estudando o shushogi

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Estudando o Shushogi Vamos começar hoje a estudar o texto “Shushogi”. O texto inicia com uma explicação do significado da prática e da iluminação. A palavra “iluminação” não expressa muito bem o que Buda queria dizer, é uma palavra muito ocidental e dá a impressão de ser algo extraordinário. A palavra que Buda usou é mais corretamente traduzida por “despertar”, “estar acordado”. Mas despertar do quê? Despertar do sonho, ver as coisas com clareza, tais como elas realmente são e não como imaginamos que sejam. Toda a experiência é distorcida pelo conteúdo de nossa mente, o que vemos, ouvimos e sentimos é interpretado de acordo com conceitos, pré-conceitos e idéias, coisas que já estão flutuando em nossa mente. Essa é uma das razões que fazem com que o budismo seja muito difícil de ser entendido. É comum durante uma conversa sobre o budismo as pessoas perguntarem em quê o budista acredita.

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Page 1: Estudando o Shushogi

Estudando o Shushogi

Vamos começar hoje a estudar o texto “Shushogi”. O texto inicia com uma explicação do significado da prática e da iluminação. A palavra “iluminação” não expressa muito bem o que Buda queria dizer, é uma palavra muito ocidental e dá a impressão de ser algo extraordinário. A palavra que Buda usou é mais corretamente traduzida por “despertar”, “estar acordado”. Mas despertar do quê? Despertar do sonho, ver as coisas com clareza, tais como elas realmente são e não como imaginamos que sejam. Toda a experiência é distorcida pelo conteúdo de nossa mente, o que vemos, ouvimos e sentimos é interpretado de acordo com conceitos, pré-conceitos e idéias, coisas que já estão flutuando em nossa mente. Essa é uma das razões que fazem com que o budismo seja muito difícil de ser entendido. 

É comum durante uma conversa sobre o budismo as pessoas perguntarem em quê o budista acredita. 

O budismo não é a religião do acreditar, não se baseia em fé ou crenças, antes se dedica a destruir aquilo à que as pessoas se agarram. O budismo não ensina a acreditar nem em Buda, que era um homem como nós e, portanto, não deve ser adorado como uma

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divindade. O budismo tem várias histórias sobre a humanidade de Buda e seus discípulos. Uma vez uma senhora vinha pela floresta e se deparou com Shariputra acocorado fazendo suas necessidades. Conta-se que ela ficou abismada com a dignidade e beleza de seu ato. A simples visão de Shariputra cumprindo algo que é normal a todos os seres humanos, mas de que nos envergonhamos, impressionou a senhora a tal ponto que ela tornou-se discípula de Buda. Quando ouvimos pela primeira vez essas histórias budistas, elas nos parecem ultrajantes, mas isso é proposital. O texto que vamos estudar começa assim:

Texto“O completo esclarecimento do significado do nascimento e morte - eis a mais importante de todas as questões para os budistas. Se há Buda dentro do nascer/morrer, não há nascer/morrer. 

Simplesmente compreenda que nascimento e morte são em si mesmo o Nirvana, não existindo nascimento e morte a serem odiados, nem Nirvana a ser desejado. Então, pela primeira vez, você estará livre de nascimento e morte. Tomar consciência deste problema é de importância suprema”. 

Comentários:Já neste primeiro parágrafo alguns conceitos são destruídos. Nascimento e morte são o mesmo Nirvana. Mas o que é o Nirvana? Nirvana não é um lugar. É um estado, uma maneira de ver paixões, sem os ventos das paixões. Literalmente a palavra significa “fogo extinto”, no nosso contexto seria sem ventos, sem os ventos das paixões, sem movimento. Nirvana é o estado em que a pessoa não é movida pelas paixões, amor, ódio, raiva, ciúme, apego, posse, medo. 

As pessoas normais vivem no mundo como folhas levadas pelo vento num corredor, seguem batendo de um lado para o outro. Nirvana é a perfeita calma. A folha cai, se transforma em húmus, vira planta novamente, novamente folha e mais uma vez cai, neste ciclo não há nascimento e morte.  Existe somente o ciclo ou o fluxo e se você é calmo e o vê desta forma, ele é Nirvana. 

Quando dizemos “atingir o Nirvana”, significa atingir a paz proveniente da compreensão do ciclo, sem enxergar fins e começos. É como olhar para um círculo - onde está o começo e o fim do circulo? Só quem vê inícios e fins somos nós, então nascimento e morte são em si mesmo, Nirvana. 

Não existindo nascimento e morte para ser rejeitado, também não há Nirvana a ser desejado. Ao olharmos este “sem início nem fim” e atingirmos a paz, Nirvana é apenas o oposto do movimento de nascimento e morte. O primeiro passo para livrar-se do sofrimento é a compreensão correta. Somos nós que dividimos o mundo entre Samsara e Nirvana. Esse é o mundo do Samsara onde perambulamos

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tocados pelas paixões e vemos como oposto, o mundo do Nirvana, mas na realidade o mundo do Samsara é o mundo do Nirvana. A diferença está no nosso olhar. Onde uma pessoa vê dor e sofrimento, nascimento e morte, a outra vê fluxo sem fim.

Postado por Monge Genshô às 07:28   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: Buda, budismo, círculo, despertar, divindade, fluxo, iluminação, morte,nascimento, nirvana, prática, samsara, Shariputra, shushogi, sofrimento, zen

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Nirvana não é um lugar

Page 4: Estudando o Shushogi

"O Boddhisattva, devido à sabedoria completa – coração/mente – sem obstáculos, logo, sem medo, distante de todas as delusões, isto é nirvana."

Nirvana quer dizer “sem fogo”. “Fogo extinto” ou, “sem vento das paixões”. Nirvana é a mesma coisa que Samsara. Samsara é Nirvana. Samsara é o mundo da perambulação, onde andamos de lugar pra lugar, procurando a felicidade ou satisfação. Nós procuramos, andando sem fim, procurando e trocando. Uma casa nova, um carro novo, etc, procurando, procurando, sempre trocando, isso é samsara. É o mundo rodando e você procurando a solução e satisfação de problemas sempre novos. Vão sempre surgir, porque é

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característica desse mundo mutante.

O que faz essas sensações todas, são o “vento das paixões”. E nós somos como folhas tocadas pelo vento das paixões. 

