engajamento cÍvico e jornalismo colaborativo nas redes sociais

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E MARKETING EM MÍDIAS DIGITAIS MARIANA BUENO NETTO ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS RIO DE JANEIRO 2013

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Monografia apresentada como pré-requisito para a conclusão do curso de pós-graduação em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais, 2013.

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Page 1: ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E MARKETING EM

MÍDIAS DIGITAIS

MARIANA BUENO NETTO

ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO

COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS

RIO DE JANEIRO

2013

Page 2: ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS

MARIANA BUENO NETTO

ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO

COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS

Monografia apresentada como pré-requisito para a conclusão do curso de pós-graduação em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais da Universidade Estácio de Sá, sob a supervisão do professor Márcio Gonçalves.

RIO DE JANEIRO

2013

Page 3: ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS

AGRADECIMENTOS

Agradeço acima de tudo a Deus, pela vida;

Aos meus pais, por terem me proporcionaram as melhores oportunidades que

puderam;

Aos que conheci ao longo da minha caminhada, em especial aos que se tornaram

verdadeiros amigos, com os quais pude e posso contar nas horas boas e ruins;

Aos queridos colegas da pós-graduação, por transformarem as manhãs de sábado

em momentos de muita amizade e diversão;

Às redes sociais, que me possibilitam o contato com os que não estão próximos

geograficamente;

E aos meus anjos da guarda, pela proteção constante.

Page 4: ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS

RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo principal analisar o papel desempenhado

pelas redes sociais no engajamento e na mobilização das pessoas que foram às

ruas protestar em todo o Brasil nas manifestações ocorridas em junho de 2013. Para

isso, é feita uma retomada da história das manifestações populares nos séculos

passados, chegando à década atual, quando a Internet se mostrou uma figura

importante para a organização, realização e cobertura dos protestos em diversos

países. A pesquisa questiona, ainda, o novo papel do jornalista diante das redes

sociais, que se tornaram um canal para o desenvolvimento do jornalismo

colaborativo, possibilitando que cada leitor se torne também criador e distribuidor de

notícias. Partindo do surgimento dos primeiros jornais na imprensa brasileira até a

chegada a Internet e o advento das redes sociais, é possível observar como a forma

de se comunicar mudou e como o leitor passivo se transformou num possível

produtor de conteúdo.

Palavras-chave: redes sociais, mobilização, jornalismo colaborativo.

Page 5: ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS

ABSTRACT

This research intends to analyze the role of social networks at the

mobilization of people who were at the popular protests in Brazil in June 2013. For

that, there is a resumption of the popular protests history in past centuries, reaching

the current decade, when the Internet has proved an important figure for

organization, realization and announces of protests in many countries. The research

also questions the new journalist’s role face of social networks, which became a way

to the development of collaborative journalism, allowing each person becomes

creators and distributors of news. Starting from the first newspapers in the Brazilian

press until the arrival of Internet and the advent of social networks, it’s possible to

observe how the way we communicate has changed and how the reader can

become a content producer.

Key words: social network, mobilization, collaborative journalism.

Page 6: ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1.1 – Queda da Bastilha – Revolução francesa..............................................12

Figura 1.2 – Protestos no Egito – Primavera Árabe...................................................13

Figura 1.3 – Occuppy Wall Street, nos Estados Unidos.............................................14

Figura 1.4 – Passeata dos 100 mil, em 1968.............................................................16

Figura 1.5 – Diretas Já, em 1984...............................................................................17

Figura 1.6 – Caras pintadas, em 1992.......................................................................18

Figura 2.1 – Os primeiros jornais brasileiros..............................................................19

Figura 2.2 – Crescimento do número de internautas até 2011, segundo IBGE.........21

Figura 2.3 – Rede Social The Globe..........................................................................24

Figura 2.4 – Rede Social Classmates........................................................................24

Figura 2.5 – Spokesman-Review, primeiro veículo escrever com participação dos

leitores........................................................................................................................28

Figura 2.6 – Página do Voz da Comunidade no Twitter.............................................29

Figura 3.1 - Manifestação na Candelária, Rio de Janeiro..........................................35

Figura 4.1 - Cartaz "Nós somos a rede social"...........................................................40

Page 7: ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................8

1. MOVIMENTOS SOCIAIS POPULARES................................................................11

1.1 História dos movimentos sociais populares.....................................................11

1.2 Movimentos sociais populares no mundo........................................................12

1.3 Movimentos sociais populares no Brasil..........................................................15

2. JORNALISMO E INTERNET.................................................................................19

2.1 Jornalismo digital.............................................................................................22

2.2 Redes sociais...................................................................................................23

2.3 Jornalismo colaborativo...................................................................................27

3. AS REDES SOCIAIS E AS MANIFESTAÇÕES....................................................32

3.1 Papel das redes sociais nas manifestações....................................................32

3.2 Compartilhamento de informações nas redes.................................................36

4. O NOVO PAPEL DO JORNALIS DIANTE DAS REDES SOCIAIS......................39

4.1 Jornalismo colaborativo nas redes sociais.......................................................40

4.2 O novo papel do jornalista...............................................................................43

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................50

Page 8: ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS

8

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho, baseado em pesquisa bibliográfica, é mostrar

como as redes sociais criaram uma nova maneira de comunicação entre as

pessoas.

Para isso, foram analisados os acontecimentos durante as manifestações

populares que tomaram as ruas de diversas cidades do Brasil em junho de 2013 e

que tiveram as redes sociais como personagem principal. Foi através delas que as

pessoas se mobilizaram, estabeleceram debates e se organizaram para que o

movimento realmente acontecesse.

O engajamento cívico brasileiro se deu por meio das redes, da mesma forma

que já vinha acontecendo há algum tempo em outras manifestações e protestos pelo

mundo. A população de países do Oriente Médio foi a primeira a se valer das

tecnologias para se mobilizar e buscar, de fato, mudanças concretas e melhorias. A

ideia se espalhou e logo chegou também aos Estados Unidos e a alguns países da

Europa.

No Brasil, as redes – especialmente Twitter e Facebook – foram fundamentais

na mobilização da população e nos chamados para irem às ruas. A hashtag

#vemprarua foi uma das mais usadas e se de tornou o grito de guerra dos

protestantes.

Mas esse não foi o único papel desempenhado pelas redes sociais. Elas

fizeram com que uma nova forma de produzir e consumir informação ganhasse

força: o jornalismo colaborativo, caracterizado pela presença do leitor (e, agora,

também produtor) na construção da notícia.

Com a Internet, não só o acesso à informação já havia se tornado maior do

que em qualquer outro momento da história, como também haviam aumentado as

possibilidades de produzir informação. Com a popularização das redes sociais isso

ficou ainda mais fácil e rápido. Um post pode ser compartilhado e atingir um número

cada vez maior de pessoas.

Esse trabalho se propõe a analisar o papel das redes sociais no

engajamento da população e o jornalismo colaborativo durante as manifestações.

Para isso, se divide em quatro partes.

O capítulo 1 começa contando a história dos movimentos sociais e

mostrando como as pessoas são capazes de se organizarem e transformarem a

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estrutura do sistema. São abordados desde os mais antigos, como a Revolução

Francesa, no século XVIII, que foi um marco na história mundial, até os mais

recentes, especialmente os que ocorreram nos países do Oriente Médio, na

chamada Primavera Árabe. Aborda, ainda, os grandes movimentos ocorridos na

história do Brasil, como a Marcha dos 100 mil, durante a ditadura, as Diretas já, em

1984, as passeatas dos caras pintadas pedindo o impeachment do presidente

Fernando Collor, em 1992 e, recentemente, as manifestações que, por todo o país,

pediam melhorias na saúde, na educação e o fim da corrupção entre os políticos.

No capítulo 2 são apresentadas teorias que explicam o jornalismo digital e o

que mudou na comunicação com a chegada da Internet. Desde o surgimento dos

primeiros jornais do Brasil, em 1808, até os dias de hoje, as mudanças foram

constantes, mas nunca tão grandes como agora. Com a Internet, surgiram novas

possibilidades para complementar as notícias, com vídeos, fotos, hipertextos e

outros recursos, criando novas formas de narrativas. A Internet se tornou o meio de

comunicação utilizado pela maioria dos brasileiros (53%) na hora de se informarem,

e possibilitou, também, que os leitores criassem seus próprios canais de

comunicação, como os blogs, onde podem divulgar notícias e publicar seus textos.

A Internet foi usada também para mobilizar a população nas manifestações

recentes, como mostra o capítulo 3. Durante os protestos no Oriente Médio e

também no Brasil, as redes sociais tiveram um papel fundamental no engajamento.

E, depois de tomarem as ruas, foi através das redes que os manifestantes

divulgaram notícias, postando fotos, vídeos e relatos dos acontecimentos, um

exemplo de jornalismo colaborativo, que está mudando a forma de se fazer

jornalismo.

Uma análise do novo papel do jornalista diante desse quadro e das redes

sociais é o que mostra o capítulo 4. Com o jornalismo colaborativo, tornou-se

constante a participação dos leitores que não só compartilham notícias da grande

mídia, mas também produzem e divulgam suas próprias notícias, relatando

acontecimentos que presenciaram ou dos quais participaram. As redes sociais

abriram espaço para que o leitor se tornasse também produtor de conteúdo e

emissor de informações. Durante as últimas manifestações, foi possível observar de

forma nítida esse novo papel desempenhado pelo público. Eles participavam das

manifestações, mas não viam na mídia tradicional um relato fiel do que tinham

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10

vivenciado. Começaram, então, a contar suas próprias histórias que, nas redes

sociais, se propagam de forma mais rápida e têm um grande alcance.

Os jornalistas profissionais, por sua vez, deixaram de ter o monopólio da

informação e perceberam que há uma necessidade de mudar a forma de produzir

conteúdo. Os veículos já estão começando a dar mais espaço aos leitores e muitos

já estão se pautando pelas notícias que surgem nas mídias sociais. É preciso ter

cuidado, porém, com as inverdades que, nas redes sociais, também são divulgadas

e compartilhadas mais facilmente. Por isso o jornalista continua sendo essencial,

para analisar os conteúdos noticiosos e filtrar o que é realmente verdadeiro e

relevante. Mas o poder está na mão dos leitores.

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1. MOVIMENTOS SOCIAIS POPULARES

A luta pelos direitos da população, por melhores condições de vida e por

descontentamentos com a política e a economia são os principais fatores que, ao

longo da história, despertaram nas pessoas a vontade de se manifestarem.

