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1 Entre Humanos e Dragões - O Cavaleiro das Chamas - V. H. Rezende

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Entre Humanos e Dragões - O Cavaleiro das Chamas -

V. H. Rezende

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Foi uma longa jornada até a conclusão deste livro. Várias pessoas me

ajudaram no caminho. Algumas ainda estão próximas, outras, nem

tanto. Agradeço especialmente ao meu amigo Marcelo Felipe, pela

capa que desenhou e pelos inúmeros conselhos, e ao meu irmão

Fernando Henrique, que me auxiliou na última revisão. Aos demais,

peço perdão por não tê-los mencionado, mas saibam que nunca

esquecerei a ajuda para tornar este sonho realidade.

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Amuleto do Sol ___________________________ 4

La Parti ________________________________ 36

Unicórnio Negro _________________________ 65

Sob o Céu Estrelado ______________________ 77

Coração Corrompido _____________________ 83

Convocação_____________________________ 87

Quando a Morte Bate à Porta ______________ 97

Hórus _________________________________ 105

Mapa de Jade __________________________ 112

Dragões _______________________________ 119

Ceifadora de Almas _____________________ 123

Elemental _____________________________ 131

Maleyk _______________________________ 147

Kalgovor ______________________________ 163

Poder Interior __________________________ 174

Primeira Batalha _______________________ 191

Verdadeira Magia ______________________ 199

Poder Máximo _________________________ 209

O Cavaleiro das Chamas _________________ 212

Epílogo _______________________________ 218

Raças de Dragões _______________________ 219

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Capítulo I

AMULETO DO SOL

A joia repousava sobre sua mão. Podia sentir a energia pulsando de

seu interior, um poder tão grande que o deixava sem ar. Observou seus

companheiros; eles o encaravam com preocupação, esperando o veredito

final.

– Finalmente conseguimos – disse Lauro. – Criamos a arma mais

poderosa do mundo!

– Mas será o suficiente? – questionou Avar.

Lauro fitou novamente a joia. Não precisava dizer nada, todos já

sabiam a resposta. O amuleto era poderoso, muito poderoso, mas ainda

assim não era nada se comparado ao que eles haviam sentido naquele dia.

– Talvez se nós…

– É inútil! – Salun o interrompeu. – Não há como superar aquilo!

Estamos fadados ao fracasso.

– Então você quer desistir?! Nós somos a última esperança desse

mundo! Você também sentiu aquele poder. Algo como aquilo não pode

simplesmente desaparecer! Um dia, o que quer que seja aquela coisa, ela

irá voltar. Todos vocês sabem disso. Os próprios dragões sabiam disso e

sacrificaram suas vidas por essa causa! E justo agora, que podemos ter uma

chance, você vai desistir?!

Lauro observou seus companheiros. Podia perceber o medo nos

olhos de cada um, mas eles não desistiriam, não seriam capazes disso!

Bastava que se lembrassem daquele poder para o desespero tomar seus

corpos.

– Então o que… o que vamos fazer? – Avar perguntou.

– Ainda temos muita energia dos Dragões Mestres armazenada.

Vamos usá-la para forjar mais amuletos.

– Quantos amuletos? – disse Salun.

– Quantos forem necessários!

– E se a energia não for o suficiente?

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– Então nós conseguiremos mais dragões! Mesmo que tenhamos de

matar todos eles, nós iremos vencer aquela coisa!

– E como essa joia se chamava?

– Amuleto do Sol.

– Já ouvi algumas pessoas conversando sobre ela, mas cada um diz

uma coisa diferente. Só sei que é uma história sobre feiticeiros e dragões.

– A maioria não a conhece direito, por isso acabam inventando

algumas partes.

– E o senhor conhece?

– Claro que sim. Como eu disse antes, o Amuleto do Sol é uma joia

que foi criada há muito tempo por um grupo de feiticeiros. Ela possui esse

nome pois emana um intenso brilho ao ser utilizada, como um pedaço do

sol que caiu na Terra. Mas isso não é tudo que o amuleto faz, ele também

permite que uma pessoa comum, como eu ou você, tenha os mesmos

poderes de um Dragão Mestre, a raça mais poderosa de dragões que já

existiu.

– O poder de um dragão?!

– Sim, mas infelizmente, após terminarem sua criação, o grupo de

feiticeiros decidiu que ninguém poderia usá-lo. Eles diziam que seu poder

era muito grande.

– Por quê? Algo tão poderoso poderia ajudar muitas pessoas!

