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955 Economia Criativa, a Web 2.0 e o Vírus da Exposição de Talentos Creative Economy, the Web 2.0 and the Virus of Talent Exposition Economía Creativa, la Web 2.0 y el Virus de la Exposición de Talentos Ana Maria Nicolaci-da-Costa Universidade Católica do Rio de Janeiro http://dx.doi.org/10.1590/1982–3703001302013 PSICOLOGIA:CIÊNCIA E PROFISSÃO,2014, 34(4),955-970 Artigo

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Economia Criativa, aWeb 2.0 e o Vírus daExposição de Talentos

Creative Economy, the Web 2.0 andthe Virus of Talent Exposition

Economía Creativa, la Web 2.0 y elVirus de la Exposición de Talentos

Ana Maria Nicolaci-da-CostaUniversidade Católica

do Rio de Janeiro

http://dx.doi.org/10.1590/1982–3703001302013

PSICOLOGIA:CIÊNCIA E PROFISSÃO,2014, 34(4),955-970

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Resumo: A “economia criativa” é um dos vários desenvolvimentos da economia mundial im-pulsionados pelas tecnologias de informação e comunicação. Os ambientes fáceis de usar daWeb 2.0 permitiram que usuários ao redor do mundo expusessem seus talentos on-line e quemuitos alcançassem sucesso e profissionalização meteóricos. Dada a novidade deste fenômeno,a presente pesquisa propôs-se a explorar, por meio de entrevistas abertas e análise qualitativados depoimentos coletados, o que está acontecendo do ponto de vista de jovens brasileiros,entre 18 e 30 anos de idade que expõem algum produto seu on-line. O papel exercido pelosvários casos de sucesso conhecidos sobre seus projetos de profissionalização foi o ponto de par-tida dessa exploração. Os resultados revelaram que o “boom” da autoexposição de talentos nãose deve somente à influência desses sucessos ou ao desejo de se profissionalizar, mas principal-mente à contagiante circulação de ideias e comportamentos no ambiente inovador da Internet.Palavras-chave: Criatividade. Internet. Jovens. Aptidão

Abstract: The “creative economy” is one of the many developments of world economy that isboosted by the information and communications technologies. The friendly environments touse Web 2.0 allowed many users across the world to expose online their talents and manyachieved meteoric success and professionalization. Given the newness of this phenomenon,this survey proposed to explore, through open interviews and qualitative analysis of collectedstatements, what is happening from young Brazilians’ point of view, 18-30 yrs old, who exhibitonline some of their own products. The starting point for the exploration was the role played byseveral known cases of success over their professionalization projects. The findings showed thatthe “boom” of talents’ self-exposing is due not only to the influence of those successes or to thedesire of becoming Professional, but mainly to the contagious circulation of ideas and behaviorin the internet innovative environment.Keywords: creativity. Internet. Young adult. Creativity. Skill.

Resumen: La “economía creativa” es uno de los varios desarrollos de la economía mundial im-pulsados por las tecnologías de información y comunicación. Los ambientes fáciles de usar dela Web 2.0 permitieron que usuarios alrededor del mundo expusiesen sus talentos on-line yque muchos alcanzasen éxito y profesionalización meteóricos. Dada la novedad de estefenómeno, la presente pesquisa se propuso a explorar, por medio de entrevistas abiertas yanálisis cualitativo de las declaraciones colectadas, lo que está aconteciendo desde el punto devista de jóvenes brasileños, entre 18 y 30 años de edad que exponen algún producto suyo on-line. El papel ejercido por los varios casos de éxito conocidos sobre sus proyectos de profesio-nalización fue el punto de partida de esa explotación. Los resultados revelaron que el “boom”de la autoexposición de talentos no se debe solamente a la influencia de esos éxitos o al deseode profesionalizarse, sino principalmente a la contagiante circulación de ideas y comportamientosen el ambiente innovador de la Internet.Palabras-clave: Creatividad. Internet. Jóvenes. Creatividad. Aptitud

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Há mais de uma década vimos presenciandoa difusão de um contexto econômico singular,no qual a criatividade desempenha o papelde força motriz enquanto a World WideWeb oferece ambientes e ferramentas paraa geração e circulação de produtos. É a cha-mada “economia criativa”.

No contexto dessa nova economia, encon-tra-se um fenômeno recente, que ainda nãofoi examinado em detalhe. Trata-se do sucesso– on e off-line – de jovens que expõem seustalentos em diversos ambientes virtuais (blogs,YouTube, MySpace, etc.) e transformam-seem profissionais praticamente da noite parao dia. Dado que tal inserção no mercado detrabalho vem acontecendo com frequência,julgou-se importante compreender as moti-vações, dos usuários, a dinâmica da autoex-posição do que produzem bem como asconsequências desta. O ponto de partidaeleito para tanto foi a investigação do papelexercido pelos casos de sucesso amplamentedivulgados pela mídia sobre os projetos deprofissionalização de outros jovens, princi-palmente daqueles que também expõemalgo de sua autoria on-line. Para tanto, foirealizada a pesquisa exploratória que seráapresentada ao longo deste artigo.

Antes, porém, será feita uma breve e im-prescindível descrição da “economia criativa”e do papel que nela desempenham a criati-vidade e a evolução das tecnologias de in-formação e telecomunicação, as “TICs” (Flo-rida, 2005; Howkins, 2001; Hartley, 2005).Serão também fornecidos alguns exemplosde sucesso on-line amplamente conhecidospelo público brasileiro em geral (Nicolaci-da-Costa, 2011).

