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EDUCAÇÃO FÍSICA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR, BRINCADEIRA, JOGO E ESPORTE: qual é a regra? As brincadeiras, os jogos e os esportes são formas de expressão cultural que têm sido selecionadas historicamente como conhecimentos privilegiados pela Educação Física escolar. A proposta do texto é evidenciar as regras como elemento central das relações existentes entre esses conhecimentos e como articuladora de aprendizagens sociais no campo da ética e da autonomia moral. Para isso, serão exploradas alternativas didático-metodológicas com base no Livro Integrado Positivo e no Portal positivo, com o intuito de explorar o potencial pedagógico das relações entre essas práticas corporais. http://www.portalpositivo.com.br/spe/educacaofisica 0800 725 3536 Marcos Rafael Tonietto [email protected] 15

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EDUCAÇÃO FÍSICA

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR, BRINCADEIRA, JOGO E ESPORTE: qual é a regra?

As brincadeiras, os jogos e os esportes são formas de expressão cultural que têm sido selecionadas historicamente como conhecimentos privilegiados pela Educação Física escolar. A proposta do texto é evidenciar as regras como elemento central das relações existentes entre esses conhecimentos e como articuladora de aprendizagens sociais no campo da ética e da autonomia moral. Para isso, serão exploradas alternativas didático-metodológicas com base no Livro Integrado Positivo e no Portal positivo, com o intuito de explorar o potencial pedagógico das relações entre essas práticas corporais.

http://www.portalpositivo.com.br/spe/educacaofisica

0800 725 3536

Marcos Rafael [email protected]

15

Caro (a) Educador (a)

O espaço escolar é um lugar onde se compartilham saberes e se manifestam expressões, um lugar de múltiplas determinações culturais, constituindo-se num universo particular em que há um patrimônio imaterial cultural e histórico que se manifesta nas:

§ Práticas sociais, cerimoniais e atos festivos escolares;

§ Conhecimentos e práticas relacionados às práticas pedagógicas;

§ Técnicas de ensino e de aprendizagem.

Olhar para o Patrimônio Imaterial da escola é permitir aos educadores uma incursão a um universo que lhes confere uma identidade. Esse patrimônio imaterial é o que permite a cada um identificar o professor ou aluno dessa ou daquela instituição escolar, dizer que há um modo de ser aluno ou professor de uma escola em especial.

Por meio da preservação e da salvaguarda do patrimônio cultural escolar material e imaterial alimenta-se essa memória que torna cada escola um espaço singular em toda sua multiplicidade de saberes, fazeres, expressões e lugares, tanto na sua variedade como na sua complexidade.

Esse é o convite do Programa de Cursos “Patrimônio Imaterial, CONTEXTOS escola singular.

Acedriana Vicente SandiDiretora Pedagógica

Este texto compõe o material do Programa de Cursos Positivo 2012. Este Programa destina‐se às Escolas

Conveniadas ao Sistema Positivo de Ensino (SPE). O texto apresenta aprofundamento

didático‐metodológico da Proposta Pedagógica dos Livros Didáticos Integrados Positivo e do Portal Positivo. A

seguir, conheça a equipe de assessoria da área de Educação Física:

Marcos Rafael Tonietto

[email protected]

Coordenação:

Davi Marangon

[email protected]

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FALE CONOSCO0800 725 3536

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EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR, BRINCADEIRA, JOGO E ESPORTE: qual é a regra?

O ser humano, em todas as etapas da vida, está sempre descobrindo e aprendendo coisas novas,

por meio do contato com os outros e do domínio sobre o meio em que vive. Diferentemente dos outros

seres vivos, que se adaptam ao meio natural para garantir sua sobrevivência, o homem nasceu para

aprender, para descobrir e apropriar-se de todos os conhecimentos necessários a fim de viver em

sociedade.

Nas sociedades contemporâneas, esses atos de busca, de troca, de interação, de apropriação e de

socialização de conhecimentos são, em grande parte, desenvolvidos por meio do trabalho educativo. A

educação não existe por si só; é uma ação conjunta entre pessoas que cooperam, comunicam-se e

comungam de saberes.

Por isso, educar não é um ato ingênuo, indefinido, imprevisível, mas, sim, um processo organizado

e sistematizado com objetivos prévios, que visa ao desenvolvimento humano integral, gerado nas e gerador

das transformações sociais. Serve como base para a aquisição da autonomia, de uma consciência crítica e

emancipada. É um elemento de integração e conquista do sentimento, da consciência e da cidadania.

Nesse contexto, o que se percebe na atualidade (na escola e no contexto social) é a dificuldade com

o desenvolvimento de valores e atitudes, o que favorece principalmente queixas com comportamentos,

provenientes de aspectos como indisciplina, egoísmo, desrespeito, desonestidade, etc. É possível ainda

aferir esses problemas à ausência de valores e/ou à presença de regras de organização social que são

contraditórias e não reflexivas.

Para a alteração dessa realidade, é preciso repensar: Que indivíduo queremos formar? Qual a

sociedade que queremos? Que princípios e valores éticos e morais devem ser problematizados para

construir uma sociedade mais justa e democrática?

Para auxiliar no debate junto à comunidade escolar, projetos educacionais devem desenvolver

propostas críticas e reflexivas, que objetivem a formação para a cidadania, com debates éticos e princípios

morais.

Ressalte-se aqui o que diz La Taille (2000): ”Vamos trabalhar a moral com as novas gerações, vamos

ajudar as crianças a construir valores, a pautar seus comportamentos por regras, a situar-se além e aquém

de certos limites” (Taille, 2000. p. 9).

As reflexões sobre a ética e os debates morais imersos no contexto sociocultural sofrem alterações

nos diferentes momentos históricos. Portanto, não se pretende construir padrões ou estruturas alienantes,

mas, sim, possibilitar a discussão sobre elementos como limites e regras que podem causar transformações

pessoais e sociais.

