estação centro

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Jornal-laboratório dos alunos do 6º semestre de Jornalismo da FAPSP, voltado aos moradores e trabalhadores do centro de São Paulo.

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Page 1: Estação Centro
Page 2: Estação Centro

coisa nossaLuz para a cidade, Luz para o progresso

entrevistacom Olivier Anquier “Encontrei aqui minha identidade”4

personagens do centro“Profeta de Rua”7

bom exemploUma nova praça Roosevelt8

mau exemploLixo nas ruas do centro: até quando?9

de tudo em poucoDesafio Santa Efigênia: garanta boas compras no “paraíso dos eletrônicos”10

meu “point” no centroVera Ribeiro e Bar Brahma: um antigo caso de amor11

cultura & lazerTurismetrô oferece arte, história e entretenimento12

aprovado!13 O dia a dia dos

carcereiros do Carandiru

destaque14 Um lar chamado “rua”

bem-estar18 Caminhada: fácil, gratuita

e boa para a saúde

crônicaGente do Centro20

Adivinhações e Jogo dos Sete Erros20

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Page 3: Estação Centro

Para quem admira, vive e trabalha no centro

editorial

expedienteEstação Centro é o jornal-laboratório do curso de Jornalismo da FAPSP (Faculdade de Comunicação): www.fapsp.com.br Periodicidade anual.

Diretor geral: Profº Eber Cocareli.Diretor acadêmico: Profº Alfredo Dias D’ Almeida.Coordenador do curso de Jornalismo: Profº Carlos Barros MonteiroEditora-chefe: Profª Patrícia Paixão (MTb/SP 30.961).Editor de arte: Profº Miguel Valione Jr. (coordenador do curso de Publicidade e Propaganda).Diagramação: Alunos de Publicidade e Propaganda Washington Correa e Jayme Amorim Campos Jr. Repórteres (alunos de Jornalismo do 6º semestre): Alessandra Küster, Alexandra da Costa, Alexandre Moreira, André de Oliveira, André Guimarães, Bruna Santiago, Camila Florentino, Carlos Eduardo da Silva, Cleusa Santos, Daniel Pereira da Silva, Edson Silva, Élcio de França, Erick Guedes, Evandro Miguel, Fernanda Barbosa, Gisely de Oliveira, Glaudston Forde, Iracema Ribeiro, José Quirino, Juliano Ramos, Júlio Basílio, Karina Martins, Lucia Armelin, Marcelo Barbosa, Marcos Aurélio Barbosa, Marcos do Nascimento, Maricida Oliveira, Nelma Almeida, Odair Ramos, Paulo Cesar Borges Sena, Priscila Guimarães, Roberto Carlos Gonçalves, Sérgio Gonçalves, Silvana de Souza Vitor, Vagner Souza e Wânia Ferreira Silva.

Imagens: Alessandra Küster, Bruna Santiago, Camila Florentino, Edson Silva, Gisely de Oliveira, Juliano Ramos, Júlio Basílio, Marcos Aurélio Barbosa, Maricida Oliveira, Nelma Almeida, Paulo César Souza, Roberto Carlos Gonçalves e Vagner Souza. Divulgação Olivier Anquier.

C oração da cidade de São Paulo, o centro é um dos bairros brasileiros mais ricos em história, cultura e diversidade humana.

Por aqui circulam em média diariamente dois milhões de pessoas que vêm de diversos lugares da cidade, do estado, do país e até do mundo, seja para trabalhar e fazer negócios, seja para apreciar o conjunto arquitetônico do local, que conta com muitos prédios e monumentos tombados pelo patrimônio histórico.

O centro é história, cultura, negócios e diversidade, mas infelizmente não é só isso.

Os moradores de rua e drogados e a sujeira de muitas de suas vias públicas são apenas alguns dos problemas que atingem a região.

Por conta disso, o centro acaba sendo amado e odiado ao mesmo tempo. Cultuado por uns, que fecham os olhos para os pontos fracos do bairro, e menosprezado por outros, que consideram o local perigoso, sujo e

desorganizado.Localizada no miolo do centro de São

Paulo, na República, a FAPSP (Faculdade de Comunicação) não poderia ficar indiferente às peculiaridades positivas e negativas do centro. Desde o seu Plano de Desenvolvimento Institucional a FAPSP prevê que seus estudantes realizem atividades acadêmicas que valorizem a região e/ou ajudem a progredir as comunidades locais.

Com esse objetivo, os alunos de Jornalismo da FAPSP apresentam o Estação Centro que, ao mesmo tempo que foi criado para ser o jornal-laboratório da faculdade, pretende atender os anseios do público que vive, trabalha e circula por aqui, destacando as belezas e riquezas do centro, sem deixar de apontar seus pontos fracos.

As editorias de Estação Centro e as matérias que você confere nesta primeira edição foram todas pautadas com base em uma pesquisa que os alunos fizeram com os moradores e trabalhadores do centro. Em

especial as reportagens sobre moradores de rua e sujeira nas ruas do centro. De acordo com o levantamento realizado pelos estudantes, essas são as questões que mais incomodam quem trabalha, vive e circula por aqui.

A ideia é continuar produzindo conteúdo jornalístico para atender as expectativas desse público, mas com uma linguagem e diagramação inovadora, que caracteriza a energia e o espírito de jovens estudantes de Jornalismo.

Estamos abertos à sua opinião, sugestão e/ou crítica. Envie-nos sua mensagem para o e-mail [email protected]

Que o Estação Centro contribua com um centro melhor, e que te ajude a descobrir maravilhas dessa região, que como diz o padeiro Olivier Anquier, na entrevista que nos concedeu (páginas 4 - 6), “tem a alma de São Paulo”.

Page 4: Estação Centro

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André GuimarãesFernanda BarbosaKarina Martins Marcos Aurélio Barbosa Vagner Souza

Q uem circula a passeio ou a trabalho pelo centro de São Paulo não costuma imaginar que essa região agitada, que reflete em suas diversas empresas e prédios

tombados os negócios e a história da nossa cidade, também é um local de residências.

Dentre os moradores do centro, existem alguns ilustres, que escolheram a dedo a região, ignorando a difamação que normalmente é feita dela. Um deles é o francês Olivier Anquier, 52, padeiro,

empresário e apresentador de TV (“Diário do Olivier”, canal GNT).

Residente na Praça da República, no edifício Esther, um dos marcos da arquitetura modernista em São Paulo, ele refuta todas as críticas que são feitas à região: “Falam que é um lugar perigoso, de bandidagem. Não concordo com nada disso. Digo convicto: o centro é o melhor bairro de São Paulo”.

Apaixonado por história, Olivier restaurou seu apartamento da forma como ele foi projetado pelo arquiteto Álvaro Vital Brazil, em 1936.

O especialista em culinária (é assim que ele gosta de ser definido) chegou ao Brasil na década de 80 e iniciou sua carreira como modelo de sucesso internacional. Resolveu fazer o que realmente lhe dava prazer a partir de 1989, com a morte de seu pai, François: começou a investir na profissão

de padeiro, uma tradição em sua família, iniciada por seu tio-avô. Desde então tem se mostrado um excelente empreendedor no setor, quebrando paradigmas das padarias tradicionais.

Nesta entrevista, que foi concedida no seu bistrô no Jardim Paulista (o L’Entrecôte d’Olivier - foto acima), o francês revela, com seu jeito simpático, simples e bem-humorado, todo o seu carinho pelo centro de São Paulo que, para ele, lembra muito Paris, sua cidade natal. Confira!

Estação Centro: É verdade que morar no centro de São Paulo é um sonho antigo?

Olivier: Nasci e fui criado em Paris, na França. Quando cheguei a São Paulo em 1980, fiquei na casa de um amigo,

com Olivier Anquierentrevista

“Encontrei aqui minha identidade”Morador do edifício Esther, na Praça da República, o padeiro e empresário francês revela sua paixão pelo centro de São Paulo

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Page 5: Estação Centro

5na Rua João Moura, em Pinheiros [zona oeste]. Comecei a circular por São Paulo e, inevitavelmente, cheguei ao centro. Logo me veio um pensamento de identificação. Disse: “Gente, isso aqui me lembra Paris! O movimento, os prédios, a arquitetura”. Percebi que a alma de São Paulo estava no centro e encontrei aqui a identidade da minha cidade de origem. Eu não imaginava que 25 anos depois eu fosse morar no centro e ainda no edifício Esther, que é um dos marcos da arquitetura modernista. Antes eu vivia pagando aluguel nas diferentes casas pelas quais passei. Pela primeira vez eu tinha condições de comprar alguma coisa, mas não o suficiente para cobrir todos os preços dessa região do centro de São Paulo. Tinha que escolher um lugar dentro da minha realidade. Os prédios aqui aumentaram muito e ainda continuam caros. Encontrei o que eu procurava, um local em que eu me sinto em casa, sem a preocupação com o que dizem sobre o centro, de ser um lugar perigoso, de bandidagem. Não concordo com nada disso. Digo convicto: o centro é o melhor bairro de São Paulo.