Transformações na economiamundial: a economia criativa

Nas últimas décadas do século XX e na pri-meira deste século, a economia mundial

testemunhou muitas transformações, dentreas quais se destaca o rápido crescimento daeconomia criativa. Em 2008, a UNCTAD(United Nations Conference on Trade andDevelopment) apontava que, no período2000-2005, o comércio de bens e serviçoscriativos havia tido um resultado sem prece-dentes: um aumento médio anual de 8,7%.Antes mesmo que esses resultados fossempublicados, Florida (2005) já apontava quea criatividade havia se transformado na forçamotriz de todo um importante setor da eco-nomia mundial. Então, afirmava, um terçodos trabalhadores nas nações industriais avan-çadas tinha empregos no setor criativo.

Hartley (2005) procura analisar as razõesdesse crescimento. Segundo ele, na últimadécada do século XX, fechou-se um impor-tante ciclo de mudança na economia mundial.A indústria manufatureira perdeu o seu papelcentral e o valor começou a ser gerado, nãomais exclusivamente pelo processamento dematérias-primas, mas pelo processamentoda informação. Ainda de acordo com Hartley,o papel da tecnologia – então, mais especi-ficamente das tecnologias de informação(TIs) – foi central nessa mudança, dando ori-gem àquela que acabou sendo conhecidacomo a “Sociedade Informacional” (Castells,2004). Naquele período, a sociedade comoum todo foi invadida pela informação baseadaem código.

Para Hartley, a mudança da liderança daIBM para a Microsoft ilustra bem o fechamentodesse ciclo. Com a construção de computa-dores de grande porte – os “mainframes” –para o uso de organizações e empresas, aIBM, dominou os primeiros estágios do de-senvolvimento da computação. Com o passardo tempo, contudo, ela foi tornada obsoletapela Microsoft, que popularizou a concepçãode computadores pessoais e, sem fabricá-los, inovou ao tornar a propriedade dosistema operacional que esses computadores

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usavam mais importante do que sua fabrica-ção. De acordo com Hartley, essa mudançaindicava uma transformação muito maisampla nas regras da economia mundial. Amanufatura cedera lugar à informação comofonte geradora de riqueza.

Dando continuidade à sua análise, Hartley(2005) identifica uma sucessão de quatroestágios dentro do escopo do que chama de“economia da informação”. São eles: o dainfraestrutura, o da conectividade, o do con-teúdo e o da criatividade. Vejamos.

Uma vez feita a passagem da manufaturapara a informação como fonte geradora deriqueza, houve, em um primeiro momento,um grande investimento em infraestruturapor parte de empresas, organizações gover-namentais e educacionais ao redor do mundo.O objetivo era colocar um computador pes-soal em cada mesa de trabalho. O nível deinvestimento nessa fase foi surpreendente emuito bem-sucedido.

Em médio prazo, no entanto, somente infra-estrutura mostrou-se insuficiente. Astecnologias de telecomunicação somaram-seàs de informação e passou-se a falar de“TICs”. Surgiu a conectividade. A interativi-dade se tornou possível e, imediatamente,necessária. Nessa fase, o objetivo, nova-mente muito bem-sucedido, passou a ser aampliação da interatividade por meio deinfinitas conexões.

A conectividade fez com que a Internet pro-metesse um futuro rico e cheio de oportuni-dades. Por isso, ainda segundo Hartley (2005),passou a atrair investimentos de outrossetores, o que, por sua vez, teve como resul-tado a supervalorização das ações das em-presas “pontocom” e de alta tecnologia. Essaeuforia, contudo, teve fôlego curto. A bolha“pontocom” estourou no início do milênio,as ações despencaram e, a partir de então,

ficou claro que a conectividade não era maisa chave para o enriquecimento.

A informação em si mesma havia deixadode ser força motriz da economia informacionale a conectividade não atendia aos desejosdos milhões de usuários ao redor do mundo,que estavam interessados em ideias, conhe-cimentos e experiências. Logo ficou evidente,entretanto, que, embora tivesse perdido opoder de mover a economia informacional,a conectividade havia gerado infinitas e des-conhecidas possibilidades para a produçãode conteúdo. Foi, então, que, mais uma vezde acordo com Hartley (2005), a criatividadese tornou um importante ativo de mercado.Emergia a economia criativa. A moeda maisvaliosa havia deixado de ser o dinheiro. Asideias e a propriedade intelectual passarama mover a economia.O registro da emergência do novo contextoeconômico feito por outro de seus analistas– Howkins (2001) – é particularmente eluci-dativo. Este afirma:

A economia criativa foi trazida à luzpelas tecnologias da informação ecomunicação. As novas tecnologiasdigitais criaram novas oportunidadespara conteúdo; um universo cibe-respacial (...) faminto por texto, ima-gens e histórias. Os baixos custos datecnologia digital permitem que aspessoas produzam, distribuam e per-mutem seu próprio material ... cadavez de forma mais ampla e pene-trante (...). (Howkins, 2001. p. 16,tradução nossa)

Hartley (2005) adiciona que a eco-nomia criativa é uma economia caracterizadapor sua leveza, pois os bens que nela circulamsão, em grande parte, intangíveis: dados,software, notícias, entretenimento, propa-ganda, etc. Esses bens intangíveis novamentemantêm uma íntima relação com as TICs,

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pois, nestas, eles encontram um grandeespaço de produção, circulação, distribuiçãoe negociação.

Frente a essa necessidade de saciar a fomede conteúdo de um universo ciberespacial,descrita por Howkins (2001), a criatividadecomeçou a desempenhar um papel funda-mental na nova economia. Tendo, na visãode especialistas, uma relação íntima com“imaginação, insight, invenção, inovação, in-tuição, inspiração, iluminação e originalidade”,bem como com uma “disposição para pensardiferente e para ‘brincar’ com ideias” (Alencar,2005, p. 3), a criatividade encontrou espaçofecundo para se desenvolver nos ambientesrecém-construídos da chamada Web 2.0(O’Reilly, 2005). Isso porque a Web 2.0 mar-cou um novo momento a partir do qual osusuários passaram, eles próprios, a poderproduzir conteúdo (mesmo sem nada en-tender da linguagem de computadores). Osambientes se tornaram amigáveis (fáceis deusar) permitindo que qualquer um pudessedisponibilizar conteúdos de diversos tipos,desenvolvê-los, divulgá-los, compartilhá-los,comentá-los, alterá-los, etc. A consequênciafoi uma explosão da produção de conteúdo.