Acompanhando as intencionalidades do projeto de formação que se propõe a escola, a Educação

Física atua no desenvolvimento integral dos alunos ao sistematizar práticas corporais que seguem um

conjunto de regras, que interagem com os alunos na complexidade das ações humanas. No contato com as

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regras, os alunos entram em contato com elementos organizacionais que permitem o desenvolvimento da

consciência moral e ética.

Historicamente, a Educação Física acumulou como conteúdos as brincadeiras, os jogos, os esportes,

as lutas, as ginásticas e as danças. Neste momento, pretende-se apresentar como é possível refletir sobre

os aspectos éticos e morais utilizando-se as regras como forma de estimular a tomada de decisão e a

consciência sobre si e sobre o mundo social, tendo como campo de ação as brincadeiras, os jogos e os

esportes.

Cabe destacar que nas brincadeiras, nos jogos e nos esportes a regra é elemento central, pois

organiza e sistematiza as atividades. O Livro Integrado Positivo – LIP – de Educação Física aborda os jogos

como a expressão da atividade lúdica em que as regras são construídas a partir das necessidades do grupo;

as brincadeiras são entendidas como a forma que as crianças usam para fazer leitura da realidade que as

cercam e dos elementos culturais presentes nela, estando as regras implícitas em situações imaginárias; e

os esportes desenvolvem principalmente a adoção de regras de forma mais rígida, organizadas por

instituições, procurando ser objetivamente mais justas e igualitárias para que as equipes possam competir

nas mesmas condições.

Assim, a proposta deste texto é apresentar elementos relevantes na formação ética e moral dos

alunos, tomando como conteúdos as brincadeiras, os jogos e os esportes em suas relações com as regras e

com a cultura dos alunos, utilizando o LIP como base do debate. Para isso, optou-se por apresentar

elementos que caracterizam esses conteúdos para relacioná-los com os elementos éticos e morais que

emergem da reflexão sobre as regras, para o desenvolvimento da autonomia moral e intelectual dos alunos

e alunas.

Para desenvolver os elementos éticos e morais como o diálogo, a solidariedade e a justiça, serão

resgatadas as três dimensões do limite, propostas por La Taille (2000) como possibilidades de trabalho

pedagógico com as regras nas brincadeiras, nos jogos e nos esportes. São elas: a transposição dos limites,

como uma possibilidade de ultrapassar barreiras; o respeito aos limites, ao entender o que é permitido e

proibido; e a imposição dos limites, pois a construção da personalidade e a conquista da autonomia

passam pelo controle seletivo do acesso de outrem ao eu, pela construção de fronteiras da intimidade.

1.1. Brincadeira

A brincadeira ocupa um espaço central na aprendizagem das crianças, principalmente na Educação

Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Para Chauteau (1987), ela antecipa na criança as

condutas superiores, desenvolve suas funções latentes, passando a ser o centro da infância, isto é, quanto

mais se brinca, mais se desenvolve como ser humano.

É possível que o espaço de aprender e brincar seja o mesmo, embora brincar não tenha o mesmo

significado que aprender. FERNÀNDEZ (2001, p. 36) consegue deixar bem clara essa diferença ao citar que

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“brincando descobrimos a riqueza da linguagem e aprendendo, vamos apropriando-nos dela. Brincando

inventamos novas histórias, o aprendizado permite-nos ser nossos biógrafos”.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs –, atualmente, a escola tem a função de:

“... ser um espaço de formação e informação, em que a aprendizagem de conteúdos deve necessariamente favorecer a inserção do aluno no dia a dia das questões sociais marcantes e em um universo cultural maior. A formação escolar deve propiciar o desenvolvimento de capacidades, de modo a favorecer a compreensão e a intervenção nos fenômenos sociais e culturais, assim como possibilitar aos alunos usufruir das manifestações culturais nacionais e universais” (1998 p. 45).

Durante a brincadeira, a criança utiliza recursos do próprio corpo, associando-os com os recursos

disponíveis no ambiente, e traz para o contexto do brincar situações vivenciadas por ela ou por outras

pessoas (imitação), construindo, assim, novos significados.

Atualmente, durante uma brincadeira individual ou grupal, é construída uma série de

conhecimentos, e várias habilidades são desenvolvidas, além de serem criadas diversas estratégias para

solucionar os conflitos emocionais.

Para clarificar essa ideia, Oliveira (2000) cita Pedroza, ao afirmar que:

“As crianças constroem suas brincadeiras recortando pequenas ações das outras, ajustando-se a elas, quer seja repetindo-as integralmente ou parcialmente, quer seja acrescentando-lhes algo e, até, substituindo parte delas. Cada uma das crianças parece fazer uma ‘previsão’ do que é brincadeira e age nessa direção, mas a cada instante é confrontada com as ações, das outras crianças e o efeito de suas próprias ações” (OLIVEIRA, 2000, p. 55).

Certos aspectos que divergem da proposta de educação atual são pertinentes, mas não se pode

deixar de considerar que houve uma mudança, muito positiva, por sinal, no sentido de que a criança é

compreendida como tal e está havendo uma maior preocupação de como ela está se sentindo na busca do

lúdico, principalmente dentro da escola.

Partindo do princípio do brincar como imbricado no cotidiano das crianças, ele pode ser utilizado

como um elemento metodológico no espaço escolar para mobilizar os alunos na realização das atividades e

em relações pessoais que podem fomentar o desenvolvimento dos valores éticos e morais, ampliando

possibilidades no processo de ensino-aprendizagem, desenvolvendo a criatividade e a autonomia para as

reflexões futuras.