Estação Centro: Ao optar pelo edifício Esther, você resolveu derrubar tudo o que o antigo proprietário tinha feito no apartamento para restaurá-lo da forma como ele foi projetado por Vital Brazil. Por que essa atitude?

Olivier: Gosto de história, da história da vida das pessoas, da história dos objetos. Todo objeto conta uma história e, geograficamente, um lugar também conta. Sempre escolhi os prédios em que morei por aquilo que eles tinham para contar. O edifício Esther atende a essa condição. Primeiro pelo lugar em que ele está situado. Segundo pelo que ele representa na arquitetura brasileira. Faço questão de estar em um lugar como este e resgatar toda a sua originalidade, trazendo objetos e materiais da época. Também fiz isso no prédio em que eu morei em Higienópolis.Quando eu estava lá, transformei o salão do edifício num restaurante-padaria que preservava a história do prédio. Gosto de colocar objetos que repassem a história do local para outras pessoas.

Estação Centro: O que deu mais trabalho na restauração do apartamento? Como fez para conseguir materiais da época?

Olivier: Vou te dar um exemplo de como é que eu fiz com os materiais mais complicados, como os tacos originais da época. É uma coisa difícil de encontrar, a não ser que você seja um pouco “rato” como eu, que fico andando e observando tudo. Numa noite, saindo do laboratório da padaria, passei embaixo da rua Amaral Gurgel e vi três caçambas cheias de tacos. Estavam destruindo um apartamento num prédio da região e jogando tudo aquilo fora. Peguei a Doblô de entrega da padaria com sacos de farinha vazios e enchi os sacos com os tacos. Trouxe tudo pra casa e recoloquei os tacos originais. É desta forma que eu faço [risos].

Estação Centro: Em entrevista à Revista Estilo, da editora Abril, você disse que só compra peças para a decoração do seu apartamento que te transmitam alguma mensagem. Que tipo de mensagem te atrai?

Olivier: Como disse há pouco, a história. E

historia significa o quê? Personalidade! Eu adoro personalidade que bate com a minha. É isso que me fascina, peças que tenham personalidade.

Estação Centro: O que a sua esposa, a atriz Adriana Alves, achou da sua decisão de morar no centro?

Olivier: A Adriana tem uma relação muito estreita com o centro. Embora morasse em Interlagos [zona sul], passou toda a sua vida de estudante e artista de teatro no centro de São Paulo, por isso ela conhecia intimamente essa região. Quando nos conhecemos e fomos para o centro, ela ficou muito feliz, porque, para ela, isso correspondia a uma vivência, não era uma descoberta. De certa forma ela já estava em casa. Todo o preconceito, a imagem negativa que se costuma pintar do centro, não existia para a Adriana, devido a essa familiaridade.

Estação Centro: Você considera seu esforço de valorização do centro válido diante da difamação do local que é feita por muitas pessoas?

Olivier: Eu acredito que o meu esforço é válido sim. Pra mim, quanto mais falarem mal do centro melhor, porque eu menos vou ouvir este tipo de pessoa, e menos vai subir o preço dos apartamentos daqui. Se você me perguntar sobre segurança, por exemplo, o centro é o lugar mais seguro de São Paulo.

Estação Centro: Por que você afirma isso de forma tão convicta?

Olivier: A violência que há no centro é muito pequena. Ladrão mesmo não tem, o que tem é trombadinha, como há no mundo

inteiro. A Cracolândia [na região da Luz] e seus efeitos ficam mais distantes. De vez em quando temos uma ou outra ocorrência. Sou sincero quando digo que não sinto nenhum tipo de perigo. E nem a minha esposa sente. Moramos como em Paris. No meu prédio não há estacionamento como a maioria dos prédios parisienses. Isso significa o quê? Você estaciona a uma, duas quadras de onde você mora. A Adriana volta de espetáculos e muitas vezes eu não estou em casa. Ela transita ali, estaciona e volta pra casa sozinha à uma da manhã, às duas da manhã, sem acontecer absolutamente nada. Completamos quatro anos morando no Esther e nunca nos aconteceu nada. Não é o que ocorre, por exemplo, na Faria Lima.

Estação Centro: Qual região do centro você considera mais inspiradora?

Olivier: A Praça da República, a Avenida São Luiz, tudo que diz respeito ao centro residencial e ao centro antigo de negócios. São locais que têm a alma da cidade e também a sua frieza, por ser um bairro de negócios tradicional. As pessoas deveriam vir mais para o centro nos finais de semana. É uma vida e tanto, uma descoberta sensacional.

Estação Centro: E o que você menos gosta no centro?

Olivier: Me incomoda a destruição da calçada, que é de pedra portuguesa e colocam cimento. Isso eu acho um pecado... Mas, por outro lado, é melhor reformá-la e eliminar o verdadeiro campo minado que são as calçadas do centro, do que deixar a pedra portuguesa atual toda esburacada. Isso é uma lástima! Agora, o pior de tudo é que podemos ser multados, se não consertarmos a calçada. Já arrumamos duas

vezes a nossa calçada e não demorou 15 dias para voltarem a esburacá-la. A empresa Telefônica, por exemplo, ao passar o seus cabos, deixa a calçada como um campo de guerra. É muita sacanagem

Estação Centro: As pessoas te reconhecem quando você anda pelas ruas do centro? Como você lida com isso?

Olivier: Reconhecem sim, somos populares.

Sempre escolhi os prédios em que morei por aquilo que eles tinham para contar. O edifício Esther [localizado na Praça da República] atende a essa condição. Primeiro pelo lugar em que ele está situado. Segundo pelo que ele representa na arquitetura brasileira. Faço questão de estar em um lugar como este, e resgatar toda a sua originalidade.”

O centro está sendo revitalizado, isso ajudou e ajuda muito a resgatar esses prédios, praças e obras que acabam construindo a história do Brasil. Não há evolução, se não há conhecimento, valorização e respeito ao passado.”

entrevista

Page 6: Estação Centro

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Se moramos no centro é exatamente por causa da circulação popular, por encontrarmos vários tipos de pessoas que vêm de outros lugares para trabalhar nos escritórios daqui. Isso, pra mim, é o que dá alma à cidade. Moramos no centro para aproveitar essa vida, mergulhar e compartilhar tudo isso. Estamos como peixes na água.

Estação Centro: Você tem amigos que

também residem aqui?

Olivier: Sim. Consegui trazer alguns amigos para cá. Para um, em especial, acabamos de encontrar um apartamento maravilhoso

na Avenida São Luiz, lá no edifício Louvre. Estamos começando a formar uma turma bem simpática. Por exemplo, o Yann, tecladista da banda Metrô, aquela dos anos 80, é nosso amigo, e acaba de se mudar para o centro.

Estação Centro: Na França, as pessoas valorizam bastante a cultura e aqui no Brasil não vemos isso na mesma

proporção. Você não estranha esse comportamento do brasileiro?

Olivier: Eu não acho estranho, porque isso é condizente com a idade do Brasil. O Brasil está construindo sua história agora. Percebemos isso observando a área da gastronomia. Vejam quantos estados e cidades estão tentando resgatar suas origens com a culinária. E na área de construção? Cada vez mais temos prédios tombados, inclusive o Esther. Vejo que agora realmente existe essa preocupação. O Teatro Municipal, por exemplo, acabou de ser totalmente reformado. O centro está sendo revitalizado, isso ajudou e ajuda muito a resgatar esses prédios, praças e obras que acabam construindo a história do país. Porque não há evolução, não há crescimento, se não há conhecimento, valorização e respeito ao passado.

Estação Centro: Em seu site você

diz que foi aqui no Brasil que você se realizou fazendo o que mais gosta, o pão, que é uma tradição em sua família, iniciada por seu tio-avô Gilles Cordellier. Você enfrentou muitas barreiras para construir sua carreira no Brasil?

Olivier: Não enfrentei muitas barreiras não. É claro que a partir do momento em que você invade um território inevitavelmente você incomoda. Isso faz parte da vida. Eu aprendi que você pode invadir constantemente o território dos outros e os outros invadir o seu. É isso que nos faz evoluir. Quando abri minha primeira padaria, eu mexi com uma casta tradicional, com padarias tradicionais tocadas por portugueses. Demorou um tempo, mas eles viram que eu estava certo e reconheceram o meu trabalho. As padarias

tradicionais não eram nem um pouco atrativas. Hoje as padarias têm mais a cara do Brasil, são padarias brasileiras. Em quase todos os bairros acaba tendo uma padaria que a população curte e vira modelo. Então, o que eu levo comigo desta história é que, a partir do momento em que você constrói, você incomoda, e precisa saber lidar com essa situação, fazer com que as coisas se direcionem ao bem-viver. De certa forma foi isso que eu fiz e eu estou feliz pra caramba.

Estação Centro: Podemos dizer que você é um especialista em gastronomia?

Olivier: Não exatamente em gastronomia, mas em culinária. Eu sou da culinária, da cozinha de casa, eu e a cozinha nos entendemos bem.

Estação Centro: Onde você costuma comer no centro?