Esses ambientes amigáveis, resultado das ini-ciativas criativas de seus desenvolvedores,são tantos que será possível mencionar su-perficialmente apenas alguns amplamenteconhecidos no Brasil.

Dentre eles, os blogs se destacam como osmais antigos. Tendo tornado a publicaçãode textos on-line acessível à população leiga,passaram a ser amplamente utilizados e jágeraram várias carreiras de sucesso. Umadelas foi a do escritor Daniel Galera que,tendo começado a publicar textos literáriosem um blog (http://www.ranchocarne.org),ganhou o reconhecimento do público e dacrítica. Um bom indicador de seu sucesso éo fato de ter conquistado o Prêmio Machado

de Assis de Romance da Fundação BibliotecaNacional com seu livro Cordilheira, no anode 2008. Foi também a partir de um blog(http://kibeloco.com.br/platb/kibeloco) queAntonio Tabet se tornou um humorista derenome. Kibeloco começou como um espaçopara partilhar tiradas humorísticas com amigose é, hoje, uma referência do humor on-lineem todo o Brasil. Tabet tornou-se roteiristado Caldeirão do Huck, um dos programasde maior audiência da TV Globo.

A Web 2.0 também presenciou a emergên-cia de vários sites que albergam redes de re-lacionamento: Orkut, Facebook, MySpace,etc. Todos se tornaram muito populares emum ou outro momento e geraram diferentestipos de conteúdo. O MySpace, no entanto,tornou-se particularmente atraente para mú-sicos, compositores, cantores, etc. por suacapacidade distintiva de hospedar MP3. Foicolocando suas músicas nessa rede que abanda Bonde do Rolê(http://www.myspace.com/bondedorole) ini-ciou sua trajetória internacional e, em ape-nas um ano, foi eleita pela revista RollingStone como uma das 10 bandas a seremacompanhadas no mundo inteiro. A rápidatrajetória de sucesso da jovem cantora ecompositora Mallu Magalhães(http://www.myspace.com/mallumagalhaes)teve início análogo.

Outro fenômeno de sucesso musical, destafeita resultado da exposição no YouTube, éo da Banda Mais Bonita da Cidade, cujoclipe Oração(http://www.youtube.com/watch?v=QW0i1U4u0KE) obteve mais de 2 milhões de aces-sos em uma semana, tornando popular essadesconhecida banda paranaense. Alémdeste, o YouTube já gerou vários outros su-cessos bastante conhecidos, como, porexemplo, o de PC Siqueira (http://www.you-tube.com/user/maspoxavida) e o de FelipeNeto (http://www.youtube.com/user/felipe-

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neto), que usam esse espaço para postar re-gularmente vídeos com comentários sobreassuntos diversos.

O Twitter é um caso à parte. É um misto derede social (com menos funcionalidades eperfis mais compactos do que as outrasredes) e servidor para postagem de textosbreves (de, no máximo, 140 caracteres). Éextremamente eficaz na rápida divulgaçãode mensagens e de links para conteúdoshospedados em outras plataformas da Web.Leo Cardoso, no entanto, não necessitoudesses links. Os 140 caracteres do Twitterforam suficientes para que ele tornasse seupersonagem @Ocriador extremamente po-pular (tem mais de 700.000 seguidores).Mais popular ainda é o comediante RafinhaBastos. Seus mais de 3 milhões de seguidoresno Twitter chegaram a lhe render uma en-trevista no New York Times (http://www.ny-times.com/2011/08/07/arts/television/rafinha-b a s t o s - b r a z i l i a n -comedian.html?_r=2&ref=arts). Nessa en-trevista, Rafinha declarou ser um produtoda Internet, pois: “A Internet possibilitouque eu construísse minha carreira como eudesejava”.

A pergunta que norteou a presente explora-ção dessas formas emergentes deprofissionalização tinha exatamente a vercom a frequência pela qual esses casos vêmganhando espaço na mídia. Antes de tudo,parecia importante conhecer qual a influên-cia que o crescente número de carreirasiniciadas on-line está exercendo sobre osprojetos de jovens que estão ingressando nomercado de trabalho ou procurando umamelhor colocação neste.1

A Pesquisa

A pesquisa, devidamente aprovada peloComitê de Ética da Pontifícia Universi-dade Católica do Rio de Janeiro (PUC-

Rio), foi integralmente norteada pelosprincípios e procedimentos do Métodode Explicitação do Discurso Subjacente(MEDS), um método qualitativo especi-ficamente elaborado para estudos ex-ploratórios (Nicolaci-da-Costa, 2007).

Participantes

Todos os participantes da pesquisa foram re-crutados a partir de dois únicos critérios: (a)terem entre 18 e 30 anos de idade e (b) ex-porem algum produto de sua autoria on-line.

Duas observações complementares sobre orecrutamento dos participantes são impor-tantes. Como as entrevistas foram feitas on-line, o local de moradia desses jovens era depouca importância, pois, na Internet, a dis-tância geográfica é irrelevante. Devido aofato de que os participantes foram recrutadosprincipalmente por manterem alguma formade exposição de seus talentos on-line, questõesrelativas ao seu pertencimento de classetambém não nos pareceram cruciais para aseleção. Em princípio, a partir das exposiçõeson-line com as quais já havíamos tido contato,acreditávamos (corretamente, como consta-tamos ao longo da pesquisa) que seu níveleducacional/intelectual seria relativamentehomogêneo.

Foram recrutados vinte participantes a partirda indicação de amigos, conhecidos e outrosentrevistados. O pequeno número de parti-cipantes em uma pesquisa qualitativa é con-sensual na literatura (Nicolaci-da-Costa, 2007;Nicolaci-da-Costa, Romão-Dias, & Di Luccio,2009).

