ecotourism development

92
Introdução ao Planejamento de Ecoturismo Andy Drumm e Alan Moore DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO Um Manual para os Profissionais de Conservação Volume I

Upload: ceicinha-silva

Post on 18-Jan-2016

28 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Desenvolvimento do ecoturismo

TRANSCRIPT

Page 1: Ecotourism Development

Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Andy Drumm e Alan Moore

DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMOUm Manual para os Profissionais de Conservação

Volume I

Page 2: Ecotourism Development

Título original: Ecotourism Development – A Manual Series for Conservation Planners and Managers, Volume 1© 2002 por The Nature Conservancy, Arlington, Virginia, USA.

Desenvolvimento do Ecoturismo – Um Manual para Planejadores e Gestores de Conservação, Volume 1Copyright © 2003 by The Nature Conservancy, Arlington, Virginia, USA.Todos os direitos reservados.

I.S.B.N.: 1-886765-19-7

Edição: Alex Singer

Design / Layout: Jonathan Kerr

Fotografia de Capa: Ecoturistas no sítio de Yaxchilan Mayan, Chiapas, México © Andy Drumm; ParqueNacional Jaraguá, República Dominicana © Andy Drumm; Macacos-da-noite, Panamá© Marie Read

Produção: Publications for Capacity Building, The Nature Conservancy, Worldwide Office, 4245North Fairfax Drive, Arlington, VA 22203, USA. Fax: 703-841-4880; e-mail:[email protected].

Esta publicação foi possível, em parte, graças ao apoio do Escritório da LAC/RSD/, Bureau para a América Latina eo Caribe, Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), sob os termos da Concessãonº LAG-0782-A-00-5026-00 e EDG-A-00-01-00023-00 para o programa Parks in Peril. As opiniões aquiexpressadas são as dos autores, e não refletem, necessariamente, as opiniões da USAID. Esta publicação também setornou possível, em parte, graças à visão, confiança e apoio da Alex C. Walker Charitable and Educational Trust.

Para mais informações sobre projetos de Ecoturismo, ou para enviar sua opinião, favor contatar:

Andy DrummDirector, Ecotourism The Nature ConservancyWorldwide Office4245 North Fairfax DriveArlington, VA 22203USA

Phone: 703-841-8177Fax: 703-841-1283Email: [email protected]

Impresso em papel reciclado

Page 3: Ecotourism Development

3Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Oecoturismo se tornou uma importante atividadeeconômica em áreas naturais em todo o mundo,

propiciando oportunidades para os visitantesvivenciarem pujantes manifestações da natureza e dacultura, e aprenderem sobre a importância daconservação da biodiversidade e das culturas locais. Aomesmo tempo, o ecoturismo gera renda para aconservação e benefícios para as comunidades quehabitam áreas rurais e remotas.

As características do ecoturismo o tornam uminstrumento valioso para a conservação. Suaimplementação pode:

❖ agregar valor econômico a serviços do ecossistemaque as áreas protegidas proporcionam;

❖ gerar renda direta para a conservação de áreasprotegidas;

❖ gerar renda direta e indireta para os principaisinteressados locais, criando incentivos para aconservação em comunidades locais;

❖ criar grupos de apoio para a conservação nos planoslocal, nacional e internacional;

❖ promover o uso sustentável dos recursos naturais; e

❖ reduzir as ameaças à biodiversidade.

Algumas áreas têm maior potencial para colher osbenefícios do ecoturismo que outras. Em áreas combaixo índice de visitação o potencial, via de regra, não étão evidente. Em outras áreas, o turismo pode já ser umfator importante. Em ambos os casos, no entanto, oprocesso de planejamento de ecoturismo é essencialpara a utilização de seu potencial como uma poderosaestratégia conservacionista.

Obviamente, nem todo turismo em áreas naturais éconsiderado ecoturismo. O turismo voltado à natureza,

em oposição ao ecoturismo, pode não dispor demecanismos para diminuir o impacto no meioambiente, e deixar de demonstrar respeito pela culturalocal. Em termos econômicos, o turismo voltado ànatureza também está se desenvolvendo.Conseqüentemente, verifica-se uma explosão devisitação em áreas naturais, o que, em muitos casos,está causando o desgaste dos valores que tornaram taisáreas atrativas.

Graças a seu valor ecológico, as áreas protegidas,especialmente aquelas situadas nas regiões tropicais eem países em desenvolvimento, guardam muitos dosmaiores atrativos do ecoturismo mundial. Essesatrativos podem se constituir de apenas uma, ou deuma combinação de espécies endêmicas raras da floraou da fauna, de uma vida silvestre abundante, de altosíndices de diversidade de espécies, de formaçõesgeomorfológicas incomuns ou espetaculares, ou demanifestações culturais históricas ou atuais singulares evistas em seu contexto natural.

Os gestores de áreas protegidas, portanto, estãoenfrentando o desafio de controlar e limitar os impactosdo turismo ecológico descontrolado e, ao mesmotempo, decidir onde e como planejar adequadamente odesenvolvimento do ecoturismo como uma opçãocompatível de desenvolvimento econômico.

Quando se integra o desenvolvimento do ecoturismoem uma abordagem sistemática para a conservaçãoutilizando o modelo Conservation By Design1, da TheNature Conservancy, garante-se que o ecoturismo seinicie apenas quando se tratar, efetivamente, daestratégia mais eficaz para se atingir resultados emescala tangíveis e duradouros. Esses aspectos distintos,mas inter-relacionados do ecoturismo — gestão daconservação e desenvolvimento econômico — devemser compreendidos em sua totalidade por planejadores

Prefácio ao Manual de Desenvolvimento de Ecoturismo

1. Conservation by Design: A Framework for Mission Success (Conservation by Design: Um Modelo para o Sucesso da Missão). 2001. Arlington, Virginia: TheNature Conservancy.

Page 4: Ecotourism Development

Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação4

de ecoturismo e gestores de áreas protegidas antes deiniciarem a implementação de planos de atividades deecoturismo. Os conservacionistas têm, em regra,abordado a questão do ecoturismo com umentendimento limitado das questões econômicas, e umacompreensão incompleta dos mecanismos de gestãodisponíveis e necessários para assegurar asustentabilidade do turismo em áreas protegidas.Normalmente, os pontos de partida para uma iniciativade ecoturismo têm se constituído de programas detreinamento de guias turísticos ou construção de hotéisou pousadas. Essa abordagem conduz, quase queinevitavelmente, ao insucesso, e tem levado a:

❖ criação de altas expectativas nas comunidades, queraramente se tornam realidade;

❖ transformação das atividades de ecoturismo em umsorvedouro dos escassos recursos da ONG e das áreasprotegidas enquanto se luta para que os projetosalcancem seu ponto de equilíbrio;

❖ afastamento das ONGs e áreas protegidas de suamissão principal de conservação; e

❖ destruição dos atrativos naturais que originalmenteatraíram os visitantes, em decorrência desse tipo deturismo.

Por outro lado, os operadores de turismo voltado ànatureza têm implementado suas iniciativas com umentendimento incompleto a respeito das questõesreferentes à conservação e, conseqüentemente, vêmoperando de maneira insustentável.

Agora se reconhece que, para que o ecoturismotenha êxito, os conservacionistas necessitam de ummaior entendimento a respeito dos aspectoseconômicos; da mesma forma, os empreendedoresnecessitam ter mais conhecimentos a respeito dosmecanismos de gestão necessários para assegurar asustentabilidade da atividade. Combinar ambas asperspectivas é essencial para o êxito de um programa deecoturismo.

As áreas protegidas podem ser públicas, privadas, depropriedade ou geridas pela comunidade, ou umacombinação de qualquer uma dessas alternativas. Osrecursos para a gestão de todos os tipos de áreasprotegidas são sempre escassos em países emdesenvolvimento. Em conseqüência desse fato,geralmente não se consegue assegurar que o turismogere todo o amplo leque de benefícios que poderiagerar para as áreas protegidas. Portanto, em muitasáreas, as oportunidades de geração de renda para aconservação de sítios e comunidades locais estão

subutilizadas, e o turismo pode, de fato, se constituirem uma ameaça à conservação.

Para que o ecoturismo alcance todo seu potencial egere benefícios sustentáveis, as áreas protegidas devemimplementar um modelo planejado para orientar e geriressa atividade.

Este manual objetiva, primordialmente, forneceruma série de critérios para os planejadores e gestores deecoturismo em ONGs conservacionistas, a fim defacilitar a tomada de decisões com respeito à gestão e aodesenvolvimento do ecoturismo. Também poderá serútil para especialistas em áreas protegidas e gestores dereservas de propriedade do estado ou da comunidade,bem como para outros agentes do ecoturismo,incluindo operadores de turismo e empresários do ramohoteleiro que buscam mais orientações com relação aoentendimento das implicações conservacionistas dasatividades propostas. Além disso, poderá ser útil parainvestidores que estejam considerando propostas dedesenvolvimento do ecoturismo.

O manual consiste de dois volumes distintos eindependentes, mas relacionados entre si. Osconservacionistas que estão curiosos a respeito doecoturismo e querem adquirir um maior conhecimentoa respeito do assunto, ou que consideram o ecoturismocomo uma estratégia conservacionista para áreasprotegidas, podem preferir consultar, inicialmente, oVolume I, Introdução ao Planejamento de Ecoturismo,Parte I, para uma breve visão do assunto.

Aqueles que buscam um entendimento maiscompleto do processo de planejamento de gestão deecoturismo, ou que entendem que o ecoturismo podeser a opção correta para seu sítio, devem consultar oVolume I, Parte II, “Planejamento e Gestão doEcoturismo”, que explica o processo de planejamentopara o desenvolvimento e gestão do ecoturismo, desdeo Planejamento de Conservação de Sítios e AvaliaçãoPreliminar de um Sítio, até um Completo Diagnósticodo Sítio, o planejamento de gestão participativa doecoturismo e a implementação de um plano.

O Volume II, A Atividade de Desenvolvimento eGestão do Ecoturismo, fornece orientações e diretrizestanto para gestão de conservação básica quanto paraestratégias-chave de desenvolvimento econômico. AParte I, “Estratégias-Chave da Gestão do Ecoturismo”, éuma introdução aos elementos críticos do planejamentode gestão do ecoturismo, incluindo zoneamento,monitoramento de impacto da visitação, projeto egestão da visitação do sítio, mecanismos de geração de

Page 5: Ecotourism Development

renda, infra-estrutura e diretrizes para a visitação, esistemas de guia naturalista. Esse volume pode ser umafonte de consulta útil para examinar opções a fim deminimizar ameaças decorrentes do turismo que aindapossam existir em um sítio.

O Volume II, Parte II, “Planejamento Econômicopara Gestores de Conservação”, delineia o processo deplanejamento econômico, permitindo que planejadorese gestores de conservação desenvolvam um maiorentendimento a respeito do planejamento econômico efiquem aptos para promover parcerias econômicasviáveis com comunidades ou operadores de turismoprivados, bem como contribuir para a preparação deplanos de negócios.

A maioria dos capítulos termina com uma seçãode Referências e Fontes, que inclui publicações,organizações, instituições e web sites úteis para oaprofundamento desses temas.

AgradecimentosOs autores são profundamente gratos pela valiosacontribuição de seus colegas na elaboração dosmanuscritos anteriores. As contribuições de Jim Rieger eConnie Campbells foram muito valiosas. Jeffrey Parrishforneceu um excelente feedback, especialmente nocapítulo que trata do Planejamento de Conservação deSítios. Nossos agradecimentos especiais a Liz Boo, queforneceu um manuscrito original no qual os autores sebasearam. Agradecemos também a: Marie Uehling, BillUlfelder, Andrew Soles, Eva Vilarrubi, Brad Northrup,Jill Bernier, John Finisdore, Patrícia Leon, BensonVenegas, Bruce Boggs, Jonathan Kerr, e Michelle Libby.Quaisquer erros aqui encontrados são de exclusivaresponsabilidade dos autores.

5Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Page 6: Ecotourism Development

7Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3Parte I: Introdução ao Ecoturismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13Capítulo 1: O que é Ecoturismo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15

Definição de Ecoturismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15Evolução do Ecoturismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16Termos Relacionados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18Como Trabalhar com Ecoturismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20Referências e Fontes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20

Capítulo 2: Agentes do Ecoturismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23Principais Responsáveis pela Tomada de Decisões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23Agentes de Apoio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27Referências e Fontes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28

Capítulo 3: Ecoturismo e Áreas Protegidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31O Papel do Ecoturismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31Oportunidades e Ameaças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32Oportunidades Potenciais do Ecoturismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .34Ameaças Potenciais do Turismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41Referências e Fontes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41

Capítulo 4: Ecoturismo e Comunidades Locais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43Definição de Comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43O Papel da Comunidade no Ecoturismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43Áreas Protegidas e Ecoturismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .44Impactos Positivos Potenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45Impactos Negativos Potenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45Considerações Fundamentais para o Desenvolvimento do Ecoturismo no Plano da Comunidade . . . . . . .47Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .48Referências e Fontes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49

Capítulo 5: Ecoturismo e ONGs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51O Papel das ONGs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51Fontes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53

Capítulo 6: Ecoturismo e a Indústria do Turismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55Os Elos da Cadeia de Turismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .56Inclusão de Operadores de Turismo Privados no Processo de Planejamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57A Demanda pelo Turismo Voltado à Natureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .58Referências e Fontes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .58

Índice

Page 7: Ecotourism Development

8 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Parte II: Planejamento e Gestão do Ecoturismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59Capítulo 1:Planejamento de Gestão do Ecoturismo: Visão Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61

Planejamento de Ecoturismo e Áreas Protegidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61O que é um Plano de Gestão de Ecoturismo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62Pré-requisitos de um Plano de Gestão de Ecoturismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63Financiamento do Plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .64Quem Elabora um Plano de Gestão de Ecoturismo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65O que Vem a Seguir? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67Fontes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67

Capítulo 2: Passo 1: Planejamento de Conservação de Sítios e Avaliação Preliminar de Sítios . . . . . . . . . . . . . .69Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69Planejamento de Conservação de Sítios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69Avaliação de Estratégias Potenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .71Avaliação Preliminar de Sítios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .71Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .72

Capítulo 3: Passo 2: Diagnóstico Completo do Sítio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .73Visão Geral do Conteúdo de um Plano de Gestão de Ecoturismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .73Diagnóstico Completo do Sítio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .74

O que é Necessário Saber . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .74Questões para Orientar o Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75Como Obter a Informação Diagnóstica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .79Organização da Informação Diagnóstica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .81Formalização do Conteúdo da Seção Diagnóstica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .82

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .82Capítulo 4: Passo 3: Análise de Dados e Preparação do Plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .83

Fase de Análise de Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .83Preparação do Plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .84Dimensões de um PGE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .86Estrutura de um PGE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .86Publicação e Distribuição do Plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .90Referências e Fontes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .90

Capítulo 5: Passo 4: Implantação do Plano de Gestão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .91Fatores Relacionados ao Quadro de Pessoal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .91Fatores Programáticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .92Planos dos Sítios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .92Análise do Principal Interessado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .93Implantação Adaptativa de Gestão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .93Referências e Fontes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .93

Capítulo 6: Passo 5: Avaliação do Grau de Sucesso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .95Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .95Cumprimento de Metas e Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .96Limites de Modificação Aceitáveis (LAC) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .97O Processo de Avaliação do Grau de Sucesso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .97Fontes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .98

Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .99

Page 8: Ecotourism Development

9Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Parte 1

Tabela 1.1 Principais Destinações Turísticas nas Américas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16

Tabela 4.1 Impacto Potencial do Turismo nas Comunidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .44

Tabela 6.1 Destinações Mais Populares na América Latina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .58

Figura 2.1 Parcerias Necessárias para o Sucesso do Ecoturismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23

Figura 3.1 Ecoturismo como uma Oportunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .34

Figura 3.2 Ameaças Potenciais do Turismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39

Figura 4.1 Elementos Essenciais ao Ecoturismo no Contexto de uma Comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .44

Figura 6.1 Estrutura da Indústria do Turismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .56

Quadro 2.1 A Comunidade de Capirona, na Região Amazônica do Equador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24

Quadro 2.2 Quem é um Ecoturista? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27

Quadro 3.1 Lições do Parque Nacional de Galápagos, no Equador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33

Quadro 3.2 A Reserva de Aves Silvestres Point-A-Pierre (The Point-A-Pierre Wild Fowl Trust), em Trinidad . . . . . . . . . . . . . . . .37

Quadro 3.3 Plano Nacional para o Desenvolvimento do Ecoturismo na Guiana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .38

Quadro 3.4 Impactos Ambientais do Turismo na Reserva Florestal de Kibale, em Uganda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39

Quadro 3.5 Instabilidade do Ecoturismo – África Central . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .40

Quadro 4.1 O Caso da Associação de Ecoturismo de Toledo, em Belize . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .48

Quadro 5.1 Desenvolvimento e Planejamento do Turismo com um Programa para Belize . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52

Quadro 5.2 Associação ANAI, o Corredor Biológico de Talamanca, na Costa Rica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

Relações de Tabelas, Figuras e Quadros

Page 9: Ecotourism Development

10 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Parte II

Tabela 2.1 Estratégias-modelo de Ecoturismo para Lidar com as Pressões e Fontes Hipotéticas Visando a Conservação da

Lowland Pine Savanna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .66

Figura 1.1 Contexto de Planejamento para Áreas Protegidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61

Figura 1.2 Quem Participa do Processo de Planejamento? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62

Figura 1.3 Fases do Processo de Planejamento para um Plano de Gestão de Ecoturismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63

Figura 1.4 Principais Fatores Envolvidos na Tomada de Decisões para a Preparação de um Plano de Gestão . . . . . . . . . . 63

Figura 1.5 Fontes de apoio para Financiar um PGE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65

Figura 1.6 Visão Geral do Processo de Planejamento de Gestão e Desenvolvimento do Ecoturismo . . . . . . . . . . . . . . . . . .66

Figura 3.1 Visão Geral do Processo de Planejamento de Gestão e Desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .73

Figura 4.1 A Estrutura de um Plano de Gestão de Ecoturismo (PGE) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .85

Figura 5.1 Check-list para a Implementação de um PGE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .89

Quadro 2.1 Planejamento de Conservação de um Sítio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

Quadro 2.2 Avaliação Preliminar de um Sítio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

Quadro 3.1 Pesquisa de Visitação: Parque Nacional Sierra Del Lacandón, na Guatemala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

Quadro 3.2 Diagnóstico Completo do Sítio no Parque Nacional Sierra Del Lacandón . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

Quadro 3.3 Consulta aos Principais Interessados no Parque Nacional de Sierra Del Lacandón . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

Quadro 3.4 Justificativa e Panorama do Ecoturismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .81

Quadro 4.1 Concepção do Ecoturismo no Parque Nacional Sierra Del Lacandón . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .85

Quadro 4.2 Objetivos do PGE do Parque Nacional Sierra Del Lacandón, na Guatemala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .85

Quadro 4.3 Estratégias de Gestão do Ecoturismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .86

Quadro 4.4 Estrutura dos Subprogramas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .86

Quadro 4.5 Critérios para a Definição de Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .87

Quadro 4.6 Critérios para o Desenvolvimento de Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .87

Quadro 4.7 Check-list para o Planejamento Estratégico e Caderno de Recomendações do PGE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .89

Page 10: Ecotourism Development

Parte I

Introdução aoEcoturismo

Page 11: Ecotourism Development

13Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Oprimeiro volume desta série de manuais introduz oconceito de ecoturismo, apresenta seus agentes-

chave, e fornece uma visão geral de seus papéis noplanejamento e desenvolvimento do ecoturismo. Amaioria dos capítulos contém exemplos ilustrativos nosquadros em destaque, e descreve como os conceitosdiscutidos no capítulo se manifestam em casos reais.

O Capítulo 1 fornece uma breve descrição de comoe por que o ecoturismo evoluiu e o seu significado. Adefinição mais aceita de ecoturismo é apresentadajuntamente com definições de outros termosrelacionados ao tema. O Capítulo 2 contém umadescrição dos vários agentes envolvidos nodesenvolvimento e na gestão do ecoturismo.

O Capítulo 3 descreve os papéis das áreas protegidase seus gestores no desenvolvimento e na gestão doecoturismo. Uma visão geral do papel que ascomunidades desempenham no desenvolvimento e nagestão do ecoturismo pode ser encontrado no Capítulo4, enquanto o Capítulo 5 descreve o papel que asONGs desempenham no desenvolvimento e na gestãodo ecoturismo com relação às áreas protegidas. OCapítulo 6 consiste de uma breve introdução à indústriado turismo, sua estrutura e seu papel nodesenvolvimento do ecoturismo.

Introdução

Ecoturistas explorando a Amazônia © Andy Drumm

Page 12: Ecotourism Development

15Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Definição de EcoturismoEcoturismo é um conceito relativamente novo, e, via deregra, ainda mal compreendido e mal utilizado.Algumas pessoas têm abusado desse termo para atrairviajantes conscientes da causa conservacionista para oque não passa, na realidade, de simples programas deturismo voltado à natureza que podem causar impactosambientais e sociais negativos. Embora o termo tenhasido ouvido pela primeira vez na década de 80, aprimeira definição largamente aceita, e que continua aser uma definição concisa e válida, foi criada pelaSociedade Internacional de Ecoturismo (TheInternational Ecotourism Society - TIES) em 1990:

Viagem responsável para áreas naturais queconservem o meio ambiente e promovam o bem-estarda população local.

Da mesma forma que a consciência a respeito dessetipo de atividade e a experiência nessa área cresceram,também aumentou a necessidade de uma definição maisabrangente e detalhada. Mais recentemente (1999),Martha Honey propôs uma excelente versão, e maisdetalhada:

Ecoturismo é a viagem para áreas geralmenteprotegidas, frágeis e intocadas,(geralmente) empequena escala e que busca causar baixo impacto.Ajuda a educar o viajante; proporciona recursos paraa conservação; beneficia diretamente odesenvolvimento econômico e o poder político dascomunidades locais; e estimula o respeito por culturasdiferentes e pelos direitos humanos.

O consenso, porém, se estabeleceu entre asorganizações envolvidas com o ecoturismo (incluindo aThe Nature Conservancy) em torno da definiçãoadotada em 1996 pela União Internacional para aConservação da Natureza (IUCN - The InternationalUnion For Conservation of Nature and NaturalResources), que descreve o ecoturismo da seguinteforma:

Viagem ambientalmente responsável e visitação aáreas naturais a fim de desfrutar e apreciar a natureza(e qualquer característica cultural nelas existente, tantopassada quanto presente), que promova aconservação, tenha uma visitação de baixo impacto epromova de maneira benéfica o envolvimento sócio-econômico ativo das populações locais.

A The Nature Conservancy adotou o conceito deecoturismo como um tipo de turismo cujo uso recomendaa seus parceiros na gestão da maioria das áreas protegidas,especialmente em parques nacionais e outras áreas comobjetivos clara e rigorosamente conservacionistas. Para aThe Nature Conservancy, o ecoturismo representa umexcelente meio de beneficiar tanto a população localquanto a área protegida em questão. É um componenteideal para uma estratégia de desenvolvimento sustentável,na qual os recursos naturais possam ser utilizados comoatrativos turísticos sem causar danos à área natural.Ferramenta importante para a gestão e o desenvolvimentode uma área protegida, o ecoturismo deve ser implantadode maneira flexível. Os seguintes elementos, porém, sãocruciais para o êxito definitivo de uma iniciativa deecoturismo. O ecoturismo deve:

❖ ter impacto mínimo sobre os recursos naturais deuma área protegida;

❖ envolver os principais interessados (indivíduos,comunidades, ecoturistas, operadores de turismo einstituições governamentais) nas fases deplanejamento, desenvolvimento, implantação emonitoramento;

❖ respeitar culturas e tradições locais;

❖ gerar renda sustentável e eqüitativa para ascomunidades locais e para tantos interessados quantofor possível, incluindo operadores de turismoprivados;

❖ gerar renda para a conservação da área protegida; e

❖ promover a educação de todos os principaisinteressados no que diz respeito a seu papel naconservação.

Capítulo 1

O que é Ecoturismo?

Page 13: Ecotourism Development

16 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Evolução do EcoturismoEcoturismo é um conceito que evoluiu nos últimos 20anos, sendo que a comunidade conservacionista, aspessoas que vivem dentro e no entorno de áreasprotegidas, e a indústria do turismo testemunharamuma explosão no turismo voltado à natureza, e sederam conta de seus interesses mútuos em direcionaresse crescimento. O Ecoturismo trouxe a promessa dese alcançar metas conservacionistas, melhorando obem-estar das comunidades locais e gerando novosnegócios, assegurando, dessa forma, uma rara situaçãoem que todos saem ganhando.

As relações entre conservacionistas, comunidades eprofissionais do turismo nem sempre foramharmoniosas e cooperativas. O conceito e a prática doecoturismo, porém, uniram esses diferentes agentes. Oecoturismo emergiu como uma plataforma paraestabelecer parcerias e direcionar, em conjunto, osturistas que buscam experiências e conhecimentos arespeito de áreas naturais e culturas diferentes.

Conservacionistas e EcoturismoEsse novo interesse pelo ecoturismo foi motivado porcircunstâncias específicas que afetam todos os ladosenvolvidos. No lado dos conservacionistas, os gestoresde áreas protegidas estavam em meio à redefinição deestratégias para a conservação. Por razões de ordemprática, estavam aprendendo a combinar atividadesconservacionistas com desenvolvimento econômico,uma vez que se tornou evidente que abordagensconservacionistas tradicionais calcadas emprotecionismo rigoroso não eram mais adequadas, e quenovas maneiras de se alcançar metas se tornavamnecessárias (Brandon e col., 1998).

Durante anos, os conservacionistas estabeleceram egeriram áreas protegidas1 por meio de uma colaboraçãomínima com as pessoas que viviam nessas áreas ou emseu entorno. As condições em muitos países,particularmente em regiões em desenvolvimento,mudaram drasticamente nos últimos anos e afetaram aabordagem da conservação.

Principais Interessados Locais e EcoturismoNas últimas duas décadas, muitos países emdesenvolvimento experimentaram grandes aumentospopulacionais combinados com economias em declínioou estagnadas. Esses países têm sido freqüentementepressionados para explorar sua base de recursos

naturais de forma não-sustentável a fim de fazer frenteàs suas necessidades econômicas imediatas e pagar osjuros da dívida externa. Essa combinação leva maispessoas a competir por recursos naturais cada vez maisescassos. Fora de áreas protegidas, os recursos naturais

de que muitas pessoas dependiam para seu sustento, ecom os quais muitas empresas contavam para obterlucro, desapareceram.

Para a maioria dos países, as áreas protegidas setornaram os últimos e significativos pedaços de terraque ainda abrigam importantes reservas debiodiversidade, água, ar puro e outros serviçosecológicos. Enquanto isso, as áreas protegidas setornaram cada vez mais atrativas para fazendeiros,mineradores, madeireiras e outros, todos buscando ummeio de subsistência. As pressões do desenvolvimentoeconômico nessas áreas se intensificaram em escalalocal, nacional e global. Portanto, o ecoturismo setornou extremamente importante para uma potencialreconciliação entre conservação e aspectos econômicos.

Devido a essa competição por recursos, osconservacionistas se deram conta de que as populaçõeslocais e as condições econômicas deveriam serincorporadas em estratégias conservacionistas (Redforde Mansour, 1996). Na maioria dos casos, as populaçõeslocais necessitam de incentivo financeiro para o uso e omanejo dos recursos naturais de forma sustentável. Ascondições econômicas e políticas existentes geralmente

Tabela 1.1 Principais Destinações Turísticas nas

Américas

País Chegadas em 2000 % variação

1. Estados Unidos 52.690.000 +8,7

2. Canadá 20.423.000 +4,9

3. México 20.000.000 +5,0

4. Brasil 5.190.000 +1,6

5. Puerto Rico 3.094.000 +2,3

6. República Dominicana 2.977.000 +12,4

7. Chile 1.719.000 +6,0

8. Cuba 1.700.000 +8,9

fonte: Organização Mundial do turismo (World Tourism Organization), 2001

1 Neste documento, os termos “áreas protegidas” e “sítio” ou “sítio de ecoturismo” são usados de forma intercambiável. Uma área protegida, porém, geralmente serefere a uma extensão territorial razoavelmente grande, legalmente protegida, e geralmente administrada por um órgão governamental, ou cuja gestão tenha sidodelegada ao setor privado ou a uma coalizão de interesses públicos e privados. Sítio e sítio de ecoturismo são termos mais genéricos, aplicáveis a qualquer extensãode terra ou água na qual o ecoturismo tenha lugar, e que esteja sendo gerida tanto pelo setor público quanto pelo setor privado. O termo “sítio de visitação” se referea locações relativamente pequenas nas quais o uso intensivo e o manejo ocorrem dentro de um contexto mais amplo de ecoturismo e conservação.

Page 14: Ecotourism Development

limitam suas opções e aumentam sua dependência deáreas naturais. O trabalho de conservação, em regra,implica a criação de alternativas para as práticaseconômicas atuais, de modo que zonas de múltiplo usono entorno de áreas protegidas possam ser mantidas eas ameaças a áreas protegidas minimizadas.

Na busca por atividades econômicas alternativas, osconservacionistas se tornaram mais criativos e estãoexplorando muitas opções. O ecoturismo é uma dessasalternativas. A motivação por trás do ecoturismo é a deque as empresas de turismo locais não destruiriam osrecursos naturais, mas sim apoiariam sua proteção. Oecoturismo poderia oferecer uma estratégia viável para ageração de lucros concomitantemente com aconservação dos recursos. Também poderia serconsiderado uma atividade “sustentável”, que nãodegradaria os recursos naturais em uso, ao mesmotempo em que geraria renda.

Indústria do Turismo e EcoturismoA expansão do turismo voltado à natureza levou ànecessidade de se dar atenção aos impactos causadospela indústria. A crescente demanda por turismovoltado para a natureza acendeu o interesse dosgestores de áreas protegidas pela colocação do turismoem um contexto conservacionista. Os viajantes têm sidoa força propulsora da evolução do ecoturismo. E o quecausou essa explosão do turismo voltado à natureza?Em primeiro lugar, examinemos a situação da indústriado turismo em geral.

De acordo com a Organização Mundial do Turismo(2001), o turismo mundial cresceu aproximadamente7,4% em 2000 — a maior taxa de crescimento em cercade uma década e quase o dobro do crescimentoregistrado em 1999. Mais de 698 milhões de pessoasviajaram para um país estrangeiro em 2000, gastandomais de US$ 476 bilhões, o que representa umcrescimento de 4,5% em relação aos anos anteriores.

A indústria de viagens e turismo mantém 200milhões de postos de trabalho em todo o mundo — 1em cada 12,4 postos de trabalho. Até 2010, estima-seque esse número cresça para 250 milhões, ou 1 emcada 11 postos de trabalho (WTTC e WEFA, 2000).

O desenvolvimento mais rápido ocorre no LesteAsiático e no Pacífico, com uma taxa de crescimento de14,5%. Nas Américas, a maior taxa de crescimento éregistrada na América Central (+8,8%).

Não existe, atualmente, nenhuma iniciativa globalpara a coleta de dados relativos ao ecoturismo.Determinados indicadores mostram, porém, que omaior mercado de turismo voltado à natureza, do qualo ecoturismo é um segmento, está crescendo a umavelocidade maior que o mercado de turismo como umtodo, particularmente na região tropical.

Ceballos-Lascuráin (1993) relata que a OrganizaçãoMundial do Turismo (World Tourism Organization -WTO) estima que o turismo gere 7% de todos os gastoscom viagens internacionais. O World ResourcesInstitute (WRI) descobriu que, enquanto o turismocomo um todo vem crescendo a uma taxa anual de 4%,o turismo voltado à natureza vem crescendo a uma taxaanual situada entre 10% e 30% (Reingold, 1993). Osdados que corroboram essas taxas de crescimento sãoencontrados na pesquisa de Lew junto a quatrooperadores de turismo na região da Ásia-Pacífico, queregistraram taxas de crescimento anual de 10% a 25%nos últimos anos (Lew, 1997). Alguns outrosindicadores desse crescimento são:

❖ A visitação à Reserva Marinha Hol Chan, em Belize,cresceu dois terços em um período de cinco anos,aumentando de 33.669 turistas em 1991 para 50.411em 1996 (Departamento de Turismo de Belize, 1997).

❖ Mais de dois terços dos turistas na Costa Rica visitamáreas protegidas e reservas.

❖ Uma pesquisa junto aos operadores de turismointernacional baseados nos Estados Unidos mostraque o número de operadores cresceu em 820% entre1970 e 1994, o que significa uma média decrescimento anual de 34% (Higgins, 1996).

❖ As destinações globais dos clientes dos operadores deturismo internacional baseados nos Estados Unidoseram as seguintes: América Central 39%, América doSul 25%, América do Norte 18%, México e Caribe5%, e outras regiões 13% (Higgins, 1996).

❖ O ecoturismo está crescendo a uma taxa anual de10% a 15%, conforme estimativa do ConselhoMundial de Viagens e Turismo (World Travel andTourism Council – WTTC).2

❖ Muitos países cujos principais atrativos sãoconstituídos de áreas naturais estão experimentandoum expressivo crescimento com relação à chegada deturistas. Por exemplo, as chegadas na Costa Rica maisque quadruplicaram, passando de 246.737 em 1986para 1.031.585 em 1999 (ICT, 2001). Belize

17Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

2 O Conselho Mundial de Viagens e Turismo (World Travel & Tourism Council - WTTC) é o Fórum Global das Empresas Líderes de Viagens e Turismo. Seusmembros são os principais executivos de todos os setores da indústria de viagens e turismo, que inclui hospedagem, serviços de hotelaria, cruzeiros,entretenimentos, recreação, transporte e serviços relacionados a viagens. Seu principal papel é fazer lobby junto aos governos em nome da indústria.

Page 15: Ecotourism Development

18 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

experimentou um aumento de mais de 600% nasvisitações, passando de 51.740 em 1986 para334.699 dez anos depois (WTO, 1997).

❖ Em Honduras, os especialistas estimam que o númerode visitantes amantes da natureza cresceuaproximadamente 15% (para um total de 200.000turistas) em 1995; e um crescimento de 13% a 15%no número de visitantes foi previsto para 1996(Dempsey, 1996).

Qual a razão para as pessoas se sentirem tão atraídaspor destinações ecológicas? Mais provavelmente, essatendência segue o aumento global do interesse pelomeio ambiente. À medida que mais pessoas ouvem falarda fragilidade do meio ambiente, elas se tornam maisconscientes das questões conservacionistas em todo omundo. Em casa, estão dispostas a pagar mais porprodutos e serviços “verdes”, e estão adotando práticasespecificamente conservacionistas, como a reciclagem,por exemplo. Para sua própria satisfação, queremaprender por experiência própria a respeito das espéciesem perigo e dos hábitats ameaçados. Querem entenderos complexos desafios da conservação da florestatropical e os vivenciar diretamente.

Os viajantes estão procurando por destinações maisremotas. Querem fugir ao lugar-comum, querem ir aocoração da selva. Muitos deles estão se tornandoativistas. À medida que descobrem, por experiênciaprópria, uma vasta área agreste ameaçada, e se tornamcientes de sua situação crítica, passam a querer ajudar.No que se refere à demanda, verifica-se um súbitoaumento no número de turistas ecológicos em busca denovas oportunidades. Viajantes domésticos einternacionais estão buscando educação ambiental,estão dispostos a pagar taxas de ingresso e prontos acomprar produtos e serviços locais, o que podefortalecer a economia local. Em suma, esses viajantessão o público ideal com quem tratar dos desafios daconservação de tais áreas.

Da mesma forma que seus interesses mudaram, osconsumidores apresentaram novas exigências para aindústria do turismo, o que, por sua vez, encorajou essaindústria a se voltar para o “turismo verde”, além deencorajar o ecoturismo. Os consumidores pedem novasdestinações, novas maneiras de fazer negócios e, algunsdeles, a oportunidade de contribuir para a gestão dosrecursos naturais. E muitas empresas de viagensrespondem a essas novas condições do mercado.Algumas oferecem menos férias na praia e mais

caminhadas em regiões agrestes. Além disso, estãosurgindo novas empresas dedicadas apenas às viagensecológicas.

Essa tendência relativa à demanda estava destinada acoincidir com a tendência conservacionista em direçãoà efetiva integração com o desenvolvimento econômico.Quando pessoas de áreas de conservação, comunidadeslocais e o setor de viagens se cruzam, começam a falarsobre o ecoturismo como um meio de atingir seusinteresses comuns. O ecoturismo une viajantes quebuscam ajudar áreas protegidas a áreas protegidas quenecessitam de ajuda.

Mas embora a combinação entre os conservacionistase a indústria do turismo parecesse ideal, no princípio,não está sendo fácil estabelecer uma parceria entre eles.Cada um dos lados continua no longo processo deentender como o outro funciona, e todos estãoaprendendo a incorporar novas atividades em seutrabalho. Os ecoviajantes — turistas ecológicosconscientes e sensíveis — constituem um segmentocrescente do mercado de turismo voltado à natureza,que busca uma interação responsiva com comunidadesanfitriãs de modo a contribuir para o desenvolvimentolocal sustentável. As comunidades locais, enquanto isso,esperam cada vez mais desempenhar um papel nagestão do turismo.

Termos RelacionadosComo uma palavra popular, o termo ecoturismo vemsendo usado livremente. Se implementado na íntegra,porém, é uma estratégia conservacionista extremamenteimportante para se alcançar o desenvolvimentosustentável.3 Existe uma grande variedade de termosrelacionados que estão freqüentemente ligados, ealgumas vezes são confundidos com ecoturismo,incluindo os que se seguem.

Turismo Voltado à Natureza. É, simplesmente, oturismo baseado em visitação a áreas naturais. Oturismo voltado à natureza está intimamente ligado aoecoturismo, mas não envolve necessariamenteconservação ou sustentabilidade. É o tipo de turismoque existe atualmente na maioria das áreas naturaisantes que um plano tenha sido estabelecido e medidasde conservação tenham sido implantadas. Como várioselementos do ecoturismo estão integrados em umprograma de turismo voltado à natureza, seus efeitos nomeio ambiente podem mudar.

3 Desenvolvimento sustentável é definido no “Brundtland Report”, Our Common Future (“Relatório Brundtland”, Nosso Futuro Comum), como “desenvolvimentoque atende às necessidades do presente, sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades” (WCED, 1987, p. 43).

Page 16: Ecotourism Development

Turismo Sustentável Voltado à Natureza. É umaatividade muito próxima do ecoturismo, mas nãoobedece a todos os critérios deste. Por exemplo, umteleférico ou bondinho que leve os visitantes através dascopas das árvores de uma floresta tropical pode trazerbenefícios para a conservação e educar os visitantes,mas como apresenta um alto grau de mecanização e,conseqüentemente, cria uma barreira entre o visitante eo ambiente natural, seria inapropriado descrever talatividade como uma iniciativa de ecoturismo. Em áreasmodificadas e com alto índice de visitação, o turismosustentável voltado à natureza pode se constituir emuma atividade adequada. Por exemplo, a criação de“eco” resorts maiores pode não ser considerada como debaixo impacto se exigir a derrubada de quantidadessignificativas de vegetação nativa, mas pode contribuirfinanceiramente para a conservação e proporcionareducação a respeito da conservação.

A linha que separa o turismo sustentável voltado ànatureza e o ecoturismo é tênue, porém, muitoimportante. Um projeto deve preencher todos oscritérios necessários relacionados acima antes de poderser definido com propriedade como ecoturismo.Projetos que deixem de obedecer a algum dos critériosnão beneficiam verdadeiramente, em longo prazo, nema conservação nem as pessoas neles envolvidas.

Turismo científico ou de estudo. É um tipo deturismo com objetivos especificamente investigativos.Projetos desse tipo são comuns em áreas naturais esempre contribuem para sua conservação. Um exemplode turismo científico ou de estudo são as viagenscoordenadas pelo Earthwatch Institute. Algumas dessasviagens podem ser qualificadas como ecoturismoporque proporcionam informações a respeito daecologia da área e, ao mesmo tempo, obedecem aosdemais critérios do ecoturismo.

Turismo cultural, étnico ou de patrimôniocultural. Esse tipo de turismo se concentra nastradições e nas populações locais como seu principalatrativo. Pode ser dividido em duas categorias: aprimeira, e mais convencional, é aquela na qual osturistas conhecem a cultura por meio de museus eapresentações formais de música e danças em teatros,hotéis ou, ocasionalmente, nas próprias comunidades.Em muitas ocasiões, isso leva à “coisificação” da culturaà medida que esta se torna adaptada para o consumoturístico, o que sempre resulta em degradação dastradições culturais locais. A segunda categoria é maisantropológica e encerra uma forte motivação dovisitante para o aprendizado da cultura nativa, mais que

a simples apreciação de uma manifestação isolada dessacultura. Por exemplo, há um crescente interesse noaprendizado de como as populações nativas utilizam osrecursos naturais. O Cofan, do Equador, se especializouem ensinar aos visitantes o uso tradicional de suasplantas medicinais (Borman, 1995). Esse tipo deturismo se constitui sempre em um associado, ou emum elemento do ecoturismo.

