estudo teológico sobre o credo apostólico

54
INTRODUÇÃO Como todos nós cristãos temos conhecimento, cada denominação possui um conjunto de doutrinas ao qual julga como bíblico e verdadeiro. E pelo qual firma sua ética e crenças. A Igreja Presbiteriana do Brasil também possui suas doutrinas derivadas de nossa interpretação das Escrituras. Elas se encontram sistematizadas essencialmente em três documentos históricos denominados ―Símbolos de Westminster‖ (Confissão de Fé de Westminster, Catecismo Maior de Westminster, e Breve Catecismo de Westminster). Além destes documentos, a Igreja Presbiteriana do Brasil, como uma igreja protestante conservadora, também aceita o muito conhecido Credo Apostólico como afirmação de crenças fundamentais da fé cristã. Em questões de decisão doutrinária a IPB adota as doutrinas sistematizadas que se encontram nos Símbolos de Fé de Westminster, e não o Credo Apostólico. Contudo, nesta revista estudaremos mais pormenorizadamente o Credo Apostólico, devido ao fato de ele expressar as doutrinas fundamentais da fé cristã, e devido ao fato de que os documentos de Westminster serem bastante longos e de muito conteúdo, difícil de se expor por meio de uma revista teológica como esta. Sobre estes documentos damos simplesmente uma explicação introdutória para que os estudantes possam compreender mais a respeito deles. Porém, o estudo de seu conteúdo ficará por enquanto por conta de cada leitor individualmente. Mas apesar de serrem documentos diferentes, nossos estudos a respeito do Credo estão sendo interpretados de acordo com a visão dos Símbolos de Fé de Westminster. Ou seja, visto ―pelos olhos‖ da Confissão e dos Catecismos de

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INTRODUÇÃO

Como todos nós cristãos temos conhecimento, cada denominação possui um

conjunto de doutrinas ao qual julga como bíblico e verdadeiro. E pelo qual firma sua

ética e crenças. A Igreja Presbiteriana do Brasil também possui suas doutrinas derivadas

de nossa interpretação das Escrituras. Elas se encontram sistematizadas essencialmente

em três documentos históricos denominados ―Símbolos de Westminster‖ (Confissão de

Fé de Westminster, Catecismo Maior de Westminster, e Breve Catecismo de

Westminster). Além destes documentos, a Igreja Presbiteriana do Brasil, como uma

igreja protestante conservadora, também aceita o muito conhecido Credo Apostólico

como afirmação de crenças fundamentais da fé cristã.

Em questões de decisão doutrinária a IPB adota as doutrinas sistematizadas que

se encontram nos Símbolos de Fé de Westminster, e não o Credo Apostólico. Contudo,

nesta revista estudaremos mais pormenorizadamente o Credo Apostólico, devido ao fato

de ele expressar as doutrinas fundamentais da fé cristã, e devido ao fato de que os

documentos de Westminster serem bastante longos e de muito conteúdo, difícil de se

expor por meio de uma revista teológica como esta. Sobre estes documentos damos

simplesmente uma explicação introdutória para que os estudantes possam compreender

mais a respeito deles. Porém, o estudo de seu conteúdo ficará por enquanto por conta de

cada leitor individualmente.

Mas apesar de serrem documentos diferentes, nossos estudos a respeito do

Credo estão sendo interpretados de acordo com a visão dos Símbolos de Fé de

Westminster. Ou seja, visto ―pelos olhos‖ da Confissão e dos Catecismos de

2

Westminster. Examinamos o Credo desta forma devido ao fato de que os Símbolos de

Westminster conterem muito mais explicação e definição teológica do que no Credo.

Sendo assim, eles podem explicar melhor, e mais profundamente, as afirmações gerais

que o Credo faz. O Credo é mais sintetizado e superficial quanto as afirmações

teológicas. De modo que, na Confissão de Fé e nos Catecismos de Westminster, nós

podemos encontrar um ótimo comentário das doutrinas encontradas no Credo.

Nosso desejo é que o leitor, ao ler doutrinas expostas no Credo, possam

aprender, e entender, os pontos fundamentais do cristianismo ali declarados.

Deus abençoe seus estudos!

Pr. Alberto Simonton

3

Estudos TÍTULOS páginas

Nº 1 HISTÓRIA, DIFERENÇAS E CARACTERÍSTICAS

DO CREDO APOSTÓLICO, CONFISSÃO E CATECISMOS DE WESTMINSTER

05

Nº 2

ESTRUTURA, AUTORIDADE, IMPORTÂNCIA E UTILIDADE

DO CREDO APOSTÓLICO, CONFISSÃO E CATECISMOS DE WESTMINSTER

10

Nº 3

“CREIO EM DEUS PAI TODO-PODEROSO...” (1º Seção)

19

Nº 4

“... CRIADOR DO CÉU E DA TERRA...” (1º Seção)

23

Nº 5

“CREIO EM JESUS CRISTO, SEU ÚNICO FILHO, NOSSO SENHOR...” (2ª Seção)

28

Nº 6

“... O QUAL FOI CONCEBIDO POR OBRA DO ESPÍRITO SANTO,

NASCEU DA VIRGEM MARIA...” (2ª Seção)

32

Nº 7

“... PADECEU SOB O PODER DE PÔNCIO PILATOS, FOI CRUCIFICADO...”

(2º Seção)

35

Nº 8

“... MORTO E SEPULTADO; DESCEU AO HADES...” (2º Seção)

38

Nº 9

“RESSURGIU DOS MORTOS AO TERCEIRO DIA; SUBIU AO CÉU; ESTÁ ASSENTADO À MÃO DIREITA DE

DEUS PAI TODO-PODEROSO, DE ONDE HÁ DE VIR PARA JULGAR OS VIVOS E OS

MORTOS.” (2º Seção)

40

Nº 10

“CREIO NO ESPÍRITO SANTO; NA SANTA IGREJA UNIVERSAL;

NA COMUNHÃO DOS SANTOS...” (3º Seção)

45

Nº 11

“NA REMISSÃO DOS PECADOS; NA RESSURREIÇÃO DO CORPO; NA VIDA ETERNA. AMÉM.”

(3º Seção)

49

4

HISTÓRIA, DIFERENÇAS E CARACTERÍSTICAS DO CREDO APOSTÓLICO, CONFISSÃO E CATECISMOS DE

WESTMINSTER

Introdução

Em meio ao caos em que se encontram as igrejas protestantes de hoje, onde

não há uma preocupação em ser fiel ao conteúdo das Escrituras, faz-se necessário

prender-nos cada vez mais às doutrinas desenvolvida pela Igreja com o passar dos anos.

Para isto, um bom caminho para nós reformados é voltar nossa atenção para o estudo do

Credo Apostólico, da Confissão de Fé e dos Catecismos de Westminster, os quais

adotamos como sendo fiéis ao ensino da Palavra de Deus.

I - A HISTÓRIA DA CONFISSÃO E DOS CATECISMOS DE WESTMINSTER

Os documentos que conhecemos hoje como Confissão de Fé de Westminster,

Catecismo Maior de Westminster, e Breve Catecismo de Westminster, foram todos

produzidos por uma assembléia convocada pelo Parlamento inglês para elaborar os

princípios de governo, doutrina e culto que deviam reger as atividades religiosas na

Inglaterra, Escócia e Irlanda. Esta Assembléia, constituída de clérigos anglicanos,

congregacionais, independentes, batistas e presbiterianos, teve suas reuniões em uma

das salas da Abadia de Westminster, na cidade de Londres na Inglaterra, no período que

de 01/07/1643 a 22/02//1649. Durante esta Assembléia houve 1163 reuniões do plenário

e centenas de reuniões de comissões e subcomissões. Nela ―trabalharam no texto da

confissão 121 teólogos e 30 leigos nomeados pelo Parlamento (20 da Casa dos Comuns

e 10 da Casa dos Lordes), 8 representantes escoceses‖.1

Foi um grande feito para as igrejas reformadas, e os documentos oriundos não

foram de forma alguma produzidos de modo ―leviano‖. Muita responsabilidade e

cuidado envolvia esta reunião:

Os teólogos mais eruditos daquele tempo tomaram parte nos

trabalhos da Assembléia. A Confissão de Fé e os Catecismos

foram discutidos ponto por ponto, aproveitando-se o que

havia de melhor nas Confissões já formuladas, e o resultado

foi a organização de um sistema de doutrina cristã baseado na

1 http://www.teuministerio.com.br/BRSPIGBSDCMCMC /vsItemDisplay.dsp&objectID =C9F2EC3B-292E-4D9E-

853183986D1DC489&method=display. Acessado em 31.07.08.

5

Escritura e notável pela sua coerência em todas as suas

partes.2

A Assembléia trabalhou muito, mas enfim, produziu vários materiais para usos

eclesiásticos. Vejamos o que esta Assembléia produziu:

Durante seus cinco anos e meio de atividade, a Assembléia de

Westminster produziu os chamados Padrões Presbiterianos...

Os Padrões Presbiterianos, na ordem em que foram

concluídos pela Assembléia, são os seguintes: (a) Diretório

do Culto Público a Deus: foi concluído em dezembro de

1644 e aprovado pelo Parlamento em janeiro de 1645.

Substituiu o Livro de Oração Comum. (b) Forma de Governo

Eclesiástico e Ordenação: foi concluída em novembro de

1644 e aprovada pelo Parlamento em 1648. Era uma forma

presbiteriana de governo e substituiu o episcopalismo na

Igreja da Inglaterra. (c) Confissão de Fé: foi concluída em

dezembro de 1646 e aprovada pelo Parlamento em março de

1648. (d) Catecismos Maior e Breve: foram concluídos no

final de 1647 e aprovados pelo Parlamento em setembro de

1648. (e) Saltério: versão métrica dos salmos para o culto;

havia várias versões concorrentes, mas a de Francis Rous,

membro do Parlamento e da Assembléia, foi finalmente

aprovada em novembro de 1645, após uma extensa revisão.

Foi aprovado pelo Parlamento no ano seguinte.3

Apesar a Igreja Presbiteriana do Brasil adotar alguns dos documentos

Assembléia de Westminster (Confissão de Fé e Catecismos), o texto que ela adota hoje

em dia não é o texto exato que foi produzido naquelas reuniões. Houve algumas

modificações e acréscimos que passaremos a observar a seguir:

No tempo em que se reuniu a Assembléia, e por muito tempo

antes, todos sustentavam a necessidade da união da Igreja e

do Estado, e originalmente havia no Capítulo que trata do

Magistrado Civil uma seção ensinando essa necessidade.

Ao formar-se a Igreja Presbiteriana nos Estados

Unidos da América do Norte, em 1788, essa seção foi

omitida, pois ali quase todos entendiam que a Igreja devia

2 J.M.K, Confissão de Fé e Catecismo Maior da Igreja Presbiteriana. Cambuci, Cultura Cristã, 1987.

3 Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. Acessado em 17/07/07.

6

estar livre de toda união com o Estado, sendo ambos livres e

independentes na esfera que lhes pertence.

Em 1887, ou quase cem anos mais tarde, a Igreja

geralmente chamada Igreja do Norte eliminou a última parte

da Seção IV do Capítulo XXIV, que dizia: "O viúvo não pode

desposar nenhuma parente carnal de sua mulher nos graus de

parentesco em que não possa desposar uma das suas próprias

parentes, nem a viúva poderá casar-se com um parente carnal

de seu marido nos graus de parentesco em que não possa

casar-se com um de seus próprios parentes". O Sínodo do

Brasil organizado em 1888, fez igual eliminação.

No ano 1903 a mesma Igreja do Norte dos Estados

Unidos fez outras emendas mais importantes que, por serem

de interesse geral, ficam aqui registradas. As duas Seções que

foram modificadas, rezam do modo seguinte:

CAPÍTULO XVI, SEÇÃO VII: ―As obras feitas pelos não

regenerados, embora sejam quanto à matéria. coisas que Deus

ordena e em si mesmas louváveis e úteis, e embora o

negligenciá-las seja pecaminoso e ofensivo a Deus, não

obstante, em razão, de não procederem de um coração

purificado pela fé, elas não são feitas devidamente - segundo

a Palavra - nem para um fim justo - a glória de Deus - ficam

aquém do que Deus exige e não podem preparar homem

algum para receber a graça de Deus.‖

CAPÍTULO XXV, SEÇÃO VI: “Nosso Senhor Jesus Cristo

é o único Cabeça da Igreja, e a pretensão de qualquer homem

ser vigário de Cristo e cabeça da Igreja, é contrária à

Escritura nem tem base alguma na História e é uma

usurpação que desonra a nosso Senhor Jesus Cristo.‖4

Além destas modificações, também foi realizado um acréscimo de mais dois

Capítulos à Confissão de Fé pela Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América (a

Igreja do Norte) em 1903: Capítulo XXXIV - DO ESPÍRITO SANTO; Capítulo XXXV

- DO AMOR DE DEUS E DAS MISSÕES.

II - A HISTÓRIA DO CREDO APOSTÓLICO

Apesar de muitos acharem que o Credo Apostólico é parte da crença e prática

exclusivamente da Igreja Apostólica Romana, isto não é verdade. As cláusulas que o

4 J.M.K, Confissão de Fé e Catecismo Maior da Igreja Presbiteriana.

7

constituem foram aceitas até mesmo pelos Reformadores. Este Credo não pertence à

igreja Católica, mas expressa doutrinas universalmente cristãs. O fato de ser chamado

de ―apostólico‖ não tem a ver com a Igreja Católica, antes, ―ele é chamado Apostólico

por incluir ensinamentos que a Igreja abraça desde os tempos apostólicos.‖5 Alguns até

mesmo chegaram a pensar que esta declaração veio realmente dos Apóstolos de Cristo.

Porém, isto não é verdade: ―... Há também quem suponha que o credo apostólico foi

escrito pelos apóstolos. Aliás, já uma lenda do quarto século afirmava isso,

acrescentando que cada um escrevera uma cláusula. O fato, porém, é que o credo não

possui doze cláusulas. Mesmo assim a lenda continuou na moda até o século 15.‖6

Na verdade este Credo tem sua origem não de um texto produzido pelos

apóstolos, mas ―segundo alguns historiadores o credo apostólico surgiu a partir de um

outro, conhecido como Antigo Credo Romano, do segundo século.‖7

Como podemos perceber, a origem do Credo Apostólico é diferente da origem

da Confissão e dos Catecismos de Westminster. Enquanto estes foram elaborados e

aprovados por uma Assembléia constituída por clérigos, ―o Credo Apostólico não foi

escrito nem aprovado por algum concílio eclesiástico num tempo específico. Antes, ele

tomou forma de modo gradual desde cerca de 200 d.C até 750 d.C.‖8 Ele ―não surgiu do

dia para a noite e nem teve data de lançamento marcada com antecedência.‖9

III - AS CARACTERÍSTICAS DIVERGENTES DO CREDO, CONFISSÃO E CATECISMOS

A história da Igreja demonstra que sempre houve a necessidade de se

estabelecer as verdades contidas nas Escrituras contra as heresias que surgem

constantemente. Daí surgiram os Credos e Confissões. Dos credos existentes falaremos

somente do Credo dos Apóstolos. E das Confissões que foram produzidas, nós vamos

falar somente da Confissão e dos Catecismos formulados em Westminster, visto que

estes é que foram adotados pela Igreja Presbiteriana do Brasil.