Entende-se que o brincar também contribui para desenvolver as habilidades motoras e a linguagem

(não só a oral, mas também a corporal) da criança, além de ser capaz de lhe mostrar o funcionamento do

mundo e a possibilidade de transpor limites do seu desenvolvimento por meio das aprendizagens

favorecidas por ela. Fora a organização que lhe é atribuída, aprimorando de forma prática as noções

espaciais, quanto maior for essa amplitude, maior será a evolução da orientação corporal da criança,

permitindo a interação com os objetos. Mas, isso tudo não acontece se a criança não estiver ciente do seu

próprio corpo, pois é a partir do reconhecimento dele que se iniciam as explorações externas, ou seja, ele é

o ponto-chave para a organização do mundo externo.

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Durante toda a infância, a criança se esmera para fazer algo mais difícil devido às limitações de sua

idade. A afetividade possibilita a ampliação e a mobilização para realizar o que parecia dificílimo, porém,

por meio das brincadeiras, a criança se desenvolve, representa papéis e realiza no plano simbólico o que

seria impossível no plano concreto.

Ao observá-la, é possível perceber como está a organização de sua realidade, a construção da sua

própria história e da sua realidade, expressando, assim, os níveis de sua estruturação mental, seu

desenvolvimento cognitivo e afetivo-emocional. Ao brincar, o mundo imaginário da criança vem à tona,

transformando a realidade no que ela deseja, tornando-se livre para determinar suas próprias ações, ou

seja, é ela quem decide o que fazer.

Ao brincar, segundo Vasconcelos (2002), a criança:

- Desenvolve a curiosidade e a iniciativa de buscar coisas novas; - Busca a novidade e situações onde se estabeleça relações entre os objetos e as pessoas; - Desenvolve a confiança para imaginar confiança e situações; - Desenvolve a segurança para se expressar sem medo; - Inventa problemas e formula questões; - Desenvolve o respeito pelos sentimentos e o ponto de vista do outro; - Desenvolve a capacidade de elaboração de conceitos. (VASCONCELOS, 2002, p. 105).

Há uma infinidade de desenvolvimentos e noções que a brincadeira de qualidade, é claro,

proporciona. Por esse motivo, ela está sendo alvo de tanta relevância. Diante disso, podemos concluir que,

brincando, a criança cria subsídios que irão acompanha-la para sempre, a exemplo das regras de conduta

durante as brincadeiras, nas quais valores sociais são vivenciados nas atividades.

Ao parar para refletir, percebe-se que o brincar tem vários significados. Santos (2001) sinaliza várias

óticas do brincar de acordo com os caracteres que lhe são atribuídos:

- Do ponto de vista filosófico – o brincar é abordado como um mecanismo para se contrapor

à racionalidade. Ao brincar a criança une razão, emoção, conhecimento e sonho, formando

um ser humano mais completo e pleno;

- Do ponto de vista sociológico – o brincar é uma forma de inserção da criança na sociedade,

pois o brinquedo é produzido pelo homem e colocado à sua disposição;

- Do ponto de vista psicológico – o brincar está presente em todo o desenvolvimento da

criança nas diferentes formas de modificação de seu comportamento; pois na formação da

personalidade, nas motivações, necessidades, emoções, valores, relações intra e

interpessoais estão associadas aos efeitos do brincar;

- Do ponto de vista da criatividade – tanto o ato de brincar como o ato criativo estão

intrinsecamente ligados, pois ambos estão em busca do novo. E para ambos é necessário

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ter coragem de errar e lançar-se numa atividade de forma descompromissada; é necessário

ter iniciativa e autonomia de pensamento;

- Do ponto de vista psicoterapêutico – o brincar é uma terapia e tem a função de entender a

criança nos seus processos de crescimento e de renovação dos bloqueios do

desenvolvimento;

- Do ponto de vista pedagógico – o brincar tem-se revelado como um estratégia poderosa

para a criança aprender (SANTOS, 2001, p. 112).

O brincar está presente durante toda a vida dos seres humanos; contudo, é na infância que a

representação de papéis permite a leitura do mundo, tornando-se uma metodologia adequada para dar

condições de desenvolver as potencialidades da criança, permitindo-lhe, em cada situação didática de

aprendizagem vivenciada, criar soluções e aprender a viver e a conviver com os seus pares.

1.2. Jogo

Para o Huizinga (2007), o jogo sempre esteve presente na cultura humana, pois é acompanhado de

um significado que transcende as necessidades imediatas da vida e confere um sentido à ação. Para o

autor, o jogo é um fenômeno cultural, que deve ser analisado de uma perspectiva histórica. Assim, o jogo

como objeto é uma atividade fundamental na formação dos alunos, pois serve para a construção e a

transformação da história do sujeito na sociedade.

No jogo, a criança age com liberdade e espontaneidade. Ela protagoniza as situações, torna-se a

condutora da atividade; se vai brincar de escolinha, por exemplo, ela mesma distribui os papéis, encontra

os materiais que irão representar o quadro, as carteiras, ou seja, a criança rompe com o paternalismo que

muitas vezes é imposto pelos professores primários.

Durante o jogo, a criança age dentro da zona de desenvolvimento proximal, interage com o meio

(outros indivíduos e natureza), coloca em ação as funções psicológicas superiores. Para Vygotsky (1985,

p.89), a zona de desenvolvimento proximal é “a diferença entre o nível de resolução de problemas sob a

direção e com a ajuda dos adultos e aquele atingido sozinho”. Essa ajuda resulta da interação com

indivíduos de diferentes graus de desenvolvimento. No jogo existe a confirmação de objetivos comuns,

confronto de ideias, busca de soluções, competição e cooperação entre os participantes que possuem

diferentes vivências historicamente produzidas.

No jogo, o respeito aos limites ocorre principalmente na transposição de situações-problema, pois

a motivação ocorre em decorrência de conflitos cognitivos, afetivos e motores, ou seja, desafios que

repercutem nas decisões que são elaboradas com base em valores e princípios éticos e morais.

Atualmente, a maior liberdade que se dispõe às crianças foi construída com base na mudança

histórica que se propôs aos limites instituídos pela família, pela escola, entre outras instituições sociais. Por

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isso, é por meio das relações humanas no binômio liberdade/responsabilidade que a decisão de como agir

é vivida pelas crianças. Assim, os jogos devem, além de possibilitar a apresentação de algumas regras,

promover a interação e as possiblidades de alteração delas.