Coleta de Dados

No MEDS, a coleta de dados é feita princi-palmente por meio de entrevistas abertasem contextos informais (Nicolaci-da-Costa,2007). Tendo em vista que contextos informais

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1 Essa pergunta, noentanto, não erafeita diretamente,

mas simindiretamente, por

meio de váriasperguntas que

faziam parte de umroteiro bem mais

abrangente, comoserá mostrado

abaixo.

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existem tanto na vida “real” quanto na “vir-tual”, essas entrevistas podem ser levadas acabo presencialmente ou on-line.

No caso dessa pesquisa, a coleta de dadosfoi feita por meio de entrevistas individuaisrealizadas on-line (Nicolaci-da-Costa et al.,2009) por meio do programa de bate-papoem tempo real MSN Messenger, com o qualtodos estavam muito familiarizados. O usode entrevistas on-line tornou a pesquisa in-teressante e natural para os participantes,que demonstraram estar muito à vontade.Tal como estipulado pelo MEDS, não houvequalquer solicitação para que alterassem suarotina de conversa on-line (deixando de exe-cutar outras tarefas durante a entrevista, porexemplo).

Todas as entrevistas tiveram como base um roteiroestruturado construído especialmente para a pes-quisa. Esse roteiro era composto por itens a partirdos quais deveriam ser formuladas as perguntasdurante a própria entrevista de modo a preservaras características de conversas informais. Emboraestruturado, o roteiro era usado de forma flexíveldurante as entrevistas, o que significa dizer que aordem dos itens podia ser alterada de modo amanter o fluxo de associações do entrevistado.

O roteiro era dividido em duas partes. A pri-meira era composta de perguntas objetivassobre cada um dos participantes, tais como:idade, ocupação (se era estudante, o queestudava), o que expunha on-line. Já asegunda parte era composta por itens/per-guntas de cunho mais investigativo esubjetivo.

A segunda parte era dividida em cinco blocostemáticos que se sucediam de forma perce-bida como natural pelos entrevistados comopôde ser constatado nas várias entrevistas-piloto usadas para testá-lo.Bloco I: Perguntas genéricas sobre o usoque o(a) entrevistado(a) faz da Internet.

Há quanto tempo usa a Internet; quantotempo costuma passar no computador; oque faz na Internet; que tipo de site frequenta;o que gosta de ver/acessar/xeretar/etc.; comochega àquilo que interessa; se usa mecanismosde busca (quais, por quê).

Bloco II: Perguntas sobre o que o(a) entre-vistado (a) expõe on-line e sobre como di-vulga o que expõe. Por que resolveu exporX on-line; que tipo de retorno essa exposiçãodá; se essa exposição envolve custos de pro-dução e divulgação; como divulga; se temmuitas visitas/frequentadores; como conta-biliza isso; se expõe mais alguma coisa emalgum outro lugar (em caso positivo, onde,por quê); se já tentou fazer uma divulgaçãomaciça daquilo que expõe on-line (em casopositivo, como fez; em caso negativo, per-guntar se conhece alguém que tenha conse-guido um bom resultado através de divulgaçãomaciça); caso conheça alguém que tenhafeito sucesso desse modo, se sabe dizercomo ele/ela fez essa divulgação.

Bloco III: Opiniões do(a) entrevistado(a)sobre sucesso. O que é sucesso; se achaque pode haver outras definições de sucesso;em caso de resposta positiva, perguntarquais; se está feliz com os resultados quevem tendo (em caso positivo, por quê; emcaso negativo, se gostaria de fazer sucesso epor quê); se faz alguma coisa para ter sucesso;por que acha que algumas pessoas fazemtanto sucesso/se tornam tão populares; pedirpara contar algum caso que conheça; comoacha que isso acontece; se acha que essessucessos acontecem por acaso ou são pro-duzidos por alguma forma de marketing(mesmo que seja marketing amador); porque acha isso.

Bloco IV: Opiniões do(a) entrevistado(a)sobre profissionalização. Se acha que a In-ternet oferece formas alternativas de profis-sionalização, por quê; quais são as vantagens

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e desvantagens dessas formas alternativasem comparação com as formas de profissio-nalização tradicionais; se acha que umaforma exclui a outra, por quê.

Bloco V: Opiniões do(a) entrevistado(a)sobre criatividade. Se acha que a Internettorna as pessoas mais criativas, por quê; seacha que a internet incentiva a exposiçãoda criatividade, por quê; qual é a importânciada criatividade nos dias de hoje, por quê.

Análise dos Dados

Todos os depoimentos foram salvos e copiadosem arquivos do Microsoft Word para facilitarseu manuseio. Seguindo as técnicas do MEDS,primeiramente foi levada a cabo a análiseinterparticipantes, na qual todas as respostasde todos os entrevistados(as) foram reunidasa partir dos itens/perguntas feitos. As respostasa cada item foram analisadas como umbloco. Desse modo, obteve-se uma visão deconjunto que possibilitou a identificação ecategorização das respostas recorrentes nosdiscursos dos entrevistados. Na segundaetapa – a da análise intraparticipantes –foram examinadas as respostas de cada umdos participantes em busca de possíveis in-consistências ou contradições reveladorasde algum discurso subjacente.

Resultados

Observações preliminares

Antes de passar aos resultados propriamenteditos, é necessário fornecer ao leitor algumasinformações básicas a respeito dos partici-pantes, dos ambientes da Web dos quaiseles faziam uso e também dos custos envol-vidos em suas exposições on-line.

Comecemos pelo perfil dos jovens que par-ticiparam da pesquisa. A partir dos critériosestabelecidos, foram recrutados vinte jovens

cujas idades variavam entre 19 e 29 (a médiade idade era de 23 anos). Em sua maioria,esses jovens (15) eram estudantes. Os demaistrabalhavam como técnico de informática,fotógrafo, publicitário, designer e escritor(no caso, um autointitulado “blogueiro pro-fissional”).