É importante que o turismo cultural seja gerido emtermos definidos pelas comunidades anfitriãs, e quehaja monitoramento dos indicadores do impactocultural desse tipo de turismo para assegurar que avisitação não desgaste os recursos culturais.

Turismo Verde / Sustentável. Refere-se a viagens queusam os recursos naturais de forma sensata. Turismoverde ou sustentável pode ser considerado como amudança da indústria do turismo em direção ao“turismo verde”. Exemplos disso incluem a indústria daaviação civil, que está se tornando mais eficiente, aindústria dos cruzeiros marítimos, que está reciclandoseus dejetos, ou grandes cadeias de hotéis, que estãoadotando normas ambientais. Os grandes hotéisdescobriram que ao recomendar a seus hóspedes quereduzam o consumo de água, ou que não esperem quesuas toalhas sejam trocadas todos os dias, não apenasconquistam uma imagem mais “verde” (o que é cada diamais importante para os consumidores), como tambémreduzem seus custos operacionais. Portanto, o turismoverde é, claramente, uma proposição atraente para aindústria do turismo convencional.

Na verdade, reduzir o consumo de água do hotel em15%, embora seja uma medida desejável e relativamentefácil de se adotar na maioria dos grandes hotéis, não é osuficiente para converter o hotel em uma operaçãosustentável. Sweeting e col. (1999) examinaram essaquestão de maneira mais ampla e fizeram recomendaçõespara reduzir o impacto do turismo convencional no meioambiente. Embora a mudança da atual indústria doturismo de massa convencional em direção ao “turismoverde” vá produzir alguns benefícios, novosempreendimentos em áreas naturais, incluindo praias,precisam considerar o consumo de energia, o manejo dedejetos e a análise do meio ambiente ainda na fase deprojeto, e não como uma reflexão tardia, se elespretenderem ser realmente sustentáveis. O fato degrandes hotéis passarem a lavar toalhas em diasintercalados pode não ser o suficiente para proteger olençol freático em uma região árida. A melhor opção, emprimeiro lugar, pode ser evitar a construção de um hotelem uma área na qual os recursos hídricos são escassos.

19Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Page 17: Ecotourism Development

Desenvolver uma indústria de turismo sustentável,ou verde, em todos os seus aspectos, é uma causa válidaà medida que trabalha em prol da manutenção de áreasprotegidas por meio do turismo. Na verdade, algunspodem argumentar que promover a sustentabilidade doturismo em geral seria uma missão conservacionistamelhor que direcionar os esforços apenas para áreasprotegidas. Para os propósitos atuais, porém, o foco seráno desenvolvimento do ecoturismo, e a mudança doturismo convencional em direção ao “turismo verde”será abordada em publicações futuras, e por terceiros.

Pode ser mais fácil pensar no ecoturismo (quetrabalha para proteger áreas naturais por meio doturismo) e no turismo sustentável (que trabalha parafazer com que a indústria do turismo como um todo setorne mais amigável com relação ao meio ambiente)como duas missões importantes, porém distintas.

Como Trabalhar com EcoturismoUma visão abrangente a respeito de conservação estáimplícita na definição de ecoturismo, que incorporaelementos de participação da comunidade edesenvolvimento econômico, incluindo as muitasatividades e agentes que cumprem essa missão.

Existem muitas maneiras possíveis de o ecoturismocontribuir para a conservação. Primeira, o ecoturismopode gerar fundos para áreas protegidas. Segundo, podecriar postos de trabalho para comunidadescircunvizinhas, proporcionando, assim, incentivoseconômicos para sustentar as áreas protegidas. Terceiro,pode promover educação ambiental para os visitantes.Quarto, pode fornecer justificativas para a declaração deáreas protegidas ou ampliar a ajuda para essas áreas. E,finalmente, os programas de ecoturismo objetivamlimitar os impactos negativos dos turistas ecológicos.

Esses são os critérios estabelecidos para oecoturismo. Eles proporcionam diretrizes úteis para aavaliação sobre em que momento o turismo voltado ànatureza se torna ecoturismo. Mas essa avaliação não ésimples, nem é um exercício acadêmico ou semântico.Os planejadores e gestores de conservação sóconseguirão atingir seus objetivos de longo prazo sefizerem um esforço para implementar o ecoturismo emlocais apropriados e obedecerem a todos os seuscritérios. Muitos desafios devem ser encarados ao seaplicar tais critérios a situações de campo práticas.

Na verdade, implementar diretrizes de ecoturismo éuma tarefa difícil e complexa. A recompensa por umtrabalho bem feito, no entanto, é imensa. Avaliações

sobre ecoturismo para um sítio em particular devem serfeitas dentro do contexto dos objetivos de conservaçãoda área. Ao mesmo tempo em que os gestores eplanejadores investigam impactos reais e potenciais doturismo, tanto positivos quanto negativos, não podemperder de vista os objetivos e funções da área protegida.Em alguns casos, impactos negativos do turismoprecisam ser aceitos a fim de se obter os benefícios daconservação da área. Por exemplo, o turismo poderesultar em destruição da vegetação ao longo dastrilhas, mas também pode possibilitar a contratação demais guardas para aquela área protegida. A contrataçãode mais guardas para a área protegida pode ser maisimportante para a conservação da área como um todoque uma vegetação intacta nas imediações das trilhas.Qualquer que seja a combinação de custos e benefícios,a questão essencial deve ser: “O turismo estápromovendo a pauta de conservação da área em longoprazo?” Se a resposta for positiva, então provavelmentese trata de ecoturismo.

Como nota final à definição de ecoturismo, cabeacrescentar que esse tema é sempre discutido nocontexto de áreas protegidas. Áreas protegidas, reservasparticulares e reservas internacionais da biosfera já sãodesignadas como unidades de conservação e oferecemos melhores campos para a promoção do ecoturismo.

Embora por vezes fraca, as estruturas legais e degestão dessas áreas facilitam sua capacidade de colheros benefícios e minimizar os custos do ecoturismo. Maso ecoturismo também pode ter lugar em áreas com umestado de conservação menos formal. De fato, podehaver casos nos quais o ecoturismo acabe por ajudar aestabelecer a status de área protegida em áreas aindanão formalmente declaradas como tal.

O restante deste volume e os volumes que seseguem, e que integram este manual, têm o objetivo deajudar planejadores e gestores de áreas protegidas aadquirir conhecimentos especializados para navegarcom êxito entre o que pode parecer ser objetivosconflitantes do ecoturismo.

Referências

Departamento de Turismo de Belize. 1998. Estatísticas deviagem e turismo de Belize 1997. Belize City, Belize:Departamento de Turismo de Belize.

Borman, R. 1995. La Comunidad Cofán de Zábalo. ToristaSemam’ba — Una experiencia indígena com el ecoturismo. EmEcoturismo en el Ecudor. Trayectorias y desafios, X. Izko (ed.),89-99. Colección Sistematización de Experiencias No. 1.

20 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Page 18: Ecotourism Development

Berna, Suíça: DDA; Berna e Quito, Equador:INTERCOOPERATION; Quito: IUCN.

Brandon, K., K. Redford, e S. Sanderson (eds.). 1998. Parks inPeril. People, politics and protected areas. Washington D.C.:Island Press.

Ceballos-Lascuráin, H. 1993. Ecotourism as a worldwidephenomenon. Em Ecotourism: A guide for planners andmanagers, Volume 1, K. Lindberg e B. Hawkins (eds.), 12-14.N. Bennington, Vermont: The Ecotourism Society.

Higgins, B.R. 1996. The global structure of the nature tourismindustry: Ecotourists, tour operators and local businesses. Journalof Travel Research, 35(2): 11 – 18.

ICT (Departamento de Recursos Naturales). 2001. TourismStatistical Pools. www.tourism-costarica.com

IUCN-The World Conservation Union. 1997. Resolutions andRecommendations. World Conservation Congress, Montreal,Canada, 13-23 October 1996. p. 60.

Izko, X. (ed.). Ecoturismo em el Ecuador. Trayectorias ydesafios. Colección Sistematización de Experiencias No. 1.Berna, Suíça: DDA; Berna e Quito, Equador:INTERCOOPERATION; Quito: IUCN.

Lew, A. 1997. The ecotourism market in the Asia Pacific region:A survey of Asia Pacif and North American tour operators.www.for.nau.edu/~alew/ecotsvy.html

Redford, K. e J. Mansour. 1996. Traditional peoples andbiodiversity conservation in large tropical landscapes. Arlington,Virginia: América Verde Publications, The Nature Conservancy.

Reingold, L. 1993. Identifying the elusive tourist. Going Green:Um suplemento do Tour and Travel News, October, 25:36-37.

Sweeting, J., G. Bruner e A. Rosenfeld. 1999. The green hosteffect, an integrated approach to sustainable tourism and resortdevelopment. Washington D.C.: Conservation International.

Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento(WCED). 1987. Our Common Future, 43.

Organização Mundial do Turismo (WTO). 1997. Tourismmarket trends. Américas, 1997 Edition, Madri, Espanha.

Organização Mundial do Turismo (WTO). 2001. Milleniumtourism boom in 2000.www.worldtourism.org/main/newsroom/Releases/more_releases/R0102001.html

WTTC e WEFA. 2000. Tourism satellite accounting confirmstravel and tourism as worlds foremost economic activity(Contabilidade satélite do turismo confirma viagens e turismocomo a principal atividade econômica mundial).www.wttc.org/press_centre/media_releases/new/000511tsafore-casts.htm

FontesBoo, L. 1998. Ecotourism: A conservation strategy. Documentonão publicado, apresentado no Programa de Ecoturismo da TheNature Conservancy, Arlington, Virginia.

Borja N.R., J. Pérez B., J. Bremner, e P. Ospina. 2000. ParqueNacional Galápagos. Dinâmicas migratórias y sus efectos en eluso de los recursos naturales. Fundación Natura, The NatureConservancy, World Wildlife Fund - WWF, Quito, Equador.

Brandon, K. 1996. Ecotourism and conservation: A review ofkey issues. World Bank Environment Department Paper No.033, Washington D.C.: Banco Mundial.

Ceballos-Lascuráin, H. 1996. Tourism, ecotourism, andprotected areas: The state of nature-based tourism around theworld and guidelines for its development. Gland, Suíça: UniãoInternacional para a Conservação da Natureza (IUCN); N.Bennington, Vermont: The Ecotourism Society.

Honey, M. 1999. Ecotourism and sustainable development:Who owns paradise? Washington D.C.: Island Press.

Sociedade Internacional de Ecoturismo (TIES). 1998. Ecotourismstatistical fact sheet. N. Bennington, Vermont: SociedadeInternacional de Ecoturismo (TIES).

Sociedade Internacional de Ecoturismo (TIES)[email protected] www.ecotourism.orgA TIES é uma organização internacional dedicada a disseminarinformações a respeito do ecoturismo. Seus 1.700 membrosexercem mais de 55 profissões diferentes e vivem em mais de70 diferentes países. A maior parte deles trabalha no setorturístico, estuda turismo, ou usa o turismo para apoiar aconservação de cenários naturais e manter o bem-estar dascomunidades locais.

The Nature Conservancy. 2000. The five-S framework for siteconservation: A practioner´s handbook for site conservationplanning and measuring conservation success (O modelo “five-S” para conservação de sítios: Um guia para o planejamentode conservação de sítios e avaliação do êxito da conservação).Disponível no seguinte web site: www.conserveonline.org.

The Nature Conservancy’s Ecotourism Program (O Programa deEcoturismo da The Nature Conservancy) — www.nature.org/ecotourism

Planeta.com — EcoTravels in Latin Americawww2.planeta.com/mader/ecotravel/ecotravel.htmlPlaneta.com é uma câmara de compensação para o ecoturismoaplicado. Fornece mais de 10.000 páginas de dados úteis e derelatórios completos e bem fundamentados, e hospeda umaampla variedade de fóruns e conferências on-line.

21Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Page 19: Ecotourism Development

Fontes de Estatísticas de Turismo

The ARA Consulting GroupThe Marine Building355 Burrand, Suite 350Vancouver, British Columbia V6C 2G8 CANADATel: 604-681-7577 Fax: 604-669-7390

Journal of Travel ResearchUniversity of Colorado Campus 420Boulder, Colorado 80309 – 0420 USATel: 303-492-8227 Fax: 303-492-3620

Tourism Works for America Council1100 New York Avenue, NW, Suite 450Washington, D.C. 20005-3934 USATel: 202-408-8422 Fax: 202-408-1255

U.S. Travel Data Center atthe Travel Industry Association of America1100 New York Avenue, NW # 450 WestWashington D.C. 20005-3934 USATel: 202-408-1832 Fax: 202-293-3155

World Tourism Organization (WTO)Capitán Haya, 4228020 Madrid, SPAINTel: 34-1-5687-8100 Fax: 34-1-571-3733www.world-tourism.org

The World Travel & Tourism Council (WTTC)1-2 Queen Victoria TerraceSovereign CourtLondon E1W 3HA UKTel: 44-870-727-9882 Fax: [email protected]

22 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Page 20: Ecotourism Development

Áreas Protegidas / Gestores de Sítio desempenham um papel facilitador em:

23Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Um amplo leque de agentes com interesses eobjetivos variados participa do ecoturismo. Alguns

desempenham papel mais importante que outros, masquase todos são representados no desenvolvimento e nagestão dos sítios de ecoturismo. A chave para o sucessodo ecoturismo é a formação de sólidas parcerias, demodo que múltiplos objetivos de conservação edesenvolvimento eqüitativo possam ser alcançados (verFigura 2.1). As parcerias podem ser difíceis devido aonúmero de agentes envolvidos e suas diferentesnecessidades, mas é essencial que sejam forjadas. Osagentes-chave podem ser classificados como: pessoaldas áreas protegidas, indivíduos e organizações dacomunidade, membros do setor privado da indústria doturismo e um grande número de autoridadesgovernamentais e organizações não-governamentais.Sua interação efetiva cria o verdadeiro ecoturismo.

Principais Responsáveis pela Tomada de DecisõesGestores de áreas protegidas. O ecoturismoenvolvendo áreas protegidas coloca os responsáveis poressas áreas em uma posição desafiadora. A equipe quetrabalha em uma área protegida é, geralmente,constituída de biólogos, botânicos ou especialistas emvida silvestre, cujo trabalho consiste em proteger sítiosmarinhos e terrestres de grande relevância. Suasprincipais obrigações, via de regra, envolvem elaboraçãode inventários, manejo das populações de vida silvestree manutenção das instalações de visitação. O verdadeiroecoturismo, porém, requer que o quadro de pessoal dasáreas protegidas esteja apto a trabalhar de perto, e comconhecimento de causa, com a população local e oslíderes da comunidade, bem como com um grandenúmero de representantes da indústria do turismo,incluindo operadores de turismo, agentes de viagem,guias turísticos, órgãos governamentais ligados ao

Capítulo 2

Agentes do Ecoturismo

Figura 2.1 Parcerias Necessárias para o Sucesso do Ecoturismo

Ecoturismo Bem-Sucedido

ComunidadesLocais

Indústria doTurismo

ONGs

ÓrgãosGovernamentais

Outros Agentesde Apoio

Doadores Ecoturistas Setorda educação

Page 21: Ecotourism Development

24 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

turismo e outros. O pessoal das áreas protegidas deveestar apto, também, a direcionar os interesses por vezesconflitantes de todos os agentes do ecoturismo, demodo que eles possam se unir em benefício das áreasprotegidas e de seus objetivos de conservação. Essa éuma tarefa difícil, mas que não pode ser relegada paramais ninguém. Em alguns casos, porém, pode ser útilque as ONGs assumam esse papel, geralmente a pedidoda administração da área protegida.

Os gestores de uma área protegida e sua equipedesempenham papéis cruciais no ecoturismo. Comoprincipais autoridades no que diz respeito à flora e à

fauna de sua respectiva área protegida, elesproporcionam um valioso input para a criação deprogramas de educação ambiental e sistemas demonitoramento de impacto. À frente da gestão, oquadro de pessoal das áreas protegidas é o primeiro anotar mudanças nos recursos naturais, tais como danosao meio ambiente decorrentes do turismo.

Comunidades locais. Pessoas que vivem dentro ou noentorno de áreas protegidas não constituem um grupohomogêneo. Na verdade, mesmo dentro de umapequena comunidade existirá uma diversidade depessoas com uma série de opiniões e experiências. Mas

Este programa foi implantado em 1990 para desencorajar aintrusão de empreendimentos petrolíferos. Desde então, aoperação do ecoturismo se expandiu não apenas como ummeio eficaz de assegurar a autonomia do território nativo,mas também como um modelo para outras iniciativas deecoturismo. Conhecido no mundo todo como um dosprimeiros programas de ecoturismo baseado na comunidade(Colvin, 1994; Wesche, 1993, 1995), Capirona ofereceacomodações simples em uma floresta tropical secundáriajuntamente com oportunidades de intercâmbio cultural. Oterritório de Capirona cobre 2.000 hectares de terra, trêsquartos dos quais constituídos de florestas primáriasintocadas, e o restante reservado para a agricultura pelacomunidade de 70 famílias.

Existem três cabanas destinadas a alojamento na áreacentral da comunidade. As cabañas são um misto dedormitório e salas duplas, com um total de 30 camas. Oshóspedes dividem duas baterias de chuveiros e vasossanitários com descarga. O principal complexo turísticotambém inclui uma loja (na qual é possível comprarrefrigerantes e artesanato), uma cabaña cozinha / sala dejantar, um teatro, uma quadra de voleibol, uma praia, umaestação de rádio receptora e transmissora, um poço, latrinas,duas grandes canoas a motor, duas pirogas a remo e váriastrilhas para caminhada bem conservadas. Aqueles quedesejam experimentar uma noite de aventuras na selvapodem utilizar uma cabana muito mais rústica, localizada auma distância de 45 minutos de caminhada. A comunidadetem planos para transformar essa acomodação rústica emuma cabana totalmente equipada em futuro próximo.

Toda estada na comunidade de Capirona inclui umaapresentação cultural de canções, danças, e a confecção deartesanato Quíchua em um teatro construído especialmentepara essa finalidade. Nesse intercâmbio cultural, os visitantessão solicitados a demonstrar sua própria cultura por meio decanções, danças ou história. O programa de ecoturismoinclui caminhadas fáceis pela selva em meio a gigantescosseibos (Erythrina falcata) e coloridas árvores chamadas pau-mulato (Calycophyllum spruceanum), um observatório depássaros, e uma caverna na qual se juntam animais paralamber os depósitos de sal lá existentes, e onde podem ser

observadas criaturas noturnas. Juntamente com essasatividades se intercalam períodos de tempo livre durante osquais os turistas podem nadar no rio, jogar voleibol,bronzear-se na praia, explorar os caminhos que cercam acomunidade ou ler mais a respeito da história Quíchua. Oshóspedes são sempre incentivados a participar de um projetode trabalho da comunidade. Cada visita a Capirona incluiuma excursão pela comunidade, excursão essa que incluivisitas às escolas, à capela e ao campo de futebol. Tambémpodem ser degustadas amostras de chicha, uma aguardentetradicional da dieta Quíchua. Todos esses programas fazemparte de uma estada de três a seis noites.

Capirona é um programa de ecoturismo pertencente àcomunidade, que faz rodízio entre os trabalhadores eadministradores do projeto regularmente. Os quatro guiastreinados dirigem as atividades dos visitantes, a interaçãocom a comunidade e pedidos especiais. Capirona continuaráa investir em seus recursos humanos por meio de cursosadicionais de formação de guias e capacitação suplementarpara aqueles já envolvidos com o ecoturismo.

A ONG conservacionista local, Fundación Jatun Sacha,que tem uma estação de campo nas proximidades, trabalhacom a comunidade para ajudar no treinamento de guias, etambém envia estudantes equatorianos e estrangeiros paraconhecer o exemplo de Capirona e avaliar como o turismopode ser usado para proteger a natureza e a cultura locais.

A comunidade recebe cerca de 1.000 visitantes por ano etem gerado receitas significativas que contribuem para oaumento da renda individual e familiar, e também para acriação de um fundo comunitário para saúde e educação. Afim de compensar impactos negativos potenciais e dividir osbenefícios gerados pelo turismo com toda a comunidadeQuíchua da região do Alto Napo, os líderes comunitárioscriaram uma rede de comunidades chamada RICANCIE (RedIndígena Comunitária Del Alto Napo de ConvivênciaIntercultural y Ecoturismo), com base no modelo de Capirona.Atualmente, essa rede recebe clientes por meio de umescritório central na capital provincial de Tena.

(adaptado de Wesche e Drumm, 1999.)

Quadro 2.1 A Comunidade de Capirona, na Região Amazônica do Equador

Page 22: Ecotourism Development

algumas poucas generalizações podem ser feitas arespeito dos residentes locais e sua relação com oecoturismo. Primeira, algumas comunidades rurais quejá apresentaram um estilo de vida tranqüilo seencontram, agora, em meio a uma tendênciainternacional. Turistas ecológicos estão invadindo seuterritório, mas geralmente estão apenas de passagempelas vizinhanças, e não vindo para se encontrar com osresidentes locais.

Os residentes reagem de diferentes formas a essaintrusão. Alguns não querem nenhum tipo de contatocom os turistas; querem privacidade e não recebembem as mudanças que o turismo traz. Outros ficaminteressados no turismo e agem no sentido dedesenvolvê-lo. O turismo pode se tornar especialmentesedutor se outras opções de emprego forem limitadas,ou se os residentes sentirem que ele pode ajudar aproteger seus preciosos recursos.

Muitas comunidades em países em desenvolvimentoestão recebendo visitantes e criando programas deecoturismo. Algumas vezes sua motivação reside emproteger os recursos naturais que as cercam. Já outrasvêem o ecoturismo mais sob uma perspectivaeconômica, como um meio de geração de renda. Muitascomunidades vêm organizando seus próprios programasde ecoturismo. O Quadro 2.1 descreve uma delas.

Qualquer que seja sua reação inicial ao ecoturismo,os residentes locais estão sempre despreparados para

suas demandas. Aqueles que não desejam o turismo nãopossuem meios para detê-lo. Eles geralmente não têmcondições de competir com a poderosa indústria doturismo ou com os ameaçadores viajantesindependentes ávidos por descobrir novas áreas.Aqueles que estão interessados em promover o turismopodem não estar familiarizados com seus custos ebenefícios. Muitos têm pouca experiência emempreendimentos turísticos e não estão ligados aosmercados internacionais de turismo.

Os interesses e preocupaçõesdos residentes locais com relação aodesenvolvimento do turismorequerem atenção especial. Oturismo, no seu aspecto maiseconômico, atinge todos os outrosgrupos nele envolvidosprofissionalmente. Também atinge avida pessoal dos membros dascomunidades, já que afeta seumodo de vida, suas tradições ecultura, bem como seu meio desubsistência e suas estruturastradicionais de organização social epolítica. Além disso, a maior partedos demais agentes ingressa noturismo voluntariamente, enquanto,em muitos casos, as comunidadesprecisam lidar com os impactos doturismo, quer seja essa sua opçãoou não.

Os residentes locais desempenham um importantepapel no ecoturismo por duas razões principais.Primeiro, porque são suas terras e locais de trabalho queestão atraindo viajantes ecológicos. Por uma questão dejustiça e praticidade, é necessário que eles se tornemagentes ativos nas tomadas de decisões relativas aoplanejamento e gestão do ecoturismo. Segundo, porqueos residentes locais são agentes-chave na conservaçãodos recursos naturais, tanto dentro quanto no entornodas áreas protegidas circunvizinhas. Sua relação com osrecursos naturais e os usos que fazem delesdeterminarão o êxito das estratégias de conservação paraáreas protegidas. Além disso, o conhecimento local outradicional é sempre um componente-chave daexperiência e da educação dos visitantes.

A indústria do turismo. A indústria do turismo émuito ampla e envolve uma grande variedade depessoas, incluindo: operadores de turismo e agentes deviagens que organizam as viagens; empregados de

25Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Guias locais do Cofan dão explicações sobre o uso tradicional de plantasmedicinais para ecoturistas europeus @ Andy Drumm

Page 23: Ecotourism Development

companhias aéreas e de navios de cruzeiro; motoristasde microônibus; empregados de grandes hotéis epequenas pousadas familiares; artesãos; proprietáriosde restaurantes; guias turísticos; e todo tipo de pessoasque oferecem, de forma independente, bens e serviçosaos turistas. A complexidade desse setor demonstraquão desafiador pode ser para o pessoal que trabalhaem uma área protegida e para as comunidades locaisaprender a respeito da indústria do turismo e formarparcerias com ela.

Os consumidores entram em contato com muitosmembros da indústria do turismo durante suas viagens.Para fazer uma viagem internacional, o viajantegeralmente faz o primeiro contato com um agente deviagens, um operador de turismo ou uma companhiaaérea. O agente, via de regra, fará contato com umoperador de turismo internacional baseado no país deorigem do turista, o qual, por sua vez, fará contato comum operador de turismo doméstico baseado no país dedestinação. O operador de turismo doméstico temmelhores condições de fazer os arranjos locais para aviagem, como transporte, acomodações e serviços deguia turístico. Uma vez que o viajante esteja em suadestinação, muitos empresários locais também setornarão parte desse cenário.

Um elemento que une todas as atividades dentro daindústria do turismo é a busca de lucro financeiro.Podem existir outras motivações para algumas dasatividades, especialmente para aquelas envolvidas como ecoturismo, mas as empresas de turismo sobrevivemapenas quando são lucrativas.

Os integrantes da indústria do turismo sãoimportantes para o ecoturismo por muitas razões.Primeiro, por conhecerem as tendências na área deviagens. Eles sabem como os consumidores agem e oque querem. Segundo, porque a indústria do turismopode influenciar os viajantes, incentivando umcomportamento adequado e limitando impactosnegativos em áreas protegidas. Terceiro, porque aindústria do turismo desempenha um papel-chave napromoção do ecoturismo. Seus membros sabem comochegar aos viajantes por meio de publicações, daInternet, da mídia e por outras formas de promoções,proporcionando, assim, uma ligação entre asdestinações de ecoturismo e os consumidores. Para umaanálise mais detalhada da estrutura da indústria doecoturismo veja Eagles e Higgins (1998).

Autoridades governamentais. As autoridades demuitos departamentos do governo participam doplanejamento, desenvolvimento e gestão do ecoturismo.

Esses departamentos incluem turismo, recursosnaturais, vida silvestre e áreas protegidas, educação,desenvolvimento da comunidade, finanças e transporte.O ecoturismo envolve basicamente autoridades federais,embora autoridades regionais e locais também possamcontribuir para o processo.

As autoridades governamentais têm várias funçõesimportantes no ecoturismo. Elas proporcionamliderança, coordenam e articulam metas nacionais parao ecoturismo. Como parte de seu plano geral deturismo, dão um direcionamento para essa indústria, epodem até propor um plano nacional de ecoturismo.Na Austrália, por exemplo, o governo criou a EstratégiaNacional para o Ecoturismo e, então, destinou AUS$ 10milhões para o seu desenvolvimento e implantação(Preece e col., 1995).

As autoridades governamentais federais tambémpodem estabelecer políticas específicas para áreasprotegidas. Por exemplo, são as autoridadesgovernamentais que decidem sobre os sistemas de taxasde ingresso de visitantes em áreas protegidas, e suaspolíticas determinam que sistemas serão estabelecidos ecomo as receitas serão distribuídas. Podem tambémestabelecer práticas para o setor privado, tais comoobrigar os operadores de turismo a utilizarem guiasturísticos locais em certas áreas ou regulamentar osdireitos de propriedade relativos aos bens dosempresários. As políticas governamentais direcionam asatividades do ecoturismo e podem, facilmente,impulsionar ou se constituir em um obstáculo ao seudesenvolvimento.

Além disso, as autoridades governamentais sãoresponsáveis pela infra-estrutura mais básica fora dasáreas protegidas, que varia de instalações aeroportuáriasem grandes cidades a estradas secundárias queconduzem a sítios remotos. O governo geralmenteassume o comando de todos os maiores sistemas detransporte e assuntos a eles relacionados. Tambémfornece outros serviços importantes para o ecoturismo,como unidades hospitalares em áreas rurais.

Por fim, as autoridades governamentais promovem oecoturismo. Algumas vezes essa promoção faz parte deuma campanha nacional de turismo. Em outras vezes,podem ser criadas campanhas publicitárias para sítiosnaturais específicos, ou então, uma espécie importantepode ser identificada e promovida. A participação dogoverno federal confere destaque e importância àsdestinações ecoturísticas.

26 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Page 24: Ecotourism Development

27Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Organizações não-governamentais. As organizaçõesnão-governamentais são agentes valiosos porqueproporcionam um fórum para discussões relativas aoecoturismo e influenciam tudo o que a ele se refere.Oferecem um meio de comunicação com grandenúmero de pessoas interessadas, e podem atuar comoum meio para unir todos os elementos do ecoturismo.As ONGs podem desempenhar muitos papéis naimplementação do ecoturismo: diretamente, comogestores de programas ou administradores de sítios, eindiretamente, como instrutores, conselheiros, sócioscomerciais de empresas de ecoturismo ou decomunidades e, em circunstâncias excepcionais, podematé mesmo fornecer serviços de ecoturismo.

Existem muitos tipos de diferentes organizações não-governamentais. Dentre elas, existem as associaçõesturísticas lucrativas, constituídas de operadores deturismo privados, companhias aéreas e empresários doramo hoteleiro; as associações de ecoturismo como asexistentes em Belize, na Costa Rica, no Equador, etc.,que juntam grupos de todos os setores envolvidos; eoutras organizações comerciais que tratam de assuntosrelativos a viagens. Essas ONGs geralmente têmmembros que se encontram regularmente e divulgammatérias relativas à indústria por meio de publicaçõescomo boletins. Seus membros, via de regra, devem

aceitar certos princípios ou “códigos de ética”. Essasassociações e organizações desempenham com muitaeficiência o papel de manter a indústria informada arespeito de tendências e eventos atuais.

Um outro grupo de organizações não-governamentais envolvidas com ecoturismo incluigrupos privados, sem fins lucrativos, voltados para aconservação e o desenvolvimento, ou então, dedicadosespecificamente ao ecoturismo. Seu foco pode ser local,nacional ou internacional. Freqüentemente, taisorganizações servem como facilitadores entre áreasprotegidas, comunidades e todos os outros agentes doecoturismo, por vezes fornecendo assistência financeirae técnica, ou gerindo diretamente sítios de ecoturismo.Algumas dessas ONGs possuem grupos de apoio queapreciam a natureza e podem estar interessados naeducação e na promoção do ecoturismo.

Agentes de ApoioMantenedores. Muitos grupos podem obter fundospara o desenvolvimento do ecoturismo por meio definanciamentos ou doações: instituições financeiras,incluindo companhias de investimento; instituiçõesdoadoras bilaterais e multilaterais como o BancoMundial e o Banco Interamericano para oDesenvolvimento; investidores privados; fundos de

Quadro 2.2 Quem é um Ecoturista?

A Sociedade Internacional de Ecoturismo delineou o seguinte perfil de mercado do ecoturista em 1998, com base em uma pesquisa da North American travelers

Idade: entre 35 e 54 anos, embora a idade variasse conforme a atividade e outros fatores como custos.Sexo: 50% dos entrevistados eram do sexo feminino e 50% do sexo masculino, embora tenham sido

encontradas claras diferenças por atividade.Educação: 82% dos entrevistados tinham grau superior completo. Uma mudança no interesse pelo

ecoturismo foi encontrada entre aqueles que tinham um nível educacional superior e aqueles quenão tinham, o que indica uma expansão do ecoturismo em direção aos mercados tradicionais.

Composição familiar: nenhuma diferença significativa foi encontrada entre turistas em geral e ecoturistas experientes.**Composição do grupo: a maioria (60%) dos ecoturistas experientes entrevistados afirmou preferir viajar em casal;

apenas 15% afirmou preferir viajar com a família e 13% afirmou preferir viajar sozinho.Duração da viagem: o maior grupo de ecoturistas experientes (50%) prefere viagens com duração entre 8 e 14 dias.

Gastos: os ecoturistas experientes estavam dispostos a gastar mais que os turistas em geral; o maiorgrupo (26%) estava preparado para gastar de $1.001 a $1.500 por viagem.

Elementos importantes da viagem: as três principais respostas dos ecoturistas experientes foram: (1) cenários agrestes, (2)

observação da flora e da fauna silvestres, e (3) caminhadas e trekking. As duas principaismotivações dos ecoturistas experientes para fazer uma próxima viagem foram: (1) desfrutar ocenário e a natureza, e (2) novas experiências e novos lugares.

** Ecoturistas experientes = Turistas que já tenham feito ao menos uma viagem de “ecoturismo”. Ecoturismo foi definido nesteestudo como viagem voltada para a natureza, a aventura e a cultura.

(de Ecotourist Market Profile (Perfil de Mercado do Ecoturista) realizada pelas empresas de consultoria HLA e ARA; Sociedade Internacional de Ecoturismo (TIES), 1998)

Page 25: Ecotourism Development

capital de risco como a EcoEnterprise Investment Fund;ONGs; e instituições bancárias privadas. Essescontribuintes freqüentemente têm uma importânciacrítica para as áreas protegidas que objetivam oecoturismo. Sempre existem estudos a serem realizados,instalações a serem construídas, infra-estrutura a sercriada e pessoas a serem capacitadas. Tendo em vista osorçamentos tão limitados das áreas protegidas, torna-senecessária a captação de recursos externos.

Várias ONGs internacionais sediadas nos EstadosUnidos e na Europa fornecem recursos e/ou assistênciatécnica para projetos de ecoturismo em países emdesenvolvimento. Muitas delas utilizam recursosprovenientes de agências governamentais como aUSAID, GTZ e DFID, os departamentos governamentaisde ajuda internacional dos Estados Unidos, Alemanha eReino Unido, respectivamente. A The NatureConservancy, por meio de seu programa de Parques emPerigo (Parks in Peril program) financiado pela USAID,vem ajudando muitas ONGs locais a desenvolverprojetos de ecoturismo ligados a áreas protegidas. Arecentemente criada EcoEnterprise Fund tambémfornece recursos em condições favoráveis parapropostas consistentes de projetos de ecoturismo (verVolume II, Parte II).

As instituições financeiras geralmente não participamdo planejamento de ecoturismo ou do processo detomada de decisões a respeito de o que é apropriadopara uma determinada área protegida. Nesse aspecto,elas podem ser consideradas como um participante desegunda linha no ecoturismo; não obstante, ainda assimsão importantes. Para qualquer um que queiradesenvolver o ecoturismo, o acesso aos recursosnecessários é, em geral, o maior obstáculo a sersuperado (ver Volume II, Parte II).

Professores universitários. Os professoresuniversitários se constituem em outro grupo quedesempenha um papel secundário, embora valioso, noplanejamento e nas funções diárias do ecoturismo. É umgrupo que ajuda a delinear a temática do ecoturismo elevanta questões de modo a assegurar que o ecoturismoatinja as metas estabelecidas. Os pesquisadores eprofessores facilitam o aprendizado ao formularemquestões como: Quem, exatamente, está se beneficiandocom o ecoturismo? Como esses benefícios podem sermensurados? Como o ecoturismo contribui para oconhecimento atual do que seja conservação? Quais sãoas ligações entre ecoturismo e turismo? Os professoresuniversitários podem se concentrar na situação como umtodo e ajudar no entendimento de como o ecoturismointerage com outros conceitos e tendências globais.

Além de ajudar a moldar as hipóteses, os professoresuniversitários fazem pesquisa. Em coordenação comONGs, governos e comunidades locais eles podem:

❖ desenvolver e levar a cabo pesquisas, por exemplo,sobre as preferências dos visitantes, sua disposiçãopara pagar, etc.;

❖ apresentar dados a respeito de padrões do turismo;

❖ catalogar a flora e a fauna;

❖ documentar os impactos do turismo e compartilharos resultados para desenvolver uma boa base deinformações;

❖ fornecer material para direcionar as discussões econclusões sobre o ecoturismo; e

❖ facilitar o compartilhamento dessas informações e dopensamento conceitual por meio de conferências, depublicações, da Internet, etc.

Viajantes. Os viajantes ocupam uma posição únicacomo agentes do ecoturismo. O Quadro 2.2 fornece umperfil dos ecoturistas. Eles são os agentes maisimportantes da indústria e proporcionam motivaçãopara as atividades de todos os demais, mas poucosparticipam de reuniões formais tendo como tema oecoturismo. Contudo, as escolhas que fazem quandoselecionam uma destinação turística, escolhem umoperador de turismo ou um agente de viagens e, porfim, o tipo de excursão da qual desejam participar, têmum tremendo impacto no eventual êxito ou fracasso dosprojetos de ecoturismo.

O ecoturismo, portanto, é uma atividademultifacetada, multidisciplinar e composta de múltiplosagentes, que requer comunicação e colaboração entre ovariado leque de agentes com suas diferentesnecessidades e interesses. Conseqüentemente, oecoturismo é um processo desafiador cuja realizaçãoacaba por ser, ao final, imensamente gratificante paratodos os nele envolvidos.

ReferênciasColvin, J. 1994. Capirona: A model of indigenous ecotourism.Second Global Conference: Building a Sustainable Worldthrough Tourism. Montreal, Canadá.

Eagles, P. e B. Higgins. 1998. Ecotourism market and industrystructure. Em Ecotourism: A guide for planners and managers,Volume 2, K. Lindberg, M. Epler Wood, e D. Engeldrum (eds.),11-43. N. Bennington, Vermont: The Ecotourism Society.

Sociedade Internacional de Ecoturismo (TIES). 1998. Ecotourismstatistical fact sheet. N. Bennington, Vermont: SociedadeInternacional de Ecoturismo (TIES).

28 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Page 26: Ecotourism Development

Preece, N., P. van Oosterzee, e D. James. 1995. Two waytrack: Biodiversity conservation and ecotourism. Austrália:Department of Environment, Sport and Territories.

Wesche, R. 1993. Ecotourism and indigenous peoples in theresource frontier of the Ecuadorian Amazon. Yearbook,Conference of Latin Americanist Geographers 19:35-45.

Wesche, R. 1995. The ecotourist’s guide to the EcuadorianAmazon: Napo Province. Quito: CEPEIGE.

Wesche, R. e A.F. Drumm. 1999. Defending our rainforest: Aguide to community-based ecotourism in the EcuadorianAmazon. Quito, Equador. Acción Amazônia.

Fontes

DFID. 1999. Changing the nature of tourism. Developing anagenda for action, Londres: DFID.

Honey, M. 1999. Ecotourism and sustainable development:Who owns paradise? Washington D.C.: Island Press.

Lindberg, K. 1991. Policies for maximizing nature tourism’secological and economic benefits. Washington D. C.: WorldResources Institute.

Lindberg, K. e J. Enriquez. 1994. An Analysis of ecotourism’seconomic contribution to conservation and development inBelize. Washington D.C.: World Wildlife Fund-WWF.

Lindberg, K., M. Epler Wood, e D. Engeldrum (eds.), 1998.Ecotourism: A guide for planners and managers, Volume 2. N.Bennington, Vermont: The Ecotourism Society.

Associación Ecuatoriana de Ecoturismo (ASEC)Calle Victor Hugo E10-111 y Isla PinzónCiudadela JipijapaQuito, ECUADORTel: 245-055 e [email protected]/ecotravel/south/ecuador/asec.htmlA Associação Equatoriana de Ecoturismo reúne empresas deturismo privadas e ONGs, universidades e organizaçõesbaseadas na comunidade para promover o desenvolvimento doecoturismo.

Associación Mexicana de Turismo de Aventura y Ecoturismo(Mexican Association of Adventure Travel and Ecotourism –Amtave)Cidade do México, MÉXICOTel: 52-5-663-5381 [email protected] de aproximadamente 50 fornecedores de viagens comdiversas interpretações sobre ecoturismo. O grupo foi formadoem 1994 para ajudar seus membros a promover serviçosturísticos alternativos.

Conservation International – EcoTravel Centerwww.ecotour.org/ecotour.htmGrupo ambientalista sediado em Washington DC que

desenvolve vários projetos de ecoturismo na América Latina, epatrocina o “Ecotourism Excellence Award”, um prêmio deexcelência em ecoturismo em nível global.

Department for International Development (DFID)O DFID é um órgão governamental do Reino Unido responsávelpela gestão dos programas britânicos de ajuda aodesenvolvimento e por assegurar que as políticasgovernamentais que afetam os países em desenvolvimento,incluindo o meio ambiente, o comércio, políticas deinvestimento e agricultura, levem em consideração as questõesdos países em desenvolvimento.