Para Castells (2013), esses movimentos são sistemas de práticas sociais

contraditórias de acordo com a ordem social urbana/rural, cuja natureza é a de

transformar a estrutura do sistema, seja através de ações revolucionárias ou não,

numa correlação classista e, em última instância, o poder estatal. “O conceito de

movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que tem como

objetivo alcançar mudanças sociais por meio do embate político, dentro de uma

determinada sociedade e de um contexto específico.” (MOVIMENTOS..., 2012)

1.1 História dos movimentos sociais populares

Desde a Revolução Francesa, no século XVIII (1789-1799) – quando

trabalhadores foram às ruas com o lema "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" para

manifestarem a insatisfação, tentarem tomar o poder do governo monarca do rei

Luis XVI e instaurarem um governo democrático – chegando à chamada Primavera

Árabe – onda de protestos no Oriente Médio, que começou em 2010 e derrubou

ditadores em quatro países – muitos grupos se formaram e tomaram as ruas em

movimentos sociais populares em todo o mundo, lutando pelo cumprimento das

suas reivindicações.

Para o teórico Herbert Blumer (1951, apud GOHN, 2007, p. 30), os

movimentos sociais surgem de uma situação de inquietação social, derivando suas

ações dos seguintes pontos: insatisfação com a vida atual, desejo e esperança de

novos sistemas e programas de vida. Rudolf Herbele (1951, apud GOHN, 2007, p.

38) diz que eles seriam sintomas de descontentamento dos indivíduos com a ordem

social vigente e seus objetivos principais seriam a mudança dessa ordem.

Os movimentos mais antigos eram analisados pelos autores clássicos como

ciclos evolutivos em que o surgimento, crescimento e propagação ocorriam por

intermédio de um processo de comunicação que abrangia contatos, rumores,

reações circulares, difusão das ideias, etc. As insatisfações que geravam as

reivindicações eram vistas como respostas às rápidas mudanças sociais e à

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desorganização social subsequente. E a adesão aos movimentos seria uma

resposta cega e irracional de indivíduos desorientados pelo processo de mudança

que a sociedade industrial gerava. Nessas abordagens dava-se, portanto, grande

importância à reação psicológica dos indivíduos diante das mudanças, considerada

como comportamento não-racional ou irracional.

No passado, os comportamentos coletivos eram considerados como frutos

de tensões sociais. Já os movimentos recentes, para Castells (2012, p. 8),

espalharam-se por contágio num mundo ligado pela Internet sem fio e caracterizado

pela difusão rápida e viral de imagens e ideias.

1.2 Movimentos sociais populares no mundo

A Revolução Francesa é considerada, ainda hoje, o movimento mais

importante da história contemporânea. O Estado Absolutista, com um governo que

fazia diversas intervenções econômicas e sociais, tinha mais de 200 mil pessoas

vivendo nos campos em condições precárias e uma população urbana com

desempregados ou assalariados com baixa renda. Os impostos eram altos e uma

pequena burguesia, composta pelo alto clero, alta nobreza e a família real, vivia com

luxo e riqueza.

Figura 1.1 – Queda da Bastilha – Revolução Francesa

Fonte: Wikipédia

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Revoltada, a população de Paris se reuniu no dia 14 de julho de 1789, foi até

a Bastilha, onde funcionava a prisão política, e espancou o carcereiro até a morte.

Os camponeses também se rebelaram e começaram a invadir castelos e executar

famílias da nobreza. Alguns partidos políticos incentivaram a população a lutarem

contra a Assembleia, o que deu início a uma fase ainda mais radical, mas também

mais popular, do movimento, que continuou mesmo após a queda da Monarquia

Francesa, em 1792, quando a burguesia tirou o poder do rei Luis XVI e o transferiu

para si. Munida de armas, a população continuou as manifestações. O rei e a rainha

Maria Antonieta foram decapitados em praça pública. Uma nova constituição foi

criada, mas um golpe de Estado da alta burguesia financeira finalizou a participação

popular no movimento.

Na história recente, as manifestações populares mais marcantes

aconteceram no Oriente Médio, onde a população enfrenta sérios problemas sociais,

especialmente em países com governos ditatoriais, sejam civis, militares ou

monárquicos.

Figura 1.2 – Manifestações no Egito – Primavera Árabe

Fonte: www.geoensino.net

O primeiro país a tomar as ruas foi o Egito, o que motivou outros países a

fazerem o mesmo. Castells (2012, p. 119) diz que:

“O eco das revoltas árabes foi amplificado pelas notícias provenientes da Europa, em particular da Espanha, propondo novas formas de mobilização e organização, com base na experiência da democracia

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direta, como maneira de aprofundar a demanda por uma verdadeira democracia. Num mundo conectado ao vivo pela Internet, cidadãos comprometidos ficaram imediatamente a par de lutas e projetos com os quais podiam se identificar.”

As manifestações também aconteceram em outros países da região. Na

Tunísia, a Revolução do Jasmim derrubou o ditador que estava há mais de 20 anos

no poder. Na Jordânia os manifestantes exigiam limites nos poderes do rei, reformas

constitucionais e nova eleição parlamentar. Na Argélia, a luta foi por reformas

políticas. E, no Egito, o ditador Mubarack também deixou o cargo em que estava há

30 anos, após pressões populares.

Nos Estados Unidos, em setembro de 2011 teve início o Occupy Wall Street,

protestos contra a desigualdade social e econômica entre a população do país. “No

dia 13 de julho de 2011, a Adbusters, revista de crítica cultural com sede em

Vancouver, postou no blog a seguinte convocação: #occupywallstreet.” (CASTELLS,

2012, p. 119) A convocação inicial para a ocupação queria restaurar a democracia,

tornando o sistema político independente do poder do dinheiro. Foi um movimento

que nasceu digital e a revista Time atribuiu ao “Manifestante” o título de

personalidade do ano. (ibid., p. 9)

Figura 1.3 – Occupy Wall Street, nos Estados Unidos

Fonte: www.newsamericasnow.com

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15

A primeira manifestação aconteceu em Nova York, mais especificamente em

Wall Street, o centro financeiro da cidade. A estratégia era manter uma ocupação

constante no local até que as demandas fossem atendidas. Aos poucos o

movimento foi se espalhando por mais de 100 cidades, como Boston, Los Angeles,

Chicago, e ecoou até mesmo em outros países, despertando a população para os

protestos. Em algumas capitais da Europa houve uma série de manifestações contra

a corrupção, as políticas recessivas e o corte de gastos sociais em tempos de crise.

Os protestos aconteceram em 86 países e 952 cidades. Na Espanha, a estimativa

foi de mais de um milhão de pessoas nas ruas, divididos entre Barcelona e Madri.

Na Itália os protestos foram marcados pela violência no confronto com a polícia.

“Esses movimentos sociais em rede são novos tipos de movimento democrático – de movimentos que estão reconstruindo a esfera pública no espaço de autonomia constituído em torno da interação entre localidades e redes da Internet, fazendo experiências com as tomadas de decisão com base em assembleias e reconstituindo a confiança como alicerce da interação humana”. (CASTELLS, 2012, p. 177)

As tecnologias digitais viabilizaram as redes sociais on-line, que são as

ferramentas fundamentais para organização das manifestações que têm surgido no

mundo desde 2008 – Revolução do Panelaço na Islândia (2008), Revolução de

Jasmim na Tunísia (2010), os Indignados na Espanha (2011) e Occupy Wall Street

nos Estados Unidos (2011). “As tecnologias em si não fazem revolução – quem faz

revolução são as pessoas. Mas as tecnologias modificam a estrutura de poder

social”. (GABRIEL, 2013)

1.3 Movimentos sociais populares no Brasil

A história do Brasil também é marcada por alguns movimentos populares

que tiveram como objetivo mostrar o descontentamento da população com a política,

a economia e as condições sociais do país. Alguns exemplos são a Guerra dos

Mascates, Balaiada, Cabanagem, Guerra dos Farrapos, Canudos, entre outros. De

Norte a Sul, do período colonial ao século 20, o Brasil teve rebeliões populares de

características variadas.

Na história mais recente, o primeiro grande movimento aconteceu em 1968.

Foi o chamado Marcha dos 100 mil. Quatro anos após a Ditadura Militar ser

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instalada no Brasil, em 1964, a população se revoltou com a forma arbitrária e até

mesmo violenta como o governo se comportava. O movimento estudantil foi quem

tomou frente, organizando manifestações que eram sempre reprimidas

violentamente pela polícia, resultando na prisão de diversos estudantes, além de um

número considerável de mortos e feridos.

Uma passeata realizada na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, reuniu

aproximadamente 100 mil pessoas. Jovens de outros estados do país também se

mobilizaram. Mas a repressão policial crescia proporcionalmente ao aumento das

manifestações. Até que, no fim daquele ano, o governo instaurou o AI -5, Ato

Inconstitucional nº 5, que marcou o início da era mais pesada da Ditadura Militar,

chamada de Anos de Chumbo.

Figura 1.4 – Marcha dos 100 mil, em 1968

Fonte: www.ebc.com.br

Em 1984 foi a vez das Diretas Já. Depois de muitos anos sob o regime

ditatorial, os brasileiros se mobilizaram para exigir a redemocratização do país e

reivindicar o direito às eleições diretas para presidente, que não aconteciam desde

1961, quando Jânio Quadros foi eleito. A emenda constitucional Dante de Oliveira,

que previa a volta das eleições diretas para a Presidência, foi rejeitada, deixando a

população frustrada e dando início às primeiras manifestações.

São Paulo e Rio de Janeiro foram as cidades com o maior número de

pessoas participando das Diretas Já – respectivamente 1,5 milhão no Vale do

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Anhangabaú e um milhão na Candelária. Os movimentos começaram quando

membros do PMDB, PT e PDT passaram a organizar grandes comícios, em que a

população se mostrava a favor da escolha direta. Esses comícios repercutiram nos

meios de comunicação e se transformaram no movimento popular, que contou com

a participação de artistas, intelectuais, lideranças sindicais e vários partidos políticos

de oposição ao regime ditatorial. O movimento ganhou cada vez mais força em todo

o país e outras manifestações aconteceram em diversas capitais.

