escola mercado trabalho

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Page 1: escola mercado trabalho
Page 2: escola mercado trabalho

ESCOLA/TRABALHO/MERCADO DE TRABALHO

LUIZ ANTONIO CARVALHO FRANCO

Page 3: escola mercado trabalho

CATALOGAÇÃO NA FONTE: COPAT/SIEFOR

Franco, Luiz Antonio Carvalho Escola, trabalho, mercado de trabalho / Luiz

Antonio Carvalho Franco. - São Paulo : CENAFOR, 1984.

78 p. -

Inclui bibliografia.

1. Escola. 2. Ensino. 3. Trabalho. 4. Mercado de trabalho. I. CENAFOR. II. Titulo.

CDU 37:331

Page 4: escola mercado trabalho

E S C O L A / T R A B A L H O / M E R C A D O DE TRABALHO

LUIZ ANTONIO CARVALHO FRANCO

Do Corpo Técnico do CENAFOR

Maio/1985

Page 5: escola mercado trabalho

©FUNDAÇÃO CENTRO NACIONAL DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação do copyright, nos termos da Lei que resguarda os direitos autorais.

1a Edição

FUNDAÇÃO CENAFOR Rua Rodolfo Miranda, 636 — Bom Retiro — CEP 01121 — SÃO PAULO - SP BRASIL

Impresso no Brasil Printed in Brazil

Page 6: escola mercado trabalho

SUMÁRIO

Nota 7

Escola/Trabalho/Mercado de Trabalho 9

Citações Bibliográficas 71

Bibliografia 75

Page 7: escola mercado trabalho

NOTA

Este artigo , com algumas alterações, está ba

seado em três trabalhos escritos por mim em mo

mentos distintos. São eles:

1) Relações entre educação e trabalho: contri

buição para um esboço teórico. São Paulo ,

CENAFOR, 1983 (Série Reflexões; 27);

2) A escola e o mundo do trabalho. São Paulo,

CENAFOR, 1984 (Mimeografado) ;

3) A especificidade da educação escolar. São

Paulo, CENAFOR, 1984 (Mimeografado) .

Page 8: escola mercado trabalho

Este artigo tem como objetivo discu

tir as relações entre escola/ trabalho/ mercado

de trabalho.

A compreensão das relações entre os

referidos fenômenos só pode se dar na medida em

que os mesmos sejam contextuados historicamen

te, ou seja, a nível da formação econômico-so

cial e do modo de produção em que se manifestam.

Nesse sentido, o conhecimento da referida pro

blemática implica em considerá-la como parte in

tegrante e inseparável da sociedade capitalista

em movimento, que se desenvolve e se cria atra

vés da praxis humana.

0 capitalismo deve ser definido pe

lo seu modo de produção e, como modo de produ

ção singular, o seu primeiro caráter social e

histórico distintivo reside no fato de ser uma

produção mercantil, em que a produção se organi

za em função de bens portadores de valor, além

de serem bens úteis. Como produção de valor, o

capitalismo se organiza tendo por base as rela

ções entre trabalho assalariado e capital. Capi

tal e trabalho assalariado se unem e se opõem,

Page 9: escola mercado trabalho

sendo que esta relação constitui o alicerce so

cial no qual repousa toda a produção capitalis_

ta. São estas relações fundamentais que determi-

nam o modo como socialmente se combinam o traba

lho humano (criador do valor) com os meios de

produção (máquinas, matérias-primas, instrumen

tos de trabalho, etc), que funcionam como meios

de valorização do capital.

O modo de produção capitalista se

constitui e se desenvolve quando " o trabalho

passado, acumulado e materializado em meios de

produção se transforma em capital, isto é, em

potência social independente, em valor que se

conserva, cresce e acumula pondo a seu uso a

força de trabalho do trabalhador através do as

salariamento" 1. 0 capital, como valor que au

menta pela apropriação e incorporação do novo

valor que se cria no processo de produção, não

pode ter existência isoladamente. Ao contrário,

o capital que não é uma coisa, mas uma relação

social definida e peculiar da sociedade capita

lista, só pode existir socialmente em interação

necessária e constantemente reproduzida com o

trabalho assalariado. Ou seja, o capital existe

Page 10: escola mercado trabalho

na medida em que existe uma relação contradito

ria e de expropriação entre os proprietários

dos meios de produção e aqueles que, pelo fato

de não possuírem meios de produção, se vêem na

contingência de venderem sua força de trabalho

como mercadoria. É por esta razão que, ao mesmo

tempo em que o capital vai se constituindo e se

consolidando como uma força social, vão se crian

do também as condições sociais e históricas de

existência de trabalhadores livres, disponíveis

ao capital, com os quais este irá estabelecer

uma relação mercantil através da compra da for

ça de trabalho deles. 0 capitalismo implica,

pois, no surgimento do trabalho livre num duplo

sentido2: em primeiro lugar, pelo fato do traba

lhador ser despojado dos meios de produção e,em

segundo lugar, pelo fato do trabalhador estar li-

vre das peias jurídicas e, conseqüentemente, po

der dispor livremente de sua força de trabalho,

como única mercadoria que possui e cuja venda ao

capitalista é condição essencial para sua sobre

vivência.

O capitalismo, como realidade histó

rica singular, só pode ser compreendido em sua

Page 11: escola mercado trabalho

estrutura-dinâmica e, portanto, através de seu

movimento que atravessa diversos estágios manu

fatureiros até chegar ã grande empresa moderna.

0 que se observa em seu surgimento e em sua evo

lução é a tendência no sentido de converter as

unidades de produção anteriormente caracteriza

das por um emprego autônomo ou familiar, em ge

ral artesanal, em trabalho assalariado. Eviden

temente, nem todas as relações sociais de produ

ção são transformadas em relações assalariadas,

mas a tendência dominante aponta inexoravelmen

te nesse rumo. No capitalismo, a dinâmica do ca

pitai combina diferentes processos, ou seja,

processos de dissolução, preservação e de ins

tauração de novas relações de produção. No capi-

talismo, por exemplo, existem formas cuja carac

terística principal ê a não utilização permanen

te nem fundamental do trabalho assalariado. Is_

to porque um dos traços marcantes do capitalis_

mo é o seu desenvolvimento desigual e combinado,

ou seja, numa formação econômico-social concre

ta convivem simultaneamente tanto as relações

sociais típicas do modo de produção capitalista

quanto aquelas relações denominadas "pre-capita

listas", "arcaicas", etc, que teimam em resis_

Page 12: escola mercado trabalho

tir ao avanço do capital. Estas últimas são re

definidas constantemente pelo movimento do capi

tal, a ele subordinando-se, de sorte que seu ca

ráter "pre-capitalista" ou "arcaico" se articu

la de algum modo com as relações propriamente

capitalistas em seu conjunto. A inserção dessas

relações no sistema produtivo global lhes dá um

contorno próprio, não como categoria dominante,

apesar de que em números populacionais esse se

tor ê bastante significativo. A importância nu

mérica desse setor pode ser observada na grande

quantidade de empresas familiares, nos trabalha

dores por conta própria subordinados, no traba

lho dos artesãos, etc. Essas relações de produ

ção, no entanto, não podem ser entendidas como

se fossem "marginais" ou como "não-incorporadas"

ao modo de produção capitalista. É necessário

perceber, por outro lado, que nesse processo de

desenvolvimento desigual e combinado do capita

lismo, o que predomina no momento é o capital

monopolista. É esse fato que marca e dá contor-

no às relações de produção no país. 3

O processo de desenvolvimento do ca

pitalismo, desde o seu período concorrencial

Page 13: escola mercado trabalho

até a atual fase monopolista, sofreu profundas

transformações, principalmente a nível da técni-

ca, da ciência e da organização e controle do

processo de trabalho. Atualmente não se trata

mais, como no período concorrencial, da empresa

limitada pelo baixo volume de capital disporá

vel- Ao contrário, a partir das duas ou três úl

timas décadas do século XIX começa a se configu

rar a era do capital monopolista, cujas caracte

rísticas centrais podem ser resumidas nas fu

soes, na concentração e centralização do capi

tal, sob a forma dos primeiros trustes e car

téis, além da exportação de capitais.

Esse processo histórico, que culmina

no surgimento dos grandes conglomerados indus

triais, comerciais e financeiros, e na utiliza

ção de tecnologias altamente sofisticadas, pro

duzirá impactos sem precedentes na organização

do processo de trabalho e, conseqüentemente, nos

métodos, até então conhecidos, de pressão e con

trole dos trabalhadores. 0 capital põe em práti

ca o fracionamento incessante das tarefas, em

indústrias, bancos, escritórios, etc. Com isso,

transformam-se substancialmente a organização e

Page 14: escola mercado trabalho

o processo de trabalho.

