especies exoticas invasoras-marinhas no brasil-mma

441

Upload: kaduverona

Post on 22-Nov-2015

77 views

Category:

Documents


11 download

TRANSCRIPT

  • Informe sobre as

    Espcies Exticas Invasoras

    Marinhas no Brasil

  • Repblica Federativa do BrasilPresidenteLUIZ INCIO LULA DA SILVA

    Vice-PresidenteJOS ALENCAR GOMES DA SILVA

    Ministrio do Meio AmbienteMinistroCARLOS MINC

    Secretaria ExecutivaSecretriaIZAbELLA MNICA VIEIRA TEIxEIRA

    Secretaria de biodiversidade e FlorestasSecretriaMARIA CECLIA WEY DE bRITO

    Departamento de Conservao da biodiversidadeDiretor bRAULIO FERREIRA DE SOUZA DIAS

    Gerncia de Recursos GenticosGerenteLIDIO CORADIN

    Ministrio do Meio Ambiente MMACentro de Informao e Documentao Lus Eduardo Magalhes CID Ambiental Esplanada dos Ministrios Bloco B trreo - CEP - 70068-900Tel.: 5561 3317 1235 Fax: 5561 3317 1980 - e-mail: [email protected]

  • braslia - DF

    2009

    Ministrio do Meio Ambiente

    Informe sobre as

    Espcies Exticas Invasoras

    Marinhas no Brasil

    Editor CientficoRubens M. Lopes (IO-USP)

    Editores Tcnicos

    Lidio Coradin (SBF/MMA)Vivian Beck Pombo (SBF/MMA)Daniela Rimoldi Cunha (IO-USP)

  • Coordenadores Temticos: Patrcia T. M. Cunningham (IO-USP; Peixes), Flvio C. Fernandes (IEAPM; Estrutura de preveno e controle), Andra O. R. Junqueira (IB-UFRJ; Zoobentos), Rubens M. Lopes (IO-USP; Zooplncton), Eurico C. de Oliveira (IB-USP; Fitobentos), Irma N. G. Rivera (ICB-USP; Microbiologia marinha), Yara Schaeffer-Novelli (IO-USP; Carcinocultura e Manguezal), Marcos D. S. Tavares (MZ-USP; Decapoda), Maria Clia Villac (UNITAU; Fitoplncton).

    Equipe de bolsistas e colaboradores: Carlos Eduardo Amancio (IBUSP; Fitobentos), Rodrigo T. Bassanello (UNITAU; Fitoplncton), Svio Henrique C. Campos (IEAPM; Estrutura de preveno e controle), Jasar O. Cirelli (MZ-USP; Decapoda), Daniela R. Cunha (IO-USP, Zooplncton), Guilherme F. Gondolo (IO-USP; Peixes), Lvia M. B. Hasegawa (ICB-USP; Microbiologia marinha), Luciana M. Julio (IB-UFRJ; Zoobentos), Jos Eduardo Martinelli Filho (IO-USP, Zooplncton), Fernanda C. Romagnoli (MZ-USP; Decapoda), Dbora B. dos Santos (UNITAU; Fitoplncton), Ktia C. dos Santos (MZ-USP; Decapoda), Herick S. dos Santos (IEAPM; Estrutura de preveno e controle), Maria Augusta G. F. da Silva (IB-UFRJ; Zoobentos), Beatriz N. T. da Silva (IB-USP; Fitobentos).

    Equipe de reviso do Relatrio do I Informe Nacional sobre Espcies Exticas Invasoras: Joel C. Creed (UFRJ), Luciano F. Fernandes (UFPR), Alexandre C. Leal Neto (IPH), Rosana M. da Rocha (UFPR).

    Colaborao tcnica: Andr Jean Deberdt.

    Capa, arte e diagramao: Marcelo Rodrigues Soares de Sousa.

    Normalizao Bibliogrfica: Heliondia C. de Oliveira (IBAMA).

    Apoio: Projeto de Conservao e Utilizao Sustentvel da Diversidade Biolgica Brasileira - PROBIO/MMA; Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento - PNUD - Projeto BRA/00-021; Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico - CNPq; Instituto Oceanogrfico da Universidade de So Paulo (IOUSP); Instituto de Biocincias da Universidade de So Paulo (IBUSP); Instituto de Cincias Biomdicas da Universidade de So Paulo (ICB-USP); Museu de Zoologia da Universidade de So Paulo (MZUSP); Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IB-UFRJ); Universidade de Taubat (UNITAU); Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM).

    Catalogao na FonteInstituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis

    Informe sobre as espcies exticas invasoras marinhas no Brasil / Ministrio do Meio Ambiente; Rubens M. Lopes/IO-USP... [et al.], Editor. Braslia: MMA/SBF, 2009.

    440 p. ; il. color. (Srie Biodiversidade, 33)

    BibliografiaISBN 978-85-7738-120-3

    1. Ecossistema marinho Brasil. 2. Espcie extica. 3. Espcie extica invasora. 4. Estrutura de preveno e controle. I. Coradin, Ldio MMA. II. Pombo, Vivian Beck MMA. III. Cunha, Daniela Rimoldi IO-USP. IV. Ministrio do Meio Ambiente Secretaria de Biodiversidade e Florestas. VI. Ttulo. VII. Srie.

    CDU (2.ed.)574.5

    Impresso no BrasilPrinted in Brazil

    I43

    A reproduo total ou parcial desta obra permitida desde que citada a fonte.VENDA PROIBIDA.

  • Prefcio .................................................................................................. 7

    caPtulo 1Introduo .....................................................................................11referncIas .....................................................................................15

    caPtulo 2 - Mtodoaspectos conceItuaIs .........................................................................19prospeco de Informaes ..................................................................23fIchas das espcIes............................................................................25estudos de caso ...............................................................................26dados sobre a estrutura Instalada para preveno e controle ........................27avalIao de Impactos ........................................................................27anlIse de rIsco ...............................................................................27referncIas .....................................................................................28

    caPtulo 3 - estatsticas sobre as esPcies exticas Marinhas registradas na zona costeira brasileiraresultados .....................................................................................31referncIa ......................................................................................35

    caPtulo 4 - PlnctonIntroduo .....................................................................................39sntese dos resultados

    fItoplncton ................................................................................42Zooplncton ................................................................................44

    fIchas das espcIes - plncton .............................................................47estudos de caso ..............................................................................87contatos para atualIZao das Informaes ..............................................90como IdentIfIcar espcIes crIptognIcas de fItoplncton com mIcroscopIa ptIca ..90Zooplncton - espcIes contIdas ...........................................................92bacterIoplncton - estudo de caso ........................................................92referncIas .....................................................................................95

    caPtulo 5 - fitobentos (Macroalgas)Introduo ....................................................................................107sntese dos resultados ......................................................................108fIchas das espcIes...........................................................................111espcIes crIptognIcas de macroalgas ....................................................134estudo de caso - espcIes contIdas de macroalgas .....................................135metodologIa ...................................................................................136resultados e dIscusso .....................................................................136referncIas ....................................................................................139

    ndice

  • caPtulo 6 - zoobentosIntroduo ....................................................................................145sntese dos resultados ......................................................................147fIchas das espcIes ..........................................................................157estudos de caso por sItuao populacIonal

    espcIe Invasora ..........................................................................326espcIe estabelecIda ......................................................................327espcIe detectada .........................................................................331espcIes contIdas .........................................................................336espcIes crIptognIcas ...................................................................338agradecImentos ...........................................................................338referncIas ................................................................................339

    caPtulo 7 - PeixesIntroduo ....................................................................................375sntese dos resultados ......................................................................376fIchas das espcIes ..........................................................................378referncIas ....................................................................................394

    caPtulo 8 - estrutura de Preveno e controleIntroduo .....................................................................................397Infra-estrutura Instalada no brasIl ......................................................398publIcaes sobre espcIes extIcas marInhas no brasIl

    captulos de lIvros ......................................................................406artIgos cIentfIcos e trabalhos em eventos ..........................................407teses, dIssertaes e monografIas ....................................................408relatrIos tcnIcos e laudos ...........................................................409resumos em eventos ......................................................................410

    cursos e treInamentos ......................................................................416eventos ........................................................................................416vdeos ..........................................................................................417legIslao .....................................................................................418recomendaes ...............................................................................419referncIas ....................................................................................423

    caPtulo 9 - glossrio ..................................................................................427

  • Por ocasio da Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida em 1992, no Rio de Janeiro, foi aberta para a assinatura a Conveno sobre Diversidade Biolgica - CDB, aos diversos pases presentes. A CDB, como usualmente conhecido esse instrumento, entrou em vigor na esfera internacional em dezembro de 1993, tendo sido ratificado pelo Brasil em 1994, por meio do Decreto Legislativo n 2 e promulgado por Decreto Presidencial n 2.519, em 1998.

    O Ministrio do Meio Ambiente - MMA, ponto focal para a implementao da CDB no Brasil, buscou fazer cumprir as determinaes da Conveno, visando sua implementao plena no pas. Entre essas responsabilidades est aquela expressa no Artigo 8(h), a saber: Impedir que se introduzam, controlar ou erradicar espcies exticas que ameacem os ecossistemas, habitats ou espcies. Este Artigo foi, posteriormente, objeto de profunda anlise, que resultou na Deciso VI/23, adotada na VI Conferncia das Partes da Conveno, ocorrida em 2002, em Haia, na Holanda.

    A Deciso VI/23 explicita os princpios e diretrizes para a implementao do Art. 8(h), enfatizando que necessrio realizar a identificao e inventrio dos conhecimentos especializados pertinentes preveno, deteco precoce, alerta, erradicao e/ou controle de espcies exticas invasoras e recuperao dos ecossistemas e habitats invadidos, de forma que essas informaes possam ser disponibilizadas aos pases membros da Conveno.

    Ainda na esfera internacional, cita-se a Conveno sobre o Direito do Mar das Naes Unidas de 1982, ou Conveno de Montego Bay, que, no seu Artigo 196, trata do Uso de Tcnicas e Introduo de Espcies Exticas, requerendo dos pases membros a adoo de todas as medidas necessrias preveno, reduo e controle da introduo intencional ou acidental de espcies exticas em ambiente marinho.

    A esse esforo intergovernamental, soma-se, ainda, a Agenda 21 Internacional que, em seu Captulo 17.30 (a) (vi) Oceanos e Mares, orienta os pases a considerarem a adoo de regras apropriadas descarga de guas residuais visando preveno da disseminao de organismos exticos (no-nativos). Em resposta a essas e outras demandas, a Organizao Martima Internacional - OMI adotou, em 2004, a Conveno Internacional para o Controle e Gesto da gua de Lastro de Navios e Sedimentos Associados, da qual o Brasil parte signatria.