Figura 1.5 – Diretas já, em 1984

Fonte: www.veja.abril.com.br/30anos

Uma vitória parcial foi conquistada com a possibilidade de o Colégio Eleitoral

eleger um presidente. O eleito foi Tancredo Neves, que faleceu antes da posse e foi

substituído por seu vice, José Sarney. Mas só em 1985 o poder civil realmente

voltou a valer e em 1988 saiu a nova Constituição Federal. Em 1989 aconteceu a

primeira eleição direta para presidente, marcada pela disputa no segundo turno

entre os candidatos Luis Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello, que foi

eleito.

Já na era democrática, em 1992, após a insatisfação popular com as

medidas econômicas e diversas denúncias por corrupção contra o então presidente

Collor veiculadas na grande mídia, incluindo uma entrevista bombástica com seu

irmão, Pedro Collor, que comprovava uma série de irregularidades, a população foi

às ruas. Os jovens pintaram seus rostos de verde e amarelo, motivo que deu ao

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18

movimento o nome de Caras Pintadas. Eles pediram o impeachment do Presidente

da República. Em São Paulo ocorreu a maior das manifestações, que chegou a

reunir cerca de 750 mil pessoas. Para evitar o impeachment, Collor renunciou ao

cargo pouco antes do seu julgamento pelo Senado, que iria cassar seu mandato e

seus direitos políticos. Ele deixou o Planalto no dia 2 de outubro de 1992.

Figura 1.6 – Caras pintadas, em 1992

Fonte: www.acervo.estadao.com.br

Em 2013, a população se mobilizou através das redes sociais e tomou as

ruas em 120 cidades do Brasil para reivindicar contra a violência, os serviços

públicos ruins (especialmente saúde e educação) e os altos gastos com construção

e reformas de estádios para a Copa do Mundo.

Ao longo da história, segundo Castells (2012, p. 12) os movimentos sociais

ajudaram a construir novos valores e objetivos, que servem como base para as

transformações da sociedade, que cria novas normas para organizar a vida social.

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19

2. JORNALISMO E INTERNET

Ao contrário dos principais países da América Latina, o Brasil entrou no

século XIX sem tipografia, sem jornais e sem universidades, que contribuiriam para

a formação do público leitor. Só a partir de 1808, com a chegada da família real

portuguesa ao Brasil e a abertura dos portos, os primeiros jornais começaram a

surgir.

Ainda em 1808, duas datas diferentes foram consideradas como marcos

fundadores da imprensa no país: o lançamento do Correio Braziliense, em Londres,

dia 1º de junho, e a criação da Gazeta do Rio de Janeiro, dia 10 de setembro, ambos

considerados publicações independentes.

Figura 2.1 – Os primeiros jornais brasileiros

Fonte: www.historiativanet.wordpress.com/www.tipografos.net

Desde então, foram inúmeras as mudanças pelas quais a imprensa

brasileira passou, tanto em relação aos meios de veiculação das notícias quanto à

própria forma das notícias.

No início, as restrições impostas pelas Cortes Portuguesas ao que era

publicado eram muito fortes, e só diminuíram em 1821. Entre 1822, ano em que D.

João VI retornou a Portugal, e 1840, ano em que D. Pedro II, seu herdeiro, foi

coroado imperador do Brasil, proliferaram as tipografias, panfletos e jornais por todo

o país.

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20

De acordo com a Associação Nacional de Jornais (ANJ), o desenvolvimento

dos jornais brasileiros intensificou-se na segunda metade do século XIX. Em 1852 o

telégrafo elétrico foi introduzido no país, permitindo que os jornais das grandes

cidades recebessem informações sobre os principais acontecimentos em todo o

mundo no mesmo dia em que ocorriam.

Ainda segundo a ANJ, o rádio só chegou ao Brasil em 1923, trazido por

Edgard Roquette-Pinto. Mas, por um grande período, a programação limitava-se ao

entretenimento e só mais tarde passou a veicular notícias. Enquanto isso, com a

chegada das máquinas de escrever às redações, os jornais impressos cresceram

ainda mais.

Com o cinema mudo em desenvolvimento e o rádio dando os primeiros

sinais de possíveis transmissões de coberturas jornalísticas, começaram a surgir

grandes repórteres no cenário nacional. (FERRARI, 2012, p. 27) E após a Segunda

Guerra Mundial, foi a vez dos conglomerados na imprensa brasileira, com uma

mesma empresa controlando jornais, revistas, rádios e, a partir dos anos 50,

também emissoras de televisão. (ibid., p. 27)

Mas, ao longo de sua história, nunca o jornalismo sofreu mudanças tão

radicais e tão aceleradas quanto as que estão acontecendo por conta da Internet.

(CASTILHO, 2007, p.6) Drucker (2000, apud PUCCINI, 2010, p. 51) diz que "a

máquina a vapor foi para a primeira Revolução Industrial aquilo que o computador

vem sendo para a Revolução da Informação: seu gatilho, mas também e, sobretudo,

seu símbolo".

Contando de sua chegada ao Brasil, a Internet levou quatro anos para atingir

uma audiência de 50 milhões de pessoas. Um crescimento muito rápido,

especialmente se comparado ao rádio e à TV, que levaram, respectivamente, 38

anos e 16 anos para atingirem esse mesmo número. E a quantidade de pessoas que

acessa a Internet no país não para de crescer.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2005 e 2011 o número de

internautas brasileiros cresceu 143,8%. Ou seja, em seis anos houve um aumento

de 45,8 milhões de pessoas, chegando a um total de 77,7 milhões de internautas

com 10 anos ou mais de idade.

Page 21: ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS

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Figura 2.2 – Crescimento do número de internautas até 2011

Fonte: www.saladeimprensa.ibge.gov.br

A Internet surgiu nos Estados Unidos em 1969 com o nome original de

ARPA (Advanced Research Projects Agency), uma rede do departamento de defesa

norte-americano que tinha a função de interligar centros de pesquisas. E o WWW,

ou World Wide Web, surgiu em 1991, desenvolvido por Tim Bernes-Lee, e baseada

numa interface que permite o acesso a dados diversos, como textos, músicas,

animações, e muitos outros. A facilidade oferecida por sua interface fez com que a

Web passasse, desde então, a crescer de uma forma vertiginosa. (LEÃO, 2005, p.

22, 23)

Com a Internet, mensagens escritas por diferentes pessoas, em diferentes

situações e locais, podem ser compartilhadas e divulgadas o tempo todo, atingindo

um número crescente de pessoas.

"O ciberespaço encoraja um estilo de relacionamento quase independente dos lugares geográficos e da coincidência de tempos e permitem que os membros de um grupo humano se coordenem, cooperem, alimentem e consultem uma memória em comum, e isto em tempo quase real, apesar da distribuição geográfica e da diferença de horários". (LÉVY, 1999, p. 49)

Lévy (ibid., p. 17) chama de "ciberespaço" ou "rede" o novo meio de

comunicação que surge da interconexão mundial de computadores. O termo foi

descrito pela primeira vez por Willian Gibson, no romance Neuromancer, em 1984.

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22

Hoje, especifica não só a infra-estrutura material da comunicação digital, mas

também o universo de informações que ela abriga, assim como os seres humanos

que navegam e alimentam esse universo.

A Internet se tornou a plataforma mais importante para o consumo de

notícias no Brasil. Segundo dados de uma pesquisa realizada pelo Reuters Institute

for the Study of Journalism, órgão vinculado à Universidade de Oxford, 53% dos

brasileiros se informam pela Internet, que ficou à frente da TV (38%), rádio (2%) e

impresso (6%). (RIBEIRO, 2013)

2.1 Jornalismo digital

O jornalismo sempre passou por inúmeras transformações, especialmente

quando uma nova tecnologia surgia. A Internet, além de mais possibilidades na

apuração e nas pesquisas, trouxe também uma interatividade maior com o leitor,

que deixou de ser apenas um receptor passivo das informações jornalísticas e se

tornou também um produtor de notícias.

Com a Internet, criou-se uma outra dinâmica na produção, distribuição e

consumo das notícias, proporcionando um acesso à informação de maneira única

(FERRARI, 2012, p. 79). A mídia tradicional precisou se adaptar a uma nova era

comunicacional e, por isso, realizou e continua realizando experiências para explorar

os conceitos e recursos trazidos pelo avanço tecnológico. (PERRET, 2012, p. 15)

Para Ferrari (2012, p. 93), “o efeito transformador da comunicação por meio da

tecnologia atingiu um patamar sem igual desde a popularização da Internet.”

As informações no ambiente digital podem e devem estar amarradas por

meios de links, que permitem que o usuário avance em sua leitura na ordem que

desejar, de uma forma única e pessoal. (LEÃO, 2005, p. 15) São os chamados

hipertextos, compostos por diferentes blocos de informações interconectadas.

A Internet chegou para ficar, não é uma moda passageira e não haverá

retrocesso. (FERRARI, 2012, p. 23) Ela altera todos os paradigmas comunicacionais

à medida que coloca à disposição de qualquer pessoa com conhecimentos e

recursos necessários a possibilidade de se comunicar, de um ponto a outro

qualquer, com qualquer usuário do planeta. Forma-se o que Dowobor (2001, p. 48)

chama de “sociedade em rede”.

Page 23: ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS

23

Ferrari (2012, p. 57) aponta como a grande diferença entre a mídia

tradicional impressa e a digital o fato de que a tradicional tem como objetivo falar

com uma grande quantidade de pessoas, enquanto a digital consegue atingir cada

indivíduo. Outra diferença, segundo ela, é que o público on-line tende a ser mais

ativo do que os leitores de veículos impressos ou que os espectadores de televisão.

Eles optam por buscar mais informações e não se contentam em aceitar

passivamente o que lhe é apresentado. (ibid., p. 51)

Para conquistar a atenção desse leitor, a cobertura jornalística na Internet

não se limita a textos, fotos e gráficos, ao contrário do que acontece na mídia

tradicional, especialmente na mídia impressa. Há outros elementos que compõem o

conteúdo on-line, como arquivos de áudio, vídeo ou imagem, e até mesmo um e-

mail ou comentários de leitores podem mostrar um novo ponto de vista e se tornar

parte da notícia. O leitor on-line precisa clicar e escolher o que quer ler, precisa estar

realmente interessado pelo assunto (FERRARI, 2012, p. 55).