Mesmo sendo útil á Igreja do Senhor, os credos, Confissões e Catecismos

possuem cada um suas características peculiares. Ou seja, tanto os Credos são diferentes

das Confissões, quanto as Confissões são diferentes dos Catecismos. Todavia, sem

prejuízo de conteúdo, ou contradições de doutrinas.

5 Declaração de Fé in Revista O Credo Apostólico. São Paulo, Cultura Cristã, 06.

6 Credo Apostólico – Creio na santa Igreja universal in Revista História da Igreja – Os Primeiros Séculos. São Paulo,

Cultura Cristã, p 61.

7 Credo Apostólico – Creio na santa Igreja universal in Revista História da Igreja – Os Primeiros Séculos. São Paulo,

Cultura Cristã, p 61.

8 Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 489.

9 Credo Apostólico – Creio na santa Igreja universal in Revista História da Igreja – Os Primeiros Séculos. São Paulo,

Cultura Cristã, p 61.

8

Devido ao fato de nosso estudo se deter no Credo dos Apóstolos e na Confissão

de Fé de Westminster, observemos as diferenças que estes contém. ―O Credo é a

fórmula de uma fé pessoal e principia com a palavra ―Creio‖. A Confissão de Fé de

Westminster segue o plano adotado no tempo da Reforma, é mais elaborada e apresenta

um pequeno sistema de teologia.‖10

O conteúdo do Credo Apostólico é muito resumido

em seus tópicos, e desprovido de detalhes. Enquanto o texto da Confissão de Fé é bem

mais longo e elaborado, dificultando possíveis más interpretações, ou afirmações

heréticas: ―Através da História, na medida em que as heresias se tornaram mais

numerosas e complexas, as declarações confessionais da Igreja se tornaram mais

elaboradas. As declarações doutrinárias ficaram mais detalhadas para lidarem

efetivamente com as sutis artimanhas dos heréticos.‖11

Os Catecismos por sua vez são elaborados não para declarar a fé (como no caso

do Credo e da Confissão), mas foram construídos especialmente para a instrução. Neste

caso, seu texto não contém afirmações teológicas, mas sim, perguntas relacionadas às

doutrinas confessionais. Evidentemente, todas as respostas do Catecismo maior e do

Breve Catecismo concordam com as doutrinas declaradas na Confissão de Fé.

10 J.M.K, Confissão de Fé e Catecismo Maior da Igreja Presbiteriana. Cambuci, Cultura Cristã, 1987.

11 Kevin Reed, Governo Bíblico de Igreja. São Paulo, Os Puritanos, 2002, p 48.

9

ESTRUTURA, AUTORIDADE, IMPORTÂNCIA E UTILIDADE

DO CREDO APOSTÓLICO, CONFISSÃO E CATECISMOS DE WESTMINSTER

I - A ESTRUTURA PECULIAR DESTES DOCUMENTOS HISTÓRICOS

A Confissão de Fé de Westminster

A Confissão de Fé é estruturada de seguinte forma: Capítulos e Seções. Cada

capítulo fala de um tema específico da teologia. E cada Seção declara algum

aspecto deste tema. Todo o texto da Confissão vem na forma de afirmação, pois a

Confissão tem o propósito de afirmar as doutrinas oriundas da Bíblia:

A Confissão de Fé pode ser considerada um pequeno manual

de teologia bíblica. Seus 33 capítulos abordam os temas mais

importantes da teologia cristã, conforme segue: a doutrina da

Escritura Sagrada – cap. 1; a doutrina de Deus (ser e obras) –

caps. 2-5; a doutrina do homem e da redenção – caps. 6-9; a

doutrina da aplicação da salvação – caps. 10-15; a doutrina da

vida cristã – caps. 16-19; a doutrina do cristão na sociedade –

caps. 20-24; a doutrina da igreja – caps. 25-31; e a doutrina

das últimas coisas – caps. 32-33.12

A Confissão de Fé de Westminster tem seu conteúdo distribuído na ordem de

temas que seguem abaixo:

12 Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. Acessado em 17/07/07.

10

Catecismo Maior e o Breve Catecismo de Westminster

O Catecismo Maior de Westminster é estruturado de forma diferente da

Confissão de Fé. A Confissão de Fé é constituída de declarações teológicas para

afirmação de doutrinas, o Catecismo Maior é constituído de perguntas e respostas que

13 Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. Acessado em 17/07/07.

A Doutrina das Escrituras

Cap.1 - Da Escritura Sagrada

A Doutrina do Cristão na Sociedade

Cap.22 - Dos Juramentos Legais e dos Votos

Cap.23 - Do Magistrado Civil

Cap.24 - Do Matrimônio e do Divórcio

A Doutrina de Deus (Ser e Obras)

Cap.2 - De Deus e da Santíssima Trindade

Cap.3 - Dos Decretos Eternos de Deus

Cap.4 - Da Criação

Cap.5 - Da Providência

A Doutrina da Igreja

Cap.25 - Da Igreja

Cap.26 - Da Comunhão dos Santos

Cap.27 - Dos Sacramentos

Cap.28 - Do Batismo

Cap.29 - Da Ceia do Senhor

Cap.30 - Das Censuras Eclesiásticas

Cap.31 - Dos Sínodos e dos Concílios

A Doutrina da Salvação (Objetiva)

Cap.6 - Da Queda do Homem, do Pecado e do

seu Castigo

Cap.7 - Do Pacto de Deus com o Homem

Cap.8 - De Cristo o Mediador

Cap.9 - Do Livre Arbítrio

A Doutrina das Últimas Coisas

Cap.32 - Do Estado do Homem depois da

Morte e da Ressurreição dos Mortos

Cap.33 - Do Juízo Final

A Doutrina da Salvação (Subjetiva)

Cap.10 - Da Vocação Eficaz

Cap.11 - Da Justificação

Cap.12 - Da Adoção

Cap.13 - Da Santificação

Cap.14 - Da Fé Salvadora

Cap.15 - Do Arrependimento para a Vida

Cap.16 - Das Boas Obras

Cap.17 - Da Perseverança dos Santos

Cap.18 - Da Certeza da Graça e da Salvação

Apêndice

Cap.34 - Do Espírito Santo Cap.35 - Do Amor de Deus13

A Doutrina da Vida Cristã

Cap.19 - Da Lei de Deus

Cap.20 - Da Liberdade Cristã

Cap.21 - Do Culto Religioso e do Domingo

11

visam o fácil aprendizado das doutrinas da Confissão de Fé. Ou seja, ele foi feito ―para

servir à instrução geral do povo de Deus, dentro do sistema de teologia apresentado pela

Confissão de Westminster.‖14

O Catecismo facilita a memorização do conteúdo da

Confissão de Fé.

Estamos certos de que muitos dos membros da Igreja Presbiteriana do Brasil

nem sequer pegaram em um dos Catecismos adotados pela nossa igreja. Por isto

estamos apresentando, de uma maneira sucinta, um esboço do conteúdo do Catecismo

Maior de Westminster a fim de facilitar o uso dele pelo cristão inexperiente:

1ª parte:

- Da finalidade do homem

- Da existência de Deus

- Da origem e veracidade das

Escrituras O que se deve crer

2ª parte

- O que o homem deve crer sobre

Deus

3ª parte

- Tendo em vista o que as

Escrituras principalmente nos

ensinam a crer a respeito de Deus,

resta-nos considerar o que elas

requerem do homem como seu

dever

O que se deve fazer

Para facilitar ainda mais o manuseio deste material, apresentamos um pequeno

esboço do conteúdo do Catecismo Maior de Westminster demonstrando alguns temas

principais relacionados às suas respectivas perguntas:

14 Marra; editor, O Catecismo Maior de Westminster, p III.

12

Número das

perguntas

1ª Parte

Finalidade do Homem 01

Existência de Deus 02

Origem e Veracidade das Escrituras 3-5

2ª Parte

O Ser de Deus 6-11

Decretos de Deus 12-20

Pecado 21-29; 152

Pactos (Pacto das Obras e Pacto da Graça) 30-35

Cristo 36-60

Igreja 61-65

Salvação 66-83/153

Estado Intermediário 84-86

Escatologia15

87-90

3ª Parte

Lei Moral 91-99; 149-151

Os Dez Mandamentos 100-152

Meios de Graça 154-160

Sacramentos 161-163; 176-

177

Batismo 165-167

Ceia do Senhor 168-177

Oração 178-196

Quanto ao Breve Catecismo de Westminster, a sua estrutura é semelhante à do

Catecismo Maior, possuindo poucas diferenças. Ele ―possui 107 perguntas e respostas,

sintetizando os pontos mais importantes dos documentos maiores. Inclui uma

abordagem detalhada dos Dez Mandamentos (perguntas 41-81)‖.16

Seu texto é mais

simplificado, e seu conteúdo é menor.

Credo Apostólico

A estrutura do Credo Apostólico segue uma divisão simples, no qual suas

seções falam de assuntos distintos. De certa forma o conteúdo de cada seção do Credo

diz respeito a uma das Pessoas da Trindade. A 1° seção fala a cerca da Pai, a 2° seção

15 Escatologia tem como conteúdo as doutrinas das últimas coisas a acontecerem segundo os propósitos e decretos divinos.

16 Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. Acessado em 17/07/07.

13

fala acerca do Filho, e a 3° seção acerca do Espírito Santo – se bem que a 3° seção

também fala de outras doutrinas essenciais do cristianismo. Observemos abaixo:

Seções Declarações

1° seção

Creio em Deus Pai Todo-Poderoso,

Criador do céu e da terra.

2° seção

Creio em Jesus Cristo, seu único Filho,

nosso Senhor, o qual foi concebido por

obra do Espírito Santo; nasceu da

Virgem Maria; padeceu sob o poder de

Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e

sepultado; desceu ao Hades; ressurgiu

dos mortos ao terceiro dia; subiu ao céu;

está assentado à mão direita de Deus Pai

Todo-Poderoso, de onde há de vir para

julgar os vivos e os mortos.

3° seção

Creio no Espírito Santo; na santa Igreja

universal; na comunhão dos santos; na

remissão dos pecados; na ressurreição

do corpo; na vida eterna. Amém.

II - A AUTORIDADE DESTES DOCUMENTOS TEOLÓGICOS HISTÓRICOS

Que a Confissão de Westminster, seus Catecismos e o Credo Apostólico são

úteis muitos podem até concordar. Mas até que ponto eles têm autoridade sobre os

cristãos? E se a Bíblia é nossa única regra de fé e prática, por que utilizamos a

Confissão, os Catecismos e o Credo? Bom, certamente que a bíblia é nossa única regra

de fé e prática, mas esta verdade não impede o uso destes documentos:

Pessoas há que estranham adotar a Igreja Presbiteriana uma

Confissão de Fé e Catecismo como regra de fé, quando

sustenta sempre ser a Escritura Sagrada sua única regra de

fé e de prática. A incoerência é apenas aparente. A Igreja

Presbiteriana coloca a Bíblia em primeiro lugar. É ela só

que deve obrigar a consciência.17

E quanto à questão de quanto de autoridade a Confissão de Fé e os

Catecismos Maior e Breve possuem, podemos dizer que eles possuem uma

17 Ibid.

14

autoridade indireta e subordinada. Não é uma autoridade absoluta sobre os cristãos,

mas uma autoridade baseada na Escritura. Ou seja, devido ao fato de as doutrinas

da Confissão e dos Catecismos estarem inteiramente fundamentadas na Bíblia, isto

faz deles documentos que possuem uma autoridade relativa sobre os cristãos:

Ainda outro princípio da mesma Igreja é que os concílios,

sendo compostos de homens falíveis, podem errar, e muitas

vezes têm errado. Suas decisões, portanto, não podem ser

recebidas como regra absoluta e primária de fé e prática;

servem somente para ajudar na crença ou na conduta que se

deve adotar. O supremo juiz de todas as controvérsias, em

matéria religiosa, é o Espírito Santo falando na e pela

Escritura. Por esta, pois, devem-se julgar toda e qualquer

decisão dos concílios e toda e qualquer doutrina ensinada

por homens. Admitir-se a falibilidade dos concílios não é

depreciar a autoridade da Confissão de Fé e dos Catecismos

para aqueles que de livre vontade os aceitem. Admitindo tal,

a Igreja somente declara que depende do Autor da

Escritura, e recebe a direção do seu Espírito na

interpretação da Palavra e nas fórmulas de aplicar suas

doutrinas. A Igreja Presbiteriana sustenta que a

Escritura é a suprema e infalível regra de fé e prática; e

também que a Confissão de Fé e os Catecismos contêm o

sistema de doutrina ensinado na Escritura e dela deriva

toda a sua autoridade e a ela tudo se subordina. É

justamente porque cremos que a Confissão de Fé e os

Catecismos estão em harmonia com a Escritura, nossa regra

infalível, que os aceitamos.18

Resumindo, a Confissão de Fé e os Catecismos não possuem autoridade por si

mesmos. Contudo, devido à sua fiel exposição das doutrinas bíblicas, isto faz com que o

aceitemos a eles nos submetamos; e isto, não de maneira última e irrevogável, mas

consciente que estes documentos são falhos e são fruto da interpretação falível dos

homens. Além disto, a igreja não impõe sobre os crentes as declarações de fé contidas

nestes documentos, por isto, somente quem entende ser estes documentos fiéis ao ensino

bíblico é que se submete às suas declarações. Portanto, se alguém não concorda com as

doutrinas ali inseridas, deve procurar uma confissão na qual possa aceitar com fé.

Ninguém deve contradizer sua própria consciência, mas andar de acordo com ela.

18 J.M.K., Confissão de Fé e Catecismo Maior da Igreja Presbiteriana.

15

III - A IMPORTÂNCIA E UTILIDADE DO CREDO E DAS CONFISSÕES

Como vimos anteriormente, os credos, confissões e catecismos da Igreja são

resultado de reflexão teológica que ela exercitou durante anos. Estes documentos são

importantes não por causa de sua antiguidade, servindo simplesmente aos interesses da

história da Igreja. Sua importância se deve a outras razões mais relevantes. Vejamos

alguns elementos que demonstram a importância e o valor dos credos:

1. Facilitam a confissão pública de nossa fé.

2. Oferecem de forma abreviada o resultado de um processo cumulativo da

história, reunindo as melhores contribuições de servos de Deus na

compreensão da verdade. A ciência não é privilégio de um povo ou de um

indivíduo. Todo cientista usando a figura de João de Salisbury (c. 1110-1180)

equivale a um anão nos ombros de gigantes, valendo-se das contribuições dos

predecessores, a fim de poder enxergar um pouco além deles. Podemos aplicar

essa figura à teologia e à tradição, como o fez J. I. Packer: ―A tradição nos

permite ficar sobre os ombros de muitos gigantes que pensaram sobre a Bíblia

antes de nós. Podemos concluir pelo consenso do maior e mais amplo corpo de

pensadores cristãos, desde os primeiros pais até o presente, como recurso

valioso para compreender a Bíblia com responsabilidade. Contudo, tais

interpretações (tradições) jamais serão finais; precisam sempre ser submetidas

às Escrituras para mais revisão‖.

