engels e a educaÇÃo fÍsica. pr. - uel.br download/documentos... · resumo projeto de iniciação...

4
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. A CRÍTICA DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO NA OBRA DE MARX E ENGELS E A EDUCAÇÃO FÍSICA. Victor Renato Gutman (PIBIC/Araucária-UEL) Elza Margarida de Mendonça Peixoto (Orientador), e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/Grupo de Estudos e Pesquisas Marxismo, História, Tempo Livre e Educação – MHTLE – EMH/CEFE/UEL - PR. 4.Ciências da Saúde – 4.09.00.00-2 Educação Física. Palavras-chave: Educação. Capitalismo. Crítica. MARX, Karl Heinrich. ENGELS, Friedrich. Resumo Projeto de Iniciação Científica que teve como objetivo analisar como Marx e Engels, na crítica ao modo capitalista de produção da existência que fizeram no conjunto de sua obra, explicaram o papel histórico da educação e da educação física verificando a atualidade destas explicações. Reconhecida sua atualidade, pretende-se refletir sobre as possibilidades que estas críticas trazem para a elaboração de uma proposta de ensino de educação física na perspectiva histórico-crítica. Introdução No processo de estruturação de sua obra, e da “crítica a tudo o que há”, Marx e Engels realizaram a crítica de conjunto ao modo capitalista de produção, assumindo centralidade a crítica do processo e das condições de trabalho a que estava submetida a classe trabalhadora, assim como do processo de sua formação. Nesta crítica vão delineando concepções de educação e de ensino nas quais estão presentes concepções de educação física. Neste estudo, pergunta-mo-nos como Marx e Engels explicaram o papel histórico da educação e da educação física? Estas explicações continuam atuais? Oferecem argumentos e referenciais para a estruturação de uma pedagogia histórico-crítica? Estas foram as questões que nortearam este projeto de Iniciação Científica, que partiu da coletânea Crítica da Educação e do Ensino, estruturada por Roger Dangeville, que reúne passagens da obra de Marx e Engels que tratam da problemática da formação no modo capitalista de produção. Materiais e métodos A localização da obra Marx e Engels: crítica da educação e do ensino, de

Upload: lymien

Post on 23-May-2018

216 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: ENGELS E A EDUCAÇÃO FÍSICA. PR. - uel.br download/documentos... · Resumo Projeto de Iniciação ... assumindo centralidade a crítica do processo e das condições de trabalho

Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.

A CRÍTICA DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO NA OBRA DE MARX E ENGELS E A EDUCAÇÃO FÍSICA.

Victor Renato Gutman (PIBIC/Araucária-UEL)

Elza Margarida de Mendonça Peixoto (Orientador), e-mail: [email protected]

Universidade Estadual de Londrina/Grupo de Estudos e Pesquisas

Marxismo, História, Tempo Livre e Educação – MHTLE – EMH/CEFE/UEL - PR.

4.Ciências da Saúde – 4.09.00.00-2 Educação Física. Palavras-chave: Educação. Capitalismo. Crítica. MARX, Karl Heinrich. ENGELS, Friedrich.

Resumo

Projeto de Iniciação Científica que teve como objetivo analisar como Marx e Engels, na crítica ao modo capitalista de produção da existência que fizeram no conjunto de sua obra, explicaram o papel histórico da educação e da educação física verificando a atualidade destas explicações. Reconhecida sua atualidade, pretende-se refletir sobre as possibilidades que estas críticas trazem para a elaboração de uma proposta de ensino de educação física na perspectiva histórico-crítica.

Introdução

No processo de estruturação de sua obra, e da “crítica a tudo o que há”, Marx e Engels realizaram a crítica de conjunto ao modo capitalista de produção, assumindo centralidade a crítica do processo e das condições de trabalho a que estava submetida a classe trabalhadora, assim como do processo de sua formação. Nesta crítica vão delineando concepções de educação e de ensino nas quais estão presentes concepções de educação física. Neste estudo, pergunta-mo-nos como Marx e Engels explicaram o papel histórico da educação e da educação física? Estas explicações continuam atuais? Oferecem argumentos e referenciais para a estruturação de uma pedagogia histórico-crítica? Estas foram as questões que nortearam este projeto de Iniciação Científica, que partiu da coletânea Crítica da Educação e do Ensino, estruturada por Roger Dangeville, que reúne passagens da obra de Marx e Engels que tratam da problemática da formação no modo capitalista de produção.