Ramonet (2012, p. 56) diz que, se a imprensa era o “quarto poder”, que

permitiu a aparição da opinião pública, que não existia antes do desenvolvimento

das mídias de massa no final do século XIX, a Internet deu voz aos sem-vozes e

possibilitou a criação de um “quinto poder”, para denunciar o superpoder de alguns

grupos midiáticos que, em certas circunstâncias, deixaram de defender os cidadãos

e passaram a agir contra eles. (ibid., p. 60)

A saída para os jornais é se adaptarem rapidamente a um mundo

extremamente conectado, onde as informações fluem a velocidades inimagináveis e

os fatos estão cada vez mais complexos e interdependentes. A relação entre público

e veículo, na Internet, é intensa e participativa, diferente daquela experimentada

entre leitor e jornal, branda e unilateral. (PERRET, 2012, p. 27)

2.2 Redes Sociais

Alguns serviços para conectar pessoas e possibilitar interação começaram a

surgir na década de 60, mas o mais marcante aconteceu em 1985, quando a

America Online (AOL) passou a fornecer ferramentas para que as pessoas criassem

perfis virtuais, descrevendo a si mesmas e criando comunidades para discussões

sobre diversos assuntos.

Page 24: ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS

24

Dez anos depois, em 1995, dois novos serviços com características mais

claras de conectividade entre os usuários foram lançados: o The Globe, que

possibilitava publicações pessoais e interação com pessoas de interesses comuns, e

o Classmates, para reunir grupos de antigos colegas de escola e faculdade.

Figura 2.3 – Página inicial do The Globe

Fonte: globe.com.ph

Figura 2.4 – Página inicial do Classmates

Fonte: classmates.com

Page 25: ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS

25

Sem essas primeiras comunidades, todas as outras talvez nunca tivessem

existido. Um sonho libertário que, hoje, apesar de todas as tentativas de controle,

continua dando frutos. (LORENZOTTI, 2013) O "boom" veio nos anos 2000, quando

surgiram o Fotolog, o Friendster, LinkedIn, MySpace, Flickr, Orkut, Facebook e

Twitter.

As duas redes sociais mais conhecidas e mais usadas atualmente, o

Facebook e o Twitter, surgiram, respectivamente, em 2004, criado pelos estudantes

da Universidade de Harvard Mark Zuckerberg, Eduardo Saverin, Chris Hughes e

Dustin Moskovitz, para manter contatos e trocar fotos com colegas e amigos mais

próximos; e em 2006, por Jack Dorsey, como uma mistura de rede social e

mensagens instantâneas, com postagens de até 140 caracteres.

Com o advento da complexificação das redes sociais foram aparecendo

novos fluxos de informação, que passou a ser difundida de forma mais rápida e mais

interativa. Tal mudança criou novos canais e, ao mesmo tempo, uma pluralidade de

novas informações circulando nos grupos sociais. (RECUERO, 2012, p. 54) “Nós

passamos da era das mídias de massa para a era da massa de mídias e os imensos

recursos da Internet e das redes sociais representam uma democratização da

informação” (RAMONET, 2012, p. 23), muitas delas difundidas de forma quase

epidêmica, alcançando grandes proporções tanto on-line quanto off-line.

(RECUERO, 2012, p. 54)

A liberdade de expressão proporcionada pela Internet jamais foi vista em

nenhum outro meio de comunicação de massa. As pessoas se relacionam, trocam

experiências e valiosas informações sobre os mais variados assuntos. É essa junção

de vários ao redor de um tema ou interesse que forma uma rede social.

(FERNANDES e ROSSENO, 2013, p. 15)

Para traçar um perfil desse internauta que compartilha conteúdos é preciso,

segundo Santaella (2004, p. 181), não apenas caracterizar os processos inferenciais

e mentais que guiam as escolhas do cibernauta, mas também explicar de onde vem

a agilidade perspectiva e a prontidão de respostas que esse leitor exibe na interação

com o fluxo incessante de signos que se apresentam nas interfaces da hipermídia.

“A grande marca deste tipo de leitor, está dentro das interfaces da interatividade.

Não é a toa que este tema vem sendo tratado com tanta intensidade nos últimos

anos”. (ibid., p. 181)

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26

O consumo de notícias pela Internet e mídias sociais também é crescente.

Em pesquisa do Reuters Institute da Universidade de Oxford, realizada em

janeiro/fevereiro de 2013 e divulgada em junho (JORNALISMO..., 2013), 51% dos

brasileiros (população urbana) disseram se informar por meio de blogs ou mídias

sociais. Na mesma pesquisa, 38% dos brasileiros disseram comentar o noticiário em

mídias sociais. E quando a pergunta foi qual o principal meio on-line para encontrar

notícias, os brasileiros também deram prioridade às mídias sociais, como nenhum

outro povo: 60%.

Foi também nas redes sociais que tiveram início as mais recentes

manifestações populares no Brasil e no mundo. As redes sociais, segundo Castells

(2012, p. 18), são espaços de autonomia, muito além do controle de governos e

empresas, que, ao longo da história, haviam monopolizado os canais de

comunicação como alicerces de seu poder. Compartilhando dores e esperanças no

livre espaço público da Internet, conectando-se entre si e concebendo projetos a

partir de múltiplas fontes do ser, indivíduos formaram redes, a despeito de suas

opiniões pessoais ou filiações organizacionais.

A adesão de um número cada vez maior de pessoas às redes sociais fez

com que a ideia de que “informação é poder” se tornasse real. A noção de

informação hierárquica e unidirecional deu lugar a uma versão contemporânea muito

mais explosiva: bidirecional, sincrônica e, o mais importante, em rede. “Três novas

características que mudam tudo, desde como se estrutura o poder no topo do

Estado, a como se articula o descontentamento social na rua". (BEAS, 2011)

As diferenças estruturais das redes sociais, já que elas não são todas iguais,

interferem diretamente na difusão de informação através de suas conexões.

(RECUERO, 2012, p. 54) As interações mediadas pelo computador como

formadoras de laços sociais só podem ser compreendidas na medida em que esses

sites e sistemas de comunicação permitem que os atores criem perfis

individualizados no ciberespaço. (ibid., p. 47)

“Atualmente, é por meio das redes sociais que se dão as atividades mais importantes da Internet. Elas se tornaram plataformas para todos os tipos de atividade, não apenas para amizades ou bate-papos pessoais, mas para marketing, e-commerce, educação, criatividade cultural, distribuição de mídia e entretenimento, aplicações de saúde e, sim, ativismo sociopolítico”. (CASTELLS, 2012, p. 169)

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27

Além disso, as redes e a Internet permitiram uma nova forma de organização

e deram poder aos cidadãos, tirando a capacidade de controle de informação do

Estado. A natureza ubíqua e descentralizada da rede, seus múltiplos nós (que quase

sempre encontram uma forma de contornar a censura) e sua capacidade para

estabelecer conexões entre milhões de pessoas em tempo real, estão criando novos

mecanismos que subvertem o poder do Estado ao mesmo tempo em que dotam o

cidadão de novos canais para exercer a cidadania. (BEAS, 2011)

2.3 Jornalismo colaborativo

Castilho (2007, p. 7) diz que o jornalismo on-line e sua versão 2.0 formam a

base da transição para o processo de produção colaborativa on-line de notícias. Os

leitores não são mais apenas receptores passivos de mensagens. Eles criam,

compartilham e comentam. (BRIGGS, 2007, p.34) "A produção de informações

aumenta, impulsionada pelo incremento de novas tecnologias que permitem o

acesso e a publicação das mesmas" (PUCCINI, 2010, p. 51), processo que se

tornou ainda mais fácil com a popularização dos smartphones e da tecnologia 3G.

As redes sociais, mais do que possibilitar a interação entre os usuários,

modificaram a forma como as informações são tratadas. As pessoas que antes eram

meras usuárias de computadores passaram a ser potenciais produtoras de

conteúdo. Todos podem agora criar a sua própria mídia. (TORRES, 2013)

A popularização da Internet e seu grande alcance fazem dela uma

ferramenta influente, que cria o duplo fluxo e contínuo da informação. Alguns fatos

não seriam notícia sem as mídias sociais. Emissor e receptor, que antes tinham

funções claras e definidas, hoje se misturam. Mídia tradicional e mídias sociais

passam a desempenhar papéis complementares.

Quando as mídias ainda não eram assim tão sociais, o emissor tinha como

única alternativa enviar a informação para seus receptores. Eles recebiam o

conteúdo de forma passiva. Mas então as mídias tornaram-se sociais e os

receptores da informação ganharam poderosas ferramentas não só para devolver ao

emissor suas percepções e opiniões, mas também para contribuir com novos

conteúdos gerados a partir delas. Isso se chama colaboração. Ou, um termo que

surge, o crowdsourcing. (LOMBARDI, 2013)

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28

O termo crowdsourcing é relativamente novo, criado por Jeff Howe num

artigo publicado em 2006, no serviço on-line de notícias Wired News. Muitos o

consideram quase um sinônimo de investigação ou reportagem compartilhada,

colaborativa, distribuída ou em código aberto. (BRIGGS, 2007, p.49)

Mas, embora o termo usado para descrever a produção coletiva de

reportagens seja novo, o processo em si já existe há vários anos. De acordo com

Briggs (ibid., p. 51), em 2001 o Spokesman-Review, em Washington, começou a

fazer reportagens compartilhadas com um banco de dados de endereços de e-mail –

que foi chamado de “rede de leitores” – com os quais ele se comunicava enquanto

estava elaborando as matérias. E em 2006, o News-Press, em Fort Myers, na

Flórida, pediu aos leitores que ajudassem na investigação sobre o aumento nos

gastos públicos. A audiência respondeu com números surpreendentes, dando

subsídios para um artigo e deixando até mesmo o jornal surpreso com o volume de

ligações telefônicas e e-mails recebidos. (ibid., p.49)

Figura 2.5 - Spokesman-Review, primeiro veículo escrever com participação dos leitores

Fonte: spokesman.com

Lévy (2013) diz que há uma nova geração de pessoas bem educadas,

trabalhadores com conhecimento, usando a Internet e que querem suas vozes

ouvidas. E há uma proliferação de fontes e formatos de conteúdo jornalístico e de

novas tecnologias para consumo de informações, que possibilitam a participação do

consumidor na disseminação e produção de notícias ao compartilhar conteúdos em

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29

mídias sociais, fazer comentários, blogar e postar fotos e arquivos de áudio e vídeo

na Internet, personalizando o fluxo de notícias que chega ao indivíduo via e-mail,

aplicativos para plataformas móveis e redes sociais. (ADLER, 2013, p. 26)

Por isso, para Lombardi (2013), é possível afirmar que nunca se fez tanto

jornalismo de verdade como na era da colaboração. Mesmo os veículos tradicionais

já estabelecidos estão utilizando de informações, fotografias e notícias produzidas

por pessoas em todo o mundo, aproveitando a proximidade dos cidadãos com os

fatos e acontecimentos urgentes. (FERREIRA, 2012, p. 91)

A Internet vem possibilitando novas práticas na produção de informação.