NIR é uma partícula negativa e VANA é o fogo das paixões. Então podemos traduzir como “Fogo extinto, ou sem ventos”, e, na analogia que estou fazendo, não tem vento para empurrar a folha de lado pra lado. Não tendo paixões mundanas, então de repente surge uma grande calma, porque não importa. Atrasou, atrasou, perdeu o avião, perdeu o avião, tem comida tem, não tem comida, não tem. Perdi tudo que tinha, perdi tudo que tinha. Ganhei bastante, ganhei bastante. 

As paixões não estão empurrando, então o mesmo lugar que é Samsara, é Nirvana. O que mudou é a maneira de ver. Você tira os seus olhos, que vêm o Samsara, e troca pelos olhos de Buda, olha com uma mente iluminada e aí aquilo que era Samsara, virou Nirvana. 

Então Samsara não é um lugar. E Nirvana também não. Não dá pra “ir” para o Nirvana. Você muda a si mesmo e aí, este lugar torna-se Nirvana.Postado por Monge Genshô às 07:25   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: aceitação, budismo, extinto, fogo, lugar, nirvana, paixões, sansara,ventos, zen

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

OS OITO ASPECTOS DA ILUMINAÇÃO

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( Palestra em sesshin (retiro zen))

Ainda que estejamos em um sesshin muito curto, de apenas dois dias, no segundo dia a maior parte daquela tralha mental, que se apresentou muitas vezes em nossa mente no primeiro dia, começa a desaparecer e a partir do segundo dia  começa a mudar a percepção das coisas. Muda a maneira de ver, a energia das pessoas na sala muda, a medida que ficamos cansados e com dor, nosso orgulho e vaidade tendem a enfraquecer junto com o corpo.

Então o cansaço e a dor são benéficos para a mente. A oportunidade surge quando a mente pára e o ego desiste. É a oportunidade da mente ver um mundo mais lindo. Espero que a caminhada de hoje pela manhã tenha mostrado à vocês um mundo sutilmente diferente do mundo de ontem e de antes de ontem. São diferenças internas que vocês poderão perceber.

Vamos estudar um texto que é Os Oito aspectos da iluminação, escrito por Dogen Zenji em Eihei Ji no dia seis de janeiro de mil duzentos e cinqüenta e três. Nesse momento, Dogen esta comentando o ultimo ensinamento de Buda. “Depois de passar quarenta anos ensinando, Buda está morrendo e dá esse ultimo ensinamento para seus monges.” Nós como leigos devemos entender que ele está falando para monges,  como leigos não estamos abrindo mão de tudo como ele preconiza para os monges. "Os vários budas foram

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todos pessoas iluminadas. A sua iluminação possui oito aspectos importantes e a realização desses oito aspectos é a base do nirvana." Nirvana não é um lugar, não é um céu ou paraíso, o nirvana é aqui nesse lugar onde nós estamos. Aqui é samsara se nós temos olhos que vêem samsara, aqui é nirvana se temos olhos que vêem nirvana, o nirvana e o samsara estão no mesmo lugar. Samsara é o mundo da perambulação, um mundo onde nós andamos procurando a felicidade sem parar. Procurando um emprego melhor, um mundo cheio de “ses”, se eu tivesse um carro novo, se eu tivesse uma casa boa, se eu morasse num país sem pobreza, se eu tivesse um grande amor, se, se, se. Então esse mundo de “ses” onde as pessoas ficam procurando a felicidade sem parar é o samsara. 

 O nirvana é o mundo dos não impulsos, não desejos, não pensamentos, NIR, significa não e VANA pode ser entendido como ventos, no sentido de vento das emoções, paixões e impulsos. Literalmente o significado é fogo extinto.  Então é um mundo onde há paz e não somos empurrados de lugar para lugar pelos ventos dos desejos. No sesshin pode-se notar bem o samsara, se minha almofada fosse mais macia, se minhas costas não doessem, se meus joelhos agüentassem, se o cara que controla o tempo desse uma olhadinha para o relógio e percebesse que já deu quarenta minutos. Como pensamos todas essas coisas o nirvana não existe nesse momento.

Nós não ouvimos a serra do lado de fora como um ensinamento de Buda. No fundo, o vento nas arvores, o chacoalhar das folhas, o zumbido do mosquito são vozes de Buda, mas não entendemos. Por isso é samsara.  "Este foi o ensinamento final de nosso professor original, Buda Shakyamuni, dado na noite de sua morte. Primeiro; ter poucos desejos. Ter poucos desejos significa não buscar extensivamente os objetos de desejos. Buda disse: “Praticantes, vocês deveriam saber que aqueles que querem muitas coisas, buscam tanto a fama quanto o ganho, e assim as suas aflições são muitas. Aqueles com poucos desejos, entretanto, nada procuram, não tem anseios e assim não sofrem”.Postado por Monge Genshô às 07:27   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: aspectos, Buda, budismo, desejos, Dogen, fama, ganho, iluminação,leigos, monges, morte, nirvana, orgulho, palestra, praticantes, retiro, samsara,sesshin, vaidade, zen

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Samsara e Nirvana são aqui

Page 8: Estudando o Shushogi

" Nirvana não é um lugar, não é um céu ou paraíso, o nirvana é aqui nesse lugar onde nós estamos. Aqui é samsara se nós temos olhos que vêem samsara, aqui é nirvana se temos olhos que vêem nirvana, o nirvana e o samsara estão no mesmo lugar. Samsara é o mundo da perambulação, um mundo onde nós andamos procurando a felicidade sem parar. Procurando um emprego melhor, um mundo cheio de “ses”, seu eu tivesse um carro novo, se eu tivesse uma casa boa, se eu morasse num país sem pobreza, se eu tivesse um grande amor, se, se, se.

Então esse mundo de “ses” onde as pessoas ficam procurando a felicidade sem parar é o samsara.Samsara significa perambulação. O nirvana é o mundo dos não impulsos, não desejos, não pensamentos, NIR, significa não e VANA pode ser entendido como ventos, ou fogo, no sentido de ventodas emoções, paixões e impulsos. Então é um mundo onde há paz e não somos empurrados de lugar para lugar pelos ventos dos desejos. Agora no sesshin pode-se notar bem o samsara, se minha almofada fosse mais macia, se minhas costas não doessem, se meus joelhos agüentassem, se o que controla o tempo desse uma olhadinha para o relógio e percebesse que já passaram quarenta minutos.