A unidade tradicional do ofício é des_

truída e o produtor direto se vê subordinado ao

capital não mais apenas através das relações me£

cantis (como ocorria na fase concorrencial), mas

também através das novas relações técnicas de

produção que se instauram. Como assinala BRAVER

MAN, na primeira forma da divisão do trabalho o

ofício é desmontado e restituído aos trabalhado

res parcelado, de modo que o processo como um

todo já não seja mais da competência de um so

trabalhador individual. A partir daí, empreende-

se uma análise de cada uma das tarefas distribuí

das entre os trabalhadores, com vistas a contro

lar todas as operações individuais. A divisão do

trabalho, sob o capital monopolista, faz com que

aqueles que concebem o trabalho apoderem-se de

todo o processo e controlem cada elemento dele.

Ou seja, o controle do processo de trabalho pe

la gerência não se dá apenas em um sentido for

mal, mas pelo controle e fixação de cada fase

do processo, inclusive seu modo de execução. No

fundo, aquele que concebe novos objetos e novas

idéias ê uma pessoa, grupo de pessoas ou orga

Page 15: escola mercado trabalho

nismos diferentes daquele que está encarregado

de realizá-los. 0 trabalho, no capitalismo moder

no, além de fragmentado em "migalhas", encontra-

se separado entre uma minoria que o concebe e

uma maioria que o executa, fato este que refle

te a separação mais ampla entre teoria e práti

ca, pensamento e ação. 4

A principal conseqüência da divisão e

do parcelamento das tarefas, decorrentes da for

ma de organizar o trabalho em uma hierarquia de

crescente complexidade, é a ausência de centro

le do processo de trabalho pelo trabalhador. 0

trabalhador fica reduzido a uma pequena unidade

participante de um processo relativamente corn

plexo, cuja definição é dada por aqueles que con

cebem o trabalho, pela tecnologia moderna, pe

las normas e regulamentos e pelo poder discipli-

nar das empresas. Isso o leva a desconhecer o

processo de trabalho em sua totalidade, ao con

trário, por exemplo, do artesão que dominava to

das as fases do processo, ou seja, concebia no­

vos produtos, os produzia e, finalmente, os ven

dia no mercado. Essa, no entanto, foi a maneira

mais apropriada que o capitalismo encontrou pa

Page 16: escola mercado trabalho

ra reduzir a autonomia do trabalhador no process

so de trabalho e, ao mesmo tempo, aumentar a

produtividade do trabalho. 0 capitalismo, assim,

reduziu a autonomia do trabalhador pela divisão

e organização do trabalho em formas estritamen

te hierarquizadas, parcelando as tarefas ao ex

tremo e intensificando o controle sobre o traba.

lhador no seio da produção. A divisão do traba-

lho garante para o capital tanto a posse da téc

nica quanto do trabalho intelectual, impedindo,

por outro lado, que os trabalhadores deles se

apoderem. Isso se realiza, entre outras coisas,

reduzindo o trabalho do trabalhador a um mero

trabalho manual de execução pura e simples, im

pedindo a colaboração entre trabalho manual e

trabalho intelectual, recusando aos trabalhado

res a possibilidade de aproveitarem a experiên

cia prática adquirida na produção para, assim,

apoderarem-se da técnica e da ciência.

A organização do processo de traba

lho no capitalismo tem implicado na centraliza

ção cada vez maior do poder, ou seja, a organi

zação do trabalho está indissoluvelmente ligada

às técnicas de produção e de dominação sobre

Page 17: escola mercado trabalho

aqueles que trabalham. A organização do traba

lho, com sua hierarquia, normas e papéis rigida

mente estabelecidos e a inserção do trabalhador

num processo de trabalho que ele não domina tem,

de acordo com VELLOSO, duas conseqüências ime

diatas: de um lado, a capacidade de controle

que o empregador adquire sobre a produção e so

bre o empregado e, de outro lado, tal controle

permite extrair da mão-de-obra empregada uma

quantidade de trabalho muito maior. 5 Nas pala

vras de BRAVERMAN, tanto a fim de assegurar o

controle pela gerência quanto para baratear o

trabalho, concepção e execução devem tomar-se

esferas separadas do trabalho e, para esse fim,

o estudo dos processos do trabalho devem ser re

servados à gerência e vedado aos trabalhadores,

a quem seus resultados são comunicados apenas

sob a forma de funções simplificadas, orienta

das por instruções simplificadas que é seu de

ver seguir sem pensar e sem compreender os ra

ciocínios técnicos ou dados subjacentes. 6

Os grandes conglomerados industriais,

financeiros, etc, que formam a estrutura domi

nante do modo de produção capitalista, na medi

Page 18: escola mercado trabalho

da em que concebem e controlam o processo de tra

balho, exercem a coordenação e subordinação bá-

sicamente através de dois mecanismos: o primei

ro é aquele que permite controlar as diversas

fases do processo, é a pirâmide hierárquica, a

delegação dos poderes e de responsabilidades,

com mecanismos financeiros ou de controle para

garantir a subordinação; o segundo consiste em

reduzir a importância das decisões individuais,

de tornar cada vez mais automático o funcionamen

to do sistema, predeterminando-o do alto, padro

nizando as fases do seu processo, transformando

cada fase em papel objetivo, nitidamente separa

do dos outros, ou seja, aquilo que se denomina

de organização "científica" do trabalho. 7 Em

verdade, a atual organização do trabalho e a so­

fisticação tecnológica que o acompanha, não tem

necessidade do trabalhador qualificado. Ao con

trário, tem implicado na crescente desqualifica

ção do trabalhador e, conseqüentemente, na de

gradação do próprio trabalho. A qualificação

dos trabalhadores no capitalismo moderno, tanto

da industria quanto de escritórios, não tem pas

sado de um mito que BRAVERMAN destrói completa

mente. A desqualificação da maior parte da for

Page 19: escola mercado trabalho

ça de trabalho, por outro lado, tem sua contra

partida na superqualificação de uns poucos. A

desqualificação da execução corresponde a super

qualificação dos que concebem a tecnologia e o

processo de divisão técnica do trabalho. A pre

paração da gerência dos técnicos que prestam

serviços na área da concepção requer grandes in

vestimentos em educação, em tempo destinado ã

pesquisa, em análise de tempos e movimentos,etc.

Estamos nos referindo à desqualificação de um

ponto de vista das técnicas de trabalho, na me

dida em que não se necessita mais do artesão,

ou seja, daquele que detinha o conhecimento e o

controle de todo o processo de trabalho. Essas

considerações não implicam em afirmar que novas

qualificações não devam estar sendo necessárias.

Ao contrário, é possível, por exemplo, que as

novas qualificações sejam as que exigem habili

dades de cunho mais geral (ler, escrever, deco

dificar dígitos e símbolos, etc.). Essas novas

formas de qualificação, no entanto, não fazem

com que a separação radical entre concepção e

execução desapareça. Ao contrário, o capitalis_

mo tem feito com que ela aumente. O trabalha

dor, mesmo com essas qualificações, é obrigado

Page 20: escola mercado trabalho

a se submeter a um trabalho repetitivo, monóto

no e alienante.

Esboçamos até aqui, em linhas gerais,

as relações fundamentais do capitalismo dando

ênfase à relação contraditória fundamental entre

capital e trabalho. Além disso, procuramos mos_

trar como o desenvolvimento do capitalismo tem

contribuído para a degradação do trabalho, toman

do-o monótono e repetitivo.

O desenvolvimento deste trabalho te

rã como pano de fundo as características bási_

cas da sociedade capitalista arroladas mais aci_

ma e obedecerá aos seguintes critérios: 1) as

relações entre escola/trabalho/mercado de traba

lho serão compreendidas a partir da especifici_

dade da educação escolar, dos limites e alcan

ces da escola para lidar com a questão do traba

lho e do mercado de trabalho; 2) as relações en

tre as citadas instâncias serão discutidas a

partir das relações de reciprocidade que estabe

lecem entre si e com a totalidade social em que

tais fenônemos se manifestam, ou seja, a socie_

dade capitalista.

Page 21: escola mercado trabalho

* * *

Comecemos pela questão da escola. O

que é escola? Qual o significado dessa institui

ção nas sociedades capitalistas? Qual a especi-

ficidade da educação escolar?

A escola, como de resto qualquer ins

tituição social, não pode ser pensada como se_

existisse autônoma e independentemente da reali_

dade histórico-social da qual é parte. Não pode

ser pensada como se estivesse isolada por uma

"muralha" do conjunto das demais práticas so

ciais, mesmo quando os saberes transmitidos são

vagos, abstratos, assumindo a aparência de inde-

pendência frente aos condicionantes sociais. Ao

contrário, a escola é parte integrante e insepa-

rável do conjunto dos demais fenômenos que corn

põem a totalidade social. A escola, bem como a

sociedade que a inclui, "não é algo dado e aca

bado e sim o produto de relações sociais, o pro

duto da prática social de grupos e de classes.