Olivier: No La Casserole, no Almanara. Costumo comer também no Ponto Chic, no Gato que Ri, curto o “sanduba” do Estadão [tradicional Bar & Lanches Estadão, localizado no Viaduto 9 de julho e que tem esse nome em referência ao jornal O Estado de S. Paulo que, na década de 60, funcionava num edifício vizinho ao local], tem vários lugares... talvez seja injusto citar alguns. Às vezes compro carne e levo pra casa, vou no supermercado do meu bairro. Eu vivo bem o meu bairro.

Estação Centro: Você já foi modelo, e hoje atua como padeiro, empresário e apresentador de TV. Como você se define?

Olivier: Modelo, na minha opinião, não era uma profissão, foi algo no passado que me ajudou a ser quem eu sou hoje. Me considero mesmo padeiro, empresário, escritor, palestrante e apresentador de TV. Dirijo meu programa há 15 anos. Sou feliz com a vida que consegui. A felicidade é o segredo para aproveitar ao máximo a minha passagem pela Terra.

Pra mim, quanto mais falarem mal do centro melhor, porque eu menos vou ouvir este tipo de pessoa, e menos vai subir o preço dos apartamentos daqui. O centro é a alma de São Paulo.”

Carro: MotoFilhos: Maior projeto da vidaBrasil: Minha naçãoSão Paulo: Minha cidadeParis: HistóriaVida: FelizAmor: Feliz tambémPai: AmigoCozinha: Alegria, alegriaCasa: Descontração Comida: PrazerCentro de SP: Alma da cidade

com Olivier Anquier

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entrevista

Sala de jantar do apartamento de Olivier no Edifício Esther, na Praça da República.

Page 7: Estação Centro

7 personagens do centro “Profeta de rua”Bruna SantiagoGlaudston Forde

Com seu amplificador portátil, ecoando nas ruas a volta de Jesus, Ademir Santos, 55, é uma das figuras peculiares do centro de São Paulo.Encontramos o pregador na

tradicional feira de artesanato da Praça da República, mas seu “trabalho” de propagação do evangelho é feito em outros pontos famosos da região central, sendo acompanhado por alguns e ignorado por muitos.

Ademir diz que discursa há cinco anos nas ruas do centro “por ordem de Jesus”. “Não faço isso por vontade minha, mas pela dele. Faço por amor e não recebo nada em troca, só paz no meu coração. Tenho ganhado muitas almas para o reino de Deus”, complementa.

Pelo modo escandaloso como chama a atenção da população, diz já ter sofrido muitas agressões e comumente é chamado

de “louco” ou “profeta da rua”, em tom irônico. Nesse momento, cita passagens da bíblia e diz que não se importa com isso. “Já fui atingido por objetos enquanto pregava, palavras de afronta, mas isso não vai fazer eu parar de anunciar a vinda de Jesus. Se nem Jesus agradou a todo mundo, por que eu agradaria?”.

Quando perguntado sobre a necessidade de usar um aparelho amplificador nas ruas para pregar seus sermões, ele responde que Jesus também usaria a tecnologia, se ela existisse naquela época: “Com certeza, se houvesse esse equipamento no tempo de Cristo, ele também faria assim”.

Viúvo, com dois filhos já casados, Ademir afirma viver da aposentadoria do trabalho que exerceu há muitos anos em uma metalúrgica. Reservado, ele logo encerra o assunto sobre sua vida pessoal.

Se ganhasse na loteria ou recebesse uma herança, diz que abriria uma casa para cuidar de pessoas carentes e que aplicaria tudo em prol da obra de Deus. “Estou satisfeito, não preciso de mais nada na vida”, conclui.

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Dotado de um equipamento eletrônico, Ademir Santos prega o evangelho nos principais pontos do centro

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Debaixo do elevado Costa e Silva, o jardineiro José Eduardo Jesus, 49, chama a atenção

por criar galinhas, galos e pintinhos.

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Page 8: Estação Centro

8bom exemplo

Juliano RamosJúlio BasílioPaulo Cesar Borges Sena

Depois de mais de dois anos de uma reforma que custou R$ 55 milhões aos cofres municipais, a Praça Roosevelt, localizada entre as ruas da Consolação e Augusta, foi reinaugurada para a alegria de

moradores, comerciantes e frequentadores da região central de São Paulo.

Entregue em setembro de 2012, o espaço, que antes da reforma servia de abrigo para usuários de drogas (que aproveitavam a estrutura de concreto que cobria a praça), agora conta com sanitários públicos, quiosques para floricultura, parquinho e com um “cachorródromo” (que ocupa 380 dos 25 mil metros quadrados da praça), um local gramado com banco, para os donos aproveitarem o passeio com seus cães.

A nova Roosevelt também conta com uma base da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e da Polícia Militar, para garantir a segurança dos frequentadores.

A revitalização, que segundo a Prefeitura foi feita para tentar transformar o espaço num novo polo cultural da cidade, foi recebida com alegria pelos moradores e comerciantes da região, como Vilma dos Santos, 61, que reside há mais de 20 anos próximo ao local: “foram mais de duas décadas esperando uma reforma, e agora aconteceu”, declara.

Maria José, 48, também comemora a entrega do espaço revitalizado. Ela relata que, antes da reforma, era impossível passear com as criança, devido ao fato de a praça estar sempre tomada por usuários de drogas e delinquentes. “Agora está show! Dá pra passear com as crianças tranquilamente”,

finaliza. Em função de a praça estar mais segura, o

comerciante Ricardo do Amaral, 52, aponta melhorias no comércio da região. Dono de uma papelaria há 12 anos ao lado da praça, ele tem visto o número de frequentadores do local aumentar consideravelmente. “Ontem (domingo), a praça estava lotada, isso é muito bom para o comércio.”, comemora.

Entre skatistas, patinadores, guardas metropolitanos e visitantes se destaca uma senhora de 97 anos, que há mais de 30 mora em frente à praça. Dona de sorriso largo e carismático, com seu batom vermelho sangue e seus óculos escuros, dona Eugênia passeia pela praça em sua cadeira de rodas. Ela diz que não anda a pé por preguiça, e faz

seu filho Pitágoras Santos, 81, levá-la para passear todos os dias no novo espaço. Com uma lucidez de fazer inveja a muitos jovens, Eugênia não poupa elogios para o novo espaço. “Agora posso andar com facilidade, antes havia buracos. Era ruim”, declara a quase centenária mulher, testemunha da antiga e da nova fase da Praça Roosevelt.

Uma nova Praça RooseveltFrequentadores comemoram reinauguração do espaço, que ganhou quiosques para floricultura, banheiro público, entre outros atrativos

A revitalização da Praça Roosevelt, segundo a Prefeitura, tem a intenção de transformar o local em um novo polo cultural da cidade.

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História da Praça RooseveltO local onde está situada a praça foi

considerado durante séculos como um subúrbio de São Paulo, pelo fato de ser cortado por várias chácaras. A área originalmente pertencia à D. Veridiana Prado, de uma tradicional família de cafeicultores paulistas do século XIX.

A partir de 1890 as chácaras começaram a ser loteadas, dando origem a ruas e, mais tarde, à praça, conhecida então como “Praça da Consolação”.

Em 1967, já então sendo chamada de “Praça Roosevelt (uma homenagem ao 32º presidente dos Estados Unidos), o local ganhou um projeto de Eduardo Cardoso para ser aperfeiçoado. Em 1970, a praça, com as reformulações do novo projeto, foi inaugurada pelo presidente Emílio Garrastazu Médici.

Revitalização é recebida com alegria por moradores e comerciantes da região.

Page 9: Estação Centro

9 mau exemplo

Moradores e trabalhadores continuam prendendo a respiração e tropeçando em objetos descartados nas ruas

Erick GuedesMarcos do NascimentoRoberto Carlos GonçalvesSérgio Gonçalves

Sentir cheiro de fezes e urina ao andar pelas ruas do centro de São Paulo infelizmente não é uma situação incomum. Também não é raro ter de se desviar de lixos de toda sorte, de garrafas, restos

de comida, latas de refrigerante a cartões telefônicos descartáveis, num local que é um dos maiores cartões de visita da cidade, já que recebe turistas de toda a parte do país e do exterior.

A falta de higienização das ruas do centro é um problema recorrente, tido como um dos pontos que mais incomodam quem trabalha, mora ou passeia pelo local.

O frentista Antônio Carlos Coelho, 56, que é funcionário de um posto de gasolina localizado na esquina da Avenida São João com a Rua Timbiras, é um dos paulistanos que não se conformam com o problema. “A todo o momento é lançado lixo nas ruas, inclusive por pessoas do restaurante vizinho ao posto, causando mau cheiro e a proliferação de insetos e ratos. O serviço de limpeza contratado pela Prefeitura não poderia ser feito apenas uma vez ao dia! Precisamos que as ruas sejam limpas várias vezes durante o dia”, opina o frentista, que diz já ter observado pessoas escorregarem e caírem devido ao lixo nas calçadas.

Outro incomodado com a questão é o guardador de motos que trabalha na Praça da República, Gutenberg Oliveira Silva, 27. Ele reclama que a coleta de lixo demora muito para ser feita e diz que nos últimos três meses esse serviço piorou bastante. De acordo com Gutenberg, o lixo gerado por restos de comida chega a ficar o dia todo sem ser recolhido: “muitas vezes o lixo fica o dia inteiro aí parado, demora bastante a coleta. Para nós que trabalhamos aqui é ruim, porque isso gera um odor muito forte”.