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Como pensamos todas essas coisas o nirvana não existe nesse momento. Nós não ouvimos a serra do lado de fora como um ensinamento de Buda. No fundo, o vento nas arvores, o chacoalhar das folhas, o zumbido do mosquito são vozes de Buda, mas não entendemos. Por isso é samsara. "

Trecho de palestra em sesshin, Monge GenshôPostado por Monge Genshô às 08:34   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: extinção, felicidade, fogo, inferno, nirvana, paixões, paraíso, samsara,sofrimento, ventos

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Alguem para retornar

Page 10: Estudando o Shushogi

P: Qual é a prova de que o Nirvana é eterno, de que existe este estado último, quando inúmeros agregados nascem e renascem constantemente formando a cadeia de samsara? 

R: Eternidade não é um atributo de coisa alguma em um universo cíclico, Nirvana não é um lugar portanto nem podemos dizer que " existe" trata-se de um estado de esgotamento de energias cármicas, impulsos que levam a novas manifestações.

P: Pode-se ter a certeza do eterno, mas como se pode ter certeza absoluta de que não haverá mais enredamento nenhum, de nenhum nível, em samsara mesmo após o Nirvana?

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R: Por definição Nirvana seria um estado sem enredamento, portanto se os há não se tem um Nirvana.

P: Por que mesmo um ser que alcançou o Nirvana não pode ser tomado de um estado súbito de inconsciência e 'esquecimento' e retornar ao samsara, sem se dar conta de nada? 

R: Porque não existe isto de um ser, uma individualidade, só existem os impulsos cármicos, se um ser dissolveu-se no Nirvana ele está extinto, exatamente o caso tradicionalmente atribuído a Buda Shakyamuni.

P: O que refuta esta idéia? O que refuta a idéia de que estivemos alcançando a liberação e retornando a samsara eternamente, sem perceber nada? Neste caso, o Nirvana seria apenas um breve momento, que nenhum iluminado saberia identificar até onde iria.

R:Se alcançamos a liberação, a alcançamos simultaneamente de todo o conceito de ser um ser separado, um indivíduo, portanto não há ninguém para retornar.Postado por Monge Genshô às 06:36   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: budismo, eternidade, individualidade, liberação, nirvana, retorno,samsara

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Samsara e Nirvana

Page 12: Estudando o Shushogi

A maneira de transformarmos o mundo é transformando a mente de cada um. Não importa qual o sistema, transformando as mentes, qualquer um funcionaria maravilhosamente bem - uma monarquia funcionaria maravilhosamente bem, uma ditadura também, um sistema totalitarista como o comunista funcionaria bem igualmente, a democracia funcionaria. Somente seriam necessárias pessoas, todas elas, com mentes compassivas, honestas, maravilhosas, dedicadas ao bem dos outros, abdicando de si mesmas, e o mundo seria perfeito. A raiz da mudança do mundo está nas mentes. É por isso que o budismo volta-se para o treinamento e a modificação da mente do homem, para, dessa forma, produzir o nirvana, um mundo onde a mente que olha transforma o samsara, que é o mundo da perambulação, do sofrimento, um mundo onde transitamos de um lugar para outro buscando a felicidade. Assim, mudamos de um amor para outro, de um emprego para outro, e vivemos sempre cheios de “se”: se eu ganhasse na loteria, se eu fizesse isso, se eu fosse amado, se eu tivesse um filho. Esses “se” são colocados como o que nos permitiria ser felizes.

Esse é o mundo da perambulação, o samsara, o mundo da procura e da insatisfação permanentes. Esse é o significado de dukka, a primeira nobre verdade. “A vida é dukka”, ou seja, a vida é insatisfatória, porque nela, embora haja momentos maravilhosos ou tristes, nenhum deles será permanente, sólido ou estável. A mudança é parte integrante da natureza das coisas. E assim, achando sempre insatisfação ao fim de qualquer processo de qualquer tempo, sofremos. Sofremos por não podermos agarrar e ficar com uma felicidade e satisfação permanentes. E o nirvana? O mesmo mundo, o mesmo lugar, mas onde os ventos dos impulsos não nos empurram e onde, por causa disso, não existe necessidade de perambular, porque onde estamos encontramos a completa felicidade e plenitude. 

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Dizemos no Zen que quando estamos sentados em meditação, isso é nirvana, é iluminação, porque, naquele momento, você imita Buda e imitando Buda você é nada mais do que Buda. Dizemos isso também para desarmar, porque em outro sentido você não é Buda, você sabe que não é, sabe que não está desperto, que não é um iluminado. Mas se você se senta com o desejo de ser um Buda, de se iluminar, de se libertar, de ser feliz, esse próprio desejo é samsárico, pois ele produz uma busca, uma insatisfação. A pessoas se perguntam, então: “para que estou praticando, se não alcanço nada, sou assim sempre, sou mau?” Pensar desta forma é estar em samsara sentado em meditação. Esse mesmo ser, no instante em que não é levado por nenhum impulso, por nenhum desejo e que não pretende alcançar nada, ele vê no próprio samsara o nirvana. Porque não há nenhuma diferença de lugar nessas duas coisas, a diferença está na mente.Postado por Monge Genshô às 05:38   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: Buda, budismo, compaixão, democracia, ditadura, felicidade,iluminação, lugar, mente, monarquia, nirvana, onde, samsara, satisfação, sofrimento,totalitarismo, zen

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Samsara

No budismo dizemos que estamos neste mundo de samsara. Neste mundo onde sofremos e onde nos alegramos. Onde um misto de sensações impermanentes nos faz voar a esmo como uma folha ao vento. Pensamos em escapar ao samsara e ir para um nirvana, um lugar de paz. Mas nem nirvana nem samsara são lugares. Ambos são produtos de nosso olhar. Com os olhos de Buda transformamos todo samsara em nirvana. O necessário é tirar nossos olhos deludidos e troca-los pelo olhar de Buda.

Samsara significa perambulação, perambulamos tentando achar algo, uma perfeição, uma felicidade, que não está em lugar algum, nem em uma pessoa nem em uma atividade. Este mesmo samsara é o nirvana quando deixamos de procurar e aceitamos as coisas tais como são. Seus defeitos são produtos da análise de nossa mente, então é exatamente esta nossa mente que gera o samsara, e é ela mesma que em paz encontra o nirvana (nir - não, vana - ventos).