Page 22: escola mercado trabalho

Por isso mesmo ela pode ser transformada. Resta

saber o grau, a natureza e a direção dessa trans

formação possível da escola". 8 Perceber a esco

la como produto das atividades historicamente

condicionadas dos homens implica em reconhecer

que ela pode ser transformada. Significa, ainda,

que agir dentro da escola, modificar as atuais

práticas pedagógicas, é contribuir simultânea

mente tanto para a transformação da escola quan

to da sociedade.

Essa postura implica em considerar a

escola concomitantemente como reprodução/ trans_

formação da realidade histórico-social existen

te, ou seja, a escola é e não é reprodução, é e

não é transformação. A escola, de um lado, não

pode ser reduzida ã pura reprodução mecânica,

direta e linear da estrutura social vigente. De

outro lado, não pode ser considerada como ala

vanca principal na construção de uma sociedade

igualitária, justa, com renda melhor distribuí

da, etc. A escola, ao contrário, deve ser enten

dida como uma instância que interage dialética

mente corn a estrutura social enquanto prática

específica, mediadora. Isto significa que a es_

Page 23: escola mercado trabalho

cola, como elemento determinado, não deixa de

influenciar os elementos determinantes, "na me

dida em que há uma determinação recíproca das

partes entre si e com o todo". 9 0 fato dos fe

nômenos sociais existirem em dependência recí

proca, contudo, não deve levar ao equívoco de

concebê-los como equivalentes, como se tivessem

forças idênticas na modificação da ordem social

existente. Nas sociedades capitalistas existe,

de fato, o primado da economia e da política so

bre os demais fenômenos sociais. Parafraseando

SAVIANI poderíamos dizer que existe uma subordi_

nação relativa, mas real, da escola diante da

economia e da política. 10

Concretamente a escola desempenha um

papel preponderante no sentido de conservação

da estrutura social vigente, ainda que, como

foi assinalado, seu papel não se restrinja a is

so. A escola, em verdade, desempenha um impor

tante papel no sentido de formar ( e aprimorar)

a força de trabalho, ratificar as desigualdades

sociais, inculcar a ideologia dominante, ou se

ja, no sentido de difundir crenças, idéias, va

lores, etc, compatíveis com a ordem social es

Page 24: escola mercado trabalho

tabelecida. A maneira como isso se dá, no entan

to, não está imune a certas contradições e, por

isso, entra em choque com a própria perpetuação

das condições sociais existentes. Em poucas pala

vras: se a escola reproduz a força de trabalho,

ela, ao mesmo tempo, propicia o aumento da compe

tência técnica e teórica do trabalhador; se a es_

cola difunde a ideologia dominante, ela ao mesmo

tempo, socializa o saber e propicia a quem os re

cebe compreender de maneira menos "mística" e

"mágica" a natureza e a sociedade; a transmissão

dos saberes escolares, que não são pura mistifi_

cação, é um caminho indispensável para aqueles

que deles se apropriam, para que os indivíduos

possam fazer opções conscientes acerca dos rumos

que buscam imprimir às transformações sociais. A

escola se opõe, ainda, ã própria estrutura das

relações sociais capitalistas, a saber: a divi-

são entre proprietários dos meios de produção e

proprietários da força de trabalho, na medida em

que torna possível a apropriação coletiva do sa-

ber, quando este deveria ser propriedade exclusi-

va daqueles que detêm a posse dos meios de produ

ção.11 Estão presentes, assim, no interior da es_

cola, as contradições imanentes da sociedade ca

Page 25: escola mercado trabalho

pitalista, os diferentes interesses sociais em

jogo. A escola, assim, contribui para a manuten

ção da ordem social e, ao mesmo tempo, contribui

para a sua transformação. É um espaço legítimo

de disputa pela apropriação do saber. Não ê ex

clusivamente nem o palco indisputado dos interes

ses dominantes e nem o principal motor das trans

formações sociais. Como assinala CHARLOT, "a es_

cola está, ao mesmo tempo, em ruptura e em con

tinuidade com a sociedade".12

Qual a função social da escola? Que

papel cabe ã instituição escolar, do ponto de vis_

ta de uma pedagogia progressista?

A escola cabe "a difusão de conheci

mentos como tarefa primordial. Não conteúdos abs-

tratos, mas vivos, concretos e, portanto, indis

sociáveis das realidades sociais".13

0 papel da escola, pois, é fundamen

talmente transmitir, de maneira lógica, coerente

e sistemática, os conhecimentos acumulados histó

ricamente pelo homem, ou seja, os conhecimentos

científicos, tecnológicos, filosóficos, cultu

Page 26: escola mercado trabalho

rais, etc, indissoluvelmente ligados ã experiên

cia dos alunos e às realidades sociais mais am

pias. A escola, assim, deve ser um instrumento

para "situar o cidadão no âmbito da sua atualida

de. E, ao fazer isto, possibilita aos indivíduos

desenvolver habilidades, que lhes permitem o de

sempenho de atividades, capazes de garantir con

dições de sobrevivência a si, ã sua família e ao

grupo social ao qual pertencem".14

Para a transmissão dos conhecimentos

indispensáveis ã sobrevivência material e espiri

tual do homem, a escola conta, entre outras cci

sas, com professores, grades curriculares, seria.

ção, disciplinas que são pré-requisitos para ou

tras, e assim por diante. Essas características

são, num primeiro momento, suficientes para dis_

tinguir a educação escolar (educação sistemática)

de outras formas de educação (educação assistemá-

tica) que ocorrem em outras esferas do social,

ou seja, em todas as situações em que a intera

ção humana se faça presente. Isso é suficiente

também para mostrar que o trabalho escolar não

pode ser confundido com aquilo que a família a

igreja, a fábrica, o sindicato, os partidos polí-

ticos e outras instituições sociais realizam. Co

Page 27: escola mercado trabalho

mo vimos, a educação escolar não pode ser pensa.

da independentemente das demais práticas so

ciais, mas, ao mesmo tempo, não se confunde com

elas.

A transmissão dos conhecimentos his_

toricamente acumulados pelo homem ê necessária

mas não suficiente para compreender a verdadei_

ra função da escola. A educação escolar não po

de ser reduzida ã pura transmissão de conheci_

mentos. Os conhecimentos transmitidos devem ser

"vivos e concretos", e não conhecimentos abstra-

tos, autônomos, como se os mesmos tivessem vida

própria, independentemente das condições histó

rico-sociais. Estar atento para esse fato é con

dição sine qua non para que a prática educacio

nal não caia na mistificação. Isto porque, como

assinala CHARLOT, "a educação preenche uma fun

ção política mistificadora, menos difundindo

idéias falsas do que veiculando idéias verdadei_

ras que, destacadas das realidades econômicas,

sociais e políticas das quais emanam, apresen

tam-se como autônomas e são recuperadas por um

empreendimento, consciente ou inconsciente, de

camuflagem da realidade".15 Os conhecimentos

Page 28: escola mercado trabalho

devem ser, antes de tudo, reflexão sobre o pro

prio modo de vida social e não mera assimilação,

por parte do aluno, de conhecimentos concebidos

como autônomos e colocados como culturais em si

mesmos. Os conhecimentos transmitidos pela esco

la devem estar, assim, diretamente articulados

com os comportamentos humanos e as formas como

as sociedades concretas se organizam e, particu-

larmente, devem estar articulados com a experiên

cia de vida dos alunos.

* * *

Essa maneira de entender o papel da

escola aponta necessariamente para a modificação

das escolas existentes, principalmente das esco

las públicas de 19 e 29 graus. Em geral, essas

escolas não vêm cumprindo com o papel que lhes

é reservado, ou seja, o de ensinar e instruir,

de maneira sólida e duradoura, os alunos que por

elas passam. Os problemas dessas escolas, grosso

modo, podem ser assim sintetizados:

• os professores, em geral, não têm um domínio

sólido e competente dos conteúdos que transirá

tem, se bem que isto seja o que melhor conhe_

çam;

Page 29: escola mercado trabalho

• os professores, em geral, não conseguem rela_

cionar os conhecimentos que transmitem ã expe_

riência de vida dos alunos e ã realidade so

cial mais ampla;

• os alunos, em geral, não tem se apropriado so

lida e duradouramente dos conhecimentos trans

mitidos pela escola: não desenvolvem o racio

cínio aritmético e matemático e, assim, não a-

prendem as quatro operações fundamentais; não

dominam corretamente a leitura e a escrita e,

assim, saem da escola sem um conhecimento bá-

sico de idioma; não desenvolvem o raciocínio

histórico e geográfico; não desenvolvem o ra

ciocínio científico propiciado, basicamente,

• pelo estudo das ciências físicas e biológi_

cas; os alunos, enfim, passam pela escola sem

conseguirem superar os conhecimentos dados pe-

la experiência imediata, rumo a um conhecimen

to mais sistemático e científico acerca da na

tureza e da sociedade;

• a remuneração do professor é baixa, o que o

obriga a ter vários empregos, fato este que

tem graves conseqüências para o processo ensi

no-aprendizagem;

Page 30: escola mercado trabalho

• os professores, em geral, têm lidado com o

aluno "ideal", com o aluno "padrão", como se

todos fossem homogêneos, tivessem o mesmo rit

mo de aprendizagem, e não com o aluno concre

to;

• a maneira como a escola organiza o seu traba

lho pedagógico tem contribuído para o aumento

da evasão, da repetência;

• a divisão técnica do trabalho no interior da

escola tem feito com que o trabalho pedagógi

co se fragmente cada vez mais;

• os conhecimentos transmitidos pela escola não

são remetidos ã sua historicidade;

• as condições materiais das escolas, em geral,

são extremamente precárias, o que tem contrí

buído negativamente para o trabalho do profes_

sor e a aprendizagem do aluno, etc.

