entrevista - joão dantas

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Sou seu João Dantas, cenógrafo, poeta, ex- ator e diretor teatral. Esse Sítio do São João é um trabalho de reminiscência cenográfica ... faço-o para resgatar imagens que o próprio homem se encarrega de destruir. Você encontra aqui uma condensação das expressões nordestinas, surgidas, principalmente, do contato entre índios, ibéricos e africanos. Tento resumi-las de maneira que possa agradar aos olhos de quem veja. Assim, mesmo a criança que nunca foi na roça, que não conhece o repente, conhecerá essa cultura e poderá se reconhecer nela. Esse trabalho de reconhecimento tem de ser feito com singeleza. Primeiro, temos que mostrar que a cultura popular representa um momento passado que se prolonga até os dias atuais, dialogando com novos momentos. O momento do forró eletrônico, por exemplo, não deve ser criticado sem argumentos. Precisa ser respeitado, estudado, entendido. No futuro, ele também vai ser chamado de cultura popular, de tradição. Não existe sentença inteligível para descrever a ligação com a cultura nordestina. Quando tento explicar, lembro dos passeios a cavalo, dos aboios. Aparentes banalidades formaram minha ligação com o nordeste. São pequenezas que se tornam massa sentimental que ultrapassa nossa própria compreensão. Este é o amor pela cultura popular.

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Entrevista ao curador do Sítio São João, João Dantas. O Sítio é montado durante o Maior São João do Mundo e remonta a uma residência dos anos 40, do século XX.

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Page 1: Entrevista - João Dantas

Sou seu João Dantas, cenógrafo, poeta, ex-

ator e diretor teatral. Esse Sítio do

São João é um trabalho de reminiscência cenográfica ...

faço-o para resgatar imagens que o próprio homem se encarrega de

destruir.

Você encontra aqui uma condensação das

expressões nordestinas, surgidas,

principalmente, do contato entre índios, ibéricos e africanos. Tento resumi-las de maneira que possa

agradar aos olhos de quem veja.

Assim, mesmo a criança que nunca foi na roça, que não

conhece o repente, conhecerá essa cultura e poderá se

reconhecer nela.

Esse trabalho de reconhecimento tem de ser feito com singeleza.

Primeiro, temos que mostrar que a cultura popular representa um

momento passado que se prolonga até os dias atuais, dialogando com

novos momentos.

O momento do forró eletrônico, por exemplo, não deve ser criticado

sem argumentos. Precisa ser respeitado, estudado, entendido. No futuro, ele também vai ser chamado de cultura popular, de tradição. Não existe sentença

inteligível para descrever a ligação

com a cultura nordestina.

Quando tento explicar, lembro dos passeios a

cavalo, dos aboios. Aparentes

banalidades formaram minha ligação com o nordeste. São

pequenezas que se tornam massa

sentimental que ultrapassa nossa

própria compreensão. Este

é o amor pela cultura popular.