– Sim, sim, mas e se ele caísse nas mãos erradas? Ninguém seria

capaz de parar quem tivesse todo esse poder.

Adam, o jovem que ouvia a história, refletiu sobre aquilo. Pensou

que bastaria entregá -lo para alguém de confiança, afinal nem todas as

pessoas eram más, mas sabia que seu avô teria uma boa resposta se ele

falasse isso.

– E o que eles fizeram com o amuleto? – perguntou por fim.

– A notícia do Amuleto do Sol se espalhou rapidamente. O grupo

que o criou ficou conhecido por Feiticeiros Solares e eles receberam várias

propostas e ameaças de pessoas que o queriam para si. Até o próprio rei

exigiu que a joia fosse entregue a ele.

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– O rei? Então eles tiveram que entregar.

O avô de Adam deu uma pausa para fumar seu cachimbo.

– Estava complicado para eles – continuou –, mas continuavam se

recusando a entrega-lo, mesmo sob uma ordem real. A situação saiu do

controle quando soldados foram mandados para captura-los. Para escapar

das exigências, os Feiticeiros Solares se refugiaram no Castelo Sankta

Lumo, uma enorme fortaleza que pertencia a um deles, e ficaram

escondidos ali por várias semanas. Até que, certa noite, uma enorme

explosão atingiu o lugar, destruindo o castelo e matando todos.

– Nossa! – o jovem exclamou assustado.

– Muitos dizem que os feiticeiros batalharam entre si para decidir

quem ficaria com o amuleto e acabaram se matando, mas eu não acredito

que esse tenha sido o motivo da explosão.

– Então o que aconteceu?

– Alguns moradores de uma vila próxima disseram que o castelo

não havia sido tomado por chamas, mas apenas por luz – o avô se

aproximou do garoto enquanto sorria. – Uma luz tão intensa que

transformou a noite em dia.

– O Amuleto do Sol?! – o jovem disse surpreso.

– Não há como saber se foi realmente o amuleto. A explosão

transformou todo o castelo em pó, apenas as armas dos feiticeiros

resistiram. Elas deviam estar sendo protegidas por algum feitiço.

Eles ficaram alguns segundos em silêncio, pensando sobre aquilo.

O jovem tinha certeza que havia sido o amuleto, afinal todos os fatos

levavam a essa conclusão. Olhou para seu avô, que o observava com um

sorriso. Não gostava quando ele sorria daquela maneira, pois seu rosto se

enchia de rugas, mostrando o quão velho ele era. Isso o lembrava que ele

não iria viver para sempre, e não gostava de pensar nisso.

– Essa foi uma incrível história – disse por fim.

– Eu não disse que ela acabou.

– Não? Mas os feiticeiros não morreram?

– Isso é o que as outras pessoas acham que aconteceu, mas eu vou

te contar uma parte da história que apenas nossa família conhece. O seu

decavô, Lauro Mendric, era um dos Feiticeiros Solares. Ele ajudou a criar

o Amuleto do Sol.

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Adam ficou confuso. Agora sua família também estava na história?

– Ele ajudou a criar o Amuleto do Sol?

– Sim. Após a explosão do castelo todos acharam que ele havia

morrido com os outros, mas algum tempo depois ele surgiu na porta de sua

casa. Suas roupas estavam em farrapos e seu corpo repleto de queimaduras.

Seus cabelos também foram queimados e seu rosto estava desfigurado, mas

sua mulher, Jillian, e seu filho, Dorean, o reconheceram.

– Ele conseguiu se recuperar?

– Infelizmente, não. Estava muito ferido e só o fato de ter

conseguido chegar até ali era um milagre. Lauro ficou vivo por apenas

algumas horas, e durante esse tempo ele contou para sua mulher o que os

Feiticeiros Solares realmente estavam fazendo no Castelo Sankta Lumo. –

o avô fez uma pausa para fumar do cachimbo – Ele disse que eles estavam

tentando criar um segundo Amuleto do Sol, mas algo deu errado no

processo e a joia explodiu.

Adam se esforçava para compreender tudo. Eram informações

demais.

– E esse é o fim da história – seu avô concluiu.

– O quê? Não pode ser! Tantas coisas não fazem sentido. Se eles

não queriam que ninguém usasse o amuleto, por que tentariam criar outro?

E como Lauro sobreviveu à explosão? Ela não destruiu o castelo?!

– Temo que essas perguntas não possam ser respondidas…

– Deve haver um jeito de saber o que aconteceu – disse o jovem. –

Talvez um dia possamos ir até esse castelo e ver se sobrou alguma pista ali.

