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UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em MBA em Gestão Empresarial Flaviana Paula Zambom da Silva Borges EDUCAÇÃO CORPORATIVA: O SUCESSO DAS ORGANIZAÇÕES NO CENÁRIO CONTEMPORÂNEO LINS SP 2010

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Page 1: EDUCAÇÃO CORPORATIVA: O SUCESSO DAS … · Educação Corporativa. Universidade Corporativa. ABSTRACT To educate is to conduct from stage to another, ... Seja pela alavancagem estratégica,

UNISALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em MBA

em Gestão Empresarial

Flaviana Paula Zambom da Silva Borges

EDUCAÇÃO CORPORATIVA:

O SUCESSO DAS ORGANIZAÇÕES NO CENÁRIO

CONTEMPORÂNEO

LINS – SP

2010

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Borges, Flaviana Paula Zambom da Silva Educação Corporativa: o sucesso das organizações no cenário contemporâneo / Flaviana Paula Zambom da Silva Borges. – – Lins, 2010.

62p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para Pós-Graduação “Lato Sensu” em MBA em Gestão Empresarial, 2010

Orientadores: Máris de Cássia Ribeiro Vendrame; Heloisa Helena Rovery da Silva.

1. Desenvolvimento cultural humano. 2. Educação Corporativa. 3.

Universidade Corporativa. I.Título.

CDU 658

B731e

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FLAVIANA PAULA ZAMBOM DA SILVA BORGES

EDUCAÇÃO CORPORATIVA:

O SUCESSO DAS ORGANIZAÇÕES NO CENÁRIO CONTEMPORÂNEO

Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em MBA em Gestão Empresarial sob a orientação dos Professores M.Sc. Máris de Cássia Ribeiro Vendrame e Profª M.Sc. Heloisa Helena Rovery da Silva.

LINS – SP

2010

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FLAVIANA PAULA ZAMBOM DA SILVA BORGES

EDUCAÇÃO CORPORATIVA:

O SUCESSO DAS ORGANIZAÇÕES NO CENÁRIO CONTEMPORÂNEO

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium,

para obtenção do título de Especialista em MBA em Gestão Empresarial.

Aprovada em: ____/____/______

Banca Examinadora:

Profª M.Sc. Máris de Cássia Ribeiro Vendrame

Mestre em Administração pela Unimep

_________________________________

Profª M.Sc. Heloisa Helena Rovery da Silva

Mestre em Administração pela CNEC / FACECA - MG.

_________________________________

LINS-SP

2010

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Aos meus familiares, em especial meus pais e

meu irmão, que com muito carinho me

apoiaram e incentivaram.

Sem a participação desses entes queridos,

jamais chegaria aonde cheguei!

Vocês fazem parte desta vitória !

Amo muito vocês !

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AGRADECIMENTOS

A Deus,

pelo valioso dom da vida, por proporcionar que

pessoas especiais, minha família e amigos,

fizessem parte desta história.

Pela luz, inteligência e força que me deste para a

conclusão deste Curso.

Às minhas orientadoras e Mestres

pela paciência e compreensão, tolerância e por

contribuir para o meu crescimento profissional.

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RESUMO

Educar é conduzir de um estado a outro, é modificar numa certa direção o que é suscetível de educação – o ser humano. O presente estudo tem por objetivo geral verificar se a Educação Corporativa contribui para os resultados organizacionais, bem como para o desenvolvimento do capital intelectual da empresa. Os objetivos específicos descrevem a evolução e a cultura da organização que pratica a Educação Corporativa além de verificar os benefícios que a organização tem investido na Educação Corporativa. Ao se pesquisar esse assunto fica claro que cada um dos estudiosos apresenta o seu conceito de educação. Educação Corporativa é a utilização de sistemas educacionais que visam o desenvolvimento de atitudes, posturas e habilidades e não apenas conhecimento técnico e instrumental aos empregados de uma organização, tendo como objetivo final o atingimento dos objetivos do negócio. As Universidades Corporativas surgiram para cobrir as lacunas deixadas pelo sistema de ensino regular, para atender as demandas da sociedade do conhecimento, que impõe transformações rápidas, mas principalmente para criar programas de aprendizagem com foco no negócio da empresa, visando a capacitação de toda sua cadeia de valor. Nas organizações o processo de Educação Corporativa visa uma educação empresarial de excelência e capaz de gerar competências reconhecidas tanto dentro, quanto externamente. As Universidades Corporativas têm o compromisso com um modelo de aprendizagem democrático, que valoriza o espaço de interlocução entre os participantes do processo ensino-aprendizagem, o estímulo à reflexão, à criatividade e ao compartilhamento de idéias, críticas e sugestões e, sobretudo, os valores que contribuem para o crescimento do indivíduo em seu processo sócio-histórico-cultural. Palavras-chave: Desenvolvimento cultural humano. Educação Corporativa. Universidade Corporativa.

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ABSTRACT

To educate is to conduct from stage to another, to modify in a certain direction that which is susceptible in education, the human being. The general goal of this study is to verify is Corporate Education contributes to the results of an organization as well as the development of the intellectual capital of a company. The specific goals describe the evolution and culture of the organizations that use Corporate Education. It also verifies the benefits that the organizations have invested in Corporate Education after researching the subject, it is clear that each one of the scholars show her or his concept of education Corporate Education is the use of educational systems that aim for the development of attitudes, postures, skills and not only technical and instrumental knowledge of an organization´s workers. The final goal of Corporate Education is the attainment of the business objectives. The Corporate Universities appeared, to cover the gaps left by the normal educational system, to meet the demands of the society of knowledge that imposes rapid transformations, bat mainly to create learning programs that focus on a company´s business, aiming at the capacity of the whole value chain. The process of Corporate Education in the organizations aims for a business education of excellence and for the abilty to generate acknowledged internal and external capacities. The Corporate Universities have a commitment with the democratic modal of learning that values dialogue among the participants in the teaching – learning process, with the stimulation for reflection, creativity and the sharing of ideas, criticism, suggestions and above all, with the values that contribute to the growth of the individual in this social-historical-cultural process.

Keywords: Human culture development. Corporate Education. Corporative University.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Diferenças entre departamento de treinamento e Universidade

Corporativa ....................................................................................................... 42

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

RH - Recursos Humanos

ZDP - Zona de Desenvolvimento Proximal

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11

CAPÍTULO I – DESENVOLVIMENTO CULTURAL-EDUCACIONAL

HUMANO .......................................................................................................... 13

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 13

1.1 Teoria histórico-cultural de desenvolvimento humano ........................... 15

1.1.1 Concepção inatista ................................................................................. 16

1.1.2 Concepção ambientalista ....................................................................... 16

1.1.3 Concepção interacionista ....................................................................... 17

1.2 Implicações na educação ....................................................................... 18

1.2.1 A relação entre aprendizado e desenvolvimento .................................... 18

1.2.2 A Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) ......................................... 19

1.2.3 A mediação e a interação no processo de ensino-aprendizado ............. 22

1.3 Aprendizagem centrada na pessoa ........................................................ 23

1.3.1 Principais conceitos ................................................................................ 26

1.3.1.1 Não diretividade .................................................................................... 26

1.3.1.2 Aceitação positiva incondicional ........................................................... 27

1.3.1.3 Compreensão empática ........................................................................ 28

1.3.1.4 Congruência .......................................................................................... 28

1.3.2 Aprendizagem centrada no aluno: a teoria rogeriana aplicada à

educação .......................................................................................................... 28

1.4 A aprendizagem significativa segundo David Ausubel ........................... 29

1.4.1 O que é a aprendizagem significativa .................................................... 30

1.4.2 O processo da aprendizagem significativa ............................................. 31

1.4.2.1 Aprendizagem significativa e aprendizagem mecânica ........................ 32

1.4.2.2 Condições para ocorrência da aprendizagem significativa ................... 33

1.4.3 A aprendizagem significativa em um enfoque Vygotskyano .................. 34

1.4.4 Algumas considerações básicas sobre como facilitar a ocorrência

da aprendizagem significativa ........................................................................... 36

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CAPÍTULO II – EDUCAÇÃO CORPORATIVA ................................................. 39

2 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 39

2.1 Educação Corporativa e Universidade Corporativa ................................ 40

2.2 Surgimento e importância da Universidade Corporativa ........................ 42

2.3 Objetivos e princípios das Universidades Corporativas ......................... 45

2.4 Projeto para implantação da Universidade Corporativa ......................... 48

2.5 As tecnologias utilizadas nas Universidades Corporativas .................... 55

2.6 Universidades Corporativas e Universidades Tradicionais..................... 56

CONCLUSÃO ................................................................................................... 59

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 61

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INTRODUÇÃO

Segundo Mundim; Ricardo (2004), a Educação Corporativa passa a ter,

cada vez mais, papel de destaque e de extrema importância dentro do

panorama empresarial. Seja pela alavancagem estratégica, que é possibilitada

pelo desenvolvimento dos profissionais existentes nos quadros empresariais,

seja pela agregação de resultados, permitida após a captação e assimilação

pelo seu capital humano, de um número maior de competências.

O sistema de Educação Corporativa é concebido a partir da estratégia e

da competência essencial da organização, diferenciando-a em seu setor de

atuação, capacitando seus colaboradores para o melhor desempenho de sua

atividade, e visando garantir vantagem competitiva de mercado.

(CALDEREIRO, 2004).

Neste cenário, a Educação Corporativa torna-se a chave para reter este

capital intelectual, este ativo intangível, que possui uma variedade de formas,

que pode ser potencializado, trazendo grandes transformações positivas no

ambiente organizacional.

“É o capital intelectual das empresas – seu conhecimento, experiência,

especialização e diversos ativos intangíveis, ao invés de seu capital tangível

físico e financeiro – que cada vez mais determina suas posições competitivas”.

(KLEIN apud MUNDIM; RICARDO, 2004, p. 5).

O próprio processo de transformação do saber individual em saber

coletivo exige que a empresa esteja calcada em novos padrões de relações

trabalhistas, de gestão e de ética corporativa.

Mundim; Ricardo (2004) afirmam que, ao contrário de capital, máquinas,

matéria-prima e dos demais fatores de produção que influíam no período

econômico capitaneado pela indústria, o conhecimento representa um recurso

infinito e pode ser compartilhado simultaneamente entre vários usuários.

Buscando alinhar os objetivos ao novo cenário capitalista, as empresas

voltadas para o desenvolvimento de sua competitividade estão assumindo

formas de organização e práticas de gestão de pessoas inovadoras.

As pessoas têm usado o conhecimento nas organizações há muito

tempo, porém o conceito de que este recurso precisa ser gerenciado é um

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tanto recente.

Estas características criam um novo ambiente empresarial em que o

conhecimento corporativo é o principal instrumento para alianças entre

empresas e para o estímulo a inovação e desenvolvimento de suas

possibilidades de aplicação. As organizações passam então a perceber que a

necessidade vai além da abordagem aleatória do conhecimento corporativo.

É fácil perceber como a tecnologia se desenvolve e se integra à vida das

empresas com grande velocidade, fato que, na maior parte dos casos, não é

acompanhado pela necessária mudança de postura com relação ao

desenvolvimento intelectual das pessoas e processos em uma empresa. No

dias atuais, ainda depara-se com uma ineficiência na comunicação

organizacional, isolamento entre unidades de negócios. (CALDEREIRO, 2004).

Segundo Mundim; Ricardo (2004), é fundamental que a cultura

organizacional em empresas inovadoras promova, por meio dos valores

organizacionais, a abertura na comunicação, o compartilhamento de

informações para otimizar o processo decisório e a disseminação dos

conhecimentos necessários às práticas e sistemas voltados para a inovação.

Além disso, deve incentivar os funcionários e colaboradores a desempenharem

um papel ativo na transformação de seu capital intelectual em ativos

corporativos.

O presente estudo tem por objetivo geral verificar se a Educação

Corporativa contribui para os resultados organizacionais, bem como para o

desenvolvimento do capital intelectual da empresa. Os objetivos específicos

relacionam descrever a evolução e a cultura da organização que pratica a

Educação Corporativa além de verificar os benefícios que a organização tem

investido na Educação Corporativa.

Parte-se então da seguinte pergunta-problema: O sucesso de uma

organização está também ligado à boa gestão da Educação Corporativa?

O foi realizado através de revisão bibliográfica e está assim estruturado:

O Capítulo I, descorre sobre o desenvolvimento cultural-educacional

humano.

Capítulo II, aborda sobre a Educação Corporativa.

Por fim vem a Conclusão.

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CAPÍTULO I

DESENVOLVIMENTO CULTURAL-EDUCACIONAL

1 INTRODUÇÃO

Todo esforço pelo crescimento de uma sociedade tem o ponto de partida

principal pautada em sua educação. São várias as teorias e formas de

aplicação. A seguir alguns autores que trazem perspectivas de educação

diferenciadas, no entanto, complementares, pensam sobre o assunto.

