos. Um Faraó é alguém que impede o povo de Deus de celebrar ao Senhor. Cinco irmãos, por exemplo, podem viver juntos numa casa de irmãos. Três deles podem desejar ir a uma reunião da igreja como normalmente o fazem, mas os outros podem atrapalhá-los e encorajá-los a ficarem em casa. Ao agirem assim, esses dois irmãos se tornam Faraós. A todo momento em que impedimos os outros de celebrarem ao Senhor ou de a Ele sacrifi-carem, somos um Faraó. Os pais, por exemplo, podem ficar tão preocupados com a educação de seus filhos, que venham a proibi-los de ir às reuniões da igreja e exijam que dediquem um tempo excessivo ao estudo. Quando se comportam assim, eles são Faraós para com seus filhos.

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Às vezes, culpamos Satanás em demasia. Sim, o Satanás usurpador é Faraó de maneira objetiva. Mas nós somos Faraós de maneira prática, subjetiva. Podemos ser um Faraó para nós mesmos, não nos permitindo entrar no deserto para celebrar ao Senhor. Se observar sua experiência, perceberá que muitas vezes você mesmo se impediu de celebrar ao Senhor. Você se manteve distante das reuniões da igreja, talvez tendo o cansaço como desculpa para não ir à festa da igreja. Embora reclamasse, dizendo-se muito cansado para ir às reuniões, você estava pleno de energia para falar ao telefone. Não pense que hoje somente o próprio Satanás seja Faraó. Todos podem ser um Faraó. Sempre que é possuído e usurpado por Satanás, o "ego" se torna um Faraó subjetivo.

Contestou Deus-Jeová, Ignorou Sua Exigência e Não Permitiu Que Israel Partisse

O versículo dois registra a teimosia de Faraó de maneira pormenorizada: "Respondeu Faraó: Quem é Jeová para que lhe ouça eu a voz, e deixe ir a Israel? Não conheço Jeová, nem tão pouco deixarei ir a Israel" (hebraico). Observamos aqui que Faraó contestou a Deus-Jeová, ignorou Sua exigência e recusou deixar Israel partir. Até mesmo recusou reco-nhecer Jeová, negando-Lhe virtualmente a existência. Frequentemente, quando impe-dimos os outros de celebrarem ao Senhor, nós O contestamos e ignoramos Sua exigência. O mesmo ocorre quando colocamos obstáculos para que nós mesmos sacrifiquemos ao Senhor. De maneira bem prática, isso que dizer que, se ficarmos distantes das reuniões da igreja, seremos como Faraó, que contesta o Senhor. Para nós, cristãos, a reunião é um ponto de grande importância. Sempre que nos reunimos de acordo com a ordenação do Senhor, celebramos-Lhe uma festa e sacrificamos ao nosso Deus. Suponha que nós, cristãos, não tenhamos um reunir correto. O que o Senhor seria capaz de fazer na terra? Não seria capaz de fazer nada, nem receberia qualquer adoração verdadeira. Com isso vemos que o reunir correto dos cristãos é de extrema importância. Alguns dos filhos de Israel poderiam pensar que, uma vez libertos da mão de Faraó e do Egito, tudo estaria muito bem. Mas isso não seria verdade. O povo escolhido por Deus precisava não apenas de sair do Egito, mas também de celebrar uma festa para o Senhor no deserto e a Ele sacrificar. Por sua própria natureza, uma festa é algo coletivo. Ninguém pode realizar uma festa sozinho. Para que a façamos, precisamos juntar-nos a vários outros. Quanto mais pessoas houver, melhor será. Suponha que um jantar de muitos talheres seja preparado e posto na mesa de jantar de sua casa, e você então se sente e coma sozinho. Isso é uma festa? É claro que não! Para ser uma festa, você precisa convidar um grande número de pessoas, a fim de que comam com você. Se houver apenas umas poucas pessoas comendo, tal refeição ainda não será uma festa. Você precisa de um grande número de pessoas. No mesmo princípio, nenhum cristão poderá celebrar sozinho uma festa ao Senhor, ou com apenas uns poucos irmãos. Ele precisará ir a uma reunião correta de cristãos. Perder uma reunião da igreja é perder uma festa e privar-se de deleite. A perda que sofremos, ao agir assim, não é tão séria quanto a perda que Deus sofre. Se não vamos à festa, Deus não tem festa e não recebe o sacrifício. Que todos possamos ficar profunda-mente sensibilizados com a importância disso.

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2. Intensificou o Trabalho Deles Com Rigor

a. Não Lhes Deu Mais Palha No versículo sete, Faraó ordenou aos capatazes do povo e aos oficiais: "Daqui em diante não torneis a dar palha ao povo, para fazer tijolos, como antes. Eles mesmos que vão e ajuntem para si a palha". Em vez de deixar que Israel se fosse, Faraó na verdade aumen-tou-lhe a labuta com rigor. Ordenou até que não lhe dessem mais palha. Ocorre o mesmo em nossa experiência. Quando Deus hoje está para resgatar alguém do mundo, Satanás leva embora a "palha" desse indivíduo, isto é, priva-o do suprimento do mundo. Isso o força a trabalhar com mais rigor para ganhar a vida.

b. Exigiu Deles o Mesmo Número de Tijolo No versículo oito, Faraó disse: "E exigireis deles a mesma conta de tijolos, que antes faziam, nada diminuireis dela". Aqui observamos que, além de cortar o suprimento de palha, Faraó ainda exigia o mesmo número de tijolos. Isso indica que passou a ser muito mais difícil ao povo de Deus ganhar o sustento diário. Muitos cristãos têm experimentado algo assim. Após serem chamados por Deus, ficou-lhes ainda mais difícil do que antes ganhar a vida. Simplesmente por terem sido tocados por Cristo, Satanás leva embora a sua "palha", sem diminuir suas exigências. Por essa razão, torna-se-lhes ainda mais difícil ganhar a vida.

Condenou-os Por Estarem Ociosos Além disso, Faraó disse dos filhos de Israel: "Estão ociosos, e por isso clamam: vamos, e sacrifiquemos ao nosso Deus" (v. 8). De acordo com Faraó, por causa do ócio é que os israelitas queriam ir ao deserto sacrificar ao seu Deus. Aos olhos dos Faraós de hoje, principalmente dos opositores e dos incrédulos, nós, da restauração do Senhor, somos pre-guiçosos. Acusam-nos de ócio, por virmos tão frequentemente ao salão de reuniões da igreja ou do ministério da palavra. Condenam-nos, dizendo que não queremos trabalhar, estudar nem cuidar de nossos lares e famílias. De acordo com a compreensão deles, utili-zamos as reuniões como desculpa para o ócio.

d. Levou-os a Não Atentarem a "Palavras Vãs" No versículo nove, Faraó disse: "Agrave-se o serviço sobre esses homens, para que nele se apliquem, e não dêem ouvidos a palavras vãs" (hebraico). Faraó não queria que o povo de Deus levasse em conta aquilo que ele considerava como "palavras vãs". Tais "palavras vãs", todavia, eram na realidade a palavra de Deus. O mesmo ocorre atualmente. Os Faraós de hoje consideram a palavra de Deus como nada mais do que palavras vãs. Para eles, nós, que damos ouvidos à palavra de Deus, proferida nas reuniões da igreja e nas do ministério, estamos ouvindo palavras vãs. O que fazemos na vida da igreja pode ser ocioso aos olhos das pessoas do mundo; mas o que eles estão realizando é vaidade aos olhos de Deus. O Egito está cheio de negócios. Todo aquele que ainda está sob o cativeiro do Egito é muito atarefado. Mas logo que alguém seja resgatado do Egito e introduzido no deserto, ele se torna ocioso. O que você prefere: o negócio ou a ociosidade? Prefiro esse tipo de ociosidade. Embora eu, sem

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dúvida, não seja alguém preguiçoso, desejo estar naquilo que Faraó chama de ócio. Gosto, por exemplo, de limpar minha casa e de trabalhar no jardim. Mas, após despender algum tempo em limpeza e trabalho desse tipo, poderei ter que dizer: "Satanás, isso basta. Não farei mais nenhum trabalho agora. Pelo contrário, ficarei ocioso diante do Senhor". Como é bom ficar ocioso dessa maneira! Há uma hora em que todos deveremos dizer: "Satanás, basta. Agora é tempo de eu ficar ocioso." Ficar ocioso nesse sentido significa celebrar ao Senhor e sacrificar a Ele. Aos olhos das pessoas do mundo, a vida da igreja é uma vida de ócio. Na verdade, não estamos nem ociosos nem ocupados — estamos celebrando e sacrificando. Diante do Senhor, esse é o tipo correto de vida humana. A salvação de Deus consiste em resgatar-nos da ocupação e introduzir-nos na ociosi-dade. As pessoas de hoje estão muito ocupadas, zelando das coisas desta vida. Alguns são tão diligentes, que não têm tempo para celebrar ao Senhor. Precisamos estar livres desse trabalho, a fim de termos mais tempo para o ócio. Uma pessoa ociosa deverá ser treinada para estar ocupada. Alguém que esteja muito ocupado, todavia, deverá ser treinado para permanecer ocioso, isto é, a despender mais tempo com os irmãos nas reuniões da igreja. A vida crista não é uma vida de negócios mundanos; é uma vida de ócio correto. Não deveremos estar tão ocupados com as coisas desta vida, a ponto de negligenciarmos a palavra de Deus. Como nos regozijamos por sermos ociosos e levarmos em conta as "pa-lavras vãs" de Deus, proferidas nas reuniões da igreja! A fim de vivermos para Cristo, precisamos existir. Sem nossa existência humana, não poderemos viver Cristo. Mas hoje as pessoas do mundo caído não se preocupam com nada, exceto com sua existência; não se preocupam com o objetivo de sua existência. Existir é uma coisa, mas existir para o propósito divino é outra. O objetivo traçado por Deus para a nossa existência é viver Cristo, manifestar Deus e ter o Seu testemunho. Mas as pessoas deste mundo têm apenas a sua existência, não o objetivo dela. Fazem, enfim, da própria existência um objetivo em si. De nada sabem, a não ser da existência em si. Satanás agarra a existência dos seres ou do viver humano e a utiliza para enganar as pessoas de tal forma, que o mundo todo hoje só se preocupa com a existência, não com o objetivo de Deus nela. Todas as coisas necessárias à nossa existência humana precisam estar sob uma limitação divina. Tudo o que excede a nossa necessidade se torna mundano, "egípcio", algo de Faraó, e nos separa da economia do propósito de Deus. Em tudo, a economia de Deus deve ser o fator decisivo. O nosso viver não deverá ser como aquele dos "egípcios", das pessoas do mundo. Precisamos de um lugar onde viver e precisamos manter limpa a nossa casa. Mas, se continuamos nossa limpeza quando é hora de ir à reunião, nossa limpeza se torna "egípcia", algo à parte da economia do propósito de Deus. Estamos na terra não para limpar, mas para festejar ao Senhor. Até mesmo o tempo que despendemos com nossos filhos deveria ser decidido pela economia de Deus. Outros cristãos podem agir como as pessoas do mundo, mas nós temos que ser um povo santo, apartado. O nosso viver e a nossa existência dependem da provisão da fonte celestial, não do suprimento do mundo. Por esse motivo, precisamos de visão e precisamos do exercício de nossa fé. Moisés era um homem de grande fé, para guiar dois milhões de pessoas para fora do Egito, ao deserto, onde não havia suprimento terreno para a sua existência humana.

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C. O Resultado do Conflito

1. Israel Sofreu Mais Crueldade Chegamos agora ao resultado do conflito gerado pela exigência de Deus e pela teimosia de Faraó. O primeiro aspecto do resultado foi que Israel sofreu mais crueldade (5:10-21). Quanto mais intenso o conflito, mais sofreu o povo escolhido por Deus. Essa é a estratégia do inimigo. Não pense, entretanto, que o sofrimento crescente seja um sinal negativo. É, na verdade, um sinal positivo, porque indica que as negociações entre Deus e o inimigo estão ocorrendo, e que somos afetados por elas. O nosso sofrimento é um sinal de que Deus está efetivando a nossa libertação.

2. Moisés Ficou Atribulado e Desencorajado Os versículos 22-23 indicam que Moisés se aborreceu e se desencorajou. E até pergun-tou ao Senhor por que o enviara. E ainda Lhe disse: "e tu de nenhuma sorte livraste o teu povo". Muitos de nós já tivemos experiências semelhantes. Quanto mais ministramos Cristo aos outros, mais eles sofreram. Isso nos levou a ficarmos aborrecidos e desani-mados. O nosso conceito é que, se ministrarmos de maneira correta, os outros serão aben-çoados. Achamos que os mortos serão ressuscitados, os doentes curados, os fracos forta-lecidos e os pobres enriquecidos. A situação, contudo, frequentemente se opõe ao que prevemos. Posso categoricamente testificá-lo de minha própria experiência. Muitas vezes, fiquei atribulado, como Moisés. Às vezes, eu ia ao Senhor e dizia: "Senhor, o que aconteceu? Tu me ordenaste ministrar esse ponto ao Teu povo. Parece-me que devias abençoá-lo e colocar Teu selo sobre o meu ministério. Mas quanto mais eu ministro às pessoas, mais dificuldades elas têm. Senhor, estou errado em algum ponto? Não compreendo o que está acontecendo."

3. Deus-Jeová Reconfirmou o Seu Nome e a Sua Aliança

Depois que Moisés expressou o seu desapontamento e perturbação ao Senhor, Deus-Jeová veio reconfirmar o Seu nome e a Sua aliança (6:1-8). Deus lhe disse: "Eu sou JEOVÁ. Apareci a Abraão, a Isaque, e a Jacó, como o Deus Todo-suficiente; mas pelo meu nome, JEOVÁ, não lhes fui conhecido. Também estabeleci a minha aliança com eles, para dar-lhes a terra de Canaã, a terra em que habitaram como peregrinos". (6:2-4, hebraico). O que é mais precioso do que a reconfirmação do nome de Deus e da Sua aliança? Por Sua reconfirmaçao, Moisés foi fortalecido e encorajado, tanto para voltar a Faraó como para falar novamente aos filhos de Israel. Em resumo, o nome do Senhor é aquilo que Ele próprio é, e a Sua aliança é Sua palavra proferida com uma promessa e confirmada com um juramento. Uma palavra dita de maneira vulgar não é uma aliança; mas uma palavra proferida com uma promessa e confirmada com um juramento se torna uma aliança (Veja Estudo-Vida de Hebreus, Mensagem 36). Deus falou a Abraão; depois falou com uma promessa referente à boa terra, promessa que foi confirmada repetidas vezes. Por fim, realizou-se um juramento, de modo que houve um acordo, um contrato, feito por Deus, firmado entre o próprio Deus e Abraão: a palavra prometida por Deus tornou-se uma afiança (Gn 15). A circuncisão foi um penhor dessa aliança (Gn 17).

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Podemos hoje experimentar o Deus que reconfirma Seu nome e Sua aliança. Às vezes, depois de eu me queixar ao Senhor, Ele me confirmava o Seu nome com a lembrança de que Ele é o "Eu Sou", o único ser auto-existente. Nessas horas de reconfirmação, o Senhor parecia dizer: "Não posso falhar jamais. Eu cumpro tudo o que digo. Eu sou, mas os so-frimentos não são. Não creia em sua situação — creia naquilo que Eu Sou." Em horas como essas. Ele também nos reconfirma a Sua aliança.

4. Israel Não Deu Ouvidos a Moisés Em 6:6-8, o Senhor disse a Moisés algumas palavras muito encorajadoras, para que ele as repetisse aos filhos de Israel. Deus queria que Moisés lhes dissesse que os libertaria da opressão dos egípcios, os redimiria com braço estendido, os tornaria para Si como povo e os introduziria na terra que prometera dar a Abraão, Isaque e Jacó. O versículo nove, toda-via, afirma: "Desse modo falou Moisés aos filhos de Israel, mas eles não atenderam a Moisés, por causa da estreiteza de espírito e da dura escravidão" (hebraico). O espírito deles estava esgotado por causa de seus sofrimentos. Por isso eles não podiam levar em consideração a palavra de Deus dita por Moisés. Em sua falta de espírito, o povo de Deus era como um carro sem gasolina. Quando temos falta de espírito, não conseguimos suportar qualquer tipo de cativeiro nem sofrimento. Por essa razão, precisamos orar, para que o nosso espírito seja preservado e suprido. Precisamos pedir ao Senhor que nos guarde de termos falta de espírito. Nesta mensagem, analisamos o conflito entre Deus e o Seu inimigo. Faraó, que tipifica Satanás objetivamente e o "ego" usurpado e possuído por Satanás subjetivamente. Deus quer que façamos uma viagem de três dias ao deserto, a fim de que possamos celebrar-Lhe e a Ele sacrificar. Mas Satanás e o "ego" se levantam para contestarem Deus e para se recusarem a deixar-nos ir. Todavia, por causa da salvação completa do Senhor, muitos de nós fomos libertos do cativeiro do Egito e agora estamos no deserto, desfrutando da festa e oferecendo sacrifício ao nosso Deus.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM QUATORZE

O NOME DE JEOVÁ DEUS E A SUA ALIANÇA

Após o primeiro conflito entre Deus e Faraó, Moisés, o representante do primeiro, ficou atribulado e desencorajado (5:22-23). Em 6:1-8, Deus lhe disse uma palavra forte sobre o Seu nome e a Sua aliança. Por nos faltar ainda a experiência do nome de Deus e da verda-deira percepção da Sua aliança, precisamos atentar a esses pontos nesta mensagem.

I. O NOME DE JEOVÁ DEUS

A. O Seu Nome Indica a Sua Pessoa Observaremos, primeiramente, o nome de Jeová Deus. O Seu nome mostra a Sua Pessoa. Não é um título vazio, mas, ao contrário, é a definição do que Ele é.

B. "El-Shaddai" Em 6:3, Deus disse a Moisés: "Apareci a Abraão, a Isaque, e a Jacó, como o Deus Todo-suficiente; mas pelo meu nome, JEOVÁ, não lhes fui conhecido" (hebraico). Por anos a fio, fiquei intrigado com esse versículo. Sabia que, de acordo com determinados versículos de Gênesis, Abraão, Isaque e Jacó se familiarizaram todos com o nome Jeová (Gn 12:4; 26:25; 325). Como poderíamos conciliar tais versículos com a palavra do Senhor em Êxodo 6:3? A resposta está no fato de que uma coisa é conhecer um determinado nome, e outra é co-nhecer a Deus pelo Seu nome verdadeiro. As pessoas, em todo o mundo, por exemplo, conhecem o nome de Jesus. Nem todos os que conhecem esse nome, contudo, conhecem também o Senhor desse nome. Conhecer o nome de Jesus é uma coisas; mas conhecer o Senhor Jesus pelo Seu nome, através da experiência, é outra. Jesus significa "Jeová, o Salvador''. As pessoas podem estar familiarizadas com o nome de Jesus, mas podem não ter experiência com Jeová, o Salvador. Era essa a minha situação antes de ser salvo. Nasci no seio do cristianismo e minha mãe me ensinou a história de Jesus. Até mesmo falei de Jesus aos outros, e defendi o cristianis-mo contra os ataques. Eu mesmo, entretanto, não tinha experiência de Jesus como Jeová, o Salvador. Conhecia o nome, mas ainda não conhecia o Senhor daquele nome. No mesmo princípio, Abraão, Isaque e Jacó conheciam o nome "Jeová", mas não conheciam o Deus desse nome. Eles, entretanto, conheciam em realidade o Senhor como o Deus Todo-suficiente, isto é, como El-Shaddai. "El" significa "o Poderoso", e "Shaddai" significa "seio" ou "úbere". Esse título divino, por conseguinte, indica que Deus é forte e todo-suficiente. Nessa condição. Ele é o Deus que supre (Gn 17:1; 28:3) e que promete (Gn 35:11).

C. Jeová Assim como El-Shaddai é o nome de Deus para o suprimento e a promessa, assim também Jeová é o Seu nome para a existência e o cumprimento. Como Jeová, Ele é o Deus

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que existe (ÊX 3:14; Jo 8:24, 28, 58) e que cumpre (ÊX 6:6-8). Abraão, Isaque e Jacó morreram sem desfrutar do cumprimento da promessa (Hb 11:13). Em sua experiência, Deus era o Todo-suficiente, mas não era Jeová. Ele lhes era o Deus que prometia, mas não era o Deus que cumpria. Quando falou a Moisés em 6:1-8, Deus não falou como El-Shaddai, o Deus que promete, mas como Jeová, o Deus que cumpre. Ele aqui não fez a Moisés uma promessa acerca da boa terra; pelo contrário, veio para cumprir a promessa feita a Abraão, Isaque e Jacó. Ao fazer uma aliança com Abraão, em Gênesis 15, Ele indicara nos versí-culos 13-14 que quatrocentos anos se passariam antes que se cumprisse a promessa referente à boa terra. Esse tempo se completou quando Moisés tinha oitenta anos. Isso indica que o que fora uma promessa para Abraão haveria de ser um cumprimento para Moisés e para os filhos de Israel. Por isso, no capítulo seis. Deus veio a Moisés e aos filhos de Israel não como o Deus Todo-suficiente, mas como Jeová. Para ser o Deus que cumpre. Ele precisa ser o Deus que existe; isto é, Ele precisa ser Aquele que auto-existe. Num sentido absoluto, o verbo "ser" somente a Ele se aplica. Esse verbo é um componente básico do nome "Jeová". Neste universo, somente Ele auto-existe. Como Aquele que prometeu. Ele é El-Shaddai; mas, como Aquele que cumpre Sua promessa. Ele é Jeová, Aquele que é. A existência de Deus de nada depende, além de Si mesmo. Ele existe eternamente, não tendo começo nem fim. Como Jeová, Ele simples-mente é. Aproximadamente há quatrocentos anos, Deus fizera uma promessa a Abraão acerca da boa terra. A Sua promessa ainda não se cumprira para o próprio Abraão, porque ele ainda não ressuscitara. Se Deus não fosse Aquele que auto-existe e que existe para sempre, a promessa feita centenas de anos atrás não poderia cumprir-se. Entretanto, porque Ele é e sempre será, não pode deixar de cumprir Sua promessa. Neste universo, existe Alguém que é, e esse Alguém é o Deus que cumpre. Tudo o que Ele diz acontecerá. Jeová cumprirá Sua palavra. Abraão, Isaque e Jacó experimentaram Deus como o Deus que supre e como o Deus que promete. Eles o conheceram pelo nome de El-Shaddai. Mas, por não receberem o cumpri-mento da promessa, não O conheceram pelo nome de Jeová, embora — como já enfati-zamos — conhecessem esse nome. Morreram na fé, sem receber o cumprimento da pro-messa. Mas, em Êxodo 6, Deus veio para cumprir Sua promessa feita a Abraão, Isaque e Jacó. Por essa razão. Ele disse a Moisés: "Eu Sou Jeová" (6:2, hebr.). Isso significa que Ele falou a Moisés e, através deste, aos filhos de Israel como Jeová, Aquele que é. Por anos a fio, tive dificuldade para compreender João 8. Por três vezes, nesse capítulo, o Senhor Jesus referiu-se a Si mesmo como "Eu Sou" (v. 24,28,58). No versículo 58, Ele declarou: "Em verdade, em verdade eu vos digo: Antes que Abraão existisse, eu Sou". Como o grande "Eu Sou", o Senhor é o Deus eterno, que sempre existe. Assim, Ele é antes de Abraão. Espiritualmente falando, João 8 pode ser comparado a Êxodo 3, onde o Senhor Se revela a Moisés como o "Eu Sou" (v. 14). Já enfatizamos que o nome "Jesus" significa "Jeová, o Salvador". Não significa "El-Shaddai, o Salvador". Aquele que veio para ser o nosso Salvador é Aquele que existe para sempre, Aquele que é. Veio para cumprir todas as promessas feitas por Deus a Seu povo. Por esse motivo, Jesus não veio para prometer, mas para cumprir. Isso quer dizer que Ele não veio como El-Shaddai, mas como Jeová. No mesmo princípio, Deus veio a Moisés como Jeová, não como El-Shaddai. Parece que o Senhor dizia: "Moisés, seus antepassados Me conheceram pelo nome de El-Shaddai. Mas agora quero que você Me conheça e Me experimente com um outro nome — Jeová, o nome Daquele que é. Cumprirei tudo o que prometi."

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O Senhor falou desse modo a Moisés, porque este se queixara a Ele por causa do resultado de suas negociações com Faraó. Moisés lhe dissera que Faraó maltratara o povo. Além disso, falou mais: "e tu de nenhuma sorte livraste o teu povo" (5:23). Por isso, Deus lhe disse ser Ele Jeová. Desejava que Moisés e todos os filhos de Israel O conhecessem por esse nome e O experimentassem como o Deus que existe e como o Deus que cumpre. Enquanto encorajava Moisés, o Senhor parecia dizer: "Moisés, não fique atribulado nem desencorajado. Você precisa perceber que estou aqui não apenas como El-Shaddai, mas como Jeová. Chegou a hora de você Me experimentar como "Eu Sou". Como Jeová, Aquele que é eternamente, cumprirei a Minha aliança." Quando veio a Moisés, Deus não lhe veio como El-Shaddai, mas como Jeová. Não veio para prometer, mas para cumprir a promessa já feita. Por esse motivo, não havia necessidade de Moisés ficar decepcionado nem desencorajado. Deus interveio na situação como Aquele que existe e cumpre. Isso não deveria ser-nos mera doutrina; deveria tornar-se nossa experiência de maneira prática. Na restauração do Senhor, hoje, não estamos no estágio da promessa, mas no estágio do cumprimento. Esse estágio inclui o cumprimento das promessas feitas tanto no Antigo como no Novo Testamento. Uma promessa do Novo Testamento é a palavra do Senhor: "Edificarei a minha igreja" (Mt 16:18). Essa palavra está se cumprindo hoje entre nós. Isso quer dizer que estamos experimentando o Senhor não apenas como El-Shaddai, mas também como Jeová. Precisamos confessar, entretanto, que em nosso viver diário nos falta a experiência do Senhor como o grande "Eu Sou". Embora gostemos de cantar o hino que fala das riquezas de Cristo (Hino 542), dia a dia podemos ainda permanecer na pobreza. Quanto você experimenta de Deus como Jeová? É bem mais fácil conhecê-Lo pelo nome de El-Shaddai e declara-Lo rico, todo-poderoso e todo-suficiente. Todavia, é outra coisa bem diferente ter a experiência real do "Eu Sou". Se quisermos conhecer a Deus pelo nome de Jeová, precisare-mos ter experiência. Caso contrário, seremos como Abraão, Isaque e Jacó, que conheceram esse nome sem dele ter qualquer experiência. Há mais de quarenta anos, a igreja foi levantada em minha cidade natal. Eu estava muito ocupado com o meu emprego numa grande companhia. Além disso, os afazeres da igreja requeriam muito do meu tempo. Era-me necessário falar nas reuniões da igreja ao menos quatro vezes por semana. A bênção do Senhor estava sobre nós, e o número de irmãos crescia. Fiquei cada vez com mais encargo para desistir do meu emprego e servir o Senhor em tempo integral. Por alguns meses, levei-Lhe esse assunto repetidamente, mas não fui capaz de decidir. Porque o Senhor não me deixava, eu não podia comer nem dormir bem. Por fim, atingi o ponto em que não podia mais continuar, enquanto esse problema não fosse resolvido. Certa noite, enquanto conversava com o Senhor, Ele me fez lembrar que eu Lhe prometera servi-Lo em tempo integral. Disse-lhe que fizera aquela promessa antes de ter esposa e filhos. Agora, eu estava muito preocupado em como pode-ria sustentar minha família se tivesse que deixar meu emprego para servi-Lo. Antes daquele tempo, cheguei a conhecer Suas promessas concernentes à Sua provisão. Eu soubera que, se buscássemos o reino de Deus e a Sua justiça, tudo o que precisássemos nos seria acres-centado. Todavia, não conhecera a Deus como o Deus que cumpre. Naquela noite, o Senhor não apenas me revelou Sua palavra, mas também revelou a Si mesmo como Aquele que cumpre as Suas promessas. Ele depois me deu um ultimato: escolhe-Lo ou não. Quando me levantei, disse com lágrimas: "Senhor, eu Te escolho". Quando me le-vantei, senti interiormente que a questão estava resolvida. Daquele instante até o presente momento, o Senhor tem sido real para mim como o Deus que cumpre. Experimentei-O re-petidas vezes como o "Eu Sou". Por ser Ele o Eu Sou, Jeová nunca falha. Ele jamais cessa de

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existir; Ele é, e sempre será. Com base nos meus anos de experiência, posso testificar que Deus é. Aleluia, podemos conhece-Lo não só como o Deus todo-suficiente, mas também como Aquele que é. Jovens, o meu encargo nesta mensagem destina-se principalmente a vocês. Sou grato ao Senhor pela fidelidade de vocês para com a Sua restauração. Mas percebo que há uma longa jornada à frente de vocês e que muitas provas e testes os esperam. Quero testificar-lhes que o Deus a quem vocês estão servindo não é somente El-Shaddai, mas é também Jeová. Ele não é apenas Aquele que é suficiente e que promete, mas é também Aquele que existe e cumpre. Por ser Ele Aquele que é, há de cumprir tudo o que prometeu. Posso não ser capaz de manter a minha palavra, porque posso deixar de existir. Mas, porque Jeová existe eternamente e por ser Ele a realidade do verbo "ser", há de cumprir tudo o que disse. Quando encontrarem testes, provas e dificuldades, vocês deverão dizer: "Senhor, Tu és. Meus problemas terminarão, mas Tu, Senhor, serás para sempre". Faraó era muito mais poderoso do que os filhos de Israel. Todavia, pouco depois, ele se tornou nada. Pôde resistir ao Senhor somente por pouco tempo. Depois que ele deixou de ser, Jeová ainda era. No capítulo seis, o Senhor encorajou Moisés, levando-o a conhecê-Lo como Jeová. O Senhor parecia dizer: "Moisés, você precisa conhecer-Me pelo nome de Jeová. Você precisa conhecer-Me de acordo com o Meu ser, de acordo com a minha existência. Sendo Eu o grande "Eu Sou", por que haveria você de ficar desanimado?" O Senhor aqui o estava treinando a experimentá-Lo e conhecê-Lo pelo nome de Jeová. Você experimenta o Senhor somente como El-Shaddai, ou você também O experimenta como Jeová? Quando tiver uma necessidade ou estiver em dificuldade, não louve somente o Senhor por Sua riqueza e suficiência. Você também deverá louvá-Lo por ser Ele Aquele que é. Não apenas Lhe agradeça por ser Ele capaz e poderoso, mas declare com ousadia: "Senhor, Tu és." Quando se acham em situação de necessidade, muitos cristãos oram ao Senhor como Aquele que é suficiente. Mas você já ouviu os cristãos louvarem o Senhor por Sua existência eterna? Ele está desejoso de alguns que proclamem: "Senhor, Tu és!" Precisamos ser aqueles que O louvam dessa maneira. Não deveríamos simplesmente agradecer ao Senhor por Sua riqueza, suficiência e capa-cidade. Se recebermos Sua revelação como o Eu Sou, oraremos de maneira nova. Quando o problema vier, iremos ao Senhor e Lhe diremos: "Senhor, aqui está um problema, mas Tu és. Tu és o Eu Sou, e eu creio em Ti."

A ALIANÇA DE JEOVÁ DEUS Continuaremos agora com a aliança de Jeová Deus. Em Gênesis 12, Deus fez uma promessa a Abraão. Em Gênesis 15, essa promessa se tornou uma aliança, e, em Gênesis 17, a circuncisão foi utilizada como penhor dessa aliança. Por essa razão, o que Deus fez a Abraão, ao final, não foi apenas uma promessa, mas também uma aliança com um penhor. A promessa de Deus é a Sua palavra (Rm 9:9). Sempre que Ele diz que nos fará algo, essa palavra é uma promessa. Quando, porém, se adiciona o juramento à promessa, torna-se esta uma aliança, que garante a palavra de Deus. Tal aliança é como um contrato. Em 6:8, o Senhor disse a Moisés: "E vos levarei à terra, acerca da qual levantei a mão para dar a Abraão, a Isaque e a Jacó; e vo-la darei como herança. Eu sou Jeová" (hebraico). A promessa que o Senhor fez a Abraão, a Isaque e a Jacó foi uma aliança realizada pelo levantar de Sua mão. Levantar a mão dessa maneira era fazer um juramento. Em Gênesis 14, Abraão disse ao rei de Sodoma que ele levantara sua mão ao Deus altíssimo para não

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tirar nada dele (v. 22-23, hebraico). Isso quer dizer que Abraão fizera juramento referente àquele ponto em particular. No Antigo Testamento, a mão era levantada quando se fazia uma aliança. Mas, no Novo Testamento, a Pessoa inteira do Senhor Jesus foi levantada. Em João 8:28, o Senhor Jesus disse: "Quando levantardes o Filho do homem, então sabereis que eu sou". Ao ser levantado o Senhor Jesus, Deus proferiu um grande juramento, o qual fez com que Suas promessas se tornassem uma nova aliança. Nos quatro evangelhos, o Senhor fez muitas promessas. Ao ser levantado na cruz, tais promessas se tornaram a nova aliança. Agora, o Novo Testamento inteiro é uma aliança, um contrato assinado e avali-zado pelo Cristo que foi erguido. O Senhor foi elevado não apenas até à cruz, mas, por fim, ao trono de Deus no terceiro céu. Ele está agora sentado no trono como símbolo do maior dos juramentos do universo. Esse juramento foi feito em dois estágios: por ter sido o Senhor elevado primeiramente à cruz, e depois ao trono. Aleluia, Este, cujo ser inteiro foi levantado, está agora no trono! Por esse motivo, o que hoje temos em mãos não é uma promessa, mas uma aliança. Ao falar a Moisés sobre a aliança, Deus parece ter-lhe dito: "Moisés, você não percebe que fiz uma aliança com seus ancestrais? Levantei a Minha mão para introduzir o Meu po-vo na boa terra. Você acha que Faraó pode impedir-Me de levar Meu povo até à terra prometida? Moisés, não desanime. Eu sou, mas Faraó não é. Eu sou Jeová para cumprir a Minha aliança. Introduzirei Meu povo na boa terra e lha darei por herança. Moisés, reanime-se com a Minha aliança e com o Meu novo nome." Hoje também temos o nome do Senhor e a Sua aliança. O que estamos fazendo em Sua restauração não está de acordo com nossa imaginação, mas de acordo com a aliança de Deus. No passado, dissemos ao Senhor que o que praticávamos estava de acordo com Sua palavra. De agora em diante, precisamos dizer-Lhe que o que fazemos está de acordo com Sua aliança, a mesma aliança que Ele jurou cumprir. Ao lutarmos pelos Seus interesses, não só permanecemos com Sua Palavra pura, mas também com Sua aliança. Essa aliança foi avalizada quando o Senhor Jesus foi elevado à cruz e ao trono. Alguns afirmam ser impossível praticar hoje a vida da igreja. Também afirmam ser impossível ao Senhor ter a Sua restauração. Não parecem perceber que a restauração do Senhor foi prometida em Sua aliança. Desejo realçar o fato de que a restauração não está de acordo com o nosso pensamento, previsão ou imaginação. Nem mesmo está de acordo com a nossa visão. A restauração do Senhor está integralmente de acordo com a Sua aliança. Nessa aliança, o Senhor Jesus disse: "edificarei a minha igreja" (Mt 16:18). Ao longo dos anos, o inimigo tem tentado destruir a restauração. Mas, por estar ela de acordo com a aliança de Deus, não pode ser destruída. Reconhecemos que o caminho da restauração do Senhor não é fácil. O mesmo ocorreu com os filhos de Israel no livro de Êxodo. Antes de serem libertos do cativeiro, houve muitos conflitos entre Deus e Faraó. Não se tratou facilmente com Faraó. No mesmo princípio, também não se trata facilmente com o Faraó de hoje — Satanás e o "ego" usurpador e possuído por ele. As vezes podemos estar desanimados, exatamente como Moisés e os filhos de Israel. Nessas horas, precisamos lembrar-nos de Jeová e de Sua aliança. Como é estranho que Deus não tenha aniquilado Faraó com um sopro! Pelo contrário, Ele propositadamente se envolveu em conflito com ele. Até mesmo deliberadamente fez com que seu coração se endurecesse. Se fosse Moisés, eu diria: "Senhor, já que endureceste o coração de Faraó, por que me enviaste?" Ao tratar assim com Faraó, o Senhor estava trei-nando Moisés e os filhos de Israel, para O conhecerem pelo nome de Jeová e para conhece-

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rem a Sua aliança. Não importa qual tenha sido a intensidade do combate; Jeová, por fim, cumpriu Sua aliança. Não fique aborrecido com qualquer oposição que se faça à restauração do Senhor, nem fique desanimado quando a religião se levantar contra nós. O Faraó de hoje pode lutar, re-sistir e retardar; mas, por fim, não poderá prevalecer contra o Senhor e a Sua restauração, porque temos o nome do Senhor e a Sua aliança. Não estamos envolvidos numa obra cristã vulgar. O objetivo da restauração do Senhor é edificar a igreja de acordo como o nome de Deus e a Sua aliança. Lembre-se de que o Senhor foi elevado à cruz e ao trono. Ele está agora no trono como sinal seguro de que Sua aliança foi avalizada. Como Jeová, o Salvador, o grande Eu Sou, Ele haverá de cumprir Sua aliança e introduzir-nos na boa terra.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM QUINZE

O TREINAMENTO ADICIONAL QUE DEUS PROPORCIONOU A MOISÉS

Nesta mensagem, consideraremos o treinamento adicional que Deus proporcionou a Moisés (6:1 a 7:7). Após o primeiro conflito com Faraó, Moisés sentiu que havia falhado. Deus o enviara para proferir Sua palavra a Faraó. Todavia, em vez de atentar a essa palavra, Faraó se tornou ainda mais perverso em seu tratamento para com os filhos de Israel; e o povo se queixou a Moisés. Este, sentindo-se derrotado, queixou-se por sua vez ao Senhor: "ó Senhor, por que afligiste este povo? Por que me enviaste: Pois desde que me apresentei a Faraó, para falar-lhe em teu nome, ele tem maltratado este povo: e tu de nenhuma sorte livraste o teu povo" (5:22-23). A reação de Moisés mostrava-o necessitado de um treinamento adicional. Deus não o enviaria novamente a Faraó antes de lhe propiciar um melhor preparo. Já enfatizamos que o chamamento que Deus lhe fez nos capítulos três e quatro deste livro é o mais completo de toda a Bíblia. À época em que o chamou, Deus gastou com ele muito tempo, e Moisés tanto recebeu revelação como instrução. Tomou a palavra de Deus e fez tudo o que Ele o incumbira de realizar. As coisas, todavia, não aconteceram como ele esperava. Para sua surpresa, ele foi derrotado. Faraó saiu vitorioso, e os filhos de Israel sofreram todas as consequências. Esse foi o motivo pelo qual ele se queixou ao Senhor acerca da situação. Em Seu treinamento adicional dispensado a Moisés, o Senhor procurou sensibilizá-lo com o Seu nome e a Sua aliança. Lembrou-lhe ser Ele Jeová, Aquele que era, que é, e que há de ser. Também o lembrou da Sua aliança feita com Abraão, Isaque e Jacó concernente à boa terra. Disse-lhe que Ele estendera a Sua mão para dar a boa terra à sua descendência. Ao falar a Moisés sobre essas duas coisas. Deus o estava treinando para conhecer Sua pessoa e Sua palavra fiel em Sua aliança. Além de lhe falar de Seu nome e de Sua aliança, o Senhor lhe propiciou um treinamento adicional sobre seis outros pontos. O primeiro deles foi a Sua palavra de certeza. Precisa-mos atentar à Sua palavra de certeza, a palavra que Ele nos fala repetidas vezes. Se quisermos hoje seguir o Senhor, para levar adiante o Seu testemunho em Sua restauração, precisamos aprender a levar em consideração Sua repetida palavra de certeza. Mas, quando vem essa palavra, poucos servos de Deus a reconhecem. O segundo ponto foi a descrença dos filhos de Israel. De acordo com o nosso conceito natural, aqueles a quem somos enviados deveriam ser como a casa de Cornélio, apropria-damente preparados e prontos para acatar nossa palavra. Imaginamos que, se Deus nos envia para falar a algumas pessoas em determinado lugar, os seus corações estarão abertos para receber tudo o que dissermos. Todavia, por causa de sua descrença, os filhos de Israel não deram ouvidos a Moisés. Em vez de ser encorajado por eles, Moisés foi distraído, desencorajado, e ficou decepcionado. Aqui há uma lição para nós. Se formos escolhidos por Deus para guiar certas pessoas, não deveremos esperar que elas sejam positivas em relação a nós. Suponha que Deus o estabeleça por presbítero de determinada igreja. Não pense que os daquela igreja haverão de ser positivos com relação a você ou que crerão em tudo o que você disser. Pelo

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contrário, esteja preparado para enfrentar a incredulidade daqueles a quem você é enviado. Em terceiro lugar, Moisés precisava ser treinado com respeito à teimosia de Faraó. Este não foi facilmente subjugado. Se fôssemos Moisés naquela situação e tivéssemos que enfrentar a teimosia de Faraó, sem dúvida ficaríamos desanimados. Em quarto lugar, Moisés precisava ser treinado com relação ao seu conceito natural. Observa-se isso por dizer ele ter lábios incircuncisos e haver negligenciado a palavra de certeza de Deus. Em 6:12, ele pediu ao Senhor: "Eis que os filhos de Israel não me têm ouvido; como, pois, me ouvirá Faraó? E não sei falar bem". Essa pergunta levou o Senhor a lhe dar uma longa palavra de certeza. Mas, mesmo após ser proferida tal palavra, Moisés ainda retrucou: "Eu não sei falar bem; como, pois, me ouvirá Faraó?" (v. 30). Isso indica que ele estava apegado à sua própria capacidade natural, negligenciando a palavra de certeza de Deus. Observamos que nem os filhos de Israel nem Faraó deram ouvidos ao Senhor. Aqui percebemos que nem mesmo Moisés Lhe deu ouvidos. Em Seu treinamento adicional dispensado a Moisés, Deus também lhe falou fortemente sobre a Sua incumbência. Moisés fora escolhido e comissionado por Ele para ser Seu repre-sentante. Finalmente, Deus o treinou com referência à Sua forte mão e Seus grandes julgamentos (7:4). Por isso o último item do treinamento de Deus é a Sua mão, que sustenta o Seu no-me, Sua aliança e Sua palavra de certeza. É a Sua forte mão que derrota Faraó e os egípcios e que convence a todos — inclusive aos filhos de Israel — de que Deus é Jeová. Pelo lado positivo, o treinamento adicional que Deus dispensou a Moisés abordou cinco aspectos: Seu nome, Sua aliança, Sua palavra de certeza, Sua ordenação e Sua mão forte. Pelo lado negativo, esse treinamento abrangeu três pontos: a incredulidade dos filhos de Israel, a teimosia de Faraó e o conceito natural de Moisés. Como enviados que somos, todos precisamos conhecer esses cinco itens positivos e esses três negativos. Precisamos aprender que o povo escolhido por Deus está cheio de incredulidade, que o inimigo é teimoso e que nós somos naturais. Temos, todavia, o nome de Deus, a Sua aliança, a Sua palavra de certeza, o Seu comissionamento e a Sua mão forte. Após o treinamento adicional que lhe foi dispensado nos capítulos seis e sete, Moisés não recebeu nenhum outro treinamento. Antes, ele parecia ter-se graduado no treinamento de Deus ao final do capítulo quatro. Mas não tinha nenhuma experiência. Por causa dessa falta de experiência, precisou ser submetido a um treinamento adicional. Só no capítulo sete é que ele realmente se diplomou na escola de treinamento de Deus. Para podermos todos aprender através do treinamento adicional que lhe foi dispensado, consideraremos agora um por um os seus seis aspectos, abordados de 6:1 a 7:7.

l. A PALAVRA DE CERTEZA DE DEUS Na última mensagem, abordamos dois dos aspectos positivos do treinamento adicional de Deus: o Seu nome e a Sua aliança. Agora, nesta mensagem, começaremos com a palavra de certeza de Deus.

A. Para Livrar os Filhos de Israel do Cativeiro Egípcio Deus assegurou a Moisés que os filhos de Israel seriam libertos do cativeiro egípcio (6:1, 6-7; 7:5). Essa foi uma palavra de certeza, diferente da palavra de promessa. Ao dar certeza a Moisés, Deus parecia dizer: "Moisés, esqueça-se da incredulidade do povo, de Faraó e da

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condição de seus lábios. E seja sensibilizado pela Minha palavra de certeza. Eu sou Jeová, e Me lembro da aliança que firmei. De acordo com ela, sem dúvida hei de libertar os filhos de Israel da terra do Egito. Moisés, creia nessa palavra de certeza e preocupe-se com ela. Asseguro-lhe que Meu povo escolhido será libertado."

B. Para Obtê-los a Si Como Povo Em 6:7, o Senhor afirmou: "Tomar-vos-ei por meu povo, e serei vosso Deus". Deus aqui assegurou a Moisés que tomaria para Si, como povo, os filhos de Israel e que lhes seria Deus. O Senhor não queria que Moisés lhe falasse da intensa maldade do povo nem de como eles se recusavam a dar ouvidos à sua palavra. Pelo contrário, queria que Moisés cresse e declarasse que os filhos de Israel eram o melhor povo da terra. O Senhor os amava; eles eram o Seu tesouro especial. Se fôssemos Moisés, provavelmente discutiríamos com o Senhor por causa de Seu povo. Poderíamos dizer: "Senhor, não os tomes como povo. Posso testificar por experiência própria que eles não são bons em absoluto. Provavelmente eu sou o único obediente a Ti". Não importa como o povo parecia aos olhos de Moisés; Deus lhe assegurava que eles eram o Seu povo escolhido. Aos Seus olhos, eram excelentes.

C. Para Levá-los a Saber Que Ele é Jeová, Seu Deus No versículo sete, o Senhor também afirmou: "E sabereis que eu sou Jeová vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas do Egito" (hebraico). O Senhor faria todo o necessário para levar os filhos de Israel a saber que Ele era Jeová, seu Deus. Para que Moisés o soubesse, Ele repetiu várias vezes as palavras: "Eu sou Jeová".

D. Para Fazer Deles os Seus Exércitos Além disso, o Senhor assegurou a Moisés que faria dos filhos de Israel os Seus exércitos (6:26; 7:4). Isso quer dizer que Ele os utilizaria para travarem a batalha por Ele. Que pa-lavra de certeza foi essa!

E. Para Introduzi-los Na Terra Prometida Finalmente, em 6:8, o Senhor disse: "E vos levarei à terra, acerca da qual levantei a mão para dar a Abraão, a Isaque e a Jacó; e vo-la darei como herança: Eu sou Jeová" (hebraico). O Senhor não queria ouvir qualquer queixa contra o Seu povo escolhido. Ele os tornaria para Si como povo. E os faria Seus exércitos, e os introduziria na boa terra, como promete-ra. Essa era a palavra de certeza dita por Deus a Moisés. Falando naturalmente, o que Moisés disse ao Senhor com respeito aos filhos de Israel e a Faraó era verdadeiro. Mas Deus não acreditava na situação. Pelo contrário, acreditava em Si mesmo, na Sua aliança e na Sua palavra de certeza. E também acreditava no que Sua mão poderosa era capaz de efetuar. Por fim, Ele fez dos filhos de Israel os Seus exércitos. Veja o que aconteceu na conquista de Jericó. Enquanto os filhos de Israel marchavam à volta da cidade, os anjos no céu deviam estar regozijando-se ao verem derrotar ao inimigo de Deus o exército que Ele para Si ganhara. Por crer no que era capaz de realizar, Ele não atentava para a situação externa referente à descrença de Seu povo e à teimosia de Faraó.

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A palavra de certeza do Senhor dita a Moisés deveria ser-nos um encorajamento na restauração do Senhor. Alguns dizem ser impossível ter hoje a restauração da vida da igreja. Todavia, se a restauração da vida da igreja não é possível, o Senhor Jesus então não tem um modo como voltar. Com vistas à Sua volta, Ele precisa de que a igreja seja edificada. Somente a igreja edificada segundo o desejo de Deus pode ser a pedra de apoio que introduz a era do reino. Em Mateus 16:18, o Senhor disse: "Edificarei a minha igreja". Por esse motivo, cremos ser plenamente possível termos hoje a restauração da vida correta da igreja. Temos a promessa do Senhor e a Sua palavra de certeza. Precisamos lembrar-nos de que a restauração do Senhor não vem de nós. O que reali-zamos hoje na restauração não é de acordo com o nosso plano, mas de acordo com a aliança do Senhor e com Sua palavra de certeza. O Senhor Jesus disse que edificaria a Sua igreja. Isso ocorre hoje, não de acordo com o nosso plano, mas de acordo com a palavra do Senhor. Não creia nas situações ou circunstâncias — creia na palavra de certeza de Deus. Se você for enviado pelo Senhor a um determinado lugar por causa da vida da igreja, não creia nas coisas negativas da localidade. Pelo contrário, dê ouvidos ao Senhor e atente à Sua palavra de certeza. Todos precisamos de treinamento nesse assunto.