3. São uma exigência natural da própria unidade da Igreja, que exige acordo

doutrinário (Ef 4:11-14; Fp 1:27; 1Co 1:10; Jd 3; Tt 3:10; Gl 1:8-9; 1Tm

6:3-5).

4. Visto que o cristianismo é um modo de vida fundamentado na doutrina, os

credos oferecem uma base sintetizada para o ensino das doutrinas bíblicas,

facilitando sua compreensão, a fim de que os cristãos sejam habilitados para a

obra de Deus.

5. Preservam a doutrina bíblica das heresias surgidas no decorrer da história,

revelando-se de grande utilidade, especialmente nas questões controvertidas,

dando-nos uma exposição sistemática e norteadora a respeito do assunto.

6. No que se refere à compreensão bíblica, permitem distinguir nossas igrejas

das demais.

7. Servem de elemento regulador do ensino ministrado na Igreja, bem como de

seu governo, disciplina e liturgia. James Orr (1844-1913), na obra-prima O

progresso do dogma, disse: ".... A idade da Reforma se destacou por sua

produtividade de credos. Faremos bem se não menosprezarmos o ganho que

resulta para nós destas criações do espírito do século XVI.

8. Servem de desafio para que continuemos a caminhada na preservação da

doutrina e na aplicação das verdades bíblicas aos novos desafios de nossa

geração, integrando-nos à nobre sucessão dos que amam a Deus e sua Palavra e

que buscam entendê-la e aplicá-la, em submissão ao Espírito, à vida da Igreja.

16

Uma tradição saudável tem compromisso com o passado na geração do

futuro.19

Se mesmo depois destas razões acima expostas que atestam a importância dos

credos, confissões, e catecismos, ainda surgir dúvidas na mente dos crentes, podemos

complementar com as palavras abaixo:

Para que então os credos, se temos a Bíblia? O dr. A. A.

Hodge (1823-1886) apresenta relevante observação: Todos os

que estudam a Bíblia fazem isso necessariamente no próprio

processo de compreender e coordenar seu ensino; e pela

linguagem de que os sérios estudantes da Bíblia se servem

em suas orações e outros atos de culto, e na sua ordinária

conversação religiosa, todos tornam manifesto que, de um ou

outro modo, acharam nas Escrituras um sistema de fé tão

completo como no caso de cada um deles lhe foi possível. Se

os homens recusarem o auxílio oferecido pelas exposições de

doutrinas elaboradas e definidas vagarosamente pela Igreja,

cada um terá de elaborar o próprio credo, sem auxílio e

confiando apenas na sua sabedoria. A questão real entre a

Igreja e os impugnadores de credos humanos não é, como

eles muitas vezes dizem, uma questão entre a Palavra de

Deus e os credos dos homens, mas é questão entre a fé

provada do corpo coletivo do povo de Deus e o juízo privado

e a sabedoria não auxiliada do objetor individual.20

É claro que estes documentos são de muita utilidade para os cristãos. O cristão

deve buscar uma igreja que seja totalmente bíblica em suas doutrinas. Sendo assim, os

Credos e Confissões históricas servem para demonstrar quem realmente está andando de

conformidade com as Escrituras Sagradas. Quer dizer, uma Confissão ou Credo,

demonstra como determinada denominação interpreta a Bíblia. Vejamos o que afirma

Kevin Reed em seu livro Governo Bíblico de Igreja:

Os credos são também um resultado do crescimento do

ministério de ensino da igreja. Não que um credo usurpe o

papel da Bíblia, pois esta permanece como única regra de fé e

prática. Mas como muitas seitas alegam ser as detentoras da

autoridade da Bíblia, um credo é de suma importância para

19 http://www.teuministerio.com.br/BRSPIGBSDCMCMC /vsItemDisplay.dsp&objectID =C9F2EC3B-292E-4D9E-

853183986D1DC489&method=display. Acessado em 31.07.08.

20 http://www.teuministerio.com.br/BRSPIGBSDCMCMC /vsItemDisplay.dsp&objectID =C9F2EC3B-292E-4D9E-

853183986D1DC489&method=display. Acessado em 31.07.08.

17

revelar como uma igreja em particular entende as

Escrituras.21

Ora, visto que as doutrinas só podem ser retiradas da Revelação escrita do

Senhor (a Bíblia), e visto também que muitas igrejas têm surgido a cada dia trazendo

―novas doutrinas‖ ao povo, nada melhor do que observar as Confissão ou Credo destas

igrejas a fim de verificar se estão interpretando corretamente a Bíblia ou simplesmente

―criando doutrinas‖. O valor das Confissões é incalculável. São anos de teologia

resultante da Iluminação do Espírito Santo sobre a Igreja até que fossem registradas em

umas poucas linhas.

Um aspecto importante que deve ser aprendido é que a Bíblia ensina o governo

da Igreja por presbíteros (pastores). Eles são responsáveis pela doutrina, governo e

liturgia da Igreja. Logo, as Confissões, Credos, e Catecismos elaborados por eles devem

ser seguidos.Observando-se evidentemente sua fidelidade às Escrituras.

Talvez surja em nossa mente a dúvida: Por que razão deveríamos adotar uma

Confissão de Fé destes teólogos lá da Europa? Acaso não temos nossos próprios

teólogos no Brasil, e ainda por cima, teólogos que estão vivendo hoje e não os teólogos

do século dezessete? Certamente que temos teólogos capazes de elaborar uma Confissão

para nós hoje, entretanto, a Confissão de Fé de Westminster está tão bem escrita, tão

bem elaborada, e tão suficientemente bíblica, que não tem sentido algum fazer uma

Confissão hoje com as mesmas declarações que eles fizeram. O método de interpretação

que eles usaram é o mesmo que o nosso, e, portanto, as doutrinas que eles afirmaram

continuam sendo afirmadas ainda hoje por nós.

Uma verdade que jamais devemos esquecer é que as Confissões são úteis, mas

não são a fonte primária das doutrinas. Nossa fonte primária continua sendo a Bíblia. A

Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve são apenas declarações sistemáticas de

doutrinas:

A Igreja Presbiteriana do Brasil adota, como exposição das

doutrinas bíblicas, a Confissão de Fe de Westminster, o

Catecismo Maior e o Catecismo Menor ou Breve Catecismo.

Nossa única regra de fé e prática é a Bíblia Sagrada. Mas, em

virtude de a Bíblia não trazer as doutrinas já sistematizadas,

adotamos a Confissão de Fé e os Catecismos como exposição

do sistema de doutrinas ensinadas na Escritura.22

21 Ibid., p 49.

22 Ibid. p 72.

18

“CREIO EM DEUS PAI TODO-PODEROSO...” (1º Seção)

Introdução

Ao iniciarmos nosso estudo do Credo Apostólico é preciso que tenhamos em

mente o que a palavra Credo significa. Esta palavra deriva-se do latim credo, e seu

significado é ―creio‖. 23

Como podemos ver, o Credo expressa uma declaração de fé

pessoal em pontos doutrinários. Ora, qualquer pessoa religiosa crê em alguma coisa,

pois a essência da religião pressupõe algum conteúdo de fé. As declarações contidas no

Credo Apostólico vão então expressar o conteúdo teológico básico do cristianismo, o

qual todo crente protestante deve acatar pela fé.

Todavia, precisamos esclarecer a esta altura o que é fé, com o propósito de não

termos nenhum ―mal entendido‖. Muitos têm a opinião que afirmar que seja verdade

estes pontos de doutrina encontrados no Credo já é suficiente. Contudo, não é isto que

se espera dos cristãos. As Escrituras não somente ordena a afirmação externa de

doutrinas como verdadeiras, a Bíblia ordena convicção interior acompanhada de

mudança de vida (Jo 8:30, 31). ―Até mesmo os demônios acreditam em Deus, conforme

Tiago 2:19. Porém, a diferença é que os crentes confiam em Deus e o servem, enquanto

os demônios apenas acreditam na existência de Deus.‖24

Sendo assim, podemos agora iniciar o nosso estudo compreendendo que as

afirmações do Credo, antes de ser somente meras doutrinas, são as verdades de Deus as

quais devemos crer e ser o fundamento da nossa vida.

Creio em DEUS...

Como não poderia ser diferente, a primeira afirmação do Credo é sobre Deus.

Nada mais compreensível, já que ―sem fé é impossível agradar a Deus‖(Hb 11:6). Esta

declaração inicial é um cheque-mate em dois comportamentos corruptos dos ímpios: O

Ateísmo e o Politeísmo.

O Ateísmo é a insistente negação da existência de Deus por parte do homem.

Apesar do testemunho que Deus dá de Si mesmo na natureza (Sl 19:1; At 14:17; Rm

1:19-23) e na consciência (Rm 2:14, 15), o homem procura negar a Sua existência,

tentando explicar tudo que existe e acontece através da ciência ou da filosofia.

O Politeísmo é a crença na existência de vários deuses. Há religiões que

adoram até mesmo animais. Esta prática pecaminosa já ocorreu muitas vezes no

23

G.W. Bromiley, ―Credo, Credos” in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja

Cristã. Walter A. Elwell, editor. São Paulo, Vida Nova, 2009, p 365. 24

Anderson Sathler, ―Deus Pai, Todo-Poderoso” in Revista Em que cremos?

Manhumirim, Didaquê, abr/99, p 4.

19

passado, e ainda persiste nos dias de hoje. O Supremo ser do universo não seria um só,

porém muitos, e dos mais variados tipos.

Ao afirmar ―creio em Deus...‖ o Credo rejeita abertamente estes dois

comportamentos corruptos e degradantes da humanidade decaída. Se alguém diz ser

cristão, ele necessita crer na existência de Deus. Além disto, necessita crer também que

só existe um deus, e não muitos. Ora, crer em Deus é a base da religião cristã. Sem

Deus, não haveria religião.

Creio em Deus PAI...

A primeira afirmação que o Credo Apostólico faz acerca de Deus é sobre sua

paternidade. Deus não somente é nosso Deus, Ele nos concedeu entrar em sua família

(Ef 2:19); ser honrados a tal ponto de sermos chamados ―filhos de Deus‖ (1Jo 3:1).

Assim, quem crer verdaderiamente em Deus de coração, também aceita a verdade da

adoção dos eleitos. A Confissão de Fé de Westminster também fala acerca da doutrina

da adoção em seu Capítulo XII – DA ADOÇÃO:

Seção I – ―A todos os que são justificados, Deus se digna fazer participantes da

graça da adoção em e por seu único Filho Jesus Cristo. Por essa graça, eles são

recebidos no número e gozam a liberdade e privilégios dos filhos de Deus, têm

sobre si o nome dele, recebem o Espírito de adoção, têm acesso, com ousadia,

ao trono da graça, e são habilitados a clamar: "Abba, Pai"; são tratados com

piedade, protegidos, providos e corrigidos por ele, como por um pai; nunca,

porém, abandonados, mas selados para o dia de redenção, e recebem as

promessas como herdeiros da eterna salvação.‖

Desta doutrina da adoção podemos tirar conseqüentemente as seguintes

verdades:

1. Presença e providência

A partir do momento em que Deus se torna nosso Pai Ele está conosco

em todo o tempo. Sjea nas horas difícies ou na bonança. Seja na dor ou na

alegria. Deus é o Emanuel – ―Deus conosco‖. Além disto, Deus como um Pai

amoroso está constantemente cuidando de seus filhos. ―Deus não só está ao

nosso lado, como também cuida de nós, tomando todas as providências

necessárias para o nosso bem. Foi o que Jesus ensinou (Mt 6:25-34). Deus

cuida de todos os seres que criou, mas tem especial carinho para com os seus

filhos.‖25

25

―Deus, o Pai Onipotente” in Revista O Credo Apostólico. São Paulo, Cultura Cristã,

s/d, p 8.

20

2. Disciplina Paterna

Além do sustento diário e da proteção divina, Deus igualmente cuida

dos seus filhos no sentido espiritual. Seu amor é dispensado quando Ele os

corrige para crescimento em santidade. ―Deus, como Pai que está interessado

no bem-estar de seus filhos, toma todas as providências necessárias para o

bem dos que ama, inclusive as de ordem disciplinar. É isso que aprendemos

em Hb 12:4-11.‖26

A disciplina pode parecer dura e dolorosa às vezes, mais é

prova do amor e cuidado divino.

Sabemos que a adoção é um grande privilégio concedido por Deus, e que traz

consigo grandes bênçãos. Contudo, é necessário definir agora quem é alvo desta adoção.

Ou seja, quem se torna filho de Deus? Como alguém pode será dotado por deus?

As Escrituras afirmam que para alguém se tornar filho de Deus é necessário

que creia em Jesus (Jo 1:12). Como vimos no texto da Confissão de Fé acima citado: “A

todos os que são justificados, Deus se digna fazer participantes da graça da adoção em

e por seu único Filho Jesus Cristo...” Portanto, para ser participantes da adoção é

necessário que o pecador seja justificado, e para ser justificado, é preciso crer em Jesus

(Gl 2:16). Assim, quem quiser fazer parte da família de Deus, e tornar-se filho de Deus,

deve crer em Jesus.

Creio em Deus Pai TODO-PODEROSO...

Quando se analisa o Credo Apostólico percebe-se que ele faz três afirmações

acerca da 1° Pessoa da Trindade: 1ª- Que Ele é pai; 2ª- Que Ele é Todo-Poderoso; 3ª-

Que Ele é Criador. Contudo, destas afirmações, somente 1ª delas é um atributo divino.

O atributo da Onipotência. Masa o que é um atributo divino?

Ao falar em atributo divino nós estamos falando das características essenciais

do Ser de Deus. São qualidades inerentes ao Ser de Deus. Pois bem, no caso do Credo

temos afirmado que Deus é onipotente (Todo-Poderoso). Sendo assim, ―a onipotência é

um atributo de Deus e o único citado no Credo dos Apóstolos.‖27

Podemos conceituar

este atributo divino da seguinte maneira: ―A onipotência é o atributo de Deus que lhe

permite fazer tudo o que for da sua santa vontade. A palavra onipotência vem de dois

termos latinos, omni, ―todo‖, e potens, ―poderoso‖, significando portanto ―todo-

poderoso‖.28

Um esclarecimento precisa ser dado a esta altura. Muitos pensam,

erroneamente, que a Onipotência divina o faz ser capaz de fazer absolutamente tudo.