De acordo com Libâneo (2002), a teoria e prática da educação é a

pedagogia. Educar é conduzir de um estado a outro, é modificar numa certa

direção o que é suscetível de educação – o ser humano. Para ele, o ato

pedagógico é uma atividade sistemática de interação entre seres sociais, tanto

no aspecto intrapessoal, quanto ao que se refere à influência do meio,

interação essa que se configura numa ação exercida sobre sujeitos ou grupos

de sujeitos visando provocar neles mudanças tão eficazes que os tornem

elementos ativos desta própria ação exercida.

Libâneo (2002) considera a interação entre as pessoas e entre os

grupos um elemento importante da educação, que provoca a inserção ativa do

sujeito no processo de aprendizagem.

De acordo com Dalmás (2004), a educação não é neutra. Por ela se

reforça ou se modifica a situação da sociedade, porque o ato de educar implica

sempre uma visão de mundo e uma intenção de como se propõe que com ele,

mundo, se relacione o indivíduo. Dalmás (2004) considera que a palavra

política sintetiza todas essas relações.

Sob outra perspectiva, Krishnamurti (2003) relaciona a educação com o

significado de vida. Para ele, compreender a vida é compreender a si mesmo e

este é o princípio e o fim da educação. Esse autor apresenta uma visão que

passa longe da concepção funcionalista da educação. Considera que a

educação não é uma simples questão de exercitar a mente. O exercício leva à

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eficiência, mas não produz a integração. A mente que foi apenas exercitada é o

prolongamento do passado, nunca pode descobrir o que é novo. Eis porque,

para averiguar o que é educação correta, cumpre a investigar o total significado

do viver.

Na compreensão de Krishnamurti (2003) a função da educação é criar

entes humanos integrados e, por conseguinte, inteligentes. E inteligência é a

capacidade de perceber o essencial, o que é; despertar essa capacidade, em si

próprio e nos outros, eis em que se resume a educação.

A definição de educação da Comissão Internacional sobre Educação

para o século XXI aproxima-se do conceito apresentado por Krishnamurti

(2003). Para ele, a educação ao longo de toda a vida é uma construção

contínua da pessoa humana. Através da educação o ser humano constrói o

seu saber e suas aptidões. Desenvolve, também, a sua capacidade de

discernir e agir. Nesta perspectiva, a educação deve levar o indivíduo a tomar

consciência de si próprio e do meio que o envolve, desempenhando assim o

papel social que lhe cabe no mundo do trabalho e na comunidade.

De acordo com Delors (2001), educador e membro dessa comissão, a

educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais

que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo, para cada indivíduo, os

pilares do conhecimento: aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos

da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente;

aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas

as atividades humanas; finalmente aprender a ser, via essencial que integra as

três precedentes. É claro que estas quatro vias do saber constituem apenas

uma, dado que existem entre elas múltiplos pontos de contato, de

relacionamento e de permuta.

Para Delors (2001), uma nova concepção ampliada de educação deveria

fazer com que todos pudessem descobrir, reanimar e fortalecer o seu potencial

criativo revelar o tesouro escondido dentro de cada um. Isto supõe que se

ultrapasse a visão puramente instrumental da educação, considerada como a

via obrigatória para obter certos resultados, saber-fazer, aquisição de

capacidades diversas, fins de ordem econômica; e se passe a considerá-la em

toda a sua plenitude: realização da pessoa que, na sua totalidade, aprende a

ser.

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Ao considerar autores como Meister (1999) e Eboli (2001), que tratam do

tema Educação Corporativa, encontra-se conceitos mais focados na

aplicabilidade da educação nas organizações. Para Meister (1999), a educação

deve ser permanente e estar centrada no aluno, onde a ênfase é oferecer aos

estudantes ferramentas e recursos para que eles se responsabilizem por sua

própria aprendizagem. Para essa autora a educação deve ter como foco as

qualificações, o conhecimento e as competências de que os profissionais

precisam dispor para obter sucesso no mercado global altamente instável.

Eboli (2001) considera que a educação deve favorecer a atuação

profissional de gestores e colaboradores de modo personalizado, criando desta

maneira condições propícias para o desenvolvimento de líderes eficazes. Para

ela, a educação é a fórmula da geração de líderes.

Como já foi dito no início desse texto, teria-se muito que explorar quanto

aos diferentes conceitos e abordagens sobre educação. O mais importante é

ter consciência de que a educação tem sempre como referência uma

concepção de sociedade e de homem e há, sempre, uma intencionalidade

configurada na sua prática. A educação não é um ato investido de neutralidade.

Aos agentes envolvidos no processo de Educação Corporativa cabe refletir e

observar qual a intencionalidade que está presente no ato de educar.

Intencionalidade essa que está representada nas concepções, políticas,

premissas e soluções de educação existentes na organização.

1.1 Teoria histórico-cultural de desenvolvimento humano

A origem das mudanças que ocorrem no ser humano, ao longo do seu

desenvolvimento, está na sociedade, na cultura e na sua história.

Essa afirmação advém da teoria histórico-cultural de desenvolvimento

humano, cujo principal representante foi Vygotsky (1896-1934). Para esse

teórico, que nasceu na Rússia e realizou seus estudos no campo da psicologia

e educação após a Revolução de 1917, o desenvolvimento ocorre por meio de

uma relação dinâmica que existe entre o indivíduo e o contexto histórico, social

e cultural em que vive. (STEIL, 2002).

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Para avançar no estudo da Teoria Histórico-cultural, é importante falar

sobre algumas visões existentes sobre o ser humano, o mundo, a sociedade,

as relações sociais. Essas visões são chamadas de concepções de

desenvolvimento humano, como concepções inatista, ambientalista e

interacionista. (STEIL, 2002).

1.1.1 Concepção Inatista

A concepção inatista de desenvolvimento humano explica que todas as

capacidades e qualidades do ser humano estão prontas quando ele nasce e

que, durante a sua vida, vão apenas amadurecendo ou desabrochando.

O desenvolvimento da pessoa ocorre de forma espontânea e suas

habilidades já são predeterminadas pelas condições herdadas, ou seja, quando

a pessoa nasce, essas habilidades já vêm junto e pouco mudam durante a

vida. O desenvolvimento vai obedecendo a um processo de maturação interna

que não sofre transformação a partir das influências do meio social. (STEIL,

2002).

Algumas expressões populares ilustram essa concepção: “Filho de

peixe, peixinho é”; “Pau que nasce torto morre torto”, “O homem já nasce

pronto”. (STEIL, 2002, p. 67).

1.1.2 Concepção Ambientalista

A concepção ambientalista entende o ser humano de forma oposta a

inatista. Acredita que aquilo que a pessoa herda ao nascer não influencia a sua

forma de ser no futuro. A pessoa vai sendo construída, de forma passiva, pelos

fatores externos, quase como se fosse uma massa de modelar. (STEIL, 2002).

O desenvolvimento ocorre a partir do sucesso ou do fracasso das

respostas que dá quando atende ao que o ambiente lhe determina. A pessoa

tende a repetir o que deu certo e, assim, os comportamentos são reforçados e

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se fixam como novas aprendizagens. Assim, a pessoa é vista como uma folha

em branco, que vai sendo preenchida pela realidade externa, ou seja, suas

experiências vão dando origem a comportamentos controlados pelo ambiente

social. (STEIL, 2002).

Algumas expressões populares que ilustram essa concepção: “O meio

faz o homem”; “Diz-me com quem andas e te direi quem és”. (STEIL, 2002, p.

69).

1.1.3 Concepção Interacionista

A concepção interacionista opõe-se à visão das duas concepções

anteriores, pois acredita que a pessoa aprende e se desenvolve por meio da

interação entre suas características biológicas e o meio físico e sócio-cultural

em que vive. O desenvolvimento e a aprendizagem não estão prontos ao

nascermos (inatismo), nem são adquiridos passivamente (ambientalismo). O

ser humano vivencia e conhece o mundo de forma ativa, porque transforma o

ambiente enquanto é também modificado pelo meio social. (OLIVEIRA, 2003).

De acordo com essa concepção, a ênfase do desenvolvimento humano

tem seu foco nas relações sociais que são estabelecidas no contexto

vivenciado pela pessoa. (OLIVEIRA, 2003).

A teoria histórico-cultural do desenvolvimento humano, abordada por

Vygotsky (1991), sustenta-se na concepção interacionista. Essa teoria

considera que o indivíduo tem uma participação ativa na construção do seu

desenvolvimento, porque ele vai formando e transformando o conhecimento de

si e do mundo, por meio da interação com as outras pessoas do seu meio

social. Dessa forma, o desenvolvimento humano caracteriza-se em uma

dimensão social, cultural e histórica. (STEIL, 2002).

Segundo essa teoria, o desenvolvimento é influenciado pela

aprendizagem que ocorre nas relações que partilha, nas experiências que

vivencia e no contexto sócio-cultural do qual se faz parte. (STEIL, 2002).

A inserção desses pressupostos no modelo pedagógico parte da crença

de que, para as organizações e para as pessoas que nelas estão inseridas, as

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experiências mais enriquecedoras são aquelas que ocorrem com

intencionalidade, ou seja, de forma consciente. O modelo, por meio de suas

orientações, procura favorecer essa intencionalidade nas ações educacionais

adotadas nas organizações. (MUNDIM; RICARDO, 2004).

1.2 Implicações na educação

1.2.1 A relação entre aprendizado e desenvolvimento

Para facilitar a compreensão das implicações da teoria histórico-cultural

na relação entre aprendizado e desenvolvimento, cabe, antes, esclarecer os

conceitos adotados para os termos aprendizagem e desenvolvimento:

Aprendizagem: é o processo pelo qual o individuo adquire informações,

habilidades, atitudes, valores entre outros. Esse processo diferencia-se dos

fatores inatos e dos processos de maturação do organismo. (OLIVEIRA, 2003).

Desenvolvimento: refere-se ao nível de maturação das funções

psicológicas, ou seja, à capacidade do indivíduo de se posicionar diante das

situações que vivencia utilizando os seus recursos internos: atenção,

percepção, sensação, memória, linguagem, raciocínio lógico e abstrato,

criatividade, imaginação, processos cognitivos que permitem generalização,

classificação, conclusão, dedução, inferência, análise, síntese, abstração,

conceituação, resolução de problemas. (ARAÚJO, 2003, apud OLIVEIRA,

2003).

Para explicar a relação entre aprendizagem e desenvolvimento,

Vygotsky (1991) postula que as condições que propiciam o desenvolvimento

não são inatas, mas proporcionadas pela vivência dos processos histórico-

sociais. Afirma que não é o fator biológico, mas sim os determinantes sócio-

culturais que estão diretamente ligados ao desenvolvimento humano.

Ao contrário de outras correntes teóricas, especialmente aquela

defendida por Piaget - que postula que o aprendizado ocorre antes do

desenvolvimento -, Vygotsky (1991) considera que a aprendizagem é que

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favorece o desenvolvimento das funções mentais. Para ele, desde o

nascimento da criança, o aprendizado está relacionado dinamicamente ao

desenvolvimento, mas não subordinado a ele.

Vygotsky (1991) acredita que existe um percurso de desenvolvimento,

em parte definido pelo processo de maturação do organismo individual,

pertencente à espécie humana. Mas é o aprendizado que possibilita o

despertar de processos internos que, não fosse o contato do indivíduo com o

ambiente cultural, não ocorreriam.

Por exemplo: um indivíduo poderá ter uma estrutura orgânica, biológica

que o habilite ao aprendizado da leitura e da escrita; entretanto, ele não

aprenderá a ler e a escrever se não estiver inserido em práticas sociais que

propiciem esse aprendizado. O aspecto orgânico funcionará apenas como base

para o desenvolvimento.

A crença de que o aprendizado possibilita o despertar dos processos

internos do indivíduo liga o desenvolvimento da pessoa à sua relação com o

ambiente em que vive e à sua situação de organismo que não se desenvolve

plenamente sem o suporte de outros indivíduos de sua espécie. Essa

importância que Vygotsky (1991) dá ao papel do outro social no

desenvolvimento dos indivíduos sedimenta-se na formulação do conceito de

zona de desenvolvimento proximal, que é um conceito específico de sua teoria,

essencial para consolidar a compreensão de suas idéias sobre a relação entre

desenvolvimento e aprendizado.

1.2.2 A Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP)

A Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) de um indivíduo é a

diferença entre o nível de desenvolvimento real, que é determinado pela

capacidade de solução independente de problemas, e o nível de

desenvolvimento potencial, que é determinado pela solução de problemas sob

orientação de outra pessoa ou o fornecimento de pistas ou ajuda direta.

(VYGOTSKY, 1991).

Esse modo de avaliar o desenvolvimento do indivíduo está presente na

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rotina e é comumente utilizado em pesquisas sobre o desenvolvimento infantil

e também nas práticas educacionais. Elas consideram apenas as conquistas

que já estão consolidadas na criança, aquelas funções psicológicas já bem

estabelecidas no momento, que lhe conferem a capacidade de realizar tarefas

de forma independente. É essa capacidade que é chamada por Vygotsky

(1991) de nível de desenvolvimento real.