No que diz respeito aos ambientes da Web,o amigável ambiente dos blogs com sua hos-pedagem grátis se destacou como o maisusado para diversas finalidades (espaço dedesabafo sob a forma de poesia, comentáriossobre seriados, tutoriais de informática, pu-blicação de contos, dicas de fotografia, etc.).Em segundo lugar, vinham os sites (que re-querem mais de conhecimento de linguagemHTML e cuja hospedagem em servidoresnão é disponibilizada gratuitamente comono caso dos blogs). Com muito menor fre-quência eram utilizados fóruns (principalmentepara discutir assuntos relativos à informática)e portfólios (para fins profissionais). O YouTubeera usado por apenas dois entrevistados (quenele exibiam vídeos produzidos para a fa-culdade) e o MySpace era usado por somenteum entrevistado (para postar músicas de suabanda).

A exposição do conteúdo gerado por essesjovens geralmente não envolvia custos além doacesso à Internet (que todos já tinham). Asexceções foram os casos em que havia neces-sidade de servidores dedicados que pudessemreceber um alto número de e-mails, e/oudaqueles que haviam comprado domínio pró-prio (tipo “meunome.com”). Mesmo nessescasos, o custos não eram altos. Os custos deprodução existiam somente quando os entre-vistados disponibilizavam on-line fotos,gravações ou vídeos que faziam off-line, nomais das vezes como trabalhos para a facul-dade (em geral, eram custos que teriam dequalquer modo). A divulgação também nãoenvolvia custos. Envolvia, sim, criatividade ededicação, como ficará claro abaixo.

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Feitas essas observações preliminares, exa-minemos de perto o que a pesquisa revelou.Dado que os resultados foram muitos emuito ricos, seguem-se apenas aqueles maismarcantes, subdivididos em categorias parafacilitar a compreensão.

Como começaram e quais assuas expectativas

Todos os entrevistados conheciam casos desucesso profissional iniciados na Web. Ne-nhum deles, no entanto, associou o iníciode sua aventura on-line à influência exercidapor eles.

Na realidade, nem todos começaram a sério.Alguns, como Tomás2 (23 anos, que paroude estudar), começaram de brincadeira:“[Comecei] a partir desse site, que antes eravoltado só para os meus amigos da escola,onde eu publicava as fotos das besteiras quea gente fazia... Aí a escola acabou e eu come-cei a falar de outros assuntos, ... acaboucomeçando a ganhar muitos visitantes e eudecidi sair expandindo, tornando-se o que éhoje [um site de ‘cultura pop’ de muitosucesso].”3

Outros, como Eduardo e Carlos, no inícioqueriam principalmente desabafar. Eduardo(19 anos, estudante de Comunicação) dizia:“queria um lugar para desabafar... só que eucriava minicontos em cima do que eu real-mente vivia”. Já Carlos (24, estudante de Sis-temas de Informação) declarava: tinha “ne-cessidade de me expressr [expressar]/ ... decompartilhar o q sinto co [com] pessoas qsentem o msmo [mesmo]”

Outros, ainda, admitiam que havia levadotempo para encararem aquilo a sério. Otávio(23, mestrando de Comunicação) é umexemplo. Diz: “Levou tempo até eu resolverlevar o blog a sério, inicialmente foi só paracolocar meus textos...”.

Foram poucos aqueles que começaram aexpor on-line com o desejo consciente dese profissionalizar. Bruno, Amanda e Daniloencontram-se nessa categoria.

Bruno (21 anos, estudante de Computação)aproveitou um nicho de mercado em suapequena cidade natal e criou um site de co-bertura de festas e eventos já com a finalidadeexplícita de ganhar dinheiro. Amanda (21anos, estudante de Psicologia) afirmava estar:“procurando transformar [seu] hobbie [foto-grafia] em profissão. o blog seria um espaçopara expor meu trabalho...”. Já Danilo (29anos, designer gráfico), dizia: “[Fiz o blog]pra ver se alguma empresa boa se interessapor [meus desenhos]”.

De qualquer modo, todos desejavam leitorese visitas para o que expunham. Mesmoaqueles que alegavam não almejar populari-dade se contradiziam ao revelar que conta-bilizavam os acessos que tinham. Por contadessa contabilização (que todos faziam deum modo ou de outro), os entrevistadoslogo descobriram que expor somente nãolhes trazia nenhum resultado. A “alma donegócio”, perceberam, era a divulgação.

Como faziam a divulgação doque expunham

Aqueles que achavam que expor bastava logoaprenderam que disponibilizar conteúdo on-line não é suficiente para que este seja visto. Ojá mencionado Danilo admitia isso explicita-mente: “Achei que era só por o blog no ar quejá afria [faria] sucesso intantãneo [instantâneo],mas não é bem assim.” Carlos (24, estudantede Informática) também não divulgava seu blogde poesias e se ressentia porque tinha poucosacessos. Como justificativa, dizia que poesianão é “assunto para vender”.

Esses dois entrevistados eram, contudo, exceçõesem meio aos participantes da pesquisa. Todos os

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2 De modo apreservar a

privacidade dosentrevistados, todos

os nomes eapelidos serão

trocados.

3 Todos osdepoimentos serão

reproduzidosexatamente como

foram redigidospelos entrevistados.Serão mantidos oserros gramaticais e

ortográficos, asgírias, as

abreviações e todasas demais

características dalinguagem on-line.

