entropias poéticas
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Este é um pequeno agrupamento de textos e poemas de autoria de Mário Henrique Silveira Bueno, coletados ao acaso, sem ordem cronológica ou temática específica. Há apenas um tímido fio condutor entre tudo isso: a vida. Autorizada a reprodução e o compartilhamento, desde que citada a fonte. Conheça também meu trabalho fotográfico em: www.facebook.com/mariohsbueno www.mariobueno.com.brTRANSCRIPT
entropias poéticasmário henrique silveira bueno
entropias poéticasmário henrique silveira bueno
Este é um pequeno agrupamento de textos e poemas de minha autoria, coletados ao acaso, sem ordem cronológica ou temática específica.Há apenas um tímido fio condutor entre tudo isso: a vida. Autorizo a reprodução e o compartilhamento, desde que citada a fonte.Conheça também meu trabalho fotográfico em:www.facebook.com/mariohsbuenowww.mariobueno.com.br
Viver é como estar na beira de um abismo,
onde muitas vezes damos um passo à frente. //
Queria ter o dom da palavra.
Lamber a palavra, cheirar a palavra, moldar a palavra...
Palavra seca, palavra molhada, palavra dura, palavra mole...
Palavra esguia, palavra macia...
Palavra reta, palavra certa.
Palavra que palavreia, palavra que serpenteia, palavra que te volteia
Que traz você assim e coloca dentro de mim
Que mostra como é mudo o meu mundo sem você. //
Só me restam o amor e a poesia. O amor me achou, a poesia encontro eu. //
• • •
Enquanto (te) espero, esse enigmático céu alaranjado-rosa invade minha meia-noite. //
• • •
Bicicletas fálicas carregam amores nos alforjes. //
Com você me fiz pessoa. É difícil guardar tudo isso só em mim. Minha morada é pequena demais e preciso transbordar. //
Semente improvável
Uma semente improvável foi lançada ao vento
E encontrou refúgio em mim
Terreno árido, seco
Impróprio para o cultivo
Mesmo assim, brotou
Com força desproporcional
Crescendo para cima
E para os lados
Com velocidade e poder
Vieram as folhas e frutos
Precoces
Porém coloridas, espaçosas; adocicados e vistosos
Uma tormenta, porém, girando e possuindo tudo
Descabelou a imensa árvore
Lançando tudo ao chão
Surpresa enorme foi ver
A árvore continuar a crescer
Pois o produto da colheita do vento
Não se perdeu
E serviu de alimento para a própria árvore
Suas raízes vasculhavam o inferno
Enquanto galhos tocavam o céu
Assim é a vida de quem
Nasceu plantado no chão
Num belo dia de sol,
Com nuvens de algodão
A pessoa que lançara a semente
À sombra da árvore descansou
E a ela se juntou
São essas as mãos da pessoa que plantou os sentimentos mais belos e
avassaladores
que alguém poderia ter. //
Chiclé do amor
Desde a primeira vez
Foi tão fácil amar você
Eu era o cobrador da roda gigante
dando voltas,
esperando sua vez de passar
A jogar seu meio sorriso
Como quem não quer nada
Olhando despretensiosamente de lado
Eu seguia você pelo parque
Para entregar uma maçã do amor
Tentando conquistar seu coração
Ter algodão doce em nuvens na minha cabeça
E montanha russa no estômago
Só de me aproximar de você
Cheiro da chuva
Lembrança boa
E seu olhar cortante
A penetrar o meu
À tarde correio elegante mandando beijo
Pipoca, milho verde e quentão
E a gente juntos de mãos dadas na prisão
À noite
Dançar de rostinho colado
Ouvindo Jeneci
Falando baixinho no seu ouvido
Te amo, te amo
Sem você a vida não vale a pena
Quero grudar em você
Quero você só pra mim
E quero ser somente teu
No trocadilho dos versos
Sou clichê do amor //
• • •
Trata-se um repente virtual
Cada um com suas quimeras
Enviando suas mensagens
Em sinais de fumaça
Que se desfazem no ar
Num eterno desencontro //
Gostava das frases doentes e
defeituosas, manoelescas, daquelas
com o poder do desconcerto e do
improvável, das que fazem as ideias
dançarem. Mas ele sempre num
silêncio surdo e ansioso. Ela tentou
diversas vezes encaixar as palavras e
tinha certeza que, nesse mundo,
alguém a ouvia. Só não sabia onde. //
• • •
o amor chegou primeiroapareceu logo em janeiroque durasse o ano inteironão passou de fevereiro //
• • •
ao sabor do ventoa bolha frágil levava consigoo ar do meu último suspirovocê assoprou, acabei-meacabou-se //
• • •
o guarda tivesse cuidado
desse amor irracional
teríamos sido felizes
mas o guarda descuidado
de farda engomada
e nariz empinado
cometeu grande deslize
o guarda guarda quem?