Materiais e métodos

A localização da obra Marx e Engels: crítica da educação e do ensino, de

Page 2: ENGELS E A EDUCAÇÃO FÍSICA. PR. - uel.br download/documentos... · Resumo Projeto de Iniciação ... assumindo centralidade a crítica do processo e das condições de trabalho

Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.

Roger Dangeville, viabiliza o estudo sistemático e orientado de obras específicas do conjunto da vasta obra de Marx e Engels, voltadas à discussão da problemática da educação/educação física. O estudo sistemático da concepção de educação/educação física presente na obra de Marx e Engels, pediu (1) Leitura sistemática da obra de Roger Dangeville, Marx e Engels: crítica da educação e do ensino; (2) Fichamento da leitura, com destaque inicial para o registro das passagens das obras de Marx e Engels que aludem à educação/educação física referidas por Roger Dangeville; (3) Localização das passagens referidas por Dangeville nas versões para a língua portuguesa da obra de Marx e Engels, com o apoio de especialistas para a localização das obras de difícil acesso; (4) Leitura de conjunto das obras que tiverem passagens transcritas por Dangeville, com a finalidade de reconhecer a crítica da educação e do ensino no contexto em que é produzida; (5) Sistematização dos resultados.

Resultados e Discussão

O Texto de Dangeville está estruturado em uma Apresentação (O processo de alienação crescente, p. 7-49) escrita pelo autor, e três partes (Crítica do ensino burguês, p. 51-130; O proletariado, a cultura e a ciência – p. 131-193; Formação intelectual dos trabalhadores, p. 195-254) contendo citações e extratos das obras (1) De Marx: A guerra civil em França (1871); As lutas de classe em França (1850); Capítulo VI Inédito de O capital; Crítica à filosofia do direito de Hegel (1843); Crítica ao programa de Gotha (1875); Fundamentos da crítica da economia política (1859); Grundrisse (1857-1858); Manuscritos parisienses (1844); Mensagem inaugural da Associação Internacional dos Trabalhadores; Miséria da filosofia (1947); O 18 de Brumário de Luiz Bonaparte (1852); O capital (1867); Os debates na VI sessão da Dieta Renana; Reflexões de um jovem ao eleger a profissão; Salário, Preço e Lucro (1865); Teorias sobre a mais valia (1861-1879); Teses sobre Feuerbach (1845). (2) De Marx e Engels: A ideologia alemã (1845-1846); A sagrada família (1845). (3) De Engels: A condição da classe trabalhadora na Inglaterra (1845); A origem da família, da propriedade privada e do Estado (1884); Anti-Duhring (1977-1878); Dialética da Natureza (1878-1882); Do socialismo utópico ao socialismo científico; Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã (1886); O papel da violência na história (1887-1888); O papel do trabalho na transformação do macaco em homem (1876); O problema a habitação; Princípios do comunismo (1847). Cartas diversas entre os autores e outros interlocutores. Na apresentação, Dangeville destaca que a crítica da educação e do ensino produzida por Marx e Engels sublinha, a partir de critérios de classe, o falso caráter imparcial e objetivo nas instituições capitalistas, entre estas, as instituições educativas (p. 9). Dangeville vai recuperando as posições de Marx e Engels sobre a burguesia e o modo como se apropriando das forças produtivas e dos bens socialmente produzidos, entre estes, as ciências e as artes, converte-se em poder dominante, produzindo estruturas e instituições que devem garantir este poder. Esta condição vivida por burguesia e

Page 3: ENGELS E A EDUCAÇÃO FÍSICA. PR. - uel.br download/documentos... · Resumo Projeto de Iniciação ... assumindo centralidade a crítica do processo e das condições de trabalho

Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.