Departamento de Recursos Naturales / ICT(Costa Rican Tourism Institute)San Jose, COSTA RICATel: 506-223-1733, ramal [email protected] www.turismo-sostenible.co.crÓrgão governamental da Costa Rica que está desenvolvendopadrões para certificação de hotéis “verdes”.

The EcoEnterprises Fundwww.ecoenterprisesfund.comwww.fondoecoempresas.comO Fundo, uma iniciativa conjunta da The Nature Conservancy edo Banco Interamericano de Desenvolvimento, usa asferramentas e princípios do capital de risco para proteger áreasnaturais na América Latina e no Caribe. É um fundo de riscopara a natureza que reúne empreendimentos e conservação.

KiskeyaP.O. Box 109-ZZona ColonialSanto Domingo, REP. DOMINICANATel: 1-809-537 89 [email protected]/cangonet/Organização empresarial voltada para o ecoturismo bem comopara danças nativas. Atua mais no Caribe.

Organization of American States – Tourism Unitwww.oas.org/tourismGrupo multinacional encarregado de promover tanto o turismoquanto o desenvolvimento da região.

USAIDwww.usaid.gov/A Agência Norte-Americana para o DesenvolvimentoInternacional (USAID) é a agência governamental norte-americana responsável pela ajuda internacional. A The NatureConservancy, a USAID e outros parceiros no Caribe e naAmérica Latina desenvolvem o programa Parques em Perigo(Parks in Peril program), um esforço emergencial parasalvaguardar as áreas naturais mais importantes e ameaçadasda região tropical, tais como florestas nubladas ou florestastropicais de alturas, florestas tropicais e savanas. Por meio dosistema de gestão local implantado em 37 áreas críticas desde1990, o programa Parques em Perigo protege mais de 11milhões de hectares em 15 países.www.parksinperil.org

29Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Page 27: Ecotourism Development

31Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

IntroduçãoPor definição, ecoturismo se refere a viagens e visitação aáreas naturais, lugares nos quais a natureza ainda existeem estado relativamente intocado. Em um mundo noqual a pressão populacional e o crescente consumo derecursos está depositando uma grande demanda sobre abase de recursos naturais, torna-se cada vez mais difícilencontrar áreas naturais. Ao mesmo tempo, nossopatrimônio cultural global está ameaçado, tornando cadavez mais difícil aprender com outras culturas epermanecer em contato com as raízes culturais em todo omundo. Atualmente, as áreas naturais remanescentesestão, em sua maioria, protegidas de alguma forma.Atrativos ecoturísticos, quer se constituam de observaçãoda flora e da fauna silvestres, quer se tratem de paisagensnaturais de beleza excepcional, tendem a ser encontradosnessas áreas naturais protegidas.

As áreas protegidas começaram a surgir no séculoIXX, principalmente como uma resposta a essas pressões.Por “área protegida” se entende um pedaço de terra (ouuma extensão de água) com s seguintes características:

1. A área tem limites definidos.

2. A área é gerida e protegida por um indivíduo ouentidade identificáveis, geralmente um órgãogovernamental. Cada vez mais, no entanto, osgovernos estão delegando a responsabilidade pelasáreas protegidas para outras entidades, que podem serprivadas, públicas ou mistas, ou seja, uma combinaçãode ambas

3. A área tem objetivos conservacionistas estabelecidosque sua gestão busca alcançar.

O rápido crescimento do número e da extensãoterritorial das áreas protegidas ocorrido desde a décadade 60 coincide com o mais rápido crescimento daspressões acima citadas. Tradicionalmente, as áreasprotegidas são resguardadas e geridas por autoridades

governamentais para proteger espécies em risco deextinção ou exemplos de excepcional beleza cênica. Emgrande parte do hemisfério sul, pressões econômicas noorçamento dos governos, tendências globais em direção àdescentralização, e uma sociedade que valoriza cada vezmais o papel da participação não-governamental sãofatores que vêm causando profundas mudanças namaneira pela qual as áreas protegidas são administradas egeridas.

Tais mudanças se manifestam de duas formas principais:

1. Espera-se cada vez mais que as áreas protegidas geremparte dos recursos necessários para sua própria gestão.

2. Muitas outras organizações, tanto privadas quantopúblicas, estão começando a se envolver com a gestãoe conservação de áreas protegidas, tanto em parceriacom os tradicionais órgãos governamentaisresponsáveis por elas quanto por meio da gestão desuas próprias áreas protegidas.

Uma responsabilidade extra dos gestores de parques élevar a causa da conservação às pessoas. Sem um grupode apoio à causa da conservação não se alcançará o êxitono final. Esse grupo pode ser local, nacional einternacional. O ecoturismo é um elemento crucial parase alcançar esse objetivo, e não apenas uma fonte derecursos para a conservação. A ligação entre o ecoturismoe as áreas protegidas é, portanto, inevitável e profunda.

O Papel do EcoturismoTurismo e Ecoturismo são, via de regra, parte daestratégia de gestão para uma área protegida. Aintensidade com que se busca atividades turísticasdepende da prioridade a elas concedida pelos gestores daárea, que, por sua vez, devem ser guiados por umdocumento de planejamento elaborado para essafinalidade. O documento de planejamento (ou plano degestão) deve ser o resultado de uma avaliação abrangenteda base de recursos naturais e culturais da área. Ele

Capítulo 3

Ecoturismo e Áreas Protegidas

Page 28: Ecotourism Development

32 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

determina as pressões, suas fontes e as ameaças reais àintegridade do patrimônio natural e cultural da área, bemcomo as estratégias para reduzir tais ameaças. O planodeve definir os objetivos de gestão em longo prazo daárea e um esquema de zoneamento que identifique emque locais determinadas atividades podem ocorrer (verParte II, Capítulo IV).

O que existe hoje é a junção de duas diferentes forçaspara criar uma relação de simbiose, na qual o ecoturismoprecisa das áreas protegidas e estas precisam doecoturismo.

O ecoturismo está sendo considerado cada vez maiscomo uma estratégia de gestão para áreas protegidas,estratégia essa que, se implementada de formaapropriada, constitui uma atividade sustentável ideal.Ela é destinada a:

❖ causar um mínimo impacto no ecossistema;

❖ contribuir economicamente para as comunidadeslocais;

❖ respeitar as culturas locais;

❖ ser desenvolvida por meio de processos participativosque envolvam todos os interessados; e

❖ ser monitorada a fim de se detectar impactospositivos e negativos.

Há muitas razões relevantes pelas quaisconservacionistas e gestores de áreas protegidasconsideram o ecoturismo como um instrumento degestão de áreas protegidas (ver o caso das IlhasGalápagos, no Quadro 3.1). Tais razões incluem oseguinte:

1. O turismo convencional surge, por vezes, como umafonte de preocupações com relação à biodiversidadede uma área protegida. Em outros casos, oecoturismo pode ser considerado como umaestratégia adequada para enfrentar ameaças às metasconservacionistas. Os turistas ecológicos estão,atualmente, indo em número cada vez maior paraáreas protegidas. Os gestores de tais áreas, nomínimo, devem controlar os impactos negativosdesse tipo de turismo. Mesmo que não sejam criadoscentros de visitação bem estruturados e grandespólos turísticos, deve-se adotar medidas paraassegurar que esse crescente número de visitantesnão cause impacto negativo nos valores dabiodiversidade de uma área protegida. Essas medidasincluem um maior número de pessoas trabalhandonessas áreas, o desenvolvimento de sistemas de

monitoramento e o aperfeiçoamento dos esforçospara a educação ambiental. A gestão dos visitantes ea minimização de impactos é uma responsabilidadebásica dos gestores de áreas protegidas.

2. O ecoturismo pode trazer benefícios econômicospara áreas protegidas. Visitantes que não têm umlocal efetuar gastos se constituem em oportunidadesperdidas. Centenas de milhares de dólares de receitapotencial se perdem atualmente, receitas essas quepoderiam reverter tanto para os gestores de áreasprotegidas quanto para as comunidades locais,devido ao fato de os turistas não teremoportunidades adequadas para pagar taxas e adquirirbens e serviços.

3. Adequadamente implementado, o ecoturismo podese tornar um importante estímulo para melhorar orelacionamento entre as comunidades locais e asadministrações de áreas protegidas. Esserelacionamento talvez seja o aspecto mais difícil doecoturismo, uma vez que envolve níveis decomunicação e de confiança entre diferentes culturase perspectivas que são, tradicionalmente, muitodifíceis de serem alcançados.

4. O ecoturismo pode proporcionar uma opção melhorpara as área naturais que outras atividadeseconômicas com ele incompatíveis. Muitas áreasnaturais estão ameaçadas e precisam ser fortalecidaspara que possam sobreviver; o ecoturismo podeajudar a proteger algumas delas de tais ameaças e deusos inadequados da terra. Um programa deecoturismo bem sucedido pode, por exemplo,impedir a implementação de serviços de corte etransporte de madeira em uma área por meio dageração de receitas maiores, especialmente seconsiderado no longo prazo.

5. A implementação do ecoturismo em áreas protegidasdemonstra que ele não precisa se constituir em umtipo de turismo de massa destrutivo. Demonstra, aocontrário, que mesmo dentro do meio ambiente frágilde uma área protegida, o desenvolvimentosustentável pode dar bons resultados.

Oportunidades e AmeaçasO turismo apresenta uma combinação de oportunidadese ameaças para as áreas protegidas. Já o ecoturismobusca aumentar as oportunidades e reduzir as ameaças.Se uma oportunidade se concretiza, nesse caso ela setorna um benefício. Se uma ameaça não é evitada, entãoela se torna um custo. Não existem benefícios

Page 29: Ecotourism Development

33Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

O Parque Nacional de Galápagos está localizado nas IlhasGalápagos, sobre a linha do equador, a cerca de 1.000km da costa do Equador. Tanto o parque nacional terrestrequanto a Reserva Marinha de Galápagos sãointernacionalmente reconhecidos por seus extraordináriosecossistemas, seu invulgar estado de conservação, afacilidade com que se pode observar o processoevolucionário naquele local, sua rica biodiversidade e oalto nível de endemia de sua flora e suas espécies animais.

Embora o parque nacional tenha sido criado em 1959,uma administração ativa do parque e o turismo organizadonão se iniciaram até 1968. Tanto os administradores doparque quanto os representantes da indústria do turismoperceberam, rapidamente, que se não trabalhassem juntospara assegurar que o turismo se desse de formaresponsável, as características ímpares do ecossistema deGalápagos poderiam ser extremamente degradadas. Em1974 foi preparado um plano de gestão abrangente para oparque, que incluiu uma relação de sítios de visitaçãoaprovados e um sistema de zoneamento que determina emque locais o turismo (e outras atividades) podem ocorrer.

O serviço do parque, em conjunto com a Estação dePesquisa Charles Darwin (Charles Darwin Research Station– CDRS), instituiu um sistema de guias naturalistas em1975. Todos os grupos de turismo devem viajaracompanhados por um guia, e todos os guias devempassar por um treinamento para receber uma licença paratrabalhar no parque. Essa exigência encorajou muitosresidentes locais a se envolver com o turismo, e, por meiodo treinamento e de suas experiências no parque, avalorizar cada vez mais a conservação dos recursos doparque e da reserva. O sistema de guias também ajudou aaplicar os regulamentos do parque e a aumentar apresença da gestão do parque em seus 7.000 km2 deterritório. Os guias também se constituem em um meio deassegurar que os visitantes se tornem conscientes do incrívelvalor que as Ilhas Galápagos representam para aconservação.

O primeiro plano de gestão estabeleceu uma capacidademáxima de 12.000 visitantes por ano para o parque, umnúmero que foi logo ultrapassado à medida que o turismoaumentou rapidamente para seu nível atual de cerca de66.000 visitantes por ano (Benitez, 2001). Embora muitosesforços venham sendo feitos ao longo dos anos paraestabelecer uma capacidade de carga para o parque, estásendo difícil impor limites devido à complexidade e aonúmero de fatores que contribuem para o turismo no ParqueNacional de Galápagos. Gradualmente, está se tornandoevidente que gerir os sítios individuais de visitaçãoconforme sua capacidade individual, bem como monitorar

ostensivamente os impactos da visitação são meios maiseficazes de gerenciar os números do turismo. Asautoridades do parque organizam os itinerários dos barcosde modo a assegurar que o número de visitantes fiquedentro dos limites estabelecidos para os sítios de visitação.

A taxa de ingresso original de US$ 6 custa, atualmente,US$ 100. Essa medida não reduziu o fluxo de visitantespara a ilha, mas permitiu ao governo equatoriano manteruma parcela maior dos gastos dos turistas no próprioparque. Durante muitos anos, toda a renda gerada peloParque Nacional de Galápagos revertia para o tesouronacional. Com a criação da Reserva Marinha e oconseqüente aumento de responsabilidade de protegeráreas marinhas das Ilhas Galápagos, o que não poderiaser feito sem o apoio e a participação de diversasentidades governamentais, as receitas geradas pelas taxasde ingresso estão sendo, atualmente, divididas entre oparque nacional, as comunidades locais, o CDRS e outrosórgãos governamentais. Espera-se que essa distribuição defundos gere uma abordagem mais holística com relação àproteção ambiental nas Ilhas Galápagos.

Recentemente, a pesca ilegal na reserva marinha criouum grande conflito entre conservacionistas e os interessesna exploração dos recursos. Os vários interessados,liderados pelo parque e pelo CDRS, estabeleceram umprocesso para a solução do conflito e um planejamentoparticipativo para o sistema marinho denominado GestãoParticipativa (Benitez, 2001). Os principais interessados sesentaram à mesa de negociações e chegaram a conclusõesa respeito do volume de pesca, locais de pesca e outrosassuntos correlatos. Seus primeiros esforços levaram àpromulgação de uma Lei Especial para Galápagos em1998, o que ajudou a solucionar muitas questõesrelacionadas à reserva marinha bem como ao turismo nasilhas. Muitos conflitos poderiam ter sido evitados se aGestão Participativa houvesse sido implantada desde oinício do turismo na região.

O turismo nas Ilhas Galápagos começou quando o“ecoturismo” ainda não existia. Contudo, por meio detentativa e erro, os gestores do parque e os representantesda indústria do turismo gradualmente criaram uma situaçãoque se aproxima muito do que o ecoturismo representa:benefícios para a comunidade, para o setor privado e paraa conservação; educação dos visitantes; sustentabilidadeeconômica para o parque nacional; e gestão do impactoda visitação. Não está sendo fácil, nem a situação atual éperfeita. Foi criado, porém, um importante grupo deinteresses diversificados, o que assegurará que asqualidades ímpares das Ilhas Galápagos continuem a serprotegidas.

Quadro 3.1 Lições do Parque Nacional de Galápagos, no Equador

Page 30: Ecotourism Development

automáticos associados ao ecoturismo; o êxito dependede bom planejamento e de boa gestão. Se planejados deforma negligente ou mal implementados, os projetos deecoturismo podem, facilmente, tornar-se projetos deturismo convencional, com todos os impactos negativosassociados a esse tipo de turismo.

Oportunidades e ameaças, e, conseqüentemente,benefícios e custos, variarão de situação para situação,de grupo para grupo e de indivíduo para indivíduodentro de cada grupo. O que representa benefícios paraum grupo pode se constituir em custos para outro. Adeterminação de quais oportunidades devem serbuscadas e quais ameaças devem ser suprimidas sãodecisões que podem ser tomadas de forma mais eficazse esse processo envolver todos os interessados noprojeto. O estabelecimento do grau de importância decada benefício é parte do compromisso envolvido emum processo de planejamento de ecoturismo.

O conjunto total de oportunidades e ameaças doecoturismo não se aplica a todas as áreas protegidas. Porexemplo, em uma área protegida que atraia basicamentevisitantes domésticos, as oportunidades de geração dedivisas estrangeiras são limitadas, mas podem existir boasoportunidades de elevar o nível de consciência a respeitoda conservação do meio ambiente no âmbito local. Adegradação do meio ambiente variará de acordo com afragilidade dos recursos naturais e o tipo de atividadespermitidas. As condições de cada área protegida criamum conjunto específico de oportunidades e ameaças.

O restante deste capítulo identifica e descreve asoportunidades e ameaças que o desenvolvimento doturismo representa para uma área protegida.

Oportunidades Potenciais do Ecoturismo

Geração de RendaO aporte de recursos para as áreas protegidas é a maiorpreocupação dos conservacionistas. Os recursosgovernamentais disponíveis para as áreas protegidasvêm diminuindo globalmente, e muitas áreas naturaisnão conseguirão sobreviver sem novas fontes de renda.O turismo oferece oportunidades de geração de rendade diversas maneiras, tais como, cobrança de ingressos,taxas de uso, concessões para o setor privado e doações.Novos recursos permitem que os gestores de áreasprotegidas lidem melhor com os turistas e semantenham firmes contra outras ameaças.

Taxas de ingresso ou taxas de uso são cobradasdiretamente dos visitantes para conhecer uma área.Recolhidas logo na entrada, as taxas de ingresso podemser estruturadas de diversas maneiras. Em alguns casosé cobrada uma taxa fixa. Em outros casos, estabelecem-se sistemas de taxas múltiplas, com várias taxas paradiferentes tipos de usuários. Em geral, turistasestrangeiros pagam uma taxa maior que os visitanteslocais. Outras taxas são cobradas dos usuários paraatividades específicas ou para a utilização deequipamentos especiais em uma área protegida, comoligação de energia elétrica caso o visitante vá acamparou diversas taxas de aluguel de equipamentos.

Concessões para o setor privado incluemlanchonetes, restaurantes, hotéis ou pousadas, lojas depresentes, aluguel de barcos e guias turísticos. Tudo issopode ser de propriedade de ou gerido por particulares,sendo uma parte dos lucros destinada à área protegida.Esse sistema é benéfico porque reduz responsabilidadescomerciais que, de outro modo, seriam atribuídas aoquadro de pessoal das áreas protegidas, geralmente semtreinamento para assumi-las, ou mesmo interesse emfazê-lo. As concessões permitem que as áreas protegidasse beneficiem da energia e dos lucros dosempreendimentos do setor privado, porém, devem sernegociadas visando o bºenefício em longo prazo dasáreas protegidas, e devem ser monitoradoscuidadosamente. Esse monitoramento assegura, porexemplo, que as concessionárias realizem de fatoserviços cuja responsabilidade lhes foi atribuída, taiscomo, coleta de lixo, manutenção de trilhas, etc.

Doações podem ser solicitadas por meio de umasimples caixa colocada na entrada, ou então, por meiode uma campanha mais sofisticada, como um programado tipo “adote uma espécie em extinção”. Áreasprotegidas com espécies ameaçadas ou flora e fauna sui

34 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

EducaçãoAmbiental

EcoturismoIntercâmbio

Cultural

Valorização eConsciência do

VisitanteManutenção e

Enriquecimento daBiodiversidade

Postos deTrabalho

Justificativapara a Área

Protegida

Geração deRenda

Figura 3.1 Ecoturismo como uma Oportunidade

Page 31: Ecotourism Development

generis podem solicitar ajuda financeira para mantê-las.Os visitantes que acabaram de passar por umafascinante experiência na natureza são o públicoperfeito para esse tipo de apelo. Muitas áreas protegidasregistram uma alta taxa de êxito com o estabelecimentode programas de doação para campanhas específicas.Por exemplo, a Fundación Natura, na Colômbia, e aANCON, no Panamá, possuem programas muito bemsucedidos com o tema “adote um hectare”. O ParqueNacional das Ilhas Galápagos também possui umprograma muito bem sucedido denominado “Amigos deGalápagos”. Tais programas e recursos deveriam setornar parte integrante de qualquer programa deecoturismo para uma área protegida. Os ecoturistasquerem contribuir para a conservação; não vamos negara eles essa oportunidade!

Existem muitas outras maneiras pelas quais oturismo pode gerar renda para áreas protegidas. Asvisitações podem ser “virtuais”, por exemplo, por meioda visita a um web site desenvolvido para uma áreaprotegida. Nessa forma de visitação virtual, a solicitaçãode doações pode atingir um público muito maior. Paraalgumas áreas protegidas o turismo pode se tornar afonte primária de geração de renda. Para outras,representará apenas uma das muitas fontes decontribuição financeira. Mas para quase todas as áreasprotegidas, os visitantes devem ser considerados comouma fonte de renda disponível e facilmente acessível,que deve ser explorada de maneira eqüitativa parapropiciar sustentabilidade de longo prazo e incentivar oretorno dos visitantes.

Um aspecto essencial é assegurar que a renda geradapelo turismo permaneça na área protegida e sejautilizada para sua conservação. Para obter maisinformações a respeito deste tópico, consulte o VolumeII, Parte I, Capítulo 5, “Mecanismos de Geração deRenda”.

Criação de Postos de TrabalhoNovos postos de trabalho são sempre citados como umdos maiores benefícios do turismo. As áreas protegidaspodem contratar novos guias, guardas, pesquisadoresou gestores para atender as crescentes demandas doturismo. Nas comunidades circunvizinhas, os residentespodem conseguir emprego como motoristas de táxi,guias turísticos, donos de hotéis ou pousadas, ouartesãos, ou podem, ainda, participar de outrosempreendimentos turísticos.

Além disso, outros tipos de postos de trabalhopodem ser criados indiretamente por meio do turismo.

Podem ser necessários mais assentadores de tijolos paraa construção, mais hortaliças para novos restaurantes,mais tecidos para a fabricação de suvenires. À medidaque o turismo cresce, seu crescimento promove amelhoria de muitas fontes de emprego.

Em alguns casos, os residentes da comunidade sãobons candidatos para os postos de trabalho criados peloturismo porque conhecem o ambiente local muito bem.Os residentes são fontes de informação ideais; elespodem, por exemplo, dizer aos visitantes por que certasplantas florescem em um determinado período do ano,e que animais são atraídos por elas. Como residentesnativos da área, os membros da comunidade têm muitoa oferecer nos postos de trabalho criados peloecoturismo. Certos cuidados, porém, devem sertomados para proteger os direitos das populações locais(por vezes conhecidos como direitos de propriedadeintelectual), de forma que seu conhecimento não sejaobjeto de exploração ou apropriação indébita por partede visitantes ou de programas de turismo.

O Kimana Group Ranch, fora do Parque NacionalAmboseli, no Quênia, conseguiu atrair atençãointernacional por criar a primeira comunidade santuáriode vida silvestre na África. Administrado pelosrancheiros Masai, Kimana tem sua própria guarda, seuspróprios guias, um portão de entrada e suas própriasconcessões de hotéis e pousadas (Western, 1997).

Não se deve, no entanto, exagerar o valor dos postosde trabalho relacionados ao ecoturismo em áreas rurais.Existem algumas importantes questões a considerar.Primeiro, embora se fale de enormes quantidades dedólares provenientes do turismo, o ecoturismogeralmente não se constituirá em uma mina de ouropara toda a comunidade. Encarado de uma forma maisrealista, ele criará alguns postos de trabalho,dependendo de quão popular a área protegida seja, masnão se tornará, automaticamente, uma fonte de rendapara centenas de pessoas. Além do mais, muitos postosde trabalho relacionados ao ecoturismo serão de meioperíodo e sazonais, e deverão ser considerados apenascomo um suplemento para outras fontes de renda. Demodo geral, a probabilidade maior é de que os postosde trabalho criados pelo ecoturismo, na maioria dascomunidades, serão limitados.

Uma segunda preocupação a respeito dos postos detrabalho gerados pelo ecoturismo é a natureza dosempregos criados para a comunidade. Via de regra,poucas posições de gerência estão disponíveis, assimcomo poucas são as possibilidades de se possuir o

35Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Page 32: Ecotourism Development

próprio negócio. O turismo sempre terá muitas posiçõesde serviços, por ser uma indústria que necessita demuita mão-de-obra. Mas as comunidades poderão ficarressentidas com relação ao ecoturismo se seus membrosnão estiverem representados nos níveis mais elevados dahierarquia dos empregos criados. A lucratividade doturismo para os residentes locais será minimizada se lhesforem oferecidas apenas posições subalternas e não lhesforem proporcionadas oportunidades de crescimento.Além disso, poderão surgir ainda desigualdades emrazão do sexo do trabalhador, visto que os postos detrabalho mais bem remunerados, de guia de turismo ede gestor, são quase que totalmente destinados aoshomens, e as mulheres ficam relegadas a ocupar ospostos de trabalho com menor remuneração, nalavanderia, na limpeza e na cozinha.

Uma outra barreira ao emprego na área doecoturismo é a questão da capacitação. Para muitosresidentes, um novo emprego representa uma grandetransição pessoal e profissional. Quando no papel,parece não haver problema nenhum no fato delenhadores poderem se tornar guias turísticos,conservando, dessa forma, as árvores que costumavamderrubar. O redirecionamento de uma carreira, porém,é um empreendimento difícil. Os candidatos aos novospostos de trabalho precisam de informação a respeitode todas as facetas da gestão do ecoturismo. Precisamde capacitação em desenvolvimento de negócios tantoquanto de treinamentos básicos em áreas como línguasestrangeiras, preparação de alimentos, primeirossocorros, manutenção de motores de barcos,interpretação, manejo de grupos, etc., e precisam teracesso aos mercados internacionais. Novos postos detrabalho no turismo exigem novos conhecimentos e,portanto, treinamento. Os planos de projeto deecoturismo precisam incluir em seu orçamento essescustos de longo prazo com treinamento.

Além disso, há muitas considerações sociais eculturais envolvidas na mudança de emprego, queenvolve mudanças no estilo de vida. A diversificaçãonos postos de trabalho relativos ao turismo pode mudaro aspecto da comunidade e a maneira como ela opera.Podem surgir conflitos entre os residentes. Porexemplo, postos de trabalho na área do turismogeralmente são mais bem remunerados que astradicionais fontes de renda. Dentro de umacomunidade, um agricultor pode ganhar o equivalente aUS$ 50 por mês. Um vizinho seu, trabalhando comoguia turístico, pode ganhar a mesma quantia com umaúnica gorjeta recebida de um turista mais abastado.Essas desigualdades criarão ciúmes entre os membrosda comunidade? Como poderão ser resolvidas? Quem

conseguirá os cobiçados postos de trabalho na área doturismo, se existirão mais candidatos que vagas? Seráque uma comunidade irá querer se tornar umadestinação turística se isso significar a perda de suasestruturas econômicas tradicionais, como a agricultura?

Uma questão que não se pode perder de vista ao seavaliar a efetividade dos postos de trabalho relacionadosao ecoturismo é se existem outras alternativas detrabalho para as populações locais, e quais são elas. Emmuitos casos, o ecoturismo pode ser a melhor opção seos outros usos potenciais da terra forem constituirameaça maior para a sobrevivência dos recursosnaturais da área, mesmo que esses postos de trabalhosejam poucos e deficientes. Ao analisar os postos detrabalho criados pelo ecoturismo é essencial ter emmente sua relação com ameaças à biodiversidade deuma área. Mais discussões sobre o ecoturismo e ascomunidades podem ser encontradas no capítulo“Como Desenvolver o Ecoturismo com ComunidadesLocais”, no Volume II, Parte II.

Justificativa para Áreas ProtegidasVisitantes, ou o potencial para atrair visitantes, estãoentre as razões pelas quais autoridades governamentaise residentes mantêm áreas protegidas. Para asautoridades governamentais, declarar áreas protegidas efornecer assistência financeira para mantê-las é sempreum processo difícil. Essas autoridades se deparam commuitos interesses conflitantes ao tomar decisõesrelativas ao uso da terra e dos recursos marinhos. Aconservação de áreas protegidas exige visão de longoprazo e sempre se constitui em um desafio para asautoridades governamentais, especialmente quandoconfrontadas com a perspectiva de ganhos financeirosde curto prazo com atividades de corte de madeiras,mineração e agricultura.

Mas à medida que as autoridades governamentaisavaliam as opções de uso da terra e da água, o turismovoltado à natureza pode fazer com que elas se inclinemno sentido de fornecer o status de área protegida a umadeterminada área, ou de fortalecer a proteção a umaárea protegida ou reserva já existentes, especialmente seelas puderem gerar renda e proporcionar outrosbenefícios para o país. O turismo internacional motivaas autoridades governamentais a pensar mais sobre aimportância da gestão de áreas naturais. Os visitantesestão mais propensos a visitar e sustentar uma áreanatural se ela é protegida, o que, por sua vez, tornaainda mais justificável a existência de áreas protegidas.

36 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Page 33: Ecotourism Development

A visitação à área pode ser o incentivo necessáriopara que os residentes das proximidades das áreasprotegidas, ou de potenciais áreas protegidas, apóiem aproteção contínua dessas áreas.

Uma Economia Mais ForteA visitação de turistas a sítios naturais incentiva aeconomia nos planos local, regional e nacional. Se oturismo criar postos de trabalho para os residentes noplano local, então eles terão mais dinheiro para gastarno próprio local, o que irá fomentar a atividadeeconômica naquela área.

O mesmo padrão pode ocorrer nos planos regional enacional. Turistas ecológicos chegam na capital de umpaís, e podem lá permanecer por alguns dias ou seguirpara o interior. Ao longo do caminho que percorremusam hotéis, restaurantes, lojas, serviços de guia esistemas de transporte. Geralmente, uma grandevariedade de empreendimentos se beneficia diretamentedos turistas ecológicos. Embora esses empreendimentos,via de regra, sejam criados para acomodar grandesgrupos de turistas internacionais e nacionais, os turistasecológicos representam um mercado adicional. Existemtambém algumas operadoras que levam o turista rápidae diretamente do aeroporto para um itinerário completoem uma área protegida privada, não deixando, assim,ao visitante, nenhuma oportunidade para fazer gastosnas comunidades locais. Em tais casos, é importanteassegurar que existam mecanismos como taxasaeroportuárias para reter ao menos uma pequena parteda receita gerada pelo turista. As indústrias que apóiamo turismo, tais como a indústria de transformação e alavoura, também são afetadas pelo número de turistas.O ecoturismo crescente cria uma economia forte emtodo o país.

O governo federal também pode gerar divisasestrangeiras com o turismo por meio de impostos deimportação e taxas. Por exemplo, os pesquisadoresdescobriram que o governo de Belize arrecadou BZ$ 7milhões em impostos incidentes sobre o combustívelusado na indústria do turismo (Lindberg e Enriquez,1994). Outras taxas incluem taxas de ocupação(cobradas diretamente nos hotéis) e taxas de embarque(cobradas diretamente dos turistas). Essas taxasgeralmente se constituem em uma maneira eficaz detributar diretamente os visitantes, ao mesmo tempo emque se evita problemas inflacionários para as populaçõeslocais. Além disso, essas cobranças não precisam afetaradversamente a demanda. Por exemplo, os turistasecológicos não deixam de ir a Belize por terem quepagar uma taxa de embarque de US$ 22,50. Essa receita

é de grande ajuda para a economia nacional, e partesdela sustentam o sistema de áreas protegidas.

Educação AmbientalOs turistas ecológicos se constituem no público idealpara a educação ambiental. Durante uma excitantecaminhada na natureza os visitantes estão dispostos aaprender tudo sobre os hábitats locais. Eles quereminformações sobre o comportamento animal e os usosdas plantas, bem como sobre os desafios que seapresentam para a conservação desses recursos. Muitosquerem saber a respeito das questões econômicas,políticas e sociais que cercam a conservação.

Os guias naturalistas são uma importante fonte deeducação ambiental. Pesquisas com visitantes mostramque bons guias são um fator-chave para o êxito de umaviagem. Por exemplo, em 1966 o Centro RARE paraConservação Tropical entrevistou 60 gruposconservacionistas na América Latina para identificar omaior obstáculo ao desenvolvimento do ecoturismo; afalta de guias naturalistas bem treinados ocupou osegundo lugar entre suas preocupações (Jenks, 1997).Para mais informações sobre guias naturalistas verVolume II, Parte I, Capítulo 7.

Centros de visitação com exposições, materialimpresso e vídeos também se constituem em umexcelente meio de educação ambiental. Além disso,informações em forma de sinalização nas trilhas podemtransmitir importantes informações biológicas e

37Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Quadro 3.2 A Reserva de Aves Silvestres Point-A-Pierre, em Trinidad

A Reserva de Aves Silvestres Point-A-Pierre é uma ONGambientalista em Trinidad que se expandiu até se tornaruma importante instalação de educação ambiental nopaís. Localizada no centro do maior complexopetroquímico e de refino de petróleo da ilha, a Reserva foicriada há 30 anos e hoje se estende por 23 hectares (60acres) de área agreste natural e dois grandes lagos.

Com uma autorização original para criar uma área dereprodução para aves aquáticas, a Reserva reconheceu oimportante papel de educar pessoas a respeito de suamissão. Hoje, mais de 16.000 visitantes passam pelocentro de educação ambiental anualmente. Além demanter um bem-sucedido programa de reprodução emcativeiro, a Reserva ajuda milhares de residentes eestrangeiros, de crianças da escola a trabalhadores darefinaria, a se tornar mais informados a respeito dosdesafios da conservação em Trinidad.

(adaptado de Shephard, 1994)

Page 34: Ecotourism Development

mensagens conservacionistas. As informações para osvisitantes estão se tornando cada vez mais criativas einterativas.

A educação ambiental se constitui em umaoportunidade igualmente importante de alcançar osvisitantes nacionais. Quer sejam crianças de escolaslocais aprendendo sobre os recursos que podem servaliosos em seu dia-a-dia ou viajantes das regiõesvizinhas aprendendo sobre o significado de suas áreasprotegidas nacionais, os cidadãos são um públicoessencial, já que as mensagens sobre conservação têmuma urgência especial para eles.

A educação ambiental é mais eficaz quando sedisponibilizam informações antes e após a viagem. Apreparação incentiva os visitantes a pensar a respeito docomportamento mais adequado, minimizando, dessaforma, impactos negativos, e o uso de material deacompanhamento dá prosseguimento ao processo deeducação ambiental.

Valorização e Auto-estimaValorização e auto-estima são benefícios menospalpáveis que os outros enumerados aqui, mas podemlevar a ações concretas. É muito comum que as pessoasnão apreciem de fato a área que as cerca, e que não lhedêem o devido valor. Geralmente, são as pessoas de foraque dão uma nova perspectiva e agregam valor aos

recursos locais. Esse fenômeno ocorre tanto nas grandescidades quanto em remotas áreas naturais. Embora osresidentes de áreas rurais, que cresceram em meio aáreas agrestes espetaculares, geralmente entendam ascomplexidades da natureza e valorizem seu papel nasua vida, muitos deles não têm a menor idéia daimportância global de seus recursos naturais. Muitaspessoas do campo não entendem a magnitude daatenção, dos estudos e das preocupações globaisdirigidos à sua terra natal.

Por outro lado, audazes turistas ecológicos sempreficam muito entusiasmados com a exploração de novossítios inexplorados. Eles invadem as pequenascomunidades com câmeras de vídeo e registram tudo oque vêem. Jornalistas da National Geographic e deoutras revistas escrevem histórias inspiradorasenriquecidas com atraentes fotografias. Os sítiosnaturais que antes eram secretos, especialmente nospaíses tropicais, estão sendo promovidos e expostoscom um fervor sem precedentes.

As populações nativas são sempre surpreendidascom o alto nível de interesse dos forasteiros por seusrecursos naturais e por sua cultura. Na maior parte doscasos, porém, elas passam a ver seu meio de maneiradiferente após essa exposição internacional, e passam avalorizar mais as áreas naturais circunvizinhas e a vidasilvestre que atraem os turistas. Se a experiência doturismo for gerida com participação da comunidade econtrole adequados, pode levar a uma maiorvalorização, pela comunidade, de sua própria cultura, amesma cultura que os visitantes cada vez mais buscamconhecer e admiram.

Aperfeiçoamento dos Esforços em Prol daConservaçãoComo resultado da crescente valorização dos recursoslocais e do aumento da auto-estima da comunidade, osesforços em prol da conservação geralmente aumentam.Muitos residentes são motivados a proteger suas áreas emuitos modificam seu padrão de uso dos recursos. Aspráticas de cultivo podem ser modificadas, o lixo nasestradas pode ser recolhido, e o uso da água pode sermais bem gerenciado. As populações locais sempreaprendem mais sobre conservação e modificam seushábitos diários em conseqüência do turismo.

A consciência sempre aumenta também no planonacional, resultando no aperfeiçoamento dos esforçosem prol da conservação na forma de administração eapoio às áreas protegidas. Mesmo no planointernacional, o ecoturismo pode engendrar um apoio

38 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Quadro 3.3 Plano Nacional para oDesenvolvimento do Ecoturismo na Guiana

A Guiana oferece um exemplo de como o turismo é capazde promover esforços em prol da conservação. Comflorestas tropicais intocadas, montanhas escarpadas,vastas savanas e rios estrondeantes, sua fauna incluidiversos pássaros tropicais, gigantes lontras ribeirinhas, ocaimão negro e o raro gavião-real (ou gavião-de-penacho). A Guiana é relativamente intocada, e a fim demanter seus recursos intactos está criando um sistema deáreas protegidas e reservas, bem como desenvolvendo umPlano Nacional para o Desenvolvimento do Ecoturismo.

Como parte desse processo de planejamento, o únicoparque nacional da Guiana, Kaieteur, foi escolhido parademonstrar como o desenvolvimento do turismo podeaumentar os esforços em prol da conservação. Espera-seque todo o sistema do parque nacional sirva de base parao desenvolvimento do ecoturismo. O governo nacional,com a assistência de consultores externos, está assumindoum papel de liderança no estabelecimento de um plano ena determinação de políticas, de modo que o ecoturismopossa vir a sustentar as recém-criadas áreas protegidas.

(adaptado de Andersen, 1996)

Page 35: Ecotourism Development

internacional para aperfeiçoar os esforços em prol daconservação, bem como apoio para determinadas áreasprotegidas. Visitantes locais e internacionais de áreasprotegidas estão propensos a se mobilizar para defenderuma área de grande valor que esteja sendo ameaçada.Por exemplo, quando a exploração ilegal de petróleoestava ocorrendo na Reserva Faunística de Cuyabeno,no Equador, em 1993, as comunidades nativas Quíchuae Cofan, que estavam muito envolvidas com oecoturismo, se voltaram para os ambientalistas eoperadores de turismo da região em busca de apoio. Osoperadores de turismo encorajaram seus hóspedes aparticipar do que se tornou uma campanhainternacional decisiva para eliminar a ameaça à reservae à subsistência das comunidades locais, por meio deremessa de cartas de todas as partes do mundo.

Ameaças Potenciais do Turismo

Degradação AmbientalEsse é o problema mais comumente associado aoturismo nas áreas protegidas. Os visitantes podemdestruir os próprios recursos que vieram ver. Adegradação ocorre de muitas maneiras e em grausvariados. Muito dos danos do turismo aos recursosnaturais são visíveis: vegetação destruída, erosão detrilhas e lixo.

Os turistas trazem ainda outros tipos de ameaçaspara áreas protegidas. Além de danos à superfície,afetam o complexo funcionamento da natureza,causando problemas e mudanças sutis, que incluem aalteração no comportamento dos animais, como hábitosalimentares, de migração e de reprodução. Muitas dasmodificações são difíceis de detectar, mas todas elas seconstituem em importantes indicadores da saúde dosrecursos naturais.

Os gestores de áreas protegidas estão começando aacompanhar essas mudanças à medida queequipamentos e métodos se tornam mais sofisticados.Os gestores precisam de uma consistente base de dadoscomparativa a respeito da flora e da fauna das áreasprotegidas. Também necessitam de um bom programade monitoramento para documentar e analisar asmudanças, o que permite que sejam determinadas asmelhores práticas para minimizar a degradaçãoambiental. O planejamento de ecoturismo deveenvolver uma análise do volume esperado de tráfego devisitantes e seu impacto potencial na área protegida.

Os visitantes também podem causar impactosambientais negativos a áreas circunvizinhas. Em algunscasos, a atenção é dirigida aos impactos do turismo noabastecimento de água para consumo doméstico. Umarecente pesquisa examinou as questões da quantidadede água e do tratamento de águas-servidas relacionadasao crescimento do turismo nas cidades de Banff eCanmore, no Canadá. Tais cidades ficam próximas auma importante destinação turística, o Parque Nacionalde Banff, e receberam mais de cinco milhões devisitantes em 1995 (Draper, 1997). Para obter maisinformações sobre a redução dos impactos ambientais,ver Volume II, Parte I, Capítulo 3, “Planejamento eProjeto de um Sítio de Visitação”, e Capítulo 6, “Gestãodo Impacto das Visitações”.

39Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Quadro 3.4 Impactos Ambientais do Turismo naReserva Florestal Kibale, em Uganda

Em 1992 a Reserva Florestal Kibale, em Uganda, foitransformada em um parque nacional. Foram criadastrilhas para visitantes e um centro de visitação, e avisitação aumentou de 1.300 em 1992 para 5.000 em1996. Embora o número de visitantes ainda fosserelativamente baixo para os 560 km2 do parque, oDepartamento de Vida Silvestre de Uganda e os gestoresdo Parque Nacional Kibale estavam preocupados comrelação aos impactos ambientais do turismo.