    No Brasil, a primeira reunio relacionada temtica ocorreu em 2001, quando o Governo Brasileiro, por meio de parceria entre o MMA e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria - Embrapa, realizou, em Braslia, a Reunio de Trabalho sobre Espcies Exticas Invasoras. O evento, que teve a colaborao do Governo dos Estados Unidos da Amrica e do Programa Global para Espcies Invasoras GISP, contou com a participao de representantes dos pases da Amrica do Sul. Ao final da reunio, os representantes dos pases aprovaram uma Declarao onde, reconheceram, entre outras, a necessidade de: (i) preveno e controle dos impactos de espcies exticas invasoras sobre os ecossistemas naturais e

    Prefcio

  • sobre a rica biodiversidade da regio; (ii) elaborao de diagnsticos nacionais, pesquisa, capacitao tcnica, fortalecimento institucional, sensibilizao pblica, coordenao de aes e harmonizao de legislaes; (iii) ateno urgente ao problema de introduo de espcies exticas invasoras nas diferentes bacias hidrogrficas da regio e ecossistemas transfronteirios; e (iv) coordenao e cooperao entre os setores agrcolas, florestais, pesqueiros e ambientais do pas no tratamento dessa questo.

    Em 2005, o MMA e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis - IBAMA, em parceria com a fundao Oswaldo Cruz, a Embrapa, a Universidade Federal de Viosa - UFV, o Instituto Oceanogrfico da USP - IO - USP, a The Nature Conservancy - TNC e o Instituto Hrus, organizaram o I Simpsio Brasileiro sobre Espcies Exticas Invasoras. O Simpsio contou com a presena de centenas de participantes, originrios de sete pases: frica do Sul, Argentina, Brasil, Estados Unidos, Jamaica, Nova Zelndia e Portugal. A representatividade brasileira no Simpsio foi muito marcante, com especialistas oriundos das cinco regies geopolticas brasileiras.

    Em 2006, a Comisso Nacional de Biodiversidade - CONABIO, em consonncia com a ordem jurdica internacional e ciente de que, atualmente, a ameaa mais sria diversidade biolgica, depois da perda de habitats, constituda pelas espcies exticas invasoras, criou a Cmara Tcnica Permanente sobre Espcies Exticas Invasoras (Deciso n 49, de 30 de agosto de 2006) e viabilizou a organizao de uma rede de especialistas nos diversos grupos de organismos, com vistas consolidao dos conhecimentos existentes, at ento dispersos. Ainda em 2006, o MMA assinou um Memorando de Entendimento com o Programa Global para Espcies Invasoras GISP.

    A presente obra composta por dois conjuntos de dados: o primeiro relaciona-se s espcies propriamente ditas, e o segundo reflete a estrutura existente no Pas para o enfrentamento da problemtica. No primeiro momento, a publicao inclui informaes sobre as caractersticas ecolgicas e biolgicas das espcies exticas marinhas, com nfase quelas consideradas invasoras em guas costeiras brasileiras. O outro conjunto de informaes apresenta a estrutura poltica, cientfica, institucional e legal existente no Pas para a preveno, controle e monitoramento dessas espcies em mbito nacional.

    Assim, o MMA tem o prazer de apresentar e compartilhar esta publicao, a primeira de uma srie de informes cientficos sobre espcies exticas invasoras no Brasil, com todos aqueles que, direta ou indiretamente, envolvem-se com as questes ambientais marinhas, na esperana de que este livro possa contribuir de forma decisiva para as decises e aes necessrias para o enfrentamento das invases biolgicas no pas.

    carlos mIncMinistro do Meio Ambiente

  • Ambiente Marinho 9

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil10

    Foto

    : w

    ww

    .sxc

    .hu

  • Ambiente Marinho 11

    Introduo

    Com a crescente globalizao e o conseqente aumento do comrcio internacional, espcies aquticas e terrestres tem sido transferidas acidental ou deliberadamente para reas fora de sua distribuio geogrfica natural onde podem encontrar condies ambientais adequadas sua sobrevivncia, tornando-se mais eficientes que as espcies nativas no uso dos recursos. As espcies exticas invasoras contriburam, desde o ano 1600, com 39% das extines de animais cujas causas so conhecidas. Mais de 120 mil espcies exticas de plantas, animais e microorganismos j invadiram os Estados Unidos da Amrica, Reino Unido, Austrlia, ndia, frica do Sul e Brasil. O Secretariado da Conveno sobre Diversidade Biolgica (CDB) alerta para os custos da preveno, controle e erradicao de espcies exticas invasoras e conclui que os danos para o meio ambiente e para a economia so significativos (UNEP/CDB, 2004). Nos pases acima listados, as perdas econmicas anuais, decorrentes da introduo de pragas nas culturas, pastagens e nas reas de florestas atingem cifras que se aproximam dos 250 bilhes de dlares. J os clculos sobre as perdas ambientais anuais relativas introduo de pragas nesses mesmos pases indicam que o montante ultrapassa os 100 bilhes de dlares. O custo per capita relacionado s perdas que ocorrem em razo das invases biolgicas nessas mesmas seis

    naes foi estimado em, aproximadamente, 240 dlares anuais. Extrapolando estas estimativas para o mbito mundial, esses danos superariam 1,4 trilhes de dlares ao ano (Pimentel, 2002), ou seja, cerca de 2% da economia mundial, considerando os nmeros de 2006 (World Bank, 2008).

    Estudos e iniciativas de gesto dos impactos da introduo de espcies exticas no Brasil tm sido realizados desde o incio do sculo vinte, porm por longas dcadas o foco primrio destas aes recaiu sobre os organismos de importncia comercial e fitossanitria para a agricultura. Do mesmo modo como ocorreu para o ambiente terrestre, nos sistemas aquticos brasileiros muitas espcies foram introduzidas desde o incio da ocupao territorial europia, tanto intencionalmente - para fins comerciais e ornamentais - quanto de forma no intencional. Apesar disto, o interesse da sociedade sobre o tema veio despertar apenas nas ltimas duas dcadas, a partir da deteco de impactos ambientais e socioeconmicos mais significativos causados pelas espcies aquticas no nativas. Nas dcadas de 1970-80, os esforos da comunidade cientfica nacional e dos gestores do problema em nvel governamental recaram principalmente sobre as espcies exticas de gua doce; em anos mais recentes, porm, esta preocupao foi estendida amplamente para o ambiente marinho.

    caPtulo 1

    rubens m. lopes1 marIa clIa vIllac2

    Yara schaeffer-novellI1

    1Instituto Oceanogrfico/Universidade de So Paulo - IO-USP2Universidade de Taubat - UNITAU

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil12

    A zona costeira brasileira possui 8.698 km de extenso e largura varivel, contemplando ecossistemas contguos em uma rea de aproximadamente 324 mil km e amplitude latitudinal de 4oN a 34oS. Essa faixa stricto sensu concentra quase um quarto da populao do pas, em torno de 36,5 milhes de pessoas abrigadas em cerca de 400 municpios, com densidade mdia de 121 habitantes/km, seis vezes superior mdia nacional (20 habitantes/km). O nmero de habitantes em reas urbanas correspondia, em 1991, a 87,66% do total, destacando-se que treze das dezessete capitais dos estados litorneos esto beira-mar. Somente as cinco maiores regies metropolitanas existentes na costa abrigam 15% do efetivo demogrfico brasileiro. Estes nmeros confirmam a importncia territorial da zona costeira e a necessidade da aplicao de maiores esforos para investigar, prevenir e mitigar os impactos causados por espcies exticas marinhas em nosso pas.

    Dentre os itens que compem a Agenda 21, a proteo biodiversidade de alta prioridade para o Brasil. Poluio, monoculturas, sobre-explotao de recursos e destruio de habitats continuam sendo as mais relevantes ameaas biodiversidade brasileira. A introduo de espcies exticas de microorganismos, plantas e de animais vem causando crescente preocupao, alm de hoje representar um dos principais mecanismos de perda de biodiversidade terrestre e aqutica, apresentando impactos negativos sade humana relacionados com a entrada de vetores de doenas no pas. O Brasil assinou a CDB em junho de 1992, ratificando-a em fevereiro de 1994. Na esfera federal, o Ministrio do Meio Ambiente o principal responsvel pela gesto da biodiversidade e dos recursos genticos, incluindo o planejamento e a tomada de decises sobre o desenvolvimento

    e o uso sustentvel dos recursos naturais em todo o territrio nacional (http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.mintabidestrutural=146).

    Nesse contexto, o Ministrio do Meio Ambiente, por meio do seu Departamento de Conservao da Biodiversidade - DCBio, da Secretaria de Biodiversidade e Florestas - SBF, promoveu a execuo de estudos com recursos financeiros do Projeto de Conservao e Utilizao Sustentvel da Diversidade Biolgica Brasileira PROBIO, com vistas realizao de levantamento de informaes sobre a biologia e a ecologia das espcies exticas invasoras, bem como sobre a estrutura para preveno e controle existente no pas. O presente livro resultado da reviso, atualizao e sistematizao das informaes contidas no relatrio final do subprojeto I Informe Nacional sobre as Espcies Exticas Invasoras que afetam o ambiente Marinho (fauna, flora e microrganismos).

    A execuo de um levantamento minucioso e extensivo de informaes sobre organismos marinhos exticos e invasores constitui tarefa complexa em funo da amplitude das variveis e dos processos a serem abordados, como riqueza especfica, densidade, biomassa, ciclo de vida, comportamento alimentar, padres de disperso e distribuio geogrfica. Os oceanos apresentam alta diversidade especfica, associada complexidade filogentica dos grupos taxonmicos que neles ocorrem. A costa brasileira, em particular, devido sua extenso latitudinal e heterogeneidade dos processos geomorfolgicos que levaram sua configurao recente, particularmente rica em biomas costeiros (manguezais, marismas, recifes de coral, costes rochosos, praias arenosas) e ocenicos (reas de convergncia e divergncia,

  • Ambiente Marinho 13

    giros ocenicos), abrindo vrias janelas de oportunidade para a introduo de espcies.

    Um dos maiores desafios para as pesquisas cientficas e para a gesto dos impactos de espcies marinhas invasoras o entendimento de seus processos de disperso natural e das possveis interaes destes com aqueles derivados da atividade humana. As espcies que conhecemos na atualidade so o resultado de uma longa histria evolutiva. Sua biogeografia s pode ser compreendida em sua totalidade se for contextualizada quanto distribuio passada e presente. Algumas provncias biogeogrficas de ambientes terrestres, por exemplo, podem ser associadas padres oriundos da seqncia de eventos de deriva continental. Entretanto, traar mecanismos para compreender a biogeografia no ambiente ocenico particularmente difcil, pois as barreiras fsicas e ecolgicas que delimitam as regies de expanso natural de uma espcie marinha so menos marcadas que no ambiente terrestre.

    A relao da espcie humana com o mar muito antiga, como fonte de alimento, transporte, comrcio, conquista de novas fronteiras, lazer e um lugar para o destino final de resduos domsticos e industriais. Todas estas atividades tm o potencial de interferir na biogeografia marinha por meio do transporte de espcies para alm de sua rea de expanso natural, criando verdadeiros corredores de disperso. Vale citar que h mecanismos de expanso natural de espcies que tambm podem estar sujeitas influncia de atividades antrpicas, como indica a disperso de certas espcies para altas latitudes em funo do aquecimento global.