Entretanto, Vygotsky (1991) chama a atenção para o fato de que, para

compreender adequadamente o desenvolvimento, deve-se considerar não

apenas o nível de desenvolvimento real da pessoa, mas também o seu nível de

desenvolvimento potencial, isto é, a sua capacidade de desempenhar tarefas

com a ajuda de um facilitador ou de companheiros mais capazes. Há tarefas

que uma pessoa não é capaz de realizar sozinha, mas é capaz de realizar se

alguém lhe der instruções, fizer uma demonstração, fornecer pistas ou der

assistência durante o processo.

Vygotsky (1991) diz que se a pessoa resolve o problema depois de lhe

fornecerem pistas ou mostrar como pode ser solucionado, ou se o facilitador

inicia a solução e a pessoa completa, ou, ainda, se ela resolve o problema com

a colaboração de outros indivíduos, em resumo, se por pouco a pessoa não é

capaz de resolver o problema sozinha – essa solução auxiliada deve ser vista

como um indicativo de seu desenvolvimento mental, pois aquilo que ela

consegue fazer com ajuda dos outros pode ser, de alguma maneira, muito mais

indicativo de seu desenvolvimento do que aquilo que consegue fazer sozinha.

É a partir da postulação da existência desses dois níveis de

desenvolvimento – real e potencial – que Vygotsky (1991) define a Zona de

Desenvolvimento Proximal (ZDP), evidenciando a distância entre o nível de

desenvolvimento real, que se costuma determinar por meio da solução

independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial,

determinado por meio da solução de problemas sob orientação de outro social

mais competente.

A Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) refere-se, assim, ao

caminho que o indivíduo vai percorrer para o desenvolvimento de funções que

estão em processo de amadurecimento e que se tornarão funções

consolidadas, estabelecidas no seu nível de desenvolvimento real. Aquela zona

é, pois, um domínio psicológico em constante transformação: aquilo que uma

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pessoa é capaz de fazer com ajuda de alguém hoje, ela conseguirá fazer

sozinha amanhã. É como se o processo de desenvolvimento progredisse mais

lentamente que o processo de aprendizado. (VYGOTSKY, 1991).

Para Vygotsky (1991), o aprendizado não é desenvolvimento, entretanto,

o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental

e põe em movimento vários processos de amadurecimento que de outra forma

seriam impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado é um aspecto

necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções

psicológicas.

Resumindo, o aspecto mais essencial da hipótese de Vygotsky (1991)

prevê a unidade, mas não a identidade entre os processos de desenvolvimento

e os processos de aprendizagem. “Essa hipótese pressupõe que um seja

convertido no outro; o desenvolvimento progride de forma mais lenta e atrás do

processo de aprendizado; desta seqüenciação resultam, então, as zonas de

desenvolvimento proximal”. (VYGOTSKY, 2001, p. 118).

A Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) provê os educadores e

psicólogos de um instrumento por meio do qual se pode entender o curso do

desenvolvimento, pois permite delinear o futuro imediato do aprendiz e seu

estado dinâmico de desenvolvimento, propiciando acesso não somente ao que

já foi desenvolvido (real, que é retrospectivo), como também ao que está em

maturação (potencial, que é prospectivo).

A compreensão plena do conceito de zona de desenvolvimento proximal

torna-o num conceito poderoso para o sistema de educação, podendo gerar

uma transformação nos métodos utilizados. Segundo Vygotsky (2001, p. 177),

“o aprendizado orientado para os níveis de desenvolvimento que já foram

alcançados é ineficaz do ponto de vista do desenvolvimento global da criança”.

Ele não se dirige a um novo estágio do processo de desenvolvimento, mas, ao

invés disso, vai a reboque desse processo. Assim, a noção de Zona de

Desenvolvimento Proximal capacita a propor uma nova fórmula, a de que o

bom aprendizado é somente aquele que se adianta ao desenvolvimento.

A implicação dessa concepção para o ensino escolar é imediata. Se o

aprendizado impulsiona o desenvolvimento, então a escola tem um papel

essencial na construção do ser psicológico adulto dos indivíduos que vivem em

sociedades escolarizadas. Mas o desempenho desse papel só se dará

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adequadamente quando, conhecendo o nível de desenvolvimento dos alunos,

a escola dirigir o ensino não para as etapas intelectuais já alcançadas, mas sim

para estágios de desenvolvimento ainda não incorporados pelos alunos,

funcionando realmente como um motor de novas conquistas psicológicas.

Para a criança que freqüenta a escola, o aprendizado escolar é

elemento central no seu desenvolvimento. A escola tem o papel de fazer a

criança avançar em sua compreensão do mundo, a partir de seu

desenvolvimento já consolidado e tendo com meta etapas posteriores, ainda

não alcançadas. (VYGOTSKY, 2001).

1.2.3 A mediação e a interação no processo de ensino-aprendizado

O processo de ensino-aprendizado sempre envolve aquele que aprende

e aquele que ensina e a relação entre essas duas partes. Para Vygotsky

(1991), justamente por sua ênfase nos processos sócio-históricos, a idéia de

aprendizado inclui interdependência dos indivíduos envolvidos no processo.

Assim, acerca da mediação nesse processo, Vygotsky (1991) aplica a

visão histórico-cultural dizendo que como na escola o aprendizado é um

resultado desejável, é o próprio objetivo do processo escolar, a intervenção é

um processo pedagógico privilegiado. O professor tem o papel explícito de

interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos, provocando

avanços que não ocorreriam espontaneamente. Os procedimentos regulares

que ocorrem na escola - demonstração, assistência, fornecimento de pistas,

instruções – são fundamentais na promoção do bom ensino. Isto é, a criança

não tem condições de percorrer sozinha, o caminho do aprendizado. A

intervenção de outras pessoas – que, no caso específico da escola, são os

professores e as demais crianças – é fundamental para a promoção do

desenvolvimento do indivíduo.

Diz ainda que é importante destacar, aqui, o risco de uma interpretação

distorcida da posição de Vygotsky (1991), que poderia levar à compreensão de

que ele propõe uma postura diretiva, intervencionista, uma volta à educação

tradicional. Embora Vygotsky (1991) enfatize o papel da intervenção no

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desenvolvimento, seu objetivo é trabalhar com a importância do meio cultural e

das relações entre indivíduos na definição de um percurso de desenvolvimento

da pessoa humana, e não propor uma pedagogia diretiva, autoritária.

Nem seria possível supor, a partir de Vygotsky (1991), um papel de

receptor passivo para o educando: ele trabalha explícita e constantemente com

a idéia de reconstrução, de reelaboração, por parte do indivíduo, dos

significados que lhe são transmitidos pelo grupo cultural. A consciência

individual e os aspectos subjetivos que constituem cada pessoa são, para

Vygotsky (1991), elementos essenciais no desenvolvimento da psicologia

humana, dos processos psicológicos superiores. A constante recriação da

cultura por parte de cada um dos seus membros é a base do processo

histórico, sempre em transformação, das sociedades humanas.

No contexto da Educação Corporativa, também o conceito de mediação

aplica-se de forma bastante relevante, pois a aprendizagem e o

desenvolvimento são permanentemente mediados pelos agentes envolvidos,

seja por meio de atividades estruturadas em ambientes de aprendizagem

específicos, seja no dia-a-dia das unidades de trabalho, onde o processo de

construção do conhecimento necessário à realização das atividades ocorre por

meio da partilha de significados e sentidos, via a interação social, e é

permanentemente mediado pelos gestores e pelos demais integrantes das

equipes de trabalho.

1.3 Aprendizagem centrada na pessoa

A teoria psicológica de Carl Rogers – psicólogo, historiador e

psicoterapeuta por mais de trinta anos – foi responsável pelo acesso e

reconhecimento da importância de se estruturar uma visão psicológica das

relações interpessoais. Este universo, segundo o teórico, anteriormente era

apenas acessado por médicos psiquiatras.

Rogers (1969, apud COSTA, 2001) é considerado um representante da

corrente humanista, não diretiva em educação. Esta corrente – o rogerianismo

– aparece como um movimento que implica uma filosofia da educação, uma

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teoria da aprendizagem, uma prática baseada em pesquisas, uma tecnologia

educacional e uma ação política. Ação política no sentido de que, para se

desenvolver uma educação centrada na pessoa, as estruturas educacionais

devem rever seus processos. Ao tomar essa posição, percebe-se que, para

Rogers (1969, apud COSTA, 2001), o sistema educacional deverá ter sempre

como objetivo o desenvolvimento das pessoas de uma forma plena e,

simultaneamente, que as conduza a sua auto-realização.

No Brasil as idéias de Rogers (1969, apud COSTA, 2001), tiveram

difusão na década de 70, durante o auge da contracultura representada em

parte pelo movimento hippie, ganhando grande aceitação na psicologia clínica

e na educação, principalmente no campo da orientação educacional. Ele

também adaptou suas idéias ao campo da diplomacia, na solução de conflitos

regionais e internacionais. Com essa pretensão, Rogers (1969, apud COSTA,

2001) reuniu-se com protestantes e católicos em conflito na Irlanda, bem como

com brancos e negros para solucionar o racismo na África do Sul, além de ter

criado nos Estados Unidos o Projeto pela Paz, em 1985.

O posicionamento filosófico-teórico de Rogers (1969, apud COSTA,

2001), e sua visão do ser humano foram bastante avançados para sua época.

Ambos são definidos dentro de um entendimento holístico e sistêmico do

homem.

Existe dentro do homem um princípio fundamental à auto-realização: a

tendência natural do organismo para atingir um grau de maior harmonia interna

e externa, exercitando suas potencialidades adaptativas de acordo com o seu

desenvolvimento global junto ao meio em que vive. (COSTA, 2001).

O teórico estava convencido de que tal como ocorre com uma planta,

que mesmo em locais insalubres luta em busca do sol e da vida, embora os

meios lhe sejam adversos, os seres humanos têm um impulso inerente ao

organismo como um todo para se direcionar ao desenvolvimento de suas

capacidades tanto quanto for possível, quer sejam físicas, morais ou

intelectuais. (COSTA, 2001).

Na sua evolução, as idéias do autor passam do campo exclusivo da

psicoterapia para serem aplicadas em áreas como organizações, grupos e

educação. Progressivamente, a filosofia de base humanista, que está

subjacente no quadro conceitual da Abordagem Centrada no Cliente ou

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Pessoa, foi encontrando eco em pessoas de horizontes profissionais diversos,

no domínio da Educação, acabando por se construir uma base teórica

conhecida atualmente como Aprendizagem Centrada na Pessoa. (OLIVEIRA,

2003).

O homem sabe o que é melhor para ele: o homem conta com os seus

sentidos aprimorados ao longo da evolução da espécie para fazer suas

escolhas. (OLIVEIRA, 2003).

A sua natureza está pronta para valorizar atitudes como o cuidado, o

carinho, a atenção, que são comportamentos que contribuem para sua

harmonia. (OLIVEIRA, 2003).

A sociedade e a cultura, por vezes, desenvolvem mecanismos que

contrariam as relações potencialmente harmoniosas. Como exemplo, Rogers

cita a valorização condicional, hábito que a família, a escola e outras

instituições sociais têm de apenas atender às necessidades dos indivíduos se

eles provarem serem merecedores. Decorre disso o que o teórico chamou de

consideração positiva condicional, cujo exemplo típico é o carinho dos pais

dado como recompensa por bom comportamento. Ao se ver pressionada a

corresponder às expectativas sociais, a pessoa se sente numa situação de

ameaça, o que a leva a desenvolver defesas psicológicas. (COSTA, 2001).

Toda percepção que o homem tem do mundo é dotada de significado:

por mais simples que o significado seja, ele se articula na percepção total que a

pessoa tem de si mesma. É a partir da percepção que o conhecimento se

adquire. (COSTA, 2001).

O conhecimento é organizado no, e pelo indivíduo, em vez de ser

organizado para o indivíduo. Por meio de várias experiências, o homem vai se

transformando em pessoa e adquirindo novos estímulos para sua percepção.

Rogers (1969, apud COSTA, 2001), define o termo pessoa para o indivíduo

que atinge a maturidade de ser. A maturidade é alcançada a partir do

desenvolvimento de atitudes mais positivas referentes à percepção do mundo e

à aceitação de si. A maturidade altera as estruturas da personalidade a partir

da incorporação pelo homem de suas experiências anteriores nas suas atitudes

diante do mundo. Nesse contexto ocorre a aprendizagem.

A aprendizagem provoca modificação no comportamento, na orientação

futura que o indivíduo escolhe, nas suas atitudes e personalidade. Para Rogers

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(1969, apud COSTA, 2001), a aprendizagem é mais que uma acumulação de fatos.