II. A INCREDULIDADE DOS FILHOS DE ISRAEL Moisés também foi treinado com relação à incredulidade dos filhos de Israel (6:9, 12). Ao estudar a história de Israel, há muitos anos, eu não tinha os filhos dessa terra em muito elevada consideração. Dizia a mim mesmo que jamais seria igual a eles. Todavia, após estar com o povo do Senhor por mais de quarenta e cinco anos, agora os tenho em alta conta. Em alguns aspectos, considero-os muito melhores do que o povo da igreja atual-mente. Os presbíteros das igrejas podem verdadeiramente preferir os filhos de Israel aos santos da igreja em sua localidade. Parece que, onde quer que estejamos, as pessoas são mais difíceis do que aquelas de outros lugares. Entretanto, não importando qual possa ser o ambiente, não devemos crer nele. As situações mudam, mas a palavra de Deus é imutável. Por um lado, a situação é totalmente uma mentira, porque vai mudar, porque é somente temporária. Por outro lado, porque tudo à nossa volta nos fala algo por Deus, a increduli-dade dos filhos de Israel falou algo a Moisés. Através da incredulidade e da teimosia de Faraó, Moisés veria totalmente exposta sua própria limitação e teria de ir a Deus para confiar mais Nele. Em vez disso, ele foi a Deus com um espírito queixoso. Sem a incredulidade e a teimosia, ele teria julgado que tudo estava bem. Na verdade, ele teve em seu interior alguns problemas que precisavam ser expostos, e ele próprio precisava de um treinamento adicional.

III. A TEIMOSIA DE FARAÓ Chegamos agora à teimosia de Faraó. Já enfatizamos que ele tipifica Satanás, que é sempre teimoso, que nunca muda, senão para ficar mais teimoso. Por isso precisamos aprender a não sermos desviados pela teimosia do inimigo.

IV. O CONCEITO NATURAL DE MOISÉS

A. Apoiando-se Em Seus Lábios Incircuncisos

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Por duas vezes, no capítulo seis, Moisés disse ao Senhor ter ele lábios incircuncisos (v. 12, 30). A princípio, pensei que ele estivesse simplesmente fazendo uma confissão, como a que fez Isaías (Is 6:5). Mas, após uma posterior consideração, cheguei a uma compreensão diferente desse ponto. Em 4:10, Moisés disse ao Senhor: "Ah! Senhor! eu nunca fui eloquente, nem outrora, nem depois que falaste a teu servo; pois sou pesado de boca e pesado de língua." Essa foi a resposta dada por Moisés ao chamamento original de Deus. O Senhor, todavia, insistiu em enviá-lo a Faraó. Por insistir o Senhor em enviá-lo a Faraó, Moisés pode ter pensado que sua língua se tornaria um instrumento poderoso, e que tudo o que ele dissesse a Faraó se cumpriria com autoridade. Pode ter pensado que sua fala se tornaria tão poderosa, que todos, inclusive Faraó, lhe obedeceriam. O resultado do primeiro conflito com Faraó foi totalmente diverso. Faraó não o escutou, e os filhos de Israel não lhe deram ouvidos. Por isso Moisés se queixou ao Senhor, mas Este lhe disse: "Vai ter com Faraó, rei do Egito, e fala-lhe que deixe sair de sua terra os filhos de lsrael" (6:11). Foi nessa hora que Moisés lembrou ao Senhor: "Moisés, porém, respondeu ao Senhor, dizendo: Eis que os filhos de Israel não me têm ouvido; como, pois, me ouvirá Faraó? E não sei falar bem" (6:12). Essa palavra implica uma queixa. Moisés se queixava de que o Senhor nada fizera para tornar poderosa a sua boca. Estava infeliz, porque seus lábios ainda eram os mesmos. Os chamados hoje pelo Senhor podem orar e esperar que Ele haja de fortalecer o seu falar com um poder miraculoso. Mas, por fim, descobriremos que nossos lábios permane-cerão os mesmos: ainda serão incircuncisos; isto é, naturais. Ao se considerar diante do Senhor como sendo de lábios incircuncisos, Moisés estava dizendo: "Senhor, Tu me disseste que fosse e falasse a Faraó. Já o fiz, mas não funcionou. Nem Faraó nem os filhos de Israel me ouviram. Pensava que meus lábios haveriam de ser mudados, mas descobri que ainda são incircuncisos. Nada fizeste para mudá-los. Se não o fizeres, não falarei novamente a Faraó. Por meus lábios naturais, nada posso fazer. Ninguém me ouve. Senhor, Tu tens de tornar poderosos os meus lábios. Somente então serei capaz de falar de modo que as pessoas me dêem ouvidos." Moisés, sem dúvida, esperava que Deus utilizasse seus lábios para dizer a Faraó uma poderosa palavra, de maneira miraculosa. Ao contrário, a palavra que lhe saiu da boca foi comum, em nada extraordinária. Mas o que por fim saiu dessa fala comum foi o agir do Senhor, não do homem. O resultado depende do fato de que somos enviados pelo Senhor e por Ele comissionados, e que O representamos — não pelo nosso esforço, pela nossa habilidade nem pelo bom trabalho que realizamos. O vaso terreno é ainda terreno, mas contém um tesouro. A sarça ainda é uma sarça, mas o fogo santo está ardendo nela. A sarça não deveria esperar ser mudada, nem esperar vir-lhe a glória. Esta sempre deve ir para Deus. Suponha-se enviado pelo Senhor a um determinado lugar. Você poderá orar e exercitar-se para crer que o Senhor fará poderosos os seus lábios. Todavia, ao falar, você descobrirá que seus lábios não foram mudados. Pode ser até que seu falar esteja pior do que antes. Já o experimentei várias vezes. Após dar uma mensagem, fui ao Senhor e disse: "Senhor, orei para que me desses palavra, mas Tu não me ajudaste em nada. Senhor, não percebes como foi pobre o meu falar? Quero desistir de falar por Ti. Ainda tenho lábios incircuncisos." Ter essa atitude indica que dependemos do que somos e do que podemos realizar, não do que o Senhor é e do que Ele pode fazer. O Senhor não quer mudar nossos lábios. Pelo contrário, Ele permitirá que eles permaneçam os mesmos. Embora o Senhor dissesse a Moisés que o constituíra Deus sobre Faraó (7:1), nada iria fazer acerca da condição de seus

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lábios. De fato, não havia necessidade alguma de Moisés falar a Faraó, porque Arão seria o seu profeta. A primeira vez que Moisés se encontrou com Faraó, não lhe falou de maneira mira-culosa, mas de maneira comum. E também falou aos filhos de Israel de maneira comum. Porque nada aconteceu, ele se queixou ao Senhor. Deus então lhe propiciou um treinamento adicional e o incumbiu de ir novamente a Faraó. Mas Moisés não quis fazê-lo, a menos que o Senhor realizasse algo milagroso com seus lábios. A resposta de Deus mostra que Ele nada iria fazer para mudar-lhe os lábios. Pelo contrário, constituiria Moisés como Deus sobre Faraó e faria com que Arão lhe fosse profeta. É como se o Senhor dissesse: "Moisés, não farei as coisas de acordo com a sua maneira. Pelo contrário, você precisa seguir o que Eu digo. Se você sente que seus lábios são ou não incircuncisos, isso não faz qualquer diferença. Na verdade, não há necessidade de você falar a Faraó, porque Arão será o seu porta-voz. Moisés, esqueça seus lábios." Existe aqui uma lição muito importante para nós. Queremos que Deus mude milagrosa-mente os nossos lábios. Mas Ele não pretende fazê-lo. O sucesso em levar a cabo o Seu chamamento não depende de nossa sabedoria ou de nossas propostas. Ele sempre tem a Sua própria maneira de realizar as coisas. Moisés pensava que tudo dependia da condição de seus lábios. Mas a maneira de Deus era deixar inalterados os seus lábios e fazer com que Arão lhe fosse profeta. Na vida da igreja, hoje, precisamos abandonar as nossas opiniões e conceitos e dizer: "Senhor, tudo o que digo nada significa, mas o que Tu dizes significa tudo. Senhor, estou disposto a esquecer de mim mesmo e já não mais apoiar-me em meu ser natural." Esqueçamos nossos lábios incircuncisos, isto é, esqueçamos o que somos por natureza.

B. Negligenciando a Palavra de Certeza de Deus Porque se apoiava em sua condição natural, Moisés negligenciou a palavra de certeza de Deus. Embora Este lhe houvesse dito palavras maravilhosas de certeza, Moisés não atentou a elas por causa de seu conceito natural. O mesmo ocorre conosco. Porque nos apoiamos em nossa teimosia, tendência e compreensão naturais, podemos ler a Bíblia sem receber qualquer luz. Sustentar nosso conceito natural é impedir a iluminação através da Palavra. Precisamos aprender, como Moisés, que Deus não faz as coisas de acordo com a nossa concepção ou teimosia naturais. Moisés foi rigorosamente tratado por Deus nesse ponto, e precisamos hoje do mesmo tipo de tratamento.

V. A ORDENAÇÃO DE DEUS

A. Escolhido Por Deus Em 6:26-29, verificamos a ordenação de Deus. Essa ordenação se relaciona à genealogia de 6:16-25. Por um longo tempo, não pude compreender por que essa genealogia se incluia aqui. Embora Israel tivesse doze filhos, essa genealogia menciona apenas Rúben, Simeão e Levi, os três primeiros. Isso quer dizer que não há intenção nesse registro de oferecer-nos uma genealogia completa. Pelo contrário, sua intenção é mostrar a Moisés as pessoas que, desde Jacó até ele, foram escolhidas por Deus. Esses escolhidos incluem Levi, Coate, Anrão e Moisés. Por isso ele se constitui, na verdade, num registro, não de uma genea-logia, mas da selecão, da escolha de Deus. Anrão, um dos escolhidos, foi o pai de Moisés e Arão. O versículo 26 diz: "São estes Arão e Moisés, aos quais Jeová disse: Tirai os filhos de

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Israel da terra do Egito, segundo as suas hostes" (hebraico). Isso prova que Moisés e Arão não eram presunçosos, mas haviam sido escolhidos por Deus. Foram escolhidos e comis-sionados por Deus muito antes de nascerem. Isso deveria propiciar a Moisés a certeza e a confiança de que tudo o que Deus lhe ordenara fazer haveria de se cumprir. Precisamos hoje da mesma certeza. Se estivermos envolvidos numa obra que não foi iniciada por Deus, deveremos parar, não importando o que estivermos fazendo. A restau-ração do Senhor foi ordenada por Deus, não foi iniciada por nós. Em sua restauração não há lugar para presunção. Ao darmos testemunho de Sua restauração, não deveremos jamais ser presunçosos. Pelo contrário, deveremos simplesmente fazer o que Deus escolheu e ordenou fazermos.

B. Comissionado Por Deus Os versículos 28 e 29 revelam que Moisés foi comissionado por Deus: "No dia em que Jeová falou a Moisés na terra do Egito, disse Jeová a Moisés: Eu sou Jeová; dize a Faraó, rei do Egito, tudo o que eu te digo" (hebraico). O versículo 27 também indica que Moisés e Arão foram comissionados por Deus para tirarem os filhos de Israel do Egito: "São estes os que falaram a Faraó, rei do Egito, a fim de tirarem do Egito os filhos de Israel: são estes, Moisés e Arão." Assim como Moisés e Arão foram comissionados, nós, na restauração do Senhor, também o fomos. Tenho plena certeza de que somos um povo comissionado. Deus nos confiou a comissão de levar hoje a cabo a Sua restauração.

C. Representando Deus Moisés também representava Deus (7:1). Sempre que somos comissionados por alguém, nós também o representamos. Porque foi comissionado por Deus, Moisés também O representava. No mesmo princípio, na restauração do Senhor, porque fomos comissiona-dos por Deus, nós O representamos. Seja muito cauteloso ao entrar em contato com aqueles que representam Deus. É

possível tocar a restauração de maneira não proveitosa. Posso testificar com anos de experiência que ninguém, na restauração do Senhor, que tocou a igreja de maneira negativa continuou a receber bênção. Porque aqueles que receberam a comissão de Deus são os Seus representantes, é algo sério tocá-los de maneira incorreta. Daqueles que contactaram a igreja e mais tarde se tornaram negativos, não conheço nenhum cuja condição espiritual tenha permanecido a mesma. Sem exceção, houve perda das bênçãos espirituais. Em todos os casos, houve declínio espiritual. Isso significa que é algo sério envolver-se de maneira negativa com os que foram comissionados por Deus e que, por conseguinte, O representam.

D. Representado Por Arão Por um lado, Moisés representava Deus; por outro, era representado por Arão (7:1-2). A representação é diferente da apresentação. A diferença é que representação envolve auto-ridade, ao passo que apresentação não. Junto com a comissão de Deus, sempre há a questão da autoridade. Essa autoridade se relaciona tanto a representar Deus quanto a ser representado por outros. Nenhum de nós deveria assumir a autoridade. Deveríamos simplesmente deixar que a

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autoridade fosse apresentada com a ordenação e a comissão de Deus. Se quisermos ser os enviados de hoje, precisamos estar certos de que fomos escolhidos, ordenados e comissio-nados. Então saberemos que somos os representantes de Deus.

VI. A SUA FORTE MÃO DE GRANDE JULGAMENTO

O último aspecto do treinamento adicional dispensado por Deus a Moisés diz respeito à Sua forte mão de grande julgamento. Em 7:4, o Senhor disse a Moisés: "Faraó não vos ouvirá; e eu porei a minha mão sobre o Egito e farei sair as minhas hostes, o meu povo, os filhos de Israel, da terra do Egito, com grandes manifestações de julgamento." Em 6:1, o Senhor já dissera a Moisés que ele haveria de ver o que o Senhor faria a Faraó: "Pois por mão forte os deixará ir, e por mão poderosa os lançará fora da sua terra." Sem uma forte mão, toda conversa é vã. Observa-se isso nas negociações diplomáticas entre as nações de hoje. Tais negociações dependem da retaguarda do poder militar. Em suas negociações com Faraó, a palavra de Moisés precisava ser resguardada pela forte mão e pelos poderosos julgamentos do Senhor. A forte mão do Senhor seria para Faraó a prova de que Deus não estava dizendo palavras vãs. Pela mão do Senhor, os egípcios haveriam de saber que Ele era Jeová. Assim como 7:5 diz: "Saberão os egípcios que eu sou Jeová, quando estender eu a minha mão sobre o Egito" (hebraico). Porque Moisés se queixara ao Senhor, foi necessário que Ele lhe falasse acerca de Sua mão. É como se o Senhor dissesse: "Moisés, tenho não apenas uma boca, mas também uma forte mão. Vá e fale a Faraó. Endurecê-lo-ei, de modo que Minha mão possa ser manifestada. Fale a Minha palavra a Faraó. A minha mão fará retaguarda à Minha palavra. Estenderei Minha mão para realizar tudo o que você disser por Mim a Faraó." A mão do Senhor, assim, foi uma sólida confirmação de que Moisés fora enviado por Deus. Ao longo dos anos, temos visto a mão do Senhor fazendo retaguarda à Sua palavra. Quando houve oposição à palavra de Deus, Sua mão, por fim, se manifestou. Deus jamais fala em vão. Sua palavra tem sempre por retaguarda a Sua forte mão. Faraó podia resistir à palavra do Senhor, mas não podia resistir à Sua mão. Nas men-sagens seguintes, verificaremos que os conflitos entre Deus e Faraó se tornaram mais e mais intensos, até atingir o ponto em que Faraó expulsou os filhos de Israel. Porque a forte mão divina de grande julgamento sustentava a palavra do Senhor, Faraó foi por fim compelido a expulsar da terra do Egito os filhos de Israel. Que todos possamos aprender a lição referente à mão de Deus e todas as lições do treinamento adicional dispensado a Moisés.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM DEZESSEIS

A EXIGÊNCIA DE DEUS E A TEIMOSIA DE FARAÓ

( 2 ) O livro de Êxodo é um livro de figuras, não de filosofia. As figuras de sua primeira parte apresentam um retrato da vida no mundo, sob a usurpação de Satanás. Por meio dessas figuras, é exposta a natureza dessa vida. As figuras deste livro também revelam o desejo do coração de Deus com respeito ao Seu povo escolhido. Ele disse a Faraó: "Deixa ir o meu povo, para que me celebre uma festa no deserto" (5:1). O Seu povo havia caído numa vida mundana, sob a usurpação de Satanás. Como revela o livro de Êxodo, Deus os libertou disso e os levou, deserto adentro, até ao monte, onde receberam uma visão celestial do padrão de Seu lugar de habitação na terra. Ele queria o tabernáculo como Seu lugar de habitação. Esse era o desejo de Seu coração. Tendo por finalidade expor a verdadeira situação da vida no mundo sob a usurpação de Faraó, o livro de Êxodo descreve doze conflitos entre Jeová e Faraó. No primeiro confli-to, não houve milagres, pragas nem julgamentos. Pelo contrário, houve simplesmente uma negociação entre Jeová e Faraó. Deus exigiu-lhe que permitisse ao Seu povo ir ao deserto, em três dias de jornada, para celebrar-Lhe uma festa. Mas Faraó recusou dar ouvidos a Jeová e atentar à Sua exigência. No segundo conflito, aconteceu um milagre, mas não uma praga; houve uma exposição, mas nenhum julgamento. Em 7:9, o Senhor disse: "Quando Faraó vos disser: Fazei mila-gres que vos acreditem, dirás a Arão: Toma a tua vara, e lança-a diante de Faraó; e ela se tornará em serpente." O objetivo desse milagre era expor a verdadeira situação da vida no mundo. Por essa razão, o segundo conflito envolvia exposição, mas não julgamento. Após os dois primeiros conflitos, as pragas começaram a vir sobre Faraó e seu povo. Em Êxodo, há dois grupos de dez itens as dez pragas vindas sobre os egípcios e os dez manda-mentos dados ao povo de Deus. As dez pragas podem ser agrupadas em quatro cate-gorias. O primeiro grupo inclui as pragas do sangue, das rãs e dos piolhos; o segundo, as das moscas, da peste e das úlceras; o terceiro, as do granizo, dos gafanhotos e das trevas; e, por fim, a praga da matança dos primogênitos. Cada praga era mais severa do que a anterior. As do primeiro grupo causavam aborrecimentos, mas não feridas. As do segundo grupo causavam mal tanto aos animais quanto aos homens. As do terceiro destruíam o ambiente, e a última deu fim à vida mundana. Na última, morreram todos os primo-gênitos da terra do Egito, desde o primogênito de Faraó até ao primogênito das servas (11:5). Em Apocalipse 16, verificamos as sete últimas pragas que Deus há de enviar sobre a terra, pragas que haverão de vir ao final da grande tribulação. Essas sete pragas serão "as sete taças da cólera de Deus" (Ap 16:1). Sob muitos aspectos, as sete pragas de Apocalipse se assemelham às dez de Êxodo. Por meio delas, Deus foi capaz de levar a cabo a retirada do Seu povo escolhido do Egito. Durante a grande tribulação, as sete pragas capacitarão o povo de Deus a realizar o seu êxodo final do mundo. Ao fim desta era, a maioria do povo de Deus ainda estará no Egito, isto é, no mundo. Em seu tempo, Abraão, Isaque e Jacó não tiveram necessidade de um êxodo. De semelhante modo, os vencedores, no tempo do fim,

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também não terão necessidade. Por isso serão arrebatados antes da tribulação. A maioria dos cristãos, entretanto, necessitarão de um êxodo. Pelas últimas sete pragas, Deus tirará o Seu povo do mundo.

II. O SEGUNDO CONFLITO

A. Pelo Lado de Deus Consideraremos agora o segundo conflito entre Jeová e Faraó (7:8-14). Êxodo 7:10 diz: "Então Moisés e Arão se chegaram a Faraó, e fizeram como Jeová lhes ordenara; lançou Arão a sua vara diante de Faraó e diante dos seus oficiais, e ela se tornou em serpente" (hebraico). Duvido de que Faraó e seus servos tenham percebido que a finalidade desse milagre era expor o fato de que a vida deles era uma vida sob a mão usurpadora de Satanás e que o seu viver no Egito estava sob a usurpação e a posse do diabo. Faraó e seu povo confiavam nos recursos naturais do Egito, principalmente no rico suprimento do Nilo. Tal suprimento era a sua "vara", uma vara que na verdade era uma serpente, o diabo. Aos olhos de Deus, Faraó e os egípcios confiavam em Satanás e viviam sob a sua mão usurpadora. Essa exposição não significava uma punição, mas era uma expressão da misericórdia de Deus. Em Sua misericórdia, Ele expunha a verdadeira natureza do viver-egípcio. Queria que eles soubessem que tudo aquilo em que confiavam era do diabo. A Sua intenção em tal exposição era levá-los a abandonar aquele tipo de viver. O princípio é o mesmo hoje. Quando vem até nós, Ele não pune primeiramente o "ego", a carne ou o velho homem. Em Sua misericórdia, Ele primeiramente expõe a natureza satânica de nossa vida caída.

B. Pelo Lado de Faraó Faraó chamou os magos, para que, com suas varas, fizessem a mesma coisa que Arão (7:1 1). O versículo 12 diz: "Pois lançaram eles cada um a sua vara, e elas se tornaram em serpentes; mas a vara de Arão devorou as varas deles". Há anos, imaginava eu como os magos egípcios tinham sido capazes de fazer o mesmo que Arão. Orei ao Senhor a esse respeito e disse-Lhe que não via como isso podia ter acontecido. Podemos encontrar situação semelhante na pregação do evangelho. Pode-se comparar os filósofos do mundo de hoje àqueles magos. Eles podem ensinar coisas semelhantes às que pregamos no evangelho. Podemos expor a natureza da vida humana caída, e eles podem fazer o mesmo. Podemos falar sobre as preocupações da vida no mundo, e eles também podem fazê-lo. Todavia, assim como a vara de Arão engoliu as varas dos magos egípcios, também a pregação do evangelho engole os ensinamentos filosóficos de hoje. Experimentamo-lo muitas vezes em nossa pregação do evangelho na China, onde havia muitos "magos", ou mestres em filosofia. Certos ensinamentos desses filósofos eram quase que os mesmos da Bíblia. A Bíblia, por exemplo, ensina que não devemos amar ao mundo. Determinados filósofos chineses ensinavam o mesmo. Em nossa pregação do evangelho, todavia, a vara de Arão engoliu as varas dos "magos". Filósofos de faculdades e universi-dades vinham às vezes às nossas reuniões de evangelização. Em vez de ficarmos inibidos com sua presença, invocávamos o Senhor e Lhe pedíamos que tratasse com tais pessoas. Ele mostrou Sua sabedoria, e vimos o evangelho engolir o ensinamento dos filósofos. O evangelho engole todas as filosofias do mundo. Não fique inibido nem desencorajado em sua pregação do evangelho. Pelo contrário, creia que sua vara haverá de engolir as

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varas da filosofia. Nada pode sobrepujá-lo. Embora ele não seja filosofia, nada é mais filosófico do que ele. Por isso ele é capaz de engolir as varas dos filósofos do mundo.

C. O Resultado Nos versículos treze e quatorze, observamos o resultado do segundo conflito. O versículo treze diz: "Todavia o coração de Faraó era duro, e não os ouviu" (hebraico). A maioria das versões da Bíblia dizem que o coração de Faraó "se endureceu". Não é esse, entretanto, o seu significado. Tal tradução implica que o coração de Faraó poderia ter sido mole, e se tornou duro. Mas o seu coração era duro desde o princípio. Darby diz que a palavra hebraica para "duro", nesse versículo, significa "teimoso". Porque o seu coração era teimoso, ele não podia ser mudado. O segundo conflito expôs a dureza de seu coração. Um outro resultado desse conflito foi a recusa de Faraó, não permitindo a saída dos filhos de Israel (v. 14). Na primeira vez em que Deus lhe veio, Faraó recusou-se a dar ouvidos à Sua voz. Nesta segunda vez, ele recusou-se a dar ouvidos à Sua exigência, mesmo após Este ter exposto a natureza da vida no mundo sob Satanás. Isso forçou Deus a tratar com ele mais severamente no terceiro conflito.

III. O TERCEIRO CONFLITO

A. A Hora e o Lugar Este conflito ocorreu pela manha, às margens do Rio Nilo (7:15). Dois outros conflitos também ocorreram de manhã cedo (8:20; 9:13). Faraó deve ter descido ao rio para relaxar e desfrutar de um momento de prazer e ócio. Mas o seu descanso foi perturbado pela presença de Moisés e Arão. Deus os incumbira de ir novamente enfrentar Faraó com a Sua exigência. A intenção de Deus era levar Faraó a saber que esse não era momento para descansar. Pelo contrário, era hora de se expor a natureza da vida no Egito. Faraó preci-sava ver que a vida no Egito não era uma vida de descanso e prazer, mas uma vida de sangue. Há horas, hoje em dia, em que também precisamos ir aos lugares onde as pessoas do mundo têm o seu prazer, para expor-lhes o fato de que todas as suas recreações e prazeres mundanos resultam em morte.

B. Pelo Lado de Deus

1. Exigiu Que Faraó Deixasse Ir o Seu Povo Moisés e Arão repetiram a mesma exigência anteriormente feita: "Deixa ir o meu povo, para que me sirva no deserto" (7:16). Desta vez, Sua exigência foi apoiada pela primeira praga.

2. Fê-lo Saber Que Ele Era Jeová Em nome de Jeová, Moisés e Arão haveriam de dizer a Faraó: "Nisto saberás que eu sou Jeová: Com esta vara, que tenho na mão, ferirei as águas do rio, e se tornarão em sangue" (7:17, hebraico). Porque Deus é Jeová, tudo o que Ele diz, acontece. Jeová disse: "Deixa ir o meu povo." Embora possa resistir a tal palavra, Faraó por fim será subjugado e saberá que Deus é Jeová.

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3. Feriu as Águas De acordo com o versículo 19, Arão deveria tomar a vara e estender sua mão sobre as águas do Egito, sobre os seus rios, seus canais, suas lagoas e sobre todos os seus reserva-tórios, para que se tornassem em sangue, e que houvesse sangue em toda a terra do Egito. Arão assim fez, e por toda a terra do Egito a água se tornou em sangue, até mesmo a água dos vasos de madeira e de pedra. Porque as águas do Nilo se tornaram em sangue, os peixes morreram, o rio cheirou mal, e os egípcios não puderam beber de sua água (v. 21). Então cavaram junto ao rio para encontrar água de beber. Pode ter acontecido que a água se tornou em sangue tão logo a tenham encontrado. A primeira praga fornece uma indicação completa de que a vida do Egito, isto é, a vida do mundo, não resulta em outra coisa, senão em morte. Não importa onde esteja a água do mundo — num rio, canal ou vaso: o resultado é a morte. Essa praga foi o início da punição e da destruição da vida egípcia. Dessa maneira Deus começou a destruir a vida de gozo mundano. Se percebermos o significado desta praga, saberemos que, sob a ira do julga-mento de Deus, a vida do mundo resulta em morte. Muitos de nós já o experimentamos. Enquanto gastávamos o tempo em alguma forma de prazer mundano, a água de repente se tornou em sangue. Isso tanto foi uma punição como uma exposição. Através dessa exposição, verificamos que as recreações e os divertimentos do mundo não são verdadeiros, mas são prazeres que resultam em morte. Aos olhos de Deus, as águas do Egito não são águas de forma alguma; são sangue. Ao tornar a água do mundo em sangue, Deus expõe a verdadeira natureza do prazer mundano. Ele revela o fato de que as pessoas do mundo estão bebendo sangue. De acordo com Apocalipse 16, perto do fim da grande tribulação Deus novamente mudará a água do mundo em sangue. Esse sangue representa a morte, o resultado de uma vida de pecado. Já enfatizamos que a primeira praga, que durou sete dias (7:25), expôs a vida egípcia. Se eles se arrependessem, tal exposição não lhes teria sido uma punição. Mas, por não se arrependerem, ela se lhes tornou uma forma de punição. O princípio é o mesmo hoje na pregação do evangelho. Se os pecadores receberem a palavra do evangelho, ela simples-mente os exporá. Mas, se não a receberem, ela lhes será uma palavra de julgamento. O próprio Senhor Jesus assegurou que os que não recebem Sua palavra serão julgados pela própria palavra que rejeitaram (Jo 12:48). A primeira praga revela que Deus é misericordioso e sábio. Nela, Ele não matou os egípcios. Simplesmente tornou a água em sangue, a fim de os advertir e expor. Nada fez para feri-los diretamente. Se Faraó tivesse aceitado essa exposição, tal lhe seria miseri-córdia. Mas, porque a rejeitou, ela se lhe tornou, ao contrário, um julgamento. Deus não é maldoso em Seus tratamentos para com as pessoas. Pelo contrário, é sábio e muito miseri-cordioso. Por essa razão, na punição da primeira praga houve uma misericordiosa adver-tência.

4. Para Que os Egípcios Soubessem Que o Seu Suprimento e Gozo Mundanos Resultam em Morte

O propósito da primeira praga era levar os egípcios a saber que o seu suprimento e gozo mundanos resultavam em morte. A morte, tipificada pelo sangue, revelou a natureza e o significado da vida no mundo.

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C. Pelo Lado de Faraó Os magos do Egito, novamente, foram capazes de, com seus encantamentos, fazer o mesmo que Moisés e Arão haviam feito com a vara. Entretanto, embora pudessem fazer aparecer o sangue, não eram capazes de livrar-se dele. Os filósofos do mundo de hoje podem expor o fato de que a vida no mundo é realmente morte, mas não têm os meios de acabar com ela. Somente o evangelho o pode fazer.

D. O Resultado

O resultado do terceiro conflito foi que, pela segunda vez, a dureza do coração de Faraó foi exposta. Uma vez mais, ele não deu ouvidos a Moisés e Arão. O versículo 23 diz: "Vi-rou-se Faraó, e foi para sua casa; nem ainda isto considerou o seu coração." Porque era teimoso, ele não tinha coração para a exigência de Deus. Isso acarretou a vinda da segunda praga sobre os egípcios.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM DEZESSETE

A EXIGÊNCIA DE DEUS E A TEIMOSIA DE FARAÓ

( 3 ) O livro de Êxodo revela que Deus deseja resgatar Seu povo de tudo aquilo que não é Ele mesmo; que quer livrá-lo de tudo o que não é Deus. Após a saída do Egito, o povo de Deus teve uma visão celestial, através da qual veio a conhecer o próprio Deus e também a conhecer o tipo de vida que está de acordo com Ele. Depois disso, então, eles podiam ser edificados como lugar de habitação de Deus na terra. Esse é um conceito básico no livro de Êxodo. Deus deseja ardentemente resgatar o Seu povo escolhido de todas as formas de usur-pação e preocupação, de modo que eles nada mais possam ter além Dele mesmoo. Após serem libertados do Egito e passarem pelo Mar Vermelho, os filhos de Israel chegaram ao Monte Horebe, o monte de Deus. Durante certo tempo, o povo de Deus esteve no Egito, vivendo uma vida egípcia e efetuando um trabalho egípcio sob a tirania de Faraó. Embora muitos deles pudessem não pensar em Deus, eles constituíam, entretanto, o povo esco-lhido por Deus, porque foram por Ele predestinados a serem para Ele separados. Os primeiros capítulos de Êxodo revelam que o povo de Deus fora usurpado por Satanás e mantido sob cativeiro debaixo de sua mão. Naquele tempo, tudo o que a eles se relacio-nava era egípcio. Não havia neles nada que fosse para Deus. Por isso Deus veio livrá-los, separá-los, libertá-los da usurpação de Satanás e da preocupação com o Egito, e conduzi-los ao monte de Deus, onde não havia nada, absolutamente, de egípcio. Lá, na montanha de Deus, o povo que Ele escolhera poderia ficar sozinho com Ele. Quando os filhos de Israel foram ao Monte Horebe, Deus era o seu centro, o seu objetivo, a sua ocupação e a sua própria vida. E até mesmo a casa deles. Deus lhes era tudo. No deserto, principal-mente na montanha de Deus, no Monte Horebe, eles nada tinham, exceto Deus. Muitos cristãos hoje falam sobre salvação. Mas poucos percebem que ser salvo é ser conduzido a um lugar onde não há nada, exceto Deus. O livro de Êxodo expõe mais o mundo do que qualquer outro livro da Bíblia. Embora fale muito sobre o mundo, até mesmo dizendo-nos que ele jaz por inteiro no maligno (1Jo 5:19), o Novo Testamento não apresenta uma figura clara do que seja o mundo. Para tanto, precisamos ir até ao livro de Êxodo, um livro de figuras. Se lermos os capítulos 5 a 12 de maneira correta, perceberemos uma sequência de vívidas figuras a retratarem a natureza e o significado da vida no mundo. Deus quer que Seu povo veja o mundo como Ele é. Se o elemento mundano permanecer em nós, sofreremos danos com relação ao cumprimento do propósito de Deus. Quando estavam no deserto, os filhos de Israel se lembraram dos prazeres do Egito. Lembraram-se do sabor dos pepinos, das cebolas e do alho (Nm 11:5). Por causa dessa lembrança, eles enfrentaram problemas com relação ao lugar de habitação de Deus. O mesmo ocorre com os cristãos de hoje. Porque muitos deles ainda estão no Egito, não podem ter nada a ver com o lugar de habitação de Deus. Até mesmo os que foram apartados do Egito podem ainda lembrar-se do prazer dessa terra. Assim, todos precisamos ter uma clara figura da vida e do viver no Egito.

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As dez pragas não foram apenas um aviso e uma punição para os egípcios, mas também foram uma revelação, um desvendar para o povo de Deus. Por meio delas, os filhos de Israel devem ter chegado a perceber a verdadeira situação do viver egípcio. Como resultado de tais pragas, eles devem ter, por fim, detestado o seu viver no Egito. Deus queria que a vida do Egito fosse exposta, de modo que Seu povo a odiasse e quisesse dela fugir. Por essa razão, o objetivo de Deus, ao enviar as dez pragas, não foi apenas avisar os egípcios e puni-los. Foi também mostrar ao Seu próprio povo o que era o mundo. O mundo também precisa ser desvendado para o povo de Deus atualmente. Deus quer que Seu povo seja o Seu lugar de habitação na terra. Esse desejo, todavia, somente poderá cumprir-se, se formos libertos deste mundo e nada mais tivermos, além do próprio Deus. Nestes dias, temos enfatizado a necessidade da edificação das igrejas. Mas, se quisermos vê-las edificadas de maneira prática, precisamos sair totalmente do mundo. Pelo lado negativo, o livro de Êxodo desvenda o mundo; pelo lado positivo, revela o lugar da habitação de Deus. Primeiramente, a manifestação, o significado e a verdadeira natureza da vida no Egito são expostos ao povo de Deus. A Sua intenção, ao fazer essa revelação, é levar Seu povo a detestar o Egito, a deixá-lo para trás e a ser apartado para Deus, a fim de ser o Seu lugar de habitação. O princípio é o mesmo hoje. Se não formos apartados do mundo, não poderemos tornar-nos o lugar da habitação de Deus. Para a edificação do Seu lugar de habitação, precisamos ver o mundo como ele realmente é. Além disso, precisamos odiar a maneira de viver do mundo e estar dispostos a renunciá-lo. Se virmos o propósito de Deus como o livro de Êxodo revela, ser-nos-á mais fácil com-preender o significado das pragas. A intenção de Deus, ao enviá-las, não foi somente punir os egípcios; foi também expor o modo de vida egípcio. Como os egípcios do livro de Êxodo, as pessoas do mundo de hoje não compreendem a verdadeira situação do mundo. Foram todas drogadas. Sob a influência da droga de Satanás, elas estão felizes com sua vida no mundo. Não têm a percepção do que seja viver sem Deus no mundo. Em sua experiência, a água do mundo precisa tornar-se em sangue. Então elas conhecerão a natureza da vida no mundo e o resultado do viver no mundo. A natureza da vida do mundo é morte, e o resultado do viver no mundo também é morte.

IV. O QUARTO CONFLITO

A. Pelo Lado de Deus No quarto conflito com Faraó, o Senhor feriu todos os limites do Egito com rãs (8:2). As rãs subiram das águas dos rios, correntes e charcos. Ao virem sobre Faraó, sobre todos os seus servos e sobre todos os egípcios, elas destruíram o prazer do confortável meio de vida egípcio. Quantos problemas elas trouxeram! Ao enviar a praga das rãs sobre os egípcios, o Senhor queria que eles percebessem que sua vida no Egito não era realmente uma vida de gozo, mas de problemas. Os egípcios não percebiam que, aos olhos de Deus, todos os seus prazeres eram "rãs". Tudo o que obtinham do Nilo — a fonte do suprimento do mundo — era uma rã. As águas do Egito, que antes produziam peixes, agora produziam rãs. Em princípio, podemos experimentar o mesmo hoje. Em toda a minha vida, obtive coisas que se transformaram em "rãs". A princípio, desfrutei delas. Mas, uma a uma, elas se tornaram "rãs". O que eu pensava ser um "peixe", era na verdade uma "rã". Mais cedo ou mais tarde, tudo o que você ganha deste mundo se tornará uma "rã". Isso quer dizer que tudo o que você ajunta do "Nilo", a fonte de suprimento do mundo, lhe será um motivo de aborrecimento. Os bens materiais e até as pessoas que lhe são queridas podem

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ser "rãs". Quando as coisas a que damos valor se transformam em "rãs", percebemos então que o gozo do mundo não é o verdadeiro deleite. Pelo contrário, é muito problemático. As rãs do Egito não mataram a ninguém, mas foram um aborrecimento para todos. Estavam por toda parte: em suas casas, em seus quartos, sobre suas camas, em seus fogões, em suas amassadeiras. Que aborrecimento! Se a praga das rãs era uma forma de punição ou de revelação, isso dependia da atitude das pessoas que a ela eram submetidas. Se tais pessoas recebessem a misericórdia do Senhor, ela lhes seria uma revelação, uma exposição do fato de que o Egito com o seu gozo é uma terra de rãs. Esse é o significado do viver no mundo. Todos os aspectos do gozo mundano são uma "rã". Aqueles que recusaram a misericórdia do Senhor, entretanto, tiveram de suportar a praga das rãs como punição.

B. Pelo Lado de Faraó Os magos egípcios foram capazes de realizar três das coisas que Arão fez com sua vara: transformar a água do rio em sangue, tornar a vara em serpente e produzir rãs. Com seus encantamentos, eles fizeram aparecer rãs sobre a terra do Egito (8:7). Não puderam, todavia, eliminá-las. Um pregador do evangelho deve ser capaz de produzir "rãs". Isso quer dizer que ele precisa ser capaz de levar as pessoas a perceberem que todos os prazeres e preocupações do mundo são "rãs". Certos mestres de filosofia, entretanto, também são capazes de fazer as pessoas perceberem que as coisas do mundo as usurpam e prejudicam. Os evangelistas expõem a verdadeira situação do viver no mundo, mas alguns "magos" ou filósofos podem fazer o mesmo. Quando pregávamos o evangelho na China, frequentemente encontrávamos esses tais "magos", os filósofos do mundo. Dizíamos às pessoas que a vida do mundo as usurpa. Alguns dos filósofos ensinavam o mesmo. O Taoísmo, por exemplo, ensina a simplicidade e a auto-renúncia. Também dizíamos às pessoas que o gozo deste mundo é, na verdade, uma forma de morte. Alguns filósofos também o ensinavam. Todavia, assim como os magos egípcios não foram capazes de dar um fim às rãs, também os "magos" de hoje não podem dar um fim às "rãs" que atribulam as pessoas de nosso tempo. Aqueles filósofos da China podiam produzir as "rãs", mas não podiam fazê-las desaparecer. Quando Moisés clamou ao Senhor acerca das rãs, o Senhor o ouviu e agiu de acordo com a sua palavra (8:12-13), e as rãs morreram. No mesmo princípio, um evangelista correto não apenas produz "rãs", mas também dá cabo delas. Às vezes, quando pregávamos a certas pessoas ricas da China, fazíamos com que "rãs" lhes aparecessem. Isso as convencia de que o gozo do mundo é realmente um aborre-cimento, uma causa de problemas sem fim. Ao seu pedido, orávamos por elas, e então as "rãs" eram eliminadas. Mas isso apenas servia para mostrar-nos que a condição delas era a mesma que a de Faraó após as "rãs" serem eliminadas. Ao sentir um alívio, ele endureceu o seu coração e não deu ouvidos a Moisés e Arão (8:15). No mesmo princípio, quando tais pessoas ricas viam removidas as "rãs" e sentiam alívio em sua situação, recusavam-se a se arrepender e a crer no Senhor.

V. O QUINTO CONFLITO

A. Pelo Lado de Deus No quinto conflito, o Senhor falou a Moisés: "Dize a Arão: Estende a tua vara, e fere o pó da terra, para que se torne em piolhos por toda a terra do Egito" (8:16). Ao estender ele sua

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mão com sua vara e ferir o pó da terra, este se tornou em piolhos "nos homens e no gado; todo o pó da terra se tornou em piolhos por toda a terra do Egito" (v. 17). Antes, a terra do Egito produzia cereal, que podia ser utilizado como comida. Mas, nesta praga, o pó tornou-se em piolhos, os quais lhes causaram grande desconforto. Os piolhos eram extre-mamente irritantes. Essa praga, todavia, não foi apenas uma punição, mas também uma revelação de que, em última análise, o pó do Egito produz piolhos, e não cereal para comer. Nestas pragas, Deus tanto foi sábio como misericordioso. Ele não utilizou uma arma poderosa para ensinar aos egípcios uma lição definitiva. Pelo contrário, usou algo bem pequeno. Se Ele destruísse de repente todos os egípcios, não teria havido qualquer advertência, lembrança ou revelação. Em Sua sabedoria e misericórdia, Ele utilizou piolhos para expor a situação do viver no Egito e para encorajar o Seu povo a sair dela. Deus faz o mesmo, em princípio, hoje. Repetidas vezes, Ele nos mostra que o Egito não é belo, e nos lembra que não devemos nele permanecer. Faz-nos ver que a vida no Egito é repugnante. A água produz rãs, e o pó produz piolhos. Ele sabe que, se o Seu povo estiver claro a respeito da situação do Egito, desejará separar-se dele. Através das pragas, o Seu povo veio a perceber que o seu viver não deveria ser o viver no mundo, mas o viver para Deus no deserto. A praga das rãs revela a natureza da água no Egito, ao passo que a praga dos piolhos revela a natureza do pó dessa terra. O pó a se tornar em piolhos indica que a fonte de suprimento do nosso viver no mundo, por fim, se torna causa de irritação. As pessoas, hoje, em todo o mundo, dependem da água e da terra para o seu viver. Sem elas, é impossível ter o suprimento de vida. Embora a água e a terra tenham sido criadas por Deus para nós, foram usurpadas por Satanás e usadas para o seu próprio propósito maligno. Por isso, em Seu julgamento, Deus expôs a verdadeira natureza da água e do pó em sua condição caída. Ele transformou a água em sangue e o pó em piolhos. As primeiras três pragas — a do sangue, a das rãs e a dos piolhos — revelam-nos a natureza, o significado e o resultado do viver no mundo. Os que continuam a viver no mundo hão de encontrar morte, aborrecimento e irritação. Todos precisamos receber essa revelação do viver atual no mundo. Que essa visão possa causar em nós uma profunda impressão, de modo que jamais a esqueçamos.

B. Pelo Lado de Faraó Os magos de Faraó tentaram produzir piolhos, mas foram incapazes de o fazer. Admi-tiram diante de Faraó que fora o dedo de Deus que fizera com que o pó do Egito se tor-nasse em piolhos. Não disseram ser a mão de Deus, mas o Seu dedo. Isso indica que Jeová, o Deus dos hebreus, era todo-poderoso. Para a compreensão deles, Deus apenas tinha que usar o Seu dedo para realizar algo que eles não eram capazes de fazer. O coração de Faraó, todavia, permaneceu duro, obstinado, e ele não deu ouvidos a Moisés nem a Arão, como Jeová dissera. O meu encargo nesta mensagem não é ensinar aos irmãos que eles não deveriam amar ao mundo. O meu encargo é enfatizar o quadro descrito no livro de Êxodo. Veja como as pragas do sangue, das rãs e dos piolhos expõem o mundo de hoje. Você ainda quer estabe-lecer-se no mundo? Você ainda o considera como o melhor local onde possa habitar? Se formos sensibilizados pelo quadro mostrado no livro de Êxodo, desejaremos sair do Egito de hoje. Em Sua misericórdia, Deus nos mostrou um quadro vívido, que revela a natureza, o sentido e a consequência do viver no mundo. Ele deseja resgatar-nos do mundo e

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conduzir-nos a Si mesmo, ao Monte Horebe, o monte de Deus. Nesse monte, não temos pragas de sangue, de rãs nem de piolhos. Pelo contrário, temos luz, revelação, propósito, a presença de Deus e um futuro pleno do Seu suprimento. Que contraste entre a vida no Egito e a vida no Monte Horebe! Você quer permanecer no Egito com o sangue, as rãs e os piolhos, ou quer permanecer com Deus no Monte Horebe? Ninguém precisa aconselhar-nos a sair do mundo. Se virmos o quadro retratado em Êxodo, espontaneamente detesta-remos o mundo, fugiremos dele e nos juntaremos ao Senhor no monte de Deus.