Postado por Monge Genshô às 07:57   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: Buda, budismo, felicidade, nirvana, samsara

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Page 14: Estudando o Shushogi

Kenshô, satori, nirvana

As experiências de “kensho”, as experiências místicas de despertar, são às vezes experiências fugazes, nós as temos durante um tempo curto e elas desaparecem, juntamente com seus efeitos. E mesmo que possamos ter enxergado as coisas como elas realmente são e nos sentido invadir por uma enorme alegria, contentamento e felicidade, aquele evento torna-se uma lembrança, nós o perdemos, porque nossa prática ainda não é suficientemente forte. Chamamos assim, essas experiências de “kensho”. Experiências místicas. 

Mas chamamos de “Satori” quando podemos ter experiências místicas muitas vezes, mudando a nós mesmos e, de tal maneira, que elas tornam-se acessíveis com facilidade e podem ser chamadas a qualquer momento. Quando se chega neste nível, você possui então, o “Satori”, a capacidade de estar iluminado ou de iluminar todas as coisas com uma luz clara e lúcida. 

As paixões não são mais o que nos arrasta, porque nossa visão lúcida tornou tudo bem fácil de ser interpretado. Nesse estado, o Satori, há graus diferentes. Você pode obter a iluminação e ela alterar apenas alguns aspectos da sua vida, mas não todos. Pode ser uma mera lucidez, mas você pode continuar sendo movido pelas emoções normais da vida e tem que fazer algum esforço para recuperar aquela situação de iluminação. Mas o mais alto estágio, seria aquele em que tudo mudou. Seu rosto mudou, suas atitudes mudaram e suas emoções mudaram. À medida que o processo de iluminação vai se aprofundando, as emoções vão mudando até chegarmos ao ponto

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em que não existem mais emoções arrastando, não há mais ventos nos levando de um lado para outro. É por isso que essa situação chama-se “Nirvana”. Atingir o nirvana é não ter mais ventos nos arrastando. Nessa situação, situação de um Buda, não há sequer energia, ou karma suficiente para forçar uma nova manifestação. Você precisaria “escolher” retornar, não precisa retornar, não tem energia para retornar para esse mundo, não tem paixões suficientes para fazer com que esse mundo o atraia e, assim, não há karma suficiente para gerar um nascimento e uma identidade. (continua)

Postado por Monge Genshô às 06:05   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: Buda, budismo, carma, experiência, iluminação, karma, kenshô, mística,paixões, retornar, satori nirvana, ventos, zen

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

As coisas como elas são

Page 16: Estudando o Shushogi

Venerável Dhammadipa continua: Os sutras de Bodhidharma ensinam que há quatro tipos de Samadhi (concentração meditativa) - o primeiro seria o Samadhi do “não saber”. Esse tipo de Samadhi eu aprendi na Birmânia e no Sri Lanka e são muito enfatizados na Escola Theravada e na Yogacara. A Escola Yogacara se baseia no estudo do Samadhi dessa mesma forma. O segundo Samadhi seria o da “busca das coisas como elas são” e esse é o Samadhi que vocês estão praticando agora. Quando você realiza as coisas como elas realmente são você se torna nobre, ou seja, quando pode realmente compreender o objeto da liberação. Nos primórdios do Budismo, quando você realmente realizava o objeto da liberação, não podia continuar no Samsara (mundo da perambulação) por muito tempo. Como vocês sabem, a Escola Mahayana enfatiza a unidade do Samsara e do Nirvana. As escrituras do Mahayana ensinam que tanto o

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Samsara quanto o Nirvana não têm natureza própria, portanto não podem ser diferenciados. Por isso não é de costume usar o termo “Nirvana” mas sim “as coisas como elas são”. Nas “coisas como elas são”, de fato, bem e mal não têm qualquer diferença, ambos são como eles são. Esses são os meios hábeis para a prática do Bodhisattva e, sem entender isso, vocês não poderão entender a prática do Bodhisattva. Isso é também a base da experiência Zen - as coisas são como são e nesse âmbito todos os fenômenos são iguais. 

Porque nesse âmbito todos os fenômenos são iguais? A Escola Yogacara enfatiza que a mente é esse âmbito de “as coisas como elas são”. A principal prática de meditação na Escola Yogacara é quanto à natureza da mente e ela não tem diferenciação, por isso que a mente tem a capacidade de captar todos os objetos, pois, se ela tivesse diferenciação, como poderia ser capaz de captar todos os objetos? A mente é para ser contemplada como o próprio espaço e, tal como o espaço tem lugar para tudo, com a natureza da mente é a mesma coisa. A transformação da mente é que será capaz de ver sujeito e objeto. Isso é muito importante de ser compreendido. A transformação ocorre de fato na mente em si e em nenhum outro lugar. 

A mente no Yogacara pode ser compreendida em três aspectos: o primeiro é o sinal do objeto, por exemplo, supondo que alguém esteja lá fora, para que ele seja real, eu preciso de uma referência e, a partir dessa referência, eu passo a entender esse objeto como real. Nos apegarmos a essas referências dos objetos, é estar de fato no Samsara, é através desse apego que continuamos no Samsara. Isso implica de fato na base e na transformação da consciência em si. Quando experenciamos um objeto como real, temos essas referências de “sinal do objeto” e temos, então, o aspecto subjetivo da mente que entende essa realidade como essas referências do objeto. Após isso temos o aspecto do testemunho, esse aspecto do testemunho é denominado Alayavijnana (consciência depósito universal), que é onde se encontram todas as consciências. Esse conceito não é estranho à filosofia ocidental, Sócrates já dizia que para entender alguma coisa você precisa de suas experiências pregressas, ou seja, de suas lembranças. 

Comentário de Genshô Sensei: a idéia de Alayavijnana é a de que não somente minhas lembranças ou consciência estão contidas nesse depósito, mas todas as experiências do universo inteiro, todo conhecimento, tudo que acontece no universo está contido em Alayavijnana, a questão é se posso ou não acessar esse depósito.(continua)Postado por Monge Genshô às 06:25   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: alayavijnana, budismo, consciência, depósito, Mahayana, nirvana,samadhi, samsara, Sócrates, Theravada, universal, Yogacara, zen

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Agregados

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P. O que são os agregados?Monge Genshô: Os agregados são contato, sensação, percepção, formações mentais, consciência, cada uma das coisas que constituem você. Estes são os agregados.