Após fazerem avaliações de impacto, os pesquisadoresconcluíram que mais de três quartos de todos os locaisreservados para camping dentro da área haviam sofridoalgum tipo de degradação, e que de 10% a 30% dastrilhas estavam sofrendo erosão, mesmo após uma curtaexposição às visitações. Os pesquisadores estão, agora,elaborando uma estratégia de longo prazo para ogerenciamento de impactos.

(adaptado de Obua y Harding, 1997)

DegradaçãoAmbiental

TurismoDistorções

Econômicas

CrescenteControle porForasteiros

Instabilidade daIndústria

Redução daVisitação

DistorçõesCulturais

Figura 3.2 Ameaças Potenciais do Turismo

Page 36: Ecotourism Development

Instabilidade EconômicaO ecoturismo, como outras formas de turismo, pode seruma fonte de renda bastante instável. Muitos fatoresexternos influenciam a demanda turística. Esses fatoresestão completamente fora do controle das destinaçõesturísticas, no entanto, afetam os níveis de visitação. Porexemplo, conflitos políticos ou rumores de que nãoexistem condições de segurança em uma região ou paíspodem desencorajar os visitantes internacionais duranteanos. Desastres naturais, como furacões, podemfacilmente destruir a infra-estrutura turística em sítiosmarinhos. Além disso, flutuações no câmbio podematrair os visitantes para determinados países e afastá-losde outros.

Todos esses fatores desempenham papéisimportantes na decisão de fazer uma viagem. Nãoimporta o quanto os gestores de áreas protegidas e ascomunidades se preparem, construam e promovam,muito da demanda turística é determinada porcircunstâncias externas. O número de visitantes podemudar de maneira drástica, praticamente sem nenhumaviso prévio, e afetar profundamente a situaçãofinanceira de pequenos empreendimentos turísticos.Proprietários e gerentes de microempresas em áreasremotas geralmente não têm uma diversidade de opçõesde postos de trabalho à sua disposição caso suasempresas não dêem certo. Um declínio no turismo

pode significar um desastre não apenas para osindivíduos, mas para as comunidades como um todo,caso sua economia dependa da natureza volátil daindústria do turismo.

AglomeraçõesUma sensação de aglomeração pode ser um problematanto dentro das comunidades quanto nos sítiosnaturais, já que os turistas podem começar a competircom os residentes por espaço. Em algumascomunidades grandes, dotadas de centros comerciais,longas filas podem se formar nos supermercados, e osresidentes podem ter que se submeter a longas esperaspara jantar em restaurantes locais. As multidõestambém podem ser um incômodo para os visitantes,muitos dos quais estão em busca de uma tranqüilaviagem ecológica. Os turistas internacionais podem ficardesapontados por terem viajado longas distânciasapenas para serem sufocados por outros turistas.

Os residentes também podem ser perturbados porum número excessivo de visitantes em suas localidades,afinal, esses são os locais que eles conheceram enquantocresciam, antes de se tornarem atrativos internacionais.Se o acesso a esses locais guardados como um tesourose torna difícil, as tensões geralmente aumentam.

40 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Conflitos políticos podem contribuir para a instabilidade doecoturismo. No Parc des Volcans, em Ruanda, o gorila damontanha estava sujeito a grande pressão em decorrência decaça ilegal e perda de hábitat durante as décadas de 60 e70, o que resultou em uma grande diminuição na populaçãode gorilas. Existiam menos de 400 exemplares na natureza.Em resposta a essa situação, em 1979 foi criado o ProjetoGorila da Montanha para ajudar o Serviço do ParqueNacional de Ruanda e a Agência Nacional de Turismo aproteger o Parc des Volcans, local onde mais de um terçodos gorilas viviam.

O turismo deu um salto e começou a trazer substanciaisbenefícios econômicos para as comunidades locais e para aeconomia do país. Guiados por guias locais, os turistaspagavam US$ 180 por visita, e o parque se tornou a terceiramaior fonte de divisas estrangeiras do país. Os benefíciospara a conservação também foram significativos: apopulação de gorilas se estabilizou e começou a crescer.

No início dos anos 90, a guerra civil se intensificou emRuanda. Os relatos de devastação humana eram chocantes,e o turismo simplesmente parou. O interessante é que ambas

as facções em conflito fizeram um grande esforço paraproteger os gorilas e seu hábitat, porque os combatentescompreendiam seu valor econômico, mas o turismointernacional não será mais o mesmo nesse país durantemuitos anos, se é que algum dia voltará a ser como antes.Além de ter que reconstruir suas comunidades humanas,Ruanda encara perdas econômicas colossais. Os residenteslocais e o governo do país experimentaram dramáticasmudanças com relação à renda quando a demanda doturismo voltado à natureza se modificou.

Em conseqüência da perda de acesso ao Parc des Volcans,houve um aumento considerável na visitação ao ParqueNacional Bwindi, nas proximidades de Uganda, que tambémabriga uma população de gorilas. Vários hotéis e pousadasforam construídos nas proximidades do parque parahospedar o crescente número de turistas. Mas em 1999 oconflito em Ruanda se estendeu para Bwindi, e guerrilheirosarmados mataram vários turistas e guardas do parque. Oturismo na região parou imediatamente, e levará um longotempo antes que o Parque Nacional Bwindi retome os níveisanteriores de visitação.

(adaptado de Boo, 1998)

Quadro 3.5 Instabilidade do Ecoturismo – África Central

Page 37: Ecotourism Development

Desenvolvimento ExcessivoQuando uma localidade se torna uma destinaçãoturística popular, os empreendedores locais logopensam em construir acomodações, restaurantes eoutros serviços para atender às necessidades dosvisitantes. Em alguns casos nos quais a demandaturística é forte, pessoas de outras partes do paíspoderão se mudar para a comunidade para aproveitar oaumento das oportunidades econômicas. Com acrescente necessidade de serviços de turismo vem acrescente demanda por infra-estrutura, ou seja, porhotéis, restaurantes e casas para os empregados ouempresários recém-chegados. Essas demandas criamuma pressão nos serviços básicos, como abastecimentode água, tratamento de águas-servidas, eletricidade, etc.Além do ônus que sobrecarrega os serviços municipais,o aumento do desenvolvimento ocorre, tipicamente,quase sem planejamento algum, e pode se tornar umproblema estético bem como ecológico, tanto para acomunidade quanto para a área protegida.

ConclusãoEm conclusão, o ecoturismo requer que os recursosnaturais e culturais sejam protegidos para que possaflorescer. Os governos cada vez mais se tornam parceirosde ONGs conservacionistas para administrar e protegeráreas naturais. Enquanto as comunidades locaisprotegem seu território e propriedades para atrair odesenvolvimento do ecoturismo, as ONGs, empresasprivadas e pessoas físicas criam reservas privadas quegeralmente têm como missão uma combinação deconservação e empreendimentos de ecoturismo. Oturismo traz uma série de ameaças e oportunidades queprecisam ser avaliadas antes de se decidir pelaimplantação de um projeto de desenvolvimento deturismo convencional ou de ecoturismo. As ameaçaspodem incluir degradação ambiental, distorçõesculturais, distorções econômicas, crescente controle porpessoas estranhas à comunidade, e instabilidade daindústria. Qualquer uma delas poderia resultar naredução da visitação, podendo, ainda, ocorrercongestionamento em sítios de visitação mais populares.

O ecoturismo tem o potencial de reduzir as ameaçastrazidas pelo turismo convencional para áreas naturais epara as pessoas que vivem nelas e no sem entorno, pormeio de geração de renda para conservação,empreendimentos locais e criação de postos de trabalho,intercâmbio cultural, educação ambiental, justificativapara a área protegida e valorização por parte dovisitante. O ecoturismo, porém, requer rigorosoplanejamento e gestão para concretizar esse potencial.

Referências

Andersen, D.L., 1996. Kaieteur National Park: A springboardfor nature tourism plan in Guyana. The ECTA Communicator1(2).

Boo, L. 1998. Ecotourism: A conservation strategy. Documentonão publicado, apresentado no Programa de Ecoturismo da TheNature Conservancy, Arlington, Virginia.

Benitez, S. 2001. Visitor use fees and concession systems inprotected areas: Galápagos National Park case study. Relatórionão publicado, preparado para a The Nature Conservancy,Arlington, Virginia.

Draper, D. 1997. Touristic development and water sustainabilityin Banff and Canmore, Alberta, Canada. Journal of SustainableTourism 5(3).

Jenks, B. 1997. The question of local guides in Latin America.Boletim da The Ecotourism Society, segundo trimestre de 1997,p. 1.

Lindberg, K. e J. Enriquez. 1994. An Analysis of ecotourism’seconomic contribution to conservation and development inBelize. Washington D.C.: World Wildlife Fund-WWF.

Obua, J. e D. M. Harding. 1997. Environmental impact ofecotourism in Kibale National Park, Uganda. Journal ofSustainable Tourism, 5(3).

Shephard, K. 1994. “The Pointe-A-Pierre Wild Fowl Trust –Trinidad.” A Focus on Participation. Barbados: BancoInteramericano de Desenvolvimento, Comitê de Meio Ambiente.

Western, D. 1997. Ecotourism at the crossroads in Kenya.Boletim da The Ecotourism Society, terceiro trimestre, pp. 1-2, 4.

FontesBoo, L. 1993. Ecotourism planning for protected areas. InEcotourism: A guide for planners and managers, Volume 1. K.Lindberg e D. E. Hawkins (eds.), 15-31. N. Bennington,Vermont: The Ecotourism Society.

Borja N.R., J. Pérez B., J. Bremner, e P. Ospina. 2000. ParqueNacional Galápagos. Dinámicas migratorias y sus efectos en eluso de los recursos naturales. Quito, Equador: FundaciónNatura, The Nature Conservancy, World Wildlife Fund - WWF.

Ceballos-Lascuráin, H. 1996. Tourism, ecotourism, and protectedareas: The state of nature-based tourism around the world andguidelines for its development. Gland, Suíça: UniãoInternacional para a Conservação da Natureza (IUCN); N.Bennington, Vermont: The Ecotourism Society.

Ceballos-Lascuráin, H., G. Reck, e R. Troya. 1995. Propuestasde políticas de turismo en las áreas naturales protegidas. Quito,Equador: Proyecto INEFAN/GEF.

Honey, M. 1999. Ecotourism and sustainable development:Who owns paradise? Washington D.C.: Island Press.

41Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Page 38: Ecotourism Development

Izko, X. (ed.). Ecoturismo em el Ecuador. Trayectorias ydesafios. Colección Sistematización de Experiencias No. 1.Berna, Suíça: DDA; Berna e Quito, Equador:INTERCOOPERATION; Quito: IUCN.

Kelleher, G. (ed.). 1999. Guidelines for marine protected areas.Best Practice Protected Area Guidelines Series No. 3. Gland,Suíça e Cambridge, Reino Unido: IUCN, World Comission onProtected Areas.

Lindberg, K. 1991. Policies for maximizing nature tourism’secological and economic benefits. Washington C.D.: WorldResources Institute.

Lindberg, K. e D. Hawkins (eds.). 1993. Ecotourism: A guide forplanners and managers, Volume 1. Bennington, Vermont: TheEcotourism Society.

Lindberg, K., M. Epler Wood, e D. Engeldrum (eds.), 1998.Ecotourism: A guide for planners and managers, Volume 2. N.Bennington, Vermont: The Ecotourism Society.

Wallace, G. 1993. Visitor Management: Lessons fromGalapagos National Park. In Ecotourism: A guide for plannersand managers, Volume 1, K. Lindberg e B. Hawkins (eds.), 55-81. N. Bennington, Vermont: The Ecotourism Society.

Associación Nacional para la Conservación de la Naturaleza(ANCON), Panamá — www.ancon.org/

The Charles Darwin Foundation — www.galapagos.orgInformações e notícias sobre o Parque Nacional de Galápagose a Estação de Pesquisa Charles Darwin.

Fundación Natura, Colômbia — www.natura.org.co/

PARKS MagazinePublicada três vezes por ano pela IUCN – União Internacionalpara a Conservação da Natureza. Para informações sobreassinaturas, escrever para: 36 Kingfisher Court, Hambridge Rd,Newbury, RG14 5SJ, UK.

RARE Center for Tropical Conservation – www.rarecenter.orgA missão do Centro RARE é proteger áreas agrestes dediversidade biológica significativa em termos globais, por meioda capacitação da população local para colher benefícios coma preservação de tais áreas.

World Commission on Protected Areas, associated with IUCN,the World Conservation Union – www.wcpa.iucn.orgO web site da WCPA contém notícias sobre a comissão, suasforças-tarefa, reuniões e publicações. É possível fazer downloaddas publicações sem nenhum custo.

42 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Page 39: Ecotourism Development

43Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

IntroduçãoAs comunidades são as administradoras tradicionais demuitas das áreas naturais do mundo, mas desde que ospaíses tropicais foram alvo de grandes ondas decolonização européia, foram quase que totalmenteexcluídos das decisões administrativas, tanto no que dizrespeito ao seu desenvolvimento quanto à suaautodeterminação. Nas décadas atuais essa exclusãopode ser observada no desenvolvimento econômico enão apenas no setor turístico. O turismo tende a serdirigido por empresas privadas, localizadas em cidadesdistantes e até mesmo em países estrangeiros.Tradicionalmente, o Estado nega o acesso e aparticipação das populações locais nas atividades emáreas naturais protegidas. Por esse motivo, os membrosda comunidade não são reconhecidos comointeressados e têm sido colocados à margem dasoportunidades criadas pelo turismo voltado à naturezaem todo o mundo.

Definição de ComunidadeComunidade se refere a um grupo heterogêneo depessoas que vive na mesma área geográfica e acessa umconjunto de recursos naturais locais. O grau de coesão ediferenciação sociais, força das crenças e instituiçõescomuns, diversidade cultural e outros fatores variagrandemente dentro das comunidades e entre elas.(Schmink, 1999).

O Papel da Comunidade no EcoturismoRecentemente, os conservacionistas reconheceram opapel crucial que as comunidades rurais e costeirasdesempenham na conservação da biodiversidade;muitos gestores de áreas protegidas desenvolvemmecanismos para incorporar essas comunidades comoparticipantes do processo de planejamento e gestão. Aomesmo tempo, o crescente interesse que os turistasmostram em aprender e experimentar culturasdiferentes fez com que a indústria do turismoincorporasse aspectos das comunidades em suasatividades. Esse interesse fez surgir nas comunidades a

consciência a respeito das oportunidades que o turismoapresenta. Nos locais nos quais as comunidades estãobem organizadas e são proprietárias de suas áreastradicionais, elas são mais bem-sucedidas em reter umaparcela maior dos gastos efetuados com o turismo emáreas naturais. Nos anos 90, vários povos nativos eoutros grupos locais adotaram o ecoturismo como partede sua estratégia de desenvolvimento (Wesche, 1996).

Uma das maiores contribuições do ecoturismo para aconservação ambiental é o grau em que podetransformar as atividades da comunidadede “ameaças”em “oportunidades”, ou seja, atividades que contribuempara o desenvolvimento sustentável e para a conquistados objetivos de conservação de uma área.

Para aumentar os benefícios da conservação em umaatividade envolvida com ecoturismo, é necessáriodefinir como os interessados locais podem fazem partede seu planejamento e de sua gestão (ver Volume II,Parte II, para mais detalhes).

Nem todas as comunidades ou todos os membros deuma comunidade vão querer se envolver nas atividadesde turismo, e os planejadores e empreendedores devemrespeitar essa atitude. Aqueles que buscam se envolverpodem escolher entre as várias formas de participaçãodescritas abaixo:

❖ Alugar terras para que um operador a desenvolva esimplesmente monitorar os impactos;

❖ Trabalhar em regime temporário, em período integralou meio período para os operadores de turismoprivado;

❖ Fornecer serviços aos operadores privados, tais comopreparo de alimentos, serviços de guia, transporte ouacomodação, ou uma combinação de todas essasalternativas;

❖ Criar joint ventures com operadores de turismoprivados, permitindo que as comunidades forneçam amaior parte dos serviços enquanto os parceiros do

Capítulo 4

Ecoturismo e Comunidades Locais

Page 40: Ecotourism Development

44 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

setor privado administram o marketing,a logística e os guias bilíngües, casoexistam; e

❖ Operar com programas independentesbaseados nas comunidades.

O papel que a comunidade escolhedeve estar fundamentado, dentre outrascoisas, no interesse, na capacidadeorganizacional, na experiência, nasensibilidade cultural, na presença de umaliderança forte, na qualidade de recursosnaturais e culturais, na demanda porturismo, nas oportunidades detreinamento, na disponibilidade deparceiros e no interesse do setor privado.

Pode acontecer de uma comunidade tergrande interesse no desenvolvimento doecoturismo, mas essa não ser uma opçãoviável devido aos fatores mencionados acima. Éextremamente importante que se avalie as condiçõeseconômicas de um projeto de ecoturismo antes doinício do desenvolvimento da infra-estrutura (verVolume II, Parte II). Em geral, as ONGs ligadas àconservação ambiental encaram o ecoturismo nascomunidades como uma forma de desenvolvimentoharmônico, mas as expectativas das comunidades, comfreqüência, são criadas apenas para seremposteriormente frustradas, quando o projeto nãoproduz os benefícios esperados.

É necessário que o entusiasmo dos conservacionistase das comunidades esteja fundamentado em avaliaçõespreliminares do sítio (ver Parte II, Capítulo 2), em umbom planejamento participativo e análise da viabilidadedo projeto.

A figure 4.1 ilustra os múltiplos e diversos elementosessenciais para se garantir que as comunidadesdesempenhem seus papéis no desenvolvimento doecoturismo.

Áreas Protegidas e EcoturismoPara que o ecoturismo prospere, os atrativos devem serprotegidos. Esses atrativos podem estar dentro de umparque nacional ou dentro de uma reserva dacomunidade. As zonas de amortização de impacto deum parque nacional podem ser locais ideais para que ascomunidades estabeleçam reservas que facilitem asatividades de ecoturismo. Os gestores de ParquesNacionais devem buscar a colaboração dessascomunidades e integrá-las no planejamento de gestão.Podem, também, destinar uma porcentagem da rendagerada por meio da venda de ingressos aos visitantes

Ecoturismo naComunidade

OutrasAtividades

Sustentáveis

Parcerias

Planejamento

FinanciamentoEducação e Capacitação

ÁreasNaturais

Protegidas

DesenvolvimentoSustentável

Figura 4.1 Elementos Essenciais ao Ecoturismo noContexto de uma Comunidade

Tabela 4.1 Impactos Potenciais do Turismo nas Comunidades

POSITIVOS NEGATIVOS (com a participação da comunidade) (sem a participação da comunidade)

Para a comunidade Para as áreas protegidas Para as comunidades Para as áreas protegidas

1. Renda sustentável Redução das ameaças e Erosão das bases Desenvolvimento econômico desenvolvimento econômico de recursos naturais incompatívelcompatível (DEC)

2. Melhoria nos serviços Redução das Crescente desigualdade Caça e pesca ilegais, uso ameaças e DEC econômica exacerbado dos recursos naturais

3. Fortalecimento da Redução das Erosão cultural Afastamento das práticascultura local ameaças e DEC sustentáveis tradicionais

Page 41: Ecotourism Development

para projetos de desenvolvimento econômicocompatíveis nas comunidades vizinhas, como aconteceno caso do Parque Nacional de Galápagos (Governo doEquador, 1998).

Impactos Positivos Potenciais

Renda SustentávelQuando as comunidades se engajam no ecoturismo,novas fontes de renda podem ser geradas para acomunidade como um todo, e também novasoportunidades, por meio da criação de empregos paraseus residentes. Essa renda adicional poderia ser geradacom a cobrança de ingressos para o acesso às trilhas,acomodação ou serviços de guia, preparo e venda dealimentos, artesanato e outros serviços.

Essa renda adicional muitoprovavelmente reduzirá adependência das atividades nãosustentáveis, como o corte deárvores. Entretanto, é importanteque o processo de planejamentonão crie uma extrema dependênciado turismo, o que poderia levar auma erosão da qualidade dosatrativos naturais e culturais dascomunidades, bem comoaumentar a vulnerabilidade àsflutuações econômicas domercado, que estão além docontrole dessas comunidades.

Melhoria nos ServiçosQuando a comunidade como umtodo recebe novas rendas geradas,por exemplo, pelas taxas pagaspara um fundo da comunidade,cria-se uma possibilidade demelhoria nos serviços de saúde eeducação. Essas taxas podem ter o efeito, no longoprazo, de aumentar a consciência da importância daconservação na comunidade e reduzir as ameaças.Melhores serviços de saúde podem beneficiar acomunidade como um todo e criar uma vantagemadicional para atrair o turismo.

Fortalecimento da Cultura Local e IntercâmbioCulturalVisitas em comunidades tradicionais e nativas são, emgeral, o ponto alto de uma viagem para uma áreanatural. Os atrativos naturais podem adquirir um graumuito maior de interesse quando os turistas se

relacionam com eles por meio da experiência depessoas que convivem com essa realidade. Aoportunidade de aprender com uma cultura tradicionalé cada vez mais valorizada pelos viajantes, e aparticipação da comunidade acrescenta um valorconsiderável a um programa de ecoturismo. Da mesmaforma, as comunidades tradicionais vêm sua auto-estima aumentar como resultado do interessedemonstrado pelos visitantes, especialmente se asatitudes externas tendiam a menosprezar essacomunidade.

No entanto, o sucesso de tais visitas depende de osresidentes locais serem fortalecidos por esse processo eterem controle do processo e da situação. Os turistasdevem estar preparados também para compartilhar umintercâmbio cultural, embora seja importante lembrar

que algumas comunidades não estão interessadas emintercâmbios culturais com estranhos. Essas trocas,normalmente, sensibilizam os visitantes, poiscontribuem tanto para ampliar a visão que têm domundo quanto para que compreendam mais claramenteo contexto da conservação.

Impactos Negativos Potenciais

Aumento de PreçosO aumento de preços pode se tornar um problemaquando os visitantes e os residentes locais querem

45Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Moi Enomenga, guia e coordenador de ecoturismo da comunidade Huaorani, na regiãoamazônica do Equador. © Andy Drumm

Page 42: Ecotourism Development

utilizar os mesmos bens e serviços, incluindosupermercados, gasolina e restaurantes. Os preçosprovavelmente aumentarão, pois os visitantes estãodispostos a pagar por bens e serviços preços muitosuperiores àqueles até então praticados no mercadolocal.

Existem algumas possíveis soluções para essainflação. Uma delas é a criação de um sistema de duasfaixas de preço, uma para os residentes e outra para osvisitantes. Os vendedores e empresários podem, dessaforma, tirar vantagem da relativa riqueza dos visitantese, ao mesmo tempo, respeitar o poder de compra dosresidentes. Embora a implementação e execução dessesistema diferenciado de preços possa ser difícil, permiteum equilíbrio eqüitativo entre os níveis de renda decada grupo.

Uma solução semelhante que as comunidadesgeralmente adotam é a criação de bens e serviços quesão oferecidos exclusivamente para os turistas. Certostipo de alimento ou artesanato são produzidos somentepara o mercado turístico, e seus preços estabelecidosconforme essa regra. Essa alternativa de venda deprodutos exclusivos para turistas muitas vezes permiteque as pessoas do local continuem a ter acesso aos seusprodutos tradicionais.

Uma outra solução para lidar com o aumento depreços é o aumento do fornecimento de bens e serviços.Algumas comunidades são incapazes de fazê-lo, masoutras percebem no turismo um meio para ocrescimento e para o desenvolvimento econômico. Osturistas não são apenas concorrentes, e sim novosmercados a serem atendidos.

O turismo pode deflagrar o aumento do preço dasterras e dos imóveis, o que pode ser devastador para osresidentes locais. Quando os visitantes descobrem locaisnovos e interessantes querem logo comprar um terrenono local que visitam, especialmente porque os preçossão, geralmente, mais baixos se comparados aos de seulocal de origem. Empresários do ramo hoteleiro e deoutros segmentos da área de turismo também vêm embusca de terra. Indivíduos de fora e empresasgeralmente oferecem aos residentes valores que estão deacordo com o mercado local. Essa situação gera umaescassez de moradias para os residentes locais e terrasimpróprias para suas atividades econômicas.

Controle ExternoUma ameaça relacionada ao aumento de preços se dáquando pessoas de fora assumem um controle

“excessivo” das áreas turísticas. Normalmente, isso podeser um chamariz, mas também uma fonte depreocupações para os residentes e outros que sepreocupam com essas áreas. Empreiteiros e investidoresexternos têm muitos recursos financeiros e anos deexperiência no desenvolvimento do turismo. Osresidentes locais podem ficar de fora das oportunidadescomerciais por não estarem à altura da experiência edos recursos econômicos externos.

O ecoturismo deve ser um instrumento paramelhorar a capacidade de as comunidades gerirem seuspróprios assuntos, com o intuito de fortalecê-las;entretanto, não é o que normalmente ocorre.Freqüentemente, os interesses turísticos externosassumem o controle de projetos de ecoturismo compotencial de sucesso, relegando as pessoas do local ameras posições de apoio. A conseqüência é que ascomunidades não se apropriam dos resultados e nem seresponsabilizam por eles, e podem começar a seressentir com o turismo ao perceberem que não têmnenhum controle sobre ele.

Vazamento de RecursosUm conceito econômico que, em geral, eqüivale acontrole externo, é o “vazamento de recursos”, queocorre, basicamente, quando as empresas locais deturismo não estão disponíveis ou são inadequadas paraatender a demanda. As empresas internacionais, aoperceberem essa brecha, passam a importar produtos ouserviços ao invés de desenvolver o mercado local. Emoutros casos, os turistas compram mercadoriasestrangeiras, e não os produtos locais, ao perceberemque a qualidade daqueles é superior. Nos dois casos, areceita que potencialmente poderia fortalecer aeconomia local deixa a região.

Algum vazamento econômico é normal no turismovoltado à natureza, mas deve ser limitado noecoturismo. Felizmente, à medida que os turistasaprendem algo sobre o ambiente cultural e físico dolocal, normalmente passam a se interessar pela comprade bens e serviços, com o que ajudam a manter osgrupos nativos e as economias locais, poiscompreendem que essas compras possibilitam odesenvolvimento e a conservação da área. As empresasde turismo respondem a essa demanda e passam aconstruir empreendimentos locais. Além das forças demercado, as políticas e normas locais e federais podemajudar a lidar com tais vazamentos.

Mudanças CulturaisAs mudanças culturais causadas pelo turismo podem

46 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Page 43: Ecotourism Development

ser positivas ou negativas. Muitas pessoas de fora nãoquerem que as populações nativas mudem, pois queremque as culturas locais sejam preservadas. Outros vêm osnativos como novos mercados a serem influenciados equerem que eles se modifiquem e se diversifiquem. Ospróprios nativos têm sentimentos contraditórios. Algunsquerem modernizar suas culturas e solicitam asmudanças de forma ativa. Outros estão em busca denovos meios de desenvolvimento econômico esimplesmente aceitam as mudanças culturais queacompanham essa busca. Outros, ainda, não vêmnenhum motivo para mudar e não querem modificarsuas tradições e costumes.

Mudanças culturais induzidas pelo turismo quasesempre ocorrem sem que a comunidade tenhaoportunidade de decidir se realmente as desejam. Emgeral há um desequilíbrio de poder na relação entreturistas e residentes. Os turistas podem provocarmudanças muitas vezes involuntárias e sutis, e sem oconsentimento dos residentes. O resultado aparece como surgimento de conflitos que podem se formar dentrodas comunidades, e entre as comunidades e osvisitantes. Comunidades despreparadas, sem meios dedeter o turismo, são locais ideais para a ocorrência deimpactos culturais negativos. Os programas deecoturismo permitem que as comunidades sejaminformadas, de forma adequada, sobre os benefícios ecustos do ecoturismo e decidam por si próprias o graude mudanças a que desejam se submeter.

Considerações Fundamentais para oDesenvolvimento do Ecoturismo no Plano daComunidade Atualmente, a maior parte dos conservacionistasreconhece que trabalhar com as comunidades éfundamental para se alcançar o objetivo de proteção decertas áreas e estratégias de conservação, incluindo oecoturismo. Existem alguns princípios básicos quedevem ser observados quando se planeja oenvolvimento da comunidade nas atividadesecoturísticas. Alguns desses tópicos estão explicados emmais detalhes no Volume II, Parte II.

Criação de ParceriasO ecoturismo organizado pela comunidade localraramente terá sucesso sem a assistência ou cooperaçãode operadores turísticos. Três aspectos importantes, eque limitam a possibilidade de as comunidades setornarem independentes nas atividades de ecoturismo,são sua falta de conexões com o mercado, sua falta dehabilidades lingüísticas e sua limitada capacidade de

comunicação. Os operadores de ecoturismo podem seconstituir em parceiros ideais para propiciar asconexões que faltam às comunidades em troca deacesso (às vezes exclusivo) aos recursos dessacomunidade.

Os gestores de áreas protegidas devem desempenharum papel de liderança na implementação do ecoturismofora das áreas protegidas, mas em muitos casos essepapel pode ser “secundário”. Em razão de suas muitasresponsabilidades e também de possível resistência quevenha a sofrer por parte dos residentes locais, o gestorde áreas protegidas pode ter que procurar outros meiospara realizar suas funções. As ONGs são, em geral,consideradas partes neutras e, portanto, mais aceitascomo provedoras de assistência técnica para ascomunidades locais. Em alguns casos, as ONGs podemagir como gestoras das áreas protegidas. Treinamentoem contabilidade básica e serviços de guia são, porexemplo, necessidades fundamentais para que ascomunidades participem de forma efetiva noecoturismo. Esse é um papel, que as ONGs estão muitobem preparadas para desempenhar.

Evite Colocar Todos os Ovos na Cesta doEcoturismoUma comunidade ideal deve ter atrativos interessantes ede fácil acesso, uma população local com interesse einiciativa para aproveitar as oportunidades, e líderesque estejam dispostos a interagir, aprender e trabalharcom os administradores das áreas protegidas, com asONGs e com os operadores de turismo.

O ecoturismo deve ser visto como uma das váriasatividades que integram o conjunto de possibilidades dedesenvolvimento de uma comunidade. Confiar somenteno ecoturismo como uma fonte alternativa de renda nãoé uma estratégia de desenvolvimento sensata. O turismoe o ecoturismo estão sujeitos a períodos de instabilidadedecorrentes da flutuação nas tendências econômicasnacionais e internacionais, dos acontecimentospolíticos, e da percepção pública gerada pelos meios decomunicação de massa. Além desses aspectos, oecoturismo raramente envolve uma parcela significativade uma comunidade, pois os postos de trabalho maisimportantes ficam limitados à indústria de serviços ealgumas outras. O ecoturismo é apenas um doscomponente das mudanças nos locais em que ascomunidades atingiram certo grau de êxito nodesenvolvimento de um estilo de vida sustentável.Outros elementos importantes são: melhoria naeducação, acesso à informação, melhorias na gestão deáreas protegidas e aumento das oportunidades

47Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Page 44: Ecotourism Development

econômicas que não apenas aquelas proporcionadaspelo ecoturismo (Brandon, 1996).

Os elementos que são introduzidos com o turismo,incluindo o contato com estranhos, novos valores ehábitos, e novas formas de fazer negócios, às vezes nãoé o que a população residente deseja. Os residenteslocais devem ser bem informados sobre os prováveisimpactos do desenvolvimento do ecoturismo antes deaceitá-lo.

Interligação dos Benefícios do Ecoturismo comos Objetivos de ConservaçãoPara que o ecoturismo promova a conservação, a

população local deve se beneficiar claramente ecompreender que os benefícios que recebem estãorelacionados à continuidade da existência da áreaprotegida (Brandon, 1996). Deve haver uma relaçãopróxima entre o gestor da área protegida e ascomunidades vizinhas. Infelizmente, os residentes locaisnão reconhecem a conexão entre os benefícios geradospelos projetos de turismo e a área protegida.

O exemplo de Belize, no Quadro 4.1, demonstra váriosdos princípios acima mencionados em ação.

ConclusãoPara concluir, o ecoturismo deve ser visto como uma

48 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Três comunidades com populações distintas vivem no sul deToledo, Distrito de Belize: Creoles, Garifunas e Mayans. Odistrito é considerado um dos mais pobres do país e asatividades econômicas básicas dos residentes são a lavourae a pesca. Graças a suas florestas tropicais e seu ricopatrimônio cultural, o turismo, apesar de limitado, é tambémuma fonte de renda em Toledo. O acesso à área é difícil e oinvestimento no desenvolvimento do turismo tem sido mínimo.

Entretanto, à medida que Belize se tornou uma destinaçãointernacional do turismo voltado à natureza, os residentes doDistrito de Toledo decidiram tentar desenvolver essa indústriano local. Em 1990, formaram a Associação de Ecoturismo deToledo (TEA). Como uma forma de consolidar seus esforços,criaram um programa chamado “Village Guesthouse andEcotrail Experience” (Hospedagem Local e Experiência deEcotrilhas), uma forma de ajudar os residentes noplanejamento, desenvolvimento e administração das váriashospedarias. Uma das características centrais desseprograma é um sistema de rotatividade que divide os turistasdo Distrito entre as vilas participantes. Quando os turistaschegam, as vilas se revezam para hospedá-los. O escritórioda TEA funciona como um local de coordenação central,direcionando os visitantes para a próxima vila da lista.Dentro de cada vila, várias famílias assumem aresponsabilidade pelo preparo de refeições, ajudando nashospedarias, fornecendo serviços de guia e outrosentretenimentos.

O objetivo desse sistema de rotatividade é a distribuiçãodos benefícios econômicos do turismo da forma maiseqüitativa e ampla possível, visando minimizar os impactosnegativos do turismo dentro de qualquer uma das vilas.

Das cerca de 30 vilas situadas nessa área, uma média de12 participa ativamente desse programa para visitantes.Cada vila está em um estágio diferente de participação;algumas já possuem vários anos de experiência nahospedagem de turistas, e outras ainda estão na fase de

construção de hospedarias. Da renda total gerada peloturismo, a comunidade fica com 80%, e a Associação com20%. A maior parte da renda que fica com a comunidadevai diretamente para o fornecedor do serviço, com umapequena parcela destinada para a manutenção do grupo epara os impostos. O dinheiro que a TEA arrecada é usadobasicamente para a saúde, educação e projetos deconservação na área, e também para os custosadministrativos e de marketing (Beavers, 1995).

A visitação à região ainda permanece limitada a cerca de500 visitantes / noite por ano, mas vem aumentando aospoucos. Embora o programa de visitação como um todo sejaconsiderado um sucesso, tem trazido alguns desafios para acomunidade. Uma questão que tem criado conflito entre osfundadores da TEA é a admissão de novos membros. Todosos membros-fundadores da Associação investiram tempo erecursos para o lançamento desse projeto, e agora, quandoo projeto está ganhando destaque, sentem que os novosmembros devem arcar com custos semelhantes. Outroaspecto, é que a renda gerada ainda é mínima, e osmembros fundadores estão resistentes por não concordaremcom a divisão dessa renda com outras vilas. Mesmo que arenda gerada pelo turismo complemente outras fontes derenda, os membros não querem um número grande departicipantes, pois, nesse caso, o empreendimento deixariade ser lucrativo.

Uma forma de aumentar a renda seria aumentar o númerode visitantes, e com esse intuito a TEA está investindo maisem marketing. À medida que esse investimento se expandeos residentes percebem que a capacidade administrativa daTEA precisa ser fortalecida, sendo que a Associação járealizou um importante fórum para o incremento da visitaçãona área. E à medida que o turismo se expande, aumentatambém a responsabilidade da TEA pela monitoração dosimpactos nos residentes da região e nos recursos naturais.

(adaptado de Boo, 1998)

Quadro 4.1 O Caso da Associação de Ecoturismo de Toledo, em Belize

Page 45: Ecotourism Development

forma pela qual as comunidades podem retomar oufortalecer seu papel tradicional de administradora dasáreas naturais, papel que tem sido muito comprometidopelas condições econômicas desfavoráveis impostas àscomunidades rurais nos países tropicais.

O reconhecimento do papel vital que ascomunidades rurais e costeiras desempenham naconservação da biodiversidade determina suaincorporação como interessadas nos processos deplanejamento e gestão das áreas protegidas. Ao mesmotempo, dado o valor que a participação dascomunidades agrega aos produtos do ecoturismo, e osbenefícios da participação para o desenvolvimentosustentável da comunidade, conclui-se que aparticipação ativa da comunidade é boa tanto para osnegócios quanto para a conservação.

Referências:

Beavers, J. 1995. Ecoturismo comunitario en la La Selva Maya:Estudio de seis casos en comunidades de Mexico, Guatemala yBelize. The Nature Conservancy, Proyecto MAYAFOR/USAID.

Boo, L. 1998. Ecotourism: A conservation strategy. Documentonão publicado, apresentado no Programa de Ecoturismo da TheNature Conservancy, Arlington, Virginia.

Brandon, K. 1996. Ecotourism and conservation: A review ofkey issues. World Bank Environment Department Paper No.033, Washington D.C.: Banco Mundial.

Government of Ecuador. 1998. Ley de régimen especial para laconservación y desarrollo sustentable de Galápagos. Quito, theEcuador: Corporación de estudios y publicaciones

Schmink, M. 1999. Conceptual framework for gender andcommunity-based conservation. Case Study No. 1. MERGE(Managing Ecosystems and Resources with Gender Emphasis),Gainesville, Florida: Tropical Conservation and DevelopmentProgram, Center for Latin American Studies, University ofFlorida.

Wesche, R. 1996. Developed country environmentalism andindigenous community controlled ecotourism in the EcuadorianAmazon (Ambientalismo nos países desenvolvidos e ecoturismocontrolado pelas comunidades nativas na AmazôniaEquatoriana). Geographische Zeitschrift 3&4:157-168.

Fontes

Asociacion Ecuatoriana de Ecoturismo. 1998. Políticas yestratégias para la participación comunitaria en el ecoturismo.Quito, Equador: Asociación Ecuatoriana de Ecoturismo.

Beltran, J. (ed.). 2000. Indigenous and traditional peoples andprotected areas: Principles, guidelines and case studies. Gland,Suíça: IUCN e WWF International.

Borman, R. 1995. La Comunidad Cofán de Zábalo. ToristaSemam’ba — Una experiencia indígena con el ecoturismo. InEcoturismo en el Ecuador. Trayectorias y desafíos, X. Izko (ed.),89-99. Colección Sistematización de Experiencias No. 1.Berna, Suíça: DDA; Berna e Quito, Equador:INTERCOOPERATION; Quito: IUCN.

Bruner, G. 1993. Evaluating a model of private-ownershipconservation: Ecotourism in the Community Baboon Sanctuary inBelize. Georgia Institute of Technology.

Drumm, A.F. 1998. New approaches to community-basedecotourism management. Learning from Ecuador. In Ecotourism:A guide for planners and managers, Volume 2, K. Lindberg, M.

Epler Wood, M. 1998. Meeting the global challenge ofcommunity participation in ecotourism: Case studies and lessonsfrom Ecuador. América Verde Working Papers No. 2. Arlington,Virginia: The Nature Conservancy.

Epler Wood, M. 1998. Respuesta al desafío global de laparticipación comunitaria en el ecoturismo: Estudios y leccionesdel Ecuador. América Verde Working Papers No. 2b.Arlington,Virginia: The Nature Conservancy.

Honey, M. 1999. Ecotourism and sustainable development:Who owns paradise? Washington D.C.: Island Press.

Lindberg, K., M. Epler Wood, e D. Engeldrum (eds.), 1998.Ecotourism: A guide for planners and managers, Volume 2. N.Bennington, Vermont: The Ecotourism Society.

McLaren, D. 1998. Rethinking tourism and ecotravel. WestHartford, Connecticut: Kumarian Press.

The Nature Conservancy. 2000. The five-S framework for siteconservation: A practioner´s handbook for site conservationplanning and measuring conservation success. Disponível noseguinte web site: www.conserveonline.org.

Wesche, R. e A.F. Drumm. 1999. Defending our rainforest: Aguide to community-based ecotourism in the EcuadorianAmazon. Quito, Equador. Acción Amazônia.

MERGE(Managing Ecosystems and Resources with Gender Emphasis)Tropical Conservation and Development ProgramCenter for Latin American StudiesUniversity of Florida304 Grinter HallPO Box 115531Gainesville, FL 32611 USATel: 352- 392-6548 Fax: [email protected] www.latam.ufl.edu/merge/

Toledo Ecotourism Association (TEA), BelizeFormada por residentes do Distrito de Toledo, em Belize, em1990, como uma meio de consolidar seus esforços com relaçãoao ecoturismo.

49Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Page 46: Ecotourism Development

51Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

IntroduçãoAs organizações não governamentais (ONGs)desempenham um papel cada vez mais importante nagestão e no desenvolvimento do ecoturismo, tanto nospaíses desenvolvidos quanto nos países emdesenvolvimento. Preocupadas com as questões ligadasà conservação, as ONGs descobriram que o ecoturismoreúne muitos dos elementos positivos que caracterizamas atividades de conservação:

❖ Atenua os impactos negativos no meio ambientenatural.