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MENSAGEM DEZOITO

A EXIGÊNCIA DE DEUS E A TEIMOSIA DE FARAÓ

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Se quisermos apossar-nos da revelação do livro de Êxodo, precisaremos observar que Deus deseja que Seu povo lhe edifique um lugar de habitação na terra. Mas o Seu inimigo usurpou o Seu povo e o mantém cativo no mundo. Por essa razão, nos primeiros quatorze capítulos de Êxodo, houve uma luta entre Deus e Faraó, o representante de Satanás. Nessa luta, o julgamento de Deus sobre o mundo egípcio se manifestou através das dez pragas. Estas, entretanto, não foram uma punição, mas também a maneira como Deus expôs a natureza, o significado e o resultado da vida no mundo, a vida que tomava conta do povo de Deus. As pragas que vieram sobre os egípcios, consequentemente, nao foram somente punições, mas também avisos de misericordia. Se eles tivessem recebido misericórdia, teriam visto a natureza, o significado e o resultado da vida no mundo. É muito significativo que Deus tenha enviado dez pragas, e não nove nem onze. Na Bíblia, o numero dez tipifica perfeição ou complementação do viver humano. Os nossos dez dedos das mãos e os dez dos pés, por exemplo, tipificam algo completo. A Bíblia revela que, no fim desta era, existirão dez reinos sob o governo do Anticristo. Esses dez reinos serão a expressão definitiva da vida humuna caida. Para expor a vida humana no mundo, Deus utilizou as dez pragas. Como já enfatízamos, elas se acham divididas em quatro grupos. Os primeiros três grupos são formados por três ptagas cada um, e a última praga estabelece uma categoria à parte. Já abordamos o primeiro grupo de pragas — a do sangue, a das rãs e a dos piolhos. As pragas do sangue e das rãs se relacionam à água, ao passo que a praga dos piolhos se liga ao pó da terra. Por esse motivo, no primeiro grupo de pragas, a água e a terra foram expostas e julgadas. Todos dependemos da água e da terra para o nosso viver. O supri-mento necessário para o sustento da vida humana procede dessas duas fontes. Nas primeiras três pragas. Deus expôs a natureza da vida caída da humanidade. Ao agir assim, Ele mostrou que os recursos do viver humano resultam em morte, problemas e irritacão. O segundo grupo de três pragas trata principalmente do ar. Existe hoje muita preocupação com respeito à poluição do ar. Na quarta, quinta e sexta pragas, o ar do Egito tornou-se poluído. As moscas enxamearam o ar, a peste foi levada pelo ar, e as cinzas causadoras de úlceras polvilharam o ar. Por essa razão, no segundo grupo de pragas, o ar — outra necessidade para a vida do homem foi tratado. Quero enfatizar o fato de que essas pragas não eram somente uma forma de punição, mas também uma exposição do mundo e da vida no mundo. Se a intenção de Deus fosse utilizar as pragas apenas como punição, não haveria necessidade de Ele enviar Moisés e Arão a Faraó repetidas vezes. Além disso, não haveria necessidade de Ele enviar as pragas por um período de tantos dias. Pelo contrário, Ele poderia punir os egípcios, destruindo-os com um sopro. Deus, todavia, tratou com eles de maneira fina e pormenorizada. Primei-ramente, transformou a água em sangue. Depois, produziu as rãs causadoras de problemas e, finalmente, os irritantes piolhos. O objetivo de Deus ao agir assim não era

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somente punir os egípcios, mas ensinar-lhes, tanto a eles quanto ao Seu próprio povo, que os recursos do suprimento da vida tornaram-se, na verdade, sangue, rãs e piolhos. Deus criou os céus para a terra e a terra para o viver humano. Assim, tanto os céus quanto a terra destinam-se à existência do homem. Este, todavia, caiu. De acordo com Sua justiça, Deus deveria ter julgado tanto os céus quanto a terra imediatamente após a queda de Adão, Mas a Sua intenção é cumprir o Seu eterno propósito através do homem. Em vez de julgar tudo. Ele pôs o universo debaixo da redenção de Cristo. A redenção de Cristo é algo muito mais sério, muito mais significativo do que podemos imaginar. Deus estabeleceu Adão como cabeça de toda a criação em Gênesis 1. Em príncípio, quando o cabeça se rebelou, toda a criação ficou sob maldição, e deveria ter sido imediatamente julgada de acordo com a justiça de Deus. A criação toda deveria ter sido eliminada. Deus não pode tolerar coisa alguma que toque Sua justiça, santidade e glória; tampouco há de modificar Seu coração acerca do Seu propósito, que é ter uma eterna habitação entre os homens. Por essa razão, Ele preferiu considerar toda a criação sob a redenção de Cristo, que aos Seus olhos fora cumprida antes da fundação do mundo (1Pe 1:19-20; Ap 13:8). Porque Ele contempla a velha criação sob a redenção de Cristo, Ele tem liberdade para preservar o universo ou para julgá-lo e destruí-lo. Por causa da redenção de Cristo, Ele é totalmente justo e reto, quer preserve o universo, quer o destrua. Quando Ele já não mais podia tolerar a corrupção de Sodoma e Gomorra, por se rebelarem elas contra Ele e rejeitarem a redenção que Ele ordenara, aquela porção da terra se sujeitou ao Seu justo julgamento. Em princípio, o mesmo aconteceu à época de Moisés. Faraó e os egípcios rejeitaram a redenção ordenada por Deus e assim se desnudaram e se expuseram ao julgamento de Deus. Porque os filhos de Israel permaneciam sob a redenção, o julgamento de Deus não os tocou. Êxodo 8:23 é um versículo decisivo: "Porei uma redenção entre o meu povo e o teu povo" (hebraico). Aqui, o Senhor estava dizendo a Faraó que colocaria uma redenção entre o Seu povo e o povo de Faraó. Deus cobriu Seu povo com a redenção de Cristo, mas Faraó e seu povo a rejeitaram. Por isso, quando Deus enviou as pragas sobre os egípcios, eles não estavam sob a Sua redenção, e foram expostos ao Seu julgamento. Na queda, o homem pecou contra a justiça de Deus e ficou desprovido da Sua glória. Deus, todavia, não veio com julgamento. Como então podia ser mantida a Sua justiça? De acordo com Gênesis 3:21, a resposta é a redenção de Deus. As peles de animais utili-zadas por Deus para cobrir Adão e Eva indicam a redenção de Cristo. Por causa dessa, redenção, Deus é capaz de manter com justiça a existência do universo. Em Êxodo, Faraó e os egípcios não se preocuparam com a redenção de Cristo. Mere-ciam ser julgados pela maneira como estavam tratando o povo de Deus. Por esse motivo, Deus exerceu Seu julgamento sobre eles através das dez pragas. À época das pragas, os egípcios foram expostos aos tratamentos justos de Deus. Os filhos de Israel, entretanto, permaneceram sob a redenção de Cristo, porque Deus colocou uma redenção entre eles e o povo de Faraó. A terra toda ainda hoje está debaixo da redenção de Cristo. Se não fosse a Sua redenção, o sol, a lua e os planetas se desintegrariam. Deus sustenta os céus e a terra para o bem da existência humana. Imagine como pode atualmente o Deus justo tolerar o pecado das pessoas do mundo. Ele só pode fazê-lo, porque vê o mundo através da redenção de Cristo. Todas as pessoas do mundo estão verdadeiramente desfrutando do benefício da redenção de Cristo, embora não o percebam. Colossenses nos diz que Deus reconciliou Consigo todas as coisas através da morte de Cristo (1:20). Somente debaixo da redenção de Cristo é que esta terra é um lugar conveniente para o homem viver. Se a criação não

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estivesse sob a redenção de Cristo, ela se desintegraria. Mas Deus estende a Sua miseri-córdia, para contemplar os incrédulos sob a redenção de Cristo, a fim de que eles possam ter a oportunidade de se arrepender e de receber essa redenção. Todo alimento que comemos e todo suprimento de vida que desfrutamos se encontram debaixo da redenção de Cristo. Caso contrário, a água se tornaria em sangue, os peixes se tornariam em rãs, a terra haveria de produzir espinhos ou piolhos em vez de cereal, e do ar viriam as moscas. As dez pragas vieram sobre o Egito, porque as pessoas rejeitaram a redenção de Deus. Na hora em que Faraó resistiu a Deus, ele e os egípcios se expuseram ao Seu justo julga-mento. Mas Ele foi misericordioso até mesmo ao executar Seu julgamento. Em vez de aniquilar os egípcios com um ato de julgamento, enviou sobre eles uma série de pragas. A Sua intenção ao agir assim foi não apenas punir ou julgar, mas também expor e avisar os egípcios de que tinham a oportunidade de se voltarem para Ele. Cada praga é significativa. Na primeira, a água foi transformada em sangue. Você tem certeza de que a água do mundo, da qual desfruta hoje, não é verdadeiramente sangue? Se tal água estiver sob a redenção de Cristo, então será água. Mas, se ela não estiver sob Sua redenção, será sangue em realidade. De semelhante modo, em sua experiência, a água — que é a fonte do suprimento necessário de vida — produz peixes ou rãs? Tudo depende do fato de ela estar ou não sob a redenção de Cristo. Posso testificar de pura consciência que a água de que desfruto produz peixes e não rãs. Além disso, a terra para mim produz milho, trigo e vegetais; não produz piolhos. Todavia, se em sua experiência a terra não estiver sob a redenção de Cristo, o pó dela se transfor mará em piolhos.

VI. O SEXTO CONFLITO No sexto conflito, o Senhor enviou enxames de moscas sobre Faraó e sobre todos os egípcios (8:20-32). É dificil determinar que tipo de moscas eram essas. O dicionário da Concordâncía de Strong diz que havia diversos tipos de moscas. Em sua tradução, Darby utiliza a expressão “mosca-de-cachorro", ao passo que a Bíblia Ampliada diz “mutuca que chupa sangue", moscas que picam o gado e lhe chupam o sangue. Seja qual fosse o tipo de moscas fossem, enxames vieram sobre Faraó, seus servos e seu povo. Todas as casas dos egípcios ficaram repletas de enxames de moscas. Tais enxames tipificam a poluição da atmosfera de hoje, causada pela imoralidade que satura o ambiente. Veja, por exemplo, como é poluida a atmosfera de uma cidade como Lãs Vegas. Sempre que a visitei para contatar lá alguns irmãos sequiosos, tive a sensação de que atmosfera sobre ela estava viciada. A atmosfera do mundo de hoje está fervilhando de "moscas”. Não existe ar fresco nos lugares mundanos. Por causa da queda do homem, a atmosfera moral no mundo foi poluida; está repleta de enxames barulhentos de insetos. Assim, a quarta praga indica que o ar não está cheio de coisas limpas ou positivas, mas saturado de todos os tipos de coisas impuras e malignas. Através da análise das quatro primeiras pragas, observamos o sangue, as rãs, os piolhos e as moscas. Que quadro pormenorizado do viver do homem caido no mundo! As pessoas do mundo de hoje, todavia, não percebem a situação de suas vidas no mundo. A fim de que o percebam, Deus precisa vir para expor-lhes completamente a situação, assim como fez aos egípcios através das pragas.

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VII. O SÉTIMO CONFLITO A praga seguinte foi uma peste egípcios (9:1-7). Creio que essa peste foi causada pelos germes espalhados pelos enxames de moscas. Êxodo, 9:3 diz: "Eis que a mão do Senhor será sobre o teu rebanho, que está no campo, sobre os cavalos, sobre os jumentos, sobre os camelos, sobre o gado, e sobre as ovelhas, com pestilência gravíssima." De acordo com Levítico 11, os cavalos, jumentos e camelos eram impuros. Podiam ser utilizados como transporte, mas não como alimento. Os bois e as ovelhas, contudo, eram considerados puros, e os filhos de Israel podiam comê-los. Assim, os animais submetidos à praga eram de dois tipos: os utilizados para transporte e os usados para alimento. Deus julgou tanto o transporte quanto a comida do Egito. Isso indica que os meios de transporte e a maneira de comer do mundo de hoje também serão julgados por Ele. Observamos novamente que Deus julgou os egípcios de maneira bem refinada, destru-indo-lhes a maneira de viver, item por item. Os egípcios dependiam do Nilo, mas este foi julgado. Dependiam da terra e do ar, e ambos também foram julgados. Além disso, depen-diam de seu gado para transporte e comida; mas, na quinta praga, até mesmo o gado foi julgado. Já que o gado não era pecaminoso, você pode perguntar por que foi ele julgado por Deus. De acordo com Gênesis 3, a terra foi envolvida no pecado de Adão, embora ela não fosse pecaminosa. Depois que Adão pecou, ela passou a estar sob maldição (Gn 3:17-18). A queda de Adão, implicou a terra toda. No mesmo princípio, o gado dos egípcios foi julgado, não porque fosse pecaminoso, mas por estar implicado no pecado de Faraó e dos egípcios. Por pertencer aos egípcios, estava envolvido em seu pecado. Verificamos aqui que o julgamento justo de Deus também trata com as implicações de uma situação pecami-nosa. Porque o gado do Egito se relacionava a Faraó e o servia, ficou sujeito ao julgamento justo de Deus. O princípio de implicação se aplica hoje. Se amarmos ao Senhor e O servirmos sob Sua bênção, tudo o que se relaciona a nós será também abençoado. Até mesmo coisas como posses, animais ou bens materiais serão abençoados. Se amarmos ao Senhor, até mesmo o ambiente em que estamos será abençoado. Os nossos parentes, amigos e vizinhos e estarão positivamente implicados na bênção que está sobre nós. Sob a justiça de Deus, nós, que amamos ao Senhor, tornamo-nos um fator de bênção para os outros, até mesmo para a sociedade como um todo. Os que não conhecem o Senhor podem desfrutar dos benefícios dessa implicação positiva. Minha experiência de viagem pelo interior da China, durante a Segunda Guerra Mundial, o ilustra. Frequentemente, os que viajavam comigo, embora não cressem no Senhor Jesus, diziam-me que eram beneficiados por minha causa. Durante a guerra, era difícil viajar. Mas, quando vinha o problema, eu orava, e o Senhor me preservava. Isso fez com que meus companheiros de viagem percebessem que eram abençoados porque Deus me abençoava. No caso de Faraó e dos egípcios, observamos que o gado foi envolvido negativamente. Por causa da teimosia e da dureza do coração de Faraó, o gado foi sujeito à praga da peste. Isso deveria ensinar-nos a não nos envolvermos com os que são pecaminosos, mas a ficarmos longe deles. Caso contrário, poderemos ser negativamente implicados na situação. Pelo bem de Seu povo, Deus pode conter o Seu julgamento do mundo. Até mesmo quando Ele julga o mundo de acordo com Sua justiça, ainda assim Ele cuida de Seu povo,

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para cumprir o Seu desejo de ter um lugar de habitação na terra. Já observamos que, na praga das moscas, Ele colocou uma redenção entre Seu povo e o povo de Faraó. De semelhante modo, na praga da grave pestilência sobre o gado, 9:4 diz: "E Jeová fará separação entre os rebanhos de Israel e o rebanho do Egito, e nada morrerá de tudo o que pertence aos filhos de Israel" (hebraico). De acordo com o versículo 6, não morreu nenhuma das reses pertencentes aos filhos de Israel. Os mensageiros enviados por Faraó notaram que nenhuma rês de seu gado morrera (v. 7). Por estarem as pessoas do mundo impedindo o povo de Deus de cumprir o Seu propósito, Ele veio julgar a maneira de viver no Egito. Nem mesmo os filhos de Israel compreendiam a verdadeira natureza da vida egípcia. Eles próprios também precisavam de uma reve-lação da natureza, do viver e do resultado da vida no Egito. Quanto mais os egípcios eram julgados, mais os filhos de Israel eram iluminados acerca do viver no Egito. Por isso, Deus utilizou as pragas para obter duas coisas: punir os egípcios de modo a poderem liberar o Seu povo, e abrir os olhos dos filhos de Israel com respeito à natureza da vida de usurpação no Egito. A iluminação que receberam através das pragas fê-los dispostos a fugirem do Egito e a entrarem no deserto, onde, no monte de Deus, poderiam receber Sua revelação concernente ao Seu lugar de habitação.

VIII. O OITAVO CONFLITO Na sexta praga, que aconteceu durante o oitavo conflito (9:8-12), surgiram úlceras nos homens e nos animais. O Senhor disse a Moisés e Arão que tomassem punhados de cinzas da fornalha e os atirassem em direção ao céu, à vista de Faraó. As cinzas se tornaram fino pó, o qual fazia rebentar úlceras nos homens e nos animais, em toda a terra do Egito (9:8-9). Cinza é o que resta de algo que foi queimado. Ao final da quinta praga, todos os recursos do Egito foram julgados. A água, a terra, o ar e o gado foram todos julgados por Deus. As cinzas, todavia, o resto das coisas queimadas, ainda precisavam ser tratadas, isso indica que tudo o que restar de nossa vida humana caída precisa ser tratado por Deus. Você pode pensar que determinada coisa tenha sido completamente tratada. Sim, ela foi tratada; mas ainda sobram aigumas cinzas, algum resto. Em certo sentido, o resto é pior do que a própria coisa, porque o resto pode causar úlceras. O resto de algo que você alguma vez realizou ou teve pode causar sérios danos. Deus, portanto, não apenas trata com as coisas em si, mas também com os restos delas. Ao serem espalhadas pelo ar, as cinzas da fornalha foram expostas. Após julgar Deus a água, a terra e seu pó, mais o ar, parece que nada havia sobrado dos recursos do viver egípcio. Até mesmo os animais utilizados para transporte foram mortos. Mas ainda havia as cinzas remanescentes das coisas que haviam sido tratadas e quei-madas. Até mesmo as cinzas, a sobra, Deus não haveria de tolerá-las. Isso indica como Sua exposição e julgamento foram admiráveis, e também mostra que Ele efetuou um ótimo trabalho para ensinar Seu povo a conhecer a verdadeira natureza da vida neste mundo, que é contrária à Sua economia. O aspecto educacional do Seu julgamento sobre o Egito foi realmente muito refinado. As cinzas geralmente não contêm germes, porque todos eles foram queimados. Mas as que Moisés e Arão espalharam no ar devem ter ficado cheias de germes, pois elas se torna-ram pó causador de úlceras. Você pode pensar que suas práticas pecaminosas passadas tenham sido totalmente tratadas e que apenas restam cinzas limpas que não contêm germes. Mas Deus não está satisfeito sequer com esses restos. Por isso, Ele vem julgar o

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que sobrou das coisas pecaminosas. Não pense que em sua vida pessoal não reste nada para ser tratado após serem julgados os seus pecados. Pelo contrário, ainda há um resto com você, o resto daquilo que foi foi julgado e tratado. Isso indica que, aos olhos de Deus, tudo o que é da vida egípcia — a água, a terra, o ar e as cinzas — deve ser exposto e julgado. Nada da vida mundana deve permanecer. Não se gabe do quanto você tratou com seus pecados passados ou práticas mundanas. Bem em seu interior, você ainda pode ter algumas cinzas. Por exemplo, um irmão pode ter sido um atleta notável antes de se tornar um cristão. Ele pode pensar que seu amor pelo esporte tenha sido tratado. Pode realmente ocorrer que esse amor tenha sido tratado, mas que as cinzas ainda não o tenham sido. As jovens irmãs podem ter caixas de cinzas de determinadas coisas a que elas dão muito valor. Louvado seja o Senhor por todos os tratamentos que você experimentou pela Sua liderança! Mas, e as cinzas? Deus exige que elas também exige que elas sejam expostas e julgadas. A praga das úlceras afetou os egípcios, mas não recaiu sobre os filhos de Israel. Ainda assim, alguns irmãos podem sentir que espalharam as cinzas e causaram danos aos outros irmãos. Os irmãos devem ser cuidadosos para não andarem como gentios. Ao darmos testemunho do quanto tratamos com as coisas pecaminosas, é possível que espalhemos cinzas pelo ar. Precisamos orar, para que o Senhor nos cubra com o Seu sangue vitorioso. Tal oração haverá de colocar-nos sob a redenção de Cristo, e a unção nos restringirá, para não espalharmos cinzas. O verdadeiro significado desta praga é que ela indica como foi refinado e completo o julgamento de Deus até mesmo ao tratar com o restante das coisas queimadas — e também como extendida a Sua lição para o Seu povo. Precisamos ficar profundamente sensibilizados com o fato de que até mesmo os restos das coisas pecaminosas precisam ser julgados. Aos olhos de Deus, nada do Egito é bom. Tudo o que se relaciona ao viver egípcio, ao viver do mundo, tem que ser ser exposto e julgado totalmente. Que Deus possa expor todos os aspectos do viver do mundo. No segundo grupo de pragas, dois pontos são bem marcantes. O primeiro é que elas não afetaram a terra do Gósen, porque os filhos de Israel estavam sob a redenção do Senhor. O segundo é que, com respeito a tais pragas, os magos egípcios nada puderam fazer. Já enfatizamos que alguns dos filósofos do mundo podem ensinar coisas similares às que ensinamos na pregação do evangelho. Por fim, todavia, tais "magos' modernos não são mais capazes de fazer nada. Os filósofos do mundo não podem salvar as pessoas das moscas, da peste, nem das úlceras. Não conseguem resgatar ninguém da poluição moral e espiritual. Somente a salvação de Deus pode livrar disso as pessoas. Mais cedo ou mais tarde, até mesmo os "magos" se tornarão incapazes diante da mão de Deus. Através de todas essas figuras e pragas, podemos ver a situação real de nossa vida humana caída. Nenhuma outra porção da Bíblia nos mostra esse quadro detalhado da vida mundana nem nos esclarece como ela se opõe à edificação de Deus. O mundo é contrário à edificação de Deus, e o edifício de Deus se opõe ao mundo. O Seu povo escolhido é o fator decisivo entre essas duas forças adversárias. Se o Seu povo permanece no mundo, Ele nada pode fazer. Mas, se eles se dispõem a ser resgatados do mundo para Ele, então Ele pode executar o Seu propósito na terra, a fim de conseguir o Seu lugar de habitação. Por essa razão, Ele precisa vir para tratar com o mundo tirano e ensinar Seu povo a perceber o que ele é, de modo que possam desistir do mundo e não mais nele permanecer. As dez pragas ensinaram aos filhos de Israel qual era a verdadeira natureza do Egito e o que era aquilo que os escravizava, ocupava e possuía.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM DEZENOVE

A EXIGÊNCIA DE DEUS E A TEIMOSIA DE FARAÓ

( 5 ) Em 9:13—10:29, chegamos ao terceiro grupo de pragas. Semelhante aos dois primeiros, este também se compõe de três pragas. Já observamos que Deus utilizou as seis primeiras pragas para expor a verdadeira situação da água, da terra e do ar, todos eles necessários ao viver humano. Como agora veremos, no terceiro grupo de pragas Deus alterou alguns dos princípios que governam as funções do universo. Em Gênesis 1 e 2, Deus restaurou o universo, que fora julgado por causa da rebelião de Satanás. Como resultado de Seu julgamento, havia trevas sobre a face do abismo (Gn 1:2). Tudo se tornou sem forma e vazio. Em Seu trabalho posterior de restauração e criação, Deus fez com que a luz aparecesse, e depois juntou as águas, de modo que a terra seca aparecesse. Nessa terra, vários tipos de vida — grama, ervas e árvores — vieram a existir. Depois Ele criou o sol, a lua e as estrelas, que são necessários ao desenvolvimento de uma vida superior na terra. Através desse procedimento, Ele preparou todo o necessário para o viver do homem na terra. Por essa razão, a Bíblia revela que os céus são para a terra, a terra é para o homem e o homem com seu espírito humano é para Deus. Porque os céus são para a terra, eles providenciam a luz solar, o vento e a chuva, que venham a sustentar a vida na terra. Sem essas três coisas, nada pode crescer. O homem precisa ter essa provisão, se quiser viver na terra para o cumprimento do propósito de Deus.

IX. O NONO CONFLITO Gênesis 2:5 indica que, para tudo crescer, existe a necessidade de duas coisas: da chuva que regue a terra e de um homem que lavre o solo. A chuva é fator básico para o cresci- mento das coisas vivas na terra. Ela se destina primordialmente à vida, a capacitar o crescimento das coisas vivas. A função dela tanto é fazer crescer as plantas e as árvores como saciar a sede do homem. Durante o nono conflito entre o Senhor e Faraó, Deus mudou a função da chuva (9:13-35). Em vez de água, houve granizo a causar danos ao produto da terra. Nessa praga, Deus modificou uma das funções do universo, isto é, alterou um dos princípios naturais governantes do universo. O universo não somente foi criado por Deus, mas também foi organizado e ordenado por Ele para ir ao encontro da necessidade do homem. Por isso Ele ordenou determinados princípios ou leis a governarem o funcionamento do universo. Na sétima praga, Ele alterou o princípio relacionado às funções da chuva. Esta não mais regava a terra para a produção da vida, mas se tornou granizo a danificar a vida nela existente. Em vez de saciar a sede das pessoas, ela as matava. Êxodo 9:23 diz que, enquanto o granizo descia, o fogo corria sobre o solo. Além disso, o fogo estava até mesmo misturado com o granizo (v. 24). Então, dois extremos se misturavam, como indicação de que Deus alterara o funciona-mento do universo.

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É possível aplicar essa praga à nossa própria experiência espiritual. Se o nosso relacio-namento com Deus for correto, Ele mandará sobre nós chuva espiritual que regue o jardim de nosso espírito e que sacie a nossa sede. Mas, se Lhe formos desobedientes ou rebeldes, o nosso relacionamento com Ele será destruído, e Ele alterará a função espiritual da chuva, ao enviar granizo a fogo sobre o nosso espírito. Tal mudança de função espiritual causará sérios danos.

X. O DÉCIMO CONFLITO Na oitava praga, que ocorreu durante o décimo conflito (10:1-20), verificamos uma alte-ração de outra função do universo. Desta vez, Deus modificou a função do vento. Quando funciona normalmente, este propicia um suprimento de ar fresco. Se não houvesse vento algum, todos nós acabaríamos sufocados. Somos gratos ao Senhor pelo funcionamento do vento, que sustenta nossa vida na terra. Espiritualmente falando, o Senhor é também vento para nós. Um verso de um hino diz: "Não posso respirar o suficiente de Ti, ó suave brisa de amor" (Hinos, nº 172). Para uma vida espiritual adequada, precisamos experimentar Cristo como suave brisa. Na oitava praga, Deus alterou a função do vento, de modo que este não mais soprou ar fresco que sustentasse a vida, mas fez aparecer gafanhotos, que devoraram o que restara da praga do granizo. O granizo destruiu as ervas e as árvores de maneira geral, mas os gafanhotos realizaram um trabalho mais refinado, ao devorarem a vida vegetal. Como 10:15 diz, os gafanhotos "cobriam a superfície de toda a terra, de modo que a terra se escureceu; devoraram toda a erva da terra, e todo fruto das árvores, que deixara a chuva de pedras; e não restou nada verde nas árvores, nem na erva do campo, em toda a terra do Egito." Que trabalho completo foi feito pelos gafanhotos! Ao julgar os egípcios e ao ensinar tanto a eles quanto aos filhos de Israel, Deus realizou um trabalho detalhado e refinado. Após o granizo, os gafanhotos vieram consumir o suprimento de vida. Isso foi causado por uma alteração de uma das funções do universo. Após as primeiras oito pragas, parece que não havia mais necessidade de qualquer julgamento ou ensinamento adicional. Observe quanto dano fora causado à terra do Egito. A água se tornou em sangue, o pó se tornou em piolhos, a água produziu rãs, as moscas poluíram o ar, a peste destruiu o gado, rebentaram úlceras nos homens e animais, a chuva se transformou em granizo, e o vento produziu gafanhotos. Que destruição total! Se eu estivesse lá, teria dito ao Senhor que essas pragas eram suficientes, porque tudo fora destruído.

XI. O UNDÉCIMO CONFLITO Deus, entretanto, ainda não terminara. Com a nona praga, Ele prosseguiu para mudar a função do sol (10:21-29). No undécimo conflito entre Ele e Faraó, "houve trevas espessas sobre toda a terra do Egito por três dias" (10:22). Tais trevas eram tão densas, que se podia apalpá-las. Não eram trevas vagas e abstratas, mas sólidas e espessas. Êxodo 10:23 diz dos egípcios: "Não viram uns aos outros, e ninguém se levantou do seu lugar por três dias". Por causa dessas densas trevas, todo o movimento do Egito cessou. Por um período de três dias, tudo parou. Observamos aqui a sabedoria de Deus. Para tratar com os egípcios, Ele não utilizou armas que os homens consideram poderosas. Pelo contrário, usou coisas como rãs, piolhos e moscas. Ao exercer Seu controle sobre o universo para mudar os

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princípios e as leis naturais, enviou sobre os egípcios trevas tão densas, que era impossível alguém mover-se. O terceiro grupo de pragas foi ainda mais significativo do que os dois primeiros, porque, nestas pragas, Deus tratou com a chuva, o vento e a luz do sol. Isso fez com que ficasse impossível a vida para os egípcios. Não é de espantar que os servos de Faraó lhe dissessem: "Até quando zombará de nós este homem? Deixa ir os homens, para que sirvam a Jeová seu Deus. Acaso não sabes ainda que o Egito está arruinado?" (10:7, hebraico). Faraó, todavia, continuou obstinado. Faraó possuía uma habilidade incomum para ficar contra Deus. Podia resistir a todo tipo de sofrimento, sem ser subjugado. Se eu fosse ele, ter-me-ia rendido à exigência do Senhor já na primeira praga. Tão logo visse a água a se tornar em sangue, eu teria dito aos filhos de Israel que saíssem de meu território. Mas, embora a terra do Egito fosse golpeada por praga após praga, ele continuou teimoso, mesmo quando as funções do universo relacionadas ao Egito foram alteradas. Faraó negociou muitas vezes com Moisés e Arão. Em 10:8, ele lhes disse: "Ide, servi a Jeová vosso Deus; porém quais são os que hão de ir?" (hebraico). Reconhecendo a estraté-gia de Faraó, Moisés replicou: "Havemos de ir com os nossos jovens e com os nossos velhos, com os filhos e com as filhas, com os nossos rebanhos e com os nossos gados havemos de ir; porque temos de celebrar festa a Jeová" (v. 9 hebraico). Ao ouvir isso. Faraó lhes disse que o mal estava diante deles, querendo dizer que os jovens estavam em perigo de ser acidentalmente feridos ou mortos. Então exigiu que os pequenos ficassem com ele e que os homens saíssem para servir ao Senhor. Notamos aqui a sutileza de Faraó. Todos os pais sabem que lhes é extremamente difícil deixar para trás seus filhos, porque seus corações estão postos neles. Faraó o percebeu. Ao querer reter os pequeninos, tentou negociar com Moisés e Arão. Mas eles não concordaram com tal pedido. Pelo contrário, Moisés estendeu a sua vara sobre a terra do Egito, e a oitava praga, a dos gafanhotos, recaiu sobre Faraó e os egípcios. Durante a praga das densas trevas, Faraó novamente negociou com Moisés e Arão. Desta vez, ele disse: "Ide, servi a Jeová. Fiquem somente os vossos rebanhos e o vosso gado; as vossas crianças irão também convosco" (10:24, hebraico). Embora tivesse sido tão gravemente golpeado por Deus, Faraó ainda assim não deu ouvidos à Sua exigência. Pelo contrário, continuou a negociar. A isso, Moisés respondeu: "Também tu nos tens de dar em nossas mãos sacrifícios e holocaustos, que ofereçamos a Jeová nosso Deus. E também os nossos rebanhos irão conosco, nem uma unha ficará" (10:25-26, hebraico). De acordo com 9:15-16, o Senhor disse a Faraó: "Pois já eu poderia ter estendido a mão para te ferir a ti e ao teu povo com pestilência, e terias sido cortado da terra; mas deveras para isso te hei mantido, a fim de mostrar-te o meu poder, e para que seja anunciado o meu nome em toda a terra". O versículo 16 indica que foi Deus quem fez Faraó perma-necer. Em certo sentido, Ele o apoiou. Deus precisava de que essa pessoa teimosa perma-necesse firme. Em si mesmo, Faraó não poderia resistir assim; por isso Deus fê-lo perma-necer. Para mostrar o Seu poder e manifestar o Seu nome em toda a terra. Ele precisava de Faraó teimoso. Já enfatizamos que as pragas advindas sobre o Egito não foram somente para julga-mento, mas também para ensinar os egípcios e os filhos de Israel. Se não tivéssemos os primeiros quatorze capítulos de Êxodo, não creio que poderíamos conhecer o mundo inteiramente, nem ver com clareza a posição de Deus em relação ao mundo. Faraó foi o único no mundo que não foi subjugado. Ele não foi subjugado nem mesmo ao serem mortos os primogênitos. Isto se prova pelo fato de que mais tarde ele perseguiu os filhos

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de Israel. Deus o usou para ensinar os egípcios, os filhos de Israel e o Seu povo ao longo das gerações. O povo da igreja hoje precisa compreender, através destes capítulos de Êxodo, a natureza, o significado e o resultado da vida no mundo e a atitude de Deus com relação a essa vida. Somente ao receber tal revelação é que podemos realmente odiar a vida mundana. Muitos cristãos, hoje, odeiam o pecado; mas poucos odeiam o mundo. Todavia Tiago 4:4 diz: "Não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo, constituí-se inimigo de Deus." Podemos ser muito cuida-dosos com relação ao perder a calma; mas podemos ser extremamente descuidados com respeito a guardar nossos corações de amar ao mundo. Perder a calma é pecaminoso, mas amar ao mundo é constituir-se em inimigo de Deus. Para Ele, o mundanismo é pior do que o pecado. O pecado é contrário à Sua justiça, ao passo que o mundanismo contraria a Sua santidade, que é mais elevada do que Sua justiça. Como precisamos do ensinamento que o livro de Êxodo nos proporciona! É através dos seus primeiros capítulos que chegamos a perceber como Deus odeia o mundo. Se recebermos o ensinamento desses capítulos, odia-remos não apenas o pecado, mas também o mundo. Alguns mestres modernos argumentam que Deus não foi justo ao interferir na situação em território de Faraó. De acordo com o seu ensinamento, este último não estava errado ao exercer sua autoridade dentro de sua própria jurisdição. Falharam, não vendo que Deus utilizou Faraó para ensinar o Seu povo escolhido. Para o cumprimento de Seu próprio pro-pósito, Ele fez Faraó permanecer. Precisava dele e o usou para ensinar muitas lições a Seu povo. Gosto das pragas pelas lições que elas me ensinaram, principalmente com referência ao mundo. Sou cristão há mais de cinquenta anos, mas nunca conheci o mundo de maneira tão completa como agora, através de meu mais recente estudo destes capítulos, referente às dez pragas. Essas pragas me ensinaram muitas lições sobre a natureza, o significado e a consequência de uma vida mundana. Se virmos o sangue, as rãs, os piolhos, a peste, as úlceras, o granizo, os gafanhotos e as trevas, não precisaremos de que ninguém nos exorte a não amarmos o mundo. Esponta-neamente, veremos que as coisas do mundo não são amáveis, e automaticamente para-remos de amar o mundo. Você ama coisas tais como rãs, piolhos, moscas, peste, gafa-nhotos e trevas? É claro que não! Todavia, pode ser que você as ame sem saber, porque não as vê pelo que realmente são. Por exemplo, você pode pensar que o sangue seja água, ou que os piolhos sejam pó. Somente ao olhar para o interior da verdadeira natureza das coisas do mundo é que você deixará de amá-las. Agradecemos ao Senhor por Faraó e pela sua teimosia. Em Romanos 9, Paulo apresenta o caso de Faraó como exemplo. Porque ele não se submeteu, Deus enviou praga após pra-ga sobre os egípcios. Em cada praga, há uma lição para nós. Se ficarmos profundamente sensibilizados com o significado das pragas, nós nos desligaremos do mundo e chega-remos a odiar a vida nele. Na primeira praga, houve sangue; e, na nona, trevas. Ambos tipificam morte. Assim, as pragas foram de morte até morte. A vida do mundo é totalmente uma questão de morte. Mas, de acordo com Gênesis 1 e 2, a ordenação de Deus em Sua criação é de vida a vida. Porque os homens caídos amam o mundo, Deus, através das pragas, expôs o fato de que o mundo não caminha de vida a vida, mas de sangue a trevas, de morte a morte. Entre o sangue e as trevas, acham-se as rãs, os piolhos, as moscas, a peste, as úlceras, o granizo e os gafanhotos. Na sétima, oitava e nona pragas, o funcionamento do universo no que diz respeito ao Egito foi alterado, para indicar que a própria atmosfera que pairava sobre o

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Egito já não era mais conveniente para a vida humana. Pelo contrário, só resultava em morte. Já enfatizamos que o Egito é um tipo do mundo. Se tivermos uma visão pormenorizada do mundo, conheceremos a atitude de Deus com relação a ele, e espontaneamente deixa-remos de amá-lo. Se quisermos ser o lugar da habitação de Deus na terra, precisaremos conhecer o mundo de maneira completa, e o elemento do mundo precisa ser retirado de nosso ser. Somente ao sermos apartados do mundo é que poderemos tornar-nos o lugar de habitação de Deus. Em Sua redenção, somos não apenas salvos do pecado e do julgamento de Deus, mas também apartados do mundo. De acordo com Gálatas 1:4, Cristo Se deu pelos nossos pecados, a fim de livrarmos desta presente era maligna. A redenção total, assim, inclui tanto a Páscoa quanto o cruzar o Mar Vermelho. Após serem remidos do Egito os filhos de Israel, Deus os conduziu ao Monte Horebe, onde receberam a revelação concernente ao Seu lugar de habitação. O livro de Êxodo, portanto, fornece-nos uma visão clara tanto do mundo como do lugar de habitação de Deus. O meu encargo se dirige principalmente aos jovens. Eles têm um futuro promissor à sua frente. Ainda precisam, todavia, perceber que tudo o que se relaciona à vida no mundo caminha de morte a morte, com diversas pragas em seu meio. Se amarmos o mundo, todo o funcionamento de nosso universo será alterado, e todos os recursos de vida serão destruídos. Esse é o julgamento que Deus exerce sobre o mundo, tal como nos revela o livro de Êxodo.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM VINTE

A NEGOCIAÇÃO SUTIL DE FARAÓ

Antes de prosseguirmos em nossas considerações referentes ao conflito final entre Deus e Faraó, precisamos atentar à negociação sutil deste. Faraó tipifica não apenas Satanás, mas também o "ego" e o homem natural. Além disso, os nossos parentes ou amigos podem ser-nos hoje Faraós, bem como nossa mente natural, nossa vontade e emoção podem ser um Faraó que se rebela contra Deus ou que com Ele negocia sutilmente.

I. A EXIGÊNCIA DE DEUS

A. Permitir que Seu Povo Saísse em Viagem de Três Dias Deserto Adentro

A exigência de Deus para com Faraó está registrada em 5:1. De acordo com esse versículo, o Senhor lhe disse através de Moisés e Arão: "Deixa ir o meu povo, para que me celebre uma festa no deserto''. Depois, o Senhor exigiu que Seu povo realizasse uma jornada de três dias deserto adentro e sacrificasse a Ele (5:3). Essa jornada de três dias tipifica não apenas uma longa distância, mas também sepultamento e ressurreição. Na Bíblia, o terceiro dia tipifica ressurreição. O Senhor Jesus ressurgiu ao terceiro dia, e, de acordo com Gênesis 1, a terra seca, um tipo do Cristo em ressurreição, surgiu ao terceiro dia. Por isso, a jornada de três dias aqui simboliza sepultamento e ressurreição. O homem natural precisava ser sepultado, de modo que o povo de Deus pudesse emergir da morte em ressurreição. A travessia do Mar Vermelho tipificava o processo de sepultamento e ressurreição. Tanto aos olhos de Deus quanto de Satanás, os filhos de Israel passaram pelo sepultamento do Mar Vermelho e emergiram em ressurreição. Como povo chamado e escolhido por Deus, precisamos também passar por esse processo de sepultamento e ressurreição, isso significa que precisamos viajar três dias, a fim de sermos sepultados e ressurretos. Por meio dessa viagem, o povo de Deus não somente sai do Egito, mas também entra, em ressurreição, numa nova atmosfera. Pelo lado negativo, o deserto tipifica um lugar de peregrinação; mas, positivamente, simboliza um reino de separação. Quando os filhos de Israel entraram no deserto, foram apartados de tudo o que era egípcio, de tudo o que era mundano. Tal separação se rela-ciona ao sepultamento e à ressurreição. Antes, estávamos no Egito, isto é, no mundo. Mas, através do sepultamento e da ressurreição, passamos do mundo ao deserto, onde fomos apartados para o Senhor. Ao tratar com Faraó, Ele exigiu tal separação para o Seu povo.

B. Para Que Seu Povo Pudesse Celebrar-Lhe Uma Festa e a Ele Sacrificar A separação, entretanto, não era o objetivo de Deus. O Seu objetivo era que os filhos de Israel Lhe celebrassem uma festa. Queria que eles se alegrassem com Ele em Sua presença. Celebrar a Deus uma festa é desfrutar Dele com Ele. Todo aquele que realmente foi salvo,

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experimentou muitas vezes da abundância do deleite na presença do Senhor. Essas ocasiões constituem verdadeiros feriados. Se você não desfrutou dessa festa com o Senhor, mas apenas fica feliz ao participar dos divertimentos mundanos, então talvez você ainda não esteja salvo. Se salvo independe de ter esse gozo. Todo aquele que é salvo, entretanto, terá essa experiência, ao menos uma vez em sua vida cristã, de celebrar uma festa ao Senhor, de desfrutar Dele em Sua presença. Às vezes, fico tão fora de mim de alegria no Senhor, que é como se eu estivesse dançando diante Dele. Isso não é doutrina ou teoria, mas um deleite maravilhoso de nossa salvação. Além disso, os filhos de Israel deveriam sacrificar ao Senhor. De acordo com nossa experiência, quando Lhe celebramos uma festa, desfrutando Dele em Sua presença, o nosso coração é profundamente tocado pelo Senhor Jesus. Ele se nos torna muito querido e precioso, e brota em nós um amor cheio de viço por Ele. Simplesmente não temos palavras para expressar como Ele nos é doce. Ele toca as profundezas de nosso ser, e respondemos agradecendo ao Pai por Seu querido Filho. Isto é oferecer sacrifício a Deus: apresentar-Lhe o Cristo precioso como sacrifício. Quando Lhe oferecemos Cristo, o Pai fica satisfeito, contente e alegre conosco por nosso sacrifício de Cristo. Por isso, a exigência que Ele fez a Faraó foi que este deixasse Seu povo viajar três dias deserto adentro, de modo que Lhe celebrassem uma festa e a Ele sacrificassem. Esse é o gozo da salvação de Deus.

II. A NEGOCIAÇÃO SUTIL DE FARAÓ

A. Rejeitou a Exigência de Deus

A princípio, Faraó rejeitou a exigência de Deus e disse: "Quem é Jeová para que lhe ouça eu a voz, e deixe ir a Israel? Não conheço Jeová, nem tão pouco deixarei ir a Israel" (52, hebraico). Satanás é sutil. O "ego" e o homem natural, quer os nossos ou dos outros, também são sutis. Além disso, nossa mente, vontade e emoção naturais também são sutis. Na verdade, qualquer coisa natural é sutil. Com isso, verificamos que Faraó pode ser encontrado em qualquer lugar. Ele nega Deus e ignora Sua exigência de deixar ir os filhos de Israel. Não acredito que Faraó não soubesse na verdade que havia um Deus tal como Jeová. Pelo contrário, ele devia saber de Sua exigência, mas de propósito O negou. E insolen-temente perguntou por que precisava ouvir a palavra de Deus. O homem natural faz o mesmo hoje. A esposa de um irmão, por exemplo, pode saber que existe um Deus, mas pode rejeitar Sua exigência. O irmão pode dizer a ela que recebeu um chamado do Senhor. Mas ela pode reagir e dizer: "Quem é Deus? Por que deveria eu atentar ao chamado que Ele lhe faz?" Nessa hora, ela é Faraó rejeitando a Deus e a Sua exigência. Na verdade, era Satanás em Faraó que negava a Deus. Satanás sabia muito bem que existia um Deus, porque numa certa época estivera em Sua presença. Todavia, ele fez com que Faraó negasse a Deus e se recusasse a ouvi-Lo. Esse foi o primeiro estágio da barganha sutil que ele promoveu. Muitos salvos negociaram assim com o Senhor ao ouvirem o evangelho pela primeira vez. Bem em seu interior, eles disseram: "Quem é Deus? Por que devo eu ouvi-Lo? Por que Ele não ouve a mim? Por que preciso eu Dele? Ele é que precisa de mim. No que me diz respeito, os céus e a terra deveriam ser meus." Muitos já argumentaram assim com Deus. A resposta de Deus a tal barganha sutil é enviar uma praga. Observei isso muitas vezes. Um inteligente estudante de medicina, por exemplo, pode argumentar com Deus ao ouvir a palavra do evangelho. Pode argumentar e dizer-Lhe que não tem intenção de ouvi-Lo.

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Em vez de replicar, Deus envia um tipo de praga — talvez uma doença que nenhum médico consegue diagnosticar — a fim de conduzir esse jovem ao arrependimento e à fé em Cristo. Ao enviar essa praga, Deus utiliza o Seu dedo. Os magos egípcios reconhe-ceram que uma das pragas fora ocasionada pelo dedo de Deus (8:19). Faraó argumentou com Ele, até que as pragas começaram a chegar. Todavia, tão logo cada praga terminava, ele novamente começava a argumentar com o Senhor. Por isso, Deus enviou praga após praga. Bem poucos recebem o evangelho sem hesitação nem argumentação. Para tratar com tal tipo de barganha, Deus enviou pragas repetidas vezes.

B. Propôs Permitir Que Israel Sacrificasse a Seu Deus no Egito Observa-se o segundo estágio da negociação de Faraó ao dizer ele a Moisés e Arão: "Ide, oferecei sacrifícios ao vosso Deus nesta terra" (8:25). Faraó aqui estava dizendo-lhes que deveriam sacrificar ao seu Deus, permanecendo na terra do Egito. Não havia necessidade de eles dar início a uma viagem ao deserto. Faraó admitia que havia um Deus a exigir que Seu povo O servisse e a Ele sacrificasse. Mas não estava disposto a deixá-los sair do país. Podia sacrificar a Deus, mas permanecendo no Egito. A essa proposta sutil, Moisés replicou: "Não convém que façamos assim porque oferece-ríamos ao Senhor nosso Deus sacrifícios abomináveis aos egípcios; eis que se oferecermos tais sacrifícios perante os seus olhos não nos apedrejarão eles?" (8:26). Moisés sabia que o que o povo de Deus sacrificaria ao Senhor seria uma abominação aos egípcios. O que Deus aceitava, os egípcios rejeitavam. Por isso eles não podiam sacrificar a Deus no Egito. Endurecendo seu coração, Faraó recusava-se a dar ouvidos a Moisés. Deus então enviou uma outra praga. Sem dúvida, Satanás e o homem natural veriam a inutilidade de argu-mentar com Deus! Ele é grande, e tem uma maneira de tratar conosco. Quando acabamos de argumentar, Ele simplesmente utiliza Seu dedo para tratar conosco por meio de nova praga.

C. Propôs Permitir Que Israel Saísse a Pequena Distância Para Sacrificar a Seu Deus no Deserto

No terceiro estágio de sua barganha sutil, Faraó disse: "Deixar-vos-ei ir, para que ofereçais sacrifícios a Jeová vosso Deus no deserto; somente que, saindo, não vades muito longe" (8:28, hebraico). Se os filhos de Israel concordassem em não ir muito longe, Faraó poderia buscá-los a qualquer hora que quisesse. As vezes, os Faraós de hoje nos permitirão crer no Senhor Jesus, contanto que não vamos àquilo que eles consideram um extremo. Encorajam-nos a sermos equilibrados e a não irmos muito longe. Os pais, por exemplo, podem dizer a seus filhos: "Quando eu era jovem, também acreditava em Jesus. Mas você está exagerando em seguir o Senhor. Você não precisa ir às reuinões tantas vezes por semana. Será que uma hora pela manhã, no domingo, não é suficiente? Está bem crer em Jesus; mas não seja fanático!" Depois que Faraó argumentou dessa maneira, o Senhor enviou ainda mais uma praga. Ele faz o mesmo com os Faraós de hoje. Quando o homem natural luta contra Deus, Este envia uma praga sobre ele.

D. Propôs Permitir Que Somente os Homens Servissem a Seu Deus

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Incapaz de suportar as pragas, Faraó dispôs-se a permitir que os homens de Israel servis-sem a seu Deus, mas não juntamente com os jovens e os velhos (10:8-11). Quando Faraó perguntou quem iria servir ao Senhor, Moisés disse: "Havemos de ir com os nossos jovens, e com os nossos velhos, com os filhos e com as filhas, com os nossos rebanhos e com os nossos gados havemos de ir" (10:9). Faraó então começou a argumentar nova-mente, dizendo que o mal estava diante deles (v. 10). Depois, continuou dizendo: "Não há de ser assim: ide somente vós os homens, e servi a Jeová" (v. 11, hebraico). Faraó dizia que os amava, que se preocupava com eles e que queria que nenhum mal lhes sobreviesse. Que sutil! Muitos são hoje assim. Os pais de um jovem podem dizer: "Como pessoa mais velha, conheço as provas da vida humana. Você não sabe que o mal está diante de você no futuro. Por isso, aconselho-o a crer no Senhor Jesus e a segui-Lo; mas não de maneira completa. Se O seguir de todo o seu coração, você não sabe o que lhe acontecerá." Faraó, aqui, utilizou o amor para separar do Senhor o povo. Enquanto ele pudesse ainda reter as esposas, os jovens e os velhos, os homens não deixariam verdadeiramente o Egito, porque os seus corações ainda ali permaneceriam. Porque Faraó se recusou a deixar que os filhos de Israel fossem de maneira completa, uma praga mais severa, a dos gafanhotos, veio sobre os egípcios.

E. Propôs Permitir Que Israel Saísse a Servir a Seu Deus, Mas Não Com Seus Rebanhos e Gados

A praga dos gafanhotos forçou Faraó a negociar novamente com o Senhor. Desta vez ele disse: "Ide, servi a Jeová. Fiquem somente os vossos rebanhos e o vosso gado; as vossas crianças irão também convosco" (10:24, hebraico). Tal sugestão também foi sutil. Moisés respondeu a Faraó de maneira excelente: "Também tu nos tens de dar em nossas mãos sacrifícios e holocaustos, que ofereçamos ao Senhor nosso Deus. E também os nossos rebanhos irão conosco, nem uma unha ficará; porque deles havemos de tomar, para servir a Jeová nosso Deus" (10:25-26, hebraico). Moisés não disse que o povo precisava de gado para a sua própria sobrevivência, mas que ele era necessário para providenciar algo a ser sacrificado para o Senhor. Isso indica que Moisés se preocupava não com a maneira como haveriam de viver as pessoas, mas em ter algo para oferecer a Deus. Eles se preocupavam com a necessidade de Deus, não consigo mesmos. Por isso, não haveriam de permitir que seus rebanhos e gados permanecessem no Egito. Zangado com a resposta de Moisés, Faraó proibiu-os de voltar a ele novamente. Muitos de nós passamos por esses cinco estágios de barganha com o Senhor. A princí-pio, nós O negamos; depois cremos, mas queríamos permanecer no Egito. Posteriormente, estávamos dispostos a deixar o Egito, mas não a ir muito longe. Mais tarde, seguiu-se a negociação acerca do que seria deixado no Egito. Faraó sabe que onde se acham as riquezas de alguém, aí também estará o seu coração (Mt 6:21). Se ele puder reter nossa riqueza, nossos corações estarão em sua mão. Muitos cristãos hoje crêem no Senhor Jesus, mas o fazem sem mudar seu estado. Perma-necem no Egito, no mundo. Todavia, se permanecermos no Egito após crermos no Senhor, nossos pecados poderão ser perdoados, mas não seremos resgatados da tirania de Satanás. Permanecer no Egito é ficar sob a sua tirania. Outros cristãos estão dispostos a se moverem a pequena distância do Egito. Ao agirem assim, podem gabar-se de sua esperteza, pensando serem sábios e equilibrados. Gostam de enfatizar que não são extremistas.

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Outros ainda estão no terceiro, quarto ou quinto estágio da negociação com Deus. Satanás está disposto a deixá-los ir, mas não aos seus jovens. Muitos cristãos ainda têm sua riqueza e possessões no mundo. Isso indica que eles ainda não realizaram um êxodo. O batismo deles foi a travessia do Mar Vermelho, mas isso constituiu apenas um ritual para torná-los parte da religião. Somos gratos ao Senhor, porque a grande maioria dos que estão em Sua restauração realizaram um êxodo saindo do Egito. Esses cinco estágios de negociação se repetem sempre que o evangelho é pregado. É raro que alguém seja totalmente salvo pela primeira vez que ouve o evangelho. A maioria das pessoas luta, hesita e negocia. Por fim, o dedo de Deus é utilizado em seu benefício. Podemos utilizar nossa mente para negociar e argumentar com o Senhor. Mas Deus não atenta à nossa argumentação. Quando se acaba nossa barganha, Ele novamente utiliza o Seu poder sobre a nossa situação.