Hoje, a capacidade de narrar a história pertence a todos. Um dos casos mais

conhecidos no Brasil aconteceu em 2011, durante a ocupação do Complexo do

Alemão, no Rio de Janeiro, quando policiais e traficantes entraram em conflito. O

adolescente Rene Silva, morador local, então com 17 anos, fez uso da Internet,

especialmente do Twitter, para narrar os acontecimentos. De sua casa, no Morro do

Adeus, Rene se comunicava com outros colegas do jornal comunitário "Voz da

Comunidade", criado por ele em 2005, e postava essas informações. Em poucos

dias, se tornou uma das fontes mais seguras para quem queria se informar sobre os

acontecimentos no local. Pessoas famosas e jornalistas passaram a retuitar os posts

de Rene, consolidando e dando ainda mais credibilidade ao perfil do jornal. Seis

meses após a ocupação policial, ele acumulava 50 mil seguidores no Twitter.

(ABREU e SILVA, 2013, p. 56)

Figura 2.6 – Página do Voz da Comunidade no Twitter

Fonte: twitter.com/vozdacomunidade

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30

Alguns anos antes, um acontecimento histórico também foi marcado pelo

jornalismo participativo. Nos atentados de 11 de setembro, em 2001, os blogs de

moradores de Nova York passaram a ser fontes de informações, pois eram

acessados de forma mais rápida e transmitiam as notícias com uma linguagem

diferente, com as emoções de quem vivenciou o atentado. (PERRET, 2012, p. 22)

Esse acontecimento é apontado como evento fundador da recessão da mídia e da

crise do jornalismo, já que a atenção do usuário – leitor, telespectador ou ouvinte –

esteve, em boa parte, durante o atentado, fragmentada em veículos que não

somente os das corporações midiáticas. (MALINI e ANTOU, 2013, p. 128)

Dois tipos diferentes de jornalismo colaborativo podem ser identificados: a

cobertura emergente, marcada pela produção de pautas independentes ainda sem

presença no noticiário da imprensa, e a programada, que é a do acontecimento já

pautado por perfis com forte capital social nas redes sociais, fazendo-as

funcionarem como plataformas de promoção e reforço de suas ideias ou atos. São

as coberturas associadas às celebridades, às campanhas políticas, aos eventos

aguardados ou às causas movimentadas por grupos. (ibid., p. 245)

O jornalismo colaborativo vem crescendo principalmente porque a nova

geração quer decidir por si só, e não apenas confiar a decisão sobre o que é ou não

notícia aos editores de um jornal ou outro meio de comunicação tradicional. (ADLER,

2013, p. 30) “Se antigamente uns poucos meios tinham o poder de ditar a pauta,

com a profusão de hoje começamos a ver um número quase infinito de gente capaz

de definir qual será o grande assunto do dia”. (ibid., p. 28)

Do seu lado, as mídias dominantes também encorajam os internautas a se

tornarem “jornalistas”, pedindo constantemente que coloquem em seu site fotos,

vídeos ou comentários sobre os assuntos mais diversos que tenham testemunhado.

(RAMONET, 2012, p. 22)

Malini e Antou (2013, p. 113) acreditam que até mesmo os grandes jornais

estão se abrindo à participação dos usuários, criando “canais de jornalismo-

cidadão”, uma forma de ter conteúdos mais personalizados que, com frequência,

geram audiência e complementam as informações. As empresas jornalísticas

passaram a contar com a pulverização de fontes de imagens e informações, mesmo

onde não haja qualquer jornalista ou repórter-fotográfico. (FERREIRA, 2012, p. 87)

Na “sociedade de redes”, os internautas continuam buscando acesso às

mídias tradicionais, principalmente as publicações consideradas as mais sérias da

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31

imprensa escrita e seus sites de informação on-line. O fato novo é que as pessoas

que acessam os conteúdos dos jornais por essa via desejam, de sua parte, serem

lidas e escutadas. A informação não circula mais em sentido único. “A lógica

“vertical” que caracterizava a relação mídia-leitor torna-se, de agora em diante, cada

vez mais ‘horizontal’, ou ‘circular’”. (RAMONET, 2012, p. 19)

Para Brambilla (2012, p. 41), a principal motivação de quem produz e envia

notícias aos veículos de mídia tradicional é o desejo de ver socializada uma

informação que até então estava sob seu poder e que pode ser útil para outras

pessoas. E essa participação dos leitores na construção de conteúdos e

comunidades em torno de um veículo ou canal de comunicação pode

definitivamente mudar a dinâmica entre os veículos e seus consumidores.

(FERREIRA, 2012, p. 83)

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3. AS REDES SOCIAIS E AS MANIFESTAÇÕES

Foi a partir da luta contra a ditadura nos países árabes que começou a se

falar no papel desempenhado pelas redes sociais nos movimentos populares, pois,

sem os recursos tecnológicos, a dimensão não teria sido a mesma e, possivelmente,

os resultados também não.

Das redes da Internet, o chamado à ação se espalhou pelas redes sociais de

amigos, famílias e associações de todo tipo (CASTELLS, 2012, p. 47), mobilizando

milhares de pessoas que foram às ruas em diversos países e marcando a ascensão

de novas formas de transformação social.

A história dos movimentos – que são, simultaneamente, locais e globais – foi

contada com múltiplas vozes, de um modo que transcende o tempo e o espaço.

(ibid., p. 137) Começaram em contextos específicos, por motivos próprios,

constituíram suas próprias redes e construíram seu espaço público ao ocupar o

espaço urbano e se conectar com o mundo inteiro através das redes da Internet.

(ibid., p. 161) Estamos ao mesmo tempo aqui e lá, graças às técnicas de

comunicação. (LÉVY, 1996, p. 27)

3.1 Papel das redes sociais nas manifestações

As redes sociais, especialmente Twitter e Facebook, estão frequentemente

lançando novas funcionalidades. Nos movimentos sociais recentes em todo o

mundo, elas tiveram um papel fundamental, sendo utilizadas como meio de

comunicação de massa para a realização de manifestações. (FERNANDES e

ROSSENO, 2013, p. 36) "Organização, trabalho em rede, acesso a ideias e

informações proibidas, debates, são alguns dos bônus que a mídia social está

proporcionando à população". (COHEN, 2011)

No Egito, um dos primeiros países a tomar as ruas depois de uma

convocação pelas redes sociais, a fundadora do Movimento da Juventude postou:

“Vão para as ruas, enviem SMS, façam seus posts na rede, levem consciência às

pessoas”. (CASTELLS, 2012, p. 47) Assim, em 25 de janeiro, dezenas de milhares

de pessoas convergiram para a praça Tahrir (praça da Liberdade), um lugar

simbólico e central. (ibid., p. 47)

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33

Além da mobilização, as redes sociais também tiveram um papel importante

na cobertura dos fatos durante a revolução egípcia. Com câmeras fotográficas e

telefones celulares, os manifestantes fizeram fotos e vídeos dos acontecimentos e

compartilharam pelo YouTube e Facebook. (ibid., p. 50)

No Brasil, o movimento popular mais recente também teve a Internet e as

redes sociais como personagens importantes. “Os inúmeros relatos, vídeos,

fotografias e mensagens acabaram sendo a faísca que faltava para criar uma

mobilização de grandes proporções”. (A ESCALADA..., 2013)

Tudo começou no início do mês de junho de 2013, mais exatamente no dia

6, uma quinta-feira, quando moradores de São Paulo foram às ruas se manifestar

contra o aumento nas tarifas de ônibus. A manifestação foi convocada pelo

Movimento Passe Livre (MPL), criado em 2005 por estudantes durante o Fórum

Social Mundial em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O MPL se inspira nos

movimentos de jovens que nos últimos anos tomaram espaços públicos no Oriente

Médio, na Europa e nos Estados Unidos (QUEM..., 2013, p. 34). Seus integrantes

utilizaram o Twitter e o Facebook para trocarem informações sobre as ações que

estavam acontecendo.

Alguns dias depois, em 10 de junho, estimulados pelo movimento paulista,

moradores do Rio de Janeiro também resolveram se manifestar contra o preço do

transporte público.

Os protestos se transformaram em um fenômeno. Com a ajuda das redes

sociais, o movimento foi crescendo, ampliou o seu foco e se espalhou por todo o

país, tornando-se nacional. Foi na conexão entre as redes sociais e as redes

pessoais que se forjou o protesto. A precondição para as revoltas foi a existência de

uma cultura da Internet, constituída de blogueiros, redes sociais e ciberativismo.

(CASTELLS, 2012, p. 29)

De imediato, alguns estados como Rio de Janeiro e São Paulo baixaram os

preços das passagens de ônibus, mas novas reivindicações que já estavam em

pauta fizeram com que o movimento continuasse tendo força e acontecendo nas

ruas e nas redes. O pavio já estava aceso. “Pela primeira vez na história do Brasil,

um movimento social foi capaz de percorrer o território nacional em apenas 15 dias,

mantendo-se nas capitais, no interior e nas periferias, sem que houvesse líderes,

somente representantes que se alternavam.” (FERNANDES e ROSSENO, 2013, p.

13)

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34

Para Castells (2012, p. 166), o papel da Internet e da comunicação sem fio

nos atuais movimentos sociais em rede foi fundamental. Twitter e Facebook

passaram a ser usados não só para organização e motivação dos ativistas, mas,

principalmente, para compartilhar informações, fotos e vídeos feitos por quem estava

participando das manifestações, além de terem se tornado um palanque de debates

políticos.

As hashtags #vemprarua e #ogiganteacordou eram usadas para identificar

postagens referentes aos protestos. De acordo com Fernandes e Rosseno (2013, p.

53), estima-se que as duas hashtags tenham impactado, respectivamente, 80

milhões e 62 milhões de pessoas. Através das redes, os manifestantes mostravam

cenas não divulgadas pela grande mídia, transformando-as num dos principais

meios para que os brasileiros se informassem sobre o que estava acontecendo.