26

Ibid, p 8. 27

Anderson Sathler, ―Deus Pai, Todo-Poderoso” in Revista Em que cremos?

Manhumirim, Didaquê, abr/99, p 5. 28

Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 159.

21

Isto não é verdade de acordo com os dados das Escrituras. Deus é ―capaz de fazer tudo

que não fosse contrário à sua natureza.‖29

Observemos a explicação que se segue:

―Há muitas coisas que Deus não pode fazer. Ele não pode mentir, pecar,

mudar, e não pode negar-se a Si próprio, Nm 23:19; 1Sm 15:29; 2Tm 2:13; Hb

6:18; Tg 1:13, 17. Não há poder absoluto nele, divorciado de Suas perfeições, e

em virtude do qual Ele pudesse fazer todo tipo de coisas inerentemente

contraditórias entre si.‖30

Evidentemente que este atributo não foi inventado pelos homens e posto no

Credo dos Apóstolos, e nem foi descoberto recentemente. Já nas Escrituras vemos

várias afirmações da Onipotência divina. ―No Antigo Testamento há vários nomes na

língua hebraica para Deus, dos quais se destaca: ―El Shadai‖, que significa ―Deus Todo-

Poderoso‖.31

(Gn 17:1; Ex 6:3; Jó 9:12; Sl 115:3; Jr 32:17; Mt 19:26; Lc 1:37; Rm

1:20; Ef 1:19; Ef 3:20; 2Co 6:18; Ap 1:8)

29

―Deus, o Pai Onipotente” in Revista O Credo Apostólico. São Paulo, Cultura Cristã,

s/d, p 7. 30

Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990, p 83. 31

Anderson Sathler, ―Deus Pai, Todo-Poderoso” in Revista Em que cremos?, p 4.

22

“... CRIADOR DO CÉU E DA TERRA...” (1º Seção)

Introdução

Continuando a primeira Seção do Credo, temos agora a afirmação de que o

Deus em quem cremos além de ser Pai e Todo-Poderoso, Ele é também Criador.

Certamente que diante das muitas religiões que afirmam o contrário sobre a origem do

universo, é preciso declarar o que diz a fé cristã sobre o assunto.

Deus criou tudo que existe

Quando falamos que Deus é o Criador não abrange tudo o que a Bíblia diz a

respeito deste assunto. Alguém poderia questionar, a afirmar que há coisas as quais

Deus não criou. Por exemplo, alguns cientistas afirmam que a matéria é eterna. E assim,

poderiam afirmar que deus criou no sentido de que Ele deu forma, organizou,

construiu... e não no sentido de ter feito tudo que existe.

Ao olhar a afirmação do Credo vemos que ele diz que ―Deus é o Criador de

todas as coisas, céus e terra, termos que têm sido aceitos para denominar todo o

Universo.‖32

Portanto, esta afirmação destrói toda idéia de que exista algo não criado

pelo Senhor. A Bíblia, em suas afirmações, não deixam a entender que Deus teha

utilizado algum material preexistente. A teologia entende que quando diz que Deus

―criou‖ em (Gn 1) está afirmando que Ele criou ―do nada‖ (Sl 33:6, 9; 148:5; Hb 11:3).

Só Deus existe eternamente. Deste modo podemos crer com certeza que Deus criou

todas as coisas materiais (Gn 1:31) e todos os seres imateriais (Cl 1:16).

Apesar de fundamentada nas Escrituras, a doutrina da Criação foi desafiada

pela Teoria da Evolução, a qual contradiz as declarações bíblicas a respeito da Criação.

E além de ser contrária às verdades bíblicas, esta Teoria não pode ser aceita como

verdade por também não conter bases científicas comprovadas e verdadeiras. Vejamos

abaixo alguns fatores que destronam a Teoria da Evolução sem utilizar argumentos

bíblicos:

1. Teoria, sim, e não Lei. A mutação de uma espécie para outra nunca foi repetida

em laboratório.

2. Segundo a Bíblia, Deus criou os seres vegetais ou animais segundo a sua

espécie. Pode haver desenvolvimento ou evolução dentro de cada espécie, mas

não de uma espécie para outra.

32

“Deus, o Criador” in Revista O Credo Apostólico. São Paulo, Cultura Cristã, s/d,

p 9.

23

3. A seleção natural exigiria um número infinito de formas intermediárias entre

duas espécies. A maioria dos fósseis, no entanto, revela apenas formas

distintas, acabadas. Falta, não o elo perdido. Faltam infinitos elos.

4. A evolução que produz desenvolvimento não é a lei universal da biologia. A

evolução observável produz deterioração ou degeneração.33

A Teoria da Evolução quis explicar a Criação por meios científicos. Todavia,

não precisamos de ciência para aceitar a doutrina da Criação, pois esta é percebida, e

aceita, pela fé (Hb 11:1-3). Este texto de Hebreus não implica dizer que entendemos de

modo científico, ou lógico a criação. ―A criação é descrita aqui como um fato que

apreendemos somente pela fé. Pela fé entendemos (percebemos, não compreendemos)

que o mundo foi estruturado ou formado pela palavra de Deus.‖34

Além da Teoria da Evolução, surgiram com o decorrer dos anos várias

interpretações a respeito da duração e do modo pelo qual foi feita a criação. Quanto ao

modo não temos como saber, pois a bíblia não descreve. Pelo contrário, ―a Bíblia não

está interessada em discutir ou indagar como isso foi feito, apenas declara que, no

começo, houve a criação, e ela foi obra de Deus.‖35

E quanto a questão da duração,

entendo que foi realizada em seis dias literais, como afirma a Confissão de Fé de

Westminster em seu Capítulo IV – DA CRIAÇÃO, na Seção I.

Por mais que os homens queiram contradizer as doutrinas bíblicas, nós

devemos nos apegar firmemente à Revelação divina. Isto com respeito a qualquer

assunto teológico. No caso do assunto da Criação que estamos estudando, nós vemos

várias filosofias humanas sendo rejeitadas de uma só vez pela narração de (Gn 1).

Vejamos no quadro abaixo:

33

Ibid, p 9, 10. 34

Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990, p 134. 35

“Deus, o Criador” in Revista O Credo Apostólico, p 9.

24

FILOSOFIAS HUMANAS CONDENADAS

PELA NARRATIVA DA CRIAÇÃO ENCONTRADA EM GÊNESIS36

Deus criou por causa de Sua vontade Soberana

Um aspecto que precisamos esclarecer sobre este assunto é quanto aos motivos

que levaram Deus a criar. Talvez você seja daqueles que pensem que Deus estava se

sentindo só. Ou pense que Deus tinha necessidade e criar. Na verdade Deus criou tão

simplesmente por causa de Sua vontade (Ap 4:11). Nada o obrigou a fazer isto. A

Confissão de Fé de Westminster em seu Capítulo IV – DA CRIAÇÃO, na Seção I,

declara o seguinte: ―No princípio aprouve a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo, para

manifestação da glória de seu eterno poder, sabedoria e bondade, criar ou fazer do nada,

no espaço de seis dias, e tudo muito bom, o mundo e tudo o que nele há, visíveis ou

invisíveis.‖ (Rm 11:36; Hb 1:2; Jo 1:2-3, Rm 1:20; Sl 104:24; Jr 10: 12; Gn 1; At 17:24;

Cl 1: 16; Êx 20: 11)

E ainda no Capítulo II – DE DEUS E DA SANTÍSSIMA TRINDADE, na Seção II

diz: ―Deus tem em si mesmo, e de si mesmo, toda a vida, glória, bondade e bem-

aventurança. Ele é todo suficiente em si e para si, pois não precisa das criaturas que

trouxe à existência, não deriva delas glória alguma, mas somente manifesta a sua glória

nelas, por elas, para elas e sobre elas. Ele é a única origem de todo o ser; dele, por ele e

36

Eneziel Peixoto de Andrade, “No Princípio... A Origem de Todas as Coisas” in

Revista Da Criação à Redenção. O agir soberano de Deus na história de seu povo.

Manhumirim, Didaquê, out/2000, p 3.

Gênesis 1:1 Filosofia condenada

Significado Ensino Bíblico

“No princípio... Deus”

Ateísmo Não existência de

Deus

Deus existe antes

de todas as coisas

“No princípio... Deus”

Politeísmo Existência de vários

deuses

Há um só Deus

“No princípio criou Deus”

Fatalismo Tudo acontece por

acaso

Deus dirige o

universo

“No princípio criou Deus”

Evolucionismo Tudo é fruto da

evolução

Deus criou todas as

coisas

“...criou Deus os céus e a terra”

Panteísmo Deus é tudo e tudo

é Deus

Deus se distingue

das obras que criou

“No princípio criou Deus os céus e a terra”

Materialismo A matéria é eterna A matéria não é

preexistente

25

para ele são todas as coisas e sobre elas tem ele soberano domínio para fazer com elas,

para elas e sobre elas tudo quanto quiser...‖

Deus criou para Sua glória

Geralmente quando se diz que Deus criou, afirma-se que Ele criou ―para Sua

glória‖. Neste ponto em questão precisamos entender que isto não implica que Deus

precisa receber glória, nem implica dizer que quanto mais O glorificamos, mais glorioso

Ele fica! Não é isto que diz as Escrituras. A criação foi feita para render-lhe glória, mas

o objetivo primordial não foi este. Vejamos o seguinte comentário teológico:

[...] Além disso, não é certo que, quando Deus fez da Sua

glória declarativa o fim último da criação, teve por objetivo

principal o recebimento de alguma coisa. A suprema

finalidade que Ele teve em vista não foi a de receber, mas,

sim, a de manifestar nas obras das Suas mãos a Sua glória

inerente... ao glorificarem o Criador, as criaturas nada

acrescentam à perfeição do Seu Ser, mas apenas reconhecem

a Sua grandeza e Lhe atribuem a glória que lhe é devida.37

O Deus trino foi o executor da Criação

Um outro aspecto que é bom esclarecermos aqui neste assunto é que

geralmente se pensa que Deus – O Pai – e que o Filho e o Espírito não participaram

destra obra. Contudo, não é isto que nos informa as Escrituras. A obra da Criação é

atribuída às três Pessoas da Trindade, e por isto a teologia assim afirma esta doutrina:

A Escritura nos ensina que o trino Deus é o Autor da criação,

Gn 1:1; Is 40: 12; 44: 24; 45:12... Embora o Pai esteja em

primeira plana na Obra da criação, 1Co 8:6,esta é também

claramente reconhecida como obra do Filho e do Espírito

Santo. A participação do Filho nela é indicada em Jo 1:3;

1Co 8:6; Cl 1:15-17, e a atividade do Espírito nessa obra acha

expressão em Gn 1:2, Jó 26:13; 33:4; Sl 104:30; Is 40:12, 13.

A segunda e a terceira pessoas não são poderes dependentes

ou meros intermediários, mas, sim, Autores independentes,

juntamente com o Pai. A obra da criação não foi dividida

entre as três pessoas, mas a obra completa, embora em

diferentes aspectos, é atribuída toda a cada uma das

pessoas.38

37

Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 138. 38

Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 130.

26

Ainda que o Credo Apostólico afirme que a Criação foi realizada pelo Pai, não

significa que devemos excluir a verdade de que ela também foi realizada com a

participação ativa do Filho e do Espírito Santo.

27

“CREIO EM JESUS CRISTO, SEU ÚNICO FILHO, NOSSO SENHOR...”

(2ª Seção)

Introdução

Existem muitas opiniões acerca de quem foi Jesus. O mundo não o reconhece

como deveria, de acordo com as Escrituras. Nós, porém, precisamos conhecer e

compreender o que diz a revelação divina sobre a Pessoa de Jesus. Durante a história da

igreja houve várias heresias a respeito de Jesus, e desta forma vemos que o Credo

Apostólico, lutando contra tais erros teológicos e salvaguardando a verdade das

Escrituras, contém em sua 2º Seção falando sobre Jesus, a maior porção de declarações.

Jesus Cristo

Antes de explicar o que o Credo fala a respeito de Jesus primeiramente quero

deixar claro o significado do nome ―Jesus‖. Nós falamos muito de Jesus, mas nos

esquecemos que para o judeu o significado do nome de uma pessoas era muito

importante para eles. Falava algo a respeito da pessoa. Então o que significava o nome

Jesus, a ponto de o anjo enviado por Deus ordenar a José que colocasse este nome no

filho que nasceria de Maria (Mt 1:19-21)? Como Jesus veio cumprir a missão de

redenção de homens que Deus designou para ele, nada mais conveniente do que este

nome:

Nossa palavra portuguesa Jesus é de fato uma palavra latina

que vem da palavra grega bastante semelhante – lesous. Esta,

por sua vez, é a forma helenizada do nome hebraico Jeshua,

forma abreviada de Jehoshua (Js 1:1; Zc 3:1). Esta última

forma significa Jeová é salvação. Na forma abreviada –

Jeshua – a ênfase recai no verbo; portanto, ele certamente

salvará.39

Sendo assim, o nome de Jesus aponta para sua obra de salvação. Mas não

somente isto, como nós bem percebemos por toda a Escritura, o nome de Jesus muitas

vezes vem acompanhado da palavra ―Cristo‖. Seria este o sobrenome de Jesus? Na

verdade esta palavra não constitui seu sobrenome, mas sim um título. Um título que

qualificava e designava a Pessoa de Jesus:

39

William Hendriksen, Comentário do Novo Testamento – Mateus. Vol 1. São Paulo,

Cultura Cristã, 2001, p 157.

28

O título e conceito de Messias (Christos = Mashiah =

ungido) é o mais importante de todos os conceitos

cristológicos, historicamente falando, se não teologicamente,

porque tornou-se no modo central de designar a compreensão

cristã da pessoa de Jesus. Isto é provado pelo fato de que

Christos, que é propriamente um título designativo de

―ungido‖, logo tornou-se um nome próprio. Jesus tornou-se

conhecido não só como Jesus, o Cristo ou Messias (At 3:20),

mas como Jesus Cristo ou Cristo Jesus.40

E também:

Jesus (de Nazaré) é o Cristo, o Messias, o enviado de Deus.