III. A PERSISTÊNCIA DE DEUS

A. Em Sua Exigência Absoluta Não importa o quanto Faraó possa negociar com Deus; Ele é persistente. Nada pode mudá-Lo. Uma vez que Ele nos tenha feito uma exigência, não haverá de desistir. Pelo contrário, insistirá, até que ela seja cumprida. É inútil argumentar com Ele. Ele é paciente, às vezes esperando anos até que estejamos dispostos a submeter-nos às Suas exigências. Podemos pensar que, após um longo período de tempo, Ele venha a mudar de ideia; isto, apenas para descobrirmos que Ele é ainda mais persistente do que nunca. O céu e a terra podem passar, mas a Sua vontade permanece. Faraó precisa reconhecer o fato de que Ele é persistente e não vai alterar Sua exigência absoluta.

B. Utilizou a Última Praga Para Forçar Faraó a Permitir Que Israel Saísse do Egito

Ao insistir em que Sua exigência fosse satisfeita, o Senhor utilizou a última praga, a matança dos primogênitos, para forçar Faraó a liberar Israel do Egito (12:29-33). Não importa a extrema teimosia de Faraó; ele não poderia suportar essa praga. Então disse a Moisés e Arão: "Levantai-vos, saí do meio do meu povo, assim vós como os filhos de Israel; ide, servi a Jeová, como tendes dito" (12:31, hebraico). Depois, complementou: "Levai também convosco vossas ovelhas e vosso gado, como tendes dito; ide-vos embora" (v. 32).

C. Fez Que os Egípcios se Dispusessem a Dar Jóias e Vestes a Israel Êxodo 12:35-36 registra: "Fizeram, pois, os filhos de Israel conforme a palavra de Moisés, e pediram aos egípcios objetos de prata, e objetos de ouro, e roupas. E Jeová fez que seu povo encontrasse favor da parte dos egípcios, de maneira que estes lhes davam o que pediam. E despojaram os egípcios" (hebraico). Deus fez que os egípcios se dispu-sessem a dar a Israel essas jóias e vestes. Os filhos de Israel, assim, despojaram os egípcios. Por esse motivo, quando chegou a hora de erigir-se o tabernáculo, eles tinham os materiais necessários. Alguns podem pensar que Deus não tenha sido justo ao permitir que Israel despojasse os egípcios dessa maneira. Lembre-se de que Faraó forçou os israelitas a lhe edificarem

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cidades-celeiros. Por esse trabalho, não lhes pagou nada. Assim, o despojamento dos egípcios foi na verdade um acerto de contas. Em Sua justiça e retidão, Deus teve uma maneira de acertar as contas. Como é maravilhoso que a última praga não apenas forçou Faraó e os egípcios a expulsarem os filhos de Israel, mas também fê-los dispostos a dar aos israelitas tudo o que estes pediram! Até mesmo essa questão do despojamento dos egípcios tem uma aplicação hoje. Sei de muitos que negociaram primeiro com o Senhor e foram depois verdadeiramente salvos por Ele. Ao serem salvos, despojaram totalmente o mundo e levaram consigo uma porção de coisas boas do mundo para o Senhor. Muitos podem testificar que, após terem sido cha-mados e salvos, nada deixaram no mundo. Pelo contrário, tudo o que tinham, tiraram do mundo para o propósito de Deus. Já enfatizamos que os materiais dados aos israelitas pelos egípcios foram utilizados para a edificação do tabernáculo. A prata foi usada para fazer colchetes, e o ouro para recobrir as tábuas e outras peças dos utensílios do tabernáculo. Aos olhos dos egípcios, tal uso de seu ouro e prata seria um desperdício. Aos olhos de Deus, entretanto, isso não era um desperdício. A riqueza do Egito foi tomada para o propósito de Deus. Ao longo dos séculos, muitos dos chamados e resgatados do mundo pelo Senhor Lhe trouxeram muitíssimas coisas, para que se tornassem um desperdício pelo bem Dele e de Seu propósito. Quando Maria ungiu o Senhor Jesus com óleo de nardo caríssimo, por exemplo, Judas o considerou um desperdício. Disse que seria melhor vendê-lo e dar o dinheiro aos pobres (Jo 12:3-5). E perguntou por que tanto fôra desperdiçado no Senhor Jesus. Mas tudo o que se toma do mundo deveria ser conduzido ao Senhor Jesus e desper-diçado sobre Ele. Agir assim é ser salvo ao máximo. Esse é um sinal do nosso profundo amor pelo Senhor, um sinal de que fomos plenamente salvos. Por fim, aquilo que tomamos do mundo é trazido, a fim de ser utilizado para o lugar da habitação de Deus. Essa é a nossa experiência hoje. Não apenas nós mesmos deixamos o Egito; também não permitiremos que nada que se relacione a nós permaneça no mundo. Pelo contrário, toma-mos a riqueza do mundo e desperdiçamo-la sobre o Senhor como um penhor de nosso amor por Ele. Essa riqueza tomada é então utilizada no lugar da habitação de Deus na terra.

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MENSAGEM VINTE E UM

A DUREZA DO CORAÇÃO DE FARAÓ Nesta mensagem, chegamos a um ponto muito difícil: a dureza do coração de Faraó. O ponto de divergência a esse respeito é se Deus endureceu o coração de Faraó, ou se este endureceu o próprio coração. Sobre o endurecimento desse coração, Moisés utiliza várias expressões. Em 4:21, Deus afirma: "eu lhe endurecerei o coração". Todavia, em 8:15, Moisés fala que Faraó "continuou de coração duro" (hebraico). Além disso, em 9:7 lemos que "o coração de Faraó se endureceu", e em 9:35, que Faraó estava "de coração endurecido". Por um lado, em 10:1 assevera o Senhor: "porque lhe endureci o coração"; mas, por outro lado, em 10:20 verificamos que o Senhor "fez duro o coração de Faraó" (hebraico). De conformi-dade com o significado das palavras hebraicas aqui utilizadas, o coração de Faraó não ape-nas se tornou duro, mas também obstinado e teimoso. O fato de Moisés utilizar palavras diferentes para descrever o endurecimento desse coração indica a seriedade do assunto.

I. A SOBERANIA DE DEUS A Bíblia afirma claramente que tanto Deus endureceu o coração de Faraó quanto este endureceu o seu próprio coração. Alguns dos que não crêem na Bíblia argumentam que Deus estava errado ao endurecer o coração de Faraó. À época em que Paulo escreveu o livro de Romanos, essa argumentação já começara. Por essa razão, ele apelou para a soberania de Deus e perguntou: "Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?" (Rm 9:20). No versículo seguinte, ele continua dizendo: "Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro para desonra?" Paulo aqui afirma que, como Criador, Deus tem autoridade soberana para realizar tudo o que Lhe apraz. Quem somos nós para argumentarmos com Ele? Precisamos reconhecer que somos barro e que Ele é o oleiro. Ele tem autoridade para, da mesma massa, fazer um vaso para honra e outro para desonra. Ele tem o direito de fazer vasos de ira (v. 22) como também vasos de misericórdia (v. 23). Você se considera um vaso de ira ou de misericórdia? Por um lado, o tipo de vaso que somos depende totalmente da soberania de Deus. Mas, por outro lado, depende daquilo que dizemos de nós próprios. Como em muitas outras coisas do universo, aqui existem dois lados: o lado de Deus e o do homem. Se dizemos que somos vasos de ira, isso é o que somos. Mas, se dizemos que somos vasos de misericórdia e de honra para glória, então somos tais vasos. Em Romanos 9:16 Paulo assevera: "Assim, pois, não depende de quem quer, ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia". Ser um vaso de misericórdia e de honra para glória não depende da nossa vontade e do nosso correr, mas da misericórdia de Deus para conosco. É por sua misericórdia soberana que somos vasos de misericórdia. Não fo-

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mos nós que decidimos tornar-nos vasos de misericórdia. Ele tomou tal decisão antes de nascermos. Somente por causa de Sua soberania é que estamos capacitados a dizer que somos vasos de misericórdia. Em nós mesmos e por nós próprios, não temos direito de afirmá-lo. Como Aquele que tem autoridade sobre a argila, o Oleiro decidiu fazer-nos vasos de misericórdia. A nossa confissão de que somos vasos de misericórdia, todavia, é uma prova de que Ele nos fez assim.

II. A MISERICÓRDIA DE DEUS

A. De Acordo com Sua Própria Vontade A misericórdia de Deus está de acordo com Sua própria vontade. Em Romanos 9:18, Paulo conclui: "Logo, tem ele misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz". Não podemos explicar por que Deus quis manifestar-nos misericórdia. A única coisa que podemos afirmar é que, segundo Sua vontade, a Sua misericórdia se estendeu até nós. A Bíblia é enfática a esse respeito. De acordo com Romanos 9:18, Deus tanto pode mostrar misericórdia quanto endurecer. Os casos de Moisés e Faraó o ilustram. Moisés foi aquele a quem Deus quis mostrar Sua misericórdia, ao passo que Faraó foi aquele a quem Ele quis endurecer. Em Romanos 9:15, Paulo menciona a palavra de Deus a Moisés: "Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão." Isso indica que a misericórdia que nos foi mostrada está inteiramente de acordo com a própria vontade de Deus.

B. Debaixo da Sua Soberania Além disso, a misericórdia de Deus está sob Sua soberania (Rm 9:20-23). A única coisa que podemos dizer para explicar Sua misericórdia para conosco é que, em Sua soberania, Ele decidiu ser misericordioso para conosco. Observe o caso de Esaú e Jacó. Quem pode explicar por que Deus quis escolher Jacó, e não Esaú? Tudo o que podemos afirmar é que, em Sua soberania, Ele escolheu um e não o outro. A Sua escolha está totalmente de acordo com a Sua soberania. Como favorecidos por Deus, não deveríamos simplesmente agradecer-Lhe por Sua misericórdia, mas também adorá-Lo por Sua soberania. Há hinos referentes à misericórdia de Deus, mas é muito difícil descobrir um hino relativo à Sua soberania. Quando chega a hora de escrevermos hinos referentes à Sua soberania, temos pouco a dizer. Como Paulo, precisamos ser conduzidos para debaixo da soberania de Deus. Em vez de discutirmos com Ele, deveremos dizer: "Ó Deus Pai, eu Te adoro por Tua soberania. Embora não seja digno, em Tua soberania quiseste mostrar-me Tua misericórdia." Jamais tenha a presunção de tocar a soberania de Deus. Atente ao aviso de Paulo quando ele pergunta: "Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?" (Rm 9:20). Se percebermos que não somos nada além de barro, não discutiremos com Deus. Pelo contrário, simplesmente O adoraremos por Sua soberania.

III. O LIVRE ARBÍTRIO DO HOMEM Há três coisas no universo que não podem ser negadas: a soberania de Deus, a Sua misericórdia e o livre arbítrio do homem. A soberania e a misericórdia de Deus tanto são divinas quanto eternas, sem princípio nem fim. O livre arbítrio do homem, ao contrário, é

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algo criado por Deus. Ao criar o homem com livre arbítrio, Ele demonstrou Sua grandeza. Por ser grande, Ele não nos força a escolhê-Lo. Pelo contrário, dá-nos liberdade para fazermos nossa própria opção. O fato de Ele haver dado ao homem um livre arbítrio também revela Seu amor e Sua sabe-doria. Ninguém que seja grande, sábio e amoroso, compele os outros a realizarem algo. Pelo contrário, tal pessoa sempre há de respeitar o livre arbítrio dos outros e dizer: "A escolha é sua. Se quiser agir assim, pode escolher. Você é quem deve tomar a decisão." Se aceitamos ou rejeitamos a Deus, isso depende de nossa escolha. Gênesis 2 prova que o homem tem livre arbítrio. De acordo com esse capítulo, Deus pôs o homem por Ele criado diante de duas árvores — a da vida e a do conhecimento do bem e do mal; e o homem era livre para escolher entre ambas. Quando jovem, eu pensava que Deus se enganara, ao permitir que a segunda árvore estivesse no jardim. Parecia-me que, se houvesse uma só árvore, a da vida, não teria havido problema. Mas, em Sua grandeza, sabedoria e amor, Ele propiciou ao homem a oportunidade de optar por Ele, ao colocar diante dele duas árvores. De acordo com Gênesis 3, Eva deliberadamente escolheu comer o fruto da árvore do conhecimento. Ao tomar tal decisão, exercitou ela o seu discernimento e livre arbítrio. No mesmo princípio, devemos decidir se cremos ou não no Senhor Jesus. Além disso, após recebê-Lo, devemos escolher se vamos ou não buscá-Lo. Alguns podem pensar que a situação do universo seria maravilhosa se Satanás não existisse. É um fato, todavia, que tanto Deus quanto Satanás, tanto a vida quanto a morte, se acham presentes, e precisamos escolher entre eles.

IV. FARAÓ ENDURECEU O SEU PRÓPRIO CORAÇÃO Tendo tudo isso como pano de fundo, chegamos ao problema de Faraó endurecer seu coração. Será que Deus primeiramente endureceu o coração de Faraó, ou este deu o primeiro passo para endurecer seu próprio coração? Como auxílio para responder a essa pergunta, observe sua experiência ao crer no Senhor Jesus. Isso foi começado por você ou por Deus? É claro que foi começado por Deus. Entretanto, você foi o responsável pelo crer. Antes de ser salvo, eu não tinha noção de Deus. A minha fé em Cristo não foi planejada nem começada por mim. Tenho plena certeza de que a origem dela foi o próprio Deus. Ele planejou, iniciou e programou. Antes de ser salvo, eu não me dispunha a crer em Cristo. Todavia, um dia, espontaneamente, fiquei disposto. De acordo com minha experiência, e a sua também, Deus deu o primeiro passo para levar-nos a crer em Cristo. No mesmo princípio, Ele deu o primeiro passo para endurecer o coração de Faraó. Antes de Moisés ter sua primeira confrontação com Faraó, Deus lhe disse que endureceria o coração deste último (4:21). Entretanto, no caso de nossa salvação, Deus começou a nossa fé no Senhor Jesus, mas não a executou, crendo por nós. Planejou que haveríamos de crer, mas nós próprios tivemos de crer. De semelhante modo, Deus primeiramente endureceu o coração de Faraó, e depois este efetuou seu próprio endurecimento através de seu livre arbítrio. Observamos aqui a soberania de Deus e o livre arbítrio do homem. Em vez de serem contraditórias, essas duas características se correspondem. Faraó não podia fugir à respon-sabilidade neste ponto e colocá-la toda sobre Deus. Ele teve o seu próprio livre arbítrio. Por um lado, precisamos adorar a Deus por Sua soberania; mas, por outro, precisamos arcar com nossa responsabilidade. A Sua soberania não contradiz o nosso livre arbítrio, e este não afronta a Sua soberania. Se o virmos, humilhar-nos-emos sob Sua soberania e

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espontaneamente arcaremos com nossa responsabilidade. E diremos: "Senhor, tudo está de acordo com Tua soberania. Todavia, preciso arcar com minha responsabilidade." Quanto mais estivermos dispostos a arcar com nossa responsabilidade, mais forte será o sinal de que fomos predestinados por Deus. A Bíblia diz primeiro que Deus endureceu o coração de Faraó. Mas ela também diz que Faraó endureceu seu coração. Isso mostra tanto a soberania de Deus quanto o livre arbítrio do homem. Precisamos humilhar-nos sempre e dizer: "Senhor, Tu és soberano. Mas ainda assim preciso arcar com minha responsabilidade." Essa atitude indica que somos agraci-ados por Deus. Mas suponha que tenhamos a atitude de, porque tudo está de acordo com a soberania de Deus, não termos a responsabilidade de fazer nada. Isso é um sinal de que negamos a Deus. Faraó não podia excusar-se da responsabilidade, e Móisés não podia gabar-se de seus atos. Deus, assim, tapou todas as bocas. Moisés não tinha como gabar-se. Nem Faraó tinha desculpa para não arcar com a responsabilidade. A soberania de Deus e a nossa responsabilidade envolvem-se ambas em nossa busca espiritual. Toda busca espiritual correta é planejada e programada por Deus. Mas ainda assim somos responsáveis pela busca do Senhor. Quando O buscamos, não devemos ser orgulhosos. Pelo contrário, devemos humilhar-nos e confessar que nossa busca do Senhor está de conformidade com Sua soberania. Ao mesmo tempo, arcamos com nossa respon-sabilidade. Se somos indiferentes com relação a Deus, corremos o perigo de não arcar com nossa responsabilidade. Mas, se somos zelosos, indo após o Senhor, precisamos acautelar-nos, para não nos gabar de nossa busca espiritual. Verificamos novamente que precisamos humilhar-nos debaixo da soberania de Deus e, ao mesmo tempo, arcar com nossa respon-sabilidade. Se estivermos cônscios da soberania de Deus e de nossa responsabilidade, sere-mos realmente agraciados por Ele. Já enfatizamos que alguns versículos afirmam que Deus endureceu o coração de Faraó, ao passo que outros dizem que Ele lhe tornou duro o coração. No mesmo princípio, em alguns lugares lemos que Faraó endureceu o seu coração (8:15, 19), mas em outro lugar, que o seu coração era duro (7:13, hebraico). Há uma diferença entre endurecer o coração e tornar-se este duro. Em Êxodo, lemos que tanto Faraó endureceu o seu coração quanto o seu coração se tornou duro. Isso indica que ele primeiramente endureceu o seu coração. O resultado foi que seu coração se tornou duro. Então o fato de o coração ficar duro foi consequência do endurecimento do coração. Antes de Faraó endurecer seu coração, ainda era possível que este se amolecesse. Mas, em vez de amolecer seu coração, Faraó o endureceu. O mesmo é verdade hoje. Antes que alguém endureça seu coração, este não está duro. Até certo ponto, pelo menos, ele está mole. Mas, uma vez que ele decida endu-recê-lo, este fica duro. Podemos aprender disso uma importante lição: jamais permita que algo negativo se de-senvolva em relação ao Senhor. Antes que tal coisa negativa se levante, você ainda tem duas escolhas: ser por Deus ou ser contra Ele. Mas, uma vez que algo negativo venha à tona, e o seu coração seja endurecido, você terá apenas uma escolha, e esta será rejeitar a Deus. Partindo da maneira como Faraó tratou seu próprio coração, podemos observar como Deus lhe tratou o coração. A princípio, endureceu-lho, e depois o tornou duro. Após endurecer-lhe o coração, Deus poderia tê-lo amolecido. Todavia não agiu assim. Pelo contrário, manteve-lhe o coração em condição de endurecimento. Isso quer dizer que lhe tornou duro o coração. No princípio, endureceu-lho; depois, tornou-o duro. Em outras palavras, não interveio para mudar o que lhe fizera ao coração. Se permitirmos que algo negativo se desenvolva com relação ao Senhor, isso terá uma grave consequência. Deus pode não mudar tal resultado. Pelo contrário, pode permitir que

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isso continue, assim como fez, não mostrando misericórdia a Faraó, mas abandonando-o a si mesmo, a fim de mostrar-lhe o Seu poder (Rm 9:17). Uma vez que você endureça seu co-ração, ele se tornará duro e permanecerá duro. Isso, pelo seu lado. Pelo lado de Deus, Ele, a princípio, endurece-lhe o coração, e depois pode recusar-Se a mudar o que fez. A princí-pio, Ele o endurece; depois o mantém duro. Isso nos leva fortemente a atentar a qualquer coisa negativa que se levante dentro de nós. Uma vez que ela produza um resultado parti-cular, tal resultado há de permanecer. Pode ser que nem mesmo o próprio Deus venha a mudá-lo. Ele pode permitir que isso permaneça assim. Creio que Moisés utilizou várias expressões para descrever o endurecimento do coração de Faraó, para que pudéssemos aprender a humilhar-nos diante da soberania de Deus, a arcar com nossa responsabilidade e a nos guardar de permitir que coisas negativas se desenvolvam com relação a Deus. Uma vez que tais coisas se desenvolvam, é muito difícil mudar-lhes o resultado. Pelo contrário, a situação permanece e até pode piorar. Apren-damos do exemplo de Faraó. Ele permitiu que algo maligno começasse, e o resultado perdurou. Que alerta sério é esse! Ao longo dos anos, tenho visto muitos casos de pessoas que permitiram o desenvolvi-mento de coisas negativas. A princípio, havia duas escolhas diante delas, e era ainda possí-vel mudar a direção. Mas, uma vez feita a escolha negativa, não houve meios de voltar atrás. Daquela hora em diante, não houve mudança na situação ou na consequência advinda dessa escolha. Tenha cuidado, para não permitir que algo negativo se levante. Jamais considere tal coisa insignificante. Não diga a si mesmo que vai fazer determinada coisa, e que mudará depois. Você pode querer mudar, mas o resultado de sua escolha pode não permitir-lhe mudar. Além disso, Deus pode não ter a intenção de mudar tal situação negativa. Precisamos adorar a Deus por Sua soberania, agradecer-Lhe por Sua misericórdia, arcar com nossa responsabilidade e vigiar, para que coisas negativas não se levantem entre nós e o Senhor. Aí então estaremos no Seu beneplácito, seremos um Moisés e não um Faraó. Precisamos atentar ao Senhor, para que não sejamos vasos de ira como Faraó, mas, como Moisés, vasos de misericórdia e honra para glória.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM VINTE E DOIS

A EXIGÊNCIA DE DEUS E A TEIMOSIA DE FARAÓ

( 6 ) Nesta mensagem, chegamos ao último conflito entre Deus e Faraó, que resultou na décima praga, a matança dos primogênitos (11:1-10:12:29-36).

XII. O DUODÉCIMO CONFLITO

A. Pelo Lado de Deus Deus foi paciente ao tratar com Faraó. Enviou Moisés a negociar com ele por doze vezes. Recentemente, enquanto considerava esse fato, fiquei perplexo ao perceber como o Deus todo-poderoso, o Criador, pôde ser tão paciente com Faraó. Repetidas vezes, Ele enviou pragas sobre os egípcios; mas Faraó ainda continuava a resistir à Sua exigência. Êxodo 9:16 diz: "mas deveras para isso te hei mantido, a fim de mostrar-te o meu poder, e para que seja o meu nome anunciado em toda a terra". Esse versículo, que é a palavra de Deus a Faraó, indica que foi Deus quem sustentou a esse último. Agora podemos compre-ender por que ele era tão forte para rejeitar a exigência de Deus. Observamos aqui dois aspectos da Sua soberania. Por um lado, Ele endureceu o coração de Faraó (11:10); por outro, sustentou-o. Por haver Deus endurecido o coração de Faraó, este não haveria de submeter-se aos Seus tratamentos. Além disso, percebendo não ser Faraó, em si mesmo, suficientemente forte para se levantar contra Ele, Deus o sustentou. Se assim não fosse, Deus perderia a oportunidade de tornar conhecido o Seu poder e anunciar o Seu nome por toda a terra. Creio que, na história, Faraó é o maioral na recusa de submeter-se às exigências de Deus. Nem o próprio Nabucodonosor resistiu a Deus do mesmo modo que ele. Embora Moisés, o representante de Deus, lhe viesse à presença várias vezes, ele não se submeteu. Em Romanos 9, Paulo se envolveu numa discussão relacionada à escolha de Deus. No decorrer dessa discussão, ele apelou para a Sua soberania. Utilizando Faraó como exemplo, ele enfatizou que o Senhor tem "misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz" (v. 18). Tudo está de acordo com a Sua vontade soberana. Paulo também mencionou a palavra do Senhor a Moisés: "Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão" (v. 15). Paulo aqui falou com bastante ousadia. De acordo com Sua vontade soberana, Deus queria ter misericórdia de Moisés e queria endurecer a Faraó. Por doze vezes, Moisés, um ancião, veio negociar com Faraó em prol do Senhor. Faraó, o atribulado, nada podia fazer com Moisés, o atribulador, porque este era escudado pelo Senhor soberano. Aquele que estava nos céus, sustentava a Moisés. Este, portanto, é um

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exemplo de alguém que recebeu a misericórdia de Deus, ao passo que Faraó é um exemplo de alguém que foi por Ele totalmente marginalizado. Embora houvesse posto Faraó de lado, Deus ainda o usou. Não apenas Moisés foi útil ao Senhor, mas Faraó também. Você pode acreditar que Faraó também foi útil ao Senhor? Em seu coração, você talvez creia que apenas Moisés o foi. Em realidade, ambos foram úteis, e ambos foram utilizados. Se Faraó morresse repentinamente após o primeiro ou segundo conflito, a tarefa de Moisés teria sido interrompida, e Deus perderia Sua oportunidade de manifestar Seu poder e anunciar Seu nome. Ele, por isso, precisava de Faraó e precisava de que ele perma-necesse firme em todos os doze conflitos. Deus fê-lo suportar todos esses conflitos, a fim de que o Seu propósito pudesse cumprir-se. Se não tivéssemos o livro de Êxodo com seus doze conflitos entre Deus e Faraó, não conheceríamos a Deus adequadamente no que se refere à Sua soberania. É fácil conhecer o Seu amor, mas é difícil conhecer-Lhe a soberania. Através desses doze conflitos e das dez pragas, que duraram determinado período de tempo, a Sua soberania tornou-se conhe-cida. Durante as negociações de Moisés com Faraó, Deus veio manifestar Sua soberania. Soberania denota direito, autoridade e poder absolutos. Como Aquele que é soberano, Deus tem o direito de realizar qualquer coisa e tomar qualquer decisão. A soberania é um de Seus atributos. Em Sua soberania, Ele usou Faraó, além de Moisés. Sem Moisés, Faraó não teria sido útil nesse aspecto. De semelhante modo, sem Faraó, Moisés não teria sido útil. Faraó e Moisés formaram um par. Um fazia as exigências, e o outro as resistia, e nenhum deles cedia uma polegada sequer. Cada vez que se encontravam, Moisés fazia-se ainda mais exigente, e Faraó, mais obstinado. Faraó jamais foi subjugado, recusava-se a ceder. Nesse confronto entre ambos, verificamos um retrato da soberania de Deus. A Sua soberania também se manifesta nas pragas, que causaram danos às condições da vida humana no Egito. O sangue deteriorou a água, e as rãs perturbaram a paz e o conforto dos egípcios. Nas pragas dos piolhos e moscas, o solo e o ar foram prejudicados. Após as moscas, veio a peste, e, depois, a praga das úlceras, que rebentavam com pústulas. A praga do granizo danificou o meio ambiente, e os gafanhotos devoraram tudo o que restou após o sério dano causado pelo granizo. Por fim, a praga das trevas tornou impos-sível que alguém se movesse. Mas mesmo após essas nove pragas, Faraó ainda não fora subjugado, embora todo o meio ambiente relacionado ao viver humano no Egito houvesse sido danificado. Deus continuou a endurecer-lhe o coração e a fortalecê-lo para resistir. Tudo isso não é uma questão do amor de Deus, mas da Sua soberania. Em Romanos 9, Paulo não fala do amor de Deus, mas de Sua soberania. Esta se verifica principalmente em Faraó, e Sua misericórdia é primordialmente observada em Moisés. No confronto entre ambos, notamos uma demonstração da soberania de Deus por um lado e da Sua miseri-córdia por outro. Enquanto os anjos matavam os primogênitos dos egípcios, Deus preservava os filhos de Israel e seus animais em paz e tranquilidade, até mesmo sossegando o latir dos cães. Após ser Faraó subjugado pela matança dos primogênitos, Deus ainda fez que Israel tomasse dos egípcios o seu ouro, prata e vestes. Tudo isso estava sob Sua soberania.

B. Pelo Lado de Faraó A teimosia de Faraó forçou Deus a matar os primogênitos. Principalmente nos tempos antigos, o primogênito representava aquele que era forte e o mais amado. Ainda hoje, os pais podem exagerar no cuidado especial para com seus filhos primogênitos. Na décima e

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última praga, os primogênitos dos egípcios e até mesmo os de seus animais foram mortos. Quando jovem, eu discordava de Deus com respeito à matança dos primogênitos. Agora posso perceber que Ele o fez de acordo com Sua soberania. Não havia necessidade de Ele obter a aprovação do homem antes de tomar tal decisão. Simplesmente deu ordens aos anjos, e eles as executaram fielmente. Não fique pensando que, ao agir assim, Ele não estivesse sendo amável. Lembre que, de acordo com a Bíblia, Deus não apenas é amável, mas também soberano. Em alguns lugares das Escrituras, verificamos que Ele é cheio de misericórdia e rico em bondade e perdão. O Novo Testamento mostra claramente que Ele é amor. Mas o próprio Deus, que é amor, veio, de acordo com Sua soberania, para matar os primogênitos. Em 12:30, lemos que entre os egípcios "não havia casa em que não houvesse morto". Essa matança ocorreu à meia-noite (12:29), à hora em que as pessoas geralmente gozam do melhor sono. Aquela foi a hora em que os anjos vieram para matar os primogênitos, os mais fortes e os mais amados de todas as famílias do Egito. Através desta última praga, Faraó foi subjugado (11:1; 12:21-30, 33). Ele e seus servos se levantaram à noite e chama-ram Moisés e Arão, dizendo-lhes que eles e os filhos de Israel saíssem do Egito e servissem ao Senhor. Faraó foi de tal maneira subjugado, que se dispôs a permitir que todo Israel partisse, não apenas com as crianças, mas também com seus rebanhos e gados (12:31-32). E até pediu a Moisés e Arão que o abençoassem. Ele e todos os egípcios na verdade expulsa-ram Israel do Egito (v. 33). Os egípcios até mesmo se dispuseram a dar aos filhos de Israel tudo o que estes pedissem. Toda a nação se dispôs a ser despojada por Israel (v. 36). Enquanto ocorria a matança dos primogênitos dos egípcios, os filhos de Israel eram pre-servados de todo tipo de aborrecimento, e descansavam desfrutando da salvação de Deus. Êxodo 11:7 diz: "Porém contra nenhum dos filhos de Israel, desde os homens até aos animais, nem ainda um cão rosnará, para que saibais que Jeová fez distinção entre os egípcios e Israel" (hebraico). No lugar onde estava o povo de Deus, não havia qualquer distúrbio. Por Sua soberania, nem mesmo aos cães foi permitido latir. Enquanto os egípcios choravam e clamavam, os filhos de Israel desfrutavam de horas agradáveis. Isso também manifesta a soberania de Deus. Embora subjugado pela última praga, Faraó apenas o foi temporariamente. Depois que os filhos de Israel deixaram o Egito, ele se arrependeu do que fizera e os perseguiu com carros. O coração dele novamente se endureceu. Isso também estava de acordo com a soberania de Deus, para que os egípcios pudessem saber que Ele é o Senhor (14:4). Só após serem sepultadas as forças egípcias no Mar Vermelho é que o Senhor terminou Seu trata-mento para com Faraó. Este já não Lhe tinha mais utilidade. Não diga que, em Seus trata-mentos para com Faraó, Deus não tenha sido amoroso. Quero novamente enfatizar que a questão aqui não é de amor, mas de soberania. Louvado seja o Senhor, porque nesses capítulos de Êxodo verificamos Sua soberania! Precisaremos adora-Lo por Sua soberania. Deveremos dizer: "Senhor, eu Te adoro por Tua soberania, porque ela reflete a Tua misericórdia. Senhor, sou fraco e pecador. Às vezes, até mesmo sou rebelde. Mas eu Te agradeço, porque meu coração foi amolecido e está sempre disposto a se arrepender. Senhor, agradeço-Te por me teres dado este coração." Se você não souber que deve adorar a Deus por Sua soberania, poderá não perceber a misericórdia Dele sobre você. Mas, se conhecer a Sua soberania, agradecer-Lhe-á por Sua misericórdia. Perceberá, até mesmo quando for às reuniões da igreja, que está sob a misericórdia soberana do Senhor. Note quantas pessoas se envolvem com coisas pecaminosas e mun-danas. Mas nós preferimos aproximar-nos da presença do Senhor, ouvir-Lhe a palavra, buscar o que está em Seu coração e praticar a unidade para com Ele. Isso está de acordo

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com Sua misericórdia soberana. Louvado seja o Senhor, porque estamos debaixo de Sua misericórdia soberana! É por misericórdia do Senhor que podemos ir às reuniões da igreja. Muitos de nós podem testificar que as noites mais felizes da semana são as de reunião. Se não houvesse reuniões para frequentarmos, o que faríamos com todo o nosso tempo? Em nosso tempo livre, seríamos miseráveis. Louvado seja o Senhor, porque, segundo a Sua soberana miseri-córdia, podemos ir todos às reuniões! Quanto mais reconhecermos a soberania de Deus, mais gratos seremos por Sua miseri-córdia. Aleluia, a Sua misericórdia nos foi soberanamente concedida! Por ela, não somos obstinados como Faraó. Às vezes, podemos ser teimosos; mas, pela graça soberana do Senhor, podemos ser teimosos apenas por pouco tempo. Depois nos arrependemos, seja diante do Senhor, seja diante de alguém a quem enganamos. Esse desejo de arrependi-mento é a Sua misericórdia para conosco. A manhã é uma hora excelente para nos arrependermos e confessarmos ao Senhor. Agradeço a Ele, porque toda manhã podemos ter um novo começo. Quando gastamos tempo com Ele, podemos perceber que erramos. Então nos arrependemos, confessamos e experimentamos uma genuína purificação espiritual. Que misericórdia é o fato de estarmos dis-postos a nos arrepender, confessar e sermos purificados pelo Senhor! Isso mostra que não estamos destinados a ser Faraós, mas filhos de Deus, filhos de miseri-córdia. Não deveríamos ler esses capítulos de Êxodo como mera história. Eles são um retrato precioso, que revela a soberania de Deus. Graças ao Senhor, porque na Bíblia há uma parte dedicada a desvendar a soberania de Deus. Precisamos meditar sobre esses capítulos diversas vezes, até enxergarmos a soberania de Deus e adorá-Lo por ela. Por anos a fio, podemos ter adorado a Deus por Seu amor, mas não por Sua soberania. Precisamos agora adorá-Lo como soberano. Devemos dizer: "Senhor, Tu és o Deus soberano. Por causa da Tua misericórdia soberana, sou um de Teus filhos. Aleluia, Tu me predestinaste a ser um de Teus filhos e não um Faraó". Numa época em que tantos se entregam a divertimentos mundanos, temos o desejo de buscar o Senhor e nos reunir em Sua presença. Por Sua misericórdia soberana, nossos corações se inclinaram para Ele. Por causa de Sua miseri-córdia para conosco, busca-mo-Lo dia a dia. Louvado seja Ele, porque não somos os Fa-raós de hoje, mas os Moisés da atualidade! Dos conflitos entre Deus e Faraó, também podemos aprender a maneira correta de traba-lhar para Deus. A maneira correta não é labutar nem esforçar-se mas representa-Lo. Como Moisés foi enviado por Ele, assim também nós precisamos ser. Êxodo 11:3 diz: "O homem Moisés era mui famoso na terra do Egito, aos olhos dos oficiais de Faraó, e aos olhos do povo". Moisés não lutou, nem mesmo trabalhou duro. Como representante de Deus, ele apenas veio diversas vezes ver a Faraó. Não veio por si mesmo. Veio sempre como alguém enviado por Deus. Além disso, não falava por si mesmo a Faraó. Falava sempre o que o Senhor lhe ordenava dizer, permitindo que Faraó soubesse o que Deus exigia dele. Por isso, Faraó na verdade não ouvia a Moisés nem com ele tratava, mas ouvia a Deus e tratava com Este. Moisés era o embaixador de Deus, o Seu enviado. A maneira de trabalhar para Deus é ser esse Seu representante. Gostaria de lembrar aos cooperadores que não há necessidade de nos esforçarmos tanto. Isso não significa que deveremos ser preguiçosos ou negligentes. Quer dizer que deveremos gastar mais tempo contactando o Senhor. Em nossa oração, não deveremos orar tanto por nossa obra, mas, ao contrário, deveremos orar para tocar o Senhor, conhecer-Lhe o coração e sentir Seu sentimento. Precisaremos permanecer em Sua pre-

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sença, até que Ele sature nosso ser. Aí então nós O representaremos, e Ele nos enviará. Lembre-se de que não depende de quem corre nem de quem quer, mas de Deus, Daquele que mostra misericórdia (Rm 9:16). Não há necessidade de corrermos nem de querermos. Nossa necessidade é representar Deus e sermos Seus enviados. Um apóstolo é um enviado. Ele é enviado pela pessoa a quem ele representa. Como enviados de Deus, precisamos ter a certeza de que, onde quer que possamos estar, estaremos lá como representantes de Deus. Somos insignificantes e muito fracos. Na verdade, nada somos. Mas representamos a Deus. Como Seus representantes, não falamos nossas próprias palavras, nem efetuamos o nosso próprio trabalho. Somos a sarça, e o Senhor é o fogo a queimar no meio da sarça. O fogo e a sarça são um. Quando estamos nessa realidade, é difícil distinguir a sarça do fogo. Isso nos faz lembrar a palavra de Paulo em 1 Coríntios 6:17: "Aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele." A maneira correta de trabalhar para Deus é ter a certeza de que representamos Aquele a quem amamos e servimos. Aonde quer que formos, não iremos por nós mesmos, mas com Ele e Nele. Nesses capítulos de Êxodo, percebemos dois teimosos: Faraó e Moisés, o representante de Deus. Através de Faraó, Deus tornou-se manifesto como o Deus soberano; mas, em Moisés, Ele teve alguém que O representasse e executasse a Sua vontade. Louvado seja o Senhor, porque nenhum de nós é Faraó, mas todos somos Moisés, aqueles que são um com o Senhor! Por Sua soberania e misericórdia, aonde quer que formos, iremos com o Senhor, representa-Lo-emos e executaremos Sua vontade. Que todos O adoremos por Sua soberania e Lhe agradeçamos por Sua misericórdia!

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM VINTE E TRÊS

A PÁSCOA

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Leitura da Bíblia: Êx 12:1-10, 13, 23, 41b, 13:4; Lc 22:7-8, 14-15; Jo 19:33; 36; 1Co 5:7

A revelação de Deus na Bíblia é apresentada de maneira prática, e não conforme a compreensão doutrinária. Por ser prática, ela é sempre viva. Entretanto, se ela fosse dada como doutrina, o seu resultado seria a morte. A Páscoa, em especial, não se apresenta como doutrina, mas corresponde a uma necessidade prática. A Pácoa revelada em Êxodo 12, é um tipo claro, adequado e até mesmo todo-inclusivo da redenção de Cristo. Em nenhum outro lugar das Escrituras, a redenção de Cristo se apresenta de maneira tão completa.

I. UM TIPO DE CRISTO Todos os cristãos sabem que Cristo é o Cordeiro de Deus, que efetuou por nós a redenção (Jo 1:29). Poucos, todavia, tem enxergado um quadro claro de Cristo como o Cordeiro redentor de Deus. Esse quadro se apresenta em Êxodo 12. Você pode não compreender o siginificado de certos pormenores desse quadro. Por exemplo, por que foi posto sangue nas ombreiras e vergas das portas (12:22), e não no teto. Por que ordenou Deus aos filhos de Israel que utilizassem um feixe de hissopo para aspergir o sangue nas ombreiras e vergas? Qual a razão de se comerem ervas amargas com a carne do cordeiro? Poderíamos formular pergunta após pergunta. Poucos cristãos são capazes de responder a questões como essas. Todos precisamos notar um quadro claro da redenção de Cristo. Embora o Novo Testa-mento revele os diversos aspectos da redenção, estes não estão classificados de maneira doutrinária. João 1:29 afirma que Cristo é o Cordeiro de Deus, e, em 1 Coríntios 5:7, Paulo fala de Cristo como a Páscoa, Em diversos lugares do Novo Testamento, observamos aspectos da redenção de Cristo. Em Êxodo 12, entretanto, verificamos um quadro completo. Precisamos considerar cuidadosamente esse quadro; precisaremos depois voltar-nos para outras porções da Palavra, principalmente ao Novo Testamento, para o interpretarmos corretamenle. A Páscoa é um tipo de Cristo. Em 1 Coríntios 5:7, Paulo assevera que "Cristo, nossa páscoa, foi imolado" (grego). Paulo aqui não diz que Cristo é o nosso cordeiro, mas a nossa Páscoa. Mas como a Páscoa poderia ser imolada? A resposta é que Cristo é não apenas o cordeiro pascal mas também todos os aspectos da Páscoa. O cordeiro, o pão e as ervas amargas, tudo isso se refere a Cristo. Em princípio, portanto, Ele é não somente o cordeiro da Páscoa, mas a própria Páscoa.

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A palavra Páscoa significa que o julgamento de Deus passa por sobre nós. Em Êxodo 12:13, Ele disse: "Quando eu vir o sangue, passarei por vós". Por fim, acabou-se formando o substantivo "Páscoa". Mas ele significa "passagem por cima", com origem em Êxodo 12:13. Mas por que Cristo é chamado de nossa Páscoa? De acordo com Êxodo 12, Deus passou por sobre os filhos de Israel; porque o sangue do cordeiro pascal fora aspergido nos portais de suas casas. Aos filhos de Israel fora ordenado comerem da carne do cordeiro em suas casas. Isso indica que a casa deveria ser-lhes a cobertura, sob a qual e na qual poderiam comer a carne do cordeiro pascal. A casa que os cobria deveria ter sangue aspergido nos portais. Ao ver o sangue, Deus passaria por sobro os filhos de Israel. Assim, tal passagem por cima devia-se ao sangue aspergido. Através de Paulo, entretanto, notamos que a Páscoa se relaciona não apenas ao sangue, mas ao próprio Cristo. Hoje, estamos sob o sangue ou em Cristo? Rigorosamente falando, dizer que estamos debaixo do sangue não está de acordo com as Escrituras. Essa frase não se encontra no Novo Testamento. Mas o Novo Testamento diz repetidamente que estamos em Cristo. De acordo com 1 Coríntios 1:30, provém de Deus o fato de estarmos em Cristo. Por estarmos Nele, Ele próprio se torna nossa Páscoa. Isso quer dizer que, antes de poder ser nossa Páscoa, Cristo precisa primeiramente ser a nossa cobertura. A nossa cobertura hoje não é o sangue sem Cristo. Em Êxodo 12, a Páscoa se baseava no sangue. Mas, hoje, a nossa Páscoa se baseia em Cristo. Essa é a razão de Paulo ter podido dizer que Cristo é a nossa Páscoa. Se lhe pedissem para fazer uma lista dos itens da Páscoa, em Êxodo 12, você prova-velmente mencionaria o cordeiro, a carne, o sangue, o pão asmo e as ervas. Mas, prova-velmente, você não incluiria a casa. A casa de Êxodo 12 é um tipo de Cristo. Ao final de Gênesis 3, verificamos que Deus utilizou peles para cobrir Adão e Eva (v. 21). Em Gênesis 4, Abel trouxe das primícias de seu rebanho e de Sua gordura e apresentou-as ao Senhor (v. 4). Através dessa oferta, Abel foi aceito por Deus. Mais tarde, lemos que Noé foi encar-regado de construir uma arca, que pode ser considerada como uma casa flutuante. Essa arca era um tipo do Cristo, no interior do qual fomos colocados por Deus. Noé e sua família entraram na arca e nela foram salvos do dilúvio. Tais exemplos indicam que a revelação é progressiva na Bíblia. Em Gênesis 3:21, observamos as vestimentas de peles; em Gênesis 4:4, a oferta das primícias do rebanho; e, em Gênesis 6 e 7, a arca construída por Noé. Nas vidas de Abraão, Isaque e Jacó, não notamos um registro claro da redenção. Para tê-lo, precisamos prosseguir até à experiência dos filhos de Israel, registrada em Êxodo 12. Aqui se acha o desenvolvimento pleno da redenção de Deus, indicada pela primeira vez em Gênesis 3. Em Gênesis 3, vemos as peles; em Gênesis 4, a oferta, e, em Gênesis 6 e 7, a arca. Agora, em Êxodo 12, temos posto diante de nós o pleno desenvolvimento da redenção de Deus. A arca aqui se torna a casa, um tipo de Cristo, na qual e pela qual os filhos de Israel foram cobertos. Essa é a razão por que nenhum versículo do Novo Testamento afirma que estamos debaixo da cobertura do sangue de Cristo. Muitos deles, todavia, principalmente nas epístolas, indicam que estamos em Cristo. De acordo com Gálatas 3, Deus nos colocou em Cristo, e agora estamos Nele. Por ser a casa que nos cobre, Ele é a nossa Páscoa. Ele é não apenas o cordeiro, o pão asmo e as ervas, mas também a casa, cujas ombreiras e verga foram borrifadas com o sangue que redime.

II. O TEMPO DA PÁSCOA

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A época da Páscoa se relaciona a um determinado mês e a uma determinada data. O povo hebreu tinha dois calendários; um sagrado e um civil. O calendário civil era o comum, ao passo que o sagrado se relacionava à experiência da salvação de Deus. Nós, que cremos em Cristo, também temos dois calendários — um civil e um sagrado. Qualquer um que não tenha uma idade sagrada e também uma civil, não é um verdadeiro cristão e não pode participar de Cristo como Páscoa. Como remidos por Deus, tivemos dois nascimentos, dois começos: um nascimento físico com um início físico, e um nas-cimento espiritual com um início espiritual. Posso testificar que tive um segundo começo, o começo na vida divina. No dia em que cremos no Senhor Jesus, nossa idade segundo o calendário sagrado começou. Naquele dia, tivemos um novo nasci-mento e um novo início.

A. O Mês Êxodo 12:2 fala do mês da Páscoa: "Este mês vos será o principal dos meses: será o primeiro mês do ano." Esse versícuío indica que se comemorou a Páscoa no primeiro mês do ano sagrado. Originalmente, esse mês era o sétimo do ano civil. De acordo com Gênesis 8:4, a arca de Noé pousou nas montanhas de Ararate no sétirno dia do sétimo mês. Muitos mestres da Bíblia crêem que esse sétimo mês era o primeiro de Êxodo 12. A Páscoa ocorreu no décimo quarto dia desse mês. Isso quer dizer que ela ocorreu três dias antes do dia que marcava o pouso da arca nas montanhas de Ararate. Esse pouso da arca era um tipo da ressurreição de Cristo. Cristo foi morto no décimo quarto dia e ressuscitou no décimo sétimo. Êxodo 13:4 registra: "Hoje, mês de abibe, estais saindo". A palavra "abibe" significa "de-sabrochante", "florescente", "tenro e verde", e se refere às espigas verdes de trigo. Após o cativeiro da Babilônia, esse mês foi chamado de nisã (Ne 2:1; Et 3:7). Desabrochar e florescer significam o início da energia de vida. A nossa experiência o confirma. No dia em que pela primeira vez invocamos o nome do Senhor, cremos Nele e fomos salvos, e a vida começou a florescer e desabrochar de nosso interior. Qualquer um que não o tenha experi-mentado não é um cristão genuíno. Todos podemos testificar que, após crermos no Senhor Jesus, algo começou a florescer e desabrochar em nosso íntimo. Por fim, esse desabrochar produziu espigas tenras e verdes de cereal, que são o produto da vida interior, isso indica que a vida divina é produtiva dentro de nós. É uma vida que floresce, desabrocha e produz. Ela começou no dia em que fornos salvos e ainda se faz presente hoje.

B. A Data De acordo com 12:3, no décimo dia do mês, cada filho de Israel tomaria "para si um cordeiro, segundo a casa dos pais", e prepará-lo-ia por urn período de quatro dias. Depois, então, no décimo quarto dia do mês — a verdadeira data da Páscoa — o cordeiro seria morto (v. 6). O Senhor Jesus foi morto no mesmo dia do mês (Lc 22:7-8,14-15; Jo 18:28). Quatorze dias perfazem duas semanas. Na Bíblia, uma semana significa uma vida, e o fim de uma semana denota o fim de uma vida. Os Adventistas do Sétimo Dia guardam o sétimo dia, o fim da semana. Todavia, nós desfrutamos do oitavo dia, o primeiro dia da semana, o início de uma nova semana, um novo início em ressurreição (Jo 20:1). O fato de a Páscoa ser comemorada no décimo quarto dia do mês significa que ela era comemorada ao fim de duas semanas completas. Isso significa que a Páscoa termina o curso da velha vida, que a morte de Cristo põe fim a toda a história de nossa velha vida.