O avô sorriu. Adam costumava fazer vários planos como aquele, a

maioria incluindo viagens a lugares distantes, mas sempre se esquecia no

dia seguinte.

– Isso foi há quase duzentos anos – disse o avô. – Muitos de nossa

família já tentaram descobrir o que aconteceu, mas nenhum deles

conseguiu. De qualquer maneira, se você realmente deseja investigar, já sei

o que vou te dar de presente.

– Meu presente de aniversário?! – o jovem disse empolgado.

– Claro, só se faz dezesseis anos uma vez, mas por enquanto é uma

surpresa. Amanhã, quando você voltar do trabalho, saberá o que é.

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Aquela conversa animara bastante o garoto, mas duvidava de sua

veracidade. Sua família estar ligado àquilo era muita coincidência. Além

disso seu avô costumava exagerar em suas histórias, ele dizia que as

deixava “mais interessantes”. Pensaria melhor sobre aquilo no outro dia.

Estava cansado e precisava acordar cedo.

Aquele era um ritual antigo entre ele e seu avô. Toda noite após o

jantar acendiam a lareira e se sentavam em frente a ela, onde trocavam

histórias até a hora de dormir.

Adam adorava aquilo; era seu momento preferido do dia. A lenta

voz de seu avô se unia ao crepitar da madeira queimando, criando uma

sensação que o confortava. E o toque final era a fumaça inalada do

cachimbo; seu odor suave de tabaco sempre o acalmava. Quando era

pequeno mal conseguia suportar aquele cheiro, mas com o tempo foi se

acostumando, até que aprendeu a gostar.

– Eu já vou me deitar – disse enquanto se espreguiçava.

– Também já estou indo; o dia foi muito longo.

Seu avô o beijou na testa, como sempre fazia, e cada um se

recolheu em seus quartos.

No outro dia, Adam acordou antes de seu avô e se aprontou

rapidamente; bebeu um copo de leite, comeu um pedaço de pão e foi para o

Luz de Cristal, a estalagem onde servia como ajudante. Seu avô tinha

condição de sustentá-lo, mas o colocou para trabalhar para que não ficasse

ocioso. No começo o jovem se recusou, mas com o tempo acabou

acostumando.

Era um serviço cansativo, ele tinha que fazer tudo que mandavam:

lavava os talheres, limpava o chão, as latrinas, carregava malas de

hóspedes e chegou até a tratar de alguns cavalos na estrebaria. Mesmo

assim não reclamava já que trabalhava por apenas algumas horas, embora

tivessem aumentado sua carga horária nos últimos dias devido ao La Parti,

um grande evento.

O mundo era dividido em dois grandes reinos, um onde viviam os

humanos e outro onde habitava os dragões. A cada cinco anos, os reis de

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cada um deles se encontravam para assinar um tratado de paz, garantindo

que nunca guerreassem entre si. Aproveitando essa ocasião, humanos e

dragões se reuniam para fazer uma grande festa, chamada La Parti.

Neste ano, os reis se encontrariam em Azaran, a capital do reino

humano e a cidade onde Adam morava. Como faltavam apenas dois dias

para o evento, a cidade estava lotada com pessoas de várias partes do reino,

e o Luz de Cristal, sendo um lugar bastante procurado para hospedagem,

estava mais movimentado do que nunca, mais um motivo para Adam não

se atrasar.

Ele corria ferozmente pelas ruas da cidade, pois não queria levar

nenhuma bronca do gerente da hospedaria. Os últimos dias estavam sendo

infernais para ele: além de trabalhar por mais tempo, os outros funcionários

o perseguiam sem parar, mandando-o fazer isso ou aquilo. Mesmo

revoltado, não reclamava e procurava fazer tudo que lhe era imposto, afinal

seu pagamento faria valer a pena.

A hospedaria era próxima ao palácio real e Adam pôde contemplar

seus muros rapidamente enquanto dobrava uma esquina. Eram enormes,

quase do tamanho das muralhas que protegiam a cidade, e soldados

vigiavam os portões dia e noite. Ele já tinha ouvido falar que lá dentro era

lindo, com jardins floridos e estátuas de metais preciosos, mas diziam que

nada se comparava ao trono do rei.