    A introduo de uma espcie freqentemente considerada como poluio biolgica. Entretanto, necessria cautela

    na aplicao deste termo. A utilizao do termo poluio biolgica adequado no caso de espcies introduzidas apenas em situaes quando o organismo se torna um invasor, ou seja, quando sua presena e abundncia interferem na capacidade de sobrevivncia das demais espcies no local afetado (Elliott, 2003) ou traz algum dano econmico, ambiental ou para sade humana. Alm disto, uma mesma espcie extica pode se tornar prejudicial em algumas reas e no em outras, normalmente como resultado de fatores muito difceis, se no impossveis, de predizer com confiana a partir da biologia e ecologia do organismo em seus limites naturais. Na prtica, o potencial de uma espcie introduzida se tornar invasora nem sempre previsvel, pois depende de variaes ambientais nas reas de origem e de destino, no padro de transporte da espcie, ou mesmo de inoculaes estocsticas (Carlton, 1996).

    Para atingir a condio de espcie nociva ou invasora, a espcie tem que realizar, pelo menos, uma das seguintes aes (Hilliard et al., 1997):

    Deslocar espcies nativas via competio por espao, luz ou alimento;

    Ser predadora de espcies nativas e reduzir sua densidade ou biomassa;

    Parasitar ou causar doena em espcies localmente importantes (como espcies cultivadas ou com alto significado ecolgico e valor de conservao);

    Produzir toxinas que se acumulam na cadeia alimentar, envenenar outros organismos, ou causar risco direto sade humana (por exemplo, pela disseminao de patgenos ou por acumulao de ficotoxinas em moluscos e peixes utilizados na alimentao humana);

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil14

    Causar significativas perdas econmicas decorrentes de modificaes na infra-estrutura (por volumosa incrustao em

    tomadas de gua, circuitos de refrigerao,

    molhes, embarcadouros, marinas, bias,

    cascos de embarcaes e outras superfcies

    entremars ou submersas, entre outras

    situaes).

    Alguns destes impactos so muito

    complexos de avaliar, especialmente

    aqueles relacionados com modificaes nas interaes ecolgicas e em processos

    biogeoqumicos causados pelas introdues

    biolgicas, pois estas interferncias no

    so prontamente detectveis pelo olhar

    humano. Ou seja, muitas alteraes

    relevantes nos processos naturais devido

    s aes dos organismos exticos podem

    passar despercebidas por longos anos

    ou at mesmo dcadas, at que sua

    influncia venha a afetar o ecossistema ou as atividades humanas de tal forma que o

    controle ambiental se torna extremamente

    complexo ou mesmo impossvel de ser

    implementado a partir de ento.

    As medidas de preveno e controle

    das bioinvases no ambiente marinho

    esto envoltas em controvrsias pelo fato

    da maioria dos vetores de introduo

    de espcies aquticas estar associado a

    pelo menos uma atividade de destacada

    importncia econmica. O transporte

    martimo, por exemplo, responsvel por

    80% da circulao internacional de produtos

    e cerca de 95% de todo o comrcio exterior

    do Brasil (Silva et al., 2002). Outro tipo de conflito de interesse se relaciona carcinocultura marinha, que no Brasil tem

    como base o cultivo de uma espcie no-

    nativa, com foco na exportao, gerando

    divisas mas tambm impactos ambientais.

    Quaisquer iniciativas de gesto que venham

    a atingir estas e outras atividades similares

    tm que ser pautadas por extensa e

    criteriosa avaliao de custo/benefcio, onde

    a valorao das diversas modalidades de passivos (ambientais, sociais, econmicos, culturais) deve ser considerada. Tambm nesta avaliao necessrio incluir o custo da chamada pegada ecolgica, que corresponde aos subsdios, normalmente no valorados, que o ambiente prov para a sustentao da atividade econmica. Este conceito vem sendo aplicado como forma de estimar os valores no includos nos preos de venda dos produtos, que acabam sendo subsidiados por recursos considerados intangveis (interesses difusos), levando ao adgio popular da privatizao dos lucros (patrimnio ambiental) com a socializao dos prejuzos (passivo ambiental).

    Esta publicao representa uma contribuio do Projeto de Conservao e Utilizao Sustentvel da Diversidade Biolgica Brasileira - PROBIO/MMA e das instituies parceiras - Instituto Oceanogrfico da Universidade de So Paulo (IOUSP); Instituto de Biocincias da Universidade de So Paulo (IBUSP); Instituto de Cincias Biomdicas da Universidade de So Paulo (ICB-USP); Museu de Zoologia da Universidade de So Paulo (MZUSP); Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IB-UFRJ); Universidade de Taubat (UNITAU); Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM) - ao atendimento de metas previstas na CDB e contempla ampla pesquisa sobre ocorrncia e distribuio das espcies exticas marinhas no Brasil. Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo primrio de reunir informaes abrangentes e relevantes em um livro consolidado, de fcil consulta, a partir do qual podero ser obtidos subsdios para a implantao de programas de pesquisa, controle e manejo focalizando as espcies exticas e invasoras marinhas, em consonncia com os mais importantes esforos cientficos e gerenciais que atualmente vm sendo aplicados pelas naes afetadas pelo problema.

  • Ambiente Marinho 15

    referncIas

    CARLTON, J.T. Patterns, Mocesses, and prediction in marine invasion ecology. Conservation Biology, n. 78, p. 97-106, 1996.

    ELLIOTT, M. Biological pollutants and biological pollution - an increasing cause for concern. Marine Pollution Bulletin, n. 46, p. 275280, 2003.

    HILLIARD, R.W., HUTCHINGS P.A., RAAYMAKERS, S. Ballast water risk assessment for twelve Queensland ports. Stage 4: Review of candidate risk biota. EcoPorts Monograph Series, 13 (1997) a. Brisbane, Australia: Ports Corporation of Queensland. 60. +2 Appendices.

    PIMENTEL, D. Biological invasions: economic and environmental costs of alien plant, animal, and microbe species. New York: Cornell University, 2002, 384 p.

    SILVA, J.V.S.; FERNANDES, F.C.; LARSEN, K.T.S.; SOUZA, R.C.C.L. gua de lastro: ameaa aos ecossistemas. Cincia Hoje, v. 32, n. 188, p. 38-43, 2002.

    UNEP/CBD. 2004. Indicators for assessing progress towards the 2010 target: numbers and cost of alien invasions. Note by the Executive Secretary. Subsidiary body on scientific, technical and technological advice. Agenda for the tenth meeting, Bangkok, 7-11 February 2005, 7 pp. Disponvel em: Acesso em: 04 dezembro 2008.

    WORLD BANK. 2008. World development indicators. Development Data Group, The World Bank, Washington, 418 pp. Disponvel em: Acesso em: 04 dezembro 2008.

  • Ambiente Marinho 17

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil18

    Foto

    : w

    ww

    .sxc

    .hu

  • Ambiente Marinho 19

    aspectos conceItuaIs

    Na literatura especializada as definies sobre a situao populacional de espcies no nativas so extremamente variveis e sujeitas a controvrsias, dependendo da rea do conhecimento ou do setor de aplicao, no existindo pleno consenso sobre uma terminologia que unifique conceitos e critrios. Para fins operacionais, no presente estudo foi adotada a seguinte classificao:

    categorIas genrIcasExtica : espcie registrada fora de

    sua rea de distribuio original;

    Nativa : espcie que vive em sua regio de origem (em contraste espcie extica);

    Criptognica : espcie de origem biogeogrfica desconhecida ou incerta - este termo deve ser empregado quando no existe uma evidncia clara de que a espcie seja nativa ou extica (Carlton, 1996).

    categorIas especfIcas para espcIes extIcas

    Contida : quando a presena da espcie extica foi detectada apenas em ambientes artificiais controlados, isolados total ou parcialmente do ambiente natural (aqurio comercial, cultivo para fins cientficos, tanque de gua de lastro de navios, etc.);

    Detectada em ambiente natural : quando a presena da espcie extica foi detectada no ambiente natural porm sem aumento posterior de sua abundncia e/ou de sua disperso (considerando o horizonte de tempo das pesquisas ou levantamentos a respeito); ou, alternativamente, sem que tenham sido encontradas informaes subseqentes sobre a situao populacional da espcie (registro isolado);

    Estabelecida : quando a espcie introduzida foi detectada de forma recorrente, com ciclo de vida completo na natureza e indcios de aumento populacional ao longo do tempo em uma regio restrita ou ampla, porm sem apresentar impactos ecolgicos ou socioeconmicos aparentes;

    Invasora : quando a espcie estabelecida possui abundncia ou disperso geogrfica que interferem na capacidade de sobrevivncia de outras espcies em uma ampla regio geogrfica ou mesmo em uma rea especfica (Elliott, 2003), ou quando a espcie estabelecida causa impactos mensurveis em atividades scio-econmicas ou na sade humana.

    As categorias citadas pressupem a existncia de um gradiente crescente do potencial de invaso no qual as espcies contidas seriam menos invasivas do que as espcies detectadas no ambiente, as quais, por sua vez, seriam as candidatas mais diretas para se tornarem estabelecidas

    caPtulo 2 - Mtodos

    rubens m. lopes1 marIa clIa vIllac2

    1Instituto Oceanogrfico/Universidade de So Paulo - IO-USP2Universidade de Taubat - UNITAU

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil20

    e posteriormente invasoras de fato. importante ter em mente, no entanto, que o tempo de permanncia de uma dada espcie nestas categorias populacionais pode variar muito, pois est sujeito no apenas s variabilidades intrnsecas dos processos de transporte, inoculao, sobrevivncia e crescimento no ambiente receptor, mas tambm s diferentes capacidades de resposta das pesquisas cientficas e dos programas de preveno e controle, quando existentes. H muitos casos em que espcies estabelecidas vieram a ser consideradas invasoras apenas quando seus impactos econmicos ou sobre a sade humana j eram considerveis, enquanto que as modificaes anteriores que infligiram ao funcionamento do ecossistema passaram despercebidas, filtradas por um vis antropocntrico. Inversamente, possvel que uma espcie atualmente considerada estabelecida tenha sido invasora no passado, causando impactos ambientais que hoje no

    so mais perceptveis porque o ecossistema se adaptou sua presena. Assim, a definio de espcie invasora atual ou potencial - assim como a adeso s hierarquias populacionais mencionadas - guarda um nvel varivel de subjetividade, s vezes de difcil avaliao, mas que deve ser no mnimo operacionalmente significativa, em especial para fins de preveno e controle. Imerso no conceito da transitoriedade est a potencial reversibilidade do estgio de invaso. As categorias contida, detectada, estabelecida e invasora no representam cones imutveis para uma dada espcie, mas sim retratos instantneos de sua situao populacional, a qual pode se alterar em qualquer sentido durante os processos de disperso (Figura 2.1). Esse fato est implcito nas definies das categorias populacionais apresentadas nas fichas de espcies deste livro.