O indivíduo só aprende o que é necessário para ele. A aprendizagem

torna-se significativa quando o facilitador aceita o aprendiz tal como ele é,

compreendendo os sentimentos que este manifesta. A aprendizagem autêntica

é baseada no próprio aprendiz e no seu crescimento. O aprendiz precisa estar

em contato real com os problemas para aprender. Aprender é desejar crescer,

descobrir e querer criar, o que pressupõe uma confiança básica nele mesmo e

no seu próprio crescimento. (COSTA, 2001).

A postura do facilitador é fundamental na aprendizagem: se ele for

congruente, a aprendizagem é facilitada. Isso requer que o facilitador tenha

consciência plena de suas atitudes, sentindo-se receptivo aos seus

sentimentos reais, tornando-se uma pessoa real e não representando um papel

com os seus aprendizes. É função do facilitador estabelecer uma relação com

os aprendizes fazendo parte do grupo e não colocando-se acima deles. Toda

noção de hierarquia nessa relação deve ser destituída. O facilitador deve

permitir que os aprendizes tornem-se plenamente funcionais, ou seja,

saudáveis. As principais marcas deste estado de funcionalidade são a abertura

a novas experiências, a capacidade de viver o aqui e o agora, a confiança nos

próprios desejos e intuição, a liberdade e a responsabilidade de agir e a

disponibilidade para criar. As maiores qualidades de um facilitador são saber

contribuir para esses processos e interferir o menos possível. É esse o

significado do termo não diretivo, a marca registrada da Aprendizagem

Centrada na Pessoa. (COSTA, 2001).

1.3.1 Principais conceitos

1.3.1.1 Não diretividade

A não diretividade segundo Rogers (1969, apud COSTA, 2001), define

como sendo a crença do facilitador na autonomia, na capacidade do aprendiz e

no seu direito de escolher qual a direção a tomar no seu comportamento e sua

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responsabilidade por este. A atitude não diretiva pode ser transmitida mediante

respostas e sentimentos do facilitador, sem que este dirija o processo de

aprendizagem. O facilitador acompanha o aprendiz, não a partir do seu próprio

quadro de referência, mas a partir do quadro de referência que tem o aprendiz.

1.3.1.2 Aceitação positiva incondicional

A aceitação positiva incondicional trata-se da aceitação incondicional do

aprendiz pelo facilitador, como o aprendiz é, sem juízo de valor ou críticas.

Desta forma, o aprendiz pode sentir-se livre – liberdade de experiência – para

reconhecer e elaborar suas próprias experiências da forma como entender e

não como julgar ser conveniente para o outro. Poderá, então, sentir que não é

necessário abdicar das suas convicções para que os outros os aceitem,

conforme Rogers (1969, apud COSTA, 2001).

1.3.1.3 Compreensão empática

A compreensão empática de acordo com Rogers (1969, apud COSTA,

2001), define como sendo uma capacidade de se imergir no mundo subjetivo

do outro e de participar de sua experiência, na extensão em que a

comunicação verbal ou não verbal o permite. É a capacidade de se colocar

verdadeiramente no lugar do outro, de ver o mundo como ele o vê.

A compreensão empática é um processo dinâmico que significa a

capacidade do facilitador de penetrar no universo perceptivo do aprendiz, sem

julgamento, tomando consciência dos sentimentos deste, sem, no entanto,

deixar de respeitar o ritmo de descoberta de si próprio que tem o aprendiz. A

pessoa sente-se não apenas aceita, mas também compreendida como pessoa,

na sua globalidade. (COSTA, 2001).

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1.3.1.4 Congruência

A congruência pretende indicar o estado de coerência ou acordo interno

e de autenticidade de uma pessoa, a qual se traduz na sua capacidade de

aceitar os sentimentos, as atitudes, as experiências, de ser genuíno e integrado

na relação com o outro, segundo Rogers (1969, apud COSTA, 2001).

1.3.2 Aprendizagem centrada no aluno: a teoria rogeriana aplicada à

educação

A aprendizagem, para Rogers (1969, apud COSTA, 2001), é uma

insaciável curiosidade inerente ao ser humano e a essência da aprendizagem é

o significado. Por essa razão, a passividade muitas vezes vivida na sala de

aula, produto e produtora de desinteresse, é um dos maiores inimigos de uma

aprendizagem eficaz.

É importante que o facilitador tente encontrar o fio condutor que orienta o

aprendiz, que ele se direcione ao encontro do que o aprendiz tenta

compreender e, se necessário, reformule os conhecimentos e métodos de

ensinar. O objetivo primordial desse modelo é que o aprendiz abandone a

passividade e adquira um papel ativo, de intervenção no seu próprio processo

de aprendizagem, o que significa que a aprendizagem deixa de estar centrada

no facilitador, para ser centrada no aprendiz.

O ato de aprender é um ato individual; aquilo que se aprende adquire

para cada pessoa um sentido e um significado próprio. Desse modo, as

aprendizagens serão sempre diferentes.

Um facilitador que se limite a expor uma série de conhecimentos aos

seus aprendizes baseando-se exclusivamente na transmissão desses

conhecimentos não conseguirá certamente ensinar, pois poderá correr o risco

de não haver uma verdadeira compreensão dos conteúdos. Os bons resultados

do aprendiz podem até acontecer, mas serão frutos de um trabalho de

mecanização ou memorização. (COSTA, 2001).

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Aprender traduz-se num processo de construção, no qual o aprendiz tem

um papel decisivo na construção do seu conhecimento onde o facilitador será o

orientador. (COSTA, 2001).

Ensinar requer maturidade e segurança por parte do facilitador que

permite, por um lado, diminuir a assimetria do seu poder enquanto docente,

partilhando a responsabilidade do processo de aprendizagem, e por outro,

acreditar na capacidade do aprendiz de pensar e aprender por si próprio. Para

Rogers (1969, apud COSTA, 2001), ensinar é a ação interativa de comunicar

um conhecimento, habilidade ou experiência a alguém.

1.4 A aprendizagem significativa segundo David Ausubel

No fim do século XIX e começo do século XX, os movimentos

migratórios judaicos tomaram a direção da América. Os judeus juntavam-se

assim aos milhões que deixavam uma Europa empobrecida e dilacerada pelos

conflitos, em busca de uma nova vida. Naquela época, cerca de 350 mil judeus

se comprimiam no bairro do Lower East Side, em velhos e dilapidados prédios.

Nos pequenos e confinados estabelecimentos, conhecidos como sweat-shops,

porque lá realmente se suava, centenas de pessoas trabalhavam cerca de até

dezesseis horas por dia em troca de um pagamento miserável. (ALMEIDA;

LIMA; OLIVEIRA, 2007).

No romance chamado Judeus sem Dinheiro, Gold (apud ALMEIDA;

LIMA; OLIVEIRA, 2007), descreve as agruras do bairro judeu naquele período.

A escola era considerada um cárcere para meninos. No livro, ele relata o

episódio de um garoto judeu de seis anos de idade que, por dizer um palavrão

na escola, recebe um castigo: lavam a sua boca com sabão de lixívia. O garoto

achou que comer sabão era uma experiência desagradável, mas seus pais

consideraram um crime terem obrigado seu filho a comer porco, proibido pela

lei mosaica, já que o sabão era feito com o sebo do porco.

Esse episódio serve perfeitamente de ilustração para a teoria de

aprendizagem que um daqueles garotos desenvolveria mais tarde: Ausubel. A

sua Teoria da Aprendizagem Significativa é o oposto da educação reacionária

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e violenta descrita no romance. A construção dos valores teóricos de Ausubel

reforçam a participação, as experiências e o conhecimento prévio do aprendiz,

ou seja, dá ao indivíduo a oportunidade de que vivências e conhecimentos

exteriores à sala de aula dêem significado ao que é aprendido. Para ele, a

simples memorização de um conteúdo sem sentido é o oposto de uma

aprendizagem significativa. (ALMEIDA; LIMA; OLIVEIRA, 2007).

1.4.1 O que é a aprendizagem significativa

Para Ausubel (1980, apud MOREIRA, 1999), aprendizagem significativa

é um processo por meio do qual uma nova informação se relaciona, de maneira

substantiva e não arbitrária, a um aspecto relevante – e já existente - da

estrutura cognitiva do indivíduo. Isto é, nesse processo a nova informação

interage com uma estrutura de conhecimento específica, a qual Ausubel chama

de conceito subsunçor, ou, simplesmente, subsunçor, existente na estrutura

cognitiva de quem aprende.

No entendimento de Ausubel (1980, apud MOREIRA, 1999) a

aprendizagem significativa é o mecanismo humano, por excelência, utilizado

para adquirir e armazenar a vasta quantidade de idéias e informações

representadas em qualquer campo do conhecimento.

De acordo com Moreira (1999), a não-arbitrariedade e a substantividade

são as características básicas da aprendizagem significativa.

Não-arbitrariedade quer dizer que o material potencialmente significativo

se relaciona de maneira não-arbitrária com o conhecimento já existente na

estrutura cognitiva do aprendiz. Ou seja, o relacionamento não é com qualquer

aspecto da estrutura cognitiva, mas sim com conhecimentos especificamente

relevantes, os quais Ausubel (1980, apud MOREIRA, 1999) chama de

subsunçores.

Substantividade significa que o que é incorporado à estrutura cognitiva

do aprendiz é a substância do novo conhecimento, das novas idéias, não as

palavras precisas usadas para expressá-las. Ou seja, para expressar uma

idéia, muitos e diferentes signos podem ser usados. A aprendizagem

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significativa não pode depender do uso exclusivo de determinados signos em

particular. (MOREIRA, 1999).

Para exemplificar os conceitos acima apresentados, pode-se dizer que

aprender significativamente o que é uma Universidade Corporativa no contexto

organizacional dependeria da relação não-arbitrária feita pelo aprendiz com

algum conhecimento já existente, como por exemplo, a Educação Corporativa,

um conteúdo relevante que lhe possibilitaria a inclusão na sua estrutura

cognitiva do que é uma Universidade Corporativa. (ALMEIDA; LIMA;

OLIVEIRA, 2007).

1.4.2 O processo da aprendizagem significativa

A aprendizagem significativa ocorre quando “a nova informação ancora-

se em conhecimentos especificamente relevantes (subsunçores) preexistentes

na estrutura cognitiva.” (MOREIRA, 1999, p. 11). Ou seja, novas idéias ou

conceitos podem ser aprendidos e retidos significativamente, na medida em

que outras idéias, conceitos, proposições, especificamente relevantes, estejam

adequadamente claros e disponíveis na estrutura cognitiva do aprendiz e

funcionem como pontos de ancoragem para os primeiros.

Segundo Ausubel (apud MOREIRA, 1999, p. 12), a experiência cognitiva

não está restrita:

À influência direta dos conceitos já aprendidos significativamente sobre componentes da nova aprendizagem, mas abrange também modificações significativas em atributos relevantes da estrutura cognitiva pela influência do novo material. Há, pois, um processo de interação no qual conceitos mais relevantes e inclusivos interagem com o novo material, servindo de ancoradouro, incorporando-o e assimilando-o; porém, ao mesmo tempo, modificando-se em função dessa ancoragem. (AUSUBEL apud MOREIRA, 1999, p. 12).

A aprendizagem significativa caracteriza-se, pois, por uma interação

(não por uma simples associação) entre os aspectos específicos e relevantes

da estrutura cognitiva e as novas informações por meio das quais essas

adquirem significado e são integradas à estrutura cognitiva de maneira não-

arbitrária, contribuindo para a diferenciação, elaboração e estabilidade dos

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subsunçores preexistentes e, consequentemente, da própria estrutura

cognitiva. (MOREIRA, 1999).

De acordo com Moreira (1999), é nessa interação, característica da

aprendizagem significativa, que o conhecimento prévio se modifica pela

aquisição de novos significados. Ele cita Ausubel, quando diz que a

compreensão genuína de um conceito ou proposição implica a posse de

significados claros, precisos, diferenciados e transferíveis. Para Ausubel (1980,

apud MOREIRA, 1999), aprender é sinônimo de compreender. Para ele, aquilo

que se compreende será o que se aprenderá melhor, porque ficará integrado

na estrutura de conhecimentos.

1.4.2.1 Aprendizagem significativa e aprendizagem mecânica

Ausubel (1980, apud MOREIRA, 1999) contrapõe a aprendizagem

significativa à aprendizagem mecânica. Segundo ele, na aprendizagem

mecânica, as novas informações são aprendidas seminteração com o conteúdo

previamente existente na estrutura cognitiva, ou seja, sem se ligar a

subsunçores específicos. No processo da aprendizagem mecânica, a nova

informação é como que armazenada de maneira arbitrária, já que não interage

com outras já existentes na estrutura cognitiva.