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Já enfatizamos que os filhos de Israel tomavam o cordeiro ao décimo dia do mês. Após ser ele selecionado, era examinado por quatro dias com testes, para se descobrir se ele tinha ou não defeitos. Se ler cuidadosamente os evangelhos, você verá que o Senhor Jesus também foi testado por quatro dias. Semelhantemente ao cordeiro de Êxodo 12, Ele não podia ter defeitos. Durante aqueles quatro dias, Ele foi examinado pela congregação de Israel, representada pelos sacerdotes, anciãos, escribas e fariseus. Louvado seja o Senhor, porque Ele passou pelo teste e foi achado sem culpa! Por isso, ao fim daqueles dias, quando veio a Páscoa, Ele foi conduzido à morte. O Senhor Jesus foi aprisionado no primeiro dia da festa dos pães asmos. Esse dia era também o dia da Páscoa. A festa da Páscoa ocorre no primeiro dia da festa dos pães asmos, que perfaz um total de sete dias. Isso quer dizer, quando a Páscoa começou, a festa dos pães asmos também começou. A Páscoa, entre-tanto, durava apenas um dia, ao passo que a festa dos pães asmos continuava por outros seis dias. Essa é a razão por que a festa da Páscoa pode ser também chamada de festa dos pães asmos. É por essa razão que Lucas 22 7 diz "Chegou o dia dos pães asmos, em que a páscoa deve ser imolada" (grego) O Senhor Jesus foi preso na noite que precedeu o dia da festa da Páscoa. (O calendário judaico conta da noite para o dia e não do dia para a noite, assim como se verifica em Gênesis l). Cristo então foi crucificado no exato dia da Páscoa. Por esse motivo, Sua morte foi o exato cumprimento do tipo. Além disso, como já enfatizamos, Ele ressurgiu ao décimo sétimo dia do mês, cumprindo o tipo da arca que descansou nas montanhas de Ararate no décimo sétimo dia do mesmo mês.

III. O CORDEIRO PASCAL

A. Para a Unidade de Uma Casa Em 12:3, aos filhos de Israel foi ordenado tomarem "para si um cordeiro, segundo a casa dos pais, um cordeiro para cada família". O ponto decisivo aqui é que o cordeiro pascal não se destinava a um indivíduo, mas a uma casa toda. A unidade da salvação de Deus não é o indivíduo, mas a casa, a família. Em Josué 2 e 6, por exemplo, Raabe foi salva com toda a casa de seu pai. Em Lucas 19, o Senhor Jesus disse a Zaqueu, o publicano: "Hoje houve salvação nesta casa" (v. 9). De acordo com Atos 11:14, a promessa feita a Cornélio foi que ele e toda a sua casa seriam salvos. (v. 14). Além disso, quando o carcereiro perguntou o que deveria fazer para ser salvo, Paulo e Silas lhe disseram '"Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e tua casa" (At 16:30-31). Esses casos indicam que a unidade da salvação de Deus é a casa, não o indivíduo. Êxodo 12:4 é um versículo de difícil compreensão: "Mas se a família for pequena para um cordeiro, então convidará ele o seu vizinho mais próximo, conforme o número das almas; conforme o que cada um puder comer, calculareis quantos bastem para o cordeiro". As famílias diferiam em tamanho. Se a casa de um homem fosse muito pequena para o cordeiro, ele e o seu vizinho deveriam juntar-se para comerem um cordeiro de acordo com o número de almas, O versículo quatro indica que o cordeiro tanto era conforme o número de almas quanto conforme a capacidade de comer de cada homem. O cordeiro permanecia o mesmo, embora as casas diferissem em tamanho. O cordeiro não poderia ser pequeno para a casa, mas a casa podia ser pequena para o cordeiro. Pode parecer inconveniente a redação dada por Moisés ao versículo 4. Na verdade, ele escreveu de maneira muito significativa. Se quisermos compreender esse versículo, preci-samos atentar a três aspectos: que a família poderia ser pequena para o cordeiro e haver

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então a necessidade de se juntarem as casas; que o cordeiro era tomado de acordo com o número de almas; que o cálculo para o cordeiro se fazia de acordo com a capacidade de comer de cada homem. Se colocarmos juntos esses três pontos, notaremos que Cristo é sempre suficiente. Nele não há escassez. A extensão do nosso desfrutar Dele dependerá do número de pessoas e da nossa capacidade de comê-Lo, Se nossa capacidade for grande, Cristo será adequado para suprir-nos. Se ela for limitada, Ele ainda poderá ir ao encontro das nossas necessidades. Como cordeiro pascal, Ele é todo-suficiente. O Cristo tipificado pelo cordeiro pascal não tem escassez. Em todas as situações, Ele pode ir totalmente ao encontro das nossas necessidades. Não importa se nossa família é grande ou pequena, ou se nos juntamos ou não com outra família. Não importa quantas almas haja nem a intensi-dade do nosso apetite. Cristo é suficiente para ir ao encontro de todas as nossas necessidades.

B. Sem Defeito Êxodo 12:5 registra: "O cordeiro será sem defeito." Ser sem defeito é ser perfeito. Isso tipifica o Cristo perfeito, sem falta (Jo8:46).

C. Macho de Um Ano Êxodo 12:5 ainda menciona que o cordeiro deveria ser "macho de um ano", podendo ser "um cordeiro ou um cabrito". O que significa o fato de que o cordeiro deveria ser macho de um ano? Ser de um ano é ser novo e não ter sido utilizado para nenhum outro objetivo. Aos olhos de Deus, quando foi posto na cruz, o Senhor Jesus era de um ano. Era novo, jamais tendo sido utilizado para nenhum outro fim. À época em que fomos salvos, todos havíamos sido utilizados para alguma outra finali-dade. Alguns de nós fomos usados para várias destinacões diferentes. Não éramos de mo-do algum novos. Fui salvo com a idade de dezenove anos e meio. Entretanto, aos olhos de Deus, eu era muito mais velho, porque já fora utilizado para outros objetivos. O Senhor Jesus, ao contrário, era novo e não fora usado para nenhum outro fim. Êxodo 12:5 indica que o cordeiro tanto podia vir das ovelhas quanto das cabras. De acordo com Mateus 25, as ovelhas tipificam os bons, e os cabritos, os maus. Cristo na cruz era bom ou mau? Num sentido bem real, Ele era ambos. À hora de Sua crucificação, Ele tanto era um cordeiro quanto um cabrito, dependendo do ângulo pelo qual considerarmos Sua crucificação. Em si mesmo, Ele era totalmente bom. Entretanto, como nosso substituto, Ele era pecaminoso. Como Paulo diz em 2 Coríntios 5:21, Aqueie que não conheceu pe-cado foi feito pecado em nosso lugar!

D. Examinado Por Quatro Dias Como o cordeiro pascal era examinado por quatro dias (12:3,6), assim também Cristo foi analisado pelo mesmo período de tempo. Após ser aprisionado, Ele foi submetido a seis exames, três nas mãos dos sacerdotes, que O examinaram de acordo com a lei de Deus, e três sob os governantes romanos, que O testaram de acordo com a lei romana. Por fim, Pilatos foi obrigado a declarar que não podia achar Nele culpa alguma. De fato, Pilatos realçou três vezes que não podia achar Nele falha alguma (Jo 18:38; 19:4, 6). Cristo, como cordeiro pascal, foi achado sem falha, sem culpa.

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E. Morto Por Todo o Ajuntamento da Congregação de Israel Falando do cordeiro pascal, 12:6 determina: "Todo o ajuntamento da congregação de Israel o imolará no crepúsculo da tarde". Você sabe quem matou o Senhor Jesus? Ele foi morto pela congregação do povo de Deus. Isso quer dizer que todos tivemos parte nessa Sua morte. Anos atrás, li um artigo que descrevia a maneira como os filhos de Israel matavam o cordeiro na páscoa. De acordo com esse artigo, ele era posto numa cruz. Os filhos de Israel tomavam dois pedaços de madeira e os cruzavam. Depois atavam as duas pernas do cordeiro ao pé da cruz e amarravam as outras pernas estendidas ao braço da cruz. Finalmente o matavam, de modo que seu sangue fosse derramado, porque precisavam de todo aquele sangue para aspergir nos umbrais de suas portas. Todos sabemos que o império romano usava a pena de morte na cruz para punir criminosos, mas os filhos de Israel utilizavam esse método muito tempo antes do império romano para matar o cordeiro na Páscoa. A maneira como se matava o cordeiro proporciona um quadro da crucificação de Cristo. Assim, o tipo da Páscoa mostra tanto a data quanto a maneira como Cristo seria levado à morte para a nossa redenção.

F. O Sangue Era Posto Nas Ombreiras e Na Verga Das Portas Das Casas Para Redenção

Êxodo 12:7 determina: "Tomarão do sangue e o porão em ambas as ombreiras, e na verga da porta, nas casas em que o comerem". O sangue posto nas ombreiras e na verga destinava-se à redenção. Esse sangue tipifica o sangue redentor de Cristo (Mt 26:28; Jo 19:34; 1Pe 1:18-19). Quando comiam o cordeiro pascal, os filhos de Israel estavam nas casas borrifadas com o sangue do cordeiro, isso indica que a redenção se baseia na união. O sangue de Cristo não pode redimir-nos, se não estivermos em união com Ele. Somente por estarmos Nele é que poderemos ser redimidos pelo Seu sangue. Se estivermos fora Dele, Seu sangue não poderá redimir-nos. Mas, uma vez que estivermos em Cristo como casa, seremos redimidos pelo sangue aspergido nas ombreiras e na verga da porta da casa. Porque a redenção se baseia na união, precisamos estar em união com Cristo, identificados com Ele. Depois, então, por estarmos em união com Ele, poderemos ser redimidos pelo Seu sangue. A arca construída por Noé também ilustra essa questão de união. Noé e sua família entraram no arca. Dessa maneira, eles estavam em união com a arca, identificados com ela. Através dessa união, dessa identificação, foram eles salvos e redimidos por ela. No mesmo princípio, para serem redimidos pelo sangue do cordeiro pascal, os filhos de Israel precisavam estar na casa borrifada com o sangue. Assim sendo, qualquer um que queira ter na prática a redenção de Cristo precisa estar em união com Ele.

G. Sua Carne Destinava-se a Ser Comida Como Suprimento de Vida A carne do cordeiro pascal devia ser comida para suprimento de vida (12:8-10). O mesmo é verdade quanto ao Senhor Jesus, que é o cumprimento do tipo. Cada um dos evangelhos fala do Seu sangue. O Evangelho de João, todavia, vai mais adiante, dizendo que a carne de Cristo é comida. Em João 6:53, o Senhor Jesus afirma que precisamos comer

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da carne do Filho do homem, e no versículo 55 Ele declara: "A minha carne é verdadeira comida". Carne aqui significa a vida de Cristo. A Sua vida é dígerível; ela é o nosso suprimento de vida. Isso é mencionado no Evangelho de João, porque esse evangelho, em contraste com outros, focaliza a vida. Por isso ele revela que o sangue de Cristo redime e que Sua vida supre. Aleluia, temos o sangue do Cordeiro para a redenção e a Sua carne para suprimento de vida!

1. Assado ao Fogo Em 12:8, foi dada aos filhos de Israel a maneira correta de comerem a carne do cordeiro pascal — assado ao fogo. O fogo aqui tipifica a ira santa de Deus tornada prática em jul-gamento. Quando Cristo estava na cruz, o fogo santo de Deus O julgou e O consumiu. O Salmo 22:14-15 diz: "Meu coração fez-se como cera, derreteu-se-me dentro de mim. Secou-se o meu vigor, como um caco de barro, e a língua se me apega ao céu da boca." Por isso Ele clamou: "Tenho sede!" (Jo 19:28), porque estava sendo queimado pelo fogo santo do julgamento de Deus.

2. Não Cru

Em 12:9, os filhos de Israel foram avisados de que não comessem cru o cordeiro. Hoje, os que não crêem na redenção de Cristo tentam comê-Lo "cru". Isso significa que tais pessoas O consideram um modelo ou exemplo de viver humano que deve ser imitado. De fato, agir assim é comer cru o cordeiro pascal.

3. Não Cozido em Água Além disso, os filhos de Israel não deveriam comer o cordeiro cozido em água (12:9). Comer Cristo "cozido em água" é considerar Sua morte na cruz não como morte para redenção, mas como martírio. Muitos hoje não crêem que Ele tenha morrido como Redentor. Segundo seu conceito, Ele foi perseguido por homens e morreu como mártir, tendo-se sacrificado em prol de Seus ensinamentos. Aplicar assim Sua morte é comer o cordeiro cozido em água. Ser cozido em água é submeter-se ao sofrimento, mas não ao sofrimento do fogo santo. Pelo contrário, é submeter-se apenas ao sofrimento da perse-guição. As pessoas hoje tentam usar três maneiras de tomar a Cristo. Como cristãos fundamen-talistas, cremos que, na cruz, Cristo sofreu por nós sob o julgamento de Deus. Foi queima-do e "assado" pelo fogo santo da ira de Deus. Como nosso Redentor, foi julgado por nós. Isso é tomar Cristo assado ao fogo. Essa é a maneira correta, ordenada por Deus. Uma segunda maneira, defendida pelos modernistas, é tomar a Cristo "cru", é tomá-Lo como exemplo e imitar Seu procedimento. A terceira maneira é torná-Lo "cozido". Isso se rela-ciona à Sua morte na cruz como perseguição e martírio, não como morte que se destina à nossa redenção. Como você O toma, assado, cru ou cozido? Se você crê que Ele morreu na cruz como mártir por causa da perseguição do homem, então você come o cordeiro pascal cozido em água. Entretanto, se você crê que Ele morreu como nosso Redentor, sendo assado pelo fogo santo de Deus, você então O come como o cordeiro pascal assado ao fogo.

4. Com a Sua Cabeça, Pernas e Entranhas

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Os filhos de Israel deveriam comer o cordeiro com a sua cabeça, pernas e entranhas (12:9). A cabeça tipifica a sabedoria; as pernas, a atividade e o mover, e as entranhas simbolizam as várias partes interiores do ser de Cristo. Comer o cordeiro pascal com a cabeça, pernas e entranhas é tomar a Cristo como um todo, em Sua totalidade. Quando O comemos, toma-mos Sua sabedoria, atividades, mover e partes internas.

5. Com Pães Asmos e Ervas Amargas Segundo 12:8, os filhos de Israel deveriam comer a carne do cordeiro com pães asmos e ervas amargas. Comer com pães asmos significa eliminar todas as coisas pecaminosas. Quando desfrutamos de Cristo como nossa Páscoa, precisamos purificar-nos de tudo o que é pecaminoso. Ao mesrno tempo, precisamos comer ervas amargas. Isso simboliza que precisamos arrepender-nos e experimentar um gosto amargo referente às coisas pecaminosas. Quando cremos no Senhor Jesus, muitos de nós O recebemos como nosso suprimento de vida e também desistimos de tudo o que é pecaminoso. Ao mesmo tempo, experimentamos o arrependimento. Isso indica que comemos Dele com ervas amargas. Não deveríamos tomar o cordeiro sem os pães asmos e as ervas amargas. Sempre que recebe Cristo como o seu suprimento, você recebe a vida sem pecado, sem fermento, o que lhe enseja um sentimento amargo quando peca, e o que o faz arrepender-se quando comete um erro. Essa vída é sensível ao pecado, a qualquer tipo de falta, a qualquer coisa do "ego". Para guardar-se sem fermento, você precisa arrepender-se.

6. Sem Nenhuma Sobra Até Pela Manhã Êxodo 12:10 diz: "Nada deixareis dele até pela manhã;o que, porém, ficar até pela manhã, queimá-lo-eis no fogo". Nada do cordeiro pascal poderia ser deixado até pela manhã. Isso indica que devemos receber a Cristo de maneira completa, não parcialmente. Não permita que nada Dele seja deixado para depois. Pelo contrário, tome-O completa-mente.

H. Seus Ossos Não Eram Quebrados Êxodo 12:46 diz que os filhos de Israel não deveriam quebrar qualquer um dos ossos do cordeiro pascal. Quando Cristo foi crucificado como nosso cordeiro pascal, Suas pernas não foram quebradas (Jo 19:33, 36). O fato de que as pernas de Cristo não foram quebradas significa que Nele, cordeiro pascal, existe algo que é inquebrável e indestrutível. Esse ele-mento inquebrável e indestrutível é a Sua vida eterna. Os soldados romanos e o povo judeu podiam juntos levar Cristo à cruz, mas não podiam quebrar-Lhe a vida eterna. Podemos provar nas Escrituras que o osso simboliza vida. Segundo Gênesis 2:21, o Senhor tomou um osso, uma costela de Adão e o transformou numa mulher. A mulher, Eva, foi feita de um osso tornado de Adão. Um osso, assim, tipifica a vida que transmite vida. O osso tomado de Adão comunicou sua vida a Eva. No mesmo princípio, o osso intato de Cristo simboliza Sua vida eterna, inquebrável e indestrutível, que Se transmite para o nosso interior. Em Cristo, nosso cordeiro pascal, existe essa vida inquebrável e indestru-tível, que pode transmitir vida para dentro de nós.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM VINTE E QUATRO

A PÁSCOA

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Leitura da Bíblia: Êx 12:11-28,43-51; 13:2-11; 2Co 5:7-8; 1Co 15:45a, 47a. O relato da Páscoa feito em Êxodo é muito detalhado. Em nenhum outro lugar das Escrituras encontraremos descrição tão minuciosa da redenção de Cristo. A razão de todos os pormenores é que Deus quer que conheçamos a redenção de Cristo de maneira tão plena que jamais possamos esquecê-la. Por duas vezes, a palavra "memorial" é utilizada (12:14; 13:9). Isso indica que a intenção de Deus é não negligenciarmos nem esquecermos a redenção de Cristo. Pelo contrário, devemos todos lembrar-nos dela, não de maneira generalizada, mas bem específica e minuciosa. Um dos pormenores do relato referente à Páscoa é o que diz respeito ao comer a carne do cordeiro. A carne do cordeiro pascal tipifica a vida crucificada e ressurreta de Cristo, que é o nosso suprimento. Em João 6:53, o Senhor Jesus disse que, se quisermos ter vida, precisaremos comer a carne do Filho do homem. No versículo 55, Ele continuou dizendo: "A minha carne é verdadeira comida". Através da encarnação, crucificação e ressurreição, Sua carne se tornou nossa comida. Um outro detalhe se relaciona aos ossos do cordeiro pascal. Aos filhos de Israel foi dito, em 12:46, que nenhum dos ossos do cordeiro imolado na Páscoa deveria ser quebrado. Isso tem grande significado. Quando o Senhor Jesus foi crucificado, Seus ossos não foram quebrados (Jo 19:33, 36). Isso indica que, no interior de Cristo, existe algo inquebrável e in-destrutível. O osso intato de Cristo simboliza a vida que transmite vida. Isso é tipificado por Eva sendo feita da costela de Adão. Assim como o osso de Adão pôde comunicar vida para o interior de Eva, tornando-a complemento dele, também a vida indestrutível de Cristo comunicou vida para o nosso interior, a fim de tornar-nos Seu complemento. A costela de Adão tipifica a vida de Cristo que transmite vida. Nele existe uma vida tipifi-cada pelo osso intato do cordeiro pascal. Essa vida é a vida eterna e divina de Cristo, que comunica vida para o nosso íntimo. Precisamos ficar profundamente sensibilizados com todos os pormenores da Páscoa. Ao considerarmos essas minúcias, percebemos que o relato da Páscoa não é simples nem fácil de compreender.

IV. A MANEIRA DE TORNAR PRÁTICO O CORDEIRO PASCAL Nesta mensagem, consideraremos a maneira de tornar prático o cordeiro pascal. Ele é maravilhoso, mas, se não soubermos como aplicá-lo, ele terá pouco significado em nossa experiência subjetiva cotidiana. Nossa preocupação nesta mensagem, por conseguinte, refere-se à experiência subjetiva de Cristo como Páscoa.

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A. Comer Com os Lombos Cingidos, Com Sandálias nos Pés,

Com o Cajado na Mão e às Pressas Êxodo 12:11 diz: "Desta maneira o comereis: lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão; comê-lo-eis às pressas: é a páscoa de Jeová" (hebraico). Enquanto comiam o cordeiro pascal, os filhos de Israel eram como um exército. Êxodo 12:51 diz que o Senhor os tirou "da terra do Egito conforme seus exércitos" (hebraico). Poucos cristãos percebem hoje que devem ser um exército. Pelo contrário, o conceito em voga parece ser que qualquer um que crê no Senhor Jesus deveria ser colocado num palanquim e conduzido aos céus. Todavia, de acordo com o retrato do livro de Êxodo, os redimidos aplicavam a Páscoa de maneira a se tornarem o exército de Deus. Segundo 12:11, os filhos de Israel comiam com seus lombos cingidos. Antes de sermos salvos, éramos um pouco frouxos; nosso ser não fora cingido. Ser cingido é parte da prepa-ração de um soldado no exército. Ao cingir-nos, fazemo-nos prontos para o combate. O evangelho hoje pregado por muitos cristãos não é completo. Quando você ouviu o evangelho, disseram-lhe, por acaso, que se arrependesse, que cresse no Senhor Jesus, que O recebesse e depois se cingisse? Poucos de nós ouvimos que precisávamos cingir-nos. Entretanto, a questão de cingir-se encontra-se aqui em Êxodo 12. Esse relato é completo. Somente quando cingimos nossos lombos é que estamos qualificados a pôr em prática a Páscoa. Se ainda estivermos frouxos, não poderemos torná-la prática de maneira correta. Aos filhos de Israel também foi dito que tivessem sandálias em seus pés. Isso mostra que deviam estar prontos para uma jornada. Num exército, todos os soldados necessitam de calçado apropriado. Antes de sermos salvos, nossos pés não estavam calçados. Se quisermos combater pelo Senhor, precisamos do tipo apropriado de calçado em nossos pés. Fico aborrecido com o fato de que a pregação do evangelho no Cristianismo de hoje dificilmente inclui uma palavra sobre a necessidade de termos sandálias em nossos pés para aplicarmos o cordeiro pascal. Espero que o Espírito Santo fale a muitos sobre esse assunto. Depois disso, em 12:11, foi dito aos filhos de Israel que comessem a Páscoa com seu cajado à mão. O cajado também deveria ser utilizado para a jornada. Nos tempos antigos, quando faziam uma viagem longa, as pessoas frequentemente levavam um bordão. O cinto, as sandálias e o cajado destinavam-se todos à jornada que os filhos de Israel estavam para empreender. Tal viagem não se constituía numa viagem de paz, mas de guerra, porque, num certo sentido, eles deveriam lutar para sair do Egito. Agradecemos ao Senhor, porque, embora possamos não ter ouvido nada sobre essas coisas, muitos de nós, ao ser-nos pregado o evangelho, tivemos alguma experiência delas à época em que fomos salvos. Quando decidimos tomar Cristo como nosso Salvador, tivemos interiormente a sensação de que estávamos prontos para uma longa viagem. Essa foi a minha experiência. Parecia-me haver desistido de minha primeira viagem e estar pronto para empreender uma nova, para ter uma nova vida com um novo começo. Você não teve essa experiência ao crer no Senhor? Não foi preparado para uma nova viagem, um novo caminhar? Talvez você não tivesse palavras para expressá-lo, mas o Espírito Santo o equipou dessa maneira e o guiou numa viagem de combate. Você percebeu que uma nova vida, uma nova viagem apenas começava. Por fim, 12:11 diz que o povo remido por Deus deveria comer a Páscoa às pressas. Por terem eles de fugir da terra do Egito naquela noite, deveriam comer às pressas. Frequente-mente se exige dos soldados que tomem suas refeições com rapidez. Os que já estiveram

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no exército sabem que os soldados são treinados para comer assim. Por haver uma batalha à nossa frente, precisamos comer o cordeiro pascal às pressas. Não se desculpe, dizendo que nasceu com disposição lenta. Os lentos podem ser os primeiros que o inimigo ataca pela retaguarda. Os que comem depressa provavelmente são aqueles que estão na frente do exército.

B. Marcar a Verga e as Duas Ombreiras da Porta com o Sangue Aspergido Por um Molho de Hissopo

Êxodo 12:22 diz: "Tomai um molho de hissopo, molhai-o no sangue que estiver na bacia, e marcai a verga da porta e suas ombreiras com o sangue que estiver na bacia". Observe que o sangue era posto à entrada da casa, não no teto. A função da entrada é permitir que ingressem na casa as pessoas e as coisas certas. Qualquer um ou qualquer coisa que não sejam corretos serão bloqueados pela entrada. O fato de o sangue do cordeiro pascal ser posto na verga e nas ombreiras da porta implica que ele abre caminho para entrarmos em Cristo, que é tipificado pela casa. Os redimidos entram na casa, não pelo teto nem por uma janela, mas pela porta borrifada com o sangue redentor. Aleluia, nosso ingresso em Cristo foi garantido pelo Seu sangue redentor! Ao entrarmos em Cristo pela porta borrifada com o sangue, recebemos calorosas boas-vindas. Além disso, o sangue da porta os protegia do julgamento de Deus. Como 12:13 registra, o sangue devia ser "por sinal nas casas" onde estavam os filhos de Israel. O versículo 23 prossegue dizendo: "Porque Jeová passará para ferir os egípcios; quando vir, porém, o sangue na verga da porta e em ambas as ombreiras, passará Jeová aquela porta, e não permitirá ao destruidor que entre em vossas casas, para vos ferir" (hebraico). O mesmo sangue abriu o caminho para que os redimidos por Deus entrassem na casa e fechassem as portas ao destruidor, guardando-se eles, assim, do julgamento. Louvado seja o Senhor, porque temos uma porta que foi borrifada com o sangue redentor! Essa porta nos dá acesso à graça de Deus com tudo o que Ele nos é e tudo o que Ele tem para nós. Por fim, ela se fecha para tudo o que é negativo. Aleluia, estamos na casa cuja porta foi borrifada com o sangue! Na mensagem anterior, realçamos o fato de que tanto o cordeiro quanto a casa tipificam Cristo. Isso significa que o cordeiro é a casa e que a casa é o cordeiro. O cordeiro é o meio de redenção, e a casa é o meio de preservação. Todo aquele que for redimido pelo cordeiro será preservado e guardado pela casa. Isso mostra que tudo o que Cristo redime é por Ele guardado. Como Aquele que redime, Ele é o cordeiro; e, como Aquele que guarda. Ele é a casa. Por fim, o sangue do cordeiro estava na porta, e sua carne estava na casa. O cordeiro, a casa e os que desfrutavam da Páscoa, assim, tornaram-se um. Esse é um quadro da identificação dos redimidos com Cristo. Um molho de hissopo foi utilizado para aspergir o sangue do cordeiro na verga e nas ombreiras. 1 Reis 4:33 afirma que, em sua sabedoria, Salomão "discorreu sobre todas as plantas, desde o cedro que está no Líbano até ao hissopo que brota do muro". O hissopo era uma das menores plantas. Segundo a revelação do Novo Testamento, o que há de menor em quantidade é a nossa fé (Mt 17:20). O hissopo, assim, tipifica a fé. Deus não exige que nossa fé seja como o cedro, pois nenhum de nós poderia satisfazer tal requisito. Ele requer apenas que tenhamos um pouquinho de fé. Mesmo que ela seja bem pequena, ainda assim poderemos tornar prático o cordeiro pascal. Se um pecador orar: "Senhor Jesus, graças Te dou por morreres por mim", ele estará salvo. Até mesmo essa pequena quantidade de fé haverá de salvá-lo. Em verdade, alguém pode ser salvo apenas por dizer:

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"Senhor, graças Te dou." Essa é a fé semelhante ao hissopo que brota do muro. É por meio dessa pequena fé que o sangue de Cristo é aplicado. De acordo com 12:22, o sangue do cordeiro pascal era posto numa bacia, não num grande vasilhame. Muitos podem testificar que, em suas experiências de conversão, o san-gue redentor de Cristo lhes foi acessível em vasilha pequena e de fácil aplicação. Não era necessário ter grande fé. Até mesmo uma quantidade bem pequena de fé lhes foi suficiente para a salvação. Esse é o significado do uso de um molho de hissopo para aplicar o sangue do cordeiro pascal. Tanto a bacia quanto o hissopo eram pequenos e podiam ser facilmente manuseados por qualquer um. Como é fácil pôr Cristo em prática! Qualquer pessoa não-salva que estiver lendo esta mensagem não precisará esperar até que algo grandioso aconteça. Enquanto a lê, ela pode dizer: "Senhor, eu Te agradeço". Até mesmo pelo exercício de tão pequena quantidade de hissopo, o sangue lhe será aplicado, e a Páscoa toda será sua. O sangue do cordeiro pascal é aplicado, não por uma grande, mas por uma pequena fé. Louvado seja o Senhor, porque até mesmo uma pequena fé é suficiente! Ao aplicarmos o sangue pela fé, ingressamos em Cristo e imediatamente somos guiados para o Seu interior como casa, onde a Páscoa toda se torna nossa.

C. Permanecer na Casa Cuja Porta Foi Marcada Com o Sangue Exigiu-se dos filhos de Israel que ficassem na casa cuja porta fora borrifada com o sangue; não deveriam sair dela até ao amanhecer (12:22). Para compreendermos o signifi-cado desse trecho, precisamos verificar que o conceito básico da Bíblia concernente à redenção é o da identificação ou união. Sem identificação, não pode haver substituição, o que é necessário para a redenção. Na cruz, Cristo morreu como nosso substituto. Todavia, para que Ele seja nosso substituto, precisamos ser identificados com Ele. No Antigo Testamento, a arca de Noé, como um tipo, ilustra essa questão de identifi-cação. Para serem salvos das águas de julgamento, Noé e sua família precisaram estar na arca. Estar nela era estar identificado com ela e ser um com ela. O destino da arca era automaticamente o destino de todos os que nela estavam. Tudo o que acontecesse à arca se tornaria a experiência das pessoas que com ela estavam em unidade. Após ser fechada a sua porta, outros poderiam agarrar-se a ela em desespero. Mas eles não eram um com a arca, nem se identificavam com ela. A única maneira de ser um com Cristo é entrar Nele. Nas palavras de 1 Coríntios 1:30, provém de Deus o estarmos em Cristo Jesus. Deus nos introduziu Nele. Assim como as oito pessoas estavam na arca de Noé, também nós, os redimidos, estamos em Cristo Jesus. O nosso ingresso em Cristo se faz pela porta a que se aplicou o sangue. Quando utiliza-mos o hissopo para aplicar o sangue à porta, capacitamo-nos a ingressar em Cristo. Após entrarmos Nele, precisamos Nele habitar. Em João 15, o Senhor Jesus diz: "Habitai em mim" (grego). Habitar em Cristo é ficar Nele, ou seja, é mantermos a nossa identificação, a nossa união com Ele. O resultado de muitos ensinamentos do Cristianismo é levar os cristãos a se separarem de Cristo e a perderem sua identificação com Ele. Nenhum ensinamento que nos leve a perder nossa união com Cristo tem qualquer valor. Tudo o que estiver fora de Cristo é esforço e luta humana. Não há necessidade de lutarmos nem de nos esforçarmos. Simples-mente precisamos entrar na casa através do portal borrifado com o sangue. Uma vez que estejamos na casa, seremos um com ela e estaremos com ela identificados. Muitos dos que crêem em Cristo estavam na casa à época de sua conversão. Mas, pouco depois, no que diz respeito à sua experiência prática diária, eles saíram da casa. Em sua ex-

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periência, poucos cristãos permanecem na casa após sua conversão. Isso quer dizer que, quando creram em Cristo e foram salvos, entraram na casa. Mas, depois, começaram a realizar muitas coisas fora da casa e desvinculados dela. Isso significa que agiram fora de Cristo. Essa tem sido a experiência de muitos de nós. Entramos em Cristo ao sermos salvos; mas, em nosso esforço para agradar a Deus por nós próprios, saímos Dele. Não permanecemos Nele. Após virmos para a igreja, fomos conduzidos de volta a casa através do ministério da Palavra. Os que entraram para a vida da igreja podem ainda não estar em Cristo de maneira prática. Essa é a fonte dos problemas na igreja. Todos na igreja deveriam estar em Cristo. Pode, entretanto, levantar-se alguma situação anormal, em que muitos dos que estão na vida da igreja não estejam permanecendo em Cristo. Antes de entrar para a vida da igreja, você pode ter lutado com sua própria energia para agradar ao Senhor. Agora que entrou para a igreja, que é uma parte da casa, você também precisa voltar a casa. Isso quer dizer que você precisa voltar a Cristo e Nele permanecer. Todos fomos salvos em Cristo. Mas, assim como os gálatas, podemos estar tentando prosseguir fora de Cristo. Por conseguinte, precisamos ser conduzidos de volta a Ele. Não há necessidade de realizarmos muitas coisas. Deveremos simplesmente manter nossa identificação com Cristo, com uma constante percepção de que nós nada somos, e que Ele é tudo. Precisamos perceber que estamos Nele e que Ele está em nós. Enquanto habitarmos Nele, Ele habitará em nós. Como disse o próprio Senhor em João 15, "habitai em mim, e eu habitarei em vós" (grego). Alguns podem ter ouvido esse ensinamento antes de entrar para a vida da igreja. O ponto decisivo, todavia, não é se você conhece ou não o ensinamento concernente ao habitar em Cristo, mas é se você realmente está ou não habitando Nele. Onde está você neste exato momento? Você está em Cristo ou fora Dele? O Senhor Jesus disse que fora Dele nada podemos fazer (Jo 15:5). Permanecer na casa é permanecer em Cristo e ser identificado com Ele. Em outras palavras, é permanecer em unidade com o Senhor. O maior problema entre os cristãos de hoje é que, em sua experiência, eles estão fora de Cristo, fora da unidade com Cristo. Moisés ordenou aos filhos de Israel comerem o cordei-ro na casa e depois permanecerem nela. Se saíssem da casa, haveriam de perder tudo. Na casa havia o gozo pleno da Páscoa. Somente na casa a Páscoa podia tornar-se a experiência deles. Precisamos estar claros acerca do que seja a casa e onde ela está hoje. Já ressaltamos o fato de que a casa é Cristo. Mas onde está ela? Ela está onde estiver o sangue aspergido. O sinal único da casa não é o que somos, o que temos ou o que fazemos. É o sangue aspergido de Cristo. Onde está a redenção, aí também está Cristo. Fora da redenção não temos sustentação.A nossa única posição é o sangue redentor de Cristo. Se ler o livro de Gálatas, você verá que eles foram desviados da posição de redenção. Saíram da casa e assim foram privados do benefício, do lucro de estarem em Cristo. Se os filhos de Israel não tivessem permanecido na casa, também teriam sido privados do benefício, do lucro, do gozo e da experiência da Páscoa. Para participarem da Páscoa, havia a necessidade de permanecerem na casa. A razão por que não concordamos com tantos ensinamentos do cristianismo de hoje é que tais ensinamentos levam os cristãos a saírem da casa, a não mais permanecerem na posição de redenção. Uma vez que fomos salvos, precisamos permanecer no mesmo lugar em que fomos redimidos, no lugar em que o sangue foi aspergido. Aqui, neste lugar, temos a casa. O sangue redentor nos mantém em Cristo. Sempre que tentarmos por nossa própria

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força realizar algo para Deus, violaremos o princípio da redenção. O princípio da redenção é que não precisamos fazer nada além de exercitarmos o nosso hissopo, a nossa fé, apli-cando o sangue. Toda vez que o nosso hissopo aplica o sangue à porta, o caminho se abre para permanecermos em Cristo. Permaneçamos no local da redenção, na casa que tem a entrada borrifada com sangue. Não deveremos praticar aquelas coisas que nos levam a sair da casa. Pelo contrário, deveremos permanecer na casa em que participamos da Páscoa. Quanto mais permanecemos na casa, mais luz recebemos; e, quanto mais luz receber-mos, mais veremos que tudo o que precisamos se encontra na casa. Se você permanecer na casa, será preenchido, qualificado, equipado e tornado em exército. Nossa única necessidade é permanecer em Cristo como casa. Quando jovem, eu ouvi muitas mensagens referentes à Páscoa. Todas elas enfatizavam o aspecto de que, quando vê o sangue, Deus passa por sobre nós. Uma conhecidíssima música de evangelização utiliza, inclusive, a palavra de Êxodo 12:13: "Quando eu vir o sangue, passarei por vós". Mas, em todas essas mensagens que ouvi sobre a Páscoa, palavra alguma foi dita sobre o permanecer na casa. Somente duas vezes lemos que, ao ver o sangue, Deus passa por sobre nós. Mas, repetidas vezes, Moisés falou da casa. Se for iluminado pelo Senhor, você perceberá que até mesmo agora pode estar fora da casa, fora de Cristo. A única maneira de entrar nela é o sangue redentor borrifado na por-ta. É impossível apartar da casa o sangue redentor, porque o sangue e a casa são um. Sempre que mantemos a posição do sangue redentor, estamos em Cristo. Contudo, sempre que nos esforçamos em nossa força natural para agradar a Deus, abandonamos a posição do sangue redentor e permanecemos fora de Cristo. Você sabe o que os filhos de Israel faziam dentro da casa? Comiam a carne do cordeiro pascal. Êxodo 12:14 mostra que eles festejavam. Esse versículo diz: "Este dia vos será por memorial, e o celebrareis como solenidade a Jeová: nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo" (hebraico). O que significa celebrar ao Senhor? Significa permane-cermos na casa e desfrutarmos de uma participação total do cordeiro. Dessa maneira é que celebramos o cordeiro. O Senhor, todavia, desfruta dessa festa mais do que nós. Celebrar-Lhe uma festa significa que a festa é para Ele e com Ele. Nós comemos, mas Ele desfruta. Nós festejamos, e Ele fica feliz. Quanto mais festejamos, mais contentamento Ele tem e mais feliz Ele fica. Entretanto, quanto mais nos esforçamos por realizar as coisas, mais insatisfeito Ele fica, porque os nossos esforços não Lhe proporcionam qualquer deleite. Como é pobre a situação do cristianismo de hoje! A maioria dos cristãos está fora da casa, tentando realizar as coisas para o Senhor; não se acham no interior da casa, cele-brando a Ele. Louvado seja o Senhor, porque nós, nas igrejas locais, estamos na casa, celebrando a Ele! Esse princípio de permanecer na casa através do manter a posição de redenção precisa governar toda a nossa vida cristã. Durante todo o dia, nós, os redimidos, deveremos permanecer na casa. Ao ouvirem isso, alguns poderão dizer que os filhos de Israel abando-naram as casas para realizarem sua saída do Egito. O tempo gasto na casa, todavia, tipifica todo o curso da redenção. Enquanto permanecemos na casa festejando o cordeiro pascal, somos equipados. Na verdade, o festejar é o equipar. Ao se preencherem do cordeiro pascal, os filhos de Israel se prontificaram a marchar para fora do Egito. Assim, foram eles equipados por se preen-cherem do cordeiro. Essa é a razão por que dizemos que permanecer na casa envolve o curso total da redenção. Não pense que o sangue aspergido na verga e nas ombreiras das portas seja suficiente

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para tudo. É suficiente para guiar-nos para o interior da casa e para guardar-nos do julga-mento de Deus; mas não é suficiente para equipar-nos. Ele não pode capacitar-nos a empreender a jornada. Por essa razão, precisamos assar o cordeiro, comer sua carne às pressas na casa, e sermos preenchidos por ele. Todas as partes do cordeiro pascal deverão ser comidas, inclusive a cabeça, as pernas e as entranhas. Nada deverá sobrar. Talvez os filhos de Israel precisassem encorajar-se mutuamente para comerem certas partes do cordeiro. Alguns poderiam não estar preocupados com a cabeça nem com as entranhas, mas mesmo assim tinham que comer o cordeiro todo, a fim de estarem totalmente equi-pados para a batalha. Ao celebrarmos Cristo como o cordeiro pascal, Deus fica feliz e pleno de gozo. Então Ele pode dizer: "Satanás, olhe para o Meu povo. Ele está sendo equipado ao celebrar o cor-deiro pascal. Por estar sendo assim equipado, ele será capaz de derrotá-lo".

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MENSAGEM VINTE E CINCO

A PÁSCOA

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Leitura da Bíblia: Êx 12:11-28, 43-51; 13:2-11; 1Co 5:7-8

A redenção de Cristo é misteriosa, muito além de nossa compreensão. Creio que esta é a razão de a Páscoa no Antigo Testamento retratar todos os elementos, fatores, e aspectos da redenção de Cristo revelados no Novo Testamento. Se tivéssemos simplesmente as palavras do Novo Testamento sem o quadro no Antigo Testamento, seria difícil para nós vermos todos os detalhes da redenção maravilhosa e misteriosa de Cristo. Como somos gratos ao Senhor pelo retrato da redenção apresentado no livro de Êxodo! Nas mensagens precedentes, nós abordamos vários detalhes acerca da Páscoa. Vimos que Cristo não só é o cordeiro Pascal, mas também o pão asmo, as ervas amargas, e a casa. O sangue do cordeiro foi aspergido nas ombreiras e vergas das portas das casas; e todo o cordeiro, inclusive a cabeça, pernas, e entranhas, foi comido. Enquanto os filhos de Israel comiam o cordeiro, era necessário eles terem seus lombos cingidos, ter seus pés calçados, e ter um cajado em suas mãos. Além disso, eles tinham que comer o cordeiro às pressas. O cordeiro não era para ser comido cru ou cozido; tinha que ser assado no fogo. Além disso, o hissôpo, que significa fé, foi usado para pôr o sangue do cordeiro Pascal nas ombreiras e nas vergas das portas. Todos esses detalhes tinham que ser observados pelos filhos de Israel enquanto estavam partilhando a Páscoa. Nesta mensagem continuaremos a consi-derar alguns detalhes adicionais acerca da maneira a aplicar o cordeiro Pascal. A Páscoa em si durava apenas um dia. Ela foi estabelecida no décimo quarto dia do primeiro mês, o mês Abibe. Continuando a festa da Páscoa, havia outra festa, a festa dos pães asmos que durava sete dias. Na Bíblia sete dias indicam um curso completo de tempo, um período integral de tempo. Consequentemente esses sete dias tipificam o curso de nossa vida na terra. Aos olhos de Deus, o período todo de nossa vida é de apenas sete dias. A festa dos pães asmos começava e acabava com dias de festa. Tanto no primeiro quanto no último dia, não nenhuma obra era permitida. Aos filhos de Israel era permitido somente comer. Os pormenores que abordaremos nesta mensagem são crucialmente decisivos. O que abordamos até agora se relaciona à festa da Páscoa, que durava um dia. Mas o que aborda-remos nesta mensagem se relaciona à festa que durava sete dias, um período de tempo que tipifica toda uma existência humana.

D. Não Comer, Nem Mesmo Ter Qualquer Fermento Relativamente à Páscoa, a ênfase da Bíblia se destina principalmente ao comer dela, não ao guardá-la. Lucas 22, por exemplo, fala do Senhor comendo a Páscoa com Seus discí-pulos (v. 11, 15). A Páscoa ali é uma festa para nós comermos. Êxodo 12 fala sobre comer

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carne, pão asmo e ervas amargas. O significado de comer reside no fato de que vivemos pelo que comemos. Na vida humana, nada é mais importante do que comer. Os filhos de Israel não deviam comer pão levedado durante sete dias. Êxodo 12:15 diz: "Sete dias comereis pães asmos. Logo ao primeiro dia tirareis o fermento das vossas casas". De acordo cam 12:19, não se deveria encontrar fermento algum nas casas; e, segundo 13:7, fermento algum deveria ser visto com os filhos de Israel. Durante os dias da festa dos pães asmos, eles não deveriam comer pão levedado, nem fermento deveria ser encontrado em suas casas, nem pão levedado deveria ser visto com eles. Comer pão asmo significa que o povo de Deus não deveria viver em pecado, isto é, não deveria ter uma vida pecaminosa. Na Bíblia, o fermento tipifica aquilo que é pecaminoso, maligno, corrupto e impuro aos olhos de Deus. Em 1 Coríntios 5:8, Paulo fala em "fer-mento da maldade e da malícia". A função do fermento é tornar algo mais fácil de ser comido. Suponha um pão feito sem levedura nem qualquer outro tipo de fermento. Tal tipo de pão seria pesado e duro de mastigar. Mas, se o fermento for adicionado à sua massa, o pão ficará mais macio e fácil de comer. A função do pecado se assemelha à da levedura; ele amacia as coisas duras e as torna mais fáceis de serem tomadas por nós. O princípio do fermento, por conseguinte, é adicionar um elemento que faz algo duro tornar-se macio. Fazer piada, por exemplo, pode ser um tipo de fermento que faz uma situação difícil tornar-se maís fácíl de ser enfrentada.

E. Considerar a Festa dos Pães Asmos Como Continuação da Festa da Páscoa

1. Por Sete Dias

Os filhos de Israel deveriam considerar a festa dos pães asmos como continuação da festa da Páscoa (12:15-20; 136-7). Êxodo 12:18 afirma: "Desde o dia quatorze do primeiro mês à tarde, comereis pães asmos até à tarde do dia vinte e um do mesmo mês". Já enfatizamos que, ao comerem do cordeiro pascal, os filhos de Israel também deveriam ingerir pão sem fermento. Observamos que a festa da Páscoa durava um dia, ao passo que a festa dos pães asmos continuava por sete dias. A festa dos pães asmos, portanto, era uma continuação da festa da Páscoa. A carne do cordeiro pascal tipifica a vida pura de Cristo. Nós O recebemos não apenas em Sua morte e ressurreição, mas também em sua pureza, pois Sua vida não é somente uma vida crucificada e ressurreta, mas também uma vida sem pecado. Por conseguinte, temos de comer a carne do cordeiro mais o pão asmo. Isso significa que — desde que recebemos Cristo, e fomos salvos, e tivemos um novo início na vida — começamos a viver uma vida sem fermento, uma vida sem pecado. Êxodo 13:7 registra que nenhum fermento deveria ser achado com os filhos de Israel. Em nossa vida cristã, nenhum fermento deve ser visto. É-nos impossível não ter nenhum fermento, mas é possível que ele não seja visto. Embora não nos seja possível ficar sem pecado, precisamos tratar com todo aquele que seja manifesto, com qualquer pecado que seja visto. Isso significa que temos a responsabilidade de tratar com o pecado de que estamos cônscios. Sempre que descobrimos algo pecaminoso em nossas vidas, precisamos eliminá-lo, isso, entretanto, não quer dizer que não teremos pecado. Pode haver muito pecado em nossas vidas ou em nosso ambiente, mas poderemos dele não estar cônscios. Tão logo nos conscientizernos dele, entretanto, precisaremos tratá-lo. Precisaremos renunciar ao pecado que conhecemos. Não deveremos tolerar qualquer manifestação dele. Em 12:19, foi dada uma palavra forte aos filhos de Israel: "Por sete dias não se ache

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nenhum fermento nas vossas casas; porque qualquer que comer pão levedado será elimi-nado da congregação de Israel, assim o peregrino como o natural da terra". Ser eliminado da congregação de israel era ser cortado da comunhão do povo escolhido de Deus. Essa palavra séria corresponde à palavra de Paulo em 1 Corfntíos 5:13: "Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor". Expulsar tal pessoa é cortá-la da comunhão da igreja. Se tolerarmos o pecado que se expõe, nossa comunhão será eliminada, isso indica que, como cristãos, devemos viver uma vida sem pecado, não tolerando qualquer pecado que já tenha sido exposto. Tratar o pecado manifesto é seguir as prescrições da festa dos pães asmos. Êxodo 12:14 ordena: "Este dia vos será por memorial, e o celebrareis como solenidade a Jeová: nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo" (hebraico). Esse versículo indica que a Páscoa deveria ser guardada como uma festa. O mesmo era verdade com respeito à festa dos pães asmos (12:17). Uma festa envolve tanto o comer quanto o desfrutar. Sempre que comemos sem ter por objetivo o prazer de comer, comemos de maneira comum. Mas, quando comemos para desfrutar, nosso comer se torna uma festa. Por exemplo, podemos diariamente tomar o nosso café da manhã, almoçar e jantar sem qualquer prazer especial. Mas, às vezes, juntamo-nos para dar uma festa. Em tal hora, o nosso comer tem por objetivo o desfrutar. O comer da Páscoa se chamava festa da Páscoa porque era um comer que tinha por alvo desfrutar. Quando fomos salvos, desfrutamos da festa da Páscoa. Mas essa festa deveria imediata-mente ser seguida pela festa dos pães asmos. Isso indica que o gozo de um cristão não de-veria cessar. Todavia, na experiência de muitos deles, a festa da Páscoa não é seguida pela festa dos pães asmos. À época de sua conversão, eles estavam jubilosos. Mas esse gozo não durou, porque eles não atentaram à festa dos pães asmos. Isso quer dizer que eles não trataram com sua vida pecaminosa. Pelo contrário, permitiram que o fermento exposto permanecesse. Não trataram com o pecado exposto. Por essa razão é que muitos cristãos não levam em consideração a festa dos pães asmos. Após recebermos o Senhor e sermos salvos, devemos continuar o nosso deleite, tratando o pecado. Isso deveria durar não apenas um dia, mas sete, isto é, deveria durar por toda a nossa vida. A nossa vida toda, após sermos salvos, deve ser a festa dos pães asmos." Essa era a concepção de Paulo em 1 Coríntios 5. No versículo 7, ele exorta: "Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois de fato sem fermento. Pois também Cristo, nossa Páscoa, foi imolado (grego). Depois, no versículo 8, ele pressegue, dizendo-nos para celebrar a festa, não com o velho fermento da maldade e da malícia: e, sim, com com os amos da sinceridade e da verdade". A cada dia, precisamos celebrar a festa dos pães asmos. Devemos celebrá-la por toda a nossa vida cristã até que vejamos o Senhor. Tão logo recusemos tratar com qualquer pecado exposto, e já não mais estaremos cele-brando a festa dos pães asmos. Isso significa que perderemos o prazer dessa festa. Tolerar o pecado causa perda de deleite. Por outro lado, quanto mais tratarmos o pecado mani-festo ou exposto, mais gozo teremós. Isso é observar as prescrições da festa dos pães asmos. Gosto da maneira com que Paulo alegorizou a Páscoa e a festa dos pães asmos. Ele afirma que Cristo, nossa Páscoa, foi imolado, e que devemos purificar-nos do velho fermento e celebrar a festa dos pães asmos. Celebramos essa festa tratando o pecado e vivendo uma vida sem pecado. Sempre que algo pecaminoso se expõe, imediatamente o tratamos. Dessa maneira, levedo algum se verá em nossas casas. Cristo é o pão asmo.