Ele nunca entrara no palácio, e provavelmente nunca entraria, já

que apenas nobres eram permitidos em seu interior. Se algum plebeu

requeria uma audiência, era atendido pelos intendentes da cidade, homens

encarregados de governá-la enquanto Sua Majestade se preocupava com o

resto do reino. Seu avô não era pobre, em seu tempo de juventude foi um

talentoso Capitão do exército. Como recompensa por seus serviços

honrosos, o rei lhe forneceu um salário vitalício, para que custeasse suas

necessidades, mas nunca recebeu nenhum título de nobreza.

Adam finalmente chegou ao Luz de Cristal, passando por suas

portas e adentrando o hall. Era uma construção enorme e luxuosa, com

cinco andares e vinte quartos. No hall não era diferente: seu piso de

cerâmica branca estava sempre limpo, havia um balcão de pedra instalado

no centro e várias decorações, como estátuas de mármore, vasos de plantas

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e belíssimos quadros, mostrando o gosto requintado do dono. Não era à toa

que ali só fossem aceitos nobres e ricos comerciantes.

De todos os quadros, os preferidos de Adam eram os que

mostravam o mar, com aquela imensidão de água e as belas criaturas que

nela habitavam. Polvos gigantes, sereias, baleias e diversas outras que ele

não sabia o nome. Sempre que os via, o garoto prometia a si mesmo que

um dia iria até lá. Talvez fosse até a Ponte Quebrada, uma enorme

construção erguida há muito tempo, numa tentativa de chegar no outro lado

do mar, mas que nunca foi terminada. Agora ela era habitada por bandidos

e monstros que saíam da água. Dizem que ao chegar ao final da ponte, é

possível enxergar o que há do outro lado do mar, por isso ela se tornou um

destino quase obrigatório para todos os aventureiros, onde eles testavam

suas habilidades contra os monstros e foras da lei para tentar chegar ao

final. Adam não era burro e sabia que se fosse até lá morreria antes mesmo

de tocar os pés na ponte, por isso planejava aprender a lutar antes de

começar essa jornada. Outro motivo que o fez se apaixonar pelo mar foram

as histórias que seu avô lhe contou sobre navios que partiram oceano

adentro em busca do desconhecido, mas que nunca voltaram. Talvez ao

chegarem no final do oceano se depararam com monstros marinhos, ou

pior, a maioria das pessoas acreditava que ali existia uma porta para o

mundo dos mortos, onde ninguém que entra consegue retornar.

O gerente do hotel estava escorado no balcão do hall conversando

com a recepcionista, uma linda garota com quem Adam nunca teve

coragem de conversar. O gerente era um homem baixo e careca, com uma

barriga que o deixava semelhante a um ovo. Usava um belo uniforme azul

com detalhes em fios de ouro, enquanto o de Adam era vermelho e

simples. Ao se aproximar, o garoto reparou que havia mais hóspedes

andando por ali do que no dia anterior, o que significaria mais trabalho.

– Adam, bem na hora – disse o gerente.

O garoto não gostava muito dele, havia alguma coisa em seu tom de

voz que o fazia se sentir como uma criança. Mas talvez fosse só impressão

sua, então sempre evitava qualquer grosseria.

– Vim o mais rápido que pude – Adam disse com um sorriso

forçado.

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– Você levará aquele dragão para o quarto 17 – ele disse enquanto

apontava para uma das escadas que levava aos andares superiores.

Adam estranhou ouvir a palavra “dragão” e observou o hóspede.

Havia visto outras criaturas semelhantes na última semana, mas não sabia o

que eram até então. Ele se parecia com um humano, mas seu corpo estava

coberto por escamas e um par de chifres decorava sua cabeça substituindo

seus cabelos. Garras enormes brotavam de seus dedos e, embora não

possuísse asas, uma enorme cauda descia até seus tornozelos.

Realmente lembrava um dragão, mas por motivos óbvios não podia

ser um! Talvez fosse o resultado de alguma mistura de raças ou algum

parente draconídio. Mil teorias surgiram em sua mente, mas todas

pareciam impossíveis.

– O que ele é? Um mestiço de humano e dragão? – resolveu

perguntar.

– Há! Há! Há! Não, não. Esse é o efeito de uma poção que eles

tomam. Ela é bem famosa, é incrível que você não a conheça. Após ingeri-

la, os dragões conseguem mudar sua forma para ficar parecidos com os

humanos. O nome dela é Dumo-Draco e é realmente muito útil, pois agora

eles podem andar tranquilamente em locais feitos para humanos, como o

Luz de Cristal. Algumas pessoas ainda são contra isso, mas enquanto

estiver ajudando nos negócios, os dragões têm todo o meu apoio.

– Eles podem aumentar de tamanho depois?