Já na aprendizagem significativa há a incorporação substantiva e não-

arbitrária pelo aprendiz de novo conhecimento à estrutura cognitiva. Nessa

aprendizagem há por parte do aprendiz um esforço deliberado para ligar o novo

conhecimento a conceitos preexistentes, inclusivos na estrutura cognitiva

(MOREIRA, 1999).

Ao aprender, o sujeito tem um compromisso afetivo de relacionar novos

conhecimentos a conhecimentos prévios, ocorre então uma produção criativa.

(MOREIRA, 1999).

Na aprendizagem mecânica há a incorporação não-substantiva e

arbitrária pelo aprendiz do novo conhecimento a sua estrutura cognitiva. Ele

não faz nenhum esforço para integrar esse novo conhecimento a conceitos

preexistentes e não tem nenhum compromisso afetivo de relacionar esses

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novos conhecimentos a conhecimentos prévios. A aprendizagem mecânica é a

maior parte da aprendizagem que se dá na escola de ensino tradicional.

(MOREIRA, 1999).

Obviamente, a aprendizagem mecânica não se processa em um “vácuo cognitivo”, pois algum tipo de associação pode existir, porém, não no sentido de interação como na aprendizagem significativa. Além disso, embora a aprendizagem significativa deva ser preferida à mecânica, por facilitar a aquisição de significados, a retenção e a transferência de aprendizagem, pode ocorrer que em certas situações a aprendizagem mecânica seja desejável ou necessária; por exemplo, em uma fase inicial da aquisição de um novo corpo de conhecimento. Na verdade, Ausubel não estabelece a distinção entre aprendizagem significativa e mecânica como sendo uma dicotomia, e sim como um continuum. (MOREIRA, 1999, p. 14).

1.4.2.2 Condições para ocorrência da aprendizagem significativa

A essência do processo de aprendizagem significativa é que idéias

simbolicamente expressas sejam relacionadas, de maneira substantiva (não-

literal) e não-arbitrária, ao que o aprendiz já sabe, ou seja, a algum aspecto da

sua estrutura cognitiva especificamente relevante, isto é, um subsunçor, que

pode ser, por exemplo, uma imagem, um símbolo, um conceito ou uma

proposição já significativos. (AUSUBEL, 1980, apud MOREIRA, 1999).

Para Ausubel (1980, apud MOREIRA, 1999), uma das condições para a

ocorrência da aprendizagem significativa é que o material novo a ser aprendido

seja potencialmente significativo: que ele seja relacionável à estrutura cognitiva

do aprendiz.

Segundo Moreira (1999), para um material ser potencialmente

significativo são necessárias duas condições que dizem respeito:

a) à natureza do material: ele deve ter significado lógico, ou seja, ser

suficientemente não-arbitrário e não-aleatório, de modo que possa

ser relacionado a idéias correspondentemente relevantes, que se

situem dentro do domínio da capacidade humana de aprender;

b) à natureza da estrutura cognitiva do aprendiz: nela devem estar

disponíveis os conceitos subsunçores específicos, com os quais o

novo material poderá relacionar.

De acordo com Moreira (1999), a aquisição de significados é o produto

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da aprendizagem significativa, ou seja, o significado real para o indivíduo

(significado psicológico) emerge quando o significado potencial (significado

lógico) do material de aprendizagem converte-se em conteúdo cognitivo

diferenciado e idiossincrático por ter sido relacionado, de maneira substantiva e

não-arbitrária, e por ter interagido com idéias relevantes existentes na estrutura

cognitiva do indivíduo.

Para Ausubel, é no curso da aprendizagem significativa que o significado

lógico do material de aprendizagem se transforma em significado psicológico

para o aprendiz (MOREIRA, 1999).

Ausubel faz uma distinção importante entre esses dois conceitos:

significado lógico e significado psicológico. Segundo esse autor, no processo

de aprendizagem significativa, o significado lógico deve se transformar em

significado psicológico (MOREIRA, 1999).

O significado lógico refere-se ao significado inerente a certos tipos de materiais simbólicos (...). A evidência do significado lógico está na possibilidade de relacionamento, de maneira substantiva e não-arbitrária, entre material e idéias situadas no domínio da capacidade intelectual humana. O conteúdo das matérias ensinadas na escola é, por definição, logicamente significativo, as tarefas escolares não se ressentem de significado lógico. (MOREIRA, 1999, p. 22)

Mas, isso não é suficiente para que haja aprendizagem. Na melhor das

hipóteses, as matérias de ensino podem ter significado lógico. Na sua

interpretação sobre a teoria de Ausubel (apud MOREIRA, 1999) é bastante

claro ao dizer que é o seu relacionamento com a estrutura cognitiva de um

aprendiz em particular que a (matéria de ensino) potencialmente significativa e,

assim, cria possibilidade de transformar significado lógico em psicológico,

durante a aprendizagem significativa.

1.4.3 A aprendizagem significativa em um enfoque Vygotskyano

Para Vygotsky (1991), o desenvolvimento cognitivo é entendido em

referência ao contexto social, histórico e cultural em que ocorre. Para ele, a

origem dos processos mentais superiores – pensamento, linguagem,

comportamento voluntário – está nos processos sociais, sendo o

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desenvolvimento cognitivo a transformação de relações sociais em funções

mentais.

Segundo Vygotsky (1991), esse processo ocorre primeiro em nível social

e depois em nível individual; primeiro entre as pessoas (interpessoal) e depois

no interior do indivíduo (intrapessoal).

A conversão de relações sociais em processos mentais superiores é

mediada por instrumentos e signos e, para Vygotsky (1991), o desenvolvimento

cognitivo se dá por meio da internalização desses instrumentos e signos.

Ora, se os instrumentos e signos são construções sócio-históricas e

culturais, é por meio da interação social que o aprendiz se apropria destas

construções. Na teoria de Vygotsky (1991), é a interação social que é enfocada

e não o indivíduo, como uma unidade de análise. “É ela o veículo fundamental

para a transmissão dinâmica, inter e intrapessoal, do conhecimento construído

social, histórica e culturalmente.” (MOREIRA, 1999, p. 91).

Para internalizar signos, o ser humano tem de captar, por meio da

linguagem, os significados já compartilhados socialmente. Logo, a linguagem é

imprescindível para Vygotsky (1991). O manejo da linguagem é importante

para a interação social, mas sendo a língua um sistema de signos, sua

aquisição também depende, fundamentalmente da interação social.

Para Moreira (1999), falar em aprendizagem significativa faz total sentido

em uma abordagem Vygotskyana. A aprendizagem significativa, por definição,

envolve aquisição e construção de significados, é no curso dessa

aprendizagem que o sujeito transforma o significado lógico dos materiais em

significado psicológico. Para ele, essa transformação apresentada por Ausubel

é análoga à internalização de instrumentos e signos de Vygotsky, pois

materiais de aprendizagem são, essencialmente, instrumentos e signos no

contexto de uma certa matéria de ensino. Moreira (1999) exemplifica a física

como um sistema de signos com seus instrumentos (procedimentos e

equipamentos) e aprender física de maneira significativa como sendo a

internalização dos significados aceitos e construídos socialmente para esses

instrumentos e signos no contexto da física.

A atribuição de significados a novas informações pelo processo de

interação com significados já existentes na estrutura cognitiva – característico

da aprendizagem significativa, para Moreira (1999), em geral não acontece de

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36

imediato. Ao contrário, são processos que requerem uma circulação e troca de

significados, tipicamente Vygotskyana. Outra questão que favorece a

relevância da interação social para a aprendizagem significativa é a

importância que Ausubel atribui à linguagem na aprendizagem significativa.

Para todas as finalidades práticas, a aquisição de conhecimento na

matéria de ensino depende da aprendizagem verbal e de outras formas de

aprendizagem simbólica. De fato, é em grande parte devido à linguagem e à

simbolização que a maioria das formas complexas de funcionamento cognitivo

se torna possível. (AUSUBEL, 1980, apud MOREIRA, 1999).

Moreira (1999) conclui dizendo que tem, portanto, muito sentido falar em

aprendizagem significativa em um enfoque Vygotskyano à aprendizagem. A tal

ponto que poderia se inverter o argumento e dizer que tem muito sentido falar

em interação social Vygotskyana em uma perspectiva ausubeliana à

aprendizagem.

“Quer dizer, a aprendizagem significativa depende de interação social,

de intercâmbio, de troca de significados via interação social.” (MOREIRA, 1999,

p. 95).

Moreira (1999) considera a aprendizagem significativa como um conceito

subjacente, subentendido, às teorias construtivistas, sejam elas cognitivistas ou

humanistas. Seria um conceito suprateórico. Porém, ele se preocupa com uma

possível banalização do conceito de aprendizagem significativa, resultante de

uma incorporação superficial do conceito ao discurso sobre ensino e

aprendizagem, do que com teorizações a respeito do assunto. Moreira (1999)

enfoca a questão da facilitação da aprendizagem significativa no processo

ensino-aprendizagem, procurando evidenciar que não há nada de trivial nisso e

que da perspectiva instrucional os significados que Ausubel atribui ao conceito

de aprendizagem significativa são os de maior potencial para o educador.

1.4.4 Algumas considerações básicas sobre como facilitar a ocorrência da

aprendizagem significativa

Ao falar da contribuição de Ausubel, para o processo ensino-

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aprendizagem, Carretero (2002) diz que o conhecimento que se transmite, em

qualquer situação de aprendizagem, deve estar estruturado não só em si

mesmo, mas levando em consideração o conhecimento que o aprendiz já

possui. Isto é, em qualquer nível educativo, é necessário levar em

consideração o que o aprendiz já sabe sobre o que ensinar, posto que o novo

conhecimento se assentará sobre o antigo. Com muita freqüência, os

educadores estruturam os conteúdos do ensino levando em conta

exclusivamente o ponto de vista da disciplina, pelo o que alguns temas ou

questões precedem a outros, como se todos eles tivessem a mesma

dificuldade para o aprendiz. A colaboração fundamental de Ausubel para o

educador consistiu na concepção de que a aprendizagem deve ser uma

atividade significativa para a pessoa que aprende e tal significação está

diretamente relacionada com a existência de relações entre o conhecimento

novo e o que o aprendiz já possui.

Para Moreira (1999), é necessário levar em conta que o que se ensina é

igualmente um sistema de construção. As teorias, os princípios, os conceitos

são construções humanas e, portanto, sujeitos a mudanças, a reconstrução, a

reorganização. Em uma situação de ensino, são três os construtos envolvidos:

os construtos pessoais do aprendiz, os construtos da matéria de ensino e os

construtos do educador. Nenhum deles é definitivo. Não faz sentido ensinar

qualquer matéria como se fosse conhecimento definitivo. Mas é preciso cuidar

para não se cair no relativismo, pois sempre há construções melhores do que

outras, mais significativas para o aprendiz, e algumas são decididamente

pobres.

Para Ausubel (1980, apud MOREIRA, 1999) a facilitação da

aprendizagem significativa é levada a efeito de duas formas:

a) substantivamente: com propósitos organizacionais e integrativos,

usando os conceitos e proposições unificadores do conteúdo da

matéria de ensino, que têm maior poder explanatório, inclusividade,

generalidade e relacionabilidade de conteúdo;

b) programaticamente: empregando princípios programáticos para

ordenar seqüencialmente a matéria de ensino, respeitando sua

organização e lógica internas e planejando a realização de atividades

práticas.

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É necessário fazer uma análise conceitual do conteúdo para identificar

conceitos, idéias e procedimentos básicos, e concentrar neles o esforço

instrucional. É importante não sobrecarregar o aprendiz de informações

desnecessárias, dificultando a organização cognitiva.

A análise crítica da matéria de ensino deve ser feita visando o aprendiz.

De nada adianta o conteúdo ter boa organização lógica, cronológica ou

epistemológica, e não ser possível de se aprender psicologicamente. (COSTA,

2001).

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39

CAPÍTULO II

EDUCAÇÃO CORPORATIVA

2 INTRODUÇÃO

O ambiente empresarial absorveu ao longo dos anos, das instituições de

ensino, os tradicionais moldes de aprendizagem e incorporou-os aos seus

programas de treinamento e desenvolvimento. Num momento onde estes

padrões são seriamente questionados em função das novas exigências por

educação continuada, é natural que as empresas também revejam seus

objetivos, metodologias e infra-estruturas em Educação Corporativa. (MUNDIM;

RICARDO, 2004).

Objetivando preparar a força de trabalho para a constante evolução que

o século XXI lhe impõem, o conceito mais consonante com a nova realidade

em treinamento profissional, trata-se da Educação Corporativa. (MUNDIM;

RICARDO, 2004).

Hoje cerca de 60% das 500 maiores empresas Norte Americanas, nos

mais diversos segmentos de sua economia, têm em sua estrutura a mais

moderna e importante gestão para o capital intelectual, as Universidades

Corporativas. (FREITAS, 2009).