Neste primeiro aspecto, concebe-se Jesus como aquele que

era esperado para a redenção de Israel, conforme prometido

na antiga aliança. Desde o chamado ―Proto-Evangelho‖ (Gn

3:15), Deus prometeu enviar aquele que haveria de destruir a

serpente. As páginas vétero-testamentárias encontram-se

permeadas da expectativa da vinda do Messias que mudaria o

curso de toda a História.41

Como observamos, o Credo ao designar o título ―Cristo‖ a Jesus, afirma que

Ele é o Messias prometido, o Salvador dos eleitos de Deus. Evidentemente que esta

afirmação do Credo não é de modo algum desprovida de razão, visto que as Escrituras

demonstram largamente que Jesus era realmente o messias enviado por Deus. Vejamos

algumas profecias a respeito do Messias no Antigo Testamento que foram cumpridas

por Jesus: Nasceria da Semente de Mulher (Gn 3:15/Mt 1:20); Nasceria de uma

Virgem (Is 7:14/Mt 1:18, 25); Filho de Deus (Sl 2:7/Mt 3:17); Semente de Abraão

(Gn 22:18/Mt 1:1); Casa de Davi (Jr 23:5/Lc 2:23-31); Nasceria em Belém (Mq

5:2/Mt 2:1); Ele seria um Profeta (Dt 18:18/ Mt 21:11); Ele seria um Sacerdote (Sl

110:4/ Hb 3:1; Hb 5:5-6); Ele deveria ser precedido por um Mensageiro (Is 40:3/Mt

3:1-2); Seu lado seria perfurado (Zc 12:10/Jo 19:34); Crucificação (Sl 22:1, 11-18/

João 19:33; João 19:23-24).

Único Filho

O Credo agora afirma outra verdade acerca de Jesus. Ele declara que Jesus é o

―único Filho‖. Porém, como podemos afirmar que Jesus era o único Filho e ao mesmo

40

George Eldon Ladd, Teologia do Novo Testamento. São Paulo, Exodus Editora, 1997,

p 127. 41

Wilson Emerick de Souza, “Jesus Cristo: Filho e Senhor” in Revista Em Que

Cremos? Manhumirim, Didaquê, abr/ 99, p 10.

29

tempo afirmar que nós somos filhos de Deus? Todas duas afirmações estão presentes na

teologia da igreja cristã, mas como conciliá-las? Ou não somos filhos de Deus, ou Jesus

não é o Filho ―único‖ de Deus! Para resolver esta aparente contradição, observemos o

que nos declara a resposta do Catecismo de Heidelberg42

à sua pergunta nº 33:

Por que Cristo é chamado “o único Filho de Deus”, se nós também somos

filhos de Deus?43

Resp. Porque só Cristo é, por natureza, o Filho eterno de

Deus(1). Nós, porém, somos filhos adotivos de Deus (2) , pela graça, por causa

de Cristo. (1) Jó 1:14,18; Jo 3:16; Rm 8:32; Hb 1:1,2; 1Jo 4:9. (2) Jo 1:12; Rm

8:15-17; Gl 4:6; Ef 1:5,6.

Nosso Senhor

A terceira afirmação a respeito de Jesus fala sobre sua autoridade e domínio

sobre tudo. A palavra ―Senhor‖ utilizada para dirigir-se a Jesus possuía um significado

variados. Contudo, havia um destes significados que expressava exatamente a posição

de Jesus diante de toda a criação, e revelava quem ele era. Vejamos a explicação abaixo

a respeito do sentido desta palavra no grego, visto que no português não possui o

mesmo significado:

Às vezes a palavra Senhor (gr.Kyrios) é empregada

simplesmente como tratamento respeitoso dispensado a um

superior (veja Mt 13: 27; 21:30; 27:63; Jo 4:11). Às vezes

pode simplesmente significar ―patrão‖ de um servo ou

escravo (Mt 6:24; 21:40). Ainda assim, a mesma palavra é

também em pregada na Septuaginta (a tradução grega do

Antigo Testamento, de uso comum na época de Cristo) como

uma tradução do hebraico yhwh, ―Javé‖, ou (conforme

traduzido com freqüência ―o SENHOR‖ ou ―Jeová‖. A

palavra kyrios é empregada para traduzir o nome do Senhor

6814 vezes no Antigo Testamento grego. Assim, qualquer

leitor grego da época do Novo Testamento que conhecesse

um pouco o Antigo Testamento grego reconheceria que, nos

contextos apropriados, a palavra ―Senhor‖ era o nome do

Criador e Mantenedor do céu e da terra, o Deus onipotente.

Ora, há muitos casos no Novo Testamento em que ―Senhor‖ é

empregado em referência a Cristo e só pode ser

compreendido nesse sentido veterotestamentário denso: ―o

42

O Catecismo de Heidelberg também expressa a teologia reformada. 43http://www.teuministerio.com.br/BRSPORNDESAGSA/vsItemDisplay.dsp&objectID=0AD6067D-A9B5-

404E-BE336AE5BF218A70&method=display Acessado em 05/07/2008.

30

Senhor‖ que é Javé ou o próprio Deus.44

(Lc 2:11; 1:43; Mt

3:3; 22:44; 1Co 8:6; 12:3; Hb 1:10-12; Ap 19:16)

Como podemos concluir, as Escrituras afirmam que Jesus era Deus, possuía a

mesma autoridade, poder, e domínio. Contudo, esta declaração a respeito da Pessoa de

Jesus não tinha validade alguma se alguém somente declarasse isto com os lábios. Era

preciso que a pessoa realmente cresse nisso. E qual era a prova de que um indivíduo

verdadeiramente cria em Jesus como Senhor? As Escrituras também revelam isto (Mt

7:21-23; Lc 6:46). O Credo certamente não estava incentivando uma afirmação de fé

desprovida de significado prático. Quando alguém cria e afirmava que Jesus era o

Senhor, isto deveria desembocar numa vida de obediência a Ele:

Crer em Jesus Cristo como Senhor significa bem mais que

uma afirmação – eu creio. Implica em entregar o comando da

vida nas mãos dele... significa obedecer aos seus

mandamentos e, de modo particular, ao seu Grande

Mandamento – Amai-vos uns aos outros. Significa culto,

adoração, glorificação do seu glorioso Nome (Fp 2:10).45

44

Wayne grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 448. 45

“Jesus Cristo, Nosso Senhor” in Revista O Credo Apostólico. São Paulo, Cultura

Cristã, s/d, p 13.

31

“... O QUAL FOI CONCEBIDO POR OBRA DO ESPÍRITO SANTO, NASCEU DA VIRGEM MARIA...”

(2ª Seção)

Introdução

Continuando a estudar a 2º Seção do Credo a respeito da Pessoa e obra de

Jesus, temos agora a declaração sobre o milagre do nascimento de Jesus. Jesus era

humano como todos nós, mas Ele também era Deus, e por isto, seu nascimento não

poderia ser igual ao nosso. Ele era descendente de Davi segundo a carne, mas

igualmente Filho de Deus (Rm 1:3, 4). O nascimento virginal de Cristo faz parte das

doutrinas cristãs, e nós devemos aprender as implicações deste ensinamento.

Nascimento Virginal

As Escrituras afirmam explicitamente a doutrina do nascimento virginal (Is

7:14; Mt 1:18, 20; Lc 1:26-35). Vemos na Bíblia vários casos de mulheres que eram

estéreis e Deus a fizeram conceber. Contudo, o milagre do nascimento de Jesus foi

ímpar, pois Maria não havia tido relação sexual com homem algum. Mas será que esta

doutrina tem alguma importância para nós? Não é simplesmente mais um milagre

realizado por Deus?

Na realidade o nascimento de Cristo tinha que ter sido por meio de uma

virgem. Podemos observar a importância do nascimento virginal apontando as seguintes

razões: O nascimento virginal ―mostra que a salvação em última análise deve vir do

Senhor.46

E além disto, pode-se ainda afirmar as seguintes razões da importância desta

doutrina:

Em resposta à indagação se o nascimento virginal tem

importância doutrinária, pode-se dizer que é inconcebível que

Deus fizesse Cristo nascer desse modo tão extraordinário, se

isto não atendesse a algum propósito. Pode-se expor o seu

propósito doutrinário como segue: (1) Era mister que Cristo

se constituísse o Messias e o messiânico Filho de Deus.

Conseqüentemente, era necessário que Ele nascesse de

mulher, mas também que não fosse fruto da vontade do

homem, mas nascesse de Deus... (2) Se Cristo fosse gerado

por um homem, seria uma pessoa humana, incluída na aliança

das obras, e, como tal, partilharia da culpa comum da

humanidade. Mas, visto que o Seu sujeito, o Seu ego, a Sua

46

Wayne grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 436.

32

pessoa, não provém de Adão, Ele não está na aliança das

obras e está livre da culpa do pecado.47

Sendo assim, o nascimento virginal é importante porque garante outras

doutrinas importantes. Na teologia as doutrinas são entrelaçadas, se aceitamos uma

heresia aqui, abrimos espaço para outra heresia ali... Deste modo, não podemos abrir

mão da doutrina da concepção sobrenatural de Cristo sem trazer sérias implicações

contra a Sua Pessoa e obra!

E quanto a Maria? A Igreja Católica traz em seu arcabouço doutrinário uma

grande ênfase a Maria. Tanto é sua ênfase que acabam por minimizar Jesus. É como se

Maria fosse mais importante do que o próprio Cristo! Será que Maria era tão importante

assim? Teologicamente falando Maria não tinha mérito algum para ser mãe de Jesus. O

próprio escritor ―Lucas afirma que o anjo a chamou de agraciada ou favorecida (1:28,

30). Graça e favor não dependem de méritos.‖ 48

Ora, Jesus tinha que nascer por meio de

uma mulher, e Maria foi escolhida para ser esta mãe. Não havia nada de especial nela. O

especial era Ele.

A obra sobrenatural do Espírito Santo

Todavia, para que houvesse um nascimento virginal era necessário a ação do

Espírito Santo em Maria. Como sabemos, todo ser humano precisa de material genético

de um homem e de uma mulher para poder existir a concepção. Contudo, Jesus só

utilizou material genético de Maria. Além do mais, Maria era pecadora, como poderia

conceber um homem santo? Desta forma vemos claramente que era necessária a obra do

Espírito nela. Mas, o que o Espírito Santo fez na concepção de Jesus? Observemos

abaixo:

(1) Ele foi a causa eficiente do que foi concebido no ventre

de Maria, e assim excluiu a atividade do homem como fator

eficiente. Isso está em completa harmonia com o fato de que

a pessoa que nasceu não era uma pessoa humana, mas a

pessoa do Filho de Deus que, como tal, não estava incluída na

aliança das obras e estava livre da culpa do pecado. (2) Ele

santificou a natureza humana de Cristo logo no início, e

assim a manteve livre da corrupção do pecado.49

O nascimento sobrenatural de Jesus trouxe à realidade a existência um das

doutrinas mais misteriosas do cristianismo: a encarnação de Cristo. O Filho de Deus (a

2º Pesoa da Trindade), veio em forma de homem. E agora é o Deus-homem, divindade-

47

Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990, p 337. 48

“O Emanuel” in Revista O Credo Apostólico. São Paulo, Cultura Cristã, s/d, p 14. 49

Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990, p 336.

33

humanidade, Criador-criatura. O nascimento virginal trouxe à existência o Filho de

Deus que era divino (Jo 1:1, 14, 18; 1Jo 5:20; Cl 1:13-23; Tt 2:13; Hb 1:3), e ao mesmo

tempo era humano (2Jo 7; Jo 1:1; Fp 2:6, 7; 1Tm 2:5; corpo humano – Jo 4:6; Lc 23:46;

Jo 19:28; mente humana – Lc 2:52; Hb 5:8; Mc 13:32; emoções humanas – Jo 12:27;

13:21; Mt 26:38; Jo 11:35; Mt 8:10), sem que houvesse fusão, mudanças, ou qualuqer

tipo de anormalidade para quelquer das duas naturezas em questão – a natureza divina e

a humana. Vejamos o que declara a Confissão de Fé de Westminster sobre as duas

naturezas de Cristo no seu Capítulo VIII - DE CRISTO O MEDIADOR, Seção II: ―O

Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus, da

mesma substância do Pai e igual a ele, quando chegou o cumprimento do tempo, tomou

sobre si a natureza humana com todas as suas propriedades essenciais e enfermidades

comuns, contudo sem pecado, sendo concebido pelo poder do Espírito Santo no ventre

da Virgem Maria e da substância dela. As duas naturezas, inteiras, perfeitas e distintas -

a Divindade e a humanidade - foram inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem

conversão, composição ou confusão; essa pessoa é verdadeiro Deus e verdadeiro

homem, porém um só Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem.‖ (Jo 1:1,14; 1Jo

5:20; Fp 2:6; Gl 4:4; Hb 2:14,17;4:15; Lc 1:27, 31, 35; Mt 16:16; Cl 2:9; Rm 9:5;1:3,4;

1 Tm 2:5)

Sem a obra do Espírito Santo Jesus teria sido comprometido em Sua obra de

Mediador da aliança da graça. O Espírito participou ativamente deste serviço e salvação

divina planejados desde a fundação do mundo.

34

“... PADECEU SOB O PODER DE PÔNCIO PILATOS, FOI CRUCIFICADO...”

(2º Seção)

Introdução

Como vimos anteriormente a 2º Seção do Credo fala a respeito da Pessoa do

Mediador – quem Ele é, e de que modo se fez homem. Chega o momento agora de o

Credo declara a obra que o Mediador realizou. Neste sentido, estudaremos as duas

primeiras declarações que afirmam algo sobre o sofrimento e morte de Jesus.

“... padeceu sob o poder de pôncio pilatos ...”

A primeira declaração que o Credo faz da obra de Cristo é sobre o Seu

sofrimento. Diz o Credo que ele ―padeceu‖. Talvez por causa de nossa familiaridade

com as verdades do Evangelho nós deixemos de atentar para a seriedade e o significado

dos sofrimentos de Jesus. Lembremo-nos de que Ele não merecia sofrer. Tudo que Ele

sofreu foi por causa de nosso pecado! Afirmar que Jesus sofreu não é apenas lembrar o

que Ele passou aqui na terra, mas lembrar do porquê Ele veio para a terra. ―A

declaração sobre o sofrimento de cristo, afinal, não é uma formalidade vazia. Porque Ele

sofreu, nossos pecados estão pagos.‖ 50

Além do mais, há outra razão que podemos

apontar que demonstra a importância desta afirmação do Credo. É a questão da

importância histórica e factual:

A fé cristã é histórica. Isto quer dizer que a crença cristã não

é inventada, nem é produto da imaginação. Pelo contrário, a

fé cristã tem raízes profundas no solo da História. Por isto, o

Credo Apostólico diz que Jesus Cristo ―padeceu sob o poder

de Pôncio Pilatos‖.... A menção de Pilatos é importante, pois

aponta para a historicidade da fé cristã... A fé cristã não

precisa de comprovação histórica para determinação de sua

credibilidade. Mas nem por isso deixa de ser absolutamente

verdadeira e digna de confiança. Quando se convida alguém a

crer em Jesus, não está convidando a crer em mito, ou numa

lenda. 51

50

“Jesus Cristo, o Sofredor” in Revista O Credo Apostólico. São Paulo, Cultura

Cristã, s/d, p 17. 51

Carlos Ribeiro Caldas Filho, “O sacrifício de Jesus” in Revista Em que cremos?