Não há apenas a sabedoria do tempo de meditação sentada. Há também aquela que, passo a passo, ato após ato, faz você ver progressivamente que cada fenômeno pode se realizar instantaneamente, independentemente de sua inteligência e de seu pensamento. Essa é a certificação verdadeira e autêntica de que o fenômeno existe sem perturbar a manifestação da sabedoria. É o poder espiritual do não-agir pela luz que ilumina a si mesma. Por isso, mesmo que muitos Buddhas compreendam a sabedoria no samsara, eles não são do samsara. E, estando livres no nirvana, também não está lá.

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Na hora do seu nascimento, a sabedoria não existia. Na hora da sua morte, ela não desaparecerá. Do ponto de vista do estado búdico, ela não aumenta. Do ponto de vista dos sentidos, não diminui. Assim como quando tem ilusões ou dúvidas, você não pode fazer a boa pergunta; do mesmo quando você obtiver a iluminação, não poderá expressá-la. Momento após momento, não considerará nada com a consciência. Durante todas as vinte e quatro horas do dia, você deve ter a calma e a grande tranqüilidade dos mortos. Não pense em nada por sua iniciativa. Assim praticando a expiração e a inspiração, sua natureza profunda e sua natureza sensitiva se tornarão, inconscientemente, o não-saber, a não compreensão.(TEXTO) (Koun Ejo). Isto é muito importante, o não saber, isto é ensinamento essencial no Zen. Você tem que parar de saber, por isto que a gente insiste no início do sesshin, não dê opinião, não diga como as coisas devem ser feitas, como devem ser melhor feitas, não faça nada disto, não saiba, adquira uma mente de não saber porque isto ajuda muito quando você está sentado na prática, “não sei, estou só aceitando” e se apresentam os pensamentos da sua vida e você deixa eles passarem, agora já estamos no segundo dia muitos dos pensamentos que se apresentaram no primeiro dia já cansaram, você senta eles se apresentam de novo, mas é a centésima vez, então eles vão embora muito fácil, já surgiram, já foram embora, vão perdendo o peso, vão perdendo a força e isto vai elevando você como a chama, é isto que vai clareando o mundo em volta, por isso que tudo vai ficando cada vez mais bonito quando você olha, se fica mais bonito é porque a sua mente está limpando, porque quando a nossa mente está muito cheia de coisas nós não vemos a beleza nas coisas simples, na cortina balançando, na réstia de sol batendo no chão do zendô, a gente não vê que é maravilhoso, não acha o vento assim tão lindo ou este ruído das folhas balançando. Quando a nossa vida está cheia de problemas nós precisamos descartar e à medida que nós deixamos cair vai surgindo um outro mundo, isto é a porta aberta do nirvana, nós podemos ver uma fresta porque é isto mesmo, o samsara é aqui, mas o nirvana também é aqui, a única diferença é a nossa percepção.(COMENTÁRIO)Postado por Monge Genshô às 11:40   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: agregados, clareza, limpeza, mente, percepções, zen budismo

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O peso de uma chama

Page 20: Estudando o Shushogi

De qualquer maneira, pratique o grande fundamento, aqui e agora. Se você não guardar o pensamento ele não voltará por si só. Se você se entregar à expiração e deixar a inspiração enchê-lo, em um vai e vem harmonioso, nada mais restará do que uma almofada sob o céu vazio, o peso de uma chama.(TEXTO). Nada mais restará do que uma almofada sob o céu vazio. O peso é o peso de uma chama e qual é o peso da chama da vela quando a vemos acesa? Não tem peso, ela se alça sozinha é assim que temos que ser sentados na almofada com o peso de uma chama e isto só se não tem nada a que estamos agarrados.(COMENTÁRIO)

P. Isto já seria o nirvana?

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R. O nirvana em si não é um lugar. Vou dar uma resposta zen para isto. Se esta chama não balouçar é nirvana.Postado por Monge Genshô às 07:00   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: chama, lugar, nirvana, paixões, zazen, zen budismo

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Nirvana e Samsara

Em Yokoji, monges participando de angô, fazem kinhin externo.

No zen há muitas declarações dizendo que o samsara e o nirvana são o mesmo.O que se tenta neste caso é abrir os olhos do aluno para a questão de que quem constrói esta distinção ao olhar o mundo são nossos próprios olhos. A mente iluminada vê o nirvana (nibbana) e a mente deludida vê o samsara.Postado por Monge Genshô às 06:18   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: angô, kinhin, nirvana, samsara, Yokoji, zen

Page 22: Estudando o Shushogi

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

A analogia da caverna de PlatãoPergunta 202 da secção Perguntas do site: www.chalegre.com.br/zendo

É possível fazer uma comparação do ensinamento budista com o célebre exemplo da caverna de Platão?

Uma analogia é algo limitado, útil somente até determinado ponto.

Na analogia da caverna, Platão imagina seres que estão ao fundo de uma caverna e interpretam o mundo atrávés das sombras que a luz externa projeta na parede. Nenhum deles jamais saiu de lá.

O mundo do samsara, o mundo das ilusões em que vivemos, é assim: um mundo de sombras que interpretamos e nas quais vemos relações. Lá fora existe uma luminosidade pura que permite que tudo surja por meio de sombras.

Mas a luminosidade não são as sombras e as sombras não são a luminosidade. No entanto, estão tão ligadas que, sem a luminosidade, as sombras não existem, e sabemos que há luminosidade porque há sombras.

A vacuidade, o Vazio (o não manifesto, o incondicionado, o além de características) é, nesta analogia, a luminosidade. As sombras, as nossaspercepções, as palavras os símbolos com que tentamos entender a luminosidade, através das interpretações que fazemos das sombras.

Não admira que seja tão difícil duas pessoas se entenderem, quando um quer que surja a lógica através dos raciocínios que faz com palavras (semiótico) a respeito das sombras e dos relatos sobre estas relações, e o outro, por sua vez, deseja falar sobre a luminosidade, também usando símbolos criados através do estudo das sombras para explicar que a luminosidade está "além" de qualquer sombra.

No Zen, diríamos de imediato que: "As sombras e a luminosidade não são um e também não são dois"

Ou seja, a luminosidade externa é não definível pelas sombras, as sombras,embora manifestação que só surja se existe luminosidade, estão num nível inferior de complexidade que não permite que, com elas, analisemos o nível superior. Assim como as pedras e sua ciência não esclarecem a biologia, como a fisiologia do cérebro não esclarece a consciência: podem, no máximo, dar uma sombra da manifestação mais complexa.