Esses são alguns dos problemas pre

sentes, hoje, nas escolas públicas de 19 e 29

graus. A preocupação fundamental que deve nor

tear a ação dos educadores, realmente empenhados

Page 31: escola mercado trabalho

com a melhoria do ensino e com a transformação

social, é a de lutar pela transformação das es

colas existentes, lutar pela superação dos pro

blemas que fazem parte do seu cotidiano. Não é

possível situar o aluno na realidade histórica

presente, se os educadores não redirecionarem

as atuais práticas escolares. O caminho, pois,

deve ser no sentido de uma real recuperação dos

conteúdos do ensino e das finalidades da insti

tuição escolar. Os educadores, nesse processo,

têm uma importância muito grande. É preciso que

os educadores compreendam que a melhoria do en

sino depende, em parte, deles mesmos. É indis_

pensável nesse caminhar, entre outras coisas,

que os educadores trabalhem de maneira mais in

tegrada; que os educadores tenham um domínio so

lido e competente dos conteúdos que transmitem;

que os conteúdos transmitidos sejam, de fato,

apropriados pelos alunos; que os educadores

aprendam a lidar com o aluno concreto e não com

o aluno que gostariam de ter, e assim por dian

te.

Os problemas arrolados mais acima es_

tão intimamente ligados à maneira como a escola

Page 32: escola mercado trabalho

tem organizado e desenvolvido o seu trabalho. A

maneira como a escola organiza e executa o seu

trabalho traz conseqüências diretas para o agra

vamento ou para a superação dos seus problemas.

SAVIANI, referindo-se à escola elementar, diz o

seguinte: "o ano letivo começa na segunda quin

zena de fevereiro e já em março temos a semana

da revolução; em seguida, a semana santa, a se_

mana do índio, depois a semana das mães, as fes_

tas juninas, a semana do soldado, semana do fol-

clore, semana da pátria, jogos da primavera, se

mana da criança, semana da asa... e nesse momen

to já estamos em novembro. 0 ano letivo se en

cerra e estamos diante da seguinte constatação:

fez-se de tudo na escola; encontrou-se tempo pa

ra toda espécie de comemoração, mas muito pouco

tempo foi destinado ao processo de transmissão-

assimilação de conhecimentos sistematizados. Is_

to quer dizer que se perdeu de vista a ativida

de nuclear da escola, isto ê, a transmissão dos

instrumentos de acesso ao saber elaborado". 16

Isso tudo é feito em nome de uma visão equivoca

da e ingênua de currículo, ou seja, de que cur

riculo é o conjunto geral das atividades desen

volvidas na escola, tanto as atividades intra

Page 33: escola mercado trabalho

classe quanto as extraclasse. SAVIANI argumenta

que "se tudo o que acontece na escola é currícu

lo, se se apaga a diferença entre curricular e

extracurricular, então tudo acaba adquirindo o

mesmo peso; e abre-se o caminho para toda sorte

de tergiversações, inversões e confusões que

terminara por descaracterizar o trabalho esco

lar. Com isso, facilmente o secundário pode to

mar o lugar daquilo que é principal, deslocan

do-se, em conseqüência, para o âmbito do aces

sório aquelas atividades que constituem a razão

de ser da escola".17 0 que deve, então, ser en

tendido por currículo? Nas palavras de SAVIANI,

"currículo é o conjunto das atividades nuclea

res desenvolvidas pela escola".18 E o que são

as atividades nucleares senão o processo de

transmissão-assimilação dos conhecimentos siste

matizados? A escola, nesse sentido, deve organi

zar-se de tal sorte que o processo de transmis

são-assimilação de conhecimentos ocorra da me

lhor maneira possível.

A maneira como a escola tem organiza.

do o seu trabalho pedagógico não é uma fatalida

de histórica. Isto porque o trabalho escolar

Page 34: escola mercado trabalho

não está inteiramente subordinado às condições

sociais existentes e, nesse sentido, não basta

atribuir toda a responsabilidade, pelos proble

mas escolares, aos fatores externos ã escola.

Que os fatores externos são determinantes e in

terferem no trabalho escolar parece-nos inques

tionável. Não há como negar que os sucessivos

equívocos das diferentes políticas educacio

nais, a extrema desigualdade social, etc, têm

contribuído para agravar cada vez mais os pro

blemas da educação escolar. Aceitar pura e sim

plesmente essa realidade, no entanto, é cair na

resignação, na impotência, no imobilismo, e re

eusar o desafio. 0 homem é um ser condicionado

socialmente, mas, ao mesmo tempo, modifica in

tencionalmente as condições sociais herdadas das

gerações passadas. Isso significa que a organi

zação do trabalho escolar, a modificação e me

lhoria do ensino, dependem também da "vontade",

socialmente condicionada, dos próprios educado

res, Dependem da competência profissional e do

compromisso do educador com a formação sólida e

duradoura dos alunos, principalmente dos alunos

provenientes das camadas populares, ou seja, da

queles que mais precisam da escola. 0 fato do

Page 35: escola mercado trabalho

aluno dominar ou não os conhecimentos transmiti

dos, relacionar ou não os conhecimentos ã reali

dade social em que vive, implica em que ele te

nha maiores ou menores chances de sobrevivência

de participar e de fazer opções mais conscien

tes acerca das transformações sociais em curso.

Os educadores comprometidos com uma

pedagogia progressista não podem recusar os de

safios colocados pela escola existente, a esco

la que aí está. Enfrentar os desafios significa

enfrentar barreiras, práticas escolares, muitas

vezes, cristalizadas e fossilizadas, repetiti

vas e monótonas. Enfrentar esse desafio, por ou

tro lado, significa assumir um compromisso com

a transformação social, com a melhoria do ensi-

no e com a própria formação do aluno, razão de

ser última da escola. É urgente, pois, para uma

prática pedagógica coerente e eficaz, que os

educadores repensem o seu trabalho. Não se tra

ta de "repensar por repensar", repensar abstra

tamente. O trabalho escolar deve ser repensado,

como já assinalamos, em função do compromisso

do educador com a formação do aluno e com a

transformação social.