proletariado vem de um longo processo histórico de divisão social do trabalho necessário à produção da existência que leva à divisão do homem, à superespecialização e atrofia das demais potencialidades humanas. A divisão social do trabalho funda a divisão de classes e justifica-se pela necessidade de produção de bens que garantam a existência de todos os homens. Saber e compreender são potencialidades humanas desenvolvidas pela instrução (p. 11). A ciência é produzida no processo de trabalho imediato pelo trabalho social (p. 18) mas é apropriada e monopolizada pelo capital que, pela instrução, a devolve ao operariado apenas na dose necessária para que cumpra a parcela do trabalho especializado necessário à produção social do capital. A burguesia monopoliza, apropria e controla a parcela das ciências e das artes que retornará à classe trabalhadora (p. 24). Os princípios que sustentam as conclusões teóricas de Marx e Engels (1) são as condições materiais que formam a base de todas as manifestações intelectuais; (2) cada modo de produção produz idéias e saberes correspondentes ao estágio de desenvolvimento das forças produtivas; (3) a classe que dispõe dos meios de produção material, dispõe do meios de produção intelectual, controlando a distribuição deste saber a fim de garantir a manutenção do seu poder de classe (p. 23-25); a partir da estrutura econômica ergue-se uma super-estrutura jurídica e política que propaga os interesses da classe dominante, estando nesta esfera o Estado e a educação por ele controlada. A concepção de educação de Marx parte da crítica à divisão social do trabalho vigente no capitalismo em busca de uma educação que reúna e refunde ensino e produção, trabalho intelectual e trabalho manual (p. 31). Isto só é possível com uma revolução que altere as relações de produção e a base econômica eliminando a propriedade privada das coisas e das pessoas (p. 41). A “plena educação cultural das vastas massas não pode ser atingida na sociedade dividida em classes, mas apenas depois da revolução” entendida como um movimento prático (p. 33). Na crítica à educação capitalista “todo o sistema de ensino da sociedade capitalista assenta no racionalismo burguês, um idealismo ou iluminismo que esclarece os espíritos, a massa, a matéria”, estando no centro das escolas burguesas o princípio da revelação. Isto não é um acaso e um equívoco, é constitutivo da uma sociedade dividida em classes na qual o idealismo e a visão iluminista sustentam a estrutura econômica. Sob o capitalismo “a escola representa “uma arma poderosa de mistificação e de conservação” dando aos jovens uma educação “que os torna leais e resignados ao sistema atual”, reproduzindo para o futuro “as condições de saber e de ignorância”. É um molde que prepara para a fábrica e os escritórios, um instituto de treino para a prisão assalariada” (p. 33-38). “A ciência ociosa revelada nas escolas da burguesia é essencialmente abstrata, livresca, estando separada das condições materiais da produção da existência” (p. 40). Marx sugere uma educação em que ocorra a “ligação entre produção, exercício físico e intelectual” (p. 33-38). Condena a ilusão de promoção

Page 4: ENGELS E A EDUCAÇÃO FÍSICA. PR. - uel.br download/documentos... · Resumo Projeto de Iniciação ... assumindo centralidade a crítica do processo e das condições de trabalho

Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.

social veiculada pela escola, uma instituição que “afirma-se como um meio hipócrita de atribuir a mais-valia e o tempo livre a uns e o trabalho assalariado cego a outros”. A escola reforça a divisão social do trabalho e a apropriação privada do tempo livre – produzido pelo operário para a sociedade e concentrado pelo capitalista para o seu próprio livre desenvolvimento. “Graças ao ensino, pago pela mais-valia extorquida aos operários durante o tempo livre monopolizado pela classe privilegiada, o capitalista torna-se o homem social por excelência e representa a civilização (p. 39). A escola, então, “prepara os que exercerão as funções do capital para explorar as ciências e as artes acumuladas por todas as gerações do passado e do presente” de acordo com os interesses de acumulação da burguesia, distribuindo desigualmente um saber desmaterializado das condições objetivas que o produzem.

Conclusões

Marx e Engels operam uma inversão ao olhar primeiro para a classe que produz toda a existência social: a classe operária. No modo capitalista de produção, a classe que produz a existência está impedida de acesso integral aos bens que produziu (o tempo livre, as ciências, as artes). O conhecimento que produz no processo de trabalho é dele separado concentrando-se na figura do capitalista e da gerência científica. A superação desta situação só é possível em uma sociedade que superou a divisão social do trabalho, as classes, a apropriação privada dos meios de produção e dos bens socialmente produzidos por uma única classe. A sociedade coletivista, comunista, proporcionará condições que permitirão que a livre expansão de cada um leve ao desenvolvimento pleno de todos (p. 48-49). A instrução do futuro deve combinar o trabalho produtivo, a instrução e a ginástica, como o único método para produzir homens desenvolvidos em todos os sentidos (p. 204).

Referências

BOTTOMORE, Tom. Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. DANGEVILLE, Roger (Org.) Karl MARX e Friedrich ENGELS: Crítica da educação e do ensino (Introdução e notas de Roger Dangeville). Editora Moraes, s/d. ENGELS, Federico. Origem da família, da propriedade privada e do Estado. Completar referências ENGELS, Federico. Dialética da natureza. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. 238 p. MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política – o processo de produção do capital. Livro 1. Volume I. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. MARX, Karl. Manuscritos econômico filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2004 P. 79-90. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. Porto/ São Paulo: Editorial Presença/Livraria Martins Fontes, 1974. 2 v.