Manhumirim, Didaquê, abr/1999, p 16, 17.

35

Este Jesus em quem nós colocamos a nossa fé não é um ―Cristo produzido por

uma religião humana‖, mas o Filho de Deus real que desceu até a terra e viveu

historicamente entre os homens.

“... foi crucificado...”

O Credo também fala a respeito da crucificação de Jesus. Como o Credo é

cristão, nem podia deixar de falar sobre este assunto, visto ser ele um dos principais da

nossa fé. Todos nós cristãos afirmamos que Cristo morreu por nós, mas sabemos as

implicações desta afirmação? Vejamos abaixo alguns aspectos teológicos do sacrifício

de Jesus:

1. O sacrifício foi vicário (Is 53:4, 5; 2Co 5:21): A palavra ―vicário significa ―em

lugar de‖. Jesus morreu em nosso lugar.

2. O sacrifício tem valor permanente (Hb 9:11-15): Jesus não precisa repetir o

sacrifício que fez de Si mesmo.

3. O sacrifício foi eficaz (Hb 9:23-26): Nada se pode fazer para aumentar o poder

e a eficácia do sacrifício de cristo.

4. O sacrifício garante o livre acesso ao Pai (Mt 27:51; Hb 10:19-22): Os salvos

têm livre acesso à presença de Deus.52

5. O sacrifício foi limitado em extensão (Jo 17:9, 20; 6:37-39; 10:11, 15, 26; At

20:28; Ef 5:25-27; Mt 1:21; Rm 8:32-35)

O sacrifício de Jesus foi absolutamente necessário para nossa salvação (Mt

26:39-44; Gl 3:21; Rm 6:23). E fazer veste sacrifício demonstra o grande amor que

Deus teve por nós (Jo 3:16; Rm 5:8). Na Confissão de Fé de Westminster em seu

Capítulo VIII – De Cristo o Mediador, declara:

Seção IV - Este ofício o Senhor Jesus empreendeu mui voluntariamente. Para

que pudesse exercê-lo, ele se fez sujeito à lei, a qual ele cumpriu perfeitamente,

padeceu imediatamente em sua alma os mais cruéis tormentos, e em seu corpo

os mais penosos sofrimentos; foi crucificado e morreu; foi sepultado e ficou

sob o poder da morte, mas não viu a corrupção; ao terceiro dia ressuscitou dos

mortos com o mesmo corpo com que tinha padecido; com esse corpo subiu ao

céu, onde está sentado à destra do Pai, fazendo intercessão; de lá voltará no fim

do mundo para julgar os homens e os anjos. (Sl 40:7-8; Hb 10:5-6; Jo 4:34: Fp

52

Carlos Ribeiro Caldas Filho, “O sacrifício de Jesus” in Revista Em que cremos?

Manhumirim, Didaquê, abr/1999, p 17.

36

2-8; Gl 4:4; Mt 3:15;5:17;26:37-38; Lc22:24; Mt 27.46; Fp2:8; At

2:24,27;13:37; 1Co15:4; Jo 20:25-27; Lc 24:50-51; 2Pe 3:22; Rm 8:34; Hb

7:25; Rm 14:10: At 1:11; Jo 5:28-29; Mt 13:40-42).

Seção V - O Senhor Jesus, pela sua perfeita obediência e pelo sacrifício de si

mesmo, sacrifício que, pelo Eterno Espírito, ele ofereceu a Deus uma só vez,

satisfez plenamente à justiça de seu Pai, e, para todos aqueles que o Pai lhe

deu, adquiriu não só a reconciliação, como também uma herança perdurável no

Reino dos Céus. (Rm 5:19; 3:25,26; Hb 10:14; Ef 1:11,14; Cl 1:20; 2Co

5:18,20; Jo 17:2; Hb 9:12,15).

Seção VI - Ainda que a obra da redenção não fora realmente realizada por

Cristo senão depois da sua encarnação; contudo a virtude, a eficácia e os

benefícios dela, em todas as épocas sucessivas desde o princípio do mundo,

foram comunicados aos eleitos por meio das promessas, tipos e sacrifícios,

pelos quais ele foi revelado e significado como a Semente da mulher que devia

esmagar a cabeça da serpente, como o cordeiro morto desde o princípio do

mundo, sendo o mesmo ontem, hoje e para sempre. (Gl 4:45; Gn 3:15; Hb 3:8).

E ainda no Capítulo XXXV – Do Amor de Deus e das Missões, na Seção I:

―Em seu amor infinito e perfeito - e tendo provido no pacto da graça, pela mediação e

sacrifício do Senhor Jesus Cristo, um caminho de vida e salvação suficiente e adaptado

a toda a raça humana decaída como está - Deus determinou que a todos os homens esta

salvação de graça seja anunciada no Evangelho.‖ (Jo 3:16; I Tm 4:10; Mc 16:15).

37

“... MORTO E SEPULTADO; DESCEU AO HADES...” (2º Seção)

Introdução

Nas declarações anteriores o Credo fala sobre os sofrimentos de Cristo e de sua

morte vicária. Agora declara sobre o que ocorreu no momento da crucificação e depois

da sua ocorrência. O ministério do Messias não foi fácil. Ele sofreu muito e por fim

pagou um preço terrível para obter a salvação do povo escolhido de Deus. Nestas

declarações do Credo que agora analisaremos, vemos que a cruz de Jesus foi a mais

pesada de todas que já existiram.

Quando Credo declara que Jesus morreu e foi sepultado, está fazendo uma

afirmação importantíssima para nós cristãos. Jesus veio para salvar pecadores.

Pecadores que deviam a pena de morte a um Deus Justo. Portanto, morrendo na cruz

Jesus cumpriu uma pena que era nossa. Jesus não poderia simplesmente sofrer por nós...

Ele deveria morrer.

Entretanto, a questão mais séria que entra em debate nas declarações do Credo

é sobre a descida de Jesus ao inferno (hades). Apesar de a palavra Hades poder ter o

significado de ―sepultura‖, a frase ―desceu ao inferno‖ foi inserida depois da expressão

―sepultado‖, e muitos cristãos a entenderam no sentido de ―inferno‖ mesmo. Portanto,

devemos dar uma explicação do significado desta frase.

Durante a história da igreja os reformados interpretaram esta expressão de duas

formas diferentes, as quais passamos a apresentar abaixo:

1. Catecismo de Heidelberg pergunta 44: Por que se acrescenta “desceu ao

inferno”? Resp: Para que em minhas mais duras tribulações eu esteja certo de

que Cristo, o meu Senhor, redimiu-me das angústias e dos tormentos do

inferno por sua indizível angústia, dores e terrores que sofreu em sua alma,

tanto sobre a cruz como antes.‖

2. No Catecismo maior de Westminster em sua pergunta nº 50 diz: Em que

consistiu a humilhação de Cristo depois de sua morte? Resp: A humilhação de

Cristo, depois da sua morte, consistiu em ser ele sepultado, em continuar no

estado dos mortos e sob o poder da morte até ao terceiro dia, o que, aliás, tem

sido expresso nestas palavras: Ele desceu ao inferno (= Hades). (Mt 12:40;

1Co. 15:3, 4)

Certamente que não precisamos nos preocupar tanto com o significado desta

expressão a não ser pelo fato de ela estar no Credo que nós também aceitamos.

Entretanto, lembremos que em nenhum lugar nas Escrituras vai afirmar que Cristo

desceu literalmente no inferno. Concluindo podemos dizer:

38

Segundo a posição reformada (calvinista) usual, as palavras

se referem não somente aos sofrimentos de Cristo na cruz,

mas também às agonias do Getsêmani... De modo geral,

parece melhor combinar dois pensamentos: (a) que cristo

sofreu as angústias do inferno antes da Sua morte, no

Getsemâni e na cruz; e (b) que Ele adentrou a mais profunda

humilhação do estado de morte.53

Ainda que tendo em mente que Jesus não desceu ao inferno, mas que sofreu a

ira de Deus nos seus momentos finais de vida, devemos ainda compreender como se deu

este acontecimento. Como Jesus, que também era Deus, pôde receber a própria ira

contra o pecado?! É o que procuramos responder em seguida:

Ele esteve sujeito, não somente à morte física mas também à

morte eterna, se bem que sofreu esta intensiva, e não

extensivamente, quando agonizou no jardim e quando bradou

na cruz, ―Deus meu, deus meu, por que me desamparaste?‖

Num curto período de tempo, Ele suportou a ira infinita

contra o pecado até o fim, e saiu vitorioso. Isto somente Lhe

foi possível graças à Sua natureza exaltada. Neste ponto,

porém, devemos resguardar-nos contra algum entendimento

errôneo. No caso de Cristo, a morte eterna não consiste numa

abrogação da união do Logos com a natureza humana, nem

num abandono da natureza divina por parte de Deus, nem em

retirar o Pai o Seu divino amor ou o Seu beneplácito da

pessoa do Mediador. O Logos permaneceu unido à natureza

humana, mesmo quando o corpo estava no túmulo; a natureza

divina absolutamente não podia ser desamparada por Deus; e

a pessoa do Mediador foi e continuou sendo sempre objeto do

favor divino. A morte eterna revelou-se na consciência

humana do Mediador como um sentimento de desamparo de

Deus. Isto implica que a natureza humana perdeu por um

momento o consciente e fortalecedor consolo que podia

auferir da sua união com o Logos divino, bem como a

percepção do amor divino, e esteve dolorosamente cônscia da

plenitude da ira divina que pesava sobre ela. Contudo, não

houve desespero, pois, mesmo na hora mais trevosa,

enquanto exclama que está desamparado, dirige Sua oração a

Deus.54

53

Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990, p 343. 54

Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990, p 340.

39

“RESSURGIU DOS MORTOS AO TERCEIRO DIA; SUBIU AO CÉU; ESTÁ ASSENTADO À MÃO DIREITA DE DEUS PAI

TODO-PODEROSO, DE ONDE HÁ DE VIR PARA JULGAR OS VIVOS E OS MORTOS.”

(2º Seção)

Introdução

Após descrever verdades a respeito da obra de Cristo até a sua morte (como vítima

vicária), o Credo agora passa a referir as suas obras como Mediador vitorioso. Desta forma

temos referência à ressurreição, ascensão, posição à destra de Deus, seu retorno vitorioso e o

julgamento final. Estes aspectos completam a obra de Cristo descrita no Credo, e fazemos

bem estudá-las a fim de entender seus significados.

“Ressurgiu dos mortos ao terceiro dia...”

Ainda que tenha sido preciso Jesus morrer para pagar o preço do pecado que os

eleitos deviam a Deus, Ele não termina completamente Sua obra de salvação com ela. Ali

Ele cumpre a pena (condenação) imposta aos pecadores por seus pecados. Mas Cristo não

poderia ser derrotado por ela. Se Cristo queria conceder vida ao Seu povo, deveria vencer a

morte.

Apesar de muitos duvidarem da ressurreição de Cristo, e providenciarem as mais

diversas interpretações a fim de tentar desmentir a ressurreição, o fato é que as Escrituras

afirmam enfaticamente que Jesus ressurgiu dos mortos:

1. A Maria Madalena - Jo 20.10-18;

2. Às mulheres que voltavam do túmulo - Mt 28.9;

3. Aos dois discípulos a caminho de Emaús - Lc 24.13-35;

4. Ao apóstolo Pedro - Lc 24.34; l Co 15.4,5;

5. Aos apóstolos (e outras pessoas com eles), sem a presença de Tomé - Lc 24.33-49;

Jo 20.19-25;

6. Aos mesmos, oito dias depois, com a presença de Tomé - Jo 20.26-29;

7. Na praia do Mar de Tiberíades - Jo 21.1-14;

8. Ao discípulo Tiago - l Co 15.7;

9. Aos onze, em um monte da Galiléia - Mt 28.16-20;

10. A quinhentos irmãos - l Co 15.6;

11. Aos onze, no dia da ascensão - Lc 24.50-53; At 1.1-11.

12. Além destas, o evangelista Lucas afirma que Jesus "aos discípulos se apresentou

vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta dias"

(At 1.3).

40

Um aspecto a respeito da doutrina da ressurreição que devemos notar é que ―Os

apóstolos não procuravam provar a ressurreição de Cristo; era para eles um objeto de fé, e

mais ainda, o alicerce dessa fé (Rm 4.25; l Co 15.14).‖55

Não foi preciso chamara um

médico, um cientista, um juiz... ou qualquer outro tipo de profissional para comprovar a

ressurreição de Jesus. Eles mesmos testificaram sua autenticidade, e não somente eles, mas

igualmente outras testemunhas (l Co 15.6). Sendo assim, ou nós cremos nos relatos bíblicos

inspirados por Deus, ou estaremos negando um dos pilares do cristianismo, sem o qual, torna

inútil a fé dos crentes (1Co 15).

Além de vasto testemunho no Novo Testamento, encontramos também testemunho

do Antigo Testamento acerca deste fato, pois o Antigo Testamento previu a ressurreição de

Jesus (Lc 24:44-46; At 2:25-27). Isto demonstra o peso da importância desta doutrina para a

religião cristã. Para compreendermos melhor as implicações doutrinárias decorrente do fato

da ressurreição, vejamos abaixo a explicação:

É indubitável que a ressurreição tem suportes doutrinários. Não

podemos negar a ressurreição física de Cristo sem impugnar a

veracidade dos escritores da Escritura, visto que, sem dúvida,

eles a descrevem como um fato. Quer dizer que afeta a nossa

crença na fidedignidade da Escritura. Além disso, a ressurreição

de Cristo é descrita como tendo valor de prova. É a prova

culminante de que Cristo foi um mestre enviado por Deus (o

sinal de Jonas), e de que Ele é o verdadeiro Filho de Deus, Rm

1:4. É também o supremo atestado do fato da imortalidade. Mais

importante ainda, a ressurreição entra como um elemento

constitutivo da própria essência da obra de redenção e, portanto,

do Evangelho. É uma das grandes pedras do alicerce da igreja de

Deus. Se, afinal, a obra expiatória de Cristo devia ser eficaz,

tinha que terminar, não na morte, mas na vida. Ademais, foi o

selo do Pai aplicado à obra consumada de Cristo, foi a

declaração de que Ele a aceitou. Nela, Cristo saiu de sob a lei.

Finalmente, foi Seu ingresso numa nova vida. como a ressurreta

e exaltada Cabeça da igreja e Senhor universal. Isto O habilitou a

fazer aplicação dos frutos da Sua obra redentora.56

E também:

A ressurreição de Cristo tem significação tríplice: (1) Constituiu

uma declaração do Pai de que o último inimigo tinha sido

vencido, a pena tinha sido cumprida, e tinha sido satisfeita a

55

Dionei Faria, A Exaltação de Cristo in Revista Em que Cremos? Manhumirim,

Didaquê, n°46, abr/99, p 20. 56

Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, LPC, 1998, p 350.