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outros faziam divulgação ativa (com maior oumenor competência) daquilo que expunham.Como dizia Sérgio (22 anos, fotógrafo), na hora dedivulgar, “vale de tudo, msn, skype, orkut e comu-nidades...”. Helena (25 anos, estudante de Co-municação) parecia ter a mesma opinião. Para di-vulgar os vídeos que postava no YouTube, revelava“[coloco links]em todas as comunidades relacionadasno orkut (...) mando pra todo mundo da lista deemail (...) coloco nos meus perfis dos sites de rela-cionamento, (...) no meu status do google, msnetc, vou nos vídeos do youtube que tem a ver erespondo [com o meu] vídeo , faço comentários epeço pras pessoas assistirem..../ enfim, sou bemcara de pau às vezes!!”

Além de usar muitas dessas estratégias, Otávio(23 anos, mestrando de Comunicação) pro-curava otimizar seu site para ganhar maisvisitas por meio das buscas do Google. Se-gundo ele, isso envolvia “muitas coisas dife-rentes, desde mexer no html do site para tor-ná-lo mais “relevante” para o google, até ouso das palavras-chave para aparecer nasprimeiras posições no título das postagens.”Dizia que “esse negócio de otimizar progoogle é pano pra manga”, mas indicavavários tutoriais on-line.

Outro entrevistado que procurava otimizaro posicionamento do seu site para as buscasdo Google era Tomás (23 anos, que tem obem-sucedido site de “cultura pop”). Essa,contudo, não era a única estratégia queusava para divulgá-lo. Tomás confiava bastanteno boca a boca das pessoas que gostavamdo site (pudera, tinha 25.000 acessos diários!).E ia além. Dizia: “eu facilito a coisa todaquando o assunto é acompanhar as atualiza-ções... Tipo, você pode acompanhar por e-mail, pelo leitor de feed, pelo facebook, pelotwitter e por aí vai...”.

Eram, no entanto, Amanda e Eduardo, deapenas 21 e 19 anos, respectivamente, queadotavam as formas mais criativas de divul-

gação dentre os participantes, lançando mãode várias estratégias simultâneas e conscien-temente articuladas.

Amanda sabia que só expor seu trabalhonão chamava visitas. Declarava: “por isso re-solvi não só expor fotos [este é o seu grandeinvestimento], como também escrever sobrefotografia. assim, pessoas que gostam do as-sunto, visitam...”. Como fazia para divulgarseus blogs e site? “coloco na mensagempessoal ou nick do msn... fica no meu perfildo Orkut, do facebook... falo a respeito praum amigo ou outro.. mas o principal meio épelo twitter [que tem penetração infinitamentemaior do que as outras redes].” E como era adivulgação no Twitter? “Toda vez que euposto um texto novo no blog, eu posto lá notwitter o link com o título do post... tenhoduas contas de twitter... uma em que sóposto em inglês coisas relacionadas a design...sigo e tenho seguidores interessados emdesign [ela fazia projetos de webdesign paraestrangeiros e com o dinheiro que ganhavainvestia em fotografia]... e uma em portuguêssó pra postar sobre fotografias.. e com segui-dores relacionados a isso... muitos visitam oblog e até retwittam o meu post... por isso otwitter é meu meio principal de divulgação”.

Para Eduardo, o escritor de 19 anos que játinha 3 livros publicados, o Twitter tambémera o principal meio de divulgação. Quandodeu início ao seu blog, ele criava minicontos“e muitas [pessoas] começaram a visitar...tinha post com 140 comments [comentá-rios]...”. Em sua nova fase, ele não liberavacomentários no blog. Esperto, ele usava oblog “como uma plataforma paralela ao twit-ter...”. Isso quer dizer que os comentárioseram feitos no Twitter que, como foi men-cionado acima, tem uma penetração muitosuperior à de qualquer blog! Também faziapromoções. A propósito do lançamento deseu último livro, ele revelou: “Eu fiz uma se-mana de preparação, fui colocando coisas

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que iam atiçando as pessoas/ aí coloquei o li-vro/ e as pessoas foram retweetando/ fiz doisdias de divulgação só/ e na semana do lança-mento do livro fisico fiz uma promoção, os 5primeiros que dessem rt [retweet] ganhavamo livro...”.

O tipo de retorno queobtinham

O retorno que tinham dependia tanto doque expunham quanto do investimento eda eficácia da divulgação que faziam. Seesse retorno os satisfazia ou não dependiatambém da sua definição de sucesso.

Dado que, na maior parte das vezes, a defi-nição de sucesso dos entrevistados remetiaà satisfação pessoal com um trabalho bemfeito pelo qual receberiam remuneração fi-nanceira (imediata ou futuramente), quasetodos se declararam satisfeitos com os resul-tados que vinham tendo. Para alguns, issosignificava dizer que já estavam tendo retornofinanceiro constante, como no caso de Tomás,cujo site de “cultura pop” dava um bomrendimento a partir de anúncios do GoogleAdSense. Para outros, como nos casos deAmanda (aquela que queria transformar ohobby de fotografia em profissão) e de Bruno(que criou um canal para a divulgação deeventos na sua cidade), significava que já es-tavam consistentemente conseguindo clientesna qualidade de fotógrafa profissional ou depromotor de eventos, respectivamente.

E havia vários outros tipos de retorno. Umdeles era a popularidade associada ao reco-nhecimento. Para Eduardo, com seus parcos19 anos, a exposição de seus escritos on-line havia propiciado a publicação de três li-vros “físicos”, que, por sua vez, “além de al-guns trocados”, tinham atraído a valiosaatenção de vários jornais e facultado umaparticipação na Feira Literária Internacionalde Parati (Flip). Popularidade também era o

retorno que Renato (27 anos, estudante dePsicologia) e seus companheiros recebiampor conta da exposição que faziam de suabanda no MySpace e nas redes sociais. Se-gundo Renato, essa exposição “permite quepessoas de todo o Brasil conheçam a banda(...) Fãs da Bahia, Acre, Rondonia [Rondônia](...) perguntam quando vamos tocar por lá.”