Se é útil este ensinamento baseado nas sombras? Com certeza, a maior parte dos ensinamentos budistas são assim. Deve-se falar no "além" disso? Com certeza, sob pena de nos recusarmos a virar e sair da caverna. Iluminação seria isto? De certa forma sim. Samsara (as

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sombras) e nirvana (fora da caverna) são o mesmo? Sim e não, os dois não são um, mas também não são dois, e os bodisatvas são os que retornam para dentro da caverna e falam sobre a luminosidade, porém não podem iluminar ninguém, podem apenas dizer:saia, saia, vire-se, isto aqui são só as sombras, você mesmo é sombra!

Porém, sem ver a luminosidade não é possível entender. Nessa analogia (limitada, lembre-se), iluminação é mergulhar na luminosidade. O mundo das sombras, assim, fica paupérrimo.

Nirvana é, vendo isto, livrar-se de todas as relações entre sombras, ficar sem "ventos" internos. Pode-se estar no Nirvana e não ser um bodisatva. Parinirvana é dissolver-se em pura luminosidade.

Assim sendo, com o vocabulário e as técnicas úteis dentro de um âmbito, não podemos entender o outro. É preciso sempre abandonar a caverna para, mergulhados na luminosidade, compreender que aquele mundo é inexprimível para o expectador da face de pedra interna.

Postado por Monge Genshô às 13:26   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: analogia, budismo, caverna, nirvana, Platão, samsara

sábado, 30 de junho de 2007

Samsara e NirvanaNo zen há muitas declarações dizendo que o samsara e o nirvana são o mesmo. O que se tenta neste caso é abrir os olhos do aluno para a questão de que quem constrói esta distinção ao olhar o mundo são nossos próprios olhos. A mente iluminada vê o nirvana e a mente deludida vê o samsara.Postado por Monge Genshô às 11:43   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: nirvana, samsara

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Entramos na morte acompanhados pelo nosso carma

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Texto "Shushogi" (continuação)“Nascer como ser humano é algo raro; ainda mais raro é entrar em contato com o Dharma Budista. Pelas nossas virtudes do passado entretanto, fomos capazes não apenas de nascer humanos, mas também de encontrar o Budismo. Dentro do campo de nascimento e morte, então, nossa vida atual deve ser considerada a melhor e a mais excelente de todas. Não desperdicem seus preciosos corpos humanos à toa, abandonando-os aos ventos da impermanência. Não se pode confiar na impermanência. Não sabemos quando nem onde a vida transiente terminará. Nossos corpos não nos pertencem; e a vida, à mercê do tempo, continua sem parar nem por um momento. Assim que a face da juventude desaparece, não é possível encontrar nem mesmo traços dela.  Quando pensamos cuidadosamente, descobrimos que o tempo, uma vez perdido, nunca volta. Frente à impermanência, nem reis, ministros de estado, parentes, servos, mulher e filhos e jóias raras podem nos socorrer. Devemos entrar no reino da morte a sós, acompanhados apenas

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pelo nosso bom ou mau carma.”

Pergunta – O estado de Nirvana só é possível porque estamos no estado de Samsara?

Monge Genshô – Só vemos um e outro porque estamos perdidos. Samsara significa literalmente “perambular”. Andamos perambulando pelo mundo procurando algo agradável que nos tranquilize. O Samsara é caracterizado por pensamentos do tipo “Se eu tivesse um carro”, “se eu tivesse uma casa”, “Se ganhasse na megasena”, “Se tivesse um amor”, “Se fosse bonito”, sempre “Se”. Cada vez que se conquista algo, se deseja outra coisa. 

Pergunta – O que seria necessário para se libertar dessa roda do Samsara?

Monge Genshô – O Nirvana é o estado como olhamos o fluxo e nos vemos livres do Samsara. Nós vemos o ciclo da vida com seus altos e baixos e o aceitamos. O primeiro passo é entender com clareza esse ciclo, isso não é um entendimento intelectual, mas sim um entendimento profundo, olhar para todas as coisas e pessoas e enxergar a impermanência. Essa é uma marca da existência, “Anicca”, que significa impermanente. 

A segunda marca da existência é “Anatta”, nada tem um “eu” inerente. Quando falamos “a mesa”, estamos nos referindo a pedaços de madeira que arranjados dessa maneira tem a “forma” da mesa, mas ela não possui um “eu” chamado mesa. Da mesma maneira são as pessoas, pedaços de unhas, dedos, carne, sangue, pele que, juntos e arranjados desta maneira, formam um ser humano, mas lhe damos identidades e nomes. Nosso “eu” é tão sólido e real quanto o “eu” da mesa e compreender que nosso “eu” é uma construção proporcionada pelo funcionamento de nossa mente é algo muito difícil.  Tudo nos desmente, abrimos os olhos e vemos os outros. 

A terceira marca da existência é “Dukkha”. Muitas vezes traduzida como sofrimento a palavra significa na verdade “cíclico” ou “insatisfatório”.  A vida é assim, cheia de altos e baixos. Dois anos atrás nasceu um neto, o coloquei no colo e estava muito feliz. Hoje está diagnosticado com leucemia. Tivemos um momento maravilhoso com seu nascimento, agora é o momento do sofrimento pela doença e se amanhã ele for curado será novamente o momento de sorrir de felicidade. A vida é e sempre será assim. Se tivermos sorte morreremos antes dos nossos filhos, porque tristeza mesmo é ver um filho morrer. Uma vez um rei perguntou para um Monge o que era felicidade e ele respondeu, “Felicidade é morrer o avô, o pai e depois o filho”.Postado por Monge Genshô às 21:02   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: anatta, anicca, budismo, carma, dukkha, existência, felicidade, marcas,morte, nirvana, samsara, shushogi, zen

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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Quando você vê cara não vê coroa

Pergunta – Existe uma sabedoria primordial? Se eu tirar essas personalidades, o que vou encontrar?

Monge Genshô – O vazio se manifesta como forma e a forma nada mais é que o próprio vazio. Estou falando sobre o movimento. Tirando o movimento do mar não há ondas, só um espelho. 