– Acho que sim. Após tomar a poção eles podem trocar de forma

sempre que quiserem.

– Nossa…!

– Depois você pode perguntar a um dragão sobre ela, eles devem

saber mais do que eu, mas agora você precisa acompanhá-lo até o quarto.

– Está bem – ele disse enquanto andava até o hóspede.

Após terminar seu expediente, Adam voltou para casa o mais

rápido que pôde. Mal podia esperar para ver seu presente.

– Feliz aniversário, Adam! – seu avô lhe disse assim que ele passou

pela porta. – Eu preparei um jantar especial para você!

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– Obrigado! – disse o garoto.

Os dois foram para a sala de jantar, onde seu avô começou a

organizar algumas panelas fumegantes sobre a bela mesa no centro do

cômodo. Embora já fosse bem velho, o avô do garoto conseguia cumprir as

atividades domésticas sem nenhuma dificuldade.

– Hoje eu vi um dragão com o corpo igual ao de uma pessoa –

Adam disse enquanto seu avô tirava as tampas das panelas.

Havia vários tipos de alimento, desde um frango assado até uma

sopa de peixe com vegetais. Era realmente um dia especial, nem sempre

podiam ter tantas variedades de comida sobre a mesa.

– Como assim? Em toda minha vida os únicos dragões que vi eram

criaturas gigantescas.

– Eu também pensei isso, mas eles podem mudar de forma por

causa de uma poção. O nome dela é Dumo-Draco e parece que já é bem

famosa – disse enquanto colocava um pouco da sopa em um prato de

alumínio.

– Que estranho. Essa poção se parece com um feitiço de

transformação – seu avô disse enquanto também pegava um pouco de sopa.

– Feitiço de transformação?

– Sim. Para ficar com a aparência de outra pessoa, um feiticeiro

precisa ingerir o sangue dela, assim ele pode transformar seu corpo por

algum tempo. Essa poção parece fazer a mesma coisa.

– Mas se eles só precisarem beber um pouco de sangue, acho que

não tem problema.

– A quantidade varia de acordo com o tamanho de quem está

realizando o feitiço. Os dragões são criaturas mágicas, então eu acredito

que eles também poderiam fazer isso, mas seria necessário beber todo o

sangue de uma pessoa.

– Então eles iriam matá-la!

Seu avô concordou com a cabeça enquanto retirava uma espinha de

peixe da boca. Adam continuou:

– Mas, espera aí! A poção Dumo-Draco não pode ser um feitiço de

transformação. Os dragões não ficam “igual” uma pessoa, só ficam

parecidos. Além disso, eles podem mudar de forma sempre que quiserem,

enquanto o feitiço só funciona uma vez, certo?

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– Uhum. Para se transformar de novo seria necessário tomar mais

sangue, o que seria impossível, já que eles teriam bebido até a última gota.

O único jeito seria se eles matassem outra pessoa.

– Então se a poção fosse feita de sangue, já teriam várias pessoas

mortas.

Seu avô concordou e eles continuaram a refeição em silêncio.

Adam não pensava em outra coisa, mas não conseguia desvendar o

mistério daquela poção. Ele odiava o fato de que no mundo havia mais

perguntas do que respostas.

– O senhor sabe muito sobre magia – disse por fim.

– São apenas coisas que aprendi com a vida – o avô disse com um

sorriso.

Enquanto Adam tentava inutilmente entender aquilo, seu avô

refletia sobre como as coisas, inclusive a magia, costumavam ser mais

simples na sua juventude.

– Onde estão meus presentes? – O garoto perguntou algum tempo

depois.

– Termine de comer primeiro – disse seu avô.

– Já terminei – ele falou enquanto mostrava o prato vazio.

– Eles estão no seu quarto. Vamos até lá, também já terminei.

O garoto e seu avô se levantaram e foram até o outro cômodo. A

casa deles era grande e, mesmo que não possuísse o luxo das mansões dos

nobres, proporcionava conforto mais que suficiente para os dois. Com o

quarto de Adam não era diferente, as paredes brancas tinham sido pintadas

recentemente, havia uma cama com um colchão e um travesseiro bem

macio, um espelho pregado na parede e um guarda-roupa de mogno que,

mesmo abrigando todos os pertences do garoto, ainda deixava alguns

compartimentos vazios.

Em cima da cama havia três presentes embrulhados. Adam pegou o

primeiro e rasgou o papel que o cobria, revelando um sobretudo preto do

seu tamanho. Era simples, sem nenhum detalhe, com exceção de alguns

botões prateados. Seu tecido parecia ser confortável e poderia esquentá-lo

nos períodos de frio.