Quando chove o problema é ainda mais agravado. Os transeuntes do centro são obrigados a pisar num verdadeiro “caldo de lixo”. O risco de contrair doenças, principalmente na época do verão quando se dá preferência a calçados abertos, é grande.

A Subprefeitura da Sé, que é responsável pela manutenção e fiscalização dos serviços de limpeza no centro da cidade (executados pela Secretaria de Serviços), alega que

a Prefeitura faz a sua parte, promovendo a coleta de lixo na região à noite e várias varrições durante o dia. Segundo o assessor de imprensa da Subprefeitura, Boanerges Mauruto, a solução para o problema depende da população. “O pessoal joga coisas na rua, mexe no lixo que é ajuntado pelos varredores antes de a coleta recolher os sacos, e faz as necessidades na via pública. A gente vai fazer o quê?! Só se colocar uma rolha, ou coisa do tipo”, afirma o Mauruto.

Ele complementa que é um problema de falta de educação dos munícipes e também do grande número de pessoas que passam pelo local: “Na verdade é uma questão de educação. Também é preciso levar em conta

que aqui pelo centro passam cerca de dois milhões de pessoas. Como evitar que o cara jogue um papel no chão? A lixeira está ali, mas em vez dele jogar no lixo, ele joga debaixo da lixeira. É uma questão de cultura da pessoa”.

Mauruto reconhece que o serviço de limpeza precisa ser aperfeiçoado para que a situação possa ser amenizada, mas descarta a possibilidade, no momento, de um número maior de coletas e varrições, devido a um contrato já firmado. “Isso aí já faz parte de um contrato, que vem desde o governo passado”. Ele destaca que esse serviço já foi bastante melhorado: “no decorrer dos anos houve muita melhora: não estou defendendo a Prefeitura não, estou falando o que eu vejo”.

O que se espera é que ao menos a nova gestão (as entrevistas foram feitas na administração do prefeito Gilberto Kassab, pouco antes da eleição de Fernando Haddad, do PT) consiga aumentar o número de coletas e varrições, nos contratos que vierem a ser firmados, e invista mais em campanhas de conscientização dos paulistanos sobre a importância da higiene no centro da cidade. Assim, quem sabe um dia, poderemos andar pelo centro sem ter que muitas vezes prender a respiração.

Lixo nas ruas do centro: até quando?

Como evitar que o cara jogue um papel no chão? A lixeira está ali, mas em vez dele jogar no lixo, ele joga debaixo da lixeira. É uma questão de cultura da pessoa.” Boanerges Mauruto, assessor de imprensa da Subprefeitura da Sé

Sacos de lixo violados na esquina da Av. São João com a Rua Timbiras.

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Page 10: Estação Centro

10de tudo em pouco

Desafio Santa Efigênia: garanta boas compras no “paraíso dos eletrônicos”Tendo o limite de gasto de R$ 100,00 como meta, a reportagem do Estação Centro conseguiu comprar produtos e acessórios de diferentes segmentos; bastou pechincha, bom humor e sola de sapato

Camila FlorentinoLúcia ArmelinPriscila GuimarãesMarcelo Barbosa

Centenas de pessoas se acotovelando, gritaria generalizada com destaque de diferentes promoções, produtos e acessórios dos mais diversos tipos para todos os lados,

comerciantes “cantando” clientes, camelôs fugindo do Rapa (Guarda Civil Metropolitana), vendedores de água e guloseimas, e muito, muito mais. Assim é uma manhã típica de sábado na Rua Santa Efigênia, famoso ponto de comércio eletrônico do centro de São Paulo.

A reportagem do Estação Centro teve como missão “viver” uma destas manhãs, comprando o maior número possível de produtos úteis ao dia a dia com a verba de R$100,00. O objetivo foi descobrir o que é preciso fazer para conseguir as melhores ofertas.

Foi assim que, debaixo de muito sol, nos direcionamos para o “paraíso dos eletrônicos”. E aqui já oferecemos nossa primeira dica: vá com roupas e sapatos leves e confortáveis ao local, para poder andar bem, sem se sentir incomodado. É

muita, muita gente mesmo que circula na Santa Efigênia. Se você estiver usando algo desconfortável, poderá não aguentar por muito tempo a maratona de compras.

É bastante ampla a gama de produtos que a rua oferece ao visitante: de equipamentos e acessórios de informática, eletrônica, som e segurança a celulares, câmeras fotográficas, videogames, tablets, computador e softwares. Isso sem contar os consertos técnicos, que também atraem grande demanda.

Por isso, quando chegamos à Santa Efigênia por volta das 10h, nossa dúvida foi: O que comprar diante de tanta tecnologia e diversidade?

Começamos por um conversor de voltagem, um equipamento que pode ser muito útil, em especial nos momentos de viagem. Em estabelecimentos convencionais de eletrônica ele é encontrado a mais de R$ 20,00. Conseguimos adquiri-lo por R$ 10,00, depois de visitarmos diferentes lojas.

Por este mesmo preço, também encontramos uma extensão de 5 metros, que também é bastante utilizada no dia a dia.

E que tal um fone de ouvido com microfone por apenas R$ 5,00 reais, CD-Rs por R$ 0,60 centavos e DVD-Rs pelo valor de R$ 0,90 centavos? O Estação Centro adquiriu dois de cada, o que deu um total de R$ 3,00.

É claro que não poderíamos nos esquecer dos acessórios para guardar essas mídias. Em uma determinada loja, havia capinhas coloridas com 10 unidades, por R$ 1,00. Por este mesmo valor você ainda pode levar várias unidades de canetas retroprojetoras.

Algo indispensável, nos tempos de hoje, são os pendrives. De diversos modelos, cores e preços, eles são um dos produtos mais procurados pelos que vão à Santa Efigênia. Um de 5GB pode ser encontrado por até R$ 35,00. Mas nada que uma boa conversa não resolva. Depois da pechincha, o jornal conseguiu adquirir um de 4GB pelo preço de R$ 15,00. Aliás, fica dica: desde o início da nossa caminhada pela rua percebemos que basta pechinchar para conseguir bons descontos.

Posteriormente, a calculadora nos chamou a atenção, com visor e teclas grandes. Levamos uma por R$ 8,00.

Os acessórios para tablets e notebooks também podem ser encontrados a bons preços. Conseguimos uma estilosa capa para tablet por R$ 10,00 e, com R$ 15,00, a capa para notebook preta, convencional.

Mas o que nos encantou mesmo foi um mouse personalizado, vermelho e sem fio pelo preço de R$ 22,00. Fechamos nossas compras com ele. Conseguimos levar mais de dez produtos e acessórios úteis com a verba de R$ 100,00 estabelecida.

Ü Nunca compre na primeira loja. Pesquise, pesquise e pesquise! Não adianta ir ao local com pressa e/ou sem disposição. Ü Adquira o cartão da loja e anote o preço do produto que encontrou nela para ter uma referência de comparação com outros estabelecimentos. Ü Pechinche sempre. Acredite, dá certo! Ü Hidrate-se. Ü E não esqueça, isto é Brasil: bom humor e sorriso no rosto são indispensáveis.

✎ Dicas para boas compras na Santa Efigênia:

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Santa Efigênia oferece opções para todos os gostos: de equipamentos e acessórios de informática e eletrônica a celulares, câmeras, videogames, computadores e softwares.

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11 meu “point”no centro

Frequentadora do bar desde 1975, a professora aposentada conta como foi sua primeira visita ao local e por que ela o admira tanto

Vera Ribeiro e Bar Brahma: um antigo caso de amor

Alessandra Küster

V era Ribeiro, 53, hoje professora aposentada e moradora do bairro Ana Rosa (zona sul), é admiradora do centro de São Paulo e demonstra conhecê-lo muito bem.

Ela é frequentadora assídua do Mercado Municipal, adora a elegância, a etiqueta rigorosa e o tratamento que os garçons oferecem aos clientes no Terraço Itália, aprecia a Sala São Paulo e costuma visitar a feira de artesanatos da Praça da República nos fins de semana.

“O centro tem muita tradição e história, coisas que eu valorizo. Gosto de andar pelas ruas daqui e observar a arquitetura dos lugares. Adoro o Mercadão Municipal, a Praça Ramos de Azevedo. São Paulo é um lugar muito rico, até no cemitério tem obra de arte. As pessoas costumam ir para o exterior para visitar museus, e não conhecem o museu de São Paulo. Acho isso gozado”, afirma a professora em tom de indignação, pelo fato de nem todos paulistanos valorizarem a cultura da cidade.

Mas de todos os lugares do centro, o Bar Brahma é o “point” predileto de Vera. Ela tem uma relação íntima com o local, já tendo vivido diversas histórias nele. “É um lugar que sempre gostei. Aqui assisti aos Demônios da Garoa, à Elza Soares. Já vim várias vezes e espero continuar frequentando”, diz a docente, na entrevista que fizemos com ela no ambiente do bar.