Dar liberdade para que os alunos possam decidir as possibilidades de transformação de regras

significa dar maior responsabilidade para que reflitam sobre elas de forma significativa. Além disso, quando

participam da elaboração das regras, os alunos tornam-se responsáveis pela efetivação dos limites que elas

impõem.

O jogo e a brincadeira são significantes imprescindíveis para o desenvolvimento das inteligências.

De forma lúdica, a criança vai construindo sua realidade. Quando a liberdade e a afetividade inibem a

criança, o desenvolvimento cognitivo e motor dela é prejudicado, ou seja, quando a criança não se expressa

no seu mundo interno e social, não joga. O jogo é a base do que logo vai ser a capacidade de pensamento.

O elemento principal de organização do jogo é a regra. O jogo pode ser analisado com base nos

estágios propostos por Piaget (1994). O primeiro, denominado de a “Prática do jogo”, representa os

aspectos iniciais, quando a criança ainda está entrando em contato com a atividade, como a ação motora, a

tática individual, o egocentrismo e a codificação das regras. O segundo, denominado de a “Consciência do

jogo”, no qual o ato motor já está internalizado, a cooperação aparece com maior frequência; o respeito às

regras se efetiva e elas podem ser modificadas de acordo com as necessidades do grupo.

Por isso, o jogo deve ser desenvolvido como forma de possibilitar a ampliação das possibilidades de

movimento, de desenvolver as relações pessoais, de entrar em contato com o que o ser humano

historicamente acumulou e de resgatar elementos da cultura.

1.3. Esporte

O esporte é uma das maiores manifestações culturais da sociedade atual. Sua difusão, sua

espetacularização e seu consumo simbólico expressam o elemento competitivo presente em várias esferas

da sociedade.

A Educação Física escolar deve se preocupar com a formação integral dos alunos, atuando nos

aspectos motor, cognitivo, afetivo e social. Deve ainda ser um espaço privilegiado para a observação,

manifestação e transformação de princípios e valores que permitam aos alunos transferirem tais reflexões

para além do ambiente escolar.

Assim como os outros conteúdos da Educação Física, o esporte possibilita o contato com uma gama

de movimentos que devem ser vivenciados e apreendidos pelos alunos. Os aspectos técnicos, táticos e

físicos devem fazer parte do conhecimento a ser apropriado juntamente com a contextualização do

fenômeno esportivo.

Ter acesso ao conteúdo esporte por meio dos diversos aspectos que o configuram é compreendê-lo

enquanto uma manifestação da cultura que pode ser conhecida, apropriada e recriada. Os limites impostos

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pelas regras dos esportes entram em consonância com a formação de alunos autônomos, criativos e

conhecedores da sua cultura e das regras historicamente acumuladas por este conteúdo.

Uma grande crítica à transposição dos esportes para as aulas de Educação Física encontrava

fundamentos na supervalorização da competição no desenvolvimento deste conteúdo. Entretanto, sabe-se

da necessidade de transformar regras, espaços e formas de realização deste conteúdo.

Princípios que podem determinar uma atividade do ser humano como esporte, jogo ou brincadeira

dependem da natureza dela e dos fatores subjetivos de participação e expressão pessoal espontânea.

Assim, é possível considerar que o envolvimento dos praticantes e até mesmo de telespectadores podem

auxiliar na determinação de uma atividade humana como prática esportiva.

Para Barbanti (2008) há três condições a serem consideradas para determinar uma ação como

esporte:

1 – refere-se a tipos específicos de atividades;

2 – depende das condições sob as quais as atividades acontecem;

3 – depende da orientação subjetiva dos participantes envolvidos nas atividades.

De acordo com autores que estudam a sociologia do esporte, o mesmo é caracterizado por uma

competição que ocorre sob condições formais e organizadas. A competição nesse caso é institucionalizada,

como um processo através do qual o sucesso é medido diretamente pela comparação das realizações de

quem executa a prática corporal, com regras e condições padronizadas.

Em síntese, esta atividade se caracteriza por apresentar:

Regras padronizadas, isto é, no desenvolvimento do jogo o conjunto de procedimentos apresenta

restrições.

O cumprimento das regras, que é feito por entidades oficiais que asseguram que as regras foram

obedecidas e as condições, padronizadas.

Aspectos técnicos e organizacionais da atividade que se tornam importantes.

Habilidades esportivas que se tornam mais formalizadas.

O esporte favorece o contato com limites, permitindo o exercício da moral heterônoma e

autônoma. A autonomia se desenvolve nos esportes quando o sujeito toma decisões, cria estratégias e

realiza táticas. Assim, os esportes revelam a liberdade de tomada de decisão do praticante, mas também

mostram os limites impostos pelas regras e pelas sanções que estas podem causar.

1.4. Análise das brincadeiras, dos jogos e esportes

A participação em práticas corporais desenvolvidas nas aulas de Educação Física podem ser

organizadas, partindo-se de uma estrutura mais informal e desestruturada para uma mais formal,

organizada e padronizada. A concepção pedagógica abordada pela Editora Positivo identifica possibilidades

de refletir e identificar as brincadeiras, os jogos e os esportes com base em alguns componentes

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estruturantes dessas práticas. O quadro seguinte apresenta algumas características principais da

brincadeira, do jogo e do esporte.

Categorias BRINCADEIRA JOGO ESPORTE

Diversão É a mais lúdica das

atividades.

O divertimento está

presente em grau

menor do que na

brincadeira, mas

maior do que no

esporte.

Atividade com pouca

presença de divertimento,

pois há cobrança extrema

de resultados. Influência da

mídia, da política e de

aspectos financeiros, etc.