Com o tempo, os usuários perceberam que estavam com dois poderes nas

mãos: produzir e distribuir informações. “Trata-se do primeiro movimento social a

usar, no país, táticas modernas de ocupação urbana com o uso intensivo de

ferramentas digitais. Tais ações visíveis ganham um impacto muito maior.” (DA

INTERNET..., 2013, p. 81)

As redes sociais digitais baseadas na Internet e nas plataformas sem fio são

ferramentas decisivas para mobilizar, organizar, deliberar, coordenar e decidir. Mas

o papel da Internet ultrapassa a instrumentalidade: ela cria as condições para uma

forma de prática comum que permite a um movimento sem liderança sobreviver,

deliberar, coordenar e expandir-se. (CASTELLS, 2012, p. 167)

O ápice das manifestações aconteceu no dia 19 de junho, quando mais de

um milhão de pessoas foram às ruas em todo o Brasil, com cartazes e gritos de

ordem, protestando por diversos motivos. Em algumas cidades, minorias radicais

provocaram cenas de vandalismo e os protestos acabaram se transformando em

confronto com a polícia, o que tomou uma proporção muito maior do noticiário do

que as manifestações pacíficas.

Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística

(Ibope) e exibida no Fantástico (Rede Globo) do dia 23 de junho, mostrou que quase

80% dos que foram às ruas no dia 19 se organizaram para as passeatas por meio

das redes sociais. Fernandes e Rosseno (2013, p. 38) citam pesquisa realizada pela

Ideas Scup, segundo a qual houve dois milhões de menções nas redes Twitter,

Facebook, Youtube e Google, com mais de 132 milhões de pessoas impactadas por

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35

essas postagens, criadas por 941 mil usuários únicos. “A rede foi o ponto de ligação

entre as várias tribos. Ficou tão sobrecarregada que mal conseguia se mover e

chegou a cair algumas vezes em alguns lugares.” (RONAI, 2013)

Figura 3.1 – Manifestação na Candelária, Rio de Janeiro, junho de 2013

Fonte: www.noticias.uol.com.br/album

Castells (2013) diz que a Internet é uma condição necessária, mas não

suficiente para que existam movimentos sociais. "Não basta um manifesto no

Facebook para mobilizar milhares de pessoas. Isso depende do nível de

descontentamento popular e da capacidade de mobilização de imagens e palavras".

Para Morozov (2011):

“É importante fazer uma distinção entre “ativismo on-line” – pessoas que fazem abaixo-assinados, pedem doações ou mudam a foto de seu perfil para apoiar uma causa – daquelas que usam a Internet para falar de protestos que estão acontecendo no mundo real. São dois tipos diferentes de ativismo. E o último é apenas o bom e velho ativismo se apropriando dos novos canais de comunicação”.

Para que se forme um movimento social, a ativação emocional dos

indivíduos deve conectar-se a outros indivíduos. Isso exige um processo de

comunicação de uma experiência individual para outras. (CASTELLS, 2012, p. 19) E

a condição para que essas experiências individuais se encadeiem e formem um

movimento é a existência de um processo de comunicação que propague os

eventos e as emoções a eles associadas. “Quanto mais rápido e interativo for o

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36

processo de comunicação, maior será a probabilidade de formação de um processo

de ação coletiva”. (ibid., p. 19)

3.2 Compartilhamento de informações nas redes

A grande maioria dos veículos midiáticos sempre abriu espaço para o

conteúdo cidadão, possibilitando a interação através de cartas, telefonemas e e-

mails, em que o público leitor/telespectador podia expor suas opiniões sobre os fatos

noticiados. Mas, mais do que a interação, o que se vê atualmente, segundo

Cavalcanti (2012, p. 2) é uma participação efetiva do receptor no que será

consumido por todos em um ambiente de imenso alcance.

A Internet proporcionou um acesso à informação de maneira única,

mudando a forma de comunicação, causando impacto na mídia tradicional e também

no comportamento social da população. (FERRARI, 2012, p. 84) A voz dos até

então apenas receptores passou a ser ouvida em gigantescas proporções e suas

participações no processo de construção do conteúdo de um jornal passaram a ser

exploradas. (CAVALCANTI, 2012, p. 3)

A maneira como o conteúdo jornalístico é produzido e oferecido mudou

(TORRES, 2012) A informação não circula mais como antes, em unidades

controladas, bem corrigidas e formatadas. “Tornada imaterial, ela se apresenta

agora sob a forma de um fluido, que circula em segmentos abertos da Internet quase

à velocidade da luz”. (RAMONET, 2012, p. 17) Para Ferrari (2012, p. 84), a

comunicação tem a ver com conteúdos e a informação refere-se ao modo como os

conteúdos entram em circulação, ou seja, na rede.

Da segurança do ciberespaço, pessoas de todas as idades e condições

passaram a ocupar o espaço público e a reivindicar seu direito de fazer história.

(CASTELLS, 2012, p. 8) Antes de compartilhar um texto ou vídeo, o indivíduo para e

reflete sobre a mensagem que o material em questão passará. Adler (2013, p. 28)

diz que “compartilhar em redes sociais tem a ver com a própria identidade, é um jeito

de dizer: 'vejam, sou inteligente, sou bonzinho, sou engraçado'.”

A disseminação da Internet fez com que centenas de milhões de cidadãos

passassem a se sentir (talvez ilusoriamente) com poder real, e lhes permitiu

(comprovadamente) trocar informações e pontos de vista entre si sem a

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necessidade de intermediários. (JORNALISMO..., 2013) As redes sociais ajudam a

mudar o modo como as pessoas se comunicam e fazem fluir informação, alterando,

consequentemente, as estruturas tradicionais de poder. Mas se elas ajudam a furar

bloqueios e informar, também desinformam. (SAKAMOTO, 2013) "Em razão de sua

explosão, de sua multiplicação, a informação encontra-se contaminada, envenenada

por toda espécie de mentira, poluída pelos rumores, pelas deformações, pelas

distorções e manipulações”. (RAMONET, 2012, p. 64)

Com a Internet, a forma como o jornalismo vê seu produto ser adquirido e

compartilhado também mudou drasticamente. Para Torres (2012), criar um conteúdo

noticioso não depende mais apenas de boas pautas e fontes, mas sim de uma forma

em que seja possível identificar como o usuário digital irá receber, encontrar,

compartilhar, avaliar, criticar e, acima de tudo, modificar a mensagem, analisando o

contexto, tempo e cenário.

O compartilhamento de informações esteve fortemente presente nas

manifestações que ocorreram no Brasil. Em sua grande maioria, elas tiveram como

ponto de origem as redes sociais, onde estudantes se encontravam para falar de

política e dos problemas sociais. No ambiente virtual, eles discutiam suas

expectativas sendo frustradas no Brasil, como o desemprego, os baixos salários e o

aumento dos preços dos serviços e produtos, principalmente do transporte público,

meio de locomoção essencial para estudantes. “Foi então que eles se emanciparam

e iniciaram uma série de protestos pelo Brasil”. (FERNANDES e ROSSENO, 2013,

p. 10)

Foi também por conta das manifestações que os brasileiros começaram a

prestar mais atenção na informação que vem das mídias sociais. (DÓRIA, 2013)

Durantes o período dos protestos, ao se conectar à Internet era possível

acompanhar, minuto a minuto, a movimentação dos usuários nas mídias sociais. As

mensagens falando de protestos surgiam de todos os lados e se multiplicavam.

Posts eram publicados e fóruns se formavam para discutir o cenário da política

brasileira. Para Fernandes e Rosseno (2013, p. 20), as redes sociais tornaram-se

um palanque de discussões e uma ferramenta eficaz para a convocação de

manifestações.

No Facebook, a timeline dos usuários estava o tempo todo cheia de fotos,

textos, notícias, opiniões e mensagens sobre os protestos, além de eventos

convidando para as manifestações que ainda iriam acontecer. O Twitter tinha

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38

atualizações em tempo real sobre os acontecimentos. E, no Youtube, filmes eram

postados. Segundo pesquisa do Ibope, 78% dos manifestantes em todo o país foram

mobilizados pela Internet. (ibid., p. 17)

A força das redes sociais foi tão grande que, segundo reportagem publicada

no site G1 (GOVERNO..., 2013), a Secretaria Nacional da Juventude, ligada à

Presidência da República, informou que o governo iria lançar um canal de diálogo

com jovens por meio das redes sociais, em que cada um poderia criar seu próprio

usuário e interagir com os demais.

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4. O NOVO PAPEL DO JORNALISTA DIANTE DAS REDES SOCIAIS

A sociedade está mudando e os jornais já perceberam a necessidade de

dialogar com o leitor. Houve uma mudança radical de todo o “ecossistema midiático”

(RAMONET, 2012, p. 15) e saímos definitivamente da sociedade da mídia para

entrarmos na sociedade da informação. (FERRARI, 2012, p. 7)

Para Ferrari (2012, p. 79), o poder de transformação causado pelo uso das

redes sociais também pode ser colocado como um dos grandes avanços da Internet

nesse começo de século XXI. A mídia social engoliu a comunicação digital. (ibid., p.

93, 94) E a mídia hoje é um meio para o leitor se comunicar, não só consumir

conteúdo. (ADLER, 2013, p. 28)

Não é necessário ser jornalista para perceber a virada que a tecnologia vem

provocando na comunicação humana há alguns anos. Basta entender o princípio

básico da rede para notar que a colaboração é uma condição sine qua non para

existir.

“O que é a rede, senão uma infinidade de nós – não por acaso, nós (pronome) somos os nós (substantivo) – que interligam realidades múltiplas, mundos, culturas e identidades traduzidos em informação? Portanto, como isolar jornalistas e demais públicos nesse manancial de informantes e informações?” (BRAMBILLA, 2012, p. 29)

O jornalista perdeu o monopólio da novidade, da produção e da

disseminação da informação. Novos sujeitos passaram a disputar o cenário da

informação e fez surgir o que Ramonet (2012, p. 10) chama de “prodsumidor”, que

não só consome a informação, mas também constrói com base nela.

Novas possibilidades de construção de informação estão se abrindo a cada

dia.