    Figura 2.1. Transies entre categorias populacionais relacionadas aos processos de invaso do ambiente natural por uma espcie extica. A reversibilidade das categorias populacionais est indicada pelas setas de duplo sentido. As setas tracejadas sugerem saltos entre categorias populacionais, em geral resultantes da baixa freqncia amostral dos estudos empreendidos e no necessariamente um retrato fiel dos processos de disperso.

  • Ambiente Marinho 21

    Devido aos processos dinmicos de expanso ou retrao da distribuio espacial das espcies exticas ao longo do tempo, aes de monitoramento de longo prazo so imprescindveis para a preveno ou o controle precoce da disperso das espcies exticas invasoras, especialmente em locais de maior risco potencial, como reas porturias e marinas, junto a estaleiros e plataformas e prximo a empreendimentos de aqicultura.

    O presente livro trata como espcie invasora potencial todas aquelas enquadradas nas categorias contida, detectada e estabelecida. Embora seja possvel que muitas destas nunca venham a se converter em espcie invasora atual (categoria invasora) no pas, a observao das mesmas sob uma das modalidades precursoras da invaso biolgica deve ser encarada com a devida ateno quando da implantao de programas de preveno e controle, segundo o princpio da precauo.

    Uma vez definido estes critrios oportuno mencionar que a aderncia das espcies marinhas aos mesmos muda consideravelmente conforme a comunidade biolgica tratada. Neste sentido, o cenrio de mais difcil tratamento provavelmente aquele relacionado s microalgas e aos pequenos animais pelgicos, pelo fato de serem transportados de forma passiva pelas correntes marinhas. Por isto os exemplos de espcies invasoras planctnicas com evidncias contundentes e irrefutveis so esparsos (Thresher et al., 1999). Como o potencial de uma espcie introduzida se tornar espcie invasora nem sempre previsvel, importante o estudo de espcies exticas e criptognicas, mesmo que ainda no tenham causado efeitos deletrios aparentes. Este aspecto se aplica, especialmente, aos organismos do plncton, incluindo as larvas meroplanctnicas de

    espcies bentnicas, que tm um tempo de gerao muito curto e esto sujeitos aos efeitos de forantes meteorolgicas e oceanogrficas que conferem grande dinamismo aos padres de distribuio espacial e temporal em regies costeiras.

    A despeito do esforo em atribuir o mais objetivamente possvel as categorias de situao populacional a cada espcie, so observadas duas dificuldades principais para esta tarefa: (i) a diversidade de critrios e de opinies muitas vezes subjetivas, por parte dos especialistas nos vrios grupos taxonmicos, sobre a situao populacional das espcies em investigao; e (ii) a complexa dinmica de disperso das espcies, como no caso daquelas que poderiam ser consideradas como detectadas quando do incio do estudo, mas que seriam assinaladas categoria estabelecida em fase posterior, devido sua propagao em um tempo relativamente curto.

    Nas pesquisas que resultaram nesta publicao procuramos contornar tais problemas atravs das seguintes aes: (i) estabelecimento de contato direto com os principais especialistas, para discusso dos critrios e a obteno de um consenso possvel sobre a questo; (ii) contnua atualizao do banco de dados sobre cada espcie, a partir de informaes levantadas pelos autores e pela insero de novos registros submetidos como resposta a um questionrio aplicado junto a especialistas de vrias instituies.

    Outra preocupao deste livro, em termos conceituais, foi a de definir e contemplar os inmeros vetores de transporte e disperso de organismos aquticos associados s atividades humanas (Tabela 2.1).

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil22

    NaviosOrganismos planctnicos e nectnicos na gua de lastroOrganismos livres ou incrustados no casco, quilha, leme, hlice, eixo da hlice e nos sistemas de circulao de gua do mar, caixa de mar, gua de lastro e em tanques de carga lastrados Organismos associados ncora, amarras e caixa da ncoraOrganismos associados carga, como troncos de madeira que flutuam durante o carregamento

    PlataformasOrganismos livres ou incrustantesOrganismos planctnicos e nectnicos na gua de lastro

    Diques SecosOrganismos livres ou incrustantesOrganismos planctnicos e nectnicos na gua de lastro

    Bias de Navegao e FlutuantesOrganismos livres ou incrustrantes

    Avies-anfbio e HidroaviesOrganismos livres ou incrustrantesOrganismos na gua dos flutuadores

    CanaisMovimento de organismos atravs de canais de nvel, de comportas e de irrigao

    Aqurios PblicosDescarte acidental ou intencional de organismos em exposioDescarte acidental ou intencional de organismos acidentalmente transportados com a espcie de interesse para exposio

    PesquisaMovimento e descarte de microorganismos, invertebrados, peixes e plantas utilizadas em pesquisa (intencional ou acidental) Organismos associados ao equipamento de coleta e pesquisa, como material de mergulho (roupas ou apetrechos)

    Detritos Marinhos FlutuantesTransporte de organismos em detritos gerados pelo Homem, como redes e plsticos

    Pesca, inclusive Aquicultura Marinha (Maricultura)

    Transplante ou cultivo de produtos como ostras, mexilhes, vieiras, caranguejos, lagostas, peixes ou macroalgas em mar aberto, para crescimento ou rejuvenescimento; e outros organismos associados estruturas de transporte e cultivoLanamento intencional de espcies de moluscos, crustceos, peixes e macroalgas, como resultado tanto de empreitada oficialmente regulamentada, como por iniciativa privada e ilegal Melhoramento de estoque, normalmente em andamento, alm de organismos associados espcie alvo, transportados acidentalmenteMovimento de organismos vivos para fins comerciais de revenda, mas descartados no ambiente Processamento de fruto do mar fresco ou congelado, seguido de descarte de restos no ambiente, o qual pode incluir organismos associados vivos ou encistadosMovimento de iscas vivas com subseqente descarte no ambienteDescarte de material de embalagem - como macroalgas e organismos associados usados em isca viva e frutos do marMovimento, transporte e deriva de apetrechos de pesca como redes, flutuantes, armadilhas e dragasLanamento de organismos como alimento para outras espciesOrganismos transportados acidentalmente ou intencionalmente em pocetos ou tanques de coleta de gua, embornais do navio ou outros recursos no convsLanamento de estoques transgnicos Movimento de macroalga e organismos associados para servir de substrato quando da desova de peixes

    Aqurios DomsticosMovimento e descarte de invertebrados, peixes, macroalgas e gramas (intencional ou acidental)

    RestauraoMovimento de vegetao de marismas e de manguezal, de dunas ou gramas marinhas e organismos associadosRe-estabelecimento de populaes nativas extintas ou dizimadas e transporte acidental de organismos associados

    EducaoDescarte de espcies por instituies de

    ensino aps uso em aula prtica

    Equipamento de RecreaoMovimento de embarcaes de recreao de pequeno porte, material de mergulho (roupas e apetrechos), jet skis e materiais similares

    Tabela 2.1. Vetores antropognicos de transporte e disperso de espcies marinhas (extrado de Carlton, 2001; reproduzido com autorizao do autor).

  • Ambiente Marinho 23

    Dentre esta multiplicidade de vetores, podemos identificar duas categorias gerais: (i) vetores que resultam em introdues consideradas intencionais, como a aqicultura e a aquariofilia, (ii) vetores responsveis pelas introdues ditas acidentais ou no-intencionais, como a gua de lastro de tanques de navios, incrustaes em cascos de navios, plataformas e detritos flutuantes, assim como os organismos associados queles introduzidos via aqacultura e aqariofilia (epibiontes e endobiontes, incluindo microorganismos e vrus, alm da fauna e flora acompanhantes). A separao entre introduo intencional e no intencional tem implicaes claras em termos de preveno e controle.

    Finalmente, cabe destacar a disponibilizao, no final deste livro, de um glossrio de termos tcnicos utilizados ao longo dos diferentes captulos.

    prospeco de Informaes

    Inicialmente foram normatizadas as estratgias de levantamento de informaes para assegurar a mais alta probabilidade de registro e de documentao dos organismos-alvo no ambiente marinho brasileiro. A normatizao foi definida como uma pesquisa estratificada de dados biolgicos, ecolgicos, biogeogrficos, histricos e socioeconmicos sobre os organismos em questo.

    O primeiro nvel hierrquico do levantamento estratificado de dados foi o das comunidades biolgicas marinhas. Para cada uma destas comunidades biolgicas foi feita uma investigao detalhada dos organismos-alvo entre os grupos taxonmicos, que representam o segundo nvel hierrquico. Nesta anlise foi levada em considerao a distribuio dos txons nos diversos ecossistemas e habitats (terceiro e quarto nveis hierrquicos, respectivamente) ao longo do gradiente latitudinal da costa brasileira. O diagrama abaixo uma representao simplificada da abordagem proposta para o levantamento de dados das espcies.

    Uma vez delimitados os critrios de estratificao da amostragem, conforme exposto abaixo, os responsveis pela pesquisa das diferentes comunidades biolgicas marinhas adotaram um ncleo comum de ferramentas de prospeco de informaes:

    Bancos de dados eletrnicos compartilhados na Internet;

    Bancos de dados eletrnicos locais, no compartilhados;

    Publicaes indexadoras impressas no disponveis eletronicamente;

    Publicaes impressas e eletrnicas regulares no indexadas;

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil24

    Publicaes e outros documentos impressos no regulares, incluindo relatrios tcnicos de circulao limitada.

    A busca de informaes em bancos de dados eletrnicos e em publicaes indexadoras impressas foi efetuada segundo os mesmos critrios por todas as equipes participantes. A utilizao de outras publicaes no necessariamente seguiu a mesma abordagem, pois dependeu de busca manual no hierarquizada. Esta muitas vezes gerou a oportunidade para que pesquisadores envolvidos no estudo de uma determinada comunidade biolgica obtivessem dados relevantes sobre outras comunidades. Das consultas realizadas nesta modalidade, esto as publicaes no indexadas impressas ou em meio digital (CD ROM), nas quais esto includas monografias, dissertaes de mestrado e teses de doutorado, relatrios tcnicos cientficos e resumos em eventos.

    Foram consultadas diversas fontes eletrnicas que pudessem fornecer informaes sobre as espcies. Dentre essas fontes, esto indexadores acessados a partir dos seguintes endereos eletrnicos principais:

    www.periodicos.capes.gov.br

    www.portaldapesquisa.com.br

    http://lattes.cnpq.br/

    www.isiknowledge.com

    www.sciencedirect.com

    Ferramentas de busca online (por exemplo, Google, Yahoo) tambm foram utilizadas, principalmente para acesso a pginas de laboratrios, pesquisadores e projetos relacionados com o tema do livro.