❖ Aumenta a consciência do visitante sobre os recursosnaturais e culturais e questões que afetam suaconservação.

❖ Gera uma renda significativa para as atividades deconservação

O Papel das ONGsComo um resultado da conexão direta entre ecoturismoe conservação, muitas ONGs conservacionistas adotamo ecoturismo como parte de suas atividadesorganizacionais. Entretanto, os papéis quedesempenham podem ser diferentes:

1. Algumas ONGs agem como facilitadores entreoutros agentes no contexto do ecoturismo, porexemplo, entre as comunidades e a indústria doturismo, e os gestores das áreas protegidas e ascomunidades. Esse papel é particularmenteimportante, já que as ONGs são vistas, comfreqüência, como agentes neutros que podemreconciliar interesses divergentes de participantesque, antes, tinham dificuldade em cooperar uns comos outros (ver Quadro 5.1).

Capítulo 5

Ecoturismo e ONGs

Cabanas para hóspedes em La Milpa, Área de Conservação do Rio Bravo, Belize© Andy Drumm

Page 47: Ecotourism Development

2. As ONGs podem ampliar seu alcance e conquistarimpactos de conservação maiores quando criamparcerias ou quando prestam serviços a umaempresa de ecoturismo baseada em uma comunidadeou a uma empresa de ecoturismo privada.

3. As ONGs, em geral, oferecem treinamento, e sãofontes de importantes informações econhecimentos técnicos especializados aosquais outras instituições envolvidas com ecoturismopodem não ter acesso ou tempo para desenvolver. Ainformação pode ser transmitida por meio de uma

publicação que a ONG desenvolve (como esta) ou deum workshop no qual os participantes de ecoturismorecebem treinamento.

4. As ONGs criam parcerias com a administraçãode uma área protegida para implementar umaspecto de um programa de ecoturismo, como, porexemplo, educação ambiental ou programasinformativos. Normalmente as ONGs captamrecursos de fontes externas e desenvolvem asatividades de acordo com um plano de ação benéficopara ambas as partes. Em alguns casos, a ONG se

52 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Planejamento do Turismo: Projeto eImplementação do Plano de Desenvolvimento deEcoturismo

O plano, desenvolvido por consultores privados, teve umcusto de aproximadamente $40.000. Um aspecto importantedo processo de planejamento foi o envolvimento do conselhode administração e dos membros da equipe do Programapara Belize (Programme for Belize’s - PfB) durante todo oprocesso. Dessa forma, a visão desenvolvida era a do PfB enão a da empresa de consultoria. Fato ainda mais importantefoi que o processo produziu não só o plano, mas tambémvários outros produtos, incluindo um plano de sítio para umsegundo sítio, um projeto de última geração de um dormitóriocom capacidade para abrigar 30 estudantes utilizandotecnologia ambientalmente correta, e o fornecimento decontatos e de consultoria técnica necessários para obter emanter tecnologia “verdes” em nossos sítios de ecoturismo

Ao associar educação ambiental com a interação nãodestrutiva entre a natureza e o homem, os dois sítios deecoturismo do PfB oferecem uma experiência de turismoespecial, que atrai uma série de grupos-alvo: verdadeirosecoturistas, pesquisadores, grupos de estudantes graúdo nívelmédio e universitários, assim como amantes ocasionais danatureza.

Essa experiência com turismo começou em 1992, com arecepção de grupos de estudantes por meio de parceriacriada com a Save the Rainforest, Inc., organização norte-americana sem fins lucrativos. Em 1993, uma unidade dedesenvolvimento de turismo foi fundada para fazer omarketing dos programas de ecoturismo, e em 1997 foraminauguradas as instalações de um segundo sítio na reserva.

Parceria do PfB com a Save the Rainforest, Inc.

Por meio dos esforços combinados de marketing da Save TheRainforests (STF), Inc. e do PfB, o PfB oferece um programaeducacional de duas semanas, o Tropical Forest (Floresta

Tropical) e o Marine Ecology (Ecologia Marinha),direcionado para estudantes norte-americanos do nívelmédio. Os participantes ficam uma semana em Rio Bravo e aoutra semana em uma ilha localizada nas proximidades dacosta.

Entre 1977 e 2000 esse programa gerou uma rendamédia líquida anual de $50.000. Cerca de dez grupos porano visitam o programa, com uma média de 15 a 20estudantes por grupo. Sete funcionários, incluindo guias ecozinheiros, trabalham em período integral com esses gruposentre junho e agosto.

O PfB colhe muitos benefícios com a hospedagem degrupos da STR além da renda originada pelo turismo. Osvisitantes, e em particular os grupos com finalidadeeducacional, fazem contribuições financeiras ao PfB. Com opassar do tempo, o PfB tem desenvolvido uma rede decontatos por meio dessas atividades turísticas.

Questões Fundamentais para a Gestão

❖ Selecionar empregados: cozinheiros, guias, gerente dealojamento.

❖ Manter satisfeitos os empregados que estão trabalhandoem locais distantes — organizar horários, atividades derecreação.

❖ Incorporar o feedback dos visitantes no planejamentoanual.

❖ Desenvolvimento da capacitação dos empregados, tantono campo quanto no escritório principal.

❖ Investir em planejamento.

❖ Fazer a manutenção e o desenvolvimento contínuos dainfra-estrutura.

❖ Garantir que a unidade de desenvolvimento do turismomantenha um alto padrão de serviços.

Quadro 5.1 Planejamento e Desenvolvimento do Turismo com um Programa para Belize

Page 48: Ecotourism Development

responsabilizará pela implementação de todo oprograma de ecoturismo.

5. Cada vez mais as ONGs gerenciam suas própriasáreas protegidas ou são chamadas a assumir aresponsabilidade por áreas protegidasadministradas pelo governo. Nessas situações, aONG tem a responsabilidade de implementar todasas atividades de gestão dessa área, incluindo oprograma de utilização pública, que é onde, emgeral, o ecoturismo se situa. Às vezes, a ONGadministra uma área protegida em conjunto com umórgão governamental. Um exemplo desse trabalhoem conjunto é a Fundación Defensores de laNaturaleza, o parceiro da The Nature Conservancy naGuatemala, que administra o Parque Nacional Sierradel Lacandón em conjunto com o CONAP (ConsejoNacional de Areas Protegidas).

6. Em circunstâncias excepcionais, as ONGs fornecemserviços de ecoturismo, tais como promoções e

organização de passeios ou alojamento, serviços detransporte e alimentação. No entanto, apesar deparecer que esse seria um passo lógico a ser dado,muitas vezes essa tarefa pode comprometer o papelprincipal de uma ONG, que é o de agente deconservação, podendo ainda tirar as oportunidadesde empresas baseadas nas comunidades ou do setorprivado do turismo.

As ONGs desempenham um papel importante napromoção da implementação do ecoturismo, ao criaremuma interação positiva com as comunidades locais, como setor privado do turismo e com as áreas protegidasadministradas pelo governo e por terceiros.

O papel específico adotado por uma ONG dependede uma série de condições dentro das quais ela atua,por exemplo, sua missão e propósito, o grau deabertura para a colaboração da ONG e o interesse daindústria do turismo. Situações vantajosas tambémsurgem e afetam o papel de uma ONG, tais como adoação de um pedaço de terra para o ecoturismo ou odesenvolvimento de um relacionamento amigável comum líder comunitário.

Fontes

Moore, A., A. Drumm, and J. Beavers. 2000. Plan demanejo para el desarrollo del ecoturismo en el ParqueNacional Sierra del Lacandón. Serie de CoedicionesTécnicas No. 15. Consejo Nacional de Areas Protegidas(CONAP), Fundación Defensores de la Naturaleza, TheNature Conservancy.

Asociación San Migueleña de Conservación y Desarrollo(ASACODE), Costa Rica — www.asacode.or.cr/

53Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Quadro 5.2 Associação ANAI, o CorredorBiológico de Talamanca, na Costa Rica

A Associação ANAI tem trabalhado com vários gruposbaseados nas comunidades na região da floresta tropicalde Talamanca, na costa Atlântica da Costa Rica. Essaassociação tem o objetivo de criar uma rede deprogramas de turismo pertencentes aos pequenosfazendeiros locais e aos membros da comunidade egeridos por eles mesmos.

Esses projetos de pequeno porte são mecanismos pormeio dos quais os grupos em nível de comunidade, talcomo o ASACODE, podem complementar a própria rendacom os ecoturistas ocasionais e com os grupos deestudantes. Essa renda adicional funciona como umincentivo para que os membros da ASACODE conservema área de floresta tropical em suas terras e incorporempráticas de agricultura sustentável na produção de cacau.A área de floresta que essa cooperativa de fazendeirosprotege é um hábitat vital para mais de um milhão deaves de rapina que migram entre a América do Norte e aAmérica do Sul a cada primavera e outono. A simpleshospedaria construída na floresta tropical tem chuveiros ebanheiros para uso comum e seis quartos de casal, e foimuito bem avaliada pelos membros da The NatureConservancy em 2000.

A ANAI atingiu seus objetivos de conservação aooferecer treinamento e assistência técnica à ASACODE, efacilitar o contato entre o programa de ecoturismo e osoperadores de turismo privados na Costa Rica e noexterior.

Page 49: Ecotourism Development

55Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

IntroduçãoDe todos os participantes das atividades ecoturísticas, aindústria do turismo é talvez a mais importante e amenos valorizada pelos conservacionistas. Muitosconservacionistas não gostam de lidar com empresárioscorporativistas motivados pelo lucro, a quem elesacusam de dominar a indústria do turismo. Entretanto,esses empresários são essenciais para que os objetivosde conservação por meio do ecoturismo sejamatingidos. Podem, e na realidade, devem se tornaraliados e parceiros das ONGs, dos gestores de áreasprotegidas e das comunidades, caso se pretenda que oecoturismo se torne mais que um mero conceitoabstrato.

Cada vez mais, a indústria do turismo se torna adefensora mais poderosa das áreas protegidas por meiodo apoio que presta a elas, e essa dinâmica deve serestimulada, estabelecendo-se mecanismos adequados decomunicação e colaboração entre gestores de áreasprotegidas e operadores de turismo.

Os mecanismos do turismo internacional, e atémesmo nacional, demandam um complexo conjunto deinfra-estrutura (transporte, alojamento, guias, etc.) parafacilitar a movimentação de turistas de sua casa para adestinação turística (ver Figura 6.1). Cada plano precisade uma série de atividades específicas e de um grupocorrespondente de funcionários, de infra-estrutura e decustos.

Poucos operadores de turismo se especializam emecoturismo. No entanto, existem muitos operadores deturismo voltado à natureza e turismo de aventura, amaioria dos quais não se enquadra totalmente nospadrões do ecoturismo. A despeito das iniciativas paraque se tornem mais sustentáveis, as práticas do turismoconvencional ainda predominam na indústria doturismo, da mesma forma que as práticas convencionaisainda dominam todos os outros aspectos de nossa vida.No entanto, a indústria do turismo está se voltando emum ritmo cada vez mais acelerado em direção ao

Cap∑itulo 6

Ecoturismo e a Indústria do Turismo

Observadores de pássaros no Parque Nacional Noel Kempff Mercado, na Bolívia© Andy Drumm

Page 50: Ecotourism Development

56 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

“turismo verde”, à medida que os turistas exigemserviços mais saudáveis do ponto de vista ambiental.Atualmente muitos hotéis, por exemplo, reciclam latase garrafas e estimulam os hóspedes a reutilizar toalhasvisando a economia de água.

O número de empreendimentos na área deecoturismo também cresce na mesma proporção quenovas empresas são criadas. Muitas dessas empresas jáforam criadas, desde o início, com a compreensão dosprincípios de sustentabilidade e comprometidas comesses princípios, ao passo que muitas das empresasmais antigas de turismo voltado à natureza têm sidolentas ao incorporar todos os princípios de ecoturismoem suas atividades.

As ONGs conservacionistas que trabalham emparceria com operadores de turismo privados estão emposição ideal para fornecer as diretrizes técnicas quepodem transformar o turismo voltado à natureza emuma operação de ecoturismo.

Os Elos da Cadeia de TurismoA figura 6.1 descreve os elos da cadeia de turismo queliga o ecoturista às áreas protegidas.

1. O Agente de Viagens — Normalmente é uma“agência” com vários produtos ou rede de varejo queoferece uma grande variedade de viagens domésticase internacionais para consumidores que podemdiscutir os detalhes da viagem pessoalmente com ooperador, em sua própria cidade ou nas vizinhanças.Normalmente, vendem os programas de umoperador internacional. Viajantes ecológicosraramente compram viagens por meio dessasagências, que têm como foco principal asdestinações de turismo de massa, cruzeiros, etc.

2. O Operador de Turismo Internacional —Normalmente é um operador que se especializa emuma região geográfica em particular, tal como aAmazônia ou a América do Sul, ou em atividadesespecíficas, tais como observação de pássaros ouescaladas. Estão localizados no país de origem dosviajantes ecológicos. Produzem publicações anuaiscom uma série de viagens fixas para cada programade turismo e geralmente têm uma clientela fiel, queretorna regularmente para a compra de viagens.Oferecem para os turistas um pacote completo queinclui bilhetes aéreos, e podem oferecer também umguia turístico para acompanhar seus grupos de

Figura 6.1 A estrutura da Indústria do Turismo

Ecoturista

Agente de Turismo

“Tours R US”

Operador de Turismo

Internacional

“Tropical Expeditions Inc.”

Page 51: Ecotourism Development

57Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

clientes, mas no geral, contratam um operadordoméstico para fornecer serviços no país dedestinação.

3. Os Operadores de Turismo Doméstico —Localizados no país de destinação, fornecem pacotescompletos de serviços, desde a chegada até a saída dopaís. Podem ter seu próprio equipamento einstalações (veículos e alojamentos) ou podemsubcontratar esses serviços nas cidades e nas regiõesque os turistas visitarão. Os operadores internacionaisos contratam para oferecer todos os serviços “deterra”. Com o advento da Internet competem cadavez mais diretamente por clientes com os operadoresinternacionais.

4. Fornecedores de Serviços Locais — Podem serproprietários de hotéis e pousadas locais,fornecedores de transporte locais, empresas deturismo baseadas na comunidade e guias locais, foradas grandes cidades e próximos dos atrativosnaturais. É aqui, normalmente, que as comunidadeslocais se unem à cadeia de turismo. Os viajantesmais aventureiros geralmente se comunicam

diretamente com eles, especialmente se constam emguias de viagens como o Rough Guides, LonelyPlanet, etc.

Inclusão de Operadores de Turismo Privados noProcesso de PlanejamentoImplementar o ecoturismo pode ser umempreendimento desafiador e caro. Se a indústria doturismo fizer parte desse processo desde o começo, oscustos podem ser bastante reduzidos e as chances desucesso maiores. A inclusão da experiência de umoperador de turismo privado no planejamento deecoturismo e no desenvolvimento do projeto seria devalor incalculável e não poderia ser reproduzida poruma ONG conservacionista. Outras contribuiçõesessenciais dos vários segmentos da indústria do turismopodem incluir:

1. Fornecer informações sobre o mercado potencialpara atividades de ecoturismo.

2. Dar assessoria com relação às preferências dosvisitantes em termos de atrativos, acomodação,alimentação e serviços de transporte.

Área Protegida

Operador de Turismo

Doméstico

“Maya Ecotours”

Fornecedores de Serviços

Locais

Cabañas “Mi Pana”

Page 52: Ecotourism Development

3. Fazer o marketing de uma atividade ou de umprograma de ecoturismo.

4. Oferecer um ou mais dos serviços necessários parafacilitar o acesso do visitante ao sítio de ecoturismo esua apreciação.

5. Fornecer treinamento para guias e empresárioslocais.

6. Investir em uma operação de ecoturismo. Oinvestimento provavelmente dependerá daexpectativa de retorno financeiro.

7. Manejar uma operação de ecoturismo, tal como umalojamento ecológico. Quando dentro de uma áreaprotegida, esses operadores seriam consideradosconcessionários e, como tal, estariam sujeitos anormas rigorosas que disciplinariam tudo, desde asfontes de energia utilizadas até o número dehóspedes que poderiam receber de cada vez, etambém a utilização de fornecedores e mão-de-obralocais. Também poderia haver uma determinação nosentido de as concessionárias pagarem uma taxa deconcessão para a administração da área protegida.

A Demanda pelo Turismo Voltado à NaturezaA tabela 6.1 mostra os resultados de uma pesquisarealizada junto a 66 operadores norte-americanos deturismo internacional voltado à natureza. Oferecem,entre eles, 271 destinações na América do Sul.Cinqüenta e sete por cento (37 das 66 operadoras)oferecem a Costa Rica como uma de suas destinaçõesprincipais.

Deve-se destacar que a maior parte dos entrevistadostambém oferece destinações na África, Antártica, Ásia,Europa e na própria América do Norte, sendo que oAlasca e o Canadá são considerados como destinaçõesparticularmente populares de turismo voltado ànatureza.

ReferênciaOden, W., A. Mavrogiannis, and E. Horvath. 1997. 1997 U.S.ecotour operator survey. Standards and practices of NorthAmerican ecotour operators serving the Latin America andCaribbean regions. Documento não publicado. The NatureConservancy, Arlington, Virginia.

Fontes

Blake, B. and A. Becher. 1999. The new key to Costa Rica.Berkeley, California: Ulysses Press.

Box, B. 1998. South American handbook. Bath, UK: FootprintHandbooks; Chicago, Illinois: Passport Books.

The Ecotourism Society. 1993. Directrices para el ecoturismo.Una guía para los operadores de turismo naturalista. N.Bennington, Vermont: The Ecotourism Society.

The Ecotourism Society. 1993. Ecotourism guidelines for naturetour operators. N. Bennington, Vermont: The Ecotourism Society.

Franke, J. 1993. Costa Rica’s national parks and preserves. Avisitor’s guide. Seattle, Washington: The Mountaineers.

Perrottet, T. 1997. Insight guide: Belize. London, UK: APAPublications Ltd.

The International Ecotourism Society (TIES)www.ecotourism.org [email protected] TIES é uma organização internacional dedicada a disseminarinformações a respeito do ecoturismo. Seus 1.700 membrosexercem mais de 55 profissões diferentes e vivem em mais de70 diferentes países. A maior parte deles trabalha no setorturístico, estuda turismo, ou usa o turismo para apoiar aconservação de cenários naturais e manter o bem-estar dascomunidades locais.

58 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Tabela 6.1 Os Destinos mais Populares na AméricaLatina

Número de operadores internacionais dos Estados Unidos que identificaram as destinações abaixo

País como sendo as principais Porcentagem

Costa Rica 37 56%

Ilhas Galápagos 32 48%

Peru 29 44%

México 27 41%

Belize 26 39%

Chile 18 27%

Argentina 16 24%

Ecuador 16 24%

Brasil 14 21%

Bolivia 11 17%

Caribe 11 17%

Guatemala 10 15%

Venezuela 10 15%

Panamá 9 14%

Outros 5 8%

Total de entrevistados 66 100%

(Fonte: Oden e col., 1997)

Page 53: Ecotourism Development

Parte II

Planejamento e Gestão de Ecoturismo

Page 54: Ecotourism Development

61Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Este capítulo apresenta alguns conceitos básicos deplanejamento relacionados à preparação de planos

de gestão de ecoturismo. O foco principal está noprocesso que envolve a preparação de um plano degestão de ecoturismo.

Planejamento de Ecoturismo e Áreas ProtegidasQuando a maioria de nós pensa em planejamento deáreas protegidas, pensa em planos de gestão para umparque nacional específico ou em um outro tipo de áreaprotegida. No entanto, é importante entender que oplanejamento de áreas protegidas acontece em umcontexto de planejamento mais geral, com vários níveise componentes diferentes. Cada nível tem um impactosobre os outros, conforme o papel que as áreasprotegidas desempenham na consecução dos objetivosde desenvolvimento nacionais e locais, que devem sebasear no conceito de desenvolvimento sustentável (verParte I, Capítulo 1 para mais informação). A figura 1.1mostra uma descrição gráfica desse contexto deplanejamento.

Planos Gerais de Gestão são em geral preparadospara cada área protegida em particular. Esses planosutilizam as metas e objetivos gerais estabelecidos para osistema da área protegida e os aplicam na situaçãonatural e cultural da área protegida específica. O planode gestão definirá os objetivos de gestão específicos daárea protegida e o esquema de zoneamento, bem comoas estratégias, os programas e as atividades para seatingir esses objetivos. O plano de gestão é projetadopara oferecer aos gestores de áreas protegidas diretrizespara a gestão de suas respectivas áreas por um períodode cinco anos ou mais. Planos mais detalhados surgirão,então, a partir dos planos de gestão.

Planos de Conservação de Sítio (PCS) podem serdesenvolvidos como complementos estritamentefocados nos planos gerais de gestão, ou, em algunscasos, como alternativas. Um PCS pode identificar oecoturismo como uma estratégia para reduzir as

ameaças em um sítio ou como uma fonte financeirapara a conservação. Em ambos os casos, um Plano deGestão de Ecoturismo (PGE) é necessário. A figura 1.1mostra como os planos temáticos ou programáticos,como um PGE, deverão se basear no plano geral degestão e em suas recomendações. Em alguns países osplanos de gestão têm força de lei ou de atosministeriais. Em outros, são aprovados com menosrigor, e os gestores de área protegidas têm maisliberdade para aplicá-los.

Capítulo 1

Planejamento de Gestão de Ecoturismo: Visão Geral

Plano / Estratégia Nacional de Conservação

Plano de Sistema deÁrea Protegida

Planos Gerais de Gestão paraÁreas Protegidas Individuais

Planos Temáticos/Programáticos Específicos

Planos de Trabalho Anuais

Figura 1.1 Contexto de Planejamento para ÁreasProtegidas

Planos deGestão deEcoturismo

Outros Planos

Processode

Planejamentode

Conservaçãode Sítios (PCS)

PlanejamentoEcológico-regional

Nota: O processo de PCS pode ser utilizado para substituirdiretamente ou melhorar os planos de gestão baseados emsítios em grande ou pequena escala.

Page 55: Ecotourism Development

62 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Muitos planos de gestão têm sido preparados aolongo dos anos e muito se aprendeu sobre a forma dedesenvolvê-los. Algumas das principais liçõesaprendidas são:

❖ Áreas protegidas devem ser planejadas como parteintegral do desenvolvimento da região e do país ondeestão localizadas.

❖ Os objetivos de gestão devem orientar oplanejamento em todos os níveis.

❖ O melhor planejamento é conduzido por uma equipeintegrada por representantes de áreas e instituiçõesdiferentes e com vários pontos de vista. Asorganizações comunitárias locais, os operadores deturismo e os governos devem estar representados naequipe de planejamento de processos. Alguns dessesrepresentantes podem também estar em uma posiçãoideal para fornecer alojamento, transporte ou atémesmo apoio econômico para a equipe deplanejamento.

❖ A interação efetiva desses indivíduos cria umasituação de sinergia na qual o todo se torna maiorque a soma das partes.

❖ Um bom planejamento depende da participaçãoefetiva dos principais interessados. Com relação a umPGE, esses interessados são todas as pessoas einstituições que se envolverão na implementação doprograma de ecoturismo na área protegida ou emoutra área natural.

As áreas protegidas necessitarão do compromisso edo apoio de todas as pessoas e organizações, e dospróprios empregados, se querem satisfazer às altasexpectativas que se colocam diante deles. O processo deplanejamento deve envolver todos eles de formasignificativa para que se obtenha o compromisso e oapoio de todos.

O que é um Plano de Gestão de Ecoturismo?Um plano de gestão de ecoturismo é uma ferramentaque orienta o desenvolvimento do turismo em uma áreaprotegida, pois sintetiza e representa a visão de todas aspessoas interessadas no sucesso do projeto, ao mesmotempo em que alcança os objetivos de conservação parao sítio. O resultado deve estar contido em umdocumento, com a opinião dos interessados, com suasorientações a respeito de como o ecoturismo deve serimplementado em uma área protegida específica.Normalmente, um PGE será uma continuação detalhadadas diretrizes gerais estabelecidas em um plano geral degestão ou em um PCS.

O plano geral de gestão, via de regra, determina queo ecoturismo é o tipo de turismo desejável para umaárea protegida específica, e que o ecoturismo, ou,talvez, o uso público, deve ser um programa específicoa ser desenvolvido pelos gestores da área protegida. Oplano geral de gestão definirá também a configuraçãodo zoneamento para a área, que, por sua vez, designaráos setores que poderão ser disponibilizados para oturismo.

Existe um processo passo-a-passo que serve comoguia na preparação de um PGE. Embora esses passossejam apresentados em uma seqüência linear na Figura1.3, o processo real não é, nem de longe, tão direto. Osplanejadores geralmente precisam voltar a um ou maispassos em vários momentos do processo. Por exemplo,é comum que quando uma equipe de planejamento sedepara com a etapa de Análise de Dados, a falta deinformações essenciais os faça voltar para a etapa deDiagnóstico/ coleta de Informação.

Poder ocorrer também o contrário, ou seja, duranteo estágio de Diagnóstico a equipe de planejamentopensará de forma analítica sobre os dados que estãocoletando preliminarmente. Na realidade, é normal queos planejadores trabalhem em vários estágios ao mesmotempo.

Quanto tempo levará para terminar esses estágios, docomeço ao fim? A duração do processo de planejamentodepende de vários fatores, e os principais são:

Figura 1.2 Quem Participa do Processo dePlanejamento?

Pessoal daÁrea Protegida

Especialistas /Cientistas

Organizaçõessem fins lucrativos

(ONGs)

ÓrgãosGovernamentais

ÓTIMOSRESULTADOS

Compromisso e Apoio

Operadores deTurismo

Agentes daComunidade

Processo dePlanejamento

Page 56: Ecotourism Development

❖ Disponibilidade e volume de recursos. Adisponibilidade total de recursos desde o início doprocesso facilitará o processo de planejamento do PGE.

❖ Complexidade do turismo e situação de usopúblico da área protegida. Se já existe um grandenúmero de visitantes, de operadores turísticos e/ousítios de visitação, o plano pode necessitar de muitacoleta de dados e análise. Por outro lado, quandouma área protegida tem pouco turismo, mas umgrande potencial a ser explorado, deve ser feita umaavaliação mais cuidadosa do potencial e dos recursos.O simples tamanho e número dos atrativos paravisitação atuais e potenciais da área são tambémfatores importantes a serem considerados.

❖ Tempo que a equipe de planejamento dedica aoprocesso. Quando os membros de uma equipe deplanejamento têm outras responsabilidades, oprocesso do PGE tende a ser mais prolongado.

❖ Apoio que uma equipe de planejamento recebedos interessados. Uma participação ativa e positivada comunidade local, dos operadores de turismo e deoutros torna o processo mais efetivo e produtivo.

❖ Detalhes necessários para o planejamento. Essaquestão está relacionada à quantidade deconhecimento já disponível ou que pode ser obtidosem que haja necessidade de muito esforço ou demuitos gastos. Há tanto a ser realizado para seplanejar adequadamente o ecoturismo que umprimeiro PGE deve lidar somente com o que é

estritamente necessário para se iniciar um programade gestão de ecoturismo. Alguns aspectos podem serdeixados para depois, ou mesmo para planos maisespecíficos, como planos de desenvolvimento de sítioe desenhos arquitetônicos. Mais detalhes a esserespeito podem ser encontrados no Capítulo 4,“Passo 3: Análise de Dados e Preparação do Plano”.Em todos os casos é muito importante que a equipede planejamento e a administração da área protegidaconcordem sobre os detalhes necessários ao planoantes de se dar início ao processo.

É comum ouvir os planejadores afirmarem que o“processo é mais importante que o documento final”.Embora, o processo seja desenvolvido para se obter osresultados necessários à preparação do documento ouplano final, é também uma ferramenta para se envolvertodos os interessados. Se sentirem que fazem parte doprocesso, eles se comprometerão com a implementação.Um processo de planejamento participativo e inclusivoproporciona apoio de longo prazo e extremamentevalioso para a gestão da área protegida.

Pré-requisitos de um Plano de Gestão de Ecoturismo

Pode parecer que preparar um PGE para a sua áreaprotegida faça muito sentido, especialmente se for umparque nacional ou uma outra área cujos objetivos degestão enfatizem a recreação ou o turismo, e também aproteção dos recursos. No entanto, antes de investir emum PGE de larga envergadura, é essencial que se façauma avaliação criteriosa dos recursos da área protegida,da capacidade humana e do potencial turístico. Certasquestões fundamentais devem ser consideradas:

63Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Captação deRecursos

Formação deuma Equipe dePlanejamento

Diagnóstico/Coletade Informações

Análisesde Dados

Preparaçãodo Plano

Publicação eDistribuição

do Plano

Implementaçãoe Avaliação do

Plano

Decisão dePreparar um Plano

de Gestão deEcoturismo

Plano Geralde Gestão

Compromissocom o Ecoturismo

Adequação deuma Área para o

Ecoturismo

ApoioLogístico eFinanceiro

Decisão dePreparar um Plano

de Gestão deEcoturismo

Figura 1.3 Fases do Processo de Planejamento paraum Plano de Gestão de Ecoturismo

Figura 1.4 Principais Fatores Envolvidos na Tomadade Decisões para a Preparação de um Plano deGestão

Page 57: Ecotourism Development

64 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

1. A área protegida deve ter um plano geral de gestãoque estabeleça diretrizes amplas nas quaisfundamentar um PGE: objetivos gerais de gestão daárea protegida e estrutura de zoneamento erecomendações sobre programas de gestão para usopúblico e para o turismo. O plano geral de gestãodeve mencionar a necessidade de se usar oecoturismo como um conceito orientador ou pelomenos usar argumentos em prol das atividadesturísticas de baixo impacto e que geram receita.

2. A equipe da área protegida deve aceitar osprincípios do ecoturismo e se comprometer comeles, o que significa aceitar que o turismo de massanão é uma opção e que a administração de uma áreaprotegida deve, de forma diligente, gerir os impactosdo turismo. Significa, ainda, aceitar integralmente oenvolvimento das comunidades, dos representantesda indústria do turismo e de outros no planejamentoe na implementação de atividades ecoturísticas, e secomprometer a trabalhar de perto com todos a fimde tomar decisões sobre o turismo e o uso públicodentro da área protegida. Em muitos casos, a decisãode ir adiante com o ecoturismo significa que aadministração da área protegida deve empreenderuma mudança em seu relacionamento com o públicoem geral e as expectativas desse público, em todos osaspectos relativos à gestão da área protegida, e não sóno que diz respeito ao ecoturismo. É essencial quehaja um envolvimento expressivo e a participaçãodos interessados na gestão da área protegida, o que,geralmente, representa um desafio a ser encarado.

3. Deve haver uma razoável expectativa de que osrecursos e o apoio logístico e técnico necessáriosestarão disponíveis quando se precisar deles.Implementar um PGE pode ser oneroso. Envolver osinteressados desde o início do processo permite quese veja como cada um pode cooperar com o processode planejamento.

4. Deve-se analisar seriamente se o ecoturismo éadequado para a área protegida. A legislaçãoexistente permitirá ou facilitará o ecoturismo? Quaistêm sido os resultados do processo de Planejamentode Conservação de Sítios? O ecoturismo poderesponder às ameaças identificadas? Os padrões deturismo tradicionais e atuais dentro da área protegidae/ou da região dificultarão a implementação doconceito de ecoturismo? As condições da áreaprotegida a tornam adequada para o uso dosvisitantes?

Os gestores da área protegida devem analisar essesfatores e determinar se um PGE é necessário ou não.Talvez o turismo não seja um fator significativo para ofuturo da área protegida, ou talvez as práticastradicionais de turismo sejam muito difíceis de seremmodificadas naquele exato momento. Mas se a decisãode seguir adiante é tomada, o processo de planejamentode um PGE requer compromisso e dedicação, docontrário o plano não atenderá as expectativas.

Financiamento do PlanoTodo processo de planejamento tem um custo, e umPGE não é uma exceção. Serão necessários recursosfinanceiros para se pagar:

❖ assistência técnica (consultores);

❖ apoio logístico (transporte, alimentação/equipamentono campo);

❖ despesas com reunião (aluguel de salas, alimentação,serviços, materiais);

❖ despesas com comunicação (correio, fax, telefone,etc.);

❖ publicações e distribuição de documentos finais.

Os custos totais com um PGE podem ser altos, e, emgeral, estão além da capacidade de o orçamento de umaárea protegida absorvê-los. Existem, basicamente,quatro diferentes fontes de recursos para um PGE:

a) Ajuda InternacionalA ajuda internacional pode ser encontrada de diversasformas, e cada país e área protegida terão uma situaçãodistinta. Por meio de seus parceiros locais, a The NatureConservancy fornece assistência técnica e recursosfinanceiros para certas áreas protegidas, priorizando odesenvolvimento do ecoturismo. ONGs ambientalistasinternacionais, tais como a Conservation International eo World Wildlife Fund (WWF) são outras possíveisfontes de ajuda.

Os projetos de assistência multilateraisimplementados, entre outros, pelo Banco Mundial(especialmente por meio do Programa GEF), pelo BancoInteramericano de Desenvolvimento (BID) e pelo Bancode Desenvolvimento da América Central (BDAC) sãofontes potenciais de recursos financeiros. Devido àabrangência e aos procedimentos burocráticosassociados aos projetos multilaterais, é aconselhávelestar envolvido no planejamento inicial dessasorganizações para garantir que as prioridadesparticulares de cada um sejam atendidas. Muitosprojetos de desenvolvimento padrão, como a

Page 58: Ecotourism Development

construção de estradas, por exemplo, têm componentesambientais que poderiam financiar projetos de áreasprotegidas.

As agências de assistência bilateral, em geral, degoverno para governo, tais com a USAID (EUA), GTZ(Alemanha), CIDA (Canadá), e JICA (Japão), podem terprojetos que incluam áreas protegidas, proteçãoambiental ou desenvolvimento de turismo, e poderãoajudar a financiar um PGE.

b) Fontes NacionaisAs fontes de recursos estão cada vez mais disponíveisno plano nacional nos países em desenvolvimento. Amaior parte dessas fontes são fundações ou "trusts" queforam criados com a utilização tanto de fontesinternacionais quanto nacionais. Os pedidos a essasorganizações devem ser encaminhados com cerca deum ano de antecedência para que eles possam planejarseu orçamento.

Empresas e empreendimentos privados estão seconscientizando de que o apoio dado a programasambientais representa um bom negócio e lhes propiciapropaganda positiva. Alguns desses doadores empotencial, especialmente aqueles em posição dedestaque, podem estar dispostos a fornecer recursospara o seu PGE. É bem provável que exijam que suacontribuição seja mencionada nas apresentaçõespúblicas e nos documentos relativos a elas que venhama ser produzidos.

c) Comunidades Locais e GovernosAs áreas protegidas não estão isoladas, apesar de, porvezes, parecer que sim. A terra que ocupam sãoadjacentes às das comunidades locais e, em alguns

casos, são reclamadas por estas ou pelo Governo. Cadavez mais essas entidades estão se interessando pelasáreas protegidas, não só pelo seu potencial de gerarreceitas para as populações locais e governos, mastambém pelo prestígio que a associação com áreasprotegidas traz.

d) Indústria do TurismoNa maior parte das vezes, já haverá operadores deturismo trabalhando na área protegida e outros quepodem estar interessados em fazê-lo. Alguns delesdevem estar representados na equipe de planejamento.Deve-se pedir a todos que apóiem o processo deplanejamento fornecendo transporte, acomodações ourecursos financeiros, especialmente aqueles que têmusado a área sem pagar pelo privilégio por meio de umaconcessão ou de outra taxa de usuário qualquer. Asagências de viagem e os guias turísticos também podemestar interessados em participar fornecendo apoiologístico ou financeiro.

Embora possa parecer mais fácil buscar uma únicafonte de apoio para um PGE, pode ser mais produtivo,no longo prazo, procurar diferentes tipos de apoiodentre uma grande variedade de fontes. Dessa forma, aárea protegida desenvolve relacionamentos comempresas, organizações e pessoas que podem se tornarimportantes contatos futuros em termos de apoiologístico, de informação, e até de contribuiçõesfinanceiras diretas.

Quem Elabora um Plano de Gestão de Ecoturismo?O ecoturismo, por definição, representa a inclusão e oenvolvimento de todos os interessados. O processo deplanejamento deve representar o ponto no qual todosos interessados de peso se tornam envolvidos noprocesso de tomada de decisão sobre ecoturismo.

Um PGE deve se basear em um consenso entre:

❖ profissionais do turismo (operadores e guias)interessados na área protegida e/ou envolvidos comela;

❖ representantes das comunidades que sofrerão osimpactos do ecoturismo;

❖ representantes dos governos locais, órgãosgovernamentais, ONGs, e outros que têm interesse nodesenvolvimento do ecoturismo na região; bem como

❖ integrantes da equipe da área protegida queconhecem bem a área e que serão responsáveis pelaimplementação do plano.

65Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

ApoioNacional /

Fundações, SetorPrivado

AjudaInternacional / ONG,Bilateral, Multilateral

Indústria doTurismo

Apoio daComunidade e do

Governo

Plano de Gestão de EcoturismoPROCESSO DE

PLANEJAMENTO

Figura 1.5 Fontes de Apoio para Financiar um PGE

Page 59: Ecotourism Development

66 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Figura 1.6 Visão Geral do Processo de Planejamento de Gestão eDesenvolvimento

Plano deConservação de

Sítios (PCS)Plano Geral de

Gestão

Avaliação Preliminar do Sítio (APS)

Diagnóstico Completo do Sítio (DCS)

Planejamento de Gestão de Ecoturismo

Redução de ameaças provindas de atividades incompatíveis,incluindo o turismo descontrolado. Geração de renda para as

comunidades, as ONGs, ou para as áreas protegidas.

Desenvolvimento deEmpreendimentos

de Ecoturismo

DESARROLLO DEEMPRESAS

ECOTURÍSTICAS

Avaliação: Medidas de Sucesso

ViabilidadeFinanceira eAmbiental

Plano deNegócios

Manejo da Área Protegida

IMPLEMENTAÇÃODO PLANO DEGESTÃO DE

ECOTURISMO

Se algumaresposta for

“não”

PARE

Caso não sejafinanceiramente

viável

PARE

Page 60: Ecotourism Development

67Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Deve-se empregar uma abordagem participativa doplanejamento para se obter consenso. Não basta queum consultor, ou o diretor de um programa de turismodesenvolva o plano sozinho e o apresente para osoutros apenas para aprovação. A abordagemdemocrática do planejamento pode demandar maistempo e mais energia, mas produz melhores resultados,e deve ser implementada de tal forma que todos osparticipantes sintam que são donos do plano e,portanto, tenham interesse pessoal no sucesso de suaimplementação.

No entanto, democracia requer liderança. O processode planejamento deve abranger dois níveis departicipação: os participantes ocasionais e ospermanentes. Os participantes permanentes consistirãode uma pequena equipe de planejamento de duas outrês pessoas que possam dedicar a maior parte de seutempo para o processo durante semanas ou meses. Essaequipe fará a parte mais pesada do trabalhoadministrativo e outros serviços de escritório,organizará eventos e criará oportunidades para que osoutros interessados participem. Também podem ficarresponsáveis pela coleta de informações necessárias paraimplementar a Fase de Diagnóstico do processo deplanejamento (ver Parte II, Capítulo 2).

Os participantes ocasionais serão todos os outrosinteressados, que participarão de workshops,seminários e outros eventos nos quais as informaçõessão coletadas, as opções são discutidas e as decisões,tomadas. É nesses eventos que o importante processode planejamento será realizado. A equipe deplanejamento é responsável pela boa organização eestruturação desses eventos para maximizar aparticipação e contribuição dos interessados. Éimportante reconhecer que a abordagem de umaequipe para o planejamento mostra que os membros daequipe interagem e trocam opiniões com freqüência,tanto em situações formais como em situaçõesinformais. Quando os membros de uma equipeinteragem dessa forma, todo o processo deplanejamento se enriquece. Esse processo sinérgicoresulta em um produto muito melhor do que aqueleque seria obtido caso cada participante contribuíssecom suas idéias de forma independente.

A equipe de planejamento pode ser composta porautoridades da área protegida, um operador de turismoou guia turístico, e um outro interessado que possadedicar o tempo necessário a essa tarefa. Pode ser quehaja necessidade de recursos para pagar essas pessoas,

caso elas tenham que interromper o trabalho que fazem,ou se não puderem doar seu tempo. Um dos membrosda equipe de planejamento deve ser considerado oDiretor do processo, e deve ter responsabilidade totalpara assegurar que todos os participantes arquem comsuas responsabilidades e que o processo seja executadode modo organizado e eficiente. Essa pessoaadministraria também qualquer orçamento da equipede planejamento.