Page 36: escola mercado trabalho

Para a tarefa de reorganização do tra

balho escolar, em consonância com as reais neces

sidades sociais e dos alunos, não pode haver lu

gar para educadores isolados. Essa tarefa cabe

ao conjunto dos educadores e, principalmente,

aos professores e especialistas do ensino (orien

tadores educacionais, supervisores escolares,

etc.). A tarefa de trabalhar conjuntamente, no

entanto, nem sempre ê fácil. Os professores, de

um lado, tendem a rejeitar a colaboração dos es_

pecialistas. Os especialistas do ensino, por ou

tro lado, tendem a cair num "especialismo" in

conseqüente que pouco ou nada traz em benefício

da melhoria do ensino. Senão vejamos. Os orien

tadores educacionais, em geral, se preocupam ex

clusivamente com os problemas dos alunos, como

se os problemas dos alunos não fossem também dos

professores. Os supervisores escolares, em ge

ral, se preocupam apenas com os professores, co

mo se os problemas dos professores não fossem

de responsabilidade também dos orientadores edu-

cacionais. 19 Enquanto perdurarem essas separa

ções estanques é impossível pensar na importân

cia dos especialistas para a melhoria do proces_

so ensino-aprendizagem. Os especialistas normal

Page 37: escola mercado trabalho

mente esquecem um fato fundamental: sua existên

cia só se justifica na medida em que contribui

para a melhoria qualitativa do ensino. Para is_

so, no entanto, é necessário trabalhar com aqui

Io que é fundamental no currículo da escola, ou

seja, com o processo de transmissão-assimilação

dos conhecimentos historicamente acumulados pe

lo homem. Essa é a única maneira dos especialis-

tas e professores se convencerem acerca da rele

vância do seu trabalho. Em poucas palavras: é

indispensável que os educadores superem as "bri

guinhas miúdas" e a competição que têm tomado

grande parte do seu tempo na escola. Nas pala

vras de RODRIGUES, "essa competição afeta pro

fundamente e, às vezes, irremediavelmente a pra

tica pedagógica. Ela se revela não apenas no âm

bito da sala de aula, mas também na verdadeira

guerra que os professores e os vários especia

listas travam no interior da escola para a de

marcação de suas áreas de poder. Lutam entre si

orientadores e professores, professores e super

visores, supervisores e orientadores e todos

contra diretores e inspetores. Se, ao invés da

competição entre proprietários privados de uma

parcela do saber, estas especialidades e compe

Page 38: escola mercado trabalho

tências fossem colocadas ao serviço coletivo e

cooperativo da atividade educacional, elas se

transformariam em frente real de poder". 20

Ora, o que seria de se esperar fren

te a essa situação de deterioração crescente da

instituição escolar? O que se poderia esperar

frente a todos esses problemas que, hoje, fazem

parte do cotiadiano da maioria das escolas pú

blicas brasileiras? Seria de se esperar, eviden

temente, uma política clara, a curto, médio e

longo prazos, no sentido de superar os proble

mas apontados anteriormente, único caminho para

recuperar o real papel da escola. Isso, no en

tanto, não tem ocorrido. As diferentes politi

cas educacionais têm se pautado exatamente por

uma ausência de política concreta para superar

os problemas básicos da escola pública brasilei_

ra. Por outro lado, o que tem ocorrido freqüên

temente, inclusive com a anuência dos poderes

públicos, é que "a escola tem sido afetada de

maneira radical por uma desordenada teia de

idéias, projetos, pesquisas, métodos de ensino,

que produziram, nos últimos anos, enorme anar

quia nas atividades básicas do ensino. Os profes

Page 39: escola mercado trabalho

sores se tomaram profissionais mais ou menos

confusos em relação àquilo que realmente devem

objetivar no processo de ensino". 21 Concreta

mente o que se tem observado é que essa desorde

nada teia de idéias, métodos de ensino, etc,

não têm propiciado ao aluno o domínio da língua

nacional, o saber escrever, contar e fazer cál

culos simples, ou seja, não têm instrumentaliza

do o aluno com o mínimo indispensável para so

breviver na sociedade moderna. Não têm contri

buído para que o aluno supere o "senso comum",

o conhecimento mais fragmentado e incoerente co

lhido no meio ambiente, rumo a uma maneira mais

coerente, lógica, moderna e científica de com-

preender o mundo. Não têm contribuído, ainda, pa

ra propiciar ao aluno as condições mínimas para

a compreensão da realidade histórica em que vi

ve e poder fazer opções conscientes acerca das

múltiplas alternativas históricas que a socieda

de oferece.

As idéias, métodos de ensino, etc.

que têm invadido a consciência dos educadores,

em geral, têm contribuído para operar um "des

vio" daquilo que deveria ser o cerne das preocu

Page 40: escola mercado trabalho

pações dos educadores, ou seja, o processo de

transmissão-assimilação de conhecimentos. Se o

que ê fundamental na escola tem sido objeto de

tão pouca atenção, por que a preocupação predo

minante com o acessório, com o secundário? Nas

palavras de SNYDERS, "a escola e os seus mes

três representam hoje, para muitos, um rival a

abater e a suplantar". 22 Outros autores, refe

rindo-se a essa questão, assinalam que existe

uma verdadeira "conspiração", uma "ofensiva obs_

curantista" contra a esoola, os saberes transirá

tidos e os professores. 23 Com relação ã escola

é freqüente ouvirmos expressões como estas: ins

tituição fútil e obsoleta; templo sagrado do sa

ber; para que escola se existem máquinas de en

sinar, se existe a televisão e outros meios de

comunicação de massas; para que esoola se o que

importa é a auto-educação, etc. Com relação aos

saberes escolares a situação não é muito dife

rente: os saberes aprendidos na "vida" são mais

importantes; os saberes transmitidos pela esco

la são alienantes, etc. Mas quem tem sofrido as

maiores críticas são os professores. Tornou-se

comum, atualmente, expressões como as que se-

guem: ninguém educa ninguém; todos são educado

Page 41: escola mercado trabalho

res; para que professor se o saber não pode ser

transmitido, etc. Essas idéias todas acerca da

escola, do saber e do professor, no fundo, têm

confundido a escola que aí está (e que precisa

ser transformada) com a própria finalidade da

instituição escolar. Essa postura, ainda que se

apresente como progressista, ê extremamente con

servadora. Ela ê mais preocupante, ainda, na me

dida em que as camadas populares cada vez mais

têm acesso ã escola.

* * *

Nesse conjunto de idéias confusas

que têm tomado de assalto a cabeça dos educado

res está aquela que se refere à questão do tra

balho. Em geral, parece-nos que é mais um "des_

vio" dos reais problemas que afetam a educação

escolar brasileira. Parece que se a escola li_

dar adequadamente com a questão do trabalho, to

dos os seus problemas estarão superados. As di

ferentes políticas educacionais, no que se refe_

re a essa questão, não têm levado em conta os

seguintes aspectos:

1) o que ê o trabalho na nossa sociedade de ti

Page 42: escola mercado trabalho

po capitalista - esse "esquecimento" tem fei_

to com que o trabalho seja tratado de manei_

ra abstrata, a-histórica;

2) a questão do trabalho não tem sido tratada a

partir da especificidade da escola, daquilo

que lhe ê próprio;

3) não tem sido levado em conta, ainda, que a

questão do trabalho não pode ser tratada ã

revelia dos problemas enfrentados pelas esco

las.

0 fato de não se levar em conta ne

nhuma dessas questões tem feito com que as poli

cas educacionais incorram num empirismo grosse-

ro que, ao invés de esclarecer a questão, con

tribui muito mais para semear a confusão e con

fundir mais ainda os educadores. Esse empirismo

pode ser constatado numa série de slogans va

zios de sentido, tais como: qualificação para o

trabalho; iniciação para o trabalho; preparação

para o trabalho; integração escola-empresa; es_

colas de produção; introdução do trabalho produ

tivo na escola, etc. Esse conjunto de idéias,no

fundo, representa um esforço inútil, além de

gastos inúteis, que em nada tem contribuído pa

Page 43: escola mercado trabalho

ra a melhoria das escolas. Representam, ainda,

uma maneira de deixar as coisas como estão, de

não tocar no cerne dos problemas da educação es-

colar. O que as políticas educacionais preten-

dem com a criação de "escolas de produção", "in

trodução do trabalho produtivo na escola"? Es

sas "soluções" buscam edificar uma escola bases

da no trabalho produtivo, tentar unir na escola

o que a estrutura social separa e reúne dialeti

camente (trabalho manual/trabalho intelectual).

0 que é preciso deixar claro ê que a divisão

trabalho manual/trabalho intelectual é estrutu

ral, sendo que essa divisão cinde não apenas a

estrutura da sociedade, a escola, mas também os

próprios homens. A escola, no capitalismo, não

tem condições de superar a dicotomia trabalho

manual/trabalho intelectual. Pensar que a esco

la pode superar a dicotomia trabalho manual/tra

balho intelectual não passa de uma ingenuidade

idealista. 0 que se pode observar nas tentati

vas de unir ensino e produção nas unidades esco

lares pode ser sintetizado da seguinte maneira:

1) o que se chama de "produção" não tem passado

de um trabalho artesanal, arcaico, que nada

tem a ver com o trabalho realizado na fábri

Page 44: escola mercado trabalho

ca (seria isto preparar para o trabalho?);

2) essas tentativas têm contribuído mais ainda

para a deterioração dos conteúdos do ensino.

Não se quer com essas observações,

evidentemente, ignorar o trabalho como um ele

mento que possui um conteúdo educativo extrema-

mente importante. 0 trabalho, ao contrário, é

uma dimensão fundamental da existência humana,

na medida em que ê pelo trabalho que o homem

produz tanto as condições materiais quanto as

condições espirituais de sua existência. Isto

porque o trabalho está na base da vida do homem

e deve ser entendido como a mediação através da

qual o homem transforma o mundo que o rodeia,

humanizando-o. É pelo trabalho que o homem faz-

se a si mesmo, adapta-se à natureza e constrói

o mundo em que vive. 0 trabalho, no entanto,

não possui apenas essa dimensão libertadora pa

ra o homem, na busca constante de modificação

tanto das condições naturais quanto daquelas

herdadas das gerações passadas. 0 trabalho tem

sido também um elemento de alienação do próprio

homem, na medida em que o produto do trabalho

tem sido apropriado por outro, na medida em que

Page 45: escola mercado trabalho

o produto do trabalho ganha uma existência autô-

noma e independente em relação ao sujeito que o

produziu. Dessa forma, o trabalho, como catego-

ria estrutural, deve ser tratado concomitante

mente COITO libertação-alienação, ou seja, diale_

ticamente, como uma categoria que permeia toda

a existência humana.