Nossa vida é 100% dualidade, é como uma moeda, que tem dois lados - de um lado 100% problemas e dualidade, do outro lado há o absoluto e nada disso tem sentido. É a mesma moeda? Sim. Tem dois lados? Tem. Dá pra separá-los? Não. A moeda é cara e coroa, qualquer um dos dois que você tire, a moeda deixa de existir. 

Pergunta – Isso é uma consciência? Um fluxo? Mesmo sendo um vazio...?

Monge Genshô – O vazio não é algo. O vazio é vazio de qualquer algo. Por isso é chamado vazio. Dizer que o vazio é algo, seria reificar

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a vacuidade. O vazio significa que todas as coisas são vazias de um “eu”, ele não é algo que se manifesta como forma, quando você tira a forma, não resta nenhum vazio. Vazio e forma são idênticos, relativo e absoluto são a mesma coisa, os dois estão aqui - aqui é Samsara e aqui é Nirvana. No exemplo da moeda existe cara e coroa, mas quando você vê cara não vê coroa e vice-e-versa. Porém, cara e coroa são a mesma coisa. 

Pergunta – É a mesma moeda porém com faces distintas, depende o lado que estou olhando?

Monge Genshô – Exato, aqui é sansara, mas se você coloca olhos de Bhuda o aqui se transforma em nirvana. Não se trata de um ponto geográfico. Postado por Monge Genshô às 08:15   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: budismo, cara, coroa, forma, lados, moeda, nirvana, reificar, sansara,vacuidade, Vazio, zen

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Que assim seja

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Somente depois de desistirmos de ter um eu próprio é que podemos estar libertos. Como usamos olhos de eu para olhar as coisas, é necessário tirar esses olhos e colocar os olhos de Buda para olhar o mundo como ele é. Esse mundo que é visível com os olhos de Buda é o nirvana, é este mesmo, não é outro lugar, é aqui. Então toda a infelicidade e insatisfação que temos no mundo e em tudo que fazemos, só tem um lugar de origem, nossa mente. É essa mente que gera tudo isso. E nós temos a capacidade, a habilidade de, mudando nossas qualidades mentais, mudar esse mundo inteiro completamente.

Por isso que dizemos no zen, “quando um homem se ilumina o universo inteiro se ilumina”, o universo dele, aquele que ele olha, não existe mais nada que não seja iluminado naquele universo, porque ele pode ver as coisas como realmente são e não as coisas como nós acalentamos. Então a pura felicidade já está presente e disponível, aqui e agora, nesse momento, nas próprias coisas que fazemos. Nos nossos trabalhos, nas nossas viagens, nos relacionamentos a pura felicidade já está aqui. Só não a percebemos porque temos um mente que não aceita com tranqüilidade absoluta. 

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Eu estava lendo um ensinamento de um famoso mestre chinês que morreu com 101 anos e ele recomendou à uma mulher apenas uma coisa, que dissesse para tudo que acontecesse, que assim seja. E ela então começou dizer “assim seja” para todas as coisas. Para a morte do marido, para a morte do filho, para cada coisa que aconteceu. E ao dizer “assim seja” aceitando tudo plenamente, sem nenhuma reação, sem nenhum sentimento de oposição, com perfeita equanimidade mental, ela atingiu a iluminação, atingiu a completa libertação. A libertação estava disponível, só era necessário mudar sua mente para uma mente de pura aceitação, que podia aceitar todas as coisas tais quais elas se apresentam. Aceitar as coisas tal como se apresentem é uma maneira de transformar o samsara em nirvana. Isso não significa, em absoluto, não agir no mundo, significa sim, agir no mundo, por que não? Agimos no mundo da maneira correta apenas, vendo o mundo como ele é e tentando agir no mundo tranquilamente, da melhor maneira. Vivenciando o mundo e reagindo ao mundo com a mente mais tranqüila possível, com a melhor aceitação possível, só então nós treinamos a nossa mente. Esse treinamento começa na meditação, por isso na meditação sentamos e podemos fazer muitas coisas. Simplesmente sentar e ouvir os sons do mundo, e aceitar os sons do mundo tais como eles se apresentam, sem nenhuma reação de bom, ruim, certo, errado, gosto, não gosto, aceitar completamente tudo que acontece enquanto estamos sentados respirando.Postado por Monge Genshô às 08:03   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: aceitação, agir, assim, Buda, budismo, felicidade, meditação, mente,mudar, Mundo, nirvana, olhos, seja, tranquilidade, treinamento, zazen, zen

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O caminho do Zen

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Em primeiro lugar nós temos que entender o que é o Zen e o que é o caminho do Zen. O caminho do Zen é o caminho direto. O caminho direto foi ensinado por Buda pessoalmente, segundo conta a historia, a partir do sermão da flor. Quando Mahakashyapa sorriu quando Buda levantou uma flor. A percepção do que é o caminho é a compreensão de que tudo esta na mente. Que na verdade esse mundo, que nós vemos como mundo sansárico, é o mesmo mundo nirvânico, é o mesmo nirvana. Nós trabalhamos, comemos, dormimos, encontramos pessoas e tendemos a separar o mundo como o mundo do dharma de um lado, o mundo da paz, da serenidade, como

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agora quando estávamos em meditação e o mundo das aquisições, das coisas, dos trabalhos, das pessoas. Mas esse mundo que nós olhamos não é o nirvana porque a nossa mente não o vê. Assim como não vemos nas pessoas a pura natureza de Buda. Porque a única coisa que existe nas pessoas, a única coisa sólida e verdadeira, é a pura natureza búdica. Dentro de qualquer pessoa, a única coisa que não pode ser removida é a natureza búdica. 

Toda sua mente, todos seus pensamentos, todos os acontecimentos, toda sua cultura, toda sua memória e seu corpo são temporárias e sendo temporárias, evanescentes e impermanentes, essas coisas não são o que poderíamos chamar de real. A única coisa que poderíamos chamar de real é a pura natureza búdica. A nossa dificuldade é que não podemos enxergar, por que? Porque nós temos ego. Como temos ego, esse eu, que usamos para transitar no mundo, confundimos tudo com uma realidade eterna e queremos que ele seja permanente. Confundimos todas as outras coisas com realidade sólida. Quando elas não são mais que bolhas, fumaça, sonhos, que passam e desaparecem como essa nossa reunião, como nossos corpos, como tudo. Mesmo nosso eu pessoal desaparecerá completamente.Postado por Monge Genshô às 08:22   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: Buda, budismo, búdica, caminho, direto, ego, eterna, flor,Mahakashyapa, mente, Mundo, natureza, nirvana, permanente, realidade,temporária, zen

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Vento que nos leva, fogo que se extingue

Page 32: Estudando o Shushogi

Pergunta – O carma é uma energia? 