– Esse é meu, achei que combinava com você – disse seu avô.

– Obrigado – disse o garoto.

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Adam ficou chateado pelo suspense que seu avô criara no outro dia,

achou que seu presente seria algo melhor, mas seria falta de educação

reclamar. Ele dobrou a peça de roupa e a colocou em um canto afastado

para evitar que a amassassem por acidente.

– De quem é esse? – perguntou enquanto pegava um presente no

formato de cubo.

– É do seu irmão. Um mensageiro o trouxe hoje de manhã.

– Meu irmão? Já faz tanto tempo que ele não nos manda nada.

– Sem falar que ele conseguiu lembrar do seu aniversário. Quando

vocês eram pequenos ele sempre se esquecia, o que te deixava muito

nervoso – seu avô disse com uma gargalhada.

– Eu acho que ele se lembrava, mas fingia que esquecia para me

irritar – Adam falou enquanto rasgava o papel, revelando uma caixa de

madeira negra.

Com um pouco de esforço ele a abriu, expondo um pequeno baú

cinza com detalhes prateados. Pêlos de algum animal o ornamentavam,

dando uma aparência selvagem. O garoto tentou abri-lo mas não conseguiu

e, após analisar o objeto, percebeu que não havia nenhuma tranca.

– Se não está trancado, por que não abre?

– Pode desistir. Esse é um Baú Peregrino, ele foi criado por uma

raça de criaturas mágicas, os Lobos Peregrinos.

O garoto olhou para seu avô com um sorriso malicioso; ele não era

tão inocente para cair naquela história.

– Lobos construíram um baú?! – disse em tom de deboche.

– Eles são diferentes de animais comuns. Os Lobos Peregrinos

conseguem pensar e falar como nós, além de possuírem poderes mágicos –

Seu avô fez uma pausa enquanto se sentava na cama. – Além disso, eles

também têm o costume de roubar pedras preciosas, não me pergunte o

porquê, já que não podem vendê-las. Esses bastardos já foram vistos em

várias partes do mundo, andando sempre em bandos. Na Noite Vermelha

todos eles se reúnem para escolher aquele que irá liderá-los. Quem tiver

roubado o item de maior valor se torna o líder.

– Mas como eu o abro? – Adam disse enquanto tentava mover a

tampa do pequeno baú.

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– Os lobos usam os baús para guardar o que roubaram. Não há

como abri-los à força. Na próxima Noite Vermelha ele vai abrir sozinho.

O garoto analisou novamente o baú enquanto tentava definir se

aquilo era verdade ou não.

– Seu irmão deve ser muito talentoso para ter conseguido pegar um

baú dos Lobos Peregrinos – disse seu avô.

– Mas ninguém sabe quando será a próxima Noite Vermelha! Meu

irmão deve ter feito isso de propósito. Quando se lembra do meu

aniversário, manda um presente inútil!

A Noite Vermelha era um estranho evento que acontecia a cada três

ou quatro anos, onde todo o céu ficava rubro e os feiticeiros se reuniam

para fazer rituais, pois diziam que sua magia se potencializava. A última

aconteceu há alguns anos, e ele não sabia quando iria ter outra.

– Não diga isso, se o que estiver aí dentro for muito precioso, talvez

você nunca mais precise trabalhar! – disse seu avô.

O garoto analisou novamente o pequeno baú. Seria realmente

verdade que ali dentro estaria algo de grande valor? Talvez um diamante,

um rubi, ou aquela pedra azul… qual era mesmo o nome dela? Não se

lembrava, mas já a vira numa pintura, e parecia ser tão bela…

– Guarde-o – disse seu avô. – Quando a Noite Vermelha chegar

você saberá o que há dentro.

Ele colocou o baú em um dos compartimentos do guarda-roupa e

pegou o último presente.

– Este é dos seus pais. Também chegou hoje e veio um bilhete junto

com ele – seu avô disse enquanto apontava para um envelope escondido

embaixo do embrulho.

Adam o pegou e leu:

“ Feliz aniversário, Adam! Você já está fazendo 16 anos... como o

tempo passa rápido! Nós compramos esse presente pois sabemos o quanto

você gosta de objetos mágicos. Cuide bem dela.

Com amor, papai e mamãe. ”

Os pais de Adam eram agricultores que moravam na Vila dos

Cravos, na província de Trana. Quando ele tinha apenas quatro anos eles o