O Que Vem a Seguir?O restante deste volume descreve como preparar umPGE. A figura 1.6 é uma representação gráfica desseprocesso de planejamento e de gestão.

O Capítulo 2 deste volume trata da Fase deDiagnóstico do processo de um PGE, incluindo comoexecutar o Diagnóstico Completo do Sítio. O Capítulo 3descreve a real preparação de um documento do PGE— aspectos procedimentais importantes, assim como oformato e o conteúdo. O Capítulo 4 apresentainformações mais detalhadas sobre alguns aspectos doconteúdo do Plano. O Capítulo 5 discute os váriosmecanismos para se medir se um PGE está ou nãoatingindo seus objetivos.

Fontes

Boo, L. 1998. Ecotourism: A conservation strategy. Documentonão publicado, apresentado no Programa de Ecoturismo da TheNature Conservancy, Arlington, Virginia.

Margoluis, R. e N. Salafsky. 1998. Measures of Success:Designing, managing, and monitoring conservation anddevelopment projects. Washington D.C.: Island Press.

Stankey, G.H., D.N. Cole, R.C. Lucas, M.E. Petersen, and S.S.Frissell. 1985. The limits of acceptable change (LAC) system forwilderness planning. General Technical Report INT-176. Ogden,Utah: USDA Forest Service.

Page 61: Ecotourism Development

69Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

IntroduçãoAgora que sabemos o que é o ecoturismo, quem sãoseus agentes potenciais e quais as ameaças e asoportunidades que ele pode apresentar, pode ser quevocê queira prosseguir e construir uma acomodaçãoecológica ou desenvolver um sistema de trilhas em seusítio. No entanto, essa atitude seria um grande erro!Teoricamente, você recorreu a esta série de manuais porter identificado o ecoturismo como uma estratégia emseu processo de Planejamento de Conservação de Sítios

(The Nature Conservancy, 2000). Se esse não for o caso,então você deve prosseguir com o desenvolvimento doseu Planejamento de Conservação de Sítios (PCS), antesde ir adiante (ver Quadro 2.1 sobre introdução aoprocesso do PCS).

O Planejamento de Conservação de um SítioO processo de PCS identificará uma série de ameaças àintegridade de alvos de conservação definidos e, então,

Capítulo 2

Passo I: Planejamento de Conservação deSítios e Avaliação Preliminar de Sítios

O Planejamento deConservação de Sítiosoferece aos conservacionistasuma estrutura pragmáticapara que eles possamdeterminar claramente o queestão tentando proteger(“alvos de conservação /sistemas”), qual a melhorforma de se conseguir aconservação, com quemtrabalhar e as açõesnecessárias para se atingiresses alvos de conservação.A metodologia organiza, enfoca e prioriza o que,tradicionalmente, nesse campo, tem sido um leque deatividades de conservação oportunistas e pouco coerentes.

No Planejamento de Conservação de Sítios as estratégiasde conservação estão ligadas aos “alvos” centrais debiodiversidade e à redução das ameaças mais críticas — nãosó dos problemas que são mais facilmente minorados, maisatrativos ou mais compreendidos. As estratégias, tais como oecoturismo, são escolhidas porque reduzem diretamente essasameaças de alta prioridade aos alvos de conservação nossítios, ou porque melhoram a viabilidade, ou a saúdeecológica dos alvos de conservação por meio da gestão ourestauração. Os ecologistas de sítios avaliam periodicamente osucesso de suas estratégias, não somente por meio de açõesindiretas, tais como o número de workshops realizados ou onúmero de guardas de parque contratados, mas tambémmedindo a melhoria real na saúde da biodiversidade daspaisagens que lutam por proteger.

Como mostrado na figura,os alvos de conservaçãodo Planejamento deConservação de Sítios(também denominadoEstrutura “5-S”1 para aconservação dabiodiversidade) sãoidentificados em primeirolugar, de forma tal queuma lista central dossistemas ecológicos e dascomunidades possa captar

a diversidade da vida na área de planejamento. Imediatamente após, a melhor técnica disponível é aplicada

para identificar qual a visão da integridade ecológica (saúdeda biodiversidade) para esses sistemas, avaliar o estado atualde saúde da biodiversidade, e estabelecer objetivos deconservação no sítio que tornarão viáveis esses alvos deconservação. Logo em seguida, as pressões ocasionadas àbiodiversidade são identificadas, assim como suas causas(Pressões & Fontes – por exemplo, a sedimentação emnascentes de ótima qualidade causada pelas atividades anuaisde plantio). O mais importante é que essas análises daecologia e das ameaças levam ao desenvolvimento deEstratégias focadas na melhoria da saúde da biodiversidade(viabilidade), reduzem as ameaças e levam à criação demedidas de impacto de conservação (Sucesso). Durante todo oprocesso, as percepções, as ações (positivas e negativas) e oenvolvimento dos “Interessados” são reconhecidas erespeitadas.

(adaptado do The Nature Conservancy, 2000)

1. N. de T.: Esquema basado en cinco elementos (sistemas, presiones, fuentes, estrategias, éxito),que en ingles comienzan con la letra “s” (systems, stresses, sources, strategies, success)”.

Quadro 2.1 Planejamento de Conservação de Sítios

Sistemas • Identificação de

Alvos de Conservação• Avaliação da Viabilidade

(Saúde da Biodiversidade)• Estabelecimento de Alvos

de Conservação

Saúde da BiodiversidadeRedução das Ameaças

Capacidade de Conservação

FontesPressões

EstratégiasSucesso

Gestão eRestauração

Redução dasAmeaças

Envolvimento dos Interessados

Page 62: Ecotourism Development

70 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

identificará estratégias para enfrentar essas ameaças. Oecoturismo ou uma atividade relacionada ao ecoturismopoderia ser uma das estratégias selecionadas para lidarcom uma ou mais ameaças. Um PCS pode ser umcomplemento ou uma alternativa ao processo deplanejamento geral de gestão de uma área protegida. Umplano geral de gestão (PGG) pode identificar o ecoturismocomo o conceito principal para orientar um programa deuso público de uma área protegida. Se esse for o caso,pode-se assegurar que um certo grau de implementaçãode ecoturismo é adequado. Em ambos os casos, oselementos-chave do planejamento e desenvolvimento degestão de ecoturismo estão descritos em detalhes nestemanual. Ver na Figura 1.6, Parte II, Capítulo 1, umarepresentação gráfica dos passos necessários para sedesenvolver um programa de ecoturismo.

Para garantir que os objetivos de conservaçãoestabelecidos no processo de Planejamento deConservação de um Sítio estão sendo abordados deforma eficiente e efetiva, a gestão e o programa dedesenvolvimento de ecoturismo devem ser consideradossomente como uma estratégia para se reduzir, no longoprazo, as ameaças prioritárias e críticas, e a melhoria dasaúde da biodiversidade.

O processo de PCS oferece uma estruturametodológica conceitual para assegurar que asestratégias ecoturísticas estão ligadas aos objetivos maisamplos de conservação de um sítio. O ecoturismo nãodeve ser uma estratégia prioritária de investimento emconservação em um sítio, a menos que possa melhorara saúde dos alvos e reduzir as fontes de pressão maiscomuns e prejudiciais à biodiversidade.

O ecoturismo pode ser uma estratégia de prioridadeadequada para enfrentar uma ameaça crítica,especialmente quando as práticas de turismo são fontes depressão de um alvo de conservação. A tabela 2.1, abaixo,mostra exemplos de estratégias para se lidar com pressõese fontes hipotéticas de um alvo específico de conservação.

O exemplo da tabela 2.1 mostra que o turismo podeser uma fonte tanto de pressão quanto de estratégiasinovadoras para, por meio do ecoturismo, reduzir asfontes de pressão. As estratégias do ecoturismo podemser agrupadas de duas formas, de acordo com a pressãoe a fonte que abordam:

As pressões de 1 a 3 requerem uma seleção deestratégias de gestão de ecoturismo que seriam mais

Pressões

1 Alteração da composição dasespécies da fauna (redução dapopulação de espécie-chave depapagaios que nidificam na pinesavanna e são essenciais à suaregeneração)

2 Alteração da estrutura davegetação

3 Contaminação (poluição orgânica

e dejetos sólidos)

4 Alteração da composição dasespécies da flora (redução daspopulações de espécies endêmicas deorquídeas)

5 Alteração da composição dasespécies da fauna (redução do

número de grandes mamíferos)

Fontes

Práticas Incompatíveis deTurismo (turismo descontrolado nossítios de nidificação das espécies depapagaios e nos locais que eles usampara lamber os depósitos de sal,resultando em destruição das árvoresnas quais eles fazem seus ninhos, eperturbação durante os períodos denidificação)

Práticas Incompatíveis deTurismo (aglomeração de turistas emlocais com vista panorâmica, resultandona destruição da vegetação)

Tratamento incompatível daságuas-servidas (gestão ruim dos

esgotos nos alojamentos ecológicos)

Coleta Comercial (coletadestrutiva da flora silvestre por parte dacomunidade X)

5 Coleta Comercial / CaçaIlegal (caça ilegal para obtenção de

pele e carne pelas comunidades locais)

Estratégias

1. Melhorar a gestão de visitantes na pine savanna por meio de:• Zoneamento do ecoturismo• Monitoramento dos impactos da visitação• Educação e diretrizes de gestão de visitantes

2. Trabalhar com certos grupos turísticos por meio de um programa devoluntários para a criação de caixas de nidificação para os papagaiospara restabelecer sua população a um número mínimo viável.

Melhoraria da gestão de visitação na pine savanna por meio de:• Diversificação de sítios de visitação• Monitoramento dos impactos da visitação.

Melhorar a gestão de visitantes na pine savanna por meio de:• Diretrizes de infra-estrutura de ecoturismo• Monitoramento dos impactos da visitação.

1. Criar oportunidades de desenvolvimento econômico compatível para osapanhadores de orquídea da comunidade por meio do ecoturismo

2. Aumentar o investimento do parque em proteção e aplicação das leis,contratando maior número de guardas mais bem treinados (recursos criadospor meio do estabelecimento de taxas de uso para os visitantes e de sistemas de concessão deecoturismo).

1. Criar oportunidades de desenvolvimento compatível para os caçadoresilegais da comunidade por meio do ecoturismo

2. Aumentar o investimento do parque na proteção e aplicação das leis,contratando maior número de guardas mais bem treinados (recursos criadospor meio do estabelecimento de taxas de uso para os visitantes e de sistemas de concessão doecoturismo).

Tabela 2.1 Estratégias-modelo de Ecoturismo para Lidar com as Pressões e Fontes Hipotéticas Visando a Conservação da Lowland Pine Savanna

Page 63: Ecotourism Development

bem desenvolvidas por meio de um plano de gestão deecoturismo para um sítio.

As pressões 4 e 5 requerem, que as estratégias dedesenvolvimento de ecoturismo sejam analisadas. Odesenvolvimento do ecoturismo começa com aAvaliação Preliminar de um Sítio (APS) (ver Quadro2.2) e integra o planejamento de gestão de ecoturismocom o planejamento de negócios de ecoturismo.

Avaliação de Estratégias PotenciaisUma vez que as estratégias potenciais sejamidentificadas, devem ser avaliadas e classificadas deacordo com três critérios:

❖ Benefícios (ao reduzir as ameaças críticas aos alvos deconservação e melhorar a viabilidade desses alvos);

❖ Possibilidade/probabilidade de êxito; e

❖ Custos de implementação.

a) BenefíciosAvaliar os benefícios que resultam de se enfrentar asameaças, como, por exemplo:

i) Redução do status de ameaça- Qual a probabilidade de o zoneamento do

ecoturismo diminuir o declínio da população deespécies-chave de papagaios na região?

- O zoneamento do ecoturismo é vital para reduziro turismo descontrolado nas áreas que os animaisfreqüentam para lamber os depósitos de sal?

- Qual a probabilidade de a diversificação dossítios de visitação reduzir a aglomeração deturistas nos pontos com vista panorâmica?

ii) Aumento da saúde da biodiversidade- Qual a probabilidade de o monitoramento do

impacto da visitação aumentar a viabilidade dasespécies de papagaio?

- A nossa estratégia de melhorar a disponibilidadedo sítio de nidificação dos papagaios, utilizando arenda gerada pelo turismo, aumentará o tamanhoda população dessa espécies-chave, aumentando,assim, a saúde da pine savanna?

iii) Fomento- As diretrizes da estrutura do ecoturismo serão

catalisadoras e estimularão ações de conservaçãoem outros sítios importantes para a conservaçãoda biodiversidade?

b) Possibilidade / Probabilidade de SucessoDois fatores essenciais são críticos para o sucesso daimplementação:

❖ Instituição e liderança — Talvez o fator maisimportante para o sucesso seja encontrar a pessoacerta para assumir a liderança de um sítio e aresponsabilidade pela implementação das estratégias.É essencial para o sucesso da implementação de umplano de gestão de ecoturismo que haja umcoordenador de projeto de ecoturismo que unaexperiência no ramo turístico e compreensão do queseja conservação.

❖ Complexidade e influência de forças externas— O desenvolvimento do ecoturismo depende defatores externos que estão além do controle dosadministradores de sítio, tais como, saúde econômicade mercados de turismo distantes ou competição porparte de outras destinações. Essas influências externassão fatores a serem considerados quando se adota odesenvolvimento do ecoturismo como uma estratégia.As atividades de gestão de ecoturismo, por outrolado, são normalmente estratégias não complexasprojetadas, necessariamente, para reduzir as ameaçasrelacionadas ao turismo.

c) Custos de Implementação

❖ Examine os recursos necessários para o planejamentode gestão de ecoturismo e a probabilidade de garantirrecursos novos ou correntes para essa estratégia (acobrança bem-sucedida de taxa de uso dos visitantesou um mecanismo de concessão pode cobrir pelomenos o custo do programa).

❖ Considere os custos de um fracasso para outrasestratégias de conservação que possam estarameaçadas.

❖ O desenvolvimento de um planejamento de gestãoincluirá a avaliação da possibilidade financeira comoparte do processo de planejamento do negócio.

Avaliação Preliminar de um SítioO ecoturismo é, às vezes, considerado como a soluçãopara todos os problemas de uma área protegida. Noentanto, para que o ecoturismo funcione como umaestratégia de gestão viável em uma situação específica,certas condições devem estar presentes. Esta seção foiconcebida para ajudar a determinar se odesenvolvimento e a gestão de ecoturismo são asestratégias corretas para um contexto específico ou não.

Quer a decisão de avaliar o potencial de ecoturismode um sítio venha de um PCS ou de um PGG, a APS é opróximo passo. A APS, um processo simples e conciso,consiste na resposta de algumas questões básicas sobre aárea protegida para que não reste nenhuma dúvida de

71Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Page 64: Ecotourism Development

72 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

que o ecoturismo realmente tem potencial. A APS deveser utilizada em conjunto com o processo de PCSquando o ecoturismo é identificado como uma estratégiapara situações/ameaças não relacionadas com o uso devisitação já existente. Utilizando a informação da tabela2.1, por exemplo, se “a coleta destrutiva da flora silvestrepor parte de uma comunidade X” é identificada comouma fonte de ameaça, e se “a criação de oportunidadesde desenvolvimento econômico compatível para a osapanhadores de orquídeas por meio do desenvolvimentodo ecoturismo” é identificada como uma estratégiapotencial para lidar com essa ameaça, então a APS deverádefinitivamente ser utilizada como um teste de primeironível para avaliar tal potencial.

Por outro lado, se “Práticas Incompatíveis deTurismo” são identificadas como fonte de pressão, nessecaso os elementos do planejamento de gestão deecoturismo, tais como, “monitoramento do impacto davisitação”, ou a implementação de “diretrizes paragestão de visitação”, poderiam ser uma estratégiarazoável a ser selecionada. Se a capacidade de gestão éum problema, pode ser necessário avaliar se odesenvolvimento do ecoturismo pode ou não fornecerrecursos, equipamentos e outros tipos de apoio para aadministração de áreas protegidas que luta para abrirespaço, por meio de taxas de uso e mecanismos deconcessão, por exemplo.

Para se obter uma avaliação objetiva das respostas aessas perguntas na APS, pode ser útil organizar umgrupo de pessoas que conheçam a área e sua situação,

incluindo algumas que tenham experiência na indústriado turismo. O julgamento coletivo do grupo devefornecer uma excelente orientação para oprosseguimento ou não do processo de planejamento.

Se houver alguma resposta negativa às questões noQuadro 2.2, deverá ser feita uma avaliação séria comrelação à continuidade ou não do planejamento deecoturismo. É difícil ser objetivo a respeito das áreascom as quais estamos envolvidos, especialmente se nãopudermos continuar a planejar certas atividades comrelação às quais tínhamos grandes expectativas. Mas émelhor ser realista sobre as possibilidades de sucessodesde o início que se confrontar com o insucesso logoadiante, depois de já termos gasto muito tempo,energia e dinheiro.

Algumas respostas se iniciam com um “se”. Nessecaso, deve-se avaliar se as expectativas são realistas e sea condição caracterizada pelo “se” pode ser realizada.

Mesmo que a APS indique que o ecoturismo não éuma estratégia apropriada no momento, ascircunstâncias podem mudar e permitir que ele sejauma opção viável no futuro.

Referência

The Nature Conservancy. 2000. The five-S framework for siteconservation: A practioner´s handbook for site conservationplanning and measuring conservation success. Disponível noseguinte web site: www.conserveonline.org.

4. A área está livre de problemas de segurança quenão possam ser controlados de forma eficaz pelagestão da área ou pelas autoridades locais?

5. A área protegida tem autoridade de gestão e deadministração suficiente para gerir efetivamente aimplementação e o monitoramento de umprograma de ecoturismo em nível de sítio?

6. Existe uma expectativa razoável de que os recursosiniciais necessários para desenvolver o ecoturismoestarão disponíveis?

7. Os gestores das áreas protegidas, operadores deturismo e comunidades estão dispostos a sesubmeter às diretrizes do ecoturismo, ou seja,baixo impacto, grupos pequenos, monitoramentode impactos, trabalhar com as comunidades eenvolvê-las ativamente?

8. A visitação melhorará a saúde da biodiversidadeou reduzirá as ameaças aos alvos deconservação?

Quadro 2.2 Avaliação Preliminar de um Sítio

1. Existem atrativos potenciais interessantes na área,naturais ou culturais? Exemplos desse tipo de atrativo:

- Espécies endêmicas ou raras, ex.: Cormorão, dragãode Komodo

- Espécies carismáticas: Tucano toco (ou tucanuçu),arara-macau (ou arara-vermelha), tubarão-baleia

- Hábitats atraentes saudáveis, por exemplo: corais derecife, floresta tropical primária;

- Altos índices de aves ou diversidade de mamíferos,por exemplo: mais de 300 espécies de aves, ou maisde 100 espécies de mamíferos;

- Formações geomorfológicas espetaculares, por exemplo:cachoeiras altas ou com grande volume de água,cavernas;

- Eventos culturais importantes, históricos oucontemporâneos, nacionais ou internacionais, porexemplo: as pirâmides Maias, ou o festival Inti Raymi.

2. O visitante pode chegar ao local do atrativo comfacilidade?

3. Os atrativos podem ser protegidos, em um nívelaceitável, contra os impactos da visitação?

Page 65: Ecotourism Development

73Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Visão Geral do Conteúdo de um Plano de Gestãode EcoturismoUm Plano de Gestão de Ecoturismo (PGE) é umdocumento que explica de forma clara os detalhesnecessários para se implementar, em uma áreaprotegida ou em outro sítio potencial de ecoturismo,um programa de uso público baseado no ecoturismo.Como regra geral, seguirá as mesmas recomendaçõesdo plano geral de gestão de um sítio ou as conclusõesdo Plano de Conservação de Sítio (ver Capítulo 1para mais detalhes). O plano geral de gestão devedefinir, em linhas gerais, os parâmetros para todas asações de gestão e de administração. Colocar emprática as recomendações do plano geral de gestão étarefa que fica a cargo dos esforços de planejamentosubseqüentes, como o PGE e os planos de trabalhoanuais.

Um PGE consiste de:

❖ uma seção com o histórico ou o diagnóstico quedescreva e analise a situação atual da área protegida eas variáveis que afetam a implementação de umprograma de ecoturismo naquela área; e,

❖ uma seção de recomendações que descreva de formasistemática e organizada como implementar umprograma de ecoturismo de acordo com a situaçãodescrita na seção anterior. Essa é a seção que amaioria das pessoas chamaria de Plano real, ou planoestratégico.

Se os processos de PCS e APS do Passo 1 mostraramum "sinal verde", então se deve passar para o Passo 2 –o Diagnóstico Completo do Sítio, descrito nestecapítulo. Este capítulo enfoca quais as informaçõesque se deve coletar e como coletá-las.

A Figura 3.1 mostra os diferentes passosenvolvidos na gestão de ecoturismo e o processo dedesenvolvimento do planejamento. Ao final de cadapasso, os planejadores devem decidir se as

Capítulo 3

Passo 2: Diagnóstico Completo d0 Sítio

Figura 3.1 Visão Geral do Processo dePlanejamento de Gestão e de Desenvolvimento

Plano deConservação de

Sítios (PCS)Plano Geral de

Gestão

Avaliação Preliminar do Sítio (APS)

Diagnóstico Completo do Sítio (DCS)

Planejamento de Gestão de Ecoturismo

Redução de ameaças provindas de atividades incompatíveis,incluindo o turismo descontrolado. Geração de renda para as

comunidades, as ONGs, ou para as áreas protegidas.

Desenvolvimento deEmpreendimentos

de Ecoturismo

DESARROLLO DEEMPRESAS

ECOTURÍSTICAS

Avaliação: Medidas de Sucesso

ViabilidadeFinanceira eAmbiental

Plano deNegócios

Manejo da Área Protegida

IMPLEMENTAÇÃODO PLANO DEGESTÃO DE

ECOTURISMO

Se algumaresposta for

“não”

PARE

Caso não sejafinanceiramente

viável

PARE

Page 66: Ecotourism Development

74 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

circunstâncias aconselham ou não a continuidade doprocesso de Planejamento de Gestão e Desenvolvimentode Ecoturismo.

Diagnóstico Completo do SítioSe a Avaliação Preliminar do Sítio (APS) (ver Parte II,Capítulo 2) foi positiva, então se deve darprosseguimento ao próximo passo, que é o DiagnósticoCompleto do Sítio (DCS). Esse é o que a maioria dosplanejadores considera como a principal FaseDiagnóstica do PGE. Nesse ponto, a equipe deplanejamento já decidiu, de forma definitiva, que o quedeve ser planejado é o ecoturismo, o que significa queterão que colher um certo tipo de informação. Antes defazê-lo, a equipe deve considerar como colher asinformações.

O que é necessário saber?Ao final desse processo de coleta de dados, a equipeestará apta a fornecer respostas bem fundamentadas àsseguintes questões:

❖ Quais são as principais ameaças ao sítio / áreaprotegida, e quais estratégias poderiam ser usadas noPGE para enfrentá-las?

❖ Onde o ecoturismo vai acontecer?

❖ Que tipos de atividades serão realizados paraimplementar o ecoturismo?

❖ Quem será o responsável pela implementação dessasatividades e quais precauções devem ser tomadas?

❖ Como e por quem essas atividades serão monitoradase custeadas?

A princípio, o processo de coleta de informaçõespode parecer descomunal. Para organizar e estruturar ogrande e diversificado volume de informaçõesnecessárias para formular um plano de ecoturismo ébastante útil classificar os dados em categoriasseparadas. Essas categorias não variam muito de umasituação para a outra. É importante fazer bom uso defontes de informação secundárias (ex: relatóriosexistentes, etc.) e de especialistas locais. Pelo menosuma parte dessa informação deverá ter sido coletada noPasso 1, o PCS. Em alguns casos, as informações jáexistentes evitarão a necessidade de alguma coleta deinformações e, portanto, economizará tempo e dinheiro.

❖ Informações sobre os recursos naturais e aspectosque tanto limitam quanto facilitam o êxito de umaoperação de ecoturismo: ecossistemas importantesque requerem alto nível de proteção, espécies emrisco de extinção, espécies carismáticas, valorespaisagísticos, atrativos naturais, etc.

❖ Variáveis culturais que afetarão a operação deecoturismo: comunidades locais envolvidas oupotencialmente envolvidas com o ecoturismo,tradições e costumes locais, resistência a visitantes defora da comunidade ou aceitação deles, pobreza enível educacional das populações locais, sítioshistóricos ou arqueológicos, etc.

❖ Status da área protegida. É importante analisar asituação específica atual e projetada da área. Umaadministração de uma área protegida precisa sercapaz de proteger, de forma adequada, os limites deuma área protegida e oferecer apoio administrativo eeconômico para uma operação de ecoturismo dequalidade. A capacidade de gestão deve, portanto, seravaliada durante o processo de diagnóstico.

❖ Interesse e participação da indústria do turismona operação de ecoturismo projetada. Sem o apoioativo dos operadores de turismo local e nacional, bemcomo de outros representantes do setor econômico,uma operação de ecoturismo em uma área protegidanão será bem-sucedida.

❖ Padrões dos visitantes, interesses e infra-estruturasão importantes fatores a serem reconhecidos eavaliados para determinar se existe uma basesuficiente para recomendar as atividades deecoturismo em uma determinada situação. Asseguintes perguntas sobre o potencial de visitaçãoprecisam ser respondidas (adaptado de Ceballos-Lascuráin,1996):

1. Que tipo de pessoas estariam (estão) interessadas nos

atrativos que temos para oferecer? A quem podemos

atrair?

2. Quem desejamos que venha aqui?

3. Onde vivem essas pessoas?

4. Quais são seus principais interesses?

5. Qual é a faixa de renda dos visitantes e quanto estão

dispostos a gastar em suas férias?

6. O que fazem atualmente como turistas? Aonde vão?

7. O que querem fazer?

8. É fácil para eles viajar até esta área?

9. Como decidem para onde viajarão e o que farão em

uma destinação de férias e a caminho dela?

❖ O marketing e a promoção de uma operação deecoturismo devem ser considerados por meio daavaliação de atividades de turismo similares, bemcomo por meio da opinião de operadores de turismointeressados. Quanto marketing será necessário paraque a operação tenha êxito? Quem será o responsávelpelo marketing?

Page 67: Ecotourism Development

75Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Questões para Orientar o DiagnósticoCada área protegida terá requisitos específicos deinformações. Os planejadores precisarão priorizar qualinformação devem enfatizar e como as obterão. Asseguintes questões ajudarão nesse processo.

A. Recursos NaturaisEsta seção deve enfocar os recursos naturais (espécies,comunidades, ecossistemas, aspectos físicos[montanhas, rios, lagos, etc.]), que atualmente são oupodem vir a ser um atrativo potencial para a visitação,ou que poderiam ser afetados seriamente pelo uso devisitantes.

❖ Quais são os recursos naturais primários da área?Existem espécies de plantas e animais que atraiam osvisitantes? Existem espécies carismáticas na área? Jáforam realizados inventários/levantamentos sobre asespécies? Se foram, descreva seu conteúdo.

❖ Quais são as espécies ou comunidades de plantas ouanimais em risco de extinção ou ameaçadas?

❖ Quais são os atrativos cênicos da área protegida?

❖ Quais são os setores mais intocados das áreasprotegidas?

B. Recursos CulturaisEsta seção deve definir os sítios culturais históricos,arqueológicos ou atuais, e os eventos que poderiam setornar atrativos ou afetar, de alguma forma, aimplementação do ecoturismo.

❖ Existem sítios históricos importantes dentro ou noentorno da área protegida que poderiam serutilizados como atrativo turístico? Esses mesmossítios apresentam dificuldades relevantes para suaproteção?

❖ Existem sítios arqueológicos importantes dentro ouno entorno da área protegida que poderiam serutilizados como atrativo turístico? Esses mesmossítios apresentam dificuldades relevantes para suaproteção?

❖ É necessário que outras instituições estejamenvolvidas na escavação, restauração, proteção einterpretação desses sítios?

❖ Existem culturas nativas ou tradicionais que precisemser consideradas ou respeitadas no desenvolvimentode um PGE? Até que ponto as aspirações e culturadas populações locais permitem seu envolvimentocom o ecoturismo?

C. Status da Gestão de Áreas Protegidas

❖ A área é protegida? Se for, qual é a sua história?Quando a área foi declarada protegida? Qual é o seustatus de proteção? Por que é considerado importanteque ela seja protegida? A área está realmenteprotegida? Se não, que elementos faltam paraproteger efetivamente a área?

❖ Quem administra a área? Ela é parte de um sistemaprotegido? Se for, descreva o sistema e a sua gestão.O sistema de gestão é efetivo?

❖ Quantas pessoas a área protegida emprega? Descrevasuas funções. Eles trabalham em regime de períodointegral ou meio período? Os empregados da áreaprotegida são residentes locais ou moram fora daárea? Existem voluntários que trabalham na áreaprotegida? Caso existam, o que fazem? A quantidadeatual de empregados cobre adequadamente asresponsabilidades de gestão atuais e projetadas?

❖ O processo de Planejamento de Conservação de Sítiosfoi executado? Quais são as ameaças primárias à áreaprotegida? Podem ser pressões de desenvolvimentoeconômico, tais como o turismo ou outros. Querecursos são afetados por essas ameaças? Qual o graude urgência e gravidade dessas ameaças? Quais são asestratégias usadas para lidar com as com as ameaçasidentificadas? As estratégias são eficazes? Se não são,por quê?

❖ Descreva os impactos atuais dos turistas. Porexemplo, o solo está compactado devido aos turistas?Há mais lixo? Foram feitas tentativas para quantificaros impactos? Existem estudos formais sobre essesimpactos? Se existem, descreva-os. Quais são asprojeções para os impactos potenciais?

❖ Existe um sistema de monitoramento na áreaprotegida? Se existe, descreva-o. É eficaz? Se não é,por quê?

D. Padrões dos visitantes, Atividades e Infra-estruturaUma vez que os interesses e as demandas dos visitantesimpulsionarão qualquer programa futuro deecoturismo, é essencial que haja um entendimento totalda natureza do uso de visitação atual e potencial. Éimprovável que existam muitas informaçõesdisponíveis; nesse caso, deve-se fazer um esforço para arealização de uma pesquisa sobre o perfil dos visitantes,a ser conduzida junto aos visitantes atuais ou junto aosvisitantes de atrativos turísticos próximos.

❖ Quais são os atrativos principais para os visitantes emsua área protegida? Por que as pessoas a visitam?

Page 68: Ecotourism Development

Além dos recursos naturais, existem recursosculturais ou outros atrativos que possam atrair osvisitantes?

❖ O seu sítio é de fácil acesso? Quais são os principaismeios de transporte: ônibus, canoa, carro, avião ououtros? Quais são as condições das estradas quelevam ao sítio? A dificuldade de acesso é umobstáculo ao crescimento do turismo?

❖ O que os visitantes fazem na área protegida? Quantotempo permanecem nela? Eles vêm para realizaratividades específicas? Eles vêm para relaxar ou paraestarem envolvidos em atividades? Que tipo dealimentos e bebidas está disponível na área? Osvisitantes compram suvenires? Se comprarem, o quecompram? Descreva o dia de um turista

❖ Existem estatísticas sobre o número de visitantes naárea protegida? Se existem, descreva o sistema decoleta de dados. Quantas pessoas visitam a áreaprotegida por mês? E por ano? Qual a porcentagemde pessoas estrangeiras e do próprio país? Qual anacionalidade dos estrangeiros? Que línguas falam elêem? Quais são as tendências de crescimento? Quaissão as estimativas para as tendências futuras devisitação?

❖ A maioria dos visitantes chega em grupo ou sozinha?Se os visitantes chegam em grupo, qual o tamanhodos grupos? Eles fazem reserva antecipada? Quandoestão na área protegida, viajam sozinhos ou comguias? Se utilizarem guias, estes são empregados daárea protegida ou são guias de fora?

❖ Foram realizados levantamentos sobre os visitantes?Em caso positivo, quando foram realizados e qual ométodo utilizado? O que você aprendeu a respeitodos visitantes? Por que os visitantes vêm à áreaprotegida? O que querem fazer? Do que gostam e nãogostam nas áreas protegidas e nas suas instalações?Eles sentem que os serviços oferecidos sãoapropriados? Os visitantes deram alguma sugestãopara a realização de melhorias?

❖ Quais são os impactos econômicos causados pelosvisitantes na área protegida? Eles pagam ingresso outaxas de uso? Compram bens e serviços na áreaprotegida? Existem empresas do setor privado na áreaprotegida? A área protegida tem acordos deconcessão? Caso tenha, descreva-os. Os visitantestambém vão às comunidades locais quando visitam aárea protegida? Se vão, quais as comunidades quevisitam e que tipos de atividades / infra-estrutura sãooferecidas a eles? Que avaliação a comunidade fazdessas visitações?

❖ Que tipo de infra-estrutura turística a área protegidapossui? Existe um sistema de trilha? Existeminstalações turísticas? Existem instalações parapesquisa? Descreva cada uma delas. Como sãomantidas? Estão em boas condições ou precisam dereparos? As instalações são apropriadas para ademanda dos turistas?

❖ Descreva os programas de educação ambiental daárea protegida. Existem informações escritas nastrilhas? Os visitantes fazem excursõesdesacompanhados de guias? Existe um centro devisitação? Que materiais estão disponíveis? Existemguias? Os visitantes se beneficiam com essesprogramas? A educação ambiental é uma importanteprioridade para a área protegida? E para os visitantes?Como você avaliaria a eficácia de seus programas deeducação ambiental?

❖ Além da natureza, existem outros atrativos na área:cultural, patrimônio histórico ou outros? Descrevaesses atrativos.

E. Planos e Políticas para o Turismo

❖ A área protegida possui um plano de gestão? Sepossui, o plano inclui uma seção a respeito dasatividades turísticas? Se inclui, descreva seuconteúdo. Quais são os planos de turismo existentespara a área? Existe um sistema de zoneamento? Oplano de gestão é eficaz? Se não é, por quê?

❖ Em termos nacionais, existe um plano turístico queinclua o turismo voltado à natureza ou o ecoturismo?Se existe, descreva essa seção. Existem outros planosde âmbito nacional que incluam o turismo voltado ànatureza ou ecoturismo, talvez planos de conservaçãoou de desenvolvimento econômico de abrangêncianacional?

❖ Existem quaisquer outras declaraçõesgovernamentais, leis ou políticas que afetem oturismo em sua área? Pode ser em âmbito nacional,regional ou local. Se existem, descreva cada umadelas e sua relação com o turismo.

❖ Você tenta influenciar planos e políticasgovernamentais relacionadas à sua área protegida? Setenta influenciar, de que forma o faz? As autoridadesgovernamentais solicitam a opinião dos empregadosde áreas protegidas para tomar decisões sobre as áreaprotegidas e o turismo? Existem outras oportunidadespara participar do planejamento e da elaboração depolíticas em âmbito local, regional ou nacional?

❖ Você está satisfeito com os planos e políticasexistentes relacionados ao turismo voltado à natureza

76 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Page 69: Ecotourism Development

e ao ecoturismo? Existe um sistema de cobrança deingressos? Esse sistema é eficaz? O que acontece como dinheiro arrecadado por meio de ingressos e deoutras taxas? Existem políticas que dizem respeito àsatividades do setor privado na área protegida? Seexistem, descreva-as. Se não existem, deveriamexistir? Como você mudaria os planos e políticasatuais? Você acrescentaria planos e políticas novas?

❖ Existe alguma legislação pendente de aprovação, ouprestes a entrar em vigor, relacionada à sua áreaprotegida? Se existir, descreva-a. Existe algumapossibilidade de você estar envolvido nesse processo?Poderia ser uma boa oportunidade para ajudar adeterminar os rumos do ecoturismo na área?

F. ComunidadesAs populações locais têm uma grande influência sobretodas as atividades de gestão de uma área protegida,essa influência é ainda maior com relação aoecoturismo. O ideal seria que houvesse umrelacionamento recíproco entre a área protegida e ascomunidades próximas a ela, cada uma se beneficiandocom a outra. As comunidades locais deveriam serintegradas em todas as atividades de ecoturismo na áreaprotegida e vice-versa. Mas fazer com que esserelacionamento funcione bem é tarefa difícil e tediosa. Équase tão importante obter informações sobre ascomunidades localizadas no entorno das área protegidasquanto compreender os recursos naturais e culturaislocalizados dentro da área protegida. Onde quer queseja possível, essa informação deve estar expressa emum mapa juntamente com a densidade populacional,crescimento e localização.

❖ Existem comunidades no entorno ou dentro da áreaprotegida? A que distância as comunidades ficam daárea protegida? Qual é o tamanho de cadacomunidade? Descreva as atividades econômicas decada comunidade. Como seus membros estãoorganizados? Como é a liderança? Existem outrascaracterísticas significativas de cada grupo?

❖ Qual é o histórico de relacionamento entre ascomunidades e a área protegida? Existem muitasinterações? Existem ou existiram tensões entre osresidentes e as autoridades da área protegida? Existeum histórico de competição pelos recursos naturaisentre as autoridades e os residentes? Se existe,descreva-as.

❖ Os residentes locais visitam sua área protegida?Visitam-se, o que os atrai? O que eles fazem? Jáencontraram dificuldades para chegar ao sítio devidoao aumento da visitação?

❖ Os residentes estão envolvidos nas atividades doturismo voltado à natureza? Se estão envolvidos,descreva de forma geral esse envolvimento. Esseenvolvimento é recente ou tem um longo histórico?Como ocorreu esse envolvimento? Foi uma atividadeplanejada ou acabou de acontecer?

❖ Descreva os tipos de empreendimentos turísticos nascomunidades circunvizinhas: alojamento,restaurantes, serviços de guia, lojas de artesanato,empresas de táxi e outros. Esses empreendimentosoferecem oportunidades de trabalho para osresidentes locais? Quantos residentes sãoproprietários ou administram os negócios? Osempreendimentos turísticos na área são lucrativos?Os produtos que utilizam são nacionais ouimportados? Como esses empreendimentos sãopromovidos junto ao público?

❖ Além dos impactos econômicos, quais são os outrosimpactos que os residentes encontram no turismovoltado à natureza? Ocorreram mudanças sociais? Seocorreram, descreva-as. Ocorreram mudançasambientais negativas, tais como maior poluição daágua? Ocorreram mudanças positivas, tais comomaiores esforços de conservação por meio decampanhas de limpeza? De que outras formas oturismo afetou as áreas circunvizinhas?

❖ Quais são os planos dos residentes para o turismovoltado à natureza? Existem esforços para organizar,discutir e lidar com as questões relativas ao turismo?Existem associações ou cooperativas de turismo paraabordar esse tópico? Existe um processo formal deplanejamento dentro das comunidades? Você sabe seos residentes querem estimular ou não o turismo emsua comunidade?

❖ Qual é o meio que você utiliza para se comunicarcom os residentes sobre questões relacionadas aoturismo? Existe um fórum para essa finalidade? Senão existe, você pode criar um sistema decomunicação? Como você se manterá informado arespeito da forma pela qual as comunidadesadministram o turismo?

G. Parcerias

❖ Você tem uma parceria ativa com os residentes locais?Por exemplo, você pode recomendar determinadoalojamento para os visitantes da área protegidaporque sabe que o proprietário oferecerá umprograma de educação ambiental para os hóspedes.As parcerias podem ser formais ou informais. Se vocêtem parcerias, descreva-as. Quem iniciou essasparcerias? Elas são bem-sucedidas?

77Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Page 70: Ecotourism Development

❖ Você tem uma parceria ativa com autoridadesgovernamentais? Você tem parcerias com autoridadesda área do turismo? Por exemplo, vocês trocaminformações uns com os outros? Você concorda emaceitar mais turistas se mais estudos sobre osimpactos ambientais forem realizados? Quem iniciouesses relacionamentos? Eles são bem-sucedidos?

❖ Você tem parceria ativa com professoresuniversitários? Eles podem conduzir pesquisas emtroca de acomodação? Eles estudam a flora e a faunasob a sua orientação? Os professores universitáriosacercam-se de você ou você procura por eles?Descreva esses relacionamentos. Eles são bem-sucedidos?

❖ Você tem parceria ativa com a indústria do turismo?Por exemplo, os operadores de turismo o ajudam apromover sua área protegida se você lhes dá umtratamento especial? Qual o seu relacionamento comos operadores de turismo doméstico e internacional?Você tem parcerias com empreendedores da área deturismo? Você tem parceria com pessoas que prestamserviços de transporte? Descreva seu relacionamentocom membros da indústria do turismo?

❖ Você tem parceria ativa com organizações não-governamentais (ONGs) Elas podem ser locais ouinternacionais, especializadas em conservação,desenvolvimento da comunidade, turismo ou outrostópicos relacionados ao turismo voltado à natureza.Você tem contratos formais ou acordos informais?Como e por que essas parcerias se formaram?

❖ De todas as suas parcerias, existe alguma que éparticularmente bem-sucedida? Por quê? Existealguma que não funcionou? Por quê?