Monge Gensho – Carma é uma palavra que significa ação. Vipaka significa frutos, na verdade em sânscrito dizia-se carma vipaka, os frutos da ação. Quando você faz uma ação intencional ela cria carma e esse carma adere à sua identidade. Mas é ele, o conjunto de movimentos que você tem, que faz com que sua onda permaneça. O seu redemoinho gira em razão de seus desejos, apegos e impulsos. Esse é seu redemoinho. Por isso, nirvana: Nir, não, vana, ventos. Nirvana quer dizer “sem ventos”. Sem os ventos das paixões. Outra tradução é “fogo extinto”. Quando se extinguirem os fogos das paixões, esse fogo extinto, não queima mais. 

Pergunta – No budismo, além da meditação, existe outra prática que a gente possa fazer para manter o equilíbrio? 

Monge Gensho – Muitas. Mas a meditação é a principal, pois ela cria estabilidade e um conhecimento de sua mente. Então, você

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pode retornar a essa mente do zazen quando o mundo criar movimento. No zazen, se você estiver realmente, como um espelho, refletindo todas as coisas, sem fazer quaisquer considerações, sem passado ou visitas ao futuro, você não está produzindo carma. O zazen corta o carma. Se você conseguir, em algum momento de sua vida, através de plena atenção, da prática das ações, da prática do caminho óctuplo, que são as oito práticas ensinadas por Buda - ação correta, fala correta, meio de vida correto etc., se você fizer essas práticas, elas extinguirão seu fogo. Haverá, em primeiro lugar, mais calma e serenidade, o que, depois, poderá conduzir você cada vez mais profundamente, até um grande esclarecimento. Quando você vir sua verdadeira natureza, quando vir, com clareza, a vacuidade de todas as coisas, quando enxergar o vazio de seu próprio eu, você não poderá mais ser ofendido. Se você vir tudo isso, ainda sentirá compaixão por todos os seres, porque todos os seres se percebem como “um”. Sendo assim, você será incapaz de fazer coisas que causem sofrimento, e isso se chama mente de Bodhicitta. Se você criar esse tipo de mente e fizer esse tipo de prática, vindo a alcançar um grande esclarecimento, chamaremos esse esclarecimento de iluminação, e essa iluminação é o fim de toda dor. Se você extinguir as energias cármicas que movem você, seu redemoinho cessará e você não será obrigado a voltar, a menos, evidentemente, que queira. Mas só existe um motivo para querer, que é a própria mente de Bodhicitta, compaixão pelo pesadelo dos outros seres, o desejo de acordá-los. Por isso, a palavra buda vem da raiz bud, “desperto”, e Buda significa “aquele que acordou”. Se você acordar, acordará do sonho e desejará acordar do sonho os outros que gemem e sofrem.Postado por Monge Genshô às 07:21   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: apegos, ação, budismo, carma, desejos impulsos, fogo, frutos,iluminação, nirvana, paixões, prática, vacuidade, Vazio, vento, vipaka, zen

terça-feira, 13 de março de 2012

Fé, dúvida, determinação

Page 34: Estudando o Shushogi

Visita de Senpo Oshiro Sensei à Comunidade zen budista de Florianópolis.

P. Quais seriam os três elementos?

R: Monge Genshô: Grande fé, grande dúvida, firme determinação.

P. Eu não sei se a dúvida diminui tão facilmente quanto a determinação...até que ponto a Sangha também neste momento, que falha a determinação, é importante para a continuidade do caminho...

R. É verdade, a Sangha nos ajuda muito quando a nossa determinação enfraquece...

P. Praticar sozinho é possível?

Page 35: Estudando o Shushogi

R. Praticar sozinho é terrível, precisa ter uma determinação muito forte porque qualquer desculpa você diz: eu não vou sentar, mas no sesshin existe uma pressão social, que tento acentuar, não saiam, não abandonem o grupo em hipótese nenhuma, estejam em todas as atividades sempre juntos, porque a gente começa a comer junto, para de comer junto, espera pelo outro, só começa quando todo mundo está junto, por que esta insistência? Este método no Zen? Para reforçar o compromisso, se alguém não está então todo mundo espera, aí então há vergonha, não é? Já aconteceu comigo, você chega lá, todo mundo sentado esperando, isto acontece com todos nós, aí a gente aprende o significado do compromisso com a Sangha. É por isso que a gente faz isto no sesshin várias vezes, aí todo mundo entende o significado do compromisso porque a gente depende da Sangha para ter força, se todo mundo tiver licença para sair, ah! Não, estou cansado vou esperar lá fora, ah! este zazen eu vou me deitar no quarto, acabou este sesshin, de repente vai haver três sentados e o resto já está dormindo, porque afinal de contas acordaram as quatro da manhã.

P. Mas tem uma questão que é muito forte que é a gente plasmar no universo a vontade coletiva, isto reforça o grupo...toda vez que o grupo estiver fazendo junto a gente consegue até ir além desta questão puramente social e de compromisso e consegue efetivamente atingir um nível mais elevado que não é só o social e o compromisso...

R. Sim. É uma energia mais sutil e muito forte...

P. E que inclusive já foi até objeto de estudo, pessoas que participam de grupo social, atividades coletivas às vezes conseguem ter uma sobrevida física maior...

R. Com certeza porque são mais felizes também, se algum de vocês durante o sesshin em algum momento sentou sozinho, olhou para uma janela ou teve uma sensação assim: eu estou feliz, eu queria que isto não acabasse, isto é muito interessante porque o sesshin é sofrido, mas se em algum momento você sente: ah, eu queria que isto não acabasse, então você experimentou uma outra coisa, isto é um lampejo do nirvana, porque o nirvana é esta situação de harmonia que você cria através das regras que o sesshin propicia, regras para evitar conflito, regras para reforçar-se junto um ao outro, práticas de plena atenção e sofrimento porque quem senta junto e sente dor nas pernas, e eu sinto, sente que os outros que sofreram as mesmas dores junto são companheiros de verdade.Postado por Monge Genshô às 08:08   Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no OrkutMarcadores: coletivo, determinação, dúvida, fé, harmonia, nirvana, prática, Sangha,sesshin, zazen

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