Uma das maiores diferenças entre o treinamento e desenvolvimento

tradicional e este novo conceito está na própria nomenclatura Universidade

Corporativa, pois deixa claro a todos os funcionários, parceiros, fornecedores,

clientes, enfim toda a rede que compõem as relações da empresa, de que a

evolução e atualização profissional para manter-se com o que é de mais

avançado tecnologicamente no mercado é muito importante para si. Fica

evidente principalmente à sua força de trabalho de que a empresa tem um

caminho a ser seguido para o seu desenvolvimento profissional e que não

seguir nessa trilha proposta o deixará afastado dos objetivos corporativos.

(FREITAS, 2009).

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Já no treinamento tradicional, por vezes, a falta de engajamento a um

evento é encarado, pelo funcionário, como algo que lhes foi oferecido, porém,

segundo a sua visão pode não ser aceito, pois acredita que se trate de um

prêmio que a empresa lhe ofereceu e não como em um investimento

profissional. (FREITAS, 2009).

Evidentemente a empresa investiu neste funcionário para ter retorno,

como em qualquer outra aplicação. Mas infelizmente prevaleceu a mentalidade

do antigo paradigma: o esforço sobre humano de horas na obra é muito bem

visto, entretanto pela antiga economia. Para a economia do conhecimento o

fato remete à conclusão de que, talvez, a sua desorganização é o que o levou

a permanecer mais tempo dentro de seu trabalho, fazendo com que se ausente

de um aperfeiçoamento, além de evidenciar falta de comprometimento com os

objetivos da corporação. (FREITAS, 2009).

O que está por trás disso tudo é uma profunda mudança de paradigma,

que seja capaz de instaurar uma filosofia de educação permanente, pautada

nas estratégias organizacionais. (FREITAS, 2009).

2.1 Educação Corporativa e Universidade Corporativa

Tradicionalmente, o processo de educação dentro das corporações era

considerado, e em muitos casos ainda é, função do departamento de recursos

humanos, mais precisamente da área de treinamento e desenvolvimento. À

medida que cresce a consciência de que a educação é um processo contínuo e

não um evento isolado, a Educação Corporativa ganha força nas organizações.

(FREITAS, 2009).

Educação Corporativa é a utilização de sistemas educacionais que

visam o desenvolvimento de atitudes, posturas e habilidades e não apenas

conhecimento técnico e instrumental aos empregados de uma organização,

tendo como objetivo final o alcance dos objetivos do negócio. (MUNDIM;

RICARDO, 2002).

Para Meister (1999) a Educação Corporativa tem por finalidade o

desenvolvimento e educação dos funcionários, clientes e fornecedores, visando

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atender às estratégias empresariais.

O objetivo da aprendizagem corporativa é desenvolver meios de

alavancar novas oportunidades, entrar em novos mercados, criar

relacionamentos mais profundos com os clientes e impulsionar a organização

para um novo futuro. (MEISTER, 1999).

Dos programas de Educação Corporativa surgem às Universidades

Corporativas.

Partindo do princípio de que muitas empresas dispõem de centros de

treinamento ou de áreas de treinamento e desenvolvimento, a idéia de

Universidade Corporativa não parece ser nova. A primeira vista, soa como um

novo nome para identificar toda a infra-estrutura necessária às atividades de

treinamento e desenvolvimento dentro das organizações. A questão não está

propriamente no nome, mas no foco. (MEISTER, 1999).

O foco da Universidade Corporativa é o processo de aprendizagem

permanente dentro da organização, ao invés da aprendizagem centrada em

eventos definidos realizados em locais físicos pré-determinados, visando o

desenvolvimento de qualificações isoladas. (MEISTER, 1999).

Para entender melhor este movimento, o Quadro 1 apresenta algumas

diferenças básicas entre o tradicional departamento de treinamento e a

Universidade Corporativa.

Dentro do mesmo enfoque, Eboli (2001, apud DALMAU, 2001), aponta

que o centro de treinamento e desenvolvimento tradicional preocupa-se em

desenvolver habilidades específicas para um determinado cargo enquanto a

Universidade Corporativa visa o desenvolvimento de competências críticas,

seja qual for a função desempenhada pelo profissional na esfera

organizacional.

Observando-se estas diferenças é possível identificar que a

Universidade Corporativa está baseada numa perspectiva mais ampla da

educação, cujo principal desafio é criar uma cultura onde a aprendizagem seja

um processo natural e inerente a toda forma de trabalho, em qualquer nível da

organização.

Rodriguez (2002a) complementa esta questão, dizendo que mudar o

nome de centro de treinamento para Universidade Corporativa é apenas um

dos pontos do processo de mudança, mas para que a mesma ocorra é preciso

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muito mais que a simples troca de nome, imagem e visual. A mudança

fundamental está na postura e na real conexão com as questões estratégicas

da organização.

Departamento de Treinamento

Universidade Corporativa

Reativo Foco Proativo

Fragmentada Descentralizada Organização Coesa Centralizada

Tático Alcance Estratégico

Pouco/nenhum Endosso e Responsabilidade Administração Funcionários

Instrutor Apresentação Tecnologias

Diretor de treinamento Responsável Gerentes de unidades de negócio

Público-alvo amplo Profundidade limitada

Audiência Currículo personalizado por famílias de cargo

Inscrições abertas Inscrições Aprendizagem no momento certo

Aumento das qualificações profissionais

Resultado Aumento no desempenho no trabalho

Opera como função Administrativa

Operação Opera como unidade de negócios

“Vá para o treinamento” Imagem “Universidade como metáfora de aprendizado”

Ditado pelo departamento de treinamento

Marketing Venda sob consulta

Fonte: Meister (1999, p. 23)

Quadro 1: Diferenças entre departamento de treinamento e Universidade

Corporativa

2.2 Surgimento e importância da Universidade Corporativa

Embora já existam há algum tempo iniciativas neste sentido, o conceito

de Universidade Corporativa é relativamente novo e quase sempre está

associado às possibilidades da educação à distância dentro do ambiente

organizacional, sem necessariamente descartar as formas de ensino

presencial.

Steil (2002) coloca que as definições de universidades corporativas não

seguem um consenso, indo desde centros de treinamento rebatizados até

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43

organizações que oferecem diploma superior, o que resulta em estatísticas não

convergentes sobre o número de Universidades Corporativas em

funcionamento.

Franco (apud COSTA, 2001, p. 11) define Universidade Corporativa

como: “uma atividade estrategicamente orientada para integrar o

desenvolvimento das pessoas, como indivíduos, ao desempenho esperado

delas como equipes, em que todos possuirão uma visão estratégica dos

destinos da organização”.

Meister (1999, p. 29) diz que Universidade Corporativa é “um guarda-

chuva estratégico para desenvolver e educar funcionários, clientes,

fornecedores e comunidade, a fim de cumprir as estratégias empresariais da

organização”.

Junqueira; Vianna (1999) conceituam Universidade Corporativa como:

Uma forte evolução qualitativa da tradicional área de treinamento e

desenvolvimento a qual, longe de caracterizar um rótulo, uma embalagem

redesenhada, ou muito menos um modismo, virá representar um instrumento

viabilizador de uma base humana que sustente o desenvolvimento estratégico

das empresas.

Como se pode verificar, os três conceitos apresentados enfatizam a

função da Universidade Corporativa como instrumento de desenvolvimento de

pessoas, visando em última instância o alcance das metas e estratégias

organizacionais.

O surto de interesse pela criação das universidades corporativas ocorreu

no final da década de 80, nos Estados Unidos. Na década de 90 o número de

universidades corporativas naquele país cresceu de quatrocentos para quase

dois mil, motivado principalmente pela necessidade das empresas de

promoverem programas de aprendizagem voltados às suas próprias

necessidades. (MEISTER, 1999).

No Brasil, o processo de implantação das Universidades Corporativas

ainda se encontra em fase embrionária, mas foi iniciado de forma sistemática

no final da década de 90. Algumas empresas importaram o conceito de suas

matrizes no exterior e outras partiram para iniciativas próprias. (JUNQUEIRA;

VIANNA, 1999).

Os dados com relação à realidade brasileira são pouco consistentes,

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44

mas existem muitas iniciativas promissoras nas empresas brasileiras.

Meister (1999) coloca que para entender a importância da Universidade

Corporativa é necessário compreender as forças que sustentam este

fenômeno, que segundo a autora, são cinco:

a) a emergência da organização enxuta e flexível: a corporação de hoje

é mais enxuta, plana, menos hierárquica, possui menos fronteiras e

uma comunicação mais rápida entre seus canais internos e externos.

Neste tipo de organização, trabalho e aprendizagem devem ser a

mesma coisa, com ênfase no desenvolvimento da capacidade do

indivíduo de aprender;

b) a economia do conhecimento: cada vez mais as pessoas estão

realizando trabalhos que demandam maior conhecimento, assim

como se percebe um aumento do componente intelectual de muitos

cargos; é a transição da força muscular para o cérebro;

c) redução do prazo de validade do conhecimento: a economia do

conhecimento exige um aprendizado contínuo para o

desenvolvimento de qualificações mais amplas;

d) empregabilidade/ocupacionalidade vitalícia: a manutenção do

emprego não é mais decorrência do trabalho em uma única empresa,

mas das qualificações e conhecimentos adquiridos ao longo do

tempo;

e) as organizações tornam-se educadoras: a educação não termina na

escola, mas se sobrepõe ao trabalho, para que cada trabalhador

possa construir sua base de conhecimento.

Estas tendências refletem a nova realidade pela qual as empresas estão

passando, exigindo profundas mudanças na forma de pensar e operacionalizar

a Educação Corporativa e alavancando oportunidades que garantam a sua

sobrevivência e sucesso.

A importância da Universidade Corporativa, segundo Rodriguez (2002b),

está baseada nos seguintes pontos:

a) fortalecimento dos valores e cultura da empresa;

b) criação de talentos;

c) desenvolvimento das capacidades de aprender a aprender, trabalho

em equipe, liderança e auto-gerenciamento das pessoas;

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d) alinhamento dos objetivos pessoais com os empresariais.

Neste sentido, pode-se perceber que a Universidade Corporativa é em

sua essência uma poderosa ferramenta de gestão de pessoas e do

conhecimento da organização, a serviço das metas empresariais. Ganham as

empresas, ao obter melhores resultados, mas também os empregados ao

desenvolver sua capacidade de empregabilidade.

2.3 Objetivos e princípios das Universidades Corporativas

Para Eboli (2004, p. 77), o principal objetivo da Universidade Corporativa

“é o desenvolvimento e a instalação das competências profissionais, técnicas e

gerenciais consideradas essenciais para a viabilização das estratégias da

organização”.

Franco (apud COSTA, 2001) aponta alguns dos objetivos pelos quais as

empresas constroem Universidades Corporativas:

a) desenvolver programas relacionados ao trabalho e negócio da

organização;

b) alcançar a aprendizagem contínua;

c) prover os melhores recursos de treinamento;

d) promover processos de transformação;

e) satisfazer clientes;

f) desenvolver espírito de equipe;

g) fomentar novos conceitos e idéias para o negócio;

h) atrair e reter talentos;

i) influenciar mais efetivamente no desenvolvimento dos empregados;

j) ser um centro de aprendizagem vitalício e corporativo.

Os objetivos podem ser bem amplos, ou focados em estratégias mais

específicas de desenvolvimento. É importante ressaltar, no entanto, que a

Universidade Corporativa não é a única solução para todos os problemas da

empresa, nem vai mudar a filosofia de educação se não houver

comprometimento e disposição para novos comportamentos.

De acordo com Meister (1999, p. 30), as Universidades Corporativas,

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apesar de diferentes em alguns aspectos, buscam um objetivo fundamental

que é “tornar-se uma instituição em que o aprendizado seja permanente”. Para

tanto, a autora apresenta alguns princípios-chave, que garantem a

sistematização dos esforços de aprendizagem e desenvolvimento.

Para Meister (1999) deve-se oferecer oportunidades de aprendizagem

que dêem sustentação às questões empresariais mais importantes da

organização. A aprendizagem deve ser baseada nas competências que se

deseja desenvolver, que devem estar ligadas às necessidades estratégicas da

empresa.

Além disso, deve-se também considerar o modelo da Universidade

Corporativa um processo e não um espaço físico destinado à aprendizagem.

No treinamento tradicional, a aprendizagem é um processo com começo e fim,

já a Universidade Corporativa encoraja o aluno a lutar para adquirir novas

qualificações e competências durante toda sua vida profissional,

responsabilizando-o pelo aprendizado dessas novas qualificações. Algumas

Universidades Corporativas até possuem sedes físicas, mas o foco final é a

criação de um processo de aprendizagem; grande parte delas, no entanto, está

fundamentada em processos de ensino à distância, com forte utilização das

novas tecnologias de ensino e aprendizagem.