Regras

Sem regras fixas. Quando

existem, são estipuladas

e desfeitas pelos próprios

participantes.

Existência a priori de

uma sistematização

de regras fixas. Elas

são importantes para

acrescentar

organização e

motivação em jogar.

Regras rígidas e universais,

organizadas por instâncias

superiores aos interesses

individuais dos jogadores

(Confederações,

Federações, Ligas, etc.).

Ações

Diversão e liberdade de

ação, com alto grau de

espontaneidade.

Perda gradual da

espontaneidade,

seguindo uma ordem

estruturada.

A disputa física e a

competição são os

principais elementos do

esporte.

Resultados

Sem preocupação com

resultados ou

recompensas

extrínsecas. O prazer

está no fazer e não no

que se fez.

Existem jogos

competitivos e jogos

não competitivos. Os

primeiros se

aproximam mais do

esporte. Os não

competitivos

aproximam-se das

brincadeiras.

Necessidade de alto grau de

habilidades, rendimento,

especialização e

treinamento.

Exemplos

Fazer embaixadinhas ou

outras formas de brincar

com a bola.

Jogo do 3 dentro, 3

fora ou jogo dupla de

pênalti.

Partida do Campeonato

Brasileiro ou Copa do

Mundo de Futebol.

Quadro I – Fonte MARANGON, Davi; TONIETTO, Marcos Rafael e CHAVES JÚNIOR, Sergio. Educação Física: 1º série, 3º

volume. Curitiba: Positivo, 2011.

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A organização e a diferenciação dos conteúdos selecionados no quadro resgatam elementos como

a diversão, as ações, os resultados e as formas de agir.

Nas brincadeiras, por exemplo, é possível observar possibilidades de criar, combinar e modificar as

poucas regras existentes por meio do diálogo, da cooperação, da quebra dos preconceitos. O

desenvolvimento da moral depende da cooperação entre elas à medida que cresce a descentração pelo

respeito mútuo e a superação do egocentrismo.

Os jogos representam excelentes oportunidades para o desenvolvimento de valores, como, por

exemplo, o respeito mútuo, a solidariedade, princípios que são propostos como básicos na convivência

democrática, a partir dos quais procedimentos concretos podem ser exercidos nas práticas corporais.

Na estrutura dos esportes, o respeito às regras e às decisões dos árbitros levanta a possibilidade de

resgatar o princípio da justiça, que identifica o que é adequado, correto. A ideia de justiça, então, poderá

ser definida como a reunião de embates éticos com base em valores morais, que atribuem, de forma

igualitária, a cada um o que lhe pertence.

Nos jogos, nas brincadeiras e nos esportes é possível compreender a constituição da moral e dos

valores e sua função mediadora, especificamente a construção, a consciência e o respeito às regras na

execução das práticas corporais.

2. Valores éticos e morais

A ética é um dos temas transversais propostos pelos PCNs (BRASIL, 1998), que devem ser

abordados por todos os componentes curriculares, pois possuem grande relevância no contexto social. E as

práticas corporais desenvolvidas na Educação Física são extremamente favoráveis para o desenvolvimento

do tema, pois, por meio de conteúdos como as brincadeiras, os jogos e os esportes possibilitam-se aos

participantes o diálogo, o respeito, a cooperação, a justiça e a solidariedade.

A emergência do desenvolvimento dos aspectos morais e éticos no ambiente escolar é urgente,

segundo La Taille (2000):

Parece certo que, hoje, vivemos um momento de certo “mal-estar” ético: a despeito das claras conquistas democráticas em quase todo o planeta, há queixas generalizadas sobre violência, desrespeito ao espaço público, vandalismo, individualismo, desonestidade, egoísmo, etc. Para uns, a situação seria de verdadeira anomia, entendida como ausência de valores e regras ou como presença de valores e regras contraditórias no seio de uma mesma sociedade. Para outros, a crise de valores não seria tão profundfa, mas nem por isso deixaria de fazer sentir. Daí a necessidade, reivindicada por muitos, de retomar a discussão do “contrato social” entre os indivíduos, discutir valores e princípios e incluí-los claramente nos projetos educacionais.No mundo todo, discute-se a volta da educação moral nas escolas (LA TAILLE. p. 7, 2000).

O processo educativo é uma das possibilidades pela qual os alunos desenvolverem sua autonomia

ética e moral, com base nas ações e nas reflexões críticas e contextualizadas social e historicamente.

Nesse processo, a moral, entendida como o conjunto de princípios, crenças e regras que orientam

o comportamento dos indivíduos nas diversas sociedades, deve ser favorecida e desenvolvida de forma

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sistematizada e com objetivos previamente estabelecidos. Nas relações entre os envolvidos nos processos

pedagógicos, valores sobre o certo e o errado, sobre o bem e o mal, sobre o que se deve buscar e o que se

deve afastar devem ser embasados em uma reflexão que depende de um determinado contexto cultural e

de um momento histórico.

Da mesma forma, a ética, entendida como uma reflexão crítica da moral, tem como função

principal a coerência entre a prática e os princípios, questionando, reformulando e fundamentando os

valores e as normas componentes da moral. A partir do favorecimento da reflexão sobre as regras, as

normas e os valores, possibilita-se a ação revigorada e transformada no ambiente escolar.

Os alunos precisam tomar consciência de que toda mudança de atitude parte do próprio sujeito

singular, que planeja, executa, avalia suas ações em um contexto preestabelecido, mas que é passível de

ser transformado. Estas ações podem ser refletidas nas brincadeiras, nos jogos e nos esportes.

Entretanto, é difícil sistematizar elementos pedagógicos a serem utilizados na prática pedagógica.

Dessa forma, Piaget contribui ao explanar que “toda Moral consiste num sistema de regras, e a essência de

toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por esses regras”. (PIAGET, 1994,

p. 23). Com os estudos sobre o respeito às regras morais e seus desdobramentos, Piaget elaborou uma

hipótese de que o juízo moral segue as mesmas etapas de um jogo. Por isso, utiliza como objeto de estudo

as regras nas brincadeiras, nos jogos e nos esportes.