    Em cada um deles foram utilizadas as palavras-chaves, algumas delas exemplificadas abaixo:

    Espcies exticas and Brasil

    gua de lastro and Brasil

    Exotic species and Brazil

    Allien species and Brazil

    Invasive species and Brazil

    Introduced species and Brazil

    Ballast water and Brazil

    Nova ocorrncia and Brasil

    Primeiro registro and Brasil

    First record and (taxon) and Brazil

    Do mesmo modo foram utilizadas vrias combinaes para obter informaes sobre a biologia e ecologia das espcies (por exemplo, Polydora and cornuta and reproduction).

    Outras ferramentas de levantamento de dados foram empregadas, envolvendo:

    Aplicao de questionrios impressos e eletrnicos, em um total de 150 questionrios, via postal e e-mail, para pesquisadores e tcnicos de entidades governamentais e no-governamentais de todo o territrio nacional, com atuao em pesquisa e utilizao para fins comerciais de espcies marinhas;

    Entrevistas in loco ou remotas (telefone, correio eletrnico ou frum eletrnico) utilizando roteiro previamente elaborado;

    Estas ltimas ferramentas foram utilizadas para todas as comunidades biolgicas, mas foram particularmente necessrias no caso de grupos taxonmicos, ecossistemas ou vetores de transporte

  • Ambiente Marinho 25

    que envolvem interesses econmicos ou conservacionistas imediatos. Exemplos destas situaes incluram: espcies utilizadas em aqicultura e aqariofilia; espcies potencialmente transportadas por vetores ligados navegao martima; e espcies introduzidas em ecossistemas protegidos pela legislao ambiental, como manguezais e recifes de coral.

    fIchas das espcIes

    Para cada espcie extica identificada no levantamento foram pesquisadas vrias informaes, que passaram a compor uma ficha da espcie atendendo os parmetros abaixo relacionados:

    Identificao taxonmica famlia, gnero, espcie;

    Nome popular;

    Caractersticas morfolgicas para identificao;

    Lugar de origem continente, regio, pas;

    Ecologia: habitat, situao populacional, abundncia no habitat natural, potencial reprodutivo, taxa de natalidade e mortalidade, reproduo, dieta, ciclos de vida, rea de vida, meios naturais e artificiais de disperso;

    Situao: potencial ou atual;

    Primeiro registro no pas estado, municpio, localidade (quando pertinente);

    Distribuio geogrfica;

    Tipo de introduo: intencional, acidental, disperso natural (espontnea), desconhecida;

    Histrico da introduo: como, com que finalidade e por meio de que vetores a espcie se estabeleceu e se difundiu no pas;

    Possveis usos econmicos;

    Meios de disperso vetores potenciais ou atuais;

    Situao populacional conforme as categorias descritas anteriormente;

    Organismos afetados nome popular, ordem, famlia, gnero e espcie

    Principais impactos;

    Tcnicas de preveno e controle;

    Pesquisas desenvolvidas e em desenvolvimento;

    Anlises de risco;

    Bibliografia relevante relacionada.

    Um diagrama apresentando as etapas de obteno das informaes biolgicas e ecolgicas sobre as espcies-alvo deste livro apresentado a seguir:

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil26

    estudos de caso

    Este livro inclui estudos de caso sobre espcies criptognicas (nos captulos sobre plncton, fitobentos e zoobentos) e sobre as espcies exticas propriamente ditas. Estas ltimas esto exemplicadas no captulo de bentos, com uma espcie representante de cada categoria populacional referente ao ambiente natural (invasora, estabelecida e detectada). As espcies contidas so citadas nos captulos sobre plncton (de forma suscinta), fitobentos (reportanto estudo indito executado sobre ocorrncia de macroalgas exticas em lojas de aqurios)

    e zoobentos. O intuito da apresentao destes estudos de caso o de ilustrar, sob uma perspectiva diferenciada das fichas de espcies, resultados proporcionados pelas pesquisas em territrio nacional e no exterior, mostrando a importncia da realizao de estudos aprofundados para uma melhor compreenso da biologia e da ecologia das espcies, de seus padres de disperso natural ou antropognica, assim como das alternativas para preveno e controle.

  • Ambiente Marinho 27

    dados sobre a estrutura Instalada para preveno e controle

    Em paralelo ao diagnstico das espcies-alvo foi realizado um extenso levantamento sobre a estrutura existente para a preveno e controle das introdues de organismos marinhos no Brasil.

    No captulo 8, referente a este diagnstico, encontram-se destacadas, para cada item abaixo, a instituio responsvel, os objetivos, a estratgia, a rea geogrfica, o ecossistema, os beneficirios, os impactos socioeconmicos.

    Programas, projetos e aes:

    Sistemas de informao Redes de informao para diagnsticos, monitoramento, sistemas de alerta precoce, programas de identificao, dentre outros;

    Programas e projetos locais e regionais de preveno e controle;

    Campanhas de sensibilizao e educao ambiental;

    Sistemas de quarentena e controle de fronteiras;

    Cursos e treinamentos.

    Infra-estrutura:

    Infra-estrutura fsica, recursos humanos e financeiros;

    Lista das instituies;

    Lista de especialistas;

    Lista de publicaes;

    Redes eletrnicas implementadas.

    Este conjunto de dados foi obtido a partir da aplicao de questionrios e entrevistas junto s diversas instituies atuantes na rea, assim como por meio da pesquisa em bancos de dados (por exemplo,

    pesquisa de currculos de profissionais). No diagnstico foi dada ateno especial ao levantamento da capacidade instalada de recursos humanos qualificados para atender s mais diferentes reas de atuao relacionadas com os programas de preveno e controle.

    avalIao de Impactos

    Para a maioria das espcies marinhas detectadas ou introduzidas na costa brasileira no existem avaliaes de impactos individualizadas e detalhadas. Em muitos casos so apresentadas somente conjecturas e hipteses, ainda no adequadamente testadas, com base em informaes de impactos causados por estas espcies em outras regies do mundo. Os impactos foram tambm previstos a partir de exemplos com espcies de txons relacionados. Quando disponveis, estas informaes foram includas nas respectivas fichas de espcies.

    anlIse de rIsco

    Risco a probabilidade de ocorrncia de um evento adverso. Para a presente publicao relaciona-se probabilidade de eventos resultantes da introduo de uma determinada espcie. A anlise de risco envolve dois processos: a avaliao e o manejo de risco. A avaliao a estimativa de risco, enquanto o manejo envolve uma deciso pragmtica em relao ao risco. A anlise de risco pode ser conduzida antes ou depois da ocorrncia da introduo, com finalidades diversas, incluindo:

    Preveno de introdues acidentais;

    Manejo de introdues intencionais;

    Deteco precoce e ao rpida (para espcies ainda no estabelecidas);

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil28

    Gesto de invaso de espcies j estabelecidas.

    A anlise de risco sempre envolve incertezas e seu sucesso depende da existncia de informaes sobre a espcie e o ambiente onde ela se encontra. Uma reviso detalhada sobre as vrias anlises quantitativas de risco ecolgico que vm sendo utilizadas em sistemas de apoio e tomada de deciso que regulam introdues intencionais foi apresentada por Hayes (1997).

    Ainda no existem anlises de risco para a maioria das espcies marinhas introduzidas no Brasil, exceto para uma espcie importada para fins de cultivo, a macroalga Kappaphycus alvarezii (Paula & Oliveira Filho, 2004).

    referncIas

    CARLTON, J.T. The nature of ballast water. ICES CIEM Information Newsletter, 1996, n. 27.

    CARLTON, J.T. Introduced species in U.S. coastal waters: environmental impacts and management priorities. Arlington, Virginia: Pew Oceans Comission, 2001, n. 28.

    ELLIOTT, M. Biological pollutants and biological pollution - an increasing cause for concern. Marine Pollution Bulletin, n. 46, p. 275280, 2003.

    HAYES, K.R. Ecological risk assessment review. Tasmania, Australia: Centre for Research on Introduced Marine Pests, CSIRO Marine Research. 1997. CRIMP Technical Report, n. 13.

    PAULA, E.J.; OLIVEIRA FILHO, E.C. Macroalgas exticas no Brasil com nfase introduo de espcies visando a maricultura. In: SILVA,

    J.S.V.; SOUZA, R.C.L. (Org.), gua de lastro e bioinvaso. Rio de Janeiro, Intercincia, p. 99 112.

    THRESHER, R.E.; HEWITT, C.L.; CAMPBELL, M.L. Synthesis: exotic and cryptogenic species in Port Phillip Bay. Tasmania, Australia: Centre for Research on Introduced Marine Pests, CSIRO Marine Research. 1999. CRIMP Technical Report, n. 20.

  • Ambiente Marinho 29

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil30

    Foto

    : w

    ww

    .sxc

    .hu

  • Ambiente Marinho 31

    resultados

    Considerando as trs categorias de situao populacional relacionadas presena de organismos nos ambientes naturais (espcies detectadas, estabelecidas e invasoras), 58 espcies exticas foram registradas nos levantamentos executados, divididas nos subgrupos fitoplncton (3 espcies), zooplncton (6 espcies), fitobentos (5 espcies), zoobentos (40 espcies) e peixes

    (4 espcies) (Tabela 3.1). Destas, 9 espcies foram consideradas invasoras (16%), 21 estabelecidas (36%) e 28 detectadas em ambiente natural (48%) (Tabela 3.1).

    As tabelas 3.2 a 3.4 contm as listagens completas das espcies exticas marinhas descritas em detalhe nos captulos especficos sobre cada comunidade biolgica.

    Tabela 3.1: Situao populacional das espcies exticas marinhas no Brasil, conforme o grupo biolgico.

    Detectadas Estabelecidas Invasoras Total de Espcies

    Contribuio relativa das comunidades

    biolgicas (%)

    FITOPLNCTON - 1 2 3 5

    ZOOPLNCTON 3 3 - 6 10

    FITOBENTOS 1 3 1 5 9

    ZOOBENTOS 21 13 6 40 69

    PEIXES 3 1 - 4 7

    TOTAL 28 21 9 58 100

    caPtulo 3 - estatsticas sobre as esPcies exticas Marinhas registradas na zona costeira brasileira

    rubens m. lopes1 danIela r. cunha1

    KtIa c. dos santos2

    Tabela 3.2: Listagem das espcies invasoras atuais na zona costeira brasileira.

    INVASORASFITOPLNCTON Bacillariophyta Coscinodiscaceae Coscinodiscus wailesii

    Dinoflagellata Goniodomaceae Alexandrium tamarense

    FITOBENTOS Chlorophyta Caulerpaceae Caulerpa scalpelliformis var. denticulataZOOBENTOS Cnidaria Anthozoa Tubastraea coccinea

    Tubastraea tagusensis

    Mollusca Bivalvia Isognomon bicolor

    Myoforceps aristatus

    Arthropoda Decapoda Charybdis hellerii

    Chordata Ascidiacea Styela plicata

    1Instituto Oceanogrfico/Universidade de So Paulo - IO-USP2Museu de Zoologia/Universidade de So Paulo - MZ-USP

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil32

    Tabela 3.3: Listagem das espcies exticas estabelecidas na zona costeira brasileira.