A primeira visita de Vera ao Bar Brahma aconteceu de forma inusitada. “Foi em 1975, eu tinha 18 anos. Meu irmão, que trabalhava no Banco do Brasil, tinha ido para a Amazônia. Ele não tinha como se distrair lá nas horas em que não estava trabalhando e pediu a um fazendeiro da região [que estava naquele momento em São Paulo] que pegasse comigo um jogo [era aquele jogo War] para levar para ele. Como eu não conhecia esse fazendeiro, marcamos nosso encontro no Bar Brahma, por uma questão de segurança. Na época eu dava aula numa escola particular e ajudava um professor. Cheguei no Bar Brahma de agasalho de ginástica e choquei as pessoas que estavam no local, todas muito bem vestidas. Foi engraçado. De cara achei o máximo aquele ambiente. Depois disso passei a frequentá-

lo”, lembra Vera. A docente aprecia o local pela sua tradição,

decoração interna, o bom tratamento dispensado aos clientes e pelo perfil das pessoas que o frequentam.

Ela ainda destaca a praticidade nos serviços oferecidos aos visitantes: “eles têm um serviço de estacionamento e segurança que facilita muito a vida da gente”.

Cantores consagrados

Localizado na tradicional esquina das avenidas Ipiranga e São João, o Bar Brahma tem em sua programação diária cantores consagrados, como Cauby Peixoto, Elymar Santos e Benito de Paula. Esses mestres da música brasileira interagem no local com cantores da nova geração, como Vanessa Jackon e Paulah Gauss.

Fundado em 1948, o bar, voltado aos amantes da Música Popular Brasileira (MPB) e do Jazz, oferece opções clássicas de botecos, como picanha na pedra com pão, farofa, vinagrete, bacon e cebola.

Um dos destaques é o seu chopp, conhecido como um dos melhores de São Paulo. Ele é servido na temperatura ideal, com colarinho cremoso. Caipirinhas, coquetéis, doses e uma seleção de cachaças também fazem parte da carta de bebidas do bar.

BAR BRAHMA Local: Av. São João, 677.Horário: de terça a domingo, a partir das 11h; e de segunda-feira, a partir das 17hPreço: o couvert artístico varia de R$7,00 a R$60,00Serviços: shows, ar condicionado, área para fumantes, tv, acesso para deficientes, estacionamento, aceita cheque, aceita Cartão, aceita Ticket.Telefones: (11)3367-3600 / 3601 / 3602 / 3603 /3604 Site: www.barbrahmasp.com

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Dentre os atrativos do Bar Brahma, Vera destaca a tradição, a decoração interna e o bom atendimento aos clientes.

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12cultura & lazer

Turismetrô oferece arte, história e entretenimentoRealizado nos finais de semana a partir da estação Sé, o programa de passeios turísticos conta com cinco opções de roteiro pela região central

Daniel Pereira da SilvaEdson SilvaÉlcio de França

Numa cidade grande e intensa com é a nossa querida São Paulo, tudo quase sempre é feito às pressas em meio a um turbilhão de acontecimentos. Nesse ritmo, muitas belezas e atrativos deixam

de ser admirados, inclusive tesouros culturais que estão onde menos esperamos, como em lugares muito próximos ao Metrô.

Dos mais de quatro milhões de passageiros que utilizam esse meio de transporte diariamente, poucos conhecem o Turismetrô, uma dica de passeio interessante, simples e barata, e que é oferecida aos finais de semana.

Resultante de uma parceria entre a São Paulo Turismo (empresa de turismo e eventos) e o Metrô, o passeio engloba os principais pontos turísticos e históricos de São Paulo ao custo de apenas um bilhete.

Acompanhados de guias bilíngues especializados e atores que realizam intervenções culturais ao longo de todo trajeto, interpretando personagens históricos da cidade, os visitantes podem escolher entre cinco roteiros (Turismo na República, Turismo na Sé, Turismo na Luz, Turismo na Paulista ou Turismo Liberdade), partindo sempre da

estação Sé (há um balcão do Turismetrô no local) aos sábados e domingos, às 9h ou às 14h.

Conferindo

Para oferecer mais detalhes dessa dica cultural, a reportagem do Estação Centro realizou o roteiro do Turismetrô focado na estação Luz. Foi uma tarde agradável, na qual aprendemos sobre história, arte e encontramos muitas surpresas.

A começar na própria estação Luz, onde se pode apreciar um imenso mural artístico, onde estão pintados objetos curiosos que foram perdidos no local.

Mais adiante, um ator vestido com roupas da década de 70 interage com o público, de forma elegante e ao mesmo tempo engraçada, contando a história da construção do prédio da estação (conheça mais detalhes deste prédio na matéria da editoria “Coisa Nossa”, na página 19).

O passeio segue até a Praça da Luz, onde está localizado o Parque da Luz e onde é possível conferir algumas obras de arte da Pinacoteca (museu de artes visuais com ênfase na produção brasileira do século XIX à contemporaneidade, e que também está situado no local).

Ali existe um pequeno lago onde encontramos outra surpresa: um miniaquário subterrâneo

que esteve desativado por muito tempo e que agora conta com diversas espécies de peixes.

Depois do parque, o roteiro segue até o Mosteiro de São Bento, ponto final do passeio. Além da história do mosteiro, pudemos admirar no local uma exposição permanente de presépios de todas as partes do Brasil e até do exterior. A representação do nascimento do menino Jesus pode ser vista segundo a cultura de cada região ou nação.

Wesley Andrade, 18, estudante, era o único paulistano presente no passeio. Os demais participantes eram de outras localidades. Havia pessoas do nordeste, Rio de Janeiro e até da África do Sul.

Perguntado sobre o que achou do Turismetrô, o jovem demonstrou estar positivamente surpreendido: “foi show de bola! Não esperava que fosse tão legal. Soube do passeio por um amigo meu e resolvi conferir. Achei que seria algo entediante ou sem graça, mas estava enganado. Foi um passeio emocionante, que vou guardar para sempre”.

Questionado sobre ser o único paulistano no passeio, Andrade opina que isso é um reflexo da falta de valorização da nossa cultura. “Se fosse alguma coisa de fora, tipo uma exposição produzida por um europeu ou coisa assim, teria fila de espera! Brasileiro é assim mesmo, só dá valor para o que é de fora”, conclui.

Serviço

TurismetrôPonto de partida: balcão do Turismetrô, na Estação Sé.Dias: Aos sábados e domingos.Horários: às 9h ou às 14h (é preciso chegar com 20 minutos de antecedência ao local, para garantir a vaga).Roteiros: Turismo na República, Turismo na Sé, Turismo na Luz, Turismo na Paulista ou Turismo Liberdade.Preço: um bilhete de metrô.Mais informações: http://www.metro.sp.gov.br/cultura-lazer/turismetro/o-que-e.aspxEd

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Miniaquário subterrâneo, no lago do Parque da Luz (à esquerda), é uma das atrações do roteiro do Turismetrô.

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13 aprovado!

O dia a dia dos carcereiros do Carandiru Vinte anos após o massacre de 111 presos, Drauzio Varella volta aos bastidores do Carandiru com o livro “Carcereiros”, desta vez focando no cotidiano dos agentes penitenciários

Alexandra da Costa

Depois de revelar o dia a dia dos detentos no Carandiru (que já foi considerado a maior casa de detenção da América Latina), no livro “Estação Carandiru” – que vendeu mais de 500 mil

exemplares, o médico e escritor Drauzio Varella lança “Carcereiros” (Editora Companhia das Letras), obra em que ele volta à temática do presídio, hoje extinto em função do massacre de 111 presos pela Polícia Militar em 2 de outubro de 1992.

Desta vez, Drauzio desnuda o cotidiano dos carcereiros que atuaram no local, numa época em que as prisões ainda não eram comandadas internamente pelo crime organizado e, consequentemente, os carcereiros tinham um poder maior de atuação, não apenas cumprindo ordens de grupos criminosos.

“Desde pequeno sou fascinado por cadeias. Descobri essa atração nos programas de rádio e nos filmes em branco e preto a que tive ocasião de assistir nas matinês de domingo nos cinemas do Brás”, conta Drauzio, ao explicar, no livro, como acabou surgindo a oportunidade de trabalhar como médico no Carandiru, e como se tornou íntimo dos detentos e funcionários do local.

Na obra é possível saber como os carcereiros do Carandiru foram atraídos para esse emprego. A vocação não foi o que os levou para aquela função, e sim o sonho da estabilidade do cargo de funcionário público, diante de más condições financeiras.

Carcereiros também destaca as ricas

histórias de vida dos agentes penitenciários, como a de José Araújo, que veio de uma família batalhadora e se tornou carcereiro, após muito sofrimento familiar e decepções no cargo que tinha no Senai, na área de jardinagem. Ele perdeu dois filhos pequenos com pneumonia e, menos de um mês depois, seu filho de 12 anos caiu morto ao brincar com uma bola de basquete no quintal. Apesar de ser um funcionário exemplar, não conseguiu liberação do seu chefe no Senai no dia da morte do filho: “Não pôde me dispensar quando meu filho morreu, mas saía do trabalho para levar a filha no dentista”, conta Araújo, revoltado, no livro de Drauzio. Araújo pediu demissão e, desempregado, prestou exame para a função de agente penintenciário. Passou no teste e iniciou uma carreira de 33 anos no Carandiru.