Dessa forma, surgem possibilidades de utilização do dialogo, da solidariedade e da justiça na

transposição, no respeito e na imposição de limites durante as brincadeiras, os jogos e os esportes. Assim,

por meio dos conteúdos da Educação Física, principalmente nas brincadeiras, nos jogos e nos esportes, nos

quais as regras aparecem como elemento central de organização das ações, pode-se promover o

desenvolvimento moral, partindo-se da heteronomia, a fim de, gradativamente, guiar os alunos para a

autonomia construída nas relações e interações que ocorrem nas situações lúdicas.

A autonomia moral visa seguir regras morais próprias (autoregulação), que têm um caráter de

necessidade interna para o indivíduo. O indivíduo autônomo segue convicções internas sobre a necessidade

de respeitar as pessoas no relacionamento com os outros.

A proposta dos materiais de Educação Física da Editora Positivo para os diferentes níveis de ensino

aponta para a necessidade de aumentar as possibilidades nas vivências das práticas coporais, tornando-as

mais desafiantes e complexas para os alunos, contemplando a diversificação dos elementos que compõem

a atividade. No esquema que segue se evidenciam as possibilidades que podem ser promovidas por

diversas modificações.

Anomia (ausência de regras)

Heteronomia (regra dada por

outrem)

Autonomia (segue as regras,

guiado pela própria

consciência).

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Para sistematização dos elementos é possível partir de uma atividade com regras mais flexíveis e

com maior liberdade, para uma atividade mais complexa e padronizada. Em seguida é preciso que os

alunos encontrem possibilidades de construir modificações para que as atividades sejam vivenciadas a

partir dos princípios de inclusão e de diversidade (PCN, 1998).

Como sequência didática possível de ser desenvolvida com alunos do 5º e 6º anos do Ensino

Fundamental, em um conjunto de quatro aulas, a seguir, são apresentados exemplos de encaminhamentos

metodológicos em cada uma das funções didáticas sugeridas para a unidade de trabalho, identificando as

brincadeiras, os jogos e os esportes.

Modificações

Mudança na duração

Mudança no número de jogadores

Modificações nas regras

Modificação do espaço

físico

Mudança do material

empregado

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FUNÇÃO DIDÁTICA Mobilização1

1) Resgatar os conhecimentos prévios dos alunos a respeito das brincadeiras de perseguição, com alguns questionamentos, tais como:

Quais os pegas que você conhece?

Quais as possíveis formas de realização?

Que equipamentos podem-se incluir em uma pega?

Quais as principais regras a serem seguidas nestas atividades?

Quando uma regra não é seguida, quais as sanções que podem ser aplicadas ao infrator pode correr?

Mobilizar os alunos com a nomenclatura para os jogos de perseguição (pega-pega) em diferentes regiões e em uma mesma localidade. Além disso, apresentar algumas formas diferenciadas com base no site do Portal Positivo (http://www.educacional.com.br/educacao_fisica/baudeatividades.asp) no campo “Baú de atividades”.

2) Conversar com os alunos sobre alguns princípios necessários para realização das práticas corporais inclusivas, como a inclusão e a diversidade. Identificar o diálogo como um elemento central para construir e modificar as formas de realização das atividades.

3) Vivenciar com os alunos os pegas (Ex.: pega-pega, pega-cola, pega-cola-americano, etc.) de maior interesse. Durante a realização e conforme surjam situações-problemas reuni-los em roda e verificar as atitudes indesejadas e as possibilidades de superação. É importante não focalizar os alunos para que não sejam rotulados ou desrespeitados.

Facilitando: Cantar a música “Vamos passear na floresta enquanto seu lobo não vem”. Caracterizando o pegador.

Dificultando: Inserir pegas em equipes com jogos, tais como: polícia-pega-ladrão e arpão-mergulhados-tubarão.

Do ponto de vista da análise das regras, os alunos partem da anomia para a heteronomia, na qual eles constroem as próprias regras e as seguem com base as sanções propostas.

Do ponto de vista dos limites, as atividades podem servir para transpor limites motores, cognitivos e criar novas estratégias afetivas.

FUNÇÃO DIDÁTICA Instrumentalização

1) Apresentar aos alunos o jogo “Ameba”, que consiste em:

Duas bolas são entregues a dois participantes, ao mesmo tempo que a turma desloca-se pelo espaço determinado pelo professor; quem está de posse da bola tenta queimar os demais. Quem é colado vira ameba e fica abaixado. A ameba tenta tocar os demais e, quando isso ocorre, toma a posição de quem está de pé, ao passo que quem é tocado vira ameba.

Facilitando: Incluir apenas uma bola, aumentar o espaço.

Dificultando: Incluir mais bolas e diminuir o espaço.

2) Conversar com os alunos a respeito de atitudes de justiça principalmente ao queimar o adversário. Resgatar ainda o respeito às diferenças (força principalmente) entre os participantes identificanco

1 Para tornar o saber desejável e significativo, lança-se mão das três funções didáticas (mobilização, instrumentalização e aplicação) que servem

como princípios orientadores da prática pedagógica. Essas funções aparecem nas orientações metodológicas do material como síntese das abordagens que provocam a atividade dos alunos que se tornam sujeitos das suas atividades, mas que dependem também das mediações do professor para tornar o saber significativo (DELIZOICOV, ANGOTTI, 1992; LIBÂNEO, 1994; LIBÂNEO, LIMONTA, 2011).

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que somos todos diferentes. 3) Apresentar os conceitos de ética e a moral como elementos sociais, que têm aplicações durante as

práticas corporais. 4) Apresentar e vivenciar com os alunos o caçador e suas diferentes denominações e formas de jogar,

a exemplo da queimada, queimada e bola queimada.