    ESTABELECIDAS

    FITOPLNCTON Dinoflagellata Gymnodiniaceae Gymnodinium catenatum ZOOPLNCTON Branchiopoda Onychopoda Pleopis schmackeri

    Copepoda Calanoida Pseudodiaptomus trihamatus

    Temora turbinataFITOBENTOS Rhodophyta Ceramiaceae Anotrichium yagii

    Dasyaceae Dasya brasiliensis

    Bangiaceae Porphyra suborbiculataZOOBENTOS Porifera Calcarea Paraleucilla magna

    Cnidaria Anthozoa Chromonephthea braziliensis

    Mollusca Bivalvia Mytliopsis leucophaeta

    Perna perna

    Annelida Polychaeta Branchiomma luctuosum

    Arthropoda Cirripedia Amphibalanus reticulatus

    Chirona (Striatobalanus) amaryllis

    Megabalanus coccopoma

    Decapoda Pyromaia tuberculata

    Rhithropanopeus harrisii

    Isopoda Sphaeroma serratum

    Ectoprocta Gymnolaemata Schizoporella errata

    Chordata Ascidiacea Ascidia sydneiensisPEIXES Perciformes Blenniidae Omobranchus punctatus

    Tabela 3.4: Listagem das espcies exticas detectadas em ambiente natural na zona costeira brasileira.

    DETECTADAS

    ZOOPLNCTON Copepoda Cyclopoida Apocyclops borneoensisParacyclopina longifurca

    Harpacticoida Phyllopodopsyllus setoucheiensisFITOBENTOS Rhodophyta Areschougiaceae Kappaphycus alvareziiZOOBENTOS Annelida Polychaeta Boccardiella bihamata

    Polydora cornuta

    Polydora nuchalis

    Pseudopolydora achaeta

    Pseudopolydora antennata

    Pseudopolydora diopatra

    Pseudopolydora paucibranchiata

    Arthropoda Decapoda Bellia picta

    Cancer pagurus

    Litopenaeus vannamei

    Metapenaeus monocerus

    Penaeus monodon

  • Ambiente Marinho 33

    A regio de origem da maioria das espcies exticas invasoras atuais e potenciais foi o Indo-Pacfico (30%), seguida pelo Pacfico Oriental (14%), Pacfico Ocidental e Atlntico Ocidental/Caribe (cada um com 10%), Atlntico Oriental (8%), Europa (5%), ndico e Leste da frica (cada um com 2%). A categoria Indeterminado representou 19% (Figura 3.1).

    Entre as nove espcies atualmente consideradas invasoras, as regies de origem foram o Atlntico Ocidental/Caribe e o Indo-Pacfico (duas espcies cada), o Pacfico Oriental e Ocidental (uma espcie cada), alm de trs espcies cuja origem biogeogrfica desconhecida.

    DETECTADAS

    Pilumnoides perlatus

    Polybius navigator

    Scylla serrata

    Taliepus dentatus

    Ectoprocta Gymnolaemata Scrupocellaria diadema

    Bugula dentata

    Hippopodina viriosa

    Chordata Ascidiacea Bostricobranchus digonas

    Ciona intestinalis

    PEIXES Perciformes Acanthuridae Acanthurus monroviae Chaetodontidae Heniochus acuminatus

    Eleotridae Butis koilomatodon

    Tabela 3.4 (Continuao): Listagem das espcies exticas detectadas em ambiente natural na zona costeira brasileira.

    2%

    30%

    14%

    10%

    8%

    10%

    5%

    2%

    19%

    ndico

    Indo-Pacfico

    Pacfico Oriental

    Pacfico Ocidental

    Atlntico Oriental

    Atlntico Ocidental e Caribe

    Europa

    Leste da frica

    Indeterminado

    Figura 3.1: Percentual das regies de origem biogeogrfica das espcies exticas marinhas reportadas para o Brasil.

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil34

    Quanto aos vetores de disperso, 26% das introdues tm como um dos vetores provveis a gua de lastro. As correntes marinhas so um meio natural de transporte desde o ponto de inoculao original em direo a outros locais da zona costeira do pas. Existem evidncias de que este vetor tenha contribudo com 23% das introdues secundrias. Dado o grande nmero de espcies do zoobentos, 20% das espcies exticas introduzidas tm a incrustao como vetor de disperso. Outros vetores antropognicos importantes so, em ordem decrescente: maricultura ou aquicultura (18%), processamento de frutos do mar (6%), associao com outros organismos e aquariofilia (3% cada) e aves migratrias (1%) (Figura 3.2).

    As espcies exticas atualmente invasoras, ou seja, no universo das nove espcies listadas como invasoras nas Tabelas 3.1 e 3.2, teriam sido introduzidas basicamente por meio da bioincrustao e

    da gua de lastro. Entretanto, no h dados suficientes para a determinao dos vetores de transporte da maioria destas espcies, incluindo todas as espcies do fitoplncton e do fitobentos, assim como de duas espcies de zoobentos.

    Os primeiros registros de espcies exticas marinhas no Brasil remontam s dcadas de 1930 a 1970, porm possvel que outros eventos de introduo tenham ocorrido em passado mais remoto. Tais eventos so de difcil identificao devido ausncia de dados histricos e, por isso, muitas espcies precisam ser tratadas como criptognicas. Apenas com o uso de tcnicas contemporneas de biologia molecular para estudo da ocorrncia e disperso das espcies nas diferentes biorregies este problema poderia ser resolvido.

    Esta contudo uma abordagem muito incipiente nos estudos sobre invases biolgicas no Brasil.

    Figura 3.2: Percentual de ocorrncia dos vetores de transporte das espcies exticas marinhas reportadas para o Brasil.

    1% 6%3%

    20%

    26%

    18%

    3%

    23%

    Aves migratrias

    Processamento de frutos domar

    Associao com outrosorganismos

    Incrustao

    gua de lastro

    Maricultura ou Aquicultura

    Aquariofilia

    Correntes marinhas

  • Ambiente Marinho 35

    O incremento das pesquisas cientficas sobre introduo de espcies marinhas no pas, a partir das dcadas de 1980-1990, certamente contribuiu para o aumento nos registros de espcies exticas, embora dois aspectos correlatos devam ser lembrados. Em primeiro lugar, havia uma tendncia entre os especialistas, especialmente at a dcada de 1980, em designar como simples nova ocorrncia o registro de uma dada espcie antes nunca encontrada no pas, sem que existisse uma preocupao em averiguar sua eventual condio de espcie extica ou, pelo menos, criptognica. Por outro lado, inegvel que houve um aumento significativo no volume de cargas movimentadas pelo transporte martimo em mbito internacional durante os ltimos 20-30 anos, incrementando a possibilidade de novas inoculaes e introdues de espcies, por incrustao e gua de lastro, em regies costeiras de todo mundo (Wonham & Carlton, 2005), incluindo o Brasil. A aqicultura de larga escala, com foco na exportao, tambm um vetor importante de introdues intencionais e no intencionais que tem crescido aceleradamente. Em suma, o aumento no nmero de registros de espcies exticas no Brasil, nos ltimos vinte anos, conseqncia, por um lado, de um maior interesse e acurcia dos cientistas no tratamento do problema e, por outro, do aumento real da freqncia e do tamanho dos inculos.

    referncIa

    WONHAM, M.J.; CARLTON, J.T. Trends in marine biological invasions at local and regional sacles: the Northeast Pacific Ocean as a model system. Biological invasions, v. 7, n. 3, p. 369-392, 2005.

  • Ambiente Marinho 37

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil38

    Foto

    : Jo

    s E

    duar

    do M

    artinel

    li Fi

    lho

  • Ambiente Marinho 39

    Introduo

    O plncton marinho composto por organismos que vivem pelo menos parte de seu ciclo de vida no ambiente pelgico, ou seja, na coluna de gua. Segundo aspectos funcionais, o plncton pode ser dividido em bacterioplncton (bactrias auto e heterotrficas), fitoplncton (microalgas), protozooplncton (protozorios) e zooplncton (animais - metazorios). Ou seja, no plncton encontramos produtores primrios, consumidores de diversas ordens e decompositores.

    Em funo do tamanho diminuto, os organismos que compem a comunidade planctnica possuem autonomia de deslocamento limitada, isto , a distribuio espacial das populaes determinada por barreiras de densidade (estratificao da coluna de gua, distribuio de massas de gua) e/ou pela circulao das guas (correntes costeiras, variaes da mar etc.). Alm destes fatores fsicos, que freqentemente atuam como agentes de transporte e de concentrao de organismos, as comunidades planctnicas se distribuem em manchas de maiores densidades populacionais tambm em funo de preferncias e tolerncias a fatores abiticos

    (temperatura, salinidade, nutrientes, no caso de espcies autotrficas), assim como a fatores biticos determinados por competio intra- e interespecfica e uma multitude de interaes trficas.

    Do ponto de vista dimensional, o plncton pode ser classificado em picoplncton (0,2 m 2 m), nanoplncton (2 m 20 m), microplncton (20 m 200 m), mesoplncton (> 200 m) e macroplncton (> 2 mm) (Sieburth et al., 1978). O picoplncton inclui bactrias autotrficas (cianobactrias) e heterotrficas. O nanoplncton composto por microalgas, pequenos flagelados heterotrficos e os menores ciliados, entre outros grupos. O microplncton constitudo por cianobactrias, microalgas, vrios tipos de protozorios e pequenos metazorios. O mesoplncton pode incluir algumas microalgas e protozorios de grande porte, mas principalmente composto por metazorios, que so tambm o elemento dominante no macroplncton. Destacar o ponto de vista dimensional importante, principalmente, por dois motivos. Primeiro, porque explicita a sobreposio dos aspectos funcionais nas diferentes escalas de tamanho. O conceito de teia alimentar, em toda sua complexidade, se aplica perfeitamente

    caPtulo 4 - Plncton

    marIa clIa vIllac1 rubens m. lopes1

    Irma n. g. rIvera2 rodrIgo t. bassanello3

    danIela r. cunha1 Jos eduardo martInellI fIlho1

    dbora b. santos 3

    1Instituto Oceanogrfico/Universidade de So Paulo - IO-USP2Instituto de Cincias Biomdicas/Depto. de Microbiologia/Universidade de So Paulo - ICB-USP3Universidade de Taubat - UNITAU

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil40

    dinmica que rege as interaes entre as diversas populaes planctnicas, as quais ocorrem em um ambiente tridimensional e que est em constante movimento. Em segundo lugar, porque sinaliza a necessidade de usarmos diferentes mtodos de coleta e de anlise, adequados para cada faixa dimensional. Com o uso de mtodos adequados e conhecendo seus objetivos e limitaes, poderemos identificar e ento compreender melhor possveis lacunas no grau de conhecimento da biodiversidade do plncton na costa brasileira.