Outros tinham obtido retorno pontual. Nocaso de Sérgio (22 anos, fotógrafo), este veiosob a forma da venda de um guia de jogosescrito por ele mesmo para o site de umaempresa especializada. Enquanto isso, Ale-xandre (26 anos, estudante de ComunicaçãoAudiovisual) e seus amigos e parceiros tinhamsido contratados para um trabalho por umaprodutora a partir de um vídeo de sua autoriaexposto no YouTube.

E eles estavam dispostos a esperar. Otávio (23 anos,mestrando de Comunicação) ainda não tinha tidoresultados satisfatórios a partir do seu blog, masmostrava que não ia parar, pois já tinha uma boaquantidade de leitores, embora o retorno finan-ceiro fosse “desconsiderável/ pelo menos por en-quanto”. O mesmo pode ser dito de Fernando(25 anos, que tem um blog no qual escreve “des-compromissadamente”). O blog ainda não fez su-cesso, mas, segundo ele, dá sinais (um total de17.000 acessos) de que “o caminho está certo”.

Acham que a Internet geraalternativas deprofissionalização?

O material apresentado ao longo das últimasseções torna evidente que sim. Os jovensentrevistados achavam que a Internet ofereceformas alternativas de profissionalização, for-mas estas nas quais estavam investindo.Tomás, o jovem de 23 anos que tinha umsite de “cultura pop” bem-sucedido, é, talvez,o melhor exemplo. Disse acreditar que a In-ternet gera alternativas de profissionalizaçãoe completou: “acho até que sou uma delas.

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Comecei sem grandes pretensões... E hojeem dia vivo disso”.

Na maior parte dos casos, eles consideravamque as formas tradicionais e aquelas geradaspela Internet podem coexistir e, até mesmo,se complementar. Como apontou Sérgio (22anos, fotógrafo): “se você não tiver experiênciafora da internet... como vai poder aplicarisso na internet... e vice versa”.

As divergências entre eles corriam por contadas vantagens e desvantagens que percebiamexistir nessas novas formas de profissionali-zação. Entre as vantagens, foram frequente-mente mencionadas: a comodidade de podertrabalhar em casa em horários flexíveis, a deser independente e prescindir de interme-diários, a de não precisar de espaço físicopara expor o que quisessem e a possibilidadeúnica de errar e poder começar de novosem que haja maiores consequências.

Já entre as desvantagens, apareceram as denão adquirir tanta experiência concreta comoem campo e a ausência do diploma necessáriopara ser admitido em uma empresa (talvezpor isso muitos não largavam a faculdade).A principal desvantagem apontada pelos par-ticipantes foi, no entanto, a de maior de ins-tabilidade/insegurança quanto ao retorno fi-nanceiro. Para Otávio (23 anos, estudantede Comunicação): “a internet é um meiomuito mutável... [há] uma série de coisasque, de uma hora para outra, podem fazersecar aquele dinheiro que você teria todomês...”. Mas alguns tinham consciência deque a autonomia acarreta insegurança tantona Rede quanto fora dela.

Qual o papel que acriatividade exerce naconstrução dessas alternativas?

A grande maioria dos participantes acreditavaque a Internet incentiva a exposição da cria-

tividade. Tomás (23 anos, blogueiro), porexemplo, afirmou que isso acontece “Porque[se] tem espaço para expor ,,, sem precisarpassar por um intermediário que detém ocontrole ou poder da informação”. Renato(27 anos, estudante de Psicologia) lembrouque, além disso, na Internet “vc (...) encontraprogramas que vão lhe auxiliar a concretizarseus projetos (...),muitos tutoriais online eexemplos”. Para Bruno (21 anos, estudantede Computação): “todo mundo quer mostrarseu trabalho [criativo] na internet (...) porquea criatividade não faz você ser “mais um”,mas “um” na multidão. Faz você queimar al-guns neurônios e fazer algo diferente usandooutros trabalhos como fonte de inspiração”.Eduardo (19, estudante de comunicação) foiainda mais contundente. Na sua opinião, acriatividade “é tudo/ absolutamente tudo”.É aquilo que faz alguém se sobressair na mul-tidão porque “é muito nego pra tudo/ pratudo nessa vida/desde lançar algo [se referiaa livros] até entrar no metrô/ é sempre muitagente /... / o mundo é dos criativos”.

Discussão

Quando a pesquisa foi iniciada, pareciamuito provável que os incontáveis jovensque disponibilizavam os produtos de seu ta-lento on-line estivessem sofrendo os impactosdiretos do sucesso e da profissionalizaçãometeórica que inúmeros outros jovens haviamalcançado a partir de exposições análogas.Dado que esses casos eram frequentementedivulgados pela mídia impressa e on-line,uma possibilidade era a de que estavamtentando emulá-los. Os resultados da presenteinvestigação, no entanto, oferecem uma visãobem mais complexa – e substanciada – doconjunto de influências que parece ter inci-dido pelo menos sobre os jovens que delaparticiparam.

Todos conheciam casos de sucesso, porém,para nossa surpresa, nenhum associou sua

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iniciativa de expor on-line à influência denenhum deles. Como foi apresentado ante-riormente, a grande maioria dos participantesda pesquisa afirmou haver começado a exporon-line “descompromissadamente”, “porbrincadeira”, “sem levar a sério” o que esta-vam fazendo. Tais afirmações indicam queeles estavam postando conteúdo como umaforma de fazer algo novo (um entrevistadochegou a mencionar o combate ao ócio) ede explorar os novos ambientes da Web2.0, comportamentos esses que não apre-sentavam nenhuma novidade tendo em vistaque caracterizam o uso que jovens vêm fa-zendo da Internet desde os primórdios desta(Nicolaci-da-Costa, 1998).

Esses achados contradiziam nossas expectativasiniciais e, por isso mesmo, nos levaram aformular novas perguntas. A exploração denovos ambientes e o espírito brincalhão nãonos pareciam ser suficientes para gerar a ex-plosão da produção criativa que vimos dis-cutindo. O que mais poderia estar por trásdessa explosão?