41

condição em que a vida fora prometida; (2) Foi um símbolo

daquilo que estava destinado a suceder aos membros do corpo

místico de Cristo em sua justificação, em seu nascimento

espiritual e em sua bendita ressurreição futura, Rm 6.4, 5, 9;

8.11; l Co 6.14; 15.20-22; 2 Co 4.10, 11, 14; Cl 2.12; l Ts 4.14;

(3) Relacionou-se também instrumentalmente com a

justificação, a regeneração e a ressurreição final dos crentes, Rm

4.25; 5.10; Ef 1.20; Fp 3.10; l Pe 1.3.57

Como podemos perceber as Escrituras não deixam dúvida de que Jesus ressuscitou.

Porém, qual a natureza de Seu corpo após Sua ressurreição? Sobre esta questão não temos

muitíssimas informações a fim de tirarem todas as nossas curiosidades, contudo, a respeito

desta questão nós podemos afirmar primeiramente o seguinte: 1- Jesus ressuscitou com um

corpo físico, não imaterial (Mt 28:9; Lc 24:15-18, 28-29; Lc 24:30; Jo 20:15; 20:20; 20:27;

21:12-13; Lc 24:39; At 10:41); 2- Jesus não somente tornou à vida, mas reviveu com um

corpo glorificado. E como era este corpo glorificado? Ele poderia se transportar como os

anjos? Ou se desmaterializar? Vejamos o seguinte comentário a respeito da natureza do

corpo de Jesus depois da ressurreição:

Mas o que essas aparições físicas procuravam ensinar aos

discípulos, senão que o corpo ressurreto de Jesus era

definitivamente um corpo físico? Se Jesus ressurgiu dos mortos

com o mesmo corpo físico com o qual morreu, e se ele apareceu

repetidamente aos discípulos naquele corpo físico, comendo e

bebendo entre eles (At 10:41) durante quarenta dias, e se ele

subiu ao céu com aquele mesmo corpo físico (At 1:9), e se o

anjo imediatamente disse aos discípulos: ―Esse Jesus que dentre

vós foi assunto ao céu virá do mesmo modo como o vistes subir‖

(Atos 1.11), então Jesus evidentemente estava-lhes ensinando

que seu corpo ressurreto era um corpo físico. Se a "forma

habitual" do seu corpo ressurreto não fosse física, então essas

repetidas aparições físicas de Jesus seriam culpadas de enganar

os discípulos (e todos os leitores posteriores do Novo

Testamento) para que pensassem que seu corpo ressurreto

permanecia físico, embora isso não acontecesse. Se ele fosse

habitualmente não físico e iria tornar-se eternamente não físico

com a ascensão, então as palavras de Jesus seriam muito

enganadoras: "Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu

mesmo; apalpai-me e verificai, porque um espírito não tem carne

nem ossos, como vedes que eu tenho‖ (Lucas 24.39). Ele não

disse: "... carne nem ossos, como vedes que eu tenho

57

Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, LPC, 1998, p 347.

42

temporariamente"! Teria sido muito errado ensinar aos

discípulos que ele tinha um corpo físico, se no seu modo normal

de existência ele realmente não o possuía.

Caso Jesus quisesse ensinar-lhes que podia

materializar-se e desmaterializar-se à vontade (como Harris

argumenta), ele poderia facilmente ter-se desmaterializado

diante dos seus olhos, de modo que eles pudessem registrar esse

evento com clareza. Ou poderia ter atravessado uma parede

enquanto eles estavam observando, em vez de aparecer

subitamente entre eles. Resumindo, se Jesus e os autores do

Novo Testamento tivessem desejado nos ensinar que o corpo

ressurreto era habitual e essencialmente imaterial, eles poderiam

tê-lo feito, mas em vez disso forneceram muitas indicações

claras de que era normalmente físico e material, apesar de ser um

corpo aperfeiçoado, liberto para sempre de fraqueza, doença e

morte.58

“... subiu aos céus, está sentado à mão direita de Deus Pai, Todo-Poderoso...”

A Bíblia declara não somente que Jesus ressuscitou, mas que Ele subiu aos céus.

Ou seja, fala de Sua ascensão às alturas, para a presença de Deus (Lc 24:50-53; At 1:6-11;

Mc 16:19; Jo 6:62; 14:2,12; 16:5, 10, 17, 28; 17:5; 20:17). Lá no céu, sua condição é de

exaltação. As Escrituras afirmam que Ele está sentado à direita de Deus (Mt 26:64; At 2:33-

36; 5:31; Ef 1:20-22; Hb 10:12; 1Pe 3:22; Ap 3:21; 22:1). É exatamente isto que é referido

no Credo dos Apóstolos. Mas o que significa esta posição à direita de Deus Pai? O teólogo

reformado Louis Berkhof , dá explicação acerca desta doutrina a qual citamos abaixo:

Estar assentado à destra do rei podia ser apenas um sinal de

honra, 1Rs 2:19, mas também podia denotar participação no

governo e, conseqüentemente, na honra e na glória. No caso de

Cristo, era indubitavelmente uma indicação do fato de que o

Mediador recebeu as rédeas do governo sobre a igreja e sobre o

universo e foi feito participante da glória correspondente. Não

significa que Cristo não tinha sido o Rei de Sião antes desse

tempo, mas, sim, que aí Ele foi publicamente empossado como

Deus e homem e, nesta qualidade, recebeu o governo da igreja,

do céu e da terra, e entrou solenemente na administração real e

concreta do poder a Ele confiado.59

58

Wayne Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 512, 513. 59

Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, LPC, 1998, p 352, 353.

43

“... de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos.”

Um pouco antes de Sua ascensão aos céus Jesus havia dito que voltaria para este

mundo. De acordo com o plano divino O Mediador deveria ficar à destra do Pai até que

todos os eleitos sejam salvos, e até chegar á data marcada para o fim desta era da

humanidade. Mas como será este retorno de Cristo? As Escrituras nos declaram algumas

características do retorno de Jesus:

1. Repentina e inesperada (Mt 24:42-44, 50; Mt 25:13; Mc 13:32,33, 34-37; Lc

12:40; 1Ts 5:2);

2. A volta do Senhor está próxima (Tg 5:7-9; 1Pe 4:7; Ap 1:3; 22:7, 12, 20);

3. Um retorno pessoal (Mt 24:44; 1Co 15:23; Fp 3:20; 1Ts 2:19; 3:13; 4:15-17) e

físico (Hb 9:28; At 1:11; 3:20, 21; Ap 1:7);

4. Um retorno visível (Mt 24:30; 26:64; Mc 13:26; Lc 21:27; Cl 3:4; Tt 2:13);

5. Virá em glória e triunfo (Hb 9:28; Mt 24:30; 25:31; Ap 19:11-16);

Em seu início da obra salvadora o Filho veio como Sofredor passar por todo tipo de

sofrimento penal para remir o Seu povo. Entretanto, depois de vencidos a morte, o pecado e

o Diabo, Jesus voltará para completar a salvação dos fiéis. Para isto Ele realizará dois

eventos: O Julgamento universal e o estabelecimento do Novo Céu e da Nova Terra.

No evento do julgamento final nós teremos Jesus como juiz (Mt 25:31, 32; 2Tm

4:1; At 10:42; 17:31; Fp 2:10; Jo 5:26-27). Aquele que veio para salvar, em Seu retorno virá

para julgar, não somente todos os seres humanos (Sl 50:4-6; Ec 12:14; Mt 12:36, 37; 25:32;

Rm 14: 10; 2Co 5:10; Ap 20:12); como igualmente os anjos (Mt 8:29; 2Pe 2:4; Jd 6). E não

nos enganemos, até os crentes serão julgados (Rm 14:10, 12; 2Co 5:10; Rm 2:6-11; Ap

20:12, 15; Mt 25 ), embora não serão condenados (Rm 8:1; Jo 5:24). ―É importante perceber

que esse julgamento dos crentes será para avaliar e conceder vários níveis de recompensa... o

dia do juízo pode ser descrito como o dia em que os crentes são premiados e os incrédulos,

punidos.‖60

(Ap 11:18)

Ora, como bem sabemos as pessoas que morrem já vão direto para o local em que

lhe está destinado para a eternidade. Ou seja, quem morre ímpio, já vai para o inferno; quem

morre salvo, já vai para o céu. Então qual o sentido de se ter um julgamento no final desta

era? Qual o propósito de Deus julgar todos os homens? O propósito divino é ―expor diante

de todas as criaturas racionais a glória declarativa de Deus num ato formal e forense que, por

um lado, engrandecerá a Sua santidade e justiça, e, por outro lado, engrandecerá a Sua graça

e misericórdia.‖61

Como nos declara a Confissão de Fé de Westminster em seu Capítulo

XXXIII - DO JUÍZO FINAL, na Seção II: “O fim que Deus tem em vista, determinando

esse dia, é manifestar a sua glória - a glória de sua misericórdia na salvação dos

eleitos, e a glória da sua justiça na condenação dos réprobos, que são perversos e

desobedientes.”

60

Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 977. 61

Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, LPC, 1998, p 737.

44

“CREIO NO ESPÍRITO SANTO; NA SANTA IGREJA UNIVERSAL; NA COMUNHÃO DOS SANTOS...”

(3º Seção)

Introdução

Chegamos à terceira Seção do Credo apostólico onde encontramos não somente a

respeito da terceira Pessoa da trindade, mas também várias doutrinas relacionadas a igreja de

Cristo. O Credo Apostólico não fala muito a respeito da doutrina do Espírito Santo, por isto

nós nos deteremos em explicar somente alguns pontos a Seu respeito, e em seguida

passaremos a examinar as demais doutrinas sobre a Igreja.

“Creio no Espírito Santo ...”

Muitos aspectos poderiam ser abordados a respeito do Espírito Santo, porém, como

nosso objetivo não é estudar exaustivamente a terceira Pessoa da trindade, mas sim, estudar

o conteúdo da declaração do Credo Apostólico, seremos breve, explanando somente o

básico, de acordo com a simples declaração contida nele.

1. A Personalidade do Espírito Santo

Ele possui intelecto, mente (Is 40:13, 14; Jo 14:26;15:26; At 15:28; Rm

8:27; 1Co 2:10- 12);

Ele possui vontade (Sl 106:32, 33; Is 34:16; At 13:2; 16:7; 21:11; 1Co

12:11; 1Tm 4:1);

Ele possui emoções (Mq 2:7; Rm 15:30; Is 63:10; Ef 4:30).

2. A Divindade do Espírito Santo

Ele possui Onipotência (Lc 1:35; Jó 33:4; Rm 8:11);

Ele possui Onisciência (Is 40:13, 14; 1Co 2:10);

Ele possui Onipresença (Sl 139:7,8);

Ele possui a mesma honra do Pai e do Filho (Mt 28:19; 2Co 13:13);

Ele foi chamado de Deus (At 5:3,4);

Ele participa da redenção dos homens (1Co 6:11; 12:3; Tt 3:5).

3. Deveres cristãos relacionados ao Espírito Santo

Encher-se do Espírito Santo (Ef 5:18);

Andar no Espírito Santo (Gl 5:16);

45

Não entristecer o Espírito Santo (Ef 4:30);

Não apagar o Espírito Santo (1Ts 5:19).

“Na santa igreja universal...”

O Credo Apostólico ao declarar ―creio na santa Igreja universal‖ estava falando de

dois atributos da Igreja descritos pela teologia protestante. Estes atributo são descritos como

a SANTIDADE da Igreja e a CATOLICIDADE da Igreja. Vejamos abaixo o que significa

cada um deles:

1. Santidade da Igreja:

―A igreja é absolutamente santa num sentido objetivo, isto é, como ela é

considerada em Jesus Cristo. Em virtude da justiça mediatária de Cristo, a

igreja é tida por santa perante Deus. Também, num sentido relativo, os

protestantes consideram a igreja como subjetivamente santa, isto é, como

realmente santa no princípio interior da sua vida, e destinada à santidade

perfeita. Daí, ela de fato pode ser denominada comunidade dos santos.‖ 62

―A santidade da igreja implica, objetivamente, que a igreja é santa em

Cristo sua cabeça e, subjetivamente, que ela é santa pela virtude do

princípio da regeneração e santificação. Por esta razão, seus membros

podem e devem ser chamados de santos em Cristo Jesus.‖63

2. Catolicidade da Igreja:

―Os protestantes insistem em que a igreja invisível é primordialmente a

real igreja católica, porque inclui todos os crentes da terra, de toda e

qualquer época particular, sem nenhuma exceção; porque,

conseqüentemente, ela também tem os seus membros entre todas as

nações evangelizadas do mundo... Secundariamente, eles também

atribuem o atributo de catolicidade à igreja visível.‖64

―A catolicidade da igreja implica que a igreja é internacional, reunida de

toda tribo, língua e nação.‖65

62

Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, LPC, 1998, p 578. 63

Herman Hoeksema, Os Quatro Atributos da Igreja. Fonte:

http://www.monergismo.com 64

Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, LPC, 1998, p 579. 65

Herman Hoeksema, Os Quatro Atributos da Igreja. Fonte:

http://www.monergismo.com

46

“Na comunhão dos santos...”

A afirmação de fé na comunhão dos santos nos traz à luz uma verdade que

precisa ser lembrada em meio ao caos em que se encontram as igrejas evangélicas

atuais. Há igrejas que praticamente não ―se chegam perto uma da outra‖. A comunhão é

quase que somente na teoria! Isto se deve muitas vezes por causa de um apego à própria

denominação. Os membros não precisam agir assim.

Ao referirmo-nos à comunhão dos crentes, devemos entender que tipo de

comunhão é esta. Neste caso, vejamos os dois aspectos desta comunhão cristã – a

comunhão visível e a comunhão invisível:

Entre os muitos benefícios que Cristo trouxe a todos nós,

encontra-se a comunhão existente entre os membros de seu

corpo, que é a igreja. É um dos maiores resultados do poder

do Espírito Santo na vida da comunidade cristã. Uma

comunhão que se apresenta em dois aspectos – visível e

invisível... Quando surgem desentendimentos e divisões na

igreja de Cristo e entre os seus membros, individualmente, a

comunhão visível pode ser quebrada, mas a invisível, jamais

o será.66

Como pudemos observar, a comunhão entre os cristãos independe de sua

vontade, pois a partir da hora em que ele aceita Jesus, sua vida já está ligada aos outros

crentes através do Corpo de Cristo. Quem é salvo, é do Corpo, e quem é do corpo, não

pode estar fora da comunhão invisível. ―A partir do momento em que uma pessoa é

salva e passa a fazer parte do reino de Deus, esse vínculo se estabelece entre ele e

aqueles que já fazem parte desse reino.‖67

Esse vínculo de comunhão é tal, que nunca se

arrebentará, pois nunca seremos afastados do Corpo de Cristo.