    Alm de conhecer a biota nativa, a habilidade de realizar uma identificao precisa de um organismo-alvo fundamental para apoiar nossa capacidade de avaliar se a espcie introduzida ou no. Intuitivamente, natural que a dificuldade de distingir os organismos seja maior quanto menor for seu tamanho. Isto verdade, mas no se aplica a todos os casos. De fato, o estudo da biodiversidade da frao do picoplncton, que apresenta pouca variao morfolgica, exige o uso de mtodos que possam verificar a diversidade fisiolgica e molecular dos organismos, uma abordagem incipiente em guas da costa brasileira. A frao do nanoplncton apresenta um outro nvel de dificuldade: 1) essencial o uso de microscopia eletrnica, um recurso ainda restrito a poucos centros de pesquisa no pas; e 2) a grande maioria dos organismos tem formas delicadas e estes precisam ser observados vivos, atividade que no compe a rotina de todos os laboratrios de plncton. Logo, a nossa habilidade em identificar e construir hipteses de introduo para espcies do plncton, no momento, mais eficaz para as fraes maiores do micro- e mesoplncton. Mas como ser exemplificado adiante, em alguns casos o uso de microscopia eletrnica, biologia molecular e amostras

    vivas tambm so instrumentos essenciais para a boa taxonomia das espcies das fraes de maior porte.

    Segundo a reviso de Sournia et al. (1991), existem 17 classes taxonmicas de organismos do fitoplncton marinho, as quais englobam cerca de 4.000 espcies distribudas em aproximadamente 500 gneros. As classes taxonmicas com inmeros (mas no exclusivos) representantes no microplncton so as diatomceas, os dinoflagelados, os silicoflagelados e as cianobactrias. Outras classes, cujas espcies so de pequeno porte, tm alguns poucos representantes no microplncton, como os cocolitofordeos, clorofceas, prasinofceas, criptofceas, euglenofceas e rafidofceas. A categoria fitoplncton trata, portanto, de um agrupamento dito artificial. O que chamamos de microalgas inclui organismos unicelulares predominantemente fotossintetizantes, com espcies classificadas em filos e at reinos diferentes, ou seja, cianobactrias no Reino Procariota e os demais no Reino Protista, empregando aqui a abordagem dos cinco reinos (Margulis & Schwartz, 2001). Constituem a base da teia alimentar de ambientes aquticos, apesar de vrias espcies serem heterotrficas facultativas ou permanentemente heterotrficas.

    A realizao da fotossntese requer gua, dixido de carbono e nutrientes essenciais como nitrognio, fsforo e, no caso das diatomceas, slica. gua e dixido de carbono no so fatores limitantes no ambiente marinho. Em escala global, portanto, a maior produtividade primria encontrada nas bordas dos continentes, especialmente em reas de ressurgncia, decorrente do aporte de nutrientes. A distribuio vertical do fitoplncton est restrita ao limite da profundidade de penetrao da luz, que varia sazonalmente e de local para local. As variaes na

  • Ambiente Marinho 41

    intensidade da produtividade primria, no tempo e no espao, assim como a composio especfica do fitoplncton, esto diretamente associadas aos padres de distribuio do prximo nvel trfico, constitudo pelo zooplncton.

    O zooplncton possui um papel fundamental nos ecossistemas marinhos, por meio de processos metablicos que promovem a transferncia da energia fixada a partir da produo primria do fitoplncton para organismos de nvel trfico superior. O crescimento do fitoplncton pode ser limitado pela atividade de alimentao dos organismos herbvoros e onvoros do zooplncton, que, por sua vez, possuem uma grande importncia na ciclagem de nutrientes, em decorrncia da excreo de metablitos. A produo de pelotas fecais pelo zooplncton promove o empacotamento do material biognico (fitoplncton, microzooplncton ou detritos), que transportado mais rapidamente para o assoalho marinho ou reciclado ao longo da coluna de gua, processos estes de grande significncia nos ambientes aquticos (Miller, 2004).

    A produo secundria do zooplncton limitada por forantes fsicas (adveco e turbulncia), qumicas (equilbrio osmtico, substncias txicas ou nocivas etc.) e biolgicas (disponibilidade de alimento, predao e competio). Estas influncias atuam em diferentes escalas de tempo, variando, para uma determinada populao, desde alguns segundos a dcadas. As modificaes de curta escala de tempo (horas, dias) nas associaes zooplanctnicas esto relacionadas principalmente com os movimentos da mar, a drenagem continental ou com eventos oceanogrficos, como a influncia de guas profundas frias e ricas em nutrientes. Nesta escala de tempo, os organismos estabelecem uma srie de estratgias

    comportamentais, incluindo, entre outras, a migrao vertical, a competio por espao, a busca por alimento e a fuga de predadores (Valiela, 1984). As modificaes de longa escala de tempo se relacionam com as variaes sazonais, interanuais e entre dcadas, frequentemente ligadas a eventos climatolgicos.

    Como os organismos zooplanctnicos podem ser transportados passivamente pelas correntes marinhas, sua distribuio espacial est estreitamente relacionada com a posio geogrfica e batimtrica (em termos de profundidade) das massas de gua. A mistura ou a sobreposio vertical das massas de gua podem ainda gerar reas de transio faunstica, caracterizadas pela coexistncia de espcies que integram as diferentes associaes. A anlise de espcies indicadoras de massas de gua representa uma abordagem interessante para a definio das zonas faunsticas globais. No entanto, a sobrevivncia, o crescimento e a reproduo dos organismos zooplanctnicos no dependem apenas dos parmetros fsicos e qumicos das guas. Todos os fatores biolgicos e ecolgicos que afetam o metabolismo do zooplncton, como a disponibilidade e a qualidade do alimento, a predao e os diversos tipos de simbiose, so igualmente importantes (Dadon & Boltovskoy, 1982). Assim, as espcies que possuem exigncias ecolgicas semelhantes formam associaes adaptadas tanto aos gradientes fsicos e qumicos das massas de gua quanto ao seu estado trfico correspondente (Omori & Ikeda, 1984; Miller, 2004).

    Estas constataes, derivadas de inmeros estudos sobre a ecologia do zooplncton marinho, so assim fundamentais para a compreenso dos processos de introduo de espcies desta comunidade biolgica. Assim, as chances de estabelecimento de uma dada espcie

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil42

    extica, mesmo encontrando condies termohalinas ideais no ambiente de destino, podero ser reduzidas se neste local a concentrao e o contedo nutricional dos itens alimentares potenciais forem inadequados.

    Muitos estudos tm sido publicados sobre o zooplncton marinho no Brasil, a maioria abordando a composio especfica, a abundncia e a distribuio espao-temporal dos organismos em relao aos parmetros ambientais bsicos, especialmente temperatura e salinidade (Lopes, 2007). Dados sobre ecologia trfica e limites de tolerncia a outros parmetros ambientais so escassos ou inexistentes, o que dificulta o entendimento de processos de disperso, tanto de espcies nativas quanto exticas.

    Os estudos sobre o zooplncton marinho esto concentrados na costa sul e sudeste do pas, mas mesmo nestas regies existem poucos dados derivados de sries histricas, o que dificulta a deteco e o entendimento de processos de introduo e disperso. Por este motivo, muitas espcies dominantes do zooplncton em reas costeiras poderiam ser tratadas como criptognicas, pois ocorrem tambm em outras regies do globo.

    Os grupos zooplanctnicos mais abundantes e freqentes tm sido justamente os mais estudados ao largo do litoral brasileiro. So eles os coppodes, cladceros, eufausiceos, hidrozorios (medusas e sifonforos), quetognatos, tunicados e moluscos pterpodes. Todos estes grupos tm participao significativa no metabolismo dos ecossistemas marinhos, afetando os processos de acmulo e perda da biomassa fitoplanctnica e a ciclagem de nutrientes, entre outros processos. Os coppodes so os componentes dominantes do mesozooplncton, representando

    freqentemente entre 60 e 90% da densidade zooplanctnica total (Brandini et al., 1997).

    sntese dos resultados

    fItoplnctonPara o fitoplncton, a classificao

    de situao populacional particularmente controvertida devido aos seguintes fatores: 1) os organismos tm natureza errante e um tempo de gerao muito curto, de modo que esto sujeitos a alteraes meteorolgicas e oceanogrficas que conferem grande dinamismo aos padres de ocorrncia e distribuio espacial e temporal; e 2) escassez de estudos com anlises de amostras vivas, o que permitiria a deteco de organismos frgeis que no resistem ao de fixadores. Buscando atingir maior objetividade no processo de deciso, a aplicao dos critrios de classificao baseou-se em respostas s perguntas listadas no Quadro 1.

    Quadro 1: Critrios para Criao de Hiptese de Introduo de Espcies do Fitoplncton

    O primeiro registro em guas brasileiras 1.

    considerado recente com relao ao

    conhecimento da biodiversidade da

    regio?

    A espcie foi encontrada subseqentemente 2.

    no mesmo local ou em outros locais da

    costa brasileira?

    A espcie conspcua, ou seja, passvel de 3.

    fixao e de identificao com microscopia ptica ?

    A espcie apresenta ciclo de vida (formao 4. de cisto ou de clula de resistncia) e/

    ou caracterstica fisiolgica que lhe confere capacidade de sobrevivncia

    durante transporte e adaptao para

    estabelecimento/crescimento em novos

    ambientes?

  • Ambiente Marinho 43

    Apenas trs espcies foram consideradas introduzidas, enquanto quatro espcies foram classificadas como criptognicas (Tabela 4.1). As espcies consideradas como introduzidas foram aquelas que se encaixaram em pelo menos seis dos critrios de incluso, especialmente no critrio 7, que permite

    traar a biogeografia do organismo. As espcies consideradas criptognicas se encaixaram em 4 a 6 critrios de incluso, alm de no terem biogeografia conhecida. Uma lista relativamente pequena como esta revela to somente a dificuldade em se estabelecer evidncias cabais da introduo de uma espcie do domnio planctnico. Para ilustrar o processo de construo de uma hiptese de introduo, as espcies criptognicas sero consideradas como um estudo de caso parte das introduzidas.

    Das 3 espcies introduzidas, 2 foram consideradas como invasoras e 1 estabelecida (Tabelas 4.2 e 4.3).

    A regio de origem para as trs espcies indeterminada ou desconhecida. Os vetores atuais de disperso so desconhecidos, enquanto que os potenciais para as trs espcies so gua de lastro e/ou maricultura (Tabela 4.4).

    Tabela 4.1: Classificao dos txons do fitoplncton marinho enquanto introduzidos ou criptognicos para o Brasil, segundo critrios especficos para este grupo taxonmico (vide texto).