De modo a fornecer respostas para essa per-gunta, tornou-se necessário retroceder umpouco e analisar o potencial da própria In-ternet como um ambiente que estimula aprodução e a circulação da criatividade. E,para tanto, foi indispensável retroceder aindaum pouco mais e retomar o que é dito na li-teratura especializada sobre ambientes oucontextos sociais que promovem a produçãoda criatividade. Vejamos.

Não é de hoje que estudiosos como Alencar(2005), Arieti (1976), De Masi (2002) eHartley (2005) asseveram que ambientes (oucontextos sociais) que oferecem certas con-dições e oportunidades podem promover acriatividade.

Entre aquelas mencionadas por esses autores,destacam-se várias que são particularmente

relevantes para a presente discussão. Sãoelas: a oportunidade de acesso ao patrimôniocultural; o contexto propício para o desen-volvimento da agilidade, das relações informaise da espontaneidade; o fomento do interessepor diferentes pontos de vista; a possibilidadede trocas de ideias e de influência ou “con-taminação” recíprocas; o encorajamento dabusca entusiástica do aprendizado, da ino-vação, da vitalidade e do sucesso; o estímuloà capacidade de não ter medo de arriscar eerrar; a facilidade de acesso à infraestrutura,às ferramentas e aos materiais necessáriospara o desenvolvimento de um projeto oude um produto e o reconhecimento socialda criatividade.

Vale lembrar que a Internet vem oferecendoa maior parte desses estímulos e oportuni-dades desde os seus primeiros momentos(Nicolaci-da-Costa, 1998). Apenas o acessoà infraestrutura e às ferramentas e materiaisnecessários (que, na Internet, podem ser dediversos tipos) bem como o reconhecimentosocial da criatividade surgiram, ou se tornarammais evidentes, recentemente, em decorrênciada Web 2.0.

Todos esses fatores de promoção da criativi-dade são importantes em um ou outro mo-mento do processo de produção e exposiçãodos talentos individuais que vimos discutindoe todos são fundamentais para o enorme in-cremento da produção e exposição de con-teúdo criativo dos últimos anos – e para oconsequente surgimento de formas alternativasde profissionalização. De modo a poder exa-minar o papel por eles desempenhado, quan-do considerados individualmente ou emconjunto, é útil, porém, que adotemos pelomenos dois pontos de vista complementares:o dos desenvolvedores de ambientes e fer-ramentas para a Web e o dos usuários desta.

Adotemos, inicialmente, o ponto de vistados desenvolvedores. Foram suas iniciativas

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criativas (muitas vezes, individuais) que ge-raram ambientes amigáveis (a infraestrutura)e ofertaram as ferramentas e os materiais(de diversos tipos) para que incontáveis usuá-rios ao redor do mundo pudessem utilizá-los para postar na Web conteúdo criativo desua própria autoria.

Já a criatividade dos usuários comuns, comonossos resultados revelam, deve ser subdivi-dida em dois tipos de manifestação.

A primeira é obviamente a geração de con-teúdos criativos dos mais variados tipos. Talgeração pressupõe a presença de outras ca-racterísticas da Web acima mencionadassem as quais não seria possível. Antes detudo, certamente requer a busca do apren-dizado, da inovação e do sucesso tão clara-mente evidenciada por vários dos nossosentrevistados. Requer também a capacidadede não ter medo de arriscar e errar, reveladaexplicitamente por alguns participantes dapesquisa e tornada evidente no caso de pra-ticamente todos. Requer infraestrutura e oacesso à esta, às ferramentas e aos materiaisnecessários para a tarefa a ser executada,ferramentas e materiais esses que foram ge-rados e disponibilizados (no mais das vezes,gratuitamente) por incontáveis programadorese desenvolvedores de ambientes. Por último,requer que haja o reconhecimento social dacriatividade, que é o que todos desejam emuitos alcançam.

No que diz respeito à divulgação, a criativi-dade dos entrevistados é fomentada pela fa-

cilidade de circulação da informação, carac-terística da Internet, potencializada pelasvárias redes sociais que se entrecruzam emultiplicam as possibilidades de tornar popularo totalmente desconhecido.

Quando a geração de conteúdo é criativa esua divulgação eficaz, as portas podem seabrir para formas alternativas de ingresso nomercado de trabalho, como nossos resultadosmostram. Não se deve, no entanto, atribuirexclusivamente a essa conjugação de fatores,ou capacidades individuais, a responsabilidadepela recente explosão de criatividade. A ver-dadeira responsável parece ser a própria In-ternet, principalmente em sua versão 2.0.

De fato, nossos resultados sugerem fortementeque aquilo que levou nossos entrevistados aexpor seus talentos on-line – na maior partedas vezes, como foi visto, sem o objetivo ex-plícito de conseguir uma posição no mercadode trabalho – foi exatamente o próprio am-biente inovador da Web e, talvez, principal-mente, as trocas de ideias características dodia a dia on-line que, mais do que a capaci-dade de influenciar, têm um poder de “con-taminação” análogo ao de um vírus. Emmeio a tudo isso, seguramente circulavamlinks e informações sobre aqueles que vimoschamando de “casos de sucesso”. Assim sen-do, muito provavelmente, foi um conjuntode aspectos característicos da “Grande Rede”que acabou gerando a explosão de criativi-dade analisada ao longo deste artigo bemcomo a profissionalização de muitos jovensdela decorrente.

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Ana Maria Nicolaci-da-CostaDoutora em Psicologia pela University of London, UL, Inglaterra. Docente da PontifíciaUniversidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro – RJ. Brasil.E-mail: [email protected]

Endereço para envio de correspondência:Rua Marquês de São Vicente, 225 – Gávea. CEP: 22543-900. Rio de Janeiro – RJ. Brasil

Recebido 22/03/2013, 1ª Reformulação 26/02/2014, Aprovado 18/09/2014.

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