O livro ainda mostra como os agentes penitenciários acabam desenvolvendo uma personalidade singular dentro dos presídios. “A agudeza de espírito do agente penitenciário não é qualidade inata, mas habilidade construída fragmento por fragmento, a partir da observação atenta das reações individuais e da maneira de proceder da massa carcerária, um ano depois do outro, num microambiente social cujo pano de fundo é a morte, que pode chegar a qualquer momento, de onde você menos espera”, explica Drauzio.

O leitor consegue sentir o clima das cadeias: “(...) são ambientes cinzentos, mesmo que não estejam pintadas dessa cor. A presença ostensiva das grades, das trancas e o som de ferro das portas quando se fecham oprimem o espírito de forma tão contundente, que em mais de vinte anos jamais encontrei alguém que dissesse sentir prazer quando entra num presídio. Ao contrário, a sensação de alívio ao cruzar o portão que dá acesso à rua é universal”.

Com uma linguagem simples, emocionante e atrativa, Carcereiros é uma boa dica de

leitura, mesmo para os que, a princípio, não se interessam por essa temática. É uma obra humana e reveladora. Vale a pena conferir!

CARCEREIROS

Editora: Companhia das LetrasLançamento: 2012Valor: R$ 33,00

As cadeias são ambientes cinzentos, mesmo que não estejam pintadas dessa cor. A presença ostensiva das grades, das trancas e o som de ferro das portas quando se fecham oprimem o espírito de forma tão contundente, que em mais de 20 anos jamais encontrei alguém que dissesse sentir prazer quando entra num presídio.” Drauzio Varella

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14Iracema RibeiroNelma AlmeidaMaricida OliveiraSilvana de Souza Vitor

Todos os dias o Art. 6º da Constituição Brasileira é desrespeitado nas ruas e vielas históricas do centro de São Paulo. Esse artigo diz que todo cidadão brasileiro deveria ter garantidos

como direitos sociais “a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social e a proteção à maternidade e à infância”. Não é o que constatamos quando vemos centenas de moradores de rua circulando e dormindo em situação degradante na região.

Muita gente fica sensibilizada com a situação, mas permanece indiferente por não saber como ajudar essas pessoas, de uma forma que não seja paliativa. “O que falta é oportunidade para estes moradores de rua, algo que os ajude e incentive a sair dessa situação”, afirma Valéria Paz, estudante e trabalhadora do centro.

Alguns estão com os olhos tão acostumados ao problema, que cruzam pelos moradores de rua como se estivessem passando por um poste.

Outros simplesmente veem essas pessoas como um “objeto” indesejado, que precisa ser

retirado do local por atrapalhar a paisagem e a passagem, ou ainda como “vagabundos”, que estão nas ruas por vontade própria.

Segundo a economista e professora da FEA/USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) Silvia Schor, que coordenou o Censo dos Moradores de Rua de São Paulo feito pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) em 2010 e realizou uma extensa pesquisa de campo sobre o assunto, essas pessoas não vão para a rua por voluntarismo. “Morar na rua não é brincadeira! Há um ou outro que escolheu isso, mas são exceções. Além da falta de recursos materiais básicos, existe a violência. Tem gente que passa chutando a cabeça do morador de rua e faz xixi em cima dele gratuitamente. O extremo é tocar fogo e matar. É um sofrimento moral e social. A maioria acaba na rua em função da falta de recursos para se manter em casa. É uma situação de total impotência da parte dessas pessoas”, garante a pesquisadora.

Os moradores também são privados de

Morar na rua não é brincadeira! Há um

ou outro que escolheu isso. É um sofrimento moral e social.” Silvia Schor, pesquisadora da FEA/USP

Sob olhares sensíveis ou indiferentes, centenas de moradores de rua do centro aguardam uma oportunidade para mudar de vida

Um lar chamado “rua”destaque

Caixas de papelão são usadas como “cama”na Praça da República: crianças dormem com semblante tranquilo, como se estivessem no aconchego de um lar.

Page 15: Estação Centro

15planejar seu futuro e perdem a noção do tempo. “Eles não podem fazer qualquer planejamento e não têm ideia do tempo cronológico. Só vivem o dia a dia, não têm férias, sábado, domingo, aniversário, não têm referências. Se você perguntar há quanto tempo eles estão na rua, eles não sabem responder”.

São pessoas que não têm nem mesmo direito à identificação: “grande parte não tem documento e mesmo os que têm documentação, acabam sendo enterrados como indigentes, pois fica difícil encontrar algum familiar para reclamar e enterrar o corpo”.

De acordo com a economista, a falta de emprego, a perda dos laços familiares e o vício em álcool e drogas são os três motivos que mais levam as pessoas para as ruas. Mas ela alerta que esses problemas muitas vezes não conseguem ser administrados por essas pessoas devido a uma situação mais complexa que é a falta de condições econômicas e sociais. “Um rapaz de classe média alta que está com um problema de vício em drogas, por exemplo, não vai para a rua, pois sua família pode arcar com psiquiatra, clínica e medicação. Significa, portanto, que essa pessoa tem alguma coisa que a diferencia das que se tornam moradores de rua”.

Sílvia explica que os moradores escolhem a região central porque ela é propícia para sua sobrevivência: “no centro há muito restaurante, lixo de escritório que eles podem vender, como papelão e latinhas. Além disso, os serviços de atendimento a essas pessoas estão todos ali, como restaurantes populares. Dificilmente eles passam fome

estando no centro”.O que falta ser feito?

A situação dos moradores de rua no centro da capital paulista não é um problema recente. Sucessivas administrações municipais vêm tentando resolver a situação. Mas será que as ações para isso têm sido adequadas?

Segundo o assessor de imprensa da Subprefeitura da Sé, Rafael de Barros Gaspar, a Secretaria Municipal de Assistência Social conta com 60 Centros de Acolhida para essas pessoas, que totalizam 10.115 vagas.

Gaspar afirma que a Secretaria realiza um trabalho diário de identificação, aproximação, escuta e encaminhamento

Sob olhares sensíveis ou indiferentes, centenas de moradores de rua do centro aguardam uma oportunidade para mudar de vida

A maioria dos cidadãos abordados pelos orientadores recusa o atendimento e a Prefeitura não pode obrigá-los a aceitar os serviços oferecidos.” Rafael de Barros Gaspar, assessor da Subprefeitura da Sé

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Um lar chamado “rua”

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Caixas de papelão são usadas como “cama”na Praça da República: crianças dormem com semblante tranquilo, como se estivessem no aconchego de um lar.

Page 16: Estação Centro

16dos moradores de rua para a sua rede de proteção social. Além dos Centros de Acolhida, essa rede conta com o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Serviços

de Acolhimento Institucional (Abrigos) e Espaços de Convivência e Saúde.

O problema, de acordo com o assessor, é que nem todos os moradores de rua aceitam ajuda: “a maioria dos cidadãos abordados pelos orientadores recusa o atendimento e

a Prefeitura não pode obrigá-los a aceitar os serviços oferecidos. O trabalho é permanente e sempre com a missão de convencê-los a deixarem as ruas”.

Boa parte dos serviços de acolhimento oferecidos pela Prefeitura se limita a albergues, os quais, segundo Silvia Schor, não são um lugar adequado para essas pessoas. Primeiramente devido à rigidez com os horários: “Lá a pessoa tem horário

para entrar e horário para sair, o que dificulta sua mobilidade. Diferentemente do que se costuma pensar, 75% dos moradores de rua trabalham, catando papelão ou fazendo outros bicos. Para essas pessoas, fica complicado respeitar horários específicos”.

A pesquisadora ressalta que o local também não oferece segurança. “No albergue tem gente de tudo quanto é tipo: drogado, doente, ladrão. Os moradores de rua se queixam muito que são roubados e sofrem violência de outros moradores”.

Afora essas questões, os moradores de rua sabem que encontrarão no albergue uma ajuda paliativa para seu problema e não algo que vai mudar a situação deles.

A solução para o problema dos moradores de rua, na visão da economista, seria tirar de vez essas pessoas das ruas, oferecendo um tipo de moradia permanente a elas. Só depois disso, deveria ser começado o trabalho de orientação e assistência social. “Não adianta a pessoa fazer um curso numa casa de convivência durante o dia e à noite voltar para a rua e entrar em contato com drogados e outros problemas. Com relação aos albergues, é preciso destacar que eles não tiram a pessoa da rua. Dão apenas uma pernoite eventual, a pessoa fica lá por um

tempo. Se a pessoa não é tirada de vez da rua, fica difícil reverter a situação”, conclui Sílvia, que em 2010 fez um estudo sobre o perfil socioeconômico dos moradores de rua da região central de São Paulo para a Prefeitura, e espera que os dados apontados em sua pesquisa sejam levados em conta em futuras políticas sociais para essa população.