Facilitando: Deixar mão, rosto como partes do corpo que não podem ser queimados (frios).

Dificultando: Vivenciar o jogo “Caçador adaptado” presente no Material de Orientações Metodológicas do Ensino Fundamental II.

5) Apresentar o Handebol como esporte. Neste moimento é possível utilizar a parte específica da Educação Física no Portal Positivo, onde se encontram as principais regras dos esportes, pelo link http://www.portalpositivo.com.br/educadores.asp. Este é um momento de seguir as regras impostas pela modalidade esportiva, de forma que os alunos identifiquem a proposta de as dias equipes receberem as mesmas sanções e os árbitros serem justos em relação ao seguimento das regras. É importante ainda resgatar elementos como aspectos técnicos, táticos e físicos deste esporte.

Facilitando: Inserir um número menor de regras dentro das possibilidades de seguimento pela turma.

Dificultando: Construir jogos, com o máximo de elementos presentes na competição e em campeonatos, como, árbitros, torcida, placares, uniformes, etc.

Do ponto de vista da análise das regras, os alunos vivenciam a heteronomia.

Do ponto de vista dos limites, atividade da ameba pode resgatar a relação liberdade/respeito, nas regras. Já o Handebol apresenta a necessidade de se ter algumas atividade com regras predeterminadas.

FUNÇÃO DIDÁTICA Aplicação

1) Propor que os alunos utilizem princípios morais e éticos para transformar as regras, os espaços, o número de participantes e os materiais durante a realização desta modalidade durante a aula de Educação Física.

2) Apresentar ainda para os alunos o jogo Handsabonete, constante no Material de Orientações Metodológicas do Ensino Fundamental II – 6º ao 9º ano, página 47.

3) Promover um júri simulado no qual os alunos vao debater o tema “Código mundial antidoping: ética e fair play no esporte olímpico”. Para essa atividade, os alunos devem seguir o seguinte roteiro:

Divisão de papéis presentes no júri;

Elencar argumentos de defesa e acusação;

Criar uma história que contextualize a situação;

Elaborar possíveis vereditos.

Para auxiliar na fundamentação do debate, podem ser utilizados textos avaliados pelo Portal Positivo.

Do ponto de vista da análise das regras, os alunos apresentam o espírito de justiça, ao criar a partir de uma consciência crítica e reflexiva.

Do ponto de vista dos limites, a responsabilidade se sobressai aos limites, devido o desenvolvimento de uma maior autonomia na tomada de decisões.

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Apesar de a sequência ter sido construída tomando como base alunos de 5º e 6º ano do Ensino

Fundamental, as opções de facilitar e dificultar as vivencias podem ser utilizadas como forma de adaptar o

planejamento da mesma para todo o ensino Fundamental. Para a Educação Infantil a intenção de vivênciar

papéis pode ser observada principalmente nas etapas de vivência das brincadeiras de pega e no jogo

“Ameba”. A transformação das práticas corporais vivenciadas pode ser observada de forma resumida na

figura a seguir:

Esquema 2: Construído pelos autores.

Seguindo as etapas propostas, é possível observar que os alunos partem da heteronomia para a

autonomia, processo criado em um ambiente, sociomoral com base em um currículo implícito. Uma

educação moral pode acontecer de forma intencional ou não. Nas mudanças dos professores comunicam-

se continuamente regras e comportamentos sociais e morais.

• Handebol modificado

• Handsabonete

Jogos

• Pegas

Brincadeira

• Ameba

• Caçador

Jogos• Handebol

Esporte

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REFERÊNCIAS

ASSIS, Savio. Reinventando o esporte: possibilidades da prática pedagógica. Campinas: Autores Associados,

2005.

A obra aborda a predominância dos esportes no interior da Educação Física ao longo da história e o

conjunto de críticas e questionamentos de sua incompatibilidade com valores educativos. O autor

apresenta ainda possibilidades reais e concretas de utilizar o esporte como possível de participar de um

projeto emancipatório, com o objetivo de refletir e transformar a dinâmica essencialmente competitiva e

aparentemente lúdica, para outra, essencialmente lúdica e aparentemente competitiva.

BARBANTI, Valdir. O que é esporte? Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde. 2008. Disponível em:

<http://www.sbafs.org.br/_artigos/25.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2010.

O autor entende que para analisar os esportes é preciso partir de fundamentos teóricos que dependem de

uma definição do termo. Embora seja óbvio que nenhuma disciplina acadêmica pode progredir sem

desenvolver definições precisas daquilo que ela estuda, toda tentativa para desenvolver uma definição

científica de um termo largamente usado na linguagem popular apresenta problemas. Para definir

precisamente uma palavra muito comum como esporte, muito de suas conotações precisam ser eliminadas

e seus significados devem ser limitados de maneira que restringirão seu uso.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: educação física.

Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC /SEF, 1998.

Documento oficial do MEC que traça os objetivos, conteúdos e orientações metodológicas para o trabalho

com a Educação Física escolar no 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental.

DARIDO. S. C.; IMPOLCETTO, F. M. Ética como Tema Transversal: possibilidades de aplicação nas aulas de

Educação Física Escolar. Rio Claro: Motriz, v. 13, p. 14-23, 2007.

O artigo apresenta o princípio da ética e de que forma ele pode ser tratado nas aulas de Educação Física

escolar, por meio de seus componentes, como o diálogo, o respeito, a justiça e a solidariedade. O artigo

reflete a respeito da ética como conteúdo a ser desenvolvido intencionalmente nas aulas, tomando como

base relatos de experiências de professores de Educação Física durante a realização de alguns jogos e nas

formas de sua utilização. O grupo de professores indicou a possibilidade do desenvolvimento de questões

éticas, com o “pique-bandeira” e a “base quatro”.