o guarda não guarda ninguém //
me ensinao desgosto
o não gostoa desgostar de você
facilita o trabalhode me salvar de mim //
solidão é quando...está longenamoraamaestá pertorespiratranspiragemegozaconversatrabalhacaminha
solidão é quando...você....
solidão é isso. //
para bom sofredor, meia porrada basta
para bom sofredor, mei porrada basta
para bom sofredor, mei porra basta
para bom sofredor, me porra basta
para bom sofredor, me por basta
basta
basta me por só //
Ficar à derivaMe perderNo infinito desse seu olharAcalma encontrarOceano sem ilha, sem costa, sem marde onde e para onde não se enxerga lugar //
A primeira primavera de um homem
como não se apaixonar pela primaveradas flores reais e inventadasdas flores imaginadas e mesmo as não sonhadaspela única florque foi criadae que não pode ser copiada //
Eu
Hoje vestirei pele riscada,
Para parecer mais madura
Ou justificar minhas dores, tão somente.
Quero vestir batons e brilhos,
Para esconder minha tristeza
Ou beijar-lhe, docemente.
Hoje vou vestir-me de cordeiro,
Para esconder minha maldade
E conseguir o seu perdão.
Quero me vestir de lobo,
Para não parecer tão ingênua.
Vou morder-lhe à traição.
Hoje vestirei lantejoulas,
Para esquecer meus infortúnios
E brincar o carnaval.
Quero me olhar no espelho,
Não para ver a verdade,
Mas quem nunca fui, afinal.
Eu não troco mais de máscaras...
Eu não quero mais brincar...
Eu apenas cansei de ser. Eu. //
O que ficou
Na borda do copo, o batom
Na xícara suja, o café
No quarto, a cama desarrumada
No banheiro, a toalha jogada
E na vida, o sofisma
Dos argumentos
Que tentam explicar porque você se foi
Na memória a imagem onírica
da mulher metade real metade Afrodite
Cuja extrema força não foi capaz
De sustentar a minha fraqueza
Ficou também o perfume, o beijo e o sorriso cortante
Presos numa delicada bolha de sabão
Vagando ao sabor do vento
Que vai estourar ao toque do copo
Da xícara
Da cama
Ou mesmo com o carinho da minha mão
Um pequeno universo que não aceita proteção. //
Memórias
Mantenho as memórias limpas e organizadas em caixinhas de papel.
Separadas por cor, cheiro, tamanho, sensações, textura e data.
Memórias do passado e do futuro, porque as do presente não existem.
Só existe o que é história ou o que é sonho.
Esse átimo que se chama presente está sempre com um pé no que se foi
ou no que virá.
Outro dia procurei a memória do dia em que nos conhecemos, mas a
caixa estava vazia.
Fui encontra-la na mesma caixa do dia em que nos desconhecemos
(algumas memórias têm vontade própria).
Voltei ela pro lugar.
Espero que ela continue junto das caixas do cheiro bom, sorriso farto,
frio na barriga e palpitação //.
• • •
a estrela indecisa
o sol assedia
a estrela dá trela
mas dorme com a lua
quando finda o dia //
• • • • •
a mesma lesma
a lesma lenta
ou a lesma lerda
é a mesma coisa
a mesma merda //
• • • • • • • • •
Quem me dera ser Manoel
Para amanhecer passarinho
E desentortar o dia
Caminhar pelo tempo
Com sopa de letras na cabeça
Preocupado com o cu da formiga
Nada mais que isso
Manoel me abisma //
Prefiro as tangentes. As paralelas nunca se beijam. Nunca se encontram............................................... Nunca se encontram................................................ //
Sai de mim poesia, que hoje não te aguento.Bate outro dia.