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Quanto mais O comemos, mais nos tornamos asmos. A única maneira de eliminar o pecado é comer Sua vido crucificada, ressurreta e sem pecado.

2. Não Trabalhando No Primeiro e No Sétimo Dias, Mas Comendo Êxodo 12:16 diz: "Ao primeiro dia haverá para vós outros santa assembleia; também ao sétimo dia tereis santa assembleia; nenhuma obra se fará neles, exceto o que diz respeito ao comer; somente isso podereis fazer". Esse versículo diz que, no primeiro e no último dia da festa dos pães asmos, trabalho algum haveria de ser feito. Isso quer dizer que, no desfrutar da salvação de Deus, não há lugar para a nossa obra. Precisamos aprender a estancá-la, a cessar todo tipo de trabalho. Não resolva ser um esposo amoroso, uma esposa submissa ou um filho que honre seus pais. Tudo isso é obra humana. A única coisa que se nos permite realizar é comer. Isso indica que, ao partilharmos da salvação de Deus, apenas existe lugar para o gozo, não para o trabalho. Não tente realizar nada — tão somente coma e desfrute. A situação do cristianismo de hoje é exatamente o oposto. Em vez de comer, existe o trabalho. Sermões e mais sermões são proferidos, instando as pessoas a que se envolvam em determinados tipos de trabalho. Isso contradiz o princípio da salvação de Deus. A Sua salvação não nos permite realizar trabalho algum. Por causa de nossa natureza de serpente, imediatamente após sermos salvos, decidimos em nossa mente executar determinadas coisas. Alguns decidiram não perder a calma; outros decidiram ser humildes. Mas o Senhor não permite esse tipo de obra. Em Sua salvação apenas se nos permite comer. Contrastando com os escritos das religiões do homem, a Bíblia ordena ao povo de Deus — com referência ao primeiro e ao último dia da festa — que nada faça, exceto comer. Se os filhos de Israel trabalhassem nesses dias, quebrariam o princípio da salvação de Deus. A salvação destina-se ao nosso gozo; ela não requer nossa obra nem nossa acão. Todavia até mesmo os cristãos muito zelosos são eliminados da comunhão espiritual simplesmente porque se envolvem em muita atividade. Adicionar trabalho humano à salvação de Deus é insultá-Lo e cortar-nos da comunhão. Achamos difícil cessar o trabalho e continuar a comer. Em vez de comer sem trabalhar, nosso hábito é trabalhar sem comer. Alguns poderão queixar-se de comida espiritual excessiva. Até poderão dizer que estão cansados de tanto comer. Comentários como esse circularam em nosso meio há algum tempo. Esse tipo de palavra vem do diabo, do inimigo de Deus. Tão logo se diga uma palavra contra o comer do Senhor, a ela se seguirá uma sugestão para trabalharmos e nos envolvermos em certa atividade. Que contradição diabólica com o princípio da salvação de Deus! Repito, a Sua salvação requer que cessemos o nosso trabalho e nada façamos, exceto comer. É possível, inclusive, que a oração se torne uma obra condenada por Deus. Alguns dos irmãos poderão decidir gastar mais tempo em oração. Em tal caso, a oração deles poderá tornar-se uma obra que quebre o princípio da salvação, de Deus. Para alguém que deci-disse orar assim, eu diria: "Não permita que a oração se torne uma obra. Em vez de orar de maneira natural, você precisa comer do pão asmo". Quando jovem, eu me envolvi em muita atividade para com o Senhor. Lia livros sobre como ser santo, como orar e como vencer o pecado. Tais livros me encorajavam a trabalhar e a realizar determinadas coisas. Aí, então, um dia, ficou-me claro que Deus não quer que trabalhemos, mas que comamos. Se quisermos celebrar-Lhe uma festa, precisamos cessar nossa obra.

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Suponha que um irmão o convide para uma festa em sua casa. Entretanto, depois de chegar, você gasta longo tempo trabalhando para ele: corta a grama, apara as árvores e lava as janelas. Todo o seu trabalho ofenderá esse irmão. O que ele deseja é que você se sente à mesa e festeje com ele. Quanto mais você festejar, mais feliz ele há de ficar. Todos precisamos aprender a abandonar nossa atividade natural. Mas isso não é fácil. Enquanto abandonamos o nosso agir, precisamos manter nosso comer. A maioria dos cristãos trabalha sem comer; mas nós precisamos aprender a comer sem trabalhar. Aban-donemos o nosso realizar, mas continuemos com o nosso comer.

F. Não Ser Comida Por Estrangeiros Nem Por Servos Contratados Êxodo 12:43 afirma: "Esta é a ordenança da páscoa: nenhum estrangeiro comerá dela", O versículo 45 prossegue dizendo: "O estrangeiro e o assalariado não comerão dela". Esses versículos mostram que a estrangeiros e a servos contratados não se permitia comer da Páscoa. Os estrangeiros, no Antigo Testamento, representam duas categorias de pessoas: os incrédulos e o homem natural. Podemos facilmente concordar que os incrédulos sejam estrangeiros; mas poderemos não concordar que o nosso homem natural também seja um estrangeiro a quem não se permite participar da Páscoa. Em verdade, o nosso homem natura não difere de um incrédulo, porque nossa vida natural está sempre pronta a acompanhar o caminho do incrédulo. Por isso o homem natural e o incrédulo são da mesma família. Veja que, em Êxodo 12, o homem natural é o estrangeiro unido ao servo contratado. Um servo contratado é alguém que serve por salário, por contraprestação. O homem natural sempre trabalha para Deus a fim de receber uma compensação, isso é algo comum no cristianismo de hoje. Em sua maior parte, o cristianismo se tornou uma religião, em que estrangeiros são contratados para trabalhar por um salário. Embora um servo contratado possa receber salário, nele não existe graça, fé nem gozo. Se tentarmos desfrutar da Páscoa do acordo com o princípio de um servo contratado, descobriremos que não temos condi-ção para participar dela. Os que trabalham como servos contratados têm a atitude de que trabalham, e Deus lhes paga seus salários. Mas, em Romanos, Paulo afirma que não podemos trabalhar para a nossa salvação. Romanos 4:4-5 registra que, agora, "ao que trabalha, o salário não é consi-derado como favor, e, sim, como dívida. Mas ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça". Falando da escolha da graça, Paulo assevera em Romanos 11:6: "E se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça". Nos dizeres de Gálatas 4:7, nós, que cremos em Cristo, já não mais somos servos, porém filhos. Os filhos simplesmente desfrutam da vida em família. Não trabalham como servos contratados para terem parte no deleite. O nosso desfrutar da salvação de Deus está de acordo com o princípio da graça gratuita, não segundo o princípio de um servo contra-tado, que trabalha por recompensa. No que diz respeito à salvação, o nosso trabalho nada significa. Deus nos permite desfrutar da Páscoa não como salário, mas tão somente como dom gratuito da graça. É óbvio que o homem natural não pode desfrutar de Cristo como Páscoa. Uma pessoa que ainda esteja no homem natural não chegou ao mês de abibe, que significa "desabro-char", "florescer". Isso quer dizer que ela ainda não experimentou um novo início em Cristo. Nessa pessoa não existe o florescer da vida divina através da regeneração. Ter um

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novo início é não ser mais um estrangeiro, um homem natural. Pelo contrário, é ser regenerado e tornar-se uma nova criação «m Cristo (2Co 5:17). Não participe da Páscoa como homem natural ou como servo contratado, nem tenha a atitude de que trabalha para Deus, e que Ele lhe paga. Não recebemos a salvação de Deus por causa de nosso labor. Se permanecermos no homem natural ou nos considerarmos como servos contratados, que trabalham por recompensa, não teremos direito de partilhar da Páscoa.

G. Os Servos Comprados e Circuncidados Estavam Qualificados Para Comê-la Embora os estrangeiros e os servos contratados não pudessem participar da Páscoa, os servos comprados e circuncidados estavam qualificados para comê-la (12:44,48). Ser comprado é ser redimido. Não somos servos contratados, mas fomos comprados pelo Senhor, a fim de sermos Seus escravos. Estávamos perdidos, mas Ele pagou o preço para recuperar-nos. Isso quer dizer que fomos redimidos, comprados, recuperados. Assim, já não mais somos estrangeiros, porém redimidos, não mais homens naturais, porém com-prados. A redenção de Cristo não inclui a vida natural. Pelo contrário, Sua redenção trata com o homem natural, colocando-o na cruz. Cristo redime apenas os que foram tratados por Sua cruz. Esse tratamento é tipificado pela circuncisão. Como você se considera: contratado ou comprado? Poucos gostam de se considerar comprados. Alguém que tenha sido comprado é, na verdade, um escravo. Essa é a razão por que, em nós mesmos, todos preferimos ser contratados. Se formos contratados por determinada pessoa, estaremos dispostos a trabalhar enquanto estivermos contentes com o nosso empregador. Mas, se não estivermos contentes, poderemos demitir-nos e trabalhar para outrem. Mas alguém comprado, um escravo, não tem direito de demitir-se. Observamos novamente que a maneira do homem natural contradiz o princípio de Deus. Em Sua redenção, não somos contratados, mas comprados. Qualquer um que se julgue um contratado não partilha da redenção de Deus. Se quisermos desfrutar de Sua redenção, precisaremos tomar a posição daqueles que foram por Ele comprados. É fácil dizer de maneira doutrinária que fomos comprados. Mas, em nossa prática diária real, poderemos viver como se fôssemos contratados. O apóstolo Paulo sabia ser escravo de Cristo Jesus (Rm 1:1). Ele não se considerava alguém contratado a fim de trabalhar para o Senhor. Contrastando com muitos pastores e ministros, ele sabia não ter direito de demi-tir-se do serviço do Senhor. Ser um contratado é, espiritualmente falando, trabalhar em nossa vida natural com o propósito de receber recompensa. Mas, de acordo com o princípio espiritual, ser alguém comprado é servir ao Senhor em redenção. Uma pessoa comprada é uma pessoa que esteve perdida, que foi recuperada e tratada pela cruz. Esse é o tipo de pessoa redimida por Deus. Ela está qualificada a ter parte na Páscoa. Êxodo 12:44 registra: "Porém todo escravo comprado por dinheiro, depois de o teres circuncidado, comerá dela". O versículo 48 tarnbém fala de circuncisão: "Porém se algum estrangeiro se hospedar contigo, e quiser celebrar a páscoa de Jeová, seja-lhe circuncidado todo macho; e então se chegará e a observará, e será como o natural da terra, mas nenhum incircunciso comerá dela" (hebraico). Todos os redimidos devem ser circuncidados. Falando espiritualmente, ser circuncidado é ter a vida natural tratada pela cruz. Fora da circuncisão não há redenção. Por esse motivo os redimidos estão vinculados à circuncisão. Os redimidos foram tratados pela cruz. Nas palavras de Paulo, eles próprios são a verda-

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deira circuncisão (Fp 3:3). Os estrangeiros são os contratados, ao passo que os comprados são os circuncidados. Os circuncidados não exercitam a vida natural a fim de trabalhar para Deus. Este não quer que trabalhemos para Ele, mas que sejamos circuncidados. O trabalho segundo nossa vida natural somente pode produzir Ismael. Nossa força para produzir Ismael deve ser cortada pela circuncisão. Se quisermos receber a salvação de Deus de maneira correta, precisaremos ser com-prados e circuncidados. À época de sua conversão, urn pecador deve arrepender-se, confessar e crer no Senhor Jesus. Simultaneamente, ele deve começar a odiar sua vida natural e perceber que essa vida precisa ser sepultada. É por isso que tão logo alguém creia no Senhor Jesus, deve ser batizado. Ser batizado é perceber que a vida natural não é boa para nada, exceto para ser sepultada. Quando um novo cristão tem essa percepcão, conscientiza-se ele do fato de que foi comprado e circuncidado. Muitos dos cristãos de hoje, entretanto, receberam a salvação de Deus cegamente, não percebendo que preci-savam ser comprados e circuncida-dos. Todos esses pormenores relacionados à Páscoa mostram o caminho correto e adequado para torná-la prática. Se esses detalhes não fossem necessários, a Bíblia não os incluiria. Embora eles também se incluam no Novo Testamento, é-nos bem difícil encontrá-los. Todavia eles estão vividarnente retratados no quadro da Páscoa do livro de Êxodo. Graças ao Senhor porque somos aqueles que foram comprados e circuncidados e que comem a Páscoa de acordo com os Seus princípios.

H. Continuar a Desfrutar do Cordeiro Pascal Pelo Êxodo do Egito Como Exército de Deus

Êxodo 12:51 conclui: "Naquele mesmo dia tirou Jeová os filhos de Israel do Egito, segundo seus exércitos" (hebraico). Esse versículo indica que a redenção completa de Deus produz um exército. Após tornarmos prática a Páscoa, de acordo com todos os princípios ordenados por Deus, precisamos continuar o nosso desfrutar dela, realizando uma saída do Egito para nos tornarmos o exército de Deus, a fim de lutarmos por Seus interesses na terra. Precisamos continuar o nosso desfrutar da salvação, saindo do mundo e nos tornando parte do exército do Senhor. Esse é o significado do termo "êxodo". Que quadro completo da salvação de Deus se apresenta no livro de Êxodo! Ao tornarmos hoje prático Cristo como nossa Páscoa, precisaremos de todos os princípios fornecidos pelo quadro da Páscoa em Êxodo.

V. O JULGAMENTO DE DEUS SOBRE TODOS OS PRIMOGÊNITOS Êxodo 12:12 registra: "naquela noite passarei pela terra do Egiío, e ferirei na terra do Egito Todos os primogênitos, desde os homens até aos animais". Alguns poderão indagar por que Deus matou apenas os primogénitos. Quando jovem, eu ficava perturbado com isso. Perguntava-rne se isso queria dizer que os primogénitos eram maus, e os outros bons. Àquela época, eu não estava familiarizado com os princípios espirituais. Mais tarde, aprendi que o primogênito, inclui todos em Adão. Adão, o primeiro homem, era na verdade o primogénito (1Co 15:45a). Uma vez que ele foi o primeiro homem, o primogê-nito inclui todos os homens em Adão. O segundo filho, pelo contrário, simboliza todos aqueles que estão em Cristo, porque Cristo é o segundo homem (1Co 15; 47b). Num sentido muito real, nós, que cremos em Cristo, somos os segundos filhos. Entretanto, em nosso interior, ainda temos o elemento do primogênito. Embora estejamos sob o sangue de

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Cristo, o sangue não redime nada do primogênito. Por isso precisamos condenar tudo em nosso intimo que se relacione ao primogênito, isto é, a Adão. Isso significa que precisamos novamente condenar a vida natural. Os termos "primogénito" e "estrangeiro", na verdade, descrevem a mesma coisa. São termos sinônimos, que descrevem o velho homem e a vida natural. Poderemos afirmar que o velho homem é o primogênito e que o nosso homem natural com a vida natural é o estrangeiro. Mas esses dois são na verdade um. Ao tornarmos Cristo prático como Páscoa, precisaremos condenar tanto o velho homem quanto o homem natural. Precisaremos rejeitar tanto o primogênito quanto o estrangeiro. Na festa da Páscoa de Deus, não há lugar nem para o velho homem nem para a vida natural. Devemos considerar isso não como mera doutrina, mas do ponto de vista da prática e da experiência. Se o aplicarmos de maneira prática e experimentar, perceberemos que ainda temos uma certa parcela do velho homem e da vida natural em nosso íntimo. Eles ainda nos impedem de tornar prática a Páscoa de maneira completa e adequada. Ainda nos apoiamos no velho homem e na vida natural. Isso quer dizer que o primogênito e o estrangeiro ainda se acham dentro de nós. Por isso não podemos participar da Páscoa de maneira completa, porque Deus não permite ao velho homem e à vida natural partici-parem de Sua Páscoa. Esse é o princípio referente ao jugamento por parte de Deus sobre todos os primogêntitos.

VI. O JULGAMENTO DE DEUS SOBRE TODOS OS DEUSES DO EGITO Em 12:12, o Senhor também disse: "Executarei juízo sobre todos os deuses do Egito". Essa palavra é muito significativa. Sem essa passagem de 12:12, não perceberíamos que, na noite da Páscoa, Satanás e todos os demônios também foram julgados. Os primogênitos eram os elementos constituintes do Egito, ao passo que os deuses eram os componentes do reino de Satanás. Durante a Páscoa, ambos foram julgados. É possível fazer-se uma lista dos itens excluídos de participação na Páscoa. Nela não deve haver fermento, nem obra, nem estrangeiros, nem servos contratados, nem primo-gênitos, nem deuses egípcios. Isso significa que não deve haver lugar para o pecado, nem acão humana, nem vida natural, nem velho homem, nem mundo, nem Satanás. Esses itens não estão apenas retratados na figura da Páscoa em Êxodo, mas também são claramente revelados no Novo Testamento. Quando observamos a Páscoa de acordo com os porme-norizados princípios ordenados por Deus, então podemos torná-la prática de maneira correta. Louvado seja o Senhor por esse quadro completo da Páscoa — a redenção plena de Deus! Ao lado dessa lista de elementos negativos, podemos fazer uma lista de aspectos positivos incluídos na Páscoa: o cordeiro, a casa, o pão asmo, as ervas amargas, o hissopo, o cimo, os calçados e o bordão. Todos eles são componentes da Páscoa. O resultado desses elementos positivos é o exército de Deus. Nós, que desfrutamos de Cristo como Páscoa, tornamo-nos, por fim, um exército que luta pelo reino de Deus na terra. Como já enfatizamos, a Páscoa por fim gera um exército que luta pelos interesses de Deus.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM VINTE E SEIS

O ÊXODO DE ISRAEL DO EGITO

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Leitura da Bíblia: Êx 12:29-42, 51; 13:1-22 Nas mensagens anteriores, abordamos a Páscoa. Chegamos agora ao êxodo de Israel do Egito, um evento que se seguiu à Páscoa. Como todos sabemos, a palavra "êxodo" significa "saída". Os pontos que abordaremos nesta mensagem, referentes ao êxodo do Egito, encontram-se todos no Novo Testamento. Se lermos, porém, as palavras do Novo sem considerar o quadro do êxodo apresentado no Antigo Testamento, não ficaremos tão impressionados assim. Por essa razão, precisaremos considerar tanto as palavras do Novo Testamento quanto o quadro do Antigo. Com frequência, somos capazes de compreender as coisas espirituais mais adequada-mente por meio de figuras do que de palavras. Nos termos do Novo Testamento, realizar um êxodo é sair do mundo. Sem o quadro do livro de Êxodo, todavia, ser-nos-á difícil dizer exatamente como somos capazes de sair do mundo. Falar sobre esse assunto sem consultar o quadro poderá gerar apenas confusão. Por isso somos gratos ao Senhor tanto pelo quadro do Antigo Testamento quanto pelas palavras exatas do Novo.

l. FARAÓ E OS EGÍPCIOS FORAM SUBJUGADOS POR DEUS Os filhos de Israel não realizaram seu êxodo do Egito segundo seu próprio plano ou pelo seu próprio poder. Se fossem deixados a si próprios, jamais sairiam do Egito. O êxodo foi efetivado pelo Deus salvador. Primeiramente, Ele subjugou Faraó, que escravizava os filhos de Israel, e, depois, subjugou todos os egípcios (12:29-33). Quando aplicamos esse princípio à nossa experiência, verificamos que Deus aparece para subjugar o próprio Satanás, a tudo e a todos os que estão com ele e também o ambiente à nossa volta. Quando os filhos de Israel realizaram o seu êxodo do Egito, o ambiente todo foi subjugado por Deus. Tudo foi preparado para que eles saíssem do Egito. Mesmo que quisessem ficar lá, o ambiente não lhes teria permitido. Não tiveram outra escolha, senão sair. De acordo com o quadro do livro de Êxodo, a salvação de Deus inclui o aspecto da Páscoa e o do êxodo. Era fácil ao povo de Deus seguir os preceitos da Páscoa, mas não lhes era fácil realizar um êxodo. A dificuldade estava no fato de que o êxodo requeria um ambiente propício. Suponha que a situação no Egito não permitisse a saída do povo de Deus. Como então poderiam eles realizar o seu êxodo? Teria sido impossível. O êxodo exigia um completo domínio do ambiente. A saída de Israel foi o resultado de um longo confronto entre Moisés e Faraó. Foi precedida de doze negociações com dez pragas. Isso indica que não é fácil para Deus livrar Seu povo escolhido da mão usurpadora de Satanás e do mundo. Todo cristão genuíno já experimentou a Páscoa, mas somente uma pequena minoria experimentou o êxodo. A razão disso é que certos aspectos de sua realidade ainda não foram subjugados.

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Se o ambiente à nossa volta não foi subjugado, pode ser que tenhamos a Páscoa, mas não o êxodo. Talvez sua esposa, marido ou parentes precisem ser subjugados. Ao ouvirem que o ambiente à sua volta deve ser subjugado, alguns poderão ficar desencorajados e desejar desistir. Nem mesmo o desistir, contudo, depende de nós, mas totalmente do Senhor. Em vez de desisitir, deveremos cooperar com Ele. Para sermos resgatados da mão usurpadora de Satanás e do mundo, precisaremos da mão de Deus, que submeta o ambiente à nossa volta. Neste relato lemos duas vezes que "com mão forte" o Senhor tirou os filhos de Israel do Egito (13:3, 14). O Seu povo foi salvo não apenas pelo sangue do cordeiro pascal, mas também pela mão de Deus. O sangue os salvou do julgamento justo de Deus, mas a mão os salvou da usurpação de Faraó. Ocorre o mesmo conosco atualmente. Através de Cristo como nossa Páscoa, fomos salvos do julgamento de Deus; mas, pela mão forte Deste, somos salvos de Satanás e do mundo.

II. FARAÓ E OS EGÍPCIOS EXPULSARAM OS FILHOS DE ISRAEL DO EGITO Faraó e os egípcios foram submetidos a tal ponto, que na verdade expulsaram os filhos de Israel do Egito (12:33, 39; 11:1). Não podiam mais tolerar a presença do povo de Deus em seu país. Quando Moisés e Arão pediram pela primeira vez que Faraó deixasse ir o povo de Deus, ele recusou. Mas, ao chegar 12:33, "os egípcios apertavam com o povo, apressando-se em lançá-los fora da terra". Esta não é apenas uma história da Bíblia, mas um princípio que se aplica à nossa experi-ência cristã. Mais cedo ou mais tarde, o ambiente à nossa volta irá encorajar-nos, e até mesmo compelir-nos a realizar o nosso êxodo do mundo. Nossa esposa, marido ou paren-tes poderão compelir-nos a sair, poderão dizer-nos que nos é melhor sair do mundo do que ficar nele. Isso quer dizer que o mundo nos lançará fora. Se não estivermos dispostos a sair, o mundo nos expulsará. Enquanto permanecermos nele, os que nele estão não terão paz. Por fim, perceberão que somente quando sairmos dele é que eles terão paz, e nós alegria. Posso testificar que essa tem sido a minha experiência. Se quisesse voltar ao mundo, ele me suplicaria que não o fizesse. Para ele, quanto mais longe eu estiver, melhor será. Provém da mão poderosa de Deus o fato de o mundo querer que nós saiamos.

III. OS FILHOS DE ISRAEL NÃO TIVERAM TEMPO DE FERMENTAR SEU PÃO Porque foram expulsos do Egito, os filhos de Israel não tiveram tempo de levar comida levedada (12:34, 39). Já enfatizamos que o levedo tipifica o pecado e a corrupção. O fato de os filhos de Israel não terem tempo de preparar pão levedado indica que o Senhor quer tratar com o ambiente à nossa volta a tal ponto, que não nos dará tempo para coisas peca-minosas. Se ainda tivermos tempo de preparar pão levedado, ser-nos-á difícil sair do Egito. Isso quer dizer que, se ainda tivermos tempo para coisas pecaminosas, ser-nos-á difícil realizar o nosso êxodo do mundo. Após Deus subjugar o ambiente à nossa volta e levar-nos a sermos expulsos do mundo, descobriremos que não nos restará tempo para coisas pecaminosas. Êxodo 12:39 diz: "E cozeram bolos asmos da massa que levaram do Egito; pois não se tinha levedado, porque foram lançados fora do Egito; não puderam deter-se, e não haviam preparado para si provisões". Esse versículo mostra claramente que os egípcios não deram aos filhos de Israel tempo para levedar seu pão. Quando eu era criança, no norte da China, comíamos muito pão fermentado. Aprendi que leva muito menos tempo fazer pão asmo do que pão levedado. Frequentemente, antes

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de ir para a cama, à noite, minha mãe preparava massa com fermento e a deixava ali até a manhã seguinte. Quando minha irmã preparava a massa, às vezes se esquecia de pôr fermento. De manhã, quando via a situação, minha mãe ficava aborrecida. Sabia não haver mais tempo para fazer pão levedado e tinha de preparar outra coisa para comermos. Essa ilustração mostra que leva tempo preparar pão fermentado. Assim como leva tempo fazer pão fermentado, também leva tempo cometer pecado. Há trinta anos, muitos de nós nos mudamos às pressas da China continental para Formosa. A situação era tal, que não tínhamos tempo a perder. Se nos demorássemos, não acharíamos qualquer meio de transporte. Fomos também forçados a abandonar muitas coisas. Antes daquela hora, nós, que ministrávamos a Palavra, tentamos ajudar certas pessoas a se livrarem do "levedo" de suas vidas. Mas elas não estavam dispostas a ouvir. Pelo contrário, guardavam as coisas pecaminosas, coisas que são "levedo" aos olhos de Deus. Todavia, ao serem forçadas a abandonar o continente, não tiveram outra escolha, senão renunciar a todo "fermento". Quando chegamos à ilha de Formosa, fiquei feliz ao ver que tanto "fermento" fora deixado para trás. Deus, às vezes, poderá até mesmo utilizar a fraqueza ou a doença física para separar-nos do nosso "levedo". Você pode ainda praticar determinadas coisas pecaminosas; mas, por causa da enfermidade física, pode ser que você já não mais seja capaz de praticá-las. Deus trabalha no ambiente à sua volta para forçá-lo a deixar o seu "fermento". Os filhos de Israel abandonaram o Egito de maneira pura, isto é, sem fermento. Muitos de nós podemos testificar que também deixamos o mundo de maneira pura. Porque Deus tratou com o ambiente à nossa volta, não nos foi possível levar conosco o pão levedado do mundo. Pelo contrário, o ambiente à nossa volta compeliu-nos a realizar o nosso êxodo de maneira pura. Glória a Ele por extirpar o fermento!

IV. OS FILHOS DE ISRAEL DESPOJARAM OS EGÍPCIOS DE SEU OURO, PRATA E VESTES

Êxodo 12:35-36 registra: "Fizeram, pois, os filhos de Israel conforme a palavra de Moisés, e pediram aos egípcios objetos de prata, e objetos de ouro, e roupas. E o Senhor fez que seu povo encontrasse favor da parte dos egípcios, de maneira que estes lhes davam o que pediam. E despojaram os egípcios". Embora não tenham tido tempo de preparar pão levedado, os filhos de Israel, entretanto, tiveram tempo de despojar os egípcios de sua prata, ouro e vestes (3:21-22; 11:2-3). Isso indica que, em Sua salvação, Deus deseja que despojemos o mundo de sua riqueza. A economia de Deus difere da religião do homem. O budismo, por exemplo, ensina que não devemos tomar nada do mundo. Deus, ao contrário, ordenou ao Seu povo escolhido que pedisse aos egípcios prata, outro e vestes. Dessa maneira, o Seu povo despojou os egípcios. Isso não foi um roubo, mas um pagamento atrasado por longo período de trabalho escravo. Deus, em Sua justiça, providenciou um modo de os egípcios pagarem aos filhos de Israel por seu trabalho no Egito. Muitos salvos podem testificar que a mão forte de Deus operou no ambiente à sua volta para dar-lhes a oportunidade de despojarem o mundo de sua riqueza. O objetivo de Deus ao agir assim não é o enriquecimento de Seu povo, mas a edificação do tabernáculo, do Seu lugar de habitação na terra. Os filhos de Israel precisavam de ouro, prata e vestes para a edificação do tabernáculo. Para o bem do lugar de habitação de Deus, não devemos deixar o mundo, como fazem os budistas; devemos despojar o Egito da riqueza a ser utilizada na edificação do tabernáculo.

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Por um lado, quando o mendigo pediu esmola, Pedro e João não tinham prata nem ouro para dar-lhe (At 3:6); mas, por outro lado, eles estavam no meio daqueles que despojaram o mundo de sua riqueza. Quando nós, o povo escolhido por Deus, saímos do mundo debaixo da Sua mão soberana, não tivemos tempo de levedar nada. Temos, todavia, a oportunidade de despojar os egípcios. Todos os levantados pelo Senhor des-pojam o mundo. Para o Seu propósito, eles tiram certas riquezas do mundo e Lhas apresentam. Paulo, por exemplo, podia dizer: "Pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo" (2Co 6:10). Essa questão de despojar a riqueza dos egípcios pode ser ilustrada e confirmada pelas experiências de muitos cristãos. Aparentemente, foi uma injustiça os filhos de Israel despojarem os egípcios de seu ouro, prata e vestes. Como já enfatizamos, ao despojarem a riqueza do Egito, eles na verdade es-tavam recebendo um justo pagamento pelo seu trabalho forçado. Em certo sentido, o pagamento que eles mereciam por seu trabalho fora depositado anos a fio no "banco" no Egito, sendo depois retirado à época do êxodo. Além disso, o povo de Deus não tomou o ouro, a prata e as vestes para a sua própria utilização ou objetivo. Pelo contrário, as riquezas do Egito foram usadas pelo povo escolhido por Deus para a edificação do tabernáculo. O tabernáculo era o testemunho de Deus, que tipifica Cristo com a igreja. A igreja hoje é o tabernáculo de Deus, constituído de Cristo e dos santos. Esse testemunho se erige com as ofertas do povo de Deus. Por isso as riquezas dos egípcios vieram através do labor do povo de Deus e foram gastas para o Seu testemunho. Isso é o que significa despojar o mundo de sua riqueza. Os santos, na restauração do Senhor, não devem ser preguiçosos. Devem ter uma boa educação e depois trabalhar diligentemente numa profissão apropriada, para terem um viver adequado. O dinheiro que ganham, contudo, não deve ser usado somente para si mesmos ou para seu próprio gozo, mas para o testemunho do Senhor. Por um lado, precisamos trabalhar no mundo e receber um pagamento justo por nosso trabalho. Mas, por outro lado, o que ganhamos deve ser utilizado para o testemunho de Deus. Embora trabalhemos no mundo, não trabalhamos para o mundo. Pelo contrário, trabalhamos no mundo para algo que não é do mundo, assim como os filhos de Israel trabalharam no Egito para algo que não era do Egito. Faraó forçou o povo de Deus a trabalhar como escravo. Por fim, eles receberam por seu trabalho as riquezas do Egito, as quais deveriam ser utilizadas para a edificação do tabernáculo — o testemunho de Deus — não para o Egito. Alguns poderão pensar que, por trabalharmos diligentemente no mundo, trabalhamos para ele. O nosso labor, entretanto, é para o testemunho de Deus. O que recebemos por nosso trabalho no mundo é dado ao Senhor. De acordo com a promessa do Novo Testa-mento, quanto mais dermos ao Senhor, mais Ele nos dará (Lc 6:38). O Senhor quer des-pojar o mundo de sua riqueza através do nosso labor, de modo que possamos dar-Lhe essa riqueza para a edificação do Seu lugar de habitação. A experiência de um determinado irmão na Inglaterra o ilustra. No início de sua vida cristã, ele dava dez por cento de sua renda ao Senhor. Por ser ele fiel nisso, o Senhor o fez prosperar financeiramente. O irmão então aumentou a porcentagem de sua oferta de dez para quinze por cento. O Senhor o levou a prosperar ainda mais. À medida que o tempo passava, esse irmão aumentava gradativamente a porcentagem de sua oferta. Mas não importava o quanto ele dava ao Senhor; Este sempre lhe dava ainda mais. Esse irmão certamente era alguém que despojava as riquezas do mundo e as apresentava ao Senhor para o Seu testemunho.

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Uma outra ilustração se encontra na experiência de alguns irmãos no Senhor, que abriram um estabelecimento de confecção de roupas com a intenção de ajudar o povo do Senhor e a Sua obra. Por fim, o seu negócio se expandiu tanto, que eles tiveram uma cadeia de cem estabelecimentos. Todo o lucro que ganhavam com esse negócio era para sustentar o testemunho do Senhor. Também eles despojaram o mundo para o Senhor. Todos os que percebem o que significa sair do mundo hão de trabalhar diligentemente não para o Seu próprio bem-estar, mas para os interesses do Senhor. A construção do local de reuniões de Anaheim também ilustra esse princípio. Uma grande parcela de trabalho voluntário entrou na construção desse edifício. Esse trabalho economizou muito dinheiro. Aqueles que trabalharam no local, despojaram o mundo através de seu trabalho. Creio que o Senhor fez um registro da fidelidade deles. Ao longo dos anos, muitos dos irmãos que foram fiéis ao Senhor, foram por Ele enriquecidos. O ponto crucial, entretanto, está em saber-se qual o uso feito desse progresso material. Se esse ganho financeiro for usado para o mundo, constituirá um grande fracasso aos olhos do Senhor; mas, se ele for utilizado para o testemunho de Deus, será um outro caso de despojamento da riqueza do mundo debaixo da soberania de Deus. Despojar o mundo não é tirar dele nada desonestamente, mas é trabalhar nele e utilizar o ganho de nosso trabalho para o testemunho de Deus.

V. OS FILHOS DE ISRAEL SAÍRAM DO EGITO COM SEUS FILHOS, REBANHOS E MANADAS

Os filhos de Israel saíram do Egito com todos os seus filhos, seus rebanhos e manadas (12:37-38, 31-32). De acordo com 12:38, "subiu também com eles um misto de gente, ovelhas, gado, muitíssimos animais". Se houvesse apenas um pequeno número de pessoas realizando sua saída do Egito, não haveria uma multidão variada. Mas, porque o número do povo de Deus era tão grande — cerca de dois milhões — uma multidão variada foi com eles. O povo de Deus tornou-se predominante, e alguns que não eram israelitas quiseram sair do Egito com eles. A presença da multidão variada aqui, consequentemente, era um bom sinal. Segundo o livro de Números, entretanto, essa multidão variada foi mais tarde motivo de problemas. Mas até mesmo esse problema ensinou ao povo de Deus algumas lições valiosas. Nós, na restauração do Senhor, hoje, também temos aprendido bastante através da multidão diversificada que tem estado conosco. Os filhos de Israel realizaram um êxodo total do Egito. Tudo o que tinham foi levado com eles. Esse é o tipo de êxodo, o tipo de saída do mundo que é ordenado por Deus. O nosso êxodo tem de ser absoluto, de modo a compelir outros a nos seguirem e a se unirem a nós.

VI. CUMPRIU-SE O TEMPO DE ISRAEL HABITAR EM TERRA GENTIA

Êxodo 12:40-41 registra: "Ora o tempo que os filhos de Israel habitaram no Egito foi de quatrocentos e trinta anos. Aconteceu que, ao cabo dos quatrocentos e trinta anos, nesse mesmo dia, todos os exércitos de Jeová saíram da terra do Egrto" (hebraico). Esses quatro-centos e trinta anos começaram em Gênesis 12, quando Deus prometeu a Abraão dar a boa terra à sua descendência. Daquele dia até à noite do êxodo, passaram-se exatamente qua-trocentos e trinta anos. O êxodo, assim, marcou o término desse lapso de tempo. Em todos esses anos, o povo que Deus escolhera e a quem prometera a boa terra, não habitara na terra da promessa. Pelo contrário, permaneciam numa terra gentia, representada pelo

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Egito. De acordo com Gênesis 15:13-14 e Atos 7:6, os filhos de Israel estiveram sob perseguição por quatrocentos anos. Esses quatrocentos anos começaram com a zombaria feita a Isaque em Gênesis 21. Isso significa que, de Gênesis 12 a 21, houve um período de trinta anos; e, de Gênesis 21 a Êxodo 12, um lapso de quatrocentos. Por essa razão, por quatrocentos e trinta anos, o povo de Deus esteve numa terra estranha; e, por quatrocentos anos, sofreram eles perseguição. Você pode imaginar o que isso tem a ver conosco hoje. Se não realizarmos um êxodo do mundo, ainda continuaremos permanecendo em terra estranha. Não estaremos habitando em Cristo, que é a nossa boa terra. De acordo com a promessa e a ordenação de Deus, devemos viver em Cristo como a boa terra e desfrutar Dele como a terra. Isso, todavia, requer um êxodo absoluto. Como povo escolhido por Deus, devemos habitar em Cristo. O nosso êxodo do mundo marca o fim, o término de nossa permanência em terra estranha. Embora Deus nos tenha escolhido e ordenado que vivêssemos e habitássemos em Cristo, muitos do Seu povo não estão agindo assim. Pelo contrário, ainda estão vivendo no Egito. Isso indica que, até mesmo após sermos salvos, poderemos ainda permanecer no mundo. Somente quando abandonarmos o mundo de maneira absoluta é que daremos fim ao tempo de nossa permanência em terra estranha. O nosso êxodo, assim, é o término dos nossos quatrocentos anos. Muitos cristãos não experimentaram esse término porque ainda não realizaram um êxodo. Foram escolhidos por Deus e Dele receberam a determinação de habitarem em Cristo. Todavia, à época de seu segundo nascimento, eles habitavam no mundo. Somente ao realizarem um êxodo absoluto é que porão um fim ao seu período de permanência no Egito. Sem esse quadro do livro de Êxodo, não poderíamos entender totalmente as palavras do Novo Testamento acerca de sermos apartados do mundo. O relato do livro de Êxodo esclarece que nossa saída deve marcar o término de nosso período de peregrinação. Sem esse êxodo, não é possível habitar em Cristo como boa terra. Além disso, enquanto estiver-mos em tempo de peregrinação, estaremos sob um tipo de perseguição que não nos permitirá ter descanso, satisfação nem gozo adequado. Porque ainda estão no Egito, muitos cristãos não têm descanso, satisfação em plenitude de deleite em Cristo. Mas, quando saem do Egito de maneira absoluta, então põem fim não apenas ao seu tempo de permanência no mundo, mas também aos seus anos de insatisfação e falta de descanso. Embora somente uma minoria de cristãos genuínos tenha realizado o seu êxodo do Egito, muitos dos irmãos na restauração do Senhor já o fizeram. Ter a Páscoa é uma coisa, mas experimentar o êxodo é outra. Como veremos, cruzar o Mar Vermelho é ainda outro evento decisivo, porque ele marca o cumprimento do primei-ro estágio da salvação de Deus, que inclui a Páscoa, o êxodo e o cruzar do Mar Vermelho. Somente após cruzarem o Mar Vermelho é que os filhos de Israel foram totalmente libertos do Egito e se tornaram livres para louvar o Senhor. A salvação de Deus, entretanto, inclui mais do que isso. Até mesmo a edificação do templo é parte de Sua salvação completa.

VII. UMA NOITE DE OBSERVAÇÃO A JEOVÁ Êxodo 12:42 ordena: "Esta noite se observará a Jeová, porque nela os tirou da terra do Egito: esta é a noite de Jeová, que devem todos os filhos de Israel comemorar nas suas gerações" (hebraico). Durante a noite da Páscoa, os filhos de Israel tiveram satisfação, descanso e alegria, mas não dormiram. Como esse versículo mostra, foi uma noite de

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observação, de vigília. Isso implica que Deus observava, vigiava a situação. Em verdade, como esclarece a versão Berkeley, tanto Deus quanto os filhos de Israel estavam vigiando. Enquanto Deus observava e vigiava, Seu povo também observava e vigiava. Assim, aquela noite foi uma noite de observação. Êxodo 12:42 afirma que essa noite fora uma noite de observação ao Senhor. Os filhos de Israel vigiavam ao Senhor. Isso quer dizer que eles estavam cooperando com Ele. Deus estava fazendo todo o necessário para resgatá-los do Egito. Ele vigiava, e o Seu povo também vigiava com Ele. Quando aplicamos isso à nossa experiência, verificamos que o nosso êxodo também foi uma noite de vigília. Essa é a razão por que somos advertidos no Novo Testamento de não dormirmos. Romanos 13:11 assevera que "já é hora de vos despertardes do sono". Em 1 Tessalonicenses 5:6-7, Paulo também adverte: "Assim, pois, não durmamos como os de-mais; pelo contrário, vigiemos e sejamos sóbrios. Ora, os que dormem, dormem de noite". Como ele próprio diz no mesmo capítulo, somos "os filhos da luz, e filhos do dia; nós não somos da noite, nem das trevas" (v. 5). Se não estivermos alerta espiritualmente, torna-remos o dia em noite; mas, se vigiarmos e observarmos, até mesmo a nossa noite se trans-formará em dia. Realizar um êxodo do mundo não é algo simples. Esse êxodo ocorre durante uma noite de vigília. Deus vigia sobre nós, e nós precisamos observar com Ele e para Ele. A noite do nosso êxodo deve ser uma vigília, e precisamos ficar alerta. Sem essa vigília, ninguém pode sair do mundo. Os cristãos indolentes e sonolentos não podem realizar um êxodo. Somente os que vigiam, que estão atentos e observam é que podem sair do mundo. Deus vigilantemente exerce Sua soberania sobre a nossa situação e nos ordena sermos vigilantes para com Ele. Nossa noite então se transformará em dia, e seremos resgatados do Egito. No Novo Testamento, somos instados a não amarmos o mundo (1Jo 2:15). É possível, entretanto, que tomemos essa palavra de maneira muito superficial. Esse quadro do Antigo Testamento mostra que a saída do Egito não deveria ser considerada superficial-mente. Durante a noite do êxodo, até mesmo Deus vigiava e observava. A versão King James do versículo 12:42 diz que aquela era "uma noite a ser muito observada para com o Senhor". Isso não quer dizer que era uma noite para a observação de rituais. Pelo contrário, era uma noite para se observar e vigiar. Deus estava vigiando e observando, a fim de tirar Seu povo do mundo. O Seu povo precisava cooperar com Ele, vigiando com Ele. Tinham de ser vigilantes, porque não sabiam a que hora deveriam marchar para fora do Egito. Com isso notamos que nenhum dorminhoco ou desleixado poderia realizar um êxodo adequado. Se quiser conseguir um êxodo do mundo, você precisa ser vigilante, observador e atento. Aí então saberá a hora certa de sair.

VIII. OS FILHOS DE ISRAEL TORNARAM-SE OS EXÉRCITOS DE JEOVÁ Em 12:41 lemos que "todos os exércitos de Jeová saíram da terra do Egito" (hebraico), e em 12:51, que "tirou Jeová os filhos de Israel do Egito segundo seus exércitos" (hebraico). Além disso, 13:18 afirma: "Os filhos de Israel saíram em ordem marcial para fora da terra do Egito" (hebraico). A notação hebraica de 13:18 indica que os filhos de Israel saíram em ordem, formando filas de cinco. Não saíram do Egito de maneira relaxada, mas como um exército. Após a rendição do exército japonês, em 1945, observei os soldados americanos mar-chando em fileiras de quatro ao longo das ruas da cidade chinesa de Tsing-tao. Como fiquei empolgado ao ver aqueles jovens americanos em ordem de marcha! Em contraste,

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fico muito decepcionado ao ver o desleixo de certos jovens de hoje. Se quisermos realizar o nosso êxodo do mundo, não poderemos ser relapsos. Espiritualmente falando, precisamos marchar para fora do mundo em ordem marcial. Tudo o que diz respeito a nós deve ser estrito, reto e ordenado. A nossa batalha não é contra carne nem sangue, mas contra Satanás e o mundo. Para ela, precisamos permanecer em ordem de marcha, prontos para lutar contra o inimigo. Dia a dia, os cristãos precisam estar, na vida da igreja, em ordem marcial. Em tudo o que fazemos devemos ser estritos, retos e coletivos. Apenas permanecendo coletivamente no exército é que poderemos ficar em ordem marcial. O fato de precisarmos marchar para fora do mundo como o exército de Deus indica que não é algo fácil efetivarmos o nosso êxodo do Egito. Louvado seja o Senhor por esse quadro vívido do livro de Êxodo! Que ele possa causar uma profunda impressão em todos nós.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM VINTE E SETE

O ÊXODO DE ISRAEL DO EGITO

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Leitura da Bíblia: Êx 12:14,37; 13:1-22; Gn 50:24-25; Hb 11:22; Js 24:32; Ez 37:l, 10. Nesta mensagem, continuaremos a considerar o êxodo do povo de Deus do Egito. Na mensagem anterior, verificamos que Faraó e os egípcios foram subjugados por Deus; por isso, depois, eles expulsaram os filhos de Israel do Egito (12:29-33; 11:1). Estes não tiveram tempo de fermentar seu pão (12:34, 39); porém, conforme determinação de Deus, despo-jaram os egípcios de sua prata, ouro e vestes (12:35-36; 3:21-22; 11:2-3). Além disso, nota-mos que eles saíram do Egito com seus filhos, rebanhos e manadas (12:37-38, 31-32). Sua permanência em terra gentia durara quatrocentos e trinta anos (12:40-41). A noite do seu êxodo foi uma noite de observação (12:42). Finalmente, ao realizarem o seu êxodo do Egito, eles se tornaram em exércitos do Senhor (12:41, 51). Assim, nas palavras de 13:18, eles saíram do Egito em ordem marcial. Nesta mensagem, abordaremos quatro outros pontos, todos encontrados no capítulo 13. Contrastando com o que foi abordado na mensagem anterior, esses pontos se relacionam a questões espirituais. Pode parecer que o capítulo 13 seja uma inserção entre os capítulos 12 e 14, e que o capí-tulo 14 deveria ser uma continuação direta do capítulo 12. Em certo sentido, isso pode estar correto. Todavia, do ponto de vista da experiência espiritual, o capítulo 13 não é uma inserção, mas uma continuação precisa do capítulo 12. Todos os pontos do capítulo 13 se relacionam à experiência espiritual pelo lado posi-tivo. Por exemplo, 13:2 fala da consagração do primogênio. É claro que isso tipifica um aspecto particular da experiência espiritual do povo de Deus saindo do Egito. Isso indica que objetivo do nosso êxodo do mundo é sermos santificados para o Senhor. Em 13: 3-10, lemos sobre um dia a ser guardado no mês de abibe. Nesse dia, os filhos de Israel não deveriam comer pão levedado. O dia em que eles haviam saído do Egito deveria ser um dia de pão asmo e um dia a ser guardado. De acordo com 13:3, comer o pão asmo devia ser a maneira de lembrar. A maneira de lembrar o êxodo era eliminar todo fermento. Assim, há três coisas que caminham juntas: o dia da lembrança, o pão asmo e o mês de abide. Em 13:19, lemos que "também levou Moisés consigo os ossos de José", porque este disso incumbira os filhos de Israel, dizendo: "Certamente Deus vos visitará, e fareis transportar os meus ossos daqui". É significativo que não se mencione esse detalhe no capítulo 12 nem no capítulo 14, mas imediatamente após o versículo que nos diz como Deus guiou o povo pelo caminho do deserto (v. 18). Como veremos, Deus os guiou de maneira contrária à que poderíamos esperar de acordo com o conceito natural. Seria natural esperar que Ele tomasse o caminho curto; mas, ao contrário, Ele tomou urn caminho sinuoso. Além disso, nos versículos subsequentes ao registro referente aos ossos de José, lemos que o Senhor foi

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adiante dos filhos de Israel, de dia numa coluna de nuvem e de noite numa coluna de fogo. Por isso, ao considerarmos esse capítulo à luz da experiência espiritual, precisamos colocar juntos o assunto dos ossos de José e o caminho da orientação de Deus. Ao observarmos este capítulo como um todo, percebemos que ele começa com a santifi-cação e termina com a presença de Deus como orientação a Seu povo. Que maravilha! Consideremos agora detalhadamente este maravilhoso capítulo.