Outro princípio-chave consiste em elaborar um currículo básico em torno

dos três “Cs”. O currículo básico de uma Universidade Corporativa deve

desenvolver cidadania corporativa: proporcionar uma estrutura contextual para

a empresa e criar competências básicas entre os funcionários no ambiente de

negócios. Com relação à cidadania corporativa, a idéia é repassar os valores e

a cultura que diferenciam a organização e a tornam especial assim como definir

comportamentos que permitam a seu pessoal viver esses valores. Outro

objetivo importante é proporcionar aos funcionários um conhecimento do

contexto no qual a empresa opera, o que inclui informações sobre clientes,

fornecedores, concorrentes, melhores práticas, diferenciais de mercado,

missão e visão. Além disso, o currículo básico deve oferecer aos funcionários

treinamento em várias competências básicas do ambiente de negócios, as

quais sustentam e ajudam a definir a vantagem competitiva da empresa.

Deve treinar a cadeia de valor, cujo treinamento para ser eficaz, deve

englobar além dos funcionários os membros mais importantes da cadeia de

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clientes e fornecedores. A idéia principal é que se todos os membros da cadeia

tiverem conhecimento da visão, valores, missão e meta da empresa, a mesma

estará mais preparada para atingir seus objetivos empresariais. Além disso,

também é importante considerar as parcerias com revendedores,

distribuidores, atacadistas e lojistas como forma de promover programas que

os ajudem a ter sucesso em seus negócios.

Passar do treinamento conduzido pelo instrutor para vários formatos de

desenvolvimento da aprendizagem é outro princípio-chave considerado por

Meister (1999). A idéia que está por trás deste princípio é que seja dado

espaço a experiências de aprendizagem a partir de várias fontes, a fim de

incutir na estrutura da organização a disposição para o aprendizado contínuo.

As organizações comprometidas com a aprendizagem têm de ajudar indivíduos

e equipes de funcionários a desenvolver a capacidade de aprender, o que vai

muito além da simples transferência de informações.

Para Meister (1999) deve-se ainda encorajar o envolvimento dos líderes

com o aprendizado, inclusive como facilitadores. Muitas empresas já estão

adotando o conceito de modelagem de papéis e expandindo-o para incluir a

participação dos executivos nas experiências de aprendizagem, inspirando e

motivando os funcionários. O envolvimento dos líderes inclui participação em

workshops, orientação a novos funcionários em relação a valores e visão da

organização e atuação como facilitadores em programas de liderança.

De acordo com Meister (1999) deve-se passar da alocação corporativa

para a fonte de recursos próprios. Á medida que a evolução da Universidade

Corporativa se torna uma realidade, maior é o valor dos seus serviços. Neste

estágio, a remuneração dos serviços é perfeitamente viável. As empresas que

adotam o modelo de obtenção de recursos quase sempre estão criando um

mercado aberto de treinamento e educação.

Meister (1999) salienta ainda que outro princípio-chave caracteriza-se

por assumir um foco global no desenvolvimento de programas de

aprendizagem. Criar programas que importem as melhores práticas de várias

partes do mundo para que funcionários, clientes, fornecedores e parceiros

possam ter uma visão global. Engajar os líderes a participarem de várias

realidades, trocando conhecimento e experiências capazes de enriquecer toda

a cadeia de valor.

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Deve-se criar um sistema de avaliação dos resultados e dos

investimentos. Deixar para trás a medida dos investimentos (número de dias ou

horas do aluno) e adotar uma medida dos resultados (a contribuição de um

investimento em educação para que seja cumprida uma estratégia

empresarial). Analisar o impacto dos serviços fornecidos pela Universidade

Corporativa nos resultados do negócio.

Finalmente, de acordo com Meister (1999), o último princípio-chave

caracteriza-se na utilização da Universidade Corporativa para obter vantagem

competitiva e entrar em novos mercados. Um dos desafios da Universidade

Corporativa é tornar-se uma vantagem competitiva para a empresa, ou seja,

permitir que ela possa penetrar em novos mercados e buscar oportunidades

que muito provavelmente não estariam disponíveis sem a implantação de um

processo de aprendizagem que busca o aperfeiçoamento constante.

Estes princípios formam a base a partir da qual pode-se partir para o

planejamento e implementação do projeto da Universidade Corporativa que

criará dentro da organização um novo papel para a aprendizagem.

2.4 Projeto para implantação da Universidade Corporativa

Por tratar-se de uma ferramenta ampla e, como foi visto, capaz de

atender a múltiplos objetivos, é importante que a empresa possa mapear as

suas necessidades de desenvolvimento e a partir de uma análise da realidade

da organização e do mercado, verificar a viabilidade de implantação da

Universidade Corporativa.

Junqueira; Vianna (1999) relacionam algumas perguntas úteis que a

empresa deve se fazer ao estudar a viabilidade de implantação da

Universidade Corporativa:

a) a empresa possui um porte mínimo para tal? Como por exemplo,

número de empregados superior a mil, faturamento global superior a

duzentos milhões de dólares, disposição para gastar de 5 a 10% da

folha de pagamento na manutenção da universidade?;

b) o principal executivo apóia a iniciativa?;

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c) a idéia de estender os serviços da Universidade Corporativa aos

clientes, fornecedores e comunidades soa bem?;

d) no ramo de negocio que a empresa atua há obsolescência da

tecnologia mais rápida que a média de mercado?;

e) há disposição para transformar o RH num centro de resultados?;

f) a empresa quer reduzir os custos com treinamento?;

g) a empresa quer utilizar o treinamento também como um instrumento

de marketing?;

h) instituir um processo de educação permanente é uma prioridade?;

i) a utilização da tecnologia no aprendizado é uma das metas

empresariais?;

j) as políticas de RH permitem a estimulação do fluxo de capital e

rápida difusão do conhecimento?

Segundo Junqueira; Vianna (1999), muitas empresas já partem da

premissa de que a Universidade Corporativa é um bom negócio, mas nenhuma

idéia funciona para todas as empresas em quaisquer contextos. Dependendo

das respostas que se encontre ao fazer uma avaliação inicial, pode não valer a

pena seguir em frente.

O importante é ter clareza da importância que a organização quer dar

para a função de aprendizagem e em que medida isto é percebido por seus

dirigentes, funcionários, fornecedores, clientes e comunidade. (MEISTER,

1999).

Uma vez que a empresa decida-se pela implantação da Universidade

Corporativa, um projeto bem elaborado e estruturado é questão fundamental

para garantir o seu funcionamento no futuro. (MEISTER, 1999).

Meister (1999) aponta os componentes fundamentais do projeto de uma

Universidade Corporativa:

Formar um sistema de controle. Um fator vital de sucesso para a

Universidade Corporativa é o apoio da alta cúpula com relação à

reestruturação da função da educação. Além disso, é preciso criar um sistema

de controle, em que não só o executivo principal esteja envolvido, mas também

outros gerentes que possam contribuir para desenvolver uma visão

compartilhada da Universidade Corporativa. O sistema de controle deve

oferecer os seguintes papéis-chave:

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a) identificar e priorizar as necessidades de aprendizagem atuais e

futuras;

b) vincular o treinamento às principais estratégias empresariais;

c) assegurar projeto, desenvolvimento, apresentação e avaliação

consistentes;

d) oferecer orientação para o desenvolvimento de uma filosofia de

aprendizagem.

Criar uma visão - a visão é a imagem de grupo do sucesso que ajuda a

clarear a direção na qual a Universidade Corporativa precisa caminhar. O

importante é que a declaração da visão seja produto de um esforço conjunto do

órgão de controle da universidade e não apenas do departamento de

treinamento ou de qualquer outra área em particular. A visão deve ser

inspiradora, memorizável, confiável, concisa e precisa evoluir de acordo com os

passos da organização. (MEISTER, 1999).

Recomendar o alcance e a estratégia de obtenção de recursos - neste

ponto é preciso definir o alcance das operações da Universidade Corporativa,

como os programas que pretende oferecer e o público-alvo que vai atingir. Os

objetivos da Universidade Corporativa têm um alcance amplo, que podem

englobar desde o desenvolvimento de qualificações baseadas em

competências até agentes de mudanças culturais. Uma vez definido o alcance

da iniciativa é preciso resolver as fontes de recursos e quais as iniciativas para

obtê-los. Existem basicamente dois caminhos: alocação corporativa ou

cobrança de serviços prestados às unidades de negócio. Há uma forte

tendência em favor desta última, analisando-se a pesquisa Annual Survey of

Corporate University Future Directions em que 70% das fontes de recursos

virão da cobrança de serviços prestados e apenas 30% virá de verbas da

organização. (MEISTER, 1999).

Criar uma organização - na Universidade Corporativa é recomendável

que algumas funções sejam centralizadas por motivos de custo e eficiência e

outras descentralizadas para que permaneçam próximas do cliente.

Normalmente o indicado é centralizar as funções estratégicas da educação do

funcionário, tais como: controle, filosofia de aprendizagem, processos e

procedimentos comuns de aprendizagem, seleção e gerenciamento de

fornecedores e identificação das necessidades futuras de aprendizagem. A

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responsabilidade da apresentação para cada local ou região bem como as

comunidades para compartilhamento das melhores práticas devem ser

descentralizadas. (MEISTER, 1999).

Identificar interessados - neste ponto definir-se-á a amplitude do público

alvo que a Universidade Corporativa deve atender, incluindo toda a cadeia de

valor da organização. Além da definição da clientela alvo é preciso também

identificar as necessidades do cliente, quais as qualificações, competências e

conhecimentos atuais e futuros necessários para o sucesso da organização.

(MEISTER, 1999).

Criar produtos e serviços - para que possa funcionar coerentemente com

seus objetivos a Universidade Corporativa precisa desenvolver um modelo de

soluções de aprendizagem, que vai desde os tradicionais cursos técnicos até

soluções de desempenho mais abrangentes e integradas. Nesta questão

também se incluem as estratégias para compartilhamento de conhecimento e

interação entre as pessoas, formais ou informais. (MEISTER, 1999).

Selecionar parceiros de aprendizagem - os parceiros podem ser os

fornecedores de treinamento, consultores, instituições de educação superior e

empresas de educação com fins lucrativos. Uma adequada seleção pode

garantir com que a empresa possa integrar forças no alcance da contínua

atualização da base de conhecimento dos funcionários. (MEISTER, 1999).

Esboçar uma estratégia de tecnologia - a seleção das tecnologias e dos

meios de aprendizagem deve considerar as formas mais eficazes de

distribuição da aprendizagem por toda a organização. As possibilidades de uso

são várias, principalmente utilizando soluções on-line, via satélite e

vídeo/teleconferência, no próprio posto de trabalho ou fora dele. (MEISTER,

1999).

Criar um sistema de avaliação - considerando que a cultura da

Universidade Corporativa é a aprendizagem contínua, não é possível mensurar

os resultados dos programas desenvolvidos somente pela forma tradicional,

através do número de horas de treinamento por funcionário por ano e pela

porcentagem de receita gasta em treinamento. Apesar de serem estes

indicadores relevantes, representam apenas o investimento em treinamento e

não efetivamente o que ele produziu. Neste caso é preciso uma abordagem

mais holística, baseada em medidas de impacto nos negócios e não apenas

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em números. (MEISTER, 1999).

Para que todos compreendam o que é uma Universidade Corporativa e

porque a empresa decidiu criá-la é necessário uma comunicação efetiva, que

vá além do esforço em reunião, memorando ou apresentação prática. Alguns

aspectos devem ser considerados no seu lançamento, conforme Junqueira;

Vianna (1999):

a) membros do conselho: devem ser o primeiro alvo da comunicação,

para que criem consciência sobre a Universidade Corporativa no que

diz respeito aos seus fundamentos, proposições básicas e

benefícios; tornando-se verdadeiros embaixadores da aprendizagem;

b) veículos marcantes de comunicação: definir um posicionamento para

o produto Universidade Corporativa, enfocando um benefício

motivador que só ela seria capaz de proporcionar esse benefício

pode ser comunicado através de um slogan e logomarca;

c) veículos audaciosos de comunicação: criar soluções de comunicação

além do catálogo, boletim informativo, e-mail e outras formas de

comunicação tradicionais, desenvolver programas de marketing de

ampla escala que destaquem os fundamentos e a contribuição da

Universidade Corporativa;

d) clientes internos e externos: o sucesso da Universidade Corporativa

depende do empenho de todos os envolvidos.

Junqueira; Vianna (1999), colocam que nem toda organização dá igual

valor a estes componentes do projeto, mas que aquela que ignora ou

negligencia um ou mais elementos talvez não seja tão relevante para os

negócios, conforme desejado. O lançamento de uma Universidade Corporativa

é interativo e passa por várias fases. Pular ou negligenciar etapas pode criar

velocidade, mas comprometer o resultado final.