Evidentemente que numa igreja vemos muitas pessoas com opiniões e

pensamentos diferentes. Contudo, nenhum aspecto que torne um membro diferente do

outro, é capaz de finalizar a comunhão invisível que ambos têm em participar do reino

de Deus:

Uma igreja local é composta de pessoas muito diferentes

entre si. Nela há brancos e negros, ricos e pobres, doutores e

analfabetos, homens e mulheres, crianças e adultos... Mesmo

assim, existe uma comunhão entre todos, porque essa

comunhão que se estabelece é pela obra do Espírito Santo.

66

Sérgio Pereira Tavares, “A Comunhão Cristã” in Revista Em que cremos?

Manhumirim, Didaquê, abr/1999, p 31. 67

Sérgio Pereira Tavares, “A Comunhão Cristã” in Revista Em que cremos?

Manhumirim, Didaquê, abr/1999, p 31.

47

Essa comunhão não é apenas de caráter humano. Mesmo que

alguns quebrem a comunhão visível, a invisível permanece, a

despeito das diferenças.68

Nem mesmo quando vemos a separação visível entre os crentes por causa da

existência de várias denominações evangélicas, isto não significa ―divisões dentro do

Corpo de Cristo‖ (1Co 1:13). Os cristãos estão sempre unidos pelo Espírito ao mesmo

Cristo. Há somente uma igreja de Cristo, e não várias igrejas! Assim sendo, a verdade

da comunhão inevitável que há entre os crentes no Corpo de Cristo deveria fazer com

que estes, independente de denominação, se juntassem na obra do reino do Senhor:

As várias denominações cristãs precisam, também,

compreender o valor dessa comunhão visível. Evidentemente,

não se trata de unir todas numa só, mas unir-se nos esforços

para a proclamação do evangelho e promoção humana; no

diálogo e no respeito pelas diferenças; na valorização da vida

e nos propósitos comuns; no crescimento mútuo e

fortalecimento da fé.69

68

Sérgio Pereira Tavares, “A Comunhão Cristã” in Revista Em que cremos?

Manhumirim, Didaquê, abr/1999, p 32. 69

Sérgio Pereira Tavares, “A Comunhão Cristã” in Revista Em que cremos?

Manhumirim, Didaquê, abr/1999, p 33.

48

“NA REMISSÃO DOS PECADOS; NA RESSURREIÇÃO DO CORPO; NA VIDA ETERNA. AMÉM.”

(3º Seção)

Introdução

A última parte do Credo apostólico contém três doutrinas que se interligam

necessariamente. A primeira delas fala do perdão dos pecados. Ora, a partir do momento que

nós somos remidos de nossos pecados, significa que vencemos não somente os pecados mas

igualmente a morte. Portanto, podemos crê na nossa futura ressurreição. E já que cremos na

ressurreição, devemos afirmar também que nossa vida como ressurretos tem a qualidade da

vida eterna, pois a salvação que Cristo trouxe não somente nos dá a condição de vida de

Adão, mas nos eleva a um estágio superior de vida.

“Na remissão dos pecados...”

Como vimos anteriormente, o Credo fala vários aspectos da obra salvadora de

Cristo. Agora, nestas últimas declarações, vemos três conseqüências da obra salvadora do

Senhor. A primeira referência é à ―remissão dos pecados‖. Mas o que significa esta

expressão? Vejamos a explicações abaixo:

―Remissão é o ato de adquirir de novo; de indenizar prejuízos; de livrar, mediante

compra, alguém do cativeiro; tornar a alcançar um direito; pagar uma dívida

própria ou de outra pessoa. O Credo Apostólico, nessa expressão, lembra a

doutrina bíblica de que os nossos pecados, que constituíam uma dívida para com

Deus, foram remidos, resgatados, pagos pelo Senhor Jesus, em nosso favor,

ficando nós, em conseqüência, livres dessa dívida, ou seja, livres da culpa do

pecado.‖70

A palavra ‗Remir‘ ―significa readquirir mediante compra, resgatar uma dívida,

libertar de um ônus pagando a sua importância. Assim, remissão significa

libertação.‖71

Como podemos observar, ser remido, é ser resgatado dos pecados, liberto da

escravidão do pecado. Nem todo mundo entende isto. Pensam que a salvação do homem

pode ser alcançada por outros meios que não pela obra de Cristo. Isto é um equívoco total. O

Credo por sua vez, acertadamente coloca a remissão dos pecados como uma doutrina a ser

70

“A Remissão dos Pecados” in Revista O Credo Apostólico. São Paulo, Cultura

Cristã, s/d, p 28. 71

Sérgio Pereira Tavares, “A Remissão dos Pecados” in Revista Em que cremos?

Manhumirim, Didaquê, abr/1999, p 34.

49

crida e confessada pelos cristãos. Esta doutrina possui em seu conteúdo as seguintes

implicações:

1. O reconhecimento da própria pecaminosidade;

2. A compreensão do grande amor de Deus.72

“Na ressurreição do corpo...”

Ao falarmos da ressurreição de Cristo nós ficamos sabendo que ela era

indispensável para nossa salvação. Quando as Escrituras falam a respeito da salvação do

homem, não está falando simplesmente da salvação da alma do homem. O homem completo

- corpo e alma – é contemplado por Deus. Esta declaração do Credo a respeito de nossa

ressurreição traz consigo algumas verdades que precisamos considerar e aprender:

1. A ressurreição do corpo tem por base a ressurreição de Cristo;

2. A ressurreição demonstra o valor que o corpo possui;

3. A ressurreição do corpo nos leva a uma condição superior de vida.73

Declarar que cremos na ressurreição não é a mesma coisa de saber como será esta

ressurreição. Pois bem, a fim de aprendermos mais sobre o assunto, passemos a considerá-lo

mais um pouco.

Devemos ter em mente que quando os crentes ressuscitarem, não serão

simplesmente vivificados. Ou tornados à vida. Como podemos ver no tópico (3º) que

expomos acima, nossa condição será diferente quando da ocorrência da ressurreição. Mas

que diferenças haverá. A Bíblia não fala muito a respeito de como seremos na eternidade,

mas o pouco que o apóstolo Paulo falou poderá nos dar um vislumbre do nosso futuro (1Co

15:42-44, 54)74

:

1. Corpo atual Corrupção: Nossos corpos atuais, assim diz Paulo, são corpos de corrupção; a

semente da doença e da morte está neles, de modo que a morte destes corpos é

apenas uma questão de tempo.

Corpo ressurreto

Incorrupção: Toda a susceptibilidade à doença terá passado. Não estaremos mais a

caminho de uma certa morte, como estamos agora, mas desfrutaremos então de um

tipo de existência incorruptível.

72

Sérgio Pereira Tavares, “A Remissão dos Pecados” in Revista Em que cremos?

Manhumirim, Didaquê, abr/1999, p 34, 35. 73

Eneziel Peixoto de Andrade, “A Ressurreição do corpo” in Revista Em que cremos?

Manhumirim, Didaquê, abr/1999, p 37-39. 74

Anthony A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana,

1989, p 332, 333.

50

2. Corpo atual Desonra: Por ocasião do sepultamento, tentamos honrar os mortos vestindo-os

com suas melhores roupas, providenciando um esquife atraente, e cercando o

esquife de flores, mas de fato um sepultamento envolve muita desonra. O que

poderia ser mais desonroso para um corpo do que ser baixado à sepultura?

Corpo ressurreto Glória: Os corpos dos crentes, porém, ressuscitarão em glória – não somente um

tipo exterior de glória, mas uma glória que transformará a pessoa desde o interior.

3. Corpo atual Fraqueza: Após algumas horas de trabalho neste corpo atual, já ficamos cansados

e precisamos de repouso. Em qualquer coisa que tentarmos fazer, estamos sempre

conscientes de nossa fraqueza ou limitações humanas. À medida que a morte se

aproxima, na verdade, o corpo fica totalmente desamparado.

Corpo ressurreto Poder: Exatamente como esse poder se revelará é assunto de especulação; nós o

saberemos quando o virmos. Ficará patente que não mais haverá a fraqueza que

agora nos coíbe em nosso serviço ao Senhor.

4. Corpo atual Natural: É um corpo participante desta existência atual, amaldiçoada pelo pecado...

o homem, em seu corpo atual, relacionado com o primeiro Adão, é natural,

pertencente a esta era presente e, por essa razão, facilmente tentado ao erro.

Corpo ressurreto Espiritual: O corpo espiritual da ressurreição é um corpo que será totalmente – não

apenas parcialmente – dominado e dirigido pelo Espírito Santo. Nossa existência

futura, porém, será uma existência total e completamente governada pelo Espírito

Santo, de modo que nunca mais teremos algo a ver com o pecado.

“Na vida eterna...”

Por fim, o Credo termina suas declarações de fé referindo-se á vida eterna.

Nada melhor do que terminar nossas declarações vendo o nosso futuro tão glorioso.

Sobre este tópico da revelação bíblica nós aprenderemos dois aspectos: O significado da

vida eterna, e em seguida veremos sua relação com a vida presente.

Quando falamos em vida eterna temos que pensar não somente na sua duração.

Ou seja, pesar que ela significa uma infinidade de existência. A vida eterna é mais do

que isto. Ela envolve uma relação diferente e especial com Deus:

As Escrituras descrevem a vida eterna, mas não a definem

formalmente. João 17:3 oferece algo semelhante a uma

descrição, quando Cristo declarou: ―E a vida eterna é esta:

que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus

51

Cristo, a quem enviaste‖. A vida eterna é descrita no seu

aspecto experiencial de conhecer a Deus e de ter comunhão

com Ele mediante Seu Filho, Jesus Cristo.75

Além desta relação de conhecimento de Deus por meio de Jesus Cristo, a vida

eterna pode ser referida em termos do estado em que estarão os crentes:

O reino de Deus significa primeiramente o reinado de Deus, e

em segundo lugar, o reino onde esse Seu reinado será

desfrutado. O alvo final será realizado apenas na era

vindoura. Negativamente, isso significa a destruição dos

adversários de Deus: Satanás, o pecado e a morte (Ap 20:10,

14, 15). Positivamente, significa o desfrutamento, da parte

dos redimidos, daquela comunhão aperfeiçoada com Deus e a

medida completa das bênçãos divinas (Ap 21:3-8), que são

sumarizados pela expressão ‗vida eterna‘. Assim sendo, vida

eterna e reino de Deus são algumas vezes expressões

intercambiáveis (Mt 25:34,46; Mc 10:17, 24).76

Esta vida eterna já é posse dos crentes no estado presente (Jo 3:36; 5:24; 6:17;

10:28; 1Jo 5:11-13), ela ―começa quando, aceitando a Jesus como nosso Salvador,

crendo nele, recebemos a sua própria vida, que Ele transmite aos que crêem no seu

nome.‖77

Ainda que possamos dizer que a vida eterna já é de fato uma experiência

presente, ela só irá se concretizar plenamente no Novo Céu e na Nova Terra

futuramente.

As Escrituras revelam pouco sobre a vida eterna em relação à vida presente.

Entretanto, das informações que recebemos podemos ter uma visão de como ela será. A

Bíblia afirma que a vida eterna se dará no Novo Céu e na Nova Terra. Deus tem

planejado para nós uma existência diferente aqui neste planeta quando formos levados

ao nosso último estado de vida. Porém, que diferenças são estas? Primeiramente

podemos dizer que esta terra não terá as perturbações que possui neste estado de atual.

Será uma terra totalmente diferente desta, que está amaldiçoada por causa do pecado.

Sendo assim, podemos falar da vida eterna vivida no Novo Céu e na Nova terra

declarando o que não existirá nela:

[...] após a segunda vinda de Cristo, a terra será restaurada

por Deus. E ficará, finalmente, livre de todos os males

75

J. F. Walvoord, “Vida Eterna” in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja

Cristã. Editor Walter A. Elwell. São Paulo, Vida Nova, 2009, p 622. 76

G. E. Ladd, “Escatologia” in O Novo Dicionário da Bíblia. Editor R. P. Shedd. São

Paulo, Vida nova, 1995, p 514. 77

“A Vida eterna” in Revista O Credo Apostólico. São Paulo, Cultura Cristã, s/d, p 30.

52

produzidos pelo pecado. O mal estará para sempre ausente

dos corações de todos. O diabo será banido para condenação

eterna no inferno. O pecado e os pecadores estarão ausentes

na vida eterna do povo de Deus.78

Porém, nem tudo que existe nesta vida atual será esquecido. Haverá coisas aqui

que permanecerão para sempre. É o que a teologia chama de descontinuidade e

continuidade. Vejamos melhor o que isto significa:

A teologia cristã ensina que há elementos de descontinuidade

e de continuidade entre a vida atual e a vida eterna.

Elementos de descontinuidade são os que não continuarão na

vida eterna... Elementos de continuidade são os que, de

algum modo, continuarão na vida eterna... Pensando sobre

este ponto da vida cristã, teólogos da tradição reformada,

como Abraham Kuyper, G.C. Berkower, Hendrikus Berkhof

e Anthony Hoekema, têm sugerido que, ainda que a Bíblia

não apresente muitos detalhes, é razoável supor que diversos

elementos da nossa cultura terão continuidade na vida eterna,

na nova terra.79

“Amém.”

Muito apropriadamente o Credo Apostólico termina utilizando uma expressão

muito conhecida dos cristãos que é o ―Amém‘. Nós utilizamos muito esta expressão no

nosso dia-a-dia como crente. Geralmente se conhece o significado desta expressão, mas a

fim de dirimir qualquer dúvida, passemos a ver a seguinte explicação do termo:

Isoladamente era usado como uma fórmula ( ―Certamente!‖ ―Na

verdade!‖) no fim de (a) uma doxologia, tal como: ―Bendito seja

o Senhor para sempre‖ (onde o Amém significa: ―Sim,

realmente!‖ ou: ―Assim seja na verdade!‖); cf. Sl 41:13; 72:19;

89:52; 106:48; também 1 Cr 16:36 e Ne 8:6, onde o auditório dá

seu assentimento ao louvor a Deus proferido pelo seu líder, ou o

adota para si mesmo; (b) um decreto ou expressão de propósito

real, onde o ouvinte obediente indica seu fervoroso assentimento

e cooperação (1Rs 1:36; Jr 11:5). Aquele que ora ou declara, ou

que se une à oração ou declaração de outra pessoa, pelo uso do

78

Carlos Ribeiro Caldas Filho, “A Vida Eterna” in Revista Em que cremos?

Manhumirim, Didaquê, abr/1999, p 41. 79

Carlos Ribeiro Caldas Filho, “A Vida Eterna” in Revista Em que cremos?

Manhumirim, Didaquê, abr/1999, p 41, 42.

53

―Amém‖ coloca a si mesmo dentro da afirmação, com toda a

sinceridade da fé e intensidade do desejo.80

80

G. L. Archer Jr, “Amém” in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã.

Editor Walter A. Elwell. São Paulo, Vida Nova, 2009, p 57.

54

BIBLIOGRAFIA

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