H. Marketing e Promoção

❖ Quais são seus esforços de marketing no momento?Você já estudou o motivo pelo qual os visitantes vêmao seu sítio? Por que os visitantes vão aos sítiospróximos? Você está visando algum grupo emespecial para viajar para sua área? Que grupos estãoparticipando das atividades de marketing para o seusítio?

❖ A sua área protegida é bem conhecida ou não? Muitaspessoas do seu país já conhecem sua área? Pessoas deoutros países a conhecem?

❖ Como sua área é promovida? Sua área protegida épromovida como parte de uma campanha de turismonacional ou regional? As ONGs internacionaispromovem o seu sítio? E a indústria do turismo?Quais são os meios formais de promoção que vocêutiliza, tais como publicações ou vídeos? Existetambém promoção informal, tais como a propagandafeita pelos visitantes anteriores? Existem outrasformas de promoção da sua área protegida?

I. Oportunidades e Obstáculos

❖ Que novas oportunidades afetarão seus númerosrelacionados ao turismo? Pense de forma ampla ecriativa. O que mudará a demanda pelo turismo?Pense na questão do transporte. Por exemplo, existeuma nova linha aérea para seu país que possa trazermais visitantes? Alguma estrada de terra para o seusítio foi asfaltada recentemente? Que outras questõesligadas ao transporte afetam o turismo?

❖ Ocorreram mudanças no status de seus recursosnaturais? As ameaças são grandes? O governoatualizou recentemente o status de proteção da área?Você recebeu novos recursos para a gestão da áreaprotegida?

❖ E com relação à publicidade? Foi publicado algumartigo sobre a sua área protegida em uma revista degrande circulação? Algum operador de turismopassou a oferecer novas excursões para o seu sítio?

78 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Quadro 3.1 Pesquisa de Visitação: ParqueNacional Sierra Del Lacandón, na Guatemala.

O Parque Nacional Sierra Del Lacandón, criado em1990, está localizado na região de Peten, naGuatemala. Durante o ano de 1999, a The NatureConservancy e a administração do parquedesenvolveram um plano de gestão de ecoturismo. Umaprofissional local graduado em um programauniversitário de ecoturismo foi contratado para prepararum diagnóstico da situação do turismo no parque.Apesar de o parque ter muitos atrativos culturais enaturais, poucos turistas o visitam. Como parte doprocesso de diagnóstico, a especialista em turismoidentificou cada um dos atrativos turísticos e os localizouem um mapa. Entrevistou, também, um númerorepresentativo de visitantes em outros sítios de visitaçãona região de Peten com a finalidade de desenvolver umperfil básico do visitante, bem como para determinar sehaveria algum interesse em visitar o parque se o acessofosse melhorado e as informações disponibilizadas.

Os operadores de turismo e proprietários de agência deturismo também foram entrevistados para descobrir seestariam interessados em enviar clientes ao parque sobcertas condições. Toda a informação foi utilizada paraajudar a definir as principais recomendações do Planode Gestão de Ecoturismo para o parque.

(adaptado de Moore e col. 2000)

Page 71: Ecotourism Development

❖ Existem novos atrativos na sua área que possamtrazer mais visitantes para o seu país? Como issopoderá afetar o seu sítio? Já existem turistas na regiãovisitando outros sítios e que possam se sentir atraídospelo seu sítio?

❖ Existem conferências programadas para breve em seupaís relacionadas ao turismo voltado à natureza? Elaspoderão aumentar o turismo em sua área?

❖ O que mais aconteceu, ou pode acontecer, que afetaráos números do turismo?

❖ Existe algum obstáculo para o crescimento doturismo que deva ser levado em consideração? Porexemplo, ocorreram conflitos políticos recentes nasua área, ou há potencial para algum conflito? A suaárea é considerada estável? Existe a possibilidade deviolência política?

❖ Já ocorreram desastres naturais, tal como um furacão,na sua área? O estrago foi grande?

❖ E com relação à moeda de seu país? É consideradaestável no mercado internacional? Ela já passou pormudanças que desencorajaram os visitantes de viremao seu país? Esses obstáculos ao crescimento doturismo podem ser temporários ou permanentes.Dependendo de você desejar aumentar ou diminuiros índices de turismo, você poderá sentir se essesobstáculos são positivos ou negativos.

Como Obter a Informação DiagnósticaExistem vários tipos diferentes de atividades queprecisam ser implementadas para se obter asinformações necessárias.

A. Revisão do Material Escrito ExistenteUm dos primeiros passos que a equipe de planejamentodeve dar é coletar e revisar todo o material escrito sobrea área protegida pertinente ao planejamento deecoturismo: o plano geral de gestão, a legislaçãoaplicável e documentos a respeito das políticas, estudoscientíficos, inventários sobre a vida silvestre,levantamento e perfil dos visitantes, estatísticasturísticas da área protegida e dos sítios na região, eanálises das tendências do turismo nacional (em geral,esses dados estão disponíveis no Ministério do Turismo)

B. Trabalho de CampoConhecer e compreender a área a fundo é fundamentalpara desenvolver um PGE, o que não pode ser feito semse passar bastante tempo visitando a área protegida.Como primeiro passo, a equipe deve estudar os mapasexistentes e se familiarizar com a disposição geral daárea protegida e a localização das características naturais

e culturais mais importantes, bem como os sítios devisitação e sua infra-estrutura atuais e potenciais.Fotografias aéreas e imagens de satélite são muito úteisse disponíveis. O uso de mapas computadorizados comdiferentes níveis de informação é a forma ideal demapear a área, e o SIS (Sistema de InformaçõesGeográficas) é uma excelente ferramenta para facilitaresse processo. A equipe deve também se familiarizarcom as áreas adjacentes à área protegida na qual asatividades turísticas já acontecem ou poderão acontecer.Deve-se detectar e avaliar, em particular, as conexõesgeográficas e de utilização de recursos existentes entreas comunidades adjacentes e as áreas protegidas. Deve-se utilizar a informação da Análise do ContextoHumano (Human Context Analyses – HCA),previamente realizada.

Deve-se planejar várias viagens à área protegida, e, sepossível, organizá-las como se você fosse um turistatípico. Dessa forma, a equipe terá a mesma perspectivado visitante. Entretanto, a equipe deve também secertificar de que visitará todos os sítios na área quetenham algum potencial para o ecoturismo, nuncasendo demais lembrar que um ecoturista tanto pode seralguém com uma mochila que quer caminhar eacampar quanto uma pessoa mais velha, que quer sehospedar em hotéis e pousadas ou em uma cabanaconfortável.

79Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Quadro 3.2 Diagnóstico Completo do Sítio noParque Nacional Sierra del Lacandón

AAntes que outras viagens de campo fossem organizadas,a equipe de planejamento do PGE do Parque NacionalSierra del Lacandón, na Guatemala, contratou umprofissional recém-formado em um Programa deEcoturismo de uma universidade nacional para coletargrande parte dos dados necessários. Esse trabalhoenvolvia a preparação de um Inventário dos AtrativosEcoturísticos do Sítio e também o levantamento do perfildos visitantes. O estudante precisava revisar trabalhosescritos importantes, entrevistar os guardas-florestais evisitar sítios-chave em todo o parque. Esse estudante setornou um membro valioso da equipe de planejamento.

As relações formais com tais programas podem ser ummeio útil de desenvolver futuros profissionais para as áreasprotegidas. Os estudantes podem fazer suas teses oudesenvolver projetos especiais sobre as áreas protegidase, mais tarde, trabalhar nessas áreas.

(Adaptado de Moore e col., 2000)

Page 72: Ecotourism Development

80 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Para coletar essa informação, a equipe deplanejamento pode designar um assistente de pesquisapara fazer a exploração inicial do sítio. Os dadosgerados por essa exploração devem incluir fotografias ea logística do local; esses dados identificarão áreas-chave para investigação mais detalhada e poderãodescartar áreas inicialmente consideradas como tendopotencial.

Para se realizar um trabalho de campo efetivo, éaconselhável subdividir a área protegida em setores deacordo com os problemas, utilização, ecossistemas eoutras situações específicas que possam existir. Se existeuma estrutura de zoneamento estabelecida pelo planogeral de gestão, ela pode se constituir em uma diretrizútil. Deve-se dar atenção especial aos sítios de visitaçãoatuais e potenciais, bem como à infra-estrutura da áreaprotegida, como postos de guarda, áreas da costa, toposdas colinas e montanhas, trilhas de todo tipo, locais decamping, pontos de acesso, lagos, riachos, fontes, etc.

A equipe de planejamento deve ter uma visãoabrangente da área protegida e de tudo o que podeafetar o desenvolvimento do ecoturismo (que é quasetudo). É necessário que se comece a compreender comoo turismo funcionará na área protegida fazendoperguntas como:

❖ Quanto tempo leva para ir de um lugar a outro?

❖ A área protegida é acessível?

❖ Onde estão os potenciais sítios de alojamento?

❖ Quais são os atrativos principais?

❖ Quais são as atividades das quais os visitantes podemquerer participar?

❖ Quais são os obstáculos?

❖ É seguro?

Finalmente, a equipe de planejamento deve secolocar no lugar do visitante e visualizar do que ele/elagostaria ou não, passando pela experiência de ficar nosmesmos hotéis, utilizar as trilhas da área e usar osmeios de transporte existentes.

A equipe deve decidir quais informações são maisnecessárias. A coleta de informações deve serestrategicamente organizada, de modo que apenas osdados mais relevantes sejam levantados, caso contrário,a tarefa nunca terminará. É desnecessário fazer uminventário completo de tudo. O quadro 3.4 incluialgumas idéias a respeito das informações que podemser colhidas.

C. EntrevistasA realização de entrevistas formais e informais compessoas que conhecem a área é essencial para se obteropiniões baseadas nas informações de como é a áreaprotegida. Pessoas diferentes terão perspectivasdiferentes. Todas essas perspectivas são úteis, apesar denem sempre serem aceitáveis. Por exemplo, um caçadorpode ser útil para informar onde certas espécies deinteresse dos visitantes podem ser encontradas. Oscientistas saberão informar à equipe onde umavegetação especial ou em risco de extinção, ou espéciesde animais silvestres estão localizados. A populaçãolocal, que talvez utilize a área para a própriasubsistência, pode fornecer informações úteis sobretrilhas, atrativos potenciais e muitas outras informações.Os empregados da área protegida, especialmente osguardas-florestais ou os vigias que passam a maior partedo tempo na área, são fontes de informação essenciais arespeito dos recursos, do comportamento dos visitantese do relacionamento com as comunidades locais.

O ponto de vista dos operadores de turismo tambémé importante. O que encaram como desafios eoportunidades para o turismo em uma área é umainformação valiosa. Eles conhecem os turistas, suaspreferências e expectativas melhor do que qualqueroutro agente. Um PGE deve ser um plano que encontreaceitação na indústria do turismo. A equipe deve sabero que os operadores estão fazendo na área protegida e oque planejam fazer. Se existe pouco ou nenhumturismo na área, será útil entrevistar tanto os operadoresque estão interessados quanto os potencialmenteinteressados. É importante seu interesse em se adequaràs diretrizes do ecoturismo e em promovê-las, no que

Quadro 3.3 Consulta aos PrincipaisInteressados no Parque Nacional de Sierra delLacandón

Para preparar o PGE para o Parque Nacional Sierra delLacandón, na Guatemala, foram realizados,primeiramente, dois workshops, um para operadores deturismo e o outro para as ONGs locais e outros gruposda comunidade. Depois foi realizado um outroworkshop, em conjunto, para informá-los a respeito dasobservações preliminares para, assim, obtercontribuições dos interessados em certos assuntos. Umworkshop final foi feito para apresentar o documentofinal. Enquanto isso, vários participantes dos workshopstomavam parte, juntamente com a equipe deplanejamento, no trabalho de campo ou em outrasatividades nas quais suas contribuições eram profícuas.

(adaptado de Moore e col., 2000)

Page 73: Ecotourism Development

81Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

se refere a baixos números, baixo impacto e benefícioseconômicos para a área protegida e para ascomunidades locais.

D. Questionários e LevantamentosQuestionários ou levantamentos por escrito podem seruma ferramenta útil na sistematização e documentaçãoda informação obtida com as entrevistas. Serãoessenciais se o tamanho das amostras for tão grande quetorne as entrevistas pessoais impraticáveis. A equipe deplanejamento deve ser cuidadosa para garantir que oslevantamentos sejam usados para se obter informaçõesespecíficas e benéficas para o PGE, e que osdocumentos sejam curtos e bem formulados (incluindoum teste de campo do instrumento de levantamento). Érecomendável buscar ajuda profissional paradesenvolver o levantamento, pois, caso não se utilizemprofissionais da área, os resultados do levantamentopodem não ser tão úteis quanto os empreendedoresesperavam. É importante reconhecer que a coleta e aanálise dessas informações requer tempo e dinheiro,devendo ser um fator claramente estabelecido nosplanos de trabalho e no orçamento.

E. Reuniões Consultivas e WorkshopsEmbora o trabalho de campo possa ser o método maisimportante para se obter informações, eventos comoworkshops e outros tipos de encontros que reúnam osinteressados com propósitos construtivos sãoextremamente importantes, por diversas razões:

❖ Existem meios valiosos de se obter informações /opiniões de indivíduos e de organizações informadassobre a área protegida e os aspectos relacionados aoPGE, como, por exemplo, quais são os atrativos, asdificuldades para se desenvolver o turismo no local,quem são os visitantes, quem são os outrosinteressados que talvez a equipe não tenha levado emconsideração, etc.

❖ Quando bem desenvolvidos, são meios importantespara envolver os interessados no processo deplanejamento e, com um pouco de sorte, nos estágiosde implementação posteriores. Os participantesdevem sentir que sua opinião é importante e que serefletirá no PGE. Deve sempre haver algum tipo deacompanhamento após os workshops ou outrasreuniões.

❖ São mecanismos educacionais. Embora as reuniõesnão devam ser realizadas exclusivamente com essepropósito, devem ser utilizadas para informar aspessoas sobre a área protegida, seus objetivos, e,principalmente, sobre o PGE.

Organização da Informação DiagnósticaBoas decisões requerem boas informações. Nesta fase dodesenvolvimento do PGE, os planejadores devemincluir todas as informações que possam obter e quesejam relevantes para estabelecer um programa deecoturismo para a área protegida. Existem trêspropósitos nesta seção:

PREFÁCIOI. Introdução

A. Propósito e Objetivos do PlanoB. Conceitos e Princípios que Formam a Estrutura do

EcoturismoC. Metodologia

II. Contexto para o Desenvolvimento do Ecoturismo no ParqueA. Características Nacionais e Culturais do ParqueB. Situação Socioeconômica do ParqueC. Políticas para o Turismo e Contexto Legal1. Legislação2. Políticas da Comissão Nacional de Áreas Protegidas3. Papel Atual do Turismo dentro Parque

D. Gestão Administração Atual do Parque

III. Avaliação da Situação do Turismo no Parque e em ÂmbitoRegionalA. Perfil dos Indicadores Regional e Nacional do Turismo 1. Turismo Regional2. Perfil dos Visitantes de Peten

B. Situação Atual do Turismo1. Turismo no Parque Nacional2. Atrativos Turísticos e infra-estrutura

C. Iniciativas Atuais1. Infra-estrutura e Atrativos

D. Fatores que Limitam o Desenvolvimento do Ecoturismo1. Segurança dos Visitantes2. Impacto da Nova Auto-estrada Tabasco-Flores3. Impacto do Estabelecimento da Técnica em uma

Comunidade de Fronteira (adaptado de Moore e col., 2000)

Quadro 3.4 Justificativa e Panorama do Ecoturismo

PGE para o Parque Nacional de Sierra del Lacandón, na Guatemala

Page 74: Ecotourism Development

❖ O esforço para organizar e apresentar essasinformações, em geral, ajuda os planejadores acompreender e a analisar melhor os dados quepossuem.

❖ A informação apresentada aqui deve propiciar umapoio lógico para as recomendações inclusas na seçãodo plano estratégico, deve haver um fluxo naturalque leve dos dados à conclusão e às recomendações.

❖ As informações relativas ao ambiente constituem umrecurso precioso para os gestores da área protegida epodem não estar facilmente disponíveis em outrasfontes. Por esse motivo, esta seção deve serconsiderada como um ponto de referência importantepara os planejamentos futuros e outras açõesadministrativas.

Formalização do Conteúdo da Seção DiagnósticaDepois de ter coletado todas as informações, é hora decolocá-las no papel de forma organizada e sistemática.O esquema no quadro 3.4 fornece diretrizes para essatarefa. Lembre-se que a seção de estratégias erecomendações vem depois.

Referências

Ceballos-Lascuráin, H. 1996. Tourism, ecotourism, and protectedareas: The state of nature-based tourism around the world andguidelines for its development. Gland, Suíça: UniãoInternacional para a Conservação da Natureza (IUCN); N.Bennington, Vermont: The Ecotourism Society.

Moore, A., A. Drumm, and J. Beavers. 2000. Plan de manejopara el desarrollo del ecoturismo en el Parque Nacional Sierradel Lacandón. Serie de Coediciones Técnicas No. 15. ConsejoNacional de Areas Protegidas (CONAP), Fundación Defensoresde la Naturaleza, The Nature Conservancy.

82 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Page 75: Ecotourism Development

83Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Este é o momento em que todas as grandes idéiasdevem ser colocados no papel, de forma que os

responsáveis pela sua implantação sejam capazes deentendê-las e utilizá-las. Isso é realmente um desafio euma das principais razões de muitos planos não seremcolocados em prática. Os dados reunidos na Fase deDiagnóstico precisam ser analisados e organizados deforma a torná-los úteis na recomendação.

Fase de Análise de DadosApós a coleta dos dados, a equipe precisa analisá-los ecomeçar a tomar decisões sobre o que o PGErecomendará. Muitos dados estarão acumulados e osplanejadores precisam ser capazes de utilizar essasinformações. Um ponto de partida adequado é observaras oportunidades que se apresentarem, bem como osobstáculos. Há muitos interesses possíveis para criar umprograma de ecoturismo na área? Já existemcomunidades locais envolvidas com ecoturismo? O queelas estão fazendo? Está sendo bem feito? O quepretendem fazer no futuro? Existe algum patrocinadorinternacional interessado em financiar o projeto? Hápossíveis projetos de desenvolvimento que possamcausar impacto (positiva ou negativamente) sobre aimplantação do ecoturismo?

Outra ferramenta útil e analítica é pensar em termosde sítios críticos ou atividades críticas. Quais sítiosprecisam ser direcionados aos turistas? Em que sítios oturismo teve impacto negativo? Que atividadesnecessitam ser realizadas para o sucesso do ecoturismo?

O método do Planejamento de Conservação do Sítio(Site Conservation Planning), utilizado pela The NatureConservancy, propicia uma estrutura muito funcionalpara o trabalho analítico. Ela se concentra emidentificar os problemas nos sistemas biológicos básicosda área protegida e, então, identificar a fonte real doproblema. Os planejadores, a seguir, identificam asameaças críticas e as estratégias que suavizem oueliminem essas ameaças (ver Parte II, Capítulo 2). NaFase de Análise de Dados, a identificação da ameaça

crítica deverá ser uma prioridade. Se os sistemasbiológicos básicos ainda não tiverem sido identificadospelo Plano Geral de Gestão ou outros estudoscientíficos, então, os planejadores de PGE terão deavaliar o caso, de forma que as atividades de ecoturismopossam ser planejadas de acordo. O turismo de altoimpacto, ou mal administrado, já é considerado umaameaça a alguns meios ambientes importantes. Oecoturismo pode ser uma estratégia para suavizar esseproblema. O Desenvolvimento da Estratégia acontece napróxima fase.

Um resultado básico da fase analítica deverá vir dealgumas conclusões sobre:

❖ quais as maiores ameaças ao sítio/área protegida ecomo o PGE deverá abordá-las;

❖ onde o ecoturismo deverá acontecer;

❖ que tipo de atividades serão realizadas paraimplementar o ecoturismo;

❖ quem será encarregado da implementação dessasatividades e que precauções deverão ser tomadas;v como e por quem será monitorado e financiado.

Para chegar a essas conclusões importantes a equipede planejadores deverá trabalhar em conjunto. Talvez,cada pessoa deva ficar encarregada de chegar aconclusões experimentais, referentes a um aspecto doPGE. Essas conclusões, então, serão apresentadas a umgrupo e discutidas por todos. Em algum ponto após aanálise inicial pode ser de grande valia a realização deum workshop com a presença dos principaisinteressados, a fim de ouvir sua opinião sobre váriosaspectos. Por exemplo, se o sítio X funcionaria melhorcomo um sítio de ecoturismo se ficasse restrito a umgrupo de seis pessoas, ou menos, ou se hotéis epousadas ecológicas, dirigidas por uma concessionária,seria um meio aceitável de oferecer alojamento em umaparte da área protegida que fosse distante, porémimportante para o turismo.

Capítulo 4

Passo 3: Análise de Dadose Preparação do Plano

Page 76: Ecotourism Development

84 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Em uma determinada situação preparar e apresentarinformações, incluindo alternativas viáveis, a um grupode principais interessados pode ser muito produtivo einstrutivo.

Preparação do PlanoAntes de começar a tarefa de decidir exatamente comoo ecoturismo será implantado, a equipe deplanejamento deverá concordar com a organização e aestrutura do plano e, a seguir, cada pessoa deverá seresponsabilizar por um caderno, fazendo relatórios deacordo com seu interesse e especialização. Deverátambém ser designado um coordenador de relatório doplano. Os esboços de cada caderno deverão ser revistospor outros membros da equipe, a fim de assegurar quetodos os pontos tenham sido cobertos e de que pontosirrelevantes não sejam abordados. O conteúdo deveráser escrito de forma a permitir o acesso entre osdiversos cadernos. É fundamental um trabalho deedição final realizado por um profissional.

Os planejadores deverão se lembrar de que asinformações precisam ser obtidas por meio de umprocesso bem planejado (descrito no capítulo anterior).O nível de detalhes incluídosna recomendação dependerá,em grande parte, daquantidade e qualidade deinformações disponíveis, dograu de participação dosprincipais interessados e dotempo e financiamentodisponível. Se ascircunstâncias permitirem,justifica-se adiar algumasdecisões, quando maisinformações oufinanciamento estejamdisponíveis, por exemplo,planificar um planejamento.Em alguns casos, osplanejadores precisam seconcentrar na definição dosprimeiros passos, de formaque a implementação possater início.

Um plano é apenas um reflexo daquilo que osplanejadores acreditam ser o melhor procedimento, emum determinado momento, sob um conjunto decircunstâncias que se apresentam naquele momento.Embora o procedimento geral deva permanecerrazoavelmente estruturado no futuro, os detalhes

envolvidos na execução do plano podem mudar deforma significativa com o passar do tempo e à medidaque as condições sejam alteradas. Entretanto, um PGEdeverá ser respeitado como um documento dinâmico aser seguido enquanto suas recomendações possam serimplementadas logicamente, dentro da gestão envolvidae do meio ambiente do turismo, contanto que elaspreencham os objetivos estabelecidos para o programa.

Este é o caderno onde tudo se reúne, onde todo otrabalho árduo realizado pelos planejadores do PGE, epor outros participantes no processo de planejamentoresulta em um plano para, realmente, executar umprograma de ecoturismo na área protegida. Éimportante que esse caderno descreva e explique tudoque deve ser feito para que o ecoturismo se torne parteda estratégia de gestão das áreas protegidas. Para queisso seja feito, os planejadores precisam ser capazes deapresentar um plano ordenado, sistemático etransparente.

A apresentação do plano deverá considerar o públicoalvo e seu nível de compreensão Se a maioria daspessoas que estarão executando o plano participaramdo processo de planejamento, isso facilitará a

compreensão do conteúdo do plano. Se nãoparticiparam, então o plano deverá levar isso emconsideração, tanto no que se refere aos detalhes doconteúdo quanto à estrutura de sua apresentação. Oplano deve também considerar que possíveisfinanciadores, políticos e executivos de turismo tambémestarão revisando esse documento, fato que ressalta anecessidade de torná-lo um documento de fácil

O rio Usumacinta é o limite do Parque Nacional Sierra Del Lacandón e também afronteira entre a Guatemala e o estado de Chiapas, no México. © Andy Drumm

Page 77: Ecotourism Development

85Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

compreensão por parte de pessoas que não estãofamiliarizadas com as áreas protegidas. Em geral, asrecomendações são:

❖ trabalhar em cima do que as áreas protegidas jápossuem em termos de esforços de planejamentoanteriores (por exemplo, um plano geral de gestão),infra-estrutura, corpo de funcionários e gerentes,reconhecendo que certas mudanças serão necessárias;

❖ ser consistente e estar integrado a outros programasde gestão, como o Proteção, Educação Ambiental eGestão de Recursos (Protection, EnvironmentalEducation and Resource Management);

❖ estar estruturado e ter dados registrados de forma queos funcionários da área protegida sejam capazes deaceitar e executar o plano com o mínimo esforço e amáxima compreensão;

❖ incluir um nível de detalhes coerente com os tipos derecomendações feitas e com a especialidade técnicados funcionários da área protegida e de outraspessoas que estarão executando o plano.

Quadro 4.1 Concepção do Ecoturismo no ParqueNacional Sierra del Lacandón

O ecoturismo no PNSL será caracterizado por ummovimento relativamente constante, com baixo índice devisitantes de diversos tipos, que se enquadram em duascategorias gerais:

1) interesse geral em história natural e cultural da Europa edos Estados Unidos, exigindo acesso relativamente fácil eacomodações confortáveis em hotéis e pousadasecológicas;

2) geralmente jovens, mais aventureiros, com interessesgerais similares, que acamparão em sítios designadosdentro do parque e ficarão em comunidades locais.

Todos pagarão um taxa de entrada à administração doparque, e serão acompanhados por um guia treinado, dacomunidade local. Geralmente, as visitas serão divididasentre visitantes de um dia e estadas de uma ou duas noites.

Com o tempo, o número de visitantes poderá chegar a 10 e15 mil por ano. O parque produzirá renda suficiente parafinanciar atividades de gestão de ecoturismo e também umexcedente para atividades de conservação adicionais.

(adaptado de Moore e col. 2000)

Quadro 4.2 Objetivos do PGE do ParqueNacional Sierra del Lacandón, na Guatemala

1. encorajar um programa de turismo diversificado queofereça oportunidades e atividades para diferentessegmentos do mercado turístico.

2. servir de modelo para o desenvolvimento de atividadesde ecoturismo para outras áreas protegidas, naGuatemala.

3. gerar renda para a conservação do Parque NacionalSierra del Lacandón.

4. aprimorar o conhecimento da população local, dopúblico em geral e dos visitantes do parque sobre osrecursos naturais e culturais das áreas, por meio deatividades educacionais e esclarecedoras.

5. envolver as comunidades e a população local, tanto dedentro como das adjacências do parque nacional, afim de que elas se beneficiem com as atividades deecoturismo.

(adaptado de Moore e col. 2000)

Atividades

Objetivo 1 Objetivo 2

Objetivo1

Objetivo2

Estratégia 1 Estratégia 2 Estratégia 1 Estratégia 2

Atividades Atividades

Objetivo1

Objetivo2

Atividades Atividades

Objetivo1

Objetivo2

Atividades Atividades

Objetivo1

Objetivo2

Atividades

Figura 4.1 A Estrutura de um Plano de Gestão de Ecoturismo (PGE)

Page 78: Ecotourism Development

86 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Dimensões de um PGEA extensão de um plano finalizado irá variar de acordocom a sua eficácia, que também dependerá do tempo eda disponibilidade de orçamento. Porém, um PGEtípico terá um total entre 50 e 100 páginas, incluindomapas e gráficos. Isso provavelmente será dividido, deforma igual, entre os resultados do Diagnósticoreunidos na Avaliação Total do Sítio e no Plano de açãodescrito abaixo.

Estrutura de um PGE

A. Concepção, Objetivos e Estratégias

Concepção. Os planejadores necessitam apresentarsua concepção geral sobre o que o ecoturismo irásignificar para a área protegida. Essa concepção,normalmente, consistirá de poucos parágrafos bemelaborados que apresentem uma projeção concisa eabrangente de como será a área protegida, após váriosanos de ecoturismo bem sucedido. Alguns tópicos quedeverão ser abordados são o envolvimento dacomunidade, os níveis e tipos de atividades turísticas, ageração de renda e as mudanças que serão feitas nagestão da área protegida. Por exemplo, ver quadro 4.2.

Objetivos. Também é importante especificar osobjetivos para o desenvolvimento do ecoturismo na áreaprotegida. Normalmente, esses objetivos derivam dosprincípios básicos sustentados pelo conceito de

ecoturismo: turismo de baixo impacto, benefícios para acomunidade regional, conservação do financiamento eeducação ambiental. Esses objetivos, provavelmente,permanecerão constantes no futuro, embora algumasdas atividades designadas para a sua execução possamser alteradas de acordo com as circunstâncias.

Estratégias. O desenvolvimento de uma estratégia éum passo fundamental após a definição dos Objetivosgerais do plano. É um passo intermediário entre oestabelecimento dos Objetivos e a definição deAtividades específicas para realizá-los (ver figura 4.1). Odesenvolvimento de uma estratégia transforma osObjetivos abstratos em realidade. Os objetivos e asatividades, por sua vez, levam as Estratégias a um nívelmais prático.

O desenvolvimento de uma estratégia deverá serdirecionado para a solução das principais ameaças esituações críticas definidas no caderno de análises, e/ouno processo de Planejamento de Conservação de Sítio,bem como para assegurar que a atividade turística sejarealmente ecoturismo. As estratégias podem ser Diretasou Indiretas em sua abordagem. Um exemplo de umtipo Direto de estratégia seria: “Diminuir o impacto doturismo negativo no Rio Vermelho, por meio daimplementação de tecnologia de baixo impacto”. Uma

Quadro 4.3 Estratégias de Gestão doEcoturismo

1. Estratégia de Implementação: Permitir o avanço emoutras áreas da administração do parque, ativar oecoturismo em estágios flexíveis.

2. Coordenação / Cooperação: Trabalhar intensivamentecom as comunidades regionais e outros grupos eautoridades locais, bem como com as operadoras deturismo, os guias, as ONGs, organizações nacionais,autoridades mexicanas e muitas outras, a fim deassegurar que os níveis adequados de coordenação ea cooperação sejam alcançados.

3. Financiamento: Implementação financeira do Planoutilizando quatro fontes diferentes:- Atividades de ecoturismo- Investimento do setor privado na infra-estrutura doturismo

- Orçamento governamental - Doações e empréstimos originários de programasassistenciais bilaterais e multilaterais.

(adaptado de Moore e col., 2000)

Quadro 4.4 Estruturas dos Subprogramas

Nome dos Subprogramas

A. Descrição do Subprograma (o que está se tentando

realizar por meio desse subprograma?)

B. Estratégia

C. Objetivo Específico (um pouco do que deverá serquantificado e determinado, por exemplo, taxas deentrada coletadas em dois pontos de entrada, no prazode 18 meses).

D. Principais atividades; para cada atividade:1. Título2. Descrição da atividade (descrição breve do que será

feito)3. Responsabilidade da implementação (quem fará e

com a ajuda de quem, incluindo organizações,comunidades, etc.?)

4. Pré-requisitos para a implementação (o que precisaser feito antes de se começar? Que outras atividadessão necessárias, que materiais, ou que funcionários?Que reuniões, etc.?)

5. Onde acontecerão essas atividades?6. Custo (uma estimativa do custo do projeto, fora os

custos com pessoal já contratado)

Page 79: Ecotourism Development

87Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

abordagem Indireta seria: “Encorajar a capacidade deconstrução nas comunidades adjacentes às áreasprotegidas”. A seguir, alguns exemplos de Estratégiaspossíveis:

Existem diferentes abordagens para se apresentarestratégias em um PGE. A abordagem escolhida precisalevar em consideração as pessoas que estarão utilizandoesse plano, bem como a organização da área protegida.A consideração final é que a pessoa responsável peloPrograma de Ecoturismo seja capaz de adotar esse Planoe implementá-lo com o mínimo de dificuldade.

As estratégias para um Programa de Ecoturismotambém podem ser agrupadas em Subprogramas (verquadro 4.4), tais como Desenvolvimento de Infra-estrutura, Sistema de Guia Turístico, EducaçãoAmbiental, Relação entre Comunidades, InterpretaçãoAmbiental, Sistema de Taxas (ou Geração de Renda),Gestão de Concessão e Administração. Para cadaestratégia dentro de um Subprograma, devem serpreparados Objetivos específicos e, a seguir, devem serorganizadas Atividades para implementar essasEstratégias e esses Objetivos.

O principal objetivo deverá ser apresentar todas asinformações necessárias, de forma que o administradordo sítio/área protegida considere-as acessíveis e úteis.Falando de forma geral, as perguntas O que, Quem,Onde e Como deverão obter suas respostas nessasinformações. Também é importante definir objetivosque possam ser utilizados mais tarde, para medir oprogresso na implementação do plano.

B. ObjetivosPara cada estratégia deve-se desenvolver uma série deobjetivos específicos e pragmáticos, que serão atingidosse os esforços forem considerados bem sucedidos.Objetivos são afirmações específicas que detalham asrealizações desejadas, ou resultados de um projeto ouprograma. Se o projeto é bem conceituado e bemplanejado, as realizações dos objetivos levarão aocumprimento das metas do projeto. Um bom objetivosegue os critérios do quadro 4.5.

Definir um objetivo que siga todos esses critérios nãoé tão difícil como parece.

A seguir, alguns exemplos de objetivos bons:

❖ Após três anos, duas trilhas sinalizadas serãoprojetadas, construídas, e ativadas.

❖ Ao final do quinto ano, a renda das famílias queparticiparam desse projeto de produção artesanal teráaumentado em até pelo menos 25%.

❖ Após dois anos, a quantidade de lixo coletada natrilha sinalizada na Green Mountain terá diminuídopor volta de 75%.

Quadro 4.5 Critérios para a Definição deObjetivos

❖ Orientados pelo impacto. Representa as mudançasdesejadas em fatores de ameaça crítica que afetam osobjetivos do projeto.

❖ Estimado. Definível em relação a alguma escalapadrão (números, porcentagens, frações, outodos/nenhum estado).

❖ Tempo determinado. Executável dentro de um períodoespecífico.

❖ Específico. Definido claramente de forma que todos osparticipantes do projeto tenham a mesma compreensãodo significado dos termos do objetivo.

❖ Praticável. Executável e apropriado dentro do contextodo projeto do sítio e das possibilidades de gestão dasautoridades.

(adaptado de Margoluis e Salafsky, 1998)

Quadro 4.6 Critérios para o Desenvolvimentode Atividades

1. Interligada. As atividades deverão sempre estarinterligadas a um objetivo, ou a objetivos específicos.

2. Focalizada. Ao contrário dos objetivos, que precisamser orientados pelo impacto, as atividades necessitamser claramente orientadas pelo processo. Elas devemser escritas como sendo afirmações das açõesdirecionadas que o projeto/programa irá empreender.Devem incluir informações sobre como serão feitas asatividades (que tarefas precisam ser executadas), quemserá responsável pela execução, quando e onde serãoexecutadas.

3. Viável. Assim que as atividades começarem a serdesenvolvidas, deve-se observar que, para cadaobjetivo há, praticamente, uma infinidade decombinações de atividades que podem serempreendidas para se atingir o objetivo. Deve-seselecionar as atividades mais viáveis. Em particular, énecessário selecionar aquelas mais racionais de acordocom a disponibilidade do programa e das fontes erestrições projetadas.

4. Conveniente. As atividades são apropriadasconsiderando-se o contexto local? É adequadoorganizar uma cooperativa de guias se existiremapenas dois guias ou se não houver interesse nomomento?

(Margoluis e Salafsky, 1998)

Page 80: Ecotourism Development

88 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

❖ No final do primeiro ano, duas operadoras deturismo estarão participando ativamente do ComitêConsultivo de Ecoturismo (Ecotourism AdvisoryCommittee).

❖ Durante os primeiros seis meses, o parque deveráformar um Programa de Comitê Consultivo deEcoturismo com o propósito de dar assistência aoprograma diretor para implementar programas deatividades, avaliar o progresso do programa e darconselhos no que se refere a melhor forma de lidarcom o setor privado e outras instituições.

❖ A trilha sinalizada na Blue Mountain deverá serconstruída e estará ativa até o final do segundo ano; atrilha sinalizada no Rapid River será totalmenteimplementada até o final do terceiro ano.

❖ A renda dos empresários locais terá aumentado ematé 50% até o final do terceiro ano.

❖ Cinco guias turísticos de comunidades locais estarãotreinados e trabalhando até o final do primeiro ano.

C. AtividadesApós a determinação dos objetivos, deve-se desenvolveratividades para implementação dos objetivos. Asatividades devem seguir os critérios do quadro 4.6.

Alguns exemplos de atividades:

Objetivo 1. Após três anos, duas trilhas sinalizadasserão projetadas, construídas e ativadas.

Atividade 1. Trabalhar com a comunidade local ecom especialistas para selecionar um sítio específicoe desenvolver um plano de sítio para as trilhas,incluindo sinalização e textos, e implementá-los noGreen River e nos Rock Cliffs. Também deverá serpreparado um orçamento para cada trilha.

Atividade 2. Contratar trabalhadores dascomunidades locais para limpar as trilhas e prepararo caminho.

Atividade 3. Contratar os serviços de sinalização detrilhas e confecção de panfletos de sinalização.

B. ObjetivosPara cada estratégia deve-se desenvolver uma série deobjetivos específicos e pragmáticos, que serão atingidosse os esforços forem considerados bem sucedidos.Objetivos são afirmações específicas que detalham asrealizações desejadas, ou resultados de um projeto ouprograma. Se o projeto é bem conceituado e bemplanejado, as realizações dos objetivos levarão aocumprimento das metas do projeto. Um bom objetivosegue os critérios do quadro 4.5.

Definir um objetivo que siga todos esses critérios nãoé tão difícil como parece.

A seguir, alguns exemplos de objetivos bons:

❖ Após três anos, duas trilhas sinalizadas serãoprojetadas, construídas, e ativadas.

❖ Ao final do quinto ano, a renda das famílias queparticiparam desse projeto de produção artesanal teráaumentado em até pelo menos 25%.

❖ Após dois anos, a quantidade de lixo coletada natrilha sinalizada na Green Mountain terá diminuídopor volta de 75%.

❖ No final do primeiro ano, duas operadoras deturismo estarão participando ativamente do ComitêConsultivo de Ecoturismo (Ecotourism AdvisoryCommittee).

❖ Durante os primeiros seis meses, o parque deveráformar um Programa de Comitê Consultivo deEcoturismo com o propósito de dar assistência aoprograma diretor para implementar programas deatividades, avaliar o progresso do programa e darconselhos no que se refere a melhor forma de lidarcom o setor privado e outras instituições.

❖ A trilha sinalizada na Blue Mountain deverá serconstruída e estará ativa até o final do segundo ano; atrilha sinalizada no Rapid River será totalmenteimplementada até o final do terceiro ano.

❖ A renda dos empresários locais terá aumentado ematé 50% até o final do terceiro ano.

❖ Cinco guias turísticos de comunidades locais estarãotreinados e trabalhando até o final do primeiro ano.

C. AtividadesApós a determinação dos objetivos, deve-se desenvolveratividades para implementação dos objetivos. Asatividades devem seguir os critérios do quadro 4.6

Alguns exemplos de atividades:

Objetivo 1. Após três anos, duas trilhas sinalizadasserão projetadas, construídas e ativadas.

Atividade 1. Trabalhar com a comunidade local ecom especialistas para selecionar um sítio específicoe desenvolver um plano de sítio para as trilhas,incluindo sinalização e textos, e implementá-los noGreen River e nos Rock Cliffs. Também deverá serpreparado um orçamento para cada trilha.

Atividade 2. Contratar trabalhadores dascomunidades locais para limpar as trilhas e prepararo caminho.

Page 81: Ecotourism Development

89Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Atividade 3. Contratar os serviços de sinalização detrilhas e confecção de panfletos de sinalização.

D. ZoneamentoZoneamento é um sistema que determinaadequadamente a utilização da área protegida emdiferentes partes de seu território. As atividadesturísticas serão executadas de forma e com intensidadevariadas, e o zoneamento deverá refletir isso. VerVolume II, Parte I, Capítulo 2 para informaçõesdetalhadas sobre zoneamento.

E. Facilitação da ImplementaçãoNos cadernos anteriores, um grande número deatividades foi descrito, porém, os administradores terãomuito trabalho para decidir onde começar e o que fazerprimeiro. Abaixo, estão esquematizados três métodospara implementação do PGE.