DELIZOICOV, Demétrio; ANGOTTI, José André. Física. São Paulo: Cortez, 1992. Os autores desenvolvem elementos didáticos para a organização do trabalho didático em Física para o

Ensino Médio. A proposta de organização do trabalho docente envolve três momentos pedagógicos com

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funções didáticas diferentes: a problematização inicial, a organização do conhecimento e a aplicação do

conhecimento.

GONZÁLEZ, Fernando J.; FENSTERSEIFER, Paulo E. (Orgs.). Dicionário crítico de Educação Física. Ijuí: Unijuí,

2005.

A obra considera as transformações ocorridas na produção teórica da Educação Física nos últimos anos,

especialmente do amplo movimento crítico de ideias que se deu a partir da década de 80, o qual levou a

Educação Física a um diálogo mais efetivo com as ciências humanas, rompendo com os enfoques

provenientes das áreas bioanatomofisiológicas, de fortes matizes positivistas. Tal perspectiva produziu um

imenso montante de significações novas, que merecem explicitação pelo estabelecimento de referências

que, sem elidir a pluralidade, as unifiquem minimamente do ponto de vista conceitual, tarefa a que se

dedica este dicionário.

HELAL, R. O que é sociologia do esporte?. São Paulo: Brasiliense, 1990.

É hora da Copa do Mundo de futebol. O Brasil para na hora dos jogos da seleção. Quem não torce não é

patriota. Por quê? As editorias de esporte dos jornais do mundo todo são as maiores, as que têm mais

páginas. Por quê? A FIFA, organismo diretor do futebol mundial, congrega mais países afiliados que a

própria ONU. Por quê? A sociologia do esporte é uma especialização recente que estuda o fenômeno

socioesportivo. Foi dado o apito inicial.

HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 4ª ed., Trad. João Paulo Monteiro. São

Paulo: Perspectiva, 1996.

Nessa obra, Huizinga reúne e interpreta um dos elementos fundamentais da cultura humana: o instinto do

jogo. Lendo essa obra, logo se descobre quão profundamente as realizações na lei, na ciência, na poesia, na

guerra, na filosofia e nas artes são nutridas pelo instinto do jogo. Segundo o autor, essa ideia é

central para a civilização. O jogo (homo ludens) vem como uma categoria absolutamente primária da vida,

tão essencial quanto o raciocínio (homo sapiens) e a fabricação de objetos (homo faber).

KISHIMOTO, Tizuko Morchida (Org). O jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 2006.

O livro é uma coletânea organizada com trabalhos elaborados por autores vinculados ao Grupo

Interinstitucional sobre o Jogo na Educação, com sede na Faculdade de Educação da Universidade de São

Paulo. A proposta da obra é valorizar os jogos, brinquedos e brincadeiras como formas privilegiadas de

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desenvolvimento e apropriação, conhecimento pela criança e, portanto, instrumentos indispensáveis na

prática pedagógica e componente relevante de propostas curriculares.

KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Unijuí,

1994.

Nesse livro, são trabalhados os fundamentos teóricos e metodológicos para o processo de transformação

dos esportes para que se tornem acessíveis. Está de acordo com os princípios da desesportivização,

trazendo respostas ao desafio de fazer do esporte um objeto de aprendizagem sistemática e formal

intencionada pela escola, uma linguagem complementar às demais e por elas complementada, no inteiro

sistema das relações em que se empenham corpos capazes da linguagem da ação e da ação da linguagem.

LA TAILLE, Yves de. Limites: três dimensões educacionais. São Paulo: Editora Ática, 2000. O livro resgata a reflexão sobre o conceito de “limite”, tratado de três formas diferentes. A primeira

permite resgatar as fronteiras que devem ser transpostas, tanto para a maturidade quanto para a

excelência das virtudes morais. A segunda identifica a necessidade de se respeitarem as fronteiras para a

manutenção da moralidade. A terceira permite pensar os limites como fronteiras que a criança deve criar

para manter sua intimidade e privacidade.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

É um livro clássico para professores de uma maneira geral, no qual o autor desenvolve os elementos

básicos da didática articulados aos aspectos sociopolíticos que permeiam as relações entre professores e

alunos. São desenvolvidos temas amplos que envolvem a prática educativa, desde as relações entre a

didática com os processos de democratização do ensino, passando por temas mais técnicos como as

relações e as definições a respeito dos objetivos, os conteúdos e os métodos de ensino.

LIBÂNEO, José Carlos; LIMONTA, Sandra Valéria (Orgs.). Concepções e práticas de ensino num mundo em

mudança: diferentes olhares para a didática. Goiânia: CEPED/ Editora PUC Goiás, 2011.

Nesse texto o autor desenvolve reflexão e fundamenta o conceito de mediação didática, tendo como

principal referência a teoria desenvolvimental de Vasili Davydov. Contrasta o perfil desejável do professor-

mediador com os perfis do professor-transmissor e do professor-facilitador. Esses perfis são criticados por

apresentarem limitações do ponto de vista da formação de estruturas de pensamento dos alunos como

resultado da atividade de estudo a qual é organizada por eles, porém sem abrir mão da direção do

professor como mediador dessas aprendizagens.

OLIVEIRA, V. B. O brincar e a criança do nascimento aos seis anos. Petrópolis: Vozes, 2000.

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Com sólida fundamentação teórica a respeito do brincar no desenvolvimento das crianças de 0 a 6 anos de

idade, a obra aborda o desenvolvimento físico, afetivo e cognitivo nas ralações sociais.

SANTOS, S. M. P. dos. Brinquedo e infância: um guia para pais e educadores em creche. Petrópolis: Vozes,

2001.

A obra apresenta questões relacionadas à criança com idade de zero a três anos. O seu desenvolvimento é

a questão principal. Tenta mostrar aos pais e professores caminhos simples, mas que podem favorecer o

desenvolvimento de forma sadia, plena e prazerosa. As autoras acreditam que o brinquedo é o grande

veículo de crescimento e que no brincar a criança explora e descobre o mundo, ajudando no seu

desenvolvimento físico, afetivo, intelectual e social.