Como, a partir da especificidade da

escola, lidar com a questão do trabalho? Como a

partir da transmissão-assimilação de conhecimen

tos lidar com a "preparação para o trabalho"? É

o que passaremos a discutir em seguida.

Em primeiro lugar, é preciso reco

nhecer que a escola é produto do trabalho do ho

mem. A escola reproduz a divisão fundamental en

tre trabalho manual/trabalho intelectual, no po

lo do trabalho intelectual. A escola, assim, é

por excelência um dos polos do trabalho intelec

tual. Isto significa principalmente que o traba

lho encontra-se presente no interior da unidade

escolar. Mais ainda: o próprio trabalho manual,

direta ou indiretamente, também encontra-se pre

sente na escola.

Page 46: escola mercado trabalho

É preciso ressaltar, contudo, que

não existe trabalho puramente manual ou puramen

te intelectual. Como assinala RIBEIRO, "o que

distingue e, assim sendo, caracteriza a ação hu

mana ê o fato de nela haver sempre certo grau

de intervenção da consciência. Ela, pois, não i

uma ação cega e absolutamente mecânica. É diri_

gida por finalidades, finalidades estas que são

produtos da atividade da consciência. E mais, é

uma ação marcada pela intenção de realizar tais

finalidades". 24 A mesma autora prossegue dizen

do que "desta forma, a afirmação de que não e

xiste atividade humana puramente prática ou teo

rica não deve levar ã interpretação de que, en

tão, as duas se confundem, ou, ainda, de que

uma acaba por se reduzir à outra".25 0 trabalho

escolar é, assim, prioritariamente intelectual,

na medida em que a educação escolar "constitui-

se num processo de educação de consciência e

que, como tal, é uma atividade teórica",26ainda

que não se limite a ela.

De que forma o trabalho se manifes-

ta no interior da escola? Qual a especificidade

do trabalho escolar?

Page 47: escola mercado trabalho

Inicialmente podemos dizer que os

professores trabalham, os especialistas do ensi

no também trabalham. São todos trabalhadores in

telectuais assalariados. Os professores e espe

cialistas do ensino trabalham, fundamentalmente,

com o currículo da escola. Mais ainda: o pro

prio trabalho manual, direta ou indiretamente ,

também encontra-se presente na escola. Isto por_

que a maioria dos alunos trabalham e são filhos

de trabalhadores (manuais ou intelectuais).

0 trabalho está presente também na

escola em sua forma artesanal, ou seja, em tra

balhos com tecelagem, argila, madeira, sucata,

etc. Essa presença artesanal e arcaica do traba

lho no interior da esoola não pode ser confundi

da com o papel específico que a escola tem para

lidar com a questão do trabalho. Em verdade, es_

sas formas de trabalhar manualmente não passam

de diletantismo, divertimento, etc, tão a gos_

to das pedagogias novas. Nas palavras de FRIGOT

TO, "enquanto na indústria e mesmo nos serviços

se observa uma crescente automação do processo

de trabalho e se inicia a introdução do robô no

processo produtivo, a esoola brinca de inicia.

Page 48: escola mercado trabalho

ção para o trabalho, de profissionalização me

diante rudimentos de trabalho manual defasado

no tempo - um artesanato deformado".27

A "orientação vocacional e profis_

sional" ê também uma maneira de manifestação do

trabalho no interior da escola. 0 que se pode

contestar é a forma como isso tem sido realiza

do até agora. Normalmente a "vocação" tem sido

tratada como algo inato ao homem e não como al

gama coisa que muito tem a ver com o meio fami-

liar e cultural, com o grupo e a classe social

a que o indivíduo pertence. Isso tem levado a

orientação vocacional e profissional a não al

trapassar o nível abstrato na discussão do tra

balho.

A presença mais marcante do traba

lho no interior da escola, todavia, se dá atra

vês da transmissão dos conhecimentos acumulados

historicamente pelo homem e, principalmente, dos

conhecimentos científicos e tecnológicos. De um

lado, porque o ensino, o estudo, a transmissão

dos saberes, constituem formas de trabalho.

GRAMSCI assinala que, "deve-se convencer a mui-

Page 49: escola mercado trabalho

ta gente que o estudo é também um trabalho, e

muito fatigante, com um tirocínio particular

próprio, não só muscular-nervoso mas intelec-

tual: ê um processo de adaptação, é um hábito

adquirido com esforço, aborrecimento e mesmo so

frimento".28 De outro lado, os saberes transirá

tidos pela escola são históricos e, portanto,

fruto das relações que os homens estabelecem en

tre si e com a natureza. Os saberes escolares,

nesse sentido, são fruto do trabaho, isto é,

"as diversas disciplinas que compõem o currícu-

10 de 19 e 29 graus são decorrência da atual fa

se do desenvolvimento científico e, portanto,

do conhecimento da natureza e da sociedade que

o homem produziu com seu trabalho". Os conhe

cimentos transmitidos pela escola, assim, sur

gem e se desenvolvem para dar respostas concre

tas aos problemas enfrentados pelo homem em seu

caminhar histórico. Nesse sentido, a história

da ciência, da tecnologia, etc. é a própria his_

tória do trabalho. Mais: foi a partir do domí

nio da ciência e da tecnologia (portanto do tra

balho) que o homem tornou possível não só a com

preensão mas também a transformação das suas

condições sociais de existência.

Page 50: escola mercado trabalho

Discutir o trabalho a partir das di_

ferentes formas que assume no interior da esco

la não seria um caminho seguro para que os edu

candos tivessem uma visão mais concreto do sig_

nificado do trabalho na sociedade moderna? Não

se trata, evidentemente, de discutir o trabalho

que se manifesta na escola como se fosse algo

isolado e independente da estrutura social exis_

tente. Trata-se, isto sim, de discutir o t raba-

lho intelectual que a escola desenvolve como al

go inseparável das outras formas de trabalho e

xistentes na sociedade. Para isso, não é neces_

sário sequer que se crie uma disciplina especí-

fica para esse fim, mas, ao contrário, que os

educadores, a partir das diferentes disciplinas

discutam com os educandos o significado do tra

balho na vida do homem. A preparação para o tra

balho, assim, passa a ser preocupação do currí

culo escolar, da forma como a escola organiza e

executa o seu trabalho. Algumas perguntais mere

cem ser levantadas. Os professores estão prepa_

rados para isso? Não existem coisas mais impor

tantes a serem feitas nas escolas? Assinalamos

anteriormente que os professores, em gerail, não

estão adequadamente preparados sequer para trans

Page 51: escola mercado trabalho

mitir os conteúdos indispensáveis ã sobrevivên

cia material e espiritual dos alunos. Mostramos

também que os problemas das escolas são inúme

ros e que não existe uma política educacional

clara para superá-los. A questão do trabalho

pensada isoladamente, sem levar em conta a ne

cessidade de superação dos problemas das esco

las que aí estão, pode cair num esforço em vão,

inútil. Mais do que isso, pode se constituir

num falso problema.

Procuramos mostrar que o trabalho

está presente na escola, que não é estranho às

atividades escolares, na medida em que estas

constituem uma forma de trabalho. Não cabe,

pois, a afirmação freqüentemente repetida de

que ê preciso trazer o trabalho para dentro da

escola, porque ela estaria "desvinculada" do

trabalho, da vida, do mundo, etc. Essa postura,

no fundo, omite o fato objetivo de que o traba-

lho sempre se fez presente no interior da esco

la. Subjacente ã ênfase na idéia de que a esco

la está "desligada" do trabalho está a idéia da

ausência do trabalho na escola, a idéia de que

Page 52: escola mercado trabalho

o trabalho so pode ter lugar fora da escola.

Qual a relação do trabalho escolar

com o trabalho produtivo que ocorre fora da esco­

la, principalmente nas fábricas?

A escola não pode ser pensada inde

pendentemente do modo de vida e de produção das

condições de existência em seu conjunto, ou seja,

de uma estrutura social determinada, contradito

ria e em movimento. Deve ser pensada sempre ten

do como referência a sociedade concreta da qual

é parte integrante e inseparável, isto é, o con

junto das relações sociais próprias do capitalis_

mo.