1. CronologiaOs planejadores deverão colocar as Atividades em umesquema organizado e sistemático, que facilitará aoadministrador a determinação do que precisa ser feito ede quando deverá ser feito. Uma maneira de decidir aordem das atividades é determinar o período durante oqual o PGE deverá ser implementado e, a seguir, dividiresse período em vários estágios. Esses estágios poderãoser períodos de um ano. Entretanto, devido aos atrasoshabituais que ocorrem durante uma implementação,talvez, seja mais realista utilizar três ou quatro estágiosde execução, sem associá-los a um cronograma. Todasas atividades planejadas devem ser designadas a umdesses estágios. Isso dará aos administradores umareferência básica sobre a seqüência em que as atividadespoderão ser realizadas.

Normalmente, os administradores da área protegidaestarão ansiosos para dar inicio a implementação,porém, estarão inseguros sobre o que exatamenteprecisa ser feito primeiro. É de grande valia para osplanejadores preparar um caderno resumido quedescreva, detalhadamente, o que precisa ser feitodurante os primeiros seis meses até um ano doPrograma. Particularmente, isso é de grandeimportância quando a pessoa contratada para dirigir oPrograma de Ecoturismo não tem a experiêncianecessária para executar o Programa do início. Comalgumas instruções iniciais detalhadas, a tarefa torna-semuito mais fácil.

2. Planos específicos para o sítioOutro importante método para facilitar aimplementação do PGE é a preparação de planos

individuais de sítio para os sítios de visitação maisimportantes. Esses planos deverão conter detalhes detodas as ações necessárias ao seu desenvolvimento epara a seqüência da implementação. Se possível,deverão ser preparados mapas detalhados para indicaronde deverá estar localizada a infra-estrutura proposta.

3. Comitê Consultivo de EcoturismoOutra opção para facilitar a implementação de PGE écriar um Comitê Consultivo de Ecoturismo, que deveráse reunir freqüentemente para aconselhar ocoordenador do Programa de Ecoturismo. Emcondições ideais, os membros desse Comitê serãopessoas familiarizadas com ecoturismo e áreas

Quadro 4.7 Check-list para o PlanejamentoEstratégico e Caderno de Recomendações doPGE

Você já:

Definiu a concepção para seu Plano de Gestão deEcoturismo?

Determinou algumas metas importantes para guiarseu plano?

Estabeleceu atividades de ecoturismo dentro de seusítio de acordo com o esquema de divisão de zonase/ou adaptou um sistema anterior para coincidircom a atividade turística que você está propondo?

Criou uma série de subprogramas de ecoturismo querefletem os diferentes tipos de atividades quenecessitarão de supervisão gerencial/administrativa?

Dentro de cada subprograma, desenvolveu umasérie de estratégias que serão seguidas para guiar aimplementação?

Para cada estratégia, desenvolveu uma série deatividades detalhadas para executar os objetivos?

Desenvolveu uma cronologia que estabelece asAtividades a serem colocadas em prática em umalista seqüencial, de acordo com um formato anual oupor Fase?

Desenvolveu planos de sítios detalhados paraaqueles sítios que serão muito utilizados pelosturistas ecológicos?

Recomendou a criação de um Comitê Consultor deEcoturismo para dar assistência aos administradoresdos sítios na implementação e avaliação do PGE?

Recomendou como o PGE será monitorado eavaliado?

Page 82: Ecotourism Development

protegidas e que provavelmente participaram doprocesso de planejamento. Eles podem ser aliados degrande valor para a realização de Programa de objetivos.

4. Monitoramento e AvaliaçãoO PGE deverá recomendar procedimentos emecanismos para a avaliação do progresso relativo arealização das metas e objetivos do plano. Deverátambém sugerir formas de monitorar o impacto que oturismo está tendo nos recursos físicos e culturais dasáreas, bem como os fatores econômicos e o nível deexpectativa dos visitantes. Ver Volume II. Parte I,Capítulo 6, para mais informações.

F. AnexosVários dados serão acumulados no processo de coletarinformações para o processo de planejamento edesenvolvimento do PGE. As informações sintetizadasdeverão ser apresentadas no PGE, pois os planejadorespodem querer preservar, nos Anexos do PGE, a maioriados dados coletados. Dessa forma, as informaçõescontinuarão disponíveis, porém, não interrompem ofluxo do PGE com detalhes desnecessários. Abaixo,alguns exemplos dessas informações:

❖ Resultados de pesquisas realizadas na fase dediagnóstico;

❖ Estatísticas de visitação;

❖ Lista de animais/plantas encontrados na áreaprotegida;

❖ Lista de projetos de ecoturismo encontrados nascomunidades relacionadas à área protegida;

❖ Estudos mercadológicos

G. Mapas e Outros GráficosMapas e outros gráficos, incluindo diagramas e tabelassão parte importante do PGE, uma vez querepresentações visuais são compreendidas maisrapidamente pela maioria dos leitores. Os mapasdeverão ser usados para indicar:

❖ localização da área protegida, tanto na região comono país;

❖ atrações naturais e culturais dentro e nas adjacênciasda área protegida;

❖ sistema de divisão de zonas

❖ localização e detalhes dos sítios individuais de visita

❖ população humana

❖ infra-estrutura (estradas, trilhas, guarita, hotéis, etc.).

Outros gráficos deverão demonstrar:

❖ estatísticas de visitação;

❖ programação desenvolvida para sítios individuais devisita;

❖ preferências dos visitantes;

❖ capacidade de visitação e acomodação da infra-estrutura existente

Publicação e Distribuição do PlanoAntes da publicação, o rascunho final deverá sersubmetido aos principais interessados a fim de sabersua opinião e detectar quaisquer erros que possamconstar do documento. A opinião de cada um deles farácom que eles se entusiasmem pelo PGE, um fatoressencial para que seja implementado.

Após o termino do PGE, este deve ser publicado edistribuído às pessoas que necessitam conhecê-lo:operadoras de turismo, guias turísticos, agências deturismo, doadores internacionais, ministro doplanejamento, secretário de turismo, universidades,governos e comunidades locais, etc.

Há muita competição no fornecimento deexperiências ecoturísticas essencialmente similares.Normalmente, o ecoturismo em áreas protegidas precisaser promovido e negociado no mercado a fim de obtersucesso. Um PGE bem feito e bem organizado é umexcelente primeiro passo nessa direção. Não é apenasuma ferramenta de gestão para proteger osadministradores da área, mas também uma ferramentade publicidade/arrecadação de fundos.

90 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

ReferênciasMargoluis, R. e N. Salafsky.1998. Measures of success:Designing, managing, and monitoring conservation anddevelopment projects. Washington D.C.: Island Press.

Moore, A., A. Drumm, e J. Beavers. 2000. Plan de manejopara el desarrollo del ecoturismo en el Parque Nacional Sierradel Lacandón. Serie de Coediciones Técnicas No. 15. ConsejoNacional de Areas Protegidas (CONAP), Fundación Defensoresde la Naturaleza, The Nature Conservancy.

Fontes

PROARCA/CAPAS www.capas.org;guide.htmEsse excelente web site disponibiliza inúmeros exemplos deplanos de gestão de área protegida, inclusivo relativos aoturismo. Esse projeto é parte do Programa Regional de MeioAmbiente para a América Central e opera regionalmente emBelize, na Guatemala, em El Salvador, em Honduras, naNicarágua, na Costa Rica e no Panamá. O objetivo doPROARCA/CAPAS é fornecer assistência financeira, técnica epolítica para a gestão de áreas protegidas e a conservação dabiodiversidade na América Central.

Page 83: Ecotourism Development

91Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Agora que você já tem um Plano de Gestão deEcoturismo (PGE), é hora de iniciar sua implan-

tação. Começar da maneira correta é, freqüentemente, aparte mais difícil de todo o processo. Muitos fatores sãoessenciais para o êxito do programa, e podem ser divi-didos em duas categorias: fatores relacionados aoquadro de pessoal e fatores programáticos.

Fatores Relacionados ao Quadro de PessoalA. Diretor do Programa de Ecoturismo. O Programade Ecoturismo deve ter uma pessoa qualificada cujaúnica responsabilidade seja a implantação do PGE. Essapessoa, que neste documento será chamada de"Diretor", é a chave para um programa de ecoturismobem-sucedido. O Diretor deve ter experiência tanto naindústria do turismo quanto na conservação de áreasnaturais. Será ainda melhor se tiver experiência emadministração de recursos humanos e na áreaempresarial. O Diretor é responsável por assegurar quetodas as atividades de ecoturismo sejam realizadas deacordo com o PGE, e que estejam em conformidadecom o conceito de ecoturismo. Ele também éresponsável por assegurar que o Programa sejaintegrado de forma adequada ao restante da estruturade gestão da área protegida, como, por exemplo, aosprogramas de Gestão e de Proteção de Recursos. ODiretor também deverá assegurar que todo o quadro depessoal destinado aos Programas de Ecoturismo recebao treinamento adequado.

B. Quadro de Pessoal do Programa de Ecoturismo.Além do Diretor do Programa, deve haver outrosmembros da equipe que trabalhem tanto em regime dejornada parcial quanto de jornada integral naimplantação das recomendações do PGE. Essesmembros variarão de guardas-florestais ou segurançasque trabalhem na cobrança de ingressos e na supervisãodo comportamento dos visitantes, a especialistas emanálise do meio ambiente e em educação ambiental.Também pode ser necessária uma equipe parasupervisionar as concessões e outros envolvimentos do

setor privado no sítio. Se o ecoturismo estiver gerandoreceitas significativas, a administração da área poderáprecisar de um contador para gerir de forma adequadaessas receitas.

C. Capacitação de recursos humanos. O ecoturismoé uma estratégia de gestão relativamente nova querequer gerenciamento intensivo e bem direcionado paraser bem-sucedida. Na maioria dos casos, o pessoaldisponível para a implantação de um PGE não terá osconhecimentos adequados, necessários para a realizaçãode um bom trabalho. A maior parte da equipe, porém,pode ser treinada para realizar o trabalho corretamente,treinamento esse que deve ser providenciado pelaadministração do sítio ou da área protegida. Otreinamento necessário variará de um curso geral sobreecoturismo a treinamento mais especializado em gestãode concessões. Outros treinamentos podem incluir:análise do meio ambiente e educação ambiental, projetoe manutenção de trilhas, técnicas de monitoramento deimpacto — incluindo Limites de Modificação Aceitáveis(LAC), técnicas de gestão de visitação, conhecimentosna área de comunicações e relações humanas,contabilidade, captação de recursos e relações públicas,e técnicas suplementares.

D. Comitê Consultivo de Ecoturismo. O PGE deveter sido preparado por meio de um processoparticipativo, e sua implantação também deve contarcom a participação de diversos interessados. EsseComitê tem três papéis principais a desempenhar: (1)aconselhamento ao Diretor do Programa de Ecoturismocom relação à implantação do PGE, especialmente noque se refere a questões de ordem técnica e àquelasrelacionadas à indústria do turismo, (2) fornecer apoioefetivo, tanto no campo quanto na sede, quandonecessário, e (3) servir como canal de comunicação narespectiva esfera de influência, por exemplo, naindústria do turismo ou na comunidades. Os membrosdo Comitê devem se envolver, por exemplo, nofornecimento de apoio logístico e de treinamento,

Capítulo 5

Passo 4: Implantação do Plano de Gestão

Page 84: Ecotourism Development

92 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

quando necessário. Também devem ser defensoresentusiásticos do ecoturismo e de seu respectivo sítio ouárea protegida. Essas pessoas devem ser selecionadascom base em sua participação no processo deplanejamento do PGE. Devem constituir uma amostrarepresentativa da indústria do turismo, especialmenteno âmbito local, bem como de órgãos governamentais ecomunidades locais envolvidas nas atividades deturismo e com o sítio de ecoturismo.

Fatores ProgramáticosE. Monitoramento. Nunca é demais enfatizar aimportância do freqüente monitoramento dos impactosdo programa. O monitoramento geralmente se refere àmedição dos impactos econômicos, sócio-culturais ouecológicos de um programa ou atividade sobre oambiente natural ou humano de um sítio deecoturismo. Essa medição, em regra, consiste noestabelecimento de indicadores e padrões para diversosparâmetros representativos dos impactos potenciais, quepodem, então, ser monitorados regularmente paradeterminar se os padrões estabelecidos estão sendoobedecidos ou não. Se não estiverem, a gestão da áreadeverá modificar sua abordagem para corrigir asituação. Tais indicadores e padrões devem serdefinidos ao menos parcialmente no PGE, casocontrário, pode ser necessária uma assistência técnicapara elaborar um plano de monitoramento. Maisinformações a respeito de monitoramento podem serencontradas no Volume II, Parte I.

F. Avaliação. Refere-se à revisão regular dos progressosdo Programa em relação à consecução das metas eobjetivos estabelecidos no PGE e no plano anual detrabalho. Esse deve ser um processo formal, conduzido,em regra, anualmente, no qual toda a equipe e todos osinteressados se reúnem para discutir o andamento doprojeto e avaliar cada uma das atividades do Programa.Por vezes é útil contratar um avaliador externo eobjetivo para gerir o processo. Os resultados daavaliação do Programa devem ser utilizados naelaboração do plano de trabalho para o ano seguinte,bem como na atualização do PGE, quando fornecessário. Há mais informações sobre avaliação noCapítulo 6, “Passo 5: Avaliação do Grau de Sucesso”.

G. Planos Anuais de Trabalho. Destinados àimplantação do programa de ecoturismo, devem serpreparados a cada ano com base no PGE. Planos detrabalho são ferramentas importantes para manter oprograma no caminho correto. Devem ser detalhadoscom relação a quem fará o que, onde, quando e comque recursos. Dependendo do sistema administrativo

em uso, o plano anual de trabalho também precisará sertransformado em um plano de trabalho mensal outrimestral.

H. Sistemas de Prestação de Contas. São elementosimportantes de qualquer sistema administrativo,especialmente um tão importante quanto um programade ecoturismo. Os membros da equipe com função desupervisão ou outras funções importantes devemprestar contas periodicamente e por escrito ao Diretordo Programa, tanto com relação às suas atividadesquanto com relação à consecução das metas e objetivosdo programa. Embora muitos possam se irritar comessa exigência, ela é fundamental para uma gestãoresponsável e profissional de um programa importante.Sem um registro escrito do que acontece, o Diretor nãotem elementos para tomar decisões importantes para ofuturo, nem justificar mudanças que eventualmenteprecisem ser feitas. A prestação de contas éparticularmente importante no que se refere às questõesfinanceiras, como cobrança de ingressos e/ouimplementação de atividade, como manutenção detrilhas ou monitoramento de indicadores críticos.

Planos dos SítiosOs planos dos sítios são essenciais para qualquerprograma de ecoturismo que envolva uma concentraçãode atividades turísticas, tais como infra-estruturassignificativas (por exemplo, uma pousada ecológica etrilhas associadas, um centro de visitação ou um localde acampamento). Se os planos não forem feitos para oPGE, precisarão ser desenvolvidos durante a fase deimplantação. Os planos dos sítios são mapasdetalhados, em grande escala, do sítio específico noqual as atividades de ecoturismo ocorrerão. Sãoimportantes porque permitem aos planejadores:

❖ localizar precisamente a infra-estrutura de modo aminimizar os impactos sobre os recursos naturais dosítio, e

❖ visualizar o melhor esquema para otimizar orelacionamento entre os diferentes elementos deinfra-estrutura no sítio.

Eles também permitem aos gestores de programas deecoturismo supervisionar e planejar a construção dainfra-estrutura necessária.

Os planos dos sítios precisam ser elaborados porprofissionais e técnicos especializados em mapeamentode sítios, em SPG e em projetos de infra-estrutura deecoturismo. Existem mais informações a respeito deplanejamento de sítios no Volume II, Parte I.

Page 85: Ecotourism Development

93Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Análise do Principal InteressadoNa maioria dos sítios de ecoturismo, é essencialtrabalhar efetivamente com as comunidades locais paraque o programa tenha êxito. Em geral, essa éconsiderada a tarefa mais difícil que um Programa deEcoturismo precisa realizar. O PGE deverá descrever oque precisa ser feito para envolver as populações ecomunidades locais. O que pode estar faltando é umtipo de informação estratégica necessária paraimplementar, de fato, as recomendações do PGE, queexigem:

❖ identificação e descrição dos mecanismos deorganização existentes na comunidade;

❖ identificação formal e informal dos líderes dacomunidade;

❖ identificação das capacidades e conhecimentos dapopulação local, já existentes e potenciais, comrelação às atividades de ecoturismo; e

❖ identificação de atitudes, valores e crenças quepossam favorecer ou inibir o desenvolvimento deatividades de ecoturismo nas comunidades locais.

Esse estudo da Análise das ComunidadesInteressadas deve ser realizado por um sociólogo ouantropólogo que possa coletar as informaçõesnecessárias de maneira neutra e imparcial. É importanteque eles não criem expectativas na população local comrelação ao potencial do turismo.

Implantação Adaptativa de Gestão1

Na maioria dos projetos de conservação, e aimplementação de um PGE não se constitui emexceção, o trabalho nunca está totalmente terminado.Não importa quão bem planejado seja o projeto ou oprograma, ele nunca fica exatamente como se pretendiaque fosse. Essa incerteza não é, necessariamente, algonegativo. De muitas maneiras, os resultados maisinteressantes, e as descobertas que levam a avançosverdadeiros no que se refere à compreensão, são aquelesque nunca se esperou que ocorressem. Esses resultadosinesperados poderão trazer muitos benefícios se lhes fordada a devida atenção e se forem levados emconsideração no momento da ação. Para tomaremprestada uma frase de Louis Pasteur, “A sortefavorece a mente bem preparada”.

A mudança de condições em um sítio ou em umaárea protegida e os resultados inesperados dasatividades do projeto significam que todos sempredevem estar preparados para responder a novas

situações a fim de manter o bom andamento do projeto.A adaptação é um processo constante. Dessa forma, oPGE deve ser continuamente modificado e adaptado deacordo com as informações disponíveis para que sepossam alcançar as metas e objetivos do projeto.Mudanças importantes, porém, não devem ser feitas deforma unilateral. Sempre se devem consultar osinteressados mais importantes e utilizar os recursos doComitê Consultivo de Ecoturismo como fonte de ajudanesse processo.

Se algo no PGE não está funcionando, modifique-o!Se isso não for feito, é muito provável que o projetovenha a ser prejudicado. O sucesso geralmente é umalvo móvel, e a única maneira de alcançá-lo é sendoflexível e aberto a mudanças.

ReferênciaMargoluis, R. e N. Salafsky. 1998. Measures of Success:Designing, managing, and monitoring conservation anddevelopment projects. Washington D.C.: Island Press.

A. Existe um Líder do Programa de Ecoturismo?B. Existe pessoal suficiente para implementar o PGE?C. O pessoal existente tem a capacitação necessária

para implementar o PGE?D. Existe um Comitê Consultivo de Ecoturismo

adequado e em atividade?E. Existe um Programa de Monitoramento adequado

para monitorar os indicadores representativos dosmais prováveis e importantes impactos do turismo?

F. A administração do Programa de Ecoturismo fazuma avaliação anual do progresso feito comrelação à consecução dos objetivos do programa?

G. O Programa de Ecoturismo prepara Planos deTrabalho Anuais com base no PGE?

H. Existe um Sistema de Prestação de Contasadequado que represente de forma apropriadaas atividades desenvolvidas pelos membros daequipe?

I. Existem Planos de Sítio detalhados disponíveispara os sítios nos quais ocorrem as atividades deecoturismo?

J. Foi feita uma Análise da Comunidade de Interessadosdentro das comunidades locais importantes?

Fator de Implementação do PGE sim / não

Figura 5.1 Check-list para a Implementação deum PGE

1 Seção adaptada de Margoluis e Salafsky, 1998.

Page 86: Ecotourism Development

FontesMoore, A., A. Drumm, e J. Beavers. 2000. Plan de manejopara el desarrollo del ecoturismo em el Parque Nacional Sierradel Lacandón. Serie de Coediciones Técnicas No. 15. ConsejoNacional de Areas Protegidas (CONAP), Fundación Defensoresde la Naturaleza, The Nature Conservancy.

PROARCA/CAPAS www.capas.org;guide.htmEsse excelente web site disponibiliza inúmeros exemplos deplanos de gestão de área protegida, inclusivo relativos aoturismo. Esse projeto é parte do Programa Regional de MeioAmbiente para a América Central e opera regionalmente emBelize, na Guatemala, em El Salvador, em Honduras, naNicarágua, na Costa Rica e no Panamá. O objetivo doPROARCA/CAPAS é fornecer assistência financeira, técnica epolítica para a gestão de áreas protegidas e a conservação dabiodiversidade na América Central.

94 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Page 87: Ecotourism Development

95Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

IntroduçãoÀ medida que se passa lentamente do estágio do“trabalho em curso” para a fase de “demonstração desítios” de ecoturismo é importante identificar osindicadores de sucesso. É necessário manter umaindicação de onde se está e se esse é ou não o caminhoque levará à implantação de um Plano de Gestão deEcoturismo (PGE) e ao cumprimento das metas eobjetivos estabelecidos. A avaliação do programa deveser parte da rotina de gestão de um sítio. Infelizmente,muitos gestores não avaliam sistematicamente comoestão se saindo com relação à implementação dasrecomendações de planejamento e à tomada de decisõesnecessárias para permanecer na direção correta. A fimde fazer essa avaliação, os gestores precisam de direção,ou de indicadores, para ajudá-los no processo detomada dessas decisões.

Existem três objetivos básicos a serem atingidos paraque o ecoturismo seja bem-sucedido:

1. Redução da ameaça aos objetos da conservação.

2. Geração de renda para a conservação.

3. Benefícios para as comunidades locais.

O ecoturismo é mais que uma atividade econômica,e pode ajudar também na redução de ameaças àconservação do sítio, quer causadas pelo turismodescontrolado ou por outras atividades que causemimpacto negativo nos recursos naturais do sítio. Existemprogramas adequados para reduzir os problemas com aflora e a fauna? Os impactos culturais nas comunidadessão monitorados? Os residentes mantêm o acesso a suasáreas protegidas? As instalações turísticas seguem osprincípios de mínimo impacto? Os recursos naturaisestão mais bem protegidos por meio das visitações? Aconservação está avançando? De forma inversa, deve-sequestionar se as ameaças críticas identificadas noprocesso de planejamento estão de alguma forma sendoreduzidas com a implantação do PGE.

Novos postos de trabalho estão sendo criados nascomunidades? De que tipo são? Esses postos detrabalho estão ajudando a diversificar e fortalecer aeconomia local ou a estão tornando vulnerável àmedida que o ecoturismo se torna a indústriadominante? Qual é o panorama econômico de longoprazo para essa área? É extremamente importanteidentificar e acompanhar os pontos fortes e fracos doecoturismo ao longo do tempo.

Para medir o grau de sucesso de um PGE devem sercriados indicadores para avaliação periódica quereflitam as prioridades acima mencionadas. Umindicador básico é o progresso com relação àconsecução das metas e objetivos estabelecidos. Alémdisso, um programa de monitoramento de impacto queutilize a metodologia dos Limites de ModificaçãoAceitáveis (LAC – Limits of Acceptable Change) seconstitui em uma ferramenta poderosa para assegurarque as metas preestabelecidas sejam atingidas.

Ambos os métodos proporcionam diretrizes para oajuste de decisões de gestão, mas encaram os resultadosda implementação do projeto de maneira diferente. Ametodologia LAC envolve a previsão de certos tipos deimpacto resultantes do ecoturismo e o monitoramentode tais impactos, de modo a assegurar que eles nãoultrapassem os padrões estabelecidos pelos respectivosinteressados.

De modo geral, ambos os métodos envolvem a coletade informações de dois diferentes meios: o meio sócio-cultural e o meio ecológico. O desenvolvimento doecoturismo causa impacto em ambos. Os dois métodosenvolvem informações tanto quantitativas quantoqualitativas.

Os métodos quantitativos produzem dadosfacilmente representados por números, como respostasa pesquisas formais, registros de taxas de ingresso eregistros de empreendimentos financeiros.

Capítulo 6

Passo 5: Avaliação do Grau de Sucesso

Page 88: Ecotourism Development

Os métodos qualitativos produzem dados que nãosão facilmente sintetizados em forma numérica, comoatas de assembléias da comunidade e anotações geraisde observações. Os dados qualitativos normalmentedescrevem o conhecimento, as atitudes e ocomportamento das populações.

A combinação das abordagens quantitativa equalitativa no monitoramento ajudará a garantir que os

dados coletados fornecerão um quadro tão completoquanto possível do sítio em questão. Há ainda um efeitocruzado entre as técnicas quantitativa e qualitativa.Cuidadosamente conduzidos, os métodos qualitativospodem produzir resultados quantificáveis, e estudosquantitativos bem projetados podem proporcionar oentendimento de tópicos tipicamente qualitativos comoatitudes e opiniões.

Cumprimento de Metas e ObjetivosAs metas básicas para redução das ameaças, geração derenda e benefícios para a comunidade estabelecida noprocesso de PGE (ver Parte II, Capítulo 4) têmestratégias e objetivos específicos. Tais objetivos devemser mensuráveis e capazes de ser atingidos dentro deum período de tempo determinado. Devem fornecer abase para a avaliação do grau de sucesso daimplantação do PGE. A seguir, estão relacionados mais

alguns exemplos de objetivos específicos que vêmsendo usados para avaliar o progresso de um PGE:

❖ Em dois anos, um centro de visitação será construídoem Águas Calientes.

❖ Em três meses, deverá ser contratado um Diretor deEcoturismo.

❖ Durante o segundo ano de implementação do plano,três guardas do parque serão treinados em ecoturismoe gestão de visitação.

❖ A metodologia LAC será totalmente implantada até oquarto ano, com indicadores e padrões estabelecidospara monitorar os impactos da visitação nos trêsprincipais sítios de visitação, bem como para avaliar ograu de satisfação dos visitantes com sua experiênciano parque.

❖ Durante os seis primeiros meses, o parque deveconstituir um Comitê Consultivo de Programa deEcoturismo com o propósito de ajudar o diretor doprograma a implementar as atividades do programa,avaliar seu progresso e fornecer aconselhamentosobre a melhor forma de lidar com o setor privado eoutras instituições.

❖ A trilha interpretativa na Blue Mountain deve serconstruída e totalmente implantada até o final dosegundo ano; a trilha interpretativa em Rapid Riverserá construída e totalmente implantada até o final doterceiro ano.

96 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Sitio arqueológico de Piedras Negras, Parque Nacional de Sierra del Lacandón, Guatemala. © Andy Drumm

Page 89: Ecotourism Development

❖ Até o final do terceiro ano, a renda deempreendimentos locais deverá aumentar em 50%.

❖ Cinco guias turísticos provenientes da comunidadelocal serão treinados e estarão trabalhando até o finaldo primeiro ano.

❖ A caça ilegal diminuirá em 90% após dois anos.

O planejamento de objetivos adequados, porém, éapenas o primeiro passo. Os gestores também devem,sistematicamente, colher dados que documentem oprogresso em direção à consecução desses objetivos.Não basta sentar no final de um ano e avaliar quanto deum objetivo foi atingido. Dados específicos devemindicar exatamente quanto foi alcançado. Umametodologia para documentar os progresso em direçãoà consecução do objetivo deve ser parte de qualquerPGE. Determinar, por exemplo, se a renda doempreendedor local está crescendo ou não à taxadesejada pode requerer o preenchimento dequestionários periódicos. A aplicação dessesquestionários pode ser feita pelos gestores do sítio oudelegada a uma associação comercial local ou umauniversidade.

Para determinar se a caça ilegal está ou nãodiminuindo à taxa desejada será necessário que hajaconstante monitoramento dos sítios-chave emanutenção de registros acurados pelo pessoal do sítioou área protegida.

O trabalho Measures of Success: Designing,Managing, and Monitoring Conservation andDevelopment Projects (Avaliação do Grau de Sucesso:Projeto, Gestão e Monitoramento de Projetos deConservação e Desenvolvimento) (1998), de Margoluise Salafsky, traz uma excelente discussão sobre comoestabelecer objetivos mensuráveis e como monitorar suaimplantação.

Limites de Modificação Aceitáveis (LAC – Limits ofAcceptable Change)Se os planejadores do PGE usaram a metodologia LACpara estabelecer um sistema de monitoramento dosimpactos do turismo, deverá haver vários indicadores epadrões que podem ser utilizados para avaliar oprogresso da implementação do PGE. O LAC é umsistema específico para mensurar os impactos doturismo e deve ser aplicado para avaliar se os objetivosde reduzir ou mitigar tais impactos estão ou não sendoatingidos.

O LAC responde ao fato de que a modificação éinevitável, e estabelece os limites dentro dos quais as

modificações são aceitáveis, dirigindo seu foco para ascondições desejadas em um determinado sítio. Taiscondições podem ser determinadas pelos usuários dosítio, tanto atuais quanto potenciais, juntamente comseus gestores. Uma vez estabelecidas as condiçõesdesejadas, devem ser definidos os indicadores e padrõescorrespondentes que descrevam aspectos detalhadosdessas condições. Tal procedimento permite ao quadrode pessoal do sítio e outros monitorar esses indicadorespara garantir que as condições desejadas estão sendocumpridas (ver Volume II, Parte I, Capítulo 6, paramais informações sobre o processo LAC).

A maior parte dos indicadores derivados do processoLAC suprirá os gestores com dados indiretos relativos aseu progresso na implementação de intervenções maisdiretas, tais como gestão de visitações, desenvolvimentode infra-estrutura e programas de educação ambiental.Alguns dos indicadores mais comuns que podem serutilizados para essa finalidade são:

❖ níveis de satisfação do visitante com sua visita à áreaprotegida, a um sítio de visitação ou instalações emparticular, ou com os membros da equipe com osquais mantiveram contato;

❖ quantidade de bactéria E. coli encontrada na águapróxima a uma área de concentração de visitantes;

❖ quantidade de espécies específicas de vida silvestreem um determinado sítio;

❖ incidência de caça ou pesca ilegal ou de outraatividade ilegal semelhante;

❖ número de reclamações a respeito do operador ou daconcessionária de turismo em um determinadoperíodo de tempo;

❖ número de encontros que os visitantes tiveram comoutros visitantes em uma área agreste.

Os padrões são criados quando os indicadoresmostram um valor quantitativo específico; por exemplo,visitantes em uma área agreste não devem se encontramcom mais de um grupo diferente durante uma estada dedois dias.

Quando o monitoramento determina que os padrõesnão estão sendo cumpridos e que os limites foramultrapassados, os gestores devem fazer ajustes em seuPGE e nas atividades de gestão correspondentes paraque o impacto da visitação retorne aos níveis desejados.

O Processo de Avaliação do Grau de SucessoComo já deve ter sido possível observar, foi destacadoque a participação pública no processo de preparaçãode um PGE é fundamental para seu sucesso; também é

97Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Page 90: Ecotourism Development

98 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

importante para a avaliação da consecução dosobjetivos do projeto e para estabelecer os indicadores epadrões para o processo de Limites de ModificaçãoAceitáveis (LAC). Não será surpresa, então, descobrirque a avaliação de em que ponto está a implementaçãodo PGE deve envolver os respectivos interessados, ouseja, o pessoal da área protegida, empreendedores elíderes da comunidade, representantes da indústria doturismo (especialmente aqueles que trabalham dentro eno entorno da área protegida), e outros representantesgovernamentais importantes.

Trata-se de um processo relativamente simplesobservar um PGE que tenha estabelecido objetivosfacilmente quantificáveis para serem atingidos em umdado período de tempo e determinar quais deles foramatingidos e quais não o foram. O que não é tão simplesé determinar a razão pela qual um determinado objetivonão foi atingido, e o que pode ser feito para superarquaisquer obstáculos que possam ter impedido odesenvolvimento das atividades adequadas. As respostaspara essas questão são mais facilmente encontradas porum grupo de interessados envolvidos, por uma equipede avaliação, e não apenas por um ou dois membros daequipe da área protegida que podem carecer dasperspectivas que um grupo mais diversificado poderiater. Muitos desses interessados podem mesmo terparticipado do processo de planejamento e / ou sermembro de um comitê consultivo do programa deecoturismo.

A equipe de avaliação precisará rever todos osobjetivos e atividades do Plano Estratégico do PGE edeterminar o que deve e o que não deve ser feito. Asprincipais questões a serem respondidas são:

❖ Os principais agentes estão cumprindo seu papel?

❖ O contexto legal necessário para se alcançar as metasdo ecoturismo foi estabelecido?

❖ Os recursos para os projetos de ecoturismo estavamdisponíveis?

❖ O PGE é excessivamente ambicioso em vista dosrecursos humanos e econômicos disponíveis?

❖ Os interessados fizeram todo o possível paraencontrar recursos suficientes?

❖ O suporte técnico necessário para a implementaçãodos projetos de ecoturismo está disponível?

❖ O que pode ser feito para melhorar os arranjoslogísticos que possam facilitar a implementação doprojeto?

❖ Existem outras ações de gestão de área protegidacoordenadas com o programa de ecoturismo?

❖ Há necessidade de mudar os objetivos e / ou asatividades do programa em face de modificação decondições, ou há necessidade de se trabalhar melhoro que foi realmente planejado?

Com relação ao LAC e à participação pública, osinteressados mais importantes devem fazer parte detodos os passos do processo de tomada de decisões,inclusive no estabelecimento de indicadores e padrõesque serão utilizados para monitorar os impactos doturismo. Imagine, por exemplo, que se tenha decididoque a presença de uma espécie de pássaro encontradaem um determinado sítio de visitação é um importanteindicador do impacto do turismo. Deve serestabelecido, então, um padrão que represente umconsenso com relação à quantidade de tais pássaros quese espera seja adequada para um sítio de visitação bemgerido. Para se chegar a essa determinação, é mais doque razoável que se tome o cuidado de envolver osguias turísticos, o pessoal do sítio, biólogos e,provavelmente, outros que terão um grande interesseem assegurar que esse padrão seja mantido.

Fontes

The Ecotourism Society. 1993. Directrices para el ecoturismo.Una guía para los operadores de turismo naturalista. N.Bennington, Vermont: The Ecotourism Society.

The Ecotourism Society. 1993. Ecotourism guidelines for naturetour operators. N. Bennington, Vermont: The Ecotourism Society.

Margoluis, R. e N. Salafsky. 1998. Measures of Success:Designing, managing, and monitoring conservation anddevelopment projects. Washington D.C.: Island Press.

Parks in Peril Program, The Nature Conservancywww.parksinperil.org

Page 91: Ecotourism Development

99Volume I: Introdução ao Planejamento de Ecoturismo

Glossário

Análise dos Principais Interessados: A análise dosprincipais interessados da TNC prioriza os interessadosligados a ameaças críticas e traça o perfil de váriascaracterísticas-chave a respeito das atividades nas quaisos interessados estão engajados.

Análise dos Principais Interessados ou Análise doContexto Humano: Estudo que identifica informações-chave sobre as comunidades próximas de um sítio deecoturismo pertinentes ao ecoturismo dentro dacomunidade ou em sítios ecoturísticos adjacentes. Éessencial para a completa implementação de um Planode Gestão de Ecoturismo.

Área Protegida: Grande extensão de territóriolegalmente protegido, geralmente administrado por umaentidade governamental com objetivos específicos deconservação, mas cuja gestão diária pode ser delegadapara o setor não-governamental ou privado, ou parauma coalizão de interesses governamentais e privados.

Avaliação / Análise do Contexto Humano (ACH):Análise das relações estatísticas e interações dinâmicasde seres humanos em um sítio. A ACH enfatiza arelação dinâmica entre os sistemas biológico (ecológico)e social. A coleta de informações de cunho social eeconômico para um PCS inclui a compilação esintetização de informações a respeito das relações entrepopulações e a conservação do sítio dentro de umcontexto econômico, sociocultural e político.

Avaliação Preliminar de um Sítio: Processo queconsiste de algumas poucas questões básicas, por meiodas quais os planejadores podem determinar se umdeterminado sítio é apropriado para o desenvolvimentodo ecoturismo. É um primeiro filtro para se determinar aviabilidade do ecoturismo.

Comitê Consultivo de Ecoturismo: Grupo deinteressados públicos e privados que têm um interesse,de ordem econômica ou de qualquer outra ordem, naeficiência e no efetivo funcionamento do programa deecoturismo no sítio de ecoturismo. Forneceaconselhamento e apoio para o Líder do Programa deEcoturismo.

Comunidade: Comunidade se refere a um grupoheterogêneo de pessoas que vivem na mesma áreageográfica e acessam um conjunto de recursos naturaislocais. O grau de coesão e diferenciação sociais, forçade crenças e instituições comuns, diversidade cultural eoutros fatores varia grandemente dentro dascomunidades e entre elas. (Schmink, 1999).

Concessão: Serviço fornecido para visitantes pelo setorprivado dentro de uma área protegida ou sítio deecoturismo. É um dos fundamentos de um programa degeração de receitas em um sítio de ecoturismo.

Concessionário: Detentor da concessão ou licença paravender bens ou serviços fornecidos pela área protegida.

Desenvolvimento Sustentável: Definido pelas NaçõesUnidas no Relatório Brundtland “Our Common Future”(Nosso Futuro Comum) como “Desenvolvimento queatende às necessidades do presente, sem comprometer acapacidade de as gerações futuras atenderem às suaspróprias necessidades”.

Diagnóstico Completo do Sítio: Fase do processo deplanejamento durante a qual os planejadores coletaminformações necessárias para um bom processo detomada de decisões relacionadas, nesse caso, aodesenvolvimento do ecoturismo nas áreas protegidas.Constitui um estudo prévio da viabilidade dodesenvolvimento do ecoturismo em um sítio.

Limites de Modificação Aceitáveis (LAC): Metodologiapara mensurar impactos de visitação específicos pormeio do estabelecimento de indicadores e padrõesaplicáveis a situações específicas. Um padrão indica umnível específico além do qual os interessadosdeterminaram que um impacto é inaceitável e ações degestão devem ser tomadas.

Operador Doméstico: Operador de turismo queorganiza os serviços fornecidos a um visitante dentro dopaís que está sendo visitado.

Page 92: Ecotourism Development

100 Desenvolvimento do Ecoturismo — Um Manual para os Profissionais de Conservação

Operador Internacional: Operador de turismo queorganiza excursões e transporte para visitantes queestejam indo para outro país. Em regra, farão parceriacom um operador doméstico no país de destinação.

Planejamento de Conservação de Sítios (PCS):Processo desenvolvido pela The Nature Conservancy queé utilizado para identificar alvos de conservaçãoprimários para a conservação de um determinado sítio,e, então, determinar as maiores ameaças, fontes deameaças e estratégias para reduzi-las.

Plano de Gestão de Ecoturismo: Um plano de gestãode ecoturismo (PGE) é uma ferramenta para direcionar odesenvolvimento do turismo em uma área protegida deuma maneira que busca sintetizar e representar a visãode todos os interessados na consecução dos objetivos deconservação para o sítio. Tradicionalmente, um PGE seráuma continuação detalhada das diretrizes geraisestabelecidas em um plano geral de gestão ou PCS.

Plano de Sítio: Planta muito detalhada que localizatodos os atrativos naturais e culturais importantes de umsítio no qual irão ocorrer atividades intensivas deecoturismo, e então determina onde a infra-estrutura seráposicionada.

Plano Geral de Gestão: Documento de planejamentoque avalia todas as informações disponíveis para umadeterminada área protegida ou sítio de ecoturismo, edefine os objetivos globais de gestão, metas eestratégias para uma gestão adequada. Se for o caso,então um Plano de Gestão de Ecoturismo pode serrecomendado.

Principais Interessados: Pessoas que têm umenvolvimento direto ou indireto em uma atividade queafeta os sistemas de biodiversidade de um sítio. Esseenvolvimento pode ser decorrente de proximidade

geográfica, associação histórica, atividade econômica,mandato institucional, interesse social, tradições culturaisou de um grande número de outras razões.

Sítio de Ecoturismo: Uma locação, grande oupequena, na qual ocorrem uma ou mais atividades deecoturismo. Neste documento, o termo pode ser usadode forma intercambiável com “área protegida” ou“sítio”. O termo “sítio”, porém, geralmente se refere auma locação na qual a atividade é focada e depequena escala.

Sítio de Visitação: Locação relativamente pequena naqual o uso intensivo e a gestão ocorrem dentro de umcontexto mais amplo de ecoturismo e conservação.

Turismo Voltado à Natureza: Turismo dirigidobasicamente para atrativos naturais, mas que nãoabrange, necessariamente, os conceitos do ecoturismo:mínimo impacto, benefícios econômicos para aconservação e para as populações locais, e educação.

Zoneamento: Zoneamento é um mecanismo paradeterminar objetivos de gestão e prioridades gerais paradiferentes áreas geográficas (zonas) dentro de uma áreaprotegida ou de outro sítio de ecoturismo. Ao determinarobjetivos e prioridades para essas zonas, os planejadorestambém definem quais usos serão permitidos e quais nãoo serão. Tais parâmetros são, geralmente, baseados nascaracterísticas da base de recursos naturais e culturais,nos objetivos da área protegida (determinadospreviamente), e em outros fatores.