“A Internet possibilitou que uma legião de pessoas se tornassem editoras de si mesmas. Hoje em dia é muito fácil criar um canal na web, expor sua opinião, produzir um conteúdo interessante e, de quebra, ganhar credibilidade profissional e reconhecimento do mercado, podendo até mesmo se tornar uma fonte de renda caso seu "veículo" conquiste um público considerável. Isso não ameaça os grandes conglomerados midiáticos, mas preocupa”. (TORRES, 2013)

Durante as manifestações, a multidão, com seus gritos de protesto, deu um

"looping" nas certezas e deixou evidente que os canais da imprensa são

insuficientes para captar as mudanças de humor na sociedade. (SINGER, 2013) Os

veículos de comunicação perceberam de vez a força dos usuários, compreenderam

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os caminhos naturais da informação e tornaram-se público de seu público.

(CAVALCANTI, 2012, p. 4)

As novas mídias proporcionam o surgimento do que Castells (2012, p. 12)

chama de autocomunicação: o uso da Internet e das redes sem fio como

plataformas da comunicação digital. É comunicação de massa porque processa

mensagens de muitos para muitos, com o potencial de alcançar uma multiplicidade

de receptores e de se conectar a um número infindável de redes que transmitem

informações digitalizadas pela vizinhança ou pelo mundo. É autocomunicação

porque a produção da mensagem é decidida de modo autônomo pelo remetente, a

designação do receptor é autodirecionada e a recuperação de mensagens das redes

de comunicação é autosselecionada.

4.1 Jornalismo colaborativo nas redes sociais

Nos movimentos que tomaram as ruas em todo o Brasil, manifestantes

diziam “Nós somos a rede social”. Cada cidadão, segundo Adler (2013, p. 28) era

um jornalista em potencial, pois, ao postar observações e argumentos em todo lugar,

todos são, de certo modo, jornalistas amadores.

Figura 4.1 – Faixa exibida nas manifestações em 2013

Fonte: www.fotografia.folha.uol.com.br

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41

A Internet quebrou o monopólio da narração e possibilitou, através de suas

interfaces, que qualquer usuário pudesse tornar atualizável uma informação,

liberando sua comunicação. (MALINI e ANTOU, 2013, p. 177)

Com as redes sociais, o leitor se torna também uma espécie de jornalista e

passa a ter a possibilidade não só de compartilhar o que leu, mas de questionar,

criticar e colocar a sua própria versão dos fatos, como aconteceu durante as

manifestações. (ibid., p. 10) O ambiente digital vem gerando uma nova maneira de

as pessoas se relacionarem, se organizarem e participarem da vida social e política.

Para Cohen (2011), “a liberdade de conectar-se é uma ferramenta de libertação – e

poderosa”.

A transparência possibilitada pelas redes sociais colocou em xeque a mídia

de massas. Enquanto telejornais e jornais impressos mostravam uma versão dos

acontecimentos, os próprios manifestantes publicavam em suas páginas pessoais

fotos, vídeos e comentários relatando o que estava acontecendo, muitas vezes em

tempo real. O jornalismo colaborativo surgiu em meio à crise do jornalismo de

massas, que deixou de ser a única fonte de informação.

Nas manifestações brasileiras foram utilizados vídeos, posts, associados a

hashtags, tweets e memes on-line, para criar ondas de intensa participação em

experiência de tempo e de espaço, a partilha do sensível, a intensidade da comoção

e engajamento construídos num complexo sistema de espelhamento,

potencialização entre redes e ruas. (MALINI e ANTOU, 2013, p. 14)

A imprensa chegou a se tornar também alvo das manifestações, acusada de

manipuladora.

"As pessoas iam para a rua e viam uma coisa, depois voltavam pra casa e viam outra na cobertura da imprensa. Começaram a perceber que a mídia tradicional manobrava suas posições de acordo com seus interesses, de forma mais ou menos velada. As pessoas não se veem na mídia, naquelas informações tão editorializadas dos veículos de comunicação de massa". (EKMAN, apud FRAGA, 2013)

A troca do espaço físico pelo espaço ideal, que muitas vezes pode ser

apenas espaço virtual, faz com que a informação seja divulgada muito mais

rapidamente do que antes. (FERRARI, 2012, p. 20) O Facebook, o Twitter e, numa

escala menor, o YouTube, foram os pontos de observação ideais para acompanhar

o movimento. “Não há forma de mídia tradicional que consiga ficar de olho em tantas

paisagens simultaneamente, ou ecoar tantas vozes ao mesmo tempo”. (RONAI,

2013)

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Para Ferrari (2012, p. 91), a participação dos leitores em busca de

informações políticas, culturais ou prestação de serviços começou a se misturar com

o chamado jornalismo cidadão. Os veículos passaram a incentivar a participação de

leitores que se disponham a escrever matérias, enviar fotografias e vídeos, numa

fusão entre o jornalismo profissional e o cidadão. “Não é mais o mundo interior do

autor que aflora no meio digital e nem a rede que invade os mass media tradicionais.

Pois vivemos em uma era na qual não existe mais diferença entre espaço público e

privado”. (ibid., p. 89)

Um simples RT, como informam Malini e Antou (2013, p. 234), pode fazer

com que uma informação seja ampliada e também ajuda a criar novas conexões,

interferindo nas já existentes, motivando discussões e ideias diferentes e produzindo

até mesmo uma ação coletiva na rede. O poder está nas mãos do leitor, agora

também produtor ou divulgador de conteúdos.

Por outro lado, a facilidade e a rapidez com que as informações se

proliferam na rede podem acabar espalhando também notícias falsas e inverdades.

É um ponto negativo, que, segundo Moretzsohn (2013), reflete o comportamento das

pessoas na vida cotidiana, cuja característica é precisamente o automatismo, a

reação irrefletida. “Por isso não é possível, simplesmente, substituir a informação

jornalística pelo que circula na Internet, por mais que as redes também sejam uma

riquíssima fonte de informação e expressão da criatividade e da irreverência diante

da brutalidade e da opressão.” (ibid., 2013)

Outro ponto prejudicial ao jornalismo colaborativo nas redes sociais é a

instabilidade da conexão da Internet no Brasil, especialmente em meio a multidões.

“Quando muitas pessoas utilizam as mesmas antenas simultaneamente, a velocidade da transmissão de dados cai e, assim, dificulta o compartilhamento de informações e imagens. Por isso, durante os protestos em São Paulo, os manifestantes pediam que as pessoas retirassem as senhas da Internet sem fio (wi-fi) de suas casas para liberar o acesso a todos”. (O GRANDE..., 2013)

Mas, mesmo com os pontos negativos, é nítido que o futuro tende a estar

cada vez mais aberto ao jornalismo colaborativo ou participativo, num novo

ecossistema de informação que ameaça o papel dos meios de comunicação

tradicionais. Beas (2011) diz que agora eles se veem obrigados a escolher: ou

rompem seus pactos com o poder ou novos canais roubarão sua legitimidade para

informar.

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“A diferença-chave no novo modelo é a democratização da emissão unida à velocidade permitida pelas novas ferramentas. A praça pública fica ao mesmo tempo mais acelerada e mais plana. É o poder de ter acesso à informação adequada no momento adequado. Não importa a plataforma, mas o conjunto da rede e as sinergias que ela provoca é que emanam esta nova forma de poder”. (ibid.)

A narrativa noticiosa, que sempre esteve atrelada à imprensa, que detinha a

capacidade de irradiar informação, hoje está em todos os lugares virtuais, que se

comportam cada vez mais como mídias cujas produções se dão de forma articulada

e cooperativa, cujo produto final é exibido de forma pública e livre (MALINI e

ANTOU, 2013, p. 185)

Mas a cobertura colaborativa nas redes sociais só se torna um gênero

jornalístico quando veicula e mostra em detalhes algum fato alternativo ao que foi

veiculado diretamente na imprensa que, por algum motivo, não o pode veicular.

(ibid., p. 246)

Quem já não acredita no que a grande imprensa diz, busca gente em quem

confia para tentar formar uma opinião. (ADLER, 2013, p. 30), já que tornou-se

possível narrar os acontecimentos sem a intermediação da mídia tradicional. “Sem

levar a fundo questões como a exigência de diploma e de registro jornalístico – no

Brasil – para exercício da profissão, cada um, mesmo sem técnica e sem perceber,

pode acabar publicando uma verdadeira reportagem”. (CAVALCANTI, 2012, p. 2)

As redes sociais deram voz às pessoas que se sentiam sem poder de fala. A

Internet se revelou um megaespaço público onde qualquer um tem voz e pode falar

por si mesmo (MALINI e ANTOU, 2013, p. 174) e a informação perdeu sua

característica unívoca, de relação de um para um, para transformar-se em dado com

múltiplos significados e leituras. (FERRARI, 2012, p. 13)

De acordo com pesquisa do Reuters Institute for the Study of Journalism

(JORNALISMO..., 2013), o Brasil é o país onde mais se acessa redes sociais e blogs

e onde há o maior índice de compartilhamento de notícias nessas redes, com 44%,

acima de Itália e Espanha. Os brasileiros também se destacam nos comentários de

links de notícias nas redes (38%).

4.2 O novo papel do jornalista

As narrativas compartilhadas na Internet fazem parte de um movimento

social que se recusa a deixar para a mídia tradicional o poder de dizer o que

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pertence ou não ao acontecimento. (MALINI e ANTOU, 2013, p. 249) Hoje, cada

internauta possui o poder de se comunicar, enviar textos e imagens, trocar

informações, redistribuí-las, misturá-las a diversos documentos, colocar suas

próprias fotos e vídeos na rede, onde massas de pessoas vão vê-las e, por sua vez,

discutir, contribuir, e fazê-las circular. (RAMONET, 2012, p. 28)

Durante as manifestações populares em todo o Brasil, a imprensa foi

também alvo de protestos, acusada de manipulação por muitos. As pessoas viam

uma coisa nas ruas e outra coisa diferente na imprensa. Enquanto a mídia

tradicional mostrava as cenas do alto de seus helicópteros, pessoas e jornalistas

compartilhavam outras imagens das ruas, mostrando especialmente a violência nos

confrontos, que quase sempre começava com pequenos grupos de vândalos e se

alastrava pela multidão. (FERNANDES e ROSSENO, 2013, p. 20)

Internautas questionavam nas redes sociais a razão de parte da mídia

tradicional destacar mais a violência do que as manifestações populares pacíficas.