IX. OS FILHOS DE ISRAEL FORAM SANTIFICADOS PARA JEOVÁ

A santificação se baseia na redenção. Êxodo 13:2 afirma: "Consagra-me todo primogê-nito; todo que abre a madre de sua mãe entre os filhos de Israel, assim de homens como de animais, é meu". O Senhor exigia que somente os primogênitos fossem santificados, porque eles eram os redimidos. Isso indica que tudo e todos os redimidos devem ser igual-mente santificados. Esse princípio aplica-se também a nós, os que cremos em Cristo. Porque fomos redimjdos, precisamos também ser santificados; caso contrário, permanece-remos no Egito, no mundo. Se quisermos experimentar um êxodo genuíno do Egito, preci-samos tanto ser redimidos quanto santificados. Ninguém pode sair do Egito sem ser santi-ficado para o Senhor, De acordo com a exigência divina, todos os redimidos também devem ser santificados. A redenção é para a nossa segurança, ao passo que a santificação se destina ao propó-sito de Deus. Se tivermos pouca visão, poderemos ver apenas a redenção, que é para o nosso benefício. Mas, se tivermos o discernimento correto, perceberemos que a redenção deve ser seguida pela santifição (Rm 6:22), que se destina ao cumprimento do propósito de Deus. Porque foram redimidos pelo cordeiro pascal, todos os primogênitos, tanto do homem quanto de animais, tinham que ser santificados para o Senhor. Para a santificação dos primogênitos, dos bois e das ovelhas não precisavam de um outro tipo de animal que os substituísse. Eles eram animais limpos, aceitáveis para o Senhor como sacrifício. O versí-culo 13, entretanto, registra: "Porém todo primogênito da jumenta resgatarás com cordeiro". Porque os asnos são impuros aos olhos de Deus, não podem ser aceitos por Ele, nem podem satisfazê-Lo. Por isso o primogênito de um asno tem de ser redimido por um cordeiro. Nesse ponto, precisamos levantar uma questão muito polêmica. Se o primogênito de um asno já fora redimido pelo cordeiro pascal, por que precisava ele ser novamente redimido em santificação? A resposta é que, embora redimido, um asno ainda era um animal imundo. Para ser santificado, oferecido no altar ao Senhor para Sua satisfação, o asno ainda precisava ser redimido com um cordeiro. Ele não estava qualificado a ser sacrificado ao Senhor para Sua satisfação." Podemos aplicar esse princípio à nossa experiência espiritual. No que diz respeito à santi-ficação, não somos ovelhas, nem bois; somos asnos. Mesmo que tenhamos sido redimidos, nosso homem natural ainda é impuro aos olhos de Deus. Assim, a fim de sermos santificados para o Senhor, precisamos de Cristo como nosso substituto. No versículo 13, lemos que não só o primogênito do asno, mas todos os primogênitos do homem entre os filhos de Israel deviam ser redimidos. Isso indica que deviam ser redimidos em santificação. Precisavam da redenção não apenas à época da páscoa, mas também para a sua santificação, isso quer dizer que um substituto era necessário tanto para a redenção quanto para a santificação. O cordeiro pascal tipifica Cristo como nosso redentor Através Dele como nosso substi-

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tuto, fomos redimidos. Entretanto, porque ainda somos impuros e naturais, não podemos ser um sacrifício vivo para a satisfação de Deus; precisamos de Cristo como nosso substituto em santificação. Esse quadro revela que, tanto para a nossa salvação quanto para a nossa santificação, precisamos de Cristo como nosso substituto. Em Gálatas 2:20. Paulo afirmou: "Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim". Precisamos de Cristo não só para a nossa redenção, mas também, para o nosso viver como sacrifício a Deus. Embora tenhamos sido redimidos, nossa natureza ainda não foi mudada. No que diz respeito a ela, todos somos "asnos" impuros aos olhos de Deus e, consequente-mente, inaceitáveis diante Dele para a Sua satisfação. Somente tendo Cristo como nosso substituto é que podemos ser um sacrifício vivo a Deus, aceitável e agradável. Muitos cristãos apenas percebem que precisam de Cristo como seu substituto para a redenção. Poucos notam que, para serem um sacrifício vivo, que satisfaça a Deus, preci-sam também de Cristo como seu substituto para a santificação. De acordo com 13:13, se um asno não fosse redimido seu pescoço deveria ser quebrado. Isso mostra que qualquer primogênito de jumento que não fosse redimido, deveria ser morto. Porque muitos cristãos não tomam Cristo como seu substituto para a santificação, é como se seus "pescoços" fossem quebrados, isto é, espiritualmente falando, estão mortos. Não praticam o tomar Cristo como seu substituto em sua vida para Deus. Pelo contrário, oferecem a si mesmos no altar, como se pudessem ser eles próprios um sacrifício aceitável para Deus. Esse é um erro grave. Deus jamais aceitará o homem natural como sacrifício. Pelo contrário, o "pescoço" do homem natural deve quebrado. Todos precisamos ficar sensibilizados com o fato de que, para a redenção, precisamos de Cristo como nossa segurança e que, para a santificação, precisamos Dele como nosso substituto, a fim de sermos aceitáveis e agradáveis a Deus. Em nós mesmos, não estamos qualificados a ser aceitáveis nem agradáveis a Deus. Em nós mesmos, não estamos qualificados a ser redimidos e salvos. De semelhante modo, em nós mesmos, não estamos qualificados a ser santificados para Deus com vistas à Sua satisfação. Por essa razão, assim como foi nosso substituto para a redenção, Cristo também deve tornar-se nosso substituto para a santificação. Aí então, em nosso viver, seremos um sacrifício aceitável e agradável a Deus. Ao considerarmos o quadro do livro de Êxodo, verificamos que, para nossa segurança, proteção e salvação, precisamos de Cristo como nosso substituto, de modo a podermos ser salvos. Também notamos que, para realizarmos nosso êxodo do Egito, para servirmos a Deus e sermos um sacrifício vivo que Lhe agrade, precisamos de Cristo como nosso subs-tituto. Toma-Lo como nosso substituto para a santificação faz parte de nossa redenção.

X. UM DIA COMEMORATIVO NO MÊS DE ABIBE, EM QUE NÃO

SE DEVERIA COMER NENHUM PÃO LEVEDADO Se quisermos ser santificados para Deus, tomando Cristo como nosso substituto, preci-saremos experimentar o mês de abibe (13:4), um lapso de tempo que simboliza toda a nossa vida cristã, tempo esse em que desfrutamos de uma nova vida. Já enfatizamos que a palavra "abibe" significa "brotar", "crescer". Assim ela denota um novo começo de vida. A fim de sermos santificados para o Senhor com vistas à Sua satisfação, precisamos desse novo começo de vida. Precisamos ser um broto verde de trigo, que desabrocha com nova vida. Nesse novo início de vida, não deve haver fermento. Já enfatizamos que na Bíblia o fermento simboliza o pecado e a corrupção. Precisamos tratar com todo pecado que se

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expõe. Não podemos tolerar pecado algum após ser ele exposto. Comer pão asmo dessa maneira é observar uma verdadeira lembrança do Senhor, um genuíno memorial. Os santificados, que têm Cristo como seu substituto e um novo começo de vida sem pecado, alcançarão um viver diário suficiente para constituir-se num memorial. Se vivermos uma experiência adequada da salvação de Deus, teremos uma história espiritual maravilhosa. Após nossa páscoa, seremos santificados para o Senhor, tomando Cristo como nosso substituto para viver em nos. Aí então teremos um novo começo de vida, e todo pecado exposto será tratado. Esse viver constituirá um memorial, uma lembrança. Todo dia em que vivermos esse tipo de vida, será um dia de memorial. Em nossa vida cristã, todo dia deveria ser um dia de memorial. Qualquer dia que não seja um memorial será um dia de derrota. Preocupa-me o fato de que muitos cristãos terão muito pouco de que se lembrar quando estiverem na Nova Jerusalém. Mas, se vivemos com Crismo como nosso substituto, se temos um novo começo de vida e se tratamos com todo pecado exposto, então teremos muito a lembrar na eternidade. Todo dia que assim vivermos será um dia digno de lem-brança. É possível que todos os dias de nossa vida cristã sejam um memorial. Que o Senhor possa livrar-nos do arrependimento por dias desperdiçados, por dias em que não haja novo começo de vida e nenhum tratamento completo do fermento. Após sermos salvos através de Cristo como nosso cordeiro pascal, precisamos tomá-Lo como nosso substituto para o início de uma vida nnva e sem pecado. Então teremos muitos dias de memorial.

XI. OS OSSOS DE JOSÉ FORAM LEVADOS DO EGITO COM OS FILHOS DE ISRAEL

Êxodo 13:19 mostra que os ossos de José foram levados do Egito com os filhos de Israel. Pode parecer estranho que se mencionem esses ossos no mesmo capítulo que fala do mês de abibe. Aparentemente, não há relação alguma entre essas duas coisas. Os brotos verdes de trigo, tipificados por abibe, são plenos de vida. Mas ossos mortos não têm vida. Deve-ríamos lembrar-nos, entretanto, de que, na Bíblia, o osso simboliza uma vida indes-trutível, uma vida em ressurreição (Jo 19:36). Por essa razão, os ossos de 13:19 têm algo a ver com a vida de ressurreição. Hebreus 11:22 diz: "Pela fé José, próximo do seu fim, fez menção do êxodo dos filhos de Israel, bem como deu ordens quanto aos seus próprios ossos". José acreditava que um dia Deus visitaria Seu povo e o levaria da terra do Egito para a terra que prometera a Abraão, Isaque e Jacó. Além disso, "José fez jurar os filhos de Israel, dizendo: Certamente Deus vos visitará, e fareis transportar os meus ossos daqui". (Gn 50:24-25). O traslado dos ossos de José da terra do Egito para a boa terra tipifica ressurreição. A única maneira de ossos mortos e secos entrarem na terra de Canaã era pela ressurreição. De acordo com o quadro, os ossos tirados da sepultura e introduzidos na boa terra tipificam a vida em ressurreição. Em 1 Coríntios 15:50 Paulo diz: "Carne e sangue não podem herdar o reino de Deus". De acordo com a Bíblia, a carne e o sangue denotam o homem natural (Mt 16:17; Gl 1:16). Em ressurreição, Cristo tem carne e ossos, mas não sangue (Lc 24:39). O fato de os ossos de José serem introduzidos na boa terra revela que os santos que morreram hão de entrar no reino em ressurreição. (Os santos vivos serão arrebatados e entrarão no reino). Os que têm parte no reino já não mais estarão na vida natural, tipificada pela carne e pelo sangue, mas na vida em ressurreição, tipifícada pelos ossos de José. Como povo de Deus, hoje, preci-samos estar em ressurreição, precisamos ser ossos que se movem em vida ressurreta.

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Aos olhos de Deus, todos os filhos de Israel haviam morrido e estavam sepultados em solo egípcio. Tal era a situação deles antes da páscoa. A terra do Egito era um vasto cemi-tério, onde o povo de Deus estava sepultado. Assim, do ponto de vista de Deus, o Seu povo no Egito era ossos secos. O quadro dos ossos secos de Ezequiel 37 ilustra a condição dos filhos de Israel no Egito; eram ossos secos, que precisavam ser ressuscitados e arregi-mentados em exército (Ez 37:1, 10). O êxodo do Egito, por conseguinte, foi em realidade uma ressurreição. Observa-se isso, particularmente, na travessia do Mar Vermelho. O princípio da ressurreição aplica-se ao aspecto de substituição para a santificação. De acordo com Gálatas 2:20, fomos crucificados com Cristo. Já não mais somos nós que vive-mos, porém Cristo é que vive dentro de nós. Tomá-Lo como nosso substituto para a santificação significa estarmos em ressurreição. Sem ressurreição é impossível ao povo de Deus sair de mundo. Tanto os ossos de José quanto a travessia do Mar Vermelho convergem para a ressurreição. Em nossa vida na-tural, não podemos realizar um êxodo do mundo. Para o efetivarmos, precisamos ser um povo ressuscitado. Embora sejamos ossos secos, somos ossos que se movem. Como os ossos de Ezequiel 37, seremos vivificados e nos tornaremos um exército. Assim como os filhos de Israel eram ossos secos em Ezequiel 37, do mesmo modo, à época de Moisés, eles também o eram. Contudo, foram ressuscitados para se tornarem o exército de Deus. Essa deve ser também a nossa experiência de hoje. A razão de se mencionarem os ossos de José em 13:19 é mostrar-nos que o êxodo se cumpre somente em ressurreição. Somos santificados para o Senhor e nos tornamos aceitáveis e agradáveis a Ele em ressurreição. Somente em ressurreição é que podemos ter um novo começo de vida sem pecado e, consequentemente, ter um dia a lembrar. Todos os aspectos do êxodo do Egito se relacionam à ressurreição. De acordo com nossa experiência, podemos testificar que, sem vida em ressurreição, não pode haver êxodo do mundo. O êxodo se realiza apenas em ressurreição. Muitos sermões são proferidos, exortando os cristãos a não amarem o mundo e a efetivarem dele o seu êxodo. Tais sermões estão repletos de palavras vazias. Ninguém pode deixar o mundo, a menos que seja vivificado pela vida de ressurreição. Se quisermos sair do Egito, precisamos ser ossos secos que foram sepultados no mundo. Mas, embora sepultados, fomos escolhidos por Deus, e ressuscitaremos. Podemos ser ossos secos, mas tais ossos tipificam uma vida indestrutível e divina. Somente quando surge essa vida em ressurreição é que nos capacitamos a realizar um êxodo do mundo. Por isso saímos do Egito, não por nossa própria força ou por nossa vida natural, mas pela vida de ressurreição. Embora escolhido por Deus, José foi sepultado no Egito. Entretanto, em ressurreição, seus ossos foram trasladados do Egito. O princípio é o mesmo conosco atualmente. Embora escolhidos por Deus, fomos sepultados no mundo. Mas, em ressurreição, os ossos mortos podem sair do mundo. Essa é a vida que emerge da morte! Aleluia pela vida de ressurreição, que nos tira do mundo!

XII. A MANEIRA DE DEUS GUIAR

A. Em Ressurreição Imediatamente após as palavras relativas aos ossos de José, notamos um registro con-cernente à direção e orientação do Senhor (13:20-21; ver também 13:17-18; 12:37). Tal se-quência maravilhosa revela que Deus não pode orientar as pessoas alheias à vida de ressurreição. Sua direção somente é possível a ossos que se movam em ressurreição.

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Quando os ossos secos se tornam vivos e começam a sair do Egito, a orientação de Deus lhes vem. Por muitos anos, imaginei por que se mencionam os ossos de José juntamente com a coluna de nuvem e a coluna de fogo (13:19-22), ambas tipificando o próprio Deus. O fato de se mencionarem a coluna de nuvem e a coluna de fogo relacionadas aos ossos de José indica que a direção e a orientação vivas de Deus se vinculam à vida de ressurreição. Quando os ossos mortos se movem, a orientação de Deus lhes vem. Quando nos movemos na vida de ressurreição, espontaneamente temos a orientação de Deus. Muitos cristãos, hoje, buscam a vontade do Senhor; desejam ansiosamente Sua direção e orientação. Todavia, quanto mais buscam tais coisas, menos as têm. A razão do fracasso é que esses cristãos não são ossos que foram sepultados e ressuscitados; não são ossos que se movem no poder da vida de ressurreição. Para terem a direção e a orientação do Senhor, os ossos ehterrados devem levantar-se da sepultura e começar a se mover.

B. Segundo o Mandamento do Senhor O capítulo 12 fala do êxodo dos filhos de Israel, mas nada diz sobre a orientação do Senhor, que se encontra no capítulo 13. Se os filhos de Israel saíssem do Egito por si mesmos, cometeriam um grave erro. Para realizarem um êxodo adequado, precisavam ter a direção e a orientação do Senhor. Em Êxodo 12, verificamos a ordem do Senhor; e, em Êxodo 13, notamos Sua orientação. Em questões espirituais, não basta ter apenas o mandamento do Senhor sem a Sua lide-rança. Ter o Seu mandamento sem a Sua orientação seria trágico. O Seu mandamento deve ser sempre seguido por Sua direção. Era correto os filhos de Israel observarem a páscoa. O ambiente à sua volta fora domi-nado pelo Senhor, e eles estavam prontos a marchar para fora do Egito. Todavia, como esclarecem os versículos finais do capítulo 13, o povo de Deus poderia ter tomado um dos dois caminhos: o mais curto ou o sinuoso. De acordo com a compreensão natural, eles certamente escolheriam o mais curto, não o tortuoso, que envolvia um longo trajeto. Toda-via, o caminho que deveriam tomar não dependia deles. Nem mesmo dependia de Moisés ou de Arão. Dependia exclusivamente da direção do Senhor através da coluna de fogo e da coluna de nuvem. Fora da orientação do Senhor, o povo de Deus não tinha o direito de se mover. Se movessem sem a orientação do Senhor na coluna de fogo ou na coluna de nuvem, estariam movendo-se por si próprios e em si mesmos. Jamais é de acerto agir assim em assuntos espirituais. Além do mandamento de Deus, precisamos ter Sua direcão e orientação. Se Ele nos pedir que realizemos algo, não deveremos fazê-lo por nós mes-mos; pelo contrário, deveremos orar: "Senhor, uma vez que me pediste que o faça, precisas guiar-me. Guia-me pela coluna de fogo e pela coluna de nuvem". Embora o capítulo 13 possa parecer uma inserção entre os capítulos 12 e 14, na verdade não o é em absoluto. Pelo contrário, ele se mostra necessário. Revela que necessitamos tanto da orientação quanto do mandamento do Senhor.

C. De Acordo com Determinadas Condições

Além disso, esse capítulo revela que a direção e a orientação do Senhor vêm somente quando determinadas condições são satisfeitas. A Sua direcão e orientação não são incon-dicionais. O primeiro requisito é a santificação. Se não formos santificados, não poderemos ter Sua orientação. Também precisamos experimentar o novo início de uma vida sem

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fermento. Ser santificado e ter o novo início de uma vida sem pecado são as duas prime-iras condições que nos capacitam a receber a orientação do Senhor. Uma outra condição é a ressurreição. Para sermos guiados pelo Senhor, não podemos estar no homem natural. Os nossos ossos devem estar ressurretos e em movimento. Depois, quando já não mais estivermos no homem natural, então teremos a direcão e a orientação do Senhor. Já enfatizamos que a Bíblia se refere ao homem natural como carne e sangue. Quando Pedro recebeu a revelação de que Jesus era o Cristo, o Filho do Deus vivo, o Senhor lhe disse: "Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus" (Mt 16:17). Além disso, após ser Cristo revelado a Paulo, este não consultou carne e sangue, isto é, não verificou com o homem natural (Gl 1:16). Como já enfatizamos, o mover dos ossos de José tipifica a ressurreição. Embora tais ossos estivessem secos, ainda eram capazes de se mover. Essa é a figura de um homem em ressurreição. Tal pessoa pode ser guiada pelo Senhor e orientada por Ele. Quando estamos em ressurreição, capacitamo-nos a receber a direcão e a orientação do Senhor. Em verdade, a direcão e a orientação do Senhor são simplesmente o próprio Senhor em coluna de fogo à noite e em coluna de nuvem de dia. Quando saíram do Egito em ordem marcial, os filhos de Israel foram guiados pela coluna de fogo e pela coluna de nuvem. Os egípcios devem ter ficado aterrorizados com tal visão. A figura dos filhos de Israel saindo do Egito de acordo com a direcão do Senhor revela que Sua orientação se apresenta somente quando cumprimos Suas condições. Precisamos ser santificados, ter o novo início de uma vida sem pecado e precisamos estar em ressur-reição. Aí então seremos guiados pelo Senhor e orientados por Ele.

D. Não Pelo Caminho Mais Curto, Mas Pelo Sinuoso Ao guiar os filhos de Israel, o Senhor não os levou a tomar o caminho mais curto. Pelo contrário, guiou-os por um caminho mais longo, um caminho que mais parecia um desvio. Era de se esperar que os filhos de Israel fossem direto, através da terra dos filisteus, para a boa terra. Todavia 13:17 diz: "Deus não os levou pelo caminho da terra dos filisteus, posto que mais perto, pois disse: Para que porventura o povo não se arrependa vendo a guerra, e tornem ao Egito". Por causa da possibilidade de guerra com os filisteus, Deus não os guiou por aquele caminho. Como 13:20 mostra, eles fizeram sua jornada de Sucote e acamparam-se em Etã, na extremidade do deserto. De acordo com a concepção humana, a orientação do Senhor ao Seu povo era estranha e até mesmo tola. Se fôssemos Deus, certamente teríamos guiado o povo por um outro caminho, a fim de evitar a possibilidade de perseguição da parte de Faraó. Deus, entre-tanto, guiou-os pelo caminho mais longo. Como veremos em mensagem posterior, isso estimulou Faraó a persegui-los. Deus parecia ter-se enganado na escolha do caminho por onde guiou o Seu povo. Na verdade, Sua orientação jamais é falha. Qualquer que seja o caminho ordenado, é correto. Ele jamais erra. Êxodo 13:18 afirma: "Porém Deus fez o povo rodear pelo caminho do deserto perto do Mar Vermelho". A linguagem hebraica indica claramente que Deus fez o povo dar voltas. Pela coluna de fogo e pela coluna de nuvem. Ele os guiou por um desvio. Muitas vezes, em minha vida cristã, Deus me guiou por caminhos que considerei errôneos. Mas cheguei a adorá-Lo por Sua orientação. Sua direção é sempre certa. Em nosso ponto de vista humano, poderemos pensar que Ele nos deveria guiar de deter-minado modo; mas, se Ele nos guiasse daquela maneira, não haveria lições para apren-

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dermos. Pelo contrário, poderíamos correr o perigo de voltar ao Egito. Deus nos leva a tomar um caminho indireto, até mesmo um longo desvio. Porque os filhos de Israel foram guiados por esse caminho, precisaram consequentemente vagar pelo deserto por trinta e oito anos. Grande parte desse tempo foi gasta andando em círculos. Essa é também a experiência de muitos cristãos na atualidade. Andam em círculos, sem nenhum progresso aparente. Entretanto, através dessa espécie de vagar, aprendemos importantes lições, como revelam os livros de Números e Deuteronômio. Podemos esperar sermos guiados de maneira reta; mas Deus, ao contrário, nos leva por um caminho sinuoso, por um desvio. Ele até mesmo nos leva a cruzar o Mar Vermelho e viajar posteriormente através de um grande e terrível deserto. Li no passado um livro intitulado "Passos Retos para os Filhos de Deus". Frequente-mente, entretanto, não há passos retos para o povo de Deus. Quanto mais esperamos que Ele tome um caminho reto, Ele então nos leva por um desvio. No período de muitos anos, poderemos ter diversos desvios. Todavia, através desses desvios, somos ajudados, equi-pados, educados, treinados e disciplinados. Essa é a razão para Deus não nos guiar por caminhos retos. Quando jovem, eu apreciava aquele livro que falava dos caminhos retos para os filhos de Deus. Mas já não mais lhe atribuo valor, porque, em minha experiência cristã, aprendi que Deus frequentemente nos guia através de desvios. Veja o vagar dos filhos de Israel pelo deserto. Tomaram eles um caminho reto? Não, o seu caminho foi repleto de desvios. Todavia eles não decidiram por si mesmos tomar tais desvios; foram guiados pela presença do Senhor na nuvem e no fogo.

E. O Próprio Senhor na Coluna de Nuvem de Dia e na Coluna de Fogo de Noite Êxodo 13:21-22 registra: "Jeová ia adiante deles, durante o dia numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho, durante a noite numa coluna de fogo, para os alumiar, a fim de que caminhassem de dia e de noite. Nunca se apartou do povo a coluna de nuvem durante o dia, nem a coluna de fogo durante a noite" (hebraico). As duas colunas são, na verdade, uma só. Quando a noite vem, a nuvem se torna fogo. Mas, quando o dia ama-nhece, o fogo se torna em nuvem. O fogo e a nuvem, contudo, são um. Em tipologia, a nuvem simboliza o Espírito. Quando nos vem, o Espírito de Deus é como uma nuvem. O fogo aqui simboliza a Palavra de Deus, que nos é uma luz. Assim, a orientação imediata e viva, que Deus nos dá, vem pelo Espírito ou pela Palavra. Quando o céu está claro, Ele é a nuvem; mas, quando está escuro, Ele é o fogo. Quando o Senhor diri-ge como coluna de fogo, à noite, a luz dessa coluna faz com que a noite se torne em dia. Por essa razão, os filhos de Israel podiam andar de dia e de noite. Na vida cristã, não deveria haver diferença entre dia e noite. Na verdade, nós, cristãos, não deveríamos ter qualquer noite em nossa vida com o Senhor. Pelo contrário, nossa noi-te deveria tornar-se em dia. Se temos uma noite que não se transforma em dia, estamos derrotados. Sempre que estamos em trevas e dormindo, experimentamos, como cristãos, uma noite em nossa vida. Mas, quando invocamos o nome do Senhor, somos iluminados, e a nossa noite se torna em dia. Tanto a nuvem quanto o fogo são símbolos de Deus, porque Ele tanto é o Espírito quanto a Palavra. Além disso, a Palavra é também o Espírito (Jo 6:63; Ef 6:17). O Senhor, o Espírito e a Palavra são um a guiar-nos e a orientar-nos continuamente. Quando estamos claros, Deus nos guia através do Espírito. Mas, quando não estamos claros, Ele nos guia

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através da Palavra. Quando a Palavra se nos faz clara, ela se torna o Espírito em nossa experiência. Quer como nuvem, quer como fogo, a orientação de Deus sempre é uma coluna. Na Bíblia, uma coluna denota força. Por isso a orientação de Deus é forte: ela se põe de pé e sustenta peso sobre si. Através dessa orientação definida, Deus guiou os filhos de Israel. Precisamos agradecer ao Senhor por todos os pormenores apresentados em Êxodo 13. Notamos aqui a substituição para a santificação, o dia a ser lembrado e o começo de uma nova vida sem pecado. Aqui também verificamos a vida de ressurreição, em que desfru-tamos da presença do Senhor, que nos dirige como coluna de nuvem e como coluna de fogo. Adoremos ao Senhor por Sua orientação, até mesmo quando Ele não nos dirigir por um caminho reto, mas por um caminho sinuoso. Louvado seja Ele por todos os desvios!

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM VINTE E OITO

A ULTIMA BATALHA DE FARAÓ

Leitura da Bíblia: Êx 14:1-31 A salvação plena de Deus para o Seu povo escolhido inclui a páscoa, o êxodo do Egito e a travessia do Mar Vermelho. A páscoa é um tipo da redenção; o êxodo simboliza a saída do mundo, e a travessia do Mar Vermelho tipifica o batismo. Uma salvação completa com todos esses aspectos é exatamente o que precisamos e o que desfrutamos hoje. Era necessário que Deus encontrasse uma pessoa como Faraó para realizar esses três aspectos da salvação. Sem ele, não haveria o ambiente, as circunstâncias e as situações propícias. Se observarmos esse ponto, louvaremos o Senhor por Sua soberania. A oposição de Faraó criou um ambiente que tornou possível a páscoa. Não podemos afirmar que Faraó tenha sido a origem da Páscoa; mas podemos dizer que, sem ele, não haveria o ambiente necessário para a instituição dela. A páscoa pressupunha provisão para a redenção, de que os filhos de Israel precisavam por causa de seus pecados. Ela, entretanto, inclui mais do que a redenção. Os cristãos reco-nhecem a necessidade da redenção, mas podem não enxergar a necessidade da páscoa. Durante a noite da páscoa, não apenas os filhos de Israel foram salvos, mas também os egípcios e o poder maligno das trevas foram julgados. Numa experiência normal de salvação, nós somos redimidos, e é julgado dentro de nós e à nossa volta o poder das trevas. Muitos cristãos, contudo, não são salvos de maneira normal: experimentam a redenção, mas não experimentam o julgamento de Deus sobre o poder das trevas. Já observamos que, por diversas vezes, Faraó lutou contra o Senhor, resistindo à Sua exigência de deixar ir os filhos de Israel. Mas, quanto mais ele lutava, mais ajudava a criar a situação necessária para o cumprimento da salvação de Deus. Embora Faraó resistisse sempre às exigências de Deus, Moisés continuava a negociar com ele. Nenhum de nós teria tido tanta paciência quanto Moisés. Teríamos provavel-mente desistido após os primeiros conflitos. É o que normalmente fazemos ao tratar hoje com as pessoas. Talvez, por exemplo, tenhamos encargo específico pela salvação de alguém. Então poderemos esperar que qualquer um que tenha sido escolhido por Deus se volte ao Senhor logo após o contactarmos por algumas vezes. Mas, se ele continuar a resistir ao Senhor, poderemos desistir, pensando ser um desperdício de tempo continuar a tentar. Moisés, ao contrário, era paciente e perseverante em seu trato com Faraó. Como resultado do contato de Moisés com Faraó e da luta deste contra o Senhor, a situação no Egito tornou-se extremamente tensa. Por fim, a páscoa se tornou uma necessidade. Quando Faraó e os egípcios provaram ser totalmente contra o Senhor exercer Seu julgamento sobre os egípcios rebeldes e de livrar o Seu povo. Enquanto os filhos de Israel desfrutavam da páscoa, os egípcios sofriam sob o julgamento de Deus. Os egípcios, entretanto, não tinham direito de culpar Deus por isso. Haviam chamado sobre si o Seu julgamento. Eram responsáveis por criarem a situação que exigiu a instituição da páscoa, mais a sua redenção e o seu julgamento.

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De maneira semelhante, foi com o auxilio de Faraó que o povo de Deus realizou o seu êxodo do Egito. Se assim não fosse, os filhos de Israel provavelmente jamais teriam deixado a terra do Egito. Se Faraó e os egípcios tivessem sido gentis, os filhos de Israel não teriam o desejo de deixar o Egito. Mas a opressão que Faraó lhes dispensou, criou a situação para o seu êxodo do Egito, tornando-se, por fim, necessário que eles saíssem. Finalmente, Faraó os expulsou do Egito. Assim ele foi usado por Deus para efetivar os êxodo do Seu povo. De acordo com a ordenação de Deus a a Sua economia, existe em Sua salvação a necessidade do batismo, tipificado pela travessia do Mar Vermelho. A fim de cumprir esse aspecto da salvação, Deus não guiou Seu povo diretamente para a terra de Canaã, através do território dos filisteus. Pelo contrário, como já enfatizamos em mensagem anterior, Ele os fez vagar. Fê-los ir para o sul e depois vover em direção ao Mar Vermelho, aparente-mente a um lugar sem saída. O Senhor, entretanto, sabia o que estava planejando fazer. Sua intenção era utilizar o Mar Vermelho para batizar Seu povo e sepultar Faraó com seu exército. Se os filhos de Israel fossem diretamente para a terra de Canaã através do território dos filisteus, não teriam cruzado o Mar Vermelho, nem o exército egípcio teria sido sepultado. Por isso, ao cruzarem eles o Mar Vermelho, Deus usou novamente Faraó, desta vez para criar uma situação que resultou no batismo de Seu povo. Por meio da co-luna de nuvem e da coluna de fogo, Deus os dirigiu por um desvio. Ao marcharem atrás da coluna que os guiava, foram levados a acampar-se à beira-mar (14:2). De acordo com 14:3, o Senhor sabia o que Faraó haveria de dizer sobre os filhos de Israel: "Estão desorientados na terra, o deserto os encerrou". Aos olhos dos egípcios, os israelitas foram muito tolos tomando essa via indireta. Assim, a sua situação no deserto impeliu Faraó a persegui-los. Por isso, o acampamento deles junto ao mar e a perseguição realizada por Faraó e seus carros geraram uma situação ideal para o batismo do povo de Deus e o sepultamento de Faraó e seu exército. De acordo com a concepção do povo do mundo, muitos de nós estivemos errando sem rumo durante o período que decorreu entre a nossa conversão e o nosso batismo. Antes de sermos salvos, tínhamos um objetivo definido, um alvo na vida. Mas, após sermos salvos, não tínhamos objetivo aparente, e começamos a vagar ao léu. Tínhamos, é óbvio, um objetivo espiritual. Mas, aos olhos das pessoas do mundo, não tínhamos um alvo na vida e já não estávamos mais claros acerca de nosso futuro. Esse tipo de andar ao léu frequente-mente estimula a perseguição. Outros poderão acusar-nos de que já não mais sabemos o que realizamos nem para onde vamos. Alguns até poderão pensar que ficamos loucos. Muitos de nós já fomos submetidos a tal tipo de perseguição. Essa perseguição, entretanto, ajuda-nos a ter um batismo correto e completo. Se não formos perseguidos por vagarmos aparentemente ao léu, nosso batismo poderá ser um mero ritual com pouco significado. Mas, se formos perseguidos por perdermos nosso alvo, o nosso batismo será muito sionificativo. Por essa razão, devemos agradecer ao Senhor pôr tal tipo de perseguição. Posso testificar que os melhores batismos que testemunhei foram os dos perseguidos por parentes e amigos. Em tais casos, os novos convertidos tiveram muito a sepultar ao serem imersos. Contudo, quando não há perseguição, o batismo pode não ser muito significativo, porque, quando os novos convertidos são sepultados, nada mais é sepultado com eles. Quando foram batizados no Mar Vermelho, os filhos de Israel arrastaram consigo para a água o exército egípcio. Em princípio, o mesmo deveria ocorrer sempre que um recém convertIdo quando é batizado. O exército do mundo deveria ser imergido e sepultado nas águas do batismo.

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Já observamos que Faraó foi uma ajuda para os filhos de Israel em três aspectos da salvação de Deus. Ajudou-os a ter a páscoa, a realizar seu êxodo do Egito e a ter um batismo integral. De acordo com a tipologia, essa figura é compreensível. Se conside-rarmos o tipo e o aplicarmos à nossa situação da hoje, seremos capazes de ajudar os novos cristãos a serem batizados de maneira carreta. Há alguns anos, eu era muito ativo na pregação do evangelho, e muitos eram salvos através dela. Sempre esperava que os recém-salvos fossem batizados logo após sua conversão a Cristo. Pensava que tomariam um caminho em linha reta, da conversão ao batismo. Mas, de acordo com o tipo do livro de Êxodo, essa expectativa é errônea. Deus não guiou Seu povo diretamente à terra prometida. Como já mencionamos, levou-os a fazer voltas. No mesmo princípio, Ele pode não guiar ao batismo os que são salvos através de nossa pregação do evangelho por um caminho em linha reta. Pelo contrário, pode levá-los a tomar um desvio. Aos olhos do mundo, é ridículo seguir esse caminho, porque apa-rentemente ele leva a um fim mortal. Essa, entretanto, é a orientação de Deus e tem como resultado um batismo correto com a eliminação do exército do mundo. Se estudarmos o tipo mostrado em Êxodo, já não esperaremos que os novos convertidos tomem um caminho direto da conversão ao batismo. Perceberemos que o caminho por que Deus os guia pode apresentar muitos problemas. Esse, todavia, é o caminho de Deus para introduzi-los numa situação em que sejam forçados a ter um batismo correto e completo. Consideremos agora alguns pormenores da última batalha de Faraó, que foi utilizada por Deus de maneira definitiva para a salvação plena de Seu povo.

I. UM TIPO DA LUTA DE SATANÁS E SEU MUNDO CONTRA OS CRISTÃOS QUE DEVEM SER BATIZADOS

A última luta de Faraó foi um tipo da luta de Satanás e seu mundo contra os cristãos que devem ser balizados. Quando Satanás e o mundo lutam contra um novo convertido, não devemos ficar desapontados. Pelo contrário, devemos perceber que tal luta há de preparar o ambiente para que o convertido tenha um batismo completo.

II. FARAÓ FOI TENTADO PELA MUDANÇA DE RUMO POR PARTE DE ISRAEL NO DESERTO

Já enfatizamos que Faraó foi tantado pelo vagar de Israel no deserto (14:1-3). Pensando que Israel estivesse errando sem rumo, Faraó foi tentado a persegui-lo.

III. O CORAÇÃO DE FARAÓ FOI ENDURECIDO POR JEOVÁ PARA A SUA GLÓRIA, E O CORAÇÃO DE

FARAÓ E DE SEUS SERVOS SE VOLTARAM CONTRA ISRAEL

Faraó foi tentado a perseguir os filhos de Israel, e Deus endureceu-lhe o coração. Porque seu coração fora endurecido por Deus, Faraó tomou a decisão de perseguir o Seu povo. Êxodo 14:4 registra: "Endurecerei o coração de Faraó, para que os persiga, e serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército; e saberão os egípcios que eu sou Jeová" (hebraico). Alguns poderão pensar que Deus jamais faria coisa tal como endurecer o coração de Faraó. Isso lhes contraria totalmente os conceitos. Mas, na eternidade, poderemos surpre-

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ender-nos ao saber que muitas das grandes coisas que Deus fez não se harmonizavam com os nossos conceitos, isso é particularmente verdade quanto à maneira como Deus usa Sata-nás. Embora o odíemos, Deus continua a usá-lo. Isso se prova pelo fato de que as portas dos céus ainda se acham abertas para ele. Verificamos por trechos da Palavra, em Apoca-lipse 12 e no livro de Jó, que Satanás tem acesso à presença de Deus nos céus. Se fôssemos Deus, utilizaríamos nosso poder para imediatamente lançá-lo no lago de fogo. No mínimo, forçá-lo-íamos a permanecer fora dos céus. A maneira de Deus, entretanto, é superior à nossa. De acordo com Sua maneira, Ele usa Satanás para o cumprimento de Seu próprio propósito. No mesmo princípio, usou Faraó para a Sua glória, endurecendo-lhe o coração bem como os corações dos egípcios (14:8, 17). Sobre Faraó, 9:16 afirma; "mas deveras para isso te hei mantido, a fim de mostrar-te o meu poder, e para que seja o meu norne anunciado em toda a terra". Paulo menciona esse versículo em Romanos 9:17. Deus usou Faraó não só à época das pragas, mas também durante o êxodo de Seu povo do Egito. Como afirma 14:5, "mudou-se o coração de Faraó e dos seus oficiais contra o povo". De acordo com 14:1-2, ordenou Deus aos filhos de Israel que retrocedessem e acampassem diante de Pi-Hairote, entre Migdol e o mar, diante de Baal-Zefom. Eles deveriam acampar ali, ao lado do mar, num lugar virtualmente sem saída. Aos olhos de Faraó, os filhos de Israel haviam sido apanhados no deserto e não tinham meios de escapar. De acordo com o meu conceito, essa era uma excelente oportunidade para fazê-los voltar ao seu controle. Por isso os perseguiu.

IV. FARAÓ E SEU EXÉRCITO PERSEGUIRAM OS FILHOS DE ISRAEL ATÉ AS PRAIAS DO MAR VERMELHO

Êxodo 14:6-9 revela que Faraó e seu exército perseguiram os filhos de Israel até às praias do Mar Vermelho. Ao olharem para trás, os filhos de Israel viram o exército de Faraó; olhando para a frente, descortinaram o Mar Vermelho. Imediatamente clamaram ao Senhor e disseram a Moisés: "Será por não haver sepulcros no Egito, que nos tiraste de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos trataste assim fazendo-nos sair do Egito? Não é isto o que te dissemos no Egito: Deixa-nos, para que sirvamos os egípcios? pois melhor nos fora servir aos egípcios do que morrermos no deserto (v. 11-12). Em sua queixa, os esmorecidos filhos de Israel foram muito eloquentes. Expressaram seus senti-mentos com excelente expressão. Não deveríamos rir deles, contudo. Se lá estivéssemos, provavelmente teríamos agido do mesmo rnodo. Moisés não argumentou com o povo, nem lutou contra eles. Pelo contrário, disse-lhes assim: "Não temais: aquietai-vos e vede o livramento do Senhor que hoje vos fará; porque os egípcios, que hoje vedes, nunca mais os tornareis a ver. Jeová pelejará por vós, e vós vos calareis (v. 13-14, hebraico). Tão logo falou Moisés essas palavras, o Senhor lhe veio e disse que não clamasse a Ele, mas que dissesse aos filhos de Israel que seguissem adiante. Depois o Senhor ordenou a Moisés: "levanta a tua vara, estende a mão sobre o mar e divide-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco" (v. 16). A essa altura, Faraó e seu exército deviam estar bem próximos ao campo dos filhos de Israel. Se lá estivéssemos, ficaríamos aterrorizados, como ficaram os filhos de Israel. Os egípcios estavam com seiscentos carros, e tudo o que Moisés tinha era um cajado em sua mão.

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V. O ANJO DE DEUS PROTEGEU OS FILHOS DE ISRAEL CONTRA O EXÉRCITO DOS EGÍPCIOS PELA

COLUNA DE NUVEM O versículo 19 diz: "Então o Anjo de Deus, que ia adiante do exército de Israel, se retirou, e passou para trás deles" O Anjo de Deus desse versículo é o próprio Anjo de Jeová, que chamara Moisés no capítulo 3 (v. 2 e 4 , hebraico). Deus o chamara na pessoa do Anjo de Jeová. O Anjo de Jeová era simplesmente o próprio Deus Jeová. Nas palavras de 3:6, o Anjo de Jeová identificou-se, dizendo: "Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó". Isso O revela como Deus triúno — Pai, Filho e Espírito. O Anjo de Jeová, o próprio Deus Triúno, é Cristo como enviado de Deus. O fato de o Enviado de Deus ir adiante do exército de Israel mostra que era Cristo quem guiava o povo. Entretanto, de acordo com 14:19, o Anjo de Deus mudou-se da frente do povo para a sua retaguarda. Esse versículo prossegue dizendo: "também a coluna de nuvem se retirou de diante deles, e se pôs atrás deles". Quando o Anjo de Deus se mudou, a coluna também se mudou. Isso indica que Ele e a coluna eram um. O versículo 20 continua: "e ia entre o campo dos egípcios e o campo de Israel; a nuvem era escuridade para aqueles, e para este esclarecia a noite; de maneira que em toda a noite este e aqueles não puderam aproximar-se". A coluna era uma muralha a separar esses dois acampamentos. No lado egípcio da muralha, havia trevas; mas, no lado do povo de Deus, havia luz. Essa coluna de luz os protegia contra os egípcios. Podemos aplicar isso à nossa experiência atual do Senhor. Quando nos dispomos a segui-Lo, Sua orientação se torna para nós em coluna de luz. Desde a hora em que cremos pela primeira vez no Senhor Jesus, tivemos luz dentro de nós. Essa luz é a luz orientadora. Mas, Quando a oposição se levanta contra nós, a luz orientadora espontaneamente se torna em luz protetora. A luz, que anteriormente ia adiante de nós, desloca-se para a nossa reta-guarda, protegendo-nos dá oposição e do ataque. Contudo, para os opositores, a luz protetora se torna em trevas. Posso testificar de minha experiência que todas as vezes em que recebi oposição, a luz orientadora se moveu para a retaguarda, tornando-se em luz protetora. Caso contrário, por causa da oposição, eu poderia ser tentado a retroceder. Poderia ter duvidado da verdade anteriormente vista. Mas, porque a luz orientadora se tornou em luz protetora, não tíve meios de voltar atrás. A luz à minha retaguarda é tão brilhante, que me é impossível voltar. Além disso, essa luz protetora se torna em trevas para os opositores, Por um lado, sou protegido pela luz; por outro, os opositores ficam totalmente em trevas. Esse é o princípio visto em 14:19-20. Se formos fiéis ao Senhor, Sua luz orientadora se tornará nossa luz protetora sempre que enfrentarmos oposição. Essa luz também se tornará espontaneamente em trevas para os que se nos opõem. Por estarem eles em trevas e nós em luz, seremos protegidos. O fato de essa luz ser Cristo como o Anjo de Jeová revela que o próprio Cristo, que nos é luz, pode trazer trevas para os opositores. Para os que seguem a vontade de Deus, a luz orientadora se torna em luz protetora. Mas, para os que se opõem ao povo de Deus, a luz se torna em trevas. Esteja certo de que sempre que você for atacado por tais opositores, eles ficarão repletos de trevas. É assim que o Senhor protege Seu povo. A coluna de nuvem se pôs entre os filhos de Israel e os egípcios como muralha de sepa-ração. No lado dos egípcios, havia trevas; mas no lado do povo de Deus, havia luz. O es-tarmos na luz ou nas trevas depende de seguirmos o Senhor ou de atacarmos o Seu povo.

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Se estivermos entre os opositores, a coluna nos será trevas. Mas, se O seguirmos, a coluna nos dará luz. Já enfatizamos que a luz recebida do Senhor, primeiramente nos guia. Depois, então, quando vem a oposição, ela nos protege. Se não tivermos a luz orientadora, não podere-mos ter a luz protetora. Muitos de nós podemos testificar que, após recebermos a luz, fomos por ela protegidos, não importando a intensidade da oposição. Quando atacados, podemos ser tentados pelo inimigo a duvidar do caminho e da posição que tomamos. Mas, durante esses momentos de dúvida, a luz que recebemos é a nossa confirmação. Ela é a luz protetora. Frequentemente, a luz se torna mais brilhante em tempos de oposição e perseguição. Quando ela se torna mais brilhante para nós, os opositores se mergulham ainda mais em trevas. Por fim, eles poderão encontrar-se em trevas tão densas, que por eles próprios já nem saibam de que estão falando. Por atacarem os que seguem o Senhor, eles se acham totalmente em trevas. Como resultado, podem sofrer morte de alguma forma. Já o vi acontecer diversas vezes. A princípio, os opositores estavam em trevas; mas, por fim, sofreram morte. Quanto mais os opositores atacam o povo de Deus, mais eles próprios ficam em trevas. Eles não apenas poderão cair na ignorância e na cegueira, mas também poderão tornar-se ilógicos e sem raciocínio. Poderão cair em trevas tão espessas, a ponto de perder sua razão. Suponha que um amigo ou parente se lhe oponha porque você segue o Senhor. Quanto mais ele se opuser, mais cairá em trevas. Por fim, ele até poderá perder o juízo e começar a agir desvairadamente. Suas palavras e comportamento poderão não só estar contra a luz e a verdade de Deus, mas também contra a razão. Porém, enquanto os atacantes se acham nessas trevas espessas, você poderá desfrutar do brilho da luz protetora. Observe a situação no meio dos religiosos, quando o Senhor Jesus estava na terra. Para os discípulos, o Senhor era luz; mas, para os religiosos, Ele era motivo de trevas. Por esta-rem em trevas, os religiosos espalharam boatos malignos sobre o Senhor e até modificaram Suas palavras. Mudaram, por exemplo, Sua palavra concernente a destruir o templo e reerguê-lo em três dias (Mt 26:61). Do lado dos religiosos, havia trevas; mas, do lado do Senhor e dos Seus discípulos, ha via luz. Por isso o Senhor Jesus disse aos religiosos que eles estavam cegos (Mt 23:16). Além disso, quando Saulo de Tarso se converteu, o Senhor o encarregou de converter a outros das trevas para a luz (At 26:18). As trevas de que o Senhor aqui falava eram prin-cipalmente as trevas do judaísmo. À época de Paulo, o judaísmo estava totalmente em trevas. O mesmo é verdade para o catolicismo, protestantismo e outros grupos religiosos da atualidade. Quanto mais os membros desses grupos se opõem à verdade, mais ficam em trevas. Quando estava na terra, o Senhor Jesus era, por si próprio, a pedra de tropeço. Os apóstolos, no livro de Atos, e, mais tarde, as igrejas tornaram-se pedras de tropeço. Hoje, nós, na restauração do Senhor, nos tornamos pedras de tropeço. Já enfatizamos que os filhos de Israel foram guiados pelo Anjo de Deus. Este lhes orientou a saída do Egito e os guiou, através do deserto, para dentro da boa terra. Antes do capítulo 14, Ele se fazia presente no meio do povo, mas Seu nome não fora mencio-nado. Como veremos, em 23:20, o Senhor afirmou: "Eis que eu envio um Anjo diante de ti, para que te guarde pelo caminho e te leve ao lugar que tenho preparado". Depois, no livro de Zacarias, verificamos novamente o Anjo de Deus (3:5). Esse Anjo, o Enviado de Deus, o mesmo que liderara os filhos de Israel e os protegera dos egípcios, ainda cuidava do povo de Deus. Quando o Anjo de Deus se deslocou de diante do povo para a retaguarda, a

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coluna também o fez, porque o Anjo e a coluna erarn um. O mesmo ocorre atualmente em nossa experiência, em que não podemos separar o Senhor do Espírito orientador. Após servir ao objetivo que Deus lhe tinha, Faraó se tornou um sacrifício. Tenho fre-quentemente avisado as pessoas, para que não se tornem um sacrifício pela oposição à igreja. Alguns, todavia, não têm atentado a esse aviso e se tornam sacrifícios. Quanto mais se opõem à igreja, mais ilógicos e sem raciocínio se tornam. O seu comportamento irracio-nal é um sinal de que estão em trevas. Quanto mais ataque e oposição sofremos por seguir o Senhor, mais brilhante só torna a luz orientadora e protetora. Os opositores, entretanto, poderão continuar seu ataque, apesar das trevas que os envolvem. É claro que Faraó deve ter visto a coluna de separação entre os filhos de Israel e os egípcios. Mas, ainda assim, ele não chamou de volta os seus carros. Pelo contrário, perdendo sua razão, continuou sua perseguição contra o povo de Deus e se tornou um sacrifício.

VI. FARAÓ E SEU EXÉRCITO PERSEGUIRAM OS FILHOS DE ISRAEL ATÉ AO MEIO DO MAR VERMELHO

Quando Moisés estendeu sua mão sobre o mar, as águas se dividiram (v. 21). E então "os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas lhes foram qual muro à sua direita e à sua esquerda" (v. 22). Em vez de um obstáculo, havia agora um caminho através do mar. Assim, tendo o Anjo atrás de si, os filhos de Israel cruzaram o mar a pé enxuto. Então, endurecidos por Deus para perseguir o Seu povo, "os egípcios... entraram atrás deles, todos os cavalos de Faraó, os seus carros e os seus cavaleiros até ao meio do mar" (v. 23). Faraó com seu exército perseguiu os filhos de Israel até ao meio do Mar Vermelho, porque o Senhor endurecera os corações dos egípcios. Deus agiu assim com o propósito de Se glorificar através de Faraó e seu exército, de seus carros e seus cavaleiros (v. 17-18).