Enquanto o problema não é solucionado a contento, o centro permanece sendo o único “lar” desses adultos e crianças que têm o céu como teto, o chão como cama, os edifícios como paredes e o lago da Praça da República como um espelho que mostra o reflexo de seu abandono.

HISTÓRIA DE ANTÔNIO BAIANO

“Leio para passar o tempo”

Antônio Baiano, 38, chegou em São Paulo em 2007, vindo da Bahia, à procura de melhores condições de vida. Assim que pisou na metrópole paulistana , perdeu todos os documentos. Ele não se lembra como aconteceu, mas o fato é que, sem identificação, não conseguiu arrumar o sonhado emprego na cidade grande. Sem dinheiro pra nada, o jeito foi morar na rua.

Usando seus pertences (uma sacola com roupas e alguns livros) como travesseiro, Baiano “reside” no Vale do Anhangabaú.

Encontramos o morador de rua lendo o livro de ensino médio “A Escrita da História”, dos autores Flávio de Campos e Renan Garcia Miranda. “Gosto de ler para passar o tempo”, explica.

Quando estava na Bahia, ele morava com a família em uma casa e exercia a profissão de pedreiro. “Meus familiares não sabem das minhas condições aqui. Nunca falei nada para eles”, afirma.

Para se alimentar, o morador de rua conta com a ajuda de grupos voluntários, normalmente ligados a entidades religiosas. Ele diz faltar empenho da Prefeitura, no sentido de ajudar pessoas como ele: “A Prefeitura não ajuda ninguém. A verdadeira ajuda seria nos fazer voltar para a casa, no meu caso, para a minha terra natal”, conclui.

HISTÓRIA DE JOSÉ PEDRO

“Desisti da vida para não dar trabalho a ninguém”

Ele vive nas ruas da região da baixada do Glicério. É conhecido como “José Pedro”, mas revela que este não é seu verdadeiro nome: “O nome não tem importância. Eu não conto ele pra ninguém. Não confio mais nas pessoas”.

Com 57 anos, José Pedro já não sabe mais dizer há quanto tempo está na rua, mas lembra muito bem do motivo que o levou a essa situação: “Era para eu ser um homem bem-sucedido, sempre trabalhei e andava arrumadinho, e não sujo deste jeito. Trabalhava em uma empresa registrado,

Não adianta a pessoa fazer um curso numa casa de convivência durante o dia e à noite voltar para a rua e entrar em contato com drogados e outros problemas. Se a pessoa não é tirada de vez da rua, fica difícil reverter a situação”Silvia Schor, pesquisadora da FEA/USP

O morador de rua Antônio Baiano aprende os ensinamentos do livro “A Escríta da História” em pleno Vale do Anhangabaú (“sua casa”).

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Page 17: Estação Centro

17tudo direito. Quando entrei nesta empresa, ela era bem pequena e eu ajudei a torná-la grande. Quando ela cresceu, fui traído por uma pessoa e acabei sendo demitido. Vim parar no chão”.

As mágoas guardadas também se relacionam à família, sobre a qual ele prefere não se pronunciar. Apenas afirma em tom de indignação: “Quando eu trabalhava ajudei a adquirir muitos bens para eles. Agora só me procuram quando o calo aperta”.

Com boa linguagem e capacidade de expressão, José Pedro diz que, apesar de não ter concluído os estudos, conhece o Brasil geograficamente muito bem. Afirma que gostava muito de ler, principalmente sobre culinária, mas que hoje não quer nem ver um livro na sua frente: “Se me derem um sou capaz de rasgá-lo!”.

O morador de rua explica que desistiu da vida “para não dar trabalho a ninguém”.

Perguntado sobre se aceitaria uma oferta de emprego ou de moradia, ele responde taxativamente que não: “Nem pensar! Estou bem assim. Não quero nada de graça”.

HISTÓRIA DE MARCO ANTÔNIO

De alfaiate da Globo a morador de rua

Marco Antônio, 57, foi parar nas ruas do centro por não suportar o fim do seu casamento com Etelvina Marta, 54, com que tem três filhos.

“No início ele era um bom marido, carinhoso e um pai responsável. Só que com o

tempo ele foi mudando muito de gênio, ficou desequilibrado demais, até não conseguirmos mais conviver com ele”, conta Etelvina.

Com a profissão de alfaiate herdada do pai, Marco Antonio chegou a ter grande reconhecimento profissional. “Ele foi contratado pela Rede Globo na década de 60. Fez todo figurino da novela Escrava Isaura. Conheceu muitas pessoas famosas. Nossos filhos ficavam contando as horas para a novela começar só para poderem ver o nome do pai nos créditos”, relembra a esposa, que concedeu a entrevista no lugar do marido, alertando a reportagem que é impossível entrevistá-lo, pelo fato dele ser

muito agressivo. Certo dia Marco Antonio resolveu abrir seu

próprio salão de alfaiataria no centro de São Paulo, na rua Peixoto Gomide. Convenceu a esposa a deixar as crianças em casa e vir trabalhar com ele. Etelvina, que lutava pelo casamento, aceitou ajudar o marido. “O negócio deu certo, tínhamos vários clientes bons que moravam nos Jardins e vinham fazer o serviço conosco. O problema é que o humor do Marco foi piorando dia após dia. Ele passou a não ter paciência com os clientes e começamos a perder encomendas. Foi ficando muito desequilibrado e descontava na família. Eu reclamava e alertava que iria me separar se ele continuasse com aquele comportamento. Ele respondia que, se eu me separasse, ele iria virar mendigo. Foi o que acabou acontecendo”.

Desde a separação, Marco Antonio anda perambulando pelo centro com uma mala que carrega seus pertences.

Alguns ex-clientes, vendo o alfaiate nesta situação, chegaram a tirar satisfação com Etelvina: “Disseram que nós tínhamos abandonado o Marco, chegaram a alugar um apartamento pra ele e o levaram pra lá, mas aí eles viram que eu e meus filhos tínhamos razão. Não suportaram a convivência com ele. O Marco acabou voltando pra rua”, conclui.

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Paulistanos caminham próximo ao Metrô República indiferentes aos moradores de rua.

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José Pedro, que é morador de rua da baixada do Glicério, diz que se ganhar um livro de alguém é capaz de rasgá-lo.

Etelvina Marta, esposa de Marco Antônio.

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18bem-estar

Caminhada: fácil, gratuita e boa para a saúdePerda de peso, sensação de bem-estar e controle dos fatores de risco de doenças cardiovasculares estão entre os benefícios desse tipo de atividade física

Alexandre MoreiraCleusa SantosEvandro MiguelOdair Ramos

F alta de tempo, habilidade, dinheiro e preguiça são argumentos normalmente usados por aqueles que não praticam atividades físicas, algo que é essencial para a saúde. Mas a verdade é que existe um tipo

de exercício gratuito e simples, que pode ser feito a qualquer hora e em vários locais: a caminhada. Essa atividade, ainda praticada por poucas pessoas, traz uma série de benefícios ao organismo.

Segundo Luciana Janot, cardiologista do hospital Albert Eistein, a caminhada é um tipo de exercício aeróbico que, se realizado de forma regular (cinco vezes por semana, de forma moderada), pode auxiliar na perda de peso, no controle da pressão arterial e no auxílio do controle do diabetes e da dislipidemia (presença excessiva ou anormal de colesterol e triglicérides no sangue). “Ou seja, a caminhada auxilia no controle dos fatores de risco cardiovascular. Além disso, é um movimento natural, praticado no nosso dia a dia”, ressalta a doutora.

Luciana, que concedeu entrevista ao jornal Estação Centro juntamente com o preparador físico do hospital, Márcio Marega, lembra que a atividade também proporciona benefícios psicológicos: “sabemos que, com atividades aeróbicas, como esta, há a liberação de serotonina, um dos neurotransmissores reguladores do humor. Portanto, a caminhada contribui com o bem-estar mental de seus praticantes”.

Quanto a restrições para a prática desse tipo de atividade, a especialista afirma que a caminhada é um ato natural do ser humano e que estar sedentário é mais prejudicial do que fazer 30 minutos desse exercício físico em um dia ou fazê-lo de forma contínua. Ela só recomenda que a pessoa passe por uma avaliação médica mais detalhada no momento em que o ato de caminhar passa a ser mais intenso, com progressão para trote ou corrida, e no caso de alguns problemas específicos de saúde.

“A restrição maior é para quem tem

problemas osteoarticulares, que causam dor no ato de andar. Pessoas muito acima do peso ou idosos com alteração de equilíbrio também podem requerer uma atenção especial. Também indicamos uma avaliação com teste ergométrico, caso o indivíduo tenha dois ou mais fatores de risco para doenças cardiovasculares, como diabetes, hipertensão arterial, colesterol alto, tabagismo, ou se é homem e tem mais de 45 anos ou mulher acima de 55”, explica Luciana.

O projeto Caminhada Noturna é uma boa pedida para quem deseja aliar esse tipo de exercício físico a um passeio pelos principais pontos turísticos da região central de São Paulo.