    Critrios

    IntroduzIdas 1 2 3 4 5 6 7Bacillariophyta

    Coscinodiscus wailesii x x x x x x

    Dinoflagellata

    Alexandrium tamarense x x x x x x

    Gymnodinium catenatum x x x x x x

    crIptognIcasRaphidophyta

    Heterosigma akashiwo x x x x x

    Dinoflagellata

    Scrippsiella spinifera x x x x x x

    Fragilidium subglobosum x x x x

    Protoperidinium compressum x x x x

    A espcie j causou efeitos nocivos em 5.

    outras regies ou no prprio local onde

    foi detectada em guas brasileiras?

    potencialmente formadora de floraes?

    A ocorrncia/distribuio em guas 6.

    brasileiras est associada a reas receptoras

    de possveis rotas/vetores de microalgas

    (portos, maricultura)?

    A biogeografia mundial conhecida, com a 7.

    cronologia das ocorrncias?

    Quadro 1 (continuao): Critrios para Criao de Hiptese de Introduo de Espcies do Fitoplncton

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil44

    zooplnctonNo caso do zooplncton, informaes

    apresentadas nas Tabelas 4.5 e 4.6, todas as espcies exticas prospectadas pertencem a grupos de microcrustceos, a saber, coppodes (5 espcies) e cladceros (1 espcie). Das 6 espcies encontradas, 50% foram consideradas como detectadas em ambiente natural e a outra metade como estabelecidas. Entre elas, 4 espcies so de origem Indo-Pacfica e o restante de origem indeterminada (Tabela 4.7). Para todas as espcies introduzidas no h comprovao dos vetores atuais de disperso, mas a gua de lastro, correntes marinhas e atividades ligadas maricultura so os vetores potenciais (Tabela 4.8).

    As espcies classificadas como contidas esto relacionadas com pesquisas em tanques de lastro de embarcaes atracadas em portos brasileiros e sero tratadas no tpico sobre estudos de caso. O nmero de espcies criptognicas do zooplncton marinho provavelmente comparvel ao do fitoplncton, sendo as observaes feitas para aquela comunidade biolgica tambm vlidas neste caso. Porm, um estudo pormenorizado destas espcies no foi efetuado com relao ao zooplncton de guas costeiras do Brasil.

    Tabela 4.3: Situao populacional das espcies exticas do fitoplncton marinho reportadas para o Brasil.

    Invasora Estabelecida Detectada

    Bacillariophyta Coscinodiscaceae Coscinodiscus wailesii x

    Dinoflagellata Goniodomaceae Alexandrium tamarense x

    Gymnodiniaceae Gymnodinium catenatum x

    Tabela 4.4: Vetores potenciais de disperso das espcies exticas do fitoplncton marinho reportadas para o Brasil.

    gua de lastro

    Maricultura ou aquicultura

    Bacillariophyta Coscinodiscaceae Alexandrium tamarense x xDinoflagellata Goniodomaceae Coscinodiscus wailesii x x

    Gymnodiniaceae Gymnodinium catenatum x x

    Tabela 4.2: Situao populacional dos txons do fitoplncton marinho com espcies exticas reportadas para o Brasil.

    Detectada Estabelecida Invasora Total de espcies

    Bacillariophyta Coscinodiscaceae - - 1 1Dinoflagellata Gymnodiniaceae - - 1 1Dinoflagellata Goniodomaceae - 1 - 1TOTAL - 1 2 3

  • Ambiente Marinho 45

    Tabela 4.6: Espcies exticas do zooplncton marinho reportadas para o Brasil e sua situao populacional.

    Invasora Estabelecida DetectadaBranchiopoda Onychopoda Pleopis schmackeri x

    Copepoda Calanoida Pseudodiaptomus trihamatus x

    Temora turbinata x

    Cyclopoida Apocyclops borneoensis x

    Paracyclopina longifurca x

    Harpacticoida Phyllopodopsyllus setoucheiensis x

    TOTAL 0 3 3

    Tabela 4.7: Local de origem das espcies exticas marinhas do zooplncton reportadas para o Brasil.

    Indo-Pacfico IndeterminadoApocyclops borneoensis x

    Paracyclopina longifurca x

    Phyllopodopsyllus setoucheiensis x

    Pleopis schmackeri x

    Pseudodiaptomus trihamatus x

    Temora turbinata x

    Tabela 4.8: Vetores potenciais de disperso das espcies exticas marinhas do zooplncton reportadas para o Brasil.

    gua de lastro Maricultura ou aquiculturaCorrentesmarinhas

    Apocyclops borneoensis x x

    Paracyclopina longifurca x x

    Phyllopodopsyllus setoucheiensis x x

    Pleopis schmackeri x x

    Pseudodiaptomus trhiamatus x x x

    Temora turbinata x x

    Tabela 4.5: Situao populacional dos txons do zooplncton marinho com espcies exticas reportadas para o Brasil.

    Detectadas Estabelecidas Invasoras Total de espciesCrustacea Copepoda

    Calanoida - 2 - 2Harpacticoida 1 - - 1Cyclopoida 2 - - 2

    BranchiopodaOnychopoda - 1 - 1

    TOTAL 3 3 0 6

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil46

  • Ambiente Marinho 47

    fichas das esPcies - Plncton

    bacIllarIophYta

    CosCinodisCus wailesii gran & angst, 1931

    Reino: ProtistaFilo: BacillariophytaClasse: CoscinodiscophyceaeOrdem: CoscinodiscalesFamlia: CoscinodiscaceaeGnero: CoscinodiscusEspcie: C. wailesii

    Nome popular IdiomaDiatomcea Portugus

    Diatomcea cntrica Portugus

    Diatom Ingls

    Centric diatom Ingls

    Forma biolgica: Microalga.

    Situao populacional: Invasora.

    Foto

    : In

    cio

    Dom

    ingos

    Silv

    a N

    eto

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas no Brasil48

    hIstrIco da IntroduoEsta espcie foi descrita a partir de material coletado na costa pacfica da Amrica do

    Norte (Puget Sound, Canad) em 1931. Nesta poca foi registrada em vrios locais da costa pacfica da Amrica do Norte (at o sul da Califrnia) e no Japo. Somente nas dcadas de 80 e 90 foram encontradas nas costas da Europa e Amrica do Sul. No Brasil, o registro publicado de sua primeira ocorrncia para a costa do Estado do Paran em 1983.

    Desde ento, a espcie vem sendo detectada em uma vasta rea da costa brasileira, da Bahia ao Rio Grande do Sul, e j causou florao com impactos ecolgicos na Baa de Paranagu (PR). Trata-se de uma espcie de grande porte e fcil identificao que dificilmente passaria despercebida. O transporte de clulas viveis por gua de lastro de navios e/ou maricultura provavelmente facilitado devido sua capacidade de formar clulas de resistncia. Vide referncias que relatam a seqncia de registros em diferentes regies do globo em Fernandes et al. (2001), mas vide tambm Gomez (2008) que questiona a validade da introduo desta espcie em mares europeus, sugerindo uma expanso natural como resposta variaes de temperatura em grande escala temporal (neste caso, aumento da distribuio geogrfica em perodo de guas mais frias).

    caracterstIcas morfolgIcasDescrio morfolgica da clula vegetativa em microscopia tica segundo Hasle &

    Syvertsen (1997). Diatomcea planctnica, solitria, em forma de tambor, 280-500 m de dimetro, com numerosos cloroplastos de forma irregular. Vista cingular - dependendo do foco, pode ser vista como um cilindro ou um retngulo, com altura e largura aproximadamente iguais; valva achatada com depresso concntrica ao manto, o qual descreve um ngulo de 90. Vista valvar - circular; rea central hialina (sem perfuraes); interestrias radiais a partir da rea central; fasciculao irregular, formada por interestrias mais largas ou por estrias incompletas, originadas na regio central da valva em uma rimoprtula (processo labiado) ou pequena rea hialina; cribra visvel em microscopia tica; presena de um anel de pequenas rimoprtulas na zona entre a face valvar e o manto; presena de outro anel de rimoprtulas mais prximo da margem da valva que inclui duas rimoprtulas maiores que distam de 120 a 180 entre si; as rimoprtulas do primeiro anel so mais prximas entre si do que as do anel mais externo; as reas hialinas so mais evidentes e regulares na regio do manto do que na face valvar. Porm, vide descrio adicional em Fernandes et al. (2001) onde algumas valvas apresentam uma roseta de arolas centrais na face valvar.

    lugar de orIgem Indeterminado. A descrio da espcie foi realizada a partir de material coletado nas

    guas da costa oeste da Amrica do Norte, Puget Sound no Canad (Gran & Angst, 1931).

    dIstrIbuIo geogrfIca Distribuio segundo Fernandes et al. (2001) e o presente levantamento: regio

    costeira do Pacfico Norte (ocidental e oriental), Atlntico Norte (costa da Europa), Atlntico Sul (ocidental), incluindo o litoral brasileiro entre os Estados da Bahia e do Rio Grande do Sul.

  • Ambiente Marinho 49

    ecologIahabItatAmbiente pelgico; costeiro e estuarino; tropical e temperado.

    abundncIaMuito varivel; espcie potencialmente formadora de florao.

    comportamento/ecofIsIologIaEsto destacados aspectos fisiolgicos relevantes, associados capacidade da espcie

    em iniciar e manter floraes e/ou para sobrevivncia durante o transporte em tanques de gua de lastro e/ou no sistema digestrio de organismos importados para maricultura. eurihalina e euritrmica, crescendo em condies controladas de laboratrio em salinidades entre 8 e 36, assim como em temperaturas entre 1C e 28,5C (referncias em Proena & Fernandes, 2004). Apesar de ser considerado um organismo de grande porte, apresenta alta taxa de crescimento e de absoro de nutrientes (referncias em Proena & Fernandes, 2004). Produz grande quantidade de mucilagem, podendo inibir a predao por consumidores (Boalch & Harbour, 1977). Apresenta tolerncia a grandes concentraes de metais pesados como cobre, cdmio e zinco (Rick & Durselen, 1995).

    reproduo e dIspersoA espcie apresenta as duas formas de reproduo, sexuada e assexuada. As

    informaes sobre taxa de crescimento so muito variveis e especficas s condies de cultivo em laboratrio. Pode formar clulas de resistncia (registro em amostras de sedimento de ambientes naturais) que se diferenciam das clulas vegetativas pelo seu citoplasma concentrado no centro da clula; as clulas de resistncia podem permanecer por at 15 meses sem a incidncia de luz, voltando sua atividade normal em condies favorveis (Nagai et al., 1995). Esta espcie potencialmente formadora de florao. Sua disperso natural ocorre por correntes marinhas.

    dIeta/modo de nutrIoFotoautotrfica.

    ambIentes preferencIaIs para InvasoCosteiro, estuarino, tropical e temperado.

    condIes ambIentaIs no local de orIgem O local de origem indeterminado. Descrio da espcie a partir de material coletado

    em regio costeira temperada (Puget Sound, costa oeste do Canad).

    prImeIro regIstro no brasIltIpo de Introduo: No intencional.local: Baa de Paranagu, PR. data: 1983 (Fernandes et al., 2001).

  • Informe sobre as Espcies Exticas Invasoras Marinhas