VII. JEOVÁ DERROTOU FARAÓ E SEU EXÉRCITO O versículo 24 diz que o Senhor olhou para o acampamento dos egípcios através da coluna de fogo e de nuvem e "confundiu o exército dos egípcios" (hebraico). De acordo com o versículo 25, o Senhor "emperrou-lhes as rodas dos carros, e fê-los andar dificultosa-mente". Algumas versões dizem que o Senhor lhes emperrou as rodas, de modo que não podiam mover-se. Confusos e incapazes de mover seus carros, os egípcios disseram: "Fujamos da presença de Israel, porque Jeová peleja por eles contra os egípcios" (v. 25, hebraico}. Mas era muito tarde para fugir. À palavra do Senhor, Moisés estendeu a mão sobre o mar, e "o mar... retornou a sua força" (v. 27). A água voltou ao seu leito normal, e os egípcios pereceram.

VIII. FARAÓ E SEU EXÉRCITO FORAM AFOGADOS E SEPULTADOS NO MAR Embora os egípcios tentassem fugir, o Senhor os derribou no meio do mar (v. 27). O versículo 28 prossegue, dizendo: "E, voltando as águas, cobriram os carros e os cavala-rianos de todo o exército de Faraó, que os haviam seguido no mar, nem ainda um deles ficou". Faraó e seus exércitos foram afogados e sepultados no mar. Isso significa que Satanás e o mundo foram sepultados pelo batisrno (v. 26-28; 15:4-5,10, 19). Sepultado no mar, Faraó foi eliminado. Ele não mais lutaria, porque terminara sua

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utilidade na mão de Deus. Libertos da mão usurpadora de Faraó ao cruzarem o Mar Vermelho, os filhos de Israel entraram num outro reino. Mas Faraó, agora inútil diante de Deus, foi eliminado e sepultado. De acordo com a nossa experiência, podemos testificar que determinadas coisas podem levantar-se contra nós. Embora não fiquemos contentes com o ataque e a oposição, todos os atacantes e opositores são úteis na mão de Deus. Deus utiliza-os para o nosso bem, com o propósito de nos aperfeiçoar. Uma vez, contudo, que esse alvo seja atingido e os oposi-tores já não mais tenham utilidade, a oposição terminará. Faraó não apenas expulsou os filhos de Israel do Egito, mas também os seguiu Mar Vermelho adentro. Aí, então, depois que o povo de Deus cruzou o Mar Vermelho e depois que Faraó foi sepultado no mar, ambos foram apartados para sempre. Se se permite que alguma oposição e ataque perma-neçam, deve ser porque Deus ainda vê neles uma necessidade. Devem ser necessários para o nosso bem. Mas, um dia, tal oposição será eliminada e sepultada. Nesta mensagem, verificamos que Faraó foi usado por Deus para realizar uma salvação completa, total e perfeita do Seu povo escolhido. Ele foi usado para proporcionar o ambi-ente perfeito para a páscoa, o êxodo e o batismo. Nada mais havia para o povo de Deus fazer, exceto louvá-Lo. A última batalha de Faraó terminara. Agora que ele jazia na imobilidade, já não mais havia qualquer outra luta a envolvê-lo. Louvado seja o Senhor, porque até mesmo a última batalha de Faraó ajudou a executar a salvação plena do povo escolhido por Deus!

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM VINTE E NOVE

A TRAVESSIA DO MAR VERMELHO POR PARTE DE ISRAEL

Leitura da Bíblia: Êx 14:10-12, 16, 29-31; 15:1-21; Hb 11:29; 1Co 10:1, 2; 1Pe 3:20-21. A salvação plena de Deus inclui a páscoa, o êxodo e a travessia do Mar Vermelho. Através da páscoa, os filhos de Israel foram salvos do julgamento de Deus. No Egito, eles eram como os egípcios, pecaminosos e até mesmo adoradores de ídolos (Ez 20:7-8). Juntamente com os egípcios, estavam sob o julgamento justo de Deus. De acordo com esse julgamento justo, estavam sob sentença de morte. Por isso precisavam do cordeiro pascal como seu substituto. Porque o sangue do cordeiro fora aplicado aos umbrais de suas casas, Deus em Seu justo julgamento pôde passar por sobre eles. Os filhos de Israel, contudo, estavam não apenas sob o julgamento de Deus, mas também debaixo da tirania de Faraó. Haviam sido usurpados por Faraó para servir como escravos e realizar o objetivo dos egípcios. Assim, tinham eles dois problemas sérios: o julgamento de Deus e a tirania de Faraó. Embora a páscoa fosse adequada para salvá-los do julga-mento de Deus, não era eficaz para resgatá-los da usurpação dos egípcios. Para serem salvos da tirania egípcia, eles necessitavam do êxodo e da travessia do Mar Vermelho. Se eles tivessem só o êxodo mas não a travessia do Mar Vermelho, sua salvação não teria sido segura. Ser-lhes-ia possível voltar ao Egito. Deus estava muito preocupado com a possibilidade de o povo tentar agir assim. Sem a travessia do Mar Vermelho, não haveria linha de separação. Em 13:17, o Senhor expressou Sua preocupação no sentido de que o povo se arrependesse, ao ver a guerra, e voltasse ao Egito. Mais tarde, à época de Números 14:4, alguns dos rebeldes disseram: "levantemos a um para nosso capitão, e voltemos para o Egito". Por isso, para terem uma libertação completa e absoluta do Egito, os filhos de Israel tiveram que realizar o seu êxodo e também cruzar a linha de separação pela travessia do Mar Vermelho. Em Sua criação, Deus preparou o Mar Vermelho para servir de batistério ao Seu povo escolhido. Depois, durante o êxodo, conduziu o povo a este batistério. Não foi por acaso; foi de acordo com o Seu plano. Ele queria conduzir Seu povo a uma situação em que lhes fosse impossível voltar ao Egito. Nesta mensagem, precisamos considerar o significado da travessia do Mar Vermelho por parte de Israei.

I. UM TIPO DE BATISMO Em 1 Coríntios 10:1-2, Paulo afirma que "nossos pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar, tendo sido todos batizados, assim na nuvem, como no mar, com respeito a Moisés". Isso mostra que a travessia do Mar Vermelho era um tipo de batismo. A nuvem aqui se refere à coluna, que era o próprio Senhor como Aquele que guia o povo. Primeira Pedro 3:20-21 indica que a passagem da arca de Noé pelo dilúvio também era um tipo do batismo. Pela arca e pela água, Noé e os membros de sua família foram salvos do

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julgamento de Deus e do mundo maligno, corrupto e condenado. O mesmo dilúvio que julgara o mundo também separara os que estavam na arca dos que estavam no mundo. Depois que as águas do dilúvio baixaram, Noé e sua família se encontraram num novo reino, num novo mundo, onde podiam servir a Deus. O dilúvio os separara do velho mundo e os introduzira num novo. Imediatamente após sair da arca, Noé erigiu um altar e efereceu sacrifício ao Senhor (Gn 8:20). O princípio é o mesmo quanto à travessia do Mar Vermelho. No Egito, os filhos de Israel estavam envolvidos com o mundo maligno, corrupto e condenado, e permaneciam sob o julgamento de Deus. A páscoa, que tipificava Cristo, salvara-os do julgamento de Deus, assim como a arca, também um tipo de Cristo, salvara Noé e sua família do julga-mento de Deus. Além disso, assim como a família de Noé precisara ser salva do mundo através da água. também os filhos de Israel precisavam ser salvos do Egito através da água. Com os filhos de Israel, notamos tanto o sangue quanto a água. O sangue do cordeiro pascal os salvou do julgamento de Deus, e a água os salvou da tirania dos egípcios. Em contraste com os filhos de Israel, a grande maioria dos cristãos de hoje foi salva apenas pelo sangue, mas não também pela água. Muitos foram batizados de maneira ritualística, mas tal batismo não constitui uma experiência da água que separa e salva. No caso da família de Noé e dos filhos de Israel, a água tanto era um meio de salvação como de separação. Se tivéssemos apenas o ensinamento do Novo Testamento sem as figuras de Gênesis e Êxodo, não descortinaríamos uma compreensão completa do batismo. Através do batismo é que o povo de Deus foi salvo da escravidão do Egito e da tirania de Faraó. No mesmo princípio, através do batismo é que os cristãos de hoje são salvos do mundo e do poder satânico das trevas. (Mais tarde, observaremos que o batismo simbolizado pela travessia do rio Jordão tipifica o livrar-se do velho homem. Nesta mensagem, preocupa-mo-nos somente com o aspecto do batismo prefigurado pela travessia do Mar Vermelho). O batismo assegura a nossa salvação. Se apenas tivermos a páscoa e o êxodo, sem a travessia do Mar Vermelho, nossa salvação não estará assegurada. A travessia do Mar Vermelho, que é o batismo, sela a nossa salvação. Ao batizarmos novos irmãos, deveremos ajudá-los a compreender o significado do batismo. Deveremos dizer-lhes que, após serem salvos através de Cristo como páscoa, eles precisarão passar através da água que os separa do mundo e do poder das trevas.

A. Batizados em Moisés Em 1 Coríntios 10:2, Paulo afirma que os filhos de Israel foram todos batizados em Moisés. Moisés era um tipo de Cristo e um Seu representante. Assim, ao serem batizados em Moisés, os filhos de Israel em verdade foram batizados em Cristo. Cristo, não Moisés, é o verdadeiro líder. Moisés era simplesmente uma figura de Cristo. Hoje, nós que cremos em Cristo, fomos batizados Nele. Por essa razão, Gálatas 3:27 fala de sermos "batizados em Cristo". Após sermos batizados em Cristo, estamos agora sob Sua liderança. Antes de cru-zarem o Mar Vermelho, os filhos de Israel tomavam Moisés como seu líder, mas não muito. Entretanto, após cruzar o Mar Vermelho, "o povo temeu a Jeová, e confiaram em Jeová, e em Moisés, seu servo" (Êx 14:31, hebraico), porque foram batizados em Moisés. De semelhante modo, fomos batizados não em uma denominação, uma prática, uma crença ou uma doutrina, mas em Cristo, o nosso líder e o nosso Cabeça.

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B. Na Nuvem Em 1 Coríntios 10:2 Paulo assevera que eles também foram batizados, "assim na nuvem, como no mar". A nuvem tipifica o Espírito. Quando fomos batizados, nós o fomos para dentro do Espírito. Num Espírito, fomos batizados para dentro de um Corpo.

C. No Mar Além disso, o povo de Deus foi batizado no mar, que tipifica a morte de Cristo (Rm 6:3). Na morte de Cristo, tipificada pela água do batismo, fomos eliminados e sepultados. Quando se batiza um novo cristão, deve ele perceber que está sendo batizado tanto para dentro do Espírito quanto para dentro da morte de Cristo. O Espírito não deve ser apartado da morte de Cristo. Assim como a nuvem e o mar eram um, também o Espírito e a morte de Cristo são um. A morte de Cristo trata com as coisas pelo lado negativo, ao passo que o Espírito cuida das coisas pelo lado positivo. Por um lado, muitas coisas negativas devem ser tratadas; por outro, os cristãos precisam ser encorajados positivamente a prosseguir com o Senhor. Negativamente, a água eliminou Faraó e seu exército. Positivamente, a nuvem foi o meio pelo qual os filhos de Israel foram guiados em sua jornada. Louvado seja o Senhor tanto pelo lado negativo quanto pelo positivo do batismo! Quando um novo cristão é batizado, todas as coisas negativas são eliminadas e sepultadas. Aí, então, o Espírito, como coluna de nuvem, o guia em sua jornada com o Senhor.

D. Pela Fé O batismo requer fé. Hebreus 11:29 diz: "Pela fé atravessaram o Mar Vermelho como por terra seca; tentando-o os egípcios, foram tragados de todo". Em Colossenses 2:12, o batismo também se relaciona à fé. Os filhos de Israel precisaram de fé para cruzar o Mar Vermelho. A princípio, todavia, não a tiveram de modo algum. Vendo adiante de si a massa de água e atrás de si o exército egípcio, eles clamaram ao Senhor e queixaram-se a Moisés: "Será por não haver sepulcros no Egiío, que nos tiraste de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos trataste assim, fazendo-nos sair do Egito?" (14:11). Embora o povo não tivesse fé, esta chegou quando Deus veio para dizer uma palavra. O Senhor não se zangou com o povo por falta de fé, apesar de este haver recentemente testemunhado o Seu poder e Seus atos miraculosos no Egito. À Moisés, que, como ser humano, sem dúvida estava atribulado com a situação, o Senhor disse: "Por que clamas a mim? Díze aos filhos de Israel que marchem. E tu, levanta a tua vara, estende a mão sobre o mar e divide-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco" (14:15-16). Quando Moisés recebeu essa palavra do Senhor, os filhos de Israel espontaneamente tiveram fé para atravessar o Mar Vermelho. De acordo com 14:21-22, as "águas foram divididas" e "as águas lhes foram qual muro à sua direita e à sua esquerda". Depois, 15:8 registra: "amontoararn-se as águas, as correntes pararam em montão; os vagalhões coalharam-se no coração do mar". Por um lado, as águas foram amontoadas; por outro, foram solidificadas. O fato de as águas serem amontoadas significa que foram empilhadas como pedras. Mas, para elas serem solidifi-cadas, significa que foram transformadas de seu estado líquido. Apesar de divididas, amontoadas e solidificadas, ainda se requeria fé para os filhos de Israel passarem por elas. Sem a necessária fé, o povo certamente se queixaria a Moisés de entrar num túmulo

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líquido. Se estivéssemos lá, provavelmente teríamos medo de entrar no meio das águas divididas. Os filhos de Israel, entretanto, tornaram-se um povo de fé. Seguindo Moisés, entraram no mar e o atravessaram. Ao cruzar o Mar Vermelho, os filhos de Israel foram salvos do Egito e ainda intro-duzidos num mundo de liberdade. Que salvação! Em princípio, o batismo é o mesmo para nós atualmente. Ele nos salva do cativeiro e nos introduz na liberdade absoluta de Cristo. Como Colossenses 2:12 esclarece, isto se cumpre "mediante a fé no poder de Deus". Por essa razão, ao batizarmos as pessoas, precisamos encorajá-las a exercitarem a fé em Deus como aquele que opera. Não há dúvida de que a travessia do Mar Vermelho se realizou graças à operação de Deus. Ao batizarmos os novos irmãos, nós mesmos precisamos de fé e precisamos ajudar aqueles que estão sendo batizados, para que também tanham fé. Os novos convertidos precisam perceber o que lhes acontece na hora do batismo. Precisam de fé para entrar na água do batismo e passar por ela. Que diferença quando todos os partici-pantes de um batismo se acham plenos de fé!

E. Faraó e o Exército Egípcio Foram Sepultados no Mar Os egípcios tencionavam seguir os filhos de Israel mar adentro. Êxodo 14:23 diz: "Os egípcios, que os perseguiam, entraram atrás deles, todos os cavalos de Faraó, os seus carros e os seus cavalariamos, até ao rneio do mar". O Senhor, entretanto, confundiu o exército dos egípcios e emperrou as rodas de seus carros (v. 24-25). Deus então ordenou a Moisés que estendesse a mão sobre o mar, de modo que as águas se voltassem outra vez sobre os egípcios, sobre seus carros e sobre seus cavaleiros (v. 26). Quando Moisés agiu assim, "voltando as águas, cobriram os carros e os cavalarianos de todo o exército de Faraó, que os haviam seguido no mar, nem ainda um deles ficou" (v. 28). Faraó e o exército egípcio foram sepultados no mar. Essa é uma figura clara de que, no batismo, Satanás e o poder do mundo são sepultados. É um fato que os egípcios foram eliminados no Mar Vermelho. Mas o significado desse fato é que, quando fomos batizados, Satanás e o mundo com sua tirania foram eliminados. Quando batizamos a outros, precisamos dizer-lhes que, ao mesmo tempo em que eles próprios são sepultados no batismo, Satanás e o mundo também o são. Como é impressionante a travessia do Mar Vermelho como figura do batismo! Quando consideramos essa figura à luz do Novo Testamento, temos uma clara visão do significado do batismo.

II. SALVOS ATRAVÉS DA ÁGUA Referindo-se à água do batismo, tipificada pelo dilúvio em Gênesis, 1 Pedro 3:20 fala em ser salvo "através da água". Já enfatizamos que tanto a família de Noé quanto os filhos de Israel foram salvos através da água. Através da água, o povo de Deus foi salvo do Egito e de sua escravidão, isto é, do mundo e da sua usurpação (13:3, 14). Além disso, eles foram levados salvos para o deserto de separação, isto é, para um mundo que se destina ao cumprimento do propósito de Deus (3:18), No deserto, o povo erigiu o tabernáculo como lugar da habitação de Deus. Isso era para o cumprimento do Seu propósito. A água através da qual foram salvos e apartados do Egito introduziu-os num mundo em que não havia cativeiro nem escravidão. Nesse mundo havia liberdade para se cumprir o propósito de Deus com a edificação do tabernáculo como Seu lugar de habitação na terra. Isso mostra que através da água fomos salvos do mundo para um reino em que podemos cumprir o propósito de Deus.

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III. O LOUVOR DOS SALVOS

A. O Cântico de Moisés Imediatamente após cruzarem o Mar Vermelho, Moisés e os filhos de Israel entoaram um cântico ao Senhor (15:1-18). Essa canção deve ter sido composta por Moisés. Em Apocalipse 15:2-4, ela é mencionada como o cântico de Moisés. Em Êxodo 15, os filhos de Israel a entoaram na praia do Mar Vermelho; louvaram a Deus pela vitória sobre as forças de Faraó, por Sua libertação triunfante através das águas julgadoras do Mar Vermelho. Em Apocalipse 15, muitos vencedores a entoam novamente no mar de vidro, como indicação de que são vitoriosos sobre o poder do Anticristo, que é julgado por Deus com o fogo do mar de vidro (Ap 19:33). Em ambos os casos, o princípio é o mesmo: o povo de Deus é salvo através do mar, e pode cantar-Lhe louvores.

1. Louvando a Salvação e Vitória de Deus Em 15:1-12, os filhos de Israel louvaram a salvação e a vitória de Deus. A salvação se refere ao povo de Deus, e a vitória se relaciona ao Seu inimigo. Ao mesmo tempo. Deus derrotou o inimigo e salvou o Seu povo. Como é maravilhosa a expressão poética de louvor a esse respeito!

2. Conduzindo à Habitação e ao Reino de Deus Usando o verbo no passado, o versículo 13 diz: "Com tua beneficência guiaste o povo, que salvaste; com a tua força o levaste à habitação da tua santidade". Observe que esse ver-sículo fala da habitação de Deus, embora o templo, como Seu lugar de habitação só viesse a ser edificado séculos mais tarde. Os versículos 14 a 15 dizem que os povos temerão, que os habitantes da Filistia se sentirão pesarosos, que os príncipes de Edom se espantarão, que a hesitação alcançará os homens poderosos de Moabe, e que os habitantes de Canaã se esmorecerão. Em forma poética, essa é uma profecia no sentido de que os filhos de Israe! derrotariam os filisteus, os descendentes de Esaú e Moabe e todos os cananeus, e tomariam posse da boa terra. No versículo 17, lemos que o Senhor haveria de plantar o Seu povo no monte de Sua herança, no lugar que Ele fizera para habitar. Esse lugar é o santuário que Suas mãos estabeleceram. Atente à expressão "monte da tua herança". Embora consideremos a boa terra como herança dos filhos de Israel, Moisés aqui fala dela como a herança de Deus. Os filhos de Israel haveriam de ser plantados como organismo vivo no monte da herança de Deus. Creio que o monte aqui mencionado seja o Monte Sião. Com respeito ao santuário de Deus, esse versículo também utiliza o tempo passado: "No santuário, ó Senhor, que as tuas mãos estabeleceram". O versículo 18 refere-se ao reino: "Jeová reinará por todo o sempre" (hebraico). A habitação de Deus, a Sua casa, introduz o Seu reino. Quando Ele tiver uma habitação, uma casa na terra, o Seu reino se estabelecerá através de Sua casa. A igreja hoje é primeiramente a casa de Deus, e depois o Seu reino. Ela introduzirá o Seu reino na terra (Ef 2:19-20; Rm 14:17; Mt 16:18-19). Ao lermos 15:1-18, verificamos que o objetivo da salvacão de Deus é a edificação do Seu lugar de habitação para o estabelecimento do Seu reino. Embora Moisés não tenha entrado

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na boa terra, e muito menos presenciado a edificação do templo, ele, mesmo assim, pôde louvar o Senhor por Seu santuário, por Seu lugar de habitação. A menção da habitação de Deus aqui mostra que o batismo conduz à vida da igreja. O batismo salva as pessoas do mundo, conduzindo-as a um reino que se destina ao propósi-to de Deus. O objetivo que Ele deseja cumprir nesse reino é a edificação do Seu lugar de habitação, que é primeiramente tipificado pelo tabernáculo e depois pelo templo. O tabernáculo foi construído perto do Monte Sinai. Séculos mais tarde, o templo foi erigido no Monte Sião. Todavia, como lugar da habitação de Deus, o tabernáculo e o templo são um. O tabernáculo foi construído cerca de um ano após o êxodo do Egito, e permaneceu com o povo até quando o templo foi edificado. Os utensílios do tabernáculo foram pos-teriormente transferidos para o templo. Isso revela uma harmonia entre o tabernáculo e o templo, ambos tipificando a igreja. O objetivo de Deus, ao conduzir os filhos de Israel pelo Mar Vermelho, era ter um lugar de habitação. Antes de se construir o tabenáculo, Deus não tinha um lugar de habitação na terra. Ele somente pôde ter esse lugar de habitação após conseguir um povo que fôra redimido, que passara pelo Mar Vermelho e que entrara num reino apartado, onde se acharam livres de todo cativeiro. Êxodo 40:2 diz: "No primeiro dia do primeiro mês, levantarás o tabernáculo da tenda da congregação." Isso indica que, no primeiro dia do segundo ano, de acordo com o novo calendário, o lugar da habitação de Deus se estabeleceu entre os filhos de Israel. Não conseguiremos enfatizar suficientemente o fato de que ter esse lugar de habitação é o objetivo da salvação de Deus. Moisés sabia que o objetivo de Deus não era apenas salvar Seu povo da tirania, mas era ter um povo livre do mundo e introduzido num reino de liberdade para a edificação do Seu lugar de habitação. Porque conhecia o coração de Deus, a Sua vontade e o Seu objetivo, Moisés realmente pôde ser chamado de "homem de Deus". Ao lermos o Antigo Testamento, devemos centralizar nossa atenção nesse alvo. No capí-tulo 15, Moisés utilizou três expressões relacionadas ao objetivo de Deus: habitação, lugar de habitação e santuário. Tais expressões descrevem a mesma coisa. A habitação de Deus é o lugar onde Ele habita, e esse lugar é o Seu santuário. A igreja hoje é a habitação de Deus, o Seu lugar de habitação e o santuário. Após erigir-se o tabernáculo, estourou a guerra. Os inimigos de Deus se levantaram numa tantativa de impedir a edificação do templo. Nesses inimigos se incluíam povos tais como os edomitas, os moabitas, os filisteus e os cananous. Tais povos tipificam os que não creem, os impuros. Os descendentes de Esaú, os edomitas, tipificam aqueles que são naturais, não escolhidos, nem redimidos, nem regenerados, nem transformados. Os descendentes de Ló, os moabitas, tipificam as pessoas carnais, porque sua origem foi um ato incestuoso, uma ação grosseiramente pecaminosa e carnal. Os filisteus tipificam os cristãos mundanos, que vivem entre o Egito e a boa terra. Há hoje muitos desses cristãos mundanos. Por fim, os cananeus se referem aos poderes malignos dos lugares celestiais. Assim como os filhos de Israel foram atribulados por todos esses inimigos, assim também nós, na restauração do Senhor, somos atacados pelos poderes malignos das trevas. O alvo de todo ataque, oposição e falar maligno é impedir a edificação do lugar da habitação de Deus para o cumprimento de Seu propósito. O Seu propósito é a edificação. Esse é o Seu objetivo e também o nosso. Mas a intenção do inimigo em seu ataque é impedir que o povo de Deus atinja esse objetivo. Todavia, aos olhos de Deus, esse objetivo já foi atingido. Essa foi a razão por que Moisés usou o tempo passado ao falar da habitação de Deus. No mesmo princípio, o apóstolo João utilizou o tempo passado ao descrever a Nova Jerusalém, para indicar que, do ponto de vista de Deus, o Seu propósito de

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conseguir a edificação já se cumpriu. Todo ataque e oposição são, na verdade, sinais positivos, indicadores de que a edificação do templo de Deus está assegurada. Ao batizarmos os novos convertidos, necessitamos de fé e ousadia para falar-lhes sobre o objetivo de seu batismo. Precisamos dizer-lhes que o batismo visa a conduzi-los à habi-tação de Deus, ao monte de Sua herança, onde o Seu povo está plantado. Quando formos conduzidos ao lugar da herança de Deus, através do batismo. Ele será capaz de edificar o lugar de habitação como Seu santuário.

B. O Cântico de Miriã

Em 15:20-21, notamos que Miriã seguiu a orientação de Moisés, ao louvar a vitória de Jeová. A ordem aqui é boa e correta: os homens tomam a iniciativa, e as mulheres acom-panham. O cântico de Miriã é, na verdade, uma repetição de um trecho do cântico de Moisés. Embora louvasse o Senhor por triunfar gloriosamente, ela não mencionou a habitação de Deus. Isso indica que, embora possam ser muito zelosas e inspiradas, as irmãs podem não estar totalmente claras acerca do propósito de Deus. Os seus louvores, todavia, mesmo assim são bons. Porém, como revelam esses versículos, as irmãs devem seguir os irmãos, e não tomar-lhes a dianteira.

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EESSTTUUDDOO--VVIIDDAA DDEE ÊÊXXOODDOO

MENSAGEM TRINTA

A EXPERIÊNCIA DE ISRAEL A MARA

Leitura da Bíblia: Êx 15:22-26; Rm 6:4; 1Pe 2:24; 1Co 2:2b; Fp 3:10; Sl 103:3; Mt 8:17; 9:12

A EXPERIÊNCIA DE ISRAEL EM MARA Já enfatizamos que Êxodo é um livro de figuras a retratar a salvação de Deus revelada no Novo Testamento. Essa salvação é espiritual, misteriosa e se relaciona à vida divina. Sem as figuras do livro de Êxodo, ser-nos-ia difícil ter um bom conhecimento do signifi-cado da salvação de Deus. Por isso, em Sua sabedoria, Ele utiliza as figuras de Êxodo para descrever Sua salvação. A travessia do Mar Vermelho marcou a plenitude do primeiro estágio da salvação do povo escolhido por Deus. Esse estágio incluí três itens: a páscoa, o êxodo e a travessia do Mar Vermelho. A páscoa se relaciona ao julgamento de Deus. Pelo desfrutar do cordeiro pascal, o Seu povo foi salvo do Seu julgamento. O êxodo se relaciona à tirania de Faraó e à escravidão no Egito. O povo de Deus não apenas esteve sob o Seu julgamento, mas também sob a tirania de Faraó. Por esse motivo, eles precisavam da páscoa e também do êxodo. Por meio do êxodo, o povo foi libertado da tirania de Faraó e da escravidão egípcia. A travessia do Mar Vermelho se relaciona à destruição do exército egípcio, que pereceu nas águas do mar. Através desses três aspectos da salvação de Deus, os filhos de Israel foram salvos do Seu julgamento, da tirania de Faraó e do exército egípcio. Já realçamos que a travessia do Mar Vermelho tipifica o batismo. Primeira Corfntios 10:2 afirma que os filhos de Israel foram "todos batizados, assim na nuvem, como no mar, com respeito a Moisés". A travessia do Mar Vermelho, consequentemente, era um tipo com-pleto do batismo do Novo Testamento. De acordo com Romanos 6:4, o batismo conduz os cristãos à ressurreição. No batismo, somos mergulhados na morte de Cristo e sepultados com Ele. Ressuscitamos também igualmente em Cristo e com Ele. O resultado é que andamos em novidade de vida (Rm 6:4), isto é, em vida de ressurreição. Todos os batizados em Cristo devem andar em ressurreição. Estar em ressurreição é estar num outro reino, que se situa além da morte. Assim como o Mar Vermelho era a linha divisória entre o Egito e o deserto, também a morte de Cristo efetuada pelo batismo é a linha que separa o velho reino do reino da ressurreição. O batismo nos separa do mundo e nos in-troduz no reino de ressurreição.

I. TRÊS DIAS DE JORNADA DO MAR VERMELHO AO DESERTO DE SUR De acordo com 15:22, "fez Moisés partir Israel do Mar Vermelho, e saíram para o deserto de Sur; caminharam três dias no deserto". Nos escritos de Moisés, o deserto tem tanto um significado positivo quanto um negativo. A maioria dos cristãos, todavia, apenas ouviu que existe um significado negativo. Muitos dos que leem Êxodo poderão surpre-ender-se, ao ouvir que o deserto, neste versículo, tipifica ressurreição. Para o compre-

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endermos ade-quadamente, precisaremos de um conhecimento adequado da Bíblia e também de certa dose de experiência espiritual. O Mar Vermelho foi criado por Deus como batistério para os filhos de Israel. Isso mostra que, até mesmo em Sua criação, Deus realizou alguns preparativos para tipificar a salvação de Seu povo. As características geográficas tipificam coisas espirituais. A África fica a oeste do Mar Vermelho, e a Ásia, a leste. A palavra "Sur" significa "muro", e o nome "Migdol", mencionado em 14:2, significa "fortaleza". De acordo com alguns historiadores, havia um muro de separação para proteger a terra do Egito, uma muralha que começava no Mar Mediterrâneo e terminava em Sur. Depois que os filhos de Israel atravessaram o Mar Vermelho, vagaram por três dias no deserto de Sur (15:22). A coluna de nuvem os guiou até o sul, na direção de Mara. Para compreendermos o sentido espiritual desses dados geográficos, precisaremos considerar esta porção da Palavra de acordo com a revelação no Novo Testamento e também segundo nossa experiência. Já enfatizamos que o batismo conduz os cristãos à ressurreição. Já realçamos também que o Mar Vermelho foi o batistério em que os filhos de Israel foram batizados. Assim, depois de batizados no Mar Vermelho, foram eles introdu-zidos na ressurreição. De acordo com 3:18 e 5:1, Moisés disse a Faraó que permitisse a saída dos filhos de Israel, de modo a empreenderem uma viagem de três dias deserto adentro e lá sacrificarem ao Senhor seu Deus, celebrando-Lhe uma festa. Essa viagem de três dias tipifica a ressurreição. Isso quer dizer que foi em ressurreição que o povo de Deus se apartou do Egito. Por esse motivo, o deserto é um reino de separação. Precisamos agora prosseguir, para observarmos que o deserto também tipifica o reino da ressurreição. Nós o afirmamos de acordo com a revelação do Novo Testamento acerca do batismo e também conforme a nossa experiência. O batismo nos introduz na ressur-reição. Tão logo um cristão seja batizado, ele terá a sensação de que foi conduzido do velho reino para um novo, o reino da ressurreição. Romanos 6:4 nos exorta a, tendo sido batizados em Cristo, andarmos em novidade de vida. Sem dúvida, andar em novidade de vida significa viver no reino de ressurreição. De acordo com o tipo de Êxodo, esse reino é o deserto de Sur. Assim, o deserto de Sur é um tipo do reino de ressurreição. Como vimos, ele também tipifica um reino de separação. Quando entraram nesse reino, os filhos de Israel foram apartados do Egito tanto pelo Mar Vermelho quanto pela muralha. Lemos em 15:22 que os filhos de Israel "caminharam três dias no deserto". Sendo três o número da ressurreição, isso significa que eles andaram em ressurreição, ou seja, em novi-dade de vida. É significativo que a viagem do Mar Vermelho à Mara tenha durado exata-mente três dias, não dois, quatro, nem três e meio. De acordo com uma notação ao texto da Versão Ampliada, a distância entre o Mar Vermelho e Mara era de trinta e três milhas. É

claro que os filhos de Israel poderiam perfazer essa distância em menos de três dias. Preci-samos crer que o ritmo da sua viagem estava debaixo do controle e da orientação soberana de Deus. O fato de eles viajarem por três dias é um retrato do andar em ressurreição. Quando os filhos de Israel estavam no deserto, certamente andaram de maneira diferente daquela de Gósen. Em Gósen, eles não tinham a coluna de nuvem; mas, no deserto, andaram eles de acordo com a orientação dessa coluna. Foram guiados pela presença do Senhor para trilharem um novo caminho. Talvez você esteja imaginando por que a Bíblia utiliza o deserto para tipificar a ressur-reição, já que, geralmente, não imaginamos a ressurreição como um deserto. Aos que foram batizados em Cristo, a ressurreição não é um deserto; mas o é aos olhos das pessoas do mundo. Após sermos batizados, nossos parentes e amigos poderão pensar que entra-mos num tipo de deserto. Antes disso, estávamos no Egito, desfrutando dos "alhos", "pepi-

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nos" e "cebolas" egípcios, e nossos parentes e amigos estavam contentes conosco. Mas, por crermos no Senhor Jesus e sermos batizados, fomos introduzidos num novo reino, consi-derado por nossos parentes e amigos como um deserto. Porém, aos olhos de Deus, esse deserto é na verdade um reino de ressurreição. Se tivermos a visão celestial, perceberemos que o reino em que entramos através do batismo não é um deserto, mas um reino de separação e ressurreição. Nesse reino andamos em ressurreição, de acordo com a orientação do Senhor. Louvado seja o Senhor, porque em Sua criação Deus providenciou até mesmo aspectos geográficos, a fim de apresentar um quadro de Sua salvação. De acordo com 12:37, os filhos de Israel viajaram de Ramassés a Sucote. Deixando Sucote, eles por fim se acamparam entre Migdol e o mar (14:2). Deus não guiou o Seu povo "pelo caminho da terra dos filisteus, posto que mais perto" (13:17). Embora esse fosse o caminho normal para as pessoas viajarem do Egito à terra de Canaã, Deus, em vez disso, guiou Seu povo em direção ao sul, e depois os conduziu ao Mar Vermelho, de modo que lá pudessem ser batizados. Aos olhos de Faraó, era tolice que eles tomassem esse caminho. Ele pensava que eles haviam sido apanhados à margem do mar e não tinham como fugir. Aos olhos do homem, o caminho de Deus era tolice. Este, entretanto, planejava conduzir Seu povo através do Mar Vermelho, para dentro do deserto de Sur. Além disso, após guiá-los através do mar, não os conduziu rumo ao norte, segundo a geografia. Levou-os de pro-pósito para o sul, numa viagem de três dias, até Mara.

II. NÃO ÁGUA DE MANEIRA NATURAL Lemos, em 15:22, que, durante essa viagem de três dias pelo deserto, os filhos de Israel não acharam água. Isso quer dizer que, no reino de ressurreição, não existe água natural nem suprimento natural. Após sermos batizados e introduzidos no reino de ressurreição, poderemos esperar receber determinado tipo de ajuda, vinda da água natural. Antes de sermos salvos, quando vivíamos no velho reino do mundo, tínhamos um suprimento abundante de água natural do Nilo. Mas, no reino da ressurreição, não existe essa água.

III. AS ÁGUAS DE MARA Deus guiou o povo até Mara, que significa "amargo". Êxodo 15:23 registra: "Afinal chegaram a Mara; todavia não puderam beber as águas de Mara, porque eram amargas: por isso chamou-se-lhe Mara". O fato de Deus guiar Seu povo até Mara indica que, quando andarmos no reino da ressurreição, Deus nos guiará a um lugar de amargor, à Mara. A coluna de nuvem guiou o povo a um lugar onde havia águas, mas estas eram amargas. Quando o povo descobriu que eram amargas, "murmurou contra Moisés, dizendo: Oue havemos de beber?" (v. 24}. Assim como os filhos de Israel, nós também murmuramos e nos queixamos das nossas situações amargas. Muitas vezes, já dissemos de maneira queixosa: "O que farei? O que beberemos? Que tipo de ajuda é essa?" Se eu fosse Moisés, diria ao povo que não se queixasse a mim. Lembrar-lhes-ia que haviam sido guiados a esse lugar pela mesma nuvem que os protegera de Faraó e seu exército há apenas três dias. Mas, como verdadeiro servo do Senhor, em vez de lutar contra esse povo murmurador e queixoso, Moisés clamou ao Senhor (v. 25). Em resposta, o Senhor lhe mostrou uma árvore (v. 25). Quando Moisés a atirou nas águas, estas se tornaram doces. Primeira Pedro 2:24 revela que essa árvore tipifica a cruz de Cristo. Assim, a árvore que purificou as águas amargas se relaciona à cruz em que o Senhor foi crucificado. A cruz de Cristo, a única cruz, é a cruz purificadora.

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Essa figura corresponde à nossa experiência espiritual. Após sermos batizados e come-çarmos a andar em novidade de vida, ficamos atribulados por falta de água natural. Por um lado, somos como o povo que se queixou e murmurou. Por outro, somos como Moisés que clamou ao Senhor. Quando clamamos ao Senhor em oração, Ele nos mostra a visão do Cristo crucificado. Precisamos ter a visão da cruz. Com essa visão, aplicamos a cruz de Cristo à nossa situação, e imediatamente as águas amargas se tornam doces. Tenho plena certeza de que todos os que realmente foram batizados para dentro de Cristo já tiveram esse tipo de experiência. As nossas experiências podem diferir em grau: mas, em princípio e em natureza, elas são as mesmas. De acordo com Romanos 6:4, após sermos batizados, andamos no reino de ressurreição, em novidade de vida. Esse reino é o verdadeiro deserto de Sur, um reino onde somos apartados do mundo pela muralha e pelo mar. Quando andamos nesse reino, não temos recursos naturais e enfrentamos muito amargor. Mas, em ressurreição, podemos experi-mentar a cruz da Cristo e viver uma vida crucificada. Ao agirmos assim, nossa situação amarga se torna doce. No ano passado, minha esposa e eu chegamos a uma verdadeira Mara, a uma situação muito amarga. Mas, porque andávamos no reino da ressurreição, pudemos experimentar a cruz do Senhor Jesus e viver uma vida crucificada. Desfrutamos ricamente da árvore purificadora lançada na situação amarga. Essa árvore fez com que as águas amargas se tornassem doces. Por essa razão, liberei várias mensagens no ano passado sobre a vida crucificada. Sim, minha esposa e eu sofremos pelo amargor de nossa situação. Entretanto, por fim, desfrutamos de doçura, porque a árvore purificadora com a vida crucificada foi aplicada à nossa situação. Essa é a maneira de se experimentar e desfrutar a morte de Cristo no reino da ressurreição. Tudo o que experimentarmos no reino da ressurreição será uma experiência em ressur-reição. No deserto de Sur, os filhos de Israel experimentaram a cruz de Cristo em ressur-reição. As águas amargas de Mara se tornaram doces no reino do deserto. No mesmo princípio, no reino da ressurreição experimentamos a morte de Cristo tornando nosso amargor em doçura. Que o Senhor possa dar-nos mais experiências disso. Não experimentamos as águas amargas de Mara de uma vez por todas. Enquanto viver-mos na terra, andaremos no reino da ressurreição e chegaremos a Mara muitas vezes. A experiência dos filhos de Israel em Mara retrata um princípio, não apenas um incidente. Esse princípio é fundamental em nossa vida cristã. Quando andamos no reino da ressur-reição, sentimos sede, e isso para descobrirmos que não existe água natural que supra a nossa necessidade. Somente as águas de amargor se acham disponíveis. Sempre que estivermos em tal situação, precisaremos ter a visão da árvore e depois aplicar essa árvore à nossa situação. Essa árvore então purificará a nossa situação e tornará as águas amargas em doces.

IV. O SENHOR SENDO O PURIFICADOR Imediatamente após as águas se tornarem doces, o Senhor deu ao povo estatutos e uma ordenação, "e ali os provou" (v. 25). E depois disse: "Se ouvires atento a voz de Jeová teu Deus, e fizeres o que é reto diante dos seus oihos, e deres ouvidos aos seus mandamentos, a guardares todos os seus estatutos, nenhuma enfermidade virá sobre ti, das que enviei sobre QS egípcios; pois eu sou Jeová que te sara" (hebraico, Jeová Rofeca, v. 26). Ao ler pela primeira vez essa promessa, não pude compreender por que ela era mencionada imediata-mente após a purificação das águas amargas. Se o considerarmos à luz de nossa expe-

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riência, perceberemos que a cruz de Cristo não apenas sara a nossa situação amarga, mas também nos cura. Não só as águas de nossa situação estão amargas, mas nós mesmos também estamos amargos e precisamos de purificação. O nosso próprio "ego" é amargo. Em outras palavras, o "ego" está doente. Somos doentes física, psicológica e também espi-ritualmente. Existe amargor em nosso corpo, alma e espírito. Quando me acho em situação amarga, o Senhor frequentemente me indica a cruz de Cristo. Percebo que preciso tomar a cruz e viver uma vida crucificada. Isso me salva de mi-nha situação amarga, e esta é purificada. Todavia o Senhor com frequência me mostra simultaneamente que existe amargor dentro de mim. Vejo o amargor em meu "ego" e tam-bém na situação à minha volta. Também vejo o amargor existente em todo o meu ser, em meu espírito, alma e corpo, e percebo que preciso aplicar a cruz de Cristo a todos os aspec-tos do meu ser. Espiritual, psicológica e fisicamente, eu preciso da aplicação da cruz de Cristo. Muitas vezes experimentei a purificação do Senhor dessa maneira. Ao mesmo tempo em que minha situação era purificada, também eu o era interiormente. Tanto em minha situação quanto em meu ser, o amargor era transformado em doçura. Você pode pensar que não tem necessidade de ser purificado em sua mente, emoção ou vontade, e muito menos em seu espírito. Permita-me dizer que todos nós temos problemas com essas partes do nosso ser. Quer sejamos velhos ou jovens, homens ou mulheres, estamos enfermos em nossa mente, emoção e vontade. Estamos enfermos até mesmo em nosso espírito. Antes de ser salvo, minha vontade não funcionava corretamente. Devendo tomar determinada decisão, ela falhava ao fazê-lo. Mas, quando não devia decidir, de certo modo, ela assim o fazia. Você já não experimentou algo semelhante? Além disso, nossa emoção pode não ser equilibrada. Quando estamos contentes, podemos rejubilar-nos sem restrições; e, quando choramos, fazemo-lo sem freios. Por isso, precisamos de muita purificação. Nós o percebemos sempre que a árvore purificadora é lançada em nossas situações amargas. Ao andarmos no reino da ressurreição, seremos conduzidos a Mara repetidas vezes. Toda vez que experimentamos a árvore purificadora lançada em nossa situação, esponta-neamente percebemos que algo em nosso interior precisa ser curado. Podemos sentir a necessidade de purificação em nossa mente, ou perceber que nossa vontade precisa ser ajustada, ou verificar que nossa emoção precisa ser equilibrada. Outras vezes podemos ficar cônscios de que o nosso espírito está amargo com relação a outros, e precisa ser curado. Assim como provou os filhos de Israel em Mara, o Senhor usa nossa experiência da Sua cruz em situações amargas, para nos testar e provar. Ao provar-nos, Ele nos mostra onde estamos e o que somos. Expõe nossos motivos, intenções e desejos. Nada nos prova mais do que a experiência da cruz. A experiência da cruz em situações amargas nos prova e expõe todos os aspectos de nosso ser. Ao sermos expostos dessa maneira, deveremos orar: "Senhor, preciso de Ti e preciso de novas experiências da cruz. Preciso lançar a árvore não só na minha situação, mas também no meu próprio ser. Preciso aplicar essa árvore à minha mente, emoção e vontade. Preciso aplicá-la ao meu espírito e ao meu comporta-mento em relação aos outros". Através dessa aplicação da cruz, o Senhor nos purifica. Esse tipo de purificação é muito diferente das assim chamadas curas que ocorrem nas campanhas de cura. Já frequentei tais campanhas, e nem uma só vez presenciei uma cura genuína. A verdadeira cura ocorre quando recebemos o tratamento da cruz. Somos curados quando somos subjugados e depois atentamos à voz de Deus, ouvindo Seus esta-tutos e obedecendo aos Seus mandamentos. A vida de ressurreição de Cristo então se torna o nosso poder purificador, e o Senhor se torna Aquele que nos sara.

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Através de Sua obra de redenção, Cristo tenciona ser o nosso Purificador. Falando das curas efetuadas pelo Senhor Jesus, Mateus 8:17 diz: "Para que se cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta Isaías: Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças". Todas as curas efetuadas ao homem caído se realizam pela re-denção do Senhor. Através de Sua redenção, o Senhor é Aquele que nos sara. Em Mateus 9:12, o Senhor se mostra como o nosso médico: "Mas Jesus, ouvindo, disse: Os sãos não precisam de médico, e, sim, os doentes." Como nosso médico, Ele cuida de nós não só fisicamente, mas também psicológica e espiritualmente. Ele é capaz de curar todo o nosso ser. Primeira Pedro 2:24 diz: "carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos aos pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas fostes sarados". Esse versículo mostra que a cruz é a árvore e que Aquele que morreu na cruz é o nosso Purificador. Ele foi crucificado para a nossa cura. Se quisermos experi-mentar da Sua cura, precisamos estar identificados com Sua crucificação. Suponha, por exemplo, que você tenha problemas estomacais. Para ser curado dessa doença, você precisa de que seu estômago se identifique com a cruz de Cristo. Se o seu estômago se identificar com a crucificação de Cristo, o Cristo crucificado tornar-se-á o seu Purificador. A sua úlcera estomacal pode ser causada pelo viver de acordo com o "ego". Em seu comer, você precisa do tratamento da cruz. A cruz precisa tratar o "ego" com relação ao comer. No mesmo princípio, a sua mente pode estar enferma porque nunca foi tratada pela cruz, nunca foi identificada com a crucificação de Cristo. O mesmo pode ser verdade com relação ao seu espírito. Pode ser que o seu espírito não esteja correto, ou então esteja impuro. A razão da impureza ou da falta de correção é que o seu espírito não foi tocado pela cruz de Cristo. Alguns irmãos não permitiram que suas atitudes com relação às suas esposas fossem tratadas pela cruz. Por essa razão, eles se acham doentes em seu relacionamento com suas esposas. Por conseguinte, têm a necessidade de curar sua vida conjugal. Essa cura vem somente através da aplicação da cruz de Cristo. Esse princípio deve ser aplicado a todas as partes do nosso ser. A palavra do Senhor em Êxodo 15:26 revela que, aos Seus olhos, os filhos de Israel esta-vam doentes e precisavam de cura. Caso contrário, Ele não teria utilizado o título "Jeová que te sara". Como o Senhor Jesus disse, só os doentes é que precisam de médico. O fato de os filhos de Israel precisarem de Jeová como Aquele que sara mostra que eles estavam doentes. O mesmo é verdade conosco atualmente. Em certas partes do nosso ser íntimo, ainda estamos doentes e carentes da cura do Senhor. Como já enfatizamos, o processo de cura ocorre quando somos tocados pela cruz de Cristo. A única maneira de sermos tocados pela cruz, é termos a visão da árvore e a lançarmos no exato lugar que precisa ser curado. Se sua mente está amarga, lance a árvore nela. Se sua atitude em relação a alguém ou a algo está amarga, lance a árvore em sua atitude. Faça o mesmo com todos os aspectos de seu ser, e pouco a pouco você será curado. Sempre que experimentarmos a cruz de Cristo, teremos uma percepção mais profunda de nossa necessidade de sermos curados através do toque da cruz. Precisamos ser identificados com a crucificação de Cristo através da aplicação de Sua cruz a todas as partes do nosso ser que se acham amargas e doentes. Aí então tais partes serão curadas. Desse modo, todo dia e até mesmo a toda hora, o Senhor Jesus se tornará Aquele que nos cura. Quanto mais formos curados pelo Senhor, mais teremos um ouvido para ouvir a Sua voz, um coração para guardar Seus estatutos, e uma boa vontade para obedecer-Lhe. Se

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não formos curados, permaneceremos rebeldes em todos os aspectos do nosso ser. O nosso ser natural é constituído de rebelião, porque o elemento rebelião está em todo o nosso íntimo. Como precisamos ser curados pela visão da cruz e por tê-la aplicada a nós! Preci-samos ver a árvore em que Cristo foi crucificado, aplicando-a posteriormente a todas as partes do nosso ser. Precisamos permitir que a cruz de Cristo prove nossas partes interiores. Quando ela for aplicada ao nosso ser, nossas partes interiores serão curadas e subjugadas. Ai então tais partes ouvirão a voz do Senhor, obedecerão à Sua voz e guar-darão os Seus estatutos. Como resultado, essas partes se tornarão uma com o Senhor de maneira prática. Que todos experimentemos essa cura dia a dia.