A escola, enquanto instituição espe

cífica, não tem um vínculo direto, mecânico e li_

near com a produção capitalista e, ao mesmo tem

po, não pode ser pensada como se existisse à"mar

gem" das relações sociais próprias do capitalis

mo. De acordo com FRIGOTTO, "tanto os que buscam

um vínculo linear entre educação e estrutura eco

nômico-social capitalista, quanto aqueles que de

fendem um "desvinculo" linear, enviesam a análi

Page 53: escola mercado trabalho

se pelo fato de nivelarem práticas sociais de

natureza distinta e de estabelecerem uma liga

ção mecânica entre infra-estrutura e superestru

tura, e uma separação estanque entre trabalho

produtivo e improdutivo".30

0 exemplo mais típico do mecanicis

mo, que procura estabelecer um vínculo direto

entre escolaridade e produção capitalista, nos

é fornecido pela teoria do capital humano. Para

essa teoria é possível detectar altos coeficien

tes de correlação entre crescimento econômico,

distribuição de renda e nível educacional. De

acordo com os teóricos do capital humano, as di

ferenças na formação da renda pessoal e da pro

dutividade são fruto do nível de educação adqui

rido pelo indivíduo. Quando aplicada ã questão

da pobreza, por exemplo, a teoria do capital hu

mano simplesmente sugere que os pobres são po

bres porque lhes faltam conhecimentos e habili_

dades, isto é, capital humano. Nesse sentido,

uma forma de resolver o problema da pobreza se_

ria criar programas que pudessem fornecer uma

qualificação ocupacional a cada pobre. Para os

defensores dessa teoria, as habilidades e conhe

Page 54: escola mercado trabalho

cimentos de uma pessoa constituem-se em uma for

ma de capital na medida em que, através dessas

qualidades, o indivíduo aumentaria sua produtivi

dade, o que acabaria rendendo-lhe benefícios eco

nômicos. As habilidades e os conhecimentos de uma

pessoa constituem uma forma de capital, porque

tais qualidades aumentam sua produtividade, ren

dendo-lhe benefícios econômicos. Esse raciocínio,

levado ao extremo, acaba considerando os traba

lhadores como verdadeiros capitalistas, pois atra

vés de investimentos na aquisição de habilidades

e conhecimentos eles têm posse de capacidades eco

nomicamente valiosas.

0 que essa teoria tem buscado ê esta

belecer uma relação de causa e efeito entre au

mento do nível educacional e ganhos em produtivi

dade. Esse raciocínio, além de mecanicista, peca

também por ingenuidade. Isto porque a própria evo

lução do capitalismo, na medida em que, por um

lado, desenvolve a ciência e sofistica a tecnolo

gia e, por outro, desqualifica os agentes da pro

dução, nos fornece elementos para refutar o sim

plismo dos argumentos da teoria do capital huma

no. No capitalismo, a produtividade do trabalho

Page 55: escola mercado trabalho

está mais condicionada pelo cargo ocupado pelo

trabalhador, pela tecnologia utilizada e pela

divisão técnica do trabalho adotada do que pelo

nível educacional do trabalhador, pelas suas

qualificações. Essas observações não implicam

em negar a própria articulação que a escola es_

tabelece com a produção capitalista e, particu

larmente, com o desenvolvimento econômico. O que

queremos enfatizar é que a educação escolar não

gera crescimento econômico em geral e tampouco

se reverte em taxa de retorno individual, auto

mática e mecanicamente. Para compreender as re

lações da escola com a produção capitalista ê

necessário buscar relações não-unívocas nem li

neares, isto é, é necessário compreender a esco

la como mediação, como instância inseparável da

totalidade social, mas que, ao mesmo tempo, não

está inteiramente subordinada ã produção.

Se a teoria do capital humano procu

ra estabelecer uma relação de causa e efeito en

tre escolaridade e ganhos em produtividade, exis_

tem também tendências que procuram mostrar que

existe um "desvinculo" entre escola e produção

no capitalismo. A escola, nessa perspectiva, é

Page 56: escola mercado trabalho

uma instituição que existe à "margem" do proces

so produtivo. SALM, por exemplo, argumenta que

"nem a escola é capitalista, nem o capital preci

sa dela, como existe, para preparar o trabalha

dor".31 LETTIERI também procura mostrar o "des_

vínculo" entre escola e produção nas sociedades

capitalistas avançadas: "não há vínculo entre es_

cola e fábrica, entre a necessidade de mudar a

natureza e a organização do trabalho e o que a

escola ensina"; "a crise da escola decorre direta

mente de sua separação do mundo da produção"; "a

escola torna-se, em certo sentido, função de si

mesma".32 Para LETTIERI, a função da escola no

capitalismo seria contribuir para o não asfixia.

mento do processo produtivo, na medida em que ab-

sorve a força de trabalho excedente, esteriliza

as energias produtivas que o sistema capitalista

não pode utilizar.

As colocações de SALM e LETTIERI des_

vinculam o fato objetivo de que as condições da

produção material de existência não se encontram

separadas e tampouco existem paralelamente às con

dições da produção no material de existência, on

de se localiza a escola. A totalidade social ê

Page 57: escola mercado trabalho

constituída de fenômenos organicamente articu

lados que estabelecem entre si relações de re

ciprocidade. A escola, nesse sentido, é parte

orgânica da totalidade social e não alguma coi

sa que existe a parte, ã margem, independente

mente dos demais fenômenos sociais. Assim, a

afirmação de que existe um desvinculo entre es_

cola e processo produtivo não tem procedência.

As colocações de SALM, no entanto, representam

um avanço frente às ingenuidades da teoria do

capital humano. Nas palavaras de FRIGOTTO, "o

trabalho de SALM, é preciso frisar, sob o as-

pecto específico da relação entre processo pro

dutivo imediato e processo de qualificação re

presenta uma desmistificação do vínculo direto,

linear, entre produção e qualificação - idéia-

força da teoria do capital humano". 33 Essas

observações valem também para o trabalho de LET

TIERI.

SALM e LETTLEF1, todavia, insistem

na tese de que o capital não necessita da esco

la para se reproduzir, que há um desvinculo en

tre escola e processo produtivo. É preciso re

conhecer que a escola, de fato, não desempenha

Page 58: escola mercado trabalho

um papel fundamental na reprodução do capital.

Mas ê preciso reconhecer, também, que as escolas

existem e o capital tem se beneficiado delas pa

ra satisfazer as suas necessidades. 0 fato da es_

cola não desempenhar um papel fundamental na re

produção do capital, deixa em aberto aquilo que

lhe é específico na reprodução do capital. É pos

sível que seja pouco, mas de peso específico né

cessário. Para dimensionar esse peso, é necessá.

rio buscar relações não-unívocas nem lineares. As

possíveis expressões dessa relação podem ser iden

tificadas. Quando a escolaridade básica cresce e

começa a atingir parcelas cada vez mais signifi-

cativas das classes trabalhadoras, inicia-se um

movimento no sentido de exigir uma pedagogia no

va, uma pedagogia "ativa". A "atividade", tal co

mo é proposta, substitui o "conteúdo", a abstra

ção, mesmo porque as classes trabalhadoras não

permanecem na escola o tempo suficiente para com

pletar o processo do "empírico" ao "abstrato".

Considerando o momento histórico-social que se

instaura no país a partir de 1930, e que se ace

lera na década de 50 (industrialização, urbaniza

ção, etc.), pergunta-se: não seria esta nova pe

dagogia uma proposta de formação do novo traba

Page 59: escola mercado trabalho

lhador? Mais tarde, a organização do currículo

pela Lei 5692/71 prevê que a "experiência" esco

lar, em termos didáticos, iria da "experiência"

vivida pelo aluno ã "disciplina" passando pela

"área de estudo". 0 que estaria inspirando esse

empirismo grosseiro? Ao invés do conhecimento

ser tomado como reflexão e oomo crítica dos da

dos da experiência, ele aparece como mera conti

nuação equilibrada e ordenada daquilo que a ex

periencia imediata fornece dispersa e fragmenta

riamente. Além disso, essas atividades e áreas

de estudo nada mais são do que uma outra manei

ra de diluir o conteúdo da aprendizagem dos alu

nos, com especial prejuízo daqueles oriundos

das classes trabalhadoras.

É inegável, pois, que a escola não

se encontra à margem das relações de produção e

que tem alguma importância para o capital na for

mação de determinadas habilidades básicas, entre

as quais podemos destacar: ler, escrever, con

tar, fazer cálculos simples, etc. A pedagogia

que aí está tem como principal objetivo formar

tais habilidades e, ao mesmo tempo, dificultar

o prosseguimento da carreira escolar e o acesso

Page 60: escola mercado trabalho

ao saber mais abstrato, principalmente dos alu

nos das classes trabalhadoras. Existe, pois, um

vínculo entre escola e mundo da produção mate

rial na sociedade existente. A escola, assim, con

tribui sempre, seja direta, seja indiretamente,

para o próprio desenvolvimento do processo produ

tivo. Ou seja, o capital tem se beneficiado das

escolas, em todos os seus níveis, para incremen

tar a produção e também para melhor selecionar a

mão-de-obra que lhe interessa. Afinal, não é a

escola, principalmente em seus níveis superiores,

que tem transferido o saber técnico e o conheci

mento científico indispensáveis à própria evolu

ção da tecnologia de produção? 0 que os dados e

pesquisas mais recentes têm desmentido é o pensa

mento mecanicista que procura enfatizar a depen

dência direta ou o desvinculo da empresa frente

ã escola ou vice-versa.