Com duração de duas horas e grupos de 50 a 100 participantes, o passeio, organizado pelo grupo Ação Local de Barão de Itapetininga (participante do movimento pró-recuperação do centro, promovido pela ONG Associação Viva O Centro), oferece a cada semana um trajeto diferente. “Hoje nós vamos para o Bexiga. Semana que vem vamos para Câmara Municipal. Na outra semana focaremos nos cinemas dos anos 50 e 60”, explica o empresário Carlos Beutel, idealizador do projeto.

De acordo com ele, o objetivo do Caminhada Noturna é a recuperação do centro da cidade. “Queremos que o centro seja um lugar de apreciação e de convivência das pessoas que aqui moram e trabalham, e dos turistas. A gente quer que o próprio paulistano se encante com a cidade”, destaca Beutel.

O Caminhada Noturna parte sempre às 20h do Teatro Municipal de São Paulo. É uma forma interessante de cuidar da saúde, ampliando conhecimento e cultura.

Com atividades aeróbicas, como a caminhada, há a liberação de serotonina,

um dos neurotransmissores reguladores do humor. Portanto, a caminhada contribui com o bem-estar mental de seus praticantes.”Luciana Janot, cadiologista dos Hospital Albert Einsten

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André de OliveiraCarlos Eduardo da SilvaGisely de OliveiraWânia Ferreira Silva

Nem todos os 235 mil usuários que passam todos os dias correndo pela Estação da Luz, e pegam seus trens abarrotados de pessoas atrasadas para o

trabalho ou estressadas para chegar em casa, têm tempo para perceber ou apreciar a verdadeira obra de arte que é o conjunto arquitetônico do lugar.

Inaugurada em março de 1901 (a estação funcionava desde 1867, mas tinha outra arquitetura) como sede da companhia de trens inglesa, The São Paulo Raiwail, a Estação da Luz é uma joia do patrimônio histórico e artístico de São Paulo.

Segundo o arquiteto Flávio Carvalheiro, analista de projetos e obras da Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (COHAB-SP), o estilo original do prédio da estação remetia ao neoclassicismo, movimento lógico, de tom solene e austero, que destoa do rebuscamento e detalhamento do estilo barroco. O prédio foi projetado pelo arquiteto inglês Charles Henry Driver, que se inspirou em construções de seu país, como o Big Ben e a Abadia de Westminster, e na estação australiana Flinders Street, localizada em Melbourne.

A Estação da Luz foi tombada em 1982 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) e, desde então, passou por várias reformas. A maior delas durou quatro anos, iniciando-se em 2002, quando a estação foi totalmente restaurada e impermeabilizada para impedir a ação da chuva e infiltrações. O grande relógio, inserido na torre da estação, voltou a funcionar e mais uma reforma aconteceu em sua estrutura, com a finalidade de integrar as linhas do metrô com as férreas, tornando-a moderna e funcional, projeto comum na Europa, mas inédito no Brasil até o momento. Tal proposta já era prevista em projeto de 1980 e foi criticada pela imprensa da época, pois poderia descaracterizar a construção em si. Mas isso não ocorreu. A Luz conservou sua imponência, com ares do progresso do qual já foi símbolo.

Ao lado da estação, está o Museu da Língua Portuguesa, mais um apelo cultural

para atrair visitantes à região, que já contava com a Pinacoteca do Estado, a Sala São Paulo e o Parque da Luz.

Flávio Carvalheiro ressalta o excelente trabalho feito pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, responsável pela alteração mais recente no prédio, quando foram dados ares modernistas ao local. Na opinião de Flávio, a adaptação para a construção do Museu da Língua Portuguesa em 2006 foi genial, única em se tratando de construções no Brasil.

Projetos como Monumenta, Integração Centro e Língua Portuguesa, além da Lei Nº 14.096/2005 (que viabilizou a reforma que colocou a Luz de volta ao mapa turístico da cidade), ajudam a preservar a estação, que pretende voltar a ter parte do prestígio perdido desde o fim da 2ª Guerra Mundial.

De uma forma geral, o conjunto arquitetônico se encontra historicamente preservado. Conta com limpeza impecável e paredes sem infiltrações. Mas o entorno do prédio é cheio de construções feias, prostitutas e camelôs, além de moradores de rua e usuários de drogas da chamada “cracolândia”.

Também podem ser observadas pichações na estrutura da estação, apesar do trabalho dos seguranças do local. Os pichadores conseguem driblar esses profissionais e deixam suas “marcas”.

Durante visita ao Condephaat, a reportagem do Estação Centro teve acesso aos autos de tombamento da Estação da Luz e fomos informados que o departamento apenas cuida para que não ocorram infrações no prédio. A responsabilidade pela conservação do local cabe ao Depave (Departamento de Parques e Áreas Verdes), órgão municipal que tem essa finalidade junto a todas as construções, logradouros e monumentos tombados.

A Estação da Luz tem 13,2 mil m² de área, abriga três linhas de passageiros da CPTM (a Luz - Francisco Morato; a D Luz-Rio Grande da Serra e a E Luz-Estudantes), e envolve integração com o metrô. Desde 2010, existem também as linhas especiais turísticas com destino a Jundiaí, Paranapiacaba e Mogi das Cruzes, que funcionam nos fins de semana.

coisa nossa

Luz para a cidade, Luz para o progressoInaugurada em 1901 em estilo neoclássico, a Estação da Luz é uma joia do patrimônio arquitetônico e histórico de São Paulo

ESTAÇÃO DA LUZ Endereço: Praça da Luz, 1 - Metrô LuzSão Paulo/SP Telefone: 0800 55 0121Horário de funcionamento: todos os dias, das 4h às 24hSite: www.estacaodaluz.org.br

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Page 20: Estação Centro

20crônica

José Quirino

A h, essa gente do centro de São Paulo... Tem branco, tem negro, mestiço, mulato, rico, pobre, brasileiro, estrangeiro, pessoas com casa, pessoas sem casa, tipos bonitos, tipos feios - um

verdadeiro caldeirão humano de rostos, origens e classes sociais.

Eu, com a minha mania de observador, não me canso de admirar a diversidade de pessoas que trabalham e passam por aqui.

Os panfleteiros, espalhados pelas esquinas merecem um troféu. Normalmente recebem cara feia ou são sumariamente ignorados. Ninguém entende que alguém tem que fazer aquele trabalho. É um trampo complicado, que mereceria mais respeito.

E o povo da pesquisa? Só vejo o pessoal dizendo: “Estou com pressa! Não posso te atender”. Mesmo assim eles não desistem, abrem o sorriso convidando outro possível entrevistado, após sucessivos “nãos”.

Tem também a moçada que vende chip para celular. “Cinco reais com dez de crédito! Você não pode perder!”. O mais engraçado é ver todas as operadoras trabalhando juntas,

uma do lado da outra. Os vendedores fazem uma festa!

Há os “pedidores de um real”, que são moradores de rua ou drogados. Infelizmente já fazem parte do visual do centro. Na verdade o que a gente queria dar para eles era uma perspectiva de futuro, mas achamos mais fácil ignorá-los, porque parece complicado demais encarar nossa responsabilidade na questão.

Tem os loucos que vivem bradando palavras sem sentido e perambulando pelas ruas, sem saber nem mesmo quem são.

Os hippies, com cabelo Bob Marley, encantam com seu artesanato e modo “zen” de encarar a vida. Em meio à gritaria, o povo estressado e buzinas sucessivas dos carros, estão sempre calmos e sorridentes.

Os gringos de pele rosada, com olhos ávidos e máquinas fotográficas nas mãos, nos fazem lembrar de que estamos em um dos cartões de visita da cidade.

O trabalhador formal passa correndo, como um foguete, parecendo estar sempre atrasado para algum compromisso inadiável. Já os camelôs correm do “Rapa”, com seus produtos nas mãos.

Há os homens-placas, com avisos de “compro e vendo ouro”, mais vistos como

objetos que como pessoas; as cartomantes da República e do Viaduto do Chá; os Michael Jacksons e Madonnas, que fazem performances por alguns trocados; os pregadores do evangelho ao ar livre; o travesti que passa rebolando de shortinhos e salto plataforma; os nigerianos falando enrolado; os promotores de cines pornôs e as jovens e velhas profissionais do sexo, que durante o dia muitas vezes parecem recatadas e religiosas senhoras.

Pessoas e tribos de todos os tipos interagindo num único local.

Há quem queira ficar bem longe desse ambiente “diverso”, classificando-o como “caótico e bizarro”. Uma volta pela Haddock Lobo seria muito mais convidativa para admirar pessoas “padronizadas”, cheirosas, bonitas, bem vestidas, educadas. Gente com uma vida mais “normal”. Ir para o centro só mesmo na hora de conferir um artista famoso no Municipal ou ir atrás daquela bolsa falsificada da grife X na rua 25 de março, que é igualzinha a que é vendida nos melhores shoppings da cidade.

Já eu quero ficar bem longe de toda essa “normalidade”. Continuo preferindo ver “a cara feia das meninas” da Ipiranga com a São João, apontada na canção Sampa, de Caetano Veloso. Porque a beleza da gente do centro não é fútil, nem artificial. Ela nos deixa à vontade, é a alma do Brasil. Uma gente que, por meios oficiais ou não, está batalhando, construindo este país.

Gente do centro

Cré

dito

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sol.e

ti.br