Essa discussão percorria a mídia social. (ibid., p. 55) e os manifestantes

protagonizam uma grande novidade na cobertura dessas manifestações e na

alternativa à mídia tradicional. (LORENZOTTI, 2013)

Num processo inverso do que normalmente acontecia, as redes sociais

começaram a pautar a mídia tradicional. Com isso, o foco mudou e o poder de

escolha passou para as mãos do leitor. Ele é agora o sujeito da ação. (FERRARI,

2012, p. 12)

Um dos grandes destaques que simbolizou a emergência de uma mídia da

multidão nos protestos em junho e julho de 2013 foi a “Mídia Ninja” (Narrativas

Independentes Jornalismo e Ação) que cobriu colaborativamente as manifestações

em todo o Brasil (MALINI e ANTOU, 2013, p. 15) Para Lorenzotti (2013) trata-se de

uma cobertura com lado, mas quem não tem?

Os meios tradicionais de comunicação balançaram. A imprensa estava à

mercê das redes sociais e dos manifestantes. A televisão, o rádio e o jornal não

tinham mais controle sobre a situação que havia surgido nas mídias sociais.

(FERNANDES e ROSSENO, 2013, p. 56) Manifestantes diziam que não precisavam

deles para veicular os protestos, porque as redes sociais já haviam feito o papel que

eles não fizeram. (ibid., p. 91)

“Às experiências de jornalismo participativo dentro dos grupos tradicionais de mídia, somam-se ainda uma infinidade de experiências que atuam de

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forma independente através de modelo aberto (sem a presença de jornalistas profissionais) ou híbrido (usuários e jornalistas profissionais), inventando um conjunto de novas práticas para a produção noticiosa”. (MALINI e ANTOU, 2013, p. 115)

Brambilla (2012, p. 37) diz que é preciso admitir que os leitores podem saber

muito mais do que os próprios jornalistas em determinadas pautas. Organizações de

mídia hoje estão dispostas a deixar o público ajudar na cobertura dos fatos. (ADLER,

2013, p. 38) A participação de repórteres amadores tem crescido nas seções

editoriais, seja com notícias de última hora, flagras, opiniões, comentários em blogs

e outras modalidades de colaboração. (FERREIRA, 2012, p. 85)

O resultado é que o oligopólio da imprensa tradicional virou uma força a

mais – e só – na hora de decidir o que é “notícia” e a importância que vai ter uma

matéria ou imagem. (ADLER, 2013, p. 26)

“Além de chacoalhar as diferentes instâncias de poder, a moçada do

#vemprarua deu um nó na cabeça dos jornalistas”. (SINGER, 2013)Mas quem se

informou sobre as manifestações apenas pelas redes, porém, recebeu um misto de

suposições, verdades, mentiras. Quem filtra o todo? O excesso de informação vinda

de tantas mídias acabou criando um sentimento chamado por Ramonet (2012, p.

108, 109) de “insegurança informacional”. O chamado ao “leitor jornalista” ou à

“testemunha de um evento” o incita a colocar on-line, no website do jornal, em seu

blog, suas fotos ou seus vídeos, aumentando o risco de difundir falsas informações.

O leitor, o telespectador, o ouvinte ou o internauta não sabe, ao receber uma

informação, se ela não vai finalmente se revelar falsa algumas horas mais tarde.

(ibid, p. 133)

Moretzsohn (2013) acredita que, por tudo isso, os jornais e o jornalismo são

cada vez mais necessários. Para Dória (2013), o jornalismo tradicional não morrerá,

já que, sem rigor informativo, nenhuma democracia se sustenta. “O jornalista

profissional nunca foi tão importante quanto neste modelo de noticiário, produzido

por uma variedade tão grande de perfis identitários”. (BRAMBILLA, 2012, p. 33) E

“todo projeto colaborativo de produção de informações só pode ser chamado de

“jornalístico” se contar com o trabalho de jornalistas profissionais”. (ibid., p. 34)

Mas os profissionais precisarão aprender, segundo Ramonet (2012, p. 137)

a elaborar de outra maneira as informações para difundi-las sob diversas formas nas

redes sociais. Sairá vitorioso quem compreender e souber gerir esse processo de

mudança, quem for mais inteligente na disseminação de conteúdos informativos e

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na busca de parcerias para a criação de novas tecnologias e novos produtos. A

mídia é nova e está em mutação, por isso o papel do jornalista é fundamental.

(FERRARI, 2012, p. 23)

“O que é irreversível no Brasil como no mundo é o empoderamento dos

cidadãos, sua autonomia comunicativa e a consciência dos jovens de que tudo que

sabemos do futuro é que eles o farão. Móbil-izados”. (CASTELLS, 2012, p. 182)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O que se pode concluir deste estudo é que a Internet e, mais recentemente,

as redes sociais, mudaram a forma de se comunicar. Mais do que isso, mudaram a

forma de se fazer jornalismo. E isso, durante as manifestações, foi observado no

engajamento e na divulgação dos fatos.

As redes sociais possibilitaram, ainda, uma nova forma de mobilização

social. Como foi mostrado na parte histórica da pesquisa, muitas manifestações

aconteceram antes que houvesse a Internet e todas elas conseguiram mobilizar

milhares de pessoas. A diferença agora é como essa mobilização se dá, facilitada

pelas novas tecnologias, que permitem um alcance maior num período de tempo

menor.

Elas favorecem, ainda, a troca de ideias em tempo real e a organização dos

atos de uma forma mais otimizada, permitindo que pessoas com os mesmos ideais e

objetivos se comuniquem e consigam fazer com que seus pontos de vista cheguem

de forma mais rápida e direta a seus amigos que, por sua vez, irão divulgar a novos

amigos, criando, assim, uma rede de engajamento, que pode posteriormente se

concretizar em um manifesto, como já aconteceu no Oriente Médio, nos Estados

Unidos e em diversas cidades do Brasil.

Outro ponto a ser destacado é o fato de a Internet ter ampliado as formas de

conhecimento das pessoas. Hoje em dia é muito mais fácil se informar, acessar

notícias, buscar vídeos ou outras postagens que as complemente. E, na medida em

que a informação se tornou mais acessível, aumenta o senso crítico, o que desperta

a vontade de lutar para que as coisas sejam diferentes.

Mas, como lembrado por diversos autores, as redes não fazem revolução.

Quem a faz são as pessoas. As redes sociais e a Internet são apenas um dos meios

que ajudam isso a acontecer.

As redes sociais estão ajudando, ainda, a mudar a forma como se faz e

como se consome jornalismo. Essas mudanças já vêm acontecendo desde o

surgimento da Internet. Os textos passaram a contar com diferentes recursos, como

vídeos e hiperlinks, para se tornarem mais atrativo para o leitor, já que as

possibilidades de formas para se informar, ficaram mais amplas. Já não era mais

preciso esperar o horário em que um telejornal vai ao ar, ou o impresso chegar às

bancas no dia seguinte, nem mesmo a atualização de um site de notícias.

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Os blogs pessoais foram outra mudança que a Internet gerou. Qualquer

pessoa poderia criar seu próprio espaço virtual para divulgar o que quisesse, desde

notícias reproduzidas da mídia, ou mesmo suas próprias notícias.

Todas essas mudanças se ampliaram com as redes sociais. E durante as

manifestações recentes no Brasil essa nova forma de informar e de se informar ficou

bem clara. Mesmo quem não foi para a rua pôde acompanhar cada instante como se

estivesse presente, graças aos registros de fotos, vídeos e posts de quem estava

nos locais dos protestos. Quem não tinha tempo para acompanhar um telejornal,

pôde ter acesso, pelo Twitter ou Facebook, através de seus celulares, à cobertura

feita pelos próprios manifestantes, em tempo real.

Na contramão do que costumava acontecer, os veículos de comunicação

começaram a divulgar notícias que haviam sido publicadas inicialmente nas redes

sociais. As narrativas das pessoas foram citadas em diversos jornais e programas de

televisão.

É claro que é preciso haver um filtro e saber quais dessas informações são

verídicas antes de divulgá-las. Ao falar de conteúdo colaborativo, não se está

levando em consideração o fato de que um grande número de pessoas, talvez a

maioria dos usuários das redes sociais, não serem totalmente politizadas e não

terem uma educação política que as torne aptas a serem chamadas de produtoras

de conteúdo. Nesses casos, o que ocorreu e continua ocorrendo é uma série de

compartilhamentos de notícias falsas, frases não ditas em montagens com fotos de

políticos, vídeos antigos postados como se fossem dos acontecimentos atuais,

entres outros. Cabe, também, a cada um, saber quais fontes são ou não confiáveis,

antes de saírem compartilhando conteúdos falsos.

O que se procurou abordar nesse estudo foi, principalmente, como as

postagens feitas por quem participou das manifestações noticiaram os

acontecimentos, narrando-os diretamente do local em que estavam ocorrendo,

publicando depoimentos, emitindo opiniões, ou, ainda, questionando o que havia

sido mostrado pela grande mídia e dizendo o que de fato tinha ocorrido.

É esse o jornalismo colaborativo e participativo ao qual o trabalho se refere.

O jornalista e os grandes veículos, por razões comerciais e/ou ideológica, nem

sempre podem ou querem divulgar realmente o que gostariam, enquanto um

cidadão tem toda a liberdade de se expressar, colocando seus pontos de vista

políticos e se posicionando.

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Com a Internet e as redes sociais, todas as pessoas que possuem um

computador conectado ou mesmo um smartphone com tecnologia 3G, que está a

cada dia mais acessível, passaram a ter, também, os meios para fazer isso, de

forma a alcançar um número cada vez maior de pessoas. E em determinados

acontecimentos inesperados, pode acontecer de não ter nenhum profissional

fazendo a cobertura jornalística, mas sim algumas pessoas que passavam pelo local

e, munidos de seus aparelhos, conseguiram flagrar momentos que podem se tornar

notícia.

Por ser um tema ainda muito novo, focado em acontecimentos recentes, é

difícil afirmar com certeza como será daqui para frente e que novas mudanças as

redes sociais poderão ainda gerar. O que já se sabe é que, com as possibilidades

que surgiram para que o jornalismo colaborativo seja exercido, os jornalistas

profissionais e os grandes veículos, mesmo os on-line, precisarão estar cada vez

mais atentos a todas essas mudanças que a tecnologia trouxe. Além disso,

precisarão aprender como usá-las a seu favor, buscando novos ângulos, novos

enredos, e novas fontes de conteúdo.

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