Complementando esta questão, Junqueira; Vianna (1999) apontam

algumas questões que chamam de regras de ouro para implantação de uma

Universidade Corporativa:

a) unidade de negócio: visualizar a Universidade Corporativa como um

centro de resultados que vai gerar valor agregado ao patrimônio

líquido da empresa;

b) mensuração de resultados: todos os serviços desenvolvidos pela

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Universidade Corporativa devem ser mensurados em termos de

processo e resultados;

c) compartilhamento: incentivar os funcionários a compartilhar

conhecimento e melhores práticas de trabalho;

d) consciência financeira: analisar o porte da empresa e suas

necessidades, considerando a necessidade de investimentos físicos.

nem sempre é preciso criar instalações físicas. Grande parte das

Universidades Corporativa sustentam-se no plano virtual;

e) heterodoxia: criar uma mentalidade contínua de aprendizado voltada

ao desenvolvimento da organização através dos mais diferentes

sistemas de aprendizado;

f) personalização: desenvolver programas que atendam necessidades

individuais ou níveis de cargos específicos;

g) mútuo comprometimento: o planejamento e monitoramento da

evolução de cada funcionário são função dele mesmo e da área de

gestão da Universidade Corporativa, com uma clara visão de direitos

e responsabilidades;

h) responsabilidade social: desenvolver o potencial de empreendedor

em cada empregado, preparando-o para a vida como um exercício

de melhoria contínua e não somente para o atingimento de objetivos

de curto prazo;

i) tecnologia: maximizar o uso da educação à distância e da telemática,

permitindo melhor utilização do tempo;

j) homogeneização: criar conteúdos de homogeneização de

conhecimento e inteligência, de forma a preencher as lacunas

deixadas pelo sistema de ensino tradicional;

k) pluralismo: abrir campo para todos os satélites de negócios da

empresa, tais como clientes, fornecedores, terceirizados, parceiros,

entre outros.

Com tudo isso se pode observar que a implantação de uma

Universidade Corporativa exige um grande esforço da organização em

concatenar as necessidades de aprendizagem do público-alvo com os

interesses da empresa, buscando apoio interno, superando as dificuldades

operacionais e financeiras e ainda atendendo as expectativas geradas pelo seu

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processo de implantação.

Para Rodriguez (2002b) são desafios e fatores críticos de sucesso no

projeto de implantação de uma Universidade Corporativa:

a) mudança de cultura: da empresa, das pessoas que vão compor a

própria universidade e daqueles que vão participar de seus

programas;

b) benchmarketing: aprender com aqueles que já implantaram e estão

efetivamente utilizando a Universidade Corporativa;

c) benefícios: o quanto os programas desenvolvidos na universidade

podem contribuir para o alcance dos objetivos estratégicos da

empresa;

d) compromisso gerencial: comprometimento contínuo das gerências de

primeiro nível da empresa;

e) modelo de gestão: institucionalização da universidade como órgão de

consultoria e prestação de serviços de capacitação;

f) parcerias: alianças com instituições para desenvolvimento de

programas;

g) mensuração de resultados: utilização de indicadores de resultados;

h) ciclo de criação de novos produtos: alinhamento dos programas às

metas da empresa;

i) marketing e comunicação: intensificação da marca da universidade e

da própria empresa;

j) preparação dos treinadores: capacitação para o novo modelo de

gestão e trabalho;

k) clareza do projeto: entendimento de todos com relação à

Universidade Corporativa, o que é, seus objetivos, o que oferece e

como funciona.

Muitos dos aspectos presentes no projeto de elaboração da

Universidade Corporativa são também considerados fatores críticos de

sucesso, o que valida ainda mais a importância de se definir com precisão as

necessidades que a empresa tem de decidir as que pretende sanar e quais

estratégias utilizar.

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2.5 As tecnologias utilizadas nas Universidades Corporativas

Meister (1999) coloca que antes de uma organização empregar uma

tecnologia de aprendizagem, é importante desenvolver um plano com as várias

tecnologias que podem ser utilizadas para acelerar a aprendizagem dos

funcionários. Neste sentido, a autora aborda alguns critérios que se precisa

levar em consideração ao selecionar os meios tecnológicos:

a) complexidade do assunto a ser abordado e suas implicações;

b) recursos financeiros disponíveis;

c) projeto dos cursos que se deseja implementar (metodologia,

caminhos de comunicação, controle, operacionalização, conteúdo, e

outros);

d) tempo disponível para desenvolver a solução de aprendizagem;

e) o tamanho e localização do público-alvo;

f) o ambiente de aprendizado;

g) a facilidade e disponibilidade de acesso à tecnologia, bem como o

preparo dos empregados para utilizá-la;

h) o suporte técnico disponível;

i) o nível de resultados que se deseja alcançar.

Meister (1999) a aprendizagem via satélite permite que se realize o

treinamento de um grande número de pessoas em um período de tempo menor

que os métodos tradicionais. Reduz custos de viagem e deslocamentos e

permite a interação em tempo real.

Além disso, segundo Meister (1999), a aprendizagem via multimídia:

neste item incluem-se as ferramentas associadas ao computador tais como

animação, vídeo, áudio, gráficos e outros recursos que possam facilitar a

aprendizagem despertando o interesse e imaginação do treinando.

Tecnologias de aprendizagem cooperativa apresentam as ferramentas

que permitem realizar aprendizagem em grupo, compartilhar conhecimento e

experiências são tecnologias de aprendizagem cooperativa. Pode-se citar

como exemplo os mapas de aprendizagem, workshops e bases de

conhecimento compartilhadas.

A Intranet, através de seus bancos de dados de conhecimento, permite

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aos empregados comunicar e compartilhar informações virtualmente,

integrando os conhecimentos difusos de uma organização.

A aprendizagem via web permite o treinamento através da internet

permite dentre outras coisas a personalização das experiências de

aprendizagem de acordo com as necessidades e preferências de cada um,

além do acompanhamento de cada experiência de aprendizagem. A tecnologia

on-line possui o forte apelo de fazer com que a aprendizagem seja incorporada

como uma parte rotineira do dia de trabalho.

O campus virtual apresenta-se como o ambiente de aprendizagem em

tempo real, usando a internet/intranet para oferecer programas educativos sob

medida, em qualquer hora e lugar.

2.6 Universidades Corporativas e Universidades Tradicionais

As Universidades Corporativas surgiram para cobrir as lacunas deixadas

pelo sistema de ensino regular, para atender as demandas da sociedade do

conhecimento, que impõe transformações rápidas, mas principalmente para

criar programas de aprendizagem com foco no negócio da empresa, visando a

capacitação de toda sua cadeia de valor. (MEISTER, 1999).

Davis; Botkin (1996, apud FREITAS, 2009) argumentam que a visão

empresarial está ancorada numa crença básica: que as empresas não

pretendem assumir o papel de dirigentes de escolas, mas que com suas ações

procuram apenas buscar outras maneiras de aprender novos métodos de

distribuir educação, sobrepondo-se a um sistema de ensino em decadência.

Litto (1996, apud FREITAS, 2009) afirma que:

A aprendizagem ocorre não apenas num local geográfico chamado escola, mas que é um estado da mente. Cada indivíduo, cada organização, para manter a sua posição competitiva, terá que investir na aquisição de novo conhecimento, de novas estratégias. (LITTO 1996, apud FREITAS, 2009, p. 81).

As universidades tradicionais têm importante papel na formação do

indivíduo, mas precisam desprender-se de concepções mecanicistas e criar

uma cultura de aprendizado permanente, que não se esgote e se limite as suas

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paredes.

Neste ponto, algumas iniciativas e parcerias com empresas estão

demonstrando que a concepção de escola traz um sistema projetado para

crescer e se renovar, capaz de atender, independente de barreiras geográficas

ou temporais, as demandas do indivíduo e da sociedade, garantindo a

continuidade do aprendizado ao longo de toda a sua vida.

Drucker (2000) faz uma análise da situação, ao afirmar que:

É seguro prever que nos próximos cinqüenta anos as escolas e as universidades mudarão mais drasticamente do que o fizeram desde que assumiram a forma atual, há mais de trezentos anos, quando se reorganizaram em torno do livro impresso. O que forçará essas mudanças é em parte a tecnologia tais como a de computadores, de vídeos e de transmissão via satélite; em parte as demandas de uma sociedade baseada no conhecimento na qual o aprendizado organizado deva se tornar um processo que perdure por toda a vida dos profissionais que trabalham com o conhecimento; em parte uma nova teoria de como os seres humanos aprendem. (DRUCKER, 2000, p. 6).

Os fatos indicam que há uma demanda por educação não preenchida

pelas instituições formais, principalmente no que se refere a adultos que

trabalham nos mais variados segmentos profissionais e que precisam de

atualização rápida, eficiente e não convencional. O pacote de conhecimentos,

compartimentado em disciplinas, módulos, trimestres ou semestres, locais e

carga horária fixos na maioria das vezes não atende esta demanda.

(DRUCKER, 2000).

As universidades tradicionais enfrentam o desafio de sair do modelo de

educação baseado no campus universitário e centrado no professor, para o

modelo centrado no aluno e em suas necessidades de aprendizagem

permanente. (MEISTER, 1999).

Davis; Botkin (1996) afirmam que os educadores tradicionais deixam de

considerar alguns pontos cruciais que estão contemplados nos programas de

educação promovidos pelas organizações:

a) a educação dentro das empresas é o segmento de aprendizagem

que mais cresce na sociedade;

b) há uma concentração no aprendizado de administradores e

profissionais, na produtividade para os operários e no ensino básico

para a mão-de-obra desqualificada;

c) para o desenvolvimento dos programas de ensino a empresa oferece

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o que há de mais avançado em termos de tecnologia;

d) a educação dos empregados prenuncia mudanças em outros

segmentos do mercado de ensino.

Quando se fala nestes programas de educação continuada não se está

apenas pensando na oferta de cursos e na renovação do conhecimento, mas

numa estratégia mais integrada onde a aprendizagem seja um processo

natural, inerente à própria característica do trabalho. A própria mensuração dos

resultados não é feita pelas melhores notas como na escola tradicional, mas

está ligada aos resultados obtidos no trabalho.

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CONCLUSÃO

Há uma preocupação crescente pela capacitação educacional nas

grandes corporações.

As Universidades Corporativas vêm buscando com apoio do Governo

Federal, Ministério da Educação, e outros parceiros, ser uma grande formadora

de profissionais com excelência na área em que atuam através da formação

educacional e profissional.

O modelo pedagógico da Universidade Corporativa tem como função

estabelecer as bases para o processo de educação nas organizações, ou seja,

define fundamentalmente, uma linha pedagógica que possibilita orientar todas

as ações idealizadas e desenvolvidas pela Universidade e definir parâmetros

de capacitação técnico-profissional dos funcionários, em um processo coerente

com perfil profissional exigido pela organização.

Podem ser inúmeros os pontos de convergência entre a teoria histórico-

cultural e o modelo pedagógico da Universidade Corporativa. É importante,

entretanto, ter em mente que essa aderência somente poderá ser sustentada à

medida que os agentes do processo educacional, mantiverem viva a prática

intencional e planejada, coerente com os pressupostos da Teoria e as

premissas do modelo.

Não há empresa perfeita nem modelo de sucesso a ser copiado

literalmente. Comparando empresas de sucesso com equipes de alta

performance, que disputam a ponta dos campeonatos, vê-se que esses times

só chegam lá se tiverem metas absolutamente claras, e com pessoas

comprometidas com essas metas. Se essas pessoas forem preparadas para

conquistar os objetivos propostos e compreenderem que ganhar um

campeonato não é suficiente para garantir a sustentabilidade, então

entendemos que elas estão absolutamente no caminho correto.

Em resposta à pergunta-problema pode-se dizer que as Universidades

Corporativas têm despertado a paixão pelos negócios entre os funcionários e

isso é mais uma característica de uma empresa de sucesso.

Cria-se uma ótima impressão nos clientes ou sócios se o diretor-

presidente de uma empresa puder dizer: o pessoal da instituição está sendo

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treinado na própria universidade ou se assinar esse acordo de parceria, poder-

se-á abrir as portas da universidade da empresa para seus empregados. Essa

impressão não é só com o público externo, mas influencia diretamente o

público interno que pode dizer que está se qualificando reconhecidamente na

Universidade de sua empresa.

Os empregados das Universidades Corporativas têm hoje seus cursos

seqüenciais, de graduação, mestrado, doutorado financiados pela empresa,

incentivando o crescimento profissional dentro da própria organização como

para o mercado fora dela.

Depois de todo esse processo de estímulo à educação adotado pela

empresa surge um grande interesse em ocupar cargos de liderança buscando

o autodesenvolvimento educacional, pois é através do conhecimento,

habilidades e competências que líderes formarão a base da vantagem

competitiva futura de seus negócios.

Sendo assim, os programas de Educação Corporativa representam para

a empresa uma vantagem perante a concorrência por ser um fator-chave para

o alcance de seu sucesso. Somente mediante a ação, poderá ser possível

alimentar o debate crítico, criativo e construtivo acerca dessa prática,

contribuindo para a consolidação da transformação esperada pela empresa

que tem por objetivo principal ser uma das melhores empresas para se

trabalhar.

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