Resta, por fim, fazermos alguns co

mentarios acerca das relações da escola com o mer-

cado de trabalho. As considerações feitas a se

guir estão intimamente relacionadas com a discus_

Page 61: escola mercado trabalho

são feita anteriormente sobre as relações da es

cola com a produção capitalista.

É freqüente, hoje, ouvirmos expres_

sões como as que se seguem: a escola deve aten

der às demandas do mercado de trabalho; a esco

la precisa adequar-se às necessidades do merca

do de trabalho, local ou regional; o currículo

da escola deve adequar-se àquilo que a empresa

necessita, etc. Essas expressões não levam em

conta, pelo menos, dois fatos:

1) as características do mercado e, particular

mente, do mercado de trabalho em sociedades

de tipo capitalista;

2) a escola oomo mediação, ou seja, como insti

tuição que não está totalmente subordinada

às exigências do mercado de trabalho.

Em verdade, o que há é uma visão

confusa e ingênua do mercado de trabalho na so

ciedade capitalista. O mercado de trabalho, em

sociedades de livre empresa, obedece ao caráter

cíclico da economia, estando, pois, sujeito a

constantes flutuações, o que torna o mercado de

Page 62: escola mercado trabalho

trabalho praticamente imprevisível. O capital se

gue uma lógica própria em busca de atividades lu

crativas, não estando, portanto, sujeito a regu

lamentações, a planos pré-estabelecidos, etc. O

mercado de trabalho, além disso, "num país como

o Brasil onde as migrações inter-regionais são

extremamente intensas, fazendo com que os merca

dos de trabalho não sejam de modo algum fechados,

em termos geográficos".34 Isto faz com que o mer

cado de trabalho "de uma determinada área pode

ser 'perturbado' pelas migrações, tornando-o sa-

turado, provocando elevação ou diminuição dos va

lores do salário, diminuindo o prestígio de cer

tas ocupações".35 0 mesmo autor prossegue dizen

do que o profissional "não consegue saber de to

das as oportunidades existentes. Além de não ser

transparente, o mercado de trabalho não funciona

como uma praça onde se encontram apenas ofertas

de competências e demandas de competências".36

A escola, sem dúvida, deve levar em

conta o mercado de trabalho, deve levar em conta

as suas características fundamentais numa socie_

dade determinada. Deve levar em conta o mercado

de trabalho não para procurar atrelar-se mecani

Page 63: escola mercado trabalho

camente a ele, não para colocar-se a serviço de

suas supostas demandas. Mesmo porque reduzir a

função da escola a isso ê empobrecê-la. De açor

do com RODRIGUES, "a escola não pode ser uma a

gência formadora de mão-de-obra para os setores

produtivos considerados prioritários. Seu obje_

tivo central deve ser: formar o educando como

homem e cidadão, e não apenas prepará-lo para o

exercício de funções produtivas nas empresas, pa

ra ser consumidor competente dos produtos dispo

níveis no mercado".37

As relações da escola com o mercado

de trabalho não são estreitas, racionais, sim

ples, unidirecionais, de causa e efeito, mas

sim dialéticas, onde a escola não se encontra

inteiramente subordinada às leis e mecanismos

de funcionamento do mercado de trabalho. As ten

tativas de adequar a escola ás exigências do

mercado de trabalho não têm passado de um esfor

co em vão. No fundo, as análises que têm procu

rado caracterizar o mercado de trabalho têm re

pousado em pressupostos falsos, ou seja, de que

o mesmo ê estático, homogêneo, fechado, a-histó

rico, quando, em verdade, o mercado de trabalho

Page 64: escola mercado trabalho

é uma realidade histórica, socialmente determina

da, e que obedece ã movimentação desordenada do

capital. A não compreensão desses fatos tem leva

do os educadores a atribuir todas as dificuida

des de colocação do aluno no mercado de trabalho

ao próprio funcionamento da escola. A escola tam

bém passa a ser responsabilizada pela ida do alu

no à universidade, e assim por diante. Os educa

dores, com isso, acabam por desconhecer as pró

prias aspirações dos alunos que nem sempre coin

cidem com aquilo que a escola apregoa e tampouco

com as supostas demandas do mercado de trabalho.

0 meio familiar, de classe, o grupo de amigos,

etc., desempenham um importante papel no futuro

do aluno. Dificilmente a escola poderia conven

cer um aluno de classe média ou de classe social

alta a vestir macacão e se tomar um técnico de

nível médio. As aspirações desses alunos, condi

cionadas pelo meio social em que vivem, normal

mente são muito mais altas. Ê interessante assi-

nalar também que os próprios alunos das camadas

sócio-econômicas menos favorecidas aspiram ao en

sino superior, porque vêm nesse nível de ensino

uma maneira de melhorar de vida. Afinal a socie_

dade em que vivemos não tende a valorizar exata

Page 65: escola mercado trabalho

mente o trabalho intelectual frente ao trabalho

manual?

Essas observações não implicam em a

firmar que inexiste articulação entre escola e

mercado de trabalho. As habilidades e conheci

mentos transmitidos pela escola estão, sem dúvi

da, articulados com determinados requisitos dos

postos de trabalho existentes nos mercados lo

cal ou regional. Os requisitos ocupacionais, no

entanto, não são fixos e não correspondem exata

mente ao que a escola pode oferecer. Isso ê vá

lido, inclusive, para o ensino técnico. As esco

las técnicas, de fato, são escolas que profis_

sionalizam. Isso, no entanto, não tem evitado

que essas escolas deixem de encontrar inúmeras

dificuldades para adequar os seus objetivos pro

fissionalizantes às necessidades do mercado de

trabalho. A maioria dos alunos formados por es_

ses escolas se encaminham para a universidade ,

outra parte só consegue encontrar emprego emocu

pações para as quais não foram formados, enquan

to que uma terceira parte consegue, de fato, e_

xercer a função de técnico de acordo com a habi-

litação escolhida. Essa impossibilidade de a es_

Page 66: escola mercado trabalho

cola adequar linearmente as qualificações que

transmite às reais necessidades do mercado de

trabalho coloca, para a escola, a necessidade de

recuperar o seu real papel. Coloca para os educa

dores a necessidade de repensar o que é próprio

da escola, sua especificidade e seus limites pa-

ra formar profissionalmente os indivíduos.

A escola não tem a obrigação de for

mar, de qualificar, de preparar o aluno para aque

les requisitos indispensáveis a uma adaptação às

condições de trabalho exigidas pela empresa. E

não poderia ser diferente numa sociedade fundada

na livre iniciativa. Não apenas porque é impossí

vel à escola acompanhar e colocar ã disposição

dos alunos os equipamentos utilizados na empresa,

mas, principalmente, porque os objetivos da esco

la e da empresa diferem profundamente. Enquanto

a escola deve ter como preocupação a promoção do

homem, a preocupação de formar o cidadão, a em

presa se preocupa basicamente com o lucro. A preo-

cupação da escola deve ser com a transmissão dos

conhecimentos, inteiramente relacionados às con

dições de vida dos homens. Conhecimentos articu

lados com o estágio de desenvolvimento econômico-

Page 67: escola mercado trabalho

social e político da sociedade, de acordo com

estágio atual do desenvolvimento cientifico e

tecnológico e dos seus significados na socieda

de moderna. A transmissão, pois, dos saberes do

minantes é a forma privilegiada da escola prepa-

rar, de fato, o homem para a vida, para o traba

lho, para o mercado de trabalho, ou seja, é a

maneira mais adequada da escola contribuir para

situar o homem em seu tempo.

A educação escolar, assim, não garan

te a priori um posto de trabalho especifico ao

aluno, mas pode, por outro lado, propiciar conhe

cimentos que o ajudem a encontrar o seu emprego,

dentre as múltiplas alternativas oferecidas pelo

"mundo do trabalho". Nesse sentido, tanto a for

mação geral quanto a transmissão dos saberes

técnicos aparecem como pré-requisitos indispen

sáveis não só para a compreensão do significado

do trabalho, mas também de preparação para o tra

balho. Ou seja: a sólida formação científica e

tecnológica é a melhor forma da escola preparar

o homem para o trabalho. Isto porque a sólida

formação científica, a compreensão da cultura e

no significado da tecnologia do mundo moderno,

Page 68: escola mercado trabalho

são condições imprescindíveis para que o homem

eleve seu nível de compreensão sobre a natureza

e a sociedade e, particularmente, do trabalho co

mo dimensão fundamental de sua existência. Assim,

do ponto de vista de uma pedagogia progressista,

cabe lutar para que os educandos se apropriem so

lida e duradouramente dos conhecimentos acumula

dos historicamente pelo homem, para que, indepen-

dentemente da classe social a que pertencem, não

apenas compreendam as leis que regem a natureza

e a sociedade em que vivem, mas possam partici

par como sujeitos conscientes das próprias trans_

formações das condições sociais de sua existên

cia.

Page 69: escola mercado trabalho

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21. Neidson RODRIGUES, op. cit.

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